Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense terça, 21 de abril de 2020

QUERIDA BRASÍLIA

 

 

Querida Brasília

 

Publicação: 21/04/2020 04:00

 

 (Lisl Steiner/O Cruzeiro/CB/D.A Press )  


Sei que esta mensagem chega até você em um momento difícil. Afinal, desde que nascemos, meu maior prazer, minha verdadeira missão, foi acompanhar seus passos. Tive a sorte de vê-la crescer, comemorar suas alegrias e apoiá-la nos momentos de dor e ameaça.

Quis o destino que você completasse 60 anos durante uma pandemia que assusta o mundo. É, natural, portanto, que você se sinta insegura e confusa hoje. Mas tenho certeza de que você vai superar mais esse desafio, como fez com todos os obstáculos que apareceram ao longo de sua bela e inspiradora trajetória.

 (Gilberto Alves/CB/D.A Press)  

Motivado pela lembrança de sua força e capacidade de superação, passei a revirar gavetas, folhear anotações e rever as fotografias que fiz de você desde que nascemos, naquele 21 de abril de 1960. A cada texto, a cada imagem, ficava ainda mais claro o quanto me orgulho de ser seu irmão gêmeo. “Preciso dividir tudo isso com Brasília”, pensei. “Tenho certeza de que ela também vai ficar esperançosa ao reviver todos esses instantes, mesmo que alguns tenham sido dolorosos.”

Você se mostrou guerreira desde a gestação, minha irmã. Não foram poucos os que se opuseram à sua criação. Mas com a ajuda de seu idealizador, Juscelino, e de milhares de bravos candangos, você surgiu lindamente esculpida em pleno cerrado, graças à genialidade de Oscar e Lúcio, nossos dois amigos sonhadores. E, de cidade que quase não existiu, você se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade!

 

 

 (Bruna Lima/CB/D.A Press - 25/2/20)  

Suas lutas e vitórias continuaram. Você recuperou seus direitos democráticos, perdidos aos 4 anos; conquistou autonomia política; e ajudou o país a derrotar a inflação. Quando viu a violência no trânsito tirar a vida de seus filhos, reagiu com uma mensagem de paz e deu exemplo ao resto do país com o respeito à faixa de pedestres. E foi corajosa ao combater a exclusão social, adotando cotas para negros em sua universidade, surgida do ideal de outros dois amigos sonhadores: Darcy e Anísio.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press - 3/8/17)  

E o que dizer do exemplo de alguns de seus filhos, nascidos de você ou adotados? Eles foram heróis, criaram músicas ouvidas em todo o mundo, tornaram-se os melhores naquilo que se propuseram a fazer... É a sua história que me faz ter certeza de que esse vírus que a ameaça hoje será mais um obstáculo superado. Dias bons e felizes, coroados com seu incomparável pôr-do-sol, a esperam. Não tenho dúvidas.
 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 20 de abril de 2020

VESTIBULAR E ENEM INCERTOS

 

Vestibular e Enem incertos
 
Seleções tradicionais do meio do ano no DF estão suspensas por tempo indeterminado devido ao coronavírus. Congresso Nacional poderá discutir também a possibilidade de adiar o exame nacional, caso o Ministério da Educação não se pronuncie

 

» ALAN RIOS
» ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 20/04/2020 04:00

Maria Eduarda ficou apreensiva com a suspensão do vestibular, mas aproveita a quarentena para estudar (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Maria Eduarda ficou apreensiva com a suspensão do vestibular, mas aproveita a quarentena para estudar

 

 
Os meses de abril e maio geralmente são cruciais para alunos que pretendem ingressar no ensino superior. Instituições em todo o país publicam editais dos vestibulares tradicionais do meio do ano, abrem inscrições e incentivam os estudos de quem sonha com uma vaga, tanto na rede pública quanto na privada. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, deixa mais essa indefinição. Até mesmo exames previstos para o fim de 2020 podem ser prorrogados, como pedem propostas do Senado apoiadas pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre.
 
Na Universidade de Brasília (UnB), todos os processos do meio do ano foram suspensos, mas não cancelados. A instituição informou que os editais do vestibular para o segundo semestre de 2020; as solicitações de Transferência Facultativa; e os processos seletivos para Portadores de Diploma de Curso Superior e para o preenchimento de Vagas Remanescentes seguem sem data definida.
 
Symone Rodrigues Jardim, diretora de Inovação e Estratégias para o Ensino de Graduação da UnB, considera que essa é a medida mais adequada para o momento. “O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) suspendeu o calendário de aulas diante da pandemia e, consequentemente, suspendemos nossos processos. A reitora está reforçando a necessidade do isolamento, de acordo com o decreto (do Executivo local)”, detalha.
 
Há uma dificuldade em estabelecer nova data de realização neste momento, pois os decretos e as determinações a respeito do coronavírus variam de acordo com a evolução das infecções na capital federal. “O cenário muda muito rápido. Então, não temos uma ideia de quando poderemos retomar o semestre ou aplicar os processos seletivos”, afirma Symone. Ela também ressaltou que a UnB, agora, foca em pesquisas e projetos de apoio na área de saúde, para auxiliar no combate à Covid-19, e que a instituição informará o mais rápido possível quando puder definir cronogramas.

Na UnB, todos os processos do meio do ano foram suspensos (Ed Alves/CB/D.A Press - 12/3/20)  

Na UnB, todos os processos do meio do ano foram suspensos

 

 
Apreensão
 
Com esse cenário, candidatos às vagas que surgiam no meio do ano passam a adaptar a rotina de estudos. Nayara Batista, 20 anos, se prepara para o curso de medicina e se inscreveria para o vestibular da UnB. Agora, encontra dificuldades para manter o foco diante das incertezas. “Entrei para um cursinho este ano, mas a quarentena chegou, as aulas presenciais foram suspensas e está sendo difícil estudar em casa, exige muito disciplina”, relata. Outra barreira é manter o equilíbrio mental. “Esse cenário me deixa ainda mais ansiosa. Dá medo de não saber quando as aulas vão voltar, ter dúvidas sobre a vida e não saber quando tudo isso vai acabar”, diz.
 
Outro processo seletivo muito aguardado por quem sonha se formar médico é o da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), instituição de ensino superior pública ligada ao Governo do Distrito Federal. A seleção de estudantes para graduação em medicina e em enfermagem é feita sempre no começo do ano, por meio da nota obtida pelo candidato no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), seleção sob responsabilidade do Ministério da Educação.
 
A pasta não cancelou nenhuma das etapas da prova nacional até o momento. O prazo para solicitar a isenção do pagamento da taxa de inscrição, por exemplo, terminou na sexta-feira. As inscrições estão previstas para o período de 11 a 22 de maio. Contudo, o exame nacional deste ano também corre risco de ser adiado. Os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Daniella Ribeiro (PP-PB) enviaram um Projeto de Decreto Legislativo e um Projeto de Lei, respectivamente, que tratam sobre a prorrogação de exames para acesso ao ensino superior. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas), considerou a situação preocupante, durante sessão plenária remota. “Uma intervenção no Ministério da Educação e no governo federal terá nosso apoio”, afirmou, após fala de Izalci.
 
Vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, o senador pelo DF argumenta que, tendo em vista a suspensão das aulas, sobretudo na rede pública, e que uma boa parte dos alunos não tem internet, seria errado manter o calendário do Enem como está. “Fazer uma prova agora vai prejudicar esses alunos. É preciso que o ministro tenha mais humildade. Outros países adotaram a mesma medida. Ninguém aqui quer suspender ou cancelar nada, apenas adiar”, afirma. A expectativa é de que um dos projetos seja votado nesta semana, principalmente se o governo federal não se posicionar sobre o assunto.
 
Colaborou Alexandre de Paula


Rede particular
Na rede particular, o cenário também é de incertezas e o foco, na contenção da disseminação do vírus. O Centro Universitário Iesb informou que mantém o cronograma da seleção para os cursos do ensino a distância (EaD), contudo, para a graduação presencial, ainda não há definição de data. Na Universidade Católica de Brasília (UCB), as inscrições para o processo seletivo estão abertas, porém a data do vestibular ainda não foi definida, em decorrência do decreto 
do GDF que determina suspensão das atividades acadêmicas. O UniCeub não havia respondido o questionamento da reportagem até o fechamento desta edição. 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 19 de abril de 2020

A CORRIDA EMPRESARIAL NA PANDEMIA

 

A corrida empresarial na pandemia

 

Publicação: 19/04/2020 04:00

Heliene, dona de uma banca de frutas, aposta no delivery (Arquivo Pessoal)  

Heliene, dona de uma banca de frutas, aposta no delivery

 



Firas criou o conceito de barbearia em domicílio (Arquivo Pessoal)  

Firas criou o conceito de barbearia em domicílio

 



Aline é doula e encontrou maneiras de manter atendimentos digitais (Arquivo Pessoal)  

Aline é doula e encontrou maneiras de manter atendimentos digitais

 



Mônica, dona do Clube do Remo, vende quentinhas para sobreviver ao período (Andre Correa/Divulgação)  

Mônica, dona do Clube do Remo, vende quentinhas para sobreviver ao período

 



Rubens tem um trailer em Águas Claras e também se adaptou para fazer entregas (Arquivo Pessoal)  

Rubens tem um trailer em Águas Claras e também se adaptou para fazer entregas

 



A terapeuta holística Luísa mantém parte dos atendimentos virtualmente (Arquivo Pessoal)  

A terapeuta holística Luísa mantém parte dos atendimentos virtualmente

 



A nutricionista Talyta pensa em novas alternativas, como escrever e-books (Arquivo Pessoal)  

A nutricionista Talyta pensa em novas alternativas, como escrever e-books

 



A fotógrafa Naomi está elaborando um projeto de oficinas da área (Arquivo Pessoal)  

A fotógrafa Naomi está elaborando um projeto de oficinas da área

 



Atiê é sócio de um bar que vende vouchers para os clientes usufruírem depois da crise (Arquivo Pessoal)  

Atiê é sócio de um bar que vende vouchers para os clientes usufruírem depois da crise

 



Donos de negócios se movimentam e se reinventam para superar a crise. Até atividades antes inimagináveis on-line, agora estão disponíveis virtualmente. O delivery é outra grande aposta. Mas há várias saídas, como oferecer serviços diferentes e até vender vouchers para serem usufruídos posteriormente.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 18 de abril de 2020

UMA CORRENTE DO BEM

 

Uma corrente do bem
 
Doações de cestas básicas têm ajudado famílias carentes de São Sebastião. Moradores do Jardim Botânico se mobilizaram para doar cupom de alimentação válido em pequenos mercados locais. Refugiados ajudam confeccionando máscaras

 

» CIBELE MOREIRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 18/04/2020 04:00

Francisca Oliveira e a filha Ana Luísa recebem cupom de alimentação da auxiliar do projeto Francely Rocha  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Francisca Oliveira e a filha Ana Luísa recebem cupom de alimentação da auxiliar do projeto Francely Rocha

 



Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, as famílias em situação de vulnerabilidade social são as que mais sofrem. Muitas perderam a única renda familiar ou não contam mais com a merenda escolar para reforçar a alimentação dos filhos. Com todos dentro de casa, em tempo integral, muitas mães têm contado com gestos de solidariedade para garantir a comida na mesa. No Jardim Botânico, os moradores se reuniram para ajudar a região administrativa vizinha, São Sebastião.

O projeto Cesta do Bem, da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Movimento Comunitário do Jardim Botânico, arrecadou cerca de mil cestas básicas. Destas, mais de 700 já foram entregues. “Temos ao lado uma comunidade mais carente, onde muitos trabalham como diaristas e pedreiros aqui no Jardim Botânico. Então, os próprios moradores perceberam que essas pessoas ficaram desassistidas, sem trabalho”, afirma o secretário executivo da Oscip, Ilton de Queiroz Junior.

Diante da pandemia, a forma de doar também mudou. Para evitar o máximo de contato, a doação é feita pela internet e os beneficiários recebem vouchers para a retirada dos produtos em pequenos mercados de São Sebastião. “Muitas pessoas compram cestas em atacadões, e o dinheiro acaba indo para as grandes empresas. Os pequenos comerciantes, que são os que mais precisam,  ficam sem renda”, justifica Ilton. Atualmente, há 400 famílias cadastradas para receber a cesta. A seleção dos atendidos pelo projeto é feita por cooperativas, escolas e igrejas.

João Santana, presidente de uma cooperativa de catadores de São Sebastião, é um dos responsáveis por levar os vouchers para famílias de catadores. Ele destaca a importância de ações como esta. “Estamos fazendo o cadastro das famílias que estão passando por necessidades. A situação é gritante. Muitos ainda não tiveram acesso ao auxílio emergencial. A nossa luta é para garantir o básico, a alimentação”, destaca. Para uma alimentação completa, os beneficiários recebem dois tipos de cesta: uma com alimentos básicos e itens de higiene, e outra com verduras e legumes.

Para Francisca Diana Alves de Oliveira, 41 anos, a cesta veio em boa hora. “É muito ruim olhar para o armário e ver que não tem mais nada. Ainda mais com todo mundo em casa, não ter o que comer é desesperador”, afirma Francisca, que mora com o marido e os três filhos. Com o esposo desempregado e ela afastada do trabalho, sem saber se terá dinheiro para o próximo mês, Francisca ficou muito grata com a ação. “Eu não esperava. Nunca ganhei nada, fiz o cadastro sem saber se ia realmente receber”, conta.

Saber que a ajuda está indo para quem realmente precisa é gratificante para quem doa. Camila Costa é síndica de um condomínio no Jardim Botânico. Ela conta que a mobilização se fortaleceu no momento de pandemia, mas pede que a ação seja recorrente. “A gente sabe que essas famílias que estão recebendo as cestas passam por dificuldades bem antes do novo coronavírus chegar. A pandemia agravou a situação delas”, pontua.

Máscaras


Além do voucher de compras em mercados locais de São Sebastião, o Movimento Comunitário do Jardim Botânico também contempla o projeto Fábrica Social, com o trabalho de refugiados venezuelanos. Nesse momento de pandemia, os esforços estão concentrados na confecção de máscaras de tecido. Segundo Ilton Júnior, a iniciativa visa ajudar tanto as famílias carentes, que não têm como comprar equipamentos de proteção individual (EPIs), quanto os próprios refugiados, com uma garantia de renda.

Mãe de três filhos, a venezuelana Yusklary Gutierrez conta que o trabalho vai ajudá-la a garantir o sustento em casa. “E ainda ajuda a comunidade com a proteção. É muito gratificante poder contribuir de alguma forma”, relata.  Ao todo são quatro refugiados que estão produzindo as máscaras pelo projeto.

Apoio


Além do projeto Cesta do Bem, uma outra ação tem ajudado moradores da Vila do Boa, um dos bairros mais carentes de São Sebastião. Professores do Centro de Ensino Fundamental Cerâmica São Paulo perceberam que muitos alunos da escola contavam com a merenda escolar para se alimentar. Com as aulas suspensas, os docentes se mobilizaram para arrecadar cestas básicas para essas famílias. Em uma semana, eles conseguiram reunir 45 doações.

Com oito pessoas dentro de casa e a única que recebe renda, Hevelin Bento Alves, 40, conta que a ajuda veio como uma benção de Deus. “Foi muito gratificante receber esse carinho dos professores. Com um salário mínimo, a gente precisa fazer o almoço sem pensar na janta”, conta a mãe de cinco filhos.

Para incentivar as doações, a professora e assistente da direção do Centro de Ensino Fundamental Cerâmica São Paulo, Li Costa Ribeiro, resolveu confeccionar máscaras de pano em troca das cestas. A cada cesta básica, ela entrega um kit com cinco máscaras caseiras. “Eu já estava fazendo máscaras antes da iniciativa. Quando surgiu a proposta entre os professores, eu me dispus a fazer o kit como uma forma de incentivo”, explica. Ela tem um ateliê em casa e faz as máscaras com o material que já tinha guardado.

  • Palavra de especialista
    O infectologista Alexandre Cunha fala sobre importância do isolamento social em tempos de Covid-19

    Porque as pessoas precisam respeitar o isolamento social?
    O isolamento social precisa ser feito porque, até o  momento, ele é a única medida comprovada que reduz a mortalidade pela Covid-19. A gente não tem nenhum tratamento comprovadamente eficaz, que tenha mostrado resultado em qualquer estudo clínico. Ainda não temos vacina disponível, e continuaremos assim por um bom período. Então, com a quarentena, a gente diminui a intensidade de transmissão, para que os hospitais consigam suportar a demanda e dar o melhor tratamento possível às pessoas infectadas. 

    Quais são os riscos de não ter o isolamento?
    Os riscos de não ter isolamento é ocorrer exatamente o que aconteceu em países onde não foi feito isolamento adequado, como na Itália, na França, na Espanha e nos Estados Unidos. Impressiona muito o fato das experiências mal sucedidas de isolamento, feito tardiamente ou com menos força, não impactarem as pessoas que defendem o afrouxamento da quarentena. A gente viu o desastre que acontece quando não há isolamento, e a gente tem experiências bem sucedidas de distanciamento social, como é o caso do Brasil.


  • Como ajudar

    Cesta do bem

    » mcjb.org.br/cestadobem
    » contato@mcjb.org.br
    » 3427-3038
  • Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 17 de abril de 2020

IBANEIS PLANEJA REABRIR O COMÉRCIO EM MAIO

 

Ibaneis planeja reabrir o comércio
 
Segundo o governador, as condições atuais apontam para que a liberação de diversas atividades, inclusive de shoppings, ocorra em 3 de maio, data prevista no decreto. Bares, restaurantes e eventos, no entanto, devem seguir impedidos de funcionar

 

» ALEXANDRE DE PAULA
» ANA MARIA CAMPOS
» WALDER GALVÃO

Publicação: 17/04/2020 04:00

Loja de eletrodomésticos reaberta em 9 de abril: flexibilização é vista com ressalvas por infectologistas que defendem o isolamento (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Loja de eletrodomésticos reaberta em 9 de abril: flexibilização é vista com ressalvas por infectologistas que defendem o isolamento

 



O governador Ibaneis Rocha (MDB) avalia liberar o funcionamento de todo o comércio do Distrito Federal em 3 de maio. Desde o início de abril, o emedebista iniciou um processo de flexibilização no setor e autorizou algumas atividades a abrir as portas. A data prevista pelo chefe do Palácio do Buriti para a reabertura segue a definição do decreto que ampliou o isolamento na capital federal por causa da pandemia do novo coronavírus. “As condições apontam para o cumprimento do decreto”, adiantou Ibaneis.

De acordo com a análise dele, o pico da contaminação no DF deve ocorrer nos próximos dias. Devemos chegar a 1 mil casos até 30 de abril”, previu. Escolas e outras atividades que possam gerar aglomeração, no entanto, devem continuar fechadas pelo menos até junho, de acordo com a análise oficial. O entendimento do GDF é de que as medidas tomadas com agilidade — o DF foi uma das primeiras unidades da Federação a restringir atividades — se mostraram eficazes e barraram o crescimento descontrolado da Covid-19. Durante o período de maior distanciamento, o governo local investiu na compra de testes e na preparação de mais leitos.

Na terça-feira, o governador liberou o funcionamento de ópticas e, na semana passada, autorizou que lojas de móveis e eletrodomésticos abrissem as portas para os clientes, além de atividades do Sistema S. Antes disso, também puderam voltar a funcionar as agências bancárias.

Preparação

Ontem, o governador e alguns secretários se reuniram com entidades do setor produtivo para debater alternativas que viabilizem o retorno das atividades, inclusive de shoppings. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, participou da discussão e destacou que a abertura deverá seguir condições que garantam segurança da população e de trabalhadores.

Maia adianta que, na reunião, Ibaneis afirmou que a possibilidade da liberação de restaurantes, bares e eventos em 3 de maio é próxima de zero. “Esses são setores mais impactados pela crise, mas ele nos deixou claro que, pela avaliação de hoje, não é possível, porque o risco é muito grande e não há condições de abertura”, comentou.

Em contato com outras entidades e sindicatos, a Fecomércio elabora um documento para balizar esse novo momento, com a apresentação de normas e orientações em busca de segurança. “Estamos preparando esse estudo com sugestões do que pode ser feito. O empresário precisa estar muito ciente desse novo cenário. Não é só reabrir como era antes, vamos precisar ter controle do número de pessoas, disponibilizar máscaras, álcool em gel”, frisa. “A população também precisará ter consciência e entender a situação. Por isso, defendemos que existam campanhas informativas”, acrescenta.

 

"Estamos preparando esse estudo com sugestões do que pode ser feito. O empresário precisa estar muito ciente desse novo cenário. Não é só reabrir como era antes, vamos precisar ter controle do número de pessoas, disponibilizar máscaras, álcool em gel" - Francisco Maia, presidente da Fecomércio

 


Riscos

O isolamento social é a única maneira de combater a disseminação do novo coronavírus no Distrito Federal, segundo o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez. Ele explica que as medidas de restrição servem para achatar a curva de crescimento da doença, porém, a população tem dificuldade de compreender isso. “Temos dois fenômenos acontecendo. O primeiro é a ignorância, porque há muitos antidiscursos, e as pessoas acabam desacreditando daqueles que se dedicam ao estudo. Além disso, há a insegurança. O medo está tão intenso, que muitos começam a pensar que nada está acontecendo e levam uma vida normal. Com isso, a gente paga com milhares de vidas”, lamentou.

José David acredita que a capital está longe do pico da doença. “Cada cidade do país teve introdução do vírus de forma diferente, o que altera a curva. Goiás, por exemplo, é aqui do lado, e tem uma situação bem diferente. É um cenário que temos pouca certeza. O isolamento antecipado no DF, antes de ter mortes, teve potência para diminuir a propagação do vírus, para que hoje a capacidade do sistema de saúde ainda esteja preservada”, alertou.

O estudioso defende que o isolamento na capital evita cenários como os de Nova York, nos Estados Unidos, e do Equador, onde o sistema de saúde entrou em colapso. “É importante frisar que as restrições devem ser mantidas. Se você afrouxar, o vírus se propaga. Temos poucas chances de ter medida que tenha efeito a curto prazo. O ideal é insistir, ficar firme e fazer o que está sendo sugerido por meio da ciência”, reforçou. O especialista ressaltou que a maioria dos casos está concentrada em regiões como Plano Piloto e Lago Sul e que a situação deve piorar quando a doença chegar às periferias, onde há maior dificuldade de aplicar o distanciamento.

Na quarta-feira, uma recomendação conjunta dos ministérios públicos Federal, do Trabalho, do DF e de Contas do DF também questionou o afrouxamento do isolamento no DF e pediu esclarecimentos do governo local sobre quais estudos e critérios foram usados para embasar a liberação das atividades.

  • Linha do tempo

     (Ed Alves/CB/D.A Press)  

    14 de março


    » Aulas (foto) e eventos com público superior a 100 pessoas são suspensos por 15 dias

    19 de março

    » A atividade comercial do DF é suspensa. Mercado, farmácias e padarias, considerados serviços essenciais, são liberados para abrir as portas

    27 de março

    » Lotéricas, correspondentes bancárias, lojas de conveniência e minimercados de postos de combustíveis recebem autorização para funcionar

    1º de abril   

    » GDF estende restrições do comércio até 3 de maio, mas libera feiras permanentes que vendem alimentos

    7 de abril

    » O Executivo local permite a abertura de agências bancárias públicas e privadas

    9 de abril

    » Lojas de móveis e eletroeletrônicos da capital também recebem permissão para abrir

    14 de abril


    » Governo autoriza também que ópticas abram as portas para os clientes

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 16 de abril de 2020

COMPANHEIRO DOS DIA DE SOLIDÃO

 

Companheiro dos dias de solidão
 
 
Em tempo de isolamento social, os animais de estimação têm sido ótimos parceiros de quarentena e tornado o dia a dia dentro de casa mais divertido

 

» Juliana Andrade

Publicação: 16/04/2020 04:00

Única companhia de Nathália Luna nos dias de quarentena, Minduim tem sido um alento para a dentista
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Única companhia de Nathália Luna nos dias de quarentena, Minduim tem sido um alento para a dentista

 


O distanciamento social ainda é a principal forma apontada por especialistas para combater o avanço do coronavírus. Com decretos e recomendações, muitos permanecem em casa e adiam os encontros com amigos e familiares. E é neste momento que os animais de estimação têm se mostrado mais importantes do que nunca. Se antes, eles já eram os amigos mais fiéis dos tutores, agora não é diferente. Em meio à quarentena, os pets tornam os dias de isolamento mais divertidos e ocupados.
 
Minduim, o dachshund da dentista Nathália Luna, 34 anos, é a única companhia dela nas últimas semanas. Com a quarentena, o cachorro ganhou a presença da tutora 24 horas por dia. “Ele está muito grudado em mim, dorme junto, fica se encostando.” Porém, não foi apenas Minduim que ganhou com a nova situação. Morando sozinha, Nathália garante que o animal deixa os dias de isolamento bem mais leves. “Ele tem evitado que eu fique maluca. É difícil ficar sozinha, sem conversar, sem abraçar. Pelo menos, eu posso abraçá-lo, apertá-lo, brincar”.

Para Diego e Caroline Egídio, Fera tem sido essencial para manter a rotina de casa (Arquivo Pessoal)  

Para Diego e Caroline Egídio, Fera tem sido essencial para manter a rotina de casa

 

Com a advogada Danielle de Castro, 37, não é diferente. Ela até tem a companhia do marido, mas é o cachorro, Chico, quem deixa a rotina do home office mais tranquila. “Está sendo muito engraçado. É como se estivesse o conhecendo melhor. A demanda de trabalho é grande, mas ele me distrai um pouco”, conta. Danielle se diverte ao ver a rotina diária do cão de perto. “Quando a comida acaba, ele vai para o lado do armário e fica lá. Chico tem toda uma rotina, e eu não presenciava isso. Agora estou vendo, e isso me distrai”, ressalta.
 
A psicóloga Andréa Chaves explica que o humano é um ser de relações, e a presença dos animais diminuem a sensação de solidão causada pela quarentena. “O animal te tira dessa sensação de inércia, proporcionada pelo isolamento”, diz. Além disso, a distração e a responsabilidades que os pets trazem ajudam a controlar a ansiedade e o estresse causados pela ociosidade, segundo a psicóloga. Para Andréa, este é o momento de aproveitar a presença dos pets. “O isolamento social não precisa ser um distanciamento afetivo. Eu posso treinar meu afetos com os animais, e este período de quarentena é de fato para a gente desfrutar e alinhá-lo à nossa evolução, no sentido de valorizar a companhia do animal, da família ou de uma simples ida ao parque”, destaca.

 

"Chico tem toda uma rotina, e eu não presenciava isso. Agora estou vendo, e isso me distrai"



Danielle de Castro, advogada

Rotina
Outro benefício apontado pela especialista é em relação à rotina. Os animais demandam horários e tarefas, algo importante para o bem-estar das pessoas ociosas em casa. “O ser humano sente falta disso. O nosso cérebro precisa de um pouco de acomodação. Essa vida sem saber o que vai acontecer aumenta a nossa carga de estresse. Pensar em uma rotina, que é algo que os animais nos obrigam a fazer, é muito importante", ressalta a psicóloga.
 
A advogada Caroline Egídio, 29, por exemplo, é obrigada a ter uma programação com o yorkshire Fera. “Ele está sendo essencial para manter uma rotina. Em casa, a gente se perde um pouco, acaba dormindo muito. Com o animal, eu tenho obrigações com a alimentação e os banhos.” Além das tarefas com o pet, as brincadeiras têm contribuído para o bem-estar dela e do animal. “A gente diminuiu os passeios, então fico brincando para ele não acabar entediado, pois ele também é um ser vivo e precisa de atenção.” 

 

"O Scooby exige muita atenção, e estar dentro de casa com ele é diferente"



Eliane Raye, empresária

Cuidados
A empresária Eliane Raye, 50, também tem visto os dias de quarentena ficarem mais leves com a presença de Scooby, sua única companhia durante o isolamento. Para ela, os momentos em casa aproximaram ainda mais os dois. “Eu nunca fiquei com ele o tempo todo. Eu saía de manhã e só voltava no fim da tarde”, justifica. Para ela, o animal está sendo seu conforto emocional. “O Scooby exige muita atenção, e estar dentro de casa com ele é diferente”, comenta. A tutora já está preocupada com o fim da quarentena. “Precisei ir à farmácia e, assim que saí, já ouvi os latidos dele”, conta. 
 
A mudança na rotina dos donos também impacta na dos animais, segundo a veterinária Valéria Cunha. “Precisamos tomar cuidado, principalmente com o aumento de petiscos e guloseimas, que normalmente eram dados apenas no fim de semana. Em excesso, podem causar aumento de peso, problemas hepáticos ou alergias”, enfatiza. 
 
Em relação ao retorno aos postos de trabalho e o consequente distanciamento dos animais após a quarentena, a dica é fazer algumas adaptações: “Para gatos, existem produtos como o feliway (versão sintética do ferormônio felino FR), que trazem sensação de segurança e bem-estar aos felinos. Com os cães, temos as opções de day care, onde eles podem gastar energia e socializar com outros cães”, orienta. Outra opção são os brinquedos interativos. Os objetos ocupam os pets na ausência dos donos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 15 de abril de 2020

PRACINHA DE 99 ANOS SE RECUPERA DA CORONAVÍRUS

 

CORONAVÍRUS
 
Esperança em meio à pandemia
 
 
Veterano da Segunda Guerra Mundial, Ermando Piveta, 99 anos, venceu a batalha contra o coronavírus. Pracinha passou oito dias internado no Hospital das Forças Armadas e recebeu alta ontem. Ele deixou a unidade de saúde sob aplausos

 

» MAÍRA NUNES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 15/04/2020 04:00

Usando uma caideira de rodas, Ermando Piveta se emocionou na saída do hospital ontem. Equipe médica da unidade homenageou o ex-combatente com uma salva de palmas (Evaristo/SA/AFP)  

Usando uma caideira de rodas, Ermando Piveta se emocionou na saída do hospital ontem. Equipe médica da unidade homenageou o ex-combatente com uma salva de palmas

 


Aos 99 anos, o ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Ermando Piveta venceu, segundo ele, a batalha mais difícil que já enfrentou: o coronavírus. Apesar de ser sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, o militar ressaltou que a luta contra a Covid-19 foi extremamente difícil. Após passar oito dias internado no Hospital das Forças Armadas (HFA), ele recebeu alta na tarde de ontem, e é considerado recuperado da doença. Em um momento de incertezas, a histórias de Ermando traz um sopro de esperança nesta pandemia.
 
“Foi uma luta tremenda, mais do que na guerra”, frisou. Em vídeo divulgado pelo Exército Brasileiro, Ermando parabenizou a equipe médica do HFA e os militares que prestaram apoio. “Na guerra, você mata ou vive. Aqui, tem que lutar para poder viver. Saí dessa luta vencedor”, afirmou. O ex-combatente deixou a unidade de saúde por volta das 14h.

Filha de Ermando, Vivian Piveta comemorou a recuperação do pai após internação (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Filha de Ermando, Vivian Piveta comemorou a recuperação do pai após internação

 

Na saída do hospital, Ermando foi saudado como um vitorioso. Médicos, enfermeiros e demais profissionais do HFA se enfileiraram fazendo um corredor, enquanto ele era levado em uma cadeira de rodas sob aplausos dos presentes. Até um trompete foi tocado em homenagem a ele por um representante das Forças Armadas Brasileira.
 
Muito emocionado, Ermando acompanhou as palmas, e depois levantou os braços em sinal de vitória. Vibrante, o paciente, já recuperado, posou para uma foto histórica junto aos profissionais de saúde. Com a voz baixa e abafada pela máscara, ele agradeceu aos cuidados de toda a equipe do hospital. A filha de Ermando, Vivian Piveta, também falou algumas palavras de agradecimento, e disse não saber onde o pai foi contaminado.

 

"Foi uma luta tremenda, mais do que na guerra"

Ermando Piveta, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira

 

Herói
No vídeo divulgado pelo Exército Brasileiro, Vivian ressaltou que toda família está muito feliz com a recuperação do pai e, principalmente, com a volta dele para casa. De acordo com ela, esse momento significa esperança para todos. “Sem dúvida, é uma grande mensagem de que a gente pode vencer e que Deus é presente”, comemorou emocionada.
 
O médico à frente do atendimento de Ermando, o infectologista Hemerson Luz, ressaltou que o paciente faz parte do grupo de maior letalidade para a Covid-19. “Todos ficamos apreensivos, esperando até um desfecho desfavorável para ele. Porém, surpreendentemente, ele superou”, explicou. De acordo com o especialista, o ex-combatente apresentou sintomas no final de março, e em abril teve pneumonia, quando foi internado. “É um caso de esperança, e mostra que existe possibilidade de cura para todos”, destacou.
 
Ermando estava hospitalizado na ala destinada aos pacientes do novo coronavírus desde 6 de abril. Ele recebeu alta do hospital, coincidentemente, no mesmo dia em que se comemora 75 anos da Tomada de Montese, campanha de sucesso das tropas brasileiras na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Em setembro de 1942, o ex-combatente foi tripulante do navio Almirante Alexandrino, que viajou do Rio de Janeiro até Dakar, no Senegal. No país africano, participou de treinamentos de guerra. Em seguida, atuou nas ações de guarda da costa brasileira em Fernando de Noronha, Pontal do Cururipe, Natal e Recife.
 
 
 
Explicações
 
O Governo do Distrito Federal (GDF) deverá explicar ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) o motivo de ter flexibilizado algumas medidas de restrição na capital. Nas últimas semanas, o chefe do Executivo, Ibaneis Rocha (MDB), publicou decretos liberando o funcionamento de alguns setores, como lotéricas, bancos, lojas de móveis e eletrodomésticos, além das feiras permanentes que vendem alimentos. Ontem, integrantes da força-tarefa do MPDFT enviaram ao Palácio do Buriti um ofício com questionamentos sobre as decisões. O grupo, composto por um procurador e promotores, acompanha as ações de combate ao novo coronavírus. O MPDFT questiona, por exemplo, quais foram as razões para manter aberta toda a cadeia do segmento de automotores e de empresas de construção civil, bem como o que as diferencia de outros segmentos que permanecem fechados.
 
 
Coronavírus no DF
 
Confirmados 651
Recuperados 311
Graves 17
Mortes 17
Homens 385
Mulheres 266
» Regiões mais afetadas
Plano Piloto 176
Águas Claras 68
Lago Sul 62
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 14 de abril de 2020

LIBERAÇÃO DO COMÉRCIO PREOCUPA

 

Liberação no comércio

 

Publicação: 14/04/2020 04:00

Beatriz e Felix aguardavam a abertura das lojas para comprar móveis (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Beatriz e Felix aguardavam a abertura das lojas para comprar móveis

 


Na noite de quinta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou decreto que autoriza o funcionamento de estabelecimentos do setor de móveis e eletrodomésticos. Ontem, lojas do segmento abriram as portas para receber clientes, retomando o atendimento e as vendas. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a decisão levou em conta análises sobre a disseminação do novo coronavírus no DF e deve reaquecer o setor. Shoppings, apesar de abrigarem muitos comércios do tipo, permanecem fechados.
 
Em Taguatinga, região que concentra diversos estabelecimentos do ramo, o movimento, ontem, era tímido. A circulação mais intensa ocorria em ruas próximas a agências bancárias, também liberadas para atendimento ao público pelo Executivo local. Morador do Recanto das Emas, o militar Felix Nascimento, 21 anos, e a noiva dele, a manicure Beatriz Santos, 21, foram a Taguatinga comprar móveis para a nova casa, onde vão morar depois de se casarem.
 
Ele conta que aguardava a abertura das lojas havia algum tempo e que apoia a flexibilização das medidas de contenção. “Muita gente depende disso tanto para comprar quanto para trabalhar. Muita gente vem perdendo o emprego. Acho importante abrir aos poucos. Vai ser importante para a economia”, defende Felix.
 
Riscos
O GDF estuda a liberação das atividades em outras áreas do comércio, no entanto não há definição de qual setor será contemplado em novos decretos nem da data para abertura. A avaliação, segundo o Palácio do Buriti, terá base no cenário da capital federal. Entre as variáveis estudadas estão o horário de funcionamento e a quantidade de pessoas impactadas. Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia adianta que o setor produtivo encaminhará, dentro dos próximos cinco dias, um estudo com planejamento de reabertura do comércio. O assunto foi debatido ontem em reunião com o secretário de Economia, André Clemente.
 
“O setor produtivo propôs, e o governo topou receber esse plano. Entrar em uma guerra é fácil, mas sair dela é muito difícil. Vamos apresentar um modelo de como devem ser abertas (as lojas), considerando todas as questões de segurança, e tratar de setores que podem voltar a funcionar, desde que seguidas algumas normas”, detalha Francisco. “O que existe hoje é a indefinição, ninguém sabe como será o próximo mês. E nenhuma empresa aguenta mais 30 dias de portas fechadas”, acrescenta.
 
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), José Carlos Magalhães Pinto, a decisão do Buriti foi bem planejada, pois os funcionários do segmento têm trabalhado em ambientes sem aglomeração e com equipes menores. “(Móveis e eletrodomésticos) são setores que correspondem a um ou dois por cento da força trabalhadora, e não vão ter grande influência na expansão do vírus. Mas o que cobramos de todos é o cuidado, tanto (por parte) dos empresários quanto dos funcionários”, argumenta José Carlos.
 
Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos considera a flexibilização das normas para estabelecimentos uma “questão de lobby”. Para o pesquisador, a escolha pelo ramo de eletrodomésticos e móveis não faz sentido e não tem “racionalidade econômica”. “Isso pode ter um custo econômico impressionante se você tiver a propagação da doença”, pondera. “Quando a curva de contágio está caindo, você pode começar a discutir a abertura de setores, mas nunca quando os casos ainda estão aumentando”, explica.
 
Favorável às medidas de auxílio financeiro para pessoas em situação de vulnerabilidade, trabalhadores informais, além da abertura de crédito para que empresas possam pagar as folhas de funcionários, Carlos Alberto não apoia a medida atual e acredita que ela pode abrir espaço para representantes de outros segmentos comerciais não essenciais pleitearem a mesma ressalva. “Seria possível cometer esse erro há quatro, cinco meses, mas não depois de vermos pelo que passaram Inglaterra, Estados Unidos, França. Não é um erro que pode levar a algo menor, é um erro que pode levar a uma catástrofe”, alerta.
 
 
Servidores reclamam de condições do Metrô
 
Funcionários da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF) reclamam da falta de insumos, como álcool em gel e máscaras, para o combate à Covid-19. O Sindicato dos Metroviários, encaminhou ofícios à direção da empresa pedindo reforço nas medidas de proteção. Em nota oficial, a companhia afirmou que tem feito todos os esforços para suprir as necessidades, mesmo neste momento em que há escassez de produtos no mercado. “Na última quinta-feira, todas as estações foram reabastecidas com álcool em gel 70% e álcool líquido 70% para uso dos empregados”, disse o texto.
 
 
 
Palavra de especialista
 
Riscos da flexibilização
 
“É necessário compreender que o início do achatamento da curva de infecção e agravos associados à Covid-19 só ocorreu como resultado do isolamento social, e a flexibilização das medidas de restrição agora pode colocar todo esse esforço em risco. Países como Itália, Espanha, Estados Unidos cometeram o mesmo erro, o que resultou em uma grande quantidade de mortes pelo colapso no sistema de saúde. Não é o momento de flexibilizar. Não temos previsão de vacina — as mais promissoras preveem setembro — nem tratamentos totalmente eficientes — se a cloroquina fosse uma solução, estaria sendo usada nos países acima citados, evitando as mortes. Temos iniciativas científicas promissoras, mas elas precisam de tempo para serem desenvolvidas. Não é tempo de flexibilizar ou pagaremos com a vida de muitos”.
 
Maria Barros, especialista em virologia e professora do curso de biomedicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 13 de abril de 2020

VIDA NOVA EM MEIO À PANDEMIA

 

Mesmo em meio à pandemia, a celebração da vida continua nos hospitais. O pequeno Bento  (acima) veio ao mundo cheio de saúde, mas ainda não recebeu visitas em casa. %u201CPor precaução%u201D, destaca a mãe, Angélica Bandeira. O casal Luan e Ineya teve receio de ficar em uma unidade hospitalar com casos de Covid-19, mas agora é só curtir a alegria de acarinhar Airan (D).  (Arquivo Pessoal) (Arquivo Pessoal)

Vida nova em meio à pandemia
 
 
Cenários de constante combate contra a Covid-19, hospitais mantêm a rotina de acolher um dos momentos mais importantes de mães e pais: o esperado nascimento de um filho

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 13/04/2020 04:00

A estudante Yliane Mendes deu à luz à filha, Ana Lívia, em 31 de março: nada de visitas dos familiares no hospital (Arquivo Pessoal)  

A estudante Yliane Mendes deu à luz à filha, Ana Lívia, em 31 de março: nada de visitas dos familiares no hospital

 



As lembrancinhas ainda estão guardadas, o primeiro contato com os avós e os padrinhos foi por vídeo e a primeira consulta, on-line. Bento veio ao mundo em 17 de março, enquanto decretos eram publicados restringindo a circulação da população na cidade. “No dia em que ele nasceu, começaram a suspender as visitas no hospital. Minha mãe chegou para vê-lo, mas não conseguiu”, lembra a mãe do recém-nascido, a gestora de projetos Angélica Bandeira, 28 anos. A rotina no local estava diferente. Máscaras, álcool em gel e nada de pegar elevador com muitas pessoas. Ao sair da unidade médica, mais mudanças: comércio fechado e ruas vazias. “No começo, eu achei muito estranho. Quando entrei, havia alguns casos, mas ainda estava tudo normal. Quando saí, parecia que eu estava em um filme. Tudo fechado, sem carros na rua”, diz.
 
Por precaução, a mãe de Angélica ficou com a filha e a empregada doméstica foi dispensada. A gestora de projetos ganhou ainda a companhia do marido 24 horas por dia. “O pai teria de trabalhar e estudar, mas agora está fazendo tudo em casa. Ele consegue me ajudar e isso me acalma”, garante.
 
Para a ginecologista Lucila Nagata, coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia, neste momento a presença e apoio do pai da criança são ainda fundamentais. “Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas avós não estão podendo ajudar as filhas ou as noras. Algumas pacientes estão sem ajudante, como domésticas e babás, por conta desse isolamento. O que torna esta fase mais difícil ainda”, afirma. De acordo com ela, uma oportunidade a mais para aproveitar o tempo com o bebê. “Vivemos reclamando que não temos tempo e agora temos todo o tempo do mundo.”
 
Cuidados 
 
A gestora de projetos Angélica Bandeira segura o filho, Bento: mudanças na rotina (Arquivo Pessoal)  

A gestora de projetos Angélica Bandeira segura o filho, Bento: mudanças na rotina

 

 Os cuidados com os bebês são os de sempre, exceto em relação à visita dos familiares, segundo a médica Lucila. “Elas são desaconselhadas pelo risco de contaminar a mãe, o bebê ou alguém da casa”, alerta. Entre as orientações, indica, ainda, evitar saídas para a rua ou lugares com muitas pessoas — o recomendado para qualquer criança durante os primeiros 30 dias de nascido. É preciso lembrar também que o isolamento não é apenas para o bebê. A mãe deve se proteger. “Estamos aprendendo agora sobre esta virose. Todas as publicações são recentes, de janeiro para cá, e todo mundo está aprendendo junto. Então vale a pena se resguardar e deixar outras pessoas fazerem as coisas na rua para ela, se puder”, aconselha.
 
A fisioterapeuta Ineya Amorim, 31, não poupa esforços para cuidar do pequeno Airan, que completa um mês hoje. O bebê chegou quando o Brasil ainda fazia a contagem dos primeiros casos. “Eu entrei na emergência do Hospital Universitário de Brasília para ter o neném, mas como não pertencia à regional deles, queriam me encaminhar para o Hospital da Asa Norte (Hran), onde estava a mulher internada com coronavírus. Fiquei com medo e pedi para a médica não me transferir para lá de jeito nenhum”, lembra. Ineya precisou fazer uma cesária de emergência e acabou ganhando o bebê no HuB.
 
A mãe e a criança chegaram a receber visitas no hospital, mas, em casa, Ineya decidiu adiar a recepção. Porém, o apoio de amigos e familiares fez falta. “Eu tive muita dificuldade de amamentar e não tinha ninguém para me ajudar”, conta. O socorro veio de uma profissional que a auxiliou virtualmente. Além de suspender as visitas, as idas ao hospital ganharam cuidados a mais com a higiene e o banho ao voltar para casa. “Temos de ter fé e acreditar que isso é só uma fase. Mais tarde, vamos contar para ele que nasceu em um período muito polêmico e difícil. Daqui a algum tempo, vamos poder agradecer a Deus e ver tudo voltando ao normal”, espera.


Alerta para mães e pais
 
» Adiem as visitas
 
» Evitem sair para a rua ou para lugares cheios
 
» Lavem as mãos antes de pegar na criança e, se estiverem na rua, usem álcool em gel
 
» Mães, fiquem em casa. Só saiam quando for extremamente necessário
 
» A amamentação é de extrema importância, pois é nesse período que o neném recebe da mãe vários anticorpos
 
» Muitas mães sentem sintomas de gripe nesse período. Caso não apresentem outros sinais, como febre e dificuldade de respirar, não vão a um pronto-socorro


"Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas
avós não estão podendo ajudar as filhas ou noras. Algumas pacientes estão sem ajudante,
como domésticas e babás, o que torna esta fase mais 
difícil ainda”
 
Lucila Nagata, 
ginecologista e coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 12 de abril de 2020

ALÍVIO E ESPERANÇA APÓS A CURA

 

Alívio e esperança após a cura
 
Pacientes que enfrentaram e venceram a Covid-19 deixam mensagem de superação. Depois da angústia de lidar com a doença, eles voltam, aos poucos, às próprias rotinas e reforçam a importância do isolamento social

 

MARIANA MACHADO
BRUNA LIMA

Publicação: 12/04/2020 04:00

 

"O tempo todo eu pensava que dali a um minuto ia passar mal. A gente acha que o pior vai acontecer" Daniela Teixeira, advogada, primeira paciente curada do DF

 

 
“Existe uma luz no fim do túnel para todo mundo”, afirma a advogada Daniela Teixeira. A frase reflete a confiança de quem enfrentou e venceu a Covid-19, doença que já fez, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 83,4 mil mortos e infectou mais de 1,4 milhão de pessoas no mundo. No Distrito Federal, entre os mais de 520 casos, cerca de 150 se recuperaram. Daniela foi a primeira brasiliense a se ver livre da doença e, na Páscoa, quando os cristãos comemoram o renascimento, ela pede esperança a todos, ao ter, ela própria, a vida renascida.
 
Daniela contraiu o coronavírus no início de março, quando participou de uma conferência em Fortaleza. Ao voltar para casa, soube que outras pessoas que estiveram no evento estavam manifestando sintomas e fazendo testes com resultado positivo para o vírus. Diante disso, ela se submeteu ao exame, mesmo sem sentir nada, e, em 17 de março, recebeu o diagnóstico. “Não imaginava de jeito nenhum, foi um choque imenso. É quase uma sentença de morte que te entregam, porque todas as notícias, naquele momento, eram de ser algo letal”, recorda.
 
A partir daí, ela ficou em isolamento domiciliar, acompanhada do marido e dos filhos, com quem já tinha tido contato. A família, incluindo parentes que não moram na mesma casa, foram testados, mas nenhum havia sido infectado. Em casa, todo o cuidado para evitar a transmissão. “Eu imagino que foi muito duro para a minha família. Minha filha pequena não entendia, e como entender, com apenas 6 anos? Ela queria abraçar, beijar, dormir comigo, mas não podia”, recorda.
 
Compras eram feitas pelos pais dela, que deixavam os pacotes na entrada da casa e iam embora. No dia a dia, ficava a angústia de não saber se os sintomas poderiam se agravar. “O tempo todo eu pensava que dali a um minuto ia passar mal. A gente acha que o pior vai acontecer”, declara Daniela. “Eu tinha dor de cabeça ou no peito e esperava que aquilo fosse evoluir para um quadro pior, mas foi tudo muito leve.”
 
Daniela foi acompanhada pela Secretaria de Saúde e por uma médica particular com quem falava diariamente. “É muito importante esse contato para comunicar caso haja uma mudança no quadro. É preciso acreditar no vírus, não pode achar que é uma gripezinha.” Após 16 dias de infecção, um novo exame e o resultado negativo. “Foi o dia mais feliz da minha vida, saber que passou. Sou grata a Deus e agora estou inscrita em três programas de acompanhamento de hospitais, à disposição para todo exame que precisem nas pesquisas.”
 
A boa notícia foi motivo, claro, de festa. “Todo mundo dançou na cozinha. Hoje, estou bem, ótima. Só apreensiva, e triste. Abala muito o emocional da gente ver o mundo passando por isso. Tenho três amigos na UTI.” A vitória faz com que Daniela reforce a importância de ter esperança. “Muitos infectados vão passar por isso bem”, garante. “Tem que reforçar o isolamento. A gente vê o que está acontecendo nos Estados Unidos, e o Brasil é muito parecido em tamanho de população. Mas a gente não tem os meios que eles têm na medicina. É muito importante ficar em casa.”
 
 

"Só quem passou por isso sabe o tanto que é triste você ter que ficar distante das pessoas de que gosta. Foi um período de muito sofrimento" Jhennifer Karoline Ferreira, recepcionista de hospital

 

 
Recuperação
 
Depois do susto de ter a Covid-19, aos poucos, a vida volta ao normal. Que dirá Jhennifer Karoline Ferreira, 24 anos, recém-recuperada da doença. Em 16 de março, ela começou a ter diarreia e tosse e, por trabalhar como recepcionista em um hospital particular, imediatamente comunicou aos superiores, que a encaminharam para fazer o teste. Após o resultado positivo, foi colocada em isolamento domiciliar.
 
Em casa, ficou com o pai e o irmão, tendo o cuidado de usar um banheiro apenas para ela, e manter-se no quarto e sem compartilhar objetos, como pratos e talheres. O mais difícil foi se afastar da filha, de apenas 2 anos. “Fiquei muito abalada, pois só via coisas ruins sobre a doença. Inclusive estou tendo, até hoje, acompanhamento com psicólogo.” Por cinco dias, ela manteve sintomas. Após duas semanas, prazo exigido para o isolamento, finalmente teve alta. “Foi a maior felicidade do mundo! Só quem passou por isso sabe o tanto que é triste você ter que ficar distante das pessoas de que gosta. Foi um período de muito sofrimento.”
 
De volta ao trabalho, ela lembra que, quem está curado, não transmite mais a doença. “As pessoas precisam ser mais empáticas com quem tem o vírus e com quem se recuperou, e serem menos preconceituosas. Estamos todos sujeitos a isso. Ninguém escolhe estar doente”, declara. “Para quem contraiu o vírus, digo que é só uma fase ruim, mas logo vai passar. Não se desespere, e se cuide no período do isolamento, seguindo as recomendações médicas.”
 

 
"Não é só uma gripezinha, não é brincadeira. Tem gente se sacrificando nos serviços essenciais, e cabe a todo mundo fazer a sua parte" Caio Quemel, personal trainer
 
Isolamento
 
Especialistas destacam que o contágio se dá, principalmente, pelo contato com gotículas de saliva de pessoas infectadas. Ter boa imunidade não impede a contaminação, no entanto, pode ajudar a diminuir a gravidade dos sintomas, ou até mesmo evitar que eles apareçam (veja quadro). O bom histórico de saúde e a trajetória de atleta não impediu que o personal trainer Caio Quemel, 24 anos, manifestasse um quadro grave da Covid-19.
 
Embora não tenha doenças crônicas, se viu surpreso ao manifestar os primeiros sintomas em 12 de março. Em uma primeira visita ao hospital, foi mandado para casa. Sem melhorar, retornou, e, em 18 de março, precisou ser internado na UTI, em estágio avançado de pneumonia. Foi um dia na unidade e mais seis em quarto hospitalar. Depois disso, isolamento domiciliar por duas semanas.
 
Por morar com a mãe e a avó, ambas idosas, ficou recluso no quarto, recebendo comida na porta e sem contato algum com as duas. No último domingo, finalmente o resultado negativo do teste de coronavírus. Estava curado. “A sensação é de alívio e tranquilidade. Tudo o que passei foi difícil, mas consegui vencer”, comemora. Durante a internação, teve uma crise de tosse que o preocupou. “Mas eu não podia dar o braço a torcer, porque precisava proteger a minha família.”
 
Depois da experiência, ele enfatiza a necessidade do isolamento social. “O ideal é ficar em casa, com certeza. Essa é a recomendação da OMS. Não é só uma gripezinha, não é brincadeira. Tem gente se sacrificando nos serviços essenciais, e cabe a todo mundo fazer a sua parte”, defende. “Agradeço por estar vivo, e sei o quanto essa é uma doença que pode impactar o Brasil se não tivermos cuidado. O sistema de saúde precisa ter tempo para se preparar melhor.”
 
 
 
 
Previna-se
 
Estar com a saúde forte pode até não evitar o contágio por coronavírus, mas contribui para que a pessoa infectada desenvolva menos sintomas da doença. Veja as dicas para aumentar a imunidade:
 
 
Alimentação variada
» Consuma proteínas, carboidratos e sais minerais, porque isso ajuda a produzir anticorpos. Não se trata de comer coisas específicas, mas, sim, de variar o cardápio. Também beba bastante água e mantenha o corpo hidratado.
 
 
Atividade física
» Artigos provam que fazer exercícios estimula a produção de leucócitos, que são os glóbulos brancos. Uma atividade leve já ajuda.
 
 
Abra as janelas
» Mantenha a casa arejada. A boa ventilação evita que o pulmão fique exposto a mofo e a poeira.
 
 
Mantenha a calma
» Estresse e ansiedade em excesso fazem o corpo produzir cortisol, hormônio que interfere na resposta da imunidade. Por mais ansiosos que estejamos em casa, é preciso tentar se acalmar.
 
 
Vitamina C
» É bastante eficaz em relação à imunidade, mas, se você consome frutas cítricas, como limão, laranja e acerola, não é necessário comprar separadamente, porque já supre a demanda.
 
 
Tome sol
» Ficar sob o Sol por 10 a 15 minutos, de manhã cedo, no quintal, ajuda a sintetizar a vitamina D, importante para a imunidade.
 
Fonte: Alexandre Soares, professor de patologia e imunologia do Centro Universitário Iesb
 
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Correio Braziliense sábado, 11 de abril de 2020

SEJA BEM-VINDO, COELHINHO!

 

Seja bem-vindo, coelhinho!
 
Mesmo reclusos, pais e mães permitem que o ser mágico da Páscoa entre em suas casas e faça a alegria da garotada

 

» ANA CLARA AVENDAÑO*
» CELIMAR MENEZES*
» ROBERTA PINHEIRO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 11/04/2020 04:00

Yasmin Nathair, 16, ajuda a mãe com os preparativos para a irmã, Nicole, 9, procurar os ovos pela casa (arquivo pessoal)  

Yasmin Nathair, 16, ajuda a mãe com os preparativos para a irmã, Nicole, 9, procurar os ovos pela casa

 

Alguns mais novos, outros mais velhos. Não importa a idade, a magia da Páscoa ainda está presente na infância de muitos brasilienses. Mesmo com as restrições vividas pelas famílias para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, pais, mães e crianças garantem a essência da festividade com brincadeiras e mensagens sobre a importância da data. O tão falado vírus, que fechou as escolas e os parquinhos, transformou-se, na verdade, em mais um elemento na caça aos ovos deixados pelo coelhinho.
 
A iniciativa pensada por Rúbia Pinheiro, 43 anos, foi trazer alegria para as filhas. A servidora pública vai preparar uma caça especial aos ovos para Isabela Pinheiro, 8, e Júlia, 5. “A minha família é de Salvador, e a do meu marido, do Recife. Sempre viajamos para um dos lugares a fim de comemorar a data em família”, explica Rúbia. Impossibilitados de sair de Brasília este ano, a mãe das meninas teve que improvisar. “Imprimi vários enigmas e espalhei pela casa. O primeiro vou colocar na porta do quarto delas e, à medida que forem desvendando, vão colhendo vários ovinhos, até chegar no maior”, detalha.
 
A caça aos ovos de Páscoa também é uma tradição na família de Érica Nathair, 40. Há mais de 10 anos, ela, o marido e as duas filhas compartilham o momento juntos. “Nesta Páscoa, acabei encomendando chocolate de microempresas, que estão precisando de renda”, explica a funcionária pública. A tradição começou com a filha mais velha, Yasmin Nathair, 16. “Quando ela descobriu que o coelhinho da Páscoa não existia começou a me ajudar a fazer para minha filha mais nova, Nicole, de 9 anos”, relata Érica. Juntas, elas pintam a casa toda e colocam pistas. “Nosso objetivo é relembrar o renascimento de Jesus e celebrar o encontro da família”, comenta a mãe.
 
Miguel fez várias atividades antes da chegada da Páscoa: primeira caça aos ovos (Arquivo pessoal)  

Miguel fez várias atividades antes da chegada da Páscoa: primeira caça aos ovos

 

 Para o terapeuta Fabrício Nogueira, festejar a data, mesmo reclusos em casa, é importante para a saúde mental. “A festa, em geral, traz exatamente aquilo que as pessoas estão sentindo falta, que são entrosamento, conexão e empatia”, aponta. Na opinião do especialista, no momento em que as pessoas estão unidas, fisicamente ou virtualmente, podem agradecer por estarem bem, juntas e por lidarem com a situação “Quando há gratidão, coloca-se mente e corpo em uma estrutura de força. O agradecimento dissipa medos, e é nesse momento que a imunidade aumenta”, explica.
 
Tradição
 
De jardineira jeans, orelhas brancas com azul e nariz vermelho, o pequeno Miguel, de 3 anos, canta a música que aprendeu e, ao final, manda um beijo para o coelhinho da Páscoa de verdade. “Este ano, foi o ano que ele mais curtiu. Queria sair e distribuir ovos para todo mundo”, conta, aos risos, a mãe, a empresária Fernanda Sterquino. Por conta das determinações do governo local para o combate ao novo coronavírus, Miguel não tem ido ao colégio. “Sempre fui uma mãe empolgada com as comemorações e festinhas da escola. Então, não queria que ele perdesse. Esta semana, imprimi mil atividades de Páscoa para fazer com ele. Fizemos máscara, orelha, pintamos ovos, para ele entrar no clima”, detalha.
 
Com o isolamento, Miguel não poderá curtir o dia com os primos nem trocar chocolate, como de costume. Contudo, Fernanda preparou todos os detalhes para que o filho não perdesse a magia da data. “Ele acredita muito. Nos outros anos, como era muito novo e não entendia, a gente não fez nada específico. Mas, este ano, vamos fazer a primeira caça aos ovos. Ele acha que o coelhinho vai subir aqui em casa ou deixar debaixo do prédio. Fica sempre comentando”, conta.
 
Mesmo longe dos parentes, Isabela e Júlia não deixarão de celebrar a data: enigmas para achar os ovos (Rúbia Pinheiro/Divulgação)  

Mesmo longe dos parentes, Isabela e Júlia não deixarão de celebrar a data: enigmas para achar os ovos

 

Para deixar a brincadeira ainda mais criativa e com a cara de Fernanda, ela aproveitou para desenvolver na própria empresa, Enjoy the love BsB, um kit de caça aos ovos. Com tags coloridas e coelhinhos para serem espalhados pela casa, os elementos dão as orientações. Na criação do produto, o modelo, claro, foi o pequeno Miguel. “A Páscoa não é o principal ramo da Enjoy, mas fiz pensando muito nele, e em algumas opções de presente para celebrar a data”, acrescenta a empresária.
 
Para a empreendedora Damiana Rodrigues, 47, a Páscoa significa um retorno à infância. “Quando eu era pequena, meus pais escondiam os ovos e me faziam procurar pela casa toda”, relembra. Desde que se casou, aprendeu uma nova técnica com a família do marido. “Os pais dele fazem as pegadas do coelhinho na farinha com os dedos. Este ano, Damiana vai colocar a ideia em ação com o filho de 4 anos. Vamos misturar a tradição da minha família com a do meu marido”, explica. A festividade continua durante o almoço. “Eu sou neta de português, então, a gente sempre come bacalhau. A receita é da minha bisavó, mãe do meu avô.”
 
* Estagiários sob supervisão de Sibele Negromonte


Para fazer em casa
Veja três dicas para os preparativos da Páscoa com a criançada:
 
Guirlanda de cenouras
 
Lista de materiais
» Tiras de papel
» Grampeador ou fita adesiva
» Linha ou fio de nylon
 
Como fazer?
» Para fazer cada cenoura, corte duas tiras de papel laranja, com 2cm de largura por 20cm, e três tiras de papel verde, com 2cm por 10cm.
» Junte as tiras laranjas grampeando uma das pontas ou colocando fita adesiva.
» Na outra ponta, junte as três tiras verdes com a tira laranja, rampeando ou colocando com fita adesiva.
 
 
Cartão para o coelhinho com carimbo de batata
 
Lista de materiais
» Batatas
» Lápis
» Faca – usada pelo adulto
» Prato
» Tintas coloridas
» Papel para carimbar
» Pincel ou esponja cortada
 
Como fazer?
» Corte a batata no meio.
» Faça relevos com a ajuda do lápis nas duas metades, com desenhos diferentes.
» Corte com a faca, fazendo um alto relevo no desenho feito na batata.
» Depois, aplique a tinta como desejar.
» Carimbe em um papel, faça testes necessários, antes de fazer o cartão oficial para o coelhinho. Ele vai amar!
 
Biscoito amanteigado da Tia Day
 
Ingredientes
 
» 200g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
» 1 xícara de chá de açúcar refinado peneirado
» 1 ovo
» 1 colher de sopa de baunilha
» 3 xícaras de farinha de trigo
» 1 colher de sopa de fermento em pó
 
Como fazer?
» Bata bem a manteiga e o açúcar, acrescentado o ovo e meia colher de essência de baunilha.
» Acrescente, aos poucos, três xícaras de farinha de trigo.
» Quando a massa pegar uma certa consistência, enfarinhe uma bancada e trabalhe-a, até agregar toda a farinha, e adicione uma colher de sopa de fermento em pó.
» Cubra com filme plástico e deixe na geladeira por 20 minutos.
» Abra a massa com um rolo de macarrão (o melhor jeito de abrir a massa é sobre uma folha de papel manteiga).
» Corte no formato desejado (coelhinho ou ovo de Páscoa!) e leve ao forno médio, preaquecido.
» Quando a massa começar a ficar douradinha, retire do forno e deixe esfriar.
 
Essa receita rende até 100 biscoitos
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 10 de abril de 2020

GRÁVIDAS EM RIGOROSA QUARENTENA

 

Grávidas em rigorosa quarentena
 
Especialistas recomendam cuidados redobrados para evitar contaminação durante o período de gestação. Mamães devem manter atenção à higienização e ao isolamento domiciliar para minimizar o perigo. Maternidades garantem segurança à saúde

 

» MARIANA MACHADO
» THAÍS UMBELINO

Publicação: 10/04/2020 04:00

Karla e o marido, Gilcimar,  aguardam a chegada de Ariela:  

Karla e o marido, Gilcimar, aguardam a chegada de Ariela: "A primeira vez que ouvi sobre a doença na China, estava com sete meses de gravidez. Nunca imaginei isso no Brasil"

 


Aguardar a chegada de um filho é um momento repleto de amor, mas também de preocupações. Em tempos de coronavírus, gestantes se veem cercada de incertezas a respeito dos riscos que correm e cuidados que devem ter. Mas os especialistas explicam: as futuras mamães seguem as mesmas orientações do restante da população. Com higienização e isolamento domiciliar, minimiza-se o perigo.
 
Grávida há quatro meses, a auxiliar de curso Sthefanne Pacheco, 25 anos, espera a chegada de Pérola, a segunda filha. Enquanto isso, redobrou os cuidados e procura sair de casa apenas quando necessário, como para consultas e exames do pré-natal. Ela trabalha com atendimento ao público em uma universidade e foi a primeira funcionária a trabalhar em home office. Com isso, não precisou mais usar transporte público, espaço por onde circulam muitas pessoas.
 
Em casa, uso contínuo de álcool em gel e, quando é necessário sair para fazer compras, por exemplo, o marido fica encarregado, sempre utilizando máscara de proteção. Como as consultas do pré-natal acontecem uma vez por mês, ela se diz tranquila e consegue tirar dúvidas corriqueiras por mensagens com o médico que a acompanha. “Quando se está gestante, há essa mania de ir à emergência, porque acontece alguma coisa e não se sabe do que se trata. A facilidade de trocar mensagens é ótimo, porque nem é recomendado ir ao hospital agora.”

Sthefanne Pacheco espera pela segunda filha, Pérola: saídas essenciais (Arquivo Pessoal)  

Sthefanne Pacheco espera pela segunda filha, Pérola: saídas essenciais

 

Na expectativa por um parto normal, Sthefanne deve dar à luz em setembro. A dúvida é se o ambiente estará devidamente esterilizado. “Quero pesquisar mais, saber direitinho como a maternidade funciona e se estão tendo acesso aos equipamentos de proteção individual (EPIs)”, relata. “O maior questionamento que eu tenho é o que pode acontecer com a mãe que tenha contraído a Covid-19, e qual impacto tem na gestação, na vida intrauterina do neném.”
 
Ginecologista e obstetra da Maternidade Brasília, Evaldo Trajano Filho, afirma que a maioria das mães manifestou a mesma dúvida. “Não há nenhum caso registrado de transmissão da mãe para o feto. Existem estudos em cordão umbilical, líquido amniótico e não se conseguiu constatar essa transmissão até o momento.” O médico acredita que, devido aos casos de microcefalia em bebês em decorrência do Zika Vírus, as mulheres estão em alerta.
 
Outra angústia é quanto à limpeza do ambiente hospitalar durante o nascimento. Segundo o médico, o mais recomendável é que a área da maternidade seja exclusiva, sem contato com demais espaços, como o pronto-socorro. Ele enfatiza, ainda, que não se deve optar por partos em casa. “A obstetrícia não pode ser tratada como situação de exceção. Parto domiciliar é difícil, porque, nessa área, a linha entre uma situação normal e uma complicação é muito tênue. Com ou sem pandemia, há uma posição muito clara quanto a isso.”
 
O médico reforça que, embora gestantes não sejam grupo de risco, precisam tomar cuidados. “Obviamente, elas saem mais. Não dá para fazer atendimento a distância, porque a consulta não envolve só ela. É preciso auscultar o feto, medir o diâmetro da barriga. Mas o bom senso é importante. Em laboratórios e clínicas de imagem, pode usar a máscara.”
 
 
Cinco perguntas para
 
Carla Martins, obstetra especialista em reprodução humana assistida
 
Devido à pandemia, quais são os principais cuidados necessários durante o período gestacional?
Apesar de as mulheres grávidas não estarem no grupo de maior risco da doença, a prevenção é o melhor a se fazer. É necessário que os cuidados sejam redobrados. A grávida deve ficar em casa e evitar, ao máximo, contato com outras pessoas. Nesse período, se a gestante precisar de um pré-natal, o médico garantirá a segurança. As consultas devem ser breves e marcadas individualmente, sem que haja pessoas na sala de espera. O número de acompanhantes também deve ser mínimo. Em alguns casos, a telemedicina pode ajudar. Se a gestante apresentar sintomas gripais, a orientação é de que ela procure um pronto-socorro.
 
Existe a possibilidade de a mãe transmitir o coronavírus ao bebê ainda na barriga?
Estudos iniciais revelam que não há transmissão vertical da doença, ou seja, da mãe para o bebê. Até agora, o vírus não foi encontrado em amostras de líquido amniótico ou leite materno em grávidas infectadas. Mas ainda é cedo para dar certeza sobre qualquer informação, pois é um vírus muito novo.
 
Quais cuidados devem ser tomados durante o parto?
A recomendação é de que o parto seja feito em uma sala com todos os cuidados de proteção individual, arejada e com poucas pessoas. Se alguém for assintomático e tiver a Covid-19, pode contaminar o bebê, porque ele vai começar a respirar aquele microambiente contaminado da sala de parto.
 
Como lidar com a amamentação, caso a mãe esteja contaminada pelo coronavírus?
A amamentação é essencial para a nutrição e saúde do bebê. Se a mãe estiver contaminada, há uma possibilidade de passar para o filho durante a alimentação, devido ao contato físico. Para que isso não aconteça, ela deve colher o leite, devidamente protegida (com máscara, luva e uso do álcool em gel) e pedir para que outra pessoa, que não esteja contaminada, ofereça à criança.
 
Há alguma recomendação para mulheres que desejam ser mães nesse período? 
Não é recomendado engravidar nesse momento. A gente não sabe quanto tempo vai ficar de quarentena. A Covid-19 é muito recente, não sabemos ao certo o comportamento dela. A gravidez pode expor o feto e a mãe a uma situação de risco. A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, por exemplo, recomendou a finalização dos ciclos em andamento, com controles estritos dos pacientes e equipes envolvidas. Com exceção de casos oncológicos e outros em que o adiamento possa causar mais dano ao paciente, não serão iniciados novos procedimentos. Nessas eventualidades, a decisão deverá ser compartilhada e sob rigorosa individualização.

Correio Braziliense quinta, 09 de abril de 2020

PROPOSTA DE AUXÍLIO FINANCEIRO

 

Proposta de auxílio financeiro avança
 
Governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa Projeto de Lei que prevê pagamento de R$ 816 para pessoas em situação de vulnerabilidade. Medida deve atender 28 mil famílias com renda mensal per capita de até R$ 522,50

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 09/04/2020 04:00

Para Gerlinei dos Santos, 36 anos, as pessoas mais pobres sofrem mais com os impactos econômicos provocados pela pandemia (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Para Gerlinei dos Santos, 36 anos, as pessoas mais pobres sofrem mais com os impactos econômicos provocados pela pandemia

 


Pessoas em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal devem contar, em breve, com um auxílio financeiro emergencial para enfrentar o momento de crise econômica provocado pela pandemia do novo coronavírus. Conforme antecipou ao Correio em entrevista na sexta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa um Projeto de Lei que prevê a criação do Programa Renda Mínima Temporária. A expectativa é de que a medida contemple 28 mil famílias não atendidas por outras iniciativas de transferência de renda, como Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou Bolsa Família.
 
Se aprovado, o programa do Executivo local atenderá quem tem renda mensal per capita de até meio salário-mínimo (R$ 522,50). Os valores serão pagos em duas parcelas de R$ 408, durante os dois meses de programa, com possibilidade de prorrogação para três. O Banco de Brasília (BRB) fornecerá um cartão para os beneficiários, mas a quantia também poderá ser entregue em dinheiro. As frações do auxílio serão entregues preferencialmente às mulheres.
 
