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Com a mulher, Maria Helena
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Para algumas pessoas, era só mais um dia de café da manhã de hospital, com mingau de milho e mamão amassado. No entanto, para o aposentado Laudenor Berto de Oliveira, 72 anos, cada colher de mingau representava a celebração “de uma história, que pode não ser bonita, mas é vitoriosa”, como define. Enquanto o pai desfrutava do “manjar”, sem encontrar palavras para descrever as emoções daquele singelo encontro, o filho mais velho, Marconi Amaral Berto, 43, se emocionava: “Cada colherada era uma lágrima”, relembra o empresário.
Na última quarta-feira, depois de mais de 10 anos dependente de uma máquina para se alimentar, Laudenor voltou a comer. “Meio difícil definir. Meu sonho era poder voltar a comer. Sei que outras etapas ainda precisam ser vencidas, mas é a certeza de que eu posso ser uma pessoa normal”, comenta.
O aposentado deixa para trás as dificuldades enfrentadas por ter o que é chamado pela medicina de megaesôfago, ou seja, um grave alargamento do órgão, e acalasia, que resulta de danos nos nervos do tubo alimentar. Enquanto estava hospitalizado, internado em uma semi-UTI para se recuperar de outra cirurgia, Laudenor lembrou, com os olhos brilhando e o sotaque pernambucano, quando recebeu a comida da unidade de saúde. “Fiquei dominado por aquela visão. Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo. A sensação de que comer é algo natural, que eu já tinha perdido”. Foi uma pequena colher de mingau de milho de hospital que pôs fim a um longo caminho de batalhas e, ao mesmo tempo, trouxe sorrisos vitoriosos, com direito à publicação nas redes sociais como símbolo da premiação e de uma nova história que se inicia. Ontem, Laudenor pôde finalmente voltar para casa.
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Com os dois filhos, Giovani e Marconi
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Batalha
“Aquela primeira cirurgia, grande e difícil, foi o começo do nosso martírio e da nossa história”, define Marconi, ao voltar alguns anos na memória e lembrar da primeira operação do pai, após o diagnóstico. “A gente não entendia o que era, o que estava acontecendo”, completa. Foram 95 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Como precisou de traqueostomia, Laudenor não conseguia falar, nem se alimentar. Tampouco tinha força para alcançar um copo d’água. No hospital, o aposentado ainda enfrentou várias intercorrências.
Sempre cercado pelos filhos e familiares, por uma corrente de oração, “o tio queridão” derrotou um inimigo. Em casa, dependente da alimentação por uma sonda, ele chegou a pesar 35kg, sendo um homem de quase 1,80m. “Veio a fase da depressão, as alucinações”, conta o filho mais velho. Neste período, não faltaram também tentativas de diferentes abordagens e viagens para visitar médicos fora de Brasília. A família conseguiu um tratamento no qual a dieta corre na medida por uma bomba, meio a conta-gotas. Lá estava o aposentado, mais uma vez, sujeito a uma máquina. “Ele é hiperativo. Mesmo aos 72 anos, está pensando no que vai trabalhar. Ele nunca se deu por vencido, muito pelo contrário. Fazia questão de ser independente. Ele mais cuida de mim, que eu cuido dele”, comenta Marconi.
Apesar dessa última alimentação, via máquina, ter melhorado o quadro de Laudenor, ele ainda não conseguia ganhar peso, tampouco era um tratamento definitivo. Apenas na semana passada, após nova internação e outra cirurgia, é que o mar na vida do pernambucano pareceu se acalmar. Para quem estava acostumado a seguir “correntes favoráveis”, chegou a hora de desbravar outros mares. A partir daquele 15 de julho, voltar a comer significava retornar à qualidade de vida. “Fui me marginalizando e deixando a minha vida em segundo plano, apenas sobrevivendo”, descreve entre lágrimas. “Estar preso em uma máquina sem poder fazer nada, vendo meus filhos na luta diária. As pessoas me convidarem para a casa delas e não poder aceitar uma água, um café. Era triste ser reconhecido na rua como um mendigo, por conta da minha aparência”, completa com a voz embargada.
Ao longo de mais de 10 anos, Laudenor reúne histórias, vivências e medo diante de tudo o que enfrentou. Mesmo para um homem que lutou a vida inteira em busca de sonhos e na construção de uma família, não foi fácil. “Preso na máquina, um ‘oi’ era muito importante”, lembra. “Eles me deram força. Tinha hora que, por mim, não participava mais dessa vida, mas eles me emprestaram essa força. Queria dar essa alegria para eles e, é até um pouco egoísta dizer isso, mas participar das alegrias deles”, justifica o aposentado.
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Marconi: "Tive oportunidade de viver com ele coisas que poucas pessoas têm com os pais."
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Inspiração
Os filhos, Marconi e o também empresário Giovani Amaral Berto, 34, por outro lado, não pensam duas vezes para responder quem é o dono da força e da inspiração. “Além de toda essa história, passou pela minha cabeça uma lição de que, por pior que seja, sempre é possível. Valeu a pena cada esforço, cada dificuldade. Aquela colher de mingau de milho do hospital tem um significado tão grande para a gente. Ele nunca perdeu a força, a alegria, a garra. Mesmo com as adversidades, ainda brincava. É difícil descrever com palavras, é uma superação. Sempre permaneceu incentivando e apoiando a gente. A gente sabe que tem muita coisa para fazer, mas valeu uma vida. Pude estar ali e ver aquilo com meus próprios olhos, a face de Deus, um milagre acontecendo, o momento da mágica”, afirma Marconi. “Quando me ligaram dizendo que ele tomou água com a boca, comecei a chorar. São coisas muito pequenas que mostram a força desse homem”, acrescenta Giovani.
Laços de amor, de cuidado e de cumplicidade que as batalhas da doença apenas evidenciaram. “Por mais dura que seja, para mim, foi uma benção. Tive oportunidade de viver com ele coisas que poucas pessoas têm com os pais. Quando ele teve uma parada cardiorrespiratória, eu que fiz o boca-a-boca e devolvi a vida dele. Lembro-me de ele abrir os olhos e dizer: te amo, meu filho”, recorda Marconi.
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A força da família
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Com os irmãos, Luiz Berto e Lúcia
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