Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sábado, 11 de janeiro de 2020

QUALIFICAR PARA SE DESTACAR

 

Qualificar para se destacar
 
Diante de um cenário de 313 mil desempregados, brasilienses recorrem a cursos presenciais, aulas e novas experiências em busca de uma colocação

 

Thais Umbelino

Publicação: 11/01/2020 04:00

Eliana Feitosa é doutoranda na UnB:  

Eliana Feitosa é doutoranda na UnB: "Hoje, um doutor não tem tanta facilidade no mercado de trabalho"

 



“O conhecimento para mim é como endorfina, o que dá objetivo e enriquecimento para minha vida. Minha meta sempre foi me tornar uma profissional melhor.” A frase é da doutoranda Eliana Feitosa, 44 anos, que iniciou os estudos em 2018 na Universidade de Brasília (UnB) com o objetivo de se aperfeiçoar no mercado de trabalho. “Quanto mais você estuda, mais sente necessidade em se destacar”, afirma.

O primeiro investimento na carreira de Eliana foi feito 2002. “Comecei dando aula para educação infantil pelo magistério e, depois que o governo passou a cobrar nível superior, decidi cursar geografia. Percebi que, se não me capacitasse no mercado, ficaria para trás”, conta. A moradora de Taguatinga se formou em 2005, e passou em um concurso na Prefeitura de Formosa (GO). Após a conquista, a profissional continuou dedicada aos estudos. Completou uma pós-graduação, atuou na Secretaria de Educação do DF como temporária e trabalhou como concursada na Embrapa, onde ficou até 2018. No período, entrou para o mestrado na UnB, em 2016.

Atualmente, Eliana trabalha como professora da rede pública e do curso de sociologia para ensino da UnB, além de ser instrutora do curso de formação de oficiais da PMDF. “Os dias atuais estão diferentes. Quando eu era mais nova, a formação no ensino médio era suficiente. Hoje, um doutor não tem tanta facilidade no mercado de trabalho. Por isso, busco ser uma profissional cada vez melhor.”

Segundo o professor Bruno Vinícius Ramos Fernandes, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da UnB, o aumento do nível de educação é proporcional a uma melhor colocação no mercado de trabalho. “Qualquer curso que o cidadão acrescente ao currículo vai trazer uma vantagem competitiva a ele”, explica. Com um cenário de 313 mil pessoas desempregadas no Distrito Federal, segundo último dado da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), o especialista aconselha a realização de cursos técnicos e especializados. “Aqueles que querem garantir um emprego mais estável devem evitar formações muito amplas”, diz. “Hoje, além de faculdades públicas e privadas que oferecem cursos, existem diversas plataformas on-line com cursos ministrados até por professores de universidades do exterior”, acrescenta.

Para Bruno, investir em profissões voltadas à economia tecnológica, como tecnologia da informação, é uma boa estratégia. “Este mercado está ascendendo cada vez mais em Brasília”, observa. “Conhecimentos em finanças e gestão também são diferenciais. Hoje, as empresas querem um profissional mais completo, que possa ter maior mobilidade e ajudar em outras áreas que não somente a que foi contratado.”


Cursos ajudaram Iris Lima a realizar o sonho de ter um estúdio de pilates (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Cursos ajudaram Iris Lima a realizar o sonho de ter um estúdio de pilates

 




Sonho
Há 10 anos no mercado de trabalho, a fisioterapeuta Iris Lima, 38, perdeu as contas de quanto investiu na carreira, “seja com cursos on-lines ou presenciais”. Desde a época da faculdade, iniciada em 2010, a profissional utiliza plataformas para se qualificar. “Fiz cursos na área de gestão financeira, de atendimento e atenção ao paciente, de investimento, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal”, enumera. “No início, como não tinha tanta experiência, passei a investir em mim. Minha meta sempre foi abrir um estúdio de pilates. Por isso, assim que me formei, comecei uma especialização na área”, conta.

A fim de se preparar para o objetivo, a profissional passou a se qualificar na área de reabilitação de quadril e coluna, além de fazer aulas em administração financeira. “Antes de abrir minha empresa, queria saber como conciliar meu salário com os gastos no empreendimento”, justifica. “Para aprender a vender meu produto, também mergulhei em conhecimentos sobre vendas e telemarketing.”

O sonho foi realizado em fevereiro de 2019. “Com o tempo, vi que, quanto mais eu investia em mim, maior era o retorno”, pontua. No ano passado, Iris chegou a fazer cursos fora de Brasília. “Em abril, fui para São Paulo aprender sobre quiropraxia instrumental, que é uma técnica de ajuste articular feita com um instrumento chamado impulse. Consegui pagá-lo vendendo pipocas gourmet”, revela. “Quando há foco, sempre é possível alcançar nossos objetivos”, reflete.

Motivação
Renan Ferreira decidiu não se acomodar, mesmo depois de um ano desempregado. A motivação para obter novos conhecimentos trouxe oportunidades para o técnico de edificações. Ao observar o mercado de trabalho, ele percebeu uma carência de profissionais qualificados na função de bombeiro hidráulico: “Trabalhava informalmente na área e percebi que, com especialização, há maior chance de crescimento”. Um familiar o alertou para uma vaga no Senai. “Comecei o curso em agosto de 2018 e me formo em agosto deste ano”, diz. O investimento valeu a pena, pois Renan passou a ter maior segurança e técnica nos procedimentos que a profissão exige. “Aprendizado nunca é demais. Futuramente, pretendo conhecer mais as áreas de marcenaria e de energia fotovoltaica”, planeja.




Três perguntas para

Stèphanie Brasil, Life & Executive Coach pela Sociedade Latino-Americana de Coaching (SLAC)

Como se manter motivado no ambiente de trabalho e na busca por emprego?
Acho importante sempre manter em mente qual o motivo e a razão para a pessoa atuar na área em que trabalha ou saber o que busca. E, como consequência, que as ações e crenças estejam alinhadas com o essa busca.

Qual a chave para a realização profissional?
A chave para a realização pessoal e profissional é o autoconhecimento, que é adquirido por meio de uma observação profunda de si. A partir daí, é possível ter um direcionamento para a mudança. A transformação é um processo que vem de mais consciência de como penso, de quem eu sou e do que sinto como humano. O problema é quando a pessoa coloca o foco apenas no profissional. Você pode ser bem-sucedido, mas, se não trabalhar o lado emocional, nunca vai desfrutar das coisas que gosta.

Como as pessoas podem melhorar como profissionais?
O primeiro passo é identificar o que se quer melhorar: quero me atualizar em um determinado assunto? Especializar-me em algo? O segundo é buscar apoio e referências, por exemplo, em livros e cursos. O terceiro passo é o plano de ação, ou seja, tomar atitude de fato.
 
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Correio Braziliense sexta, 10 de janeiro de 2020

JACARÉ-TINGA NO LAGO PARANOÁ

 

Jacaré aparece no Deck
 
Animal foi flagrado ontem no Lago Paranoá. Biólogo diz que espécie é comum no local e que, apesar de dificilmente atacar um ser humano, é melhor não se aproximar

 

HELEN LEITE
SARAH PERES

Publicação: 10/01/2020 04:00

Jacaré-tinga foi flagrado ontem nadando no Lago Sul (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Jacaré-tinga foi flagrado ontem nadando no Lago Sul

 

O brasiliense que procura o Lago Paranoá para se refrescar no calor ou para praticar esportes deve saber que dividirá espaço com os “moradores” locais, como capivaras, tartarugas e pássaro-teteu. Mas, na manhã de ontem, um habitante chamou a atenção de quem passava por ali. Um jacaré-tinga foi flagrado em meio à água, próximo ao Deck Sul, com um peixe na boca.
O réptil é a espécie mais comum no Distrito Federal, pode chegar a 2,5 metros de comprimento e se alimenta de peixes, pássaros e mamíferos. O animal tem hábitos noturnos e costuma colocar de 14 a 40 ovos a cada ano. Apesar de o jacaré impor medo, o biólogo Roberto Cabral Borges destacou que ele só atacaria caso se sentisse ameaçado. “Não se deve aproximar ou tentar capturá-los, porque isso aciona o instinto de defesa do animal. Inclusive, não estamos no radar de presas dos jacarés. Por isso, dificilmente o animal nos atacaria. Pelo contrário, caso houvesse um encontro, o réptil iria se afastar. As pessoas não precisam ficar nervosas ou demonstrar preocupação durante um encontro com o réptil”, explicou.
 
De acordo com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar, não há registros de ataques do animal em Brasília. Ainda, caso um banhista aviste o réptil, não é necessário acionar a corporação, pois o Lago Paranoá é o habitat dos jacarés, como esclareceu o major Souza Júnior. “Nesse caso, não é necessário resgate, a não ser que ele esteja ferido ou possa oferecer risco a alguém. Mas é importante destacar que não se deve alimentar o animal de forma alguma, assim como tocá-lo ou se aproximar. Isso é tanto para a segurança do bicho quanto da pessoa”, salientou.
 
Além do jacaré-tinga, outra espécie que aparece no Lago Paranoá é a de-papo-amarelo. Mas ambas são inofensivas. Para o biólogo Roberto Cabral, os brasilienses precisam respeitar o espaço desses animais. “O que mais ocorre em Brasília é que os moradores da área querem estar próximos à natureza, mas de uma forma seletiva. O desejo é de conviver com a beleza cênica, mas não com os bichos que moram ali. Por exemplo, com a tirada das cercas das invasões às margens do lago, houve reclamações, porque, às vezes, as capivaras aparecem nos ‘quintais’ dessas pessoas. Sendo que nós somos os convidados, não as espécies que estão no habitat delas”, frisou o especialista.
 
Roberto Cabral acrescentou que os brasilienses não precisam ter medo de conviver com os animais do cerrado como um todo, porque, “aqui na América do Sul, os humanos passaram a conviver com os bichos após as espécies delimitarem os grupos de presas”. “Isso é diferente na África, por exemplo, onde os humanos se desenvolveram com os animais do continente. Portanto, ali, não se anda em uma savana desacompanhado e, sobretudo, à noite. São ambientes diferentes. Claro que pode ocorrer um ataque por aqui, mas isso seria a exceção, não a regra.”
 
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Correio Braziliense quinta, 09 de janeiro de 2020

PLANTAR PARA O FUTURO

 

Plantar para o futuro
 
Capixaba que chegou à capital em busca de trabalho foi o responsável pelo plantio, em 1962, da famosa árvore cujas raízes se espalham pela comercial da 405/406 Norte. Cinquenta e sete anos depois, ele se emociona com a altura da planta e se orgulha de sua trajetória

 

» Thais Umbelino

Publicação: 09/01/2020 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Brasília é conhecida pelas áreas verdes e pela quantidade de árvores. Algumas delas são famosas e têm quase a mesma idade que a capital, como uma que está localizada entre as comerciais da 405 e 406 Norte. A planta da espécie fícus é conhecida entre os motoristas, que precisam desviar da estrutura larga, com troncos fortes e raízes visíveis. O que poucos sabem é que o monumento vivo foi plantado em novembro de 1962, por um candango vindo do Espírito Santo.

“Eu fico olhando para ela e admirando. Nunca imaginei a árvore ficar deste tamanho”, conta Argeu Pelanda, 84 anos. A decisão do plantio, segundo ele, teve como base um aprendizado da infância. “Por onde tivesse um lugar na minha vida que eu conseguisse plantar alguma coisa, eu plantava. Quando eu vejo um lote vazio, eu planto. Aprendi com meu pai. Um dia, ele me explicou que, quando ele tinha nascido, havia abacate no mundo, porque alguém tinha plantado. A gente planta para o futuro. Aquilo serviu de exemplo para mim.”

Argeu saiu do interior do Espírito Santo e veio para Brasília em 1958 em busca de trabalho. Os conhecimentos adquiridos com o pai o ajudaram nos primeiros anos na capital. Ele fez de tudo um pouco: montou mesas, caixões, fez portais, montou máquinas, subiu casas, fez carroceria de caminhões e... plantou árvores. À época, quando perguntado se sabia fazer alguma coisa, ele logo respondia: “Se a gente combinar, eu faço, eu me adapto”.

O candango morou em diversas regiões do Distrito Federal, entre elas, Sobradinho, Núcleo Bandeirante e Guará. Mas foi na Asa Norte, na 406, que ele resolveu deixar um legado para as gerações futuras. “Eu morava com um casal que praticamente tinha me adotado como filho. A dona da casa tinha dois jarros grandes, cada um com uma árvore. Mas a planta estava pegando no teto e caía muita folha. Então, ela me pediu para tirá-las dos jarros”, relata. Com um enxadão, Argeu plantou as fícus na quadra. Uma embaixo do bloco, próximo ao local onde hoje funciona o Sebinho, e a outra perto de um antigo ponto de ônibus. “Naquela época, era tudo mato, não tinha nada. Quando fui plantar, me falaram que não iriam construir na área”, lembra.

Muita coisa aconteceu depois de 57 anos. Argeu nunca imaginou que a árvore ficaria tão grande. A pedido do Correio, o aposentado voltou para visitar as plantas que antigamente eram pequenas e cabiam dentro de um apartamento. O semeador observa, de todos os ângulos, cada detalhe — galhos, troncos largos e raízes visíveis. Por fim, exclama: “Impressionante o tamanho que ficaram”.

Coragem
 
Argeu Pelanda era o único filho homem entre seis irmãs. Começou a trabalhar ainda pequeno, aos 9 anos. Certo dia, aos 19, decidiu buscar outro meio de trabalho e se mudou para Colatina (ES), cidade próxima à capital capixaba, Vitória, para mexer com máquinas. Em uma das visitas à família, ele conheceu Brasília por meio das telonas.

“Para vê-los (a família), eu tinha que parar em Vitória, porque naquela época o meio de transporte era apenas trem. Eu chegava à cidade à noite e depois tinha que esperar para seguir a viagem no dia seguinte. Nesse intervalo, decidi ir ao cinema. Antes do filme, passou uma propaganda de Brasília, mostrando o início da cidade. Eu pensei assim: ‘Se estou atrás de trabalho, vou me dar bem indo para um lugar onde estão fazendo uma capital nova, porque lá deve precisar de tudo’. Então, decidi embarcar nessa aventura”, recorda.

No início, a capital era apenas poeira, cheia de construções e sem energia elétrica. A coragem foi o que trouxe Argeu: “Eu não tinha medo de nada, nem de passar fome”. Trabalho não faltou para o candango. Os conhecimentos de marcenaria e carpintaria lhe possibilitaram atuar em diversas áreas. Quando não sabia fazer alguma coisa, aprendia. Foi assim que o obreiro entrou para o comércio, vendendo material de construção.

Depois de alguns anos na profissão, o destino trouxe outra oportunidade de atuação de forma inusitada. A história começou quando um conhecido pediu ajuda a Argeu para subir um cofre de três toneladas que havia vendido para um mercado na W3 Sul. “A estratégia foi colocar uma talha nas escadas e usar um carrinho de mão para levar o cofre”, explica.

A empreitada deu certo e foi vista por um dos diretores de obra do GDF. “Ele me convidou para fazer um concurso da Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB) e, três dias depois, me chamaram. Trabalhei durante 35 anos”, conta. Criada em 1962 para suprir o mercado varejista do Distrito Federal, a SAB foi extinta oficialmente em 2002. O candango começou como ajudante. “Fui encarregado de depósito, encarregado geral, subgerente, gerente e depois fui requisitado para o Palácio do Planalto, onde trabalhei durante quase quatro anos”, detalha.

No mercado em que trabalhou, na 406 Sul, conheceu a mulher que viria a ser sua esposa. Maria do Perpétuo Socorro chamou a atenção do gerente por levar a vida sempre de bom humor. Tiveram cinco filhos, oito netos e um bisneto: “Para um cara que saiu de casa sem instrução, sem nada, conseguir formar uma família bonita e conseguir ter casa… É uma vitória”.
 
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Correio Braziliense quarta, 08 de janeiro de 2020

VOLTA ÀS AULAS: LISTA DE MATERIAL MAIS EM CONTA

 

VOLTA ÀS AULAS
 
Lista de material mais em contaL
 
ivros didáticos usados são uma saída para brasilienses que querem gastar menos nas compras do ano letivo de 2020. No ramo das papelarias, os preços devem ter reajuste de até 3,5%, e a estimativa de crescimento para o setor é de 5%

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 08/01/2020 04:00

Sebos compram e vendem material usado por estudantes em anos anteriores (Walder Galvao/CB/D.A Press)  

Sebos compram e vendem material usado por estudantes em anos anteriores

 

 
O início do ano letivo costuma movimentar o comércio do Distrito Federal. Desde o fim de 2019, o número de clientes cresce em papelarias e livrarias. Entretanto, o preço, principalmente dos livros didáticos, intimida o brasiliense. Aqueles que procuram economizar um pouco mais encontram nos livros usados uma saída para poupar dinheiro e reaproveitar o material. Por isso, os sebos são alvo de muitos consumidores.
 
Segundo Aritana Rodrigues, vendedora de um sebo em Taguatinga, conta que, por causa do pagamento do 13° salário, a movimentação de pessoas no estabelecimento cresceu desde novembro. “Temos procura o ano inteiro, não apenas dos didáticos, mas dos literários também. Porém, até março, os clientes devem vir mais”, afirma. O lugar recebe doações das obras, além de comprar e vender os itens usados por estudantes em anos anteriores.
 
De acordo com Aritana, um livro de segunda mão pode custar até menos da metade do valor de mercado. “Neste ano, por exemplo, temos didáticos que custam R$ 200 nas livrarias. Aqui, você encontra por R$ 80. É uma grande economia”, garante. De acordo com ela, a clientela adepta a itens usados cresce a cada ano e é de regiões diversas. “Temos clientes que vêm de Sobradinho, Brazlândia e até do Entorno, como Valparaíso (GO) e Cidade Ocidental (GO)”, exemplifica.
 
Na tentativa de economizar, a pedagoga Gislene Batista, 45 anos, comenta que, neste ano, vai à procura de livros usados para a filha. “Minha menina saiu do sétimo para o oitavo ano. Conseguimos comprar três obras, mas ainda estamos tentando vender as do ano passado. Já temos a de gramática, um livro paradidático e um dicionário”, detalha. Ela ressalta que os didáticos são os mais difíceis de encontrar, mas que geram uma boa economia. “Se eu fosse comprar tudo novo, gastaria cerca de R$ 2,5 mil. Até agora, comprei três livros por R$ 100, e o restante que falta deve sair por bem menos do que o orçamento padrão”, prevê. Ela opina que os pais devem incentivar os filhos a conservarem os livros, para que outras pessoas possam usar.
 
Ressalvas
 
O Sindicato de Papelarias e Livrarias do DF (Sindipel) recomenda os sebos como uma alternativa para economizar. Entretanto, o presidente da entidade, José Aparecido da Costa Freire, destaca que os consumidores devem ficar atentos para não comprarem o material errado. “A edição sempre deve ser verificada. Os livros podem ser reformulados, e capítulos são inseridos. Quem opta por livros antigos corre o risco de ter de comprar novamente.”
 
Outra dica é os pais olharem a capa, porque ela sempre é atualizada quando ocorrem reformulações. Quem compra na internet deve dobrar a atenção, porque os sites podem não mudar o material. “São cuidados necessários que os pais precisam ter. Livros didáticos são produtos caros, e o pai ter que comprar duas vezes é muito doloroso”, informa José Aparecido.
 
Quem trabalha em sebos também precisa ficar alerta na hora da comercialização do material. Helena Alves é dona de um quiosque de livros usados em Taguatinga. De acordo com ela, na hora da compra e das doações, a edição do livro sempre é verificada para que não ocorram erros. “Já temos muita gente procurando nosso comércio desde dezembro. A expectativa é de que as vendas aumentem ainda mais até março”, diz.
 
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Correio Braziliense terça, 07 de janeiro de 2020

TRANSPORTE: MUDANÇA PROVOCA FILAS

 

TRANSPORTE
 
 
Mudança provoca filasPrimeiro dia dos ônibus do Entorno na Rodoviária do Plano foi marcado pela longa espera

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 07/01/2020 04:00

110 linhas para 11 localidades do Entorno estão operando nos 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

110 linhas para 11 localidades do Entorno estão operando nos 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária

 



Longas filas e tumulto marcaram o fim da tarde de ontem dos brasilienses na Rodoviária do Plano Piloto, em razão da alteração do ponto de embarque e desembarque dos ônibus do Entorno. O antigo local, o Terminal Metropolitano de Brasília (no Edifício Touring), foi fechado no domingo por decisão do Governo do Distrito Federal. Contudo, a mudança não agradou a todos e causou confusão.

A camareira Edilene Pereira, 50 anos, reprovou o serviço. Ela mora na Cidade Ocidental e conta que, antes da mudança, conseguia embarcar no horário correto, mas agora, o coletivo atrasou. “Deveria melhorar a estrutura daqui antes de mudar para cá. O ônibus está demorando mais de 30 minutos para chegar, tem muito tumulto e falta espaço” disse.

No total, 110 linhas de sete empresas operam em 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária do Plano. Os coletivos atendem a 11 localidades goianas. São elas: Planaltina, Valparaíso, Luziânia, Céu Azul, Cidade Ocidental, Jardim Ingá, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Padre Bernardo, Jardim ABC e Cocalzinho. Para informar os passageiros, há placas improvisadas e destinos escritos em cartolinas, além de adesivos com o nome das cidades colados no chão.

A cozinheira Isabel Gomes, 35, pega três ônibus para chegar ao trabalho, em um restaurante do Lago Sul. A moradora de Águas Lindas reclamou do tumulto e da desorganização das filas. “O pessoal está formando três e quatro filas para pegar o mesmo ônibus. Desse jeito complica. Acho que isso ainda vai dar confusão, principalmente pela falta de aviso dos responsáveis. Parece que fazem pouco caso dos moradores de Goiás”, afirmou. Pela manhã, por volta das 8h, Isabel também esteve na Rodoviária e disse ter visto vários fiscais para tirar as dúvidas dos passageiros, mas no horário de pico, por volta das 18h, o serviço estava precário.

Uma das funcionárias da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que supervisionava o público informou ao Correio que duas equipes da empresa atuam para orientar os passageiros. Segundo ela, um grupo trabalha pela manhã, das 5h30 às 14h, e outro à tarde, das 15h às 22h. No momento em que a reportagem esteve na Rodoviária, agentes do Departamento de Trânsito (Detran) e policiais militares auxiliavam no serviço.
 
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Correio Braziliense segunda, 06 de janeiro de 2020

GLOBO DE OURO

 

GLOBO DE OURO
 
Sam Mendes é a surpresa da festa
 
Com 1917, britânico leva os prêmios de melhor direção e melhor filme de drama. Era uma vez em... Hollywood fica com três estatuetas. Joaquin Phoenix confirma o favoritismo e deixa a cerimônia como o melhor ator pelo papel título de Coringa

 

» Ricardo Daehn

Publicação: 06/01/2020 04:00

 

Cineasta exibe os dois troféus conquistados na premiação: defesa das produções tradicionais  (Frederic J. Brown / AFP)  

Cineasta exibe os dois troféus conquistados na premiação: defesa das produções tradicionais

 

 

 

 

Protagonista de Coringa: 23kg a menos para o longa (Valerie Macon / AFP )  

Protagonista de Coringa: 23kg a menos para o longa

 

 

 

 

Renée Zellwegger, eleita a melhor atriz por Judy (Frederic J. Brown / AFP)  

Renée Zellwegger, eleita a melhor atriz por Judy

 

 

 

 

O diretor Bong Joon Ho (C) com atores de Parasita (Frederic J. Brown / AFP )  

O diretor Bong Joon Ho (C) com atores de Parasita

 

 

 

 

Brad Pitt se destacou no filme de Quentin Tarantino (Frazer Harrison/AFP)  

Brad Pitt se destacou no filme de Quentin Tarantino

 

 

 

 

Relativizar o potencial e o alcance tanto do cinema quanto da televisão, nos dias dominados pelo streaming da gigante Netflix, foi a missão inicial para o apresentador da 77ª cerimônia dos prêmios Globo de Ouro, o comediante britânico Ricky Gervais. Coube, entretanto, ao protagonista da maior surpresa da noite, o vencedor de melhor direção de longa Sam Mendes (à frente do filme que trata da Primeira Guerra 1917) recolocar coroa e cetro no cinema tradicional. No discurso como melhor diretor, ele sintetizou: “Não há nenhum diretor no mundo que não tenha se apoiado nos ombros de Martin Scorsese (diretor de Taxi driver e O irlandês, além de uma das autoridades máximas nas pesquisas de filmes).

 

Quando veio a segunda maior surpresa: o longa 1917 ter sido dado como o melhor produção, novamente, Mendes marcou posição: “Quero que o público veja o filme na tela grande — esse foi nosso desejo”. Poder de voto, a responsabilidade de eleger políticos, feminismo e cuidados com o ecossistema deram o tom da maioria dos discursos da noite que representou os eleitos da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood.

 

Única concorrente feminina na categoria de melhor trilha sonora, Hildur Gudnadóttir trouxe para o blockbuster Coringa um dos troféus da noite. Ela se disse motivada pela interpretação fenomenal de Joaquin Phoenix, à frente do longa. Phoenix, na sexta indicação ao prêmio, faturou como melhor ator, com esforços como o de perder 23 quilos para o papel do sofredor Arthur Fleck. O ator de Johnny e June engrossou o coro ao espírito de união levantado por muitos dos discursos. “Muitos enviaram apenas desejos positivos (no palco). Nem sempre fui virtuoso, mas vejo que é o tempo de nos unirmos, para trazer mudança”, incitou, ao demarcar terreno para as futuras eleições de 2020.

 

O prêmio de melhor atriz em drama foi para Renée Zellweger, que encarnou a diva das telas e dos palcos Judy Garland, em Judy — Muito além do arco-íris. Pela terceira vez, desde a vitória com o roteiro do longa Pulp Fiction, em 1995, Quentin Tarantino levou novamente o troféu, desta vez por Era uma vez em... Hollywood. O autor de Django livre (2013) enfatizou que o elenco acrescentou muitas camadas a seu texto, numa obra valorizada como a melhor comédia em longas e que rendeu ainda prêmio para a performance do coadjuvante Brad Pitt. Tarantino foi exaltado por Pitt como “o cara, o mito, a lenda”. Já o colega de cena (e que, novamente, perdeu prêmio) Leonardo DiCaprio suscitou o trocadilho infame do agradecimento de Pitt a LDC (as iniciais do ator), “um astro e cavalheiro”, nas palavras de Pitt.

 

Menção às queimadas

 

Descolado de qualquer discurso cômico, coube a Russell Crowe, vencedor como ator de minissérie (por The loudest voice) dar o recado ecológico, ao mandar uma mensagem em que enfatizou o alarmante estágio das queimadas na Austrália, de onde se pronunciou. A tragédia que transcorre naquele país ecoou em muitos dos discursos da 77ª edição do Globo de Ouro.

 

O retrato de Crowe de um magnata da tevê, envolvido em caso de assédio sexual, foi valorizado pelos votantes do Globo de Ouro, às vésperas do julgamento de Harvey Weinstein. Jared Harris (Chernobyl) era, entretanto, o favorito. Outro momento que trouxe surpresa foi a vitória do ator cômico de Ramy, Ramy Yousseff (de ascendência egípcia), que se destaca numa história de stand-up, em meio ao exame das tradições muçulmanas. O concorrente Bill Hader (de Barry), inesperadamente, perdeu o troféu. Os efeitos de catástrofe de agressão à natureza retratados na série Chernobyl trouxeram prêmio para a produção HBO no segmento de minissérie.

 

Quem encantou com um discurso a favor do poder de escolha das mulheres, especialmente por meio das futuras votações nos EUA, foi a atriz Michelle Williams (ganhadora pela minissérie Fosse/Verdon). Como esperado, entre as séries de tevê, Succession despontou como a melhor, ao revelar os bastidores da sucessão de herdeiros de um império de notícias globais. Capitaneando o elenco e força-motriz para o enredo, o personagem do veterano Brian Cox Logan Roy deu razão para seu prêmio, o primeiro Globo de Ouro em mais de 60 anos de carreira. Ele se disse chocado no mesmo caso do representante da equipe da animação Link perdido — que desbancou títulos como Toy Story 4 e Frozen 2 —, vencedora como melhor longa-metragem.

 

O discurso de contorno mais politizado foi o da coadjuvante em minissérie ou filme de tevê Patricia Arquette, elogiadíssima em The act, baseado em crime da vida real revelado em 2015, e que expunha uma mãe dona de relação patológica junto à filha. “Nos livros de história, o 5 de janeiro de 2020 virá a ser apresentado como um dia em que os Estados Unidos estavam a ponto de ir para a guerra, e no qual o presidente investia em tuítes a respeito de bombas. Veremos pessoas jovens arriscando suas vidas, e ainda poderemos lembrar os incêndios tomando conta da Austrália. Temos que lutar por um mundo melhor para todos. Mais adiante, temos que votar novamente: temos que chamar todos que conhecemos a votarem também”.

 

Desbancando figuras como Taylor Swift, Beyoncé e Andrew Lloyd Webber, nomes alinhados na disputa pela melhor música original, Elton John e Bernie Taupin (colaboradores eternos no filão das criações musicais) venceram na categoria com I´m gonna love me again  (de Rocketman). “Não é só uma canção; fala da nossa relação: um casamento (profissional) de 52 anos”, demarcou Bernie Taupin. O ator Taron Egerton, na primeira indicação ao prêmio, levou pela caracterização de Elton John (em Rocketman).

 

A figura de mulheres poderosas foi reverenciada em ao menos dois prêmios: um deles, o de melhor atriz de série dramática atribuído a Olivia Colman (por The Crown), em que, a exemplo do feito em A favorita, interpretou mais uma rainha: Elizabeth II. Já expoente no elenco do longa História de um casamento, a coadjuvante Laura Dern exaltou o diretor do filme Noah Baumbach: “Ele deu voz aos sem-voz. E eu fiz isso mesmo: uma homenagem à figura de uma advogada de divórcio”, brincou, para, em seguida, saudar a mensagem de união do filme.

 

Surpresas

 

Outro desbancado na festa foi Andrew Scott, o padre gato de Fleabag, responsável por tensão sexual da série. Quem faturou o prêmio de melhor coadjuvante em série foi Stellan Skasrsgard, que interpreta representante do governo soviético, em meio ao desastre de Chernobyl. O veterano ator de Mamma Mia! brincou com um episódio em que se deu conta de suas limitações cênicas, pela sua falta de sobrancelhas. Outra tragédia, a do luto mas tratado sem o peso esperado, e que abate a personagem de Phoebe Waller-Bridge, em Fleabag, rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia. A escalada da confusa solitária britânica que investe em desejos sexuais para superar o luto emplacou ainda premiação de Fleabag como melhor série de tevê.

 

Talvez um dos prêmios mais previsíveis, o prêmio de melhor filme estrangeiro ficou para Parasita (de Bong Joon Ho). O diretor sul-coreano Ho enfatizou no palco: “Quando a gente supera a barreira das legendas, descobrimos filmes incríveis. Falamos uma única língua: o cinema”. A despedida, com muito apoio de talentos chineses, trouxe para a atriz Awkwafina (revelada em fitas como Podres de rico) o troféu de melhor performance em comédia ou musical. No palco, ela agradeceu à avó, “melhor amiga” e a mulher que a criou.

 

Saída do filão do entretenimento e da difusão de informações, a apresentadora Ellen DeGenneres que recebeu o prêmio honorário Carol Burnett, brincou na ocasião, dizendo que, estando premiada no palco, “não precisaria fingir interesse nas falas dos outros”. Como profissional, ela destacou o emblema que leva à frente, anos a fio, na tevê: “Quero que (os espectadores) fiquem bem e sorriam”. Seguindo a mesma linha da colega, outro homenageado foi Tom Hanks, que agraciado com o importante troféu Cecil B. DeMille. 

 

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Correio Braziliense domingo, 05 de janeiro de 2020

RODOVIÁRIA DO PLANO PILOTO: O CORAÇÃO DA CAPITAL FEDERAL

No centro da asa do avião, a Rodoviária do Plano Piloto, que completará 60 anos em setembro, recebe cerca de 700 mil pessoas diariamente e é um reflexo da realidade do DF. Por lá se encontram passageiros de todas as idades, regiões e ocupações.  (Ed Alves/CB/D.A Press)

 

O coração da capital federal
 
 
Com seis décadas de histórias e dificuldades, Rodoviária do Plano Piloto reflete a realidade da capital, com seus passageiros de diferentes idades, regiões e ocupações

 

ALAN RIOS
JULIANA ANDRADE

Publicação: 05/01/2020 04:00

Imagens históricas de uma complexa construção: o terminal rodoviário do Plano Piloto começou a ser erguido ainda nos anos 1950, a partir de projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. Após a inauguração, em 12 de setembro de 1960, o terminal virou referência, ligou as asas Sul e Norte e passou a direcionar a movimentação dos primeiros habitantes de Brasília (Instituto Moreira Salles/Reprodução
)  

Imagens históricas de uma complexa construção: o terminal rodoviário do Plano Piloto começou a ser erguido ainda nos anos 1950, a partir de projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. Após a inauguração, em 12 de setembro de 1960, o terminal virou referência, ligou as asas Sul e Norte e passou a direcionar a movimentação dos primeiros habitantes de Brasília

 

 
O coração é um dos maiores símbolos da vida. Sempre em movimento, ele é vital para todas as outras partes do corpo. Por isso, não à toa, a Rodoviária do Plano Piloto é considerada o “coração” de Brasília. No centro da asa do avião, o local recebe cerca de 700 mil pessoas diariamente: brasilienses de diferentes idades, regiões e ocupações, que passam, muitas vezes, em ritmo acelerado. Os sons dos alto-falantes instalados nas plataformas acabam se confundindo com o barulho dos ônibus, dos passos e dos gritos de ofertas dos comerciantes, um cenário bem diferente do projeto inicial de Lucio Costa. Entre reclamações, como a falta de acessibilidade e a insegurança, o espaço acumula histórias que se misturam com as de Brasília. Na segunda matéria da série Brasília Sexagenária, o Correio reencontra o espaço localizado no coração da cidade e que completa 60 anos em 12 de setembro.
 
A rodoviária parece um lugar à parte no meio do Eixo Monumental. Se, no gramado central, a calmaria e a visita de turistas predominam, no terminal, o que ganha destaque são os ruídos, a correria do dia a dia, as filas de espera e os veículos lotados. “Aqui não tem essa história de rico ou pobre, todo mundo se encontra, toda hora. É um ponto com metrô, ônibus, perto de shopping”, opina Agna da Cruz, 35 anos, usuária do transporte público. A baiana, que mora na capital, sente gratidão por Brasília, mas pede mais cuidado. “O governo tem oportunidades boas na rodoviária, porque é um espaço grande que poderia ser bem aproveitado. Penso que seria ótimo se tivesse, por exemplo, uma galeria de arte, com acessibilidade, garantindo um complemento à educação e trazendo segurança”, sugere.
 
Para o historiador Wilson Vieira, a rodoviária reflete a realidade de Brasília. Ali, estão moradores do Plano Piloto, das demais regiões administrativas e do Entorno. “Ela se tornou um grande centro metropolizado da população do Distrito Federal. Foi além do planejado, virou um espaço popular”, ressalta. Vieira explica que o projeto inicial era um centro de conveniência, com cafés e restaurantes, algo parecido com o que é o aeroporto hoje. “À medida que a cidade foi crescendo, a população foi assumindo este espaço. A presença do comércio formal e informal é característica da nossa história como formação da cidade. São coisas que demonstram que o desenho de um arquiteto não consegue planejar a tomada popular do espaço. O povo é muito mais forte e mais presente do que a prancheta de um profissional”, destaca.
 
Um dos habitantes da capital que fazem parte desse processo é Joabem José da Silva, 49. Ele chegou ao DF em 2004 em busca de oportunidades e hoje reclama do tratamento dado aos espaços públicos. “Tenho dificuldades de locomoção, uso muletas e moro nas ruas, então sinto ainda mais os problemas. Faz anos que a escada rolante não funciona. Lembro-me de poucas vezes que pude usar, que estava normal. Isso é algo grave, as pessoas se machucam por falta de acessibilidade. É caso de direitos humanos”, avalia. Procurada, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que “o processo licitatório das escadas rolantes e dos elevadores está dentro da normalidade” e que o órgão “está analisando as propostas das empresas que participaram da concorrência para, em seguida, fazer a homologação”.
 
Obra complexa
A construção da Rodoviária do Plano Piloto é considerada por especialistas uma das mais complexas da época em que ocorreu. Atrás dos paredões que seguem sentido Eixos Sul e Norte, há grandes vãos. “São caixas, espaços livres enormes. Dava para construir um shopping ali dentro”, detalha o historiador Wilson Vieira. O professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Carlos Carpintero explica que as vigas de construção da rodoviária são protendidas, ou seja, construídas com ferros internos, que pressionam o concreto e aumentam a possibilidade de fazer grandes vãos.
 
Para Antônio Carlos, apesar da importância da obra, ela não exigiu um trabalho inédito. “Os vãos que ela tem são grandes. A rodoviária estava no limite máximo da construção da época, mas não era nenhuma técnica desconhecida”, avalia. Porém, ele alerta que essas ferragens, assim como toda a obra, exigem manutenção constante, pois podem diminuir a capacidade de sustentação se oxidarem.
 
O arquiteto ainda comenta que a rodoviária foi construída a 750 metros do lugar do projeto original, em direção à Torre de TV. “Ela estaria na altura da W3, mas, para a própria construção, foi feita essa mudança, e o Lucio Costa encarregou-se de projetar a rodoviária da forma que foi feita”, conta. Antônio acrescenta que a plataforma superior ficaria no chão, ligada aos setores bancários e comerciais. “O pedestre poderia circular livremente nesse plano.”
 
Segurança
Citada constantemente como ponto negativo do terminal, a segurança acaba sendo uma barreira até mesmo para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). “O alto índice de reincidência é uma grande dificuldade. Muitos detidos no DF voltam a praticar outros crimes, por vezes na mesma região, devido às brechas contidas na legislação, que facilitam o retorno dos criminosos às ruas e geram a sensação de impunidade”, informou a corporação, em nota oficial. Porém, nos primeiros dias de 2020, um novo esquema de policiamento passou a atuar na área. “Antes, os policiais ficavam no posto fixo na parte superior da estação. Agora, o patrulhamento é feito em viaturas e assessorado pelo Comando Móvel estacionado na rodoviária”, disse a PMDF.
 
Reformas constantes
Os problemas da rodoviária são antigos. O terminal passa por constantes reformas. Em junho do ano passado, parte da estrutura foi interditada após riscos de desabamento. Técnicos do governo identificaram crescimento de algumas fissuras, o que poderia provocar um desmoronamento, caso não fossem feitos os reparos necessários. Para garantir a segurança, o trânsito de carros na parte superior, sentido sul, foi interrompido.
 
A estrutura precisou ser demolida e reconstruída. Segundo a Novacap, a obra foi concluída no início de novembro. Também foram feitas novas instalações elétricas e hidráulicas; instalados ar-condicionado e sistema de som; executado novo piso em granitina em toda a extensão da rodoviária; trocado o piso tátil direcional; e substituída toda a iluminação interna e de borda.
 
Parceria público-privada
A parceria público-privada é a saída defendida pelo GDF para melhorar a oferta de serviços para a população na Rodoviária do Plano Piloto. A reclamação dos milhares de brasilienses que usam o local diariamente é constante pelos problemas históricos de infraestrutura. Em novembro, seis grupos empresariais foram selecionados pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) para apresentar estudos de viabilidade técnica para a concessão da rodoviária. O prazo para que eles apresentassem o projeto que definirá os moldes da nova gestão era de 120 dias a partir da definição. Após a entrega, os estudos serão analisados por comissão técnica instituída pela pasta. A escolha do projeto não garante que a empresa ou o consórcio responsável pela elaboração seja vencedor da licitação.
 
700 
mil
 
pessoas circulam pela Rodoviária do Plano Piloto diariamente
 
149
 
Quantidade de bancas abertas no terminal
 
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Correio Braziliense sábado, 04 de janeiro de 2020

A PIONEIRA 108 SUL

 

A pioneira 108 Sul
 
A primeira quadra de Brasília completa 60 anos e abre série de reportagens sobre os prédios da capital que completam seis décadas. Moradores, a maioria idosos, relembram histórias que marcaram a construção do Distrito Federal

 

» JULIANA ANDRADE
» THIAGO COTRIM*

Publicação: 04/01/2020 04:00

Canteiros de obras da 108 Sul e a Igrejinha: conjunto habitacional começou a ser erguido em 1958 (Mario Fontenelle/Arquivo Público do DF)  

Canteiros de obras da 108 Sul e a Igrejinha: conjunto habitacional começou a ser erguido em 1958

 



São 60 anos de histórias. Uma trajetória que começou a ser escrita antes da inauguração de Brasília. A 108 Sul, a primeira superquadra do Plano Piloto, celebra em fevereiro o sexagenário aniversário. Poucos blocos seguem o visual original, mas ainda é possível ver os traços de Oscar Niemeyer no conjunto habitacional que começou a ser erguido em 1958. Muitos apartamentos passaram por reformas, assim como fachadas. Além disso, a quadra carrega memórias de quem cresceu em meio ao cerrado.
 
Com fotos em preto e branco, a bancária aposentada Regina Faleiro, 67 anos, conta lembranças da infância e adolescência na 108. Ela, que veio de Minas Gerais com os pais, chegou a Brasília em 1961. A moradia era um apartamento funcional no Bloco J, que o pai ocupou por trabalhar no Ministério de Minas e Energia. “Os apartamentos funcionais eram o atrativo. Nem todos os funcionários queriam largar as suas cidades e o conforto de casa para vir se aventurar em Brasília. O apartamento era uma vantagem”, comenta.
 
Regina cresceu brincando nos pilotis. Estudava ao lado do bloco da família, na Escola Classe 108 Sul, e, à tarde, frequentava a Escola Parque. Aos fins de semana, curtia o Clube Vizinhança. Tudo nos arredores. “Foi uma infância maravilhosa. A gente podia ficar até mais tarde embaixo do bloco, não tinha perigo. Eu ia andando à escola, ao comércio, à escola parque”, recorda. Nas fotos, ela mostra os coqueiros que se tornaram cenários para as fotos com a família. O amor pelo local é tanto que Regina, após se casar, se mudou, mas não demorou para voltar. A bancária comprou um apartamento no Bloco I, onde vive até hoje. “Para mim, é um privilégio morar aqui. Temos tudo pertinho, tem metrô também. É uma quadra excelente e tem valor sentimental muito grande”, ressalta.


Foto histórica de blocos da 108 Sul em construção: conceito de Lucio Costa concebido por Oscar Niemeyer (Arquivo público do DF)  

Foto histórica de blocos da 108 Sul em construção: conceito de Lucio Costa concebido por Oscar Niemeyer

 



A 108 Sul foi a primeira quadra residencial a ser concluída em Brasília. O professor e arquiteto da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Córdova Coutinho explica que as construções eram feitas por institutos de previdência e que existia uma cerca competição de quem entregava as fundações iniciais e as lajes, por exemplo.
 
Segundo o especialista, o primeiro prédio a ser construído na Asa Sul fica na 106, mas a conclusão da 108 é pioneira. “Foi um dos projetos que materializaram a ideia da superquadra, como concebido por Lucio Costa. Ele e Oscar Niemeyer tinham uma proximidade muito grande. Na 108, o Oscar interpreta exatamente o que o Lucio Costa pretendia como superquadra.” As quadras 308, 107 e 307 Sul formam a unidade de vizinhança mais completa de Brasília. “Têm igreja, clube, comércio, parquinho e escola”, explica José Carlos.
 
A técnica de necropsia Mônica Quintas, 57, revela as histórias e lembranças vividas com a mãe, Isa Vasquintas, 90, uma das mais antigas da 108 Sul. Ela veio para Brasília com Mônica na barriga. O pai, jornalista, chegou antes, a trabalho. Na superquadra, Mônica deu os primeiros passos. “Foi uma infância maravilhosa. Aqui em cima, tinha uma creche de freiras. A gente tocava a campainha e saía correndo. Havia muita diversão”, conta a moradora.


Regina Faleiro em 2020 e nos anos 1960: lembranças de uma vida (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Regina Faleiro em 2020 e nos anos 1960: lembranças de uma vida

 



Mônica chegou à quadra na barriga da mãe:  

Mônica chegou à quadra na barriga da mãe: "Infância maravilhosa"

 



O jornaleiro Lourivaldo inaugurou a primeira banca da cidade, na 108 (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

O jornaleiro Lourivaldo inaugurou a primeira banca da cidade, na 108

 



 
Reforma
 
No início, os apartamentos eram funcionais, e os moradores, na maioria, funcionários públicos. Os imóveis só passaram a ser vendidos em 1966, segundo o Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi). À época, eles custavam, em média, Cr$ 19.610.000 — R$ 284.941,66, em valores atuais —, podendo ser vendidos em até 30 parcelas a juros de 2% ao ano. As características não são mais as mesmas. Mônica, com o tempo, reformou o imóvel. “Tivemos de mudar. São 60 anos. Se não reforçasse, cairia tudo”, justificou.
 
O diretor do Secovi, Ovídio Maia, explica que, apesar de se tratar de uma quadra histórica, a média de preços dos apartamentos na 108 Sul é parecida com as demais quadras da Asa Sul. Muitos imóveis precisam de revitalização.
 
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Correio Braziliense sexta, 03 de janeiro de 2020

TT CATALÃO DEIXA UM LEGADO DE RESISTÊNCIA E AMOR BRASÍLIA

 

 

Um salve para o mestre TT Catalão
 
 
 
Poeta, jornalista e militante cultural deixa legado de resistência e de amor a Brasília

 

» Severino Francisco
» José Carlos Vieira
» Lis Cappi*

Publicação: 03/01/2020 04:00

 
TT Catalão, Ary Para-Raios e Antônio Pitanga em cena do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha, na redação 
do Correio Braziliense (Paloma Cinematográfica/Divulgacão)  

TT Catalão, Ary Para-Raios e Antônio Pitanga em cena do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha, na redação do Correio Braziliense

 

 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Paulo de Araujo/CB/D.A Press)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 
“Era um esteio da reflexão e da ação cultural de Brasília. Foi um mestre da atuação cultural, um grande amigo”, diz ao Correio Gilberto Gil, compositor e ex-ministro da Cultura, sobre o poeta TT Catalão, que morreu na madrugada de quinta-feira, em razão de complicações renais.
TT sempre teve a poesia engatilhada na língua, nos dedos, nos pés e nos olhos. Não precisava se preparar. Ela fluía naturalmente como água-viva manando da fonte. Tinha a palavra certa para cada momento de Brasília e do Brasil: “Eles fazem os muros; nós, os pulos”, escreveu na década de 1980, no período de redemocratização.
 
E, em uma das últimas postagens, grafou sobre as silhuetas de Charlie Chaplin de mãos dadas com uma mulher: “Não desista de você. Não desista do Brasil”. Era rápido no gatilho e esteve tão presente nos momentos cruciais da cidade, desde quando desembarcou no Planalto Central, no início da década de 1970, que o poeta Nicolas Behr chegou a fazer um alerta em versos: “Calma, gente/essa frase é minha/não é do TT Catalão”.
 
Vanderlei dos Santos Catalão, o TT Catalão, jamais se entregou à doença. Lutou e manteve a dignidade e a esperança até o fim, segundo amigos. O corpo de TT será velado, hoje, a partir das 10h, no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul. A família pede aos que  forem reverenciar o poeta que usem roupas brancas.
TT Catalão será sepultado na ala dos pioneiros do cemitério Campo da Esperança, às 16h, a pedido do governador em exercício, Paco Britto. Em nota oficial, o governador afirma: “Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário, figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas palavras continuem vicejando. (…) Mas o luto pelo poeta não sufoca a poesia. Como diz um de seus mais conhecidos poemas: “Ah/ esta solidão celular/ ter tantos ao meu alcance/ e não ter com quem falar”.
 
Viver a c idade
 
TT morava no Rio de Janeiro, produzia reportagens para a revista O Cruzeiro, quando recebeu o convite de vir a Brasília. Foi chamado para se tornar o guitarrista da banda de rock Portal, e aceitou. Aqui, encontrou as pessoas vivendo a cidade, uma grande comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer. “(A cidade) Não tinha uma fronteira, uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril passado ao programa Natureza Viva, da EBC.
 
A Brasília em busca de identidade e o contato com o caldeirão de múltiplos Brasis inspirou e impactou o poeta. Logo, ele se instalou na redação do Correio Braziliense, em 1976, e iniciou um ciclo fecundo de participação na vida cultural brasiliense, com seus petardos poéticos certeiros. “Plano Pilatos, a arte de Athos Bulcão sobe pelas paredes, anestesia ampla geral e irrestrita. Existir é resistir. A vida sempre revida. Com quantos lapsos se faz um colapso? Escangalha a canga/é ginga versus gangue — Brasília — a terra prometida virou terra de promissórias.”
 
Ele era uma máquina de escrever que falava a língua dos jornais, dos cartazes, das camisetas, da internet e dos muros. Sempre à margem da margem. Muito antes do Twitter, ele já fazia contos de 144 toques. Escreveu o texto da Sinfonia das Diretas, do maestro Jorge Antunes. Editou e coeditou suplementos antológicos, tais como o intitulado Mostra do Horror Nacional, em protesto contra a censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ou capas marcantes como o poema-poster publicado no Correio como peça da campanha de paz no trânsito: “A Paz/Quem quer/Faz”.
 
O ator e diretor de teatro João Antônio destaca que, além de ser humano extraordinário, era pessoa agradabilíssima: “Era a nossa voz, irriquieta, crítica e de amor a Brasília”, comenta. “Sempre defendeu Brasília com unhas, dentes, poesia e linguagem visual de maneira brilhante. Fará uma imensa falta para nós, principalmente neste momento. Dizia sempre o que precisava ser dito”.
 
Ensinamentos
 
Poeta-jornalista, jornalista-poeta, design-poeta, ativista experimental, franco-atirador, compositor e gestor cultural, tinha a língua sempre engatilhada de epifanias. O arsenal de TT era rico: do ensaio de página inteira até o poema de 12 toques. Pensava a página na forma gráfica: “Sou da geração que surgiu para a vida artística no início dos anos 1970”, enfatiza Guilherme Reis, ator, diretor e ex-secretário de Cultura do DF. “Desde então convivo com TT, com a sua persistente luta por uma cidade viva, colhendo seus ensinamentos sobre os atalhos e caminhos que levam ao Brasil verdadeiro, ao país que interessa. Ele sempre foi um grande parceiro e iluminou o caminho de muita gente. Por isso é tão amado”.
 
Clodo Ferreira destaca a faceta pouco conhecida: a do compositor TT Catalão. Na década de 1970, chegou a formar um grupo de música aleatória chamado Clodo, TT Catalão, Wiliam e a turma da cozinha: “A gente fazia música no palco ao vivo a partir de um pequeno roteiro, tudo improvisado. Ele tinha canções lindas, não sei porque abandonou a música”.
 
O compositor Renato Matos lembra que TT foi a primeira pessoa que encontrou em Brasília que tinha disco do baiano Smetack, mestre da música experimental. Em parceria com TT, Renato compôs a canção Solidão celular: “Para mim, ele é um dos maiores poetas. Os textos dele tinham rima oculta e ritmo musical. Por isso, o que ele falou fica na gente como algo presente. A gente sente um vazio estranho no coração”.
 
Uma outra faceta de TT Catalão era a de gestor cultural. Entre 2007 e 2008, ele foi subsecretário de Políticas Culturais e teve papel crucial na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Em 2010, assumiu a Secretaria de Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando na implantação do Programa Cultura Viva como uma política de Estado em 2014.
 
Consciência
 
Juca Ferreira, ministro da Cultura de Lula de 2008 a 2010 e do segundo governo de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, conheceu o trabalho de TT Catalão na década de 1980. Juca era secretário do Meio Ambiente, em Salvador, e veio a Brasília para conhecer TT e pedir permissão para usar uma frase do poeta: “O meio ambiente começa no meio da gente”. Logo ficaram amigos, e Juca convidou TT para trabalhar no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “O convidei porque, na época, ele tinha uma das maiores consciências para trabalhar a cultura indígena e a cultura popular no Brasil”.
 
Juca ressalta que o trabalho de TT foi reconhecido internacionalmente: “Fez um trabalho maravilhoso. O Instituto do Patrimônio em Andaluzia, na Espanha, utilizou a experiência de TT como referência. Ele era um humanista radical e sensível, e sofria com os retrocessos políticos do Brasil”.
 
E, para TT, não havia separação entre o poeta e o gestor. Ele era poeta da cabeça aos sapatos 24 horas por dia: “Redes rompem paredes (cultura digital é mais que dedos teclando dados)”, escreveu como plataforma de um projeto. Ou: “Fazer de cada local um lugar/ressignificar o ermo, o longe e o derradeiro/fazer do território um terreiro”. Clodo comenta: “Nunca foi uma pessoa de separar nada. Ele tinha utopia e era em si mesmo uma utopia. E, para nós de Brasília, ele representa esse tipo de cultura que Brasília nasceu para fazer. Uma cultura cósmica, mais do que do mercado artístico. Era uma pessoa rara.”
 
TT Catalão está no panteão afetivo marginal, afirma o poeta Nicolas Behr. Era uma pessoa extremamente original. “Tenho inveja de várias frases dele. Não sei se concordo com a visão de perda. Seria perda se ele não tivesse compartilhado nada. Existe perda, mas também ganho com tudo que ele fez e compartilhou generosamente”.
 
Pelas redes sociais, a filha Nanã Catalão destacou: “‘A vida se dá a quem se doa’. É o que ele sempre nos ensinou em palavras, gesto e atitude. E hoje celebramos a vida inteira de doação à família, à cidade e ao país”.
Valeu, mestre TT...
 
*Estagiária sob supervisão de Severino Francisco
 
 
"Era um esteio da reflexão e da ação cultural de Brasília. Foi um mestre da atuação cultural, um grande amigo” 
Gilberto Gil 
 
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Correio Braziliense quinta, 02 de janeiro de 2020

SANTUÁRIO DOM BOSCO: AJUDA PARA RESTAURAR UM SÍMBOLO DA CIDADE

 


SANTUÁRIO DOM BOSCO
 
Ajuda para restaurar um símbolo da cidade
 
Prestes a completar 50 anos, igreja pede doações da comunidade para reformar os icônicos vitrais azuis, que nunca passaram por reparos. Valor arrecadado até agora está longe dos R$ 7 milhões necessários para começar a obra

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 02/01/2020 04:00

Inaugurado em 23 de maio de 1970, santuário foi eleito uma das sete maravilhas de Brasília em 2008 e incluído pelo GDF na rota turística da capital (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)  

Inaugurado em 23 de maio de 1970, santuário foi eleito uma das sete maravilhas de Brasília em 2008 e incluído pelo GDF na rota turística da capital

 



Uma imensidão azul abraça os visitantes que adentram o Santuário Dom Bosco, na 702 Sul. A beleza, que toca mesmo aqueles que não são religiosos, fez do local um dos principais monumentos de Brasília. Prestes a completar 50 anos, em 23 de maio, a igreja — cujo nome oficial é Santuário São João Bosco — pode começar a primeira restauração dos famosos vitrais azuis em 2020. A congregação salesiana do templo lançou uma campanha, em junho do ano passado, em busca de apoio financeiro para realizar a reforma, nunca feita desde a inauguração, em 1970. No entanto, o montante arrecadado até agora não foi suficiente para iniciar a obra, com valor estimado em R$ 7 milhões.

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e precisam ser substituídos. Os outros 80% devem passar por restauro, limpeza e reparo nos rejuntes. “Por causa do clima seco de Brasília e do passar dos anos, as peças do santuário têm caído e a estrutura de ferro está comprometida. Agora, a gente conta com a comunidade para conseguir realizar essa reforma, porque se trata de um trabalho com custo bem alto”, diz o reitor da paróquia, padre Jonathan Costa.

Desde a inauguração do Santuário Dom Bosco pouco foi feito nos vitrais. Quando caídos, foram substituídos por pedaços de acrílico de outras cores. “Quando a pessoa entra e olha o conjunto não percebe as peças com outra tonalidade, nem as rachaduras e os vidros quebrados. Depois de algum tempo, conseguem ver os detalhes. Tem pedaços que caíram e refizemos como deu, mas não fica igual”, conta o pároco.

Vitrais azuis foram produzidos pelo artista belga Hubert Van Doorne  

Vitrais azuis foram produzidos pelo artista belga Hubert Van Doorne

 


Para a restauração, parte dos vidros quebrados será reutilizada e os rejuntes de chumbo precisarão ser derretidos e refeitos com o mesmo material que há nas paredes do templo. Os ferros de sustentação devem ser trocados. Devido ao desgaste, eles podem apresentar riscos se mantidos por muito mais tempo. Para que as peças tenham maior durabilidade, a ideia é colocar proteção de vidro na parte inferior dos vitrais. “Muitas pessoas colocam o pé nos vitrais durante as missas e, com o peso, acabam quebrando”, destaca o padre.

Outra medida que deve ser tomada para conservar as novas peças é a retirada dos jardins externos, próximo às paredes com vitrais. O intuito, de acordo com o pároco, é diminuir a umidade gerada pelo ambiente, um dos motivos do desgaste do material. O espaço será cimentado.

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e devem ser substituídos (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e devem ser substituídos

 


Custo alto

A paróquia fez orçamentos com algumas empresas e os valores das obras variam de R$ 5 milhões a R$ 7 milhões. Desde que a campanha começou, pouco foi arrecadado. Todo a quantia levantada foi usada para as despesas básicas do santuário, como o pagamento de contas de água e energia. “Ainda não conseguimos uma doação extraordinária. Tudo o que entra sai para cobrir essas despesas. A visão das pessoas é de que o santuário tem muito dinheiro, mas as despesas são altas e poucas pessoas ajudam a manter”, afirma o reitor.

Ele lembra do desastre na Catedral de Notre-Dame, em Paris, na França, em abril deste ano. “Infelizmente, as pessoas só se sensibilizam depois que acontece alguma coisa. Se o santuário fechar, vai virar notícia. Como aconteceu com a Notre-Dame. Há anos precisando de uma manutenção, aí pega fogo e agora ganha até a mais. Ou seja, a gente precisa pensar em catástrofe para poder ajudar e colaborar”, declara.

Para ajudar, os doadores podem fazer transferência bancária ou entrar em contato com o administrativo do santuário por telefone ou e-mail (Veja Como ajudar). A partir do meio de janeiro, será disponibilizado um formulário no qual os voluntários poderão solicitar um boleto bancário.

Reitor da paróquia, Jonathan Costa diz esperar o apoio da população  

Reitor da paróquia, Jonathan Costa diz esperar o apoio da população

 


Eleito uma das sete maravilhas de Brasília, em 2008, pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais (IBOCC), entidade sediada em Barcelona (Espanha), o Santuário Dom Bosco foi inaugurado em 23 de maio de 1970. Com o título, o local foi incluído pelo Governo do Distrito Federal na rota turística de Brasília. Na lista ainda estão a Catedral Metropolitana de Brasília, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Templo da Boa Vontade e a Ponte JK.

Mensalmente, cerca de 4 mil turistas passam pela paróquia e, pelo menos, 15 mil pessoas são atendidas na eucaristia. Gerente administrativa da loja de souvenir da paróquia há cinco anos, Roniane Kelly de Sousa, 33 anos, lembra da primeira vez que entrou na igreja. “No primeiro momento a gente vê a beleza, depois percebe os danos. Os problemas ambientais maltrataram muito. E é necessário voltarmos os olhos para essa joia de Brasília”, afirma. Desde que começou a trabalhar no santuário, ela lembra de momentos marcantes. “Vi pessoas se emocionarem só de entrar aqui. Elas não sabem explicar a sensação de pureza que aquieta a alma. Precisamos resgatar esse espaço”, ressalta.

Em Brasília pela primeira vez, o sociólogo Francisco de Sales, 64, encantou-se com o santuário. Ele vai ficar na capital por 10 dias e fez questão de visitar todos os pontos turísticos. Ao entrar no templo, percebeu o desgaste dos vitrais. “É tudo muito bonito e aconchegante, mas a gente vê a necessidade. São 50 anos sem uma restauração, é muito tempo. Espero voltar para cá um dia e estar tudo lindo e restaurado”, pontua o turista.

Construção do santuário começou em 1963. Projeto é do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves (ArquivoCB/D.A Press - 17/5/79)  

Construção do santuário começou em 1963. Projeto é do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves

 


História

A construção do santuário está ligada ao nascimento da nova capital. Por iniciativa da Congregação Salesiana, as obras iniciaram em 2 de junho de 1963. O projeto é de autoria do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves e os vitrais assinados por Hubert Van Doorne (Veja Para Saber Mais). Ao todo, a edificação tem 80 colunas de 16 metros e é decorada pelos vitrais com 12 tonalidades de azul. No interior, um lustre, composto de 9 mil elementos de vidro brilhante e 3,5 metros de altura, chama a atenção dos visitantes. Nas portas há quadros em alto-relevo gravados em bronze.

Além disso, ainda há uma estátua em tamanho real de Dom Bosco com um pedaço de osso do braço direito do santo, uma relíquia, trazida em 2017 da Itália. A escultura fica no subsolo do templo. “Desde a chegada dessa relíquia, temos um fluxo maior de pessoas. Diante disso, a manutenção se faz ainda mais necessária”, arremata o padre Jonathan.


Incêndio
Um incêndio de grandes proporções atingiu a Catedral de Notre-Dame em 15 de abril de 2019. As chamas destruíram grande parte da edificação, que fica no centro da capital francesa e é rodeada pelo Rio Sena. O fogo atingiu toda a estrutura do telhado, considerado por pesquisadores uma obra de arte, com mais de oito séculos de existência. Ninguém ficou ferido.


Para saber mais

Da Bélgica para o Brasil

Nascido em 1914, o vidraceiro belga Hubert Van Doorne viveu no Brasil, em São Paulo, por muitos anos. Fez parte de um coletivo de artistas belgas radicados na capital paulista. Além dos vitrais do santuário Dom Bosco, ele assina os vidros coloridos da igreja Nossa Senhora de Fátima, em Goiânia.


Como ajudar

A colaboração financeira para a campanha de restauração dos vitrais do Santuário São João Bosco pode ser feita por transferência bancária

Banco do Brasil
  • Agência: 1230-0
  • Conta: 425.553-4
O colaborador também pode entrar em contato pelo telefone 3323-5562 ou pelo e-mail santuariosjbdf@salesiano.br.
 
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Correio Braziliense quarta, 01 de janeiro de 2020

VIDA NOVA EM 2020

 

Vida nova em 2020
 
Para muitos brasilienses, a virada de ano será repleta de mudanças e expectativas. Viagem, empreendimento, maternidade e casamento aparecem como alguns dos desafios que se abrem para o próximo ciclo. Em comum, a vontade de investir na felicidade

 

JULIANA ANDRADE
THAIS UMBELINO*

Publicação: 01/01/2020 04:00

Década, ano e capítulo novos na história. O ciclo de 2020 começa hoje recheado de esperança e planos. Enquanto alguns abrem o negócio próprio, outros começam uma família, embarcam em aventuras ou dão um grande passo na vida a dois. Mudanças podem ser planejadas, mas também podem pegar muita gente de surpresa. Em um misto de ansiedade e sentimento de realização, brasilienses contam os desafios traçados para este ano e mostram que 2020 pode ser diferenciado e ganhar uma página de destaque na caminhada da vida.


 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

A família cresceu
Tornar-se mãe é uma reviravolta. Uma criança traz sorrisos, prioridades e responsabilidades. Além das mudanças físicas no corpo da mulher, surge um mundo de fraldas, noites maldormidas e, sobretudo, amor. A fisioterapeuta Ineya Abdul-Hak Amorim (foto), 31 anos, conta os dias para a chegada do filho, Airan. Há sete meses, o sono frequente e o crescimento da barriga chamou a atenção dela e do marido, Luan Amorim. “A gente foi fazer um exame e descobriu a gravidez”, conta.

Depois do susto, veio a comemoração. “Assim que soube, fiquei em choque, mas, com o apoio do meu companheiro e da família, fui trabalhando isso em mim até entender que era um presente”, explica. “Hoje, a minha maior alegria é saber que, em 2020, ele (o bebê) está vindo”, afirma.

Para o novo ano, o casal planeja sair da casa dos pais de Luan. “Estamos nos organizando para ter a nossa casa própria e, ainda, trocar de carro. Temos conversado bastante. Esse momento necessita de muita reflexão e parceria do casal”, ressalta.

A certeza é de que 2020 será de grandes mudanças: “A rotina vai modificar bastante. Os planos são ter um bom parto e que tudo ocorra bem. É algo muito maravilhoso, e estou muito feliz de Deus ter me permitido passar por isso”, celebra Ineya.  “O que não será preocupação serão as fraldas e as roupinhas”, conta Ineya. O restante será comprado aos poucos, como carrinho e banheira.

A analista comercial Bruna Souza, 25, também se prepara para passar por todas essas emoções em 2020. Em junho, a jovem terá o primeiro filho. “Sinto que vai mudar tudo. A maneira de ver o mundo, as prioridades, a rotina”, prevê. A jovem não planejou a gravidez. Mas comemorou bastante quando soube. “Eu sempre quis ser mãe e nova; então, a notícia me deixou muito feliz”, destaca.

Os pais ainda não sabem o sexo da criança; por isso, o nome segue indefinido. A preferência é por Maria Júlia e João. “Ainda não comprei muitas coisas. Estou esperando saber o sexo do bebê, mas ganhei alguns presentes e compramos o carrinho”, revela. (TU e JA)



 (Arquivo Pessoal)  

Uma jornada pela Europa
Em alguns casos, a vida recomeça com mudança de endereço. Mas o destino do gestor de produtos João Apolinário, 27 anos, está em outro continente, a Europa. Em 2020, ele embarca para Viena, Áustria. Na mala, sonhos, expectativas e planos.

João trocará os traços modernos de Brasília para viver em meio a prédios históricos da capital austríaca. Tudo ocorreu depois de uma proposta de emprego. “Eu fui em 2019 para um período de três meses. Era um trabalho temporário, mas tinha essa possibilidade de ficar. Se eu me adaptasse e eles gostassem, poderia ir em definitivo. Deu certo e, agora, vou com visto de trabalho, sem passagem de volta”, conta.

João soube da transferência em outubro. “Tomei como um desafio, porque foi bem em cima. É uma mudança grande, uma oportunidade boa para fazer algo diferente”, destaca. Em Brasília, o gestor de produtos deixará amigos e familiares. “Tenho uma carreira de freelancer aqui, não vou abandonar totalmente, mas muda bastante. Vou para uma nova jornada, uma aventura. Até porque eu nunca tinha ido à Europa. A primeira vez foi nesses três meses de teste e, agora, estou indo de vez”, afirma.

Em Viena, a língua oficial é o alemão, desafio a mais para João. Para o alívio do jovem, que não fala o idioma, o posto de trabalho exige apenas o inglês. O brasiliense alugou uma quitinete, onde passará os dois primeiros meses.

Apesar de o tempo na cidade europeia ser incerto, João Apolinário planeja voltar ao Brasil. “Eu espero que esse período seja de aprendizado, de conhecer outras formas de ver o mundo e outra cultura, mas quero voltar em algum momento. Eu vejo isso como uma oportunidade de crescer”, explica. (JA)



 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Foco no próprio negócio
Inaugurar um empreendimento é um desafio, mas, com planejamento e dedicação, Ana Letícia Brum, 34 anos, realiza o sonho de ter uma cafeteria. Com 15 de experiência na área comercial, a empresária sempre desejou administrar o próprio negócio. “Há muitos anos, eu queria sair de uma grande corporação, e o café era quase que um oásis. Sempre pensei em abri-lo como um espaço físico confortável e familiar. No início, eu imaginava uma casinha na W3, onde o cliente fosse como um convidado. Como o plano diretor de Brasília mudou, o Café Marilda — o nome é em homenagem à avó materna — abrirá na área de comércio da W3 Norte. Felizmente, vamos conseguir manter esse astral caseiro”, explica.