Ainda, às 17h35 de ontem, o DF registrou 511 confirmações de contaminação pelo novo coronavírus. Desse total, 12 morreram e 148 se recuperaram. Até o fechamento desta edição, 65 pacientes estavam internados em hospitais, sendo 17 em estado grave, de acordo com a Secretaria de Saúde. Uma dessas pessoas é a advogada de 52 anos que foi a primeira a testar positivo para a Covid-19 na capital federal. Ontem, ela teve leve melhora do quadro, mas permanece na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
 
Economia
A disseminação do coronavírus no DF tem aumentado dia a dia. Enquanto o Executivo local estabelece medidas para evitar aglomerações e intensificar o distanciamento social, como forma de mitigar as consequências da doença, muitos brasilienses não têm levado a sério as ações previstas pelo poder público. Em diferentes partes da capital federal, é possível encontrar pessoas que não têm tomado os devidos cuidados.
 
A preocupação de especialistas na área de saúde diz respeito, principalmente, à questão da sobrecarga do sistema, o que resultaria na falta de leitos para atendimento de casos novos e para recebimento de pacientes com outras enfermidades. De 20 de março até terça-feira, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) recebeu 4.805 denúncias sobre locais abertos sem autorização (leia Funcionamento). A multa para estabelecimentos que descumprirem os decretos publicados pelo Executivo local vai de R$ 3,6 mil a R$ 24 mil.
 
Para alguns brasilienses que continuam a sair de casa, o cenário econômico é motivo de inquietude, e justifica a desatenção às medidas de isolamento social. Caminhoneiro, Gerlinei Batista dos Santos, 36 anos, saiu de Itamaraju (BA) para morar no DF há oito meses. Desempregado, ele acredita que o isolamento prejudica pessoas mais pobres. “O pessoal vai adoecer cada vez mais. E como vamos ficar em quarentena? O preço das coisas subiu. Pacote de arroz, ovo, tudo está caro. Não estou trabalhando por falta de oportunidade, e tem gente que vai passar fome mesmo com o auxílio do governo”, lamenta.
 
Professor de economia do Ibmec São Paulo, João Ricardo Costa Filho afirma que é imprescindível que o Estado crie medidas de auxílio para chegar rapidamente às pessoas mais vulneráveis. “Se conseguirmos fazer com que elas tenham essa rede de proteção, podemos ir desligando a economia nos setores que não são essenciais, para que a doença não se espalhe. Portanto, conseguiremos atingir dois objetivos: tanto os de saúde pública, para não sobrecarregar o sistema, quanto os econômicos-sociais”, pontua João Ricardo.
 
Agravamento
Até ontem, o Distrito Federal figurava em primeiro lugar entre as unidades da Federação com o maior número de casos para cada grupo de 100 mil habitantes. No entanto, após um salto no número de casos, o Amazonas ultrapassou a capital federal, que caiu para a segunda posição. Enquanto o DF tem coeficiente de incidência de 16,7, o estado amazonense chegou a 19,1. Nesta semana, a prefeitura de Manaus reconheceu a possibilidade de colapso na rede hospitalar.
 
Médico infectologista e presidente do Comitê para Enfrentamento ao Coronavírus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Bernardino Albuquerque comenta que, apesar das diferenças entre as regiões, é preciso que as secretarias de saúde façam uma leitura da realidade epidemiológica de cada local. “A situação no estado está muito preocupante em função do número de casos e de óbitos. Além disso, há uma possibilidade de disseminação muito mais expressiva. É preciso que haja acompanhamento, fiscalização. O que temos visto é exatamente a população nas ruas, principalmente nas áreas mais periféricas”, observa.
 
Para evitar o agravamento da situação no DF, Roberto José Bittencourt, médico e professor do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), destaca a importância da testagem e do mapeamento dos pacientes que estiverem com a Covid-19. Ainda, ele considera que os 511 casos do Distrito Federal são apenas a “ponta do iceberg”. “É necessário fazer a testagem mais ampla possível. Não precisa ser de toda a população do DF. Pode-se fazê-la em camadas. Primeiramente, com os infectados, rastreando toda a rede de contato deles. Depois, com os profissionais de saúde, que precisam testar a cada cinco dias, pois é o tempo médio de incubação do vírus. Identificando, isola-se o paciente”, sugere.
 
Após traçar a linha de base, as próximas levas de testagem seriam para saber como está a evolução dos casos e quais regiões são o “elo frágil do cordão de isolamento”. Roberto José lembra que a falta de confirmação dos casos implica em subnotificação e que, para se ter uma estimativa próxima do número real de casos, seria preciso multiplicar o total atual por sete ou 10. Por isso, defende o médico, o investimento deve ser direcionado ao rastreamento das notificações confirmadas.
 
“Será que, dessa população de cerca de 5.110 pessoas não daria para saber onde estão, com quem moram, a quais igrejas ou festas foram?”, questiona. “Se fizermos uma testagem vigorosa, poderemos flexibilizar (as restrições). Poderemos planejar o sistema de saúde e a saída do isolamento social Dá para sair, mas tem de ser planejado. Não dá para ser da forma que se tem feito: um dia flexibiliza, no outro fecha. Isso não é planejamento, é flutuar de acordo com a pressão política”, criticou.
 
 
Funcionamento
 
Saiba o que pode ou não funcionar no DF após os decretos publicados pelo Executivo:
 
O que abre?
 
» Serviços e produtos de saúde (clínicas, consultórios, laboratórios e farmácias)
» Clínicas veterinárias (somente para atendimentos de urgência)
» Estabelecimentos de venda de produtos alimentícios (vedado o consumo no local)
» Lojas de materiais para construção e produtos para casa
» Postos de combustíveis
» Lojas de conveniência e minimercados em postos de combustíveis (proibido o consumo no local)
» Pet shops e lojas de medicamentos veterinários ou produtos saneantes domissanitários
» Comércios do segmento de veículos automotores
» Empresas de tecnologia (exceto lojas de equipamentos e suprimentos)
» Empresas que firmarem instrumentos de cooperação com o GDF no enfrentamento à emergência de saúde referente ao coronavírus ou à dengue
» Funerárias e serviços relacionados
» Lotéricas e correspondentes bancários 
» Lavanderias (só para entrega em domicílio)
» Floricultura (idem)
» Empresas do segmento de controle de vetores e pragas urbanas
 
O que fecha?
 
» Escolas públicas e privadas, creches, faculdades e universidades (até 31 de maio)
» Festas, shows, eventos esportivos ou reuniões de qualquer natureza, que exijam licença do Poder Público
» Cinemas e teatros
» Academias de esporte de todas as modalidades
» Museus, zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos, vivenciais e afins
» Boates e casas noturnas
» Shopping centers e clubes recreativos
» Feiras permanentes (apenas para comercialização de gêneros alimentícios para humanos ou animais)
» Cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião
» Salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos
» Estabelecimentos comerciais de qualquer natureza (bares, restaurantes, lojas, quiosques, food trucks e trailers)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 08 de abril de 2020

OPÇÕES PARA A CRIANÇADA

 

Opções para a criançada
 
Projetos on-line voltados para o público infantil combinam educação, arte e interatividade na quarentena

 

Lisa Veit*

Publicação: 08/04/2020 04:00

O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo (Reprodução/Youtube)  

O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo

 

 
A Cia. de teatro infantil Néia e Nando tem peças, contações de histórias e outras atividades on-line (Paky Rodrigues/Divulgação)  
A Cia. de teatro infantil Néia e Nando tem peças, contações de histórias e outras atividades on-line
 
Projeto CCBB educativo foi adaptado para a web (JA.CA, centro de Arte e Tecnologia/Divulgação)  

Projeto CCBB educativo foi adaptado para a web

 

 
 
Durante a quarentena, as crianças e os pais estão buscando colocar atividades que misturem o lúdico, a educação e a cultura na nova rotina. Com escolas e pontos de cultura fechados, os educadores e artistas estão migrando para as redes para fornecer interatividade e conteúdos voltados para os pequenos.
O projeto Histórias em Casa é uma iniciativa dos autores infantis do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal (Sindescritores), com contação de histórias, ao vivo, nas redes sociais do Instagram e Facebook. O projeto ocorre toda quinta-feira, até 7 de maio, às 13h30. Nas lives, as crianças podem tirar dúvidas sobre a criação das obras literárias, pedir os livros autografados e entrar em contato com os autores por telefone.
 
A próxima contação, em 9 de abril, é a da obra Dona aranha e a fadinha, de Gacy Simas. “O projeto foi uma demanda dos escritores de literatura infantil do Sindescritores, com o intuito de continuar o vínculo com as crianças, nossos leitores. Assim, eu e a Verônica Vincenza, diretora de literatura infantil da entidade, propusemos o projeto Histórias em Casa. Sendo educadora de formação, vejo a necessidade do incentivo constante à leitura e escrita”, explica Gacy Simas, diretora de literatura pré-escolar.
 
A autora conta que o mundo infantil sempre a inspirou. “A observação das atitudes e expressões dos alunos, filhos, netos, sobrinhos nas diferentes idades é o dínamo que me move a escrever”, reflete Gacy. O projeto segue com as obras O chocalho de Carlinhos, de Verônica Vincenza; O Boto-cor-de-rosa na Amazônia, de Pedro Ivo; Os coelhinhos amigos, de Ironita Motta; e, para finalizar a temporada, Joãozinho e o pé-de-pequi, de Augusto Niemar.
 
Teatro
 
A tradicional companhia de teatro infantil brasiliense Néia e Nando tem feito lives diariamente nas redes sociais às 17h, no Instagram do grupo e de shoppings parceiros, além de contação de histórias às 15h e às 18h no Facebook e no YouTube. Para completar, a companhia tem um canal do YouTube, o Néia e Nando TV, em que disponibiliza espetáculos completos como, por exemplo, O pequeno príncipe, Aladdin, Toy Story, Tarzan, A pequena sereia, entre outras produções do grupo.
 
A ideia surgiu da atriz Luisa Miranda junto à maquiadora Lua Rodrigues, pensando no público fiel. “Esses encontros têm sido uma enorme arteterapia para a meninada e para nós também. Nos deparamos com pais e filhos. É um verdadeiro encontro em família, só que na web”, declara Nando Villardo, diretor da trupe.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) também contribui com pais e crianças, por meio do projeto CCBB Educativo arte e educação, que está disponibilizando cerca de 150 obras do acervo digital, durante o período de isolamento de prevenção ao coronavírus. Esse projeto está sendo desenvolvido desde 2018 pelo JA.CA., um centro de arte e tecnologia de Belo Horizonte. No site, é possível encontrar arquivos de vídeos, imagens e textos sobre arte, cultura e educação incluindo obras sobre percussão corporal para crianças.
 
Como as crianças estão impossibilitadas de acessar presencialmente o ambiente escolar e espaços de cultura, os pais podem cumprir a função de educadores e mediadores entre os conteúdos disponibilizados e os pequenos aprendizes. Além do material para educadores, tem o convite à ativação, pensado para as crianças e para as famílias, que, normalmente, é impresso e que acompanha as visitas educativas para ser levado para casa e dar continuidade às reflexões. Esses materiais agora também estão disponíveis no formato digital para download.
 
Dentre os projetos que estão migrando para o digital, está também a iniciativa Lugares de criação em casa, com conteúdos disponibilizados tanto nas redes sociais do JA.CA quanto nas redes dos CCBBs de Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Esse projeto ocorre todos os fins de semana, pensados para crianças e família como um espaço de aproximação das artes, tudo adaptado para esse momento.
 
Os pais podem acessar os sites ccbbeducativo.com e jaca.center além das redes sociais do CCBB e do JA.CA. A maior parte dos materiais do projeto têm legendas e acessibilidade em Libras.
 
Outras iniciativas
 
Há outros educadores e artistas com propostas que envolvem entretenimento e informação para o público infantil. A terapeuta educacional Tatyanny Araújo escreveu o livro Por que eu não posso ir lá fora? para a filha Alice, de 2 anos, explicando o coronavírus por meio da história.
 
“Sou terapeuta ocupacional, moro na Alemanha há quase um ano e estamos lidando com a quarentena. Sempre conversei muito com minha filha e sempre falei a verdade para ela. Claro que tenho o cuidado de adaptar o contexto de forma lúdica para que ela entenda. Desde que cheguei na Alemanha, senti a necessidade de ilustrar as várias situações da nossa vida para ela. Agora, com a Covid-19, fiz a historinha e ilustrei de forma simples. Como ela gostou muito, entendeu e até contou a própria versão da história, decidi não guardar o livro só para mim e disponibilizei para download para que ajudasse mais famílias e educadores”, conta a terapeuta.
 
Ela compartilha o dia-a-dia, dicas de atividades, educação infantil, aconselhamento para pais educadores, no perfil do Instagram @tatyanny. Os pais podem fazer o download do livro cadastrando o e-mail no site tatyaraujo.rettore.com.br.
 
O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo sobre o coronavírus, que pode ser baixado gratuitamente para as crianças, e o passo-a-passo também está em um vídeo do canal.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 
Jornal Impresso
 
 
 

Correio Braziliense terça, 07 de abril de 2020

MANDETTA: DURO DE DEMITIR

 

Duro de demitir
 
 
Alvo de picuinhas de Bolsonaro e da ambição de Osmar Terra, Mandetta tem dia turbulento, com ameaça de exoneração, mas se segura no cargo com o apoio popular, de militares e nos Três Poderes. O ministro da Saúde diz que pasta é a "voz da ciência"

 

» Renato Souza
» Maria Eduarda Cardim
» Bruna Lima

Publicação: 07/04/2020 04:00

Mandetta foi recebido com aplausos por funcionários do Ministério da Saúde, após deixar a reunião no Planalto: agradecimento à equipe (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Mandetta foi recebido com aplausos por funcionários do Ministério da Saúde, após deixar a reunião no Planalto: agradecimento à equipe

 



Na linha de frente do hercúleo combate à doença que impacta não só o Brasil como o restante do mundo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ainda tem de encarar a turbulência de que é alvo, imposta pelo presidente Jair Bolsonaro. Ontem, ele passou por mais um dia de grande desgaste, com rumores de que seria demitido, mas avisou, em entrevista coletiva à noite, que permanecerá no cargo. Mandetta pediu paz para trabalhar. “Infelizmente, começamos com mais um solavanco a semana de trabalho e a gente precisa ter paz”, enfatizou.

Os rumores de que Mandetta seria demitido ocorreram após Bolsonaro receber para um almoço no Palácio do Planalto o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania. Ao longo do dia, a informação sobre a saída do titular da pasta da Saúde, que tem arrancado elogios nos Três Poderes por sua atuação contra o coronavírus, agitou o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fizeram chegar até o chefe do Executivo que não aceitariam a demissão de Mandetta.

Ministros do Supremo também manifestaram contrariedade à eventual exoneração. Ao fim da tarde, dezenas de técnicos do Ministério da Saúde foram para a frente da sede do órgão destacar que não ficariam em seus cargos se ocorresse a troca de chefe. O assunto também movimentou as redes sociais. No Twitter, em que Bolsonaro e seus apoiadores alegam ter grande influência, as mensagens relacionadas à eventual demissão do ministro bateram a marca de 300 mil em cerca de três horas. O assunto chegou a ficar entre os mais debatidos do mundo.

“Nós vamos continuar, pois continuando, vamos enfrentar nosso inimigo. Médico não abandona paciente, e eu não vou abandonar”, afirmou Mandetta, na coletiva, tranquilizando, inclusive, os técnicos da pasta. De acordo com o ministro, ao longo do dia, servidores do órgão limparam as gavetas, aguardando a saída dele. “Teve gente que limpou as gavetas, inclusive, me ajudou a limpar as minhas.”

Mandetta reafirmou o caráter técnico das decisões que toma, elogiou a equipe, formada por muitos médicos, e disse que o foco do trabalho é obter equipamentos hospitalares e respiradores para combater o avanço da doença no país. Ele agradeceu o apoio dos servidores, que foram para a frente do prédio aguardar uma decisão sobre sua saída ou não. “Aqui nós entramos juntos, nós estamos juntos e, quando eu deixar o ministério, vamos colaborar com qualquer equipe que venha, mas vamos sair juntos”, completou.

Funcionários do Ministério da Saúde foram para a frente do órgão em apoio a Mandetta (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Funcionários do Ministério da Saúde foram para a frente do órgão em apoio a Mandetta

 


Ciência

O ministro fez questão de deixar claro que todas as estratégias do órgão serão determinadas com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos. “Somos aqui a voz da ciência. Nós procuramos a sociedade e o Conselho Federal de Medicina para adotar drogas (no tratamento)”, disse. “Abrimos o Ministério da Saúde para todos os demais ministérios. Trabalhamos o tempo todo com base nos números, discussões e tomadas de decisões. Não temos nenhum medo da crítica. Gostamos da crítica construtiva. O que temos dificuldade é quando, em determinadas situações, as críticas não vêm para construir, mas para colocar dificuldades ao nosso trabalho”, emendou, em uma indireta para apoiadores do governo.

Ele aproveitou para dizer que a tomada de decisões não será feita sem a avaliação técnica necessária. “Levaram-me para uma sala com dois médicos que queriam um protocolo de hidroxicloroquina por decreto, e eu disse que é super bem-vindo, com os debates entre os pares: o Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde. Primeiro, precisa saber se é bom, se há indícios. Vamos fazer pela ciência, planejamento, sem perder o foco.”

O ministro afirmou, ainda, que passou o fim de semana lendo a Alegoria da Caverna, de Platão. O texto faz referência à visão limitada da realidade, que gera apenas uma noção parcial do verdadeiro cenário sobre o funcionamento da sociedade.

As cavadas de Terra


Enquanto é fritado por Bolsonaro, Mandetta também é alvo de Osmar Terra, cotado para assumir a Saúde. Nas últimas semanas, o ex-ministro da Cidadania vem se aproximando de integrantes do governo e fazendo declarações públicas que deixam claro seu alinhamento com o Executivo. Ele é a favor do relaxamento do isolamento social, como prega o presidente, e do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. O chefe do Planalto defendeu, mais de uma vez, o medicamento, ministrado contra artrite e lúpus, mas que ainda está sendo testado no combate ao coronavírus.

Também médico, como Mandetta, Terra, inclusive, reuniu-se com Bolsonaro para tratar do uso da cloroquina. Ele disse não ter conversado com o presidente sobre uma eventual indicação para assumir o Ministério da Saúde.

O presidente também se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão e com outros integrantes do Executivo, antes de tomar a decisão de seguir com Mandetta no ministério. Ao sair do Planalto, não quis comentar o assunto e apenas cumprimentou apoiadores.


Ameaças
Na semana passada, depois de dias negando a existência de uma crise entre os dois, Bolsonaro disse que faltava “humildade” a Mandetta e que nenhum ministro é “indemissível’. “Em alguns momentos, ele teria que ouvir um pouco mais o presidente da República”, reclamou. No domingo, o chefe do Executivo disse não ter medo de “usar a caneta”. Segundo o comandante do Planalto, “algo subiu à cabeça” de alguns integrantes do governo. “Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas. Falam pelos cotovelos, têm provocações. Mas a hora deles não chegou ainda, não, mas vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta”, afirmou.


Intervenção de militares
Os generais que assessoram o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, atuam para apaziguar os ânimos e evitar a demissão de Mandetta. Assim como o chefe do Executivo, os militares também têm reparos à forma como o ministro se comporta. Eles consideram que Mandetta tenta capitalizar as ações da pasta. Mas avaliam que uma demissão, neste momento, fortaleceria os governadores que hoje travam uma queda de braço com o presidente. Os militares insistem que essa é uma guerra que não é boa para ninguém. E alertam para falta de opção. O ex-ministro Osmar Terra, um dos aliados que mais tiveram acesso a Bolsonaro nos últimos dias e que busca assumir o lugar de Mandetta, foi demitido do Ministério da Cidadania porque não dava resultado.


"Temos dificuldade quando, em determinadas situações, por determinadas impressões, críticas não vêm para construir, mas para trazer dificuldade no ambiente de trabalho”
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 06 de abril de 2020

SAI HOJE O CALENDÁRIO DE PAGAMENTO DOS R$600

 

Sai hoje o calendário de pagamento dos R$ 600
 
Governo deve detalhar como o auxílio emergencial chegará aos trabalhadores informais. A previsão é de que o dinheiro comece a ser liberado nesta semana. Amanhã, será lançado aplicativo para cadastrar quem não tem registro
 

Marina Barbosa

Publicação: 06/04/2020 04:00

O governo federal deve começar a pagar nesta semana o benefício emergencial de R$ 600 que vai ajudar os trabalhadores informais a se sustentarem nesse período de pandemia. Por isso, vai divulgar, hoje, o calendário de pagamento e o endereço do aplicativo que vai cadastrar os trabalhadores informais que têm direito ao auxílio. O valor total por família será de R$ 1,2 mil.
 
Têm direito ao auxílio, além dos informais, os microempreendedores individuais, os beneficiários do Bolsa Família e as mulheres que cuidam sozinhas da família. Essas, por sinal, podem receber o valor em dobro, ou seja, R$ 1,2 mil.
 
 Os últimos detalhes do chamado “coronavoucher”, que promete liberar R$ 98 bilhões para 54 milhões de brasileiros nos próximos três meses, serão divulgados pelo Ministério da Cidadania e pela Caixa Econômica Federal em uma coletiva de imprensa prevista para acontecer nesta tarde no Palácio do Planalto. Mas o cadastramento dos cerca de 20 milhões de trabalhadores informais que hoje não estão registrados em nenhum programa do governo federal só começa amanhã. Por isso, os governantes pedem que os brasileiros aguardem as orientações oficiais em casa e ressaltam que a ideia é fazer tudo de forma on-line, para evitar aglomerações nas agências bancárias e, assim, assegurar o sustento e também a saúde desses trabalhadores.
 
De acordo com o Ministério da Cidadania, os beneficiários do Bolsa Família que normalmente ganham menos que R$ 600 já vão receber esse benefício automaticamente, no mesmo dia em que receberiam o depósito do Bolsa Família. Os microempreendedores individuais (MEIs) e os contribuintes individuais ou facultativos do INSS que têm direito ao auxílio (ver as condições ao lado) também devem receber os R$ 600 de forma automática nas suas contas bancárias, de acordo com o calendário de pagamento que será divulgado hoje pela Caixa.
 
Os informais que estão registrados no Cadastro Único do governo federal também terão o benefício garantido por esse calendário de pagamento. Já os trabalhadores informais que não têm cadastro em nenhum programa do governo federal devem solicitar o benefício a partir de amanhã, por meio de um aplicativo que também terá o endereço revelado na entrevista de hoje.
 
Segundo a Caixa Econômica Federal, que vai operacionalizar o app, o aplicativo será gratuito e simplificado como o do saque imediado do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). E, como deve ser baixado por milhões de trabalhadores assim que for ao ar, também contará com o suporte de uma central telefônica e um site.
 
A ideia do governo é receber todas as informações dos trabalhadores informais exclusivamente por esses canais virtuais. E, depois disso, conferir esses dados para poder liberar o pagamento. A expectativa do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, é que esse processo de checagem e depósito dure apenas 48 horas. Isso significa que, se tudo der certo, os trabalhadores informais vão receber os R$ 600 apenas dois dias depois de se cadastrarem no aplicativo. Quem se cadastrar amanhã pode, portanto, receber o auxílio já na quinta-feira, antes do feriado da Semana Santa.
 
Segundo a Caixa Econômica Federal, que vai ficar à frente do pagamento, será possível liberar o recurso nesse prazo porque o pagamento também será virtual. A ideia é fazer um depósito na conta do trabalhador ou criar contas de poupança digitais gratuitas para quem ainda não tem conta no banco. Também está em estudo, porém, liberar saques físicos nas lotéricas e nos terminais de autoatendimento bancário.
 
Impacto fiscal
Segundo o Ministério da Economia, o orçamento de R$ 98 bilhões representa 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e é maior do que tudo que estava disponível no Orçamento deste ano para as despesas discricionárias do governo antes da crise da Covid-19 (R$ 95 bilhões). É, portanto, a medida do pacote de enfrentamento ao coronavírus de maior impacto fiscal já anunciada pelo governo. E esse orçamento ainda pode ter que crescer, caso a pandemia do novo coronavírus dure mais que o esperado no Brasil. Afinal, os R$ 98 bilhões consideram o pagamento do coronavoucher por um período de três meses.
 
Esta não seria a primeira ampliação do programa. Inicialmente, o governo havia anunciado apenas um auxílio de R$ 200 para os informais. A ampliação do valor e do público do benefício foi negociada pelo Congresso. Por isso, o presidente Jair Bolsonaro já admitiu que, se for preciso, o prazo de pagamento dos R$ 600 pode ser estendido para mais de três meses.
 
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Correio Braziliense domingo, 05 de abril de 2020

CRIATIVIDADE PAR DRIBLAR A CRISE

 

Criatividade é a saída para manter negócios
 
 
Empresários resilientes aceleram inovações para não falir e segurar empregos durante a pandemia de coronavírus. Entrega em casa e atendimento virtual são alternativas em tempos de comércio e serviços com portas fechadas

 

Simone Kafruni

Publicação: 05/04/2020 04:00

Pablo, Marina e André, sócios do Teta Queijaria, lançam serviços para assegurar, ao menos, 30% da receita (Arquivo Pessoal



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Pablo, Marina e André, sócios do Teta Queijaria, lançam serviços para assegurar, ao menos, 30% da receita

 

 
Resiliência, diz o dicionário, é a capacidade de se adaptar ou até mesmo evoluir após momentos de adversidade. Uma palavra que define muito bem o que move muitos empresários neste momento de incerteza. A pandemia do coronavírus, que não tem data nem hora para acabar, desestabilizou os empreendedores, ameaçando o faturamento de quase todos os setores da economia. Mas há quem resista e, com criatividade, busque soluções inovadoras para manter seus negócios de pé.
 
O cenário é desafiador, sobretudo, para micro e pequenos empresários, com pouco capital de giro. Na opinião de Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), um processo recessivo bastante pronunciado se anuncia. “Mesmo nesse cenário, há subprodutos positivos”, diz. O especialista lembra que a necessidade é a mãe da criatividade. “O ser humano tem instinto de poupar energia, por isso se esforça na medida que precisa. A mudança súbita do quadro nos obrigou a procurar novas alternativas em curto prazo. A necessidade acelerou a adaptação”, afirma. Várias possibilidades, antes alternativas, se mostraram eficientes e vão se perpetuar, diz o professor. “As pessoas estão despertando para novas formas de trabalho. O que faz o homem caminhar é a busca incessante para vencer as adversidades”, acrescenta.
 
Essa busca é incansável para o empresário André Vasquez, 40 anos, sócio de Marina Cavechia e Pablo Julio no Teta, bar, restaurante e queijaria que precisou fechar as portas com o decreto do governador Ibaneis Rocha, depois de dois anos servindo almoço e jantar na 103 Sul. “Tivemos que implementar o delivery, adaptar pratos e testar embalagem em 48 horas, com parte da equipe em férias”, conta André.
 
O Teta criou um cartão de presente, para usar no delivery ou quando o restaurante reabrir as portas. “As pessoas continuam fazendo aniversário e estão se presenteando virtualmente”, assinala André. Além disso, o estabelecimento está divulgando cursos, pelas redes sociais, de harmonização e de fabricação de queijo. “Lançamos o ‘Antes teta do que nunca’, uma promoção para quem está juntando os amigos por bate-papo na internet. Se encomendar até as 14h, entregamos às 19h, sem custo de frete e, dependendo do tamanho da compra, com 10% de desconto. Até chope e drinques enlatados entregamos”, explica.
 
Ainda assim, a receita caiu a 30%. “A gente trabalha com alguns cenários. Se o programa do governo se concretizar, com postergação de impostos, vamos empatar com o delivery. Nossa luta é sobreviver”, revela André. Na opinião do empresário, que foi rápido em criar alternativas para manter o negócio em pé, o governo está muito devagar. “Isso causa uma insegurança muito grande. É custoso contratar e treinar. Ninguém quer demitir, mas temos um limite”, alerta.
 
O hairstylist Evaldo envia kits às clientes e atende por videoconferência (Arquivo Pessoal
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O hairstylist Evaldo envia kits às clientes e atende por videoconferência

 

  
O sentido de resiliência diz que é possível evoluir diante de adversidades. Pois foi o que aconteceu com a Gaúcha Prendada, um negócio que surgiu pequeno, do tradicionalismo de Daiane Wolff Fialho, 36, de Taquara (RS). Casada com o brasiliense Rafael Costa Mendes, 36, Daiane mora há 10 anos em Brasília e, em junho do ano passado, decidiu aproveitar a experiência em vendas, adquirida em anos de trabalho numa empresa que fechou as portas, para montar um negócio próprio. “Eu faço pães e cucas artesanais, como aquelas que só têm no Rio Grande do Sul, para resgatar o sabor de casa”, conta.
 
As vendas eram realizadas em nove feiras semanais. O movimento foi tão bom que o marido, engenheiro agrônomo, saiu da empresa em que trabalhava, no início do ano, para se dedicar a ajudar a Gaúcha Prendada. “Investimos no negócio e levamos um susto enorme com a pandemia. Pensamos: vamos ficar em casa e esperar. Mas caímos na real de que precisamos do giro para nos manter”, assinala Daiane.
 
Com a suspensão das feiras no Distrito Federal, a empresa começou a receber ligações dos clientes. “Optamos por fazer entrega. No começo, foi só para sobreviver, mas conseguimos aumentar nossa receita”, revela a gaúcha. “A gente mesmo entrega, três vezes por semana. Tínhamos uma clientela fixa, mas surgiram novos clientes. Dobramos nossa produção, porque, agora, atendemos locais que não tinham feiras, como Águas Claras, Taguatinga Jardim Botânico”, diz. A ideia é manter o delivery quando tudo voltar ao normal.
 
Turbinada
Com um serviço de delivery muito tímido, a rede Bio Mundo, de produtos saudáveis, turbinou as entregas para fazer frente ao fechamento de 75% de suas operações em Brasília. O CEO da companhia, Edmar Mothé, conta que, das 15 lojas próprias no DF, apenas cinco permanecem abertas, consideradas essenciais. “Éramos muito concentrados em lojas físicas, mas, com o fechamento de shoppings, migramos para uma plataforma mais agressiva de delivery, com um trabalho forte na mídia”, destaca. Além da rede própria, fundada em Brasília em 2015, a Bio Mundo tem mais de 100 franquias em 15 estados do país.
 
“O delivery começou representando 7% da nossa receita. Batemos 10%. E a expectativa é logo alcançar 15%, para chegar a 20%”, ressalta Edmar. O otimismo do empresário vem da preocupação crescente entre os clientes em adquirir produtos bons para a imunidade. “O apelo saudável ajuda. Atendemos diabéticos, celíacos, hipertensos, intolerantes à glúten e à lactose. Essas pessoas estão se cuidando mais.”
 
“A mudança súbita do quadro nos obrigou a procurar novas alternativas em curto prazo. A necessidade acelerou a adaptação”
Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar
 
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Correio Braziliense sábado, 04 de abril de 2020

SOLIDÃO NA CAPITAL

 

Solidão na capital
 
 
O Correio foi às ruas de Brasília quase deserta para mostrar como está a cidade a quem segue a orientação de ficar em casa

 

» DARCIANNE DIOGO
» MARIANA NIEDERAUER

Publicação: 04/04/2020 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
A luz do sol aquece as ruas vazias da cidade. Quando chover, talvez amanhã, também será assim. A solidão do asfalto não é mais privilégio das madrugadas na capital federal. Em nome de todos e de cada um de nós, a população do Distrito Federal se isola nas próprias casas e faz dos vãos-livres o remédio para combater a pandemia que assola o país e o mundo. 
 
No Plano Piloto, região que até agora concentra o maior número de casos confirmados da doença de nome já conhecido, o cenário é de uma guerra contra a ameaça invisível. Causadora dessa paisagem distópica, a Covid-19 se tornou realidade para os moradores da capital federal em 5 de março, quando houve a confirmação do primeiro caso de infecção pelo coronavírus na cidade.
 
Na tentativa de vencer o vírus veloz, o governo local combateu também com agilidade. Menos de uma semana depois, adotava as primeiras medidas de contenção, com base em evidências científicas que reforçam a importância do isolamento social para barrar o avanço das infecções.
 
Aos poucos, silenciou-se os risos nos bares e restaurantes, nos parques, nos centros de lazer e de compras. Os passos dos turistas na Praça dos Três Poderes ou entre as barracas na Feirinha da Torre de TV cessaram. A Rodoviária do Plano Piloto, acostumada a receber cerca de 800 mil passageiros em dias normais, agora abre as plataformas para 2 mil pessoas.
 
O medo e o bom senso passaram a andar de mãos dadas, entranhados em uma população que está temporariamente impossibilitada de se dar as mãos. Na área central da cidade, é possível ver cidadãos seguindo à risca a recomendação. Dois metros de distância os separam uns dos outros. Em frente à Catedral, vendedores de picolé são os únicos a povoar uma praça deserta.
 
Dias difíceis virão. E os mais vulneráveis serão os primeiros a sofrer as consequências. Suportar as agruras do confinamento virou missão de vida ou morte para aqueles que têm condições de ficar em casa e cumprir as medidas determinadas pelo Executivo local.


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Rodoviária do Plano piloto (alto), Eixo Monumental e estacionamento do Boulervard Shopping (baixo). Ruas praticamente sem movimento são a nova cara de Brasília neste período de quarentena, mas a vida continua dentro dos lares   (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Rodoviária do Plano piloto (alto), Eixo Monumental e estacionamento do Boulervard Shopping (baixo). Ruas praticamente sem movimento são a nova cara de Brasília neste período de quarentena, mas a vida continua dentro dos lares

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


Nova rotina
 
Claudinete de Lima, 43 anos, trabalha como motorista de transporte por aplicativo há um ano e meio. Moradora de Luziânia (GO) — distante 60km de Brasília —, ela conta que tem trabalhado cerca de 14 horas por dia para dar conta das despesas da casa. “Caiu em 60% o número de clientes. A cidade está parada e vazia. A sensação que tenho é de tristeza. Me dá um desespero ver a capital nessa situação”, lamenta. 
 
Mãe de dois filhos, de 17 e 24 anos, ela tem adotado medidas de prevenção ao novo coronavírus. “Deixo as janelas abertas, higienizo o interior do carro com álcool e peço para o passageiro se sentar no banco de trás. Todo cuidado é pouco”, diz. “Todos os dias peço a Deus pela nossa nação. Quero que essa doença passe para a nossa cidade voltar a ser alegre como antes.”
 
Em meio ao caos silencioso, os engenheiros Fernando Gomes, 54, e Alessandro Silva, 43, escolheram um lugar atípico para conversar sobre negócios: a praça da Catedral Metropolitana de Brasília. “Eu moro há quase 10 anos aqui e nunca vi uma cena dessa. Uma cidade vazia, que causa tristeza. Sei que o confinamento é necessário, mas ele maltrata”, desabafa Fernando. 
 
Os dois administram uma empresa de engenharia e têm visto o lucro cair com a crise causada pela Covid-19. “Ninguém compra nem vende ou recebe. A sensação é deprimente e dá uma dor no coração ver tudo parado como está”, completa Alessandro. 
 
A rua perdeu vida nestes tempos de pandemia. Mas ela é generosa. Aguenta a solidão. Quando voltarmos a caminhar regularmente em seus contornos mais distantes ou pertinho do nosso lar, vai nos brindar com o colorido das mais belas flores do cerrado.
 
 
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Correio Braziliense quinta, 02 de abril de 2020

PRAZO PARA ENTREGA DA DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA AGORA É ATÉ 30 DE JUNHO

 

Entrega da declaração do IR agora é até 30 de junho
 
 
Adiamento vinha sendo reivindicado por entidades representativas da sociedade, por causa da dificuldade de os contribuintes reunirem os documentos que são necessários para o ajuste de contas com o Leão, nesse período de confinamento social

 

ALESSANDRA AZEVEDO

Publicação: 02/04/2020 04:00

Segundo Tostes, ainda não está decidido se a temporada de restituições será mantida, pois começará enquanto a Receita estiver recebendo declarações (Edu Andrade/Ascom/ME)  

Segundo Tostes, ainda não está decidido se a temporada de restituições será mantida, pois começará enquanto a Receita estiver recebendo declarações

 



O secretário da Receita Federal, José Tostes Neto, anunciou ontem que os contribuintes terão dois meses a mais para entregar a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) de 2020, relativo aos rendimentos de 2019. O prazo, que seria até 30 de abril, passa a ser até 30 de junho –– conforme disse, ontem, em entrevista coletiva, no Palácio do Planalto.

“Decidimos pela prorrogação, considerando demandas e relatos de contribuintes que estão confinados em casa”, explicou Tostes. Segundo ressaltou, muitas pessoas têm dificuldades para buscar documentos necessários ao preenchimento da declaração, como, por exemplo, notas fiscais de serviços médicos.

Ele não disse se será mantido o calendário de restituição, mas a tendência é que mude, porque, durante as datas previstas para os pagamentos, a Receita ainda estará recebendo declarações. Tudo, porém, dependerá do fluxo de caixa. O primeiro dos cinco lotes estava marcado para 29 de maio e o último, para 30 de setembro.

A Receita estuda, desde o início de março, a ampliação do prazo de entrega. Como a medida não havia sido anunciada formalmente, líderes partidários do Congresso se organizavam para votar um projeto de lei nesse sentido, em sessão remota da Câmara, ontem. A ideia dos parlamentares era suspender o prazo da declaração enquanto estivesse em vigência a Lei da Quarentena.

Entidades representativas de setores da sociedade também cobravam uma decisão da Receita em relação ao prazo. Entre elas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).

Em ofício encaminhado a Tostes em março, o sindicato sugeriu a redução do prazo de restituição, que terminaria em setembro, para agosto. Na semana passada, a Receita anunciou o adiamento da entrega do Imposto de Renda de MEIs (microempreendedores individuais) e empresas no regime de Simples Nacional.

Quem não declarar dentro do novo prazo, ainda estará sujeito à multa. O envio é obrigatório para pessoas que receberam mais do que R$ 28.559,70 em rendimentos tributáveis em 2019 –– equivalente a R$ 2.379,97 por mês.

Tostes avaliou que o ritmo de entrega do IRPF continua “sendo muito bom”, com mais de 8 milhões de declarações remetidas até agora, o correspondente a 27% do total esperado pela Receita. “Comparado com o mesmo período de do ano passado, são 400 mil a mais”, ressaltou.

Complemento
A Receita anunciou outras duas medidas para diminuir os impactos da crise do coronavírus. Uma delas é zerar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito por 90 dias. Atualmente, a cobrança é de 3% ao ano. A medida custará R$ 7 bilhões à União e vem na esteira da criação de uma linha de crédito para atender às empresas a juros reduzidos.

Outra ação anunciada ontem por  Tostes é a postergação do pagamento do PIS/Cofins e da contribuição das empresas e órgãos públicos à Previdência Social. “São contribuições que seriam devidas em abril e maio e serão diferidas (postergadas) para agosto e outubro”, explicou.




"Decidimos pela prorrogação, considerando demandas e relatos de contribuintes que estão confinados em casa”
José Tostes Neto, secretário da Receita Federal
 
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Correio Braziliense quarta, 01 de abril de 2020

CRISE CASTIGA OS AGRICULTORES

 

Crise castiga os agricultores
 
Medidas de combate ao coronavírus afetam diretamente os produtores familiares do DF, que precisam buscar alternativas para distribuir a colheita e manter a renda. GDF investe R$ 4,5 milhões em programas para compra de frutas e verduras

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 01/04/2020 04:00

Administradora da cooperativa Cooper-Horti, Márcia Aparecida lamenta o momento:  

Administradora da cooperativa Cooper-Horti, Márcia Aparecida lamenta o momento: "Com esse pesadelo, as nossas vendas ficaram paradas"

 

 
Plantar, colher e vender é a rotina seguida por cerca de 11,1 mil produtores rurais que vivem no Distrito Federal, segundo números da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater). Em um espaço de aproximadamente 345 mil hectares de área agricultável, são produzidas frutas, verduras e grãos que abastecem feiras, mercados, restaurantes e escolas. No entanto, com as medidas emergenciais de combate ao coronavírus, os agricultores familiares estão passando por dificuldade para escoar a produção e enfrentam prejuízos financeiros.
 
Um dos maiores impactos é causado pela suspensão das aulas. Segundo o secretário de Agricultura, Luciano Mendes, cerca de mil produtores destinavam as colheitas à merenda, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). No ano passado, o governo empenhou R$ 18 milhões em contratos firmados com 16 associações e cooperativas, com vigência até 29 de março.
 
Contudo, a Secretaria de Educação explicou, em nota oficial, que após a decisão do governador Ibaneis Rocha de manter as escolas fechadas, os contratos tiveram vigência encerrada, sem prorrogação. Segundo o órgão, será feita nova chamada pública quando as aulas presenciais puderem ser retomadas. “O edital, no entanto, está temporariamente suspenso para adequações ao teletrabalho, conforme as instruções sanitárias e administrativas vigentes devido à Covid-19.”
 
Para quem dependia exclusivamente da venda para a merenda, o momento causa aflição. É o caso de Márcia Aparecida de Souza, 31 anos, administradora da cooperativa Cooper-Horti, que reúne 37 produtores na área rural do Paranoá. Todos plantam hortaliças e frutas. “Com esse pesadelo do coronavírus, as nossas vendas ficaram paradas. Estamos aguardando novos editais para ver o que acontece”, lamenta.
 
Mesmo assim, os produtores continuam plantando, mas com receio de não ter o que colher quando a crise acabar. “O Pnae é muito importante para nós. A expectativa é de que, quando passar toda essa confusão, a gente volte a fazer as entregas nas escolas”. Os cooperados vendiam para 34 colégios da região do Paranoá. “A saída vai ser apelar para o mercado privado, apesar de ser um nicho difícil de se trabalhar. Mas não dá para ficar parado. As pessoas precisam comer. Temos de encontrar novas formas de vender.”
 
De acordo com o secretário de Agricultura, ainda é cedo para calcular o prejuízo do setor, mas os mais afetados são os pequenos agricultores. A pasta desenvolve um novo edital do Pnae com investimento de R$ 20,3 milhões, que deve ser lançado após o fim da quarentena. Ele explica que, como muitos produtores podem participar, a renda é mais bem distribuída. “Se, no passado, comprávamos de uma única instituição, agora, compramos de muitas. Outra vantagem é entregar produtos frescos e de qualidade aos estudantes.”

Presidente da Coopermista, Ivan Engler comemorou o auxílio governamental para a compra de alimentos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Presidente da Coopermista, Ivan Engler comemorou o auxílio governamental para a compra de alimentos

 

 
Escoamento 
 
Para ajudar a escoar a produção agrícola, o Governo do Distrito Federal (GDF) destinou R$ 2 milhões para a compra de frutas e verduras pelo Programa de Aquisição da Produção da Agricultura (Papa). Além disso, reabriu as inscrições para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com verba de R$ 1,5 milhão do Ministério da Cidadania, com mais R$ 1 milhão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A expectativa é de atender entre 300 e 600 agricultores familiares.
 
As compras se dão a partir do pedido feito pelas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) e são passadas ao banco de alimentos, que entrega as cestas a 120 entidades sócio-assistenciais, como creches e abrigos de idosos. Quem se organizou e está participando, elogia. Ivan Engler, 42 anos, presidente da Coopermista, afirma que, graças à iniciativa, aumentou a produção.
 
Ele coordena 84 produtores de hortifruti na região de Planaltina, muitos dos quais vendiam para as merendas escolares de 64 centros de ensino da cidade. A demanda usada nas cestas verdes, entregues em instituições, aumentou de 12 para 44 toneladas. “Nosso edital começou a ser executado em outubro e, com o novo contrato em mãos, isso vai ajudar a escoar o que plantamos”, destaca. “O impacto inicial da crise foi muito grande, principalmente porque fecharam as feiras.”
 
Ele avalia o momento como uma montanha-russa. “Nossas culturas precisam ser colhidas todo dia, não podemos armazenar. Se encalha tudo, isso repercute. Continuamos plantando, porque, se daqui a três meses não tiver o que colher, será pior”, pondera Ivan, que planta repolho, abóbora, maracujá e poncã. “Estamos vivendo outra realidade. Quando começou a crise de coronavírus, eu nem dormia.”

Correio Braziliense terça, 31 de março de 2020

APOSTA NAS VENDAS REMOTAS

 

Saiba como lojistas do Distrito Federal, como a CEO da Pinheiro Ferragens, Janine Brito, tem se reinventado para enfrentar deficit acumulado de 40% no setor de material de construção. Vendas remotas viram desafio em meio à crise detonada pela pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao Correio, o presidente do Sindimac aponta queda de 40% no movimento.   (Minervino Júnior/CB. D. A. Press)
 
 
Aposta nas vendas remotas
 
Lojistas brasilienses investem na criatividade para enfrentar deficit acumulado de 40% no setor

 

Erika Manhatys*

Publicação: 31/03/2020 04:00

Ruas vazias e lojas com as portas fechadas. Essa é a cena que os brasilienses encontram quando precisam sair de casa. Após decreto do governador Ibaneis Rocha, somente o comércio considerado de primeira necessidade continua operando. Um deles é o setor dos materiais de construção civil, que tem se esforçado para driblar a crise do coronavírus.

“Imagina, durante o confinamento, um disjuntor quebrar ou um cano se romper. Por isso, não podemos parar”, explica Hércules Isaac, diretor da Campeão da Construção. Apesar das expectativas nada animadoras de mercado, ele se mantém otimista: “É tempo de inovar, ser inteligente”, diz.

Brasília atravessa a terceira semana de quarentena e, em pouco tempo, um grande baque foi sentido. “Perdemos cerca de 50% no número de vendas, mas criamos uma equipe de gerenciamento de crise e apresentamos um sistema de vendas pelo WhatsApp. Metade dos vendedores está sendo treinada para dar gás nas vendas remotas”, conta Isaac. Para aqueles que preferem ir à loja, a medida encontrada para sufocar o vírus foi instalar pias com sabonete e álcool em gel para a higienização das mãos, além de férias para 30% dos funcionários.

Lojas com estruturas mais enxutas representam mais segurança para quem compra e para quem vende. A empresa AC Coelho deu férias a todos os funcionários maiores de 50 anos, gestantes, pessoas com doenças crônicas ou que convivem com outras nessas condições. “Estamos operando com 40% da nossa equipe, precisamos cuidar da saúde e da vida do nosso público interno, tanto quanto dos nossos clientes”, diz Bruno Coelho, diretor comercial do grupo.

Para ele, a qualidade no atendimento é a marca registrada da empresa e deve ser reforçada, ainda que a distância. “Foi necessário criar canais, toda a equipe possui celular de última geração para fazer chamadas de vídeo com os clientes. Não podemos perder o calor humano”, conta. Apesar da queda de 60% no faturamento, Bruno acredita que a implementação de um sistema eficiente de e-commerce demandaria muito tempo e esta alternativa ainda não é considerada pela empresa.

Apesar de não vender pela internet, a AC Coelho dispõe de serviço de televendas. “Diria que 80% dos nossos clientes que costumavam vir à loja migraram para o sistema de vendas pelo telefone. Para estimular ainda mais a campanha do fique em casa, reduzimos consideravelmente o valor cobrado nos fretes. Em determinados casos, até conseguimos zerá-lo”, afirma Bruno.

Perdas e ganhos
Não faltam estudos que projetem grandes perdas econômicas em decorrência do coronavírus. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que o Brasil tenha um deficit de US$ 104 milhões. Neste cenário, as grandes empresas acumulam dívidas e as pequenas são engolidas.

Proprietário da LM Materiais de Construção, uma loja que atende os moradores de Vicente Pires,  Edson Landim sobrevive com poucas expectativas de melhora. “Nesse período, tive uma queda de 70% da clientela. Até as minhas televendas estão em baixa, 40% menores do que antes. O povo está com medo de gastar”, comenta. O lojista diz que permanece aberto por não ter grandes despesas. “Trabalho sozinho na loja, não preciso pagar funcionário e o meu maior gasto é com o aluguel. Mesmo com a quantidade baixa de vendas, não considero fechar.”

Equilibrando a balança dos prejuízos, a Pinheiros Ferragens tem queda pouco expressiva das vendas e até conseguiu conquistar novos públicos nesta fase. “Sinto que o setor entrou em evidência, porque as pessoas estão em casa e observam as necessidades de reforma no lar”, diz Janine Brito, CEO da empresa.

Segundo ela, um novo perfil de clientes passou a comprar e isso tem sido um incremento nas vendas. “Comercializamos equipamentos de proteção individual (EPI), colocamos lucro zero nestes e em outros itens de necessidade essencial da casa. Agora, nosso cadastro de compradores conta com muitos profissionais da saúde e a população que está cuidando de pessoas doentes, assim como aqueles que buscam uma proteção extra.”

Com criatividade, a passagem pela crise sanitária e econômica pode ser menos dolorosa. Os três grandes lojistas que conversaram com o Correio instituíram novas ferramentas de atendimento mediado pela internet e/ou telefone. Todos creem que, apesar do decréscimo nas vendas, há esperança para contornar os prejuízos. Otimismo e perseverança são palavras-chave neste momento.

* Estagiária sob a supervisão de Fernando Brito




Três perguntas para

Carlos de Aguiar, 
presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção do Distrito Federal (Sindmac-DF)

Existe uma estimativa de perdas para o setor?
Nós contabilizamos uma queda de 30% a 40% em todo o nosso movimento. Entretanto, mesmo com o deficit, entendemos perfeitamente que temos de dar nossa contribuição e apoio a nossos colaboradores para que façam algo realmente diferente no enfrentamento a essa crise. A prioridade é cuidar e zelar pelo nosso maior patrimônio, que é o nosso cliente. Portanto, reforçamos as medidas de segurança para manter todos a salvo desse vírus.

Durante a crise, quais são as recomendações aos lojistas para que os impactos sejam menos duros?
Estamos funcionando com horários mais flexíveis. As lojas passaram a abrir mais tarde e a fechar mais cedo. O horário de funcionamento vai das 8h às 17h. Assim, preservamos também as nossas equipes, fugindo do horário de pico no transporte público. Convidamos o público para que compareça nestes momentos às nossas lojas. Além dos produtos, temos um banco de profissionais que indicamos para pequenas reformas, facilitando a vida do cliente. Vale ressaltar que o Sindmac, com a Associação dos Comerciantes de Material de Construção do DF (Acomac) e os nossos colaboradores, está arrecadando uma quantidade expressiva de álcool em gel, água sanitária, papel toalha e detergente para doação ao GDF. Todas as nossas lojas estão preparadas para receber os donativos, assim como vamos às residências buscá-los.

Este é um bom momento para ter uma estratégia de vendas mais agressiva? Ou basta aumentar o leque de opções de serviço, como o atendimento remoto a clientes?
Apesar da queda, não podemos aumentar o preço dos produtos essenciais, em especial. Devemos operar com baixo custo. Se possível ao lojista, acrescentar somente o custo operacional nesses itens.  De toda forma, há impacto e este é o momento de nos reinventarmos. Passar a ofertar serviço de delivery, opções variadas de pagamento, como depósito bancário e com a maquininha de cartões no ato da entrega. Reduzir os custos com entrega e estender as opções de atendimento são as melhores opções. É hora de exercer a criatividade.
 
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Correio Braziliense segunda, 30 de março de 2020

ROBÔS: REFORÇO NA LUTA CONTRA A PANDEMIA

 

Reforço na luta contra a pandemia
 
Robôs ajudam a conter a disseminação do Sars-CoV-2 em ruas e hospitais. Para especialistas, além de medir a temperatura de pacientes e desinfetar cidades, máquinas podem ser usadas em atividades de logística e no controle de quarentenas

 

Paloma Oliveto

Publicação: 30/03/2020 04:00

Chineses recorrem a autômatos para limpar cidades atingidas pelo coronavírus: população adaptada a operações remotas (STR/AFP
)  

Chineses recorrem a autômatos para limpar cidades atingidas pelo coronavírus: população adaptada a operações remotas

 





Robô é configurado para monitorar infectados em hospitais da Tailândia (Lillian Suwanrumpha/AFP - 18/3/20
)  

Robô é configurado para monitorar infectados em hospitais da Tailândia

 




Robôs ajudam idosos a não se esquecerem dos remédios, interagem com crianças que têm transtorno do espectro autista e desempenham tarefas domésticas, como aspirar pó. Na luta contra o Sars-CoV-2, há a possibilidade de eles terem um papel crucial, evitando a exposição humana ao vírus causador da Covid-19. De acordo com um grupo de cientistas da robótica, as máquinas podem prestar um papel valioso no atendimento clínico, como telemedicina e descontaminação; na logística, para entrega e manuseio de resíduos contaminados; e no monitoramento das quarentenas.

Em um editorial publicado na revista Science Robotics, o grupo alega que robôs desempenham muitas dessas tarefas. “Já vimos robôs sendo implantados para desinfecção, fornecendo medicamentos e alimentos, medindo sinais vitais e auxiliando no controle de fronteiras”, escrevem os pesquisadores. Porém, os investimentos na área são insuficientes, sustentam. “As experiências com o surto de ebola (2015) identificaram um amplo espectro de casos de uso (de robôs), mas o financiamento para pesquisas multidisciplinares, em parceria com agências e indústria, para atender a esses casos permanece caro, raro e direcionado a outras aplicações. Sem uma abordagem sustentável da pesquisa, a história se repetirá e os robôs não estarão prontos para o próximo incidente.”

Em uma teleconferência de imprensa, os pesquisadores lembraram que alguns robôs estão sendo usados na pandemia de Covid-19. Hospitais tailandeses usam as máquinas para medir a temperatura e proteger a saúde dos funcionários da saúde. Eles foram concebidos originalmente para cuidar de paciente que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), mas foi preciso fazer desvios de função. As máquinas são capazes de detectar temperatura, supervisionar a evolução dos sintomas e fazer contato do médico com o paciente por videoconferência. Já na Dinamarca os robôs usam a luz ultravioleta para desinfetar superfícies frequentemente tocadas.

“Por que estamos deixando que os funcionários da saúde, que trabalham na linha de frente, se exponham ao vírus?”, questiona o editor da Science Robotics, Guang-Zhong Yang, professor do Instituto de Robótica Médica na Universidade Shanghai Jiao Tong. “Os robôs existem para livrar as pessoas de alguns desses riscos”, diz. De acordo com ele, embora seja preciso investir muito mais na área para que as máquinas sejam capazes de operações mais complexas, muita da tecnologia necessária para substituir ao máximo o contato humano em pandemias está “relativamente madura”. “São tecnologias que têm sido usadas em logística e em muitas outras aplicações. Eu trabalho com robôs cirúrgicos. Então, já sabemos como operar um remotamente.”

Inteligência artificial

Howie Choset, pesquisador da Universidade Carnegie Mellon e coautor do editorial, afirma que a ideia do grupo de especialistas, ao escrever o texto, não foi apenas descrever as tarefas que os robôs poderiam executar em um cenário de pandemia. “Em vez disso, esperamos inspirar outras pessoas a conceber soluções para o que é um problema muito complicado”, explica. Choset enfatiza que, como os robôs, a inteligência artificial (IA) pode ajudar a responder a epidemias e pandemias. Pesquisadores da Carnegie Mellon, por exemplo, estão realizando pesquisas para ajuda humanitária e resposta a desastres. Para essa tarefa, eles desenvolveram uma combinação de tecnologias de IA e robótica, como drones.

Na atual pandemia, os sistemas de inteligência artificial são usados, por exemplo, para revisar milhares de pesquisas em busca de pistas sobre os tratamentos contra o coronavírus que podem funcionar. Há duas semanas, pesquisadores se uniram à Casa Branca em um esforço para disponibilizar cerca de 29 mil artigos de pesquisa sobre o micro-organismo, para que possam ser analisados em busca de dados.

Por meio do Kaggle, uma comunidade de aprendizado autômato e dados científicos de propriedade do Google, essas ferramentas estarão disponíveis para pesquisadores em todo o mundo. “É difícil para as pessoas revisarem manualmente mais de 20 mil artigos e resumirem suas descobertas”, disse Anthony Goldbloom, CEO da Kaggle, à agência France-Presse (AFP). “Os recentes avanços tecnológicos podem ajudar nisso. Estamos disponibilizando versões legíveis por máquina desses artigos à nossa comunidade de mais de 4 milhões de cientistas de dados. Esperamos que a inteligência artificial possa ser usada para ajudar a encontrar respostas para perguntas-chave sobre a Covid-19”, assegurou.


“Por que estamos deixando que os funcionários da saúde, que trabalham na linha de frente, se exponham ao vírus? Os robôs existem para livrar as pessoas de alguns desses riscos”

Guang-Zhong Yang, professor do Instituto de Robótica Médica na Universidade Shanghai Jiao Tong e editor da Science Robotics
 
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Correio Braziliense domingo, 29 de março de 2020

AS APOSTAS PARA FREAR O CORONAVÍRUS

 

As apostas para frear o coronavírus 
 
Pesquisadores dedicam-se a três grupos de abordagens contra o Sars-Cov-2: criação de vacinas, uso de medicamentos já prescritos para outras doenças e desenvolvimento de substâncias a partir de anticorpos de quem se curou da Covid-19
 

Vilhena Soares

Publicação: 29/03/2020 04:00

 

Ao menos 20 projetos buscam uma fórmula protetiva: previsão de resultados em 2021 (Thibault Savary/AFP)  

Ao menos 20 projetos buscam uma fórmula protetiva: previsão de resultados em 2021

 

 

Desenvolver medicamentos é uma tarefa difícil. A realização de testes em laboratório com células in vitro, animais, e, só depois, humanos faz com que esse processo seja também bastante demorado. Diante do avanço da Covid-19, porém, o tempo se tornou ainda mais valioso. Na tentativa de encurtá-lo ou usá-lo da melhor forma possível, cientistas têm unido esforços em três frentes principais de investigação: uso de remédios já prescritos para outras doenças, análise de anticorpos presentes no sangue de infectados e criação de vacinas (veja infográfico). Especialistas ressaltam que a urgência exige um trabalho mais rápido, mas destacam que todo o cuidado é necessário para que as abordagens propostas não atrapalhem ainda mais o combate à pandemia.


Um dos projetos em andamento aposta no uso combinado de duas drogas anti-HIV: lopinavir e ritonavir. Esse coquetel foi testado na China, mas com resultados que podem ter sido mitigados porque muitos pacientes “foram incluídos tardiamente no experimento, até mesmo depois do 10º dia da infecção”, segundo Bruno Lina, professor de virologia no Hospital Civils de Lyon, na França.


Bruno Lina e outros cientistas fazem parte da pesquisa Discovery, que busca drogas para combater o Sars-Cov-2. O projeto, fruto de parceria com outros investigadores europeus, tem resultados positivos no uso das duas drogas contra o novo coronavírus. “Trata-se da ‘reciclagem’ de um medicamento contra o HIV para bloquear a reprodução do vírus. Percebemos que, no tubo de ensaio, ela funciona”, conta o pesquisador francês.


O Discovery está, agora, na fase de testes clínicos e pretende contar com 3,2 mil voluntários de vários países do continente — Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Luxemburgo e Reino Unido. Além das drogas de combate ao HIV, os cientistas testarão o efeito do remdesivir, um antiviral usado para combater o ebola, e da cloroquina, indicada para o  tratamento da malária. O segundo medicamento mostrou-se promissor contra a Covid-19 em outros estudos científicos e tem causado polêmica devido à liberação de uso, pelo governo brasileiro, para pessoas em estado grave.


A primeira etapa de testes clínicos de Discovery teve início, semana passada, na França, onde os quatro medicamentos serão aplicados em 800 pacientes. “O tratamento começou rapidamente para essas pessoas, uma vez que os prazos parecem ser um fator importante nessa doença”, frisa Florence Ader, infectologista no Hospital Civils de Lyon e uma das líderes da pesquisa.


Segundo a cientista, no momento em que uma substância apresentar “superioridade no tratamento”, será possível propor o seu uso aos órgãos reguladores. “O tratamento poderá, então, ser liberado muito rapidamente, levando em conta que estamos em situação de carência terapêutica”, complementa. Mas Florence Ader pede cautela, já que “ainda não se conhecem os efeitos desses tratamentos”.

Cautela

Natália Pasternak, bióloga e criadora do Instituto Questão de Ciência, em São Paulo, explica por que a busca por medicamentos prescritos para outras enfermidades reduz bastante o tempo gasto no desenvolvimento de um tratamento para a Covid-19. “Por estarem no mercado, essas moléculas já passaram por um teste de segurança e toxicidade. Isso faz com que consigamos queimar etapas, algo extremamente valioso na situação atual, em que temos urgência”, diz.


Pasternak também ressalta que a economia de tempo é um fator importante no momento, mas que pode gerar danos. Por isso, a importância no cuidado com os resultados dos trabalhos em condução, como no caso da cloroquina. “O estudo feito com essa droga que mais tomou proporções foi feito por franceses e teve alguns erros. Os pesquisadores ignoraram os pacientes que não responderam bem ao uso do medicamento, inclusive um deles desistiu de continuar devido aos efeitos adversos”, detalha a especialista.


A bióloga destaca que a prudência pode evitar problemas graves. “Isso é muito importante de ser considerado, pois a maioria dos casos dessa doença se resolve com o tratamento dos sintomas e suporte respiratório. Ao usar uma droga dessas, você pode gerar efeitos adversos e piorar a situação do paciente”, completa.


Alexandre Cunha, infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (DF), também enfatiza que os medicamentos em teste precisam passar pela validação em todas as etapas padrão antes de serem prescritos. “Esse ‘todo mundo está usando’ é muito fruto da nossa necessidade, como médicos, de sentir que precisamos fazer algo. Nós, que estamos acostumados a sempre intervir, estamos diante de uma situação em que só observamos, e isso nos causa muito desconforto. Mas, às vezes, ‘não fazer nada’ já é fazer muito”, opina. “A nossa necessidade de achar que temos que dar remédio mesmo sem comprovação pode fazer com que pessoas usem, sem poder, cloroquina, imunoglobulina, além de antibióticos e tudo mais”, alerta.


O médico lembra que os estudos com plasma, que tem sido testado nos Estados Unidos, também apresentam riscos. A estratégia consiste em usar anticorpos produzidos por pessoas que foram infectadas pelo Sars-Cov-2 e se recuperaram da doença. “Na década de 1980, achavam que essa alternativa era segura, mas não se sabia que problemas como a hepatite C e o HIV poderiam ser transmitidos pelo sangue, e muitas complicações ocorreram. Neste caso, também não temos certeza, e podemos nos deparar com outras dificuldades devido a essas dúvidas”, frisa.

 

Os desafios da imunização

Enquanto muitos cientistas buscam medicamentos para tratar a Covid-19, outra parte de especialistas enfrenta um desafio ainda maior e mais demorado: a criação de vacinas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no fim do mês passado, mais de 20 vacinas para combater a pandemia estavam em desenvolvimento, em iniciativas de faculdades, centros de pesquisa e empresas farmacêuticas.
Uma das mais avançadas é norte-americana. No último dia 17, cientistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) anunciaram o início da primeira fase de estudos clínicos com uma fórmula protetiva. O trabalho envolve 45 voluntários com idade entre 18 e 55 anos. “Os cientistas estavam trabalhando em uma investigação de uma vacina contra a Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio), o que trouxe uma vantagem no desenvolvimento da vacina contra a Covid-19”, destaca a equipe, em comunicado. A imunização mostrou-se eficiente em animais e precisa passar por outras duas fases de exames clínicos.
Brasileiros também enfrentam esse desafio. Pesquisadores do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, usam a mesma tecnologia dos americanos: uma plataforma tecnológica que produz moléculas sintéticas de RNA mensageiro, que instruem a produção de proteínas reconhecíveis pelo sistema imune. A ideia é que a defesa do corpo da pessoa infectada reconheça as proteínas artificiais para, depois, identificar e combater o vírus real.  “Acreditamos que a estratégia é muito promissora e poderá induzir uma resposta imunológica melhor do que a de outras propostas”, afirma Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do InCor e coordenador do projeto, em comunicado à Agência Fapesp de notícias.

Testes longos
Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que as fórmulas para imunização  demoram a ser desenvolvidas devido a todo o processo de testes. Porém, segundo o especialista, a grande quantidade de grupos empenhados em pesquisa e o uso de estratégias distintas poderão agilizar esse processo.


“Muitas linhas de estudo têm sido realizadas. Aqui na UFMG, estamos explorando a mesma abordagem feita para a vacina da dengue. Nela, pegamos um vírus mais parecido com o estudado e buscamos anticorpos que respondem de forma semelhante. Usamos o vírus da influenza, que causa a gripe normal, devido a suas semelhanças com o da Covid-19”, explica.


O virologista ressalta que, mesmo com o empenho mundial, uma vacina provavelmente surgirá apenas em 2021. “É uma batalha demorada, pois usar uma fórmula em toda a população que proteja de determinada doença exige alto nível de segurança. Ainda assim, se considerarmos que uma vacina para dengue demorou 15 anos para ser desenvolvida, podemos considerar rapidez caso tenhamos uma opção dessa já no ano que vem”, opina. (VS)

 

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Correio Braziliense sábado, 28 de março de 2020

ENTRE O LUTO E A FÉ

 

Entre o luto e a fé
 
No dia em que a Itália registrou 969 mortes por Covid-19, o maior número entre todos os países, papa Francisco concede bênção e indulgência plenária à humanidade, na Praça de São Pedro completamente vazia. Brasileiras residentes na Lombardia relatam drama

 

» RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 28/03/2020 04:00

 
Caixões de vítimas do novo coronavírus colocados em depósito de Ponte San Pietro, perto de Bergamo, na região da Lombardia: risco de infecção proíbe velórios e funerais; corpos são cremados  (Piero Cruciatti / AFP )  

Caixões de vítimas do novo coronavírus colocados em depósito de Ponte San Pietro, perto de Bergamo, na região da Lombardia: risco de infecção proíbe velórios e funerais; corpos são cremados

 

 
Papa Francisco beija os pés do Cristo Milagroso, durante cerimônia na Cidade do Vaticano: imagem teria sido usada para pôr fim à peste de 1522 (Vincenzo Pinto / AFP )  

Papa Francisco beija os pés do Cristo Milagroso, durante cerimônia na Cidade do Vaticano: imagem teria sido usada para pôr fim à peste de 1522

 

 
Sob chuva e ante uma Praça de São Pedro escura e completamente vazia, algo sem precedentes na históra milenar da Igreja Católica, o papa Francisco suplicou: “Senhor, abençoe o mundo, dê saúde aos corpos e conforto aos corações; Senhor, não nos deixe à mercê da tempestade”. O pontífice citou uma “tormenta inesperada e furiosa”, “uma tempestade que desmascara nossa vulnerabilidade e deixa descobertas essas falsas e supérfluas seguranças”. Ao conceder a indulgência plenária à humanidade, às 18h de ontem (14h em Brasília), Francisco lembrou que “é diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nosso povos”. Foi uma referência a “médicos, enfermeiros, estoquistas, funcionários da limpeza, cuidadoras, motoristas, forças de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosos e tantos outros”. Ele elogiou o sacrifício de “tantos que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.
 
No dia em que a pandemia do novo coronavírus levou o líder católico a ministrar a bênção Urbi et orbi (“À cidade e ao mundo”), transmitida pela internet, a Itália registrou 969 mortes em 24 horas, um balanço que nenhum país alcançou até o momento. Até o fechamento desta edição, os italianos contabilizavam 9.134 óbitos.
 
Francisco afirmou que, há algumas semanas, “densa escuridão cobriu nossas praças, ruas e cidades; tomou conta de nossas vidas, preenchendo tudo de um silêncio que ensurdece e de um vazio desolador, que paralisa tudo em seu caminho: ela se palpita no ar, se sente nos gestos, é dita nos olhares”. “Nós nos encontramos assustados e perdidos”, admitiu o pontífice, que se curvou e beijou o crucifixo do Cristo Milagroso — uma peça de 500 anos trazida da Igreja de San Marcello al Corso, em Roma, a qual acredita-se tenha curado a peste de 1522. “Estamos todos no mesmo barco e somos chamados a remar juntos.” A celebração do papa foi entremeada pelo toque dos sinos e pela sirene das ambulâncias — o mesmo som ecoa pela Lombardia (norte), a região mais castigada pela pandemia.
 
Cuidadora de idosos em um asilo de Bergamo, a 40km de Milão, a gaúcha Eime Fortunatti, 30 anos, contou ao Correio que oito pacientes morreram no local com suspeita de Covid-19. “Os sintomas iniciais são similares aos da gripe: dores no corpo, inflamação na garganta, falta de paladar e de olfato. Depois, vêm a febre e a perda de apetite”, relatou a brasileira, que usa máscaras e luvas no trabalho. “Se estamos infectadas ou não, é impossível sabermos. O governo não tem disponibilizado testes suficientes. Na última semana de fevereiro, tive todos os sintomas. Vi idosos morrerem, devagarinho, com sintomas leves, seguidos de febre e falta de oxigênio.”
 
Silêncio e medo
 
Em Milão, a empreendedora carioca Amanda Menezes, 33, relatou que o silêncio generalizado na cidade traz o medo. “Apesar do isolamento total, os números de mortes e de infecções seguem crescendo. O vírus tem um período de incubação de 14 dias, a Itália inteira fechou há mais de duas semanas e os casos não param de aumentar. A impressão em Milão é de que todos estamos contagiados”, desabafou ao Correio. Segundo ela, o fator psicológico que mais pesa é a falta de previsão sobre quando a vida voltará à normalidade. “O medo aqui transcende a questão econômica, mas engloba a incerteza geral de não saber no que isso vai dar. O isolamento começou há cerca de um mês. A campanha para que Milão retornasse ao trabalho levou a uma explosão dos casos. Eu procuro me cuidar. Após ir ao supermercado, ao chegar em casa sempre lavo as mãos e passo álcool em gel”, disse Amanda.
 
“Hoje, faz 1 mês e sete dias que minha vida parou. No momento, podemos sair somente para fazer compras, ir à farmácia ou ao médico. Tudo com declaração por escrito, relatando nossa origem, destino e motivo do deslocamento”, disse a estudante de comunicação Eduarda Rosa dos Santos, 21, que trocou Salvador por Milão em 2017. De acordo com ela, uma amiga perdeu a avó e não pôde se despedir nem organizar o velório. “É uma situação muito triste. O governo italiano demorou o suficiente para que a situação aqui se tornasse uma pandemia. No começo, eu me lembro de escutar na TV que deveríamos continuar com nossas vidas normais. Pouco a pouco, a situação se agravou. O Brasil tem o exemplo caro do erro cometido pela Itália.” Na quinta-feira, o prefeito Beppe Sala admitiu o equívoco da campanha “Milão não para”. “Foi um erro. Ninguém havia ainda entendido a virulência do vírus”, disse.
 
