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Reinaldo Romeiro tem o cultivo de uva como principal fonte de renda da família
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Goiaba, uva, maracujá, limão. É difícil relacionar todas as frutas produzidas no Distrito Federal. Em uma região dominada pela produção de grãos e em que o mercado consumidor de fruta gera muita demanda, a fruticultura tem ganhado destaque. Para especialistas, a unidade da Federação tem grande potencial para se tornar um polo produtor do setor. Em busca de fomentar o cultivo, o projeto Rota de Fruticultura, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e parceiros, como a Superintendência Federal de Agricultura, está prestes a ser implantado.
Segundo a pesquisa Vigitel, de 2018, do Ministério da Saúde, 38,8% dos adultos brasilienses consomem fruta regularmente e 27,5% consomem o alimento mais de cinco vezes na semana. Pensando nesse mercado, o agricultor Reinaldo Romeiro, 67 anos, apostou na produção de uva em Brazlândia. “Senti que tinha muita demanda e pouca gente produzindo. Quando eu plantei, em 2014, só havia um produtor de uva em Planaltina. Então, comecei a pesquisar”, conta. Para começar a plantação da fruta, Reinaldo buscou ajuda em Goiás, mas só teve resultados com a orientação de um especialista de São Paulo. “Encontrei um profissional da Embrapa. Ele veio para Brasília me dar assistência e até hoje me ajuda”, relata.
Além do especialista, Reinaldo passou a contar com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). A plantação não só deu certo, como hoje é a principal fonte de renda do agricultor. “Quando colhi as primeiras uvas, fiquei até assustado. Na primeira vez, colhemos em torno de 10 toneladas”, lembra. A plantação cresceu e Reinaldo já chegou a colher 30 toneladas em um ano, a mesma quantidade que o produtor espera para 2020.
Outras opções
Se na propriedade de Reinaldo as uvas dominam a plantação, a poucos quilômetros dali, a goiaba e o abacate são os destaques do agricultor Yukio Yamagata, 66. Ao todo, são cerca de 35 hectares dedicados aos cultivos. “Eu comecei na agricultura plantando hortaliça, mas faltava muita água e acabei indo para a fruticultura. Estou nessa área há cerca de 30 anos”, destaca Yukio.
Hoje, ele tem dois pontos de venda: na Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) e na Feira do Produtor. A produção de fruta também gera renda para outras famílias. Seu Yukio emprega 15 funcionários. Para ele, a fruticultura é muito rentável, porém difícil de começar. “Exige um certo capital. Muita gente quer mudar, mas não consegue. A fruta é algo que demora a retornar. A goiaba mesmo demorou uns cinco anos para começar a produzir bem”, comenta.
Incentivo
São produções como as de Yukio e Reinaldo que a Rota da Fruticultura pretende fomentar, além de motivar outros agricultores a produzirem frutas no Distrito Federal e no Entorno. A ideia é fazer isso por meio de formação, investimentos e apoio.
“Um dos maiores mercados consumidores do Brasil está em Brasília. Hoje, grande parte das frutas vêm de fora. A nossa produção é muito pequena perto do consumo”, ressalta o superintendente federal de Agricultura do DF, William Barbosa. “Um pequeno produtor consegue ter uma renda bem superior a outras atividades. Em média, a receita de um hectare de fruta corresponde a 30 hectares de soja”, observa.
O primeiro passo da rota será fazer um diagnóstico para conhecer a cadeia produtiva, desde o cultivo até a comercialização. Assim, será possível identificar as demandas e definir as prioridades. “Vamos organizar oficinas, distribuir material de divulgação, levantar todo o diagnóstico do Distrito Federal e da Ride (Rede Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno), além de chamar os bancos, empresas de crédito, instituições de pesquisa e assistência técnica”, cita William.
A primeira oficina deve ocorrer em Brazlândia, em abril, segundo o superintendente. “Depois disso, vamos iniciar a capacitação dos técnicos, principalmente da Emater e do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar). Será um curso modular, em que vamos capacitar os profissionais em mais de 10 culturas”, detalha.
O extensionista Felipe Cardoso, da Emater do DF acredita que a iniciativa vai ajudar os produtores a se desenvolverem juntos. “É um arranjo produtivo local. Todo mundo vai se desenvolver, e isso traz investimento público e privado. Os produtores começam a enxergar o mercado”, analisa.
Novos cultivos
Atualmente, mais de 1,4 mil hectares são destinados à fruticultura no Distrito Federal, segundo a Emater. Algumas culturas já são fortes na região, como a goiaba e o maracujá, enquanto outras estão em desenvolvimento. “Temos as frutas de clima temperado — maçã, pera, uva — que é algo bem inicial. São frutas que não são caracteristicamente daqui do cerrado, mas, se escolher a variedade correta e adaptada para a nossa região, é completamente possível produzir”, destaca Felipe Cardoso.
Ronaldo Triacca, 54, é um dos produtores que resolveram investir na cultura de uva. Como é descendente de família italiana, a produção, iniciada em 2018, tem como finalidade a comercialização de vinho. “Era um sonho, e o clima de Brasília ajudou. Para fazer um bom vinho, a uva precisa de uma boa amplitude térmica e de altitude. Aqui, nós temos esses dois fatores”, comemora o agricultor da região do PAD-DF.
Para a produção do vinho, Ronaldo se reuniu com outros oito agricultores e, juntos, viabilizaram a vinícola. A expectativa é de que as atividades da rota possam ajudar mais profissionais rurais a se organizarem. “Esse projeto pode dar um grande suporte na comercialização. Isso pode nos ajudar a encontrar ferramentas e novos caminhos para a venda de um produto com qualidade”, ressalta.
Variedade
Confira algumas produções que têm ganhado destaque no DF
Goiaba - Brazlândia
Maracujá - Núcleo Rural Pipiripau
Banana - Sobradinho
Uva para vinho - PAD-DF
Uva para mesa - Planaltina
Abacate - Planaltina
Maçã - Lago Oeste
Limão e graviola - Gama
Fonte: Felipe Cardoso, extensionista da Emater-DF