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O Hospital Regional de Ceilândia (HRC) é uma das unidades do DF que está sobrecarregada devido ao avanço da doença
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No dia em que decretou estado de calamidade pública devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus, o governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou que, até agosto, todo o Distrito Federal estará com as atividades comerciais em pleno funcionamento. A partir de amanhã, estabelecimentos como salões de beleza, bares e restaurantes começarão os protocolos de abertura. O calendário oficial com as datas por setor deve sair nesta semana, mas pode sofrer alterações, a depender da evolução dos casos de covid-19.
Os estudos que darão base a esse processo começaram ontem, e os resultados devem ser divulgados na quinta-feira. Por enquanto, a possibilidade de fechamento geral (lockdown) foi descartada por Ibaneis. “Temos equipamentos e materiais suficientes, mas o que precisa é a população se cuidar também”, afirmou. Ou seja, a abertura das atividades não implica que as pessoas precisam necessariamente ir para as ruas. O isolamento social ainda é importante nesse momento. A retomada das aulas na rede privada também está sob avaliação. Se a proposta apresentada pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) for aprovada, a decisão pelo retorno presencial ficará a critério das famílias.
Ainda ontem, o DF registrou 44.918 casos confirmados de covid-19, 550 mortes e mais de 30 mil pessoas recuperadas da doença (leia mais na pág. 19). No entanto, a situação do sistema de saúde do DF se agrava. Dados da Sala de Situação da Secretaria de Saúde mostram que há falta de insumos para testes rápidos e que 90,8% dos leitos da rede privada destinados a pacientes com a doença estão ocupados. Na rede pública, esse número é de 63% (veja Situação).
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apontou, contudo, a existência de “grande discrepância” entre os números publicados no site da Sala de Situação e os dados do Complexo Regulador (CRDF), também da Secretaria de Saúde. A taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para adultos com covid-19 teria alcançado 93% em 26 de junho, quando a página da pasta na internet mostrava um comprometimento de 59,84%.
A reportagem pediu um posicionamento da Secretaria de Saúde sobre as divergências apontadas pelo MPDFT e sobre a falta de insumos para teste de detecção do novo coronavírus, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
Sobrecarga
Infectologista e professora universitária, a médica Joana D’Arc Gonçalves considerou um problema ter havido reabertura, enquanto os casos de covid-19 aumentavam. Para ela, a diminuição dos índices de contaminação depende ou do aumento da rigidez em relação aos estabelecimentos não essenciais ou da ampliação do sistema de saúde. “Essa segunda é impossível neste momento. Estamos falando de muita gente (infectada). Não temos leitos de UTI disponíveis para atendimento de um número elevado de pessoas. Se não há como ampliar a estrutura, o que temos em mãos são as medidas de isolamento, as recomendações como a do uso de máscara e o fechamento de serviços”, sugere Joana.
A médica avalia serem necessárias atitudes “um pouco mais drásticas” neste momento, pois o número de profissionais de saúde doentes também tem subido. “Também não vai adiantar decretar lockdown se as pessoas continuarem fazendo festas particulares ou se aglomerando de outras formas. Estamos divididos diante de comandos dúbios e orientações confusas. Precisamos unificar ações e falar uma linguagem única, para tentar diminuir os danos. Nossa estrutura está sobrecarregada e à beira de um colapso”, alerta a infectologista.
Situação
Leitos de UTI para pacientes com covid-19 na rede pública
Ocupados: 315 (63%)
Livres: 185
Total: 500
Leitos de UTI para pacientes com covid-19 na rede privada
Ocupados: 191 (90,8%)
Livres: 20
Bloqueados: 7
Total: 218
Índice de isolamento social
Distrito Federal: 49,3%
Regiões com maior número de casos
1º - Ceilândia
2º - Plano Piloto
3º - Taguatinga
Fontes: Painel Covid-19 no Distrito Federal (SSP-DF e SES-DF); Sala de Situação (SES-DF); e Base InLoco. Consulta em 29/6/2020