Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sábado, 06 de junho de 2020

COMÉRCIO DE OLHO NO DIA DOS NAMORADOS

Jornal Impresso

Comércio de olho no Dia dos Namorados
 
A primeira data comemorativa após a reabertura dos shoppings e das lojas de rua é a aposta do setor para melhorar o faturamento dos comerciantes. Contudo, especialistas avaliam que não será o suficiente para recuperar o prejuízo do semestre

 

MARIANA MACHADO

Publicação: 06/06/2020 04:00

Com a pandemia, a florista Andiara Antunes passou a vender 40% mais: especialista em comércio on-line (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  

Com a pandemia, a florista Andiara Antunes passou a vender 40% mais: especialista em comércio on-line

 

A primeira data comemorativa após a reabertura do comércio no Distrito Federal, em 18 de maio, aproxima-se e tem chance de melhorar o movimento no varejo. Comemorado em 12 de junho, o Dia dos Namorados registrou, em 2019, aumento nas vendas de cerca de 5% em relação ao mesmo período do ano anterior, 2018, como explica o presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista/DF), Edson de Castro. Para este ano, no entanto, a expectativa é de que os empresários tenham rendimento de até 60% do que conseguiram no ano passado.
 
Ele avalia que, mesmo com a volta dos lojistas, será muito difícil recuperar o faturamento do semestre. “Vamos ver se os empresários conseguirão pagar as contas, mas recuperar, de forma alguma, porque as pessoas, com esse negócio de não sair de casa, estão comprando muito pela internet, evitando sair”, avalia. Mesmo assim, ele afirma que há uma sensação de otimismo. “No Dia das Mães, foi um grande sacrifício tentar vender com as lojas fechadas. Os empresários estão tentando sobreviver”, diz Edson.
 
O empresário Sebastião Abritta, vice-presidente do sindicato, calcula redução de 42% nas vendas em relação a 2019. “No ano passado, a semana do Dia dos Namorados movimentou, no comércio local, algo em torno de R$ 150 milhões. A nossa estimativa é de que, neste ano, movimente entre R$ 80 milhões e R$ 90 milhões.” De acordo com ele, a pandemia deixou o consumidor cauteloso.
 
Ainda assim, datas como essa têm sido um respiro para muitos empreendedores. A chef de cozinha Ana Cláudia Morale, 35 anos, trabalhava apenas com eventos e, sem essa possibilidade, reinventou-se. Agora, ela tem preparado kits e cestas especiais, pedidas pelas redes sociais e entregues na casa do cliente. “Para a manutenção, não só do meu negócio, mas de toda uma cadeia produtiva, a gente foi se adaptando e desenvolvendo propostas de delivery. Fizemos na Páscoa, no Dia das Mães, e, agora, no Dia dos Namorados e nas festas juninas”, conta.
 
Ela recebeu 15 pedidos de uma caixa especial para os apaixonados, com espumante, duas taças de acrílico, amarenas (cerejas) e queijo parmesão. “A ideia é presentear a pessoa com quem você não pode estar junto, ou consumir junto”, explica. Embora as produções ajudem a manter a empresa funcionando, ela estima perdas de cerca de 30% do faturamento mensal, desde o início da quarentena. “Na Páscoa, tivemos faturamento de 85% do que conseguimos na mesma época em 2019. No Dia das Mães, 70%. Agora, a expectativa é de 55%”, calcula.
 
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), Francisco Maia, a expectativa dos lojistas não é boa. “Os que reabriram as portas estão tendo poucas vendas. Muitos nem conseguiram renovar estoque, sabendo do pouco movimento que teriam”, lamenta. Ele afirma que, nos shoppings, a situação não é muito diferente. “As vendas estão aquém do esperado, e este 12 de junho deve ser muito significativo.”
 
Abertos desde 27 de maio, os shoppings apostam em alternativas para não perder clientes. O Conjunto Nacional, por exemplo, disponibilizará, a partir de segunda-feira, o Retire Aqui. O consumidor entra em contato com as lojas por mensagem de aplicativo, ou compra nos sites, e retira o produto em uma gaveta do shopping. Com um QR Code, é possível destrancar o compartimento e retirar a compra em até 72 horas. Também há a opção de agendar entregas por drive-thru, ou delivery, o que havia ocorrido no Dia das Mães.
 
Em nota, o Iguatemi informou que cumpre as determinações da lei, operando com capacidade máxima de 50% do estacionamento, reforçando as rotinas de limpeza, assim como o uso obrigatório de máscaras. “Conforme determina decreto do GDF, estamos fazendo medição de temperatura de todos os clientes antes de entrarem no shopping (quem estiver com temperatura de 37,3ºC ou acima não pode entrar).”
 
"No Dia das Mães, foi um grande sacrifício tentar vender com as lojas fechadas. Os empresários estão tentando sobreviver”
Edson de Castro, presidente do Sindivarejista
 
Regras
 
Por determinação do governador Ibaneis Rocha, o comércio em geral foi autorizado a voltar a funcionar em 26 de maio, e shoppings, no dia seguinte. Veja as normas que devem ser adotadas pelos estabelecimentos
  • Shoppings devem fornecer equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% a todos os empregados
  • Funcionários devem fazer teste para a covid-19 a cada 15 dias
  • Áreas de recreação, como brinquedotecas, cinemas e praças de alimentação devem permanecer fechadas
  • Todos os clientes devem ter a temperatura corporal aferida antes de entrar nos shoppings e nas lojas
  • É proibido utilizar os provadores
  • Estacionamentos devem ser limitados a 50% da capacidade
  • Estabelecimentos precisa, seguir escala de revezamento de dia e horário dos empregados

Correio Braziliense sexta, 05 de junho de 2020

CIÊNCIA E TECNOLOGIA CONTRA A PANDEMIA

Jornal Impresso

Ciência e tecnologia contra o coronavírus
 
 
Em parceria com universidades e instituições de pesquisa, o Executivo local investe em estudos e ações para ajudar no combate e na prevenção à covid-19. Testes com plasma de pacientes curados e telemedicina são algumas das principais iniciativas

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 05/06/2020 04:00

Câmeras que medem temperatura em massa e fiscalizam uso de máscaras estão em teste na Rodoviária do Plano Piloto: 1,8 mil pessoas por minuto (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Câmeras que medem temperatura em massa e fiscalizam uso de máscaras estão em teste na Rodoviária do Plano Piloto: 1,8 mil pessoas por minuto

 



No embate contra a pandemia do novo coronavírus, a ciência e a tecnologia são algumas das armas mais poderosas na procura de soluções contra a disseminação da covid-19 e nas novas formas de tratamento de uma doença sobre a qual muito continua sem resposta. No Distrito Federal, ações do Executivo local, em parceria com universidades e instituições de pesquisa, buscam direções nessas áreas para avançar no combate. Testes com plasma e telemedicina são algumas das apostas do GDF.

O estudo da transferência do plasma de pacientes recuperados (veja Critérios) da covid-19 para doentes em estágio moderado (leia Para saber mais) começou a tomar forma mais concreta no DF. A iniciativa é tocada pela Fundação Hemocentro, pelo GDF e pela Universidade de Brasília (UnB). A primeira doação de plasma foi feita na terça-feira. As análises são feitas no Laboratório Central e na UnB. “Ao todo, acompanharemos 100 pacientes que vão receber o plasma e 100 que não vão receber. São pessoas com covid-19 em estágio moderado. A nossa hipótese é de que o uso do plasma diminuirá a progressão para a forma grave”, explica o médico e professor de imunologia na Faculdade de Medicina da UnB André Moraes Nicola. “Será uma vantagem para aquela pessoa que está recebendo, porque ela vai melhorar e conseguir se recuperar da covid-19, mas também para o serviço de saúde em geral, porque, ao impedir, o avanço da doença para o estágio grave reduz também a demanda por equipamentos como respiradores e leitos avançados”, detalha o especialista.

Telemedicina

“Neste momento que estamos enfrentando agora, só a ciência atrelada à tecnologia pode ajudar. Não tem saída. O mundo todo está vindo nessa direção”, defende o secretário de Ciência e Tecnologia, Gilvan Máximo. Ele destaca as ações de telemedicina em desenvolvimento como um passo importante para a modernização da saúde da capital e como ferramenta para auxiliar na luta contra a pandemia.

A plataforma está em processo de finalização e deve ser lançada em 30 dias, segundo o secretário. Com apoio da Fiocruz, o app permitirá atendimento de pacientes por meio digital, marcação de exames e uso de inteligência artificial para algumas situações. Com isso, a intenção é desafogar filas em unidades de saúde e evitar sobrecarga no sistema. “É uma plataforma muito vasta e que nos permitirá acelerar os processos”, diz Gilvan.

Um ponto fundamental da iniciativa para o combate do coronavírus é que a plataforma permitirá monitoramento rápido das pessoas que acessarem o sistema e uma busca ativa de possíveis contaminados. A ideia é mapear a situação desses pacientes e buscar possíveis ligações deles com infectados pela covid-19. “Assim, vamos saber se houve algum parente, algum vizinho com quem ela teve contato e ter um mapa mais claro das relações entre essas pessoas e a doença”, detalha.
A telemedicina também está em aplicação nas unidades comandadas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges/DF). Atualmente, o método é usado para promover consultorias de forma remota entre médicos para que especialistas possam auxiliar outros profissionais nas ações com pacientes das Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs).

Pesquisas para avaliar opções de tratamento à covid-19, para a qual não há, até então, uma terapia específica, também estão em andamento. “Estamos desenvolvendo e coordenando um protocolo de pesquisa próprio, que vai avaliar a segurança e a eficácia de opções terapêuticas propostas para o tratamento de pacientes moderados e graves”, informou o Iges/DF. As orientações aguardam avaliação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O instituto também destacou uso da tecnologia de impressão 3D para produzir equipamentos de proteção individual (EPIs).

Fiscalização

O uso da tecnologia também pode ser eficaz na fiscalização das normas estabelecidas para o combate ao coronavírus. Na Rodoviária do Plano Piloto, o GDF testa câmeras com capacidade de medir, em massa, a temperatura de pessoas que passam pelo local, além de identificar se há uso de máscaras. Um monitor mostra, a partir da análise, quem estiver descumprindo a norma ou apresentar estado febril.

Dois equipamentos do tipo foram instalados na entrada da Estação Central do Metrô e serão testados por 30 dias. A ideia é que o governo abra processo para adquirir câmeras se o teste for bem-sucedido. Elas têm capacidade para registrar, simultaneamente, o movimento de 1,8 mil pessoas por minuto.



Para saber mais

Método em teste


Chamada de transferência passiva de imunidade, a técnica passa, por meio de transfusão do plasma sanguíneo, anticorpos de pessoas que tiveram a doença e se curaram para quem está com a covid-19. Não há, até então, evidências clínicas de que esse tipo de tratamento é eficaz para conter o novo coronavírus, mas estudos realizados em diversos locais buscam comprovação para a eficácia do método. A técnica foi estudada, anteriormente, para outras doenças virais e pacientes melhoraram. A pesquisa atual busca protocolos para balizar o uso do plasma sanguíneo de recuperados no combate ao novo coronavírus.


Critérios
Veja as condições, além de ter se recuperado da covid-19,
para participar da pesquisa de plasma:

» Ter entre 18 e 60 anos
» Pesar no mínimo 60kg
» Se mulher, não ter histórico de gestações
» Ter diagnóstico laboratorial confirmado de infecção por Sars-Cov-2
» Estar sem sintomas de covid-19 há pelo menos 15 dias
» Não ter tido manifestações graves em função da covid-19 (choque séptico, parada cardíaca e/ou entubação traqueal/respiratória)

Correio Braziliense quinta, 04 de junho de 2020

POPULAÇÃO APROVEITA PARQUES ABERTOS

Jornal Impresso

População aproveita parques abertos

 

Publicação: 04/06/2020 04:00

De máscara, o casal Darlan e Andrea saiu do confinamento para fazer uma caminha no Parque de Águas Claras (Ed Alves/CB/D.A Press)  

De máscara, o casal Darlan e Andrea saiu do confinamento para fazer uma caminha no Parque de Águas Claras

 



O movimento foi grande nos parques no primeiro dia de retomada das atividades, após mais de 70 dias fechados. No total, 18 espaços ficaram à disposição da população, que aproveitou para caminhar, correr e pedalar. As áreas de lazer passaram por limpeza, ganharam sinalizações e tiveram algumas instalações bloqueadas, como quadras esportivas, equipamentos de musculação, banheiros e bebedouros. Fiscais do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da Secretaria de Esportes e Lazer visitaram alguns pontos e deram orientações a quem praticava exercícios, como uso de máscara e evitar aglomerações.

De acordo com o Ibram, cerca de 70 mil moradores do DF visitam os parques da capital por semana. “As pessoas querem se exercitar, ter um espaço agradável, em meio à natureza, para respirar. Então, essa reabertura vem de um anseio da sociedade. Mas estamos cumprindo protocolos de saúde pública, porque a pandemia não pode ser esquecida. Ou seja, é uma busca pelo equilíbrio”, afirmou Cláudio Trinchão, presidente do Ibram. As condições listadas em decreto para a reabertura dos parques incluem: horário de funcionamento das 6h às 21h, uso obrigatório de máscara, proibição de qualquer tipo de comércio e bloqueio de áreas coletivas.

Respiro

O gerente de segurança Darlan Santos, 41 anos, e a professora Andrea Gomes, 42, aproveitaram a reabertura dos parques para dar um respiro em meio ao confinamento. O casal trabalha em esquema de home office. “Nós acabamos não tendo hora para fazer outra coisa a não ser trabalhar, começamos cedo e terminamos à noite. Então, viemos ao Parque de Águas Claras de manhã cedo, sem celular, para ter esse refúgio, conversar sobre outros assuntos. Isso faz bem para a saúde mental”, explica Andrea.

Infectologistas lembram que sair do isolamento é se expor a riscos e deve ser evitado, principalmente por quem tem sintomas da covid-19, como febre, gripe, perda do olfato ou paladar. “Mas todos precisam se cuidar, até porque a maioria da população tem alguma comorbidade que pode agravar o quadro. O sobrepeso faz alguém ser de grupo de risco. Agora, é hora de recomendar o máximo de cuidado possível”, detalha Marli Sartori, infectologista do Hospital Santa Lúcia. (AR)

Correio Braziliense quarta, 03 de junho de 2020

QUARENTENA DE AUTOCONHECIMENTO

Jornal Impresso

Quarentena de autoconhecimento
 
 
Livros motivacionais recém-lançados falam sobre a importância de olhar e cuidar de si, tema essencial durante e após a pandemia

 

» Adriana Izel

Publicação: 03/06/2020 04:00

A meditação é a proposta de Amanda Dheher para uma jornada de cura ( Luz da Serra Editora/Divulgação)  

A meditação é a proposta de Amanda Dheher para uma jornada de cura

 

 

Em O tempo de felicidade, Flora Victoria propõe uma pausa para realinhamento (Mauro Nery/Divulgação - 29/10/18 )  

Em O tempo de felicidade, Flora Victoria propõe uma pausa para realinhamento

 

 s medos e as incertezas que rodeiam o mundo pandêmico são também um desafio em meio ao combate ao novo coronavírus. Surtos virais recentes, como Sars em 2003 e Mers em 2012, ambas doenças respiratórias que afetaram as populações principalmente da China e do Oriente Médio, mostraram o aumento da preocupação em relação à saúde mental. Até por isso, especialistas acreditam que a covid-19 terá impactos profundos e que, por isso, é preciso ficar alerta.
 
Além dos cuidados em relação ao vírus, é preciso também dedicar um tempo na quarentena para si mesmo. O que pode ser feito de diversas formas, entre elas, com ajuda de alguns livros motivacionais recém-lançados no país que tratam sobre felicidade, propósito e meditação, temas em voga antes mesmo do coronavírus, mas que se tornaram ainda mais urgentes em meio à pandemia.
 
“Tudo isso que está acontecendo mundialmente deve contribuir para um índice de disfunção da população muito grande. A gente sabe que o mundo pós-pandemia será um mundo pós-trauma e que vai ser preciso que cada um desenvolva e faça coisas novas também. Por isso acho que o assunto da felicidade é de extrema importância. É sim o momento de falarmos de felicidade, de talentos, de esperança, de como definir próximos passos e de como se reconectar com as pessoas”, avalia Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela University of Pennsylvania e autora de O tempo da felicidade.
 
Escrito antes mesmo da pandemia, o livro acabou sendo lançado quando o Brasil decretou calamidade pública por conta da covid-19 e se mostrou ainda mais atual. Na obra, Flora propõe um sabático — que ela faz questão de explicar que não é um período de férias, como costuma ser imaginado — para repensar a vida e priorizar objetivos, com a missão de renovação. “O livro surgiu da ideia de falar sobre esse tempo que as pessoas precisam para se regenerar e serem felizes. O sabático é um período a cada sete anos que a pessoa precisa para se renovar e descansar, vem do passado da agricultura, quando se plantava por seis anos e, no sétimo ano, a natureza precisa descansar. Veio a mesma ideia para o ser humano, que pode ter um contexto religioso, acadêmico, para um projeto específico”, explica.
 
Em quase 200 páginas, a autora estabelece caminhos de desenvolvimento para a felicidade. “Em qualquer momento da vida, e este é um deles, temos três formas de lidar com algo novo: desespero, desânimo e desenvolvimento. Os dois primeiros são extremos que temos que evitar. O desenvolvimento é o que proponho no livro. Temos que aproveitar esse momento para reencontrar o que realmente importa, que é o valor a vida. Acho que é o momento das pessoas buscarem esse tipo de energia, de olhar para si mesmo, porque o mundo vai ser diferente. Já está”, define.
 
Mudanças de hábito
 
Andreza Carício compartilha em Todo santo dia hábitos para buscar a felicidade (Arquivo Pessoal)  

Andreza Carício compartilha em Todo santo dia hábitos para buscar a felicidade

 

Essa também é a percepção de Andreza Carício, especialista em desenvolvimento humano e autora de Todo santo dia, obra que tem dominado o ranking das listas de mais vendidos na quarentena. “Esse é um período em que as pessoas estão se conectando com três medos: da morte, da doença e de perder dinheiro. São três grandes medos que se não forem tratados levam à síndrome do pânico, transtornos, pensamentos perturbadores e é a última coisa que queremos para a humanidade”, avalia. Por isso, ela acredita que é preciso investir no autocuidado e no autoconhecimento. “Não tem como fazer esse processo se você não se conhecer. Se não sei quem sou, não consigo enxergar verdadeiramente o outro e nem entender minhas demandas internas. Uma das bases da felicidade é conhecer a si mesmo”, completa.
 
Em Todo santo dia, Andreza compartilha 102 atitudes que podem trazer uma mudança no estilo de vida. O livro se inspira em coisas que ela fez na própria vida quando se percebeu infeliz, mesmo tendo posse de tudo que almejava: um bom emprego, um bom casamento, filhos... “Eu tinha parado de me escutar. A gente acaba deixando de ouvir nossos sonhos. Eu tinha esquecido. Então quando encontrei esse propósito na minha vida, pensei em escrever o livro sobre tudo aquilo que eu estava praticando para conseguir acordar feliz todos os dias. Eu sabia que podia ajudar na transformação das pessoas, porque me ajudou”, explica.
 
Uma das grandes mudanças de hábitos da sociedade na quarentena está ligada à prática da meditação, que se tornou popular até para quem antes não era adepto. “Vejo que o interesse das pessoas pela meditação está cada vez maior. Neste momento precisamos urgentemente de alívio para os medos e ansiedades despertados pela situação atual. Precisamos de algo que nos permita manter a calma em meio a tantas incertezas. E a meditação é justamente um caminho natural para conseguirmos tudo isso”, analisa Amanda Dreher, escritora e pesquisadora em terapias integrativas.
 
O assunto é tema da obra As meditações mais poderosas de todos os tempos, de Amanda Dreher, em que a autora sugere uma transformação que traz leveza e tranquilidade para o dia a dia a partir da prática. Para isso, a estudiosa compartilha 28 meditações simples e fáceis para que qualquer pessoa consiga realizar. A ideia é que o leitor possa criar rotinas meditativas. “Durante quatro anos, gravei centenas de meditações guiadas para os meus alunos, e dentre estas centenas de meditações selecionei as 28 mais poderosas, as que deram os melhores resultados. A meditação transformou a minha vida. Transformou tanto que acabei desenvolvendo um método próprio, que surgiu para que outras pessoas não caiam nos mesmos erros que eu caí e consigam aplicar a meditação de forma simples e prática na sua rotina”, completa.


As meditações mais poderosas de todos os tempos
De Amanda Dreher. Luz da Serra Editora, 224 páginas. 
Preço médio: R$ 54,90.
 
 
O tempo da felicidade: Um sabático para repensar 
a vida, priorizar seus objetivos e se renovar
De Flora Victoria. Editora Harper Collins, 198 páginas. Preço médio: R$ 29,92 e R$ 25,11 (e-book).
 
 
Todo santo dia — Atitudes poderosas para transformar
sua vida m uma jornada de crescimento diário e consistente

Correio Braziliense terça, 02 de junho de 2020

GIRASSÓIS: DE FRENTE PARA A LUZ

Jornal Impresso

De frente para a luz
 
É tempo de girassol no DF. Às margens da BR-251, entre Brasília e Unaí (MG), florescem 20 mil metros da flor de pétalas douradas famosa por acompanhar o movimento do sol

 

MARIANA MACHADO

Publicação: 02/06/2020 04:00

Quem quiser uma foto com os girassóis precisa correr: esta deve ser a última semana da florada (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Quem quiser uma foto com os girassóis precisa correr: esta deve ser a última semana da florada

 

Se o pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh estivesse vivo, provavelmente se apaixonaria pelo PAD-DF, região rural do Distrito Federal próximo à divisa com Minas Gerais. As flores que conquistaram o mundo nos quadros mais famosos do holandês, colorem as margens da BR-251, como trechos de ouro no cerrado. É na altura do km 5 que olhos desavisados se deparam com o dourado intenso do campo de girassóis, contrastando com o azul do céu infinito.
 
Não à toa, a flor que inspirou artistas do mundo todo, motiva os motoristas que por ali passam a descer e garantir um registro. Quem vai uma vez se apaixona. “Todo ano, paramos aqui para fazer foto”, garante o segurança Alan da Silva, 38 anos. Ele e a esposa, a enfermeira Stephani Santos, 33 anos, moram no município mineiro de Unaí e trabalham em Brasília. Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, veem os campos, que florescem em maio. Neste ano, quando voltavam de um plantão, estacionaram o carro em um dos trechos da plantação.
 
Stephanie explica que entre 6h e 9h, as flores estão mais bonitas, e voltadas para a BR. “A gente adora. Até os parentes, que nos visitam de São Paulo, querem vir fotografar também”, comenta. “É muito lindo.” Eles não são os únicos. Casais apaixonados, famílias, amigos, crianças, fotógrafos profissionais, todos querem aproveitar o cenário de filme para garantir uma bela imagem.
 
Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, Alan da Silva e Stephani Santos veem os campos de girassóis  
Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, Alan da Silva e Stephani Santos veem os campos de girassóis
 
 
Os advogados Irair Alves, 28 anos, e Cristiano Meira, 44, são proprietários de um haras no DF e resolveram usar o local para divulgar um produto. Bastou colocar o acessório em uma das flores, e pronto. “Vamos sortear um boné nas nossas redes sociais, e espero que a foto ajude”, afirma Irair. Claro, ela também aproveitou para ter fotos pessoais. Como o casal passa por lá com frequência, já viu os mais diversos modelos em meio aos girassóis. “Sempre tem ensaio fotográfico de noiva, gestante. Mas o melhor horário é durante o pôr do sol. Isso aqui fica cheio de gente”, conta Cristiano. “Em alguns dias, já vi até 40 carros parados.”
 
Os que descobrem o lugar e vão pela primeira vez se encantam. Tayanne Rodrigues, 27 anos, é fotógrafa e soube da florada pelas redes sociais. “A experiência foi excelente, mas os girassóis estão quase no final”, lamenta. Ela levou a irmã, a maquiadora Olga Modrack, 25, e a militar Ana Caroline Araruna, 30, para usar como modelos. “Com certeza, indico a experiência a todos. Mas é importante lembrar de usar protetor solar e repelente, porque tem muito mosquito e abelha”, aconselha.
 
Irair Alves e Cristiano Meira sempre passam pela plantação de girassóis: é comum encontrar noivas, grávidas e casais fazendo ensaios  

Irair Alves e Cristiano Meira sempre passam pela plantação de girassóis: é comum encontrar noivas, grávidas e casais fazendo ensaios

 

 
O campo
 
Cerca de dois hectares de girassóis estão espalhados dentro e nas proximidades do parque Ivaldo Cenci, onde acontece a AgroBrasília, uma das maiores feiras de exposições de produtos do agronegócio no país. O presidente da feira, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição e um dos atrativos do evento. “O pessoal vem muito, é impressionante. No sábado, tinham mais de 50 carros. No domingo, talvez 100”, calcula. Os campos são plantados pelos produtores vinculados ao parque e à Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF). Depois de encerrada a florada, os agricultores destinam os girassóis para a produção de grãos e óleo.
 
Como a feira deste ano foi cancelada, devido à pandemia do coronavírus, o parque está fechado para fotos. Mas os que ficam do lado de fora estão disponíveis à população. “A gente gosta que as pessoas venham, porque elas veem como é o agronegócio. Não é aquele vilão pregado por muitos. Ali, do lado do girassol, dentro da propriedade, tem trigo, milho, sorgo e batata-inglesa. Isso mostra a diversidade do PAD-DF”, destaca. “É interessante que o público venha ao campo e veja como trabalhamos, nosso cuidado com a natureza. O produtor está cada vez mais preocupado com o meio ambiente.”
 
Quem ainda quiser garantir uma foto ainda este ano precisa correr, porque, segundo Triacca, a florada está na última semana. Para o ano que vem, ele explica que será preciso pensar em uma forma de controlar melhor o fluxo de pessoas. “Como não entendem muito das lavouras que estão ao lado, acabam danificando algumas plantações, como de trigo, que ainda está baixo. Mas a gente vai continuar plantando e disponibilizando gratuitamente para quem quiser fotografar”, garante.
 
O presidente da AgroBrasília, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição  

O presidente da AgroBrasília, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição

 

 
Feira de negócios
Com a chegada do novo coronavírus ao DF e a proibição de eventos, este ano, a AgroBrasília será virtual, entre 6 e 10 de julho. No ano passado, a feira movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão para o agronegócio, com a participação de 480 expositores. Este ano, os participantes terão uma plataforma on-line para apresentar seus produtos. Também serão feitas palestras, debates, e os organizadores estudam a possibilidade de leilões de animais.
 

Correio Braziliense segunda, 01 de junho de 2020

CLÁSSICOS NÃO ENVELHECEM

Jornal Impresso

Clássicos não envelhecem
 
O documentário Rock Brasília 2014 Era de ouro será exibido hoje, às 22h, no canal Curta! E mostra uma das fases mais importantes da música brasileira

 


» Lucas Batista*

Publicação: 01/06/2020 04:00

Vladimir Carvalho (Ana Rayssa/CB)  

Vladimir Carvalho

 

 
O diretor com Renato Russo (Ligocki-Z Entretenimento/Divulgação/D.A Press)  

O diretor com Renato Russo

 

 
 
Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, dá entrevista para o cineasta ( Ane Hinds/Divulgação)  

Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, dá entrevista para o cineasta

 

 
 
 
Um retrato diferente, com entrevistas exclusivas e imagens repletas de memórias sobre o melhor momento do rock brasiliense. Tudo isso poderá ser acompanhado hoje, às 22h, no canal Curta!, com o filme Rock Brasília — Era de ouro (2011), do documentarista Vladimir Carvalho.
 
O documentário faz parte de uma trilogia realizada pelo cineasta, contando sobre a história, política e cultura da capital federal. “Eu fiz o Conterrâneos velhos de guerra (1991), longa que marcou minha filmografia, que é a história da cidade que não tinha sido contada até ali, a história de quem construiu Brasília com as próprias mãos: os candangos. Depois, fiz o Barra 68 (2000), que é um filme totalmente político, mostrando a invasão da polícia militar e do exército à Universidade de Brasília (UnB). E, por fim, me voltei para a cultura, que foi uma coisa que transpôs as fronteiras de Brasília, ganhou a mídia e foi até a televisão, justamente o Rock Brasília — Era de ouro (2011)”, conta Vladimir em entrevista ao Correio.
 
O filme retrata a geração de 1980 do rock brasiliense, com as bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. “Nesse ano, completam 40 anos que essa geração surgiu, são bandas que extrapolaram fronteiras e fizeram o rock de Brasília ser conhecido. Eles surgem justamente quando o Brasil está deixando a ditadura e começando a amadurecer a democracia. É muito interessante porque hoje lutamos para manter a democracia, e, naquela época, eles tinham esse entendimento. Não eram propriamente militantes, mas eram pessoas que sabiam o que estava acontecendo”, declara.
 
As primeiras filmagens de Rock Brasília foram feitas 23 anos antes de o filme ser divulgado. Tudo se iniciou em um trabalho que Vladimir Carvalho, que também foi professor da UnB, passou para um roteiro sobre o rock na capital para a disciplina de documentário. “Com esse material, tomei um conhecimento mais próximo sobre o movimento que estava acontecendo na cidade.”
 
No entanto, foi o show da Legião Urbana em 18 de junho de 1988, no Mané Garrincha, que teve papel fundamental para o início das gravações. “O evento foi um marco, porque era o reencontro de Renato Russo com o público de Brasília. Ao mesmo tempo, a plateia queria mostrar que não tinha mais quem segurasse, porque, em 1988, era a afirmação da democracia, eles eram propriamente livres. O show foi muito significativo para a história do rock, pois muitos não concordavam com a postura de Renato, e um cara chega a invadir o palco para pular nas costas e dar uma gravata no cantor. Tudo isso eu filmei e tinha durante esses anos”, relembra Vladimir.
 
O produtor do filme, Marcus Ligocki, não participou do mesmo show que Vladimir, mas se envolveu com a história após a leitura da biografia Renato Russo — O filho da revolução. “Foi muito especial. Eu e Vladimir nos conhecíamos, e eu tinha admiração por ele. Quando eu terminei de ler a biografia de Renato Russo, logo liguei para Vladimir como primeiro reflexo e propus de fazermos o filme. Ele disse que tinha algumas filmagens em arquivo, que poderiam ser utilizadas em um filme, mas foi só o primeiro contato. Tempos depois, demos início, eu tentava achar parcerias com produtoras, mas que acabavam não dando certo, até que o próprio Vladimir propôs de fazermos juntos o filme. Aceitei e foi muito gratificante”, conta.
 
Parceria
 
Ligocki conta que, ao lado de Vladimir, cresceu como profissional, e até participou da primeira parte da edição do filme. “Lembro que precisei aprender a mexer em programas de computador e, no início, fomos apenas eu e Vladimir trancados na ilha de edição. Depois, passamos para o montador, mas esse momento me marcou muito”, recorda.
 
O trabalho do produtor também é elogiado por Vladimir Carvalho: “Eu fiz esse filme graças ao esforço dele. Nunca tive um filme tão bem produzido como Rock Brasília. Tive recursos para pagar contas da realização do filme, tudo isso por conta do Ligocki. Eu tenho nove e estou fazendo o décimo longa-metragem, mas nenhum deles com uma produção tão bem realizada como essa”, diz o diretor.
 
Uma produção bem-feita e com histórias tão fortes, traz memórias inusitadas. Ligocki lembra que a entrevista com Briquet de Lemos, pai dos artistas Fê Lemos e Flávio Lemos, do Capital Inicial, que encerra o filme, foi feita durante a final da Copa do Mundo de 2010. “Tínhamos marcado essa entrevista, que acabou sendo muito importante para o filme. Por isso, iniciamos a entrevista bem mais cedo que o jogo, mas ela foi fluindo, Vladimir estava tão envolvido que o jogo rolou. Ao decorrer da conversa, havia fogos na rua por conta da partida, gritos dos vizinhos, mas a entrevista seguiu plenamente, relembra”.
 
 
» Três perguntas / Vladimir Carvalho
 
Como o senhor avalia o atual cenário do audiovisual de Brasília e do Brasil?
Eu encaro esse momento com muita preocupação e até uma certa angústia. Uma angústia que é de todo um conjunto de pessoas, profissionais e trabalhadores da indústria cinematográfica que está à mercê do desemprego e do desinteresse desse governo. Há muita gente sofrendo, porque foram suspensos praticamente todos os atendimentos. Como exemplo, posso citar a Ancine, que estão quase parada. Hoje, o cinema brasileiro se sustenta justamente porque ele produz recursos para isso. Ele tem uma arrecadação e paga imposto, então, é como se o cinema fosse autossuficiente, ele produz capital e reservas para se autofinanciar. A Ancine é a agência que promove isso, mas está parada, graças a essa guerra que o governo de Bolsonaro faz contra a cultura. Ele enxerga na cultura um bando de esquerdistas e comunistas, é uma visão completamente deformada da realidade, quando, na verdade, o que existe é a cultura brasileira e neste momento, ela padece. Mas nós vamos resistir, já estamos resistindo e vamos sair dessa.
 
Acredita que se houvesse um investimento maior, teríamos mais produção de qualidade?
Claro. O problema é que isso está estacionado. É muito difícil você manter uma comunidade, como a cinematográfica, com o desemprego e pessoas que estão passando necessidade, porque que não tinham recursos e vivem do salário, quando em atividade. Quando o cinema brasileiro estava organizado, fazendo face ao prestígio que angariou anteriormente, veio essa perseguição e destruição do que estava estabelecido. É claro que, havendo a possibilidade de retomada do processo econômico e financeiro, restabelecendo o fluxo dos projetos que estavam aprovados na Ancine, conquistaríamos tudo de volta com tranquilidade.
 
Quais os efeitos mais danosos que a pandemia pode trazer para o cinema brasileiro?
Acredito que o principal será a retomada do público que vai ao cinema. É uma coisa que preocupa, porque hoje os exibidores estão pagando um preço altíssimo, por causa das salas fechadas. Os filmes estão passando, como Rock Brasília, na televisão e em recursos digitais, mas as salas estão fechadas e o hábito de ir ao cinema é saudável, as pessoas sentem falta. Assim que passar a pandemia, o mercado exibidor terá que se mostrar mais uma vez e restaurar esse vínculo com o público.
 
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
 

Correio Braziliense domingo, 31 de maio de 2020

IBANEIS AUTORIZA REABRIR PARQUES E IGREJAS

Jornal Impresso

Ibaneis autoriza reabrir parques e igrejas
 
 
Decreto, publicado ontem, estabelece que as atividades devem seguir recomendações sanitárias específicas, além do uso obrigatório de máscaras e do distanciamento social. Funcionamento de templos será restrito a 25% da capacidade e a pessoas com menos de 60 anos

 

» JULIANA ANDRADE
» THAIS UMBELINO

Publicação: 31/05/2020 04:00

De acordo com o novo decreto, o funcionamento dos parques será entre 6h e 21h, restrito e fiscalizado pelo GDF (Ana Rayssa/CB/D.A. Press)  

De acordo com o novo decreto, o funcionamento dos parques será entre 6h e 21h, restrito e fiscalizado pelo GD

 



O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) publicou, ontem, decreto que autoriza a reabertura de parques e templos religiosos do Distrito Federal. O documento foi publicado em edição extra do Diário Oficial do DF e as medidas entram em vigor na quarta-feira. “Nós estamos abrindo algumas atividades há mais de 60 dias e elas não impactaram na saúde da coletividade”, informou Ibaneis, após receber alta do hospital, ontem (leia Recuperação). De acordo com o decreto, as atividades devem seguir recomendações sanitárias específicas, além do uso obrigatório de máscaras e distanciamento social.

O funcionamento dos parques (leia Parques liberados) será restrito e fiscalizado pela Secretaria de Esportes, pelo Instituto Brasília Ambiental e pelas respectivas administrações dos parques. “Elas (as pistas) serão liberadas somente para as pessoas andarem ou pedalarem”, informou o governador. O funcionamento será entre 6h e 21h. Ficam proibidos qualquer tipo de comércio no local, o uso de equipamentos de musculação e de áreas coletivas, além de banheiros e bebedouros. No Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, haverá circulação de veículos apenas para deslocamento para os estacionamentos 4 e 5, devendo-se converter as vias internas em pistas para pedestres e ciclistas, com regulação do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). “Temos que fazer toda a preparação, como comprar equipamentos para fazer o isolamento dentro dos parques, preparar a fiscalização para que não haja violação e preparar as pessoas”, aponta Ibaneis.

Antes da quarentena, o atleta Vinicius Angelini, 26 anos, costumava frequentar os parques diariamente. Com o fechamento dos espaços, precisou procurar outras opções. Para ele, a reabertura é positiva, porém é preciso ficar atento aos cuidados. “É muito válido abrir os parques, até mesmo pela sanidade mental, não só física. Ficar trancado dentro de casa é massante para qualquer pessoa. Como atleta, a gente está tendo que se reinventar para continuar exercendo nossa profissão da forma mais segura possível”, diz. Ele afirma que pretende retornar a frequentar os parques. “Vou voltar, mas tomando os devidos cuidados. A gente não pode negligenciar também. Se tivermos senso comum, conseguimos frequentar esse lugares sem colocarmo-nos em risco”, completa.

A bióloga Camille Peter, 28, concorda com a abertura dos parques. Para ela, desde que as pessoas respeitem o distanciamento social, não há problema em frequentar esses espaços. “No fim de semana, a Praça do Cruzeiro fica cheia de gente que vai lá ver o pôr do sol. Isso é até bom para o nosso psicológico”, avalia. Já a empresária Jessica Andressa de Moraes, 25, acha a medida perigosa. “A gente não tem maturidade para sair em um lugar cheio de gente. Tem que ter alguma política de controle, não pode simplesmente liberar”, opina.

Eixão e academias

A expectativa é de que, até a próxima semana, o Eixão do Lazer também volte com a programação normal de domingo, das 6h às 18h, anunciou o governador. “Quero ver se, para o Eixão não acumular, também no final de semana, a gente feche a W3 para ter dois pontos de encontro. Então, a gente poderia ter a W3 Sul fechada, juntamente com o Eixão, evitando aglomerações”, pondera Ibaneis.

Os espaços ao ar livre serão as principais alternativas para as pessoas se exercitarem, pois a reabertura das academias segue em análise e sem previsão de data, devido à dificuldade na fiscalização dos estabelecimentos. “Você tem que saber qual a condição de sanidade que se tem dentro das academias. Uma coisa é você cuidar das academias de grande porte, que têm condições de fazer um processo de higienização maior, de contratar mais funcionários. Nós temos academias que são de pequeno porte, que atendem à população de baixa renda, e que nós sabemos que não têm essas condições”, explica o governador. “Eu tenho que abrir academia no momento em que tiver segurança para todos”, acrescenta.

Templos religiosos


O retorno do funcionamento de templos religiosos foi limitado a espaços que comportem mais de 200 pessoas, que poderão abrir com 25% da capacidade total de público. “A gente coloca um número mínimo, com distanciamento de 1,5 m e uma fileira de bancos para cada um”, explica. Neste primeiro momento, o governador apontou que não há possibilidade de abrir igrejas pequenas devido a questões sanitárias. “Espero que haja compreensão de todos os líderes religiosos, e com o passar do tempo vamos diminuindo esse percentual, até que a gente tenha a normalidade”, explica.

Os estabelecimentos deverão disponibilizar, na entrada, álcool em gel 70% para higienização de mãos e calçados, e demarcar os lugares dos fiéis. Outra medida de segurança será a medição da temperatura ao entrar, além de protocolos sanitários de limpeza do local. Idosos com idade superior a 60 anos, crianças com idade inferior a 12 anos e pessoas do grupo de risco não poderão entrar. A realização de cultos, missas e rituais também estão permitidas em estacionamentos, desde que as pessoas permaneçam dentro dos veículos, com distância mínima de dois metros entre cada.

A Arquidiocese de Brasília recebeu com satisfação a notícia. De acordo com o coordenador, padre João Firmino, a medida traz esperança para o coração dos fiéis e é um desafio para a comunidade católica. “Vamos fazer as pessoas se acostumarem com as novas medidas, e administrar as paróquias. Sabemos que algumas (igrejas) não vão conseguir retornar de imediato, mas será feito todo um trabalho para todos se adaptarem a essa nova realidade”, comenta. Apesar da restrição da capacidade, Josimar Francisco  da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos, também comemorou a medida. “Ficamos felizes com o decreto, mas lamentamos que muitas unidades tenham ficado de fora. Esperamos que, aos poucos, o governador ajuste a medida”, torce.

O retorno das atividades acontecerá de forma gradativa. “Nós estamos analisando, a cada ciclo de 14 dias, o que pode ser reaberto”, informa Ibaneis. Apesar do novo recorde de mortes (10 óbitos em 24 horas), registrado na sexta-feira, o chefe do Executivo informou que vai manter o cronograma de atividades de reabertura. "Nós temos que avaliar isso não pela quantidade, mas em termos percentuais. Pela curva que nós temos desde o início, em termos percentuais, o DF está abaixo. Se a conscientização for feita, nós temos todas as condições de manter a reabertura do comércio, das atividades, de forma gradual, como estamos fazendo, até chegar lá no mês de julho, quando se atingir o pico, com toda a tranquilidade, voltando tudo ao normal, e no mês de agosto retornando às aulas", disse.

Ibaneis também tranquilizou em relação à infraestrutura de saúde da capital “Esta semana, nós devemos ganhar mais 50 leitos de UTI. A população do DF pode ficar tranquila, porque nós temos condições de atender a todos”. Segundo o governador, a previsão é de que o hospital de campanha da Papuda seja entregue em 10 de junho.


  • Parques liberados

     1. Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek
    2. Parque Ecológico do Paranoá
    3. Parque Recreativo do Gama (Prainha)
    4. Parque Ecológico do Gama
    5. Parque Ecológico Sucupira (Planaltina)
    6. Parque Ecológico do Lago Norte
    7. Parque Ecológico da Asa Sul
    8. Parque Ecológico Olhos D’água
    9. Parque Ecológico Ezequias Heringer (Guará)
    10. Monumento Natural Dom Bosco (Lago Sul)
    11. Parque Ecológico de Águas Claras
    12. Parque Ecológico do Riacho Fundo
    13. Parque Ecológico do Areal (Arniqueiras)
    14. Parque Ecológico Veredinha (Brazlândia)
    15. Parque Ecológico do Cortado (Taguatinga)
    16. Parque Ecológico 3 Meninas (Samambaia)
    17. Parque Ecológico do Tororó
    18. Parque Ecológico das Copaíbas (Lago Sul)


  • Coleta seletiva

    A edição extra do Diário Oficial, publicada ontem, também autorizou a continuidade dos serviços de coleta seletiva e triagem de resíduos recicláveis. O texto autoriza o recebimento de resíduos sólidos recicláveis nas Instalações de Recuperação de Resíduos e a triagem nas usinas de compostagem do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Para a autorização, os prestadores de serviços deverão apresentar um plano de segurança e prevenção de risco para cooperados, associados e trabalhadores, a ser avaliado pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde e aprovado pelo SLU. 


    Governador Ibaneis Rocha anunciou, ontem, o decreto, após receber alta do hospital (Renato Alves/Agencia Brasilia)  

    Governador Ibaneis Rocha anunciou, ontem, o decreto, após receber alta do hospital

     

  • Recuperação

    Após quatro dias internado, o governador Ibaneis Rocha recebeu alta do hospital na manhã de ontem e disse que “tudo correu bem”. Ele foi internado na segunda-feira e submeteu-se a um procedimento cirúrgico de urgência no intestino delgado. Após apresentar recuperação favorável e passar por ampla avaliação clínica, laboratorial e por exames de imagem, ele seguirá com acompanhamento médico domiciliar.

Correio Braziliense sábado, 30 de maio de 2020

GILBERTO DIMENSTEIN SE ENCANTOU, AOS 63 ANOS DE IDADE

Jornal Impresso

Gilberto Dimenstein, 63 anos

 

Publicação: 30/05/2020 04:00

Dimenstein falou abertamente sobre a batalha pessoal contra um câncer agressivo (Reprodução/Youtuber
)  

Dimenstein falou abertamente sobre a batalha pessoal contra um câncer agressivo

 




De óculos, nos anos 1980, organizando os trabalhos no Correio. Liana Sabo (D) observa (Zileika de Souza/CB/D.A Press
)  

De óculos, nos anos 1980, organizando os trabalhos no Correio. Liana Sabo (D) observa

 




O jornalista Gilberto Dimenstein morreu ontem, em São Paulo, aos 63 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde agosto de 2019, e teve passagens marcantes por Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e CBN. Nos últimos tempos, além do comentário diário na rádio, se dedicava ao site Catraca Livre, até se retirar para dar andamento ao tratamento. Amigos, autoridades e colegas de trabalho prestam homenagens nas redes sociais.

Há poucas semanas, Dimenstein falou sobre a experiência de descobrir a doença. “Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você ganha ao se deparar com o limite da vida. Não queria ter ido embora sem essa experiência”, relatou.

“Grande parte da minha vida foi marcada pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, assinar matéria na capa, o tempo todo pensando no próximo furo. É como se estivesse passando por um lugar lindo num trem em alta velocidade, vendo tudo borrado. Quando você tem um câncer (ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo muito agressivo), não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno”, ensinou.

Em abril, no meio da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, Dimenstein ganhou destaque na imprensa por abrir mão de 100% dos lucros para evitar demissão de funcionários. “Acho que o exemplo sempre vem de cima”, comentou.

Paulista, nasceu em 28 de agosto de 1956. Se formou em jornalismo pela Fundação Casper Líbero, foi chefe da agência de notícias da Folha, atuou como repórter de vários veículos, como a extinta Última Hora, e foi comentarista da rádio CBN.

No Correio

Dimenstein trabalhou no Correio, no início da década de 1980. Em 12 de outubro de 1983, o jornal publicou, em três línguas (inglês, francês e português), um caderno especial sobre a África. Sob coordenação de Gilberto e dos jornalistas Walter Sotomayor e Liana Sabo, a edição analisava as perspectivas na relação entre Brasil e África. O suplemento foi produzido por ocasião da visita do presidente João Baptista Figueiredo ao continente e distribuído para países como Senegal, Cabo Verde, Nigéria e Argélia.

“Éramos muitos jovens, mas Gilberto tinha a dimensão exata sobre o trabalho que repercutiria em outros continentes, já que a nossa versão foi traduzida para o inglês e francês, e distribuída pelo Itamaraty em seus postos avançados pelo mundo. Era como se conquistássemos leitores mundo afora. Saudades de Dimenstein!”, lembra Sabo, repórter e colunista do Correio.

O jornalista também escreveu e traduziu livros para diferentes idiomas, como A Guerra dos Meninos, A Democracia em Pedaços e O Cidadão de Papel, vencedor do Prêmio Jabuti em 1993, mais importante reconhecimento editorial do país. Em 2007, foi apontado pela revista Época como uma das cem personalidades mais influentes do Brasil.

Em 2008, criou o portal Catraca Livre, com foco em temas culturais, cidadania e educação, e tem forte presença nas redes sociais. No Facebook, somente a página principal do veículo conta com cerca de 10 milhões de seguidores.

Homenagens
Colegas de imprensa usaram as redes sociais para lamentar a morte de Dimenstein. Vera Magalhães, colunista de O Estado de S.Paulo e apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura, disse que é “uma perda imensa para o jornalismo brasileiro. Um homem íntegro, inspiração para minha geração, que lutou até o fim contra uma doença cruel. Que descanse em paz e que seus familiares e amigos encontrem conforto naquilo que acreditam e uns nos outros”.

Míriam Leitão, colunista de O Globo, da Globo News e da CBN, comentou: “A perda de Gilberto Dimenstein é gigante para o jornalismo. Ele revolucionou a forma de fazer o nosso ofício. Fez sucesso muito jovem, sempre foi um inteligente analista da vida nacional. Depois foi abrir novas fronteiras como o @catracalivre. Saudades imensas”.

Mônica Waldvogel, comentarista e apresentadora da Globo News, se manifestou: “#RIP Gilberto Dimenstein. Sua contribuição ao jornalismo e ao país é inestimável”. Joel Pinheiro da Fonseca, coluista da Folha, disse que “Gilberto Dimenstein se foi hoje. Um grande nome do jornalismo brasileiro. Descanse em paz”. Já o articulista de O Globo e editor Carlos Andreazza relatou que “não chegamos a nos encontrar, mas estivemos próximos, nos últimos meses, em função de livro — sobre sua experiência com o câncer, que enfrentava com bravura e bom humor — que preparava para mim, encomendado depois de lindo artigo que publicou na Folha”.

O governador de São Paulo, João Doria, também se manifestou: “Lamento profundamente a morte de Gilberto Dimenstein, um dos principais expoentes do jornalismo brasileiro. Inquieto e dinâmico, deu voz a atores antes excluídos do debate nacional. O jornalismo e a sociedade perdem um olhar humanista e solidário”.


Correio Braziliense sexta, 29 de maio de 2020

ENFIM, LÁGRIMAS DE ALEGRIA

Jornal Impresso

Enfim, lágrimas de alegria
 
 
Mulher de 28 anos é a primeira paciente com o novo coronavírus a deixar a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Rosilaine Bueno passou 10 dias respirando por ajuda de ventilação mecânica. "Eu achei que não fosse sair", comemora

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/05/2020 04:00

Inicialmente, Rosilaine foi diagnosticada com dengue. No HUB, veio a confirmação para o novo coronavírus (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Inicialmente, Rosilaine foi diagnosticada com dengue. No HUB, veio a confirmação para o novo coronavírus

 

 
Em meio a lutas diárias contra a covid-19, ontem, a cena na porta do Hospital Universitário de Brasília (HUB) era de agradecimento. Com aplausos, balões, faixas e música, a corretora de imóveis Rosilaine Bueno, 28 anos, deixou a unidade hospitalar após vencer o novo coronavírus. Se as máscaras de proteção tapavam o sorriso, as lágrimas e o olhar não escondiam a alegria nos olhos das pessoas presentes. A mulher foi recebida por parentes, que saíram de Luziânia (GO), para o reencontro. O pai, emocionado, ajoelhou-se ao ver a filha ganhar alta. 
 
Rosilaine foi a primeira paciente a sair da unidade de terapia intensiva (UTI) do HUB, após 13 dias internada na unidade. “Eu achei que não fosse sair. Tive três paradas cardíacas e voltei”, conta. Rosilane foi recebida na porta do hospital pelo pai, pela mãe e pela filha, entre outros parentes. Pessoas com as quais não mantinha contato desde o primeiro dia de internação. Para ela, o que a manteve firme foi a fé e o apoio dos profissionais da saúde. “A equipe médica é muito boa, eles supriram isso. Eu senti muita falta da minha família”, destacou. 
 
A corretora de imóveis não tem comorbidades e afirma não saber onde contraiu o vírus. Ela foi diagnosticada com dengue e logo começou a sentir os sintomas da covid-19. Ao procurar o Hospital Regional do Gama, em 14 de maio, Rosilaine passou a ser um caso suspeito da doença, mas com a piora do quadro foi transferida, no dia seguinte, para o HUB, onde foi confirmada a infecção pelo novo coronavírus. No hospital universitário, a corretora chegou em estado grave e precisou ser entubada. Rosilane passou 10 dias respirando por ajuda de ventilador mecânico. 
 
Durante o período de internação, a família era diariamente atualizada sobre o estado de saúde da filha por uma psicóloga do hospital. Emocionada, a mãe lembra os dias de angústia. “Foi um medo muito grande, medo de perda”, recorda a educadora Gerlane Bueno, 45. “Ficamos muito ansiosos, mas conversava com ela nas minha orações. Dia após dia, Deus nos fortaleceu”, completou a educadora. O pai também destaca os momentos de nervosismo que, ontem, abriram espaço para a alegria. “É um sentimento de alívio e vitória. Passamos por dias difíceis. É algo que eu não desejo para ninguém”, ressalta o empresário Gilson José Bueno, 54. A saída da filha do hospital ocorreu um dia antes do aniversário dele. “É o maior presente do mundo, ter a minha filha renascida”, comemorou.
 
No carro, a família, emocionada, deixou o hospital sob aplausos. Rosilaine vai continuar sendo acompanhada pelos médicos e está com consulta ambulatorial agendada. A mulher também foi orientada a ficar em casa nos próximos dias e seguir as medidas indicadas para a população, como o isolamento social e a higienização. “Agora vou me atualizar, ver como estão as coisas, me isolar e seguir a vida”, destacou. 
 
Gratidão 
A emoção contagiou parte do hospital, que parou para ver Rosilaine sair da internação. Também com os olhos cheio de lágrimas, a equipe médica foi fortemente aplaudida. Entre as homenagens, um cartaz da família estampava a gratidão deles pela equipe. A mãe de Rosilaine destacou a importância dos médicos, enfermeiros e técnicos, não só no tratamento da filha, como no combate à covid-19. “Quero agradecer a todos os profissionais da saúde pela dedicação e pelo esforço. Eles também estavam na nossas orações”, ressaltou. 
 
A chefe do pronto-socorro Álida Santo fez questão de agradecer aos 110 integrantes da equipe que lutam diariamente contra a doença. Para ela, ver a primeira paciente a deixar a UTI proporciona um misto de emoções. “É um sentimento de alegria, de vitória, mas ainda tem muita coisa para fazer. Essa situação pode durar muito tempo”, diz. Sobre o carinho da família, ela destaca: “É o nosso conforto e o que nos ajuda a não desistir". 

Correio Braziliense quinta, 28 de maio de 2020

SHOPPINGS REABREM COM FILAS

Jornal Impresso

Filas para entrar nos shoppings
 
Estabelecimentos controlaram a entrada de pessoas para medir a temperatura e fiscalizar o uso de máscara, o que gerou aglomerações do lado de fora. Dentro, porém, movimento foi baixo, com praça de alimentação bloqueada e entretenimentos proibidos

 

ALAN RIOS

Publicação: 28/05/2020 04:00

Movimentação dentro do Conjunto Nacional foi considerada baixa. Lojas de aparelhos eletrônicos foram os estabelecimentos mais visitados (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Movimentação dentro do Conjunto Nacional foi considerada baixa. Lojas de aparelhos eletrônicos foram os estabelecimentos mais visitados

 

 
O Distrito Federal registrou ontem, às 13h, diversos pontos de filas durante a reabertura dos shoppings centers da capital. O retorno desse segmento do comércio estava sendo aguardado com expectativa por lojistas e clientes, que encontraram um cenário inimaginável há dois meses. Enquanto o lado de fora era marcado pela aglomeração em estabelecimentos mais movimentados, o lado de dentro ainda tinha algumas lojas fechadas, áreas de entretenimento bloqueadas, praça de alimentação funcionando com restrições e pouca movimentação. Seguindo os protocolos estabelecidos em decreto para combate à covid-19, uma pessoa entrava por vez em cada portão disponibilizado. Seguranças mediram a temperatura, fiscalizaram o uso de máscaras e forneceram álcool em gel.
 
A população, sempre de máscara, que saiu de casa e compareceu à reabertura se dividiu entre quem acha positiva e quem acha negativa a volta do comércio. Ledijane Maria da Silva, 50 anos, foi ao shopping com o filho, mas disse acreditar que esse momento talvez não seja o ideal para o retorno das atividades. “Só fui por uma emergência, que não dava para resolver de casa. Acredito que agora os casos de coronavírus vão aumentar, mas sei que é difícil ter uma solução para isso, porque muitos dependem do trabalho”, conta a secretária. Ela também afirmou se sentir um pouco mais segura com os protocolos tomados pelos shoppings. “É bom saber que estão medindo a temperatura, fornecendo álcool em gel. Mas não tem como ficar 100% protegido”, avalia.
 
Lojas de aparelhos de tecnologia e de operadoras de celular foram as que registraram mais clientes. Yolanda Pereira, 48, precisou ir a esses estabelecimentos para ter acesso a serviços que não conseguiu on-line. “Eu me surpreendi com a quantidade de pessoas na fila. Fico um pouco apreensiva, mas acho que vão ter pontos positivos e negativos dessa abertura. É bom que agora conseguimos fazer muitas coisas que não davam para fazer de casa, pelo telefone, mas isso pode espalhar mais o vírus também”, considera a recepcionista.
 
Teve também quem considerou a flexibilização boa por conta da saúde mental durante o período de isolamento, como Sonia Ribeiro, 47. “Ir à rua pode ser perigoso por conta do coronavírus, mas ficar em casa esse tempo todo é estressante, causa até depressão. E como tinha muita gente perdendo emprego com o comércio fechado, essa volta é muito boa. Achei estranho ver a praça de alimentação sem cadeiras, ter essa fila para medir a temperatura, mas são coisas necessárias”, pontua a dona de casa. 
 
Adaptações
A rotina dos shoppings está sofrendo modificações para se adaptar ao novo cenário. Empresários vão avaliar o fluxo de clientes desta primeira semana, para pensar em mais ações de preservação da saúde dos compradores e mais estratégias de venda que não provoquem aglomerações em lojas. A gerente de livraria Fernanda Passos, por exemplo, conta que o estabelecimento dela fez deliveries durante o período de fechamento dos shoppings e agora vai avaliar os próximos dias para construir mais estratégias. “Vamos sentindo como será essa volta e pensando no futuro de pouco em pouco”, analisa. Ester Gonçalves também é lojista em um shopping e considerou o retorno das atividades um alívio. “Foram mais de dois meses sem renda e com as contas chegando. Então, foi difícil conter a ansiedade”, disse. 
 
Mas, representantes do setor ressaltam que o momento exige mais cautela do que de comemoração, como explicou Giuliano Bragaglia, superintendente do Conjunto Nacional. “Ficamos felizes com a reabertura, mas não é um clima de festa. Queremos um retorno gradativo e responsável, priorizando a saúde das pessoas”, avalia.
 
O cenário atual também conta com a tecnologia como aliada. No Pátio Brasil, câmeras termográficas fazem a triagem da temperatura corporal de quem entra, detectam pessoas sem máscaras e contabilizam o número de frequentadores. “É um equipamento chinês de alta tecnologia que dá segurança e conforto, porque não precisa ficar se aproximando muito de alguém ou demorando para avaliar a temperatura, por exemplo”, explica Paulo Henrique Chaves, diretor da empresa Setec. Renato Horne, superintendente do Pátio, acrescenta que a prioridade, agora, é dar segurança aos clientes e funcionários.
 
 
 
 
Palavra de especialista
 
“Temos alguns problemas nesse retorno, porque tem regra difícil de ser cumprida. Tudo bem que estamos observando as pessoas com a temperatura testada, recebendo álcool em gel, mas como garantir o distanciamento de quem está dentro do shopping? Também é preciso lembrar que uma pessoa pode estar com coronavírus e não apresentar febre.
A questão dos testes é outro ponto. O exame rápido que está sendo realizado com comerciantes dificilmente verifica o caso agudo, ou seja, aquele que está no começo e está sendo transmitido para outras pessoas. O ideal seria realizar o teste de PCR a partir do quarto dia de sintomas. Então, pode ser temerário flexibilizar agora. Por fim, temos que ter em mente que essa é uma via de mão dupla. O comércio pode voltar a fechar se o impacto for muito negativo.”
 
Ana Helena Germoglio, infectologista Hospital Brasília
 
 
 
 
Atenção redobrada
 
A Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio) realizou uma análise do primeiro dia de reabertura dos principais shoppings do DF. “Os estabelecimentos seguiram rigorosamente as normas de segurança, as lojas estavam com poucos empregados, os comércios de celulares estavam mais cheios e muito empresário não abriu, porque não tinha estoque. Só o cumprimento das obrigações de saúde vai permitir que se avance na reabertura de mais segmentos. Então, estamos empenhados nisso. Fizemos testes de covid-19 em 3 mil funcionários em dois dias e a meta é examinar 10 mil até sexta-feira”, sintetizou o presidente da Federação, Francisco Maia. A associação ainda detalhou a volta dos principais shoppings, confira:
 
ParkShopping
 
Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários que foram alocados para organizar a entrada do público. A todo momento, eles chamavam a atenção dos clientes para manter o distanciamento de dois metros
 
Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada
 
Pátio Brasil
 
Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários, que foram alocados para organizar a entrada do público
 
Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada
 
Conjunto Nacional
 
Filas: grandes filas, sendo controladas por marcação no chão e por funcionários
 
Funcionários: luvas e máscara estão sendo disponibilizadas aos colaboradores, que terão a temperatura aferida a cada 4 horas de jornada de trabalho
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: foi contratada uma empresa especializada em desinfecção. O empreendimento recebeu, ainda, lixeiras exclusivas para o descarte de máscaras
 
Brasília Shopping; JK Shopping; Taguatinga Shopping e Terraço Shopping
 
Filas: sem muita movimentação
 
Funcionários: todos usando máscaras, oferecidas pelo próprio estabelecimento
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada

Correio Braziliense quarta, 27 de maio de 2020

IPÊS - A ESPERANÇA COLORIDA

Jornal Impresso

A esperança colorida
 
A estação fria antecipou a florada dos ipês, e as árvores repletas de flores roxas começam a colorir a cidade. Queridinhas dos brasilienses, essas árvores prometem show de cores pelo menos até outubro

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 27/05/2020 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Lilia Viana: o ipê-roxo tatuado como forma de carinho à cidade (Arquivo pessoal)  

Lilia Viana: o ipê-roxo tatuado como forma de carinho à cidade

 



A floração dos ipês-roxos, espalhados em diversos pontos da cidade, anuncia que está aberta a temporada das cores na capital. A cada época, um tipo de ipê apresentará suas belezas nos próximos meses: roxo, amarelo, branco e rosa. Começando pelas árvores de coloração roxa, a espécie todo ano se encarrega de enfeitar o Distrito Federal durante a seca. Neste ano, o ipê-roxo resolveu florir antes do previsto, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
 
A servidora pública Ana Silvia Pires, 50 anos, se surpreendeu ao ver o ipê próximo à sua casa florido. Ela conta que, ao sair para trabalhar de bicicleta, ficou encantada ao se deparar com a árvore cheia de flores. “Quando trabalhava no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), via aquele monte de ipê no caminho, pois o Eixo Monumental é cheio. Agora, trabalhando no Cruzeiro, também têm uns pelo caminho. Na segunda, quando fui trabalhar, vi o ipê todo florido. Ano passado, ele demorou muito a dar flor”, lembra. Ana destaca que estava com saudade de pedalar debaixo das árvores cheias de pétalas coloridas.
 
A antecipação da florada é devido às baixas temperaturas registradas na capital, como explica o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva. “Eles floresceram mais cedo em função do período de frio antecipado e da alta umidade, pois esse ano está chovendo até mais tarde. Isso é algo atípico”, afirma. Geralmente, a espécie começa a florir em junho e segue até julho. O fator climático ainda pode fazer com que as árvores floresçam mais de uma vez. “A primeira vem com menos intensidade, e a segunda, mais carregada. Nos últimos três anos, a floração dos ipês tem sido diferenciada, bem carregada”, completa o especialista. As flores permanecem nos galhos no período de 18 a 30 dias.
 
Os próximos ipês a aparecem serão os amarelos. A espécie, normalmente, floresce a partir de julho, permanecendo até agosto. As flores desta época são as preferidas da tecnóloga em radiologia Gizele Sousa, 36. Mas enquanto elas não nascem, fica apreciando as pétalas roxas. “Eu moro na cidade há cerca de 15 anos. Para mim, o ipê é o que traz cor ao cerrado, nessa época de inverno e seca. Eles dão um contraste muito bonito com o céu. O roxo mesmo é lindo, mas o meu preferido é o amarelo”, destaca.
 
O ipê é uma árvore típica do cerrado e pode ser encontrado também na Mata Atlântica. O Distrito Federal tem cerca de 230 mil mudas da espécie plantadas pelo Departamento de Parques e Jardins. Destas, 30 mil foram cultivadas no início de 2020 e outras 90 mil devem ser semeadas até o fim do ano, de acordo com a Novacap. A expectativa do departamento é chegar a 1 milhão de ipês pela cidade, como determinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), segundo Raimundo Silva.


Gizele:  

Gizele: "O ipê é o que traz cor ao cerrado, nessa época de inverno. Eles dão um contraste bonito com o céu"

 



 
Na pele
O ipê tornou-se um símbolo para a capital federal. Grande parte da população demonstra carinho pela espécie. Tanto que alguns decidiram registrá-la na pele. A piloto de metrô Lilia Viana, 38, tem um ipê-roxo tatuado no braço. O desenho vem com passarinhos e as letras iniciais dos pais. “É a árvore da vida. Acho linda e sou muito apaixonada. Nas raízes da minha árvore têm as iniciais dos meus pais e também coloquei três passarinhos, representando os meus filhos e o meu marido. Cada um é da cor preferida deles”, afirma. Ela conta que as pétalas roxas são as que ela mais gosta. “Mostra um pouco mais de esperança. Quando tudo começa a ficar cinza, ele vem para dar ânimo, para chamar a atenção”, ressalta.
 
A árvore também foi parar na pele da bancária Lilian Osorio de Paula, 39. Ela tem dois ipês tatuados no ombro: um roxo e outro amarelo. “Eu sou apaixonada por Brasília, nasci aqui e quis fazer algo que lembrasse a minha história e as coisas que eu gosto”, conta. Com os ipês, ela tem a imagem da Ponte JK, da Catedral Metropolitana de Brasília e desenhos de Athos Bulcão, além das iniciais dos filhos. “Eu fui passando tudo para o tatuador, e ele montou o desenho. Queria colocar também os ipês, pois eles marcam bastante. Quem vem a Brasília nesta época fica encantado”, comenta. Ela afirma que a árvore transforma o caminho para ir ao trabalho. Ao passar pelo Eixo, é impossível não notar as pétalas roxas no canteiro central. E aquele trecho, que muitas vezes passava despercebido, ganha um novo olhar para ela. “Nas redes sociais, tenho várias fotos de ipê e do céu de Brasília, minhas duas paixões”, destaca.
 
 
 
 
 
Florações
 
» Ipê-roxo: junho e julho
» Ipê-amarelo: a partir de julho
» Ipê-branco: fim de julho e início de agosto
» Ipê-rosa: fim de agosto a outubro/novembro
 
Fonte: Raimundo Silva, chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap

Correio Braziliense terça, 26 de maio de 2020

DEVOTOS REINVENTAM A FESTA DO DIVINO

Jornal Impresso

Devotos reinventam a Festa do Divino
 
Realizada há 138 anos, em Planaltina, celebração passa por adaptações para manter tradição em tempos de pandemia. No próximo domingo, carreata sairá pelas ruas da cidade para abençoar os fiéis em suas casas

 

» Matheus Ferrari

Publicação: 26/05/2020 04:00

O casal João Pedro e Thalita é responsável pela organização da celebração na Paróquia do Divino Espírito Santo: alternativa para os fiéis manterem a tradição (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

O casal João Pedro e Thalita é responsável pela organização da celebração na Paróquia do Divino Espírito Santo: alternativa para os fiéis manterem a tradição

 



Para Jeferson Queiroz, fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa, e 2020 ficará marcado:  

Para Jeferson Queiroz, fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa, e 2020 ficará marcado: "É uma questão muito estranha. Não podemos ir à igreja e fazer as orações como de costume"

 

 
Mesmo antes de Brasília existir, o vermelho e o branco já coloriam a cidade de Planaltina, em celebração ao Divino Espírito Santo. Mais de um século depois, as bandeiras e procissões não poderão ganhar as ruas da região, como de costume. Entretanto, a tradição de 138 anos não se perderá, mesmo diante do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. A comemoração será reinventada e ocorrerá com uma série de adaptações para evitar que a covid-19 se propague.
 
Tradicionalmente, milhares de pessoas se reúnem para o encontro das bandeiras em frente à Paróquia de São Sebastião, igreja matriz da cidade. Este ano, porém, os “giros da folia” ocorrerão de forma diferente. As principais paróquias de Planaltina organizam cortejos em carro aberto e carreatas para levar a bênção do Divino Espírito Santo até a casa dos devotos.
 
“Não poderíamos deixar de celebrar. A nossa fé acredita na renovação de Pentecoste a cada ano. Pedimos aos fiéis para decorarem suas casas nas cores do Divino para esperar que a gente passe com os símbolos de adoração”, explica a professora Águeda Maria de Lima, 47 anos, devota da Igreja de São Sebastião. No domingo, dia de Pentecostes, os festeiros da paróquia sairão, em carro aberto, entoando músicas e orações pelas ruas do setor tradicional da cidade.
 
A ceia, tradicionalmente servida para mais de 6 mil pessoas e que acontecia no sábado, também passará por adaptação. Os festeiros vão cozinhar marmitas, que serão distribuídas para pessoas em situação de rua. Além disso, a paróquia receberá doações de alimentos não perecíveis, agasalhos e cobertores, para doar a famílias carentes assistidas pela igreja.
 
“Passamos um ano pensando na realização da festa e levando orações às casas das famílias. Mas aceitamos a vontade de Deus e pedimos inspiração para que pudéssemos fazer de uma forma diferente. Estamos carentes por não participarmos das missas e dos momentos na igreja. Porém, estamos vendo que Deus tem um propósito. Cabe a nós aceitar e fazer o que é possível, segundo a vontade dele”, diz Águeda, que participa dos festejos há pelo menos 20 anos.


Em anos anteriores, a Festa do Divino reunia milhares de fiéis na celebração, que iniciava-se no sábado e terminava no domingo  (Carlos Moura/CB/D.A Press - 4/5/18)  

Em anos anteriores, a Festa do Divino reunia milhares de fiéis na celebração, que iniciava-se no sábado e terminava no domingo

 


 (Ed Alves/CB/D.A Press - 16/7/18)  

 (Carlos Moura/CB/D.A Press - 14/5/16 )  


Carreata
 
A carreata organizada pelos devotos da Paróquia do Divino Espírito Santo percorrerá as principais avenidas do Arapoanga, a partir das 8h de domingo. Os fiéis sairão da igreja, e o cortejo contará com um carro de som, de onde o padre abençoará os moradores. “As pessoas gostam muito de fazer esse giro a pé. Mas, este ano, alguns vão de carro e outros ficarão em casa, por causa das recomendações. Vamos percorrer a cidade com a bandeira do Divino, com a pomba símbolo e com os ícones de devoção”, detalha o festeiro João Pedro Esteves dos Santos, 33, da Paróquia do Divino Espírito Santo.
 
O funcionário público e a esposa, Thalita Moreira de Castro, 32, formam um dos dois casais responsáveis pela organização da festa na paróquia. “Quando o giro passar, as pessoas vão ver e reverenciar a bandeira. Participarão de uma forma indireta. Não vai ser como a gente gostaria. Estamos bem tristes por isso, e a comunidade também tem esse mesmo sentimento. Mas tivemos essa ideia de fazer a carreata para que as pessoas tenham essa vivência, mesmo que de uma forma mais afastada”, pontua Thalita.
 
Para o professor Jeferson Queiroz, 28, 2020 ficará marcado entre todos os anos em que participou da festividade. “É uma questão muito estranha. Não podemos ir à igreja e fazer as orações como de costume. Fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa. Mas temos que compreender. Apesar de tudo, a minha fé precisa superar esse momento difícil para, depois, a gente voltar às celebrações presenciais”, conta.

Novenas virtuais
 
A tecnologia é aliada das paróquias para manter a tradição e a celebração ao Divino Espírito Santo, mesmo diante do isolamento social. Com a impossibilidade da realização das missas presenciais, as igrejas realizam as novenas por meio da internet e transmitem, ao vivo, pelas redes sociais.
 
Desde sexta-feira, devotos conectam-se às celebrações on-line das novenas, que se iniciam nove dias antes do domingo pentecostal. Frequentadora da Paróquia de São Sebastião, a professora Janaína Vale, 32 anos, assiste aos ritos com as lembranças das festividades vivas na memória.
 
“Aqui em casa, temos participado da santa missa e, na sequência, das novenas, pela internet. Mas a festa mexe com nosso imaginário e com a nossa fé. Temos a tecnologia, mas a vivência de estar junto, caminhando pelas ruas, orando a Deus e pedindo bênçãos não vai ocorrer, e é muito triste. Para mim, faz muita falta”, conta. No domingo, a Paróquia de São Sebastião celebrará a missa de Pentecostes, às 19h, para encerrar as festividades.


Memória
Celebração centenária
A Festa do Divino ocorre há 138 anos, em Planaltina, como uma das comemorações de Pentecostes, festa católica celebrada 50 dias após a Páscoa. O evento religioso foi instituído em 1321 pela rainha Isabel de Aragão, de Portugal. Com a chegada da Corte ao Brasil, em 1808, a celebração começou a ser realizada no país, onde se mantém até hoje. Trata-se da segunda maior celebração da Igreja Católica, na cidade, rememorando o momento em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.

Correio Braziliense segunda, 25 de maio de 2020

SOLIDARIEDADE QUE AQUECE

Jornal Impresso

Solidariedade que aquece
 
O frio se aproxima e muitos não têm estrutura para se abrigar nas baixas temperaturas. Com o objetivo de ajudar o próximo, entidades e instituições se mobilizam para agasalhar os mais necessitados

 


JULIANA ANDRADE

Publicação: 25/05/2020 04:00

Presidente do Instituto Dona Salomão, Maia Toguchi e a amiga Ivonete Chouas distribuem sopa e agasalhos para pessoas em situação de rua
 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Presidente do Instituto Dona Salomão, Maia Toguchi e a amiga Ivonete Chouas distribuem sopa e agasalhos para pessoas em situação de rua

 

 
Sabe aquele moletom que não serve mais ou aquele cobertor que está há anos enfiado no fundo do guarda-roupa? Para alguns, eles podem não ter mais utilidade; para outros, farão toda a diferença. Com o inverno se aproximando, as manhãs e noites no Distrito Federal começam a esfriar e, enquanto muitos se escondem debaixo das cobertas, outros não têm nem um teto para se abrigar do vento gelado. Entidades e instituições do DF se mobilizam em campanhas de agasalhos — um gesto de solidariedade que aquece o corpo e o coração de quem precisa de assistência.
 
Nas ruas, policiais militares do Distrito Federal têm contato com gente de todas as classes sociais. Vendo de perto o dia a dia de muitas famílias carentes, a PMDF lança anualmente a campanha do agasalho do órgão. Este ano, as arrecadações começaram em 7 de maio.  “A gente sabe a real situação das famílias. Nós nos deparamos com pessoas que passam por necessidades, ainda mais nesta época de pandemia. Tem muita gente precisando de ajuda”, ressalta o porta-voz da PMDF, major Michello Bueno.
 
Entre os donativos, a PMDF pede roupas — para adultos e crianças — casacos, meias, lençóis e cobertas. Os produtos podem ser entregues em qualquer batalhão da Polícia Militar. “Pedimos que as doações cheguem em um saco lacrado, com as roupas higienizadas. Vamos passar álcool na sacola e, depois, trazer para o comando-geral para serem distribuídos”, detalha. Os produtos são destinados a instituições de caridade e a famílias necessitadas. Michello afirma que os policiais nas ruas fazem entregas ao notarem alguém precisando.
 
Trabalho constante
 
Em Ceilândia, o grupo Coletivação também está arrecadando agasalhos. Os voluntários fazem um trabalho social, ajudando pessoas carentes há sete anos. Na época do frio, os agasalhos ganham força nos pedidos. “A política social ainda é muito falha. É muito importante a gente continuar ajudando, fazendo o nosso trabalho. Muitas pessoas passam por necessidade e esta é a época em que elas mais sofrem. O frio aí fora machuca”, destaca Valdemar Antônio da Silva, um dos representantes do projeto. Além da distribuição de roupas e cobertores, o Coletivação distribui sanduíches. Em média, são 60 lanches distribuídos todas as noites, segundo Valdemar. As doações podem ser entregues no Singelo Burger, em Taguatinga Norte.
 
As ações sociais se espalham pelo DF. O projeto BSB Invisível vem fazendo um árduo trabalho de assistência à população de rua – algo que tem se intensificado ainda mais neste período de pandemia. Os voluntários estão arrecadando também cobertores, lençóis, casacos, meias e roupas em geral. “Essa população é esquecida, é invisível para a sociedade. Quem está na rua sofre com o frio, sem contar a facilidade de adoecer neste período”, comenta Pedro Campos, cofundador do BSB Invisível. Para doar, é preciso enviar uma mensagem nas redes sociais do projeto. Os voluntários contam com pontos de entrega em diferentes regiões do DF. “Quem tiver um cobertor ou uma roupa antiga saiba que eles podem ser essenciais para alguém”, enfatiza. Pedro ainda pede que as roupas sejam devidamente higienizadas.
 
