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Trio Balançado
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Cacai Nunes
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Luizão do Forró
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Renê Richocet
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Marques Célio
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A não realização dos festejos juninos durante a pandemia do novo coronavírus impacta diretamente em uma cadeia produtiva que vive e sobrevive do são-joão: os forrozeiros. Assim como as quadrilhas, os artistas do segmento costumam ter visibilidade no período, que é quando a agenda de shows fica lotada, mesmo que tenham que dividir espaços com outras vertentes mais comerciais do ritmo nordestino.
“A grande questão é entender que o forró pé de serra é uma cultura de resistência. Não tem apelo comercial. Então, é uma luta levar adiante algo com um público muito segmentado. No são-joão, esse número aumenta. A média de apresentações para os trios varia entre 90 a 110 shows no período que começa em maio e segue até agosto”, avalia Marcão, produtor do Trio Balançado, formado por Vavá Gomes (sanfona e voz), Leandro Medeiros (triângulo e voz) e Zé Carlos (zabumba e voz).
Desde o início da pandemia, o trio perdeu mais de 20 eventos com contratos assinados, além de quase 80 que foram cancelados. “Quando não tem festa junina, esquece, não tem trio de forró”, lamenta Marcão. A banda chegou a participar de uma live promovida pelo trio 3 de Maria, intitulada Forró do Trabalhador — mesmo nome do projeto que acontecia todas às segundas na cidade —, que reuniu ainda os trios Mestre Lua, Moinho D’água e Cajuína. O objetivo foi arrecadar doações para músicos que passam necessidade. “Muitos trios não vivem só da música, mas é evidente que era um complemento que dava qualidade de vida. Essa pandemia é terrível e muito complicada. Tem forrozeiro passando fome”, comenta Marcão.
Nos outros anos, a agenda de Luizão do Forró estava lotada nessa época. Shows em Ceilândia, Águas Lindas e outras regiões do Entorno. Era forró para todo lado. Mas hoje, a história é outra. Luizão até faz lives com os amigos, porém, falta dinheiro. “É um projeto mais intimista, porque não tenho recursos para um grande evento na internet, como gostaria de fazer”. Marques Célio, presidente da Associação dos Forrozeiros do DF (Asforró), busca saídas para dar suporte aos músicos e instrumentistas. Com 398 associados, só de trio de forró são 45, a entidade enviou cartas a deputados distritais e a integrantes do governo do Distrito Federal, pedindo socorro. O GDF sinalizou com o edital do Fundo de Apoio à Cultura para esse segmento e a cadeia produtiva do forró.
“Batalhamos para que o nosso pessoal concorresse a esse edital, mas não é suficiente. A apresentação de música ao vivo foi a primeira a parar com o decreto em março e certamente seremos os últimos a voltar ao trabalho depois dessa pandemia”, argumenta Marques. “Precisamos sustentar essas famílias”, acrescenta. Na carta enviada aos políticos, a Asforró defende, entre outras propostas, a garantia de um salário-mínimo para cada profissional da cultura, devidamente comprovado seu exercício de atividade.
Atualmente, há três editais na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal voltados para o segmento. O primeiro deles é direcionado às organizações e quadrilhas juninas. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, o edital “atende perfeitamente as associações de forró, por premiar a trajetória desses grupos ao longo dos anos”. Também há o FAC Prêmios Brasília 60 anos que contempla aqueles que se dedicaram à cultura da cidade em vários âmbitos, entre eles, a cultura popular e as manifestações tradicionais, e o FAC Apresentações on-line, voltado para exibições, mostras e manifestações culturais na modalidade virtual. “O secretário (Bartolomeu Rodrigues) tem discutido com os agentes culturais a melhor forma de dirimir a crise que impactou o setor”, diz nota da secretaria.
Arrastapé
De João Pessoa, a coordenadora do Fórum Nacional de Forró, Joana Alves da Silva, fala ao Correio que a situação no Nordeste também é dramática. “As dificuldades são imensas, toda a cadeia produtiva sofrendo muito, principalmente os pequenos artistas e músicos que são os mais penalizados. Estamos cobrando políticas públicas dos governantes, editais, mas até agora não conseguimos muitas coisas”. Segundo ela, o fórum vem fazendo ações emergenciais, como distribuição de cestas básicas.