Apesar do trágico cenário na Itália, o pior estaria a caminho. “Não atingimos o pico. Temos sinais de desaceleração (do número de casos), o que nos faz crer que estejamos perto dele”, declarou Silvio Brusaferro, chefe do Instituto Superior da Saúde. Ele ressaltou que o confinamento e a proibição de atividades em setores não essenciais têm surtido efeito.
 
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Correio Braziliense sexta, 27 de março de 2020

600 REAIS PARA OS MAIS POBRES

 

R$ 600 para os mais pobres
 
Com aval do governo, Câmara aprova auxílio para trabalhadores informais e pessoas com deficiência que aguardam na fila de espera do INSS pelo BPC. Mães que são chefe de família receberão R$ 1.200. Texto segue para o Senado

 

LUIZ CALCAGNO

Publicação: 27/03/2020 04:00

A matéria foi aprovada simbolicamente, sem a contagem dos votos, mas de forma unânime, durante sessão virtual da Câmara (Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
)  

A matéria foi aprovada simbolicamente, sem a contagem dos votos, mas de forma unânime, durante sessão virtual da Câmara

 

 
Deputados aprovaram, com a autorização do governo, renda mínima de R$ 600, durante três meses, às pessoas de baixa renda às com deficiência que aguardam na fila de espera do INSS até a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Na prática, o auxílio deve chegar a R$ 1.200 para a maioria das famílias, pois o substitutivo do projeto de lei 9236/17 prevê que o valor será dobrado para mães solteiras e para núcleos em que mais de uma pessoa da casa cumprir os requisitos necessários. O valor, inicialmente acordado em R$ 500, chegando a R$ 1 mil, aumentou após um pedido do Executivo. O texto, agora, seguirá para o Senado.
 
Terão direito aos benefícios pessoas maiores de 18 anos e sem emprego formal. O valor poderá ser repassado a núcleos familiares que recebem o Bolsa Família, mas não a quem recebe benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou outro programa de transferência de renda. Os beneficiados também precisam ter renda familiar mensal, por pessoa, de até R$ 522,50, ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135). Além disso, não podem ter recebido, em 2018, rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70.
 
Inicialmente, a equipe econômica havia proposto um benefício de R$ 200 mensais. Mesmo com o aceno do governo, o relator, deputado Marcelo Aro (PP-MG), tinha decidido incluir no texto o valor de R$ 500. Na última hora, ele anunciou um acordo fechado com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), para elevar a R$ 600. “É a demonstração de que devemos dialogar, mesmo com divergências”, afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
 
BPC
Também no projeto, Aro restabeleceu o acesso ao BPC às famílias com renda de até R$ 261,25 por pessoa (um quarto do salário mínimo) em 2020, mas previu nova elevação desse limite a R$ 522,50 por pessoa (meio salário mínimo) a partir do ano que vem. O governo é contra essa mudança no critério do BPC, que traria um gasto adicional de R$ 20,5 bilhões em 2021.
 
O projeto inclui, ainda, a proposta do governo de antecipação de um salário mínimo (R$ 1.045) a quem aguarda perícia médica para o recebimento de auxílio-doença. Além disso, prevê a dispensa às empresas do pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento do trabalhador devido ao novo coronavírus. De acordo com o texto, as companhias poderão deixar de recolher o valor devido ao INSS, até o limite do teto do regime geral (R$ 6.101,06).
 
“Histórico”
Maia, que, na quarta-feira, subiu o tom com o governo e pediu que o presidente Jair Bolsonaro assumisse a liderança no combate às crises na Saúde e na economia, assumiu uma postura mais moderada ontem, antes da sessão. Após o aumento no valor do benefício de R$ 500 para R$ 600, ele elogiou o chefe do Planalto e falou em “momento histórico”. “O objetivo de todos é o mesmo. Todos querem salvar vidas e encontrar o melhor caminho para que a economia sofra menos. Vossa excelência foi propositiva. É em um ambiente de diálogo que o parlamento sempre melhora os textos do governo”, ressaltou. “Espero que, daqui para a frente, possamos sentar, discutir, dialogar, para salvar vidas e garantir os empregos dos brasileiros.”
 
O líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), comemorou a decisão. “Não é uma vitória do governo nem do parlamento, mas do Brasil”, afirmou
 
Outros projetos
Conforme já havia prometido, Maia priorizou, na sessão de ontem, projetos de combate ao coronavírus. Além da renda básica para a população mais pobre, deputados aprovaram o PL 786/20, que garante a distribuição dos alimentos da merenda escolar às famílias dos estudantes da rede pública que estão sem aula; o 805/20, suspendendo a obrigatoriedade de hospitais filantrópicos cumprirem metas quantitativas e qualitativas do Sistema Único de Saúde por 120 dias; e o 696/20, que regula o uso de telemedicina enquanto durar a crise da Covid-19. (Com Agência Estado)
 
“O objetivo de todos é o mesmo. Todos querem salvar vidas e encontrar o melhor caminho para que a economia sofra menos. Espero que, daqui para a frente, possamos sentar, discutir, dialogar, para salvar vidas e garantir os empregos dos brasileiros”
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, num comentário em relação ao governo
 
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Correio Braziliense quinta, 26 de março de 2020

FÉRIAS FORÇADAS EM CASA

 

Férias forçadas em casa
 
Sem aulas, pelo menos até abril, a criançada tem muito tempo livre durante o isolamento social. O que fazer, agora? Especialistas dão dicas a pais e responsáveis: criar um espaço informativo e de atividades lúdicas para os pequenos

 

» LIS CAPPI*
» JONATHAN LUIZ*
» THALYTA GUERRA*

Publicação: 26/03/2020 04:00

A analista Izza Mendonça se divide entre trabalhar em home office, cuidar das filhas e realizar tarefas domésticas (Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press)  

A analista Izza Mendonça se divide entre trabalhar em home office, cuidar das filhas e realizar tarefas domésticas

 



Muito tempo em frente à televisão, perda de ritmo dos estudos e restrições de atividades de lazer. Pais e responsáveis de crianças se perguntam: quais atividades podem ser feitas com a meninada durante as férias antecipadas? O que evitar? Ao menos até abril, as aulas no Distrito Federal estão suspensas, medida tomada pelo GDF para frear a propagação do novo coronavírus.

Como se adaptar e ainda aproveitar o tempo livre das crianças? O Correio preparou algumas dicas e recomendações para lidar com os pequenos durante o período de quarentena.
 
A analista do Ministério Público da União (MPU) Izza Mendonça, 34 anos, tenta ocupar o tempo das três filhas, Maria Eduarda, 7, Maria Fernanda, 4, e Maria Luiza, 1, enquanto trabalha de casa e cuida do lar. Nos primeiros dias sem aula, as duas crianças mais velhas tiveram parte do dia preenchido por atividades enviadas pela escola. Com o fim dos conteúdos programados — que atendiam a primeira determinação de suspensão de aulas por cinco dias — as meninas têm passado a maior parte do dia assistindo a filmes e brincando. A mãe, que conseguiu entrar no modelo de trabalho home office, preocupa-se em aliar todas as atividades. “O trabalho só rende enquanto a Maria Luiza, de um ano e quatro meses, dorme. Por ser bebê, ela requer mais atenção”, conta. 

Essa tem sido a mesma preocupação da autônoma Natália Uchôa, 27. Dona de um empreendimento estético no ramo de sobrancelhas, ela teve que desmarcar alguns atendimentos, ainda antes da quarentena, para cuidar da filha Maria Eduarda, 6. "Dentro de casa, ela acaba passando a maior parte do tempo em frente à televisão ou brincando. Como está sem aula, ela fica sem ter com o que ocupar o tempo”.
 
Juntos no lar
 
Nesse momento em que a recomendação é ficar dentro de casa, interações entre irmãos podem ser uma boa saída. Nina Souza, 46, moradora de Ceilândia, conta que os filhos Lucas, 9, e Laura, 5, estão aproveitando as férias antecipadas brincando juntos. “Sigo as recomendações, estamos evitando ficar na praça, na rua e em lugares com aglomerações. Dessa forma, meus filhos estão ficando mais dentro de casa e se divertindo entre si”.

Nina conta que as crianças já eram bem ativas e tomavam precauções contra doenças, mas por conta do coronavírus a atenção foi redobrada. “Essa situação é difícil, eles já seguiam as orientações de usar álcool em gel, lavar bem as mãos, entre outras, mas agora estamos muito mais atentos”, constata. 

Para não causar nenhuma preocupação maior para as crianças, Nina conta que teve cuidado para alertar o problema da Covid-19. “Conversei com eles dizendo que é importante se cuidar, que o mundo passa por uma situação desagradável, e eles entenderam bem, não ficaram com medo”, apontou. Além disso, a mãe tenta mostrar notícias sobre o atual momento, mas sempre filtrando para não amedrontar os filhos.   

Ainda antes da quarentena, Natália Uchôa deixou de trabalhar para cuidar da filha Maria Eduarda (Arquivo Pessoal)  

Ainda antes da quarentena, Natália Uchôa deixou de trabalhar para cuidar da filha Maria Eduarda

 



Atividades

Brincadeiras que podem ser feitas em casa
 
» Guerrinha de bola de neve:  coloque bolinhas de algodão dentro de meias e dê um nó na ponta para que não saiam. Você e seu filho ficam em lados opostos, protegidos por seus fortes. Faça uma métrica de pontuação.
 
 
» Faça um labirinto: com os móveis de casa, coloque pequenos obstáculos para a criança poder passar, estimulando, assim, a diversão e a prática de exercícios.
 
 
» Fuja do tradicional: o clássico jogo da velha, que é praticado em folhas de papel, pode ser expandido. Desenhe o  # com fitas no chão e use objetos da escolha da criança para se divertirem. 
 
 
» Caça ao tesouro sensorial: escolha cinco a seis texturas diferentes, como liso, áspero, aveludado, macio e rígido. Peça para a criança procurar pela casa objetos com aquelas superfícies.
 
 
» Massinha de modelar: é possível fazer massinhas caseiras. Aproveite e interaja com a crianças produzindo o material. Pode usar diversas formatos para se divertir com o filho. 
 
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Correio Braziliense quarta, 25 de março de 2020

JOGOS OLÍMPICOS ADIADOS PARA 2021

 

JOGOS OLÍMPICOS ADIADOS PARA 2021

A última palavra

 
Como a pressão dos EUA foi definitiva para antecipar decisão sobre os Jogos de Tóquio-2020. Após pedir prazo de quatro semanas, COI adia o megaevento para 2021 horas depois da ameaça norte-americana

 

Maíra Nunes

Publicação: 25/03/2020 04:00

O presidente Yoshiro Mori (E) e o diretor executivo do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, lamentam a transferência do megaevento para o ano que vem (Behrouz Mehri/AFP)  

O presidente Yoshiro Mori (E) e o diretor executivo do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, lamentam a transferência do megaevento para o ano que vem

 

 
 
Foram muitos os países que pressionaram pelo adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio-2020, originalmente marcados para 24 de julho e 6 de setembro, respectivamente. Espanha, Brasil e Austrália manifestaram-se favoráveis à alteração da data na semana passada. Canadá, Noruega e Reino Unido chegaram a anunciar boicote caso o evento mantivesse a agenda. Mas a confirmação da postergação do maior evento esportivo do planeta para 2021 só aconteceu ontem, houras depois da mudança de opinião do comitê dos Estados Unidos, que declararam apoio à protelação do evento após pressão dos atletas.
 
Em 17 de março, o comitê espanhol alegou que seus atletas competiriam em situação de desigualdade com os adversários por causa da situação do coronavírus no país ibérico — terceira nação mais afetada pela pandemia, atrás de Itália e China. O Brasil engrossou o coro pela postergação na semana passada. Enquanto isso, o comitê olímpico dos EUA era pressionado pelas federações de natação e atletismo a se posicionar.
 
No domingo, o COI pediu quatro semanas de prazo para uma definição. Horas depois, o Canadá era o primeiro a anunciar oficialmente que não enviaria atletas às Olimpíadas de Tóquio nas datas previstas originalmente. A Noruega entrou no grupo pelo boicote e a Austrália pedia aos seus representantes que se preparassem para a Olimpíada de 2021. Na noite da última segunda-feira, os EUA se posicionaram contra a manutenção em 2020. Numa demonstração de força, a potência viu o COI se render e anunciar a transferência do megaevento para 2021. Até então, Tóquio-2020 estava na contramão de competições importantes como a Eurocopa e a Copa América, torneios de seleções adiados, respectivamente, pela Uefa e a Conmebol, para o ano que vem. Competições como a Champions League, a NBA, Roland Garros e Fórmula 1 agiram com celeridade na tomada das decisões.
 
A atitude do COI interfere na vida de 17 mil pessoas, entre atletas e membros de delegações, mas as mudanças que o adiamento poderia causar na economia era o que mais pesava, após o golpe financeiro sentido em função da pandemia do novo coronavírus. A estimativa do custo total da organização dos Jogos de Tóquio, feita no fim de 2019, era de 11,5 bilhões de euros. A conta seria dividida entre Tóquio (597 bilhões de ienes), o Comitê Organizador local (603 bilhões de ienes) e o estado central (150 bilhões de ienes). Com a alteração, vai subir.
 
Segundo dados da organização, haviam sido comercializados 4,48 milhões de ingressos ao público em geral no Japão. Eram milhões de hospedagens reservadas. A Vila Olímpica é outro componente. Composta por 21 torres de 14 a 18 andares, o conjunto foi erguido em um terreno de grande valor imobiliário, com vistas para a baía de Tóquio e a famosa Rainbow Bridge. A venda para a população dos 4.145 apartamentos de luxo em que a vila olímpica se transformará também terá de esperar, colocando em dúvida contratos de propriedade assinados.
 
Nesse ponto, os Estados Unidos têm realmente mais poder de influência do que os demais países que participarão dos Jogos de Tóquio. Metade das empresas parceiras mundiais do evento são norte-americanas. Coca-Cola, AirBnB, Dow, GE, Intel, P&G e Visa estão entre as 14 parceiras olímpicas de Tóquio-2020. A outra metade é composta por marcas japonesas, chinesas, francesas, coreanas e suíça.
 
O nome do evento, por sinal, será mantido, apesar da alteração para 2021. Mais do que uma referência ao ano da competição, a presença dele junto ao nome da cidade é uma marca. E ela vem sendo usada na divulgação do próprio evento e dos produtos e marcas associadas a ele desde a escolha de Tóquio como sede, em 2013.
 
Turismo
 
No Japão, outro setor que será atingido é o de turismo — em crise assim global. O Ministério do Turismo japonês havia estimado em 600 mil o número de visitantes estrangeiros esperados para os Jogos de Tóquio-2020.  Mas tensões históricas entre Tóquio e Seul, em 2019, provocaram boicote de turistas sul-coreanos no meio de 2019. Com a pandemia da Covid-19, o número de visitantes estrangeiros no Japão caiu 58,3% em relação ao ano anterior, segundo dados de fevereiro do Escritório Nacional de Turismo do Japão (JNTO).
 
Entretanto, a economia japonesa é altamente diversificada e industrializada. O maior entrave financeiro para o país será mesmo a pandemia do novo coronavírus. O gabinete de estudos Fitch Solutions estimou nesta semana que o PIB japonês recuará 1,1% em 2020, em vez da previsão anterior de 0,2%, devido ao impacto da Covid-19 no consumo, turismo e exportações. O adiamento das Olimpíadas pode agravar a previsão.
 
Apesar dos muitos impactos econômicos no Japão, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, ressaltou que as consequências financeiras do adiamento das Olimpíadas de Tóquio para 2021 “não foram discutidas e não são uma prioridade, trata-se de proteger vidas”.
 
“Estamos todos conscientes da gravidade e extensão da pandemia e, mais importante, das consequências para a vida das pessoas. Tínhamos números alarmantes no domingo e depois na segunda-feira. Mas também tínhamos números alarmantes na África e na Oceania. Concordamos (com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe) que, nessas circunstâncias, os Jogos tiveram que ser remarcados para depois de 2020, mas o mais tardar no verão (boreal) de 2021”. disse Bach, na teleconferência do COI.
 
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Correio Braziliense terça, 24 de março de 2020

CORRIDA PARA VACINAR IDOSOS

 

Corrida para vacinar idosos
 
Primeiro dia de vacinação contra a gripe leva milhares de pessoas aos postos: procura foi grande e doses acabaram cedo. Secretaria informou que os estoques serão reabastecidos semanalmente pelo Ministério da Saúde

 

» CAROLINE CINTRA
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 24/03/2020 04:00

Filas e aglomerações nos potos de vacinação marcaram o início da campanha em Brasília (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Filas e aglomerações nos potos de vacinação marcaram o início da campanha em Brasília

 

 
Milhares de idosos saíram de casa, ontem, no primeiro dia de imunização contra a gripe. O início da 22ª Campanha Nacional de Vacinação Contra Influenza foi marcado pela corrida aos postos de saúde e pela falta de doses para atender a demanda, além da ausência de cuidados preventivos contra o contágio pelo novo coronavírus, causador da Covid-19. Pela manhã, havia filas e congestionamento em unidades no Cruzeiro, na Asa Norte e Asa Sul.
 
Moradora da Asa Sul, Maria Teresa de Carvalho Magalhães, 69 anos, e o marido, de 73, procuraram a Unidade Básica de Saúde nº 1, na 612 sul, para se vacinar. O casal integra o grupo de risco para o coronavírus. “Viemos de carro e fomos prontamente atendidos porque meu esposo tem problemas de coordenação motora, em função do mal de Parkinson. No entanto, o tempo que levamos para entrar com o carro no posto de saúde foi mais longo do que o atendimento”, disse.
 
Para quem não tinha a opção da imunização no carro, a espera na fila era de, aproximadamente, 15 minutos. Para evitar aglomerações em lugares fechados, a vacinação foi feita nas áreas externas dos postos. A chuva e o sol não desencorajaram Ademor Queiroz, 62. “Não atrapalha. O benefício é muito maior do que a pouca exposição ao sol”, observou o morador do Cruzeiro.
 
A Secretaria de Saúde estabeleceu critérios para evitar aglomerações e reduzir os riscos de contágio pelo coronavírus durante as imunizações. A campanha nacional de vacinação foi antecipada em 30 dias, justamente, com o objetivo de proteger a população contra outras doenças virais que possam dificultar o combate à Covid-19. Na primeira etapa, idosos e profissionais de saúde têm atenção especial, por integrarem o grupo de risco para contaminação pelo vírus que colocou o mundo em alerta.
 
Entretanto, algumas pessoas fora do grupo prioritário do dia compareceram. Profissionais de saúde não vetaram as aplicações nestas pessoas. Durante o período da campanha, as aplicações nos idosos ocorrerão por ordem alfabética, de acordo com primeiro nome do registro civil. No dia de ontem, a prioridade era de pessoas com iniciais de A a E. Hoje, será de F a J. Por volta das 10h, algumas unidades já não tinham mais doses e a orientação dada pelos servidores era para que os pacientes voltassem no período da tarde.
 
A Secretaria de Saúde informou, em nota, que recebeu do Ministério da Saúde 60,8 mil doses da vacina contra a Influenza no primeiro lote. De acordo com a pasta, devido à alta demanda apresentada ontem, poderiam ocorrer faltas pontuais em alguns locais. Segundo a secretaria, o GDF recebeu ontem um novo lote com 72 mil doses que seriam utilizadas para reabastecer as unidades de saúde a partir das 12h. De acordo com a pasta, a previsão dada pelo Ministério da Saúde é que os lotes sejam encaminhados semanalmente.
 
Confira o cronograma de vacinação no site www.correiobraziliense.com.br
 
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Correio Braziliense segunda, 23 de março de 2020

EQUILÍBRIO QUE VEM DA FÉ

 

Equilíbrio que vem da fé
 
Em meio a tantas notícias negativas com relação ao avanço da Covid-19, a busca por paz de espírito por meio da religião traz conforto a fiéis e abre caminho para acreditar que dias melhores virão

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 23/03/2020 04:00

Patrícia Zapponi é candomblecista, iniciada em Ifá, e percebe uma oportunidade de ficar mais próxima da família e de ressignificar a relação com a natureza
 (Fotos: Arquivo Pessoal
)  

Patrícia Zapponi é candomblecista, iniciada em Ifá, e percebe uma oportunidade de ficar mais próxima da família e de ressignificar a relação com a natureza

 

Há meses o mundo compartilha um pesadelo. Uma doença altamente transmissível começou a se alastrar por Wuhan, na China, em pouco tempo infectou pessoas em todos os continentes. Para combatê-la, a principal medida até o momento é isolamento. Com as implicações práticas e psicológicas que isso representa, algumas pessoas têm encontrado na espiritualidade o equilíbrio necessário para enfrentar este momento desafiador. A lição que a maioria das religiões propõe é enxergar o lado positivo mesmo diante do cenário desolador.
 
A fé levou a professora do ensino fundamental da rede pública Graziella Rocha, 26 anos, a entender que não há problema em ter de adiar o casamento, marcado para maio. “É uma coisa que queremos, mas, antes de todos os nossos sonhos, vem a vontade de Deus. Estamos com o coração tranquilo”, afirma.
 
Católica e distante da igreja que frequenta em razão do período de quarentena, ela e o noivo, Pedro Phelipe, 31 anos, aproveitam para passar mais tempo juntos e manter a crença viva com as missas transmitidas on-line. Segundo ela, essa também é uma oportunidade para levar o conforto espiritual àqueles que não dividem a mesma religião.
 
“Não é obrigar as pessoas a rezarem ou brigar por isso, é mostrar que Jesus Cristo está em nossos corações independentemente de pandemia e que essas coisas ruins acontecem, mas muitas outras melhores estão por vir”, declara.
 
A advogada e vice-presidente da comissão de liberdade religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Distrito Federal (OAB/DF), Patrícia Zapponi, 45 anos, é candomblecista, iniciada em Ifá e vê ainda mais oportunidades. A pandemia criou espaços em sua agenda de trabalho e lhe deu tempo para passar com a família.
 
“Está havendo uma reflexão para dar valor a algumas coisas da vida. Valor aos sentimentos, uma ressignificação humana. A natureza fez com que a minha agenda toda fosse cancelada para que eu pudesse retomar o eixo, exercer a solidariedade, parar para refletir, ter mais tempo com a minha família. Quando que em outro momento eu poderia deixar tudo de lado e simplesmente ficar em casa?”, questiona.
 
Segundo o candomblé, a vida é regida pela natureza. Patrícia explica que a pandemia nada mais é do que ela tentando entrar em equilíbrio. O momento é difícil, mas é possível manter a fé dentro de casa, mantendo a visão positiva de cada situação.
 
Conexão 
 
A ideia de mãe natureza, de equilíbrio e de calma em meio ao caos faz parte dos fundamentos do Being Tao de Tai Chi Chuan. A aposentada Maria Eutenir Braga, 77 anos, é uma fiel e conta que os movimentos da prática auxiliam no autoconhecimento e também para manter a paz.
 
“As atividades nos passam uma forma de vida consciente. É preciso tirar momentos do dia para respirar, para caminhar ao ar livre se possível, meditar, de preferência cantando algo de que goste, porque, quando a gente canta, nossa mente se esvazia de qualquer pensamento indevido”, observa.
 
Maria Eutenir entende a situação como um alerta da natureza. “Ela não faz isso por mal, mas para que as pessoas tomem consciência. É uma oportunidade para que enxerguem o que vêm fazendo e como nós fazemos parte do mundo. Todos são atingidos”, explica.

Maria Eutenir praticava Tai Chi Chuan ao ar livre. Mesmo com o isolamento, ela continua seguindo os preceitos  

Maria Eutenir praticava Tai Chi Chuan ao ar livre. Mesmo com o isolamento, ela continua seguindo os preceitos

 



Atividades suspensas
 
Devido ao avanço das infecções por coronavírus no DF, as igrejas e outros templos religiosos devem permanecer fechados durante o período de quarentena determinado em decreto pelo Governo do Distrito Federal.
 
Segundo o presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev-DF), Josimar Francisco da Silva, as orações agora deverão ser feitas de casa. “A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote.”
 
De acordo com o Bispo Rodovalho, da Igreja Evangélica Sarah Nossa Terra, a espiritualidade é essencial para manter o equilíbrio em meio a tantas tragédias. “A população precisa de apoio espiritual e emocional neste momento. As pessoas não devem ficar completamente sós, vendo tantas notícias ruins. É preciso se manter informado, mas também ter momentos de preenchimento emocional para uma vida mais equilibrada”, pontua.
 
Na avaliação dele, o mundo vive uma situação de tragédia social e é evidente a preocupação geral, mas o Evangelho ajuda a entender e a confortar-se, sabendo que a vontade de Deus é soberana, e não há motivo para desespero, reforça o religioso.
 
As casas de matrizes africanas também seguem a medida, como informou Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé. “Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”, declarou.
 
Igrejas católicas vinham mantendo as missas presenciais, com a adoção de medidas preventivas, mas, pelo menos até 5 de abril, ou até a publicação de um novo decreto, permanecerão sendo realizadas apenas por transmissão on-line, televisiva ou via rádio.
 
“Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”, informa a nota publicada pelo cardeal da Igreja Católica dom Sérgio de Rocha.
 
Colaborou Mariana Machado
 
Confissão drive-in
A Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, começou a oferecer aos fiéis a opção de confissão por drive-in, ou seja, sem sair do carro. A medida tem como objetivo evitar possíveis contágios pelo coronavírus. Os horários das disponíveis são aos sábados, das 16h às 19h; e terça, quarta, quinta e sexta, das 16h30 às 18h30. O telefone para contato é o 3326-1180.
 
"A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote”
Josimar Francisco da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do DF
 
"Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”
Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé
 
"Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”
Dom Sérgio de Rocha, cardeal da Igreja Católica
 
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Correio Braziliense domingo, 22 de março de 2020

BRASÍLIA SEXAGENÁRIA: SÍMBOLO DO INÍCIO E DA FÉ

 

BRASíLIA SEXAGENáRIA
 
Símbolos do início e da fé
 
Pontos turísticos, como a praça do cruzeiro e a Igreja Nossa Senhora de Fátima, são espaços de destaque na história da capital. Conheça o papel dos monumentos em mais uma matéria da série Brasília sexagenária

 

Caroline Cintra
Juliana Andrade

Publicação: 22/03/2020 04:00

Em 3 de maio de 1957, o pioneiro José Paulo Sarkis (foto) foi um dos candangos que presenciaram a primeira missa oficial em Brasília. A Praça do Cruzeiro estava lotada. (Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press)  
Pioneiro em Brasília, José Paulo Sarkis, 89 anos, presenciou a primeira missa no Plano Piloto, celebrada na Praça do Cruzeiro: "Foi um privilégio"

Uma promessa, a primeira missa no Plano Piloto, o ponto mais alto do Eixo Monumental. Esses são alguns dos fatos que contribuíram para a praça do Cruzeiro e a Igreja Nossa Senhora de Fátima, conhecida como a igrejinha, ganharem um lugar especial no coração dos brasilienses.  Na matéria de hoje da série Brasília sexagenária, o Correio fala sobre os dois pontos turísticos que nasceram da fé de Juscelino e de Sarah Kubitschek. Espaços cheios de histórias e memórias dos primeiros anos da capital federal.
 
Comparado aos outros monumentos da cidade, a praça do Cruzeiro pode parecer algo simples, mas, sem dúvida, é um dos pontos mais importantes da cidade, além de proporcionar o cenário perfeito para registros do pôr do sol. E não à toa: o lugar é o ponto mais alto do Eixo Monumental e ganhou destaque na história da construção. Ali foi realizada a primeira missa oficial no Plano Piloto, em 3 de maio de 1957. Aos 89 anos, o aposentado José Paulo Sarkis lembra com detalhes do momento histórico. “Colocaram quatro postes ao redor do altar e uma lona bem grande, com uns 10 metros de largura e 30 de comprimento para cobrir o sacrário. Tinha muita gente importante naquele dia, inclusive JK. Eu estava com minha esposa e os três filhos”, conta. À época, o Eixo Monumental ainda era um vazio. José recorda que os poucos moradores do local ficaram preocupados com o lugar no qual a celebração seria realizada. “Era tudo mato. E muita gente perguntava onde aconteceria. Outra dúvida era se ia ter comida”, brinca. “Foi um privilégio participar desse momento, apesar de não ser muito religioso.”
 
Nascido em Uberlândia (MG), o aposentado chegou a Brasília em 4 de março de 1957. O meio de transporte usado foi um caminhão. Ele saiu da cidade mineira por volta das 8h de uma segunda-feira e chegou em Goiânia (GO) meia-noite de um sábado. “A estrada era ruim e era época de chuva, estava um atoleiro. Foi quase uma semana em um trecho de 120 km. De lá, peguei um ônibus para o local da construção de Brasília. Fui o passageiro número 1 da companhia”, lembra. No início, José morou em um acampamento na Cidade Livre. Depois, mudou-se para a W3 Sul. Foi o responsável pela instalação elétrica e hidráulica de vários prédios durante a construção da cidade, entre eles o Hospital Sarah Kubitschek. “Minha profissão me permitiu estar em todos os lugares durante esse período. Era um privilégio para poucos”, declara.  

Marcação da futura Praça do Cruzeiro, antes da construção de Brasília: ponto mais alto do Eixo Monumental (Marta/ArPDF
)  
Marcação da futura Praça do Cruzeiro, antes da construção de Brasília: ponto mais alto do Eixo Monumental


A cruz
 
Antes da missa, já havia uma cruz no lugar. A estrutura de madeira mostrava o ponto com maior altitude do Sítio Castanho, área demarcada para a construção da nova capital. “Naquela época, geralmente, as igrejas eram construídas no local mais alto. Elas ficavam em cima do morro e a cidade ia nascendo ao redor”, explica Gustavo Chauvet, pesquisador do Arquivo Público do Distrito Federal.  
 
Devido ao desgaste do tempo, a cruz original acabou substituída por uma nova para a celebração da primeira missa. A madeira para a confecção veio de Pirenópolis (GO). Altamir Mendonça, 84, foi o responsável por trazer o material, que era fornecido pelo pai, proprietário de um sítio na cidade goiana. O conteúdo veio em caminhões, uma atividade nada fácil. “Não tinha estrada, não tinha energia, não tinha telefone, não tinha nada. Levei os trabalhadores na carroceria. O córrego estava cheio, não tinha ponte, precisava colocar madeira para passar, então eu gastei uns dois dias para chegar”, recorda. A madeira foi usada tanto na estrutura da missa, como para a construção do Catetinho.
 
Altamir ficou para a celebração e acabou se instalando em Brasília. “Vim sozinho. Montei uma barraca na beira do córrego Paranoá para dormir”, conta. A paixão por Brasília veio da influência do pai. “Ele acreditava que Brasília seria a redenção do interior do Brasil e eu discutia com ele que não. Aqui era sertão, não tinha nada, mas ele acreditava tanto! Isso passou para mim e realmente era verdade. Juscelino abriu Brasília para todo o Brasil”, ressalta. Para se sustentar, Altamir tinha um armazém na Cidade Livre e ficou na capital até a renúncia do presidente Jânio Quadros, quando decidiu voltar para Pirenópolis. Atualmente, mora no sítio do pai. Hoje, além de produtor, é advogado. 
 
Curiosidades
 
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press
)  
Igrejinha
  • O primeiro pároco da igreja foi o Frei Demétrio. Ele ficava em um barraco de madeira, na quadra, e atendia na igrejinha. Ele ficou conhecido como o candango de Fátima.
  • A arquitetura da igreja faz referência a um chapéu de freiras.
  • O templo foi construído em 100 dias.
  • A Igrejinha é mais um dos monumentos embelezados pelos azulejos de Athos Bulcão. Por dentro, diferente de outras igrejas, o templo conta com obras de arte moderna. As pinturas foram feitas originalmente pelo artista italiano Alfredo Volpi. Ele desenhou a Virgem Maria segurando o menino Jesus nos braços. As figuras não tinham rosto e repousavam sob um fundo azul. Porém, a obra de arte foi destruída na década de 1960. O painel foi pintado novamente em 2009, pelo artista Francisco Galeno, que manteve as características em homenagem ao artista. 
 
Fonte: Paróquia Nossa Senhora de Fátima 
 
 (Valério Ayres/CB/D.A Press
)  
Cruzeiro
  • A cruz usada na primeira missa foi substituída. A original está exposta na Catedral Metropolitana de Brasília.
  • A primeira missa realizada na Praça do Cruzeiro aconteceu na mesma data do primeiro ato litúrgico no Brasil, 457 anos depois. 
  • Uma marcação, em forma piramidal pintada de laranja, a 38 metros da cruz, sinaliza o vértice n°8, ponto usado como referência para a construção da cidade, com base no projeto de Lúcio Costa.
  • Um réplica da estrutura de madeira e lona construída para abrigar os convidados da missa, projetada por Oscar Niemeyer, foi instalada na entrada do Taguaparque, em 2008.

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Correio Braziliense sábado, 21 de março de 2020

DELIVERY CONTRA A COVID-19

 

Delivery contra a Covid-19
 
Setor de entrega apresenta-se como uma das principais alternativas para consumidores e comerciantes do Distrito Federal durante o período de quarentena pelo coronavírus. Pedidos de farmácias, restaurantes e supermercados estão em alta

 

» Ana Maria da Silva*
» Celimar de Meneses*
» Jonathan Luiz*

Publicação: 21/03/2020 04:00

A empresária Nayara Leonel Ribeiro, 29 anos, entrou no mercado de delivery há sete meses: uma loja de roupa que vai até as clientes em várias regiões administrativas do DF (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A empresária Nayara Leonel Ribeiro, 29 anos, entrou no mercado de delivery há sete meses: uma loja de roupa que vai até as clientes em várias regiões administrativas do DF

 



Em tempo de pandemia do coronavírus, com a população isolada em casa e o comércio fechado para evitar o contágio da Covid-19, as empresas precisam recorrer às entregas para continuarem funcionando. Durante o período de quarentena, o setor de delivery se apresenta como uma das principais alternativas para consumidores e comerciantes do Distrito Federal. 
 
Segundo o presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, determinadas áreas tendem a aumentar o número de pedidos. “Alguns segmentos devem crescer, como por exemplo o farmacêutico e o alimentício”, comentou. Dados do aplicativo Rappi também apontam para este crescimento, desde o início da pandemia. Na América Latina, a alta foi de cerca de 30%, com destaque para pedidos de farmácias, restaurantes e supermercados, de acordo com a empresa. 
 
Para o superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), Valdir Oliveira, num primeiro momento o delivery não aumentou devido ao coronavírus. “Porém, durante a última semana, já observamos que isso mudou e as entregas cresceram consideravelmente”, disse.  
 
Valdir alerta que as empresas, e principalmente os restaurantes, precisarão de liberação de crédito e flexibilização de tributos para sobreviver à crise econômica ocasionada pela pandemia. “Têm estabelecimentos que, nos melhores dias, que são finais de semana, chegaram a 70% de quebra de faturamento”. Apesar das dificuldades, Valdir afirma ser improvável que o DF passe por uma crise de abastecimento. Para ele, o importante, agora, é ajudar os pequenos negócios.
 
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, explica que, atualmente, o melhor para a saúde pública é fazer os pedidos por entrega e não sair de casa. “Nos últimos dias, antes do comércio fechar, houve uma queda de venda em salão e um aumento na venda de delivery na faixa de 20 a 30%”, ressalta. 
 
Jael destaca que, por segurança, alguns estabelecimentos têm adotado medidas como fornecer duas embalagens, uma externa que deve ser descartada por risco de contaminação, e uma interna onde fica o produto. “Os aplicativos não têm controle se os entregadores estão contaminados com o coronavírus. O ideal seria fornecer álcool em gel a eles, para que se higienizem, mas não sei se esse trabalho está sendo feito”, ponderou. 
 
Ajustes do setor 
 
Em nota, o aplicativo iFood informa que criou para todos os entregadores um fundo solidário de R$ 1 milhão, para dar suporte àqueles que necessitarem permanecer em quarentena. A organização não governamental Ação da Cidadania fará a gestão do fundo. Além disso, o aplicativo estuda formas de fazer entregas com menor contato, em que o usuário pode combinar com o entregador, via chat, o local para deixar o pedido. 
 
A Uber também adotou novas medidas. A empresa explica que conta com a consultoria de um especialista em saúde pública, e permanece em contato próximo com as autoridades locais, seguindo as orientações para conter a propagação do coronavírus. O aplicativo Uber Eats agora permite que o usuário deixe uma instrução para pedir ao entregador que deixe o pedido na porta da residência do cliente, de modo a impedir qualquer contágio.


"Nos últimos dias, antes do  comércio fechar, houve uma queda de
venda em salão e um aumento na venda de delivery na faixa de 20 a 30%”
 
Jael Antônio da Silva, 
presidente do Sindhobar


Cinco pedidos inusitados
Com a promessa de entregar qualquer coisa que o cliente desejar,
o aplicativo de entregas Rappi possui uma lista de pedidos fora do comum:
 
» Pedir ajuda para descarregar seis vasos de planta do caminhão.
» Comprar agulha, pinça anatômica e fio de nylon para cirurgia.
» Buscar o cartão de estacionamento que o cliente havia esquecido no carro, que estava no mecânico.
» Buscar uma chave de cliente que se trancou no próprio apartamento.
» Comprar passagem de ônibus.
 
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Correio Braziliense sexta, 20 de março de 2020

BRASÍLIA: COMÉRCIO PARALISA AS ATIVIDADES

 

 

 

SAÚDE
 
Comércio também paralisa as atividades
 
Com o aumento de casos de coronavírus - 133% em um dia -, GDF suspende as atividades de todos os estabelecimentos, exceto serviços considerados essenciais, como farmácias e supermercados. Decreto também prorroga a paralisação geral até 5 de abril

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 20/03/2020 04:00

Mais um decreto se junta ao pacote de medidas tomadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para combater o novo coronavírus. Após fechar shoppings, bancos, parques e casas noturnas, o Executivo local ampliou a restrição de funcionamento para todo o comércio. Apenas ontem, a capital registrou mais 38 confirmações da Covid-19, totalizando 84 casos. Devido à disparada de notificações, lojas de rua, bares, restaurantes e templos religiosos devem paralisar as atividades pelo menos até 5 de abril — o mesmo prazo vale para as escolas das redes pública e particular.

A norma estabeleceu que “serviços essenciais” permanecerão em funcionamento. Portanto, laboratórios, clínicas de saúde, farmácias, telentrega, mercados, lojas de material de construção, padarias, postos de combustíveis e açougues poderão abrir as portas. O decreto ainda destaca que salões de beleza e centro estéticos também devem obedecer à regra. Os empreendimentos que permanecerem abertos deverão se atentar para manter a distância mínima de 2 metros entre as pessoas.

Na educação, o novo decreto do GDF determina que a suspensão das aulas precisa ser tratada como férias escolares de julho, com início em 16 de março. Fica a critério da rede privada adotar essa medida de antecipação do recesso. A Secretaria de Educação será responsável pelo cumprimento do calendário escolar, após o retorno dos estudantes. Por decisão judicial, os atendimentos nas creches também estão suspensos.

Cartórios

Para reduzir o impacto, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) tenta negociação com o GDF para a prorrogação do pagamento de impostos, principalmente para empresas de pequeno porte. Em nota oficial, a entidade destacou que está em contato com o Executivo a fim de pleitear essa intenção. “A entidade informa ainda que continuará dialogando com o Poder Público local no sentido de atenuar os impactos na vida das pessoas e das empresas”, ressaltou o texto.

Outro seguimento que sofre por causa da Covid-19 são os cartórios. Ontem, o setor anunciou que suspenderá o atendimento presencial ao público até 30 de abril. Entretanto, no período, os funcionários continuarão a praticar todas as funções de forma remota e digital, ou por plantão, em casos urgentes. Títulos e garantia para financiamentos e empréstimos, escrituras e procurações poderão ser lavradas no site anoregdigital.com.br.


Atenção

O que pode ficar aberto ou funcionar

  • Farmácias
  • Laboratórios
  • Clínicas de saúde
  • Telentrega
  • Mercados e supermercados
  • Lojas de material de construção
  • Padarias
  • Postos de combustíveis
  • Açougues
  • Clínicas veterinárias

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Correio Braziliense quinta, 19 de março de 2020

SAÚDE: SHOPPINGS E PARQUES FECHADOS

 

SAÚDE
 
 
Shoppings e parques fechados contra a Covid-19
 
Novo decreto do GDF determina, a partir de hoje, que centros de compras, áreas de lazer, boates, casas noturnas, feiras, clubes e zoológico paralisem as atividades. Representantes do comércio local concordam com as medidas, mas preveem crise

 

» ALAN RIOS
» MARIANA MACHADO

Publicação: 19/03/2020 04:00

Funcionários de atacadão usaram equipamento para medir a temperatura dos clientes: prevenção (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Funcionários de atacadão usaram equipamento para medir a temperatura dos clientes: prevenção

 



Shoppings e boates fechados, população em casa, ruas vazias, comércio sem movimentação. O cenário que tomou as grandes capitais do mundo com a pandemia do coronavírus chega, aos poucos, ao Distrito Federal. A capital tem 36 casos confirmados de Covid-19. Outras 174 notificações estão em investigação, incluindo quatro crianças internadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Do total de contaminações, cinco ocorreram por transmissão local, quando a infecção acontece na cidade, mas é possível apontar a origem.

Os números mostram o impacto não só na saúde pública, como também na economia. Ontem, edição extra do Diário Oficial do DF saiu publicada com novo decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) para conter a Covid-19. O GDF determinou, a partir de hoje, o fechamento de shoppings, parques, boates, casas noturnas, feiras, clubes recreativos e zoológico.
Diante disso, entidades representativas sentem os efeitos nos caixas. Pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) estima que o prejuízo chegue a R$ 400 milhões neste mês. “É uma situação que impacta tudo, mas precisamos parar. As pessoas têm de ficar em casa. Os lojistas devem saber que não adianta abrir o comércio sem clientes. Apoiamos o fechamento dos shoppings e estamos com o governo, que prometeu empréstimos ao setor”, diz. Para ele, a linha de crédito do Banco de Brasília (BRB) de R$ 1 bilhão para empresários do setor produtivo é a solução adequada para o momento. “O coronavírus é um problema que trará prejuízos durante cerca de 90 dias, então, o empréstimo é o ideal agora”, avalia.

A internet pode auxiliar a minimizar os danos. Segundo o presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do Distrito Federal (Agenciauto), José Rodrigues Neto, as vendas do ramo caíram, em média, 40%. “As lojas associadas pretendem continuar atendendo e fazendo vendas on-line normalmente. Com inovação e tecnologia na palma da mão, nós conseguimos aprovar o crédito dos clientes sem que eles precisem sair de casa. Para os funcionários, estamos pensando em montar estações de trabalho home office para os que podem executar as tarefas de casa”, detalha.

Caixas lotados em atacadista da Epia Sul: medo do coronavírus provoca correria aos supermercados (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Caixas lotados em atacadista da Epia Sul: medo do coronavírus provoca correria aos supermercados

 



Impacto
 
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, também concorda com as medidas mais recentes do GDF. “Temos sentido mais impacto nos setores de shoppings, lojas e hotéis, que não adianta abrir, porque ficariam vazios, gastando energia, água, telefone. Então, apoiamos o fechamento”, reforça.

Na avaliação de Francisco, ainda não se pode dimensionar o tamanho do impacto negativo da Covid-19 na economia local, mas ele acredita que será grande. “Estamos tomando medidas para ajudar as empresas antes de o estrago se instalar por completo. Tudo o que o governo está fazendo vem acompanhado de uma consulta ao setor produtivo, isso é importante. E as linhas de crédito do BRB são essenciais, porque a taxa de juros facilita o pagamento. Ou seja, é o caminho emergencial que temos de tomar”, observa.


Palavra de especialista
 
“Esperar com precaução”
 
“O DF foi muito criticado quando cancelou aulas e começou a mobilização para fechar estabelecimentos, mas vimos que muitos outras unidades da Federação seguiram essas medidas depois. Isso gera um impacto econômico muito grande, principalmente na economia das pequenas e microempresas. O mercado informal, por exemplo, começava a ver uma melhora, mas, com a pandemia do coronavírus, também sofre e não consegue se expandir. A retomada só deve vir após o pico de casos da doença, a partir do próximo mês, quando pode aparecer uma luz no fim do túnel. Até lá, veremos menos pessoas nas ruas e mais estabelecimentos fechados. O que podemos fazer é esperar com precaução, porque é difícil encontrar soluções econômicas para um problema que não é econômico, é de saúde pública. O que as empresas devem fazer agora é segurar caixa, resguardar custos, minimizar gastos e tentar ao máximo segurar a saúde financeira para uma retomada futura.”
 
Vitor Hugo Fonseca, economista da G2 Investimentos
 
 
40%
Queda nas vendas nas últimas semanas, segundo a Associação 
dos Revendedores de Veículos (Agenciauto)
 
R$ 400 milhões
Estimativa de prejuízo previsto para março pelo Sindicato 
do Comércio Varejista (Sindivarejista)

30%
Aumento de vendas registradas pelo Sindicato dos 
Supermercados (Sindsuper) nesta semana 
 
 
Plano para o Parque da Cidade
 
Com o novo decreto do GDF, a entrada em locais como os parques da Cidade, Olhos D’Água, Ecológico de Águas Claras e Ecológico Dom Bosco estará limitada. Devido à extensão e ao fácil acesso à área de lazer da Asa Sul, o administrador do Parque da Cidade, Silvestre Rodrigues, analisa como será a barreira no lugar, que tem grande movimento de veículos. “O certo é fechar todo o parque. Estudamos uma maneira de fazer o fechamento geral, mas mantendo a circulação interna de quem trabalha no local”, disse. Até o fechamento desta edição, o administrador não informou como a medida do governo será atendida.
 
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Correio Braziliense quarta, 18 de março de 2020

CUIDADOS EM BARES E RESTAURANTES

 

Cuidados em bares e restaurantes
 
Atendendo às normas emergenciais para evitar a propagação do coronavírus, estabelecimentos do DF adotam diversas medidas de precaução

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 18/03/2020 04:00

No restaurante Lake's, na 402 Sul, as medidas de prevenção estão sendo tomadas desde domingo, segundo a gerente Gisele Munhoz: redução no movimento de clientes chega a 90% (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  

No restaurante Lake's, na 402 Sul, as medidas de prevenção estão sendo tomadas desde domingo, segundo a gerente Gisele Munhoz: redução no movimento de clientes chega a 90%

 

 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  


A pandemia de coronavírus começa a trazer consequências ao setor gastronômico do Distrito Federal. Após publicação de normas do Executivo local para contenção do avanço da doença, bares e restaurantes da capital adotam medidas especiais de prevenção. Mesmo assim, empresários registram queda acentuada no movimento e acreditam que, para os próximos dias, a tendência é piorar.
 
Gisele Munhoz, 39 anos, é proprietária do Restaurante Lake’s, na 402 Sul. Ela conta que, desde domingo, tem seguido as orientações necessárias de prevenção. “Além do distanciamento das mesas, aumentamos a quantidade de álcool em gel na dispensa, tanto para clientes quanto para funcionários. Colocamos um suporte na saída dos banheiros feminino e masculino. Então, a pessoa sai e se higieniza. Tem clientes que já pedem para desligar o ar-condicionado e deixar a janela aberta”, afirmou.
 
Segundo ela, os funcionários também estão se precavendo. Cada um ganhou recipiente com spray de álcool. “Recomendamos que os funcionários mantenham distância de um metro entre clientes. Também estou dando mais uma folga por semana, para que eles evitem o trânsito de ir e vir. Temos empregados que moram em Luziânia e em outras satélites, então, agora, eles vão folgar duas vezes por semana”, disse.

A empresária relatou, ainda, uma queda na movimentação do restaurante. Enquanto a reportagem esteve no local, no início da tarde de ontem, havia apenas dois clientes. “O fluxo caiu em 90%. Uma hora dessa, o normal era ter em torno de 100 pessoas. Estou com medo, mas acho que essa é uma questão necessária. Devemos respeitar.”
 
Rosivaldo Montinho, 50, é cumin (auxiliar de garçom) no estabelecimento, onde trabalha há 28 anos. Ele conta que nunca viu uma situação parecida. “É chocante ver o ambiente vazio. Os garçons dependem do faturamento e sobrevivem disso, mas devemos nos prevenir para conseguir conter essa pandemia. Até nós, garçons, estamos nos prevenindo. Passo álcool na mão toda hora e ainda oriento os clientes”, argumentou.
 
Receio
 
O gerente do restaurante Casa Baco, no CasaPark, Wagner Luís, 42, tem investido no serviço delivery para não perder clientes, e relata tomar todos os cuidados no local. “O delivery tem sido uma opção para não perdermos tantas vendas. Mas, aqui, estamos em alerta. Após o garçom atender o cliente, é regra passar álcool em gel nas mãos. Toda hora, tem um funcionário limpando as mesas e os balcões. Também optamos por deixar as janelas abertas e desligar os ar-condicionados”, afirmou.
 
Outra preocupação de Wagner é em relação ao quadro de funcionários. “Temos um total de 40 empregados só nessa unidade (CasaPark), mas a preocupação é em mantê-los devido ao baixo movimento. Temos medo de ter que mandar alguém embora”, destacou.
 
O proprietário do Bar Beirute da 107 Norte, Francisco Emílio, 42, diz que está seguindo o que foi determinado no decreto. “Colocamos as mesas com dois metros de distância e temos buscado dar uma satisfação maior aos clientes. Recomendamos às pessoas que elas não fiquem em grupos muito juntos. Muitos clientes têm preferido fazer o pedido pelo telefone e buscar só quando estiver pronto. O bom é que todos os nossos restaurantes são ao ar livre”, ressaltou.

O Casa Baco, no CasaPark, também tem redobrado o cuidado com a limpeza e investe em delivery (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  
O Casa Baco, no CasaPark, também tem redobrado o cuidado com a limpeza e investe em delivery
 
Para ele, atitudes como essas são necessárias. “É uma situação séria e estamos prezando pela segurança de todos. É o momento de cada um fazer sua parte”, frisou.
 
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fábio Estuqui, explicou que a entidade tem orientado os empresários em relação às medidas preventivas. “Recomendamos que a ventilação nos salões seja apropriada. Caso tenha ar-condicionado, os filtros devem estar limpos. A instrução aos proprietários é que eles se preparem para qualquer outro decreto que seja mais radical, como o fechamento dos estabelecimentos”, afirmou.
 
De acordo com ele, a partir de hoje, os restaurantes que estiverem seguindo as orientações, terão o selo “restaurante responsável” colado no estabelecimento. “A ideia é de que, quando o cliente chegar, saiba que o local passou devidamente pelas instruções”, acrescentou Fábio Estuqui.


Distância mínima
O Decreto n° 40.520, de 14 de março de 2020, assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) determina que os bares e restaurantes deverão observar, na organização das mesas, a distância mínima de 2m entre elas. Nos eventos abertos, recomenda-se a distância mínima de um metro entre as pessoas.
 
Fake news
Uma notícia que circula nas redes sociais diz que, a partir de hoje, bares e restaurantes estarão proibidos de funcionarem sob pena de multa institucional. Contudo, conforme o site de checagens do Correio, o Holofote, apurou, a informação é falsa, segundo a assessoria do governo. De acordo com o GDF, não há previsão de que a medida seja tomada.
 
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Correio Braziliense terça, 17 de março de 2020

EUA INICIAM TESTE DE VACINA EM HUMANOS

 

EUA iniciam teste de vacina em humanos

 

Paloma Oliveto

Publicação: 17/03/2020 04:00

Anthony Fauci (C), diretor do Niaid, na Casa Branca: corrida contra o tempo (Brendan Smialowski/AFP
)  

Anthony Fauci (C), diretor do Niaid, na Casa Branca: corrida contra o tempo

 





Os Estados Unidos realizaram ontem o primeiro teste em humanos de uma vacina experimental para proteger contra o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Segundo um comunicado do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde, a substância foi aplicada em um voluntário no Instituto Kaiser de Pesquisa Permanente em Saúde em Washington, Seattle. Além dele, 44 pessoas saudáveis, com idades entre 18 e 55 anos, participarão do estudo, com duração de seis semanas.

Uma vacina eficaz é, segundo especialistas, a única maneira de frear a rápida disseminação do SARS-CoV-2. Os primeiros casos foram registrados em dezembro do ano passado em Wuhan, na China. Ontem, o balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizou mais de 168 mil ocorrências confirmadas e 6,6 mil óbitos. O estudo avalia qual a dose mais segura e capaz de induzir a resposta imune. Depois da fase 1, em que se avaliam esses dois quesitos, há outras duas etapas, até a substância estar pronta para o mercado.

Chamada de mRNA-1273, a vacina foi desenvolvida por pesquisadores do Niaid em colaboração com cientistas da Moderna, uma empresa de biotecnologia em Cambridge, Massachusetts. As ações da farmacêutica subiram 42% na terceira semana de fevereiro, quando foi anunciado que a substância estava pronta para testes.

Resposta imunológica

Nas etapas anteriores, com animais, a vacina se mostrou promissora, de acordo com a companhia. A mRNA-1274 estimula as células de defesa a expressar uma proteína que, por sua vez, desencadeia uma forte resposta imunológica.

“Encontrar uma vacina segura e eficaz para prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 é uma prioridade urgente da saúde pública”, disse Anthony S. Fauci, diretor do Niaid, em nota. “Esse estudo da fase 1, lançado em velocidade recorde, é um primeiro passo importante para alcançar esse objetivo”, assinalou o infectologista. Em seguida, ele esteve na Casa Branca para anunciar a novidade ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, para quem a epidemia no país deve durar até julho ou agosto.

A substância não foi desenvolvida da noite para o dia. O novo coronavírus compartilha características com os micro-organismos causadores da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que atingiu o continente asiático no início dos anos 2000, e com a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que eclodiu naquela parte do mundo em 2012.

O Centro de Pesquisa de Vacinas dos EUA e a Moderna já vinham trabalhando em uma vacina contra a Mers e a Sars, o que deu agilidade ao desenvolvimento da imunização. Quando cientistas chineses revelaram, em fevereiro, o perfil genético do SARS-CoV-2, os cientistas identificaram rapidamente na plataforma de mRNA já existente a sequência ideal para expressar a proteína que desencadeia a resposta do organismo. “Esse trabalho é fundamental para responder à ameaça desse vírus emergente”, disse, no comunicado do Niaid, Lisa A. Jackson, cientista sênior do instituto onde estão sendo feitos os testes em humanos.

Os participantes do estudo receberão duas doses da vacina por injeção intramuscular no braço, com aproximadamente 28 dias de intervalo. As quantidades de substância testadas serão de 25 microgramas (mcg), 100mcg e 250mcg, para determinar a mais segura e eficaz. A estimativa do Niaid é que os primeiros resultados sejam publicados em três meses.

Atualmente, há, pelo mundo, cerca de 50 estudos que buscam encontrar uma vacina contra o SARS-CoV-2. No Brasil, pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) também se baseiam na plataforma tecnológica de mRNA para chegar a uma candidata em potencial. De acordo com a Agência Fapesp, os cientistas esperam que em poucos meses consigam começar testes em modelos animais.
 
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Correio Braziliense segunda, 16 de março de 2020

ORGULHO DE SER AFRO

 

Orgulho de ser afro
 
 
Cabelo duro? Não, o cabelo é crespo. Em busca de recuperar a autoestima e vencer o preconceito, mulheres negras fazem a transição dos fios e se assumem crespas

 

» MARILENE ALMEIDA*

Publicação: 16/03/2020 04:00

 

"O meu ateliê tem como foco fazer as meninas e meninos negros se acharem lindos, com todos os seus traços, e conhecerem a própria história e se orgulharem disso" Esther Ferreira Onaya, trancista

 

 
Pesquisa feita pela Kantar WorldPanel — empresa especializada em dados, insights e consultoria —mostra que o Brasil é o país com mais tipos de cabelo no mundo. A maioria consiste em variações de fios cacheados e crespos, que representam 51,4% da população, de acordo com o levantamento. Já os dados da parceria entre o Instituto Beleza Natural e a Universidade de Brasília (UnB) calculam índice de 70%.
 
A estudante de ciências contábeis Cláudia Nascimento Bezerra, 19 anos, conta que, na juventude, realizava todos os procedimentos possíveis para manter os fios lisos, de relaxamento a progressiva e o que mais houvesse de novidade. “Eu tinha vergonha do meu cabelo. Por ser crespo, não havia controle. Então, quando alisava e a raiz crescia, ficava uma moita em cima. Quando decidi cortar, era bem armado e as pessoas sempre me mandavam arrumar, porque, no olhar delas, não estava bonito.”
 
A jovem diz que sofria e ainda sofre preconceito, mas não explícito: sente os olhares de desaprovação e de nojo. Percebeu, no entanto, que não aceitar o próprio cabelo como é só estava afetando a ela mesma. No momento em que alisava os fios, até se sentia bem, mas, ao passar duas semanas, a raiz aparecia, o que fazia a autoestima cair. Resolveu, então, cortar sozinha o cabelo e se assumir crespa.
 
Essa opção veio acompanhada de uma tonelada de inseguranças e de medo. Por anos, Cláudia alisou o cabelo buscando a adequação aos padrões sociais dominantes e até mesmo por dificuldade de encontrar nos salões de beleza produtos específicos para as mechas crespas. Hoje, contudo, diante de uma demanda cada vez maior, a oferta de serviços para esse público cresce também. Familiares ficaram em choque com a mudança, mas logo perceberam que foi um ato de coragem e que Cláudia ficou bem mais bonita e empoderada. Após mudar, o visual, afirma que se sente livre, pois as amarras foram cortadas.


 
 

"Eu tinha vergonha do meu cabelo. Por ser crespo, não havia controle. Então, quando alisava e a raiz crescia, ficava uma moita em cima. Quando decidi cortar, era bem armado e as pessoas sempre me mandavam arrumar, porque, no olhar delas, não estava bonito" Cláudia Nascimento Bezerra, estudante de ciências contábeis

 

 Libertação
 
Atender esse público foi o objetivo de Esther Ferreira Onaya, 20 anos, ao criar o salão de beleza Studio afro Hairstyles Ateliê, em novembro de 2019. A jovem decidiu entrar no ramo porque, desde pequena, gostava de mexer com cabelos. Aos 15, fazia tranças por lazer. Dois anos mais tarde, viu a necessidade de ter uma renda própria, pois estava morando sozinha e desempregada.
 
No início, atendendo em domicílio, conheceu muita gente, rodando Brasília e o Entorno. Foram experiências boas e ruins. Algumas pessoas sequer ofereciam um copo d’água. “Não valorizam o nosso trabalho, querendo pagar menos por achar que não vale. Isso é muito preconceito com quem é trancista. Menosprezam muito esse serviço por ser de cultura e história negra, pensam que somos coitadas. Mas nós existimos e queremos respeito”, reivindica.
 
Esther conta que pensou em desistir por diversas vezes, mas, no fim do ano passado, conseguiu abrir o próprio espaço, em Ceilândia. “O nosso trabalho não é só pelo dinheiro, é também uma ajuda para devolver a autoestima do povo preto. Nós começamos a alisar o cabelo desde criança, nossa estética era vista como algo feio, que não devia existir”, observa. “O meu ateliê tem como foco fazer as meninas e meninos negros se acharem lindos, com todos os seus traços, e conhecerem a própria história e se orgulharem disso. Por isso, não trabalho com químicas, alisamentos e alongamentos que comprometam de alguma forma o cabelo natural dos meus clientes”, completa.
 
Os relatos de clientes que acham os cabelos feios e usam termos pejorativos para tratá-los, como bucha e bombril, são inúmeros. “Mas eu não as culpo. Isso é resultado de várias vivências racistas que elas tiveram, por acharem que bonito é só o branco do cabelo liso e de traços finos”, afirma a trancista. “Antigamente, por ter seu cuidado invisibilizado, não existiam marcas e empresas com produtos voltados para crespos, restando apenas cremes e shampoos destinados a cabelo liso, cacheado, ou aos quimicamente tratados. Era bem difícil a gente se sentir contemplada. Por isso, é importante a representatividade, começando pelas redes sociais, nosso ciclo de amizade, a gente conviver com pessoas reais, que nos representam. Isso é muito importante para a nossa aceitação.”
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Crescimento
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sete anos cresceu em 32% a população brasileira que se considera negra. O estudo mostrou que, entre 2012 e 2018, os autodeclarados pretos e pardos aumentaram quase 5 milhões no país.



Três perguntas para


 (Marilene Almeida/Esp. CB/D.A Press - 12/3/20)  


Ana Paula Morais, 
psicóloga, também tem cabelo crespo e passou por transição
 
O cabelo, para algumas mulheres, é a parte mais 
importante do corpo. Para outras, nem tanto. 
Como isso pode afetar a autoestima de uma pessoa?
O cabelo é uma parte das características físicas de uma pessoa e as características físicas constituem, também, quem aquela pessoa é. Por exemplo, quando a nossa aparência é constantemente vista como negativa, isso impacta na forma como nos vemos, especialmente se a aparência não estiver dentro do que é classificado como a norma. Imagine uma pessoa negra que é tratada como se não pertencesse a essa sociedade, como se a própria existência fosse um erro. O apontamento de seu cabelo como algo feio ou inapropriado comunica a percepção do outro e pode gerar questionamento sobre a autoimagem.
 
Por que nos importamos tanto com a opinião alheia sobre o nosso estilo?
É importante fazer uma diferenciação entre o que é entendido como estilo e o que são características pertencentes à pessoa. Ter um cabelo afro, por exemplo, não é modismo, é constituinte do fenótipo negro. É muito diferente a escolha entre que tipo de calça usar e que tipo de cabelo ter, até porque a noção de possibilidade de escolha não é óbvia dependendo do sujeito de que estamos falando. Frequentemente nosso “estilo” é pressuposto, é esperado que sejamos de tal ou tal maneira, de acordo com nossa aparência física. Sobre a importância da opinião alheia, o olhar do outro participa da nossa constituição psíquica desde o início da vida. Segundo o psicanalista Donald Winnicott, as bases da identificação primária são o olhar e ser visto. Vamos construindo quem somos e atribuindo valor a ideias a partir das relações sociais.
 
Qual a importância do afeto para a aceitação?
A mudança do paradigma de ser humano — homem branco — envolve a afirmação da negritude. É por meio da revisão da construção ideológica do que é ser negro que o significado disso para cada sujeito pode ter impactos mais positivos. Apenas uma mudança na percepção de si, saindo do paradigma da branquitude, pode favorecer uma valorização adequada de quem somos. Trocar experiências com quem está disposto a pensar a negritude pode ser um caminho na melhora da autoestima. Afeto, vulnerabilidade e acolhimento podem ser aliados na reconstrução da identidade negra. Esse é um cuidado que pode vir dos pares, familiares, profissionais da psicologia, mas o importante é estar perto de pessoas que respeitem sua individualidade e identidade. Que tenham uma postura de valorização do outro, em vez de depreciação por qualquer característica física ou psíquica. Com mais experiências de acolhimento do que de precisar se defender, o sujeito negro tem mais chances de construir um discurso sobre si e, com isso, desenvolver autonomia e então criar um modelo identitário saudável.
 
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Correio Braziliense domingo, 15 de março de 2020

CORONAVÍRUS: TODA ATENÇÃO AOS IDOSOS

 

CORONAVÍRUS
 
 
Toda a atenção aos idosos
 
Diante das medidas recentes anunciadas pelo GDF e do aumento do número de casos de Covid-19, brasilienses e instituições de cuidados para pessoas com mais de 60 anos adotam protocolos para evitar que a doença apresente risco à vida dessa população

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 15/03/2020 04:00

Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodos  (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  

Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodos

 



Antes de ser considerada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a proliferação do coronavírus preocupava as autoridades, principalmente em se tratando dos idosos. A população com mais de 60 anos, além de pessoas com doenças crônicas, têm mais chances de desenvolver um quadro grave da doença do que outros grupos. Em virtude disso, alguns brasilienses têm mudado hábitos para evitar a autoexposição. No mesmo caminho, asilos e casas de acolhimento da capital federal passaram a restringir visitas e a incentivar, ainda mais, as práticas de higiene pessoal — os funcionários, inclusive.

A vulnerabilidade do organismo dos idosos — mais comum à medida que se envelhece — coloca esse grupo no topo das prioridades do poder público. Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde anunciou que eles serão os primeiros vacinados contra a gripe, na campanha que começa no dia 23. Apesar de a dose não proteger contra o coronavírus, a medida pode auxiliar na detecção precoce de novos casos de covid-19 por facilitar o descarte de outras doenças respiratórias. A Defesa Civil também começou a vistoriar asilos, além de orientar os gestores dessas casas.

Enquanto o período de imunização não tem início, moradores idosos do Distrito Federal fazem o que podem para se proteger. Ainda que as recomendações sejam as mesmas para toda a população, há quem opte por não arriscar e por limitar o contato com outras pessoas. Moradora do Jardim Botânico, Emília Maria da Costa, 74 anos, tem dado preferência para programações mais caseiras.

Algecira Amaral aposta na manutenção de hábitos saudáveis  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Algecira Amaral aposta na manutenção de hábitos saudáveis

 


Além de fazer parte da parcela da população mais suscetível a desenvolver um quadro grave da covid-19, a professora aposentada fez uma cirurgia para remover um timoma — tumor raro que se desenvolve na glândula do timo. A cirurgia a deixou com 60% do pulmão esquerdo e, por isso, a atenção é redobrada. “Estamos muito mais suscetíveis a infecções que uma pessoa mais jovem, porque todo o nosso processo é mais lento. Se você tem uma doença, como tenho, precisa se cuidar mais ainda”, recomenda Emília.

Na casa dela, mais do que antes, o álcool em gel tornou-se item indispensável e fica à disposição desde a porta de entrada até os banheiros. “Às vezes, achamos que, por estar com a saúde legal, temos resistência e queremos nos igualar a uma pessoa de 35, 40 anos. Mas esta é a hora de ter cuidado e de fazer um pouco de sacrifício, recolher-se mais”, opina.

Investimentos

Médico e diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UnATI/Uerj), Renato Veras ressalta que a suscetibilidade para contaminação é a mesma, mas para grupos de idosos, os resultados podem ser “mais perversos”. O pesquisador alerta para a necessidade de investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir o acesso à medida em que os casos aumentem. “Vamos começar a ter um vírus da comunidade. Imagine nos grandes conglomerados, favelas, (locais) com baixa assistência. Vamos ter de fazer um esforço muito grande com o SUS funcionando de forma precária”, alerta.

Em relação aos lares para idosos, Renato ressalta que eles podem se tornar locais protegidos se não houver grande circulação de pessoas de fora. O médico lembra que o ideal é fugir de locais populosos e fechados; para quem permanecer em casa, vale evitar visitas e ficar atento à higienização das mãos ao longo do dia. “Esses cuidados valem não só para o idoso, como também para a família. Precisamos de prevenção e cuidado para que essa pessoa não seja acometida, pois sabemos que a probabilidade de um desfecho negativo acontecer é maior em pessoas com 70 ou 80 anos, do que em um jovem de 15, por exemplo”, comparou.
 
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Correio Braziliense sábado, 14 de março de 2020

BRASÍLIA: BELEZA PRESERVADA

 

Beleza preservada
 
Há 30 anos Brasília foi inscrita no Livro de Tombo Histórico do Iphan. Iniciativa busca preservar as formas originais da cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa

 

» Caroline Cintra
» Juliana Andrade

Publicação: 14/03/2020 04:00

 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 4/1/00)  
 
Uma cidade planejada, um museu a céu aberto, uma região monumental. Há 30 anos, em 14 de março de 1990, Brasília era inscrita no Livro de Tombo Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Três anos antes, a cidade foi declarada como Patrimônio Mundial na Unesco — primeira cidade moderna a receber o título. Assim, é preservada a história da capital por meio dos projetos arquitetônicos e urbanísticos de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa, que saíram do papel nos anos 1960 e, hoje, além de orgulharem os brasilienses, atraem turistas de todas as partes do mundo.
 
Brasília é a maior área urbana tombada, segundo o superintendente do Iphan no Distrito Federal, Saulo Santos Diniz. Ao todo, são 112,25 quilômetros quadrados de tombamento e 28 bens protegidos pelo instituto. Entre eles, a Igreja Nossa Senhora de Fátima, o Palácio do Itamaraty, Congresso Nacional e a Catedral. “Brasília foi desenhada por Lucio Costa em quatro escalas importantes: monumental, gregária, bucólica e residencial. Quando a gente trata de 112 quilômetros, a nossa responsabilidade é muito grande. Brasília é uma cidade diferenciada, e a gente precisa preservar essa cidade”, destaca o superintendente.
 
Com o tombamento, o desenho do Plano Piloto não pode ser desfeito ou refeito. Isso inclui os padrões das superquadras idealizadas por Lucio Costa. “Na Asa Norte e Asa Sul, os prédios não podem passar de seis andares, os pilotis devem estar livres para circulação e as áreas comerciais precisam respeitar os espaços, não podem invadir a calçada ou as áreas verdes”, detalha o professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Fábio Goulart. Para ele, além de preservar o modelo original da cidade, o tombamento ainda contribui para a preservação do meio ambiente, pois mantém as áreas verdes.


 

"São propriedades privadas, mas de livre circulação, ou seja, reconhecemos que é um problema para a segurança dos moradores, porque podem aparecer pessoas em situação de rua e se instalar aqui, outros podem sujar, bagunçar. O que a gente pode fazer nesse caso?" Fernando Bassit, prefeito da 308 Sul

 



 

"Tem os pontos positivos aqui, pela beleza natural, a conservação. A gente só gostaria que não tivesse tanto empecilho. É importante preservar, mas não podemos deixar nossa casa feia" Nair Everton, prefeita da 108 Sul

 



 
Garagens
 
Quem mora nas asas do avião (ou da borboleta), destaca o privilégio de se viver em um espaço assim, mas também cita os desafios. “Eu acho muito bom a quadra ser tombada, pois isso é memória para nós, mas têm algumas intervenções que não interferem no modelo. Por exemplo, precisamos de mais vagas de estacionamento, então deveriam autorizar fazer garagens subterrâneas, onde é estacionamento”, comenta o engenheiro civil Edmundo Peres, 70 anos, morador da 108 Sul.
 
