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Emília Maria colocou álcool em gel à disposição em diferentes cômodos
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Antes de ser considerada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a proliferação do coronavírus preocupava as autoridades, principalmente em se tratando dos idosos. A população com mais de 60 anos, além de pessoas com doenças crônicas, têm mais chances de desenvolver um quadro grave da doença do que outros grupos. Em virtude disso, alguns brasilienses têm mudado hábitos para evitar a autoexposição. No mesmo caminho, asilos e casas de acolhimento da capital federal passaram a restringir visitas e a incentivar, ainda mais, as práticas de higiene pessoal — os funcionários, inclusive.
A vulnerabilidade do organismo dos idosos — mais comum à medida que se envelhece — coloca esse grupo no topo das prioridades do poder público. Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde anunciou que eles serão os primeiros vacinados contra a gripe, na campanha que começa no dia 23. Apesar de a dose não proteger contra o coronavírus, a medida pode auxiliar na detecção precoce de novos casos de covid-19 por facilitar o descarte de outras doenças respiratórias. A Defesa Civil também começou a vistoriar asilos, além de orientar os gestores dessas casas.
Enquanto o período de imunização não tem início, moradores idosos do Distrito Federal fazem o que podem para se proteger. Ainda que as recomendações sejam as mesmas para toda a população, há quem opte por não arriscar e por limitar o contato com outras pessoas. Moradora do Jardim Botânico, Emília Maria da Costa, 74 anos, tem dado preferência para programações mais caseiras.
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Algecira Amaral aposta na manutenção de hábitos saudáveis
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Além de fazer parte da parcela da população mais suscetível a desenvolver um quadro grave da covid-19, a professora aposentada fez uma cirurgia para remover um timoma — tumor raro que se desenvolve na glândula do timo. A cirurgia a deixou com 60% do pulmão esquerdo e, por isso, a atenção é redobrada. “Estamos muito mais suscetíveis a infecções que uma pessoa mais jovem, porque todo o nosso processo é mais lento. Se você tem uma doença, como tenho, precisa se cuidar mais ainda”, recomenda Emília.
Na casa dela, mais do que antes, o álcool em gel tornou-se item indispensável e fica à disposição desde a porta de entrada até os banheiros. “Às vezes, achamos que, por estar com a saúde legal, temos resistência e queremos nos igualar a uma pessoa de 35, 40 anos. Mas esta é a hora de ter cuidado e de fazer um pouco de sacrifício, recolher-se mais”, opina.
InvestimentosMédico e diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UnATI/Uerj), Renato Veras ressalta que a suscetibilidade para contaminação é a mesma, mas para grupos de idosos, os resultados podem ser “mais perversos”. O pesquisador alerta para a necessidade de investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir o acesso à medida em que os casos aumentem. “Vamos começar a ter um vírus da comunidade. Imagine nos grandes conglomerados, favelas, (locais) com baixa assistência. Vamos ter de fazer um esforço muito grande com o SUS funcionando de forma precária”, alerta.
Em relação aos lares para idosos, Renato ressalta que eles podem se tornar locais protegidos se não houver grande circulação de pessoas de fora. O médico lembra que o ideal é fugir de locais populosos e fechados; para quem permanecer em casa, vale evitar visitas e ficar atento à higienização das mãos ao longo do dia. “Esses cuidados valem não só para o idoso, como também para a família. Precisamos de prevenção e cuidado para que essa pessoa não seja acometida, pois sabemos que a probabilidade de um desfecho negativo acontecer é maior em pessoas com 70 ou 80 anos, do que em um jovem de 15, por exemplo”, comparou.