Arrecadação em casa
 
Durante a pandemia, muitos evitam sair de casa, porém isso não é motivo para deixar de ajudar. Alguns projeto fazem questão de ir até a casa dos colaboradores para buscar as doações, como a campanha do Instituto Dona Salomão. “A nossa campanha começou na primeira semana de maio. Estamos recolhendo na casa das pessoas para que elas não precisem sair”, ressalta a presidente do instituto, Maia Ben Toguchi.
 
Para Maia, as ações sociais precisam ser ainda mais fortalecidas durante a pandemia da covid-19. “Com o coronavírus, muitas pessoas estão desempregadas, há muitas famílias debaixo de viaduto, inclusive, recém-nascidos e grávidas. Além da pandemia, nós temos problemas internos de pessoas que não têm o que comer ou vestir”, lamenta. Além dos agasalhos, Maia está distribuindo sopa. Para isso, ela conta com a amiga Ivonete Chouas, parceira do instituto.
 
O projeto Abrace o Mundo também adaptou as arrecadações para aqueles que querem ajudar, mas não podem sair de casa. Os voluntários estão com um ponto de entrega na Igreja São José Operário, na Asa Norte, mas também estão disponíveis para buscar os donativos na casa dos colaboradores. Para o presidente do projeto, João Vitor Lemos, o apoio da população nas campanhas é fundamental, ainda mais neste período de isolamento social. “Muita gente na rua vivia da ajuda e, agora, muitos não têm mais como prestar auxílio. Porém, a situação fez surgir muitas iniciativas sociais. Isso é um ponto positivo”, analisa. João pede que os colaboradores lavem as roupas antes de doá-las. O grupo também está recebendo produtos de higiene, alimentos e doações financeiras.
 
A Polícia Militar do DF está recebendo doações em todos os batalhões
 (PMDF/Divulgação)  

A Polícia Militar do DF está recebendo doações em todos os batalhões

 



Como ajudar
 
PMDF
• Entregas em todos os batalhões da PMDF
 
Coletivação
• Entregas no Singelo Burger
• CNJ Bloco C, Lote 17/18, Taguatinga Norte
 
Instituto Dona Salomão
• A equipe recolhe as doações. Basta entrar em contato pelo perfil @institutodonasalomao, no Instagram
 
BSB Invisível
• Confira os pontos de coleta no perfil @bsbinvisivel_, no Instagram
 
Abraçando o Mundo
• Entregas na Igreja São José Operário, na 604 Norte, terças e quintas, das 9h às 12h e das 13h às 16h, e sábado, das 9h às 12h.
• É possível ainda entrar em contato pelo perfil no Instagram: @abraceomundobrasilia
 
Outras iniciativas
 
Riacho Fundo Solidário
• Entregas na Administração Regional do Riacho Fundo I
• Retirada a domicílio pelo WhatsApp (61) 99354-8854
 
Pro-Bem
• Informações de pontos de coleta no perfil @probemsolidario

Correio Braziliense domingo, 24 de maio de 2020

UNIDAS NA ORAÇÃO PELOS FILHOS

Jornal Impresso

Unidas na oração pelos filhos
 
 
Conheça a história de cinco mulheres que não se conhecem, mas estão ligadas por um forte laço. São mães de profissionais de saúde que se encontram na linha de frente de combate ao novo coronavírus. Em comum, elas têm as apreensões diárias e a fé de que nada aconteça à prole

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 24/05/2020 04:00

 
Ildeni de Castro Baião, Maria de Freitas Machado, Arnalda Gardenha Brito Costa, Márcia Regina Barbosa Naves e Eliene Valente de Brito não se conhecem, tampouco trocaram palavras ou compartilharam vivências. Contudo, um substantivo é comum a todas: maternidade. De cada ventre foi gerada uma pessoa que decidiu dedicar a vida ao bem-estar e à saúde do próximo. São médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que hoje, mais do que nunca, unem essas mulheres em uma corrente constante de oração.
 
Apesar das distâncias geográficas — uma vive no interior da Bahia, outra em Goiânia e as outras três em diferentes regiões administrativas do DF — e das distintas personalidades, Ildeni, Maria, Arnalda Gardenha, Márcia Regina e Eliene compartilham as mesmas angústias e preocupações. Diante da escolha profissional dos filhos, principalmente neste período de enfrentamento ao novo coronavírus, cabe a cada uma delas, em seu silêncio, recorrer à fé. Seja na Bíblia, na imagem de Nossa Senhora, seja em alguma oração específica, essas mães buscam a calma para os corações aflitos.
 
Antes, elas podiam controlar os passos, estar do lado para as tomadas de decisões e para oferecer o colo, o abraço e o beijo. Agora, muitas vezes, estão isoladas, lidando também com a apreensão de contrair a doença e sendo monitoradas e fiscalizadas por telefone pelos filhos. “Se acontecer algo comigo, ela não vai pensar duas vezes. Vai querer ficar do meu lado e cuidar de mim como mãe, não vai pensar que pode se infectar e correr esse risco. Eu sei que o lado materno vai falar mais alto”, comenta a médica Kelly Barbosa Fernandes Naves, 36 anos.
 
Neste mês de maio, o Correio conversou com mães dos profissionais da saúde que atuam na linha de frente do combate à covid-19. Entre uma fala aflita que segura o choro e a confiança na proteção divina, Ildeni, Maria, Arnalda Gardenha, Márcia Regina e Eliene agradecem orgulhosas os filhos que têm.
 
 
Da Bahia, Ildeni de Castro Baião reza para que nada aconteça com o filho Widney, que mora no DF (Arquivo Pessoal)  

Da Bahia, Ildeni de Castro Baião reza para que nada aconteça com o filho Widney, que mora no DF

 

 
Ao lado de Nossa Senhora
“É muito preocupante, mas, pelo filho que eu tenho e conheço, eu entrego a Deus. Sei que o Widney está fazendo tudo o que pode, tomando todos os cuidados. Rezo muito por ele e os companheiros dele. Pelas vítimas também. Estamos passando por um momento muito difícil, mas Widney está fazendo um trabalho que gosta de fazer. Ele é muito humano”, afirma Ildeni de Castro Baião, 78 anos.
 
Do município de Remanso, Bahia, ela acompanha o único filho que mora longe da família. Widney de Castro Baião, 41, veio para a capital federal fazer pré-vestibular, em 1998, e por aqui ficou. Há 16 anos, atua na área da enfermagem, principalmente com terapia intensiva, e trabalha tanto na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital de Base de Brasília quanto na UTI do Hospital Regional da Asa Norte, unidade referência no combate à covid-19.
 
“O dia 6 de março foi um divisor de águas para mim. A primeira paciente com o novo coronavírus deu entrada no HRAN no meu plantão. Mesmo há muito tempo trabalhando com paciente crítico, nunca vi uma situação como essa”, relembra o enfermeiro. Na semana seguinte, o pai de Widney foi internado com pneumonia e ele precisou viajar para a Bahia. “Fiquei entre a cruz e a espada. Sabia que estava dentro da janela de contágio, mas precisava ver meu pai e, mesmo com muito receio, conversar com a minha família”, conta.
 
No município de Remanso, ainda não havia casos concretos do novo coronavírus nem, muito menos, informações além do noticiário. “Ele (Widney) chegou e, a primeira coisa que fez, foi conversar comigo e com o irmão dele. Meu coração ficou apertado. A gente não tinha conhecimento de como era”, comenta Ildeni. Aquele fim de semana foi o último contato físico entre a família. O enfermeiro voltou para Brasília e deixou a mãe, o pai e o irmão com as orações.
 
“É um momento difícil que estamos vivendo, mas tudo vai passar. Estamos ficando em casa, não saímos mais pra nada. Quase todos os dias, o Widney liga e conversa conosco. Ele é muito amoroso e preocupado também. Gosta de ajudar as pessoas, de cuidar, de orientar. À Nossa Senhora, estou pedindo sempre que ela tome conta. Por meio dela, como mãe do Senhor Jesus Cristo, é mais fácil chegar a Ele. Estamos nas mãos dela”, acredita Ildeni.
 
 
A técnica de enfermagem Sandra tenta, todos os dias, tranquilizar a mãe, Maria de Freitas Machado, que é cardiopata  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A técnica de enfermagem Sandra tenta, todos os dias, tranquilizar a mãe, Maria de Freitas Machado, que é cardiopata

 

 
“Mãe só acredita vendo”
No começo da conversa, Maria de Freitas Machado, 65, brinca que está rindo para não chorar. Dos cinco filhos, a mais velha, Sandra Freitas de Sousa, 45, é técnica de enfermagem e, há 14 anos, atua no HRAN. “Minha mãe é bem amedrontada. Tem muito medo que eu, ou qualquer um dos filhos dela, pegue a doença. Desde o começo, ela sempre chorava e não queria que eu fosse trabalhar”, lembra a filha. E não demora muito para que Maria comece a relatar os episódios de insônia, a saudade dos encontros no fim de semana e o convívio com a solidão.
 
Maria mora sozinha na região do Pôr do Sol. Cardiopata, ela teve quatro infartos e tem diabetes. Logo, pertence ao grupo de risco do novo coronavírus. Sem poder sair de casa ou reunir a família, o isolamento é um peso a mais. “Tem dias que não consigo comer, só fico dentro de casa pensando, pensando. Eu me apego nas orações, em Deus. Por mais que ela ligue e fale que está tudo bem, fico achando que está acontecendo algo, achando que está doente e não quer me contar por causa do meu problema cardíaco”, detalha a matriarca.
 
Quando Sandra atuava no pronto-socorro, a mãe lidou com angústias e preocupações. “Mas nem tanto igual agora”, pontua. “Ela está dentro do hospital, em contato com tudo, só Deus para ter misericórdia”, acrescenta Maria. Sandra confessa que, no primeiro contato com os casos, ficou atordoada. “É uma doença desconhecida, que você não sabe as consequências”, justifica. O medo, tanto da mãe quanto da filha, é agravado por um quadro de embolia pulmonar que Sandra teve em julho do ano passado. “Também me apeguei muito a Deus. E sempre digo a minha mãe que me cuido direitinho, que as orações dela estão me protegendo. Procuro tranquilizá-la”, afirma a técnica de enfermagem.
 
Questionada sobre o maior desejo, Maria tem a resposta na ponta da língua: “Queria abraçar todos os meus filhos e dizer o quanto amo cada um”.
 
 
Mesmo sob o mesmo teto, Arnalda Gardenha e Lucas Henrique ficam isolados: conversas em cômodos diferentes (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Mesmo sob o mesmo teto, Arnalda Gardenha e Lucas Henrique ficam isolados: conversas em cômodos diferentes

 

 
Filho nota mil
“Para mim, ele é tudo. Tenho muito orgulho. Hoje mesmo, um amigo ligou dizendo que a esposa não estava bem, pedindo a ajuda do Lucas. Rapidinho, ele foi à casa dela e a levou para o hospital. É uma pessoa muito boa, do coração bom, está sempre ajudando os outros. Com todo mundo, ele é do mesmo jeito. Se eu pudesse, daria nota mil para ele”, conta aos risos Arnalda Gardenha Brito Costa, 49. O “ele” a quem Gardenha, como é conhecida, se refere, é o filho Lucas Henrique Brito Costa, 27, enfermeiro que hoje, depois de atuar no Hospital de Base, no Hran e no Hospital Daher, integra a equipe do hospital de campanha montado no Estádio Nacional de Brasília.
 
Os dois moram em uma casa, junto com o outro filho de Gardenha, próximo ao Jardim Botânico, mas Lucas tem um quarto completamente isolado. “Conversamos com ela na sala e eu no quarto, para manter a distância”, brinca o enfermeiro. Se a mãe era preocupada e cuidadosa antes da pandemia, agora “triplicou”. Todos os passos e as rotinas são acompanhados por mensagens e ligações. “Às vezes, ela não entende que somos profissionais, vai ter a gente sempre como filho”, justifica Lucas.
 
Apesar do olhar materno que parece enxergar os filhos como eternos bebês precisando de suporte, Gardenha nunca se opôs à escolha profissional de Lucas. “Quando ele disse que era isso que queria, depois de um estágio no Hospital Brasília, aos 16 anos, eu falei: se é isso mesmo que você quer, segue em frente. O que eu posso fazer é ajudar.”
 
Enquanto a razão controla a fala, o coração está sempre a mil. “Peço para que ele se proteja, tenha cuidado, lave bem as mãos. Fico fiscalizando quando chega em casa para ele trocar de roupa e tomar banho”, detalha. Mesmo sendo do grupo de risco por conta de uma bronquite, quando o assunto é medo, a resposta é imediata: “De ele passar mal, sentir alguma coisa. Vai dando a hora de ele chegar em casa e eu começo a ficar aflita. Peço muito a Deus que dê saúde para ele, rezo toda hora para que nada de mal aconteça. Coração de mãe é assim, sente as coisas”, afirma. Sente tanto que, hoje, dividindo a mesma casa, o que Gardenha mais sente falta — e não vê a hora de poder fazer — é abraçar e beijar os filhos.
 
 
Lucas é o único filho de Eliene Valente de Brito: muita preocupação quando soube que o filho tinha testado positivo para o vírus (Arquivo Pessoal)  

Lucas é o único filho de Eliene Valente de Brito: muita preocupação quando soube que o filho tinha testado positivo para o vírus

 

 
Como uma “estrela-guia” 
“Ele me chama de ‘minha gnoma’ ou ‘minha estrela-guia’. É muito amoroso. Sou muito feliz em ter o Lucas como filho, um presente. Quando é bebê, a gente não imagina o que vai ser. Nunca pensei que meu filho seria médico. Hoje, sou toda orgulhosa. Se eu fosse ficar preocupada, ficaria doida. Um dia ele está no Hran, outro, em Santa Maria. Tudo isso virando horas. No começo, a gente fica angustiada, mas, antes de ser meu, ele é de Deus. Deus sabe quantas pessoas ele vai ter que salvar. É muito empenhado, estudioso”, conta Eliene Valente de Brito, 53.
 
Pela primeira vez, ela e o filho, o anestesista e emergencista Lucas Valente, 29, passaram o Dia das Mães separados. Segundo Eliene, o médico é daqueles que adora reunir a família, os primos, estar presente. “Ele sempre dá um jeito de estar junto, tem esse hábito. Quando não dá, ele fica chateado e pede desculpas”, comenta a mãe. Mais do que uma data comemorativa ou uma ausência física, o ano reservou desafios para uma relação tão estreita entre mãe e filho.
 
Na linha de frente do combate à pandemia, no início de março, Lucas recebeu o exame positivo para o vírus. “Nunca achei que o Lucas fosse ter coronavírus. Quando ele me falou que estava meio gripado e tinha feito o exame, fiquei apavorada. Como assim, no ano que fiquei longe do meu filho, vou perdê-lo? É o único filho que eu tenho. Como será minha vida sem ele? Você leva um choque”, relembra.
 
Ao saber do resultado positivo, Eliene queria, a todo tempo, saber exatamente como o filho estava, se estava tudo bem. “Eu me apeguei naquele salmo: por que te abates, ó minha alma? Para não me abater. Aos poucos, fui ficando tranquila e aliviada. Mas, o monitorava o tempo todo e falava: se você não falar comigo, vou ter que te ligar”, detalha.
 
Apesar da fortaleza que sustenta a estrela de Lucas e das ocupações que Eliene encontra para pensar em outras questões, tem hora que a batida do coração acelera e silencia tudo ao redor. “Não sei como consigo ficar sem vê-lo, ainda mais sabendo de tudo isso. Hoje, que é tão importante aquele carinho, aquela atenção, será que dei total atenção para ele? Só descanso meu coração porque confio muito em Deus. Ele não ia perder a vida naquilo que ele estudou para dar a vida. Lucas sabe o tanto que eu sou apaixonada por ele, como é bom senti-lo, colocar no colo, saber que está aqui.”
 
Para mães de profissionais da saúde como ela, Eliene deixa um recado: “Os nossos filhos estão nas mãos do maior médico, que é Jesus. O amor que damos para eles é muito importante, porque a vida de médico não é fácil.”
 
 
Márcia Regina Barbosa Naves com as filhas, Kelly (esquerda) e Karla: mais de dois meses sem se encontrarem (Arquivo Pessoal)  

Márcia Regina Barbosa Naves com as filhas, Kelly (esquerda) e Karla: mais de dois meses sem se encontrarem

 

 
Separação que dói
Para a engenheira aposentada Márcia Regina Barbosa Naves, 58, Goiânia e Brasília são mais do que cidades vizinhas. Quando bate a saudade da filha, Márcia não mede a distância para, algumas vezes, passar só um período do dia com Kelly Barbosa Fernandes Naves, 36. O trabalho de Kelly, contudo, impôs, desta vez, um afastamento físico que mãe e filha nunca viveram.
 
Formada em clínica médica e com pós-graduação em nutrologia, Kelly trabalha no pronto-socorro e na emergência do Hospital Regional Leste, no Paranoá. No começo da pandemia, não tinha tanto contato com casos confirmados de covid-19. Contudo, com o aumento de infectados, passou a lidar diretamente com o tratamento.
 
“No normal, quando queria, ela vinha para Brasília ou eu me organizava pelo menos um fim de semana no mês para visitá-la. Tem mais de dois meses que não nos vemos. É difícil, mas vejo que está mais difícil para ela. A gente não se falava tanto como fala agora, são três vezes ao dia: acontece algo, ela me liga. Esses dias, ela me ligou, porque um músico estava tocando no condomínio”, detalha a filha. Como médica, Kelly tomou os cuidados para isolar a mãe e a irmã, Karla, em Goiânia. “É horrível, queria ter ido no início da quarentena ficar com ela, mas ela não deixou”, reclama Márcia.
 
Como mãe, a aposentada reconhece que não é fácil lidar com a distância do toque, do cheiro e da companhia. Sobretudo para as duas, que são tão parecidas e amigas. “Mas vejo um lado muito bonito, porque é uma doação. Ela foi doar sangue em um dia de folga, porque os hemocentros estão recebendo poucas doações. Então, a preocupação dela é além de salvar vidas. A medicina é realmente um sacerdócio. Fico muito feliz e tenho muito orgulho dela, de tudo o que ela está fazendo”, pondera Márcia.
 
O lado materno, além das constantes orações, fez com que Márcia conhecesse freteiros Goiânia-Brasília. “Olha a que ponto a gente chega. Fiquei sabendo que um vizinho tinha máscara sobrando, eu comprei pra ela e mandei entregar. Se tenho algo sobrando, dou um jeito de mandar. Busco as roupas dela para lavar aqui. A preocupação é a todo instante, mas é também uma forma de se fazer presente”, justifica.
Apesar de saber que a filha está tomando todos os cuidados necessários, Márcia conhece a filha que tem. “Ela é muito independente, não gosta de preocupar”, descreve. Sensação que Kelly confirma: “Minha mãe sempre foi de querer ser forte, e ela tem medo de que eu faça isso também”.

Correio Braziliense sábado, 23 de maio de 2020

IBANEIS AUTORIZA REABERTURA DE SHOPPINGS

 

Jornal Impresso

Ibaneis autoriza reabrir shoppings

 

» ALEXANDRE DE PAULA
» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 23/05/2020 04:00

Representantes do setor garantem que os shoppings estão preparados para receber os clientes sem colocar a saúde das pessoas em risco (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Representantes do setor garantem que os shoppings estão preparados para receber os clientes sem colocar a saúde das pessoas em risco

 


Os shoppings centers do Distrito Federal estão autorizados a reabrir as portas a partir da próxima quarta-feira. Alguns outros setores do comércio têm permissão para retomar as atividades um dia antes, na terça-feira. Decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e publicado em edição extra do Diário Oficial do DF na noite de ontem liberou o retorno dos estabelecimentos, mas definiu uma série de normas (leia Regras) que deverão ser seguidas para o funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus.
 
O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que foi preponderante para a decisão de liberar os centros comerciais a conclusão do hospital de campanha no Estádio Nacional Mané Garrincha, com 200 leitos. “Abrir um hospital não é fácil”, disse ao Correio. Ontem, a unidade recebeu o primeiro paciente (veja abaixo). O emedebista ressaltou, também, a importância de que a decisão tenha sido tomada com tempo suficiente para que o setor e os empresários possam se organizar.
 
Os shoppings poderão funcionar das 13h às 21h. Para a reabertura, todos os funcionários deverão ser testados. Nas praças de alimentação, só será permitida entregas em delivery e retiradas, sem qualquer consumo nos locais. Cinemas e atividades de lazer continuam sem autorização para abrir. Todos os clientes passarão por medição de temperatura ao entrar e provadores não poderão ser usados.
 
Além dos centros comerciais, o decreto de ontem autoriza o retorno dos alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia às atividades do estágio curricular obrigatório exercidas em unidades de saúde do DF para a atuação no combate à pandemia.
 
Alívio
A reabertura dos shoppings, avalia o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, Glauco Humai, representa alívio para o setor e para os lojistas que atuam nos centros comerciais. “É um oxigênio para nós. Sabemos que não é uma medida salvadora, mas é um início, uma retomada lenta e gradual de um novo caminho”, ponderou. “O GDF optou por essa decisão num momento em que tem mais segurança da robustez do sistema de saúde e do achatamento da curva, nós estamos preparados.”
 
Os shoppings, assegura o presidente, estão prontos para as normas definidas no decreto. “Essas regras vão muito ao encontro do protocolo de operações que desenvolvemos. Hoje, existem 107 shoppings abertos em 55 municípios e todos têm seguido o nosso protocolo.” Para ele, no entanto, é fundamental entender que a operação será diferente neste momento. “É um caminho para um novo normal. Nós e a população precisamos entender isso. O importante é retornar com segurança para evitar a necessidade de se voltar atrás.”
 
De acordo com o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismos (Fecomércio-DF), Francisco Maia, a retomada das atividades comerciais representa uma vitória para o setor. “Após várias reuniões com o governador, conseguimos, felizmente, reabrir os shoppings e algumas lojas. Estamos atendendo, principalmente, a uma reivindicação dos shoppings. O GDF pretendia reabri-lo em 2 de junho, mas conseguimos provar que as lojas estão preparadas para receber os clientes, seguindo as regras de higiene ao pé da letra”, afirmou.
 
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Edson de Castro, acredita que o cenário continuará incerto, mesmo com a liberação dos shoppings. “O sindicato não acredita que este primeiro momento vai ser bom para os lojistas, mas temos que ter essa experiência para saber”, comentou. Pela insegurança do cenário, Edson lembrou que muitos empresários não têm estoque em loja. “Nossa expectativa é de que, em 12 de junho, Dia dos Namorados, as vendas comecem a se aquecer”, disse.
 
O médico especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior Hemerson Luz, que atua nos hospitais de Base e das Forças Armadas, afirma que a reabertura dos shoppings é um assunto que pode ser tratado no Distrito Federal, justamente, porque a taxa de ocupação dos leitos de UTI está abaixo dos 50%. “Isso contribui para manter a baixa taxa de letalidade. Por isso, é possível fazer essa discussão”, explicou. Entretanto, Hemerson frisou que os números devem ser acompanhados diariamente e, caso ocorra alguma tendência de elevação que ameace a capacidade de atendimento, as decisões deverão ser discutidas novamente.
 
 
O que pode ou não abrir 
 
Funcionam sem restrições
 
» Clínicas médicas, odontológicas e veterinárias
» Laboratórios
» Farmácias
» Supermercados 
» Minimercados
» Mercearias
» Lojas de produtos naturais 
» Comércio de hortifrutigranjeiros 
» Padarias
» Fábricas e lojas de panificados 
» Açougues 
» Peixarias
» Postos de combustíveis e lojas de conveniência 
» Comércio atacadista 
 
Funcionarão com restrições das 9h às 17h
 
» Serviços em geral 
» Indústrias extrativas e de transformação 
» Construção civil 
» Atividades gráficas, financeiras, seguros, jurídicas, de contabilidade e de auditoria, de consultoria e de gestão empresarial 
» Atividades imobiliárias, de arquitetura e de engenharia
» Atividades de publicidade e comunicação 
» Agências de viagem 
» Lotéricas
» Comércio da construção civil, ferragens, madeireiras, serralheiras, pinturas e afins
» Bancas de jornais e revistas 
 
Funcionarão com restrições das 11h às 19h
 
» Comércio varejista em geral 
» Lavanderias, tinturarias e toalheiros
» Comércio de combustíveis e lubrificantes (exceto postos)
» Oficinas, mecânicas, lanternagem, pintura e afins
» Floriculturas
» Setor moveleiro e eletroeletrônico 
» Óticas
» Calçados, roupas, corte e costura
» Lojas de extintores
» Artigos esportivos
 
Funcionarão com restrições das 13h às 21h
 
» Shoppings centers e centros comerciais
 
Não podem funcionar
 
» Eventos, de qualquer natureza, que exijam licença do poder público
» Cinemas e teatros 
» Aulas em todas as escolas,
universidades e faculdades
» Creches
» Academias 
» Clubes
» Campeonatos em geral
» Museus, zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos e vivenciais
» Boates e casas noturnas
» Salões de beleza, barbearias,
esmalterias e centros estéticos 
» Quiosques, food trucks e trailers
» Comércio ambulante
 
 
Regras
 
Confira as normas que deverão ser seguidas pelos shoppings:
 
I – Garantir o fornecimento de equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço
II – Realizar os testes de covid-19, a cada 15 dias, em todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço do shopping center
III – Manter fechadas as áreas de recreação e lojas como brinquedotecas, de jogos eletrônicos, cinemas, teatros e congêneres
IV – As praças e quiosques de alimentação devem permanecer fechadas, autorizando-se exclusivamente os serviços de entrega em domicílio e retirada do produto, vedado o consumo no local
V – Haver medição de temperatura de todos os clientes antes de entrarem no shopping;
VI – Proibido o uso de provadores
VII – O uso do estacionamento deve ficar limitado a 50% (cinquenta por cento) da capacidade
 
 
Memória
 
Idas e vindas na Justiça
 
Na terça-feira, uma decisão judicial abriu caminho para que o GDF autorizasse o retorno das atividades. A Justiça Federal suspendeu determinação anterior, da semana passada, da juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Cível do DF, que escalonava reabertura de estabelecimentos, com intervalo de 15 dias entre os setores. A nova decisão atendeu a recurso apresentado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para revogar o veredito da magistrada. O Ministério Público Federal recorreu.

Correio Braziliense sexta, 22 de maio de 2020

CULTIVO DOMÉSTICO

Jornal Impresso

Cultivo doméstico
 
Além de levar sabor aos pratos com colheita fresca, manter uma horta em casa se mostra uma boa atividade em época de pandemia. A prática melhora o ambiente e a saúde, tanto física quanto mental

 

» Ana Maria da Silva*
» Jonathan Luiz*

Publicação: 22/05/2020 04:00

A administradora Helenice Pereira Cavalcante cultiva e mantém há 10 anos uma horta na varanda do apartamento (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A administradora Helenice Pereira Cavalcante cultiva e mantém há 10 anos uma horta na varanda do apartamento

 



Uma semente não é um álbum de fotografias, mas, para muitos, funciona de forma semelhante. Seja para economizar e manter a vida saudável, seja para decorar o ambiente, hortaliças, ervas e temperos passaram a fazer parte das casas e dos apartamentos dos brasilienses. Além do sabor que trazem aos pratos, muitas famílias adotaram o cultivo de hortas caseiras e passaram a olhar com mais carinho para as plantas. Respirar o aroma, controlar a umidade do ambiente, estimular o corpo e a mente a relaxarem são alguns benefícios que as plantações caseiras trazem, principalmente em tempos de isolamento social.

É o que explica a gastróloga Jennifer Lacerda. “A cozinha tem se mostrado, neste momento, como uma terapia. Muitas pessoas que nunca cozinharam na vida começaram essa prática depois da pandemia e viram que não é um bicho de sete cabeças. É muito simples, na verdade”, afirma. Segundo a especialista, o processo de cultivo ajuda os indivíduos. “A pessoa que faz uma hortinha em casa verá as ervas crescendo, terá o cuidado de molhar, de regar todos os dias e adubar. Isso certamente é uma das melhores terapias”, reforça.

Para Jennifer, os benefícios desse tipo de plantação são imensos: “As pessoas têm em mãos produtos que vão aromatizar, deixar os pratos muito mais saborosos. Além das vitaminas, há muitas que são curativas, calmantes, antioxidantes. É muito bacana ter isso em mãos na hora que você deseja”, ressalta. De acordo com a gastróloga, alface, alecrim, cebolinha, couve, manjericão, salsinha, sálvia, tomate-cereja e tomilho estão entre as opções de hortaliças e ervas simples de serem cultivadas.

Vários são os motivos para se iniciar o cultivo caseiro. Moradora de apartamento, a administradora Helenice Pereira Cavalcante, 59 anos, cultiva plantas medicinais há mais de 10 anos. Alecrim, babosa, manjericão e gengibre fazem parte da plantação. “Eu priorizo esses tipos de hortaliças, pois são as que mais uso. É minha origem interiorana. Cresci em um quintal enorme, sempre tive as plantas ao meu lado”, conta. Para manter o pequeno jardim, a administradora diz que procura deixar a terra bem adubada, além de molhá-la rotineiramente.

Para Helenice, a prática não tem lados negativos. “Eu acredito que os benefícios vão além do prazer. Surge um sentimento de comunidade também. Muitos veem as hortaliças e pedem um pouquinho. Sempre dou alecrim, por exemplo”, reforça. Além do sabor em pratos, Helenice completa que as hortaliças têm várias funções: “Podemos fazer muito com elas. Desde um chá, até um banho, além de poder usufruir cheiros maravilhosos”. No caso daqueles que não contam com espaço na residência, Helenice dá a dica: “Utilize vasos pequenos. Cultive algo que você vai consumir. Essa é a motivação que nos leva a fazer a plantação com a maior naturalidade. Vai além de um enfeite”, acredita.

Parte dos ingredientes das pizzas e dos sanduíches que Danillo Ribeiro vende é cultivada no seu quintal: ajuda do filho (Arquivo Pessoal)  
Parte dos ingredientes das pizzas e dos sanduíches que Danillo Ribeiro vende é cultivada no seu quintal: ajuda do filho


Benefícios

Devido à durabilidade dos alimentos, o comerciante Danillo Rogério Ribeiro, 32, morador de Planaltina de Goiás, decidiu cultivar dentro de casa alguns ingredientes dos sanduíches e das pizzas artesanais que vende. “Quando comprava hortaliças, folhas, entre outros, murchavam e estragavam rapidamente, o que trazia prejuízo. Como tinha espaço, comprei algumas mudas e comecei a plantar em casa”, conta. Ele diz que o manjericão, o tomate-cereja, parte da alface, o alecrim, a hortelã e o cheiro-verde que usa nos produtos são produzidos em seu lar.

Neste momento de isolamento, Danillo aproveita para envolver o filho no cultivo das plantações. “Comemos cenoura, couve, tudo da nossa horta. E agora vamos começar a colocar mais opções, como brócolis, couve-flor e outras proteínas vegetais para substituição animal da alimentação.” Essa atividade mudou os hábitos do garoto. “Ele tem 6 anos e não quer mais comer carne, decidiu ser vegano.”

A economia foi um dos fatores que fez com que a designer de moda Nicolly Primo, 21, iniciasse o cultivo da própria horta. Ela conta que há seis meses optou pela plantação caseira, após se tornar vegetariana. “Os alimentos têm um gosto mais natural, são mais fresquinhos, ajudam a minha família a ser mais saudável. Além de fazer com que eu gaste menos.” Erva-cidreira, laranja, açafrão, tomate, pimenta, feijão e salsinha fazem parte da lista de alimentos plantados em sua casa.

Nicolly explica que o cultivo é feito com as sementes que compra. “Geralmente, planto coisas novas quando o tempo não está tão frio nem muito quente. Sempre irrigo bem o solo antes de plantar algo e cuido das plantinhas todas as manhãs.” Com a ajuda da mãe, a designer incentiva o cultivo. Segundo ela, a prática trouxe benefícios psicológicos. “É algo muito bom, aconselho todos a fazerem. Ajuda você a se conectar mais com a natureza e é algo que desestressa também”, ressalta.

* Estagiários sob supervisão de Sibele Negromonte


  • Dicas de plantio

    » Pesquise sobre cada erva e hortaliça que deseja plantar. É preciso saber, por exemplo, se aquela planta precisa ser regada todos os dias ou se precisa de luz.
    » É necessário saber de quanto em quanto tempo a terra precisa ser enriquecida, colocando, principalmente, adubo de galinha.
    » Algumas ervas desenvolvem-se melhor quando próximas de outras. Às vezes, se estiverem sozinhas, podem não crescer tanto.
    » Caso apareça alguma praga, utilize um adubo de fumo, que é mais natural.

    Em apartamento
    » Uma alternativa são as hortas suspensas. Seja em uma porção na parede da cozinha, seja na área de serviço — desde que bem iluminada. O importante é que as hortaliças estejam bem adubadas. Coloque a semente ou hortaliça em potinhos com terra preta e adubo de galinha para que sejam bem cultivadas. Outra opção são as jardineiras retangulares.

    Em casa
    » É preciso ter atenção às plantações em canteiros. Dê o devido espaço de crescimento entre as plantas para que as raízes não se encontrem. À medida que as mudas forem crescendo, podem ser podadas. Dessa forma, crescem mais fortes.


  • Mão na massa
    A chef de cozinha Jennifer Lacerda dá dicas de receitas para aproveitar as hortaliças da sua horta. Caso queira conhecer mais opções, acesse o Instagram @chefjelacerda

    Purê de batatas com ervas frescas

    Ingredientes
    » 500g de batata-inglesa
    cortada em cubos
    » 150ml de leite
    » 1 colher de chá de sal
    » 2 colheres de sopa de manteiga
    » 2 colheres de sopa
    de salsinha picada

    Modo de preparar
    » Descascar as batatas e colocar em panela com água suficiente para cobri-las.
    » Cozinhar até ficarem macias. Escorrer e espremer.
    » Voltar para a panela com os demais ingredientes, mexendo sempre.
    » Finalizar com a salsinha picada, misturando bem.
    » A salsinha pode ser substituída por alecrim (em menor quantidade), tomilho fresco, sálvia ou outra erva de sua preferência.

    Molho pesto

    Ingredientes
    » 1 maço de manjericão higienizado
    » 1 dente de alho
    » ¼ de xícara de nozes
    » 1 xícara de azeite
    » 50g de parmesão ralado
    » Sal a gosto
    » Pimenta a gosto
    » 1 xícara de tomate-cereja

    Modo de preparar
    » Em um pilão ou mixer, bata todos os ingredientes, exceto o queijo, adicionando o azeite até ficar com textura de molho. Tempere com sal e acrescente o queijo.
    » O molho pesto não deve ser aquecido. Sirva com a massa fria envolvida pelo molho, junte o tomatinho e decore com lascas de parmesão e folhas de manjericão. Use em massas, saladas ou pães.

Correio Braziliense quinta, 21 de maio de 2020

ENEM É ADIADO

Jornal Impresso

Bom-senso leva ao adiamento do Enem
 
Bolsonaro e Weintraub defendiam que era preciso esperar para estabelecer novas datas, mas o Congresso forçou o recuo de ambos. Preocupação é o prejuízo para os candidatos

 

» INGRID SOARES

Publicação: 21/05/2020 04:00

 

Weintraub vinha relutando em postergar a realização do exame, mas se rendeu à evidência que a realização no período estabelecido prejudicaria os estudantes (Antonio Cruz/Agência Brasil)  

Weintraub vinha relutando em postergar a realização do exame, mas se rendeu à evidência que a realização no período estabelecido prejudicaria os estudantes

 

 

 

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, nas redes sociais, o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que seria realizado em novembro, em todo o país. A razão é a pandemia do novo coronavírus e a possibilidade de os efeitos durarem além da reabertura do país, assim que os números de casos e mortes estiverem sob controle. A decisão foi tomada em conjunto com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defendia a postergação das datas.

 “Por conta dos efeitos da pandemia da covid-19, e para que os alunos não sejam prejudicados pela mesma, decidi, juntamente com o presidente da Câmara dos Deputados, adiar a realização do Enem 2020, com data a ser definida”, escreveu Bolsonaro, em uma rede social.

 Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) informaram que decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.

 “Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta sexta-feira, 22 de maio”, diz um trecho da justificativa do Instituto.

 

Logo no início da sessão remota da Câmara dos Deputados, Maia cobrou uma sinalização de Bolsonaro sobre o assunto. O deputado tinha dado até o fim das votações da Casa para que o Executivo se posicionasse ou colocaria em votação projeto que estabelecia o adiamento do Enem.

 

Relutância

 

O comunicado do Inep e a publicação de Bolsonaro sobre o adiamento ocorrem após grande relutância do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em fazer alterações nas datas dos exames. No Twitter, na terça-feira, ele anunciou que consultaria os estudantes virtualmente sobre um possível adiamento, mas, ontem de manhã, já havia mudado de ideia. “Diante dos recentes acontecimentos no Congresso e conversando com líderes do centro, sugiro que o Enem seja adiado de 30 a 60 dias. Peço que escutem os mais de 4 milhões de estudantes já inscritos para a escolha da nova data de aplicação do exame”, escreveu Weintraub em sua rede social.

 A postergação do Enem foi aprovada, na terça, com a maioria dos votos pelo Senado, mas sem estabelecer a nova data. A proposta chancelada pelos senadores prevê que, em caso de estado de calamidade, como o atual, os processos seletivos para a educação superior serão prorrogados.

 Mesmo com as sinalizações dos parlamentares, Bolsonaro ainda resistia. Pela manhã, disse que era “muito cedo” para se decidir sobre o Enem. “Vamos esperar um pouquinho mais, é muito cedo. Nós estamos agora em maio, é novembro (a prova), espera um pouquinho mais para tomar decisão. A prova do Enem, que alguns querem adiar, acho que temos que ouvir os que vão fazer a prova”, disse de manhã para apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.

 Mas até entre a claque a qual se dirigiu, havia quem apoiasse a transferência de datas. A uma apoiadora, que faria a prova, Bolsonaro questionou: “Você quer adiar ou quer deixar em novembro mesmo?”. A mulher rebateu: “Acho que seria melhor adiar”.

 Porém, ele não se deu por convencido. “Adiar para quando? Depois que você adia, você não sabe quando. Opinião minha. Tem pedidos da Câmara, da presidência da Câmara. Parlamentares querem adiar, outros não. Eu te pergunto: a eleição vai ser adiada também? Vamos esperar um pouquinho mais. É muito cedo. Estamos agora em maio, é só em novembro. Espera um pouquinho mais para tomar a decisão”, insistiu. 

 

» Para deputado, agora vai haver igualdade 

 

Em entrevista ao CB.Poder, uma parceria entre o Correio e a TV Brasília, o deputado Professor Israel Batista (PV-DF) afirmou que adiar o Enem é essencial para garantir o acesso de todos os estudantes à prova. “O Brasil é um país de desigualdades e nós não podemos permitir que o Enem seja politizado”, afirmou. Segundo o deputado, deveria-se seguir o exemplo de outros países, como França, Estados Unidos e China, que já adiaram os seus exames que precedem a entrada no ensino superior. Para o deputado, o governo federal estava mantendo a data do Enem para “forçar a reabertura das escolas”, apesar da curva de mortes e casos estar subindo. “Ele (Abraham Weintraub, ministro da Educação) politizou todo o debate. Ele não é ministro da Educação, ele é ministro do entretenimento”, ironizou 


Correio Braziliense quarta, 20 de maio de 2020

CASAMENTO VIA INTERNET

 

Jornal Impresso

CASAMANENTO VIA INTERNET
 
 
Tão longe, tão perto
 
Médicos que se conheceram em Brasília se casam pela internet, separados por mais de 2 mil km. Casal, que passou mais de 15 anos sem se falar, decidiu manter a cerimônia de casamento mesmo com as limitações da pandemia

 

» Fernando Jordão

Publicação: 20/05/2020 04:00

O casamento foi realizado em cartório de Maceió (AL), mas o noivo estava em Bom Jesus da Penha (MG) 
 (Fotos: Arquivo Pessoal)  

O casamento foi realizado em cartório de Maceió (AL), mas o noivo estava em Bom Jesus da Penha (MG)

 


Não são raras as histórias de amores que vencem distâncias. Há também os que precisam lidar com o tempo. Mais recentemente, temos aqueles que resistem em meio à pandemia do novo coronavírus. Mas um casal de médicos, que se conheceu em Brasília, enfrentou as três adversidades — e superou todas. Depois de passarem 15 anos separados, os dois se reencontraram e decidiram se casar em 25 de abril. Impossibilitados de realizar a cerimônia presencial, resolveram selar o matrimônio pela internet. Com um detalhe: ela estava em Maceió (AL) e ele, em Bom Jesus da Penha (MG), cidades separadas por 2.225,5 km.
 
Apesar da distância, Eliana Medeiros, 53 anos, e Célio Ribeiro, 56, costumavam se encontrar, pelo menos, duas vezes por mês. No começo de março, ela estava em Minas, visitando o noivo, quando percebeu que talvez o casamento não acontecesse como esperado. "Meu voo de volta foi cancelado. Levou duas semanas para eu conseguir voltar para Maceió. Fiquei presa, não conseguia voo", lembra. Como precisava regressar ao trabalho, a médica montou uma operação complexa: "Fui de carro para Brasília e peguei um voo para Recife. Depois, peguei um táxi para Maceió de madrugada. Foi uma luta, uma tormenta".

Célio conhece Eliana há 31 anos  

Célio conhece Eliana há 31 anos

 

Nenhuma das dificuldades impostas pela pandemia foi capaz de tirar a alegria da noiva que, como médica, tem acompanhado de perto a crítica evolução da covid-19 no Brasil. "Eu tirei de boa. Para quem estava querendo fazer um monte de festa, três vestidos, não comprei nenhum. Fui com a roupa que eu tinha, porque está tudo fechado. O mais importante disso tudo é com quem você está. O mais importante é o amor mesmo", resume.
 
Idas, vindas e milagres
Recém-casados, Eliana e Célio se conhecem há 31 anos. Mineiro, ele morava no Distrito Federal e cursava medicina na Universidade de Brasília (UnB). Ela, alagoana, veio cumprir o internato hospitalar — período dos últimos anos do curso — no antigo Hospital Regional da Asa Sul (Hras), hoje Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). "Ele era do meu grupinho (de amigos) e todo mundo sabia que a gente tinha uma afinidade, não descolava", recorda ela.

Banner do casamento destaca distância do casal  

Banner do casamento destaca distância do casal

 

Após o fim do internato, a distância virou um empecilho. Apesar de boa aluna, Eliana não foi aprovada no concurso de residência no DF. Conseguiu passar em São Paulo. O então namorado foi aprovado nos dois, mas preferiu ficar na capital federal. Os dois mantiveram o relacionamento a distância por um tempo, mas acabaram optando por terminar. Mesmo com o término, seguiram amigos e mantiveram contato. Com o fim da residência, a médica voltou para Maceió, onde Célio, aliás, havia comprado uma casa de praia.
 
Aqui, o tempo virou inimigo do casal: os dois passaram 15 anos sem se falar. Eliana, porém, conversava com a família do ex-namorado, principalmente com uma irmã de Célio. Em 2017, a cunhada, Sandra, estava em viagem para a capital alagoana e a convidou para um almoço. A médica foi, sem saber, contudo, que reencontraria Célio — então com uma namorada, com a qual estava junto havia 13 anos.
 
Eliana crê que esse encontro casual foi crucial para o relacionamento dos dois. No ano seguinte, Célio lhe enviou uma mensagem dizendo que passaria três dias em Maceió, e os dois combinaram um almoço. Na ocasião, ele contou que havia terminado o namoro. “Dali em diante, a gente não se soltou nunca mais.”
 
Célio voltou para Minas — para onde havia se mudado — já com uma passagem para regressar a Alagoas. "Ele me disse que queria ir para algum lugar que ainda não conhecia. Falou em Foz de São Francisco, mas eu sugeri São Miguel dos Milagres. Quando chegamos na pousada, tinha um par de aliança usadas, não sei se alguém esqueceu ou se os donos deixavam lá. Ali, ele me disse que queria casar comigo, que queria ficar comigo para sempre", relata Eliana.
 
Por isso, além da cerimônia civil em Maceió e da religiosa em Bom Jesus da Penha, o casal celebraria o casamento com uma festa em Milagres, remarcada, agora, para 27 de fevereiro de 2021. Mas Eliana, que pretende mudar-se para Minas quando for possível, garante que estaria feliz mesmo se o evento não vier a acontecer.

Correio Braziliense terça, 19 de maio de 2020

COMÉRCIO: VOLTA GRADUAL APÓS PERDAS E DEMISSÕES

 

Jornal Impresso

Um alívio para a economia
 
 
Primeiro bloco de comércios liberados para funcionamento oferece ao setor produtivo a oportunidade de recuperar perdas, que chegam a R$ 400 milhões e a 45 mil demissões no Distrito Federal. Suspensão começou a valer em 20 de março

 

» ALAN RIOS

Publicação: 19/05/2020 04:00

João Forechi acredita que a retomada econômica será lenta:  

João Forechi acredita que a retomada econômica será lenta: "O movimento não vai ser igual ao que era antes durante um bom tempo"

 


Segmentos do comércio da capital voltaram a abrir as portas após 59 dias fechados. Ontem, serviços de corte e costura, lojas de calçados, roupas e extintores puderam retomar as atividades. A suspensão por conta do combate ao novo coronavírus começou em 20 de março, após a publicação do Decreto n° 40.539/2020. Com a medida, a rede pública de saúde conquistou resultados positivos, como o controle de casos que evitou a superlotação de hospitais, mas a economia de pequenos a grandes empreendedores acabou sendo impactada negativamente.
 
Análise do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) mostra que cerca de 45 mil moradores do DF foram demitidos nos últimos dois meses, período em que os prejuízos de lojas da capital passaram de R$ 400 milhões. Sebastião Abritta, vice-presidente do sindicato, diz que os danos atingiram uma situação dramática. “Pelo menos 350 lojas de entrequadras e de shoppings do DF não voltarão a abrir, porque os proprietários não terão como pagar os aluguéis atrasados, impostos, folha salarial dos empregados e reposição de estoques”, diz.

Francineide aproveitou a reabertura de lojas para comprar calças  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Francineide aproveitou a reabertura de lojas para comprar calças

 

João Lino de Souza, 54 anos, viveu essas dificuldades na pele. Proprietário de uma loja de roupas em Taguatinga, ele comemorou a reabertura do comércio, lembrando de dois meses difíceis que deixou para trás. “Temos um negócio familiar, então as contas pesaram e tivemos que fazer muitos cortes no dia a dia em casa e na loja. Foi um período muito complicado, porque não tínhamos a renda das vendas, mas precisamos continuar pagando aluguel, IPTU, salários de funcionários”, conta. O empresário detalha que comércios que chegavam a vender R$ 80 mil em produtos passaram a vender R$ 7 mil com portas fechadas para os clientes.
 
No caso dele, que trabalha com roupas de tamanhos especiais, há ainda o obstáculo de poucas vendas por delivery, pois muitos clientes precisam experimentar o produto. “Agora, vamos esperar para ver como vai ser a retomada. Mas sei que os fracos não vão aguentar. Loja pequena vai fechar. Até porque o horário de abertura tem que ser às 11h, isso ainda traz perdas ao comércio”, avalia. O filho, João Vitor Forechi, 26, também voltou ao trabalho na loja do pai, ontem, e imagina resultados demorados. “Nós tivemos que antecipar férias, fazer a suspensão temporária de contratos, negociar aluguel. E, daqui para frente, acho que o movimento não vai ser igual era antes durante um bom tempo. Vai demorar para ter as contas em dia”, observa.

Clientes de Rosângela Oliveira tiveram a temperatura medida (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Clientes de Rosângela Oliveira tiveram a temperatura medida

 

Critérios
Há uma série de critérios para a reabertura dos estabelecimentos no DF. Conforme decisão da juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Federal Cível, a retomada das atividades deve ser realizada em blocos. Na ordem judicial, Kátia cita que “qualquer medida que tomarmos deve ser feita em fases, para refletir a situação do país”, mesmo entendimento defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Por isso, setores vão reabrir a cada 15 dias. Além disso, os estabelecimentos com atendimento de clientes dentro do comércio devem funcionar apenas entre as 11h e as 19h. Também é necessário, por exemplo, garantir a distância entre clientes, fornecer equipamentos de proteção aos empregados e aferir a temperatura de quem entra (veja As regras).
 
No primeiro dia de permissão de comércios, estabelecimentos que cumpriam as obrigações à risca eram exceções. É o caso da loja em que Rosângela Oliveira, 39, é gerente, em Taguatinga. O local deixou apenas uma entrada, para ter controle dos clientes, medir a temperatura e passar álcool nas mãos antes que eles tocassem nas roupas. “Aqui cumprimos todas as recomendações. Também instalamos seis pontos de álcool em gel espalhados pela loja, deixamos os colaboradores que fazem parte do grupo de risco em casa, como gestantes e idosos, e não aceitamos ninguém entrar sem máscara”, explica. Confiante, Rosângela acredita que o movimento de clientes deve voltar com força neste mês. “Isso é bom, porque muita gente está sendo demitida com lojas quebrando”, lamenta.
 
No estabelecimento, também foram colocados informes nas paredes e são passados avisos em caixas de som, com recomendações dos órgãos de saúde. Francineide Oliveira, 39, conta que aprovou a volta do comércio. “Aproveitei para comprar umas calças logo no primeiro dia da reabertura, porque preciso de umas peças para trabalhar. Sou diarista e estive em serviço todos esses dias. As contas não param, tive que continuar também”, conta. Porém, ver as recomendações sendo aplicadas acaba gerando uma sensação maior de segurança. “Entrei na loja, mediram minha temperatura e me deram álcool, isso faz com que eu me sinta mais protegida e é até bom, porque sei se estou com febre ou não”, aponta.
 
No lado dos exemplos negativos, cidades como Ceilândia, Samambaia e Taguatinga, que figuram entre aquelas com maiores incidências proporcionais de casos da covid-19, contavam com inúmeras lojas abertas de forma irregular. Vendas de ambulantes nas ruas também causavam aglomerações. Gilmaria Dias, 42, visitou alguns comércios, ontem, e contou só ter visto álcool em gel em dois deles. “Comprei umas roupas para a chegada do frio, que está começando, mas vi poucos locais cumprirem todas as determinações”, afirmou a técnica de enfermagem.
 
O Governo do Distrito Federal (GDF) instaurou uma força-tarefa para fiscalizações, composta por representantes da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divsa), da Secretaria de Transporte (Semob), do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, do Procon-DF, entre outros órgãos.
 
 
As regras
 
Obrigatoriedades do comércio

» Funcionamento no período das 11h às 19h (exceto em casos de operações de entrega em domicílio, pronta-entrega em veículos e retirada do produto no local, sendo proibido o uso de mesas e cadeiras aos consumidores);
» Garantir a distância mínima de dois metros entre as pessoas;
» Fornecer equipamentos de proteção individuais a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço;
» Organizar uma escala de revezamento de dia ou horário de trabalho;
» Proibir o trabalho de pessoas consideradas do grupo de risco, como idosos, gestantes e pessoas com comorbidades;
» Fornecer álcool em gel 70% para todos os clientes e frequentadores;
» Manter os banheiros higienizados e com materiais de limpeza e higiene para empregados, colaboradores, terceirizados, prestadores de serviço e consumidores;
» Aferir a temperatura dos consumidores, empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviços, registrando os dados dos funcionários em planilha;
» Impedir a entrada no estabelecimento e orientar a procurar uma unidade de saúde caso seja constatada temperatura igual ou superior a 37,3 °C;
» Utilizar máscaras de proteção facial.
 
 
O cronograma
 
Confira os blocos de reabertura de estabelecimentos do DF:
 
Bloco 1 — Primeiros 15 dias
» Atividades comerciais: atacadistas, representantes comerciais e varejistas; atividades de serviços: informação e comunicação;
» Atividades profissionais, científicas e técnicas: agências de publicidade e consultorias
» Atividades administrativas e serviços complementares: agências de viagem, fornecimento e gestão de recursos humanos; atividades associativas.
Bloco 2 — Após os primeiros 15 dias
» Shoppings e centros comerciais.
Bloco 3 — Após 30 dias
» Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas; serviços ambulantes de alimentação; serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada; cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza.
Bloco 4 — Após 45 dias
» Atividades de exibição cinematográfica (cinemas); artes, cultura, esporte e lazer (academias, espetáculos, bibliotecas, Jardim Botânico, clubes sociais, parques de diversão e eventos; atividades de organizações religiosas (igrejas, templos, etc.); feiras livres; educação e administração pública.
 
 
Palavra de especialista 
 
Aumento de casos é certo
 
“Certamente, haverá um aumento no número de casos com a reabertura do comércio, nos próximos 10 ou 15 dias, que é o esperado quando há qualquer flexibilização. Mas, se o aumento do número de contaminações conseguir ser bem suportado pelo sistema de saúde, isso vai abreviar o tempo em que nós vamos precisar das medidas de distanciamento, então a nossa pandemia pode acabar mais cedo. Tem que ser feito tudo de maneira bem controlada. As medidas para frequentar os ambientes são as mesmas amplamente divulgadas. Usar bastante álcool em gel, evitar tocar o rosto e estar sempre de máscara, principalmente.”
 
Alexandre Cunha,  vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF

Correio Braziliense segunda, 18 de maio de 2020

COMÉRCIO PREPARA NOVA ETAPA DE ABERTURA

 

Comércio prepara nova etapa de reabertura
 
Lojas de rua autorizadas a retomar as atividades pelo GDF se preparam para abrir as portas após cerca de dois meses sem funcionar. Multa para quem sair de casa sem máscara começa a ser aplicada hoje

 

» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 18/05/2020 04:00

 

Eliane Jacques Medeiros integra o grupo de risco e evita ao máximo sair de casa. O filho Waldir Jacques é quem faz a maior parte das compras para a família (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Eliane Jacques Medeiros integra o grupo de risco e evita ao máximo sair de casa. O filho Waldir Jacques é quem faz a maior parte das compras para a família

 

 

 

Há quase dois meses de portas fechadas, o comércio do Distrito Federal começa, nesta segunda-feira, mais uma etapa da retomada de atividades. Após a Justiça autorizar a reabertura dos estabelecimentos de forma escalonada — por segmento e a cada 15 dias —, o Executivo local publicou decreto que prevê a abertura de algumas lojas de rua de roupas, calçados, corte e costura e de extintores de incêndio. Mesmo assim, entidades do ramo acreditam que o aquecimento das vendas será lento. Além disso, a partir de hoje, os brasilienses que circularem sem máscara de proteção facial serão multados.

 

Segundo o presidente da Federação do Comércio, Bens e Serviços (Fecomércio-DF), Francisco Maia, a entidade busca negociação com o governo para a reabertura de mais setores nesta semana. Até sexta-feira, Maia espera que os shoppings voltem a funcionar. “Os lojistas (dos shoppings) estão reclamando muito por causa da liberação de alguns setores. Vamos forçar o governador”, disse.

 

O presidente da Fecomércio se reunirá com Ibaneis Rocha hoje, mas ainda não há data e local definidos. No entanto, ele reforça que a retomada das atividades dependerá de alguns critérios, que não provoquem problemas sanitários, o que pode ocasionar um retrocesso da contenção do coronavírus.

 

A juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Cível do Distrito Federal, ainda não respondeu ao recurso apresentado pelo GDF com o argumento de “cabe ao Executivo local e não ao Judiciário tomar decisões sobre as datas e condições de abertura das atividades comerciais”.

 

Lucimeire Arruda, 53 anos, gerencia uma loja de calçados no Guará 1. Para ela, o cenário é de cautela. “Suspendemos os contratos dos funcionários. Vamos aguardar a movimentação de clientes nos próximos dias para saber se podemos chamar alguns de volta”, disse. Ontem, ela preparava o estabelecimento para reabrir hoje. “Vamos deixar bastante álcool em gel, fazer aquisição de máscaras e controlar a entrada de pessoas.”

Desafios

 

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Edson de Castro, ressaltou que os empreendedores precisam ter atenção e evitar lotação nos estabelecimentos, para que não haja maior disseminação do vírus. “Caso isso ocorra, tudo será fechado novamente”, alertou. Ele afirmou, ainda, que a expectativa do sindicato era de que toda atividade comercial da capital fosse retomada nesse primeiro momento, principalmente os shoppings. “Por outro lado, a gente observa que no DF está baixa a taxa de mortalidade, justamente devido aos cuidados que o governador tomou. Se a gente abrir tudo de uma vez, corremos o risco de fechar em uma semana”, ponderou.

 

“Perdemos a noção de quantas pessoas foram demitidas, porque esse processo passou a ser feito direto nos estabelecimentos, sem passar pelo sindicato. No nosso último levantamento, eram 1,7 mil desempregados”, lamentou o presidente da entidade. Além disso, Edson comentou que muitas lojas estão sem estoque e terão dificuldades para reabrir. “O pior de tudo é que não estão havendo contratações.”

 

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF), José Carlos Magalhães, defende a reabertura gradual dos comércios, mas alega que o retorno para os outros segmentos não deve demorar muito. “Caso retarde muito a volta, haverá uma desobediência, porque todos estão com dívidas. Contudo, é preciso cuidado para não corrermos o risco de voltar a fechar. Então, será preciso seguir à risca as diretrizes estabelecidas pelo governo”, argumentou.

De acordo com ele, o número de lojistas que voltarão a trabalhar nos quatro segmentos liberados no sábado não é tão alto. “Antes da pandemia, tínhamos cerca de 320 mil pessoas desempregadas apenas no setor varejista e esse quantitativo pode haver mais 140 mil”, disse.

 

Máscaras obrigatórias

 

O uso obrigatório de máscaras está vigente desde 30 de abril no DF, e apenas em 11 de maio a multa passou a valer para quem descumprisse a regra. Na primeira semana, no entanto, o Executivo decidiu adotar uma abordagem educativa e apenas punir quem demonstrasse resistência. A partir de hoje, quem for flagrado sem a máscara poderá pagar R$ 2 mil, por infração sanitária. Para os estabelecimentos, o valor é de R$ 4 mil e pode ser dobrado caso haja reincidência. A fiscalização do uso do equipamento ficará a cargo Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) e contará com uma força-tarefa composta por diversos órgãos, como o Departamento de Trânsito (Detran) e Polícia Militar.

 

Entretanto, apenas a DF Legal, a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) e a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) podem aplicar as multas. Quem for penalizado, tem prazo de 10 dias para apresentação de eventual impugnação junto ao órgão emitente do ato administrativo. As máscaras de proteção facial devem ser usadas em espaços públicos, vias públicas, equipamentos de transporte público coletivo e estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços.

A dona de casa Eliane Jacques Medeiros, 53, mora na 410 Norte com os dois filhos, de 32 e 29 anos. Portadora de diabetes, ela integra o grupo de risco para o novo coronavírus e defende as medidas estabelecidas pelo governo. “Só saio de casa em caso de extrema necessidade. Além do distanciamento social, o uso das máscaras é essencial para nos afastar de problemas maiores, evitando a contaminação”, afirmou.

 

O filho mais velho, Waldir Jacques, 32, conta que faz o máximo para preservar a saúde da mãe. “Estipulamos que apenas eu saio para ir ao mercado ou à farmácia em, apenas, uma vez na semana.” Embora favorável ao isolamento social, Waldir analisa todo o cenário. Ele administra uma barbearia na Asa Norte e tem sentido as consequências econômicas da covid-19. “Estou há quase 60 dias fechado e o movimento caiu cerca de 80%. Mas a minha preocupação, neste momento, é com minha mãe, que precisa de cuidados. Devemos evitar ao máximo a disseminação desse vírus”, complementa. 

 

» Duas perguntas para Marcos Pontes, médico clínico geral do Grupo Santa

 

Como o senhor avalia a reabertura de algumas lojas? 

Da parte médica, o que podemos dizer é que o DF continua em curva ascendente. Acreditamos que os casos aumentarão, porque não estamos apresentando diminuição no número de notificações. É certo que, se você tira a população da quarentena, há um risco maior. Então, é natural que a propagação do vírus aumente.

 

Qual a principal orientação para população nesse momento?

Todos estão orientados sobre o uso da máscara, álcool em gel e do distanciamento social. É bom que entendam essas medidas para evitar o contágio do coronavírus e a sobrecarga no sistema de saúde. 

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense domingo, 17 de maio de 2020

MAIS LOJAS AUTORIZADAS A ABRIR

 

 

Mais lojas autorizadas a abrir
 
Decreto assinado ontem pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), permite o funcionamento de lojas de calçados, de roupas, de serviços de corte e costura e de extintores de incêndio. Os estabelecimentos poderão funcionar das 11h às 19h

 

» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 17/05/2020 04:00

Gerente de uma loja de roupas no Sudoeste, Adriana Ribeiro prepara o estabelecimento a reabertura  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Gerente de uma loja de roupas no Sudoeste, Adriana Ribeiro prepara o estabelecimento para reabertura

 



Lojas de rua que vendem calçados, roupas, extintores e aquelas que prestam serviços de corte e costura estão autorizadas a reabrirem no Distrito Federal. A liberação está prevista em decreto assinado ontem pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e publicado ontem em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF). Esses estabelecimentos estavam fechados desde 19 de março, como medida de prevenção de contágios pelo coronavírus. Agora, poderão funcionar com horário reduzido, entre as 11h e as19h.

Aos comércios que ainda não receberam a liberação do governo para reabrir, a norma delimita que ficam permitidas operações de entrega em domicílio, pronta entrega em veículos e retirada do produto no local, sem abertura do estabelecimento para atendimento ao público. É vedada, portanto, a disponibilização de mesas e cadeiras aos consumidores.

A permissão para a reabertura vem um dia após a Justiça autorizar a volta gradual do comércio, em blocos, com intervalo de 15 dias. Na mesma data, o Executivo local apresentou recurso ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para revogar a decisão e informou que espera abrir as lojas na segunda-feira. O GDF alega, na ação, que “cabe ao Executivo local e não ao Judiciário tomar decisões sobre as datas e condições de abertura das atividades comerciais”.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, diz que esperava que mais segmentos fossem reabertos esta semana. “Em função da decisão da Justiça, o governo não conseguiu cumprir o decreto anterior, que previa a retomada total para segunda-feira”, lamentou. Entretanto, Maia acredita que outros setores de lojas de rua devem ser reabertos no decorrer da próxima semana.

Ele garantiu que a entidade acompanhará se todas estão seguindo as regras previstas no decreto. Em relação às vendas, Maia ressaltou que não deverá ocorrer aumento durante esse período. “As pessoas estão com receio de sair de casa. Fizemos uma pesquisa que mostra que 70% dos empresários acreditam que não vai ocorrer a normalização após a reabertura.”

Segundo a infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Joana D’arc, é ruim que os comércios fiquem muito tempo sem reabertura alguma, mas é preciso haver mudança de comportamento para reduzir os contágios pela covid-19. “Os mais vulneráveis devem evitar sair de casa sem necessidade. É importante ressaltar que, quem sair, deve manter distanciamento social e usar a máscara. Nesse momento difícil, é essencial investir em mudança de atitude”, orienta.

Expectativa

Adriana Ribeiro, 44 anos, gerencia uma loja de roupas feminina no Sudoeste. O estabelecimento permaneceu fechado durante 40 dias. Depois disso, a gerência adotou o delivery. “Nós sobrevivemos. Estávamos vendendo pelo site ou telefone. Chegamos até a entregar as peças nas casas de clientes, mas sem sair da região”, diz. A gerente se diz esperançosa e se prepara para a retomada. “Todas as peças são higienizadas com uma mistura de álcool e água, temos dispensa de álcool em gel para os funcionários e consumidores e limpamos o balcão e o chão pelo menos três vezes ao dia.”

Proprietário de uma loja de roupas no Riacho Fundo 1, Gildeão Nunes, 34, teve grande prejuízo. “Consegui manter meus funcionários e estamos preparando a loja para a reabertura. Vamos adquirir máscaras e disponibilizar álcool em gel para todos.”


Trabalho presencial
O GDF também determinou, ontem, por meio de decreto, a volta de parte dos servidores ao trabalho presencial. Funcionários da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da fiscalização da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri) não estão mais incluídos no regime de teletrabalho. Apenas aqueles que integram grupos de risco ou apresentam sintomas de gripe devem atuar em esquema de home office.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 16 de maio de 2020

A VIDA TERÁ NOVO VALOR

 

A vida terá novo valor

 

Adriana Izel
José Carlos Vieira
Nahima Maciel

Publicação: 16/05/2020 04:00

Como será o mundo pós-pandemia? Seremos pessoas melhores? O Correio entrevistou artistas e escritores sobre esse novo olhar para a realidade. São depoimentos emocionados, sensíveis, mas também realistas, como o questionamento da desigualdade social no país. “Essa pandemia revela uma situação de extrema fragilidade que nossa sociedade vive”, destaca o rapper Criolo. Para a atriz Ingrid Guimarães, novas maneiras de se relacionar surgirão. 
 
 
 (Estevam Avellar/Divulgação)  
 
 
“Desigualdade revelada”
 
• “Esse sentimento de dor, essa dor que estamos vivendo, ela tem que fazer valer para que possamos reconstruir tudo de novo. É um momento de repactuarmos. A gente desacelerou, os bichos voltaram, voltamos a ver as estrelas. Isso não é um símbolo, é a vida. A natureza tem uma autorregulação que a gente não tem. Temos que ouvir mais. Essa coisa de achar que o ser humano pode dominar a natureza, a pandemia está mostrando que não, que não controlamos tudo.  A pandemia está mostrando mais claramente o fosso que a desigualdade social é. Não é inventar a roda, temos que ter a sabedoria viva. Esse momento de isolamento precisa ser para nos repensarmos, quem são nossas referências. Por isso não dá mais para ficar no seu rebanho. Ninguém será como antes, não vai ter recuo. É a realidade que a gente precisa para não adoecer psiquicamente e fisicamente. Precisamos nos nutrir de boas informações, estarmos cada vez mais guardiões do que estamos lendo, vendo, multiplicando e compartilhando, porque essa pandemia existe, assim como a doença da cegueira política. Isso é passível de reconstrução. É possível a gente pensar e repensar nosso estar no mundo. Embora eu não seja Poliana — sei o tanto que essa pandemia está exacerbando a desigualdade no país e no mundo — sou otimista, sim, para esse caminho de instrução que estamos indo, de que a gente precisa ouvir saberes ancestrais e que temos como obrigação multiplicar. Todo dia fazemos escolhas, que podem fazer sucumbir e renascer. Que a humanidade acorde e faça valer o desejo da vida. E, sim, a favor da vida.”
 
Camila Pitanga, atriz
 
 
 (Ulisses Dumas/Divulgação)  
 
 
“Novas direções à vista”
 
• “O mundo vai ser reinventado e novas direções para essas reinvenções podem ser as mais variadas possíveis. Desde o fortalecimento desses novos sistemas de interação com os públicos (os shows domésticos, a disponibilização via internet de arquivos e acervos de museus, teatros, bibliotecas, televisões e tanta coisa mais), até a volta gradual aos modos convencionais de interação, a medida que forem caindo os isolamentos, as quarentenas, os lockdowns. É difícil apontar com segurança como vai ficar esse novo mundo que vem por aí o que ficará melhor ou pior.”
 
Gilberto Gil, cantor e compositor
 
 
 (Arquivo Pessoal)  
 
 
“O medo não educa”
 
• “Haverá um fosso maior entre as classes sociais. Quem é pobre ficará mais pobre, quem é rico só ficará menos rico, mas, ainda assim, rico. E a classe média que servia de ponte entre os extremos tende a desaparecer. Não existem aspectos bons (no mundo pós-pandemia), quando temos por dia o equivalente a duas catástrofes de Brumadinho. Não serei nunca adepto da teoria de que só os fortes ficarão e que a tragédia é parte da cadeia alimentar. Perderemos sábios, como Aldir (Blanc). Perderemos antenas da raça, quem estavam no apogeu da memória, quem havia dado tudo de si para chegar à velhice com saúde. Medo não educa, o que educa é a empatia, solidariedade.”
 
Fabrício Carpinejar, escritor


 
 (Bel Pedrosa/Divulgação)  
 
 
“Cuidar das pessoas”
 
• “Falar do mundo pós-pandemia neste momento seria, para mim, um simples chute, acredito que faltem elementos para embasar uma previsão razoável. Até as próximas fases da pandemia, que não terminará tão cedo, me parecem nebulosas demais. A única coisa que julgo clara neste momento é a tarefa de sobreviver, cuidar das pessoas queridas, tentar não ficar maluco, torcer para que nos sobre um país minimamente funcional depois que passar essa calamidade sanitária e política. No meu caso, pelo menos, não tem sobrado espaço para pensar em mais nada.”
 
Sérgio Rodrigues, escritor
 
 
 (Cleones Ribeiro/TV Cultura)  
 
 
“Reflexão sobre a miséria”
 
“Como será a vida das pessoas após a pandemia, que certamente deixará uma grande parte do mundo em escura sofreguidão? Será que, à semelhança da personagem de Clarice, vamos “cair numa bondade extremamente dolorosa”? Seremos mais solidários? Não consigo prever nem sequer intuir o futuro. Como escritor de ficção, estou mais preocupado com o passado e sua repercussão no presente. Mas arrisco dizer que o sofrimento da imensa maioria dos brasileiros e a morte de milhares de pessoas podem sensibilizar os que eram indiferentes à dor dos outros. Muitas pessoas vão refletir sobre nossa dupla miséria: social e política. Mas a grande questão refere-se ao papel do Estado, responsável por políticas públicas. Os biomas e suas populações originárias serão protegidos e respeitados? A obscena, brutal desigualdade social vai diminuir? Vão diminuir a violência e a impostura política? Nossas elites — política, econômica, institucional — vão adquirir consciência de que é urgente investir seriamente no saneamento básico, na educação e saúde públicas de qualidade? Espero que os jovens usem toda sua energia — física, moral e intelectual — para, nos limites da democracia e do Estado de direito, fazer mudanças positivas e duradouras. Só assim poderemos emergir desse “mundo em escura sofreguidão.”
 
Milton Hatoum, escritor
 
 
 (Desirée do Valle/Divulgação)  
 
 
“Um dia de cada vez”
 
• “Nossa realidade já mudou. Os hábitos vão mudar daqui para frente. Tem o lado da solidariedade, de pensar no coletivo, que é algo que me emociona. Eu acordo pensando como posso ajudar o outro de alguma forma. E as novas maneiras de se relacionar. Vamos viver uma vida asséptica. Só nos resta viver um dia de cada vez.”
 
Ingrid Guimarães, atriz


 
 (Daryan Dornelles - Cantor e compositor Criolo)  
 
 
“Precisamos viver em paz”
 
• “Essa pandemia revela uma situação de extrema fragilidade que nossa sociedade brasileira vive. Uma sociedade cheia de problemas que é catapultada por uma desigualdade social muito cruel. Essa pandemia vem revelar a determinadas camadas da nossa sociedade a calamidade pública que vive o ano inteiro e já há décadas e séculos as partes mais pobres da cidade, os lugares mais esquecidos pelo Estado. Essa calamidade pública é o ano todo. A pandemia revela às pessoas que não tinham ideia, de como o Brasil é realmente. Enquanto não houver justiça social é impossível viver em paz. Que a gente possa se sentir tocado, se sentir forte o suficiente para lutar contra as desigualdades.”
 
Criolo, rapper
 
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sexta, 15 de maio de 2020

ELES GANHARAM A LUTA

 

 

No Distrito Federal, a professora Elinete Miller, 83 anos, deixou o Hospital Brasília, no Lago Sul, sob aplausos da equipe médica. Ela passou 40 dias internada por causa da covid-19, sendo 20 na UTI. Em Sergipe, Josefa Maria de Jesus venceu a doença aos 103 anos.  (Reprodução/Hospital Brasilia - Reprodução vídeo/Facebook/Prefeitura de Simão Dias)

Paciente de 83 anos sobrevive à covid
 
 
Professora aposentada se recupera da doença ao passar 40 dias internada em hospital do Lago Sul, sendo 20 em unidade de terapia intensiva (UTI). Ao receber alta, na segunda-feira, recebeu homenagens e aplausos da equipe médica que a atendeu

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 15/05/2020 04:00

Elinete Miller ficou emocionada ao deixar o hospital por um  

Elinete Miller ficou emocionada ao deixar o hospital por um "corredor de aplausos"

 


Os primeiros sintomas do coronavírus começaram de forma leve em Elinete Miller, 83 anos, e foram aumentando com o passar dos dias. O que eram dor de cabeça e náuseas evoluíram rapidamente para tosse e falta de ar. A professora aposentada logo desconfiou que se tratava de covid-19, mas não imaginava que teria de travar uma batalha entre a vida e a morte. Ontem, ela recebeu alta e deixou o Hospital Brasília, no Lago Sul, sob aplausos.
 
Elinete sentiu que estava com algum problema de saúde em 23 de março, logo após uma passagem por São Paulo, o epicentro da pandemia de coronavírus no Brasil. No dia 27, em Brasília, a falta de ar tornou-se sufocante, e ela precisou procurar o hospital, onde ficou internada por mais de 40 dias, 20 deles na unidade de terapia intensiva (UTI). “Eu me agarrava às pessoas, esperando que me salvassem do desespero da falta de ar. Houve momentos em que eu queria desistir de viver”, relembra. “Felizmente, a equipe medica da UTI, enfermeiras, enfermeiros e técnicos foram dedicados. Sou muito grata a todos”, conta.
 
Emoção
A professora aposentada relembra que, em um dos momentos mais difíceis, pediu para que a deixassem morrer. “Disse que eu não queria mais sofrer, mas a enfermeira me respondeu que eu não morreria, que estavam cuidando de mim. Foi, então, que eu reagi”, diz, emocionada. “Senti muita dor em todo o corpo, dor de cabeça, dor de garganta, ouvido. A falta de ar é uma situação desesperadora”, afirma.
 
Na segunda-feira, Elinete recebeu alta, ganhou balões verdes, abraços e um “corredor de aplausos” da equipe médica que atuou na recuperação dela no Hospital Brasília. No vídeo gravado no momento em que a professora deixa a unidade de saúde, é possível ver a emoção da idosa.
 
A paulista Elinete dedicou-se ao teatro e à docência boa parte da vida. Conta que chegou a Brasília na ditadura militar, queria fazer artes visuais e cinema, mas o governo da época fechou os cursos na cidade. Nos últimos anos, ela morou nos Estados Unidos com o marido, o teólogo americano John Lawrence Miller, com quem construiu a família.
 
Ainda um pouco cansada após tantos dias de internação, ela diz que a vida não será a mesma após a covid-19. “A experiência de ficar na UTI e de me libertar do coronavírus fortaleceu o meu compromisso com a vida”, ressalta. Em casa, ela segue em isolamento, por recomendação médica, mas pretende voltar a trabalhar como escritora de peças teatrais. “Eu gosto muito da vida, gosto de viver, trabalhar, gosto de me sentir útil e de participar da vida em sociedade”, comemora.


Aos 103 anos, ela venceu a covid-19
 
Em Sergipe, no município de Simão Dias, outra idosa sobreviveu à covid-19. Josefa Maria de Jesus, 103 anos, recebeu alta na terça-feira, sem apresentar sintomas. Ela mora no Povoado Caraíbas de Baixo e foi monitorada pela Secretaria Municipal da Saúde entre 28 de abril e 11 de maio. “Graças a Deus, graças a Deus”, disse Josefa ao descobrir que estava curada da doença. Com o caso da idosa de 103 anos, Simão Dias registra cinco pessoas recuperadas da covid-19.
 
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Correio Braziliense quinta, 14 de maio de 2020

NO RITMO DA SOLIDARIEDADE

 

No ritmo da solidariedade
 
 
Artistas brasilienses realizam importante papel de arrecadar doações e divertir o público por meio de lives musicais

 

Maria Baqui*
Vinícius Veloso*

Publicação: 14/05/2020 04:00

Guga Cammafeu e Thiago Nascimento: a live Axé Solidário arrecadou mais de 15 toneladas de alimentos para projetos sociais da capital (Luara Baggi/Reprodução)  

Guga Cammafeu e Thiago Nascimento: a live Axé Solidário arrecadou mais de 15 toneladas de alimentos para projetos sociais da capital

 

 
As lives musicais, além de divertir as pessoas que estão em isolamento para prevenir a transmissão da covid-19, funcionam como meio de arrecadar doações — sejam elas financeiras ou de produtos — a necessitados. Em Brasília, artistas de vários estilos vêm colaborando para que a diversão e a solidariedade caminhem lado a lado, ajudando milhares de pessoas com alimentos, produtos de limpeza e muita música.
 