A expectativa é de abrir a loja após o carnaval. “Entre os amigos, estamos brincando de ser “o Bloco do Marilda Café”. Mas é necessário lidar com imprevistos. “A obra é sempre um estresse à parte, um cano num lugar inesperado que te obriga a mudar o plano inicial, por exemplo”, conta.

A possibilidade de criar um ambiente mais intimista despertou a vontade de Ana para escolher uma cafeteria como negócio. “As pessoas querem estar juntas, cada vez mais conectadas não virtualmente. E nada melhor do que um café com um bom papo no fim do dia para isso, não? Por isso, acho que 2019 foi o ano do boom de novos cafés na cidade”, opina.

A localização do Café Marilda será um estímulo. “Estaremos em um local que foi marginalizado nos últimos anos e que, atualmente, passa por um novo olhar. Tanto a W3 Sul quanto a W3 Norte recebem novas lojas e novos empreendedores, que se preocupam com a ocupação desses espaços tradicionais”, avalia.

Para Ana Letícia, o ano de 2020 traz muitas expectativas. “Estou muito animada”, reconhece. “Eu desejo um ano repleto de paz e com muito tempo de qualidade.” O foco, reforça a empresária, será o novo negócio. “Nesse primeiro momento, a minha preocupação é fazer da melhor forma possível o que eu me proponho a fazer”, ressalta. “Eu tento aplicar uma frase da Marilda: ele (o futuro) é apenas uma consequência do que estamos fazendo no presente”, diz. (TU)



 (Arquivo pessoal)  

Casamento dos sonhos
A auditora Rafaella Corado, 30 anos, mudará de lar e de vida em 2020. O motivo é a consolidação do amor de dois anos com o perito André Knychala, 33. Em 2019, a jovem surpreendeu-se com o pedido de casamento durante uma viagem à Namíbia, na África. “Desde que a gente começou a namorar, pensávamos em casar. Isso estava nos planos, mas foi uma surpresa. Eu não imaginava que ele me pediria em casamento naquele momento”, admite Rafaella. André pediu a mão da auditora de frente para o deserto, ao nascer do Sol. “Foi momento bem especial.”

O casamento está marcado para o segundo semestre de 2020, em Pipa, no Rio Grande do Norte. Até lá, preparativos, planos e viagens para o destino nordestino. “É bem difícil organizar uma festa de longe. A minha sogra mora em Natal e ajuda, mas não quero deixar o trabalho para ela e também quero ser a protagonista do meu casamento”, comenta Rafaella. O casal passou a virada de ano na cidade potiguar e deve voltar a Pipa pelo menos mais uma vez antes da cerimônia.

Segundo a noiva, o casamento dará uma reviravolta na vida. A jovem sempre morou com os pais e, para ela, sair de casa será um grande passo. “Não vai ser mais a casa dos meus pais, vai ser a minha casa. E estou organizando-a para ter filhos. Vou, realmente, tomar conta do lugar. Com certeza, virão grandes mudanças, e eu estou preparada para isso”, garante.

Para Rafaella, os desafios serão repletos de amor e fé. “Eu sempre desejei casar e, agora, encontrei a pessoa certa, e estou pronta para isso. É um passo muito sério, pois decidimos compartilhar os sonhos e a vida”, ressalta. (JA)

* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart
 
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Correio Braziliense terça, 31 de dezembro de 2019

PREVISÃO: O QUE ESPERAR PARA 2020

 

 

PREVISÃO
 
O que esperar para 2020
 
Um vidente, uma taróloga e uma astróloga fazem previsões para o próximo ano no Distrito Federal e no Brasil. Reviravoltas na política, apostas no amor e sinal verde para os negócios estão entre os acontecimentos por vir

WALDER GALVÃO

Publicação: 31/12/2019 04:00

Com a chegada do novo ano, surgem planos dos mais diversos. Entrar na academia, trocar de emprego, mudar a rotina ou investir no amor estão na cabeça de quem se planeja para o próximo ciclo. Para que o leitor possa ter uma ideia do que esperar de 2020, o Correio ouviu uma taróloga, uma astróloga e um vidente, que revelaram algumas previsões para o próximo ano.

De acordo com os entrevistados, 2020 será semelhante a 2019: com fortes acontecimentos em diversas áreas, como política e meio ambiente. Para o Distrito Federal, as previsões apontam melhora no cenário do desemprego e emoções no Executivo. O ano também será favorável para aqueles que desejam apostar em namoros ou abrir um negócio. Entretanto, nesses casos, a dedicação deve ser constante. Confira:



O vidente José Acleildo prevê que as áreas de saúde, educação e economia vão melhorar no próximo ano (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O vidente José Acleildo prevê que as áreas de saúde, educação e economia vão melhorar no próximo ano

 


Vidência

Dinamismo, direção segura e investimento


O pernambucano José Acleildo de Andrade, 57, é vidente desde os 12 anos. Ele chegou ao Distrito Federal em 1983, quando passou a se dedicar às análises espirituais. Hoje, ele trabalha com tarô, búzios e runas, além de fazer psicografias e receber orientações de entidades. “Sou muito feliz com o que eu faço”, afirma. Morador de Águas Claras, ele afirma que 2020 será um ano de grandes reviravoltas em diversos cenários, mas considera que questões, como violência e escândalos, devem diminuir em comparação a 2019.

“Será o ano do fogo, e pessoas do signo desse elemento, que é o caso de áries, leão e sagitário, estarão no comando. Isso significa que teremos um período de dinamismo e de direção segura. Um ano melhor do que os outros 10 passados”, prevê. De acordo com ele, o Governo do Distrito Federal (GDF) terá resultados positivos no próximo ano, mas a população tem papel importante para que isso aconteça. “As pessoas devem cobrar bastante do Executivo para que haja respostas”, alerta.

Mente aberta
De acordo com o vidente, as áreas da saúde, educação e economia vão melhorar em 2020. “No âmbito nacional, teremos redução do valor do dólar e melhorias na preservação do meio ambiente, além da redução do preço da carne e de vegetais. No DF, o desemprego deve cair bastante”, acredita. José Acleildo também prevê que o Brasil terá mais investimento do mercado internacional.

Para quem for apostar em relacionamentos, o vidente aconselha que a pessoa esteja de mente aberta. De acordo com ele, os namoros alternativos menos adeptos à monogamia estarão mais presentes na vida do brasileiro. “É um ano muito bom para avançar nas relações e para amar. Também é um momento bom para trocar de namorado e deixar o passado para trás”, reforça. De acordo com ele, as relações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) também estarão em alta.



Segundo a astróloga Jaqueline, a conjunção de quatro planetas  

Segundo a astróloga Jaqueline, a conjunção de quatro planetas "terá energia de transformação e mudanças estruturantes"

 


Astrologia

O Sol no poder

A astróloga brasiliense Jaqueline Marques, 36, começou a trabalhar na área há quatro anos, após fazer cursos e se especializar. “Tive um processo pessoal, quando a minha mãe faleceu. Fiquei perdida, e a astrologia me ajudou. Fiz um mapa astral com uma profissional, e isso me ajudou muito. Em seguida, comecei a estudar e me profissionalizei”, conta. Além dos atendimentos, Jaqueline é agrônoma. “É como se eu trabalhasse com a terra e com os astros”, brinca.

Segundo ela, 2020 será um ano especial do ponto de vista astrológico. De acordo com ela, ocorrerá a conjunção de quatro planetas do signo de capricórnio: Saturno, Plutão, Júpiter e Marte. “Por causa desse fenômeno, o ano terá energia de transformação e mudanças estruturantes. Com a energia forte em capricórnio, vai ter uma noção muito maior de responsabilidade, rigor, disciplina e seriedade”, explica.

Por causa da influência do signo, a astróloga comenta que o âmbito da polícia e do judiciário serão bastante afetados. “Em 2019, tivemos um ano de Marte e, agora, teremos o Sol. Como tivemos muitos problemas, brigas e disputas no mundo, a tendência é de que isso continue”, diz. Além disso, com o Sol no poder, Jaqueline ressalta que “coisas obscuras” serão reveladas, como esquemas de corrupção no governo.

Do ponto de vista econômico, ela alerta que o ano deverá ser de austeridade e que o ideal é poupar e se planejar para investimentos a partir de 2021, quando ocorrerão oportunidades melhores para as finanças. No emprego, a dica é investir em profissionalização e buscar uma área de trabalho prazerosa. Os apaixonados terão momentos de altos e baixos. “Se você está em um relacionamento verdadeiro, continue. Caso contrário, pule fora. Para o próximo ano, as pessoas tendem a buscar relações firmes e duradouras”, explica.



 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Tarô

Ano propício ao amor


Desde a infância, Luciane de Souza Barbosa, 34 anos, tem visões e conversa com entidades. Há 15 anos, começou a frequentar casas de santos e, há 10, trabalha como taróloga em Samambaia. Hoje, ela é conhecida como a Cigana das Sete Saias e define o próprio dom como “vidências que não têm explicações”. Como religião, ela adota a umbanda, mas também tem um “pé no candomblé”. “Não trabalho na linha do mal, não faço amarração”, ressalta.

Luciane explica que 2020 é o ano do Sol e será coberto por Oxalá, que, no sincretismo, é equivalente a Jesus Cristo. Além disso, Xangô será o regente do próximo ano, significando que o ano será marcado pela justiça. “Será um período com muitas mortes, tragédias, descobertas e prisões”, prevê. A Cigana das Sete Saias reforça que o ano será difícil, principalmente no primeiro semestre. “A partir de julho, quando a estagnação passar, o ideal será investir em negócios, porque vai ser quando o dinheiro vai começar a entrar na cidade.”

Na política, a taróloga alerta que há muitas coisas que podem ser descobertas no governo. “Alguns esquemas serão revelados. A partir de julho, o caminho de alguém do governo vai secar. A corrupção será cobrada com ferro e fogo”, alerta. Para driblar cenários ruins no próximo ano, a Cigana das Sete Saias aconselha que o ideal é se apegar a orações e pedir proteção, independentemente da religião.

Apesar das previsões negativas, o ano está propício para aqueles que querem apostar no amor. “Se você investir em um relacionamento, você ganhará um. Porém, traições não serão aceitas. Quem deixar o amor o perderá para sempre”, comenta.



"Se você investir em um relacionamento, você ganhará um. Porém, traições não serão aceitas. Quem deixar o amor o perderá para sempre”
Luciane de Souza Barbosa, taróloga

 


Correio Braziliense segunda, 30 de dezembro de 2019

AS CORES DO RÉVEILLON

 

As cores do réveillon
 
Preparativos para a virada estão a mil, mas há quem se organize com antecedência para transmitir o que deseja para 2020 por meio da roupa escolhida para a festa. Especialistas explicam preferência pelo branco, e astrólogos dão dicas para começar o ano bem

 

SARAH PERES

Publicação: 30/12/2019 04:00

A servidora pública Tereza Araújo e a filha Alice Castro escolhem a roupa da virada pela simbologia das cores (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press


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A servidora pública Tereza Araújo e a filha Alice Castro escolhem a roupa da virada pela simbologia das cores


Astróloga Nidia Dias-Mendes indica cores e pedras para cada signo  
Astróloga Nidia Dias-Mendes indica cores e pedras para cada signo



A virada de ano serve, para muitos, como oportunidade de mudança. É momento de reflexão sobre as escolhas do passado e as que serão feitas para o futuro. Na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Orixás, ou em festas pela capital federal, a cor mais comum é o branco, que simboliza paz e harmonia. Essa tradição surgiu por influência das religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé. Mas há quem prefira tomar outro caminho e variar nas cores, casando os desejos de um novo ano com a simbologia de cada tonalidade (veja Significado).

Segundo Alan Oliveira, professor de comunicação social da Universidade Católica de Brasília (UCB) e doutorando de cultura afro-brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), o uso do branco, em diversas cidades do país, teve início nos anos 1970. “Podemos notar que o branco está relacionado a algumas religiões pelo mundo, além da umbanda e do candomblé. Percebemos a cor em segmentos do islamismo e do budismo, por exemplo. No Brasil, a influência é pela cultura afro, que teve as tradições construídas no nosso país”, detalhou.

De acordo com o professor, a cultura do branco no ano-novo popularizou-se, primeiramente, nas praias do Rio de Janeiro e de Salvador. “Vale ressaltar que a cor é de Oxalá e, do mesmo modo que vestimos roupas nesse tom no réveillon, isso também ocorre às sextas-feiras. Nesse último caso, por ser o dia de semana deste orixá”, acrescentou Alan.

A dentista Maria de Fátima Alves dos Santos, 50, opta pelo branco tanto pela representação de paz quanto pela relação com Oxalá. “É o que sempre visto, porque é o que eu quero para a minha vida. Além disso, é uma cor que está ligada ao divino e às minhas crenças. Então, todos os anos, uso a roupa nesse tom e peço para que todas as coisas ruins do último ano possam ir embora e, assim, eu entre mais leve na nova caminhada”, disse a moradora do Núcleo Bandeirante.

De acordo com Tata Nkince Kajamungongo, líder do centro de candomblé Abassá Ogum Tayó, em Ceilândia, Oxalá é o pai maior dentro das religiões de matriz africana, e o uso da roupa branca seria para trazer proximidade com a divindade. No entanto, o pai de santo destaca que não se trata de obrigação dessas religiões. “Nem todos os terreiros estipulam como obrigação usar essa cor. O réveillon é uma convenção mundial, a qual indica uma nova contagem e um novo momento em nossas vidas. Portanto, a pessoa pode vestir-se com a tonalidade que representa o santo da cabeça dela, com o intuito de agradar o orixá. Se você é filha de Iansã, por exemplo, pode-se vestir de vermelho na virada”, ressaltou.

Superstições
Desde cedo, Tereza Araújo, 53, começou a estudar a simbologia das cores e as energias que emanam no réveillon. Na virada de 1994 para 1995, a então moradora de Teresina decidiu se vestir de amarelo para atrair dinheiro e, consequentemente, a mudança de cidade. “Naquele ano, consegui passar no concurso da UnB para a área de assistente social e me mudei para a capital federal. Aqui, comecei outra fase da minha vida. Fiquei completamente surpresa”, relembrou a moradora de Águas Claras.

A servidora pública relatou que, há alguns anos, rompeu com a tradição da escolha da roupa conforme os planos para o novo ano. Ao passar em uma loja, avistou um belo vestido cinza e decidiu usá-lo na data festiva. “Foi uma experiência horrível, pois tive um ano péssimo. Um amigo próximo faleceu, tive problemas de saúde, terminei um namoro de longa data e, além disso, houve diversos desentendimentos familiares. Desde então, nunca mais duvidei que a cor influencia nas energias para o próximo ano”, afirmou.

Com confiança nas próprias superstições, Tereza passou a ensinar a filha, Alice Castro, sobre a simbologia e a influência das cores no ano-novo. A jovem de 20 anos seguiu os passos da servidora pública e, nos primeiros meses do ano, começa a pensar na cor que usará na virada. Em 2018, a estudante usou verde. “Usei essa cor, porque representa a esperança e, ainda, a cor do curso que desejava fazer de faculdade, que é medicina. À época, estava no cursinho e almejava muito passar no vestibular. Então, neste ano, a minha aprovação veio”, comemorou.

Alice passou para medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estuda atualmente. Para isso, ela mora em Macaé. Nas férias, a jovem retorna para Brasília e fica na casa da mãe, em Águas Claras. “Fiz as minhas reflexões para este ano e decidi que a melhor cor seria o azul. Escolhi essa tonalidade porque quero que a serenidade e a tranquilidade dos planos que realizei em 2019 continuem em 2020”, refletiu a estudante.

A astróloga e taróloga Nidia Dias-Mendes destaca que as cores podem ser escolhidas conforme os desejos para o novo ano. “Tendo consciência dos objetos, mais se vibra energeticamente ao universo. A simbologia, por si só, é capaz disso, pois traz à tona vários sentimentos. Quem quer atrair o amor pode usar uma roupa vermelha, em tom mais intenso. Se é dinheiro, o amarelo é o mais indicado”, revelou.

Nidia também argumentou que a escolha da roupa para a virada pode ser determinada conforme o signo solar de cada pessoa. “Isso auxiliará para conseguir boas energias e alcançar os objetivos propostos para o novo ano. São cores que estão em coerência com o signo solar. Por exemplo, para o signo de câncer, um dos tons sugeridos é a prata. Isso pode proporcionar o contato com o mundo externo em vez de esconder na ‘concha’. Essas energias relacionadas com os signos também podem ser potencializadas com o uso de pedras”, detalhou a astróloga (veja Signos).
 
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Correio Braziliense domingo, 29 de dezembro de 2019

QUE VENHA 2020!

 

Que venha 2020!

 

Publicação: 29/12/2019 04:00

 

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

 

Tome um banho relaxante, escolha uma bela roupa, prepare um delicioso drinque — saudável, de preferência — e comece a traçar as metas para o próximo ano. Não é fácil listar os objetivos, mas, com planejamento, é possível, sim, cumpri-los

 

TV

Confira o que a programação televisiva reserva para o próximo ano

 

Casa

Saiba como usar o azul clássico, cor eleita pela Pantone, na decoração

 

Bichos

Todo cuidado é pouco com os pets nestes dias quentes de verão 

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Correio Braziliense sábado, 28 de dezembro de 2019

IBANEIS: CRECHES E DELEGACIAS PAR 2020

 

Creches e delegacias para 2020
 
 
Em reunião com o secretariado, o governador Ibaneis Rocha anuncia pacotes de medidas para saúde, educação e segurança. Além de reformas e construções nessas áreas, o chefe do Buriti quer ampliar a capacidade de atendimento à população

 

CIBELE MOREIRA
MATHEUS FERRARI

Publicação: 28/12/2019 04:00

 (Renato Alves/Agência Brasília)  

"Nós temos regiões onde não tem batalhões da Polícia Militar; então, foi determinada a elaboração desses projetos. Eu quero também levar a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros para essas áreas”
Ibaneis Rocha, governador


O governador Ibaneis Rocha (MDB) destacou ontem os projetos previstos para o ano de 2020. Entre as prioridades estão investimentos nas áreas da saúde, educação e segurança. O chefe do Executivo local citou a construção de 15 creches para o próximo ano, além de implementação de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e da reforma em hospitais. O conjunto de obras e benfeitorias foi anunciado após reunião com secretários e representantes do governo, no Palácio do Buriti. O chefe do Palácio do Buriti ressaltou o desejo de criar postos de segurança em áreas carentes, como Estrutural e Sol Nascente. “Nós temos regiões onde não tem batalhões da Polícia Militar; então, foi determinada a elaboração desses projetos. Eu quero também levar a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros para essas áreas”, adiantou.    

De acordo com o governador, essas duas regiões têm um grande número de reclamações em relação à violência e à ausência do Estado. “Precisamos trazer mais qualidade de vida para a população”, destacou Ibaneis. Ainda na segurança, o governador anunciou reformas de delegacias da Polícia Civil, mas não detalhou quais unidades.     

Na educação, estão previstas recuperações de escolas e construção de unidades de ensino, principalmente em cidades mais afastadas, onde, atualmente, há necessidade de transporte escolar. “Existem recursos alocados. As licitações vão sair agora no início de 2020, e a gente espera, já para o segundo semestre, ter várias escolas construídas”, projetou. Segundo o chefe do Executivo, 10 creches serão construídas no primeiro semestre, além de outras cinco, no segundo semestre, totalizando 15 ao longo do ano.    

Ibaneis também anunciou projetos complementares voltados para a educação. Um deles é o cartão do pão e leite. “Vamos dar para as famílias dos estudantes para que as crianças saiam alimentadas pela manhã”, detalhou. Outro benefício será o cartão-creche, com cerca de R$ 800. “Foi feito um levantamento de todas as creches particulares, e esse foi um valor que atende a todas. Vamos fazer o cadastramento das crianças por área, em janeiro”, ressaltou. Ainda de acordo com o governador, 5 mil vagas serão liberadas em creches, no início do ano.

Atendimento
Mais um benefício com previsão para o início de janeiro é o que o governador chamou de cartão do contraturno, com o objetivo de disponibilizar um valor para as famílias investirem em atividades como academias, escolas de línguas e de artes “para que os alunos tenham uma formação cada vez melhor”. No entanto, segundo o chefe do Palácio do Buriti, a iniciativa depende da aprovação da Câmara Legislativa, pois implica “transferência de renda”.    

Para Ibaneis, é preciso melhorar a infraestrutura de atendimento à população. “Avançamos muito na área da saúde, mas a capacidade de atendimento ainda é pequena. Vamos aumentar a capacidade para 100 mil atendimentos por mês. Agora, vamos ampliar com a construção de UPAs e de Unidades Básicas de Saúde (UBS), além da reforma dos hospitais de Planaltina, do Gama, de Ceilândia e de Sobradinho”, disse.
 
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Correio Braziliense sexta, 27 de dezembro de 2019

LIVERPOOL É MESMO IRRESISTÍVEL

 

Liverpool é mesmo irresistível
 
No primeiro jogo pós-conquista do Mundial, sobre o Flamengo, time de Jürgen Klopp goleia o Leicester, 2º colocado no Campeonato Inglês, e se isola na liderança. Vitória por 4 x 0 teve gols de Firmino

 

Publicação: 27/12/2019 04:00

 (Oli Scarff/AFP)  



O Liverpool deu ontem um grande passo em seu objetivo de encerrar o jejum de títulos de quase 30 anos do Campeonato Inglês. No Boxing Day, feriado na Inglaterra, o atual campeão europeu e mundial contou com grande atuação do brasileiro Roberto Firmino e do lateral-direito Alexander-Arnold para atropelar o vice-líder Leicester City, fora de casa, no King Power Stadium, goleando por 4 x 0, pela 19ª rodada. Será muito difícil para a equipe de Jürgen Klopp perder a tão sonhada conquista, que não vem desde a temporada 1989/1990, quando o torneio ainda era organizado pela Football League. Dois anos depois, os clubes fundaram a Premier League.

A cada rodada que passa, o único time invicto na competição — e que ainda tem um jogo a menos —, amplia o seu domínio e não dá brecha aos rivais. Com mais um triunfo, chegou aos 52 pontos e abriu 12 de frente para o vice-líder. São 35 partidas de invencibilidade, considerando esta e a última edição da competição. O último revés na liga inglesa está perto de completar um ano. Foi no dia 3 de janeiro para o Manchester City, por 2 x 1.

No primeiro jogo após derrotar o Flamengo e levantar a taça do Mundial de Clubes da Fifa, no Catar, o Liverpool fez uma partida que condiz com seu estilo de jogo. Se venceu nas últimas rodadas mesmo cambaleando, ontem o líder voltou a brilhar e conquistou uma vitória com categoria. Foi seguro na defesa, intenso, efetivo e letal.

Roberto Firmino, mais uma vez, foi decisivo. O brasileiro, que marcou nos últimos três jogos seguidos, comandou o passeio em Leicester. Aos 30 minutos de um primeiro tempo com leve domínio dos visitantes, o atacante recebeu cruzamento de Alexander-Arnold e subiu mais alto que a zaga rival para abrir o placar. Na sequência, o goleiro dinamarquês Schmeichel se jogou para evitar o gol de Sadio Mané.

O melhor do Liverpool ficou para a etapa final, período em que os comandados de Klopp consolidaram o seu domínio com grande volume de jogo e eficácia nas chances criadas. Foram três gols em seis minutos. Além disso, o líder contou com a sorte e erros do adversário, como no lance em que a bola bateu no braço de Soyuncu dentro da área. O árbitro assinalou a penalidade com convicção e Milner, que acabara de entrar, bateu com categoria para ampliar aos 26 minutos.

Aos 29 minutos, Firmino começou e terminou a jogada do gol mais bonito da partida. Formando grande parceria com Arnold, ele recebeu mais um cruzamento na medida do lateral-direito dentro da área, teve tempo de dominar, ajeitar e bater colocado no ângulo esquerdo de Schmeichel.

Depois de ser garçom duas vezes, Alexander-Arnold coroou a sua atuação de gala com o gol que sacramentou o massacre em Leicester. Ele foi acionado por Mané na direita e arrematou de primeira, cruzado, no canto direito de Schmeichel.

Outros jogos
O Manchester United se recuperou dos dois últimos jogos sem vitória na Premier e goleou o Newcastle por 4 x 1 em casa, no estádio Old Trafford, em Manchester. O resultado positivo reaproxima o Man-U do grupo dos quatro primeiros colocados na tabela de classificação, de modo que o time do técnico norueguês Ole Gunnar Solskjaer subiu para a sétima posição com 28 pontos, a quatro do Chelsea, que fecha o G4. O Newcastle é o 10º colocado, com 25.

A vitória é ainda mais importante para Solskjaer, que ganha sobrevida no cargo. Ele tem sido pressionado em razão da irregularidade da equipe e vem sido criticado por boa parte da torcida. Alguns entoaram cânticos pedindo a sua saída.

Por sua vez, o Tottenham de José Mourinho abriu o Boxing Day com uma vitória de virada, por 2 x 1, sobre o Brighton, enquanto Mikel Arteta estreou como técnico do Arsenal com um empate em 1 x 1 com o Bournemouth. Com a vitória, o time do técnico português assumiu o quinto lugar na tabela e está a três pontos da última equipe na Zona Champions, o Chelsea (4º), derrotado pelo Southampton (14º) por 2 x 0.

Demais resultados do Boxing Day: Everton (13º) e Aston Villa (18º) venceram por 1 x 0 Burnley (12º) e Norwich (20º), respectivamente, enquanto o Crystal Palace (8º) superou nos acréscimos por 2 a 1 o West Ham (17º).

Hoje, o Manchester City (3º) pega o Wolverhampton e pode tirar a segunda colocação do Leicester, goleado pelo Liverpool.
 
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Correio Braziliense quinta, 26 de dezembro de 2019

QUITUTES QUE DÃO LUCRO

 

QUITUTES QUE DÃO LUCRO

Dedicação total faz a diferença

 

Publicação: 26/12/2019 04:00

Inaiá Sant%u2019ana, confeiteira, proprietária do Quitutices:  

Inaiá Sant'Ana, confeiteira, proprietária do Quitutices: "Sempre tive muita segurança e noção de que é preciso fazer as coisas sempre bem estruturadas, estudadas, pautadas, e, com meu negócio, não foi diferente"

 



Em abril de 2016, a chef confeiteira Inaiá Sant’Ana iniciava uma nova etapa da sua vida: abriu a própria confeitaria em Brasília, voltada para um público de celíacos (intolerância ao glúten) e de alérgicos à proteína do leite. Com uma clientela bastante restrita e exigente, a nova empreitada começou a passos lentos, mas foi ganhando tração à medida em que eram realizados investimentos e análises de mercados. Naquele ano de estreia, o Produto Interno Brasileiro (PIB) recuou 3,6% no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de toda dificuldade que a cercava, Inaiá seguiu firme e se dedicou bastante para manter seu sonho vivo e de pé. Diante da crise, não podia vacilar. Era preciso ter a certeza de onde estava se metendo. “Sempre tive muita segurança e noção de que é preciso fazer as coisas sempre bem estruturadas, estudadas, pautadas, e, com meu negócio, não foi diferente”, diz. E essa postura vale para hoje. “A todo momento, estou na confeitaria. Como tenho apenas uma loja, faço questão de acompanhar tudo de perto. Olho o movimento, observo o que está acontecendo e acompanho o mercado”, pontua.

Não é só. A receita de sucesso de Inaiá inclui um ingrediente preponderante: ter boas pessoas ao seu lado, sobretudo em momentos de dificuldades. É preciso ainda ter paciência. As pessoas precisam saber esperar os resultados. “Tenho a consultoria do Sebrae, uma consultoria particular e, recentemente, contratei um consultor financeiro, que me ajuda bastante. Sabemos que a crise ainda não acabou, mas, quando você está bem preparado, consegue enxergar o mercado em que você está, não tem como dar errado. Quando entrei nesse negócio, não tinha a opção de dar errado”.

Cuidados

Comunicadora por formação, área que trabalhou por cerca de 15 anos, a chef largou tudo para se dedicar à gastronomia em 2014. Focou em aprender a arte da pâtisserie e realizou diversos cursos de especialização em preparos de pratos livres de glúten e lácteos. Começou testando as receitas em casa e, por três anos, trabalhou somente com encomendas para familiares e amigos. O incentivo para abrir a confeitaria veio do nascimento da filha, que apresentou sintomas de alergia ao leite. A empresária não queria que sua herdeira deixasse de comer doces por conta do problema.

Lídia Nasser, chef e proprietária do Empório Árabe:  

Lídia Nasser, chef e proprietária do Empório Árabe: "Quem disser que nunca passou por uma crise de uma forma negativa, está mentindo. A recessão foi algo que abalou todo o país. Foi muito difícil. Enfrentamos queda de faturamento de mais ou menos 27% no primeiro ano da crise. Ficamos muito apreensivos"

 



A primeira loja da Quitutices era bem pequena e tinha apenas cozinha, balcão e quatro mesas. O carro-chefe da loja eram as encomendas. Como as guloseimas despertaram o interesse do público, muita gente passou a querer degustá-las no local. Inaiá, então, resolveu mudar de local e ir para um lugar maior, na Asa Sul. “O modelo de negócio que escolhi foi de uma única loja, a melhor do segmento, com segurança alimentar. Hoje, muitas pessoas pensam somente em crescer, e se esquecem de cuidar da empresa, o que é extremamente importante”, ressalta. Mais: “Investindo em quem está perto de você e não tratando seu funcionário apenas como um colaborador ou como um funcionário qualquer, você estará no caminho certo. Nada se faz sozinho nessa vida. É importante ajudar quem lhe ajuda”, receita.

Aprendizado


Com a crise econômica que o Brasil passou — a recuperação segue lenta —, os pequenos empreendedores temem pela instabilidade. Para a chef brasiliense Lídia Nasser, proprietária do Empório Árabe, não é diferente. Diante das turbulências na economia, ela precisou cortar o quadro de funcionários para tentar equilibrar as contas, que reduziu drasticamente. “Quem disser que nunca passou por uma crise de uma forma negativa, está mentindo. A recessão foi algo que abalou todo o país. Foi muito difícil. Enfrentamos queda de faturamento de mais ou menos 27% no primeiro ano da crise. Ficamos muito apreensivos”, conta, ao lembrar do período mais difícil.

Lídia salienta que teve de adiar vários planos, pois só tinha em mente tentar sair do vermelho. “Não consegui fazer os investimentos que gosto, no sentido de ampliar mais e diversificar os negócios, por conta da redução de pessoal. Isso foi um ponto que a crise me pegou de jeito, fiquei impossibilitada de fazer qualquer coisa”, afirma. Mas não desanimou. Neta de libaneses, a chef se interessou pelos sabores e temperos da Arábia ainda pequena. Nos almoços e jantares da família, ficava ao lado da avó paterna, Anitta Sertek Perides, para aprender a fazer pratos e doces da terra natal de seus familiares. O primeiro prato que conduziu sozinha foi arroz com lentilha.

O Empório Árabe começou em 2005, quando Miguel Nasser e Cleuda Perides, pais de Lídia, abriram um mercado de iguarias árabes em Taguatinga. Miguel queria colocar no Distrito Federal um pouco da cultura e da gastronomia do país de seus familiares. O projeto deu certo e, em poucos anos, o pequeno estabelecimento se transformou em dois restaurantes, um, em Águas Claras, outro, na Asa Sul.

Lídia reconhece que, com a crise, precisou mudar a forma de gerenciar os negócios. “Agora, somos mais criteriosos na compra de mercadorias. Criamos um departamento para cotar preços, que variam de forma absurda. Esse mecanismo faz com que a gente analise melhor as mercadorias e encontre um bom valor. Antigamente, comprávamos alimentos para uma semana, hoje em dia, adquirimos para duas ou três. Assim, evitamos comprar toda hora”, declara. “Acredito que minha passagem pela crise foi superpositiva, pois me ensinou a ser mais flexível e mais criativa. Comparo a crise à punição de um pai ou de uma mãe para o filho. A princípio, é ruim, mas, depois, você vê que aprendeu com aquilo.” (AP)
 
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Correio Braziliense quarta, 25 de dezembro de 2019

LIS E MEL: UM NATAL DE GRATIDÃO

 

Um Natal de gratidão
 
Lis e Mel, as irmãs siamesas que emocionaram o Brasil em 2019, passarão o primeiro Natal em casa recuperadas da cirurgia de separação, feita há sete meses. Procedimento foi inédito no Distrito Federal e o terceiro desse tipo no país

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 25/12/2019 04:00

As meninas se vestiram de Mamãe Noel e deram um show de simpatia (Nayara Stival/Divulgação)  

As meninas se vestiram de Mamãe Noel e deram um show de simpatia

 


Sete meses após a cirurgia de separação, as gêmeas siamesas brasilienses Lis e Mel vão passar o primeiro Natal recuperadas com a família. Depois de viver momentos difíceis desde a descoberta da gravidez rara (leia Uma história de superação), a mãe das meninas, Camilla Vieira Neves, 25 anos, conta que este fim de ano terá significado especial. “Meu sentimento é de gratidão e amor por poder passar o Natal super bem com elas”, comemora.

No aniversário de 1 ano, já separadas após a operação médica, elas ganharam uma festa junina (HCB/Divulgação)  

No aniversário de 1 ano, já separadas após a operação médica, elas ganharam uma festa junina

 

Mais crescidas e independentes, as meninas, de 1 ano e 6 meses, ficaram encantadas com a decoração de Natal da cidade. Segundo os pais, elas amam as luzes, as árvores e o Papai Noel. Católica, Camilla também montou um presépio em casa para ensinar que a data vai além de presentes. “Elas ficam olhando o presépio, apontam para Jesus e Maria e os chamam de papai e mamãe. Ensinamos para elas o significado do Natal”, conta, orgulhosa.

As bebês receberam alta médica em junho deste ano do Hospital da Criança de Brasília (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

As bebês receberam alta médica em junho deste ano do Hospital da Criança de Brasília

 

Cada data importante, evolução e vitória de Lis e Mel sempre foram comemoradas pela família das meninas. Desde que nasceram, elas ganham, todo dia 1º, um bolo e um tema de “mesversário”. Já tiveram festa com os temas Branca de Neve, Panda, Minnie e Mulher Maravilha. Não seria diferente no Natal. Camilla fez questão de vesti-las a caráter para comemorar o fim de um ano cheio de desafios e conquistas.
 
As fotos das meninas vestidas de Mamãe Noel fizeram sucesso entre os familiares e amigos. O cenário da foto foi todo preparado no tema natalino. Lis e Mel surgiram sorridentes sentadas em um banquinho ao lado de um boneco de neve e uma árvore de Natal ao fundo. Como sempre, as meninas deram um show de simpatia e fofura.
Gêmeas no dia em que se reencontram pela primeira vez depois da cirurgia de separação (Maria Clara Oliveira/HCB)  

Gêmeas no dia em que se reencontram pela primeira vez depois da cirurgia de separação

 



Uma história de superação
 
As meninas nasceram em 1º de junho de 2018, no Hospital Materno-Infantil (Hmib). Elas foram o primeiro caso de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no Distrito Federal. O procedimento de separação é de extrema complexidade e foi dividido em 36 etapas, entre as 6h30 do dia 27 de abril e as 2h30 do dia seguinte. Conduzida por uma equipe do Hospital da Criança de Brasília, a cirurgia foi a terceira do país e a décima do mundo. As duas enfrentaram uma maratona de 20 horas. Capitaneada pelo neurocirurgião Benício Oton, uma equipe de mais de 50 pessoas se dedicou à cirurgia delicada, rara e inédita na capital. Lis acordou primeiro, Mel depois, mas saiu primeiro da unidade de tratamento intensivo (UTI). As duas se reencontraram em 21 de maio. “Colocamos elas sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo”, contou Camila à época. Após sete meses, Lis e Mel se recuperam bem e frequentam, duas vezes por semana, a Escola de Educação Precoce do Governo do DF, que é um serviço de atendimento a crianças que nasceram com alguma deficiência física ou cognitiva ou de forma precoce. Elas também têm uma rotina de sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. As meninas já andam sozinhas e, aos poucos, estão aprendendo as primeiras palavras.
 
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Correio Braziliense terça, 24 de dezembro de 2019

O RITMO DA CONFRATERNIZAÇÃO

 

O ritmo da confraternização
 
Para muitas famílias, a trilha sonora está entre os itens essenciais da noite de hoje e é tão importante quanto a ceia e a troca de presentes. Se você concorda, o Correio lhe ajuda na missão de embalar a festa (Não se preocupe. Vamos muito além do Então é Natal)

 

» Ronayre Nunes
» Lis Cappi*
» Thiago Cotrim*
* Estagiários sob supervisão de Marina Mercante

Publicação: 24/12/2019 04:00

Na casa dos Herculanos, a preparação se inicia de manhã (Arquivo Pessoal)  

Na casa dos Herculanos, a preparação se inicia de manhã

 


As comidas saborosas, a expectativa dos presentes, o reencontro com os familiares, as discussões por política ou futebol: sim, as festividades de Natal chegaram. As características que fazem da época uma data tão especial, no entanto, seriam completamente diferentes sem um bom e sólido embalo musical.
 
As canções que ditam o ritmo da noite de confraternização de uma forma mais leve e descontraída são vistas por muitos como itens essenciais na programação. É o caso da família Herculano, que não dispensa ter música ao se reunir na noite de Natal.
 
Leonardo Herculano, 25 anos, conta que as preparações começam de manhã. “Nos reunimos na casa da minha vó há 30 anos. A noite começa com músicas natalinas de época. Depois, colocamos músicas eletrônica e até sertanejo. Acho interessante porque, desta forma, as crianças da nova geração acabam se identificando mais”, conta. 
 
Ele trabalha com consultorias tributárias na cidade de São Paulo há quatro meses, mas sempre viaja para a casa da avó, na QNN 19 de Ceilândia Norte, durante as festividades. “Apesar das diferenças e da distância de algumas pessoas da família, essa data não só une como também aumenta o sentimento de pertencimento.”
 
No lar dos Oliveiras, a parte sonora também é prioridade. O técnico em contabilidade Antônio de Oliveira, 53, conhecido como um dos tios da família, é quem comanda a seleção no jantar de véspera do feriado. Ele tem preferência por canções mais tranquilas e que remetem a esta época. “Happy Christmas, do John Lennon, e Então é Natal, da Simone, estão sempre na lista. Às vezes, a gente coloca alguma do padre Fábio de Melo. Há alguns anos, um grupo de pagode gravou músicas natalinas, e eu coloquei também, para não ficar na mesmice e não sair do clima”, relata.
 
Segundo Antônio, na reunião de família, que conta geralmente com 15 pessoas, as músicas fazem parte da festa como se fossem a ceia. A tradição começou há mais de 10 anos, quando a matriarca, Maria, ainda estava presente nas comemorações. “Quando minha mãe estava viva, a gente colocava muita MPB, e ela sempre pedia músicas alegres”, lembra.
 
Na pegada mais instrumental, as tardes de Natal do dia 25 na casa de Fábia Paixão, 52, costumam misturar o jazz de artistas como Glenn Miller, em discos de vinil, com música popular brasileira, na própria televisão. A professora de educação infantil destaca que, com a ajuda do som, o momento se torna mais leve e descontraído para a família. “Eu acho que sempre alegra. Fica uma escolha livre, e aí quem está com vontade de colocar alguma música, vai colocando o que quer. O pessoal fica dançando, brincando. Toma sol, ouve música, é bem legal”, conta.

Oliveiras: tradição das músicas especiais começou há mais de 10 anos  

Oliveiras: tradição das músicas especiais começou há mais de 10 anos

 

Para dar play em casa
Ficou animado com as histórias de famílias e quer levar um pouco do “agito” na ceia deste ano? Para ajudar na missão, o Correio foi atrás de quem entende do assunto para elaborar uma playlist perfeita para receber a família e os amigos nas festividades natalinas.
 
Fernando Ferreira, 33, mais conhecido como DJ Underluv, discoteca profissionalmente há quatro anos e preparou duas listas de músicas: uma com clássicos atemporais, indicada para pessoas mais experientes que não dispensam a chance de relembrar faixas que marcaram época, e outra para os mais jovens, com hits dançantes e letras mais chicletes.
 
“A música vai te conectar com aquele momento, faz parte quase de uma experiência de espírito. Em confraternizações, por exemplo, as músicas vão marcar a memória daquela ocasião, que foi vivida com os amigos e familiares”, diz Underluv.
 
Naturalmente, você pode mesclar as playlists e fazer a festa bem mais animada, afinal, os mais velhos nem sempre preferem os clássicos, e os mais jovens podem adorar uma música de época. Entre as obras de Ed Motta, Stevie  Wonder e Frank Sinatra, passando por Bruno Mars, Mark Ronson e The Black Eyed Peas, a regra é apenas uma: se divertir.
 
Escolha a sua playlist (ou mescle as duas!)
 
Clássica
 
Linus & Lucy  (Wynton Marsalis Septet)
Jingle bell rock  (Bobby Helms)
It’s the most wonderful time of the year  (Andy Williams)
Jingle bells  (Michael Bublé & The Puppini Sisters)
Parc  (Anomalie)
I’m beginning to see the light  (John Pizzarelli)
Sweetest Berry  (Ed Motta)
Liquid sunshine  (John Cameron)
Rockin’ around the Christmas tree  (Brenda Lee)
Master Blaster  (Stevie Wonder)
Ring-a-ding-ding  (Frank Sinatra)
It’s Christmas  (Jamie Cullum)
 
Contemporânea
 
8 days of Christmas (Destiny’s child)
Love never felt so good (Michael Jackson & Justin Timberlake)
Uptown funk (Mark Ronson & Bruno Mars)
Mistletoe  (Justin Bieber)
Need to know (Otis Junior & Dr. Dundiff)
Beautiful losers (Hocus Pocus & Alice Russell)
Seven Days in sunny june  (Jamiroquai)
Lifes gets better (Ed Solo & Skool of Thought & Darrison)
I’m good (GRiZ)
83  (John Mayer)
Union  (The Black Eyed Peas)
Christmas rappin’ (Kurtis Blow) 
 
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Correio Braziliense sexta, 20 de dezembro de 2019

MORRE FRANCISCO BRENNAND, O CERAMISTA, AOS 92 ANOS

OBITUÁRIO

Francisco Brennand, 92, ceramista

 

» Pedro Ibarra*

Publicação: 20/12/2019 04:00

O artista plástico no museu que leva seu nome, no bairro da Várzea, em Recife (PE), em novembro de 2016 (Paulo Paiva/Diário de Pernambuco - 21/11/16)  

O artista plástico no museu que leva seu nome, no bairro da Várzea, em Recife (PE), em novembro de 2016

 



A arte brasileira perdeu um nome fundamental ontem com a morte do artista plástico Francisco Brennand, que faleceu, aos 92 anos, em decorrência de complicações de uma infecção respiratória. Ele estava internado havia 10 dias no Real Hospital Português de Recife, diagnosticado com um quadro grave de pneumonia. O velório ocorreu no mesmo dia na Capela Imaculada Conceição, que fica na Capela da Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, em Recife, em cerimônia aberta para o público. Hoje, às 10h, será a cerimônia de cremação do corpo do artista, no Cemitério Morada da Paz,  aberta apenas para a família e convidados.

O governo de Pernambuco decretou luto oficial de três dias em homenagem a Francisco Brennand. A Assembleia Legislativa do estado fez um minuto de silêncio em decorrência da morte do artista. Nas redes sociais, alguns famosos se pronunciaram, como o cantor pernambucano Johnny Hooker: “Que Francisco voe livre para o Universo. O que é lembrado fica”, escreveu o músico no Twitter. Hooker também lembrou do documentário em curta-metragem sobre o artista  Brennand — De Ovo Omnia, dirigido pela mãe do cantor, Liz Donovan.

Conhecido por esculturas gigantes, Brennand deixa vasto legado para a arte, com mais de 80 painéis em prédios públicos no Brasil e em outros países. Destacam-se os murais do Aeroporto internacional dos Guararapes, em Recife, e da sede da Bacardi, em Miami; um museu que leva o nome dele em Recife; além de mais obras na cidade natal do artista, como as expostas no Marco Zero. Ao todo, o escultor assinou 90 trabalhos no local que ficou conhecido em Recife como Parque das Esculturas.
 
Trajetória
 
Francisco Brennand nasceu no bairro da Várzea, em Recife, em 11 de junho de 1927. Filho de Ricardo de Almeida Brennand e Olímpia Padilha Nunes Coimbra, o artista viveu até os 10 anos em Recife, quando, em 1937, saiu para estudar em Petrópolis (RJ). Dois anos depois, o então menino Francisco, voltou para Recife.

O interesse por arte sempre existiu, no entanto, foi em 1942 que ele começou a ter contato com o que seria um dos marcos da carreira: a cerâmica. Aos 15 anos, ainda se descobrindo artista, ele começou a trabalhar na Cerâmica São João, fábrica fundada pelo pai. Na época, o responsável por ensinar Brennand foi o também ceramista e esculturista pernambucano Abelardo da Hora, que trabalhava para o estabelecimento.

A partir do descobrimento do interesse pela arte, Francisco Brennand se voltou à pintura e à ilustração. Ele chegou a fazer desenhos para poemas de Ariano Suassuna, amigo de escola do artista, e começou a ser acompanhado e ensinado pelo membro fundador da Academia de Belas Artes de Pernambuco Álvaro de Amorim.

Ao longo da vida, ele teve um estudo muito aprofundado nas técnicas das artes plásticas e pôde aprender com famosos mestres europeus. Andre Lother, Fernand Legèr e Murillo La Greca foram alguns dos mentores do artista durante estadia em cidades como Barcelona (Espanha), Perugia (Itália) e Paris (França).

Brennand se tornou distinto na escultura e na cerâmica. A partir de 1971, começou um trabalho de revitalização de uma antiga fábrica de telhas e tijolos da família, transformada em museu-ateliê, que atualmente concentra mais de três mil obras. Em setembro de 2019, a oficina se tornou um instituto sem fins lucrativos com foco na preservação do patrimônio e legado de Francisco Brennand.
 
* Estagiário sob a supervisão de Cláudia Dianni
 
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Correio Braziliense quinta, 19 de dezembro de 2019

GOLEIRO É PRESO POR AGREDIR MULHER

 

Goleiro é preso por agredir a mulher

 

Publicação: 19/12/2019 04:00

Com rosto ferido, Milena publicou vídeo em que denuncia o goleiro Jean (Fotos: Reprodução/Video
)  

Com rosto ferido, Milena publicou vídeo em que denuncia o goleiro Jean

 



 


Preso na manhã de ontem em Orlando, na Flórida, o goleiro Jean pode ir a julgamento nos Estados Unidos. Existe a possibilidade de isso acontecer também no Brasil. Ele foi acusado pela esposa, Milena Bemfica, de tê-la agredido durante discussão no hotel onde estavam hospedados. O casal e as duas filhas estavam em férias. O São Paulo acompanha o caso e acena com a possibilidade de rescindir o contrato do jogador de 24 anos — o vínculo vai até o fim de 2022.

Para Jean responder a um processo nos Estados Unidos, Milena Bemfica precisa realizar uma queixa formal mesmo após ela ter divulgado o vídeo em que relata as agressões. Ela tem três dias para isso. Por se tratar de violência doméstica, considerada uma ação pública incondicionada, o Ministério Público apresenta a denúncia mesmo que a vítima não demonstre interesse em fazê-la ou se sinta ameaçada.

Ciente do fato, a diretoria do São Paulo acompanha o caso e está reunida para decidir o futuro do goleiro. A tendência é de que ele tenha o contrato rescindido. Em nota oficial divulgada ontem, o clube afirmou que vai aguardar a apuração do caso.
Segundo o Boletim de Ocorrência, Jean agrediu Milena com oito socos e foi algemado. Além disso, o documento relata que a mulher se defendeu com uma chapinha de cabelo e feriu o goleiro com o objeto, em ato de legítima defesa. A ficha de Jean está publicada no site do Departamento de Correções do Condado de Orange.



“Eu estou aqui em Orlando e olha o que o Jean acabou de fazer comigo. Jean acabou de me bater. Gente, socorro! Olha para isso, gente. Jean, goleiro do São Paulo, olha o que ele fez comigo. Eu quero justiça, eu quero justiça!”

Milena Bemfica, esposa do goleiro Jean, em vídeo gravado trancada no banheiro e publicado em rede social
 
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Correio Braziliense quarta, 18 de dezembro de 2019

LUTA CONTRA O CÂNCER: DO LABORATÓRIO PARA O PACIENTE

LUTA CONTRA O CÂNCER

Do laboratório para o paciente
 
 
Em meio à perspectiva de diminuição de verbas, Universidade de Brasília (UnB) desenvolve mais de 50 projetos de pesquisa que têm o câncer como foco de estudo, com o objetivo de encontrar novos e melhores tratamentos

 

Emilly Behnke

Publicação: 18/12/2019 04:00

A professora Graziella Joanitti integra grupo que estuda o efeito de compostos naturais contra os tumores (Emilly Behnke/CB/D.A Press - 19/11/19)  

A professora Graziella Joanitti integra grupo que estuda o efeito de compostos naturais contra os tumores

 



Um dos principais polos de pesquisa no Centro-Oeste, a Universidade de Brasília (UnB) está entre as instituições brasileiras que se dedicam a estudos sobre o câncer. No entanto, a possibilidade de uma redução significativa no orçamento da entidade para 2020 preocupa a equipe. A previsão é de que a verba seja de R$ 1.370.581.487, montante 23,79% menor do que o deste ano. Os recursos, de acordo com a UnB, são insuficientes para honrar as despesas obrigatórias.

Os 54 projetos atuais da universidade relacionados à doença não se restringem à Faculdade de Medicina. Eles ocorrem em áreas como química, física, biologia animal e nutrição. Parte das pesquisas é conduzida por um grupo de 21 integrantes do Programa de Pós-Graduação em Nanociência e Nanobiotecnologia do Instituto de Ciências Biológicas, entre eles a professora doutora Graziella Joanitti, que estuda o efeito de compostos naturais contra o câncer.

“O objetivo é buscar na natureza compostos com atividade antitumoral. Eu trabalho particularmente com o câncer de pele e o câncer de mama”, explica Graziella. Os estudos têm como foco óleos derivados de frutos de açaí, buriti e pequi. “A gente coloca esses óleos em pacotes nanométricos, porque o óleo livre, muitas vezes, não tem efeito contra o câncer por não se misturar com a água, e a célula não consegue interagir com ele”, detalha.

A professora orienta seis trabalhos de mestrado e doutorado e outros quatro projetos de iniciação científica, todos na mesma linha de pesquisa. “O que também fazemos com esses nanossistemas são terapias combinadas. Com o óleo, colocamos quimioterápicos já usados clinicamente”, esclarece. A intenção é potencializar o tratamento e reduzir os efeitos colaterais.

Os projetos citados pela pesquisadora receberão neste mês os últimos recursos financeiros, e a equipe dela aguarda a abertura de novos editais. “Com os materiais que temos hoje, conseguimos seguir com os estudos até o início do ano que vem, mas, depois disso, vamos precisar de novas fontes”, enfatiza Graziella.


Pesquisadores trabalham para reduzir a toxicidade da quimioterapia  (João Paulo Longo/UNB)  

Pesquisadores trabalham para reduzir a toxicidade da quimioterapia

 




Interdisciplinaridade
O uso da nanobiotecnologia para potencializar tratamentos médicos também é trabalhado pelo professor João Paulo Longo. Ele conduz projetos com foco em nanomateriais para aplicações biológicas. Para isso, conta com o auxílio de conteúdos fora da biologia. “A nanociência por natureza exige um formato de grupos interdisciplinares. Precisa do conhecimento de física, matemática e biologia para ampliar isso na parte médica”, informa.

João Paulo é responsável por um grupo de 10 participantes, entre mestrandos, doutorandos e alunos de iniciação científica. “A gente tem três focos: reduzir a toxicidade da quimioterapia; controlar o desenvolvimento de metástase; e utilizar tecnologia para ativar o sistema imunológico dos pacientes.”O professor destaca que parte dos projetos em nanobiotecnologia tem apoio de universidades do exterior. “Nossos principais colaboradores são alemães e chineses. A internacionalização agrega muito no universo da ciência. A qualidade das hipóteses e das perguntas melhoram”, observa.

Segundo o diretor da Faculdade de Ciências da Saúde, Laudimar Alves de Oliveira, a UnB tenta continuamente parcerias internacionais, para que os pesquisadores daqui desenvolvam os trabalhos lá fora. “É mais comum o brasileiro ir para essas universidades do que o estrangeiro vir, porque a infraestrutura laboratorial e a estrutura de pesquisa no exterior são mais favoráveis.”

O diretor indica que o alto custo da infraestrutura e dos equipamentos da área é a maior barreira para a Universidade de Brasília. “Hoje precisamos de R$ 10 milhões para construir um laboratório de graduação plenamente satisfatório do ponto de vista de pesquisa e ensino”, exemplifica.

Financiamento
O comprometimento de verbas é um empecilho para a inovação, destaca a professora Maria Emília Walter, decana de Pesquisa e Inovação da UnB (leia Três perguntas para). Para ela, o incentivo governamental é essencial no âmbito acadêmico. Dos 54 projetos sobre câncer, a UnB financia apenas dois. Os demais têm bolsas de financiadoras, que também não têm perspectivas favoráveis para o ano que vem.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por exemplo, subsidia 11 pesquisas e, em 2019, teve dificuldades para transferir o dinheiro as bolsas. O governo federal aprovou suplementação de crédito de R$ 250 milhões para o pagamento do auxílio dos meses de outubro, novembro e dezembro. O orçamento do ano que vem, ainda não aprovado, é 6,3% maior. O aumento, entretanto, é no valor total e vem acompanhado de mudanças na distribuição dos recursos. A verba de fomento, que inclui compra de equipamentos e custeio de pesquisas, poderá ter corte de 87%.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que custeia trabalhos da UnB, também tem perspectiva de redução. A previsão é de que o orçamento da instituição, ainda a ser aprovado pelo Congresso Nacional, fique em R$ 3,671 bilhões — 7,7% menor do que o de 2019.

Outros estudos da universidade contam com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). A instituição recebe como dotação mínima 2% da receita corrente líquida do DF. Em 28 de novembro, a Câmara Legislativa aprovou, em primeiro turno, a proposta de emenda à Lei Orgânica do DF que garante ao governo o direito de usar para outros fins recursos destinados à FAP não empenhados até 15 de novembro deste ano.

O texto, de autoria do Executivo, ainda precisa ser avaliado em segundo turno. Ele não foi o primeiro apresentado com o objetivo de mexer no orçamento da FAP. No início de novembro, o Governo do Distrito Federal (GDF) enviou projeto à Câmara que previa redução em cerca de 80% na verba da fundação — estabelecia repasse de apenas 0,3% dos recursos do DF para a FAP. A proposição foi repudiada pela comunidade acadêmica e tirada de pauta, mesmo que, segundo nota do GDF, continue a tramitar no Legislativo.

Maior incidência
Enquanto as pesquisas buscam novos tratamentos, a incidência do câncer cresce no Brasil. No ano passado, foram registrados 582.590 pacientes. Uma estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) prevê 600 mil novos casos para 2019.

Tema de conscientização do mês de novembro, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, apenas atrás do câncer de pele — que é tema do Dezembro Laranja, o último mês temático de conscientização do ano. Na UnB, cinco projetos estudam o câncer de próstata. Já o câncer de mama é alvo de 12 pesquisas. Entre as mulheres, o câncer de mama prevalece como segundo tipo da enfermidade mais frequente, também atrás do câncer de pele, e é o que mais mata.




"Com o material que temos, conseguimos seguir até o início do ano que vem. Depois, vamos precisar de mais fontes”

Graziella Joanitti, doutora do Instituto de Ciências Biológicas
 
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Correio Braziliense terça, 17 de dezembro de 2019

MARCELO CAFÉ: A REVOLUÇÃO É MUSICAL

 

A revolução é musical
 
Cantor e compositor de Ceilândia, Marcelo Café se utiliza do poder da música para falar sobre empoderamento e defender o lugar de fala dos negros

 

Cibele Moreira

Publicação: 17/12/2019 04:00

 

"Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro"

 

“Falar sobre a beleza negra, o empoderamento, o assumir a negritude, tudo isso é fator de existência.” Com essas palavras, Marcelo Fernandes Rocha — conhecido como Marcelo Café — defende o poder de fala e a importância de se posicionar em uma sociedade racista. Destaque na cena artística brasiliense, o cantor e compositor de 46 anos passeia pelos estilos do samba e do samba-rock com forte militância. “Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro.”
 
Marcelo nasceu em Niterói (RJ). Aos 10 anos, veio para Brasília com a família para acompanhar o pai, funcionário da Rádio Planalto. Ainda criança, teve contato com instrumentos musicais. “Comecei a tocar de 7 para 8 anos. Minha mãe deu meu primeiro violão, me ensinou os primeiros acordes”, lembra. Na infância e em parte da adolescência, tocava na igreja acompanhando a mãe, que era do coral. Já adulto, fez apresentações em barzinhos e, em 2007, assumiu o vocal da banda autoral Casa-Grande, que misturava bossa-nova e rock. “Esse foi um dos momentos mais importantes da minha carreira, para me aceitar como compositor.”
 
O morador de Ceilândia se consolidou na carreira e coleciona prêmios por suas composições, a exemplo de A Revolução é Preta, ganhadora do Festival Universitário de Música Candanga (Finca), em 2017. No ano seguinte, Marcelo foi finalista do festival de música da Rádio Nacional como melhor intérprete.
 
O artista conta que a letra da canção premiada veio por inteira após ler a frase “I have seen God and she’s black” (em português, “Vi Deus, e ela é negra”), usada pelo movimento Black Powers, nos Estados Unidos. “A Revolução é Preta foi composta em um momento mágico. Estava na Universidade de Brasília, andando do ICC Norte para o ICC Sul, quando tive a visão de uma mulher sob as nuvens e, ao redor dela, ogans negros tocavam tambores. E ela vinha trazendo o samba, a cura. É uma música muito forte, que fala de empoderamento, de amor”, relata.
 
E empoderamento tem de sobra nas canções de Marcelo Café. A primeira composição de cunho étnico e político foi Preto Empoderado. A letra, feita em parceria com Cristiane Sobral, fala sobre a beleza do negro, de se aceitar como é, com o cabelo black, a cor de pele. “Tem músicas minhas que eu toco hoje que existem há pelo menos 10 anos, mas a gente sempre fica na dúvida de colocar para jogo. Especialmente quando é uma música política como a minha. Eu demorei muito para começar a revelar”, expõe o artista, que pretende lançar um disco apenas com canções que enaltecem a negritude. No novo EP, programado para ser lançado no meio do ano que vem, haverá sete músicas autorais, entre elas, A Revolução é Preta, O Samba Cura e Monalisa é Negra.
 
A inspiração para essa reverência de fala por meio da música veio de um outro artista influente. “O Luiz Melodia foi importante para o meu reconhecimento como negro. Quando eu vi esse cara cantando Pérola Negra e a forma como ele se movimentava no palco, vestido todo de vermelho, eu pensei: ‘olha só esse cara, eu também posso fazer isso’”.
 
Preconceitos
 
Para Marcelo Café, dificilmente um negro não tenha passado por algum episódio de preconceito no Brasil. Um gesto, um olhar, uma fala, que, às vezes, nem se percebe. “Quando você desperta para isso, é fácil notar como a televisão te invisibiliza. Apesar de ser maioria na população, o negro é minoria em muitos lugares e nos espaços de poder. O Brasil não assume que é um país racista, não assume que existe essa segregação, que existe o racismo institucional que nos mata todos os dias, nos tira direito.”
 
Uma das frases destacadas pelo músico durante a entrevista ao Correio foi que “a gente não nasce negro no Brasil, a gente se torna negro”. De acordo com ele, todo o sistema colabora para isso. “Quando uma criança negra sai de casa para ir à escola, ela se depara com uma realidade em que a cor de pele dela não é aceita, o cabelo não é o bonito. E principalmente o ensino de história não favorece. E, nesse processo, você se torna realmente negro, começa a perceber como as pessoas te olham. Com isso, vem o empoderamento, o orgulho e o entender o que é ser negro no país.”
 
Projetos
 
Com 20 anos de carreira como músico, Marcelo Café também movimenta a cena artística da cidade com vários projetos independentes, principalmente em regiões da periferia. Um deles é o Tardezinha do Samba, que ocorre em Ceilândia e, em 28 de dezembro, terá sua segunda edição. Será na Casa do Cantador, das 12h às 23h. Onze artistas do DF vão se apresentar, e a entrada é gratuita.
 
Outra iniciativa é o Baile do Café, realizado sempre em maio, para comemorar o aniversário do cantor. O evento, aberto à população, mistura várias vertentes da cultura negra, como o soul, charme e o rap.
 
Sacerdote
No candomblé, ogan é o nome do sacerdote escolhido pela divindade ancestral orixá, que permanece lúcido durante todos os trabalhos. Não entra em transe, mas, ainda assim, recebe a intuição espiritual. Geralmente toca instrumentos de percussão.
 
Preto Empoderado
Preto de cabelo black não é homem de bem
Preta de cabelo black não tem a aparência que convém
Elas são negras, o manual da melanina
Então abaixa, alisa, corta e investiga
Não sabe que tem que clarear
Que ousadia
Pois espere o inesperado
É o preto empoderado
Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz
Porque eu sou crioulo
 
Monalisa Negra
Eu fiz o samba só pra ela
Num domingo de manhã, que o céu acordou o dia
Lá na feira eu vi você soltar o pixaim
Renascença ébano, um Da Vince negro pixe
Um sorriso, um enigma
Me encantando e convidando
Me senti privilegiado quando ela me fitou
Uma tela feita óleo
Que oxalá me regalou
Monalisa negra dominando tudo
Na cor de tua pele, escrevi o meu futuro
 
Especial
A série Histórias de consciência presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia 
 
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Correio Braziliense segunda, 16 de dezembro de 2019

CORREIO DIGITAL REDUZ CUSTOS

 

Governo digital reduz custos
 
Com mais de 500 serviços fornecidos pela internet, como carteira de trabalho e pedido de aposentadoria, União faz economia milionária. Objetivo é chegar a 100% de digitalização até 2022 e diminuir gastos para Estado e população

 

» Simone Kafruni

Publicação: 16/12/2019 04:00

Para Moisés Maciel, a tecnologia representa qualidade de vida:  

Para Moisés Maciel, a tecnologia representa qualidade de vida:"Já tirei passe livre digital e acessei serviços do INSS digitalmente para não precisar me deslocar"

 



O Brasil tem a quarta maior demanda do mundo de serviços públicos, no entanto, até 2018, estava na 44ª posição global em oferta digital. Para sair do prejuízo, o Executivo deu início a um processo de transformação, com o objetivo de chegar a 100% de digitalização até 2022. Este ano, colocou na rede mais de 500 serviços, antes prestados apenas de forma presencial. Vinte e seis órgãos estão acessíveis na palma da mão, via internet nos dispositivos móveis, como o celular.
 
Em um ano, superou em 20% a meta da transformação digital de serviços públicos. Carteiras de trabalho, estudantil e de trânsito, solicitação de aposentadoria por tempo de contribuição e certificado internacional de vacinação e profilaxia são os de maior impacto entre a população. O documento trabalhista, por exemplo, que demorava 17 dias, em média, para ficar pronto, agora sai no mesmo dia. A aposentadoria pode ser obtida no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em poucas horas.
 
A economia chega a R$ 1,7 bilhão por ano, dos quais R$ 1,38 bilhão deixam de ser gastos pela população em deslocamentos, tempo de espera e despesas com despachantes. Além disso, a redução da burocracia faz com que 146,8 milhões de horas/ano deixem de ser perdidas. É o equivalente a mais de um dia inteiro de trabalho de toda a população economicamente ativa na Grande São Paulo. Os serviços transformados representam 19 milhões de demandas anuais.
 
O secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, Luis Felipe Monteiro, explica que a estratégia de transformação digital é a saída para possibilitar a redução do custo e o tamanho do Estado e aumentar de forma exponencial a qualidade dos serviços para o cidadão. “A redução de custos do governo chega a R$ 345 milhões. Ao adotar os canais digitais, a transação é 97% mais barata do que a presencial”, compara. O certificado nacional de vacinação, exemplifica, teve a equipe reduzida em 660 pessoas, que antes ficavam nos aeroportos batendo carimbo e foram realocadas para fazer fiscalização, serviço com maior necessidade de pessoal.
 
No caso da carteira de trabalho digital, a estimativa é de redução de 3,2 mil servidores nos postos de entrega. “Hoje, são menos de 300 pessoas responsáveis no Brasil inteiro. A carteira virou um aplicativo no celular, com todas as relações trabalhistas. Para quem já tem, inclusive”, destaca. Os profissionais foram realocados para onde há carência de pessoal, em atividades mais complexas do que simplesmente fazer uma entrega. “Onde a competência agrega mais valor ao serviço público”, frisa.
 
No caso do INSS, a estimativa é de redução de 1,1 mil pessoas nos postos de atendimento. “O fenômeno foi mais acelerado do que imaginávamos. Em abril de 2019, de todos os serviços, apenas 7% eram feitos por canais remotos e 93%, pelos presenciais. Com a digitalização, encerrada em setembro, a relação se inverteu: hoje são 10% presenciais e 90%, remotos”, pontua o secretário. A maioria das agências não foi fechada, mas as filas acabaram.
 
Para Moisés Augusto Maciel, de 40 anos, morador do Riacho Fundo II, a digitalização representa qualidade de vida. “Já tirei passe livre digital e acessei serviços do INSS digitalmente para não precisar me deslocar”, conta. “Só para fazer o agendamento, tinha de ir à agência. Perdia de 1 hora e meia a 2 horas. Além disso, ficava na fila mais de 2 horas. Teve um dia que perdi 3 horas”, recorda. Cadeirante, Moisés tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). “Agora, minha mãe está se aposentando e pôde fazer a solicitação pelo aplicativo. Muito melhor”, comemora.
 
Apesar dos avanços, o secretário Monteiro reconhece que o Brasil largou atrasado no processo de digitalização. “Demoramos muito tempo para iniciar. Embora algumas áreas estejam mais maduras, como a Receita Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, ainda falta integração entre os órgãos. Por isso, estamos migrando tudo para um único portal, o Gov.br”, afirma. Ainda assim, o Brasil está na frente de países como a China, Arábia Saudita, Peru, Equador, Panamá, Venezuela, Bolívia, Paraguai e México em digitalização, conforme levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
Govtechs
 
Mesmo avançando bem para atingir a meta de governo de oferecer 100% dos serviços públicos federais de forma digital até 2022, há muito por fazer, admite Monteiro. As chamadas govtechs — startups que oferecem soluções tecnológicas para as esferas governamentais — são um ramo promissor. “Estamos construindo uma plataforma aberta onde as startups poderão conectar suas soluções”, afirma.
 
O diretor de projetos da aceleradora de govtechs BrazilLab, Renato Rebelo, explica que existem soluções capazes de reduzir até R$ 127 bilhões de custos com perdas por erros operacionais no sistema da Previdência Social. A BrazilLab é um hub (centralizador) de inovação que conecta startups com o governo. Das 300 empresas inscritas, 30 foram escolhidas por oferecerem as melhores soluções, passaram por mentoria e agora estão em processo de contratação por governos.
 
Uma delas, que auditou a folha de pagamentos do Recife, conseguiu promover uma economia de R$ 10 milhões em um ano. “As govtechs vão movimentar até US$ 400 bilhões em 2025. No Brasil, no entanto, as barreiras são a legislação e a falta de pessoal especializado. Há um deficit de mão de obra e de profissionais de TI (tecnologia da informação)”, assinala.


"A redução de custos do governo chega a R$ 345 milhões. Ao adotar
os canais 
digitais, a transação é 97% mais barata do que a presencial”
 
Luis Felipe Monteiro, 
secretário de Governo Digital do Ministério da Economia
 
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Correio Braziliense sábado, 14 de dezembro de 2019

CHUVA E VENTO CAUSAM ESTRAGOS

 

Chuva e vento causam estragos
 
Árvores caídas na Asa Norte atingiram um prédio e bloquearam vias, principalmente a W3. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Além disso, partes do Guará, Setor Habitacional Lucio Costa e da Candangolândia ficaram sem luz por volta das 21h

 

» DARCIANNE DIOGO
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 14/12/2019 04:00

 
"Presenciei a árvore quebrando, mas ela não tinha caído ainda. Bateu o vento forte, e ela veio com tudo. Quebrou o vidro da minha casa e rasgou o sofá novinho" Socorro Lopes, moradora da 706 Norte
Na altura da 708 Norte, uma árvore caiu e bloqueou uma das faixas da W3: risco para os motoristas que trafegavam pelo local à noite  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Na altura da 708 Norte, uma árvore caiu e bloqueou uma das faixas da W3: risco para os motoristas que trafegavam pelo local à noite
Chuva e ventos fortes causaram transtornos no Distrito Federal na noite de ontem. Moradores da Asa Norte, que sofrem com inundações frequentes, passaram por momentos de tensão, em função do temporal. Três árvores caíram na região, que também ficou sem luz por alguns minutos. Além disso, houve queda de energia no Guará, no Setor Habitacional Lucio Costa e na Candangolândia. Por volta das 21h de ontem, a Defesa Civil emitiu alerta de chuvas fortes com rajadas de vento e raios.

Na Asa Norte, uma árvore de porte médio tombou na 706, atingindo um prédio residencial e assustou os moradores. “Eu estava rezando e pedindo: ‘Meu Deus do céu, me proteja’. O vento foi muito forte, e eu vi que cairia”, disse a aposentada Socorro Lopes. “Presenciei a árvore quebrando, mas ela não tinha caído ainda. Bateu o vento forte, e ela veio com tudo. Quebrou o vidro da minha casa e rasgou o sofá novinho, que estava encostado”, completou Socorro.

A árvore bloqueou a passagem de veículos. Carros e motos precisaram fazer a volta e retornar pela mesma via, sem conseguir acessar a W3. Ao longo da avenida, o Correio identificou mais estragos. Na 708, uma árvore caiu no canteiro central, entre as duas vias da W3, chegando a bloquear uma faixa. Na mesma quadra, parte do outdoor de uma loja foi arrancado pela ventania. “Todo mundo teve de sair daqui correndo para não cair em cima da gente. Em menos de 10 segundos, ventou muito e começou a estalar tudo de uma vez. Aconteceu muito rápido”, contou uma moradora da região, que não quis se identificar.

Na 702, em frente ao Colégio Marista João Paulo II, outra árvore tombou, bloqueando as três pistas da via, no sentido Asa Sul. Agentes do Departamento de Trânsito (Detran) estiveram no local para orientar motoristas e desviar o fluxo de veículos.
 
Danos
 
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre as 20h e as 20h30 de ontem, a Estação Sudoeste registrou 0,4 milímetros de volume de água na área central de Brasília. “Consideramos que foi uma chuva rápida, mas forte o suficiente para causar estragos. O que chamou a atenção nesse período foi a forte rajada de ventos”, explicou Mamedes Luíz Melo, meteorologista do Inmet.

Nas regiões de Planaltina e Sobradinho, o volume de água foi maior, segundo o instituto. Entre as 19h e as 20h, choveu 18,4mm nas respectivas cidades. Para hoje, o Inmet prevê sol, com possibilidade de chuva em áreas isoladas. A temperatura mínima será de 16°C, e a máxima, de 30°C. A umidade relativa do ar deve ficar entre 35% e 95%.
 
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Correio Braziliense sexta, 13 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA PAQUISTANESA MALALA: QUINTAL DE POSSIBILIDADES

 

Quintal de possibilidades

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 13/12/2019 04:00

História da paquistanesa Malala, contada pela jornalista Adriana Carranca, ganha adaptação para o teatro com músicas de Adriana Calcanhoto (Flávia Canavarro/Divulgação)  

História da paquistanesa Malala, contada pela jornalista Adriana Carranca, ganha adaptação para o teatro com músicas de Adriana Calcanhoto

 

 
O poder da transformação. Transformar quintal em palco, peteca em caneta, balão em abóbora, tijolo em cadeira, carência em riqueza. Idealizado pela atriz Tatiana Quadros, com direção de Renato Carrera e adaptação de Rafael Souza-Ribeiro, o espetáculo musical Malala, a menina que queria ir para a escola é a primeira adaptação teatral do livro-reportagem da escritora e jornalista Adriana Carranca. 
 
Contada em primeira pessoa, a peça narra a viagem de Adriana ao Paquistão, dias depois do atentado à vida de Malala por membros do Talibã, por defender o direito de meninas à educação. “Ela se questiona o porquê uma menina de 15 anos sofre um atentado tão brutal por querer ir à escola e, nessa jornada, se depara com o universo da tribo de Malala e o poder de transformação por meio da educação, do amor e da liberdade. São três palavras-chave que guiam a história, o que aconteceu e o caminho”, detalha Tatiana. 
 
O relato da menina que nasceu em uma sociedade patriarcal e tribal, mas que, pelo olhar do amor e das oportunidades, sobretudo promovido pelo pai, um educador e ativista político, é transfigurado e encenado no palco a partir de uma ótica brasileira. Malala, a menina que queria ir para a escola é um espetáculo corporal, com dança, música ao vivo, projeções e interpretação, além de muitas brincadeiras no quintal de uma casa. “Os personagens não são fixos paquistaneses, são contadores de histórias. Fazemos tudo de uma forma lúdica e poética. Tudo foi pensado a partir da ideia de transformação. A Malala transforma o mundo de alguma forma pela possibilidade de educação que recebeu, de se expressar e queremos ampliar isso para os outros”, comenta a atriz. 
 
Apesar da ênfase, a interpretação e à narrativa, canções costuram as cenas trazendo leveza, poesia e graça. Entre o repertório do espetáculo, estão três músicas inéditas escritas pela cantora Adriana Calcanhoto. “Nesse momento, trabalhar com cultura, com teatro, falar de Malala, sobre o quanto a educação é fundamental e seu o oposto é a barbárie, não é uma arte simples. A gente acredita que é possível, também, transformar essa situação que a gente vive, não é uma questão de partido ou posicionamento político. Sentimos que está faltando muita resistência e amor, amor à arte e à humanidade”, finaliza Tatiana.

Serviço
Malala, a menina que queria ir para a escola
No Teatro da Caixa Cultural Brasília. Hoje, amanhã e domingo, sempre às 17h. Ingressos: R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia-entrada) Livre para todos os públicos.
 
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Correio Braziliense quinta, 12 de dezembro de 2019

DESLIZAMENTO NA ASA SUL - DEFESA CIVIL IDENTIFICA FALHA NA EXECUÇÃO

 

DESLIZAMENTO NA ASA SUL
 
Defesa Civil identifica falha na execução
 
Para subsecretário do órgão, barreira de contenção erguida na construção de centro clínico não tinha altura suficiente para segurar grande volume de chuva. Os quatro carros engolidos pela cratera aberta na 709/909 são retirados

 

» ALAN RIOS
» CIBELE MOREIRA

Publicação: 12/12/2019 04:00

Um guincho auxiliou a retirada dos veículos que caíram na cratera: risco de aumentar o buraco caso caia outra chuva forte (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Um guincho auxiliou a retirada dos veículos que caíram na cratera: risco de aumentar o buraco caso caia outra chuva forte

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 
Após o susto, as ações. Os quatro carros engolidos por um deslizamento em obra da Asa Sul foram retirados da cratera ontem, e os danos começaram a ser calculados. Com o auxílio de um guincho, os veículos subiram por uma espécie de rampa de lama, construída para facilitar o içamento. Tiago Carvalho, 33 anos, teve o carro retirado do buraco. “Achei que os danos seriam bem piores. Agora, vamos fazer a avaliação pelo seguro e com a empresa (construtora responsável pela obra) e aguardar. A companhia nos forneceu um veículo provisório, que ajuda. Fica só o susto e a história”, afirma.

Mas quem mora ou trabalha na região da 709/909 Sul se preocupa com o risco de a cratera aumentar caso caia outra chuva intensa. A previsão do tempo alerta para fortes precipitações nos próximos dias. Para resguardar quem passa pelo local e quem teme outro desastre, representantes da Defesa Civil e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) discutem o motivo para o acidente de terça-feira. O Crea defende que a obra tomou todos os cuidados técnicos necessários, avaliando que e o caso tenha sido uma fatalidade. Técnicos da Defesa Civil, no entanto, entendem que os engenheiros podem ter deixado de analisar impactos relevantes de fatores externos, como a chuva.

“É interessante observar que não houve rompimento de rede de esgoto ou de água no Plano Piloto em nenhum outro lugar após aquela forte precipitação. Isso só ocorreu em uma obra que estava, de certa forma, desprotegida e com necessidade de contenção”, alegou o subsecretário do Sistema de Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra. Segundo ele, houve falha entre o planejamento e a execução da construção do centro clínico, pois a barreira de contenção não tinha altura suficiente para segurar grande volume de chuva. “Qualquer tipo de construção tem de considerar todas as variáveis. Trânsito que passa perto do local, peso dos veículos, fluxo da água da chuva. Tudo isso tem de ser levado em conta para a criação da parede de contenção a fim de evitar um deslizamento como esse”, ressaltou Sérgio.

Ele acrescentou que, com a força da água, combinada com terra fofa e úmida, a parte do solo que sustentava a tubulação de drenagem deslizou, tirou o apoio dos canos e pode ter impactado para o rompimento da estrutura. “A água tem poder de escavação e acabou comprometendo a estrutura de sustentação”, completou. 

No entanto, só a perícia da Polícia Civil determinará as causas do deslizamento. O laudo ficará pronto em até 30 dias. Até lá, há chance de que cedam mais partes do asfalto ao redor da cratera. “Tem estruturas ali que estão por desabar. É necessário o compromisso da empresa para começar a recuperação imediata. Vai cair mais chuva, vai infiltrar a água na escavação. Eles vão trazer bombas para ficar aí à disposição e retirar essa água”, explicou o subsecretário.

Rompimento
 
No momento, não há riscos estruturais nas edificações vizinhas à cratera, segundo a Defesa Civil. No entanto, comerciantes estão apreensivos. As aulas na Cultura Inglesa, prédio ao lado da obra, tiveram impacto apenas no período da manhã. “Seguimos a recomendação governamental e só abrimos às 8h, após a verificação técnica. As quatro turmas que temos no turno matutino foram transferidas para quinta-feira (hoje), e as atividades no período da tarde e da noite seguiram normalmente”, detalhou o professor Pedro Bueno, 25 anos. Ainda assim, existe preocupação quanto a novo deslizamento.
O farmacêutico José Antônio Gontijo, 55, conta que trabalha com receio no edifício ao lado do acidente. “A gente fica apreensivo. Abrimos a loja após a liberação da Defesa Civil, mas estamos em alerta. Qualquer sinal de abalo ou se não sentirmos segurança de ficar no prédio, vamos fechar a loja”, relatou Gontijo.

A esteticista Adelaide Roque, 45, cancelou a agenda com os clientes hoje. “Tive que fazer isso por prudência, até para preservar os clientes. Não sinto segurança aqui no prédio; então, preferi remarcar”, contou Adelaide, que presenciou o desabamento. “Foi um susto enorme. Fiquei nervosa. O meu primeiro pensamento foi se alguém tinha se machucado”, lembrou. Ela é dona de um estúdio de estética e não sabia se trabalharia nesta quinta-feira.

Na tarde de ontem, equipes da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) trabalhavam no local para interromper a ligação da rede de esgoto. A tubulação de águas pluviais também foi desviada para evitar complicações na recuperação do buraco. Equipes da D&B Construtora e Incorporadora, responsável pela obra, iniciaram a contenção. Em nota, a empresa informou que “está providenciando laudos periciais para investigar o motivo do deslizamento” e que os quatro proprietários de veículos atingidos “foram devidamente assistidos”. Por fim, ressaltou que nenhum dos prédios vizinhos foi afetado e que a construção se encontra em situação regular.

A presidente do Crea, Fátima Có, comunicou que o conselho realizou uma fiscalização na obra e verificou que ela cumpriu todo o rito legal. “Não há nada para falarmos que seja uma imperícia profissional. Existiu um fator externo que deve ter contribuído para o desabamento. Estamos sabendo que, devido à chuva, houve um rompimento, talvez, na rede de águas pluviais”, adiantou, ressaltando que a precisão do que houve será analisada no laudo da Polícia Civil.

A construção obteve registro no Crea em agosto de 2018. Porém, durante as obras, percebeu-se a presença de uma rede da Caesb. “Essas interferências foram desviadas para haver a escavação e acabaram sendo colocadas atrás da contenção. Devido à chuva, houve o rompimento, e a água encharcou a parede de contenção, que cedeu.” Para ela, é irresponsabilidade apontar culpados antes do resultado da perícia.


Previsão 
do tempo
 
Olívio Bahia, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), prevê que o Distrito Federal terá chuvas fortes e período de instabilidade até sexta-feira. “Não podemos precisar exatamente onde a chuva vai cair com mais intensidade, mas estamos em estado de alerta de chuva forte em toda a área, inclusive no Plano Piloto”, explicou. Segundo Olívio, a expectativa é de que, a partir de sábado, as precipitações diminuam, deixando o clima estável. “As temperaturas podem subir, e existe a possibilidade de uma semana de estiagem”, aponta.
 
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Correio Braziliense quarta, 11 de dezembro de 2019

CRATERA ENGOLE QUATRO CARROS NA ASA SUL

 

Cratera engole quatro carros na Asa Sul
 
 
Rede de águas pluviais não resiste ao volume de chuvas entre a madrugada e a tarde de ontem e provoca deslizamentos em um canteiro de obras, na 709/909 Sul. Ninguém fica ferido, mas dois prédios são interditados

 

» ALAN RIOS
» DARCIANNE DIOGO
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 11/12/2019 04:00

A cratera que se abriu chegou a 20 metros de largura e 10 metros de profundidade: outros veículos ficaram a poucos metros de serem atingidos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A cratera que se abriu chegou a 20 metros de largura e 10 metros de profundidade: outros veículos ficaram a poucos metros de serem atingidos

 

 
Os quase 90 milímetros de água que caíram sobre a capital entre a madrugada e a tarde de ontem contribuíram para uma das imagens mais marcantes desde o início do período chuvoso na capital federal: uma cratera de 20 metros de largura e 10 metros de profundidade engoliu quatro carros em um canteiro de obras, na 709/909 Sul, em frente à Cultura Inglesa. Na hora do incidente, por volta das 15h30, choveu 28,8mm na área central, índice considerado elevado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Informações preliminares apontam que a tubulação de águas pluviais não suportou o volume de chuva.

A cena chamou a atenção pela destruição no local onde será erguido um centro clínico. Veículos virados, pedaços de madeira e de placas, além de blocos de concreto, se misturavam à terra que deslizou sobre o canteiro de obras. No momento em que o muro de contenção despencou, cachoeiras de água se formaram à beira do asfalto esfacelado. O veículo da pesquisadora Mariana Fontenele, 38, escapou por cerca de 10m. Ela havia estacionado próximo ao local do desabamento para levar os filhos a uma consulta. “A terapeuta das crianças chegou correndo e falando para a gente que uns carros caíram em uma cratera. Quando fui chegando perto, a sensação foi apavorante, mas vi que o meu não foi atingido”, disse.

Ninguém ficou ferido, mas dois edifícios foram evacuados e interditados pela Defesa Civil, o Biocárdios e a Cultura Inglesa. De acordo com o subsecretário da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, a situação seguia instável até o início da noite de ontem. “A cena é bastante insegura, e a cratera pode evoluir e aumentar de tamanho. Não há riscos de o desabamento atingir os outros prédios, mas isolamos por uma questão de segurança, até porque há um tráfego alto de pessoas no local”, explicou.

Quem trabalha no prédio ao lado do canteiro de obras sentiu tremor na região. Foi o caso do podólogo José Alves, 43. “Estava atendendo quando ouvi um barulho muito forte que achei se tratar de um raio. Senti como se fosse um terremoto começando. Ficamos assustados, senti o piso balançar e olhei pela janela para ver o que tinha acontecido. Os carros estavam caídos, e muita gente do prédio da frente começou a correr”, detalhou. José não chegou a perceber nada de anormal na obra, mas uma funcionária dele reparou em um desnível no local onde o buraco foi aberto. “Ela disse que, duas semanas atrás, o piso estava cedendo um pouco e ficou preocupada”, relembrou.

Alisson Santiago, 27, é proprietário de um dos veículos engolidos pelo buraco. O advogado estava com a mulher quando estacionou para ir a uma consulta, minutos antes de a cratera se abrir. “Vi que era uma obra normal, estacionamento regular, outros veículos também estavam lá. Então, não me preocupei. Quando saímos da clínica, vimos todas as viaturas dos bombeiros e nos assustamos.” Ele pensou que uma árvore tivesse caído no local, mas percebeu em seguida que a proporção do acidente era maior. “Quando observei bem, percebi que era onde o meu carro estava. O bombeiro informou como eram os veículos danificados, mostrou foto e vi que o meu estava lá. Acho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele quando isso aconteceu”, desabafou.

Dinarte Miguel de Oliveira, 60, também teve o carro levado pela cratera. Ele havia emprestado o automóvel para a filha ir ao médico e levou um susto quando ela descreveu a situação. “Acionei o seguro para tomar ciência e vou ver com a construtora como eles vão arcar. Mas agora é dar graças a Deus, porque não tinha ninguém dentro. A gente sempre vê calamidades acontecendo por aí, mas não imagina que elas vão acontecer com a gente”, comentou o aposentado.

O tenente do Corpo de Bombeiros Walmir Oliveira avaliou que o rompimento das instalações de água pluvial provocou o dano. Militares da corporação e técnicos da Defesa Civil foram acionados para atender à ocorrência. “Tivemos o desabamento de um muro de arrimo em uma obra de escavação, provavelmente por causa da chuva. O solo atrás desse muro ficou pesado e encharcado; então, cedeu. No que caiu, houve o deslizamento de terra”, explicou o oficial.

Os quatro carros engolidos estavam estacionados ao lado de um tapume que isolava a obra. Nenhum motorista estava no interior do veículo no momento do acidente, assim como não havia funcionários na construção quando aconteceu o incidente.
 
Compromisso
 
A Defesa Civil emitiu um termo de notificação à empresa responsável pela obra, a D&B Construtora e Incorporadora, determinando a recuperação imediata da construção. “Com isso, tentaremos evitar mais danos na área. A construtora também assumiu o compromisso de ressarcir os proprietários e alugar um carro para cada um, enquanto os veículos não são retirados da cratera”, informou o coronel Sérgio Bezerra.

O engenheiro Carlos Medeiros, responsável pela obra, disse ao Correio que a construção ocorria de forma regular e que a D&B tem mais de 200 intervenções no Distrito Federal sem intercorrências. “O que aconteceu não é comum. Houve a ruptura de uma rede pluvial, que atingiu o muro de contenção. Então, essa estrutura acabou cedendo, para explicar de forma resumida. Esse é um prédio comercial, em fase de fundação, que começou a ser construído no começo deste ano”, informou.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea/DF) esteve no local e não verificou nenhuma irregularidade relacionada aos responsáveis pela obra. À reportagem, a entidade informou que orienta as construtoras a sempre ter um profissional habilitado acompanhando as obras, evitando que sejam colocadas sob a responsabilidade de leigos. A sociedade pode ajudar na fiscalização de possíveis irregularidades por meio de denúncias no aplicativo Crea-DF-Cidadão.

A Defesa Civil solicitou ao Departamento de Trânsito (Detran) a redução do tráfego na região do desabamento para evitar sobrepeso na W4. Além disso, orienta a população a evitar a W4 e a W5 Sul, na altura da 709/909. Parte do trânsito está interditado no local.


 O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil isolaram a área onde houve o deslizamento de terra. O carro de Alisson Santiago caiu no buraco: %u201CAcho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele%u201D (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil isolaram a área onde houve o deslizamento de terra. O carro de Alisson Santiago caiu no buraco: "Acho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele."

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  



Condições de perigo
Da 1h às 6h de ontem, o Inmet registrou 63mm de chuva. “Podemos considerar que a quantidade é suficiente para deixar os terrenos encharcados, com condições de perigo e danos, além de ocasionar desabamentos”, afirmou o meteorologista Francisco de Assis, do Inmet


Riscos estruturais
Entre 1° de janeiro e 10 de dezembro, a Defesa Civil interditou 115 construções por riscos estruturais no DF. Segundo o órgão, os danos estruturais em edificações é causado, na maioria das vezes, pela ocupação desordenada do solo e pelo improviso nas construções.
 
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Correio Braziliense terça, 10 de dezembro de 2019

A MAGIA DA DANÇA - DIVERSIDADE NA PONTA DOS PÉS

 

Diversidade na ponta dos pés
 
Centro de Dança oferece aulas que vão desde o tradicional balé até movimentos afrocontemporâneos. Professores destacam os benefícios das atividades para o corpo e para o combate à desigualdade

 

» Lis Cappi*
» Thiago Cotrim*

Publicação: 10/12/2019 04:00

Aulas de balé são ministradas de segunda a sexta-feira, com diferentes valores e horários (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

Aulas de balé são ministradas de segunda a sexta-feira, com diferentes valores e horários

 



Itan é o termo utilizado para designar o conjunto de todos os mitos, canções, histórias e outros componentes da cultura iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental. Culturalmente, esse conjunto é passado de geração em geração. Uma referência ao termo é aplicada, desde julho, em um projeto de dança afrocontemporânea no Centro de Dança do Distrito Federal: o projeto Itans, um curso gratuito que explora ritmos e expressões corporais para formar multiplicadores em dança e cultura negra. A iniciativa é promovida pelo Instituto Casa da Vila e apoiada pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
 
A educadora física Heloísa Adão, 40 anos, é uma das alunas. Ela reforça a importância da gratuidade do curso e confessa que, no início, se emocionava bastante ao final das aulas. “É algo que eu não achei que pudesse fazer, mas está me trazendo um crescimento, ajudando a minha saúde, meu condicionamento, e ajuda a levar essa nova informação para os meus alunos, já que trabalho bastante essa questão da consciência negra em sala de aula. Quem está aqui está levando a sério, e é muito importante o curso ser gratuito, porque abriu portas para pessoas que não têm condições de participar.”
 
Radicado na capital desde 1996, o professor Paulo César ministra o curso às terças, quintas e sábados. “A pretensão é formar jovens adultos de diversas cidades-satélites para serem referências e multiplicadores dessa prática. Em Brasília, existem poucos professores dessa dança específica, então eu realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF para fazer com que a sociedade fique mais diversa e mais informada em relação à cultura. Às vezes, as pessoas não conhecem a dança negra e confundem com a religião, e o que nós fazemos aqui é arte, não religião”, ressalta.

A professora Micheline frequenta o Centro de Dança desde a inauguração, em 1993: 'Ensaiava aqui' (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

A professora Micheline frequenta o Centro de Dança desde a inauguração, em 1993: 'Ensaiava aqui'

 



'Realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF', diz Paulo César (Thiago Cotrim/CB/D.A Press - 25/10/19)  

'Realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF', diz Paulo César

 

 
Representatividade
 
A atuação tem como base as culturas de matriz africana e aborda temas como história e fundamentos da dança negra; noções de fisiologia e consciência corporal; construção de movimentos a partir da história; simbologia de danças ritualísticas; composição e sequências coreográficas; improvisação e criação de performances e apresentações públicas. Ao término, os participantes receberão um certificado.
 
Paulo explica que houve uma pré-seleção dos candidatos, e muitos desistiram por achar que não haveria cobrança. Por se tratar de um curso de formação, as aulas são bastante intensivas. “A forma de trabalhar o corpo negro é um pouco diferente, tem que ter algo além. Nós realizamos exercícios específicos para quadril, tronco, pernas. As chamadas são regulares, e o aluno pode ter até três faltas no mês”, pontua.
 
O professor de artes visuais da Universidade de Brasília (UnB) Nelson Inocencio, 58, ficou sabendo do curso por meio das redes sociais e, por já ter feito uma oficina com um outro professor do Centro de Dança há 10 anos, não perdeu a oportunidade de participar. “Fiquei muito animado depois que percebi a densidade da proposta, e isso me deu mais vontade de me envolver. Em uma sociedade tão complexa onde o racismo perdura, é fundamental olhar para a diversidade dos saberes negros e tentar aprender com essas experiências. Eu espero concluir o curso para me tornar um multiplicador e trabalhar esses conhecimentos com as comunidades negras” destaca.
 
Maritza Guilherme, 24, que também é educadora, garante que o exercício é benéfico para diversas áreas da vida e espera que seja o pontapé inicial para a imersão em outros espectros da cultura negra. “Isso tudo vai além do mover-se. É uma forma de saber através do corpo que reverbera nas esferas mais complexas. É uma imersão que faz com que nós estabeleçamos uma energia em grupo através da dança.”, exalta.

Michele foi em uma aula experimental e decidiu se matricular na dança (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

Michele foi em uma aula experimental e decidiu se matricular na dança

 

 
Todo tipo de dança
 
Além do projeto, o Centro de Dança tem sido espaço multiplicador de outras modalidades artísticas. O local, reinaugurado em fevereiro de 2018 após cinco anos de portas fechadas para reparos, ainda está em adaptação para as novas atividades. Atualmente, são oferecidas aulas de balé, jazz, samba e tango. Para 2020, a intenção é ampliar a oferta de cursos, workshops e eventos, principalmente ações gratuitas que atendam a comunidade.
 
“A ideia é que aqui possa ter uma diversidade maior, assim como melhorou em relação a 2018. Ano passado não tinha nada de dança africana, agora são três atividades, duas com fomento cultural”, afirma o responsável pela programação do Centro de Dança, Aghatto dos Santos. Ele explica que atualmente as atividades oferecidas são baseadas em propostas de profissionais da dança feitas diretamente ao Centro. Em 2020, o processo deve ser feito mediante um edital de chamamento público. “Entre os critérios, terá prioridade quem oferecer alguma quantidade de aulas gratuitas. Quanto mais aberto para a comunidade, melhor vai ser.”
 
Clássico acessível
 
Outra modalidade que tem sido ofertada no Centro de Dança é o balé, com aulas comandadas pela professora de dança Micheline Santiago, 46. Ela conta que decidiu começar o projeto para proporcionar o ensino da vertente clássica para pessoas de outras áreas artísticas. “Pensei em receber pessoas que vêm do teatro, do espetáculo com improvisação, ou da dança de rua, e se interessam em aprender um pouco do clássico”, afirma. 
 
A procura dos que não têm experiência em dança também surgiu. Ela garante que todos são bem-vindos. “O perfil da turma é eclético. Tem quem já dançou por muito tempo e agora quer voltar, e tem iniciante, mesmo, que chegou adulto e tem vontade de começar a explorar a dança”, conta. Para quem ainda não tem experiência, a bailarina lista alguns dos benefícios propostos pela prática e faz o convite para que se experimente as aulas que ocorrem às terças e quintas, no horário de almoço: “Dança é autoconhecimento, é você saber sobre o seu corpo. Saber como se movimenta, como se manifesta. É uma forma de se comunicar com o mundo também, porque o corpo é uma interface entre você e o mundo. Você proporcionar isso é um presente que você dá para você”.
 
A relação de Micheline com o Centro de Dança começou na época da inauguração, em 1993, quando fazia ensaios no local junto ao grupo Cio da Dança. “Meus anos de bailarina profissional foram ensaiando aqui. É um espaço muito importante, e a gente sentiu muita falta dele quando foi fechado. É importante ter um espaço que possibilite trabalhar bem, com espaço e chão adequados. A reabertura foi fundamental para os profissionais de dança da cidade”, ressalta.
 
Michele Bezerra, 42, foi pela pela primeira vez ao espaço cultural no dia em que a reportagem acompanhou a aula. Ela decidiu fazer uma lição experimental de balé após a recomendação de um amigo e garante que vai continuar a frequentar as classes. “Eu amei e vou me matricular. Nunca fiz balé, até achava impossível na fase adulta, mas depois da aula, vi que não”, afirma.
 
O amigo que a convidou é o baiano Alipio do Prado, 38. Ele está na turma de Micheline há quase um ano e só tem elogios sobre a experiência. Nem o fato de ser o único homem nas aulas o incomoda. “Para mim é indiferente. No momento do balé, tento ser meditativo e estar presente no que estou fazendo. Tento me concentrar ao máximo no movimento, não fico atento a quem está do lado”, compartilha o fisioterapeuta, acrescentando que as aulas fazem diferença na rotina. “É um momento em que você para e ganha qualidade física, dá risada. É um trabalho do lúdico. Também cresce, dá alegria e qualidade de vida.”
 
Assim como os dois novos dançarinos, Bárbara de Oliveira, 24, está em sua primeira experiência no balé. Ela começou as aulas há pouco mais de três meses, mas diz já ter se encontrado na dança. Para a psicóloga, fazer balé era um sonho antigo, não realizado na infância devido aos altos custos. “Na época era muito caro, parecia uma coisa muito distante”, diz. “Aí eu tinha uma ideia de que, se eu não comecei quando criança, não dava mais. Mas essa vontade não passou. Aí eu disse: ‘vou fazer’”, complementa.
 
*Estagiários sob supervisão de Fernando Jordão
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Correio Braziliense segunda, 09 de dezembro de 2019

QUATRO CARIMBOS NO PASSAPORTE DO FLAMENGO

 

QUATRO CARIMBOS NO PASSAPORTE DO FLAMENGO

Vice baixa a bola do campeão
 
Santos goleia Flamengo por 4 x 0 e conquista a segunda posição do campeonato. Agora, rubro-negro foca atenção no Mundial

 

Publicação: 09/12/2019 04:00

Marinho abriu o placar na Vila Belmiro: Peixe dominou a partida (Ivan Storti/Santos FC
)  

Marinho abriu o placar na Vila Belmiro: Peixe dominou a partida

 





No duelo entre os primeiros colocados, o Santos levou a melhor sobre o campeão Flamengo e terminou o Campeonato Brasileiro como vice. A equipe alvinegra goleou por 4 x 0, ontem, na Vila Belmiro, em jogo que pode ter marcado a despedida do técnico Jorge Sampaoli. Na mira do Palmeiras, que ficou em terceiro lugar, o argentino terá uma reunião com o presidente José Carlos Peres nesta segunda-feira para avaliar o projeto do Peixe para 2020.

O Santos foi intenso desde os primeiros minutos: pressionou, criou chances e construiu o placar com facilidade. O Flamengo parecia estar de olho na disputa do Mundial de Clubes da Fifa. O elenco rubro-negro viaja ao Catar na sexta-feira e estreia no torneio no dia 17 contra o vencedor do confronto entre Al Hilal, da Arábia Saudita, e Espérance, da Tunísia. Se passar, fará a decisão no dia 21, provavelmente diante do Liverpool, da Inglaterra.

O jogo na Vila Belmiro começou elétrico. Com força máxima em campo, o Santos abriu o placar aos 14 minutos com o atacante Marinho. A equipe não diminuiu o ritmo e logo ampliou: aos 22, com Carlos Sánchez. O meio-campista uruguaio, aliás, se despediu de 2019 com mais uma ótima atuação.

Do time considerado ideal, o Flamengo não teve apenas o lateral-direito Rafinha. O que mudou muito, porém, foi a postura dos jogadores em campo. Aquela equipe que dominou o Brasileirão não apareceu na Vila Belmiro. Apática, acabou sendo presa fácil para o Santos.

Nem no segundo tempo o ritmo de jogo diminuiu. O Flamengo melhorou, passou a rondar a intermediária adversária e chegou a levar perigo. Mas quem voltou a marcar foi o Santos. Eduardo Sasha fez o terceiro e Carlos Sánchez fechou a goleada na Vila Belmiro.

Com o placar decidido, as torcidas se provocaram de maneira sadia nas arquibancadas. Os flamenguistas cantaram “é campeão”. Os santistas responderam com “bi mundial”. Campeão em 1981, o clube rubro-negro tentará o segundo título mundial a partir da próxima semana.

Maracanã
Com mais de 67 mil torcedores, o Vasco promoveu uma festa no Estádio do Maracanã para a última partida pelo Campeonato Brasileiro. Artistas vascaínos agitaram o público com shows antes de a bola rolar e durante o intervalo. No entanto, o resultado dentro de campo não foi o esperado e o time carioca se despediu com um empate por 1 x 1 contra a rebaixada Chapecoense. Vencia até os 47 minutos do segundo tempo, quando sofreu o gol adversário.


24 jogos
Série invicta do Flamengo no Brasileirão, quebrada ontem pelo Santos
 
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Correio Braziliense domingo, 08 de dezembro de 2019

CANDANGÃO FEMININO: REAL BRASÍLIA CONQUISTA TÍTULO INÉDITO

 


CANDANGÃO FEMININO
 
 
Real Brasília conquista título inédito

 

Fernando Jordão

Publicação: 08/12/2019 04:00

Estreante na competição, as Leoas do Planalto tiveram o melhor aproveitamento ofensivo, com 76 gols (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Estreante na competição, as Leoas do Planalto tiveram o melhor aproveitamento ofensivo, com 76 gols

 




Criada neste ano, a equipe feminina do Real Brasília conquistou o primeiro título do Candangão Feminino, ontem, ao bater o Minas/Icesp, no Estádio Abadião, em Ceilândia, por 2 x 0, com transmissão ao vivo da TV Brasília. A primeira partida, disputada em 30 de novembro, havia terminado empatada em 1 x 1.

Os gols saíram todos no segundo tempo. Aos 19 minutos, Dani Silva chutou, a defesa do Minas/Icesp cortou mal e a bola sobrou para Marcela, artilheira do campeonato com 19 gols, balançar as redes mais uma vez.

Marcela também teve participação no segundo gol. Aos 27 minutos da etapa final, a atacante invadiu a área e foi derrubada por Luyara. Maiara cobrou e converteu o pênalti que deu números finais à partida.

Esta foi a 23ª edição do Candangão Feminino. O Real conquistou o título inédito, enquanto o Minas/Icesp levantou o caneco três vezes — de forma consecutiva nas três edições anteriores.

Derrubar hegemonias, aliás, foi o destino do Real no campeonato. Para chegar à final, as Leoas do Planalto eliminaram o Cresspom, maior campeão brasiliense. A equipe ainda terminou a fase de classificação como líder e teve o melhor ataque da competição: 76 gols em 11 jogos.

Transmissão
Pela primeira vez na história, uma partida local de futebol feminino contou com transmissão em canal aberto de televisão. A TV Brasília repetirá a dose em 2020, transmitindo todos os jogos que ocorrerem aos sábados do Candangão masculino.
 
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Correio Braziliense sábado, 07 de dezembro de 2019

SOLIDARIEDADE: ARTE PARA AJUDAR A QUEM PRECISA

 


SOLIDARIEDADE
 
Arte para ajudar quem precisa
 
Abrigados da Vila do Pequenino Jesus foram retratados por artistas da capital. Obras serão reunidas em calendário, que será colocado à venda, com renda revertida para a instituição

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 07/12/2019 04:00

Cada um dos 12 homenageados recebeu uma tela com sua imagem. Obras foram produzidas com variadas técnicas artísticas (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Cada um dos 12 homenageados recebeu uma tela com sua imagem. Obras foram produzidas com variadas técnicas artísticas

 

 
Um trabalho filantrópico que evidencia a arte e resgata a autoestima. A Vila do Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe pessoas de todas as idades com deficiência física e intelectual. Entre os mais de 60 abrigados, 12 foram selecionados para participar de um projeto do bem. Os escolhidos foram fotografados e, depois, retratados por artistas da capital em uma tela, cada um com uma técnica artística diferente. O resultado se transformou em um calendário, que será vendido e a renda revertida para a Vila.

O processo de elaboração do calendário levou dois meses. A coordenadora do espaço, Cássia Stumpf, convocou o artista plástico Toninho Euzébio para dar o início à produção. “Tínhamos esse sonho desde o ano passado, mas, efetivamente, começamos agora. Mais do que arrecadar dinheiro para ajudar nas despesas do abrigo, a intenção é valorizar e dar visibilidade a esse público. Também temos a preocupação de elevar a autoestima de cada um e passar para eles um sentimento de pertencimento”, afirmou.

Cada um dos 12 abrigados representa um mês do ano. As variadas técnicas artísticas utilizadas (colagem, grafite, aquarela, caricatura, óleo sobre a tela) permitem um novo olhar sobre a pessoa com deficiência, ao valorizar os traços estéticos e as características individuais de cada acolhido, como humor, timidez, espontaneidade e delicadeza. “Durante a etapa de criação, senti que deveria convidar outros pintores para o foco não ficar só em mim. Os 12 profissionais convocados abraçaram essa causa, justamente por ser um trabalho tão diferenciado e especial”, explicou Toninho.
 
Emoção
 
Um vídeo produzido por Toninho mostra a reação dos abrigados ao receberem os quadros do próprio retrato. A emoção toma conta dos acolhidos e eles parecem não acreditar no que estão vendo. Alguns chegam a chorar de emoção. “Quando eles viram as imagens nas telas, ficaram encantados. É uma sensação forte que sentimos ao ver a alegria deles. Me sinto honrado por ter participado desse trabalho tão comovente e peculiar”, frisou o artista.

Conhecido pelo nome ‘Ratão’, Luís Souza foi um dos pintores convocados para participar do projeto. Ele retratou o acolhido Maycon Cardozo, 40. “Não pensei duas vezes em colaborar com a atividade. Quando mostramos o quadro para o Maycon, ele ficou eufórico e contente. Não há dinheiro que pague ver esse sentimento.”

Pintor desde a adolescência, Luís conta que levou quatro dias para elaborar a tela com o método de colagem. “Fiz uma leitura de efeitos de sombra com pedaços pequenos de papel. É uma arte diferente e que exige um cuidado especial”, explicou.
Pedro de Oliveira está há três anos na Vila como abrigado e foi um dos contemplados, sendo retratado pela artista Mille Montenegro. “Fiquei muito feliz. Vou fazer questão de olhar para esse quadro todos os dias”, disse.
Diferente dos calendários, as telas não serão vendidas e ficarão expostas na própria instituição.
 
Contribuição
 
A Vila do Pequenino Jesus foi fundada em Brasília em 2008, pela fisioterapeuta Cássia Stumpf e pelo marido, Jorge Deister. O casal morava em Petrópolis (RJ) e promovia ações voluntárias em uma instituição da cidade, quando foi convocado pelo presidente da Vila para reproduzir o serviço na capital. “Nós fazíamos uma obra semelhante ao que fazemos aqui, que é o acolhimento de pessoas com deficiência. Descobri que era apaixonada por esse trabalho apenas quando o meu pai morreu. Entrei em depressão e, para lidar melhor com o luto, decidi ajudar as pessoas”, lembrou Cássia.

Na instituição, ela é chamada de mãe pelos abrigados. “É impossível não nos apegarmos às pessoas daqui. Esse projeto do calendário é mais uma ação que tem como objetivo valorizar a pessoa com deficiência e dar a eles a oportunidade de se sentirem representados em uma arte”, argumentou.

No total, são 69 acolhidos e mais de 100 funcionárias, entre psicólogas, enfermeiras, técnicas em enfermagem e cozinheiras. Para manter o andamento da Vila, a equipe conta com doações da sociedade (saiba como doar no quadro ao lado). “Aqui, temos muitos gastos. Por mês, são mais de 9 mil fraldas descartáveis que temos de prover, além da alimentação que é por base de dieta, e medicações caras”, explicou a fisioterapeuta.

Para ajudar na arrecadação, os calendários serão vendidos a R$ 20, em dois pontos da capital: na loja Letícia e Decorações, na 211 Sul, e na livraria Ave Maria, na 705 Norte.

Rosângela da Silva, por Rodrigo Nardotto  

Rosângela da Silva, por Rodrigo Nardotto

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Correio Braziliense sexta, 06 de dezembro de 2019

CHÁ: CONVERSA COM ESPECIALISTAS

 

Conversa com especialista
 
O segredo dos chás

 

Publicação: 06/12/2019 04:00

 (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 3/7/15)  
Amanhã e domingo, Brasília sediará o Brazil Tea Festival. O evento será no Centro do Convenções Ulysses Guimarães, das 9h às 22h, e oferecerá ao público diversas atividades voltadas para ampliar o conhecimento sobre os chás. Leda Alves, da Rome Eventos, empresa que organiza o festival, afirma que a expectativa é receber 5 mil pessoas durante os dois dias.
 
“Esse é um evento para toda a família. Teremos espaço para as crianças poderem ficar enquanto os pais circulam pelo festival”, pontua. Ela informa que há um restaurante disponível para atender o público. “Nossa ideia é oferecer uma programação bem diversificada sobre esse assunto, com simpósio médico, stands, degustação, cursos e workshops”, informa Leda. A organizadora ainda destaca os espaços montados para receber o público, como o Espaço Floresta e o Espaço Zen.
 
Outra atração do evento são as palestras voltadas para a área de saúde. Entre essas, a dermatologista Letícia Oba falará sobre aplicações do chá nos cuidados com a pele; o odontólogo Rivadávio Amorim (Universidade de Brasília) abordará o tema do uso de chá e doenças orais. “O simpósio trará médicos para falar sobre os benefícios comprovados cientificamente que o chá pode oferecer”, pontua Leda.
 
Também promete agradar o público do festival são as aulas. Serão cursos de formação com temas voltados para o uso do chá além do trivial. O mixologista Victor Quaranta, por exemplo, ensina sobre a elaboração de drinques com chá. Já a sommelier de chás Raquel Magalhães tratará sobre a profissão, definição e tendências desse mercado.
 
A proprietária da loja Camellia Comércio de Chás, Ana Paula Mota Batista, que abrirá em breve uma filial na cidade, conta que o principal objetivo do festival é apresentar a versatilidade dessa bebida. “As pessoas relacionam o chá a bebida quente. No festival a ideia é desfazer essa imagem, teremos, por exemplo, o salão do chá, com degustações a cada três horas harmonizadas com alternativas que combinem bem com a bebida degustada”, informa.
 
Ana Paula ainda destaca que o evento apresentará o sommelier de água Rodrigo Rezende. “Ele é o primeiro sommelier certificado de água do Brasil”, anuncia Ana Paula. No evento, ele dará o curso “Estudo da água no preparo do chá”, que apresenta as diferenças entre as águas minerais, os conceitos para a degustação de água mineral, harmonização de água. “É um festival feito com muito carinho, nosso objetivo é dar informações para as pessoas e que elas saiam satisfeitas”, conclui Ana.
 
SERVIÇO
Brazil Tea Festival
Centro de Convencões Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Amanhã, das 9h às 22h; domingo, das 9h às 18h. Evento com diversas atividades e palestras sobre chás. Ingressos por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada ou para quem doar 1kg de alimento não perecível). Classificação indicativa livre.
 
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Correio Braziliense quinta, 05 de dezembro de 2019

MATO A PRÓPRIA MÃE E CONFESSA TER MATADO O FILHO

 

Pai diz ter matado filho
 
O servidor público Paulo Roberto Osório confessa à polícia o sequestro e o assassinato do filho, Bernardo, de 1 ano e 11 meses. O menino foi envenenado com remédios para dormir e teve o corpo jogado na BR-020, a caminho da Bahia

 

» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 05/12/2019 04:00

Bernardo e a mãe, Tatiana: segundo a polícia, o pai matou a criança para se vingar da ex-namorada e da ex-sogra (Facebook/Reprodução)  

Bernardo e a mãe, Tatiana: segundo a polícia, o pai matou a criança para se vingar da ex-namorada e da ex-sogra

 



Todos os dias, Bernardo da Silva Marques Osório, de 1 ano e 11 meses, aguardava a chegada do pai, o servidor público Paulo Roberto Caldas Osório, 45, em uma creche da 906 Sul. Antes de reencontrar a mãe, com quem morava no Lago Sul, o menino passava um tempo na casa do agente de estação da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô/DF), na 712 Sul. Na última sexta-feira, como de rotina, o garoto entrou no carro, mas, daquela vez, recebeu um suco de uva. Tomou a bebida e, ao chegar à residência, passou mal e vomitou. O pai deu um banho na criança e a vestiu. Em seguida, o filho adormeceu. Nunca mais acordou.

Segundo a investigação, Paulo Roberto — o homem cumpriu pena de 10 anos por matar a mãe, em 1992 (leia mais na página 20)— havia colocado três remédios para dormir no suco do filho e, quando constatou a morte do menino, abandonou o corpo às margens da BR-020 e fugiu para a Bahia. Para a polícia, ele cometeu o assassinato por vingança contra a mãe da criança, a advogada Tatiana da Silva Marques, 30, e a ex-sogra, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57.

Em depoimento à Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS), o servidor público explicou que não gostou de a ex-namorada ter entrado com pedido de pensão alimentícia na Justiça, em 29 de agosto. “Fiquei chateado, pois estou passando por uma fase bem difícil. Perdi o meu pai, tive de fazer o inventário e pagar algumas coisas dele. Houve a greve do metrô. Então, achei muito oportuno elas virem justo agora, sendo que não tinha necessidade. Elas não precisam do dinheiro”, alegou.
Para o delegado Leandro Ritt, titular da DRS, o servidor público premeditou o crime. “Não foi só pela pensão, tiveram outros fatores. Ele relatou desrespeito e humilhação. Então, o que parece é que as frustrações se acumularam e acabaram nessa tragédia. A principal impressão é de que ele preparou tudo e tinha, sim, a intenção de matar. Ele pensou em um assassinato indolor ao filho, pois, na cabeça dele, nutria uma afeição pelo menino”, analisou.

O investigador destacou que Bernardo morreu no dia do sequestro, quando passou mal na residência do pai. “Na casa, havia uma grande quantidade de vômito da criança; por isso, essa é a teoria mais provável”, disse. Após o assassinato, o objetivo de Paulo Roberto era prosseguir com o plano de vingança. “Ele nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto, mas, sobretudo, pela ex-sogra. Acredito que esse sentimento provocou uma ira tão grande que a afeição que ele sentia pela criança foi deixada de lado. Tudo isso para colocar essas pessoas em um profundo sofrimento”, acrescentou Leandro Ritt.

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Troca de mensagens entre Paulo Roberto e Tatiana: "Adeus para vcs duas. Espero que agora entendam o que é ficar sem ele (Bernardo)"

 



Ameaças
 
A aflição da advogada Tatiana começou na sexta-feira, quando o filho foi sequestrado pelo ex após buscá-lo na creche. Mesmo após ligar para o celular de Paulo Roberto e procurá-lo em casa, ficou sem respostas. Dois dias depois do crime, no domingo, o servidor público fez contato com a mulher por meio de mensagens enviadas pelo celular. Tatiana tomou a iniciativa da conversa: “Paulo, a gente sempre tentou manter contato e uma amizade com você. Você nunca quis. A gente sempre quis estar presente com o Bernardo, sempre fizemos tudo. Como você faz uma coisa dessas? O negócio é dinheiro? Pode ficar com o seu dinheiro, eu não preciso dele, não. Só quero meu filho.”
Paulo respondeu, escrevendo que a ex-namorada passaria o resto da vida sem ver o filho: “Boa sorte pra você. Espero que sofra muito. Eu falei que, no dia que você se metesse entre eu e o meu filho, eu ia passar por cima de você. Agora, você está entendendo o recado? Você não vai ver Bernardo mais nunca. Você vai morrer sem vê-lo.”
 
Buscas
 
Depois de envenenar o filho, o servidor público seguiu de carro com a criança pela BR-020. À polícia, contou que apenas percebeu que o filho estava morto em um posto de gasolina. “Olhei pelo retrovisor e notei que ele estava com a cabeça muito de lado. Fui arrumá-lo na posição, e a cabecinha dele estava muito mole. Assustei-me. Pulei para o banco de trás para ver os sinais (vitais) dele”, descreveu, em depoimento aos investigadores.

Ao constatar a morte de Bernardo, Paulo Roberto seguiu dirigindo e decidiu deixar o corpo da criança em área de vegetação densa, após a divisa de Goiás com a Bahia. A Polícia Civil do DF realizou buscas ontem, com veículos terrestres e um helicóptero, mas não encontrou o garoto. O ponto inicial foi Roda Velha, um distrito do município baiano de São Desidério, distante 665km de Brasília.

“Os policiais foram 50km adiante da cidade, rumo a Salvador, e 50km no caminho inverso. No total, foram 100km de buscas infrutíferas, pois ele indicou o local errado de onde a criança foi deixada. Desde o princípio, o objetivo de Paulo era perpetuar o sofrimento da mãe de Bernardo e da ex-sogra para que elas, realmente, nunca mais vissem o menino. Ele não quer que o corpo seja encontrado”, ressaltou o delegado Leandro Ritt.

O acusado em depoimento ao delegado Leandro Ritt, da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS): %u201CEle nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto%u201D  

O acusado em depoimento ao delegado Leandro Ritt, da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS): "Ele nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto."

 



Esperança
 
O fato de o corpo de Bernardo não ter sido encontrado mantém a esperança no coração da mãe, Tatiana Marques. “Minha ficha não caiu ainda. Eu tenho expectativa de que meu filho vai ser encontrado com vida. De vez em quando, eu choro, mas estou tentando ser forte pela minha família”, lamentou a advogada. Ao Correio, ela ressaltou que namorou Paulo por um tempo, mas que não chegaram a se casar.

A advogada descreveu a relação deles como harmoniosa. “Nunca tivemos problemas ou brigas. Tudo era conversado. O desentendimento começou por causa da pensão”, lamentou. A mulher também ressaltou que não sabia dos antecedentes do ex-namorado, condenado pela morte da mãe há 27 anos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 04 de dezembro de 2019

TESOURINHAS INTERDITADAS

 

Tesourinhas interditadas
 
Quatro quadras das Asas Sul e Norte recebem reparos simultaneamente. Desvio é feito para os eixinhos W e L

 

» Cibele Moreira
» Lis Cappi*

Publicação: 04/12/2019 04:00

Até dezembro de 2020, todas as 96 passagens do Plano Piloto passarão por melhorias, segundo o governo (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Até dezembro de 2020, todas as 96 passagens do Plano Piloto passarão por melhorias, segundo o governo

 



Moradores do Distrito Federal, principalmente das Asa Sul e Norte, precisam se preparar para um ano de muitas alterações no trânsito. Empresas de engenharia começaram reparos em vários viadutos da cidade nesta semana. Os acessos para a 103/104 Sul, a 207/208 Norte e a 215/216 Norte foram fechados para manutenção e devem permanecer bloqueados durante três meses. Na próxima semana, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) pretende interditar os acessos da tesourinha na 115/116 Sul. A escolha das quadras foi baseada em um levantamento de risco feito pelo órgão após o desabamento do viaduto da Galeria dos Estados, em fevereiro de 2018.

Para melhorar o fluxo nas vias onde houve interdição, o Departamento de Trânsito (Detran-DF) aumentou o tempo dos semáforos nas entrequadras e fez desvios para os eixinhos L e W. Com a conclusão das obras, as equipes vão passar para outros locais, até que todos os viadutos e tesourinhas estejam revitalizados.

Duas empresas de engenharia foram contratadas para conduzir o trabalho, a Impermear Serviços de Engenharia e a Construtora LDN. A primeira cuidará dos reparos da Asa Sul; a segunda, da Asa Norte. A manutenção será feita simultaneamente em quatro quadras, duas de cada setor. Ao todo, 96 passagens terão estruturas e estéticas recuperadas. O custo total da obra é de R$ 7.337.880. A entrega final está prevista para dezembro de 2020.

No caso da Asa Sul, os viadutos ficarão sem as atuais cerâmicas, com o concreto aparente. “Toda estrutura de concreto tem desgaste natural com o passar do tempo. Então, a revitalização é para dar mais durabilidade, evitar queda de materiais, deterioração e perda da estrutura. É para que o concreto tenha uma sobrevida maior”, explica o engenheiro responsável pelos reparos da 103/104 Sul, Humberto Silva, 55 anos.

Comerciante da 113 Sul, Alexandre reclama de queda no movimento (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Comerciante da 113 Sul, Alexandre reclama de queda no movimento

 


Renata Aragão, aposentada: %u201CSe é para melhorar, não tem problema%u201D (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Renata Aragão, aposentada: "Se é para melhorar, não tem problema."

 



Opiniões divididas
 
Os reparos foram bem recebidos pelos moradores, mas causam discussões no comércio por terem sido iniciados no fim do ano. Empresários da 215 Norte relatam que as vendas já diminuíram após as mudanças de acesso para a quadra, feitas há 10 dias. “Prejudicou a quadra toda. Nosso movimento caiu muito. Tinha muita gente que vinha da W3 Norte, e ter que fazer um balão imenso faz com que não venham aqui”, afirma a supervisora de uma panificadora na 215 Norte, Juliana Vieira, 32. O dono de um estabelecimento próximo à padaria, Rodrigo Guimarães, 37, confirma: “o trânsito fica ruim, e a pessoa não passa mais aqui. Deveriam deixar isso para depois do Natal. Nesses dias em que está fechado, minhas vendas diminuíram 15%. As vendas já estão bem ruins, e ainda diminui na época em que poderíamos faturar um pouco. Tinha que ser de outra forma”.

Na Asa Sul, a preocupação é a mesma. O dono de um salão de beleza na Quadra 103 foi pego de surpresa pelo fechamento da tesourinha que dá acesso à quadra, na última segunda-feira, e teme pela diminuição de clientes. “Acho que começou no mês errado. É mês de chuva e pode atrapalhar. O comércio está ruim e ainda vai fazer no Natal? Por que não esperou janeiro?”, questiona Alexandre Neves, 52. “Tem que ter planejamento. Outros comerciantes também estão reclamando. Todo mundo sofre com isso”, diz.

A aposentada Renata Aragão, 60, conta que o bloqueio da tesourinha mudou a dinâmica da 216 Norte e diz não se importar com novos percursos. “Se é para melhorar, não tem problema.” Contudo, afirma que o bloqueio dos acessos para tesourinhas provoca manobras perigosas dos condutores. “Pela falta de retorno, os carros fazem ‘gatos’. Acho um risco para motos e bicicletas. Já vi um atropelamento por conta disso”, pontua.
 
Trabalho preventivo
 
Os viadutos das tesourinhas das quadras 105/106 e 205/20 da Asa Norte estarão interditados das 9h30 às 11h de hoje para uma vistoria preventiva da Secretaria de Obras e Infraestrutura. O bloqueio será feito pela equipe do Detran, que desviará o trânsito para os eixinhos L e W. Até o fim deste ano, todos os viadutos das tesourinhas do Plano Piloto serão vistoriados para a identificação de falhas estruturais.

Além das universidades, participam do grupo de trabalho de vistoria seis universidades parceiras, os conselhos Regional de Engenharia (Crea-DF) e de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese-DF), a Defesa Civil e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF). Os relatórios das vistorias serão encaminhados para a Novacap, que garante que nenhum viaduto está em perigo. “Não foi detectado risco de desabamento, é apenas para manutenções preventivas das estruturas dos viadutos”, diz trecho da nota encaminhada pela empresa.
 
*Estagiária sob supervisão de Marina Mercante


Vistorias

  Dias e locais de interdição 
  Das 9h30 às 11h
 
Dezembro
 
Dia 5
Acesso às tesourinhas da 107/108 e da 207/208 da Asa Sul
 
Dia 6 
Acesso às tesourinhas da 107/108 e da 207/208 da Asa Norte
 
Dia 9
Acesso às tesourinhas da 109/110 e da 209/210 da Asa Sul
 
Dia 10
Acesso às tesourinhas da 109/110 e da 209/210 da Asa Norte
 
Dia 11
Acesso às tesourinhas da 111/112 e da 211/212 da Asa Sul
 
Dia 12 
Acesso às tesourinhas da 111/112 e da 211/212 da Asa Norte
 
Dia 13
Acesso às tesourinhas da 113/114 e da 213/214 da Asa Sul
 
Dia 16
Acesso às tesourinhas da 113/114 e da 213/214 da Asa Norte
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense terça, 03 de dezembro de 2019

A BOLA DE OURO E O MELHOR GOLEIRO

 

Messi, o conquistador
 
Depois de faturar o The Best, da Fifa, craque ganha também a Bola de Ouro e se torna o maior vencedor da premiação francesa

 

Publicação: 03/12/2019 04:00

 
Messi encerrou o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro e se tornou o maior vencedor, com seis (Franck Fife/AFP
)  

Messi encerrou o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro e se tornou o maior vencedor, com seis

 


Messi conquista a Bola de Ouro pela sexta vez e se torna o maior vencedor da premiação entregue pela revista francesa France Football. O brasileiro Alisson é eleito o melhor goleiro do mundo.

A Bola de Ouro, renomada premiação entregue pela revista France Football, é novamente de Lionel Messi. Ontem, em evento realizado em Paris, o craque do Barcelona e da Argentina teve seu talento reconhecido ao ser escolhido o melhor jogador da última temporada.

O prêmio a Messi vem após uma temporada em que conduziu o Barcelona ao título do Campeonato Espanhol. E se soma a outras cinco Bolas de Ouro recebidas por ele, a primeira delas em 2009. Depois, ele voltaria a ser premiado em 2010, 2011, 2012 e 2015 e, agora, em 2019, repetindo o prêmio da Fifa que conquistou neste ano.

Assim, Messi, além de encerrar o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro, se torna o seu maior ganhador, com seis, uma a mais do que o astro português Cristiano Ronaldo.

Messi brilhou, como de costume, na última temporada pelo Barcelona, com 51 gols marcados em 50 jogos. Mas, em termos de conquistas, com exceção do Espanhol, fracassou em outros torneios, caindo com o seu time na decisão da Copa do Rei e nas semifinais da Liga dos Campeões. Além disso, perdeu nas semifinais da Copa América com a Argentina.

O anúncio do prêmio foi feito por Didier Drogba, mas Messi o recebeu das mãos do croata Luka Modric, que, em 2018, faturou a Bola de Ouro, mas, desta vez, não figurou nem entre os 30 melhores.

Messi teve o holandês Van Dijk, zagueiro do Liverpool, como seu principal concorrente, tanto que ele foi o segundo colocado. O astro português Cristiano Ronaldo, da Juventus, ficou em terceiro.

Mulheres
Na premiação feminina, a Bola de Ouro ficou com a americana Megan Rapinoe, que também foi eleita a melhor jogadora do mundo neste ano pela Fifa. A atleta, de 34 anos, liderou a seleção dos EUA na conquista do título mundial, além de ter sido protagonista na luta por respeito à diversidade e condições igualitárias para as jogadoras.

A lateral inglesa Lucy Bronze, do Lyon, foi a segunda colocada na votação da Bola de Ouro, com a norte-americana Alex Morgan sendo a terceira melhor. Nesse caso, elas inverteram as suas posições na comparação com o prêmio distribuído pela Fifa.

Jornal Impresso


Correio Braziliense segunda, 02 de dezembro de 2019

NATAL COM MÚSICA: QUEBRA-NOZES CANDANGO

Projeto leva corais com canções natalinas e balé para shows gratuitos na Praça dos Três Poderes, ao lado da Casa de Chá. Grupos da UnB, do Senado, da Fundação Mokiti Okada e de várias igrejas se apresentam.  (Ana Rayssa/CB/D.A Press)

 

Quebra-Nozes candango
 
Praça Três Poderes recebe o Projeto Natal na Praça. Shows de corais e balé são algumas das atrações aos fins de semana

 

AGATha gonzaga

Publicação: 02/12/2019 04:00

 
 
O Projeto Natal na Praça começou nesse fim de semana e vai oferecer, até o dia 22 deste mês, apresentações de corais e do balé do Quebra-Nozes gratuitamente. Os shows acontecem na Praça dos Três Poderes ao lado da Casa de Chá. Ontem, a apresentação do coral Madrigal da UnB encheu a praça com turistas e moradores de Brasília.
 
O ferroviário Edilson Fonseca não esperava encontrar o espetáculo e aproveitou para filmar a novidade. “Eu venho a Brasília toda semana fazer um curso da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), mas nunca tenho tempo pra conhecer os pontos turísticos. Hoje, vim à Praça dos Três Poderes e vi o coral”, afirmou.
 
Quem também curtiu o espetáculo foram as crianças. O publicitário Rafael de Oliveira levou a pequena Cecília, de um ano e oito meses, para apreciar o ballet, modalidade que a menina já pratica na escolinha. “É bom sair um pouco dos passeios convencionais de shopping e lugares fechados”, concluiu.
 
De acordo com a secretária de turismo, Vanessa Chaves, o objetivo é ocupar a cidade com atividades culturais. “Nós queremos os nossos monumentos com vida, a nossa cidade cheia de atrações para a população e para o turista”, informou.
 
As apresentações acontecerão em todos sábados e domingos, até 22 de dezembro, das 18h às 19h. Corais tradicionais da cidade vão interpretar canções natalinas e os bailarinos do Grupo Bailarinos de Brasília prometem encantar com O Quebra-Nozes, do compositor russo Piotr ILitch Tchaikovsky.
 
No próximo fim de semana, o Coral Adventista de Brasília e o Coral do Senado assumem o palco (confira a programação). No dia 14, o evento contará, também, com a passagem da Caravana de Natal da Coca-Cola.
 
 
 
Programação
 
30/11 — Serenata de Natal da UnB (140 vozes)
 
01/12 — Coro Madrigal da UnB (20 vozes)
 
07/12 — Coral Adventista de Brasília (40 vozes)
 
08/12 — Coral do Senado (35 vozes)
 
14/12 — Conjunto Mais que Palavras, da Presbiteriana Nacional (40 vozes)
 
15/12 — Coral Infantil Totus Tuus, da Igreja Dom Bosco (26 vozes)
 
21/12 — Coral Coro Encena (14 vozes)
 
22/12 — Corais Mokiti Okada de Brasília – Infanto Juvenil, Adulto e Vozes de Ouro, 
da Igreja Messiânica de Brasília (60 vozes)
 
 Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 01 de dezembro de 2019

A SAÍDA É FAZER BICO

 

A saída é fazer bico
 
Com desemprego em altas taxas, o trabalhador recorre à informalidade para sustentar a família. Especialistas indicam caminhos para sair dessa situação

 

» Ana Maria da Silva*
» Geovana Oliveira*
» Rayssa Brito*

Publicação: 01/12/2019 04:00

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso%u201D
Antônio Fernandes (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso –  Antônio Fernandes

 

De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de desocupados no Distrito Federal no terceiro trimestre de 2019 foi de 221 mil pessoas. Um aumento de 6,75% em comparação com o mesmo período do ano passado. Esse quadro de incertezas revela a dura realidade de muito brasilienses que fazem de tudo para se sustentar. A opção tem sido a informalidade, como é o caso de Antônio Fernandes de Jesus, 57 anos, vendedor de doces e salgadinhos em ônibus que circulam pelo DF.
 
Morador de Águas Lindas de Goiás, o ambulante conta que a rotina de trabalho começa cedo. “Essa é a rotina de um vendedor, de um pai de família que luta pela sobrevivência. Correndo pra lá e pra cá atrás de ônibus. São uns 18 por dia”, destaca, com um olhar cansado, mas determinado. Pai de três filhos, ele explica que sua única fonte de renda vem do comércio de salgadinhos. O preconceito e o descaso dos consumidores não impedem o trabalho de Antônio. “De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para conseguir dinheiro. Não podemos ligar muito para o que as pessoas pensam”.

Segundo Antônio, o serviço depende da boa vontade dos outros, desde passageiros até motoristas de ônibus. “A gente fica chateado quando o motorista nega uma carona, mas não podemos condená-los, porque eles também estão cumprindo ordem das empresas”, explica. “Muitos passageiros não gostam de ser incomodados, e com razão, porque às vezes a pessoa está cansada”, compreende. Apesar dos corriqueiros episódios, o ambulante se mantém resiliente: “A gente precisa trabalhar, precisa sobreviver e não podemos crucificar ninguém. Só agradecemos, porque hoje em dia emprego está difícil”.

O presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, diz que o desemprego atingiu níveis preocupantes no país. Isso acontece devido à recessão e às novas formas de relação de trabalho provocadas pela introdução de tecnologias. “Para o primeiro caso, a volta do crescimento consistente da economia poderá implicar novas ofertas de postos de trabalho. E, para o segundo problema, o trabalhador deverá buscar na qualificação a saída com o objetivo de buscar um posto no mercado de trabalho”, explica César.
Flávia Vieira: %u201CNo momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende%u201D (Rayssa Brito/Esp. CB/D.A Press - 21/11/19)  

Flávia Vieira: – No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende.

 

De acordo com o economista, esses motivos são os principais fatores que causam a falta de colocação no mercado de trabalho e levam o trabalhador a recorrer aos “bicos”. A situação é corriqueira na capital, que tende a acompanhar o que acontece no Brasil em termos estatísticos. “Aqui realça o fato da alta dependência do setor público. Com a pressão sobre as contas públicas, o mercado de trabalho em Brasília tende a ter maiores problemas na geração de emprego”, ressalta.
 
Conquistas
A dificuldade de empregabilidade também é vivenciada pelos noivos Ruan Ribacki, 27, e Sabrinny Caxeta, 19, moradores da Candangolândia. Eles vendem dindim aos finais de semana no Parque da Cidade. “Já procuramos emprego formal diversas vezes. Cheguei a passar por duas entrevistas, e ela (Sabrinny) também. Ainda estamos tentando”, afirma Ruan. A ideia de serem autônomos surgiu da falta de oportunidade no mercado de trabalho: “Foi para não ficarmos parados. As contas não esperam, não se pagam sozinhas”, lamenta o jovem.

“É realmente muito difícil ser ambulante. Tem gente que passa e nem olha pra gente”, relata Sabrinny. Ela acredita que, apesar das frustrações, é importante seguir em frente e manter o foco. “Nós nunca pensamos em desistir, essa é a nossa única fonte de renda. É preciso lutar pelos seus ideais de maneira honesta, alegre, passando uma mensagem positiva para a sociedade”, completa. Com parte da quantia arrecadada, os noivos se orgulham da primeira aquisição: o anel de noivado. “Estamos há seis meses nisso. De pouco em pouco, vamos conquistando coisas novas”, comemora Sabrinny.

Além das diárias
A realidade da diarista Roseni Alves Mesquita, 38, também não é fácil. A mineira se mudou para Brasília aos 14 anos à procura de emprego. Ao chegar, começou a trabalhar em uma lanchonete do aeroporto e, após engravidar, tornou-se doméstica. Hoje, Roseni vive de diárias, e acrescenta que a rotina é trabalhosa: “Têm dias que preciso sair 5h da minha casa para conseguir chegar 8h no serviço. Não é fácil. A gente passa praticamente mais tempo no ônibus do que trabalhando”, lamenta. Apesar das dificuldades enfrentadas, Roseni não desistiu de procurar por uma ocupação fixa: “Eu fiz um curso de cuidadora de idoso, e quero arrumar um emprego mais seguro, mas, como estou sem experiência na carteira, devido às diárias que ando fazendo, está sendo bem difícil”, completa.

A diarista percebe o aumento do desemprego na capital. “Está complicado ultimamente. Eu me lembro que, quando eu cheguei em Brasília, era tão fácil arrumar emprego. Não ficava sem trabalhar nenhum dia”, recorda. Com seis pessoas para sustentar, ela busca alternativas para os momentos em que o bolso aperta: “A gente se vira como pode. Tem dia que cato latinha na rua para conseguir uma renda maior. Eu ando, vejo e cato. Não desperdiça”, diz.
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: %u201CFoi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas%u201D (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: "Foi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas"
Novas chances
Há cerca de três meses, João Eudes Alves de Carvalho, 56, morador da Ceilândia, vende espetinhos em uma churrasqueira improvisada próximo a uma parada de ônibus. O autônomo explica que era proprietário de uma empresa que não ia bem por conta da crise e, por isso, resolveu apostar na informalidade. “A empresa não estava dando retorno suficiente para o sustento. Eu estou me virando da forma que dá”. João é pai de cinco filhos e paga pensão alimentícia para uma menina que ainda não atingiu a maioridade. “Como é uma espécie de comércio, tem semanas que dá bom retorno e tem semana que não dá tanto. É muito complicado depender somente disso”, lamenta.

Ele afirma que a rotina é dura e que, às vezes, é difícil manter a cabeça erguida, até porque, para quem trabalha na rua e lida diretamente com diversas pessoas, o contato nem sempre é fácil e muita gente age com preconceito. “Isso daqui não é para qualquer um mexer. É preciso ter coragem e colocar a vergonha de lado, até porque não é motivo nenhum de vergonha, você está trabalhando”, acrescenta.

