Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sexta, 08 de novembro de 2019

STF IMPÕE REVÉS À LAVA-JATO: LULA PODE SER SOLTO

 

STF impõe revés à Lava-Jato
 
Corte proíbe prisão após condenação em 2ª instância, uma das bases da força-tarefa. Decisão permitirá a soltura de milhares de detentos, entre eles, o ex-presidente Lula

 

Renato Souza
Jorge Vasconcellos

Publicação: 08/11/2019 04:00

 

 

"Não é a prisão após segunda instância que resolve esses problemas (de criminalidade), que é panaceia para resolver a impunidade, evitar prática de crimes ou impedir o cumprimento da lei penal – Dias Toffoli, presidente do STF

 

 


Depois de cinco sessões de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu, por seis votos a cinco, a execução da prisão após condenação em segunda instância. Com isso, a Corte retrocedeu ao entendimento que vigorou entre 2009 e 2016, impondo um retrocesso no combate à corrupção e um duro revés à Operação Lava-Jato. Pelo menos 38 réus investigados pela força-tarefa devem ser liberados, de acordo com levantamento do Ministério Público Federal do Paraná. O efeito da decisão é imediato, e assim que a ata do julgamento for publicada, advogados poderão solicitar a liberação de condenados  que estão presos em decorrência de sentença tomada em segundo grau. Entre os beneficiados, está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia reportagem na página ao lado).

Além do petista, milhares de presos devem ser soltos para aguardar recursos ao STJ e ao STF. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a decisão atinge 4.895 detentos em todos os estados. Entre os condenados na Lava-Jato que podem ser liberados em razão do entendimento do Supremo estão o ex-ministro José Dirceu, condenado a oito anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos da Petrobras; o ex-gerente da Petrobras Pedro Augusto Cortes Xavier; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, além do ex-diretor da Petrobras Renato Duque e do pecuarista José Carlos Bumlai.

Em nota publicada logo após o julgamento, a força-tarefa da Lava-Jato declarou que o entendimento do STF prejudica o combate à corrupção e favorece a impunidade. “A decisão do Supremo deve ser respeitada, mas, como todo ato judicial, pode ser objeto de debate e discussão. Para além dos sólidos argumentos expostos pelos cinco ministros vencidos na tese, a decisão de reversão da possibilidade de prisão em segunda instância está em dissonância com o sentimento de repúdio à impunidade e com o combate à corrupção, prioridades do país”, destacou um trecho do texto.

Procuradores da Lava-Jato lembraram que a grande quantidade de recursos possíveis no sistema jurídico brasileiro resulta, inclusive, na prescrição de crimes. “A existência de quatro instâncias de julgamento, peculiar ao Brasil, associada ao número excessivo de recursos que chegam a superar uma centena em alguns casos criminais, resulta em demora e prescrição, acarretando impunidade. Reconhecendo que a decisão impactará os resultados de seu trabalho, a força-tarefa expressa seu compromisso de seguir buscando justiça nos casos em que atua”, emendou a nota.

O presidente da Associação Nacional do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo Azevedo, lamentou o desfecho do julgamento. “Reafirmo a preocupação do Ministério Público brasileiro com o provável retrocesso jurídico, que dificulta a repressão a crimes, favorecendo a prescrição de delitos graves, gerando impunidade e instabilidade jurídica”, ressaltou.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da Lava-Jato no Supremo, afirmou que os trabalhos relacionados à operação vão continuar normalmente na Corte. “Não creio que seja suficiente apenas culpar o sistema de processo penal pelas circunstâncias suscitadas neste julgamento. A relatoria dessa operação vai continuar a fazer o que tem de fazer, que é promover a responsabilização, quando for o caso, e a absolvição, quando for o caso.”

Toffoli
O ministro Dias Toffoli, que desempatou o placar, rebateu críticas de que a medida vai gerar impunidade e destacou que cada magistrado deve avaliar a situação do preso quando receber o pedido de liberdade. “No Brasil, mais de 300 mil pessoas estão presas por condenação em primeira instância. E continuarão presas, pois são pessoas perigosas”, disse o presidente da Corte, defendendo que condenados sejam presos logo após julgamento no Tribunal do Júri, que atua em casos de crimes hediondos, ou seja, dolosos contra a vida. Esse assunto ainda será analisado pelo plenário do Supremo.

Votaram a favor da prisão após condenação em segunda instância os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Os contrários à detenção antes de apresentar todos os recursos possíveis foram Marco Aurélio (relator), Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello, além de Toffoli.

Após o resultado, apoiadores do ex-presidente Lula que estavam na Praça dos Três Poderes soltaram fogos de artifício, e o barulho pôde ser ouvido dentro do tribunal. A Polícia Militar reforçou a segurança.

Respeito
No julgamento, a ministra Cármen Lúcia pediu que visões contrárias sejam respeitadas. “Quem gosta de unanimidade é ditadura. Democracia é plural, sempre. Diferente não é errado apenas por não ser mero reflexo”, frisou. Ela declarou que conhece os problemas do sistema penal do país, mas que a precariedade não pode servir como fundamento para não aplicar a lei. De acordo com a magistrada, derrubar a possibilidade de prisão em segunda instância aumenta a impunidade. “Se não se tem a certeza de que a pena será imposta, de que será cumprida, o que impera não é a incerteza da pena, mas a certeza ou pelo menos a crença na impunidade.”

O ministro Gilmar Mendes destacou que mesmo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), considerado a terceira instância, é possível anular a pena de uma pessoa condenada nas instâncias inferiores. “O STJ pode corrigir fatos sobre a culpabilidade do agente, alcançando, inclusive, a dosimetria da pena”, disse.

Saiba mais
Três ações

O julgamento encerrado ontem foi sobre o mérito de três ações, movidas pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), PCdoB e Patriota, que tratam sobre a execução antecipada de pena. As ações pediam que fosse confirmada a validade do artigo 283 do Código de Processo Penal, que prevê o trânsito em julgado — quando todos os recursos jurídicos são esgotados — como necessário para estabelecer as condições da prisão. Esse dispositivo foi incluído pelo Congresso Nacional em 2011.

Mudança de posição
O julgamento de ontem marcou a segunda vez que Toffoli mudou de posição sobre o tema. Em fevereiro de 2016, ele admitiu a prisão após condenação em segunda instância. Depois, passou a defender uma solução intermediária — de se aguardar uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, o presidente do Supremo votou pelo trânsito em julgado.

4.895
Número de presos que podem ser beneficiados pela decisão, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)


Contra a prisão
Ricardo Lewandowski
Rosa Weber
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Gilmar Mendes
Dias Toffoli

A favor da prisão
Edson Fachin
Alexandre de Moraes
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Cármen Lúcia

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 07 de novembro de 2019

STF RETOMA ANÁLISE DE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF retoma análise de prisão
 
 
Supremo Tribunal Federal deve formar maioria, hoje, para definir se mantém ou proíbe o encarceramento de réus após condenação em segundo grau de Justiça. Voto do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, é o mais esperado

 

» RENATO SOUZA

Publicação: 07/11/2019 04:00

» RENATO SOUZA    

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma na tarde de hoje o julgamento sobre a prisão após condenação em segunda instância. Até o momento, quatro ministros votaram para manter o entendimento atual da Corte e permitir a prisão após julgamento em segundo grau de Justiça. Três ministros foram contra, e ainda faltam quatro votos. A sessão deve resultar na formação de maioria, para que o caso seja definido.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a revisão do entendimento do STF resultaria na liberdade de 4.895 presos em todo o país. Entre os eventuais beneficiados está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux votaram a favor da prisão após condenação em segundo grau. Votaram contra Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Faltam os votos de Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.

O voto de Toffoli é um dos mais aguardados. Ele já defendeu que a prisão ocorra a partir de condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, no mês passado afirmou que ainda não havia tomado uma decisão e que poderia mudar de opinião.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da operação Lava-Jato no Supremo, minimizou os impactos de uma eventual mudança na jusrisprudência da Corte. “A eventual alteração do marco temporal para a execução provisória da pena não significa que, em lugar da execução provisória, quando for o caso, seja decretada a prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal (quando o réu representa riscos a investigação ou à sociedade). Então, não vejo esse efeito catastrófico que se indica”, disse o ministro.

Ainda de acordo com Fachin, mesmo que o Supremo derrube a prisão em segunda instância, isso não aumentaria a sensação de impunidade na população. “A rigor, o que contribui para a percepção de impunidade é o tempo demasiado entre o início e o fim do processo penal. Isso significa, portanto, que o processo penal deve ter um transcurso que atenda ao princípio constitucional da duração razoável. Esse é o grande desafio do Poder Judiciário brasileiro”, disse.

Fatos

Defensor da execução da pena em segundo grau de Justiça, Fachin lembrou que o mérito do caso, com a avaliação de culpa e a apresentação de provas, ocorre apenas na primeira fase do processo. “Acho que o correto é aplicar-se o que nós temos aplicado hoje. O STJ e o Supremo não reveem provas, não discutem mais o fato. Não cabe recurso especial para discutir matéria de fato. E o extraordinário só cabe se houver violação da Constituição”, completou Fachin.

Nos bastidores, os ministros já dão como certo que a prisão em segunda instância será proibida pelo Supremo. No entanto, o ministro Luís Roberto Barroso acredita que o resultado ainda pode ser diferente. “Eu acredito em milagres”, afirmou. Outro ministro, ouvido sob a condição de anonimato, declarou que não vê possibilidade de prevalecer a tese defendida anteriormente por Toffoli, para que o encarceramento ocorra após julgamento no STJ.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 06 de novembro de 2019

PACOTE PARA DISCIPLINAR AS CONTAS PÚBLICAS

 

Pacote para disciplinar as contas públicas
 
<b>Governo envia ao Congresso PECs que dão mais recursos e autonomia financeira para estados e municípios, reestruturam o serviço público e criam medidas emergenciais para entes federativos em apuros. Também anuncia projeto de privatização da Eletrobras e, hoje, realiza megaleilão de petróleo </b><br>
Batizado de Plano Mais Brasil, o ambicioso pacote de reforma do Estado lançado pelo governo Bolsonaro inclui três propostas de emenda à Constituição, que, juntas, podem ter impacto de R$ 670 bilhões na economia. Uma delas, a PEC do Pacto Federativo, destina R$ 400 bilhões a mais a estados e municípios nos próximos 15 anos. Outra, a dos Fundos Públicos, permite que R$ 220 bilhões empacados em 248 fundos possam ser usados para amortizar a dívida pública. Já a PEC Emergencial prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos; reduz despesas obrigatórias; proíbe ente federativo em crise de dar reajuste salarial e autoriza a diminuir jornada e salário de servidores. Ontem, Bolsonaro também entregou o projeto de privatização da Eletrobras, com uma novidade: o governo não terá direito a golden share, ação especial que permite o veto a determinadas decisões da companhia. E hoje ocorre o megaleilão do pré-sal, com a expectativa de arrecadação de pelo menos R$ 106 bilhões. Parte desse dinheiro vai para os cofres de estados e municípios.   , Sergio Lima/AFP
 
 
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes entregam ao Senado propostas ambiciosas para "transformar o Estado brasileiro" e permitir maior crescimento do país. Entre as medidas estão a descentralização de recursos para estados e municípios e ajustes no funcionalismo público

 

ANNA RUSSI
MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 06/11/2019 04:00

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado (Sergio Lima/AFP)  

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado

 



O governo federal encaminhou, ontem, ao Congresso três propostas de emenda à Constituição (PECs) que, juntas, têm potencial de gerar um impacto econômico de R$ 670 bilhões. As medidas compõem o Plano Mais Brasil, um pacote de ações para direcionar os próximos passos da agenda econômica que “transformará o Estado brasileiro”, nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Uma das PECs é a do Pacto Federativo que, segundo estimativas, em 15 anos, repassará R$ 400 bilhões a estados e municípios. O segundo texto, denominado PEC Emergencial, prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos. Já a PEC dos Fundos Públicos propõe usar R$ 220 bilhões, que estão parados em 248 fundos, para amortizar a dívida pública do país.

Guedes explicou que o envio de um plano extenso de reformas foi negociado com lideranças e presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. “A razão de colocar tudo junto é que, apesar de os assuntos não estarem tão maduros, foi uma construção conjunta da agenda. O próprio fatiamento das propostas foi indicado e sugerido pelas lideranças políticas”, afirmou.

A maior e mais complexa PEC, a do Pacto Federativo, propõe mudanças no sentido de assegurar uma execução mais eficiente das políticas públicas. “É o primeiro governo, em 40 anos, que fala em descentralizar recursos e fortalecer a democracia”, disse Guedes, ao reforçar a necessidade investimentos em educação, saúde, segurança e saneamento.

A equipe econômica propõe que os municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadação própria menor que 10% da receita total sejam incorporados pela cidade vizinha. Segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, 1.254 municípios se encaixam nesse perfil.

De acordo com o último censo do IBGE, 1.253 (um a menos do que o informado pelo secretário especial) dos 5.570 municípios brasileiros têm menos do que cinco mil habitantes. A medida é apresentada às vésperas de 2020, ano de eleições municipais, mas, na visão do governo, não afetará o pleito. Conforme afirmou o assessor especial do ministro Guedes, Rafaelo Abritta, as cidades que serão incorporadas na medida só serão conhecidas, de fato, em 2023.

“Em 1º de julho de 2023, será feito o aferimento da sustentabilidade financeira do município”, afirmou Abritta. Os municípios que não atingirem o índice de receita não terão eleição municipal em 2024, podendo ser incorporados no ano seguinte. A PEC prevê a fusão de, no máximo, quatro municípios. Também fica definida uma nova restrição à criação de municípios: só poderá ocorrer mediante uma lei complementar.

Para promover a independência do gestor, o governo propõe que estados e municípios passem a receber toda a arrecadação do salário-educação. Dessa forma, eles podem definir o uso dos recursos, que vêm da contribuição social de 2,5% descontada sobre a folha de pagamentos de empresas. Hoje, esses valores são divididos com o governo federal.

Ao dar mais liberdade para os estados e municípios administrarem os próprios recursos, o governo também pretende impor mais responsabilidade a cada um deles. A União fica proibida de socorrer entes em dificuldades fiscal-financeiras a partir de 2026. Não precisará, também, dar crédito para o pagamento de precatórios.

O texto prevê, ainda, a criação de um Conselho Fiscal da República. Segundo Guedes, o colegiado se reunirá a cada três meses para monitorar as contas e garantir o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Já criamos cultura de estabilidade monetária, ainda que antes da lei de autonomia do Banco Central. No lado fiscal, aconteceu o inverso: não temos a cultura de responsabilidade fiscal, apesar da existência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Precisamos consolidar um novo marco institucional da nova ordem fiscal”, disse.

Gatilhos
Semelhante à PEC do Pacto Federativo, a proposta para emergência fiscal apresenta alguns pontos próprios, como a duração das travas automáticas por dois anos. O acionamento dos gatilhos ocorrerá quando as operações de crédito superarem as despesas de capital em um ano. Além disso, dentro do montante economizado com as medidas, 25% do valor será destinado para projetos de infraestrutura.

Já a gestão dos recursos mínimos para saúde e educação, tanto da União quanto dos entes federativos, não sofrerá alteração. O que fica permitido é a realocação dos valores mínimos estabelecidos conjuntamente para as duas pastas. Ou seja, o gestor poderá escolher se, do total para saúde e educação, gastará mais em um ou em outro.

A terceira PEC apresentada muda a situação dos fundos públicos brasileiros. A ideia é liberar o dinheiro parado nessas contas para a amortização da dívida pública. Atualmente, existem 281 fundos públicos no Brasil, no entanto, somente 248 desses serão afetados. De acordo o texto, R$ 220 bilhões estão parados nessas contas estabelecidas por recursos arrecadados com finalidades específicas.

Também fica prevista a extinção da maior parte dos fundos no fim do segundo ano subsequente à aprovação da PEC. Os novos recursos arrecadados com os fundos serão aplicados prioritariamente nos programas de erradicação da pobreza e de reconstrução nacional.




Mais PECs
As medidas entregues ontem são apenas parte do pacotão da agenda econômica do governo pós-Previdência. O ministro afirmou que a transformação ocorrerá em diversas dimensões: tributária, administrativa e de descentralização de recursos. A busca, segundo ele, é transformar um Estado que gasta “muito e mal” em uma máquina eficiente e fraterna. Assim, até o fim do ano, ainda devem ser encaminhadas mais duas PECs: a reforma administrativa, que vai reorganizar o funcionalismo público, e a reforma tributária, que simplificará o sistema do país. A proposta que vai tratar da reestruturação do serviço público deve ser encaminhada à Câmara dos Deputados nos próximos dias. Já a de mudança de impostos será analisadas por uma comissão mista. Além disso, a equipe econômica promete o envio de um projeto de lei que definirá as regras para privatizações.
 
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Correio Braziliense terça, 05 de novembro de 2019

O OLHAR DO NEGRO SOBRE O NEGRO

 

O olhar do negro sobre o negro
 
Jovens de Brasília descobriram na fotografia uma forma de registrar o que é ser negro. Luiz Ferreira, Marconi Silva e Ester Cruz aprenderam a olhar a sociedade pela lente do enfrentamento à discriminação e usam a arte como instrumento de luta. No mês da Consciência Negra, eles ressaltam a importância da representatividade como forma de combate ao racismo. O trabalho é um caminho para o respeito e a conscientização.
 
Três fotógrafos de Brasília usam a temática racial em trabalhos como forma de representatividade e protesto

 

Thays Martins

Publicação: 05/11/2019 04:00

“A fotografia, antes de tudo, é um testemunho”. Foi assim que o fotógrafo norte-americano Ansel Adams definiu essa habilidade. E é exatamente assim que três profissionais de Brasília lidam com esse ofício. Negros, eles escolheram dar mais visibilidade para modelos com a mesma cor de pele.
 
Em ensaios e trabalhos autorais de Ester Cruz, Luiz Ferreira e Marconi Silva, estão presentes a beleza, o protesto e a representatividade. Neste ano, Ester começou a atuar em um projeto que, de acordo com ela, será para a vida inteira — de fotografia de retorno às origens africanas. “Eu trago personagens brasileiros com o recorte da ancestralidade”, explica. Para Ester, fotografar negros é sobre representatividade. “É uma queda do estereótipo padrão do homem branco de olho azul. Na minha infância, nunca tive muitas referências, por conta do racismo. Então, é transformar dor em arte”, define.
 
Luiz Ferreira já fez diversos ensaios com a temática racial. “Todo projeto que produzo parte de algum incômodo, reflexão, leituras, estudos. No Juventude Negra: sobre afetos, histórias e vivências, queria retratar uma nova juventude em movimento, em que (os jovens) falam de suas próprias narrativas. Fotografei individualmente cada pessoa e tivemos longas conversas. Compartilhamos histórias, desejos.” De acordo com o artista, o projeto surgiu da leitura sobre o genocídio da juventude negra. “Pensei: ‘precisamos mostrar que juventude é essa’. Não somos números, temos nomes e trajetórias”, afirma.
 
Além do Juventude Negra, exposto no Facebook em 2016, Luiz questionou a relação da masculinidade negra, no projeto Bright e a série Refazimento, em que fala sobre as relações de corpos dissidentes, retirados de seu lugar ancestral.
 
No caso de Marconi Silva, a inspiração surgiu ao ver profissionais que se dedicavam a fotografar negros. “Percebi que, como negro, também poderia falar de negritude através da minha fotografia”, conta. “Está cheio de fotografia de corpos brancos. Eu queria falar do meu povo.”
 
Na Universidade de Brasília (UnB), Marconi tem um projeto autoral em forma de protesto. “É uma universidade majoritariamente branca, tanto de alunos quanto de professores. O acesso aumentou com as cotas, mas ainda é pequeno. Meu curso (artes cênicas) só tem três professores negros”, destaca. A ideia dele era espalhar lambe-lambes pelo câmpus com fotos de alunos negros. Devido à burocracia, a exposição acabou restrita à Diretoria de Diversidade da UnB, de forma permanente. Agora, no mês da Consciência Negra, o projeto foi ampliado para o Centro de Convivência Negra. “Já ouvi, não para mim, que lugar de negro é limpando chão. Mas na UnB temos pessoas que serão os futuros doutores. Negros que querem ocupar seus espaços. É um caminho. A ideia é mostrar a cara do povo negro, que nós estamos resistindo”, afirma.
 
Conheça um pouco de cada um deles
 
 (Fotos: Arquivo Pessoal)  
Resgate da história por meio da fotografia
 
Aos 23 anos, Luiz Ferreira coleciona destaque no mundo da fotografia. Ano passado, uma foto dele foi selecionada para ser exposta na Patchogue Arts Gallery, em Nova York, nos Estados Unidos. Mas a relação com a fotografia começou como um resgate da história da família. “Nos momentos de encontro, minha avó materna sempre abria uma caixa cheia de álbuns. Dali surgiam risadas, retornos, situações e ressignificação e refazimentos”, lembra.
 
Em 2013, percebeu que a fotografia poderia ser mais do que retratos familiares. Começou a estudar. Para ele, a fotografia é “sobre registrar a partir das nossas narrativas, pautas, sentimentos; se mostrar, contar, decupar”.
 
Criado no Recanto das Emas e estudante de artes visuais na Universidade de Brasília (UnB),  Luiz relata que não é fácil ser negro em uma sociedade racista. Mas, para ele, consciência negra não é para falar sobre isso. “É sobre celebração do povo negro. Prefiro falar das novas narrativas que estamos construindo. O racismo é diário”, afirma.
 
 
Nós existimos durante todo o ano
 
Uma exposição de Sebastião Salgado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), quando ela ainda estava na escola, despertou o interesse de Ester Cruz, 21 anos, para a fotografia. Moradora de Ceilândia, se inscreveu no curso de fotografia do projeto Jovem de Expressão. Hoje cursa fotografia no Centro Universitário Iesb, com bolsa de 50%.
 
De acordo com Ester,  o mundo está melhor, mas ainda há muito o que melhorar. “O racismo é velado. Quando eu era criança, não entendia. Não pensava que era comigo”, relata. Na opinião dela, o caminho só não foi mais difícil por ter uma família bem estruturada. “Eles me ajudaram muito. Minha família é muito unida, mesmo não tendo muita consciência racial. Minha mãe sempre cuidou de tudo. Eu acho que isso facilitou para eu ter essa visão que tenho hoje”, ressalta. A jovem acredita que, mais do que falar sobre consciência negra em novembro, esse debate não pode se restringir a este mês. “Eu queria falar que a gente existe em outras épocas do ano”, declara.
 
 
Corpos negros em destaque
 
Marconi Cristino Silva, 38 anos, é grato ao projeto Jovem de Expressão, de Ceilândia, pelo envolvimento com a fotografia. A iniciativa oferece diversas oficinas e cursos gratuitos para a comunidade em geral. Por meio do projeto, Marconi se descobriu artista. Não só na fotografia, mas também no teatro. “Com isso, eu fui fotografando e pegando isso como expressão artística.”
 
As dificuldades para seguir a profissão não são poucas. Além dos cursos caros, os equipamentos têm custo elevadíssimo. “Eu me considero um fotógrafo, apesar das dificuldades. Eu ainda não tenho equipamento meu, por exemplo, pego tudo emprestado”, relata.
 
Marconi estuda artes cênicas na UnB. O objetivo de Marconi é ser arte-educador e juntar suas duas paixões. “Quero usar o teatro e a fotografia como ferramentas. Qualquer forma de arte é uma ferramenta boa para ajudar no processo educacional”, explica.
 
Para o morador de Ceilândia, discutir consciência negra é falar sobre respeito. “É falar de uma população que é maioria, mas é minoria nos espaços de poder. É falar sobre um povo que luta contra todas as mazelas. Não é por termos pele preta que somos incapazes.”
 
Perfis no Instagram
  • Ester Cruz @stcruzgraphy
  • Marconi Silva @marconi.cs
  • Luiz Ferreira @elefantesbrancos
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Correio Braziliense segunda, 04 de novembro de 2019

NATALHA NASCIMENTO: VIDA DE LUTA E SONHOS REALIZADOS

 

Vida de luta e sonhos realizados
 
Natalha Nascimento trocou uma indenização em dinheiro pela chance de proferir uma palestra de conscientização para pessoas que a ofenderam e agrediram. E essa foi apenas uma das várias batalhas que enfrentou e venceu na vida

 

Deborah Fortuna

Publicação: 04/11/2019 04:00

 

"Eu sou a única transgênero, negra, favelada licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram"

 

 
Era mais um dia em que Natalha Nascimento andava pela Rodoviária do Plano Piloto. Mais um dia de olhares de desaprovação e mais um dia em que, ao passar em frente a uma pastelaria, passou a ouvir ofensas dos funcionários. Naquele 26 de abril, porém, a mulher negra e transexual cansou-se de ouvir calada os xingamentos. 
 
Parou e perguntou por que aqueles homens sempre se comportavam de maneira tão hostil com ela. Então ouviu de um deles: "Eu faço piadinhas quantas vezes eu quiser, seu veado". A frase, somada ao longo tempo de humilhação, fez Natalha perder o controle. "Aquilo foi o estopim. Eu cuspi nele", recorda, dois anos e meio depois.
 
 A reação de Natalha, hoje com 36 anos, fez o homem partir das ofensas para a agressão física. "Eu lembro que caí de costas e que meus cabelos estavam presos na mão dele. Depois, levei um chute na costela", conta. Os outros funcionários apenas olhavam. Foi uma voz distante que a salvou. "Alguém disse para ele não fazer aquilo, que era covardia."
 
Ela só buscou uma delegacia dois dias mais tarde, após uma conversa por telefone com a mãe, que mora no Pará. Depois, Natalha foi ao Conselho de Direitos Humanos, e a denúncia virou processo. "Eu acionei a Justiça porque não vi nenhum crime ou erro cometido por mim que motivasse o comportamento dos funcionários", explica. 
 
Em uma audiência conciliatória, foi oferecida uma indenização, mas Natalha recusou o dinheiro. Queria um pedido de desculpas e a oportunidade de dar uma palestra sobre diversidade e gênero aos funcionários, o que foi aceito pela empresa. Apesar de o agressor não ter participado nem pedido desculpas, outros homens que também a tinham ofendido estavam ali para escutá-la. "Foi uma forma de resgatar o que era meu. Acho que surtiu efeito. Voltei a passar lá na frente e faço isso até hoje. Nunca mais ouvi uma palavra, mas também evito olhar para eles."
 
Cicatrizes
 
O episódio, que tornou Natalha conhecida no país inteiro, após o acordo feito na Justiça ser noticiado por diversos veículos, é só uma das várias batalhas enfrentadas pela mulher nascida na pequena Açailândia, no interior do Maranhão. As cicatrizes nas mãos, no colo e no punho são sinais de uma vida de luta, com muitos sonhos realizados, mas também vários reveses.
 
 Um deles, que ainda machuca a ponto de Natalha não gostar de falar sobre, a tirou de sala de aula. Formada em licenciatura em matemática pela Universidade Estadual de Goiás, ela sempre quis ser professora, o que fez até 2013, ano em que decidiu deixar a sala de aula. "Naquela época, estava uma loucura, com opiniões muito contrárias", limita-se a dizer.
 
Mais um recomeço. Trabalhou como copeira, doméstica e atendente de lanchonete, até que voltou à escola, desta vez, como educadora social voluntária em um colégio na Estrutural, onde mora. Ali, ouve os alunos, acolhe suas angústias e ajuda na inserção dos que se sentem excluídos, como uma aluna autista, que merece grande parte de sua atenção. "Eu percebo que estou contribuindo para a construção de cidadãos fortes", fala sorrindo, sentada na sala da pequena casa em que mora com o cachorro Mailo, cercada de livros de matemática e português.
 
Motivo de orgulho
 
A atuação como educadora social também a ajuda a se preparar para um retorno à sala de aula, um lugar, segundo ela, "impressionante". "Estou engatinhando para voltar hoje", anuncia, com a paciência e o respeito ao próprio tempo que aprendeu a cultivar. Afinal, Natalha sabe que as conquistas até aqui não foram poucas.
 
 Na pequena Açailândia, chegar à universidade era algo "muito distante". Para uma pessoa trans, parecia impossível. "Eu sou a única transgênero, negra, favelada, licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Isso é para mostrar o tamanho da desigualdade. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram", aponta.
 
Outra oportunidade que Natalha abraça com todas as forças é a própria vida. Dados da União Nacional LGBT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos. "Ser uma pessoa transgênero e chegar aos 36 anos de idade é um orgulho. Eu tenho apreço pela vida. Esse é o bem mais precioso que eu tenho."
 
 
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia .
 
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Correio Braziliense domingo, 03 de novembro de 2019

LIÇÕES DE IGUALDADE E AUTOESTIMA

 

Lições de igualdade e autoestima
 
 
A professora Keilla Vila Flor encanta os alunos com ensinamentos que vão além dos livros didáticos. O olhar crítico sobre o racismo e a crença de que é possível construir um mundo mais justo são lições tão importantes quanto as previstas no conteúdo programático

 

» Hellen Leite

Publicação: 03/11/2019 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


A professora conhecida entre os alunos pelas camisetas de super-heróis e pelos turbantes coloridos acorda cedo. O despertador do celular é programado para apitar todos os dias às 5h30. Quarenta e cinco minutos mais tarde, ela sai de casa, em Águas Claras, toma o ônibus entre 6h20 e 6h25 e, em 25 minutos, está na escola onde ensina história para crianças e adolescentes, em Taguatinga.

Aos 23 anos, Keilla Vila Flor vai e vem cotidianamente comprometida com uma ducação que vai além do que está nos livros didáticos. O combate ao racismo e a elevação da autoestima dos alunos, especialmente os negros, são lições tão importantes quanto o conteúdo programático. Dona de um levíssimo sotaque que mistura a Bahia e o Distrito Federal, ela começou a dar aulas há cinco anos. Tempo suficiente para conquistar a admiração dos estudantes e intervir de forma prática na luta contra o preconceito.

A historiadora lembra um episódio marcante, ocorrido este ano. Certa manhã, no primeiro horário de uma turma do 6º ano, uma garota negra se inspirou em uma colega branca e decidiu passar batom e colorir as pálpebras com uma leve sombra cor de rosa. Porém, mal pôs os pés na sala, ouviu risadas de alguns colegas, crianças entre 11 e 12 anos. A menina ficou visivelmente triste e tirou, com as mãos, a maquiagem que tinha feito com tanto cuidado, ali mesmo na escola.

Keilla interveio imediatamente. Após uma conversa sobre por que a atitude do grupo estava errada, os que riram foram orientados a ir até a frente da turma e pedir desculpas por magoar a colega. E, no dia seguinte, lá estava a professora, recebendo a turma com o cabelo arrumado e o rosto maquiado de forma semelhante aos da garota. Não houve mais episódios como esse na turma.

Trabalho cadenciado

Ela sabe que não mudará a realidade de um dia para o outro, mas não abre mão do papel de constante educadora. “É utópico achar que vamos ter uma conversa com os alunos sobre racialidade e eles nunca mais vão reproduzir o racismo. É um trabalho cadenciado, aos poucos”, diz, sentada no braço do sofá da sala dos professores.

No mesmo sofá, está Caio Henrique Carvalho, aluno de 14 anos do 8º ano do ensino fundamental. Neste ano, graças a Keilla, ele passou a gostar mais de história, embora sua matéria favorita continue sendo matemática, o que admite um pouco constrangido. A confissão, porém, não diminui em nada o olhar encantado da mestre enquanto o vê falar do que aprendeu nos debates sobre o tema racial ao longo do ano.

Caio é um adolescente negro que demonstra tristeza ao contar que presenciou racismo entre os colegas. “Às vezes, as pessoas falam no calor do momento, sem consciência de que estão falando algo preconceituoso. Mas, a partir do momento em que uma pessoa não gosta de uma brincadeira, já não é mais brincadeira, é preconceito ou bullying", ensina o menino.

A jovem professora, então, conta que a violência sofrida por crianças negras atualmente não é muito diferente da que ela viveu quando pequena. Filha de pai negro e mãe branca de olhos claros, Keilla cresceu ouvindo que seria mais bonita se fosse parecida com a mãe. No entanto, nasceu com a pele escura como a do pai, um homem alto e retinto, o que a fez passar por muitas situações de preconceito.

Olhar de desprezo

Um episódio da infância, vivido em Alagoinhas, cidade do interior da Bahia onde nasceu, segue presente na memória. Era feriado do Dia das Crianças. Ao lado de duas amigas, Keilla brincava com bonecas, vestida com o uniforme da pré-escola e com o cabelo dividido em duas tranças. Uma das coleguinhas era branca e a outra, negra. Foi então que uma mulher passou por elas, abaixou-se e tocou a cabeça da criança branca enquanto elogiava o cabelo.

“Depois, ela se voltou para mim e para minha outra amiga e nos olhou com desprezo. Tínhamos só 5 anos, mas, na mesma hora, percebi que aquela minha amiga tinha uma coisa que nós não tínhamos: a pele clara. Não sei como explicar, mas eu sabia que aquilo estava acontecendo por uma diferença racial”, conta.

É para construir um futuro em que cenas assim não ocorram mais que a professora trabalha. Além do colégio particular onde leciona, Keilla percorre escolas públicas e privadas do Distrito Federal, desde 2016, com uma palestra sobre a trajetória do povo negro no Brasil. Ela tem ainda uma intensa atuação na internet, sendo colunista da página Ativismo Negro, existente no Facebook e no Instagram.

Mesmo com a existência de leis que incentivam o ensino da história e da cultura afro-brasileira, ela lamenta que o conteúdo ainda seja muito pouco explorado nas salas de aulas. Abolida há 130 anos, diz, a escravidão — que trouxe ao Brasil de maneira forçada mais de 5 milhões de negros, tornando o país o principal centro do tráfico de pessoas das Américas — ainda deixa marcas na sociedade brasileira.

Por isso, Keilla gosta de enxergar, em cada um de seus alunos, uma nova oportunidade de construir uma escola e um país mais acolhedor. "Em todo primeiro dia de aula, eu digo para os alunos que estou falando com seres carregados de historicidade, que eles são importantes e têm o poder de mudar o mundo e a história."


"É utópico achar que vamos ter uma conversa com os alunos sobre racialidade e eles nunca mais vão reproduzir o racismo. É um trabalho cadenciado, aos poucos"
 

Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
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Correio Braziliense sábado, 02 de novembro de 2019

MUNDIAL SUB-17: DE PAI PARA FILHO

 


MUNDIAL SUB-17
 
De pai pra filho
 
Em 2001, o pernambucano Jorge Ramos veio morar no DF para defender o time alviverde. Fez gol no Bezerrão, foi campeão candango e disputou a Série A do Brasileirão. Dezoito anos depois, ele torce pelo filho Kaio Jorge, camisa 9 da Seleção no Mundial Sub-17. Os meninos venceram Angola por 2 x 0, ontem, em Goiânia, e jogarão na capital quarta-feira pelas oitavas de final., Mariana Fraga Duarte/CB/D.A Press
 
Jogador do Gama em 2001, Jorge Ramos fala ao Correio sobre o prazer de ver o filho Kaio Jorge com a camisa 9 da Seleção no mesmo estádio em que vestiu o uniforme alviverde no Brasileirão

 

MARIANA FRAGA

Publicação: 02/11/2019 04:00

 

 (Mariana Fraga Duarte/CB/D.A Press




)  

 



 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 

 

Com a vitória sobre a Angola por 2 x 0, ontem, em Goiânia, gols de Talles Magno e Gabriel Veron, a Seleção Brasileira termina a fase de grupo do Mundial Sub-17 em primeiro no A e retornará a Brasília para disputar as oitavas de final, quarta-feira, às 20h, no Bezerrão. A arena tem laços de família com o dono da camisa 9 verde-amarela. Autor de um gol na vitória por 3 x 0 sobre a Nova Zelândia na última terça-feira , o centroavante Kaio Jorge, 17, brilhou no mesmo palco em que o pai dele atuou por cinco meses na temporada de 2001 com o uniforme do Gama.

Jorge Ramos, 41, passou pelo clube candango numa era dourada. O Gama disputava a Série A do Campeonato Brasileiro. Jorge Ramos dividiu o vestiário com o zagueiro Márcio Santos, campeão da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, e o goleiro Ronaldo Giovanelli, ídolo do Corinthians. O ex-atacante ficou apenas cinco meses no clube. Tempo suficiente para deixar o nome marcado na equipe devido a uma estreia convincente.

No primeiro jogo, Jorge Ramos marcou três gols na vitória contra o Juventude de Mato-Grosso, pela Copa-Centro Oeste. Também conquistou o Candangão e participou do início do Brasileirão. Durante a competição, sofreu contusão e não seguiu no Gama.

 

Reportagem do Correio em 2001 mostrava o desafio do pai de Kaio  (Arquivo CB/Reprodução)  

Reportagem do Correio em 2001 mostrava o desafio do pai de Kaio

 

 

 

Após 18 anos, Jorge Ramos voltou ao Gama e ao estádio Bezerrão. Desta vez, para sentar-se nas arquibancadas e torcer pelo filho — o atacante Kaio Jorge, camisa 9 da Seleção Sub-17. "Quando descobri que ele iria jogar o Mundial Sub-17 no Gama, eu falei: 'Você vai jogar em um estádio  onde eu fiz gols. Vamos ver se você balança as redes lá e ele até riu'. Para mim, está sendo um privilégio pisar aqui na cidade de novo. Agora, em busca de outro sonho realizado, que é ver o meu filho jogando”, comemora Jorge Ramos.

O gol do filho saiu. Henri lançou Veron pela direita, e o camisa 7 deu assistência para Kaio Jorge fazer seu primeiro gol na competição. "Ele falou muito bem do Gama, do time e da cidade. Fiquei muito feliz de ter feito gol no estádio em que ele jogou, sensação única, e espero fazer mais gols”, projeta Kaio, um dos trunfos do time para a etapa de mata-mata.

O reencontro com a antiga casa de Jorge Ramos rendeu outra surpresa: a estrutura. O ex-atacante elogiou o estádio e o centro de treinamento do atual campeão candango. “Está  totalmente diferente. Antes não existiam tantas arquibancadas ao redor, apenas uma. Agora, está mais bonito, padrão Fifa, coisa de primeiro mundo. O pessoal do Gama está de parabéns, e torço para que possam subir logo para a Série C e ir galgando divisões até chegar à A”, afirmou o patriarca da família.

"Quando descobri que ele (Kaio Jorge) iria jogar o Mundial Sub-17 no Gama, eu falei: 'Você vai jogar em um estádio onde eu fiz gols. Vamos ver se você balança as redes lá, e ele até riu'. Para mim, está sendo um privilégio pisar aqui na cidade de novo. Agora, em busca de outro sonho realizado, que é ver o meu filho jogando”

Jorge Ramos, ex-jogador do Gama, pai do centroavante Kaio Jorge da Seleção Sub-17

"Ele falou muito bem do Gama, do time e da cidade. Fiquei muito feliz de ter feito gol no estádio em que ele jogou, sensação única, e espero fazer mais"

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Correio Braziliense sexta, 01 de novembro de 2019

OS ESTRAGOS DO SARAMPO

OS ESTRAGOS DO SARAMPO

Doença afeta a defesa imunológica das crianças, comprometendo o combate do organismo às infecções. Vacinação contra a doença é fundamental.  (Valdo Virgo/CB/D.A Press)

 

Sarampo causa amnésia imunológica
 
Em crianças, a doença elimina até 73% das células de defesa, fazendo com que o corpo não consiga mais combater micro-organismos causadores de infecções passadas. Segundo especialistas, o resultado reforça a importância da vacinação» Vilhena Soares

 

Publicação: 01/11/2019 04:00

Uma das consequências conhecidas do sarampo é o enfraquecimento do sistema imune. Mas especialistas não entendem completamente as causas do comprometimento das defesas naturais. Na tentativa de decifrar esse efeito, um grupo internacional de pesquisadores, divididos em dois grupos, analisou amostras sanguíneas de crianças antes e depois de elas serem infectadas pelo vírus da doença. Em ambos os trabalhos, os investigadores identificaram que o micro-organismo causa uma espécie de amnésia imunológica. A longo prazo, os glóbulos brancos vão diminuindo a ponto de o corpo esquecer a forma de lutar, fazendo com que sua defesa se torne semelhante à de um bebê. Os dados foram publicados nas revistas Science e Science Immunology.

Em pesquisas realizadas em 2015, cientistas constataram o quanto o sarampo é um vírus poderoso. Ele consegue suprimir o sistema imunológico das pessoas infectadas por dois a três anos, as tornando suscetíveis a outras doenças. O efeito foi descoberto por acaso, enquanto os pesquisadores buscavam testar a eficácia de uma nova tecnologia para a análise de vírus diversos. Foram analisadas amostras sanguíneas de 51 crianças não vacinadas antes e depois de um surto de sarampo que atingiu uma comunidade holandesa. A intenção era  analisar a eficiência do aparelho VirScan, que consegue identificar todos os vírus que infectam um indivíduo usando apenas uma gota de sangue.

Ao analisar o material, porém, a equipe descobriu que, dois meses após a infecção, o sarampo havia eliminado entre 11% e 73% dos anticorpos anteriormente presentes nas crianças e que ajudavam a evitar outras doenças. “Foi uma surpresa. Estávamos tentando descobrir como o VirScan trabalhava com sarampo e, então, fizemos essa descoberta. Quando o sarampo atinge (o corpo), os anticorpos simplesmente desaparecem”, conta ao Correio Stephen Elledge, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, e autor de estudo divulgado na revista Science. Os pesquisadores repetiram o experimento em quatro macacos — dessa vez, coletando amostras de sangue antes e até cinco meses após a infecção. Os macacos perderam de 40% a 60% dos anticorpos que os protegiam de outros patógenos.

Genes sequenciados
Na segunda pesquisa, divulgada na  Science Immunology, outro grupo de cientistas sequenciou genes de anticorpos de 26 crianças antes e de 40 a 50 dias após a infecção pelo sarampo. A equipe também observou que células específicas de memória imune criadas contra outras doenças e presentes antes do sarampo desapareceram. “Esse estudo é uma demonstração direta, em seres humanos, de amnésia imunológica, em que o sistema de defesa esquece como responder às infecções encontradas anteriormente. Mostramos que o sarampo causa diretamente a perda de proteção para outras doenças infecciosas”, destaca Velislava Petrova, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Em uma segunda etapa, Petrova e sua equipe testaram a amnésia imunológica diretamente em furões, mostrando que a infecção por um vírus semelhante ao sarampo reduziu o nível de anticorpos contra a gripe nas cobaias previamente vacinadas contra a gripe. Os furões também apresentaram piores sintomas de gripe após serem acometidos por infecção semelhante ao sarampo.

“Mostramos que vírus semelhantes ao sarampo podem excluir a memória imune da gripe preexistente. Mesmo depois que os furões foram vacinados contra a gripe, o vírus semelhante ao sarampo reduziu os níveis de anticorpos contra a gripe, resultando em animais novamente suscetíveis à infecção e apresentando sintomas mais graves. Isso sinaliza que o sarampo pode reverter os efeitos da vacinação contra outras doenças infecciosas”, detalha Paul Kellam, também autor do artigo e pesquisador do Imperial College de Londres.

Segundo os cientistas, o vírus do sarampo redefine o sistema imunológico para um estado tão imaturo que ele só pode produzir um repertório limitado de anticorpos. “Pela primeira vez, vemos que o sarampo redefine o sistema imunológico, fazendo com que ele se torne mais parecido com o de um bebê. Em algumas crianças, o efeito é tão forte que é semelhante a receber drogas imunossupressoras poderosas”, ilustra Colin Russell, pesquisador da Universidade de Amsterdã, na Holanda, e autor do trabalho.
 
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Correio Braziliense quinta, 31 de outubro de 2019

FESTIVAL YALODÊ: ENERGIA BOA E CELEBRAÇÃO

 

Energia boa e celebração
 
Além de oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, o Festival Yalodê reúne artistas para comemorar a ancestralidade africana

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 31/10/2019 04:00

Áurea Martins
 (Mariza Lima/Divulgação)  

Áurea Martins

 

 
No dialeto yorubá, a palavra yalodê designa quem lidera as mulheres da cidade. A expressão dá nome ao festival que ocorrerá de amanhã a domingo, abrindo a celebração do mês da Consciência Negra em Brasília, com uma programação artística de shows e oficinas, protagonizada por cantoras e compositoras afrodescendentes.
 
O público poderá apreciar gratuitamente vozes, ritmos, estilos, identidades e trajetórias e gerações diversas, proporcionados por mulheres do samba, jazz, hip-hop, da música luso-africana e da cultura popular, numa intensa troca de experiências e conhecimentos. A sambista brasiliense Cris Pereira, por exemplo, terá como convidada a veterana Áurea Martins, celebrada intérprete carioca de jazz; enquanto a cantora candanga Letícia Fialho vai dialogar com a francesa Anaïs Sylla.
 
“Uma yoladê lidera e potencializa outras mulheres, de acordo com a cosmovisão de matriz africana, e esse festival é um espaço para o encontro das múltiplas e potentes identidades artísticas de mulheres negras da diáspora”, afirma Sara Loiola, produtora e idealizadora do encontro, na área externa do Museu da República, com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal.
 
Atividades formativas, com oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, além de painel sobre carreira e trajetória no mercado musical serão oferecidas no transcorrer do festival. Amanhã, na abertura da programação de shows, Cris Pereira e Áurea Martins farão abertura dos trabalhos. Em seguida subirão ao palco Fanta Konate (Guiné Conacri), que mostrará, numa viagem musical, aspectos da cultura tradicional do povo mandên. A baiana Larissa Luz fecha a primeira noite, com o show Trovão, pela primeira vez na capital. 
 
Cris Pereira
 (Guto Martins/Divulgação)  

Cris Pereira

 

 
Santo de casa
 
Domingo, quem se apresentará primeiro é a rapper Realleza, do Sol Nascente. Outra representante brasiliense no festival, Letícia Fialho, que desenvolve um trabalho multi-rítmico, receberá a francesa Anaïs Sylla. No encerramento do Yalodê, Mariene de Castro trará para o brasiliense o elogiado espetáculo Santo de casa, baseado no samba de roda da Bahia, com o qual celebra a cultura popular brasileira.
 
Para Cris Pereira, além de abrir a celebração do mês da Consciência Negra na capital federal, o Yoladê se caracteriza pela diversidade de estilos, apresentados, em sua especificidade, pelas artistas participantes do festival. “Vou receber Áurea Martins, uma grande intérprete, com longa e sólida carreira na música popular brasileira. Juntas faremos um show de samba-jazz, acompanhadas por Lucas de campos (violão e direção musICAL), Igor Diniz (contrabaixo acústico), José Cabrera (piano), Leander Motta (bateria) e Leandro Barcelos (sopros)”, anuncia.
 
Áurea, que em 2018 participou de um festival de jazz na cidade, acredita que iniciativas como o Yoladê fortalecem a cultura negra do país, representada por várias vertentes musicais. “Vou começar a gravar um CD com o pianista Cristovão Bastos, cantando de Tito Madi a Vinicius de Moraes. Nesse show em Brasília vou interpretar canções do meu repertório, com a levada jazzística, que caracteriza meu estilo interpretativo”, adianta.
 
Fanta Konate (Tato Comunicação/Divulgação)  

Fanta Konate

 

 
Maravilha marginal, nome do show de Letícia Fialho, deu título ao álbum que ela lançou em 2018. “Composições autorais desse disco estarão lado ao lado de outras do EP Purpurina anzol, que saiu recentemente. Terei como convidada Anaïs Sylla, artista francesa com um trabalho eletroeletrônico interessante, a quem conheci em São Paulo, onde chegamos a compor juntas”, elogia. “Teremos a companhia em cena da Orquestra da Rua e do sanfoneiro Rodrigo Zolete”, acrescenta.
 
Larissa Luz, que tem viajado pelo país com o musical Elza (homenagem a Elza Soares), num raro momento de folga aceitou o convite para participar do Yalodê. “Já estive em Brasília outras vezes, mas ainda não havia apresentado na capital o Trovão, meu novo projeto solo. Esta vai ser uma oportunidade para mostrar esse show, como parte de um festival dessa importância”, ressalta.
 
 
 
Festival Yalodê 
Programação de shows: sábado, a partir das 20h30, shows de Cris Pereira e Áurea Martins, e Fanta Konate e Larissa Luz, sábado, a partir das 20h30. Antes se apresentam os DJs Savana e Pati Egito. Domingo, a partir das 19h30, shows de Realleza, Letícia Fialho e Anïs Sylla, Mariene de Castro. Antes se apresentam DJ Savana e no encerramento 9o DJ Pati Egito. Na área externa do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Amanhã haverá oficina de dança com Fanta Konate, às 18h30; e um painel sobre carreira e trajetória musical com Áurea Martins, Cris Pereira, Lídia Taillet, tendo Aryane Sánchez como mediadora, no auditório do Museu da República. Todos os eventos têm entrada franca.
 
 
 
Entrevista/ Mariene de Castro
 
 (Thiago Castro/Divulgação)  
 
Que avaliação faz dos seus de 20 anos de carreira artística?
Olhando minha história, só tenho o que agradecer. Sou uma mulher negra, nordestina, canto a cultura de meu povo, sou filha de Oxum e hoje posso dizer que já tenho 20 anos de carreira e lindas vitórias. Um caminho de muita fé, força, coragem, resiliência e amor.
 
 
O samba de roda, marca registrada do seu trabalho, a fez se aproximar de Roque Ferreira. Que importância ele teve para você como cantora e intérprete?
Roque é minha alma gêmea na música. Ele escreve o que minha alma precisa dizer. Assim sempre foi e assim pra sempre será.
 
 
A mudança de Salvador para o Rio de Janeiro lhe trouxe que tipo de ganho?
O Rio me deu muitas coisas lindas! E eu, de braços e coração abertos, só agradeço.
 
 
Com três discos de estúdio, dois ao vivo e dois DVDs, qual é  o seu projeto atual?
Vivo um momento em que cultivo algumas flores nesse meu jardim. Roda a baiana é meu projeto com o Jongo da Serrinha. Acaso casa acabo de lançar com Almério. O Santo de Casa é o projeto de minha vida. Seguirei levando a cultura popular pelo Brasil afora.
 
 
O que representa para você participar do Festival Yalodê, evento que propõe o fortalecimento da cultura negra no país? 
Eu me sinto honrada e agradecida! Desejo que seja iluminado e sagrado. Um projeto com esse nome só traz boas energias.
 
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Correio Braziliense quarta, 30 de outubro de 2019

CASA AZUL: SOLIDARIEDADE AMPLIADA

 

Instituição que atende mais de 3 mil pessoas em unidades de Samambaia, Riacho Fundo II e AABB construirá um centro de formação. O lançamento da pedra fundamental foi ontem, com concerto da orquestra composta por alunos da ONG.  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Solidariedade Ampliada
 
Na festa de 30 anos da Casa Azul, ontem, foi lançada a pedra fundamental do centro de formação que vai oferecer cursos gratuitos na sede da ONG, em Samambaia

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 30/10/2019 04:00

Local onde será erguido novo bloco da Casa Azul Felipe Augusto (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Local onde será erguido novo bloco da Casa Azul Felipe Augusto

 

 
A Casa Azul Felipe Augusto completou ontem 30 anos, e o presente vai para mais de 3 mil pessoas que poderão ser atendidas com a expansão do espaço em Samambaia. A festa reuniu, na sede, educandos, funcionários, diretores, colaboradores e parceiros para o lançamento da pedra fundamental da construção de um centro de formação.
Desde 1989, a Casa Azul dedica-se à inclusão social de crianças, jovens e adultos do Distrito Federal. A instituição oferece oficinas de artes, teatro, música, dança, informática, atividades esportivas, orientação pedagógica e formação profissional. Além disso, facilita a entrada dos educandos no mercado de trabalho.
 
A organização não governamental (ONG) começou atendendo a cerca de 120 crianças e, em três décadas, já contribuiu para a inserção social de mais de 33 mil pessoas, de 6 a 24 anos. “O trabalho teve início quando eu perdi um filho e passei a me questionar sobre o que eu poderia fazer a mais pela sociedade. No intuito de aliviar a minha dor, eu fui aliviar a dor dos outros, e a minha, automaticamente, foi sendo curada”, destaca Daise Moisés, diretora da Casa Azul.
 
Daise não imaginava o quanto a instituição cresceria. Atualmente, são quatro espaços: a sede e o anexo ficam em Samambaia; as outras unidades estão no Riacho Fundo II e no Clube AABB. Para arcar com os custos, há convênios com o setor público e parcerias com empresas privadas, além de doações.

Orquestra formada por  alunos locais tocou na cerimônia de aniversário da instituição (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Orquestra formada por alunos locais tocou na cerimônia de aniversário da instituição

 

 
Mercado de trabalho
 
O músico Wellington Rodrigues, 27 anos, lembra que o primeiro contato dele com o mercado de trabalho foi por meio da Casa Azul, em um estágio no Banco do Brasil. “Eu frequento a Casa desde os meus 3 meses de vida. Minha mãe era voluntária e não tinha onde me deixar, então eu entrei no projeto e fui um dos primeiros educandos a sair direto para um emprego”, relata.
 