O tradicional São João de Campina Grande corre sério risco de ser cancelado. Mas o forró resiste na região. Foi lançado no último dia 12, e segue até o dia 28, o Festival São João na Rede nas principais redes sociais. Serão mais de 200 artistas, inclusive do DF, envolvidos nos dias de festa virtual, com muita música, apresentação de contadores de histórias, professores de dança, mestres da cultura nordestina, poetas e palestrantes.
O festival se destina, segundo os organizadores, a arrecadar donativos para profissionais da cadeia produtiva do forró que estão em situação de vulnerabilidade por causa do isolamento social. “Essas doações serão captadas e distribuídas através de plataforma eletrônica”, destacam.
E é pela internet que a sanfoneira de Recife Karol Maciel busca o sustento. “Não temos muita ajuda do governo do estado, a gente vai se virando como pode. Estou com um projeto particular de são-joão em casa on-line. Alguns músicos também estão dando aula particular virtual. Temos que buscar saídas” conclui.
Alternativas
Artistas brasilienses tentam se reinventar nesse período tão difícil. O DJ Cacai Nunes percorre o mundo com vinis de forró na bagagem, fazendo os gringos dançarem ao som da sanfona, do pandeiro e do triângulo. Mas este ano, a coisa mudou, a doença mudou o mundo. “Teremos que nos acostumar com atividades on-line, por enquanto. Público e artistas”, destaca ele, que toca o projeto Forró de Vitrola.
Cacai considera imprescindível que o público fortaleça os forrozeiros com ações solidárias, pois há todo um segmento econômico que sobrevive da criação do artista. Do técnico de som ao vocalista. Há uma rede de empregos nesse processo. “Portanto, é imprescindível que o público fortaleça os artistas. Que se acostume, claro, a pagar pelas atividades feitas on-line em formato de lives. Paguem como se estivessem pagando um ingresso. Precisamos rentabilizar nossas atividades”. Cacai, que, além de DJ, é violeiro e pesquisador da cultura musical brasileira, se apresenta no YouTube no canal do Acervo Origens.
Praticamente todos os fins de semana de junho e julho eram ocupados na agenda do Dj Renê Ricochet com festas juninas. Ele era nome certo na programação de grandes festejos como do Iate Clube, da AABB e do Country. Agora está dedicando o tempo ao trabalho como corretor de imóveis e também na venda de feijoada para manter a renda. “Comecei a fazer lives. Estou vendendo pen drives e CDs com músicas prontas para a festa junina. Tudo isso pro pessoal se divertir em casa. Mas é um baque econômico muito grande. Estamos tendo que se reinventar. Temos que seguir”, comenta.
Na sexta-feira, 19 de junho, às 19h, Renê Ricochet fará uma live junina com exibição simultânea no YouTube e no Facebook. No canal, ele também mantém playlists com medley de músicas de são-joão para que o público possa ouvir os sets em casa. “É uma tradição e um folclore muito importante para os brasileiros. O pessoal tá inventando, tá cheio de festa junina pela internet”, completa em tom animado.
Onde assistir o São João na Rede
Transmissões:
YouTube: https://www.youtube.com/
channel/UCLTmjPQd1_Ftax_aC1zk05A
Instagram: https://www.instagram.com/
saojoaonaredefestival/
Facebook: https://www.facebook.com/
saojoaonaredefestival/
Twitter: https://twitter.com/
saojoaonarede
» Live junina do Renê Ricochet
Onde ver
Transmissões:
YouTube: https://www.youtube.com/user/renericochet
Facebook: https://www.facebook.com/djrenericochete
Auxílio
As pessoas que residem
do DF e dos 13 estados que participam do festival, e que pretendem receber o benefício, devem preencher o
formulário no site do evento — www.saojoaonarede.com.br — até 30 de junho. Uma comissão de avaliação
será formada para selecionar os que serão beneficiados.
WWW
Confira o projeto Forró de Vitrola de Cacai Nunes em https:// youtu.be/
EptIYyKMxJ0.