Os cantores Guga Cammafeu e Thiago Nascimento, populares por animarem festas brasilienses com muita música baiana, uniram os trabalhos na live Axé Solidário, com a intenção de ajudar as pessoas. “Com o momento que estamos passando, resolvi convidar o Thiago e ele não pensou duas vezes em fazer o bem e ajudar os que estão passando por essa situação difícil. É hora de se unir, de dividir para multiplicar e salvar vidas”, explica Guga.
 
Por meio do projeto Fome de Música, em parceria com o Mesa Brasil, um QR Code foi disponibilizado para que as pessoas realizassem doações a partir de R$ 5. Pelo celular, várias mensagens de amigos com doações chegavam durante a live. E o projeto foi um sucesso.
 
Segundo Guga Cammafeu, além da arrecadação financeira, mais de 15 toneladas de alimentos foram doadas, assim como máscaras, álcool em gel e luvas. “Pensamos, desde o início, em ajudar e arrecadar muitas outras coisas que são de extrema importância para essas famílias necessitadas. Fazer o que a gente ama, que é cantar, e ainda ter esse retorno incrível dos admiradores do nosso trabalho com tanta arrecadação, só nos faz ter a certeza de que acertamos nessa união”, completa. As doações do Axé Solidário foram direcionadas para o Instituto Doando Vida e para outros projetos da capital federal.

 (Ricardo Ribeiro/Divulgação)  
 
O grupo brasiliense de rap Tribo da Periferia não ficou de fora, e também arrecadou doações para o projeto Fome de Música. Segundo o integrante Duckjay, o momento delicado de pandemia e ausência de apresentações físicas contribuiram para a ideia de participar do projeto. “Nessa quarentena, aproveitamos a ausência de shows para prepararmos novas canções e clipes. Além disso, elaboramos ações colaborativas diante dessa crise econômica”, explicou.
 
Pagode solidário
 
O grupo Di Propósito também realizou um show on-line e conseguiu uma grande arrecadação para Brasília, muito por conta da notoriedade nacional conquistada com o pagode. Segundo Rafael Rabadan de Oliveira, bancário e responsável pela arrecadação das lives do grupo, a importância desse projeto é enorme. “A intenção da live é ajudar o próximo. Utilizamos nosso trabalho musical para fazer o bem a maior quantidade de pessoas possíveis e combater a covid-19.”
 
A primeira live dos pagodeiros, com mais de 750 mil visualizações no YouTube, foi responsável pela arrecadação de 34 toneladas de alimentos e outros produtos, destinados para a Casa Renascer, para o Lar dos Velhinhos e pessoas do ramo musical brasiliense que estão precisando. A apresentação virtual contou também com o apoio do BRB, que disponibilizou um QR Code para doações monetárias que foram direcionadas para as instituições apoiadas pelo BRB Play.
 
Conhecido pelo público por um recheado repertório de pagode, o grupo Menos é Mais tem investido em conteúdo on-line durante a pandemia da covid-19. Em 25 de abril, os integrantes fizeram uma live para lá de especial. O show pelo Instagram, intitulado Churrasquinho do Menos é Mais, contou com a presença virtual de Péricles, Thiago Silva, Neymar e Ronaldinho Gaúcho, que está em prisão domiciliar no Paraguai.
 
Com o conteúdo, o grupo arrecadou doações para serem destinadas a organizações filantrópicas no DF que estejam distribuindo produtos essenciais para a população em situação de vulnerabilidade. Por meio de um QR-code que destinava a um site de vaquinha on-line, no total, foram arrendadas duas mil máscaras, mais de 20 toneladas de alimentos e produtos não perecíveis. “Vimos, a partir do exemplo de outros artistas, a oportunidade de não parar com ações sociais nesse momento de quarentena. E, realmente, a live trouxe um volume enorme de arrecadações. Ficamos surpreendidos e motivados”, comentou Gustavo Goes, integrante do grupo.
 
Menos é Mais: evento realizado na internet teve a presença virtual de famosos como Péricles, Neymar e Ronaldinho Gaúcho (Arquivo Pessoal)  

Menos é Mais: evento realizado na internet teve a presença virtual de famosos como Péricles, Neymar e Ronaldinho Gaúcho

 

 
A cantora Dhi Ribeiro apresentou-se on-line para comemorar o aniversário de 51 anos do Guará. O show virtual foi em parceria com o cantor Gabriel Correa. Além de atender aos pedidos dos fãs, a artista explicou que sempre gostou do envolvimento em causas sociais, por isso, concretizou a ideia de uma live para arrecadar doações para a população prejudicada pelo vírus. No total, ela recebeu uma tonelada de alimentos não perecíveis, cinco mil itens de higiene pessoal, 290 caixas com produtos de limpeza diversos e, além disso, cobertores e roupas de frio. “Acho que, além de ser uma troca valiosa, estamos em contato com as pessoas de alguma forma, sempre fizemos isso, mesmo antes da pandemia, fazemos shows com arrecadações para comunidades carentes e instituições sociais”, contou.
 
*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira
 
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Correio Braziliense quarta, 13 de maio de 2020

AGRADECIMENTO AOS ENFERMEIROS

 

 

Agradecimento aos enfermeiros
 
No Dia Internacional da Enfermagem, ontem, profissionais da saúde homenagearam homens e mulheres que morreram na linha de frente do combate à covid-19. Os números da doença avançam no Brasil: são 12,4 mil mortos %u2013 881 em 24 horas %u2013 177,5 mil infectados. No DF, há 3 mil casos e 46 mortes. (Evaristo Sá / AFP)

 

» juliana andrade

Publicação: 13/05/2020 04:00

Em meio a pandemia, o mundo celebrou, ontem, o Dia Mundial da Enfermagem. Merecidamente, as homenagens se espalharam pelos hospitais de Brasília, com direito a flores, mensagens, chocolates e, principalmente, agradecimento. 
 
Na rede pública, as homenagens partiram da Secretaria de Saúde. A pasta se programou para ligar diretamente para os profissionais e demonstrar o agradecimento pela dedicação ao serviço em prol da saúde do próximo. Os contatos começaram ontem e devem seguir até 20 de maio, período em que é celebrado a Semana da Enfermagem. A secretaria informa que, devido ao período de pandemia, não será possível reunir os profissionais para homenageá-los. 
 
Nos hospitais particulares também não faltou motivo para agradecer. No Hospital Santa Lúcia, o carinho partiu da própria gerente da equipe de enfermagem, Elenita Silva. “Fizemos um encontro no café da manhã, onde cada um pôde se ver no cenário atual e expressar como se sentem. O interessante é que a maioria não está preocupada consigo, e sim, com o outro, com a família”, destaca. O grupo também foi surpreendido com flores enviadas por uma floricultura de Brasília, além de lembranças de algumas empresas, em agradecimento ao serviço. Para Elenita, a pandemia reforçou a importância dos enfermeiros para a população. “A gente cuida das pessoas como se fossem nossos parentes”, acrescenta. 
 
Homenagens também foram registradas na Rede Ímpar de hospitais, com relatos e histórias dos profissionais nas redes sociais. No Hospital Home, os enfermeiros receberam presentes e participaram de dinâmicas durante todo o dia, uma forma que a empresa encontrou para alegrar essa data tão especial. No Hospital Universitário de Brasília (HuB), a equipe foi homenageada com chocolates. 
 
Deusvaldo Nunes Junior, 34, coordenador de enfermagem da UTI do Hospital Santa Lúcia recebeu homenagens durante todo o dia. Cuidando diretamente de pessoas infectadas pela covid-19, o enfermeiro destaca que muitas homenagens vieram de familiares e pacientes curados da doença. “Para mim é um orgulho muito grande ter esse retorno da população, do paciente. A nossa maior gratificação é ver o paciente indo embora com um sorriso no rosto. Hoje é dia de celebrar toda essas conquista na área da saúde”, destaca. 
 
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Correio Braziliense terça, 12 de maio de 2020

A FORÇA DO PEQUENO DAVI, O BEBÊ QUE VENCEU A COVID-19

 

A força do pequeno Davi
 
O recém-nascido e a mãe estão em casa. Ainda isolada da família, ela foi a primeira mulher com diagnóstico positivo para o novo coronavírus a dar à luz no Distrito Federal

 

ROBERTA PINHEIRO
THAIS UMBELINO

Publicação: 12/05/2020 04:00

Enquanto aguardava a alta, Davi, filho de Mariene 
e Ricardo, ganhou equipamento de proteção para bebês confeccionado pelas enfermeiras do Hran (Fotos: Arquivo Pessoal)  

Enquanto aguardava a alta, Davi, filho de Mariene e Ricardo, ganhou equipamento de proteção para bebês confeccionado pelas enfermeiras do Hran

 

Reestruturado como unidade de referência no atendimento aos casos de covid-19 no DF, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) realizou, desde o início da pandemia, dez partos. Entre eles, o do pequeno Davi, nascido na sexta-feira. De Planaltina, Mariene Silva Moreno, 28 anos, chegou à unidade de saúde com 37 semanas de gestação. “Estava no serviço e ela me ligou pedindo para ir embora urgente, fiquei com medo por conta da gravidez. O médico do postinho de saúde pediu uma ambulância e fomos para o Hran. A pressão dela estava alta, mas ela não estava sentindo nada. Tinha tomado vacina e estava com febre e o nariz escorrendo”, relembra o marido, Ricardo Bento da Silva, 31.
 
Com sintomas leves para a covid-19, a gestante passou por duas checagens: o teste rápido e o exame RT-PCR, que comprovou a contaminação. O médico Ricardo de Souza Monteiro, responsável pelo comando do gabinete de crise do novo coronavírus no hospital, afirma que, desde quando foram instituídos os novos fluxos, a unidade de saúde realiza os partos de mulheres com fortes suspeitas do vírus, com sintomas gripais ou com histórico de ter tido contato com quem testou positivo.
 
No mesmo dia em que Mariane deu entrada na unidade de saúde, os médicos realizaram a cesárea. Davi nasceu na madrugada da última sexta-feira, com 2,93kg, e ela se tornou a primeira mulher com diagnóstico positivo para o novo coronavírus a dar à luz no DF.
 
Depois de acompanhar o parto normal dos dois outros filhos — Nicole, 5, e Pedro, 3, — Ricardo estava preocupado. “Tinha medo de a doença passar para o bebê”, comenta o pai de Davi. Mas tudo correu bem e mãe e filho receberam alta justamente no Dia das Mães. “Estou muito feliz de termos ido embora todo mundo junto. Podia ter ocorrido o pior, mas os dois se recuperaram no momento certo. Com certeza, foi um presente de Dia das Mães, uma felicidade que ela ganhou neste momento e que comprova nosso grande amor”, declara Ricardo. O papai passou pelos exames, mas testou negativo para o novo coronavírus.
 
Enquanto aguardava a alta médica, o mais novo brasiliense ganhou um equipamento de proteção facial confeccionado especialmente para os bebês pelas enfermeiras do hospital, que substituiu a máscara comum. “O Davi não chegou a fazer teste, não houve necessidade, porque só realizamos exame no neném se a mãe tiver sintomática. Como tinha mais de 10 dias que a Mariene apresentava os sintomas, ela não está mais contagiante. Mas, obviamente, tanto ela quanto o bebê serão observados”, afirma Ricardo de Souza Monteiro.
 
Em casa, Mariene está isolada, em um quarto separado, por uma semana. O único contato que ela tem com Davi é a amamentação. “Ela está bem cansada ainda, se recuperando da cirurgia. Tem dia que chora por não poder sair. O Davi é muito tranquilo, só mama e dorme. Não vemos a hora disso tudo passar e podermos reunir toda a família e dar aquele abraço”, afirma o pai. Ele segue as orientações dos médicos e usa máscara, inclusive, dentro de casa.
 
Precaução
 
Apesar de não haver trabalho científico que comprove a contaminação do neném pelo novo coronavírus durante a gestação, neste período de pandemia, o parto, como procedimento médico e cirúrgico, também sofreu mudanças. A equipe que atua foi reduzida para não haver aglomeração. Todos os equipamentos de proteção foram reforçados, com a utilização de luvas, capotes, máscaras equivalentes a N95 e ainda as de proteção facial acrílica, do modelo face shield.
 
“Triplicamos os protocolos de limpeza das salas e diminuímos a exposição da equipe. O objetivo disso é diminuir o risco de contaminação dos profissionais que prestam assistência às gestantes, já que o vírus é transmitido pela pessoa e pelo ambiente. Dessa forma, também reduzimos o consumo de equipamentos de proteção individual (EPIs), que estão difíceis de conseguir em todo o mundo hoje”, detalha Monteiro. Nesse período de pandemia, o parto humanizado, com a presença de um acompanhante, está temporariamente proibido no Hran.
 
Moradora de Águas Lindas de Goiás (GO), Gislene de Souza Ferreira, 31, também integra o time que permite encontrar singelos sorrisos em meio a tantas notícias ruins. Na madrugada da última quarta-feira, ela deu à luz as gêmeas Helena e Elisa, com 2,380kg e 2,305kg, respectivamente. Embora o primeiro teste de Gislene tenha dado negativo para o novo coronavírus, a equipe médica do Hran preferiu aguardar o resultado da contraprova. As bebês receberam máscaras de proteção criadas pelas enfermeiras da unidade e, dias depois, foram levadas para casa pelo pai.
 
Ele recebeu o resultado negativo ontem, contudo, como teve algumas complicações no parto, foi levada para o Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde segue em acompanhamento. Sem previsão de alta médica, Gislene aguarda ansiosa o encontro com as filhas. O encontro com Helena e Elisa tem sido por meio de foto. A paciente está em um quarto da maternidade da unidade de saúde. Além das gêmeas, ela é mãe de outras três meninas.
 
As 11 maternidades onde são realizados os partos na rede pública de saúde do DF ficam localizadas nos hospitais de Ceilândia, Planaltina, Taguatinga, Asa Norte, Samambaia, Gama, Santa Maria, Sobradinho, Brazlândia, Paranoá e no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib). Com a pandemia, cada Superintendência Regional de Saúde passou a atribuir normas de funcionamento específicas, de acordo com o espaço físico disponível nos protocolos clínicos. Ao dar entrada no hospital, a gestante é informada sobre a questão do coronavírus e tem direito a um acompanhante, que não esteja com sintomas gripais. “Alguns hospitais estenderam os turnos de acompanhamento de seis para 12 horas, para reduzir o fluxo de pessoas. As maternidades também diminuíram ou eliminaram os horários de visitas”, esclareceu a pasta, em nota.
 
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Correio Braziliense segunda, 11 de maio de 2020

O LADO HUMANO DA LUTA

 

O lado humano da luta
 
Em meio ao combate contra o novo coronavírus, o Correio destaca histórias de pessoas que enfrentam essa doença. Pacientes, enfermeiros e médicos relatam o drama que está por trás das estatísticas da covid-19

 

» ALAN RIOS
» THAIS UMBELINO

Publicação: 11/05/2020 04:00

 

"Em anos anteriores, nos preparamos para várias epidemias, mas nada como agora. O que estamos vivendo é diferente. Isso resulta em um nível de estresse imensurável" Joana D'arc Gonçalves, infectologista do Hran

 



Por trás de cada número do novo coronavírus, existem várias vidas, dramas, tragédias e vitórias. Uma pessoa infectada gera sentimentos de angústia e preocupação em familiares e amigos, e mobiliza os cuidados e atenções de diferentes profissionais de saúde, que também sentem o peso emocional de encarar a doença. Com a crescente curva de casos sobre contaminados e falecidos pela covid-19, aumenta também a pressão de quem convive diariamente com esses riscos. “Sentimos insegurança e medo, igual a todo mundo”, afirma Joana D’arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
 
A médica é uma das profissionais de saúde que está na linha de frente do combate ao coronavírus no Distrito Federal. Atuando na área há mais de 20 anos, ela diz que nunca presenciou um momento como esse. “Em anos anteriores, nos preparamos para várias epidemias, mas nada como agora. O que estamos vivendo é diferente. Isso resulta em um nível de estresse imensurável”, avalia. A rotina de Joana D’arc é praticamente toda dedicada ao trabalho, com atendimentos, tratamentos, estudos de pesquisas sobre medicações de combate ao coronavírus e mensagens no celular com colegas e familiares durante quase 24 horas. “Não existe dia, noite ou fim de semana, a realidade é bem complexa”, afirma.
 
O Hran é o hospital de referência para atender aos casos de coronavírus. Boa parte dos pacientes que chega ao local está com sintomas e carga viral maior, de acordo com a infectologista. “Temos que estar muito bem preparados, vigilantes o tempo todo e com uma preocupação enorme, porque nunca sabemos o estado do paciente que está na nossa frente”, lembra.
 
Além da população em geral, os próprios profissionais acabam sofrendo com as contaminações. “Temos colegas que foram infectados e passaram por situações de gravidade. Confesso que é algo que dá vontade de chorar, nos sentimos muito impotentes. A maioria das pessoas que trabalha na saúde tem como missão querer fazer o bem, salvar, e acabam se arriscando mais, se infectando mais e morrendo mais”, lamenta a médica.
 
Isolada de toda a família, Joana só vê a filha, que mora com ela e não sai de casa. O que alivia nesses momentos são os encontros virtuais por ligações de vídeo. Quando surge um tempo raro, a infectologista recorre à meditação e leitura de temas diferentes do que encontra na realidade. “É preciso fazer isso para aliviar, porque o profissional da saúde é igual a todo mundo. Temos nossas carências de afeto, nossos medos. Mas queremos ajudar e não podemos parar de trabalhar. Enquanto isso, vamos comemorando vitórias, como a que tivemos recentemente, da primeira paciente que foi para a UTI do Hran e sobreviveu. Nesses momentos, a gente chora de alegria, porque é como se a pessoa tratada fosse da nossa família, já que passamos esse tempo todo no hospital”, conta.
 
O senso de responsabilidade também é grande para a técnica de enfermagem Cristiane Diniz. “A maior dificuldade é lidar com o emocional”, relata. Durante a carga horária, ela atende pacientes suspeitos e confirmados com a covid-19 na área de internação. O medo é transformado pela motivação em ajudar o próximo. “É um pouco mais desgastante, porque o trabalho, em si, dobra. Temos que ter muito mais cuidado, devido ao contato próximo com o paciente”, explica.
 
Com a pandemia, a rotina no hospital também mudou. Algumas medidas foram adotadas para garantir a prevenção do contágio do novo coronavírus. Entre tantos desafios enfrentados, o maior, para a técnica de enfermagem, é acalmar os pacientes infectados e trazer segurança. “Certa noite, um paciente me chamou porque queria conversar. Pediu para passear comigo no hospital, mas expliquei que não podia. O nosso principal papel nesse momento é tranquilizá-los”, define.
 
Para enfrentar a doença, a profissional decidiu evitar notícias negativas e valorizar os momentos bons. “Caso contrário, não vamos conseguir. A gente tem que respirar fundo sempre”, desabafa. O hospital no qual trabalha oferece atendimento psicológico aos funcionários. “Eu voltei de férias no momento em que a pandemia tinha começado. No início, pensei em desistir. Mas a psicóloga me atendeu e me ajudou a lidar com a situação”, explica a técnica de enfermagem.
 
O contato direto com pacientes infectados pela covid-19 faz com que o clínico geral Marcos Pontes seja ainda mais meticuloso com o uso correto dos equipamentos de proteção. “A exposição é muito maior para os profissionais de saúde e, no meu caso, como decidi não me afastar da minha família, o cuidado deve ser dobrado”, explica. O médico atua no Hran e recebe pacientes que foram atendidos em outras unidades, com indicativo para coronavírus. “A estrutura do hospital ajuda bastante e facilita o trabalho. Além de acesso aos instrumentos para atuação, temos um corpo técnico preparado com médicos experientes”, acrescenta.
 
Além do Hran, Marcos alterna a rotina em outros dois hospitais. “O ritmo de trabalho não mudou tanto com a pandemia, mas inseri hábitos mais saudáveis para cuidar da imunidade”, conta. Alimentação controlada, sono em dia e trabalhar a inteligência emocional são algumas das atitudes do profissional. Para ele, porém, a principal dificuldade é a falta de informação pela sociedade sobre os sintomas, a gravidade da doença, a contaminação e o tratamento. “O conhecimento ajuda muito, e, sem ele, há pânico. Se a pessoa deixar o medo ser maior, isso será maléfico”, opina. A união no trabalho é o principal elemento para o enfrentamento da doença. “Todos estamos no mesmo barco. Juntos somos mais fortes. Esse momento difícil nos aproxima da fé e acredito que, quando tudo acabar, as pessoas vão sair mais fortalecidas”, conclui.


Depoimento

Cartas solidárias
 
Um projeto desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) produziu cartas com poemas, citações, recados e muita gratidão para os profissionais que trabalham em unidades de saúde do DF. A entrega dos textos foi realizada nesta semana no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), pela professora de terapia ocupacional da UnB Flávia Mazitelli, que detalhou a ação ao Correio. Confira:

“O projeto é uma das ações do Grupo de Trabalho de Promoção e Prevenção, coordenado pela professora Josenaide Engracia, que integra o Plano de Contingência em Saúde Mental e Apoio Psicossocial, coordenado pela professora Larissa Polejack. Toda a comunidade acadêmica — estudantes, docentes e técnicos administrativos — é convidada a escrever cartas de solidariedade aos profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à covid-19.

Esses profissionais não são apenas os da saúde, mas também os da segurança, serviços gerais, vigilância sanitária, nutrição, cozinha e outros. Os textos chegam no nosso e-mail promo.prev2020@gamil.com. Passamos para papéis de carta e as direcionamos aos profissionais. Inicialmente ,foram enviadas ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) e, posteriormente, também encaminhadas ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no combate ao coronavírus. Foi emocionante poder representar minha universidade e levar palavras singelas de apoio e empatia a esses profissionais, que estão abrindo mão de tanta coisa e passando por situações inimagináveis. Poder contribuir com tanto afeto e solidariedade foi um presente para mim! Em um momento tão difícil como esse, manifestações de empatia e compaixão são fundamentais.”


Trechos das cartas

“Você é imprescindível para a nossa sociedade, merece os nossos melhores elogios. Lembre-se disso diariamente! Desejamos que a sua luta assegure muitas conquistas, pois,a maior delas você acaba de conquistar: a gratidão”

“Gostaria de desejar-lhes muito afeto, força e carinho em agradecimento ao trabalho de vocês. O trabalho que vocês têm desempenhado tem sido extremamente corajoso e inspirador. Estes tempos difíceis nos têm exigido senso de responsabilidade coletiva e humanidade em dobro, e a resiliência e o cuidado de vocês têm nos ensinado, dia a dia, sobre este senso”

“Imaginamos que não seja fácil chegar ao ambiente de trabalho e se deparar com os impactos causados pela covid-19, mas você está nos mostrando que honra a farda, que a profissão vai além de cuidar de um patrimônio.”
 
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Correio Braziliense domingo, 10 de maio de 2020

A BRAVURA DAS MÃES DA SAÚDE
 
 
A bravura das mães da saúde

 

Publicação: 10/05/2020 04:00

A médica infectologista Marli, de branco, com mães e colegas no Hospital Santa Lúcia (Grupo Santa Lucia/Divulgação)  

A médica infectologista Marli, de branco, com mães e colegas no Hospital Santa Lúcia

 



Médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, técnicas e outras profissionais que atuam em hospitais, postos de saúde e unidades na linha de frente contra o coronavírus são heroínas de jaleco. Elas se dividem entre a missão de ajudar os pacientes e o receio de contaminar os filhos e familiares. Essas mulheres se arriscam todos os dias e são dignas da maior gratidão.
 
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Correio Braziliense sábado, 09 de maio de 2020

QUANDO OS DIAS NÃO TÊM FIM: EM PERMANENTE ESTADO DE ALERTA

 

 

QUANDO OS DIAS NÃO TÊM FIM

 

 

Em permanente estado de alerta
 
Com as preocupações e mudanças causadas pela pandemia do coronavírus, muitos não conseguem estabelecer uma nova rotina, o que prejudica os hábitos de sono. Noites maldormidas podem baixar a imunidade

 

ANA CLARA AVENDAÑO*

Publicação: 09/05/2020 04:00

Victor Mayrinck desenvolveu ansiedade desde que ficou completamente isolado e não consegue ter uma boa noite de sono (Carlos Vieira/CB/D.A Press
)  

Victor Mayrinck desenvolveu ansiedade desde que ficou completamente isolado e não consegue ter uma boa noite de sono

 

O isolamento social causa muitas incertezas, exige adaptações na rotina e desencadeia ansiedade — fatores que afetam diretamente o sono. Entre os principais motivos da insônia, enumeram especialistas, estão, justamente, mudanças nas atividades do dia a dia, instabilidade nas relações interpessoais e de emprego e incerteza sobre o futuro. Esse desequilíbrio abala a produtividade e diminui a imunidade, tão importante em tempos de pandemia.
 
Para a psiquiatra e especialista em sono Ana Paula Faber, o momento é de muito estresse, uma porta de entrada para o desenvolvimento e o aumento da ansiedade. “Caso a pessoa esteja com mais dificuldade de adaptação e/ou o estresse for grande demais, cria-se se um quadro de ansiedade, mas não a ansiedade simples, e, sim, o transtorno. Isso afetará diretamente o sono”, explica.
 
Segundo o neurologista Cláudio Roberto Carneiro, a redução da realização de exercícios físicos, durante a quarentena, é mais um agravante, pois minimiza os estímulos do sono. E as alterações no ciclo vigília-sono (ficar acordado durante a noite e dormir de dia) contribuem para o desenvolvimento da insônia secundária ao estresse e à ansiedade. “As pessoas acordam mais tarde, sem horário certo para a alimentação, passam mais tempo em frente à tevê — e o consequente aumento à exposição direta da luz —, e não têm horário certo para dormir”, explica o neurologista.
 
Pela madrugada
 
A estudante e redatora de blog Mayariane Castro, de 18 anos, não tem uma noite de sono reparadora desde o início do confinamento. “Não tenho dormido bem porque o impacto da quarentena foi muito grande na minha vida. Sou extremamente ativa e minha rotina mudou totalmente. Antes das medidas de contenção da covid-19, meu dia começava às seis da manhã e ficava até as 21h na rua; agora, passo o dia inteiro dentro de casa” conta.
 
É de suma importância ter o sono regular para o bom funcionamento do corpo. “O sono não é a ausência de atividade cerebral, mas um período cíclico com grande atividade cerebral, necessário para manter a homeostasia (processo de regulação em que um organismo mantém seu equilíbrio constante)”, explica Cláudio. Apesar das aulas a distância da faculdade, do curso de línguas e do emprego, Mayariane não consegue ter uma rotina normal por causa de insônia. “Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação”, desabafa a estudante.
 
A indisciplina e a estimulação excessiva do cérebro também são uma das principais razões para o desenvolvimento de insônia. “Hoje, existem muitos estímulos para as pessoas ficarem acordadas até mais tarde, e isso gera alteração do sono-vigília. Todo ser humano é diurno, mas uns são mais matutinos e outros, vespertinos. Além disso, a qualidade do sono da noite é muito melhor em relação à do dia”, esclarece Ana Paula.
 
A psiquiatra acrescenta que as luzes de tablets, celulares, tevê e outros aparelhos eletrônicos informam ao cérebro que ainda está de dia e deve permanecer acordado. “Essa iluminação inibe a produção do hormônio chamado melatonina, que estimula o sono.”
 
 

"Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação" Mayariane Castro, estudante

 

Ansiedade e sedentarismo
 
O universitário Victor Mayrinck, 18, também teve os hábitos de sono afetados devido ao isolamento social. Victor relata que as crises se iniciaram quando ele ficou em isolamento total porque teve contato com pessoas infectadas pelo coronavírus. “O principal fator que me faz não dormir é a adaptação a uma nova rotina, a ansiedade me consome por causa disso. Além da faculdade e de trabalhar dentro de casa, eu vivo preocupado com meu padrasto, ele é profissional de saúde e atua na linha de frente do combate ao coronavírus”, conta o universitário.
 
O estudante conta que a ansiedade aumentou bastante. “Tenho crises de enxaqueca constantes e tive um bloqueio na criatividade e no trabalho. Estou cada vez mais sedentário. Às vezes, me levanto da cama, caminho até a cozinha e fico ofegante”, relata Victor. Para evitar os distúrbios do sono, o neurologista Cláudio Carneiro aconselha se exercitar regularmente em casa, ter horários regulares do sono e das refeições, falar com familiares, mesmo via teleconferência, e tentar manter atividades prazerosas na sua rotina diária.
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
 
Como manter os hábitos saudáveis de sono
  • Tentar dormir em horários fixos/regulares.
  • Evitar atividades físicas nas horas antes de dormir.
  • Evitar uso de substâncias psicoestimulantes, como café, no período noturno.
  • Dormir em ambiente de baixa luminosidade e silencioso.
  • Reduzir a intensidade dos estímulos psicológicos nas horas próximas ao horário de dormir.
  • Ir à cama quando já estiver com sono. A cama não deve ser encarada como uma torturadora, e, sim, vista como uma companhia no período de insônia.
  • Evitar longos períodos de sono durante o dia.
  • Evitar uso de TV no quarto.
  • Evitar uso de objetos eletrônicos (celular, tablet) na cama, pois normalmente são telas muito iluminadas e podem dificultar o início do sono.
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Correio Braziliense sexta, 08 de maio de 2020

DIA DAS MÃES SOB ENCOMENDA

 

Dia das Mães sob encomenda
 
Comerciantes buscam opções para minimizar as perdas previstas nas vendas este ano, em relação à celebração da data em 2019, e apostam em serviços on-line, delivery e drive-thru. Atendimento personalizado também surge como alternativa

 

» Matheus Ferrari

Publicação: 08/05/2020 04:00

Luiz Guilherme Carvalho implementou o serviço de delivery durante a pandemia e prevê acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias (Minervino Júnior/CB/D.A Press )  

Luiz Guilherme Carvalho implementou o serviço de delivery durante a pandemia e prevê acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias

 

 
O feriado do Dia das Mães, celebrado no próximo domingo, tem levado diversos setores do comércio do Distrito Federal a buscarem estratégias para minimizar os impactos da crise causada pelo novo coronavírus. Com o fechamento das lojas físicas, comerciantes depositam a maioria das fichas em vendas on-line e delivery para aproveitarem a data, que é, historicamente, a segunda maior em termos de arrecadação para o setor, perdendo apenas para o Natal. Fecham-se as portas, abrem-se os canais de comunicação. Sites, redes sociais e atendimentos personalizados são alguns dos recursos que surgem como alternativa.
 
O Correio ouviu comerciantes e entidades representativas de diversos segmentos, como vestuário, confeitaria, panificação, restaurantes e floriculturas, para entender como tem sido a adaptação e quais são as projeções relacionadas à festividade do segundo domingo de maio. A queda no faturamento é certa para a maioria. No entanto, o Dia das Mães deve amenizar o prejuízo em alguns casos.
 
Dono de uma tradicional padaria na 113 Sul, Luiz Guilherme Carvalho, 38, implementou o sistema de entrega em seu negócio durante a pandemia. Segundo ele, com a proximidade do Dia das Mães, a demanda cresceu consideravelmente. “A loja está aberta por se enquadrar nos serviços essenciais, mas os pedidos por delivery têm sido crescentes. A gente não tinha esse serviço. Havia apenas um setor de encomendas”, conta.
 
O empresário já projeta queda no faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, a perspectiva é de que o Dia das Mães traga, ao menos, um alento em relação às últimas semanas. “É tudo muito novo. Também estamos aprendendo sobre o comportamento do cliente. Em todo feriado, aumentávamos nosso tíquete médio em 30%. Mas, nos últimos feriados, foi como se fossem um dia normal. Não teve acréscimo nenhum de venda. Não teve um fluxo maior. É como se não houvesse data comemorativa. Mas esperamos um acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias. A Belini é conhecida pelo chá da tarde, pelo café da manhã... Isso não estamos podendo fazer. Então, o faturamento vai ser muito abaixo do que foi o ano passado”, explica.
 
Projeções
 
Daniella intensificou as vendas on-line e testa o serviço de drive-thru (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 17/4/19)  

Daniella intensificou as vendas on-line e testa o serviço de drive-thru

 

 O negócio de Luiz Guilherme reflete as projeções do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). A entidade espera por números muito distantes dos cerca de R$ 90 milhões arrecadados em diversos setores da cadeia produtiva com o Dia das Mães de 2019. “Os segmentos que mais vão perder são os de moda feminina, calçados, perfumes e acessórios”, projeta o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta.
 
No entanto, segundo Abritta, consumidores e comerciantes estão adequando-se aos meios de vender e de adquirir os produtos. “O que vai prevalecer é a venda on-line.” É o caso de uma marca brasiliense de moda feminina que está no mercado há mais de 30 anos. Com seis pontos físicos no DF, a empresa intensificou o serviço prestado por meio da loja na internet para continuar atendendo aos clientes. “Logo que começou a quarentena, a gente focou no serviço on-line, que já estava implementado, mas de modo ainda lento”, explica Daniella Naegele, fundadora e diretora de estilo da Avanzzo.
 
Entretanto, segundo Daniella, algumas pessoas demonstraram dificuldades em se adaptar ao mercado virtual. Com isso, a empresa implementou uma espécie de drive-thru na loja da 206 Sul. As portas da loja permanecem fechadas ao público, mas os clientes podem ir até o local buscar produtos ou tirar dúvidas sobre as peças.
 
“A gente sempre teve um trabalho muito forte de fidelização com o cliente. On-line é muito eficiente, mas, às vezes, as pessoas se sentem um pouco inseguras de fazer a compra ou escolher”, pontua Daniella. “Estamos testando o drive-thru para aproveitar esta semana, que é superimportante, e também dar esse suporte de a vendedora ajudar as pessoas a escolherem o melhor presente.”
 
Segundo a empresária, todos os profissionais envolvidos tomam medidas de prevenção para evitar possíveis contaminações pelo coronavírus. “A equipe toda está preparada. As vendedoras usam luvas e máscaras. Temos três pessoas só para organizar isso”, diz. Mesmo com todas as estratégias pontuais, Daniella projeta uma queda de 80% a 90% nas vendas, em relação ao Dias das Mães do ano passado.
 
Acostumada com as vendas por meio do site, a gerente de uma floricultura na 302 Sul, Luciana Cardoso, 24, ainda não sabe o que a data comemorativa do próximo domingo trará de retorno para a loja. “O nosso serviço de entrega já é muito utilizado. Pela praticidade do site, onde você pode fazer o pedido, e também pelo telefone. Mas é uma incógnita. A expectativa é de que os clientes que viriam à loja peçam para entregar. Nós nos preparamos antecipadamente. Temos muitas opções de flores, vasos plantados e arranjos. Então, a entrega pode ser boa. Mas o presencial também conta muito.”
 
Contraponto
 
Beatriz Fernandes viu as encomendas de doces dobrarem este ano (Arquivo pessoal)  

Beatriz Fernandes viu as encomendas de doces dobrarem este ano

 

 Se há quem tenha certeza das perdas com a crise, existem empreendedores otimistas. Beatriz Fernandes, 24, tem visto as encomendas por seus doces caseiros aumentarem em relação ao Dia das Mães passado. “Eu me programei para fazer bem menos do que nos outros anos. Mas estou tendo uma procura muito grande. Maior do que imaginava. Vou ter que comprar mais embalagem”, afirma. Segundo ela, o faturamento será, no mínimo, o dobro, se comparado a 2019.
 
A crise, no entanto, também fez a estudante de farmácia remodelar o negócio da All Sweet. “Antes, eu usava as redes sociais mais como ferramentas alternativas. Hoje, elas são meus principais instrumentos. Tento explicar tudo por lá. Faço catálogo sobre o produto, com informações sobre conservação e data de validade. Antes, não fazia entrega, vendia na faculdade. Agora, passei a fazer entrega, e meu pai, que está desempregado, virou meu entregador. Levamos álcool em gel e vamos de máscara. Tem cliente que tem medo. Mas, quando vê que tomamos os cuidados, confia”, pontua Beatriz.
 
A farmacêutica Mariete Cardoso do Nascimento, 36, é uma das pessoas que não deixou de preservar a tradição de presentear a matriarca da família, apesar do isolamento social. Ela encomendou alguns doces com Beatriz para fazer um carinho à mãe, mesmo que a distância. “A forma como eu vou entregar vai ser diferente. Não vai ter contato, aquele abraço. Mas nem por isso a gente vai deixar de fazer o que sempre faz”, conta a moradora do Gama.
 
Orientações
 
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento com delivery triplicou na maioria dos estabelecimentos. Em alguns casos, a arrecadação com a entrega chega a ser quatro vezes maior, desde o início das medidas restritivas.

De acordo com a associação, os pedidos devem dobrar neste domingo. Por isso, a orientação é para que restaurantes reforcem o número de funcionários, além de aumentarem a quantidade de motoboys, para que não haja “congestionamento”. A associação também aconselha os clientes a fazerem a encomenda com antecedência. “A expectativa é de que o Dia das Mães aumente muito as vendas nos restaurantes. É uma data muito forte”, pontua Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 07 de maio de 2020

EXPECTATIVA DAS LOJAS

 

GDF tenta reverter proibição ao comércio
 
 
Decisão da Justiça Federal impede a reabertura de shoppings e lojas de rua a partir de segunda-feira. No entanto, presidentes de entidades acreditam em revisão da liminar. Em reunião no Buriti hoje, GDF terá de fornecer mais informações para as ações planejadas

 

» CAROLINE CINTRA
» JÉSSICA EUFRÁSIO
» Colaboraram Alexandre de Paula e Walder Galvão

Publicação: 07/05/2020 04:00

O governador Ibaneis Rocha inaugurou ontem dois blocos nos novos Centros de Detenção Provisória (CDPs), onde ficarão isolados os detentos que chegarem à Papuda (Renato Alves/Agência Brasília)  

O governador Ibaneis Rocha inaugurou ontem dois blocos nos novos Centros de Detenção Provisória (CDPs), onde ficarão isolados os detentos que chegarem à Papuda

 


A reabertura do comércio do Distrito Federal passa, outra vez, por um momento de incerteza. Ontem, a Justiça determinou que o Executivo local mantenha aberto apenas o que está em funcionamento, como serviços considerados essenciais, além de lojas de eletrodomésticos e de material de construção. Apesar disso, representantes de entidades do setor e o governador Ibaneis Rocha (MDB) estão na expectativa de que a decisão seja revertida. Hoje, integrantes do Judiciário visitarão o Palácio do Buriti para reunirem dados complementares sobre as ações planejadas.
 
Assinada pela juíza da 3ª Vara Federal Cível Kátia Balbino, a decisão liminar saiu na madrugada de ontem. Para a magistrada, a flexibilização do isolamento deve ser acompanhada de um cronograma, de medidas que impeçam a propagação da doença e da implementação de protocolos sanitários rígidos. “Concedo em parte a tutela de urgência para, por ora, apenas suspender qualquer ampliação do funcionamento de outras atividades que se encontram suspensas até novo pronunciamento desta juíza”, afirmou.

Um dos motivos para a não liberação de parte do comércio é a dificuldade de impor o respeito ao isolamento social no DF (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Um dos motivos para a não liberação de parte do comércio é a dificuldade de impor o respeito ao isolamento social no DF

 

Ibaneis disse ao Correio que recebeu a decisão com “bastante tranquilidade e serenidade”. “A visita de amanhã (hoje) nos agrada muito. Mostra o respeito do Poder Judiciário com o Distrito Federal. Estamos com todo o material técnico para apresentar, todos os quadros, tudo isso elaborado. Também fiz o convite (para a visita) ao presidente da Câmara Legislativa (Rafael Prudente), porque acho importante a participação do Poder Legislativo neste momento de compartilhamento e responsabilidade”, declarou.
 
Na semana passada, a magistrada exigiu que DF e União apresentassem informações sobre a situação da saúde e dos casos de covid-19 na capital antes que as atividades em setores não essenciais fossem retomadas. Se a juíza federal mantiver a determinação, não há nova data prevista para a reabertura das lojas. No entanto, caso a decisão seja revertida, o Governo do Distrito Federal (GDF) deve manter a nova etapa da flexibilização na segunda-feira, com a reabertura de shoppings e lojas de rua.
 
Ainda ontem, os casos da doença chegaram às 31 regiões administrativas. Dois meses depois do primeiro diagnóstico da doença no DF, a Fercal teve um paciente contaminado pelo novo coronavírus, segundo a Secretaria de Saúde. A cidade era a única que não tinha registros de infecções.
 
Alternativas
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Francisco Maia afirmou que recebeu a notícia com “muita surpresa”. Apesar disso, ele acredita que as informações prestadas pelo GDF atenderão às expectativas da magistrada. “O governo garante que tem leitos, equipamentos de proteção individual e estrutura suficientes para o caso de acontecer um surto maior. Quanto à segurança, há protocolos. A tudo o que está no decreto previsto, os comércios têm condições de atender. Então, isso nos deixa tranquilos de que a decisão possa ser favorável ao setor produtivo”, avaliou.
 
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL), José Carlos Magalhães Pinto, a decisão foi frustrante em uma economia abalada. Mesmo assim, ele se considera otimista. “Temos esperança de que, depois da visita à sala de controle (do Palácio do Buriti), essa decisão será revista. Não estamos falando que a juíza errou ou acertou. Não tem um culpado nisso. Temos de ver como sair (do isolamento), seja aplicando horários alternativos nos comércios, seja colocando mais ônibus para evitar aglomerações, seja orientando caronas solidárias, seja flexibilizando as leis trabalhistas”, sugeriu.
 
A comerciante Marcela Marques, 29 anos, preparava o retorno das atividades para a segunda-feira. No entanto, a decisão judicial pode mudar os planos da empresária. “Com o fechamento da loja, precisei dispensar todo mundo. Uma das funcionárias estava em Goiânia, na casa dos pais, e, para voltar ao trabalho, ela precisou se organizar lá. Com essa notícia, ficou ruim, porque fica esse abre ou não abre”, opinou. Proprietária de uma loja de serviços para cães inaugurada em dezembro, Marcela contou que teve de fechar as portas devido à pandemia. “É ruim, porque não deu tempo de ter o retorno de todo o investimento que fiz na abertura. Precisei me reinventar, vendendo alguns artigos para pets. Mas o faturamento não chega a 40% do que tenho com a loja aberta”, calculou.
 
 
Três perguntas para
 
Leandro Machado, médico infectologista e mestre em infectologia e medicina tropical
 
A reabertura dos comércios na próxima semana significaria ter um aumento do número de casos no DF?
O pico da doença ainda não chegou aqui ao Distrito Federal, diferentemente do que aconteceu nas outras unidades da Federação. Abrir o comércio pode fazer subir o número de casos, porque a quantidade de pessoas circulando vai aumentar e, assim, cresce o número de infectados. Estamos percebendo nos prontos-socorros, por exemplo, mais pessoas buscando atendimento por causa de algum quadro gripal. A quarentena ficou mais solta, as pessoas estão na rua e o fluxo nos hospitais aumentou.
 
Em se tratando de saúde, a decisão da Justiça Federal é a ideal neste momento?
É difícil saber o que é ideal, porque não há uma receita certa. A medida protetora que vai diminuir os casos é o isolamento, pois não existe vacina ou tratamento contra a covid-19. Em isolamento, há a menor chance de colapso na saúde. Qual a repercussão econômica disso e se é necessário fechar (o comércio) nesta época só saberemos mais para a frente. Os riscos da piora econômica ou do aumento do número de pessoas infectadas são o que tem de se pesar.
 
Se a reabertura dos comércios ocorrer na próxima semana, quais medidas extras devem ser tomadas?
Limitar o número de pessoas por loja tem de ser avaliado. Toda medida de prevenção deve ser tomada neste momento. O uso de máscara é importante tanto para quem tem a doença quanto para quem não tem. Além disso, higienizar as mãos, usar álcool em gel e manter uma distância segura são importantes.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 06 de maio de 2020

A SOLIDARIEDADE PRECISA CONTINUAR

 

A solidariedade precisa continuar
 
 
Em tempos de pandemia e isolamento social, as necessidades de quem mais precisa continuam. Organizações não governamentais (ONGs) e voluntários seguem recebendo doações para ajudar o próximo

 

» Jonathan Luiz*
» Thalyta Guerra*

Publicação: 06/05/2020 04:00

As amigas Marina Rodrigues e Marina Lopes se conheceram no posto de saúde e, durante a amamentação, a amizade ficou ainda maior (Ana Rayssa/CB/D.A. Press)  

As amigas Marina Rodrigues e Marina Lopes se conheceram no posto de saúde e, durante a amamentação, a amizade ficou ainda maior

 



A economia estagnou, as festas e eventos esportivos foram suspensos, o mundo parou. Mas a empatia e o amparo a quem precisa não podem parar. Muitos bebês recém-nascidos dependem da doação de leite materno. Pacientes que necessitam de cirurgia, continuam em busca das doações de sangue. Asilos e abrigos para crianças também dependem, ainda mais neste momento complicado, da solidariedade.

No início de março, os estoques de sangue caíram 25% e a coleta domiciliar de leite materno 35%; os dados são do Hemocentro de Brasília e da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), respectivamente. Apesar dessa situação, na segunda metade do mesmo mês houve recuperação e estabilização dos níveis do banco de sangue.

Neste mês, o Hemocentro informou que o movimento de doadores continua regular. No entanto, devido ao aumento da demanda, o grupo sanguíneo A negativo está em queda desde a última semana. O estudante Jordan Barbosa, 21, morador de Ceilândia, contribuiu neste ano. “É uma boa ação que está acessível para a grande maioria da população, e os hospitais estão sempre precisando de sangue”, conta. Além disso, ele incentiva. “Sempre quando doei fui acompanhado de amigos, e sonho com o dia em que eu consiga convencer meus pais a doarem”.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a coleta de leite materno diminuiu, pois as mães estão com medo de receber os profissionais responsáveis pela coleta domiciliar. A coordenação de bancos de leite humano lembra que durante a coleta são cumpridas com rigor as recomendações da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano e do Plano de Contingência da SES-DF. Assim, as doadoras não só podem, como devem continuar contribuindo para outras mães que não puderam amamentar.

Amizade


Duas mães que fizeram o pré-natal no mesmo centro de saúde, moradoras do Guará 2, criaram um laço de amizade que será lembrado para sempre. A gestora de recursos humanos Marina Lopes, 25, não produziu leite materno para amamentar a filha Valentina, que nasceu há dois meses. Ela lembrou da companheira que conheceu no posto de saúde, durante a gravidez, e pediu para que ela doasse leite materno a sua bebê recém-nascida.

Marina Rodrigues, 32, aceitou o pedido da xará. Mãe de dois filhos, ela foi doadora durante a primeira gestação e resolveu ser “mãe de leite” novamente. Desta vez, pela amizade com Marina, que recebe o leite coletado a cada dois dias. “Eu sempre levo o potinho na casa dela e ela enche. O leite dura dois dias, então, vou à casa dela, mais ou menos, três vezes por semana para buscar a coleta. Tentei entrar na fila de espera do banco de leite do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), mas iria demorar muito, já que a prioridade do hospital são os bebês que estão internados lá”, relata.

Marina Lopes conta que a doação do leite faz toda a diferença. Ela se mostra confiante quanto aos cuidados que a doadora adota em relação à amamentação. “Eu me sinto segura, sei que ela toma todos os cuidados de higiene. Isso me ajudou muito, foi um momento em que minha filha estava com muita cólica, e ela dividiu o leite do filho dela comigo, por amor”, relata. Além do leite materno doado pela amiga, a filha de Marina também toma leite especial para reforçar a alimentação. 

A autônoma Joyce de França, 24, mora em Taguatinga, é mãe de um bebê de apenas três semanas e já contribui com doações. “Eu produzo muito leite e sei a importância disso para os bebês. Enquanto eu puder doar, vou fazer. Não vou desperdiçar algo tão importante”, salienta. Ela lembra ainda da importância de estimular solidariedade. “Outra mamãe começou a doar na semana passada por incentivo meu”.

* Estagiários sob orientação de Adson Boaventura


  • Saiba mais

    De acordo com recomendações da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, da Fiocruz, a amamentação deve ser mantida em caso de infecção pela Covid-19, desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-la.

    A mãe infectada deve seguir as orientações de higiene para reduzir o risco de transmissão do vírus por meio de gotículas respiratórias durante o contato com a criança, incluindo a amamentação.

    • 1- Lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes de tocar o bebê ou antes de retirar o leite materno (extração manual ou na bomba extratora)

    • 2 - Usar máscara facial (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação

    • 3 - A máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro ou a cada nova mamada


  • Como doar

    Leite materno

    Para ajudar os bebês, a mãe doadora pode fazer o cadastro no Disque Saúde 160, opção 4, pelo site Amamenta Brasília ou pelo aplicativo disponível em IOS e Android. Há ainda a possibilidade de mandar mensagem para o número 99132-8846 e informar que deseja doar.

    O aplicativo facilita o acesso das doadoras de leite materno aos bancos de leite da rede pública. Por meio dele, a doadora poderá se cadastrar, informar o local de retirada do leite e solicitar mais potes para doação. A plataforma também oferece para as mães uma equipe responsável para coletar o leite na região onde moram.

    Também pelo aplicativo, os bombeiros responsáveis pela coleta do material podem criar rotas de GPS, de forma a otimizar o trabalho. Além disso, os profissionais têm a possibilidade de contatar as doadoras, que conseguirão notificar as equipes de recolhimento do leite humano.

    Sangue

    Devido ao coronavírus, desde 25 de março de 2020 o Hemocentro atende somente doações de sangue agendadas. A medida tem o objetivo de controlar o número de doadores que aguardam no ambiente.

    O agendamento individual, ou de grupos, deve ser feito pelos telefones (61) 3327-4413 ou (61) 3327-4447. Nesses contatos, o atendimento é de segunda a sábado (exceto feriados), das 7h às 18h.

    O agendamento individual também pode ser feito pelo 160, opção 2, ou 0800 644 0160. O horário de atendimento é de segunda a sexta, das 7h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h.

    Vale lembrar que quem teve contato com pessoa diagnosticada ou com suspeita de coronavírus, assim como quem retornou de viagem internacional recente, fica impedido de doar sangue por 14 dias. Esse prazo também se aplica aos candidatos com febre ou sintomas respiratórios (tosse, irritação ou dor na garganta), até o desaparecimento completo desses sinais.


  • Coleta

    • 1 Procure tirar o leite em um lugar limpo e tranquilo da casa

    • 2 Use potes de vidro com tampa plástica

    • 3 Ferva os potes por 15 minutos e deixe que sequem sobre um pano limpo

    • 4 Use uma touca ou um lenço na cabeça

    • 5 Coloque uma máscara sobre o nariz e a boca

    • 6 Lave as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão

    • 7  Lave as mamas apenas com água
    • 8  Seque as mamas e as mãos com um pano limpo

    • 9  Massageie os seios com a ponta dos dedos, com movimentos circulares, e inicie a coleta diretamente no pote

    • 10  Encha o pote até faltarem dois dedos para completá-lo e, caso seja necessário, recomece uma nova coleta em outro pote higienizado

    • 11  Identifique o pote com seu nome e a data em que retirou o leite pela primeira vez. Para completar um pote que já está no congelador, faça a coleta em um copo de vidro e depois despeje no pote.

    • 12  O leite pode ficar até 10 dias no congelador ou no freezer.

    • 13  O Corpo de Bombeiros buscará a doação em sua casa após seu contato.
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Correio Braziliense terça, 05 de maio de 2020

ALÍVIO NA EUROPA: CRIANÇA DE 3 ANOS REENCONTRA-SE COM OS PAIS, APÓS QUATRO SEMANAS DE ISOLAMENTO

 

Alívio na Europa

 

Publicação: 05/05/2020 04:00

Com mais de 145 mil mortos, a Europa começava ontem a flexibilizar as restrições impostas a milhões de habitantes. Apesar da suspensão de medidas de distanciamento social em alguns países, os cidadãos mantiveram a cautela. A Espanha colocou em marcha a chamada “fase zero” da desescalada e testemunhou uma corrida aos salões de beleza e barbearias. Na Itália, país mais castigado do continente, com 29.079 mortos, os habitantes já podem sair de casa, segundo um programa de desconfinamento que varia de acordo com a região. “A emergência não terminou”, advertiu a ministra do Interior, Luciana Lamorgese. A nação adota uma abertura considerada muito prudente: sem comércio varejistas, sem bares ou restarantes (com autorização apenas para vendas de refeições retiradas pelos clientes), com estímulo ao trabalho à distância e proibição de festas de família.

O governo italiano permitirá, no entanto, que familiares de uma mesma região se encontrem. Existe preocupação com o risco de uma segunda onda de infecções. “As novas regras são bem mais vagas. Temo que, para muitos, será uma desculpa para fazer o que desejam e encontrar todo mundo, primos, namoradas...”, comenta Alessandra Coletti, uma professora de 39 anos.

 Na Áustria, alunos da última série do ensino fundamental voltaram às aulas, como também ocorreu em alguns estados da Alemanha. No Leste Europeu, terraços de cafés e restaurantes reabriram na Eslovênia e Hungria, exceto na capital, Budapeste. Na Polônia, também reabriram hotéis, centros comerciais, bibliotecas e museus. Em outros países europeus, o desconfinamento ainda não ocorreu. Na França, que registra mais de 25 mil mortos, o mesmo terá início na próxima segunda-feira, por região. As autoridades não vão impor uma quarentena aos passageiros procedentes de países da União Europeia, do espaço Schengen ou do Reino Unido. Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve anunciar no domingo um plano de alívio das medidas no país, que registra mais de 28 mil óbitos.

Vacina

 Em Bruxelas, uma campanha mundial para arrecadar fundos organizada pela União Europeia conseguiu 7,4 bilhões de euros (cerca de R$ 44,6 bilhões) para financiar a pesquisa de uma vacina. Organizadora da conferência de doadores, que recebeu o apoio dos principais dirigentes europeus, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que uma vacina “é nossa maior chance coletiva de vencer o vírus. Temos que desenvolvê-la, produzi-la e estendê-la a todos os cantos do mundo a preços acessíveis”, disse.

 

 (Facebook/Reprodução)  

 Reencontro emocionante em Portugal

Foram quatro semanas de isolamento. Depois de a família ser afastada pelo novo coronavírus, o menino Salvador, de 3 anos, reencontrou-se com os pais, Ricardo Soares (28 anos) e Vânia Mendes (24). Portadores da Covid-19, o casal português precisou se isolar, entre 3 de abril e a semana passada, até a recuperação. Tudo para impedir que o filho fosse infectado também. “Ele (Salvador) só perguntava onde estávamos. Dizíamos que estávamos no hospital ajudando os médicos a tratar dos doentes”, contou Ricardo ao jornal Correio da Manhã. Antes de rever o filho, que ficou com um parente, eles tiveram de passar por três testes até sair o resultado negativo. O abraço da família foi marcado por lágrimas e por abraços apertados. “A mãe não te deixa mais”, disse Vânia, ao acarinhar o filho. Até a noite de ontem, o vídeo do encontro contabilizava 81.970 visualizações. 

 

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Correio Braziliense segunda, 04 de maio de 2020

O CANTO DE BRASÍLIA

 

O canto de Brasília
 
Spalla da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, Lilian Raiol sempre sonhou em integrar o conjunto e é uma das poucas mulheres negras em cargo de liderança sinfônica brasileira

 

Nahima Maciel

Publicação: 04/05/2020 04:00

 (Daniel Marques/Divulgação)  
 
 
O sonho de Lilian Raiol sempre foi atravessado por Brasília. E o violino, aprendido desde a primeira infância, sempre fez parte desse cenário. Spalla da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), cargo mais importante do conjunto depois do maestro, a musicista de 39 anos nunca enxergou a própria trajetória sem o Plano Piloto e, mais ainda, sem a orquestra fundada por Claudio Santoro nos anos 1980.
 
Filha de um militar que sempre gostou de música e de cantar, Lilian nasceu em Macapá, mas saiu de lá aos 6 meses para morar em Manaus, onde ficou até os 5 anos. Os pais, paraenses, desembarcaram com a família em Brasília em meados dos anos 1980 e, aos 10 anos, Lilian já estava matriculada na Escola de Música. “Eu tinha educação musical em casa, meu pai nos ensinou a cantar e eu cantava desde os 5 em igreja. Meu pai tocava violão e ele viu que eu tinha afinação, quis investir para que eu estudasse música”, conta.
 
O violino entrou para a vida de Lilian quando ela completou 11 anos. A origem do fascínio pelo instrumento, ela não sabe contar ao certo, mas lembra da primeira vez que se deparou com esse conjunto harmônico de madeiras e cordas. “Nossa igreja tem uma orquestra grande e ali foi a primeira vez que vi um violino. Aquilo me chamou a atenção porque achava lindo. Foi amor à primeira vista”, lembra. Na época, foi estudar com a professora Denise Gomes, também violinista da OSTNCS, o que ajudou a alimentar um olhar de admiração para a sinfônica. Aos 17, Lilian entrou para o curso de música da Universidade de Brasília (UnB) e fez licenciatura em música, sob a tutela da professora Ludmila Vinecka, outra integrante da orquestra.
 
A convivência com músicos da OSTNCS e a presença constante nas apresentações fez Lilian ter certeza de que queria integrar o grupo. No entanto, ela ainda precisaria percorrer um bom caminho, já que a orquestra é um órgão público para o qual só se entra por meio de concursos que, ao longo do tempo, são raros. Então, quando terminou a UnB, Lilian aproveitou que o pai, funcionário de hospital militar, havia sido removido para Pequim e foi morar na China. Passou dois anos no país, fez master classes no Conservatório de Pequim, estudou com um professor particular e decidiu se dedicar a aprender mandarim e um pouco mais sobre a música chinesa.
 
Experiências
 
Como o chinês é uma língua tonal, Lilian percebeu que músicos têm facilidade para aprender porque conseguem distinguir as diferenças sutis entre os tons. “Deu para aprender um pouco, a música ajuda muito, alguns sons são como se fossem uma nota aguda sustentada, o ouvido ajuda bastante”, conta a musicista que, além de ter aulas com um violinista da orquestra de Pequim, a maior do país, teve oportunidades enriquecedoras como a de assistir ao violinista Itzhak Perlman tocar no Grande Salão do Povo. “Meu professor perguntou se eu não queria conhecer a música chinesa, então fui explorar, estudei um pouco do repertório tradicional chinês, pra conhecer”, lembra.
 
Ao voltar ao Brasil, em 2003, Lilian precisou traçar planos profissionais. O concurso mais recente para a OSTNCS já havia sido realizado e ela acabou por voltar os olhos para São Paulo. “Então fui, em 2004, para fazer as provas para orquestras semiprofissionais”, lembra. Acabou entrando para Orquestra de Câmara da USP e se tornou academista (o equivalente a estagiário) da Sinfônica da USP. Para não deixar as aulas de lado, ela começou a ter aulas com Andreas Uhlemann, violinista da Osesp.
 
Para um músico, especialmente os jovens, ter um professor como referência, mesmo depois de formado e já iniciado na vida profissional, é fundamental. “É como se fosse um técnico”, conta Lilian. “Você é o jogador numa equipe profissional, mas precisa daquele olhar de fora, de alguém que entende e vai te ajudar a pensar de maneira diferente ou até com uma visão técnica mesmo. Sempre tem o que aprender, acrescentar.”
 
Nesse período, ela tratou de ampliar os horizontes o máximo possível. Se inscreveu para tocar com a Orquestra das Américas e com a Orquestra Mundial, que reúnem músicos das mais diversas nacionalidades, e fez três turnês por países como Canadá, Espanha e China. “São músicos de todos os lugares, muitos europeus, jovens. Foi incrível ter tocado em teatros grandes e modernos e com pessoas que compartilham aquela adoração pela música que todo jovem instrumentista tem”, garante.
 
Mas Brasília não saía da mira da musicista, na época com 24 anos. “Brasília é meu lar, minha casa, aqui me sinto tranquila, bem. E São Paulo é uma loucura, tudo bem que nem se compara a programação musical, mas eu acordava antes das 6h para estar na orquestra”, reflete. “E tinha o apego à orquestra, cresci vendo a orquestra. É um apego sentimental e emocional.”
 
Em São Paulo, ela ainda integraria a Orquestra Experimental de Repertório, formação de prestígio e muito seletiva quanto aos membros, uma espécie de pontapé importante para uma carreira nacional e internacional. Mas Lilian começou, então, a ouvir dos amigos que haveria concurso novamente para OSTNCS. O edital saiu em 2005, ela fez a prova, passou e não hesitou: largou tudo em São Paulo para voltar para Brasília.

A musicista ocupa o cargo mais importante da orquestra depois do maestro (Jhey Pi/Divulgação)  

A musicista ocupa o cargo mais importante da orquestra depois do maestro

 



Estudos
 
Em Brasília, o ritmo mudou. Lilian estava acostumada a ter cerca de 10 dias para aprender um repertório, mas as apresentações da OSTNCS são semanais e ela precisou mergulhar em partituras que nunca havia estudado e com pouquíssimo tempo para aprender. “Entrei no naipe dos primeiros violinos e passei ali os primeiros seis anos aprendendo repertório. A vivência de uma orquestra profissional que tem um concerto toda semana é muita coisa. No início, você não conhece tanto o repertório, tem que aprender tudo novo a cada semana, tem cinco dias para estar no seu melhor. Em pouco tempo aprendi todas as sinfonias de Brahms, Beethoven, Tchaikovsky. E continuei estudando”, explica.
 
Em 2011, ela se candidatou para fazer a prova de concertino, o violinista que senta ao lado do spalla que, na época, era a violinista Kátia Pinheiro. Lilian passou na prova interna e, quando a colega se aposentou, em 2016, aceitou o convite do maestro para que seguisse como spalla.
 
É um cargo especial em qualquer condição, mas que ganha dimensão mais simbólica por dois fatores. “O mundo musical erudito sempre foi muito fechado, até o início do século 20 eram, basicamente, só homens. As orquestras não aceitavam mulheres, principalmente pela questão da gravidez, para não desfalcar o grupo. E até hoje é um pouco assim. Mulher tem que mostrar serviço duas vezes mais que o homem para conseguir valer uma vaga. E spallas, então, tem muito poucas”, lamenta. “E negras, então, nem se fala. Até hoje, nas orquestras brasileiras, a quantidade de mulheres spallas é muito pouca e de negros, de forma geral, também. Mas esses projetos de inclusão social através da música têm ajudado pessoas carentes a construir carreira através da música.”
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 03 de maio de 2020

SAÚDE É O QUE INTERESSA - NUTRICIONISTAS OFERECEM RECEITAS SAUDÁVEIS

 

Saúde é o que interessa!

 

THAIS UMBELINO

Publicação: 03/05/2020 04:00

 (Twitter/reprodução - 15/12/17)  
 
 
A pandemia afetou diretamente o comportamento social na capital, e atitudes saudáveis passaram a ser um dos principais focos para ajudar na prevenção do novo coronavírus. Atividades físicas em locais restritos e alimentação balanceada são algumas das práticas adotadas pelos brasilienses. Durante o período, nutricionistas relataram maior procura no número de clientes com interesse em comer melhor e fortalecer a defesa do organismo contra o vírus. Isso porque a prática ajuda no fortalecimento da imunidade, aspecto importante para se evitar a Covid-19.
 
A infectologista Ana Helena Germoglio explica que um organismo nutricionalmente saudável a longo prazo, tem mais chances de responder melhor a quadros infecciosos. “A imunidade é formada por um conjunto de fatores, em que a alimentação balanceada entra como pilar acessório contra infecções por quaisquer micro-organismos. Para aqueles que ainda têm maus hábitos alimentares, nunca é tarde para começar: evite alimentos processados, reduza sal, gordura e açúcar, aumente a quantidade de frutas, verduras e legumes e procure fazer refeições em horários regulares e rotineiros”, aconselha.
 
A infectologista, porém, chama atenção para a inexistência de alimentos milagrosos e curas alimentares “A verdade é que, infelizmente, nem alho nem vinagre nem o limão... nem qualquer outro alimento ou vitamina tem o mágico poder de combater ou eliminar o novo coronavírus. O alimento funciona como um complemento do restante dos hábitos de vida. Pouco adianta eu me alimentar bem se eu sou tabagista, sedentário ou tenho más noites de sono”, explica.
 
Por isso, o foco não deve ser na aparência ou corpos perfeitos, mas em uma alimentação rica em nutrientes. “Este não é o momento de focar em perda de peso. Não faça restrições calóricas extremas, não corte o consumo de carboidratos e muito menos adote dietas ‘da moda’. Atitudes como essas podem fazer com que a imunidade piore e que você apresente deficiências nutricionais”, explica a nutricionista esportiva Valesca Trapp.
 
A especialista dá dicas para se manter saudável durante o isolamento social. “Em períodos como o que estamos vivendo, é muito importante que saibamos escolher o que consumir, como preparar e higienizar, e principalmente o que não restringir”, define. A principal recomendação é dar preferência a uma alimentação mais saudável, rica em fibras, legumes e frutas. “Isso porque os nutrientes dos alimentos ajudam na melhor absorção de vitaminas e minerais”, explica Valesca.
 
A estudante Gabriela Sarpi, 24 anos, tem buscado melhorar os hábitos alimentares durante a quarentena para fortalecer o organismo. “Eu procurei comidas mais saudáveis, justamente por conta da imunidade. Como minha mãe é grupo de risco, por ser imunossuprimida, fiquei preocupada de trazer qualquer coisa da rua para casa, quando preciso sair para o mercado, por exemplo”, conta. Ela segue um ritual alimentar todos os dias. “Durante a manhã eu tomo vitamina C ou um limão espremido. Durante as refeições do dia, também passei a comer mais proteína, porque estou fazendo exercícios. Antes eu não tinha costume de jantar e agora faço uma refeição mais reforçada de noite”, conta. “Foi a primeira vez que eu mudei a alimentação visando a saúde, em vez de medidas estéticas. Isso influenciou de uma maneira positiva na minha vida”, acrescenta.
 
Equilíbrio
 
Durante o isolamento social, é normal sentir ansiedade e descontar os sentimentos na comida. Por isso, a nutrição corporal não deve ser rígida e severa. “A gente nunca foi educado em relação a se alimentar. Existe uma imposição que você tem que seguir uma dieta. Mas a verdade é que as pessoas apenas devem ter autonomia com as escolhas alimentares delas. Não devemos hierarquizar os alimentos nesse momento, ou seja, colocar alguns em um pedestal e linchar outros. A proibição piora a relação com a comida. Não podemos gerar restrições para as pessoas e, sim, conscientizá-las. Todos os alimentos podem fazer parte da nossa vida”, explica o nutricionista Victor Hugo Machado.
 
Por isso, “é importante criar um equilíbrio que você possa se permitir comer alimentos ‘não saudáveis’, mas não em excesso”, explica o nutricionista. Alimentos como açúcar e temperos industrializados em grande quantidade podem ser prejudiciais. “Se você é uma pessoa que sempre teve uma alimentação rica em açúcar, talvez seja a hora de mudar os hábitos”, aconselha Victor Hugo. “É um momento de desempacotar menos e descascar mais”, define.
 
Foi o que a estudante Cecília Almeida fez. Passou a cozinhar mais em casa e a consumir mais vegetais e hortaliças. “É importante para mim, porque mesmo cuidando da minha cabeça e corpo, às vezes a situação toda me deixa ansiosa, acabo comendo algumas coisas como doce e fritura. Nunca me senti culpada, muito menos agora. Acho que o que mais mudou na minha cabeça desde o começo da dieta foi parar de me penalizar por comer o que eu gosto. Isso ajuda demais, tanto a manter o foco quanto a equilibrar as refeições”, relata.
 
Gabriela passou a fazer mais atividades físicas em casa (Arquivo Pessoal)  

Gabriela passou a fazer mais atividades físicas em casa

 



Dicas dos nutricionistas
 
Panqueca integral com recheio de frango 
 
Ingredientes da massa
» 2 xícaras de farinha de trigo integral
» 2 xícaras de leite ou água
» 2 ovos grandes
» 2 colheres de sopa de azeite
» 1 pitada de sal
 
Modo de preparar
» Bata todos os ingredientes no liquidificador até ficar uma massa lisa e homogênea.
» Utilize uma frigideira antiaderente (não precisa passar óleo, porém coloque a massa com a frigideira quente, assim não gruda).
» Com o auxílio de uma concha, despeje a massa no centro da frigideira e com movimentos circulares espalhe a massa em toda a superfície. Vire para assar os dois lados e reserve.
 
Ingredientes do recheio
» 3 xícaras de frango cozido e desfiado
» ½ xícara de milho
» 2 colheres de sopa de azeitona picada
» 1 xícara de cenoura ralada
» 2 xícaras de molho de tomate
» 1 colher de sopa de linhaça
» 2 colheres de sopa de cheiro verde
» 1 pitada de manjericão desidratado
» 1 pitada de sal (caso precise)
» 6 fatias finas de queijo mussarela cortadas ao meio (para utilizar na montagem)
» Molho de tomate e queijo ralado para finalizar o prato
 
Modo de preparar
» Misture todos os ingredientes do recheio em uma vasilha e vamos para a montagem.
» Em cada disco de panqueca coloque ½ fatia de queijo e 2 colheres de recheio, enrole e coloque em um refratário de vidro, cubra com molho de tomate e queijo ralado e leve ao forno para gratinar, apenas para derreter o queijo e aquecer as panquecas.
» Sugestão de acompanhamento: salada tropical com alface-roxa, alface-americana, repolho cortado fino, abacaxi ou melão picado, cebolinha, tomate-cereja e beterraba ralada.
 
Cecília: cozinhar mais em casa e consumir mais vegetais e hortaliças (Arquivo Pessoal)  

Cecília: cozinhar mais em casa e consumir mais vegetais e hortaliças

 




Suco poderoso
 
Ingredientes
» 1 beterraba
» 1 maçã
» 2 cenouras
» 1 limão
» Água
 
Modo de preparo:
» Corte a beterraba em rodelas e bata no liquidificador com um pouco de água. Misture bem. Para aproveitar melhor as fibras dos alimentos, não use a peneira. Separe e guarde na geladeira enquanto bate no liquidificador, com a água, o limão, as cenouras e a maçã. Misture tudo. O ideal é tomar meia hora antes do café da manhã, em jejum.
Suco detox
 
Ingredientes
» 2 folhas de couve
» 1/2 talo de gengibre
» 2 rodelas de abacaxi
» 2 laranjas
» 1 punhado de agrião
» 250 ml de água
 
Modo de fazer
» Bata todos os ingredientes no liquidificador e coe em seguida. A receita rende aproximadamente 1 litro.
 
Victor Hugo Machado: para o nutricionista, equilíbrio é a chave para uma vida saudável (Arquivo Pessoal)  

Victor Hugo Machado: para o nutricionista, equilíbrio é a chave para uma vida saudável

 



Snack de grão-de-bico
 
Ingredientes
» Grão de bico cozido
» Azeite
» Pimenta-do-reino
» Páprica
» Sal a gosto
 
Modo de preparo
» Cozinhe o grão-de-bico por 5 minutos em panela de pressão. Após iniciar a fervura, escorra o grão-de-bico imediatamente e adicione os grãos em uma forma ou use o cesto da air fryer, coloque os temperos e misture bem. Asse em temperatura baixa (180ºC) até ficar crocante.
 
 
Panqueca proteica
 
Ingredientes
» 1 banana
» 1 ovo
» 1 colher de sopa de aveia
» Canela a gosto
» Pode ter 1 colher de café de cacau em pó
 
Modo de preparo
» Bata tudo no liquidificador ou mixer, coloque na frigideira até cobrir o fundo. Se necessário, faça outra camada.
 
 
Sorvete de fruta
 
Ingredientes:
» Banana congelada (1 unidade)
» Castanha de caju (10 unidades)
» Cacau em pó (1 colher de sopa)
 
Modo de preparo:
» Em processador de alimentos, bata todos os ingredientes até formar um creme, deixe em congelador por 3 horas e sirva.
 
Obs: Varie as frutas, faça combinações
 
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Correio Braziliense sábado, 02 de maio de 2020

CORONAVÍRUS - OPERAÇÃO RESGATE

 

CORONAVíRUS
 
Operação resgate
 
Embora a OMS afirme não haver evidências de transmissão da Covid-19 entre pets e humanos, o medo fez com que muitos gatos e cachorros acabassem abandonados nas ruas do DF

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 02/05/2020 04:00

Na chácara onde Jaciel Dias mora, 134 cães aguardam para serem adotados: mais de 40 resgatados só durante a pandemia (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Na chácara onde Jaciel Dias mora, 134 cães aguardam para serem adotados: mais de 40 resgatados só durante a pandemia

 



Eles são carinhosos, fiéis e amigos para todas as horas. Apesar de a amizade entre pessoas e animais transcender séculos, ela está abalada pela crise do coronavírus. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar que não há provas de que os pets possam transmitir a Covid-19, muita gente está abandonando cães e gatos nas ruas do Distrito Federal. O resgate feito por voluntários torna-se, então, a chance de sobrevivência.

A consequência desse abandono é uma superlotação em abrigos e associações que acolhem esses animais. Com a proibição de feiras de adoção, devido aos protocolos de isolamento social, os pets não conseguem encontrar um novo lar, e, por isso, precisam ficar na casa dos voluntários, única maneira de não voltarem para a rua. No DF, uma das associações que faz esse trabalho é o Projeto Acalanto.

Desde 2012, Lucimar Aparecida Pereira, 46 anos, presidente do projeto, luta para salvar animais. A rotina dela é dividida entre o trabalho como assistente administrativa e a atenção dada aos 42 gatos e três cães que moram com ela. “Não é profissão, a gente faz por compaixão, por não aceitar a condição a que eles são submetidos, mas o protetor independente precisa de ajuda”, ressalta. “Com a Covid-19 (o abandono) piorou muito. Está insuportável.”

Lucimar perdeu as contas de quantos animais ajudou a salvar, mas estima que seja por volta de 200. Depois de tratados por veterinários, e quando estão tranquilos, podem ser adotados. “No ano passado, fechamos mais de 1,1 mil adoções apenas em eventos. Tínhamos feira todo fim de semana, e eram eventos em que ganhávamos ração. Essa também é uma forma de ajudar.” Agora, no entanto, além da dificuldade em encontrar lar para os pets, está mais difícil conseguir alimentar todos.

Cerca de 40 pessoas fazem parte da instituição e estão se virando como podem para conseguir cuidar de todos os bichos. “Já peguei cachorro queimado, esfaqueado, baleado, com a pata cortada. Salvei gato sem olho. Nós precisamos de ração, produtos médicos e veterinários”, pede. “Somos lares temporários, a gente quer que eles sejam adotados para terem uma família de verdade. É o nosso maior objetivo.”

Proteção e amor


Enquanto uns se desfazem dos companheiros de quatro patas, outros abrem as portas e dedicam a vida à proteção animal. Na chácara onde mora o ativista Jaciel Dias, 27, 134 cães aguardam para ser adotados. Desde o início da crise do coronavírus, ele resgatou mais de 40. “O pessoal não liga para adotar, mas para entregar. O protetor ama, não pode ver um animal em situação de rua e largar para trás. Por mais que nós estejamos apertados, recebemos.”

Todos os dias, ele atende a ligações de quem está preocupado e não quer mais o animal de estimação. “Certa vez, uma senhora já de idade me ligou em situação desesperadora dizendo que o filho dela ia soltar as duas cadelas na rua porque tinha medo de pegar a Covid-19, e que fontes seguras tinham dado essa informação a ele”, lamenta. “Com as fake news, aumentou muito o abandono.”

Por dia, são necessários 50kg de ração para alimentar a bicharada. O dinheiro para a comida sai do próprio bolso ou de doações que consegue. Para Jaciel, o mais triste é saber que muitos daqueles cães talvez nunca encontrem uma família. “A procura maior é pelos de pequeno porte. Nesta quarentena, doei cinco, mas a maioria dos que chegam é grande, e alguns estão idosos.” Apesar das dificuldades, ele não se arrepende do esforço. “Minha vida se resume aos animais, vivo em prol deles.”

