É do poeta chileno Pablo Neruda a frase: “Se nada nos salva da morte, ao menos que o amor nos salve da vida”. Foi exatamente o amor que provavelmente salvou Erick D’Moura da morte e deu-lhe uma “nova vida”. Em 2018, o empresário de 40 anos trocou Brasília, cidade onde nasceu, por Surfside, na zona norte de Miami Beach (Flórida). Morava de aluguel no apartamento 1004 do condomínio Champlain Towers South. “Perdi o apartamento. Acabou. Caiu tudo. Da minha coluna, de final 04, sou a única pessoa que sobreviveu. Todo mundo está desaparecido. Todo mundo morreu ali”, afirmou Erick ao Correio, pelo WhatsApp. Parte do prédio de 12 andares desabou à 1h30 (2h30 em Brasília) de quinta-feira. A pedido da namorada, Fernanda, 43 anos, Erick não estava no condomínio no momento da tragédia.
“Eu fui à casa dela para assistir à partida de futebol entre Brasil e Colômbia. Estávamos na companhia de amigos colombianos. Ao fim do jogo, eu me despedia da Fernanda, do lado de fora da casa dela, quando pediu que eu ficasse”, relatou Erick. Ele admitiu que ficou contrariado com o apelo. O brasiliense estava com a roupa molhada e não tinha outra peça para se trocar. Eu havia pulado no mar para pegar uma bola, depois da partida. Estava pronto para ir para casa. No dia seguinte, planejava acordar cedo, tomar minha suplementação e ir para a academia”, disse. Por volta das 5h30, quatro horas depois do desabamento, Erick levantou-se para pegar o celular e programar o alarme para despertar. “Foi quando me deparei com as mensagens e chamadas no aparelho. Soube que o prédio tinha caído”, relatou.
Ele acredita que Deus agiu para salvá-lo por meio da vida de Fernanda. “Minha vontade era de ir para casa, dormir tranquilo na minha cama, tomar banho e malhar pela manhã. O fato de Fernanda ter pedido que eu ficasse mudou tudo”, desabafou. Erick admite que o prédio apresentava um “problema estético”. “Tinha algumas rachaduras, inclusive no meu apartamento, mas é difícil afirmar se a estrutura estava comprometida”, contou. Questionado sobre um laudo assinado por engenheiro, em 2018, que apontava danos na estrutura do Champlain Towers South, Erick disse que não tinha conhecimento, pois não participava das reuniões de condomínio. “Isso era uma coisa discutida entre eles. Mas a cidade de Surfside, mesmo com o laudo, tinha dado o prédio como OK.”
“Eu insisti muito para ele ficar”, contou Fernanda ao Correio. Um dos filhos dela decidiu dormir na casa de um amigo. Ela viu uma oportunidade para que o casal passasse a quarta-feira sozinho. “Eu disse a ele: ‘Você não vai embora, vai ficar’. Fui muito incisiva e até me surpreendi com a forma como agi. Se não tivesse insistido, provavelmente estaria procurando pelo corpo do Erick”, acrescentou. Segundo Fernanda, na madrugada de quinta-feira, o namorado entrou no quarto dela gritando que o prédio tinha caído. “Quando ele me mostrou a foto, comecei a chorar.”
De acordo com o jornal Miami Herald, 36 horas antes do colapso da estrutura, um empreiteiro especializado em piscinas fotografou rachaduras na parede de concreto da garagem. Até o fechamento desta edição, 11 corpos tinham sido resgatados dos escombros. Os bombeiros realizavam buscas por 150 moradores, incluindo um menino brasileiro de cinco anos. (RC)