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Dimenstein falou abertamente sobre a batalha pessoal contra um câncer agressivo
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De óculos, nos anos 1980, organizando os trabalhos no Correio. Liana Sabo (D) observa
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O jornalista Gilberto Dimenstein morreu ontem, em São Paulo, aos 63 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde agosto de 2019, e teve passagens marcantes por Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e CBN. Nos últimos tempos, além do comentário diário na rádio, se dedicava ao site Catraca Livre, até se retirar para dar andamento ao tratamento. Amigos, autoridades e colegas de trabalho prestam homenagens nas redes sociais.
Há poucas semanas, Dimenstein falou sobre a experiência de descobrir a doença. “Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você ganha ao se deparar com o limite da vida. Não queria ter ido embora sem essa experiência”, relatou.
“Grande parte da minha vida foi marcada pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, assinar matéria na capa, o tempo todo pensando no próximo furo. É como se estivesse passando por um lugar lindo num trem em alta velocidade, vendo tudo borrado. Quando você tem um câncer (ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo muito agressivo), não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno”, ensinou.
Em abril, no meio da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, Dimenstein ganhou destaque na imprensa por abrir mão de 100% dos lucros para evitar demissão de funcionários. “Acho que o exemplo sempre vem de cima”, comentou.
Paulista, nasceu em 28 de agosto de 1956. Se formou em jornalismo pela Fundação Casper Líbero, foi chefe da agência de notícias da Folha, atuou como repórter de vários veículos, como a extinta Última Hora, e foi comentarista da rádio CBN.
No CorreioDimenstein trabalhou no Correio, no início da década de 1980. Em 12 de outubro de 1983, o jornal publicou, em três línguas (inglês, francês e português), um caderno especial sobre a África. Sob coordenação de Gilberto e dos jornalistas Walter Sotomayor e Liana Sabo, a edição analisava as perspectivas na relação entre Brasil e África. O suplemento foi produzido por ocasião da visita do presidente João Baptista Figueiredo ao continente e distribuído para países como Senegal, Cabo Verde, Nigéria e Argélia.
“Éramos muitos jovens, mas Gilberto tinha a dimensão exata sobre o trabalho que repercutiria em outros continentes, já que a nossa versão foi traduzida para o inglês e francês, e distribuída pelo Itamaraty em seus postos avançados pelo mundo. Era como se conquistássemos leitores mundo afora. Saudades de Dimenstein!”, lembra Sabo, repórter e colunista do Correio.
O jornalista também escreveu e traduziu livros para diferentes idiomas, como A Guerra dos Meninos, A Democracia em Pedaços e O Cidadão de Papel, vencedor do Prêmio Jabuti em 1993, mais importante reconhecimento editorial do país. Em 2007, foi apontado pela revista Época como uma das cem personalidades mais influentes do Brasil.
Em 2008, criou o portal Catraca Livre, com foco em temas culturais, cidadania e educação, e tem forte presença nas redes sociais. No Facebook, somente a página principal do veículo conta com cerca de 10 milhões de seguidores.
HomenagensColegas de imprensa usaram as redes sociais para lamentar a morte de Dimenstein. Vera Magalhães, colunista de O Estado de S.Paulo e apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura, disse que é “uma perda imensa para o jornalismo brasileiro. Um homem íntegro, inspiração para minha geração, que lutou até o fim contra uma doença cruel. Que descanse em paz e que seus familiares e amigos encontrem conforto naquilo que acreditam e uns nos outros”.
Míriam Leitão, colunista de O Globo, da Globo News e da CBN, comentou: “A perda de Gilberto Dimenstein é gigante para o jornalismo. Ele revolucionou a forma de fazer o nosso ofício. Fez sucesso muito jovem, sempre foi um inteligente analista da vida nacional. Depois foi abrir novas fronteiras como o @catracalivre. Saudades imensas”.
Mônica Waldvogel, comentarista e apresentadora da Globo News, se manifestou: “#RIP Gilberto Dimenstein. Sua contribuição ao jornalismo e ao país é inestimável”. Joel Pinheiro da Fonseca, coluista da Folha, disse que “Gilberto Dimenstein se foi hoje. Um grande nome do jornalismo brasileiro. Descanse em paz”. Já o articulista de O Globo e editor Carlos Andreazza relatou que “não chegamos a nos encontrar, mas estivemos próximos, nos últimos meses, em função de livro — sobre sua experiência com o câncer, que enfrentava com bravura e bom humor — que preparava para mim, encomendado depois de lindo artigo que publicou na Folha”.
O governador de São Paulo, João Doria, também se manifestou: “Lamento profundamente a morte de Gilberto Dimenstein, um dos principais expoentes do jornalismo brasileiro. Inquieto e dinâmico, deu voz a atores antes excluídos do debate nacional. O jornalismo e a sociedade perdem um olhar humanista e solidário”.