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"Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário"
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Aprovados no concurso da Polícia Militar serão convocados, hoje à tarde, para iniciar o Curso de Formação de Praças (CFP). O grupo é composto por 750 pessoas. Os selecionados na prova do Corpo de Bombeiros também poderão ser chamados. O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.
De acordo com ele, há deficit em todas as forças de segurança. “Já tivemos um quadro com 18 mil policiais militares. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Temos problemas de cidades grandes, como Rio de Janeiro e São Paulo. Conseguimos diminuir os crimes, mas ainda temos muito trabalho’”, disse o secretário.
Anderson Torres destacou que o índice de violência na capital caiu em comparação com anos anteriores e que o Governo do Distrito Federal tem trabalhado muito para frear casos de mortes violentas, como a do professor universitário Hebert Miguel, 26 anos, em Taguatinga Sul, e do universitário Márcio Ribeiro, 28, na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, na última semana. Os dois morreram no sábado, vítimas de crimes investigados como latrocínio (leia mais na páginas 18).
O que o governo faz para frear as mortes violentas, como as que ocorreram na última semana com o professor e o universitário?
Temos trabalhado muito em relação a isso, mudado o policiamento, trabalhado com inteligência. Os níveis de apuração desses casos estão altíssimos. Finalizamos, no ano passado, com 80% dos crimes contra a vida apurados no DF. Isso mostra que estamos no caminho. Fechamos o ano passado como o melhor dos últimos 35 anos, em casos de homicídios. Janeiro de 2020 foi o melhor dos últimos 21 anos. Fevereiro, o melhor dos últimos 10 anos, perdemos apenas para fevereiro do ano passado. O crime faz parte da natureza humana. Ele existe e vai existir. O que nos cabe é trabalhar sério e pesado para melhorar.
Enquanto alguma vida estiver sendo perdida, a gente tem que trabalhar duro, certo?
Cada pessoa que morre atinge a nós, policiais, à secretaria e ao governo. Daqui para a frente, entendemos que a maioria desses crimes vai ter imagem. Estamos espalhando câmeras pela cidade quase toda. Em breve, estaremos chegando a mil câmeras. Teremos imagens, e elas chocam muito mais do que apenas sabermos dos crimes. Mas nosso trabalho é prevenir esses crimes. Tem uma série de aspectos envolvidos nisso, não é só questão de segurança pública. Tem moradores de rua, tráfico de drogas, gangues e guerra de facções — que culminam na morte de muitos jovens no DF.
Existe algum projeto da secretaria que vise evitar os crimes relacionados a roubo de celular?
Hoje, o celular é a menina dos olhos dos criminosos. Já foram a roda e o som do carro. O celular é pior, porque, nos outros crimes, não havia o contato entre o ladrão e a vítima. Hoje, há o contato e, nele, muitas vezes ocorre a fatalidade. Temos percebido uma série de assaltantes que foram presos há 15 dias novamente na rua assaltando. Qual é a diferença entre um assalto à mão armada e um latrocínio? É um clique. Precisa ser tratado com rigor, não só pela polícia, mas pelo Judiciário. Vejo, com respeito ao Estado brasileiro, que a gente precisa retomar algumas coisas. Vivemos uma crise de segurança há muitos anos. A sociedade já entendeu isso e quem comete o crime, também. Talvez a punição não seja a adequada. Temos discutido a questão da Papuda. São 17 mil presos, fechados no caldeirão fervendo. O Brasil não sabe o que fazer com os presos. A gente vai muito bem até a prisão em flagrante.
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"Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo"
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Como se combate o crime da arma branca?
Brasília sempre teve essa característica da arma branca. É uma questão que a gente precisa discutir. Qual é consequência jurídica para uma pessoa que é pega com uma faca na cintura? Por exemplo, muitas pessoas andam com canivete. É totalmente diferente de uma pessoa que é pega com um revólver na cintura. Sair de casa com uma faca, a gente faz um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é encaminhado à Justiça. No carnaval, fizemos vários. Eram facas, tesouras, facões. No do ano passado, machado foi apreendido pela PM. A pessoa que sai de casa com isso, sai mal-intencionada.
