|
|
Karla e o marido, Gilcimar, aguardam a chegada de Ariela: "A primeira vez que ouvi sobre a doença na China, estava com sete meses de gravidez. Nunca imaginei isso no Brasil"
|
Aguardar a chegada de um filho é um momento repleto de amor, mas também de preocupações. Em tempos de coronavírus, gestantes se veem cercada de incertezas a respeito dos riscos que correm e cuidados que devem ter. Mas os especialistas explicam: as futuras mamães seguem as mesmas orientações do restante da população. Com higienização e isolamento domiciliar, minimiza-se o perigo.
Grávida há quatro meses, a auxiliar de curso Sthefanne Pacheco, 25 anos, espera a chegada de Pérola, a segunda filha. Enquanto isso, redobrou os cuidados e procura sair de casa apenas quando necessário, como para consultas e exames do pré-natal. Ela trabalha com atendimento ao público em uma universidade e foi a primeira funcionária a trabalhar em home office. Com isso, não precisou mais usar transporte público, espaço por onde circulam muitas pessoas.
Em casa, uso contínuo de álcool em gel e, quando é necessário sair para fazer compras, por exemplo, o marido fica encarregado, sempre utilizando máscara de proteção. Como as consultas do pré-natal acontecem uma vez por mês, ela se diz tranquila e consegue tirar dúvidas corriqueiras por mensagens com o médico que a acompanha. “Quando se está gestante, há essa mania de ir à emergência, porque acontece alguma coisa e não se sabe do que se trata. A facilidade de trocar mensagens é ótimo, porque nem é recomendado ir ao hospital agora.”
|
|
Sthefanne Pacheco espera pela segunda filha, Pérola: saídas essenciais
|
Na expectativa por um parto normal, Sthefanne deve dar à luz em setembro. A dúvida é se o ambiente estará devidamente esterilizado. “Quero pesquisar mais, saber direitinho como a maternidade funciona e se estão tendo acesso aos equipamentos de proteção individual (EPIs)”, relata. “O maior questionamento que eu tenho é o que pode acontecer com a mãe que tenha contraído a Covid-19, e qual impacto tem na gestação, na vida intrauterina do neném.”
Ginecologista e obstetra da Maternidade Brasília, Evaldo Trajano Filho, afirma que a maioria das mães manifestou a mesma dúvida. “Não há nenhum caso registrado de transmissão da mãe para o feto. Existem estudos em cordão umbilical, líquido amniótico e não se conseguiu constatar essa transmissão até o momento.” O médico acredita que, devido aos casos de microcefalia em bebês em decorrência do Zika Vírus, as mulheres estão em alerta.
Outra angústia é quanto à limpeza do ambiente hospitalar durante o nascimento. Segundo o médico, o mais recomendável é que a área da maternidade seja exclusiva, sem contato com demais espaços, como o pronto-socorro. Ele enfatiza, ainda, que não se deve optar por partos em casa. “A obstetrícia não pode ser tratada como situação de exceção. Parto domiciliar é difícil, porque, nessa área, a linha entre uma situação normal e uma complicação é muito tênue. Com ou sem pandemia, há uma posição muito clara quanto a isso.”
O médico reforça que, embora gestantes não sejam grupo de risco, precisam tomar cuidados. “Obviamente, elas saem mais. Não dá para fazer atendimento a distância, porque a consulta não envolve só ela. É preciso auscultar o feto, medir o diâmetro da barriga. Mas o bom senso é importante. Em laboratórios e clínicas de imagem, pode usar a máscara.”
Cinco perguntas para
Carla Martins, obstetra especialista em reprodução humana assistida
Devido à pandemia, quais são os principais cuidados necessários durante o período gestacional?
Apesar de as mulheres grávidas não estarem no grupo de maior risco da doença, a prevenção é o melhor a se fazer. É necessário que os cuidados sejam redobrados. A grávida deve ficar em casa e evitar, ao máximo, contato com outras pessoas. Nesse período, se a gestante precisar de um pré-natal, o médico garantirá a segurança. As consultas devem ser breves e marcadas individualmente, sem que haja pessoas na sala de espera. O número de acompanhantes também deve ser mínimo. Em alguns casos, a telemedicina pode ajudar. Se a gestante apresentar sintomas gripais, a orientação é de que ela procure um pronto-socorro.
Existe a possibilidade de a mãe transmitir o coronavírus ao bebê ainda na barriga?
Estudos iniciais revelam que não há transmissão vertical da doença, ou seja, da mãe para o bebê. Até agora, o vírus não foi encontrado em amostras de líquido amniótico ou leite materno em grávidas infectadas. Mas ainda é cedo para dar certeza sobre qualquer informação, pois é um vírus muito novo.
Quais cuidados devem ser tomados durante o parto?
A recomendação é de que o parto seja feito em uma sala com todos os cuidados de proteção individual, arejada e com poucas pessoas. Se alguém for assintomático e tiver a Covid-19, pode contaminar o bebê, porque ele vai começar a respirar aquele microambiente contaminado da sala de parto.
Como lidar com a amamentação, caso a mãe esteja contaminada pelo coronavírus?
A amamentação é essencial para a nutrição e saúde do bebê. Se a mãe estiver contaminada, há uma possibilidade de passar para o filho durante a alimentação, devido ao contato físico. Para que isso não aconteça, ela deve colher o leite, devidamente protegida (com máscara, luva e uso do álcool em gel) e pedir para que outra pessoa, que não esteja contaminada, ofereça à criança.
Há alguma recomendação para mulheres que desejam ser mães nesse período?
Não é recomendado engravidar nesse momento. A gente não sabe quanto tempo vai ficar de quarentena. A Covid-19 é muito recente, não sabemos ao certo o comportamento dela. A gravidez pode expor o feto e a mãe a uma situação de risco. A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, por exemplo, recomendou a finalização dos ciclos em andamento, com controles estritos dos pacientes e equipes envolvidas. Com exceção de casos oncológicos e outros em que o adiamento possa causar mais dano ao paciente, não serão iniciados novos procedimentos. Nessas eventualidades, a decisão deverá ser compartilhada e sob rigorosa individualização.