O jovem aproveitou para agradecer os colaboradores que ajudam a ONG a continuar o trabalho social. “Eu fui beneficiado, mas Deus vai abençoar, e, um dia, eu vou poder ajudar também.”
 
O poder da arte
 
A música da festa ficou a cargo da orquestra formada por alunos da própria instituição. Julio Cesar Andrade, 15, frequenta a Casa Azul desde 2012 e toca saxofone no grupo. “Eu aprendi a tocar aqui. O maestro faz um trabalho muito bom, pois ensinar música para esse tanto de gente e formar uma orquestra é algo incrível”, enfatiza.
 
A entidade com sede em Samambaia também levou a arte para a vida da bailarina Patricia Victoria, 32. Ela entrou quando tinha 10 anos. “Eu não sabia o que era balé e aqui eu tive a chance de fazer aulas com uma professora e vi que era isso que eu queria para minha vida”, diz. Patrícia conta que, por meio do projeto, conseguiu entrar em uma escola de balé. Hoje, ela é formada em administração e cursa licenciatura em dança. “A Casa Azul foi a oportunidade de ver e conhecer o mundo, de sair de uma condição de vida medíocre”, acrescentou.
 
Expansão
 
Para ampliar o atendimento, um centro de formação será construído na sede e receberá cursos gratuitos de qualificação. A estrutura será erguida com recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (FDCA), por meio do projeto Construindo Sonhos. A iniciativa possibilita a arrecadação de parte do Imposto de Renda. Do total de recursos doados pelo contribuinte, 20% fica no fundo.
 
“Quem buscou o serviço da casa sabe que aqui é possível sonhar, e os sonhos se tornaram realidade. Hoje, estamos lançando a pedra fundamental. Os recursos captados ainda não são suficientes, mas vamos começar, porque acreditamos que nossos sonhos aqui também se tornarão realidade”, destaca Daise.


Os recursos captados ainda não são suficientes, mas vamos começar, 
porque acreditamos que nossos sonhos aqui também se tornarão realidade”
Daise Moisés, diretora


33 mil
Número de pessoas atendidas em mais de três décadas de funcionamento
 
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Correio Braziliense terça, 29 de outubro de 2019

NEGRITUDE: PARA ALÉM DO 20 DE NOVEMBRO

 

CONSCIÊNCIA NEGRA
 
Para além de 20 de novembro
 
Com rodas de conversas frequentes, exposições de fotos e outras atividades, iniciativa no CED 310 de Santa Maria busca desenvolver temas ligados à negritude durante todo o ano

 

» LUIZ OLIVEIRA*
* Estagiário sob a supervisão de Marina Mercante

Publicação: 29/10/2019 04:00

Maioria dos encontros ocorre na biblioteca, local que também serviu de ambiente para ensaio fotográfico  

Maioria dos encontros ocorre na biblioteca, local que também serviu de ambiente para ensaio fotográfico

 


Ao chegar ao Centro Educacional 310 de Santa Maria, é possível perceber que naquele lugar há algo de especial. A começar pelo mural da fachada, todo grafitado com personalidades importantes para a história mundial, sobretudo as negras. Um dos locais mais procurados da instituição é a biblioteca, pois é nela que ocorrem os encontros do projeto 365 dias de Consciência Negra, que, desde agosto de 2018, busca desenvolver com os alunos, por meio de diversas atividades, uma melhor compreensão do que é ser negro.
 
Os estudantes descrevem a iniciativa como uma oportunidade de encontrar apoio não obtido em outros lugares, além de aprender sobre a história do povo negro de uma outra maneira, a partir de exemplos de personalidades mundiais, nacionais e locais com trajetórias de resiliência e superação. Foge-se do que é ensinado tradicionalmente.
 
O 365 dias de Consciência Negra teve início após questionamentos da professora Margareth Alves, 42 anos, ao observar como se tratavam os temas da negritude. “Nossos heróis negros mal são citados nos livros de história. Sempre quando falam do nosso povo é a partir da escravidão. Resolvi criar o projeto para trabalhar a temática durante o ano todo. Foi dessa provocação que surgiu o nome”, explica.

O projeto foi idealizado pela professora Margareth Alves (Fotos: Nicolas Braga/Esp. CB/D.A Press)  

O projeto foi idealizado pela professora Margareth Alves

 

A ideia surgiu em maio de 2018, no entanto, só tomou forma em agosto, depois de um ensaio fotográfico. “Tiramos cerca de 40 fotos, todas na biblioteca, mostrando que o negro tem que ser inserido em espaço de poder, e não conheço melhor lugar que demonstraria isso”, diz Margareth.
 
As fotos foram de autoria de Vinicius Bispo, 18 anos, ex-aluno do centro educacional. “Eu queria mostrá-los de outra forma, porque sabia que estava lidando com adolescentes que sofrem com falta de autoestima. Queria deixar claro, por meio das imagens, o quanto eles são bonitos”, relembra.
 
Além das fotografias, são desenvolvidas atividades que envolvem toda a escola, entre elas cinedebates, exposições, passeios, apresentações culturais e rodas de conversa com personalidades negras de Brasília, como o cantor Marcelo Café e o jornalista Fred Ferreira.

Escola tem mural grafitado com personalidades negras  

Escola tem mural grafitado com personalidades negras

 

Apoio
De acordo com o diretor do CED 310, Wagner Lemos, a unidade de ensino sempre teve ações temáticas sobre consciência negra, mas eram isoladas e em datas específicas. Quando a professora Margareth propôs ampliar e sistematizar o trabalho, ganhou apoio da escola. “O empenho dela em desenvolver esse tema relacionado à negritude foi ganhando mais corpo, e a gente foi vendo que tinha como fazer isso além de uma única semana”, conta Lemos.
 
O projeto também conta com a parceria do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB). Semanalmente, a escola de Santa Maria recebe um bate-papo com alunos negros da UnB. Eles compartilham histórias e tiram dúvidas sobre a instituição federal.
 
Família
Estudante do primeiro ano do ensino médio, Laurikeicy Ferreira, 16 anos, é um dos mais de 40 alunos do projeto e não poupa palavras para descrever o quanto ele é importante. “Me ajuda muito nos estudos, minhas notas melhoraram depois que entrei, passei a ler mais. Tornou-se uma família pra mim, um lugar no qual posso encontrar apoio para tudo.”
 
Ingrid Oliveira, 18 anos, está no terceiro ano do ensino médio e sonha em cursar história para ser pesquisadora. A jovem conta que o grupo entrou na vida dela de uma maneira muito inesperada. “Eu estava no intervalo, perto da lanchonete, quando a Margareth perguntou se eu não queria participar. Topei na hora.”
 
Hugo Mikael Dias, também de 18 anos, voltou às salas de aula depois de passar por uma experiência de preconceito racial. “Desisti de estudar por ter vivenciado isso no ensino fundamental. Voltei neste ano ainda muito desacreditado, mas tudo mudou quando a professora me encontrou. Aceitei participar, mas com o pé atrás”, confessa. Conforme o ano foi passando, Hugo percebeu o quanto foi melhorando em diversas áreas, tanto na escolar como na pessoal, atrelando essas conquistas ao projeto liderado por Margareth.



Na lei e na prática
 
Em 20 de novembro de 1695, morreu Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos brasileiros da luta e resistência do povo negro. Por conta desse acontecimento, em 2011, foi sancionada a Lei nº 12.519, que instituiu o Dia Nacional da Consciência Negra. Outro marco foi no ano de 2003, em que se estabeleceu o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. Por lei, as instituições são obrigadas a trabalhar de alguma maneira o tema em sala de aula. No entanto, critica-se o fato de que muitas só desenvolvem essas atividades no mês de novembro ou até mesmo em único dia.
 
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Correio Braziliense segunda, 28 de outubro de 2019

LÍDER DO ESTADO ISLÂMICO É MORTO

 

Trump: Como em um filme

 

Publicação: 28/10/2019 04:00

Donald Trump assiste à caçada, na Casa Branca:  

Donald Trump assiste à caçada, na Casa Branca: "Foi brutal", narrou

 


A milhares de quilômetros da Síria, na Sala de Crises da Casa Branca, o presidente americano, Donald Trump, contou que testemunhou o fim do líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Bagdadi, por meio de um vídeo ao qual “assistiu vidrado”. Conversando com os jornalistas, o mandatário afirmou que era “como se estivesse vendo um filme”. A ação dos soldados de elite começou com oito helicópteros voando a baixa altura no escuro e terminou duas horas depois, com um dos homens mais procurados do mundo encurralado, pouco antes de explodir a si mesmo.

Trump contou que Bagdadi estava sob vigilância há duas semanas. Assim que a localização do terrorista foi confirmada, a incursão das forças especiais começou a ser executada no sábado. Além dos helicópteros, havia barcos e aviões. Primeiro, os militares tiveram que cruzar o território hostil vindo de um local não revelado no noroeste da Síria, voando por aproximadamente 70 minutos. “Havia uma possibilidade de ficarmos sob um fogo incrível”, narrou o presidente. “Quando chegaram ao destino, o inferno desatou”, descreveu. Nove pessoas, incluindo os filhos e as esposas do líder do EI, morreram na operação. Nenhum soldado foi ferido, segundo Trump.

Prisioneiros
O presidente continuou, dizendo que, ao chegar ao prédio onde o terrorista estava, os militares foram “recebidos com muito fogo”. Onze crianças que supostamente eram mantidas prisioneiras foram retiradas com vida. “E então veio a informação de que todos estavam esperando. ‘Senhor, só resta uma pessoa no prédio. Estamos seguros de que está no túnel tentando escapar, mas é um túnel sem saída’”, relatou Trump. Tratava-se de Bagdadi. “Foi brutal”, resumiu o mandatário.  “Ele chegou ao fim do túnel enquanto nossos cachorros lhe perseguiam. Explodiu seu colete, matando a si mesmo e aos três meninos (os filhos do extremista)”, narrou Trump.

Bagdadi já foi dado como morto diversas outras vezes. Para garantir que, de fato, ele morreu agora, os soldados pegaram amostras do corpo mutilado do líder para fazer a identificação do DNA antes de irem embora. “Ele não morreu como um herói, morreu como um covarde, chorando, gemendo e gritando e levando três meninos para morrer com ele. Ele sabia que o túnel não tinha saída.”
 
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Correio Braziliense domingo, 27 de outubro de 2019

PROTESTO: PAREM DE NOS MATAR!
 
Protesto no Plano Piloto

 Mulheres se reuniram em frente ao Museu Nacional para debater o feminicídio e protestar contra a violência alarmante. DF é a quinta unidade da Federação que mais mata por questão de gênero.

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 27/10/2019 04:00

“Parem de nos matar”.
 
A frase estampou dezenas de cartazes expostos, ontem, em frente ao Museu Nacional da República. Mulheres de diferentes movimentos sociais do Distrito Federal se reuniram para debater o feminicídio e cobrar políticas públicas de combate à violência contra elas. Durante o ato, cruzes pintadas de vermelho, simbolizando sangue, ficaram espalhadas pelo chão. Cada objeto simbolizava uma vítima de feminicídio do DF em 2019.
 
Participantes distribuíram cartazes, faixas e panfletos, conscientizando ou pedindo basta à violência. Algumas manifestantes se revezaram ao microfone para expor os problemas enfrentados pelas mulheres. Moradora de Águas Claras, a professora Vilmara Pereira do Carmo, 41 anos, uma das organizadoras do evento, ressaltou que o ato funciona para exigir do Governo do Distrito Federal (GDF) providências em relação aos aparelhos públicos, além de agregar mulheres de diferentes regiões administrativas e fortalecer a rede de apoio entre elas. “Vamos fazer ações regionais. A ideia é reunir pessoas de várias cidades e movimentos para cobrar políticas públicas que venham a ser eficazes, ao contrário das que existem hoje”, criticou.
 
Vilmara comentou que faltam abrigos no DF e delegacias especializadas no combate à violência contra a mulher. “Temos apenas uma Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), que fica no Plano Piloto. Isso deveria mudar e ser regionalizado”, sugeriu. A professora também cobrou mudanças no Judiciário. “Temos casos de mulheres que pedem medida protetiva e não conseguem. É preciso que se tenha um olhar mais atencioso, que não se leve uma denúncia na brincadeira, como se fosse uma briguinha”, completou.
 
Medo
 
A socióloga e professora Ayla Viçosa, 25, participante do Coletivo Juntas, ressaltou que a assembleia cumpre papel fundamental para pressionar o poder público e reverter a realidade do feminicídio. “Hoje, a gente vê que o governo tem um combate negligente à violência contra a mulher”, afirmou. Ela destacou que a violência ocorre em todos os locais pelos mais variados motivos: “Precisamos trazer vitória para as mulheres e transformar essa realidade. Precisamos de campanhas massivas e intensas”, disse.
 
A deputada Érika Kokay (PT) também esteve presente à assembleia. “A violência doméstica é um processo de tortura. Há mulheres que têm medo de voltar para casa”, declarou. A parlamentar ressaltou que o ato deve ser de articulação e que as participantes devem pontuar pautas para avançar em seguida.
 
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Correio Braziliense sábado, 26 de outubro de 2019

REVERÊNCIA À LITERATURA

 

Reverência à literatura
 
Autores lançam livro inspirado na trajetória de projeto voluntário de leitura para crianças. Tapete vermelho conta a história desse símbolo de respeito e mostra que ele pode celebrar bem mais que a passagem de reis e rainhas

 

Mariana Machado

Publicação: 26/10/2019 04:00

Ana Paula Bernardes e Tino Freitas: autores lançam livro infantil cheio de riquezas criativas (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Ana Paula Bernardes e Tino Freitas: autores lançam livro infantil cheio de riquezas criativas

 

Estender um tapete vermelho representa mais que uma reverência. É sinal de respeito. Como rei ou rainha, quem pisa nos fios tingidos pelo pigmento vivo pode sentir a potência do gesto. Ao longo de 13 anos, foi isso o que o projeto Roedores de Livros fez, ao acolher e transportar crianças e adolescentes a um mundo que se desvela sobre o tapete mágico. A trajetória desse trabalho voluntário virou também livro, que será lançado hoje.
 
O projeto se abriga atualmente num canto cheio de aconchego no Shopping Popular de Ceilândia. A ideia é levar a literatura aos roedores — como são chamados os leitores que frequentam o espaço — desde cedo. O contato se dá por meio da mediação de leitura, e os que gostam podem emprestar as obras apresentadas ou escolher qualquer outra do acervo de mais 5,3 mil títulos da “bibliotoca”.
 
Sobre o tapete, descalços, todos se igualam e se abrem para ouvir atentamente as histórias e embarcar juntos em cada fantasia. É um pouco desse poder simbólico que Ana Paula Bernardes e Tino Freitas (leia Os autores) contam em Tapete vermelho. Com ilustrações de Sandra Jávera, o livro faz um passeio pelo pigmento, antes caro e difícil de ser obtido. Apenas os donos das maiores riquezas tinham túnicas rubras, que dirá, um tapete.
 
É dessa forma que os Roedores de Livros recebem as maiores riquezas do mundo: as crianças. Debruçadas nas almofadas sobre o vermelho vibrante, elas escutam as histórias mais variadas da literatura infantojuvenil. De quarta-feira a sábado, o espaço educativo atrás das lojas dos feirantes recebe o público ávido pelas aventuras de personagens coloridos.
 
Ao longo da última década, Ana e Tino viram crianças se tornarem adultos e voltarem com saudade. “A literatura infantil tem uma coisa interessante. Acham que para esse público só existe ‘livrinho’, mas hoje eles são trabalhados. São verdadeiras obras de arte”, garante Ana Paula. “Esse aqui é um espaço de pluralidade e de apresentar o mundo para as crianças. Temos livros sobre indígenas, cultura africana, escritores de Brasília e muito mais.”
 
Ela conta que o trabalho de mediação fomenta a leitura. “Não basta ter uma biblioteca ou o acesso ao livro. É preciso ter alguém que possa te mostrar esse caminho para que, lá na frente, você possa caminhar com as próprias pernas, como leitor”, explica a autora. O objetivo agora é alcançar um público mais amplo, em Ceilândia e no restante do Distrito Federal. Escolas interessadas podem agendar um horário para levar os alunos. O tema da leitura normalmente é escolhido pela coordenação do projeto, mas os professores podem fazer sugestões.
 
O começo
 
Quem vê as salas recheadas de livros e decoradas com ilustrações de artistas nas paredes não imagina que houve uma época em que o acervo era transportado em caixas de papelão — uma biblioteca ambulante. A ideia do projeto nasceu, em 2006, da parceria entre Tino e Ana, à época, casados. Ela, professora, ministrava cursos em que falava da importância da literatura, mas ouvia de colegas sobre a dificuldade em colocar aquilo em prática dentro da sala de aula.
 
Pouco depois, em um evento na 312 Norte, no Açougue Cultural T-Bone, que contou com a presença do escritor Ziraldo, Tino lançou a proposta de trabalhar literatura infantil no espaço. A ideia foi aceita e, por cerca de um semestre, a dupla passou a fazer leitura para crianças todos os sábados. “Mas era uma coisa de uma vez só. Elas iam e não voltavam mais. A gente queria formar leitores”, lembra Tino.
 
Surgiu, então, a proposta de levar o trabalho para Ceilândia. Dois anos depois, chega a notícia de que não poderiam mais ocupar a sala na creche em que se reuniam. Para manter o projeto vivo, os dois passaram a contar as histórias em um gramado, mas então, um novo problema: formigas e outros insetos que incomodavam as crianças. Assim o tapete vermelho chegou, abrigando e confortando os jovens leitores.
 
De lá, o grupo conseguiu a sala no Shopping Popular, em local que estava abandonado. “Nós revitalizamos, e hoje a cara é outra. Isso também é educação”, afirma o escritor. “O amor é uma assinatura importante, talvez a mais importante de todas, mas a gente trabalha nisso porque a gente tem teimosia e esperança. Isso que move o Roedores”, resume Tino.

Visite
Roedores de Livros, biblioteca comunitária. Shopping Popular de Ceilândia, QNM 11 - Área Especial, Lote 3, Torre A - Ceilândia Sul. Aberta de quarta a sábado, das 9h às 12h.  

Visite Roedores de Livros, biblioteca comunitária. Shopping Popular de Ceilândia, QNM 11 - Área Especial, Lote 3, Torre A - Ceilândia Sul. Aberta de quarta a sábado, das 9h às 12h.

 



 
Os autores
  • Ana Paula Bernardes é graduada em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB) e professora da Secretaria de Educação do DF. Fascinada por literatura, na faculdade se aproximou da vertente infantil. É idealizadora e coordenadora do projeto Roedores de Livros. Atua como educadora na formação de mediadores de leituras e como consultora em programas de promoção do livro e leitura no Brasil.
  • Tino Freitas é jornalista, músico, escritor e contador de histórias, além de mediador de leitura do Roedores de Livros, onde se apaixonou pelo trabalho com crianças. Autor de 24 livros infantis, teve obras premiadas com o Jabuti e o Selo Altamente Recomendável para Crianças, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
 
Tapete vermelho  
De Ana Paula Bernardes e Tino Freitas
Ilustrações: Sandra Jávera. Editora do Brasil
Número de páginas: 32
Preço: R$ 44
Lançamento: hoje, às 17h, com a participação dos autores e mediação de leitura para crianças. Sebinho, 406 Norte, Bloco C, Loja 44
 
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Correio Braziliense sexta, 25 de outubro de 2019

STF INDICA VETO À PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF indica veto à prisão em 2ª instância
 
 
Voto de Rosa Weber faz pender a balança para a tese de que réus só podem ir para a cadeia depois de esgotados todos os recursos na Justiça. Se entendimento for confirmado, milhares de presos, incluindo condenados pela Lava-Jato, podem ser liberados

 

Publicação: 25/10/2019 04:00

Na opinião de Rosa Weber, a Constituição estabelece que a pena só deve ser aplicada após esgotados todos os recursos (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência)  

Na opinião de Rosa Weber, a Constituição estabelece que a pena só deve ser aplicada após esgotados todos os recursos

 



Após a sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, aumentou a expectativa de que a Corte deve modificar a jusrisprudência que permite a prisão de réus depois de condenados em segunda instância. A indicação nesse sentido veio com voto da ministra Rosa Weber, que se posicionou a favor de que o encarceramento dos culpados só pode ser feito após o chamado trânsito em jugado, isto é, depois de esgotados todos os recursos permitidos pelas normas processuais. O voto da ministra era um dos mais esperados, já que a posição dos demais integrantes do Supremo é relativamente conhecida, tendo em vista votações e pronunciamentos anteriores.

A sessão foi suspensa com o placar de 4 a 3 para manter a prisão em segunda instância. Além de Rosa Weber, votaram os ministros Ricardo Lewandowski, que seguiu a mesma linha, e Luiz Fux, favorável à prisão depois da condenação em segundo grau. Quatro dos 11 magistrados ainda precisam votar. Entre eles, estão Gilmar Mendes, Celso de Mello e o presidente do Tribunal, Dias Toffoli. Até o momento, o trio tem sido contrário à execução da pena na segunda instância. Se esta tendência for confirmada, seriam seis votos a favor da revisão do entendimento da Corte, formando maioria, o que pode liberar, para responder em liberdade, pelo menos 4.895 presos em todo o país, incluindo detentos da Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os tribunais superiores (STF e o Superior Tribunal de Justiça, o STJ), não avaliam provas ou se o réu cometeu ou não o crime. Apenas julgam se o processo respeitou a Constituição e as lei vigentes. Em 2016, Toffoli propôs que a prisão ocorresse a partir da condenação pelo STJ. Nessa hipótese, Lula continuaria encarcerado, mas outros detentos seriam beneficiados.

Ao ser abordado por jornalistas, no fim da sessão, Toffoli informou que o julgamento deve continuar no começo de novembro, pois na semana que vem não haverá sessões plenárias no Supremo. O ministro declarou que ainda não formulou seu voto e que está aberto aos argumentos dos demais integrantes da Corte. “A princípio será 6 ou 7 de novembro (a retomada do julgamento). Estou pensando o meu voto. Estou aberto a ouvir todos os debates. Meu voto não é um voto de bancada. Ele também tem o cargo da representação do Tribunal como um todo”, disse.

Como presidente da Corte, Toffoli será o último a votar. Caso haja empate entre as posições dos demais ministros, e ele proponha que a prisão ocorra apenas após a análise do STJ — o que vem sendo chamado de um “voto médio nos bastidores da Corte — há quem avalie que o julgamento poderia ser suspenso até que se forme um consenso no tribunal.

Etapas

Em 2018, durante a análise de um habeas corpus do ex-presidente Lula, a ministra Rosa Weber votou para manter o petista na cadeia. Porém, na ocasião ela destacou que apenas estava respeitando a opinião do colegiado, que julgava importante aplicar num caso concreto. Ontem, quando estava sendo examinada a questão em abstrato, ou seja, a constitucionalidade da prisão em segunda instância, a ministra destacou que sempre foi a favor da reclusão apenas depois que todos os recursos sejam apreciados.

Para ela, a Constituição Federal é clara no sentido de que a pena só deve ser aplicada após o fim de todas as etapas do processo penal. “Trata-se, na minha visão, de amarra insuscetível de ser desconsiderada pelo intérprete, diante da regra expressa veiculada pelo constituinte ao fixar o trânsito em julgado como termo final da presunção de inocência. No momento em que passa a ser possível impor aos acusados os efeitos da atribuição da culpa, não é dado ao intérprete ler o preceito constitucional pela metade, ignorando a regra”, afirmou Rosa Weber.

O ministro Luiz Fux, que foi a favor da prisão em segundo grau, fez o contraponto. “A mudança de precedente não pode se fazer sem uma motivação profunda. Nós estamos aqui desde 2016 dizendo: ‘essa regra é salutar, ela evita a impunidade’. E agora nós vamos mudar por quê? Qual a razão de se modificar a jurisprudência?”, perguntou Fux.

Durante o julgamento, ele citou casos famosos, como o assassinato de Isabella Nardoni, jogada pela janela de um prédio pelo próprio pai e a madrasta, do estuprador Champinha e do ex-jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, assassino da namorada. Para o ministro, os autores destes crimes não teriam sido presos se o Supremo permitisse a detenção apenas ao final de todos os recursos. “O direito não pode viver apartado da realidade. Isso é justiça? Será que é essa a justiça que se espera de um tribunal? Vamos contemplar e só depois iniciar a execução de pena?”, concluiu.
 
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Correio Braziliense quinta, 24 de outubro de 2019

STF - 2ª INSTÂNCIA: À ESPERA DO VOTO CRUCIAL DE ROSA WEBER

 

STF retoma hoje análise de prisões
 
Julgamento da constitucionalidade do cumprimento de pena após condenação em segunda instância será reiniciado com expectativa sobre o voto de Rosa Weber, que pode indicar a tendência do tribunal. Sessão de ontem foi suspensa quando placar era de 3 a 1 a favor da medida

 

» Renato Souza
» Augusto Fernandes

Publicação: 24/10/2019 04:00

Magistrados estão divididos sobre a questão. Decisão da Corte poderá afetar condenações feitas em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Magistrados estão divididos sobre a questão. Decisão da Corte poderá afetar condenações feitas em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato

 



O Supremo Tribunal Federal retomará hoje à tarde o julgamento que avalia a constitucionalidade da prisão de réus em ações penais após a condenação em segunda instância. A sessão de ontem foi interrompida pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, quando quatro ministros já haviam se manifestado, com três votos a favor da prisão e um, contrário. Há grande expectativa em relação ao voto da ministra Rosa Weber, que abrirá a sessão de hoje. Apesar de ter votado a favor da prisão em segunda instância, meses atrás, no julgamento de um habeas corpus, a opinião dela sobre o tema é uma incógnita. À época, a ministra declarou que poderia ter uma visão diferente no plenário, cuja decisão valerá para todos os casos semelhantes que tramitam no país e pode afetar as condenações da Lava-Jato.

Para que o colegiado defina a questão, pelo menos seis dos 11 ministros da Corte têm que votar no mesmo sentido. É possível que o julgamento não seja encerrado na sessão de hoje. No entanto, com o voto de Rosa Weber será possível ter um panorama do resultado final. Se houver maioria votando no mesmo sentido, é provável que o resultado permaneça, mesmo que o encerramento do caso seja adiado.

Se a sessão desta quinta-feira não for suficiente para que todos os votos sejam apresentados, o assunto deve ser retomado apenas no começo de novembro, já que na próxima semana não haverá sessões na Corte. Para dar maior celeridade ao processo, Toffoli deve cancelar o intervalo que ocorre no meio da sessão.

O primeiro a votar, ontem, foi o ministro Marco Aurélio Mello, relator das ações diretas de constitucionalidade (ADCs) que pedem a revogação da autorização para prisão em segunda instância. De acordo com ele, a Constituição prevê que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

 “A literalidade do preceito não deixa margem a dúvidas: a culpa é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre apenas com a preclusão maior”, afirmou. “O dispositivo não abre campo a controvérsias semânticas”, completou Marco Aurélio.

Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso divergiram do relator e se manifestaram a favor da prisão após a condenação em segunda instância. Alexandre de Moraes afirmou que proibir a prisão antes de análise dos tribunais superiores reduziria a relevância dos julgamentos nas demais instâncias. “Não se pode afastar a efetividade da tutela judicial dadas pelos juízos de 1ª e 2ª instância, que são os juízes naturais da causa, de cognição plena. Não se pode transformar esses tribunais em tribunais de mera passagem”, observou.

Beneficiários

Luís Roberto Barroso destacou que condenados por crimes de corrupção seriam diretamente beneficiados com a eventual revisão do entendimento do Supremo sobre o momento em que o encarceramento pode ser efetuado. “A imprensa divulgou alguns beneficiários notórios: condenados por corrupção, peculato e lavagem. Pobre não corrompe, não desvia dinheiro e não comete lavagem. Não foram os pobres que mobilizaram os mais brilhantes advogados criminais”, disse.

Além de Rosa Weber, faltam votar os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e, por último, o presidente Dias Toffoli. O voto de Rosa Weber costuma ser extremamente técnico. O entendimento dela sobre os casos que julga costuma ser conhecido apenas nos momentos finais da leitura do voto. Nos bastidores do Supremo, ela evita comentar os processos e os demais colegas de plenário não se atrevem a dar um palpite sobre como ela deve avaliar a prisão em segunda instância, um dos temas mais polêmicos entre os que já passaram pelo crivo da Corte.

O professor João Paulo Martinelli, doutor em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP), entende que, para se aplicar a prisão antes do julgamento de todos os recursos, seria necessário que o Poder Legislativo mudasse o texto constitucional. “A Constituição Federal é muito clara: ninguém poderá ser considerado culpado antes de transitar em julgado a decisão. Se o problema é a lentidão do Poder Judiciário e do Ministério Público para o encerramento do processo, não é violando um princípio constitucional que o problema será resolvido. Tem que se pensar em soluções para que o processo tramite de forma mais ágil. O sistema recursal deve ser repensado e o modelo de gestão das instituições deve ser modificado”, disse.

O criminalista Max Kolbe faz uma avaliação diferente. Para ele, nos tribunais superiores não se discute mais a culpa do réu, mas sim o trâmite processual. Por conta disso, ele entende que a prisão deve ser aplicada após condenação em segunda instância. “Quando o caso vai para o STF ou para o STJ, não é mais avaliado o mérito, somente alguma afronta à Constituição ou à lei. Assim, não se discute se o réu é inocente ou culpado. Por esta razão, se está exaurida a instância, não há motivo para manter o réu em liberdade, ainda mais se considerarmos que o direito penal tem institutos, como prisão preventiva, prisão provisória e própria prisão em flagrante, que restringem a liberdade desse réu ou do acusado antes mesmo de se findar o processo penal”, afirmou.
 
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Correio Braziliense quarta, 23 de outubro de 2019

STF DECIDE SOBRE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF decide sobre 2ª instância
 
 
Expectativa é de que julgamento termine ainda hoje. À tarde, votação dos ministros começa pelo relator Marco Aurélio Mello. Posição do Supremo sobre o momento da prisão de condenados só será adiada se houver pedido de vistas

 

» Renato Souza

Publicação: 23/10/2019 04:00


O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje, a partir das 9h30, o julgamento sobre a prisão a partir de condenação em segunda instância. Na sessão realizada na semana passada, foram feitas as sustentações orais pelos advogados das partes envolvidas no caso. Ou seja, os defensores de instituições que participam do julgamento apresentaram argumentos contra e favor da prisão após conclusão do processo no 2º grau de jurisdição. Os 11 ministros vão decidir em que etapa do processo pode ocorrer o encarceramento. Pela manhã, devem falar o representante da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ambas as instituições devem solicitar que o Supremo mantenha o entendimento atual para garantir punição a envolvidos em diversos delitos.

Na parte da tarde, os ministros começam a votar. O primeiro será Marco Aurélio Mello, relator de três ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) que serão julgadas e pedem que o artigo 285 do Código de Processo Penal seja declarado válido. O texto do artigo afirma que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Entre os integrantes da Corte existe um clima de divisão. Para que ocorra uma decisão, seja ela qual for, seis ministros devem votar no mesmo sentido. Além de autorizar ou suspender prisões em segunda instância, é possível que ocorra ainda um voto médio. O ministro Dias Toffoli tem defendido que a reclusão ocorra após condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O ministro Alexandre de Moraes acredita que o caso deve ser encerrado na sessão de hoje, por conta da reserva de sessões pela manhã e a tarde para o caso. No entanto, outros ministros acreditam que o julgamento pode se estender até amanhã. É possível, ainda, que um dos ministros peça vistas, ou seja, mais tempo para analisar o tema e adie o julgamento por tempo indeterminado. O Supremo já julgou casos que tratam do assunto pelo menos quatro vezes desde 2016. No entanto, a decisão de agora terá repercussão geral e valerá para todos os tribunais do país, podendo resultar na liberação de milhares de presos, inclusive do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Corte sofre pressão de vários grupos para tomar uma decisão que mantenha o entendimento atual, de que a pena pode começar a ser cumprida a partir de condenação em segunda instância. Grupos de caminhoneiros prometem entrar em greve caso o ex-presidente Lula seja solto com a decisão. O movimento Vem Pra Rua convocou mobilizações virtuais para enviar mensagens de e-mail e por telefone aos ministros do Supremo para que peçam vista, a fim de adiar o julgamento. Oficiais de inteligência do governo monitoram a situação e avaliam ameaças e manifestações que podem se concretizar. O Supremo também monitora as redes e pode incluir ataques em um inquérito sobre fake news que tramita na Corte.
 
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Correio Braziliense terça, 22 de outubro de 2019

GOVERNO MONTA PACOTE PARA CRIAR MAIS EMPREGO

 

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Correio Braziliense segunda, 21 de outubro de 2019

SUPREMO: ARQUIPÉLAGO DE ONZE MONOCRACIAS

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Correio Braziliense domingo, 20 de outubro de 2019


Correio Braziliense sábado, 19 de outubro de 2019

CARROS ANTIGOS: NOSTALGIA NAS RUAS DA CAPITAL

 

Nostalgia nas ruas da capital
 
 
Aficionados por carros antigos mantêm modelos que rodaram em Brasília na década da fundação. Para celebrar os 60 anos da cidade, clube de colecionadores programa reeditar uma caravana com veículos de época

 

MATHEUS FERRARI

Publicação: 19/10/2019 04:00

Membros do Veteran Car compartilham a paixão por automóveis  (Ana Rayssa/CB/D.A Press





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Membros do Veteran Car compartilham a paixão por automóveis

 

 
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
 
Pelas avenidas longas e largas de Brasília, os moradores da recém-fundada capital desbravaram a cidade com seus carros, na imensidão de um horizonte ainda desconhecido. Na década de 1960, entre a poeira vermelha, o cerrado e os prédios que eram erguidos, estes automóveis ajudaram a construir a história da capital.
 
Modelos como Vemaguet, Gordini, Candango e Fusca circulavam aos montes pelas vias da Esplanada dos Ministérios, pelas superquadras e pelas satélites — hoje regiões administrativas. Em estacionamentos, como o da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, carros como Dauphine e Rural também eram vistos todos os dias.
 
Hoje, quase 60 anos depois, passar por um modelo de carro desses no trânsito de Brasília causa nostalgia nos que viveram os primórdios da capital e admiração nos que não tiveram a oportunidade de sentar no banco de um automóvel da época.
 
Colecionadores são os maiores responsáveis por preservar estes modelos e trazer à tona a memória de uma Brasília recém-fundada. O Correio Braziliense ouviu alguns dos que contribuem para perpetuar a história através dos carros.
 
Fusca, Vemaguet e Gordini são alguns dos modelos que circulavam pelas vias da recém-fundada capital do país, nos anos de 1960  (Elza Fiúza/CB/D.A Press - 21/7/75
)  

Fusca, Vemaguet e Gordini são alguns dos modelos que circulavam pelas vias da recém-fundada capital do país, nos anos de 1960

 

 
 (Arquivo CB/CB/D.A Press
)  
 
 (Arquivo CB/CB/D.A Press)  
 
José de Mattos Souza, 81 anos, é um desses aficionados por automobilismo. Militar reformado da Aeronáutica, ele ainda tem a Vemaguet que comprou em 1967, pouco depois do fechamento da fábrica da DKW Vemag (fabricante do modelo), em agosto do mesmo ano.“Ela roda comigo, na minha mão, até hoje, e nunca parou. Sempre fazendo a manutenção e o conserto necessários, a mantenho perfeita. Ela está disponível como qualquer outro carro”, ressalta José, que calcula a distância percorrida pela Vemaguet desde 1967 até hoje: cerca de 400 mil quilômetros rodados.
 
Antes de alcançar essa quilometragem, a Vemaguet foi personagem de viagens e passeios com a família. “Os netos gostavam demais do carro. Eram crianças de 5 a 10 anos, e eu usava como atrativo para eles”, conta o colecionador, ao lembrar que os netos se divertiam quando o avô abaixava o encosto do banco de trás. “A meninada adorava. Colocavávamos colchões para eles brincarem e dormirem e íamos ao clube juntos com o carro. Agora eles cresceram”, recorda.
 
A paixão por automóveis garante o lazer de José Luiz Diaz Fernandez, 57 anos, presidente do Veteran Car Brasília, clube de colecionadores de carros antigos. “Você sabe o que é, no fim de semana, passar metade de um dia cuidando só disso, tirar a roda pra lavar e passar a escovinha por debaixo do para-lama? Esse é o prazer que hoje não existe mais. As pessoas levam no lava-jato, e alguém faz”, compara, saudosista.
 
Esse interesse por carros levou colecionadores como José de Mattos e José Luiz Diaz Fernandez e outros membros do clube à ideia de homenagear Brasília pelos 60 anos da cidade — que serão completados em 21 de abril de 2020 — por meio dos automóveis de época. No ano que vem, o Veteran Car Brasília realizará a 2ª Caravana da Integração Nacional. O objetivo é reeditar a empreitada original, promovida por JK em 1960 (leia Memória).
 
Segundo José Maria de Andrade, também membro do Veteran Car, a jornada deve contar com ao menos 600 veículos de época, vindos das 26 capitais do país, além dos de Brasília. A previsão dos organizadores é de que 2 mil pessoas pariticipem da caravana, que deve chegar à capital brasileira em 17 de abril. Bailes, shows, desfiles e exposição de carros da caravana são algumas das atrações que devem constar na agenda de comemorações.
 
“É uma repetição da caravana de 1960. Vamos convidar todos os clubes de carros antigos do Brasil. Nosso projeto é que venham representantes das capitais e de todas as cidades que tenham colecionadores de automóveis de época”, explica José Maria.
 
Memória
 
 (Arquivo/CB. Brasil. Presidente da República 
)  
 
Juscelino e o Romi-Isetta
 
Em fevereiro de 1960, ano de sua fundação, Brasília foi o destino final da Caravana da Integração Nacional. Com o objetivo de expandir a malha rodoviária e implementar a indústria automobilística no Brasil, o ato histórico, iniciativa do então presidente Juscelino Kubitschek, contou com carros partindo dos quatro pontos cardeais do país (Norte, Sul, Leste e Oeste) em direção à futura capital federal.
 
Cerca de 130 veículos da época, incluindo modelos como Vemaguet, Gordini, Rural, Candango e Fusca, participaram da jornada que terminou em Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. Na ocasião, as quatro caravanas — conhecidas como quatro colunas e vindas de Belém (PA); Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP); Cuiabá (MT); e Porto Alegre (RS) — uniram-se a JK, em um desfile pela cidade que se tornaria a capital do país em 21 de abril daquele ano. Empunhando uma bandeira nacional, o então presidente desfilou a bordo do primeiro carro fabricado no país, um Romi-Isetta.
 
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Correio Braziliense sexta, 18 de outubro de 2019

PARA PGR, MUDAR PRISÃO SERIA TRIPLO RETROCESSO

 


PODER
 
Para PGR, mudar prisão seria triplo retrocesso
 
Parecer da Procuradoria-Geral da República encaminhado aos ministros do STF afirma que derrubar a possibilidade de réus começarem a cumprir pena após condenação em segunda instância pode colocar em xeque a estabilidade jurídica no país e a credibilidade da Corte

 

RENATO SOUZA
LUÍS CALCAGNO

Publicação: 18/10/2019 04:00

 

Supremo analisa ações movidas pela OAB e pelos partidos Patriota e PCdoB. Julgamento começou ontem,  mas resultado só sai na próxima semana (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
)  

Supremo analisa ações movidas pela OAB e pelos partidos Patriota e PCdoB. Julgamento começou ontem, mas resultado só sai na próxima semana

 

 



Em memorial encaminhado aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que derrubar a possibilidade de prisão de réus após a condenação em segunda instância, que começou a ser julgada ontem, representaria um “triplo retrocesso” no sistema jurídico, que atingiria, inclusive, a credibilidade depositada pela sociedade brasileira na Corte. O documento é assinado pelo vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrada, que deve falar em nome do Ministério Público Federal (MPF) na sessão do STF da próxima quarta-feira.

De acordo com a Procuradoria, mudar a atual jurisprudência do tribunal — que permite a prisão após condenação em segunda instância — seria um retrocesso para o sistema de precedentes do Judiciário, que perderia “em estabilidade e segurança jurídica e teria sua seriedade posta em xeque”. A mudança seria prejudicial também “para a persecução penal no país, que voltaria ao cenário do passado e teria sua efetividade ameaçada por processos infindáveis”, recursos protelatórios e “penas massivamente prescritas”. Por fim, seria ruim “para a própria credibilidade da sociedade na Justiça e na Suprema Corte, como resultado da restauração da sensação de impunidade”, sustenta a PGR.

Código
No julgamento iniciado ontem, os 11 ministros da Corte analisam três ações diretas de constitucionalidade que contestam a prisão em segunda instância. Elas pedem a validação do artigo 285 do Código de Processo Penal, que afirma que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

As ações foram apresentadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelos partidos Patriota e PCdoB. Ao abrir a sessão, o presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli, tentou amenizar a polêmica criada em torno do caso. Sem citar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — um dos que poderão ser beneficiados pela eventual mudança no entendimento do Supremo — Toffoli declarou que o julgamento não tem como objetivo afetar “nenhuma situação particular”.

Na sessão de ontem, falaram advogados das instituições que entraram com as ações e representantes de entidades que se declararam e foram aceitas pelo tribunal como interessadas no tema. Na próxima semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Advocacia-Geral da União (AGU) devem se manifestar no plenário, e, por fim os ministros revelarão seus votos.

Encarceramento
O advogado Héracles Marconi, que representa o Patriota, destacou que a legenda, que defendia o encarceramento apenas depois de examinados todos os recursos possíveis, mudou de opinião e, agora, entende que a prisão em segunda instância é um mecanismo para combater a criminalidade. “Na ação penal nº 470 (processo do mensalão) houve um único grau de jurisprudência. Na Lava-Jato, houve um duplo grau. Uma pessoa, da qual não vou falar o nome, foi condenada e está presa. Houve a quebra de um paradigma. É preciso ter uma resposta satisfatória desta Corte aos anseios da sociedade”, disse.

Atuando pelo Conectas, organização que luta pela proteção aos direitos humanos, a advogada Silvia Souza, expressou visão contrária, afirmando que a prisão antes do fim do processo prejudica as pessoas mais pobres e, principalmente, as de pele negra. “Um debate tão sério quanto a relativização da presunção de inocência tem sido pautado como se afetasse apenas os condenados de colarinho-branco, quando, na verdade, nós sabemos muito bem que o aparato penal do Estado se endereça aos pretos, pobres e periféricos”, sustentou.

O advogado Juliano Breda, da OAB, afirmou que o Código de Processo Penal recebeu a chancela do Poder Legislativo, a quem pertence a atribuição de criar leis e regulamentar os artigos da Carta Magna. “O entendimento da OAB é no sentido de reafirmação da Constituição, da independência e da liberdade do poder Legislativo”, disse.

Tuíte incômodo
Uma mensagem postada em uma rede social do presidente Jair Bolsonaro ajudou a aumentar a tensão no julgamento do STF sobre as prisões em segunda instância. “Aos que questionam, sempre deixamos clara nossa posição favorável em relação à prisão em segunda instância. Proposta de emenda à Constituição que se encontra no Congresso Nacional sob relatoria da deputada federal Carol de Toni”, dizia um post publicado no Twitter do presidente. Tempos depois, o conteúdo foi apagado. Filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro assumiu a autoria da mensagem. “Eu escrevi o tweet sobre segunda instância sem autorização do presidente. Me desculpem  todos! A intenção jamais foi atacar ninguém! Apenas expor o que acontece na Casa Legislativa!”, afirmou.


Análise da notícia

Se eles tiverem razão, o mundo está errado

» Plácido Fernandes Vieira

Há uma gritante contradição entre o notório saber jurídico de meia dúzia de ministros ditos garantistas do STF e de juristas de, praticamente, todo o planeta. Um exemplo disso, citado pelo fórum que reúne juízes criminais brasileiros, são os 153 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU). Em todos eles, alertaram os magistrados em nota, condenados cumprem pena após condenação em primeira ou segunda instância. O problema, dirão alguns, é que a Constituição Federal, no inciso LVII do artigo 5º, estabelece que a presunção de inocência de um réu só acaba quando esgotado o último recurso no Supremo. No mesmo artigo 5º, mais adiante, o inciso que trata especificamente de prisão, o LXI, aponta em sentido oposto ao que entendem as sumidades. Vamos aos fatos.

Basta saber ler para compreender o que diz o inciso LXI: “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. Simplificando: só se pode prender uma pessoa no caso de flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de uma juíza ou juiz. Prestem bem atenção: não fala em esperar recurso ao STF para determinar a prisão. Agora, voltando ao “entendimento” dos supremos garantistas: que trecho da Constituição estabeleceria a presunção de inocência até o último recurso no STF? Eles alegam que está no inciso LVII. Será?

Vejam o que dispõe o inciso LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Para os tais garantistas estarem certos, o inciso LXI teria de ser declarado inconstitucional. Mas o fato é que eles estão errados. Não há contradição na Constituição. Como assim? Explico: é que nem o STJ nem o STF julgam crimes cometidos por pessoas sem foro privilegiado. Logo, o trânsito em julgado de ações penais desse tipo de réu se esgotam na segunda instância. É assim no mundo inteiro. Em todos os países da ONU. E é isso que está na nossa Constituição. E no Brasil sempre foi assim, com exceção de um breve momento, entre 2009 e 2016, em que sinto até vergonha de contar. Mas vamos à história.

Dez anos atrás, o STF mudou a jurisprudência ao analisar o caso de um fazendeiro rico que deu cinco tiros num homem que, supostamente, estava “cantando” a mulher dele, no meio de um evento agropecuário no interior de Minas. Resultado: o fazendeiro ficou impune. O período de “exceção jurídica”, felizmente, durou pouco. Em 2016, o então ministro Teori Zavascki explicitou o absurdo da situação e convenceu colegas do STF a reconduzirem o Brasil ao rol dos países civilizados. Mas, no meio do caminho, condenaram e prenderam Lula... Sim, é isso: nessa celeuma toda não existe nenhuma sapiência jurídica inalcançável a reles mortais. O objetivo é um só: destruir a tal da Lava-Jato, aquela operação de combate ao crime que ousou prender bandidos de colarinho branco.

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Correio Braziliense quinta, 17 de outubro de 2019

FUX E BARROSO VEEM RETROCESSO NO FIM DA PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

FUX E BARROSO VEEM RETROCESSO NO FIM DA PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA 

Na véspera do julgamento marcado para começar hoje no STF, os ministros Luiz Fux (foto) e Luís Roberto Barroso alertaram para possível retrocesso no combate ao crime no país caso a corte mude de postura sobre a prisão de condenados.

 

PODER
 
Ministros defendem prisão em 2ª instância
 
Luís Roberto Barroso e Luiz Fux antecipam votos e dizem que mudança de jusrisprudência do STF favoreceria criminosos de colarinho-branco. STF começa hoje a julgar ações que contestam cumprimento de pena após condenação em segundo grau de jurisdição

 

RENATO SOUZA

Publicação: 17/10/2019 04:00

 

Na sessão de hoje falarão apenas defensores e opositores da prisão em segunda instância. Votos dos magistrados só serão conhecidos na próxima semana (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 13/12/15
)  

Na sessão de hoje falarão apenas defensores e opositores da prisão em segunda instância. Votos dos magistrados só serão conhecidos na próxima semana

 

 



Um dia antes do início do julgamento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se mantém ou não a possibilidade de que réus sejam presos após serem condenados em segunda instância, dois ministros da Corte adiantaram seus votos e disseram que a eventual mudança no entendimento da Corte representaria um retrocesso, favorecendo a impunidade. “A execução da pena depois de condenação em segunda instância funciona como um desincentivo para a criminalidade”, disse Luiz Fux. Para Luís Roberto Barroso, “os criminosos de colarinho-branco e os corruptos” serão os principais beneficiados, caso o STF modifique a jurisprudência sobre o assunto.

Os 11 ministros do Supremo se reúnem hoje a partir das 14 horas para analisar três ações que questionam a validade da prisão após a condenação dos réus em duas instâncias da Justiça. O julgamento será um dos mais importantes da história do STF. Uma eventual mudança do entendimento do tribunal pode beneficiar milhares de detentos em todo o país, inclusive condenados na Lava-Jato por crimes como lavagem de dinheiro e corrupção. Um deles é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que cumpre pena em Curitiba desde abril de 2018. O presidente do STF, Dias Toffoli, porém, adiantou que o julgamento não terminará hoje.

Nessa primeira etapa, ocorrerão as chamadas sustentações orais dos defensores da prisão em segunda instância e dos que são contrários a ela. Além de advogados representando os autores das ações e da Procuradoria-Geral da República (PGR), falarão também representantes de organizações que demonstraram interesse no julgamento. Dez organizações foram aceitas e tentarão moldar a opinião dos magistrados. Os votos dos ministros serão conhecidos somente a partir da próxima quarta-feira, quando o STF voltará a se reunir.

Para Luís Roberto Barroso, a prisão em segunda instância é fundamental para combater práticas criminosas. Segundo ele, nos últimos anos, o país “consagrou um ambiente de impunidade para a criminalidade do colarinho-branco”, o que fez com que o momento da prisão fosse sendo atrasado pelo Poder Judiciário.

“Primeiro, era primeiro grau, depois passou a poder executar depois do segundo grau. Em 2009, quando o direito penal chegou no andar de cima, mudou-se a jurisprudência para impedir a execução depois do segundo grau. Os efeitos foram devastadores para o país e para a advocacia”, disse Barroso. “Para a advocacia criminal, porque passou a impor aos advogados, por dever de ofício, o papel indigno de interpor recurso descabido atrás de recurso descabido, para não deixar o processo acabar. Portanto, a mudança melhorou o país, estimulou a colaboração premiada, permitiu que se desbaratassem as redes de corrupção”, completou.    

Barroso observou, ainda, que, no caso dos condenados por crimes violentos, em muitos casos se justificará a manutenção da prisão preventiva, mesmo que a prisão em segunda instância seja derrubada. “Portanto, no fundo, uma mudança no entendimento da Corte vai favorecer os criminosos de colarinho-branco e os corruptos”, disse.    

Luiz Fux salientou que a jurisprudência até agora mantida pelo STF segue padrões internacionais. Ele lembrou que a Justiça brasileira é lenta, e que atrasar o cumprimento da pena pode resultar em prejuízos para o ordenamento jurídico. “No Brasil, as decisões demoram muito para se solidificar. Eu considero que haverá um retrocesso se a jurisprudência for modificada. Além disso, em todos os países, a mudança de jurisprudência só ocorre depois de muitos anos, porque tem que se manter íntegra, estável e coerente”, afirmou.

O defensor-público-geral do Rio de Janeiro, Rodrigo Pacheco, que tambémparticipará da sessão de hoje, afirmou que, desde que foi permitida a prisão em segunda instância, foram prejudicadas as pessoas mais pobres. De acordo com ele, 25% de todos os habeas corpus apresentados no STJ têm sido acolhidos, o que revela falhas nas instâncias anteriores. “Temos que acabar com o mito de que a revogação da possibilidade de prisão em segunda instância só beneficia réus da Lava-Jato. As pessoas carentes que estão presas também têm acesso aos tribunais superiores”, disse.

Convulsão social    
Em meio ao clima de expectativa pelo julgamento do STF, umcomentário feito em uma rede social pelo general Eduardo Villas Boas chamou a atenção.“Experimentamos um novo período em que as instituições vêm fazendo grande esforço para combater a corrupção e a impunidade, o que nos trouxe — gente brasileira — de volta a autoestima e a confiança”, disse. “É preciso manter a energia que nos move em direção à paz social, sob pena de que o povo brasileiro venha a cair outra vez no desalento e na eventual convulsão social.”

Plenário dividido

Veja como deve ser o voto de cada ministro, segundo posições manifestadas em julgamentos anteriores e declarações públicas:

Contra a prisão em 2ª instância:
Gilmar Mendes
Ricardo Lewandowski
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Dias Toffoli (defende prisão após confirmação da condenação pelo STJ)
Rosa Weber

A favor:
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Edson Fachin

Votos indefinidos:
Cármen Lúcia
Alexandre de Moraes

Possibilidades de resultado:
1 — STF mantém a prisão a partir de condenação em 2ª instância
2 — Ministros decidem que a prisão deve ocorrer após condenação no STJ
3 — Réu passa a ser preso somente ao final do processo, depois que todos os recursos forem analisados

Análise da notícia

A culpa é da Lava-Jato?


Plácido Fernandes Vieira

O viés que predispõe ministros do STF a determinar o fim da prisão em segunda instância não está no inciso LVII, do artigo 5º da Constituição. O objetivo primeiro, já ficou claro diante da ira pública de ministros da Corte, é destruir a Lava-Jato, a operação de combate à corrupção que ousou condenar e prender bandidos do colarinho-branco no país. O efeito colateral da decisão será transformar o Brasil numa espécie de paraíso da impunidade. Fortalecerá, também, o lucrativo negócio das grandes bancas advocatícias contratadas a peso de ouro — muitas vezes, com dinheiro surrupiado dos cofres públicos — para manter os intocáveis longe da cadeia. Privilegia-se, assim, o crime em detrimento da sociedade, que é quem mais sofre com a falta que esse dinheiro faz a hospitais, escolas, estradas, segurança.