A gente vê muito feminicídio em que o crime é cometido com uma faca, em casa. Esse é um problema também. A secretaria tem um projeto relacionado a isso? É um desafio, não é?
Grande. No feminicídio, depois de tanto estudar, vimos que é uma evolução da sociedade. Um crime dentro de casa, com arma branca. O cara sai de casa, vai para o trabalho, passa em um bar para tomar uma coisa, chega em casa, briga com a mulher, vai à cozinha, pega uma faca e mata. Como a Segurança Pública age nisso? Como o Estado chega para impedir esse cidadão? Ela, os familiares e os amigos, muitas vezes, não denunciam, não trazem essa notícia.
Em sua avaliação, o que precisa mudar, urgente, na legislação penal nesse caso?
Precisamos não só endurecer a legislação, mas saber prender, condenar e saber o que fazer com essas pessoas. É um sistema. Quando assumi a secretaria, vi uma ideia de o sistema passar para a Secretaria de Justiça novamente. Conversei com o governador e pedi para deixar na Secretaria de Segurança. Porque segurança pública é o sistema, não é só investigação. A gente precisa evoluir.
O número de câmeras está aumentando. É fundamental para ajudar uma investigação?
Eu estava assistindo às imagens desse crime (do universitário morto na Rodoviária do Plano Piloto) e vimos a dinâmica do crime, inclusive o assassino conversando com a vítima. Em algum momento, houve o desentendimento e o crime. Foi uma atitude que, em tese, não chama a atenção.
O homem que roubou e matou o professor universitário já tinha passagens pela polícia, por furto e por roubo. A audiência de custódia é um problema?
Precisa ser revisto o modo que tem sido feito e os entendimentos. A partir de que momento que, num crime violento, como um roubo, o autor pode ser solto na audiência de custódia? A gente precisa endurecer um pouco mais isso. Talvez mudar as penas no Brasil.
Como está o DF em relação à permanência de líderes de facções criminosas na Penitenciária Federal de Brasília? O GDF é contra, mas o ministro Sérgio Moro e o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) defendem que isso não traz prejuízo para a cidade.
Tem reflexos no DF. Continuamos sem grandes informações do que está acontecendo. Temos uma GLO (Garantia de Lei e da Ordem) decretada para o Presídio Federal do DF, na qual o governador não foi consultado, fora dos requisitos da GLO. Pontuamos alguns fatos. Tive submetralhadora apreendida, com vários carregadores, pela Polícia Militar. E outra arma de calibre pesado. E fica minha pergunta: está fugindo ou não do que o DF sempre teve? Quem tem razão, a história vai dizer.
A convocação para os praças sai amanhã (hoje)?
Sai amanhã (hoje). Vamos convocar para o curso de formação. Não vamos fazer solenidade, mas uma live pela internet. Ainda não decidi a forma. Mas sai, com os prazos para entregar documento. Tem uma série de requisitos antes de começar o curso. São 750 pessoas.
Vão chamar os bombeiros?
Sim. Há também um cronograma. Vou tentar trazer essa convocação também para amanhã. Precisamos muito. Há um deficit muito grande de pessoal.
A convocação é uma solução para a segurança no DF?
Sem dúvida. Já tivemos 18 mil policiais. Hoje, trabalhamos com 11 mil. A população cresceu muito. Somos a terceira maior cidade do país. Temos problemas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
O reajuste das forças de segurança vai sair?
Amanhã vota na comissão esse reajuste inicial, que foi aprovado. Espero que saia. Precisamos chegar naquilo que nos propusemos a fazer. Mas há um longo caminho. Será um aumento de 8% para as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros.
Hoje (ontem) completam-se cinco anos da Lei do Feminicídio. Os dispositivos de segurança estão funcionando?
Começa a funcionar agora. Mandamos para o Tribunal de Justiça para fazerem os protocolos deles. Voltou para a segurança pública na semana passada. As reuniões foram feitas e, nos próximos dias, os juízes poderão sentenciar os usos do aparelho que ficará com a mulher para ela acionar quando for preciso.
Existe alguma recomendação para policiais que atuam no dia a dia, na rua, em relação ao coronavírus?
Ainda não pensamos nisso. As coisas estão sob controle, não podemos fazer alarde ainda.