Lucimar AparecidaPereira já fez mais de 200 resgates:  

Lucimar AparecidaPereira já fez mais de 200 resgates: "Não é profissão, a gente faz por compaixão"

 



Não replicantes


O centro de Zoonoses do DF, órgão da Secretaria de Saúde, reafirma o que diz a OMS. Em nota oficial, o órgão informou que atua em medidas preventivas e profiláticas para situações de vínculo epidemiológico, como vacinação contra a raiva. “A pasta esclarece, ainda, que a recomendação é que os tutores cuidem bem dos seus animais, e, até o momento, não há indicador de transmissão (do coronavírus) entre eles.”

O médico veterinário Paulo Tabanez, especialista em infectologia de pequenos animais, explica que o pet pode ser um vetor mecânico, isto é, caso uma pessoa contaminada tussa ou espirre sobre um cachorro e, em seguida, o animal seja abraçado por alguém, essa pessoa pode ser infectada pelo vírus que ficou na superfície do cão. “Em todos os casos já vistos de bichos onde o vírus foi detectado, não houve isolamento viral, ou seja, o animal não é replicante da doença.”

Ele lembra que existem tipos de coronavírus em cães e gatos, mas não são os mesmos vistos agora, responsáveis pela Covid-19. “Animais têm coronavirose de outra espécie, uma que não passa para o ser humano, e que não tem nada a ver com o que está acontecendo. Por isso, não faz sentido usar a vacina tratada em cães.” Paulo lembra que é importante manter a higienização dos pets, mas jamais usar álcool. “Pode causar dermatite, assim como o uso excessivo de água e sabão. A higienização deve ser feita com lenços umedecidos ou panos úmidos”, aconselha.


  • O que diz a OMS

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que a transmissão de Covid-19 se dá apenas entre humanos.
    Sabe-se que a maioria dos tipos de coronavírus tem origem em animais, e que o Sars-CoV-2 é novo em humanos, mas ainda não foi possível confirmar a possível fonte. Segundo o órgão, o vírus foi identificado em diversos cães e gatos em contato com humanos infectados. Furões também parecem ser suscetíveis ao contágio. Em experimentos iniciais, gatos e furões transmitiram o vírus para outros animais da mesma espécie, mas não há quaisquer evidências de que possam passá-lo a humanos, participando, de alguma forma, da cadeia de contágio da Covid-19.



  • Como ajudar

    Quem quiser ajudar os voluntários do projeto Acalanto, adotando um dos gatos ou cachorros ou fazendo doações de rações e medicamentos, pode acionar o grupo pelas redes sociais:

    Instagram: @projetoacalantodf    |    Facebook: Projeto Acalanto


  • O que diz a lei

    Se entendido como maus-tratos, o abandono de animais incorre em crime, previsto na Lei nº 9.605/1998. Quem pratica abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, cumpre pena de três meses a um ano de reclusão, além de pagamento de multa.

Jornal Impresso

 



Correio Braziliense quinta, 30 de abril de 2020

GDF ADIA FLEXIBILIZAÇÃO E MULTA

 

GDF adia flexibilização e multa para máscaras
 
Governo posterga para 11 de maio o retorno de parte do comércio. Publicação de decreto com detalhes sobre a medida sairá após decisão da Justiça Federal, que pediu explicações ao Executivo sobre retomada de atividades não essenciais. Proteção no rosto passa a ser obrigatória

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 30/04/2020 04:00

Por enquanto, apenas lojas de móveis e de eletrodromésticos, além de serviços essenciais como supermercados, padarias e farmácias, têm autorização para funcionar na capital (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Por enquanto, apenas lojas de móveis e de eletrodromésticos, além de serviços essenciais como supermercados, padarias e farmácias, têm autorização para funcionar na capital

 



Em um dia marcado por reuniões com secretários de governo, o governador Ibaneis Rocha (MDB) adiou duas ações anunciadas recentemente. A primeira mudança envolve o setor de comércio e serviços, cujas atividades voltariam na segunda-feira, mas ontem foram postergadas para 11 de maio. Na mesma data, começará a aplicação de multa para quem não estiver com máscaras de proteção na rua. Até lá, o uso do item torna-se obrigatório a partir de hoje em caráter educativo.

O decreto com detalhes sobre a reabertura dos estabelecimentos ainda não tem data para sair. Porém, bares, restaurantes, salões de beleza, clubes e grandes academias permanecerão fechados, por enquanto. O próximo passo do governador depende de decisão da Justiça Federal, que intimou DF e União a darem explicações sobre os motivos para a flexibilização do isolamento. Na terça-feira, os ministérios públicos do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), do Trabalho (MPT) e Federal no DF (MPF-DF) protocolaram uma ação conjunta, na tentativa de impedir o GDF de adotar qualquer medida que autorize o funcionamento de atividades consideradas não essenciais.

O documento foi encaminhado à 3ª Vara Federal Cível, onde a juíza titular Kátia Balbino considerou a solicitação procedente. O prazo para apresentar as informações exigidas é de dois dias após comunicação oficial. Entre outras medidas previstas no despacho assinado pela magistrada há a determinação de que a União deverá repassar eventuais estudos direcionados ao DF que tenham relação com a redução do distanciamento social. O governo federal também terá de encaminhar dados associados a medidas de cooperação para o combate à Covid-19 ou a outros temas pertinentes.

Na ação civil pública, os MPs destacaram que não há “nenhuma evidência apta a demonstrar que o DF atingiu uma situação que permita essa transição (de um modelo mais restritivo para um com menos isolamento) no momento”. A decisão de abrandar o isolamento na capital federal também tem preocupado pesquisadores da área de saúde, que temem disparada no número de casos da doença e colapso do sistema de saúde.

Até 11 de maio, o uso de máscaras nas ruas e no transporte terá caráter educativo (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Até 11 de maio, o uso de máscaras nas ruas e no transporte terá caráter educativo

 



Intimação


Os questionamentos por parte dos MPs começaram há duas semanas. Em 14 de abril, quatro deles — incluindo o Ministério Público de Contas (MPC/DF) — enviaram cinco recomendações ao governador Ibaneis Rocha (MDB). Os órgãos solicitavam a apresentação de dados técnicos, o reforço das medidas de distanciamento social e davam 48 horas de prazo para execução, sob pena de adoção de medidas judiciais. Após descumprimento, todos recorreram à Justiça Federal com a ação conjunta.

Representante judicial do DF, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) informou que está “reunindo as informações solicitadas pela Justiça” e que vai apresentá-las no prazo definido. A União, por meio da Advocacia-Geral (AGU), confirmou que foi intimada a repassar os dados. “A AGU solicitou subsídios ao Ministério da Saúde e prestará as informações no prazo estipulado”, confirmou, em nota.

Prevenção

Para atender à demanda e garantir que a população tenha acesso a essa medida de proteção, o GDF distribuirá máscaras laváveis e reutilizáveis a partir de hoje. A entrega ocorrerá em 31 terminais de ônibus e metrô, com limite de duas unidades por pessoa, durante o período da pandemia de Covid-19. A medida vale apenas para pessoas sem condições de adquirir uma peça (veja Distribuição). Se a pessoa estiver sem máscara, ela será abordada e receberá a proteção para o rosto.

  • Distribuição

    Terminais rodoviários:

    » Brazlândia Centro
    » Brazlândia Setor Veredas
    » Miniterminal Sobradinho 1
    » Paranoá
    » Planaltina
    » Recanto das Emas 1   
    » Recanto das Emas 2
    » Riacho Fundo 1
    » Riacho Fundo 2
    » Samambaia Norte
    » Samambaia Sul
    » Santa Maria Sul
    » São Sebastião
    » Setor Gama Central
    » Setor Gama Sul
    » Setor O
    » Setor P Sul
    » Setor QNQ/QNR
    » Taguatinga M Norte
    » Taguatinga Sul

    Estações do metrô:
    » Ceilândia Centro
    » Ceilândia Norte
    » Ceilândia Sul
    » Centro Metropolitano
    » Furnas
    » Guariroba
    » Praça do Relógio
    » Samambaia
    » Samambaia Sul
    » Taguatinga Sul
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Correio Braziliense quarta, 29 de abril de 2020

ACADEMIAS PEDEM REABERTURA

 

Academias pedem reabertura
 
 
Setor tenta sensibilizar o GDF e encaminha plano de ação com protocolos de funcionamento. O documento apresenta recomendações que podem viabilizar a retomada das atividades, respeitando as orientações de prevenção à Covid-19

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 29/04/2020 04:00

Luciano Girade, proprietário de três estabelecimentos:  

Luciano Girade, proprietário de três estabelecimentos: "Não vamos conseguir segurar por muito tempo"

 



Com as atividades suspensas desde 15 de março por força de decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB), as academias do Distrito Federal sentem no bolso o impacto da pandemia do novo coronavírus. Segundo levantamento feito pelo Sindicato das Academias (Sindac/DF), cerca de 40% dos clientes cancelaram ou suspenderam os planos. A queda no faturamento resultou em 4,4 mil demissões no setor em pouco mais de um mês. O número pode subir para 5,3 mil até o fim de maio. Diante desse cenário e com a flexibilização de alguns setores produtivos, um estudo feito pelas academias define as estratégias que poderiam viabilizar a reabertura dos negócios sem comprometer a saúde da população.

O Sindac/DF levantou uma série de protocolos que respeitam as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a prevenção à Covid-19. De acordo com a presidente da entidade, Thaís Yeleni, o plano teve a aprovação de infectologistas da Universidade de São Paulo (USP). O documento foi entregue ao Executivo local, na última segunda-feira. O objetivo é sensibilizar o governo sobre a possibilidade de retorno das atividades gradualmente. O pleito é pela reabertura na segunda quinzena de maio. “Entendemos que a academia é um serviço essencial, que interfere diretamente na saúde das pessoas. Por isso, estamos propondo o retorno”, esclarece Thaís. O DF tem aproximadamente 960 academias.

Entre as recomendações sugeridas está o controle de temperatura dos clientes logo na entrada, além do aumento da frequência da higienização dos espaços por, pelo menos, duas a três vezes ao dia. Outra orientação é o congelamento dos planos para os clientes maiores de 60 anos ou que estão no grupo de risco (veja Propostas).

Para Luciano Girade, proprietário de três unidades da rede de academia Blue Fit, o retorno gradual e consciente é necessário para o setor. “Estamos no limite. Nas academias que administro, não demitimos ninguém, mas não vamos conseguir segurar por muito tempo”, afirma. Segundo ele, as academias permitem um ambiente controlado e com protocolo de funcionamento rígido. “Os exercícios físicos aumentam a imunidade, algo de extrema importância no momento que estamos vivendo”, argumenta.

Um dos pontos levantados pela categoria é a utilização dos equipamentos de ginástica localizados em via pública, ao ar livre, sem qualquer cuidado de higienização. “Mesmo com a faixa zebrada que indica a proibição, as pessoas continuam frequentando esses espaços. Com a liberação das academias, esse público terá um respaldo maior, com todas as regras de prevenção ao novo coronavírus”, ressalta Luciano.

Risco


O infectologista Leandro Machado alerta que as regras propostas pelo Sindicato das Academias não garantem 100% de proteção. “Com certeza, vão se infectar menos pessoas com essas medidas do que se não tivesse nenhuma (recomendação). No entanto, se uma pessoa assintomática for malhar, ela está ali suando, passa a mão no rosto e, depois, pega nos equipamentos. A probabilidade de contaminação é grande se não for realizada a higienização da forma correta”, esclarece. De acordo com ele, o ideal é não liberar o funcionamento desses estabelecimentos, pelo menos neste momento.

O GDF informou que ainda não tem conhecimento do documento enviado pelo Sindac/DF. A assessoria de Comunicação do governo adiantou que há alguns pedidos feitos de forma individual por donos de academia. Até o momento, o Executivo local entende que setor o não deve retomar as atividades no início de maio.


  • Propostas

    Veja algumas recomendações sugeridas pelo Sindicato das Academias do Distrito Federal:

    » Álcool em gel 70% para clientes e colaboradores em todas as áreas da academia

    » Medição da temperatura de todos que entrarem na academia. Caso a temperatura for superior a 37,8°C, recomenda-se não autorizar a entrada

    » Limitar a quantidade de clientes com ocupação simultânea de uma pessoa a cada 6,25m²

    » Delimitar o espaço de treino com fita e exigir distância de 1,5m

    » Bebedouro somente para uso de garrafas próprias

    » Congelamento dos planos para clientes acima de 60 anos



  • Sem máscara, sem embarque

    Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) exigirá o uso de máscaras para todos os usuários nos trens e estações a partir de amanhã. Não será autorizada a entrada nem a permanência de usuários sem o equipamento de proteção. A medida está em acordo com o Decreto 40.475, e vale por tempo indeterminado, enquanto vigorar o estado de emergência no Distrito Federal. Ainda como forma de garantir a segurança de empregados e usuários, a Companhia permanece com ações constantes de desinfecção e higienização. A cada semana, as 25 estações operacionais e os trens passam pelo processo de limpeza com produto aprovado pela Anvisa e usado em outros países.

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Correio Braziliense terça, 28 de abril de 2020

EM MEIO À PANDEMIA, BOAS ENERGIAS

 

Em meio à pandemia, boas energias
 
Especialistas destacam a importância da prática de técnicas e exercícios para manter o corpo e a mente sãos durante a quarentena

 

Caroline Cintra

Publicação: 28/04/2020 04:00

Com o fechamento da banca na Feira de TV, Jaime Miranda passou a atender delivery: foco nas vendas 
de incenso e fontes de água (Carlos Vieira/CB/D.A. Press)  

Com o fechamento da banca na Feira de TV, Jaime Miranda passou a atender delivery: foco nas vendas de incenso e fontes de água

 

 
Cuidar do corpo e da mente deve ser um exercício diário. Em meio a uma pandemia que exige isolamento social, o cuidado deve ser redobrado. Ter que lidar diariamente com as notícias de uma doença que atinge o mundo inteiro pode trazer pensamentos negativos, que abalam o físico e o emocional de muitos. No entanto, técnicas e exercícios, como ioga e meditação, podem aliviar os sentimentos ruins, ajudando a manter boas energias e proporcionando momentos de paz interior.
 
Diretora do Instituto Anandah - Esculpindo o Corpo e a Mente, em Águas Claras, a professora Anandah Bellydance conta que muitos novos alunos têm procurado as aulas para tratar sentimentos aflorados durante a quarentena, como medo e ansiedade. Com as aulas presenciais suspensas, a equipe da escola tem produzido videoaulas. “Temos uma plataforma e, além das aulas, perguntamos como os alunos estão se sentindo nestes dias. Alguns conseguem se manter focados e estão mais serenos”, diz. Entre as modalidades mais procuradas estão tai chi chuan, ioga e meditação (veja quadro) “A maioria nos procura com problema com o sono. Nesta época, o ideal é intensificar os exercícios e focar”, ressalta.
 
Aluna do instituto, a professora Gilsa Gisele de Melo Santana, 52 anos, conta que antes da pandemia já buscava trabalhar a energia por meio das aulas de tai chi chuan. Segundo ela, a prática trouxe o equilíbrio que precisava para enfrentar o momento. “A busca anterior me favoreceu, para que eu vivesse esse afastamento mais tranquila. Temos vivido muitas coisas, e não têm como não nos afetar. É assim que tenho conseguido enxergar as coisas de forma lúcida, sem medo ou sufocada por tanta informação”, afirma.
 
Adepta da meditação, a influenciadora digital Vanik Rayanne, 26, incrementa o momento de autocuidado com incensos e fonte de água relaxante. Diariamente, antes de iniciar as atividades, separa uns minutos para isso. “Hoje, consigo dormir melhor. No início da quarentena, estava sem rotina. Agora, tiro um tempo para mim todos os dias. Achava que isso era coisa de doido, mas, não: é uma forma de manter a vida mais tranquila e os pensamentos mais positivos.”
 
O gosto pelos incensos chegou quando conheceu o artesão Jaime Miranda. Ele é dono de uma banca na Torre de TV e produz cada um dos utensílios que vende. Com o estabelecimento fechado, começou a anunciar os produtos nas redes sociais e oferecer delivery. Apesar de as vendas terem caído, ele percebeu que os novos clientes têm procurado incenso para manter a tranquilidade durante o isolamento social. Só Vanik adquiriu mais de 25. “Incensário e fontes de água de decoração são os que mais saem. É uma terapia”, afirma.
 
Essências de alecrim, mirra e capim-limão estão entre os mais vendidos nos últimos dias. Os primeiros trazem proteção e tranquilidade, respectivamente. O último é um calmante. “É tudo o que as pessoas estão querendo agora. Uma mulher me procurou porque estava com problemas em casa e comprou uma fonte para dar uma amenizada na situação”, exemplifica o artesão.
 
Gilsa Gisele de Melo Santana pratica tai chi chuan ao lado do marido: equilíbrio que precisava para enfrentar o momento (Arquivo Pessoal)  

Gilsa Gisele de Melo Santana pratica tai chi chuan ao lado do marido: equilíbrio que precisava para enfrentar o momento

 

 
Harmonia
 
Além do cuidado com o corpo e com a mente, o lar também reflete o estado de espírito de quem nele habita. A designer de interiores Arlete Soares usa a técnica de feng shui para harmonizar e organizar os cômodos do lar, tirando as más energias e atraindo positividade. No método, são utilizados os elementos água, madeira, metal, terra e fogo (veja quadro). Cada um representa uma área da vida e deve haver combinação entre eles. “Em tempo de quarentena, quando as pessoas estão confinadas, é comum haver briga, e isso desequilibra o ambiente. A energia negativa se potencializa nesse momento. A casa é um ser vivo, e ela também fica doente”, explica.
 
Além desse método, Arlete ressalta a importância da radiestesia, uma técnica baseada na física quântica para detectar a energia da casa. “Usamos um pêndulo para fazer essa busca. A radiestesia permite que a gente pesquise, bloqueie e transmute a energia. O que é interessante é que conseguimos fazer esses dois métodos presencialmente ou a distância, com a planta baixa da casa. Neste tempo de pandemia, boas energias dentro de casa são fundamentais”, ressalta a design.
 
A psicopedagoga Maria Lúcia Vasques, 57, usa as duas técnicas, tanto em casa quanto no restaurante que administra com o marido. Ela lembra que, quando abriram o estabelecimento, colocaram o objeto que representa a prosperidade embaixo das escadas. “Troquei tudo de lugar. Uma vez por ano, fazemos as mudanças necessárias. Agora, com todo mundo em casa, ela fica bagunçada, porque as pessoas ficam mais desleixadas, e isso interfere na energia do lar. Quando cuida da organização, cuida da energia”, ressalta.
 
Vanik Rayanne incluiu o incenso e as fontes de água em seu ritual de autocuidado diário (Arquivo Pessoal)  

Vanik Rayanne incluiu o incenso e as fontes de água em seu ritual de autocuidado diário

 

 
Casa harmonizada
Limpe a casa com uma mistura de água e amoníaco,  na proporção de uma tampinha do produto para um balde de água. Passe em toda casa para eliminar possíveis focos de energias negativas.
 
Deixe a casa bem iluminada, com todas as janelas abertas. Deixe a energia circular.
 
Arrume os armários e as gavetas e retire tudo o que não usa mais, como coisas quebradas e quinquilharias.
 
Coloque plantas e flores na casa. Elas trarão vida e bem-estar para o ambiente.
 
Se estiver se sentindo triste ou depressivo, coloque uma cor quente no ambiente, como o vermelho. Pode ser um objeto, almofada, tapete, etc.
 
O quarto do casal tem que ser visto como um templo. Por isso, não permita que outras pessoas fiquem no cômodo. Os filhos não devem dormir com os pais. Deixe o quarto sempre arrumado, cheiroso e convidativo.
 
Para quem está em home office, é muito importante que o ambiente esteja sempre organizado, a mesa de trabalho sem acúmulo de papéis, evite trabalhar no quarto.
 
 
Elementosem casa
 
Água:trabalho
Fogo:sucesso
Madeira:prosperidade e família
Metal:amigos e filhos
Terra:relacionamento e espiritualidade
 
 
 
Serviço
 
Zen Brasília
99971-5558 Instagram: @zenbrasília
 
Instituto Anandah
3046-1890 / 98106-5501Facebook: Instituto Anandah
 
Design de Interiores
99204-0137 Facebook: Harmonia e Equilíbrio – Design de Interiores Feng Shui e Radiestesia
 
 
 
Em movimento
 
A professora Anandah Bellydance destaca os benefícios das modalidades mais procuradas no instituto durante a quarentena:
 
Ioga: exercício bom contra a depressão e a ansiedade. Ajuda na flexibilidade, no sono e na postura.
 
Tai chi chuan: exercício alinhado com respiração, que trata fibromialgia, artrite e artrose. Ajuda na concentração e na postura.
 
Meditação: prática ou técnica que ajuda a dar uma boa noite de sono. Bom contra a ansiedade, depressão e síndrome do pânico.
 

Correio Braziliense segunda, 27 de abril de 2020

UM ANO DO RENASCIMENTO DE LIS E MEL

 

Um ano do renascimento de Lis e Mel
 
Cirurgia que separou as gêmeas nascidas unidas pelo crânio ocorreu em 27 de abril de 2019. Procedimento inédito no DF é celebrado hoje pela família e por toda a equipe envolvida

 

HELLEN LEITE

Publicação: 27/04/2020 04:00

A imagem do abraço das duas é uma das que a mãe guarda com mais carinho. Este ano, as meninas se divertiram no carnaval fantasiadas (Arquivo pessoal.)  

A imagem do abraço das duas é uma das que a mãe guarda com mais carinho. Este ano, as meninas se divertiram no carnaval fantasiadas

 

Brincar, passear na rua, ir para a escola, comer com as mãos. Esses hábitos banais na vida de qualquer criança, têm sabor de grande vitória para as irmãs Lis e Mel. Há exatamente um ano, as gêmeas que nasceram unidas pela cabeça entravam no centro cirúrgico do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar para um desafio imenso: resistir à rara e delicada cirurgia que as separaria.
 
Foram mais de 20 horas de operação, seguidas de 36 dias de internação e muita fisioterapia e, a partir disso, é possível constatar, hoje, que essas pequenas brasilienses tiraram de letra. Para a emoção da mãe, Camilla Neves, 26 anos. “É engraçado, porque vai chegando esse um ano da cirurgia e, o que eu não chorei na época, eu choro agora. Hoje, quando paro para pensar em tudo, choro de emoção. É muito gratificante vê-las. E ver o milagre que Deus fez nas nossas vidas. Para mim, elas são um milagre”, conta a servidora do Ministério da Saúde.
 
Por causa da pandemia de Covid-19, as três têm ficado o tempo todo na casa onde moram com a mãe de Camilla, Maria Vieira, 75 anos, em Ceilândia, e preferem não receber visitas. A conversa com o Correio, então, ocorre pelo telefone. Quando solicitada para enviar uma imagem que melhor represente a vida das filhas após a cirurgia, Camilla pede tempo para pensar e, no dia seguinte, manda a foto das irmãs usando o uniforme da escola e se abraçando, com sorrisos largos no rosto.
 
A jovem mãe explica a escolha. Sabe que as meninas não estão com o cabelo arrumado e a pose não é das mais fotogênicas. Mas a cena representa a realização do que ela sempre sonhou para Lis e Mel: uma vida comum e repleta de amor entre irmãs, com a possibilidade de se tocar porque se gostam, e não porque nasceram dividindo parte do crânio. “Elas se abraçam o tempo todo”, diz Camilla, sem esconder a felicidade.
 
Esses abraços são uma das várias “pequenas realizações” das meninas desde que deixaram a sala de cirurgia. Elas reaprenderam a fazer coisas básicas — como controlar o pescoço e engatinhar — e ganharam novas habilidades, como caminhar, falar os próprios nomes e as primeiras palavras, e conviver com os coleguinhas de escola. Aprenderam também a curtir a vida: amam brincar de boneca e passar os dias mais quentes na piscininha de plástico. E como a amizade é grande demais, pedem para dormir no mesmo berço, como fizeram nos primeiros 10 meses de vida.
 
Enquanto aprendem, porém, Lis e Mel dão várias lições. “Eu achei que eu ia ensinar muito a elas, mas a cada dia que passa são elas que me ensinam. Eu aprendi muito sendo ‘pai de menina’. Tem sido incrível esse primeiro ano. O aprendizado é constante”, comenta o pai delas, o supervisor comercial Rodrigo Aragão, 31 anos. Camilla revela um sentimento parecido. “Aprendi a dar mais valor às pequenas coisas da vida. Quando você passa por um baque muito grande, começa a ver tudo de forma mais positiva. Por pior que seja, tenta ver o propósito daquela situação”, analisa.
 
 (Arquivo pessoal
)  
Diferenças
 
As personalidades das gêmeas também vão ficando cada vez mais evidentes à medida que crescem, e se destacam quando as meninas ficam nervosas ou chateadas. Mel é alegre, risonha, simpática e agitada. Lis é delicada, carinhosa, meiga e tímida. Mel é mais risonha, mas também mais nervosa. Lis é mais reservada, mas também mais fácil de ser conquistada.
 
A agenda de Mel e Lis é concorrida e agitada. Elas chegam cedo à creche, que fica perto de onde moram, em Ceilândia. Antes das 7h, são recebidas pelos monitores na porta e se despedem da mãe. Às terças e quintas, as meninas fazem aula de natação e, às quartas e sextas, batem ponto no Programa de Educação Precoce, onde fazem atividades com o acompanhamento de fonoaudiólogos e de fisioterapeutas.
 
Recuperação
 
Apesar de terem passado por uma cirurgia complexa e delicada, Lis e Mel não ficaram com sequelas. A única lembrança da operação é a cicatriz na testa das meninas. O médico que capitaneou a cirurgia de separação, o neurocirurgião Benício Oton, comemora a recuperação das pequenas e explica que as gêmeas têm o desenvolvimento cognitivo normal para crianças da idade delas.
 
“Elas estão se recuperando muito bem. Sem falar que começaram a ganhar mais habilidades depois que foram separadas e começaram a ter estimulação. Lis e Mel têm dois nascimentos, o de verdade e o da separação. Esperamos que elas aprendam coisas novas a cada dia”, comemora.
 
O neurocirurgião lembra que, por causa da gravidade do caso, as meninas corriam riscos de ficar com lesões cerebrais importantes. “Outras crianças não têm a mesma recuperação que elas tiveram. Elas são abençoadas. Comemoramos todos juntos, tem muita gente para celebrar esse um ano de cirurgia de separação com a Lis e a Mel”, diz o médico.
 
Atualmente, 90% dos médicos que acompanham as gêmeas desde o nascimento já assinaram a alta das meninas, mas elas ainda não estão liberadas de todos os cuidados após a operação. Por enquanto, ainda têm rotina de consultas a cada seis meses com as especialidades de neurocirurgia, gastroenterologia e dermatologia, mas não há previsão de que façam novas cirurgias. “Achamos que não é o momento de cirurgia plástica e também não sabemos se vamos fazer futuramente”, diz Camilla.
 
"Eu achei que eu ia ensinar muito a elas, mas a cada dia que passa são elas que me ensinam”
Rodrigo Aragão, pai
 
"Para mim, elas são um milagre”
Camilla Neves, mãe
 
Memória
 
 (Luci Vânia/Divulgação - 29/4/19
)  
Nascimento
Camilla Vieira e Rodrigo Aragão descobriram que seriam pais de gêmeas siamesas na 10ª semana de gestação. Provavelmente, um dos casos mais precoces do mundo de detecção de gêmeos siameses craniópagos. As meninas nasceram em 1º de junho de 2018 e passaram 10 meses conectadas pelo lóbulo frontal direito dos crânios, uma ligação que poderia ser rompida sem comprometer o desenvolvimento delas a longo prazo. 
 
 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança - 29/4/19
)  
Separação
Após meses de estudos, inclusive com o auxílio de médicos norte-americanos do Children´s Hospital at Monte Fiore, em Nova York, a cirurgia de separação das gêmeas ocorreu em 27 de abril de 2019. Dividido em 36 etapas, o procedimento começou às 6h30 de sábado e só terminou às 2h30 do domingo. Mais de 50 profissionais participaram da cirurgia, toda feita pelo SUS, no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar. Foi o primeiro procedimento do tipo no Distrito Federal e o terceiro no Brasil.
 
 (Maria Clara Oliveira/HCB - 21/5/19)  
Reencontro
Após o sucesso da cirurgia, Lis acordou primeiro, Mel, depois, mas saiu primeiro da unidade de terapia intensiva (UTI). As duas se reencontraram em 21 de maio, 22 dias após separadas. As meninas comemoraram o aniversário de um ano no hospital, em 1º de junho de 2019, com direito a festa junina, bolo, doces e brinquedos infláveis (foto). Dois dias depois, em 3 de junho, Mel e Lis receberam alta médica para os cuidados pós-operatórios em casa.
 
Fé e superação
 
A história das meninas emocionou muita gente. Mas, para a família das gêmeas, elas também despertaram um sentimento maior: a fé. “Foi muito bonito ver tantas pessoas torcendo pela saúde das nossas pequenas, ver que se sensibilizaram, fizeram correntes de oração, pediram a Deus a melhora delas. Eu todos os dias lia os comentários no Instagram das páginas que tinham reportagens delas e aquilo me deixava emocionado e muito feliz, ver que a história delas pôde tocar no coração das pessoas e mostrar o lado bom, de compaixão que todos temos”, comenta Rodrigo.
 
Gerar esperança para quem enfrenta momentos difíceis, inclusive, foi um dos motivos que fizeram Camilla e Rodrigo se abrirem à divulgação da história de Lis e Mel. “Nós não queríamos falar sobre a história, mas decidimos nos abrir após eu me sentir amparada pela história das gêmeas siamesas de Fortaleza, Maria Ysabelle e Maria Ysadora. Às vezes, as pessoas estão perdidas, sem esperança e precisam apenas de uma história como esta para perceber que nada está perdido”, revela Camilla.
 
A mãe das meninas diz que um ano depois da divulgação do caso, a família das gêmeas ainda recebe mensagens carinhosas de quem foi tocado pela história. “Teve uma mensagem que mexeu muito comigo. Uma mãe me contou que o filho também estava esperando cirurgia de neuro no Hospital da Criança, mas ela já estava sem fé. Foi a história da Lis e da Mel que deu forças pra ela lutar a batalha do filho dela, isso me deixou muito feliz.”
 
Frequentemente as pessoas reconhecem as gêmeas na rua, no shopping e até em bloquinhos de carnaval. “Muita gente aborda a gente na rua quando estamos com elas. Querem saber da recuperação, saber como elas estão, querem tirar fotos. Nós deixamos. Nem sempre elas querem, mas na maioria das vezes dá certo”, conta Camilla, sorrindo. (HL)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 26 de abril de 2020

SABEDORIA PARA ENFRENTAR O VÍRUS

 

Sabedoria para enfrentar o vírus
 
Parte do grupo de risco da Covid-19, idosos dão lições de como passar por este momento de pandemia sem deixar a angústia vir à tona. O apoio dos familiares e amigos também é fundamental

 

ALAN RIOS

Publicação: 26/04/2020 04:00

Entre outras atividades cotidianas, Eldomira Pereira tem buscado conforto em livros religiosos (Fotos: Arquivo Pessoal
)  

Entre outras atividades cotidianas, Eldomira Pereira tem buscado conforto em livros religiosos

 

Após mais de seis décadas de vida, muita dificuldade já foi superada. Idosos estão no grupo de risco das complicações do novo coronavírus, mas usam a experiência para lidar com sabedoria neste momento sensível. Driblando a ansiedade, muitos moradores do Distrito Federal dão exemplos de como enfrentar a pandemia com calma e esperança. Nessa hora, atividades simples em casa, ligações rápidas para um familiar ou leituras leves se tornam grandes aliadas no combate ao vírus e aos medos provocados por ele. Especialistas dão dicas de como manter uma boa saúde mental neste período, mas alguns acabam ouvindo palavras de conforto dos próprios pacientes.
 
É o que conta Thiago Póvoa, geriatra do DF Star e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do DF. “Mais do que passar, eu recebo tranquilidade dos idosos no consultório. Dizem: ‘Doutor, não se preocupe, isso vai passar’, porque eles já viveram muita coisa na vida e têm a calma que o tempo nos traz. Para quem viveu 70 anos, três meses de distanciamento é algo mais fácil de lidar”, relata.
 
Thiago diz que esse pensamento é importante para todos, principalmente quando aliado aos cuidados médicos necessários para prevenir o coronavírus. “É preciso fazer nossa parte, levar a sério as recomendações dos órgãos de saúde, ficando em casa e mantendo hábitos de higiene para evitar o vírus, mas lembrando que, cedo ou um pouco mais tarde, nós vamos poder abraçar quem amamos”, conforta.
 
Mesmo assim, o especialista crê que é necessário continuar prestando cada vez mais orientações para este período. Uma das primeiras recomendações no consultório tem a ver com os hábitos cotidianos. “Os idosos não devem mudar a alimentação saudável, a boa quantidade de líquido que bebem e a qualidade do sono. É necessário manter uma rotina.”
 
Entre atividades que ajudam a manter uma boa saúde no dia a dia, exercícios simples são primordiais. “Muita coisa básica pode ser feita, como se expor ao sol, nem que seja de uma janela, uma porta, por cerca de 15 minutos. Isso pode garantir que os hormônios tenham mais regularidade. Sentar e levantar de uma cadeira também ajuda a circulação das pernas. Traçar uma linha reta na sala e procurar ir e voltar, se equilibrando, pode deixar nossos músculos mais organizados”, exemplifica.
 
Cabeça ativa
 
Cuidar da mente também é essencial em meio a uma pandemia, e idosos dão bons exemplos de como manter o bem-estar mesmo dentro de casa. Enilde Lins, 71 anos, brinca dizendo que falta tempo dentro das 24 horas do dia para fazer todas as atividades de que gosta. “Gosto de cuidar da casa, deixar limpinha, organizada. Faço o almoço, jantar, invento receita de bolo, pão, sobremesa. Também gosto muito de costurar. Fico o tempo todo ocupada com algo. Se duvidar, falta até espaço no dia”.
 
A aposentada conta que, o fato de não estar só, ajuda a passar por essa fase. “Moro com meu neto, e isso faz bem. Ficamos nós dois em casa, cumprindo a quarentena, mas aproveitamos para assistir à televisão, ver filmes. Apesar de que os filmes a que ele assiste não são muito do meu gosto. Mas gosto muito de ficar com ele, me ajuda demais”, afirma.
 
Palavras de conforto
 
Enilde sente falta de coisas que não pode fazer durante o isolamento, como cuidar de dois netos que via com frequência, mas se apoia na fé e na esperança para não se abalar. “Não me sinto agitada, nervosa ou ansiosa. Tento ter contato com os netos e filhos por telefone, para amenizar a falta, e fico assistindo aos vídeos espíritas de que gosto, conversando com Deus todos os dias.”
 
Eldomira Pereira, 73, também conta que a espiritualidade e o contato telefônico diminuem as distâncias criadas pela pandemia. “Tenho um grupo de umas 15 amigas que se reunia toda quinta-feira. Agora, nós paramos de nos encontrar pessoalmente, mas continuamos ligando uma para outra, perguntando como estão e conversando. Outra coisa que me ajuda é ler livros religiosos, que sempre têm palavras de conforto”, relata.
 
A aposentada não se considera “uma pessoa muito agoniada”, mas também não é “daquelas mais paradas”. No meio termo, ela encontra tranquilidade para encarar os problemas da Covid-19. “Fazer coisas manuais ajuda, como crochê. Fico tricotando, faço lençóis, sapatinhos para bebês, cachecóis. Tudo para doação. Tem muito idoso fazendo máscaras também. Isso é legal, ajuda todo mundo”, lembra.
 
Para Eldomira, mesmo sendo um período difícil para todos, surgem boas ações que mostram a bondade da população. “Vejo muita gente tendo mais carinho com os idosos. Agora mais ainda, mas já percebia isso antes. As pessoas que têm idosos na família estão preocupadas. Meus filhos ligam sempre, perguntam se eu estou precisando de algo. E também vejo amor em quem está trabalhando no dia a dia, porque médicos, faxineiros, jornalistas e essas pessoas que precisam estar no serviço estão se sacrificando por quem está em casa, como eu”, avalia.
 
Angelina Pereira conseguiu conversar com a irmã, com quem não falava havia 40 anos (Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes/Divulgação
)  

Angelina Pereira conseguiu conversar com a irmã, com quem não falava havia 40 anos

 

Distanciamento social não é isolamento afetivo
 
O exercício da paciência durante a quarentena fica mais difícil para quem não tem companhia de familiares. Manter a calma em meio às notícias tristes, sem uma pessoa que ama por perto, não é simples. Por isso, cada vez mais especialistas recomendam que parentes busquem ferramentas para não abandonar os idosos. Para Tatiana Casilo, psicóloga clínica especialista em psicanálise, é necessário lembrar que não há receita pronta sobre como manter uma boa saúde mental neste período, nem respostas rápidas quando o assunto são as complexidades do ser, mas há caminhos que podem ser bons começos.
 
“Podemos utilizar a tecnologia a nosso favor neste momento. Se for possível, fazer ligações de vídeo para familiares e amigos, para dar uma amenizada na saudade. O idoso que mora sozinho, e sabe que tem por perto um vizinho mais novo, pode pedir ajuda para compras de itens externos ou para utilizar a tecnologia, lembrando das medidas de higienização”, diz.
 
Abrigados também precisam de uma atenção especial, principalmente com a suspensão das visitas de muitos lares do DF, que atenderam às recomendações médicas. “Acredito que seja um momento em que os cuidadores do local possam pensar em atividades criativas, como uma noite de bingo, ou um karaokê no pátio. Algo que ajude a levantar o astral para que os efeitos negativos gerados pela pandemia não façam morada nos corações desses idosos”, diz Tatiana.
 
Angelina Pereira, 68, mora no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, e conta com o convívio afetuoso dos cuidadores da casa para diminuir os impactos causados pela distância dos parentes. “Minha família está toda em Mato Grosso. Vim para Brasília há uns 25 anos, para trabalhar, mas, recentemente, tive um problema na perna e hoje estou aqui”, conta. Foi justamente neste momento de distanciamento que ela conseguiu contato com quem ama. “Tenho uma irmã que fazia 40 anos que a gente não se falava, mas, na semana passada, eu recebi uma ligação dela. Ela disse que me encontrou por causa da internet, que me achou no abrigo, pegou o número e ligou. Foi muito especial”, relata.
 
A conversa teve palavras simples, mas gratificantes. “Tivemos muito assunto, foi papo de horas. Ela disse ‘sou feliz por você estar bem’”, contou Angelina. A idosa enxerga contatos como esse como presentes aos moradores do lar. “As visitas fazem muita falta no dia a dia. A gente fica sem ter com quem conversar. Pessoas que têm pais, mães, tios e avós aqui precisam ligar, nem que seja rápido, para dizer um ‘oi’, dizer que vai vir quando tudo isso passar, que vai levar pra passear. Porque é muito duro. Tem idoso que comenta que recebeu uma ligação de alguém, e às vezes o outro não recebeu”, diz.
 
Ajuda
O lar reforçou os pedidos de doações, que podem ser feitas por transferência bancária de qualquer valor, com os dados abaixo:
 
Banco do Brasil
Agência: 1226-2
Conta: 90697-2
CNPJ: 00.627.927.0001.56
 
Três perguntas para Ana Paula Caetano, psicóloga
 
De forma geral, quais fatores mais contribuem para que uma pessoa lide bem ou não com este período de quarentena?
Estamos vivenciando um momento muito particular, que nos exigiu uma série de adaptações. Para os idosos, isso não foi diferente. Muitos possuíam uma vida extremamente ativa e independente e hoje se veem mais passivos, precisando de outras pessoas para realizarem atividades rotineiras. Mas somos seres singulares. Por isso, cada indivíduo lida de formas diferentes em situações de crise. Há alguns fatores que contribuem para que a pessoa lide melhor nessa situação, como a percepção que ela tem sobre si e sobre o futuro - se é uma visão mais positiva, uma visão de crescimento acerca dos momentos de crise. Também há a rede de apoio e a qualidade dos relacionamentos intrafamiliares, pois, com isso, o medo, o desamparo e a solidão são minimizados, e a pessoa mantém o sentimento de fazer parte de um grupo. Podemos citar também o autocuidado que ela mantinha mesmo antes da quarentena e fatores econômicos, que também são importantes neste momento, uma vez que, a crise não atingiu apenas a área da saúde, mas também a econômica e diversas outras, gerando uma preocupação ainda maior com a aquisição de insumos básicos para a sobrevivência das famílias. Por fim, estão os fatores socioculturais em que a pessoa está inserida e os comportamentais adquiridos ao longo da vida.
 
Sabemos que não há uma fórmula pronta do que fazer para ter uma boa saúde mental neste período, mas quais atividades do dia a dia podem auxiliar os idosos que estão mais ansiosos?
O primeiro é entender como funciona a rotina do idoso e também compreender seus limites, para evitar frustrações e angústias por não conseguir concluir a tarefa proposta. Dessa forma, algumas atividades são bem interessantes na manutenção da saúde mental dessa população, como exercer suas rotinas religiosas por meio das ferramentas digitais, pois assim conseguimos aumentar o senso de pertencimento e o contato com aquilo que acreditam. Usar das ferramentas digitais para manter o contato com os amigos e familiares, compartilhando experiências, pequenas conquistas do dia e também falando sobre inseguranças, medos e angústias. Caso seja necessário, buscar um acompanhamento psicoterapêutico para contribuir com a saúde mental neste momento de vulnerabilidade. Procurar fazer uma atividade prazerosa ou aprender algo novo interessante, como executar alguma atividade manual, cozinhar, assistir a um filme ou outra coisa que goste de fazer. Procurar movimentar-se, em casa, de acordo com as possibilidades.
 
O que a pessoa que tem idoso na família, mas não pode visitá-lo por conta do isolamento, pode fazer para não deixar o parente de idade abandonado neste período?
Nestes momentos de isolamento social, alguns sentimentos e emoções podem ser delicados, como tristeza, abandono, raiva e insegurança. É muito importante que a família se faça presente aos entes idosos queridos de uma maneira empática e sem minimizar o sofrimento deles. Algumas pessoas têm usado como estratégia as videochamadas, permitindo ao parente ver a família e trocar informações importantes. Também é preciso estar disponível a ajudar nas rotinas diárias, para que essas pessoas não se exponham ao risco desnecessariamente, além de demonstrar carinho e afeto, que pode ser potencializado com um bilhete carinhoso debaixo da porta, uma canção cantada da janela, algo que faça com que os idosos não se sintam sozinhos. É bastante importante olhá-lo com empatia e respeito pelo que está sentindo e ficar atento às mudanças comportamentais que podem surgir, dando sinais de depressão, ansiedade e outras patologias.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 25 de abril de 2020

A CASA VIROU RESTAURANTE

 

A casa virou restaurante
 
Mesa posta, comida boa e quentinha no prato. Se a quarentena obrigou os restaurantes a ficarem fechados, dá para fazer uma adaptação no lar. Atenção aos detalhes e criatividade para cozinhar fazem as refeições terem uma cara especial

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 25/04/2020 04:00

Chef Marcelo Petraca e a esposa Marcella dão dicas para montar uma bela mesa (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

Chef Marcelo Petraca e a esposa Marcella dão dicas para montar uma bela mesa

 



Na correria do dia a dia, ter tempo para se reunir com a família durante as refeições é privilégio para poucos. Mas, com a necessidade do isolamento, e protocolos de distanciamento em virtude dos casos de coronavírus na cidade, muitos agora ficam mais em casa e estão redescobrindo este momento à mesa, tão tradicional para os brasileiros. Há quem se esforce para ir além do básico para o almoço e jantar.

Montar uma bela mesa, mesmo que só para comer com os filhos, pode ajudar a levantar o ânimo durante um período de crise, como avalia a empresária Marcella Pinho, 31 anos. “Eu sou a favor disso e tenho esse costume em casa. Às vezes, a gente guarda louça para receber visitas, mas temos que usá-las, deixar as coisas bonitas para a gente”, afirma.

Proprietária do buffet Bloco C em casa, ela dá as dicas para quem quer uma mesa elegante. “Não é preciso um aparelho de jantar completo. Você pode brincar com as cores e louças diferentes. Neste momento, em que há tanto temor, cores vibrantes trazem energias positivas.” Detalhes, como flores naturais, também contribuem para a harmonia da refeição. “Não precisa ser um arranjo comprado. Até mesmo uma florzinha simples, que você pega no jardim de casa, já traz mais vida e muda o astral.” (Veja Monte sua mesa)

Descobrindo sabores


Depois de posta, a mesa pede o principal: comida. Com restaurantes e bares fechados, muita gente tem decidido se aventurar na cozinha. Marido de Marcella, o chef Marcelo Petrarca, dos restaurantes Bloco C e Lago, percebeu que a gastronomia está caindo no gosto da população durante a quarentena. “Por dia, eu recebo entre 30 e 40 fotos de pratos diferentes que as pessoas preparam. Alguns ligam pedindo dicas, outros têm certeza que cozinharam melhor do que eu”, diverte-se.

Ele explica que é a hora de exercer a criatividade para não ficar todo dia no feijão com arroz. “Se pediu comida em domicílio e sobrou, no dia seguinte, aproveite aquilo para um prato novo e rápido”, orienta. Para aqueles que têm pouca experiência, ele sugere optar por comidas de forno. “A probabilidade de dar errado é mais baixa. Se você tem arroz, alho, cebola, azeite, tomate e frango, já consegue um arroz de forno maravilhoso.” (Veja Receita em casa)

O custo benefício é outra vantagem. “Não dá para pedir delivery todo dia, porque é caro. Além disso, essa é a hora de viver um momento que nem sempre se tinha, com a família na mesa. Você senta, come, participa de todo o espetáculo”, pondera. “A quarta-feira vira um sábado. Você começa um prato, se empolga, abre um vinho e quando vê, já está nesse momento especial.”

Conforto


A união entre comida e decoração está dando outra cara às refeições na casa da dentista Vivian Modenese, 34 anos. Na quarentena, ela resolveu experimentar novos pratos na cozinha, ou mesmo em dias de pedir comida por aplicativos, caprichar na arrumação da mesa. “Não sou profissional, mas estou engajada com receitas que compartilho com as amigas. Coloco o jogo americano, prato para refeição e para entrada, copo para água ou refrigerante, taça e talheres”, detalha.

Depois, tira fotos e compartilha nas redes sociais. “Para mim, não há nada mais especial na vida do que sentar com a família para comer. O que antes era sair com o marido para jantar, agora fazemos na cozinha de casa.” O esforço dela é reconhecido pelos filhos e esposo. “Na Páscoa, pedi um arranjo de flores naturais para complementar. Assim vamos transformando a quarentena em algo prazeroso. Sei que vivemos uma montanha-russa, mas tudo isso ajuda a trazer alegria, união e conforto.”


  • Receita caseira

    Cozinhar um prato diferente não precisa ser tarefa árdua. O chef Marcelo Petrarca, dos restaurantes Bloco C e Lago, mostra que com ingredientes comuns do dia a dia brasileiro, é possível criar refeições saborosas e que
    não são complicadas. Ao Correio, ele deu a receita do espaguete gratinado com parma, para duas pessoas:

    Ingredientes

    » 140g de espaguete
    » 40g de presunto parma em lascas
    » 3g de sal
    » 10ml de azeite
    » 5g de alho e cebola
    » 1,5l de água

    Modo de preparo


    Coloque a água em uma panela, leve ao fogo e, quando ferver, coloque o espaguete deixando cozinhar até ficar al dente. Escorra a água e reserve.


    Molho de grana

    Ingredientes


    » 150ml de creme de leite
    » 100g de queijo de grana

    Modo de preparo

    Coloque o creme de leite em uma panela pequena, e leve ao fogo médio. Quando começar a ferver, adicione o queijo de grana, e deixe ferver por mais três minutos. Tire do fogo e bata no liquidificador até o molho ficar homogêneo. Reserve.

    Farofa panco

    » 30 g de farinha de panco
    » 8 g de manteiga
    » 5 g de cebola roxa (laminada)

    Modo de preparo

    Leve uma panela pequena ao fogo médio, adicione a manteiga e deixe derreter. Adicione a cebola, deixe dourar, e coloque a panco. Mexa a farinha até ficar dourada.

    Montagem do prato

    Em uma panela média, deixe o azeite esquentar. Adicione o alho e cebola, e, em seguida, coloque o molho de grana e o presunto parma. Quando ferver, adicione o espaguete, e deixe fervendo por mais três minutos. Coloque tudo em uma louça que possa ir ao forno. Salpique a farofa por cima da massa, para crocância. Leve ao forno previamente aquecido a 180º C, por três minutos, ou até virar uma crosta.


  • Monte sua mesa

    Deixar uma mesa pronta para receber a família durante as refeições torna o momento mais aconchegante. Para isso, a empresária e dona do buffet Bloco C em casa, Marcella Pinho, dá as dicas:

    » Escolher um jogo americano para ir sob os pratos;
    » As louças para o jantar não precisam combinar;
    » Para uma mesa básica, use apenas os talheres principais (garfo e faca). Caso sirva entradas especiais, use os utensílios menores;
    » Para beber, opte por uma taça para vinho e um copo para água;
    » Opte por cores vibrantes. Laranja, rosa e verde podem levantar o astral;
    » Guardanapos de pano fazem toda a diferença;
    » Decore a mesa com flores naturais. Elas harmonizam o ambiente.

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Correio Braziliense sexta, 24 de abril de 2020

USO DE MÁSCARA SERÁ OBRIGATÓRIO EM BRASÍLIA, A PARTIR DE 30 DE ABRIL

 

Uso de máscaras será obrigatório
 
Decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), ontem, determina que a medida passe a valer a partir de 30 abril. Quem sair de casa sem a proteção poderá ser multado. Governo pretende oferecer gratuitamente o equipamento à população

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 24/04/2020 04:00

O equipamento de proteção deverá ser utilizado pelos moradores do DF em todos os espaços públicos (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

O equipamento de proteção deverá ser utilizado pelos moradores do DF em todos os espaços públicos

 



A população do Distrito Federal terá de usar máscaras ao sair de casa a partir de 30 abril por causa da pandemia do novo coronavírus. O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, ontem, decreto que determina a obrigatoriedade da utilização da proteção facial. A decisão, que prevê punição para quem descumprir a regra, é uma das medidas para respaldar a flexibilização de algumas atividades comerciais pelo Executivo local.

De acordo com o texto, o uso de máscaras será exigido em todos os espaços públicos, nas vias públicas, no transporte coletivo e nos estabelecimentos comerciais, industriais e de serviço da capital federal. O decreto determina, também, que os locais deverão impedir a entrada e a permanência de pessoas que não estiverem usando as máscaras de proteção nas instalações.

Quem não cumprir a determinação estará sujeito a punições, como multa e advertência, e poderá responder por crime de infração de medida sanitária preventiva — a pena varia de um mês a um ano de detenção, segundo o artigo 268 do Código Penal. As regras levam em conta a lei federal 6.437/1977, que prevê penas a partir de R$ 2 mil (leia O que diz a lei).

O Governo do Distrito Federal (GDF) recomenda o uso de máscaras caseiras, como orienta o Ministério da Saúde. A obrigatoriedade perdurará enquanto vigorar o estado de emergência na capital federal. A intenção do Executivo é oferecer os equipamentos de proteção gratuitamente para a população. Não há data e locais definidos para as entregas, mas, na semana passada, o GDF firmou parceria com entidades, como a Federação das Indústrias do DF (Fibra) e o BRB, para a produção e a compra de máscaras. A proposta prevê que sejam distribuídas 1 milhão de unidades para moradores da capital federal.

A bancária Ana Carolina Cesar Soares, 25 anos, apoia a determinação do governo local e acredita que o decreto trará mais segurança para a população. “Nós não temos como saber quem está ou não contaminado com o vírus e essa medida, acredito que vá proteger mais pessoas que têm de sair à rua e não podem ficar no isolamento social”, destaca.

Na casa de Ana Carolina Cesar, o uso de máscara faz parte da rotina (Arquivo Pessoal)  
Na casa de Ana Carolina Cesar, o uso de máscara faz parte da rotina


Ela conta que o uso de máscaras tornou-se parte do dia a dia desde o início das medidas de contenção contra a Covid-19. “Aqui em casa, minha mãe já tinha comprado uma caixa de máscaras na primeira semana e, no meu trabalho, distribuíram também, então, já está se tornando um hábito”, afirma.

Atendimento


Ibaneis sancionou também, ontem, lei que obriga o uso e fornecimento de máscaras para servidores de estabelecimentos públicos, indústrias e dos meios de transporte públicos e privados para conter a disseminação do coronavírus. O projeto de lei é do distrital Chico Vigilante (PT) e foi aprovado pela Câmara Legislativa na quarta-feira.

“O objetivo é assegurar medidas de proteção aos trabalhadores que prestam atendimento ao público”, justifica o autor no projeto. “A combinação do uso de máscara de proteção associada à higiene instantânea das mãos pode retardar a propagação exponencial do vírus, principalmente por quem não apresenta sintomas”, acrescenta.

As medidas são algumas das ações do GDF para viabilizar a liberação de mais atividades comerciais a partir de 3 de maio, como pretende o governador Ibaneis Rocha. O plano de abertura está em discussão com entidades do setor produtivo, como a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), para definir regras e modalidades.

Segurança

O diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia José Davi Urbaez defende a medida anunciada pelo governo local. Segundo ele, há evidências suficientes para afirmar que esse tipo de proteção reduz os riscos de transmissão da Covid-19. “O uso universal de máscaras é um dispositivo que aumenta ainda mais a eficácia do distanciamento social. Ela diminui a contaminação em objetos e superfícies, sobretudo pensando em pessoas assintomáticas que deixam rastros do vírus”, explica.

Mesmo com a obrigatoriedade das máscaras, a possibilidade de liberação de mais atividades do comércio em 3 de maio preocupa o infectologista. “Num momento em que não há nenhuma previsão de retrocesso da epidemia, aumentar a possibilidade de contato social significa elevar o risco e a propagação dos vírus.” Ele acrescenta que o fluxo diário de pessoas vai acelerar a chegada mais forte da Covid-19 nas periferias. “Antes, os trabalhadores desses locais não estavam em contato com as áreas de poder aquisitivo maior, onde há mais concentração de casos. Agora, esse circuito de propagação vai começar.”

  • Falta definir

    » Segundo o decreto, uma portaria será publicada nos próximos dias pela Secretaria de Saúde para definir datas, horários e locais das distribuições de máscaras gratuitas para a população

    » O decreto não estabelece qual autoridade local ficará responsável pela fiscalização da medida e pela aplicação das punições


  • O que diz a lei

    A Lei 6.437/1977 prevê que as infrações sanitárias serão punidas, alternativa ou cumulativamente, com as penalidades de advertência e multa, sem prejuízo das sanções de natureza civil ou penal cabíveis. O valor da multa começa em R$ 2 mil e pode chegar a R$ 75 mil, no caso de infrações leves. Já o artigo 268, do Código Penal, trata do crime de infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, sob pena de prisão, de um mês a um ano, e multa.

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Correio Braziliense quinta, 23 de abril de 2020

HOTELARIA SOLIDÁRIA RECEBE OS PRIMEIROS HÓSPEDES

 

Hotelaria Solidária recebe os primeiros hóspedes

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 23/04/2020 04:00

Para evitar aglomerações, a chegada dos idosos ao Brasília Palace Hotel foi dividida em dois grupos de 50 pessoas (Ed Alves/CB/D.A. Press)  

Para evitar aglomerações, a chegada dos idosos ao Brasília Palace Hotel foi dividida em dois grupos de 50 pessoas

 



O Brasília Palace Hotel recebeu, ontem, os primeiros idosos selecionados pelo programa Sua Vida Vale Muito — Hotelaria Solidária. Ao todo, 100 beneficiários foram hospedados no primeiro dia de recepção. A previsão é de que até a próxima sexta-feira, mais 200 moradores da capital façam o check-in. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) em parceria com o hotel, tem o objetivo de oferecer um lar temporário para pessoas com 60 anos ou mais, de baixa renda, que vivam em condições inadequadas para o isolamento social e prevenção à Covid-19.

O programa é voltado para idosos como a aposentada Maria das Dores Oliveira, 67 anos. Ela mora com o filho no Jardim Mangueiral, e a rotina do emprego dele preocupava a família e colocava em risco a saúde da mãe. "Ele trabalha no sistema socioeducativo e tem contato com muitas pessoas. Além da idade, eu tenho diabete, problema no coração e pressão alta. A situação o deixava (filho) muito preocupado", conta. Agora, o contato com a família será por telefone. "Vou sentir falta dele e da casa, mas é por uma boa causa. Agora estamos mais tranquilos", destaca.

Para evitar aglomeração na recepção do hotel, esses novos hóspedes chegam aos poucos. São dois grupos de 50 beneficiários por dia. Luziney Cavaignac, 68, veio com a filha, a estudante Maria Luiza Cavaignac, 20. A escolha de entrar no programa partiu do idoso "Eu achei melhor ficar aqui isolado. Minha filha, às vezes, precisa sair e era um grande risco", conta. Maria apoiou a decisão do pai. "Eu estou mais tranquila. Meu pai é fumante, e eu ficava receosa. Lá, eu sei que ele está seguro”, ressalta.

Seu Luziney está dividindo o quarto com outro idoso. Ele afirma que gostou da recepção e da hospedagem. O intuito é ficar no hotel até se sentir seguro. "Quero ficar aqui até esse pico do coronavírus acabar, para ir para casa e tudo voltar ao normal”, diz. Os idosos poderão permanecer no estabelecimento por até três meses, podendo solicitar o desligamento a qualquer momento, caso achem necessário, e terão oficinas ao ar livre. Ao todo, 150 quartos foram reservados para atender à primeira fase do programa. Antes de fazer o check-in, eles passaram por um teste rápido de coronavírus. O procedimento vai ser repetido na próxima semana, seguindo os protocolos de segurança.

Hotel está fechado exclusivamente para receber os beneficiários (Ed Alves/CB/D.A. Press)  

Hotel está fechado exclusivamente para receber os beneficiários

 



Os idosos terão uma programação para seguir durante a hospedagem, que incluem oficinas e momentos de lazer, como confecção de máscaras e meditação. As atividades serão realizadas em pequenos grupos, com horários definidos pela Sejus. Por segurança, o uso da piscina está vedado. Os hóspedes têm direito a café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia, além de água e chás à disposição. As refeições ocorrem no restaurante, também com horários definidos e divididos em grupos.

Parceria

O hotel está fechado exclusivamente para receber os idosos. A hospedagem é bancada parcialmente pelo Governo do Distrito Federal (GDF), que assume 20% do valor, além do apoio logístico, emocional e o fornecimento de assistência médica. O restante dos custos é arcado pelo hotel. Os funcionários também terão monitoramento médico. A ideia é ampliar o programa com um chamamento público para outras empresas do setor aderirem à iniciativa. “Podem participar os hotéis que estejam prontos para abrigar, exclusivamente, esses idosos, ou seja, não podem ter outros hóspedes no local. Também deverão seguir os protocolos de saúde e segurança definidos pelo governo”, explica a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani.

O DF tem cerca de 14 mil idosos em condições de moradia inadequada, segundo a pasta, e há mais de 500 deles inscritos no programa. As inscrições continuam e podem ser feitas pelo site: suavidavalemuito.sejus.df.gov.br. Para mais informações: 3213 0742 / 3213 0764 / 99126 9102 (Whatsapp).


  • Máscara obrigatória para funcionários

    Os distritais aprovaram, ontem, projeto de lei que obriga o uso e fornecimento de máscaras para funcionários públicos, indústrias e transporte público e privado do DF para conter a disseminação do coronavírus. Os parlamentares aprovaram também o projeto de lei do Poder Executivo que prevê mudança na gratificação de militares que atuam na Secretaria de Segurança Pública. A alteração aumenta despesas, mas permite ao governo local reorganizar a vinculação de patentes ao cargos. As proposições seguem para a sanção do governador. Em primeiro turno, os deputados deram aval a projeto de lei do GDF que permite a criação de programa para oferecer Carteira Nacional de Habilitação (CNH) gratuitamente para brasilienses de baixa renda.




  • Quem pode se beneficiar

    » Ter 60 anos ou mais
    » Morar no DF
    » Morar em domicílio onde não seja possível o isolamento e/ou que esteja compartilhando moradia com pessoas infectadas ou suspeitas de infecção e impossibilitado de se manter em isolamento social
    » Ser pessoa de baixa renda
    » Ter capacidade de autocuidado e autonomia para locomoção
    » Não apresentar febre ou sintomas respiratórios compatíveis com a Covid

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Correio Braziliense quarta, 22 de abril de 2020

ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA: FESTA ONLINE PARA CELEBRAR OS 60 ANOS

 

Festa on-line para celebrar 60 anos
 
Em tempos de pandemia, a população de Brasília foi convidada a comemorar em casa. Por meio de lives, apresentações artísticas e a tradicional missa na Catedral não deixaram a data passar em branco

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 22/04/2020 04:00

 

Dom Sérgio da Rocha, conduziu a missa na presença de poucas autoridades, como o governador Ibaneis Rocha e a primeira-dama, Mayara Noronha (Minervino Júnior/CB/D.A Press



)  

Dom Sérgio da Rocha, conduziu a missa na presença de poucas autoridades, como o governador Ibaneis Rocha e a primeira-dama, Mayara Noronha

 



Brasília completou 60 anos e, assim como a cidade, a comemoração se revelou cheia de modernidade. No lugar de shows na Esplanada dos Ministérios, cada brasiliense foi convidado a celebrar a data em casa. A tecnologia apresentou-se como presença ilustre, uma alternativa para a data não passar em branco. Durante todo o dia, lives entretiveram e reuniram os brasilienses em missas, shows e apresentações de balé.

A festa começou com a tradicional missa na Catedral Metropolitana de Brasília. Os bancos estavam vazios, porém, pela internet, milhares de fiéis acompanharam a celebração. Na igreja, apenas algumas autoridades, como o governador Ibaneis Rocha e a primeira-dama, Mayara Noronha. Na cerimônia, o arcebispo de Brasília, dom Sérgio da Rocha, recordou a missa de inauguração da cidade em 1960, mesma data de instalação da arquidiocese. “Nós celebramos esses 60 anos de Brasília com um tríplice olhar: para o passado, com ação de graças; para o futuro, com esperança; e para o presente, com compromisso e responsabilidade”, disse o religioso durante homilia.

Dom Sérgio ainda ressaltou a importância de seguir as orientações das autoridades no combate à Covid-19. “A vida é compromisso, é tarefa, é responsabilidade. Nós devemos cuidar desse dom com responsabilidade, colaborando para preservar não só a própria vida, mas também a do próximo”, destacou.

Sem chance de ir à Catedral, a profissional de relações públicas Rosângela de Almeida Amorim Galdino, 37 anos, assistiu à missa em casa, pelas redes sociais. “Senti-me única. Todas as vezes em que o bispo citava quem estava acompanhando, eu me sentia ali, presente. Pude me concentrar a acompanhar a celebração na íntegra. Foi muito válido, rico e profundo”, comentou. Para a brasiliense, a celebração na igreja projetada por Oscar Niemeyer é uma tradição que não poderia ser esquecida nessa data. “Todos os anos, a Catedral fica cheia. Uma alternativa bem inovadora. Esse momento de ação de graças pôde chegar a todos os lares do Distrito Federal”, comentou.

 

 

Os bailarinos Paula Nóbrega e Márcio Júnior celebraram a cidade com apresentação ao vivo nas redes sociais (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Os bailarinos Paula Nóbrega e Márcio Júnior celebraram a cidade com apresentação ao vivo nas redes sociais

 

 


Programação cultural
A festa continuou ao longo do dia, com diversas lives de artistas. A Secretaria do Turismo preparou uma apresentação de balé com uma dupla do Grupo Bailarinos de Brasília: Paula Nóbrega e Márcio Júnior. “Fiquei lisonjeada de poder parabenizar a cidade com o que a gente faz com tanto amor”, comentou Paula. Ela nasceu no Rio de Janeiro, mas cresceu na capital. “Vim morar aqui com 4 anos. Em Brasília, eu comecei estudar balé e descobri a minha paixão pela dança”, lembrou. Paula apresentou-se virtualmente pela primeira vez. Para ela, a ausência do publico aumentou o nervosismo. “Recebi muitas mensagens. Não sou muito envolvida com redes sociais, mas vi a força que elas têm. Foi uma forma muito bacana de poder prestigiar o aniversário de Brasília, mesmo em meio a essa pandemia”, ressaltou.

Cantores também animaram o dia. Diversos artistas da cidade usaram as redes sociais para se apresentarem em homenagem à capital. A Secretaria de Cultura e Economia Criativa realizou o Festival Cantando para Brasília. No total, 15 artistas se apresentaram, entre eles, Dhi Ribeiro, Tulio Borges, Roni e Renata Jambeiro. “É sempre uma honra participar de qualquer festividade envolvendo Brasília. É uma forma de levar carinho e amor e celebrar se conectando”, ressalta Renata. “Foi muito divertido e emocionante”, analisou a cantora.

Outras instituições também promoveram shows, como o festival BRB Play, do Banco de Brasília (BRB). A bancária Sandra Melo, 45, aprovou a iniciativa. A mineira mora em Brasília há cerca de 10 anos e sempre reservava a data para conhecer um lugar novo na cidade. Porém, neste ano, a comemoração ocorreu em casa, ao som de Oswaldo Montenegro, um dos artistas envolvidos no Festival BRB Play. “Acho um cantor, compositor e intérprete incrível, dono de uma voz poderosa e que tem Brasília na história. Ele fala de Brasília em suas músicas, ele canta a cidade como ninguém. Há outros artistas, claro, mas, pra mim, Oswaldo é especial”, disse. “Eu agradeço a essa cidade linda pela acolhida e por ser um deleite aos meus olhos mineiros. Nunca me canso de admirá-la”, ressaltou.

“Nós celebramos esses 60 anos de Brasília com um tríplice olhar: para o passado, com ação de graças; para o futuro, com esperança; e para o presente, com compromisso e responsabilidade”
Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília

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Correio Braziliense terça, 21 de abril de 2020

QUERIDA BRASÍLIA

 

 

Querida Brasília

 

Publicação: 21/04/2020 04:00

 

 (Lisl Steiner/O Cruzeiro/CB/D.A Press )  


Sei que esta mensagem chega até você em um momento difícil. Afinal, desde que nascemos, meu maior prazer, minha verdadeira missão, foi acompanhar seus passos. Tive a sorte de vê-la crescer, comemorar suas alegrias e apoiá-la nos momentos de dor e ameaça.

Quis o destino que você completasse 60 anos durante uma pandemia que assusta o mundo. É, natural, portanto, que você se sinta insegura e confusa hoje. Mas tenho certeza de que você vai superar mais esse desafio, como fez com todos os obstáculos que apareceram ao longo de sua bela e inspiradora trajetória.

 (Gilberto Alves/CB/D.A Press)  

Motivado pela lembrança de sua força e capacidade de superação, passei a revirar gavetas, folhear anotações e rever as fotografias que fiz de você desde que nascemos, naquele 21 de abril de 1960. A cada texto, a cada imagem, ficava ainda mais claro o quanto me orgulho de ser seu irmão gêmeo. “Preciso dividir tudo isso com Brasília”, pensei. “Tenho certeza de que ela também vai ficar esperançosa ao reviver todos esses instantes, mesmo que alguns tenham sido dolorosos.”

Você se mostrou guerreira desde a gestação, minha irmã. Não foram poucos os que se opuseram à sua criação. Mas com a ajuda de seu idealizador, Juscelino, e de milhares de bravos candangos, você surgiu lindamente esculpida em pleno cerrado, graças à genialidade de Oscar e Lúcio, nossos dois amigos sonhadores. E, de cidade que quase não existiu, você se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade!

 

 

 (Bruna Lima/CB/D.A Press - 25/2/20)  

Suas lutas e vitórias continuaram. Você recuperou seus direitos democráticos, perdidos aos 4 anos; conquistou autonomia política; e ajudou o país a derrotar a inflação. Quando viu a violência no trânsito tirar a vida de seus filhos, reagiu com uma mensagem de paz e deu exemplo ao resto do país com o respeito à faixa de pedestres. E foi corajosa ao combater a exclusão social, adotando cotas para negros em sua universidade, surgida do ideal de outros dois amigos sonhadores: Darcy e Anísio.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press - 3/8/17)  

E o que dizer do exemplo de alguns de seus filhos, nascidos de você ou adotados? Eles foram heróis, criaram músicas ouvidas em todo o mundo, tornaram-se os melhores naquilo que se propuseram a fazer... É a sua história que me faz ter certeza de que esse vírus que a ameaça hoje será mais um obstáculo superado. Dias bons e felizes, coroados com seu incomparável pôr-do-sol, a esperam. Não tenho dúvidas.
 
 
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Correio Braziliense segunda, 20 de abril de 2020

VESTIBULAR E ENEM INCERTOS

 

Vestibular e Enem incertos
 
Seleções tradicionais do meio do ano no DF estão suspensas por tempo indeterminado devido ao coronavírus. Congresso Nacional poderá discutir também a possibilidade de adiar o exame nacional, caso o Ministério da Educação não se pronuncie

 

» ALAN RIOS
» ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 20/04/2020 04:00

Maria Eduarda ficou apreensiva com a suspensão do vestibular, mas aproveita a quarentena para estudar (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Maria Eduarda ficou apreensiva com a suspensão do vestibular, mas aproveita a quarentena para estudar

 

 
Os meses de abril e maio geralmente são cruciais para alunos que pretendem ingressar no ensino superior. Instituições em todo o país publicam editais dos vestibulares tradicionais do meio do ano, abrem inscrições e incentivam os estudos de quem sonha com uma vaga, tanto na rede pública quanto na privada. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, deixa mais essa indefinição. Até mesmo exames previstos para o fim de 2020 podem ser prorrogados, como pedem propostas do Senado apoiadas pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre.
 
Na Universidade de Brasília (UnB), todos os processos do meio do ano foram suspensos, mas não cancelados. A instituição informou que os editais do vestibular para o segundo semestre de 2020; as solicitações de Transferência Facultativa; e os processos seletivos para Portadores de Diploma de Curso Superior e para o preenchimento de Vagas Remanescentes seguem sem data definida.
 
Symone Rodrigues Jardim, diretora de Inovação e Estratégias para o Ensino de Graduação da UnB, considera que essa é a medida mais adequada para o momento. “O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) suspendeu o calendário de aulas diante da pandemia e, consequentemente, suspendemos nossos processos. A reitora está reforçando a necessidade do isolamento, de acordo com o decreto (do Executivo local)”, detalha.
 
Há uma dificuldade em estabelecer nova data de realização neste momento, pois os decretos e as determinações a respeito do coronavírus variam de acordo com a evolução das infecções na capital federal. “O cenário muda muito rápido. Então, não temos uma ideia de quando poderemos retomar o semestre ou aplicar os processos seletivos”, afirma Symone. Ela também ressaltou que a UnB, agora, foca em pesquisas e projetos de apoio na área de saúde, para auxiliar no combate à Covid-19, e que a instituição informará o mais rápido possível quando puder definir cronogramas.

Na UnB, todos os processos do meio do ano foram suspensos (Ed Alves/CB/D.A Press - 12/3/20)  

Na UnB, todos os processos do meio do ano foram suspensos

 

 
Apreensão
 
Com esse cenário, candidatos às vagas que surgiam no meio do ano passam a adaptar a rotina de estudos. Nayara Batista, 20 anos, se prepara para o curso de medicina e se inscreveria para o vestibular da UnB. Agora, encontra dificuldades para manter o foco diante das incertezas. “Entrei para um cursinho este ano, mas a quarentena chegou, as aulas presenciais foram suspensas e está sendo difícil estudar em casa, exige muito disciplina”, relata. Outra barreira é manter o equilíbrio mental. “Esse cenário me deixa ainda mais ansiosa. Dá medo de não saber quando as aulas vão voltar, ter dúvidas sobre a vida e não saber quando tudo isso vai acabar”, diz.
 
Outro processo seletivo muito aguardado por quem sonha se formar médico é o da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), instituição de ensino superior pública ligada ao Governo do Distrito Federal. A seleção de estudantes para graduação em medicina e em enfermagem é feita sempre no começo do ano, por meio da nota obtida pelo candidato no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), seleção sob responsabilidade do Ministério da Educação.
 
A pasta não cancelou nenhuma das etapas da prova nacional até o momento. O prazo para solicitar a isenção do pagamento da taxa de inscrição, por exemplo, terminou na sexta-feira. As inscrições estão previstas para o período de 11 a 22 de maio. Contudo, o exame nacional deste ano também corre risco de ser adiado. Os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Daniella Ribeiro (PP-PB) enviaram um Projeto de Decreto Legislativo e um Projeto de Lei, respectivamente, que tratam sobre a prorrogação de exames para acesso ao ensino superior. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas), considerou a situação preocupante, durante sessão plenária remota. “Uma intervenção no Ministério da Educação e no governo federal terá nosso apoio”, afirmou, após fala de Izalci.
 
Vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, o senador pelo DF argumenta que, tendo em vista a suspensão das aulas, sobretudo na rede pública, e que uma boa parte dos alunos não tem internet, seria errado manter o calendário do Enem como está. “Fazer uma prova agora vai prejudicar esses alunos. É preciso que o ministro tenha mais humildade. Outros países adotaram a mesma medida. Ninguém aqui quer suspender ou cancelar nada, apenas adiar”, afirma. A expectativa é de que um dos projetos seja votado nesta semana, principalmente se o governo federal não se posicionar sobre o assunto.
 
Colaborou Alexandre de Paula


Rede particular
Na rede particular, o cenário também é de incertezas e o foco, na contenção da disseminação do vírus. O Centro Universitário Iesb informou que mantém o cronograma da seleção para os cursos do ensino a distância (EaD), contudo, para a graduação presencial, ainda não há definição de data. Na Universidade Católica de Brasília (UCB), as inscrições para o processo seletivo estão abertas, porém a data do vestibular ainda não foi definida, em decorrência do decreto 
do GDF que determina suspensão das atividades acadêmicas. O UniCeub não havia respondido o questionamento da reportagem até o fechamento desta edição. 
 
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Correio Braziliense domingo, 19 de abril de 2020

A CORRIDA EMPRESARIAL NA PANDEMIA

 

A corrida empresarial na pandemia

 

Publicação: 19/04/2020 04:00

Heliene, dona de uma banca de frutas, aposta no delivery (Arquivo Pessoal)  

Heliene, dona de uma banca de frutas, aposta no delivery

 



Firas criou o conceito de barbearia em domicílio (Arquivo Pessoal)  

Firas criou o conceito de barbearia em domicílio

 



Aline é doula e encontrou maneiras de manter atendimentos digitais (Arquivo Pessoal)  

Aline é doula e encontrou maneiras de manter atendimentos digitais

 



Mônica, dona do Clube do Remo, vende quentinhas para sobreviver ao período (Andre Correa/Divulgação)  

Mônica, dona do Clube do Remo, vende quentinhas para sobreviver ao período

 



Rubens tem um trailer em Águas Claras e também se adaptou para fazer entregas (Arquivo Pessoal)  

Rubens tem um trailer em Águas Claras e também se adaptou para fazer entregas

 



A terapeuta holística Luísa mantém parte dos atendimentos virtualmente (Arquivo Pessoal)  

A terapeuta holística Luísa mantém parte dos atendimentos virtualmente

 



A nutricionista Talyta pensa em novas alternativas, como escrever e-books (Arquivo Pessoal)  

A nutricionista Talyta pensa em novas alternativas, como escrever e-books

 



A fotógrafa Naomi está elaborando um projeto de oficinas da área (Arquivo Pessoal)  

A fotógrafa Naomi está elaborando um projeto de oficinas da área

 



Atiê é sócio de um bar que vende vouchers para os clientes usufruírem depois da crise (Arquivo Pessoal)  

Atiê é sócio de um bar que vende vouchers para os clientes usufruírem depois da crise

 



Donos de negócios se movimentam e se reinventam para superar a crise. Até atividades antes inimagináveis on-line, agora estão disponíveis virtualmente. O delivery é outra grande aposta. Mas há várias saídas, como oferecer serviços diferentes e até vender vouchers para serem usufruídos posteriormente.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 18 de abril de 2020

UMA CORRENTE DO BEM

 

Uma corrente do bem
 
Doações de cestas básicas têm ajudado famílias carentes de São Sebastião. Moradores do Jardim Botânico se mobilizaram para doar cupom de alimentação válido em pequenos mercados locais. Refugiados ajudam confeccionando máscaras

 

» CIBELE MOREIRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 18/04/2020 04:00

Francisca Oliveira e a filha Ana Luísa recebem cupom de alimentação da auxiliar do projeto Francely Rocha  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Francisca Oliveira e a filha Ana Luísa recebem cupom de alimentação da auxiliar do projeto Francely Rocha

 



Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, as famílias em situação de vulnerabilidade social são as que mais sofrem. Muitas perderam a única renda familiar ou não contam mais com a merenda escolar para reforçar a alimentação dos filhos. Com todos dentro de casa, em tempo integral, muitas mães têm contado com gestos de solidariedade para garantir a comida na mesa. No Jardim Botânico, os moradores se reuniram para ajudar a região administrativa vizinha, São Sebastião.