Para ele, mesmo com as dificuldades, é preciso ter perseverança. “Nunca desista! Vamos tocar a vida para frente com força de vontade”, aconselha.
 
Sonhos
“Meu sonho é ser empresária”, revela Flávia Vieira, 19. Ela vende artesanatos na Rodoviária e em alguns pontos da capital com a irmã, Tamires Pereira, 25. Flávia conta que decidiu sair de Minas Gerais para dar melhor condição à família. “Trabalho na Rodoviária todo santo dia. A gente vem todos os dias,  aos sábados e aos domingos também”, afirma. Para a jovem, todos os trabalhos têm suas dificuldades: “Têm vezes que conseguimos vender, têm vezes que não, a gente tenta se virar do jeito que pode”, diz Flávia.
 
Moradora do Valparaíso de Goiás, ela acorda cedo todos os dias para separar os objetos que levará. “Demora cerca de uma hora e vinte para chegar à Rodoviária”, informa. Flávia afirma que muitas vezes chega ao local por volta das 8h e vai embora às 22h. “No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende”, afirma. Mas isso não impede que Flávia sonhe. Com a chegada do Natal, ela espera aumentar as vendas. “Eu pretendo crescer, ter uma loja. Mas até lá é muito chão”, conclui.

O coordenador do curso de economia do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, lembra que o caso de Brasília é um pouco diferente por conta da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (Ride). “A consequência é o aumento da procura de emprego no Plano Piloto, que não consegue atender o alto número (de procura)”. Riezo explica que os empregos informais fazem parte da cultura brasileira, pois são a primeira opção da população no momento de desemprego. “Muitos recorrem à informalidade quando não estão conseguindo alcançar suas necessidades”, explica o economista.

Dicas para sair da informalidade 
Por Anna Cherubina  Scofano, mentora de carreiras e professora de gestão de pessoas na Fundação Getúlio Vargas.
 
» Não desanimar
 
» Buscar algo que tenha interesse maior, informar-se e atualizar-se por meio de pesquisas em sites gratuitos que possibilitem um aprimoramento e ampliação de conhecimento. Dessa forma, a pessoa pode dizer, em uma entrevista de emprego, que não tem experiência na área, mas, em contrapartida, tem lido e mostrado interesse pelo assunto.
 
» Entender quais são seus objetivos e buscar capacitação, por meio de conhecimentos e práticas.
 
» Cercar-se de pessoas que tenham visão de negócio e sistêmica. Iisso contribuirá para a expansão de ideias. Inovação e criatividade fazem parte da reinvenção, e, se não houver  essas características dentro das organizações, certamente existirão dificuldades para se estabelecer no mercado.
 
» Ser resiliente, ter bom relacionamento interpessoal e ser proativo.  É também fundamental se atentar a como se portar e vestir em entrevistas de emprego. 
 
Iniciativas para qualificação 
Com o objetivo de oferecer à população alternativas para enfrentar a crise, a Secretaria de Estado de Trabalho do Distrito Federal (Setrab) desenvolveu algumas ações, como qualificação profissional, abertura da Agência do Trabalhador onde há demanda, empréstimo orientado a pequenos empreendedores, cursos e palestra.
 
Cursos de qualificação gratuitos
» A Setrab afirma que ofereceu mais de 2.000 vagas para os diversos cursos de Formação Inicial e Continuada e de Educação Profissional Técnica de Nível Médio — Qualificação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)  em parceria com a Secretaria de Trabalho. O Programa Senac Gratuidade (PSG) destina-se a pessoas de baixa renda, na condição de alunos matriculados ou egressos da educação básica e trabalhadores, empregados ou desempregados.
 
Agência do Trabalhador
» Pela primeira vez, a Setrab e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) inauguram uma Agência do Trabalhador na Câmara. A nova Agência do Trabalhador presta o serviço de intermediação de mão de obra por meio do Sistema Integrado Nacional do Emprego (Sine). Diariamente, são ofertadas em torno de 300 vagas de trabalho por esse sistema nas 17 Agências do Trabalhador.
 
Fábrica social
» O programa Fábrica Social qualificou 1.200 alunos em cinco cursos diferenciados, e, em parceria privada, os encaminhou para empresas para vivência e inserção no mercado de trabalho.
 
Microcrédito
» O Programa de Microcrédito Prospera, da Setrab, formalizou a entrega de cartas de crédito do programa para 696 pequenos empreendedores, em um montante de R$ 10 milhões, alcançando um novo recorde emprestado e com a menor taxa de devedores registrada.
 
Recolocação profissional
» Com o intuito de amenizar a situação de desemprego, a Secretaria de Trabalho disponibiliza gratuitamente à população do DF a Palestra de Recolocação Profissional, que aborda temas como: empregabilidade, como participar de uma entrevista de emprego; e marketing pessoal, como melhorar o seu currículo. Neste ano, a palestra foi realizada em 18 de outubro no Auditório da Agência do Trabalhador da Estação 112 Sul do Metrô, a previsão é de que outras palestras com a mesma  temática  aconteçam em 2020. 
 
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira
 
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Correio Braziliense sábado, 30 de novembro de 2019

JAQUELINE DE JESUS: PESQUISA, MILITÂNCIA E RESPEITO

 

Pesquisa, militância e respeito
 
Jaqueline de Jesus foi a primeira transexual a entrar para o doutorado na Universidade de Brasília. Hoje, a ceilandense vive no Rio, onde é professora universitária. Engajada, ela ajudou na formulação das cotas raciais da UnB e é uma das organizadoras da Parada LGBT da cidade

 

» Thays Martins

Publicação: 30/11/2019 04:00

 (Arquivo Pessoal)  
 
Uma mulher de sucesso. Assim pode ser definida Jaqueline Jesus. Aos 41 anos, a brasiliense tem um currículo extenso. O último título foi de pós-doutora pela Fundação Getulio Vargas e de pesquisadora do Centro de Políticas e Desigualdades em Saúde, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Além das conquistas, a psicóloga carrega a fuga de uma triste estatística. Jaqueline é transexual e negra. Cerca de 82% dos travestis e transgêneros não chegam a terminar nem a escola fundamental, de acordo com levantamento da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e apenas 34% dos estudantes de ensino superior são negros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
Jaqueline de Jesus:  

Jaqueline de Jesus: "Vim de uma família que valoriza muito os estudos. A minha mãe era professora, ela foi a primeira a entrar na universidade"

 

É tanto que ela foi a primeira transexual a terminar um doutorado pela Universidade de Brasília (UnB). Isso foi em 2010. Um dos grandes diferenciais dela? O apoio familiar. “Vim de uma família que valoriza muito os estudos. A minha mãe era professora, ela foi a primeira a entrar na universidade. Sempre tive acesso a livros. Depois que eu já era crescida, meu pai também fez faculdade”, conta.
 
E o apoio não foi no incentivo para ter uma carreira, mas também em aceitá-la como ela é. Jaqueline se assumiu como Jaqueline há pouco mais de 10 anos, quando estava no doutorado, outro fator que ela cita como facilitador. “Eu decidi, aos 29 anos, que me reconhecia como mulher trans e resolvi começar minha transição e viver como mulher. Tive muito apoio da minha família, bem diferente do que costuma ser”, recorda.
 
“Mesmo sendo uma pessoa negra que conseguiu lutar e ocupar meu espaço enquanto negra. Não sei se tivesse passado pela transição antes teria chegado à universidade. São vários fatores a serem avaliados”, destaca.
 
Carreira de sucesso
 
Dessa forma, a moradora da Ceilândia tomou como natural que fosse para a universidade. O primeiro curso escolhido foi química, para depois perceber que sua vocação estava na psicologia. Começou a militar por causas raciais e LGBTs na graduação, ainda em 1997. “Sempre quis associar minha pesquisa com a psicologia e a prática da militância.”
 
E ela conseguiu. No mestrado, iniciado assim que terminou a graduação, ela pesquisou como os libertadores de escravos enxergam a questão. Ao mesmo tempo, a jovem psicóloga foi convidada para ser assessora do vice-reitor da universidade à época, Timothy Mulholland, e ajudar na formulação das cotas raciais. A UnB foi pioneira na política. O ano era 2003, de lá para cá, quase oito mil negros ingressaram na instituição por meio da política pública. “Foi bem desafiador. A temática era questionada pela mídia e também pelo meio jurídico”, lembra.
 
Em 2006, ela entrou para o dourado. “Dessa vez, escolhi um tema mais político, que foi investigar as paradas do orgulho LGBT”, explica. O engajamento de Jaqueline a levou a fundar uma ONG de pesquisa ligada à sexualidade de gênero, ser eleita como presidente do Fórum LGBT do DF e do Entorno e ser uma das organizadoras da Parada LGBT de Brasília.
 
Mas não parou por aí, Jaqueline, então, partiu para o pós-doutorado. Por isso, resolveu sair de Brasília. Foi para o Rio de Janeiro com apoio da Fundação Getulio Vargas (FGV). No Rio, ela começou a atuar no núcleo de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atendendo os moradores do Complexo da Maré e passou no concurso para ser professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), onde hoje dá aulas para os cursos ligados à economia criativa. “Ser professora está no meu sangue. Detesto usar esse clichê, mas apesar de suas limitações, ele facilita a compreensão do que eu quero dizer pelo fato de ser filha de professora. Sala de aula é um lugar que eu conheço desde antes de conhecer a mim mesma. Na cesta de vime em que minha mãe me levava, quando bebê, para assistir suas aulas no curso de pedagogia”, relata em de suas publicações nas redes sociais.
 
Uma marca triste
 
Jaqueline concorreu a deputada estadual do Rio nas últimas eleições. Ela e mais 32 mulheres negras resolveram fazer da candidatura uma homenagem a vereadora assassinada Marielle Franco. Dessas, três foram eleitas. “Foi uma experiência bem interessante, cansativa, mas rica. Foi possível observar como a política é extremamente focada na ideia do cândido homem, hétero, cisgênero, e como isso é prejudicial para a mulher de maneira geral”, explica.
 
A ativista recorda que foi escolhida por Marielle Franco para receber a medalha Chiquinha Gonzaga, uma honraria entregue a personalidades femininas que tenham se destacado em prol das causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais. “Fui a primeira mulher negra e trans a receber. Isso marcou muito. Eu estava com ela, em 8 de março de 2018, em um evento e, no dia 14, depois de um debate, ela foi executada. O que mostra a vulnerabilidade da mulher negra, favelada, LGBT. Ela ficou muito exposta. Já chegaram matando logo”, lamenta.
 
Publicações
 
Jaqueline fez de seu trabalho uma obra, e a intenção e os frutos podem ser vistos. Ela tem vários livros publicados e não para uma segundo, entre um evento e outro. A entrevista até teve que ser interrompida para Jaqueline partir para mais um lançamento de livro. Mas ela garante que tudo vale a pena. “Tem momentos de tristeza que ficamos desanimado com o mundo, mas buscamos nos fortalecer”, diz.
 
Jaqueline ainda lembra que ela é um exemplo para suas alunas e pessoas negras e trans. “O que é ser mulher trans negra depende de cada uma. Ser Jaqueline é ser uma mulher trans negra que acredita muito nas pessoas, acredita no poder do conhecimento. Só a educação que vai fortalecer as pessoas discriminadas. Eu luto por isso. Eu sigo lutando como professora para que a gente busque uma conscientização, para que nos colocamos no lugar do outro e entendermos que diversos somos todos”, afirma.


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/historiasdeconsciencia 


Conheça algumas publicações da psicóloga e ativista
 
Transfeminismo: Teorias e prática
 
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Metanoia Editora
» R$ 35
» 206 páginas
» Homofobia: Identificar e prevenir
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Metanoia Editora
» R$ 34
» 111 páginas
 
 
O que é Racismo?

» Autores: Jaqueline Gomes de Jesus, Paulo de Carvalho, Rosália Diogo, Paulo Granjo
» Editora: Escolar
» 127 páginas
 
 
Ainda que tardia: escravidão e liberdade no Brasil contemporâneo
 
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Gramma Livraria e Editora
» R$ 19,90
» 128 páginas
»  Travestis e prisões: Experiência social e mecanismos particulares de encarceramento no Brasil
 
» Autores: Guilherme Gomes Ferreira (Autor), Rapha Jacques (Ilustrador), Maria de Fátima Beghetto (Editor), Jaqueline Gomes de Jesus (Prólogo), Aline Kerber(Introdução), Eduardo Pazinato (Introdução)
» Editora: Multideia Editora
» R$ 15
» 195 páginas
 
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Correio Braziliense sexta, 29 de novembro de 2019

SEQUESTRO DE BEBÊ: CINCO HORAS DE DESESPERO

 

SEQUESTRO
 
 
Cinco horas de desespero
 
Estudante de fonaudiologia de 23 anos leva recém-nascido do Hospital Regional de Taguatinga, mas é flagrada na unidade de saúde de Ceilândia após simular parto em casa e acionar o Samu. Apesar do susto, mãe e criança passam bem

 

ALAN RIOS
CAROLINE CINTRA
JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/11/2019 04:00

A mãe, Larissa, com Miguel Pietro, e a namorada, Luana: final feliz  (Arquivo Pessoal)  

A mãe, Larissa, com Miguel Pietro, e a namorada, Luana: final feliz

 



HRT, local do crime: após o sequestro, a Secretaria de Saúde informou que revisará os protocolos de segurança (Ed Alves/CB/D.A Press - 30/3/16)  

HRT, local do crime: após o sequestro, a Secretaria de Saúde informou que revisará os protocolos de segurança

 



A dor do parto de 36 horas, o alívio pelo nascimento saudável e o pânico do sequestro do filho, ainda na maternidade do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Larissa Almeida, 21 anos, passou por tudo isso nos últimos dias. A mãe de primeira viagem teve o bebê, Miguel Pietro, tirado dos braços por uma mulher de jaleco, que a convenceu a entregar o recém-nascido alegando que havia a necessidade de um exame de glicemia. A criança, no entanto, foi levada pela estudante de fonoaudiologia Dayane da Fonseca Santos, 23. À polícia, a jovem informou que perdeu um bebê em agosto, mas manteve a história da gravidez para a família, o que teria motivado o crime. O caso chama a atenção também pela frequência com que ocorrem sequestros de bebês na capital federal (leia Memória).

O crime de ontem ocorreu por volta das 3h. Larissa contou aos investigadores que sentiu um aperto no coração minutos depois de entregar a criança. Foi quando decidiu procurar alguém da equipe do hospital. O terror começou quando ela foi informada que aquele tipo de exame não era feito naquele horário. Sem encontrar Miguel nem a mulher de jaleco, a enfermeira registrou uma ocorrência no posto policial do HRT. No início da manhã, a mãe foi levada à 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) para prestar depoimento, iniciando a investigação da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS).

Larissa tem quatro irmãos e mora no Gama com a namorada, Luana Soares, 22, que contou detalhes dos momentos de aflição. “Desde o começo, ela achou aquela mulher estranha, porque ela estava no hospital desde cedo, pedindo para fazer teste nos bebês. Como é o primeiro parto da Larissa, ela entregou, na inocência”, afirmou. A namorada só tinha visto o filho por foto e se emocionou pensando na possibilidade de não conhecê-lo. “A Larissa tinha me mandado foto dele, dizendo: ‘Olha que lindo!’. Logo depois, ele foi tirado dela. Não dava para acreditar. É cruel. Isso mostra que o mundo está perdido”, lamentou.

A família mobilizou-se e seguiu para a porta do HRT, ainda durante a madrugada. O irmão, Rodson Almeida, 27, não conteve as lágrimas. “Eu não acreditei, fiquei muito indignado. É o primeiro bebê menino, porque a nossa mãe só teve netas. É o nosso xodó, e eu ainda sou padrinho dele. A gente batalhou e comprou tudo para o bebê. Nunca pensei que eu pudesse me sentir destruído assim”, disse. Enquanto os parentes esperavam notícias no hospital, Larissa descrevia aos investigadores as características da sequestradora.


Luiz Henrique Sampaio, delegado:  

Luiz Henrique Sampaio, delegado: "Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo"

 




Reviravolta em Ceilândia
Mãe de Larissa, a cabeleireira Francisca Almeida Ribeiro, 55, acompanhou o parto e lembrou do momento em que recebeu a primeira boa notícia do caso. Ela estava na delegacia com a filha, registrando ocorrência, quando um dos investigadores deu uma esperança: “Ele disse que tinha uma mulher no Hospital Regional de Ceilândia com um bebê que poderia ser o Miguel”. A tal paciente do HRC havia acionado o Samu por volta das 5h, dizendo que tinha acabado de dar à luz. A equipe médica, porém, achou estranho o recém-nascido estar limpo e com sinais de ter sido vacinado, além de a possível mãe estar bem para quem tinha acabado de passar por um parto.

Francisca e Larissa foram levadas ao Hospital de Ceilândia para verificar se aquela criança era Miguel. Por volta das 8h30, elas reencontraram a criança. “A minha filha chegou lá e reconheceu a mulher e o bebê. Eu o reconheci também, porque eu o vi nascer, registrei e tudo. Nenhuma família merece passar pelo que a gente passou”, declarou.

Crime premeditado
Em depoimento à Polícia Civil, a estudante de fonoaudiologia Dayane confessou o crime, segundo os investigadores. Antes de sequestrar o bebê, a jovem havia estado no Hospital Regional de Taguatinga duas vezes, em 23 e em 25 de novembro, para observar a rotina das grávidas. “Ela foi ao HRT e começou a conhecer o local. No momento em que estava próxima à porta, ela viu uma lista com informações do número do quarto onde estavam as mães e os recém-nascidos. Com isso, ela entrou dizendo que faria uma visita a um determinado quarto”, detalhou o diretor adjunto da DRS, Luiz Henrique Sampaio.

No dia do crime, Dayane chegou ao hospital à tarde, por volta das 15h, e permaneceu no local até a madrugada. Para disfarçar, ela usou um jaleco para ser confundida como servidora da unidade de saúde. “Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo”, avaliou o delegado.

Para sair do HRT, Dayane colocou o bebê em uma bolsa. Em casa, manteve a criança no quarto até que, pela manhã, o irmão da acusada ouviu o choro do recém-nascido. Nesse momento, ela contou que tinha dado à luz, e a família chamou o Samu. Segundo os investigadores, a jovem sujou o banheiro de sangue para simular o cenário do parto — ainda não se sabe a origem do sangue.

Um bebê era bastante esperado pela família e pelo namorado de Dayane. Os agentes revelaram que a jovem fez um enxoval e apresentou o cartão do pré-natal do filho que perdeu ao chegar no HRC. Dayane tem um filho de 5 anos. “A gente percebe que ela sofre um drama emocional, e tudo isso pode ter contribuído para o crime”, comentou o delegado Luiz Henrique. A acusada está presa em flagrante por subtração de incapaz. A pena para esse tipo de crime é de 2 a 6 anos de reclusão.

Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que a direção do HRT “esclarece que preza pela segurança dos pacientes e que tem uma rigorosa vigilância”. A pasta acrescentou que, com esse caso, “os protocolos estão sendo revistos para aprimorar o trabalho e garantir que situações como essa não se repitam”, além de adiantar que está em andamento um projeto para implementação de uma central de monitoramento. O órgão detalhou, ainda, que Miguel Pietro passa bem. “O recém-nascido está internado no Hospital Regional de Ceilândia, recebendo toda a assistência necessária. Está em observação, apenas em cumprimento aos protocolos hospitalares. De lá, com a mãe, receberá alta, procedimento que ainda não tem data prevista”, ressaltou a pasta.




Memória

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 7/5/19)  


11 de fevereiro de 1981

» Com dois dias de vida, Luís Miguel foi levado dos braços da mãe, Sueli Gomes da Silva, na porta do Hospital Regional do Gama. À época, a mulher tinha 16 anos e morava em um orfanato. Ao sair da unidade de saúde com o filho e acompanhada por dois funcionários do abrigo — um homem e uma mulher —, ligou para a dona do abrigo, de um orelhão, e deixou a criança com a moça que estava com ela. Quando encerrou a ligação, não encontrou mais o filho. Apenas em 2013, após a morte da proprietária do abrigo, Sueli contou a história à polícia. A investigação durou seis anos. Em abril deste ano, por meio de um exame de DNA, a Polícia Civil confirmou que o corretor de imóveis e morador da Paraíba Ricardo Araújo, 38 anos, é filho de Sueli.


 (Carlos Moura/CB/D.A Press - 3/5/03)  


21 de janeiro de 1986
» O sequestro de Pedro Rosalino Braule Pinto é um dos casos mais famosos do país. Vilma Martins Costa, passando-se por enfermeira, entrou no quarto onde Maria Auxiliadora Braule Pinto se recuperava do parto do filho. Ela disse que levaria o bebê para fazer exames, mas sumiu com ele. O crime ocorreu no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Passados 16 anos, o menino foi encontrado em Goiânia, vivendo com a família de Vilma, sob o nome de Osvaldo Martins Borges. Após cumprir 5 dos 19 anos das penas inicialmente impostas pela Justiça, a sequestradora de Pedrinho ganhou a liberdade condicional em 2008.


 (Luis Nova/Esp. CB/D.A Press - 8/6/17)  


6 de junho de 2017
» Um dia antes de receber alta, Jhony Júnior foi sequestrado do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A mãe da criança, Sara Maria, 19 anos, havia dado à luz em um posto de saúde na Estrutural, em 25 de maio, e, depois, levada, com o filho, para a unidade de saúde do Plano Piloto. A equipe de enfermagem percebeu que o bebê não estava mais lá durante o horário de almoço. As buscas começaram com vigilantes e policiais militares no hospital. No dia seguinte, a criança foi encontrada com Gesianna de Oliveira Alencar. Ela foi presa. Em 6 de setembro do mesmo ano, a Justiça a condenou a pagamento de multa e a penas alternativas, como prestação de serviços comunitários ou doação de cestas básicas.
 
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Correio Braziliense quinta, 28 de novembro de 2019

LULA É SENTENCIADO A 17 ANOS DE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

Lula é sentenciado a 17 anos de prisão
 
 
TRF-4 confirma condenação do ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do sítio de Atibaia e aumenta a pena

 

» Renato Souza

Publicação: 28/11/2019 04:00

Para a defesa de Lula, a decisão em segunda instância reforça a perseguição ao petista (Nelson Almeida/AFP)  

Para a defesa de Lula, a decisão em segunda instância reforça a perseguição ao petista

 



Por unanimidade, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo relacionado ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). O relator do caso, João Pedro Gebran Neto, votou para manter a condenação da primeira instância e pelo aumento da pena de 12 anos e 11 meses, decretada pela juíza substituta Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, para 17 anos, um mês e 10 dias. O entendimento dele foi seguido pelos desembargadores Leandro Paulsen e Thompson Flores. Com a decisão, o petista enfrenta mais um entrave em suas pretensões eleitorais.

A sentença fez Lula sofrer a segunda condenação em segundo grau de Justiça, já que também foi condenado pelo TRF-4 no processo relacionado ao triplex do Guarujá (SP). Na ação penal analisada ontem, o ex-presidente é acusado de receber propina do Grupo Schain, de José Carlos Bumlai, e das empreiteiras OAS e Odebrecht por meio de reformas no sítio frequentado pelo petista e familiares.

Os magistrados rejeitaram alegações de perseguição política por parte do então juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, e avaliaram que o petista não pode ser beneficiado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou a condenação do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine.

Na ação de Bendine, o Supremo entendeu que as alegações finais devem ser apresentadas pelos réus citados em delação apenas depois dos delatores, para que os acusados possam se defender. O TRF-4 entendeu que no caso de Lula não ficou provado que ele sofreu prejuízo por conta da ordem de apresentação nessa fase do processo, embora ele tenha tido o mesmo prazo que Léo Pinheiro, delator da OAS, para se manifestar. Em relação a Moro, Gebran Neto entendeu que ele passou a integrar o governo do presidente Jair Bolsonaro somente após o processo ser finalizado. O relator afirmou que ficou comprovada a culpa de Lula no caso e que ele era a liderança do esquema.

Fiador


Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, também foi condenado, mas se beneficia por ter firmado um acordo de delação. “Há prova documental e testemunhal a respeito da participação do grupo Odebrecht, representado por seus principais dirigentes, no esquema de corrupção para direcionamento de contratação da Petrobras e pagamento de propina a agentes públicos e políticos e, mais especificamente, o dirigente do PT, tendo o ex-presidente como mantenedor e fiador desse esquema. Mantenho assim a sentença na condenação de Luiz Inácio e Marcelo Odebrecht pelas práticas dos crimes de corrupção ativa e passiva”, disse Gebran.

O advogado Cristiano Zanin Martins, que integra a defesa de Lula, pretende usar como base, em novos recursos, a alegação de que o TRF-4 não respeitou a decisão do Supremo sobre a anulação de sentenças em que réus delatados e delatores apresentaram as alegações finais no mesmo prazo. “A decisão de hoje (ontem) é incompatível com o posicionamento da Suprema Corte ao definir ser necessário dar à defesa dos corréus delatados a oportunidade de falar após corréus delatores”, frisou o advogado.

Em nota, o PT alegou que o tribunal de segunda instância agiu como “um pelotão de fuzilamento”. “Além de ignorar as nulidades do processo do sítio de Atibaia e de, mais uma vez, combinar previamente o aumento da sentença injusta, a Turma desacatou abertamente o Supremo Tribunal Federal, num verdadeiro motim contra a hierarquia do Poder Judiciário e contra a ordem constitucional democrática do país”, alegou a sigla.


"Havia a expectativa que se comportasse (Lula) em conformidade com o direito e que coibisse ilicitudes. Ao revés disso, o que se verifica, nesses casos, é uma participação e uma responsabilização pela prática dos diversos atos de corrupção”
João Pedro Gebran Neto, desembargador.
 
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Correio Braziliense quarta, 27 de novembro de 2019

ATIVISMO POR MEIO DA ARTE

 

Ativismo por meio da arte
 
 
Professor da UnB, Nelson Inocencio tem trajetória acadêmica e artística marcada pela luta contra o preconceito e pela conscientização das questões raciais

 

» Emilly Behnke

Publicação: 27/11/2019 04:00

A arte pode ser transformadora, 
se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado

 



“Ser e tornar-se negro é ter a dimensão política do que é ser uma pessoa negra no mundo. Não é só a diferença de melanina.” Essa é a visão de Nelson Fernando Inocencio da Silva, 58 anos, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Filho de pais cariocas que vieram para o centro do país transferidos, Inocencio é um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital.
 
Com 17 anos, começou a participar de grupos que buscavam construir uma identidade negra no Distrito Federal. Por meio da arte, encontrou seu jeito de contribuir. “Eu entrei na universidade já com uma formação política, que o ativismo me deu”, relata. Como calouro, em 1980, Inocencio lamentava o fato de ser uma das poucas pessoas negras do ambiente.
 
“Era tão rara a presença de estudantes afrobrasileiros que, às vezes, vinham falar comigo em inglês ou francês, achando que eu era aluno do convênio do Brasil com os países africanos”, lembra. Para ele, ser o único negro em um local não era motivo de orgulho — como ouviu de muitas pessoas. “Isso não era algo para ser celebrado”, diz.
 
Esse cenário mudou, quando comparado com 40 anos atrás. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez, a população que se declara preta ou parda passou a representar mais da metade (50,3%) dos alunos de ensino superior da rede pública. “A paisagem do câmpus tem sofrido uma mudança. Ainda não é radical, mas é importante”, opina.
 
Como professor da UnB desde 1995, ele duvida da estatística. “É uma presença mais significativa do que no passado, mas não é majoritária.” E chama a atenção para o baixo número de professores negros. “É ainda mais diminuto na carreira docente. Nós não chegamos a 5% do total, talvez nem a 3%”, calcula.
 
Tabu
 
Uma das principais vitórias da luta contra o preconceito no Brasil, segundo Inocencio, é poder colocar o racismo em pauta como um dos temas de importância nacional. Para ele, houve um “adensamento” do debate, mas ainda é um tabu. “Sou de uma época em que o mito da democracia racial era algo muito forte no Brasil. Com muita dificuldade, se admitia o preconceito racial”, comenta.
 
No fim da década de 1970, em pleno regime militar, ele ingressou na vida ativista. “Nós ousamos falar de racismo quando o assunto era tratado como subversão. Fizemos um trabalho corajoso.” Na época, a questão racial não era preocupação das organizações. “Mesmo as mais avançadas não tinham convicção de que o racismo era um fenômeno extremamente danoso. Era quase um monólogo, poucas ouviam”, ressalta.
 
De lá para cá, a luta das entidades ganhou maior espaço. Mas Inocencio alerta: “Lutar contra o racismo não pode ser um compromisso só do movimento negro. Não fomos nós que inventamos o problema. O compromisso é da sociedade”. Na avaliação do educador, autor de três livros sobre o tema, a conjuntura política e social não é favorável para os movimentos sociais. “Estamos vivendo um retrocesso intenso, mas não vamos esmorecer. É um absurdo que um país como o Brasil, com a segunda maior população negra do mundo, a trate da forma como vem tratando”, critica.
 
“Artivismo”
 
Publicitário por formação, Nelson Inocencio sempre teve aptidão pelas artes. Foi o medo do curso de educação artística acabar que o fez pedir transferência para comunicação social, área em que também fez mestrado. Segundo ele, a parte midiática da luta é fundamental, porque há um vício histórico da sociedade brasileira de “sobrerrepresentação de brancos e uma subrepresentação de negros e indígenas”. É equivocado, contudo, na opinião do doutor em artes, dizer que o negro nunca foi representado. “A representação sempre existiu, mas sempre tendeu para o lado negativo: como caricatura, exótica e risível. Era a desumanização e não o reconhecimento”, argumenta.
 
Apesar de reconhecer a importância estratégica da comunicação para ampliar o debate racial, é pela arte que Inocencio mais manifesta seu ativismo — o qual resume como “artivismo”. “A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado”, explica.
 
A arte tem a capacidade de sensibilizar, e essa é uma das funções da militância negra, de acordo com Inocencio. “Quando eu digo sensibilizar, falo de agir. O sentimento tem que se transformar em alguma coisa”, esclarece. Ele acrescenta que a sensibilização para transformar é tanto do negro em relação à sua consciência quanto dos outros membros da sociedade quanto à questão racial. “Todos nós precisamos nos responsabilizar, se a gente quer uma sociedade verdadeiramente democrática.”


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
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Correio Braziliense terça, 26 de novembro de 2019

PROJETO PARA ACELERAR REINTEGRAÇÃO DE POSSE

 

Projeto para acelerar reintegração de posse
 
Presidente Jair Bolsonaro diz que mandará ao Congresso proposta de criação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) do campo. De acordo com o chefe do Planalto, governadores protelam o cumprimento das decisões judiciais de restituição de terras invadidas

 

AUGUSTO FERNANDES
RENATO SOUZA

Publicação: 26/11/2019 04:00

 

Bolsonaro: %u201CA GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça%u201D (Antonio Cruz/ Ag?ncia Brasil)  

Bolsonaro: " A GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça."

 

 

O governo federal quer alterar a legislação que trata sobre reintegração de posse nas áreas rurais para permitir que o próprio presidente da República autorize a atividade de tropas das Forças Armadas no cumprimento das decisões judiciais que ordenem a retirada de invasores. Para isso, o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, prepara um projeto de lei que propõe a criação de uma “GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para o campo”. Segundo ele, o objetivo é dar celeridade às ações que envolvem a restituição de terras.

Como justificativa, Bolsonaro disse haver governadores que demoram a pôr em prática as decisões de reintegração de posse em imóveis rurais proferidas por juízes — hoje, cabe aos Poderes Executivos de cada um dos 27 entes federativos acionar as forças de segurança pública locais, como a Polícia Militar, para atuar nos casos de invasão.
“Quando marginais invadem propriedades rurais, e o juiz determina a reintegração de posse, é quase regra que governadores protelam. Poderia, pelo nosso projeto, ter uma GLO do campo para chegar e tirar o cara da propriedade”, frisou o presidente.

O Executivo não quer, contudo, retirar a responsabilidade dos estados, conforme afirmou Bolsonaro. Para ele, os governos federal e estaduais podem atuar em conjunto. “Onde a propriedade privada não existe é no socialismo, no comunismo. Não chegamos lá ainda”, argumentou. “O cara invade a fazenda, queima o gado, depreda patrimônio, mata animais e fica por isso mesmo. Tem de ser algo urgente. E você, dando uma resposta urgente, inibe outros de fazerem isso.”

Apesar de não falar em datas, o chefe do Planalto disse que encaminhará a proposta ao Congresso. “Deixo bem claro que isso passa pelo parlamento. Se o parlamento achar que assim deve ser tratada a propriedade privada, aprova. Se achar que a propriedade privada não vale nada, aí não aprova”, frisou. Ele espera aprovação geral da bancada ruralista, composta por 247 deputados e 38 senadores.

Membro da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Luis Carlos Heinze (PP-RS) acredita que o tema não terá dificuldades para avançar em nenhuma das Casas. “Em qualquer lugar do mundo, a propriedade é um direito sagrado. Portanto, o que precisamos é respeitar esse direito. Têm casos no país que a reintegração leva dois, três, quatro anos”, destacou.

A proposta pode tramitar em paralelo com outro projeto enviado por Bolsonaro ao Congresso, na semana passada, que trata sobre excludente de ilicitude para agentes em ações de GLO, ou seja, uma espécie de “salvaguarda jurídica” para policiais que, porventura, matarem em serviço. A medida já encontra resistência no parlamento e, caso não seja aprovada, Bolsonaro disse que “GLOs raramente serão editadas”. “A GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça. Mas, se não querem, não estou ameaçando ninguém, não. Não tem problema. A caneta Compactor é minha. Não tem GLO. Ponto final.”

A intenção de utilizar as Forças Armadas para reintegrações de posse levanta críticas, pois Exército, Marinha e Aeronáutica são treinados para situações de guerra e de conflito armado, e não para garantir o cumprimento de decisões da Justiça. Porém, o professor Terence Trennepohl, pós-doutor em direito ambiental pela Universidade de Harvard, nos EUA, afirmou ser comum que medidas judiciais desse tipo não sejam cumpridas, principalmente por falta de pessoal.

“De acordo com a Constituição, as Forças Armadas são instituições organizadas, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes e, por iniciativa de qualquer desses, da lei e da ordem. É exatamente aqui que se legitima a proposta do presidente”, avalizou.

Saiba mais

Queda no número de invasões
Os números mais atualizados de invasões de terras rurais no país, divulgados pela Comissão Pastoral da Terra, revelam que, no ano passado, 143 áreas foram apropriadas de forma irregular. Em comparação aos anos anteriores, a estatística caiu: 169 foram invadidas em 2017; e 194, em 2016. A quantidade de invasões a terras indígenas, porém, está em alta. Em 2018 inteiro, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), registrou 111 ocorrências em 76 áreas. Até setembro deste ano, a instituição contabilizou 160 invasões em 153 localidades.

Rigor contra invasor de casa

O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que enviará projeto de lei ao Congresso para garantir que uma pessoa armada possa fazer “tudo contra o invasor” dentro de sua casa. “Como você deve se comportar dentro de casa, armado, se alguém entrar? Hoje em dia, como que é a legislação? Queremos garantia absoluta de que, dentro da casa, você pode tudo contra o invasor”, frisou. Segundo o presidente, a medida é parte de um pacote de projetos que o governo deve enviar ao Congresso, composto também pela sugestão de excludente de ilicitude para agentes durante ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). “Poder Público, não tem o governador (como) proporcionar segurança para todo mundo 24h. Dentro de casa, você tem de ser dono de você”, argumentou, sem detalhar o teor da proposta. “Qualquer pessoa que entrar na sua casa, você pode ter o poder absoluto sobre ela”, repetiu.
 

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Correio Braziliense segunda, 25 de novembro de 2019

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM DEBATE

 

Violência contra a mulher em debate
 
Programação da campanha dos 16 dias de ativismo pelo fim das agressões contra elas inclui atos públicos, sessões solenes e colóquio promovido pelo Correio. Atividades começam hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/11/2019 04:00

O gramado da Esplanada dos Ministérios amanhece hoje com com 1.206 cruzes fincadas na grama. Segundo o grupo de mulheres responsável pelo ato, cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O gramado da Esplanada dos Ministérios amanhece hoje com com 1.206 cruzes fincadas na grama. Segundo o grupo de mulheres responsável pelo ato, cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018

 



Vinte e sete mulheres vítimas de feminicídio, 474 estupradas e 12.115 casos de violação à Lei Maria da Penha contra elas. Os números fazem parte do balanço da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) referente ao período de janeiro a outubro. Os casos de violência contra a mulher na capital do país alarmam não só pela frequência como também pela quantidade de ocorrências: em média, 41 registros por dia, se levados em conta os três tipos de crimes. Até agora, a quantidade de mulheres assassinadas por condição de gênero no DF chegou a 30, o maior número desde a criação da lei que tipifica o delito, em 2015.

Há décadas, o tema tem sido foco de ações de diferentes setores. Para reforçar a importância da luta constante contra essa realidade, em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o 25 de novembro como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. A data de hoje dá início à campanha anual de 16 dias de ativismo pelo fim dessa prática e inclui uma série de atividades — em Brasília, no restante do Brasil e no mundo — para debater o tema e alertar para a gravidade do cenário. As ações ocorrem até 10 de dezembro, quando se comemora a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Por ocasião da data, o gramado em frente ao Congresso Nacional amanheceu com 1.206 cruzes fincadas na grama. Cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018. O ato incluirá, ainda na manhã de hoje, a formação da palavra “Basta” pelas participantes. A concentração começa às 9h30. Em seguida, às 11h, haverá uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada federal Flávia Arruda (PL).

A parlamentar considera o cenário “uma verdadeira epidemia” e afirma que o objetivo do ato é marcar a data como um dia de luta e de homenagem a todas as vítimas. “Não podemos nos esquecer dessas vidas. Não são apenas estatística. São mães, filhas, amigas, esposas que tiveram a vida interrompida. Temos lutado diariamente no Congresso (Nacional) para garantir que a Lei Maria da Penha seja cumprida, para que tenhamos mecanismos de punição severa para os agressores, de proteção à vítima e, especialmente, de prevenção”, reforça Flávia.

Ainda hoje, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, será o primeiro ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Feminicídio, na Câmara Legislativa. O comitê havia aprovado um requerimento dos distritais Fábio Félix (PSol) e Arlete Sampaio (PT), solicitando a participação de Torres. No entanto, o próprio titular da pasta enviou um ofício em que se ofereceu para participar da audiência. A reunião, restrita a parlamentares e assessores, está prevista para as 14h.

Angústia
Presenciar agressões físicas e verbais do pai contra a mãe de Sharlene*, 32 anos, foram uma constante. Desde criança, ela e as três irmãs presenciaram momentos de tensão e dor. “A primeira lembrança que tenho do meu pai agredindo-a foi de quando ele chegou bêbado em casa. Estávamos as quatro sentadas no sofá, ele começou a brigar com ela (a mãe). De repente, deu um murro no nariz dela. Jorrou muito sangue. Lembro-me dela abaixada, imóvel, para que ele parasse de bater. O nariz quebrou e, até hoje, ela tem sequelas”, relata.

Depois disso, as agressões pioraram ao longo dos 35 anos de casamento: tapas, murros e violência verbal. “Crescemos nessa realidade. Às vezes, nos trancávamos no quarto com ela para impedir que ele entrasse e a machucasse”. Há dois anos, Sharlene presenciou outra briga marcante. O pai chegou à casa de familiares e disse que esfaquearia a mulher. Espantados, os cunhados o denunciaram. No entanto, quando a polícia chegou, a mãe desistiu de fazer a acusação.

Sharlene conhece o cotidiano da mãe, mas não sabe como ajudar. O ciúme doentio por parte do pai tira qualquer possibilidade de relacionamento saudável. “Há um tempo, ele não a agride mais, mas com palavras é muito constante. Percebo que a vida dela é de muita angústia, ela é uma mulher muito triste. Qualquer tipo de vaidade que ela tem, ele acha que ela ‘vai aprontar’. Um dia, ela começou a chorar, disse que queria que ele morresse e que tem medo de ele matá-la”, lamenta a auxiliar administrativo.

Reeducação
Para a psicóloga Jeane Cristine de Sá, um dos maiores desafios no atendimento a mulheres vítimas de violência é fazer com que elas compreendam que estão em uma relação tóxica e que aquilo pode mudar. “Além disso, tem a questão da dependência emocional e financeira e de casos em que há filhos do casal. Quando consigo provar para elas as consequências fisiológicas, mostrar que elas têm perdas significativas na saúde, muitas começam a se conscientizar”, explica.

Idealizadora do Projeto Support, de atendimento a mulheres em situação de risco e acompanhamento psicológico, Jeane comenta que as consequências de um relacionamento abusivo e permeado por violência provocam perdas de substâncias importantes para o corpo, como a serotonina, que controla sono, apetite e humor. “A tristeza está presente em todas elas (vítimas). Muitas vezes, elas fazem ‘escolhas ruins’ porque estão tristes”, analisa. “E os homens precisam ser tratados. Não há a menor dúvida. Há essa coisa da posse. Uma imaturidade emocional tão grande. Eles precisam mudar conceitos dentro de si para que o comportamento venha a ser outro”, completa Jeane.

Procuradora de Justiça aposentada e autora de livros sobre violência contra a mulher, a advogada criminal Luiza Nagib Eluf lembra que esse tipo de comportamento trata-se de uma “demonstração de força bruta por parte de homens inconformados que querem dominar as mulheres”. “Essa dominação, em resumo, é uma afronta total aos direitos da mulher. É uma afronta a todas as nossas leis, aos direitos humanos, aos direitos da família, das crianças”, elenca. “Sempre percebi essa discriminação, que é, na verdade, uma tentativa de amputação da mulher. No sentido físico, sexual, mental. É uma forma de castrá-las.”

Além de ressaltar a necessidade de um processo de mudança de mentalidade e de reeducação, Luiza cobra a criação de cotas nos três poderes. A advogada recomenda, ainda, que as mulheres encontrem apoio umas nas outras. “A primeira coisa que temos de fazer é ter amigas. Sair e conversar com elas. É preciso acordar para o fato de que é o único apoio que a mulher tem é o de outra mulher”, argumenta.

*Colaborou Thais Umbelino (estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart)




Legislação
Sancionada em agosto de 2006, a Lei Maria da Penha surgiu para criar mecanismos que coíbam a violência doméstica e familiar contra a mulher. O crime configura-se como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial à vítima. O delito constitui violação aos direitos humanos e vale para o âmbito da unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente de coabitação e de orientação sexual.
 
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Correio Braziliense domingo, 24 de novembro de 2019

FLAMENGO: UMA APOTEOSE EM TRÊS MINUTOS

 

Uma apoteose em três minutos
 
Trinta e oito anos depois, a torcida rubro-negra delira com a conquista. O 2 x 1 sobre o River Plate foi um %u201CAi, Jesus%u201D, como no hino. Próxima parada: Catar, para reviver o sonho de ser o dono do mundo

 

FaBIO Grecchi

Publicação: 24/11/2019 04:00

 

Diego Alves, Éverton e Diego erguem a taça, na tripla comemoração dos capitães da equipe durante a campanha. Jogadores entram para a história do clube com 2º título da Libertadores (Ernesto Benavides/AFP
)  

Diego Alves, Éverton e Diego erguem a taça, na tripla comemoração dos capitães da equipe durante a campanha. Jogadores entram para a história do clube com 2º título da Libertadores

 

 


Se perguntarem a qualquer rubro-negro se Flamengo 2 x 1 River Plate foi um bom jogo, possivelmente a resposta será “não”. Os brasileiros não conseguiram desfazer o nó cego passado pelos argentinos e, para piorar, ainda bateram cabeça no gol que, até os 43 minutos do segundo tempo, levava o título da Libertadores para Buenos Aires. Mas, e daí? Com sofrimento, os rubro-negros, em menos de cinco minutos, espantaram o cheirinho com que os “secadores” sempre provocaram e encheram os pulmões com o mais puro e inebriante perfume da vitória.

Os 38 anos de distância entre o primeiro e o segundo título não se comparam em agonia com os aproximadamente 85 minutos de domínio pleno do River, que entendeu o jogo do Flamengo desde o primeiro minuto – o contrário não aconteceu, em momento algum, diga-se. A marcação pesada da equipe de Marcelo Gallardo era um sufocamento para um time leve, acostumado a mandar nas ações, mas que já devia ter percebido que os adversários também criam antídotos. O 4 x 4 com o Vasco, em pleno Maracanã, não serviu de aviso.

Foi esse descompasso que levou Willian Arão e Gérson a dizerem, um para o outro, “deixa que eu deixo”, e permitir que Borré batesse seco para o fundo do gol, numa bola vinda do fundo. Aliás, justiça se faça ao River: notou que o lado esquerdo do Flamengo é um latifúndio e colocou Nacho Fernándes ali, entre Filipe Luiz e o lento Pablo Marí. Na direita, Casco e De La Cruz aprontavam um salseiro em cima de Rafinha, impedindo-o de ir ao ataque e obrigando Rodrigo Caio a trabalhar dobrado.

A rigor, o Flamengo não chutou a gol no primeiro tempo. Bruno Henrique e Gabigol estavam isolados na frente, onde a bola não chegava; Éverton Luiz recebia pelo menos três marcadores em cima e não conseguia flutuar; Arrascaeta padecia do mesmo mal e passou o primeiro tempo nessa teia. A proposta do River era inteligente: reduzir a velocidade do time de Jorge Jesus. E com brilho, conseguiu. Já diz a máxima futebolística: final não se joga, se ganha.

Bom, o “Mister” já leu a tática dos argentinos e, no segundo tempo, vai desfazê-la. Qual o quê! O Flamengo voltou do intervalo novamente desarvorado, afobado, chutando bola para o alto, errando passes. Desalento – dessa forma, a Libertadores já tem dono. Armani, lá atrás, agradecia todos os cruzamentos na área. Não é goleiro da seleção por acaso.

Mas talvez Marcelo Gallardo tenha cometido seu maior erro ali pelos 30 minutos, quando começou a substituir jogadores. O fez para ganhar tempo? Por achar que a taça estava na mão? Por ter percebido cansaço depois de tanto esforço? Dificilmente confessará. Não foi coincidência que, a partir daí, o Flamengo passou a achar os espaços que não encontrara até então. No primeiro gol, Bruno Henrique lançou Arrascaeta, que, escorregando, conseguiu cruzar para Gabigol empatar, aos 43.

Ufa! Uma chance de levar para a prorrogação e para os pênaltis; pressão para o outro lado. Eis que, porém, o inacreditável acontece: Gabigol se dá bem na disputa com o duro Pinola e... 2 x 1!

Acaba!, acaba o jogo, seu juiz! Chega!

Ainda teve expulsão de Gabigol, pisão em Bruno Henrique, empurra-empurra – e o árbitro, que não é trouxa nem nada, esperou a bola dar uma roladinha para trilar o apito. Aí, meus amigos, foi a festa que não se viu nas últimas copas do mundo.

Nota final: agradecemos o tuíte do River reconhecendo o título. E deem licença, que a hora é de desfrutar o perfume e a alegria da vitória.

“Eu imaginava ser campeão, mas foi melhor. Foi a cara do Flamengo, acreditando até o fim. Valeu a pena todo esforço que fizemos para chegar até aqui”

Éverton Ribeiro,
capitão do time rubro-negro

"Tenho orgulho dos meus jogadores, podem ficar de cabeça erguida. O Flamengo é um grande rival, para muitos era o favorito. Em campo não se viu isso. Graças ao trabalho do River. Fomos melhores por 85 minutos. Temos que saber perder"

Marcelo Gallardo


trajetória do título

Fase de grupos


5/3 - San José 0 x 1 Flamengo
Na altitude de 3.700 m de Oruro, Bolívia, o Flamengo fez o improvável. Com gol de Gabriel Barbosa e noite inspirada de Diego Alves, a equipe ainda comandada por Abel Braga estreou com vitória fora de casa na Libertadores.

13/3 - Flamengo 3 x 1 LDU
Apesar de ter cometido dois pênaltis, o time carioca venceu por 3 x 1, no primeiro jogo no Maracanã, com gols de Éverton Ribeiro, Gabriel Barbosa e Uribe. Cristian Borja descontou para os visitantes.

3/4 - Flamengo 0 x 1 Peñarol
Derrota amarga em casa. Com poucas chances criadas e Gabriel expulso, o Flamengo perdeu o jogo e a liderança do Grupo D para o Peñarol. Viatri saiu do banco para dar a vitória aos uruguaios, aos 42 minutos do
segundo tempo.    

11/4 - Flamengo 6 x 1 San José
Foi do Flamengo a maior goleada da Libertadores de 2019. Com gols de Éverton Ribeiro (2), Diego Ribas (1), Arrascaeta (1), Vitinho (1) e Gutiérrez (contra), o Flamengo venceu por 6 x 1 e reassumiu a liderança do Grupo D.

24/4 -  Liga de Quito 2 a 1 Flamengo  
Em Quito, o Flamengo até saiu na frente com Bruno Henrique, mas Anangonó e Chicaíza marcam para os equatorianos. Derrota rubro-negra por 2 x 1.

8/5 - Peñarol 0 x 0 Flamengo  
Flamengo desperdiçou oportunidades, perdeu Pará (expulso aos 18 do 2º tempo), mas segurou o empate fora de casa. E se classificou para as oitavas como líder da chave.

Oitavas de final
24/7- Emelec 2 x 0 Flamengo  
Com Jorge Jesus no comando, perdeu por 2 x 0 para o Emelec no jogo de ida das oitavas de final, no Equador. Godoi e Caicedo marcaram para o time da casa e ligaram o alerta do treinador português.

31/7 - Flamengo 2 x 0 Emelec
Como diria a torcida: hoje tem gol do Gabigol. E não foi apenas um: dois gols de Gabriel levaram a decisão da vaga às quartas de final da Libertadores para os pênaltis. Com 4 x 2 nos tiros livres, o Flamengo avançou à fase seguinte.

Quartas de final
21/8 - Flamengo 2 x 0 Internacional
Com dois gols de Bruno Henrique, no segundo tempo, o Flamengo venceu o Internacional no jogo de ida das quartas de final da Libertadores.

28/8 -  Internacional 1 x 1 Flamengo
Em casa, o Internacional abriu o placar com Rodrigo Lindoso. Mas um erro de Sarrafiore, e o contra-ataque rubro-negro, Gabriel Barbosa fez o gol de empate que cravou a classificação do Flamengo para a semifinal.

Semifinal
2/10 - Grêmio 1 x 1 Flamengo
Em um jogo eletrizante, as redes da Arena do Grêmio balançaram cinco vezes — três gols foram anulados pelo VAR. Bruno Henrique abriu o placar, em falha da marcação tricolor. Pepê, que saiu do banco, decretou o empate e empurrou a decisão da vaga para o Maracanã.

23/10 - Flamengo 5 x 0 Grêmio  
Uma humilhação que quase 70 mil pessoas testemunharam no Maracanã! Apesar de um primeiro tempo equilibrado, o Flamengo deu um nó tático no time de Renato Portaluppi no segundo. Com gols de Gabriel (2), Bruno Henrique (1), Pablo Mari (1) e Rodrigo Caio (1), o time de Jorge Jesus atropelou os gaúchos e  garantiu a vaga na final da Libertadores.

final

23/11 - Flamengo 2 x 1 River Plate
Com virada épica em Lima, no Peru, o Flamengo reconquista a América. 

 

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Correio Braziliense sábado, 23 de novembro de 2019

CRISTIANE SOBRAL: A ARTE COMO FORMA DE LUTAR

 

A arte como forma de lutar
 
Radicada em Brasília, a atriz e escritora Cristiane Sobral tem história entrelaçada com a questão racial e reconstrói a identidade negra dentro dos projetos que desenvolve

 

Vinícius Veloso*

Publicação: 23/11/2019 04:00

 (Raissa Tuany/Divulgação - 11/10/19)  
A luta pela população negra e a relação com a arte e o teatro são os mantras que direcionam a vida da atriz, escritora e professora Cristiane Sobral, 45 anos. Ela defende os ideais desde a infância. Adotada, nunca conheceu os pais biológicos, mas encontrou naquelas que a criaram uma grande inspiração. “As primeiras referências de luta que tenho são da minha mãe, líder comunitária preocupada com as ações coletivas, e do meu pai, um homem caseiro que realizava as tarefas domésticas”, lembra.
 
Criada no subúrbio do Rio de Janeiro, onde a maioria da população é negra, ela conviveu desde criança com uma realidade difícil. Cristiane viu a vida mudar quando, aos 8 anos, a mãe, Marina Sobral, morreu. Por isso, ainda criança começou a entender, em partes, por que o cotidiano era tão difícil para aquele povo excluído socialmente. “Após a morte da minha mãe, pela primeira, vez me deparei com as questões de ser uma criança negra e órfã. Eu sentia o racismo incindir no meu corpo negro”, conta.
 
À época, sem o entendimento real do tamanho da discussão racial, ela conseguiu formar uma visão de mundo a partir de observações da realidade. “Minha mãe não me deixava ver televisão. Após a morte dela, comecei a assistir e entendi o motivo. A televisão representava o negro em papéis terríveis: de bandidos, malandros e prostitutas. E, ao olhar para as pessoas ao meu redor, eu via muita sabedoria e alegria, mas essas histórias não eram retratadas”, lembra.
 
Esse ponto foi essencial na trajetória de Cristiane. Ali, ela percebeu que seria escritora e atriz, com a intenção de retratar um mundo no qual os negros seriam melhor representados. Na adolescência, após um curso profissionalizante de teatro em terras cariocas, embarcou para Brasília, onde construiu uma trajetória de sucesso artístico e cultural.
 
Na capital federal, formou grupos de artes cênicas no ensino médio e foi aprovada para o bacharelado em interpretação teatral na Universidade de Brasília. Anos depois, foi a primeira atriz negra a se graduar no mesmo curso na cidade.

 (Marilia Cabral/Divulgação)  


Conhecimento para todos
 
Em Brasília, Cristiane entrou para um projeto na Embaixada da Angola no qual recebia para ler sobre a História da África. Durante seis meses, conciliou esse papel com a direção da companhia de arte negra Cabeça Feita — que completou 20 anos em 2019 — e acabou juntando todos os conhecimentos.
 
Palestras sobre a cultura angolana se misturaram às peças teatrais que abordavam a temática racial. A artista começou, também, a explorar o lado literário com a produção de livros infantis, poéticos, históricos e teatrais. Neste ano, foi a Guiné-Bissau, Moçambique e a oito universidades dos Estados Unidos para falar sobre o próprio trabalho.
 
Entretanto, ter acesso às produções de Cristiane, apesar do esforço da autora, não é tarefa tão fácil. Nas grandes livrarias, por exemplo, não se encontram exemplares das obras dela. Mesmo com a dificuldade de alcançar um público mais amplo, ela continua a produzir para desmistificar a questão racial.
 
“Escrevo com o sonho de constituir na literatura e no teatro a humanidade de pessoas negras, contando essas histórias e os legados delas. Com a escrita negra, surge a questão do meu fortalecimento feminino, social, materno e de cidadã, percebendo que essa representatividade é cada dia maior e inspiradora”, afirma Cristiane. “Realizo trabalhos nas escolas, nas penitenciárias e em outros locais. Essa discussão contribui para negros e não negros. São produções que denunciam uma sociedade ainda racista, mas que falam para leitores heterogêneos”, acrescenta.
 
Mudança
 
Para Cristiane Sobral, existem maneiras de se reverter a questão da discriminação e do racismo na sociedade brasileira, reconhecendo a existência de um apartheid e percebendo que, mesmo a passos lentos, muita coisa mudou. Partindo desse pressuposto, dois pilares são fundamentais nessa reconstrução histórica, acredita.
 
O primeiro é o reconhecimento social da existência do preconceito. “Vivemos em uma sociedade que ainda tem preconceito de ter preconceito, que tem dificuldade de assumir o nosso racismo de cada dia e que tem dificuldade de admitir que a população negra não está inclusa na vida pública do país. Não temos pessoas negras nos espaços de poder do país e da nossa cidade”, argumenta.
 
O segundo é a educação. “O Estado precisa de ações afirmativas para que possamos ter um desenvolvimento social melhor. A educação étnico-racial é uma grande ferramenta no combate ao racismo. Precisamos de uma educação antirracista. Nós não nascemos racistas. O racismo é aprendido, então ele pode ser desaprendido e combatido”, explica.
 
Para ela, faltam conteúdos sobre as vitórias, a ancestralidade e a intelectualidade do povo negro. “Precisamos falar da negritude e pensar em um contexto de positividade. A partir do momento em que você visualiza a história do seu povo de maneira positiva, você prepara o cidadão ao ingresso no campo social de outra maneira. Ele estará muito mais preparado para contribuir com o país.”
 
A artista diz, ainda,  que os livros de história e os meios de comunicação contribuem para uma construção social racista quando apresentam uma imagem estereotipada e negativa da população negra. “O processo de tornar-se negro, de ter uma consciência da  negritude não acontece quando nascemos biologicamente. Como temos o racismo em um sistema institucionalizado, muitas vezes nós, negros, passamos pelo processo de um segundo nascimento. A negritude não é dada como valor de positividade a nenhum negro. O negro tem que aprender a gostar mais de si mesmo, amar a sua cor, amar o seu cabelo e seus traços”, argumenta.
 
*Estagiário sob supervisão de Alexandre de Paula
 
"Escrevo com o sonho de constituir na literatura e no teatro a humanidade de pessoas negras, contando essas histórias e os legados delas. Com a escrita negra, surge a questão do meu fortalecimento feminino, social, materno e de cidadã, percebendo que essa representatividade é cada dia maior e inspiradora.”
 
"Vivemos em uma sociedade que ainda tem preconceito de ter preconceito, que tem dificuldade de assumir o nosso racismo de cada dia e que tem dificuldade de admitir que a população negra não está inclusa na vida pública do país.”
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
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Correio Braziliense sexta, 22 de novembro de 2019

MORRE TONIQUINHO, O HOMEM QUE DESCOBRIU BRASÍLIA

 

OBITUÁRIO
 
 
O homem que cobrou JK
 
Responsável indireto pela construção de Brasília, ao questionar se o então presidente cumpriria a Constituição e mudaria a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central, Antônio Soares Neto, o Toniquinho, faleceu aos 94 anos

 

Deborah Fortuna

Publicação: 22/11/2019 04:00

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À época da pergunta que mudou o rumo da história, Antônio tinha 29 anos e era vendedor de seguros (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/3/15 )  

À época da pergunta que mudou o rumo da história, Antônio tinha 29 anos e era vendedor de seguros

 



Em um dia chuvoso de 4 de abril de 1955, Antônio Soares Neto faria uma pergunta que mudaria a história do país. Durante o primeiro comício de Juscelino Kubitschek, em Jataí, no interior de Goiás, o vendedor de seguros, à época com 29 anos, levantou o braço e perguntou ao então candidato à Presidência da República se ele cumpriria o que dizia a Constituição e mudaria a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Toniquinho, como era conhecido, faleceu na manhã de ontem, aos 94 anos, recém-completados em outubro, após uma parada cardiorrespiratória.

“Ele era uma boa pessoa, gentil, generosa e ousada”, relembra o jornalista e documentarista Edson Luiz de Almeida, responsável pelo filme A pergunta que mudou a história do Brasil, que conta a versão do vendedor de seguros daquele dia em que Toniquinho deixou Juscelino em uma “saia justa”.

Almeida, que ouviu muitos depoimentos e testemunhas sobre aquele 4 de abril, conta que o diálogo entre Toniquinho e JK ocorreu em um comício improvisado, depois que uma chuva forte dispersou a multidão que acompanhava o político em uma praça pública. Perto de uma concessionária de veículos, um caminhão foi feito de palanque. Como sobraram poucas pessoas depois do temporal, JK resolveu dialogar com o pequeno público presente. “E nisso, o seu Toniquinho, que estava estudando a Constituição porque queria fazer concurso, sentiu um calor no corpo e levantou o braço. JK disse ‘pois não, senhor?’. Eu ouvi essa história dele [Toniquinho] dezenas de vezes. Sempre contada do mesmo jeito. E ouvi isso de outras testemunhas também”, disse o documentarista.

Se há dúvidas de que o presidente foi incentivado a pensar em Brasília por causa dessa pergunta, esse questionamento pode ser respondido pelo próprio JK, em um trecho do documentário da Secretaria do Território e Habitação do DF, também disponível no filme de Almeida. “Confesso que, até aquela altura, eu não havia pensado nesse assunto, mas quando Toniquinho me colocou o problema, pensei subitamente. Dei um ou dois segundos de espera e disse: Se a Constituição exige a construção da nova capital, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil no Planalto Central”, afirmou JK.

Àquela altura, o projeto de metas de Juscelino estava pronto, contendo 30 itens. Nenhum deles, contudo, fazia referência à construção. Brasília não se tornou a 31ª meta de governo, mas sim o cerne de toda a campanha de JK ao Planalto. A promessa se cumpriu cinco anos depois daquele dia, em 21 de abril de 1960, quando os fogos de artifício encheram o céu para inaugurar a nova capital federal. “A importância do Toniquinho é fundamental para a história do Brasil”, defende o jornalista.


Descrito por amigos e familiares como muito carismático, Toniquinho deixa cinco filhos, 11 netos e dois bisnetos (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/3/15 )  

Descrito por amigos e familiares como muito carismático, Toniquinho deixa cinco filhos, 11 netos e dois bisnetos

 




Carisma
Mas Toniquinho não foi apenas o homem que mudou os rumos da capital. Segundo Almeida, era uma das figuras “mais carismáticas” que conheceu. Ao longo dos anos, o vendedor de seguros estudou a Constituição Federal e se tornou advogado. Mudou-se para Brasília e depois voltou a morar, com a esposa, em Goiás.

Para a mulher, Nelita Vilela, 82 anos, Toniquinho foi um marido carinhoso, amigo e companheiro. “Ele era uma pessoa humana e gostava de ajudar as pessoas menos favorecidas. Era muito humilde, inteligente. Foi um bom pai, avô, bisavô”, disse. Os dois completariam 64 anos de casados em dezembro. Toniquinho deixa cinco filhos, onze netos e dois bisnetos.

O velório começou na noite de ontem, na Câmara Municipal de Jataí. O sepultamento está marcado para as 11h de hoje, também na cidade goiana.

O governador em exercício do DF, Paco Britto, emitiu uma nota em que lamenta a morte e lembra a história de Toniquinho, afirmando que o homem "entrou para a história oficial de Brasília como o responsável pelo surgimento do Distrito Federal"



"Confesso que, até aquela altura, eu não havia pensado nesse assunto, mas quando Toniquinho me colocou o problema, pensei subitamente. Dei um ou dois segundos de espera e disse: ‘Se a Constituição exige a construção da nova capital, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil no Planalto Central"
Juscelino Kubistschek, sobre a influência de Toniquinho.
 
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Correio Braziliense quinta, 21 de novembro de 2019

MARIA IVATÔNIA: PRIMEIRA DESEMBARGADORA NEGRA DO DF

 

Amor pelos estudos e busca pela justiça
 
Para a primeira desembargadora negra do DF, a tocantinense Maria Ivatônia, negros bem-sucedidos precisam mostrar que vencer é possível

 

» ANA MARIA CAMPOS

Publicação: 21/11/2019 04:00

 

"A política de cotas é fundamental. Se você é de uma família que não estudou em escola boa e vai prestar vestibular, qual é a sua chance? Zero"

 

 
Maria Ivatônia Barbosa dos Santos poderia ser um exemplo de que é possível vencer desafios para chegar longe na carreira sem se beneficiar de cotas. A primeira desembargadora negra do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) tornou-se magistrada e ascendeu sem qualquer política afirmativa. Aos 5 anos, “fugiu para a escola”, como gosta de dizer. Foi alfabetizada em dois meses, sempre se destacou como a aluna mais nova da turma e ostentava um boletim com notas excelentes. Aos 16 anos, prestou vestibular. Aos 21, formou-se em direito. Passou em primeiro lugar no concurso para delegada da Polícia Civil de Goiás. Quatro anos depois, em maio de 1993, ingressou na magistratura do Distrito Federal.
 
Hoje, aos 57 anos, é celebridade na cidade em que nasceu, Arraias, estado de Tocantins. Na última terça-feira, quando foi promovida a desembargadora, Maria Ivatônia entrou para o rol dos negros mais ilustres do planeta em cartaz produzido pelas crianças da escola onde estudou, ombreando com Nelson Mandela, Barack Obama, Bob Marley, Pelé e Zumbi dos Palmares. A singela homenagem foi exibida aos colegas com orgulho na primeira sessão da 5ª Turma Cível, da qual participou ontem pela primeira vez depois de ser escolhida, por unanimidade, pelo Pleno do Tribunal de Justiça do DF para a vaga aberta com a aposentadoria do desembargador Marco Antônio da Silva Lemos.

 (Arquivo Pessoal)  
 
Durante a primeira sessão, Ivatônia ouviu de um colega, o desembargador Ângelo Passarelli, um suposto elogio: “Nunca a vi como uma mulher negra. Olho para a senhora e não vejo uma negra, não”. Querida no TJDFT e entre advogados, delegados e promotores de Justiça, Ivatônia tem vários amigos na magistratura. É o caso do presidente da Associação dos Magistrados de Brasília, Fábio Esteves, um dos poucos negros nas varas de justiça brasileiras. O Censo do Poder Judiciário de 2018, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostrou que apenas 18% dos magistrados do país se declaram negros.

Entre as referências de Ivatônia, estão desembargadoras como Carmelita Brasil, Sandra de Santis e Ana Maria Amarante, além de celebridades como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama. “Eu não gosto de aparecer. Mas Michelle Obama disse que nós, negros, não podemos nos dar ao luxo de querer ter a vida tão discreta, tão afastada de holofotes como a gente prefere, porque a gente precisa que nossos irmãos de cor, como ela diz no livro (Becoming), olhem para a gente e digam: é possível.”
 
O pai, Antônio Gentil, professor e um sábio na educação dos filhos, também é um dos ídolos. Suas lições além das salas de aula nunca foram esquecidas. Aos 8 anos, adiantada na escola, a menina passou a se considerar adolescente. Queria viver as rebeldias das colegas de 13 ou 14 anos e decidiu deixar as tarefas de lado. O boletim marcou a diferença de comportamento. Ao perceber a modificação, o pai chegou em casa com uma “surpresa” para a filha, uma enxada embrulhada em papel de presente. “Aqui nesta casa, quem não estuda trabalha”, disse. Assim, as notas voltaram a subir.
 
Apesar do mérito pessoal, Ivatônia é defensora de políticas afirmativas que abram possibilidades para negros. “A política de cotas é fundamental. Se você é de uma família que não estudou em escola boa e vai prestar vestibular, qual é a sua chance? Zero”, afirma. “Pode esquecer. É por isso que, mesmo depois de 2000, a porcentagem de 2% de negros (na magistratura) não se alterou. Não é uma questão racista do tribunal de não deixar passar negros. Que isso fique muito claro. É porque os negros não chegam a esse tribunal com conhecimento necessário para disputar com os meninos que, graças a Deus, tiveram estudo”, avalia. “Então, é preciso haver essas ações afirmativas, para diminuir essas diferenças”, acrescenta. “Até hoje, o número de negros no tribunal não chega aos dedos de uma mão”, lamenta.
 
Preconceito
 
Maria Ivatônia narra passagens de discriminações que viveu, inclusive no próprio Tribunal por parte de servidores. Certa vez, a juíza foi barrada por um segurança no corredor de autoridades por onde passaria o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Mas Ivatônia não o denunciou. “Ele também era negro. Pensei: vou reclamar dele, abrir um processo administrativo? Ele vai ser demitido. Vai ter mais filhotes negros sem escolas. É mais um para dar problema… É melhor esquecer a cara do segurança”, disse. No Rio de Janeiro, ela viu um amigo branco e loiro ser recebido com deferência em um hotel de luxo, enquanto era tratada com desconfiança. Já ouviu também que era “negra de alma branca”.
 
Graduada em direito pela Universidade Católica de Goiás (UCG), a magistrada é pós-graduada em direito constitucional eleitoral pela Universidade de Brasília (UnB), em direito penal e direito administrativo pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e em direito penal, direito processual penal e direito constitucional pela Universidade Católica de Goiás (UCG). Estudou vários idiomas, como inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. E brinca que, muitas vezes, prefere entrar num hotel chique falando outra língua, para não ser destratada. “Assim vão pensar que sou uma americana rica”, diz, com bom humor.
 