No julgamento, ministros poderiam poupar o Brasil dos enfadonhos discursos em que jorra “notável saber jurídico”, às vezes invocando até a Bíblia, para defender o indefensável. Ninguém precisa de tanta sabedoria para entender o que dispõe o inciso LVII, do artigo 5º da Constituição. Basta ser alfabetizado. Lá está escrito: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Agora, prestem atenção: nem o STF nem o STJ julgam processos de réus sem foro privilegiado. É incumbência da primeira e da segunda instâncias. Logo, são nessas instâncias que o processo transita em julgado.

A partir daí, o que há são recursos extraordinários. E, na maioria das vezes, meramente protelatórios. Tanto é assim que, em países como os Estados Unidos, por exemplo, raramente um caso dessa natureza se estende além da primeira e da segunda instância. A Suprema Corte só é acionada em casos que envolvam desrespeito à Constituição.

Tem mais: o inciso que dispõe sobre prisão é outro: o LXII, do mesmo artigo 5º da Carta Magna. E o que diz? “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.” Trocando em miúdos: a prisão pode ocorrer quando houver flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada do juiz. É o que ocorre, entende o ministro Luiz Fux, no caso do ex-presidente Lula. Mas como demover meia dúzia de supremos enfurecidos com a Lava-Jato do retrocesso que se avizinha e que envergonhará o Brasil perante o mundo?

 

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Correio Braziliense quarta, 16 de outubro de 2019

FIM DA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA: STF PODERÁ DEIXAR O PAÍS ISOLADO

 


PODER
 
FIM DA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA 
 
 
 
STF pode deixar Brasil isolado, dizem juízes
 
Fórum de magistrados criminais afirma que o país seria único entre os membros da ONU a não permitir a prisão de réus após condenação em segunda instância se o Supremo mudar entendimento sobre o assunto em julgamento marcado para amanhã

 

» RENATO SOUZA

Publicação: 16/10/2019 04:00

Decisão da Corte pode permitir a soltura de milhares de presos, segundo Fonajuc. Ministro Alexandre de Moraes diz que medida não teria tanto impacto (Iano Andrade/CB/D.A Press - 4/3/07)  

Decisão da Corte pode permitir a soltura de milhares de presos, segundo Fonajuc. Ministro Alexandre de Moraes diz que medida não teria tanto impacto

 



À medida que se aproxima o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que vai decidir sobre a constitucionalidade da prisão em segunda instância, nesta quinta-feira, o debate sobre o assunto ganha intensidade. Ontem, o Fórum Nacional de Juízes Criminais (Fonajuc) divulgou nota afirmando que, caso o tribunal derrube o entendimento que vem mantendo desde 2016, o Brasil pode se tornar “o único país de todos os Estados-membros das Nações Unidas (ONU) a não permitir a prisão após condenação em primeira ou segunda instâncias, acarretando graves consequências para a sociedade brasileira”

Segundo a entidade, composta de magistrados estaduais, federais e militares de todas as regiões do país, a prisão em segunda instância não contraria a Constituição. Na nota, o Fonajuc afirma que essa sempre foi a interpretação do STF, em toda sua história, com exceção do período entre 2009 e 2016. E acrescenta que a reversão desse entendimento “acarretaria a soltura imediata de mais de 164 mil presos condenados em segunda instância por crimes graves a penas superiores a oito anos de reclusão”.

O STF deve julgar amanhã três ações diretas de constitucionalidade apresentadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo PCdoB e pelo Patriotas, respectivamente. As ações pedem que seja declarado constitucional o texto do artigo 283 do Código de Processo Penal, que estabelece que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Se o texto for validado pelo Supremo, a pena poderá ser aplicada, num grande número de casos, somente após o fim do processo, ou seja, quando todos os recursos forem julgados por todas as instâncias do Poder Judiciário. Nesse caso, detentos de todo o país podem ser liberados, inclusive nomes ligados à Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, rebateu as críticas que vem sendo feitas à Corte em relação à possibilidade de soltura de milhares de detentos. De acordo com o magistrado, pessoas condenadas por crimes graves, como estupradores e homicidas, não seriam beneficiados caso o Supremo mude o entendimento e decida proibir a prisão em segunda instância. Nos bastidores do tribunal, outros ministros também criticaram avaliações sobre o impacto da medida.

A decisão, dizem fontes do tribunal, não terá validade para quem cumpre prisão temporária, decretada no curso da investigação policial, que pode ser de cinco dias, prorrogáveis por igual período, nos casos de crimes simples, ou de 30 dias, prorrogáveis por mais um mês no caso de crimes hediondos (contra a vida). Quem estiver em prisão preventiva, que pode ser decretada em qualquer fase do processo ou da investigação e não tem prazo para terminar, também não poderá ser solto.

Desserviço

Para Moraes, a amplitude do efeito, caso o Supremo mude seu entendimento sobre o momento da prisão, será menor do que está sendo propagado. “O homicida vai ser solto? O homicida fica preso desde o flagrante. Não tem nada a ver. Depois, vem a sentença de primeiro grau, ele continua preso. Um estuprador vai ser solto por causa disso? O estuprador fica preso desde o flagrante. É um desserviço que estão fazendo atrapalhando a discussão”, afirmou.

No entanto, quando o STF mudou o entendimento, em 2009, a decisão beneficiou com a impunidade um fazendeiro que deu cinco tiros num rapaz que, supostamente, estava “cantando” a mulher dele. Recurso após recurso, o réu empurrou o processo adiante até a prescrição da pena. Agora, Moraes acusa quem se posiciona contra o fim da prisão em segunda instância de politizar a questão.

“Politizou-se uma coisa que é jurídica, falando-se que, por causa de uma pessoa, podem ser soltos 139 mil. Vai olhar, 42% são detentos com prisão preventiva decretada. Dos outros, quase 90% já têm trânsito em julgado”, completou.

Para o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo, a derrubada da prisão em segunda instância pode beneficiar pessoas condenadas por crimes graves. Em nota, a entidade, que representa mais de 14 mil procuradores e promotores de Justiça, manifestou-se contra a revisão da interpretação do Supremo sobre o tema. “A eventual reversão desse entendimento implicaria evidente retrocesso jurídico, dificultando a repressão a crimes, favorecendo a prescrição de delitos graves, gerando impunidade e, muitas vezes, até inviabilizando o trabalho desenvolvido pelo Sistema de Justiça Criminal e, em especial, pelo Ministério Público brasileiro no combate à macrocriminalidade”, diz trecho da nota divulgada pela associação.

Em julgamentos anteriores, Moraes se posicionou a favor da prisão a partir de segunda instância, mas indica ter mudado de opinião. Outros ministros, ouvidos sob a condição de anonimato, acreditam que haverá maioria para derrubar o entendimento atual do Supremo. A Corte está diante de três alterativas: manter a situação atual, permitindo o cumprimento da pena após condenação em segunda instância; decidir que a prisão poderá ocorrer a partir de condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), tese apoiada pelo presidente do STF, Dias Toffoli; ou seguir por uma linha mais profunda, deixando livre todos os que ainda têm recursos pendentes na Justiça. Neste caso, o ex-presidente Lula e outros réus da Lava-Jato seriam beneficiados.

Dois votos
contra Geddel

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), acompanhou o relator do caso, Edson Fachin, e votou pela condenação do ex-ministro Geddel Vieira Lima e do irmão dele, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima. Ambos são acusados pela ocultação de R$ 51 milhões encontrados no apartamento ligado a Geddel em Salvador. “Estão plenamente comprovados nos autos a materialidade e a autoria do delito de lavagem de dinheiro e de associação criminosa”, disse o ministro durante o julgamento. Após o voto dele, a sessão da Segunda Turma foi suspensa pela ministra Cármen Lúcia e deve ser retomada posteriormente. O adiamento ocorreu para dar lugar a outros processos que estavam parados.
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Correio Braziliense terça, 15 de outubro de 2019

ALÉM DE LULA, STF PODE SOLTAR 190 MIL PRESOS

PODER

STF pode derrubar prisões da Lava-Jato
 
 
Supremo Tribunal Federal julga na quinta-feira ações que contestam prisão de réus após condenação em segunda instância. Mudança no entendimento da Corte pode resultar na soltura de milhares de presos pelo país, inclusive do ex-presidente Lula

 

Renato Souza
Luiz Calcagno

Publicação: 15/10/2019 04:00

Especialistas acreditam que tribunal deve modificar posição que passou a adotar desde 2016, mas alcance do julgamento vai depender do teor da decisão que será tomada pelos 11 ministros ( Nelson Jr./CB/D.A Press)  

Especialistas acreditam que tribunal deve modificar posição que passou a adotar desde 2016, mas alcance do julgamento vai depender do teor da decisão que será tomada pelos 11 ministros

 

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, agendou para a próxima quinta-feira o julgamento de um dos temas mais controversos em andamento na Corte. Os 11 integrantes do plenário vão avaliar se, nas ações penais, a prisão pode ser efetuada a partir de condenação em segunda instância de Justiça, ou se um condenado pode ir para a cadeia apenas quando todos os recursos possíveis forem analisados pelo Poder Judiciário, o que, geralmente, resulta na impunidade dos réus. A depender da decisão, além de presos famosos da Lava-Jato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros 190 mil detentos podem ser liberados em todo o país. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, essa é a quantidade de presos provisórios nos 26 estados e no Distrito Federal.
O Supremo já julgou esse assunto quatro vezes, em casos específicos, desde fevereiro de 2016. No entanto, é necessário que a Corte aplique o efeito “erga omnes”, que faz com que a decisão tenha validade definitiva e obrigatória para todos os tribunais do país. Os ministros vão julgar três ações diretas de constitucionalidade (ADCs) apresentadas, respectivamente, pela Ordem dos Advogados do Brasil, pelo PCdoB e pelo Patriotas. Nas ações, os autores pedem que seja declarado constitucional o texto do artigo 283 do Código de Processo Penal, que estabelece que alguém será considerado culpado apenas quando o processo transitar em julgado. 

Há controvérsia sobra a questão, uma vez que apenas a primeira e a segunda instâncias julgam casos de réus sem foro privilegiado. Ou seja, o trânsito em julgado se completaria quando esgotados os recursos no segundo grau de jurisdição. A partir daí, já não haveria presunção de inocência, apenas recursos extraordinários ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao STF. Em praticamente dosos os países democráticos funciona assim. Mas há legislações mais rigorosas: nos Estados Unidos,  no Reino Unido e na França, condenados já vão para a cadeia na primeira instância.

Atualmente, no Brasil, cumprem a execução da pena após condenação em segunda instância homicidas, estupradores, sonegadores, assaltantes, estelionatários e condenados por crimes de colarinho branco, como lavagem de dinheiro e corrupção. Entre os condenados que podem ser soltos estão presos da Lava-Jato, inclusive Lula. Atualmente, o STF entende que uma pessoa condenada pode começar a cumprir a pena após a segunda instância, e cabem recursos. Após a segunda instância, cabem recursos aos tribunais superiores, como STJ e o próprio Supremo. Esses tribunais analisam aspectos processuais do julgamento, mas não reexaminam as provas que, eventualmente, levaram os réus a serem condenados nas instâncias inferiores.

Sentenciado a oito anos, 10 meses e 20 dias de prisão no processo relacionado ao triplex do Guarujá,  Lula está preso por conta de uma sentença proferida pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4). Caso o Supremo revogue o entendimento que permite o cumprimento da pena, ele poderá ser solto. Isso, porém, vai depender do entendimento dos ministros, que podem decidir pela prisão apenas ao fim do processo; na segunda instância, como ocorre atualmente; ou a partir de confirmação da condenação pelo STJ, como defende Dias Toffoli.

O advogado Leonardo Pantaleão, pós-graduado em Direito Penal Econômico Internacional pelo Instituto de Direito Penal Econômico e Europeu, da Universidade de Coimbra, em Portugal, afirma que se o Supremo mudar seu entendimento, a soltura dos presos poderá ser solicitada imediatamente pelas defesas. “A interpretação anterior do Supremo está sendo questionada. Se essas ações forem julgadas procedentes, isso significa que a execução provisória de uma pena privativa de liberdade não pode ser realizada. Se for assim, todos aqueles que estão cumprindo pena após julgamento em segundo grau, estão sofrendo um constrangimento”, declarou.
 
Divisão
A questão divide os ministros do Supremo há anos. Em 2009, ao julgar o caso de um fazendeiro que atirou num rapaz por ciúme, o STF acabou com as prisões em segunda instância, o que, geralmente, resulta na impunidade réus com dinheiro para contratar grandes bancas advocatícias. Em fevereiro de 2016, a Corte voltou atrás: decidiu que um réu poderia ser preso depois de condenado em segunda instância e que deveria recorrer da sentença cumprindo pena. Em outubro do mesmo ano, a decisão foi confirmada durante o julgamento de ações apresentadas pelo PEN e pela OAB.

Em julgamentos anteriores, alguns ministros se posicionaram claramente contra a prisão em segunda instância. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski são os maiores críticos dessa possibilidade. Cármen Lúcia e Edson Fachin, até o momento, defenderam a prisão no curso do processo como forma de garantir a aplicabilidade da lei penal. A professora Vera Chemim, mestre em direito constitucional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em STF, afirma que o entendimento atual deve ser revogado. “A prisão em segunda instância vai cair. Na melhor das hipóteses, fica no STJ, ou seja, poderá ser preso quem já tiver apresentados todos os recursos possíveis neste tribunal. Isso se não cair para a quarta instância (STF), como era antes, apenas após o processo ser encerrado”, disse.
 
Tendência 
Como se posicionam os ministros, com base em julgamentos e declarações anteriores 
 
Contra a prisão em 2ª instância:
Gilmar Mendes
Ricardo Lewandowski
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Dias Toffoli (defende prisão a partir de condenação do STJ)
Rosa Weber
 
A favor:
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Edson Fachin
 
Indefinidos
Carmen Lúcia
Alexandre de Moraes
 
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Correio Braziliense segunda, 14 de outubro de 2019

CÍRIO DE NAZARÉ: É PRECISO VIR, VER E VIVER

 

CÍRIO DE NAZARÉ
 
 
É preciso vir, ver e viver
 
 
 
Maior celebração católica do Brasil reuniu mais de 2 milhões de fiéis neste domingo nas ruas de Belém. Evento mais importante dos paraenses aquece a economia local e atrai pessoas de todos os lugares e credos

 

» Marcelo Abreu
Especial para o Correio*

Publicação: 14/10/2019 04:00

Desde 2013,  festividade recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Expectativa do Dieese é movimentar, até o fim do mês, R$ 1 bi na capital paraense (Marcelo Lelis/Vale)  

Desde 2013, festividade recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Expectativa do Dieese é movimentar, até o fim do mês, R$ 1 bi na capital paraense

 



Belém —
 Ele saiu de Manaus na manhã de sábado com destino a Belém. Chegou no começo da tarde o que havia de fazer ali. Percorreu os 3,7 km que separam Basílica de Nazaré da Catedral da Sé para pagar a sua promessa. Há oito anos, ele faz a mesma coisa. O gerente de lojas Richard Miranda, de 29 anos, chega à Sé com os joelhos em carne viva, depois de sangrar por sete longas horas ao encontro de Nossa Senhora.

Essa é a essência do Círio de Nazaré, a maior celebração católica do Pará e do Brasil, que, neste ano, completou 227 anos. Desde 2013, recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). São histórias de devoção, dor, lágrimas e renascimento. É pura catarse de fé coletiva. Nas ruas, todo paraense diz que, para entender o significado do Círio, é preciso vir, ver e viver.

Richard, ao longo da maior parte do autoflagelo de joelhos, foi ajudado por vários voluntários, pessoas que trabalham sem nada em troca todos os dias de celebração do Círio. Só pelo prazer em servir. Um deles foi o bombeiro civil Hadren Moura, de 22 anos. Detalhe: Hadren é evangélico da Assembleia de Deus. Incompatibilidade? “Nenhuma. Sinto prazer em ajudar na fé, que é dele, e move tudo”, afirma. Richard, com os dois joelhos dilacerados, não disse mais nada. Bebeu água que lhe derramaram na boca e corpo e arrastou-se entre os caminhos de papelão que os voluntários improvisaram para que ele vencesse a sua via-crucis.

Belém, de sexta até o início da tarde de ontem, dia da grande e principal procissão, encharcou-se de Nossa Senhora de Nazaré. E não é só força de expressão. Ora água da chuva, típica na região no meio da tarde; ora água jogada pelos fiéis, para amenizar o calor e o sofrimento dos pagadores de promessas. Uma multidão de mais de dois milhões de seres invadiu as principais avenidas, cheias de mangueiras da cidade, para celebrar a padroeira da Amazônia. E, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), toda essa gente vai injetar, até o fim de outubro, quando se encerram as celebrações para Nossa Senhora, cerca de R$ 1 bilhão à economia local.

Há oito anos, Richard Miranda percorre 3,7 km de joelhos até a Basílica, e, ao lado, o bombeiro Hadren Moura, evangélico, trabalhando como voluntário (Marcelo Abreu/Esp. CB/D.A Press)  

Há oito anos, Richard Miranda percorre 3,7 km de joelhos até a Basílica, e, ao lado, o bombeiro Hadren Moura, evangélico, trabalhando como voluntário

 



Gente com velas enormes na mão. Gente com pedaços de corpos em cera. Gente com miniaturas de casas. Gente com livros na cabeça, pela graça de ter conseguido a aprovação em algum concurso. Gente. Gente em excesso. Gente com histórias de superação. Gente que veio pedir. Gente chorando, cantando. Um mar de gente.

Entre essa gente tanta, antes das 6 da manhã, estava Simy Coutinho, de 55 anos, vestida de Santa Edwiges, a santa das causas impossíveis. “Vim para agradecer pela saúde da minha mãe, que estava com câncer, desenganada, e hoje está curada”, contou. Na mão, Simy segurava a imagem de Edwiges. Os olhos abertos para Nossa Senhora de Nazaré. “Ela, a Virgem de Nazaré, me ampara todos os dias. É impossível viver sem ela”.

E as histórias vão se sucedendo ao longo do percurso que separa a Sé da Basílica, itinerário da última procissão do Círio. Mais à frente, a miudinha Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, dormia nos braços da avó, Lurdinha de Souza, de 59 anos, que saiu de Icoaraci, distrito de Belém.

“Minha filha teve parto muito difícil. Minha neta nasceu prematura e precisou de cuidados intensivos”, disse a avó. A mãe de Iasmin, Sulian Letícia, de 26 anos, ainda na maternidade, decidiu que a filha viria de anjo no próximo Círio. E veio. Iasmin dormiu, literalmente como anjo, no braço da avó. “Ano que vem, será a vez de pagar a minha parte na promessa. Vou fazer a caminhada na corda”, disse Sulian.

Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, nos braços da avó, Lurdinha de Souza (Marcelo Abreu/Esp. CB/D.A Press)  

Iasmin, de nove meses, vestida de anjo, nos braços da avó, Lurdinha de Souza

 



Sacrifício


A procissão de ontem saiu da Avenida Presidente Vargas, passou pela Avenida de Nazaré e chegou à Basílica, onde a imagem peregrina ficará por alguns dias em adoração. Depois segue para o Colégio Gentil Bitencourt, seu lugar de moradia e visitação até o ano que vem, quando se iniciam as celebrações de mais um Círio.

No percurso, a santa foi ovacionada com palmas, cânticos e muitas lágrimas. Em cada esquina, a multidão correu para vê-la passar. Mesmo que de longe. Mesmo com apenas um aceno. Nossa Senhora de Nazaré, na sua berlinda e com o manto confeccionado para este ano, seguiu pelas avenidas de uma Belém entupida. Na corda, onde pagadores de promessa — homens e mulheres descalços – se agarram durante toda a procissão, as cenas são inacreditáveis. É, certamente, o momento de maior dor, de desespero, de resistência e de demonstração dessa gente devota.

Durante a caminhada, os voluntários (ontem se somaram mais de 5 mil) jogaram água nas pessoas agarradas às cinco estações da corda. Cada uma tem 50 metros de corda. Depois que todas as cinco estações passaram, veio Nossa Senhora de Nazaré, na sua berlinda. O ponto alto. Pessoas ajoelharam nas ruas e calçadas. Uma multidão assistiu das janelas ou varandas dos apartamentos.

A certa altura da Avenida de Nazaré, a emoção tomou conta de toda aquela gente. Crianças de famílias carentes do Projeto Vale Música cantaram várias canções em homenagem à Virgem de Nazaré. Elas ensaiam durante todo o ano para esse grande dia. É um detalhe interessante.

Grande parte dessas crianças vem de lar evangélico. Os pais autorizam, incentivam e ontem estavam lá para ver os filhos cantarem à Maria. Catarina, de oito anos, filha de uma professora e um taxista, resumiu tudo: “Eu canto para Nossa Senhora de Nazaré, que é mãe de todos, mãe da Amazônia”. Vitor Mateus, de 11 anos, filho de pais evangélicos, continuou: “Cantando, eu falo de amor e fé”.

A idealizadora do projeto, a pianista Glória Caputo, emocionou-se ao falar do projeto que existe há 15 anos: “É realização. O Brasil é isso. Basta dar oportunidade, que as pessoas mostram que sabem fazer”.

*O repórter viajou a convite da Vale
 
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Correio Braziliense domingo, 13 de outubro de 2019

SANTA DULCE DOS POBRES

 

Santa Dulce dos Pobres
 
Agora é do mundoPrimeira santa nascida no Brasil é canonizada pela Igreja Católica 27 anos depois de sua morte, em 1992. É a terceira santificação mais rápida da história, atrás do Papa João Paulo II e de Madre Teresa de Calcutá, rompendo com os históricos padrões europeus

HELLEN LEITE
MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 13/10/2019 04:00

Irmã Dulce dedicou a vida para ajudar os necessitados e era considerada santa por muitos desde 1950  (ABr/Divulgação - 23/5/11
)  

Irmã Dulce dedicou a vida para ajudar os necessitados e era considerada santa por muitos desde 1950

 




O anseio para ver a primeira santificação de uma brasileira chega ao fim hoje, com a canonização de Irmã Dulce na Praça São Pedro, no Vaticano. Apesar de ser considerada santa por muitos desde 1950, não se pode dizer que o processo foi demorado. Santa Dulce dos Pobres teve a terceira canonização mais rápida da história — atrás da santificação do Papa João Paulo II e de Madre Teresa de Calcutá — apenas 27 anos após sua morte, em 1992.

A canonização de Irmã Dulce, iniciada em janeiro de 2000, tem sua conclusão quando Papa Francisco declarar, na madrugada deste domingo (horário de Brasília), que a beata está entre os santos do céu e inscrever o nome de Dulce na lista oficial dos santos da Igreja Católica.

Os dois milagres necessários para que a canonização fosse atestada foram validados pelo Vaticano. Um, em 2010, e, outro, em 2019. O primeiro, salvou Claudia Cristina dos Santos, que sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas após dar à luz o segundo filho. Claudia já havia sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José, na cidade de Itabaiana, em Sergipe. Somente uma oração que pediu a intercessão de Irmã Dulce cessou a hemorragia.

O segundo milagre reconhecido pelo Vaticano aconteceu justamente com um conterrâneo de Irmã Dulce. Nascido em Salvador, José Maurício Moreira teve o diagnóstico de glaucoma aos 22 anos. Apesar do tratamento, Maurício ficou cego, em 2000, e permaneceu por mais 14 anos. Em 2014, em Recife, o maestro sofreu uma conjuntivite grave e teve fortes dores. A solução foi colocar uma imagem de Irmã Dulce sobre os olhos e fazer uma oração pedindo a intercessão do “anjo bom da Bahia”. Maurício conseguiu dormir e, quando acordou, a surpresa foi maior: ele enxergava.

O milagre passa por três etapas de avaliação para ser validado pela Igreja. Primeiro, uma reunião com peritos médicos foi feita para obter o aval científico. Depois, um encontro de teólogos, e, finalmente, a aprovação pelo colégio cardinalício. O reconhecimento do fenômeno faz parte de duas das três etapas necessárias para a santificação de uma pessoa: a beatificação e a canonização. Para uma graça ser considerada um milagre, ela precisa ser instantânea, perfeita, duradoura e ter caráter preternatural, ou seja, não pode ser explicada pela ciência.

No entanto, antes do reconhecimento dos milagres, etapa final do processo de santificação, é preciso fazer uma investigação da vida pessoal do indicado. O professor Olyver Tavares, que lecionou aulas de filosofia no Seminário Arquidiocesano de Brasília, explica que essa verificação biográfica dos aspirantes à santidade é a etapa mais demorada do processo. “É como uma investigação da vida do candidato para ver se há algo que desaprova a vida de santidade vivida por essa pessoa”, diz.

Exigências

De acordo com Olyver, a reforma do Código de Direito Canônico, promulgada pelo papa João Paulo II, em 1983, diminuiu algumas exigências para o processo de santificação da Igreja Católica. “Antes do pontificado de João Paulo II, apenas o papa poderia dar início a esse processo de canonização. Depois de João Paulo, a Igreja passou a autorizar que bispos ou até um conjunto de leigos pudessem dar início a esse processo, mas eles precisam informar à congregação que existe ali uma pessoa venerável que tem potencialidade para se tornar um santo”, conta.

Todo esse processo é julgado pela Congregação para as Causas dos Santos, que existe desde 1588. Constatada a vida de santidade, é requerido que se tenha um primeiro milagre para que este aspirante a santo ganhe o título de beato. Por fim, um segundo milagre tem que ser comprovado em nome daquele santo para que a santificação seja concluída.

Para o professor, a canonização de Irmã Dulce rompe com padrões europeus de santidade. “Irmã Dulce é analogamente um fenômeno parecido com Nossa Senhora Aparecida. É a santa brasileira com a cara do nosso povo. É algo histórico, que rompe com essa barreira do eurocentrismo. Esse é um santo que viveu aqui, que se santificou aqui. Creio que é o fortalecimento da fé católica no Brasil e na América Latina”, ressalta.


Caravana de políticos
José Sarney é um dos políticos que foram até o Vaticano acompanhar de perto a canonização da Irmã Dulce. Além dele, também estarão presentes o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli; o procurador-geral da República, Augusto Aras; o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; entre outros. Os nomes fazem parte da comitiva que representa o governo brasileiro na cerimônia. O grupo estará sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, que é o ministro-chefe da delegação brasileira. O presidente Jair Bolsonaro cancelou a ida à missa pela canonização de Irmã Dulce, em Salvador, “em decorrência de ajustes na agenda”.



Conheça a trajetória da freira brasileira

» Nasce em 26 de maio de 1914, em Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, filha do dentista Augusto Lopes e da dona de casa Dulce Maria de Souza;

» Aos 13 anos, passa a ajudar na acolhida de moradores de rua e doentes na casa da família, que fica conhecida como Portaria de São Francisco;

» Ainda os 13 anos, é recusada por um convento por ser muito jovem. Só aos 18 anos, ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (SE);

» Em 1934, faz votos de fé e torna-se freira. É quando recebe o nome de Irmã Dulce, nome que adota em homenagem à mãe;

» Em 1936, com 22 anos, funda a União Operária São Francisco. Mantida por cinemas construídos graças a doações, foi a primeira organização operária católica da Bahia;

» Em 1937, invade cinco casas abandonadas na Ilha dos Ratos para montar um abrigo para doentes. Acaba expulsa e passa a peregrinar com os enfermos por diversos lugares;

» Em maio de 1939, inaugura o Colégio Santo Antônio, voltado para a educação dos operários de Salvador e seus filhos;

» Em 1949, consegue autorização para transformar um galinheiro ao lado de um convento em abrigo para 70 doentes. O local se transformaria no Hospital Santo Antônio;

» Em 1988, Irmã Dulce é indicada pelo presidente José Sarney, com apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz, mas não leva o prêmio;

» Em 13 de março de 1992, aos 77 anos, morre no Convento Santo Antônio, na Bahia;

» Em junho de 2010, seu corpo é exumado e representantes do Vaticano ficam impressionados com a mumificação natural;

» Em 2011, é beatificada pelo enviado especial do Papa Bento XVI, Dom Geraldo Majella Agnelo, em Salvador;

» Em 1º de julho de 2019, o papa Francisco anuncia a canonização para 13 de outubro. Irmã Dulce ganha o nome de Santa Dulce dos Pobres;



Conheça mais:


» Para assistir

Filme – Irmã Dulce

O filme brasileiro, lançado em 2014, foi dirigido por Vicente Amorim e filmado em Salvador, lar da religiosa e local onde fundou as obras assistenciais. A personagem complexa e única é interpretada por Bianca Comparato e Regina Braga, que vivem a protagonista jovem e a partir dos 45 anos, respectivamente. O longa tem 1h47min de duração.

 

» Para ler


Livro – Irmã Dulce: a santa dos pobres

A primeira biografia jornalística de Irmã Dulce é resultado de um trabalho de oito anos de investigação em arquivos do Brasil, dos EUA e do Vaticano e de uma centena de entrevistas. O autor é o jornalista Graciliano Rocha.
O livro, que vai além da religião, tem 296 páginas e promete ser uma obra repleta de informações inéditas sobre a primeira santa nascida no Brasil.
 
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Correio Braziliense sábado, 12 de outubro de 2019

IRMÃ DULCE: O LEGADO DA FREIRA QUE VAI VIRAR SANTA

 

O papa Francisco oficializará, amanhã, Irmã Dulce como Santa Dulce dos Pobres. Biógrafo fala sobre a mulher lembrada como o anjo bom da Bahia, que será a primeira brasileira canonizada após ter o segundo milagre reconhecido pelo Vaticano.   (Irmadulce.org/Divulgação)

 

O legado da freira que vai virar santa

 

Publicação: 12/10/2019 04:00

Duas décadas depois da morte da freira, Irmã Dulce continua sendo referência de acolhida na área da saúde e educação. Os números da obra da beata impressionam. Atualmente, o Hospital Santo Antônio, nascido de um galinheiro do convento em 1949, abriga um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com 21 núcleos e cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano.

Conhecido como o “coração” da Osid (Obras Sociais da Irmã Dulce), o hospital dispõe de residências médicas, ensino de enfermagem, centro de pesquisa clínica e um comitê de ética em pesquisa. São 38 especialidades médicas de atendimento, exames laboratoriais e de bioimagem, internação, cirurgias de alta complexidade e reabilitação. A organização administra ainda o Hospital da Criança da Bahia, o Hospital do Oeste, o Hospital Eurídice Sant’Anna, o Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho e o Centros de Atendimento à Saúde.

Recentemente, a Osid foi reconhecida como uma das cem melhores ONGs do Brasil e a melhor da região Nordeste, entre 1.700 instituições. “Para nós, a Irmã Dulce tem dois legados importantes, um no sentido prático e de atendimento na saúde e na educação, e outro no sentido espiritual, da fé e da relação que ela tinha com as pessoas. É uma santa da nossa época e o exemplo que ela deixou é impressionante”, diz Sérgio Lopes, assessor corporativo das Organizações Irmã Dulce. Ele lembra que o principal legado que a freira deixou foi o compromisso com os pobres. “Nossa maior marca é a missão de amar e de servir. O traço de humanização que conseguimos imprimir aqui é uma das coisas que mais queremos cultivar. Todos os profissionais são herdeiros dessa missão de Irmã Dulce”, ressalta.
 
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Correio Braziliense sexta, 11 de outubro de 2019

NOSSA SENHOR APARECIDA - AS APARECIDAS CELEBRAM A SANTA

 

As Aparecidas celebram a santa
 
Fiéis comemoram a data da padroeira Nossa Senhora Aparecida na Esplanada. Conheça histórias emocionantes de devotos

 

» Ana Maria da Silva*
» Geovana Oliveira*
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira

Publicação: 11/10/2019 04:00

Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida

 


Foi com uma simples imagem quebrada que a fé do povo brasileiro se transformou. Há mais de três séculos, Nossa Senhora Aparecida se tornou a padroeira do país (leia ao lado). A celebração reúne católicos espalhados pelo mundo e pelo Brasil. Em Brasília, a estimativa da Arquidiocese é de que 60 mil fiéis compareçam à celebração realizada na Esplanada dos Ministérios.
 
O padre Edilson Santos da Costa, do Seminário Maior Nossa Senhora de Fátima, explica que na Igreja Católica a devoção aos santos implica seguir virtudes, valores e estilo de vida das pessoas santificadas. No caso de Nossa Senhora, a devoção é construída pela ideia da maternidade, que é representada por ela. “Todos nós precisamos da representação familiar de uma mãe, e em Maria nós temos essa mãe na graça, mãe na fé, mãe na esperança e mãe na caridade”.
 
De acordo com o sacerdote, os fiéis veem a santa como mãe da igreja, e exemplo de amor e dedicação ao próximo e a Deus. “Ela será vista como aquela que ama a Deus de todo o coração, sendo modelo para que nós, cristãos, possamos amar a Deus, e ao nosso próximo, nessa medida”, afirma.

Priscila Aparecida:  

Priscila Aparecida: "Ela é o canal da graça"

 

O pároco diz, também, que na história de Nossa Senhora Aparecida é possível observar a posição de favorecimento e apoio ao sofrimento do homem. “Sabemos que ela intercede, não só para a pessoa, individualmente, como também por toda a nação. Ela é exemplo não somente na igreja, mas para toda a sociedade. Acaba sendo a mãe da esperança do povo”, completa.
 
Devoção
Criada em uma família muito católica, a nutricionista e psicóloga Priscilla Aparecida de Morais Prado, 30 anos, conta que sua história com Nossa Senhora Aparecida começou no nascimento. “Nasci prematura, com pouco mais que 6 meses, sem chances médicas de sobrevivência. Minha mãe, com sua fé inabalável, pediu intercessão à nossa mãezinha, Nossa Senhora Aparecida, para que intercedesse por minha vida, assim teria seu nome”, destaca.

Suelene Aparecida andou ajoelhada 392 metros no Santuário Nossa Senhora Aparecida (SP) (Arquivo Pessoal)  

Suelene Aparecida andou ajoelhada 392 metros no Santuário Nossa Senhora Aparecida (SP)

 

Apesar de passar um mês no hospital, entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o quarto, Priscilla explica que sobreviveu milagrosamente, e a promessa de sua mãe foi cumprida. A devota afirma que, durante toda a vida, Nossa Senhora Aparecida tornou-se a intercessora e protetora, como há 10 anos, quando teve um câncer de tireoide. “Sempre que pedi sua proteção, lá estava ela. Nossa Senhora representa devoção, confiança e amor na minha vida. Olhar naqueles olhos de ternura me traz paz, conforto e força. Ela é o canal da graça”, diz.
 
A contadora Suelene Aparecida de Freitas Cardoso, 29, conta que Nossa Senhora Aparecida se fez presente durante toda a trajetória de vida. O primeiro contato foi ainda no ventre, quando foi consagrada à santa. Após isso, sua vida começou a ser repleta de acontecimentos que poderiam se tornar grandes tragédias, se não fosse pela devoção. Entre elas, uma queda que afetou a fala e um acidente de carro que resultou na fissura de três vértebras, e por pouco não a deixou paraplégica. Ela brinca: “Eu sou gata de várias vidas, já perdi as contas”.

Graziela Aparecida e Júlio César:  

Graziela Aparecida e Júlio César: "Temos que agradecer a ela por estar ao nosso lado"

 

Para agradecer as graças alcançadas, Suelene decidiu fazer, em 2017, o trajeto conhecido como “passarela da fé”, que liga a Basílica Velha ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, de joelhos. “Algo tocou no meu coração que eu deveria passar por lá de joelhos. Não foi uma promessa, foi só um agradecimento por tudo que aconteceu na minha vida”, acrescenta. O local, que possui 392 metros de extensão, é um dos principais pontos de peregrinação durante o feriado da padroeira.
 
Protetora das grávidas
Conhecida também como protetora das grávidas e dos recém-nascidos, muitos fiéis pedem a intercessão de Aparecida para seus filhos ou nas gestações. A padroeira também esteve presente na história da enfermeira Graziela Aparecida Lopes Cardoso, 34. Ela conta que a genética de seu marido, o farmacêutico Júlio César Cardoso, 39, não permitia que pudessem ter filhos: “Na família do meu esposo, há casos de homens estéreis, então estávamos cientes que não íamos ser pais”.
 
Com 10 anos de casados, e três anos de inúmeras tentativas para engravidar, Graziela e Júlio decidiram ir até o Santuário Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, para fazer o pedido à santa. “Pedi que se fosse da vontade dela, que me concedesse a graça de ser mãe. Após isso, uma amiga que também é devota me disse que logo seria, e que Nossa Senhora estava providenciando”, se emociona. No fim de julho, Graziela descobriu que estava grávida. “Temos que agradecer à santa por estar ao nosso lado, e por sempre interceder por todos nós”, acredita.
 
 
Padroeira do Brasil
 
Foi em 1717 que três pescadores da região do Vale do Paraíba, em São Paulo, passaram a noite inteira em busca de peixes, mas não obtiveram sucesso. Durante as tentativas, eles tiraram das águas escuras uma imagem de Nossa Senhora, que veio nas redes em dois pedaços: primeiro o corpo e, em seguida, rio abaixo, a cabeça. Os pescadores, que antes não tinham conseguido pescar nada, encheram as redes com uma quantidade abundante de peixes.
No local foi criado um pequeno altar como forma de agradecimento a Nossa Senhora pelo seu primeiro milagre. Nascia ali uma devoção à santa, nomeada Nossa Senhora Aparecida. Foi durante o Congresso Mariano que o líder do episcopado brasileiro, dom Sebastião Leme, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, apresentou aos bispos a proposta para pedir à Santa Sé (Vaticano) que declarasse Nossa Senhora Aparecida a Padroeira do Brasil. A nomeação aconteceu em julho de 1930, pelo papa Pio 11.
 
 
 
A celebração
 
A Arquidiocese de Brasília celebra, amanhã (12), a festa de Nossa Senhora Aparecida. Pela manhã, o evento contará com a Missa das crianças e, até as 12h, oferece programação especial para os pequenos. Às 17h será celebrada a Santa Missa dedicada à padroeira do Brasil. Logo após a Santa Missa, o fiel poderá participar da tradicional e solene procissão com a imagem da Padroeira e bênçãos para os doentes, governantes e família (traga sua vela). O evento contará com barracas de alimentação durante todo o dia.
 
 
 
Programação
 
» Manhã
 
» 8h30 — Santa Missa das crianças
» Ao final da missa: coroação de Nossa Senhora feita pelas crianças. 
» Logo após a missa: festival de sorvete, pescaria de brinquedos infláveis e sorteios

» Tarde
 
» 13h30 — Oração do Ofício de Nossa Senhora. 
» 14h — Oração do santo terço meditado 
» 15h — Homenagem dos Jovens à Nossa Senhora.
» 16h — Momento Missionário
» 16h30 — Preparação para a Santa Missa
» 17h — Missa solene
» Logo após a Missa: solene procissão com a imagem da padroeira e bênçãos para os doentes, governantes e família
 
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Correio Braziliense quinta, 10 de outubro de 2019

EMBAIXADA DA PAZ: O LEMA É FAZER O BEM

 

O lema é fazer o bem
 
A Embaixada da Paz, fundada ontem em cerimônia no Jardim Botânico, reunirá pessoas interessadas em se envolver em ações solidárias e ajudar cidadãos em situação de vulnerabilidade social.

 

DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 10/10/2019 04:00

 

Cerca de 60 pessoas celebraram ontem o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz: espiral que se transforma em Sol (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Cerca de 60 pessoas celebraram ontem o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz: espiral que se transforma em Sol

 

 

Definir o significado de paz pode ser uma tarefa complexa. Muitas pessoas associam o termo apenas a calma, tranquilidade e ausência de conflitos, mas não imaginam a pluralidade da palavra. O conceito ganhou até entidade própria: a Embaixada da Paz. O projeto, fundado e presidido pela atriz e escritora Maria Paula Fidalgo, visa promover iniciativas que contribuem para o avanço da cultura de paz, dar visibilidade a ações voluntárias e ajudar cidadãos em situação de vulnerabilidade social.

Ontem, mais de 60 pessoas, entre participantes da iniciativa, convidados e autoridades públicas se reuniram no Jardim Botânico para celebrar o ato simbólico de hasteamento da Bandeira da Paz e oficializar a fundação da entidade. A imagem do balsão representa uma espiral, que se transforma em Sol. “O contrário de paz é estagnação; então, a nossa entidade nasce com esse propósito de fazer com que as pessoas saiam da zona de conforto e venham praticar o bem”, destaca Maria Paula.
A solenidade começou com a apresentação da Orquestra Reciclando Sons, formada por estudantes da Cidade Estrutural e idealizada pela maestrina Rejane Pacheco. Uma das músicas tocadas foi em homenagem a Maria Paula. “É tão lindo encontrar em alguém o desejo de fazer o bem. Sua luz vai me fazer vencer”, diz um dos trechos.

A atriz Maria Paula é fundadora e presidente da Embaixada da Paz (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A atriz Maria Paula é fundadora e presidente da Embaixada da Paz

 


A Embaixada da Paz funcionará como ambiente propício para ajudar as pessoas a praticarem os bons costumes e hábitos. Ações voluntárias, palestras e programas de mentoria também serão postas em prática. Recentemente, a embaixada, em parceira com a União Internacional de Telecomunicações (UIT) da Organização das Nações Unidas (ONU), criou um programa de treinamento na área da tecnologia para meninas da Estrutural em situação de vulnerabilidade. Por dois dias, as adolescentes aprenderam conhecimentos básicos de informática e participaram de rodas de conversa sobre empoderamento feminino. “Isso é um compromisso sério que estamos fazendo. Temos de fazer o exercício diário de nos tornarmos melhores seres humanos. Quando perceber que está falando mal de alguém, por exemplo, mude de pensamento. Vamos fazer a escolha de seguir a paz, pois levaremos nossos amigos e familiares para o caminho certo”, destaca a atriz.

Bons costumes
A coordenadora de programa da UIT, Vera Zanetti, foi uma das primeiras funcionárias da organização desde a abertura do escritório no Brasil, em 1992. Segundo ela, o conceito de paz refere-se a fazer o bem a alguém sem ter proveito próprio. Durante a trajetória na profissão, ela implementou e coordenou projetos no país no setor de telecomunicações. “O meu trabalho está ligado ao empoderamento. Temos beneficiado grupos vulneráveis, como indígenas, idosos, crianças, mulheres e pessoas com deficiência. Então, auxiliamos na inclusão e no desenvolvimento social e econômico”, ressalta.

Um de seus programas é capacitação e formação de povos indígenas na área da tecnologia. Desde 2005, ela treina esse público para criar sites, mexer no celular, desenvolver conteúdos, entre outros. No total, mais de 3.280 mil indígenas da América Latina, incluindo o Brasil, serão beneficiados. “Há muita evasão, pois alguns precisam viajar mais de duas horas de barco para chegar à comunidade que tem o computador. Mas, os que conseguem terminar o curso, são muito guerreiros. É gratificante de ver”, conta.

O contador Marcelo Pollo, 57 anos, é um dos voluntários da Embaixada da Paz. Ele ingressou no grupo depois de conhecer Maria Paula. Desde então, percebe as mudanças na vida depois de praticar bons costumes. “Acaba que passamos a ter mais empatia pelo outro. Pensamos mais, convivemos mais e percebemos que o nosso problema pode ser muito menos em comparação ao de outra pessoa”, argumenta.

*Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart
 
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Correio Braziliense quarta, 09 de outubro de 2019

PEDIATRIA: CAMINHO MAIS LEVE

 

Caminho mais leve
 
 
Hospital da Criança de Brasília inaugurou nove carrinhos que serão usados para transportar os pacientes às salas de exame. O intuito é deixar o tratamento mais confortável para crianças e adolescentes

 

 CAROLINE CINTRA

Publicação: 09/10/2019 04:00

Quando soube que poderia pilotar um dos carros, Laura correu para o mais alto deles e se divertiu com o pai, José Gleisson (Ma Ferreira/CB/D.A Press)  

Quando soube que poderia pilotar um dos carros, Laura correu para o mais alto deles e se divertiu com o pai, José Gleisson

 


Antes mesmo da chegada do Dia das Crianças, comemorado no próximo sábado, os pacientes do Hospital da Criança de Brasília José Alencar foram presenteados. Ontem, a unidade de saúde inaugurou carrinhos motorizados que serão usados para o transporte às salas de exame. O intuito é promover atendimento humanizado, a fim de buscar diminuir o desconforto causado pelas doenças e tratamentos. Além disso, a adoção dos veículos pode estimular meninos e meninas a saírem dos leitos.

A frota é composta por nove veículos: quatro elétricos, que podem ser conduzidos pelas próprias crianças; dois elétricos guiados por controle remoto e três não motorizados. O superintendente executivo do HCB, Renilson Rehem, explicou que existe uma preocupação em fazer da unidade um ambiente menos hospitalar, leve e lúdico. “Hospital gera uma mudança grande na vida da criança. Iniciativas como essas deixam a criança mais relaxada e menos tensa. Isso interfere até no procedimento que ela vai passar. Faz com que a cirurgia transcorra melhor, por exemplo”, disse.

Evento de lançamento dos carrinhos contou com a presença do Detran-DF, que montou um cenário de pista  

Evento de lançamento dos carrinhos contou com a presença do Detran-DF, que montou um cenário de pista

 


Renilson contou que o uso dos carrinhos começou com dois sem motor. Devido ao sucesso entre as crianças, o hospital comprou dois motorizados. Outros dois foram doados à unidade: um por funcionários do próprio HCB — que se mobilizaram e realizaram uma vaquinha para arrecadar o valor —, outro por um grupo de associados do Iate Clube, que juntou a quantia durante um torneio de beach tennis. A vice-diretora da equipe de tênis de praia, Cecília Moço, fez questão de prestigiar o evento de entrega dos carrinhos. “É uma vontade de chorar o tempo inteiro. A gente deixa de ser egoísta, doa um tempo para ajudar as crianças, sai do trabalho para ver o rosto e a alegria de cada um deles”, declarou.

Sorrisos e olhos brilhando. Assim as crianças receberam a novidade no hospital. Momentos de distração e entretenimento aliviam a tensão dos dias ali. Há menos de um ano, Francisco Moura, 4 anos, descobriu uma leucemia. Desde que recebeu o diagnóstico, faz acompanhamento no Hospital da Criança. Como a doença é de alto risco, ele passa por ciclos de consultas e internação. Ontem, poder conduzir um carrinho motorizado o deixou muito feliz. “Achei legal andar. Quando vi já quis subir logo nele. Não é a primeira vez que ando num desses, mas esse é bem mais legal”, disse.

Frota tem quatro carros elétricos conduzidos pelas crianças, dois guiados por controle remoto e três não motorizados  

Frota tem quatro carros elétricos conduzidos pelas crianças, dois guiados por controle remoto e três não motorizados

 


Para a dona de casa Patrícia Galvão, 21, ações como esta aliviam o peso do tratamento, muitas vezes diário. Ela é mãe da Angella Rebeka Lisboa, 3. Em 16 de agosto, a criança foi diagnosticada com leucemia e, de três em três semanas, precisa retornar ao hospital para fazer quimioterapia. “Esse hospital é muito bom, mas o ambiente hospitalar é ruim. Desta vez, precisamos ficar mais tempo. Estamos desde quarta-feira (da semana passada) e sem previsão de alta. Gostei do que fizeram hoje (ontem) porque eles ficam felizes e se divertem muito”, destacou.

Morador de Valparaíso, Carlos Eduardo Apolinário, 5, está há um mês internado, com pedras e pus nos rins. Sem previsão de alta, ele encontra nos períodos de entretenimento motivos para sorrir. A mãe dele, Renata Albuquerque, 36, destacou que o tratamento é tão pesado para o paciente quanto para os familiares. Ela reveza o acompanhamento com o pai da criança. “Participar dessas ações incentiva a gente também. Porque, no quarto, os médicos podem chegar a qualquer momento com alguma notícia ruim. Agora, consegui relaxar um pouco. Estamos felizes”, afirmou.

Quando viu os carrinhos no corredor, Laura de Carvalho, 9, não recebeu uma boa notícia. “Disseram que ela não podia andar por causa da contenção onde fica o medicamento que ela toma na veia. Ela correu para o quarto e chorou muito”, contou o pai dela, o bancário José Gleisson Neves, 35. Em seguida, ela recebeu a liberação e correu para se divertir. “Atropelei um guarda e quase o meu pai também”, brincou a criança.

Diagnosticado com linfoma de burkitt — câncer que atinge os glóbulos brancos conhecidos como linfócitos — há um mês, Gabriel Mangueira, 4, acabou perdendo a sensibilidade das pernas. Mesmo com a adversidade, não ficou de fora da brincadeira. Com uma cadeira de rodas fez todo o circuito montado no corredor do hospital. “Essa dinâmica é muito importante, porque qualquer distração é bem-vinda. Eles ficam muito tempo no quarto. Apesar do momento difícil, o sorriso dele é uma vitória para nós”, disse o pai, o bancário Wesley Mangueira, 34.

Agentes de trânsito
A inauguração dos carrinhos ocorreu junto a uma ação do Departamento de Trânsito (Detran), que montou um cenário de pista, com direito a faixa de pedestres, sinalização e até multa por infrações. Houve também distribuição de material educativo para as crianças, com dicas de comportamento no trânsito.

O chefe do núcleo de campanhas educativas do Detran, Miguel Videl, afirmou que o órgão, sempre que possível, faz parceria com o Hospital da Criança. Ele lembrou que, para esta ação, foram chamados em cima da hora, mas ressaltou que “não dava para não atender a um pedido deles”. Para ele, ensinar as crianças sobre o bom comportamento no trânsito faz com que elas se tornem agentes mirins, que orientam os pais quando fazem algo de errado.

Além do Detran, o evento contou com a presença de voluntários que levaram alegria para os pacientes e acompanhantes com teatro de fantoches e músicas. Com apenas um violão, a Sinfonia da Saúde da Abrace — instituição que oferece assistência social para crianças com câncer — fez a festa no corredor do hospital. Eles estão todos os sábados na unidade de saúde. Ontem, abriram uma exceção e alegraram ainda mais a manhã das crianças.

“É algo que muda a nossa vida. A gente vem para dar, mas recebe mais. É uma alegria estar com as crianças, levar alegria por meio da música. A gente tem que ganhar na Mega-Sena para parar de trabalhar e dedicar 100% do nosso tempo aqui”, brincou a voluntária Daniele Serafim. O músico José Henrique Fonseca disse que sai das apresentações transformado. “O resultado do que fazemos é maior dentro de nós mesmos. Me sinto mais ganhador cada dia que venho aqui.”
 
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Correio Braziliense terça, 08 de outubro de 2019

A NOVA GERAÇÃO DO SERTANEJO

 

A nova geração do sertanejo
 
 
Ritmo que domina as paradas musicais no Brasil abre espaço para nova leva de artistas. Conheça nomes de sucesso nacional e veja quem está bombando em Brasília

 

Adriana Izel

Publicação: 08/10/2019 04:00

De tempos em tempos, a música sertaneja passa por uma renovação. O gênero incorpora novas sonoridades, influências e mensagens, normalmente abraçadas por uma nova geração. Como aconteceu em outras oportunidades, esse é um momento em que o estilo musical está repleto de novos artistas. O Correio apresenta alguns dos novos nomes que têm feito sucesso no âmbito nacional e também aqueles que estão dando os primeiros passos na carreira em Brasília. Confira!
 
 
 (Sony Music/Divulgação)  
 
Yasmin Santos
Apontada como a “nova Marília Mendonça”, a cantora e compositora Yasmin Santos, 21 anos, chamou a atenção assim que lançou no ano passado a música Saudade nível hard, canção com mais de 53 milhões de visualizações no YouTube. A partir daí, a paulista começou a galgar espaço na música sertaneja com uma voz potente e composições ao melhor estilo sofrência. “Minha paixão (pela música) começou aos 7 anos, por conta dos instrumentos (musicais). Comecei a aprender violão, bateria, guitarra e percussão. Com 14 anos, escrevi a minha primeira música”, lembra a paulista.
Neste ano, ela gravou o primeiro DVD da carreira no Coração Sertanejo em São Paulo. O material é o ponto de partida para que o público conheça mais de Yasmin, que, está no topo das paradas com o primeiro single do material, Para, pensa e volta, gravado em parceria com Marília Mendonça — a música é a quarta colocada no ranking da Crowley, atrás de Milu (Gusttavo Lima), Ferida curada (Zé Neto & Cristiano) e Quando a bad bater (Luan Santana). “Gosto de falar de temas da nossa vida mesmo. Procuro letras que falam de paixão, de volta por cima e da sofrência”, revela.
Enquanto o DVD, que tem participação de Wesley Safadão, Gustavo Mioto e Maira & Maraísa não é lançado, Yasmin lançou Esquenta do DVD, com 10 músicas capazes de mostrar o que o público pode esperar do futuro dela no sertanejo. “Desde Saudade nível hard penso o repertório com muito carinho. Então, procuro trazer isso nos meus trabalhos”, conta. Sobre as influências, ela aponta, principalmente, a rainha da sofrência.
 
 
 ( Warner Music/Divulgação)  
 
João Gustavo & Murilo
Juntos como dupla desde 2016, João Gustavo & Murilo, de Mato Grosso do Sul, viram o reconhecimento quando lançaram no ano passado Lençol dobrado. O hit atingiu mais de 89 milhões de visualizações no YouTube, garantiu um contrato para os artistas com uma gravadora e um remix da música. “Não esperávamos que Lençol dobrado ia ter todo esse sucesso. A gente sempre almeja e sonha”, revela João Gustavo.
Aproveitando a boa repercussão da música, que até hoje aparece no top 100 da Crowley, os artistas divulgaram, neste ano, o EP Viciando (Ao vivo). “A gente tinha uma necessidade de mostrar nossa cara nesse projeto. Foi a necessidade de fazer algo diferente, de mostrar a nossa cara”, afirma João Gustavo.
O disco revela essa similaridade de João Gustavo e Murilo com artistas já consagrados do cenário, como Matheus & Kauan, e a ousadia em apostar num sertanejo com batidas mais eletrônicas, pops e dançantes. “Lençol dobrado tem uma característica do que a gente faz desde o início. A gente precisava de uma música muito bem produzida, voz e violão com sanfona, mas que tivesse também uma essência do pop, que são as batidas graves”, explica Murilo.
 
 
 (Texto Mais Ideias/Divulgação)  
 
Hugo & Guilherme
Os goianos Hugo & Guilherme estão juntos como dupla desde 2016. No ano passado, eles conquistaram o grande público com lançamento de No Pelo em Campo Grande (Ao vivo), material com 19 músicas, entre elas o hit Namorada reserva. “Essa música entrou quase no final do disco e acabou se tornando a nossa música de trabalho. Para nossa surpresa, entrou na trilha sonora de A dona do pedaço, e colaborou para uma visibilidade ainda maior. Isso a gente sentiu também nos shows. A galera já sabia cantar antes de a gente ter soltado no YouTube. Namorada reserva foi um presente para a nossa carreira”, avalia Guilherme.
A carreira sertaneja começou depois que eles se conheceram em 2015. “Canto desde os 7 anos, já participei de duas duplas sertanejas e depois segui carreira solo. Em uma apresentação em Goiânia, conheci o Guilherme que, até então não cantava profissionalmente. A afinidade bateu na hora e a galera achou que a nossa sonoridade combinou. Em 2016, gravamos nosso primeiro álbum, um acústico”, lembra Hugo.
 
 
 (Ariel Farias/Texto Mais Ideias)  
 
Léo Pain
Vencedor da sétima temporada do The voice Brasil, o sertanejo Léo Pain deu os primeiros passos na música sertaneja após a projeção da competição com a divulgação do material Mesa de bar (Ao vivo). Também em 2019, lançou o primeiro volume de Perdido e apaixonado (Ao vivo em São Paulo), EP de seis faixas que o colocou no topo das paradas, graças ao sucesso da música Perdido e apaixonado, gravada em parceria com o ex-técnico Michel Teló, que está na 30ª posição na lista da Crowley.
“Foi um sonho realizado. Sair de Santa Maria (RS) para São Paulo, gravar um DVD e contar com participação de Michel Teló. Foi um grande presente para comemorar a nossa vitória no programa. Nesse álbum, procurei trazer um trabalho mais intimista, para conseguir passar a minha verdade. Fiz todo o processo da escolha do repertório e privilegiei as canções mais românticas”, revela.
Apesar da carreira de Léo Pain ter se tornado pública para o Brasil todo no ano passado, ele começou a cantar com 13 anos. “Sempre gostei da música sertaneja, mas foi no programa que amadureci e pude aprender muito do que sou hoje”, conta. 
 
 
 (Leve Press/Divulgação)  
 
Alex Fava
Após se tornar conhecido pelo sertanejo tradicional, o paulista Alex Fava lançou, neste ano, um novo conceito para o estilo: o sertanejo social. Para ele, essa é uma forma de trazer para o ritmo tão popular mensagens mais profundas. Assim surgiu o Projeto Consciência, formado por quatro faixas: Todo mundo tem um anjo, 4 patas, Devolva meu coração e Vô. “A minha motivação foi a mensagem que eu queria passar, que fosse algo diferente para o meu público e que também tivesse o intuito de mostrar assuntos que, até então, muita gente desconhecia, com o abandono de idosos, abordado em Vô”, conta.
Atualmente, o artista trabalha a música Todo mundo tem um anjo, faixa que presta homenagem às pessoas que ajudam outras, e também já pensa em um projeto mais voltado para o sertanejo romântico e dançante, que o tornou conhecido quando lançou o álbum Mais dias com você (2017). “Estamos pesquisando ainda, mas tenho certeza que será demais”, garante. “Acredito que o sertanejo está sempre em alta por conseguir mesclar diferentes gênero musicais. Eu mesmo já gravei com dois MCs e sou a favor dessa mistura. Gosto muito da sonoridade que temos hoje, principalmente na questão da criação, os produtores e os artistas não têm medo de ousar. E isso acaba dando uma nova cara a música sertaneja”, avalia.
 
 
 (Adilson Cruz/Divulgação)  
 
Ana e Bella
Neste ano, as amigas Ana e Bella resolveram se lançar no mercado sertanejo de Brasília. Para isso, as cantoras gravaram nos últimos dias o DVD Ana e Bella Essencial, na Cruls Cervejaria, que será lançado nas plataformas digitais em breve, e traz um repertório inédito. “Nós gravamos um DVD todo autoral. Essa foi a estratégia usada por grandes cantoras do estilo: Marília Mendonça e Maiara & Maraísa apostaram em músicas próprias e ganharam o mundo. No nosso DVD gravamos cinco músicas compostas em parceria com a Piqui Hits de Goiânia, com produção de Elimar Ramile”, anuncia Ana.
Por se conheceram há muitos anos, as cantoras decidiram se juntar no projeto musical e misturar os estilos: Bella cresceu cantando rock em Curitiba, enquanto Ana, que nasceu em Trombas (GO), sempre teve o sertanejo na veia. O principal objetivo das duas é mostrar a força das mulheres no ritmo, até por isso, apostam em canções com o empoderamento como tema. É o caso da música Diferenciada, que integra o repertório do DVD, que tem ainda as músicas como Amor à três, Coração é circo, Pegada envolvente e Agulha no palheiro.
 
 
 (Graziela Maciel Assessoria/Divulgação)  
 
Graziela Maciel
Carioca radicada em Brasília, Graziela Maciel, 18 anos, investe, neste ano, de vez na carreira musical. Desde os 9 anos, quando ganhou o primeiro violão, ela já se envereda na música. Quando fez 13 anos, se mudou para Brasília e lançou a primeira música autoral, a faixa Nossa relação, canção que tem 4 mil visualizações no YouTube. No ano passado, lançou a segunda canção autoral: Eu me obrigo a não voltar. No próximo dia 19, fará o lançamento oficial da carreira em evento no Centro Hípico, no Lago Sul.
“Mesmo quando morava no Rio de Janeiro, eu já ouvia muito sertanejo. Gosto muito de Marília Mendonça”, revela. Com duas músicas autorais já lançadas, o plano agora é fazer um EP com cinco músicas também compostas por ela. “Quero soltar e começar a fazer mais show por Brasília”, diz. No lançamento da carreira, Graziela fará um show em que mistura modão e o sertanejo atual no projeto intitulado Mesa de bar. “O meu planejamento é sempre cantar e mostrar a realidade que a gente vive como mulher, ou seja, a sofrência mesmo e, quando puder, a volta por cima”, afirma, entre risos.
 
 
 (Felippe Fernandes/Noise Filmes/Divulgação)  
 
May Lopes
A brasiliense de 27 anos sempre sonhou em ser cantora. Há sete meses, May Lopes largou um emprego formal em uma multinacional e resolveu investir no antigo desejo. A escolha pela música sertaneja foi uma surpresa, já que a família de artista é formada por músicos do cenário gospel. “Foi desafiador, mas escolhi o sertanejo por influência dos meus amigos. Eu também sempre andei muito no meio sertanejo, sempre achei um espetáculo muito bonito”, avalia.
A possibilidade de misturar ritmos também foi o que a incentivou na escolha pelo ritmo. No primeiro single, Aproveitou que eu tava com saudade, May mistura o funk e o sertanejo em uma música com participação de Humberto & Ronaldo. “Logo no meu primeiro single consegui a participação de Humberto & Ronaldo. Gravei o clipe com eles. Fizemos imagens em Brasília e em Goiânia. Fiquei muito surpresa com a repercussão”, afirma. Com apenas quatro meses, o videoclipe já tem mais de 12 mil visualizações no YouTube e 21 mil acessos no Spotify.
 
Colaborou Roberta Pinheiro
 
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Correio Braziliense segunda, 07 de outubro de 2019

CÂNCER DE MAMA: PÁGINAS DE SUPERAÇÃO E ESPERANÇA

 

Páginas de superação e esperança
 
 
Outubro é o mês da campanha de prevenção do câncer de mama. Mulheres que venceram a doença contam a experiência em livro

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 07/10/2019 04:00

Três das 40 mulheres que participaram da coletânea Nossa história, nosso milagre!
 (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

Três das 40 mulheres que participaram da coletânea Nossa história, nosso milagre!

 

 
“Viver a vida por mais que esteja difícil. Tentar viver da forma mais leve possível”. As palavras são da professora Suzana 
Mahmud Said, 44 anos. O intuito é incentivar mulheres que descobriram recentemente o câncer de mama. Ela foi diagnosticada com a doença em julho de 2018. Um nódulo no seio direito, que apareceu inicialmente como benigno, trouxe uma das notícias mais difíceis que ouviu na vida. No entanto, preferiu encarar o lado positivo da situação. Com otimismo, fé e apoio da família, a batalha foi vencida. A cura veio neste ano.
 
Suzana lembra que, ao abrir o resultado com o diagnóstico do câncer de mama em casa, os filhos dela, de 12 e 19 anos, começaram a chorar. “Foi nessa hora que percebi que quem tinha de ser forte era eu”, conta. A mãe da professora teve a mesma enfermidade aos 48 anos. Após dois anos de luta, morreu devido a uma metástase. “Quando foi a minha vez, acreditei muito no que os médicos falaram. Como descobri no início, a chance de cura era grande, e eu confiei.”
 
Suzana começou o tratamento e, 14 dias após a primeira sessão de quimioterapia, o cabelo começou a cair. “Ele é nossa moldura. Para nós (mulheres), representa muito poder. Ao perdê-lo, parece que as forças vão embora. Mas, para mim, foi a criação de uma personagem. Antes, fazia progressiva e chapinha o tempo todo, e, de repente, me senti livre disso tudo”, diz. Os meses com câncer a fizeram adotar uma nova rotina. “Comecei a fazer caminhada e corrida. Tinha dia em que eu esquecia a doença. Ver gente na rua ajudou na minha recuperação”, garante.
 
Para a gerente de vendas Suramya Soares, 40, a notícia chegou de forma dura. “O médico abriu o resultado e já avisou que eu perderia o cabelo e teria que tirar uma mama. Disse que não tinha outra forma de me contar aqui. Na hora, fiz até uma brincadeira, porque foi algo que eu não quis acreditar. Não tenho casos na família e não imaginava passar por isso.” Ela lembra que saiu da consulta passando mal. O diagnóstico saiu em 7 de fevereiro de 2018. No mês seguinte, em 13 de março, foi a primeira quimioterapia.
 
“O cabelo começou a cair. Quando vi aquilo, engoli o choro, mas eu não quis raspar e cortei na altura do ombro. Depois de uns dias, minha irmã apareceu careca. Ela raspou antes de mim para me incentivar. Aquilo me deu uma força tão grande. O medo era do preconceito das pessoas, mas foi tranquilo. Foi tão bom tomar banho carequinha”, brinca. Em 21 de novembro do ano passado, Suramya passou pela cirurgia de retirada da mama e, hoje, espera pelo procedimento de reconstrução do órgão. Também está curada.
 
A publicação
 
Parte dos dois relatos estão no livro Nossa história, nosso milagre!, que será lançado na próxima terça-feira, no auditório da Legião da Boa Vontade (LBV). Cada uma escolheu um tema para abordar relacionado à doença. A obra relata o tratamento de 40 mulheres que tiveram ou têm câncer. Mas nem só de narrativas positivas a publicação é feita. Pessoas que perderam alguma parente vítima da doença também contaram a vida antes, durante e após o tratamento.
 
A ideia do livro surgiu depois de uma série de conversas informais entre médico e paciente. A mastologista Thereza Racquel de Mello, durante 11 meses, acompanhou e tratou a professora Rosilda de Souza, que descobriu o câncer em 2018. Após a trajetória, elas tiveram a ideia de escrever um livro que falasse sobre superação. Com a ajuda da oncologista Ludmila Thommen, especialista em câncer de mama, e da residente em mastologia Daniela Omar, Thereza e Rosilda se uniram ao projeto.
 
“Não imaginei que uma das piores coisas que aconteceram na minha vida me trouxesse orgulho depois. Quando tive a doença, chorei demais. Recebi o apoio da minha família, mensagens, cartas de alunos. Tudo isso me dava vontade de ficar boa logo”, destaca a professora. “Em toda consulta, eu falava para a doutora Racquel que estava cansada de ficar em casa. Já tinha assistido a todas as séries. Precisava fazer algo novo. Foi quando ela me chamou para fazer parte desse projeto tão legal, que pode mudar a forma de diversas mulheres verem o câncer de mama”, lembra Rosilda.
 
Para Thereza, a proposta é ajudar outras pacientes a enfrentarem a doença ainda no início e mostrar que existe solução e cura. “Cada história e cada tratamento são diferentes, mas as pacientes se sentem mais confortáveis quando se identificam com as outras.”
 
Outubro Rosa
 
Este mês é voltado para a prevenção do câncer de mama. A oncologista Ludmila Thommen ressalta que o período é marcado como estímulo para as mulheres fazerem exames. Porém, alerta que a saúde feminina deve ser prioridade durante o ano todo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a chance de cura ultrapassa 95% quando o diagnóstico é precoce.
 
“As mulheres precisam ter o hábito de se conhecer. Caso identifiquem algo diferente, devem procurar um médico imediatamente, seja um mastologista, seja um ginecologista. Além disso, fazer os exames todo ano. Vale lembrar que o câncer de mama também pode ser diagnosticado em homens. É mais raro, mas acontece. As pessoas pensam no câncer de mama como algo que leva à morte, mas, não, ele tem cura”, ressalta a médica.
 
 
Lançamento e autógrafos do livro Nossa história, nosso milagre!
8 de outubro (terça-feira). Auditório da Legião da Boa Vontade (LBV) — SGAS 915, Asa Sul. A partir das 19h. Para solicitar o livro, entrar em contato pelo e-mail outubrorosa2019@gmail.com
 
 
 
Hábitos que ajudam a prevenir o câncer de mama
• Alimentar-se de forma saudável
• Amamentar
• Evitar bebidas alcoólicas
• Evitar uso de hormônios sintéticos, como anticoncepcionais e terapias de redução hormonal
• Manter o peso corporal adequado
• Praticar atividade física
Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)
 
 
 
Números
• Estimativa de novos casos no Brasil em 2019: 59.700
• 1% do total de registros de câncer de mama no Brasil é diagnosticado em homens
• Uma em cada seis mulheres terá câncer de mama no Brasil
 
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Correio Braziliense domingo, 06 de outubro de 2019

VOCAÇÃO PARA A MODERNIDADE

 

Vocação para a modernidade

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 06/10/2019 04:00

Ana Arruda (D) com equipe:  

Ana Arruda (D) com equipe: "A sombra do funcionalismo público às vezes intimida pessoas criativas para a área do empreendedorismo"

 

 
A recuperação do crescimento do Distrito Federal, além de levar otimismo para o mercado, abre caminho para novas tendências da economia. Para além de setores consolidados, como construção civil ou agropecuária, o mercado produtivo no DF deve crescer com atividades nas áreas de inovação, tecnologia, economia criativa e saúde ao longo dos próximos anos. As projeções de melhora nessas áreas levam em conta não apenas questões de envelhecimento da população e altos níveis de educação — a Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, é a oitava melhor instituição de ensino superior do Brasil —, mas também o fato de a capital federal concentrar a maior renda domiciliar per capita do país.
 
Especialistas apostam na expansão de setores considerados pontos fortes do DF. Presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/DF), o professor César Bergo vê potencial no agronegócio e na indústria tecnológica. Espaços como o Parque Tecnológico de Brasília (BioTIC) podem auxiliar nesse sentido, segundo ele. No entanto, o atendimento à demanda e a retenção de pessoal capacitado ainda necessitam de atenção. “A mão de obra em Brasília é qualificada. Se houver demanda e empresários para investir, estaremos preparados. Mas temos de ter a visão de que ainda não existe um polo que atraia essas pessoas”, destaca Bergo.
 
O economista também cita a posição geográfica do DF em relação ao restante do país e o fato de Brasília concentrar embaixadas como fatores que dão propulsão para a aviação civil e o turismo. Diante de uma população que envelhece e tende a passar de 3,24 milhões em 2025, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a busca por serviços complementares na área de saúde também tende a subir. “Essa área é prioritária. Nos próximos anos, acho que a cidade também demandará negócios nos ramos de lazer, gastronomia. É preciso lembrar o perfil da população. Aposentados com alto poder aquisitivo vão demandar serviços”, sugere César.
 
Empreitada
 
Focada no setor audiovisual e investindo no cinema como arte e instrumento de diálogo com outras áreas da economia criativa, Ana Arruda, 36 anos, fundou, em 2005, a Sétima Produções. Sete anos depois, surgiu o Festival Curta Brasília, um dos carros-chefes da firma, sediada na Asa Norte. A mostra alcançou não apenas trabalhos de outras unidades federativas, como também internacionais.
 
A vocação artística da capital federal é um dos fatores que contribuem para o sucesso de empreitadas nesse setor, segundo Ana. “O que vejo é que essa sombra do funcionalismo público às vezes intimida pessoas criativas para a área do empreendedorismo. Mas, se elas abrirem os olhos para o que está acontecendo no mundo e aplicarem conceitos inovadores nas próprias empresas, teremos uma crescente muito boa”, considera.
 
No sentido de evitar a evasão de talentos, a empresária cobra incentivos públicos e privados para o setor criativo. “Um dos problemas mais graves das políticas públicas no Brasil é a falta de planejamento e manutenção, o foco, na inauguração e no marketing da ação, não na manutenção (das iniciativas e espaços). Isso é uma coisa simples de ser diagnosticada e que precisa acontecer, pois temos tido retrocessos orçamentários e produtivos de quatro em quatro anos”, alerta Ana.
 
Cristiane (E), Crislene e Alexandre investem em modelo de apoio a novos negócios, no Guará (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 3/10/19)  

Cristiane (E), Crislene e Alexandre investem em modelo de apoio a novos negócios, no Guará

 

 
Reação
 
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ruy Coutinho, acredita que o Distrito Federal acompanhará as tendências globais quanto ao desenvolvimento do setor de alta tecnologia, especialmente diante das restrições para a instalação de indústrias de grande porte na unidade federativa. Ele ressalta que políticas de segurança jurídica e econômica contribuem para atrair investimentos. “Acho que vamos assistir a uma mudança na matriz econômica do DF. Ela vinha muito apoiada em governo (administração pública) e na construção civil, sendo que o primeiro vem decaindo”, observa.
 
Coutinho acrescenta que a expectativa de melhora na construção civil depende de uma reação consolidada da economia distrital. Apesar da recuperação desse ramo nos últimos três meses, ele confia em um crescimento só após a retomada do poder de compra da população. “Se você não tem uma economia reagindo, criando emprego em setores que estão se desenvolvendo, não tem renda para um desenvolvimento de mercado de maneira operante”, analisa. “A população ficou escaldada com uma série de crises. Ela ainda não tem recursos para sair gastando, consumindo”, completa o secretário.
 
Por outro lado, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon/DF), Dionyzio Klavdianos, afirma que há otimismo no setor para os próximos anos. Ele conta com a manutenção dos hábitos de consumo devido ao poder aquisitivo dos brasilienses, independentemente do enxugamento da máquina pública. “É importante nosso setor ter um estudo específico para o (futuro do) DF. O quadro é positivo por uma série de razões. (Brasília) Tem a marca de ser a cidade do funcionalismo público, então, continuará uma cidade atrativa (para o ramo da construção)”, comenta.
 
 
 
“Acho que vamos assistir a uma mudança na matriz econômica do DF. Ela vinha muito apoiada em governo (administração pública) e na construção civil, sendo que o primeiro vem decaindo”
Ruy Coutinho, secretário de Desenvolvimento Econômico
 
 
 
 
3,24 milhões
Previsão de habitantes no Distrito Federal em 2025
 
 
 
Palavra de especialista
 
 
Dicas para negócios
 
O Distrito Federal é praticamente comércio e serviços. Não há uma indústria consolidada, à exceção da indústria de tecnologia, que é relativamente forte. Claro que o segmento de atuação é importante, mas também é preciso se dedicar àquilo que se escolheu e fazer com que aconteça. Não adianta entrar em um segmento só porque ele está em ascendência.
 
Primeiramente, você deve saber se terá tempo para se dedicar àquilo que está se propondo. É necessário estudar o mercado, saber qual é a demanda, estudar quem é o público-alvo. Se você vai atender aquele público, deve escolher o local ideal, ferramentas de marketing para poder vender e não ter preguiça. Há, ainda, a parte da oferta: quem são seus concorrentes; o que estão fazendo de certo e errado; o que é preciso fazer melhor que eles?
 
O DF pode ser referência na área de tecnologia e informação, e é possível usar esse segmento para alcançar outros. Claro que temos tendências, mas o mais importante é, quando for empreender, focar 100% no negócio. Estudar, aprender, participar de fóruns ligados àquele assunto e, se for o caso, buscar quem faça um estudo de mercado. Mais do que saber o setor, é preciso ter aptidão para fazer aquilo funcionar. O tripé do sucesso é: marketing, operação e finanças. Não adianta ter um bom e os outros não.
 
Felipe Guarçoni, economista e sócio da Kapital Projetos e Consultoria Financeira
 
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Correio Braziliense sábado, 05 de outubro de 2019

DIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS (4 DE OUTUBRO) - ANIMAIS ABENÇOADOS

 

Animais abençoados
 
Fiéis levaram os pets ao Santuário São Francisco de Assis, na Asa Norte, onde missas foram celebradas ao longo de todo o dia dedicado ao padroeiro dos bichos. Homenagem ocorre todo ano e atrai até moradores de fora da cidade

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 05/10/2019 04:00

Em meio a latidos, miados e cantos de pássaros, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets já na entrada da igreja
 (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Em meio a latidos, miados e cantos de pássaros, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets já na entrada da igreja

 

 (Frei Rafael com o mascote do santuário, o Bonaventura
)  
Cerca de mil bichos de estimação participaram ontem da bênção dos pets, realizada anualmente no Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Na igreja que tem o nome do santo, na 915 Norte, seis missas foram celebradas durante toda a sexta-feira.
 
A tradição existe desde a década de 1980 e atrai não apenas brasilienses, mas gente de outras unidades da Federação e até não praticantes da religião católica. Para o frei Rafael Pinheiro, responsável pelo santuário, a data é importante para lembrar que os pets também são criação de Deus. “Quando você homenageia algo criado por Ele, você o louva. Graças a Deus, as missas são cheias, e a energia é muito boa. Os animais dialogam entre eles”, brincou o religioso.
 
O frei lembrou diversas histórias sobre a vida de São Francisco de Assis. “Ele esteve em uma determinada cidade e não conseguia anunciar as palavras (de Deus). Começou a pregar para os pássaros. As aves começaram a se aproximar para ouvi-lo. Isso mostra intimidade”, contou. “Além de tudo, é vantajoso ter um animal em casa. Traz harmonia. Às vezes, alguém não se casou, não teve filhos. Claro que não substitui uma pessoa, mas é uma companhia. Conheço história de quem se curou de depressão porque tinha um animal. É muito interessante.”
 
O Santuário São Francisco de Assis tem o próprio mascote: o golden retriever Bonaventura. “Ele tem 3 anos e sempre está por aqui, fica na parte dos fundos da igreja. As pessoas são bem apegadas a ele. É o reflexo de que esta casa é para todos”, afirmou o frei Rafael.
 
Na entrada, vários freis recebiam os animais para benzê-los. Durante a missa, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets. Latidos, miados e cantos de pássaros não passavam despercebidos. Afinal, era tudo para eles.
 
Família grande
 
Enquanto a maioria das pessoas chegava com apenas um animal, o copeiro Henrique Monteiro, 46 anos, e a esposa, a aposentada Terezinha Antônia de Sousa, 60, levaram os quatro cachorros para a missa. O casal costuma resgatar animais de rua e cuidar enquanto buscam um lar para eles. Sirilo, Chinelo, Taysson e Puff são fruto dessa solidariedade. “As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”, ressaltou Terezinha.
 
Com dois gatos em uma das missas, a aposentada Solange Santos, 61, aproveitou para contar a história de Chiquinho, chamado assim em homenagem a São Francisco de Assis. O animal foi atropelado no início do ano, e a dona não quis mais. “A sogra da minha filha me contou a história e pedi para trazê-lo para mim. Dei banho, cuidei. Ele chegou quase morto na minha casa. Levei a uma clínica para gatos e lá cuidaram bem dele. É o nosso xodó.” Solange adota gatos há cerca de seis meses. Hoje, já são 10 felinos sob os cuidados dela.

Ana Christina Yida aproveitou para levar as calopsitas de estimação
 

Ana Christina Yida aproveitou para levar as calopsitas de estimação

 



Outras espécies
 
Nem só de cachorros e gatos é feita a missa em homenagem aos animais. Algumas espécies inusitadas marcaram presença. As calopsitas Príncipe Jorge e Lord Dian e a agapornis (espécie de pássaro) Laisa foram abençoadas ontem. A dona, Ana Christina Yida, 49, pediu mais saúde para as aves. “Peço para que vivam muito. São meus companheiros e não me imagino sem eles. Fiz questão de trazê-los para saírem um pouco de casa também.”
 
A juíza Josélia Fajardo, 41, levou o jabuti de estimação para receber a bendição. O animal é querido dos filhos dela — João Pedro, 8, e Maria Júlia, 6 —, e eles fazem questão de participar do momento. “É importante trazê-los para que tenham mais contato com Deus e com a natureza”, justificou.
 
"As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”
Terezinha Antônia de Sousa, aposentada 
 
Amor à natureza
Em suas peregrinações, São Francisco cultivou apreço excepcional pelos animais e pelo meio ambiente. Chegou a sugerir que a Igreja Católica passasse a receber animais nas missas. De família rica, o italiano da cidade de Assis também ficou conhecido como o santo dos pobres, após abrir mão da vida de luxo e dinheiro.
 
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Correio Braziliense sexta, 04 de outubro de 2019

DIA DE FESTA - QUINTETO VIOLADO E CLODO FERREIRA NOS 30 ANOS DO FEITIÇO MINEIRO

 

Dia de festa
 
 
Para comemorar o aniversário de 30 anos, o Feitiço Mineiro recebe Quinteto Violado e Clodo Ferreira

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 04/10/2019 04:00

Quinteto Violado revisitará projetos como Berra boi e Missa do vaqueiro (Fabiana Mello/Divulgação)  

Quinteto Violado revisitará projetos como Berra boi e Missa do vaqueiro

 

 
Artistas da mesma geração, o Quinteto Violado e Clodo Ferreira dividirão o palco do Feitiço Mineiro hoje e amanhã, às 21h, na abertura da programação comemorativa dos 30 anos do bar, restaurante e casa noturna da 306 Norte. O show, dividido em três partes, será aberto por Clodo. Em seguida, o Quinteto ocupa o palco; e no final, eles se juntam em cena.
 
Por conta da celebração da data, os protagonistas do espetáculo decidiram levar ao público canções que foram marcantes na trajetória de ambos. Acompanhado pelos filhos João Ferreira (violão), Pedro Ferreira (percussão), Vavá Afiouni (baixo) e Kaley Seraine (violino), Clodo inicialmente interpreta composições autorais como Mentira da saudade, Iluminura, parceria com Carlinhos 7 Cordas; e Conterrâneos, que fez com os irmãos Clésio e Climério.
 
“Vamos aproveitar a data festiva do Feitiço para revisitar momentos importantes de nossa carreira, como os dos projetos Berra boi e Missa do vaqueiro, além de homenagear Geraldo Vandré, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, na celebração do centenário desse grande nome da música nordestina e brasileira”, anuncia o vocalista e violonista Marcelo Melo. Ele tem a companhia de Dudu Alves (teclado e voz), Ciano Alves (flauta e violão), Sandro Lins (baixo) e Roberto Medeiros (bateria).
 
No enceramento, Clodo e os integrantes do Quinteto juntam as vozes cantando os clássicos Asa Branca (Luiz Gonzaga), Cavalo Marinho (Fernando Filizola e José Chagas)e Revelação (Clodo e Clésio Ferreira). Os arranjos para as composições de Clodo foram criados pelo Quinteto.
 
SERVIÇO
Quinteto Violado e Clodo Ferreira
Show comemorativo dos 30 anos do Feitiço Mineiro amanhã, às 22h, no bar restaurante da 306 Norte. O couvert artístico custa R$ 50, na parte interna; e R$ 35, na parte externa. Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: 3272-3032.
 
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Correio Braziliense quinta, 03 de outubro de 2019

ADRIANA VILLELA É CONDENADA A 67 ANOS E SEIS MESES, MAS SEGUE EM LIBERDADE

 

CRIME DA 113 SUL
 
Adriana é condenada, mas segue em liberdade
 
 
Após 10 dias e 103 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Brasília sentenciou a arquiteta a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado. Como respondeu ao processo fora da cadeia, não ficará presa até a defesa pedir a anulação do júri

 

» ALAN RIOS
» MARIANA MACHADO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 03/10/2019 04:00

Juiz Paulo Rogério Santos Giordano lê a sentença contra Adriana Villela: 32 anos de prisão pelo assassinato do pai, José Guilherme, e 32 pelo da mãe, Maria Villela
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Juiz Paulo Rogério Santos Giordano lê a sentença contra Adriana Villela: 32 anos de prisão pelo assassinato do pai, José Guilherme, e 32 pelo da mãe, Maria Villela

 


Após 10 anos, o Crime da 113 Sul, enfim, tem um desfecho. Adriana Villela, acusada de mandar matar os próprios pais, foi condenada a 67 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelo Tribunal do Júri de Brasília. Em 28 de agosto de 2009, o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela; a advogada Maria Villela; e a empregada da família, Francisca Nascimento Silva, receberam, no total, 73 facadas dentro do apartamento do casal. Três homens estão presos e sentenciados pelo crime: Leonardo Campos Alves, Paulo Cardoso Santana e Francisco Mairlon Aguiar.
 
Apenas a filha dos Villela ainda não havia enfrentado o crivo da Justiça. Mas, por ter respondido ao processo em liberdade, ela terá a mesma prerrogativa para recorrer à segunda instância. Após 10 dias de julgamento, considerado o mais longo da história de Brasília, com 103 horas, os jurados decidiram pela condenação da arquiteta. A pena fixada pelo juiz Paulo Rogério Santos Giordano foi de 32 anos pelo assassinato de José Guilherme; 32 pelo de Maria Villela; e 23 pelo de Francisca; além de 3 anos e 6 meses pelo furto das joias da mãe.
 
Entendendo que a morte da empregada não aconteceu a mando da acusada, mas por decisão dos agressores a fim de assegurar a impunidade pelos demais homicídios, o magistrado dispensou a pena por esse crime. Na decisão, Paulo Rogério incluiu as qualificadoras de motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, “já que foram colhidas de surpresa e de forma abrupta dentro do próprio lar”.
 
Após o término do julgamento, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, classificou o resultado como a maior injustiça em 40 anos de advocacia criminal. “Tenho absoluta convicção da inocência dela, mas acho que fizeram aqui uma monstruosidade”, declarou. Ele afirmou que recorrerá, se preciso, ao Supremo Tribunal Federal (STF), não para pedir redução de pena, mas a anulação do julgamento. “Essa condenação é um erro judiciário inacreditável. Respeito o Tribunal do Júri, e vou ao Tribunal de Justiça (do DF e dos Territórios) para reverter essa monstruosidade de uma condenação absolutamente sem provas.”
 
O procurador de Justiça do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Maurício Miranda, no entanto, descarta a possibilidade de o júri ser cancelado. “Na matéria de prova, para anular, tem de ser um julgamento manifestamente contrário à prova dos autos”, explicou. Na prática, isso quer dizer que os advogados precisariam mostrar que houve inconstitucionalidade no julgamento. “Quando falamos de sustento, mostrando que tinha um arcabouço de provas, isso é mais do que suficiente para o Tribunal de Justiça não aceitar essa questão de julgamento manifestamente contrário.”
 
Na visão de Maurício Miranda, apenas uma questão muito fora da normalidade ou absurda poderia justificar a anulação, uma vez que a decisão do júri é soberana. Caso isso aconteça, Adriana passaria novamente pelo Tribunal do Júri de Brasília. A defesa pode pedir a redução da pena dada ontem. A decisão, no entanto, fica a cargo do Colegiado. O juiz avalia o pedido e pode tanto diminuir o tempo de condenação como aumentá-lo.

Após a condenação, a arquiteta não esboçou qualquer reação: abraço da filha, Carolina, e do irmão, Augusto (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Após a condenação, a arquiteta não esboçou qualquer reação: abraço da filha, Carolina, e do irmão, Augusto

 

Impassível
Horas antes de saber que seria considerada culpada, Adriana estava confiante e, pela primeira vez, fez uma declaração à imprensa ao chegar ao TJDFT, às 9h. “Sou inocente e agradeço por trazer isso à luz agora aqui”, afirmou. Durante a sessão, ela prestou atenção ao que era dito, e, como de costume, bocejou algumas vezes e chorou durante as falas da defesa. Entretanto, na maior parte do tempo, manteve o semblante sério.
 
Conhecida pela espiritualidade, sentou-se no chão e meditou enquanto os jurados decidiam o futuro dela. Ao ser informada pela equipe de advogados sobre a sentença, não reagiu. Apenas abraçou a filha, Carolina Villela, e o irmão, Augusto Villela. Durante a conclusão dada pelo juiz, manteve a expressão impassível, sem qualquer gesto que denunciasse sentimentos. Discretamente, ela deixou o plenário pela porta dos fundos, sem falar com ninguém.
 
Nos 10 dias de julgamento, acusação e defesa exploraram a personalidade de Adriana. Durante o interrogatório, ela admitiu ter usado drogas na adolescência, como cocaína, maconha, ácido e chá de cogumelo, mas disse não ser dependente das substâncias. A sentenciada admitiu que, aos 14 anos, pensou em se jogar da janela do apartamento onde morava para afetar os pais. Ontem, os defensores revelaram que nessa idade ela foi “induzida a um aborto”.
 
Adriana admitiu que tem um “estopim curto”. Desde o começo do júri popular, isso foi utilizado pelo Ministério Público para indicar a suposta agressividade e frieza suficiente para mandar matar os pais. Os promotores também mostraram um laudo psicológico de Adriana, feito por especialistas da Polícia Civil e embasado em análises de interrogatórios dela. No documento, ela é chamada de desafiadora, autoritária e com traços compulsivos, vitimização e dramatização. “O vínculo de mãe e filha era tão somente material. Uma relação de ‘patrocinadores’ quanto aos seus projetos sociais. Existia um interesse financeiro e um distanciamento da afetividade”, informa o laudo lido ontem.
 
No dia do próprio interrogatório, a ré se mostrou sensível aos assassinatos dos pais, chorando ao relembrar o dia em que descobriu o triplo assassinato. “Vi em fotos da Corvida a imagem da minha mãe morta. Isso me atormentou durante muito tempo. Eu fechava os olhos para dormir e aquela cena vinha à minha cabeça”, contou. Também ficou com a voz embargada ao comentar a brutalidade. “Depois de ter enterrado meus pais, li uma manchete no Correio Braziliense, em um fundo preto, em que o jornal dobrado estampava: ‘72 facadas’. Enterrei meus pais sem saber que eles foram chacinados dentro de casa. Minhas pernas tremeram e quase caí na banca de jornal”, disse.
 
 
 
Protesto pós-sentença
 
Antes da sentença, o juiz titular da Vara do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Rogério Giordano, pediu para que o público deixasse para se manifestar do lado de fora do plenário. Quando a imprensa começou as entrevistas com representantes da defesa e da acusação em um corredor do órgão, apoiadores da condenada começaram a gritar: “Adriana é inocente”. A segurança do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) retirou o grupo do local. Aproximadamente 20 pessoas participavam do ato. Não foi necessário o uso de força por parte dos vigilantes.
 
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Correio Braziliense quarta, 02 de outubro de 2019

LIBERTADORES: NOITE DE FUTEBOL ARTE

 

LIBERTADORES
 
O circo está armado
 
 
Em um dos duelos mais esperados da temporada, Grêmio e Flamengo prometem mais do que um jogo de futebol. O clima de semifinal oferece um charme a mais ao picadeiro: hoje tem espetáculo, sim, senhor

 

João Romariz*
Gabriel Escobar*

Publicação: 02/10/2019 04:00

 




Grêmio e Flamengo. Semifinal de Libertadores. Em jogo, o título de melhor futebol do Brasil e a vaga na final da maior competição do continente. De um lado, o insuperável Gabigol, o mago Arrascaeta e o mister português Jorge Jesus, que chegou incomodando, tentam quebrar o jejum de 38 anos do rubro-negro e chegar ao título mais uma vez. Do outro, o abusado Everton, Luan, o Rei da América de 2017, e o copeiro Renato Gaúcho buscam o tetracampeonato do tricolor gaúcho. Atrações não faltam no que será o grande espetáculo do futebol brasileiro em 2019. As duas equipes fazem o jogo de ida da semifinal hoje, às 21h30, na Arena do Grêmio.

O primeiro show da noite acontece na beira do picadeiro. Os treinadores Renato Gaúcho e Jorge Jesus resolveram iniciar o confronto semanas atrás com provocações. Em entrevistas coletivas, defenderam que os times que comandam apresentam o melhor futebol do Brasil. O português afirmou que o rubro-negro não é líder do Campeonato Brasileiro à toa. Além disso, declarou que os treinadores brasileiros são ultrapassados.

Por sua vez, o polêmico Renato Gaúcho não aceitou os comentários e defendeu o tricolor gaúcho como detentor do título de melhor futebol do Brasil e diminuiu o currículo de Jorge Jesus. Ainda afirmou que a razão para o sucesso do Fla é o investimento em um elenco de qualidade. Frente a frente pela segunda vez no ano, os treinadores terão a chance de provar quem apresenta o melhor e mais eficiente futebol.

Dentro de campo, as verdadeiras atrações abrilhantam o espetáculo. O embalado elenco flamenguista, que não perde uma partida há quase dois meses (4/8), tenta manter a boa fase e construir um bom resultado fora de casa, enquanto o Grêmio busca fazer jus à fama de copeiro e chegar a mais uma final de Libertadores.

Gabigol, artilheiro do Brasil no ano, e os parceiros Arrascaeta e Bruno Henrique são mais letais do que os atiradores de facas dos circos. No ano, o Flamengo soma 100 gols em 53 jogos oficiais, sendo 65 marcados pelo trio mágico. Fora de casa, o time também costuma marcar. São 37 tentos em 26 partidas longe do Maracanã. O desafio será furar a boa defesa gremista nesta noite.

Os tricolores sonham em dominar a América pela segunda vez em três anos. O time copeiro parece ter encontrado a fórmula do sucesso na Libertadores. Essa é a terceira vez consecutiva que o time chega às semifinais do torneio, mantendo a base do elenco campeão em 2017. Acostumados com grandes jogos e duelos duros, os comandados por Renato Gaúcho levam vantagem neste aspecto.O destaque do time é Everton, o Cebolinha, que conquistou vaga na Seleção Brasileira e desponta como o grande atacante do futebol brasileiro na atualidade. Além dele, Luan, o melhor jogador do continente em 2017, parece ter reencontrado o bom futebol. Nos últimos dois jogos, marcou contra Santos e Avaí, e é outro nome importante da companhia e esperança do torcedor gremista.

*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
 
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Correio Braziliense terça, 01 de outubro de 2019

REDAÇÃO: PARA APRENDER E FIXAR

 

Redação: para aprender e fixar
 
Em parceria com o Correio, escola particular promove oficina gratuita voltada ao Exame Nacional do Ensino Médio. Próxima edição será em 21 de outubro. Evento é aberto ao público em geral

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 01/10/2019 04:00

Estudantes lotaram o auditório: esforços para aperfeiçoar a escrita (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Estudantes lotaram o auditório: esforços para aperfeiçoar a escrita

 


 
A redação é um dos grandes desafios na hora de uma prova. Para os estudantes do terceiro ano, o peso é ainda maior, principalmente com a aproximação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado em 3 e 10 de novembro. Para aperfeiçoar a escrita, o Centro Educacional Sigma, em parceria com o Correio, promoveu a primeira Oficina Redação Nota 1000 de 2019, ministrada pela professora de português e editora de Opinião do Correio, Dad Squarisi. No auditório da escola, na 912 Sul, ela bateu um longo papo com os inscritos do certame e apresentou dicas para um bom texto.

Este é o terceiro ano consecutivo da oficina, que virou tradição entre os estudantes de Brasília. Ao todo, são duas horas e meia de aula, com atividades. Dad propõe exercícios e os corrige em voz alta para toda a turma. O intuito é sanar as principais dúvidas dos participantes. A conversa descontraída conta com material multimídia e distribuição de brindes. Além dos estudantes da instituição, o encontro é aberto para o público em geral. E o próximo tem data marcada: 21 de outubro no Sigma da 910 Norte. As vagas são limitadas.

“A oficina é divertida, variada e possibilita a escrita, o passo a passo da redação. É um momento em que eles podem exercitar. O ideal seria ter mais tempo, mas, no período que temos, conseguimos trabalhar bastante conteúdo. Achei os participantes de hoje (ontem) bastante interessados e preparados”, disse Dad Squarisi. Para ela, as pessoas, em geral, precisam ter mais confiança na própria escrita. “Elas não acreditam que sabem escrever, mas sabem. É tão fácil quanto andar. O primeiro mandamento para uma pessoa se sair bem na redação é acreditar que sabe escrever. O segundo é treinar, treinar e treinar.”

A diretora do Centro Educacional Sigma da Asa Sul e coordenadora de redação, Carolina Darolt, ressaltou que a redação é uma parte importante do Enem e merece ser trabalhada com cuidado, por isso, o corpo docente da escola decidiu separar os dois momentos para aperfeiçoar o texto dos alunos. “A aula com a Dad é muito legal. E ela reforçou um aspecto importante: só se aprende escrevendo. Nós temos incentivado nossos alunos a buscarem mais por conhecimentos gerais. Quanto mais informação, melhor para a argumentação”, destacou.


A professora de português e editora de Opinião, Dad Squarisi, bateu um papo com os alunos e apresentou dicas para escrever bem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A professora de português e editora de Opinião, Dad Squarisi, bateu um papo com os alunos e apresentou dicas para escrever bem

 




Bem preparados
O estudante do terceiro ano Diogo Machado, 17 anos, revelou que tem dificuldade com redação, mas que, após a Oficina de Redação Nota 1000, se sente mais preparado. “A forma dela de explicar é mais devagar, mais calma. Achei mais fácil de entender. Eu sempre fui mediano na matéria. Agora, no terceiro ano, estou vendo a importância e o quanto preciso afinar a forma de fazer o meu texto.”

Sonhando em ingressar na Universidade de Brasília (UnB), a estudante Ana Júlia Lobato, 17, também participou do encontro. Agora, ela se sente mais confiante em fazer o Enem. “Eu consigo fazer uma redação, mas nunca tirei um 10. A Dad deu vários exemplos, analisou nossos textos. Eu gostei de quando ela falou que a gente precisa ter humildade para recomeçar sempre que for preciso. Estou mais segura”, afirmou.

Assim que soube da oficina gratuita, a pedagoga Ana Paula Rabelo, 42, se inscreveu. Ela não vai fazer o Enem, mas, como sempre, se prepara para provas de concurso, quis aproveitar. “Nos textos, eu sempre quero expressar muita coisa e acabo me atrapalhando com as palavras. Achei interessante quando ela falou sobre ler e reler e sobre a repetição de palavras”, contou.

Para as estudantes Juliana Rabelo, 23, e Laís Lorena Oliveira, 17, o fato de o curso ser gratuito oferece oportunidades para quem não pode pagar. “Geralmente são aulas caras. Quando eu soube, quis participar na hora. Faço provas de concurso e tudo que aprendi vai me ajudar bastante. Ouvi muita coisa que não conhecia”, relatou Juliana.




Datas do Enem

3 de novembro - Provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias e redação
 
10 de novembro - Ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias



Oficina de Redação Nota 1000

21 de outubro
» Auditório do Centro Educacional Sigma, 910 Norte
» 14h30
» Inscrições: a partir de hoje no site do Correio
» Vagas: limitadas
» Duração: 2 horas e meia
» Aberto ao público
» Entrada gratuita
 
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Correio Braziliense segunda, 30 de setembro de 2019

ZOO DE BRASÍLIA - MORRE O TIGRE-DE-BENGALA DANDY

 

Morre o tigre-de-bengala Dandy

 

Publicação: 30/09/2019 04:00

Os veterinários do Zoo aguardam resultados de exames histopatólogicos para apontar a causa da morte (Divulgação/Zoológico)  

Os veterinários do Zoo aguardam resultados de exames histopatólogicos para apontar a causa da morte

 



Morreu ontem Dandy, o tigre-de-bengala do Zoológico de Brasília. Em nota de pesar publicada nas redes sociais, a instituição lamentou a morte do animal e informou que a equipe passou três dias tentando fazer com o que o animal reagisse.

Na última quinta-feira, Dandy fez uma coleta de sangue para exames laboratoriais e inspeção clínica para que pudesse fazer uma transfusão para a irmã, a fêmea Maya, que passou por intervenção cirúrgica em decorrência de infecção abdominal grave.

Investigação
Os exames mostraram alterações, e o tigre começou a ser tratado. Na manhã de domingo, porém, Dandy acordou apático e sem reagir a estímulos. “Ele foi atendido imediatamente pela equipe de especialistas e, durante toda a manhã, mesmo depois de intensos esforços, não resistiu”, informou o Zoo. A causa da morte de Dandy será divulgada quando sair o resultado dos exames histopatológicos feitos pelos veterinários.

Segundo a nota, Maya apresenta melhoras e está em processo de recuperação, apresentando um quadro mais otimista.
 
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Correio Braziliense domingo, 29 de setembro de 2019

ZECA PAGODINHO PEDE PAZ

 

Zeca Pagodinho pede paz
 
 
Em Mais feliz, o artista faz um passeio pelas diferentes vertentes e mensagens do samba mandando o recado: "quem quiser me ouvir, eu vou cantando"

 

Adriana Izel
Enviada especial

Publicação: 29/09/2019 04:00

 (Guto Costa/Divulgação)  
 
 
Rio de Janeiro — Zeca Pagodinho não gosta de protocolos. O carioca de Irajá prefere a simplicidade. É no bate-papo informal que o sambista se abre mais, faz piadas, conta histórias e distribui o jeito gentil. Até por isso sempre opta em trabalhar criando esse ambiente. Foi assim ao atender à imprensa em almoço promovido no Bar do Zeca, no Vogue Shopping, na Barra da Tijuca, quando ofereceu aos presentes o famoso leitão que sempre serve aos amigos em Xerém, bairro de Duque de Caxias onde mantém uma casa. De um jeito similar, Zeca chegou até o repertório do mais recente álbum, Mais feliz, lançado em 17 de setembro nas plataformas digitais. “Na minha casa também sempre é assim. Uma panela cheia de sopa, de fava com leitão, igual a esse que vocês comeram”, afirma.
 
Para Zeca, não existe outra forma de fazer música que não seja numa grande roda de samba entre amigos. “Na minha casa, no meu quintal. A rapaziada vai toda pra lá. Muita comida, muita bebida e cada um canta duas ou três músicas”, conta ao Correio. Na gravação do disco não foi diferente: “Vai todo mundo (para o estúdio), os compositores, o pessoal de batuqueiros, violeiros. Então, é sempre uma festa com bastante cerveja. Tem os dias da velha guarda (da Portela) botar coro, sempre colocam em duas músicas. Rola uma feijoada e quando acaba, dá saudade desse povo”. Esse foi o processo de criação, concepção e gravação de Mais feliz.
 
Chegar até as 14 músicas que compõem o repertório foi um desafio. Zeca Pagodinho ouviu mais de 200 canções até escolher as favoritas: “Vou passando (na roda de samba), vou ouvindo. Quando vejo que o povo empolgou muito, vejo que ali está um sucesso”. O repertório conta com duas regravações O sol nascerá (a sorrir), de Cartola e Elton Medeiros, gravada com Teresa Cristina, que virou tema da novela Bom Sucesso, e Apelo, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, em que o artista é acompanhado dos músicos Hamilton de Holanda (bandolim) e Yamandú Costa (violão de 7 cordas). As demais são canções inéditas em gravação de estúdio, mas velhas conhecidas dos frequentadores dos sambas de Pagodinho.
 
Composição e homenagem
 
Esse é o caso de Mais feliz, canção de Toninho Geraes (autor de Uma prova de amor) que abre e também dá título ao disco: “A música é muito boa. Eu já conhecia há uns dois ou três anos, acho que até mais”. A faixa também é responsável por dar o tom do álbum, um CD, em sua maioria, pra cima e que passeia pelas diferentes vertentes do samba. Resultado do momento em que vive Zeca Pagodinho. “Há quatro anos eu não gravava. Eu fico com vontade de gravar, os compositores, também. E é um repertório muito bom. Voltei a compor, fiz 60 anos. Tenho que estar feliz”, define.
 
Depois de 14 anos, o cantor voltou a incluir em seu repertório composições autorais. Duas das 14 faixas de Mais feliz são de Zeca Pagodinho: Enquanto Deus me proteja, com Moacyr Luz, e Nuvens brancas de paz, com Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira. “Eu costumo dizer que (no processo de composição) alguém fala alguma coisa para mim. Vou ouvindo alguma coisa e escrevendo. Às vezes até me surpreendo. Foi assim que nasceu Enquanto Deus me proteja. Ela nasceu no Dia Internacional do Compositor e é a minha primeira parceria com o Moacyr Luz”, conta.
 
Sobre Nuvens brancas de paz, lembra: “Eu cheguei na casa do Arlindo cantando isso aí. Foi a última vez que estive cantando assim com o Arlindo, perto. Marcelinho tava lá e a música surgiu, como ela sempre surge. Surgiu e pronto. Eu nem lembrava mais dela. Depois que o Marcelinho falou. Pedi para o filho do Arlindo (Arlindinho) e ele mandou a música. E ela surgiu, está aí”.
 
Ter uma música composta com Arlindo Cruz no repertório também é uma forma de Zeca se aproximar do amigo, afastado dos palcos desde que sofreu um acidente vascular cerebral em 2017, e homenageá-lo. “O CD é dedicado a ele. É a primeira vez que ele não está comigo. Ele estava sempre comigo, como músico, como autor, como companheiro de estar ali. É bem difícil. Por isso dediquei a ele. Para mim, é ruim. Tem dois anos que eu não o vejo. Sou acostumado a chegar lá, sorrir, tomar cerveja, fazer samba. Eu não quero chegar e o ver assim. Tenho fé que ele vai melhorar. Milagres existem”.
 
Mensagens do disco
 
Zeca Pagodinho diz que Mais feliz é um disco que reúne diferentes mensagens. Para ele, o repertório tem canção para todo tipo de situação: “Tem samba bom, romântico, feliz, pedindo paz. Tem recado para todo mundo. Quem quiser me ouvir, eu vou cantando”. Uma delas manda um recado para o Rio de Janeiro, estado que vem sofrendo com a violência. A música é Na cara da sociedade, de Serginho Meriti. “Essa música eu pedi ao Serginho Meriti para fazer. Estava em Curitiba e liguei para ele. Dentro de mais ou menos uma hora ele estava mandando mais de 10 músicas”, diz.
 
Na faixa, Zeca Pagodinho logo começa dizendo: “Vou aproveitar essa canção para pedir paz no mundo, no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. Muita paz”. O sambista diz que incluí-la no repertório foi uma forma de fazer a parte dele. “Porque a gente precisa disso, se todo mundo fizer algo para melhorar, estimular as pessoas, vamos mudar esse quadro. É uma cidade-fantasma. Está cheia de grades, botequim vazio, muita violência, muito assalto. Está difícil”, lamenta.
 
