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Victor Mayrinck desenvolveu ansiedade desde que ficou completamente isolado e não consegue ter uma boa noite de sono
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O isolamento social causa muitas incertezas, exige adaptações na rotina e desencadeia ansiedade — fatores que afetam diretamente o sono. Entre os principais motivos da insônia, enumeram especialistas, estão, justamente, mudanças nas atividades do dia a dia, instabilidade nas relações interpessoais e de emprego e incerteza sobre o futuro. Esse desequilíbrio abala a produtividade e diminui a imunidade, tão importante em tempos de pandemia.
Para a psiquiatra e especialista em sono Ana Paula Faber, o momento é de muito estresse, uma porta de entrada para o desenvolvimento e o aumento da ansiedade. “Caso a pessoa esteja com mais dificuldade de adaptação e/ou o estresse for grande demais, cria-se se um quadro de ansiedade, mas não a ansiedade simples, e, sim, o transtorno. Isso afetará diretamente o sono”, explica.
Segundo o neurologista Cláudio Roberto Carneiro, a redução da realização de exercícios físicos, durante a quarentena, é mais um agravante, pois minimiza os estímulos do sono. E as alterações no ciclo vigília-sono (ficar acordado durante a noite e dormir de dia) contribuem para o desenvolvimento da insônia secundária ao estresse e à ansiedade. “As pessoas acordam mais tarde, sem horário certo para a alimentação, passam mais tempo em frente à tevê — e o consequente aumento à exposição direta da luz —, e não têm horário certo para dormir”, explica o neurologista.
Pela madrugada
A estudante e redatora de blog Mayariane Castro, de 18 anos, não tem uma noite de sono reparadora desde o início do confinamento. “Não tenho dormido bem porque o impacto da quarentena foi muito grande na minha vida. Sou extremamente ativa e minha rotina mudou totalmente. Antes das medidas de contenção da covid-19, meu dia começava às seis da manhã e ficava até as 21h na rua; agora, passo o dia inteiro dentro de casa” conta.
É de suma importância ter o sono regular para o bom funcionamento do corpo. “O sono não é a ausência de atividade cerebral, mas um período cíclico com grande atividade cerebral, necessário para manter a homeostasia (processo de regulação em que um organismo mantém seu equilíbrio constante)”, explica Cláudio. Apesar das aulas a distância da faculdade, do curso de línguas e do emprego, Mayariane não consegue ter uma rotina normal por causa de insônia. “Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação”, desabafa a estudante.
A indisciplina e a estimulação excessiva do cérebro também são uma das principais razões para o desenvolvimento de insônia. “Hoje, existem muitos estímulos para as pessoas ficarem acordadas até mais tarde, e isso gera alteração do sono-vigília. Todo ser humano é diurno, mas uns são mais matutinos e outros, vespertinos. Além disso, a qualidade do sono da noite é muito melhor em relação à do dia”, esclarece Ana Paula.
A psiquiatra acrescenta que as luzes de tablets, celulares, tevê e outros aparelhos eletrônicos informam ao cérebro que ainda está de dia e deve permanecer acordado. “Essa iluminação inibe a produção do hormônio chamado melatonina, que estimula o sono.”
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"Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação" Mayariane Castro, estudante
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Ansiedade e sedentarismo
O universitário Victor Mayrinck, 18, também teve os hábitos de sono afetados devido ao isolamento social. Victor relata que as crises se iniciaram quando ele ficou em isolamento total porque teve contato com pessoas infectadas pelo coronavírus. “O principal fator que me faz não dormir é a adaptação a uma nova rotina, a ansiedade me consome por causa disso. Além da faculdade e de trabalhar dentro de casa, eu vivo preocupado com meu padrasto, ele é profissional de saúde e atua na linha de frente do combate ao coronavírus”, conta o universitário.
O estudante conta que a ansiedade aumentou bastante. “Tenho crises de enxaqueca constantes e tive um bloqueio na criatividade e no trabalho. Estou cada vez mais sedentário. Às vezes, me levanto da cama, caminho até a cozinha e fico ofegante”, relata Victor. Para evitar os distúrbios do sono, o neurologista Cláudio Carneiro aconselha se exercitar regularmente em casa, ter horários regulares do sono e das refeições, falar com familiares, mesmo via teleconferência, e tentar manter atividades prazerosas na sua rotina diária.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Como manter os hábitos saudáveis de sono
- Tentar dormir em horários fixos/regulares.
- Evitar atividades físicas nas horas antes de dormir.
- Evitar uso de substâncias psicoestimulantes, como café, no período noturno.
- Dormir em ambiente de baixa luminosidade e silencioso.
- Reduzir a intensidade dos estímulos psicológicos nas horas próximas ao horário de dormir.
- Ir à cama quando já estiver com sono. A cama não deve ser encarada como uma torturadora, e, sim, vista como uma companhia no período de insônia.
- Evitar longos períodos de sono durante o dia.
- Evitar uso de TV no quarto.
- Evitar uso de objetos eletrônicos (celular, tablet) na cama, pois normalmente são telas muito iluminadas e podem dificultar o início do sono.