Do outro lado, na 308 Sul, há garagens no subsolo. O prefeito da quadra, Fernando Bassit Costa, 60, conta que a ideia de Niemeyer e de Lucio Costa era deixar o chão livre para as pessoas. Para ele, o tombamento da região é importante, mas defende a necessidade de atualizações no plano urbanístico. O destaque vai para os pilotis. “São propriedades privadas, mas de livre circulação, ou seja, reconhecemos que é um problema para a segurança dos moradores, porque podem aparecer pessoas em situação de rua e se instalar aqui, outros podem sujar, bagunçar. O que a gente pode fazer nesse caso?”, questiona.
 
Apesar dos conflitos, Fernando enche-se de orgulho da quadra onde mora desde os 2 anos de idade. “Esse núcleo histórico precisa ser preservado. Agora, cabe ao governo ter iniciativa de ouvir nossas solicitações e investir em educação patrimonial dos moradores”, diz.
 
A prefeita da 108 Sul, Nair Everton de Sá, 63, compartilha desse mesmo sentimento. Defensora do tombamento, junto aos moradores da quadra, está em busca de autorização para reformas e revitalização na área. “Tem os pontos positivos aqui, pela beleza natural, a conservação. A gente só gostaria que não tivesse tanto empecilho. É importante preservar, mas não podemos deixar nossa casa feia. Aqui, os moradores têm opiniões divididas. Uns querem algo mais moderno, outros preferem manter”, completa.
 
Conscientização
 
Diante das posições divergentes, Saulo Diniz, superintendente do Iphan, ressalta que o tombamento busca preservar a cidade para as futuras gerações. “As pessoas confundem tombamento com engessamento, a gente é a favor do desenvolvimento, mas desenvolvimento sustentável. Imagina se a cidade não fosse tombada, como seria?”, destaca.
 
Para conscientizar a população e os governantes sobre a importância dos cuidados com as áreas tombadas, o instituto lançou este mês ações que envolvem os dirigentes e os moradores de Brasília. “Em fevereiro, nós fizemos um termo de cooperação técnica com a Secretaria de Educação para capacitar os professores do quarto ao quinto ano da rede pública com educação patrimonial e lançamos a campanha Brasília para os 60 anos, uma ação de conscientização da importância da manutenção preventiva pelos gestores”, destaca o superintendente do Iphan.
 
De acordo com ele, faltam políticas de manutenção preventiva. “Se eu pudesse dar uma nota, de zero a 10, daria cinco”, diz. No lançamento da campanha, o Iphan entregou um relatório com alguns pontos que precisam de atenção na Praça dos Três Poderes. O mesmo deve acontecer com outros monumentos, como o Palácio da Justiça, o Itamaraty e a Catedral Metropolitana de Brasília. Após a visita dos profissionais, os dirigentes deverão entregar um plano de ação para o instituto.


O modelo
Escala Monumental — Onde se concentram as principais atividades administrativas federais e locais.
Escala Residencial — Tem como base o Eixo Rodoviário e ao longe as Unidades de Vizinhança, 
com as superquadras. Escala Gregária — Área central do Plano Piloto, que inclui os setores bancários, hoteleiros, de diversão, entre outros. Escala Bucólica — Áreas livres e arborizadas
 
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Correio Braziliense sexta, 13 de março de 2020

COVID-19: DE FANTASIA A REOCUPAÇÃO REAL

 

Covid-19: de fantasia a preocupação real
 
Teste positivo do secretário de Comunicação faz Jair Bolsonaro se submeter a exame para saber se tem a doença. De máscara em live semanal, o chefe do Executivo, que havia minimizado o problema, anuncia que assinará hoje uma MP liberando R$ 5 bilhões para combater a enfermidade

 

Ingrid Soares
Renato Souza

Publicação: 13/03/2020 04:00

Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na live: %u201CO assunto (coronavírus) está na pauta do Brasil e do mundo%u201D (Facebook/Reprodução
)  
Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na live: "O assunto (coronavírus) está na pauta do Brasil e do mundo."
 
A confirmação de que o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, está com coronavírus provocou alerta na Esplanada e fez o presidente Jair Bolsonaro se submeter a um teste para saber se contraiu a doença. O resultado sairá hoje. Wajngarten integrou a comitiva brasileira que viajou aos Estados Unidos para encontros com empresários e com o chefe do Executivo norte-americano, Donald Trump. Todos que estavam na delegação fizeram o exame. Por conta da suspeita, Bolsonaro cancelou compromissos, como a viagem que faria ontem ao Rio Grande do Norte, e passou o dia no Palácio da Alvorada.
 
Wajngarten está em quarentena domiciliar em São Paulo. Bolsonaro segue sem sintomas e, na noite de ontem, fez uma live, no Facebook, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ambos estavam de máscara. Na transmissão, o chefe do Executivo, de 64 anos, mudou o discurso sobre a Covid-19. Dias depois de classificar a pandemia como uma “fantasia” da imprensa, ele chamou a atenção para um dos grupos de risco, os idosos.
 
“O assunto de hoje (ontem) vai ser basicamente o coronavírus, que está na pauta do Brasil e do mundo. Uma das pessoas que veio conosco no avião deu resultado negativo, a gente espera que todo mundo dê negativo e fique o positivo só com o Fábio. Não tem uma grande letalidade, mas quem tem mais de 65 anos aumenta um pouquinho, na base de 15%. Então, cada 100 pessoas acima de 60 anos, que é o meu caso, podem ter complicações mais graves”, afirmou. “Estou usando máscara porque nessa recente viagem aos EUA, uma das pessoas, que veio comigo no voo, quando desceu em São Paulo, foi fazer uns exames habituais e deu positivo para o coronavírus”, justificou, em relação ao secretário.
 
Caso o exame do presidente dê resultado positivo, ele terá de se afastar das atividades da Presidência para se recuperar. O presidente não tem diagnóstico de doença crônica, que fragiliza a resposta do corpo a infecções. No entanto, a idade, de 64 anos, é considerada um fator de risco e pode exigir atendimento especializado em um hospital, a depender da evolução dos sintomas.
 
“Um homem de 64 anos, rígido, que faz as suas caminhadas, já passou seu organismo por agressão, foi aquela facada mal-explicada, que superou, que tem o sistema imunológico forte, tem de manter o cuidado por conta das outras pessoas”, ressaltou Mandetta. “Se der positivo, o presidente vai ter de despachar daqui (Alvorada). A gente vai recomendar o isolamento domiciliar. Se não der positivo, ou der outro vírus, a gente libera, vida que volta ao normal. Todo mundo tomando os cuidados de higiene.” Bolsonaro completa 65 anos no próximo dia 21.
 
O presidente disse também que assinará, hoje, a medida provisória que libera R$ 5 bilhões, via emendas, para o enfrentamento do novo coronavírus. O valor atende a um pedido feito na quarta-feira por Mandetta. A MP tem efeito imediato após a publicação.
 
Eduardo
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) visitou o pai ontem. Ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro também se submeteram a teste para o coronavírus na residência oficial. Depois de passar cerca de quatro horas no local, o parlamentar saiu usando uma máscara cirúrgica. O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que também esteve com o presidente na viagem aos Estados Unidos, foi outro que fez o exame. Uma equipe médica do Hospital das Forças Armadas (HFA) esteve no Palácio do Planalto para coletar a amostra. Também integrou a comitiva o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que deve voltar ao Brasil, fazer o teste e ficar em quarentena. O ministro de Minas e Energia, Bento Costa, testou negativo.
 
De acordo com a Presidência, todas as medidas foram tomadas “para preservar a saúde do presidente da República e de toda comitiva presidencial que o acompanhou” na recente viagem oficial.
 
“Obviamente, temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala”
Jair Bolsonaro, presidente da República, em declaração na última terça-feira
 
“Não tem uma grande letalidade, mas quem tem mais de 65 anos aumenta um pouquinho, na base de 15%. Então, cada 100 pessoas acima de 60 anos, que é o meu caso, podem ter complicações mais graves”
Jair Bolsonaro, na live de ontem
 
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Correio Braziliense quinta, 12 de março de 2020

POR MAIS VISIBILIDADE NA CIÊNCIA

 

Por mais visibilidade na ciência
 
Projetos voltados para meninas buscam incentivar a participação delas nos cursos de Exatas

 

» ANA MARIA DA SILVA*
» CELIMAR DE MENESES*
» LIS CAPPI*

Publicação: 12/03/2020 04:00

O Meninas.Comp ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação (Meninas.Comp/Reprodução)  

O Meninas.Comp ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação

 



No Meninas na Ciência, o encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB (Projeto Meninas na Ciência/Divulgação)  

No Meninas na Ciência, o encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB

 



Descobrir elementos químicos e ser laureada duas vezes com honraria. Ser a primeira a desenvolver medicamentos para doenças como leucemia e gota, ou impulsionar o país para a segunda posição como um dos maiores produtores de soja do planeta. Por trás de todas essas conquistas, estão mulheres.
Mesmo diante desse cenário, dados da editora científica Elsevier mostram que, apesar de a proporção de mulheres ser igual à de homens entre os pesquisadores, elas ocupam menos postos avançados em laboratórios e crescem menos na carreira. Informações do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de 2017 confirmam esse quadro, já que, dos 112 pesquisadores sênior, apenas 27 são mulheres.
 
A limitação velada à ascensão de mulheres na carreira é classificada de “teto de vidro” pela teoria feminista, e pode acontecer por diversos motivos. Na ciência, a professora Susane Ramalho, da Faculdade UnB Planaltina (FUP), exemplifica fatores como a dificuldade das mulheres de obter financiamento para as pesquisas, a necessidade de conciliar a vida familiar com o trabalho e também o machismo. “Tenho relatos de uma colega da geologia que já foi negada a participar de um processo seletivo de pesquisa em que era necessário viajar de barco. O veículo não tinha banheiro feminino e esse detalhe foi o motivo de ela ser desclassificada”, conta.
 
Outro filtro, segundo a pesquisadora, é a baixa participação das mulheres nas ciências exatas. “Tem um problema de estímulo das garotas a se interessar por essa área e também uma questão histórica de representatividade. O perigo é que a baixa participação das mulheres nesta área do conhecimento faça com que, nos próximos 20 anos, menos mulheres entrem no mercado de trabalho, já que existe a previsão de que, com o avançar tecnológico, várias profissões desapareçam, e as que vão permanecer são justamente nas ciências exatas”, explica a professora.
 
Para incentivar a participação delas na ciência, em 19 e 20 de março, o Departamento de Matemática da UnB promoverá a segunda edição do Seminário Mulheres na Ciência da Universidade de Brasília. O evento, que tem o apoio da ONU Mulheres, do Núcleo de Gênero do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), vai discutir a participação da mulher na ciência e apresentar diversos projetos de extensão que têm incentivos para inserção de mulheres na ciência. Será lançado ainda o Fórum pela Diversidade de Gênero nas Ciências e Tecnologia, uma iniciativa do MPT e MPDFT.
 
Superação
 
Vencer os estereótipos. Essa é a luta que a doutoranda em neuropsicofarmacologia Lorena Priscila Oliveira Rocha, 28 anos, tem enfrentado ao longo da jornada acadêmica e profissional. Segundo a estudante, as dificuldades vão além da falta de inclusão. “Há uma cascata de problemas relacionados a esse conceito preconcebido: as microagressões diárias, a insegurança e o medo imposto por si e, também, a autocobrança para que seu trabalho seja reconhecido”, salienta. Além de atuar na área de neurociência e comportamento, Lorena participa de uma pesquisa que tem como objetivo validar um novo medicamento inspirado na peçonha de uma vespa que amenize ou melhore doenças neurodegenerativas.
 
Na busca por estimular o interesse pela área, um grupo de profissionais criou o projeto Meninas na Ciência, que busca incentivar a participação de adolescentes entre 11 e 15 anos, matriculadas no ensino fundamental de escolas públicas e particulares. O encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB.
 
Segundo Lorena, que é coordenadora da iniciativa, as atividades permitem que as participantes conheçam mulheres cientistas que introduzirão o senso crítico para as alunas. “Não queremos deixar que percam essa vontade. Queremos mostrar, de fato, como é ser uma pesquisadora e de quais formas e possibilidades as portas estão abertas para elas”, detalha.
 
“Observamos que as meninas que participaram do nosso evento no semestre passado já vieram com uma base significativa de ciência e pesquisa. Não queremos que elas percam essa vontade e interesse no decorrer da adolescência até a graduação”, afirma. Para isso, as meninas participam de diversas atividades. Na última edição, foram promovidas oficinas de organelas de células animais, de análise de lâminas com diversos tipos de materiais biológicos e para aprender a distinguir espécies de cobras.
 
Tecnologia
 
Áreas relacionadas à tecnologia estão entre algumas das que apresentam a maior disparidade entre homens e mulheres. Para mudar esse cenário e incentivar o ingresso de meninas em carreiras relacionadas, outras pesquisadoras da UnB criaram o Meninas.comp. O projeto ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação. Com o lema “Computação também é coisa de menina”, a ação, que capacita professores da rede pública para atuarem junto às estudantes, aproximou mais de mil garotas aos conceitos e primeiras experiências com a programação.
 
A professora do Departamento de Ciência da Computação e uma das fundadoras do projeto Aletéia Aráujo pontua que ainda falta muito a ser feito para igualar a quantidade de mulheres na carreira, mas que o projeto é um começo. “Acredito que só assim vamos conseguir quebrar essa barreira mostrando resultado”, defende.
 
A pesquisadora conta já ter passado por situações de preconceito na profissão por ser mulher e pondera que a sociedade precisa de mudanças. “Até hoje, acontece de eu estar em alguma reunião e não darem ouvidos para uma proposta minha, mas acham boa a ideia quando um homem fala pouco depois”, diz. “Pesquisas mostram que projetos que têm mais igualdade são mais bem-sucedidos. Mulheres valorizam características em um produto que, às vezes, passam despercebidas ao homem. Se querem vender tecnologia para mulher, tem que ter mulher atuando nos times”, completa.
 
Alice Lima, 19, é uma das participantes que se identificou com a área de tecnologia ao passar pelo Meninas.comp. Agora, como estudante de ciências da computação na UnB e com um projeto de iniciação científica que pesquisa a inserção de mulheres no mundo na área de estudo dela, conta conviver diariamente com a ausência de outras alunas no curso. “De 40 estudantes que entraram no meu semestre, só três, contando comigo, eram garotas. Tiveram semestres piores, em que só entrou uma aluna”, declara a estudante.
 
A universitária conta, ainda, ter dúvidas sobre qual caminho trilhar após a graduação: se opta pela pesquisa ou pelas áreas de programação e de desenvolvimento. Até lá, segue como voluntária no projeto que a aproximou do curso. “É algo muito importante, porque meninas geralmente não olham para essa área. Não é nem questão de não haver interesse, é a de um incentivo, que não existe. Percebemos que é algo que vem de infância, e isso deve mudar.”
 
* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer


Participe
 
» Meninas na Ciência
O projeto é voltado para meninas que queiram conhecer um pouco mais sobre ciência, tenham entre 11 e 15 anos e estejam regularmente matriculadas no ensino fundamental. Este ano, o evento ocorre em 16 e 23 de maio. Informações: meninasnacienciaunb@gmail.com ou www.meninasnacienciaunb.com.br.
 
» 2º Seminário Mulheres na Ciência
Em 19 e 20 de março, o Departamento de Matemática da Universidade de Brasília promoverá a segunda edição do evento, que contará com diversas palestras, mesas redondas e apresentação de projetos de extensão que têm incentivos para inserção de mulheres na ciência. Informações: ww.mat.unb.br/mulheres_ciencia e mulheres.mat.unb@gmail.com.
 
 
Elas fazem a história
Conheça algumas das principais cientistas brasileiras
 
» Graziela Maciel Barroso (1912-2003)
Conhecida como “a primeira-dama da botânica brasileira”, foi mentora de quase todo botânico brasileiro que se formou no país nos últimos 50 anos e eleita para a Academia Brasileira de Ciências em 2003, mas morreu antes de tomar posse.
 
» Johanna Dobereiner (1924-2000)
A agrônoma desenvolveu um trabalho revolucionário na Embrapa, onde descobriu que bactérias potencializam o cultivo da leguminosa dispensando o uso de fertilizantes. A descoberta fez do Brasil o maior produtor de soja do mundo.
 
» Mayana Zatz
É referência em pesquisas com células-tronco e participou ativamente da aprovação das pesquisas com células-tronco em 2005. Ganhou vários prêmios internacionais e nacionais.
 
» Suzana Herculano-Houzel
Revolucionou a área de neurociências e dedicou-se ao estudo da anatomia comparada do cérebro de diferentes animais para entender a evolução dos seres humanos. Com isso, criou um preciso e novo método, reconhecido no mundo todo, para contar as células do cérebro.
 
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Correio Braziliense quarta, 11 de março de 2020

COM SABOR DE BRASÍLIA

 

Com o sabor de Brasília
 
Há locais que trazem memórias afetivas e, na capital, não é diferente. A série Brasília sexagenária mostra estabelecimentos abertos desde a inauguração e que fazem sucesso até hoje

 

» CAROLINE CINTRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 11/03/2020 04:00

Fábio Martins seguiu o legado do pai, 
Gomes Calixto (D), à frente da tradicional churrascaria ao lado da Barragem do Paranoá (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

Fábio Martins seguiu o legado do pai, Gomes Calixto (D), à frente da tradicional churrascaria ao lado da Barragem do Paranoá

 


 (Daniella Sasaki/Esp. CB/D.A Press - 10/2/05)  
 
As receitas são as mesmas, o gosto é igual e o ponto de venda sempre no mesmo endereço. O crescimento da cidade não impediu que restaurantes e lanchonetes resistam ao tempo e continuassem a fazer a história. No cardápio, trazem memórias, dedicação e tradição. Na reportagem de hoje da série Brasília sexagenária, o Correio conta a trajetória de comércios que inauguraram junto à nova capital ou até mesmo antes dela.
 
Em uma casa modesta, ao lado da Barragem do Paranoá, Fábio Martins, 44 anos, continua o legado do pai. Apaixonado por culinária, Gomes Calixto dos Santos abriu ali a Churrascaria Paranoá. Inaugurado em fevereiro de 1956, o estabelecimento funcionava como refeitório para os milhares de operários da construção da nova capital do país.
 
Era ele quem colocava a mão na massa e criava os temperos da galinha caipira, o churrasco misto e as carnes de cordeiro, de jacaré e de rã, pratos tradicionais desde o início da casa e que atrai fãs até hoje. “Antigamente, os donos de restaurantes ficavam sempre no caixa. Meu pai, não. Fazia questão de encostar a barriga no fogão e cozinhar”, conta.


Enildo Veríssimo (acima) continua tocando a Pizzaria Dom Bosco mesmo após a morte do irmão e sócio, Hely (E) (Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 18/3/03 )  

Enildo Veríssimo (acima) continua tocando a Pizzaria Dom Bosco mesmo após a morte do irmão e sócio, Hely (E)

 


 (Raimundo Sampaio/CB/D.A Press - 19/3/13 )  


Fábio começou a ajudar no local aos 7 anos, como faxineiro. Era responsável por deixar os banheiros e o chão limpos. “Passava aquela cera vermelha, com os joelhos no chão. Meu pai fazia questão de manter tudo organizado. Afinal, a gente recebia de 2 mil a 5 mil pessoas por dia aqui”, lembra. Na adolescência, acompanhava os passos do pai no negócio da família. Aprendeu o que sabe sobre gastronomia com ele.
 
Passados 64 anos, a churrascaria mantém o mesmo formato, toda de madeira, e a tradição e os desafios são mantidos pelas gerações. “Não dependemos de ninguém. Sou eu e a minha família. Assim como eu assistia meu pai, meus quatro filhos fazem o mesmo comigo. Por mim, eles seguiriam o legado, mas vou deixar cada um escolher o próprio caminho. Fico aqui até minha última gota, como meu pai fez”, disse.
 
Calixto morreu em 2011, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Ele conseguiu acompanhar os passos do filho à frente do negócio. “É um bem que quero manter. Muitas pessoas reconhecem como um bem de Brasília, e isso nos enche de orgulho”, completa.
 
Tradição
 
“Uma dupla e um mate, por favor!”. A pizza vem na mão mesmo, em um guardanapo, para comer rápido, ali, em pé, em frente ao balcão. O atendimento é assim há 60 anos na Pizzaria Dom Bosco, na 107 Sul, rua da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima. Enildo Veríssimo, 74, proprietário do comércio, garante que o sabor é o mesmo, desde 1960. A receita, ele aprendeu em Minas Gerais. “Eu trabalhava em uma pizzaria em Araxá e aprendi a fazer a massa lá, com um italiano”, lembra. O aprendizado caiu como uma luva ao chegar a Brasília, à procura de um emprego.
 
Ele veio com o irmão Hely Veríssimo, que morreu em 2014, após um infarto. “O pessoal ia montando as coisas para vender. À época, o governo deixava você abrir o comércio e só  depois arrumava a documentação, porque, se eles dificultassem, o pessoal ia embora”, diz. “O povo colocava o nome de Dom Bosco em tudo na época”, comenta Enildo.
 
O comércio é o único que permaneceu desde o início de Brasília na quadra, segundo o empresário, mantendo sempre o mesmo padrão. “É a mesma receita, atendimento e qualidade. Estamos na oitava geração de clientes. Tem gente que vem de manhã, à tarde e à noite”, comenta.


 

"Ainda é a mesma pizza da minha adolescência. Isso é uma raridade em Brasília. É um dos poucos lugares que consegue se manter" Ana Lúcia Leite, aposentada

 



A aposentada Ana Lúcia Leite, 63, é uma das clientes fiéis. A mineira chegou a Brasília antes da inauguração da cidade, em 1959, quando tinha 2 anos, e ia sempre com os pais. Mas passou a frequentar mais vezes na adolescência. O pedido era sempre o mesmo: a tradicional pizza de muçarela, com muito molho, e uma caçulinha, refrigerante pequeno.
 
Hoje, mesmo morando um pouco mais distante, no Lago Norte, a tradição continua. “Venho eu, meus filhos e netos. Todo mundo gosta. O pedido continua o mesmo. Não tem como mudar”, brinca Ana Lúcia. “Ainda é a mesma pizza da minha adolescência. Isso é uma raridade em Brasília. É um dos poucos lugares que consegue se manter. Tornou-se algo fraterno”, completa.
 
Além do ponto na rua da Igrejinha, a pizzaria Dom Bosco abriu outras quatro lojas. Elas são comandadas pelos filhos e por sobrinhos de Seu Enildo. “É um privilégio muito grande. A gente fica orgulhoso. Espero que a pizzaria continue firme por muitos anos”, destaca.

Reconhecimento
 
Para o professor emérito do Departamento de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Coutinho, estabelecimentos como a Churrascaria Paranoá e a Pizzaria Dom Bosco deveriam entrar no roteiro dos turistas. “Geralmente, eles vêm para ver os monumentos da cidade, que realmente são grandes atrações e devem ser vistos. Mas esses restaurantes escrevem a história da nova capital. Se quer saber da história de Brasília, tem que visitar esses lugares também”, sugere.
 
O especialista chegou a Brasília em 1968 e lista outros restaurantes que se tornaram pontos de encontro, como João do Frango, Xangô, Cantina Amaral, e tantos mais, dentro ou fora do Plano Piloto. “Na Asa Sul, por exemplo, era só poeirão, sem pavimentação, e os programas exóticos eram sempre para comer. A rua da Igrejinha era considerada o shopping de hoje. Era o miolo da cidade e, aos poucos, foi se expandindo”, lembra o professor.
 
Um dos primeiros pontos que ele visitou em Brasília foi a Churrascaria Paranoá. “Deveria ser até tombado. Não pela qualidade artística, mas histórica. Ou, pelo menos, assinalar uma placa que lembrasse mais a existência dela. Além de ser um estabelecimento junto ao acampamento do Paranoá, que acolheu os operários, é um lugar histórico”, afirma Coutinho.
 
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Correio Braziliense terça, 10 de março de 2020

GOVERNO CONVOCA 750 PMs HOJE

 

Governo convoca 750 PMs hoje
 
 
Em entrevista ao CB.Poder, secretário confirmou que aprovados no concurso da Polícia Militar serão chamados nesta terça-feira e que os selecionados na prova do Corpo de Bombeiros também devem assumir os postos em breve

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 10/03/2020 04:00

 

"Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário"

 

Aprovados no concurso da Polícia Militar serão convocados, hoje à tarde, para iniciar o Curso de Formação de Praças (CFP). O grupo é composto por 750 pessoas. Os selecionados na prova do Corpo de Bombeiros também poderão ser chamados. O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.
 
De acordo com ele, há deficit em todas as forças de segurança. “Já tivemos um quadro com 18 mil policiais militares. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Temos problemas de cidades grandes, como Rio de Janeiro e São Paulo. Conseguimos diminuir os crimes, mas ainda temos muito trabalho’”, disse o secretário.
 
Anderson Torres destacou que o índice de violência na capital caiu em comparação com anos anteriores e que o Governo do Distrito Federal tem trabalhado muito para frear casos de mortes violentas, como a do professor universitário Hebert Miguel, 26 anos, em Taguatinga Sul, e do universitário Márcio Ribeiro, 28, na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, na última semana. Os dois morreram no sábado, vítimas de crimes investigados como latrocínio (leia mais na páginas 18).
 
 
O que o governo faz para frear as mortes violentas, como as que ocorreram na última semana com o professor e o universitário?
Temos trabalhado muito em relação a isso, mudado o policiamento, trabalhado com inteligência. Os níveis de apuração desses casos estão altíssimos. Finalizamos, no ano passado, com 80% dos crimes contra a vida apurados no DF.  Isso mostra que estamos no caminho. Fechamos o ano passado como o melhor dos últimos 35 anos, em casos de homicídios. Janeiro de 2020 foi o melhor dos últimos 21 anos. Fevereiro, o melhor dos últimos 10 anos, perdemos apenas para fevereiro do ano passado. O crime faz parte da natureza humana. Ele existe e vai existir. O que nos cabe é trabalhar sério e pesado para melhorar.
 
Enquanto alguma vida estiver sendo perdida, a gente tem que trabalhar duro, certo?
Cada pessoa que morre atinge a nós, policiais, à secretaria e ao governo. Daqui para a frente, entendemos que a maioria desses crimes vai ter imagem. Estamos espalhando câmeras pela cidade quase toda. Em breve, estaremos chegando a mil câmeras. Teremos imagens, e elas chocam muito mais do que apenas sabermos dos crimes. Mas nosso trabalho é prevenir esses crimes. Tem uma série de aspectos envolvidos nisso, não é só questão de segurança pública. Tem moradores de rua, tráfico de drogas, gangues e guerra de facções — que culminam na morte de muitos jovens no DF.
 
Existe algum projeto da secretaria que vise evitar os crimes relacionados a roubo de celular?
Hoje, o celular é a menina dos olhos dos criminosos. Já foram a roda e o som do carro. O celular é pior, porque, nos outros crimes, não havia o contato entre o ladrão e a vítima. Hoje, há o contato e, nele, muitas vezes ocorre a fatalidade. Temos percebido uma série de assaltantes que foram presos há 15 dias novamente na rua assaltando. Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário. Vejo, com respeito ao Estado brasileiro, que a gente precisa retomar algumas coisas. Vivemos uma crise de segurança há muitos anos. A sociedade já entendeu isso e quem comete o crime, também. Talvez a punição não seja a adequada. Temos discutido a questão da Papuda. São 17 mil presos, fechados no caldeirão fervendo. O Brasil não sabe o que fazer com os presos. A gente vai muito bem até a prisão em flagrante.

 

"Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo"

 



Como se combate o crime da arma branca?
Brasília sempre teve essa característica da arma branca. É uma questão que a gente precisa discutir. Qual é consequência jurídica para uma pessoa que é pega com uma faca na cintura? Por exemplo, muitas pessoas andam com canivete. É totalmente diferente de uma pessoa que é pega com um revólver na cintura. Sair de casa com uma faca, a gente faz um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é encaminhado à Justiça. No carnaval, fizemos vários. Eram facas, tesouras, facões. No do ano passado, machado foi apreendido pela PM.  A pessoa que sai de casa com isso, sai mal-intencionada.
 
A gente vê muito feminicídio em que o crime é cometido com uma faca, em casa. Esse é um problema também. A secretaria tem um projeto relacionado a isso? É um desafio, não é?
Grande. No feminicídio, depois de tanto estudar, vimos que é uma evolução da sociedade. Um crime dentro de casa, com arma branca. O cara sai de casa, vai para o trabalho, passa em um bar para tomar uma coisa, chega em casa, briga com a mulher, vai à cozinha, pega uma faca e mata. Como a Segurança Pública age nisso? Como o Estado chega para impedir esse cidadão? Ela, os familiares e os amigos, muitas vezes, não denunciam, não trazem essa notícia.
 
Em sua avaliação, o que precisa mudar, urgente, na legislação penal nesse caso?
Precisamos não só endurecer a legislação, mas saber prender, condenar e saber o que fazer com essas pessoas. É um sistema. Quando assumi a secretaria, vi uma ideia de o sistema passar para a Secretaria de Justiça novamente. Conversei com o governador e pedi para deixar na Secretaria de Segurança. Porque segurança pública é o sistema, não é só investigação. A gente precisa evoluir.
 
O número de câmeras está aumentando. É fundamental para ajudar uma investigação?
Eu estava assistindo às imagens desse crime (do universitário morto na Rodoviária do Plano Piloto) e vimos a dinâmica do crime, inclusive o assassino conversando com a vítima. Em algum momento, houve o desentendimento e o crime. Foi uma atitude que, em tese, não chama a atenção.
 
O homem que roubou e matou o professor universitário já tinha passagens pela polícia, por furto e por roubo.  A audiência de custódia é um problema?
Precisa ser revisto o modo que tem sido feito e os entendimentos. A partir de que momento que, num crime violento, como um roubo, o autor pode ser solto na audiência de custódia? A gente precisa endurecer um pouco mais isso. Talvez mudar as penas no Brasil.
 
Como está o DF em relação à permanência de líderes de facções criminosas na Penitenciária Federal de Brasília? O GDF é contra, mas o ministro Sérgio Moro e o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) defendem que isso não traz prejuízo para a cidade.
Tem reflexos no DF. Continuamos sem grandes informações do que está acontecendo. Temos uma GLO (Garantia de Lei e da Ordem) decretada para o Presídio Federal do DF, na qual o governador não foi consultado, fora dos requisitos da GLO. Pontuamos alguns fatos. Tive submetralhadora apreendida, com vários carregadores, pela Polícia Militar. E outra arma de calibre pesado. E fica minha pergunta: está fugindo ou não do que o DF sempre teve? Quem tem razão, a história vai dizer.
 
A convocação para os praças sai amanhã (hoje)?
Sai amanhã (hoje). Vamos convocar para o curso de formação. Não vamos fazer solenidade, mas uma live pela internet. Ainda não decidi a forma. Mas sai, com os prazos para entregar documento. Tem uma série de requisitos antes de começar o curso. São 750 pessoas.
 
Vão chamar os bombeiros?
Sim. Há também um cronograma. Vou tentar trazer essa convocação também para amanhã. Precisamos muito. Há um deficit muito grande de pessoal.
 
A convocação é uma solução para a segurança no DF?
Sem dúvida. Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
 
O reajuste das forças de segurança vai sair?
Amanhã vota na comissão esse reajuste inicial, que foi aprovado. Espero que saia. Precisamos chegar naquilo que nos propusemos a fazer. Mas há um longo caminho. Será um aumento de 8% para as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros.
 
Hoje (ontem) completam-se cinco anos da Lei do Feminicídio. Os dispositivos de segurança estão funcionando?
Começa a funcionar agora. Mandamos para o Tribunal de Justiça para fazerem os protocolos deles. Voltou para a segurança pública na semana passada. As reuniões foram feitas e, nos próximos dias, os juízes poderão sentenciar os usos do aparelho que ficará com a mulher para ela acionar quando for preciso.
 
Existe alguma recomendação para policiais que atuam no dia a dia, na rua, em relação ao coronavírus?
Ainda não pensamos nisso. As coisas estão sob controle, não podemos fazer alarde ainda.
 
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Correio Braziliense segunda, 09 de março de 2020

MULHERES DESAFIAM VÍRUS E VÃO ÀS RUAS

 

Mulheres desafiam vírus e vão às ruas

 

Publicação: 09/03/2020 04:00

Em Santiago, uma multidão exige o fim da violência de gênero   (Javier Torres/AFP )  

Em Santiago, uma multidão exige o fim da violência de gênero

 



O temor de aglomerações e, consequentemente, da possibilidade de infecção pelo novo coronavírus não impediu que multidões fossem às ruas no mundo todo para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Mesmo com alguns confrontos violentos e prisões em vários países, as mulheres marcharam em locais distantes entre si, como Indonésia, Filipinas, Paquistão, França e Chile. Em muitos locais, as manifestações foram canceladas por questões de saúde.

Uma das mobilizações mais expressivas ocorreu em Santiago, a capital chilena, onde, segundo estimativas, aproximadamente 2 milhões de mulheres se reuniram em uma manifestação exigindo o fim da violência de gênero e protestando contra o governo de Sebastián Piñera. Desde outubro, o país é palco de protestos semanais em torno da possibilidade da adoção de uma nova Constituição, substituindo o texto de 1980, que data do período do ditador Augusto Pinochet.

Na Europa, as manifestações foram menores que o habitual. Ativistas do grupo Femen com os seios à mostra, luvas e máscaras de proteção, se reuniram na Place de la Concorde de Paris para denunciar “a pandemia patriarcal”. Sob rigorosas medidas de isolamento, a Itália não registrou protestos. O presidente Sergio Mattarella divulgou uma mensagem em vídeo para expressar seu agradecimento “às mulheres e às muitas que trabalham em hospitais e nas zonas (de quarentena) para combater a propagação do vírus”.

No Paquistão, mil mulheres desafiaram a sociedade ultrapatriarcal a se manifestar por seus direitos, às vezes embaixo de pedras e gravetos jogados por oponentes. Ao mesmo tempo, outra marcha reuniu mulheres com véu, que proclamavam sua “liberdade de viver de acordo com a Sharia”. Em Manila, nas Filipinas, centenas de mulheres e homens participaram de um protesto que queimou um efígie gigante do presidente Rodrigo Duterte, a quem eles acusam de misoginia.

Terceiro país com maior número de casos depois da China e da Itália, a Coreia do Sul cancelou vários eventos, devido à epidemia. “Embora não possamos estar fisicamente juntas, nossa determinação em obter igualdade entre homens e mulheres é mais forte do que nunca”, disse a ministra da Igualdade, Lee Jung-Ok, em um vídeo. Em Jacarta, na Indonésia, cerca de 600 pessoas pediram ao governo que revogasse leis consideradas discriminatórias e adotasse leis contra a violência sexual.
 
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Correio Braziliense domingo, 08 de março de 2020

MULHERES NADA INVISÍVEIS

 

Mulheres nada invisíveis
 
Mais respeito, qualidade de vida, igualdade de gênero e um serviço público de saúde digno são alguns desejos de trabalhadoras ouvidas pelo Correio no dia em que se celebra o poder feminino

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 08/03/2020 04:00

Instituído em 8 de março de 1908, o Dia Internacional da Mulher destaca muitas causas femininas conquistadas ao longo dos últimos séculos. Mais do que um dia de celebração e de receber agrados de amigos e familiares, a data também é uma oportunidade para alertar a população sobre os graves problemas de gênero que ainda persistem na sociedade, como a desigualdade de renda e de direitos, a violência, o machismo e o preconceito. O Correio saiu às ruas para saber das mulheres — de diferentes profissões, classes sociais e idades — o que elas mais desejam para esse dia tão especial. Confira os depoimentos:


 (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Midian de Sousa Targino, 23 anos, trabalha há três como frentista em um posto de gasolina no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) para sustentar as duas filhas, de 8 e 2. Moradora do Recanto das Emas, ela está no segundo semestre do curso de estética e afirma que o sonho é concluir a faculdade para trabalhar na área.

“Espero que as mulheres tenham mais qualidade de vida no futuro, que possam ingressar na carreira que almejam. Eu, por exemplo, quero trabalhar na área de beleza para ajudar a melhorar a autoestima das pessoas. Com isso, espero ganhar um bom salário para dar o melhor para as minhas filhas e poder colocá-las em uma escola de qualidade. Infelizmente, muitas mães sofrem com a educação pública precária de Brasília. Minhas filhas estudam em uma escola bem longe de casa, em outra quadra, porque não consegui vaga para elas em um colégio próximo. Precisamos de mais escolas para as nossas crianças. A população, em especial as mulheres, precisa ser mais respeitada e valorizada. Aqui (posto de gasolina) ainda sofro com o preconceito de alguns clientes. Existem motoristas agradáveis e que me tratam bem, mas há outros que dispensam nosso atendimento, porque acham que somos fracas, tanto na personalidade quanto nos afazeres.”


 (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Kátia Ferreira Dias, 25, mora em Planaltina e trabalha há cinco anos como balconista e auxiliar gerencial em uma padaria no Sudoeste. Mãe de um menino de 5 anos, ela sonha ser promovida no trabalho e ter mais tempo para a família.

“Para as mulheres, eu desejo um mundo sem preconceito e mais valorização no ambiente de trabalho. Na padaria, enfrento os julgamentos de clientes e até dos funcionários. Quando vou ajudar os padeiros, eles resistem e me tratam com indiferença, só pelo fato de eu ser mais nova e por ser mulher. Acham que sou inexperiente e frágil para auxiliá-los. O que mais me impressiona é que estamos em um século avançado e ainda temos que nos deparar com uma sociedade que desrespeita, maltrata e mata uma mulher, simplesmente por ser mulher. Essa realidade precisa mudar.”


 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press )  

Agda Oliver, 39, é proprietária da Oficina Meu Mecânico, em Ceilândia. Criado em 2010, o estabelecimento é destinado especialmente ao público feminino. A ex-bancária conta que a ideia de empreender sempre foi um sonho, mas teve de enfrentar as represálias de amigos e familiares. Mesmo assim, Agda se diz realizada profissionalmente por servir de espelho para outras mulheres.

“Nós, mulheres, precisamos ter mais confiança em nós mesmas. Sabemos do que somos capazes e não devemos dar ouvidos às falácias. Precisamos acreditar no que buscamos. Certa vez, uma pessoa entrou na rede social da minha oficina e disse que a empresa era apenas fachada e que não tinha relevância. Tentei não absorver o comentário maldoso porque, se alimentamos, acabamos acreditando. Isso nos leva ao fracasso. Mesmo assim, por mais que estejamos em uma era de preconceito, me acho uma mulher fora da caixinha e vitoriosa por abrir mão da função de bancária, em que todos os meus amigos e parentes me admiravam, para me tornar mecânica. O que precisamos é de cidadãos que tenham a capacidade de ajudar e colaborar na construção de uma boa sociedade e, acima de tudo, reconhecendo que as oportunidades são para todos.”


 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press )  

Fernanda Herval, 33, mora no Núcleo Bandeirante e é soldado da Polícia Militar há cinco anos. Mãe, esposa e dona de casa, ela tenta conciliar a rotina com o trabalho policial.

“A classe feminina ainda tem muito o que ser respeitada pela sociedade. Temos que colocar na cabeça que somos fortes o suficiente para dominar qualquer atividade. Para o Dia das Mulheres, desejo que o povo reconheça e valorize o nosso papel. Eu, como policial, ainda encaro grandes desafios, principalmente na rua. No quartel, dividimos os mesmos papéis com os homens e somos submetidas ao mesmo tratamento. Mas, quando estamos de ronda, sinto que a população ainda olha para as militares com indiferença, achando que não somos capazes e até nos desrespeitando.”



Adriana Ribeiro, 41, é cabeleireira e proprietária de um salão especializado em cabelos cacheados no Riacho Fundo I. O estabelecimento, fundado há oito anos, tem o objetivo de incentivar e valorizar a beleza negra, além de elevar a autoestima de mulheres e crianças afrodescendentes.

“Hoje, aos 41 anos, me considero uma mulher vitoriosa pela vida que tenho e pelos lugares aonde cheguei. Para todas nós, mulheres, desejo que, no futuro, possamos entender que podemos chegar aonde desejamos e que o estudo e a dedicação são as chaves das portas do sucesso. Almejo um futuro mais digno, em que possamos ter direito à educação de qualidade e que não seja preciso esperar por um leito na UTI para evitar a morte. O sistema de saúde deve ser preventivo, para que tenhamos uma vida de qualidade, na qual as políticas públicas estejam voltadas a quem realmente precisa.”



Sebastiana Custódio de Souza, 51, mora no Itapoã e trabalha com serviços gerais na Rodoviária do Plano Piloto há um mês. Na região onde mora, ela reclama da falta de segurança para com as mulheres.

“Desejo mais segurança, cuidado e consideração com as mulheres. Às vezes, a mulher apanha do marido e decide prestar queixa na delegacia. Mas, se ela não comprovar a denúncia, mostrando um hematoma ou mensagens ameaçadoras, não consegue registrar o boletim de ocorrência. Se não prova, não denuncia e isso fica impune. Falta apoio do Estado em garantir mais segurança para nós. O governo deveria promover mais campanhas contra a violência, ir de casa em casa alertando sobre a importância de denunciar, elaborar pesquisas e não esperar pela morte de mais uma mulher.  Precisamos de paz.”



Damiana Pereira de Carvalho, 30, mora em Planaltina e trabalha como cobradora há quatro anos. Mãe solteira de dois filhos, de 7 e 5 anos, ela admira a área em que atua.

“Queria muito que parassem de matar as mulheres. Quando uma mulher morre, não são só os filhos que sofrem, mas todas nós. Colocamo-nos no lugar uma das outras e sofremos por termos uma Justiça tão falha, que solta o assassino em poucos dias e tudo fica como se nada tivesse acontecido. Mas, ali, foi uma mãe, um ser humano e uma guerreira que morreu.”



Eliane Pereira Moraes, 43, 
mora em Planaltina de Goiás e trabalha com o marido em uma copiadora. Mãe de cinco filhos, de 25, 22, 20, 7 e 3 anos, ela sonha com um emprego melhor.

“Quero que as vagas de trabalho sejam também ofertadas ao público feminino, na mesma facilidade em que são para os homens. Ainda me deparo com situações de preconceito nesse meio. Certa vez, fui chamada para uma entrevista e estava praticamente tudo certo para a minha contratação, mas me perguntaram se eu tinha filhos, e o gestor disse que me ligaria depois. O ruim é saber que isso não acontece só comigo, mas com a maioria das mulheres que precisam sustentar a família.”



Ana Guedes Sales, 73, é costureira nos tempos livres e mora em São Sebastião. A aposentada sofre com problema na visão e tenta marcar uma consulta há mais de um mês no hospital. Ela critica o descaso da saúde pública.

“Desejo mais saúde para as mulheres. Infelizmente, o serviço de atenção primária da rede pública, especialmente às mulheres idosas, é precário. No hospital, se você é atendido nas consultas, não consegue ter atendimento nos exames, então o problema não resolve. Precisamos de mais médicos nas unidades de saúde para que tenhamos um atendimento digno. Não adianta querer acabar com o feminicídio se não tivermos um apoio das políticas públicas, principalmente de uma rede de apoio para o público feminino. É preciso nos unir, dar as mãos e pensar em formas de fazer isso.”



Júlia Charles da Rocha, 17, 
é estudante de alemão no Centro Interescolar de Línguas (CIL) e pretende seguir a carreira da docência, ministrando aulas de alemão e de português.

“O que desejo para as mulheres é que possamos andar nas ruas sem ter medo de sofrer um ato de violência sexual ou sermos vítimas de piadinhas e de assédio verbal, o que é constrangedor. Vivemos em um mundo que nos oprime. Então, é preciso ter coragem para lidar com os preconceitos da sociedade e enfrentar o desrespeito das nossas decisões. Às vezes, a mulher opta em não ter filhos, por exemplo, mas é hostilizada por ter essa escolha.”



Larissa Ribeiro, 21, é estudante de educação física. Moradora de Samambaia, sonha em ser técnica de ginástica rítmica e acredita que, para chegar lá, é preciso esforço, estudo e dedicação.

“Acredito que o respeito é a base de tudo. Se a sociedade começar a respeitar as mulheres e a tratá-las com dignidade, poderemos acreditar em um futuro melhor, sem violência e sem medo. Mas ainda enfrentamos uma barreira enorme de desigualdade salarial entre os gêneros, o abuso sexual, o feminicídio. São problemas que precisam ser solucionados o mais rápido possível.”



Natália Barbosa Alves, 24, é diarista e trabalha também como ambulante na Rodoviária do Plano Piloto para complementar a renda. Ela mora com a irmã no bairro Arapoanga.

“A proteção do Estado para defender as mulheres vítimas de violência ainda é muito falha. Conheço muitas amigas que apanharam do companheiro, pediram medida protetiva na Justiça, mas não conseguiram e continuam sofrendo, sendo submissas ao marido por causa do medo. Infelizmente, essa é a realidade. Não têm apoio e, por conta disso, muitas estão sendo mortas. Até quando vamos ter que aturar esses assassinatos?”



Wanderléia Oliveira, 29, trabalha há oito anos como servente em uma escola pública da Asa Sul. Feminista, a moradora do Riacho Fundo 1, luta pela igualdade de gênero.

“Como feminista, almejo que as mulheres se impunham na luta pela valorização do nosso papel. Este é o momento de nos unirmos em movimentos sociais, que envolvam o público masculino e feminino adeptos da causa. Abrir os olhos e entender que não se deve desmerecer ninguém. As mulheres são desvalorizadas em diversos ambientes, não podemos nos vestir como queremos, pois somos hostilizadas. Então, acredito que o feminismo seja o ponto da mudança. Merecemos respeito, até porque, dentro de casa, somos as coordenadoras, o braço forte da família.”
 
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Correio Braziliense sábado, 07 de março de 2020

FOLIA CAMPEÃ: BRASÍLIA, UMA CIDADE MONTADA

 

Brasília, uma cidade montada
 
 
Bloco das Montadas é eleito pela segunda vez consecutiva o melhor bloco do carnaval do Distrito Federal. Bloco do Seu Júlio foi o vice-campeão, e em terceiro lugar ficou o Concentra Mas Não Sai

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 07/03/2020 04:00

Bloco das Montadas recebe o troféu das mãos da diretora de Redação do Correio Braziliense, Ana Dubeux. Grupo também venceu a disputa em 2019 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Bloco das Montadas recebe o troféu das mãos da diretora de Redação do Correio Braziliense, Ana Dubeux. Grupo também venceu a disputa em 2019

 



A 5ª edição do #CBFolia elegeu o Bloco das Montadas como o melhor bloco de carnaval do Distrito Federal de 2020. Pelo segundo ano consecutivo, os componentes atenderam os critérios da comissão julgadora, que levou em consideração animação, estrutura, sustentabilidade e respeito ao próximo. A disputa acirrada ainda levou ao pódio, em segundo lugar, o bloco Seu Júlio, que tinha ficado com o bronze em 2019, e no terceiro lugar, o tradicional Concentra Mas Não Sai, com 20 anos de folia brasiliense. Os finalistas foram anunciados ontem, no auditório do edifício-sede do Correio Braziliense.

Com apenas três anos de existência, o Bloco das Montadas começa a misturar tradição com diversidade. A festa ocorreu no domingo de carnaval, no Setor Bancário Norte, e reuniu cerca de 60 mil pessoas, de acordo com os organizadores. Com o tema, Brasília, uma cidade montada, o bloco trouxe atrações nacionais como o Candy Bloco, uma banda carioca que transforma hits do pop em músicas de carnaval, e a Mulher Pepita, uma cantora trans muito conhecida do público LGBT.

“A gente quis brincar com o nome do bloco, com a questão da montação, já que somos todas drags, e Brasília, que também acaba sendo uma cidade montada. A decoração foi toda branca em homenagem aos monumentos da cidade, e em um determinado momento a gente pixava essa parte branca com as drags colocando cor na cidade”,  relembrou Mary Gambiarra, 30 anos, diretor artístico do bloco.

A diversidade e a inclusão também estiveram nos bastidores de criação do bloco. De acordo os organizadores, foram mais de 200 empregos diretos, além de 20 trans e drags que trabalharam como intérpretes de libra. Para Ruth Venceremos, 35, diretor-geral, o prêmio é resultado de muito trabalho para as comunidades envolvidas. “Para a gente é uma honra participar de mais uma edição desse prêmio, porque a comunidade LGBT está escanteada das políticas públicas. Então, ter esse reconhecimento de um jornal como o Correio Braziliense ajuda a dar visibilidade para a comunidade LGBT”, agradeceu.

Segundo lugar
O troféu de prata foi dado ao bloco mais tradicional de Planaltina, que neste ano, reuniu cerca de 40 mil pessoas. "Seu Júlio", presidente do bloco e quem dá o nome à folia, se emocionou ao receber o prêmio. “Fazemos um trabalho de formiguinha, ao longo de 11 anos. Em 2020, até a semana de carnaval, estava incerta a nossa saída por falta de recursos. Mas vendo minha agonia, os empresários se juntaram para ajudar e o bloco saiu. Agora, nós vamos trabalhar para ano que vem, subir mais um degrau e conquistar o primeiro lugar de melhor bloco do DF”, planejou Júlio Paixão, 59.

Neste ano, o Bloco do Seu Júlio teve um homenageado especial, o professor Mário Castro, 71, conhecido dos moradores de Planaltina como o autor da Via Sacra, historiador, grande influenciador da cultura e escritor. Para ele, foi uma honra participar do evento, que pela manhã contou com atividades para as crianças, e durante a tarde teve muita música para os adultos, sem nenhuma ocorrência policial registrada. “Eu acho que essa premiação significa que Planaltina, que é a mãe de Brasília, está sendo contemplada com uma coisa que ela esperou desde 1892, quando Luiz Cruls esteve nessa região demarcando o Distrito Federal”, ressaltou.
 
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Correio Braziliense sexta, 06 de março de 2020

GUACIRA DE OLIVEIRA - DE MÃOS DADAS COM O FEMINISMO

 

De mãos dadas com o feminismo
 
 
O Correio conta a história de Guacira de Oliveira, uma das fundadoras do Cfemea, na quarta reportagem da série Elas vão à luta. Em 30 anos de trabalho, ela se tornou referência em estudos e manifestações sobre os direitos das mulheres

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 06/03/2020 04:00

 

"O Brasil é um dos países com maior desigualdade na presença de homens e mulheres dentro do parlamento e isso retrata bastante a exclusão que acontece em outros espaços"

 

 
Da indignação contra injustiças sociais veio a sede de mudar o mundo que, desde a adolescência, move a socióloga Guacira Cesar de Oliveira, 60 anos. Uma das fundadoras do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), ela leva na bagagem um histórico de ativismo e luta pela igualdade de direitos que passam, inclusive, pelos debates que ajudaram a criar leis históricas de proteção às mulheres, como a Maria da Penha.
 
Natural do estado de São Paulo, ela se mudou para a capital federal aos 17 anos, quando prestou vestibular para a Universidade de Brasília (UnB) e foi aprovada para o curso de ciências sociais. Ali teria início o engajamento social que a acompanha até hoje. “Entrei na UnB em 1977, em um momento em que a universidade estava ocupada pela polícia. Então, já cheguei indignada e me encontrei no movimento estudantil logo de cara.”
 
Na vida universitária, teve o primeiro contato com o feminismo, após se debruçar sobre as páginas do livro O segundo gênero, de Simone de Beauvoir. “Eu vivi na pele a dificuldade de ser uma jovem mulher na luta contra a ditadura”, destaca. “Havia uma discriminação com a nossa presença. Diziam que uma mulher serve para florir a mesa, mas na hora de resolver as coisas, é conversa de homem. Essas coisas que se diz até hoje.”
 
Por meio da leitura de autoras feministas e a formação de um grupo de estudos, Guacira se aproximou do movimento. Com as companheiras, fez parte de diversas manifestações e protestos. “Lembro-me de fazermos uma vigília no terreno onde hoje está a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, porque queriam destinar aquele espaço para outra coisa. Nós queríamos a Deam, então, nos engajamos nesta causa.”
 
A socióloga, que começou trabalhando como secretária, atuou no Fórum de Mulheres do DF e Entorno, onde passou a lutar para que os direitos das mulheres estivessem garantidos na nova Constituição, que seria promulgada em 1988. Acabou convidada para ser assessora técnica na área de articulação institucional do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, em 1987.
 
Dessa posição, conheceu grupos feministas do Brasil inteiro e ampliou os horizontes. “Quando a Constituinte chegou, a gente tinha certeza de que havia princípios importantes, mas que desdobrar isso em uma legislação que, de fato, significasse uma transformação na vida das mulheres, ainda exigiria muita luta”, recorda. “Era preciso nos fortalecer frente ao Congresso.”
 
Mobilização
 
A participação na instituição, no entanto, não durou muito. Ao ver que as verbas para campanhas eram cortadas, ela e as demais conselheiras entregaram os cargos. “Nós víamos que era importante estar organizadas para juntarmos forças e seguir nessa conexão com movimentos de todo o país”, lembra. Preocupadas com a regulamentação de direitos, elas criaram o Cfemea, em julho de 1989. “Nesses anos todos, a gente foi construindo um espaço de articulação com os movimentos de mulheres e com o Congresso Nacional.”
 
Em palestras, oficinas, estudos e manifestações, Guacira, junto ao centro, desenvolveu o diálogo que permitiu o debate e a construção de diversas leis. Entre elas, a Lei Maria da Penha. “Havia um princípio constitucional que protegia a mulher contra a violência doméstica, mas não existia uma estrutura que desse base a isso”, afirma Guacira.
 
O Cfemea ajudou a elaborar o primeiro projeto do que, em 2006, se tornaria o principal guia de defesa de vítimas de agressão doméstica em todos os níveis. Outra luta foi pelo planejamento familiar. “Não havia políticas públicas que garantissem formas de contracepção. A própria laqueadura e esterilização de homens não estavam previstas na rede pública.”
 
Batalhar pela participação feminina na política foi outro passo importante. “O Brasil é um dos países com maior desigualdade na presença de homens e mulheres dentro do parlamento, e isso retrata bastante a exclusão que acontece em outros espaços”, avalia. Nas contas da socióloga, o centro esteve envolvido na discussão de ao menos 80 leis ao longo dos últimos 30 anos. “As desigualdades de gênero são algo crucial, que temos de enfrentar para construir justiça. Esse governo está justamente na contramão disso.”
 
8 de março
 
No dia Internacional da Mulher, Guacira garante que há muito para ser comemorado. “Nós transformamos a sociedade brasileira. Se algumas injustiças e desigualdades foram enfrentadas nesses 500 anos de Brasil, nós temos muito a ver com isso. Demos a cara e a coragem para isso acontecer.” Contudo, ainda muito é preciso fazer para combater o machismo. “Existe um movimento neopatriarcal que quer voltar a mulher para a submissão dos maridos. Há toda uma construção conservadora tentando ser resgatada.”
 
Na visão dela, a atual conjuntura política tem contribuído para que cenários de violência continuem crescendo. “É assustador esse machismo e misoginia que estão crescendo e sendo nutridos. Vamos lutar, porque as nossas conquistas e vidas estão ameaçadas, mas podemos resistir a essa ofensiva conservadora”, garante. A resistência, aliás, ainda deve continuar por muitos anos. A ativista descarta a possibilidade de aposentadoria tão cedo.
 
Da adolescente guerreira para hoje, poucas são as diferenças. A dedicação para lutar pelo que quer, ela atribui à mãe. Vítima das agressões do marido, ela se separou e seguiu com os irmãos caçulas de Guacira para Brasília. Vendeu bijuterias, foi camelô e, por fim, abriu um sebo de livros na Asa Norte. “A separação foi quando ela pôde dar asas a quem era, e ao desejo que tinha de ter autonomia. Minha mãe, para mim, é inspiradora.”

Para saber mais
 
Universidade Livre Feminista
Iniciada como um espaço virtual, mas hoje presencial, a Universidade Livre Feminista é um espaço de discussão e acesso a cartilhas, artigos, livros e vídeos, além de fóruns de debate e cursos on-line. Cerca de 3 mil pessoas estão inscritas e quase 5 mil acessam a plataforma diariamente. O objetivo é promover a reflexão e a troca de ideias, além de vivências e de experiências entre mulheres de diferentes identidades e campos de atuação, assim como com outros grupos e indivíduos.


Destaques
Elas estão na educação, na saúde, no esporte, na política. Não importa a área, as mulheres, há muito, deixaram para trás o estigma de cuidar do lar e dos filhos e assumiram lugar de destaque, servindo de inspiração para todos. Na série Elas vão à Luta, o Correio conta as histórias dessas pessoas de destaque no Distrito Federal.
 
 
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Correio Braziliense quinta, 05 de março de 2020

MÁRCIA ABRAHÃO - A PRIMEIRA NO COMANDO

 

A primeira no comando
 
 
A terceira matéria da série Elas vão à luta traz o perfil de Márcia Abrahão, primeira mulher eleita reitora da Universidade de Brasília. Sob a gestão dela, estão mais de 6 mil funcionários e 46 mil estudantes em quatro câmpus

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 05/03/2020 04:00

 

"É um desafio mostrar que sabemos gerir e fazemos isso bem. Ainda existe muito preconceito na universidade e na sociedade"

 

 
Da janela do prédio de concreto, Márcia Abrahão, 55 anos, conquistou o direito de trabalhar com uma das vistas mais bonitas de Brasília: a Universidade de Brasília (UnB), que se estende até o Lago Paranoá. O espaço que a acolheu desde a graduação, em geologia, é hoje escritório para a primeira mulher eleita reitora da instituição, em 2016. A agenda lotada de compromissos não a impede de apreciar o que se passa nos jardins. “Vejo os jovens estudando, namorando, passeando. É muito lindo.” Carioca, filha de militar, cresceu com o coração entre Rio e Brasília.
 
A vida na academia teve início em 1982. A escolha do curso veio por influência de uma professora. “Eu queria estudar engenharia química, mas não tinha em Brasília e meus pais não tinham condição de pagar um curso fora. Então ela me sugeriu ser geóloga e eu adorei”, declara. A formação a levou a ser aprovada em um concurso da Petrobras que a fez mudar-se para o Rio de Janeiro. Ela só deixou a empresa após se casar e decidir voltar a morar em Brasília.
 
Aqui, foi servidora do Banco Central, período em que deu início a um mestrado, seguido de doutorado, ambos pela UnB. Foi professora do Departamento de Geologia e pesquisadora pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Paralelamente, traçava o caminho da carreira administrativa. Atuou como coordenadora de Extensão, diretora do Instituto de Geociências, decana de Graduação e, finalmente, reitora.
 
A cinco meses da escolha de um novo nome, ela cogita uma reeleição. “Estamos avaliando. Ainda há muito o que fazer primeiro.” Nos últimos quatro anos, esteve à frente de uma das maiores universidades do país, onde estudam 46 mil alunos e trabalham cerca de 6 mil funcionários, entre técnicos-administrativos e professores. Na gestão, reforçou a presença delas em posição de liderança: dos oito decanos, cinco são mulheres. “É um desafio mostrar que sabemos gerir e fazemos isso bem. Ainda existe muito preconceito na universidade e na sociedade”, avalia.
 
Ela explica que buscou montar uma equipe diversificada, com nomes de câmpus diferentes, mas que a competência foi sempre o primeiro critério. “O comum sempre foram os homens em cargos de gestão, então quando uma mulher assume essa posição, isso acaba chamando a atenção.” O desafio de mostrar que é capaz nunca a intimidou. “A geologia sempre foi uma área predominantemente masculina. Hoje ainda é, imagine naquela época. Era sempre a história de que mulher não dirige em viagem de campo, não sobe o morro. Mas as pessoas acabavam respeitando ao ver a qualidade do trabalho.”
 
Família
 
O malabarismo de conciliar carreira, vida pessoal e família fez com que Márcia, por vezes, tomasse decisões difíceis. A primeira gravidez veio um ano após o casamento, quando ela já estava no mestrado. Preocupada com o efeito disso na pesquisa que desenvolvia, veio a angústia de informar ao orientador. “Ele sempre foi muito cuidadoso, mas eu estava nervosa. Quando contei, ele me deu os parabéns e deu tudo certo.” Ao final do curso, uma segunda gestação.
 
Depois, deu início a um doutorado, com a oportunidade de um semestre na França. O pós-doutorado ocorreu no Canadá. Em ambas as situações, os filhos a acompanharam. “Isso foi muito importante para eles, porque abriu as perspectivas. Recentemente, minha filha passou dois anos no Canadá”, destaca. “Sempre foi complicado (conciliar o tempo). Meus filhos cresceram vendo a mãe trabalhando e viajando muito. Mas eu procuro, na medida do possível, estar sempre com eles.”
 
Igualdade de gênero
 
Apesar de comemorar as conquistas das mulheres em cargos de liderança, Márcia afirma que ainda há muito o que avançar. “O caminho é longo. Já fizemos uma grande caminhada, é preciso reconhecer. Mulheres lutaram para chegarmos aqui, para estudarmos em universidades, para votarmos, mas falta muito”, pondera. “É inconcebível termos a quantidade de feminicídio que temos. É inconcebível esse horror na capital do país. Do mesmo modo, é ver, em muitas profissões, mulheres que ainda ganham menos do que homens que exercem as mesmas funções.”
 
Em 2019, ela recebeu, do Senado Federal, o Diploma Bertha Lutz, um prêmio em reconhecimento às mulheres que atuam na emancipação feminina. Márcia se diz humanista e refuta o rótulo de esquerdista, atribuído a ela desde a primeira campanha à reitoria, em 2012. “Eu sou filha de militar e estudei na época em que a UnB vivia a ditadura. A minha concepção de mundo se formou dessa forma, com um pai rígido e em uma universidade que questionava o reitor”, detalha.
 
Mas ela admite ter mais afinidade com concepções de centro-esquerda. “Nunca fui filiada a partidos políticos, apesar de acharem o contrário. Sou a favor da universidade pública, das cotas e dos direitos humanos. Quem quiser, que me rotule, mas eu não farei isso.”


Elas vão à luta
Elas estão na educação, saúde, esporte, política. Não importa a área, as mulheres, há muito, deixaram para trás o estigma de cuidar do lar e dos filhos e assumiram lugar de destaque, servindo de inspiração para todos. Na série Elas vão à Luta, o Correio conta algumas dessas histórias no Distrito Federal.


Carreira
Veja o passo a passo da trajetória acadêmica de Márcia Abrahão
 
1986
Graduação em geologia pela Universidade de Brasília
 
 
1993
Mestrado pela UnB
 
 
1998
Doutorado na UnB, com período sanduíche na Université d’Orleans, na França
 
 
2003 
Pós-doutorado pela Queen’s University, no Canadá
 
 
Áreas de atuação
metalogenia, hidrotermalismo, inclusões fluidas, isótopos estáveis, petrologia e mineralogia.
 
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Correio Braziliense quarta, 04 de março de 2020

TORNEIO DE ROBÓTICA: DF REPRESENTADO EM SÃO PAULO

 

TORNEIO DE ROBÓTICA
 
 
DF representado em São Paulo
 
Estudantes brasilienses chegam à capital paulista na sexta-feira para participar de campeonato nacional organizado pelo Sesi. Quatro equipes disputarão em duas modalidades

Equipes do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga vão representar o DF em campeonato nacional de robótica, em São Paulo. O Festival Sesi reunirá 1,5 mil estudantes, com idade entre 9 e 19 anos, de todo o país. Eles vão apresentar pesquisas e robôs criados com foco no desenvolvimento das cidades. Vencedores da competição vão participar de torneios internacionais., Moacir Evangelista/Sistema Fibra

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 04/03/2020 04:00

O time do Distrito Federal conta com 21 estudantes de escolas do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga (Moacir Evangelista/Sistema Fibra)  

O time do Distrito Federal conta com 21 estudantes de escolas do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga

 

 
Vinte e um estudantes das escolas do Serviço Social da Indústria (Sesi) do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga representarão o Distrito Federal no Festival Sesi de Robótica, em São Paulo, a partir da próxima sexta-feira. O grupo é dividido em quatro equipes, que competirão nas modalidades First Lego League (FLL) e F1 In Schools. O evento reunirá 1,5 mil alunos, entre 9 e 19 anos, de todo o Brasil, no Pavilhão da Bienal (leia Programe-se).

Nesta temporada, o tema trabalhado em FLL é City Shaper — modelador de cidade —,  com foco no desenvolvimento para as cidades. Cada equipe é avaliada pelo projeto de pesquisa, pelo design do robô, pela programação na execução de desafios e pelo cumprimento dos valores éticos da competição, como espírito de equipe e respeito aos times. Os grupos mais bem colocados em torneios nacionais, realizados em todo o mundo, garantem vaga nas competições internacionais promovidas pela FLL.

Esta é a sexta vez que a capital é representada no festival. Este ano, três equipes do DF — Albatroid, Bisc8 e Legofield — disputarão na modalidade FLL. A estudante Letícia Souza, 14 anos, é integrante do primeiro grupo. No ano passado, ela chegou ao Campeonato Mundial, realizado na Austrália, e levou o primeiro lugar na categoria. A expectativa é ganhar mais um prêmio. “A gente continua com a mesma garra e força de vontade. Queremos ganhar mais um prêmio para não passar em branco a nossa passagem pelo nacional. Queremos chegar lá de novo”, disse.

No campeonato de F1 In Schools, são feitos desafios envolvidos em uma corrida de carros até o fim, desde a criação da escuderia até a disputa nas pistas, reproduzindo uma equipe de Fórmula 1. Os estudantes fazem todo o gerenciamento do time, criando um plano de negócios que prevê ações de marketing, divulgação em mídias sociais e busca por patrocínios — esse último cobrirá os custos da competição, como a confecção de uniformes, a alimentação e o transporte. Eles também desenvolvem um projeto social, que pode ser usado como critério de desempate no resultado.
 
Conquista
 
O DF esteve presente em mais de 33 competições, entre nacionais e internacionais. Para a coordenadora de Robótica do Sesi no DF, Elisângela Machado, ter brasilienses representando a capital é motivo de orgulho. “É uma etapa importante, porque fortalece o projeto deles. E isso é uma conquista grande. Tem alunos que vão pela primeira vez e estão bastante ansiosos. A cada ano, eles se fortalecem mais”, afirmou.

O festival ocorre até domingo. Na sexta-feira, o evento receberá o Seminário Internacional Sesi de Educação, com transmissão ao vivo no site oficial (www.portaldaindustria.com.br/cni/eventos/seminario-internacional-sesi-de-educacao). No sábado e domingo, os participantes terão acesso a workshops e palestras sobre temas relacionados a tecnologia e robótica.


Programe-se
O quê: Festival Sesi de Robótica
 
Quando: 6 a 8 de março
 
Onde: Pavilhão da Bienal, 
em São Paulo
 
Entrada: gratuita
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Correio Braziliense terça, 03 de março de 2020

GINA VIEIRA PONTE - COM A FORÇA DA EDUCAÇÃO

 

Com a força da educação 
 
 
O Correio Braziliense começa hoje uma série de reportagens contando as histórias de mulheres que são exemplo para gerações. O primeiro perfil é o da professora Gina Vieira Ponte, idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 03/03/2020 04:00

 

"A educação não se dá só no contexto escolar. Precisamos conscientizar os homens, para que entendam que a cultura machista traz prejuízos para eles também. Eles precisam entender que essas masculinidades hegemônicas são tóxicas e destrutivas"

 

 
Nascer mulher, negra, pobre e de periferia, no início dos anos 1970, significava, para muitas, ter de trabalhar desde cedo para ajudar na renda familiar. A consequência disso era, na maioria das vezes, abandonar os estudos, casar-se. Nadar contra a corrente não era tarefa fácil, mas assim fez Gina Vieira Ponte, 48 anos, idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras. O Correio inicia hoje, com a história dessa mulher inspiradora, a série de reportagens Elas vão à luta.
 
Graças à mãe, determinada em garantir uma educação para todos os seis filhos, Gina estudou e formou-se como professora. Ir para as aulas com sapatos furados, roupas puídas e até mesmo de estômago vazio não a impediu, mas um obstáculo maior era motivo de desânimo: o racismo. “Eu esperava que a escola fosse um lugar libertador. Desde sempre, soube que me traria conhecimento, mas também foi um espaço onde eu sofreria violência, xingamentos e até o abuso de professores”, lembra.
 
Criança, ela se viu buscando a invisibilidade, para que não chamasse a atenção. No entanto, uma professora, também negra, a notou. “Ela me percebeu e estava decidida que eu aprendesse. Com ela, ressignifiquei a minha percepção de mim mesma, me reconstruí e decidi, aos 8 anos, que seria professora”, afirma. “Queria proporcionar para outras crianças a experiência transformadora que aquela mulher tinha me oferecido.”
 
Os primeiros alunos foram três irmãos mais novos. Sozinha, Gina alfabetizou todos. Aos 17 anos, concluiu o ensino médio, na Escola Normal, e prestou concurso para a rede de educação, dando início à carreira aos 19. Em 2003, viveu um baque profissional, quando começou a dar aulas na mesma escola de Ceilândia onde havia estudado, 11 anos antes. A turma de adolescentes deu as costas à professora. “Minha primeira reação foi de desespero. Depois, veio a sensação de angústia e fracasso. Sentia que não estava cumprindo o meu papel.”
 
Em lugar de lamentar, no entanto, Gina buscou especializar-se, estudando na Universidade de Brasília (UnB), e percebeu que era hora de questionar a própria instituição. Ela passou a ouvir os alunos e a entender o universo deles. “Entrei nas redes sociais como ferramenta pedagógica para conversar com eles, saber o que acessavam e do que gostavam.”
 
A estratégia ajudou, mas fez com que, um dia, a professora se deparasse com o vídeo de uma aluna negra, de 13 anos, que a chocou. “Ela dançava uma música erótica, usando uma roupa que expunha o corpo. A letra era profundamente desqualificadora às mulheres”, detalha. “Aquilo me incomodou, porque as imagens poderiam fazer com que ela fosse interpelada por um pedófilo. Mas eu sabia que, se fosse conversar com ela, poderia ser censurada. Fui tentar entender melhor e vi que a sociedade apresenta aos jovens, modelos de mulheres padrão, sempre objetificadas.”
 