“Lembra dos tempos idos? Cadeiras na varanda/ Cidade maravilhosa, meu futebol, meu samba”, canta o artista na faixa. Situações que ele diz sentir falta no dia a dia. “(Sinto falta de) poder andar pela rua. Não só por causa de violência, por causa do assédio, que é um problema muito sério. Não dá para parar em lugar nenhum que logo aparecem 200 celulares. Aí não dá. Em Xerém tenho (menos assédio e mais segurança), ainda mais dia de semana. Dá para ir ao botequim de bermuda, ver os caras jogando sinuca. É bem diferente para mim”.
 
Como de costume, Mais feliz conta com convidados especiais. Além de Teresa Cristina, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e a Velha Guarda Portela, o álbum tem a presença de Xande de Pilares. O ex-vocalista do Revelação canta com Zeca Pagodinho Dependente do amor (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal). “Sempre tem alguma participação (nos discos). E o Xande merece. É um cara bom, tem uma pegada boa de cavaquinho. O samba é muito bom. Teresa (Cristina) também. É nossa querida. Está muito bem na música. Eu queria fazer alguma coisa com o Hamilton e Yamandú, de novo, que eu já tinha feito outra. Precisava fazer alguma coisa com ele. Eu tinha outra música, mas o Rildo (Hora, produtor do disco) falou de fazer Apelo. Eles fizeram o arranjo lá mesmo no estúdio”.
 
A turnê de Mais feliz começa em dezembro. O sambista passará por São Paulo, em 7 de dezembro, Credicard Hall. No dia 13, é a vez do Rio de Janeiro receber o show no KM de Vantagens. A outra apresentação marcada é em Salvador na Concha Acústica em 9 de fevereiro. Mas a programação ainda vai crescer. “Não podem me olhar, que já estão me olhando como se eu fosse uma agenda”, diz, entre risos, ao ser questionado se com a idade diminuiu o número de shows. De acordo com Zeca, a única que mudou com a idade foram as questões relacionadas à saúde: “Muito exame. Opera olho, opera nariz, essas coisas que têm que lidar. Você vai enxergando menos. Show, eles não deixam eu parar”.
 
*A repórter viajou a convite da Universal Music
 
 
 (Universal Music/Divulgação)  
 
Mais feliz
De Zeca Pagodinho. Universal Music, 14 músicas. Disponível nas plataformas digitais.
 
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Correio Braziliense sábado, 28 de setembro de 2019

EDUCAÇÃO: PRONTOS PARA O FUTURO

 

EDUCAÇÃO

Prontos para o futuro

 

Publicação: 28/09/2019 04:00

Os amigos Artur, Igor,  Natália e Júlia, do Colégio Ideal, em Taguatinga, sonham em trabalhar com tecnologia de ponta:  

Os amigos Artur, Igor, Natália e Júlia, do Colégio Ideal, em Taguatinga, sonham em trabalhar com tecnologia de ponta: "Acredito que isso que estamos fazendo agora é uma prévia daquilo que podemos produzir daqui a algumas décadas", avalia Artur.

 



Muito além da tradicional sala de aula, escolas estão investindo em formar alunos capazes de dominar as novas ferramentas e exigências do mercado. Isso valerá tanto para as profissões mais simples quanto para as mais complexas.
 
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Correio Braziliense sexta, 27 de setembro de 2019

STF IMPÕE MAIOR REVÉS À LAVA-JATO

 

JUDICIÁRIO
 
STF impõe maior revés à Lava-Jato
 
Supremo forma maioria em tese que tem o poder de levar à anulação condenações no âmbito da força-tarefa. Julgamento será retomado na próxima semana, e presidente da Corte diz que fará proposta para delimitar a abrangência da decisão

 

» JORGE VASCONCELLOS

Publicação: 27/09/2019 04:00

A maioria dos ministros da Corte entende que delatado tem o direito de apresentar as alegações finais em processos após os delatores (Nelson Jr/SCO/STF)  

A maioria dos ministros da Corte entende que delatado tem o direito de apresentar as alegações finais em processos após os delatores

 



Seis dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram, ontem, a favor de uma tese que pode levar à anulação de condenações judiciais em todo o país, inclusive no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo o entendimento majoritário, os delatores deverão apresentar as alegações finais, nos processos judiciais, sempre antes dos réus que não fizeram acordo de colaboração premiada. O presidente da Corte, Dias Toffoli, suspendeu a sessão e disse que os trabalhos serão retomados na próxima semana, quando ele apresentará o seu voto. O ministro, entretanto, adiantou que concorda com a tese adotada pela maioria do plenário. O magistrado ainda frisou que apresentará uma proposta para delimitar a abrangência da decisão da Corte. Um balanço da Lava-Jato indica que o entendimento do STF pode anular 32 sentenças, envolvendo 143 condenados na força-tarefa.

O caso concreto examinado pelos ministros é um habeas corpus apresentado pelo ex-gerente de empreendimentos da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira, condenado em primeira instância pela Lava-Jato a 10 anos e três meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No recurso, a defesa reclama que o juízo não permitiu acesso ao conteúdo das alegações finais dos delatores, sendo autorizada apenas a conhecer os novos documentos que foram apresentados por eles.

Na sessão de quarta-feira, ao apresentar o seu voto, o ministro Edson Fachin, relator do habeas corpus, indeferiu o recurso por entender que a definição de uma ordem para a apresentação de alegações finais não está prevista no Código de Processo Penal, na lei que disciplina as delações premiadas nem na jurisprudência do STF. Ele alertou para as repercussões que o deferimento do HC traria para todas as ações penais que tenham a figura da delação premiada.

Na continuidade da sessão, ontem, o primeiro a votar foi o ministro Alexandre de Moraes, que abriu a divergência com entendimento de que o delatado tem o direito de apresentar as alegações finais depois do delator. Ele defendeu que o processo relacionado ao HC retorne à fase de alegações finais na primeira instância, o que significaria a anulação da condenação do ex-gerente de Empreendimentos da Petrobras.

Segundo Moraes, todo delator, embora não seja assistente do Ministério Público, é “partícipe da acusação” e tem como principal interesse a condenação do corréu, sem a qual ele não receberá os benefícios previstos no acordo de colaboração premiada. “A relação entre delator e delatado é antagônica”, afirmou o ministro.

Moraes acrescentou que as alegações finais do delator não se configuram um ato de defesa, uma vez que ele já se defendeu em fase anterior ao celebrar o acordo de colaboração premiada. “O delator quer é se salvar”, disse Moraes, frisando que o corréu que não fechou acordo de delação deseja se defender.

“O devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório exigem que o delatado, assim solicitando, tenha acesso a todo o acervo probatório antes de apresentar as alegações finais”, ressaltou o ministro, destacando que, no caso relacionado ao HC em julgamento, a defesa do réu fez esse pedido.

Inexistência

Na sequência, votou o ministro Luís Roberto Barroso, seguindo o entendimento do relator, Edson Fachin, de que inexiste previsão legal a respeito da ordem de apresentação de alegações finais de delatores e delatados. Da mesma forma que o relator, ele alertou que o HC em julgamento não é um caso isolado, mas capaz de repercutir em todos os processos que tiveram o instrumento legal da delação premiada. Segundo frisou, o recurso estava sendo analisado no “contexto do esforço imenso da sociedade no combate à corrupção que devastou o país”.

Ao citar grandes escândalos de corrupção no país, como o do Banestado e o mensalão, Barroso disse que o ex-gerente de Empreendimentos da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira, autor do HC, foi condenado a 10 anos e três meses por corrupção e lavagem de dinheiro, após ter desviado R$ 37 milhões da estatal.

Barroso afirmou, também, citando trechos do processo em primeira instância, que a defesa do ex-gerente pediu e foi autorizada pelo juízo a apresentar as alegações finais após os delatores. Segundo o ministro, embora a defesa tenha recebido novo prazo, não fez qualquer manifestação. “Não falou porque não quis, não precisava e não tinha o que falar”, destacou.

Ao fim da apresentação do voto, ele disse que, se o plenário decidir criar uma norma jurídica prevendo que delatores sejam os primeiros a apresentar as alegações finais, ele poderá mudar seu voto, desde que os efeitos sejam aplicados em casos futuros, não causando a anulação de condenações anteriores.

O julgamento foi suspenso quando o placar estava 6 a 3 a favor da tese majoritária. Além de Alexandre Moraes, votaram nesse sentido os ministros Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cármen Lúcia — esta última, embora tenha votado a favor da tese, se posicionou contra o HC, por entender que o ex-gerente da Petrobras não teve violado o seu direito à ampla defesa.

Já Luiz Fux acompanhou o relator. “Há algum dispositivo no Código de Processo Penal, ou na alteração do Código de Processo Penal, ou na lei de delação premiada (...) que permite ao delatado falar depois do delator? Absolutamente não”, argumentou.

A tese vencedora do julgamento é a mesma que levou a 2ª Turma do STF, no fim de agosto, a anular a condenação, imposta pelo então juiz federal Sérgio Moro, do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendini. A sentença foi a primeira de Moro na Lava-Jato a ser derrubada pelo STF.

Como votaram

Veja como se posicionaram os ministros sobre anular a sentença
de Márcio de Almeida Ferreira. Faltam os votos de Dias Toffoli
e de Marco Aurélio Mello, que ficaram para a semana que vem

A favor     Contra

Alexandre de Moares     Edson Fachin (relator)
Rosa Weber     Luís Roberto Barroso
Cármen     Lúcia Luiz Fux
Ricardo Lewandowski
Gilmar Mendes
Celso de Mello

Caso Lula

Segundo especialistas, o entendimento a ser firmado pelo plenário do STF agora pode afetar processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o do sítio de Atibaia, mas não a condenação imposta por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Isso porque, no caso do apartamento, não havia réus com acordo de colaboração premiada homologado pela Justiça na época da condenação em primeira instância.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense quinta, 26 de setembro de 2019

BRASÍLIA SAÚDA A CHUVA: APÓS 113 DIAS, VOLTA A CHOVER NO DISTRITO FEDERAL

 

BRASÍLIA SAÚDA A CHUVA
 
Chuva volta a cair no DF
 
 
Após 113 dias de seca, brasilienses comemoraram as primeiras precipitações. Previsão é de pancadas isoladas até o fim de semana

 

Emilly Behnke
Thiago Cotrim*

Publicação: 26/09/2019 04:00

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 1,2 milímetros de chuva entre 19h e 20h de ontem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 1,2 milímetros de chuva entre 19h e 20h de ontem

 



  

"É graça de Deus uma chuva dessa", disse a cabeleireira Josefa Leite

 



Mesmo desprevenida, Flaviana de Jesus comemorou o fim da estiagem (Emilly Behnke/Esp. CB/D.A Press)  

Mesmo desprevenida, Flaviana de Jesus comemorou o fim da estiagem

 



Depois de 113 dias, a chuva voltou à capital federal. A Primavera trouxe a chuva consigo e as águas caíram em vários pontos do DF ontem. Os pingos trouxeram alívio para quem esperava sua chegada e surpresa para quem foi pego desprevenido na rua.

Quem ouviu de casa quase não acreditou. O funcionário público Carlos Wilke, 33, mora em Águas Claras e conta que começou a escutar os primeiros estalos enquanto assistia à televisão. “Eu não acreditei. Pensei que pudesse ser algum barulho vindo do vizinho de baixo, até que comecei a sentir aquele cheirinho característico de chuva”, disse.

Para quem gosta de chuva, como Josefa Leite, 57, o sentimento foi de alívio. "Estava indo para a igreja quando vi a chuva. Peguei logo o guarda-chuva", disse a moradora da Asa Norte, que não escondeu a alegria em ver o término da seca: "Pelo menos agora, a umidade vai melhorar".

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou oficialmente 1,2 milímetros de chuva no Sudoeste entre 19h e 20h. Mas, segundo o meteorologista Heráclio Alves, o instituto chegou a receber da população avisos de precipitações em Planaltina e Samambaia.

No centro de Brasília, quem estava pronto para enfrentar os pingos insistentes só agradeceu pela volta do tempo chuvoso. É caso de Lieza Santos, 56, que estava com o guarda-chuva em mãos. "Vim visitar minha mãe no Hospital de Base, mas já estava com o guarda-chuva quando começou. Sempre levo na bolsa por causa do Sol forte", disse a moradora do Varjão.

A enfermeira Flaviana de Jesus, 31, não teve a mesma sorte e foi pega desprevenida. A moradora da Asa Sul teve que esperar a chuva dar uma trégua para poder ir para casa. "Fiquei um tempão dentro do shopping esperando a chuva passar. Não estava contando com essa chuvinha. Agora o guarda-chuvas estará sempre na bolsa."

Apesar da surpresa, para ela, a chuva é muito bem-vinda. No seu dia a dia cuidando dos outros, Flaviana conta que vê de perto o efeito da secura na saúde das pessoas, principalmente em relação a doenças respiratórias. "As crianças e os idosos sofrem demais. É um período muito complicado", explicou.

Apesar da empolgação, a chuva só deve se manter até sábado, com possibilidade de trovoadas e pancadas isoladas. Depois disso a previsão é de céu limpo. “Depois do final de semana, o tempo abre novamente porque esse período de início é muito inconstante”, informou Amilton Carvalho, meteorologista do Inmet. A previsão é de que as chuvas só se regularizem a partir da segunda quinzena de outubro.

* Estagiário sob supervisão de Fernando Jordão
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 25 de setembro de 2019

PRESOS DOIS ACUSADOS DE MATAR O PADRE CASEMIRO

 

VIOLÊNCIA
 
Presos dois acusados de matar padre Casemiro
 
Outros dois suspeitos estão sendo procurados pela polícia. Depois do crime, os bandidos pularam o muro da igreja e, com mochilas cheias de produtos do roubo, fugiram usando transporte público

 

» SARAH PERES
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/09/2019 04:00

Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, não tem passagens registradas na polícia e é desempregado. Mora em Valparaíso de Goiás.


Antônio Willyan Almeida Santos, 32 anos, tem passagens na polícia (homicídio e tráfico de drogas) e é oriundo 
de Januária, Minas Gerais. (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, não tem passagens registradas na polícia e é desempregado. Mora em Valparaíso de Goiás. Antônio Willyan Almeida Santos, 32 anos, tem passagens na polícia (homicídio e tráfico de drogas) e é oriundo de Januária, Minas Gerais.

 


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Delegado Rossetto:  
%u201CEles (os bandidos) sabiam o que tinha ali 
(na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre%u201D. 
Ao lado, objetos recuperados pela polícia (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Delegado Rossetto: – Eles (os bandidos) sabiam o que tinha ali (na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre – . Ao lado, objetos recuperados pela polícia

 



Agentes da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) ainda procuram outros dois envolvidos no latrocínio — roubo seguido de morte — que vitimou o padre Kazimierz Wojno, 71 anos, mais conhecido como Casemiro. Ontem, os investigadores prenderam, em Valparaíso de Goiás, dois suspeitos, identificados como Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, e Antônio Willyan Almeida Santos, 32. Eles teriam participado do assassinato por asfixia do padre, no último sábado. Os investigadores desconfiam que o crime tenha acontecido porque o religioso teria reconhecido um dos bandidos.

Alessandro chegou algemado em um carro descaracterizado da Polícia Civil, por volta das 15h. O veículo foi escoltado por uma equipe da Divisão de Operações Especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA). Ele foi ouvido por um delegado plantonista da 2ª DP, durante a tarde de ontem. Antônio foi encontrado horas depois. Com eles, a polícia apreendeu dois notebooks e outros possíveis pertences do padre Casemiro.

A polícia chegou aos suspeitos por meio de provas científicas e técnicas obtidas pelos institutos de Identificação e de Criminalística. O crime, segundo explica o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto, à frente das investigações, envolveu requintes de crueldade. Ainda não há informações sobre o que havia no cofre, uma vez que o conteúdo não foi recuperado.

Por volta das 18h40, após Casemiro celebrar a missa das 17h de sábado na Paróquia Nossa Senhora da Saúde (702 Norte), o padre seguia para a casa paroquial, onde morava, e foi rendido e subjugado. Pouco tempo depois, José Gonzaga da Costa, 39 anos, um dos caseiros da igreja, foi rendido.
 
Crueldade
 
Os criminosos amarraram as duas vítimas nos pés e nas mãos. Gonzaga levou um soco de Alessandro e chegou a ficar sob a mira de uma arma de fogo. Enquanto isso, os criminosos se dividiram entre os dois andares da casa e aproveitaram para abrir o cofre, que fica no térreo do imóvel. O padre foi assassinado em seguida. “A forma que o arame foi passado no pescoço da vítima indica que eles apertaram muito, e não tinha como não saber que isso causaria a morte”, comentou Rossetto, ao destacar a intenção de matar o religioso.

Por volta das 21h40, câmeras de segurança das vias próximas à igreja mostram quatro homens pulando um dos muros que cercam o terreno da paróquia. Levaram todos os objetos roubados em mochilas e pegaram transporte público. À polícia, o caseiro afirmou que foi vendado e que não chegou a ver o crime, mas ouviu o momento em que o padre comentou: “Não é necessário fazer isso”. À polícia, o caseiro contou a versão de que conseguiu tirar a fita adesiva que cobria a boca e uma venda, sobre os olhos, friccionando o rosto em uma parede. Em seguida, ele se arrastou, mesmo amarrado, até a obra, onde gritou por socorro. “Ele prestou depoimento duas vezes na delegacia.

Contudo, ainda há inconsistências no relato. Para comprovar a versão, pedimos para que ele passasse por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) para constatar algum ferimento pela fricção na parede”, detalhou.
 Rossetto reafirmou a possibilidade de que o crime tenha sido premeditado. “Está claro que eles tinham todo o controle do que seria feito. A casa tem dois andares, então, eles dividiram o trabalho entre si, com dois em cada andar. Eles sabiam o que tinha ali (na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre. Os objetos (roubados) ainda não foram encontrados e esperamos que a Justiça emita mandados de busca e apreensão”, afirmou.

O investigador acrescenta que o padre costumava trabalhar em uma pequena oficina na casa; por isso, o barulho no imóvel não chamou atenção. “Alessandro admite (o crime). Só não está sendo contundente quando diz que não queria a morte do padre, mas ele estava com arma de fogo e ajudando no crime”, comentou o policial. Os agentes buscam a arma usada no crime e um dos envolvidos, considerado foragido, identificado como Daniel Souza da Cruz, 29.

Rossetto esclarece que ainda procuram informações para chegar ao quarto envolvido no esquema. “Em depoimento, o Alessandro disse que não conhecia o ‘de menor’. Ou seja, consideramos, em primeiro momento, que se trate de um adolescente”, finalizou.


Sobre o crime

» Estimativa é de que ocorreu entre as 18h40 e as 20h40, pois, antes disso, o padre celebrou a missa e esteve com fiéis.
 
» Após o fim da missa, o religioso retornou à casa, mas, próximo dali, havia uma obra, onde teria sido rendido e subjugado.
 
» Pouco tempo depois, os criminosos fizeram uma segunda vítima, um caseiro da igreja que mora lá há mais 
de 20 anos. Ambas as vítimas foram amarradas nos pés e nas mãos.
 
» No caso do padre, teve requintes de crueldade, pois passaram arame liso no pescoço (usado em construção)
 
» Um dos bandidos foi muito violento, estava usando um revólver na hora do crime e também luvas.

» Ele deu um soco na boca do 
segundo caseiro, que confirmou ter ficado na mira de uma arma 
de fogo durante todo o crime.
 
» Após 21h40, os autores do crime deixam a casa e o terreno da igreja e pulam o muro que circunda a igreja (apesar das imagens ruins, 
quatro pessoas são vistas).
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense terça, 24 de setembro de 2019

FIFA THE BEST: POLITICAMENTE CORRETO

FIFA THE BEST

Politicamente correto

Inclusão da pessoa com deficiência, ativismo LGBT, racismo e fair play: como os temas da festa de gala podem ter ajudado a entidade máxima do futebol a minimizar a imagem manchada por denúncias de corrupção

 

MARCOS PAULO LIMA
MAÍRA NUNES

Publicação: 24/09/2019 04:00

 


A cerimônia de gala da Fifa, ontem, no Teatro alla Scala, em Milão, na Itália, pode ser interpretada como o dia em que a entidade máxima do futebol soube aproveitar a diversidade de discursos em causa própria na tentativa de entregar à comunidade da bola e ao mundo a imagem de uma organização politicamente correta.

Manchada por denúncias recentes de corrupção na operação Fifagate, deflagrada em maio de 2015 pelo FBI, a dona da festa celebrou a inclusão social ao premiar a mãe de um torcedor deficiente visual; consagrou uma ativista LGBT melhor jogadora do mundo; e se rendeu ao Fair Play (jogo limpo) de um técnico apelidado de louco.

Houve ainda quebra de paradigmas e restauração da ordem. Alisson se tornou o primeiro goleiro brasileiro eleito número 1 na posição. Lionel Messi faturou o prêmio de craque do ano pela sexta vez com 46 pontos. Desbancou o holandês Virgil van Dijk (38) e o português Cristiano Ronaldo (36).

Mãe do deficiente visual Nickollas , de 11 anos, a brasileira Silvia Grecco recebeu o prêmio entregue ao torcedor do ano. Uma reportagem do jornalista Marco Aurélio Souza do grupo Globo mostrou a dedicação dela para narrar jogos de futebol para o filho. A matéria viralizou e emocionou a plateia em Milão. “Nikollas, aqui na frente estão muitas pessoas, muitos jogadores, muitos ídolos, estamos aqui representando nosso time, Palmeiras, e todos os torcedores do Brasil e do mundo, todos aqueles que torcem pela pessoa com deficiência. O simples gesto de narrar os jogos para o meu filho pode transformar a vida dessas pessoas”, discursou.

Decisiva no título dos Estados Unidos na Copa do Mundo feminina deste ano, na França, a ativista LGBT Megan Rapinoe, 34 anos, conquistou o prêmio de melhor do mundo com a bola nos pés e força do discurso. Fora dos gramados, foi protagonista de discursos pela igualdade entre homens e mulheres, ressaltou a luta contra o racismo e, claro, manteve o empenho pelos direitos LGBT. Não colocou a mão no peito ou cantou o hino norte-americano no Munial e disse que, em caso de título, não iria à Casa Branca encontrar o presidente Donald Trump.

“Uma das histórias que me inspirou muito esse ano foi a de Raheem Sterling (do Manchester City) e de Kalidou Koulibaly (senegalês do Napoli), que fizeram grandes performances em campo, mas pela maneira como discutiram o racismo”, discursou ao receber o troféu. E encerrou com um convite: “Temos a oportunidade de usar esse jogo lindo para realmente mudar o mundo para melhor, temos um poder incrível nesta sala”.

“El Loco”

Escolhidos a dedo pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, o Leeds United e o técnico argentino Marcelo “El Loco” Bielsa faturaram o prêmio Fair Play graças a um gesto surpreendente. O treinador mandou o time deixar que o Aston Villa marcasse o gol de empate em uma partida na qual anteriormente a equipe dele havia aberto o placar enquanto um jogador adversário estava lesionado em campo. Na ocasião, o Leeds precisava ganhar para subir à elite do Campeonato Inglês. Por causa do empate por 1 x 1 no confronto direto, o Villa se credenciou para jogar a Premier League na temporada 2019/20. O Leeds permaneceu na segunda divisão.

Melhor do mundo pela sexta vez, Messi igualou o recorde da rainha Marta e homenageou a família. “Eu sempre digo que o prêmio individual é secundário, o mais importante é o coletivo. Mas hoje é especial para mim, tive a oportunidade de estar ao lado da minha mulher e de dois dos meus três filhos. Vê-los aqui não tem preço.

O brasileiro Alisson falou sobre a conquista inédita na carreira. “Ser o melhor goleiro do mundo é incrível. Acredito que tem muito mais por vir ainda”, disse o titular do Liverpool e da Seleção ao SporTV.


 (Fotos: Marco Bertorello/AFP)  

“Estamos aqui representando todos aqueles que torcem pela pessoa com deficiência. O futebol pode transformar a vida dessas pessoas com o simples gesto de narrar os jogos para o meu filho”
Silvia Grecco, mãe de Nickollas, eleitos torcedores do ano



 

“Esse prêmio representa tudo o que eu trabalhei até chegar aqui. Gostaria de agradecer especialmente à
minha esposa, minha filha, meu filho recém-nascido, meus pais, por estar aqui, recebendo esse prêmio das mãos de uma grande brasileira, a Rainha Marta”

Alisson, melhor goleiro



 

“Se todo mundo se posicionasse contra o racismo, contra a homofobia no futebol...  Temos a oportunidade de usar esse jogo lindo para realmente mudar esse mundo para melhor”
Megan Rapinoe, melhor do mundo



 

“Eu sempre digo que o prêmio individual é secundário, o mais importante é o coletivo. Mas hoje (ontem) é especial para mim, tive a oportunidade de estar ao lado da minha mulher e de dois dos meus três filhos. O Thiago já veio aqui, mas era muito pequeno, hoje, vê-los ali não tem preço. São dois apaixonados por futebol e estão adorando tantos jogadores aqui”

Lionel Messi, seis vezes melhor do mundo



 

“Há 10, 20 anos, eu não poderia imaginar estar aqui. (O Liverpool) é um time incrível, meu objetivo foi conquistado, mas tenho que agradecer ao meu time. Como técnico, você só pode ser tão bom quanto o seu time”

Jürgen Klopp, melhor treinador do mundo



Vencedores

Masculino

» Melhor jogador
Lionel Messi (Barcelona – Argentina)

» Melhor goleiro
Alisson (Liverpool – Brasil)

» Melhor treinador
Jurgen Klopp (Liverpool – Alemanha)

» Puskás
Dániel Zsóri (Debrecen – Hungria)

Feminino

» Melhor jogadora

Megan Rapinoe (Reign – EUA)

» Melhor goleira
Sari van Veenendaal (Arsenal/Atlético de Madrid – Holanda)

» Melhor treinador
Jill Ellis (Estados Unidos)

Torcedores do ano
Silvia Grecco e Nickollas (Brasil)

Fair Play
Marcelo Bielsa (Leeds-Argentina)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 23 de setembro de 2019

PADRE CASEMIRO: MORTE DEVE TER SIDO PREMEDITADA

 

Morte de Casemiro deve ter sido premeditada
 
 
Essa é a hipótese mais cogitada pela polícia. O assassinato do padre da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, chocou a comunidade. Religioso foi emboscado e estrangulado por bandidos. Velório e sepultamento serão hoje

 

» EMILLY BEHNKE
» WALDER GALVÃO

Publicação: 23/09/2019 04:00

Corpo do sacerdote foi encontrado perto da casa paroquial que está em obras (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Corpo do sacerdote foi encontrado perto da casa paroquial, que está em obras

 

A Polícia Civil acredita que a morte do padre Kazimierz Wojno, 71 anos, conhecido como Casemiro, tenha sido premeditada. Ao menos quatro pessoas participaram do latrocínio (roubo seguido de morte) do religioso. Articulados, os criminosos montaram uma emboscada para o sacerdote e o abordaram após a missa de sábado, na Paróquia Nossa Senhora da Saúde,  na 702 Norte. Ontem, investigadores da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) interrogaram possíveis suspeitos de terem cometido o crime.
 
Os homens abordaram o padre próximo à casa paroquial, que está em obras, ao lado da residência dele. Em seguida, renderam e amarraram um funcionário da paróquia, José Gonzaga da Costa, 39. Cerca de duas horas depois, ele conseguiu se libertar e acionar outros trabalhadores do templo, fazendo com que os bandidos fugissem com alguns itens de valor, segundo a apuração preliminar dos investigadores.

 

"Foi um crime cruel. Não havia a menor necessidade de ceifar a vida dele. Poderiam tê-lo prendido em um cômodo"

Laércio Rossetto, delegado

 

O padre foi encontrado morto, com arames no pescoço e pés e mãos amarrados. Laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) indica que o religioso morreu por estrangulamento. Os policiais acreditam que os suspeitos sabiam da existência dos itens de valor do templo, inclusive de um cofre que o sacerdote mantinha em casa, que foi arrombado com uma barra de metal. Havia muitas ferramentas no local, por causa da reforma; então, existe a hipótese de os bandidos terem aproveitado equipamentos que estavam lá.
 
“Trabalhamos com a hipótese de que eles (os criminosos) tinham informações privilegiadas. Tudo isso vai ser levado em consideração para configurarmos suspeitos. Acreditamos que eles conheciam a rotina da vítima”, informou o delegado à frente do caso, Laércio Rossetto. Para o policial, os criminosos foram à paróquia com a intenção de cometer o assassinato. “Foi um crime cruel. Não havia a menor necessidade de ceifar a vida dele. Poderiam tê-lo prendido em um cômodo”, por exemplo”, frisou.

Tristeza e pesar eram nítidos nos fiéis que compareceram à igreja ontem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Tristeza e pesar eram nítidos nos fiéis que compareceram à igreja ontem

 

O funcionário da igreja sofreu escoriações nos braços e nas mãos e precisou ser levado ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Durante a manhã de ontem, ele auxiliou os agentes na perícia, indicando como ocorreu a dinâmica do crime. “Interrogamos testemunhas e possíveis suspeitos. Também tivemos acesso a imagens que mostram os criminosos deixando o local”, ressaltou o delegado.

Padre Casemiro era conhecido pelo gênio forte e pelo sotaque
 (Paróquia Nossa Senhora da Saúde/Reprodução)  

Padre Casemiro era conhecido pelo gênio forte e pelo sotaque

 

Violência
Esta não é a primeira violação à Paróquia Nossa Senhora da Saúde: em abril deste ano, a igreja foi invadida. No domingo de Páscoa, o sacrário da casa, estimado em cerca de R$ 20 mil, foi furtado e encontrado três dias depois sendo negociado em um ferro-velho em Samambaia. Os policiais ainda não conseguiram estabelecer ligação entre os crimes. Entretanto, não descartam nenhuma possibilidade. Segundo a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, foram registrados 163 furtos a templos religiosos neste ano, 8,7% a mais do que em 2018.
 
Ao Correio, fiéis contaram que, na missa de sexta-feira (20/9), o padre comentou a violência. “A área está muito perigosa. Temos diversos relatos de furto de veículos durante as missas ou casamentos. Precisou acontecer uma tragédia para todos darem atenção”, reclamou um frequentador do templo religioso, que preferiu não se identificar.
 
Desde a noite do latrocínio, equipes da Polícia Civil estão na rua para tentar prender os responsáveis. “O esforço é grande para elucidar esse crime. Temos a área criminalística, peritos e agentes trabalhando nesse caso e fazendo varreduras”, garantiu Rossetto.
 
 
 
Despedida
 
Sacerdotes da Igreja Católica se mobilizam para realizar o sepultamento do padre Casemiro. A maior dificuldade foi entrar em contato com parentes da vítima, que moram na Polônia. “Este ano, familiares vieram visitá-lo. Por causa dessa proximidade, não podíamos tomar qualquer decisão antes de consultá-los”, explicou o padre João Firmino, colega de Casemiro. O corpo foi liberado pelo IML (Instituto Médico Legal) na noite de ontem. A Embaixada da Polônia auxiliou a localizar a família. Após contato com parentes, o velório e o sepultamento do padre ficaram marcados para hoje. Confira a programação:
 
» Das 8h às 8h30: chegada à paróquia para o velório
» Às 10h: missa do clero
» Às 14h: missa celebrada por Dom Sérgio, arcebispo metropolitano de Brasília
» Às 15h: encomendação do corpo
» Às 16h: saída para o Cemitério Campo da Esperança
» Das 16h30 às 17h: sepultamento.
 
 
 
Perfil


O padre João Firmino (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O padre João Firmino

 

A fiel Ceoliles Gaio, aposentada (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A fiel Ceoliles Gaio, aposentada

 

Casemiro ajudou a construir a igreja (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Casemiro ajudou a construir a igreja

 

Apaixonado por construção
 
Padre Casemiro dedicou 46 anos ao sacerdócio, tendo começado a vida missionária ainda na Polônia. Ontem, pelo menos 17 portais de notícias poloneses repercutiram o assassinato do padre no Brasil. Infelizmente, o fim da vida dele fica marcado pela violência brutal; no entanto, o sacerdote deixa muitas outras lembraças. Quando não estava de batina, era quase irreconhecível. Após os cultos, trocava o traje religioso e passava a usar bermuda, camiseta, sandália e chapelão de palha. Apaixonado por construção civil, a vestimenta simples era usada nas intermináveis obras da paróquia, das quais ele fazia questão de participar.
 
“Não tem uma pedra de mármore da igreja que ele não tenha cortado”, contou a fiel Marlene Barroso, 77 anos. O religioso nasceu na vila Skody Borowe, na cidade polonesa de Lomza, e chegou ao Distrito Federal em 1984 por uma missão religiosa. À época, as missas na 702 Norte eram celebradas no galpão de uma escola particular localizada ao lado da atual Paróquia Nossa Senhora da Saúde. Pedreiro habilidoso, ele decidiu erguer um templo. Com ajuda de alguns fiéis, começou as obras, que logo foram concluídas. “Ele era engenheiro, construtor e eletricista. Se tem uma coisa de que não gostava, era de ficar parado”, lembrou Marlene.
 
Segundo os fiéis, o gosto pela construção fez com que o padre montasse uma oficina perto da igreja. Era comum encontrar o padre de bermuda, sujo e de chapéu “colocando a mão na massa”. A mulher detalhou que o sacerdote chegou ao DF no mesmo ano que ela. “Sou do Rio de Janeiro e vim morar na capital. Lembro que, naquele mesmo ano, o padre foi designado para a paróquia daqui”, disse, emocionada. Para ela, Casemiro deixou uma mensagem de fé é muito amor pela comunidade.
 
Construtor habilidoso
Além da paixão pelas obras da paróquia, o padre era muito conhecido por outra característica: o sotaque. Fiéis relatam que, com o passar dos anos, ele melhorou a pronúncia do português, mas os cultos ministrados com um toque polonês tinham um charme a mais. O pároco tinha ainda outra paixão: a fotografia. “Ele fazia muitos trabalhos para a Cúria (a sede da Arquidiocese de Brasília)”, disse Ceoliles Gaio, 71.
 
A aposentada chamou atenção  para o gênio forte de Casemiro, um traço de sua origem polonesa. “Não era muito fácil socializar com ele”, comentou. “Ele era uma pessoa muito severa em relação à religião e às tradições. Valorizava o que era importante”, afirmou a moradora da Asa Norte. O apreço pelos costumes religiosos também se refletia na dedicação do padre Casemiro com os jovens. Trabalhou por anos no movimento jovem Segue-me (Encontro de Jovens com Cristo).
 
Apesar do “jeitão duro”, Kazimierz era muito querido por toda a comunidade, de acordo com João Firmino, coordenador de Comunicação da Arquidiocese de Brasília. “O padre Casemiro era muito antigo aqui na paróquia e muito querido também. Era um padre bruto, forte e ficamos imaginando o que pode ter acontecido”, afirmou o religioso.
 
Ontem, a Arquidiocese de Brasília manifestou pesar pela perda do sacerdote e afirmou que está acompanhando a apuração do caso. “Rezemos por sua alma, sua família e sua comunidade paroquial”, destacou o texto. A Comissão Justiça e Paz de Brasília, entidade ligada à Igreja Católica, também publicou nota sobre o ocorrido: “Padre Casimiro é semente, ele permanece entre nós, seu ministério, seus valores, seu serviço pastoral. Como semente renasce, frutifica como exemplo, nos ensina a ser cristãos em tempos conturbados”.
 
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Correio Braziliense domingo, 22 de setembro de 2019

ELZA SOARES: COM FOME DE SAÚDE, DE RESPEITO E DE CULTURA

 

Com fome de saúde, de respeito e de culturaElza
 
 
Soares se referencia para explicar o Brasil de hoje. Assim surge Planeta fome, álbum em que a artista canta o momento político-social do país com toque otimista

 

Adriana Izel

Publicação: 22/09/2019 04:00

Elza Soares canta sobre as mazelas e controvérsias do Brasil em Planeta fome (Marcos Hermes/Divulgação)  

Elza Soares canta sobre as mazelas e controvérsias do Brasil em Planeta fome

 

 
 
O ano era 1953. Elza Soares aparecia pela primeira vez para uma apresentação ao vivo no concurso de música do programa de Ary Barroso, da Rádio Tupi. Ela foi abordada pelo apresentador com o questionamento irônico: “De que planeta você veio?”. A resposta logo se tornou emblemática para a trajetória da carioca: “Vim do mesmo planeta que o senhor. Do Planeta fome”.
 
Mais de 60 anos depois, a artista busca referência no fato para explicar o Brasil, que é cantado no mais recente álbum, Planeta fome, lançado no último dia 13. “É porque a gente está com muita fome”, diz Elza ao Correio ao explicar o motivo da escolha do título. “Estou com fome de saúde, de respeito, de cultura. Estamos vivendo um momento de saudade. O Brasil, que é um país tão acolhedor, hoje está encolhido. Eu não entendo isso. Então, estamos vivendo um momento de muita fome”, diz.
 
A partir dessa fome, a cantora buscou o repertório de 12 faixas, que é formado por canções inéditas e algumas regravações. “O repertório é todo meu. Escolhi a dedo. As músicas são todas atualizadas com o hoje. Elas são feitas para o hoje. Até aquelas que foram feitas ontem, elas podem ser cantadas hoje. Minha preocupação era essa. Encontrar músicas que relatassem o hoje, não me importava muito quando elas tinham sido feitas”. Assim chegou até clássicos como Comportamento geral — a primeira do CD a ganhar um clipe lançado na última quinta-feira em que Elza está num cenário apocalíptico ao melhor estilo do filme Mad Max — e Pequena memória pra um tempo sem memória, ambas de Gonzaguinha, e Tradição, de Sergio Britto e Paulo Miklos, dos Titãs, que ganharam nova roupagem e a marcante voz de Elza Soares.
 
Entre as inéditas, todas canções que são a cara da artista, com um discurso forte, social e político e, ao mesmo tempo, otimista. Para mostrar isso, Elza começa o álbum com Libertação, escrita por Russo Passapusso, do BaianaSystem, e com participação de Virginia Rodrigues, em que manda logo o recado: “Eu não vou sucumbir/ Eu não vou sucumbir/ Avisa na hora que tremer o chão/ Amiga é agora segura a minha mão”. Depois logo emenda a curtinha, de apenas 46 segundos, Menino, um recado as crianças: “Sei que é muito triste não ter casa, não ter pão/ Não te leva a nada destruir seu irmão/ Você representa o futuro da nação.”
 
A terceira faixa é Brasis, música que, segundo Elza, define exatamente o Brasil atual e o tom do disco. “O Brasil que eu vejo é esse do Brasis que estou cantando. É o Brasil ao contrário. Parece que são dois Brasis num Brasil só”, analisa. Na canção escrita por Seu Jorge, Gabriel Moura e Jovi Joviniano, a artista mostra o Brasil de contradições, que ao mesmo tempo que é próspero, também não o é. As terras tupiniquins são ainda tema de Blá blá blá (Gabriel Contino, DJ Meme e Andre Gomes), com BNegão e Pedro Loureiro, e que faz referências a discursos atuais como o “terraplanismo”, e País do sonho (Chapinha da Vela e Carlinho Palhano), que mostra a busca da cantora por um país com saúde, educação e sem corrupção.
 
Em ambas, Elza toca na ferida, mas se mostra otimista, algo que ela diz ser essencial no momento vivido, e faz questão de reforçar em Planeta fome. “Lógico, temos que ser otimistas. Falei outro dia que o Brasil está vivendo um momento de gripe. Está gripado, e a medicação é o povo. Temos que dar esse remedinho logo para não deixar virar uma pneumonia. É só uma gripe. Eu preciso cantar num país onde a saúde não esteja doente”, afirma, citando trecho de País de sonho.
 
Cenário apocalíptico faz parte do primeiro clipe do disco lançado na última quinta-feira (Marcos Hermes/Divulgação)  

Cenário apocalíptico faz parte do primeiro clipe do disco lançado na última quinta-feira

 

 
Discurso
 
Em Planeta fome, a artista volta a se referenciar, aqui de forma atualizada. Elza Soares renova o discurso de A carne, no disco Do cóccix até o pescoço de 2002, em Não tá mais de graça, composta por Rafael Mike, que também divide os vocais com a cantora. “Há 17 anos cantei que a carne negra era a mais barata. Hoje não é mais. Hoje o que não valia nada, agora vale uma tonelada”, diz.
 
Em Virei o jogo (Pedro Luis), a artista faz o que fez muito bem em Deus é mulher (2018), canta uma espécie de biografia feminista. “Nunca arreguei/ Quando tropecei sempre me ergui/ Já quebrei a cara/ Enfrentei as feras, nunca me rendi”. Já em Não recomendado, de Caio Prado, Elza fala do preconceito e do aumento do conservadorismo: “A placa de censura no meu rosto diz, não recomendado a sociedade”.
 
No meio de tantos discursos há um momento para leveza, que ocorre no meio do disco em Lírio rosa. Escrita por Pedro Loureiro e Luciano Mello, a faixa é romântica e está em Planeta fome exatamente para um momento de quebra. “Ela te dá uma descansada. É aquela coisa bem branda, uma coisa linda, maravilhosa”, classifica.
 
Diferentemente de A mulher do fim do mundo (2015) e Deus é mulher (2018), que tiveram produção de Guilherme Kastrup, Planeta fome, 34º disco da carreira, contou com produção de Rafael Ramos, que já havia trabalhado com Pitty, Titãs, Ultraje a Rigor e Capital Inicial. Isso faz com que o material tenha algumas diferenças. Além da mensagem, aqui mais política e social, há uma sonoridade mais percussiva, também influência da presença do BaianaSystem, batidas eletrônicas e guitarras sujas. “A gente deu sorte. Dei muita sorte. Calhou e aconteceu que deu tudo certo. Trabalhar com o Rafael Ramos foi muito bom. Ele é maravilhoso”, defende.
 
Outra novidade é a arte da cartunista Laerte na capa de Planeta fome. A ilustração é surrealista e traz a imagem de um planeta populoso, poluído e com referências às origens da cantora, nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro.
 
Assim como em Deus é mulher, Elza Soares sairá logo em turnê do disco. O primeiro show será no Rock in Rio, onde será homenageada em 29 de setembro no Palco Sunset na apresentação intitulada Elza Soares convida com As Bahias e a Cozinha Mineira, Kell Smith e Jéssica Ellen. Depois, a cantora deve rodar o Brasil.
 
 
 
 
Planeta fome
De Elza Soares. Deck, 12 músicas. Disponível nas plataformas digitais.
 
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Correio Braziliense sábado, 21 de setembro de 2019

PAULINHO DA VIOLA: EM NOME DO PAI E DOS FILHOS

 

Paulinho da Viola: em nome do pai e dos filhos
 
O sambista chega à cidade para celebrar o centenário do pai e violonista, César Faria, com participação de dois dos rebentos no palco

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 21/09/2019 04:00

Reverência e celebração. Em Na Madrugada, o show que faz hoje, às 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Paulinho da Viola dedica ao pai e violonista César Faria, que completaria 100 anos em 2019; e ao parceiro e amigo Elton Medeiros, morto no dia 4 último. Ele aproveita também para comemorar os 50 anos de lançamento de dois clássicos de sua obra, os sambas Sinal fechado e Foi um rio que passou em minha vida. Com esta apresentação em Brasília, o cantor e compositor carioca, um dos ícones da música popular brasileira, dá sequência à turnê iniciada há um ano na casa de espetáculos Vivo Rio, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Ele tem a companhia da banda formada por João Rabello (violão), Dininho Silva (baixo), Adriano Souza (piano), Mário Sève (sopros), Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva, Esguleba e Hércules Nunes (percussão). Ha, ainda, a participação da cantora Beatriz Rabello, filha de Paulinho, nascida em Brasília. No roteiro do show, embora tenham sido incluídas músicas menos conhecidas, entre as quais O tímido e a manequim, Ruas que sonhei e Vela no breu;  predominam sambas consagrados da obra de Paulinho, como Coração leviano, Dança da solidão, Eu canto samba, Onde a dor não tem razão, Recomeçar, Timoneiro, além, é claro, as citadas Sinal fechado e o hino portelense Foi um rio que passou em minha vida.
 
 
 
Na Madrugada
Show de Paulinho da Viola e banda, com a participação de Beatriz Faria, hoje, às 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ R$ 80 (superior), R$ 100 (especial), R$ 140 (vip), R$ 160 (gold) – valores referentes a meia entrada. Assinante do Correio tem 60% de desconto na compra até dois ingressos de inteira. Ponto de venda: Brasília Shopping (segundo subsolo). Não recomendado para menores de 14 anos.
 
 
 
Entrevista
 
De onde surgiu Na madrugada, o nome do show?
Quando estava para estrear novo show, em setembro do ano passado, me lembrei de um LP que havia gravado com o Elton Medeiros, em 1968, cujo título era Samba na madrugada; nome também de um samba que fiz em parceria com o Candeia. Era um disco despretensioso, mas que obteve boa repercussão. Aí, decidi tirar dali o nome do show. O Elton ainda estava vivo, embora doente. Num processo progressivo, ele havia perdido a visão, se locomovia com dificuldade e vivia, triste, acompanhado de uma cuidadora. Fiz vários sambas com ele. O que se tornou mais conhecido foi Quando a dor não tem razão.
 
 
A estreia foi no Rio de Janeiro?
Primeiro, fiz uma apresentação em São Paulo, para testar o repertório, o formato do show. Aí, convidei Isaias Bueno e outro dois chorões paulistanos que haviam sido amigos do meu pai para fazer uma participação. Mas a estreia do show foi no Vivo Rio, tendo meu pai como homenageado.
 
 
Neste ano, caso estivesse vivo, o mestre César Faria completaria 100 anos. Você antecipou a celebração?
Mesmo ausente, ele está sempre presente nos meus shows, pois durante muito tempo fez parte do grupo que me acompanha. Agora, estamos celebrando o centenário dele. Foi um grande violonista e um dos fundadores do regional Época de Ouro, criado pelo Jacob do Bandolim. Meu filho João Rabello o substituiu, tocando o violão de seis cordas.
 
 
Como é a participação da cantora Beatriz Rabello?
A Beatriz, uma das minhas filhas, é cantora e participou de vários musicais. Em 2017, ela lançou o CD Bloco do amor, nome também de um samba, composto por mim, especialmente para esse trabalho. Em agosto do ano passado, fiz um show com ela em Brasília, pelo projeto Noite Cultural T-Bone, que reuniu muita gente.
 
 
Em 2019, faz 50 anos de dois clássicos de sua obra, sambas com diferentes estruturas, Sinal fechado e Foi um rio que passou em minha vida. Você previa que fariam sucesso quando os lançou?
Ambos foram lançados em 1969 e se tornaram conhecidos ao participar de dois festivais. Sinal fechado, do último festival promovido pela TV Record. Foi um rio que passou em minha vida se destacou no festival da TV Tupi, com direção de Fernando Faro. Gravei os dois sambas num compacto, mas Sinal fechado não chegou a fazer sucesso de imediato. No carnaval de 1970, Seu Natal, patrono da Portela, chegou para mim e disse que Foi um rio seria cantada na concentração, antes do desfile da escola, na Avenida Presidente Vargas. Quando vi aquilo, me emocionei muito. No mesmo ano, durante o carnaval, tive outra grande emoção. Estava na Cinelândia aguardando, com meus filhos, a passagem de um bloco de sujo. Quando o bloco, vindo do Theatro Municpal, se aproximou de onde estávamos, em frente ao Cine Odeon, fiquei impressionado, pois todos os integrantes cantavam Foi um rio que passou em minha, que é um samba de letra extensa, por inteiro.
 
 
Como torcedor do Vasco da Gama, ainda mantém o hábito de assistir a jogos do time?
O Vasco faz uma campanha muito irregular no Campeonato Brasileiro, mas vejo pela tevê todos os jogos. Há algum tempo, quando o time estava ameaçado de cair para a segunda divisão, liguei para o Aldir Blanc, outro vascaíno fanático, e fiz esta mesma pergunta para ele. O Aldir disse que havia deixado de assistir aos jogos, pois estava passando mal. Ultimamente não me sinto confortável vendo o Vasco jogar, mas não deixo de assistir.
 
 
 (Maristela Martins/Divulgação)  
 
Filho e neto de peixe
Músico desde a adolescência, João Rabello, filho de Paulinho da Viola e neto de César Faria, teve como principal referência, ao iniciar a carreira artística, Raphael Rabello, depois de ouvir o disco Relendo Dilermando Reis, gravado pelo tio. Agustin Barrios é outro violonista que o influenciou. Quando passou a integrar a banda que acompanha o pai, o avô ainda estava vivo. “Aos 11 anos, quando ia à casa do meu avô, me chamava a atenção o fato de ele deixar o violão sempre sobre o sofá e ao meu alcance”, lembra. João lançou dois discos solo: Roendo as unhas (2008) e Uma pausa de mil compassos (2012), ambos com temas autorais do violonista. Embora invista em trabalhos individuais, é ao se apresentar acompanhando o pai que seu virtuosismo instrumental tem sido apreciado por um maior número de pessoas. “Comecei no violão como solista, mas foi tocando em banda, como acompanhante, me enriqueceu musicalmente”, afirma.
 
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Correio Braziliense sexta, 20 de setembro de 2019

RECORDE DE CALOR NO ANO CHEGA A 35,7 GRAUS C

 

Recorde de calor no ano chega a 35,7ºC
 
 
Há 109 dias sem chuva, o Distrito Federal enfrenta período com série de temperaturas altas e baixa umidade do ar. Na próxima semana, quando começa a primavera, há possibilidade de precipitações na capital, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

 

» Mariana Machado
» Geovana Oliveira*
» Thais Umbelino*
» Thiago Cotrim*

Publicação: 20/09/2019 04:00

 

"Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar" Thássya Silva, com a amiga Jeniffer Moreira

 

 
Sol a pino e nenhuma nuvem no céu. A imagem, combinada com a baixa umidade, tem sido a realidade dos brasilienses. O Distrito Federal completa hoje 109 dias sem chuvas e, na tarde de ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou o dia mais quente do ano na capital, quando os termômetros chegaram aos 35,7ºC no Gama — no Plano Piloto, a temperatura chegou a 34,1ºC (veja Dia quente). O meteorologista Olívio Bahia explica que, com a aproximação da primavera — a nova estação começa em 23 de setembro —, o Sol passa do Hemisfério Norte ao Sul, ficando diretamente sobre a linha do Equador. “A gente recebe muita radiação solar e, como não há nuvens, ela chega diretamente na superfície terrestre, sem filtros, e reaquece o ar”, explica.

De acordo com o especialista, há chances de chuva para a próxima semana “A umidade até tem subido, mas, mesmo quando alcança os 18%, a gente não sente, porque as temperaturas estão muito altas. Isso pode mudar a partir do dia 24”, avalia. Até lá, a população precisa recorrer a alternativas para para aguentar a estiagem (leia Cuidados com a saúde).

No caso da estudante Jeniffer Moreira, 18 anos, água de coco e açaí são uma boa saída. Ontem, ela e duas amigas reuniram-se em um quiosque do Parque da Cidade para se refrescar. “Está péssimo, mas eu acho que passei mais calor em Brasília em outras vezes”, pondera. O trio estuda em Taguatinga e, depois da aula, pegou um ônibus até o Centro de Convenções Ulysses Guimarães para participar de um evento. “Quando saímos, sentimos aquele mormaço e precisamos vir tomar alguma coisa”, conta Andreza Siqueira, 17 anos.

Elas contam que, na hora de enfrentar as altas temperaturas, vale tomar dois banhos e até deitar no chão para se resfriar. “Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar. O nariz parece que vai sangrar, e a cabeça dói”, reclama a estudante Thássya Silva, 16. As jovens mal podem esperar pela volta do tempo frio. “A paisagem está amarelada e, a toda hora, tem uma nova queimada”, destaca Thássya.

Mas o clima não desanima quem gosta de fazer exercícios. Sonhando em emagrecer antes do início do verão, a bancária Gisele Lima, 36, mantém a disciplina de um atleta e, pelo menos três vezes por semana, calça o tênis e corre 5km. “Nessa época, tem de ter boa vontade, tomar coragem e ir mesmo”, afirma. “Neste ano, o calor está castigando mais do que o normal”, avalia.

Desde o início da seca, o pôr do sol na capital federal rende belas imagens, como essa na Torre de TV (Ed Alves/CB/D.A Press - 5/9/19)  

Desde o início da seca, o pôr do sol na capital federal rende belas imagens, como essa na Torre de TV

 



Proteção
 
Para fugir do Sol, há quem recorra às sombras das árvores e a chapéus. Aqueles que trabalham na rua tomam ainda mais cuidado. Maria dos Anjos, 60, vendedora ambulante há 19, é uma delas. “A gente tenta se proteger com filtro solar, guarda-sol e boné. Venho sempre com calça e blusa comprida, mas ainda não é suficiente”, lamenta. Dormir também não tem sido fácil. “À noite, só com ventilador ligado. Apenas a janela aberta não resolve”, reclama.