O projeto Cesta do Bem, da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Movimento Comunitário do Jardim Botânico, arrecadou cerca de mil cestas básicas. Destas, mais de 700 já foram entregues. “Temos ao lado uma comunidade mais carente, onde muitos trabalham como diaristas e pedreiros aqui no Jardim Botânico. Então, os próprios moradores perceberam que essas pessoas ficaram desassistidas, sem trabalho”, afirma o secretário executivo da Oscip, Ilton de Queiroz Junior.

Diante da pandemia, a forma de doar também mudou. Para evitar o máximo de contato, a doação é feita pela internet e os beneficiários recebem vouchers para a retirada dos produtos em pequenos mercados de São Sebastião. “Muitas pessoas compram cestas em atacadões, e o dinheiro acaba indo para as grandes empresas. Os pequenos comerciantes, que são os que mais precisam,  ficam sem renda”, justifica Ilton. Atualmente, há 400 famílias cadastradas para receber a cesta. A seleção dos atendidos pelo projeto é feita por cooperativas, escolas e igrejas.

João Santana, presidente de uma cooperativa de catadores de São Sebastião, é um dos responsáveis por levar os vouchers para famílias de catadores. Ele destaca a importância de ações como esta. “Estamos fazendo o cadastro das famílias que estão passando por necessidades. A situação é gritante. Muitos ainda não tiveram acesso ao auxílio emergencial. A nossa luta é para garantir o básico, a alimentação”, destaca. Para uma alimentação completa, os beneficiários recebem dois tipos de cesta: uma com alimentos básicos e itens de higiene, e outra com verduras e legumes.

Para Francisca Diana Alves de Oliveira, 41 anos, a cesta veio em boa hora. “É muito ruim olhar para o armário e ver que não tem mais nada. Ainda mais com todo mundo em casa, não ter o que comer é desesperador”, afirma Francisca, que mora com o marido e os três filhos. Com o esposo desempregado e ela afastada do trabalho, sem saber se terá dinheiro para o próximo mês, Francisca ficou muito grata com a ação. “Eu não esperava. Nunca ganhei nada, fiz o cadastro sem saber se ia realmente receber”, conta.

Saber que a ajuda está indo para quem realmente precisa é gratificante para quem doa. Camila Costa é síndica de um condomínio no Jardim Botânico. Ela conta que a mobilização se fortaleceu no momento de pandemia, mas pede que a ação seja recorrente. “A gente sabe que essas famílias que estão recebendo as cestas passam por dificuldades bem antes do novo coronavírus chegar. A pandemia agravou a situação delas”, pontua.

Máscaras


Além do voucher de compras em mercados locais de São Sebastião, o Movimento Comunitário do Jardim Botânico também contempla o projeto Fábrica Social, com o trabalho de refugiados venezuelanos. Nesse momento de pandemia, os esforços estão concentrados na confecção de máscaras de tecido. Segundo Ilton Júnior, a iniciativa visa ajudar tanto as famílias carentes, que não têm como comprar equipamentos de proteção individual (EPIs), quanto os próprios refugiados, com uma garantia de renda.

Mãe de três filhos, a venezuelana Yusklary Gutierrez conta que o trabalho vai ajudá-la a garantir o sustento em casa. “E ainda ajuda a comunidade com a proteção. É muito gratificante poder contribuir de alguma forma”, relata.  Ao todo são quatro refugiados que estão produzindo as máscaras pelo projeto.

Apoio


Além do projeto Cesta do Bem, uma outra ação tem ajudado moradores da Vila do Boa, um dos bairros mais carentes de São Sebastião. Professores do Centro de Ensino Fundamental Cerâmica São Paulo perceberam que muitos alunos da escola contavam com a merenda escolar para se alimentar. Com as aulas suspensas, os docentes se mobilizaram para arrecadar cestas básicas para essas famílias. Em uma semana, eles conseguiram reunir 45 doações.

Com oito pessoas dentro de casa e a única que recebe renda, Hevelin Bento Alves, 40, conta que a ajuda veio como uma benção de Deus. “Foi muito gratificante receber esse carinho dos professores. Com um salário mínimo, a gente precisa fazer o almoço sem pensar na janta”, conta a mãe de cinco filhos.

Para incentivar as doações, a professora e assistente da direção do Centro de Ensino Fundamental Cerâmica São Paulo, Li Costa Ribeiro, resolveu confeccionar máscaras de pano em troca das cestas. A cada cesta básica, ela entrega um kit com cinco máscaras caseiras. “Eu já estava fazendo máscaras antes da iniciativa. Quando surgiu a proposta entre os professores, eu me dispus a fazer o kit como uma forma de incentivo”, explica. Ela tem um ateliê em casa e faz as máscaras com o material que já tinha guardado.

  • Palavra de especialista
    O infectologista Alexandre Cunha fala sobre importância do isolamento social em tempos de Covid-19

    Porque as pessoas precisam respeitar o isolamento social?
    O isolamento social precisa ser feito porque, até o  momento, ele é a única medida comprovada que reduz a mortalidade pela Covid-19. A gente não tem nenhum tratamento comprovadamente eficaz, que tenha mostrado resultado em qualquer estudo clínico. Ainda não temos vacina disponível, e continuaremos assim por um bom período. Então, com a quarentena, a gente diminui a intensidade de transmissão, para que os hospitais consigam suportar a demanda e dar o melhor tratamento possível às pessoas infectadas. 

    Quais são os riscos de não ter o isolamento?
    Os riscos de não ter isolamento é ocorrer exatamente o que aconteceu em países onde não foi feito isolamento adequado, como na Itália, na França, na Espanha e nos Estados Unidos. Impressiona muito o fato das experiências mal sucedidas de isolamento, feito tardiamente ou com menos força, não impactarem as pessoas que defendem o afrouxamento da quarentena. A gente viu o desastre que acontece quando não há isolamento, e a gente tem experiências bem sucedidas de distanciamento social, como é o caso do Brasil.


  • Como ajudar

    Cesta do bem

    » mcjb.org.br/cestadobem
    » contato@mcjb.org.br
    » 3427-3038
  • Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 17 de abril de 2020

IBANEIS PLANEJA REABRIR O COMÉRCIO EM MAIO

 

Ibaneis planeja reabrir o comércio
 
Segundo o governador, as condições atuais apontam para que a liberação de diversas atividades, inclusive de shoppings, ocorra em 3 de maio, data prevista no decreto. Bares, restaurantes e eventos, no entanto, devem seguir impedidos de funcionar

 

» ALEXANDRE DE PAULA
» ANA MARIA CAMPOS
» WALDER GALVÃO

Publicação: 17/04/2020 04:00

Loja de eletrodomésticos reaberta em 9 de abril: flexibilização é vista com ressalvas por infectologistas que defendem o isolamento (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Loja de eletrodomésticos reaberta em 9 de abril: flexibilização é vista com ressalvas por infectologistas que defendem o isolamento

 



O governador Ibaneis Rocha (MDB) avalia liberar o funcionamento de todo o comércio do Distrito Federal em 3 de maio. Desde o início de abril, o emedebista iniciou um processo de flexibilização no setor e autorizou algumas atividades a abrir as portas. A data prevista pelo chefe do Palácio do Buriti para a reabertura segue a definição do decreto que ampliou o isolamento na capital federal por causa da pandemia do novo coronavírus. “As condições apontam para o cumprimento do decreto”, adiantou Ibaneis.

De acordo com a análise dele, o pico da contaminação no DF deve ocorrer nos próximos dias. Devemos chegar a 1 mil casos até 30 de abril”, previu. Escolas e outras atividades que possam gerar aglomeração, no entanto, devem continuar fechadas pelo menos até junho, de acordo com a análise oficial. O entendimento do GDF é de que as medidas tomadas com agilidade — o DF foi uma das primeiras unidades da Federação a restringir atividades — se mostraram eficazes e barraram o crescimento descontrolado da Covid-19. Durante o período de maior distanciamento, o governo local investiu na compra de testes e na preparação de mais leitos.

Na terça-feira, o governador liberou o funcionamento de ópticas e, na semana passada, autorizou que lojas de móveis e eletrodomésticos abrissem as portas para os clientes, além de atividades do Sistema S. Antes disso, também puderam voltar a funcionar as agências bancárias.

Preparação

Ontem, o governador e alguns secretários se reuniram com entidades do setor produtivo para debater alternativas que viabilizem o retorno das atividades, inclusive de shoppings. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, participou da discussão e destacou que a abertura deverá seguir condições que garantam segurança da população e de trabalhadores.

Maia adianta que, na reunião, Ibaneis afirmou que a possibilidade da liberação de restaurantes, bares e eventos em 3 de maio é próxima de zero. “Esses são setores mais impactados pela crise, mas ele nos deixou claro que, pela avaliação de hoje, não é possível, porque o risco é muito grande e não há condições de abertura”, comentou.

Em contato com outras entidades e sindicatos, a Fecomércio elabora um documento para balizar esse novo momento, com a apresentação de normas e orientações em busca de segurança. “Estamos preparando esse estudo com sugestões do que pode ser feito. O empresário precisa estar muito ciente desse novo cenário. Não é só reabrir como era antes, vamos precisar ter controle do número de pessoas, disponibilizar máscaras, álcool em gel”, frisa. “A população também precisará ter consciência e entender a situação. Por isso, defendemos que existam campanhas informativas”, acrescenta.

 

"Estamos preparando esse estudo com sugestões do que pode ser feito. O empresário precisa estar muito ciente desse novo cenário. Não é só reabrir como era antes, vamos precisar ter controle do número de pessoas, disponibilizar máscaras, álcool em gel" - Francisco Maia, presidente da Fecomércio

 


Riscos

O isolamento social é a única maneira de combater a disseminação do novo coronavírus no Distrito Federal, segundo o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez. Ele explica que as medidas de restrição servem para achatar a curva de crescimento da doença, porém, a população tem dificuldade de compreender isso. “Temos dois fenômenos acontecendo. O primeiro é a ignorância, porque há muitos antidiscursos, e as pessoas acabam desacreditando daqueles que se dedicam ao estudo. Além disso, há a insegurança. O medo está tão intenso, que muitos começam a pensar que nada está acontecendo e levam uma vida normal. Com isso, a gente paga com milhares de vidas”, lamentou.

José David acredita que a capital está longe do pico da doença. “Cada cidade do país teve introdução do vírus de forma diferente, o que altera a curva. Goiás, por exemplo, é aqui do lado, e tem uma situação bem diferente. É um cenário que temos pouca certeza. O isolamento antecipado no DF, antes de ter mortes, teve potência para diminuir a propagação do vírus, para que hoje a capacidade do sistema de saúde ainda esteja preservada”, alertou.

O estudioso defende que o isolamento na capital evita cenários como os de Nova York, nos Estados Unidos, e do Equador, onde o sistema de saúde entrou em colapso. “É importante frisar que as restrições devem ser mantidas. Se você afrouxar, o vírus se propaga. Temos poucas chances de ter medida que tenha efeito a curto prazo. O ideal é insistir, ficar firme e fazer o que está sendo sugerido por meio da ciência”, reforçou. O especialista ressaltou que a maioria dos casos está concentrada em regiões como Plano Piloto e Lago Sul e que a situação deve piorar quando a doença chegar às periferias, onde há maior dificuldade de aplicar o distanciamento.

Na quarta-feira, uma recomendação conjunta dos ministérios públicos Federal, do Trabalho, do DF e de Contas do DF também questionou o afrouxamento do isolamento no DF e pediu esclarecimentos do governo local sobre quais estudos e critérios foram usados para embasar a liberação das atividades.

  • Linha do tempo

     (Ed Alves/CB/D.A Press)  

    14 de março


    » Aulas (foto) e eventos com público superior a 100 pessoas são suspensos por 15 dias

    19 de março

    » A atividade comercial do DF é suspensa. Mercado, farmácias e padarias, considerados serviços essenciais, são liberados para abrir as portas

    27 de março

    » Lotéricas, correspondentes bancárias, lojas de conveniência e minimercados de postos de combustíveis recebem autorização para funcionar

    1º de abril   

    » GDF estende restrições do comércio até 3 de maio, mas libera feiras permanentes que vendem alimentos

    7 de abril

    » O Executivo local permite a abertura de agências bancárias públicas e privadas

    9 de abril

    » Lojas de móveis e eletroeletrônicos da capital também recebem permissão para abrir

    14 de abril


    » Governo autoriza também que ópticas abram as portas para os clientes

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Correio Braziliense quinta, 16 de abril de 2020

COMPANHEIRO DOS DIA DE SOLIDÃO

 

Companheiro dos dias de solidão
 
 
Em tempo de isolamento social, os animais de estimação têm sido ótimos parceiros de quarentena e tornado o dia a dia dentro de casa mais divertido

 

» Juliana Andrade

Publicação: 16/04/2020 04:00

Única companhia de Nathália Luna nos dias de quarentena, Minduim tem sido um alento para a dentista
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Única companhia de Nathália Luna nos dias de quarentena, Minduim tem sido um alento para a dentista

 


O distanciamento social ainda é a principal forma apontada por especialistas para combater o avanço do coronavírus. Com decretos e recomendações, muitos permanecem em casa e adiam os encontros com amigos e familiares. E é neste momento que os animais de estimação têm se mostrado mais importantes do que nunca. Se antes, eles já eram os amigos mais fiéis dos tutores, agora não é diferente. Em meio à quarentena, os pets tornam os dias de isolamento mais divertidos e ocupados.
 
Minduim, o dachshund da dentista Nathália Luna, 34 anos, é a única companhia dela nas últimas semanas. Com a quarentena, o cachorro ganhou a presença da tutora 24 horas por dia. “Ele está muito grudado em mim, dorme junto, fica se encostando.” Porém, não foi apenas Minduim que ganhou com a nova situação. Morando sozinha, Nathália garante que o animal deixa os dias de isolamento bem mais leves. “Ele tem evitado que eu fique maluca. É difícil ficar sozinha, sem conversar, sem abraçar. Pelo menos, eu posso abraçá-lo, apertá-lo, brincar”.

Para Diego e Caroline Egídio, Fera tem sido essencial para manter a rotina de casa (Arquivo Pessoal)  

Para Diego e Caroline Egídio, Fera tem sido essencial para manter a rotina de casa

 

Com a advogada Danielle de Castro, 37, não é diferente. Ela até tem a companhia do marido, mas é o cachorro, Chico, quem deixa a rotina do home office mais tranquila. “Está sendo muito engraçado. É como se estivesse o conhecendo melhor. A demanda de trabalho é grande, mas ele me distrai um pouco”, conta. Danielle se diverte ao ver a rotina diária do cão de perto. “Quando a comida acaba, ele vai para o lado do armário e fica lá. Chico tem toda uma rotina, e eu não presenciava isso. Agora estou vendo, e isso me distrai”, ressalta.
 
A psicóloga Andréa Chaves explica que o humano é um ser de relações, e a presença dos animais diminuem a sensação de solidão causada pela quarentena. “O animal te tira dessa sensação de inércia, proporcionada pelo isolamento”, diz. Além disso, a distração e a responsabilidades que os pets trazem ajudam a controlar a ansiedade e o estresse causados pela ociosidade, segundo a psicóloga. Para Andréa, este é o momento de aproveitar a presença dos pets. “O isolamento social não precisa ser um distanciamento afetivo. Eu posso treinar meu afetos com os animais, e este período de quarentena é de fato para a gente desfrutar e alinhá-lo à nossa evolução, no sentido de valorizar a companhia do animal, da família ou de uma simples ida ao parque”, destaca.

 

"Chico tem toda uma rotina, e eu não presenciava isso. Agora estou vendo, e isso me distrai"



Danielle de Castro, advogada

Rotina
Outro benefício apontado pela especialista é em relação à rotina. Os animais demandam horários e tarefas, algo importante para o bem-estar das pessoas ociosas em casa. “O ser humano sente falta disso. O nosso cérebro precisa de um pouco de acomodação. Essa vida sem saber o que vai acontecer aumenta a nossa carga de estresse. Pensar em uma rotina, que é algo que os animais nos obrigam a fazer, é muito importante", ressalta a psicóloga.
 
A advogada Caroline Egídio, 29, por exemplo, é obrigada a ter uma programação com o yorkshire Fera. “Ele está sendo essencial para manter uma rotina. Em casa, a gente se perde um pouco, acaba dormindo muito. Com o animal, eu tenho obrigações com a alimentação e os banhos.” Além das tarefas com o pet, as brincadeiras têm contribuído para o bem-estar dela e do animal. “A gente diminuiu os passeios, então fico brincando para ele não acabar entediado, pois ele também é um ser vivo e precisa de atenção.” 

 

"O Scooby exige muita atenção, e estar dentro de casa com ele é diferente"



Eliane Raye, empresária

Cuidados
A empresária Eliane Raye, 50, também tem visto os dias de quarentena ficarem mais leves com a presença de Scooby, sua única companhia durante o isolamento. Para ela, os momentos em casa aproximaram ainda mais os dois. “Eu nunca fiquei com ele o tempo todo. Eu saía de manhã e só voltava no fim da tarde”, justifica. Para ela, o animal está sendo seu conforto emocional. “O Scooby exige muita atenção, e estar dentro de casa com ele é diferente”, comenta. A tutora já está preocupada com o fim da quarentena. “Precisei ir à farmácia e, assim que saí, já ouvi os latidos dele”, conta. 
 
A mudança na rotina dos donos também impacta na dos animais, segundo a veterinária Valéria Cunha. “Precisamos tomar cuidado, principalmente com o aumento de petiscos e guloseimas, que normalmente eram dados apenas no fim de semana. Em excesso, podem causar aumento de peso, problemas hepáticos ou alergias”, enfatiza. 
 
Em relação ao retorno aos postos de trabalho e o consequente distanciamento dos animais após a quarentena, a dica é fazer algumas adaptações: “Para gatos, existem produtos como o feliway (versão sintética do ferormônio felino FR), que trazem sensação de segurança e bem-estar aos felinos. Com os cães, temos as opções de day care, onde eles podem gastar energia e socializar com outros cães”, orienta. Outra opção são os brinquedos interativos. Os objetos ocupam os pets na ausência dos donos.
 
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Correio Braziliense quarta, 15 de abril de 2020

PRACINHA DE 99 ANOS SE RECUPERA DA CORONAVÍRUS

 

CORONAVÍRUS
 
Esperança em meio à pandemia
 
 
Veterano da Segunda Guerra Mundial, Ermando Piveta, 99 anos, venceu a batalha contra o coronavírus. Pracinha passou oito dias internado no Hospital das Forças Armadas e recebeu alta ontem. Ele deixou a unidade de saúde sob aplausos

 

» MAÍRA NUNES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 15/04/2020 04:00

Usando uma caideira de rodas, Ermando Piveta se emocionou na saída do hospital ontem. Equipe médica da unidade homenageou o ex-combatente com uma salva de palmas (Evaristo/SA/AFP)  

Usando uma caideira de rodas, Ermando Piveta se emocionou na saída do hospital ontem. Equipe médica da unidade homenageou o ex-combatente com uma salva de palmas

 


Aos 99 anos, o ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Ermando Piveta venceu, segundo ele, a batalha mais difícil que já enfrentou: o coronavírus. Apesar de ser sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, o militar ressaltou que a luta contra a Covid-19 foi extremamente difícil. Após passar oito dias internado no Hospital das Forças Armadas (HFA), ele recebeu alta na tarde de ontem, e é considerado recuperado da doença. Em um momento de incertezas, a histórias de Ermando traz um sopro de esperança nesta pandemia.
 
“Foi uma luta tremenda, mais do que na guerra”, frisou. Em vídeo divulgado pelo Exército Brasileiro, Ermando parabenizou a equipe médica do HFA e os militares que prestaram apoio. “Na guerra, você mata ou vive. Aqui, tem que lutar para poder viver. Saí dessa luta vencedor”, afirmou. O ex-combatente deixou a unidade de saúde por volta das 14h.

Filha de Ermando, Vivian Piveta comemorou a recuperação do pai após internação (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Filha de Ermando, Vivian Piveta comemorou a recuperação do pai após internação

 

Na saída do hospital, Ermando foi saudado como um vitorioso. Médicos, enfermeiros e demais profissionais do HFA se enfileiraram fazendo um corredor, enquanto ele era levado em uma cadeira de rodas sob aplausos dos presentes. Até um trompete foi tocado em homenagem a ele por um representante das Forças Armadas Brasileira.
 
Muito emocionado, Ermando acompanhou as palmas, e depois levantou os braços em sinal de vitória. Vibrante, o paciente, já recuperado, posou para uma foto histórica junto aos profissionais de saúde. Com a voz baixa e abafada pela máscara, ele agradeceu aos cuidados de toda a equipe do hospital. A filha de Ermando, Vivian Piveta, também falou algumas palavras de agradecimento, e disse não saber onde o pai foi contaminado.

 

"Foi uma luta tremenda, mais do que na guerra"

Ermando Piveta, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira

 

Herói
No vídeo divulgado pelo Exército Brasileiro, Vivian ressaltou que toda família está muito feliz com a recuperação do pai e, principalmente, com a volta dele para casa. De acordo com ela, esse momento significa esperança para todos. “Sem dúvida, é uma grande mensagem de que a gente pode vencer e que Deus é presente”, comemorou emocionada.
 
O médico à frente do atendimento de Ermando, o infectologista Hemerson Luz, ressaltou que o paciente faz parte do grupo de maior letalidade para a Covid-19. “Todos ficamos apreensivos, esperando até um desfecho desfavorável para ele. Porém, surpreendentemente, ele superou”, explicou. De acordo com o especialista, o ex-combatente apresentou sintomas no final de março, e em abril teve pneumonia, quando foi internado. “É um caso de esperança, e mostra que existe possibilidade de cura para todos”, destacou.
 
Ermando estava hospitalizado na ala destinada aos pacientes do novo coronavírus desde 6 de abril. Ele recebeu alta do hospital, coincidentemente, no mesmo dia em que se comemora 75 anos da Tomada de Montese, campanha de sucesso das tropas brasileiras na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Em setembro de 1942, o ex-combatente foi tripulante do navio Almirante Alexandrino, que viajou do Rio de Janeiro até Dakar, no Senegal. No país africano, participou de treinamentos de guerra. Em seguida, atuou nas ações de guarda da costa brasileira em Fernando de Noronha, Pontal do Cururipe, Natal e Recife.
 
 
 
Explicações
 
O Governo do Distrito Federal (GDF) deverá explicar ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) o motivo de ter flexibilizado algumas medidas de restrição na capital. Nas últimas semanas, o chefe do Executivo, Ibaneis Rocha (MDB), publicou decretos liberando o funcionamento de alguns setores, como lotéricas, bancos, lojas de móveis e eletrodomésticos, além das feiras permanentes que vendem alimentos. Ontem, integrantes da força-tarefa do MPDFT enviaram ao Palácio do Buriti um ofício com questionamentos sobre as decisões. O grupo, composto por um procurador e promotores, acompanha as ações de combate ao novo coronavírus. O MPDFT questiona, por exemplo, quais foram as razões para manter aberta toda a cadeia do segmento de automotores e de empresas de construção civil, bem como o que as diferencia de outros segmentos que permanecem fechados.
 
 
Coronavírus no DF
 
Confirmados 651
Recuperados 311
Graves 17
Mortes 17
Homens 385
Mulheres 266
» Regiões mais afetadas
Plano Piloto 176
Águas Claras 68
Lago Sul 62
 
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Correio Braziliense terça, 14 de abril de 2020

LIBERAÇÃO DO COMÉRCIO PREOCUPA

 

Liberação no comércio

 

Publicação: 14/04/2020 04:00

Beatriz e Felix aguardavam a abertura das lojas para comprar móveis (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Beatriz e Felix aguardavam a abertura das lojas para comprar móveis

 


Na noite de quinta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou decreto que autoriza o funcionamento de estabelecimentos do setor de móveis e eletrodomésticos. Ontem, lojas do segmento abriram as portas para receber clientes, retomando o atendimento e as vendas. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a decisão levou em conta análises sobre a disseminação do novo coronavírus no DF e deve reaquecer o setor. Shoppings, apesar de abrigarem muitos comércios do tipo, permanecem fechados.
 
Em Taguatinga, região que concentra diversos estabelecimentos do ramo, o movimento, ontem, era tímido. A circulação mais intensa ocorria em ruas próximas a agências bancárias, também liberadas para atendimento ao público pelo Executivo local. Morador do Recanto das Emas, o militar Felix Nascimento, 21 anos, e a noiva dele, a manicure Beatriz Santos, 21, foram a Taguatinga comprar móveis para a nova casa, onde vão morar depois de se casarem.
 
Ele conta que aguardava a abertura das lojas havia algum tempo e que apoia a flexibilização das medidas de contenção. “Muita gente depende disso tanto para comprar quanto para trabalhar. Muita gente vem perdendo o emprego. Acho importante abrir aos poucos. Vai ser importante para a economia”, defende Felix.
 
Riscos
O GDF estuda a liberação das atividades em outras áreas do comércio, no entanto não há definição de qual setor será contemplado em novos decretos nem da data para abertura. A avaliação, segundo o Palácio do Buriti, terá base no cenário da capital federal. Entre as variáveis estudadas estão o horário de funcionamento e a quantidade de pessoas impactadas. Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia adianta que o setor produtivo encaminhará, dentro dos próximos cinco dias, um estudo com planejamento de reabertura do comércio. O assunto foi debatido ontem em reunião com o secretário de Economia, André Clemente.
 
“O setor produtivo propôs, e o governo topou receber esse plano. Entrar em uma guerra é fácil, mas sair dela é muito difícil. Vamos apresentar um modelo de como devem ser abertas (as lojas), considerando todas as questões de segurança, e tratar de setores que podem voltar a funcionar, desde que seguidas algumas normas”, detalha Francisco. “O que existe hoje é a indefinição, ninguém sabe como será o próximo mês. E nenhuma empresa aguenta mais 30 dias de portas fechadas”, acrescenta.
 
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), José Carlos Magalhães Pinto, a decisão do Buriti foi bem planejada, pois os funcionários do segmento têm trabalhado em ambientes sem aglomeração e com equipes menores. “(Móveis e eletrodomésticos) são setores que correspondem a um ou dois por cento da força trabalhadora, e não vão ter grande influência na expansão do vírus. Mas o que cobramos de todos é o cuidado, tanto (por parte) dos empresários quanto dos funcionários”, argumenta José Carlos.
 
Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos considera a flexibilização das normas para estabelecimentos uma “questão de lobby”. Para o pesquisador, a escolha pelo ramo de eletrodomésticos e móveis não faz sentido e não tem “racionalidade econômica”. “Isso pode ter um custo econômico impressionante se você tiver a propagação da doença”, pondera. “Quando a curva de contágio está caindo, você pode começar a discutir a abertura de setores, mas nunca quando os casos ainda estão aumentando”, explica.
 
Favorável às medidas de auxílio financeiro para pessoas em situação de vulnerabilidade, trabalhadores informais, além da abertura de crédito para que empresas possam pagar as folhas de funcionários, Carlos Alberto não apoia a medida atual e acredita que ela pode abrir espaço para representantes de outros segmentos comerciais não essenciais pleitearem a mesma ressalva. “Seria possível cometer esse erro há quatro, cinco meses, mas não depois de vermos pelo que passaram Inglaterra, Estados Unidos, França. Não é um erro que pode levar a algo menor, é um erro que pode levar a uma catástrofe”, alerta.
 
 
Servidores reclamam de condições do Metrô
 
Funcionários da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF) reclamam da falta de insumos, como álcool em gel e máscaras, para o combate à Covid-19. O Sindicato dos Metroviários, encaminhou ofícios à direção da empresa pedindo reforço nas medidas de proteção. Em nota oficial, a companhia afirmou que tem feito todos os esforços para suprir as necessidades, mesmo neste momento em que há escassez de produtos no mercado. “Na última quinta-feira, todas as estações foram reabastecidas com álcool em gel 70% e álcool líquido 70% para uso dos empregados”, disse o texto.
 
 
 
Palavra de especialista
 
Riscos da flexibilização
 
“É necessário compreender que o início do achatamento da curva de infecção e agravos associados à Covid-19 só ocorreu como resultado do isolamento social, e a flexibilização das medidas de restrição agora pode colocar todo esse esforço em risco. Países como Itália, Espanha, Estados Unidos cometeram o mesmo erro, o que resultou em uma grande quantidade de mortes pelo colapso no sistema de saúde. Não é o momento de flexibilizar. Não temos previsão de vacina — as mais promissoras preveem setembro — nem tratamentos totalmente eficientes — se a cloroquina fosse uma solução, estaria sendo usada nos países acima citados, evitando as mortes. Temos iniciativas científicas promissoras, mas elas precisam de tempo para serem desenvolvidas. Não é tempo de flexibilizar ou pagaremos com a vida de muitos”.
 
Maria Barros, especialista em virologia e professora do curso de biomedicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
 
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Correio Braziliense segunda, 13 de abril de 2020

VIDA NOVA EM MEIO À PANDEMIA

 

Mesmo em meio à pandemia, a celebração da vida continua nos hospitais. O pequeno Bento  (acima) veio ao mundo cheio de saúde, mas ainda não recebeu visitas em casa. %u201CPor precaução%u201D, destaca a mãe, Angélica Bandeira. O casal Luan e Ineya teve receio de ficar em uma unidade hospitalar com casos de Covid-19, mas agora é só curtir a alegria de acarinhar Airan (D).  (Arquivo Pessoal) (Arquivo Pessoal)

Vida nova em meio à pandemia
 
 
Cenários de constante combate contra a Covid-19, hospitais mantêm a rotina de acolher um dos momentos mais importantes de mães e pais: o esperado nascimento de um filho

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 13/04/2020 04:00

A estudante Yliane Mendes deu à luz à filha, Ana Lívia, em 31 de março: nada de visitas dos familiares no hospital (Arquivo Pessoal)  

A estudante Yliane Mendes deu à luz à filha, Ana Lívia, em 31 de março: nada de visitas dos familiares no hospital

 



As lembrancinhas ainda estão guardadas, o primeiro contato com os avós e os padrinhos foi por vídeo e a primeira consulta, on-line. Bento veio ao mundo em 17 de março, enquanto decretos eram publicados restringindo a circulação da população na cidade. “No dia em que ele nasceu, começaram a suspender as visitas no hospital. Minha mãe chegou para vê-lo, mas não conseguiu”, lembra a mãe do recém-nascido, a gestora de projetos Angélica Bandeira, 28 anos. A rotina no local estava diferente. Máscaras, álcool em gel e nada de pegar elevador com muitas pessoas. Ao sair da unidade médica, mais mudanças: comércio fechado e ruas vazias. “No começo, eu achei muito estranho. Quando entrei, havia alguns casos, mas ainda estava tudo normal. Quando saí, parecia que eu estava em um filme. Tudo fechado, sem carros na rua”, diz.
 
Por precaução, a mãe de Angélica ficou com a filha e a empregada doméstica foi dispensada. A gestora de projetos ganhou ainda a companhia do marido 24 horas por dia. “O pai teria de trabalhar e estudar, mas agora está fazendo tudo em casa. Ele consegue me ajudar e isso me acalma”, garante.
 
Para a ginecologista Lucila Nagata, coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia, neste momento a presença e apoio do pai da criança são ainda fundamentais. “Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas avós não estão podendo ajudar as filhas ou as noras. Algumas pacientes estão sem ajudante, como domésticas e babás, por conta desse isolamento. O que torna esta fase mais difícil ainda”, afirma. De acordo com ela, uma oportunidade a mais para aproveitar o tempo com o bebê. “Vivemos reclamando que não temos tempo e agora temos todo o tempo do mundo.”
 
Cuidados 
 
A gestora de projetos Angélica Bandeira segura o filho, Bento: mudanças na rotina (Arquivo Pessoal)  

A gestora de projetos Angélica Bandeira segura o filho, Bento: mudanças na rotina

 

 Os cuidados com os bebês são os de sempre, exceto em relação à visita dos familiares, segundo a médica Lucila. “Elas são desaconselhadas pelo risco de contaminar a mãe, o bebê ou alguém da casa”, alerta. Entre as orientações, indica, ainda, evitar saídas para a rua ou lugares com muitas pessoas — o recomendado para qualquer criança durante os primeiros 30 dias de nascido. É preciso lembrar também que o isolamento não é apenas para o bebê. A mãe deve se proteger. “Estamos aprendendo agora sobre esta virose. Todas as publicações são recentes, de janeiro para cá, e todo mundo está aprendendo junto. Então vale a pena se resguardar e deixar outras pessoas fazerem as coisas na rua para ela, se puder”, aconselha.
 
A fisioterapeuta Ineya Amorim, 31, não poupa esforços para cuidar do pequeno Airan, que completa um mês hoje. O bebê chegou quando o Brasil ainda fazia a contagem dos primeiros casos. “Eu entrei na emergência do Hospital Universitário de Brasília para ter o neném, mas como não pertencia à regional deles, queriam me encaminhar para o Hospital da Asa Norte (Hran), onde estava a mulher internada com coronavírus. Fiquei com medo e pedi para a médica não me transferir para lá de jeito nenhum”, lembra. Ineya precisou fazer uma cesária de emergência e acabou ganhando o bebê no HuB.
 
A mãe e a criança chegaram a receber visitas no hospital, mas, em casa, Ineya decidiu adiar a recepção. Porém, o apoio de amigos e familiares fez falta. “Eu tive muita dificuldade de amamentar e não tinha ninguém para me ajudar”, conta. O socorro veio de uma profissional que a auxiliou virtualmente. Além de suspender as visitas, as idas ao hospital ganharam cuidados a mais com a higiene e o banho ao voltar para casa. “Temos de ter fé e acreditar que isso é só uma fase. Mais tarde, vamos contar para ele que nasceu em um período muito polêmico e difícil. Daqui a algum tempo, vamos poder agradecer a Deus e ver tudo voltando ao normal”, espera.


Alerta para mães e pais
 
» Adiem as visitas
 
» Evitem sair para a rua ou para lugares cheios
 
» Lavem as mãos antes de pegar na criança e, se estiverem na rua, usem álcool em gel
 
» Mães, fiquem em casa. Só saiam quando for extremamente necessário
 
» A amamentação é de extrema importância, pois é nesse período que o neném recebe da mãe vários anticorpos
 
» Muitas mães sentem sintomas de gripe nesse período. Caso não apresentem outros sinais, como febre e dificuldade de respirar, não vão a um pronto-socorro


"Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas
avós não estão podendo ajudar as filhas ou noras. Algumas pacientes estão sem ajudante,
como domésticas e babás, o que torna esta fase mais 
difícil ainda”
 
Lucila Nagata, 
ginecologista e coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 12 de abril de 2020

ALÍVIO E ESPERANÇA APÓS A CURA

 

Alívio e esperança após a cura
 
Pacientes que enfrentaram e venceram a Covid-19 deixam mensagem de superação. Depois da angústia de lidar com a doença, eles voltam, aos poucos, às próprias rotinas e reforçam a importância do isolamento social

 

MARIANA MACHADO
BRUNA LIMA

Publicação: 12/04/2020 04:00

 

"O tempo todo eu pensava que dali a um minuto ia passar mal. A gente acha que o pior vai acontecer" Daniela Teixeira, advogada, primeira paciente curada do DF

 

 
“Existe uma luz no fim do túnel para todo mundo”, afirma a advogada Daniela Teixeira. A frase reflete a confiança de quem enfrentou e venceu a Covid-19, doença que já fez, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 83,4 mil mortos e infectou mais de 1,4 milhão de pessoas no mundo. No Distrito Federal, entre os mais de 520 casos, cerca de 150 se recuperaram. Daniela foi a primeira brasiliense a se ver livre da doença e, na Páscoa, quando os cristãos comemoram o renascimento, ela pede esperança a todos, ao ter, ela própria, a vida renascida.
 
Daniela contraiu o coronavírus no início de março, quando participou de uma conferência em Fortaleza. Ao voltar para casa, soube que outras pessoas que estiveram no evento estavam manifestando sintomas e fazendo testes com resultado positivo para o vírus. Diante disso, ela se submeteu ao exame, mesmo sem sentir nada, e, em 17 de março, recebeu o diagnóstico. “Não imaginava de jeito nenhum, foi um choque imenso. É quase uma sentença de morte que te entregam, porque todas as notícias, naquele momento, eram de ser algo letal”, recorda.
 
A partir daí, ela ficou em isolamento domiciliar, acompanhada do marido e dos filhos, com quem já tinha tido contato. A família, incluindo parentes que não moram na mesma casa, foram testados, mas nenhum havia sido infectado. Em casa, todo o cuidado para evitar a transmissão. “Eu imagino que foi muito duro para a minha família. Minha filha pequena não entendia, e como entender, com apenas 6 anos? Ela queria abraçar, beijar, dormir comigo, mas não podia”, recorda.
 
Compras eram feitas pelos pais dela, que deixavam os pacotes na entrada da casa e iam embora. No dia a dia, ficava a angústia de não saber se os sintomas poderiam se agravar. “O tempo todo eu pensava que dali a um minuto ia passar mal. A gente acha que o pior vai acontecer”, declara Daniela. “Eu tinha dor de cabeça ou no peito e esperava que aquilo fosse evoluir para um quadro pior, mas foi tudo muito leve.”
 
Daniela foi acompanhada pela Secretaria de Saúde e por uma médica particular com quem falava diariamente. “É muito importante esse contato para comunicar caso haja uma mudança no quadro. É preciso acreditar no vírus, não pode achar que é uma gripezinha.” Após 16 dias de infecção, um novo exame e o resultado negativo. “Foi o dia mais feliz da minha vida, saber que passou. Sou grata a Deus e agora estou inscrita em três programas de acompanhamento de hospitais, à disposição para todo exame que precisem nas pesquisas.”
 
A boa notícia foi motivo, claro, de festa. “Todo mundo dançou na cozinha. Hoje, estou bem, ótima. Só apreensiva, e triste. Abala muito o emocional da gente ver o mundo passando por isso. Tenho três amigos na UTI.” A vitória faz com que Daniela reforce a importância de ter esperança. “Muitos infectados vão passar por isso bem”, garante. “Tem que reforçar o isolamento. A gente vê o que está acontecendo nos Estados Unidos, e o Brasil é muito parecido em tamanho de população. Mas a gente não tem os meios que eles têm na medicina. É muito importante ficar em casa.”
 
 

"Só quem passou por isso sabe o tanto que é triste você ter que ficar distante das pessoas de que gosta. Foi um período de muito sofrimento" Jhennifer Karoline Ferreira, recepcionista de hospital

 

 
Recuperação
 
Depois do susto de ter a Covid-19, aos poucos, a vida volta ao normal. Que dirá Jhennifer Karoline Ferreira, 24 anos, recém-recuperada da doença. Em 16 de março, ela começou a ter diarreia e tosse e, por trabalhar como recepcionista em um hospital particular, imediatamente comunicou aos superiores, que a encaminharam para fazer o teste. Após o resultado positivo, foi colocada em isolamento domiciliar.
 
Em casa, ficou com o pai e o irmão, tendo o cuidado de usar um banheiro apenas para ela, e manter-se no quarto e sem compartilhar objetos, como pratos e talheres. O mais difícil foi se afastar da filha, de apenas 2 anos. “Fiquei muito abalada, pois só via coisas ruins sobre a doença. Inclusive estou tendo, até hoje, acompanhamento com psicólogo.” Por cinco dias, ela manteve sintomas. Após duas semanas, prazo exigido para o isolamento, finalmente teve alta. “Foi a maior felicidade do mundo! Só quem passou por isso sabe o tanto que é triste você ter que ficar distante das pessoas de que gosta. Foi um período de muito sofrimento.”
 
De volta ao trabalho, ela lembra que, quem está curado, não transmite mais a doença. “As pessoas precisam ser mais empáticas com quem tem o vírus e com quem se recuperou, e serem menos preconceituosas. Estamos todos sujeitos a isso. Ninguém escolhe estar doente”, declara. “Para quem contraiu o vírus, digo que é só uma fase ruim, mas logo vai passar. Não se desespere, e se cuide no período do isolamento, seguindo as recomendações médicas.”
 

 
"Não é só uma gripezinha, não é brincadeira. Tem gente se sacrificando nos serviços essenciais, e cabe a todo mundo fazer a sua parte" Caio Quemel, personal trainer
 
Isolamento
 
Especialistas destacam que o contágio se dá, principalmente, pelo contato com gotículas de saliva de pessoas infectadas. Ter boa imunidade não impede a contaminação, no entanto, pode ajudar a diminuir a gravidade dos sintomas, ou até mesmo evitar que eles apareçam (veja quadro). O bom histórico de saúde e a trajetória de atleta não impediu que o personal trainer Caio Quemel, 24 anos, manifestasse um quadro grave da Covid-19.
 
Embora não tenha doenças crônicas, se viu surpreso ao manifestar os primeiros sintomas em 12 de março. Em uma primeira visita ao hospital, foi mandado para casa. Sem melhorar, retornou, e, em 18 de março, precisou ser internado na UTI, em estágio avançado de pneumonia. Foi um dia na unidade e mais seis em quarto hospitalar. Depois disso, isolamento domiciliar por duas semanas.
 
Por morar com a mãe e a avó, ambas idosas, ficou recluso no quarto, recebendo comida na porta e sem contato algum com as duas. No último domingo, finalmente o resultado negativo do teste de coronavírus. Estava curado. “A sensação é de alívio e tranquilidade. Tudo o que passei foi difícil, mas consegui vencer”, comemora. Durante a internação, teve uma crise de tosse que o preocupou. “Mas eu não podia dar o braço a torcer, porque precisava proteger a minha família.”
 
Depois da experiência, ele enfatiza a necessidade do isolamento social. “O ideal é ficar em casa, com certeza. Essa é a recomendação da OMS. Não é só uma gripezinha, não é brincadeira. Tem gente se sacrificando nos serviços essenciais, e cabe a todo mundo fazer a sua parte”, defende. “Agradeço por estar vivo, e sei o quanto essa é uma doença que pode impactar o Brasil se não tivermos cuidado. O sistema de saúde precisa ter tempo para se preparar melhor.”
 
 
 
 
Previna-se
 
Estar com a saúde forte pode até não evitar o contágio por coronavírus, mas contribui para que a pessoa infectada desenvolva menos sintomas da doença. Veja as dicas para aumentar a imunidade:
 
 
Alimentação variada
» Consuma proteínas, carboidratos e sais minerais, porque isso ajuda a produzir anticorpos. Não se trata de comer coisas específicas, mas, sim, de variar o cardápio. Também beba bastante água e mantenha o corpo hidratado.
 
 
Atividade física
» Artigos provam que fazer exercícios estimula a produção de leucócitos, que são os glóbulos brancos. Uma atividade leve já ajuda.
 
 
Abra as janelas
» Mantenha a casa arejada. A boa ventilação evita que o pulmão fique exposto a mofo e a poeira.
 
 
Mantenha a calma
» Estresse e ansiedade em excesso fazem o corpo produzir cortisol, hormônio que interfere na resposta da imunidade. Por mais ansiosos que estejamos em casa, é preciso tentar se acalmar.
 
 
Vitamina C
» É bastante eficaz em relação à imunidade, mas, se você consome frutas cítricas, como limão, laranja e acerola, não é necessário comprar separadamente, porque já supre a demanda.
 
 
Tome sol
» Ficar sob o Sol por 10 a 15 minutos, de manhã cedo, no quintal, ajuda a sintetizar a vitamina D, importante para a imunidade.
 
Fonte: Alexandre Soares, professor de patologia e imunologia do Centro Universitário Iesb
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sábado, 11 de abril de 2020

SEJA BEM-VINDO, COELHINHO!

 

Seja bem-vindo, coelhinho!
 
Mesmo reclusos, pais e mães permitem que o ser mágico da Páscoa entre em suas casas e faça a alegria da garotada

 

» ANA CLARA AVENDAÑO*
» CELIMAR MENEZES*
» ROBERTA PINHEIRO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 11/04/2020 04:00

Yasmin Nathair, 16, ajuda a mãe com os preparativos para a irmã, Nicole, 9, procurar os ovos pela casa (arquivo pessoal)  

Yasmin Nathair, 16, ajuda a mãe com os preparativos para a irmã, Nicole, 9, procurar os ovos pela casa

 

Alguns mais novos, outros mais velhos. Não importa a idade, a magia da Páscoa ainda está presente na infância de muitos brasilienses. Mesmo com as restrições vividas pelas famílias para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, pais, mães e crianças garantem a essência da festividade com brincadeiras e mensagens sobre a importância da data. O tão falado vírus, que fechou as escolas e os parquinhos, transformou-se, na verdade, em mais um elemento na caça aos ovos deixados pelo coelhinho.
 
A iniciativa pensada por Rúbia Pinheiro, 43 anos, foi trazer alegria para as filhas. A servidora pública vai preparar uma caça especial aos ovos para Isabela Pinheiro, 8, e Júlia, 5. “A minha família é de Salvador, e a do meu marido, do Recife. Sempre viajamos para um dos lugares a fim de comemorar a data em família”, explica Rúbia. Impossibilitados de sair de Brasília este ano, a mãe das meninas teve que improvisar. “Imprimi vários enigmas e espalhei pela casa. O primeiro vou colocar na porta do quarto delas e, à medida que forem desvendando, vão colhendo vários ovinhos, até chegar no maior”, detalha.
 
A caça aos ovos de Páscoa também é uma tradição na família de Érica Nathair, 40. Há mais de 10 anos, ela, o marido e as duas filhas compartilham o momento juntos. “Nesta Páscoa, acabei encomendando chocolate de microempresas, que estão precisando de renda”, explica a funcionária pública. A tradição começou com a filha mais velha, Yasmin Nathair, 16. “Quando ela descobriu que o coelhinho da Páscoa não existia começou a me ajudar a fazer para minha filha mais nova, Nicole, de 9 anos”, relata Érica. Juntas, elas pintam a casa toda e colocam pistas. “Nosso objetivo é relembrar o renascimento de Jesus e celebrar o encontro da família”, comenta a mãe.
 
Miguel fez várias atividades antes da chegada da Páscoa: primeira caça aos ovos (Arquivo pessoal)  

Miguel fez várias atividades antes da chegada da Páscoa: primeira caça aos ovos

 

 Para o terapeuta Fabrício Nogueira, festejar a data, mesmo reclusos em casa, é importante para a saúde mental. “A festa, em geral, traz exatamente aquilo que as pessoas estão sentindo falta, que são entrosamento, conexão e empatia”, aponta. Na opinião do especialista, no momento em que as pessoas estão unidas, fisicamente ou virtualmente, podem agradecer por estarem bem, juntas e por lidarem com a situação “Quando há gratidão, coloca-se mente e corpo em uma estrutura de força. O agradecimento dissipa medos, e é nesse momento que a imunidade aumenta”, explica.
 
Tradição
 
De jardineira jeans, orelhas brancas com azul e nariz vermelho, o pequeno Miguel, de 3 anos, canta a música que aprendeu e, ao final, manda um beijo para o coelhinho da Páscoa de verdade. “Este ano, foi o ano que ele mais curtiu. Queria sair e distribuir ovos para todo mundo”, conta, aos risos, a mãe, a empresária Fernanda Sterquino. Por conta das determinações do governo local para o combate ao novo coronavírus, Miguel não tem ido ao colégio. “Sempre fui uma mãe empolgada com as comemorações e festinhas da escola. Então, não queria que ele perdesse. Esta semana, imprimi mil atividades de Páscoa para fazer com ele. Fizemos máscara, orelha, pintamos ovos, para ele entrar no clima”, detalha.
 
Com o isolamento, Miguel não poderá curtir o dia com os primos nem trocar chocolate, como de costume. Contudo, Fernanda preparou todos os detalhes para que o filho não perdesse a magia da data. “Ele acredita muito. Nos outros anos, como era muito novo e não entendia, a gente não fez nada específico. Mas, este ano, vamos fazer a primeira caça aos ovos. Ele acha que o coelhinho vai subir aqui em casa ou deixar debaixo do prédio. Fica sempre comentando”, conta.
 
Mesmo longe dos parentes, Isabela e Júlia não deixarão de celebrar a data: enigmas para achar os ovos (Rúbia Pinheiro/Divulgação)  

Mesmo longe dos parentes, Isabela e Júlia não deixarão de celebrar a data: enigmas para achar os ovos

 

Para deixar a brincadeira ainda mais criativa e com a cara de Fernanda, ela aproveitou para desenvolver na própria empresa, Enjoy the love BsB, um kit de caça aos ovos. Com tags coloridas e coelhinhos para serem espalhados pela casa, os elementos dão as orientações. Na criação do produto, o modelo, claro, foi o pequeno Miguel. “A Páscoa não é o principal ramo da Enjoy, mas fiz pensando muito nele, e em algumas opções de presente para celebrar a data”, acrescenta a empresária.
 
Para a empreendedora Damiana Rodrigues, 47, a Páscoa significa um retorno à infância. “Quando eu era pequena, meus pais escondiam os ovos e me faziam procurar pela casa toda”, relembra. Desde que se casou, aprendeu uma nova técnica com a família do marido. “Os pais dele fazem as pegadas do coelhinho na farinha com os dedos. Este ano, Damiana vai colocar a ideia em ação com o filho de 4 anos. Vamos misturar a tradição da minha família com a do meu marido”, explica. A festividade continua durante o almoço. “Eu sou neta de português, então, a gente sempre come bacalhau. A receita é da minha bisavó, mãe do meu avô.”
 
* Estagiários sob supervisão de Sibele Negromonte


Para fazer em casa
Veja três dicas para os preparativos da Páscoa com a criançada:
 
Guirlanda de cenouras
 
Lista de materiais
» Tiras de papel
» Grampeador ou fita adesiva
» Linha ou fio de nylon
 
Como fazer?
» Para fazer cada cenoura, corte duas tiras de papel laranja, com 2cm de largura por 20cm, e três tiras de papel verde, com 2cm por 10cm.
» Junte as tiras laranjas grampeando uma das pontas ou colocando fita adesiva.
» Na outra ponta, junte as três tiras verdes com a tira laranja, rampeando ou colocando com fita adesiva.
 
 
Cartão para o coelhinho com carimbo de batata
 
Lista de materiais
» Batatas
» Lápis
» Faca – usada pelo adulto
» Prato
» Tintas coloridas
» Papel para carimbar
» Pincel ou esponja cortada
 
Como fazer?
» Corte a batata no meio.
» Faça relevos com a ajuda do lápis nas duas metades, com desenhos diferentes.
» Corte com a faca, fazendo um alto relevo no desenho feito na batata.
» Depois, aplique a tinta como desejar.
» Carimbe em um papel, faça testes necessários, antes de fazer o cartão oficial para o coelhinho. Ele vai amar!
 
Biscoito amanteigado da Tia Day
 
Ingredientes
 
» 200g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
» 1 xícara de chá de açúcar refinado peneirado
» 1 ovo
» 1 colher de sopa de baunilha
» 3 xícaras de farinha de trigo
» 1 colher de sopa de fermento em pó
 
Como fazer?
» Bata bem a manteiga e o açúcar, acrescentado o ovo e meia colher de essência de baunilha.
» Acrescente, aos poucos, três xícaras de farinha de trigo.
» Quando a massa pegar uma certa consistência, enfarinhe uma bancada e trabalhe-a, até agregar toda a farinha, e adicione uma colher de sopa de fermento em pó.
» Cubra com filme plástico e deixe na geladeira por 20 minutos.
» Abra a massa com um rolo de macarrão (o melhor jeito de abrir a massa é sobre uma folha de papel manteiga).
» Corte no formato desejado (coelhinho ou ovo de Páscoa!) e leve ao forno médio, preaquecido.
» Quando a massa começar a ficar douradinha, retire do forno e deixe esfriar.
 
Essa receita rende até 100 biscoitos
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 10 de abril de 2020

GRÁVIDAS EM RIGOROSA QUARENTENA

 

Grávidas em rigorosa quarentena
 
Especialistas recomendam cuidados redobrados para evitar contaminação durante o período de gestação. Mamães devem manter atenção à higienização e ao isolamento domiciliar para minimizar o perigo. Maternidades garantem segurança à saúde

 

» MARIANA MACHADO
» THAÍS UMBELINO

Publicação: 10/04/2020 04:00

Karla e o marido, Gilcimar,  aguardam a chegada de Ariela:  

Karla e o marido, Gilcimar, aguardam a chegada de Ariela: "A primeira vez que ouvi sobre a doença na China, estava com sete meses de gravidez. Nunca imaginei isso no Brasil"

 


Aguardar a chegada de um filho é um momento repleto de amor, mas também de preocupações. Em tempos de coronavírus, gestantes se veem cercada de incertezas a respeito dos riscos que correm e cuidados que devem ter. Mas os especialistas explicam: as futuras mamães seguem as mesmas orientações do restante da população. Com higienização e isolamento domiciliar, minimiza-se o perigo.
 
Grávida há quatro meses, a auxiliar de curso Sthefanne Pacheco, 25 anos, espera a chegada de Pérola, a segunda filha. Enquanto isso, redobrou os cuidados e procura sair de casa apenas quando necessário, como para consultas e exames do pré-natal. Ela trabalha com atendimento ao público em uma universidade e foi a primeira funcionária a trabalhar em home office. Com isso, não precisou mais usar transporte público, espaço por onde circulam muitas pessoas.
 
Em casa, uso contínuo de álcool em gel e, quando é necessário sair para fazer compras, por exemplo, o marido fica encarregado, sempre utilizando máscara de proteção. Como as consultas do pré-natal acontecem uma vez por mês, ela se diz tranquila e consegue tirar dúvidas corriqueiras por mensagens com o médico que a acompanha. “Quando se está gestante, há essa mania de ir à emergência, porque acontece alguma coisa e não se sabe do que se trata. A facilidade de trocar mensagens é ótimo, porque nem é recomendado ir ao hospital agora.”

Sthefanne Pacheco espera pela segunda filha, Pérola: saídas essenciais (Arquivo Pessoal)  

Sthefanne Pacheco espera pela segunda filha, Pérola: saídas essenciais

 

Na expectativa por um parto normal, Sthefanne deve dar à luz em setembro. A dúvida é se o ambiente estará devidamente esterilizado. “Quero pesquisar mais, saber direitinho como a maternidade funciona e se estão tendo acesso aos equipamentos de proteção individual (EPIs)”, relata. “O maior questionamento que eu tenho é o que pode acontecer com a mãe que tenha contraído a Covid-19, e qual impacto tem na gestação, na vida intrauterina do neném.”
 
Ginecologista e obstetra da Maternidade Brasília, Evaldo Trajano Filho, afirma que a maioria das mães manifestou a mesma dúvida. “Não há nenhum caso registrado de transmissão da mãe para o feto. Existem estudos em cordão umbilical, líquido amniótico e não se conseguiu constatar essa transmissão até o momento.” O médico acredita que, devido aos casos de microcefalia em bebês em decorrência do Zika Vírus, as mulheres estão em alerta.
 
Outra angústia é quanto à limpeza do ambiente hospitalar durante o nascimento. Segundo o médico, o mais recomendável é que a área da maternidade seja exclusiva, sem contato com demais espaços, como o pronto-socorro. Ele enfatiza, ainda, que não se deve optar por partos em casa. “A obstetrícia não pode ser tratada como situação de exceção. Parto domiciliar é difícil, porque, nessa área, a linha entre uma situação normal e uma complicação é muito tênue. Com ou sem pandemia, há uma posição muito clara quanto a isso.”
 
O médico reforça que, embora gestantes não sejam grupo de risco, precisam tomar cuidados. “Obviamente, elas saem mais. Não dá para fazer atendimento a distância, porque a consulta não envolve só ela. É preciso auscultar o feto, medir o diâmetro da barriga. Mas o bom senso é importante. Em laboratórios e clínicas de imagem, pode usar a máscara.”
 
 
Cinco perguntas para
 
Carla Martins, obstetra especialista em reprodução humana assistida
 
Devido à pandemia, quais são os principais cuidados necessários durante o período gestacional?
Apesar de as mulheres grávidas não estarem no grupo de maior risco da doença, a prevenção é o melhor a se fazer. É necessário que os cuidados sejam redobrados. A grávida deve ficar em casa e evitar, ao máximo, contato com outras pessoas. Nesse período, se a gestante precisar de um pré-natal, o médico garantirá a segurança. As consultas devem ser breves e marcadas individualmente, sem que haja pessoas na sala de espera. O número de acompanhantes também deve ser mínimo. Em alguns casos, a telemedicina pode ajudar. Se a gestante apresentar sintomas gripais, a orientação é de que ela procure um pronto-socorro.
 
Existe a possibilidade de a mãe transmitir o coronavírus ao bebê ainda na barriga?
Estudos iniciais revelam que não há transmissão vertical da doença, ou seja, da mãe para o bebê. Até agora, o vírus não foi encontrado em amostras de líquido amniótico ou leite materno em grávidas infectadas. Mas ainda é cedo para dar certeza sobre qualquer informação, pois é um vírus muito novo.
 
Quais cuidados devem ser tomados durante o parto?
A recomendação é de que o parto seja feito em uma sala com todos os cuidados de proteção individual, arejada e com poucas pessoas. Se alguém for assintomático e tiver a Covid-19, pode contaminar o bebê, porque ele vai começar a respirar aquele microambiente contaminado da sala de parto.
 
Como lidar com a amamentação, caso a mãe esteja contaminada pelo coronavírus?
A amamentação é essencial para a nutrição e saúde do bebê. Se a mãe estiver contaminada, há uma possibilidade de passar para o filho durante a alimentação, devido ao contato físico. Para que isso não aconteça, ela deve colher o leite, devidamente protegida (com máscara, luva e uso do álcool em gel) e pedir para que outra pessoa, que não esteja contaminada, ofereça à criança.
 
Há alguma recomendação para mulheres que desejam ser mães nesse período? 
Não é recomendado engravidar nesse momento. A gente não sabe quanto tempo vai ficar de quarentena. A Covid-19 é muito recente, não sabemos ao certo o comportamento dela. A gravidez pode expor o feto e a mãe a uma situação de risco. A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, por exemplo, recomendou a finalização dos ciclos em andamento, com controles estritos dos pacientes e equipes envolvidas. Com exceção de casos oncológicos e outros em que o adiamento possa causar mais dano ao paciente, não serão iniciados novos procedimentos. Nessas eventualidades, a decisão deverá ser compartilhada e sob rigorosa individualização.

Correio Braziliense quinta, 09 de abril de 2020

PROPOSTA DE AUXÍLIO FINANCEIRO

 

Proposta de auxílio financeiro avança
 
Governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa Projeto de Lei que prevê pagamento de R$ 816 para pessoas em situação de vulnerabilidade. Medida deve atender 28 mil famílias com renda mensal per capita de até R$ 522,50

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 09/04/2020 04:00

Para Gerlinei dos Santos, 36 anos, as pessoas mais pobres sofrem mais com os impactos econômicos provocados pela pandemia (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Para Gerlinei dos Santos, 36 anos, as pessoas mais pobres sofrem mais com os impactos econômicos provocados pela pandemia

 


Pessoas em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal devem contar, em breve, com um auxílio financeiro emergencial para enfrentar o momento de crise econômica provocado pela pandemia do novo coronavírus. Conforme antecipou ao Correio em entrevista na sexta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou ontem à Câmara Legislativa um Projeto de Lei que prevê a criação do Programa Renda Mínima Temporária. A expectativa é de que a medida contemple 28 mil famílias não atendidas por outras iniciativas de transferência de renda, como Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou Bolsa Família.
 
Se aprovado, o programa do Executivo local atenderá quem tem renda mensal per capita de até meio salário-mínimo (R$ 522,50). Os valores serão pagos em duas parcelas de R$ 408, durante os dois meses de programa, com possibilidade de prorrogação para três. O Banco de Brasília (BRB) fornecerá um cartão para os beneficiários, mas a quantia também poderá ser entregue em dinheiro. As frações do auxílio serão entregues preferencialmente às mulheres.
 
Ainda, às 17h35 de ontem, o DF registrou 511 confirmações de contaminação pelo novo coronavírus. Desse total, 12 morreram e 148 se recuperaram. Até o fechamento desta edição, 65 pacientes estavam internados em hospitais, sendo 17 em estado grave, de acordo com a Secretaria de Saúde. Uma dessas pessoas é a advogada de 52 anos que foi a primeira a testar positivo para a Covid-19 na capital federal. Ontem, ela teve leve melhora do quadro, mas permanece na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
 
Economia
A disseminação do coronavírus no DF tem aumentado dia a dia. Enquanto o Executivo local estabelece medidas para evitar aglomerações e intensificar o distanciamento social, como forma de mitigar as consequências da doença, muitos brasilienses não têm levado a sério as ações previstas pelo poder público. Em diferentes partes da capital federal, é possível encontrar pessoas que não têm tomado os devidos cuidados.
 
A preocupação de especialistas na área de saúde diz respeito, principalmente, à questão da sobrecarga do sistema, o que resultaria na falta de leitos para atendimento de casos novos e para recebimento de pacientes com outras enfermidades. De 20 de março até terça-feira, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) recebeu 4.805 denúncias sobre locais abertos sem autorização (leia Funcionamento). A multa para estabelecimentos que descumprirem os decretos publicados pelo Executivo local vai de R$ 3,6 mil a R$ 24 mil.
 
Para alguns brasilienses que continuam a sair de casa, o cenário econômico é motivo de inquietude, e justifica a desatenção às medidas de isolamento social. Caminhoneiro, Gerlinei Batista dos Santos, 36 anos, saiu de Itamaraju (BA) para morar no DF há oito meses. Desempregado, ele acredita que o isolamento prejudica pessoas mais pobres. “O pessoal vai adoecer cada vez mais. E como vamos ficar em quarentena? O preço das coisas subiu. Pacote de arroz, ovo, tudo está caro. Não estou trabalhando por falta de oportunidade, e tem gente que vai passar fome mesmo com o auxílio do governo”, lamenta.
 
Professor de economia do Ibmec São Paulo, João Ricardo Costa Filho afirma que é imprescindível que o Estado crie medidas de auxílio para chegar rapidamente às pessoas mais vulneráveis. “Se conseguirmos fazer com que elas tenham essa rede de proteção, podemos ir desligando a economia nos setores que não são essenciais, para que a doença não se espalhe. Portanto, conseguiremos atingir dois objetivos: tanto os de saúde pública, para não sobrecarregar o sistema, quanto os econômicos-sociais”, pontua João Ricardo.
 
Agravamento
Até ontem, o Distrito Federal figurava em primeiro lugar entre as unidades da Federação com o maior número de casos para cada grupo de 100 mil habitantes. No entanto, após um salto no número de casos, o Amazonas ultrapassou a capital federal, que caiu para a segunda posição. Enquanto o DF tem coeficiente de incidência de 16,7, o estado amazonense chegou a 19,1. Nesta semana, a prefeitura de Manaus reconheceu a possibilidade de colapso na rede hospitalar.
 
Médico infectologista e presidente do Comitê para Enfrentamento ao Coronavírus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Bernardino Albuquerque comenta que, apesar das diferenças entre as regiões, é preciso que as secretarias de saúde façam uma leitura da realidade epidemiológica de cada local. “A situação no estado está muito preocupante em função do número de casos e de óbitos. Além disso, há uma possibilidade de disseminação muito mais expressiva. É preciso que haja acompanhamento, fiscalização. O que temos visto é exatamente a população nas ruas, principalmente nas áreas mais periféricas”, observa.
 
Para evitar o agravamento da situação no DF, Roberto José Bittencourt, médico e professor do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), destaca a importância da testagem e do mapeamento dos pacientes que estiverem com a Covid-19. Ainda, ele considera que os 511 casos do Distrito Federal são apenas a “ponta do iceberg”. “É necessário fazer a testagem mais ampla possível. Não precisa ser de toda a população do DF. Pode-se fazê-la em camadas. Primeiramente, com os infectados, rastreando toda a rede de contato deles. Depois, com os profissionais de saúde, que precisam testar a cada cinco dias, pois é o tempo médio de incubação do vírus. Identificando, isola-se o paciente”, sugere.
 
Após traçar a linha de base, as próximas levas de testagem seriam para saber como está a evolução dos casos e quais regiões são o “elo frágil do cordão de isolamento”. Roberto José lembra que a falta de confirmação dos casos implica em subnotificação e que, para se ter uma estimativa próxima do número real de casos, seria preciso multiplicar o total atual por sete ou 10. Por isso, defende o médico, o investimento deve ser direcionado ao rastreamento das notificações confirmadas.
 
“Será que, dessa população de cerca de 5.110 pessoas não daria para saber onde estão, com quem moram, a quais igrejas ou festas foram?”, questiona. “Se fizermos uma testagem vigorosa, poderemos flexibilizar (as restrições). Poderemos planejar o sistema de saúde e a saída do isolamento social Dá para sair, mas tem de ser planejado. Não dá para ser da forma que se tem feito: um dia flexibiliza, no outro fecha. Isso não é planejamento, é flutuar de acordo com a pressão política”, criticou.
 
 
Funcionamento
 
Saiba o que pode ou não funcionar no DF após os decretos publicados pelo Executivo:
 
O que abre?
 
» Serviços e produtos de saúde (clínicas, consultórios, laboratórios e farmácias)
» Clínicas veterinárias (somente para atendimentos de urgência)
» Estabelecimentos de venda de produtos alimentícios (vedado o consumo no local)
» Lojas de materiais para construção e produtos para casa
» Postos de combustíveis
» Lojas de conveniência e minimercados em postos de combustíveis (proibido o consumo no local)
» Pet shops e lojas de medicamentos veterinários ou produtos saneantes domissanitários
» Comércios do segmento de veículos automotores
» Empresas de tecnologia (exceto lojas de equipamentos e suprimentos)
» Empresas que firmarem instrumentos de cooperação com o GDF no enfrentamento à emergência de saúde referente ao coronavírus ou à dengue
» Funerárias e serviços relacionados
» Lotéricas e correspondentes bancários 
» Lavanderias (só para entrega em domicílio)
» Floricultura (idem)
» Empresas do segmento de controle de vetores e pragas urbanas
 
O que fecha?
 
» Escolas públicas e privadas, creches, faculdades e universidades (até 31 de maio)
» Festas, shows, eventos esportivos ou reuniões de qualquer natureza, que exijam licença do Poder Público
» Cinemas e teatros
» Academias de esporte de todas as modalidades
» Museus, zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos, vivenciais e afins
» Boates e casas noturnas
» Shopping centers e clubes recreativos
» Feiras permanentes (apenas para comercialização de gêneros alimentícios para humanos ou animais)
» Cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião
» Salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos
» Estabelecimentos comerciais de qualquer natureza (bares, restaurantes, lojas, quiosques, food trucks e trailers)
 
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Correio Braziliense quarta, 08 de abril de 2020

OPÇÕES PARA A CRIANÇADA

 

Opções para a criançada
 
Projetos on-line voltados para o público infantil combinam educação, arte e interatividade na quarentena

 

Lisa Veit*

Publicação: 08/04/2020 04:00

O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo (Reprodução/Youtube)  

O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo

 

 
A Cia. de teatro infantil Néia e Nando tem peças, contações de histórias e outras atividades on-line (Paky Rodrigues/Divulgação)  
A Cia. de teatro infantil Néia e Nando tem peças, contações de histórias e outras atividades on-line
 
Projeto CCBB educativo foi adaptado para a web (JA.CA, centro de Arte e Tecnologia/Divulgação)  

Projeto CCBB educativo foi adaptado para a web

 

 
 
Durante a quarentena, as crianças e os pais estão buscando colocar atividades que misturem o lúdico, a educação e a cultura na nova rotina. Com escolas e pontos de cultura fechados, os educadores e artistas estão migrando para as redes para fornecer interatividade e conteúdos voltados para os pequenos.
O projeto Histórias em Casa é uma iniciativa dos autores infantis do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal (Sindescritores), com contação de histórias, ao vivo, nas redes sociais do Instagram e Facebook. O projeto ocorre toda quinta-feira, até 7 de maio, às 13h30. Nas lives, as crianças podem tirar dúvidas sobre a criação das obras literárias, pedir os livros autografados e entrar em contato com os autores por telefone.
 
A próxima contação, em 9 de abril, é a da obra Dona aranha e a fadinha, de Gacy Simas. “O projeto foi uma demanda dos escritores de literatura infantil do Sindescritores, com o intuito de continuar o vínculo com as crianças, nossos leitores. Assim, eu e a Verônica Vincenza, diretora de literatura infantil da entidade, propusemos o projeto Histórias em Casa. Sendo educadora de formação, vejo a necessidade do incentivo constante à leitura e escrita”, explica Gacy Simas, diretora de literatura pré-escolar.
 
A autora conta que o mundo infantil sempre a inspirou. “A observação das atitudes e expressões dos alunos, filhos, netos, sobrinhos nas diferentes idades é o dínamo que me move a escrever”, reflete Gacy. O projeto segue com as obras O chocalho de Carlinhos, de Verônica Vincenza; O Boto-cor-de-rosa na Amazônia, de Pedro Ivo; Os coelhinhos amigos, de Ironita Motta; e, para finalizar a temporada, Joãozinho e o pé-de-pequi, de Augusto Niemar.
 
Teatro
 
A tradicional companhia de teatro infantil brasiliense Néia e Nando tem feito lives diariamente nas redes sociais às 17h, no Instagram do grupo e de shoppings parceiros, além de contação de histórias às 15h e às 18h no Facebook e no YouTube. Para completar, a companhia tem um canal do YouTube, o Néia e Nando TV, em que disponibiliza espetáculos completos como, por exemplo, O pequeno príncipe, Aladdin, Toy Story, Tarzan, A pequena sereia, entre outras produções do grupo.
 
A ideia surgiu da atriz Luisa Miranda junto à maquiadora Lua Rodrigues, pensando no público fiel. “Esses encontros têm sido uma enorme arteterapia para a meninada e para nós também. Nos deparamos com pais e filhos. É um verdadeiro encontro em família, só que na web”, declara Nando Villardo, diretor da trupe.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) também contribui com pais e crianças, por meio do projeto CCBB Educativo arte e educação, que está disponibilizando cerca de 150 obras do acervo digital, durante o período de isolamento de prevenção ao coronavírus. Esse projeto está sendo desenvolvido desde 2018 pelo JA.CA., um centro de arte e tecnologia de Belo Horizonte. No site, é possível encontrar arquivos de vídeos, imagens e textos sobre arte, cultura e educação incluindo obras sobre percussão corporal para crianças.
 
Como as crianças estão impossibilitadas de acessar presencialmente o ambiente escolar e espaços de cultura, os pais podem cumprir a função de educadores e mediadores entre os conteúdos disponibilizados e os pequenos aprendizes. Além do material para educadores, tem o convite à ativação, pensado para as crianças e para as famílias, que, normalmente, é impresso e que acompanha as visitas educativas para ser levado para casa e dar continuidade às reflexões. Esses materiais agora também estão disponíveis no formato digital para download.
 
Dentre os projetos que estão migrando para o digital, está também a iniciativa Lugares de criação em casa, com conteúdos disponibilizados tanto nas redes sociais do JA.CA quanto nas redes dos CCBBs de Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Esse projeto ocorre todos os fins de semana, pensados para crianças e família como um espaço de aproximação das artes, tudo adaptado para esse momento.
 
Os pais podem acessar os sites ccbbeducativo.com e jaca.center além das redes sociais do CCBB e do JA.CA. A maior parte dos materiais do projeto têm legendas e acessibilidade em Libras.
 
Outras iniciativas
 
Há outros educadores e artistas com propostas que envolvem entretenimento e informação para o público infantil. A terapeuta educacional Tatyanny Araújo escreveu o livro Por que eu não posso ir lá fora? para a filha Alice, de 2 anos, explicando o coronavírus por meio da história.
 
“Sou terapeuta ocupacional, moro na Alemanha há quase um ano e estamos lidando com a quarentena. Sempre conversei muito com minha filha e sempre falei a verdade para ela. Claro que tenho o cuidado de adaptar o contexto de forma lúdica para que ela entenda. Desde que cheguei na Alemanha, senti a necessidade de ilustrar as várias situações da nossa vida para ela. Agora, com a Covid-19, fiz a historinha e ilustrei de forma simples. Como ela gostou muito, entendeu e até contou a própria versão da história, decidi não guardar o livro só para mim e disponibilizei para download para que ajudasse mais famílias e educadores”, conta a terapeuta.
 
Ela compartilha o dia-a-dia, dicas de atividades, educação infantil, aconselhamento para pais educadores, no perfil do Instagram @tatyanny. Os pais podem fazer o download do livro cadastrando o e-mail no site tatyaraujo.rettore.com.br.
 
O educador musical Marcelo Serralva, do canal Marcelo Serralva no YouTube, desenvolveu um jogo sobre o coronavírus, que pode ser baixado gratuitamente para as crianças, e o passo-a-passo também está em um vídeo do canal.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 
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Correio Braziliense terça, 07 de abril de 2020

MANDETTA: DURO DE DEMITIR

 

Duro de demitir
 
 
Alvo de picuinhas de Bolsonaro e da ambição de Osmar Terra, Mandetta tem dia turbulento, com ameaça de exoneração, mas se segura no cargo com o apoio popular, de militares e nos Três Poderes. O ministro da Saúde diz que pasta é a "voz da ciência"

 

» Renato Souza
» Maria Eduarda Cardim
» Bruna Lima

Publicação: 07/04/2020 04:00

Mandetta foi recebido com aplausos por funcionários do Ministério da Saúde, após deixar a reunião no Planalto: agradecimento à equipe (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Mandetta foi recebido com aplausos por funcionários do Ministério da Saúde, após deixar a reunião no Planalto: agradecimento à equipe

 



Na linha de frente do hercúleo combate à doença que impacta não só o Brasil como o restante do mundo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ainda tem de encarar a turbulência de que é alvo, imposta pelo presidente Jair Bolsonaro. Ontem, ele passou por mais um dia de grande desgaste, com rumores de que seria demitido, mas avisou, em entrevista coletiva à noite, que permanecerá no cargo. Mandetta pediu paz para trabalhar. “Infelizmente, começamos com mais um solavanco a semana de trabalho e a gente precisa ter paz”, enfatizou.

Os rumores de que Mandetta seria demitido ocorreram após Bolsonaro receber para um almoço no Palácio do Planalto o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania. Ao longo do dia, a informação sobre a saída do titular da pasta da Saúde, que tem arrancado elogios nos Três Poderes por sua atuação contra o coronavírus, agitou o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fizeram chegar até o chefe do Executivo que não aceitariam a demissão de Mandetta.

Ministros do Supremo também manifestaram contrariedade à eventual exoneração. Ao fim da tarde, dezenas de técnicos do Ministério da Saúde foram para a frente da sede do órgão destacar que não ficariam em seus cargos se ocorresse a troca de chefe. O assunto também movimentou as redes sociais. No Twitter, em que Bolsonaro e seus apoiadores alegam ter grande influência, as mensagens relacionadas à eventual demissão do ministro bateram a marca de 300 mil em cerca de três horas. O assunto chegou a ficar entre os mais debatidos do mundo.

“Nós vamos continuar, pois continuando, vamos enfrentar nosso inimigo. Médico não abandona paciente, e eu não vou abandonar”, afirmou Mandetta, na coletiva, tranquilizando, inclusive, os técnicos da pasta. De acordo com o ministro, ao longo do dia, servidores do órgão limparam as gavetas, aguardando a saída dele. “Teve gente que limpou as gavetas, inclusive, me ajudou a limpar as minhas.”

Mandetta reafirmou o caráter técnico das decisões que toma, elogiou a equipe, formada por muitos médicos, e disse que o foco do trabalho é obter equipamentos hospitalares e respiradores para combater o avanço da doença no país. Ele agradeceu o apoio dos servidores, que foram para a frente do prédio aguardar uma decisão sobre sua saída ou não. “Aqui nós entramos juntos, nós estamos juntos e, quando eu deixar o ministério, vamos colaborar com qualquer equipe que venha, mas vamos sair juntos”, completou.