Esse foi o pontapé para que, em 2014, nascesse o projeto Mulheres Inspiradoras (leia Para saber mais). “Não se via falar em pesquisadoras, cientistas, estudiosas. Eram sempre corpos reduzidos para o consumo”, critica. “Selecionei 10 biografias diferentes para, nessa perspectiva, dizer que todas nós podemos ser protagonistas das nossas histórias e deixar de lado a representação hegemônica que só celebra o corpo magro e branco a serviço dos interesses do patriarcado.”
 
Feminismo
 
“O feminismo clássico, acadêmico, resultado de pesquisas teóricas, chegou muito tarde para mim”, assume Gina. Nem por isso, deixou de vir, mas de outra forma. Primeiro, na prática, por meio de dona Djanira. “Minha mãe me fez acreditar que a educação era o caminho para a minha liberdade como menina e como mulher.” À matriarca, Gina atribui o título de mulher mais inspiradora da vida. “O projeto é uma grande declaração de amor pela mulher extraordinária que ela foi e pelo que fez para que eu pudesse ter a trajetória que tive. É uma grande homenagem a ela.”
 
Defensora da igualdade de gênero, a professora acredita que houve avanços no tema, embora poucos. “Devemos ser muito gratos ao movimento de mulheres. Se hoje a gente tem apontamentos para que os sistemas sejam trabalhados, isso se dá graças à pressão dos movimentos sociais”, ressalta. “Mas se a gente olhar para a quantidade de mulheres que ainda sofrem violência, para mim, isso é um indicador de que estamos muito atrasados.”
 
Ela destaca a importância de orientação não só para vítimas, mas para agressores também. “A educação não se dá só no contexto escolar. Precisamos conscientizar os homens, para que entendam que a cultura machista traz prejuízos para eles também. Eles precisam entender que essas masculinidades hegemônicas são tóxicas e destrutivas”, declara Gina, que acredita que não há o que se comemorar. “Na atual conjuntura política, menos ainda. Hoje, enxergo muito retrocesso.”
 
A luta continua
 
Para o futuro, uma coisa é certa: o trabalho segue. O objetivo de Gina é agregar cada vez mais professores ao Mulheres Inspiradoras, que hoje está também presente em Campo Grande. “Já é mais do que um projeto. É uma concepção de mundo que eu quero que chegue a todas as pessoas, dizendo que nenhuma mulher e menina pode ser violada. É lutar por um mundo mais justo para todos nós.”
 
Enquanto isso, o trabalho é acompanhado de perto por um jovem menino, que, aos 9 anos, já aprende os conceitos de igualdade. Luís Guilherme, filho de Gina, é o maior presente. “Ele acompanha tudo. Quis a vida que eu tivesse um menino e está sendo desafiador. O projeto nasceu depois dele, não por acaso. Ele me fez olhar para o mundo de outra maneira e pensar no que meu filho vai encontrar e como posso colaborar para que seja mais justo, digno e bonito.”


Para saber mais

Inspiração para a vida
O projeto, iniciado em 2014, leva para a sala de aula, histórias de mulheres que fizeram história. Os alunos descobrem as biografias de personalidades como Cora Coralina, leem livros como Eu sou Malala e O diário de Anne Frank. Além disso, escolhem, no fim, uma mulher inspiradora da vida deles. O trabalho está em 41 escolas do DF, e já chegou também a Campo Grande.
 
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Correio Braziliense segunda, 02 de março de 2020

TODO APOIO À FRUTICULTURA

 

Todo apoio à fruticultura
 
Com uma produção diversificada e grande mercado consumidor, Brasília pode se tornar um polo produtor do setor

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 02/03/2020 04:00

Reinaldo Romeiro tem o cultivo de uva como principal fonte de renda da família (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Reinaldo Romeiro tem o cultivo de uva como principal fonte de renda da família

 

Goiaba, uva, maracujá, limão. É difícil relacionar todas as frutas produzidas no Distrito Federal. Em uma região dominada pela produção de grãos e em que o mercado consumidor de fruta gera muita demanda, a fruticultura tem ganhado destaque. Para especialistas, a unidade da Federação tem grande potencial para se tornar um polo produtor do setor. Em busca de fomentar o cultivo, o projeto Rota de Fruticultura, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e parceiros, como a Superintendência Federal de Agricultura, está prestes a ser implantado.

Segundo a pesquisa Vigitel, de 2018, do Ministério da Saúde, 38,8% dos adultos brasilienses consomem fruta regularmente e 27,5% consomem o alimento mais de cinco vezes na semana. Pensando nesse mercado, o agricultor Reinaldo Romeiro, 67 anos, apostou na produção de uva em Brazlândia. “Senti que tinha muita demanda e pouca gente produzindo. Quando eu plantei, em 2014, só havia um produtor de uva em Planaltina. Então, comecei a pesquisar”, conta. Para começar a plantação da fruta, Reinaldo buscou ajuda em Goiás, mas só teve resultados com a orientação de um especialista de São Paulo. “Encontrei um profissional da Embrapa. Ele veio para Brasília me dar assistência e até hoje me ajuda”, relata.

Além do especialista, Reinaldo passou a contar com  o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). A plantação não só deu certo, como hoje é a principal fonte de renda do agricultor. “Quando colhi as primeiras uvas, fiquei até assustado. Na primeira vez, colhemos em torno de 10 toneladas”, lembra. A plantação cresceu e Reinaldo já chegou a colher 30 toneladas em um ano, a mesma quantidade que o produtor espera para 2020.
 
Outras opções
Se na propriedade de Reinaldo as uvas dominam a plantação, a poucos quilômetros dali, a goiaba e o abacate são os destaques do agricultor Yukio Yamagata, 66. Ao todo, são cerca de 35 hectares dedicados aos cultivos. “Eu comecei na agricultura plantando hortaliça, mas faltava muita água e acabei indo para a fruticultura. Estou nessa área há cerca de 30 anos”, destaca Yukio.

Hoje, ele tem dois pontos de venda: na Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) e na Feira do Produtor. A produção de fruta também gera renda para outras famílias. Seu Yukio emprega 15 funcionários. Para ele, a fruticultura é muito rentável, porém difícil de começar. “Exige um certo capital. Muita gente quer mudar, mas não consegue. A fruta é algo que demora a retornar. A goiaba mesmo demorou uns cinco anos para começar a produzir bem”, comenta.
 
Incentivo
São produções como as de Yukio e Reinaldo que a Rota da Fruticultura pretende fomentar, além de motivar outros agricultores a produzirem frutas no Distrito Federal e no Entorno. A ideia é fazer isso por meio de formação, investimentos e apoio.
“Um dos maiores mercados consumidores do Brasil está em Brasília. Hoje, grande parte das frutas vêm de fora. A nossa produção é muito pequena perto do consumo”, ressalta o superintendente federal de Agricultura do DF, William Barbosa. “Um pequeno produtor consegue ter uma renda bem superior a outras atividades. Em média, a receita de um hectare de fruta corresponde a 30 hectares de soja”, observa.
O primeiro passo da rota será fazer um diagnóstico para conhecer a cadeia produtiva, desde o cultivo até a comercialização. Assim, será possível identificar as demandas e definir as prioridades. “Vamos organizar oficinas, distribuir material de divulgação, levantar todo o diagnóstico do Distrito Federal e da Ride (Rede Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno), além de chamar os bancos, empresas de crédito, instituições de pesquisa e assistência técnica”, cita William.

A primeira oficina deve ocorrer em Brazlândia, em abril, segundo o superintendente. “Depois disso, vamos iniciar a capacitação dos técnicos, principalmente da Emater e do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar). Será um curso modular, em que vamos capacitar os profissionais em mais de 10 culturas”, detalha.

O extensionista Felipe Cardoso, da Emater do DF acredita que a iniciativa vai ajudar os produtores a se desenvolverem juntos. “É um arranjo produtivo local. Todo mundo vai se desenvolver, e isso traz investimento público e privado. Os produtores começam a enxergar o mercado”, analisa.
 
Novos cultivos
Atualmente, mais de 1,4 mil hectares são destinados à fruticultura no Distrito Federal, segundo a Emater. Algumas culturas já são fortes na região, como a goiaba e o maracujá, enquanto outras estão em desenvolvimento. “Temos as frutas de clima temperado — maçã, pera, uva — que é algo bem inicial. São frutas que não são caracteristicamente daqui do cerrado, mas, se escolher a variedade correta e adaptada para a nossa região, é completamente possível produzir”, destaca Felipe Cardoso.

Ronaldo Triacca, 54, é um dos produtores que resolveram investir na cultura de uva. Como é descendente de família italiana, a produção, iniciada em 2018, tem como finalidade a comercialização de vinho. “Era um sonho, e o clima de Brasília ajudou. Para fazer um bom vinho, a uva precisa de uma boa amplitude térmica e de altitude. Aqui, nós temos esses dois fatores”, comemora o agricultor da região do PAD-DF.
Para a produção do vinho, Ronaldo se reuniu com outros oito agricultores e, juntos, viabilizaram a vinícola. A expectativa é de que as atividades da rota possam ajudar mais profissionais rurais a se organizarem. “Esse projeto pode dar um grande suporte na comercialização. Isso pode nos ajudar a encontrar ferramentas e novos caminhos para a venda de um produto com qualidade”, ressalta.
 
Variedade
 
Confira algumas produções que têm ganhado destaque no DF
Goiaba - Brazlândia
Maracujá - Núcleo Rural Pipiripau
Banana - Sobradinho
Uva para vinho - PAD-DF
Uva para mesa - Planaltina
Abacate - Planaltina
Maçã - Lago Oeste
Limão e graviola - Gama
 
 
Fonte: Felipe Cardoso, extensionista da Emater-DF 
 
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Correio Braziliense domingo, 01 de março de 2020

NEY MATOGROSSO: EU QUERO BOTAR MEU BLOCO NA RUA

 

Eu quero botar meu bloco na rua
 
Em entrevista exclusiva ao Correio, Ney Matogrosso fala sobre a escolha do repertório do novo álbum e promete cair na estrada a partir de março

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 01/03/2020 04:00

 
Um ano depois de botar o pé na estrada com o show Bloco na rua, Ney Matogrosso chega ao mercado com o álbum duplo homônimo, gravado no Teatro Bradesco, no Rio de Janeiro. Lançando anteriormente nas plataformas digitais, este novo projeto do cantor, com mais de quatro décadas de carreira, reúne canções de Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Raul Seixas, Rita Lee, Itamar Assumpção, Herbert Vianna, Secos & Molhados e do piauiense-brasiliense Clodo Ferreira.
 
Ney idealizou Bloco na Rua em 2017, quando percorria o país com, Atento aos sinais, seu espetáculo com mais tempo em cartaz — cinco anos. Ao Correio, revelou que tudo teve origem com Eu quero é botar meu bloco na rua, marcha-rancho do compositor capixaba Sérgio Sampaio, que sempre quis cantar. “Criei vários repertórios e em todos essa música estava presente”.
 
O cantor tem no projeto a companhia da banda formada por Sacha Ambach (teclado e direção musical), Marcos Suzano e Felipe Rosena (percussão), Maurício Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone) e o brasiliense Dunga (baixo). O figurino foi criado sob medida pelo estilista cerense Lino Villaventura. Luiz Stein assina o cenário; enquanto Juarez Farinou dirigiu a iluminação, tudo com supervisão de Ney.
 
Bloco na rua, antes do registro, arrebatou plateias de todas as regiões do país e também de Portugal, em quase 60 apresentações. Só em Brasília — onde iniciou a trajetória artística, no fim da década de 1960 — Ney esteve três vezes e espera voltar em 2020. A excursão que será retomada em São Paulo, em março, leva Ney também à Europa e aos Estados Unidos, em julho.
 
 
 (Rita Vicente/Divulgação)  
 
 
A exemplo do Beijo bandido e Atento aos sinais, lançados em 2011 e 2014, respectivamente, você ficou quase um ano em cartaz com o Bloco na rua, antes de fazer o registro ao vivo. Esse critério tem a ver com a maturação do show?
A ideia é esta. Ao longo de 10 meses apresentei o show pelo país e na Europa. Busquei sentir a resposta do público. Quando achei que estava pronto, e bem ao meu gosto, entrei no Teatro Bradesco, aqui no Rio de Janeiro, em outubro de 2019, e gravei ao vivo o CD e o DVD. O disco foi lançado inicialmente nas plataformas digitais e agora no formato físico.
 
 
O DVD sai quando?
Acredito que em março, após passar pelo processo burocrático, que antecede o lançamento.
 
 
Por que a opção de gravar ao vivo sem a presença de plateia?
Desta vez quis dar um tratamento diferenciado. Em vez de uma simples reprodução do show, foi feito um filme do Bloco na rua, sob a direção do Felipe Nepomuceno, que vem trabalhando comigo há algum tempo. Conseguimos takes superdiferentes, com imagens cinematográficas.
 
 
Com o Atento aos sinais, você ficou cinco anos em cartaz. Que estimativa faz em relação ao Bloco na Rua?
Estou em turnê desde janeiro do ano passado. Fiz 56 apresentações em 2019. Parei para as gravações e agora para o lançamento do álbum. Estive em todas as regiões do país e, em algumas cidades, fui mais de uma vez. Em São Paulo foram seis vezes, e aqui no Rio, cinco. Em Brasília fiz três shows, dois no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e outro num festival. Fui mais de uma vez também a Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba.
 
 
A turnê será retomada quando?
Volto a botar o pé na estrada logo, pois retorno a São Paulo para apresentações nos dias 6 e 7 de março. Há compromissos na agenda até junho.
 
 
E no segundo semestre?
Em julho volto à Europa e faço o show em Lisboa, Paris, Amsterdã e vou pela primeira vez a Berlim. Em seguida me apresento em Nova York.
 
 
Imagino que vê o espetáculo como um todo. Mas se tivesse que apontar momentos mais impactantes, quais seriam eles?
Eu diria que o show caiu no gosto das pessoas desde a estreia no Vivo Rio, aqui no Rio de Janeiro. O público reage calorosamente desde a abertura, quando canto Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio. Essa música, aliás, estava presente em todos os roteiros que criei, até chegar o que foi para o palco. Por motivos diversos, canções como Pavão mysterioso (Ednardo), A maçã (Rul Seixas e Paulo Coelho), Yolanda (versão de Chico Buarque, do cubano Pablo Milanés), Coração civil (Milton Nascimento e Fernando Brant) e Sangue latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça) são recebidas com muito entusiasmo. Há boa acolhida também para Inominável, a única inédita do repertório, do compositor paulistano Dan Nakagawa.
 
 
Você canta ainda a Ponta do lápis, do piauiense-brasiliense Cloro Ferreira e do cearense Rodger Rogério. Por que a escolha?
Esta música que pincei de um compacto duplo que gravei com Fagner, lançado ainda no começo da minha carreira solo; assim como Postal do amor (Fagner, Fausto Nilo e Ricardo Bezerra). Ao criar o roteiro, lembrei que eu nunca havia cantado as duas em show, e decidi incluí-las; assim como Bolero filosófico, composta pelo DJ Dolores, da trilha original do filme Tatuagem, do diretor pernambucano Hilton Lacerda.
 
 
Lançar um produto cultural nos tempos de agora é temerário? 
Até poderia ser, mas insisto em cantar, fazer, show, gravar discos, mesmo tendo consciência de que a cultura vive um período de grande incerteza no país, com perseguição e censura a obras de arte. Mesmo assim ela se mantém rica e forte. A cultura, que leva as pessoas a raciocinar e refletir, é vida.
 
 
 (Macos Hermes/Divulgação)  
 
Bloco na Rua
Álbum duplo show de Ney Matogrosso com 10 músicas cada, gravado ao vivo. Lançamento da Matogrosso Produções/ Som Livre. Preço sugerido: R$ 49.
 
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Correio Braziliense sábado, 29 de fevereiro de 2020

VILA PLANALTO: HERANÇA DO CANTEIRO DE OBRAS

 

Vila Planalto: herança do canteiro de obras
 
Localizada a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, a região guarda edificações históricas da época da construção de Brasília. Memória é resgatada em mais uma matéria da série Brasília sexagenária

 

» CAROLINE CINTRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/02/2020 04:00

Por muitos anos, as edificações de madeira  
Por muitos anos, as edificações de madeira "rivalizaram" com os prédios públicos da Esplanada dos Ministérios: atualmente, a maioria dos imóveis da Vila Planalto é de alvenaria


 (Givaldo Barbosa/CB/D.A Press - 24/4/83 )  
 
Enquanto a nova capital do Brasil tomava forma, uma cidade surgia a poucos metros da Esplanada dos Ministérios. Os primeiros barracões foram erguidos em 1956, com a instalação dos acampamentos das construtoras Pacheco Fernandes e Rabelo, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde se encontra a Vila Planalto. As casas de alvenaria ganharam espaço, mas há aquelas que lutam contra o tempo e mantêm as características originais. Em meio ao perímetro tombado pelo Iphan, a Vila Planalto guarda construções de mais de 60 anos e muitas memórias.
 
As casas eram construídas de forma simples, pois deveriam ser derrubadas depois da inauguração de Brasília. “Foram inúmeros acampamentos levantados à época da construção e alguns, no projeto, acabaram ficando dentro do Lago Paranoá. Por sorte, a Vila Planalto não foi um deles, talvez por ter uma mobilização dos moradores e por ter funcionários do alto escalão morando lá”, detalha Frederico de Holanda, professor emérito de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). O especialista destaca que as construções de madeira trazem características da arquitetura moderna clássica brasileira. “São volumes trapezoidais, muito limpos e simples”, descreve. 
 
A chef de cozinha Helena Maria Alves, 64 anos, mora em um dos poucos imóveis com características originais. A goiana chegou a Brasília com os quatro filhos em 1985, quando passou a morar na residência. “Na época em que o povo estava derrubando as casas de madeira, a gente nem tinha condições financeiras para construir uma de alvenaria. Com o tempo, fomos aprendendo a amar a casa da forma como ela é”, conta.
 
A estrutura fica no acampamento EBE e servia de abrigo para os engenheiros da construção. As vizinhas, que antigamente eram iguais à de Helena, não existem mais. Elas foram derrubadas e erguidas com outros materiais. “Seria muito bom se mais gente mantivesse a casa de madeira. Eu sou apaixonada por ela. Para mim, isso é um tesouro”, admite.


Para Tia Zélia, famosa cozinheira da Vila Planalto, a Igrejinha reforça a importância da região para a capital   (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Para Tia Zélia, famosa cozinheira da Vila Planalto, a Igrejinha reforça a importância da região para a capital

 



A chef Helena Maria mora com a família em uma das casas de madeira que restaram:  

A chef Helena Maria mora com a família em uma das casas de madeira que restaram: "Eu sou apaixonada"

 



 
Igreja pioneira
 
Erguida em 1959, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, também conhecida como Igrejinha da Vila Planalto, é outra construção antiga da região. Ela é considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e foi uma das obras iniciais realizadas pelos pioneiros dos acampamentos que deram origem à Vila Planalto. A capela chegou a sediar a Catedral Metropolitana de Brasília até 1970, ano da inauguração da matriz, na Esplanada dos Ministérios.
 
A igreja foi construída inteiramente de madeira, tem nave única e campanário no canto da fachada. É um dos principais pontos turísticos da cidade. A cozinheira Maria de Jesus Oliveira da Costa, 66, a Tia Zélia, mora na Vila desde 1966 e vai, pelo menos, duas vezes por semana ao templo. “É um lugar onde nos sentimos em casa. Aconchegante. Quem chega à cidade, dá de cara com a igreja. Um lugar lindo, que transmite paz”, declarou.
 
Hoje, quem passa em frente à igreja e não conhece a história da Vila Planalto nem imagina que, há 20 anos, um incidente quase acabou com o monumento histórico. Um incêndio o destruiu (leia Para saber mais). Ao lembrar da cena, Tia Zélia se emociona. “Foi triste e muito doído. Um sentimento de perda mesmo. Ver aquela imagem, tudo se acabando em fogo, os bombeiros tentando apagar. Só não chorei, porque não sou de chorar, mas a sensação foi horrível”, relembra. A reinauguração da igrejinha ocorreu em 2007, com as mesmas características do projeto original.


Para saber mais

 (Tadashi Nakagami/CB/D.A Press - 6/11/78 )  


Incêndio na Igrejinha
Na madrugada de 5 de março de 2000, por volta da 1h45, um incêndio destruiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas, quando chegou, não era mais possível conter as chamas. Dias depois, foi instaurado um inquérito para apurar o caso, na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). À época, havia denúncias de que o incêndio teria sido criminoso. Resquícios de gasolina foram encontrados próximo ao local, reforçando as suspeitas. No entanto, sem conclusão, o inquérito foi arquivado no ano seguinte.


Memória
Massacre da Pacheco Fernandes

O episódio conhecido como o Massacre da Pacheco Fernandes gera dúvidas até hoje. Em 1959, houve uma confusão no canteiro da construtora, onde hoje fica a Vila Planalto. Alguns informam apenas uma morte, enquanto supostas testemunhas denunciam um massacre. O inquérito policial aponta que 27 soldados da antiga Guarda Especial de Brasília (GEB) atiraram contra os operários, após uma revolta. Oficialmente, a ação teria deixado um morto e alguns feridos.
 
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Correio Braziliense sexta, 28 de fevereiro de 2020

W3: AVENIDA DE BOAS LEMBRANÇAS

 

Avenida de boas lembranças

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 28/02/2020 04:00

A W3 era agitada e também foi palco de vários carnavais: a cidade parava para assistir aos desfiles das escolas de samba (Arquivo CB/D.A Press)  

A W3 era agitada e também foi palco de vários carnavais: a cidade parava para assistir aos desfiles das escolas de samba

 


 (Arquivo CB/D.A Press)  

 (Arquivo/CB/D.A Press - 12/02/75 )  

 (Arquivo/CB/D.A Press - 19/2/77)  

 (Arquivo/CB/D.A Press)  


A avenida preserva um pouco da identidade dos tempos em que era o principal polo comercial da capital (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A avenida preserva um pouco da identidade dos tempos em que era o principal polo comercial da capital

 



Caminhar pela W3 Sul resgata a memória afetiva de quem vive Brasília há mais tempo. Hoje, o cenário é preocupante e deixa saudades. O movimento da avenida resume-se ao horário comercial das lojas que ainda sobrevivem ali. Aos fins de semana, sobram calçadas vazias e vagas de estacionamento. À noite, as quadras permanecem desertas e silenciosas. Imagens muito diferentes das que se via há 30 anos. Até os anos 1980, ali pulsava o coração da capital federal.
 
Nem todos sabem, mas a rua foi palco de carnavais e manifestações. Em julho de 1971, até Pelé desfilou em carro aberto por lá. No mesmo ano, Brasília parou para ver a carreata de candidatas ao Miss Brasília, sentadas nos capôs de automóveis, acompanhadas de batedores da Polícia Militar.
 
Hoje, no entanto, a decadência da via prejudica os negócios, como afirma o empresário Hely Walter Couto, 94 anos, dono da Pioneira da Borracha. O mineiro inaugurou o estabelecimento há 60 anos, segunda loja da rede. A primeira funcionava um ano antes, na Cidade Livre, antigo nome do Núcleo Bandeirante. Ele conta que veio a Brasília a convite de um amigo.
 
Aqui, começou a trabalhar e crescer o empreendimento. “No início, essa era a única avenida que existia. O resto estava construindo. Ficou uma rua cheia de loja bonita e movimentada. Carnavais e todas as festas aconteciam aqui”, descreve. “Juscelino Kubitschek vinha muitas vezes para visitar. Ele descia do carro e abraçava o pessoal que estivesse passando por perto.”
 
Para Hely, hoje o abandono é claro. “Fiquei aqui porque os prédios em que estou fui eu que construí. São meus, então não pago aluguel. Os outros tinham de pagar, não conseguiam mais arcar com os custos dos funcionários e se foram.” Decepcionado, ele lamenta a falta de consumidores. “Os negócios estão péssimos. As praças estão abandonadas. Se revitalizassem, aqui poderia ser ponto de encontro para dar nova vida à W3.”


Erivaldo Macena:  

Erivaldo Macena: "A W3 era como um shopping. Aos sábados, as pessoas vinham só para passear aqui. Era um ponto de encontro"

 



Simon Pitel com a filha Ângela: o empresário atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela fiel (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Simon Pitel com a filha Ângela: o empresário atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela fiel

 



Hely Walter Couto:  

Hely Walter Couto: "No início, essa era a única avenida que existia. O resto estava construindo. Ficou uma rua cheia de loja bonita e movimentada"

 



 
Point da cidade
 
Comerciantes sobreviventes dos tempos áureos guardam as memórias com carinho. É o caso do empresário Erivaldo Macena de Abreu, 52 anos. A loja de aluguel de roupas que um dia recebeu ministros, deputados e senadores, hoje não atrai tanto movimento. O estabelecimento foi inaugurado em 1962, na quadra 509, com o nome Kassabian, primeira do ramo no DF. Apenas em 1985, Erivaldo começou a trabalhar ali. “Na época, tinha 17 anos e cuidava da limpeza. Fui crescendo, passei a ser gerente e acabei comprando do dono”, declara.
 
Nostálgico, ele recorda da avenida sempre lotada. “A W3 era como um shopping. Aos sábados, as pessoas vinham só para passear aqui. Era um ponto de encontro. Tomavam sorvete, e compravam. Esse era o point. A gente pegou a época de ouro.” Durante o mandato presidencial de José Sarney, Erivaldo chegou a atendê-lo. “Sou de criação humilde, sempre tratei como igual. Hoje penso que deveria ter feito fotos com eles (as autoridades). Era tanta gente que não caberia em uma parede”, brinca.
 
Erivaldo manteve o nome original até 2015, quando o lugar passou a se chamar Sonho Real. Ele explica que a clientela fiel ajudou o lugar a se manter funcionando. “Atendi o cara que casou, depois o filho dele, e hoje recebo o neto”, afirma. “Mas, para sobreviver, tivemos que pensar em alternativas e passamos a oferecer consertos. Se fosse só de aluguel, não bastaria.” Hoje, ele lamenta o descaso com o lugar. “Os estacionamentos são no meio da rua, as calçadas não estão niveladas. Falta manutenção na quadra. Além disso, com os shoppings, as pessoas preferem fazer tudo por lá.”
 
Quem viu bem o tempo passar pela rua é o empresário Simon Pitel, 83 anos, dono do restaurante Roma. Em 1964, o belga comprou o estabelecimento de um italiano que já não tinha mais interesse no comércio. “Eu nunca tinha trabalhado em restaurante. Não entendia nada. Os seis primeiros meses foram difíceis, mas depois de um tempo fui aprendendo e estou assim até hoje. Tem dado certo”, declara.
 
Ele conta que nas diversas mesas, serviu senadores, embaixadores e deputados. A classe artística também degusta do menu até hoje. “Eles terminavam seus shows e vinham para cá. Lembro-me do Cauby Peixoto, Ângela Maria, e Moacyr Franco. Mas não tirei foto com eles. Nunca prestigiei cliente famoso, porque no final a nota de R$ 50 é a mesma para todo mundo.”
 
Simon atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela.  “Não está mais tão bom. Nem abrimos mais o salão no andar de cima”, lamenta. A tradição, no entanto, deve permanecer colorindo a W3. A filha de Simon, Ângela Pitel, 37 anos, está à frente dos negócios junto ao pai e promete seguir com o Roma. “No que depender de mim, vamos ter até filiais”, declara. Ela cresceu no restaurante. “Eu falo que esse é o meu irmão mais velho.”


Memória

 (Arquivo CB/CB/Reprodução/D.A Press)  


O Correio presente
Em 1968, a então repórter do Correio Maria Valdira traçou um perfil da via mais famosa de Brasília. Na reportagem ela destaca a ebulição do local. “Com a transferência definitiva da capital, as atividades comerciais, bancárias, etc. transferiram-se do Núcleo Bandeirante para a Avenida W3, que passou a constituir o coração comercial da cidade.” Na matéria intitulada “Uma rua chamada W-3”, a jornalista ressalta que se especulava sobre o futuro, quando, após a construção do Setor Comercial Sul, a avenida passaria a ser como qualquer outra. “Entretanto, essa ideia não tem aceitação no meio do brasiliense, que já se acostumou com a estrutura rebelde da sua W3.”


Obras de revitalização
Em janeiro deste ano, o GDF concluiu as obras de revitalização das quadras 511 e 512. Lá, calçadas foram refeitas e pisos táteis instalados. A iluminação da rua agora é feita com luzes de LED. O investimento foi de R$ 1,8 milhão. A próxima etapa,consiste na revitalização das quadras 509/510 e 513/514 da Asa Sul. A previsão é de que as obras comecem no primeiro trimestre deste ano. A Secretaria de Obras afirmou que está em desenvolvimento os projetos das demais quadras da W3 Sul e de toda a W3 Norte.
 
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Correio Braziliense quinta, 27 de fevereiro de 2020

FESTIVAL CORAÇÃO CANDANGO

 

Somos todos candangos
 
Festival Coração Candango faz uma homenagem a quem construiu e ainda constrói Brasília nos últimos 60 anos

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 27/02/2020 04:00

Martinha do Coco:  

Martinha do Coco: "Aqui me reinventei na minha essência do viver"

 

 
 
Prestes a completar 60 anos, Brasília é uma cidade que se define pela síntese. No Planalto Central, sotaques de diferentes cantos do país vieram construir a capital do país. Na mala, trouxeram ritmos, gastronomia, modos de ser, de fazer, de viver. Estabeleceram-se candangos que deram origem aos brasilienses. Para homenagear quem construiu e ainda constrói a cidade nos últimos 60 anos, nasce o projeto Coração Candango.
 
Estabelecido no Setor Comercial Sul, lugar de encontro de pessoas com as mais diversas características, o evento, que começa hoje, traz manifestações populares, cores, sons, cheiros, artesanato e dança que pulsam no DF. “A ideia é resgatar a influência dos estados do Nordeste na formação de Brasília, na forma de ser do DF. E também as pessoas trazerem as pessoas que até hoje constroem a nossa cidade, pessoas que estão à margem. Muita gente anônima foi fundamental para isso existir. Todos somos candangos e candangas até hoje. Não é importação cultural, são várias influências, é esse choque, essa mistura”, explica o idealizador do projeto, Raphael Sebba.
 
Na primeira edição, integram a programação do Coração Candango Pitoco de Bambu, Charretinha do Forró, Choro Delas, As Fulô do Cerrado, Bando Matilha de Capoeira, Filhos de Dona Maria, Bloco Dona Imperatriz convida Thabata Lorena, Dona Martinha do Coco e 7 na roda. “Procuramos fazer uma curadoria que fosse diversificada do ponto de vista das influências estaduais, do ponto de vista etário e histórico. Temos de Dona Martinha do Coco até as meninas As Fulô do Cerrado. Tem o resgate da cultura popular e tem o processo de renovação e revisão de todas as influências. Queremos preservar essa diversidade, que é o maior símbolo do DF e da cultura candanga”, comenta.
 
Além das atrações musicais, o festival promove oficinas e uma feira criativa com comidas típicas e produtos artesanais. “É cultura no sentido antropológico, o modo de ser, a forma de ver o mundo. Isso não se resume às artes, envolve economia criativa, gastronomia, artesanato, todas as dimensões”, avalia Sebba. Ele também pontua que a ambientação do Coração Candango foi pensada para promover uma experiência ao público, uma forma de trazer elementos nordestinos.
 
O fascínio pela cultura popular nordestina conquistou as amigas e artistas da banda As Fulô do Cerrado (Davi Mello/Divulgação)  

O fascínio pela cultura popular nordestina conquistou as amigas e artistas da banda As Fulô do Cerrado

 

 
Reinvenção
 
Mestra Martinha do Coco é uma das principais referências em cultura popular no DF. Também é um sinônimo do ser candango. Vinda de Olinda, em Pernambuco, ela chegou à capital com 17 anos. Martinha é moradora do Paranoá há 30 anos e teve a oportunidade de iniciar a carreira artística cantando samba de coco no grupo de percussão da Organização Tambores do Paranoá — Tamnoá.“Todo mundo se reinventou dentro dessa cidade. É a força do nordestino e de pessoas de outros lugares. A importância do entorno que fortalece”, comenta a artista.
 
Com o samba de coco, Martinha canta e conta as histórias da cidade mística, como descreve Brasília. A mestra se orgulha em ver o amor com que os fazedores de cultura e os aprendizes contribuem para a cultura popular dentro de Brasília. “Aqui me reinventei na minha essência do viver. O conhecer pessoas, os monumentos, outras falas, as misturas. Aprender e respeitar tudo isso é o que faz a cidade.”
 
Planejado há alguns anos, o Coração Candango é uma forma de materializar e concretizar a identidade do Distrito Federal, principalmente em ano de festa. “Para mim, o DF é o símbolo do Brasil. Pode parecer uma fala forte, mas não é menosprezando outros símbolos, é que aqui é a síntese de tudo, dos quatro cantos do país. E as manifestações culturais aqui acontecem com muita qualidade. O projeto é para valorizar a nossa diversidade e dar visibilidade para as manifestações invisibiwlizadas, que são pouco comentadas, da classe trabalhadora, que faz a cidade existir e acontecer”, pontua Sebba.
 
 
 
Programação 
 
Hoje, a partir das 17h
Pitoco de Bambu: Choro Delas: Martinha do Coco: 7 na Roda: + Djs
 
Amanhã, a partir das 17h
As Fulô do Cerrado: Charretinha do Forró: Filhos de Dona Maria: Thabata Lorena Bloco Dona Imperatriz: Djs
 
Oficinas
 
Oficina: Vivência de Contação de Histórias e Comicidade com Cecília Borges: Dia: 7 de março: Horário: 10h: Local: Feira Ponta Norte na SQN 216
 
 
Oficina: Do Rap, Poesia e Slam com Meimei Bastos
Dia: 7 de março: Horário: 14h30: Local: Casa da Cultura da América Latina (CAL) no Setor Comercial Sul
 
 
Oficina: Introdução ao Pífano com Pitoco de Bambu
Dia: 7 de março: Horário: 17h: Local: Casa da Cultura da América Latina (CAL) no Setor Comercial Sul
 
 
Coração Candango
No Corredor Central do Setor Comercial Sul. Hoje e amanhã. Não recomendado para menores de 16 anos. Entrada Franca
 
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Correio Braziliense quarta, 26 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: ABRAM ALAS PARA O PACOTÃO
 
Abram alas para o Pacotão
 
Um dos blocos mais tradicionais de Brasília saiu ontem às ruas arrastando multidão a partir da comercial da 302/303 Norte. Entre protestos debochados e cheios de irreverência, as gêmeas Mel e Lis fizeram a estreia no carnaval brasiliense

 

IRLAM ROCHA LIMA
BRUNA LIMA

Publicação: 26/02/2020 04:00

 

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)

 

 
Eram 16h25 de ontem quando a irreverência do Pacotão se espalhou pela Avenida W3 Norte. Iniciava ali, à altura da 502, o desfile do mais tradicional e anárquico bloco carnavalesco de Brasília, arrastando um número expressivo de foliões, que chamavam a atenção, entre outras coisas, pela diversidade das fantasias. Mas, isso, na realidade, era o que menos importava, pois a proposta básica do bloco — desde a fundação, em 1978 — é protestar de forma debochada contra os detentores do poder. Notoriamente de tendência esquerdista, o grupo tomou como primeiros alvos os mandatários do regime ditatorial Ernesto Geisel e João Figueiredo. Os que os sucederam, Fernando Collor, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer não passaram incólumes. Lula e Dilma, porém, não foram importunados.
 
No desfile de ontem, comemorativo dos 42 anos de existência do bloco, integrantes da Sociedade Armorial Patafísica empunhavam logo à frente a faixa que trazia a inscrição: “O Pacotão não pede passagem. Passa. Na contramão”. Logo em seguida, um carro trazia um boneco gigante de Charles Preto, o eterno presidente da agremiação. Durante o percurso, ouviam-se marchinhas carnavalescas clássicas, tocadas pela Banda Podre e na voz de Helder Nascimento.
 
Já a marcha-tema de 2020, intitulada Contra o fascismo na contramão, composta por Maria Sabino, Assis Aderaldo e José Sóter, foi entoada durante a concentração, no viaduto que faz a interseção entre a W3 Norte e a W3 Sul e no encerramento, na 504 Sul. O verso inicial diz: “O Pacotão vai escrachar no carnaval/ Essa milícia e também o laranjal/ Ô Seu Queiroz que vida boa/ Só engordando a rachadinha da patroa”.
 
A movimentação em torno do bloco começou ao meio-dia na concentração que, desde sempre, ocorre entre as quadras comerciais 302/303 Norte. Ali no vai e vem das pessoas, em meio a incontáveis vendedores ambulantes, o Correio ouviu personagens ligados ao bloco e foliões. Um dos fundadores e membro do “Politiburo”, José Antônio Filho, o cartunista Joanfi, disse que a meta do Pacotão é fustigar os poderosos, “e nada melhor do que fazer nosso discurso na contramão”.
 
Para a advogada Thelma Cavalcante, 57 anos, foliã desde a adolescência, o Pacotão é o bloco da resistência, “agora mais do que nunca”. O estudante de medicina Jorge Lucas Medoz, 24, que sai no Pacotão desde 2006. vê o bloco como um símbolo do brasiliense consciente, “que insurge contra os desmandos dos políticos que detêm o poder”. Antecipando o desfile, houve a apresentação do grupo Asé Dúdu e da bateria do bloco Medida Provisória.
 
Lis e Mel desfilaram vestidas de Chiquinha, do seriado Chaves
 (Bruna Lima/CB/D.A Press
)  
Lis e Mel desfilaram vestidas de Chiquinha, do seriado Chaves
 
Estreia
 
Quem apareceu para dar o ar da graça pela primeira vez no carnaval brasiliense foram as gêmeas Lis e Mel. As meninas, de 1 ano, nasceram ligadas por uma parte do crânio e ficaram conhecidas depois de passarem por uma complexa cirurgia de separação, em abril. Desde então, as irmãs se tornaram mais parceiras, buscando uma pela outra a todo momento.
 
Animadíssimas e fantasiadas como Chiquinha, personagem do seriado Chaves, as duas corriam de um lado para o outro durante a concentração do bloco, na Asa Norte. Na última vez em que Mel e Lis sentiram a energia do carnaval, elas estavam na barriga da mãe, a servidora do Ministério da Saúde Camilla Vieira Neves, 26. Aparentemente, o gosto das crianças pela festa veio daí. “É uma emoção. Sabemos que elas estão dando trabalho, mas é porque cada uma corre para um lado, para o próprio rumo”, disse.
 
DESTAQUE
 
 (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  
Diploma
Antes do desfile, o Correio Braziliense foi homenageado pela Sociedade Armorial e Rusticana Pacotão com certificado de “reconhecimento público pela inestimável contribuição à difusão, incentivo e preservação do carnaval brasiliense e da cultura brasileira em geral”. O diploma foi entregue ao repórter Irlam Rocha Lima.
 
 (Agatha Gonzaga/CB/D.A Press)  
ARENA LOTADA
O penúltimo dia de Carnaval no Parque, no Ginásio Nilson Nelson, e o último da folia brasiliense teve arena lotada e fãs colados à grade para receber o cantor sertanejo Wesley Safadão (foto), o pagode carioca do grupo Molejo e o som eletrônico dos Djs Bhaskar, Cat Dealers e Mojjo. O evento volta a abrir as portas no próximo sábado, último dia de festival, com shows da dupla Jorge e Mateus, do grupo Saia Rodada e do duo Chemical Surf.
 
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Correio Braziliense terça, 25 de fevereiro de 2020

CARNAVAL CARIOCA 2020 - CANTANDO BRASÍLIA, VILA PINTA COMO CAMPEÃ

 

Cantando Brasília, Vila pinta como campeã
 
Com enredo que destaca a diversidade e unidade do povo brasileiro, escola exalta a beleza e o simbolismo da capital do país, que completa 60 anos. Nas demais agremiações, prevaleceu a crítica política e alertas contra a intolerância

 

BRUNA LIMA
VERA BATISTA
Enviada especial

Publicação: 25/02/2020 04:00

A Vila empolgou o Sambódromo com a história de Brasília. O luxo das fantasias e dos carros alegóricos, somado ao refinado balé dos passistas, confirmaram a beleza arquitetônica da capital (Wilton Junior/Estadão Conteúdo)  

A Vila empolgou o Sambódromo com a história de Brasília. O luxo das fantasias e dos carros alegóricos, somado ao refinado balé dos passistas, confirmaram a beleza arquitetônica da capital

 

 
Sabrina Sato abriu o desfile com Martinho da Vila. Aline Riscado trouxe a Catedral de Brasília sobre a cabeça (Vera Batista/CB/D.A Press)  

Sabrina Sato abriu o desfile com Martinho da Vila. Aline Riscado trouxe a Catedral de Brasília sobre a cabeça

 

 (Jorge Hely/Agência Estado)  
 
Brasília e Rio de Janeiro — A capital federal foi transferida para o Rio de Janeiro. Só por uma noite. O indiozinho Brasil comandou a façanha, em uma viagem guiada pelas asas de Jaçanã, e viu nascer Brasília, o caldeirão da diversidade e esperança de toda nação. Na segunda apresentação de ontem das escolas de samba do grupo especial, a Unidos de Vila Isabel fez a menina dos olhos de Juscelino Kubitschek sambar na Marquês de Sapucaí, uma homenagem aos 60 anos de sua fundação. “É campeã”, gritavam os integrantes na saída do desfile. 
 
Com o enredo Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil, musicado pelos  compositores Cláudio Russo, Chico Alves e Júlio Alves, a azul e branco do bairro de Noel Rosa apresentou a formação dos povos de diversas regiões do país. No refrão, a letra destaca: “Ô, viola! A sina de preto velho/É luta de quilombola, é pranto, é caridade/ Ô, fandango! Candango não perde a fé/ Carrega filho e mulher/Para erguer nova cidade”. A poesia também chama Brasília de “joia rara prometida”. 
 
Na comissão de frente, o clamor de Uaikôen, surgiu o curumim-Brasil que, na performance, se transformou em um grande guerreiro guiado pela força dos antepassados. “O objetivo do enredo é humanizar o povo brasileiro. De Leste a Oeste, de Norte a Sul, o pequeno grande guerreiro conhece todas as culturas para unificar isso e, singularmente, demonstrar a identidade do povo brasileiro”, explicou o carnavalesco Edson Pereira. 
 
A Vila Isabel desfilou com 19 alas e cinco carros alegóricos. Na passarela, mostrou superação da crise financeira e não apresentou protesto contra o Governo do Distrito Federal, que não fez o investimento de R$ 4 milhões esperado pelos sambistas. O comentarista de carnaval Milton Cunha destacou a grandiosidade das alegorias e definiu como “inteligente” o reaproveitamento de parte da estrutura e dos materiais do ano passado. “Me parece ser o melhor conjunto de abertura”, opinou Milton, refrindo-se ao abre-alas da escola. 
 
A Vila Isabel não foi a única que trouxe Brasília à avenida. Quarta escola a desfilar, a Unidos da Tijuca redesenhou o patrimônio arquitetônico com referência aos trabalhos de Oscar Niemeyer. O enredo Onde moram os sonhos exaltou ícones das construções e teve como inspiração para o tema o Congresso Mundial de Arquitetura, que ocorre este ano, no Rio de Janeiro. Buscando desconstruir realidades impostas pela desigualdade social, a escola encerrou o recado trazendo a favela perfeita, sustentável e democrática. 
 
Social e político
 
Os sambas foram espaço de reivindicação pela democracia, respeito à diversidade e olhar humano para as minorias. Por isso, nem só para homenagens Brasília veio à tona. O Planalto Central, como espaço que abriga os Três Poderes, foi pano de fundo de 11 dos 13 enredos das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. 
 
O ator e comediante Marcelo Adnet, um dos compositores do samba-enredo da São Clemente, desfilou fantasiado de presidente do Brasil. Com o enredo O conto do vigário, a escola contou “malandragens e trambiques” de acontecimentos da história brasileira, do período colonial à atualidade, falando sobre os laranjas na política e a era das fake news. 
 
A Salgueiro trouxe o tema O rei negro do picadeiro, fazendo um alerta bem-humorado contra o racismo. O enredo politizado esteve presente, também, na homenagem da Mocidade Independente de Padre Miguel a Elza Soares. Diva da escola, ela sempre traz nos discursos um alerta contra o preconceito, a desigualdade e o feminicídio. A Beija-Flor, última a desfilar, explorou a relação do homem com os espaços públicos, tomados pelas manifestações de fé. A campeã de 2020 do Carnaval do Rio será divulgada amanhã.
 
O objetivo do enredo é humanizar o povo brasileiro. O pequeno grande guerreiro conhece todas as culturas e demonstra a identidade do povo brasileiro”, 
Edson Pereira, carnavalesco 
 
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Correio Braziliense segunda, 24 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: NO RITMO DOS RAPARIGUEIROS

 

No ritmo dos RAPARIGUEIRO
 
SBloco que chega à 28ª edição arrasta multidão na área central de Brasília ao som de três trios elétricos. Na festa de diversidade musical, eletrônico, axé e sertanejo se misturam a marchinhas, samba e pagode

 

» ALAN RIOS
» AUGUSTO FERNANDES

Publicação: 24/02/2020 04:00

Os foliões dos Raparigueiros se concentraram no Estádio Nacional Mané Garrincha depois de saírem da Torre de TV e passarem pelo Eixo Monumental  (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os foliões dos Raparigueiros se concentraram no Estádio Nacional Mané Garrincha depois de saírem da Torre de TV e passarem pelo Eixo Monumental

 



O Bloco dos Raparigueiros chegou à 28ª edição ontem e arrastou uma multidão. Segundo os organizadores, a folia reuniu 125 mil pessoas. Os foliões aproveitaram a noite ao som eclético, tocado em três trios elétricos. Enquanto um focava na música eletrônica, outro apostava no axé e o último, no sertanejo. Ao longo da festa, também houve espaço para marchinhas tradicionais, samba e pagode. Com concentração às 17h, os carros deixaram a Torre de TV às 19h30, quando circularam pelo Eixo Monumental até chegar ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Para garantir a segurança, policiais militares fizeram revistas. Até o fechamento desta edição, não houve ocorrências graves no bloco.

Apesar de a maior parte do público ser jovem, a festa conquistou pessoas de todas as faixas etárias. Maria Eunice Souza, 65 anos, foi prova disso. Moradora de Planaltina (GO), ela tirou o abadá do armário e levou três gerações da família para o evento. “Todo ano faço questão de curtir o carnaval, independentemente de minha idade. Comecei a pular no sábado e só paro quando acabar”, disse, animada. Para ela, a distância da cidade onde mora até o Plano Piloto não é barreira. “Chego mais cedo e vou embora às 21h. Dá para aproveitar muito, ainda mais neste ano, que está mais seguro”, elogiou.

Carnaval é sinônimo de curtição, e o estudante de educação física Patrick Nielson, 26, levou a ideia a sério. Na festa, ele seguiu o trio dos Raparigueiros vestido de noiva e carregando uma placa com referência ao leiaute do aplicativo de relacionamentos Tinder. A fantasia irreverente rendeu bons “matches” ao jovem, apesar de algumas interferências na conexão. “Por algumas horas, tive de ficar off-line. Também não podemos aceitar tudo, não é?”, brincou.

Amor na folia


E nem só de festa ficou marcado o Bloco dos Raparigueiros. Com casamento marcado para 5 de junho, o assistente técnico de obras Guilherme Martins, 28, e a educadora social Adriana Lima, 26, correm contra o tempo para arrecadar o dinheiro necessário para garantir a troca de alianças. Os dois tinham conseguido o total desde dezembro de 2018, quando começaram a planejar a festa, mas uma doença de Guilherme, em abril do ano passado, mudou os planos. “Tive de gastar tudo o que tinha reservado para o meu tratamento. Temi que a Adriana ficasse viúva antes da hora. Mas, depois que me curei, em novembro, decidi que me esforçaria ao máximo para tornar nosso sonho realidade”, contou Guilherme. Neste carnaval, os dois têm aparecido nos blocos vendendo doces e bebidas.

Fantasias em grupo também fizeram a diversão dos foliões. Larissa Maria da Silva, 19, se programou para curtir o carnaval com o namorado, o cunhado e o primo. O quarteto surfou no sucesso da série mexicana Chaves e se vestiu como os personagens da vila. “Somos muito fãs. Sempre assistíamos na infância. Quando sugeri essa roupa, todo mundo apoiou”, contou a estudante. “Vamos continuar usando e indo para outras festas até terça-feira. Estamos gostando muito do carnaval de Brasília este ano”, elogiou Larissa.

Colaborou Jéssica Eufrásio


  • Sem ocorrências graves no 1º dia

    No sábado de carnaval, não houve registros de ocorrências graves, segundo a Secretaria de Segurança Pública. O balanço da pasta, divulgado no início da tarde de ontem, teve 49 ocorrências registradas pela Polícia Civil; 14 verificadas pela Polícia Militar; 14 recebidas pelo Corpo de Bombeiros; e 127 autuações dos órgãos de fiscalização de trânsito. Entre os destaques, houve um atropelamento, um caso de estelionato, apreensão de quatro armas brancas e de 15g de cocaína, além de nove furtos. O levantamento é referente aos eventos de ontem será divulgado na tarde de hoje.


  • Divinas Tetas tem nova data

    Após deixar os brasilienses apreensivos com a possibilidade de não ocorrer, a festa tropicalista do Divinas Tetas está confirmada. Ontem, os organizadores anunciaram que o bloco tem data e local para sair às ruas. A folia será no próximo sábado, concentrada no gramado do Complexo Cultural Funarte, no Eixo Monumental, das 12h às 18h. O quinto ano consecutivo do evento terá apresentação da Dj Tamara Maravilha e da banda que leva o nome do bloco. No repertório, o som inclui sucessos de grandes nomes da MPB, como Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia e o conjunto Novos Baianos. O evento é gratuito, aberto e tem classificação livre.

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Correio Braziliense domingo, 23 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: O PONTAPÉ DA FOLIA

 

O pontapé da folia

 

» AILIM CABRAL
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 23/02/2020 04:00

Os organizadores do Galinho lamentaram a mudança de local do bloco - tradicionalmente, desfilava entre a 201 Sul e o Setor de Autarquias -, mas usaram o som de marchinhas e do frevo para animar a festa (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Os organizadores do Galinho lamentaram a mudança de local do bloco - tradicionalmente, desfilava entre a 201 Sul e o Setor de Autarquias -, mas usaram o som de marchinhas e do frevo para animar a festa

 

 
O sábado de carnaval na área central de Brasília rendeu animação para todas as idades. No Complexo Cultural Funarte e no Eixo Monumental, os foliões aproveitaram a programação diversa. A festa começou com o bloco do Pintinho — que rendeu brincadeiras, confete e espuma para a criançada —, continuou com o desfile do tradicional Galinho de Brasília e terminou com uma folia voltada para o público jovem, no Maria Vai Casoutras.
 
Conhecido pela tradição de 28 anos em Brasília, o Galinho saiu às ruas, mas em local diferente. O bloco deixou o percurso pela 201 Sul e pelo Setor de Autarquias para embalar o Eixo Monumental ao som de marchinhas e muito frevo. Os organizadores do bloco estimaram o público em 15 mil pessoas, mas nem a Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF) nem a Polícia Militar divulgaram estimativas. A segurança atua neste ano com uma central de monitoramento instalada na Torre de TV, que reúne quatro forças do DF. Até o fechamento desta edição, o órgão não havia registrado ocorrências graves.
 
Fantasiadas com girassóis — itens que têm feito sucesso neste carnaval —, além das sombrinhas típicas do ritmo pernambucano em mãos, as irmãs Marleide Barbosa, 42 anos, e Mônica Barbosa, 43, nascidas em Recife, mataram a saudade de casa. “Quando não podemos ir até lá, ele (o carnaval) vem até a gente”, disse Marleide, moradora de Brasília há 20 anos. “Conseguimos aproveitar sem chorar pelo Galo da Madrugada”, brincou Mônica.
 
Quem também encontrou um pedaço de Pernambuco na festa foram a psicóloga Renata Lins, 33, e a contadora Helena Lins, 33, que pulam o carnaval pela primeira vez no Distrito Federal. Renata mudou-se para Brasília há seis meses e convidou a prima para curtir a folia. Mesmo não sendo fã de carnaval, Helena aproveitou para conhecer o da capital. “Estou amando. É muito mais tranquilo do que em Recife. Aqui, consigo curtir e até usar o celular para fazer foto”, contou.

A banda feminina do bloco Maria Vai Casoutras agitou os foliões com instrumentos de percussão (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A banda feminina do bloco Maria Vai Casoutras agitou os foliões com instrumentos de percussão

 



A PM fez revistas a cada bloco: até o fechamento desta edição, não foram registradas ocorrências graves (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A PM fez revistas a cada bloco: até o fechamento desta edição, não foram registradas ocorrências graves

 

 
Doações
 
O grupo de líderes de torcida Brasília Xtreme também passou pelo bloco, mas não tanto para curtir a festa. O avô da treinadora da equipe, Luiza Brasiel, faz parte da organização do bloco; por isso, o time aproveitou para fazer cartazes pedindo apoio para pagar os gastos da viagem para o campeonato mundial da modalidade em Orlando, nos Estados Unidos. No ano passado, o grupo foi escolhido na competição nacional em São Paulo e, agora, tenta juntar o dinheiro necessário para participar do evento internacional.
 
A atleta Vitória de Sousa Costa, 21, integrante do grupo, conta que cada integrante da comitiva tem um custo médio de R$ 7 mil. Ela apareceu nas ruas do Eixo Monumental com um cartaz escrito: “Doe um real e nos leve ao mundial”. “Os gastos são muito altos, e a equipe não vai conseguir ir sem ajuda, pois não temos apoio do governo. Por isso, estamos procurando formas de ajudar a pagar a viagem”, relatou.
 
A organização do Galinho lamentou a dificuldade para sair às ruas neste ano e a troca do local de desfile. Fundador e presidente do bloco, Romildo de Carvalho Júnior contou que a alteração chateou o grupo. “Gerou uma mudança forte para a gente, mas fizemos um carnaval que tínhamos de ter feito. Reinou a alegria. Não houve histórico de coisas ruins, e a nossa preocupação foi de mostrar o frevo e marcar o nosso trabalho cultural”, comentou.
 
Batuques
 
O Maria Vai Casoutras começou no fim da tarde e seguiu pela noite de ontem, animando o público assim que o Galinho deixou a avenida. Em um palco montado no estacionamento da Funarte, a banda feminina que leva o mesmo nome do bloco empolgou o público ao som de batuques efervescentes. A Secretaria de Cultura preparou uma festa para 50 mil pessoas, mas não houve divulgação do número de participantes por parte dos organizadores.
 
Entre um bloco e outro, o público passou por revista e, até o início da tarde, o clima se manteve tranquilo. Depois das 18h, as famílias na folia diminuíram e predominaram grupos de jovens. Davi Silva, 37, sempre passou o carnaval em Brasília e contou que não troca a cidade por nenhuma outra. “Não tem carnaval melhor que o daqui”, elogiou. Acompanhado de Catarina, boneca que o acompanha a toda a parte, o artista de rua disse que não tinha previsão de deixar a festa. “Estou dependendo dela”, completou.


Meteorologia
A tendência para hoje é de estabilidade no tempo, apesar da previsão de chuvas. O dia será de céu parcialmente nublado a encoberto, com possibilidade de pancadas e trovoadas isoladas. A temperatura mínima será de 18ºC, com a máxima podendo chegar a 29ºC. A umidade varia entre 50% e 95%.
 
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Correio Braziliense sábado, 22 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: CHEGOU A HORA DA FOLIA

 

 

Chegou a hora da folia!
 
O carnaval da cidade começa hoje, com opções para todos os gostos. São 241 eventos até terça-feira

 

» ALAN RIOS

Publicação: 22/02/2020 04:00

Marcos Santiago e Mateus Fraga reuniram grupo de amigos para curtir o carnaval no Distrito Federal (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Marcos Santiago e Mateus Fraga reuniram grupo de amigos para curtir o carnaval no Distrito Federal

 

 
É hora de tirar aquele adereço brilhante da gaveta, comprar potes de glitter, escolher um bloco com os amigos e se arrumar ao som da playlist de músicas mais chicletes de fevereiro. Para quem não perde as celebrações do Rei Momo, este sábado é o dia de dar o pontapé na maior comemoração do ano. Festas do pré-carnaval deram o tom da vivacidade da folia no Distrito Federal, mas os principais eventos estão previstos para os próximos quatro dias. Há opções para quem busca se esbaldar com os amigos, para quem quer curtir com a família e até para quem nem gosta do sons populares dos trios elétricos e prefere outros ritmos. No total, 241 eventos estão previstos pela Secretaria de Segurança Pública.

É essa diversidade e esse clima de alegria que fazem com que Marcos Santiago, 25 anos, afirme: “O carnaval é a melhor época e a melhor festa do ano”. Para o videomaker, a comemoração é especial, principalmente porque é popular. “São dias de celebrações em um ambiente totalmente democrático, com gente de diferentes classes sociais, gêneros e cores, se reunindo para curtir, dançar e se divertir. E é uma celebração cultural da cidade, que tende a valorizar cada vez mais os artistas locais, os blocos de rua abertos e gratuitos, que enaltecem a identidade de Brasília”, pontua.

Esse é o desejo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que estruturou o palco Brasília 60, no Polo Funarte, para receber 20 cantores e bandas locais, além de seis escolas de samba do grupo especial do DF. O comunicador Mateus Fraga, 24, acredita que a festa brasiliense evolui a cada ano. “Nos últimos três anos, passei o carnaval aqui, não viajei e curti muito. Não precisei ir a nenhum evento pago. Só fui a blocos de graça e vi que havia boas opções”, conta. “O legal do carnaval é brincar, rir. Por isso, faço questão de sempre ir fantasiado com os meus amigos. Já nos vestimos de princesas, de Power Rangers e, neste ano, escolhemos a roupa dos integrantes do Rebelde, a banda mexicana.”
 
Segurança
 
Ações em conjunto entre os órgãos. Essa é a aposta do Governo do Distrito Federal para garantir um carnaval seguro e organizado. E um dos locais que mais vai ferver de trabalho na capital nos próximos dias é o Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), que conta com representantes de 21 instituições do GDF em quatro eixos: segurança, mobilidade, prestação de serviços e fiscalização. “O Ciob tem um trabalho contínuo, diário, com esse conglomerado de estruturas que coordenam operações integradas. Neste período de carnaval, vamos continuar monitorando a cidade, mas com reforços”, explica o delegado Gilberto Alves Maranhão, coordenador do centro.




Os melhores do carnaval
 
Este ano, mais uma vez, o Correio Braziliense premiará os blocos de destaque do carnaval com o Troféu #CBFolia. Os ganhadores da premiação cultural serão eleitos por uma comissão do Correio que visitará blocos da cidade e os avaliará de acordo com quatro critérios: sustentabilidade, estrutura, animação e respeito ao próximo. A fantasia mais descolada também receberá um prêmio. Por isso, compartilhe com a gente as imagens da folia com a hashtag #cbfolia no Instagram. Sua foto também pode aparecer no jornal durante o feriado e na galeria no site do Correio.




Programe-se* / Confira alguns blocos da capital federal:


Hoje, 21 de fevereiro
 
62 blocos
 
Asé Dudu
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 19h. Bloco de carnaval para as comunidades afrodescendentes. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Galinho de Brasília
Estacionamento da Funarte (Polo de Carnaval)
A partir das 17h. Bloco criado por amigos pernambucanos, inspirado no Galo da Madrugada, que arrasta milhares de pessoas da capital, há 28 anos, com um dos desfiles mais tradicionais da cidade. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
As Leis de Gaga
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 11h. Bloco de carnaval LGBTQI, com pop nacional e internacional no palco 24. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Bora pra Cuba
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 20h. Bloco de carnaval que compartilha o que há de melhor na cena cultural, barrando preconceito e xenofobia. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Deus Ajuda Quem Seu Madruga
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 5h. Bloco de carnaval com brasilidades, reggae e eletrônico em um trio no SCS. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
Patubatê
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 13h. Bloco com o grupo
percussivo Patubatê, 3 no Brega e o 
cortejo do Afoxé Omó Ayó. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
Triângulo das Brejeiras
Parque da Cidade (Estacionamento 4)
A partir das 9h. Bloco de carnaval. 
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Rebu
Parque da Cidade (Estacionamento 4)
A partir das 15h. Bloco de carnaval LGBTQI, com a banda Rebu. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Domingo, 23 de fevereiro
 
73 blocos
 
Baratinha
Parque da Cidade (Estacionamentos 12 e 13)
A partir das 14h. Bloco com músicas infantis e antigas marchinhas de carnaval. 
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Raparigueiros 
Eixo Monumental (Altura da Torre de TV)
A partir das 17h. Bloco fundado em 1992, com o objetivo de desenvolver projetos musicais, atrações e eventos com empresários e órgãos governamentais. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
Brega & Rosas
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 12h30. Bloco de carnaval com clássicos do brega em versões inusitadas no palco 23. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Bloco das Montadas
Setor Bancário Norte (SBN)
A partir das 14h. Bloco de carnaval LGBTQI, com performances de artistas drags, Djs e atrações musicais, como a banda brasiliense Contém Dendê, a drag queen Pikineia, a funkeira Pepita e a banda carioca Candy Bloco. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Bloco é de Nãnan
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 20h40. Bloco de carnaval com cultura afro-brasileira e ritmos como afoxé, samba reggae e afrobrasilidades. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Vai Virado Viado
Setor Comercial Sul (Via S2)
A partir das 5h. Bloco de carnaval after, com o Dj Edu Corelli e intervenções artísticas das drags queens e performers Joana Darkroom, Shayennie Aparecida e Cerradynho. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Confronto Soundsystem
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 17h. Bloco de carnaval com música eletrônica no palco 23. 
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Ventoinha na Tesourinha
205/206 Norte
A partir das 16h20. Bloco de carnaval com a Orquestra Alada Trovão da Mata e bonecos gigantes. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
 
Segunda-feira, 24 de fevereiro 
 
53 blocos
 
Bloco das Divinas Tetas
207 Norte
A partir das 12h. Bloco de carnaval 
com Djs e show Divino, tocando brasilidades 
e tropicalismo. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
Bloco das Barbadas
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 18h. Bloco de carnaval LGBTQI, com house music em um trio na via S2. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Filhos de Gueta
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 5h. Bloco de carnaval com eletrohits em um trio. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Maria Fumaça
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 18h. Bloco de carnaval com sons jamaicanos em um trio. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Rainhas do Babado
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 17h. Bloco de carnaval LGBTQI, com rap, trap, funk, brega funk e outros estilos. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Segura o Grave Aê
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 18h. Bloco de carnaval com black music no palco 23. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Vai que Cola
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 15h. Bloco de carnaval com diversidade musical. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Oxente, Véi
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 12h. Bloco de carnaval 
com trio na via S2. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
 
Terça-feira, 25 de fevereiro
 
53 blocos
 
Bloco das Caminhoneiras
Parque da Cidade (Estacionamento 4)
A partir das 15h. Bloco de carnaval LGBTQI. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Na Batida do Morro
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 9h. Bloco de carnaval com funk em um trio. Entrada franca. 
Classificação indicativa livre.
 
Bloco Pega Ninguém
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 15h. Bloco de carnaval com música popular de vários estilos no palco 23. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Saci Weré e Bloco Fela
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 12h. Bloco de carnaval com brasilidades e tropicalista no palco 23. 
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Santo Pecado
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 19h. Bloco de carnaval com grupo de percussão que toca músicas afro, como samba reggae, axé, ijexá, afoxé no palco 23. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
SKA Niemeyer
Praça dos Prazeres (201 Norte)
A partir das 17h. Bloco de carnaval com marchinhas, frevos e outros estilos, com Sací Weré, Muntchako e SKA Niemeyer. 
Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Super Saia Jeans
Setor Comercial Sul (SCS)
A partir das 14h. Bloco de carnaval com 
forró em um trio na via S2. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
 
* Confira a programação completa,
sujeita a alterações, em www.correiobraziliense.com.br.
 
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Correio Braziliense sexta, 21 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: GRETCHEN

 

Gretchen prega liberdade e sexo com camisinha

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 21/02/2020 04:00

Cantora e bailarina integra campanha da prefeitura de Recife pelo respeito à mulher, sobretudo no carnaval (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Cantora e bailarina integra campanha da prefeitura de Recife pelo respeito à mulher, sobretudo no carnaval

 

 
A cantora e bailarina Gretchen esteve em Brasília para o Bloco dos Memes, do qual é musa e inspiração do público LGBT, e deu a largada no carnaval brasiliense. No palco, aclamada entre os clássicos Conga La Conga, Melô do Piripiri e Freak Le Boom Boom, a rainha do bumbum falou sobre o orgulho do filho trans Thammy Miranda. E mandou um recado para quem acha que a melhor forma de evitar a gravidez na juventude é a abstinência sexual —como pregam setores do governo: a melhor forma de prevenção é usando camisinha.
 
“Como nós somos donas do nosso corpo, a gente opta correr o risco de ficar grávida ou não. Então, esse negócio de abstinência acho um pouco pesado. Mas é lógico que um jovem não vai fazer abstinência. Eu acho que é mais prático a gente usar a camisinha, que vai ser, com certeza, uma forma de evitar a gravidez sem fazer abstinência. Porque não tem como, não é?”, afirmou Gretchen ao Correio, em show na 201 Norte.
 
Ela é a estrela da campanha da prefeitura de Recife e marca presença na capa do Pequeno Manual Prático de Como Não Ser um Babaca no Carnaval. A cantora criticou a postura machista e defendeu a liberdade sexual. “Esse é o momento (carnaval) em que a mulher é mais assediada. Ela não tem a liberdade de estar em um lugar que, com certeza, alguém vai passar a mão, alguém vai querer beijar à força, e isso não pode acontecer. Ainda bem que agora isso é crime. Mas, independentemente disso, eu acho que o homem tem que proteger a mulher. Aproveitar toda essa força que ele tem para cuidar, não para assediá-la”.
 
Durante a apresentação, Gretchen fez outras militâncias. Entre um rebolado e outro, a cantora provocou e disse que quem achasse que estava velha demais para usar qualquer tipo de roupa, que “estava apenas começando”. O público aprovou.
 
“Eu saí para todos os dias de pré-carnaval e não estive em um ambiente assim. Hoje, eu não sofri assédio, não tive medo de perder meu celular, não tive medo de usar minha fantasia. Carnaval é isso. É poder ser quem eu quiser, sem medo, e me divertir e rebolar se eu quiser com meus amigos”, pontuou Maria Júlia, 23 anos, estudante de ciências ambientais, concordando em gênero, número e grau com Gretchen.
 
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Correio Braziliense quinta, 20 de fevereiro de 2020

ZÉ DO CAIXÃO: MORRE O MESTRE DO TERROR

 

O mestre do terror
 
 
Morte do cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, deixa um vazio num gênero cinematográfico que o Brasil aprendeu justamente com ele

 

Ricardo Daehn

Publicação: 20/02/2020 04:00

 (Agência Estado/ - 5/3/09)  
 
 
 
Sem aceitar o rótulo de criador de obras malditas, o cineasta José Mojica Marins — para a eternidade conhecido como Zé do Caixão — tinha orgulho da criação de filmes arrojados, bizarros e independentes. O diferencial das obras estava, como ele disse ao Correio, em 2013, na coragem e na autenticidade. À época da entrevista, não pestanejou em revisar a própria obra: “Meu melhor momento foi nos anos 1960, com uma fita que foi censurada e ficou 20 anos presa: O despertar da besta. Isso me atrasou a vida demais, naquela época, apostei tudo o que tinha”. Há cinco anos recluso, dada a derrocada na saúde, o artista, ícone maior do terror nacional, morreu, aos 83 anos, na tarde de ontem. O velório está previsto para transcorrer no Museu da Imagem e do Som (MIS).
 
Autor de filmes emblemáticos, pautados pelo horror do sofrimento e da morte, Mojica confessou, em entrevista que, da morte “não teria medo, não”. “Só ficaria triste de eu partir, deixando aqui mulher, filhos — que eu tenho sete”, completou. Foi a filha dele, Lis Marins quem confirmou a morte, em decorrência de broncopneumonia.
 
Extravasando o universo das obras criadas no cinema, Zé do Caixão se mostrou muito bem-humorado e, implacável, quando (publicamente), na base da piada, determinava pragas, a pedido dos fãs. Pelo cinema, Zé do Caixão não media esforços. Nas filmagens de Encarnação do demônio (2008), se viu coberto por mais de 100 caranguejeiras, mesmo com todo assumido pânico. Companheira de José Mojica, à época, a atriz Leny Dark entregou a “prova de amor” (como ele brincou), ao adentrar um barril com 3 mil baratas.

 (Arquivo CB/D.A Press)  


Tevê
 
Antes mesmo de completar a maioridade, o filho de artistas de circo filmou a Companhia Cinematográfica Atlas, pela qual se lançou, na direção de Sina de aventureiro (1957). Para os mais jovens, o ex-morador de subúrbio em São Paulo se afirmou como apresentador do televisivo O estranho mundo de Zé do Caixão (que teve sete temporadas). Elogiado por uma nata do cinema — formada por Glauber Rocha e Luís Sérgio Person, passando por Rogério Sganzerla e Julio Bressane —, ao circular nos circuito dos festivais, Mojica Marins conheceu até mesmo o ídolo — Christopher Lee (o Drácula), que se mostrou apavorado com o brasileiro. O motivo? As unhas compridas, sempre cultuadas, e que lhe dava o ar de um ser “extraterrestre”.
 
“Coffin Joe”, como Zé do Caixão ficou conhecido no exterior, apareceu pela primeira vez na carreira do artista, no longa A meia-noite levarei sua alma (1963). O longevo personagem atravessou mais de cinco décadas do imaginário nacional.
 
Por anos, o tipo taciturno levou o cineasta a ser paparicado em reconhecimento diversificado de festivais, tendo chegado ao Texas (EUA), passeado pelo México, e se visto consagrado em eventos na Espanha, Itália, França e no Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, há 10 anos. Nunca envergonhado, Mojica se orgulhava de imprimir nas telas uma linguagem tupiniquim, que o aproximou de diretores como Afonso Brazza (o cineasta-bombeiro de Brasília, com quem filmou Tortura Selvagem — A grade, em agosto de 1999). Naquele período, investiu na carreira de professor, tendo ministrado curso de interpretação em Taguatinga.
 
Com parte da vida descrita por André Barcinsky, autor de Maldito— A vida e o cinema de José Mojica Marins, o artista nunca cansou de surpreender: teve quatro esposas, e aos 79 anos, retomou o relacionamento com a editora e secretária Nilcemar Leyart, parceira anterior dele por mais de 20 anos. Desde 2014, a saúde ficou comprometida: depois de dois infartos, ele passou a sofrer com problemas renais.
 