Gil Rodrigues de Araújo, 66, vende estatuetas na Praça dos Três Poderes. Na profissão de ambulante há 20 anos, ele ressalta a importância da hidratação. “Eu bebo 2 litros de água só pela manhã e bebo ainda mais à noite. E sempre reforço com meus colegas a importância da água.” Ele acredita que, a cada ano, a cidade fica mais quente. “Brasília não era assim”, diz.
 
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Correio Braziliense quinta, 19 de setembro de 2019

FERNANDO CÉSAR: EXCELÊNCIA DO CHORINHO

 

Excelência do chorinho
 
Show de Fernando César, um dos instrumentistas mais talentosos do DF, destaca a importância dos grandes mestres do gênero

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 19/09/2019 04:00

Na década de 1980, os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, ainda crianças, flertaram com o rock. Mas, influenciados pelo pai, o violonista José Américo, tornaram-se chorões e formaram o grupo Dois de Ouro — nome dado pelo saudoso Pernambuco do Pandeiro. Lançaram dois discos.
 
Tempos depois, Hamilton, bandolinista consagrado, incorporou a linguagem do jazz ao seu trabalho. O sete cordas César, porém, manteve irrestrita fidelidade ao choro, tido pelos historiadores como a gênese da música popular brasileira. Em 2016, comemorando 35 anos de música, lançou o ótimo CD Tudo novamente e, para divulgá-lo, fez uma série de apresentações em turnê por Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Araras (SP) e Goiânia.
 
O título do show dessa turnê, No tempo dos regionais, remete à tradicional formação, que acompanhava os mestres do chorinho. O regional mais conhecido foi o Época de Ouro — que se mantém em atividade —, criado por Jacob do Bandolim. Aliás, desde então, Fernando César passou a ter um regional ao seu lado no palco.
 
Sem ser passadista, o violonista sempre encontra um motivo para reverenciar os músicos e compositores da velha guarda que têm nome inscrito na história do choro. Isso volta a acontecer no show Em festa, que ele faz hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro, quando revisita a obra de Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto Medeiros e Avena de Castro.
 
Ele tem a companhia do regional formado por Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Luiz Ungarelli (pandeiro), Thanise Silva (flauta) e Bruno Patrício (saxofone). Há, ainda, a participação de dois convidados especiais, o trombonista Daniel Rodrigues e Eduardo Belo, contrabaixista brasiliense radicado em Nova York.
 
Em quase quatro décadas de carreira, Fernando César, ex-estudante da Escola de Música, ex-coordenador da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello (desde 2001 é professor de violão dessa instituição), fez parte de grupos como Choro & Companhia e Aquattro, com o qual gravou o CD dedicado à obra do bandolinista pernambucano Luperce Miranda. O primeiro álbum solo, de 2010, foi o 3 por 4, com repertório de valsas. Frequentemente, o músico ministra oficinas de violão e prática de conjunto.
 
Atualmente, o violonista integra o Choro Livre, grupo liderado por Reco do Bandolim que tem feito constantes turnês pelo exterior. Em projetos do Clube do Choro, tocou com renomados instrumentistas brasileiros, entre os quais Hermeto Pascoal, Sivuca, Dominguinhos, Altamiro Carilho, Zé Menezes, Raul de Barros, Wagner Tiso e Léo Gandelman.
 
 
 
Em festa
Show do violonista e compositor Fernando César e regional e convidados, hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3244-0559.
 
 
Fernando César:  

Fernando César: "Pixinguinha não podia estar fora dessa celebração"

 

 
Entrevista/ Fernando César
 
 
Por que você tem se dedicado tanto à obra de mestres da velha guarda do choro?
Como professor e formador de novos músicos, preciso mostrar a eles a importância de beber na fonte, de tomar conhecimento e ter acesso ao legado dos grandes mestres do choro, que deram importante contribuição para a história do mais tradicional gênero musical brasileiro. Hoje em dia, com tanta informação e a velocidade com que é passada, os instrumentistas mais jovens tendem a pular etapas, deixando de lado a obra desses geniais músicos e compositores.
 
 
O fato de prestar tributo a alguns deles no show Em festa tem a ver com esse propósito?
Certamente. Não por acaso tenho em minha companhia um regional formado por músicos da nova geração de Brasília. Com ele vou homenagear Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, contemporâneos e pioneiros desse gênero musical, choro. Os três são da época em que o choro ainda não tinha este nome. Era chamado de tango brasileiro.
 
 
Foi por razões óbvias que quis estender a homenagem a Pixiguinha?
A música de Pixinguinha não podia estar fora dessa celebração. O autor dos clássicos Carinhoso, Lamentos e Rosa tem que ser sempre reverenciados por chorões. Afinal das contas foi ele, com suas composições, que solidificou o que hoje é chamado de choro. No show, porém, vamos tocar uma música dele menos conhecida, chamada Ainda me recordo.
 
 
Quem mais será lembrado?
Num dos sets do show, vamos homenagear também os centenaristas, dois músicos e compositores ligados ao choro que fariam 100 anos em 2019, o pernambucano Rossini Fereira e o carioca Avena de Castro. Avena foi um dos responsáveis por trazer o choro para Brasília. No Rio de Janeiro, quando morava lá, chegou a tocar com Jacob do Bandolim. Aqui, tocava nas rodas de choro nas casas de Arnoldo Veloso, Raimundo de Brito e Odeteh Ernest Dias, foi um dos fundadores do Clube do Choro, do qual viria a ser o primeiro presidente.
 
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Correio Braziliense quarta, 18 de setembro de 2019

A SECA NOSSA DE CADA DIA

 

A seca nossa de cada dia
 
 
Baixa umidade afeta saúde dos brasilienses. Já são 107 dias sem chuvas e não há previsão de melhora nos próximos dias

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 18/09/2019 04:00

A paisagista Dalissandra Moreira está há quatro dias acompanhando o filho internado com desidratação (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

A paisagista Dalissandra Moreira está há quatro dias acompanhando o filho internado com desidratação

 

 
Temperaturas altas, baixa umidade, suor e muito calor. Assim tem sido o dia a dia no Distrito Federal, que hoje completa 107 dias sem chuva. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), não há sinais de mudança no clima nos próximos sete dias. Para esta quarta-feira, a previsão é de céu claro, com poucas nuvens e névoa seca. A máxima pode chegar a 35ºC, entre 14h e 16h. A umidade relativa do ar varia de 50% a 15%. Ontem, a taxa mais baixa foi registrada no Gama: 13%.
 
O meteorologista Olívio Bahia avalia que a chuva só deve chegar, de forma tímida e frequente, em outubro. “Além da falta de chuva, tem uma massa quente e seca que mantém as temperaturas elevadas. Vamos esperar mais uns 10 dias para ver se o clima muda. Enquanto isso, a população deve manter os cuidados com a saúde recomendados pelos médicos”, ressalta. 
 
No período de seca, todos sofrem. No entanto, crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios são os grupos mais vulneráveis e precisam redobrar a atenção. A nutricionista Camila Pedrosa afirma que o brasileiro tem dificuldade em beber água diariamente, mas que esse costume precisa ser mudado. Ela explica que a quantidade do líquido ingerida por dia deve ser calculada conforme o peso da pessoa: de 30 a 35 ml por quilo. Isso, em situação de umidade normal. Na seca, a quantidade deve aumentar em torno de 20%. Se a pessoa deve beber 2 l de água por dia, no período de estiagem deve aumentar o consumo em 400 ml.
 
Para as crianças, a nutricionista orienta que os pais coloquem garrafas na lancheira, com água fresca. Além disso, os pequenos devem estar em locais com fácil acesso a um bebedouro. “Os responsáveis podem usar um alarme de bichinho, por exemplo, para que o filho lembre que aquela é a hora de beber água. E que isso se torne um hábito. A mesma coisa deve ser feita pelos adultos. Tem aplicativo para isso. Hoje, existem recursos que ajudam”, destaca.
 
Camila diz ainda que, nesse período, as pessoas optam por alimentos mais rápidos e práticos e que, muitas vezes, para se refrescar buscam sorvetes e picolés, quando o ideal é comer frutas e beber bastante água. “Vale lembrar que hidratação é água. Tem gente que opta por sucos e chás, mas eles ajudam a refrescar. A água, além de refrescante, tem o papel de eliminar impurezas no organismo. O certo é aumentar o consumo de frutas e vegetais. Alguns deles têm água e ajudam a repor o líquido no organismo ao longo do dia, de forma sutil”, afirma.

A auxiliar de enfermagem Betânia Ribeiro precisou levar o filho Leonardo Júnior três vezes ao médico (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

A auxiliar de enfermagem Betânia Ribeiro precisou levar o filho Leonardo Júnior três vezes ao médico

 



Moradora de Santa Maria, Marta Pereira foi  ao Hmib buscar atendimento para o filho de 1 ano e 4 meses (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

Moradora de Santa Maria, Marta Pereira foi ao Hmib buscar atendimento para o filho de 1 ano e 4 meses

 

 
Hospitais cheios
 
A paisagista Dalissandra Moreira, 48 anos, está há quatro dias acompanhando o filho, Hayati Costa, 5, internado com desidratação no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Desde a última quinta-feira, a criança tem febre, vômito e diarreia. Todos os sintomas decorrentes do período seco que o DF enfrenta. Devido a dificuldade de se alimentar, ele está à base de soro venal. “Essa é a primeira vez que ele fica assim. Me assustei quando o vi desse jeito. Não para nada no estômago dele. Esse período afeta demais as crianças. Só no quarto que meu filho está, são mais cinco com desidratação. Todos os dias ele diz que quer voltar para casa. Não está fácil”, conta. 
 
Moradora de Santa Maria, a técnica em enfermagem Marta Pereira, 38, preferiu ir ao Hmib para levar o filho, Henry Kael da Silva, 1. Mesmo tendo um hospital público na região onde reside, ela optou por pagar R$ 40 para ir até a Asa Sul de Uber. “Lá (em Santa Maria) é difícil ter pediatra, já vim aqui (no Hmib) que é mais certo dele ser atendido”, afirma. Há dois dias, o menino está com fraqueza, febre e nariz ressecado. Assustada com os sinais de doença, resolveu levá-lo à unidade de saúde.
 
“Ele piorou bastante. Não sente fome, está muito cansado e com a respiração fraca. Estou usando soro para o nariz e dei uma reforçada na alimentação para ver se ele fica com um pouco mais de energia. Estou abusando de frutas, como maçã e melancia. Ele está sofrendo muito e eu, como mãe, sofro junto. Quero que ele melhore logo”, diz a técnica em enfermagem. 
 
Durante a seca do ano passado, Leonardo Júnior, 7, teve pneumonia. Desta vez, o período trouxe dores fortes na barriga e inflamação na garganta. Ele e a mãe, a auxiliar de farmácia Betânia Ribeiro, 31, foram ao hospital duas vezes na última semana para tratar os sintomas. “Ele está sentindo uma sede fora do normal. Acorda com os lábios ressecados, muito incomodado. A médica disse que a dor de barriga pode virar diarreia, já que ele está com a barriga muito inchada. Agora, é esperar melhorar”, pontua a mãe. 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 17 de setembro de 2019

BOMBEIRA MARIZELLI: REVERÊNCIA NO ADEUS A UMA GUERREIRA

Centenas de pessoas homenagearam ontem a bombeira Marizelli Armelinda Dias, que morreu no combate a incêndio no cerrado. Com salva de tiros e ao som da banda oficial dos Bombeiros, o corpo da soldado foi sepultado em Taguatinga. Familiares e amigos destacaram a garra e a alegria de viver de Marizelli, de 31 anos.  (Ed Alves/CB/D.A Press)

Reverência no adeus a uma guerreira
 
Integrantes do Corpo de Bombeiros pararam para prestar as últimas homenagens a Marizelli Armelinda Dias, morta durante combate a incêndio em área de cerrado no fim de semana. Música, emoção e elogios à colega dedicada marcaram a cerimônia

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» WALDER GALVÃO
Colaborou Alexandre de Paula

Publicação: 17/09/2019 04:00

O cortejo com o corpo da bombeira Marizelli (no detalhe) passou pela Avenida Samdu Norte, que precisou ser parcialmente interditada até o Cemitério de Taguatinga (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O cortejo com o corpo da bombeira Marizelli (no detalhe) passou pela Avenida Samdu Norte, que precisou ser parcialmente interditada até o Cemitério de Taguatinga

 


“Está com duas semanas que ela falou comigo assim: ‘Esse serviço meu é muito bom, mas muito perigoso. Se acontecer alguma coisa comigo, o que a senhora faz?’” O relato é de Conceição Aparecida Dias, mãe da bombeira Marizelli Armelinda Dias, 31 anos, morta em acidente, no domingo, enquanto combatia um incêndio florestal. “Falei: ‘Faço como estamos fazendo. Vou cuidar dos seus filhos. Vou fazer o que faço. Fazer o quê? A vida continua.’ Não vou cair, não. Por causa de Deus e dos meus netos. Eles precisam de mim”, disse, ontem, enquanto velava a filha.
 
Para a mãe, mesmo em tão pouco tempo de vida, Marizelli conseguiu alcançar tudo o que almejava. “Dentro de sete anos, ela realizou todo o percurso (que queria): casou, teve filhos, estudou, se formou (como bombeira), tornou-se servidora pública. Realizou todos os sonhos. É como se tivesse vivido 100 anos. Ela dizia que, aqui na Terra, temos de trabalhar, não podemos perder tempo”, relatou Conceição Aparecida.
 
A banda do Corpo de Bombeiros rompeu o silêncio no velório de Marizelli, que ocorreu no 2º Grupamento de Bombeiro Militar, em Taguatinga Norte. Centenas de pessoas se reuniram para acompanhar a cerimônia de despedida. O corpo de Marizelli chegou em um veículo do Samu. Colegas de serviço carregaram o caixão e passaram por um corredor formado por militares até alcançar o pátio onde a família aguardava. Nesse momento, poucos conseguiram conter as lágrimas.

 
Apaixonada por música, a bombeira queria entrar para a banda da corporação. Grande parte do velório foi conduzida pelo tenente-coronel Fernando Rebouças, também capelão católico. “Ela fez o voto de dedicar a vida a salvar pessoas, mesmo que isso custasse a sua própria”, discursou.
 
Marizelli entrou para a corporação em 2 de julho de 2018. Em 10 meses, participou do curso de formação e ingressou no 2º Grupamento, de Taguatinga, em julho deste ano. “O curso é muito difícil para todo mundo, mas ela nunca demonstrou falta de vontade com a rotina. Sempre estava animada e era nossa ‘puxadora de grito’ oficial”, contou, no velório, o soldado Adriano Lima, colega de Marizelli.
 
Depois do curso, o ânimo da bombeira permaneceu. “Ela era a primeira a descer, a vestir o equipamento e a entrar na viatura. Um exemplo de vontade”, ressaltou. Adriano acrescentou que a amiga deixa uma mensagem de determinação. “Em homenagem a ela, vamos nos dedicar em dobro. Esse sacrifício será combustível”, disse.
 
Após o velório, o cortejo seguiu para o Cemitério de Taguatinga. Dezenas de veículos dos bombeiros, da Polícia Militar e do Departamento de Trânsito (Detran) fizeram o trajeto, e parte da Avenida Samdu Norte foi interditada.
 
O acidente
No domingo, Marizelli foi atingida por um galho de eucalipto e por fios de alta-tensão enquanto combatia um incêndio em uma área de cerrado na QNL 2, em Taguatinga. Ela ficou internada por quase 10 horas no Hospital Regional de Ceilândia. A equipe médica avalia que a soldado morreu em decorrência de fraturas. Há também a possibilidade, que precisa ser confirmada pelas perícias, de que Marizelli tenha sofrido uma descarga elétrica, pois a árvore atingiu cabos de energia. A militar sofreu ferimentos nas costelas, no braço e na perna, além de traumatismo craniano. Teve cinco paradas cardiorrespiratórias.
 
O Centro de Comunicação Social do Corpo de Bombeiros se pronunciará sobre os detalhes do acidente hoje, após ter prestado todas as homenagens.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 16 de setembro de 2019

A VEZ DOS IPÊS BRANCOS

 

A vez dos ipês-brancos
 
Brasilienses têm de correr se quiserem registrar a beleza da nova cor, de florada mais rápida e rara

» EMILLY BEHNKE

Publicação: 16/09/2019 04:00

 (Fotos: Emilly Behnke/Esp. CB/D.A Press)  
 
Alécio, analista de sistemas, e o amigo Eber: selfie com o ipê-branco  

Alécio, analista de sistemas, e o amigo Eber: selfie com o ipê-branco

 

 
Ana Clara Santos (E) acredita que o branco dá mais leveza para a cidade  

Ana Clara Santos (E) acredita que o branco dá mais leveza para a cidade

 

 
 
Criando a ilusão de flocos de neve no auge da seca do Cerrado, os ipês-brancos começaram a florescer em Brasília. Eles chegam para competir com os amarelos, mais robustos. As duas espécies iniciaram as floradas juntas, mas a branca é mais rara e de menos tempo.
 
Segundo Raimundo Silva, chefe do Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), as flores dos ipês-brancos duram de 3 a 5 dias. Eles se diferenciam pela capacidade de florir mais de uma vez, podendo chegar a três vezes. São 15 mil árvores do tipo espalhadas pela cidade, que podem abrir suas flores entre agosto e outubro. 
 
Cor preferida da estudante Ana Clara Santos, 17 anos, o branco dá uma leveza para a cidade, ela acredita. “Eu e minha mãe somos apaixonadas. Toda vez que vejo, tiro foto, até fico alegre”, comenta a moradora de Ceilândia. 
 
Alécio Almeida, 33, gosta dos ipês-brancos por serem mais raros. Morador da Candangolândia, o analista de sistemas defende que os ipês sejam mais distribuídos pelo território. “É uma característica de Brasília que deveria ser mais bem explorada. Eu sinto falta deles nas outras regiões administrativas.”
 
Já para Giovana Victória Nobre, 17, não tem discussão: os amarelos são os preferidos. Mas como moradora do Sudoeste desde que nasceu — uma das áreas com mais ipês no DF —, ela reconhece a beleza dos branquinhos. “Eu acompanho todo ano a floração deles. Dá uma alegria na cidade. Devia ter em todos os lugares.”
 
Brancos ou amarelos, os pontos de cor na cidade devem aumentar, como sugerem Alécio e Giovana. “A Novacap planeja plantar 20 mil ipês em todo o DF, 3 mil deles brancos”, afirma o chefe do Departamento de Parques e Jardins.
 
Paleta de cores 
 
A próxima temporada será dos ipês-rosas, os últimos antes de as chuvas voltarem. A sequência de florada começa pelo roxo, seguido do amarelo, do branco e do rosa. Menos conhecido é o ipê-verde que floresce após o rosa, mas recebe pouca atenção por sua cor não se destacar tanto.
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense domingo, 15 de setembro de 2019

MOURÃO: NÃO HÁ CAMINHO FORA DA DEMOCRACIA

 

Entrevista Hamilton Mourão
 
Presidente interino defende Guedes e Moro e diz que Bolsonaro reforçará na ONU soberania da Amazônia

 

» Ana Dubeux
» Ana Maria Campos
» Denise Rothenburg
» Rodolfo Costa

Publicação: 15/09/2019 04:00

 

 

"Sou vice-presidente do presidente Bolsonaro. Então, não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso. Então, todas as vezes que discordo de alguma coisa dele, eu falo em particular"

 



“Nosso governo não é antidemocrático”


Opresidente da República interino, Hamilton Mourão, almoçava, na última quarta-feira, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentando solucionar a crise com o então secretário da Receita, Marcos Cintra, quando o presidente Jair Bolsonaro telefonou e resolveu a questão. Cintra estava fora do governo. A cena relatada por Mourão mostra algo que, na avaliação do vice-presidente, vale para o todo o governo: “Uma coisa que todo mundo precisa entender é:  Quem é o decisor? O presidente Jair Bolsonaro. A gente pode ter um monte de ideias, mas a palavra final é dele”, diz com a mesma tranquilidade com que se refere ao clima seco em Brasília.

O fato de o presidente ter a palavra final, diz Mourão, não pode ser confundido com um governo autoritário: “Nosso governo não é antidemocrático”. Tampouco passar a ideia de que há espaço para qualquer atitude de confronto em relação aos outros poderes, por mais que os tuítes de Carlos Bolsonaro possam sugerir algo nesse sentido. “Se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, alguém estaria dando bola? Ninguém. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e é vereador do Rio de Janeiro, o pessoal diz: “oh, meu Deus do céu, a família Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. Não é assim.

Nos 40 minutos em que recebeu a reportagem do Correio, ele foi incisivo ao dizer que as Forças Armadas nunca quiseram ter protagonismo no governo e, àqueles que temem riscos de retrocessos na democracia, avisa: “Não há espaço para isso”. Adepto das franquezas no trato, o general é ainda mais direto quando se refere à questão da Amazônia. “A gente terminou reagindo com o fígado em vez de reagir com a razão”, admite.

No cargo de presidente interino, enquanto Bolsonaro se recupera de uma cirurgia de hérnia, Mourão segue despachando em seu gabinete no anexo II do Palácio do Planalto, onde recebeu o Correio na última sexta-feira. Na entrevista, discorre com naturalidade sobre diversos temas. Sobre eventuais erros de Bolsonaro, no entanto, ele evita comentar: “Não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso”.

 

"Se o presidente for candidato à reeleição e quiser que eu vá com ele, muito bem. Se ele precisar de outra pessoa para compor uma chapa mais forte, ok"

 


Será um desafio para o governo sair desse constrangimento a que o país foi colocado em relação a Amazônia? Às vezes por causa de declarações mal-entendidas lá fora, ou respostas atravessadas de lá de fora... Como o senhor vê essa questão que vai ser objeto de discussão na ONU?
Vamos buscar fazer uma análise bem fundamentada. O mundo inteiro, já de algum tempo, está com os olhos postos na Amazônia. Ao longo dos últimos 20 anos, houve, realmente, uma visão mais profunda sobre o papel da Floresta Amazônica em relação ao clima mundial com teses, às vezes, corretas e, outras, totalmente estapafúrdias, como aquela que diz que a Amazônia é o pulmão do mundo. Algo que foi comprovado: que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Praticamente 50% do bioma da Amazônia é área preservada. Ou é área de proteção ambiental ou é terra indígena, que, em tese, tem que permanecer intocada. Então, compete ao governo, por meio dos seus órgãos de fiscalização impedir que essas áreas sejam exploradas de forma ilegal. A área de proteção ambiental, em hipótese alguma, e a terra indígena têm que ser de acordo com os desejos dos índios que habitam cada uma dessas regiões.  Bom, então 50% preservados. Nos outros 50%, apenas 20% podem ser explorados, de acordo com nossa legislação ambiental. Aí vamos para a questão das queimadas. Todo ano tem 7 de setembro. E todo ano em agosto, setembro e outubro o pessoal derruba árvore e queima porque é uma forma, digamos assim, tradicional de preparo da terra naquela região, uma forma errada. Então, o governo tem que se preparar, explicar por que essas coisas ocorrem e, dentro da nossa capacidade, buscar impedir que essas queimadas ocorram.  E aí tem que haver o quê? A assistência técnica, rural, de modo que esse produtor que aprendeu com o avô, com o pai, mude a forma. E óbvio, existem, também, na Amazônia, três figuras que são complicadas: o madeireiro, o grileiro e o garimpeiro. Então temos que buscar formas para que a população que já se estabeleceu naquela região tenha o seu sustento sem comprometer a biodiversidade, sem comprometer a integridade da floresta e o país tem que buscar as formas mais corretas. Temos uma legislação e temos que buscar fazer cumprir a legislação. O próprio ministro Ricardo Salles, agora em uma entrevista recente, reconheceu que nos comunicamos mal a respeito desse assunto. A gente terminou reagindo com o fígado em vez de reagir com a razão.

Mas o presidente não entrou com o pé esquerdo, digamos assim, nessa história, quando disse que não havia recursos, que o Brasil não conseguia fiscalizar? As primeiras declarações dele foram na linha de “a gente não tá dando conta do recado”...

O presidente reagiu ao que ele julgou uma ofensa de parte do presidente da França. E, realmente, o presidente da França emitiu um documento, não lembro direito se foi um documento, ou declaração, dizendo que o presidente mentia. Era mentiroso. E aí é aquela história, né? A razão foge muitas vezes nessa hora. Mas o presidente já reconheceu há algum tempo a nossa responsabilidade, ele está se preparando, daí esse repouso até maior dele, para, na abertura da Assembleia-Geral da ONU,  poder, realmente, transmitir essa mensagem e acalmar os ânimos no resto do mundo.

Qual sua expectativa para o discurso do presidente na ONU? Qual o principal recado que deve transmitir?
O recado número 1: a Amazônia é nossa. Isso aí, não podemos admitir em hipótese alguma, essa questão de soberania limitada ou uma ingerência além daquilo que os tratados internacionais, ao qual o Brasil subscreve, preveem. O segundo recado: ela é nossa e compete a nós protegê-la e preservá-la.

O senhor diz que houve uma reação com o fígado. Isso não tem acontecido com frequência maior do que deveria nesses oito meses?
Olha, eu já respondi até alguns colegas de vocês a esse respeito. Sou vice-presidente do presidente Bolsonaro. Então, não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso. Então, todas as vezes que discordo de alguma coisa dele, eu falo em particular.

O senhor tem falado muito em particular com ele ultimamente?
Não, ultimamente, não, porque ele está lá no hospital.

Mas sempre fala?
Sempre que temos alguma oportunidade conversamos e procuro expor meu ponto de vista sobre determinado tema.

Houve momento em que passou-se a ideia de que os senhores estavam meio afastados. Esse período passou?
Não, nunca houve essa questão do afastamento. É que o presidente tem a forma peculiar dele de se expressar, de agir, né? E aí o processo decisório dele funciona mais ou menos dessa forma.  E eu procuro ter uma atuação mais discreta possível, de modo que ele tenha toda a liberdade de manobra para empreender aquilo que ele julga correto.

No início do governo, o senhor falava mais com a imprensa, depois de um tempo, deu uma pausa, e, agora,está retomando as conversas. Por quê?

Eu era um animal novo na política. Ninguém me conhecia. Até porque não sou político. Havia uma curiosidade a meu respeito. Desde o período da transição e até os dois primeiros meses de governo, eu fui procurado praticamente diariamente pelo pessoal da imprensa. E, óbvio, houve uma exposição maior. Depois que chegaram à conclusão, “ah, bom, o general Mourão pensa dessa forma, então não adianta mais ficar perguntando mais do mesmo para ele”. E aí eu fui deixado de lado, até porque outros atores surgiram nesse embalo, outros fatos aconteceram e fiquei na posição que é a do vice-presidente, uma posição secundária.

 

"Não existe mais espaço para isso (retrocesso político). Vocês têm que entender que, em determinados momentos da história, isso funcionou. Hoje, não funciona mais"

 


O senhor volta a fazer essa comunicação do governo agora que o presidente tem dado sinais de que não deve mais conceder aquelas entrevistas quase que diárias no Palácio da Alvorada?
Se o presidente me der alguma tarefa. “Olha, você procure a imprensa e converse a respeito do assunto X”, eu cumpro a tarefa dele. Agora, não vou ultrapassar aquilo que considero que é a autoridade dele e que é a tarefa dele nessa situação. Então procuro sempre manter uma situação, um apoio mais à retaguarda dele. E óbvio que o presidente leva essa dicotomia. Passou uma semana falando, outra não fala, daqui a pouco ele volta a falar.

No caso da demissão do secretário da Receita, esse limite prevaleu?
A demissão do secretário da Receita, na realidade, já vinha sendo aventada há algum tempo. O próprio ministro Paulo Guedes sentiu que a posição do Marcos Cintra estava balançando. E tanto que fomos almoçar na quarta-feira e ele me perguntou o que nós íamos fazer. E mal a gente sentou, o presidente telefonou e já passou a determinação de que era necessário que o Marcos Cintra saísse, porque não concordava com a questão da CPMF, estava gerando muito ruído.

A CPMF foi a gota d’água. A relação já vinha se deteriorando desde lá de trás, não? Agora, a CPMF era defendida, também, pelo ministro Paulo Guedes. Como fica agora a proposta de reforma tributária?
Uma coisa, todo mundo tem que entender. Quem é o decisor? O presidente Bolsonaro. Podemos pensar as coisas mais mirabolantes do mundo, mas é ele quem vai decidir. Muitas vezes a gente expõe demais aquilo que está sendo planejado, discutindo entre muros. E isso toma uma dimensão grande junto à opinião pública, junto ao Congresso, e o presidente termina por dizer: “não, peraí, eu não quero essa discussão”.

Em um país dividido como a gente tem hoje, muita gente tinha receio de que os militares assumissem o poder no Brasil. Mas o senhor, como vice-presidente, tem sido uma voz democrática, que dá uma tranquilidade ao país. Esse é o seu perfil ou é o perfil realmente dos generais?
Existe uma imagem totalmente errada, um desconhecimento por grande parte da imprensa, do que são os militares brasileiros. Criou-se uma imagem em relação ao período de presidentes militares, também distorcida. Desconhecem como é a nossa formação, como é a nossa maneira de pensar, e fica só aquele estereótipo, muitas vezes confundido com figuras que ficaram no passado. Tudo na vida evolui. E uma realidade é que as Forças Armadas brasileiras sempre foram uma instituição democrática. Em todos os momentos da vida nacional se apresentaram para preservar a lei, a ordem, e garantir que a democracia terminasse por vicejar. Essa é uma realidade, independentemente da maneira que se julgue o período de 20 anos de presidentes militares. No futuro, isso vai ser colocado na pauta e vai ser pesado em relação a isso. Aí entra aquele desconhecimento e essa surpresa, “os generais são moderados”. Não tem nada a ver com moderado. Nós entendemos qual é o papel das Forças Armadas dentro de um regime democrático, as nossas missões estão muito bem definidas na Constituição.

Mas o senhor tem sido uma voz em defesa da democracia. Em vários momentos, o senhor se manifestou, inclusive agora, nesta semana, em relação à declaração do Carlos  Bolsonaro...

O nosso governo não é antidemocrático. Acho que se procura colocar uma coisa nas costas do presidente Bolsonaro que ele não é. Se fosse antidemocrático, não tinha concorrido à eleição.

Mas, às vezes, é preciso reafirmar isso, como essa semana, no
Twitter, em que o senhor deu uma declaração reforçando a importância de estarmos vivendo em período democrático. Isso é necessário? Por quê?

Para acalmar as coisas, né? Porque… o Carlos fez uma declaração que tem que ser perguntada a ele, o que ele quis dizer com aquilo. E aí, obviamente, se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, alguém estaria dando bola? Ninguém. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e é vereador do Rio de Janeiro, o pessoal: “oh, meu Deus do céu, a família Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. Não é assim. Como a família Bolsonaro vai tomar o poder no Brasil?

Só se tiver apoio dos militares...
Não existe mais espaço para isso. Vocês têm que entender que, em determinados momentos da história, isso funcionou. Hoje, não funciona mais. O Brasil é muito complexo, uma sociedade complexa. Não é assim, “pô, manda ligar o motor, fecha o Congresso, fecha isso, fecha aquilo, e muda tudo”. Não é assim.

As pessoas podem ficar tranquilas? Não há nenhum risco?
As pessoas podem ficar mais do que tranquilas.

Voltando um pouco àquela questão do presidente e o poder de comando dele. O ministro Paulo Guedes falou que quer privatizar tudo. O senhor acha que é por aí?
O presidente tem dado sinalização positiva e até já me surpreendeu, com ele assim, “privatiza os Correios”. E ele vem pressionando. Os Correios são uma estatal emblemática. Não é uma Valec.

Mas uma coisa é a Eletrobras, que carrega junto todas as bacias hidrográficas, porque tem as grandes hidrelétricas, e a privatização pega o controle sobre a água do Brasil. Os chineses têm muito interesse, e querem entrar com tudo nessa área de energia.  Há preocupação com o modelo de privatização?
O controle pelo Estado nunca significou que você detém a riqueza na mão. Nunca significou isso. Então isso é uma visão, vamos colocar assim, meio ultrapassada. Temos que ter uma legislação que nos assegure efetivamente o controle e não a gente deter as rédeas da empresa. E a gente sabe que as empresas estatais nascem sob uma excelente ideia, mas, depois, viram um cabide de emprego e são desvirtuadas.

Agora, o senhor acha que tem que privatizar tudo?
A Petrobras, ainda que parte da exploração de petróleo, tem que permanecer na nossa mão. Banco do Brasil já é uma S/A, a Caixa, desde que bem gerenciada, não é um problema.

 

"O Congresso não está comprado por um mensalão. E também não está cooptado moralmente em um toma lá da cá"

 


O senhor disse que não comenta as declarações do presidente, mas poderia comentar a declaração do ministro Paulo Guedes, voltando pra crise com a França, quando ele fez uma descortesia com a primeira-dama Brigitte Macron?
Ele já pediu desculpas. É aquela história. A gente que faz palestra — eu faço muita palestra — a gente procura de vez em quando dar uma quebrada naquele ambiente de extrema seriedade. É que nem aula. O professor, que é um bom professor, alterna uma conversa descontraída com um assunto sério. Então, alguém falou algo na plateia e ele falou “ah, é feia mesmo”. Ele já pediu desculpas, já identificou que cometeu uma grosseria e o Paulo é uma pessoa, pô, um cara fantástico.

Desde o período eleitoral, osenhor vem mantendo boa relação com os empresários. Em geral, eles têm uma boa circulação dentro do governo. O que eles falam é que o ministro Paulo Guedes, dentro desse escopo da reforma tributária, não vai abrir mão de desonerar a folha de pagamento para favorecer a cadeia produtiva para beneficiar os empregos, geração de empregos e renda. Queria saber como isso está sendo discutido, a desoneração da folha, o senhor participa das conversas, tem opinião sobre o assunto?
Eu concordo com o Paulo na questão da desoneração da folha e ele tinha a visão de substituir o imposto que hoje é pago pelo empresário em cima da folha de salário por esse Imposto sobre Transações Financeiras (ITF). É a troca de um por outro, tanto até que, na apresentação que foi feita era uma gangorra. Criava-se o imposto sobre valor agregado (IVA), vamos lembrar, é um estudo de um discípulo do Keynes, dos anos 50, um húngaro chamado Kaldor, né, era chamado inclusive de imposto Kaldor. Criava esse imposto ao reunir todos os impostos federais e não metia a mão em estados e municípios, que é uma coisa complicada, já é diferente da proposta da Câmara, por exemplo, e com a gangorra com esse imposto de transações financeiras. Está sendo discutido no Congresso. Agora, uma vez que não vai haver o imposto sobre transações financeiras, o Paulo está tendo que buscar alguma solução, por exemplo, reduz aquilo que os empresários pagam para sustentar o sistema S, tem a questão dos fundos exclusivos que vários governos já tentaram tributar e não conseguem tributar mais, e têm outras medidas, mas não sei se esse conjunto de medidas geraria a quantidade de recursos que um imposto de transação financeira, que, de acordo com o Paulo, geraria R$ 150 bilhões de retorno. Então é algo que tem que ser discutido. E a reforma tributária, a melhor coisa, hoje, é que todo mundo já entendeu que tem que ser feita.

O problema é que cada um tem a sua.
É, mas aí não vai fugir de ser discutido dentro do Congresso. Vai ser discutido exaustivamente lá dentro, vai demorar, mas eu espero que, até o fim do primeiro semestre do ano que vem, esse pacote seja fechado.

Como é  a relação do senhor com o Congresso? Acompanha tudo?
O presidente nunca me escalou para essa tarefa. Eu recebo senadores, deputados aqui. Procuro fazer aquela nossa conquista de corações e mentes, conversar com eles, passar nossas ideias, aquela coisa, recebo demandas, aí encaminho para ministro A, ministro B, o que a gente acha necessário. Falo muito com o (Luiz) Ramos (ministro-chefe da Secretaria de Governo). Ele está encarregado dessa atividade. Mas não sou linha de frente neste trabalho.

Os militares estão tendo o protagonismo que esperavam no governo?
Olha, nós nunca quisemos protagonismo no governo. É outra visão um tanto quanto distorcida. Por quê? Número 1. As Forças Armadas têm que estar fora do que é política de governo. As Forças Armadas são instituições nacionais permanentes, independentemente do governo e de tudo. Elas têm que ser preservadas. O presidente, por ter um passado militar, escolheu alguns militares para compor sua equipe. Isso é um fato. Desses militares, apenas dois ainda estão na ativa, que é o almirante Bento e o general Ramos, e me coloco nesse pacote, pois fui eleito junto com o presidente. Estou fora desse pacote. Aí ele colocou o Marcos Pontes (ministro da Ciência e Tecnologia), que já era da reserva. Na época, o Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo) também, que, já era da reserva, o Tarcísio (Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura) saiu do Exército há cinco ou seis anos. O Wagner Rosário (ministro da Controladoria-Geral da União) também saiu do Exército há algum tempo, porque existe uma geração dos anos 1990 que saiu do Exército, fez concurso público e enveredou por outra carreira. Não vejo assim “o papel dos militares”, aquela história da “ala militar”, “núcleo militar”.

Mas parecia no começo que tinha esse peso.
Mas não tem. Nunca houve esse núcleo. Até já respondi a alguns colegas de vocês que passava-se a imagem que, ao fim do dia, eu ligava pro (Augusto) Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional), pro Santos Cruz, “olha só pessoal, vamos sentar aqui e vamos nos reunir e ver o que a gente vai fazer amanhã”. Nada, pô. Existe uma coisa que a gente preza muito que se chama disciplina intelectual. A disciplina intelectual coloca que você atue na tua área, e não te meta na área dos outros. Isso é fundamental dentro do quartel. Ali você tem o batalhão, tem a primeira companhia, segunda companhia, terceira, cada um tem seu capitão e comandante. O capitão da primeira companhia não mete a mão na segunda, senão vai dar briga. Cada um no seu quadrado. Isso é extremamente preservado no ambiente militar.

O senhor acredita que reforma da Previdência vai passar com tranquilidade no Senado?
Vai, vai passar tranquilo. Conversei com o Davi Alcolumbre (presidente do Senado) aqui essa semana e ele me deixou claro isso. Acho que, até fim da primeira quinzena de outubro, ela estará votada no Senado.

Em relação a Eduardo Bolsonaro embaixador, como está isso no Senado? Alcolumbre deu algum #ficaadica para o senhor?
Não, não deu nenhuma dica. Agora está sendo trabalhado esse assunto. O próprio Eduardo está conversando com os senadores. Acho que o irmão dele, o Flávio, também deve estar ajudando nisso aí, o próprio presidente. Então, vamos aguardar. Acho que o presidente parece que só vai submeter o nome do Eduardo quando voltar de Nova York (da ONU).

Pois é, essa semana fizeram, inclusive, a sabatina do futuro chefe da missão do Brasil na ONU, o Costa Filho. E o senhor acha que dá tempo? Vai fazer apelo já para votar isso esta semana? Porque no Senado estão falando “ah, a gente tem que ver se vota porque o governo quer que vote logo para ele poder ir, acompanhar o presidente”.
Não, o Costa Filho está votado.

Na comissão, mas tem que passar pelo plenário...
Mas não interessa, porque ele não vai conseguir chegar lá a tempo.

Não consegue apresentar as credenciais, essas coisas todas?
É isso. Existe, como vou dizer, um rito.

Vai ser o Mauro Vieira mesmo?

É, não sei nem se o Mauro Vieira. Acho que o 02 do Mauro Vieira, que é um outro embaixador. O Mauro está aqui no Brasil, porque tem que ser sabatinado. Ele vai ser embaixador na Croácia.

Achei que iam mandá-lo para a Sibéria.
Croácia é mais bonito.

Em relação ao ministro Sergio Moro, o senhor acredita que ele está superando o episódio da Vaza-Jato com altivez e se mantém firme no cargo?
O Moro é uma pessoa acostumada a sofrer pressão. Um homem que, ao longo dos últimos seis anos, sete anos, vem trabalhando em um ritmo, vamos dizer assim, forte, com pressões, com riscos de vida, com pressão sobre a família dele. Ele não se abala com essas cosias. Ele é muito tranquilo. Mas muito tranquilo mesmo.

Ele fica até o fim do governo?
Espero que sim.

Ele vai pro Supremo? O presidente já disse que quer um ministro que seja terrivelmente evangélico. Não é o caso do ministro Moro...
Vamos aguardar a decisão. A primeira vaga é, no fim do ano que vem, do ministro Celso de Mello. Vamos aguardar o que vai acontecer.

E as eleições municipais, como o senhor está acompanhando isso?
O meu partido, PRTB, está em situação complicada, pois não atingiu a cláusula de barreira.

O senhor vai pro PSL?
Não, eu entrei no PRTB e morro nele. A gente tem recebido aqui pessoas que estão querendo se lançar como candidatos.

Dizem que, no Rio Grande do Sul, só dá o senhor em pesquisas informais, em assembleias legislativas, em  prefeituras. Falam até que poderiam ser lançados militares nas eleições municipais e em 2022 também. O senhor pensa nisso?
É, têm aparecido alguns companheiros postulando para ser candidato, mas a gente está analisando. O que acontece é que tem um limite ético nisso aí, na minha posição de vice-presidente, né? Então tem que esperar, começar a campanha, essas coisas, para não atravessar o samba. Mas, por enquanto, a gente está só observando.

O orçamento está superapertado, não tem dinheiro para nada. Vem o teto de gastos que vai enxugar ainda mais a máquina pública. Como o governo vai sair desse imbróglio em relação ao orçamento?
Estamos sendo pressionados pelo piso que vem subindo, as despesas obrigatórias aumentando, aí tem a discussão que você vê, né? Tem a turma que quer a flexibilização do teto de gastos, então, tirar determinadas despesas, sairiam do teto, uma coisa “tirar a saúde e educação do teto”. Aquela multa do FGTS também já foi aventada, de tirar do teto. É uma flexibilização. Outra é mudar e o teto seria inflação mais 1,5%. Mas, por enquanto, nós estamos precisando passar a mensagem de que vamos respeitar isso, porque é uma questão do equilíbrio fiscal, a gente tem que passar isso para os investidores e o resto do mundo, e tentar furar o piso, com uma desvinculação de receitas. Essa é a ideia que o Paulo Guedes tem. Temos que buscar uma solução para isso, senão vamos morrer achatados.

O presidente Jair Bolsonaro escolheu um nome fora da lista tríplice para aProcuradoria-Geral da República e anunciou que espera uma parceria desenvolvimentista ali na PGR. E o Augusto Aras já declarou que o governo não vai mandar na PGR. Na sua visão, como é que deve ser o papel de um procurador-geral da República?
O procurador-geral da República tem que atuar, de acordo com a lei. É simples. Vivemos dentro de um Estado de direito. O Estado de direito significa que a lei vale para todos e tem que ser respeitada. Então, o procurador tem que fazer o quê? Agir de acordo com a lei. Agora, algo que eu vejo muitas vezes no Ministério Público e até no próprio Tribunal de Contas, e até já conversei uma vez com alguns ministros do TCU, é que, no caso específico de obras, depois que a obra partiu, que o troço já está na metade, aí alguém resolve embargar o negócio. Porra, é um prejuízo… então, se vai embargar aquilo, vamos embargar antes de começar. Vamos analisar bem antes de começar e não depois. É o único problema que vejo nessas atuações.

Estes oito meses de governo foram muito turbulentos, em alguns momentos difíceis até demais. Nos próximos três anos, a situação vai se acomodar ou viveremos tempos sempre agitados e tensos? Nos primeiros meses de governo,  houve muito atropelo, não?
É, o que eu vejo. A forma como nós montamos os ministérios... A forma como nos relacionamos com o Congresso... O Congresso, sob nosso governo, tem ampla liberdade para atuar. O Congresso não está comprado por um mensalão, né? E também não está cooptado moralmente em um toma lá da cá. “Eu dou ministério, dou cargo”. Então, o Congresso tem ampla liberdade para fazer o que quer. Muitas vezes, se critica o nosso governo, principalmente a figura do presidente. “Ah, mandou lá pro Congresso e esqueceu”. É uma forma de você dizer, “olha, nossa proposta é essa e agora os senhores discutam aí e cheguem a alguma conclusão”. Então, é uma forma bem, digamos assim, honesta de você ter uma ligação de um poder com o outro. Agora, o que nós vemos de uma forma geral? Os dois primeiros anos são difíceis, são anos de ajustes na economia, de modo que os dois últimos anos a gente entre já em um voo sustentável, não em um voo de galinha.

Voo sustentável para a reeleição?
Não precisa ser a reeleição. O próprio presidente já deixou isso claro. O nosso grande objetivo é deixar o país reorganizado, de modo que a gente tenha uma marcha progressiva e um rumo de aumentar efetivamente a geração de emprego, de renda e de bem-estar para a população como um todo.

O presidente  comenta que espera  entregar um país melhor em 2023 ou em 2027. Partindo desse pressuposto, de que ele não descarta a possibilidade de reeleição, o senhor sairia como candidato a vice ou se candidataria a um cargo eletivo? Já  se aventou até Marco Feliciano como o vice de Bolsonaro.
Bom, eu só entrei na política porque o presidente Bolsonaro me pediu. Eu não tinha nenhuma aspiração política. Quando passei para a reserva, no final de fevereiro do ano passado, a minha visão era “vou para minha casa no Rio de Janeiro”. Passei 46 anos dentro do Exército, está na hora de ter um pouquinho de paz de espírito na minha vida. Eu queria ser presidente do Clube Militar, para ter uma atividade que não fosse altamente estressante e que eu pudesse ter contato e auxiliar a família militar e, ao mesmo tempo, ter uma voz perante a sociedade brasileira. Fui eleito presidente do Clube, só que, um mês e meio depois, tive que sair. Não tenho nenhuma aspiração política. Se o presidente for candidato à reeleição e quiser que eu vá com ele como vice-presidente, muito bem. Se ele não quiser, se precisar de outra pessoa para compor uma chapa mais forte, seja lá o que for, ok, parabéns, e eu volto para a minha casa, tranquilamente, sem estresse.

Nem para ser candidato ao Senado?

Não. Imagina eu no Senado...
 
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Correio Braziliense sábado, 14 de setembro de 2019

DELTAN DALLAGNOL: OS TUBARÕES ATACAM A LAVA-JATO

 


 ENTREVISTA DELTAN DALLAGNOL
 
Os tubarões atacam a Lava-Jato abertamente
 
Chefe da força-tarefa admite que o vazamento dos diálogos fez a operação contra a corrupção sangrar, levando pessoas inibidas inicialmente pelas investigações a reagirem com apoio de setores, %u201Ccomo órgãos públicos, empresas e até na mídia%u201D

 

» Ana Dubeux
» Ana Maria Campos
» Leonardo Cavalcanti

Publicação: 14/09/2019 04:00

 

 ( Evaristo Sá / AFP)  


Entre os vários efeitos do vazamento das conversas de integrantes da Operação Lava-Jato, está o que levou os procuradores — e por tabela o ex-juiz Sergio Moro — às cordas, como é conhecido aquele instante em que lutadores recuam para voltar a atacar ou perdem o round. O mais exposto deles é o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, 39 anos, que viu diálogos privados enfraquecerem a imagem, principalmente por causa das palestras remuneradas. Alvo de investigações sobre a própria conduta nos conselhos interno do Ministério Público, Dallagnol trata o atual momento como uma espécie de batalha. “A recente difusão de acusações falsas fez a operação sangrar. E aí vêm os tubarões. Pessoas antes inibidas pela Lava-Jato hoje a atacam abertamente”, disse ele em entrevista, por e-mail, ao Correio, em que fala sobre a Vaza-Jato, eventual candidatura e o futuro da operação contra a corrupção.


A divulgação de mensagens privadas entre colegas, com opiniões e impressões pessoais, é um constrangimento?
Cada mensagem está num contexto maior que envolve discussões mais amplas sobre o assunto, inclusive em conversas presenciais, conhecimento sobre o conteúdo das investigações, inclusive sigilosas, interpretações de nosso sistema jurídico e pressupostos implícitos de quem se conhece há anos, como o de que todos do grupo só agiriam de modo correto. Mas fomos hackeados e, agora, nossas mensagens são divulgadas de modo isolado ou fatiado, descontextualizadas e até mesmo editadas. Além disso, são sempre interpretadas de acordo com a visão dos advogados dos réus, com a interpretação das leis e das regras do modo mais desfavorável à Lava-Jato.

A procuradora Jerusa Viecili pediu desculpas por ter se manifestado com os colegas em relação à morte de parentes do ex-presidente Lula. Ela agiu orretamente ao se retratar?
Ela se recorda de ter se manifestado naqueles termos; então, é uma escolha pessoal, legítima e nobre. Sobre o ex-presidente Lula e o processo dele, a força-tarefa se manifestou nos autos e o caso passou por todas as instâncias do Judiciário, inclusive pelo STF.

Essas mensagens sugerem uma resistência da força-tarefa em aceitar que Lula fosse ao velório de parentes. Qual era o receio?
Isso também está nos autos do processo. A Polícia Federal manifestou preocupação com a segurança do próprio preso, das pessoas presentes ao velório e dos próprios policiais. O ministro Dias Toffoli encontrou a melhor solução, determinando que o ex-presidente pudesse participar do velório em um quartel.
 
Fazer palestras remuneradas em ambiente empresarial no meio de uma investigação gigante sobre corrupção é ético?
É, sim. A única atividade remunerada que membros do Ministério Público e do Judiciário podem desempenhar, além de suas atribuições, é a docência. O Conselho Nacional do Ministério Público e o Conselho Nacional de Justiça entendem que palestras são atividade docente. Em 2017, julgando o meu caso concreto, o plenário do CNMP entendeu que a atividade é, sim, legítima. Além disso, eu falo sobre cidadania, compliance e combate à corrupção, o que converge com minha atividade no MP e com minha visão de contribuir para um mundo livre desse mal. A maioria das minhas palestras é gratuita e, dos valores que eu recebo, a maior parte é doada, que é outro modo que encontrei de contribuir com a sociedade.

Por que o senhor mantinha um chat consigo mesmo?
Foi uma opção pessoal para guardar algumas reflexões íntimas, como se fosse um bloco de notas.

Pensou mesmo em disputar eleições?
Disputar eleições é um modo construtivo de exercer a cidadania, e muitas pessoas me incentivaram a ser candidato. Decidi que tenho mais a contribuir como procurador. O Intercept enviou para a assessoria de comunicação do MPF o texto que seria minha reflexão completa, mas, na hora de publicar, eles editaram. O texto completo evidencia o caráter republicano da minha avaliação, guiada, inclusive, por princípios cristãos. Terminei falando, por exemplo, que minha escolha decorre não de receios pessoais, mas da minha visão sobre o que é melhor para o interesse público.

Ainda pensa nisso?
O futuro a Deus pertence. Hoje, me mantenho integralmente focado em fazer o melhor que posso na Lava-Jato.

Por qual partido o senhor seria candidato?
Não houve essa avaliação. Jamais me reuni com políticos ou legendas para discutir esse assunto, porque isso seria incompatível com meu trabalho na Lava-Jato. O que o Intercept publicou foram pensamentos que recordo que tive. Não tenho vergonha deles, porque refletem quem eu sou. Contudo, ter pensamentos lícitos e legítimos invadidos e expostos me parece uma violação da intimidade.

Que balanço o senhor faz da Operação Lava-Jato até este momento?
A Lava-Jato é um sucesso. Vivíamos no país da impunidade para o colarinho-branco. A regra era ninguém ser punido e nenhum centavo ser recuperado. Foram para a cadeia algumas das pessoas mais poderosas do país, responsáveis por desvios bilionários. Empresários e políticos de diversos partidos, inclusive antagônicos, foram e continuam sendo investigados. Mais de 150 réus foram condenados a cumprir penas que superam 2 mil anos de prisão. Os acordos vêm recuperando mais de R$ 14 bilhões. A corrupção política foi desnudada. Temos o mais completo diagnóstico desse câncer que adoece nosso país. Precisamos, agora, manter e ampliar o tratamento.

Até que ponto o vazamento dos diálogos o surpreendeu?
A Lava-Jato fez muitos inimigos. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a reação viria. Todos tinham o Telegram como um aplicativo seguro, que era amplamente usado no MPF. Além disso, nunca me preocupei em apagar as mensagens, porque sempre agimos de modo correto. Agora, o que mais nos surpreende são as deturpações e descontextualizações.

A imagem da Lava-Jato sai abalada com a divulgação das mensagens?
Há fatos que todos ou quase todos concordam que ocorreram: o grande esquema de corrupção, as condenações de poderosos, o dinheiro recuperado. Agora, existe a tentativa de criar uma narrativa para desconstruir o que foi feito e criar um clima favorável para anulações de condenações e para evitar outras penas que ainda não foram aplicadas. Tenho dito para as pessoas ignorarem os textos interpretativos e irem direto para as mensagens. Muita gente já percebeu a maldade contra a Lava-Jato.

