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A estudante Yliane Mendes deu à luz à filha, Ana Lívia, em 31 de março: nada de visitas dos familiares no hospital
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As lembrancinhas ainda estão guardadas, o primeiro contato com os avós e os padrinhos foi por vídeo e a primeira consulta, on-line. Bento veio ao mundo em 17 de março, enquanto decretos eram publicados restringindo a circulação da população na cidade. “No dia em que ele nasceu, começaram a suspender as visitas no hospital. Minha mãe chegou para vê-lo, mas não conseguiu”, lembra a mãe do recém-nascido, a gestora de projetos Angélica Bandeira, 28 anos. A rotina no local estava diferente. Máscaras, álcool em gel e nada de pegar elevador com muitas pessoas. Ao sair da unidade médica, mais mudanças: comércio fechado e ruas vazias. “No começo, eu achei muito estranho. Quando entrei, havia alguns casos, mas ainda estava tudo normal. Quando saí, parecia que eu estava em um filme. Tudo fechado, sem carros na rua”, diz.
Por precaução, a mãe de Angélica ficou com a filha e a empregada doméstica foi dispensada. A gestora de projetos ganhou ainda a companhia do marido 24 horas por dia. “O pai teria de trabalhar e estudar, mas agora está fazendo tudo em casa. Ele consegue me ajudar e isso me acalma”, garante.
Para a ginecologista Lucila Nagata, coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia, neste momento a presença e apoio do pai da criança são ainda fundamentais. “Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas avós não estão podendo ajudar as filhas ou as noras. Algumas pacientes estão sem ajudante, como domésticas e babás, por conta desse isolamento. O que torna esta fase mais difícil ainda”, afirma. De acordo com ela, uma oportunidade a mais para aproveitar o tempo com o bebê. “Vivemos reclamando que não temos tempo e agora temos todo o tempo do mundo.”
Cuidados
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A gestora de projetos Angélica Bandeira segura o filho, Bento: mudanças na rotina
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Os cuidados com os bebês são os de sempre, exceto em relação à visita dos familiares, segundo a médica Lucila. “Elas são desaconselhadas pelo risco de contaminar a mãe, o bebê ou alguém da casa”, alerta. Entre as orientações, indica, ainda, evitar saídas para a rua ou lugares com muitas pessoas — o recomendado para qualquer criança durante os primeiros 30 dias de nascido. É preciso lembrar também que o isolamento não é apenas para o bebê. A mãe deve se proteger. “Estamos aprendendo agora sobre esta virose. Todas as publicações são recentes, de janeiro para cá, e todo mundo está aprendendo junto. Então vale a pena se resguardar e deixar outras pessoas fazerem as coisas na rua para ela, se puder”, aconselha.
A fisioterapeuta Ineya Amorim, 31, não poupa esforços para cuidar do pequeno Airan, que completa um mês hoje. O bebê chegou quando o Brasil ainda fazia a contagem dos primeiros casos. “Eu entrei na emergência do Hospital Universitário de Brasília para ter o neném, mas como não pertencia à regional deles, queriam me encaminhar para o Hospital da Asa Norte (Hran), onde estava a mulher internada com coronavírus. Fiquei com medo e pedi para a médica não me transferir para lá de jeito nenhum”, lembra. Ineya precisou fazer uma cesária de emergência e acabou ganhando o bebê no HuB.
A mãe e a criança chegaram a receber visitas no hospital, mas, em casa, Ineya decidiu adiar a recepção. Porém, o apoio de amigos e familiares fez falta. “Eu tive muita dificuldade de amamentar e não tinha ninguém para me ajudar”, conta. O socorro veio de uma profissional que a auxiliou virtualmente. Além de suspender as visitas, as idas ao hospital ganharam cuidados a mais com a higiene e o banho ao voltar para casa. “Temos de ter fé e acreditar que isso é só uma fase. Mais tarde, vamos contar para ele que nasceu em um período muito polêmico e difícil. Daqui a algum tempo, vamos poder agradecer a Deus e ver tudo voltando ao normal”, espera.
Alerta para mães e pais
» Adiem as visitas
» Evitem sair para a rua ou para lugares cheios
» Lavem as mãos antes de pegar na criança e, se estiverem na rua, usem álcool em gel
» Mães, fiquem em casa. Só saiam quando for extremamente necessário
» A amamentação é de extrema importância, pois é nesse período que o neném recebe da mãe vários anticorpos
» Muitas mães sentem sintomas de gripe nesse período. Caso não apresentem outros sinais, como febre e dificuldade de respirar, não vão a um pronto-socorro
"Este período de isolamento social é delicado, pois a mulher fica muito mais sensível e muitas
avós não estão podendo ajudar as filhas ou noras. Algumas pacientes estão sem ajudante,
como domésticas e babás, o que torna esta fase mais difícil ainda”
Lucila Nagata,
ginecologista e coordenadora de gestação de alto risco do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia