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Só 17% dos programadores no Brasil são mulheres, e elas representam apenas 28% da força de trabalho nesse ramo |
É difícil encontrar alguém que não conheça Bill Gates ou Mark Zuckerberg. Por outro lado, Ada Lovelace, Mary Kenneth Keller e Grace Hopper são nomes bem menos mencionados, de maneira geral (leia Quem são elas?). No entanto, as três também fizeram grandes contribuições para a área da tecnologia e da computação. A fama global deles e a invisibilidade delas — apesar de dedicarem a vida a trabalhos semelhantes — mostra a necessidade de haver mais representatividade das mulheres nesse ramo.
Para criar oportunidades de aprendizado na área a esse público, integrantes do projeto Meninas.Comp — programa de extensão da Universidade de Brasília (UnB), com apoio do núcleo brasiliense do Grupo Mulheres do Brasil — lançou a campanha +Meninas na Tecnologia. Atualmente, a iniciativa arrecada notebooks para alunas do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte. Com os equipamentos, as estudantes poderão participar do curso de programação que será implementado na escola.
As aulas são realidade em 12 escolas públicas do Distrito Federal. A cofundadora do Meninas.Comp Aleteia Patrícia Favacho de Araújo explica que a campanha permitirá a estudantes do ensino fundamental participar do projeto também. “O objetivo é incentivar mais delas a atuar na área de tecnologia. Para isso, doamos kits de desenvolvimento em Arduino (plataforma de prototipagem eletrônica) para as escolas. Conseguimos esses itens quando há campanhas. Normalmente, são de 15 a 20 doados para cada escola. Os professores são treinados e recebem material para ensinar as meninas”, explica. As atividades permitem que elas aprendam robótica, computação, programação e que desenvolvam, posteriormente, projetos práticos. “A partir daí, o céu é o limite”, completa Aleteia.
Por meio do Meninas.Comp, a universitária Alice da Silva de Lima, 20 anos, descobriu o amor pela computação. Ela conheceu o projeto em 2016, enquanto estudava no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, na Asa Norte. “Eu não tinha isso em mente. Não pensava em seguir (carreira) na área de exatas. Esse não era meu foco antes de entrar no projeto. Tanto que no, ensino fundamental, tive dificuldade em matemática. Mas a relação com a matéria melhorou depois (do projeto)”, conta.
Para a estudante, a iniciativa ofereceu conhecimento tecnológico e despertou a curiosidade. “Eu nunca tinha pensado no funcionamento das coisas daquela forma. Eu mexia no computador para fazer outras coisas, não era para esse fim (programar). Descobri um novo mundo”, diz. Em 2018, ela entrou no curso de ciências da computação na UnB e, desde então, ajuda outras meninas e mulheres interessadas no tema, inclusive participantes do projeto.
“A menina consome tecnologia. Quando ela descobre o que é, entende e vê uma mulher lá, sente-se encorajada a entrar nesse mundo. É importante fomentar a participação delas, porque isso move outras”, comenta Alice. “Não deve existir o estereótipo de que a matemática, por exemplo, não é para nós, como se fosse algo complexo. Na verdade, o assunto é para qualquer pessoa, para todo mundo, porque todo mundo usufrui disso”, completa.
Oportunidade
No CEF 410 Norte, serão 20 alunas por semestre. A primeira turma terá 10 estudantes escolhidas e 10 sorteadas. Para a diretora da escola, Mira Vieira, é fundamental que o colégio seja a 13ª instituição de ensino a implementar o projeto. “É importante despertar o interesse desde cedo. Não adianta chegar depois dos 15 anos e ter essa possibilidade. Uma aluna com 11 ou 12 anos deve vislumbrar a possibilidade da ciência. Isso abre o horizonte, não só momentaneamente, mas para o futuro também”, pontua. “As meninas não devem ser intimidadas. Isso é importante na escola, para que se sintam empoderadas e possam fazer as escolhas delas.”
Um levantamento do Fórum Econômico Mundial de 2021 revela que elas representam apenas 28% da força de trabalho na área da computação. E só 17% dos programadores no Brasil são mulheres, o que demonstra o desequilíbrio entre gêneros nessa profissão. Coordenadora do Comitê Tecnologia do Grupo Mulheres do Brasil DF, Mildred Campoi afirma que o curso de programação é uma oportunidade concreta de inserção das meninas de escolas públicas no universo da tecnologia da informação, algo cada vez mais necessário. “As empresas estão mais preocupadas em incluir mulheres nos cargos de liderança. Embora ainda exista muito preconceito, isso tem mudado. Existe um olhar mais inclusivo entre adolescentes, e isso muda a forma de a humanidade enxergar o outro”, comenta.
Como ajudar?
Para doar notebooks, entre em contato pelo WhatsApp 61 994-472-659 ou entregue os itens no drive-thru do Cartório JK, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, na 505 Sul, Bloco C. Informações: instagram.com/grupomulheresdobrasildf.
Quem são elas?
Ada Lovelace: matemática inglesa que criou o algoritmo processado por uma máquina, sendo a primeira pessoa programadora da história.
Grace Hopper: norte-americana que desenvolveu a linguagem de programação Flow-Matic, a primeira adaptada para o inglês. Apesar de extinto, o modelo serviu como base para a criação do Common Business Oriented Language (Cobol), usado até hoje para processamento de bancos de dados comerciais.
Mary Kenneth Keller: nascida nos Estados Unidos, a freira dedicou a vida às ciências da computação, sendo a primeira mulher da história a receber um doutorado na área.