A saída do ex-juiz Sérgio Moro da 13ª Vara prejudicou de certa forma o andamento da Operação Lava-Jato?
A dedicação e a competência de Sérgio Moro foram amplamente reconhecidas na Lava-Jato. Ele saiu do dia a dia do caso para tentar mudar as engrenagens do sistema de Justiça, que estão ajustadas para produzir a impunidade dos protagonistas do nosso capitalismo de compadrio, que manda no país. Isso é uma tarefa difícil, mas importantíssima se queremos realmente virar a página da grande corrupção política brasileira. Nosso sistema erra dos dois lados: pune em demasia o fraco, e nada pune o forte. A Lava-Jato rompeu a impunidade dos fortes e segue firme em Curitiba, com novos juízes.

As investigações devem encontrar um eventual mentor ainda não descoberto que foi responsável pela intrusão no Telegram?
A Polícia Federal já identificou quem invadiu o Telegram. Um dos presos tem longa ficha criminal que aponta a prática de crimes por dinheiro. Um dos envolvidos chegou a dizer que o plano era de vender as mensagens. É razoável supor que ele possa ter recebido para passar minhas mensagens adiante. Até porque ele teve movimentações de ordem milionária, incompatíveis com seu patrimônio e renda, e porque nada foi passado das outras 300 autoridades que teriam sido invadidas com sucesso. Mas é preciso aguardar o desfecho das investigações para saber exatamente o que ocorreu. Confiamos na PF.

A quem interessa a divulgação dos diálogos?
A leitura de conversas entre autoridades chama a atenção do público, independentemente de seu conteúdo. Mas os principais interessados nessa divulgação são os que querem derrubar a Lava-Jato, suas investigações e processos. São também os poderosos que se corromperam e não querem que a operação os alcance e aqueles que têm saudades da impunidade generalizada. Essa divulgação coloca em jogo os direitos constitucionais à privacidade e à informação. Ambos devem ser ponderados. O que temos visto é o enfraquecimento do direito à privacidade e ao sigilo profissional para viabilizar a divulgação de fofocas, opiniões pessoais, cogitações e até mesmo de estratégias, planos e atos de investigação legítimos. Isso tem prejudicado investigações em curso que tramitam sob sigilo. Não há interesse público nisso. Muito pelo contrário, quem perde é a sociedade.

Houve exageros na divulgação das operações ao longo da força-tarefa da Lava-Jato?
Os crimes praticados é que foram exagerados, eles que chocaram o país e ganharam o interesse da mídia. Se o Ministério Público desse uma coletiva para divulgar que um estudante falsificou uma nota de R$ 100 ninguém daria repercussão. Prestamos informações públicas para a imprensa, porque respeitamos sua importância na democracia. Mas, o que gera impacto não é o fato de divulgarmos uma nota ou darmos entrevista, mas sim a gravidade dos crimes e os cargos importantes que os criminosos tinham na República.

Por que o senhor não aceitou convite para esclarecer essas questões no Congresso?
O trabalho da força-tarefa é técnico e jurídico. O Congresso desempenha um papel fundamental em nossa democracia, mas é um palco político. Vimos como foi com o ministro Sergio Moro. Houve uma disputa entre narrativas, uma guerra política. As mesmas declarações foram usadas para conclusões radicalmente opostas. Nós submetemos nosso trabalho e prestamos contas dele ao Poder Judiciário. O Legislativo é outro Poder.

Procuradores da força-tarefa são criticados por parte dos eleitores pela parcialidade, por escolherem alvos, como no caso do ex-presidente Lula. Como responde a isso?
Nós vamos aonde as provas nos levam. No caso do ex-presidente, por exemplo, existem oito ações penais contra ele, em geral por corrupção e lavagem de dinheiro referentes a diferentes contratos públicos, tramitando em três jurisdições: Brasília, São Paulo e Curitiba. Uma nona acusação foi oferecida nesta semana em São Paulo, por corrupção, apontando que uma empreiteira pagou mesadas a seu irmão. Atuam nelas promotores e juízes independentes, concursados e sem vínculos político-partidários. Em Curitiba, por exemplo, o número de procuradores na força-tarefa da Lava-Jato variou entre seis e 15, todos independentes, sem chefes. As decisões relevantes são conjuntas e, no caso das acusações e condenações do ex-presidente, foram unânimes. Nas três ações de Curitiba, foram rastreados documentalmente pagamentos de empreiteiras que beneficiaram direta ou indiretamente o ex-presidente, no montante de R$ 19 milhões. Parte do dinheiro foi para comprar o apartamento contíguo ao seu, que ele passou a ocupar. Duas dessas ações já foram sentenciadas por dois juízes distintos, e o ex-presidente foi condenado. A primeira delas foi confirmada por sete julgadores em duas instâncias superiores. Cinco deles foram nomeados pelo próprio Lula ou por Dilma Rousseff. Em todos esses casos, a última palavra caberá ao Judiciário, mas alegar perseguição política nesse quadro é construir uma teoria da conspiração.

Como é sair de uma situação de glória pelo trabalho na Lava-Jato para questionamentos, como ocorre agora?
Não buscamos glória ou poder. Buscamos servir com excelência e contribuir para um país melhor. Os questionamentos talvez contribuam para fazer as pessoas perceberem que nenhum grupo de pessoas vai mudar o Brasil. A mudança cabe aos brasileiros. Cada um tem que parar de reclamar dos outros e fazer a sua parte. Se “o político é ruim”, mude o político ou cobre preparo e uma atuação adequada. Se “o brasileiro não vota bem”, leve informações para as pessoas. Não dá para escolher o candidato em 15 minutos ou pegando panfleto na rua e esperar que tudo será diferente.

Em algum momento, no seu trabalho, houve afronta à lei?
Nunca ultrapassamos a linha da lei e da ética. Se algum procurador tivesse visto algo errado nas investigações e processos, não pensaria duas vezes em se afastar. Recentemente, na Procuradoria-Geral da República, procuradores renunciaram porque discordaram de algo que aconteceu lá. A equipe aqui em Curitiba sempre seguiu e segue unida. Agora, evidentemente, nós não damos às leis a mesma interpretação dada pelos advogados dos réus da Lava-Jato. Se fosse assim, pediríamos a absolvição dos réus, a anulação dos casos e que o Estado devolvesse aos réus o dinheiro recuperado.

O que mudou no país para surgir uma onda contrária à Lava-Jato? Ou ela sempre existiu por parte de uma parcela da população?
A maioria da população apoia a Lava-Jato. Não existe uma onda contrária à operação, essa não é a realidade do Brasil. Talvez, seja a realidade em alguns gabinetes políticos e núcleos militantes decepcionados com a condenação de seus líderes ou com a revelação de que eles praticaram corrupção. O que existem são críticas, o que é normal e saudável se forem expressadas de modo pacífico e republicano. A Lava-Jato colheu provas de corrupção envolvendo muitos poderosos, inclusive o presidente mais popular da história recente do Brasil. A investigação não julga seus governos ou sua história, mas sim, atos e fatos praticados definidos pela lei como crime. É claro que isso desagrada interesses ligados a essas pessoas, que têm aliados em todos os setores, como órgãos públicos, empresas e até na mídia. A recente difusão de acusações falsas fez a operação sangrar. E aí vêm os tubarões. Pessoas antes inibidas pela Lava-Jato hoje a atacam abertamente.

Houve troca de mensagens com Moro desde que ele assumiu o Ministério da Justiça?
Houve conversas com o ministro antes e depois de ele assumir. A questão não é se houve conversas ou por qual meio, mas qual o seu conteúdo, que sempre foi a busca do interesse público.

Moro seria um bom ministro do STF? Por quê?
A atuação de Sergio Moro como juiz merece todo reconhecimento, assim como sua vida e produção acadêmicas. Mas não cabe a mim especular sobre a carreira dele.

 

E presidente da República?
Moro seria um bom presidente?
Também não cabe a mim fazer essa especulação, que é política e foge da minha especialidade.

Como era a relação da força-tarefa de Curitiba com a equipe da PGR? Havia divergências?
Como em todo trabalho havia, por vezes, discordâncias sobre qual o melhor caminho para atingir o interesse público, mas, em geral, elas foram equacionadas. Dentro da própria equipe, muitas vezes discordamos, o que é saudável. O importante é que todos atuem sempre nos limites da lei, da ética e do interesse público.

Há uma desconfiança por parte de pessoas que acompanham a Lava-Jato de que autoridades norte-americanas interferiram na investigação da Lava-Jato. Ao longo dos últimos cinco anos houve troca de informações com autoridades norte-americanas?
Vejo essa desconfiança na forma de teorias da conspiração, em blogues que ligam a Lava-Jato à CIA ou a interesses estrangeiros. Inventam todo tipo de maluquice. Agora, um dos traços marcantes da Lava-Jato foi a cooperação interna, entre órgãos, e internacional, com mais de 50 países, sempre com respeito à soberania de cada um. A cooperação com a Suíça, por exemplo, permitiu alcançar documentos de contas bancárias usadas para pagar e receber propinas. Trabalhar com as autoridades americanas foi importante para obter documentos bancários e recuperar recursos desviados. A Lava-Jato forneceu também provas de corrupção para vários países da América Latina.

O que espera do seu futuro?
O que me preocupa é o futuro do país, onde meus filhos vão viver. Falam que a prioridade é a questão econômica, mas fecham os olhos para o fato de que só teremos uma economia forte no médio e no longo prazo se enfrentarmos o capitalismo de compadrio e a grande corrupção política brasileira. O compadrio é uma face perversa de um sistema extrativista, em que parte das elites desviam dinheiro e empobrecem a nação, como disseram Daron Acemoglu e James Robinson no livro Por que as nações fracassam. Nosso sistema eleitoral é capturado pelo dinheiro, como mostra o recente livro de Bruno Carazza. A corrupção grassa, reformas anticorrupção estão na gaveta, o combate à corrupção está se esfacelando e está sendo criado um clima favorável à impunidade.

Em que o senhor busca inspiração e força para enfrentar essa fase?
Na minha fé, no meu propósito de servir ao país e de reduzir o sofrimento humano e a miséria que a corrupção causa, e em exemplos de pessoas que, ao longo da história, lutaram por décadas contra injustiças históricas e arraigadas.

Houve pedido para empresas investigadas na Lava-Jato doarem para um instituto que apoia o combate à corrupção?
Isso nunca ocorreu. Ao longo da operação, vários cidadãos que não conheço me perguntaram como poderiam apoiar a causa anticorrupção. Indiquei que essas pessoas procurassem entidades apartidárias em que confio, como a Transparência Internacional, o Instituto Mude e o Observatório Social. Se eles ofereceram ajuda e se ela foi aceita, isso é um assunto deles, dos cidadãos e das entidades.

Ao aceitar o cargo no governo Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro abalou a imagem da Operação Lava-Jato?
Creio que já respondi a essa questão anteriormente ao falar sobre o ministro.

O ministro Gilmar Mendes chamou a força-tarefa da Lava-Jato de “organização criminosa para investigar pessoas”. O que acha disso? Gilmar Mendes também se referiu à força-tarefa como falsos heróis. O que diz sobre isso?
Nunca pretendemos ser heróis nem buscamos esse título. Além disso, essa história de heróis é péssima, porque os cidadãos se veem como espectadores ou mesmo vítimas e ficam passivamente esperando que os heróis resolvam o problema. Contudo, apenas a sociedade pode mudar o país. Quanto às agressões injustas do ministro Gilmar, não vou ficar trocando ofensas com ele. Acredito que a sociedade saberá discernir o que está acontecendo.

Em mensagem aos colegas, o senhor disse que defendeu o
respeito à lista tríplice, mas a indicação de Augusto Aras deve se consolidar e é hora de trabalhar pelo MP. É um voto de confiança?

Seria mais democrática e transparente a indicação de um dos nomes constantes na lista tríplice. Mas a realidade é que foi indicado um nome de fora da lista. Sem um trabalho coordenado com o PGR, a Lava-Jato não funciona. Quase todos os nossos acordos batem em alguém com foro. Nossos casos acabam lá. E as decisões do STF serão fundamentais para nossas investigações e processos. O novo PGR está se propondo a fazer um bom trabalho na Lava-Jato, designou ótimos colegas que já atuavam lá até recentemente, e têm condições para isso. Vamos cobrar isso dele, mas também precisamos fazer nossa parte, precisamos colaborar. É preciso ter uma atitude construtiva para que o Ministério Público alcance os melhores resultados em prol da sociedade.

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Correio Braziliense sexta, 13 de setembro de 2019

SECA EM BRASÍLIA: BICHOS RECEBEM CUIDADOS ESPECIAIS

 

Bichos recebem cuidados especiais na seca
 
Zoo de Brasília oferece alimentação alternativa para amenizar o calor e a estiagem. Com umidade abaixo dos 12%, DF voltou a entrar em estado de emergência

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 13/09/2019 04:00

Chocolate ganhou uma ducha de água fria (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Chocolate ganhou uma ducha de água fria

 




Ducha fria, brincadeiras dentro d’água, alimentação leve e até picolé de frutas. Tudo isso tem feito parte da rotina no Zoológico de Brasília durante a seca. O Distrito Federal está há 101 dias sem chuva e, assim como nós, os animais sofrem com a sequência de meses de baixa umidade e temperaturas altas. A equipe faz atividades semanais para, além de aliviar o calor, deixar as tardes dos bichos mais divertidas.

A chefe do Núcleo de Bem-Estar Animal da fundação, Marisa Vieira de Carvalho, conta que são oferecidas várias opções de refrescamento, mas são os animais que escolhem com o que vão interagir.

Às segundas, quartas e sextas-feiras, um caminhão-pipa é usado para molhar todos os recintos. Além disso, frutas, como maçã, são colocadas dentro de cada ambiente para ajudar nos períodos de mais calor, geralmente às 15h30.

Ontem, o elefante Chocolate foi agraciado com um banho à tarde, acompanhado de uma alimentação bem leve. A cada jato de água, ele reagia levantando a tromba. No espaço das emas, foi instalado um sistema para molhar  plantas, com a função de deixar os recintos mais úmidos. Elas também aproveitam para se refrescar.

O urso-de-óculos Ney foi um show à parte. Ganhou um picolé de frutas enquanto fazia o lanche da tarde. A recompensa gelada foi lançada no lago onde bebe água. A elefanta Belinha também foi premiada com a guloseima. Já a girafa Yaza recusou o agrado. Preferiu as folhas de amora do pé que fica no espaço que divide com a zebra.

Os picolés são preparados com 24 horas de antecedência para serem entregues na consistência correta. Entre os ingredientes estão melancia, banana, maçã, mamão e um suco adoçado com mel.

Durante a semana, os pequenos felinos também ganharam picolé, mas o sabor era diferente, de acordo com o gosto dos animais: sumo ou pedaços de carne congelados. A equipe de zootecnia é responsável pela dieta balanceada e refrescante. “Trabalhamos com um cronograma, mas o clima auxilia nas escolhas que fazemos”, explica Marisa, do Núcleo de Bem-Estar.

Dia mais quente do ano

A Defesa Civil voltou a decretar estado de emergência ontem, após dois dias consecutivos com a umidade relativa do ar abaixo de 12% — chegou a 11%. Além disso, foi o dia mais quente do ano, com 34,7ºC.

Ao que tudo indica, o calor excessivo continua nos próximos dias. A previsão para hoje, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é de tempo seco e umidade ainda baixa, podendo chegar a 11%, à tarde, entre 14h e 16h. A máxima pode atingir 34ºC.

De acordo com o meteorologista Olívio Bahia, amanhã a temperatura pode cair um pouco e ficar na casa dos 29ºC. A umidade deve subir, dando um pouco de alívio aos brasilienses. “Será um dia menos agressivo, mas ainda seco. Sairemos deste estado de alerta em que o DF está, mas terá uns picos diurnos. De uma forma geral, há uma preocupação na cidade, em especial com as pessoas mais sensíveis, como crianças e idosos, que sentem mais.”

Segundo o especialista do Inmet, ainda não há previsão de chuva. “Não há sinais para os próximos cinco dias. Daí para frente, não podemos confirmar. Mas a perspectiva não é muito boa. Em outubro é quando a gente sabe que a chegada das chuvas é mais certeira”, diz o meteorologista.


Serviço

» O Zoológico de Brasília funciona de terça a domingo e nos feriados, sempre das 8h30 às 17h. Os ingressos custam R$ 10. Pagam meia-entrada crianças de 6 a 12 anos, idosos, estudantes, professores e beneficiários de programas sociais do governo.
 
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Correio Braziliense quinta, 12 de setembro de 2019

LAGO PARANOÁ: 60 ANOS DE HISTÓRIA

 

LAGO PARANOÁ

60 anos de história
 
Um dos principais pontos turísticos de Brasília carrega mais do que beleza. Em 12 de setembro de 1959, o Lago Paranoá começou a se formar, mas esse é só um aspecto da rica história do local

 

» ALAN RIOS

Publicação: 12/09/2019 04:00

Vista encanta brasilienses: sintonia entre natureza e arquitetura (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Vista encanta brasilienses: sintonia entre natureza e arquitetura

 



Hoje coberta por água, a área já foi ocupada por casas da Vila Amaury (Arquivo/Instituto Histórico e Geográfico do DF)  

Hoje coberta por água, a área já foi ocupada por casas da Vila Amaury

 



Foto de 1970 mostra Lago Paranoá com banhistas, mas ainda sem prédios ao fundo (Arquivo CB/CB/D.A Press)  

Foto de 1970 mostra Lago Paranoá com banhistas, mas ainda sem prédios ao fundo

 



Nadadores amenizam a seca do Cerrado com mergulhos no espelho d%u2019água (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Nadadores amenizam a seca do Cerrado com mergulhos no espelho d'água

 

 
“É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte, forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos, num comprimento de 20 a 25 quilômetros”. A afirmação foi escrita em 1895 pelo francês Auguste François Marie Glaziou, engenheiro e botânico que fez pesquisas na área onde seria construído o Lago Paranoá. Já em 1959, Juscelino Kubitschek fechou a barragem do Paranoá e viu, na presença de uma multidão, o lago começar a se formar. Aquele momento histórico para Brasília, idealizado desde o século XIX, completa hoje 60 anos.
 
Seja para dar um mergulho, ter um dia de tranquilidade com os pés na água, respirar um ar mais úmido ou fotografar o cenário, o brasiliense cultiva um carinho pelo Lago Paranoá. O aniversariante de 12 de setembro recebe visitas constantes, como a de Alan Silva de Carvalho, 33 anos. Morador de Valparaíso (GO), ele garante que, se morasse mais perto, tomaria banho diariamente naquela água. “Gosto porque é um lugar muito tranquilo, que transmite uma paz boa. Nunca vi brigas ou confusões entre os frequentadores”, diz.
 
Mas quem vê a imensidão do lago dificilmente imagina que a história dele também é enorme ou que parte daquele lugar já esteve ocupada por uma população de cerca de cem famílias, como explica Denise Coelho, professora da Secretaria de Educação e especialista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. “Muita gente não sabe, mas o Lago Paranoá foi antevisto pelo engenheiro Auguste François durante a segunda Missão Cruls, que, resumidamente, fez uma série de pesquisas no interior do país para descentralizar o desenvolvimento do Brasil dos estados litorâneos”, conta. 

O casal Marcelo dos Santos e Dayane Santos aproveita o lago:  

O casal Marcelo dos Santos e Dayane Santos aproveita o lago: "Meu refúgio!", diz ele

 



Ambiente calmo e contato com o meio ambiente são atrativos do aniversariante do dia (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Ambiente calmo e contato com o meio ambiente são atrativos do aniversariante do dia

 

 
Quando esse ideal precisou sair do papel, o lugar não era o mesmo de séculos atrás. “No fim da década de 1950, muitas pessoas moravam ali, em uma vila que foi chamada de Sacolândia, depois Vila Bananal e, por fim, Vila Amaury.” Os moradores foram transferidos para Sobradinho e Gama, mas, até hoje, mergulhadores encontram pedaços de casas, carros e máquinas no fundo d’água. 
 
Da descrença à realidade
 
Há 60 anos, críticos de Kubitschek chegaram a dizer que construir um lago artificial na nova capital era uma loucura. Adversários políticos e descrentes diziam que a ideia seria um fracasso e que o lago não encheria. “No dia em que o lago atingiu mil metros de altitude, o então presidente mandou um telegrama para os críticos mais ferrenhos com duas palavras: ‘Encheu, viu?’”, lembra Denise. Hoje, as águas que já foram rasas permitem que os frequentadores se molhem dos pés à cabeça, como faz o empresário Marcelo dos Santos, 36. “Esse é o meu refúgio! É bom para a alma e para o corpo”, comemora o morador do Cruzeiro. 
 
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Correio Braziliense quarta, 11 de setembro de 2019

QUE SAUDADE DA CHUVA!

 

Que saudade da chuva!
 
 
Clima seco e altas temperaturas castigam os brasilienses, principalmente aqueles que trabalham nas ruas sob o Sol

 

» ALAN RIOS

Publicação: 11/09/2019 04:00

Guarda-chuva passou a servir como guarda-sol durante a seca (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Guarda-chuva passou a servir como guarda-sol durante a seca

 



A empresa de Simone mudou a carga horária para evitar que garis trabalhem sob o Sol da tarde (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

A empresa de Simone mudou a carga horária para evitar que garis trabalhem sob o Sol da tarde

 

 
Você se lembra quando foi a última vez que se molhou com a chuva em Brasília ou precisou recorrer àquela sombrinha que fica na bolsa para não encharcar a roupa? É preciso voltar meses no tempo. Hoje, quando a temperatura máxima será de 32ºC e a umidade pode chegar a 20%, o Distrito Federal completa a marca de 100 dias sem chuva. E se não está fácil aguentar o Sol quente, seja em casa, no escritório , seja em escolas e faculdades, pior ainda é a situação de quem trabalha sem um teto para se proteger. Garis, policiais e ambulantes da capital, por exemplo, driblam como podem as dificuldades do serviço na rua nessa época de seca.
 
Entre as recomendações de especialistas para enfrentar os meses de baixa umidade do ar e altas temperaturas, está usar roupas leves. Simone Francisca dos Santos, 52 anos, contudo, não pode seguir esse conselho. Funcionária de uma empresa de limpeza urbana, ela precisa das luvas, do uniforme de mangas cumpridas e calça larga. “O que podemos fazer é tomar muita água, e isso eu faço toda hora. Ando com minha garrafinha e, sempre que posso, abasteço”, conta. A gari lembra ainda que chegou a passar mal debaixo do Sol recentemente, mas que uma alteração no horário de trabalho diminuiu os desgastes. “Semanas atrás eu fiquei tonta, senti a visão escurecer um pouco e tive que dar uma pausa. Mas mudaram nossa jornada para que a gente termine às 12h40 e não pegue aquelas horas mais quentes do dia”, explicou.
 
Policiais da patrulha com bicicletas reforçaram o protetor solar e passaram a trabalhar com medidor de pressão para cuidados com quem passa mal na seca (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Policiais da patrulha com bicicletas reforçaram o protetor solar e passaram a trabalhar com medidor de pressão para cuidados com quem passa mal na seca

 

 Outra dica para enfrentar a baixa umidade é evitar exercícios físicos na parte da tarde, quando as maiores temperaturas costumam ser registradas. A patrulha de ciclistas da Polícia Militar se adaptou para isso. Policiais que atuam com bicicletas em Ceilândia chegam a percorrer 18 km por dia para garantir a segurança da região, como detalha o subtenente Roberto Costa, 48. “Na base do centro da cidade, temos duas equipes, com quatro pessoas cada, que percorrem um caminho longo. Como o calor está forte, agora nós mudamos nossas operações. Antes, pedalávamos de 8h às 16h. Agora, nós pedalamos até às 11h e depois seguimos a patrulha na base móvel, que é a nossa van”, diz. Além da mudança de horários, a PM também comprou protetores solares para os militares e, em alguns postos, eles passaram a andar com um aparelho medidor de pressão, para primeiros socorros de vítimas das altas temperaturas.
 
“É comum, durante o patrulhamento nessa época, ver pessoas se sentindo mal debaixo do Sol, principalmente ambulantes. Semana passada, uma vendedora desmaiou no Restaurante Comunitário e fomos prestar os atendimentos. Chamamos o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e tivemos os cuidados para que ela não tivesse uma convulsão”, lembrou o subtenente. Para evitar esses casos, se hidratar é essencial. E Cleisson do Santos, 18, incentiva isso com sua barraquinha de água de coco. “As compras sempre aumentam de junho a setembro, com a seca. Agora, tem dia que chego a vender 50 cocos. Para não sofrer com o calor, coloco um guarda-sol grande e faço uma sombra boa. É bom até para os clientes, que chegam aqui, sentam um pouco e se hidratam”, comemora.


Para prevenir
Coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia, o médico Luciano Lourenço explica que o brasiliense está respirando um ar mais inflamatório, que agride mais o corpo. Por isso, manter padrões de hidratação e alimentação é tão importante. “Principalmente quem trabalha com exposição ao Sol precisa lembrar de beber água constantemente. Também devemos lembrar de manter uma alimentação mais saudável, com frutas, verduras e comidas leves, porque a gordura e o açúcar dificultam a digestão”, ressaltou o especialista. Antes de sair de casa, também é necessário passar o protetor solar — de fator 30 ou maior — e levá-lo na bolsa, uma vez que é recomendado um reforço do produto durante o expediente de quem trabalha sob o Sol. “No mais, óculos escuros e bonés também ajudam”, finaliza Luciano.


Estiagem

A média de tempo em que o DF fica sem chuva na época da seca costuma variar entre 100 e 120 dias, mas a marca foi ultrapassada recentemente. Em 2017, foram 127 dias de estiagem, período muito maior do que no ano passado, quando a capital ficou somente 82 dias na seca. Mas o recorde negativo é bem mais antigo e atingiu os pioneiros da capital. Em 1963, Brasília alcançou os 164 dias sem registro de chuva. Neste ano, a expectativa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que a seca continue por mais alguns dias. “Sempre olhamos os modelos meteorológicos e eles estão cada vez mais jogando para frente quando virá a chuva. Pode ser que chova até a última semana de setembro, mas, pelo menos até a próxima semana, o DF deve continuar na seca”, adiantou a meteorologista Naiane Araújo.
 
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Correio Braziliense terça, 10 de setembro de 2019

O ABUSADOR MORA DENTRO DE CASA

» CIDA BARBOSAA maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre em casa, cometidos por alguém que deveria protegê-los. Na segunda reportagem da série Infância, um grito de socorro, o Correio traz o relato de Ana (nome fictício), abusada pelo próprio irmão dos 6 aos 11 anos. As violações impactam vítimas de todas as idades e classes sociais. O enfrentamento da barbárie, porém, ainda apresenta muitos desafios, como uma participação mais efetiva e permanente da sociedade, prevenindo e denunciando o crime, e um Estado atuante, com mais políticas públicas e campanhas de conscientização. PÁGINA 19 (Kleber Sales/CB/D.A Press)

O ABUSADOR MORA DENTRO DE CASA
 
Eu sofri violência do meu irmão
 
A segunda reportagem da série trata dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes, como os vividos pela jovem Ana. A maioria desses crimes ocorre dentro de casa e são cometidos por alguém responsável pelo cuidado e pela segurança da vítima

 

» Cida Barbosa

Publicação: 10/09/2019 04:00

Quando entra na sala, Ana (nome fictício) chama a atenção. Bonita, alta, um tanto tímida. Fala, porém, com desenvoltura e transmite uma segurança surpreendente para quem foi impactada pela violência desde muito cedo. “Eu sofri uma violência do meu irmão quando eu tinha uns 6 anos, e isso ficou acontecendo até eu ter uns 11”, conta, ao Correio, a jovem de 18 anos.
 
Ana enfrentou seu tormento em silêncio, por temor de abalar a mãe. “Ela é doente. Eu sempre achei que mais um problema só iria prejudicá-la. Passei uns seis anos escondendo tudo. Isso acabou comigo por dentro.” Só muito tempo depois a mãe soube da violência — a reportagem não fornecerá mais informações para preservar a identidade da jovem.
 
O drama vivido por Ana é uma realidade na rotina de milhares de crianças e adolescentes no país. Os abusos sexuais que impactam vítimas de todas as idades e classes sociais são o tema da segunda reportagem da série Infância: um grito de socorro.
 
No Brasil, há um dia específico de mobilização contra esses crimes. A instituição do 18 de maio foi um passo importante, mas o enfrentamento da violência carece de participação efetiva e permanente da sociedade, prevenindo e denunciando os abusos, e do Estado, com mais políticas públicas e campanhas de conscientização.
 
“Temos avanços importantes. A partir de campanhas, de todo o trabalho de sensibilização, da mídia, das redes sociais, há uma possibilidade maior de denúncia, de as pessoas notificarem, falarem sobre isso”, afirma Karina Figueiredo, membro da coordenação do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. “Mas a gente ainda tem muitos desafios no que se refere ao papel das políticas públicas em darem resposta ao combate a essa violência. Não tem como não dizer que não houve avanço, porém, é aquela velha questão: criança e adolescente não são prioridade absoluta, embora esteja na lei.”
 
No Distrito Federal, de janeiro a abril deste ano, houve 79 casos notificados de violência sexual contra esse público, segundo o Disque 100— canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Nos 12 meses de 2018, a capital federal teve 291 registros .
 
Os números, porém, não refletem a totalidade dessa barbárie, porque os abusos ocorrem, principalmente, dentro da família, e são cometidos por pai, mãe, madrasta, padrasto, irmão, tio, primo, avós — além de amigos, vizinhos e conhecidos. Os integrantes do núcleo familiar não percebem o crime, se calam para preservar sua “harmonia” ou se veem chantageados pelo molestador, que ameaça agredir ou matar parentes em caso de denúncia.
 
Meninas e meninos também costumam aguentar tudo em silêncio porque, muitas vezes, não compreendem que estão sendo vítimas de abusos. “A literatura (médica) diz que leva de um ano a um ano e meio para a criança denunciar, por causa de todo esse contexto que perpassa a violência sexual. A maioria dos casos ocorre no ambiente intrafamiliar, o agressor é conhecido”, diz Fernanda Falcomer, chefe do Núcleo de Estudos, Prevenção e Atenção à Violência (Nepav), da Secretaria de Saúde. “A criança fica submetida àquela situação até compreender que é uma violência e conseguir contar para alguém.”
 
A vergonha e o sentimento de culpa são comuns entre as vítimas. Ana afirma que, se pudesse falar com todas elas, diria para entenderem que não têm responsabilidade pelo que ocorreu. “Que não foi uma roupa, não foi uma coisa que fizeram ou disseram”, ressalta. “É importante não se calar. Então, se tem um amigo de confiança, a mãe, o pai, fale, converse, procure o Conselho Tutelar”, ensina. Nem sempre, porém, a denúncia é a etapa inicial para o fim da violência. Geralmente, meninos e meninas são desacreditados ao revelarem os abusos. “Quando a criança é muito pequena, dizem: ‘Ela não sabe do que está falando, está fantasiando’. Se é adolescente: ‘Adolescente mente’”, exemplifica Ana Cristina Melo Santiago, delegada-chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Na unidade, as vítimas são ouvidas numa escuta especializada, com um método desenvolvido para não revitimizá-las, e fornecem dados para o processo criminal.
 
A violência sexual tem consequências profundas na saúde física e mental e no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes. Muitos apresentam alterações cognitivas, atrasos na escola, têm raiva profunda, pesadelos frequentes (veja quadro). Os impactos prosseguem na vida adulta, como diz Karina Figueiredo. “Eu trabalho hoje com mulheres que são dependentes de álcool e outras drogas, e 90% delas sofreram violência sexual na infância”, relata. “Elas falam claramente que o uso da droga é uma forma de anestesiar essa dor.”
 
 
 
O suplício de Araceli
 
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil foi instituído como 18 de maio em homenagem à menina Araceli Cabrera Crespo. Nesse dia, em 1973, a criança, então com 8 anos, foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada em Vitória (ES). O crime bárbaro, que chocou o Brasil, ficou impune.
 
 
 
Denuncie
 
Todos os tipos de violência contra crianças e adolescentes podem ser denunciados nos conselhos tutelares, cujos endereços e telefones estão no site: http://conselhotutelar.
sejus.df.gov.br/wp-conteudo//uploads/2019/07/CONSELHOS-TUTELARES.pdf. Também é possível fazer a denúncia em qualquer delegacia ou por meio do Disque 100 (o usuário disca para o número 100, seleciona a opção desejada e é encaminhado para um atendente), do aplicativo Proteja Brasil (o usuário vai à loja de aplicativos do seu celular e faz o download, gratuitamente, disponível para iOs e Android) e da Ouvidoria on-line (preenche um formulário disponível em www.humanizaredes.gov.br/ouvidoria-online/). O anonimato é garantido.
 
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Correio Braziliense domingo, 08 de setembro de 2019

A FESTA DA INDEPENDÊNCIA

 

CIVISMO
 
A festa da independência
 
A estimativa é de que mais de 20 mil pessoas foram ao tradicional desfile cívico-militar em comemoração ao 7 de Setembro e o primeiro do presidente Jair Bolsonaro. Empolgado com a recepção, ele desceu do palanque e foi ao encontro dos eleitores
 
 
Diante de mais de 20 mil pessoas, Bolsonaro desfilou de Rolls Royce, com o filho Carlos e um garoto de 9 anos, que convidou, no banco traseiro do carro. Na hora do desfile cívico-militar, ele quebrou o protocolo: deixou a arquibancada reservada às autoridades e foi ao encontro do público. O verde e o amarelo predominaram na Esplanada. Depois da celebração da Independência, o presidente embarcou para São Paulo, onde passará por cirurgia, amanhã, para corrigir hérnia.  (Ed Alves/CB/D.A Press)
 

 

Darcianne Diogo*
Juliana Andrade
Thais Moura*
Thiago Cotrim*

Publicação: 08/09/2019 04:00

As arquibancadas, instaladas na Esplanada dos Ministérios, ficaram lotadas de brasilienses e pessoas de outros estados que vieram prestigiar  a tradicional parada, protagonizada pelos militares (Ed Alves/CB/D.A Press)  

As arquibancadas, instaladas na Esplanada dos Ministérios, ficaram lotadas de brasilienses e pessoas de outros estados que vieram prestigiar a tradicional parada, protagonizada pelos militares

 

 
O verde e o amarelo dominaram a Esplanada dos Ministérios no primeiro 7 de Setembro do presidente Jair Bolsonaro (PSL).  Embora a Polícia Militar não tenha avaliado o tamanho do público, a estimativa é que mais de 20 mil pessoas atenderam ao apelo do presidente e compareceram ao desfile usando as cores predominantes da bandeira do Brasil: amarelo e verde. Com arquibancadas e gramado lotados, o chefe do Executivo foi recebido aos gritos de “mito”. Diante da manifestação dos presentes, ele quebrou protocolo, desceu da tribuna de honra e caminhou pela avenida, onde ocorre o desfile cívico-militar, para cumprimentar os eleitores.
 
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, assistiu ao desfile ao lado do presidente Jair Bolsonaro, na tribuna presidencial. O chefe do Buriti estava acompanhado da primeira-dama, Mayara Noronha, e do filho mais novo, Mateus Rocha. Ibaneis destacou que o 7 de Setembro simboliza a luta pela liberdade do povo brasileiro, mas os desafios continuam. “Agora, precisamos avançar para edificação de um Brasil ainda mais digno, justo, e que tenha, na democracia, valores éticos e morais capazes de promover um pacto de responsabilidade social com todos os brasileiros e brasileiras. Democracia é prática, paciência, construção”, declarou.
 
O casal Ana Cláudia e Paulo Souza, com o filho: amor à pátria (Thiago Cotrim/Esp. CB/D.A Press)  

O casal Ana Cláudia e Paulo Souza, com o filho: amor à pátria

 

 
Além das apresentações dos batalhões do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do Distrito Federal, o desfile contou com a participação de escolas públicas do Distrito Federal, que se tornou uma tradição. Entre elas, escolas de Samambaia, da Estrutural, do Guará, do Recanto das Emas, de Ceilândia, Gama e Santa Maria, além das estudantes das escolas militares do DF.
 
Crianças, jovens, adultos e idosos procuraram o melhor local para apreciar o desfile. Aqueles que não conseguiram um lugar na arquibancada se posicionaram de frente aos três telões instalados no gramado. Os mais inconformados escalaram árvores ou procuraram frestas na estrutura metálica que separava a arquibancada do gramado.
 
A dona de casa Andréa Souza,33 anos, passou a maior parte da atração em uma estrutura de metal que lhe dava uma visão acima da arquibancada — tudo para não perder um minuto da parada.  “É o primeiro 7 de Setembro que eu comemoro. Vim para conhecer e prestigiar o evento. O ruim é que encontrei um espaço para minha filha sentar na arquibancada, mas eu fiquei aqui de fora”, diz Andréa.
 
O empresário Paulo Souza, 26, aproveitou o gramado da Esplanada para assistir ao desfile pelo telão. Ele acompanha o evento desde criança e levou o filho e a mulher, Ana Cláudia, para o evento. “Quero passar essa tradição para o meu filho. Acredito que sair de casa para celebrar um momento como esse é só um resumo do amor que precisamos ter pelo nosso país”, disse.
 
Os organizadores esperavam 20 mil pessoas para o evento. O número não foi confirmado. Diferentemente de anos anteriores, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) não divulgou o dado. Além de moradores do Distrito Federal, teve gente que veio de outros estados especialmente para a comemoração ao lado do presidente da República. A empresária Luciana Borges, 55, desembarcou, na sexta-feira à noitem, em Brasília, procedente do Bairro da Lapa, em São Paulo. “Para mim, é uma honra estar aqui. Sigo o presidente Jair Bolsonaro em todas as manifestações. Hoje não poderia ser diferente: vim vê-lo e ouvir o discurso”, afirmou.
 
O militar Kelvin Rocha (E) foi ver a Esquadrilha da Fumaça (Thaís Moura/Esp. CB/D.A Press)  

O militar Kelvin Rocha (E) foi ver a Esquadrilha da Fumaça

 

 
Um dos momentos mais esperados foi a apresentação da esquadrilha da fumaça. O militar Kelvin Rocha, 22, aguardou o evento inteiro, ansioso, pela exibição aérea.  “É a segunda vez que estou vindo, eu venho só pelas marchas, que são muito bonitas, e pela Esquadrilha da Fumaça”, conta. Para ele, os desfiles foram superiores aos do ano passado. “Eu só acho que está um pouco mais rígido para entrar no evento, no passado era mais fácil, sem tanta burocracia”, reclamou. Outro momento que levantou o público foi o desfile da Pirâmide Humana do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, com 47 militares sobre uma única motocicleta.
 
No balanço do Corpo de Bombeiros, apenas 11 ocorrências, a princípio sem gravidade. A Polícia Militar fez quatro apreensões de drogas, canivete e estilete nas proximidades do evento. Os suspeitos foram detidos e levados à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central).
 
Joice, Magda e Francisco vestiram preto: protesto contra o governo e em defesa da Amazônia (Darcianne Diogo/Esp. CB/D.A Press)  

Joice, Magda e Francisco vestiram preto: protesto contra o governo e em defesa da Amazônia

 

 
Insatisfação
 
Entre os presentes, houve quem aproveitou o momento para protestar contra o governo. A fotógrafa Joice da Silva, 22 anos, a analista administrativa Magda Queiroz, 51, e o servidor público Francisco de Assis, 54, vieram para o desfile vestidos de preto, conforme recomendação de grupos contrários ao presidente  Bolsonaro. Além disso, eles colaram adesivos nas blusas com as frases: “Fora, Bolsonaro” e “Todos a favor da Amazônia”.
 
“Estamos passando por um momento delicado na política brasileira, em que nossa democracia está ameaçada. Viemos protestar, mas confesso que estou com medo. A maioria das pessoas que estão aqui (Esplanada dos Ministérios) são favoráveis ao presidente e, quando elas nos vêem, nos olham com a cara feia. É uma pena saber que, mesmo em um espaço público, não podemos manifestar nossa opinião”, reclamou Joice.
 
 
 (Thaís Moura/Esp. CB/D.A Press)  
 
Eu fui!
A estudante do colégio militar Tiradentes, Isabelle Tavares, 16, desfilou durante as comemorações e se surpreendeu com a animação do público. “É o segundo ano que eu desfilo. Foi muito cansativo, mas já estou acostumada porque nós marachamos toda sexta-feira. No momento em que começamos a cantar, o público reagiu muito bem. Foi um momento mágico”, conta.
 
 
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Correio Braziliense sexta, 06 de setembro de 2019

ENFIM, NEYMAR VAI JOGAR

 

Enfim, Neymar vai jogar
 
 
Sem entrar em campo desde o duelo com o Catar no DF, e em crise com o Paris Saint-Germain, o camisa 10 encara a Colômbia

 

Publicação: 06/09/2019 04:00

 
Neymar não entra em campo desde a vitória  do Brasil por 2 x 0 sobre o Catar, em junho, em Brasília ( Lucas Figueiredo/CBF
)  

Neymar não entra em campo desde a vitória do Brasil por 2 x 0 sobre o Catar, em junho, em Brasília

 




O retorno de Neymar aos gramados é a grande atração do amistoso que Brasil e Colômbia disputarão hoje, em Miami, no primeiro compromisso da Seleção Brasileira após a conquista da Copa América. O atacante do PSG, frustrado com a não concretização da transferência para o Barcelona, voltará a campo após sua última atuação, no amistoso entre Brasil e Catar, em 5 de junho no Mané Garrincha. Naquele jogo, Neymar sofreu lesão aos 20 minutos no tornozelo e foi cortado da Copa América.

Para este retorno, o estado físico do jogador é uma grande incógnita, pois ele não atua 90 minutos desde 27 de abril, na final da Copa da França com o PSG, e é o único de todos os convocados de clubes da Europa que ainda não jogou nesta temporada 2019/2020. Apesar da falta de ritmo, o técnico da Seleção, Tite, segue confiando na grande estrela, que vai liderar novamente o ataque da equipe.

Tite deve seguir apostando na equipe-base que conquistou a Copa América em julho, mas com três novidades. O goleiro Ederson entra no lugar do lesionado Alisson; Neymar substitui Everton “Cebolinha” (que não foi convocado para poder disputar com Grêmio a semifinal da Copa do Brasil); e Richarlison entrará no lugar de Gabriel Jesus, que cumpre suspensão automática.

A partida pode ser a estreia na Seleção de Vinícius Júnior, o jovem jogador do Real Madrid convocado pela primeira vez por Tite para os amistosos contra os colombianos e, na terça-feira , contra o Peru, em Los Angeles. “Eu fico muito feliz de estar aqui realizando esse sonho. É difícil acreditar que com 19 anos eu já estou aqui, ao lado dos melhores jogadores, ao lado do meu ídolo (Neymar), das pessoas que eu sempre acompanhei bastante”, afirmou o jovem atacante revelado nas divisões de base do Flamengo.

Colômbia
A equipe colombiana volta a atuar após a eliminação nas quartas de final da Copa América contra o Chile. Os colombianos foram o melhor time da fase de grupos do torneio, no qual mostraram bom futebol e venceram os três jogos disputados, mas caíram diante dos chilenos nos pênaltis nas quartas.

Para os amistosos contra o Brasil e Venezuela, a seleção colombiana não contará com as estrelas James Rodríguez e Radamel Falcao, que não foi convocado pelo técnico português Carlos Queiroz por problemas físicos.

A grande dúvida na equipe é saber quem ocupará o lugar de James, o único meia-atacante nato da seleção, como admitiu o próprio Queiroz quando anunciou a lista de convocados. “Temos que dar prosseguimento ao futebol criativo, de muita penetração de passes, de consistência. Não tenho um volante 10, mas quatro 11 que podem criar desequilíbrio em todo o campo”.

Queiroz deve seguir apostando numa equipe titular mantendo a base da Copa América, com a entrada de Jefferson Lerma no meio de campo no lugar de James e de Luis Muriel, lesionado na estreia do torneio continental, substituindo Falcao no ataque.

A preparação das duas equipes em Miami foi afetada pela passagem do furacão Dorian. O Brasil planejava treinar durante a semana na Universidade Barry, que estava fechada por motivos de segurança. Assim, o local escolhido foi um campo coberto e de gramado artificial da equipe de futebol americano Miami Dolphins. Essa solução foi adotada também pela Colômbia, devido ao mau tempo.
 
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Correio Braziliense quinta, 05 de setembro de 2019

ELTON MEDEIROS, O FILÓSOFO DO SAMBA, MORRE AOS 89 ANOS

 


O filósofo do samba
 
 
Morre aos 89 anos Elton Medeiros, parceiro de Cartola, Ismael Silva, Zé Kéti, Hermínio Belo Carvalho e Paulinho da Viola

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 05/09/2019 04:00

 (Silvana Marques/Divulgação)  
 
 
“A sorrir eu pretendo levar a vida/ Pois chorando eu vi a mocidade perdida...” é o verso inicial de O sol nascerá, cantado por Zeca Pagodinho e Teresa Cristina na abertura de Bom Sucesso, elogiada novela apresentada na faixa das 19h pela TV Globo. Possivelmente, espectadores mais jovens não sabem que esse samba clássico é uma parceria de dois mestres do gênero: Cartola e Elton Medeiros.
 
Elton, que morreu na madrugada de ontem, aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia, em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, compôs também com Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Candeia, Zé Keti e Hermínio Bello de Carvalho. Mas seu principal parceiro foi Paulinho da Viola, com quem gravou, em 1968, o LP Samba na madrugada.
 
Os dois, na década de 1960, estiveram juntos igualmente no grupo A Voz do Morro, ao lado de Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Armando Santos, Nuno Veloso, Joacyr Santanna. O conjunto foi formado no mítico  Zicartola, bar, restaurante e ponto de encontro de sambistas, que existiu num sobrado da tradicional Rua da Carioca, Centro do Rio.
 
Rosa de Ouro
 
Ali, Hermínio Bello de Carvalho idealizou a proposta de Rosa de Ouro, show que ficou em cartaz por mais de um ano, no Teatro Jovem, em Botafogo. Espetáculo que se tornaria antológico, e ganhou registro em disco, tinha Elton dividindo o palco com Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro e as divas Clementina de Jesus e Araci Cortes. Ele, Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho assinavam o samba que dava nome ao musical, cantado na abertura.
 
Carioca do bairro da Glória, torcedor do Olaria, Elton compôs os primeiros sambas na adolescência para blocos carnavalescos como o Tupi de Braz de Pina e para a escola de samba Aprendizes de Lucas — a atual Unidos de Lucas. Do legado de clássicos do compositor, além de O sol nascerá fazem parte sambas que resultaram da parceria com Hermínio Bello de Carvalho (Pressentimento), Paulinho da Viola (Onde a dor não tem razão) e Zé Keti (Mascarada).
 
Pressentimento, interpretada por Marília Medalha, classificou-se em terceiro lugar na Bienal do Samba, vencido por Lapinha (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), que teve como segundo colocado Bom Tempo (Chico Buarque); e em quinto e sexto lugares, respectivamente, Tive sim (Cartola) e Coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola). Só para se ter ideia do nível desse festival, que ocorreu em São Paulo, no ano de 1968.
 
Segundo a cantora Teresa Cristina, Elton Medeiros foi um dos maiores melodistas que conheceu e conviveu. “Elton ranzinza me dava broncas, a última foi no Programa do Bial, corrigindo uma nota em O sol nascerá. Elton é dono da versão mais linda e espetacular de Acontece, do seu parceiro Cartola”, afirma a sambista.
 
 
 
Depoimentos
 
 
Conheci Elton por meio de Paulinho da Viola, mas, antes disso, eu admirava suas composições. Gravei, agora, pela segunda vez, O Sol Nascerá, dele e de Cartola. Essa gravação que fiz, com  Teresa Cristina, vai estar no meu novo disco. Que Deus o receba de braços abertos.” 
Zeca Pagodinho, cantor e compositor
 
 
 
“O que Elton Medeiros representa para música brasileira não cabe aqui e nem eu saberia dizer. Só sei que dói a saudade de um tempo bom em que pude ter o privilégio de sua companhia. Meu pai Oxalá, olha esse anjo que está subindo, ilumina o caminho dessa estrela!”
Teresa Cristina, cantora e compositora
 
 
 
“Éramos 5 Crioulos! O meu grande amigo, parceiro, grande mestre Elton Medeiros foi se encontrar com os amigos Jair do Cavaquinho, Mauri Duarte, Anescarzinho do Salgueiro. Com certeza, está sendo recebido com uma grande roda de samba!  Obrigado amigo Elton Medeiros. Aplausos, aplausos. Vá na luz! 
Nelson Sargento cantor e compositor  “Viva Elton Medeiros!” 
 
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Correio Braziliense quarta, 04 de setembro de 2019

MUITA ÁGUA PARA COMPENSAR A SECA

 

Muita água para compensar a seca
 
Com níveis de umidade que chegam a 15% e temperaturas que atingem os 33ºC, é preciso dar atenção especial ao corpo: hidratação, exercícios moderados e cuidados com o sol fazem parte da cartilha brasiliense nesta época do ano

 

» DARCIANNE DIOGO*
» GEOVANA OLIVEIRA*

Publicação: 04/09/2019 04:00

Ronaldo Nunes aproveita o lago com a família (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Ronaldo Nunes aproveita o lago com a família

 

 
O tempo seco e o calor intenso que atingem a capital estão longe de acabar. O Distrito Federal completou 93 dias sem chuva e, ao que tudo indica, as precipitações seguem sem previsão, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segunda foi o dia mais seco do ano. A umidade relativa do ar registrou 13% na estação do Gama. Ontem, a umidade chegou a 15% (a segunda menor do ano) e, ao longo desta semana, deve variar entre 15% e 25%. “As temperaturas continuarão altas, variando entre 30°C e 32°C, e o céu com poucas nuvens”, explicou Heráclio Alves, meteorologista do Inmet. Mas é no período de estiagem que os brasilienses aproveitam para sair de casa e curtir o clima.
 
As amigas Márcia Vieira, 54 anos, e Glória Marinho, 56, não se desanimaram com o calorão. Para fugir do clima quente, elas resolveram tomar um sorvete e aproveitaram para colocar o papo em dia. As duas servidoras públicas aposentadas mantêm uma rotina de exercícios físicos intensos. Mas, por conta do tempo seco, há um mês Márcia decidiu dar uma pausa nas atividades. “Eu pedalava toda semana no Eixão, principalmente aos domingos, mas comecei a passar muito mal devido ao calor. Estava sentindo minha garganta muito seca e meus lábios estavam rochosos”, conta.
 
Para não ficar parada, ela começou a se exercitar em uma bicicleta ergométrica, que fica no quarto da casa. “Comprei um umidificador e coloquei no cômodo. É confortável, e o ar fica fresco”, diz. A aposentada Glória Marinho mora em Brasília há mais de 20 anos. A paraibana diz que nunca teve problemas com as temperaturas da capital, mas tem se precavido. “Procuro sempre ir à academia bem no início da manhã, por volta das 8h. Além disso, busco usar roupas com tecidos leves e claros, pois me sinto mais refrescada”, afirma. Outra alternativa para as amigas é optar por alimentos saudáveis e menos gordurosos. “Sempre busco tomar muito suco natural de frutas, comer mais verduras e evitar as massas”, ressalta Glória.
 
O militar aposentado Ronaldo Nunes Pereira, 54, escolheu o Lago Paranoá como destino para fugir do calor. Ele é brasiliense, mas admite que ainda não se acostumou com a secura da capital. “Apesar de ter nascido aqui, fui criado no Rio Grande do Norte, e lá a umidade nunca ficou abaixo dos 20%. Venho para ao lago toda semana, e, para mim, é uma boa opção para amenizar e aliviar a quentura”, argumenta.
 
O cozinheiro Emídio Paulo Miranda, 33, também escolheu o Lago Paranoá para se refrescar. Ele trabalha em um restaurante na 104 Sul e, no momento do intervalo, aproveita a orla. “É uma hora que tenho para fugir da rotina estressante e aproveito para tomar um banho, ainda mais nesse clima seco”, diz.

O Lago Paranoá é uma ótima opção para quem quer fugir do calor (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O Lago Paranoá é uma ótima opção para quem quer fugir do calor

 


Seca em Brasília  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Seca em Brasília

 



Cuidados com a saúde
 
Secura nos olhos, sangramento no nariz e ressecamento da pele são alguns dos sintomas causados pela baixa umidade, e os cuidados devem ser redobrados. “Na época da seca, a maioria das doenças respiratórias piora, pois os poluentes do ar atingem as vias”, explica Licia Stanvani, pneumologista do Hospital Brasília.
 
Segundo a especialista, em dias de baixa umidade, é preciso manter o corpo hidratado, especialmente aqueles que têm doença alérgica respiratória, como asma, ou pulmonar. “Pessoas que estão em algum desses quadros estão mais suscetíveis a desenvolverem uma gripe ou resfriado mais rápido. Para evitar a desidratação, o ideal é usar soro fisiológico nas narinas, lavar o rosto e usar manteiga de cacau nos lábios”, orienta.
 
