Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 16 de agosto de 2020

VACINA - VOLUNTÁRIOS DA ESPERANÇA

Jornal Impresso

Voluntários da esperança
 
 
Profissionais da saúde do Distrito Federal que atuam no combate à covid-19 decidiram fazer parte das experiências na luta contra a doença. Conheça as histórias desses trabalhadores que estão na linha de frente no combate à pandemia

 

» ALAN RIOS
» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 16/08/2020 04:00

CoronaVac está sendo testada no Distrito Federal e em outras cinco unidades da Federação (Ed Alves/CB/D.A Press)  

CoronaVac está sendo testada no Distrito Federal e em outras cinco unidades da Federação

 



Tentar fazer mais do que o máximo possível. Se esforçar mesmo na exaustão. Esses foram os sentimentos que moveram 10 profissionais da saúde do Distrito Federal a participar de um projeto de importância mundial. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus se voluntariaram para participar dos testes da vacina CoronaVac, contra a covid-19, mesmo sabendo dos riscos de um produto ainda em experimentação e abrindo mão das poucas horas disponíveis na semana entre as jornadas de trabalho (leia Saiba mais). Por trás da escolha de se submeter a uma bateria de exames e ensaios, estão histórias de pessoas que encontraram na área da saúde um propósito de vida essencial em tempos de pandemia, o prazer por cuidar e de se doar pela vida do outro.

Uma dessas histórias é de Gabriel Ravazzi, 31 anos. Esse nome está em jalecos que ele usa nas clínicas, no Hospital de Base e no Hospital Universitário de Brasília (HUB), além de constar no topo da lista de voluntários do teste da CoronaVac. Mas tudo começou em campos de futebol, onde o então garoto do ensino médio atuava no time juvenil do Goiás. Ele lembra que, naquela época, “era o sonho de todo brasileiro ser jogador”, mas que tinha como meta mais sólida seguir o caminho do pai, como engenheiro. Uma partida que ele assistiu do Campeonato Brasileiro de 2004, entre São Caetano e São Paulo, porém, direcionou Gabriel para uma área diferente. Naquele jogo, Paulo Sérgio Oliveira, o zagueiro Serginho, teve uma parada cardíaca e morreu em campo, cena que marcou o país e motivou o garoto do Goiás a marcar exames médicos.

“Na conversa com o cardiologista, citei que gostava de biologia, sempre achei medicina legal, mas disse que achava não ter capacidade. Ele falou que o esforço para entrar no curso era grande, mas que quem tinha vontade de ajudar as pessoas teria capacidade”, relembra Gabriel. Se passaram 16 anos daquela decisão. Hoje, o médico acumula experiências em Goiás, São Paulo e no Distrito Federal, que o aproximaram mais do atendimento clínico. “Cheguei a querer atuar na área cirúrgica, mas, trabalhando em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Goianira (GO), percebi o quão gratificante era poder dar atenção a pessoas simples, que muitas vezes só queriam ser bem-atendidos, poder conversar. Receber cuidados que, infelizmente, hoje, nós não vemos em muitos profissionais”, avalia.

 

"Eu me toquei que aquele era o primeiro passo de algo que o mundo inteiro estava esperando. O fato de ter sido escolhido para participar da pesquisa é como uma recompensa" - Gabriel Ravazzi, médico

 



Do conforto à luta


No começo de 2020, Gabriel estava trabalhando no interior de São Paulo como médico gastroenterologista, mas acabou recebendo um convite para atuar em uma clínica do DF, em março. “Assim que cheguei, a pandemia estava ganhando força e os atendimentos de lá foram suspensos. Eu via a situação ficando mais crítica a cada notícia e aquilo começou a me angustiar, porque eu era médico, tinha me preparado para estar naquela linha de frente, poderia tentar mudar aquela situação, mas estava em casa sentado no sofá”, conta. Os pais até tentaram convencer o jovem a se manter seguro, fora do combate ao vírus e aguardando a situação se normalizar para atender na clínica. “Mas eu não ia me acovardar”.