Com um companheiro há 17 anos, a desembargadora optou por não ter filhos biológicos. Primeira de uma prole de sete irmãos, ela preferiu cuidar da família e de amigos. Adotou de coração dois jovens, que são como filhos. Um deles é uma servidora de sua equipe que tem ananismo. “Ela é a minha filhinha. É o tempero do nosso gabinete”, conta.
 
Como juíza, atuou na 2ª Vara de Entorpecentes e Contravenções Penais. Foi titular da Auditoria Militar e da 2ª Vara Criminal de Taguatinga; diretora do Fórum de Taguatinga e do Fórum Desembargador José Júlio Leal Fagundes; e coordenadora da Central de Guarda de Objetos de Crime (CEGOC). Apesar de ter lidado com muitos processos penais envolvendo policiais militares, ela admira a corporação. “Temos a melhor Polícia Militar do país. Nossa Polícia Civil também é muito técnica, de muita qualidade”, avalia.
 
É na meditação, no tai chi chuan e na ioga que Ivatônia se desestressa. Ela também gosta de corrida, mas, pelo bem da saúde das articulações, adotou as caminhadas como atividade física. “Somos um receptáculo de muitas crises”, afirma, referindo-se aos motivos para trabalhar a sanidade mental. No Judiciário, também busca equilíbrio. “Nenhum juiz é super-homem. Nenhuma juíza é supermulher. Somos pessoas que trabalham pela justiça e pelo bem”, acredita.


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
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Correio Braziliense quarta, 20 de novembro de 2019

CIDADANIA: CINEMA FEITO NA VIDA REAL
 
 
CIDADANIA
 
Cinema feito de vida real
 
No próximo domingo, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, estreia Maria Luiza. Em 1h20 de duração, o longa-metragem brasiliense conta a história da primeira e única mulher transexual das Forças Armadas Brasileiras (FAB)

 

MARCELO ABREU
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 20/11/2019 04:00

Gravações ocorreram entre 2015 e 2017 em cidades de Goiás, no Rio de Janeiro e em Brasília: lugares determinantes para a vida da protagonista (Diego Bresani/Divulgação)  

Gravações ocorreram entre 2015 e 2017 em cidades de Goiás, no Rio de Janeiro e em Brasília: lugares determinantes para a vida da protagonista

 



Aos 5 anos, quando ouvia o barulho de um avião no quintal de casa, a criança corria para ver aquela coisa grande no céu. Estamos em Ceres, interior de Goiás, distante 280km de Brasília. É 1965. “Eu dormia e sonhava com aquilo, com o barulho do avião.” Aos 7 anos, gostava tanto de empinar pipa, que inventou uma engenhoca: “Era uma carretilha, que melhorava o desempenho da pipa na hora de voar. Ela soltava a linha mais rapidamente e recolhia também”, lembra.

Aos 9, construía aeronaves com latas velhas da casa. A criança sempre quis voar. Sempre. Aos 18, José Carlos da Silva realizou o sonho de uma vida. Foi servir a Força Aérea Brasileira (FAB). Virou mecânico de avião. Logo se destacou. Tornou-se o melhor da turma. Passou a fazer, cada vez mais, cursos de especialização. Somaram-se os certificados, as medalhas e as condecorações pelos bons serviços prestados à nação. Virou, nesse período, instrutor de cursos de preparação de solo às aeronaves. “A minha promoção foi publicada em boletim”, conta, com orgulho.

Os anos se passaram. José começou a perceber, na verdade sempre soube, que algo o inquietava. Não gostava do corpo, e sua cabeça não era exatamente de homem. Procurou ajuda numa junta médica da Aeronáutica. “Disseram que era tensão, estresse, que podia passar”, conta. Mas ele insistia que era mais do que isso. Era algo que sempre o acompanhou.


O diretor Marcelo Díaz ao lado de Maria Luiza no Cine Brasília, onde será exibido o documentário  (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  
O diretor Marcelo Díaz ao lado de Maria Luiza no Cine Brasília, onde será exibido o documentário



Sentença
Em 1998, José ouviu pela primeira vez que era transexual. Era como ele se sentia. Uma mulher, com alma de mulher, no corpo de um homem. Veio a separação da mulher e da única filha. Em 2000, o Correio Braziliense encontrou José Carlos. Era o começo de uma série de reportagens que durou uma década. Capítulos de uma história recheada de dor, preconceito e uma luta sem fim. Era o começo do filme Maria Luiza, que estreia neste domingo (24), às 15h, no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. É o único do DF que fará parte da Amostra Vozes, na categoria nacional. Já esteve nos principais festivais de cinema no Rio, em São Paulo, na Argentina, na Holanda e no México.

Ainda em 2000, o jornal teve acesso a um laudo confidencial do Alto Comando da Caserna. Lá, o mecânico, antes condecorado e agraciado com medalhas, não servia mais para o ofício que executou por 22 anos seguidos. No laudo médico, o parecer: “Atrofia testicular por provável ação medicamentosa. Transexualismo”. E a sentença: “Incapaz, definitivamente, para o serviço militar. Não é inválido. Não está impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho. Pode prover os meios de subsistência. Pode exercer atividades físicas”. Era — e ainda continua sendo — o primeiro caso de transexualidade das Forças Armadas brasileiras.

Começava, então, a luta de José Carlos para permanecer na carreira militar e para fazer a cirurgia de mudança de sexo. Com o apoio da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, do Ministério Público do DF (Pró-vida), teve início a segunda parte dessa história. Afastado da FAB, começou o tratamento no Hospital Universitário de Brasília (HUB), para pacientes transexuais. Rotinas de consultas com psiquiatra e psicólogo. E, finalmente, em junho de 2005, aos 45 anos, no Hospital das Clínicas de Goiânia, foi realizada a cirurgia da mudança de sexo, sempre com o apoio do Ministério Público do DF. José Carlos deixava de existir. Deu lugar à Maria Luiza da Silva, ao que sempre foi.


 (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  



Homenagens
“Maria porque minha mãe, muito católica, disse que, se fosse menino, ia se chamar José; menina, Maria. E Luiza porque minha avó materna foi muito importante na minha vida”, explica Maria Luiza, a cabo reformada da Aeronáutica.

O filme, que só foi possível ser realizado graças ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do GDF, se chama apenas Maria Luiza. E o diretor Marcelo Díaz, brasiliense de 44 anos, casado, um filho e oito documentários na bagagem, entre curtas e médias, explica o seu primeiro longa-metragem, que contou com equipe de cerca de 50 pessoas: “É um documentário de 1h20 de duração. Rodamos entre 2015 e 2017, com filmagens em Brasília, Ceres, Goiânia, onde ela fez a cirurgia, e no Rio de Janeiro. Lugares determinantes da vida dela e de tudo que passou e viveu em cada uma dessas cidades”. E, claro, o filme conta a trajetória dela, que, há 19 anos, luta para receber as promoções a que tem direito, mesmo reformada.

O advogado de Maria Luiza, Max Telesca, 45 anos, disse ontem ao Correio que a ação que pede a nulidade do ato de reforma, em 2000, e as consequências financeiras do ato, foram causas ganhas em primeira e segunda instâncias. “Agora, a ação está no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tenho certeza de que o entendimento será favorável”, avalia Telesca.

No documentário, há depoimentos marcantes de pessoas da família, dos colegas da FAB e de todos que conviveram com ela e acompanharam a história de perto. “É um filme que fala de uma pessoa muito simples e sua dualidade entre ser militar e uma mulher trans”, explica o diretor. E prossegue: “Eu me interesso por histórias de superação, de transformação. Vi na Maria Luiza a história de uma senhora com uma vida muito simples, do interior de Goiás, que só queria ser aceita e continuar a carreira militar a que tinha direito, antes de ser reformada contra a vontade e sofrendo muitos preconceitos”.

Na manhã de ontem, o Correio encontrou Maria Luiza e o diretor Marcelo Díaz, no Cine Brasília. Não poderia haver cenário melhor. Em meio à montagem e à arrumação do cinema para o evento, que começa nesta sexta, a conversa foi, na verdade, uma volta à história dela, para relembrar que tudo que está no filme foi contado, com exclusividade, pelo jornal. Há três anos e meio, a reportagem teve o primeiro encontro com o diretor. A conversa, numa padaria do Sudoeste, durou uma tarde inteira. Na pasta dele, havia vários recortes das páginas onde a história de Maria Luiza foi publicada por longos anos.


 



Luta por dignidade
A primeira reportagem foi em 2000. De lá para cá, uma série de matérias especiais produzidas — a última, em 2017, contava sobre o fim das filmagens. Depois da cirurgia, em 2005, a luta para mudar o nome e o sexo nos documentos civis e militares e, sobretudo, a luta que ainda trava para ter de volta os direitos suprimidos. “Eu sou a única mulher militar da minha turma que continua cabo”, diz, com nítida tristeza.

Aos 59 anos, Maria Luiza mora no mesmo apartamento modesto de dois quartos, ainda da FAB, no Cruzeiro Novo. Mas a qualquer momento pode ter que deixar. Pinta, desenha, gosta de fotografia e vai à missa aos domingos, na igreja perto de sua casa. Anda muito a pé, seu esporte diário. “Caminho até três vezes por dia”, diz. Talvez explique os 56kg no corpo de 1,70cm. Extremamente tímida, Maria Luiza é muito reservada quanto à sua vida privada. Solteira, não tem qualquer tipo de rede social, nem mesmo Whatsapp. “Eu sou feliz assim. A gente precisa ser feliz com a gente mesma. Eu sou realista, sou pé no chão.”

Marcelo Díaz ouve Maria Luiza falar. Ele se emociona: “Conhecer a história e conviver com ela me fizeram um ser humano melhor”. E reflete: “A pessoa mais radical e conservadora, se vir o filme, vai se emocionar. É uma história de uma pessoa que corre atrás dos seus direitos, que só quer existir e ser aceita. Sobretudo nesse momento de tanta intolerância que estamos vivendo no Brasil e no mundo”.

E foi a vez de Maria Luiza ouvir o diretor falar. Ela olha para o cartaz com o nome dela. Parece sair dali. Um filme, claro, passou na sua cabeça. Um filme onde ela se tornou a personagem principal da própria vida. Às vezes, histórias contadas num jornal podem parar numa tela bem grande. E emocionar uma multidão. E fazer pensar. Tudo que é real não morre. Pode, até, virar filme.
 
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Correio Braziliense terça, 19 de novembro de 2019

PELÉ: OS DOIS GOLS MARCADOS NO DF E MUITO MAIS

 

PELÉ
 
Antes... No dia em que o feito do Rei faz 50 anos, o Correio recorda os dois gols marcados no DF pelo melhor craque de todos os tempos. Ex-jogadores da cidade lembram como foram os históricos jogos na capital do país

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 19/11/2019 04:00

 




Dezenove de novembro de 1969. Rio de Janeiro. Maracanã. Edson Arantes do Nascimento marca o milésimo gol na carreira. A histórica cobrança de pênalti na vitória sobre o Vasco do saudoso goleiro Andrada, por 2 x 1, pela Taça Brasil, comove o país. Cinquenta anos depois daquele feito, a planilha do Rei com sua coleção de 1.283 bolas na rede registra dois marcados no Distrito Federal. Um antes e outro depois do milésimo.

Personagens das duas vezes em que Pelé jogou — e fez gol — no Distrito Federal, os ex-zagueiros Pedro Pradera e Melo, o Melão, falaram sobre os duelos históricos contra o eterno camisa 10 no caderno Pelé, 70 anos, publicado pelo Correio Braziliense em 2010. Um evitou que o craque perdesse a majestade num confronto com a Seleção de Brasília. O outro quase viveu dia de cinderelo depois de peitar o melhor jogador dentro das quatro linhas.

O primeiro gol de Pelé no DF saiu em 25 de maio de 1967, no demolido estádio batizado com o nome dele, o Pelezão. Capitão da Seleção de Brasília, Melo tirou cara ou coroa com o Rei. Posou para fotos e, quando a bola rolou, quase virou piada. “Lembro, até hoje, que o Pelé tentou colocar a bola entre as minhas pernas para fazer graça com a torcida, mas eu me recuperei a tempo. Gesticulei com ele e ouvi: ‘Você abriu as canetas, pô’”, lembra o militar aposentado Moacir Tremendani dos Santos, o Melo, apelido de família.

Além de zagueiro central, Melo fez o papel de pacificador. “Durante o jogo, o Pelé veio reclamar comigo que o Luís estava entrando demais de carrinho. Ele veio na minha direção e falou: ‘avisa para o teu colega que se ele continuar entrando de carrinho em mim eu vou cair por cima dele de cotovelo’”, recorda. Melo deu o recado. “O Luís virou pra mim e disse: ‘Pô, Melo, eu só estou jogando a minha bola”, contou o beque. “Eu respondi: Cara, eu só estou te avisando, se você continuar com essas jogadas o negão falou que vai te partir no meio”.

O concerto do Santos terminou 5 x 1. Apesar da forte marcação de Luís, Pelé marcou um gol. Coutinho, Toninho, Douglas — substituto do Rei, que saiu aplaudido — e Wilson completaram o placar segundo a ficha técnica fornecida à reportagem por Guilherme Gauche, do departamento de história e estatística do Santos Futebol Clube. O lateral-esquerdo Aderbal fez o de honra no combinado candango. “Nossa seleção era formada praticamente por jogadores do Rabelo. Fizemos o possível para segurar o Santos, mas o time deles era uma academia. Tivemos uma aula. O Pepe chutava forte demais, meu Deus!”, lembra Melo.

Deu bolo
O primeiro gol de Pelé na cidade poderia ter saído em 21 de abril de 1961, na comemoração do primeiro aniversário de Brasília. O Peixe venceu por 4 x 0, mas Pelé não jogou. Leia o que diz a justificativa na edição do Correio: “Pelé foi demoradamente aplaudido quando entrou em campo. Mas o público ficou decepcionado: o famoso craque brasileiro estava sem o uniforme de jogo. O técnico Lula e os médicos do clube revelaram que ele estava contundido”.


“Durante o jogo, o Pelé veio reclamar comigo que o Luís estava entrando demais de carrinho. Ele veio na minha direção e falou: ‘avisa para o teu colega que se ele continuar entrando de carrinho em mim eu vou cair por cima dele de cotovelo’”
Melo, zagueiro da Seleção de Brasília em 1967


O primeiro gol no DF

Data: 25/5/1967
Local: Estádio Pelezão

Seleção de Brasília 1

Zé Válter; Didi, Melo,  Varnesi e Aderbal; Luís e Beto (Paulinho); Sabará, Zé Maria, Edinho (Cid)
e Arnaldo.
Técnico: Samuel Lopes

Santos 5


Cláudio; Lima, Joel, Orlando (Oberdan) e Rildo; Zito (Bougleaux) e Clodoaldo; Wilson, Coutinho, (Toninho), Pelé (Douglas) e Abel (Edu).
Técnico: Antoninho

Gols: Pelé, aos 3, e Coutinho, aos 40 minutos do primeiro tempo. Wilson, aos 18, Douglas, aos 35, e Aderbal, aos 38, e Toninho, aos 44 minutos do segundo tempo.


...e depois
do milésimo


O segundo gol de Pelé no Distrito Federal foi em 20 de março de 1974, no velho Mané Garincha. O extinto Ceub perdeu por 3 x 1 pelo Campeonato Brasileiro. Pedro Pradera ousou peitar o rei durante a partida em defesa do lateral-esquerdo Rildo, com quem Pelé jogara na Copa do Mundo de 1966. No dia seguinte, quase calçou uma chuteira dos sonhos.

Na véspera da partida, o técnico do Ceub, Cláudio Garcia, deu entrevista dizendo que Pelé, aos 34 anos, estava desmotivado. Segundo Pradera, o craque interpretou que havia sido depreciado e entrou em campo aborrecido. “Houve uma falta perto da área e ele (Pelé) começou a bater boca com os caras do nosso time. Aí, o Rildo virou pra ele e perguntou: ‘Vem cá, por que tu tá irritado’. Ele respondeu: ‘o teu técnico tá dizendo que eu sou uma m…’”.

No meio da confusão, sobrou para Pradera. “Ele me disse alguma coisa que não lembro e não gostei. Eu era atrevido pra caramba. Olhei pra ele e fui comendo o fígado dele de colherzinha: ‘Vem cá, tu é Pelé para as tuas negas, trata de baixar a tua bola aqui dentro. Você é grande, mas não é dois’. A partir dali, ele não falou mais nada comigo, mas me mandou dois presentes”, revelou em entrevista ao Correio.

Apesar da intimidação, Pelé deixou a marca dele na arena que leva o nome do compadre Garrincha. Nenê e Léo completaram o placar. Gilberto descontou para o time do DF. Após o jogo, Pelé saiu com o amigo Rildo do Ceub. Durante o encontro, elogiou Pradera. “Palavras do Rildo, que hoje mora nos EUA e foi quem me contou: “Gostei muito daquele zagueiro do teu time, é forte e tem muita personalidade. Leva esses presentes e entrega para ele”.

As lembranças eram uma camisa autografada do Santos e um par de chuteiras. “Cara, era uma chuteira da Puma, sonho de qualquer jogador na época”, lembra Pradera. O brinde não ficou com ele. “Não coube nos meus pés. Dei para alguém, só não lembro quem”, divertiu-se o zagueiro. Desapegado, Pradera não guarda nem a camisa. “Está com o meu pai”. (MPL)



“Não coube nos meus pés (a chuteira que Pelé deu de presente). Dei para alguém, só não lembro quem. Cara, era uma chuteira da Puma, sonho de qualquer jogador na época”
Pedro Pradera, zagueiro do Ceub no duelo de 1974


O segundo gol no DF


Data: 20/3/1974
Local: Estádio Mané Garrincha

Ceub 1


Valdir; Luiz Carlos, Pedro Pradera, Emerson e Rildo; Alencar e Rogério (Gilberto); Cardosinho, Renê, Juraci (Carlos Roberto) e Dário.
Técnico: Cláudio Garcia

Santos 3

Wilson; Hermes, Oberdan, Vicente e Turcão; Nelsi, Leo e Nenê (Brecha); Mazinho, Pelé e Edu (Eusébio).
Técnico: Pepe

Gols: Nenê, aos 20 minutos do primeiro tempo. Pelé, aos 23, Léo, aos 28, e Gilberto, aos 33 minutos do segundo tempo.


O DISCURSO DO REI*

Corri para a marca (do pênalti), dei uma paradinha, e chutei. Goooool!


Corri direto para o fundo da rede, peguei a bola e dei um beijo nela. O estádio explodiu, com rojões e aplausos. De repente fui cercado por uma multidão de jornalistas e repórteres. Colocaram microfones na minha frente e eu então dediquei aquele gol às crianças do Brasil. Disse que tínhamos de dar atenção para as criancinhas. Comecei, então, a chorar, fui colocado sobre os ombros de alguém e ergui a bola para o alto. O jogo foi suspenso por 20 minutos, enquanto eu dava uma volta olímpica. Alguns torcedores do Vasco correram em minha direção e me deram uma camisa do time com o número 1.000. Achei estranho, mas não tive alternativa a não ser vesti-la ali mesmo.

Por que falei das criancinhas? Naquele dia, era aniversário de minha mãe, então talvez eu devesse dedicar o gol a ela. Não sei por que não pensei nisso. Mas, diferentemente, na hora, pensei nas crianças. O que aconteceu foi que me lembrei de um acidente que tinha acontecido em Santos alguns meses antes. Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um dinheirinho para tomar conta do carro.

Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram que eu não precisava me preocupar, pois só roubariam carros com placas de São Paulo. Mandei-os sair dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado, mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já então me preocupava com a questão da educação das crianças, e essa foi a primeira coisa que surgiu em minha cabeça quando marquei o (milésimo) gol.

Acho que muita gente não entendeu o que eu estava querendo dizer. Fui um pouco criticado, com pessoas me chamando de demagogo. Acharam que eu não tinha sido sincero. Mas isso não me incomodou. Acredito ser importante que pessoas como eu mandem mensagens sobre a questão da educação. Não haverá futuro se você não educar os jovens. Hoje, quando você anda pelo Brasil e vê os problemas que temos, com gente morando nas ruas e gangues em ação, elas também já foram crianças. Agora, dizem que o Pelé estava certo. Não tenho medo de falar com o coração.

*Texto publicado por Edson Arantes do Nascimento na página 52 da autobiografia ilustrada Pelé, minha vida em imagens

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Correio Braziliense domingo, 17 de novembro de 2019

BELEZA: OLHAR EM DESTAQUE

 

BELEZA
 
 
Olhar em destaque
 
Sombras com cores fortes, brilhos e neon conquistaram de vez as amantes de maquiagem

 

Por Marcella Freitas*

Publicação: 17/11/2019 04:00

O delineado marcado é a grande tendência: a make como protagonista da produção
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O delineado marcado é a grande tendência: a make como protagonista da produção

 

A maquiagem tem o poder de destacar — ou esconder — uma parte do rosto, camuflar as marcas de uma noite maldormida e dar uma levantada na autoestima. Mas mais do que isso: é possível usar a make como uma ferramenta de expressão e se divertir testando novas combinações e estilos.
 
A tendência no universo de beauté é usar sombras coloridas, brilhos e aplicações, dando um destaque especial à make. Vista nos tapetes vermelhos e nas belezas assinadas nas semanas de moda, a trend tem inspirado cada vez mais os maquiadores pela diversidade de opções. Seja o seu estilo romântico ou clássico, seja mais ousado, opções não faltam para usar aqueles produtinhos esquecidos na nécessaire e inovar o visual.
 
Em suas redes sociais, a maquiadora Luli Maluf realizou um desafio com makes inspiradas na série Euphoria, da HBO, que conta com uma beleza rica em detalhes, brilhos e aplicações. “Cada personagem da série carrega na make um traço de sua personalidade e um pouquinho da sua essência. Quis reproduzir essa peculiaridade de cada uma”, conta a profissional.
 
Para o visual ficar completo, a pele glow, bem iluminada, faz toda a diferença. A maquiadora Camila Lee Crocodilo afirma que o efeito de pele viçosa e saudável deixa a make ainda mais bonita. “Eu amo somar os traços minimalistas do delineador gráfico com um batom mais esfumado e gloss, ou usar um delineador duplo com brilhos, com efeito mais dramático”, detalha.
 
Por ser mais elaborada, a make é indicada para usar em eventos e festas. Vale combinar com a paleta de cores da roupa, brincar com os tons complementares ou deixar a própria maquiagem como protagonista e usar com um look mais minimalista.
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Algumas makes feitas por Camila Lee Crocodiloa (Fotos: Camila Lee Crocodilo/Divulgação)  
Algumas makes feitas por Camila Lee Crocodiloa
 
 
 
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Faça você mesma: delineado gráfico
 
Contemporâneo e geométrico, o delineado gráfico trouxe uma nova forma de make que encantou o mundo pelo poder de destaque para os olhos. Luli Maluf afirma que, apesar de parecer complicado, é possível fazer o traço diferentão sem muito sufoco. Antes de partir para os olhos, a maquiadora recomenda fazer primeiro a preparação de pele para quem ainda não tem muita prática. “Dessa forma, você deixa a pele uniforme e, mesmo que venha errar o delineador ou a sombra, fica mais fácil de corrigir uma só área”, ensina. 
 
  • Para a make, você vai precisar de:
» Pincel chanfrado
» Sombra da sua preferência
» Glitter, se quiser incrementar
  • Comece pelo lado que você tem mais dificuldade em maquiar. Depois, será mais rápido reproduzir o efeito do outro lado.
  • Com um delineador em gel (ou sombra molhada), faça um risco no formato gatinho e suba com o traço, seguindo o formato do côncavo, até a parte interna dos olhos para produzir um efeito de “delineado vazado”. Faça o mesmo nos dois olhos.
  • Para não errar, mantenha a mão o mais firme possível quando for fazer o tracinho.
  • E não precisa ficar encanado: dificilmente os dois olhos ficarão com o delineado igual. Se errou, não fique frustrada! Use demaquilante para remover o excesso e recomece se for necessário.
  • Para arrematar, a maquiadora ainda complementa a make preenchendo a sobrancelha com sombra colorida.
 
 (Eddy Chen/HBO/ Divulgação)  
Euphoria
A série de televisão que estreou na HBO em junho deste ano traz na trama temas que permeiam o íntimo da geração Z — aqueles que nasceram entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010 — como a incessante busca por identidade, pertencimento e descobrimento da sexualidade. Além das temáticas, Euphoria chama a atenção pela arte impecável, da fotografia ao figurino. E as maquiagens superdramáticas usadas pelas personagens — com muito brilho, delineados gráficos e neon — conquistaram o público da série, que logo quis copiar. No Instagram, a moda virou até filtro para os stories.
 
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Correio Braziliense sábado, 16 de novembro de 2019

MATEMÁTICA: RUMO À CHINA PARA COMPETIR

 

Rumo à China para competir
 
Oito estudantes do colégio Dom Pedro II embarcam para Pequim na próxima segunda-feira (18), onde disputarão a World Mathematics Team Championship, o maior campeonato de matemática daquele país

 

» Luiz Oliveira*
* Estagiário sob supervisão de Ana Sá

Publicação: 16/11/2019 04:00

A equipe é formada pelos estudantes Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marque s, Stella Portella e Lara Hubner (Colégio Militar Dom Pedro II/Divulgação)  

A equipe é formada pelos estudantes Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marques, Stella Portella e Lara Hubner

 


Alunos do 6º e 7º anos do colégio Dom Pedro II irão participar da World Mathematics Team Championship, maior campeonato de matemática da China. O evento ocorre dos dias 21 a 25 de novembro, na capital, Pequim. 
 
A delegação da escola embarca na próxima segunda-feira (18) com oito estudantes: Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marques, Stella Portella e Lara Hubner.  Eles são medalhistas de ouro, a nível estadual, e de prata, a nível nacional, na Olimpíada Matemática Sem Fronteiras 2019, competição internacional e interclasse para alunos do ensino fundamental e médio. 
 
Expectativas
Patrícia Nunes Naves, 41 anos, e Marjorie Nunes, 11, são, respectivamente, mãe e filha. As duas estão bastante animadas para a viagem. “É um privilégio muito grande (participar da olimpíada), vou tentar fazer o meu melhor”, diz Marjorie. 
 
Aluna do sétimo ano, Stella Portella, 12, revela que começou a gostar de matemática quando se preparava para a seleção do Pedro II e diz estar muito ansiosa. “Fiquei sabendo (que tinha sido selecionada) pelas minhas amigas. Na hora, não acreditei. A ficha só foi cair depois que falei com o professor. Estou muito animada, pois quero conhecer a muralha da China.”  
 
Preparação
O professor de matemática Edgard Cândido dos Santos, 41 anos, é um dos responsáveis pela preparação dos alunos. Ele conta como foi o processo até a chegada desse momento. “Tudo começou no início do ano, com um projeto que tinha o intuito de capacitar os estudantes do ensino fundamental em matemática. Depois, passamos a enviá-los para algumas olimpíadas pela escola. Ganharam medalhas de ouro e prata em duas”, revela. 
 
Cândido ressalta a importância desse tipo de evento para diminuir a resistência dos jovens. “Ações assim despertam o interesse pela matemática, uma disciplina que gera muitos afastamentos e desistências. Isso porque possibilita um contato mais aprimorado com a matéria.  Além de ajudar no currículo para entrada nas universidades, porque o aluno que for colecionando essas conquistas,  fica à frente dos demais.” 
 
Apoio da família
Por se tratar de uma competição fora do país, os custos com a viagem são altos. Carla Leal, 37 anos, é mãe de um dos participantes e conta os desafios para conseguir angariar o dinheiro. “A gente soube no dia 24 (de outubro). Meu marido e o Tiago ficaram eufóricos. Eu fui mais pé no chão porque era um valor muito alto, por volta de R$ 12 mil, mas decidimos que ele ia e, com a dica de um amigo, começamos uma vaquinha on-line.” 
 
Ela explica por que decidiu deixar o filho ir para a olimpíada. “Não podia dizer não. Fiquei assustada no início, mas respirei fundo, pois sei o quanto viver essa experiência será importante para ele, abre muitas portas para o futuro." 
 
Os estudantes contam com o apoio, também, da Associação de Pais e Mestres da instituição (Apam), o presidente, Sargento Marcio Santos da Silva, 46 anos, conta a importância de apoiar essa conquista. “Vamos ajudar os pais, pois 54% dos gastos serão custeados pela associação, pois é uma oportunidade única ter os nossos alunos representando a escola, sentimos muito orgulho.”
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense sexta, 15 de novembro de 2019

PLANALTO CONTABILIZA GANHOS COM BRICS

 

Planalto contabiliza ganhos com Brics
 
 
Afirmação de que questões climáticas devem ser tratadas com respeito à soberania dos países, presente na declaração conjunta dos líderes do bloco, é comemorada pelo governo. Menção à necessidade de reformas é vista como reforço nas negociações com o Congresso

 

RODOLFO COSTA
INGRID SOARES

Publicação: 15/11/2019 04:00

 

Os chefes de Estado, ao fim da plenária, no Itamaraty: visões políticas distintas impediram declaração sobre crise de países latino-americanos (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Os chefes de Estado, ao fim da plenária, no Itamaraty: visões políticas distintas impediram declaração sobre crise de países latino-americanos

 

 


A afirmação de que a questão climática deve ser tratada com respeito à soberania dos países, incluída na declaração final da 11ª Cúpula do Brics, foi considerada pelo governo como uma das conquistas obtidas pelo país nas reuniões mantidas pelos chefes de Estado dos países-membros do bloco nos últimos dois dias. O tema é caro ao Brasil por causa das recentes queimadas na Amazônia. O Planalto anotou com satisfação também as referências à necessidade de reformas para impulsionar o desenvolvimento, e de combater a corrupção e o crime organizado internacional. De acordo com fontes próximas ao presidente Jair Bolsonaro, ele se sente respaldado por alguns dos principais parceiros comerciais e potências emergentes a insistir junto ao Congresso para avançar nas votações de matérias de interesse do Executivo.

Devido a divergências políticas, a declaração conjunta não mencionou as crises de Venezuela, Chile e Bolívia, embora conflitos em outras regiões do mundo, como na Palestina, tenham sido elencados entre as preocupações dos integrantes do bloco. Ao tratar das questões econômicas, o documento parte da premissa de que as reformas contribuem para o crescimento dos países. E destaca que as nações do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — foram as principais impulsionadoras do crescimento global na última década, e representam, hoje, um terço da produção global. “Estamos convencidos de que a contínua implementação de reformas estruturais aumentará nosso potencial de crescimento. A expansão do comércio entre os membros do Brics contribuirá ainda mais para fortalecer os fluxos de comércio internacional”, diz o comunicado final do encontro.

Em discurso na reunião plenária, Bolsonaro comentou o esforço para reforçar a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o banco do Brics, de modo a atender as demandas do setor privado. A instituição tem uma carteira de projetos de US$ 10 bilhões, mas o potencial para aumentar essa cifra é grande. À noite, ao chegar ao Palácio da Alvorada, ele voltou a celebrar. “A presença (dos chefes de Estado) demonstra que o Brasil é um país sério e que tem muito a oferecer a eles, e eles a nós.”

Crime organizado
O Brics também deixou encaminhada a convergência pelo multilateralismo na discussão dos problemas globais. O presidente da China, Xi Jinping, comemorou. “O aumento do protecionismo e unilateralismo cria deficit de desenvolvimento de governança, de conhecimento, e crescentes incertezas, que são fatores de desestabilização na economia mundial”, avaliou. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu a exportação de produtos de maior valor agregado, pelos países emergentes, como forma de erradicar a miséria e o desemprego.

O combate ao terrorismo e ao crime organizado foi outra pauta defendida pelo bloco. Na avaliação do Planalto, o discurso favorece o governo, que tenta emplacar, no Congresso, o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A agenda foi comentada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. “Invariavelmente temos apoiado iniciativas e uma visão compartilhada em série de questões, como promoção da paz, combate a ameaças terroristas e crime organizado”, afirmou. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, endossou o discurso. “Nós já estamos um pouco mais distantes de um risco tão próximo de uma guerra mundial, no entanto, o terrorismo continua sendo uma grave ameaça a todos os nossos países. Nos últimos anos, 225 mil vidas foram perdidas para o terrorismo.”

“A presença (dos chefes de Estado) demonstra que o Brasil é um país sério e que tem muito a oferecer a eles, e eles a nós”
Jair Bolsonaro, presidente da República

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 14 de novembro de 2019

EMBAIXADA DA VENEZUELA: INVASÃO

 

Crise política invade embaixada
 
Integrantes da missão indicada pelo líder oposicionista Juan Guaidó ocupam a representação do país em Brasília no dia da cúpula do Brics. Caracas denuncia "ataque" e Bolsonaro nega ter apoiado a ação

 

CAROLINE CINTRA
INGRID SOARES

Publicação: 14/11/2019 04:00

Partidários de Guaidó e do regime chavista discutem diante da missão diplomática: 12 horas de tensão (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Partidários de Guaidó e do regime chavista discutem diante da missão diplomática: 12 horas de tensão

 



Policiais militares guardam a entrada do edifício: incidente começou ao amanhecer, com a entrada dos invadores (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Policiais militares guardam a entrada do edifício: incidente começou ao amanhecer, com a entrada dos invadores

 


No dia em que Brasília foi palco para a abertura da cúpula do Brics, com quatro chefes de Estado visitantes, a Embaixada da Venezuela transformou-se ontem em cenário para mais um capítulo das desavenças entre o governo chavista de Nicolás Maduro e o presidente Jair Bolsonaro, que reconhece o líder oposicionista Juan Guaidó como chefe de Estado interino do país vizinho. Por volta das 4h30 de ontem, um grupo de venezuelanos e brasileiros que integram a representação de Guaidó no Brasil conseguiu entrar na missão diplomática e ocupou parcialmente o local por mais de 12 horas, até se retirar, no fim da tarde, ao fim de negociação com o Itamaraty. O regime de Caracas denunciou o “ataque”, criticou a “passividade” do policiamento e reponsabilizou as autoridades brasileiras pela integridade das instalações e do pessoal. Bolsonaro condenou a ação, inicialmente apoiada pelo filho deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e anunciou as “medidas necessárias” para restabelecer a normalidade.

“Denunciamos que as instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”, tuitou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza. O encarregado de negócios da embaixada, que está sem titular desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, desmentiu a embaixadora designada por Guaidó, María Teresa Belandria, que alega ter recebido o chamado de funcionários da missão que teriam “mudado de lado” e decidido reconhecer o presidente interino. “Não sabemos como eles entraram aqui pela porta de acesso e saída da embaixada. Tem um veículo que não sabemos de quem é e está dentro do território venezuelano de forma ilegal. Estamos sofrendo uma invasão. O que está acontecendo é muito grave”, protestou Freddy Meregote.

Em nota, a representante de Guaidó, que é reconhecida como embaixadora pelo governo brasileiro, afirmou que a situação foi comunicada ao Itamaraty desde o primeiro contato que recebeu dos supostos funcionários da embaixada. “Eles começaram a abrir as portas e entregar voluntariamente a sede à representação diplomática legitimamente credenciada no Brasil”, diz o texto. Falando a uma emissora de tevê venezuelana, Beliandra disse que o processo estava “em negociação”. “O governo do Brasil terá de tomar as decisões que considerar melhores para os interesses do Brasil e salvaguardar a sede diplomática nas mãos de pessoas legitimamente reconhecidas.”

Desencontros
Em meio aos esforços da diplomacia brasileira para manter a crise na Bolívia fora da agenda do Brics, a invasão da Embaixada venezuelana entrou em cena como mais um foco de diferenças entre o governo Bolsonaro e os da China e da Rússia — ambos próximo tanto de Evo Morales quanto de Nicolás Maduro. No começo da tarde, pelo Twitter, o presidente repudiou “a interferência de atores externos” e garantiu ter ordenado a adoção de medidas “para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”.

A manifestação de Bolsonaro se seguiu a uma nota na qual o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência classificou como “inescrupulosas e levianas” versões de que o governo teria apoiado a ação dos grupo pró-Guaidó. “O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”, afirma o texto. “As forças de segurança, da União e do Distrito Federal, estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade.”

Tanto o presidente quanto o GSI desautorizaram, na prática, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Mais cedo, também pelas redes sociais, ele tinha manifestado apoio à ocupação da sede diplomática venezuelana pelos simpatizantes de Juan Guaidó. “Nunca entendi essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela, por que a embaixadora Maria Teresa Belandria @matebe, indicada por ele, não estava pessoalmente na embaixada?”, questionou o parlamentar. “Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo.”

Bate-boca
Desde a manhã e por toda a tarde, a área diante da embaixada foi cenário de confrontação entre partidários de Guaidó e do governo chavistas. Atendendo ao chamado do encarregado de negócios, parlamentares do PT e do Psol se somaram a ativistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras organizações sociais para denunciar a invasão do prédio. O líder petista, Paulo Pimenta (RS), confirmou que os ocupantes pularam o porttão para ter acesso à representação. “Aqui, além da parte administrativa, funciona também a ala residencial, onde residem vários funcionários da Embaixada, com os familiares, e foram surpreendidos durante a madrugada”, relatou. Segundo Pimenta, o grupo bloqueou as entradas. Acompanharam a crise e as negociações também os deputados Glauber Braga (PSol-RJ) e Érika Kokay (PT/-F).

Enquanto persistia o impasse os grupos de manifestantes trocavam insultos, como “Guaidó fascista”e “Guaidó narcotraficante”. Em cartazes improvisados, os defensores de Maduro escreveram lemas como “Fora, milicianos” e “América latina livre”, entre outras.


“As instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”

Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela


“O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”
Nota do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República


“Se o Brasil reconhece (Juan) Guaidó como presidente, por que a embaixadora indicada com ele não estava
na embaixada? Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo”

Flavio Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão

Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 13 de novembro de 2019

RICHARD SANTOS, UM ANDARILHO DO MUNDO NO CAMINHO PELA IGUALDADE

 

Um andarilho do mundo no caminho pela igualdade
 
 
Richard Santos acumula experiências em diversas áreas das ciências humanas. Carioca e morador de Porto Seguro (BA), ele leva para o restante do país %u2014 e do planeta %u2014 os conhecimentos que adquiriu em sala de aula, na tevê e no movimento do hip hop, para promover transformações sociais

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 13/11/2019 04:00

 

"Existe um projeto de poder hegemônico que impera no Brasil há 500 anos. Aqui e na América Latina, só teremos mudança quando desenvolvermos capacidades plurais, que reflitam a formação social dos povos"

 



“Estamos sós, ninguém quer ouvir a nossa voz / Cheia de razões, calibres em punho / Dificilmente um testemunho vai aparecer / E, pode crer, a verdade se omite / Pois quem garante o meu dia seguinte?” O trecho da música Pânico na Zona Sul, lançada em 1988 pelo grupo Racionais MC’s, ultrapassa barreiras temporais e marca a vida de Richard Santos. Carioca, doutor em ciências sociais, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), escritor, comunicador e ex-cantor de rap, ele guarda habilidades diversas adquiridas ao longo de 47 anos de vida. Contudo, mesmo bem-sucedida, a trajetória não o impediu de enxergar a realidade que a canção denuncia, cenário que só quem é negro conhece de verdade.

Com uma história que passa por diferentes cidades, Richard é desbravador, ou “andarilho de mundo”, como ele mesmo define. A vida do professor se desenrolou entre cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e, atualmente, constrói-se em Porto Seguro (BA). Em cada uma delas, ele acumulou mais elementos na bagagem intelectual que carrega Brasil e mundo afora. Entre essas idas e vindas, o professor encontra a equipe do Correio no saguão de um hotel do Setor Hoteleiro Sul.

Descontraído e entusiasmado, Richard fala sobre algumas das principais etapas que viveu, mesclando memórias e referências a teorias científicas. A trajetória de Big Richard — como também é chamado — reflete a transdisciplinaridade que ele próprio buscou ao começar os estudos da graduação. Mesmo com mais de 20 anos de trabalho na comunicação, o interesse acadêmico encontrou base nas ciências sociais. “Queria entender a sociedade em que estamos inseridos”, relata. A partir dali, o caminho se pavimentou por mais etapas de estudos até chegar ao pós-doutorado, que cursa atualmente na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

No fim dos anos 1980, teve início a trajetória musical de Richard — outra das facetas do professor —, quando ainda morava no Rio de Janeiro, em meio à efervescência do rap, do reggae e mesmo cenário em que o funk carioca nascia. Dali, surgiram grupos como Planet Hemp, O Rappa, Cidade Negra e nomes como o de Gabriel, O Pensador. No entanto, a inspiração para o gosto pela música estava na capital federal: Legião Urbana. O primeiro baixista da banda, Renato Rocha — morto em 2015 —, também era negro. “Houve uma identificação estética, mas eu não me via cantando em uma banda de garagem, até porque eu não tinha garagem nem instrumentos para fazer o rock.”

O interesse pelo rap surgiu da influência da tevê e de um primo que apresentou a Richard o disco Consciência Black, dos Racionais MC’s. A música Pânico na Zona Sul chamou atenção e o levou aos palcos. Mas, com o tempo, a desilusão provocada pelo modelo do mercado vigente, que não permitia que alguns grupos tivessem o mesmo espaço no rádio e na televisão, fez com que Big Richard desistisse da vida de cantor. “Não faço mais shows. Escrevo, produzo, mas não mais para atuar na indústria cultural. Por mais que o hip hop tenha esse discurso crítico, politizado, você tem de aderir aos signos dela”, destaca.

Experiências
As pesquisas na área da comunicação surgiram apenas durante o mestrado, na Universidade de Brasília (UnB). Servidor público da UFSB, o campo de atuação do professor universitário passa pela indústria cultural, a América Latina, o sistema de tevê pública, além de questões raciais. O livro mais recente dele fala da relação entre a branquitude e a televisão. “Sempre gostei muito de comunicação e de televisão. Sempre tive curiosidade de saber mais sobre esse veículo que cria nosso imaginário. E costumo dizer que as plataformas digitais são uma adaptação dela”, define.

Olhar crítico e experiências nesse meio não lhe faltaram, uma vez que trabalhou nos principais canais privados do país e em tevês públicas, tanto à frente quanto por trás das câmeras. Atuou como figurante na novela Roque Santeiro, foi assessor de imprensa, colaborador na MTV, apresentador de quadro no Fantástico, produtor na RecordTV — onde atuou em outra novela — e na TV Brasil — onde também fez reportagens. Passou, ainda, pela Bandeirantes e pela TV da Gente.

Richard analisa que a formação comunicacional no país é rodeada por problemas estruturais que favorecem uma visão eurocêntrica, tanto em relação aos saberes quanto a posturas estéticas. “Esse conjunto, formado pelo imaginário eurocêntrico colonizador transforma o não branco no outro, no estereótipo, no subalterno. Ainda hoje, você vislumbra esse poder branco pautando e agendando temas, reportagens, perspectivas, visões. Isso é muito claro — ou muito escuro — para a gente”, comenta. “E como formam-se esses núcleos de trabalho hegemonicamente brancos? A partir da concepção branca de que os melhores representam aquilo que você vê no espelho”, completa o professor.
 
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Correio Braziliense terça, 12 de novembro de 2019

PARA ABRIR MERCADO AOS JOVENS

 

Para abrir mercado aos jovens
 

 

RODOLFO COSTA
CLAUDIA DIANNI

Publicação: 12/11/2019 04:00

 

Bolsonaro, com Guedes e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante lançamento do programa: pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela (Carolina Antunes/PR

)  

Bolsonaro, com Guedes e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante lançamento do programa: pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela

 

 


O governo lançou, ontem, o contrato de trabalho Verde Amarelo, programa que prevê a contratação de jovens entre 18 e 29 anos mediante a desoneração de encargos trabalhistas aos patrões. Somente nesse novo regime trabalhista, a projeção do Ministério da Economia é gerar 1,8 milhão de vagas entre 2020 e 2022. A ação, contudo, integra um pacote mais completo, que prevê a regulamentação da abertura de empresas aos domingos e feriados, medidas de reabilitação de profissionais acidentados, inserção de pessoas com deficiência e estímulo ao microcrédito. Ao todo, a previsão é de atender 4 milhões de pessoas no período (veja arte na página 3).

Todo o pacote é contemplado por dois projetos de lei, um decreto e uma medida provisória, em que está esboçada a proposta do novo regime trabalhista. A intenção do governo sempre foi encaminhar a matéria por meio de MP, mas encontrava resistência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em debater uma redação tão ampla por meio de um texto que prevê prazo máximo de aprovação nas duas Casas de até 120 dias. A viabilidade política foi possível pela costura feita pelo secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, que entrou no circuito como avalista técnico.

O programa Verde Amarelo e os demais textos acessórios englobam a nova agenda governista, que conta com três propostas de emenda à Constituição (PEC) e sugestões de privatização de estatais. Resta, ainda, a apresentação da reforma administrativa, que ficou para a próxima semana. A articulação política do Planalto e a equipe econômica atuam em conjunto para viabilizar a aprovação de tantas redações. O ministro da Economia, Paulo Guedes, capitaneia a articulação técnica, tendo Marinho como avalista técnico e político. Os dois atuam em conjunto com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que recebe as demandas dos parlamentares e as encaminha, a fim de contabilizar votos e apoiamento.

O acordo costurado por Marinho para o encaminhamento da chamada carteira de trabalho Verde Amarela veio de uma orientação do próprio presidente Jair Bolsonaro, a fim de que ele conversasse com as lideranças políticas do Congresso. “Há uma boa receptividade, pois não há um problema mais forte do que a necessária retomada dos empregos e da ocupação dos postos de trabalho, do crédito, de oferecer às pessoas mais pobres políticas que permitam ambiente mais confortável. Houve receptividade muito boa na conversa com vários líderes do Congresso”, destacou o secretário.

As conversas foram acompanhadas de perto por Ramos. Ao Correio, o ministro destacou que Guedes é o “mestre”, conhecedor de tudo da parte econômica, mas lembrou ser ele o responsável por auxiliá-lo nos assuntos políticos. “Fiz uma reunião com o Paulo Guedes. É importante ele conversar com os senadores e deputados, e eu, junto, para trabalhar com ele. Com deputados que sei que são alinhados conosco, com quem não é, quem estará ajudando, quem não estará. É como o presidente sempre fala: ele entende muito de economia, mas de política, ainda está aprendendo. É o vendedor das ideias econômicas, e eu sou o articulador político. Temos de estar lado a lado e nos ajudarmos”, sustentou.

Desoneração
O contrato de trabalho Verde Amarelo é opcional. Mas, para evitar que os patrões demitam trabalhadores e os substituam por funcionários registrados no novo regime, está estabelecido na MP que o limite dessas contratações não pode ser superior a 20% da mão de obra. Por empregado, os patrões receberão uma desoneração média de 30% dos encargos trabalhistas. A contrapartida fiscal virá da contribuição previdenciária do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a desempregados que recebem o seguro-desemprego. O recolhimento será feito a uma alíquota mínima de 7,5% durante os meses em que o beneficiário receber o benefício, que, na legislação atual, vai de três a cinco parcelas.

Por questões fiscais, pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela. Também foi excluída uma desoneração escalonada para os patrões que mantiverem os trabalhadores dentro do novo regime por período superior aos contratos de dois anos. Para inseri-las, seria necessário uma receita superior à estimada com a arrecadação da cobrança do INSS sobre o seguro-desemprego, de R$ 2,2 bilhões anuais, que supera os R$ 2 bilhões a serem destinados à desoneração da folha de pagamento para as empresas.

Os incentivos
Confira os benefícios para empresas que contratarem jovens de 18 a 29 anos

» As empresas não precisarão pagar a contribuição patronal para o Instituto Nacional do Seguro Social (de 20% sobre a folha), as alíquotas do Sistema S e do salário-educação;

» A contribuição para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) cairá de 8% para 2%, e o valor da multa poderá ser reduzido de 40% para 20%, decidida em comum acordo entre o empregado e o empregador, no momento da contratação.

» Todos os direitos trabalhistas garantidos na Constituição, como férias e 13º salário, estão mantidos e poderão ser adiantados mensalmente.

» A medida vale para remunerações de até um salário mínimo e meio e apenas para novos postos de trabalhos, com prazo de contratação de dois anos. Ou seja, não será possível substituir um trabalhador já contratado pelo sistema convencional por outro do programa Verde Amarelo. E essa modalidade não poderá ultrapassar o limite de 20% do total de funcionários das empresas.

4 milhões

Total previsto de pessoas que serão atendidas com todas as medidas do governo

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Correio Braziliense segunda, 11 de novembro de 2019

A FORÇA DE FIOS E CACHOS

 

A força de fios e cachos
 
A empresária Adriana Ribeiro desafia tendências, deixa de lado os alisantes e conquista clientes com a valorização dos cabelos crespos das mulheres negras. Hoje, dispõe de um canal para ajudar as mães a tratarem da beleza dos filhos

DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 11/11/2019 04:00

 (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Usar o cabelo de forma natural pode ser um desafio para quem passou boa parte do tempo alisando, puxando e escondendo os cachos. No entanto, assumir os fios enrolados se tornou uma conquista no universo feminino e um sinônimo de resgate de uma identidade. Com a missão de incentivar e valorizar a beleza negra, há oito anos, Adriana Ribeiro, 41 anos, fundou um salão especializado em cabelos ondulados, cacheados e crespos, sem a utilização de produtos químicos. O intuito é elevar a autoestima de mulheres e crianças.
 
O encanto pelo mundo da beleza começou quando Adriana ainda era criança. “Minha mãe era cabeleireira e eu sempre a observava e queria ajudá-la. Quando ela participava de cursos de manicure, eu e minha irmã íamos também. Então, fui observando como ela trabalhava e aquilo me atraiu”, conta.
 
A empresária, então, iniciou a carreira como auxiliar de manicure aos 12 anos. Com 16 anos, ela e a irmã, Maria José da Silva, 47, montaram o próprio salão na garagem de casa, na Candangolândia. “Começamos fazendo unha, mas logo vi que também gostava de montar penteados, maquiar e tirar sobrancelhas.” Lá, elas também realizavam procedimentos químicos, como relaxamento, progressiva e selagem.
 
Mas havia algo que a incomodava. Adriana não entendia o motivo de tanto preconceito com quem tinha os cabelos cacheados. A empresária conta que, quando criança, sofria discriminação na escola pelo fato de ter os fios enrolados. “Sabemos que, em qualquer lugar, estamos sujeitos a esse tipo de situação. A criança branca sempre vai ser a preferida pelo meio social e, a negra, a excluída. Eu me indignei com isso, e passei a lutar pelo espaço da mulher negra na sociedade”, afirma.
 
Em 2006, a empresária resolveu estreitar o atendimento e abriu mão das químicas de alisamento e resolveu voltar a atenção para os cabelos cacheados e crespos. O passo a passo para aprender as técnicas de hidratação e de transição capilar não foi fácil. “Na época, não havia cursos direcionados à beleza e ao cuidado dos fios cacheados e crespos. Então, pegava tudo da internet, assistia a vídeos gringos e traduzia por meio de uma plataforma”, relata.
 
A decisão de Adriana logo incomodou os familiares e amigos. “Muitos me chamaram de louca e falaram que eu ia passar fome. Até porque, eu estava indo contra a maré. Enquanto os salões tradicionais investiam em alisamento, eu deixava os cabelos cacheados e com volume. Era um mercado desacreditado, mas, ao mesmo tempo, tinha pessoas que queriam se libertar desse padrão de beleza, que é o cabelo liso”, diz.
 
A princípio, atrair as clientes não foi uma tarefa simples, a começar pelo tamanho do espaço para o atendimento (25m²),  no Riacho Fundo. Mas a procura de mulheres era tão alta, que logo ela alugou uma nova loja com 50m². “Eu me considero uma profissional chata e exigente. Se eu for uma manicure, maquiadora ou cabeleireira, por exemplo, vou ser a melhor naquilo”, ressalta.
 
Reviravolta
 
De três anos para cá, a carreira de Adriana saltou. O salão com área de 50m² se tornou insuficiente para atender o aumento da demanda. Agora, o espaço Afro & Cia Ponto Chic, localizado no Riacho Fundo I, tem 200m², 25 funcionárias e oferece os mais variados procedimentos para mulheres de cabelo cacheado: botox, hidratação, transição capilar, corte e até sala de maquiagem. Ao lado, ela mantém uma loja de cosméticos, com cremes, shampoos, escovas, ampolas de restauração e nutrição, entre outros produtos. “Minhas funcionárias sempre andam bem arrumadas e maquiadas, até porque estamos em um salão de beleza e temos que passar segurança e confiança para as nossas clientes”, diz ela.
 
Por mês, o instituto de beleza recebe cerca de 600 clientes. Segundo Adriana, a maioria delas estão em processo de transição, ou seja, querem se livrar dos alisamentos e assumir o cabelo natural. “A mulher chega com muitos medos e insegurança, por conta dos achismos e da opinião alheia. É uma etapa difícil, justamente pelos julgamentos das pessoas. Mas o nosso trabalho não é apenas fazer os procedimentos, mas, sim, ensinar a cliente sobre  a questão do empoderamento e o quanto ela se liberta ao deixar os fios cacheados”, conta.
 
Enfrentar a transição capilar foi o caso da administradora de empresas Nhajara Louzeiro, 30. Desde os 12 anos, ela costumava alisar os cabelos e não cogitava a ideia de deixá-los naturais. Em fevereiro deste ano, Nhajara viajou para a praia e optou por não fazer nenhum procedimento. “Durante esse período de férias, eu comecei a ver como meu cabelo era bonito cacheado. Achei aquilo diferente, até que uma amiga me indicou a Adriana”, conta.
 
A administradora iniciou o processo de transição. No começo, teve de lidar com as barreiras e até achou estranho quando se olhou no espelho pela primeira vez com os cabelos cacheados. “Não me arrependo. Não foi fácil tomar a decisão, mas hoje me vejo mais bonita, minha autoestima melhorou e sou apaixonada pelos meus fios”, frisa.
 
Incentivar
 
Adriana também criou o projeto Mães que Curam. O objetivo é ensinar as mães a cuidarem do cabelos dos filhos. “Muitas vezes, a mãe acaba tendo dificuldades de tratar do cabelo do filho, por ser crespo ou cacheado. Nisso, ela fala que é um cabelo ruim ou duro. O primeiro passo é ensiná-la a não proferir esse tipo de vocabulário, como se fosse uma consultoria. Se a criança escuta isso na rua, vai achar que é normal e isso pode gerar graves consequências no futuro”, destaca.
 
No YouTube, a empresária fundou um canal e gravou um workshop gratuito para as mães. “Ensino sobre como elas devem pentear, hidratar e lavar o cabelo das crianças. Quando a criança crescer, tudo bem, ela tem a opção de escolher qual estilo vai querer. Mas o importante é ela se aceitar e se achar linda”, conclui.
 
*Estagiária sob supervisão de Rosane Garcia
 
 
"Muitos me chamaram de louca e falaram que eu ia passar fome. Até porque, eu estava indo contra a maré. Enquanto os salões tradicionais investiam em alisamento, eu deixava os cabelos cacheados e com volume. Era um mercado desacreditado, mas, ao mesmo tempo, tinha pessoas que queriam se libertar desse padrão de beleza, que é o cabelo liso”
Adriana Ribeiro 
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia. 
 
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Correio Braziliense domingo, 10 de novembro de 2019

SUPERAÇÃO: O AMOR QUE NÃO DESISTE NUNCA

 

SUPERAÇÃO
 
O amor que não desiste nunca
 
 
A rotina de crianças e adolescentes internados em hospitais que, desde cedo, precisam lidar com exames e tratamentos não é fácil. Especialistas ressaltam que acompanhamento psicológico e familiar é crucial. Experientes ou não, mães e pais contam ao Correio como encarar esse desafio, enquanto pacientes revelam os sonhos que guardam para o presente e o futuro

 

JÉSSICA EUFRÁSIO
MARIANA MACHADO

Publicação: 10/11/2019 04:00

Rafaela e Wesley acompanham o tratamento do filho Gabriel Nisiguchi no Hospital da Criança de Brasília (HCB) (Vinícius Cardoso/Esp.CB/D.A. Press
)  

Rafaela e Wesley acompanham o tratamento do filho Gabriel Nisiguchi no Hospital da Criança de Brasília (HCB)

 

O dia a dia na escola com amigos da mesma idade dá lugar à convivência em um quarto, às vezes compartilhado por outras pessoas acamadas. Os inúmeros brinquedos são substituídos por parafernálias de última geração, usadas para monitoramento da saúde. A rotina de atividades ao ar livre se transforma em tardes dedicadas a consultas e exames invasivos. Desde muito cedo, muitas crianças e adolescentes lidam com a realidade de começar a vida em hospitais, internadas ou em tratamento, na expectativa de vencer uma doença grave.
 
Mas essa luta não é motivo para tirar dessas crianças a esperança por um futuro diferente, longe de um quarto de hospital, por mais que as instituições se esforcem para oferecer um ambiente acolhedor e agradável. Em comum, meninos e meninas conservam a capacidade de sonhar, até em momentos nos quais muita gente grande não conseguiria fazer o mesmo. Gabriel Nisiguchi, 4 anos, um desses protagonistas, passou mais de um mês internado no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).
 
Diagnosticado com um tipo raro de câncer — o linfoma de Burkitt, que ataca região próxima ao abdômen —, Gabriel perdeu o movimento das pernas e, agora, passa por tratamento quimioterápico. Apesar de ter recebido alta médica, as passagens pelo HCB continuam frequentes, tanto para receber medicação quanto para ser reavaliado. A notícia sobre o câncer pegou a família de surpresa, há cerca de dois meses.
 
Diagnóstico
 
Os sinais apareceram quando o menino apresentou dores na barriga. De início, médicos desconfiaram que se tratasse de uma apendicite. Depois, a suspeita mudou para adenite mesentérica — inflamação de nódulos linfáticos ligados ao intestino —, possibilidade descartada por uma tomografia. Após a alta e com a persistência dos sintomas, Gabriel acabou internado novamente. Um segundo exame de imagem mostrou que o quadro havia piorado.
 
Ele perdeu o movimento das pernas, o controle sobre a bexiga e não conseguiu mais se sentar por conta própria. Os pais receberam a notícia de que o quadro estaria associado a um câncer. Gabriel foi transferido para o HCB, onde uma ressonância magnética revelou a presença de um tumor na medula espinhal que alcançou sete vértebras. Ele passou por uma quimioterapia de emergência, por uma cirurgia para remover o edema e permaneceu internado por 40 dias. Uma semana depois da alta médica, o menino voltou para a unidade de saúde, onde permaneceu por mais quatro dias, e foi liberado novamente.
 
Desde que saiu, Gabriel está melhor, mas precisa continuar as sessões de quimioterapia. “Depois que acaba o ciclo, ele fica com a imunidade muito baixa. Tem de se recuperar, pois ela é bem agressiva, puxada. Tem gente que volta para casa no mesmo dia. Mas ele fica uns seis dias internado. Se houver algum tipo de intercorrência — febre, diarreia —, temos de voltar correndo para o hospital”, relata a advogada Rafaela Fumie, 35, mãe de Gabriel. “Falar que é fácil é hipocrisia. Receber diagnóstico de câncer é muito desesperador. Mas estamos vivendo uma experiência de fé”, desabafa.
 
Mesmo com toda a vivência hospitalar, Gabriel é uma criança tranquila, compreensiva e que, segundo a mãe, lida bem com a situação. Apesar da pouca idade, ele faz planos para a vida adulta. “Quero ser médico, para poder cuidar de quem está dodói”, conta. Apaixonado por futebol e flamenguista roxo, ele revela ser fã de Gerson, enquanto reproduz o gesto que o meio-campista faz depois do gol. Entre outros projetos de Gabriel para depois que terminar o tratamento está, obviamente, voltar a jogar bola: “Quero andar, brincar e jogar futebol. Gosto muito que a mamãe conte histórias; de brincar com robô, dinossauro, videogame; e de viajar. E quero ir para a praia, para brincar lá”, completa.
 
Artigo
Por Paula Madsen 
 
Caminhos para o acompanhamento
 
O processo de hospitalização representa um momento delicado na vida de qualquer pessoa, independentemente de idade, escolaridade, classe social ou do gênero. Indicar a internação ocasiona uma série de alterações nas atividades diárias e, muitas vezes, são exigências, inclusive aos familiares. O ambiente hospitalar é bastante restritivo, requer mais controle para que sejam seguidos protocolos de saúde e alcançados os resultados e a eficácia estimada para o tratamento.
 
O adoecimento de uma criança sensibiliza as pessoas que a acompanham. A fragilidade do paciente, o risco de um óbito prematuro, o abandono de sonhos e projetos. O sentimento de medo — da doença, dos procedimentos, do agravamento do quadro, da morte — também é sempre presente. A criança hospitalizada conta com a presença de familiares para acompanhar diariamente todos os procedimentos e favorecer o conforto de referência em um ambiente tão inóspito.
 
No hospital, a criança está privada de muitos estímulos necessários. Medicações, restrição de movimentos e o afastamento de experiências externas podem ser negativos para alguns aspectos do desenvolvimento cognitivo, motor e social, porém, são fundamentais para as investidas de recuperação da saúde.
 
Observam-se, entre as crianças internadas — nas interações sociais com familiares, outras crianças ou pessoas da equipe de saúde — que o paciente expressa, de forma lúdica, a percepção sobre o que acontece, as lembranças e vontades relacionadas à vida fora do hospital, como o retorno para casa, bem como as negociações e projetos esperançosos, construídos em família, assim que receber alta médica. Essas construções são importantes por representarem, também, uma das etapas de enfrentamento da situação.
 
Já os adolescentes apresentam uma percepção mais similar à de um adulto. Compreendem melhor a situação, podem ser mais atuantes no tratamento, suavizando algumas exigências aos familiares. Essa compreensão mais elaborada pode impactar na formação de conceitos e na construção da identidade. No entanto, a percepção de sequelas ou complicações decorrentes da doença podem ser erroneamente compreendidas como condições determinantes ou até irreversíveis. Considerando-se o contexto mais imediatista característico da adolescência, isso pode levar ao isolamento social, à limitação de perspectivas futuras ou mesmo a pensamentos negativos.
 
Assim, acompanhar o processo de hospitalização, promover as estimulações necessárias para cada idade, desenvolver intervenções pautadas em psicoeducação para instruir e orientar pacientes e familiares tornam-se medidas psicológicas necessárias para diminuir o sofrimento, promover qualidade de vida, facilitar a adesão ao tratamento e prevenir comorbidades e riscos de recidivas que possam tornar o processo de internação ainda mais longo.
 
Paula Madsen é psicóloga, mestre em psicologia da saúde e professora do Centro Universitário Iesb
 
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Correio Braziliense sábado, 09 de novembro de 2019

ELLEN OLÉRIA: A FORÇA ANCESTRAL

 

A  força ancestral
 
Cantora e atriz Ellen Oléria busca no passado e nas ações coletivas o motor para a luta pela igualdade e visibilidade social

 

» Vinicius Nader

Publicação: 09/11/2019 04:00

 

"O fato de eu ser negra é o que me possibilita cantar o que eu canto, experienciar a arte da forma que eu experiencio" Ellen Oléria, cantora

 

 
“É muito importante a gente cantar a nossa gente, cantar o nosso lugar, o nosso cerrado que luta bravamente para se manter vivo, como nós”. O paralelo entre a luta do movimento negro e o bioma é da cantora e atriz Ellen Oléria,  que despontou de Ceilândia para todo o país ao vencer a primeira temporada do reality show The Voice Brasil.
 
Ela não dissocia a luta contra o racismo do reconhecimento de nossas origens, enquanto brasileiros e cidadãos. “O novembro negro nos chama para isso. É tempo de revisar, pensar, construir novas estratégias se forem necessárias”, afirma. “A gente não é só a cor da pele, temos memória celular de coisas muito mais complexas. O modo com que lidamos com o mundo está presente na forma como o meu corpo reage aos estímulos que recebe. Artistas brancas, pessoas brancas também vivenciam essa memória. É muito complexo num país que tem uma herança patriarcal e racista a gente saber que nosso corpo carrega também essa dimensão ancestral”, completa.
 
Ellen aponta que, mesmo que abolida há mais de um século, a escravidão brasileira ainda traz ecos na sociedade atual. “É muito importante a gente saber de onde a gente veio: um país escravocrata que ainda traz em suas instituições marcas dessa história, dessa prática em que o corpo negro ainda vale menos em relação a posses, serviços, empregos. O Brasil tem uma discrepância (social) muito grande. Não dá para dizer que a gente é um país igualitário, nem um continente e nem um mundo”, reflete a cantora.
 
A necessária reparação social é, para Ellen, um processo contínuo, cujo resultado “a gente vê a longo e médio prazos. As cotas sociais são um exemplo: a ideia é que elas não existam para sempre, é que as cotas minimizem e façam uma reparação imediata de uma história longa e brutal. É, por exemplo, você chegar a um hospital, ser atendido por uma médica negra e isso não ser uma grande surpresa para você, mas ser algo comum.”
 
É essa visão de que falta à sociedade brasileira a inserção do negro. E ela (a inserção) vem com trabalho de formiguinha, com passos para frente e para trás, mas sempre apoiado na coletividade. “Exatamente quando o Estado não consegue atender todas as demandas de uma maneira diversa, a força, o poder coletivo se movimenta, se agrupando e pensando estratégias coletivamente. Eu acredito muito nessa movimentação coletiva e acho que ela só existe porque as pessoas se movimentam individualmente também”, explica Ellen.

No comando do programa Estação plural (TV Brasil/Divulgação - 20/1/16 )  

No comando do programa Estação plural

 



Ellen canta na final do The Voice Brasil (TV Globo/Divulgação - 25/12/14 )  

Ellen canta na final do The Voice Brasil

 

 
A força do afeto
 
Além de cantora, compositora e atriz Ellen Oléria é apresentadora e esteve à frente do programa do Canal Brasil Estação plural, no qual discutia questões ligadas à diversidade, seja ela racial, seja de qualquer outro tipo.
 
“Eu acredito na força do afeto, na conexão entre as pessoas. Foi por meio desses espaços que tive a oportunidade apresentar o Estação plural. A minha ideia é ir me edificando com as pessoas que estão ao meu redor, com os universos em que eu habito. A ideia foi justamente falarmos das diferenças, de como elas podem nos enriquecer. Acho que isso que eu tenho de fazer nos lugares que ocupo”, afirma.
 
Com toda a luta e muitas derrotas impostas ao negro, Ellen Oléria encontra espaço para o otimismo quando olha para o futuro. “Eu sou esperançosa, tenho muita fé. As novas gerações estão trazendo pra gente outras perspectivas de vida, muito mais abertas ao diálogo”, opina Ellen. A cantora reafirma que se sente ainda mais confortável quando compara a atitude de pais com relação à educação dos filhos de gerações anteriores para a de agora. O momento, segundo a cantora, é de dividir a tarefa da educação com a escola e não deixar nas mãos dos educadores.
 
“Vejo mais mães tomando a responsabilidade de criar os filhos para si, não deixando com o Estado. Todo mundo que está perto de uma criança é responsável por ela de alguma maneira. As crianças estão muito atentas ao que está acontecendo o tempo inteiro e estão aprendendo. O mais natural é a criança reproduzir modelos. Quanto mais bons exemplos a criança tiver por perto, mais possibilidade de perceber o mundo ela vai ter. A gente, independentemente de ter relação direta com a escola, é responsável pelas crianças ao nosso redor”, explica.
 
Cria de Ceilândia
 
Durante a trajetória artística, Ellen também não esquece da própria origem. Antes de ser conhecida país inteiro, ao ser a primeira vencedora do The Voice Brasil, gravar cinco discos e ter músicas em trilha de novelas, Ellen era conhecida dos palcos e das feiras culturais da capital federal.
 
Foram vários os shows em que espaços como a Funarte ou o Bistrô Bom Demais, no CCBB, receberam a voz potente e a poesia contundente da cantora Ellen. O lado atriz teve vazão sob a direção de mestres como Hugo Rodas. “Estamos conversando com Brasília fortemente, levo o nome da cidade no peito”, afirma Ellen, que está em estúdio gravando um disco que vai dialogar fortemente com a capital federal.