Funcionários do Ministério da Saúde foram para a frente do órgão em apoio a Mandetta (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Funcionários do Ministério da Saúde foram para a frente do órgão em apoio a Mandetta

 


Ciência

O ministro fez questão de deixar claro que todas as estratégias do órgão serão determinadas com base na ciência, e não em critérios políticos ou ideológicos. “Somos aqui a voz da ciência. Nós procuramos a sociedade e o Conselho Federal de Medicina para adotar drogas (no tratamento)”, disse. “Abrimos o Ministério da Saúde para todos os demais ministérios. Trabalhamos o tempo todo com base nos números, discussões e tomadas de decisões. Não temos nenhum medo da crítica. Gostamos da crítica construtiva. O que temos dificuldade é quando, em determinadas situações, as críticas não vêm para construir, mas para colocar dificuldades ao nosso trabalho”, emendou, em uma indireta para apoiadores do governo.

Ele aproveitou para dizer que a tomada de decisões não será feita sem a avaliação técnica necessária. “Levaram-me para uma sala com dois médicos que queriam um protocolo de hidroxicloroquina por decreto, e eu disse que é super bem-vindo, com os debates entre os pares: o Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde. Primeiro, precisa saber se é bom, se há indícios. Vamos fazer pela ciência, planejamento, sem perder o foco.”

O ministro afirmou, ainda, que passou o fim de semana lendo a Alegoria da Caverna, de Platão. O texto faz referência à visão limitada da realidade, que gera apenas uma noção parcial do verdadeiro cenário sobre o funcionamento da sociedade.

As cavadas de Terra


Enquanto é fritado por Bolsonaro, Mandetta também é alvo de Osmar Terra, cotado para assumir a Saúde. Nas últimas semanas, o ex-ministro da Cidadania vem se aproximando de integrantes do governo e fazendo declarações públicas que deixam claro seu alinhamento com o Executivo. Ele é a favor do relaxamento do isolamento social, como prega o presidente, e do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. O chefe do Planalto defendeu, mais de uma vez, o medicamento, ministrado contra artrite e lúpus, mas que ainda está sendo testado no combate ao coronavírus.

Também médico, como Mandetta, Terra, inclusive, reuniu-se com Bolsonaro para tratar do uso da cloroquina. Ele disse não ter conversado com o presidente sobre uma eventual indicação para assumir o Ministério da Saúde.

O presidente também se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão e com outros integrantes do Executivo, antes de tomar a decisão de seguir com Mandetta no ministério. Ao sair do Planalto, não quis comentar o assunto e apenas cumprimentou apoiadores.


Ameaças
Na semana passada, depois de dias negando a existência de uma crise entre os dois, Bolsonaro disse que faltava “humildade” a Mandetta e que nenhum ministro é “indemissível’. “Em alguns momentos, ele teria que ouvir um pouco mais o presidente da República”, reclamou. No domingo, o chefe do Executivo disse não ter medo de “usar a caneta”. Segundo o comandante do Planalto, “algo subiu à cabeça” de alguns integrantes do governo. “Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas. Falam pelos cotovelos, têm provocações. Mas a hora deles não chegou ainda, não, mas vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta”, afirmou.


Intervenção de militares
Os generais que assessoram o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, atuam para apaziguar os ânimos e evitar a demissão de Mandetta. Assim como o chefe do Executivo, os militares também têm reparos à forma como o ministro se comporta. Eles consideram que Mandetta tenta capitalizar as ações da pasta. Mas avaliam que uma demissão, neste momento, fortaleceria os governadores que hoje travam uma queda de braço com o presidente. Os militares insistem que essa é uma guerra que não é boa para ninguém. E alertam para falta de opção. O ex-ministro Osmar Terra, um dos aliados que mais tiveram acesso a Bolsonaro nos últimos dias e que busca assumir o lugar de Mandetta, foi demitido do Ministério da Cidadania porque não dava resultado.


"Temos dificuldade quando, em determinadas situações, por determinadas impressões, críticas não vêm para construir, mas para trazer dificuldade no ambiente de trabalho”
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde
 
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Correio Braziliense segunda, 06 de abril de 2020

SAI HOJE O CALENDÁRIO DE PAGAMENTO DOS R$600

 

Sai hoje o calendário de pagamento dos R$ 600
 
Governo deve detalhar como o auxílio emergencial chegará aos trabalhadores informais. A previsão é de que o dinheiro comece a ser liberado nesta semana. Amanhã, será lançado aplicativo para cadastrar quem não tem registro
 

Marina Barbosa

Publicação: 06/04/2020 04:00

O governo federal deve começar a pagar nesta semana o benefício emergencial de R$ 600 que vai ajudar os trabalhadores informais a se sustentarem nesse período de pandemia. Por isso, vai divulgar, hoje, o calendário de pagamento e o endereço do aplicativo que vai cadastrar os trabalhadores informais que têm direito ao auxílio. O valor total por família será de R$ 1,2 mil.
 
Têm direito ao auxílio, além dos informais, os microempreendedores individuais, os beneficiários do Bolsa Família e as mulheres que cuidam sozinhas da família. Essas, por sinal, podem receber o valor em dobro, ou seja, R$ 1,2 mil.
 
 Os últimos detalhes do chamado “coronavoucher”, que promete liberar R$ 98 bilhões para 54 milhões de brasileiros nos próximos três meses, serão divulgados pelo Ministério da Cidadania e pela Caixa Econômica Federal em uma coletiva de imprensa prevista para acontecer nesta tarde no Palácio do Planalto. Mas o cadastramento dos cerca de 20 milhões de trabalhadores informais que hoje não estão registrados em nenhum programa do governo federal só começa amanhã. Por isso, os governantes pedem que os brasileiros aguardem as orientações oficiais em casa e ressaltam que a ideia é fazer tudo de forma on-line, para evitar aglomerações nas agências bancárias e, assim, assegurar o sustento e também a saúde desses trabalhadores.
 
De acordo com o Ministério da Cidadania, os beneficiários do Bolsa Família que normalmente ganham menos que R$ 600 já vão receber esse benefício automaticamente, no mesmo dia em que receberiam o depósito do Bolsa Família. Os microempreendedores individuais (MEIs) e os contribuintes individuais ou facultativos do INSS que têm direito ao auxílio (ver as condições ao lado) também devem receber os R$ 600 de forma automática nas suas contas bancárias, de acordo com o calendário de pagamento que será divulgado hoje pela Caixa.
 
Os informais que estão registrados no Cadastro Único do governo federal também terão o benefício garantido por esse calendário de pagamento. Já os trabalhadores informais que não têm cadastro em nenhum programa do governo federal devem solicitar o benefício a partir de amanhã, por meio de um aplicativo que também terá o endereço revelado na entrevista de hoje.
 
Segundo a Caixa Econômica Federal, que vai operacionalizar o app, o aplicativo será gratuito e simplificado como o do saque imediado do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). E, como deve ser baixado por milhões de trabalhadores assim que for ao ar, também contará com o suporte de uma central telefônica e um site.
 
A ideia do governo é receber todas as informações dos trabalhadores informais exclusivamente por esses canais virtuais. E, depois disso, conferir esses dados para poder liberar o pagamento. A expectativa do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, é que esse processo de checagem e depósito dure apenas 48 horas. Isso significa que, se tudo der certo, os trabalhadores informais vão receber os R$ 600 apenas dois dias depois de se cadastrarem no aplicativo. Quem se cadastrar amanhã pode, portanto, receber o auxílio já na quinta-feira, antes do feriado da Semana Santa.
 
Segundo a Caixa Econômica Federal, que vai ficar à frente do pagamento, será possível liberar o recurso nesse prazo porque o pagamento também será virtual. A ideia é fazer um depósito na conta do trabalhador ou criar contas de poupança digitais gratuitas para quem ainda não tem conta no banco. Também está em estudo, porém, liberar saques físicos nas lotéricas e nos terminais de autoatendimento bancário.
 
Impacto fiscal
Segundo o Ministério da Economia, o orçamento de R$ 98 bilhões representa 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e é maior do que tudo que estava disponível no Orçamento deste ano para as despesas discricionárias do governo antes da crise da Covid-19 (R$ 95 bilhões). É, portanto, a medida do pacote de enfrentamento ao coronavírus de maior impacto fiscal já anunciada pelo governo. E esse orçamento ainda pode ter que crescer, caso a pandemia do novo coronavírus dure mais que o esperado no Brasil. Afinal, os R$ 98 bilhões consideram o pagamento do coronavoucher por um período de três meses.
 
Esta não seria a primeira ampliação do programa. Inicialmente, o governo havia anunciado apenas um auxílio de R$ 200 para os informais. A ampliação do valor e do público do benefício foi negociada pelo Congresso. Por isso, o presidente Jair Bolsonaro já admitiu que, se for preciso, o prazo de pagamento dos R$ 600 pode ser estendido para mais de três meses.
 
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Correio Braziliense domingo, 05 de abril de 2020

CRIATIVIDADE PAR DRIBLAR A CRISE

 

Criatividade é a saída para manter negócios
 
 
Empresários resilientes aceleram inovações para não falir e segurar empregos durante a pandemia de coronavírus. Entrega em casa e atendimento virtual são alternativas em tempos de comércio e serviços com portas fechadas

 

Simone Kafruni

Publicação: 05/04/2020 04:00

Pablo, Marina e André, sócios do Teta Queijaria, lançam serviços para assegurar, ao menos, 30% da receita (Arquivo Pessoal



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Pablo, Marina e André, sócios do Teta Queijaria, lançam serviços para assegurar, ao menos, 30% da receita

 

 
Resiliência, diz o dicionário, é a capacidade de se adaptar ou até mesmo evoluir após momentos de adversidade. Uma palavra que define muito bem o que move muitos empresários neste momento de incerteza. A pandemia do coronavírus, que não tem data nem hora para acabar, desestabilizou os empreendedores, ameaçando o faturamento de quase todos os setores da economia. Mas há quem resista e, com criatividade, busque soluções inovadoras para manter seus negócios de pé.
 
O cenário é desafiador, sobretudo, para micro e pequenos empresários, com pouco capital de giro. Na opinião de Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), um processo recessivo bastante pronunciado se anuncia. “Mesmo nesse cenário, há subprodutos positivos”, diz. O especialista lembra que a necessidade é a mãe da criatividade. “O ser humano tem instinto de poupar energia, por isso se esforça na medida que precisa. A mudança súbita do quadro nos obrigou a procurar novas alternativas em curto prazo. A necessidade acelerou a adaptação”, afirma. Várias possibilidades, antes alternativas, se mostraram eficientes e vão se perpetuar, diz o professor. “As pessoas estão despertando para novas formas de trabalho. O que faz o homem caminhar é a busca incessante para vencer as adversidades”, acrescenta.
 
Essa busca é incansável para o empresário André Vasquez, 40 anos, sócio de Marina Cavechia e Pablo Julio no Teta, bar, restaurante e queijaria que precisou fechar as portas com o decreto do governador Ibaneis Rocha, depois de dois anos servindo almoço e jantar na 103 Sul. “Tivemos que implementar o delivery, adaptar pratos e testar embalagem em 48 horas, com parte da equipe em férias”, conta André.
 
O Teta criou um cartão de presente, para usar no delivery ou quando o restaurante reabrir as portas. “As pessoas continuam fazendo aniversário e estão se presenteando virtualmente”, assinala André. Além disso, o estabelecimento está divulgando cursos, pelas redes sociais, de harmonização e de fabricação de queijo. “Lançamos o ‘Antes teta do que nunca’, uma promoção para quem está juntando os amigos por bate-papo na internet. Se encomendar até as 14h, entregamos às 19h, sem custo de frete e, dependendo do tamanho da compra, com 10% de desconto. Até chope e drinques enlatados entregamos”, explica.
 
Ainda assim, a receita caiu a 30%. “A gente trabalha com alguns cenários. Se o programa do governo se concretizar, com postergação de impostos, vamos empatar com o delivery. Nossa luta é sobreviver”, revela André. Na opinião do empresário, que foi rápido em criar alternativas para manter o negócio em pé, o governo está muito devagar. “Isso causa uma insegurança muito grande. É custoso contratar e treinar. Ninguém quer demitir, mas temos um limite”, alerta.
 
O hairstylist Evaldo envia kits às clientes e atende por videoconferência (Arquivo Pessoal
)  

O hairstylist Evaldo envia kits às clientes e atende por videoconferência

 

  
O sentido de resiliência diz que é possível evoluir diante de adversidades. Pois foi o que aconteceu com a Gaúcha Prendada, um negócio que surgiu pequeno, do tradicionalismo de Daiane Wolff Fialho, 36, de Taquara (RS). Casada com o brasiliense Rafael Costa Mendes, 36, Daiane mora há 10 anos em Brasília e, em junho do ano passado, decidiu aproveitar a experiência em vendas, adquirida em anos de trabalho numa empresa que fechou as portas, para montar um negócio próprio. “Eu faço pães e cucas artesanais, como aquelas que só têm no Rio Grande do Sul, para resgatar o sabor de casa”, conta.
 
As vendas eram realizadas em nove feiras semanais. O movimento foi tão bom que o marido, engenheiro agrônomo, saiu da empresa em que trabalhava, no início do ano, para se dedicar a ajudar a Gaúcha Prendada. “Investimos no negócio e levamos um susto enorme com a pandemia. Pensamos: vamos ficar em casa e esperar. Mas caímos na real de que precisamos do giro para nos manter”, assinala Daiane.
 
Com a suspensão das feiras no Distrito Federal, a empresa começou a receber ligações dos clientes. “Optamos por fazer entrega. No começo, foi só para sobreviver, mas conseguimos aumentar nossa receita”, revela a gaúcha. “A gente mesmo entrega, três vezes por semana. Tínhamos uma clientela fixa, mas surgiram novos clientes. Dobramos nossa produção, porque, agora, atendemos locais que não tinham feiras, como Águas Claras, Taguatinga Jardim Botânico”, diz. A ideia é manter o delivery quando tudo voltar ao normal.
 
Turbinada
Com um serviço de delivery muito tímido, a rede Bio Mundo, de produtos saudáveis, turbinou as entregas para fazer frente ao fechamento de 75% de suas operações em Brasília. O CEO da companhia, Edmar Mothé, conta que, das 15 lojas próprias no DF, apenas cinco permanecem abertas, consideradas essenciais. “Éramos muito concentrados em lojas físicas, mas, com o fechamento de shoppings, migramos para uma plataforma mais agressiva de delivery, com um trabalho forte na mídia”, destaca. Além da rede própria, fundada em Brasília em 2015, a Bio Mundo tem mais de 100 franquias em 15 estados do país.
 
“O delivery começou representando 7% da nossa receita. Batemos 10%. E a expectativa é logo alcançar 15%, para chegar a 20%”, ressalta Edmar. O otimismo do empresário vem da preocupação crescente entre os clientes em adquirir produtos bons para a imunidade. “O apelo saudável ajuda. Atendemos diabéticos, celíacos, hipertensos, intolerantes à glúten e à lactose. Essas pessoas estão se cuidando mais.”
 
“A mudança súbita do quadro nos obrigou a procurar novas alternativas em curto prazo. A necessidade acelerou a adaptação”
Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar
 
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Correio Braziliense sábado, 04 de abril de 2020

SOLIDÃO NA CAPITAL

 

Solidão na capital
 
 
O Correio foi às ruas de Brasília quase deserta para mostrar como está a cidade a quem segue a orientação de ficar em casa

 

» DARCIANNE DIOGO
» MARIANA NIEDERAUER

Publicação: 04/04/2020 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
A luz do sol aquece as ruas vazias da cidade. Quando chover, talvez amanhã, também será assim. A solidão do asfalto não é mais privilégio das madrugadas na capital federal. Em nome de todos e de cada um de nós, a população do Distrito Federal se isola nas próprias casas e faz dos vãos-livres o remédio para combater a pandemia que assola o país e o mundo. 
 
No Plano Piloto, região que até agora concentra o maior número de casos confirmados da doença de nome já conhecido, o cenário é de uma guerra contra a ameaça invisível. Causadora dessa paisagem distópica, a Covid-19 se tornou realidade para os moradores da capital federal em 5 de março, quando houve a confirmação do primeiro caso de infecção pelo coronavírus na cidade.
 
Na tentativa de vencer o vírus veloz, o governo local combateu também com agilidade. Menos de uma semana depois, adotava as primeiras medidas de contenção, com base em evidências científicas que reforçam a importância do isolamento social para barrar o avanço das infecções.
 
Aos poucos, silenciou-se os risos nos bares e restaurantes, nos parques, nos centros de lazer e de compras. Os passos dos turistas na Praça dos Três Poderes ou entre as barracas na Feirinha da Torre de TV cessaram. A Rodoviária do Plano Piloto, acostumada a receber cerca de 800 mil passageiros em dias normais, agora abre as plataformas para 2 mil pessoas.
 
O medo e o bom senso passaram a andar de mãos dadas, entranhados em uma população que está temporariamente impossibilitada de se dar as mãos. Na área central da cidade, é possível ver cidadãos seguindo à risca a recomendação. Dois metros de distância os separam uns dos outros. Em frente à Catedral, vendedores de picolé são os únicos a povoar uma praça deserta.
 
Dias difíceis virão. E os mais vulneráveis serão os primeiros a sofrer as consequências. Suportar as agruras do confinamento virou missão de vida ou morte para aqueles que têm condições de ficar em casa e cumprir as medidas determinadas pelo Executivo local.


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Rodoviária do Plano piloto (alto), Eixo Monumental e estacionamento do Boulervard Shopping (baixo). Ruas praticamente sem movimento são a nova cara de Brasília neste período de quarentena, mas a vida continua dentro dos lares   (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Rodoviária do Plano piloto (alto), Eixo Monumental e estacionamento do Boulervard Shopping (baixo). Ruas praticamente sem movimento são a nova cara de Brasília neste período de quarentena, mas a vida continua dentro dos lares

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


Nova rotina
 
Claudinete de Lima, 43 anos, trabalha como motorista de transporte por aplicativo há um ano e meio. Moradora de Luziânia (GO) — distante 60km de Brasília —, ela conta que tem trabalhado cerca de 14 horas por dia para dar conta das despesas da casa. “Caiu em 60% o número de clientes. A cidade está parada e vazia. A sensação que tenho é de tristeza. Me dá um desespero ver a capital nessa situação”, lamenta. 
 
Mãe de dois filhos, de 17 e 24 anos, ela tem adotado medidas de prevenção ao novo coronavírus. “Deixo as janelas abertas, higienizo o interior do carro com álcool e peço para o passageiro se sentar no banco de trás. Todo cuidado é pouco”, diz. “Todos os dias peço a Deus pela nossa nação. Quero que essa doença passe para a nossa cidade voltar a ser alegre como antes.”
 
Em meio ao caos silencioso, os engenheiros Fernando Gomes, 54, e Alessandro Silva, 43, escolheram um lugar atípico para conversar sobre negócios: a praça da Catedral Metropolitana de Brasília. “Eu moro há quase 10 anos aqui e nunca vi uma cena dessa. Uma cidade vazia, que causa tristeza. Sei que o confinamento é necessário, mas ele maltrata”, desabafa Fernando. 
 
Os dois administram uma empresa de engenharia e têm visto o lucro cair com a crise causada pela Covid-19. “Ninguém compra nem vende ou recebe. A sensação é deprimente e dá uma dor no coração ver tudo parado como está”, completa Alessandro. 
 
A rua perdeu vida nestes tempos de pandemia. Mas ela é generosa. Aguenta a solidão. Quando voltarmos a caminhar regularmente em seus contornos mais distantes ou pertinho do nosso lar, vai nos brindar com o colorido das mais belas flores do cerrado.
 
 
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Correio Braziliense quinta, 02 de abril de 2020

PRAZO PARA ENTREGA DA DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA AGORA É ATÉ 30 DE JUNHO

 

Entrega da declaração do IR agora é até 30 de junho
 
 
Adiamento vinha sendo reivindicado por entidades representativas da sociedade, por causa da dificuldade de os contribuintes reunirem os documentos que são necessários para o ajuste de contas com o Leão, nesse período de confinamento social

 

ALESSANDRA AZEVEDO

Publicação: 02/04/2020 04:00

Segundo Tostes, ainda não está decidido se a temporada de restituições será mantida, pois começará enquanto a Receita estiver recebendo declarações (Edu Andrade/Ascom/ME)  

Segundo Tostes, ainda não está decidido se a temporada de restituições será mantida, pois começará enquanto a Receita estiver recebendo declarações

 



O secretário da Receita Federal, José Tostes Neto, anunciou ontem que os contribuintes terão dois meses a mais para entregar a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) de 2020, relativo aos rendimentos de 2019. O prazo, que seria até 30 de abril, passa a ser até 30 de junho –– conforme disse, ontem, em entrevista coletiva, no Palácio do Planalto.

“Decidimos pela prorrogação, considerando demandas e relatos de contribuintes que estão confinados em casa”, explicou Tostes. Segundo ressaltou, muitas pessoas têm dificuldades para buscar documentos necessários ao preenchimento da declaração, como, por exemplo, notas fiscais de serviços médicos.

Ele não disse se será mantido o calendário de restituição, mas a tendência é que mude, porque, durante as datas previstas para os pagamentos, a Receita ainda estará recebendo declarações. Tudo, porém, dependerá do fluxo de caixa. O primeiro dos cinco lotes estava marcado para 29 de maio e o último, para 30 de setembro.

A Receita estuda, desde o início de março, a ampliação do prazo de entrega. Como a medida não havia sido anunciada formalmente, líderes partidários do Congresso se organizavam para votar um projeto de lei nesse sentido, em sessão remota da Câmara, ontem. A ideia dos parlamentares era suspender o prazo da declaração enquanto estivesse em vigência a Lei da Quarentena.

Entidades representativas de setores da sociedade também cobravam uma decisão da Receita em relação ao prazo. Entre elas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).

Em ofício encaminhado a Tostes em março, o sindicato sugeriu a redução do prazo de restituição, que terminaria em setembro, para agosto. Na semana passada, a Receita anunciou o adiamento da entrega do Imposto de Renda de MEIs (microempreendedores individuais) e empresas no regime de Simples Nacional.

Quem não declarar dentro do novo prazo, ainda estará sujeito à multa. O envio é obrigatório para pessoas que receberam mais do que R$ 28.559,70 em rendimentos tributáveis em 2019 –– equivalente a R$ 2.379,97 por mês.

Tostes avaliou que o ritmo de entrega do IRPF continua “sendo muito bom”, com mais de 8 milhões de declarações remetidas até agora, o correspondente a 27% do total esperado pela Receita. “Comparado com o mesmo período de do ano passado, são 400 mil a mais”, ressaltou.

Complemento
A Receita anunciou outras duas medidas para diminuir os impactos da crise do coronavírus. Uma delas é zerar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito por 90 dias. Atualmente, a cobrança é de 3% ao ano. A medida custará R$ 7 bilhões à União e vem na esteira da criação de uma linha de crédito para atender às empresas a juros reduzidos.

Outra ação anunciada ontem por  Tostes é a postergação do pagamento do PIS/Cofins e da contribuição das empresas e órgãos públicos à Previdência Social. “São contribuições que seriam devidas em abril e maio e serão diferidas (postergadas) para agosto e outubro”, explicou.




"Decidimos pela prorrogação, considerando demandas e relatos de contribuintes que estão confinados em casa”
José Tostes Neto, secretário da Receita Federal
 
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Correio Braziliense quarta, 01 de abril de 2020

CRISE CASTIGA OS AGRICULTORES

 

Crise castiga os agricultores
 
Medidas de combate ao coronavírus afetam diretamente os produtores familiares do DF, que precisam buscar alternativas para distribuir a colheita e manter a renda. GDF investe R$ 4,5 milhões em programas para compra de frutas e verduras

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 01/04/2020 04:00

Administradora da cooperativa Cooper-Horti, Márcia Aparecida lamenta o momento:  

Administradora da cooperativa Cooper-Horti, Márcia Aparecida lamenta o momento: "Com esse pesadelo, as nossas vendas ficaram paradas"

 

 
Plantar, colher e vender é a rotina seguida por cerca de 11,1 mil produtores rurais que vivem no Distrito Federal, segundo números da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater). Em um espaço de aproximadamente 345 mil hectares de área agricultável, são produzidas frutas, verduras e grãos que abastecem feiras, mercados, restaurantes e escolas. No entanto, com as medidas emergenciais de combate ao coronavírus, os agricultores familiares estão passando por dificuldade para escoar a produção e enfrentam prejuízos financeiros.
 
Um dos maiores impactos é causado pela suspensão das aulas. Segundo o secretário de Agricultura, Luciano Mendes, cerca de mil produtores destinavam as colheitas à merenda, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). No ano passado, o governo empenhou R$ 18 milhões em contratos firmados com 16 associações e cooperativas, com vigência até 29 de março.
 
Contudo, a Secretaria de Educação explicou, em nota oficial, que após a decisão do governador Ibaneis Rocha de manter as escolas fechadas, os contratos tiveram vigência encerrada, sem prorrogação. Segundo o órgão, será feita nova chamada pública quando as aulas presenciais puderem ser retomadas. “O edital, no entanto, está temporariamente suspenso para adequações ao teletrabalho, conforme as instruções sanitárias e administrativas vigentes devido à Covid-19.”
 
Para quem dependia exclusivamente da venda para a merenda, o momento causa aflição. É o caso de Márcia Aparecida de Souza, 31 anos, administradora da cooperativa Cooper-Horti, que reúne 37 produtores na área rural do Paranoá. Todos plantam hortaliças e frutas. “Com esse pesadelo do coronavírus, as nossas vendas ficaram paradas. Estamos aguardando novos editais para ver o que acontece”, lamenta.
 
Mesmo assim, os produtores continuam plantando, mas com receio de não ter o que colher quando a crise acabar. “O Pnae é muito importante para nós. A expectativa é de que, quando passar toda essa confusão, a gente volte a fazer as entregas nas escolas”. Os cooperados vendiam para 34 colégios da região do Paranoá. “A saída vai ser apelar para o mercado privado, apesar de ser um nicho difícil de se trabalhar. Mas não dá para ficar parado. As pessoas precisam comer. Temos de encontrar novas formas de vender.”
 
De acordo com o secretário de Agricultura, ainda é cedo para calcular o prejuízo do setor, mas os mais afetados são os pequenos agricultores. A pasta desenvolve um novo edital do Pnae com investimento de R$ 20,3 milhões, que deve ser lançado após o fim da quarentena. Ele explica que, como muitos produtores podem participar, a renda é mais bem distribuída. “Se, no passado, comprávamos de uma única instituição, agora, compramos de muitas. Outra vantagem é entregar produtos frescos e de qualidade aos estudantes.”

Presidente da Coopermista, Ivan Engler comemorou o auxílio governamental para a compra de alimentos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Presidente da Coopermista, Ivan Engler comemorou o auxílio governamental para a compra de alimentos

 

 
Escoamento 
 
Para ajudar a escoar a produção agrícola, o Governo do Distrito Federal (GDF) destinou R$ 2 milhões para a compra de frutas e verduras pelo Programa de Aquisição da Produção da Agricultura (Papa). Além disso, reabriu as inscrições para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com verba de R$ 1,5 milhão do Ministério da Cidadania, com mais R$ 1 milhão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A expectativa é de atender entre 300 e 600 agricultores familiares.
 
As compras se dão a partir do pedido feito pelas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) e são passadas ao banco de alimentos, que entrega as cestas a 120 entidades sócio-assistenciais, como creches e abrigos de idosos. Quem se organizou e está participando, elogia. Ivan Engler, 42 anos, presidente da Coopermista, afirma que, graças à iniciativa, aumentou a produção.
 
Ele coordena 84 produtores de hortifruti na região de Planaltina, muitos dos quais vendiam para as merendas escolares de 64 centros de ensino da cidade. A demanda usada nas cestas verdes, entregues em instituições, aumentou de 12 para 44 toneladas. “Nosso edital começou a ser executado em outubro e, com o novo contrato em mãos, isso vai ajudar a escoar o que plantamos”, destaca. “O impacto inicial da crise foi muito grande, principalmente porque fecharam as feiras.”
 
Ele avalia o momento como uma montanha-russa. “Nossas culturas precisam ser colhidas todo dia, não podemos armazenar. Se encalha tudo, isso repercute. Continuamos plantando, porque, se daqui a três meses não tiver o que colher, será pior”, pondera Ivan, que planta repolho, abóbora, maracujá e poncã. “Estamos vivendo outra realidade. Quando começou a crise de coronavírus, eu nem dormia.”

Correio Braziliense terça, 31 de março de 2020

APOSTA NAS VENDAS REMOTAS

 

Saiba como lojistas do Distrito Federal, como a CEO da Pinheiro Ferragens, Janine Brito, tem se reinventado para enfrentar deficit acumulado de 40% no setor de material de construção. Vendas remotas viram desafio em meio à crise detonada pela pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao Correio, o presidente do Sindimac aponta queda de 40% no movimento.   (Minervino Júnior/CB. D. A. Press)
 
 
Aposta nas vendas remotas
 
Lojistas brasilienses investem na criatividade para enfrentar deficit acumulado de 40% no setor

 

Erika Manhatys*

Publicação: 31/03/2020 04:00

Ruas vazias e lojas com as portas fechadas. Essa é a cena que os brasilienses encontram quando precisam sair de casa. Após decreto do governador Ibaneis Rocha, somente o comércio considerado de primeira necessidade continua operando. Um deles é o setor dos materiais de construção civil, que tem se esforçado para driblar a crise do coronavírus.

“Imagina, durante o confinamento, um disjuntor quebrar ou um cano se romper. Por isso, não podemos parar”, explica Hércules Isaac, diretor da Campeão da Construção. Apesar das expectativas nada animadoras de mercado, ele se mantém otimista: “É tempo de inovar, ser inteligente”, diz.

Brasília atravessa a terceira semana de quarentena e, em pouco tempo, um grande baque foi sentido. “Perdemos cerca de 50% no número de vendas, mas criamos uma equipe de gerenciamento de crise e apresentamos um sistema de vendas pelo WhatsApp. Metade dos vendedores está sendo treinada para dar gás nas vendas remotas”, conta Isaac. Para aqueles que preferem ir à loja, a medida encontrada para sufocar o vírus foi instalar pias com sabonete e álcool em gel para a higienização das mãos, além de férias para 30% dos funcionários.

Lojas com estruturas mais enxutas representam mais segurança para quem compra e para quem vende. A empresa AC Coelho deu férias a todos os funcionários maiores de 50 anos, gestantes, pessoas com doenças crônicas ou que convivem com outras nessas condições. “Estamos operando com 40% da nossa equipe, precisamos cuidar da saúde e da vida do nosso público interno, tanto quanto dos nossos clientes”, diz Bruno Coelho, diretor comercial do grupo.

Para ele, a qualidade no atendimento é a marca registrada da empresa e deve ser reforçada, ainda que a distância. “Foi necessário criar canais, toda a equipe possui celular de última geração para fazer chamadas de vídeo com os clientes. Não podemos perder o calor humano”, conta. Apesar da queda de 60% no faturamento, Bruno acredita que a implementação de um sistema eficiente de e-commerce demandaria muito tempo e esta alternativa ainda não é considerada pela empresa.

Apesar de não vender pela internet, a AC Coelho dispõe de serviço de televendas. “Diria que 80% dos nossos clientes que costumavam vir à loja migraram para o sistema de vendas pelo telefone. Para estimular ainda mais a campanha do fique em casa, reduzimos consideravelmente o valor cobrado nos fretes. Em determinados casos, até conseguimos zerá-lo”, afirma Bruno.

Perdas e ganhos
Não faltam estudos que projetem grandes perdas econômicas em decorrência do coronavírus. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que o Brasil tenha um deficit de US$ 104 milhões. Neste cenário, as grandes empresas acumulam dívidas e as pequenas são engolidas.

Proprietário da LM Materiais de Construção, uma loja que atende os moradores de Vicente Pires,  Edson Landim sobrevive com poucas expectativas de melhora. “Nesse período, tive uma queda de 70% da clientela. Até as minhas televendas estão em baixa, 40% menores do que antes. O povo está com medo de gastar”, comenta. O lojista diz que permanece aberto por não ter grandes despesas. “Trabalho sozinho na loja, não preciso pagar funcionário e o meu maior gasto é com o aluguel. Mesmo com a quantidade baixa de vendas, não considero fechar.”

Equilibrando a balança dos prejuízos, a Pinheiros Ferragens tem queda pouco expressiva das vendas e até conseguiu conquistar novos públicos nesta fase. “Sinto que o setor entrou em evidência, porque as pessoas estão em casa e observam as necessidades de reforma no lar”, diz Janine Brito, CEO da empresa.

Segundo ela, um novo perfil de clientes passou a comprar e isso tem sido um incremento nas vendas. “Comercializamos equipamentos de proteção individual (EPI), colocamos lucro zero nestes e em outros itens de necessidade essencial da casa. Agora, nosso cadastro de compradores conta com muitos profissionais da saúde e a população que está cuidando de pessoas doentes, assim como aqueles que buscam uma proteção extra.”

Com criatividade, a passagem pela crise sanitária e econômica pode ser menos dolorosa. Os três grandes lojistas que conversaram com o Correio instituíram novas ferramentas de atendimento mediado pela internet e/ou telefone. Todos creem que, apesar do decréscimo nas vendas, há esperança para contornar os prejuízos. Otimismo e perseverança são palavras-chave neste momento.

* Estagiária sob a supervisão de Fernando Brito




Três perguntas para

Carlos de Aguiar, 
presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção do Distrito Federal (Sindmac-DF)

Existe uma estimativa de perdas para o setor?
Nós contabilizamos uma queda de 30% a 40% em todo o nosso movimento. Entretanto, mesmo com o deficit, entendemos perfeitamente que temos de dar nossa contribuição e apoio a nossos colaboradores para que façam algo realmente diferente no enfrentamento a essa crise. A prioridade é cuidar e zelar pelo nosso maior patrimônio, que é o nosso cliente. Portanto, reforçamos as medidas de segurança para manter todos a salvo desse vírus.

Durante a crise, quais são as recomendações aos lojistas para que os impactos sejam menos duros?
Estamos funcionando com horários mais flexíveis. As lojas passaram a abrir mais tarde e a fechar mais cedo. O horário de funcionamento vai das 8h às 17h. Assim, preservamos também as nossas equipes, fugindo do horário de pico no transporte público. Convidamos o público para que compareça nestes momentos às nossas lojas. Além dos produtos, temos um banco de profissionais que indicamos para pequenas reformas, facilitando a vida do cliente. Vale ressaltar que o Sindmac, com a Associação dos Comerciantes de Material de Construção do DF (Acomac) e os nossos colaboradores, está arrecadando uma quantidade expressiva de álcool em gel, água sanitária, papel toalha e detergente para doação ao GDF. Todas as nossas lojas estão preparadas para receber os donativos, assim como vamos às residências buscá-los.

Este é um bom momento para ter uma estratégia de vendas mais agressiva? Ou basta aumentar o leque de opções de serviço, como o atendimento remoto a clientes?
Apesar da queda, não podemos aumentar o preço dos produtos essenciais, em especial. Devemos operar com baixo custo. Se possível ao lojista, acrescentar somente o custo operacional nesses itens.  De toda forma, há impacto e este é o momento de nos reinventarmos. Passar a ofertar serviço de delivery, opções variadas de pagamento, como depósito bancário e com a maquininha de cartões no ato da entrega. Reduzir os custos com entrega e estender as opções de atendimento são as melhores opções. É hora de exercer a criatividade.
 
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Correio Braziliense segunda, 30 de março de 2020

ROBÔS: REFORÇO NA LUTA CONTRA A PANDEMIA

 

Reforço na luta contra a pandemia
 
Robôs ajudam a conter a disseminação do Sars-CoV-2 em ruas e hospitais. Para especialistas, além de medir a temperatura de pacientes e desinfetar cidades, máquinas podem ser usadas em atividades de logística e no controle de quarentenas

 

Paloma Oliveto

Publicação: 30/03/2020 04:00

Chineses recorrem a autômatos para limpar cidades atingidas pelo coronavírus: população adaptada a operações remotas (STR/AFP
)  

Chineses recorrem a autômatos para limpar cidades atingidas pelo coronavírus: população adaptada a operações remotas

 





Robô é configurado para monitorar infectados em hospitais da Tailândia (Lillian Suwanrumpha/AFP - 18/3/20
)  

Robô é configurado para monitorar infectados em hospitais da Tailândia

 




Robôs ajudam idosos a não se esquecerem dos remédios, interagem com crianças que têm transtorno do espectro autista e desempenham tarefas domésticas, como aspirar pó. Na luta contra o Sars-CoV-2, há a possibilidade de eles terem um papel crucial, evitando a exposição humana ao vírus causador da Covid-19. De acordo com um grupo de cientistas da robótica, as máquinas podem prestar um papel valioso no atendimento clínico, como telemedicina e descontaminação; na logística, para entrega e manuseio de resíduos contaminados; e no monitoramento das quarentenas.

Em um editorial publicado na revista Science Robotics, o grupo alega que robôs desempenham muitas dessas tarefas. “Já vimos robôs sendo implantados para desinfecção, fornecendo medicamentos e alimentos, medindo sinais vitais e auxiliando no controle de fronteiras”, escrevem os pesquisadores. Porém, os investimentos na área são insuficientes, sustentam. “As experiências com o surto de ebola (2015) identificaram um amplo espectro de casos de uso (de robôs), mas o financiamento para pesquisas multidisciplinares, em parceria com agências e indústria, para atender a esses casos permanece caro, raro e direcionado a outras aplicações. Sem uma abordagem sustentável da pesquisa, a história se repetirá e os robôs não estarão prontos para o próximo incidente.”

Em uma teleconferência de imprensa, os pesquisadores lembraram que alguns robôs estão sendo usados na pandemia de Covid-19. Hospitais tailandeses usam as máquinas para medir a temperatura e proteger a saúde dos funcionários da saúde. Eles foram concebidos originalmente para cuidar de paciente que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), mas foi preciso fazer desvios de função. As máquinas são capazes de detectar temperatura, supervisionar a evolução dos sintomas e fazer contato do médico com o paciente por videoconferência. Já na Dinamarca os robôs usam a luz ultravioleta para desinfetar superfícies frequentemente tocadas.

“Por que estamos deixando que os funcionários da saúde, que trabalham na linha de frente, se exponham ao vírus?”, questiona o editor da Science Robotics, Guang-Zhong Yang, professor do Instituto de Robótica Médica na Universidade Shanghai Jiao Tong. “Os robôs existem para livrar as pessoas de alguns desses riscos”, diz. De acordo com ele, embora seja preciso investir muito mais na área para que as máquinas sejam capazes de operações mais complexas, muita da tecnologia necessária para substituir ao máximo o contato humano em pandemias está “relativamente madura”. “São tecnologias que têm sido usadas em logística e em muitas outras aplicações. Eu trabalho com robôs cirúrgicos. Então, já sabemos como operar um remotamente.”

Inteligência artificial

Howie Choset, pesquisador da Universidade Carnegie Mellon e coautor do editorial, afirma que a ideia do grupo de especialistas, ao escrever o texto, não foi apenas descrever as tarefas que os robôs poderiam executar em um cenário de pandemia. “Em vez disso, esperamos inspirar outras pessoas a conceber soluções para o que é um problema muito complicado”, explica. Choset enfatiza que, como os robôs, a inteligência artificial (IA) pode ajudar a responder a epidemias e pandemias. Pesquisadores da Carnegie Mellon, por exemplo, estão realizando pesquisas para ajuda humanitária e resposta a desastres. Para essa tarefa, eles desenvolveram uma combinação de tecnologias de IA e robótica, como drones.

Na atual pandemia, os sistemas de inteligência artificial são usados, por exemplo, para revisar milhares de pesquisas em busca de pistas sobre os tratamentos contra o coronavírus que podem funcionar. Há duas semanas, pesquisadores se uniram à Casa Branca em um esforço para disponibilizar cerca de 29 mil artigos de pesquisa sobre o micro-organismo, para que possam ser analisados em busca de dados.

Por meio do Kaggle, uma comunidade de aprendizado autômato e dados científicos de propriedade do Google, essas ferramentas estarão disponíveis para pesquisadores em todo o mundo. “É difícil para as pessoas revisarem manualmente mais de 20 mil artigos e resumirem suas descobertas”, disse Anthony Goldbloom, CEO da Kaggle, à agência France-Presse (AFP). “Os recentes avanços tecnológicos podem ajudar nisso. Estamos disponibilizando versões legíveis por máquina desses artigos à nossa comunidade de mais de 4 milhões de cientistas de dados. Esperamos que a inteligência artificial possa ser usada para ajudar a encontrar respostas para perguntas-chave sobre a Covid-19”, assegurou.


“Por que estamos deixando que os funcionários da saúde, que trabalham na linha de frente, se exponham ao vírus? Os robôs existem para livrar as pessoas de alguns desses riscos”

Guang-Zhong Yang, professor do Instituto de Robótica Médica na Universidade Shanghai Jiao Tong e editor da Science Robotics
 
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Correio Braziliense domingo, 29 de março de 2020

AS APOSTAS PARA FREAR O CORONAVÍRUS

 

As apostas para frear o coronavírus 
 
Pesquisadores dedicam-se a três grupos de abordagens contra o Sars-Cov-2: criação de vacinas, uso de medicamentos já prescritos para outras doenças e desenvolvimento de substâncias a partir de anticorpos de quem se curou da Covid-19
 

Vilhena Soares

Publicação: 29/03/2020 04:00

 

Ao menos 20 projetos buscam uma fórmula protetiva: previsão de resultados em 2021 (Thibault Savary/AFP)  

Ao menos 20 projetos buscam uma fórmula protetiva: previsão de resultados em 2021

 

 

Desenvolver medicamentos é uma tarefa difícil. A realização de testes em laboratório com células in vitro, animais, e, só depois, humanos faz com que esse processo seja também bastante demorado. Diante do avanço da Covid-19, porém, o tempo se tornou ainda mais valioso. Na tentativa de encurtá-lo ou usá-lo da melhor forma possível, cientistas têm unido esforços em três frentes principais de investigação: uso de remédios já prescritos para outras doenças, análise de anticorpos presentes no sangue de infectados e criação de vacinas (veja infográfico). Especialistas ressaltam que a urgência exige um trabalho mais rápido, mas destacam que todo o cuidado é necessário para que as abordagens propostas não atrapalhem ainda mais o combate à pandemia.


Um dos projetos em andamento aposta no uso combinado de duas drogas anti-HIV: lopinavir e ritonavir. Esse coquetel foi testado na China, mas com resultados que podem ter sido mitigados porque muitos pacientes “foram incluídos tardiamente no experimento, até mesmo depois do 10º dia da infecção”, segundo Bruno Lina, professor de virologia no Hospital Civils de Lyon, na França.


Bruno Lina e outros cientistas fazem parte da pesquisa Discovery, que busca drogas para combater o Sars-Cov-2. O projeto, fruto de parceria com outros investigadores europeus, tem resultados positivos no uso das duas drogas contra o novo coronavírus. “Trata-se da ‘reciclagem’ de um medicamento contra o HIV para bloquear a reprodução do vírus. Percebemos que, no tubo de ensaio, ela funciona”, conta o pesquisador francês.


O Discovery está, agora, na fase de testes clínicos e pretende contar com 3,2 mil voluntários de vários países do continente — Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Luxemburgo e Reino Unido. Além das drogas de combate ao HIV, os cientistas testarão o efeito do remdesivir, um antiviral usado para combater o ebola, e da cloroquina, indicada para o  tratamento da malária. O segundo medicamento mostrou-se promissor contra a Covid-19 em outros estudos científicos e tem causado polêmica devido à liberação de uso, pelo governo brasileiro, para pessoas em estado grave.


A primeira etapa de testes clínicos de Discovery teve início, semana passada, na França, onde os quatro medicamentos serão aplicados em 800 pacientes. “O tratamento começou rapidamente para essas pessoas, uma vez que os prazos parecem ser um fator importante nessa doença”, frisa Florence Ader, infectologista no Hospital Civils de Lyon e uma das líderes da pesquisa.


Segundo a cientista, no momento em que uma substância apresentar “superioridade no tratamento”, será possível propor o seu uso aos órgãos reguladores. “O tratamento poderá, então, ser liberado muito rapidamente, levando em conta que estamos em situação de carência terapêutica”, complementa. Mas Florence Ader pede cautela, já que “ainda não se conhecem os efeitos desses tratamentos”.

Cautela

Natália Pasternak, bióloga e criadora do Instituto Questão de Ciência, em São Paulo, explica por que a busca por medicamentos prescritos para outras enfermidades reduz bastante o tempo gasto no desenvolvimento de um tratamento para a Covid-19. “Por estarem no mercado, essas moléculas já passaram por um teste de segurança e toxicidade. Isso faz com que consigamos queimar etapas, algo extremamente valioso na situação atual, em que temos urgência”, diz.


Pasternak também ressalta que a economia de tempo é um fator importante no momento, mas que pode gerar danos. Por isso, a importância no cuidado com os resultados dos trabalhos em condução, como no caso da cloroquina. “O estudo feito com essa droga que mais tomou proporções foi feito por franceses e teve alguns erros. Os pesquisadores ignoraram os pacientes que não responderam bem ao uso do medicamento, inclusive um deles desistiu de continuar devido aos efeitos adversos”, detalha a especialista.


A bióloga destaca que a prudência pode evitar problemas graves. “Isso é muito importante de ser considerado, pois a maioria dos casos dessa doença se resolve com o tratamento dos sintomas e suporte respiratório. Ao usar uma droga dessas, você pode gerar efeitos adversos e piorar a situação do paciente”, completa.


Alexandre Cunha, infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (DF), também enfatiza que os medicamentos em teste precisam passar pela validação em todas as etapas padrão antes de serem prescritos. “Esse ‘todo mundo está usando’ é muito fruto da nossa necessidade, como médicos, de sentir que precisamos fazer algo. Nós, que estamos acostumados a sempre intervir, estamos diante de uma situação em que só observamos, e isso nos causa muito desconforto. Mas, às vezes, ‘não fazer nada’ já é fazer muito”, opina. “A nossa necessidade de achar que temos que dar remédio mesmo sem comprovação pode fazer com que pessoas usem, sem poder, cloroquina, imunoglobulina, além de antibióticos e tudo mais”, alerta.


O médico lembra que os estudos com plasma, que tem sido testado nos Estados Unidos, também apresentam riscos. A estratégia consiste em usar anticorpos produzidos por pessoas que foram infectadas pelo Sars-Cov-2 e se recuperaram da doença. “Na década de 1980, achavam que essa alternativa era segura, mas não se sabia que problemas como a hepatite C e o HIV poderiam ser transmitidos pelo sangue, e muitas complicações ocorreram. Neste caso, também não temos certeza, e podemos nos deparar com outras dificuldades devido a essas dúvidas”, frisa.

 

Os desafios da imunização

Enquanto muitos cientistas buscam medicamentos para tratar a Covid-19, outra parte de especialistas enfrenta um desafio ainda maior e mais demorado: a criação de vacinas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no fim do mês passado, mais de 20 vacinas para combater a pandemia estavam em desenvolvimento, em iniciativas de faculdades, centros de pesquisa e empresas farmacêuticas.
Uma das mais avançadas é norte-americana. No último dia 17, cientistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) anunciaram o início da primeira fase de estudos clínicos com uma fórmula protetiva. O trabalho envolve 45 voluntários com idade entre 18 e 55 anos. “Os cientistas estavam trabalhando em uma investigação de uma vacina contra a Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio), o que trouxe uma vantagem no desenvolvimento da vacina contra a Covid-19”, destaca a equipe, em comunicado. A imunização mostrou-se eficiente em animais e precisa passar por outras duas fases de exames clínicos.
Brasileiros também enfrentam esse desafio. Pesquisadores do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, usam a mesma tecnologia dos americanos: uma plataforma tecnológica que produz moléculas sintéticas de RNA mensageiro, que instruem a produção de proteínas reconhecíveis pelo sistema imune. A ideia é que a defesa do corpo da pessoa infectada reconheça as proteínas artificiais para, depois, identificar e combater o vírus real.  “Acreditamos que a estratégia é muito promissora e poderá induzir uma resposta imunológica melhor do que a de outras propostas”, afirma Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do InCor e coordenador do projeto, em comunicado à Agência Fapesp de notícias.

Testes longos
Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que as fórmulas para imunização  demoram a ser desenvolvidas devido a todo o processo de testes. Porém, segundo o especialista, a grande quantidade de grupos empenhados em pesquisa e o uso de estratégias distintas poderão agilizar esse processo.


“Muitas linhas de estudo têm sido realizadas. Aqui na UFMG, estamos explorando a mesma abordagem feita para a vacina da dengue. Nela, pegamos um vírus mais parecido com o estudado e buscamos anticorpos que respondem de forma semelhante. Usamos o vírus da influenza, que causa a gripe normal, devido a suas semelhanças com o da Covid-19”, explica.


O virologista ressalta que, mesmo com o empenho mundial, uma vacina provavelmente surgirá apenas em 2021. “É uma batalha demorada, pois usar uma fórmula em toda a população que proteja de determinada doença exige alto nível de segurança. Ainda assim, se considerarmos que uma vacina para dengue demorou 15 anos para ser desenvolvida, podemos considerar rapidez caso tenhamos uma opção dessa já no ano que vem”, opina. (VS)

 

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Correio Braziliense sábado, 28 de março de 2020

ENTRE O LUTO E A FÉ

 

Entre o luto e a fé
 
No dia em que a Itália registrou 969 mortes por Covid-19, o maior número entre todos os países, papa Francisco concede bênção e indulgência plenária à humanidade, na Praça de São Pedro completamente vazia. Brasileiras residentes na Lombardia relatam drama

 

» RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 28/03/2020 04:00

 
Caixões de vítimas do novo coronavírus colocados em depósito de Ponte San Pietro, perto de Bergamo, na região da Lombardia: risco de infecção proíbe velórios e funerais; corpos são cremados  (Piero Cruciatti / AFP )  

Caixões de vítimas do novo coronavírus colocados em depósito de Ponte San Pietro, perto de Bergamo, na região da Lombardia: risco de infecção proíbe velórios e funerais; corpos são cremados

 

 
Papa Francisco beija os pés do Cristo Milagroso, durante cerimônia na Cidade do Vaticano: imagem teria sido usada para pôr fim à peste de 1522 (Vincenzo Pinto / AFP )  

Papa Francisco beija os pés do Cristo Milagroso, durante cerimônia na Cidade do Vaticano: imagem teria sido usada para pôr fim à peste de 1522

 

 
Sob chuva e ante uma Praça de São Pedro escura e completamente vazia, algo sem precedentes na históra milenar da Igreja Católica, o papa Francisco suplicou: “Senhor, abençoe o mundo, dê saúde aos corpos e conforto aos corações; Senhor, não nos deixe à mercê da tempestade”. O pontífice citou uma “tormenta inesperada e furiosa”, “uma tempestade que desmascara nossa vulnerabilidade e deixa descobertas essas falsas e supérfluas seguranças”. Ao conceder a indulgência plenária à humanidade, às 18h de ontem (14h em Brasília), Francisco lembrou que “é diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nosso povos”. Foi uma referência a “médicos, enfermeiros, estoquistas, funcionários da limpeza, cuidadoras, motoristas, forças de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosos e tantos outros”. Ele elogiou o sacrifício de “tantos que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.
 
No dia em que a pandemia do novo coronavírus levou o líder católico a ministrar a bênção Urbi et orbi (“À cidade e ao mundo”), transmitida pela internet, a Itália registrou 969 mortes em 24 horas, um balanço que nenhum país alcançou até o momento. Até o fechamento desta edição, os italianos contabilizavam 9.134 óbitos.
 
Francisco afirmou que, há algumas semanas, “densa escuridão cobriu nossas praças, ruas e cidades; tomou conta de nossas vidas, preenchendo tudo de um silêncio que ensurdece e de um vazio desolador, que paralisa tudo em seu caminho: ela se palpita no ar, se sente nos gestos, é dita nos olhares”. “Nós nos encontramos assustados e perdidos”, admitiu o pontífice, que se curvou e beijou o crucifixo do Cristo Milagroso — uma peça de 500 anos trazida da Igreja de San Marcello al Corso, em Roma, a qual acredita-se tenha curado a peste de 1522. “Estamos todos no mesmo barco e somos chamados a remar juntos.” A celebração do papa foi entremeada pelo toque dos sinos e pela sirene das ambulâncias — o mesmo som ecoa pela Lombardia (norte), a região mais castigada pela pandemia.
 
Cuidadora de idosos em um asilo de Bergamo, a 40km de Milão, a gaúcha Eime Fortunatti, 30 anos, contou ao Correio que oito pacientes morreram no local com suspeita de Covid-19. “Os sintomas iniciais são similares aos da gripe: dores no corpo, inflamação na garganta, falta de paladar e de olfato. Depois, vêm a febre e a perda de apetite”, relatou a brasileira, que usa máscaras e luvas no trabalho. “Se estamos infectadas ou não, é impossível sabermos. O governo não tem disponibilizado testes suficientes. Na última semana de fevereiro, tive todos os sintomas. Vi idosos morrerem, devagarinho, com sintomas leves, seguidos de febre e falta de oxigênio.”
 
Silêncio e medo
 
Em Milão, a empreendedora carioca Amanda Menezes, 33, relatou que o silêncio generalizado na cidade traz o medo. “Apesar do isolamento total, os números de mortes e de infecções seguem crescendo. O vírus tem um período de incubação de 14 dias, a Itália inteira fechou há mais de duas semanas e os casos não param de aumentar. A impressão em Milão é de que todos estamos contagiados”, desabafou ao Correio. Segundo ela, o fator psicológico que mais pesa é a falta de previsão sobre quando a vida voltará à normalidade. “O medo aqui transcende a questão econômica, mas engloba a incerteza geral de não saber no que isso vai dar. O isolamento começou há cerca de um mês. A campanha para que Milão retornasse ao trabalho levou a uma explosão dos casos. Eu procuro me cuidar. Após ir ao supermercado, ao chegar em casa sempre lavo as mãos e passo álcool em gel”, disse Amanda.
 
“Hoje, faz 1 mês e sete dias que minha vida parou. No momento, podemos sair somente para fazer compras, ir à farmácia ou ao médico. Tudo com declaração por escrito, relatando nossa origem, destino e motivo do deslocamento”, disse a estudante de comunicação Eduarda Rosa dos Santos, 21, que trocou Salvador por Milão em 2017. De acordo com ela, uma amiga perdeu a avó e não pôde se despedir nem organizar o velório. “É uma situação muito triste. O governo italiano demorou o suficiente para que a situação aqui se tornasse uma pandemia. No começo, eu me lembro de escutar na TV que deveríamos continuar com nossas vidas normais. Pouco a pouco, a situação se agravou. O Brasil tem o exemplo caro do erro cometido pela Itália.” Na quinta-feira, o prefeito Beppe Sala admitiu o equívoco da campanha “Milão não para”. “Foi um erro. Ninguém havia ainda entendido a virulência do vírus”, disse.
 
Apesar do trágico cenário na Itália, o pior estaria a caminho. “Não atingimos o pico. Temos sinais de desaceleração (do número de casos), o que nos faz crer que estejamos perto dele”, declarou Silvio Brusaferro, chefe do Instituto Superior da Saúde. Ele ressaltou que o confinamento e a proibição de atividades em setores não essenciais têm surtido efeito.
 
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Correio Braziliense sexta, 27 de março de 2020

600 REAIS PARA OS MAIS POBRES

 

R$ 600 para os mais pobres
 
Com aval do governo, Câmara aprova auxílio para trabalhadores informais e pessoas com deficiência que aguardam na fila de espera do INSS pelo BPC. Mães que são chefe de família receberão R$ 1.200. Texto segue para o Senado

 

LUIZ CALCAGNO

Publicação: 27/03/2020 04:00

A matéria foi aprovada simbolicamente, sem a contagem dos votos, mas de forma unânime, durante sessão virtual da Câmara (Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
)  

A matéria foi aprovada simbolicamente, sem a contagem dos votos, mas de forma unânime, durante sessão virtual da Câmara

 

 
Deputados aprovaram, com a autorização do governo, renda mínima de R$ 600, durante três meses, às pessoas de baixa renda às com deficiência que aguardam na fila de espera do INSS até a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Na prática, o auxílio deve chegar a R$ 1.200 para a maioria das famílias, pois o substitutivo do projeto de lei 9236/17 prevê que o valor será dobrado para mães solteiras e para núcleos em que mais de uma pessoa da casa cumprir os requisitos necessários. O valor, inicialmente acordado em R$ 500, chegando a R$ 1 mil, aumentou após um pedido do Executivo. O texto, agora, seguirá para o Senado.
 
Terão direito aos benefícios pessoas maiores de 18 anos e sem emprego formal. O valor poderá ser repassado a núcleos familiares que recebem o Bolsa Família, mas não a quem recebe benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou outro programa de transferência de renda. Os beneficiados também precisam ter renda familiar mensal, por pessoa, de até R$ 522,50, ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135). Além disso, não podem ter recebido, em 2018, rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70.
 
Inicialmente, a equipe econômica havia proposto um benefício de R$ 200 mensais. Mesmo com o aceno do governo, o relator, deputado Marcelo Aro (PP-MG), tinha decidido incluir no texto o valor de R$ 500. Na última hora, ele anunciou um acordo fechado com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), para elevar a R$ 600. “É a demonstração de que devemos dialogar, mesmo com divergências”, afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
 
BPC
Também no projeto, Aro restabeleceu o acesso ao BPC às famílias com renda de até R$ 261,25 por pessoa (um quarto do salário mínimo) em 2020, mas previu nova elevação desse limite a R$ 522,50 por pessoa (meio salário mínimo) a partir do ano que vem. O governo é contra essa mudança no critério do BPC, que traria um gasto adicional de R$ 20,5 bilhões em 2021.
 
O projeto inclui, ainda, a proposta do governo de antecipação de um salário mínimo (R$ 1.045) a quem aguarda perícia médica para o recebimento de auxílio-doença. Além disso, prevê a dispensa às empresas do pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento do trabalhador devido ao novo coronavírus. De acordo com o texto, as companhias poderão deixar de recolher o valor devido ao INSS, até o limite do teto do regime geral (R$ 6.101,06).
 
“Histórico”
Maia, que, na quarta-feira, subiu o tom com o governo e pediu que o presidente Jair Bolsonaro assumisse a liderança no combate às crises na Saúde e na economia, assumiu uma postura mais moderada ontem, antes da sessão. Após o aumento no valor do benefício de R$ 500 para R$ 600, ele elogiou o chefe do Planalto e falou em “momento histórico”. “O objetivo de todos é o mesmo. Todos querem salvar vidas e encontrar o melhor caminho para que a economia sofra menos. Vossa excelência foi propositiva. É em um ambiente de diálogo que o parlamento sempre melhora os textos do governo”, ressaltou. “Espero que, daqui para a frente, possamos sentar, discutir, dialogar, para salvar vidas e garantir os empregos dos brasileiros.”
 
O líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), comemorou a decisão. “Não é uma vitória do governo nem do parlamento, mas do Brasil”, afirmou
 
Outros projetos
Conforme já havia prometido, Maia priorizou, na sessão de ontem, projetos de combate ao coronavírus. Além da renda básica para a população mais pobre, deputados aprovaram o PL 786/20, que garante a distribuição dos alimentos da merenda escolar às famílias dos estudantes da rede pública que estão sem aula; o 805/20, suspendendo a obrigatoriedade de hospitais filantrópicos cumprirem metas quantitativas e qualitativas do Sistema Único de Saúde por 120 dias; e o 696/20, que regula o uso de telemedicina enquanto durar a crise da Covid-19. (Com Agência Estado)
 
“O objetivo de todos é o mesmo. Todos querem salvar vidas e encontrar o melhor caminho para que a economia sofra menos. Espero que, daqui para a frente, possamos sentar, discutir, dialogar, para salvar vidas e garantir os empregos dos brasileiros”
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, num comentário em relação ao governo
 
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Correio Braziliense quinta, 26 de março de 2020

FÉRIAS FORÇADAS EM CASA

 

Férias forçadas em casa
 
Sem aulas, pelo menos até abril, a criançada tem muito tempo livre durante o isolamento social. O que fazer, agora? Especialistas dão dicas a pais e responsáveis: criar um espaço informativo e de atividades lúdicas para os pequenos

 

» LIS CAPPI*
» JONATHAN LUIZ*
» THALYTA GUERRA*

Publicação: 26/03/2020 04:00

A analista Izza Mendonça se divide entre trabalhar em home office, cuidar das filhas e realizar tarefas domésticas (Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press)  

A analista Izza Mendonça se divide entre trabalhar em home office, cuidar das filhas e realizar tarefas domésticas

 



Muito tempo em frente à televisão, perda de ritmo dos estudos e restrições de atividades de lazer. Pais e responsáveis de crianças se perguntam: quais atividades podem ser feitas com a meninada durante as férias antecipadas? O que evitar? Ao menos até abril, as aulas no Distrito Federal estão suspensas, medida tomada pelo GDF para frear a propagação do novo coronavírus.

Como se adaptar e ainda aproveitar o tempo livre das crianças? O Correio preparou algumas dicas e recomendações para lidar com os pequenos durante o período de quarentena.
 
A analista do Ministério Público da União (MPU) Izza Mendonça, 34 anos, tenta ocupar o tempo das três filhas, Maria Eduarda, 7, Maria Fernanda, 4, e Maria Luiza, 1, enquanto trabalha de casa e cuida do lar. Nos primeiros dias sem aula, as duas crianças mais velhas tiveram parte do dia preenchido por atividades enviadas pela escola. Com o fim dos conteúdos programados — que atendiam a primeira determinação de suspensão de aulas por cinco dias — as meninas têm passado a maior parte do dia assistindo a filmes e brincando. A mãe, que conseguiu entrar no modelo de trabalho home office, preocupa-se em aliar todas as atividades. “O trabalho só rende enquanto a Maria Luiza, de um ano e quatro meses, dorme. Por ser bebê, ela requer mais atenção”, conta. 

Essa tem sido a mesma preocupação da autônoma Natália Uchôa, 27. Dona de um empreendimento estético no ramo de sobrancelhas, ela teve que desmarcar alguns atendimentos, ainda antes da quarentena, para cuidar da filha Maria Eduarda, 6. "Dentro de casa, ela acaba passando a maior parte do tempo em frente à televisão ou brincando. Como está sem aula, ela fica sem ter com o que ocupar o tempo”.
 
Juntos no lar
 
Nesse momento em que a recomendação é ficar dentro de casa, interações entre irmãos podem ser uma boa saída. Nina Souza, 46, moradora de Ceilândia, conta que os filhos Lucas, 9, e Laura, 5, estão aproveitando as férias antecipadas brincando juntos. “Sigo as recomendações, estamos evitando ficar na praça, na rua e em lugares com aglomerações. Dessa forma, meus filhos estão ficando mais dentro de casa e se divertindo entre si”.

Nina conta que as crianças já eram bem ativas e tomavam precauções contra doenças, mas por conta do coronavírus a atenção foi redobrada. “Essa situação é difícil, eles já seguiam as orientações de usar álcool em gel, lavar bem as mãos, entre outras, mas agora estamos muito mais atentos”, constata. 

Para não causar nenhuma preocupação maior para as crianças, Nina conta que teve cuidado para alertar o problema da Covid-19. “Conversei com eles dizendo que é importante se cuidar, que o mundo passa por uma situação desagradável, e eles entenderam bem, não ficaram com medo”, apontou. Além disso, a mãe tenta mostrar notícias sobre o atual momento, mas sempre filtrando para não amedrontar os filhos.   

Ainda antes da quarentena, Natália Uchôa deixou de trabalhar para cuidar da filha Maria Eduarda (Arquivo Pessoal)  

Ainda antes da quarentena, Natália Uchôa deixou de trabalhar para cuidar da filha Maria Eduarda

 



Atividades

Brincadeiras que podem ser feitas em casa
 
» Guerrinha de bola de neve:  coloque bolinhas de algodão dentro de meias e dê um nó na ponta para que não saiam. Você e seu filho ficam em lados opostos, protegidos por seus fortes. Faça uma métrica de pontuação.
 
 
» Faça um labirinto: com os móveis de casa, coloque pequenos obstáculos para a criança poder passar, estimulando, assim, a diversão e a prática de exercícios.
 
 
» Fuja do tradicional: o clássico jogo da velha, que é praticado em folhas de papel, pode ser expandido. Desenhe o  # com fitas no chão e use objetos da escolha da criança para se divertirem. 
 
 
» Caça ao tesouro sensorial: escolha cinco a seis texturas diferentes, como liso, áspero, aveludado, macio e rígido. Peça para a criança procurar pela casa objetos com aquelas superfícies.
 
 
» Massinha de modelar: é possível fazer massinhas caseiras. Aproveite e interaja com a crianças produzindo o material. Pode usar diversas formatos para se divertir com o filho. 
 
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Correio Braziliense quarta, 25 de março de 2020

JOGOS OLÍMPICOS ADIADOS PARA 2021

 

JOGOS OLÍMPICOS ADIADOS PARA 2021

A última palavra

 
Como a pressão dos EUA foi definitiva para antecipar decisão sobre os Jogos de Tóquio-2020. Após pedir prazo de quatro semanas, COI adia o megaevento para 2021 horas depois da ameaça norte-americana

 

Maíra Nunes

Publicação: 25/03/2020 04:00

O presidente Yoshiro Mori (E) e o diretor executivo do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, lamentam a transferência do megaevento para o ano que vem (Behrouz Mehri/AFP)  

O presidente Yoshiro Mori (E) e o diretor executivo do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, lamentam a transferência do megaevento para o ano que vem

 

 
 
Foram muitos os países que pressionaram pelo adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio-2020, originalmente marcados para 24 de julho e 6 de setembro, respectivamente. Espanha, Brasil e Austrália manifestaram-se favoráveis à alteração da data na semana passada. Canadá, Noruega e Reino Unido chegaram a anunciar boicote caso o evento mantivesse a agenda. Mas a confirmação da postergação do maior evento esportivo do planeta para 2021 só aconteceu ontem, houras depois da mudança de opinião do comitê dos Estados Unidos, que declararam apoio à protelação do evento após pressão dos atletas.
 
Em 17 de março, o comitê espanhol alegou que seus atletas competiriam em situação de desigualdade com os adversários por causa da situação do coronavírus no país ibérico — terceira nação mais afetada pela pandemia, atrás de Itália e China. O Brasil engrossou o coro pela postergação na semana passada. Enquanto isso, o comitê olímpico dos EUA era pressionado pelas federações de natação e atletismo a se posicionar.
 
No domingo, o COI pediu quatro semanas de prazo para uma definição. Horas depois, o Canadá era o primeiro a anunciar oficialmente que não enviaria atletas às Olimpíadas de Tóquio nas datas previstas originalmente. A Noruega entrou no grupo pelo boicote e a Austrália pedia aos seus representantes que se preparassem para a Olimpíada de 2021. Na noite da última segunda-feira, os EUA se posicionaram contra a manutenção em 2020. Numa demonstração de força, a potência viu o COI se render e anunciar a transferência do megaevento para 2021. Até então, Tóquio-2020 estava na contramão de competições importantes como a Eurocopa e a Copa América, torneios de seleções adiados, respectivamente, pela Uefa e a Conmebol, para o ano que vem. Competições como a Champions League, a NBA, Roland Garros e Fórmula 1 agiram com celeridade na tomada das decisões.
 
A atitude do COI interfere na vida de 17 mil pessoas, entre atletas e membros de delegações, mas as mudanças que o adiamento poderia causar na economia era o que mais pesava, após o golpe financeiro sentido em função da pandemia do novo coronavírus. A estimativa do custo total da organização dos Jogos de Tóquio, feita no fim de 2019, era de 11,5 bilhões de euros. A conta seria dividida entre Tóquio (597 bilhões de ienes), o Comitê Organizador local (603 bilhões de ienes) e o estado central (150 bilhões de ienes). Com a alteração, vai subir.
 
Segundo dados da organização, haviam sido comercializados 4,48 milhões de ingressos ao público em geral no Japão. Eram milhões de hospedagens reservadas. A Vila Olímpica é outro componente. Composta por 21 torres de 14 a 18 andares, o conjunto foi erguido em um terreno de grande valor imobiliário, com vistas para a baía de Tóquio e a famosa Rainbow Bridge. A venda para a população dos 4.145 apartamentos de luxo em que a vila olímpica se transformará também terá de esperar, colocando em dúvida contratos de propriedade assinados.
 
Nesse ponto, os Estados Unidos têm realmente mais poder de influência do que os demais países que participarão dos Jogos de Tóquio. Metade das empresas parceiras mundiais do evento são norte-americanas. Coca-Cola, AirBnB, Dow, GE, Intel, P&G e Visa estão entre as 14 parceiras olímpicas de Tóquio-2020. A outra metade é composta por marcas japonesas, chinesas, francesas, coreanas e suíça.
 
O nome do evento, por sinal, será mantido, apesar da alteração para 2021. Mais do que uma referência ao ano da competição, a presença dele junto ao nome da cidade é uma marca. E ela vem sendo usada na divulgação do próprio evento e dos produtos e marcas associadas a ele desde a escolha de Tóquio como sede, em 2013.
 
Turismo
 
No Japão, outro setor que será atingido é o de turismo — em crise assim global. O Ministério do Turismo japonês havia estimado em 600 mil o número de visitantes estrangeiros esperados para os Jogos de Tóquio-2020.  Mas tensões históricas entre Tóquio e Seul, em 2019, provocaram boicote de turistas sul-coreanos no meio de 2019. Com a pandemia da Covid-19, o número de visitantes estrangeiros no Japão caiu 58,3% em relação ao ano anterior, segundo dados de fevereiro do Escritório Nacional de Turismo do Japão (JNTO).
 
Entretanto, a economia japonesa é altamente diversificada e industrializada. O maior entrave financeiro para o país será mesmo a pandemia do novo coronavírus. O gabinete de estudos Fitch Solutions estimou nesta semana que o PIB japonês recuará 1,1% em 2020, em vez da previsão anterior de 0,2%, devido ao impacto da Covid-19 no consumo, turismo e exportações. O adiamento das Olimpíadas pode agravar a previsão.
 
Apesar dos muitos impactos econômicos no Japão, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, ressaltou que as consequências financeiras do adiamento das Olimpíadas de Tóquio para 2021 “não foram discutidas e não são uma prioridade, trata-se de proteger vidas”.
 
“Estamos todos conscientes da gravidade e extensão da pandemia e, mais importante, das consequências para a vida das pessoas. Tínhamos números alarmantes no domingo e depois na segunda-feira. Mas também tínhamos números alarmantes na África e na Oceania. Concordamos (com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe) que, nessas circunstâncias, os Jogos tiveram que ser remarcados para depois de 2020, mas o mais tardar no verão (boreal) de 2021”. disse Bach, na teleconferência do COI.
 
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Correio Braziliense terça, 24 de março de 2020

CORRIDA PARA VACINAR IDOSOS

 

Corrida para vacinar idosos
 
Primeiro dia de vacinação contra a gripe leva milhares de pessoas aos postos: procura foi grande e doses acabaram cedo. Secretaria informou que os estoques serão reabastecidos semanalmente pelo Ministério da Saúde

 

» CAROLINE CINTRA
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 24/03/2020 04:00

Filas e aglomerações nos potos de vacinação marcaram o início da campanha em Brasília (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Filas e aglomerações nos potos de vacinação marcaram o início da campanha em Brasília

 

 
Milhares de idosos saíram de casa, ontem, no primeiro dia de imunização contra a gripe. O início da 22ª Campanha Nacional de Vacinação Contra Influenza foi marcado pela corrida aos postos de saúde e pela falta de doses para atender a demanda, além da ausência de cuidados preventivos contra o contágio pelo novo coronavírus, causador da Covid-19. Pela manhã, havia filas e congestionamento em unidades no Cruzeiro, na Asa Norte e Asa Sul.
 
Moradora da Asa Sul, Maria Teresa de Carvalho Magalhães, 69 anos, e o marido, de 73, procuraram a Unidade Básica de Saúde nº 1, na 612 sul, para se vacinar. O casal integra o grupo de risco para o coronavírus. “Viemos de carro e fomos prontamente atendidos porque meu esposo tem problemas de coordenação motora, em função do mal de Parkinson. No entanto, o tempo que levamos para entrar com o carro no posto de saúde foi mais longo do que o atendimento”, disse.
 
Para quem não tinha a opção da imunização no carro, a espera na fila era de, aproximadamente, 15 minutos. Para evitar aglomerações em lugares fechados, a vacinação foi feita nas áreas externas dos postos. A chuva e o sol não desencorajaram Ademor Queiroz, 62. “Não atrapalha. O benefício é muito maior do que a pouca exposição ao sol”, observou o morador do Cruzeiro.
 
A Secretaria de Saúde estabeleceu critérios para evitar aglomerações e reduzir os riscos de contágio pelo coronavírus durante as imunizações. A campanha nacional de vacinação foi antecipada em 30 dias, justamente, com o objetivo de proteger a população contra outras doenças virais que possam dificultar o combate à Covid-19. Na primeira etapa, idosos e profissionais de saúde têm atenção especial, por integrarem o grupo de risco para contaminação pelo vírus que colocou o mundo em alerta.
 
Entretanto, algumas pessoas fora do grupo prioritário do dia compareceram. Profissionais de saúde não vetaram as aplicações nestas pessoas. Durante o período da campanha, as aplicações nos idosos ocorrerão por ordem alfabética, de acordo com primeiro nome do registro civil. No dia de ontem, a prioridade era de pessoas com iniciais de A a E. Hoje, será de F a J. Por volta das 10h, algumas unidades já não tinham mais doses e a orientação dada pelos servidores era para que os pacientes voltassem no período da tarde.
 
A Secretaria de Saúde informou, em nota, que recebeu do Ministério da Saúde 60,8 mil doses da vacina contra a Influenza no primeiro lote. De acordo com a pasta, devido à alta demanda apresentada ontem, poderiam ocorrer faltas pontuais em alguns locais. Segundo a secretaria, o GDF recebeu ontem um novo lote com 72 mil doses que seriam utilizadas para reabastecer as unidades de saúde a partir das 12h. De acordo com a pasta, a previsão dada pelo Ministério da Saúde é que os lotes sejam encaminhados semanalmente.
 
Confira o cronograma de vacinação no site www.correiobraziliense.com.br
 
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Correio Braziliense segunda, 23 de março de 2020

EQUILÍBRIO QUE VEM DA FÉ

 

Equilíbrio que vem da fé
 
Em meio a tantas notícias negativas com relação ao avanço da Covid-19, a busca por paz de espírito por meio da religião traz conforto a fiéis e abre caminho para acreditar que dias melhores virão

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 23/03/2020 04:00

Patrícia Zapponi é candomblecista, iniciada em Ifá, e percebe uma oportunidade de ficar mais próxima da família e de ressignificar a relação com a natureza
 (Fotos: Arquivo Pessoal
)  

Patrícia Zapponi é candomblecista, iniciada em Ifá, e percebe uma oportunidade de ficar mais próxima da família e de ressignificar a relação com a natureza

 

Há meses o mundo compartilha um pesadelo. Uma doença altamente transmissível começou a se alastrar por Wuhan, na China, em pouco tempo infectou pessoas em todos os continentes. Para combatê-la, a principal medida até o momento é isolamento. Com as implicações práticas e psicológicas que isso representa, algumas pessoas têm encontrado na espiritualidade o equilíbrio necessário para enfrentar este momento desafiador. A lição que a maioria das religiões propõe é enxergar o lado positivo mesmo diante do cenário desolador.
 
A fé levou a professora do ensino fundamental da rede pública Graziella Rocha, 26 anos, a entender que não há problema em ter de adiar o casamento, marcado para maio. “É uma coisa que queremos, mas, antes de todos os nossos sonhos, vem a vontade de Deus. Estamos com o coração tranquilo”, afirma.
 
Católica e distante da igreja que frequenta em razão do período de quarentena, ela e o noivo, Pedro Phelipe, 31 anos, aproveitam para passar mais tempo juntos e manter a crença viva com as missas transmitidas on-line. Segundo ela, essa também é uma oportunidade para levar o conforto espiritual àqueles que não dividem a mesma religião.
 
“Não é obrigar as pessoas a rezarem ou brigar por isso, é mostrar que Jesus Cristo está em nossos corações independentemente de pandemia e que essas coisas ruins acontecem, mas muitas outras melhores estão por vir”, declara.
 
A advogada e vice-presidente da comissão de liberdade religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Distrito Federal (OAB/DF), Patrícia Zapponi, 45 anos, é candomblecista, iniciada em Ifá e vê ainda mais oportunidades. A pandemia criou espaços em sua agenda de trabalho e lhe deu tempo para passar com a família.
 