Celebridade de intensa vida, Mojica superou fases de alcoolismo e de jogatina, tendo também passado maus momentos quando até teve que investir em obras com teor pornográfico. Um dos pontos altos do reconhecimento veio quando Matheus Nachtergaele deu vida à persona dele, na série Zé do Caixão, exibida no canal Space.

 (Paulo de Araújo/CB/D.A Press - 29/8/99)  


Sadismo
 
Admirador de confesso de filmes com Boris Karloff (o predileto foi Torre de Londres, 1939) e encantado pelo clássico de Roman Polanski O bebê de Rosemary (1968), Mojica cunhou estilo singular, sempre reconhecido por fitas do porte de Esta noite encarnarei no teu cadáver (1966) — no qual busca uma mulher para, na paternidade, dar extensão à corrente sádica que disseminou em uma pequena cidade —, O estranho mundo de Zé do Caixão (1967), dotado de necrofilia e de outros tipos de perversão, e Meu destino em tuas mãos (1963), embasado por desavenças familiares.
 
Diretor de mais de 40 filmes, ele atuava sistematicamente nas fitas. Mais de 60 produções contaram com o talento da atuação do artista. Sob a direção de Zefel Coff, Mojica tomou parte da produção do curta-metragem A praga do cinema brasileiro, que levou assinatura de roteiro do brasiliense William Alves (há dois anos).
 
Três anos antes da morte, aos 80, o artista teve uma entrevista intermediada pela filha Liz, para o Correio. Ela contou que dadas as sessões semanais de diálise do pai e o uso de medicamentos muito fortes, havia moderação nas exposições públicas. Havia se encerrado a fase de espectador de fitas macabras, pela tevê, o artista estava revendo série de fitas bíblicas e épicos à la espada e sandálias. Continuava rememorando a boa fase das amizades com colegas como Mário Lima (ator de O ritual dos sádicos) e Chico Cavalcanti, um cineasta da Boca do Lixo. Curiosamente, Mojica seguia folheando gibis da Mônica e da Disney, além de revirar a completa coleção de tirinhas de Conan, o Bárbaro.
 
 
 
 
FRASE
 
 
“Precisamos (no Brasil) de pessoas com mais honestidade, inteligência e força”
 
 
“Medo, de verdade, eu sempre tive do dia seguinte. Isso, por eu nunca saber o que vai acontecer”
 
 
“Nasci com muita força física e uma mente evoluída. Isso me mantém num pedestal”
 
 
“Origem do terror é comigo mesmo. Não tem outro, né? Já pus até anúncio, em jornais,
visando a um sucessor”
 
 
“O terror, quando bem-feito, entra nos nossos pesadelos”
 
 
“Acho que até o Zé do Caixão, queira ou não, quando eu me for, vai se eternizar. É um personagem marcante não apenas no Brasil, mas também no exterior”
 
 
“Tenho a impressão de que (os distribuidores) estão só esperando eu morrer, pra botar meus filmes no circuito comercial”
 
 
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Correio Braziliense quarta, 19 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: DIVERSÃO COM SAÚDE

 

Diversão com saúde
 
 
 
Mesmo a poucos dias da festa de Momo, ainda é possível preparar o corpo para a maratona de bloquinhos e de eventos que animam o período

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 19/02/2020 04:00

Giovana Isoton (E) e Liliane Flausino: preparação para aproveitar a folia com amigos e dançar no ritmo (Fotos: Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press - 14/2/20
)  

Giovana Isoton (E) e Liliane Flausino: preparação para aproveitar a folia com amigos e dançar no ritmo

 

Além de empolgação, curtir o carnaval exige preparo físico, principalmente para os foliões que encaram a maratona de blocos carnavalescos o dia inteiro. A festa pode ser um teste de resistência e requer um bom condicionamento. Mesmo a poucos dias do começo oficial da folia, especialistas afirmam que ainda dá tempo de se preparar. A musculação e uma variedade de modalidades podem auxiliar.
 
Aos 56 anos, a servidora pública aposentada Liliane Flausino tem ânimo de sobra. Moradora da Asa Norte, ela conta que vai procurar um bloquinho para aproveitar o carnaval. Para isso, os cuidados com o corpo foram intensificados nos últimos dias. Na pré-folia, além dos exercícios localizados e do alongamento, as atividades que mais gosta na academia, ela iniciou aulas de sapateado. “Acho importante esse cuidado com a saúde. Aliado à boa alimentação e a muita hidratação, temos bons resultados. Já estive mais presente no carnaval, sou movida a música. Hoje, ainda quero participar, mas de uma forma mais tranquila”, diz.
 
Na próxima semana, a estudante de relações internacionais Giovana Isoton, 22, desembarca em Barreiras (BA), destino escolhido para aproveitar o carnaval com os amigos. Para acompanhar o ritmo da cidade baiana, ela aumentou a intensidade dos treinos na academia. Além disso, quer um bom resultado para o corpo. “Pego mais pesado na musculação e na escada. Também estou reduzindo o doce, comendo mais saudável e bebendo bastante água. Já participei do pré-carnaval aqui em Brasília, e estou empolgada para o carnaval na Bahia”, afirma.
 
A estudante de psicologia Raiana Rolemberg, 22, costuma malhar o ano inteiro, porém o foco é maior quando tem objetivos a curto prazo e datas importantes, como o carnaval. “Dá um gás a mais. Não só no período, mas na vida, em geral. Tento equilibrar entre exercícios aeróbicos e musculação. Eu me sinto bastante motivada. Para mim, essa é a melhor época”, declara. Ela vai passar o feriadão no Rio de Janeiro.
 
Já o estudante de direito Matheus Queiroz, 22, ficará em Brasília. Apaixonado pelo carnaval desde os 13 anos, tinha o costume de viajar na data, mas, dessa vez, escolheu os blocos brasilienses. O preparo físico também começou cedo. O intuito é não parar nos dias dos blocos. “Mesmo no feriado, eu tento manter a rotina na academia. Ano passado foi assim. Este ano, se eu não estiver com muita ressaca, quero estar aqui todos os dias”, brinca.

Matheus Queiroz mantém a rotina na academia mesmo durante o feriado
 

Matheus Queiroz mantém a rotina na academia mesmo durante o feriado

 

 
Frequência
 
A professora de pilates e alongamento da academia Bodytech Patrícia Michelle orienta que as atividades físicas continuem durante a folia, mesmo que o tempo de treino seja reduzido. “Podem ser 20 ou 30 minutos, uma coisa mais tranquila, para manter o ritmo”, disse. Porém, ela ressalta que quem decide ficar os dias em casa não deve sofrer com peso na consciência. “Carnaval é para aproveitar. Mas, depois que acabar, não tem desculpas, tem que voltar à rotina”, destaca.
 
Ela conta que, próximo ao carnaval, a procura pela academia cresce. “Os alunos têm frequentado bastante as aulas de alongamento. São boas para a postura e para aliviar dores na lombar, principalmente para aqueles que vão passar o dia inteiro em pé”, afirma. Tudo isso, reforça a profissional, é para que o folião chegue em casa, durma bem e esteja preparado para o próximo bloco.
 
Outra modalidade muito procurada próximo a essa época do ano é a dança. A professora de balé adulto Rany Luna conta que o estilo atrai quem quer harmonia corporal. “O balé traz flexibilidade, alonga e também trabalha postura e ritmo, algo que todo mundo quer na hora de dançar nos blocos. O legal é que não adiciona nenhuma carga ou aparelho, você só usa o corpo mesmo. Estamos a poucos dias do carnaval, mas ainda dá tempo de cuidar do corpo”, destaca.

A intensidade dos treinos de Raiana Rolemberg aumentou:  

A intensidade dos treinos de Raiana Rolemberg aumentou: "Essa é a melhor época"

 

 
Alimentação
 
E não basta se exercitar, tem que cuidar da alimentação. O nutricionista Fernando Castro observa que o folião tem que apostar em carboidratos — como pães, bolos, biscoitos, frutas, frutas desidratadas e sucos —  para manter o ritmo das brincadeiras. A orientação do especialista é evitar alimentos que não tenham o costume de ingerir com frequência para não desencadear desconforto abdominal. Pelo mesmo motivo, ele ressalta que é importante evitar comidas que demandem um processo digestivo mais lento, o que ocorre geralmente com alimentos gordurosos.
 
Hidratação é essencial, ressalta Fernando. “A água tem aspecto fundamental na manutenção da saúde, ela é a base para um organismo saudável”, explica. Sobre bebidas alcoólicas, o nutricionista diz que moderação é a palavra-chave. “Ter atenção aos limites pessoais, a sensibilidade de um pode ser diferente da de outro. Não beber de estômago vazio, para que o álcool seja absorvido mais lentamente, e, sempre que possível, beber água durante o uso da bebida alcoólica”, completa.
 
Cuide do corpo
 
Veja os passos para curtir a festa com saúde:
  • Fazer alongamento antes e depois do bloco
  • Ingerir bastante líquido
  • Consumir alimentos saudáveis
  • Usar roupas leves
 
Receita
 
Para o folião manter a energia antes e depois da festa, o chef Marcello Lopes, do restaurante Blend Boucherie, sugere um suco energético. Confira:

Ingredientes
  • 1 limão espremido
  • 10 folhas de hortelã
  • 10ml de licor de gengibre
  • 50ml de xarope de guaraná
  • 300ml de água
  • 150ml de gelo
 
Preparo
  • Adicionar todos os ingredientes no liquidificador e bater bem.
 
Compartilhe sua foto com a gente!
Vai curtir o carnaval em Brasília? Então compartilha com a gente as imagens da festa com a hashtag #cbfolia. Sua foto pode aparecer no jornal durante o feriado e no site do Correio.
 
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Correio Braziliense terça, 18 de fevereiro de 2020

LÉO SANTANA: SUINGUE NO CARNAVAL

 

LÉO SANTANA

Depois de estourar com a música Rebolation em 2010, Léo Santana se consolidou como ícone do pagode baiano. Com o "L" como marca registrada, ele tem agenda lotada o ano inteiro.
 (Léo Santana/Divulgação)

Suingue do carnaval
 
Há dez anos, Léo Santana ganhava reconhecimento nacional à frente do Parangolé, ao som de Rebolation. Hoje, tornou-se uma das maiores estrelas da festa

 

Fernando Jordão
Roberta Pinheiro

Publicação: 18/02/2020 04:00

 
 
 
 
Leandro Silva de Santana vendeu frango assado nas praias de Salvador; foi dono de uma barbearia; trabalhou em tendas de coquetéis; tocou percussão; integrou várias bandas na capital baiana até chegar ao Parangolé. Por sete anos, Léo Santana comandou o grupo formado em 1998 e um dos expoentes do estilo pagode baiano. E, justamente, há 10 anos, o conjunto ganhou reconhecimento nacional alavancado pelo sucesso Rebolation.
 
À frente da banda, ele percorreu o Brasil e fez shows na Europa e nos Estados Unidos, além de emplacar canções de sucesso (veja quadro). Em 2014, o Gigante, como é conhecido, deu início à carreira solo.“Sou muito grato por tudo que aconteceu ao longo de todos esses anos. Rebolation me deu frutos sensacionais e foi uma canção que me levou para diversos locais no Brasil. Foi um grande sucesso”, conta em entrevista ao Correio.
 
Desde que saiu em carreira solo, Léo Santana gravou três álbuns. O primeiro, Baile da Santinha, consagrou de vez o sucesso do cantor no Brasil. Com participação da sertaneja Marília Mendonça, o trabalho teve, como singles tocados em festas e rádios, Santinha, Vidro fumê e Um tal de toma. Em seguida, lançou Ao vivo em Goiânia, com inéditas e músicas antigas.
 
Do material, caíram no gosto do público as músicas Encaixa, uma parceria do Gigante com o MC Kevinho; Vai dar PT, cujo clipe foi lançado pela Kondzilla; Crush blogueirinha; e Várias novinhas, eleita uma das músicas do carnaval em 2018 e a mais escutada no período no segmento Axé entre os artistas baianos na Billboard Brasil.
 
No ano passado, realizando uma média de 20 shows por mês, Léo Santana lançou a primeira parte do DVD Levada do Gigante. Com participações de Anitta, Atitude 67, Lauana Prado e o porto-riquenho Jhay Cortez, a gravação teve ingressos esgotados, e o baiano sacudiu o Credicard Hall. O trabalho reuniu 21 músicas, entre elas, 18 canções inéditas e três regravações. Questionado sobre a diferença do Léo Santana de Rebolation para o artista que conduz Levada do Gigante, o baiano atribui o crescimento à maturidade. “Com o tempo vamos ganhando experiência, aprendendo cada vez mais e entendendo melhor cada passo dado. Hoje, eu tenho muito mais maturidade no sentido de lidar com determinadas situações, de condução da carreira, também”, avalia.
 
Apesar de um dos principais nomes do pagode baiano, ao lado de Xanddy, do Harmonia do Samba, e Tony Salles, atual vocalista do Parangolé, o amadurecimento de Léo Santana e a condução que deu à carreira o transformaram em um artista versátil. Quem acompanha um show do Gigante sabe que ele percorre os ritmos baianos, mas também passa pelo funk, pelo sertanejo, pelo pagode. Nesse caminho, Léo Santana também é um dos artistas mais procurados para parcerias musicais. Ele gravou com Ivete Sangalo, Rai Saia Rodada, Ludmilla, Luan Santana, Mano Walter, Simone e Simaria, Felipe Araújo, Thiaguinho, entre outros.
 
“Acredito muito na potência e em como essas parcerias podem render bons frutos. Principalmente, para não me manter na zona de conforto, sabendo que posso caminhar por outros ritmos e a música ser muito bem aceita como Invocada, com Ludmilla e Apaixonadinha, com Marília Mendonça. Graças a Deus, essas parcerias têm rendido resultados muito bons. Acredito que é o conjunto: a própria música, quem está cantando, o trabalho de pós-lançamento. Não existe fórmula pronta. Deixo sempre Deus conduzir e confio”, comenta.
 
Além de emplacar hits e dialogar com uma legião de fãs nas redes sociais — o cantor tem, só no Instagram, mais de 13,5 milhões de seguidores - Léo Santana percorre o país com shows e projetos musicais. Ele conduz o bloco de carnaval fora de época #VemComoGigante, o Baile da Santinha e O Encontro, uma reunião dele, com Tony Salles e Xanddy.
 
Surpresa
 
Com o suingue e a voz que conquistaram o Brasil há 10 anos, o Gigante chega ao carnaval de 2020 com duas canções cotadas à hit do carnaval: Contatinho, com a participação da funkeira Anitta, e Eu não vivo sem ela (eu te amo putaria). O sucesso da primeira, inclusive, espantou o próprio cantor. “Contatinho nos surpreendeu muito. Lançamos a canção em setembro de 2019 e ela vem rendendo até hoje tanto nas plataformas musicais como com o público. Isso me deixa cada dia mais grato, realizado e muito feliz com o andamento de todo esse desempenho positivo. O carnaval do GG promete”, adianta aos risos.
 
Canções lançadas em 2019 seguem fortes neste ano. Além de Contatinho, faixas como Sentadão, parceria de Pedro Sampaio com Felipe Original (conhecido por Hit contagiante) e JS Mão de Ouro; Surtada, de Dadá Boladão, Tati Zaqui e OIK; Combatchy, de Anitta, Lexa, Luísa Sonza e Mc Rebecca; e Amor de Que, de Pabllo Vittar continuam nas playlists do verão e do carnaval. Sem falar no sucesso do brega-funk Tudo ok, Márcia Fellipe com Thiaguinho MT, Mila, Henry Freitas e JS Mão de Ouro.
 
Contudo, uma série de lançamentos musicais chega a cada semana para incrementar a lista da disputa do hit do carnaval. Figuram na competição funk, axé, brega-funk, piseiro, sertanejo, forró e uma mistura de ritmos que se espalha pela folia em todo o país.
 
 
 
Três perguntas Léo Santana
 
 
Brasília será a terceira cidade a receber o projeto ‘O Encontro’, 9 de maio. O que pode nos adiantar do show? Como será essa reunião de Léo Santana, Tonny Salles e Xanddy?
Esse é um show muito especial, porque é uma grande oportunidade de estar com essas duas feras que também são amigos muito queridos no mesmo palco. O Encontro é a representação dessa união e força do pagode baiano como movimento. Tenham certeza que vamos fazer um grande show.
 
 
E o Baile da Santinha, como seguirá em 2020?
Adotamos uma nova identidade visual e, além disso, modificamos a estrutura também. Novos elementos, ativações... o Baile da Santinha está ainda mais completo e com muitas novidades.
 
 
Acha que hoje o pagode baiano tem mais força, principalmente fora da Bahia, que o axé? Por quê?
Acredito que tem espaço para todo mundo.. A música da Bahia é única, né? Tenho certeza que cada um na sua vertente consegue ocupar diversos espaços.
 
 
 
Um ano, um hit na carreira de Léo Santana
 
2010 - Rebolation
 
2011 - Tchubirabiron
 
2012 - Madeira de lei
 
2013 - Dança do arrocha
 
2014 - Nossa cor
 
2015 - Abana
 
2016 - Deboche
 
2017 - Santinha
 
2018 - Várias novinhas
 
2019 - Crush blogueirinha
 
2020 - Contatinho 
 
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Correio Braziliense segunda, 17 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: TEM CARNAVAL PARA TODO MUNDO

 

TEM CARNAVAL PARA TODO MUNDO

Com segurança reforçada, blocos ocuparam espaços públicos da cidade com cores, alegria e muita música. 
O Encosta que Cresce (foto), por exemplo, lotou o Parque da Cidade. Conheça também histórias de amor 
que viraram casamento depois da folia.

Na saúde e na doença, no carnaval e depois dele
 
Casais que se conheceram durante a folia e permaneceram juntos contam suas histórias e dão dicas de como manter a paquera para além da quarta-feira de cinzas

 

Ana Maria da Silva*

Publicação: 17/02/2020 04:00

A comunicadora Ingrid Castilho, 27 anos, e administrador Hugo Senna, 33, se conheceram no bloquinho Vai com as profanas
 (Fotos: Arquivo Pessoal
)  

A comunicadora Ingrid Castilho, 27 anos, e administrador Hugo Senna, 33, se conheceram no bloquinho Vai com as profanas

 

O senso comum prega que o carnaval é a festa da curtição. Mas o que fazer ao encontrar alguém especial no meio da multidão e perceber que aquela paquera poderia se tornar algo duradouro? Para muitos, a probabilidade de achar a alma gêmea durante a bagunça do trio elétrico ou do bloquinho é nula. Porém, quem acha que amor de carnaval não tem futuro está enganado. Muitas pessoas chegam até a se casar, como é o caso da empresária Patrícia Domingos Mrad, 31 anos, e do militar Robert Wagner de Arruda Almeida, 32. Eles contam que se conheceram em 2008, durante a folia, e desde então, estão juntos.
 
Patrícia lembra que, quando conheceu Robert, não imaginou que as investidas iriam resultar em um relacionamento sério. “Não dava nada pela gente, pensei que não daria certo. Estávamos bêbados e só queríamos curtir a festa”, conta. “Ele disse que salvou meu número de celular na cabeça, e duvidei que no outro dia ligaria. Pra minha surpresa, ele ligou.” A empresária relata que, mesmo com algumas dificuldades, o relacionamento começou a ser construído a partir da ligação. “Nos encontramos, e passávamos todos os carnavais juntos. Claro que tivemos algumas discussões, afinal, era carnaval e mal nos conhecíamos. Eu só queria aproveitar”, recorda.
 
Após oito meses de namoro, Patrícia e Robert se casaram. Para a empresária, o cupido do relacionamento foi o acaso. “Estava destinado. Eu não esperava me casar tão cedo, ainda mais com alguém que conheci no meio de uma folia e bêbada”, brinca. Há mais de uma década juntos e com dois filhos, ela ressalta que, hoje, eles optam em passar o feriado com a família. “Já curtimos tanto, que preferimos levar uma vida mais tranquila”, diz. Para aqueles que esperam encontrar a alma gêmea durante a festa, ela sugere: “Acredite no seu destino, ele é uma chance para o amor”.
 
Amor despretensioso
 
Sem pretensão ou interesse em se relacionar. Foi assim que a comunicadora Ingrid Castilho, 27, e o administrador Hugo Senna, 33, se conheceram. O casal se encontrou durante o bloquinho Vai com as profanas. “Minha primeira impressão dele foi engraçada. Não entendi a fantasia que ele estava usando. Ele veio me explicar depois que estava de padeiro e que faltava alguns acessórios de identificação. Ou seja, eu nunca ia adivinhar”, rememora Ingrid.
 
O casal conta que trocou olhares durante a festa e, por incentivo de um amigo, Hugo foi conversar com a parceira. “Ele falou que ela era o meu número. Certa hora, nos esbarramos e me apresentei”, lembra o administrador que, em seguida, pegou o telefone da comunicadora, mandou algumas mensagens e começou a conversar. “Nos encontramos em outros dois blocos, eu sempre com a mesma fantasia. Brasília tem disso, até porque não era um carnaval tão cheio”, afirma. Ele brinca: “Essa é a minha dica infalível, tem que usar a mesma fantasia. Se deu certo uma vez, mantenha”.
 
Os parceiros explicam que, naquele momento, não estavam à procura de nenhum pretendente. “No carnaval, não há muitas pessoas à procura de namoro. Existe, mas não era o nosso caso. Penso que nunca devo estar fechado para o amor. Vai que me apaixono? E foi o que aconteceu”, ressalta Hugo. Nascida em Vitória, no Espírito Santo, Ingrid compartilha que não pensava em relacionamento na época. “Estava tranquila, não tinha pretensões de encontrar ninguém. Tinha acabado de chegar a Brasília, queria focar no trabalho que tinha conseguido e que me deu a oportunidade de vir morar na capital do país.”
 
Há quase três anos com Hugo, a comunicadora dá a dica como manter um relacionamento após a folia: “Há uma música que fala que os opostos se distraem e os dispostos se atraem. Eu acho que resume bem o que eu quero dizer. Para começar um relacionamento, é preciso estar disposta a dar uma oportunidade para a pessoa mostrar quem ela é e ser feliz”, aconselha. Para Ingrid, independentemente de carnaval, o que importa é ambos combinarem. “No nosso caso foi isso. Além de atração física, descobrimos coisas em comum e, assim, nos conhecemos com o passar dos anos. A dica principal é manter sempre o respeito e o amor.”

A empresária Patrícia Mrad, 31, não acreditou que a paquera do militar Robert Wagner, 32, resultaria em um relacionamento sério  

A empresária Patrícia Mrad, 31, não acreditou que a paquera do militar Robert Wagner, 32, resultaria em um relacionamento sério

 



Cupido
 
De acordo com a especialista em terapia de casal e psicóloga Lia Clerot, não existe bom período para encontrar o amor e, durante o carnaval, as pessoas estão mais abertas ao flerte. “Estão mais relaxadas e divertidas, o que facilita o processo de sedução e encantamento pelo outro”, diz. Lia afirma que, durante o festejo, o consumo de bebida alcoólica muda o comportamento das pessoas. “O medo da rejeição é menor, justamente pelo clima de festa e por causa da ideia de que no carnaval ‘tudo pode’. Por outro lado, esse mesmo clima de descontração pode levar a uma relação descompromissada, efêmera e superficial”, comenta.
 
A psicóloga salienta que o carnaval é visto como uma data de satisfação pessoal e momentânea. “A mentalidade, geralmente, é de encontrar alguém para se satisfazer, não para conhecer em profundidade.” Para o relacionamento durar e dar certo, Lia adverte que as pessoas precisam ter em mente que a máscara é só na fantasia. “Não adianta sustentar uma personalidade que, passada a folia, não existirá. É claro que isso não quer dizer despejar todos os seus defeitos, mas agir com naturalidade, sem forçar situações ou afinidades que não se sustentarão”, recomenda.
 
Mas como lidar com casos em que não há interesse de uma das partes? “Esteja preparado para o ‘não’ e não se culpe ou despeje esse sentimento no outro. Existem várias razões para um relacionamento não ir para frente, não quer dizer que há algum problema com você e deve aceitar isso”, ressalta a terapeuta. “A insistência, além de ser aversiva também pode ser encarada como um assédio se passar dos limites. Mostre que entende o fato de não querer levar uma relação a sério e avalie a possibilidade de manterem uma amizade”, acrescenta. Para ela, o amor de carnaval pode dar certo: “A paixão fulminante em meio a confetes e serpentinas pode sim ser um grande amor, mas só o tempo pode construir uma relação com solidez”, acredita.
 
*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão
 
Para manter a relação
 
Especialista em terapia de casal e psicóloga Lia Clerot dá as seguintes dicas para os casais:
  • Saiba separar o indivíduo de quem ele está sendo no carnaval: às vezes, o interesse pode ser muito mais por quem o outro está sendo naquele instante do que por quem realmente é. E quando o carnaval vai embora, todo aquele encantamento se vai, dando lugar à decepção;
  • Mantenha-se aberto ao diálogo, mesmo que nos ambientes de festa isso não seja tão favorável, já que estamos falando de um casal em meio a uma multidão falando alto ou até gritando e música alta;
  • Não aumente as expectativas: tente manter o controle, pois a rejeição de um amor não correspondido é realmente muito penosa. Quando o outro se sente pressionado, fica desconfortável e não há atração que resista. Uma pessoa que transparece grandes expectativas em cima do outro também tende a se mostrar insegura, provocar situações de ciúmes, afastando as possibilidades de interesse do outro.
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Correio Braziliense sábado, 15 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: FOLIA DE CONVIDADOS

 

Folia de convidados
 
 
 
Confira quem faz participação especial no pré-carnaval brasiliense: blocos recebem artistas como Otto, Alice Caymmi, Lan Lanh e Ellen Oléria

 

Nahima Maciel
Roberta Pinheiro

Publicação: 15/02/2020 04:00

Alice Caymmi no bloco Sereia sem pé; Ellen Oléria e Lan Lanh na Essa boquinha eu já beijei; e Otto e Totonho no Cafuçu do Cerrado. O pré-carnaval de Brasília começa com uma lista de convidados selecionados para dar um toque de diversidade na folia brasiliense.
 
Ellen Oléria: desejo de mostrar outros caminhos de curtir a festa
 (Helen Salomão/Divulgação)  

Ellen Oléria: desejo de mostrar outros caminhos de curtir a festa

 

 
Folia poderosa
 
De sangue brasiliense, a cantora Ellen Oléria conta que foi adotada pelo carnaval baiano. Foram sete anos seguidos participando de encontros com blocos afro-brasileiros, com Carlinhos Brown e Claudia Leitte. “Sou um filhotinho do carnaval de Salvador. Ali fui alfabetizada na folia”, descreve. A essência desses encontros, da música baiana misturada com o repertório da artista sob os arranjos da banda do bloco carnavalesco Essa boquinha eu já beijei, é o que Ellen Oléria prepara para a festa pré-carnavalesca brasiliense.
 
Para celebrar o sétimo ano de folia, o bloco Essa boquinha eu já beijei apresenta no baile oficial, além de nomes importantes do cenário musical local, Ellen Oléria e a compositora e percussionista. “Acho muito forte ter um elenco feminino no palco tocando, será poderoso”, afirma. Esta é a primeira vez que a brasiliense deixa o posto de foliã para cantar durante o carnaval em Brasília. “É um espaço para a galera brincar se sentindo um pouco mais segura. O público que frequenta o bloco já vem sob essa convocação de uma folia antirracista, anti- homofóbica. Um carnaval da paz. Cada vez percebo um número maior de pessoas. Essa pauta de uma brincadeira cheia de equidade está sendo aderida não apenas pelo público LGBTQI, mas todos que levam isso no seu cotidiano”, comenta.
 
Com cinco discos lançados e vários prêmios conquistados em festivais brasileiros, Ellen Oléria desfilará a potente voz no pré-carnaval da capital, bem como unirá o ativismo e a representatividade que exerce na convocação do bloco. “Carnaval nos convida a mergulhar em outras vivências, não precisa de brutalidade. A gente não tem como impedir que as pessoas manifestem aquilo que elas carregam consigo, mas existe uma vibração muito forte. A gente quer mostrar outros caminhos da brincadeira, outras formas de extravasar. É uma festa altamente popular e uma possibilidade de vestir muitas mascaras, ser muitas pessoas, revigora nosso modo de compreensão de sociedade. Nosso desejo não é conter a violência, mas mostrar que temos outros caminhos de curtir sem ofender, sem abusar e respeitando o espaço do outro”, avalia.
 
Ellen e Lan  Lan se unem à banda oficial da boquinha, composta por Letícia Fialho (voz), Sam Defor (voz), Ju Rodrigues (Voz), Ive Lorena (voz), Larissa Umaytá (percussão), Anne Caroline Vasconcelos (percussão), Pricila Pit (percussão), Fernanda Pinheiro (percussão), Mariana Sardinha (cavaquinho), Irene Egler (violão), Bruna Tassy (contrabaixo e voz) e Thanise Silva (flauta) e Tamara Maravilha (DJ). O show contará, ainda, com a participação de Isadora Pina (saxofone e voz) e Lili Santos (trombone). “É lindo ver nossas meninas virando grandes e poderosas no palco”, pontua Ellen.
 
Alice Caymmi puxa a folia pela primeira vez em Brasília
 (Lema +/Divulgação)  

Alice Caymmi puxa a folia pela primeira vez em Brasília

 

 
Repertório dançante
 
Prometendo uma mistura inusitada a partir das divas do pop e funk nacional e internacional, o Bloco da Sereia Sem Pé e Móveis Coloniais de Acaju Convidam apresenta: Mulheres de Carnaval. Uma folia pré-carnavalesca entoada por vozes femininas: integrantes do Bloco da Sereia sem Pé, Dj Nana Yung, Batalá, Dj Janna, Realleza, Patubadelas, Dj Donna e a carioca Alice Caymmi. Com uma herança musical forte, Alice puxa a folia pela primeira vez no carnaval brasiliense.        
 
Na capital, ela chega com o repertório do novo projeto Elétrika. Além da voz forte, a cantora e compositora tem os elementos que o período pede: músicas animadas e dançantes. “Eu sou uma artista de origem tradicional, mas que vive o seu próprio tempo. Escolhi não me alienar apesar de ter sido criada nos moldes da ‘alta cultura’. Um artista que não vive no seu tempo, não expressa a ideia de sua era e não tem expressão não é artista. Acho que a imprevisibilidade do meu trabalho abala uns e agrada a muitos porque a surpresa ainda é um dos fatores chaves da criatividade”, afirma a cantora.
 
Otto quer sentir como a cidade se transforma durante o carnaval
 (José de Holanda/Divulgação)  

Otto quer sentir como a cidade se transforma durante o carnaval

 

 
Nordeste no Cafuçu
 
Otto conhece bem Brasília, mas nunca passou um carnaval na capital. Está na expectativa de ver como a cidade “se transforma” durante a folia. “Quero ver as fantasias, como é que Brasília reage, qual a visão de Brasília. A cidade tem uma personalidade própria, é uma cidade que tem muita consciência, e é isso que vai valer”, diz o músico, que se apresenta amanhã, no Setor Bancário Norte, como convidado do bloco Cafuçu do Cerrado.
 
O repertório, ele promete, é o mesmo do show que fará no carnaval de Recife, uma tradição na agenda de Otto. “Vai ser meu repertório todo”, avisa. “Todo show eu mudo, e, no do carnaval, mudo um pouco mais. Não sei explicar como, acho que penso antes, a data é uma outra postura, então, puxo frevo, ciranda, sou mais eclético, puxo meus cânticos. O show de carnaval sai um pouco da forma convencional, tem uma temática mais alegre, ufanista, é mais emotivo.”
 
Para Otto, o brasiliense está acostumado a ter um carnaval animado e a dançar, sobretudo, ao som da pegada nordestina. “Quando vou para aí, vejo que a turma tem um panorama brasileiro maior, não é tão local. Brasília é mais Brasil, tem esse lado político desse grande escritório da política brasileira, mas tem outro lado, com uma juventude que ferve. E que, no meu caso, não é reacionária, careta, pelo contrário, a juventude de Brasília que conheço está na resistência”, acredita Otto, que leva ao palco a própria banda.
 
Totonho é o segundo convidado do bloco e sobe ao palco com a Orquestra Cafuçu. Ele promete um repertório com alguns funks inéditos e faixas do disco mais recente, Coco ostentação. “E mais algumas levas de break music e dos funks genéricos que sempre toco. O funk é uma música de sarrabulhagem, pra não falar de entretenimento, porque a gente não faz música exclusivamente de entretenimento”, avisa o músico. Ele promete músicas como Segura a cabra, Nhenhenhém e Tudo pra ser feliz. “As mais conhecidas do repertório”, garante. Totonho também deve fazer uma participação especial no show de Otto, e os dois programam um dueto durante o bloco.
 
Sobre a violência no carnaval, os músicos acreditam que, para combatê-la, é preciso também solidariedade. Durante o bloco Quem chupou vai chupar mais, no último dia 8, o adolescente Matheus Barbosa, de 18 anos, foi assassinado a facadas enquanto brincava. “Uma pena ter acontecido isso. Em Recife já teve muito, mas a gente lida melhor com a multidão, com a bebida. O mais importante de tudo é o bloco. O bloco cuida, é um cuidando do outro, esse é o segredo de ter bloco, é para a família, os amigos, a gente faz bloco pra isso”, diz Otto.
 
Para Totonho, a questão da violência no carnaval vai além da segurança pública. “A violência não é um problema apenas de segurança pública, é um problema de esperança e desesperança da própria sociedade. Se não  acabar com a ignorância, não acaba com a miséria. Brasília é um lugar tão especial do ponto de vista do que significa... E tudo que acontece aí reverbera muito rápido para o país, então acho que essas coisas são mesmo fugas de infelicidade”, acredita o músico.
 
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Correio Braziliense sexta, 14 de fevereiro de 2020

SUPERCOPA DO BRASIL: BRASÍLIA RECEBE O FLAMENGO

 

SUPERCOPA DO BRASIL
 
Prova de títulosFlamengo ou Athletico-PR?
 
 
Levantamos qual elenco coleciona mais conquistas de torneios semelhantes ao que será disputado neste domingo, no Mané Garrincha. Senhor dos troféus é do Furacão.

João Romariz
Marcos Paulo Lima

Publicação: 14/02/2020 04:00

Rafinha tem cinco títulos de supercopas no currículo, todas pelo Bayern de Munique (Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Rafinha tem cinco títulos de supercopas no currículo, todas pelo Bayern de Munique

 




Lançada em 1990 pela CBF, abandonada por 28 anos e ressuscitada nesta temporada, a Supercopa do Brasil será disputada pela terceira vez no domingo, às 11h, no Mané Garrincha, mas o formato do evento não é novidade para nove jogadores e dois técnicos. O Correio fez uma prova de títulos entre os personagens inscritos no torneio. A julgar pelo peso do currículo, o Flamengo entrará em campo com mais especialistas nesse estilo de torneio do que o Athletico-PR.

Atual campeão brasileiro, o rubro-negro carioca conta com seis personagens campeões de supercopas nacionais e/ou continentais na carreira — cinco jogadores e o técnico Jorge Jesus. Juntos, eles somam 18 taças. O Athletico-PR conta com três atletas vencedores e o treinador Dorival Júnior, totalizando 15 títulos.

O lateral-direito Rafinha ostenta quatro Supercopas da Alemanha e uma da Uefa. Filipe Luís é outro papa-títulos. Ganhou três com a camisa do Barcelona e um pelo Ajax. Diego participou de uma conquista do Porto e outra do Fenerbahçe, último clube dele antes de chegar ao Flamengo. O reserva Vitinho tem dois pelo CSKA Moscou, da Rússia. Capitão do time carioca, Éverton Ribeiro faturou duas supercopas na Arábia Saudita, ambas pelo Al-Ahli.

O técnico Jorge Jesus é especialista no assunto. Brindou o Benfica com a Supertaça Cândido de Oliveira, em 2014; e o Sporting, em 2015. Três anos depois, levou o Al-Hilal ao degrau mais alto do pódio na Arábia Saudita. Isso explica a gana do português pelo troféu inédito na carreira. “O importante para nós é dia 16, em Brasília, na final da Supercopa. Estamos em um nível muito melhor e maior, com todo o respeito que tenho pelo Campeonato Carioca”, disse o treinador no início deste mês, depois da vitória sobre o Resende na Taça Guanabara.

O Athletico-PR tem o senhor dos troféus. Nenhum jogador inscrito para a final tem mais títulos de supercopas do que Adriano. O veterano lateral-esquerdo de 35 anos empilhou taças na Espanha. De carona nas eras douradas do Sevilla e do Barcelona, exibe no currículo três Supercopas da Uefa e quatro Supercopas da Espanha. Sete no total.

Lucho González é outro pé-quente. O argentino tem cinco títulos de supercopa com as camisas do Olympique Marselha, da França, e do Porto, de Portugal. Marquinhos Gabriel participou da campanha do Internacional na conquista da Recopa Sul-Americana de 2011. Ele fazia parte do elenco comandado por Dorival Júnior, técnico colorado à época.

Até ontem, 40 mil ingressos haviam sido vendidos para a decisão. O campeão brasileiro (Flamengo) ou da Copa do Brasil (Athletico-PR) entrarão na seleta sala de troféus ao lado do Grêmio (1990) e do Corinthians (1991).



A estreia do Furacão em 2020
O Furacão chegou um pouco mais tarde e também está concentrado no Setor Hoteleiro Norte. Menos badalado do que o rival de domingo, o clube de Curitiba ainda não fez nenhuma partida com o elenco profissional em 2020. Dorival Júnior contará com a base do time campeão da Copa do Brasil 2019. A ausência sentida é de Bruno Guimarães. O jovem meio campista de 22 anos foi vendido para o Lyon, da França, por 25 milhões de euros (cerca de R$ 115 milhões de reais).




Já ganhei Supercopa na vida...


Flamengo


» Rafinha
5 títulos
Supercopa da Alemanha (2012, 2016,
2017 e 2018) e Supercopa da Uefa (2014)
Clube: Bayern Munique

» Filipe Luís
4 títulos
Supercopa da Uefa (2010, 2012
e 2018) e Supercopa da Holanda (2005)
Clube: Atlético de Madrid e Ajax

» Éverton Ribeiro
2 títulos
Supercopa da Arábia Saudita (2014 e 2018)
Clube: Al-Ahli

» Diego

2 títulos
Supertaça de Portugal (2004)
e da Turquia (2014)
Clubes: Porto e Fenerbahçe

» Vitinho
2 títulos
Supercopa da Rússia (2014 e 2018)
Clube: CSKA Moscou

» Jorge Jesus
3 títulos
Supertaça Cândido de Oliveira (2014, 2015 e 2018)
Clubes: Benfica, Sporting e Al-Hilal


Athletico-PR

» Lucho González
5 títulos
Supercopa da França (2010 e 2011) e Supertaça Cândido de Oliveira (2006, 2012 e 2013)
Clubes: Olympique de Marselha e Porto

» Adriano

7 títulos
Supercopa da Uefa (2006, 2011 e 2015) e Supercopa da Espanha (2007, 2010, 2011, 2013)
Clubes: Barcelona e Sevilla

» Marquinhos Gabriel
1 título
Recopa Sul-Americana (2011)
Clube: Internacional

» Dorival Júnior
1 título
Recopa Sul-Americana (2011)
Clube: Internacional
 
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Correio Braziliense quinta, 13 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: FESTA ANINA O COMÉRCIO

 

Festa anima o comércio
 
Com mais brasilienses ficando na cidade, varejo projeta aumento nas vendas, principalmente em bares e restaurantes. Abertura de shoppings durante o feriado também é motivo de entusiasmo

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 13/02/2020 04:00

Dona de um armarinho, Isabelle Estrela, 24 anos, considera o carnaval como um  

Dona de um armarinho, Isabelle Estrela, 24 anos, considera o carnaval como um "segundo Natal", tamanho o aumento na procura por acessórios

 


Renata Tomazini mora em Alexânia (GO), mas veio fazer compras no DF  (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Renata Tomazini mora em Alexânia (GO), mas veio fazer compras no DF

 

Colombiana Sharon Latorre passará o carnaval na capital pela primeira vez (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Colombiana Sharon Latorre passará o carnaval na capital pela primeira vez

 



» DARCIANNE DIOGO
 
O carnaval na capital federal deve atrair 1,2 milhão de pessoas, segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). Com esse quantitativo, a pasta calcula que, no período, sejam injetados R$ 240 milhões na economia do Distrito Federal. A transferência da festa na Esplanada dos Ministérios para a Fundação Nacional das Artes (Funarte) fez o comércio reduzir a projeção de venda: a previsão de crescimento será de 2% — mesmo percentual do ano passado —, de acordo com a análise do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). Mas nem isso tirou o otimismo dos comerciantes, que estão com boas expectativas.

Para o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, os setores que mais terão crescimento no carnaval serão as lojas de fantasias, armarinhos, bares e restaurantes. “Embora tenhamos perdido cantores nacionais que poderiam atrair mais turistas, o carnaval de Brasília não deixa de movimentar o setor econômico. Estamos próximos de grandes cidades, em que há moradores que vêm para cá curtir os blocos de rua”, explicou.

Neste ano, uma novidade é a abertura dos shoppings durante os dias da festa. “É um investimento a mais na economia. Até porque muitos centros comerciais farão bailes infantis e matinês. Então, as pessoas que não gostam dos blocos de rua irão procurar estabelecimentos como esse para gastar”, projetou Edson de Castro. Segundo ele, com o retorno antecipado dos alunos às instituições de ensino, a expectativa é de que menos pessoas viajem nesse período. “No ano passado, mais de 300 mil pessoas viajaram, porque as aulas começaram mais tarde. Agora, estimamos que 200 mil pessoas saiam do DF, o que é positivo”, destacou.

Isabelle Estrela, 24 anos, é uma das administradoras de um armarinho na 307 Sul que vende acessórios de carnaval. A loja traz uma diversidade de itens: tiaras, tules, brincos, presilhas, blusas e máscaras. A jovem conta que as marcas fornecedoras começaram a entregar as peças de carnaval no fim de janeiro. “As empresas que nos abastecem começaram a sentir que o público está procurando acessórios específicos de festa e mudaram a coleção. Costumo falar que esta época é o nosso segundo Natal, porque vendemos muito”, pontuou.

Segundo ela, a loja tem investido em peças artesanais para atrair os compradores. “Todos gostam de um acessório diferente, que nenhuma outra loja tem. Esse é o nosso diferencial. Além disso, o preço varia bastante, vai de brinco, de R$ 5, até tiara de R$ 70. Acredito que, com isso, venderemos muito, até porque as pessoas estão antecipando as compras”, ressaltou.
A colombiana Sharon Latorre, 30, mora em Brasília há oito meses. Ela passará o carnaval na capital pela primeira vez, mas preferiu adiantar as compras. “Estou em busca de acessórios de cabelo e calculei que vou gastar R$ 100. No geral, os preços estão ótimos. Achei brincos de R$ 10 e tiaras de R$ 12. O ideal é comprar o quanto antes, porque, em cima da hora, tudo aumenta de preço”, disse.

Marlúcia Dionísio, 42, gerencia um estabelecimento de artigos de festa na Asa Sul. Ela também se diz otimista quanto à economia no período do carnaval. “Começamos a abastecer a loja com acessórios específicos há um mês, justamente porque as pessoas começam a procurar. A expectativa é a melhor e, com certeza, fevereiro é o melhor mês para nós em questão de lucro”, frisou. 

A engenheira civil Renata Tomazini, 25, passará o carnaval em Alexânia (GO), mas decidiu comprar os adereços aqui na capital. “Na última semana, as lojas costumam aumentar o preço ou as peças vão acabando. Visitei alguns armarinhos, mas os preços estão bem parecidos, na média”, contou.

Expectativa
 
Segundo o economista da G2W Investimentos Ciro Almeida, neste período, é natural haver um fluxo de atividade econômica maior na capital. “Brasília se tornou um dos principais destinos de carnaval, não necessariamente por causa da entrada de turistas, mas porque o brasiliense está viajando menos. Há uma retomada da atividade do comércio nessa época, principalmente no mercado informal. Os trabalhadores aproveitam os blocos para vender espetinho, água, comidas e gerar uma renda extra. Os shoppings também irão abrir, e isso é positivo. Quem não gosta de folia leva a família para passear”, afirmou.

De acordo com ele, o nicho de fomento à economia no período de festa será o de restaurantes e bares. “Esses estabelecimentos que ficam próximos ao evento tendem a ter uma demanda alta de clientes, o que acaba refletindo na atividade de consumo.”

José Carlos Eira, 43, é gerente de um bar na 201 Sul e espera aumentar em 45% o lucro do local com o carnaval. Na tentativa de atrair mais clientes nesta época, José conta que reformou o estabelecimento e aderiu a cardápios exclusivos para a festa. “Estaremos com mais opções de cerveja e promoveremos shows nos dias de folia. A reinauguração está marcada para domingo, data próxima à do começo das festas. Para nós, este é o melhor momento de faturamento, porque o bar lota, e as pessoas sempre vêm para beber e pedir petiscos”, disse, animado.
 
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Correio Braziliense quarta, 12 de fevereiro de 2020

COMBUSTÍVEIS: APROVA REFORMAS PARA REDUZIR PREÇOS

 

COMBUSTÍVEIS
 
 
Aprovar reformas para reduzir preços
 
Paulo Guedes diz a governadores que solução para baixar os impostos sobre os produtos está na aprovação da proposta que altera o sistema tributário e a do pacto federativo. Na semana passada, Bolsonaro sugeriu que chefes de Executivos zerassem o ICMS de gasolina e diesel

 

Marina Barbosa

Publicação: 12/02/2020 04:00

Governadores criticaram Bolsonaro e disseram que não podem abrir mão do ICMS, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o imposto (Ed Alves/CB/D.A Press
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Governadores criticaram Bolsonaro e disseram que não podem abrir mão do ICMS, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o imposto

 

 
A solução para a alta carga tributária da gasolina e do diesel não será alcançada de forma tão simples e rápida quanto sugeriu o presidente Jair Bolsonaro — na semana passada, ele desafiou os governadores a zerarem os impostos que incidem sobre os combustíveis. Quem indicou isso foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tratou dessa questão com os governadores ontem.
 
Guedes vinha evitando fazer comentários sobre o desafio dos combustíveis desde que essa proposta foi anunciada, na imprensa e nas redes sociais, por Bolsonaro. Mas, ontem, cancelou um almoço com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para participar do Fórum de Governadores, que reuniu, em Brasília, representantes das 27 unidades federativas em torno da questão dos combustíveis.
 
O ministro foi ao evento com o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, e com o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Ele saiu sem falar com a imprensa. Mas segundo os governadores, fez um discurso apaziguador em relação aos combustíveis. Guedes teria dito que, apesar do desafio lançado por Bolsonaro, essa é uma questão que não pode ser resolvida imediatamente e que, portanto, não vai tirar uma fonte de receita importante para os estados de uma hora para outra.
 
“Guedes interpreta essa questão como uma sugestão de médio e longo prazos. Ele sabe que esse assunto só pode ser resolvido na medida em que houver a aprovação da reforma tributária e do pacto federativo, já que nem os estados nem a União podem abrir mão dessa receita agora”, contou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. “O ministro está ciente da absoluta restrição que os estados têm de zerar o ICMS imediatamente. E fez uma colocação de que a fala do presidente deve ser entendida como um apelo e um chamamento para que o tema da tributação seja enfrentado pelo país”, acrescentou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
 
Os chefes de Executivos, que já vinham criticando o posicionamento adotado por Bolsonaro em relação à alta dos combustíveis, explicaram que não é possível zerar os tributos dos produtos de uma hora para outra, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o ICMS e quase R$ 30 bilhões da arrecadação anual da União. Seria uma renúncia, portanto, que atrapalharia as contas públicas e precisaria ser compensada com cortes de gastos ou criação de outra fonte de receita.
 
“Todos nós estávamos muito preocupados com a maneira, de certo modo irresponsável, que o presidente colocou esse debate tão importante. Todo mundo sabe das dificuldades dos estados de manter o custeio da máquina pública, a saúde, a educação, a segurança”, frisou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. “A própria União teve um prejuízo de R$ 90 bilhões nas suas contas no ano passado. Por isso, esperamos que esse debate seja feito de forma responsável”, emendou ele, que chegou a falar de maneira mais dura com Guedes durante o fórum.
 
Impacto
Ibaneis explicou que Bolsonaro apresentou o desafio de zerar os tributos dos combustíveis sem consultar os estados. E, dessa forma, acabou jogando para os governadores a responsabilidade pelo alto custo dos produtos, sem entender o impacto que a medida teria tanto nos cofres estaduais quanto nas contas da União. Foi por isso, inclusive, que os chefes de Executivos preferiram chamar Guedes, e não Bolsonaro, para discutir o assunto ontem. “Vamos tratar isso com o ministro, porque é ele que pode dizer se há condições de os estados e a União abrirem mão dessa receita. (...) Vamos dar nosso recado via Paulo Guedes, que é quem entende de economia”, alfinetou Ibaneis.
 
Também por conta desse mal-estar criado para os gestores estaduais, os governadores cobraram que o governo federal vá a público apresentar o mesmo esclarecimento que Guedes levou ao fórum, ontem, de que essa questão não deve ser resolvida no curto prazo, como sugeriu Bolsonaro. “Uma fala curta do presidente da República sobre esse tema rapidamente deflagrou uma percepção equivocada de que é possível zerar os impostos sobre os combustíveis imediatamente”, disse Eduardo Leite. “(...) Então, pedimos um posicionamento mais claro, para que não haja qualquer expectativa sendo gerada na população, porque isso só geraria frustração, frustração que acaba prejudicando a nossa economia.”
 
Propostas
Os governadores garantem, por sua vez, que estão dispostos a rever a política de tributação dos combustíveis. O que eles defendem, contudo, é que essa questão seja discutida com a reforma tributária e as propostas do pacto federativo, que já estão no Congresso. Afinal, de um lado, a reforma tributária pode reduzir a alíquota de produtos, como a gasolina, já que vai unir os diversos impostos de consumo em um único tributo de menor alíquota. E, de outro, o pacto federativo pode ampliar os repasses da União para estados e municípios, criando uma nova fonte de receita que compensaria a perda com a redução dos impostos dos combustíveis.
 
“A população pode cobrar a redução dos impostos, mas precisa entender que essa mudança virá ao longo do ano. (....) Este não é um momento para sobressaltos. A população deve saber que nós estamos caminhando para as reformas econômicas e que isso não pode ser feito de uma hora para outra”, afirmou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
 
Ibaneis fez coro: “Quem sabe, no futuro, com a reforma tributária e o pacto federativo, nós tenhamos condições de reduzir os impostos dos combustíveis e de outros produtos. Por que não zerar os impostos dos alimentos, sobretudo para a população mais carente? E por que não zerar os impostos dos medicamentos de uso contínuo? Mas tudo deve ser feito com responsabilidade”.
 
“Estamos apanhando há 15 dias”
Em áudio captado por cinegrafistas na hora que foram autorizados a fazer imagens da reunião, é possível ouvir uma discordância entre Ibanei e Guedes. O governador do DF reclamou “da forma irresponsável como esse debate foi trazido pelo presidente da República”. O ministro o interrompeu, reclamando do termo “irresponsável”. Ibaneis o cortou, afirmando que “nós governadores estamos apanhando há 15 dias, de todo mundo, inclusive dos filhos do presidente. Estamos recebendo sua vinda aqui com muito carinho, porque agora estamos vendo uma interlocução”.
 
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Correio Braziliense terça, 11 de fevereiro de 2020

CED 6 DA CEILÂNDIA: ESCOLA PÚBLICA, SIM SENHOR!

 

ELES ENCHEM O ENSINO PÚBLICO DE ORGULHO

Com apoio familiar, investimento em autoestima e dedicação dos professores, 69 alunos de escola  de Ceilândia conquistaram vaga na UnB em 2020., Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press

Com apoio familiar, investimento em autoestima e dedicação dos professores, 69 alunos de escola de Ceilândia conquistaram vaga na UnB em 2020.

 

 

Escola pública, sim senhor!
 
O CED 6 de Ceilândia aprovou 69 alunos na UnB no primeiro semestre letivo de 2020. A escola investe em apoio familiar, autoestima do aluno e trabalho em conjunto com o corpo docente. Confira ainda a lista com a segunda chamada do PAS

 

Isadora Martins*
Millena Campello*

Publicação: 11/02/2020 04:00

 

O diretor Jefferson Lobato e os alunos do CED 6 aprovados na UnB: união e foco no ensino
 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press - 3/2/20)  

O diretor Jefferson Lobato e os alunos do CED 6 aprovados na UnB: união e foco no ensino

 

 

Esperança, dedicação e conhecimento. Esses são os pilares que levaram o Centro Educacional (CED) 6 de Ceilândia a aprovar 69 alunos na Universidade de Brasília (UnB), de acordo com o diretor, Jefferson Lobato, e o orientador da escola, Aleksandro Azevedo. “Vamos além do conteúdo. Trazemos cultura. Investimos em teatro e atividades extracurriculares”, diz o orientador, que acredita que o diferencial da instituição é o trabalho em conjunto.

 

A professora de português Glaucia Lamarc, por exemplo, procura trabalhar a autoestima dos estudantes em sala de aula. “Os alunos não acreditam que são capazes de competir com quem vem de escola particular. Fortaleço a identidade deles até que acreditem em si”, afirma. A recompensa, para ela, é vê-los felizes. “Professores podem não ter o retorno financeiro desejado, mas isso volta em forma do legado dos alunos. O resultado deles é o nosso legado.”

 Em 2003, a instituição foi considerada a pior do Distrito Federal. No entanto, o que deveria ter desanimado professores e alunos serviu como inspiração. “A comunidade se juntou para fazer uma revolução. Reconstruímos a cultura da escola”, explica Jefferson. O corpo docente mudou as estratégias. A partir dali, todos os alunos que entrassem na escola saberiam o que é o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e como a educação pode reconstruir realidades.

 “Hoje, além de falar do PAS desde o primeiro dia, envolvemos a família e ela incentiva o aluno”, explica Jefferson. Por isso, aproximadamente 70% dos estudantes do terceiro ano são aprovados em faculdades públicas e particulares. Para o diretor, esse número é muito bom, tendo em vista que boa parte passa por dificuldades enormes, desde não ter o que comer em casa até a ausência de pais. “Ver um aluno que vem dessa realidade entrar na UnB é fantástico. Dá muito orgulho. Isso me motiva”, emociona-se.

 O diretor planeja levar os futuros universitários para falar com os novos estudantes, reforçando a ideia de que educação pode mudar vidas. A expectativa é de que, neste ano, pelo menos 100 dos 320 alunos do terceiro ano ingressem na UnB.

 

Perseverança sempre

 

Levi Durães, 19, concluiu o ensino médio no CED 6 em 2018. Filho de uma enfermeira, o curso dos sonhos dele era medicina, mas, na época, ele não passou pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por poucos pontos. “Quando eu não fui aprovado, foi um choque. É uma frustração muito grande”, lembra.

Entretanto, Levi não desistiu. Ele traçou novas estratégias de estudo para 2019 e, com muita dedicação, conquistou uma vaga na Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs) este ano. O morador do Por do Sol, em Ceilândia, conta que estudou em casa, por meio de videoaulas e apostilas da internet. “Estudava cerca de nove horas por dia, durante um ano”, relata.

 

Agora, com uma vaga garantida na faculdade, pretende ajudar mais estudantes a conquistarem o mesmo sonho. “Quero apoiar outros jovens que desejam entrar na universidade, seja em um curso concorrido ou não. Eu fiz o Enem duas vezes, então acabei acumulando alguns conhecimentos sobre a prova”, diz. “Quanto aos planos para a minha faculdade, tentarei ser o aluno aplicado que sempre fui no ensino médio”, acrescenta.

 O conselho dele para os vestibulandos é ter calma. “Essa fase é um misto de sentimentos e ansiedade. Ter um mínimo de controle emocional ajuda muito. E estudar. Tem que se esforçar para chegar a algum lugar.”

 

Um sonho realizado

 “Eu fiquei muito feliz (quando soube da aprovação). Não esperava. Tive notas muito boas no PAS, mas, ainda assim, não acreditava em mim da forma como deveria”, conta Samira Sousa, 17. A estudante, que cursou o ensino fundamental e ensino médio em escolas públicas, foi aprovada para direito na UnB. A escolha do curso foi inspirada por familiares que trabalham na área. “Sempre foi meu sonho. No 3º ano do ensino médio, estagiei no TJDFT, gostei muito e tive certeza de que é o que quero fazer.”

 De acordo com a moradora do P Sul, a dica para a aprovação pelo PAS é focar os conteúdos ensinados em sala de aula. “Eu sempre me dediquei às disciplinas ensinadas no ensino médio”, conta. “É importante aproveitar cada oportunidade que a escola proporciona.”

 

Dedicação máxima

 

Júlia Alves, 17, também faz parte da lista de estudantes do CED 6 aprovados pelo PAS. A caloura da UnB, que sempre foi das exatas, conquistou uma vaga no curso de ciências contábeis. “Tirava notas boas na escola e me dediquei ao máximo aos conteúdos e às dicas que os professores passavam em sala de aula”, conta.

 Filha de professora da rede pública e de um gerente de marketing, Júlia estudou até o 4º ano do ensino fundamental em escola particular. Os outros anos cursou em escola pública. O conselho que a estudante dá para jovens da escola pública que sonham em passar em uma universidade federal é, antes de tudo, acreditar. “Não é impossível”, garante. “Se a gente se dedicar um pouco mais, consegue.”

 A expectativa de Jéssica Santos, 18, para a UnB é de viver experiências novas e aproveitar todas as oportunidades que o câmpus tem a oferecer. A partir de março, a estudante cursará estatística na federal. “Eu adoro matemática, sempre me dei bem com números”, conta. 

 

*Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira

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Correio Braziliense segunda, 10 de fevereiro de 2020

OSCAR 2020: PARASITA FAZ HISTÓRIA EM HOLLYWOOD

 

Parasita faz história em Hollywood
 
 
Filme sul-coreano conquista prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor filme internacional e melhor roteiro original. Joaquin Phoenix confirma favoritismo absoluto por Coringa. Documentário brasileiro Democracia em vertigem frustra as expectativas

 

Ricardo Daehn

Publicação: 10/02/2020 04:00

O grande nome da noite foi o do sul-coreano Bong Joon Ho: com Parasita, depois da vitória, em Cannes, promoveu arrastão em Hollywood (Mark Ralston/AFP)  

O grande nome da noite foi o do sul-coreano Bong Joon Ho: com Parasita, depois da vitória, em Cannes, promoveu arrastão em Hollywood

 

 
 
Uma surpresa impactante veio na categoria de melhor direção (Bong Joon Ho) e reverteu toda a expectativa da cerimônia de entrega do Oscar: Parasita venceu, e fez história, trazendo, pela primeira vez, um vencedor estrangeiro como melhor filme e melhor filme internacional. A glória da produção sul-coreana não parou por aí. Parasita também arrebatou a estatueta de melhor roteiro original (dividida com Han Jin Won). Foi a primeira participação da Coreia do Sul na maior festa do cinema mundial. O pioneirismo foi cravado quando Bong Joon saudou a categoria rebatizada de melhor filme internacional (antigo melhor filme estrangeiro). “Aplaudo e apoio a mudança sinalizada pela Academia”, ressaltou o cineasta sul-coreano, em relação ao termo inclusivo. Pela terceira vez, em uma década, houve desacordo entre vencedores do Oscar e o prêmio da Associação dos Produtores (PGA), entidade que laureou A grande aposta (2016), La la land (2017) e 1917 (2020) no pódio. Favorito, este último levou três estatuetas entre as 10 indicações.
 
A mais recente chance de o Brasil ganhar o Oscar foi frustrada pela vitória de Indústria americana. O documentário retrata, com precisão, uma revolução econômica em Ohio. Petra Costa esteve na festa, com o indicado Democracia em vertigem. Ainda antes da entrada no Dolby Theatre, em Los Angeles, a diretora enfatizou que o filme, com visão pessoal e inspirada na análise do impeachment de Dilma Rousseff, era “uma carta de amor ao Brasil”. Ainda que sem o prêmio, Petra aproveitou as redes sociais para alfinetar o presidente Jair Bolsonaro. Com visão desenvolvimentista, o ex-presidente Barack Obama (ao lado da mulher, Michelle), que criou a produtora responsável por Indústria americana, celebrou via Twitter a vitória do filme detido nas “consequências muito humanas de uma mudança econômica devastadora”.
 
Joaquin Phoenix se emocionou ao receber estatueta e pediu compaixão (Mark Ralston/AFP)  

Joaquin Phoenix se emocionou ao receber estatueta e pediu compaixão

 

 
Figura de expressão em Hollywood, Martin Scorsese, com O irlandês, ficou sem nenhum prêmio, entre 10 categorias. Vencedor do Festival de Cannes, o sul-coreano Bong Joon Ho reparou a exclusão, puxando aplausos, de pé, para aquele que considerou “professor”. “Se pudesse, serraria o troféu, para que fosse dividido entre todos vocês”, declarou, deixando clara a enorme admiração pelo concorrente Quentin Tarantino.
 
Redenção, generosidade, compaixão e inclusão foram os lemas nos discursos de melhor ator (Joaquin Phoenix) e a melhor atriz (Renée Zellweger). A exemplo do personagem Don Vito Corleone (do clássico O poderoso chefão), um mesmo personagem (no caso, o protagonista de Coringa) trouxe Oscar para intérpretes de diferentes filmes: depois de Heath Ledger (Batman: o cavaleiro das trevas), Phoenix venceu, no retrato do desesperado palhaço dos quadrinhos. Num discurso emocionante, Phoenix ressaltou a vontade crescente de “utilizar a voz (dele) para aqueles que não têm voz”. Já Bob Dylan, Scorsese e, claro, Judy Garland (papel de Zellweger, em Judy) figuraram no discurso da melhor atriz: “Heróis nos unem e recuperaram o melhor de nós”, destacou.
 
Brad Pitt com o primeiro Oscar como intérprete: homenagem a Tarantino (Mark Ralston/AFP)  

Brad Pitt com o primeiro Oscar como intérprete: homenagem a Tarantino

 

 
Ainda que o rapper Eminem tenha roubado a cena, ao entoar, no palco, a canção vencedora Lose yourself (de 8 Mile: Rua das ilusões), detentora de Oscar, há 17 anos, Janelle Monáe (Estrelas além do tempo) também se destacou, ao abrir o Oscar 2020 com um número musical que compactou ambientação e temas dos indicados. Foi a brecha para que os apresentadores Steve Martin e Chris Rock, além de elogiarem Monáe, enfatizassem o esnobar de talentos negros (pouco indicados) e ainda puxassem a orelha da Academia pelo fato de a diretora Greta Gerwig (de Adoráveis mulheres) não ter sido sequer indicada. Para além do fato da vitória do curta de animação Hair love, que ressaltou o orgulho negro, no palco, a diretora Karen Rupert Toliver enfatizou que “representatividade importa, profundamente”. O filme trata de um pai que se dedica, pela primeira vez, a realizar um penteado na filha negra.
 
As críticas pela ausência das mulheres foi amenizada com coroação na categoria trilha sonora, com a vitória de Hildur Guonadóttir (Coringa). Vinte e cinco anos depois de vencer pela canção de O rei leão, Elton John ganhou pela canção original (I´m gonna) love me again, criada para Rocketman.

Renée Zellweger, melhor atriz, prestou tributo à colega Judy Garland (Mark Ralston/AFP)  

Renée Zellweger, melhor atriz, prestou tributo à colega Judy Garland

 

 
 
Ao receber o primeiro Oscar de atuação, Brad Pitt — melhor ator coadjuvante por Era uma vez em... Hollywood — valorizou aqueles que se dedicam “às acrobacias e cenas de ação nas telas”. O filme ainda ganhou desenho de produção. Numa categoria muito apertada, a de melhor roteiro adaptado, venceu o neozelandês Taika Waititi (Jojo Rabbit), que adaptou um livro dado de presente pela mãe dele: no longa, polêmico, um garoto tem Adolf Hitler como amigo imaginário. Na cerimônia, ele estimulou indígenas a se dedicarem às artes. Na sexta indicação, por Adoráveis mulheres, a figurinista Jacqueline Durran (vencedora, no passado, por Anna Karenina) levou o segundo Oscar, e citou a diretora Greta Gerwig como “uma inspiração”. Ela agradeceu o fato de, sendo mãe, ter contado com apoio para trabalhar fora de casa. Com a vitória de Toy Story 4 como melhor longa de animação, o “amor à família” foi salientado pela comitiva vencedora.
 
O clima família ainda esteve presente no discurso da vencedora na categoria melhor atriz coadjuvante: Laura Dern (História de um casamento). Ela dedicou a estatueta aos “heróis” de sua vida, os pais (ambos atores), Bruce Dern e Diane Ladd. Nos quesitos técnicos, a edição de som e o prêmio de montagem couberam a Ford vs. Ferrari, enquanto o filme de guerra 1917 venceu Oscar de mixagem de som. Também pontos altos de 1917 computaram prêmios: tanto os efeitos visuais quanto a direção de fotografia do inglês Roger Deakins (na 15ª indicação) e que venceu o segundo Oscar, depois de Blade Runner 2049.
 
 
 
 (Reprodução/Instagram)  
 
Brasileiros batem na trave
Com amplo histórico de brasileiros indicados ao Oscar, Petra Costa (foto) — diretora de Democracia em vertigem — somou mais experiência a uma lista que incluiu longas como O pagador de promessas; O que é isso, companheiro?, O quatrilho e Central do Brasil, e personalidades do porte de Fernanda Montenegro, Fernando Meirelles, Juliano Salgado, Hector Babenco, Ary Barroso, Paulo Machline, Carlinhos Brown e Sergio Mendes. Nenhum levou, entretanto. Durante a cerimônia, Petra tuitou um recado ao presidente Jair Bolsonaro. “Em 2016, Bolsonaro disse que cortaria fundos para as artes, já que os filmes brasileiros nunca chegam aos Oscars. Aqui está o meu presente para o presidente do Brasil”, escreveu.
 
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Correio Braziliense domingo, 09 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: CHUVA NÃO DESANIMA FOLIÕES

 

O tempo frio e as fortes chuvas ao longo do dia não conseguiram diminuir a animação de milhares de foliões. Na praça do Museu da República, o bloco Quem já chupou vai chupar mais arrastou uma multidão. O Suvaco da Asa, no Eixo Monumental, desfilou alegria ao som de frevos. Hoje, a farra continua: tem Eduardo e Mônica, Bloco do Amor e System Safadown. Tudo de graça! PÁGINAS 19 E 22 (Ed Alves/CB/D.A Press)

Chuva não desanima foliões

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 09/02/2020 04:00

Tradicional Suvaco da Asa celebrou 15 anos de existência, com show da Orquestra Popular Marafreboi (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Tradicional Suvaco da Asa celebrou 15 anos de existência, com show da Orquestra Popular Marafreboi

 



O tempo frio e nublado de ontem não desanimou os brasilienses a curtirem os famosos blocos pré-carnavalescos na capital federal. Foliões se reuniram no Setor Comercial Sul, na área externa do Museu Nacional da República e na Fundação Nacional de Artes (Funarte) para aproveitar a festa.

O bloco Quem chupou vai chupar mais reuniu, segundo a organização, mais de 80 mil pessoas na área externa do Museu da República. As bandas Êaêaô, Andie e Bisca e Porn feat Caribé foram as atrações. A festa começou às 15h e foi até as 21h. Neste ano, o bloco prestou homenagem ao trio elétrico, sob o tema Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, frase da clássica música de Caetano Veloso Atrás do trio elétrico.

André Gonzalez e Cláudia Dalbert, da Êaêaô, animaram público no Museu (Ed Alves/CB/D.A Press)  

André Gonzalez e Cláudia Dalbert, da Êaêaô, animaram público no Museu

 


No Corredor Central, no Setor Comercial Sul, a música eletrônica foi o destaque, com as atrações Limbo e Confronto Soundsystem. O famoso Suvaco da Asa celebrou os 15 anos de folia levando alegria às ruas de Brasília e apresentando o desfile oficial, na Funarte. A festa começou às 10h, com o Suvaquinho da Asa, a versão infantil do bloco. À tarde, a Orquestra Popular Marafreboi deu continuidade à folia. O encerramento do bloco contou com a apresentação do show da pernambucana Banda Eddie.

Até o fechamento desta edição, a Polícia Militar não havia divulgado o balanço das ocorrências.
 
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Correio Braziliense sábado, 08 de fevereiro de 2020

COREIO BRAZILIENSE: 60 ANOS DE HISTÓRIA

 

O Senado vai homenagear, em abril, os 60 anos do Correio Braziliense. A sessão comemorativa partiu de um requerimento da senadora Leila Barros (PSB-DF). A epopeia do Correio se confunde com a da capital fundada por JK. Enquanto os candangos corriam contra o tempo para erguer Brasília, jornalistas como Ari Cunha (E/foto) desbravam o Planalto Central para criar o veículo impresso. No dia em que Brasília foi fundada, em 21 de abril de 1960, o jornal começou a circular. %u201CO Correio está diretamente ligado à nossa história,%u201D reforçou Leila Barros.  (Arquivo CB/CB/D.A Press)

Correio Braziliense, 60 anos de história
 
 
 
O primeiro jornal da capital do país comemora mais um ano de vida com a cidade e será homenageado no Senado. Funcionários que acompanham essa história narram lembranças do veículo pioneiro

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 08/02/2020 04:00

Imagem aérea do primeiro edifício do Correio Braziliense, no que viria a ser o Setor de Indústrias Gráficas (SIG): marco para a capital federal (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  

Imagem aérea do primeiro edifício do Correio Braziliense, no que viria a ser o Setor de Indústrias Gráficas (SIG): marco para a capital federal

 

 
Há quase seis décadas, o Brasil dava as boas vindas ao novo Correio Braziliense. O primeiro jornal da cidade era inaugurado em 21 de abril de 1960, com o nascimento de Brasília. Dessa forma, Assis Chateaubriand, fundador do grupo Diários Associados, retomava o nome da publicação de Hipólito José da Costa (leia Para saber mais). Sessenta anos depois, o Senado fará uma homenagem ao veículo. A decisão partiu de requerimento da senadora Leila Barros (PSB-DF), aprovado em plenário (leia Quatro perguntas para). A solenidade ocorrerá em 24 de abril.
 