TRECHOS DE MÚSICAS

Antiga poesia
“A planta é feminina, a luta é feminina
La mar, la sangre y mi América Latina
O meu desejo é que o seu desejo não me defina
A minha história é outra
Tô rebobinando a fita“

Senzala (A feira de Ceilândia)
‘Mas o que você precisa mais na feira não se pode encontrar:
Razão, consciência, senso, inteligência, uma cabeça pra pensar“
 
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Correio Braziliense sexta, 08 de novembro de 2019

STF IMPÕE REVÉS À LAVA-JATO: LULA PODE SER SOLTO

 

STF impõe revés à Lava-Jato
 
Corte proíbe prisão após condenação em 2ª instância, uma das bases da força-tarefa. Decisão permitirá a soltura de milhares de detentos, entre eles, o ex-presidente Lula

 

Renato Souza
Jorge Vasconcellos

Publicação: 08/11/2019 04:00

 

 

"Não é a prisão após segunda instância que resolve esses problemas (de criminalidade), que é panaceia para resolver a impunidade, evitar prática de crimes ou impedir o cumprimento da lei penal – Dias Toffoli, presidente do STF

 

 


Depois de cinco sessões de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu, por seis votos a cinco, a execução da prisão após condenação em segunda instância. Com isso, a Corte retrocedeu ao entendimento que vigorou entre 2009 e 2016, impondo um retrocesso no combate à corrupção e um duro revés à Operação Lava-Jato. Pelo menos 38 réus investigados pela força-tarefa devem ser liberados, de acordo com levantamento do Ministério Público Federal do Paraná. O efeito da decisão é imediato, e assim que a ata do julgamento for publicada, advogados poderão solicitar a liberação de condenados  que estão presos em decorrência de sentença tomada em segundo grau. Entre os beneficiados, está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia reportagem na página ao lado).

Além do petista, milhares de presos devem ser soltos para aguardar recursos ao STJ e ao STF. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a decisão atinge 4.895 detentos em todos os estados. Entre os condenados na Lava-Jato que podem ser liberados em razão do entendimento do Supremo estão o ex-ministro José Dirceu, condenado a oito anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos da Petrobras; o ex-gerente da Petrobras Pedro Augusto Cortes Xavier; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, além do ex-diretor da Petrobras Renato Duque e do pecuarista José Carlos Bumlai.

Em nota publicada logo após o julgamento, a força-tarefa da Lava-Jato declarou que o entendimento do STF prejudica o combate à corrupção e favorece a impunidade. “A decisão do Supremo deve ser respeitada, mas, como todo ato judicial, pode ser objeto de debate e discussão. Para além dos sólidos argumentos expostos pelos cinco ministros vencidos na tese, a decisão de reversão da possibilidade de prisão em segunda instância está em dissonância com o sentimento de repúdio à impunidade e com o combate à corrupção, prioridades do país”, destacou um trecho do texto.

Procuradores da Lava-Jato lembraram que a grande quantidade de recursos possíveis no sistema jurídico brasileiro resulta, inclusive, na prescrição de crimes. “A existência de quatro instâncias de julgamento, peculiar ao Brasil, associada ao número excessivo de recursos que chegam a superar uma centena em alguns casos criminais, resulta em demora e prescrição, acarretando impunidade. Reconhecendo que a decisão impactará os resultados de seu trabalho, a força-tarefa expressa seu compromisso de seguir buscando justiça nos casos em que atua”, emendou a nota.

O presidente da Associação Nacional do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo Azevedo, lamentou o desfecho do julgamento. “Reafirmo a preocupação do Ministério Público brasileiro com o provável retrocesso jurídico, que dificulta a repressão a crimes, favorecendo a prescrição de delitos graves, gerando impunidade e instabilidade jurídica”, ressaltou.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da Lava-Jato no Supremo, afirmou que os trabalhos relacionados à operação vão continuar normalmente na Corte. “Não creio que seja suficiente apenas culpar o sistema de processo penal pelas circunstâncias suscitadas neste julgamento. A relatoria dessa operação vai continuar a fazer o que tem de fazer, que é promover a responsabilização, quando for o caso, e a absolvição, quando for o caso.”

Toffoli
O ministro Dias Toffoli, que desempatou o placar, rebateu críticas de que a medida vai gerar impunidade e destacou que cada magistrado deve avaliar a situação do preso quando receber o pedido de liberdade. “No Brasil, mais de 300 mil pessoas estão presas por condenação em primeira instância. E continuarão presas, pois são pessoas perigosas”, disse o presidente da Corte, defendendo que condenados sejam presos logo após julgamento no Tribunal do Júri, que atua em casos de crimes hediondos, ou seja, dolosos contra a vida. Esse assunto ainda será analisado pelo plenário do Supremo.

Votaram a favor da prisão após condenação em segunda instância os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Os contrários à detenção antes de apresentar todos os recursos possíveis foram Marco Aurélio (relator), Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello, além de Toffoli.

Após o resultado, apoiadores do ex-presidente Lula que estavam na Praça dos Três Poderes soltaram fogos de artifício, e o barulho pôde ser ouvido dentro do tribunal. A Polícia Militar reforçou a segurança.

Respeito
No julgamento, a ministra Cármen Lúcia pediu que visões contrárias sejam respeitadas. “Quem gosta de unanimidade é ditadura. Democracia é plural, sempre. Diferente não é errado apenas por não ser mero reflexo”, frisou. Ela declarou que conhece os problemas do sistema penal do país, mas que a precariedade não pode servir como fundamento para não aplicar a lei. De acordo com a magistrada, derrubar a possibilidade de prisão em segunda instância aumenta a impunidade. “Se não se tem a certeza de que a pena será imposta, de que será cumprida, o que impera não é a incerteza da pena, mas a certeza ou pelo menos a crença na impunidade.”

O ministro Gilmar Mendes destacou que mesmo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), considerado a terceira instância, é possível anular a pena de uma pessoa condenada nas instâncias inferiores. “O STJ pode corrigir fatos sobre a culpabilidade do agente, alcançando, inclusive, a dosimetria da pena”, disse.

Saiba mais
Três ações

O julgamento encerrado ontem foi sobre o mérito de três ações, movidas pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), PCdoB e Patriota, que tratam sobre a execução antecipada de pena. As ações pediam que fosse confirmada a validade do artigo 283 do Código de Processo Penal, que prevê o trânsito em julgado — quando todos os recursos jurídicos são esgotados — como necessário para estabelecer as condições da prisão. Esse dispositivo foi incluído pelo Congresso Nacional em 2011.

Mudança de posição
O julgamento de ontem marcou a segunda vez que Toffoli mudou de posição sobre o tema. Em fevereiro de 2016, ele admitiu a prisão após condenação em segunda instância. Depois, passou a defender uma solução intermediária — de se aguardar uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, o presidente do Supremo votou pelo trânsito em julgado.

4.895
Número de presos que podem ser beneficiados pela decisão, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)


Contra a prisão
Ricardo Lewandowski
Rosa Weber
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Gilmar Mendes
Dias Toffoli

A favor da prisão
Edson Fachin
Alexandre de Moraes
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Cármen Lúcia

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 07 de novembro de 2019

STF RETOMA ANÁLISE DE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF retoma análise de prisão
 
 
Supremo Tribunal Federal deve formar maioria, hoje, para definir se mantém ou proíbe o encarceramento de réus após condenação em segundo grau de Justiça. Voto do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, é o mais esperado

 

» RENATO SOUZA

Publicação: 07/11/2019 04:00

» RENATO SOUZA    

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma na tarde de hoje o julgamento sobre a prisão após condenação em segunda instância. Até o momento, quatro ministros votaram para manter o entendimento atual da Corte e permitir a prisão após julgamento em segundo grau de Justiça. Três ministros foram contra, e ainda faltam quatro votos. A sessão deve resultar na formação de maioria, para que o caso seja definido.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a revisão do entendimento do STF resultaria na liberdade de 4.895 presos em todo o país. Entre os eventuais beneficiados está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux votaram a favor da prisão após condenação em segundo grau. Votaram contra Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Faltam os votos de Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.

O voto de Toffoli é um dos mais aguardados. Ele já defendeu que a prisão ocorra a partir de condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, no mês passado afirmou que ainda não havia tomado uma decisão e que poderia mudar de opinião.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da operação Lava-Jato no Supremo, minimizou os impactos de uma eventual mudança na jusrisprudência da Corte. “A eventual alteração do marco temporal para a execução provisória da pena não significa que, em lugar da execução provisória, quando for o caso, seja decretada a prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal (quando o réu representa riscos a investigação ou à sociedade). Então, não vejo esse efeito catastrófico que se indica”, disse o ministro.

Ainda de acordo com Fachin, mesmo que o Supremo derrube a prisão em segunda instância, isso não aumentaria a sensação de impunidade na população. “A rigor, o que contribui para a percepção de impunidade é o tempo demasiado entre o início e o fim do processo penal. Isso significa, portanto, que o processo penal deve ter um transcurso que atenda ao princípio constitucional da duração razoável. Esse é o grande desafio do Poder Judiciário brasileiro”, disse.

Fatos

Defensor da execução da pena em segundo grau de Justiça, Fachin lembrou que o mérito do caso, com a avaliação de culpa e a apresentação de provas, ocorre apenas na primeira fase do processo. “Acho que o correto é aplicar-se o que nós temos aplicado hoje. O STJ e o Supremo não reveem provas, não discutem mais o fato. Não cabe recurso especial para discutir matéria de fato. E o extraordinário só cabe se houver violação da Constituição”, completou Fachin.

Nos bastidores, os ministros já dão como certo que a prisão em segunda instância será proibida pelo Supremo. No entanto, o ministro Luís Roberto Barroso acredita que o resultado ainda pode ser diferente. “Eu acredito em milagres”, afirmou. Outro ministro, ouvido sob a condição de anonimato, declarou que não vê possibilidade de prevalecer a tese defendida anteriormente por Toffoli, para que o encarceramento ocorra após julgamento no STJ.
 
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Correio Braziliense quarta, 06 de novembro de 2019

PACOTE PARA DISCIPLINAR AS CONTAS PÚBLICAS

 

Pacote para disciplinar as contas públicas
 
<b>Governo envia ao Congresso PECs que dão mais recursos e autonomia financeira para estados e municípios, reestruturam o serviço público e criam medidas emergenciais para entes federativos em apuros. Também anuncia projeto de privatização da Eletrobras e, hoje, realiza megaleilão de petróleo </b><br>
Batizado de Plano Mais Brasil, o ambicioso pacote de reforma do Estado lançado pelo governo Bolsonaro inclui três propostas de emenda à Constituição, que, juntas, podem ter impacto de R$ 670 bilhões na economia. Uma delas, a PEC do Pacto Federativo, destina R$ 400 bilhões a mais a estados e municípios nos próximos 15 anos. Outra, a dos Fundos Públicos, permite que R$ 220 bilhões empacados em 248 fundos possam ser usados para amortizar a dívida pública. Já a PEC Emergencial prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos; reduz despesas obrigatórias; proíbe ente federativo em crise de dar reajuste salarial e autoriza a diminuir jornada e salário de servidores. Ontem, Bolsonaro também entregou o projeto de privatização da Eletrobras, com uma novidade: o governo não terá direito a golden share, ação especial que permite o veto a determinadas decisões da companhia. E hoje ocorre o megaleilão do pré-sal, com a expectativa de arrecadação de pelo menos R$ 106 bilhões. Parte desse dinheiro vai para os cofres de estados e municípios.   , Sergio Lima/AFP
 
 
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes entregam ao Senado propostas ambiciosas para "transformar o Estado brasileiro" e permitir maior crescimento do país. Entre as medidas estão a descentralização de recursos para estados e municípios e ajustes no funcionalismo público

 

ANNA RUSSI
MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 06/11/2019 04:00

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado (Sergio Lima/AFP)  

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado

 



O governo federal encaminhou, ontem, ao Congresso três propostas de emenda à Constituição (PECs) que, juntas, têm potencial de gerar um impacto econômico de R$ 670 bilhões. As medidas compõem o Plano Mais Brasil, um pacote de ações para direcionar os próximos passos da agenda econômica que “transformará o Estado brasileiro”, nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Uma das PECs é a do Pacto Federativo que, segundo estimativas, em 15 anos, repassará R$ 400 bilhões a estados e municípios. O segundo texto, denominado PEC Emergencial, prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos. Já a PEC dos Fundos Públicos propõe usar R$ 220 bilhões, que estão parados em 248 fundos, para amortizar a dívida pública do país.

Guedes explicou que o envio de um plano extenso de reformas foi negociado com lideranças e presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. “A razão de colocar tudo junto é que, apesar de os assuntos não estarem tão maduros, foi uma construção conjunta da agenda. O próprio fatiamento das propostas foi indicado e sugerido pelas lideranças políticas”, afirmou.

A maior e mais complexa PEC, a do Pacto Federativo, propõe mudanças no sentido de assegurar uma execução mais eficiente das políticas públicas. “É o primeiro governo, em 40 anos, que fala em descentralizar recursos e fortalecer a democracia”, disse Guedes, ao reforçar a necessidade investimentos em educação, saúde, segurança e saneamento.

A equipe econômica propõe que os municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadação própria menor que 10% da receita total sejam incorporados pela cidade vizinha. Segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, 1.254 municípios se encaixam nesse perfil.

De acordo com o último censo do IBGE, 1.253 (um a menos do que o informado pelo secretário especial) dos 5.570 municípios brasileiros têm menos do que cinco mil habitantes. A medida é apresentada às vésperas de 2020, ano de eleições municipais, mas, na visão do governo, não afetará o pleito. Conforme afirmou o assessor especial do ministro Guedes, Rafaelo Abritta, as cidades que serão incorporadas na medida só serão conhecidas, de fato, em 2023.

“Em 1º de julho de 2023, será feito o aferimento da sustentabilidade financeira do município”, afirmou Abritta. Os municípios que não atingirem o índice de receita não terão eleição municipal em 2024, podendo ser incorporados no ano seguinte. A PEC prevê a fusão de, no máximo, quatro municípios. Também fica definida uma nova restrição à criação de municípios: só poderá ocorrer mediante uma lei complementar.

Para promover a independência do gestor, o governo propõe que estados e municípios passem a receber toda a arrecadação do salário-educação. Dessa forma, eles podem definir o uso dos recursos, que vêm da contribuição social de 2,5% descontada sobre a folha de pagamentos de empresas. Hoje, esses valores são divididos com o governo federal.

Ao dar mais liberdade para os estados e municípios administrarem os próprios recursos, o governo também pretende impor mais responsabilidade a cada um deles. A União fica proibida de socorrer entes em dificuldades fiscal-financeiras a partir de 2026. Não precisará, também, dar crédito para o pagamento de precatórios.

O texto prevê, ainda, a criação de um Conselho Fiscal da República. Segundo Guedes, o colegiado se reunirá a cada três meses para monitorar as contas e garantir o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Já criamos cultura de estabilidade monetária, ainda que antes da lei de autonomia do Banco Central. No lado fiscal, aconteceu o inverso: não temos a cultura de responsabilidade fiscal, apesar da existência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Precisamos consolidar um novo marco institucional da nova ordem fiscal”, disse.

Gatilhos
Semelhante à PEC do Pacto Federativo, a proposta para emergência fiscal apresenta alguns pontos próprios, como a duração das travas automáticas por dois anos. O acionamento dos gatilhos ocorrerá quando as operações de crédito superarem as despesas de capital em um ano. Além disso, dentro do montante economizado com as medidas, 25% do valor será destinado para projetos de infraestrutura.

Já a gestão dos recursos mínimos para saúde e educação, tanto da União quanto dos entes federativos, não sofrerá alteração. O que fica permitido é a realocação dos valores mínimos estabelecidos conjuntamente para as duas pastas. Ou seja, o gestor poderá escolher se, do total para saúde e educação, gastará mais em um ou em outro.

A terceira PEC apresentada muda a situação dos fundos públicos brasileiros. A ideia é liberar o dinheiro parado nessas contas para a amortização da dívida pública. Atualmente, existem 281 fundos públicos no Brasil, no entanto, somente 248 desses serão afetados. De acordo o texto, R$ 220 bilhões estão parados nessas contas estabelecidas por recursos arrecadados com finalidades específicas.

Também fica prevista a extinção da maior parte dos fundos no fim do segundo ano subsequente à aprovação da PEC. Os novos recursos arrecadados com os fundos serão aplicados prioritariamente nos programas de erradicação da pobreza e de reconstrução nacional.




Mais PECs
As medidas entregues ontem são apenas parte do pacotão da agenda econômica do governo pós-Previdência. O ministro afirmou que a transformação ocorrerá em diversas dimensões: tributária, administrativa e de descentralização de recursos. A busca, segundo ele, é transformar um Estado que gasta “muito e mal” em uma máquina eficiente e fraterna. Assim, até o fim do ano, ainda devem ser encaminhadas mais duas PECs: a reforma administrativa, que vai reorganizar o funcionalismo público, e a reforma tributária, que simplificará o sistema do país. A proposta que vai tratar da reestruturação do serviço público deve ser encaminhada à Câmara dos Deputados nos próximos dias. Já a de mudança de impostos será analisadas por uma comissão mista. Além disso, a equipe econômica promete o envio de um projeto de lei que definirá as regras para privatizações.
 
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Correio Braziliense terça, 05 de novembro de 2019

O OLHAR DO NEGRO SOBRE O NEGRO

 

O olhar do negro sobre o negro
 
Jovens de Brasília descobriram na fotografia uma forma de registrar o que é ser negro. Luiz Ferreira, Marconi Silva e Ester Cruz aprenderam a olhar a sociedade pela lente do enfrentamento à discriminação e usam a arte como instrumento de luta. No mês da Consciência Negra, eles ressaltam a importância da representatividade como forma de combate ao racismo. O trabalho é um caminho para o respeito e a conscientização.
 
Três fotógrafos de Brasília usam a temática racial em trabalhos como forma de representatividade e protesto

 

Thays Martins

Publicação: 05/11/2019 04:00

“A fotografia, antes de tudo, é um testemunho”. Foi assim que o fotógrafo norte-americano Ansel Adams definiu essa habilidade. E é exatamente assim que três profissionais de Brasília lidam com esse ofício. Negros, eles escolheram dar mais visibilidade para modelos com a mesma cor de pele.
 
Em ensaios e trabalhos autorais de Ester Cruz, Luiz Ferreira e Marconi Silva, estão presentes a beleza, o protesto e a representatividade. Neste ano, Ester começou a atuar em um projeto que, de acordo com ela, será para a vida inteira — de fotografia de retorno às origens africanas. “Eu trago personagens brasileiros com o recorte da ancestralidade”, explica. Para Ester, fotografar negros é sobre representatividade. “É uma queda do estereótipo padrão do homem branco de olho azul. Na minha infância, nunca tive muitas referências, por conta do racismo. Então, é transformar dor em arte”, define.
 
Luiz Ferreira já fez diversos ensaios com a temática racial. “Todo projeto que produzo parte de algum incômodo, reflexão, leituras, estudos. No Juventude Negra: sobre afetos, histórias e vivências, queria retratar uma nova juventude em movimento, em que (os jovens) falam de suas próprias narrativas. Fotografei individualmente cada pessoa e tivemos longas conversas. Compartilhamos histórias, desejos.” De acordo com o artista, o projeto surgiu da leitura sobre o genocídio da juventude negra. “Pensei: ‘precisamos mostrar que juventude é essa’. Não somos números, temos nomes e trajetórias”, afirma.
 
Além do Juventude Negra, exposto no Facebook em 2016, Luiz questionou a relação da masculinidade negra, no projeto Bright e a série Refazimento, em que fala sobre as relações de corpos dissidentes, retirados de seu lugar ancestral.
 
No caso de Marconi Silva, a inspiração surgiu ao ver profissionais que se dedicavam a fotografar negros. “Percebi que, como negro, também poderia falar de negritude através da minha fotografia”, conta. “Está cheio de fotografia de corpos brancos. Eu queria falar do meu povo.”
 
Na Universidade de Brasília (UnB), Marconi tem um projeto autoral em forma de protesto. “É uma universidade majoritariamente branca, tanto de alunos quanto de professores. O acesso aumentou com as cotas, mas ainda é pequeno. Meu curso (artes cênicas) só tem três professores negros”, destaca. A ideia dele era espalhar lambe-lambes pelo câmpus com fotos de alunos negros. Devido à burocracia, a exposição acabou restrita à Diretoria de Diversidade da UnB, de forma permanente. Agora, no mês da Consciência Negra, o projeto foi ampliado para o Centro de Convivência Negra. “Já ouvi, não para mim, que lugar de negro é limpando chão. Mas na UnB temos pessoas que serão os futuros doutores. Negros que querem ocupar seus espaços. É um caminho. A ideia é mostrar a cara do povo negro, que nós estamos resistindo”, afirma.
 
Conheça um pouco de cada um deles
 
 (Fotos: Arquivo Pessoal)  
Resgate da história por meio da fotografia
 
Aos 23 anos, Luiz Ferreira coleciona destaque no mundo da fotografia. Ano passado, uma foto dele foi selecionada para ser exposta na Patchogue Arts Gallery, em Nova York, nos Estados Unidos. Mas a relação com a fotografia começou como um resgate da história da família. “Nos momentos de encontro, minha avó materna sempre abria uma caixa cheia de álbuns. Dali surgiam risadas, retornos, situações e ressignificação e refazimentos”, lembra.
 
Em 2013, percebeu que a fotografia poderia ser mais do que retratos familiares. Começou a estudar. Para ele, a fotografia é “sobre registrar a partir das nossas narrativas, pautas, sentimentos; se mostrar, contar, decupar”.
 
Criado no Recanto das Emas e estudante de artes visuais na Universidade de Brasília (UnB),  Luiz relata que não é fácil ser negro em uma sociedade racista. Mas, para ele, consciência negra não é para falar sobre isso. “É sobre celebração do povo negro. Prefiro falar das novas narrativas que estamos construindo. O racismo é diário”, afirma.
 
 
Nós existimos durante todo o ano
 
Uma exposição de Sebastião Salgado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), quando ela ainda estava na escola, despertou o interesse de Ester Cruz, 21 anos, para a fotografia. Moradora de Ceilândia, se inscreveu no curso de fotografia do projeto Jovem de Expressão. Hoje cursa fotografia no Centro Universitário Iesb, com bolsa de 50%.
 
De acordo com Ester,  o mundo está melhor, mas ainda há muito o que melhorar. “O racismo é velado. Quando eu era criança, não entendia. Não pensava que era comigo”, relata. Na opinião dela, o caminho só não foi mais difícil por ter uma família bem estruturada. “Eles me ajudaram muito. Minha família é muito unida, mesmo não tendo muita consciência racial. Minha mãe sempre cuidou de tudo. Eu acho que isso facilitou para eu ter essa visão que tenho hoje”, ressalta. A jovem acredita que, mais do que falar sobre consciência negra em novembro, esse debate não pode se restringir a este mês. “Eu queria falar que a gente existe em outras épocas do ano”, declara.
 
 
Corpos negros em destaque
 
Marconi Cristino Silva, 38 anos, é grato ao projeto Jovem de Expressão, de Ceilândia, pelo envolvimento com a fotografia. A iniciativa oferece diversas oficinas e cursos gratuitos para a comunidade em geral. Por meio do projeto, Marconi se descobriu artista. Não só na fotografia, mas também no teatro. “Com isso, eu fui fotografando e pegando isso como expressão artística.”
 
As dificuldades para seguir a profissão não são poucas. Além dos cursos caros, os equipamentos têm custo elevadíssimo. “Eu me considero um fotógrafo, apesar das dificuldades. Eu ainda não tenho equipamento meu, por exemplo, pego tudo emprestado”, relata.
 
Marconi estuda artes cênicas na UnB. O objetivo de Marconi é ser arte-educador e juntar suas duas paixões. “Quero usar o teatro e a fotografia como ferramentas. Qualquer forma de arte é uma ferramenta boa para ajudar no processo educacional”, explica.
 
Para o morador de Ceilândia, discutir consciência negra é falar sobre respeito. “É falar de uma população que é maioria, mas é minoria nos espaços de poder. É falar sobre um povo que luta contra todas as mazelas. Não é por termos pele preta que somos incapazes.”
 
Perfis no Instagram
  • Ester Cruz @stcruzgraphy
  • Marconi Silva @marconi.cs
  • Luiz Ferreira @elefantesbrancos
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Correio Braziliense segunda, 04 de novembro de 2019

NATALHA NASCIMENTO: VIDA DE LUTA E SONHOS REALIZADOS

 

Vida de luta e sonhos realizados
 
Natalha Nascimento trocou uma indenização em dinheiro pela chance de proferir uma palestra de conscientização para pessoas que a ofenderam e agrediram. E essa foi apenas uma das várias batalhas que enfrentou e venceu na vida

 

Deborah Fortuna

Publicação: 04/11/2019 04:00

 

"Eu sou a única transgênero, negra, favelada licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram"

 

 
Era mais um dia em que Natalha Nascimento andava pela Rodoviária do Plano Piloto. Mais um dia de olhares de desaprovação e mais um dia em que, ao passar em frente a uma pastelaria, passou a ouvir ofensas dos funcionários. Naquele 26 de abril, porém, a mulher negra e transexual cansou-se de ouvir calada os xingamentos. 
 
Parou e perguntou por que aqueles homens sempre se comportavam de maneira tão hostil com ela. Então ouviu de um deles: "Eu faço piadinhas quantas vezes eu quiser, seu veado". A frase, somada ao longo tempo de humilhação, fez Natalha perder o controle. "Aquilo foi o estopim. Eu cuspi nele", recorda, dois anos e meio depois.
 
 A reação de Natalha, hoje com 36 anos, fez o homem partir das ofensas para a agressão física. "Eu lembro que caí de costas e que meus cabelos estavam presos na mão dele. Depois, levei um chute na costela", conta. Os outros funcionários apenas olhavam. Foi uma voz distante que a salvou. "Alguém disse para ele não fazer aquilo, que era covardia."
 
Ela só buscou uma delegacia dois dias mais tarde, após uma conversa por telefone com a mãe, que mora no Pará. Depois, Natalha foi ao Conselho de Direitos Humanos, e a denúncia virou processo. "Eu acionei a Justiça porque não vi nenhum crime ou erro cometido por mim que motivasse o comportamento dos funcionários", explica. 
 
Em uma audiência conciliatória, foi oferecida uma indenização, mas Natalha recusou o dinheiro. Queria um pedido de desculpas e a oportunidade de dar uma palestra sobre diversidade e gênero aos funcionários, o que foi aceito pela empresa. Apesar de o agressor não ter participado nem pedido desculpas, outros homens que também a tinham ofendido estavam ali para escutá-la. "Foi uma forma de resgatar o que era meu. Acho que surtiu efeito. Voltei a passar lá na frente e faço isso até hoje. Nunca mais ouvi uma palavra, mas também evito olhar para eles."
 
Cicatrizes
 
O episódio, que tornou Natalha conhecida no país inteiro, após o acordo feito na Justiça ser noticiado por diversos veículos, é só uma das várias batalhas enfrentadas pela mulher nascida na pequena Açailândia, no interior do Maranhão. As cicatrizes nas mãos, no colo e no punho são sinais de uma vida de luta, com muitos sonhos realizados, mas também vários reveses.
 
 Um deles, que ainda machuca a ponto de Natalha não gostar de falar sobre, a tirou de sala de aula. Formada em licenciatura em matemática pela Universidade Estadual de Goiás, ela sempre quis ser professora, o que fez até 2013, ano em que decidiu deixar a sala de aula. "Naquela época, estava uma loucura, com opiniões muito contrárias", limita-se a dizer.
 
Mais um recomeço. Trabalhou como copeira, doméstica e atendente de lanchonete, até que voltou à escola, desta vez, como educadora social voluntária em um colégio na Estrutural, onde mora. Ali, ouve os alunos, acolhe suas angústias e ajuda na inserção dos que se sentem excluídos, como uma aluna autista, que merece grande parte de sua atenção. "Eu percebo que estou contribuindo para a construção de cidadãos fortes", fala sorrindo, sentada na sala da pequena casa em que mora com o cachorro Mailo, cercada de livros de matemática e português.
 
Motivo de orgulho
 
A atuação como educadora social também a ajuda a se preparar para um retorno à sala de aula, um lugar, segundo ela, "impressionante". "Estou engatinhando para voltar hoje", anuncia, com a paciência e o respeito ao próprio tempo que aprendeu a cultivar. Afinal, Natalha sabe que as conquistas até aqui não foram poucas.
 
 Na pequena Açailândia, chegar à universidade era algo "muito distante". Para uma pessoa trans, parecia impossível. "Eu sou a única transgênero, negra, favelada, licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Isso é para mostrar o tamanho da desigualdade. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram", aponta.
 
Outra oportunidade que Natalha abraça com todas as forças é a própria vida. Dados da União Nacional LGBT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos. "Ser uma pessoa transgênero e chegar aos 36 anos de idade é um orgulho. Eu tenho apreço pela vida. Esse é o bem mais precioso que eu tenho."
 
 
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia .
 
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Correio Braziliense domingo, 03 de novembro de 2019

LIÇÕES DE IGUALDADE E AUTOESTIMA

 

Lições de igualdade e autoestima
 
 
A professora Keilla Vila Flor encanta os alunos com ensinamentos que vão além dos livros didáticos. O olhar crítico sobre o racismo e a crença de que é possível construir um mundo mais justo são lições tão importantes quanto as previstas no conteúdo programático

 

» Hellen Leite

Publicação: 03/11/2019 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


A professora conhecida entre os alunos pelas camisetas de super-heróis e pelos turbantes coloridos acorda cedo. O despertador do celular é programado para apitar todos os dias às 5h30. Quarenta e cinco minutos mais tarde, ela sai de casa, em Águas Claras, toma o ônibus entre 6h20 e 6h25 e, em 25 minutos, está na escola onde ensina história para crianças e adolescentes, em Taguatinga.

Aos 23 anos, Keilla Vila Flor vai e vem cotidianamente comprometida com uma ducação que vai além do que está nos livros didáticos. O combate ao racismo e a elevação da autoestima dos alunos, especialmente os negros, são lições tão importantes quanto o conteúdo programático. Dona de um levíssimo sotaque que mistura a Bahia e o Distrito Federal, ela começou a dar aulas há cinco anos. Tempo suficiente para conquistar a admiração dos estudantes e intervir de forma prática na luta contra o preconceito.

A historiadora lembra um episódio marcante, ocorrido este ano. Certa manhã, no primeiro horário de uma turma do 6º ano, uma garota negra se inspirou em uma colega branca e decidiu passar batom e colorir as pálpebras com uma leve sombra cor de rosa. Porém, mal pôs os pés na sala, ouviu risadas de alguns colegas, crianças entre 11 e 12 anos. A menina ficou visivelmente triste e tirou, com as mãos, a maquiagem que tinha feito com tanto cuidado, ali mesmo na escola.

Keilla interveio imediatamente. Após uma conversa sobre por que a atitude do grupo estava errada, os que riram foram orientados a ir até a frente da turma e pedir desculpas por magoar a colega. E, no dia seguinte, lá estava a professora, recebendo a turma com o cabelo arrumado e o rosto maquiado de forma semelhante aos da garota. Não houve mais episódios como esse na turma.

Trabalho cadenciado

Ela sabe que não mudará a realidade de um dia para o outro, mas não abre mão do papel de constante educadora. “É utópico achar que vamos ter uma conversa com os alunos sobre racialidade e eles nunca mais vão reproduzir o racismo. É um trabalho cadenciado, aos poucos”, diz, sentada no braço do sofá da sala dos professores.

No mesmo sofá, está Caio Henrique Carvalho, aluno de 14 anos do 8º ano do ensino fundamental. Neste ano, graças a Keilla, ele passou a gostar mais de história, embora sua matéria favorita continue sendo matemática, o que admite um pouco constrangido. A confissão, porém, não diminui em nada o olhar encantado da mestre enquanto o vê falar do que aprendeu nos debates sobre o tema racial ao longo do ano.

Caio é um adolescente negro que demonstra tristeza ao contar que presenciou racismo entre os colegas. “Às vezes, as pessoas falam no calor do momento, sem consciência de que estão falando algo preconceituoso. Mas, a partir do momento em que uma pessoa não gosta de uma brincadeira, já não é mais brincadeira, é preconceito ou bullying", ensina o menino.

A jovem professora, então, conta que a violência sofrida por crianças negras atualmente não é muito diferente da que ela viveu quando pequena. Filha de pai negro e mãe branca de olhos claros, Keilla cresceu ouvindo que seria mais bonita se fosse parecida com a mãe. No entanto, nasceu com a pele escura como a do pai, um homem alto e retinto, o que a fez passar por muitas situações de preconceito.

Olhar de desprezo

Um episódio da infância, vivido em Alagoinhas, cidade do interior da Bahia onde nasceu, segue presente na memória. Era feriado do Dia das Crianças. Ao lado de duas amigas, Keilla brincava com bonecas, vestida com o uniforme da pré-escola e com o cabelo dividido em duas tranças. Uma das coleguinhas era branca e a outra, negra. Foi então que uma mulher passou por elas, abaixou-se e tocou a cabeça da criança branca enquanto elogiava o cabelo.

“Depois, ela se voltou para mim e para minha outra amiga e nos olhou com desprezo. Tínhamos só 5 anos, mas, na mesma hora, percebi que aquela minha amiga tinha uma coisa que nós não tínhamos: a pele clara. Não sei como explicar, mas eu sabia que aquilo estava acontecendo por uma diferença racial”, conta.

É para construir um futuro em que cenas assim não ocorram mais que a professora trabalha. Além do colégio particular onde leciona, Keilla percorre escolas públicas e privadas do Distrito Federal, desde 2016, com uma palestra sobre a trajetória do povo negro no Brasil. Ela tem ainda uma intensa atuação na internet, sendo colunista da página Ativismo Negro, existente no Facebook e no Instagram.

Mesmo com a existência de leis que incentivam o ensino da história e da cultura afro-brasileira, ela lamenta que o conteúdo ainda seja muito pouco explorado nas salas de aulas. Abolida há 130 anos, diz, a escravidão — que trouxe ao Brasil de maneira forçada mais de 5 milhões de negros, tornando o país o principal centro do tráfico de pessoas das Américas — ainda deixa marcas na sociedade brasileira.

Por isso, Keilla gosta de enxergar, em cada um de seus alunos, uma nova oportunidade de construir uma escola e um país mais acolhedor. "Em todo primeiro dia de aula, eu digo para os alunos que estou falando com seres carregados de historicidade, que eles são importantes e têm o poder de mudar o mundo e a história."


"É utópico achar que vamos ter uma conversa com os alunos sobre racialidade e eles nunca mais vão reproduzir o racismo. É um trabalho cadenciado, aos poucos"
 

Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
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Correio Braziliense sábado, 02 de novembro de 2019

MUNDIAL SUB-17: DE PAI PARA FILHO

 


MUNDIAL SUB-17
 
De pai pra filho
 
Em 2001, o pernambucano Jorge Ramos veio morar no DF para defender o time alviverde. Fez gol no Bezerrão, foi campeão candango e disputou a Série A do Brasileirão. Dezoito anos depois, ele torce pelo filho Kaio Jorge, camisa 9 da Seleção no Mundial Sub-17. Os meninos venceram Angola por 2 x 0, ontem, em Goiânia, e jogarão na capital quarta-feira pelas oitavas de final., Mariana Fraga Duarte/CB/D.A Press
 
Jogador do Gama em 2001, Jorge Ramos fala ao Correio sobre o prazer de ver o filho Kaio Jorge com a camisa 9 da Seleção no mesmo estádio em que vestiu o uniforme alviverde no Brasileirão

 

MARIANA FRAGA

Publicação: 02/11/2019 04:00

 

 (Mariana Fraga Duarte/CB/D.A Press




)  

 



 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 

 

Com a vitória sobre a Angola por 2 x 0, ontem, em Goiânia, gols de Talles Magno e Gabriel Veron, a Seleção Brasileira termina a fase de grupo do Mundial Sub-17 em primeiro no A e retornará a Brasília para disputar as oitavas de final, quarta-feira, às 20h, no Bezerrão. A arena tem laços de família com o dono da camisa 9 verde-amarela. Autor de um gol na vitória por 3 x 0 sobre a Nova Zelândia na última terça-feira , o centroavante Kaio Jorge, 17, brilhou no mesmo palco em que o pai dele atuou por cinco meses na temporada de 2001 com o uniforme do Gama.

Jorge Ramos, 41, passou pelo clube candango numa era dourada. O Gama disputava a Série A do Campeonato Brasileiro. Jorge Ramos dividiu o vestiário com o zagueiro Márcio Santos, campeão da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, e o goleiro Ronaldo Giovanelli, ídolo do Corinthians. O ex-atacante ficou apenas cinco meses no clube. Tempo suficiente para deixar o nome marcado na equipe devido a uma estreia convincente.

No primeiro jogo, Jorge Ramos marcou três gols na vitória contra o Juventude de Mato-Grosso, pela Copa-Centro Oeste. Também conquistou o Candangão e participou do início do Brasileirão. Durante a competição, sofreu contusão e não seguiu no Gama.

 

Reportagem do Correio em 2001 mostrava o desafio do pai de Kaio  (Arquivo CB/Reprodução)  

Reportagem do Correio em 2001 mostrava o desafio do pai de Kaio

 

 

 

Após 18 anos, Jorge Ramos voltou ao Gama e ao estádio Bezerrão. Desta vez, para sentar-se nas arquibancadas e torcer pelo filho — o atacante Kaio Jorge, camisa 9 da Seleção Sub-17. "Quando descobri que ele iria jogar o Mundial Sub-17 no Gama, eu falei: 'Você vai jogar em um estádio  onde eu fiz gols. Vamos ver se você balança as redes lá e ele até riu'. Para mim, está sendo um privilégio pisar aqui na cidade de novo. Agora, em busca de outro sonho realizado, que é ver o meu filho jogando”, comemora Jorge Ramos.

O gol do filho saiu. Henri lançou Veron pela direita, e o camisa 7 deu assistência para Kaio Jorge fazer seu primeiro gol na competição. "Ele falou muito bem do Gama, do time e da cidade. Fiquei muito feliz de ter feito gol no estádio em que ele jogou, sensação única, e espero fazer mais gols”, projeta Kaio, um dos trunfos do time para a etapa de mata-mata.

O reencontro com a antiga casa de Jorge Ramos rendeu outra surpresa: a estrutura. O ex-atacante elogiou o estádio e o centro de treinamento do atual campeão candango. “Está  totalmente diferente. Antes não existiam tantas arquibancadas ao redor, apenas uma. Agora, está mais bonito, padrão Fifa, coisa de primeiro mundo. O pessoal do Gama está de parabéns, e torço para que possam subir logo para a Série C e ir galgando divisões até chegar à A”, afirmou o patriarca da família.

"Quando descobri que ele (Kaio Jorge) iria jogar o Mundial Sub-17 no Gama, eu falei: 'Você vai jogar em um estádio onde eu fiz gols. Vamos ver se você balança as redes lá, e ele até riu'. Para mim, está sendo um privilégio pisar aqui na cidade de novo. Agora, em busca de outro sonho realizado, que é ver o meu filho jogando”

Jorge Ramos, ex-jogador do Gama, pai do centroavante Kaio Jorge da Seleção Sub-17

"Ele falou muito bem do Gama, do time e da cidade. Fiquei muito feliz de ter feito gol no estádio em que ele jogou, sensação única, e espero fazer mais"

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Correio Braziliense sexta, 01 de novembro de 2019

OS ESTRAGOS DO SARAMPO

OS ESTRAGOS DO SARAMPO

Doença afeta a defesa imunológica das crianças, comprometendo o combate do organismo às infecções. Vacinação contra a doença é fundamental.  (Valdo Virgo/CB/D.A Press)

 

Sarampo causa amnésia imunológica
 
Em crianças, a doença elimina até 73% das células de defesa, fazendo com que o corpo não consiga mais combater micro-organismos causadores de infecções passadas. Segundo especialistas, o resultado reforça a importância da vacinação» Vilhena Soares

 

Publicação: 01/11/2019 04:00

Uma das consequências conhecidas do sarampo é o enfraquecimento do sistema imune. Mas especialistas não entendem completamente as causas do comprometimento das defesas naturais. Na tentativa de decifrar esse efeito, um grupo internacional de pesquisadores, divididos em dois grupos, analisou amostras sanguíneas de crianças antes e depois de elas serem infectadas pelo vírus da doença. Em ambos os trabalhos, os investigadores identificaram que o micro-organismo causa uma espécie de amnésia imunológica. A longo prazo, os glóbulos brancos vão diminuindo a ponto de o corpo esquecer a forma de lutar, fazendo com que sua defesa se torne semelhante à de um bebê. Os dados foram publicados nas revistas Science e Science Immunology.

Em pesquisas realizadas em 2015, cientistas constataram o quanto o sarampo é um vírus poderoso. Ele consegue suprimir o sistema imunológico das pessoas infectadas por dois a três anos, as tornando suscetíveis a outras doenças. O efeito foi descoberto por acaso, enquanto os pesquisadores buscavam testar a eficácia de uma nova tecnologia para a análise de vírus diversos. Foram analisadas amostras sanguíneas de 51 crianças não vacinadas antes e depois de um surto de sarampo que atingiu uma comunidade holandesa. A intenção era  analisar a eficiência do aparelho VirScan, que consegue identificar todos os vírus que infectam um indivíduo usando apenas uma gota de sangue.

Ao analisar o material, porém, a equipe descobriu que, dois meses após a infecção, o sarampo havia eliminado entre 11% e 73% dos anticorpos anteriormente presentes nas crianças e que ajudavam a evitar outras doenças. “Foi uma surpresa. Estávamos tentando descobrir como o VirScan trabalhava com sarampo e, então, fizemos essa descoberta. Quando o sarampo atinge (o corpo), os anticorpos simplesmente desaparecem”, conta ao Correio Stephen Elledge, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, e autor de estudo divulgado na revista Science. Os pesquisadores repetiram o experimento em quatro macacos — dessa vez, coletando amostras de sangue antes e até cinco meses após a infecção. Os macacos perderam de 40% a 60% dos anticorpos que os protegiam de outros patógenos.

Genes sequenciados
Na segunda pesquisa, divulgada na  Science Immunology, outro grupo de cientistas sequenciou genes de anticorpos de 26 crianças antes e de 40 a 50 dias após a infecção pelo sarampo. A equipe também observou que células específicas de memória imune criadas contra outras doenças e presentes antes do sarampo desapareceram. “Esse estudo é uma demonstração direta, em seres humanos, de amnésia imunológica, em que o sistema de defesa esquece como responder às infecções encontradas anteriormente. Mostramos que o sarampo causa diretamente a perda de proteção para outras doenças infecciosas”, destaca Velislava Petrova, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Em uma segunda etapa, Petrova e sua equipe testaram a amnésia imunológica diretamente em furões, mostrando que a infecção por um vírus semelhante ao sarampo reduziu o nível de anticorpos contra a gripe nas cobaias previamente vacinadas contra a gripe. Os furões também apresentaram piores sintomas de gripe após serem acometidos por infecção semelhante ao sarampo.

“Mostramos que vírus semelhantes ao sarampo podem excluir a memória imune da gripe preexistente. Mesmo depois que os furões foram vacinados contra a gripe, o vírus semelhante ao sarampo reduziu os níveis de anticorpos contra a gripe, resultando em animais novamente suscetíveis à infecção e apresentando sintomas mais graves. Isso sinaliza que o sarampo pode reverter os efeitos da vacinação contra outras doenças infecciosas”, detalha Paul Kellam, também autor do artigo e pesquisador do Imperial College de Londres.

Segundo os cientistas, o vírus do sarampo redefine o sistema imunológico para um estado tão imaturo que ele só pode produzir um repertório limitado de anticorpos. “Pela primeira vez, vemos que o sarampo redefine o sistema imunológico, fazendo com que ele se torne mais parecido com o de um bebê. Em algumas crianças, o efeito é tão forte que é semelhante a receber drogas imunossupressoras poderosas”, ilustra Colin Russell, pesquisador da Universidade de Amsterdã, na Holanda, e autor do trabalho.
 
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Correio Braziliense quinta, 31 de outubro de 2019

FESTIVAL YALODÊ: ENERGIA BOA E CELEBRAÇÃO

 

Energia boa e celebração
 
Além de oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, o Festival Yalodê reúne artistas para comemorar a ancestralidade africana

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 31/10/2019 04:00

Áurea Martins
 (Mariza Lima/Divulgação)  

Áurea Martins

 

 
No dialeto yorubá, a palavra yalodê designa quem lidera as mulheres da cidade. A expressão dá nome ao festival que ocorrerá de amanhã a domingo, abrindo a celebração do mês da Consciência Negra em Brasília, com uma programação artística de shows e oficinas, protagonizada por cantoras e compositoras afrodescendentes.
 
O público poderá apreciar gratuitamente vozes, ritmos, estilos, identidades e trajetórias e gerações diversas, proporcionados por mulheres do samba, jazz, hip-hop, da música luso-africana e da cultura popular, numa intensa troca de experiências e conhecimentos. A sambista brasiliense Cris Pereira, por exemplo, terá como convidada a veterana Áurea Martins, celebrada intérprete carioca de jazz; enquanto a cantora candanga Letícia Fialho vai dialogar com a francesa Anaïs Sylla.
 
“Uma yoladê lidera e potencializa outras mulheres, de acordo com a cosmovisão de matriz africana, e esse festival é um espaço para o encontro das múltiplas e potentes identidades artísticas de mulheres negras da diáspora”, afirma Sara Loiola, produtora e idealizadora do encontro, na área externa do Museu da República, com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal.
 
Atividades formativas, com oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, além de painel sobre carreira e trajetória no mercado musical serão oferecidas no transcorrer do festival. Amanhã, na abertura da programação de shows, Cris Pereira e Áurea Martins farão abertura dos trabalhos. Em seguida subirão ao palco Fanta Konate (Guiné Conacri), que mostrará, numa viagem musical, aspectos da cultura tradicional do povo mandên. A baiana Larissa Luz fecha a primeira noite, com o show Trovão, pela primeira vez na capital. 
 
Cris Pereira
 (Guto Martins/Divulgação)  

Cris Pereira

 

 
Santo de casa
 
Domingo, quem se apresentará primeiro é a rapper Realleza, do Sol Nascente. Outra representante brasiliense no festival, Letícia Fialho, que desenvolve um trabalho multi-rítmico, receberá a francesa Anaïs Sylla. No encerramento do Yalodê, Mariene de Castro trará para o brasiliense o elogiado espetáculo Santo de casa, baseado no samba de roda da Bahia, com o qual celebra a cultura popular brasileira.
 
Para Cris Pereira, além de abrir a celebração do mês da Consciência Negra na capital federal, o Yoladê se caracteriza pela diversidade de estilos, apresentados, em sua especificidade, pelas artistas participantes do festival. “Vou receber Áurea Martins, uma grande intérprete, com longa e sólida carreira na música popular brasileira. Juntas faremos um show de samba-jazz, acompanhadas por Lucas de campos (violão e direção musICAL), Igor Diniz (contrabaixo acústico), José Cabrera (piano), Leander Motta (bateria) e Leandro Barcelos (sopros)”, anuncia.
 
Áurea, que em 2018 participou de um festival de jazz na cidade, acredita que iniciativas como o Yoladê fortalecem a cultura negra do país, representada por várias vertentes musicais. “Vou começar a gravar um CD com o pianista Cristovão Bastos, cantando de Tito Madi a Vinicius de Moraes. Nesse show em Brasília vou interpretar canções do meu repertório, com a levada jazzística, que caracteriza meu estilo interpretativo”, adianta.
 
Fanta Konate (Tato Comunicação/Divulgação)  

Fanta Konate

 

 
Maravilha marginal, nome do show de Letícia Fialho, deu título ao álbum que ela lançou em 2018. “Composições autorais desse disco estarão lado ao lado de outras do EP Purpurina anzol, que saiu recentemente. Terei como convidada Anaïs Sylla, artista francesa com um trabalho eletroeletrônico interessante, a quem conheci em São Paulo, onde chegamos a compor juntas”, elogia. “Teremos a companhia em cena da Orquestra da Rua e do sanfoneiro Rodrigo Zolete”, acrescenta.
 
Larissa Luz, que tem viajado pelo país com o musical Elza (homenagem a Elza Soares), num raro momento de folga aceitou o convite para participar do Yalodê. “Já estive em Brasília outras vezes, mas ainda não havia apresentado na capital o Trovão, meu novo projeto solo. Esta vai ser uma oportunidade para mostrar esse show, como parte de um festival dessa importância”, ressalta.
 
 
 
Festival Yalodê 
Programação de shows: sábado, a partir das 20h30, shows de Cris Pereira e Áurea Martins, e Fanta Konate e Larissa Luz, sábado, a partir das 20h30. Antes se apresentam os DJs Savana e Pati Egito. Domingo, a partir das 19h30, shows de Realleza, Letícia Fialho e Anïs Sylla, Mariene de Castro. Antes se apresentam DJ Savana e no encerramento 9o DJ Pati Egito. Na área externa do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Amanhã haverá oficina de dança com Fanta Konate, às 18h30; e um painel sobre carreira e trajetória musical com Áurea Martins, Cris Pereira, Lídia Taillet, tendo Aryane Sánchez como mediadora, no auditório do Museu da República. Todos os eventos têm entrada franca.
 
 
 
Entrevista/ Mariene de Castro
 
 (Thiago Castro/Divulgação)  
 
Que avaliação faz dos seus de 20 anos de carreira artística?
Olhando minha história, só tenho o que agradecer. Sou uma mulher negra, nordestina, canto a cultura de meu povo, sou filha de Oxum e hoje posso dizer que já tenho 20 anos de carreira e lindas vitórias. Um caminho de muita fé, força, coragem, resiliência e amor.
 
 
O samba de roda, marca registrada do seu trabalho, a fez se aproximar de Roque Ferreira. Que importância ele teve para você como cantora e intérprete?
Roque é minha alma gêmea na música. Ele escreve o que minha alma precisa dizer. Assim sempre foi e assim pra sempre será.
 
 
A mudança de Salvador para o Rio de Janeiro lhe trouxe que tipo de ganho?
O Rio me deu muitas coisas lindas! E eu, de braços e coração abertos, só agradeço.
 
 
Com três discos de estúdio, dois ao vivo e dois DVDs, qual é  o seu projeto atual?
Vivo um momento em que cultivo algumas flores nesse meu jardim. Roda a baiana é meu projeto com o Jongo da Serrinha. Acaso casa acabo de lançar com Almério. O Santo de Casa é o projeto de minha vida. Seguirei levando a cultura popular pelo Brasil afora.
 
 
O que representa para você participar do Festival Yalodê, evento que propõe o fortalecimento da cultura negra no país? 
Eu me sinto honrada e agradecida! Desejo que seja iluminado e sagrado. Um projeto com esse nome só traz boas energias.
 
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Correio Braziliense quarta, 30 de outubro de 2019

CASA AZUL: SOLIDARIEDADE AMPLIADA

 

Instituição que atende mais de 3 mil pessoas em unidades de Samambaia, Riacho Fundo II e AABB construirá um centro de formação. O lançamento da pedra fundamental foi ontem, com concerto da orquestra composta por alunos da ONG.  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Solidariedade Ampliada
 
Na festa de 30 anos da Casa Azul, ontem, foi lançada a pedra fundamental do centro de formação que vai oferecer cursos gratuitos na sede da ONG, em Samambaia

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 30/10/2019 04:00

Local onde será erguido novo bloco da Casa Azul Felipe Augusto (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Local onde será erguido novo bloco da Casa Azul Felipe Augusto

 

 
A Casa Azul Felipe Augusto completou ontem 30 anos, e o presente vai para mais de 3 mil pessoas que poderão ser atendidas com a expansão do espaço em Samambaia. A festa reuniu, na sede, educandos, funcionários, diretores, colaboradores e parceiros para o lançamento da pedra fundamental da construção de um centro de formação.
Desde 1989, a Casa Azul dedica-se à inclusão social de crianças, jovens e adultos do Distrito Federal. A instituição oferece oficinas de artes, teatro, música, dança, informática, atividades esportivas, orientação pedagógica e formação profissional. Além disso, facilita a entrada dos educandos no mercado de trabalho.
 
A organização não governamental (ONG) começou atendendo a cerca de 120 crianças e, em três décadas, já contribuiu para a inserção social de mais de 33 mil pessoas, de 6 a 24 anos. “O trabalho teve início quando eu perdi um filho e passei a me questionar sobre o que eu poderia fazer a mais pela sociedade. No intuito de aliviar a minha dor, eu fui aliviar a dor dos outros, e a minha, automaticamente, foi sendo curada”, destaca Daise Moisés, diretora da Casa Azul.
 
Daise não imaginava o quanto a instituição cresceria. Atualmente, são quatro espaços: a sede e o anexo ficam em Samambaia; as outras unidades estão no Riacho Fundo II e no Clube AABB. Para arcar com os custos, há convênios com o setor público e parcerias com empresas privadas, além de doações.

Orquestra formada por  alunos locais tocou na cerimônia de aniversário da instituição (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Orquestra formada por alunos locais tocou na cerimônia de aniversário da instituição

 

 
Mercado de trabalho
 
O músico Wellington Rodrigues, 27 anos, lembra que o primeiro contato dele com o mercado de trabalho foi por meio da Casa Azul, em um estágio no Banco do Brasil. “Eu frequento a Casa desde os meus 3 meses de vida. Minha mãe era voluntária e não tinha onde me deixar, então eu entrei no projeto e fui um dos primeiros educandos a sair direto para um emprego”, relata.
 
O jovem aproveitou para agradecer os colaboradores que ajudam a ONG a continuar o trabalho social. “Eu fui beneficiado, mas Deus vai abençoar, e, um dia, eu vou poder ajudar também.”
 
O poder da arte
 
A música da festa ficou a cargo da orquestra formada por alunos da própria instituição. Julio Cesar Andrade, 15, frequenta a Casa Azul desde 2012 e toca saxofone no grupo. “Eu aprendi a tocar aqui. O maestro faz um trabalho muito bom, pois ensinar música para esse tanto de gente e formar uma orquestra é algo incrível”, enfatiza.
 
A entidade com sede em Samambaia também levou a arte para a vida da bailarina Patricia Victoria, 32. Ela entrou quando tinha 10 anos. “Eu não sabia o que era balé e aqui eu tive a chance de fazer aulas com uma professora e vi que era isso que eu queria para minha vida”, diz. Patrícia conta que, por meio do projeto, conseguiu entrar em uma escola de balé. Hoje, ela é formada em administração e cursa licenciatura em dança. “A Casa Azul foi a oportunidade de ver e conhecer o mundo, de sair de uma condição de vida medíocre”, acrescentou.
 
Expansão
 
Para ampliar o atendimento, um centro de formação será construído na sede e receberá cursos gratuitos de qualificação. A estrutura será erguida com recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (FDCA), por meio do projeto Construindo Sonhos. A iniciativa possibilita a arrecadação de parte do Imposto de Renda. Do total de recursos doados pelo contribuinte, 20% fica no fundo.
 
“Quem buscou o serviço da casa sabe que aqui é possível sonhar, e os sonhos se tornaram realidade. Hoje, estamos lançando a pedra fundamental. Os recursos captados ainda não são suficientes, mas vamos começar, porque acreditamos que nossos sonhos aqui também se tornarão realidade”, destaca Daise.


Os recursos captados ainda não são suficientes, mas vamos começar, 
porque acreditamos que nossos sonhos aqui também se tornarão realidade”
Daise Moisés, diretora


33 mil
Número de pessoas atendidas em mais de três décadas de funcionamento
 
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Correio Braziliense terça, 29 de outubro de 2019

NEGRITUDE: PARA ALÉM DO 20 DE NOVEMBRO

 

CONSCIÊNCIA NEGRA
 
Para além de 20 de novembro
 
Com rodas de conversas frequentes, exposições de fotos e outras atividades, iniciativa no CED 310 de Santa Maria busca desenvolver temas ligados à negritude durante todo o ano

 

» LUIZ OLIVEIRA*
* Estagiário sob a supervisão de Marina Mercante

Publicação: 29/10/2019 04:00

Maioria dos encontros ocorre na biblioteca, local que também serviu de ambiente para ensaio fotográfico  

Maioria dos encontros ocorre na biblioteca, local que também serviu de ambiente para ensaio fotográfico

 


Ao chegar ao Centro Educacional 310 de Santa Maria, é possível perceber que naquele lugar há algo de especial. A começar pelo mural da fachada, todo grafitado com personalidades importantes para a história mundial, sobretudo as negras. Um dos locais mais procurados da instituição é a biblioteca, pois é nela que ocorrem os encontros do projeto 365 dias de Consciência Negra, que, desde agosto de 2018, busca desenvolver com os alunos, por meio de diversas atividades, uma melhor compreensão do que é ser negro.
 
Os estudantes descrevem a iniciativa como uma oportunidade de encontrar apoio não obtido em outros lugares, além de aprender sobre a história do povo negro de uma outra maneira, a partir de exemplos de personalidades mundiais, nacionais e locais com trajetórias de resiliência e superação. Foge-se do que é ensinado tradicionalmente.
 
O 365 dias de Consciência Negra teve início após questionamentos da professora Margareth Alves, 42 anos, ao observar como se tratavam os temas da negritude. “Nossos heróis negros mal são citados nos livros de história. Sempre quando falam do nosso povo é a partir da escravidão. Resolvi criar o projeto para trabalhar a temática durante o ano todo. Foi dessa provocação que surgiu o nome”, explica.

O projeto foi idealizado pela professora Margareth Alves (Fotos: Nicolas Braga/Esp. CB/D.A Press)  

O projeto foi idealizado pela professora Margareth Alves

 

A ideia surgiu em maio de 2018, no entanto, só tomou forma em agosto, depois de um ensaio fotográfico. “Tiramos cerca de 40 fotos, todas na biblioteca, mostrando que o negro tem que ser inserido em espaço de poder, e não conheço melhor lugar que demonstraria isso”, diz Margareth.
 
As fotos foram de autoria de Vinicius Bispo, 18 anos, ex-aluno do centro educacional. “Eu queria mostrá-los de outra forma, porque sabia que estava lidando com adolescentes que sofrem com falta de autoestima. Queria deixar claro, por meio das imagens, o quanto eles são bonitos”, relembra.
 
Além das fotografias, são desenvolvidas atividades que envolvem toda a escola, entre elas cinedebates, exposições, passeios, apresentações culturais e rodas de conversa com personalidades negras de Brasília, como o cantor Marcelo Café e o jornalista Fred Ferreira.

Escola tem mural grafitado com personalidades negras  

Escola tem mural grafitado com personalidades negras

 

Apoio
De acordo com o diretor do CED 310, Wagner Lemos, a unidade de ensino sempre teve ações temáticas sobre consciência negra, mas eram isoladas e em datas específicas. Quando a professora Margareth propôs ampliar e sistematizar o trabalho, ganhou apoio da escola. “O empenho dela em desenvolver esse tema relacionado à negritude foi ganhando mais corpo, e a gente foi vendo que tinha como fazer isso além de uma única semana”, conta Lemos.
 
O projeto também conta com a parceria do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB). Semanalmente, a escola de Santa Maria recebe um bate-papo com alunos negros da UnB. Eles compartilham histórias e tiram dúvidas sobre a instituição federal.
 
Família
Estudante do primeiro ano do ensino médio, Laurikeicy Ferreira, 16 anos, é um dos mais de 40 alunos do projeto e não poupa palavras para descrever o quanto ele é importante. “Me ajuda muito nos estudos, minhas notas melhoraram depois que entrei, passei a ler mais. Tornou-se uma família pra mim, um lugar no qual posso encontrar apoio para tudo.”
 
Ingrid Oliveira, 18 anos, está no terceiro ano do ensino médio e sonha em cursar história para ser pesquisadora. A jovem conta que o grupo entrou na vida dela de uma maneira muito inesperada. “Eu estava no intervalo, perto da lanchonete, quando a Margareth perguntou se eu não queria participar. Topei na hora.”
 
Hugo Mikael Dias, também de 18 anos, voltou às salas de aula depois de passar por uma experiência de preconceito racial. “Desisti de estudar por ter vivenciado isso no ensino fundamental. Voltei neste ano ainda muito desacreditado, mas tudo mudou quando a professora me encontrou. Aceitei participar, mas com o pé atrás”, confessa. Conforme o ano foi passando, Hugo percebeu o quanto foi melhorando em diversas áreas, tanto na escolar como na pessoal, atrelando essas conquistas ao projeto liderado por Margareth.



Na lei e na prática
 
Em 20 de novembro de 1695, morreu Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos brasileiros da luta e resistência do povo negro. Por conta desse acontecimento, em 2011, foi sancionada a Lei nº 12.519, que instituiu o Dia Nacional da Consciência Negra. Outro marco foi no ano de 2003, em que se estabeleceu o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. Por lei, as instituições são obrigadas a trabalhar de alguma maneira o tema em sala de aula. No entanto, critica-se o fato de que muitas só desenvolvem essas atividades no mês de novembro ou até mesmo em único dia.
 
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Correio Braziliense segunda, 28 de outubro de 2019

LÍDER DO ESTADO ISLÂMICO É MORTO

 

Trump: Como em um filme

 

Publicação: 28/10/2019 04:00

Donald Trump assiste à caçada, na Casa Branca:  

Donald Trump assiste à caçada, na Casa Branca: "Foi brutal", narrou

 


A milhares de quilômetros da Síria, na Sala de Crises da Casa Branca, o presidente americano, Donald Trump, contou que testemunhou o fim do líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Bagdadi, por meio de um vídeo ao qual “assistiu vidrado”. Conversando com os jornalistas, o mandatário afirmou que era “como se estivesse vendo um filme”. A ação dos soldados de elite começou com oito helicópteros voando a baixa altura no escuro e terminou duas horas depois, com um dos homens mais procurados do mundo encurralado, pouco antes de explodir a si mesmo.

Trump contou que Bagdadi estava sob vigilância há duas semanas. Assim que a localização do terrorista foi confirmada, a incursão das forças especiais começou a ser executada no sábado. Além dos helicópteros, havia barcos e aviões. Primeiro, os militares tiveram que cruzar o território hostil vindo de um local não revelado no noroeste da Síria, voando por aproximadamente 70 minutos. “Havia uma possibilidade de ficarmos sob um fogo incrível”, narrou o presidente. “Quando chegaram ao destino, o inferno desatou”, descreveu. Nove pessoas, incluindo os filhos e as esposas do líder do EI, morreram na operação. Nenhum soldado foi ferido, segundo Trump.

Prisioneiros
O presidente continuou, dizendo que, ao chegar ao prédio onde o terrorista estava, os militares foram “recebidos com muito fogo”. Onze crianças que supostamente eram mantidas prisioneiras foram retiradas com vida. “E então veio a informação de que todos estavam esperando. ‘Senhor, só resta uma pessoa no prédio. Estamos seguros de que está no túnel tentando escapar, mas é um túnel sem saída’”, relatou Trump. Tratava-se de Bagdadi. “Foi brutal”, resumiu o mandatário.  “Ele chegou ao fim do túnel enquanto nossos cachorros lhe perseguiam. Explodiu seu colete, matando a si mesmo e aos três meninos (os filhos do extremista)”, narrou Trump.

Bagdadi já foi dado como morto diversas outras vezes. Para garantir que, de fato, ele morreu agora, os soldados pegaram amostras do corpo mutilado do líder para fazer a identificação do DNA antes de irem embora. “Ele não morreu como um herói, morreu como um covarde, chorando, gemendo e gritando e levando três meninos para morrer com ele. Ele sabia que o túnel não tinha saída.”
 
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Correio Braziliense domingo, 27 de outubro de 2019

PROTESTO: PAREM DE NOS MATAR!
 
Protesto no Plano Piloto

 Mulheres se reuniram em frente ao Museu Nacional para debater o feminicídio e protestar contra a violência alarmante. DF é a quinta unidade da Federação que mais mata por questão de gênero.

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 27/10/2019 04:00

“Parem de nos matar”.
 
A frase estampou dezenas de cartazes expostos, ontem, em frente ao Museu Nacional da República. Mulheres de diferentes movimentos sociais do Distrito Federal se reuniram para debater o feminicídio e cobrar políticas públicas de combate à violência contra elas. Durante o ato, cruzes pintadas de vermelho, simbolizando sangue, ficaram espalhadas pelo chão. Cada objeto simbolizava uma vítima de feminicídio do DF em 2019.
 
Participantes distribuíram cartazes, faixas e panfletos, conscientizando ou pedindo basta à violência. Algumas manifestantes se revezaram ao microfone para expor os problemas enfrentados pelas mulheres. Moradora de Águas Claras, a professora Vilmara Pereira do Carmo, 41 anos, uma das organizadoras do evento, ressaltou que o ato funciona para exigir do Governo do Distrito Federal (GDF) providências em relação aos aparelhos públicos, além de agregar mulheres de diferentes regiões administrativas e fortalecer a rede de apoio entre elas. “Vamos fazer ações regionais. A ideia é reunir pessoas de várias cidades e movimentos para cobrar políticas públicas que venham a ser eficazes, ao contrário das que existem hoje”, criticou.
 
Vilmara comentou que faltam abrigos no DF e delegacias especializadas no combate à violência contra a mulher. “Temos apenas uma Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), que fica no Plano Piloto. Isso deveria mudar e ser regionalizado”, sugeriu. A professora também cobrou mudanças no Judiciário. “Temos casos de mulheres que pedem medida protetiva e não conseguem. É preciso que se tenha um olhar mais atencioso, que não se leve uma denúncia na brincadeira, como se fosse uma briguinha”, completou.
 
Medo
 
A socióloga e professora Ayla Viçosa, 25, participante do Coletivo Juntas, ressaltou que a assembleia cumpre papel fundamental para pressionar o poder público e reverter a realidade do feminicídio. “Hoje, a gente vê que o governo tem um combate negligente à violência contra a mulher”, afirmou. Ela destacou que a violência ocorre em todos os locais pelos mais variados motivos: “Precisamos trazer vitória para as mulheres e transformar essa realidade. Precisamos de campanhas massivas e intensas”, disse.
 
A deputada Érika Kokay (PT) também esteve presente à assembleia. “A violência doméstica é um processo de tortura. Há mulheres que têm medo de voltar para casa”, declarou. A parlamentar ressaltou que o ato deve ser de articulação e que as participantes devem pontuar pautas para avançar em seguida.
 
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Correio Braziliense sábado, 26 de outubro de 2019

REVERÊNCIA À LITERATURA

 

Reverência à literatura
 
Autores lançam livro inspirado na trajetória de projeto voluntário de leitura para crianças. Tapete vermelho conta a história desse símbolo de respeito e mostra que ele pode celebrar bem mais que a passagem de reis e rainhas

 

Mariana Machado

Publicação: 26/10/2019 04:00

Ana Paula Bernardes e Tino Freitas: autores lançam livro infantil cheio de riquezas criativas (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Ana Paula Bernardes e Tino Freitas: autores lançam livro infantil cheio de riquezas criativas

 

Estender um tapete vermelho representa mais que uma reverência. É sinal de respeito. Como rei ou rainha, quem pisa nos fios tingidos pelo pigmento vivo pode sentir a potência do gesto. Ao longo de 13 anos, foi isso o que o projeto Roedores de Livros fez, ao acolher e transportar crianças e adolescentes a um mundo que se desvela sobre o tapete mágico. A trajetória desse trabalho voluntário virou também livro, que será lançado hoje.
 
O projeto se abriga atualmente num canto cheio de aconchego no Shopping Popular de Ceilândia. A ideia é levar a literatura aos roedores — como são chamados os leitores que frequentam o espaço — desde cedo. O contato se dá por meio da mediação de leitura, e os que gostam podem emprestar as obras apresentadas ou escolher qualquer outra do acervo de mais 5,3 mil títulos da “bibliotoca”.
 
Sobre o tapete, descalços, todos se igualam e se abrem para ouvir atentamente as histórias e embarcar juntos em cada fantasia. É um pouco desse poder simbólico que Ana Paula Bernardes e Tino Freitas (leia Os autores) contam em Tapete vermelho. Com ilustrações de Sandra Jávera, o livro faz um passeio pelo pigmento, antes caro e difícil de ser obtido. Apenas os donos das maiores riquezas tinham túnicas rubras, que dirá, um tapete.
 