“Está havendo uma reflexão para dar valor a algumas coisas da vida. Valor aos sentimentos, uma ressignificação humana. A natureza fez com que a minha agenda toda fosse cancelada para que eu pudesse retomar o eixo, exercer a solidariedade, parar para refletir, ter mais tempo com a minha família. Quando que em outro momento eu poderia deixar tudo de lado e simplesmente ficar em casa?”, questiona.
 
Segundo o candomblé, a vida é regida pela natureza. Patrícia explica que a pandemia nada mais é do que ela tentando entrar em equilíbrio. O momento é difícil, mas é possível manter a fé dentro de casa, mantendo a visão positiva de cada situação.
 
Conexão 
 
A ideia de mãe natureza, de equilíbrio e de calma em meio ao caos faz parte dos fundamentos do Being Tao de Tai Chi Chuan. A aposentada Maria Eutenir Braga, 77 anos, é uma fiel e conta que os movimentos da prática auxiliam no autoconhecimento e também para manter a paz.
 
“As atividades nos passam uma forma de vida consciente. É preciso tirar momentos do dia para respirar, para caminhar ao ar livre se possível, meditar, de preferência cantando algo de que goste, porque, quando a gente canta, nossa mente se esvazia de qualquer pensamento indevido”, observa.
 
Maria Eutenir entende a situação como um alerta da natureza. “Ela não faz isso por mal, mas para que as pessoas tomem consciência. É uma oportunidade para que enxerguem o que vêm fazendo e como nós fazemos parte do mundo. Todos são atingidos”, explica.

Maria Eutenir praticava Tai Chi Chuan ao ar livre. Mesmo com o isolamento, ela continua seguindo os preceitos  

Maria Eutenir praticava Tai Chi Chuan ao ar livre. Mesmo com o isolamento, ela continua seguindo os preceitos

 



Atividades suspensas
 
Devido ao avanço das infecções por coronavírus no DF, as igrejas e outros templos religiosos devem permanecer fechados durante o período de quarentena determinado em decreto pelo Governo do Distrito Federal.
 
Segundo o presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev-DF), Josimar Francisco da Silva, as orações agora deverão ser feitas de casa. “A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote.”
 
De acordo com o Bispo Rodovalho, da Igreja Evangélica Sarah Nossa Terra, a espiritualidade é essencial para manter o equilíbrio em meio a tantas tragédias. “A população precisa de apoio espiritual e emocional neste momento. As pessoas não devem ficar completamente sós, vendo tantas notícias ruins. É preciso se manter informado, mas também ter momentos de preenchimento emocional para uma vida mais equilibrada”, pontua.
 
Na avaliação dele, o mundo vive uma situação de tragédia social e é evidente a preocupação geral, mas o Evangelho ajuda a entender e a confortar-se, sabendo que a vontade de Deus é soberana, e não há motivo para desespero, reforça o religioso.
 
As casas de matrizes africanas também seguem a medida, como informou Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé. “Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”, declarou.
 
Igrejas católicas vinham mantendo as missas presenciais, com a adoção de medidas preventivas, mas, pelo menos até 5 de abril, ou até a publicação de um novo decreto, permanecerão sendo realizadas apenas por transmissão on-line, televisiva ou via rádio.
 
“Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”, informa a nota publicada pelo cardeal da Igreja Católica dom Sérgio de Rocha.
 
Colaborou Mariana Machado
 
Confissão drive-in
A Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, começou a oferecer aos fiéis a opção de confissão por drive-in, ou seja, sem sair do carro. A medida tem como objetivo evitar possíveis contágios pelo coronavírus. Os horários das disponíveis são aos sábados, das 16h às 19h; e terça, quarta, quinta e sexta, das 16h30 às 18h30. O telefone para contato é o 3326-1180.
 
"A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote”
Josimar Francisco da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do DF
 
"Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”
Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé
 
"Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”
Dom Sérgio de Rocha, cardeal da Igreja Católica
 
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Correio Braziliense domingo, 22 de março de 2020

BRASÍLIA SEXAGENÁRIA: SÍMBOLO DO INÍCIO E DA FÉ

 

BRASíLIA SEXAGENáRIA
 
Símbolos do início e da fé
 
Pontos turísticos, como a praça do cruzeiro e a Igreja Nossa Senhora de Fátima, são espaços de destaque na história da capital. Conheça o papel dos monumentos em mais uma matéria da série Brasília sexagenária

 

Caroline Cintra
Juliana Andrade

Publicação: 22/03/2020 04:00

Em 3 de maio de 1957, o pioneiro José Paulo Sarkis (foto) foi um dos candangos que presenciaram a primeira missa oficial em Brasília. A Praça do Cruzeiro estava lotada. (Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press)  
Pioneiro em Brasília, José Paulo Sarkis, 89 anos, presenciou a primeira missa no Plano Piloto, celebrada na Praça do Cruzeiro: "Foi um privilégio"

Uma promessa, a primeira missa no Plano Piloto, o ponto mais alto do Eixo Monumental. Esses são alguns dos fatos que contribuíram para a praça do Cruzeiro e a Igreja Nossa Senhora de Fátima, conhecida como a igrejinha, ganharem um lugar especial no coração dos brasilienses.  Na matéria de hoje da série Brasília sexagenária, o Correio fala sobre os dois pontos turísticos que nasceram da fé de Juscelino e de Sarah Kubitschek. Espaços cheios de histórias e memórias dos primeiros anos da capital federal.
 
Comparado aos outros monumentos da cidade, a praça do Cruzeiro pode parecer algo simples, mas, sem dúvida, é um dos pontos mais importantes da cidade, além de proporcionar o cenário perfeito para registros do pôr do sol. E não à toa: o lugar é o ponto mais alto do Eixo Monumental e ganhou destaque na história da construção. Ali foi realizada a primeira missa oficial no Plano Piloto, em 3 de maio de 1957. Aos 89 anos, o aposentado José Paulo Sarkis lembra com detalhes do momento histórico. “Colocaram quatro postes ao redor do altar e uma lona bem grande, com uns 10 metros de largura e 30 de comprimento para cobrir o sacrário. Tinha muita gente importante naquele dia, inclusive JK. Eu estava com minha esposa e os três filhos”, conta. À época, o Eixo Monumental ainda era um vazio. José recorda que os poucos moradores do local ficaram preocupados com o lugar no qual a celebração seria realizada. “Era tudo mato. E muita gente perguntava onde aconteceria. Outra dúvida era se ia ter comida”, brinca. “Foi um privilégio participar desse momento, apesar de não ser muito religioso.”
 
Nascido em Uberlândia (MG), o aposentado chegou a Brasília em 4 de março de 1957. O meio de transporte usado foi um caminhão. Ele saiu da cidade mineira por volta das 8h de uma segunda-feira e chegou em Goiânia (GO) meia-noite de um sábado. “A estrada era ruim e era época de chuva, estava um atoleiro. Foi quase uma semana em um trecho de 120 km. De lá, peguei um ônibus para o local da construção de Brasília. Fui o passageiro número 1 da companhia”, lembra. No início, José morou em um acampamento na Cidade Livre. Depois, mudou-se para a W3 Sul. Foi o responsável pela instalação elétrica e hidráulica de vários prédios durante a construção da cidade, entre eles o Hospital Sarah Kubitschek. “Minha profissão me permitiu estar em todos os lugares durante esse período. Era um privilégio para poucos”, declara.  

Marcação da futura Praça do Cruzeiro, antes da construção de Brasília: ponto mais alto do Eixo Monumental (Marta/ArPDF
)  
Marcação da futura Praça do Cruzeiro, antes da construção de Brasília: ponto mais alto do Eixo Monumental


A cruz
 
Antes da missa, já havia uma cruz no lugar. A estrutura de madeira mostrava o ponto com maior altitude do Sítio Castanho, área demarcada para a construção da nova capital. “Naquela época, geralmente, as igrejas eram construídas no local mais alto. Elas ficavam em cima do morro e a cidade ia nascendo ao redor”, explica Gustavo Chauvet, pesquisador do Arquivo Público do Distrito Federal.  
 
Devido ao desgaste do tempo, a cruz original acabou substituída por uma nova para a celebração da primeira missa. A madeira para a confecção veio de Pirenópolis (GO). Altamir Mendonça, 84, foi o responsável por trazer o material, que era fornecido pelo pai, proprietário de um sítio na cidade goiana. O conteúdo veio em caminhões, uma atividade nada fácil. “Não tinha estrada, não tinha energia, não tinha telefone, não tinha nada. Levei os trabalhadores na carroceria. O córrego estava cheio, não tinha ponte, precisava colocar madeira para passar, então eu gastei uns dois dias para chegar”, recorda. A madeira foi usada tanto na estrutura da missa, como para a construção do Catetinho.
 
Altamir ficou para a celebração e acabou se instalando em Brasília. “Vim sozinho. Montei uma barraca na beira do córrego Paranoá para dormir”, conta. A paixão por Brasília veio da influência do pai. “Ele acreditava que Brasília seria a redenção do interior do Brasil e eu discutia com ele que não. Aqui era sertão, não tinha nada, mas ele acreditava tanto! Isso passou para mim e realmente era verdade. Juscelino abriu Brasília para todo o Brasil”, ressalta. Para se sustentar, Altamir tinha um armazém na Cidade Livre e ficou na capital até a renúncia do presidente Jânio Quadros, quando decidiu voltar para Pirenópolis. Atualmente, mora no sítio do pai. Hoje, além de produtor, é advogado. 
 
Curiosidades
 
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press
)  
Igrejinha
  • O primeiro pároco da igreja foi o Frei Demétrio. Ele ficava em um barraco de madeira, na quadra, e atendia na igrejinha. Ele ficou conhecido como o candango de Fátima.
  • A arquitetura da igreja faz referência a um chapéu de freiras.
  • O templo foi construído em 100 dias.
  • A Igrejinha é mais um dos monumentos embelezados pelos azulejos de Athos Bulcão. Por dentro, diferente de outras igrejas, o templo conta com obras de arte moderna. As pinturas foram feitas originalmente pelo artista italiano Alfredo Volpi. Ele desenhou a Virgem Maria segurando o menino Jesus nos braços. As figuras não tinham rosto e repousavam sob um fundo azul. Porém, a obra de arte foi destruída na década de 1960. O painel foi pintado novamente em 2009, pelo artista Francisco Galeno, que manteve as características em homenagem ao artista. 
 
Fonte: Paróquia Nossa Senhora de Fátima 
 
 (Valério Ayres/CB/D.A Press
)  
Cruzeiro
  • A cruz usada na primeira missa foi substituída. A original está exposta na Catedral Metropolitana de Brasília.
  • A primeira missa realizada na Praça do Cruzeiro aconteceu na mesma data do primeiro ato litúrgico no Brasil, 457 anos depois. 
  • Uma marcação, em forma piramidal pintada de laranja, a 38 metros da cruz, sinaliza o vértice n°8, ponto usado como referência para a construção da cidade, com base no projeto de Lúcio Costa.
  • Um réplica da estrutura de madeira e lona construída para abrigar os convidados da missa, projetada por Oscar Niemeyer, foi instalada na entrada do Taguaparque, em 2008.

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Correio Braziliense sábado, 21 de março de 2020

DELIVERY CONTRA A COVID-19

 

Delivery contra a Covid-19
 
Setor de entrega apresenta-se como uma das principais alternativas para consumidores e comerciantes do Distrito Federal durante o período de quarentena pelo coronavírus. Pedidos de farmácias, restaurantes e supermercados estão em alta

 

» Ana Maria da Silva*
» Celimar de Meneses*
» Jonathan Luiz*

Publicação: 21/03/2020 04:00

A empresária Nayara Leonel Ribeiro, 29 anos, entrou no mercado de delivery há sete meses: uma loja de roupa que vai até as clientes em várias regiões administrativas do DF (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A empresária Nayara Leonel Ribeiro, 29 anos, entrou no mercado de delivery há sete meses: uma loja de roupa que vai até as clientes em várias regiões administrativas do DF

 



Em tempo de pandemia do coronavírus, com a população isolada em casa e o comércio fechado para evitar o contágio da Covid-19, as empresas precisam recorrer às entregas para continuarem funcionando. Durante o período de quarentena, o setor de delivery se apresenta como uma das principais alternativas para consumidores e comerciantes do Distrito Federal. 
 
Segundo o presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, determinadas áreas tendem a aumentar o número de pedidos. “Alguns segmentos devem crescer, como por exemplo o farmacêutico e o alimentício”, comentou. Dados do aplicativo Rappi também apontam para este crescimento, desde o início da pandemia. Na América Latina, a alta foi de cerca de 30%, com destaque para pedidos de farmácias, restaurantes e supermercados, de acordo com a empresa. 
 
Para o superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), Valdir Oliveira, num primeiro momento o delivery não aumentou devido ao coronavírus. “Porém, durante a última semana, já observamos que isso mudou e as entregas cresceram consideravelmente”, disse.  
 
Valdir alerta que as empresas, e principalmente os restaurantes, precisarão de liberação de crédito e flexibilização de tributos para sobreviver à crise econômica ocasionada pela pandemia. “Têm estabelecimentos que, nos melhores dias, que são finais de semana, chegaram a 70% de quebra de faturamento”. Apesar das dificuldades, Valdir afirma ser improvável que o DF passe por uma crise de abastecimento. Para ele, o importante, agora, é ajudar os pequenos negócios.
 
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, explica que, atualmente, o melhor para a saúde pública é fazer os pedidos por entrega e não sair de casa. “Nos últimos dias, antes do comércio fechar, houve uma queda de venda em salão e um aumento na venda de delivery na faixa de 20 a 30%”, ressalta. 
 
Jael destaca que, por segurança, alguns estabelecimentos têm adotado medidas como fornecer duas embalagens, uma externa que deve ser descartada por risco de contaminação, e uma interna onde fica o produto. “Os aplicativos não têm controle se os entregadores estão contaminados com o coronavírus. O ideal seria fornecer álcool em gel a eles, para que se higienizem, mas não sei se esse trabalho está sendo feito”, ponderou. 
 
Ajustes do setor 
 
Em nota, o aplicativo iFood informa que criou para todos os entregadores um fundo solidário de R$ 1 milhão, para dar suporte àqueles que necessitarem permanecer em quarentena. A organização não governamental Ação da Cidadania fará a gestão do fundo. Além disso, o aplicativo estuda formas de fazer entregas com menor contato, em que o usuário pode combinar com o entregador, via chat, o local para deixar o pedido. 
 
A Uber também adotou novas medidas. A empresa explica que conta com a consultoria de um especialista em saúde pública, e permanece em contato próximo com as autoridades locais, seguindo as orientações para conter a propagação do coronavírus. O aplicativo Uber Eats agora permite que o usuário deixe uma instrução para pedir ao entregador que deixe o pedido na porta da residência do cliente, de modo a impedir qualquer contágio.


"Nos últimos dias, antes do  comércio fechar, houve uma queda de
venda em salão e um aumento na venda de delivery na faixa de 20 a 30%”
 
Jael Antônio da Silva, 
presidente do Sindhobar


Cinco pedidos inusitados
Com a promessa de entregar qualquer coisa que o cliente desejar,
o aplicativo de entregas Rappi possui uma lista de pedidos fora do comum:
 
» Pedir ajuda para descarregar seis vasos de planta do caminhão.
» Comprar agulha, pinça anatômica e fio de nylon para cirurgia.
» Buscar o cartão de estacionamento que o cliente havia esquecido no carro, que estava no mecânico.
» Buscar uma chave de cliente que se trancou no próprio apartamento.
» Comprar passagem de ônibus.
 
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Correio Braziliense sexta, 20 de março de 2020

BRASÍLIA: COMÉRCIO PARALISA AS ATIVIDADES

 

 

 

SAÚDE
 
Comércio também paralisa as atividades
 
Com o aumento de casos de coronavírus - 133% em um dia -, GDF suspende as atividades de todos os estabelecimentos, exceto serviços considerados essenciais, como farmácias e supermercados. Decreto também prorroga a paralisação geral até 5 de abril

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 20/03/2020 04:00

Mais um decreto se junta ao pacote de medidas tomadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para combater o novo coronavírus. Após fechar shoppings, bancos, parques e casas noturnas, o Executivo local ampliou a restrição de funcionamento para todo o comércio. Apenas ontem, a capital registrou mais 38 confirmações da Covid-19, totalizando 84 casos. Devido à disparada de notificações, lojas de rua, bares, restaurantes e templos religiosos devem paralisar as atividades pelo menos até 5 de abril — o mesmo prazo vale para as escolas das redes pública e particular.

A norma estabeleceu que “serviços essenciais” permanecerão em funcionamento. Portanto, laboratórios, clínicas de saúde, farmácias, telentrega, mercados, lojas de material de construção, padarias, postos de combustíveis e açougues poderão abrir as portas. O decreto ainda destaca que salões de beleza e centro estéticos também devem obedecer à regra. Os empreendimentos que permanecerem abertos deverão se atentar para manter a distância mínima de 2 metros entre as pessoas.

Na educação, o novo decreto do GDF determina que a suspensão das aulas precisa ser tratada como férias escolares de julho, com início em 16 de março. Fica a critério da rede privada adotar essa medida de antecipação do recesso. A Secretaria de Educação será responsável pelo cumprimento do calendário escolar, após o retorno dos estudantes. Por decisão judicial, os atendimentos nas creches também estão suspensos.

Cartórios

Para reduzir o impacto, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) tenta negociação com o GDF para a prorrogação do pagamento de impostos, principalmente para empresas de pequeno porte. Em nota oficial, a entidade destacou que está em contato com o Executivo a fim de pleitear essa intenção. “A entidade informa ainda que continuará dialogando com o Poder Público local no sentido de atenuar os impactos na vida das pessoas e das empresas”, ressaltou o texto.

Outro seguimento que sofre por causa da Covid-19 são os cartórios. Ontem, o setor anunciou que suspenderá o atendimento presencial ao público até 30 de abril. Entretanto, no período, os funcionários continuarão a praticar todas as funções de forma remota e digital, ou por plantão, em casos urgentes. Títulos e garantia para financiamentos e empréstimos, escrituras e procurações poderão ser lavradas no site anoregdigital.com.br.


Atenção

O que pode ficar aberto ou funcionar

  • Farmácias
  • Laboratórios
  • Clínicas de saúde
  • Telentrega
  • Mercados e supermercados
  • Lojas de material de construção
  • Padarias
  • Postos de combustíveis
  • Açougues
  • Clínicas veterinárias

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Correio Braziliense quinta, 19 de março de 2020

SAÚDE: SHOPPINGS E PARQUES FECHADOS

 

SAÚDE
 
 
Shoppings e parques fechados contra a Covid-19
 
Novo decreto do GDF determina, a partir de hoje, que centros de compras, áreas de lazer, boates, casas noturnas, feiras, clubes e zoológico paralisem as atividades. Representantes do comércio local concordam com as medidas, mas preveem crise

 

» ALAN RIOS
» MARIANA MACHADO

Publicação: 19/03/2020 04:00

Funcionários de atacadão usaram equipamento para medir a temperatura dos clientes: prevenção (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Funcionários de atacadão usaram equipamento para medir a temperatura dos clientes: prevenção

 



Shoppings e boates fechados, população em casa, ruas vazias, comércio sem movimentação. O cenário que tomou as grandes capitais do mundo com a pandemia do coronavírus chega, aos poucos, ao Distrito Federal. A capital tem 36 casos confirmados de Covid-19. Outras 174 notificações estão em investigação, incluindo quatro crianças internadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Do total de contaminações, cinco ocorreram por transmissão local, quando a infecção acontece na cidade, mas é possível apontar a origem.

Os números mostram o impacto não só na saúde pública, como também na economia. Ontem, edição extra do Diário Oficial do DF saiu publicada com novo decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) para conter a Covid-19. O GDF determinou, a partir de hoje, o fechamento de shoppings, parques, boates, casas noturnas, feiras, clubes recreativos e zoológico.
Diante disso, entidades representativas sentem os efeitos nos caixas. Pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) estima que o prejuízo chegue a R$ 400 milhões neste mês. “É uma situação que impacta tudo, mas precisamos parar. As pessoas têm de ficar em casa. Os lojistas devem saber que não adianta abrir o comércio sem clientes. Apoiamos o fechamento dos shoppings e estamos com o governo, que prometeu empréstimos ao setor”, diz. Para ele, a linha de crédito do Banco de Brasília (BRB) de R$ 1 bilhão para empresários do setor produtivo é a solução adequada para o momento. “O coronavírus é um problema que trará prejuízos durante cerca de 90 dias, então, o empréstimo é o ideal agora”, avalia.

A internet pode auxiliar a minimizar os danos. Segundo o presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do Distrito Federal (Agenciauto), José Rodrigues Neto, as vendas do ramo caíram, em média, 40%. “As lojas associadas pretendem continuar atendendo e fazendo vendas on-line normalmente. Com inovação e tecnologia na palma da mão, nós conseguimos aprovar o crédito dos clientes sem que eles precisem sair de casa. Para os funcionários, estamos pensando em montar estações de trabalho home office para os que podem executar as tarefas de casa”, detalha.

Caixas lotados em atacadista da Epia Sul: medo do coronavírus provoca correria aos supermercados (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Caixas lotados em atacadista da Epia Sul: medo do coronavírus provoca correria aos supermercados

 



Impacto
 
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, também concorda com as medidas mais recentes do GDF. “Temos sentido mais impacto nos setores de shoppings, lojas e hotéis, que não adianta abrir, porque ficariam vazios, gastando energia, água, telefone. Então, apoiamos o fechamento”, reforça.

Na avaliação de Francisco, ainda não se pode dimensionar o tamanho do impacto negativo da Covid-19 na economia local, mas ele acredita que será grande. “Estamos tomando medidas para ajudar as empresas antes de o estrago se instalar por completo. Tudo o que o governo está fazendo vem acompanhado de uma consulta ao setor produtivo, isso é importante. E as linhas de crédito do BRB são essenciais, porque a taxa de juros facilita o pagamento. Ou seja, é o caminho emergencial que temos de tomar”, observa.


Palavra de especialista
 
“Esperar com precaução”
 
“O DF foi muito criticado quando cancelou aulas e começou a mobilização para fechar estabelecimentos, mas vimos que muitos outras unidades da Federação seguiram essas medidas depois. Isso gera um impacto econômico muito grande, principalmente na economia das pequenas e microempresas. O mercado informal, por exemplo, começava a ver uma melhora, mas, com a pandemia do coronavírus, também sofre e não consegue se expandir. A retomada só deve vir após o pico de casos da doença, a partir do próximo mês, quando pode aparecer uma luz no fim do túnel. Até lá, veremos menos pessoas nas ruas e mais estabelecimentos fechados. O que podemos fazer é esperar com precaução, porque é difícil encontrar soluções econômicas para um problema que não é econômico, é de saúde pública. O que as empresas devem fazer agora é segurar caixa, resguardar custos, minimizar gastos e tentar ao máximo segurar a saúde financeira para uma retomada futura.”
 
Vitor Hugo Fonseca, economista da G2 Investimentos
 
 
40%
Queda nas vendas nas últimas semanas, segundo a Associação 
dos Revendedores de Veículos (Agenciauto)
 
R$ 400 milhões
Estimativa de prejuízo previsto para março pelo Sindicato 
do Comércio Varejista (Sindivarejista)

30%
Aumento de vendas registradas pelo Sindicato dos 
Supermercados (Sindsuper) nesta semana 
 
 
Plano para o Parque da Cidade
 
Com o novo decreto do GDF, a entrada em locais como os parques da Cidade, Olhos D’Água, Ecológico de Águas Claras e Ecológico Dom Bosco estará limitada. Devido à extensão e ao fácil acesso à área de lazer da Asa Sul, o administrador do Parque da Cidade, Silvestre Rodrigues, analisa como será a barreira no lugar, que tem grande movimento de veículos. “O certo é fechar todo o parque. Estudamos uma maneira de fazer o fechamento geral, mas mantendo a circulação interna de quem trabalha no local”, disse. Até o fechamento desta edição, o administrador não informou como a medida do governo será atendida.
 
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Correio Braziliense quarta, 18 de março de 2020

CUIDADOS EM BARES E RESTAURANTES

 

Cuidados em bares e restaurantes
 
Atendendo às normas emergenciais para evitar a propagação do coronavírus, estabelecimentos do DF adotam diversas medidas de precaução

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 18/03/2020 04:00

No restaurante Lake's, na 402 Sul, as medidas de prevenção estão sendo tomadas desde domingo, segundo a gerente Gisele Munhoz: redução no movimento de clientes chega a 90% (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  

No restaurante Lake's, na 402 Sul, as medidas de prevenção estão sendo tomadas desde domingo, segundo a gerente Gisele Munhoz: redução no movimento de clientes chega a 90%

 

 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  


A pandemia de coronavírus começa a trazer consequências ao setor gastronômico do Distrito Federal. Após publicação de normas do Executivo local para contenção do avanço da doença, bares e restaurantes da capital adotam medidas especiais de prevenção. Mesmo assim, empresários registram queda acentuada no movimento e acreditam que, para os próximos dias, a tendência é piorar.
 
Gisele Munhoz, 39 anos, é proprietária do Restaurante Lake’s, na 402 Sul. Ela conta que, desde domingo, tem seguido as orientações necessárias de prevenção. “Além do distanciamento das mesas, aumentamos a quantidade de álcool em gel na dispensa, tanto para clientes quanto para funcionários. Colocamos um suporte na saída dos banheiros feminino e masculino. Então, a pessoa sai e se higieniza. Tem clientes que já pedem para desligar o ar-condicionado e deixar a janela aberta”, afirmou.
 
Segundo ela, os funcionários também estão se precavendo. Cada um ganhou recipiente com spray de álcool. “Recomendamos que os funcionários mantenham distância de um metro entre clientes. Também estou dando mais uma folga por semana, para que eles evitem o trânsito de ir e vir. Temos empregados que moram em Luziânia e em outras satélites, então, agora, eles vão folgar duas vezes por semana”, disse.

A empresária relatou, ainda, uma queda na movimentação do restaurante. Enquanto a reportagem esteve no local, no início da tarde de ontem, havia apenas dois clientes. “O fluxo caiu em 90%. Uma hora dessa, o normal era ter em torno de 100 pessoas. Estou com medo, mas acho que essa é uma questão necessária. Devemos respeitar.”
 
Rosivaldo Montinho, 50, é cumin (auxiliar de garçom) no estabelecimento, onde trabalha há 28 anos. Ele conta que nunca viu uma situação parecida. “É chocante ver o ambiente vazio. Os garçons dependem do faturamento e sobrevivem disso, mas devemos nos prevenir para conseguir conter essa pandemia. Até nós, garçons, estamos nos prevenindo. Passo álcool na mão toda hora e ainda oriento os clientes”, argumentou.
 
Receio
 
O gerente do restaurante Casa Baco, no CasaPark, Wagner Luís, 42, tem investido no serviço delivery para não perder clientes, e relata tomar todos os cuidados no local. “O delivery tem sido uma opção para não perdermos tantas vendas. Mas, aqui, estamos em alerta. Após o garçom atender o cliente, é regra passar álcool em gel nas mãos. Toda hora, tem um funcionário limpando as mesas e os balcões. Também optamos por deixar as janelas abertas e desligar os ar-condicionados”, afirmou.
 
Outra preocupação de Wagner é em relação ao quadro de funcionários. “Temos um total de 40 empregados só nessa unidade (CasaPark), mas a preocupação é em mantê-los devido ao baixo movimento. Temos medo de ter que mandar alguém embora”, destacou.
 
O proprietário do Bar Beirute da 107 Norte, Francisco Emílio, 42, diz que está seguindo o que foi determinado no decreto. “Colocamos as mesas com dois metros de distância e temos buscado dar uma satisfação maior aos clientes. Recomendamos às pessoas que elas não fiquem em grupos muito juntos. Muitos clientes têm preferido fazer o pedido pelo telefone e buscar só quando estiver pronto. O bom é que todos os nossos restaurantes são ao ar livre”, ressaltou.

O Casa Baco, no CasaPark, também tem redobrado o cuidado com a limpeza e investe em delivery (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  
O Casa Baco, no CasaPark, também tem redobrado o cuidado com a limpeza e investe em delivery
 
Para ele, atitudes como essas são necessárias. “É uma situação séria e estamos prezando pela segurança de todos. É o momento de cada um fazer sua parte”, frisou.
 
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fábio Estuqui, explicou que a entidade tem orientado os empresários em relação às medidas preventivas. “Recomendamos que a ventilação nos salões seja apropriada. Caso tenha ar-condicionado, os filtros devem estar limpos. A instrução aos proprietários é que eles se preparem para qualquer outro decreto que seja mais radical, como o fechamento dos estabelecimentos”, afirmou.
 
De acordo com ele, a partir de hoje, os restaurantes que estiverem seguindo as orientações, terão o selo “restaurante responsável” colado no estabelecimento. “A ideia é de que, quando o cliente chegar, saiba que o local passou devidamente pelas instruções”, acrescentou Fábio Estuqui.


Distância mínima
O Decreto n° 40.520, de 14 de março de 2020, assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) determina que os bares e restaurantes deverão observar, na organização das mesas, a distância mínima de 2m entre elas. Nos eventos abertos, recomenda-se a distância mínima de um metro entre as pessoas.
 
Fake news
Uma notícia que circula nas redes sociais diz que, a partir de hoje, bares e restaurantes estarão proibidos de funcionarem sob pena de multa institucional. Contudo, conforme o site de checagens do Correio, o Holofote, apurou, a informação é falsa, segundo a assessoria do governo. De acordo com o GDF, não há previsão de que a medida seja tomada.
 
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Correio Braziliense terça, 17 de março de 2020

EUA INICIAM TESTE DE VACINA EM HUMANOS

 

EUA iniciam teste de vacina em humanos

 

Paloma Oliveto

Publicação: 17/03/2020 04:00

Anthony Fauci (C), diretor do Niaid, na Casa Branca: corrida contra o tempo (Brendan Smialowski/AFP
)  

Anthony Fauci (C), diretor do Niaid, na Casa Branca: corrida contra o tempo

 





Os Estados Unidos realizaram ontem o primeiro teste em humanos de uma vacina experimental para proteger contra o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Segundo um comunicado do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde, a substância foi aplicada em um voluntário no Instituto Kaiser de Pesquisa Permanente em Saúde em Washington, Seattle. Além dele, 44 pessoas saudáveis, com idades entre 18 e 55 anos, participarão do estudo, com duração de seis semanas.

Uma vacina eficaz é, segundo especialistas, a única maneira de frear a rápida disseminação do SARS-CoV-2. Os primeiros casos foram registrados em dezembro do ano passado em Wuhan, na China. Ontem, o balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizou mais de 168 mil ocorrências confirmadas e 6,6 mil óbitos. O estudo avalia qual a dose mais segura e capaz de induzir a resposta imune. Depois da fase 1, em que se avaliam esses dois quesitos, há outras duas etapas, até a substância estar pronta para o mercado.

Chamada de mRNA-1273, a vacina foi desenvolvida por pesquisadores do Niaid em colaboração com cientistas da Moderna, uma empresa de biotecnologia em Cambridge, Massachusetts. As ações da farmacêutica subiram 42% na terceira semana de fevereiro, quando foi anunciado que a substância estava pronta para testes.

Resposta imunológica

Nas etapas anteriores, com animais, a vacina se mostrou promissora, de acordo com a companhia. A mRNA-1274 estimula as células de defesa a expressar uma proteína que, por sua vez, desencadeia uma forte resposta imunológica.

“Encontrar uma vacina segura e eficaz para prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 é uma prioridade urgente da saúde pública”, disse Anthony S. Fauci, diretor do Niaid, em nota. “Esse estudo da fase 1, lançado em velocidade recorde, é um primeiro passo importante para alcançar esse objetivo”, assinalou o infectologista. Em seguida, ele esteve na Casa Branca para anunciar a novidade ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, para quem a epidemia no país deve durar até julho ou agosto.

A substância não foi desenvolvida da noite para o dia. O novo coronavírus compartilha características com os micro-organismos causadores da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que atingiu o continente asiático no início dos anos 2000, e com a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que eclodiu naquela parte do mundo em 2012.

O Centro de Pesquisa de Vacinas dos EUA e a Moderna já vinham trabalhando em uma vacina contra a Mers e a Sars, o que deu agilidade ao desenvolvimento da imunização. Quando cientistas chineses revelaram, em fevereiro, o perfil genético do SARS-CoV-2, os cientistas identificaram rapidamente na plataforma de mRNA já existente a sequência ideal para expressar a proteína que desencadeia a resposta do organismo. “Esse trabalho é fundamental para responder à ameaça desse vírus emergente”, disse, no comunicado do Niaid, Lisa A. Jackson, cientista sênior do instituto onde estão sendo feitos os testes em humanos.

Os participantes do estudo receberão duas doses da vacina por injeção intramuscular no braço, com aproximadamente 28 dias de intervalo. As quantidades de substância testadas serão de 25 microgramas (mcg), 100mcg e 250mcg, para determinar a mais segura e eficaz. A estimativa do Niaid é que os primeiros resultados sejam publicados em três meses.

Atualmente, há, pelo mundo, cerca de 50 estudos que buscam encontrar uma vacina contra o SARS-CoV-2. No Brasil, pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) também se baseiam na plataforma tecnológica de mRNA para chegar a uma candidata em potencial. De acordo com a Agência Fapesp, os cientistas esperam que em poucos meses consigam começar testes em modelos animais.
 
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Correio Braziliense segunda, 16 de março de 2020

ORGULHO DE SER AFRO

 

Orgulho de ser afro
 
 
Cabelo duro? Não, o cabelo é crespo. Em busca de recuperar a autoestima e vencer o preconceito, mulheres negras fazem a transição dos fios e se assumem crespas

 

» MARILENE ALMEIDA*

Publicação: 16/03/2020 04:00

 

"O meu ateliê tem como foco fazer as meninas e meninos negros se acharem lindos, com todos os seus traços, e conhecerem a própria história e se orgulharem disso" Esther Ferreira Onaya, trancista

 

 
Pesquisa feita pela Kantar WorldPanel — empresa especializada em dados, insights e consultoria —mostra que o Brasil é o país com mais tipos de cabelo no mundo. A maioria consiste em variações de fios cacheados e crespos, que representam 51,4% da população, de acordo com o levantamento. Já os dados da parceria entre o Instituto Beleza Natural e a Universidade de Brasília (UnB) calculam índice de 70%.
 
A estudante de ciências contábeis Cláudia Nascimento Bezerra, 19 anos, conta que, na juventude, realizava todos os procedimentos possíveis para manter os fios lisos, de relaxamento a progressiva e o que mais houvesse de novidade. “Eu tinha vergonha do meu cabelo. Por ser crespo, não havia controle. Então, quando alisava e a raiz crescia, ficava uma moita em cima. Quando decidi cortar, era bem armado e as pessoas sempre me mandavam arrumar, porque, no olhar delas, não estava bonito.”
 
A jovem diz que sofria e ainda sofre preconceito, mas não explícito: sente os olhares de desaprovação e de nojo. Percebeu, no entanto, que não aceitar o próprio cabelo como é só estava afetando a ela mesma. No momento em que alisava os fios, até se sentia bem, mas, ao passar duas semanas, a raiz aparecia, o que fazia a autoestima cair. Resolveu, então, cortar sozinha o cabelo e se assumir crespa.
 
Essa opção veio acompanhada de uma tonelada de inseguranças e de medo. Por anos, Cláudia alisou o cabelo buscando a adequação aos padrões sociais dominantes e até mesmo por dificuldade de encontrar nos salões de beleza produtos específicos para as mechas crespas. Hoje, contudo, diante de uma demanda cada vez maior, a oferta de serviços para esse público cresce também. Familiares ficaram em choque com a mudança, mas logo perceberam que foi um ato de coragem e que Cláudia ficou bem mais bonita e empoderada. Após mudar, o visual, afirma que se sente livre, pois as amarras foram cortadas.


 
 

"Eu tinha vergonha do meu cabelo. Por ser crespo, não havia controle. Então, quando alisava e a raiz crescia, ficava uma moita em cima. Quando decidi cortar, era bem armado e as pessoas sempre me mandavam arrumar, porque, no olhar delas, não estava bonito" Cláudia Nascimento Bezerra, estudante de ciências contábeis

 

 Libertação
 
Atender esse público foi o objetivo de Esther Ferreira Onaya, 20 anos, ao criar o salão de beleza Studio afro Hairstyles Ateliê, em novembro de 2019. A jovem decidiu entrar no ramo porque, desde pequena, gostava de mexer com cabelos. Aos 15, fazia tranças por lazer. Dois anos mais tarde, viu a necessidade de ter uma renda própria, pois estava morando sozinha e desempregada.
 
No início, atendendo em domicílio, conheceu muita gente, rodando Brasília e o Entorno. Foram experiências boas e ruins. Algumas pessoas sequer ofereciam um copo d’água. “Não valorizam o nosso trabalho, querendo pagar menos por achar que não vale. Isso é muito preconceito com quem é trancista. Menosprezam muito esse serviço por ser de cultura e história negra, pensam que somos coitadas. Mas nós existimos e queremos respeito”, reivindica.
 
Esther conta que pensou em desistir por diversas vezes, mas, no fim do ano passado, conseguiu abrir o próprio espaço, em Ceilândia. “O nosso trabalho não é só pelo dinheiro, é também uma ajuda para devolver a autoestima do povo preto. Nós começamos a alisar o cabelo desde criança, nossa estética era vista como algo feio, que não devia existir”, observa. “O meu ateliê tem como foco fazer as meninas e meninos negros se acharem lindos, com todos os seus traços, e conhecerem a própria história e se orgulharem disso. Por isso, não trabalho com químicas, alisamentos e alongamentos que comprometam de alguma forma o cabelo natural dos meus clientes”, completa.
 
Os relatos de clientes que acham os cabelos feios e usam termos pejorativos para tratá-los, como bucha e bombril, são inúmeros. “Mas eu não as culpo. Isso é resultado de várias vivências racistas que elas tiveram, por acharem que bonito é só o branco do cabelo liso e de traços finos”, afirma a trancista. “Antigamente, por ter seu cuidado invisibilizado, não existiam marcas e empresas com produtos voltados para crespos, restando apenas cremes e shampoos destinados a cabelo liso, cacheado, ou aos quimicamente tratados. Era bem difícil a gente se sentir contemplada. Por isso, é importante a representatividade, começando pelas redes sociais, nosso ciclo de amizade, a gente conviver com pessoas reais, que nos representam. Isso é muito importante para a nossa aceitação.”
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Crescimento
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sete anos cresceu em 32% a população brasileira que se considera negra. O estudo mostrou que, entre 2012 e 2018, os autodeclarados pretos e pardos aumentaram quase 5 milhões no país.



Três perguntas para


 (Marilene Almeida/Esp. CB/D.A Press - 12/3/20)  


Ana Paula Morais, 
psicóloga, também tem cabelo crespo e passou por transição
 
O cabelo, para algumas mulheres, é a parte mais 
importante do corpo. Para outras, nem tanto. 
Como isso pode afetar a autoestima de uma pessoa?
O cabelo é uma parte das características físicas de uma pessoa e as características físicas constituem, também, quem aquela pessoa é. Por exemplo, quando a nossa aparência é constantemente vista como negativa, isso impacta na forma como nos vemos, especialmente se a aparência não estiver dentro do que é classificado como a norma. Imagine uma pessoa negra que é tratada como se não pertencesse a essa sociedade, como se a própria existência fosse um erro. O apontamento de seu cabelo como algo feio ou inapropriado comunica a percepção do outro e pode gerar questionamento sobre a autoimagem.
 
Por que nos importamos tanto com a opinião alheia sobre o nosso estilo?
É importante fazer uma diferenciação entre o que é entendido como estilo e o que são características pertencentes à pessoa. Ter um cabelo afro, por exemplo, não é modismo, é constituinte do fenótipo negro. É muito diferente a escolha entre que tipo de calça usar e que tipo de cabelo ter, até porque a noção de possibilidade de escolha não é óbvia dependendo do sujeito de que estamos falando. Frequentemente nosso “estilo” é pressuposto, é esperado que sejamos de tal ou tal maneira, de acordo com nossa aparência física. Sobre a importância da opinião alheia, o olhar do outro participa da nossa constituição psíquica desde o início da vida. Segundo o psicanalista Donald Winnicott, as bases da identificação primária são o olhar e ser visto. Vamos construindo quem somos e atribuindo valor a ideias a partir das relações sociais.
 
Qual a importância do afeto para a aceitação?
A mudança do paradigma de ser humano — homem branco — envolve a afirmação da negritude. É por meio da revisão da construção ideológica do que é ser negro que o significado disso para cada sujeito pode ter impactos mais positivos. Apenas uma mudança na percepção de si, saindo do paradigma da branquitude, pode favorecer uma valorização adequada de quem somos. Trocar experiências com quem está disposto a pensar a negritude pode ser um caminho na melhora da autoestima. Afeto, vulnerabilidade e acolhimento podem ser aliados na reconstrução da identidade negra. Esse é um cuidado que pode vir dos pares, familiares, profissionais da psicologia, mas o importante é estar perto de pessoas que respeitem sua individualidade e identidade. Que tenham uma postura de valorização do outro, em vez de depreciação por qualquer característica física ou psíquica. Com mais experiências de acolhimento do que de precisar se defender, o sujeito negro tem mais chances de construir um discurso sobre si e, com isso, desenvolver autonomia e então criar um modelo identitário saudável.
 
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Correio Braziliense domingo, 15 de março de 2020

CORONAVÍRUS: TODA ATENÇÃO AOS IDOSOS

 

CORONAVÍRUS
 
 
Toda a atenção aos idosos
 
Diante das medidas recentes anunciadas pelo GDF e do aumento do número de casos de Covid-19, brasilienses e instituições de cuidados para pessoas com mais de 60 anos adotam protocolos para evitar que a doença apresente risco à vida dessa população

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 15/03/2020 04:00

Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodos  (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press)  

Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodos

 



Antes de ser considerada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a proliferação do coronavírus preocupava as autoridades, principalmente em se tratando dos idosos. A população com mais de 60 anos, além de pessoas com doenças crônicas, têm mais chances de desenvolver um quadro grave da doença do que outros grupos. Em virtude disso, alguns brasilienses têm mudado hábitos para evitar a autoexposição. No mesmo caminho, asilos e casas de acolhimento da capital federal passaram a restringir visitas e a incentivar, ainda mais, as práticas de higiene pessoal — os funcionários, inclusive.

A vulnerabilidade do organismo dos idosos — mais comum à medida que se envelhece — coloca esse grupo no topo das prioridades do poder público. Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde anunciou que eles serão os primeiros vacinados contra a gripe, na campanha que começa no dia 23. Apesar de a dose não proteger contra o coronavírus, a medida pode auxiliar na detecção precoce de novos casos de covid-19 por facilitar o descarte de outras doenças respiratórias. A Defesa Civil também começou a vistoriar asilos, além de orientar os gestores dessas casas.

Enquanto o período de imunização não tem início, moradores idosos do Distrito Federal fazem o que podem para se proteger. Ainda que as recomendações sejam as mesmas para toda a população, há quem opte por não arriscar e por limitar o contato com outras pessoas. Moradora do Jardim Botânico, Emília Maria da Costa, 74 anos, tem dado preferência para programações mais caseiras.

Algecira Amaral aposta na manutenção de hábitos saudáveis  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Algecira Amaral aposta na manutenção de hábitos saudáveis

 


Além de fazer parte da parcela da população mais suscetível a desenvolver um quadro grave da covid-19, a professora aposentada fez uma cirurgia para remover um timoma — tumor raro que se desenvolve na glândula do timo. A cirurgia a deixou com 60% do pulmão esquerdo e, por isso, a atenção é redobrada. “Estamos muito mais suscetíveis a infecções que uma pessoa mais jovem, porque todo o nosso processo é mais lento. Se você tem uma doença, como tenho, precisa se cuidar mais ainda”, recomenda Emília.

Na casa dela, mais do que antes, o álcool em gel tornou-se item indispensável e fica à disposição desde a porta de entrada até os banheiros. “Às vezes, achamos que, por estar com a saúde legal, temos resistência e queremos nos igualar a uma pessoa de 35, 40 anos. Mas esta é a hora de ter cuidado e de fazer um pouco de sacrifício, recolher-se mais”, opina.

Investimentos

Médico e diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UnATI/Uerj), Renato Veras ressalta que a suscetibilidade para contaminação é a mesma, mas para grupos de idosos, os resultados podem ser “mais perversos”. O pesquisador alerta para a necessidade de investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir o acesso à medida em que os casos aumentem. “Vamos começar a ter um vírus da comunidade. Imagine nos grandes conglomerados, favelas, (locais) com baixa assistência. Vamos ter de fazer um esforço muito grande com o SUS funcionando de forma precária”, alerta.

Em relação aos lares para idosos, Renato ressalta que eles podem se tornar locais protegidos se não houver grande circulação de pessoas de fora. O médico lembra que o ideal é fugir de locais populosos e fechados; para quem permanecer em casa, vale evitar visitas e ficar atento à higienização das mãos ao longo do dia. “Esses cuidados valem não só para o idoso, como também para a família. Precisamos de prevenção e cuidado para que essa pessoa não seja acometida, pois sabemos que a probabilidade de um desfecho negativo acontecer é maior em pessoas com 70 ou 80 anos, do que em um jovem de 15, por exemplo”, comparou.
 
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Correio Braziliense sábado, 14 de março de 2020

BRASÍLIA: BELEZA PRESERVADA

 

Beleza preservada
 
Há 30 anos Brasília foi inscrita no Livro de Tombo Histórico do Iphan. Iniciativa busca preservar as formas originais da cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa

 

» Caroline Cintra
» Juliana Andrade

Publicação: 14/03/2020 04:00

 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 4/1/00)  
 
Uma cidade planejada, um museu a céu aberto, uma região monumental. Há 30 anos, em 14 de março de 1990, Brasília era inscrita no Livro de Tombo Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Três anos antes, a cidade foi declarada como Patrimônio Mundial na Unesco — primeira cidade moderna a receber o título. Assim, é preservada a história da capital por meio dos projetos arquitetônicos e urbanísticos de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa, que saíram do papel nos anos 1960 e, hoje, além de orgulharem os brasilienses, atraem turistas de todas as partes do mundo.
 
Brasília é a maior área urbana tombada, segundo o superintendente do Iphan no Distrito Federal, Saulo Santos Diniz. Ao todo, são 112,25 quilômetros quadrados de tombamento e 28 bens protegidos pelo instituto. Entre eles, a Igreja Nossa Senhora de Fátima, o Palácio do Itamaraty, Congresso Nacional e a Catedral. “Brasília foi desenhada por Lucio Costa em quatro escalas importantes: monumental, gregária, bucólica e residencial. Quando a gente trata de 112 quilômetros, a nossa responsabilidade é muito grande. Brasília é uma cidade diferenciada, e a gente precisa preservar essa cidade”, destaca o superintendente.
 
Com o tombamento, o desenho do Plano Piloto não pode ser desfeito ou refeito. Isso inclui os padrões das superquadras idealizadas por Lucio Costa. “Na Asa Norte e Asa Sul, os prédios não podem passar de seis andares, os pilotis devem estar livres para circulação e as áreas comerciais precisam respeitar os espaços, não podem invadir a calçada ou as áreas verdes”, detalha o professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Fábio Goulart. Para ele, além de preservar o modelo original da cidade, o tombamento ainda contribui para a preservação do meio ambiente, pois mantém as áreas verdes.


 

"São propriedades privadas, mas de livre circulação, ou seja, reconhecemos que é um problema para a segurança dos moradores, porque podem aparecer pessoas em situação de rua e se instalar aqui, outros podem sujar, bagunçar. O que a gente pode fazer nesse caso?" Fernando Bassit, prefeito da 308 Sul

 



 

"Tem os pontos positivos aqui, pela beleza natural, a conservação. A gente só gostaria que não tivesse tanto empecilho. É importante preservar, mas não podemos deixar nossa casa feia" Nair Everton, prefeita da 108 Sul

 



 
Garagens
 
Quem mora nas asas do avião (ou da borboleta), destaca o privilégio de se viver em um espaço assim, mas também cita os desafios. “Eu acho muito bom a quadra ser tombada, pois isso é memória para nós, mas têm algumas intervenções que não interferem no modelo. Por exemplo, precisamos de mais vagas de estacionamento, então deveriam autorizar fazer garagens subterrâneas, onde é estacionamento”, comenta o engenheiro civil Edmundo Peres, 70 anos, morador da 108 Sul.
 
Do outro lado, na 308 Sul, há garagens no subsolo. O prefeito da quadra, Fernando Bassit Costa, 60, conta que a ideia de Niemeyer e de Lucio Costa era deixar o chão livre para as pessoas. Para ele, o tombamento da região é importante, mas defende a necessidade de atualizações no plano urbanístico. O destaque vai para os pilotis. “São propriedades privadas, mas de livre circulação, ou seja, reconhecemos que é um problema para a segurança dos moradores, porque podem aparecer pessoas em situação de rua e se instalar aqui, outros podem sujar, bagunçar. O que a gente pode fazer nesse caso?”, questiona.
 
Apesar dos conflitos, Fernando enche-se de orgulho da quadra onde mora desde os 2 anos de idade. “Esse núcleo histórico precisa ser preservado. Agora, cabe ao governo ter iniciativa de ouvir nossas solicitações e investir em educação patrimonial dos moradores”, diz.
 
A prefeita da 108 Sul, Nair Everton de Sá, 63, compartilha desse mesmo sentimento. Defensora do tombamento, junto aos moradores da quadra, está em busca de autorização para reformas e revitalização na área. “Tem os pontos positivos aqui, pela beleza natural, a conservação. A gente só gostaria que não tivesse tanto empecilho. É importante preservar, mas não podemos deixar nossa casa feia. Aqui, os moradores têm opiniões divididas. Uns querem algo mais moderno, outros preferem manter”, completa.
 
Conscientização
 
Diante das posições divergentes, Saulo Diniz, superintendente do Iphan, ressalta que o tombamento busca preservar a cidade para as futuras gerações. “As pessoas confundem tombamento com engessamento, a gente é a favor do desenvolvimento, mas desenvolvimento sustentável. Imagina se a cidade não fosse tombada, como seria?”, destaca.
 
Para conscientizar a população e os governantes sobre a importância dos cuidados com as áreas tombadas, o instituto lançou este mês ações que envolvem os dirigentes e os moradores de Brasília. “Em fevereiro, nós fizemos um termo de cooperação técnica com a Secretaria de Educação para capacitar os professores do quarto ao quinto ano da rede pública com educação patrimonial e lançamos a campanha Brasília para os 60 anos, uma ação de conscientização da importância da manutenção preventiva pelos gestores”, destaca o superintendente do Iphan.
 
De acordo com ele, faltam políticas de manutenção preventiva. “Se eu pudesse dar uma nota, de zero a 10, daria cinco”, diz. No lançamento da campanha, o Iphan entregou um relatório com alguns pontos que precisam de atenção na Praça dos Três Poderes. O mesmo deve acontecer com outros monumentos, como o Palácio da Justiça, o Itamaraty e a Catedral Metropolitana de Brasília. Após a visita dos profissionais, os dirigentes deverão entregar um plano de ação para o instituto.


O modelo
Escala Monumental — Onde se concentram as principais atividades administrativas federais e locais.
Escala Residencial — Tem como base o Eixo Rodoviário e ao longe as Unidades de Vizinhança, 
com as superquadras. Escala Gregária — Área central do Plano Piloto, que inclui os setores bancários, hoteleiros, de diversão, entre outros. Escala Bucólica — Áreas livres e arborizadas
 
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Correio Braziliense sexta, 13 de março de 2020

COVID-19: DE FANTASIA A REOCUPAÇÃO REAL

 

Covid-19: de fantasia a preocupação real
 
Teste positivo do secretário de Comunicação faz Jair Bolsonaro se submeter a exame para saber se tem a doença. De máscara em live semanal, o chefe do Executivo, que havia minimizado o problema, anuncia que assinará hoje uma MP liberando R$ 5 bilhões para combater a enfermidade

 

Ingrid Soares
Renato Souza

Publicação: 13/03/2020 04:00

Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na live: %u201CO assunto (coronavírus) está na pauta do Brasil e do mundo%u201D (Facebook/Reprodução
)  
Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na live: "O assunto (coronavírus) está na pauta do Brasil e do mundo."
 
A confirmação de que o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, está com coronavírus provocou alerta na Esplanada e fez o presidente Jair Bolsonaro se submeter a um teste para saber se contraiu a doença. O resultado sairá hoje. Wajngarten integrou a comitiva brasileira que viajou aos Estados Unidos para encontros com empresários e com o chefe do Executivo norte-americano, Donald Trump. Todos que estavam na delegação fizeram o exame. Por conta da suspeita, Bolsonaro cancelou compromissos, como a viagem que faria ontem ao Rio Grande do Norte, e passou o dia no Palácio da Alvorada.
 
Wajngarten está em quarentena domiciliar em São Paulo. Bolsonaro segue sem sintomas e, na noite de ontem, fez uma live, no Facebook, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ambos estavam de máscara. Na transmissão, o chefe do Executivo, de 64 anos, mudou o discurso sobre a Covid-19. Dias depois de classificar a pandemia como uma “fantasia” da imprensa, ele chamou a atenção para um dos grupos de risco, os idosos.
 
“O assunto de hoje (ontem) vai ser basicamente o coronavírus, que está na pauta do Brasil e do mundo. Uma das pessoas que veio conosco no avião deu resultado negativo, a gente espera que todo mundo dê negativo e fique o positivo só com o Fábio. Não tem uma grande letalidade, mas quem tem mais de 65 anos aumenta um pouquinho, na base de 15%. Então, cada 100 pessoas acima de 60 anos, que é o meu caso, podem ter complicações mais graves”, afirmou. “Estou usando máscara porque nessa recente viagem aos EUA, uma das pessoas, que veio comigo no voo, quando desceu em São Paulo, foi fazer uns exames habituais e deu positivo para o coronavírus”, justificou, em relação ao secretário.
 
Caso o exame do presidente dê resultado positivo, ele terá de se afastar das atividades da Presidência para se recuperar. O presidente não tem diagnóstico de doença crônica, que fragiliza a resposta do corpo a infecções. No entanto, a idade, de 64 anos, é considerada um fator de risco e pode exigir atendimento especializado em um hospital, a depender da evolução dos sintomas.
 
“Um homem de 64 anos, rígido, que faz as suas caminhadas, já passou seu organismo por agressão, foi aquela facada mal-explicada, que superou, que tem o sistema imunológico forte, tem de manter o cuidado por conta das outras pessoas”, ressaltou Mandetta. “Se der positivo, o presidente vai ter de despachar daqui (Alvorada). A gente vai recomendar o isolamento domiciliar. Se não der positivo, ou der outro vírus, a gente libera, vida que volta ao normal. Todo mundo tomando os cuidados de higiene.” Bolsonaro completa 65 anos no próximo dia 21.
 
O presidente disse também que assinará, hoje, a medida provisória que libera R$ 5 bilhões, via emendas, para o enfrentamento do novo coronavírus. O valor atende a um pedido feito na quarta-feira por Mandetta. A MP tem efeito imediato após a publicação.
 
Eduardo
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) visitou o pai ontem. Ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro também se submeteram a teste para o coronavírus na residência oficial. Depois de passar cerca de quatro horas no local, o parlamentar saiu usando uma máscara cirúrgica. O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que também esteve com o presidente na viagem aos Estados Unidos, foi outro que fez o exame. Uma equipe médica do Hospital das Forças Armadas (HFA) esteve no Palácio do Planalto para coletar a amostra. Também integrou a comitiva o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que deve voltar ao Brasil, fazer o teste e ficar em quarentena. O ministro de Minas e Energia, Bento Costa, testou negativo.
 
De acordo com a Presidência, todas as medidas foram tomadas “para preservar a saúde do presidente da República e de toda comitiva presidencial que o acompanhou” na recente viagem oficial.
 
“Obviamente, temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala”
Jair Bolsonaro, presidente da República, em declaração na última terça-feira
 
“Não tem uma grande letalidade, mas quem tem mais de 65 anos aumenta um pouquinho, na base de 15%. Então, cada 100 pessoas acima de 60 anos, que é o meu caso, podem ter complicações mais graves”
Jair Bolsonaro, na live de ontem
 
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Correio Braziliense quinta, 12 de março de 2020

POR MAIS VISIBILIDADE NA CIÊNCIA

 

Por mais visibilidade na ciência
 
Projetos voltados para meninas buscam incentivar a participação delas nos cursos de Exatas

 

» ANA MARIA DA SILVA*
» CELIMAR DE MENESES*
» LIS CAPPI*

Publicação: 12/03/2020 04:00

O Meninas.Comp ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação (Meninas.Comp/Reprodução)  

O Meninas.Comp ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação

 



No Meninas na Ciência, o encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB (Projeto Meninas na Ciência/Divulgação)  

No Meninas na Ciência, o encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB

 



Descobrir elementos químicos e ser laureada duas vezes com honraria. Ser a primeira a desenvolver medicamentos para doenças como leucemia e gota, ou impulsionar o país para a segunda posição como um dos maiores produtores de soja do planeta. Por trás de todas essas conquistas, estão mulheres.
Mesmo diante desse cenário, dados da editora científica Elsevier mostram que, apesar de a proporção de mulheres ser igual à de homens entre os pesquisadores, elas ocupam menos postos avançados em laboratórios e crescem menos na carreira. Informações do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de 2017 confirmam esse quadro, já que, dos 112 pesquisadores sênior, apenas 27 são mulheres.
 
A limitação velada à ascensão de mulheres na carreira é classificada de “teto de vidro” pela teoria feminista, e pode acontecer por diversos motivos. Na ciência, a professora Susane Ramalho, da Faculdade UnB Planaltina (FUP), exemplifica fatores como a dificuldade das mulheres de obter financiamento para as pesquisas, a necessidade de conciliar a vida familiar com o trabalho e também o machismo. “Tenho relatos de uma colega da geologia que já foi negada a participar de um processo seletivo de pesquisa em que era necessário viajar de barco. O veículo não tinha banheiro feminino e esse detalhe foi o motivo de ela ser desclassificada”, conta.
 
Outro filtro, segundo a pesquisadora, é a baixa participação das mulheres nas ciências exatas. “Tem um problema de estímulo das garotas a se interessar por essa área e também uma questão histórica de representatividade. O perigo é que a baixa participação das mulheres nesta área do conhecimento faça com que, nos próximos 20 anos, menos mulheres entrem no mercado de trabalho, já que existe a previsão de que, com o avançar tecnológico, várias profissões desapareçam, e as que vão permanecer são justamente nas ciências exatas”, explica a professora.
 
Para incentivar a participação delas na ciência, em 19 e 20 de março, o Departamento de Matemática da UnB promoverá a segunda edição do Seminário Mulheres na Ciência da Universidade de Brasília. O evento, que tem o apoio da ONU Mulheres, do Núcleo de Gênero do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), vai discutir a participação da mulher na ciência e apresentar diversos projetos de extensão que têm incentivos para inserção de mulheres na ciência. Será lançado ainda o Fórum pela Diversidade de Gênero nas Ciências e Tecnologia, uma iniciativa do MPT e MPDFT.
 
Superação
 
Vencer os estereótipos. Essa é a luta que a doutoranda em neuropsicofarmacologia Lorena Priscila Oliveira Rocha, 28 anos, tem enfrentado ao longo da jornada acadêmica e profissional. Segundo a estudante, as dificuldades vão além da falta de inclusão. “Há uma cascata de problemas relacionados a esse conceito preconcebido: as microagressões diárias, a insegurança e o medo imposto por si e, também, a autocobrança para que seu trabalho seja reconhecido”, salienta. Além de atuar na área de neurociência e comportamento, Lorena participa de uma pesquisa que tem como objetivo validar um novo medicamento inspirado na peçonha de uma vespa que amenize ou melhore doenças neurodegenerativas.
 
Na busca por estimular o interesse pela área, um grupo de profissionais criou o projeto Meninas na Ciência, que busca incentivar a participação de adolescentes entre 11 e 15 anos, matriculadas no ensino fundamental de escolas públicas e particulares. O encorajamento ocorre por meio de atividades lúdicas ministradas por docentes e pesquisadoras da UnB.
 
Segundo Lorena, que é coordenadora da iniciativa, as atividades permitem que as participantes conheçam mulheres cientistas que introduzirão o senso crítico para as alunas. “Não queremos deixar que percam essa vontade. Queremos mostrar, de fato, como é ser uma pesquisadora e de quais formas e possibilidades as portas estão abertas para elas”, detalha.
 
“Observamos que as meninas que participaram do nosso evento no semestre passado já vieram com uma base significativa de ciência e pesquisa. Não queremos que elas percam essa vontade e interesse no decorrer da adolescência até a graduação”, afirma. Para isso, as meninas participam de diversas atividades. Na última edição, foram promovidas oficinas de organelas de células animais, de análise de lâminas com diversos tipos de materiais biológicos e para aprender a distinguir espécies de cobras.
 
Tecnologia
 
Áreas relacionadas à tecnologia estão entre algumas das que apresentam a maior disparidade entre homens e mulheres. Para mudar esse cenário e incentivar o ingresso de meninas em carreiras relacionadas, outras pesquisadoras da UnB criaram o Meninas.comp. O projeto ensina conceitos de programação e estimula alunas de escolas públicas a criarem projetos próprios por meio da programação. Com o lema “Computação também é coisa de menina”, a ação, que capacita professores da rede pública para atuarem junto às estudantes, aproximou mais de mil garotas aos conceitos e primeiras experiências com a programação.
 
A professora do Departamento de Ciência da Computação e uma das fundadoras do projeto Aletéia Aráujo pontua que ainda falta muito a ser feito para igualar a quantidade de mulheres na carreira, mas que o projeto é um começo. “Acredito que só assim vamos conseguir quebrar essa barreira mostrando resultado”, defende.
 
A pesquisadora conta já ter passado por situações de preconceito na profissão por ser mulher e pondera que a sociedade precisa de mudanças. “Até hoje, acontece de eu estar em alguma reunião e não darem ouvidos para uma proposta minha, mas acham boa a ideia quando um homem fala pouco depois”, diz. “Pesquisas mostram que projetos que têm mais igualdade são mais bem-sucedidos. Mulheres valorizam características em um produto que, às vezes, passam despercebidas ao homem. Se querem vender tecnologia para mulher, tem que ter mulher atuando nos times”, completa.
 
Alice Lima, 19, é uma das participantes que se identificou com a área de tecnologia ao passar pelo Meninas.comp. Agora, como estudante de ciências da computação na UnB e com um projeto de iniciação científica que pesquisa a inserção de mulheres no mundo na área de estudo dela, conta conviver diariamente com a ausência de outras alunas no curso. “De 40 estudantes que entraram no meu semestre, só três, contando comigo, eram garotas. Tiveram semestres piores, em que só entrou uma aluna”, declara a estudante.
 
A universitária conta, ainda, ter dúvidas sobre qual caminho trilhar após a graduação: se opta pela pesquisa ou pelas áreas de programação e de desenvolvimento. Até lá, segue como voluntária no projeto que a aproximou do curso. “É algo muito importante, porque meninas geralmente não olham para essa área. Não é nem questão de não haver interesse, é a de um incentivo, que não existe. Percebemos que é algo que vem de infância, e isso deve mudar.”
 
* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer


Participe
 
» Meninas na Ciência
O projeto é voltado para meninas que queiram conhecer um pouco mais sobre ciência, tenham entre 11 e 15 anos e estejam regularmente matriculadas no ensino fundamental. Este ano, o evento ocorre em 16 e 23 de maio. Informações: meninasnacienciaunb@gmail.com ou www.meninasnacienciaunb.com.br.
 
» 2º Seminário Mulheres na Ciência
Em 19 e 20 de março, o Departamento de Matemática da Universidade de Brasília promoverá a segunda edição do evento, que contará com diversas palestras, mesas redondas e apresentação de projetos de extensão que têm incentivos para inserção de mulheres na ciência. Informações: ww.mat.unb.br/mulheres_ciencia e mulheres.mat.unb@gmail.com.
 
 
Elas fazem a história
Conheça algumas das principais cientistas brasileiras
 
» Graziela Maciel Barroso (1912-2003)
Conhecida como “a primeira-dama da botânica brasileira”, foi mentora de quase todo botânico brasileiro que se formou no país nos últimos 50 anos e eleita para a Academia Brasileira de Ciências em 2003, mas morreu antes de tomar posse.
 
» Johanna Dobereiner (1924-2000)
A agrônoma desenvolveu um trabalho revolucionário na Embrapa, onde descobriu que bactérias potencializam o cultivo da leguminosa dispensando o uso de fertilizantes. A descoberta fez do Brasil o maior produtor de soja do mundo.
 
» Mayana Zatz
É referência em pesquisas com células-tronco e participou ativamente da aprovação das pesquisas com células-tronco em 2005. Ganhou vários prêmios internacionais e nacionais.
 
» Suzana Herculano-Houzel
Revolucionou a área de neurociências e dedicou-se ao estudo da anatomia comparada do cérebro de diferentes animais para entender a evolução dos seres humanos. Com isso, criou um preciso e novo método, reconhecido no mundo todo, para contar as células do cérebro.
 
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Correio Braziliense quarta, 11 de março de 2020

COM SABOR DE BRASÍLIA

 

Com o sabor de Brasília
 
Há locais que trazem memórias afetivas e, na capital, não é diferente. A série Brasília sexagenária mostra estabelecimentos abertos desde a inauguração e que fazem sucesso até hoje

 

» CAROLINE CINTRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 11/03/2020 04:00

Fábio Martins seguiu o legado do pai, 
Gomes Calixto (D), à frente da tradicional churrascaria ao lado da Barragem do Paranoá (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

Fábio Martins seguiu o legado do pai, Gomes Calixto (D), à frente da tradicional churrascaria ao lado da Barragem do Paranoá

 


 (Daniella Sasaki/Esp. CB/D.A Press - 10/2/05)  
 
As receitas são as mesmas, o gosto é igual e o ponto de venda sempre no mesmo endereço. O crescimento da cidade não impediu que restaurantes e lanchonetes resistam ao tempo e continuassem a fazer a história. No cardápio, trazem memórias, dedicação e tradição. Na reportagem de hoje da série Brasília sexagenária, o Correio conta a trajetória de comércios que inauguraram junto à nova capital ou até mesmo antes dela.
 
Em uma casa modesta, ao lado da Barragem do Paranoá, Fábio Martins, 44 anos, continua o legado do pai. Apaixonado por culinária, Gomes Calixto dos Santos abriu ali a Churrascaria Paranoá. Inaugurado em fevereiro de 1956, o estabelecimento funcionava como refeitório para os milhares de operários da construção da nova capital do país.
 
Era ele quem colocava a mão na massa e criava os temperos da galinha caipira, o churrasco misto e as carnes de cordeiro, de jacaré e de rã, pratos tradicionais desde o início da casa e que atrai fãs até hoje. “Antigamente, os donos de restaurantes ficavam sempre no caixa. Meu pai, não. Fazia questão de encostar a barriga no fogão e cozinhar”, conta.


Enildo Veríssimo (acima) continua tocando a Pizzaria Dom Bosco mesmo após a morte do irmão e sócio, Hely (E) (Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 18/3/03 )  

Enildo Veríssimo (acima) continua tocando a Pizzaria Dom Bosco mesmo após a morte do irmão e sócio, Hely (E)

 


 (Raimundo Sampaio/CB/D.A Press - 19/3/13 )  


Fábio começou a ajudar no local aos 7 anos, como faxineiro. Era responsável por deixar os banheiros e o chão limpos. “Passava aquela cera vermelha, com os joelhos no chão. Meu pai fazia questão de manter tudo organizado. Afinal, a gente recebia de 2 mil a 5 mil pessoas por dia aqui”, lembra. Na adolescência, acompanhava os passos do pai no negócio da família. Aprendeu o que sabe sobre gastronomia com ele.
 
Passados 64 anos, a churrascaria mantém o mesmo formato, toda de madeira, e a tradição e os desafios são mantidos pelas gerações. “Não dependemos de ninguém. Sou eu e a minha família. Assim como eu assistia meu pai, meus quatro filhos fazem o mesmo comigo. Por mim, eles seguiriam o legado, mas vou deixar cada um escolher o próprio caminho. Fico aqui até minha última gota, como meu pai fez”, disse.
 
Calixto morreu em 2011, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Ele conseguiu acompanhar os passos do filho à frente do negócio. “É um bem que quero manter. Muitas pessoas reconhecem como um bem de Brasília, e isso nos enche de orgulho”, completa.
 
Tradição
 
“Uma dupla e um mate, por favor!”. A pizza vem na mão mesmo, em um guardanapo, para comer rápido, ali, em pé, em frente ao balcão. O atendimento é assim há 60 anos na Pizzaria Dom Bosco, na 107 Sul, rua da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima. Enildo Veríssimo, 74, proprietário do comércio, garante que o sabor é o mesmo, desde 1960. A receita, ele aprendeu em Minas Gerais. “Eu trabalhava em uma pizzaria em Araxá e aprendi a fazer a massa lá, com um italiano”, lembra. O aprendizado caiu como uma luva ao chegar a Brasília, à procura de um emprego.
 
Ele veio com o irmão Hely Veríssimo, que morreu em 2014, após um infarto. “O pessoal ia montando as coisas para vender. À época, o governo deixava você abrir o comércio e só  depois arrumava a documentação, porque, se eles dificultassem, o pessoal ia embora”, diz. “O povo colocava o nome de Dom Bosco em tudo na época”, comenta Enildo.
 
O comércio é o único que permaneceu desde o início de Brasília na quadra, segundo o empresário, mantendo sempre o mesmo padrão. “É a mesma receita, atendimento e qualidade. Estamos na oitava geração de clientes. Tem gente que vem de manhã, à tarde e à noite”, comenta.


 

"Ainda é a mesma pizza da minha adolescência. Isso é uma raridade em Brasília. É um dos poucos lugares que consegue se manter" Ana Lúcia Leite, aposentada

 



A aposentada Ana Lúcia Leite, 63, é uma das clientes fiéis. A mineira chegou a Brasília antes da inauguração da cidade, em 1959, quando tinha 2 anos, e ia sempre com os pais. Mas passou a frequentar mais vezes na adolescência. O pedido era sempre o mesmo: a tradicional pizza de muçarela, com muito molho, e uma caçulinha, refrigerante pequeno.
 
Hoje, mesmo morando um pouco mais distante, no Lago Norte, a tradição continua. “Venho eu, meus filhos e netos. Todo mundo gosta. O pedido continua o mesmo. Não tem como mudar”, brinca Ana Lúcia. “Ainda é a mesma pizza da minha adolescência. Isso é uma raridade em Brasília. É um dos poucos lugares que consegue se manter. Tornou-se algo fraterno”, completa.
 
Além do ponto na rua da Igrejinha, a pizzaria Dom Bosco abriu outras quatro lojas. Elas são comandadas pelos filhos e por sobrinhos de Seu Enildo. “É um privilégio muito grande. A gente fica orgulhoso. Espero que a pizzaria continue firme por muitos anos”, destaca.

Reconhecimento
 
Para o professor emérito do Departamento de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Coutinho, estabelecimentos como a Churrascaria Paranoá e a Pizzaria Dom Bosco deveriam entrar no roteiro dos turistas. “Geralmente, eles vêm para ver os monumentos da cidade, que realmente são grandes atrações e devem ser vistos. Mas esses restaurantes escrevem a história da nova capital. Se quer saber da história de Brasília, tem que visitar esses lugares também”, sugere.
 
O especialista chegou a Brasília em 1968 e lista outros restaurantes que se tornaram pontos de encontro, como João do Frango, Xangô, Cantina Amaral, e tantos mais, dentro ou fora do Plano Piloto. “Na Asa Sul, por exemplo, era só poeirão, sem pavimentação, e os programas exóticos eram sempre para comer. A rua da Igrejinha era considerada o shopping de hoje. Era o miolo da cidade e, aos poucos, foi se expandindo”, lembra o professor.
 
Um dos primeiros pontos que ele visitou em Brasília foi a Churrascaria Paranoá. “Deveria ser até tombado. Não pela qualidade artística, mas histórica. Ou, pelo menos, assinalar uma placa que lembrasse mais a existência dela. Além de ser um estabelecimento junto ao acampamento do Paranoá, que acolheu os operários, é um lugar histórico”, afirma Coutinho.
 
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Correio Braziliense terça, 10 de março de 2020

GOVERNO CONVOCA 750 PMs HOJE

 

Governo convoca 750 PMs hoje
 
 
Em entrevista ao CB.Poder, secretário confirmou que aprovados no concurso da Polícia Militar serão chamados nesta terça-feira e que os selecionados na prova do Corpo de Bombeiros também devem assumir os postos em breve

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 10/03/2020 04:00

 

"Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário"

 

Aprovados no concurso da Polícia Militar serão convocados, hoje à tarde, para iniciar o Curso de Formação de Praças (CFP). O grupo é composto por 750 pessoas. Os selecionados na prova do Corpo de Bombeiros também poderão ser chamados. O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.
 
De acordo com ele, há deficit em todas as forças de segurança. “Já tivemos um quadro com 18 mil policiais militares. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Temos problemas de cidades grandes, como Rio de Janeiro e São Paulo. Conseguimos diminuir os crimes, mas ainda temos muito trabalho’”, disse o secretário.
 
Anderson Torres destacou que o índice de violência na capital caiu em comparação com anos anteriores e que o Governo do Distrito Federal tem trabalhado muito para frear casos de mortes violentas, como a do professor universitário Hebert Miguel, 26 anos, em Taguatinga Sul, e do universitário Márcio Ribeiro, 28, na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, na última semana. Os dois morreram no sábado, vítimas de crimes investigados como latrocínio (leia mais na páginas 18).
 
 
O que o governo faz para frear as mortes violentas, como as que ocorreram na última semana com o professor e o universitário?
Temos trabalhado muito em relação a isso, mudado o policiamento, trabalhado com inteligência. Os níveis de apuração desses casos estão altíssimos. Finalizamos, no ano passado, com 80% dos crimes contra a vida apurados no DF.  Isso mostra que estamos no caminho. Fechamos o ano passado como o melhor dos últimos 35 anos, em casos de homicídios. Janeiro de 2020 foi o melhor dos últimos 21 anos. Fevereiro, o melhor dos últimos 10 anos, perdemos apenas para fevereiro do ano passado. O crime faz parte da natureza humana. Ele existe e vai existir. O que nos cabe é trabalhar sério e pesado para melhorar.
 
Enquanto alguma vida estiver sendo perdida, a gente tem que trabalhar duro, certo?
Cada pessoa que morre atinge a nós, policiais, à secretaria e ao governo. Daqui para a frente, entendemos que a maioria desses crimes vai ter imagem. Estamos espalhando câmeras pela cidade quase toda. Em breve, estaremos chegando a mil câmeras. Teremos imagens, e elas chocam muito mais do que apenas sabermos dos crimes. Mas nosso trabalho é prevenir esses crimes. Tem uma série de aspectos envolvidos nisso, não é só questão de segurança pública. Tem moradores de rua, tráfico de drogas, gangues e guerra de facções — que culminam na morte de muitos jovens no DF.
 
Existe algum projeto da secretaria que vise evitar os crimes relacionados a roubo de celular?
Hoje, o celular é a menina dos olhos dos criminosos. Já foram a roda e o som do carro. O celular é pior, porque, nos outros crimes, não havia o contato entre o ladrão e a vítima. Hoje, há o contato e, nele, muitas vezes ocorre a fatalidade. Temos percebido uma série de assaltantes que foram presos há 15 dias novamente na rua assaltando. Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário. Vejo, com respeito ao Estado brasileiro, que a gente precisa retomar algumas coisas. Vivemos uma crise de segurança há muitos anos. A sociedade já entendeu isso e quem comete o crime, também. Talvez a punição não seja a adequada. Temos discutido a questão da Papuda. São 17 mil presos, fechados no caldeirão fervendo. O Brasil não sabe o que fazer com os presos. A gente vai muito bem até a prisão em flagrante.

 

"Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo"

 



Como se combate o crime da arma branca?
Brasília sempre teve essa característica da arma branca. É uma questão que a gente precisa discutir. Qual é consequência jurídica para uma pessoa que é pega com uma faca na cintura? Por exemplo, muitas pessoas andam com canivete. É totalmente diferente de uma pessoa que é pega com um revólver na cintura. Sair de casa com uma faca, a gente faz um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é encaminhado à Justiça. No carnaval, fizemos vários. Eram facas, tesouras, facões. No do ano passado, machado foi apreendido pela PM.  A pessoa que sai de casa com isso, sai mal-intencionada.
 