Para o Correio, é tempo de comemorar. A história, desde a construção, está guardada e protegida na biblioteca do jornal, sob o olhar vigilante de Francisco de Sousa, 57 anos, o Chiquinho do Cedoc (Centro de Documentação). Entre os arquivos históricos, ele resgata uma foto de setembro de 1959. Na ocasião, o presidente Juscelino Kubitschek despejou uma pá com cimento sobre a pedra fundamental e afirmou que “uma das mais gloriosas tradições da imprensa brasileira” iniciava as atividades ali.
 
Capa da primeira edição do jornal, inaugurado na fundação de Brasília (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  
Capa da primeira edição do jornal, inaugurado na fundação de Brasília
“O Correio foi fruto de uma aposta entre Chateaubriand e Kubitschek. Duvidando de que a capital seria entregue em 1960, Chatô disse que, se isso acontecesse, ele criaria aqui um jornal”, lembra Chiquinho. E assim foi feito. “Se Brasília não desse certo, consequentemente, o veículo também não daria e vice-versa.” Na capa da primeira edição, os Diários Associados deixavam claro: “O Correio Braziliense volta a circular depois de 137 anos”. Ali, estava o sonho de Hipólito José da Costa.
 
Os primeiros jornalistas moravam em barracas improvisadas no pátio do jornal. Entre eles estava Ari Cunha, que ocupou o posto de vice-presidente institucional do Correio até morrer, em agosto de 2018. “Ele tinha paixão pela cidade. Se alguém escrevesse alguma coisa errada sobre Brasília, ele ligava para a pessoa e dava uma bronca”, recorda Chiquinho.
 
Encontro de gerações
 
Ao longo dos anos, a redação do Correio Braziliense recebeu os mais variados profissionais. Severino Francisco, 65 anos, cronista e subeditor do caderno Diversão & Arte, viveu a década de 1980 entre máquinas de escrever. “Esse era um modelo de jornalismo muito mais romântico do que o que se tem hoje. Esse jornal foi muito importante para consolidar a identidade para Brasília”, ressalta.

Operários trabalham na construção do prédio do Correio Braziliense: orgulho (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  

Operários trabalham na construção do prédio do Correio Braziliense: orgulho

 

 
Com carinho, lembra dos colegas de várias épocas. “Era uma redação divertida e boêmia. O editor-chefe era Oliveira Bastos, irreverente e muito debochado”, conta. Certa vez, Hermeto Pascoal entrou na redação tocando. Saiu todo mundo em fila atrás dele.” Hoje, ele vê nas novas tecnologias a principal diferença. “Ainda temos força, mas agora veio a concorrência dos novos meios. É uma mudança estrutural no mundo, mas ainda temos a tradição de defender a cidade.”
 
Enquanto isso, os recém-chegados trazem as expectativas de trabalhar em um lugar histórico. É o caso da repórter de Economia Marina Barbosa, 26, estreante na casa. A pernambucana integra a equipe há duas semanas. “Esse é um veículo muito consolidado, em fase de unir as tradições à modernidade”, avalia. “Tenho boas expectativas. Chegar com o nome do Correio dá credibilidade extra para circular pelos corredores.”
 
Nascido em outubro de 1892, no estado da Paraíba, Assis Chateaubriand construiu um império chamado de Diários Associados. Nos anos 1960, diveros jornais e emissoras de rádio e tevê faziam parte do grupo. O jornalista Chatô também esteve envolvido em política, e, por indicação do então presidente JK, ocupou o cargo de embaixador do Brasil, na Inglaterra.
 
Chatô
 
Apesar da proximidade com o chefe do Executivo, Chatô fez forte oposição pública à construção de Brasília. Contudo, mudou de ideia à medida que a data de inauguração da nova capital se aproximava, passando a defender a mudança. Resolveu que aqui inauguraria os dois novos veículos de comunicação do país: Correio Braziliense e TV Brasília. E assim ocorreu.


Linha do tempo
 
» Setembro de 1959
Colocação da pedra fundamental no futuro Setor de Indústrias Gráficas (SIG)
 
» Janeiro de 1960
Início das obras
 
» Fevereiro de 1960
Assis Chateaubriand visita o canteiro de obras para ver como estão as estruturas dos dois prédios destinados ao Correio Braziliense e à TV Brasília
 
» Abril de 1960
Inauguração do jornal, com a publicação da primeira edição.



Quatro perguntas para


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 24/9/18)  

senadora Leila Barros (PSB-DF)


Como a senhora enxerga a importância do
Correio para a imprensa 
nacional e para a cidade?
O Correio Braziliense é o maior veículo de imprensa escrita da capital e tem seu aniversário junto com a nossa cidade. Está diretamente ligado à nossa história.
 
Por que homenagear o Correio Braziliense?
Ao fazermos uma homenagem ao veículo, estamos exaltando o valor da liberdade de imprensa no país. São 60 anos contando e registrando o nosso dia a dia. O Correio Braziliense merece ser homenageado pelo relevante papel de manter o nosso povo informado e fiscalizar o poder.

Como a senhora enxerga o papel da imprensa para a democracia?
A imprensa faz parte da engrenagem que ajuda a formar a opinião pública. O papel dos meios de comunicação está diretamente ligado ao sistema democrático. Não há como conceber democracia sem uma imprensa livre e vigorosa.
 
De que modo o Correio está ligado à história do Brasil?
É, sem sombra de dúvidas, um dos principais jornais diários do país. O fato de estar situado na capital faz com que o CB tenha presença diária nos três poderes. Muitas das notícias que pautam o parlamento e que são debatidas em conversas informais dos brasileiros são retiradas das páginas do Correio.


Para saber mais
 
Quem foi Hipólito José da Costa
Entre 1808 e 1822, o jornalista veiculou o Correio Braziliense — Armazém Literário, de publicação mensal. As cerca de 100 páginas de cada edição, impressas em Londres, chegavam de forma clandestina ao Brasil e eram lidas por um público de 500 pessoas. Tratava de assuntos como economia, cultura e teorias iluministas. A publicação de Hipólito da Costa é considerada o primeiro jornal do país.
 
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Correio Braziliense sexta, 07 de fevereiro de 2020

CARNAVAL 2020: DÁ-LHE, CARNAVAL!

 

Dá-lhe carnaval!
 
 
Aproveite o fim de semana com desfiles oficiais de blocos, festas, eventos e shows para todos os gostos

 

Maria Baqui*
Vinícius Veloso*

Publicação: 07/02/2020 04:00

 

 (Shake it/Divulgaçãso
)  


Quem chupou, vai chupar mais

Com clássicos do axé e com o melhor do funk, o bloco de pré-carnaval sai amanhã, a partir das 15h, no Museu Nacional da República, com entrada franca. Os grupos Aêaêaô, Andie e Bisca e Porn feat Caribé são atrações do evento. Classificação indicativa livre.

Bloco System Safadown — Tomorrow Never Knows, Ano 2 e Pré-carnaval Rockália


Hoje e domingo, respectivamente, os blocos Rockália e System Safadown agitam o fim de semana com clássicos do rock. O Rockália será no bar Trend, no Setor de Indústria do Gama, às 21h, e ingressos a R$ 10. Já o System Safadown, no bar Novo Pardim, a partir das 10h, com entrada gratuita. Classificação indicativa: para maiores de 18 anos.

 

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 17/2/19ss
)  

 

 

Bloco do amor

Em clima de festa, o Bloco do amor chega para celebrar a liberdade e animar o carnaval com ritmos do brega ao chique; da Tropicália ao axé. O evento será na Via S2, no Plano Piloto, domingo, a partir das 13h. A entrada é franca. Classificação indicativa: livre.

Bloco do fundão

No Riacho Fundo, o bloco será no Boteco da Praça, amanhã, a partir das 16h. O evento contará com ensaio de bateria e, para os foliões, o valor do abadá é R$ 40. Classificação indicativa livre.

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 16/2/19
)  

 

 

Vai com as profanas

O bloco, considerado tropical-feminista, ocupa as ruas do Setor Comercial Sul, no dia de amanhã. Com músicas em homenagem à cultura brasileira, e em ritmo de resistência, o bloco se apresenta a partir das 11h e tem entrada gratuita. Classificação indicativa livre.

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 16/2/19)  

 

 

Suvaco da Asa

O carnaval brasiliense não podia se esquecer do tradicional Suvaco da Asa. A 15ª edição do desfile será realizada amanhã, a partir das 10h, na Funarte. Na parte da manhã, o evento será direcionado para o público infantil e, a partir das 14h haverá a concentração com a Dj La Ursa. Em seguida, a Orquestra Popular Marafreboi comandar a farra pelo 11º ano consecutivo. Classificação indicativa: livre.

 

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Correio Braziliense quinta, 06 de fevereiro de 2020

CORONAVÍRUS - R$ 140 MILHÕES PARA EQUIPAMENTOS

 

CORONAVÍRUS
 
R$ 140 milhões para equipamentos

 

Publicação: 06/02/2020 04:00

Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros (Marcelo Camargo/Agência Brasil)  

Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros

 



No mesmo dia em que a operação de repatriação dos brasileiros em Wuhan começou, com a partida dos dois jatos da Presidência da República, ontem, por volta das 12h30, o Ministério da Saúde anunciou que disponibilizará R$ 140 milhões para compra de equipamentos de proteção individual contra o novo coronavírus. A pasta havia anunciado, na última sexta-feira, que dera início à aquisição, por meio de licitação, de máscaras, toucas, luvas descartáveis, protetores oculares, entre outros equipamentos.

A compra dos equipamentos acontecerá, mesmo se não houver casos confirmados no Brasil. “Há três cenários possíveis e nós vamos, inicialmente, trabalhar com um cenário intermediário de pacientes. O custo estimado dessas aquisições ficará em R$ 140 milhões. Este é o recurso que estamos disponibilizando para a licitação desses insumos de proteção individual”, afirmou o secretário executivo do ministério, João Gabbardo, acrescentando que ainda não está decidido se a pasta gastará todo o valor disponibilizado.

O secretário executivo afirmou que, diante do desabastecimento do mercado nacional desses insumos, o objetivo da pasta é buscá-los fora do Brasil. “O projeto de lei que está sendo aprovado no Congresso Nacional nos dá prerrogativa de fazer aquisições de importações mesmo sem registros. Se nós não conseguirmos abastecer no mercado nacional, nós vamos poder imediatamente abrir uma licitação para fazer uma importação direta mesmo sem registro”, explicou.

PL aprovado

No Senado, o plenário aprovou, por unanimidade, o projeto de lei que regulamenta as medidas de combate ao coronavírus (PL 23/20). Entre elas está o resgate de brasileiros que se encontram na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia, e pediram ajuda do governo para retornar ao Brasil. A matéria tramitou em regime de urgência no Congresso e, logo após a aprovação no Senado, seguiu de imediato para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. A sessão contou com a presença do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

“O texto foi o mínimo a ser feito e dá as condições legais para a gente atravessar com segurança as medidas que têm que ser tomadas no caso de termos necessidade de usá-las”, disse Mandetta. O PL que havia sido aprovado pela Câmara, terça-feira, propõe, por exemplo, isolamento, quarentena e fechamento de portos, rodovias e aeroportos para entrada e saída do Brasil em caso de emergência de saúde pública provocada pelo coronavírus.

Mandetta, aliás, disse que a pasta vai enviar até o próximo dia 11, ao Congresso, outro projeto de lei, mais amplo, para propor medidas a serem adotadas a todos os tipos de situações de emergência sanitária.

Quarentena

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) que embarcaram para resgatar os brasileiros em Wuhan também serão submetidos ao período de quarentena de 18 dias, quando retornarem ao país. Mas não informou se os militares cumprirão a quarentena no mesmo local dos civis, na base aérea de Anápolis.

Apenas 11 casos continuam sob suspeita do Ministério da Saúde. Com cinco indicações, o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de casos investigados. São Paulo vem em seguida, com quatro, e Rio de Janeiro e Santa Catarina têm um cada. Entre os suspeitos, seis pessoas já passaram pelos testes de vírus respiratórios comuns — considerados os primeiros para a constatação do diagnóstico — e agora foram encaminhadas para uma investigação específica. Cinco continuam na primeira fase dos exames. (Ingrid Soares, Maria Eduarda Cardim, Augusto Almeida e Jorge Vasconcelos)


Portugal acaba com o  visto gold
O Parlamento português aprovou o fim da concessão da Autorização de Residência para Investimento, o visto gold, para os estrangeiros que comprarem imóveis em Lisboa e no Porto. Para cidadãos de fora da Europa, as autorizações funcionavam como um sistema de concessão de residência portuguesa em troca de investimento imobiliário a partir de 500 mil euros. O Brasil é o segundo país com mais concessões do benefício, que é suspeito de ser usado para crimes financeiros. O visto era alvo de críticas da União Europeia em questões de segurança e corrupção. Em março de 2019, o parlamento da UE apelou aos Estados-membros para que o programa fosse revogado, afirmando que as vantagens não compensam os sérios riscos de segurança e evasão fiscal. Segundo a Transparência Internacional, o visto também poderia ser utilizado por criminosos e corruptos. Desde que o programa entrou em vigor, em 2012, Portugal concedeu mais de 8 mil vistos dessa modalidade. Mais da metade foi destinado a chineses, seguidos pelos brasileiros. Entre outras maneiras de se obter o visto gold, estão a transferência de pelo menos 1 milhão de euros para Portugal, a criação de dez postos de trabalho ou investimento de 350 mil euros em pesquisa científica ou no patrimônio cultural e artístico do país.
 
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Correio Braziliense quarta, 05 de fevereiro de 2020

CHINA - CORONAVÍRUS - OPERAÇÃO RESGATE

 

CORONAVÍRUS
 
Operação resgate começa meio-dia
 
 
Jatos reserva da Presidência deixam Brasília para buscar um grupo que, por enquanto, é de 29 pessoas. Expectativa de chegada a Wuhan, na China, é na sexta-feira. Brasileiros devem desembarcar sábado, direto em Anápolis

 

INGRID SOARES

Publicação: 05/02/2020 04:00

Ministros Azevedo e Silva e Araújo deram detalhes da logística para trazer os brasileiros, que ficarão isolados por, no mínimo, 14 dias, em observação (Valter Campanato/Agência Brasil
)  

Ministros Azevedo e Silva e Araújo deram detalhes da logística para trazer os brasileiros, que ficarão isolados por, no mínimo, 14 dias, em observação

 

 
Após a 27ª reunião de Conselho, o governo decidiu enviar hoje para a cidade de Wuhan, na China, dois aviões VC2 Embraer 190 para o resgate dos brasileiros que desejam voltar ao Brasil, fugindo da contaminação do coronavírus. A viagem começa ao meio-dia, com previsão de chegada na cidade chinesa na madrugada de sexta-feira. A expectativa é de que os voos retornem ao país na manhã de sábado, com desembarque direto na Base Aérea de Anápolis, da Força Aérea Brasileira (FAB), onde o grupo ficará em quarentena.
 
A unidade militar em Goiás foi o local escolhido para receber os repatriados, que poderão ser divididos em até três grupos: branco, amarelo e vermelho. O período de quarentena será de 14 dias, com margem de segurança de 18 dias, conforme explicou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.“Fizemos o reconhecimento hoje (ontem) com os ministérios da Saúde, da Defesa e das Relações Exteriores a dois locais, e ficou decidido que a quarentena será feita na base aérea de Anápolis, que tem boas condições. E até chegarem os brasileiros, ficará melhor ainda dentro das condições sanitárias e de saúde que os protocolos estipulam. A base é uma área grande que as Forças Armadas possui e tem condição de aqueles brasileiros que chegarem, entrarem numa quarentena numa área branca, aqueles que não têm sintomas”, observou.
 
O ministro da Defesa disse ainda que “qualquer problema, temos ainda condição de passar para a área amarela, todos com apartamentos individuais e, caso necessário, para uma área vermelha, que será uma evacuação aeromédica para o hospital das Forças Armadas, em Brasília”. Ele salientou que aqueles que apresentarem sintomas de estarem contaminados serão barrados no embarque ainda na China.
 
Capac idade
As aeronaves são parte da reserva do presidente Jair Bolsonaro e foram cedidas pela Presidência da República. O número inicial de resgatados é de 29 pessoas, sendo sete crianças. Há ainda quatro parentes chineses entre eles.
 
“O presidente Jair Bolsonaro concordou em ceder suas duas aeronaves reservas, com capacidade de 30 passageiros cada uma. Foi um gesto do presidente abrir mão da aeronave, tendo em vista a precariedade dos meios que a Força Aérea atualmente tem, e da burocracia e também da questão do custo”, destacou Azevedo e Silva.As aeronaves partirão da Base Aérea de Brasília e realizarão o seguinte trajeto: Fortaleza; Las Palmas, nas Ilhas Canárias, território espanhol no Oceano Atlântico; Varsóvia, na Polônia; Ürümqi, na China; e, em seguida, Wuhan. Ao todo, são 36 lugares na parte traseira do avião que contemplam mais seis vagas de apoio médico, composta por uma equipe de profissionais de saúde do Instituto Aeroespacial da FAB.
 
Questionado sobre o uso de dois aviões diante do número de resgatados, Azevedo e Silva destacou que “quanto mais espaçado deixar os passageiros brasileiros, melhor, porque diminui a possibilidade de contato. Então, se tivermos 15 em uma (aeronave) e 15 na outra, é o ideal”.
 
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ressaltou que os brasileiros que retornarão devem estar conscientes de que terão que cumprir quarentena, para que não haja risco de contaminação no país. E apontou ser “essencial” que os brasileiros que desejam retornar mantenham contato com a Embaixada em Pequim.“Têm alguns brasileiros que não querem retornar, mas é importante saber que haverá um prazo de 24 horas antes do embarque para decidir a lista dos que querem embarcar no avião, e comunicar a decisão”, observou o chanceler. 
 
Araújo ainda prometeu encontrar uma solução para estudantes brasileiros bolsistas que voltarem. “Eles perguntaram sobre as bolsas a estudantes chineses, se podemos estender bolsas de estudos. Vamos ver como podemos fazer isso para ajudar, para que não percam pelo fato de voltar ao Brasil. Tudo isso vamos tratar na medida das nossas possibilidades”, concluiu, acrescentando que dois diplomatas da Embaixada em Pequim serão enviados para auxílio aos brasileiros no embarque de volta.
 
Plano de voo
» Fortaleza (CE)
» Las Palmas, nas Ilhas Canárias, território espanhol no Oceano Atlântico; 
» Varsóvia (Polônia) 
» Ürümqi (China) 
» Wuhan (China)
 
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Correio Braziliense segunda, 03 de fevereiro de 2020

CELEBRAÇÃO PARA IEMANJÁ

 

Celebração para Iemanjá

Em celebração ao Dia de Iemanjá, brasilienses se reuniram na Praça dos Orixás para a Festa das Águas. Shows e oferendas marcaram a comemoração. (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 03/02/2020 04:00

Brasilienses passaram pela Praça dos Orixás para celebrar do dia da Rainha do Mar (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Brasilienses passaram pela Praça dos Orixás para celebrar do dia da Rainha do Mar

 

 
Uma festa para celebrar o Dia de Iemanjá — comemorado em 2 de fevereiro —, ontem, na Praça dos Orixás, movimentou a prainha brasiliense. A Festa das Águas reuniu uma programação destinada a contemplar as culturas tradicionais de matriz africanas negras e brasileiras e contou com a presença de diversos terreiros locais, grupos musicais, roda de capoeira e aulão de dança afro. Além de prestigiar a Rainha do Mar, o evento estendeu as homenagens para Oxum, ainha da água doce e dona dos rios e cachoeiras. Ela representa a sabedoria e o poder feminino.
 
O encontro integra o Circuito Candango de Culturas Populares, projeto idealizado pelo Instituto Rosa dos Ventos e fomentado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa. O objetivo é promover territórios culturais do DF, além de valorizar expressões culturais. Para a presidente do instituto e coordenadora do evento, Stéffanie Oliveira, a data é uma das mais importantes para a comunidade de cultura de matriz africana. “É um dia grandioso em que todas as casas de candomblé e todo o público voltado para elas saem para a rua. É algo nacional. No Brasil inteiro está reunido, todo o povo de umbanda e candomblé festeja Iemanjá”, disse.
 
O evento começou por volta das 9h, com a lavagem de Iemanjá. Um dos pontos altos da festa, o ritual celebra, purifica e abençoa o corpo, a alma e o ambiente, para promover a paz. O ato marca o início  da programação. A tradicional homenagem aos orixás das águas foi composta por integrantes de diferentes territórios do DF, como as baianas do Grupo Oyá Bagan, ponto de cultura contemplado, pelo GDF, com o Prêmio de Cultura e Cidadania.
 
Miriam Santos, 33 anos, frequenta os terreiros há 17. A tradição vem de família. Para ela, cada momento do evento é marcante, especialmente quando se apresenta como Iemanjá. “É uma emoção muito grande representá-la nesse dia. Eu gostaria que as pessoas conhecessem melhor esse evento, a nossa religião. Algumas ficam assustadas, mas não há nada aqui que assuste. É muita dedicação e amor. Aqui a gente vem em busca de paz e espiritualidade. Infelizmente, ainda tem muito preconceito”, afirma.
 
Emocionada, a representante de terreiro e uma das organizadoras do evento Adna Santos, conhecida como Mãe Baiana, ressalta que o ambiente é ideal para agradecer. “Estar aqui é falar para Iemanjá que estamos bem, com saúde e paz. Estamos dando retorno de nossas vidas para ela”, disse. Ela destaca que, este ano, todas as oferendas foram feitas em pratos e balaios de papel e folhas verdes. “Nossa missão é não degradar o meio ambiente. Estamos louvando as águas, sem agredir a natureza. Foi lindo. Tudo especial”, declara. (A.R.)
 
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Correio Braziliense domingo, 02 de fevereiro de 2020

SAMAMBAIA CONTRA O FEMINICÍDIO

 

Samambaia contra o feminicídio
 
 
Passeata reuniu centenas de pessoas na região administrativa para protestar pelo fim da violência: este ano, três mulheres foram mortas na cidade em apenas um dia

 

» caroline cintra

Publicação: 02/02/2020 04:00

 
Centenas de pessoas foram às ruas de Samambaia manifestar contra os crimes por questões de gênero (Adriana Ponce/CB/D.A Press)  

Centenas de pessoas foram às ruas de Samambaia manifestar contra os crimes por questões de gênero

 

 
Samambaia pede paz. Centenas de pessoas participaram de uma manifestação contra o feminicídio na cidade onde, em apenas um dia, três mulheres foram mortas (Veja Memória) neste início de ano. Um dos principais intuitos do encontro foi despertar a comunidade para o aumento dos casos de violência doméstica no Distrito Federal. Estiveram presentes familiares da dona de casa Rute Paulina da Silva, 42 anos. Ela foi morta dentro de casa, a facadas, em 14 de janeiro, pelo próprio companheiro. A vítima conseguiu sair para pedir socorro aos vizinhos, mas não resistiu e morreu no local. Ela deixou dois filhos, de 1 e 8 anos.
 
Para a professora Milca Oliveira, 40, prima de Rute, a manifestação é um passo para a mudança. “É um meio de acordar a sociedade de uma situação que não pode ser considerada normal. Dizimar uma família não é comum. A mulher morre, o pai é preso e as crianças ficam sem assistência. A gente tem recebido o apoio social do governo, mas nada se compara ao amor da mãe”, disse. A família conseguiu atendimento psicológico para as crianças e está lutando na Justiça pela guarda dos dois. “Assistência psicológica para um bebê não é fácil, mas conseguimos, porque ele vai precisar”, afirma.
 
Irmão de Rute, Davi Sillas da Silva, 35, considera a manifestação “uma vitória”. Ele ressalta que a população tem que estar junta e unir esforços na luta contra essa onda de violência contra a mulher. “Até hoje, o nosso sentimento como família é de revolta, e acho que precisa mudar, a justiça tem que ser mais cruel com esse tipo de ação. A família está tentando se reestruturar, as crianças ainda estão abaladas. E a gente tinha que estar aqui, para fazer esse ato de bem”, declara o técnico em enfermagem.
 
A manifestação começou às 8h. Os participantes se concentraram em frente ao Centro de Ensino Médio 414 (CEM 414) de Samambaia e caminharam, com o apoio de trios elétricos, faixas e bandeiras, na avenida entre as quadras 200 e 400. O Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar organizaram ao circulação dos carros enquanto as faixas da via ficaram bloqueadas. A passeata percorreu o trecho até a área comercial da Quadra 406, onde foi montada uma tenda para a realização de palestras após a manifestação. O trânsito foi liberado por volta das 12h.
 
O evento foi promovido pela Administração de Samambaia, com o apoio das secretarias da Mulher, de Segurança Pública e de outros órgãos do GDF. “Esse ato surgiu de uma iniciativa da comunidade, que nos procurou, após as tragédias do início do ano. Imediatamente, fizemos uma comissão de mulheres na administração e surgiu esse primeiro evento. Nosso intuito não era fazer só uma passeata, mas palestras sobre conscientização”, conta o administrador de Samambaia, Gustavo Aires. Ele destaca que está sendo feito um cronograma com ações no combate à violência doméstica. “Estamos trabalhando para que Samambaia não seja mais destaque nas páginas policiais”, completa.
 
Mãos dadas
 
A secretária da Mulher, Éricka Filippelli, participou do ato e ressaltou a importância da participação do governo e da população no combate ao feminicídio. “Todos precisam estar juntos. Essa é a forma de trabalhar que eu mais acredito. Não podemos admitir acordar com notícias tristes como aconteceu aqui (em Samambaia). Essas mulheres morreram sem que pudéssemos dar as mãos a elas, sem poder acionar e denunciar. Nossos canais de atendimento funcionam e devem ser usados”, disse.
 
A delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia, explicou que a polícia entra nos casos quando a violência já aconteceu e que o papel da população é de prevenção e conscientização. “Sem a participação de todos, não tem como diminuir essa violência. Temos que mostrar todos os dias que o papel do companheiro é de protetor, não de agressor. É preciso repetir isso todos os dias, porque muita gente ainda não entendeu”, declarou.
 
Muitos homens, jovens e crianças participaram do ato. A delegada ressaltou que violência doméstica não é coisa de mulher, mas da sociedade. “As escolas devem começar a ensinar as crianças que não se deve agredir as mulheres. Os jovens de hoje serão os casais do futuro e devem ser educados desde pequenos”, completa Jane. 
 
» Onde procurar ajuda
 
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
» O serviço gratuito da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República serve como disque-denúncia em casos de violência contra a mulher
» Telefone: 180
 
Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
» Espaços de acolhimento e atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico
» Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
» Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina
 
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
» Endereço: Entrequadra 204/205 – Asa Sul
» Telefone: 3207-6172
 
Ministério da Mulher
» O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos recebe ligações gratuitas por telefone 24h para para quem precisar fazer denúncias de violência que acabou de acontecer ou que está em curso
» Telefone: 100
 
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
» Acompanhamento psicossocial às vítimas, familiares e autores
» Locais: Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho e no Plano Piloto
 
Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
» O serviço de companhamento de famílias está disponível em todos os batalhões e conta com 22 equipes
» Telefones: 3910-1349 / 3910-1350
 
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Correio Braziliense sábado, 01 de fevereiro de 2020

HOMENAGENS A DOM BOSCO

 

Dezenas de crianças e adolescentes participaram ontem de homenagens ao Dia de Dom Bosco. Missas e bênçãos no Santuário da 702 Sul (foto) marcaram a data. O santo italiano que profetizou a criação de Brasília no século 19 teve intenso trabalho pela educação. , Ed Alves/CB/D.A Press

Homenagens a Dom Bosco
 
Para celebrar o dia do copadroeiro de Brasília, o santuário que leva o nome do santo organizou, ontem, uma missa

 

Ana Clara Avendaño*
Jonathan Luiz*

Publicação: 01/02/2020 04:00

Padre Jonathan Costa é o responsável pela igreja, na 702 Sul:  

Padre Jonathan Costa é o responsável pela igreja, na 702 Sul: "brasiliense faz parte do sonho do santo"

 

Amado pela juventude, sonhador e criador do sistema preventivo de educação, São João Bosco tem um legado de muito valor para a capital federal. “O brasiliense faz parte do sonho do santo. Agradecê-lo com essa festa é de extrema importância”, ressalta o padre Jonathan Costa, responsável pelo Santuário Dom Bosco, cartão-postal da cidade, na 702 Sul.  Ontem, o local organizou diversos eventos à comunidade e homenageou o santo representante dos jovens e de Brasília, cidade da qual é copadroeiro (com Nossa Senhora Aparecida).
 
A festa começou às 7h com uma missa e uma benção especial aos enfermos. Às 8h30, mochilas de alunos foram abençoadas. No começo da noite, a programação seguiu com a celebração da família salesiana e, às 19h30, houve encerramento solene.
 
Na missa da manhã, presidida pelo padre Márcio Teodoro, parte dos fiéis receberam a benção no centro da igreja, enquanto outros entoavam cânticos. Na celebração dedicada a crianças e adolescentes, o espaço foi tomado pela juventude, assim como queria Dom Bosco. “O grande legado que o Santo deixou é o sistema preventivo, que tem uma grande preocupação com o nível intelectual dos alunos, em dar suporte para que o estudante tenha sucesso nas escolhas”, relatou Neusa Rosa, 59, diretora escolar.
 
Maria Cecilia Silva, 62 anos, moradora do Núcleo Bandeirante, segue os ensinamentos de Dom Bosco há 15 anos, mas teve a oportunidade de conhecer o santuário ontem. “Aqui é tão lindo, é a primeira vez que entro. Estou muito feliz, ainda mais nesta data especial, na qual o festejamos”, enalteceu.
 
Segundo os fiéis, as lições do sacerdote transformam a vida dos cristãos. Nicolas Barbosa, 21, morador de Ceilândia, é missionário salesiano e participou das comemorações em homenagem ao dia de São João Bosco. “Depois que o conheci, minha vida mudou completamente. Antes, eu era uma pessoa radical, não queria fazer nada”, contou.
 
Profecia
 
Brasília foi profetizada pelo santo cinco anos antes de morrer e 77 anos antes da construção da nova capital do Brasil. Pelo tal feito, tornou-se o copadroeiro da cidade. O Santuário de São João Bosco representa o elo entre a visão dele e os planos de Juscelino Kubitschek.
 
O sonho profético relatado no livro Memórias Biográficas de São João Bosco, de João Batista Lemoyne, ocorreu em 30 de agosto de 1883. Na visão, ele sobrevoa o oceano até as Cordilheiras dos Andes e vê, entre os paralelos 15 e 20, uma civilização surgir em torno de um lago. “Nós, fiéis, enxergamos aí uma previsão do futuro”, explica o padre Jonathan Costa.
 
Segundo ele, a Ermida Dom Bosco fica exatamente no paralelo 15.  O santo viu também a civilização prosperar. “O desenvolvimento da região de fato ocorreu. Muitas pessoas vieram a trabalho, e indústrias surgiram. Dom Bosco conseguiu ver o invisível”,  diz.
 
Educação
 
De acordo com o padre responsável pelo santuário da 702 Sul, o caminho pastoral de Dom Bosco surgiu quando, em um sonho, ele viu-se a brigar com outros meninos. Um homem, então, aproximou-se e disse para educar, não com pancadas, mas com amor. “Muitas crianças saíam do campo, a maior parte órfã, partiam para grandes cidades em busca de emprego e acabavam na rua passando fome, vivendo no crime ou como mão de obra barata por pessoas exploradoras”, contextualiza Jonathan.
 
Dom Bosco fundou a Congregação Salesiana e tinha o objetivo de ministrar ensinamentos profissionais para seus discípulos, como explica o padre Márcio Teodoro. “Dom Bosco também buscou educar o jovem para o mundo, na carreira profissional.”
 
Sheyla Abreu, 40, mora no Guará e conta que sua filha Ayla Abreu, 11, foi educada pelo sistema preventivo de educação. “Quando procurei escola para a minha filha, o meu maior critério é que precisava ser cristã, justamente por acreditar nessa educação para os jovens. São valores morais e não só conteúdo acadêmico” ressalta.
 
A opinião é compartilhada por Cristiane Gonçalves Cabral, 40, moradora de Ceilândia. O filho dela, Fred Nei Gonçalves, 9, só pôde estudar no colégio particular por conta de descontos gerados pelo sistema preventivo de educação. “Sempre quis matricular meu filho em uma escola cristã, contudo, não tenho condições financeiras. Com a bolsa de estudo, foi possível. Acho que vai ser bom para o desenvolvimento dele, para construir um grande caráter”, almeja.
 
*Estagiários sob supervisão de Marina Mercante
 
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Correio Braziliense sexta, 31 de janeiro de 2020

MARIA RITA: HOMENAGEM AO SAMBA

 

Cantora se apresenta hoje na orla do Minas Brasília Tênis Clube. Show Samba de Maria tem clássicos, como Tá perdoado e O homem falou. (Guto Costa/Divulgação)

Homenagem ao samba

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 31/01/2020 04:00

 
Maria Rita chega a Brasília cantando clássicos do gênero (Guto Costa/Divulgação)  
Maria Rita chega a Brasília cantando clássicos do gênero
 
Embora no início da carreira tenha se colocado como uma intérprete de MPB, Maria Rita não demorou muito para se tornar conhecida como sambista. Isso, desde que, em 2007, lançou o álbum Samba meu. Depois, vieram outros discos nos quais abriu espaço maior no repertório ao mais representativo gênero musical brasileiro.
 
Desde 2015, Maria Rita tem viajado pelo país com o show Samba de Maria, nome também do CD gravado ao vivo na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. É com ele que a cantora está de volta à cidade para apresentação, hoje, na orla do Minas Brasília Tênis Clube. A programação, que inclui feijoada, tem na abertura o grupo 7 na Roda.
 
“Tenho feito este show no Brasil para grandes plateias. Ele me permite misturar sambas que lancei com sucessos, como Corpo só e Tá perdoado; clássicos do gênero, entre eles O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias), O homem falou (Gonzaguinha) e O meu lugar (Arlindo Cruz)”, diz a cantora. Ela tem a companhia da banda formada por Leandro Pereira (violão 7 cordas), Fred Camacho (banjo e cavaquinho), Vinicius Feijão (pandeiro), Jorge Quininho (percussão) e Adilson Didão (percussão).
 
SERVIÇO
 
Maria Rita
Show da cantora e banda, com abertura do 7 na Roda, hoje, às 13h, na orla do Minas Brasília Tênis Clube (Setor de Clubes Norte). 
Os ingressos custam R$ 180 (Camarote Arlindo Cruz), R$ 1.000, (mesas Beth Carvalho), R$ 800 (mesas Zeca Pagodinho) e R$ 700 (mesas sambar), com direito a feijoada e open bar. Sócios do Minas Brasília têm desconto de 15% no preço do ingresso. Recomendado para 
menores de 16 anos.
 
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Correio Braziliense quarta, 29 de janeiro de 2020

OSWALDO MONTENEGRO: PRESENTE PARA BRASÍLIA

 

Presente para Brasília
 
Oswaldo Montenegro prepara espetáculo em homenagem aos 60 anos da capital que tem como referência a cultura e as pessoas da cidade

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 29/01/2020 04:00

Os 60 anos da cidade serão celebrados em abril com o espetáculo Veja você, Brasília, uma realização do Sesc, com produção e direção de Oswaldo Montenegro. O título remete ao musical que o artista montou em 1982, mas o roteiro, que aborda aspectos diversos da capital, é inédito e busca fugir do esterótipo de “centro do poder”.
 
“Vamos mostrar, entre outros temas, a sensação de morar num lugar único, formado por gente de todo o Brasil, com uma arquitetura diferenciada, surgida da visão mística de Dom Bosco e do sonho de JK, sob o signo da utopia e da esperança e reverenciada pelo mundo”, anuncia o menestrel carioca-brasiliense, que iniciou a carreira nos palcos do Distrito Federal.
 
A peça, de característica multimídia, com 90 minutos de duração, reunirá em cena um elenco de 22 integrantes, entre cantores, músicos, atores e dançarinos, todos brasilienses; assim como cenógrafo e diretor de arte. Haverá a participação especial da cantora e compositora Zélia Duncan, revelada para a MPB pela montagem original do Veja, você Brasília, assim como  também Cássia Eller.
 
As apresentações serão de 9 a 11 de abril, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. “Fazer um musical sobre Brasília é uma forma de homenagear a cidade e promover a cultura, que é uma das frentes mais importantes do Sesc”, destaca Francisco Maia, presidente do Conselho regional do Sesc-DF.
 
 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
 
Entrevista/Oswaldo Montenegro
 
 
O que o levou a idealizar, produzir e dirigir Veja você, Brasília no começo da década de 1980?
Criei o espetáculo motivado por uma vontade de fazer algo que expressasse minha sensação de pertencer à cidade, de ter sido moldado por suas contradições e características peculiares. Havia gravado meu terceiro disco no Rio e feito amigos de todos os lugares do Brasil — os mineiros tinham sua marca, os cariocas, sua ginga, os nordestinos, uma estética própria, e eu parecia pertencer a lugar nenhum. Realizei o primeiro Veja você, Brasília para falar dessa marca, com gente da cidade, que pudesse me ajudar a encontrar e a expressar o que seria o jeitão artístico brasiliense.
 
 
Que recordações guardou daquele momento?
Aquele foi um momento maravilhoso. Uma sensação de andar em grupo, de viver uma aventura artística louca. Naquela época trabalhei com grandes amigos e fiz outros que duram até hoje. Só tenho recordações boas daquele trabalho.
 
 
Ter revelado para a MPB, a partir do musical, Cássia Eller e Zélia Duncan, representou o que para você?
Foi uma alegria e uma honra trabalhar tanto com Cássia Eller, assim como com Zélia Duncan. No novo espetáculo que estamos montando, Zélia é a narradora. Escrevi todo o texto da narração pensando nela.
 
 
Quem mais daquela trupe — além, é claro, de Madalena Salles — conseguiu se destacar posteriormente?
Muitos artistas que conheci naquela montagem fizeram depois belos trabalhos individuais. Madalena Salles trabalhava comigo desde 1975, assim como José Alexandre e Mongol. Eles estavam na primeira montagem da primeira peça que escrevi, João sem nome, dirigida por nossos queridíssimos Hugo Rodas e Dimer Monteiro. Detão, meu irmão, Eduardo Canto, Cláudia Gama e Raimundo Lima foram, dos que estrearam naquele elenco, os que mais fizeram projetos comigo depois. Montamos muita coisa juntos. Outra pessoa importante daquela montagem foi Raique Macau, que, na época, narrou o texto inicial. Depois dali fizemos inúmeras parcerias juntos, inclusive nessa nova montagem ele fará a direção de arte, além de termos duas músicas de sua autoria no espetáculo.
 
 
Na sua visão, quais são as diferenças de Brasília daquele tempo para a de agora?
A cidade está mais definida em características, que naquela época apenas se delineavam. O que era esboço, agora é desenho. Tem a cara mais nítida e reconhecível.
 
 
A recriação do espetáculo para celebrar os 60 anos de Brasília foi uma iniciativa sua ou foi proposta pelo Sesc?
Foi uma proposta do Sesc, que me convidou para montar um espetáculo comemorativo dos 60 anos. Não é uma recriação. Eu escrevi um outro espetáculo, com apenas duas cenas do antigo — Léo e Bia e Pra Longe do Paranoá. Botei o mesmo nome para homenagear aquele momento, que foi de enorme importância pra mim.
 
 
Quando ocorreu a escolha do elenco e quem vai trabalhar na produção e direção, sob sua batuta?
Dedicamos o ano de 2019 para reunir a equipe. Será um espetáculo multimídia, com banda, coro, cantores, bailarinos, artistas circenses e um telão com um filme de 90 minutos, em que outros artistas interagem com o que acontece no palco. Toda a equipe é de Brasília. Não só a que estará em cena, mas também a que estará nas coxias, a contra-regragem, na técnica, a na direção de arte, além dos figurinistas, costureiras, assistentes; assim como a equipe do audiovisual — produção, direção de fotografia, câmera. Enfim, são em torno de 200 profissionais envolvidos, todos de Brasília.
 
 
Qual foi o critério para a escolha dos participantes?
Alguns foram indicados por profissionais de Brasília que eu conhecia, e outros foram selecionados por audições. Na trilha, além de músicas que compus sobre Brasília, utilizei canções de compositores que viveram ou ainda vivem aqui, como Renato Matos, Raique Macau, Ulysses Machado, Renato Russo, Beto Brasiliense, Herbert Vianna.
 
 
São quantos na trupe que vai encenar o espetáculo?
No palco, serão 22 artistas. No telão ,não sei de cabeça, mas são muitos.
 
 
Entre os escolhidos, percebeu novos talentos para serem lapidados?
Sim, sem dúvida, Brasília tem grandes profissionais. Não estou falando só da galera que estará no palco. A equipe técnica também é de primeira. O Brasil tem que saber disso. É isso que queremos mostrar.
 
 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
De que forma a Zélia Duncan tomará parte?
Zélia Duncan narra toda a história do telão e interage com o palco, cantando em alguns momentos, assim como os outros convidados. O espetáculo é todo interativo.
 
 
Como vai ser a abordagem da Brasília de agora por um carioca-brasiliense que iniciou a carreira aqui, mas está distante desde os anos 1980?
Procurei expressar não só minhas sensações, mas também as das pessoas com quem convivo desde sempre no Planalto. Grande parte da minha família ficou e meus melhores amigos são de Brasília. O roteiro tem uma ordem cronológica, semi-histórica, sem ser didática. O objetivo é mostrar que, apesar de ser o centro do poder político, Brasília tem gente de carne e osso, que sonha, sofre, namora. E tem sua própria estética. Uma estética que o Brasil precisa conhecer e que é muito interessante.
 
 
Poderia detalhar um pouco o que vai ser mostrado nesta nova Veja você, Brasília?
É difícil explicar um espetáculo. Mas,  grosso modo, é uma viagem no tempo. Do sonho de Dom Bosco à escuridão da ditadura, dos delírios hippies aos anseios das novas gerações. Sem pretensão sociológica. São impressões, sentimentos de quem morou aqui. Não só os meus. Temos grupos de dança do Plano Piloto, da periferia de Brasília, das cidades-satélites, músicos do Clube do Choro, músicos do rock brasiliense, músicos do jazz. E a participação virtual de muita gente que saiu daqui, como Milton Guedes, por exemplo, que toca várias músicas no telão, interagindo com a banda que está no palco. Brasília tem formação muito diversificada. Foi criada por gente de todo Brasil, de todos os estilos. Isso gerou um estilo próprio, virou marca. É isso que o espetáculo tenta mostrar.
 
 
Os ensaios começaram ontem. Como vai ser esta primeira fase. E as subsequentes?
O telão está pronto. Filmamos durante 2019. Os ensaios serão separados — músicos e cantores de manhã, bailarinos à tarde e a companhia Instrumento de Ver à noite. Em março, começaremos os ensaios em conjunto, com todo elenco no palco — músicos, cantores, bailarinos e a companhia Instrumento de Ver.
 
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Correio Braziliense terça, 28 de janeiro de 2020

O MUNDO CHORA POR KOBE BRYANT

 

O mundo chora por Kobe Bryant
 
Trágica morte do ídolo do L.A. Lakers provoca onda de homenagens ao redor do planeta. Jogadores de basquete e tenistas prestam tributo em quadra, enquanto autoridades enaltecem o legado do ex-armador

 

Publicação: 28/01/2020 04:00

Em Los Angeles, fã fotografa painel em homenagem ao eterno camisa 24 (David Mcnew/AFP)  

Em Los Angeles, fã fotografa painel em homenagem ao eterno camisa 24

 



A rodada de domingo da NBA ficou marcada por homenagens nas oito partidas realizadas e pelo sentimento de luto e desolação por causa da trágica morte de Kobe Bryant, ex-jogador do Los Angeles Lakers, ocorrida horas antes, com a queda de um helicóptero, que provocou o falecimento de outras oito pessoas, incluindo de uma das filhas, Gianna, de 13 anos.

O San Antonio Spurs e o Toronto Raptors começaram o jogo segurando a bola por 24 segundos, até o cronômetro estourar, em memória ao número que Bryant utilizou em parte da carreira, com as equipes não disputando o início da partida e o público ovacionando o ex-atleta aos gritos de “Kobe”. Os Spurs exibiram um vídeo de tributo a Bryant com cenas da última aparição da lenda dos Lakers em San Antonio. O técnico Gregg Popovich se emocionou.

A morte de Kobe Bryant provocou manifestações de pesar e de solidariedade aos familiares além do mundo do basquete. Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi uma das personalidades a lamentar a morte da lenda do esporte. Bach classificou Bryant como “um excelente e verdadeiro campeão olímpico”. Ele conquistou medalhas de ouro nos Jogos de Pequim-2008 e de Londres-2012 pela seleção dos Estados Unidos. O astro também trabalhou pela candidatura olímpica de Los Angeles. Quando a cidade sediar a Olimpíada de 2028, o basquete masculino será jogado no Staples Center, onde Bryant brilhou pelos Lakers.

Bryant narrou o vídeo final da apresentação da candidatura de Los Angeles em julho de 2017, sendo membro do conselho de administração. “Ele abraçou o poder do esporte para mudar a vida das pessoas”, disse Bach em um comunicado publicado pelo COI. “Depois de se aposentar do jogo que ele tanto amava, ele continuou a apoiar o movimento olímpico e foi uma inspiração para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.”

A Federação Italiana de Basquete decretou uma semana de luto pela morte de Kobe Bryant. Um minuto de silêncio será respeitado em todos os jogos de todas as categorias. O ex-armador viveu na Itália dos 6 aos 13 anos, enquanto o pai, Joe Bryant, jogou por várias equipes italianas. Ele voltou para a Pensilvânia, onde nasceu, para cursar o ensino médio. Kobe falava italiano fluentemente e costumava dizer que era um “sonho” jogar no país.

Esse sonho quase se tornou realidade em 2011, quando Bryant chegou a negociar com o Virtus Bologna, mas não chegou a um acordo. “Perdemos um amigo”, publicou em manchete de primeira página o Gazzetta dello Sport, o principal jornal esportivo da Itália.

Austrália
A morte de Kobe Bryant chocou e comoveu fãs e atletas do mundo do esporte, que renderam diversas e diferentes homenagens, como as ocorridas ontem no Aberto da Austrália, que está sendo realizado em Melbourne. Nick Kyrgios utilizou uma camisa número 8 do Los Angeles Lakers antes de uma partida pelas oitavas de final contra o espanhol Rafael Nadal, prestando tributo sem precisar dizer uma palavra.

Vários torcedores utilizaram camisetas de Bryant com os números 8 ou 24. Os organizadores do Aberto da Austrália também fizeram uma pequena homenagem em vídeo antes do início da partida entre Nadal e Kyrgios.

Bryant, de 41 anos, morreu em um acidente de helicóptero, nas proximidades de Los Angeles, em Calabasas. Ele e a filha Gianna, de 13 anos, morreram na queda, assim como mais sete pessoas.
 

“Um excelente e verdadeiro campeão olímpico. Ele abraçou o poder do esporte para mudar a vida das pessoas. Depois de se aposentar do jogo que ele tanto amava, continuou a apoiar o movimento olímpico”
Thomas Bach, presidente do  COI
 
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Correio Braziliense segunda, 27 de janeiro de 2020

PREVIDÊNCIA: BRASILEIRO ESPERA QUATRO MESES PARA SE APOSENTAR

 

PREVIDêNCIA
 
Espera por benefício triplica em dez anos
 
Em média, a demora para obtenção de pagamento saltou de 27 para 81 dias. No caso de aposentadorias, a liberação pode levar 124 dias. INSS adotou programa de incentivo à produtividade para compensar o aumento da demanda e a falta de pessoal

 

ALESSANDRA AZEVEDO

Publicação: 27/01/2020 04:00

Fila em agência do INSS: problema emergencial e de longo prazo (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press - 10/7/17
)  

Fila em agência do INSS: problema emergencial e de longo prazo

 

Em meio a polêmicas sobre a condução dos trabalhos e a fila de quase 2 milhões de pedidos de benefícios represados, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tenta contornar a falta de servidores com a implementação de um modelo de gestão mais moderno. Os resultados, até o momento, são controversos. Na última década, o tempo médio de concessão de benefícios triplicou: foi de 27 para 81 dias. Quem pediu aposentadoria no fim de 2019 esperou, em média, 124 dias para recebê-la — ou seja, mais de quatro meses. Dez anos antes, a espera média era de 33 dias.
 
O país saiu de um estoque de 384 mil análises represadas para 1 milhão na última década. O governo alega que o principal motivo para o salto foi a digitalização do sistema, que acontece, aos poucos, desde 2016. O aplicativo do INSS digital, lançado em 2018, permitiu que os segurados passassem a fazer os pedidos pela internet ou pelo telefone, sem necessidade de ir às agências. O resultado é que desapareceu a fila física para entregar os documentos pessoalmente, mas surgiu uma invisível espera de pessoas que protocolaram a demanda on-line e, agora, aguardam resposta.
 
Em outras palavras, acabou a “triagem” feita pelos servidores e, pela facilidade de se iniciar o processo, explodiu o número de pedidos. Mas, em tese, também ficou mais fácil avaliar as solicitações nos últimos anos. Em 2019, 1 milhão de benefícios foram concedidos de forma automática, sem a necessidade de intervenção de servidores, o que não existia 10 anos atrás. Mesmo assim, a fila continua inadministrável.
 
Uma das razões é que, enquanto a demanda cresce exponencialmente, os servidores se aposentam e não são repostos. Ao mesmo tempo em que o sistema é modernizado, mais de 17 mil servidores se aposentaram, só na última década. Sobraram 23 mil, o menor número de funcionários da história da autarquia. Sem gente para cuidar dos processos, que se empilharam, em 2019, na maior velocidade desde que o INSS foi criado, o crescimento do estoque de pedidos foi inevitável.
 
O ano de 2019 terminou com 1,3 milhão de processos parados há mais de 45 dias, fora os mais de 500 mil dentro desse prazo, considerado razoável pelo INSS. Ou seja, 68,4% dos pedidos represados esperam há mais de um mês e meio. Dez anos antes, o percentual de pedidos nessa situação era de 15,8%. “O que não mudou nesse período foi o fato de sempre ter milhões de pessoas esperando respostas, seja presencialmente ou, agora, remotamente”, afirma a advogada Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP).
 
Informatizar o sistema melhorou as perspectivas, mas ainda há gargalos, afirma Bramante. “O site do Meu INSS é bom, porque concede automaticamente, e a expectativa é de que os números melhorem”, avalia. Mas, apesar de resolver a grande maioria dos casos de forma digital, “muitos segurados são excluídos disso por não terem acesso à internet, não estarem informatizados ou serem analfabetos digitais”, aponta.
 
Estratégia
 
O número de funcionários segue caindo, mas a produtividade deles aumentou na última década, embora não o suficiente para conter a fila. Em dezembro de 2010, cada servidor conseguia analisar 236 processos por mês. No mesmo mês do ano passado, a média foi de 409 — maior índice da história do sistema. O desempenho se deve “justamente pelas ações empreendidas por esse governo”, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, na coletiva de imprensa em que apresentou a estratégia para reduzir a fila, em 13 de janeiro.
 
O que o governo tem feito, na verdade, é tentar remediar a falta de servidores com incentivos aos 23 mil que ainda trabalham na autarquia. As ações mencionadas pelo secretário incluem teletrabalho, jornada semipresencial e bônus para quem analisa processos fora do expediente. Essas medidas, segundo o INSS, são responsáveis, ao menos em parte, pela melhora no tempo de concessão nos últimos meses.
 
O auge da espera foi em julho de 2019, quando a média era de 191 dias para aposentadorias e 124, para pensões. Desde então, tem diminuído. Especialista em direito previdenciário, Washington Barbosa, diretor acadêmico do Instituto Dia e coordenador do Instituto de Estudos Previdenciários (Ieprev), diz que “os problemas têm acontecido desde o início da década, mas as grandes inovações para resolvê-los começaram, na verdade, nos últimos dois anos”. Ele cita a proposta de incentivo aos servidores como uma das mais acertadas nas últimas gestões do INSS.
 
Na visão de Barbosa, não é por acaso que os índices começaram a melhorar na mesma época em que os servidores passaram a ter a opção de trabalhar em casa, ir às agências apenas três vezes por semana ou analisar processos depois do expediente. Essas três alternativas ficam a critério do servidor, que, em todos os casos, ganha um bônus de R$ 57,50 por processo feito além do necessário.
 
No caso do semipresencial, quando só precisa ir à agência três vezes por semana, e do teletrabalho, que é a distância, é preciso analisar certa quantidade de processos extra por mês para se manter no regime. Cada benefício avaliado vale uma quantidade de pontos — aposentadoria, por exemplo, vale um, salário-maternidade, 0,75. No semipresencial, a meta é de 90 pontos. Já no teletrabalho, é mais alta: 117 pontos.
 
Quem trabalha constantemente nas agências não tem um mínimo de processos a cumprir, mas ganha a mais quando continua depois do expediente. Nenhum servidor é obrigado a participar desses programas de metas, mas muitos optam por aderir, para aumentar a remuneração. O problema é que alguns acabam trabalhando muito além dos horários, o que preocupa as entidades representativas de servidores públicos.
 
Diretor da Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), Moacir Lopes acredita que esse tipo de incentivo pode melhorar os índices momentaneamente, mas não é sustentável. “Com o bônus, as pessoas passaram a trabalhar até o dobro do normal. Já se chegou à produção máxima, com jornada extenuante, não tem mais como subir", avalia. Na avaliação de Barbosa, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Ou seja, talvez seja preciso regulamentar o bônus, mas não acabar com ele.
 
Digitalização 
 
O fato é que, com essas mudanças, a produtividade aumentou, mas não o suficiente para diminuir a fila a níveis satisfatórios. Ainda assim, o deficit de servidores não pode ser ignorado. Técnicos do INSS admitem que, possivelmente, será preciso aumentar o quadro de pessoal. Mas defendem que isso só seja estudado depois que a fila for reduzida a níveis razoáveis, para ser possível avaliar a quantidade real que precisa ser contratada.
 
“O negócio é que a contratação de servidores não é para resolver problemas atuais, ela é feita pensando nos próximos 35 anos. Até lá, a digitalização estará mais consolidada. Será que daqui a dez anos precisaremos do mesmo número de servidores que havia 10 anos atrás?”, questiona um do técnico do INSS que tem discutido as mudanças a serem implementadas neste ano, como a contratação de militares da reserva para reforçar o atendimento nas agências.
 
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Correio Braziliense domingo, 26 de janeiro de 2020

FOLIA SUSTENTÁVEL

 

Folia sustentável
 
A produção de lixo durante o carnaval brasiliense caiu 39,5% em 2019, em relação ao ano anterior. Entre os materiais mais descartados, estão latinhas, plásticos, garrafas PET e vidros

 

» Ana Maria da Silva*
» Agatha Gonzaga
* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Publicação: 26/01/2020 04:00

 

Thainy Bressan, dona da marca EcoJornada (E), Maria Martha Lauande, dona do Brecho 3 Marias (D) e Janaina Domingues Luizari mostram produtos ecológicos que podem ser utilizados no carnaval  

Thainy Bressan, dona da marca EcoJornada (E), Maria Martha Lauande, dona do Brecho 3 Marias (D) e Janaina Domingues Luizari mostram produtos ecológicos que podem ser utilizados no carnaval

 


Os brasilienses entraram no clima do carnaval mais cedo este ano. Fantasias, tiaras e purpurinas começaram a fazer parte das vitrines, e a variedade de momo está presente no comércio da capital. Mas, se por um lado o carnaval é um dos eventos brasileiros mais esperados, por outro, o consumo excessivo e massivo de itens da folia gera resíduos que podem prejudicar o meio ambiente.

Preocupadas com o impacto ambiental, foliões criaram iniciativas conscientes e sustentáveis, de tal forma que as pessoas possam curtir a festa sem agredir a natureza com produtos e resíduos tóxicos. De acordo com o Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), nos últimos anos, houve uma redução de 39,5% na quantidade de resíduos recolhidos. Em 2018, foram registradas 82,2 toneladas de lixo produzidas durante o carnaval, número alto se comparado a 2019, que gerou 49,7 toneladas. Latinhas, plásticos, garrafas pet e vidros são os materiais mais descartados.

A bióloga Lara Oberda curte a festa de Rei Momo de forma consciente (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A bióloga Lara Oberda curte a festa de Rei Momo de forma consciente

 


A coordenadora de mobilização social do SLU, Luana Cristeli Sena, explica que a redução destaca a consciência ambiental cada dia mais presente na vida do brasiliense. “É um indicativo de que a população está se conscientizando mais. É importante sensibilizar os órgãos públicos, os organizadores de blocos, ambulantes e pessoas que curtirão a festa, quanto à importância da manutenção da limpeza da nossa cidade”, diz.

Luana explica também que a Lei 5.610 de 2016 passou a responsabilizar grandes geradores de resíduos sólidos, o que afeta diretamente os blocos dos carnavais. “Desde então, todos os eventos que atraem grande público vêm sendo cadastrados no SLU, e os blocos de carnaval fazem parte da lista. Dessa forma, a obrigatoriedade de manter a limpeza durante a festa recai sobre eles”, esclarece.

Entre as iniciativas do órgão, está o programa Bloco Brasília Limpa, que acontece desde 2015 e promove palestras de conscientização aos organizadores dos blocos e ambulantes. “O projeto tem o objetivo de sensibilizar a manutenção da limpeza durante as festas, promovendo uma mudança cultural para o descarte adequado dos resíduos durante os eventos”, acrescenta Luana.

A empreendedora Tayna Haudiquet, 24, fundadora da marca Parangolés, diz que procura produzir menos lixo com o reaproveitamento de material (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A empreendedora Tayna Haudiquet, 24, fundadora da marca Parangolés, diz que procura produzir menos lixo com o reaproveitamento de material

 


Para valorizar o esforço dos foliões no recolhimento de lixo produzido, o SLU distribui certificados de limpeza aos blocos de rua que mais se empenham em manter os locais de festas livres de resíduos após o evento. Além disso, durante a festa, a limpeza é feita diariamente. Este ano, a novidade é que os garis estenderão o período de trabalho até meia-noite.

Conscientização
Levar o  próprio copo, usar transporte público e reutilizar fantasias. A bióloga Lara Oberdá Carneiro Marques, 26 anos, conta que sempre procura passar a festa de maneira sustentável, e essas são algumas das alternativas que encontrou para isso. “Além de colaborar com o meio ambiente e com o bolso, também exercita a criatividade, o que é uma das graças do carnaval”, compartilha. Lara afirma que começou a tomar consciência no fim de sua graduação no curso de biologia. “Discutimos muito em algumas disciplinas sobre os impactos negativos que o ser humano causa no planeta e isso acaba me fazendo repensar algumas atitudes e, principalmente, mudar alguns hábitos”, destaca.

Para a bióloga, aproveitar o carnaval de modo sustentável pode ajudar a criar hábitos que precisam ser levados para o dia a dia. “De modo geral, acredito que essas pequenas mudanças facilitam a curtição da festa, pois diminui o número de coisas com que me preocupar, como carregar resíduos, procurar copos, segurança do carro, amigo da vez e etc.”, constata.

De acordo com ela, é possível enxergar o cuidado de alguns blocos, mas é preciso haver maior investimento do governo. “Vemos muitos organizadores incentivando os foliões a levarem seus copos, com campanhas de conscientização sobre onde descartar os resíduos. Mas, sem o apoio para fornecer a infraestrutura adequada, como recolhimento e separação dos resíduos, há um limite para o que possa ser feito”, alerta.

Em resposta, o SLU reforça que tem procurado fazer campanhas de sensibilização. “Além da limpeza das ruas durante a festa, o SLU também realiza um trabalho de conscientização com os blocos de rua, doando sacos de lixo verdes e azuis — para destinação dos resíduos recicláveis — e promovendo ações educativas sobre a importância de descartar o lixo no local certo, separando o que é orgânico e o que é reciclável”, explica o órgão, em nota.

Inovação
Preocupada em causar menos impacto no ambiente, a professora Laís Xavier de Moraes, 20, conta que optou por alternativas sustentáveis para passar o carnaval, após perceber a quantidade de lixo no chão na primeira vez que participou da festa. Uma das escolhas foi a customização de suas  fantasias. “Tento gerar a menor quantidade de lixo possível fazendo minha roupa com materiais e coisas que eu já tenho, usando glitter biodegradável. Além disso, levo de casa meu  copo”, relata.

Para a professora, a curtição fica em segundo plano: “O mais importante é aproveitar o carnaval com a consciência limpa, me responsabilizando pelo lixo que produzo”, completa. “Minha expectativa para este carnaval é que mais pessoas possam entrar nessa jornada sustentável e curtam de forma ecológica. Ultimamente, as pessoas já têm adotado medidas mais sustentáveis, principalmente com os copos, canudos e sacolas. Espero não ver tanto lixo na rua desta vez durante a folia”, diz.

Sustentabilidade
A engenheira ambiental e de segurança do trabalho Thainy Cristina Silva Bressan aponta que o carnaval pode ser ainda mais sustentável. “Nós temos um mundo muito mais acessível de informações. Na internet, várias pessoas estão mostrando como podemos usar a criatividade para fazer isso acontecer de forma mais fácil e prática”, assegura.

Segundo Thaiany, uma das iniciativas desenvolvidas é o glitter biodegradável. “O glitter vendido em papelaria é uma micropartícula de plástico. A purpurina também tem o mesmo procedimento, mas é mais fina (polui do mesmo jeito). Passa o carnaval, e três meses depois ainda encontramos brilho”, lamenta. “O bioglitter tem essa diferença. Ele não é de plástico. A maior parte do composto é de mica e gelatina, que são ingredientes naturais. É uma forma que as pessoas encontraram de manter a essência do carnaval, de forma que não agrida o nosso sistema de saneamento e o meio ambiente”, completa a engenheira.

Além do glitter, ela faz um alerta quanto ao uso do vidro, material de grande dificuldade de reciclagem no país. “Aqui em Brasília, temos algumas iniciativas, mas a garantia de que 100% desse material que é descartado no carnaval vá para uma reciclagem não existe”, diz. Além disso, Thainy adverte quanto ao fator segurança. “A garrafa de vidro pode virar um instrumento de perigoso. Tanto pela chance de alguém escorregar, por ficarem no chão e não serem recolhidas, quanto pela questão de que pode virar uma arma em um momento de violência ou agressividade”, completa.

De acordo com a engenheira, alternativas sustentáveis não precisam pesar no bolso. “Não é mais caro ser sustentável. Quando trocamos algumas embalagens por coisas reutilizáveis, o custo que estamos tendo, além de financeiro, é ambiental”, esclarece. “No caso do carnaval, todos esses adereços, como copos, canudos são itens que vamos usar durante os blocos, além de ser algo que poderá ser utilizado novamente. A cada vez que você opta por um desses itens, é um lixo a menos produzido”, realça.

Com o objetivo de ajudar o meio ambiente, Thainy, em parceria com a engenheira ambiental Janaína Domingues Luizari, 24, conduz a marca Ecojornada, que torna acessíveis à população produtos sustentáveis, como copos e garrafas retráteis, canudos reutilizáveis, pulseiras e colares  feitos com fio de malha.

A empreendedora Maria Martha, dona do brechó As Três Marias, garante que é possível reutilizar peças, e investir em roupas com um menor preço para fazer parte de uma moda sustentável. “Em um brechó, você tem acesso a produtos mais baratos, para uso próprio, além de poder adquirir uma peça para customizá-la. Todo carnaval dá para fazer a ressignificação de um look, fazer tiaras, adereços de cabelo, brincos, ombreiras, várias peças a partir de roupas já existentes”, afirma.

Uma das alternativas utilizadas por Maria, para curtir o carnaval em estilo sem agredir o ambiente, foi a economia nos materiais: “Os kimonos são produção do nosso brechó para o carnaval e os blusões, também. Estamos fazendo sob encomenda para não ter desperdício de produção, e tudo que vai sobrando da confecção dessas peças a gente pega para fazer novas fantasias”, acrescenta.

Outra empreendedora, Tayna Haudiquet, 24, também optou pela moda consciente. Cofundadora da marca Parangolés, ela conta que, ao procurar por fantasias e não encontrar, decidiu fabricar a própria. Após o sucesso da primeira peça, passou a investir nas coleções. “Percebemos que havia mercado em Brasília. Já estamos no terceiro ano da marca”, aponta.

Mas Tayna decidiu ir além, e optou pela alternativa ainda mais ecológica: “Nos preocupamos muito com a questão do descarte, então, em vez de jogarmos fora, reaproveitamos. Quando vamos comprar tecido, damos preferência aos retalhos das lojas. Dessa forma, tudo vira alguma coisa no nosso ateliê, nada é descartado”, relata.


Na Moda

» A professora do curso de moda do Centro Universitário Iesb Lina de Albuquer que, dá cinco dicas de como passar o carnaval om uma fantasia bonita e sustentável

» Busque peças práticas e versáteis que possam ser combinadas a vários tipos de acessórios que você já tem

» Faça um upcycling no guarda-roupa — técnica que consiste na reutilização de roupas antigas dando novos significados a elas

» Reutilize peças do carnaval passado customizando-as com pedrarias, tiras de paetê e outros itens carnavalescos. É possível transformar um body antigo de renda em outra fantasia se aplicar novos elementos a ele

» Utilize materiais recicláveis como o fundo da garrafa PET. possível fazer uma ombreira para a roupa do carnaval

 

 

Opções
Caso vá comprar novas peças, opte por produtores de Brasília. Há vários artistas com propostas sustentáveis.


Saiba como fazer
Glitter caseiro biodegradável para maquiagem:

» Corante alimentício da cor desejada
» Mica
» Sal de cozinha.
» Coloque em dois recipientes distintos quantidades proximadamente iguais de sal e mica;
» Misture o corante no sal até que adquira a cor desejada;
» Coloque o corante na mica até que adquira a cor desejada (será necessário mais corante para a mica do que para o sal, visto que o mineral absorve mais tinta)
» Deixe que as misturas sequem naturalmente, o que deve levar por volta de uma hora
» Misture os dois produtos e seu glitter para maquiagem está pronto.

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Correio Braziliense sábado, 25 de janeiro de 2020

SAÚDE: BRASÍLIA RETORNA AO ESTADO DE EMERGÊNCIA

 

SAÚDE
 
Capital retorna ao estado de emergência
 
Diante do risco de nova epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, o governador Ibaneis Rocha assina decreto que abre oportunidade para ações emergenciais, como contratação de profissionais e compra de insumos sem licitação

 

» AGATHA GONZAGA
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/01/2020 04:00

Além do marido, que morreu de dengue na semana retrasada, cinco familiares de Sirleide da Conceição Silva pegaram a doença no Guará 2:  

Além do marido, que morreu de dengue na semana retrasada, cinco familiares de Sirleide da Conceição Silva pegaram a doença no Guará 2: "Está faltando controle"

 

 
O período de chuvas no Distrito Federal acendeu o alerta do poder público em relação ao risco de uma epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes. Diante disso, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, ontem, um decreto que declara situação de emergência no âmbito da saúde pública. O documento, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF, abre espaço, por exemplo, para contratação temporária de profissionais, convocação de aprovados em concursos, extensão de cargas horárias de trabalho e compra de insumos sem a abertura de licitação.

A medida permanece em vigor até junho. “Fica declarada situação de emergência (...) em razão do risco de epidemia de dengue, potencial epidemia de febre amarela e da possível introdução dos vírus zika e chicungunha no Distrito Federal, bem como da alteração do padrão de ocorrência de microcefalias no Brasil”, detalha o decreto. O governo também contará com o apoio de equipes das forças de segurança e de outros órgãos do Executivo para auxiliar nos trabalhos de combate ao inseto e de conscientização.

Na manhã de hoje, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, estará na Administração Regional do Guará para avaliar a situação. De lá, sairão 500 bombeiros para visitar residências da região e informar moradores sobre como se prevenir e onde buscar ajuda médica. “É preciso que tomemos todos os cuidados e atitudes o mais rápido possível para diminuirmos o risco dessa epidemia. As ações começaram e, a partir daí, será dedicação total à assistência, ao acolhimento e à intensificação das visitas domiciliares”, detalha Divino.

No ano passado, o DF bateu recorde histórico com relação à quantidade de casos registrados. A Secretaria de Saúde contabilizou mais de 47 mil casos prováveis de dengue e 62 mortes (leia Números de 2019). O cenário, classificado pela pasta como epidemia, resultou em uma força-tarefa que mobilizou equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), além de profissionais da saúde (leia Memória).

De acordo com o subsecretário da pasta, o número recorde de ocorrências no ano passado decorreu da introdução de um tipo novo e mais agressivo do vírus da dengue na Região Centro-Oeste, além da quantidade de chuvas registradas no Distrito Federal. “Pretendemos mostrar que esse problema de saúde pública é coletivo e que a resposta está na atitude das pessoas. É importante buscarmos uma consciência coletiva para termos resultado. Estamos fazendo um alerta bem mais cedo para mostrar que o problema está aí e é de todos”, ressalta Divino.
 
Indignação
 
Na casa da família de Sirleide da Conceição Silva, 56 anos, a dengue afetou cinco pessoas apenas neste mês. O marido dela, José Edmilson, 65, teve um quadro hemorrágico e morreu, na quarta-feira retrasada. Ontem, parentes e amigos participaram da Missa de Sétimo Dia em homenagem à memória dele. “O descaso está grande em relação a esse mosquito. Moro em uma casa e cuido direito dela, mas tenho vizinhos. Quantos mais precisarão morrer para que tomem providências? Estou indignada por ter perdido meu marido para um mosquito”, lamenta.

Moradora do Guará 2, Sirleide critica a existência de imóveis abandonados na cidade, além da falta de atenção a eles. “Está faltando controle. O pessoal está morrendo e ninguém vê. Está virando uma nova epidemia. A pessoa que atendeu o meu marido disse que nunca tinha visto uma evolução tão rápida (dos sintomas), pois ele adoeceu na quarta e morreu no sábado”, conta Sirleide.

Ainda se recuperando da doença, o filho do casal, Antônio Valdeci Carneiro, 33, e a filha de 5 anos receberam o diagnóstico na semana passada ao levar o pai ao hospital. Ele cobra senso de coletividade por parte da população, além de mais ações do governo, como a intensificação das visitas de agentes de saúde para a fiscalização das casas. “Um mosquito tão pequeno faz um mal tão grande. Nunca tivemos uma ocorrência tão expressiva perto da família. A gente fica bem triste com a situação, desolado”, comenta Antônio.
 