É dessa forma que os Roedores de Livros recebem as maiores riquezas do mundo: as crianças. Debruçadas nas almofadas sobre o vermelho vibrante, elas escutam as histórias mais variadas da literatura infantojuvenil. De quarta-feira a sábado, o espaço educativo atrás das lojas dos feirantes recebe o público ávido pelas aventuras de personagens coloridos.
 
Ao longo da última década, Ana e Tino viram crianças se tornarem adultos e voltarem com saudade. “A literatura infantil tem uma coisa interessante. Acham que para esse público só existe ‘livrinho’, mas hoje eles são trabalhados. São verdadeiras obras de arte”, garante Ana Paula. “Esse aqui é um espaço de pluralidade e de apresentar o mundo para as crianças. Temos livros sobre indígenas, cultura africana, escritores de Brasília e muito mais.”
 
Ela conta que o trabalho de mediação fomenta a leitura. “Não basta ter uma biblioteca ou o acesso ao livro. É preciso ter alguém que possa te mostrar esse caminho para que, lá na frente, você possa caminhar com as próprias pernas, como leitor”, explica a autora. O objetivo agora é alcançar um público mais amplo, em Ceilândia e no restante do Distrito Federal. Escolas interessadas podem agendar um horário para levar os alunos. O tema da leitura normalmente é escolhido pela coordenação do projeto, mas os professores podem fazer sugestões.
 
O começo
 
Quem vê as salas recheadas de livros e decoradas com ilustrações de artistas nas paredes não imagina que houve uma época em que o acervo era transportado em caixas de papelão — uma biblioteca ambulante. A ideia do projeto nasceu, em 2006, da parceria entre Tino e Ana, à época, casados. Ela, professora, ministrava cursos em que falava da importância da literatura, mas ouvia de colegas sobre a dificuldade em colocar aquilo em prática dentro da sala de aula.
 
Pouco depois, em um evento na 312 Norte, no Açougue Cultural T-Bone, que contou com a presença do escritor Ziraldo, Tino lançou a proposta de trabalhar literatura infantil no espaço. A ideia foi aceita e, por cerca de um semestre, a dupla passou a fazer leitura para crianças todos os sábados. “Mas era uma coisa de uma vez só. Elas iam e não voltavam mais. A gente queria formar leitores”, lembra Tino.
 
Surgiu, então, a proposta de levar o trabalho para Ceilândia. Dois anos depois, chega a notícia de que não poderiam mais ocupar a sala na creche em que se reuniam. Para manter o projeto vivo, os dois passaram a contar as histórias em um gramado, mas então, um novo problema: formigas e outros insetos que incomodavam as crianças. Assim o tapete vermelho chegou, abrigando e confortando os jovens leitores.
 
De lá, o grupo conseguiu a sala no Shopping Popular, em local que estava abandonado. “Nós revitalizamos, e hoje a cara é outra. Isso também é educação”, afirma o escritor. “O amor é uma assinatura importante, talvez a mais importante de todas, mas a gente trabalha nisso porque a gente tem teimosia e esperança. Isso que move o Roedores”, resume Tino.

Visite
Roedores de Livros, biblioteca comunitária. Shopping Popular de Ceilândia, QNM 11 - Área Especial, Lote 3, Torre A - Ceilândia Sul. Aberta de quarta a sábado, das 9h às 12h.  

Visite Roedores de Livros, biblioteca comunitária. Shopping Popular de Ceilândia, QNM 11 - Área Especial, Lote 3, Torre A - Ceilândia Sul. Aberta de quarta a sábado, das 9h às 12h.

 



 
Os autores
  • Ana Paula Bernardes é graduada em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB) e professora da Secretaria de Educação do DF. Fascinada por literatura, na faculdade se aproximou da vertente infantil. É idealizadora e coordenadora do projeto Roedores de Livros. Atua como educadora na formação de mediadores de leituras e como consultora em programas de promoção do livro e leitura no Brasil.
  • Tino Freitas é jornalista, músico, escritor e contador de histórias, além de mediador de leitura do Roedores de Livros, onde se apaixonou pelo trabalho com crianças. Autor de 24 livros infantis, teve obras premiadas com o Jabuti e o Selo Altamente Recomendável para Crianças, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
 
Tapete vermelho  
De Ana Paula Bernardes e Tino Freitas
Ilustrações: Sandra Jávera. Editora do Brasil
Número de páginas: 32
Preço: R$ 44
Lançamento: hoje, às 17h, com a participação dos autores e mediação de leitura para crianças. Sebinho, 406 Norte, Bloco C, Loja 44
 
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Correio Braziliense sexta, 25 de outubro de 2019

STF INDICA VETO À PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF indica veto à prisão em 2ª instância
 
 
Voto de Rosa Weber faz pender a balança para a tese de que réus só podem ir para a cadeia depois de esgotados todos os recursos na Justiça. Se entendimento for confirmado, milhares de presos, incluindo condenados pela Lava-Jato, podem ser liberados

 

Publicação: 25/10/2019 04:00

Na opinião de Rosa Weber, a Constituição estabelece que a pena só deve ser aplicada após esgotados todos os recursos (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência)  

Na opinião de Rosa Weber, a Constituição estabelece que a pena só deve ser aplicada após esgotados todos os recursos

 



Após a sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, aumentou a expectativa de que a Corte deve modificar a jusrisprudência que permite a prisão de réus depois de condenados em segunda instância. A indicação nesse sentido veio com voto da ministra Rosa Weber, que se posicionou a favor de que o encarceramento dos culpados só pode ser feito após o chamado trânsito em jugado, isto é, depois de esgotados todos os recursos permitidos pelas normas processuais. O voto da ministra era um dos mais esperados, já que a posição dos demais integrantes do Supremo é relativamente conhecida, tendo em vista votações e pronunciamentos anteriores.

A sessão foi suspensa com o placar de 4 a 3 para manter a prisão em segunda instância. Além de Rosa Weber, votaram os ministros Ricardo Lewandowski, que seguiu a mesma linha, e Luiz Fux, favorável à prisão depois da condenação em segundo grau. Quatro dos 11 magistrados ainda precisam votar. Entre eles, estão Gilmar Mendes, Celso de Mello e o presidente do Tribunal, Dias Toffoli. Até o momento, o trio tem sido contrário à execução da pena na segunda instância. Se esta tendência for confirmada, seriam seis votos a favor da revisão do entendimento da Corte, formando maioria, o que pode liberar, para responder em liberdade, pelo menos 4.895 presos em todo o país, incluindo detentos da Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os tribunais superiores (STF e o Superior Tribunal de Justiça, o STJ), não avaliam provas ou se o réu cometeu ou não o crime. Apenas julgam se o processo respeitou a Constituição e as lei vigentes. Em 2016, Toffoli propôs que a prisão ocorresse a partir da condenação pelo STJ. Nessa hipótese, Lula continuaria encarcerado, mas outros detentos seriam beneficiados.

Ao ser abordado por jornalistas, no fim da sessão, Toffoli informou que o julgamento deve continuar no começo de novembro, pois na semana que vem não haverá sessões plenárias no Supremo. O ministro declarou que ainda não formulou seu voto e que está aberto aos argumentos dos demais integrantes da Corte. “A princípio será 6 ou 7 de novembro (a retomada do julgamento). Estou pensando o meu voto. Estou aberto a ouvir todos os debates. Meu voto não é um voto de bancada. Ele também tem o cargo da representação do Tribunal como um todo”, disse.

Como presidente da Corte, Toffoli será o último a votar. Caso haja empate entre as posições dos demais ministros, e ele proponha que a prisão ocorra apenas após a análise do STJ — o que vem sendo chamado de um “voto médio nos bastidores da Corte — há quem avalie que o julgamento poderia ser suspenso até que se forme um consenso no tribunal.

Etapas

Em 2018, durante a análise de um habeas corpus do ex-presidente Lula, a ministra Rosa Weber votou para manter o petista na cadeia. Porém, na ocasião ela destacou que apenas estava respeitando a opinião do colegiado, que julgava importante aplicar num caso concreto. Ontem, quando estava sendo examinada a questão em abstrato, ou seja, a constitucionalidade da prisão em segunda instância, a ministra destacou que sempre foi a favor da reclusão apenas depois que todos os recursos sejam apreciados.

Para ela, a Constituição Federal é clara no sentido de que a pena só deve ser aplicada após o fim de todas as etapas do processo penal. “Trata-se, na minha visão, de amarra insuscetível de ser desconsiderada pelo intérprete, diante da regra expressa veiculada pelo constituinte ao fixar o trânsito em julgado como termo final da presunção de inocência. No momento em que passa a ser possível impor aos acusados os efeitos da atribuição da culpa, não é dado ao intérprete ler o preceito constitucional pela metade, ignorando a regra”, afirmou Rosa Weber.

O ministro Luiz Fux, que foi a favor da prisão em segundo grau, fez o contraponto. “A mudança de precedente não pode se fazer sem uma motivação profunda. Nós estamos aqui desde 2016 dizendo: ‘essa regra é salutar, ela evita a impunidade’. E agora nós vamos mudar por quê? Qual a razão de se modificar a jurisprudência?”, perguntou Fux.

Durante o julgamento, ele citou casos famosos, como o assassinato de Isabella Nardoni, jogada pela janela de um prédio pelo próprio pai e a madrasta, do estuprador Champinha e do ex-jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, assassino da namorada. Para o ministro, os autores destes crimes não teriam sido presos se o Supremo permitisse a detenção apenas ao final de todos os recursos. “O direito não pode viver apartado da realidade. Isso é justiça? Será que é essa a justiça que se espera de um tribunal? Vamos contemplar e só depois iniciar a execução de pena?”, concluiu.
 
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Correio Braziliense quinta, 24 de outubro de 2019

STF - 2ª INSTÂNCIA: À ESPERA DO VOTO CRUCIAL DE ROSA WEBER

 

STF retoma hoje análise de prisões
 
Julgamento da constitucionalidade do cumprimento de pena após condenação em segunda instância será reiniciado com expectativa sobre o voto de Rosa Weber, que pode indicar a tendência do tribunal. Sessão de ontem foi suspensa quando placar era de 3 a 1 a favor da medida

 

» Renato Souza
» Augusto Fernandes

Publicação: 24/10/2019 04:00

Magistrados estão divididos sobre a questão. Decisão da Corte poderá afetar condenações feitas em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Magistrados estão divididos sobre a questão. Decisão da Corte poderá afetar condenações feitas em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato

 



O Supremo Tribunal Federal retomará hoje à tarde o julgamento que avalia a constitucionalidade da prisão de réus em ações penais após a condenação em segunda instância. A sessão de ontem foi interrompida pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, quando quatro ministros já haviam se manifestado, com três votos a favor da prisão e um, contrário. Há grande expectativa em relação ao voto da ministra Rosa Weber, que abrirá a sessão de hoje. Apesar de ter votado a favor da prisão em segunda instância, meses atrás, no julgamento de um habeas corpus, a opinião dela sobre o tema é uma incógnita. À época, a ministra declarou que poderia ter uma visão diferente no plenário, cuja decisão valerá para todos os casos semelhantes que tramitam no país e pode afetar as condenações da Lava-Jato.

Para que o colegiado defina a questão, pelo menos seis dos 11 ministros da Corte têm que votar no mesmo sentido. É possível que o julgamento não seja encerrado na sessão de hoje. No entanto, com o voto de Rosa Weber será possível ter um panorama do resultado final. Se houver maioria votando no mesmo sentido, é provável que o resultado permaneça, mesmo que o encerramento do caso seja adiado.

Se a sessão desta quinta-feira não for suficiente para que todos os votos sejam apresentados, o assunto deve ser retomado apenas no começo de novembro, já que na próxima semana não haverá sessões na Corte. Para dar maior celeridade ao processo, Toffoli deve cancelar o intervalo que ocorre no meio da sessão.

O primeiro a votar, ontem, foi o ministro Marco Aurélio Mello, relator das ações diretas de constitucionalidade (ADCs) que pedem a revogação da autorização para prisão em segunda instância. De acordo com ele, a Constituição prevê que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

 “A literalidade do preceito não deixa margem a dúvidas: a culpa é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre apenas com a preclusão maior”, afirmou. “O dispositivo não abre campo a controvérsias semânticas”, completou Marco Aurélio.

Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso divergiram do relator e se manifestaram a favor da prisão após a condenação em segunda instância. Alexandre de Moraes afirmou que proibir a prisão antes de análise dos tribunais superiores reduziria a relevância dos julgamentos nas demais instâncias. “Não se pode afastar a efetividade da tutela judicial dadas pelos juízos de 1ª e 2ª instância, que são os juízes naturais da causa, de cognição plena. Não se pode transformar esses tribunais em tribunais de mera passagem”, observou.

Beneficiários

Luís Roberto Barroso destacou que condenados por crimes de corrupção seriam diretamente beneficiados com a eventual revisão do entendimento do Supremo sobre o momento em que o encarceramento pode ser efetuado. “A imprensa divulgou alguns beneficiários notórios: condenados por corrupção, peculato e lavagem. Pobre não corrompe, não desvia dinheiro e não comete lavagem. Não foram os pobres que mobilizaram os mais brilhantes advogados criminais”, disse.

Além de Rosa Weber, faltam votar os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e, por último, o presidente Dias Toffoli. O voto de Rosa Weber costuma ser extremamente técnico. O entendimento dela sobre os casos que julga costuma ser conhecido apenas nos momentos finais da leitura do voto. Nos bastidores do Supremo, ela evita comentar os processos e os demais colegas de plenário não se atrevem a dar um palpite sobre como ela deve avaliar a prisão em segunda instância, um dos temas mais polêmicos entre os que já passaram pelo crivo da Corte.

O professor João Paulo Martinelli, doutor em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP), entende que, para se aplicar a prisão antes do julgamento de todos os recursos, seria necessário que o Poder Legislativo mudasse o texto constitucional. “A Constituição Federal é muito clara: ninguém poderá ser considerado culpado antes de transitar em julgado a decisão. Se o problema é a lentidão do Poder Judiciário e do Ministério Público para o encerramento do processo, não é violando um princípio constitucional que o problema será resolvido. Tem que se pensar em soluções para que o processo tramite de forma mais ágil. O sistema recursal deve ser repensado e o modelo de gestão das instituições deve ser modificado”, disse.

O criminalista Max Kolbe faz uma avaliação diferente. Para ele, nos tribunais superiores não se discute mais a culpa do réu, mas sim o trâmite processual. Por conta disso, ele entende que a prisão deve ser aplicada após condenação em segunda instância. “Quando o caso vai para o STF ou para o STJ, não é mais avaliado o mérito, somente alguma afronta à Constituição ou à lei. Assim, não se discute se o réu é inocente ou culpado. Por esta razão, se está exaurida a instância, não há motivo para manter o réu em liberdade, ainda mais se considerarmos que o direito penal tem institutos, como prisão preventiva, prisão provisória e própria prisão em flagrante, que restringem a liberdade desse réu ou do acusado antes mesmo de se findar o processo penal”, afirmou.
 
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Correio Braziliense quarta, 23 de outubro de 2019

STF DECIDE SOBRE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF decide sobre 2ª instância
 
 
Expectativa é de que julgamento termine ainda hoje. À tarde, votação dos ministros começa pelo relator Marco Aurélio Mello. Posição do Supremo sobre o momento da prisão de condenados só será adiada se houver pedido de vistas

 

» Renato Souza

Publicação: 23/10/2019 04:00


O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje, a partir das 9h30, o julgamento sobre a prisão a partir de condenação em segunda instância. Na sessão realizada na semana passada, foram feitas as sustentações orais pelos advogados das partes envolvidas no caso. Ou seja, os defensores de instituições que participam do julgamento apresentaram argumentos contra e favor da prisão após conclusão do processo no 2º grau de jurisdição. Os 11 ministros vão decidir em que etapa do processo pode ocorrer o encarceramento. Pela manhã, devem falar o representante da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ambas as instituições devem solicitar que o Supremo mantenha o entendimento atual para garantir punição a envolvidos em diversos delitos.

Na parte da tarde, os ministros começam a votar. O primeiro será Marco Aurélio Mello, relator de três ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) que serão julgadas e pedem que o artigo 285 do Código de Processo Penal seja declarado válido. O texto do artigo afirma que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Entre os integrantes da Corte existe um clima de divisão. Para que ocorra uma decisão, seja ela qual for, seis ministros devem votar no mesmo sentido. Além de autorizar ou suspender prisões em segunda instância, é possível que ocorra ainda um voto médio. O ministro Dias Toffoli tem defendido que a reclusão ocorra após condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O ministro Alexandre de Moraes acredita que o caso deve ser encerrado na sessão de hoje, por conta da reserva de sessões pela manhã e a tarde para o caso. No entanto, outros ministros acreditam que o julgamento pode se estender até amanhã. É possível, ainda, que um dos ministros peça vistas, ou seja, mais tempo para analisar o tema e adie o julgamento por tempo indeterminado. O Supremo já julgou casos que tratam do assunto pelo menos quatro vezes desde 2016. No entanto, a decisão de agora terá repercussão geral e valerá para todos os tribunais do país, podendo resultar na liberação de milhares de presos, inclusive do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Corte sofre pressão de vários grupos para tomar uma decisão que mantenha o entendimento atual, de que a pena pode começar a ser cumprida a partir de condenação em segunda instância. Grupos de caminhoneiros prometem entrar em greve caso o ex-presidente Lula seja solto com a decisão. O movimento Vem Pra Rua convocou mobilizações virtuais para enviar mensagens de e-mail e por telefone aos ministros do Supremo para que peçam vista, a fim de adiar o julgamento. Oficiais de inteligência do governo monitoram a situação e avaliam ameaças e manifestações que podem se concretizar. O Supremo também monitora as redes e pode incluir ataques em um inquérito sobre fake news que tramita na Corte.
 
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Correio Braziliense terça, 22 de outubro de 2019

GOVERNO MONTA PACOTE PARA CRIAR MAIS EMPREGO

 

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Correio Braziliense segunda, 21 de outubro de 2019

SUPREMO: ARQUIPÉLAGO DE ONZE MONOCRACIAS

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Correio Braziliense domingo, 20 de outubro de 2019


Correio Braziliense sábado, 19 de outubro de 2019

CARROS ANTIGOS: NOSTALGIA NAS RUAS DA CAPITAL

 

Nostalgia nas ruas da capital
 
 
Aficionados por carros antigos mantêm modelos que rodaram em Brasília na década da fundação. Para celebrar os 60 anos da cidade, clube de colecionadores programa reeditar uma caravana com veículos de época

 

MATHEUS FERRARI

Publicação: 19/10/2019 04:00

Membros do Veteran Car compartilham a paixão por automóveis  (Ana Rayssa/CB/D.A Press





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Membros do Veteran Car compartilham a paixão por automóveis

 

 
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
 
Pelas avenidas longas e largas de Brasília, os moradores da recém-fundada capital desbravaram a cidade com seus carros, na imensidão de um horizonte ainda desconhecido. Na década de 1960, entre a poeira vermelha, o cerrado e os prédios que eram erguidos, estes automóveis ajudaram a construir a história da capital.
 
Modelos como Vemaguet, Gordini, Candango e Fusca circulavam aos montes pelas vias da Esplanada dos Ministérios, pelas superquadras e pelas satélites — hoje regiões administrativas. Em estacionamentos, como o da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, carros como Dauphine e Rural também eram vistos todos os dias.
 
Hoje, quase 60 anos depois, passar por um modelo de carro desses no trânsito de Brasília causa nostalgia nos que viveram os primórdios da capital e admiração nos que não tiveram a oportunidade de sentar no banco de um automóvel da época.
 
Colecionadores são os maiores responsáveis por preservar estes modelos e trazer à tona a memória de uma Brasília recém-fundada. O Correio Braziliense ouviu alguns dos que contribuem para perpetuar a história através dos carros.
 
Fusca, Vemaguet e Gordini são alguns dos modelos que circulavam pelas vias da recém-fundada capital do país, nos anos de 1960  (Elza Fiúza/CB/D.A Press - 21/7/75
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Fusca, Vemaguet e Gordini são alguns dos modelos que circulavam pelas vias da recém-fundada capital do país, nos anos de 1960

 

 
 (Arquivo CB/CB/D.A Press
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 (Arquivo CB/CB/D.A Press)  
 
José de Mattos Souza, 81 anos, é um desses aficionados por automobilismo. Militar reformado da Aeronáutica, ele ainda tem a Vemaguet que comprou em 1967, pouco depois do fechamento da fábrica da DKW Vemag (fabricante do modelo), em agosto do mesmo ano.“Ela roda comigo, na minha mão, até hoje, e nunca parou. Sempre fazendo a manutenção e o conserto necessários, a mantenho perfeita. Ela está disponível como qualquer outro carro”, ressalta José, que calcula a distância percorrida pela Vemaguet desde 1967 até hoje: cerca de 400 mil quilômetros rodados.
 
Antes de alcançar essa quilometragem, a Vemaguet foi personagem de viagens e passeios com a família. “Os netos gostavam demais do carro. Eram crianças de 5 a 10 anos, e eu usava como atrativo para eles”, conta o colecionador, ao lembrar que os netos se divertiam quando o avô abaixava o encosto do banco de trás. “A meninada adorava. Colocavávamos colchões para eles brincarem e dormirem e íamos ao clube juntos com o carro. Agora eles cresceram”, recorda.
 
A paixão por automóveis garante o lazer de José Luiz Diaz Fernandez, 57 anos, presidente do Veteran Car Brasília, clube de colecionadores de carros antigos. “Você sabe o que é, no fim de semana, passar metade de um dia cuidando só disso, tirar a roda pra lavar e passar a escovinha por debaixo do para-lama? Esse é o prazer que hoje não existe mais. As pessoas levam no lava-jato, e alguém faz”, compara, saudosista.
 
Esse interesse por carros levou colecionadores como José de Mattos e José Luiz Diaz Fernandez e outros membros do clube à ideia de homenagear Brasília pelos 60 anos da cidade — que serão completados em 21 de abril de 2020 — por meio dos automóveis de época. No ano que vem, o Veteran Car Brasília realizará a 2ª Caravana da Integração Nacional. O objetivo é reeditar a empreitada original, promovida por JK em 1960 (leia Memória).
 
Segundo José Maria de Andrade, também membro do Veteran Car, a jornada deve contar com ao menos 600 veículos de época, vindos das 26 capitais do país, além dos de Brasília. A previsão dos organizadores é de que 2 mil pessoas pariticipem da caravana, que deve chegar à capital brasileira em 17 de abril. Bailes, shows, desfiles e exposição de carros da caravana são algumas das atrações que devem constar na agenda de comemorações.
 
“É uma repetição da caravana de 1960. Vamos convidar todos os clubes de carros antigos do Brasil. Nosso projeto é que venham representantes das capitais e de todas as cidades que tenham colecionadores de automóveis de época”, explica José Maria.
 
Memória
 
 (Arquivo/CB. Brasil. Presidente da República 
)  
 
Juscelino e o Romi-Isetta
 
Em fevereiro de 1960, ano de sua fundação, Brasília foi o destino final da Caravana da Integração Nacional. Com o objetivo de expandir a malha rodoviária e implementar a indústria automobilística no Brasil, o ato histórico, iniciativa do então presidente Juscelino Kubitschek, contou com carros partindo dos quatro pontos cardeais do país (Norte, Sul, Leste e Oeste) em direção à futura capital federal.
 
Cerca de 130 veículos da época, incluindo modelos como Vemaguet, Gordini, Rural, Candango e Fusca, participaram da jornada que terminou em Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. Na ocasião, as quatro caravanas — conhecidas como quatro colunas e vindas de Belém (PA); Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP); Cuiabá (MT); e Porto Alegre (RS) — uniram-se a JK, em um desfile pela cidade que se tornaria a capital do país em 21 de abril daquele ano. Empunhando uma bandeira nacional, o então presidente desfilou a bordo do primeiro carro fabricado no país, um Romi-Isetta.
 
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Correio Braziliense sexta, 18 de outubro de 2019

PARA PGR, MUDAR PRISÃO SERIA TRIPLO RETROCESSO

 


PODER
 
Para PGR, mudar prisão seria triplo retrocesso
 
Parecer da Procuradoria-Geral da República encaminhado aos ministros do STF afirma que derrubar a possibilidade de réus começarem a cumprir pena após condenação em segunda instância pode colocar em xeque a estabilidade jurídica no país e a credibilidade da Corte

 

RENATO SOUZA
LUÍS CALCAGNO

Publicação: 18/10/2019 04:00

 

Supremo analisa ações movidas pela OAB e pelos partidos Patriota e PCdoB. Julgamento começou ontem,  mas resultado só sai na próxima semana (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Supremo analisa ações movidas pela OAB e pelos partidos Patriota e PCdoB. Julgamento começou ontem, mas resultado só sai na próxima semana

 

 



Em memorial encaminhado aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que derrubar a possibilidade de prisão de réus após a condenação em segunda instância, que começou a ser julgada ontem, representaria um “triplo retrocesso” no sistema jurídico, que atingiria, inclusive, a credibilidade depositada pela sociedade brasileira na Corte. O documento é assinado pelo vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrada, que deve falar em nome do Ministério Público Federal (MPF) na sessão do STF da próxima quarta-feira.

De acordo com a Procuradoria, mudar a atual jurisprudência do tribunal — que permite a prisão após condenação em segunda instância — seria um retrocesso para o sistema de precedentes do Judiciário, que perderia “em estabilidade e segurança jurídica e teria sua seriedade posta em xeque”. A mudança seria prejudicial também “para a persecução penal no país, que voltaria ao cenário do passado e teria sua efetividade ameaçada por processos infindáveis”, recursos protelatórios e “penas massivamente prescritas”. Por fim, seria ruim “para a própria credibilidade da sociedade na Justiça e na Suprema Corte, como resultado da restauração da sensação de impunidade”, sustenta a PGR.

Código
No julgamento iniciado ontem, os 11 ministros da Corte analisam três ações diretas de constitucionalidade que contestam a prisão em segunda instância. Elas pedem a validação do artigo 285 do Código de Processo Penal, que afirma que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

As ações foram apresentadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelos partidos Patriota e PCdoB. Ao abrir a sessão, o presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli, tentou amenizar a polêmica criada em torno do caso. Sem citar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — um dos que poderão ser beneficiados pela eventual mudança no entendimento do Supremo — Toffoli declarou que o julgamento não tem como objetivo afetar “nenhuma situação particular”.

Na sessão de ontem, falaram advogados das instituições que entraram com as ações e representantes de entidades que se declararam e foram aceitas pelo tribunal como interessadas no tema. Na próxima semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Advocacia-Geral da União (AGU) devem se manifestar no plenário, e, por fim os ministros revelarão seus votos.

Encarceramento
O advogado Héracles Marconi, que representa o Patriota, destacou que a legenda, que defendia o encarceramento apenas depois de examinados todos os recursos possíveis, mudou de opinião e, agora, entende que a prisão em segunda instância é um mecanismo para combater a criminalidade. “Na ação penal nº 470 (processo do mensalão) houve um único grau de jurisprudência. Na Lava-Jato, houve um duplo grau. Uma pessoa, da qual não vou falar o nome, foi condenada e está presa. Houve a quebra de um paradigma. É preciso ter uma resposta satisfatória desta Corte aos anseios da sociedade”, disse.

Atuando pelo Conectas, organização que luta pela proteção aos direitos humanos, a advogada Silvia Souza, expressou visão contrária, afirmando que a prisão antes do fim do processo prejudica as pessoas mais pobres e, principalmente, as de pele negra. “Um debate tão sério quanto a relativização da presunção de inocência tem sido pautado como se afetasse apenas os condenados de colarinho-branco, quando, na verdade, nós sabemos muito bem que o aparato penal do Estado se endereça aos pretos, pobres e periféricos”, sustentou.

O advogado Juliano Breda, da OAB, afirmou que o Código de Processo Penal recebeu a chancela do Poder Legislativo, a quem pertence a atribuição de criar leis e regulamentar os artigos da Carta Magna. “O entendimento da OAB é no sentido de reafirmação da Constituição, da independência e da liberdade do poder Legislativo”, disse.

Tuíte incômodo
Uma mensagem postada em uma rede social do presidente Jair Bolsonaro ajudou a aumentar a tensão no julgamento do STF sobre as prisões em segunda instância. “Aos que questionam, sempre deixamos clara nossa posição favorável em relação à prisão em segunda instância. Proposta de emenda à Constituição que se encontra no Congresso Nacional sob relatoria da deputada federal Carol de Toni”, dizia um post publicado no Twitter do presidente. Tempos depois, o conteúdo foi apagado. Filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro assumiu a autoria da mensagem. “Eu escrevi o tweet sobre segunda instância sem autorização do presidente. Me desculpem  todos! A intenção jamais foi atacar ninguém! Apenas expor o que acontece na Casa Legislativa!”, afirmou.


Análise da notícia

Se eles tiverem razão, o mundo está errado

» Plácido Fernandes Vieira

Há uma gritante contradição entre o notório saber jurídico de meia dúzia de ministros ditos garantistas do STF e de juristas de, praticamente, todo o planeta. Um exemplo disso, citado pelo fórum que reúne juízes criminais brasileiros, são os 153 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU). Em todos eles, alertaram os magistrados em nota, condenados cumprem pena após condenação em primeira ou segunda instância. O problema, dirão alguns, é que a Constituição Federal, no inciso LVII do artigo 5º, estabelece que a presunção de inocência de um réu só acaba quando esgotado o último recurso no Supremo. No mesmo artigo 5º, mais adiante, o inciso que trata especificamente de prisão, o LXI, aponta em sentido oposto ao que entendem as sumidades. Vamos aos fatos.

Basta saber ler para compreender o que diz o inciso LXI: “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. Simplificando: só se pode prender uma pessoa no caso de flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de uma juíza ou juiz. Prestem bem atenção: não fala em esperar recurso ao STF para determinar a prisão. Agora, voltando ao “entendimento” dos supremos garantistas: que trecho da Constituição estabeleceria a presunção de inocência até o último recurso no STF? Eles alegam que está no inciso LVII. Será?

Vejam o que dispõe o inciso LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Para os tais garantistas estarem certos, o inciso LXI teria de ser declarado inconstitucional. Mas o fato é que eles estão errados. Não há contradição na Constituição. Como assim? Explico: é que nem o STJ nem o STF julgam crimes cometidos por pessoas sem foro privilegiado. Logo, o trânsito em julgado de ações penais desse tipo de réu se esgotam na segunda instância. É assim no mundo inteiro. Em todos os países da ONU. E é isso que está na nossa Constituição. E no Brasil sempre foi assim, com exceção de um breve momento, entre 2009 e 2016, em que sinto até vergonha de contar. Mas vamos à história.

Dez anos atrás, o STF mudou a jurisprudência ao analisar o caso de um fazendeiro rico que deu cinco tiros num homem que, supostamente, estava “cantando” a mulher dele, no meio de um evento agropecuário no interior de Minas. Resultado: o fazendeiro ficou impune. O período de “exceção jurídica”, felizmente, durou pouco. Em 2016, o então ministro Teori Zavascki explicitou o absurdo da situação e convenceu colegas do STF a reconduzirem o Brasil ao rol dos países civilizados. Mas, no meio do caminho, condenaram e prenderam Lula... Sim, é isso: nessa celeuma toda não existe nenhuma sapiência jurídica inalcançável a reles mortais. O objetivo é um só: destruir a tal da Lava-Jato, aquela operação de combate ao crime que ousou prender bandidos de colarinho branco.

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Correio Braziliense quinta, 17 de outubro de 2019

FUX E BARROSO VEEM RETROCESSO NO FIM DA PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

FUX E BARROSO VEEM RETROCESSO NO FIM DA PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA 

Na véspera do julgamento marcado para começar hoje no STF, os ministros Luiz Fux (foto) e Luís Roberto Barroso alertaram para possível retrocesso no combate ao crime no país caso a corte mude de postura sobre a prisão de condenados.

 

PODER
 
Ministros defendem prisão em 2ª instância
 
Luís Roberto Barroso e Luiz Fux antecipam votos e dizem que mudança de jusrisprudência do STF favoreceria criminosos de colarinho-branco. STF começa hoje a julgar ações que contestam cumprimento de pena após condenação em segundo grau de jurisdição

 

RENATO SOUZA

Publicação: 17/10/2019 04:00

 

Na sessão de hoje falarão apenas defensores e opositores da prisão em segunda instância. Votos dos magistrados só serão conhecidos na próxima semana (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 13/12/15
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Na sessão de hoje falarão apenas defensores e opositores da prisão em segunda instância. Votos dos magistrados só serão conhecidos na próxima semana

 

 



Um dia antes do início do julgamento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se mantém ou não a possibilidade de que réus sejam presos após serem condenados em segunda instância, dois ministros da Corte adiantaram seus votos e disseram que a eventual mudança no entendimento da Corte representaria um retrocesso, favorecendo a impunidade. “A execução da pena depois de condenação em segunda instância funciona como um desincentivo para a criminalidade”, disse Luiz Fux. Para Luís Roberto Barroso, “os criminosos de colarinho-branco e os corruptos” serão os principais beneficiados, caso o STF modifique a jurisprudência sobre o assunto.

Os 11 ministros do Supremo se reúnem hoje a partir das 14 horas para analisar três ações que questionam a validade da prisão após a condenação dos réus em duas instâncias da Justiça. O julgamento será um dos mais importantes da história do STF. Uma eventual mudança do entendimento do tribunal pode beneficiar milhares de detentos em todo o país, inclusive condenados na Lava-Jato por crimes como lavagem de dinheiro e corrupção. Um deles é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que cumpre pena em Curitiba desde abril de 2018. O presidente do STF, Dias Toffoli, porém, adiantou que o julgamento não terminará hoje.

Nessa primeira etapa, ocorrerão as chamadas sustentações orais dos defensores da prisão em segunda instância e dos que são contrários a ela. Além de advogados representando os autores das ações e da Procuradoria-Geral da República (PGR), falarão também representantes de organizações que demonstraram interesse no julgamento. Dez organizações foram aceitas e tentarão moldar a opinião dos magistrados. Os votos dos ministros serão conhecidos somente a partir da próxima quarta-feira, quando o STF voltará a se reunir.

Para Luís Roberto Barroso, a prisão em segunda instância é fundamental para combater práticas criminosas. Segundo ele, nos últimos anos, o país “consagrou um ambiente de impunidade para a criminalidade do colarinho-branco”, o que fez com que o momento da prisão fosse sendo atrasado pelo Poder Judiciário.

“Primeiro, era primeiro grau, depois passou a poder executar depois do segundo grau. Em 2009, quando o direito penal chegou no andar de cima, mudou-se a jurisprudência para impedir a execução depois do segundo grau. Os efeitos foram devastadores para o país e para a advocacia”, disse Barroso. “Para a advocacia criminal, porque passou a impor aos advogados, por dever de ofício, o papel indigno de interpor recurso descabido atrás de recurso descabido, para não deixar o processo acabar. Portanto, a mudança melhorou o país, estimulou a colaboração premiada, permitiu que se desbaratassem as redes de corrupção”, completou.    

Barroso observou, ainda, que, no caso dos condenados por crimes violentos, em muitos casos se justificará a manutenção da prisão preventiva, mesmo que a prisão em segunda instância seja derrubada. “Portanto, no fundo, uma mudança no entendimento da Corte vai favorecer os criminosos de colarinho-branco e os corruptos”, disse.    

Luiz Fux salientou que a jurisprudência até agora mantida pelo STF segue padrões internacionais. Ele lembrou que a Justiça brasileira é lenta, e que atrasar o cumprimento da pena pode resultar em prejuízos para o ordenamento jurídico. “No Brasil, as decisões demoram muito para se solidificar. Eu considero que haverá um retrocesso se a jurisprudência for modificada. Além disso, em todos os países, a mudança de jurisprudência só ocorre depois de muitos anos, porque tem que se manter íntegra, estável e coerente”, afirmou.

O defensor-público-geral do Rio de Janeiro, Rodrigo Pacheco, que tambémparticipará da sessão de hoje, afirmou que, desde que foi permitida a prisão em segunda instância, foram prejudicadas as pessoas mais pobres. De acordo com ele, 25% de todos os habeas corpus apresentados no STJ têm sido acolhidos, o que revela falhas nas instâncias anteriores. “Temos que acabar com o mito de que a revogação da possibilidade de prisão em segunda instância só beneficia réus da Lava-Jato. As pessoas carentes que estão presas também têm acesso aos tribunais superiores”, disse.

Convulsão social    
Em meio ao clima de expectativa pelo julgamento do STF, umcomentário feito em uma rede social pelo general Eduardo Villas Boas chamou a atenção.“Experimentamos um novo período em que as instituições vêm fazendo grande esforço para combater a corrupção e a impunidade, o que nos trouxe — gente brasileira — de volta a autoestima e a confiança”, disse. “É preciso manter a energia que nos move em direção à paz social, sob pena de que o povo brasileiro venha a cair outra vez no desalento e na eventual convulsão social.”

Plenário dividido

Veja como deve ser o voto de cada ministro, segundo posições manifestadas em julgamentos anteriores e declarações públicas:

Contra a prisão em 2ª instância:
Gilmar Mendes
Ricardo Lewandowski
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Dias Toffoli (defende prisão após confirmação da condenação pelo STJ)
Rosa Weber

A favor:
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Edson Fachin

Votos indefinidos:
Cármen Lúcia
Alexandre de Moraes

Possibilidades de resultado:
1 — STF mantém a prisão a partir de condenação em 2ª instância
2 — Ministros decidem que a prisão deve ocorrer após condenação no STJ
3 — Réu passa a ser preso somente ao final do processo, depois que todos os recursos forem analisados

Análise da notícia

A culpa é da Lava-Jato?


Plácido Fernandes Vieira

O viés que predispõe ministros do STF a determinar o fim da prisão em segunda instância não está no inciso LVII, do artigo 5º da Constituição. O objetivo primeiro, já ficou claro diante da ira pública de ministros da Corte, é destruir a Lava-Jato, a operação de combate à corrupção que ousou condenar e prender bandidos do colarinho-branco no país. O efeito colateral da decisão será transformar o Brasil numa espécie de paraíso da impunidade. Fortalecerá, também, o lucrativo negócio das grandes bancas advocatícias contratadas a peso de ouro — muitas vezes, com dinheiro surrupiado dos cofres públicos — para manter os intocáveis longe da cadeia. Privilegia-se, assim, o crime em detrimento da sociedade, que é quem mais sofre com a falta que esse dinheiro faz a hospitais, escolas, estradas, segurança.

No julgamento, ministros poderiam poupar o Brasil dos enfadonhos discursos em que jorra “notável saber jurídico”, às vezes invocando até a Bíblia, para defender o indefensável. Ninguém precisa de tanta sabedoria para entender o que dispõe o inciso LVII, do artigo 5º da Constituição. Basta ser alfabetizado. Lá está escrito: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Agora, prestem atenção: nem o STF nem o STJ julgam processos de réus sem foro privilegiado. É incumbência da primeira e da segunda instâncias. Logo, são nessas instâncias que o processo transita em julgado.

A partir daí, o que há são recursos extraordinários. E, na maioria das vezes, meramente protelatórios. Tanto é assim que, em países como os Estados Unidos, por exemplo, raramente um caso dessa natureza se estende além da primeira e da segunda instância. A Suprema Corte só é acionada em casos que envolvam desrespeito à Constituição.

Tem mais: o inciso que dispõe sobre prisão é outro: o LXII, do mesmo artigo 5º da Carta Magna. E o que diz? “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.” Trocando em miúdos: a prisão pode ocorrer quando houver flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada do juiz. É o que ocorre, entende o ministro Luiz Fux, no caso do ex-presidente Lula. Mas como demover meia dúzia de supremos enfurecidos com a Lava-Jato do retrocesso que se avizinha e que envergonhará o Brasil perante o mundo?

 

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Correio Braziliense quarta, 16 de outubro de 2019

FIM DA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA: STF PODERÁ DEIXAR O PAÍS ISOLADO

 


PODER
 
FIM DA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA 
 
 
 
STF pode deixar Brasil isolado, dizem juízes
 
Fórum de magistrados criminais afirma que o país seria único entre os membros da ONU a não permitir a prisão de réus após condenação em segunda instância se o Supremo mudar entendimento sobre o assunto em julgamento marcado para amanhã

 

» RENATO SOUZA

Publicação: 16/10/2019 04:00

Decisão da Corte pode permitir a soltura de milhares de presos, segundo Fonajuc. Ministro Alexandre de Moraes diz que medida não teria tanto impacto (Iano Andrade/CB/D.A Press - 4/3/07)  

Decisão da Corte pode permitir a soltura de milhares de presos, segundo Fonajuc. Ministro Alexandre de Moraes diz que medida não teria tanto impacto

 



À medida que se aproxima o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que vai decidir sobre a constitucionalidade da prisão em segunda instância, nesta quinta-feira, o debate sobre o assunto ganha intensidade. Ontem, o Fórum Nacional de Juízes Criminais (Fonajuc) divulgou nota afirmando que, caso o tribunal derrube o entendimento que vem mantendo desde 2016, o Brasil pode se tornar “o único país de todos os Estados-membros das Nações Unidas (ONU) a não permitir a prisão após condenação em primeira ou segunda instâncias, acarretando graves consequências para a sociedade brasileira”

Segundo a entidade, composta de magistrados estaduais, federais e militares de todas as regiões do país, a prisão em segunda instância não contraria a Constituição. Na nota, o Fonajuc afirma que essa sempre foi a interpretação do STF, em toda sua história, com exceção do período entre 2009 e 2016. E acrescenta que a reversão desse entendimento “acarretaria a soltura imediata de mais de 164 mil presos condenados em segunda instância por crimes graves a penas superiores a oito anos de reclusão”.

O STF deve julgar amanhã três ações diretas de constitucionalidade apresentadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo PCdoB e pelo Patriotas, respectivamente. As ações pedem que seja declarado constitucional o texto do artigo 283 do Código de Processo Penal, que estabelece que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Se o texto for validado pelo Supremo, a pena poderá ser aplicada, num grande número de casos, somente após o fim do processo, ou seja, quando todos os recursos forem julgados por todas as instâncias do Poder Judiciário. Nesse caso, detentos de todo o país podem ser liberados, inclusive nomes ligados à Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, rebateu as críticas que vem sendo feitas à Corte em relação à possibilidade de soltura de milhares de detentos. De acordo com o magistrado, pessoas condenadas por crimes graves, como estupradores e homicidas, não seriam beneficiados caso o Supremo mude o entendimento e decida proibir a prisão em segunda instância. Nos bastidores do tribunal, outros ministros também criticaram avaliações sobre o impacto da medida.

A decisão, dizem fontes do tribunal, não terá validade para quem cumpre prisão temporária, decretada no curso da investigação policial, que pode ser de cinco dias, prorrogáveis por igual período, nos casos de crimes simples, ou de 30 dias, prorrogáveis por mais um mês no caso de crimes hediondos (contra a vida). Quem estiver em prisão preventiva, que pode ser decretada em qualquer fase do processo ou da investigação e não tem prazo para terminar, também não poderá ser solto.

Desserviço

Para Moraes, a amplitude do efeito, caso o Supremo mude seu entendimento sobre o momento da prisão, será menor do que está sendo propagado. “O homicida vai ser solto? O homicida fica preso desde o flagrante. Não tem nada a ver. Depois, vem a sentença de primeiro grau, ele continua preso. Um estuprador vai ser solto por causa disso? O estuprador fica preso desde o flagrante. É um desserviço que estão fazendo atrapalhando a discussão”, afirmou.

No entanto, quando o STF mudou o entendimento, em 2009, a decisão beneficiou com a impunidade um fazendeiro que deu cinco tiros num rapaz que, supostamente, estava “cantando” a mulher dele. Recurso após recurso, o réu empurrou o processo adiante até a prescrição da pena. Agora, Moraes acusa quem se posiciona contra o fim da prisão em segunda instância de politizar a questão.

“Politizou-se uma coisa que é jurídica, falando-se que, por causa de uma pessoa, podem ser soltos 139 mil. Vai olhar, 42% são detentos com prisão preventiva decretada. Dos outros, quase 90% já têm trânsito em julgado”, completou.

Para o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo, a derrubada da prisão em segunda instância pode beneficiar pessoas condenadas por crimes graves. Em nota, a entidade, que representa mais de 14 mil procuradores e promotores de Justiça, manifestou-se contra a revisão da interpretação do Supremo sobre o tema. “A eventual reversão desse entendimento implicaria evidente retrocesso jurídico, dificultando a repressão a crimes, favorecendo a prescrição de delitos graves, gerando impunidade e, muitas vezes, até inviabilizando o trabalho desenvolvido pelo Sistema de Justiça Criminal e, em especial, pelo Ministério Público brasileiro no combate à macrocriminalidade”, diz trecho da nota divulgada pela associação.

Em julgamentos anteriores, Moraes se posicionou a favor da prisão a partir de segunda instância, mas indica ter mudado de opinião. Outros ministros, ouvidos sob a condição de anonimato, acreditam que haverá maioria para derrubar o entendimento atual do Supremo. A Corte está diante de três alterativas: manter a situação atual, permitindo o cumprimento da pena após condenação em segunda instância; decidir que a prisão poderá ocorrer a partir de condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), tese apoiada pelo presidente do STF, Dias Toffoli; ou seguir por uma linha mais profunda, deixando livre todos os que ainda têm recursos pendentes na Justiça. Neste caso, o ex-presidente Lula e outros réus da Lava-Jato seriam beneficiados.

Dois votos
contra Geddel

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), acompanhou o relator do caso, Edson Fachin, e votou pela condenação do ex-ministro Geddel Vieira Lima e do irmão dele, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima. Ambos são acusados pela ocultação de R$ 51 milhões encontrados no apartamento ligado a Geddel em Salvador. “Estão plenamente comprovados nos autos a materialidade e a autoria do delito de lavagem de dinheiro e de associação criminosa”, disse o ministro durante o julgamento. Após o voto dele, a sessão da Segunda Turma foi suspensa pela ministra Cármen Lúcia e deve ser retomada posteriormente. O adiamento ocorreu para dar lugar a outros processos que estavam parados.
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Correio Braziliense terça, 15 de outubro de 2019

ALÉM DE LULA, STF PODE SOLTAR 190 MIL PRESOS

PODER

STF pode derrubar prisões da Lava-Jato
 
 
Supremo Tribunal Federal julga na quinta-feira ações que contestam prisão de réus após condenação em segunda instância. Mudança no entendimento da Corte pode resultar na soltura de milhares de presos pelo país, inclusive do ex-presidente Lula

 

Renato Souza
Luiz Calcagno

Publicação: 15/10/2019 04:00

Especialistas acreditam que tribunal deve modificar posição que passou a adotar desde 2016, mas alcance do julgamento vai depender do teor da decisão que será tomada pelos 11 ministros ( Nelson Jr./CB/D.A Press)  

Especialistas acreditam que tribunal deve modificar posição que passou a adotar desde 2016, mas alcance do julgamento vai depender do teor da decisão que será tomada pelos 11 ministros

 

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, agendou para a próxima quinta-feira o julgamento de um dos temas mais controversos em andamento na Corte. Os 11 integrantes do plenário vão avaliar se, nas ações penais, a prisão pode ser efetuada a partir de condenação em segunda instância de Justiça, ou se um condenado pode ir para a cadeia apenas quando todos os recursos possíveis forem analisados pelo Poder Judiciário, o que, geralmente, resulta na impunidade dos réus. A depender da decisão, além de presos famosos da Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros 190 mil detentos podem ser liberados em todo o país. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, essa é a quantidade de presos provisórios nos 26 estados e no Distrito Federal.
O Supremo já julgou esse assunto quatro vezes, em casos específicos, desde fevereiro de 2016. No entanto, é necessário que a Corte aplique o efeito “erga omnes”, que faz com que a decisão tenha validade definitiva e obrigatória para todos os tribunais do país. Os ministros vão julgar três ações diretas de constitucionalidade (ADCs) apresentadas, respectivamente, pela Ordem dos Advogados do Brasil, pelo PCdoB e pelo Patriotas. Nas ações, os autores pedem que seja declarado constitucional o texto do artigo 283 do Código de Processo Penal, que estabelece que alguém será considerado culpado apenas quando o processo transitar em julgado. 

Há controvérsia sobra a questão, uma vez que apenas a primeira e a segunda instâncias julgam casos de réus sem foro privilegiado. Ou seja, o trânsito em julgado se completaria quando esgotados os recursos no segundo grau de jurisdição. A partir daí, já não haveria presunção de inocência, apenas recursos extraordinários ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao STF. Em praticamente dosos os países democráticos funciona assim. Mas há legislações mais rigorosas: nos Estados Unidos,  no Reino Unido e na França, condenados já vão para a cadeia na primeira instância.

Atualmente, no Brasil, cumprem a execução da pena após condenação em segunda instância homicidas, estupradores, sonegadores, assaltantes, estelionatários e condenados por crimes de colarinho branco, como lavagem de dinheiro e corrupção. Entre os condenados que podem ser soltos estão presos da Lava-Jato, inclusive Lula. Atualmente, o STF entende que uma pessoa condenada pode começar a cumprir a pena após a segunda instância, e cabem recursos. Após a segunda instância, cabem recursos aos tribunais superiores, como STJ e o próprio Supremo. Esses tribunais analisam aspectos processuais do julgamento, mas não reexaminam as provas que, eventualmente, levaram os réus a serem condenados nas instâncias inferiores.

Sentenciado a oito anos, 10 meses e 20 dias de prisão no processo relacionado ao triplex do Guarujá,  Lula está preso por conta de uma sentença proferida pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4). Caso o Supremo revogue o entendimento que permite o cumprimento da pena, ele poderá ser solto. Isso, porém, vai depender do entendimento dos ministros, que podem decidir pela prisão apenas ao fim do processo; na segunda instância, como ocorre atualmente; ou a partir de confirmação da condenação pelo STJ, como defende Dias Toffoli.

O advogado Leonardo Pantaleão, pós-graduado em Direito Penal Econômico Internacional pelo Instituto de Direito Penal Econômico e Europeu, da Universidade de Coimbra, em Portugal, afirma que se o Supremo mudar seu entendimento, a soltura dos presos poderá ser solicitada imediatamente pelas defesas. “A interpretação anterior do Supremo está sendo questionada. Se essas ações forem julgadas procedentes, isso significa que a execução provisória de uma pena privativa de liberdade não pode ser realizada. Se for assim, todos aqueles que estão cumprindo pena após julgamento em segundo grau, estão sofrendo um constrangimento”, declarou.
 
Divisão
A questão divide os ministros do Supremo há anos. Em 2009, ao julgar o caso de um fazendeiro que atirou num rapaz por ciúme, o STF acabou com as prisões em segunda instância, o que, geralmente, resulta na impunidade réus com dinheiro para contratar grandes bancas advocatícias. Em fevereiro de 2016, a Corte voltou atrás: decidiu que um réu poderia ser preso depois de condenado em segunda instância e que deveria recorrer da sentença cumprindo pena. Em outubro do mesmo ano, a decisão foi confirmada durante o julgamento de ações apresentadas pelo PEN e pela OAB.

Em julgamentos anteriores, alguns ministros se posicionaram claramente contra a prisão em segunda instância. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski são os maiores críticos dessa possibilidade. Cármen Lúcia e Edson Fachin, até o momento, defenderam a prisão no curso do processo como forma de garantir a aplicabilidade da lei penal. A professora Vera Chemim, mestre em direito constitucional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em STF, afirma que o entendimento atual deve ser revogado. “A prisão em segunda instância vai cair. Na melhor das hipóteses, fica no STJ, ou seja, poderá ser preso quem já tiver apresentados todos os recursos possíveis neste tribunal. Isso se não cair para a quarta instância (STF), como era antes, apenas após o processo ser encerrado”, disse.
 
Tendência 
Como se posicionam os ministros, com base em julgamentos e declarações anteriores 
 
Contra a prisão em 2ª instância:
Gilmar Mendes
Ricardo Lewandowski
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Dias Toffoli (defende prisão a partir de condenação do STJ)
Rosa Weber
 
A favor:
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Edson Fachin
 
Indefinidos
Carmen Lúcia
Alexandre de Moraes
 
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Correio Braziliense segunda, 14 de outubro de 2019

CÍRIO DE NAZARÉ: É PRECISO VIR, VER E VIVER

 

CÍRIO DE NAZARÉ
 
 
É preciso vir, ver e viver
 
 
 
Maior celebração católica do Brasil reuniu mais de 2 milhões de fiéis neste domingo nas ruas de Belém. Evento mais importante dos paraenses aquece a economia local e atrai pessoas de todos os lugares e credos

 

» Marcelo Abreu
Especial para o Correio*

Publicação: 14/10/2019 04:00

Desde 2013,  festividade recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Expectativa do Dieese é movimentar, até o fim do mês, R$ 1 bi na capital paraense (Marcelo Lelis/Vale)  

Desde 2013, festividade recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Expectativa do Dieese é movimentar, até o fim do mês, R$ 1 bi na capital paraense

 



Belém —
 Ele saiu de Manaus na manhã de sábado com destino a Belém. Chegou no começo da tarde o que havia de fazer ali. Percorreu os 3,7 km que separam Basílica de Nazaré da Catedral da Sé para pagar a sua promessa. Há oito anos, ele faz a mesma coisa. O gerente de lojas Richard Miranda, de 29 anos, chega à Sé com os joelhos em carne viva, depois de sangrar por sete longas horas ao encontro de Nossa Senhora.

Essa é a essência do Círio de Nazaré, a maior celebração católica do Pará e do Brasil, que, neste ano, completou 227 anos. Desde 2013, recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). São histórias de devoção, dor, lágrimas e renascimento. É pura catarse de fé coletiva. Nas ruas, todo paraense diz que, para entender o significado do Círio, é preciso vir, ver e viver.

Richard, ao longo da maior parte do autoflagelo de joelhos, foi ajudado por vários voluntários, pessoas que trabalham sem nada em troca todos os dias de celebração do Círio. Só pelo prazer em servir. Um deles foi o bombeiro civil Hadren Moura, de 22 anos. Detalhe: Hadren é evangélico da Assembleia de Deus. Incompatibilidade? “Nenhuma. Sinto prazer em ajudar na fé, que é dele, e move tudo”, afirma. Richard, com os dois joelhos dilacerados, não disse mais nada. Bebeu água que lhe derramaram na boca e corpo e arrastou-se entre os caminhos de papelão que os voluntários improvisaram para que ele vencesse a sua via-crucis.

Belém, de sexta até o início da tarde de ontem, dia da grande e principal procissão, encharcou-se de Nossa Senhora de Nazaré. E não é só força de expressão. Ora água da chuva, típica na região no meio da tarde; ora água jogada pelos fiéis, para amenizar o calor e o sofrimento dos pagadores de promessas. Uma multidão de mais de dois milhões de seres invadiu as principais avenidas, cheias de mangueiras da cidade, para celebrar a padroeira da Amazônia. E, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), toda essa gente vai injetar, até o fim de outubro, quando se encerram as celebrações para Nossa Senhora, cerca de R$ 1 bilhão à economia local.

Há oito anos, Richard Miranda percorre 3,7 km de joelhos até a Basílica, e, ao lado, o bombeiro Hadren Moura, evangélico, trabalhando como voluntário (Marcelo Abreu/Esp. CB/D.A Press)  

Há oito anos, Richard Miranda percorre 3,7 km de joelhos até a Basílica, e, ao lado, o bombeiro Hadren Moura, evangélico, trabalhando como voluntário

 



Gente com velas enormes na mão. Gente com pedaços de corpos em cera. Gente com miniaturas de casas. Gente com livros na cabeça, pela graça de ter conseguido a aprovação em algum concurso. Gente. Gente em excesso. Gente com histórias de superação. Gente que veio pedir. Gente chorando, cantando. Um mar de gente.

Entre essa gente tanta, antes das 6 da manhã, estava Simy Coutinho, de 55 anos, vestida de Santa Edwiges, a santa das causas impossíveis. “Vim para agradecer pela saúde da minha mãe, que estava com câncer, desenganada, e hoje está curada”, contou. Na mão, Simy segurava a imagem de Edwiges. Os olhos abertos para Nossa Senhora de Nazaré. “Ela, a Virgem de Nazaré, me ampara todos os dias. É impossível viver sem ela”.

E as histórias vão se sucedendo ao longo do percurso que separa a Sé da Basílica, itinerário da última procissão do Círio. Mais à frente, a miudinha Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, dormia nos braços da avó, Lurdinha de Souza, de 59 anos, que saiu de Icoaraci, distrito de Belém.

“Minha filha teve parto muito difícil. Minha neta nasceu prematura e precisou de cuidados intensivos”, disse a avó. A mãe de Iasmin, Sulian Letícia, de 26 anos, ainda na maternidade, decidiu que a filha viria de anjo no próximo Círio. E veio. Iasmin dormiu, literalmente como anjo, no braço da avó. “Ano que vem, será a vez de pagar a minha parte na promessa. Vou fazer a caminhada na corda”, disse Sulian.

Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, nos braços da avó, Lurdinha de Souza (Marcelo Abreu/Esp. CB/D.A Press)  

Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, nos braços da avó, Lurdinha de Souza

 



Sacrifício


A procissão de ontem saiu da Avenida Presidente Vargas, passou pela Avenida de Nazaré e chegou à Basílica, onde a imagem peregrina ficará por alguns dias em adoração. Depois segue para o Colégio Gentil Bitencourt, seu lugar de moradia e visitação até o ano que vem, quando se iniciam as celebrações de mais um Círio.

No percurso, a santa foi ovacionada com palmas, cânticos e muitas lágrimas. Em cada esquina, a multidão correu para vê-la passar. Mesmo que de longe. Mesmo com apenas um aceno. Nossa Senhora de Nazaré, na sua berlinda e com o manto confeccionado para este ano, seguiu pelas avenidas de uma Belém entupida. Na corda, onde pagadores de promessa — homens e mulheres descalços – se agarram durante toda a procissão, as cenas são inacreditáveis. É, certamente, o momento de maior dor, de desespero, de resistência e de demonstração dessa gente devota.

Durante a caminhada, os voluntários (ontem se somaram mais de 5 mil) jogaram água nas pessoas agarradas às cinco estações da corda. Cada uma tem 50 metros de corda. Depois que todas as cinco estações passaram, veio Nossa Senhora de Nazaré, na sua berlinda. O ponto alto. Pessoas ajoelharam nas ruas e calçadas. Uma multidão assistiu das janelas ou varandas dos apartamentos.

A certa altura da Avenida de Nazaré, a emoção tomou conta de toda aquela gente. Crianças de famílias carentes do Projeto Vale Música cantaram várias canções em homenagem à Virgem de Nazaré. Elas ensaiam durante todo o ano para esse grande dia. É um detalhe interessante.

Grande parte dessas crianças vem de lar evangélico. Os pais autorizam, incentivam e ontem estavam lá para ver os filhos cantarem à Maria. Catarina, de oito anos, filha de uma professora e um taxista, resumiu tudo: “Eu canto para Nossa Senhora de Nazaré, que é mãe de todos, mãe da Amazônia”. Vitor Mateus, de 11 anos, filho de pais evangélicos, continuou: “Cantando, eu falo de amor e fé”.

A idealizadora do projeto, a pianista Glória Caputo, emocionou-se ao falar do projeto que existe há 15 anos: “É realização. O Brasil é isso. Basta dar oportunidade, que as pessoas mostram que sabem fazer”.

*O repórter viajou a convite da Vale
 
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Correio Braziliense domingo, 13 de outubro de 2019

SANTA DULCE DOS POBRES

 

Santa Dulce dos Pobres
 
Agora é do mundoPrimeira santa nascida no Brasil é canonizada pela Igreja Católica 27 anos depois de sua morte, em 1992. É a terceira santificação mais rápida da história, atrás do Papa João Paulo II e de Madre Teresa de Calcutá, rompendo com os históricos padrões europeus

HELLEN LEITE
MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 13/10/2019 04:00

Irmã Dulce dedicou a vida para ajudar os necessitados e era considerada santa por muitos desde 1950  (ABr/Divulgação - 23/5/11
)  

Irmã Dulce dedicou a vida para ajudar os necessitados e era considerada santa por muitos desde 1950

 




O anseio para ver a primeira santificação de uma brasileira chega ao fim hoje, com a canonização de Irmã Dulce na Praça São Pedro, no Vaticano. Apesar de ser considerada santa por muitos desde 1950, não se pode dizer que o processo foi demorado. Santa Dulce dos Pobres teve a terceira canonização mais rápida da história — atrás da santificação do Papa João Paulo II e de Madre Teresa de Calcutá — apenas 27 anos após sua morte, em 1992.

A canonização de Irmã Dulce, iniciada em janeiro de 2000, tem sua conclusão quando Papa Francisco declarar, na madrugada deste domingo (horário de Brasília), que a beata está entre os santos do céu e inscrever o nome de Dulce na lista oficial dos santos da Igreja Católica.

Os dois milagres necessários para que a canonização fosse atestada foram validados pelo Vaticano. Um, em 2010, e, outro, em 2019. O primeiro, salvou Claudia Cristina dos Santos, que sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas após dar à luz o segundo filho. Claudia já havia sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José, na cidade de Itabaiana, em Sergipe. Somente uma oração que pediu a intercessão de Irmã Dulce cessou a hemorragia.

O segundo milagre reconhecido pelo Vaticano aconteceu justamente com um conterrâneo de Irmã Dulce. Nascido em Salvador, José Maurício Moreira teve o diagnóstico de glaucoma aos 22 anos. Apesar do tratamento, Maurício ficou cego, em 2000, e permaneceu por mais 14 anos. Em 2014, em Recife, o maestro sofreu uma conjuntivite grave e teve fortes dores. A solução foi colocar uma imagem de Irmã Dulce sobre os olhos e fazer uma oração pedindo a intercessão do “anjo bom da Bahia”. Maurício conseguiu dormir e, quando acordou, a surpresa foi maior: ele enxergava.

O milagre passa por três etapas de avaliação para ser validado pela Igreja. Primeiro, uma reunião com peritos médicos foi feita para obter o aval científico. Depois, um encontro de teólogos, e, finalmente, a aprovação pelo colégio cardinalício. O reconhecimento do fenômeno faz parte de duas das três etapas necessárias para a santificação de uma pessoa: a beatificação e a canonização. Para uma graça ser considerada um milagre, ela precisa ser instantânea, perfeita, duradoura e ter caráter preternatural, ou seja, não pode ser explicada pela ciência.

No entanto, antes do reconhecimento dos milagres, etapa final do processo de santificação, é preciso fazer uma investigação da vida pessoal do indicado. O professor Olyver Tavares, que lecionou aulas de filosofia no Seminário Arquidiocesano de Brasília, explica que essa verificação biográfica dos aspirantes à santidade é a etapa mais demorada do processo. “É como uma investigação da vida do candidato para ver se há algo que desaprova a vida de santidade vivida por essa pessoa”, diz.

Exigências

De acordo com Olyver, a reforma do Código de Direito Canônico, promulgada pelo papa João Paulo II, em 1983, diminuiu algumas exigências para o processo de santificação da Igreja Católica. “Antes do pontificado de João Paulo II, apenas o papa poderia dar início a esse processo de canonização. Depois de João Paulo, a Igreja passou a autorizar que bispos ou até um conjunto de leigos pudessem dar início a esse processo, mas eles precisam informar à congregação que existe ali uma pessoa venerável que tem potencialidade para se tornar um santo”, conta.

Todo esse processo é julgado pela Congregação para as Causas dos Santos, que existe desde 1588. Constatada a vida de santidade, é requerido que se tenha um primeiro milagre para que este aspirante a santo ganhe o título de beato. Por fim, um segundo milagre tem que ser comprovado em nome daquele santo para que a santificação seja concluída.

Para o professor, a canonização de Irmã Dulce rompe com padrões europeus de santidade. “Irmã Dulce é analogamente um fenômeno parecido com Nossa Senhora Aparecida. É a santa brasileira com a cara do nosso povo. É algo histórico, que rompe com essa barreira do eurocentrismo. Esse é um santo que viveu aqui, que se santificou aqui. Creio que é o fortalecimento da fé católica no Brasil e na América Latina”, ressalta.


Caravana de políticos
José Sarney é um dos políticos que foram até o Vaticano acompanhar de perto a canonização da Irmã Dulce. Além dele, também estarão presentes o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli; o procurador-geral da República, Augusto Aras; o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; entre outros. Os nomes fazem parte da comitiva que representa o governo brasileiro na cerimônia. O grupo estará sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, que é o ministro-chefe da delegação brasileira. O presidente Jair Bolsonaro cancelou a ida à missa pela canonização de Irmã Dulce, em Salvador, “em decorrência de ajustes na agenda”.



Conheça a trajetória da freira brasileira

» Nasce em 26 de maio de 1914, em Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, filha do dentista Augusto Lopes e da dona de casa Dulce Maria de Souza;

» Aos 13 anos, passa a ajudar na acolhida de moradores de rua e doentes na casa da família, que fica conhecida como Portaria de São Francisco;

» Ainda os 13 anos, é recusada por um convento por ser muito jovem. Só aos 18 anos, ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (SE);

» Em 1934, faz votos de fé e torna-se freira. É quando recebe o nome de Irmã Dulce, nome que adota em homenagem à mãe;

» Em 1936, com 22 anos, funda a União Operária São Francisco. Mantida por cinemas construídos graças a doações, foi a primeira organização operária católica da Bahia;

» Em 1937, invade cinco casas abandonadas na Ilha dos Ratos para montar um abrigo para doentes. Acaba expulsa e passa a peregrinar com os enfermos por diversos lugares;

» Em maio de 1939, inaugura o Colégio Santo Antônio, voltado para a educação dos operários de Salvador e seus filhos;

» Em 1949, consegue autorização para transformar um galinheiro ao lado de um convento em abrigo para 70 doentes. O local se transformaria no Hospital Santo Antônio;

» Em 1988, Irmã Dulce é indicada pelo presidente José Sarney, com apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz, mas não leva o prêmio;

» Em 13 de março de 1992, aos 77 anos, morre no Convento Santo Antônio, na Bahia;

» Em junho de 2010, seu corpo é exumado e representantes do Vaticano ficam impressionados com a mumificação natural;

» Em 2011, é beatificada pelo enviado especial do Papa Bento XVI, Dom Geraldo Majella Agnelo, em Salvador;

» Em 1º de julho de 2019, o papa Francisco anuncia a canonização para 13 de outubro. Irmã Dulce ganha o nome de Santa Dulce dos Pobres;



Conheça mais:


» Para assistir

Filme – Irmã Dulce

O filme brasileiro, lançado em 2014, foi dirigido por Vicente Amorim e filmado em Salvador, lar da religiosa e local onde fundou as obras assistenciais. A personagem complexa e única é interpretada por Bianca Comparato e Regina Braga, que vivem a protagonista jovem e a partir dos 45 anos, respectivamente. O longa tem 1h47min de duração.

 

» Para ler


Livro – Irmã Dulce: a santa dos pobres

A primeira biografia jornalística de Irmã Dulce é resultado de um trabalho de oito anos de investigação em arquivos do Brasil, dos EUA e do Vaticano e de uma centena de entrevistas. O autor é o jornalista Graciliano Rocha.
O livro, que vai além da religião, tem 296 páginas e promete ser uma obra repleta de informações inéditas sobre a primeira santa nascida no Brasil.
 
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Correio Braziliense sábado, 12 de outubro de 2019

IRMÃ DULCE: O LEGADO DA FREIRA QUE VAI VIRAR SANTA

 

O papa Francisco oficializará, amanhã, Irmã Dulce como Santa Dulce dos Pobres. Biógrafo fala sobre a mulher lembrada como o anjo bom da Bahia, que será a primeira brasileira canonizada após ter o segundo milagre reconhecido pelo Vaticano.   (Irmadulce.org/Divulgação)

 

O legado da freira que vai virar santa

 

Publicação: 12/10/2019 04:00

Duas décadas depois da morte da freira, Irmã Dulce continua sendo referência de acolhida na área da saúde e educação. Os números da obra da beata impressionam. Atualmente, o Hospital Santo Antônio, nascido de um galinheiro do convento em 1949, abriga um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com 21 núcleos e cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano.

