O ator Tarcísio Meira, de 85 anos, morreu na manhã de ontem, em decorrência de complicações da covid-19. O astro brasileiro estava intubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde 6 de agosto.
De acordo com a unidade hospitalar, além de ter sido internado na UTI, o ator ficou em ventilação mecânica e também precisou passar por diálise contínua. O procedimento de hemodiálise é comum em casos graves de internação por covid-19.
Tarcísio Meira havia tomado a segunda dose da vacina contra a covid-19 em março deste ano, em Porto Feliz, interior de São Paulo, local onde ele e a esposa Glória Menezes se isolaram durante a pandemia. Glória também contraiu o vírus e foi internada no mesmo hospital, no entanto, apresentou um quadro mais leve e não precisou ser intubada. O caso de Tarcísio é raro: 3,7% dos que tomaram a segunda dose morreram no Brasil, mas o percentual atinge 8,8 entre os que têm mais de 70 anos.
Os dois artistas, pais do ator Tarcísio Filho, completaram 56 anos de casados em 2020. Na mesma semana da internação do pai, o filho do casal chegou a falar para a imprensa que o estado da dupla era bom e que Meira estava respondendo bem a todos os procedimentos. Nas redes sociais, Mocita Fagundes, mulher de Tarcísio Filho, comentou que o casal foi contaminado “num descuido”.
Repercussão
“A notícia [da morte de Tarcísio Meira] veio como uma bomba, eu estava gravando em São Paulo com muita gente que havia trabalhado com ele”, afirmou o ator brasiliense João Campos ao Correio. Campos e Meira contracenaram na telenovela A lei do amor, exibida pela Rede Globo em 2016.
Na produção global, os atores protagonizaram diversos encontros em cena, já que Meira era avô do par romântico de Campos, papel vivido pela atriz Bianca Muller. “Na preparação da novela, nas leituras anteriores, veio aquele impacto de estar de frente com uma entidade, um ator de teatro e de TV que sempre representou tanto para os brasileiros quanto para as artes”, relembrou João Campos.
“Aí, veio uma relação muito acessível, ele era maravilhoso, quebrou todos os estereótipos diante de um ator com tanta história e uma carreira absolutamente sólida. Sempre muito acessível no camarim, era um grande contador de histórias. Ele tratava a gente de maneira horizontal, era muito humano e era um privilégio olhar no olho e conversar sobre a história da TV brasileira. Era doce e tinha um senso de humor sempre presente. Um verdadeiro parceiro de cena”, acrescentou.
Já nas redes sociais, artistas e diretores como José de Abreu, Ary Fontoura, Gloria Perez, Boninho e Fábio Assunção lamentaram a morte do ator. “Ele é uma referência no teatro, no cinema, na TV. São notícias tristes para a cena brasileira”, escreveu Fontoura no Instagram. Já Assunção afirmou que o ator “deixa um legado gigante e uma saudade imensa”.
Além da repercussão no meio artístico, Tarcísio Meira foi homenageado de pé pelos membros da comissão presentes na CPI da covid-19 de ontem, que fizeram um minuto de silêncio em memória do ator. “[Tarcísio Meira] É mais um desses quase 600 mil brasileiros que perderam sua vida, dentre outras coisas, porque o governo não soube fazer o seu trabalho na hora certa”, declarou o senador Alessandro Vieira.
Carreira
Tarcísio Meira, um dos maiores atores da história brasileira, ficou marcado no meio artístico por dar vida a inúmeros vilões e mocinhos no cinema, teatro e televisão. Em 1957, o ator deu início à carreira nos palcos de teatro, protagonizando a peça A hora marcada. Já em 1963, Meira apareceu pela primeira vez nas telas de cinema, no filme Casinha pequenina, ao lado de Mazzaropi.
Entretanto, Tarcísio Meira dedicou grande parte da carreira à televisão. O primeiro trabalho do ator foi no teleteatro Noites brancas, da TV Tupi, em 1959. Em 1961, na mesma emissora, Meira contracenou pela primeira vez com Glória Menezes, em Uma Pires Camargo. Anos mais tarde, a dupla se tornaria um dos casais de maior sucesso da televisão brasileira. Também ao lado de Glória, o ator foi o protagonista da primeira telenovela diária da televisão nacional, 2-5499 ocupado, na TV Excelsior, em 1963.
Na Rede Globo, a estreia de Tarcísio Meira ocorreu em 1967, na telenovela Sangue e areia. O ator permaneceu na emissora até 2020, após não ter o contrato renovado. O último papel da carreira de Tarcísio foi a novela Orgulho e paixão, que foi ao ar em 2018. Em maio do mesmo ano, Meira teve que deixar o elenco da produção devido a uma infecção pulmonar.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco.
Irmãos coragem (1970)
Na telenovela, Tarcísio Meira viveu João Coragem, um dos principais personagens da carreira do ator. A produção narra a luta dos irmãos Coragem por liberdade e contra a opressão.
O beijo no asfalto (1981)
Baseado na peça de teatro homônima de Nelson Rodrigues, o filme brasileiro conta a história de um homem à beira da morte que pede a Arandir (Ney Latorraca), um beijo na boca, pedido considerado ‘escandaloso’ para a época. Durante o longa-metragem, Latorraca e Meira, que dá vida ao genro de Arandir, também protagonizam um beijo, cena que entrou para a história do cinema nacional.
Torre de babel (1998)
A telenovela conta a história de José Clementino (Tony Ramos), homem que matou a esposa após um flagrante de adultério. O patrão de Clementino, César Toledo (Tarcísio Meira), testemunhou o assassinato e foi responsável pelo depoimento que mandou o empregado para a prisão. Durante o cárcere, Clementino acaba arquitetando um plano de vingança contra o ex-patrão.
O beijo do vampiro (2002)
Em ‘O beijo do vampiro’, Tarcísio Meira deu vida ao Duque Bóris Vladescu, um vampiro obcecado pela princesa Cecília (Flávia Alessandra). Movido pela paixão, Vladescu assassina o conde Rogério (Thiago Lacerda), noivo de Cecília, com a intenção de ficar com a princesa.