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Patrícia Zapponi é candomblecista, iniciada em Ifá, e percebe uma oportunidade de ficar mais próxima da família e de ressignificar a relação com a natureza
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Há meses o mundo compartilha um pesadelo. Uma doença altamente transmissível começou a se alastrar por Wuhan, na China, em pouco tempo infectou pessoas em todos os continentes. Para combatê-la, a principal medida até o momento é isolamento. Com as implicações práticas e psicológicas que isso representa, algumas pessoas têm encontrado na espiritualidade o equilíbrio necessário para enfrentar este momento desafiador. A lição que a maioria das religiões propõe é enxergar o lado positivo mesmo diante do cenário desolador.
A fé levou a professora do ensino fundamental da rede pública Graziella Rocha, 26 anos, a entender que não há problema em ter de adiar o casamento, marcado para maio. “É uma coisa que queremos, mas, antes de todos os nossos sonhos, vem a vontade de Deus. Estamos com o coração tranquilo”, afirma.
Católica e distante da igreja que frequenta em razão do período de quarentena, ela e o noivo, Pedro Phelipe, 31 anos, aproveitam para passar mais tempo juntos e manter a crença viva com as missas transmitidas on-line. Segundo ela, essa também é uma oportunidade para levar o conforto espiritual àqueles que não dividem a mesma religião.
“Não é obrigar as pessoas a rezarem ou brigar por isso, é mostrar que Jesus Cristo está em nossos corações independentemente de pandemia e que essas coisas ruins acontecem, mas muitas outras melhores estão por vir”, declara.
A advogada e vice-presidente da comissão de liberdade religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Distrito Federal (OAB/DF), Patrícia Zapponi, 45 anos, é candomblecista, iniciada em Ifá e vê ainda mais oportunidades. A pandemia criou espaços em sua agenda de trabalho e lhe deu tempo para passar com a família.
“Está havendo uma reflexão para dar valor a algumas coisas da vida. Valor aos sentimentos, uma ressignificação humana. A natureza fez com que a minha agenda toda fosse cancelada para que eu pudesse retomar o eixo, exercer a solidariedade, parar para refletir, ter mais tempo com a minha família. Quando que em outro momento eu poderia deixar tudo de lado e simplesmente ficar em casa?”, questiona.
Segundo o candomblé, a vida é regida pela natureza. Patrícia explica que a pandemia nada mais é do que ela tentando entrar em equilíbrio. O momento é difícil, mas é possível manter a fé dentro de casa, mantendo a visão positiva de cada situação.
Conexão
A ideia de mãe natureza, de equilíbrio e de calma em meio ao caos faz parte dos fundamentos do Being Tao de Tai Chi Chuan. A aposentada Maria Eutenir Braga, 77 anos, é uma fiel e conta que os movimentos da prática auxiliam no autoconhecimento e também para manter a paz.
“As atividades nos passam uma forma de vida consciente. É preciso tirar momentos do dia para respirar, para caminhar ao ar livre se possível, meditar, de preferência cantando algo de que goste, porque, quando a gente canta, nossa mente se esvazia de qualquer pensamento indevido”, observa.
Maria Eutenir entende a situação como um alerta da natureza. “Ela não faz isso por mal, mas para que as pessoas tomem consciência. É uma oportunidade para que enxerguem o que vêm fazendo e como nós fazemos parte do mundo. Todos são atingidos”, explica.
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Maria Eutenir praticava Tai Chi Chuan ao ar livre. Mesmo com o isolamento, ela continua seguindo os preceitos
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Atividades suspensas
Devido ao avanço das infecções por coronavírus no DF, as igrejas e outros templos religiosos devem permanecer fechados durante o período de quarentena determinado em decreto pelo Governo do Distrito Federal.
Segundo o presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev-DF), Josimar Francisco da Silva, as orações agora deverão ser feitas de casa. “A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote.”
De acordo com o Bispo Rodovalho, da Igreja Evangélica Sarah Nossa Terra, a espiritualidade é essencial para manter o equilíbrio em meio a tantas tragédias. “A população precisa de apoio espiritual e emocional neste momento. As pessoas não devem ficar completamente sós, vendo tantas notícias ruins. É preciso se manter informado, mas também ter momentos de preenchimento emocional para uma vida mais equilibrada”, pontua.
Na avaliação dele, o mundo vive uma situação de tragédia social e é evidente a preocupação geral, mas o Evangelho ajuda a entender e a confortar-se, sabendo que a vontade de Deus é soberana, e não há motivo para desespero, reforça o religioso.
As casas de matrizes africanas também seguem a medida, como informou Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé. “Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”, declarou.
Igrejas católicas vinham mantendo as missas presenciais, com a adoção de medidas preventivas, mas, pelo menos até 5 de abril, ou até a publicação de um novo decreto, permanecerão sendo realizadas apenas por transmissão on-line, televisiva ou via rádio.
“Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”, informa a nota publicada pelo cardeal da Igreja Católica dom Sérgio de Rocha.
Colaborou Mariana Machado
Confissão drive-in
A Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, começou a oferecer aos fiéis a opção de confissão por drive-in, ou seja, sem sair do carro. A medida tem como objetivo evitar possíveis contágios pelo coronavírus. Os horários das disponíveis são aos sábados, das 16h às 19h; e terça, quarta, quinta e sexta, das 16h30 às 18h30. O telefone para contato é o 3326-1180.
"A igreja, enquanto entidade, e não espaço físico, permanece em oração, e não abriremos mão disso. Eu mesmo vou orar por quem precisar. Esse é o trabalho de um sacerdote”
Josimar Francisco da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do DF
"Estamos tomando todo o cuidado possível e orientando nossos irmãos a respeito da gravidade da situação”
Luiz Alves, coordenador do grupo Defensores do Axé
"Continuemos a rezar pela superação desta pandemia e, de modo especial, pelas vítimas e por aqueles que estão a serviço dos doentes”
Dom Sérgio de Rocha, cardeal da Igreja Católica