Conhecido como o “coração” da Osid (Obras Sociais da Irmã Dulce), o hospital dispõe de residências médicas, ensino de enfermagem, centro de pesquisa clínica e um comitê de ética em pesquisa. São 38 especialidades médicas de atendimento, exames laboratoriais e de bioimagem, internação, cirurgias de alta complexidade e reabilitação. A organização administra ainda o Hospital da Criança da Bahia, o Hospital do Oeste, o Hospital Eurídice Sant’Anna, o Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho e o Centros de Atendimento à Saúde.

Recentemente, a Osid foi reconhecida como uma das cem melhores ONGs do Brasil e a melhor da região Nordeste, entre 1.700 instituições. “Para nós, a Irmã Dulce tem dois legados importantes, um no sentido prático e de atendimento na saúde e na educação, e outro no sentido espiritual, da fé e da relação que ela tinha com as pessoas. É uma santa da nossa época e o exemplo que ela deixou é impressionante”, diz Sérgio Lopes, assessor corporativo das Organizações Irmã Dulce. Ele lembra que o principal legado que a freira deixou foi o compromisso com os pobres. “Nossa maior marca é a missão de amar e de servir. O traço de humanização que conseguimos imprimir aqui é uma das coisas que mais queremos cultivar. Todos os profissionais são herdeiros dessa missão de Irmã Dulce”, ressalta.
 
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Correio Braziliense sexta, 11 de outubro de 2019

NOSSA SENHOR APARECIDA - AS APARECIDAS CELEBRAM A SANTA

 

As Aparecidas celebram a santa
 
Fiéis comemoram a data da padroeira Nossa Senhora Aparecida na Esplanada. Conheça histórias emocionantes de devotos

 

» Ana Maria da Silva*
» Geovana Oliveira*
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira

Publicação: 11/10/2019 04:00

Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida

 


Foi com uma simples imagem quebrada que a fé do povo brasileiro se transformou. Há mais de três séculos, Nossa Senhora Aparecida se tornou a padroeira do país (leia ao lado). A celebração reúne católicos espalhados pelo mundo e pelo Brasil. Em Brasília, a estimativa da Arquidiocese é de que 60 mil fiéis compareçam à celebração realizada na Esplanada dos Ministérios.
 
O padre Edilson Santos da Costa, do Seminário Maior Nossa Senhora de Fátima, explica que na Igreja Católica a devoção aos santos implica seguir virtudes, valores e estilo de vida das pessoas santificadas. No caso de Nossa Senhora, a devoção é construída pela ideia da maternidade, que é representada por ela. “Todos nós precisamos da representação familiar de uma mãe, e em Maria nós temos essa mãe na graça, mãe na fé, mãe na esperança e mãe na caridade”.
 
De acordo com o sacerdote, os fiéis veem a santa como mãe da igreja, e exemplo de amor e dedicação ao próximo e a Deus. “Ela será vista como aquela que ama a Deus de todo o coração, sendo modelo para que nós, cristãos, possamos amar a Deus, e ao nosso próximo, nessa medida”, afirma.

Priscila Aparecida:  

Priscila Aparecida: "Ela é o canal da graça"

 

O pároco diz, também, que na história de Nossa Senhora Aparecida é possível observar a posição de favorecimento e apoio ao sofrimento do homem. “Sabemos que ela intercede, não só para a pessoa, individualmente, como também por toda a nação. Ela é exemplo não somente na igreja, mas para toda a sociedade. Acaba sendo a mãe da esperança do povo”, completa.
 
Devoção
Criada em uma família muito católica, a nutricionista e psicóloga Priscilla Aparecida de Morais Prado, 30 anos, conta que sua história com Nossa Senhora Aparecida começou no nascimento. “Nasci prematura, com pouco mais que 6 meses, sem chances médicas de sobrevivência. Minha mãe, com sua fé inabalável, pediu intercessão à nossa mãezinha, Nossa Senhora Aparecida, para que intercedesse por minha vida, assim teria seu nome”, destaca.

Suelene Aparecida andou ajoelhada 392 metros no Santuário Nossa Senhora Aparecida (SP) (Arquivo Pessoal)  

Suelene Aparecida andou ajoelhada 392 metros no Santuário Nossa Senhora Aparecida (SP)

 

Apesar de passar um mês no hospital, entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o quarto, Priscilla explica que sobreviveu milagrosamente, e a promessa de sua mãe foi cumprida. A devota afirma que, durante toda a vida, Nossa Senhora Aparecida tornou-se a intercessora e protetora, como há 10 anos, quando teve um câncer de tireoide. “Sempre que pedi sua proteção, lá estava ela. Nossa Senhora representa devoção, confiança e amor na minha vida. Olhar naqueles olhos de ternura me traz paz, conforto e força. Ela é o canal da graça”, diz.
 
A contadora Suelene Aparecida de Freitas Cardoso, 29, conta que Nossa Senhora Aparecida se fez presente durante toda a trajetória de vida. O primeiro contato foi ainda no ventre, quando foi consagrada à santa. Após isso, sua vida começou a ser repleta de acontecimentos que poderiam se tornar grandes tragédias, se não fosse pela devoção. Entre elas, uma queda que afetou a fala e um acidente de carro que resultou na fissura de três vértebras, e por pouco não a deixou paraplégica. Ela brinca: “Eu sou gata de várias vidas, já perdi as contas”.

Graziela Aparecida e Júlio César:  

Graziela Aparecida e Júlio César: "Temos que agradecer a ela por estar ao nosso lado"

 

Para agradecer as graças alcançadas, Suelene decidiu fazer, em 2017, o trajeto conhecido como “passarela da fé”, que liga a Basílica Velha ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, de joelhos. “Algo tocou no meu coração que eu deveria passar por lá de joelhos. Não foi uma promessa, foi só um agradecimento por tudo que aconteceu na minha vida”, acrescenta. O local, que possui 392 metros de extensão, é um dos principais pontos de peregrinação durante o feriado da padroeira.
 
Protetora das grávidas
Conhecida também como protetora das grávidas e dos recém-nascidos, muitos fiéis pedem a intercessão de Aparecida para seus filhos ou nas gestações. A padroeira também esteve presente na história da enfermeira Graziela Aparecida Lopes Cardoso, 34. Ela conta que a genética de seu marido, o farmacêutico Júlio César Cardoso, 39, não permitia que pudessem ter filhos: “Na família do meu esposo, há casos de homens estéreis, então estávamos cientes que não íamos ser pais”.
 
Com 10 anos de casados, e três anos de inúmeras tentativas para engravidar, Graziela e Júlio decidiram ir até o Santuário Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, para fazer o pedido à santa. “Pedi que se fosse da vontade dela, que me concedesse a graça de ser mãe. Após isso, uma amiga que também é devota me disse que logo seria, e que Nossa Senhora estava providenciando”, se emociona. No fim de julho, Graziela descobriu que estava grávida. “Temos que agradecer à santa por estar ao nosso lado, e por sempre interceder por todos nós”, acredita.
 
 
Padroeira do Brasil
 
Foi em 1717 que três pescadores da região do Vale do Paraíba, em São Paulo, passaram a noite inteira em busca de peixes, mas não obtiveram sucesso. Durante as tentativas, eles tiraram das águas escuras uma imagem de Nossa Senhora, que veio nas redes em dois pedaços: primeiro o corpo e, em seguida, rio abaixo, a cabeça. Os pescadores, que antes não tinham conseguido pescar nada, encheram as redes com uma quantidade abundante de peixes.
No local foi criado um pequeno altar como forma de agradecimento a Nossa Senhora pelo seu primeiro milagre. Nascia ali uma devoção à santa, nomeada Nossa Senhora Aparecida. Foi durante o Congresso Mariano que o líder do episcopado brasileiro, dom Sebastião Leme, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, apresentou aos bispos a proposta para pedir à Santa Sé (Vaticano) que declarasse Nossa Senhora Aparecida a Padroeira do Brasil. A nomeação aconteceu em julho de 1930, pelo papa Pio 11.
 
 
 
A celebração
 
A Arquidiocese de Brasília celebra, amanhã (12), a festa de Nossa Senhora Aparecida. Pela manhã, o evento contará com a Missa das crianças e, até as 12h, oferece programação especial para os pequenos. Às 17h será celebrada a Santa Missa dedicada à padroeira do Brasil. Logo após a Santa Missa, o fiel poderá participar da tradicional e solene procissão com a imagem da Padroeira e bênçãos para os doentes, governantes e família (traga sua vela). O evento contará com barracas de alimentação durante todo o dia.
 
 
 
Programação
 
» Manhã
 
» 8h30 — Santa Missa das crianças
» Ao final da missa: coroação de Nossa Senhora feita pelas crianças. 
» Logo após a missa: festival de sorvete, pescaria de brinquedos infláveis e sorteios

» Tarde
 
» 13h30 — Oração do Ofício de Nossa Senhora. 
» 14h — Oração do santo terço meditado 
» 15h — Homenagem dos Jovens à Nossa Senhora.
» 16h — Momento Missionário
» 16h30 — Preparação para a Santa Missa
» 17h — Missa solene
» Logo após a Missa: solene procissão com a imagem da padroeira e bênçãos para os doentes, governantes e família
 
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Correio Braziliense quinta, 10 de outubro de 2019

EMBAIXADA DA PAZ: O LEMA É FAZER O BEM

 

O lema é fazer o bem
 
A Embaixada da Paz, fundada ontem em cerimônia no Jardim Botânico, reunirá pessoas interessadas em se envolver em ações solidárias e ajudar cidadãos em situação de vulnerabilidade social.

 

DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 10/10/2019 04:00

 

Cerca de 60 pessoas celebraram ontem o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz: espiral que se transforma em Sol (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Cerca de 60 pessoas celebraram ontem o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz: espiral que se transforma em Sol

 

 

Definir o significado de paz pode ser uma tarefa complexa. Muitas pessoas associam o termo apenas a calma, tranquilidade e ausência de conflitos, mas não imaginam a pluralidade da palavra. O conceito ganhou até entidade própria: a Embaixada da Paz. O projeto, fundado e presidido pela atriz e escritora Maria Paula Fidalgo, visa promover iniciativas que contribuem para o avanço da cultura de paz, dar visibilidade a ações voluntárias e ajudar cidadãos em situação de vulnerabilidade social.

Ontem, mais de 60 pessoas, entre participantes da iniciativa, convidados e autoridades públicas se reuniram no Jardim Botânico para celebrar o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz e oficializar a fundação da entidade. A imagem do balsão representa uma espiral, que se transforma em Sol. “O contrário de paz é estagnação; então, a nossa entidade nasce com esse propósito de fazer com que as pessoas saiam da zona de conforto e venham praticar o bem”, destaca Maria Paula.
A solenidade começou com a apresentação da Orquestra Reciclando Sons, formada por estudantes da Cidade Estrutural e idealizada pela maestrina Rejane Pacheco. Uma das músicas tocadas foi em homenagem a Maria Paula. “É tão lindo encontrar em alguém o desejo de fazer o bem. Sua luz vai me fazer vencer”, diz um dos trechos.

A atriz Maria Paula é fundadora e presidente da Embaixada da Paz (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A atriz Maria Paula é fundadora e presidente da Embaixada da Paz

 


A Embaixada da Paz funcionará como ambiente propício para ajudar as pessoas a praticarem os bons costumes e hábitos. Ações voluntárias, palestras e programas de mentoria também serão postas em prática. Recentemente, a embaixada, em parceira com a União Internacional de Telecomunicações (UIT) da Organização das Nações Unidas (ONU), criou um programa de treinamento na área da tecnologia para meninas da Estrutural em situação de vulnerabilidade. Por dois dias, as adolescentes aprenderam conhecimentos básicos de informática e participaram de rodas de conversa sobre empoderamento feminino. “Isso é um compromisso sério que estamos fazendo. Temos de fazer o exercício diário de nos tornarmos melhores seres humanos. Quando perceber que está falando mal de alguém, por exemplo, mude de pensamento. Vamos fazer a escolha de seguir a paz, pois levaremos nossos amigos e familiares para o caminho certo”, destaca a atriz.

Bons costumes
A coordenadora de programa da UIT, Vera Zanetti, foi uma das primeiras funcionárias da organização desde a abertura do escritório no Brasil, em 1992. Segundo ela, o conceito de paz refere-se a fazer o bem a alguém sem ter proveito próprio. Durante a trajetória na profissão, ela implementou e coordenou projetos no país no setor de telecomunicações. “O meu trabalho está ligado ao empoderamento. Temos beneficiado grupos vulneráveis, como indígenas, idosos, crianças, mulheres e pessoas com deficiência. Então, auxiliamos na inclusão e no desenvolvimento social e econômico”, ressalta.

Um de seus programas é capacitação e formação de povos indígenas na área da tecnologia. Desde 2005, ela treina esse público para criar sites, mexer no celular, desenvolver conteúdos, entre outros. No total, mais de 3.280 mil indígenas da América Latina, incluindo o Brasil, serão beneficiados. “Há muita evasão, pois alguns precisam viajar mais de duas horas de barco para chegar à comunidade que tem o computador. Mas, os que conseguem terminar o curso, são muito guerreiros. É gratificante de ver”, conta.

O contador Marcelo Pollo, 57 anos, é um dos voluntários da Embaixada da Paz. Ele ingressou no grupo depois de conhecer Maria Paula. Desde então, percebe as mudanças na vida depois de praticar bons costumes. “Acaba que passamos a ter mais empatia pelo outro. Pensamos mais, convivemos mais e percebemos que o nosso problema pode ser muito menos em comparação ao de outra pessoa”, argumenta.

*Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart
 
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Correio Braziliense quarta, 09 de outubro de 2019

PEDIATRIA: CAMINHO MAIS LEVE

 

Caminho mais leve
 
 
Hospital da Criança de Brasília inaugurou nove carrinhos que serão usados para transportar os pacientes às salas de exame. O intuito é deixar o tratamento mais confortável para crianças e adolescentes

 

 CAROLINE CINTRA

Publicação: 09/10/2019 04:00

Quando soube que poderia pilotar um dos carros, Laura correu para o mais alto deles e se divertiu com o pai, José Gleisson (Ma Ferreira/CB/D.A Press)  

Quando soube que poderia pilotar um dos carros, Laura correu para o mais alto deles e se divertiu com o pai, José Gleisson

 


Antes mesmo da chegada do Dia das Crianças, comemorado no próximo sábado, os pacientes do Hospital da Criança de Brasília José Alencar foram presenteados. Ontem, a unidade de saúde inaugurou carrinhos motorizados que serão usados para o transporte às salas de exame. O intuito é promover atendimento humanizado, a fim de buscar diminuir o desconforto causado pelas doenças e tratamentos. Além disso, a adoção dos veículos pode estimular meninos e meninas a saírem dos leitos.

A frota é composta por nove veículos: quatro elétricos, que podem ser conduzidos pelas próprias crianças; dois elétricos guiados por controle remoto e três não motorizados. O superintendente executivo do HCB, Renilson Rehem, explicou que existe uma preocupação em fazer da unidade um ambiente menos hospitalar, leve e lúdico. “Hospital gera uma mudança grande na vida da criança. Iniciativas como essas deixam a criança mais relaxada e menos tensa. Isso interfere até no procedimento que ela vai passar. Faz com que a cirurgia transcorra melhor, por exemplo”, disse.

Evento de lançamento dos carrinhos contou com a presença do Detran-DF, que montou um cenário de pista  

Evento de lançamento dos carrinhos contou com a presença do Detran-DF, que montou um cenário de pista

 


Renilson contou que o uso dos carrinhos começou com dois sem motor. Devido ao sucesso entre as crianças, o hospital comprou dois motorizados. Outros dois foram doados à unidade: um por funcionários do próprio HCB — que se mobilizaram e realizaram uma vaquinha para arrecadar o valor —, outro por um grupo de associados do Iate Clube, que juntou a quantia durante um torneio de beach tennis. A vice-diretora da equipe de tênis de praia, Cecília Moço, fez questão de prestigiar o evento de entrega dos carrinhos. “É uma vontade de chorar o tempo inteiro. A gente deixa de ser egoísta, doa um tempo para ajudar as crianças, sai do trabalho para ver o rosto e a alegria de cada um deles”, declarou.

Sorrisos e olhos brilhando. Assim as crianças receberam a novidade no hospital. Momentos de distração e entretenimento aliviam a tensão dos dias ali. Há menos de um ano, Francisco Moura, 4 anos, descobriu uma leucemia. Desde que recebeu o diagnóstico, faz acompanhamento no Hospital da Criança. Como a doença é de alto risco, ele passa por ciclos de consultas e internação. Ontem, poder conduzir um carrinho motorizado o deixou muito feliz. “Achei legal andar. Quando vi já quis subir logo nele. Não é a primeira vez que ando num desses, mas esse é bem mais legal”, disse.

Frota tem quatro carros elétricos conduzidos pelas crianças, dois guiados por controle remoto e três não motorizados  

Frota tem quatro carros elétricos conduzidos pelas crianças, dois guiados por controle remoto e três não motorizados

 


Para a dona de casa Patrícia Galvão, 21, ações como esta aliviam o peso do tratamento, muitas vezes diário. Ela é mãe da Angella Rebeka Lisboa, 3. Em 16 de agosto, a criança foi diagnosticada com leucemia e, de três em três semanas, precisa retornar ao hospital para fazer quimioterapia. “Esse hospital é muito bom, mas o ambiente hospitalar é ruim. Desta vez, precisamos ficar mais tempo. Estamos desde quarta-feira (da semana passada) e sem previsão de alta. Gostei do que fizeram hoje (ontem) porque eles ficam felizes e se divertem muito”, destacou.

Morador de Valparaíso, Carlos Eduardo Apolinário, 5, está há um mês internado, com pedras e pus nos rins. Sem previsão de alta, ele encontra nos períodos de entretenimento motivos para sorrir. A mãe dele, Renata Albuquerque, 36, destacou que o tratamento é tão pesado para o paciente quanto para os familiares. Ela reveza o acompanhamento com o pai da criança. “Participar dessas ações incentiva a gente também. Porque, no quarto, os médicos podem chegar a qualquer momento com alguma notícia ruim. Agora, consegui relaxar um pouco. Estamos felizes”, afirmou.

Quando viu os carrinhos no corredor, Laura de Carvalho, 9, não recebeu uma boa notícia. “Disseram que ela não podia andar por causa da contenção onde fica o medicamento que ela toma na veia. Ela correu para o quarto e chorou muito”, contou o pai dela, o bancário José Gleisson Neves, 35. Em seguida, ela recebeu a liberação e correu para se divertir. “Atropelei um guarda e quase o meu pai também”, brincou a criança.

Diagnosticado com linfoma de burkitt — câncer que atinge os glóbulos brancos conhecidos como linfócitos — há um mês, Gabriel Mangueira, 4, acabou perdendo a sensibilidade das pernas. Mesmo com a adversidade, não ficou de fora da brincadeira. Com uma cadeira de rodas fez todo o circuito montado no corredor do hospital. “Essa dinâmica é muito importante, porque qualquer distração é bem-vinda. Eles ficam muito tempo no quarto. Apesar do momento difícil, o sorriso dele é uma vitória para nós”, disse o pai, o bancário Wesley Mangueira, 34.

Agentes de trânsito
A inauguração dos carrinhos ocorreu junto a uma ação do Departamento de Trânsito (Detran), que montou um cenário de pista, com direito a faixa de pedestres, sinalização e até multa por infrações. Houve também distribuição de material educativo para as crianças, com dicas de comportamento no trânsito.

O chefe do núcleo de campanhas educativas do Detran, Miguel Videl, afirmou que o órgão, sempre que possível, faz parceria com o Hospital da Criança. Ele lembrou que, para esta ação, foram chamados em cima da hora, mas ressaltou que “não dava para não atender a um pedido deles”. Para ele, ensinar as crianças sobre o bom comportamento no trânsito faz com que elas se tornem agentes mirins, que orientam os pais quando fazem algo de errado.

Além do Detran, o evento contou com a presença de voluntários que levaram alegria para os pacientes e acompanhantes com teatro de fantoches e músicas. Com apenas um violão, a Sinfonia da Saúde da Abrace — instituição que oferece assistência social para crianças com câncer — fez a festa no corredor do hospital. Eles estão todos os sábados na unidade de saúde. Ontem, abriram uma exceção e alegraram ainda mais a manhã das crianças.

“É algo que muda a nossa vida. A gente vem para dar, mas recebe mais. É uma alegria estar com as crianças, levar alegria por meio da música. A gente tem que ganhar na Mega-Sena para parar de trabalhar e dedicar 100% do nosso tempo aqui”, brincou a voluntária Daniele Serafim. O músico José Henrique Fonseca disse que sai das apresentações transformado. “O resultado do que fazemos é maior dentro de nós mesmos. Me sinto mais ganhador cada dia que venho aqui.”
 
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Correio Braziliense terça, 08 de outubro de 2019

A NOVA GERAÇÃO DO SERTANEJO

 

A nova geração do sertanejo
 
 
Ritmo que domina as paradas musicais no Brasil abre espaço para nova leva de artistas. Conheça nomes de sucesso nacional e veja quem está bombando em Brasília

 

Adriana Izel

Publicação: 08/10/2019 04:00

De tempos em tempos, a música sertaneja passa por uma renovação. O gênero incorpora novas sonoridades, influências e mensagens, normalmente abraçadas por uma nova geração. Como aconteceu em outras oportunidades, esse é um momento em que o estilo musical está repleto de novos artistas. O Correio apresenta alguns dos novos nomes que têm feito sucesso no âmbito nacional e também aqueles que estão dando os primeiros passos na carreira em Brasília. Confira!
 
 
 (Sony Music/Divulgação)  
 
Yasmin Santos
Apontada como a “nova Marília Mendonça”, a cantora e compositora Yasmin Santos, 21 anos, chamou a atenção assim que lançou no ano passado a música Saudade nível hard, canção com mais de 53 milhões de visualizações no YouTube. A partir daí, a paulista começou a galgar espaço na música sertaneja com uma voz potente e composições ao melhor estilo sofrência. “Minha paixão (pela música) começou aos 7 anos, por conta dos instrumentos (musicais). Comecei a aprender violão, bateria, guitarra e percussão. Com 14 anos, escrevi a minha primeira música”, lembra a paulista.
Neste ano, ela gravou o primeiro DVD da carreira no Coração Sertanejo em São Paulo. O material é o ponto de partida para que o público conheça mais de Yasmin, que, está no topo das paradas com o primeiro single do material, Para, pensa e volta, gravado em parceria com Marília Mendonça — a música é a quarta colocada no ranking da Crowley, atrás de Milu (Gusttavo Lima), Ferida curada (Zé Neto & Cristiano) e Quando a bad bater (Luan Santana). “Gosto de falar de temas da nossa vida mesmo. Procuro letras que falam de paixão, de volta por cima e da sofrência”, revela.
Enquanto o DVD, que tem participação de Wesley Safadão, Gustavo Mioto e Maira & Maraísa não é lançado, Yasmin lançou Esquenta do DVD, com 10 músicas capazes de mostrar o que o público pode esperar do futuro dela no sertanejo. “Desde Saudade nível hard penso o repertório com muito carinho. Então, procuro trazer isso nos meus trabalhos”, conta. Sobre as influências, ela aponta, principalmente, a rainha da sofrência.
 
 
 ( Warner Music/Divulgação)  
 
João Gustavo & Murilo
Juntos como dupla desde 2016, João Gustavo & Murilo, de Mato Grosso do Sul, viram o reconhecimento quando lançaram no ano passado Lençol dobrado. O hit atingiu mais de 89 milhões de visualizações no YouTube, garantiu um contrato para os artistas com uma gravadora e um remix da música. “Não esperávamos que Lençol dobrado ia ter todo esse sucesso. A gente sempre almeja e sonha”, revela João Gustavo.
Aproveitando a boa repercussão da música, que até hoje aparece no top 100 da Crowley, os artistas divulgaram, neste ano, o EP Viciando (Ao vivo). “A gente tinha uma necessidade de mostrar nossa cara nesse projeto. Foi a necessidade de fazer algo diferente, de mostrar a nossa cara”, afirma João Gustavo.
O disco revela essa similaridade de João Gustavo e Murilo com artistas já consagrados do cenário, como Matheus & Kauan, e a ousadia em apostar num sertanejo com batidas mais eletrônicas, pops e dançantes. “Lençol dobrado tem uma característica do que a gente faz desde o início. A gente precisava de uma música muito bem produzida, voz e violão com sanfona, mas que tivesse também uma essência do pop, que são as batidas graves”, explica Murilo.
 
 
 (Texto Mais Ideias/Divulgação)  
 
Hugo & Guilherme
Os goianos Hugo & Guilherme estão juntos como dupla desde 2016. No ano passado, eles conquistaram o grande público com lançamento de No Pelo em Campo Grande (Ao vivo), material com 19 músicas, entre elas o hit Namorada reserva. “Essa música entrou quase no final do disco e acabou se tornando a nossa música de trabalho. Para nossa surpresa, entrou na trilha sonora de A dona do pedaço, e colaborou para uma visibilidade ainda maior. Isso a gente sentiu também nos shows. A galera já sabia cantar antes de a gente ter soltado no YouTube. Namorada reserva foi um presente para a nossa carreira”, avalia Guilherme.
A carreira sertaneja começou depois que eles se conheceram em 2015. “Canto desde os 7 anos, já participei de duas duplas sertanejas e depois segui carreira solo. Em uma apresentação em Goiânia, conheci o Guilherme que, até então não cantava profissionalmente. A afinidade bateu na hora e a galera achou que a nossa sonoridade combinou. Em 2016, gravamos nosso primeiro álbum, um acústico”, lembra Hugo.
 
 
 (Ariel Farias/Texto Mais Ideias)  
 
Léo Pain
Vencedor da sétima temporada do The voice Brasil, o sertanejo Léo Pain deu os primeiros passos na música sertaneja após a projeção da competição com a divulgação do material Mesa de bar (Ao vivo). Também em 2019, lançou o primeiro volume de Perdido e apaixonado (Ao vivo em São Paulo), EP de seis faixas que o colocou no topo das paradas, graças ao sucesso da música Perdido e apaixonado, gravada em parceria com o ex-técnico Michel Teló, que está na 30ª posição na lista da Crowley.
“Foi um sonho realizado. Sair de Santa Maria (RS) para São Paulo, gravar um DVD e contar com participação de Michel Teló. Foi um grande presente para comemorar a nossa vitória no programa. Nesse álbum, procurei trazer um trabalho mais intimista, para conseguir passar a minha verdade. Fiz todo o processo da escolha do repertório e privilegiei as canções mais românticas”, revela.
Apesar da carreira de Léo Pain ter se tornado pública para o Brasil todo no ano passado, ele começou a cantar com 13 anos. “Sempre gostei da música sertaneja, mas foi no programa que amadureci e pude aprender muito do que sou hoje”, conta. 
 
 
 (Leve Press/Divulgação)  
 
Alex Fava
Após se tornar conhecido pelo sertanejo tradicional, o paulista Alex Fava lançou, neste ano, um novo conceito para o estilo: o sertanejo social. Para ele, essa é uma forma de trazer para o ritmo tão popular mensagens mais profundas. Assim surgiu o Projeto Consciência, formado por quatro faixas: Todo mundo tem um anjo, 4 patas, Devolva meu coração e Vô. “A minha motivação foi a mensagem que eu queria passar, que fosse algo diferente para o meu público e que também tivesse o intuito de mostrar assuntos que, até então, muita gente desconhecia, com o abandono de idosos, abordado em Vô”, conta.
Atualmente, o artista trabalha a música Todo mundo tem um anjo, faixa que presta homenagem às pessoas que ajudam outras, e também já pensa em um projeto mais voltado para o sertanejo romântico e dançante, que o tornou conhecido quando lançou o álbum Mais dias com você (2017). “Estamos pesquisando ainda, mas tenho certeza que será demais”, garante. “Acredito que o sertanejo está sempre em alta por conseguir mesclar diferentes gênero musicais. Eu mesmo já gravei com dois MCs e sou a favor dessa mistura. Gosto muito da sonoridade que temos hoje, principalmente na questão da criação, os produtores e os artistas não têm medo de ousar. E isso acaba dando uma nova cara a música sertaneja”, avalia.
 
 
 (Adilson Cruz/Divulgação)  
 
Ana e Bella
Neste ano, as amigas Ana e Bella resolveram se lançar no mercado sertanejo de Brasília. Para isso, as cantoras gravaram nos últimos dias o DVD Ana e Bella Essencial, na Cruls Cervejaria, que será lançado nas plataformas digitais em breve, e traz um repertório inédito. “Nós gravamos um DVD todo autoral. Essa foi a estratégia usada por grandes cantoras do estilo: Marília Mendonça e Maiara & Maraísa apostaram em músicas próprias e ganharam o mundo. No nosso DVD gravamos cinco músicas compostas em parceria com a Piqui Hits de Goiânia, com produção de Elimar Ramile”, anuncia Ana.
Por se conheceram há muitos anos, as cantoras decidiram se juntar no projeto musical e misturar os estilos: Bella cresceu cantando rock em Curitiba, enquanto Ana, que nasceu em Trombas (GO), sempre teve o sertanejo na veia. O principal objetivo das duas é mostrar a força das mulheres no ritmo, até por isso, apostam em canções com o empoderamento como tema. É o caso da música Diferenciada, que integra o repertório do DVD, que tem ainda as músicas como Amor à três, Coração é circo, Pegada envolvente e Agulha no palheiro.
 
 
 (Graziela Maciel Assessoria/Divulgação)  
 
Graziela Maciel
Carioca radicada em Brasília, Graziela Maciel, 18 anos, investe, neste ano, de vez na carreira musical. Desde os 9 anos, quando ganhou o primeiro violão, ela já se envereda na música. Quando fez 13 anos, se mudou para Brasília e lançou a primeira música autoral, a faixa Nossa relação, canção que tem 4 mil visualizações no YouTube. No ano passado, lançou a segunda canção autoral: Eu me obrigo a não voltar. No próximo dia 19, fará o lançamento oficial da carreira em evento no Centro Hípico, no Lago Sul.
“Mesmo quando morava no Rio de Janeiro, eu já ouvia muito sertanejo. Gosto muito de Marília Mendonça”, revela. Com duas músicas autorais já lançadas, o plano agora é fazer um EP com cinco músicas também compostas por ela. “Quero soltar e começar a fazer mais show por Brasília”, diz. No lançamento da carreira, Graziela fará um show em que mistura modão e o sertanejo atual no projeto intitulado Mesa de bar. “O meu planejamento é sempre cantar e mostrar a realidade que a gente vive como mulher, ou seja, a sofrência mesmo e, quando puder, a volta por cima”, afirma, entre risos.
 
 
 (Felippe Fernandes/Noise Filmes/Divulgação)  
 
May Lopes
A brasiliense de 27 anos sempre sonhou em ser cantora. Há sete meses, May Lopes largou um emprego formal em uma multinacional e resolveu investir no antigo desejo. A escolha pela música sertaneja foi uma surpresa, já que a família de artista é formada por músicos do cenário gospel. “Foi desafiador, mas escolhi o sertanejo por influência dos meus amigos. Eu também sempre andei muito no meio sertanejo, sempre achei um espetáculo muito bonito”, avalia.
A possibilidade de misturar ritmos também foi o que a incentivou na escolha pelo ritmo. No primeiro single, Aproveitou que eu tava com saudade, May mistura o funk e o sertanejo em uma música com participação de Humberto & Ronaldo. “Logo no meu primeiro single consegui a participação de Humberto & Ronaldo. Gravei o clipe com eles. Fizemos imagens em Brasília e em Goiânia. Fiquei muito surpresa com a repercussão”, afirma. Com apenas quatro meses, o videoclipe já tem mais de 12 mil visualizações no YouTube e 21 mil acessos no Spotify.
 
Colaborou Roberta Pinheiro
 
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Correio Braziliense segunda, 07 de outubro de 2019

CÂNCER DE MAMA: PÁGINAS DE SUPERAÇÃO E ESPERANÇA

 

Páginas de superação e esperança
 
 
Outubro é o mês da campanha de prevenção do câncer de mama. Mulheres que venceram a doença contam a experiência em livro

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 07/10/2019 04:00

Três das 40 mulheres que participaram da coletânea Nossa história, nosso milagre!
 (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

Três das 40 mulheres que participaram da coletânea Nossa história, nosso milagre!

 

 
“Viver a vida por mais que esteja difícil. Tentar viver da forma mais leve possível”. As palavras são da professora Suzana 
Mahmud Said, 44 anos. O intuito é incentivar mulheres que descobriram recentemente o câncer de mama. Ela foi diagnosticada com a doença em julho de 2018. Um nódulo no seio direito, que apareceu inicialmente como benigno, trouxe uma das notícias mais difíceis que ouviu na vida. No entanto, preferiu encarar o lado positivo da situação. Com otimismo, fé e apoio da família, a batalha foi vencida. A cura veio neste ano.
 
Suzana lembra que, ao abrir o resultado com o diagnóstico do câncer de mama em casa, os filhos dela, de 12 e 19 anos, começaram a chorar. “Foi nessa hora que percebi que quem tinha de ser forte era eu”, conta. A mãe da professora teve a mesma enfermidade aos 48 anos. Após dois anos de luta, morreu devido a uma metástase. “Quando foi a minha vez, acreditei muito no que os médicos falaram. Como descobri no início, a chance de cura era grande, e eu confiei.”
 
Suzana começou o tratamento e, 14 dias após a primeira sessão de quimioterapia, o cabelo começou a cair. “Ele é nossa moldura. Para nós (mulheres), representa muito poder. Ao perdê-lo, parece que as forças vão embora. Mas, para mim, foi a criação de uma personagem. Antes, fazia progressiva e chapinha o tempo todo, e, de repente, me senti livre disso tudo”, diz. Os meses com câncer a fizeram adotar uma nova rotina. “Comecei a fazer caminhada e corrida. Tinha dia em que eu esquecia a doença. Ver gente na rua ajudou na minha recuperação”, garante.
 
Para a gerente de vendas Suramya Soares, 40, a notícia chegou de forma dura. “O médico abriu o resultado e já avisou que eu perderia o cabelo e teria que tirar uma mama. Disse que não tinha outra forma de me contar aqui. Na hora, fiz até uma brincadeira, porque foi algo que eu não quis acreditar. Não tenho casos na família e não imaginava passar por isso.” Ela lembra que saiu da consulta passando mal. O diagnóstico saiu em 7 de fevereiro de 2018. No mês seguinte, em 13 de março, foi a primeira quimioterapia.
 
“O cabelo começou a cair. Quando vi aquilo, engoli o choro, mas eu não quis raspar e cortei na altura do ombro. Depois de uns dias, minha irmã apareceu careca. Ela raspou antes de mim para me incentivar. Aquilo me deu uma força tão grande. O medo era do preconceito das pessoas, mas foi tranquilo. Foi tão bom tomar banho carequinha”, brinca. Em 21 de novembro do ano passado, Suramya passou pela cirurgia de retirada da mama e, hoje, espera pelo procedimento de reconstrução do órgão. Também está curada.
 
A publicação
 
Parte dos dois relatos estão no livro Nossa história, nosso milagre!, que será lançado na próxima terça-feira, no auditório da Legião da Boa Vontade (LBV). Cada uma escolheu um tema para abordar relacionado à doença. A obra relata o tratamento de 40 mulheres que tiveram ou têm câncer. Mas nem só de narrativas positivas a publicação é feita. Pessoas que perderam alguma parente vítima da doença também contaram a vida antes, durante e após o tratamento.
 
A ideia do livro surgiu depois de uma série de conversas informais entre médico e paciente. A mastologista Thereza Racquel de Mello, durante 11 meses, acompanhou e tratou a professora Rosilda de Souza, que descobriu o câncer em 2018. Após a trajetória, elas tiveram a ideia de escrever um livro que falasse sobre superação. Com a ajuda da oncologista Ludmila Thommen, especialista em câncer de mama, e da residente em mastologia Daniela Omar, Thereza e Rosilda se uniram ao projeto.
 
“Não imaginei que uma das piores coisas que aconteceram na minha vida me trouxesse orgulho depois. Quando tive a doença, chorei demais. Recebi o apoio da minha família, mensagens, cartas de alunos. Tudo isso me dava vontade de ficar boa logo”, destaca a professora. “Em toda consulta, eu falava para a doutora Racquel que estava cansada de ficar em casa. Já tinha assistido a todas as séries. Precisava fazer algo novo. Foi quando ela me chamou para fazer parte desse projeto tão legal, que pode mudar a forma de diversas mulheres verem o câncer de mama”, lembra Rosilda.
 
Para Thereza, a proposta é ajudar outras pacientes a enfrentarem a doença ainda no início e mostrar que existe solução e cura. “Cada história e cada tratamento são diferentes, mas as pacientes se sentem mais confortáveis quando se identificam com as outras.”
 
Outubro Rosa
 
Este mês é voltado para a prevenção do câncer de mama. A oncologista Ludmila Thommen ressalta que o período é marcado como estímulo para as mulheres fazerem exames. Porém, alerta que a saúde feminina deve ser prioridade durante o ano todo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a chance de cura ultrapassa 95% quando o diagnóstico é precoce.
 
“As mulheres precisam ter o hábito de se conhecer. Caso identifiquem algo diferente, devem procurar um médico imediatamente, seja um mastologista, seja um ginecologista. Além disso, fazer os exames todo ano. Vale lembrar que o câncer de mama também pode ser diagnosticado em homens. É mais raro, mas acontece. As pessoas pensam no câncer de mama como algo que leva à morte, mas, não, ele tem cura”, ressalta a médica.
 
 
Lançamento e autógrafos do livro Nossa história, nosso milagre!
8 de outubro (terça-feira). Auditório da Legião da Boa Vontade (LBV) — SGAS 915, Asa Sul. A partir das 19h. Para solicitar o livro, entrar em contato pelo e-mail outubrorosa2019@gmail.com
 
 
 
Hábitos que ajudam a prevenir o câncer de mama
• Alimentar-se de forma saudável
• Amamentar
• Evitar bebidas alcoólicas
• Evitar uso de hormônios sintéticos, como anticoncepcionais e terapias de redução hormonal
• Manter o peso corporal adequado
• Praticar atividade física
Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)
 
 
 
Números
• Estimativa de novos casos no Brasil em 2019: 59.700
• 1% do total de registros de câncer de mama no Brasil é diagnosticado em homens
• Uma em cada seis mulheres terá câncer de mama no Brasil
 
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Correio Braziliense domingo, 06 de outubro de 2019

VOCAÇÃO PARA A MODERNIDADE

 

Vocação para a modernidade

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 06/10/2019 04:00

Ana Arruda (D) com equipe:  

Ana Arruda (D) com equipe: "A sombra do funcionalismo público às vezes intimida pessoas criativas para a área do empreendedorismo"

 

 
A recuperação do crescimento do Distrito Federal, além de levar otimismo para o mercado, abre caminho para novas tendências da economia. Para além de setores consolidados, como construção civil ou agropecuária, o mercado produtivo no DF deve crescer com atividades nas áreas de inovação, tecnologia, economia criativa e saúde ao longo dos próximos anos. As projeções de melhora nessas áreas levam em conta não apenas questões de envelhecimento da população e altos níveis de educação — a Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, é a oitava melhor instituição de ensino superior do Brasil —, mas também o fato de a capital federal concentrar a maior renda domiciliar per capita do país.
 
Especialistas apostam na expansão de setores considerados pontos fortes do DF. Presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/DF), o professor César Bergo vê potencial no agronegócio e na indústria tecnológica. Espaços como o Parque Tecnológico de Brasília (BioTIC) podem auxiliar nesse sentido, segundo ele. No entanto, o atendimento à demanda e a retenção de pessoal capacitado ainda necessitam de atenção. “A mão de obra em Brasília é qualificada. Se houver demanda e empresários para investir, estaremos preparados. Mas temos de ter a visão de que ainda não existe um polo que atraia essas pessoas”, destaca Bergo.
 
O economista também cita a posição geográfica do DF em relação ao restante do país e o fato de Brasília concentrar embaixadas como fatores que dão propulsão para a aviação civil e o turismo. Diante de uma população que envelhece e tende a passar de 3,24 milhões em 2025, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a busca por serviços complementares na área de saúde também tende a subir. “Essa área é prioritária. Nos próximos anos, acho que a cidade também demandará negócios nos ramos de lazer, gastronomia. É preciso lembrar o perfil da população. Aposentados com alto poder aquisitivo vão demandar serviços”, sugere César.
 
Empreitada
 
Focada no setor audiovisual e investindo no cinema como arte e instrumento de diálogo com outras áreas da economia criativa, Ana Arruda, 36 anos, fundou, em 2005, a Sétima Produções. Sete anos depois, surgiu o Festival Curta Brasília, um dos carros-chefes da firma, sediada na Asa Norte. A mostra alcançou não apenas trabalhos de outras unidades federativas, como também internacionais.
 
A vocação artística da capital federal é um dos fatores que contribuem para o sucesso de empreitadas nesse setor, segundo Ana. “O que vejo é que essa sombra do funcionalismo público às vezes intimida pessoas criativas para a área do empreendedorismo. Mas, se elas abrirem os olhos para o que está acontecendo no mundo e aplicarem conceitos inovadores nas próprias empresas, teremos uma crescente muito boa”, considera.
 
No sentido de evitar a evasão de talentos, a empresária cobra incentivos públicos e privados para o setor criativo. “Um dos problemas mais graves das políticas públicas no Brasil é a falta de planejamento e manutenção, o foco, na inauguração e no marketing da ação, não na manutenção (das iniciativas e espaços). Isso é uma coisa simples de ser diagnosticada e que precisa acontecer, pois temos tido retrocessos orçamentários e produtivos de quatro em quatro anos”, alerta Ana.
 
Cristiane (E), Crislene e Alexandre investem em modelo de apoio a novos negócios, no Guará (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 3/10/19)  

Cristiane (E), Crislene e Alexandre investem em modelo de apoio a novos negócios, no Guará

 

 
Reação
 
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ruy Coutinho, acredita que o Distrito Federal acompanhará as tendências globais quanto ao desenvolvimento do setor de alta tecnologia, especialmente diante das restrições para a instalação de indústrias de grande porte na unidade federativa. Ele ressalta que políticas de segurança jurídica e econômica contribuem para atrair investimentos. “Acho que vamos assistir a uma mudança na matriz econômica do DF. Ela vinha muito apoiada em governo (administração pública) e na construção civil, sendo que o primeiro vem decaindo”, observa.
 
Coutinho acrescenta que a expectativa de melhora na construção civil depende de uma reação consolidada da economia distrital. Apesar da recuperação desse ramo nos últimos três meses, ele confia em um crescimento só após a retomada do poder de compra da população. “Se você não tem uma economia reagindo, criando emprego em setores que estão se desenvolvendo, não tem renda para um desenvolvimento de mercado de maneira operante”, analisa. “A população ficou escaldada com uma série de crises. Ela ainda não tem recursos para sair gastando, consumindo”, completa o secretário.
 
Por outro lado, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon/DF), Dionyzio Klavdianos, afirma que há otimismo no setor para os próximos anos. Ele conta com a manutenção dos hábitos de consumo devido ao poder aquisitivo dos brasilienses, independentemente do enxugamento da máquina pública. “É importante nosso setor ter um estudo específico para o (futuro do) DF. O quadro é positivo por uma série de razões. (Brasília) Tem a marca de ser a cidade do funcionalismo público, então, continuará uma cidade atrativa (para o ramo da construção)”, comenta.
 
 
 
“Acho que vamos assistir a uma mudança na matriz econômica do DF. Ela vinha muito apoiada em governo (administração pública) e na construção civil, sendo que o primeiro vem decaindo”
Ruy Coutinho, secretário de Desenvolvimento Econômico
 
 
 
 
3,24 milhões
Previsão de habitantes no Distrito Federal em 2025
 
 
 
Palavra de especialista
 
 
Dicas para negócios
 
O Distrito Federal é praticamente comércio e serviços. Não há uma indústria consolidada, à exceção da indústria de tecnologia, que é relativamente forte. Claro que o segmento de atuação é importante, mas também é preciso se dedicar àquilo que se escolheu e fazer com que aconteça. Não adianta entrar em um segmento só porque ele está em ascendência.
 
Primeiramente, você deve saber se terá tempo para se dedicar àquilo que está se propondo. É necessário estudar o mercado, saber qual é a demanda, estudar quem é o público-alvo. Se você vai atender aquele público, deve escolher o local ideal, ferramentas de marketing para poder vender e não ter preguiça. Há, ainda, a parte da oferta: quem são seus concorrentes; o que estão fazendo de certo e errado; o que é preciso fazer melhor que eles?
 
O DF pode ser referência na área de tecnologia e informação, e é possível usar esse segmento para alcançar outros. Claro que temos tendências, mas o mais importante é, quando for empreender, focar 100% no negócio. Estudar, aprender, participar de fóruns ligados àquele assunto e, se for o caso, buscar quem faça um estudo de mercado. Mais do que saber o setor, é preciso ter aptidão para fazer aquilo funcionar. O tripé do sucesso é: marketing, operação e finanças. Não adianta ter um bom e os outros não.
 
Felipe Guarçoni, economista e sócio da Kapital Projetos e Consultoria Financeira
 
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Correio Braziliense sábado, 05 de outubro de 2019

DIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS (4 DE OUTUBRO) - ANIMAIS ABENÇOADOS

 

Animais abençoados
 
Fiéis levaram os pets ao Santuário São Francisco de Assis, na Asa Norte, onde missas foram celebradas ao longo de todo o dia dedicado ao padroeiro dos bichos. Homenagem ocorre todo ano e atrai até moradores de fora da cidade

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 05/10/2019 04:00

Em meio a latidos, miados e cantos de pássaros, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets já na entrada da igreja
 (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Em meio a latidos, miados e cantos de pássaros, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets já na entrada da igreja

 

 (Frei Rafael com o mascote do santuário, o Bonaventura
)  
Cerca de mil bichos de estimação participaram ontem da bênção dos pets, realizada anualmente no Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Na igreja que tem o nome do santo, na 915 Norte, seis missas foram celebradas durante toda a sexta-feira.
 
A tradição existe desde a década de 1980 e atrai não apenas brasilienses, mas gente de outras unidades da Federação e até não praticantes da religião católica. Para o frei Rafael Pinheiro, responsável pelo santuário, a data é importante para lembrar que os pets também são criação de Deus. “Quando você homenageia algo criado por Ele, você o louva. Graças a Deus, as missas são cheias, e a energia é muito boa. Os animais dialogam entre eles”, brincou o religioso.
 
O frei lembrou diversas histórias sobre a vida de São Francisco de Assis. “Ele esteve em uma determinada cidade e não conseguia anunciar as palavras (de Deus). Começou a pregar para os pássaros. As aves começaram a se aproximar para ouvi-lo. Isso mostra intimidade”, contou. “Além de tudo, é vantajoso ter um animal em casa. Traz harmonia. Às vezes, alguém não se casou, não teve filhos. Claro que não substitui uma pessoa, mas é uma companhia. Conheço história de quem se curou de depressão porque tinha um animal. É muito interessante.”
 
O Santuário São Francisco de Assis tem o próprio mascote: o golden retriever Bonaventura. “Ele tem 3 anos e sempre está por aqui, fica na parte dos fundos da igreja. As pessoas são bem apegadas a ele. É o reflexo de que esta casa é para todos”, afirmou o frei Rafael.
 
Na entrada, vários freis recebiam os animais para benzê-los. Durante a missa, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets. Latidos, miados e cantos de pássaros não passavam despercebidos. Afinal, era tudo para eles.
 
Família grande
 
Enquanto a maioria das pessoas chegava com apenas um animal, o copeiro Henrique Monteiro, 46 anos, e a esposa, a aposentada Terezinha Antônia de Sousa, 60, levaram os quatro cachorros para a missa. O casal costuma resgatar animais de rua e cuidar enquanto buscam um lar para eles. Sirilo, Chinelo, Taysson e Puff são fruto dessa solidariedade. “As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”, ressaltou Terezinha.
 
Com dois gatos em uma das missas, a aposentada Solange Santos, 61, aproveitou para contar a história de Chiquinho, chamado assim em homenagem a São Francisco de Assis. O animal foi atropelado no início do ano, e a dona não quis mais. “A sogra da minha filha me contou a história e pedi para trazê-lo para mim. Dei banho, cuidei. Ele chegou quase morto na minha casa. Levei a uma clínica para gatos e lá cuidaram bem dele. É o nosso xodó.” Solange adota gatos há cerca de seis meses. Hoje, já são 10 felinos sob os cuidados dela.

Ana Christina Yida aproveitou para levar as calopsitas de estimação
 

Ana Christina Yida aproveitou para levar as calopsitas de estimação

 



Outras espécies
 
Nem só de cachorros e gatos é feita a missa em homenagem aos animais. Algumas espécies inusitadas marcaram presença. As calopsitas Príncipe Jorge e Lord Dian e a agapornis (espécie de pássaro) Laisa foram abençoadas ontem. A dona, Ana Christina Yida, 49, pediu mais saúde para as aves. “Peço para que vivam muito. São meus companheiros e não me imagino sem eles. Fiz questão de trazê-los para saírem um pouco de casa também.”
 
A juíza Josélia Fajardo, 41, levou o jabuti de estimação para receber a bendição. O animal é querido dos filhos dela — João Pedro, 8, e Maria Júlia, 6 —, e eles fazem questão de participar do momento. “É importante trazê-los para que tenham mais contato com Deus e com a natureza”, justificou.
 
"As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”
Terezinha Antônia de Sousa, aposentada 
 
Amor à natureza
Em suas peregrinações, São Francisco cultivou apreço excepcional pelos animais e pelo meio ambiente. Chegou a sugerir que a Igreja Católica passasse a receber animais nas missas. De família rica, o italiano da cidade de Assis também ficou conhecido como o santo dos pobres, após abrir mão da vida de luxo e dinheiro.
 
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Correio Braziliense sexta, 04 de outubro de 2019

DIA DE FESTA - QUINTETO VIOLADO E CLODO FERREIRA NOS 30 ANOS DO FEITIÇO MINEIRO

 

Dia de festa
 
 
Para comemorar o aniversário de 30 anos, o Feitiço Mineiro recebe Quinteto Violado e Clodo Ferreira

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 04/10/2019 04:00

Quinteto Violado revisitará projetos como Berra boi e Missa do vaqueiro (Fabiana Mello/Divulgação)  

Quinteto Violado revisitará projetos como Berra boi e Missa do vaqueiro

 

 
Artistas da mesma geração, o Quinteto Violado e Clodo Ferreira dividirão o palco do Feitiço Mineiro hoje e amanhã, às 21h, na abertura da programação comemorativa dos 30 anos do bar, restaurante e casa noturna da 306 Norte. O show, dividido em três partes, será aberto por Clodo. Em seguida, o Quinteto ocupa o palco; e no final, eles se juntam em cena.
 
Por conta da celebração da data, os protagonistas do espetáculo decidiram levar ao público canções que foram marcantes na trajetória de ambos. Acompanhado pelos filhos João Ferreira (violão), Pedro Ferreira (percussão), Vavá Afiouni (baixo) e Kaley Seraine (violino), Clodo inicialmente interpreta composições autorais como Mentira da saudade, Iluminura, parceria com Carlinhos 7 Cordas; e Conterrâneos, que fez com os irmãos Clésio e Climério.
 
“Vamos aproveitar a data festiva do Feitiço para revisitar momentos importantes de nossa carreira, como os dos projetos Berra boi e Missa do vaqueiro, além de homenagear Geraldo Vandré, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, na celebração do centenário desse grande nome da música nordestina e brasileira”, anuncia o vocalista e violonista Marcelo Melo. Ele tem a companhia de Dudu Alves (teclado e voz), Ciano Alves (flauta e violão), Sandro Lins (baixo) e Roberto Medeiros (bateria).
 
No enceramento, Clodo e os integrantes do Quinteto juntam as vozes cantando os clássicos Asa Branca (Luiz Gonzaga), Cavalo Marinho (Fernando Filizola e José Chagas)e Revelação (Clodo e Clésio Ferreira). Os arranjos para as composições de Clodo foram criados pelo Quinteto.
 
SERVIÇO
Quinteto Violado e Clodo Ferreira
Show comemorativo dos 30 anos do Feitiço Mineiro amanhã, às 22h, no bar restaurante da 306 Norte. O couvert artístico custa R$ 50, na parte interna; e R$ 35, na parte externa. Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: 3272-3032.
 
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Correio Braziliense quinta, 03 de outubro de 2019

ADRIANA VILLELA É CONDENADA A 67 ANOS E SEIS MESES, MAS SEGUE EM LIBERDADE

 

CRIME DA 113 SUL
 
Adriana é condenada, mas segue em liberdade
 
 
Após 10 dias e 103 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Brasília sentenciou a arquiteta a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado. Como respondeu ao processo fora da cadeia, não ficará presa até a defesa pedir a anulação do júri

 

» ALAN RIOS
» MARIANA MACHADO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 03/10/2019 04:00

Juiz Paulo Rogério Santos Giordano lê a sentença contra Adriana Villela: 32 anos de prisão pelo assassinato do pai, José Guilherme, e 32 pelo da mãe, Maria Villela
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Juiz Paulo Rogério Santos Giordano lê a sentença contra Adriana Villela: 32 anos de prisão pelo assassinato do pai, José Guilherme, e 32 pelo da mãe, Maria Villela

 


Após 10 anos, o Crime da 113 Sul, enfim, tem um desfecho. Adriana Villela, acusada de mandar matar os próprios pais, foi condenada a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelo Tribunal do Júri de Brasília. Em 28 de agosto de 2009, o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela; a advogada Maria Villela; e a empregada da família, Francisca Nascimento Silva, receberam, no total, 73 facadas dentro do apartamento do casal. Três homens estão presos e sentenciados pelo crime: Leonardo Campos Alves, Paulo Cardoso Santana e Francisco Mairlon Aguiar.
 
Apenas a filha dos Villela ainda não havia enfrentado o crivo da Justiça. Mas, por ter respondido ao processo em liberdade, ela terá a mesma prerrogativa para recorrer à segunda instância. Após 10 dias de julgamento, considerado o mais longo da história de Brasília, com 103 horas, os jurados decidiram pela condenação da arquiteta. A pena fixada pelo juiz Paulo Rogério Santos Giordano foi de 32 anos pelo assassinato de José Guilherme; 32 pelo de Maria Villela; e 23 pelo de Francisca; além de 3 anos e 6 meses pelo furto das joias da mãe.
 
Entendendo que a morte da empregada não aconteceu a mando da acusada, mas por decisão dos agressores a fim de assegurar a impunidade pelos demais homicídios, o magistrado dispensou a pena por esse crime. Na decisão, Paulo Rogério incluiu as qualificadoras de motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, “já que foram colhidas de surpresa e de forma abrupta dentro do próprio lar”.
 
Após o término do julgamento, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, classificou o resultado como a maior injustiça em 40 anos de advocacia criminal. “Tenho absoluta convicção da inocência dela, mas acho que fizeram aqui uma monstruosidade”, declarou. Ele afirmou que recorrerá, se preciso, ao Supremo Tribunal Federal (STF), não para pedir redução de pena, mas a anulação do julgamento. “Essa condenação é um erro judiciário inacreditável. Respeito o Tribunal do Júri, e vou ao Tribunal de Justiça (do DF e dos Territórios) para reverter essa monstruosidade de uma condenação absolutamente sem provas.”
 
O procurador de Justiça do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Maurício Miranda, no entanto, descarta a possibilidade de o júri ser cancelado. “Na matéria de prova, para anular, tem de ser um julgamento manifestamente contrário à prova dos autos”, explicou. Na prática, isso quer dizer que os advogados precisariam mostrar que houve inconstitucionalidade no julgamento. “Quando falamos de sustento, mostrando que tinha um arcabouço de provas, isso é mais do que suficiente para o Tribunal de Justiça não aceitar essa questão de julgamento manifestamente contrário.”
 
Na visão de Maurício Miranda, apenas uma questão muito fora da normalidade ou absurda poderia justificar a anulação, uma vez que a decisão do júri é soberana. Caso isso aconteça, Adriana passaria novamente pelo Tribunal do Júri de Brasília. A defesa pode pedir a redução da pena dada ontem. A decisão, no entanto, fica a cargo do Colegiado. O juiz avalia o pedido e pode tanto diminuir o tempo de condenação como aumentá-lo.

Após a condenação, a arquiteta não esboçou qualquer reação: abraço da filha, Carolina, e do irmão, Augusto (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Após a condenação, a arquiteta não esboçou qualquer reação: abraço da filha, Carolina, e do irmão, Augusto

 

Impassível
Horas antes de saber que seria considerada culpada, Adriana estava confiante e, pela primeira vez, fez uma declaração à imprensa ao chegar ao TJDFT, às 9h. “Sou inocente e agradeço por trazer isso à luz agora aqui”, afirmou. Durante a sessão, ela prestou atenção ao que era dito, e, como de costume, bocejou algumas vezes e chorou durante as falas da defesa. Entretanto, na maior parte do tempo, manteve o semblante sério.
 
Conhecida pela espiritualidade, sentou-se no chão e meditou enquanto os jurados decidiam o futuro dela. Ao ser informada pela equipe de advogados sobre a sentença, não reagiu. Apenas abraçou a filha, Carolina Villela, e o irmão, Augusto Villela. Durante a conclusão dada pelo juiz, manteve a expressão impassível, sem qualquer gesto que denunciasse sentimentos. Discretamente, ela deixou o plenário pela porta dos fundos, sem falar com ninguém.
 
Nos 10 dias de julgamento, acusação e defesa exploraram a personalidade de Adriana. Durante o interrogatório, ela admitiu ter usado drogas na adolescência, como cocaína, maconha, ácido e chá de cogumelo, mas disse não ser dependente das substâncias. A sentenciada admitiu que, aos 14 anos, pensou em se jogar da janela do apartamento onde morava para afetar os pais. Ontem, os defensores revelaram que nessa idade ela foi “induzida a um aborto”.
 
Adriana admitiu que tem um “estopim curto”. Desde o começo do júri popular, isso foi utilizado pelo Ministério Público para indicar a suposta agressividade e frieza suficiente para mandar matar os pais. Os promotores também mostraram um laudo psicológico de Adriana, feito por especialistas da Polícia Civil e embasado em análises de interrogatórios dela. No documento, ela é chamada de desafiadora, autoritária e com traços compulsivos, vitimização e dramatização. “O vínculo de mãe e filha era tão somente material. Uma relação de ‘patrocinadores’ quanto aos seus projetos sociais. Existia um interesse financeiro e um distanciamento da afetividade”, informa o laudo lido ontem.
 
No dia do próprio interrogatório, a ré se mostrou sensível aos assassinatos dos pais, chorando ao relembrar o dia em que descobriu o triplo assassinato. “Vi em fotos da Corvida a imagem da minha mãe morta. Isso me atormentou durante muito tempo. Eu fechava os olhos para dormir e aquela cena vinha à minha cabeça”, contou. Também ficou com a voz embargada ao comentar a brutalidade. “Depois de ter enterrado meus pais, li uma manchete no Correio Braziliense, em um fundo preto, em que o jornal dobrado estampava: ‘72 facadas’. Enterrei meus pais sem saber que eles foram chacinados dentro de casa. Minhas pernas tremeram e quase caí na banca de jornal”, disse.
 
 
 
Protesto pós-sentença
 
Antes da sentença, o juiz titular da Vara do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Rogério Giordano, pediu para que o público deixasse para se manifestar do lado de fora do plenário. Quando a imprensa começou as entrevistas com representantes da defesa e da acusação em um corredor do órgão, apoiadores da condenada começaram a gritar: “Adriana é inocente”. A segurança do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) retirou o grupo do local. Aproximadamente 20 pessoas participavam do ato. Não foi necessário o uso de força por parte dos vigilantes.
 
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Correio Braziliense quarta, 02 de outubro de 2019

LIBERTADORES: NOITE DE FUTEBOL ARTE

 

LIBERTADORES
 
O circo está armado
 
 
Em um dos duelos mais esperados da temporada, Grêmio e Flamengo prometem mais do que um jogo de futebol. O clima de semifinal oferece um charme a mais ao picadeiro: hoje tem espetáculo, sim, senhor

 

João Romariz*
Gabriel Escobar*

Publicação: 02/10/2019 04:00

 




Grêmio e Flamengo. Semifinal de Libertadores. Em jogo, o título de melhor futebol do Brasil e a vaga na final da maior competição do continente. De um lado, o insuperável Gabigol, o mago Arrascaeta e o mister português Jorge Jesus, que chegou incomodando, tentam quebrar o jejum de 38 anos do rubro-negro e chegar ao título mais uma vez. Do outro, o abusado Everton, Luan, o Rei da América de 2017, e o copeiro Renato Gaúcho buscam o tetracampeonato do tricolor gaúcho. Atrações não faltam no que será o grande espetáculo do futebol brasileiro em 2019. As duas equipes fazem o jogo de ida da semifinal hoje, às 21h30, na Arena do Grêmio.

O primeiro show da noite acontece na beira do picadeiro. Os treinadores Renato Gaúcho e Jorge Jesus resolveram iniciar o confronto semanas atrás com provocações. Em entrevistas coletivas, defenderam que os times que comandam apresentam o melhor futebol do Brasil. O português afirmou que o rubro-negro não é líder do Campeonato Brasileiro à toa. Além disso, declarou que os treinadores brasileiros são ultrapassados.

Por sua vez, o polêmico Renato Gaúcho não aceitou os comentários e defendeu o tricolor gaúcho como detentor do título de melhor futebol do Brasil e diminuiu o currículo de Jorge Jesus. Ainda afirmou que a razão para o sucesso do Fla é o investimento em um elenco de qualidade. Frente a frente pela segunda vez no ano, os treinadores terão a chance de provar quem apresenta o melhor e mais eficiente futebol.

Dentro de campo, as verdadeiras atrações abrilhantam o espetáculo. O embalado elenco flamenguista, que não perde uma partida há quase dois meses (4/8), tenta manter a boa fase e construir um bom resultado fora de casa, enquanto o Grêmio busca fazer jus à fama de copeiro e chegar a mais uma final de Libertadores.

Gabigol, artilheiro do Brasil no ano, e os parceiros Arrascaeta e Bruno Henrique são mais letais do que os atiradores de facas dos circos. No ano, o Flamengo soma 100 gols em 53 jogos oficiais, sendo 65 marcados pelo trio mágico. Fora de casa, o time também costuma marcar. São 37 tentos em 26 partidas longe do Maracanã. O desafio será furar a boa defesa gremista nesta noite.

Os tricolores sonham em dominar a América pela segunda vez em três anos. O time copeiro parece ter encontrado a fórmula do sucesso na Libertadores. Essa é a terceira vez consecutiva que o time chega às semifinais do torneio, mantendo a base do elenco campeão em 2017. Acostumados com grandes jogos e duelos duros, os comandados por Renato Gaúcho levam vantagem neste aspecto.O destaque do time é Everton, o Cebolinha, que conquistou vaga na Seleção Brasileira e desponta como o grande atacante do futebol brasileiro na atualidade. Além dele, Luan, o melhor jogador do continente em 2017, parece ter reencontrado o bom futebol. Nos últimos dois jogos, marcou contra Santos e Avaí, e é outro nome importante da companhia e esperança do torcedor gremista.

*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
 
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Correio Braziliense terça, 01 de outubro de 2019

REDAÇÃO: PARA APRENDER E FIXAR

 

Redação: para aprender e fixar
 
Em parceria com o Correio, escola particular promove oficina gratuita voltada ao Exame Nacional do Ensino Médio. Próxima edição será em 21 de outubro. Evento é aberto ao público em geral

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 01/10/2019 04:00

Estudantes lotaram o auditório: esforços para aperfeiçoar a escrita (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Estudantes lotaram o auditório: esforços para aperfeiçoar a escrita

 


 
A redação é um dos grandes desafios na hora de uma prova. Para os estudantes do terceiro ano, o peso é ainda maior, principalmente com a aproximação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado em 3 e 10 de novembro. Para aperfeiçoar a escrita, o Centro Educacional Sigma, em parceria com o Correio, promoveu a primeira Oficina Redação Nota 1000 de 2019, ministrada pela professora de português e editora de Opinião do Correio, Dad Squarisi. No auditório da escola, na 912 Sul, ela bateu um longo papo com os inscritos do certame e apresentou dicas para um bom texto.

Este é o terceiro ano consecutivo da oficina, que virou tradição entre os estudantes de Brasília. Ao todo, são duas horas e meia de aula, com atividades. Dad propõe exercícios e os corrige em voz alta para toda a turma. O intuito é sanar as principais dúvidas dos participantes. A conversa descontraída conta com material multimídia e distribuição de brindes. Além dos estudantes da instituição, o encontro é aberto para o público em geral. E o próximo tem data marcada: 21 de outubro no Sigma da 910 Norte. As vagas são limitadas.

“A oficina é divertida, variada e possibilita a escrita, o passo a passo da redação. É um momento em que eles podem exercitar. O ideal seria ter mais tempo, mas, no período que temos, conseguimos trabalhar bastante conteúdo. Achei os participantes de hoje (ontem) bastante interessados e preparados”, disse Dad Squarisi. Para ela, as pessoas, em geral, precisam ter mais confiança na própria escrita. “Elas não acreditam que sabem escrever, mas sabem. É tão fácil quanto andar. O primeiro mandamento para uma pessoa se sair bem na redação é acreditar que sabe escrever. O segundo é treinar, treinar e treinar.”

A diretora do Centro Educacional Sigma da Asa Sul e coordenadora de redação, Carolina Darolt, ressaltou que a redação é uma parte importante do Enem e merece ser trabalhada com cuidado, por isso, o corpo docente da escola decidiu separar os dois momentos para aperfeiçoar o texto dos alunos. “A aula com a Dad é muito legal. E ela reforçou um aspecto importante: só se aprende escrevendo. Nós temos incentivado nossos alunos a buscarem mais por conhecimentos gerais. Quanto mais informação, melhor para a argumentação”, destacou.


A professora de português e editora de Opinião, Dad Squarisi, bateu um papo com os alunos e apresentou dicas para escrever bem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A professora de português e editora de Opinião, Dad Squarisi, bateu um papo com os alunos e apresentou dicas para escrever bem

 




Bem preparados
O estudante do terceiro ano Diogo Machado, 17 anos, revelou que tem dificuldade com redação, mas que, após a Oficina de Redação Nota 1000, se sente mais preparado. “A forma dela de explicar é mais devagar, mais calma. Achei mais fácil de entender. Eu sempre fui mediano na matéria. Agora, no terceiro ano, estou vendo a importância e o quanto preciso afinar a forma de fazer o meu texto.”

Sonhando em ingressar na Universidade de Brasília (UnB), a estudante Ana Júlia Lobato, 17, também participou do encontro. Agora, ela se sente mais confiante em fazer o Enem. “Eu consigo fazer uma redação, mas nunca tirei um 10. A Dad deu vários exemplos, analisou nossos textos. Eu gostei de quando ela falou que a gente precisa ter humildade para recomeçar sempre que for preciso. Estou mais segura”, afirmou.

Assim que soube da oficina gratuita, a pedagoga Ana Paula Rabelo, 42, se inscreveu. Ela não vai fazer o Enem, mas, como sempre, se prepara para provas de concurso, quis aproveitar. “Nos textos, eu sempre quero expressar muita coisa e acabo me atrapalhando com as palavras. Achei interessante quando ela falou sobre ler e reler e sobre a repetição de palavras”, contou.

Para as estudantes Juliana Rabelo, 23, e Laís Lorena Oliveira, 17, o fato de o curso ser gratuito oferece oportunidades para quem não pode pagar. “Geralmente são aulas caras. Quando eu soube, quis participar na hora. Faço provas de concurso e tudo que aprendi vai me ajudar bastante. Ouvi muita coisa que não conhecia”, relatou Juliana.




Datas do Enem

3 de novembro - Provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias e redação
 
10 de novembro - Ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias



Oficina de Redação Nota 1000

21 de outubro
» Auditório do Centro Educacional Sigma, 910 Norte
» 14h30
» Inscrições: a partir de hoje no site do Correio
» Vagas: limitadas
» Duração: 2 horas e meia
» Aberto ao público
» Entrada gratuita
 
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