Entre o fim de maio e o começo de junho, Gabriel se inscreveu para processos de seleção e foi chamado para trabalhar no HUB e no Hospital de Base. Desde então, a rotina dos atendimentos tem exigido uma doação quase completa. “Em uma semana normal, de domingo a domingo, tenho somente a manhã de quarta-feira livre. O resto dos dias e horários estou sempre entre um e outro serviço. Geralmente começo às 7h, paro às 13h, almoço por onde estou, quando possível, vou para o segundo turno e só volto para casa 20h, quando não tenho plantão noturno. Quando tenho, saio de um hospital pela manhã já indo para outro”, detalha. O médico define todo esse esforço como desgastante, fisicamente e psicologicamente, mas gratificante.

 

"Batalho contra o vírus nos hospitais e agora tenho esperanças de ajudar com mais um fato histórico, que é a imunização que pode gerar o controle de doença emergente" - Joelma de Souza, técnica de enfermagem

 



Nos hospitais, Gabriel se coloca no lugar dos pacientes que estão lutando contra a covid-19 e pensa na família dessas pessoas, que também encara o sofrimento, mas a distância. Nos boletins que prepara para os parentes, além dos termos científicos do quadro atual, ele e os colegas da equipe médica também fazem questão de escrever relatos como: “Estamos cuidando bem do seu pai para que ele possa voltar para casa logo”. “Tentamos acalentar um pouco e passar essa segurança de que aquela pessoa está sendo bem cuidada, porque ela é a mãe de alguém, o pai, o filho. Não um número. E o familiar que está em casa dificilmente consegue fugir dos pensamentos negativos, por acompanhar todas as notícias de mortes da pandemia”, diz.

Quando Gabriel aceitou participar do teste da vacina, o grupo de pesquisa do HUB planejou o cronograma dos testes e entrou em contato com ele informando a data que havia sido escolhida para recebê-lo, 5 de agosto. “Quarta-feira pela manhã. O único dia e horário que era possível para mim. Ou seja, foi perfeito”, celebra. Quando chegou ao ambulatório para receber a imunização, o médico conta que começou a perceber a importância daquele projeto, que significa uma esperança mundial. “Eu me toquei que aquele era o primeiro passo de algo que o mundo inteiro estava esperando. O fato de ter sido escolhido para participar da pesquisa é como uma recompensa. Porque enfrento dias desgastantes e um sentimento de impotência, mas o que tenho hoje é a sensação de que estou usando meu chamado para ajudar a salvar vidas. Então, me sinto realizado”, afirma.


  • Saiba mais

    Terceira fase


    O Hospital Universitário de Brasília (HUB) é um dos 12 centros de pesquisas de seis unidades da Federação do país que estão testando o produto vacinal CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Os ensaios estão sendo coordenados pelo Instituto Butantan, que recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicar a medicação em humanos em uma larga escala.
    Essa é a fase 3 dos testes, uma das últimas necessárias para produção e comercialização de uma vacina. Nas etapas anteriores, houve produção de anticorpos em 90% dos participantes que receberam a imunização. Os pesquisadores concluíram que esse produto era eficaz e seguro para as duas primeiras etapas, e que a terceira é considerada promissora. Ao todo, 850 voluntários devem participar dos testes no DF, que receberam 10 pessoas na primeira semana. As inscrições estão abertas para mais profissionais de saúde. Os primeiros voluntários retornam a partir da próxima quarta-feira para a segunda dose.


    Duas tecnologias

    A vacina que está sendo estudada no HUB por pesquisadores da UnB está na mesma fase de testes de outro produto, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. A principal diferença entre as duas é a tecnologia utilizada, pois, na imunização observada no DF, os cientistas inativam o vírus e produzem a vacina que é aplicada, fazendo com que o organismo produza mecanismos de defesa.
    Já no produto de Oxford, o material genético do vírus é colocado em um vírus que não é patogênico, que produz proteínas e imuniza o paciente. A finalidade de ambos, porém, é a mesma. Com a possível conclusão positiva dos testes, os pesquisadores vão poder concluir se as imunizações serão aplicadas uma vez em cada pessoa ou com periodicidade, por exemplo.

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