A gente vê muito feminicídio em que o crime é cometido com uma faca, em casa. Esse é um problema também. A secretaria tem um projeto relacionado a isso? É um desafio, não é?
Grande. No feminicídio, depois de tanto estudar, vimos que é uma evolução da sociedade. Um crime dentro de casa, com arma branca. O cara sai de casa, vai para o trabalho, passa em um bar para tomar uma coisa, chega em casa, briga com a mulher, vai à cozinha, pega uma faca e mata. Como a Segurança Pública age nisso? Como o Estado chega para impedir esse cidadão? Ela, os familiares e os amigos, muitas vezes, não denunciam, não trazem essa notícia.
 
Em sua avaliação, o que precisa mudar, urgente, na legislação penal nesse caso?
Precisamos não só endurecer a legislação, mas saber prender, condenar e saber o que fazer com essas pessoas. É um sistema. Quando assumi a secretaria, vi uma ideia de o sistema passar para a Secretaria de Justiça novamente. Conversei com o governador e pedi para deixar na Secretaria de Segurança. Porque segurança pública é o sistema, não é só investigação. A gente precisa evoluir.
 
O número de câmeras está aumentando. É fundamental para ajudar uma investigação?
Eu estava assistindo às imagens desse crime (do universitário morto na Rodoviária do Plano Piloto) e vimos a dinâmica do crime, inclusive o assassino conversando com a vítima. Em algum momento, houve o desentendimento e o crime. Foi uma atitude que, em tese, não chama a atenção.
 
O homem que roubou e matou o professor universitário já tinha passagens pela polícia, por furto e por roubo.  A audiência de custódia é um problema?
Precisa ser revisto o modo que tem sido feito e os entendimentos. A partir de que momento que, num crime violento, como um roubo, o autor pode ser solto na audiência de custódia? A gente precisa endurecer um pouco mais isso. Talvez mudar as penas no Brasil.
 
Como está o DF em relação à permanência de líderes de facções criminosas na Penitenciária Federal de Brasília? O GDF é contra, mas o ministro Sérgio Moro e o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) defendem que isso não traz prejuízo para a cidade.
Tem reflexos no DF. Continuamos sem grandes informações do que está acontecendo. Temos uma GLO (Garantia de Lei e da Ordem) decretada para o Presídio Federal do DF, na qual o governador não foi consultado, fora dos requisitos da GLO. Pontuamos alguns fatos. Tive submetralhadora apreendida, com vários carregadores, pela Polícia Militar. E outra arma de calibre pesado. E fica minha pergunta: está fugindo ou não do que o DF sempre teve? Quem tem razão, a história vai dizer.
 
A convocação para os praças sai amanhã (hoje)?
Sai amanhã (hoje). Vamos convocar para o curso de formação. Não vamos fazer solenidade, mas uma live pela internet. Ainda não decidi a forma. Mas sai, com os prazos para entregar documento. Tem uma série de requisitos antes de começar o curso. São 750 pessoas.
 
Vão chamar os bombeiros?
Sim. Há também um cronograma. Vou tentar trazer essa convocação também para amanhã. Precisamos muito. Há um deficit muito grande de pessoal.
 
A convocação é uma solução para a segurança no DF?
Sem dúvida. Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
 
O reajuste das forças de segurança vai sair?
Amanhã vota na comissão esse reajuste inicial, que foi aprovado. Espero que saia. Precisamos chegar naquilo que nos propusemos a fazer. Mas há um longo caminho. Será um aumento de 8% para as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros.
 
Hoje (ontem) completam-se cinco anos da Lei do Feminicídio. Os dispositivos de segurança estão funcionando?
Começa a funcionar agora. Mandamos para o Tribunal de Justiça para fazerem os protocolos deles. Voltou para a segurança pública na semana passada. As reuniões foram feitas e, nos próximos dias, os juízes poderão sentenciar os usos do aparelho que ficará com a mulher para ela acionar quando for preciso.
 
Existe alguma recomendação para policiais que atuam no dia a dia, na rua, em relação ao coronavírus?
Ainda não pensamos nisso. As coisas estão sob controle, não podemos fazer alarde ainda.
 
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Correio Braziliense segunda, 09 de março de 2020

MULHERES DESAFIAM VÍRUS E VÃO ÀS RUAS

 

Mulheres desafiam vírus e vão às ruas

 

Publicação: 09/03/2020 04:00

Em Santiago, uma multidão exige o fim da violência de gênero   (Javier Torres/AFP )  

Em Santiago, uma multidão exige o fim da violência de gênero

 



O temor de aglomerações e, consequentemente, da possibilidade de infecção pelo novo coronavírus não impediu que multidões fossem às ruas no mundo todo para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Mesmo com alguns confrontos violentos e prisões em vários países, as mulheres marcharam em locais distantes entre si, como Indonésia, Filipinas, Paquistão, França e Chile. Em muitos locais, as manifestações foram canceladas por questões de saúde.

Uma das mobilizações mais expressivas ocorreu em Santiago, a capital chilena, onde, segundo estimativas, aproximadamente 2 milhões de mulheres se reuniram em uma manifestação exigindo o fim da violência de gênero e protestando contra o governo de Sebastián Piñera. Desde outubro, o país é palco de protestos semanais em torno da possibilidade da adoção de uma nova Constituição, substituindo o texto de 1980, que data do período do ditador Augusto Pinochet.

Na Europa, as manifestações foram menores que o habitual. Ativistas do grupo Femen com os seios à mostra, luvas e máscaras de proteção, se reuniram na Place de la Concorde de Paris para denunciar “a pandemia patriarcal”. Sob rigorosas medidas de isolamento, a Itália não registrou protestos. O presidente Sergio Mattarella divulgou uma mensagem em vídeo para expressar seu agradecimento “às mulheres e às muitas que trabalham em hospitais e nas zonas (de quarentena) para combater a propagação do vírus”.

No Paquistão, mil mulheres desafiaram a sociedade ultrapatriarcal a se manifestar por seus direitos, às vezes embaixo de pedras e gravetos jogados por oponentes. Ao mesmo tempo, outra marcha reuniu mulheres com véu, que proclamavam sua “liberdade de viver de acordo com a Sharia”. Em Manila, nas Filipinas, centenas de mulheres e homens participaram de um protesto que queimou um efígie gigante do presidente Rodrigo Duterte, a quem eles acusam de misoginia.

Terceiro país com maior número de casos depois da China e da Itália, a Coreia do Sul cancelou vários eventos, devido à epidemia. “Embora não possamos estar fisicamente juntas, nossa determinação em obter igualdade entre homens e mulheres é mais forte do que nunca”, disse a ministra da Igualdade, Lee Jung-Ok, em um vídeo. Em Jacarta, na Indonésia, cerca de 600 pessoas pediram ao governo que revogasse leis consideradas discriminatórias e adotasse leis contra a violência sexual.
 
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Correio Braziliense domingo, 08 de março de 2020

MULHERES NADA INVISÍVEIS

 

Mulheres nada invisíveis
 
Mais respeito, qualidade de vida, igualdade de gênero e um serviço público de saúde digno são alguns desejos de trabalhadoras ouvidas pelo Correio no dia em que se celebra o poder feminino

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 08/03/2020 04:00

Instituído em 8 de março de 1908, o Dia Internacional da Mulher destaca muitas causas femininas conquistadas ao longo dos últimos séculos. Mais do que um dia de celebração e de receber agrados de amigos e familiares, a data também é uma oportunidade para alertar a população sobre os graves problemas de gênero que ainda persistem na sociedade, como a desigualdade de renda e de direitos, a violência, o machismo e o preconceito. O Correio saiu às ruas para saber das mulheres — de diferentes profissões, classes sociais e idades — o que elas mais desejam para esse dia tão especial. Confira os depoimentos:


 (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Midian de Sousa Targino, 23 anos, trabalha há três como frentista em um posto de gasolina no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) para sustentar as duas filhas, de 8 e 2. Moradora do Recanto das Emas, ela está no segundo semestre do curso de estética e afirma que o sonho é concluir a faculdade para trabalhar na área.

“Espero que as mulheres tenham mais qualidade de vida no futuro, que possam ingressar na carreira que almejam. Eu, por exemplo, quero trabalhar na área de beleza para ajudar a melhorar a autoestima das pessoas. Com isso, espero ganhar um bom salário para dar o melhor para as minhas filhas e poder colocá-las em uma escola de qualidade. Infelizmente, muitas mães sofrem com a educação pública precária de Brasília. Minhas filhas estudam em uma escola bem longe de casa, em outra quadra, porque não consegui vaga para elas em um colégio próximo. Precisamos de mais escolas para as nossas crianças. A população, em especial as mulheres, precisa ser mais respeitada e valorizada. Aqui (posto de gasolina) ainda sofro com o preconceito de alguns clientes. Existem motoristas agradáveis e que me tratam bem, mas há outros que dispensam nosso atendimento, porque acham que somos fracas, tanto na personalidade quanto nos afazeres.”


 (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Kátia Ferreira Dias, 25, mora em Planaltina e trabalha há cinco anos como balconista e auxiliar gerencial em uma padaria no Sudoeste. Mãe de um menino de 5 anos, ela sonha ser promovida no trabalho e ter mais tempo para a família.

“Para as mulheres, eu desejo um mundo sem preconceito e mais valorização no ambiente de trabalho. Na padaria, enfrento os julgamentos de clientes e até dos funcionários. Quando vou ajudar os padeiros, eles resistem e me tratam com indiferença, só pelo fato de eu ser mais nova e por ser mulher. Acham que sou inexperiente e frágil para auxiliá-los. O que mais me impressiona é que estamos em um século avançado e ainda temos que nos deparar com uma sociedade que desrespeita, maltrata e mata uma mulher, simplesmente por ser mulher. Essa realidade precisa mudar.”


 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press )  

Agda Oliver, 39, é proprietária da Oficina Meu Mecânico, em Ceilândia. Criado em 2010, o estabelecimento é destinado especialmente ao público feminino. A ex-bancária conta que a ideia de empreender sempre foi um sonho, mas teve de enfrentar as represálias de amigos e familiares. Mesmo assim, Agda se diz realizada profissionalmente por servir de espelho para outras mulheres.

“Nós, mulheres, precisamos ter mais confiança em nós mesmas. Sabemos do que somos capazes e não devemos dar ouvidos às falácias. Precisamos acreditar no que buscamos. Certa vez, uma pessoa entrou na rede social da minha oficina e disse que a empresa era apenas fachada e que não tinha relevância. Tentei não absorver o comentário maldoso porque, se alimentamos, acabamos acreditando. Isso nos leva ao fracasso. Mesmo assim, por mais que estejamos em uma era de preconceito, me acho uma mulher fora da caixinha e vitoriosa por abrir mão da função de bancária, em que todos os meus amigos e parentes me admiravam, para me tornar mecânica. O que precisamos é de cidadãos que tenham a capacidade de ajudar e colaborar na construção de uma boa sociedade e, acima de tudo, reconhecendo que as oportunidades são para todos.”


 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press )  

Fernanda Herval, 33, mora no Núcleo Bandeirante e é soldado da Polícia Militar há cinco anos. Mãe, esposa e dona de casa, ela tenta conciliar a rotina com o trabalho policial.

“A classe feminina ainda tem muito o que ser respeitada pela sociedade. Temos que colocar na cabeça que somos fortes o suficiente para dominar qualquer atividade. Para o Dia das Mulheres, desejo que o povo reconheça e valorize o nosso papel. Eu, como policial, ainda encaro grandes desafios, principalmente na rua. No quartel, dividimos os mesmos papéis com os homens e somos submetidas ao mesmo tratamento. Mas, quando estamos de ronda, sinto que a população ainda olha para as militares com indiferença, achando que não somos capazes e até nos desrespeitando.”



Adriana Ribeiro, 41, é cabeleireira e proprietária de um salão especializado em cabelos cacheados no Riacho Fundo I. O estabelecimento, fundado há oito anos, tem o objetivo de incentivar e valorizar a beleza negra, além de elevar a autoestima de mulheres e crianças afrodescendentes.

“Hoje, aos 41 anos, me considero uma mulher vitoriosa pela vida que tenho e pelos lugares aonde cheguei. Para todas nós, mulheres, desejo que, no futuro, possamos entender que podemos chegar aonde desejamos e que o estudo e a dedicação são as chaves das portas do sucesso. Almejo um futuro mais digno, em que possamos ter direito à educação de qualidade e que não seja preciso esperar por um leito na UTI para evitar a morte. O sistema de saúde deve ser preventivo, para que tenhamos uma vida de qualidade, na qual as políticas públicas estejam voltadas a quem realmente precisa.”



Sebastiana Custódio de Souza, 51, mora no Itapoã e trabalha com serviços gerais na Rodoviária do Plano Piloto há um mês. Na região onde mora, ela reclama da falta de segurança para com as mulheres.

“Desejo mais segurança, cuidado e consideração com as mulheres. Às vezes, a mulher apanha do marido e decide prestar queixa na delegacia. Mas, se ela não comprovar a denúncia, mostrando um hematoma ou mensagens ameaçadoras, não consegue registrar o boletim de ocorrência. Se não prova, não denuncia e isso fica impune. Falta apoio do Estado em garantir mais segurança para nós. O governo deveria promover mais campanhas contra a violência, ir de casa em casa alertando sobre a importância de denunciar, elaborar pesquisas e não esperar pela morte de mais uma mulher.  Precisamos de paz.”



Damiana Pereira de Carvalho, 30, mora em Planaltina e trabalha como cobradora há quatro anos. Mãe solteira de dois filhos, de 7 e 5 anos, ela admira a área em que atua.

“Queria muito que parassem de matar as mulheres. Quando uma mulher morre, não são só os filhos que sofrem, mas todas nós. Colocamo-nos no lugar uma das outras e sofremos por termos uma Justiça tão falha, que solta o assassino em poucos dias e tudo fica como se nada tivesse acontecido. Mas, ali, foi uma mãe, um ser humano e uma guerreira que morreu.”



Eliane Pereira Moraes, 43, 
mora em Planaltina de Goiás e trabalha com o marido em uma copiadora. Mãe de cinco filhos, de 25, 22, 20, 7 e 3 anos, ela sonha com um emprego melhor.

“Quero que as vagas de trabalho sejam também ofertadas ao público feminino, na mesma facilidade em que são para os homens. Ainda me deparo com situações de preconceito nesse meio. Certa vez, fui chamada para uma entrevista e estava praticamente tudo certo para a minha contratação, mas me perguntaram se eu tinha filhos, e o gestor disse que me ligaria depois. O ruim é saber que isso não acontece só comigo, mas com a maioria das mulheres que precisam sustentar a família.”



Ana Guedes Sales, 73, é costureira nos tempos livres e mora em São Sebastião. A aposentada sofre com problema na visão e tenta marcar uma consulta há mais de um mês no hospital. Ela critica o descaso da saúde pública.

“Desejo mais saúde para as mulheres. Infelizmente, o serviço de atenção primária da rede pública, especialmente às mulheres idosas, é precário. No hospital, se você é atendido nas consultas, não consegue ter atendimento nos exames, então o problema não resolve. Precisamos de mais médicos nas unidades de saúde para que tenhamos um atendimento digno. Não adianta querer acabar com o feminicídio se não tivermos um apoio das políticas públicas, principalmente de uma rede de apoio para o público feminino. É preciso nos unir, dar as mãos e pensar em formas de fazer isso.”



Júlia Charles da Rocha, 17, 
é estudante de alemão no Centro Interescolar de Línguas (CIL) e pretende seguir a carreira da docência, ministrando aulas de alemão e de português.

“O que desejo para as mulheres é que possamos andar nas ruas sem ter medo de sofrer um ato de violência sexual ou sermos vítimas de piadinhas e de assédio verbal, o que é constrangedor. Vivemos em um mundo que nos oprime. Então, é preciso ter coragem para lidar com os preconceitos da sociedade e enfrentar o desrespeito das nossas decisões. Às vezes, a mulher opta em não ter filhos, por exemplo, mas é hostilizada por ter essa escolha.”



Larissa Ribeiro, 21, é estudante de educação física. Moradora de Samambaia, sonha em ser técnica de ginástica rítmica e acredita que, para chegar lá, é preciso esforço, estudo e dedicação.

“Acredito que o respeito é a base de tudo. Se a sociedade começar a respeitar as mulheres e a tratá-las com dignidade, poderemos acreditar em um futuro melhor, sem violência e sem medo. Mas ainda enfrentamos uma barreira enorme de desigualdade salarial entre os gêneros, o abuso sexual, o feminicídio. São problemas que precisam ser solucionados o mais rápido possível.”



Natália Barbosa Alves, 24, é diarista e trabalha também como ambulante na Rodoviária do Plano Piloto para complementar a renda. Ela mora com a irmã no bairro Arapoanga.

“A proteção do Estado para defender as mulheres vítimas de violência ainda é muito falha. Conheço muitas amigas que apanharam do companheiro, pediram medida protetiva na Justiça, mas não conseguiram e continuam sofrendo, sendo submissas ao marido por causa do medo. Infelizmente, essa é a realidade. Não têm apoio e, por conta disso, muitas estão sendo mortas. Até quando vamos ter que aturar esses assassinatos?”



Wanderléia Oliveira, 29, trabalha há oito anos como servente em uma escola pública da Asa Sul. Feminista, a moradora do Riacho Fundo 1, luta pela igualdade de gênero.

“Como feminista, almejo que as mulheres se impunham na luta pela valorização do nosso papel. Este é o momento de nos unirmos em movimentos sociais, que envolvam o público masculino e feminino adeptos da causa. Abrir os olhos e entender que não se deve desmerecer ninguém. As mulheres são desvalorizadas em diversos ambientes, não podemos nos vestir como queremos, pois somos hostilizadas. Então, acredito que o feminismo seja o ponto da mudança. Merecemos respeito, até porque, dentro de casa, somos as coordenadoras, o braço forte da família.”
 
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Correio Braziliense sábado, 07 de março de 2020

FOLIA CAMPEÃ: BRASÍLIA, UMA CIDADE MONTADA

 

Brasília, uma cidade montada
 
 
Bloco das Montadas é eleito pela segunda vez consecutiva o melhor bloco do carnaval do Distrito Federal. Bloco do Seu Júlio foi o vice-campeão, e em terceiro lugar ficou o Concentra Mas Não Sai

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 07/03/2020 04:00

Bloco das Montadas recebe o troféu das mãos da diretora de Redação do Correio Braziliense, Ana Dubeux. Grupo também venceu a disputa em 2019 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Bloco das Montadas recebe o troféu das mãos da diretora de Redação do Correio Braziliense, Ana Dubeux. Grupo também venceu a disputa em 2019

 



A 5ª edição do #CBFolia elegeu o Bloco das Montadas como o melhor bloco de carnaval do Distrito Federal de 2020. Pelo segundo ano consecutivo, os componentes atenderam os critérios da comissão julgadora, que levou em consideração animação, estrutura, sustentabilidade e respeito ao próximo. A disputa acirrada ainda levou ao pódio, em segundo lugar, o bloco Seu Júlio, que tinha ficado com o bronze em 2019, e no terceiro lugar, o tradicional Concentra Mas Não Sai, com 20 anos de folia brasiliense. Os finalistas foram anunciados ontem, no auditório do edifício-sede do Correio Braziliense.

Com apenas três anos de existência, o Bloco das Montadas começa a misturar tradição com diversidade. A festa ocorreu no domingo de carnaval, no Setor Bancário Norte, e reuniu cerca de 60 mil pessoas, de acordo com os organizadores. Com o tema, Brasília, uma cidade montada, o bloco trouxe atrações nacionais como o Candy Bloco, uma banda carioca que transforma hits do pop em músicas de carnaval, e a Mulher Pepita, uma cantora trans muito conhecida do público LGBT.

“A gente quis brincar com o nome do bloco, com a questão da montação, já que somos todas drags, e Brasília, que também acaba sendo uma cidade montada. A decoração foi toda branca em homenagem aos monumentos da cidade, e em um determinado momento a gente pixava essa parte branca com as drags colocando cor na cidade”,  relembrou Mary Gambiarra, 30 anos, diretor artístico do bloco.

A diversidade e a inclusão também estiveram nos bastidores de criação do bloco. De acordo os organizadores, foram mais de 200 empregos diretos, além de 20 trans e drags que trabalharam como intérpretes de libra. Para Ruth Venceremos, 35, diretor-geral, o prêmio é resultado de muito trabalho para as comunidades envolvidas. “Para a gente é uma honra participar de mais uma edição desse prêmio, porque a comunidade LGBT está escanteada das políticas públicas. Então, ter esse reconhecimento de um jornal como o Correio Braziliense ajuda a dar visibilidade para a comunidade LGBT”, agradeceu.

Segundo lugar
O troféu de prata foi dado ao bloco mais tradicional de Planaltina, que neste ano, reuniu cerca de 40 mil pessoas. "Seu Júlio", presidente do bloco e quem dá o nome à folia, se emocionou ao receber o prêmio. “Fazemos um trabalho de formiguinha, ao longo de 11 anos. Em 2020, até a semana de carnaval, estava incerta a nossa saída por falta de recursos. Mas vendo minha agonia, os empresários se juntaram para ajudar e o bloco saiu. Agora, nós vamos trabalhar para ano que vem, subir mais um degrau e conquistar o primeiro lugar de melhor bloco do DF”, planejou Júlio Paixão, 59.

Neste ano, o Bloco do Seu Júlio teve um homenageado especial, o professor Mário Castro, 71, conhecido dos moradores de Planaltina como o autor da Via Sacra, historiador, grande influenciador da cultura e escritor. Para ele, foi uma honra participar do evento, que pela manhã contou com atividades para as crianças, e durante a tarde teve muita música para os adultos, sem nenhuma ocorrência policial registrada. “Eu acho que essa premiação significa que Planaltina, que é a mãe de Brasília, está sendo contemplada com uma coisa que ela esperou desde 1892, quando Luiz Cruls esteve nessa região demarcando o Distrito Federal”, ressaltou.
 
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Correio Braziliense sexta, 06 de março de 2020

GUACIRA DE OLIVEIRA - DE MÃOS DADAS COM O FEMINISMO

 

De mãos dadas com o feminismo
 
 
O Correio conta a história de Guacira de Oliveira, uma das fundadoras do Cfemea, na quarta reportagem da série Elas vão à luta. Em 30 anos de trabalho, ela se tornou referência em estudos e manifestações sobre os direitos das mulheres

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 06/03/2020 04:00

 

"O Brasil é um dos países com maior desigualdade na presença de homens e mulheres dentro do parlamento e isso retrata bastante a exclusão que acontece em outros espaços"

 

 
Da indignação contra injustiças sociais veio a sede de mudar o mundo que, desde a adolescência, move a socióloga Guacira Cesar de Oliveira, 60 anos. Uma das fundadoras do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), ela leva na bagagem um histórico de ativismo e luta pela igualdade de direitos que passam, inclusive, pelos debates que ajudaram a criar leis históricas de proteção às mulheres, como a Maria da Penha.
 
Natural do estado de São Paulo, ela se mudou para a capital federal aos 17 anos, quando prestou vestibular para a Universidade de Brasília (UnB) e foi aprovada para o curso de ciências sociais. Ali teria início o engajamento social que a acompanha até hoje. “Entrei na UnB em 1977, em um momento em que a universidade estava ocupada pela polícia. Então, já cheguei indignada e me encontrei no movimento estudantil logo de cara.”
 
Na vida universitária, teve o primeiro contato com o feminismo, após se debruçar sobre as páginas do livro O segundo gênero, de Simone de Beauvoir. “Eu vivi na pele a dificuldade de ser uma jovem mulher na luta contra a ditadura”, destaca. “Havia uma discriminação com a nossa presença. Diziam que uma mulher serve para florir a mesa, mas na hora de resolver as coisas, é conversa de homem. Essas coisas que se diz até hoje.”
 
Por meio da leitura de autoras feministas e a formação de um grupo de estudos, Guacira se aproximou do movimento. Com as companheiras, fez parte de diversas manifestações e protestos. “Lembro-me de fazermos uma vigília no terreno onde hoje está a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, porque queriam destinar aquele espaço para outra coisa. Nós queríamos a Deam, então, nos engajamos nesta causa.”
 
A socióloga, que começou trabalhando como secretária, atuou no Fórum de Mulheres do DF e Entorno, onde passou a lutar para que os direitos das mulheres estivessem garantidos na nova Constituição, que seria promulgada em 1988. Acabou convidada para ser assessora técnica na área de articulação institucional do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, em 1987.
 
Dessa posição, conheceu grupos feministas do Brasil inteiro e ampliou os horizontes. “Quando a Constituinte chegou, a gente tinha certeza de que havia princípios importantes, mas que desdobrar isso em uma legislação que, de fato, significasse uma transformação na vida das mulheres, ainda exigiria muita luta”, recorda. “Era preciso nos fortalecer frente ao Congresso.”
 
Mobilização
 
A participação na instituição, no entanto, não durou muito. Ao ver que as verbas para campanhas eram cortadas, ela e as demais conselheiras entregaram os cargos. “Nós víamos que era importante estar organizadas para juntarmos forças e seguir nessa conexão com movimentos de todo o país”, lembra. Preocupadas com a regulamentação de direitos, elas criaram o Cfemea, em julho de 1989. “Nesses anos todos, a gente foi construindo um espaço de articulação com os movimentos de mulheres e com o Congresso Nacional.”
 
Em palestras, oficinas, estudos e manifestações, Guacira, junto ao centro, desenvolveu o diálogo que permitiu o debate e a construção de diversas leis. Entre elas, a Lei Maria da Penha. “Havia um princípio constitucional que protegia a mulher contra a violência doméstica, mas não existia uma estrutura que desse base a isso”, afirma Guacira.
 
O Cfemea ajudou a elaborar o primeiro projeto do que, em 2006, se tornaria o principal guia de defesa de vítimas de agressão doméstica em todos os níveis. Outra luta foi pelo planejamento familiar. “Não havia políticas públicas que garantissem formas de contracepção. A própria laqueadura e esterilização de homens não estavam previstas na rede pública.”
 
Batalhar pela participação feminina na política foi outro passo importante. “O Brasil é um dos países com maior desigualdade na presença de homens e mulheres dentro do parlamento, e isso retrata bastante a exclusão que acontece em outros espaços”, avalia. Nas contas da socióloga, o centro esteve envolvido na discussão de ao menos 80 leis ao longo dos últimos 30 anos. “As desigualdades de gênero são algo crucial, que temos de enfrentar para construir justiça. Esse governo está justamente na contramão disso.”
 
8 de março
 
No dia Internacional da Mulher, Guacira garante que há muito para ser comemorado. “Nós transformamos a sociedade brasileira. Se algumas injustiças e desigualdades foram enfrentadas nesses 500 anos de Brasil, nós temos muito a ver com isso. Demos a cara e a coragem para isso acontecer.” Contudo, ainda muito é preciso fazer para combater o machismo. “Existe um movimento neopatriarcal que quer voltar a mulher para a submissão dos maridos. Há toda uma construção conservadora tentando ser resgatada.”
 
Na visão dela, a atual conjuntura política tem contribuído para que cenários de violência continuem crescendo. “É assustador esse machismo e misoginia que estão crescendo e sendo nutridos. Vamos lutar, porque as nossas conquistas e vidas estão ameaçadas, mas podemos resistir a essa ofensiva conservadora”, garante. A resistência, aliás, ainda deve continuar por muitos anos. A ativista descarta a possibilidade de aposentadoria tão cedo.
 
Da adolescente guerreira para hoje, poucas são as diferenças. A dedicação para lutar pelo que quer, ela atribui à mãe. Vítima das agressões do marido, ela se separou e seguiu com os irmãos caçulas de Guacira para Brasília. Vendeu bijuterias, foi camelô e, por fim, abriu um sebo de livros na Asa Norte. “A separação foi quando ela pôde dar asas a quem era, e ao desejo que tinha de ter autonomia. Minha mãe, para mim, é inspiradora.”

Para saber mais
 
Universidade Livre Feminista
Iniciada como um espaço virtual, mas hoje presencial, a Universidade Livre Feminista é um espaço de discussão e acesso a cartilhas, artigos, livros e vídeos, além de fóruns de debate e cursos on-line. Cerca de 3 mil pessoas estão inscritas e quase 5 mil acessam a plataforma diariamente. O objetivo é promover a reflexão e a troca de ideias, além de vivências e de experiências entre mulheres de diferentes identidades e campos de atuação, assim como com outros grupos e indivíduos.


Destaques
Elas estão na educação, na saúde, no esporte, na política. Não importa a área, as mulheres, há muito, deixaram para trás o estigma de cuidar do lar e dos filhos e assumiram lugar de destaque, servindo de inspiração para todos. Na série Elas vão à Luta, o Correio conta as histórias dessas pessoas de destaque no Distrito Federal.
 
 
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Correio Braziliense quinta, 05 de março de 2020

MÁRCIA ABRAHÃO - A PRIMEIRA NO COMANDO

 

A primeira no comando
 
 
A terceira matéria da série Elas vão à luta traz o perfil de Márcia Abrahão, primeira mulher eleita reitora da Universidade de Brasília. Sob a gestão dela, estão mais de 6 mil funcionários e 46 mil estudantes em quatro câmpus

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 05/03/2020 04:00

 

"É um desafio mostrar que sabemos gerir e fazemos isso bem. Ainda existe muito preconceito na universidade e na sociedade"

 

 
Da janela do prédio de concreto, Márcia Abrahão, 55 anos, conquistou o direito de trabalhar com uma das vistas mais bonitas de Brasília: a Universidade de Brasília (UnB), que se estende até o Lago Paranoá. O espaço que a acolheu desde a graduação, em geologia, é hoje escritório para a primeira mulher eleita reitora da instituição, em 2016. A agenda lotada de compromissos não a impede de apreciar o que se passa nos jardins. “Vejo os jovens estudando, namorando, passeando. É muito lindo.” Carioca, filha de militar, cresceu com o coração entre Rio e Brasília.
 
A vida na academia teve início em 1982. A escolha do curso veio por influência de uma professora. “Eu queria estudar engenharia química, mas não tinha em Brasília e meus pais não tinham condição de pagar um curso fora. Então ela me sugeriu ser geóloga e eu adorei”, declara. A formação a levou a ser aprovada em um concurso da Petrobras que a fez mudar-se para o Rio de Janeiro. Ela só deixou a empresa após se casar e decidir voltar a morar em Brasília.
 
Aqui, foi servidora do Banco Central, período em que deu início a um mestrado, seguido de doutorado, ambos pela UnB. Foi professora do Departamento de Geologia e pesquisadora pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Paralelamente, traçava o caminho da carreira administrativa. Atuou como coordenadora de Extensão, diretora do Instituto de Geociências, decana de Graduação e, finalmente, reitora.
 
A cinco meses da escolha de um novo nome, ela cogita uma reeleição. “Estamos avaliando. Ainda há muito o que fazer primeiro.” Nos últimos quatro anos, esteve à frente de uma das maiores universidades do país, onde estudam 46 mil alunos e trabalham cerca de 6 mil funcionários, entre técnicos-administrativos e professores. Na gestão, reforçou a presença delas em posição de liderança: dos oito decanos, cinco são mulheres. “É um desafio mostrar que sabemos gerir e fazemos isso bem. Ainda existe muito preconceito na universidade e na sociedade”, avalia.
 
Ela explica que buscou montar uma equipe diversificada, com nomes de câmpus diferentes, mas que a competência foi sempre o primeiro critério. “O comum sempre foram os homens em cargos de gestão, então quando uma mulher assume essa posição, isso acaba chamando a atenção.” O desafio de mostrar que é capaz nunca a intimidou. “A geologia sempre foi uma área predominantemente masculina. Hoje ainda é, imagine naquela época. Era sempre a história de que mulher não dirige em viagem de campo, não sobe o morro. Mas as pessoas acabavam respeitando ao ver a qualidade do trabalho.”
 
Família
 
O malabarismo de conciliar carreira, vida pessoal e família fez com que Márcia, por vezes, tomasse decisões difíceis. A primeira gravidez veio um ano após o casamento, quando ela já estava no mestrado. Preocupada com o efeito disso na pesquisa que desenvolvia, veio a angústia de informar ao orientador. “Ele sempre foi muito cuidadoso, mas eu estava nervosa. Quando contei, ele me deu os parabéns e deu tudo certo.” Ao final do curso, uma segunda gestação.
 
Depois, deu início a um doutorado, com a oportunidade de um semestre na França. O pós-doutorado ocorreu no Canadá. Em ambas as situações, os filhos a acompanharam. “Isso foi muito importante para eles, porque abriu as perspectivas. Recentemente, minha filha passou dois anos no Canadá”, destaca. “Sempre foi complicado (conciliar o tempo). Meus filhos cresceram vendo a mãe trabalhando e viajando muito. Mas eu procuro, na medida do possível, estar sempre com eles.”
 
Igualdade de gênero
 
Apesar de comemorar as conquistas das mulheres em cargos de liderança, Márcia afirma que ainda há muito o que avançar. “O caminho é longo. Já fizemos uma grande caminhada, é preciso reconhecer. Mulheres lutaram para chegarmos aqui, para estudarmos em universidades, para votarmos, mas falta muito”, pondera. “É inconcebível termos a quantidade de feminicídio que temos. É inconcebível esse horror na capital do país. Do mesmo modo, é ver, em muitas profissões, mulheres que ainda ganham menos do que homens que exercem as mesmas funções.”
 
Em 2019, ela recebeu, do Senado Federal, o Diploma Bertha Lutz, um prêmio em reconhecimento às mulheres que atuam na emancipação feminina. Márcia se diz humanista e refuta o rótulo de esquerdista, atribuído a ela desde a primeira campanha à reitoria, em 2012. “Eu sou filha de militar e estudei na época em que a UnB vivia a ditadura. A minha concepção de mundo se formou dessa forma, com um pai rígido e em uma universidade que questionava o reitor”, detalha.
 
Mas ela admite ter mais afinidade com concepções de centro-esquerda. “Nunca fui filiada a partidos políticos, apesar de acharem o contrário. Sou a favor da universidade pública, das cotas e dos direitos humanos. Quem quiser, que me rotule, mas eu não farei isso.”


Elas vão à luta
Elas estão na educação, saúde, esporte, política. Não importa a área, as mulheres, há muito, deixaram para trás o estigma de cuidar do lar e dos filhos e assumiram lugar de destaque, servindo de inspiração para todos. Na série Elas vão à Luta, o Correio conta algumas dessas histórias no Distrito Federal.


Carreira
Veja o passo a passo da trajetória acadêmica de Márcia Abrahão
 
1986
Graduação em geologia pela Universidade de Brasília
 
 
1993
Mestrado pela UnB
 
 
1998
Doutorado na UnB, com período sanduíche na Université d’Orleans, na França
 
 
2003 
Pós-doutorado pela Queen’s University, no Canadá
 
 
Áreas de atuação
metalogenia, hidrotermalismo, inclusões fluidas, isótopos estáveis, petrologia e mineralogia.
 
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Correio Braziliense quarta, 04 de março de 2020

TORNEIO DE ROBÓTICA: DF REPRESENTADO EM SÃO PAULO

 

TORNEIO DE ROBÓTICA
 
 
DF representado em São Paulo
 
Estudantes brasilienses chegam à capital paulista na sexta-feira para participar de campeonato nacional organizado pelo Sesi. Quatro equipes disputarão em duas modalidades

Equipes do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga vão representar o DF em campeonato nacional de robótica, em São Paulo. O Festival Sesi reunirá 1,5 mil estudantes, com idade entre 9 e 19 anos, de todo o país. Eles vão apresentar pesquisas e robôs criados com foco no desenvolvimento das cidades. Vencedores da competição vão participar de torneios internacionais., Moacir Evangelista/Sistema Fibra

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 04/03/2020 04:00

O time do Distrito Federal conta com 21 estudantes de escolas do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga (Moacir Evangelista/Sistema Fibra)  

O time do Distrito Federal conta com 21 estudantes de escolas do Sesi do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga

 

 
Vinte e um estudantes das escolas do Serviço Social da Indústria (Sesi) do Gama, de Sobradinho e de Taguatinga representarão o Distrito Federal no Festival Sesi de Robótica, em São Paulo, a partir da próxima sexta-feira. O grupo é dividido em quatro equipes, que competirão nas modalidades First Lego League (FLL) e F1 In Schools. O evento reunirá 1,5 mil alunos, entre 9 e 19 anos, de todo o Brasil, no Pavilhão da Bienal (leia Programe-se).

Nesta temporada, o tema trabalhado em FLL é City Shaper — modelador de cidade —,  com foco no desenvolvimento para as cidades. Cada equipe é avaliada pelo projeto de pesquisa, pelo design do robô, pela programação na execução de desafios e pelo cumprimento dos valores éticos da competição, como espírito de equipe e respeito aos times. Os grupos mais bem colocados em torneios nacionais, realizados em todo o mundo, garantem vaga nas competições internacionais promovidas pela FLL.

Esta é a sexta vez que a capital é representada no festival. Este ano, três equipes do DF — Albatroid, Bisc8 e Legofield — disputarão na modalidade FLL. A estudante Letícia Souza, 14 anos, é integrante do primeiro grupo. No ano passado, ela chegou ao Campeonato Mundial, realizado na Austrália, e levou o primeiro lugar na categoria. A expectativa é ganhar mais um prêmio. “A gente continua com a mesma garra e força de vontade. Queremos ganhar mais um prêmio para não passar em branco a nossa passagem pelo nacional. Queremos chegar lá de novo”, disse.

No campeonato de F1 In Schools, são feitos desafios envolvidos em uma corrida de carros até o fim, desde a criação da escuderia até a disputa nas pistas, reproduzindo uma equipe de Fórmula 1. Os estudantes fazem todo o gerenciamento do time, criando um plano de negócios que prevê ações de marketing, divulgação em mídias sociais e busca por patrocínios — esse último cobrirá os custos da competição, como a confecção de uniformes, a alimentação e o transporte. Eles também desenvolvem um projeto social, que pode ser usado como critério de desempate no resultado.
 
Conquista
 
O DF esteve presente em mais de 33 competições, entre nacionais e internacionais. Para a coordenadora de Robótica do Sesi no DF, Elisângela Machado, ter brasilienses representando a capital é motivo de orgulho. “É uma etapa importante, porque fortalece o projeto deles. E isso é uma conquista grande. Tem alunos que vão pela primeira vez e estão bastante ansiosos. A cada ano, eles se fortalecem mais”, afirmou.

O festival ocorre até domingo. Na sexta-feira, o evento receberá o Seminário Internacional Sesi de Educação, com transmissão ao vivo no site oficial (www.portaldaindustria.com.br/cni/eventos/seminario-internacional-sesi-de-educacao). No sábado e domingo, os participantes terão acesso a workshops e palestras sobre temas relacionados a tecnologia e robótica.


Programe-se
O quê: Festival Sesi de Robótica
 
Quando: 6 a 8 de março
 
Onde: Pavilhão da Bienal, 
em São Paulo
 
Entrada: gratuita
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Correio Braziliense terça, 03 de março de 2020

GINA VIEIRA PONTE - COM A FORÇA DA EDUCAÇÃO

 

Com a força da educação 
 
 
O Correio Braziliense começa hoje uma série de reportagens contando as histórias de mulheres que são exemplo para gerações. O primeiro perfil é o da professora Gina Vieira Ponte, idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 03/03/2020 04:00

 

"A educação não se dá só no contexto escolar. Precisamos conscientizar os homens, para que entendam que a cultura machista traz prejuízos para eles também. Eles precisam entender que essas masculinidades hegemônicas são tóxicas e destrutivas"

 

 
Nascer mulher, negra, pobre e de periferia, no início dos anos 1970, significava, para muitas, ter de trabalhar desde cedo para ajudar na renda familiar. A consequência disso era, na maioria das vezes, abandonar os estudos, casar-se. Nadar contra a corrente não era tarefa fácil, mas assim fez Gina Vieira Ponte, 48 anos, idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras. O Correio inicia hoje, com a história dessa mulher inspiradora, a série de reportagens Elas vão à luta.
 
Graças à mãe, determinada em garantir uma educação para todos os seis filhos, Gina estudou e formou-se como professora. Ir para as aulas com sapatos furados, roupas puídas e até mesmo de estômago vazio não a impediu, mas um obstáculo maior era motivo de desânimo: o racismo. “Eu esperava que a escola fosse um lugar libertador. Desde sempre, soube que me traria conhecimento, mas também foi um espaço onde eu sofreria violência, xingamentos e até o abuso de professores”, lembra.
 
Criança, ela se viu buscando a invisibilidade, para que não chamasse a atenção. No entanto, uma professora, também negra, a notou. “Ela me percebeu e estava decidida que eu aprendesse. Com ela, ressignifiquei a minha percepção de mim mesma, me reconstruí e decidi, aos 8 anos, que seria professora”, afirma. “Queria proporcionar para outras crianças a experiência transformadora que aquela mulher tinha me oferecido.”
 
Os primeiros alunos foram três irmãos mais novos. Sozinha, Gina alfabetizou todos. Aos 17 anos, concluiu o ensino médio, na Escola Normal, e prestou concurso para a rede de educação, dando início à carreira aos 19. Em 2003, viveu um baque profissional, quando começou a dar aulas na mesma escola de Ceilândia onde havia estudado, 11 anos antes. A turma de adolescentes deu as costas à professora. “Minha primeira reação foi de desespero. Depois, veio a sensação de angústia e fracasso. Sentia que não estava cumprindo o meu papel.”
 
Em lugar de lamentar, no entanto, Gina buscou especializar-se, estudando na Universidade de Brasília (UnB), e percebeu que era hora de questionar a própria instituição. Ela passou a ouvir os alunos e a entender o universo deles. “Entrei nas redes sociais como ferramenta pedagógica para conversar com eles, saber o que acessavam e do que gostavam.”
 
A estratégia ajudou, mas fez com que, um dia, a professora se deparasse com o vídeo de uma aluna negra, de 13 anos, que a chocou. “Ela dançava uma música erótica, usando uma roupa que expunha o corpo. A letra era profundamente desqualificadora às mulheres”, detalha. “Aquilo me incomodou, porque as imagens poderiam fazer com que ela fosse interpelada por um pedófilo. Mas eu sabia que, se fosse conversar com ela, poderia ser censurada. Fui tentar entender melhor e vi que a sociedade apresenta aos jovens, modelos de mulheres padrão, sempre objetificadas.”
 
Esse foi o pontapé para que, em 2014, nascesse o projeto Mulheres Inspiradoras (leia Para saber mais). “Não se via falar em pesquisadoras, cientistas, estudiosas. Eram sempre corpos reduzidos para o consumo”, critica. “Selecionei 10 biografias diferentes para, nessa perspectiva, dizer que todas nós podemos ser protagonistas das nossas histórias e deixar de lado a representação hegemônica que só celebra o corpo magro e branco a serviço dos interesses do patriarcado.”
 
Feminismo
 
“O feminismo clássico, acadêmico, resultado de pesquisas teóricas, chegou muito tarde para mim”, assume Gina. Nem por isso, deixou de vir, mas de outra forma. Primeiro, na prática, por meio de dona Djanira. “Minha mãe me fez acreditar que a educação era o caminho para a minha liberdade como menina e como mulher.” À matriarca, Gina atribui o título de mulher mais inspiradora da vida. “O projeto é uma grande declaração de amor pela mulher extraordinária que ela foi e pelo que fez para que eu pudesse ter a trajetória que tive. É uma grande homenagem a ela.”
 
Defensora da igualdade de gênero, a professora acredita que houve avanços no tema, embora poucos. “Devemos ser muito gratos ao movimento de mulheres. Se hoje a gente tem apontamentos para que os sistemas sejam trabalhados, isso se dá graças à pressão dos movimentos sociais”, ressalta. “Mas se a gente olhar para a quantidade de mulheres que ainda sofrem violência, para mim, isso é um indicador de que estamos muito atrasados.”
 
Ela destaca a importância de orientação não só para vítimas, mas para agressores também. “A educação não se dá só no contexto escolar. Precisamos conscientizar os homens, para que entendam que a cultura machista traz prejuízos para eles também. Eles precisam entender que essas masculinidades hegemônicas são tóxicas e destrutivas”, declara Gina, que acredita que não há o que se comemorar. “Na atual conjuntura política, menos ainda. Hoje, enxergo muito retrocesso.”
 
A luta continua
 
Para o futuro, uma coisa é certa: o trabalho segue. O objetivo de Gina é agregar cada vez mais professores ao Mulheres Inspiradoras, que hoje está também presente em Campo Grande. “Já é mais do que um projeto. É uma concepção de mundo que eu quero que chegue a todas as pessoas, dizendo que nenhuma mulher e menina pode ser violada. É lutar por um mundo mais justo para todos nós.”
 
Enquanto isso, o trabalho é acompanhado de perto por um jovem menino, que, aos 9 anos, já aprende os conceitos de igualdade. Luís Guilherme, filho de Gina, é o maior presente. “Ele acompanha tudo. Quis a vida que eu tivesse um menino e está sendo desafiador. O projeto nasceu depois dele, não por acaso. Ele me fez olhar para o mundo de outra maneira e pensar no que meu filho vai encontrar e como posso colaborar para que seja mais justo, digno e bonito.”


Para saber mais

Inspiração para a vida
O projeto, iniciado em 2014, leva para a sala de aula, histórias de mulheres que fizeram história. Os alunos descobrem as biografias de personalidades como Cora Coralina, leem livros como Eu sou Malala e O diário de Anne Frank. Além disso, escolhem, no fim, uma mulher inspiradora da vida deles. O trabalho está em 41 escolas do DF, e já chegou também a Campo Grande.
 
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Correio Braziliense segunda, 02 de março de 2020

TODO APOIO À FRUTICULTURA

 

Todo apoio à fruticultura
 
Com uma produção diversificada e grande mercado consumidor, Brasília pode se tornar um polo produtor do setor

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 02/03/2020 04:00

Reinaldo Romeiro tem o cultivo de uva como principal fonte de renda da família (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Reinaldo Romeiro tem o cultivo de uva como principal fonte de renda da família

 

Goiaba, uva, maracujá, limão. É difícil relacionar todas as frutas produzidas no Distrito Federal. Em uma região dominada pela produção de grãos e em que o mercado consumidor de fruta gera muita demanda, a fruticultura tem ganhado destaque. Para especialistas, a unidade da Federação tem grande potencial para se tornar um polo produtor do setor. Em busca de fomentar o cultivo, o projeto Rota de Fruticultura, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e parceiros, como a Superintendência Federal de Agricultura, está prestes a ser implantado.

Segundo a pesquisa Vigitel, de 2018, do Ministério da Saúde, 38,8% dos adultos brasilienses consomem fruta regularmente e 27,5% consomem o alimento mais de cinco vezes na semana. Pensando nesse mercado, o agricultor Reinaldo Romeiro, 67 anos, apostou na produção de uva em Brazlândia. “Senti que tinha muita demanda e pouca gente produzindo. Quando eu plantei, em 2014, só havia um produtor de uva em Planaltina. Então, comecei a pesquisar”, conta. Para começar a plantação da fruta, Reinaldo buscou ajuda em Goiás, mas só teve resultados com a orientação de um especialista de São Paulo. “Encontrei um profissional da Embrapa. Ele veio para Brasília me dar assistência e até hoje me ajuda”, relata.

Além do especialista, Reinaldo passou a contar com  o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). A plantação não só deu certo, como hoje é a principal fonte de renda do agricultor. “Quando colhi as primeiras uvas, fiquei até assustado. Na primeira vez, colhemos em torno de 10 toneladas”, lembra. A plantação cresceu e Reinaldo já chegou a colher 30 toneladas em um ano, a mesma quantidade que o produtor espera para 2020.
 
Outras opções
Se na propriedade de Reinaldo as uvas dominam a plantação, a poucos quilômetros dali, a goiaba e o abacate são os destaques do agricultor Yukio Yamagata, 66. Ao todo, são cerca de 35 hectares dedicados aos cultivos. “Eu comecei na agricultura plantando hortaliça, mas faltava muita água e acabei indo para a fruticultura. Estou nessa área há cerca de 30 anos”, destaca Yukio.

Hoje, ele tem dois pontos de venda: na Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) e na Feira do Produtor. A produção de fruta também gera renda para outras famílias. Seu Yukio emprega 15 funcionários. Para ele, a fruticultura é muito rentável, porém difícil de começar. “Exige um certo capital. Muita gente quer mudar, mas não consegue. A fruta é algo que demora a retornar. A goiaba mesmo demorou uns cinco anos para começar a produzir bem”, comenta.
 
Incentivo
São produções como as de Yukio e Reinaldo que a Rota da Fruticultura pretende fomentar, além de motivar outros agricultores a produzirem frutas no Distrito Federal e no Entorno. A ideia é fazer isso por meio de formação, investimentos e apoio.
“Um dos maiores mercados consumidores do Brasil está em Brasília. Hoje, grande parte das frutas vêm de fora. A nossa produção é muito pequena perto do consumo”, ressalta o superintendente federal de Agricultura do DF, William Barbosa. “Um pequeno produtor consegue ter uma renda bem superior a outras atividades. Em média, a receita de um hectare de fruta corresponde a 30 hectares de soja”, observa.
O primeiro passo da rota será fazer um diagnóstico para conhecer a cadeia produtiva, desde o cultivo até a comercialização. Assim, será possível identificar as demandas e definir as prioridades. “Vamos organizar oficinas, distribuir material de divulgação, levantar todo o diagnóstico do Distrito Federal e da Ride (Rede Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno), além de chamar os bancos, empresas de crédito, instituições de pesquisa e assistência técnica”, cita William.

A primeira oficina deve ocorrer em Brazlândia, em abril, segundo o superintendente. “Depois disso, vamos iniciar a capacitação dos técnicos, principalmente da Emater e do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar). Será um curso modular, em que vamos capacitar os profissionais em mais de 10 culturas”, detalha.

O extensionista Felipe Cardoso, da Emater do DF acredita que a iniciativa vai ajudar os produtores a se desenvolverem juntos. “É um arranjo produtivo local. Todo mundo vai se desenvolver, e isso traz investimento público e privado. Os produtores começam a enxergar o mercado”, analisa.
 
Novos cultivos
Atualmente, mais de 1,4 mil hectares são destinados à fruticultura no Distrito Federal, segundo a Emater. Algumas culturas já são fortes na região, como a goiaba e o maracujá, enquanto outras estão em desenvolvimento. “Temos as frutas de clima temperado — maçã, pera, uva — que é algo bem inicial. São frutas que não são caracteristicamente daqui do cerrado, mas, se escolher a variedade correta e adaptada para a nossa região, é completamente possível produzir”, destaca Felipe Cardoso.

Ronaldo Triacca, 54, é um dos produtores que resolveram investir na cultura de uva. Como é descendente de família italiana, a produção, iniciada em 2018, tem como finalidade a comercialização de vinho. “Era um sonho, e o clima de Brasília ajudou. Para fazer um bom vinho, a uva precisa de uma boa amplitude térmica e de altitude. Aqui, nós temos esses dois fatores”, comemora o agricultor da região do PAD-DF.
Para a produção do vinho, Ronaldo se reuniu com outros oito agricultores e, juntos, viabilizaram a vinícola. A expectativa é de que as atividades da rota possam ajudar mais profissionais rurais a se organizarem. “Esse projeto pode dar um grande suporte na comercialização. Isso pode nos ajudar a encontrar ferramentas e novos caminhos para a venda de um produto com qualidade”, ressalta.
 
Variedade
 
Confira algumas produções que têm ganhado destaque no DF
Goiaba - Brazlândia
Maracujá - Núcleo Rural Pipiripau
Banana - Sobradinho
Uva para vinho - PAD-DF
Uva para mesa - Planaltina
Abacate - Planaltina
Maçã - Lago Oeste
Limão e graviola - Gama
 
 
Fonte: Felipe Cardoso, extensionista da Emater-DF 
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 01 de março de 2020

NEY MATOGROSSO: EU QUERO BOTAR MEU BLOCO NA RUA

 

Eu quero botar meu bloco na rua
 
Em entrevista exclusiva ao Correio, Ney Matogrosso fala sobre a escolha do repertório do novo álbum e promete cair na estrada a partir de março

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 01/03/2020 04:00

 
Um ano depois de botar o pé na estrada com o show Bloco na rua, Ney Matogrosso chega ao mercado com o álbum duplo homônimo, gravado no Teatro Bradesco, no Rio de Janeiro. Lançando anteriormente nas plataformas digitais, este novo projeto do cantor, com mais de quatro décadas de carreira, reúne canções de Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Raul Seixas, Rita Lee, Itamar Assumpção, Herbert Vianna, Secos & Molhados e do piauiense-brasiliense Clodo Ferreira.
 
Ney idealizou Bloco na Rua em 2017, quando percorria o país com, Atento aos sinais, seu espetáculo com mais tempo em cartaz — cinco anos. Ao Correio, revelou que tudo teve origem com Eu quero é botar meu bloco na rua, marcha-rancho do compositor capixaba Sérgio Sampaio, que sempre quis cantar. “Criei vários repertórios e em todos essa música estava presente”.
 
O cantor tem no projeto a companhia da banda formada por Sacha Ambach (teclado e direção musical), Marcos Suzano e Felipe Rosena (percussão), Maurício Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone) e o brasiliense Dunga (baixo). O figurino foi criado sob medida pelo estilista cerense Lino Villaventura. Luiz Stein assina o cenário; enquanto Juarez Farinou dirigiu a iluminação, tudo com supervisão de Ney.
 
Bloco na rua, antes do registro, arrebatou plateias de todas as regiões do país e também de Portugal, em quase 60 apresentações. Só em Brasília — onde iniciou a trajetória artística, no fim da década de 1960 — Ney esteve três vezes e espera voltar em 2020. A excursão que será retomada em São Paulo, em março, leva Ney também à Europa e aos Estados Unidos, em julho.
 
 
 (Rita Vicente/Divulgação)  
 
 
A exemplo do Beijo bandido e Atento aos sinais, lançados em 2011 e 2014, respectivamente, você ficou quase um ano em cartaz com o Bloco na rua, antes de fazer o registro ao vivo. Esse critério tem a ver com a maturação do show?
A ideia é esta. Ao longo de 10 meses apresentei o show pelo país e na Europa. Busquei sentir a resposta do público. Quando achei que estava pronto, e bem ao meu gosto, entrei no Teatro Bradesco, aqui no Rio de Janeiro, em outubro de 2019, e gravei ao vivo o CD e o DVD. O disco foi lançado inicialmente nas plataformas digitais e agora no formato físico.
 
 
O DVD sai quando?
Acredito que em março, após passar pelo processo burocrático, que antecede o lançamento.
 
 
Por que a opção de gravar ao vivo sem a presença de plateia?
Desta vez quis dar um tratamento diferenciado. Em vez de uma simples reprodução do show, foi feito um filme do Bloco na rua, sob a direção do Felipe Nepomuceno, que vem trabalhando comigo há algum tempo. Conseguimos takes superdiferentes, com imagens cinematográficas.
 
 
Com o Atento aos sinais, você ficou cinco anos em cartaz. Que estimativa faz em relação ao Bloco na Rua?
Estou em turnê desde janeiro do ano passado. Fiz 56 apresentações em 2019. Parei para as gravações e agora para o lançamento do álbum. Estive em todas as regiões do país e, em algumas cidades, fui mais de uma vez. Em São Paulo foram seis vezes, e aqui no Rio, cinco. Em Brasília fiz três shows, dois no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e outro num festival. Fui mais de uma vez também a Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba.
 
 
A turnê será retomada quando?
Volto a botar o pé na estrada logo, pois retorno a São Paulo para apresentações nos dias 6 e 7 de março. Há compromissos na agenda até junho.
 
 
E no segundo semestre?
Em julho volto à Europa e faço o show em Lisboa, Paris, Amsterdã e vou pela primeira vez a Berlim. Em seguida me apresento em Nova York.
 
 
Imagino que vê o espetáculo como um todo. Mas se tivesse que apontar momentos mais impactantes, quais seriam eles?
Eu diria que o show caiu no gosto das pessoas desde a estreia no Vivo Rio, aqui no Rio de Janeiro. O público reage calorosamente desde a abertura, quando canto Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio. Essa música, aliás, estava presente em todos os roteiros que criei, até chegar o que foi para o palco. Por motivos diversos, canções como Pavão mysterioso (Ednardo), A maçã (Rul Seixas e Paulo Coelho), Yolanda (versão de Chico Buarque, do cubano Pablo Milanés), Coração civil (Milton Nascimento e Fernando Brant) e Sangue latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça) são recebidas com muito entusiasmo. Há boa acolhida também para Inominável, a única inédita do repertório, do compositor paulistano Dan Nakagawa.
 
 
Você canta ainda a Ponta do lápis, do piauiense-brasiliense Cloro Ferreira e do cearense Rodger Rogério. Por que a escolha?
Esta música que pincei de um compacto duplo que gravei com Fagner, lançado ainda no começo da minha carreira solo; assim como Postal do amor (Fagner, Fausto Nilo e Ricardo Bezerra). Ao criar o roteiro, lembrei que eu nunca havia cantado as duas em show, e decidi incluí-las; assim como Bolero filosófico, composta pelo DJ Dolores, da trilha original do filme Tatuagem, do diretor pernambucano Hilton Lacerda.
 
 
Lançar um produto cultural nos tempos de agora é temerário? 
Até poderia ser, mas insisto em cantar, fazer, show, gravar discos, mesmo tendo consciência de que a cultura vive um período de grande incerteza no país, com perseguição e censura a obras de arte. Mesmo assim ela se mantém rica e forte. A cultura, que leva as pessoas a raciocinar e refletir, é vida.
 
 
 (Macos Hermes/Divulgação)  
 
Bloco na Rua
Álbum duplo show de Ney Matogrosso com 10 músicas cada, gravado ao vivo. Lançamento da Matogrosso Produções/ Som Livre. Preço sugerido: R$ 49.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 29 de fevereiro de 2020

VILA PLANALTO: HERANÇA DO CANTEIRO DE OBRAS

 

Vila Planalto: herança do canteiro de obras
 
Localizada a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, a região guarda edificações históricas da época da construção de Brasília. Memória é resgatada em mais uma matéria da série Brasília sexagenária

 

» CAROLINE CINTRA
» JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/02/2020 04:00

Por muitos anos, as edificações de madeira  
Por muitos anos, as edificações de madeira "rivalizaram" com os prédios públicos da Esplanada dos Ministérios: atualmente, a maioria dos imóveis da Vila Planalto é de alvenaria


 (Givaldo Barbosa/CB/D.A Press - 24/4/83 )  
 
Enquanto a nova capital do Brasil tomava forma, uma cidade surgia a poucos metros da Esplanada dos Ministérios. Os primeiros barracões foram erguidos em 1956, com a instalação dos acampamentos das construtoras Pacheco Fernandes e Rabelo, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde se encontra a Vila Planalto. As casas de alvenaria ganharam espaço, mas há aquelas que lutam contra o tempo e mantêm as características originais. Em meio ao perímetro tombado pelo Iphan, a Vila Planalto guarda construções de mais de 60 anos e muitas memórias.
 
As casas eram construídas de forma simples, pois deveriam ser derrubadas depois da inauguração de Brasília. “Foram inúmeros acampamentos levantados à época da construção e alguns, no projeto, acabaram ficando dentro do Lago Paranoá. Por sorte, a Vila Planalto não foi um deles, talvez por ter uma mobilização dos moradores e por ter funcionários do alto escalão morando lá”, detalha Frederico de Holanda, professor emérito de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). O especialista destaca que as construções de madeira trazem características da arquitetura moderna clássica brasileira. “São volumes trapezoidais, muito limpos e simples”, descreve. 
 
A chef de cozinha Helena Maria Alves, 64 anos, mora em um dos poucos imóveis com características originais. A goiana chegou a Brasília com os quatro filhos em 1985, quando passou a morar na residência. “Na época em que o povo estava derrubando as casas de madeira, a gente nem tinha condições financeiras para construir uma de alvenaria. Com o tempo, fomos aprendendo a amar a casa da forma como ela é”, conta.
 
A estrutura fica no acampamento EBE e servia de abrigo para os engenheiros da construção. As vizinhas, que antigamente eram iguais à de Helena, não existem mais. Elas foram derrubadas e erguidas com outros materiais. “Seria muito bom se mais gente mantivesse a casa de madeira. Eu sou apaixonada por ela. Para mim, isso é um tesouro”, admite.


Para Tia Zélia, famosa cozinheira da Vila Planalto, a Igrejinha reforça a importância da região para a capital   (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Para Tia Zélia, famosa cozinheira da Vila Planalto, a Igrejinha reforça a importância da região para a capital

 



A chef Helena Maria mora com a família em uma das casas de madeira que restaram:  

A chef Helena Maria mora com a família em uma das casas de madeira que restaram: "Eu sou apaixonada"

 



 
Igreja pioneira
 
Erguida em 1959, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, também conhecida como Igrejinha da Vila Planalto, é outra construção antiga da região. Ela é considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e foi uma das obras iniciais realizadas pelos pioneiros dos acampamentos que deram origem à Vila Planalto. A capela chegou a sediar a Catedral Metropolitana de Brasília até 1970, ano da inauguração da matriz, na Esplanada dos Ministérios.
 
A igreja foi construída inteiramente de madeira, tem nave única e campanário no canto da fachada. É um dos principais pontos turísticos da cidade. A cozinheira Maria de Jesus Oliveira da Costa, 66, a Tia Zélia, mora na Vila desde 1966 e vai, pelo menos, duas vezes por semana ao templo. “É um lugar onde nos sentimos em casa. Aconchegante. Quem chega à cidade, dá de cara com a igreja. Um lugar lindo, que transmite paz”, declarou.
 
Hoje, quem passa em frente à igreja e não conhece a história da Vila Planalto nem imagina que, há 20 anos, um incidente quase acabou com o monumento histórico. Um incêndio o destruiu (leia Para saber mais). Ao lembrar da cena, Tia Zélia se emociona. “Foi triste e muito doído. Um sentimento de perda mesmo. Ver aquela imagem, tudo se acabando em fogo, os bombeiros tentando apagar. Só não chorei, porque não sou de chorar, mas a sensação foi horrível”, relembra. A reinauguração da igrejinha ocorreu em 2007, com as mesmas características do projeto original.


Para saber mais

 (Tadashi Nakagami/CB/D.A Press - 6/11/78 )  


Incêndio na Igrejinha
Na madrugada de 5 de março de 2000, por volta da 1h45, um incêndio destruiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas, quando chegou, não era mais possível conter as chamas. Dias depois, foi instaurado um inquérito para apurar o caso, na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). À época, havia denúncias de que o incêndio teria sido criminoso. Resquícios de gasolina foram encontrados próximo ao local, reforçando as suspeitas. No entanto, sem conclusão, o inquérito foi arquivado no ano seguinte.


Memória
Massacre da Pacheco Fernandes

O episódio conhecido como o Massacre da Pacheco Fernandes gera dúvidas até hoje. Em 1959, houve uma confusão no canteiro da construtora, onde hoje fica a Vila Planalto. Alguns informam apenas uma morte, enquanto supostas testemunhas denunciam um massacre. O inquérito policial aponta que 27 soldados da antiga Guarda Especial de Brasília (GEB) atiraram contra os operários, após uma revolta. Oficialmente, a ação teria deixado um morto e alguns feridos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 28 de fevereiro de 2020

W3: AVENIDA DE BOAS LEMBRANÇAS

 

Avenida de boas lembranças

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 28/02/2020 04:00

A W3 era agitada e também foi palco de vários carnavais: a cidade parava para assistir aos desfiles das escolas de samba (Arquivo CB/D.A Press)  

A W3 era agitada e também foi palco de vários carnavais: a cidade parava para assistir aos desfiles das escolas de samba

 


 (Arquivo CB/D.A Press)  

 (Arquivo/CB/D.A Press - 12/02/75 )  

 (Arquivo/CB/D.A Press - 19/2/77)  

 (Arquivo/CB/D.A Press)  


A avenida preserva um pouco da identidade dos tempos em que era o principal polo comercial da capital (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A avenida preserva um pouco da identidade dos tempos em que era o principal polo comercial da capital

 



Caminhar pela W3 Sul resgata a memória afetiva de quem vive Brasília há mais tempo. Hoje, o cenário é preocupante e deixa saudades. O movimento da avenida resume-se ao horário comercial das lojas que ainda sobrevivem ali. Aos fins de semana, sobram calçadas vazias e vagas de estacionamento. À noite, as quadras permanecem desertas e silenciosas. Imagens muito diferentes das que se via há 30 anos. Até os anos 1980, ali pulsava o coração da capital federal.
 
Nem todos sabem, mas a rua foi palco de carnavais e manifestações. Em julho de 1971, até Pelé desfilou em carro aberto por lá. No mesmo ano, Brasília parou para ver a carreata de candidatas ao Miss Brasília, sentadas nos capôs de automóveis, acompanhadas de batedores da Polícia Militar.
 
Hoje, no entanto, a decadência da via prejudica os negócios, como afirma o empresário Hely Walter Couto, 94 anos, dono da Pioneira da Borracha. O mineiro inaugurou o estabelecimento há 60 anos, segunda loja da rede. A primeira funcionava um ano antes, na Cidade Livre, antigo nome do Núcleo Bandeirante. Ele conta que veio a Brasília a convite de um amigo.
 
Aqui, começou a trabalhar e crescer o empreendimento. “No início, essa era a única avenida que existia. O resto estava construindo. Ficou uma rua cheia de loja bonita e movimentada. Carnavais e todas as festas aconteciam aqui”, descreve. “Juscelino Kubitschek vinha muitas vezes para visitar. Ele descia do carro e abraçava o pessoal que estivesse passando por perto.”
 
Para Hely, hoje o abandono é claro. “Fiquei aqui porque os prédios em que estou fui eu que construí. São meus, então não pago aluguel. Os outros tinham de pagar, não conseguiam mais arcar com os custos dos funcionários e se foram.” Decepcionado, ele lamenta a falta de consumidores. “Os negócios estão péssimos. As praças estão abandonadas. Se revitalizassem, aqui poderia ser ponto de encontro para dar nova vida à W3.”


Erivaldo Macena:  

Erivaldo Macena: "A W3 era como um shopping. Aos sábados, as pessoas vinham só para passear aqui. Era um ponto de encontro"

 



Simon Pitel com a filha Ângela: o empresário atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela fiel (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Simon Pitel com a filha Ângela: o empresário atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela fiel

 



Hely Walter Couto:  

Hely Walter Couto: "No início, essa era a única avenida que existia. O resto estava construindo. Ficou uma rua cheia de loja bonita e movimentada"

 



 
Point da cidade
 
Comerciantes sobreviventes dos tempos áureos guardam as memórias com carinho. É o caso do empresário Erivaldo Macena de Abreu, 52 anos. A loja de aluguel de roupas que um dia recebeu ministros, deputados e senadores, hoje não atrai tanto movimento. O estabelecimento foi inaugurado em 1962, na quadra 509, com o nome Kassabian, primeira do ramo no DF. Apenas em 1985, Erivaldo começou a trabalhar ali. “Na época, tinha 17 anos e cuidava da limpeza. Fui crescendo, passei a ser gerente e acabei comprando do dono”, declara.
 
Nostálgico, ele recorda da avenida sempre lotada. “A W3 era como um shopping. Aos sábados, as pessoas vinham só para passear aqui. Era um ponto de encontro. Tomavam sorvete, e compravam. Esse era o point. A gente pegou a época de ouro.” Durante o mandato presidencial de José Sarney, Erivaldo chegou a atendê-lo. “Sou de criação humilde, sempre tratei como igual. Hoje penso que deveria ter feito fotos com eles (as autoridades). Era tanta gente que não caberia em uma parede”, brinca.
 
Erivaldo manteve o nome original até 2015, quando o lugar passou a se chamar Sonho Real. Ele explica que a clientela fiel ajudou o lugar a se manter funcionando. “Atendi o cara que casou, depois o filho dele, e hoje recebo o neto”, afirma. “Mas, para sobreviver, tivemos que pensar em alternativas e passamos a oferecer consertos. Se fosse só de aluguel, não bastaria.” Hoje, ele lamenta o descaso com o lugar. “Os estacionamentos são no meio da rua, as calçadas não estão niveladas. Falta manutenção na quadra. Além disso, com os shoppings, as pessoas preferem fazer tudo por lá.”
 
Quem viu bem o tempo passar pela rua é o empresário Simon Pitel, 83 anos, dono do restaurante Roma. Em 1964, o belga comprou o estabelecimento de um italiano que já não tinha mais interesse no comércio. “Eu nunca tinha trabalhado em restaurante. Não entendia nada. Os seis primeiros meses foram difíceis, mas depois de um tempo fui aprendendo e estou assim até hoje. Tem dado certo”, declara.
 
Ele conta que nas diversas mesas, serviu senadores, embaixadores e deputados. A classe artística também degusta do menu até hoje. “Eles terminavam seus shows e vinham para cá. Lembro-me do Cauby Peixoto, Ângela Maria, e Moacyr Franco. Mas não tirei foto com eles. Nunca prestigiei cliente famoso, porque no final a nota de R$ 50 é a mesma para todo mundo.”
 
Simon atribui a resistência e sucesso do restaurante à clientela.  “Não está mais tão bom. Nem abrimos mais o salão no andar de cima”, lamenta. A tradição, no entanto, deve permanecer colorindo a W3. A filha de Simon, Ângela Pitel, 37 anos, está à frente dos negócios junto ao pai e promete seguir com o Roma. “No que depender de mim, vamos ter até filiais”, declara. Ela cresceu no restaurante. “Eu falo que esse é o meu irmão mais velho.”


Memória

 (Arquivo CB/CB/Reprodução/D.A Press)  


O Correio presente
Em 1968, a então repórter do Correio Maria Valdira traçou um perfil da via mais famosa de Brasília. Na reportagem ela destaca a ebulição do local. “Com a transferência definitiva da capital, as atividades comerciais, bancárias, etc. transferiram-se do Núcleo Bandeirante para a Avenida W3, que passou a constituir o coração comercial da cidade.” Na matéria intitulada “Uma rua chamada W-3”, a jornalista ressalta que se especulava sobre o futuro, quando, após a construção do Setor Comercial Sul, a avenida passaria a ser como qualquer outra. “Entretanto, essa ideia não tem aceitação no meio do brasiliense, que já se acostumou com a estrutura rebelde da sua W3.”


Obras de revitalização
Em janeiro deste ano, o GDF concluiu as obras de revitalização das quadras 511 e 512. Lá, calçadas foram refeitas e pisos táteis instalados. A iluminação da rua agora é feita com luzes de LED. O investimento foi de R$ 1,8 milhão. A próxima etapa,consiste na revitalização das quadras 509/510 e 513/514 da Asa Sul. A previsão é de que as obras comecem no primeiro trimestre deste ano. A Secretaria de Obras afirmou que está em desenvolvimento os projetos das demais quadras da W3 Sul e de toda a W3 Norte.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 27 de fevereiro de 2020

FESTIVAL CORAÇÃO CANDANGO

 

Somos todos candangos
 
Festival Coração Candango faz uma homenagem a quem construiu e ainda constrói Brasília nos últimos 60 anos

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 27/02/2020 04:00

Martinha do Coco:  

Martinha do Coco: "Aqui me reinventei na minha essência do viver"

 

 
 
Prestes a completar 60 anos, Brasília é uma cidade que se define pela síntese. No Planalto Central, sotaques de diferentes cantos do país vieram construir a capital do país. Na mala, trouxeram ritmos, gastronomia, modos de ser, de fazer, de viver. Estabeleceram-se candangos que deram origem aos brasilienses. Para homenagear quem construiu e ainda constrói a cidade nos últimos 60 anos, nasce o projeto Coração Candango.
 
Estabelecido no Setor Comercial Sul, lugar de encontro de pessoas com as mais diversas características, o evento, que começa hoje, traz manifestações populares, cores, sons, cheiros, artesanato e dança que pulsam no DF. “A ideia é resgatar a influência dos estados do Nordeste na formação de Brasília, na forma de ser do DF. E também as pessoas trazerem as pessoas que até hoje constroem a nossa cidade, pessoas que estão à margem. Muita gente anônima foi fundamental para isso existir. Todos somos candangos e candangas até hoje. Não é importação cultural, são várias influências, é esse choque, essa mistura”, explica o idealizador do projeto, Raphael Sebba.
 
Na primeira edição, integram a programação do Coração Candango Pitoco de Bambu, Charretinha do Forró, Choro Delas, As Fulô do Cerrado, Bando Matilha de Capoeira, Filhos de Dona Maria, Bloco Dona Imperatriz convida Thabata Lorena, Dona Martinha do Coco e 7 na roda. “Procuramos fazer uma curadoria que fosse diversificada do ponto de vista das influências estaduais, do ponto de vista etário e histórico. Temos de Dona Martinha do Coco até as meninas As Fulô do Cerrado. Tem o resgate da cultura popular e tem o processo de renovação e revisão de todas as influências. Queremos preservar essa diversidade, que é o maior símbolo do DF e da cultura candanga”, comenta.
 
Além das atrações musicais, o festival promove oficinas e uma feira criativa com comidas típicas e produtos artesanais. “É cultura no sentido antropológico, o modo de ser, a forma de ver o mundo. Isso não se resume às artes, envolve economia criativa, gastronomia, artesanato, todas as dimensões”, avalia Sebba. Ele também pontua que a ambientação do Coração Candango foi pensada para promover uma experiência ao público, uma forma de trazer elementos nordestinos.
 
O fascínio pela cultura popular nordestina conquistou as amigas e artistas da banda As Fulô do Cerrado (Davi Mello/Divulgação)  

O fascínio pela cultura popular nordestina conquistou as amigas e artistas da banda As Fulô do Cerrado

 

 
Reinvenção
 
Mestra Martinha do Coco é uma das principais referências em cultura popular no DF. Também é um sinônimo do ser candango. Vinda de Olinda, em Pernambuco, ela chegou à capital com 17 anos. Martinha é moradora do Paranoá há 30 anos e teve a oportunidade de iniciar a carreira artística cantando samba de coco no grupo de percussão da Organização Tambores do Paranoá — Tamnoá.“Todo mundo se reinventou dentro dessa cidade. É a força do nordestino e de pessoas de outros lugares. A importância do entorno que fortalece”, comenta a artista.
 
Com o samba de coco, Martinha canta e conta as histórias da cidade mística, como descreve Brasília. A mestra se orgulha em ver o amor com que os fazedores de cultura e os aprendizes contribuem para a cultura popular dentro de Brasília. “Aqui me reinventei na minha essência do viver. O conhecer pessoas, os monumentos, outras falas, as misturas. Aprender e respeitar tudo isso é o que faz a cidade.”
 
Planejado há alguns anos, o Coração Candango é uma forma de materializar e concretizar a identidade do Distrito Federal, principalmente em ano de festa. “Para mim, o DF é o símbolo do Brasil. Pode parecer uma fala forte, mas não é menosprezando outros símbolos, é que aqui é a síntese de tudo, dos quatro cantos do país. E as manifestações culturais aqui acontecem com muita qualidade. O projeto é para valorizar a nossa diversidade e dar visibilidade para as manifestações invisibiwlizadas, que são pouco comentadas, da classe trabalhadora, que faz a cidade existir e acontecer”, pontua Sebba.
 
 
 
Programação 
 
Hoje, a partir das 17h
Pitoco de Bambu: Choro Delas: Martinha do Coco: 7 na Roda: + Djs
 
Amanhã, a partir das 17h
As Fulô do Cerrado: Charretinha do Forró: Filhos de Dona Maria: Thabata Lorena Bloco Dona Imperatriz: Djs
 
Oficinas
 
Oficina: Vivência de Contação de Histórias e Comicidade com Cecília Borges: Dia: 7 de março: Horário: 10h: Local: Feira Ponta Norte na SQN 216
 
 
Oficina: Do Rap, Poesia e Slam com Meimei Bastos
Dia: 7 de março: Horário: 14h30: Local: Casa da Cultura da América Latina (CAL) no Setor Comercial Sul
 
 
Oficina: Introdução ao Pífano com Pitoco de Bambu
Dia: 7 de março: Horário: 17h: Local: Casa da Cultura da América Latina (CAL) no Setor Comercial Sul
 
 
Coração Candango
No Corredor Central do Setor Comercial Sul. Hoje e amanhã. Não recomendado para menores de 16 anos. Entrada Franca
 
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