Sintomas
 
O auxiliar de mecânico Gabriel Galleti, 21, também foi vítima da dengue em 2020. Morador do Guará 1, só depois de contrair a doença, ele descobriu que ela estava sendo frequente na região. “Há muitos anos, a minha mãe teve dengue. Então, em nossa casa, estamos bem atentos a todo tipo de prevenção. No meu trabalho, não vejo como (pode ter havido a transmissão pelo mosquito), pois temos bastante cuidado com água parada. Infelizmente, não sei se é assim em todas as empresas”, pontua.

Chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior considera que a medida adotada pelo governo é uma antecipação. “A incidência dessas doenças normalmente sofre uma queda no início do verão e, logo depois, começa a aumentar. Mas o que aconteceu neste início de ano é diferente: entramos em 2020 com registros da doença; então, é realmente necessário começar a agir para enfrentá-las”, ressalta.

O infectologista comenta que o tratamento dos sintomas ocorre de modo a evitar que as condições evoluam para a morte; por isso, Werciley destaca que é importante se alertar quanto à prevenção. “É preciso estar atento, sobretudo neste período chuvoso, para evitar o acúmulo de água parada. Deixar garrafas abertas viradas para o chão, limpar calhas, observar pneus parados, pratos de planta e toda aquela série de medidas”, enumera.

Ainda de acordo com o médico, para avaliar a suspeita de infecção por alguma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, a recomendação é observar sintomas como febre, dor no corpo, fadiga, dor nas juntas, dor nos olhos ou até conjuntivite, para o caso de zika. Quem tiver sido acometido pela febre amarela também pode ter insuficiências hepáticas ou renais, além de manifestações hemorrágicas e cansaço.


Memória
Iniciativa semelhante
 (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  
O governador Ibaneis Rocha iniciou o primeiro ano de governo com a assinatura de um decreto, declarando estado de emergência na saúde do Distrito Federal. A medida visava agilizar a contratação de profissionais e facilitar a manutenção de equipamentos. A divulgação do documento ocorreu durante o lançamento do programa SOS DF Saúde, conjunto de iniciativas emergenciais com foco no setor e carro-chefe do primeiro ano da gestão. Em maio, em face do aumento expressivo dos casos de dengue no DF, o Executivo anunciou a instalação temporária de tendas de hidratação para pacientes com suspeita da doença, em seis Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). O projeto fez parte da força-tarefa anunciada pelo governo para controlar a epidemia da doença.



Fique ligado
Prevenção
» Evite o acúmulo de água parada. Mantenha as garrafas vazias com a boca virada para baixo e cheque pneus que estão sem uso pela presença de água no interior deles. Também deixe baldes, lixeiras, tonéis e caixas d’água bem tampados. Cubra com areia pratos e vasos de plantas e mantenha calhas limpas e ralos fechados.
 
Sintomas
» Ao menor sinal de febre, dor no corpo, fadiga associada a dor nas juntas, dor nos olhos e na cabeça, conjuntivite, mal-estar, manchas vermelhas pelo corpo e falta de apetite, procure a unidade de saúde mais próxima para avaliação de um médico.
 
Repouso e hidratação
» Em caso de diagnóstico positivo para doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, siga a recomendação médica e respeite o tempo de recuperação. Beber bastante água ajuda o organismo durante o tratamento.


Números de 2019

Dengue
 
 
47.393
casos prováveis 
(confirmados em laboratório)
 
 
62
mortes


Chicungunha
 
 
42
casos confirmados
 
 
1
morte


Zika
 
 
432
casos prováveis


Febre amarela
 
 
95
casos notificados
 
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Correio Braziliense sexta, 24 de janeiro de 2020

CORONAVÍRUS: PAÍS EM ALERTA

 

CORONAVÍRUS
 
País está em alerta 1
 
Ministério da Saúde instala comitê de monitoramento para agir em casos que se concretizarem, apesar de o risco ser considerado baixo. Cinco suspeitas, uma delas surgida no DF, foram afastadas

 

» MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 24/01/2020 04:00

Croda (E, com o ministro interino João Gabbardo) explicou que os principais alvos do vírus são parentes de infectados e profissionais de saúde (Marcelo Camargo/Agencia Brasil)  

Croda (E, com o ministro interino João Gabbardo) explicou que os principais alvos do vírus são parentes de infectados e profissionais de saúde

 



O Ministério da Saúde instalou ontem o Centro de Operações de Emergência (COE) – Coronavírus para atuar em possíveis casos que surgirem no Brasil. O nível de alerta é 1, em uma escala de 1 a 3. De acordo com a pasta, a instalação do COE é vista como uma precaução, pois o comitê é ativado sempre que existe um evento de impacto na saúde pública. Recentemente, foi instalado para os casos de sarampo e também no rompimento da barragem em Brumadinho.

Para o secretário substituto de Vigilância em Saúde, Júlio Croda, a avaliação de risco de propagação hoje do agente biológico é baixa. “Não sabemos, até o momento, a forma de transmissão. Por enquanto, o relato que chegou ao Ministério da Saúde é que existe uma transmissão restrita em familiares (de infecctados) e profissionais de saúde”, ressaltou.

O ministério informou que acompanha os episódios de contaminação, que surgiu em Wuhan, na China, desde 31 de dezembro passado. “O comitê é ativado constantemente e existem diferentes níveis. O nível que estamos agora é inicial, de alerta, justamente para organizar o serviço de saúde”, afirmou Croda. A pasta voltou a reafirmar que não existe nenhum caso suspeito confirmado no Brasil.

A pasta, porém, confirmou que recebeu a notificação de cinco casos, tratados como suspeitos pelas secretarias estaduais, mas já descartados por não se enquadrarem nos critérios utilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O primeiro aviso veio do Distrito Federal, em 18 de janeiro. Os demais alertas vieram de Minas, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Segundo a organização, para ser considerada uma possibilidade de coronavírus, além de ter apresentado febre e/ou sintomas respiratórios (como tosse e dificuldade para respirar), o paciente precisa ter viajado para Wuhan ou ter realizado contato próximo com algum caso confirmado ou suspeito do vírus, nos últimos 14 dias antes do início dos sintomas. A cidade chinesa é a única área com transmissão ativa do agente.

“Até o momento, não existe nenhum caso suspeito de coronavírus no Brasil, mas nada impede que essa definição seja atualizada. Nossa recomendação para os gestores de saúde é de que leiam o boletim epidemiológico para saber como enquadrar os casos”, acrescentou Croda.


Brumadinho: água de rio continua imprópria
Quase um ano depois do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), a Fundação SOS Mata Atlântica voltou a analisar a qualidade da água do Rio Paraopeba, atingido pela tragédia, no início de 2019. Segundo a pesquisa, os indicadores de qualidade revelaram que continua imprópria e sem condições de uso por todos os 356km de rio percorridos. O resultado, de acordo com os estudiosos, era esperado, mas há aspectos que chamaram atenção: em nove pontos de coleta, a água passou de ruim para péssima, na comparação com o levantamento feito em 2019, após o rompimento. A explicação é de que as chuvas na região trouxeram de volta os contaminantes dos rejeitos.
 
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Correio Braziliense quinta, 23 de janeiro de 2020

REGINA DUARTE: ENTRAVE É A REMUNERAÇÃO

A atriz desembarcou ontem em Brasília para reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Ela conheceu as estruturas da Secretaria Especial de Cultura, que deverá comandar caso passe do noivado para o casamento com o futuro chefe. Empossada, Regina Duarte poderá nomear 10 assessores. Disputa pelos cargos já começou. , Carolina Antunes/PR

Entrave é a remuneração
 
Demora de Regina Duarte em aceitar comando da Secretaria Especial de Cultura está relacionada à preocupação sobre salário e à estabilidade no cargo. Chegada da atriz a Brasília coincide com demissão do secretário adjunto da pasta, José Paulo Martins

 

» RODOLFO COSTA
» LUIZ CALCAGNO

Publicação: 23/01/2020 04:00

Em Brasília, Regina Duarte se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com ministros. Ela poderá nomear até 10 assessores (Marcos Correa/PR)  

Em Brasília, Regina Duarte se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com ministros. Ela poderá nomear até 10 assessores

 



O “noivado” da atriz Regina Duarte com o governo e a consequente espera para dar a palavra final antes de assumir a Secretaria Especial de Cultura têm nome e sobrenome: custo de vida. A rescisão do contrato com a TV Globo, da qual recebe até R$ 120 mil em carteira assinada — uma das poucas celetistas na emissora —, ainda não foi concluída, justamente porque ela avalia bônus e ônus de assumir o cargo, aponta um interlocutor. Na pasta, receberia cerca de R$ 17 mil, ou seja, 14,2% da remuneração paga pela empresa de comunicação. De toda forma, o governo mantém o otimismo de que a artista chefiará a política nacional cultural e crava sua “contratação”. Mas os desafios serão relevantes, caso ela aceite a função, a começar pela demissão anunciada do secretário adjunto, José Paulo Martins.

O Correio antecipou, na terça-feira, que a atriz confirmou ao Palácio do Planalto que assinaria a rescisão com a Globo, após a reunião com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Até ontem, contudo, isso não ocorreu.

O “sim” de Duarte está, dessa forma, mais dependente de questões financeiras do que de outros elementos. Interlocutores da TV Globo apontam que ela quer manter as portas abertas com a emissora, de modo a retomar o contrato caso não tenha vida longa no governo. Entretanto, o pedido é visto como difícil de ser atendido, dado o relacionamento entre o Executivo e a empresa. “Noivado é noivado. Vou continuar conversando, noivando”, declarou a atriz, ontem, no desembarque em Brasília.

É fato que Regina Duarte está empolgada com a ideia de assumir a pasta. Assim que chegou à capital, seguiu para o Planalto, onde entrou pela garagem — acesso concedido, normalmente, a ministros de Estado e presidentes de poderes —, às 13h, e permaneceu até as 15h10. Nesse período, conversou com Bolsonaro, Ramos, e com os ministros da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Depois disso, seguiu para o Bloco B da Esplanada dos Ministérios, das pastas do Meio Ambiente e da Cidadania. É onde fica a Secretaria Especial de Cultura, no quarto andar. Lá, se reuniu com técnicos. Ela terá direito a nomear 10 assessores. A disputa pelos cargos já começou.

Além das reuniões, o dia dela na cidade foi marcado por selfies.

Revés

A demissão de José Paulo Martins é um revés para Regina Duarte. Desde junho de 2016 ocupando postos de importância na secretaria, ele era o único que tinha o histórico de toda a pasta, dizem técnicos. Ou seja, eles acreditam que Martins poderia auxiliar a atriz na eventual gestão. Na secretaria, a exoneração foi vista como uma “limpeza” orquestrada pela ala ideológica, que sempre cobrou uma auditoria sobre a chamada “caixa-preta da Lei Rouanet”. Outros avaliam que ele foi escolhido como o bode expiatório na crise provocada pelo dramaturgo Roberto Alvim, exonerado na semana passada, após a repercussão do vídeo que ele publicou, no qual parafraseava o ideólogo nazista Joseph Goebbels. “Quando o Henrique (Pires, ex-secretário) saiu, ele ia também, mas ficou. Agora, o escolheram para apontar o dedo e achar um culpado pelo discurso nazista do Alvim”, ponderou um assessor.

O corte do número dois da secretaria ligou o alerta vermelho. Servidores de carreira estão tranquilos, mas os comissionados, não. Sobretudo os secretários e os presidentes das entidades indicados por Alvim. Alguns deles iniciaram movimentos de apoio claro e declarado a Regina Duarte, a fim de pleitear a permanência nos postos.

Parlamentares do PSL e do DEM estão se articulando para nomear o ex-secretário de Diversidade Cultural Gustavo Amaral como adjunto da atriz. Ex-administrador do Plano Piloto e servidor de carreira do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), ele é visto como alguém técnico capaz de suceder Martins.


"Noivado é noivado. Vou continuar conversando, noivando”
Regina Duarte, na chegada à capital federal
 
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Correio Braziliense quarta, 22 de janeiro de 2020

BLOCO DO SEU JÚLIO: TRADIÇÃO DO CARNAVAL DE PLANALTINA

 

BLOCO DO SEU JÚLIO

Tradição no carnaval de Planaltina
 
Considerado pelo SLU o mais limpo desde 2016 e eleito um dos três melhores grupos de 2019, o Bloco do Seu Júlio completa 11 anos de folia e está pronto para mais uma edição

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 22/01/2020 04:00

Integrantes se preparam para reunir milhares de pessoas em 25 de fevereiro (Minervino Junior/CB/D.A Press - 8/3/19 )  

Integrantes se preparam para reunir milhares de pessoas em 25 de fevereiro

 

 
Quem conversa com o seu Júlio percebe, em poucos segundos, o amor dele pelo carnaval. Os olhos brilham, o sorriso é constante, e as lembranças emocionam. Aos 58 anos, o servidor público e professor de francês Júlio Paixão tem muitas histórias para contar sobre as folias. A tradição vem de família. Quando criança, ele se lembra de ir com o pai para os blocos de Macapá (AM), onde nasceu. As fantasias faziam parte da celebração. Ele se recorda de uma específica, o boneco Fofão. Em 1988, chegou ao Distrito Federal e foi morar em Planaltina. Ali, não tinha aquele tipo de festa. Para se divertir no período, ia para o Plano Piloto. Hoje, ele é o presidente de um dos blocos mais tradicionais da cidade e que leva o seu nome, Bloco do Seu Júlio.
 
Apesar da nomenclatura, ele afirma “o bloco é de todos”. Em 2019, reuniu mais de 30 mil pessoas na Vila Buritis, segundo a Polícia Militar. Neste ano, a programação muda de lugar e vai para o estacionamento do Restaurante Comunitário de Planaltina, no Setor Recreativo. Segundo os organizadores, devido ao sucesso, o espaço anterior não comportava mais a quantidade de foliões. A orientação foi dada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), para que a equipe tenha um controle maior das atividades.
 
O Bloco do Seu Júlio comemora 11 anos nesta edição do carnaval. E com uma realidade bem diferente da vivida em 2010. Na primeira vez em que foi à rua, participaram ele e oito amigos. No segundo ano, foram 200 pessoas presentes. Hoje, reúnem-se milhares de moradores da região e de outras cidades do Distrito Federal e do Entorno. “Planaltina precisava disso. É um carnaval da nossa comunidade”, diz Júlio.
 
Quinze diretores estão à frente do projeto. Além dos amigos e parceiros, ele conta com apoio da mulher, dos três filhos e de dois netos. Foi um trabalho de formiguinha. O primeiro abadá — roupa usada pelos carnavalescos — era uma blusa branca, pintada à mão com uma tinta de tecido e cortada com uma tesoura comum. E eram só duas unidades. “Agora, a gente vê sugestões na internet e passa para o restante do pessoal escolher. Como não temos o dinheiro para comprar, fazemos parceria com uma malharia e vendemos a camiseta”, conta Tereza Cristina Albuquerque, esposa do seu Júlio.


O grupo levou, no ano passado, o bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF ( Ed Alves/CB/D.A Press )  

O grupo levou, no ano passado, o bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF

 



 
O amarelo representa o bloco. Para dar um tom mais animado para os abadás, juntam-se as cores rosa, roxo e verde. O tema deste ano será uma homenagem ao professor Mário Castro. Muito prestigiado na região, foi um dos idealizadores da Academia Planaltinense de Letras (APL). “A gente escolhe três nomes e leva a uma votação. Ele foi o eleito. Gostamos de homenagear pessoas que estão vivas, para que elas presenciem o quanto são queridas por nós. Quando ele ouvir a marchinha, tenho certeza de que vai se emocionar”, afirma seu Júlio.
 
A canção será divulgada em 9 de fevereiro no É Seu Bar, na Vila Buritis, em Planaltina. Após a apresentação, haverá uma festa, com bingo e outras atividades para arrecadar dinheiro para o bloco, que sai toda terça-feira de carnaval. Neste ano, será em 25 de fevereiro.
 
Programação
 
“Um ambiente familiar”. Assim os organizadores definem o Bloco do Seu Júlio. Nas 10 edições anteriores, nunca houve registro de violência, e sempre pela manhã, das 9h às 12h, tem uma programação especial para a criançada. A partir das 14h, começa a apresentação das bandas convidadas. Entre elas, Juninho Show, Amanda Amaral, Tiago Mura e Juliano, Dj Mandykas e a Banda do Bloco, grupo oficial da folia. “Neste ano, ainda tem o palhaço Chokito e um grupo de Fit Dance. A organização começou em agosto do ano passado. Fomos atrás de parceiros e, acabando este carnaval, vamos começar os preparativos para o de 2021”, disse o vice-presidente do bloco e filho do seu Júlio, Juliano Albuquerque, 29.
 
Prêmios
 
Em 2019, o Bloco do Seu Júlio ganhou bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF. A votação ocorre todo ano por meio do site do jornal. A equipe lembra que não sabia da eleição e soube no dia em que o bloco estava na rua, em 5 de março. “Soubemos em cima do trio e anunciamos no microfone. Faltavam dois dias para o encerramento da votação. Ficamos surpresos, mas começamos a divulgar nas redes sociais e entre os moradores da cidade”, conta Juliano.
 
Quando foi informado da colocação, seu Júlio foi às lágrimas. “Lotamos o auditório do Correio, saímos na capa e tudo. A aceitação e o reconhecimento são grandes. Chorei igual criança. Tem gente vindo de longe e já tem um pessoal que está perguntando sobre o bloco, todos ansiosos para pular o carnaval”, destaca o presidente.
 
Além disso, é considerado o bloco de carnaval mais limpo do DF dos últimos quatro anos. O reconhecimento é feito pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). A autarquia lança a campanha Bloco Brasília Limpa para estimular foliões e organizadores a se empenharem em recolher os resíduos sólidos produzidos durante as festividades. Os vencedores ganham um certificado.


30 mil
 
Quantidade de foliões que foram para a rua em 2019 com o Bloco do Seu Júlio
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 21 de janeiro de 2020

REFRIGÉRIO PARA O CALOR: SOMBRA E ÁGUA FRESCA
 
Sombra e água fresca
 
Parque Nacional de Brasília e Orla do Lago Paranoá são opções para os brasilienses amenizarem o calor

 

» Cibele Moreira

Publicação: 21/01/2020 04:00

 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
O verão chegou, e o clima quente e abafado predomina no Distrito Federal. Mesmo com a previsão de pancadas de chuva em pontos isolados, o calor aparece em boa parte do tempo. Para aliviar a sensação térmica, muitos brasilienses aproveitam a beira do Lago Paranoá ou se refrescam em piscinas naturais e cachoeiras. Na última semana, o Parque Nacional de Brasília, popularmente conhecido como Água Mineral, teve lotação máxima todos os dias, com público de 2 mil pessoas. A administração chegou a abrir mais cedo, às 7h, por conta da demanda de visitantes que faziam fila na entrada. O valor para acessar o local é de R$ 14. Pessoas com mais de 60 anos e crianças com 12 anos incompletos não pagam.
 
A psicóloga Ariadne Borges, 35 anos, e o marido dela, Carlos Borges, 38, aproveitaram o calor para dar um mergulho nas piscinas da Água Mineral, na última sexta-feira. “Gostamos do contato com a natureza que o parque oferece. Não costumamos fazer com muita frequência, mas é sempre bom ter essa saída”, contou Ariadne. Os dois chegaram por volta das 9h e trabalhariam no período da tarde. “Decidimos fazer algo diferente e estamos aqui”, disse Carlos, que é servidor público.
 
Mesmo com a previsão do tempo indicando possibilidade de chuva, o auxiliar administrativo Adeildo Manoel Rosa, 61, levou a família para curtir o dia no Parque Nacional, também na sexta. “Tinha um bom tempo que não vínhamos para cá, mas está muito quente e resolvemos aproveitar a piscina”, relatou ele, que estava acompanhado da esposa, da filha e de duas netas. Para garantir um lugar na sombra, a aposentada Elza Araújo de Souza, 86, chegou ao parque às 7h. “Gosto muito daqui. Estou com um pouco de dor, mas aproveitando o dia com a minha filha e a neta”, contou.


A família de Adeildo; o casal Ariadne e Carlos; e Elza e a filha aproveitaram as piscinas naturais da Água Mineral (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A família de Adeildo; o casal Ariadne e Carlos; e Elza e a filha aproveitaram as piscinas naturais da Água Mineral

 

 


 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  


De acordo com o meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o clima no Distrito Federal deve continuar instável, com dias quentes e abafados e possibilidade de chuva principalmente no período da tarde e à noite. “Estamos em pleno verão, os meses de janeiro e fevereiro são tipicamente chuvosos. Em alguns dias, podemos ter sol, mas a instabilidade deve prevalecer”, explica. Segundo Bahia, não dá para descartar as chances de precipitação com fortes rajadas de ventos e raios. “Os brasilienses devem se atentar muito ao clima, principalmente quem planeja ir a cachoeiras; as cabeças d’água (aumento rápido e repentino do nível de um rio) são muito comuns nesse período”, alerta. O meteorologista ainda afirma que, apesar das pancadas de chuvas, a sensação de calor deve persistir.
 
As moradoras de Sobradinho Adriana Moreira, 38, e Marilene Rodrigues Moreira, 70, escolheram a prainha do Lago Norte para se refrescarem. “A gente gosta muito de vir aqui, principalmente para trazer minha mãe, que é cadeirante. Em Brasília, não tem muitos lugares acessíveis, e aqui acaba sendo o nosso ponto para fugir do calor”, explicou Adriana, que estava acompanhada também da filha e da neta. O local oferece rampa de acessibilidade, ponto de encontro comunitário, parquinho infantil, pedalinho e prancha de stand up paddle.
 
Além da prainha do Lago Norte, outros pontos banháveis da orla do Lago Paranoá são nas proximidades da Ponte JK e do Pontão, na Prainha do Lago Sul e no Deck Norte. Existe ainda a opção de lazer no Deck Sul, sem acesso à água. Há também os parques ecológicos (veja Opções de parques no DF).
 
Com tantas opções de lazer ao ar livre e a forte instabilidade do clima, o Corpo de Bombeiros Militar orienta que sejam tomados cuidados para evitar acidentes durante o lazer. Entre as orientações repassadas, estão: ter cuidado com as atividades aquáticas; não entrar na água após ingerir bebida alcoólica; sair da água se começar a chover; e evitar área de cachoeiras se o tempo estiver fechado.


Cuidados
 
» Se - nadar, evite lugares muito profundos

» Não - pratique atividades aquáticas após consumir bebida alcoólica

» Procure - lugares com salva-vidas. No Lago Paranoá, os pontos atendidos pelo Corpo de Bombeiros são: Ponte JK, Deck Norte, Prainhas 
do Lago Sul e Lago Norte e Ermida Dom Bosco

» Se - fizer trilha, vá com um guia

» Evite - cachoeiras e trilhas em dia de chuva

» Em - caso de chuva, evite ficar embaixo de árvore e em campo aberto

» Em  - caso de qualquer emergência, ligue para 193
 
Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do DF


Previsão para hoje
» De acordo com o Inmet, a previsão é de céu nublado com possibilidade de chuvas mais intensas à tarde. O Sol poderá aparecer encoberto por nuvens. As temperaturas vão de 17°C a 30°C. A umidade relativa do ar varia de 95% a 40%.


Opções de parques no DF

» Ermida  - Dom Bosco
» Parque  - Ecológico das Copaíbas
» Parque  - Ecológico da Península Sul
» Parque  - Ecológico do Tororó (com cachoeira)
» Parque  - Ecológico dos Pequizeiros (com cachoeira)
» Parque  - Ecológico Olhos D’Água
» Parque  - Ecológico Canela da Ema
» Parque  - da Cidade
» Parque  - das Garças
» Parque  - do Morro do Careca
 
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Correio Braziliense segunda, 20 de janeiro de 2020

BRASÍLIA NO ROTEIRO TURÍSTICO

 

Brasília no roteiro turístico
 
Com um aeroporto ligado a todos os estados, a capital foi reconhecida como o 4º destino mais procurado por brasileiros em 2019, atrás apenas de grandes centros, como Londres, Rio de Janeiro e São Paulo

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 20/01/2020 04:00

Professora de inglês, Samia Pinheiro levou a amiga piauiense Sanatyelle Alves e familiares para conhecer os pontos turísticos do Distrito Federal (Agatha Gonzaga/Esp. CB/D.A Press)  

Professora de inglês, Samia Pinheiro levou a amiga piauiense Sanatyelle Alves e familiares para conhecer os pontos turísticos do Distrito Federal

 



Estrategicamente localizada no coração do país, Brasília serve de ponto de encontro para gente vinda de todos os cantos desde a época de sua construção. Hoje, com um aeroporto diretamente conectado aos 26 estados e com voos para diversas partes do mundo, isso se intensificou. Tanto que, segundo levantamento do site Google, a capital foi o 4° destino mais procurado por brasileiros em 2019. Os primeiros lugares ficaram com Londres, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente.

Na avaliação da turismóloga Manuela Picanço, o crescimento do turismo se dá pela localização privilegiada e também pela capacidade de atender a vários segmentos. “Brasília é uma cidade que tem espaços para eventos, desde corporativos até musicais, como shows. A rede hoteleira é bem completa, então, conseguimos atender desde o turismo de eventos, até o cívico, o de lazer, o religioso, o arquitetônico e o político, além de outros. Aqui ainda temos uma malha aérea que facilita o deslocamento e não encarece as passagens”, afirma.

Somente em janeiro, conforme a Inframerica, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Brasília, mais de 1,5 milhão de pessoas devem passar pelo terminal. Para atender à demanda do mês, as companhias aéreas incluíram 554 voos extras.

Em 2019, a média de ocupação do setor hoteleiro foi de 58,7%. A receita com as diárias de hotel movimentou mais de R$ 272 milhões. Para este ano, a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) é de que a ocupação média da rede hoteleira seja 8% maior, comparado com os dois anos anteriores.

Ainda segundo a Inframerica, cerca de 42% dos voos que passam pelo terminal correspondem a conexões com outros estados. Foi em uma dessas paradas que a contadora Sanatyelle Alves, 30 anos, conheceu a capital. “Eu estava indo para outra cidade e passei umas horas em conexão aqui. Aproveitei para passear”, lembra. Agora, a moradora de Teresina (PI) voltou à cidade para visitar uma amiga. “Desta vez, fiz um passeio na Esplanada, na Torre de TV e no Pontão do Lago Sul, que é um dos meus lugares favoritos.”    

A amiga é a moradora de Santa Maria e professora de inglês Samia Pinheiro, 36. Para ela, acompanhar as visitas em um tour pela cidade é uma diversão que não enjoa. Porém, Samia acredita que um ônibus para fazer o circuito turístico desde o aeroporto ou da Rodoviária do Plano Piloto facilitaria a vida do turista que só tem algumas horas na capital.

“Acho que aqui o turista fica meio perdido quando desce no aeroporto. Por ser a capital do país, acho que era necessário mais investimento em infraestrutura. Quando o pessoal vem a Brasília, se não tiver um amigo, fica difícil circular pela cidade sem carro. Acho que falta um ônibus de turismo, como aqueles hop on hop off que você pode descer e subir em qualquer ponto turístico. Isso seria bem bacana aqui em Brasília, já que nós temos esse turismo de horas”, pontua.

De acordo com a secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, a pasta tem investido em medidas para manter o turista por mais tempo na capital. “As principais atrações podem ser visitadas de janeiro a janeiro, e nosso clima também permite explorar diferentes tipos de lazer”, afirma. “Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o turismo na cidade, buscando parcerias para tornar a celebração das seis décadas da cidade ainda mais especial”, acrescenta, referindo-se ao aniversário de Brasília, em 21 de abril.

A chefe da pasta ainda ressalta que, em 2019, a secretaria conseguiu reativar os Centros de Atendimento ao Turista (CATs) dos Setores Hoteleiros Sul e Norte, da Rodoviária Interestadual e da Torre Digital, que estavam fechados, além de revitalizar o CAT da Casa de Chá, localizado na Praça dos Três Poderes, “um dos pontos mais visitados da cidade”, diz


Sanatyelle Alves, moradora de Teresina (PI):  

Sanatyelle Alves, moradora de Teresina (PI): "Fiz um passeio na Esplanada, na Torre de TV e no Pontão do Lago Sul, que é um dos meus lugares favoritos"

 



Samia Pinheiro, moradora de Santa Maria:  

Samia Pinheiro, moradora de Santa Maria: "Por ser a capital do país, acho que era necessário mais investimento em infraestrutura. Quando o pessoal vem a Brasília, se não tiver um amigo, fica difícil circular pela cidade"

 



Vanessa Mendonça, secretária de Turismo:  

Vanessa Mendonça, secretária de Turismo: "Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o turismo na cidade, buscando parcerias para tornar a celebração das seis décadas da cidade ainda mais especial"

 




Segurança
Para o estudante e morador do Itapoã Samuel Nascimento, 15 anos, o que falta para atrair mais turistas a capital é segurança. Ele e a família costumavam frequentar a Torre de TV aos fins de semana quando criança, mas as programações ficaram mais escassas com o passar do tempo. “A gente vinha, ficava no gramado soltando pipa. Acho que programas de dia são até tranquilos, mas acredito que as pessoas temem vir por receio de serem assaltadas”, opina.

Na semana passada, um casal de turistas estrangeiros teve passaportes, celulares, dinheiro e cartões roubados durante um assalto no Setor Hoteleiro Sul. A moça, uma peruana de 24 anos, e o rapaz, um mexicano de 22 anos, foram abordados por quatro homens quando passavam próximo a um bar na Quadra 2. O casal foi agredido e recebeu coronhadas com uma arma de fogo. O caso é investigado pela 5ª Delegacia de Polícia (Área central).

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar do DF possui um Batalhão Turístico em operação que atua no policiamento dos pontos mais visitados da capital. O objetivo é prevenir e reprimir ilícitos contra visitantes. Os policiais também estão capacitados para prestar orientações a turistas e cooperar com demais apoios, proporcionando maior segurança aos que visitam a capital federal.

Ainda segundo a pasta, as regiões administrativas também contam com efetivo diário de viaturas e motocicletas, que podem ser acionadas pelo turista, a qualquer momento. O efetivo é intensificado em períodos festivos e de férias.
 
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Correio Braziliense domingo, 19 de janeiro de 2020

VIAGEM NO TEMPO PELAS RUAS DE PIRENÓPOLIS

 

Viagem no tempo pelas ruas de Pirenópolis
 
 
Reduto de brasilienses, a histórica cidade goiana recebeu ontem o 13º desfile de carros de boi. Procissão, que encanta moradores e turistas, presta homenagem a São Sebastião, padroeiro dos agricultores

 

Ed Alves

Publicação: 19/01/2020 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Pelas ruas de pedras históricas da charmosa e aconchegante cidade de Pirenópolis (GO), diversos carros de boi passaram, ontem, em direção à Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, na 13ª edição do desfile em louvor à festa centenária de São Sebastião.

Com bênção do Padre Augusto César, vários produtores rurais da região participaram da festa. Reunidos na sede do Sindicato Rural de Pirenópolis, eles partiram em direção à matriz, erguida em 1727, passando pela Igreja Nosso Senhor do Bonfim, de 1759.

A população acompanhou o desfile ao lado dos turistas com alegria, curiosidade e devoção. “Participo em agradecimento ao santo protetor dos agricultores e moradores da roça e me sinto orgulhoso por minha neta caminhar e participar comigo”, comenta o fazendeiro Roberto Machado, 70 anos. Com a neta Julia Lopes Machado, 14, ele saiu da fazenda Babilônia, que fica a 30 quilômetros do município, para acompanhar a procissão.

A festa em louvor a São Sebastião, protetor contra epidemias, guerras e fome, acontece de norte a sul do país e, em cada localidade, apresenta peculiaridades e crenças singulares. Em Pirenópolis, cidade que é reduto de brasilienses e cuja arquitetura é marcada pelos casarões, a procissão dos carros de boi oferece uma viagem no tempo. Até meados do século passado, eles eram muito utilizados na lida das fazendas para transportar as colheitas, e São Sebastião é o santo devotado, principalmente, pelos fazendeiros e produtores locais.
 
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Correio Braziliense sábado, 18 de janeiro de 2020

NAZISMO CABOCLO DERRUBA SECRETÁRIO

 

 

Nazismo caboclo derruba secretário
 
Roberto Alvim encerra a trajetória de 72 dias à frente da Cultura com um vídeo inspirado em Joseph Goebbels. Apesar do cenário montado e da trilha sonora, diretor de teatro negou referência ao regime de Hitler. Atriz Regina Duarte é convidada para o cargo
 
No último dos seus 72 dias à frente da Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim mostrou num vídeo institucional que trabalhava alinhado a ideologias extremistas. Alvim emulou o alemão Joseph Goebbels, um fanático responsável pela máquina de propaganda de Hitler. Com reproduções textuais da liderança nazista e com a ópera de Wagner ao fundo, o secretário disse almejar uma cultura nacional. O vídeo teve reação imediata: lideranças políticas, entidades da sociedade civil, artistas e a comunidade judaica criticaram o governo. Apesar do apreço ao assessor, demonstrado em entrevistas, Bolsonaro demitiu Roberto Alvim. %u201CUm pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência%u201D, disse, em nota, o presidente., Fotos: Reprodução/internet
 
 

 

LUIZ CALCAGNO
AUGUSTO FERNANDES
renato souza
Rodolfo costa

Publicação: 18/01/2020 04:00

O diretor de teatro Roberto Alvim ocupou o cargo de secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro por 72 dias. O dramaturgo deixou o governo ontem, após interpretar o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels em um vídeo institucional, ao anunciar, no exercício da função, um programa do governo voltado para premiar artistas. Alvim não só usou um trecho do discurso adaptado às suas falas, como reproduziu o semblante sisudo do homem acusado de crimes contra a humanidade. Com uma Cruz de Lorena à direita, ainda usou como trilha sonora a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, compositor favorito de Adolf Hitler.
 
A emulação mais evidente a Goebbels no vídeo ocorre em uma fala do ex-secretário, quando Alvim afirma que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo — ou então não será nada”. No livro Joseph Goebbels: Uma biografia, do historiador alemão Peter Longerich, consta o discurso do ministro da propaganda: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos (potência emocional) e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
 
Convite a atriz
Alvim tentou se defender. Disse que se tratou de uma “coincidência com uma frase do discurso de Goebbels”. “Não o farei e jamais o faria. Foi, como eu disse, uma coincidência retórica, mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspiração do povo é o que queremos ver na arte nacional”, argumentou. 
 
Pouco depois, porém, Bolsonaro exonerou Alvim. “Comunico o desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo. Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência. Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, disse, em nota.
 
Horas após a exoneração de Alvim, a atriz Regina Duarte, de 72 anos, foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial de Cultura. Ela pediu tempo para conversar com a família e deve dar uma resposta hoje. 
 
Logo após a exoneração de Alvim, parlamentares correram até o Executivo para indicar um substituto. “Mais de 40 políticos entraram em contato para sugerir alguém”, informou ao Correio uma fonte do alto escalão do governo federal. 
 
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Correio Braziliense sexta, 17 de janeiro de 2020

CRUZEIRO: MEMÓRIA AFETIVA

 

Memória afetiva
 
Moradores do Cruzeiro relembram momentos de diversão na Rua do Lazer e no projeto Canta Gavião, realizados entre os anos de 1980 e 1990. População sonha em reviver iniciativas em 2020

 

» Cibele Moreira

Publicação: 17/01/2020 04:00

 

"Costumava ir quando era criança. Tinha jogos e brincadeiras. Adorava ficar lá" Rafael Souza, professor de história

 



 

"A gente queria um espaço para expor nossas ideias, e as crianças precisavam de alguma atividade de lazer" Robson Silva, precursor do projeto

 

 
A década de 1980 é relembrada com carinho pelos moradores do Cruzeiro. O período que marcou a cena cultural de Brasília também foi o auge das ocupações de entretenimento na região. Um dos pontos de encontro era a Rua do Lazer, realizada aos finais de semana. A iniciativa, proposta pelos próprios habitantes, contava com atividades lúdicas para as crianças, além de espaço para a prática de esporte. Na parte da tarde, um palco era montado, e artistas locais se apresentavam no projeto Canta Gavião.
 
O aposentado Francisco de Assis Aquino, 61 anos, lembra da época com carinho. “Foi um projeto muito bom e enriquecedor. A população se uniu para promover as atividades de lazer com jogos nas quadras, pintura de rosto para as crianças e ações regionalizadas”, conta Francisco, que sente falta do projeto. “O movimento se iniciou no final da década de 1970 e seguiu como algo mais frequente até os anos de 1990. Depois, as pessoas começaram a se mudar, o projeto foi ficando cada vez mais espaçado. A gente tem um desejo de retomar, mas ainda falta recurso para isso”, relata. De acordo com ele, a Rua do Lazer ocorria de forma itinerante no Cruzeiro Novo, Cruzeiro Velho e na Octogonal.
 
Nascido e criado no Cruzeiro, Rafael Fernandes de Souza, 42, tem uma memória afetiva da Rua do Lazer. “Eu costumava ir quando era criança. Lembro que eles colocavam um rolo de papel para a gente desenhar. Tinha jogos e brincadeiras também, eu adorava ficar lá”, recorda. Inspirado nos momentos da infância e da mente criativa de quando era criança, ele criou uma série de livros de super-herói, um deles premiado. “Eu gostava muito de desenhar e, aos 8 anos de idade, nasceu o personagem Dinâmico R, o super-herói do Cruzeiro, que fui amadurecendo a ideia depois”, explica o professor de história.
 
Moradora da região há mais de 40 anos, Josy Almeida, 53, conta que as atividades eram uma forma que a comunidade tinha de abraçar a cidade. “É algo muito típico da época. Não tínhamos muitas opções de lazer, então criamos uma. Todo mundo conhecia todo mundo, a gente não tinha medo de ficar na rua. Era seguro”, relata a educadora. Para ela, foi a partir do projeto que se criou uma conscientização entre os jovens sobre uma convivência coletiva.

 (F Gualberto/CB/D.A Press - 17/4/88)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


 (Aruc/Divulgação)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


Origem
 
Precursor do projeto Canta Gavião e da Rua do Lazer, Robson Silva, 61, explica que a iniciativa surgiu de forma espontânea entre os jovens da época. “Tudo começou em frente à igreja Nossa Senhora das Dores. A gente queria um espaço para expor nossas ideias, e as crianças precisavam de alguma atividade de lazer que pudesse entreter no período da manhã, enquanto ocorria a missa. À tarde, aconteciam os shows com bandas e artistas da cidade”, conta Robson.
 
De acordo com ele, grandes nomes da música nacional passaram pelo palco do Canta Gavião. “Entre os artistas temos nomes como Cássia Eller, que era moradora do Cruzeiro, e o Renato Russo com a banda Aborto Elétrico.” O Canta Gavião era um dos pontos altos da cidade com uma diversidade cultural muito grande. A proposta cresceu tanto que se transformou no departamento cultural da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc).
 
Além da Rua do Lazer e do Canta Gavião, o Cruzeiro contava com o Cine Clube Gavião — uma parceria da Aruc com o Serviço Social do Comércio (Sesc) que promovia sessões de cinema ao ar livre. “O movimento passou a ser da comunidade com um leque ampliado de opções culturais. No ano passado, tivemos duas edições especiais, e a nossa ideia é retomar o projeto este ano”, ressalta Robson.
 
O desejo para que essa iniciativa retorne é unânime entre aqueles que vivenciaram o período de ouro no Cruzeiro. “Temos buscado apoio para que isso ocorra. A ideia é ter pelo menos quatro edições agora no ano de 2020”, expõe Rafael, que, desde 2007, integra a equipe do departamento cultural da Aruc.
 
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Correio Braziliense quinta, 16 de janeiro de 2020

FÉRIAS: FESTA MUSICAL PARA AS CRIANÇAS

 

Festa musical para as crianças
 
Evento ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil, de hoje até o dia 26, com boa programação de shows e oficinas

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 16/01/2020 04:00

O grupo brasiliense Udigrudi apresenta o espetáculo O cano, premiado internacionalmente (Mila Petrilo/Divulgação)  

O grupo brasiliense Udigrudi apresenta o espetáculo O cano, premiado internacionalmente

 




A trupo da Farra dos Brinquedos:  multiplicidade e o sentido lúdico  (Helena Cooper/Divulgação)  

A trupo da Farra dos Brinquedos: multiplicidade e o sentido lúdico

 

 
 
 
Contemplar a diversidade de propostas estético-musicais e de estímulo à sensibilidade e à inteligência das crianças. Essta é a proposta básica do Musicar — Festival de Música Infantil que, em sua terceira edição, ocupa de hoje a 26 próximo o Centro Cultural Banco de Brasil, com extensa programação, que inclui shows, oficinas, vivências musicais e instalações sonoras.
 
Entre as atrações artísticas do evento estão os brasilienses Circo Teatro Udi Grudi, os grupos musicais Pé de Cerrado, Concerto de Bolso e a trupe musical-performática Mambembrincante. Outros destaques são o cantor e compositor maranhense Tião Carvalho; a Farra dos Brinquedos (Rio de Janeiro), os oficineiros Mundo Aflora (São Paulo) e a cantora e instrumentista Irene Bertachini, de Belo Horizonte, que apresentará o espetáculo Cantigas para acordar o rio, inspirado na obra do escritor mato-grossense Manoel de Barros.
 
Idealizadora e curadora do Musicar, a musicista e educadora carioca Bebel Nicioli, entusiasma-se ao falar do festival. “O grande mote desse encontro artístico é a música, que tem importância fundamental na formação do ser humano. Vemos na criança um público crítico, sensível e inteligente, que, num festival como esse, potencializa a relação com a música, já existente, como espectador de shows e ao participar de oficinas e interagir com as outras atividades da programação”.
 
Tião Carvalho: cantor, compositor e arte-educador (João Gold/Divulgação)  

Tião Carvalho: cantor, compositor e arte-educador

 

 
 
O Musicar, segundo a curadora, foi estruturado para apresentar às crianças uma amostra da multiplicidade e diversidade de linguagens, repertórios e vivências, “de forma que possam se envolver criativamente na brincadeira, no prazer da livre expressão, escutando, cantando, criando, tocando, dançando, percurtindo o corpo, com uma música em constante processo de invenção”.
 
Nicioli conta que a ideia de criar o Musicar surgiu em 2014, mas só pôde viabilizar o projeto três anos depois, com a acolhida dada pelo Centro Cultural Banco do Brasil.“Realizamos a primeira e a segunda edição em 2017 e 2018 em Brasília. No ano passado, não houve possibilidade promovê-lo, mas voltamos agora com entusiasmo redobrado”, comemora. “Além de fazê-lo aqui na capital, o levaremos a Belo Horizonte, no próximo mês; e ao Rio de Janeiro e São Paulo no segundo semestre”, acrescenta.
 
Ao participar do Musicar pela primeira vez, a trupe do Udi Grudi celebra 20 anos de O cano, espetáculo clássico do grupo, que o levou a ser premiado em 2000 no festival Herald Angel, em Edimburgo, na Escócia. “No festival, vamos fazer O cano em vários momentos. Embora já o tenhamos apresentado incontáveis vezes aqui na cidade, em vários locais — recentemente esteve em cartaz no Espaço Cultural Renato Russo —, continua despertando muito interesse do público, especialmente das crianças”, diz Luciano Porto, um dos integrantes do grupo.
 
Pé do Cerrado é uma das atrações brasilienses no festival (Tony Winston/Agência Brasília)  

Pé do Cerrado é uma das atrações brasilienses no festival

 

 
Instalação sonora
 
Mas quem for ao CCBB poderá apreciar e interagir com outro trabalho do o Udi Grudi. Trata-se de uma instalação sonora, preparada especificamente para o Musicar. “São 10 objetos sonoros que ao serem tocados e explorados pelas crianças e seus familiares emitirão algum som da natureza, como o de chuva, trovão ou o farfalhar de folhas secas”, explica Porto. “Tudo foi feito com materiais descartáveis e alternativos”, complementa.
 
Tião Carvalho, reverenciado multiartista maranhense, radicado há mais de 30 anos em São Paulo, se tornou conhecido nacionalmente ao ter a canção Nós, gravada por Cássia Eller no CD e DVD Acústico MTV, em 2001. “Com essa gravação, a Cássia contribuiu para alavancar minha trajetória artística. Depois disso, nos tornamos amigos e sempre nos encontrávamos, quando ela vinha fazer show em São Paulo”, lembra.
 
O Mambembrincante é uma trupe brasiliense performática (Alexandre C. Mota/Aldeia)  

O Mambembrincante é uma trupe brasiliense performática

 

 
Um dos destaques do Musicar, ele adianta o que vai mostrar no festival. “Sou cantor, compositor mas, há algum tempo, tenho trabalhado mais com a educação e formação das crianças, na Academia Musical que mantenho no Moro do Querosene, no bairro do Butantã, na capital paulista. Trago para esse festival mo CCBB o trabalho que desenvolvo com elementos da cultura popular brasileira, indo além, do conhecimento que acumulei e trouxe do Maranhão, representado por importantes manifestações como o bumba-meu-boi, tambor de crioula e dança do cacuriá”, destaca.
 
Para Tião Carvalho, ser convidado para tomar parte no Musicar é um reconhecimento ao trabalho realizado por ele. “Sem querer ser pretensioso, faço é algo voltado para o fortalecimento da nossa cultura popular, que cresce paralelamente à grande mídia, e que precisa ser mostrada cada vez mais”. No festival, acompanhado pelo filho Noel Carvalho (musicista com formação acadêmica pela Universidade Federal de Goiás), ele estará à frente da oficina AS Roda Viva do Brincar, amanhã, às 10h, na Tenda Musical.
 
 
 
 
Programação
 
Instalação Sonora
• Com o Circo Udigrudi (DF). Local: Jardim do CCBB Brasília. Data: de 16 a 19 – quinta-feira a domingo. e 21 a 26 de janeiro – terça-feira a domingo. Horário das| 10h às 18h. Entrada gratuita
 
 
Show Mundo aflora
• Apresentação musical com o grupo Mundo Aflora (SP). Local  Teatro I. Data | 16 de janeiro – quinta-feira. Horário | 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Brincando Mundo Aflora
• Com o grupo Mundo Aflora (SP). Local | Tenda Musicar. Data:  17 de janeiro – sexta-feira. Horário | 10h. Entrada gratuita.
 
 
O cano
• Apresentação musical com o grupo Udigrudi (DF). Local:| Teatro I. Data: 17 de janeiro - sexta. Horário: 16h. Entrada  R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Inventando Coisas Sonoras
• Com o grupo Udigrudi (DF). Local | Tenda Musicar. Data | 18 de janeiro - sábado. Horário: 10h. Entrada gratuita.
 
 
Mambembrincante
• Apresentação musical do grupo Mambembrincante (DF). Local:  Teatro I. Data | 18 de janeiro - sábado. Horário:  16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
A Roda Viva do Brincar
• Oficina com Tião Carvalho (MA). Local:  Tenda Musicar. Data : 19 de janeiro - domingo. Horário: 10h. Entrada  gratuita.
 
 
Barroco para crianças
• Com o grupo Concerto de Bolso (DF). Local : Teatro I. Data:  19 de janeiro - domingo. Horário:| 16h. Entrada: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Festa dos bichos
• Oficina com o grupo Panderolê (DF). Local | Tenda Musicar. Data : 21 de janeiro – terça-feira. Horário:  10h.Entrada:  Gratuita
 
 
Desenho, som e movimento
• Vivência com Yasmim e Jadde Flores (SP). Local | Pavilhão. Data:  de 21 a 26 de janeiro – de terça-feira a domingo. Horário | das 10h às 18h. Entrada:  gratuita
 
 
Firulas interativas
• Oficina com o grupo A excêntrica Família Firula (DF). Local:  Tenda Musicar. Data | 22 de janeiro – quarta-feira. Horário: 10h. Entrada: gratuita
 
 
Cantigas de brincar
• Oficina com Irene Bertachini. Local | Tenda Musicar. Data | 23 de janeiro – quinta-feira. Horário: 10h. Entrada: gratuita
 
 
Cantigas para acordar o Rio
• Apresentação musical com Irene Bertachini. Local:  Teatro I. Data: 23 de janeiro – quinta-feira. Horário: 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Badulaque
• Com o Duo Badulaque (SP). Local | Tenda Musicar. Data: 24 de janeiro – sexta-feira. Horário | 10h. Entrada | Gratuita
 
 
O dinossauro e o dragão
• Apresentação musical com o Duo Badulaque (SP). Local | Teatro I. Data: 24 de janeiro – sexta-feira. Horário | 16h. Entrada:  R$ 30,00 (inteira) 
R$ 15,00 (meia)
 
 
Brincadeiras e Cantigas das Antigas
• Oficina com o grupo Pé de Cerrado (DF). Local | Tenda Musicar. Data:  25 de janeiro – sábado. Horário: 10h. Entrada:  gratuita.
 
 
Os Brincantes
• Apresentaçãomusical com o grupo Pé de Cerrado (DF). Local | Teatro I. Data | 25 de janeiro – sábado. Horário | 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
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Correio Braziliense quarta, 15 de janeiro de 2020

SEMANA QUENTE AFETA COTIDIANO DOS BRASILIENSES

 

 

Semana quente afeta cotidiano dos brasilienses

 

ANA CLARA AVENDAÑO*

Publicação: 15/01/2020 04:00

Vilma sofre com o transporte público em dias mais quentes (Ana Clara Avendaño/Esp. CB/D.A Press)  

Vilma sofre com o transporte público em dias mais quentes

 




Jeferson de Souza quase dobrou as vendas com o calor  

Jeferson de Souza quase dobrou as vendas com o calor

 



Crispim Nunes não sentiu diferença no lucro mensal  

Crispim Nunes não sentiu diferença no lucro mensal

 





O calor tem castigado os brasilienses nesta semana. Depois de registrar a tarde mais quente do ano na segunda-feira, com 33,3°C, o Distrito Federal teve temperatura máxima de 31ºC ontem. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os termômetros devem continuar com números altos hoje, com máxima prevista de 32ºC e umidade variando de 40% a 90%. Há previsão de pancadas de chuva para amanhã, mas o volume de precipitação deve ser maior apenas no fim de semana.

A temperatura influencia de modo direto a vida dos moradores da capital. Moradora de São Sebastião, Vilma Oliveira, 48 anos, trabalha como empregada doméstica em um condomínio do Jardim botânico e conta que o Sol quente a faz chegar no serviço indisposta. “Eu faço uma longa caminhada até a casa onde trabalho e, em dias de muito calor, fica ainda mais difícil. Sinto mal-estar e muito cansaço, além de ser mais desgastante para pegar ônibus”, afirma.

Para quem é motorista de aplicativo, o clima quente também é um problema. Daniel Maia, 30, sente os efeitos do calor no bolso. “Devido às altas temperaturas, nós, motoristas, temos mais gastos, porque precisamos andar com o ar-condicionado sempre ligado e, consequentemente, gastamos muito combustível. Além do mais, não é bom para saúde, por conta das mudanças de temperatura de ar em relação ao interior do carro com o lado de fora”, pontua.

Vendas

Há, contudo, quem lucre com o calor. O vendedor ambulante Jeferson de Souza, 31, relata que suas vendas aumentaram consideravelmente devido ao aumento da temperatura no início da semana. Em dias de Sol escaldante, Jeferson chega a vender nove engradados de água. Com o tempo mais fresco, o número chega, no máximo a cinco. Independentemente das temperaturas diárias, o vendedor sempre procura se proteger dos raios solares. “Uso protetor solar, óculos escuros e boné. Estes itens fazem parte do uniforme do vendedor ambulante”, brinca.

Mesmo sendo vendedor de sorvete, Crispim Nunes, 65, avalia que a temperatura não influencia de maneira significativa suas vendas. “O consumo de picolé aumenta em dias muito quentes, mas os lucros de modo geral não mudam muito. As pessoas não estão comprando mais como antes, elas reclamam que os valores estão muito altos.”

O flanelinha Manoel Silva, 74, por sua vez, prefere os dias chuvoso. Ele trabalha há 43 anos no estacionamento em frente ao piso superior da Rodoviária do Plano Piloto e nota os ganhos aumentarem com a chuva: “Quando está chovendo, o lucro é maior, porque as pessoas demoram mais a entrar no carro por conta do guarda-chuva”.

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 14 de janeiro de 2020

ANJOS PELA EDUCAÇÃO

 

Anjos pela educação
 
 
Projeto social arrecada material escolar para doar a crianças de baixa renda das áreas rurais do DF. Os anjalhaços ajudam quase 200 estudantes

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 14/01/2020 04:00

Voluntárias com família beneficiada pela iniciativa (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Voluntárias com família beneficiada pela iniciativa

 

 
“Eu me aposentei da Secretaria de Educação, mas continuo atuando na vida de crianças. É tudo por amor a elas. Não por profissão, mas por dedicação. Voluntariado é um ato de amor.” A fala é da professora Yara Alves, 52 anos, à frente da Associação Anjalhaços há um ano. O grupo completou 10 anos em outubro passado e tem mais de 200 voluntários que ajudam famílias de baixa renda das áreas rurais do Distrito Federal. A cada época do ano, uma campanha é lançada. Em janeiro, o projeto Quem Gosta de Estudar Vai com a Anjalhaços Passear arrecada materiais escolares que serão distribuídos para meninos e meninas carentes.
 
O projeto ajuda cerca de 200 crianças. Até o ano passado, as doações eram feitas às que moram no bairro Baia dos Carroceiros, em Santa Maria, e aos alunos da Escola Darci Ribeiro, no Novo Gama (GO). Desta vez, o intuito é contemplar moradores do bairro Porto Rico, também em Santa Maria. “É uma comunidade muito carente. As crianças ficam brincando no esgoto. A situação é realmente triste. Nossa vontade, neste ano, é alcançar essas crianças. Fazemos algumas ações lá em outras épocas, agora, queremos completar as doações com material escolar”, disse Yara.
 
Os voluntários devem doar os utensílios até 20 de fevereiro. As entregas ocorrerão em três datas, antes da volta às aulas. A primeira será em 26 de fevereiro. As demais ainda serão definidas. Além da entrega, as crianças recebem aplicação de flúor no dia e participam de outras atividades desenvolvidas pelos integrantes da associação. Mas o trabalho não termina aí. A equipe acompanha o ano letivo, e os alunos que se destacam vão para um passeio no fim do semestre. Em junho, será no Parque da Cidade; em dezembro, ao cinema.
 
“Esse é um dos grandes diferenciais. A gente não só doa o material, mas acompanha o desenvolvimento do aluno e da família. A gente vê o progresso da criança. As que vão para o passeio são indicadas pelos professores. Ficamos muito tristes quando uma não pode ir, mas a gente incentiva a ser melhor no próximo semestre, e eles se esforçam. Conseguimos ver o resultado”, conta Yara.
 
A campanha começou quando os voluntários perceberam que, nas comunidades rurais, as crianças faltavam aula com frequência. Um dos motivos é a vergonha por não ter material escolar. “Isso não pode acontecer. Enquanto a gente puder cuidar da educação, cuidaremos. A gente tem que olhar com carinho para o futuro das crianças com o mesmo carinho que olhamos para nossos filhos. Nosso sonho é que elas possam realizar seus sonhos. Dar um material escolar hoje é investir no futuro”, afirma a presidente da Anjalhaços.
 
As doações podem ser feitas por depósito bancário ou entrega do kit completo, com caderno, lápis, borracha, tesoura, entre outros objetos (veja Para ajudar).
 
Desempenho escolar
 
Antes de conhecer o projeto, a estudante de psicologia Liliane Areda de Morais, 40 anos, aproveitava promoções e comprava os materiais básicos para os dois filhos, Marcos Paulo Areda de Morais, 16, e João Luiz Areda de Morais, 9. Hoje, com o apoio dos Anjalhaços, percebe que o desenvolvimento dos meninos na escola melhorou. “Eles vão para a escola mais felizes e animados e se sentem iguais aos outros. Sem os materiais, a autoestima fica baixa e interfere nos estudos”, diz.
 
Para João Luiz, até as notas melhoraram. Apaixonado por matemática, ele faz questão de estar em todas as aulas e fazer as atividades para se sair bem na disciplina. “O material que ganhei no ano passado ajudou muito. E quero muito receber neste ano de novo. Eu consegui até tirar nota máxima na prova. É bom ter todo o material”, conta o menino.
 
Mãe de três filhos em idade escolar, a dona de casa Lucineide Maria dos Santos, 39, afirma que nunca teve condições financeiras para proporcionar o básico para os filhos. Com as doações, percebeu que os meninos tomaram gosto pela escola. “Ajuda muito, porque eles ganharam coisas que nunca tiveram antes, como mochila, caderno. Não tenho condições. Só Deus para retribuir tudo o que fazem por nós.”
 
Outras arrecadações
 
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também está arrecadando artigos escolares. Até 10 de fevereiro, o órgão recebe materiais novos ou usados, em bom estado, para doar a estudantes de baixa renda da rede pública do DF. As doações podem ser entregues na sede da instituição, no Eixo Monumental, ou nas promotorias das cidades (veja Onde Doar — MPDFT).
 
São arrecadados lápis de cor, giz de cera, canetinha, caderno, borracha, apontador, mochila, estojo, entre outros materiais. Além disso, podem ser doados livros de literatura — os didáticos não, pois são oferecidos pela Secretaria de Saúde —, material esportivo e brinquedos educativos.
 
Esta é a 10ª edição da campanha, que, em 2019, beneficiou 528 alunos de quatro escolas rurais que atendem crianças de 4 a 12 anos. Para a promotoria de Justiça de Defesa da Educação Márcia da Rocha, o projeto é importante para a população exercer a cidadania de forma diferente. “As pessoas percebem o quanto podemos fazer pela educação em uma sociedade solidária”, disse.
 
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Distrito Federal (OAB-DF), por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude, promove a campanha Adote um Estudante. O intuito é ajudar instituições que acolhem crianças em idade escolar e sem condições de comprar material. “Dentro da nossa responsabilidade social e de defesa da cidadania, buscamos arrecadar um kit básico de material escolar para incentivar crianças a frequentarem a escola e enxergarem um bom futuro”, pontua o presidente da comissão, Charles Bicca.
 
Para ajudar, o doador deve entregar um kit com lápis preto, caixa de lápis de cor, borracha, apontador, caixa de giz e caneta hidrocor, caderno com ou sem pauta, cola e régua. Podem ser entregues os objetos avulsos também, na sede da OAB-DF, até 13 de março (veja Adote um estudante).


200

Quantidade de crianças que recebem a ajuda da Anjalhaços


Onde doar — MPDFT

Até 10 de fevereiro
Das 12h às 19h, de segunda a sexta-feira
Mais informações: (61) 3348-9029 e (61) 3348-9009
 
Promotoria de Águas Claras
Taguatinga Shopping, QS 1, Lote 40, Torre B, 3° andar, Pistão Sul, Taguatinga-DF
 
Promotoria de Brazlândia
Fórum Desembargador Márcio Ribeiro, Área Especial 4, Rua 10, Lote 4, Setor Tradicional, Brazlândia-DF
 
Promotoria de Ceilândia
QNM 11, Lotes 1 e 2, Centro Urbano, Ceilândia-DF
 
Promotoria do Gama
Quadra 1, Lotes 860, 880 e 900, Setor Industrial Leste, Gama-DF
 
Promotoria do Paranoá
Quadra 4, Conjunto B, Lote 1, Grandes Áreas, Paranoá-DF
 
Promotoria de Planaltina
Área Especial Norte 10-A, Setor Administrativo, Planaltina-DF
 
Promotoria do Recanto das Emas
Quadra 2, Conjunto 1, Lote 3, Setor Urbano, Recanto das Emas-DF
 
Promotoria do Riacho Fundo
SMAS (Setor de Múltiplas Atividades Sul), Trecho 4, Lotes 6/8, Salas 109,110 e 11, Brasília-DF (ao lado do Fórum Desembargador José Júlio Leal Fagundes)
 
Promotoria de Samambaia
Quadra 302, Conjunto 1, Lote 2, Samambaia-DF
 
Promotoria de Santa Maria
QR 211, Conjunto A, Lote 14, Santa Maria-DF
 
Promotoria de São Sebastião
Centro de Múltiplas Atividades, Lote 3, São Sebastião-DF
 
Promotoria de Sobradinho
Quadra Central, Bloco 7, Edifício Sylvia, Térreo, 2° e 3° pavimentos, Sobradinho-DF
 
Promotoria de Taguatinga
Setor C Norte, Área Especial para Clínias, Lotes 14/15, Taguatinga Norte, Taguatinga-DF
 
Sede do MPDFT
Zona Cívico-Administrativa, Ed. Sede do MPDFT, Lote 2


Para ajudar
 
Depósito bancário
Banco do Brasil
Agência: 1239-4
Conta corrente: 56168-1
Associação Anjalhaços
Ou pelo telefone (61) 99977-4952 e 
WhatsApp (61) 98134-6588 — Falar com Yara


Adote um estudante
Até 13 de março
Onde entregar: sede da OAB-DF (SEPN 516, Bloco B, Lote 7, Asa Norte)
Mais informações: eventos@oabdf.com
 
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Correio Braziliense segunda, 13 de janeiro de 2020

SAÚDE É O QUE INTERESSA!

 

Saúde é o que interessa!
 
É hora de cumprir algumas metas para 2020, e o projeto do corpo de verão está na lista de muitos brasilienses. A procura por atividades ao ar livre aumenta nesta época do ano

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 13/01/2020 04:00

A família Martins pedala unida durante o ano todo: foco também na dieta saudável (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A família Martins pedala unida durante o ano todo: foco também na dieta saudável

 

 
Garrafinha de água, tênis e disposição. Esses são três itens essenciais para quem se arrependeu de exagerar nas ceias de fim de ano e começou 2020 focado no projeto corpo-verão. Os quilinhos a mais incomodaram a estudante Gabrielle Araújo, de 19 anos,  que logo chamou o namorado e a irmã para a meta da nova vida fitness. “Não tenho costume de correr no Parque da Cidade, mas estou com um plano para 2020 para perder uns quilos”, afirmou.
 
Nos meses de início do ano, é comum querer mudar os hábitos alimentares e seguir um estilo de vida mais saudável. O calor do verão e o tempo livre das férias são convidativos para deixar o corpo à mostra e ir em busca de mais atividades ao ar livre. Mas as academias também são opções do brasiliense, como destaca a nutricionista esportiva e fisiculturista Débora Prata. Segundo ela, este período também lota consultórios médicos e academias em busca de um emagrecimento rápido.
 
“Esse público vai se dispersando ao longo do ano. São pessoas que querem um resultado a curto prazo e isso é possível porque, com hábitos alimentares saudáveis, praticando atividade física, aumentando o consumo de água e reduzindo bebidas alcoólicas, dá pra conseguir o corpo desejado”, relata.
 
Mas a nutricionista alerta: o que vem fácil pode ir fácil, e se os hábitos físicos e alimentares não continuarem ao longo do ano, o resultado final pode ser reverso. “Os meus pacientes até se assustam com o resultado, porque há muita retenção de líquido e é preciso pôr o funcionamento do metabolismo em dia. Mas, para manter o corpo alcançado, é necessário tornar os novos hábitos em algo cotidiano ou para todo o ano. Caso contrário, acaba ocorrendo o famoso efeito sanfona, e a pessoa pode terminar com peso maior até do qual iniciou o projeto verão”, alerta.

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Quem está com esse dever de casa em dia é a família do estudante João Henrique Martins,16 anos. A principal atividade passada de pai para filho é andar de bicicleta, um hábito quase que diário na vida do jovem. “Eu aprendi desde cedo com meu pai a andar de bicicleta e é algo que faço com maior facilidade no período de férias, mas, mesmo durante o ano letivo, tento andar todo fim de semana. A sensação é muito boa porque, além de praticar uma atividade física, é uma diversão que tenho com meus amigos. Preferimos pedalar a passar a tarde um na casa do outro”, conta.
 
Como explica a nutricionista, apenas o exercício físico não é suficiente para alcançar os resultados. A alimentação saudável aliada a uma rotina de treinos é fundamental para a manutenção do organismo. Além da intensa queima de calorias, as atividades físicas aumentam a produção de endorfina no corpo, o hormônio do bem-estar.
 
Essa lição também é prática na família de João Henrique. Segundo o pai, o juiz Carlos Alberto Martins, 54 anos, a educação alimentar dos filhos também está em dia. “O meu filho mais novo (Pedro, de 10 anos) acabou de aprender a pedalar e hoje era quem estava mais feliz em vir para o Parque da Cidade. Ele é o que mais come besteira, mas agora a atividade física serve como um estímulo para se alimentar melhor. Estou sempre dizendo a eles que é preciso comer antes e depois das atividades”, relata.
 
Sedentarismo
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sedentarismo é considerado o quarto maior fator de risco de mortes no mundo. No Brasil, a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013 apontou, à época, que 46% da população não praticavam atividades físicas em nível suficiente. De acordo com a OMS, o nível recomendado é de, pelo menos, 150 minutos semanais de intensidade leve ou moderada ou de, pelo menos, 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa.
 
A estudante Rafaelle Araújo, 16, aproveitou a iniciativa da irmã Gabrielle Araújo e começou o ano dando adeus ao sedentarismo. “Eu tenho asma e há uns dois anos estava sem praticar nenhum exercício. A Gabrielle falou que estava com esse plano e me chamou para vir correr no parque. Agora estamos tentando fazer atividades todos os dias, mesmo em casa, na praça próxima, estamos sempre fazendo algo, jogando bola. A intenção é não desistir”, afirma.
 
O namorado de Gabrielle, Carlos Eduardo Xavier, 18, também garante que o projeto verão vai virar projeto do ano todo. “Eu pratico judô e acredito que o foco aqui vai me ajudar bastante a criar mais condicionamento físico, mais resistência. Estamos animados, aqui ninguém vai desistir, não!”, diz.
 
Exercícios em academias também são indicados para quem quer perder uns quilinhos (Carlos Vieira/Esp.CB/D.A Press - 12/7/11)  

Exercícios em academias também são indicados para quem quer perder uns quilinhos

 

 
Quatro dicas para começar a prática de exercícios:
 
Encontre um local adequado para praticar as atividades físicas, como parques, praças e similares;
 
Comece com uma atividade que não exige alto preparo físico;
 
Praticar atividade física perto de casa não exigindo grandes deslocamentos, o que ajuda na manutenção desse hábito;
 
Procure atividades realizadas por várias pessoas, inclusive do seu círculo de amizade, o que poderá ser um estímulo a mais.
 
 
 
Quatro dicas de bem-estar:
 
O ideal é que sejam feitas de três a seis refeições diárias;
 
Reduzir o consumo de açúcares, carboidratos, e processados; diminuir o uso de bebidas alcoólicas;
 
Aumentar a ingestão cotidiana de água, que deve respeitar o cálculo de 35ml multiplicado pelo peso do paciente;
 
Oito horas de sono de boa qualidade.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 12 de janeiro de 2020

DISTRITO FEDERAL: NÚMERO DE HOMICÍDIOS É O MENOR EM 25 ANOS

 

Número de homicídios é o menor desde 1995
 
Taxa por 100 mil habitantes também é a mais baixa desde 1995. No entanto, feminicídio é desafio, com crescimento de quase 18% em relação a 2018. Governo atribui dados positivos à melhora no uso da inteligência e do efetivo policial

 

ALEXANDRE DE PAULA
JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 12/01/2020 04:00

 
 
 
A quantidade de vítimas de homicídio no Distrito Federal em 2019 foi a menor em 25 anos e o índice de mortes por esse tipo de crime para cada 100 mil habitantes foi o mais baixo dos últimos 35 (veja Redução). Os números, a que o Correio teve acesso em primeira mão, são do balanço consolidado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). Os dados devem ser divulgados nesta semana. A estatística positiva, no entanto, não se repete em relação aos feminicídios, que cresceram quase 18% em relação a 2018 (33 casos contra 28).
 
Em 2019, 415 pessoas morreram assassinadas na capital do país e, no ano anterior, 459 — redução de 9,5%. A análise dos dados da década revela que a tendência de queda mantém-se desde 2013. Naquele ano, houve 721 casos registrados, de acordo com os números da SSP. Em 2012, o pior período dos últimos 10 anos, a quantidade de vítimas chegou a 820.
 
A taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes do DF ficou em 13% no ano passado. Em 2018, o índice era de 14,7%. Assim como ocorreu com o total de vítimas, o percentual segue em queda desde 2013 (25,8%). Em 2012, registrou-se a pior taxa dos últimos 10 anos, de 31%. Nas tentativas de homicídio, houve aumento de 0,5% entre 2018 e 2019: os casos sem sucesso saltaram de 797 para 801.
 
A metodologia usada para contabilizar os assassinatos em Brasília mudou em 2000. Até então, os registros eram do número de ocorrências, não da quantidade total de vítimas. Por exemplo: Se houvesse cinco pessoas mortas após uma única ocorrência, o balanço registraria apenas uma morte. Por isso, na avaliação de técnicos da pasta de Segurança Pública, o recorde de 2019 seria ainda maior se o método atual fosse considerado em relação aos números anteriores ao Século 21.
 
Consultor na área, George Felipe Dantas considera que há múltiplas causas que se refletiram na queda dos índices. Entre elas estariam a inversão da pirâmide etária da população; a diminuição do processo de urbanização súbita e desordenada; a atuação das forças de segurança; e a organização das áreas públicas. “A desordem induz ao crime na medida em que esse descuido com o espaço urbano dá impressão aos potenciais criminosos de que o Estado está ausente. E tem havido uma série de iniciativas da segurança pública nessa área”, avalia.
 
George acrescenta outros elementos com peso importante em relação aos tipos de crimes que subiram — tentativas de feminicídio, homicídio e latrocínio. “Os fenômenos de crimes que acontecem em ambiente intralar, que estão associados à dependência química e à delinquência de crianças e jovens, precisam de um tipo de tratamento para contenção que transcende a esfera da segurança pública. São (questões) bastante difíceis de controlar”, comenta o consultor.
 
Integração
 
O secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, acredita que os números positivos são resultado da integração nas ações das corporações e na “racionalização do emprego de efetivo” com ações prévias de inteligência. “Atingir as expressivas marcas de redução da criminalidade no DF, em 2019, só foi possível inicialmente pela total autonomia de trabalho que nos foi dada”, acrescenta o chefe da pasta.
 
Torres afirma que a divulgação de resultados positivos terá impacto na sensação de segurança da população brasiliense. “É muito difícil competir com o valor-notícia do crime. Este sempre tem destaque quando ocorre, o que já não acontece com a prevenção. Por isso, nosso esforço continuado em comunicar, cada vez mais à população, as conquistas da Secretaria de Segurança Pública”, argumenta.
 
Jornal Impresso
 

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