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Por muitos anos, as edificações de madeira "rivalizaram" com os prédios públicos da Esplanada dos Ministérios: atualmente, a maioria dos imóveis da Vila Planalto é de alvenaria |
Enquanto a nova capital do Brasil tomava forma, uma cidade surgia a poucos metros da Esplanada dos Ministérios. Os primeiros barracões foram erguidos em 1956, com a instalação dos acampamentos das construtoras Pacheco Fernandes e Rabelo, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde se encontra a Vila Planalto. As casas de alvenaria ganharam espaço, mas há aquelas que lutam contra o tempo e mantêm as características originais. Em meio ao perímetro tombado pelo Iphan, a Vila Planalto guarda construções de mais de 60 anos e muitas memórias.
As casas eram construídas de forma simples, pois deveriam ser derrubadas depois da inauguração de Brasília. “Foram inúmeros acampamentos levantados à época da construção e alguns, no projeto, acabaram ficando dentro do Lago Paranoá. Por sorte, a Vila Planalto não foi um deles, talvez por ter uma mobilização dos moradores e por ter funcionários do alto escalão morando lá”, detalha Frederico de Holanda, professor emérito de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). O especialista destaca que as construções de madeira trazem características da arquitetura moderna clássica brasileira. “São volumes trapezoidais, muito limpos e simples”, descreve.
A chef de cozinha Helena Maria Alves, 64 anos, mora em um dos poucos imóveis com características originais. A goiana chegou a Brasília com os quatro filhos em 1985, quando passou a morar na residência. “Na época em que o povo estava derrubando as casas de madeira, a gente nem tinha condições financeiras para construir uma de alvenaria. Com o tempo, fomos aprendendo a amar a casa da forma como ela é”, conta.
A estrutura fica no acampamento EBE e servia de abrigo para os engenheiros da construção. As vizinhas, que antigamente eram iguais à de Helena, não existem mais. Elas foram derrubadas e erguidas com outros materiais. “Seria muito bom se mais gente mantivesse a casa de madeira. Eu sou apaixonada por ela. Para mim, isso é um tesouro”, admite.
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Para Tia Zélia, famosa cozinheira da Vila Planalto, a Igrejinha reforça a importância da região para a capital
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A chef Helena Maria mora com a família em uma das casas de madeira que restaram: "Eu sou apaixonada"
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Igreja pioneira
Erguida em 1959, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, também conhecida como Igrejinha da Vila Planalto, é outra construção antiga da região. Ela é considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e foi uma das obras iniciais realizadas pelos pioneiros dos acampamentos que deram origem à Vila Planalto. A capela chegou a sediar a Catedral Metropolitana de Brasília até 1970, ano da inauguração da matriz, na Esplanada dos Ministérios.
A igreja foi construída inteiramente de madeira, tem nave única e campanário no canto da fachada. É um dos principais pontos turísticos da cidade. A cozinheira Maria de Jesus Oliveira da Costa, 66, a Tia Zélia, mora na Vila desde 1966 e vai, pelo menos, duas vezes por semana ao templo. “É um lugar onde nos sentimos em casa. Aconchegante. Quem chega à cidade, dá de cara com a igreja. Um lugar lindo, que transmite paz”, declarou.
Hoje, quem passa em frente à igreja e não conhece a história da Vila Planalto nem imagina que, há 20 anos, um incidente quase acabou com o monumento histórico. Um incêndio o destruiu (leia Para saber mais). Ao lembrar da cena, Tia Zélia se emociona. “Foi triste e muito doído. Um sentimento de perda mesmo. Ver aquela imagem, tudo se acabando em fogo, os bombeiros tentando apagar. Só não chorei, porque não sou de chorar, mas a sensação foi horrível”, relembra. A reinauguração da igrejinha ocorreu em 2007, com as mesmas características do projeto original.
Para saber mais
Incêndio na Igrejinha
Na madrugada de 5 de março de 2000, por volta da 1h45, um incêndio destruiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas, quando chegou, não era mais possível conter as chamas. Dias depois, foi instaurado um inquérito para apurar o caso, na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). À época, havia denúncias de que o incêndio teria sido criminoso. Resquícios de gasolina foram encontrados próximo ao local, reforçando as suspeitas. No entanto, sem conclusão, o inquérito foi arquivado no ano seguinte.Memória
Massacre da Pacheco FernandesO episódio conhecido como o Massacre da Pacheco Fernandes gera dúvidas até hoje. Em 1959, houve uma confusão no canteiro da construtora, onde hoje fica a Vila Planalto. Alguns informam apenas uma morte, enquanto supostas testemunhas denunciam um massacre. O inquérito policial aponta que 27 soldados da antiga Guarda Especial de Brasília (GEB) atiraram contra os operários, após uma revolta. Oficialmente, a ação teria deixado um morto e alguns feridos.