Reforçar a alimentação saudável, rica em frutas e verduras, com ingestão frequente de líquidos, também é necessário para manter o bom rendimento nas atividades do dia a dia no período da seca. “Algumas frutas, como melancia, melão e mamão podem ajudar bastante na hidratação do corpo, pois elas têm um ótimo percentual de água. Além disso, temos as hortaliças, como o pepino e a abóbora”, comenta o Guilherme Theodoro, professor de nutrição do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).
 
O nutricionista alerta, ainda, para o alto consumo de sódio que, segundo ele, pode comprometer o organismo e ajudar no processo de desidratação. “Deve-se evitar os alimentos processados, como salgadinhos, biscoitos e congelados, e dar preferência às comidas preparadas em casa”, destaca.
 
Tempo para exercícios
 
Para os que gostam de praticar atividades físicas, é preciso definir o horário certo para se exercitar, como indica o educador físico Welbert Lucas. Segundo ele, caminhadas podem ser uma boa alternativa de exercício, desde que sejam feitas no início da manhã ou no fim do dia. “Nesse período, é preciso diminuir os exercícios ao ar livre ou em ambientes fechados sem uma boa climatização. Não podemos esquecer que a hidratação é fundamental e o cuidado deve ser redobrado, então, ingerir 35ml de água por quilo corporal é o ideal. Também podemos lembrar das bebidas isotônicas, que previnem a desidratação e são constituídas por alguns nutrientes e sais minerais”, afirma.
 
*Estagiárias sob supervisão de Nahima Maciel
 
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Correio Braziliense terça, 03 de setembro de 2019

BRASÍLIA: TEMPORADA DE CORES

 

Temporada das cores
 
A seca traz o desconforto, mas também a beleza. Brasília tem mais de 200 mil pés de ipês que são responsáveis por um espetáculo colorido e delicado nos meses mais difíceis do ano

 

» DARCIANNE DIOGO*
» THIAGO COTRIM*

Publicação: 03/09/2019 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 
 
Desde a segunda quinzena de maio, os brasilienses começaram a sentir os efeitos da seca. Brasília está há mais de 90 dias sem chuva e o estado é de alerta, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Para esta semana, a previsão é de que as temperaturas variem entre 16ºC e 33ºC. “A umidade permanece abaixo de 20%, e o clima apresentará poucas nuvens e névoa seca”, explica Mamedes Mello, meteorologista  do Inmet. No auge da estiagem, a capital federal presenteia a população com pequenos oásis nos quais as cores explodem: os ipês estão floridos e, na Catedral, o comércio de flores secas do cerrado colore a paisagem. Os canteiros de flores são pausas para os olhos e a mente em dias quentes e com baixa umidade. É o prenúncio da primavera, que começa em 23 de setembro em todo o país.
 
Os “queridinhos” de Brasília são os ipês. A capital tem mais de 200 mil pés dessa árvore, sendo 60 mil deles amarelos. Alguns chegam a 18 metros de altura. Depois do florido amarelo, chega a vez do rosa (floresce no fim de setembro e vai até o fim de outubro), seguido pelo branco, que dura entre três e cinco dias e, por último, o verde, que aparece no fim deste mês.
 
As nativas do cerrado estão por todo canto, principalmente na região central, perto dos Eixos Sul e Norte, Setor Bancário e na Avenida L4, embelezando o percurso dos motoristas que trafegam diariamente por essas vias. Nas entrequadras da 404 e 216 da Asa Norte, na tesourinha da 114 Sul e na altura do Sesc da 504 Sul, também é possível avistá-los.
 
Os ipês não são as únicas flores que embelezam as ruas da cidade no período da primavera. Há outras espécies coloridas, como as árvores cambuí, paineira, flamboyant, jequitibá, jacarandá, quaresmeira, imbiruçu e sapucaia. O flamboyant, por exemplo, chama a atenção em três tonalidades: amarelo, alaranjado e vermelho. O imbiruçu tem a peculiaridade das flores brancas nas extremidades dos galhos despidos de folhas.

Gabriela e Marcelina não perdem tempo em registrar o florido de Brasília (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Gabriela e Marcelina não perdem tempo em registrar o florido de Brasília

 

 
Alegria, paz e harmonia
 
Quem é apaixonada pelos ipês-amarelos é a artesã Marcelina Rodrigues, 22 anos. Por onde passa, não perde a oportunidade de fazer uma foto. “As árvores coloridas dão um charme para Brasília e passam um ar de alegria. Eu sou louca por ipês, principalmente por um que fica em frente à Rodoviária do Plano Piloto. Ele é bem cheinho e contagia quem passa”, comenta.
 
A amiga de Marcelina, Gabriela Azevedo, 20, veio conhecer a capital e se encantou. A costureira é de São Jorge, em Maceió, e chegou em Brasília na última quinta-feira. “Achei a cidade linda e, com certeza, os ipês são a marca registrada daqui, pois nunca o vi em nenhum outro lugar. Já tirei várias fotos para mostrar aos parentes da minha região. O que estou estranhando é o clima, que está bem quente. Minha garganta está seca e meus lábios estão rachando”, conta.
 
O técnico em enfermagem Bruno Corrêa, 32, comenta que passa todos os dias em frente aos ipês do Conic, e não resiste à tentação de tirar fotografias. “Eu moro na Asa Sul e preciso pegar a estrada do Conic para chegar ao trabalho. O contraste das cores no período da manhã me traz uma sensação de relaxamento, de vida. É um sentimento muito gostoso”, diz.
 
Flores na decoração
 
É impossível passar em frente à Catedral Metropolitana e não se impressionar com a beleza das flores secas do cerrado. Aglomeradas em barraquinhas de artesãos, elas chamam a atenção dos brasilienses e turistas. São mais de 50 espécies, com cores que vão do rosa-neon ao vermelho-vibrante.
 
O artesão Valdimiro Ferreira, 58, administra uma das barracas há 28 anos. “Tenho um carinho especial pelo meu trabalho, principalmente no resultado final. É de se admirar”, diz. Todo o processo de elaboração, como colheita, tingimento e decoração é um trabalho minucioso e demorado, mas que resulta em uma linda decoração para a casa. “Nós tiramos a clorofila e usamos um produto para desidratar. Aqui, a mais procurada é a flor-porta-guardanapo. Muitas pessoas compram para colocar na mesa de jantar ou receber convidados”, conta.
 
*Estagiários sob supervisão de Nahima Maciel


Missãoipêcb
Para celebrar o colorido das árvores que se tornaram símbolo de Brasília, o Correio lançou mais uma edição da campanha #missãoipêcb. Ainda dá tempo de participar da campanha e ter a chance de ter sua foto publicada nas redes sociais, no site e no Correio Braziliense. Fez um lindo registro de ipê? Compartilhe com a gente. Para participar, publique uma foto tirada por você no Instagram com a hashtag #missãoipêcb.
 
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Correio Braziliense segunda, 02 de setembro de 2019

MOBILIZAÇÃO EM NOME DA JUSTIÇA E DA PROTEÇÃO

 


ELAS NO ALVO
 
Mobilização em nome da justiça e da proteção
 
Ato organizado em Planaltina por grupo de mulheres chama a atenção para a vulnerabilidade delas após os assassinatos cometidos por Marinésio Olinto. Também houve roda de conversa com delegados, ativistas e familiares das vítimas


ALAN RIOS
ISA STACCIARINI

Publicação: 02/09/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


Centenas de pessoas  se reuniram para a caminhada, que teve início em frente à Feira Permanente, parou na 16ª Delegacia de Polícia e terminou na administração da cidade (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Centenas de pessoas se reuniram para a caminhada, que teve início em frente à Feira Permanente, parou na 16ª Delegacia de Polícia e terminou na administração da cidade
 
Centenas de moradores de Planaltina saíram às ruas ontem pelas manhã para pedir justiça. Uma caminhada organizada por diversos grupos de mulheres homenageou a memória de Genir Pereira, 47 anos, e Letícia Curado, 26, mortas por Marinésio dos Santos Olinto, 41, e promoveu a conscientização sobre os motivos que tornam vulneráveis vítimas de feminicídio e de abusos. A caminhada começou em frente à Feira Permanente, fez uma parada na 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e terminou na administração da cidade.
 
Filha de Genir, Jaiane de Sousa, 22, participou da manifestação e lamentou a insegurança em Planaltina. “Ela era uma pessoa alegre, trabalhadora e muito carinhosa. Mas, infelizmente, tinha de enfrentar o perigo nas paradas de ônibus, dependendo de coletivos que quase não passavam”, reclamou. A diarista foi morta em junho, após entrar no carro de Marinésio, que ofereceu carona em uma Blazer prata. Jaiane também lembrou a morte de Letícia: “Sei o que a família está passando.”
 
Jéssica Grigorio, uma das organizadoras do ato, lembrou que a iniciativa foi pensada após as mortes confessadas pelo maníaco, mas ocorreu em nome de todas as mulheres. “Estamos lembrando da Genir e da Letícia, mas a nossa luta é por todas as outras que morreram e, também, por aquelas que estão vivas, mas sofrem violências e precisam ter voz”, ressaltou. Um pedido recorrente das participantes do protesto foi por transporte público de qualidade. “Se nós tivéssemos mais opções de ônibus, não precisaríamos de carro pirata. Isso é só o começo diante dos problemas de Planaltina, mas evitaria muitos crimes”, avaliou.
 
Rede de apoio
Após o ato, manifestantes se reuniram em outro evento de conscientização em Planaltina. Uma roda de conversa com autoridades, ativistas e especialistas em políticas públicas debateu as diversas violências sofridas pelas mulheres. As atividades contaram com aulas de defesa pessoal, palestras sobre independência financeira e diálogo com delegados. Um dos presentes foi o responsável pela investigação que prendeu Marinésio, o delegado Fabrício Augusto Machado, da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina). “A figura feminina é forte. Trabalha, estuda, cuida da família e tem uma série de responsabilidades. Por isso, o Estado precisa dar a proteção necessária para que elas estejam seguras, cumprindo todos esses papéis”, defendeu.
 
Fabrício reconheceu que há a necessidade de profissionalizar mais os policiais civis para lidar com situações que envolvem a violência contra a mulher. “Temos de entender que elas são vítimas. Não podemos fazer julgamentos pessoais nem deixar de dar total atenção ao relato que elas nos passam”, explicou. Líderes de movimentos em prol da defesa delas pediram às autoridades mais delegacias especializadas para esses atendimentos. Hoje, somente a Asa Sul conta com uma delegacia para a população feminina.
 
Marido de Letícia Curado, Kaio Fonseca, 25, também participou das conversas. “Depois que a minha esposa desapareceu, muita gente nos ajudou e criamos uma rede de apoio muito grande, que aumentou depois da notícia da morte. Isso é importante para que a gente discuta mais sobre o que as mulheres sofrem, porque pode evitar que crimes assim não aconteçam mais”, explicou. Abraçado por representantes de grupos de apoio, ele contou ainda a família vivia a melhor fase da vida. “Estávamos felizes com as nossas conquistas. O assassinato aconteceu no momento em que a gente construía uma caminhada muito bonita. Agora, nem sei como explicar tudo para o nosso filho, de 3 anos. Ele ainda não sabe o que aconteceu, mas eu acho que tem noção de que a mãe não está mais lá”, lamentou.
 
Ameaças
Uma semana após Marinésio confessar o assassinato de Genir Pereira, 47, e Letícia Curado, 26, a família dele contou que vive com medo. Mulher e filha mudaram-se de endereço e se esconderam após receberem ameaças. A garota também deixou de ir à escola. “Nós estamos sem sair, ficamos escondidas. Desde que tudo aconteceu, ameaçaram atear fogo à casa onde morávamos e tentaram arrebentar o portão”, contou a mulher, casada com Marinésio há 19 anos (leia Seis perguntas para).


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

"Estávamos felizes com as nossas conquistas. O assassinato aconteceu no momento em que a gente construía uma caminhada muito bonita”
 
Kaio Fonseca, marido de Letícia Curado



 
 
 
Seis perguntas para 
 
mulher de Marinésio Olinto
 
Como está a vida da família desde a divulgação dos casos contra Marinésio dos Santos Olinto?
Está muito difícil. Estamos surpresas até agora. Para mim, ele era a mesma pessoa até hoje, desde que eu o conheci no Paranoá, em 2002. Marinésio nunca me espancou, nunca bateu na filha dele, nunca levantou a mão para a gente. Era um bom pai, um bom marido. Todo mundo que o conhecia diz que a ficha ainda não caiu. Eu não vou falar que ele era ruim para mim só porque fez isso, porque não era.
 
A senhora e a filha encontraram com Marinésio desde a prisão? Como foi esse momento?
Nós o vimos duas vezes, quando ele ainda estava na delegacia de Planaltina (31ª DP). Eu perguntei o que ele tinha feito, e ele disse que não era ele. Pediu desculpas, perdão. A minha filha chorou, perguntou o que ele tinha feito com ela, mas ela sempre fala que não vai abandonar o pai. Eu não sei como vai ficar. Só com os dias passando é que a gente vai ver o que vai acontecer.
 
Como era o comportamento de Marinésio dentro de casa?
Não via nada de diferente dele. Era uma pessoa normal. Gostava de criança, trabalhava, não fumava, não bebia, nunca usou droga. Era ele que colocava tudo para dentro de casa, inclusive. Para mim, ele deu algum surto para fazer o que fez.
 
Desde a prisão dele, como a família está se organizando financeiramente?
Antes de conhecê-lo, eu trabalhava. Mas ele falou que era ele quem tinha de trabalhar para cuidar de tudo em casa e preferia que eu ficasse cuidando do lar. Em agosto do ano passado, eu consegui um emprego em casa de família. No mês passado, faria um ano, se eu ainda estivesse lá. Mas sempre foi o Marinésio que colocou tudo para dentro de casa. Ele sempre trabalhou “fichado”. Quando estava com seguro-desemprego, fazia alguns bicos.
 
Qual é opinião da senhora sobre as novas denúncias contra o Marinésio?
Esses outros casos, a polícia precisa ir atrás de prova, investigar, saber o que de fato aconteceu, porque tudo está caindo para cima dele, e ele não confessou mais coisa. Mas se ele fez o que fez, tem de pagar.
 
Quais são os planos da família a partir de agora?
Nós estamos sem sair, ficamos escondidas. Desde que tudo aconteceu, ameaçaram atear fogo à casa onde morávamos e tentaram arrebentar o portão. Parei de assistir à televisão e entrar nas redes sociais. A minha filha que está acompanhando as coisas. Estou sem saber como será daqui para a frente. A vida continua, mas está muito difícil. Até agora, eu fico me perguntando: ‘Meu Deus, o que ele teve (para fazer tudo isso)?’
 
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Correio Braziliense domingo, 01 de setembro de 2019

ASMA, UMA CRISE BRASILEIRA

 

Entre três e seis pessoas morrem de asma todos os dias no Brasil e poucas aderem à terapia por causa do preço dos remédios e da falta de oferta na rede pública.

Asma, uma crise brasileira
 
Diariamente, de três a seis pessoas morrem no país em decorrência da doença respiratória crônica. A baixa adesão à terapia, o preço pouco acessível de tratamentos e a falta de oferta de remédios na rede pública estão entre as razões do problema

 

Paloma Oliveto

Publicação: 01/09/2019 04:00


A morte prematura da escritora Fernanda Young, há uma semana, surpreendeu muitas pessoas que, nas redes sociais, comentaram com estranheza sobre a causa do falecimento: uma crise de asma. Afinal, essa é uma doença comum, que afeta 235 milhões de indivíduos globalmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O que poucos sabem é que, todos os dias, de três a seis brasileiros morrem em decorrência dessa condição crônica, a quarta causa de internações no país. Boa parte desses óbitos poderia ser evitada caso os pacientes não negligenciassem o tratamento.

Embora o controle da asma seja bastante eficaz, uma pesquisa recente, que contou com participação da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), indicou que 73% dos pacientes não seguem todas as recomendações médicas, e 47% admitem não utilizar os medicamentos com regularidade. As causas apontadas no estudo foram alto custo dos remédios e dificuldade de encontrá-los na rede pública. Um reflexo da falta de adesão ao tratamento é que 91% dos casos de asma no país não estão controlados.

Além das causas citadas na pesquisa, o pneumologista Paulo Pitrez, presidente do Grupo Brasileiro de Asma Grave (BraSa) e coordenador institucional de pesquisa do Hospital Moinhos do Vento, diz que a desinformação é um dos entraves para a adesão aos medicamentos. “Quem tem pressão alta ou diabetes precisa do tratamento contínuo. Com a asma alérgica ou não alérgica, é o mesmo. Só que, culturalmente, as pessoas acham que não precisam usar os remédios todos os dias”, afirma. Esquecer de usar os medicamentos, aceitar os sintomas e medo dos efeitos colaterais são outros motivos apontados por Pitrez.

O tratamento padrão da doença é o corticoide inalatório associado ao broncodilatador. Ao seguir corretamente as recomendações, os pacientes se veem livres dos sintomas da doença, como tosse, chiado no peito e falta de ar. Mas, segundo o pneumologista Roberto Stirbulov, chefe clínico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da instituição, muita gente confunde corticoide inalatório e oral. “O inalatório é extremamente seguro, com pouquíssimos efeitos colaterais”, diz. A forma inalatória, que contém microgramas da substância, é a prescrita para 90% dos pacientes que, de acordo com Stirbulov, não precisam se preocupar em utilizar o remédio diariamente.

Essa, porém, não é a realidade de boa parte dos pacientes que tem a forma grave da doença. A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde estima que 5% deles se encaixam nesse perfil. Provavelmente devido a uma alteração genética não hereditária, o tratamento convencional não surte efeito e, mesmo utilizando doses altíssimas de corticoide oral — ele é 100 vezes mais forte que o inalatório — todos os dias, a doença permanece sem controle.

Imunobiológicos
Nos últimos anos, esses pacientes têm sido beneficiados por uma classe de medicamentos que também vêm sendo utilizados no tratamento de outras doenças, os imunobiológicos. “Para o tratamento do processo inflamatório que não responde adequadamente à terapêutica tradicional, uma nova classe de medicamentos foi desenvolvida, os anticorpos monoclonais. Os anticorpos sintetizados em laboratórios bloqueiam proteínas no corpo que estão envolvidas na resposta inflamatória da asma, diminuindo essa inflamação e tendo um grande impacto no tratamento da doença”, diz o médico Pedro Bianchi, membro do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

O pneumologista Roberto Stirbulov explica que os anticorpos monoclonais atuam de maneira precisa, tendo como alvo as substâncias que estão no início da cascata inflamatória característica da asma. “Eles bloqueiam todo o processo inflamatório, agindo em fatores específicos. É a medicina de precisão”, afirma. De acordo com a médica Zuleid Mattar, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos de São Paulo (Abra-SP), no universo de pacientes de asma grave (5% dos casos da doença no país), 3,6% podem se beneficiar desse tratamento, por terem um perfil clínico e molecular ideal “A asma não é uma única doença, então, fazemos hoje a fenotipagem para saber quem são os candidatos”, conta.

O problema é o preço. No Brasil, há três medicamentos imunobiológicos aprovados para asma e, segundo o presidente do BraSa, Paulo Pitrez, uma dose custa de R$ 2,5 mil a R$ 12 mil. As aplicações, subcutâneas, podem ser quinzenais, mensais ou bimestrais, dependendo do remédio e de cada caso. “Os pacientes só conseguem acesso quando entram na Justiça”, lamenta. Nenhum anticorpo monoclonal para tratamento da asma grave consta da lista de medicamentos de alto custo do Sistema Único de Saúde.

“De três a seis pessoas morrem de asma diariamente no Brasil, mas parece que ninguém enxerga isso, só quando acontece com uma celebridade”, lamenta Zuleid Mattar. “É uma falta de sensibilidade muito grande. A vida das pessoas que conseguem esse tratamento muda substancialmente. Sem falar que uma única internação já paga o que se gastaria com um ano de tratamento”, afirma. De acordo com a médica, o número de internações de pacientes de asma grave é 20 vezes maior, considerando a população em geral.

Os médicos também ressaltam que o uso contínuo do corticoide oral — única opção para quem tem asma grave e não tem acesso aos imunobiológicos — pode provocar o surgimento de outras doenças crônicas, como diabetes, insuficiência renal e osteoporose, entre outras. “Os imunobiológicos não são para todo mundo, são para uma minoria, aqueles que podem morrer de uma doença tratável”, lamenta Paulo Pitrez.


Consulta pública

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) abriu consulta pública para a incorporação, no Sistema Único de Saúde, de uma substância imunobiológica para tratamento da asma grave, o omalizumabe. A recomendação preliminar da comissão foi não favorável à inclusão do anticorpo na lista dos medicamentos de alto custo, mas a sociedade pode opinar, dizendo se concorda ou não com o órgão. “A recomendação da Conitec demonstra uma falta de sensibilidade. Inúmeras pesquisas internacionais mostram os benefícios dos imunobiológicos para a asma grave”, critica a médica Zuleid Mattar, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos de São Paulo (Abra-SP). É possível acessar a consulta pública na página www.facebook.com/www. abrasaopaulo.org.



"Quem tem pressão alta ou diabetes precisa do tratamento contínuo. Com a asma alérgica ou não alérgica, é o mesmo. Só que, culturalmente, as pessoas acham que não precisam usar os remédios todos os dias” 

 (Leonardo Lenskij/Divulgação - 17/4/19 )  

Paulo Pitrez, presidente do Grupo Brasileiro de Asma Grave (BraSa) e coordenador institucional de pesquisa do Hospital Moinhos do Vento
 
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Correio Braziliense sábado, 31 de agosto de 2019

VIOLÊNCIA: ALUNO MATA PROFESSOR NA PORTA DA ESCOLA

 

VIOLÊNCIA
 
Aluno mata professor na porta de escola
 
Estudante de 18 anos atacou o coordenador da instituição de ensino pública, em Águas Lindas de Goiás, no término das aulas matutinas, em frente a pais, estudantes e funcionários do colégio. Polícia apura a motivação do crime

 

» ANA VIRIATO
» ISA STACCIARINI
» PEDRO CANGUÇU*
» THAIS UMBELINO*
* Estagiários sob supervisão de Renato Alves

Publicação: 31/08/2019 04:00

À tarde, alunos e educadores saíram pelas ruas da cidade pedindo o um basta na violência (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

À tarde, alunos e educadores saíram pelas ruas da cidade pedindo o um basta na violência

 


Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos, é apontado como o único suspeito de matar a facada Bruno Pires de Oliveira, 41, professor e coordenador do ColégioEstadual Machado de Assis (Cema), em Águas Lindas (GO). O  crime ocorreu por volta das 12h15 de ontem, no momento da saída do turno da manhã. Os investigadores acreditam que o estudante premeditou o crime. ele estava foragido até o fim da noite.
 
Titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), o delegado Cleber Martins disse que a faca estava dentro da escola. “Ainda vamos checar se outro estudante a emprestou”, comentou. O investigador acrescentou que não houve luta corporal. “Foi uma coisa traiçoeira”, ressaltou. Bruno trabalhava havia um ano na instituição, por meio de contrato temporário.

No começo da noite, grupo acendeu velas em frente à escola onde ocorreu o assassinato (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

No começo da noite, grupo acendeu velas em frente à escola onde ocorreu o assassinato

 

Em depoimento, testemunhas contaram que o aluno do 9º ano se irritou após ouvir boatos de que seria cortado do programa esportivo Mais Educação, voltado a estudantes do 6º e 7º anos. A razão do desligamento varia, conforme relatos: indisciplina, notas baixas e problemas de saúde. O motivo do crime, no entanto, não estava confirmado, até o fechamento desta edição.
 
“Oficialmente, Anderson não tinha sido desligado do programa e o professor Bruno não era o responsável pelo projeto. Não teria a competência por fazer isso. Por isso, ainda não entendemos por que, ele se tornou a vítima”, observou o delegado.
 
Após o golpe, Anderson fugiu a pé. Bruno ainda conseguiu entrar de volta na escola, caminhar até a sala dos professores e contar aos colegas o que havia acontecido, enquanto pedia ajuda. “Ele avisou que foi o Anderson Grandão que deu a facada. O apelido era como o aluno era conhecido”, explicou o delegado Rodrigo Mendes, plantonista da 1ª Delegacia de Polícia. O coordenador recebeu atendimento no colégio e foi encaminhado ao Hospital Municipal de Águas Lindas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 14h.
 
Professores relataram que o aluno suspeito era tranquilo e nunca mostrou comportamento alterado. “Ele não era um dos melhores estudantes, mas nunca foi agressivo. Os professores acreditam que ele tenha tido um surto psicótico”, destacou Mendes. Anderson deve ser indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. As penas variam de 12 a 30 anos de prisão.
 
Comoção
Professora de história do colégio, Gracielle Tavares, 38, namorava a vítima havia um ano e meio. Ao Correio, ela disse que Bruno nunca teve problemas com o suspeito do crime. “Eu e outros professores já tivemos problemas com ele. O aluno xingava, mas ficava por isso mesmo”, contou. Na última semana, ela chamou o pai de Anderson à escola devido às constantes faltas. “Ele (o aluno) tem problemas sérios do coração. O pai foi explicar a ausência dele devido a isso”, completou Gracielle.
 
A educadora soube da notícia por meio do celular. “Bruno trabalharia meio período e viria me ver”, lamentou a professora. “Ele nem apresentava atestado (médico). Amava aquele colégio. Só queria entender o que houve. Estou sem chão”, finalizou Gracielle.
 
Uniformizados, cerca de 50 alunos do Colégio Estadual Machado de Assis pediram paz, com cartazes. “Queremos chamar a atenção do governo para a falta de segurança nas escolas de Águas Lindas”, disse o aluno Ezequias Vitor, 16. Segundo ele, o professor morto era brincalhão, e pensava no futuro dos alunos. “Ele estava pensando em sortear uma bolsa de estudos para um aluno que está formando”. Os alunos seguiram da marginal da BR-070 até o colégio.
 
No muro da escola, uma faixa preta foi estendida, além de cartazes com a frase “Não haverá aula. Motivo: Luto estampam o ambiente”. Os pais questionaram a atuação do governo local. Entre eles, Bruna Josefa, 30, mãe de uma aluna do 7º ano, que defende a militarização nas escolas. “Os professores tinham medo dos alunos. Muitos deles já foram ameaçados”, destacou.
 
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) publicou uma nota nas redes sociais sobre a morte do servidor. “É lamentável. Mais uma morte trágica no ambiente escolar, que reitera a necessidade da proteção dos profissionais da Educação. É preciso agir para que vidas não mais sejam retiradas. Basta de tanta violência. A Educação pede paz”, disse a presidente da entidade, Bia de Lima.
 
 
 
Memória
 
» 2018
 
28 de agosto
 
Um adolescente de 14 anos esfaqueou outro, de 13, no Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia. A dupla se desentendeu, e o mais velho deu facadas na região do peito e do pescoço do mais novo.
 
 
24 de setembro
 
Um jovem de 17 anos foi baleado duas vezes por dois jovens na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. Segundo testemunhas, a discussão entre ele e os autores começou nas imediações do colégio. A vítima foi atingida no braço, peito e tórax.
 
3 de dezembro
 
Uma desavença entre duas mulheres terminou em tragédia na Escola Municipal do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Jéssica Oliveira entrou na unidade de ensino e assassinou, a facadas, Fernanda Xavier, 21 anos. Ambas eram mães de alunos da instituição. A briga entre as duas começou pelas redes sociais.
 
 
 
» 2019
 
30 de abril
 
O professor e coordenador Julio Cesar Barroso de Sousa, 41, morreu dentro de uma escola em Valparaíso após ser baleado por um aluno. O caso ocorreu no Colégio Estadual Céu Azul. O garoto atacou a vítima após ela intervir em uma briga entre o estudante e uma professora. Depois da discussão, o jovem teria saído da escola, ameaçado o profissional e voltado armado.
 
 
 
A VÍTIMA

 (Reprodução)  
Bruno Pires de Oliveira, 41 anos
 
» Era formado em geografia, mas também dava aula de história.
» Atuava em contrato temporário na rede pública de ensino de Águas Lindas (GO).
» Trabalhava no Colégio Estadual Machado de Assis, onde também era coordenador.
 
O  suspeito
 
Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos
 
» Estudava no 9º ano do Colégio Estadual Machado de Assis, em Águas Lindas.
» Era considerado um aluno de bom comportamento, mas estava com notas baixas.
» Os pais participavam da educação do filho, inclusive com ida à escola.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sexta, 30 de agosto de 2019

CANOAGEM: REMADA SOBERANA NO PARANOÁ

CANOAGEM

 
Remada soberana no Lago Paranoá
 
O campeão mundial Isaquias Queiroz vence com facilidade na abertura do Campeonato Brasileiro Interclubes e faz discurso de motivação para os atletas mais jovens. Competições continuam até domingo

 

Fernando Brito

Publicação: 30/08/2019 04:00

 
Dono de uma vaga nas Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem, Ezequias conquistou ontem o título brasileiro na prova do C1 1.000m (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Dono de uma vaga nas Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem, Ezequias conquistou ontem o título brasileiro na prova do C1 1.000m

 



Um dos objetivos do torneio é chamar a atenção dos mais novos (Roberto Peixoto/Canoagem Brasileira
)  

Um dos objetivos do torneio é chamar a atenção dos mais novos

 




O Lago Paranoá tem um novo dono. Ontem, durante a disputa do Campeonato Brasileiro Interclubes de Canoagem, o baiano Isaquias Queiroz, atleta do Flamengo, confirmou o favoritismo e venceu com folga a final da prova de C1 1000m, com tempo de 4min01s339. A pequena plateia que acompanhava a performance do campeão mundial, na orla do Clube Nipo Brasileiro, vibrou com o resultado, e alguns fãs fizeram fila para tirar fotos com o ídolo. A segunda colocação ficou com Erlon Silva (Paulistano), que registrou 4min05s569, seguido do também flamenguista Jacky Godmann (4min09s372).

“A estrutura do campeonato está ótima. A água estava um pouco agitada, como haviam me informado que seria em Brasília, mas está sendo uma experiência incrível nessa minha primeira passagem pela capital do país. O evento apresenta uma infraestrutura próxima do padrão internacional, com excelente alimentação e apenas um pequeno excesso de movimentação no pier seria um ponto a ser melhorado pela organização, mas é muito bom estar presente ao lado de tantos atletas”, destacou Isaquias.

O competidor do Flamengo acaba de chegar da Hungria, onde no último fim de semana se sagrou campeão mundial do C1 1000m, com tempo de 3min59s23, além da conquista da medalha de bronze ao lado de Erlon Souza no C2 1000m. A participação no Campeonato Brasileiro marca o início do ciclo final de preparação rumo aos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 e Isaquias Queiroz espera manter a alta performance. “O objetivo é ganhar as seis provas que disputarei em Brasília. Há uma boa concorrência interna no país, mas o atleta de ponta tem sempre que exigir mais em relação aos resultados”, comentou.

O público brasiliense não poderá ver de perto a parceria entre Isaquias e Erlon. Na competição nacional, eles representam clubes diferentes e travarão concorrência por um lugar no pódio nas disputas de dupla. Ainda assim, a ocasião é considerada propícia para o aperfeiçoamento do treinamento visando aos Jogos de Tóquio. “Essa é uma rivalidade forte, que vem desde as categorias de base, mas se trata, principalmente, de uma oportunidade para aprimorarmos nosso condicionamento em busca de melhores resultados nas competições internacionais. Erlon está cada vez mais forte na prova individual, e isso ajuda muito quando estamos remando juntos”, avaliou Isaquias.

Também bastante assediado por fãs e competidores mais jovens, Erlon elogiou as condições do Lago Paranoá e disse que está especialmente focado para chegar bem às próximas olimpíadas. “O principal objetivo desta temporada foi atingido. Conseguimos a vaga olímpica e, depois do Campeonato Brasileiro, teremos um período de férias antes de reiniciarmos os treinos para os Jogos de Tóquio. Tenho me especializado na prova de dupla, e a expectativa é conseguirmos um bom resultado em 2020”, projeta o atleta baiano.

Apesar de a competição em Brasília representar o fim de uma exigente temporada, Isaquias Queiroz não demonstra cansaço e discursa em tom de motivação para os atletas mais jovens. “Tem sido um ano pesado, com Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos, Campeonato Mundial e inúmeras viagens. É tudo bastante cansativo, mas nada que a força de vontade de um atleta não possa superar. Essa sempre foi minha motivação, alcançar resultados que eu julgava nem serem possíveis, mas tenho provado que basta querer e treinar. Atingi um nível que nenhum atleta do país havia alcançado e espero que a garotada que compete neste Brasileiro possa desejar ir ainda mais longe, superando o meu legado. Com certeza, haverão de conseguir”, afirma.

O Brasileiro de Canoagem segue até o próximo domingo, com participação total de 464 atletas. São 40 associações e clubes de várias partes do país, contabilizando 300 provas nas categorias infantil, menor, cadete, junior, sênior, master e paracanoagem. Ontem, no primeiro dia de provas, grupos de estudantes de várias escolas públicas do DF visitaram as instalações e conheceram mais de perto um pouco da modalidade, experimentando, por exemplo, o caiaque ergometro — espécie de simulador para desenvolver a técnica da remada.


PROGRAME-SE

Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e Paracanoagem
Quando: até domingo
Horário: das 7h às 18h
Local: Clube Nipo Brasileiro (SCES, trecho 1)
Transmissão: youtube.com/canoagembrasileira e facebook.com/canoagembrasileira
*Entrada franca
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 29 de agosto de 2019

RELATOS DE OUTRA POSSÍVEL VÍTIMAS DO ASSASSINO EM SÉRIE

 

Ou você faz o que eu quero, ou morre agora
 
Relato de outra possível vítima de Marinésio dos Santos revela forma de agir parecida com a dos assassinatos de Letícia e Genir. Mulher de 42 anos sofreu abuso sexual, mas escapou ao dar uma joelhada no acusado. Polícia vai retomar investigações de casos antigos

 

» ALAN RIOS
» ANA VIRIATO
» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 29/08/2019 04:00

Dezenas de mulheres se reuniram no fim da tarde de ontem na Rodoviária do Plano Piloto para pedir mais segurança: %u201CNenhuma a menos%u201D  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Dezenas de mulheres se reuniram no fim da tarde de ontem na Rodoviária do Plano Piloto para pedir mais segurança

 

 
“Eu fiquei dois anos presa, e ele, solto. Quando fui atacada por ele (Marinésio), registrei a ocorrência e não me escutaram. Precisaram morrer duas mulheres para que fossem atrás dele”. O relato feito ao Correio por uma das possíveis vítimas de Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, narra momentos de terror vividos em 25 de setembro de 2017, no Paranoá. A copeira, de 42 anos, que não quis se identificar, integra a lista de mulheres que denunciaram  ter sido atacadas pelo assassino confesso de Letícia Sousa Curado de Melo, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47 (veja Sob investigação). Polícia Civil vai retomar investigações desses casos. A barbárie provocou, ontem, o protesto de um grupo de cerca de 50 mulheres na Rodoviária do Plano Piloto (leia ao lado).

Marinésio teve a prisão temporária — com prazo de 30 dias — decretada no último sábado pela suspeita de envolvimento no assassinato de Letícia, advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Na segunda-feira, ele confessou o crime e declarou ter matado, ainda, Genir. Com a repercussão do caso, a copeira o reconheceu, ao vê-lo na televisão.

A mulher conversou com o Correio na casa dela, após prestar depoimento na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Ela conta que, no dia do ataque, esperava o ônibus na parada, por volta de 5h40, quando Marinésio a abordou em um carro vermelho. “Ele desceu e, com uma faca, me obrigou a entrar no veículo. Comecei a chorar e implorar para que ele não fizesse nada comigo, por ter meus filhos. Fui levada até os pinheirais (próximo ao Paranoá Parque)”, relembrou.

Ali, o serial killer teria estuprado a vítima. “Como eu me debatia, ele agarrou o meu pescoço e disse: ‘Ou você faz o que eu quero, ou morre agora’. Foi quando cedi às investidas. Mas, depois que ele acabou, me ameaçou: ‘Você viu bem o meu rosto. Quem grava o meu rosto, morre’”, descreveu. Nessa hora, Marinésio se distraiu e deixou a faca cair. “Dei uma joelhada na barriga dele. Consegui abrir a porta do carro e fugir. Ele tentou vir atrás de mim, mas, como era umas 6h30, e havia movimento na rua, desistiu”, relatou a vítima, que procurou a delegacia e fez o exame de corpo de delito.

Segundo a delegada Jane Klébia, chefe da 6ª DP, o caso dessa vítima se assemelha ao de uma adolescente de 17 anos, também investigado na unidade. “Em ambos os crimes, ele usou um carro vermelho. As abordagens também foram diferentes, ele não se apresentou como motorista de transporte pirata. Mas, sim, usou uma faca para obrigar as mulheres a entrarem no veículo”, detalha a investigadora. Na próxima semana, Marinésio será levado até a delegacia para que as duas vítimas façam o reconhecimento pessoal.
 
Investigação
 
Até o momento, os ataques de Marinésio são investigados pela 31ª DP (Planaltina), pela 6ª DP (Paranoá) e pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS). Desde que instauraram os dois primeiros inquéritos, os delegados responsáveis pelas apurações receberam titulares de unidades de outras cidades, que pretendem desarquivar casos não solucionados marcados pelo mesmo modus operandi do serial killer.

Além disso, a DRS deve interrogar o assassino nos próximos dias. A ideia é verificar se Marinésio está envolvido em desaparecimentos de mulheres. Um dos casos sob análise é o de Gisvania Pereira dos Santos, 33, desaparecida em 6 de outubro do ano passado, em Sobradinho. “O que sabemos é que ele é um predador de mulheres, que esteve envolvido em dois sequestros com morte. Mas é essencial levantar mais dados, até para direcionar melhor as nossas perguntas a ele e colher um depoimento mais concreto e detalhado”, informou o diretor adjunto da Divisão, Luiz Henrique Sampaio.

As três perícias do caso Letícia Curado ainda não foram concluídas. A 31ª DP aguarda o laudo cadavérico, a análise sobre o material genético encontrado na Blazer prata e no local do crime e a avaliação na chácara da cunhada de Marinésio, entre Planaltina e Paranoá.
 
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Correio Braziliense quarta, 28 de agosto de 2019

GOVERNADORES APOIAM BOLSONARO CONTRA MACRON

 

Apoio de governadores e críticas a demarcações
 
Bolsonaro consegue respaldo de seis dos nove gestores estaduais da Amazônia Legal na queda de braço com a França. Chefe do Executivo federal reclama de reservas ambientais, indígenas e de quilombolas

 

RODOLFO COSTA

Publicação: 28/08/2019 04:00

 

O presidente com governadores: %u201CA questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade%u201D (Marcos Correa/AFP
)  

O presidente com governadores: "A questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade"

 

 


A reunião do presidente Jair Bolsonaro com oito governadores e um vice-governador da Amazônia Legal foi, politicamente, um sucesso para o governo. Dos nove estados que compõem a região, o Palácio do Planalto calcula que conseguiu apoio de, pelo menos, seis chefes de Executivos locais para endossar a narrativa nacionalista contra uma suposta manifestação do presidente da França, Emmanuel Macron, de colocar em xeque a soberania brasileira sobre a Amazônia, ao sugerir um “status de internacionalização” no território. Leituras feitas por interlocutores avaliam que o governo federal conquistou apoio e argumentos para encaminhar ao Congresso propostas de desburocratização e flexibilização da política ambiental, a fim de promover o desenvolvimento sustentável.

Pela manhã, Bolsonaro retomou o embate com Macron, acenou que aceitaria os 20 milhões de euros oferecidos pelo G-7 se o presidente francês se retratasse sobre tê-lo chamado de “mentiroso” e sugerido a “internacionalização” da Amazônia. Na reunião com os governadores, disse não ter nada contra a cúpula das sete maiores potências econômicas mundiais, e, sim, contra “um presidente” que “está reverberando qual é a sua intenção”. Sinalizou, ainda, que caberá ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, definir se o Brasil pode “fazer frente” à França em uma eventual transgressão à soberania nacional.

Na reunião com os chefes de Executivos estaduais, Bolsonaro ganhou respaldo na queda de braço contra Macron. Um dos apoiadores foi o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), que classificou o presidente francês como um concorrente dos produtos agrícolas brasileiros e disse que ele “surfa nas cinzas da Amazônia”. Outros no entanto, priorizaram um discurso mais diplomático. “Acho que estamos perdendo muito tempo com Macron. (...) Temos de cuidar dos nossos problemas e sinalizar para o mundo a diplomacia ambiental, que é fundamental para o agronegócio”, ponderou o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). O chefe do Executivo maranhense, Flávio Dino (PCdoB), frisou que “um discurso antiambientalista” não constrói saída adequada à preservação dos interesses nacionais, “na medida em que pode expor o Brasil a sanções comerciais”.

Do encontro, os governadores não levaram para casa compromissos concretos do governo federal. Mas o Planalto mudou o tom em relação ao Fundo Amazônia, sinalizando que vai mantê-lo. Anunciou que, até quinta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, irá à região amazônica para se reunir com governadores a fim de consolidar “agendas conjuntas”, propostas pelos gestores estaduais e condensadas pelo Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, como mudar a gestão do Fundo Amazônia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Banco da Amazônia, que, segundo sustenta o presidente do comitê, o governador do Amapá, Waldez Goés, tem maior presença e estrutura no território.

Indígenas
Entre as falas dos gestores estaduais, Bolsonaro tomou a palavra e disse que, diferentemente de outros governos, na atual gestão estão “congelados” estudos sobre novas reservas — ambientais, quilombolas ou indígenas. Lendo informações em um papel, informou que só na Amazônia Legal estão certificados, em trâmite legal de demarcação, 936 territórios quilombolas. “No tocante a reservas indígenas, em fase final, são 54 novas áreas, e, também, para alguns meses, mais 314 áreas indígenas”, afirmou.

O discurso foi respaldado pela ampla maioria dos chefes de Executivo. O vice-governador do Acre, Wherles Rocha (PSDB), disse que o estado dispõe de 14% de área aberta, possível de ser explorada, e que dos 86% restantes não se pode fazer nada. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), sustentou que os 22,5 milhões de hectares do estado são divididos em 46,7% de terra indígena e 20% de unidade de conservação e estação ecológica. “Se retirarmos as áreas do Incra, do Exército e as áreas dos municípios, sobram apenas 20% para o estado. Desses 20%, 80% é reserva legal. (...) Ou seja, o estado fica impedido de produzir, trabalhar e preservar o meio ambiente também”, criticou.

Já o governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), frisou que, no estado, só 33% das terras são utilizadas. “E temos lá reservas, várias, também”, afirmou. O governador de Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), defendeu que os indígenas possam explorar suas terras e ganhar receitas com o pedágio da possível concessão de uma ferrovia que passaria por meio de uma terra indígena.

Congresso
Durante a reunião, Bolsonaro ressaltou que o governo vai “buscar soluções”, no Congresso, para o desenvolvimento sustentável, por meio de propostas legislativas que possam flexibilizar o desenvolvimento sustentável e a legalização e a regulamentação do garimpo. “Temos o Parlamento, que nós vamos provocá-lo, com apoio dos senhores. Já conversei também com o (Ronaldo) Caiado (governador de Goiás), com o Hélder (Barbalho). No Rio, a estação ecológica evita que o estado fature alguns bilhões por ano no turismo, no caso de Angra (dos Reis)”, destacou. A questão ambiental, para ele, deve ser administrada com racionalidade. “E não com essa quase selvageria como foi conduzida ao longo dos últimos anos”, disse.

Flávio Dino, no entanto, criticou a proposta. “Precisamos cumprir a legislação, pois ela permite que se separe quem quer produzir nos termos da lei, de modo sustentável, daqueles que têm visão predatória. Essa ideia de mudar a legislação achando que isso vai nos tirar da crise vai, na verdade, aprofundá-la”, analisou.

Dinheiro do Reino Unido
O Brasil aceitou 10 milhões de libras (R$ 50,7 milhões) doados pelo Reino Unido para o combate aos incêndios na Amazônia. A informação é do jornal O Globo. O acerto teria sido feito entre Dominic Raab, secretário de Assuntos Externos do governo Boris Johnson, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Também ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou uma nova mensagem pelo Twitter em apoio ao governo brasileiro sobre os incêndios na Amazônia. Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro agradeceu e disse que “os EUA podem contar sempre com o Brasil”.

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Correio Braziliense terça, 27 de agosto de 2019

UM PSICOPATA NO CAMINHO DE TRÊS MULHERES

 

É um perfil de psicopata
 
Cozinheiro confessa os assassinatos de uma auxiliar de cozinha e de uma advogada.
 
 
Oferecendo transporte pirata, ele as abordou em ponto de ônibus, as estrangulou e deixou os corpos em matagal. Mulher o reconheceu como o homem que tentou estuprá-la

 

» ALAN RIOS
» ISA STACCIARINI
» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 27/08/2019 04:00

Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos

Cozinheiro desempregado

Casado, tem uma filha de 16 anos

Morador do Vale do Amanhecer, em Planaltina (Polícia Civil)  

Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos Cozinheiro desempregado Casado, tem uma filha de 16 anos Morador do Vale do Amanhecer, em Planaltina

 



A Polícia Civil do Distrito Federal pode ter descoberto um maníaco: um homem que matava mulheres após abordá-las em paradas de ônibus. Ontem, ele confessou a autoria de dois casos. Um, o da advogada Letícia Sousa Curado de Melo, funcionária do Ministério da Educação (MEC), dada como desaparecida desde sexta-feira e encontrada morta ontem, aos 26 anos. O outro, o da auxiliar de cozinha Genir Pereira Sousa, 47 anos, que sumiu em 2 de junho e teve o corpo localizado 10 dias depois.

O cozinheiro desempregado Marinésio dos Santos Olinto, 41, abordou as duas em uma parada de ônibus do Arapoanga, periferia de Planaltina. Ambas entraram na Blazer cinza ano 2000 dele, que oferecia o transporte. Crendo que embarcavam em um veículo de transporte pirata, Letícia e Genir foram assassinadas após reagirem ao assédio sexual dele. Além de matá-las, ele roubou o dinheiro que as vítimas tinham na bolsa. Marinésio jogou os corpos no mesmo lugar, um matagal entre Planaltina e o Paranoá.

Ontem, após a prisão do cozinheiro, uma mulher de 23 anos apareceu na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e o reconheceu como o homem que a atacou na noite de 11 de agosto. Ela estava na rodoviária de Planaltina e ia para o Vale do Amanhecer, na região administrativa. Marinésio se passou por motorista de transporte pirata. No caminho, ele desviou o trajeto e passou a mão na perna da vítima. Desesperada, a jovem abriu a porta do carro e saltou. Um casal que estava atrás parou o automóvel para ajudá-la. Marinésio fugiu. A mulher não havia procurado a polícia até ontem.
Agentes da 31ªDP e da 6ª DP (Paranoá) tentam identificar outras vítimas do suspeito.

Genir Pereira de Sousa, 47 anos

Auxiliar de cozinha em uma pizzaria de Planaltina

Separada, mãe de um homem de 29 anos

Nascida em Eliseu Martins (PI)

Morava no Paranoá (Facebook/Reprodução)  

Genir Pereira de Sousa, 47 anos Auxiliar de cozinha em uma pizzaria de Planaltina Separada, mãe de um homem de 29 anos Nascida em Eliseu Martins (PI) Morava no Paranoá

 


Letícia Sousa Curado de Melo, 26 anos

Advogada, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC)

Aluna de pós-graduação na Fundação Escola Superior do MPDFT

Casada, tinha um filho de 3 anos

Morava no bairro Arapoanga, em Planaltina (Facebook/Reprodução)  

Letícia Sousa Curado de Melo, 26 anos Advogada, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC) Aluna de pós-graduação na Fundação Escola Superior do MPDFT Casada, tinha um filho de 3 anos Morava no bairro Arapoanga, em Planaltina

 



Flagrado por câmeras
 
A polícia começou a desvendar o caso de Letícia Sousa Curado de Melo na manhã de sábado, após prender Marinésio dos Santos Olinto. A câmera de vigilância de uma loja filmou a advogada entrando na Blazer cinza dele. Agentes encontraram o telefone celular, a pochete e o relógio da funcionária do MEC na picape.

Em um primeiro momento, Marinésio negou envolvimento no crime, sem explicar os itens da vítima em seu veículo. Mas, diante das provas, na manhã de ontem, confessou o crime. Na companhia da advogada, levou os investigadores ao local onde deixou o corpo, uma manilha às margens da DF-250, em um matagal próximo a uma fábrica de sementes.

Em depoimento, Marinésio contou ter abordado Letícia na parada de ônibus, perto da casa dela, no Arapoanga, no início da manhã de sexta-feira. Ela, que havia saído de casa às 7h, pretendia pegar um coletivo para a Rodoviária de Planaltina, onde tomaria outro ônibus até a Rodoviária do Plano Piloto. Seguiria a pé até o prédio do MEC, na Esplanada dos Ministérios. A princípio, o suspeito havia acabado de deixar a filha de 16 anos na escola.

Poucos minutos após Letícia entrar na Blazer, começou o assédio. A advogada gritou. Marinésio dirigiu até uma estrada que dá acesso ao Paranoá e a estrangulou. Depois, seguiu até a DF-250, onde deixou o corpo da jovem. Marinésio confessou o crime na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina).

Com ele, os agentes encontraram R$ 750. Havia uma nota de R$ 5. A polícia suspeita que seja a mesma que Letícia pediu ao marido, antes de sair de casa. Por ter uma deficiência ocular, ela não pagava passagem nos ônibus da frota regular. A família suspeita que a advogada usaria o dinheiro para um transporte pirata.

Marinésio ficará preso preventivamente pelo assassinato da advogada. O corpo dela foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML) às 18h de ontem. Não havia previsão de velório e enterro até o fim da noite. “Ele (Marinésio) matou-a quando ela ficou assustada, depois que ele disse que tinha vontade de ter relação sexual com ela. Ele disse que não abusou dela, mas só a perícia poderá comprovar”, afirmou o delegado Fabrício Machado, chefe da 31ªDP.
 
 
Corpo em decomposição
 
Genir Pereira de Sousa foi atacada no início da manhã de 2 de junho. Ela havia saído do trabalho na madrugada do dia 1º com um funcionário da pizzaria, seu namorado. Eles dormiram juntos, em Planaltina. Pela manhã, a auxiliar de cozinha foi para a casa da chefe, no bairro Arapoanga.

As duas eram amigas. Genir foi à casa da chefe para buscar pertences pessoais e R$ 750 que havia recebido por um serviço extra. Dali, seguiu para uma parada de ônibus, por volta das 7h40. Imagens de câmeras de segurança mostraram a vítima indo ao ponto e, depois, um carro passando e, em poucos segundos, retornando.

Como Genir não apareceu para trabalhar na noite de 2 de junho, a patroa registrou uma ocorrência por desaparecimento. Após duas semanas de investigação, agentes da 6ªDP descartaram que o criminoso fosse alguém do convívio dela. Em 12 de junho, o corpo da mulher foi encontrado em um matagal entre Planaltina e o Paranoá, sem nenhum pertence dela.

“Filmagens mostram a Blazer (de Marinésio) passando e, em cinco minutos, retornando. Ele diz que a vítima pediu carona e, durante a viagem, quis manter um relacionamento sexual. O suspeito conta que, depois do ato, decidiu matá-la estrangulada”, comenta a delegada Jane Klebia, chefe da 6ªDP. “Ele mata por nada. É importante submetê-lo a um profissional que faça um perfil psicológico dele. Ele foge ao padrão de qualquer homicida. É um perfil de psicopata. Ele não tem um motivo para matar”, completa.

Pelo estado de decomposição do corpo de Genir, não foi possível confirmar o estupro, apenas a morte por estrangulamento. “Nosso trabalho agora é identificar possíveis vítimas do Marinésio na área do Paranoá e Itapoã, onde é comum as pessoas pegarem transporte pirata. Temos o perfil de um suspeito em potencial que pode estar ligado a outros crimes de sequestro, estupro e estrangulamento de mulheres”, destaca a delegada.
 
Parentes e amigos de Letícia Souza foram ao local onde o corpo dela foi encontrado, na manhã de ontem, à margem da DF-250 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Parentes e amigos de Letícia Souza foram ao local onde o corpo dela foi encontrado, na manhã de ontem, à margem da DF-250

 

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Correio Braziliense segunda, 26 de agosto de 2019

FERNANDA YOUNG, ATRIZ, ESCRITORA ROTEIRISTA, MORREU ONTEM, AOS 49 ANOS

 

A arte de rir de si mesma
 
 
Esse é um dos legados que nos deixa Fernanda Young. A atriz, escritora e roteirista morreu ontem, aos 49 anos

 

Vinicius Nader

Publicação: 26/08/2019 04:00

 (Marcio Nunes/TV Globo)  

O Brasil perdeu, na madrugada de ontem, a verve crítica, ácida e extremamente contemporânea de Fernanda Young. A atriz, escritora, apresentadora e roteirista teve uma crise de asma no sítio da família, no interior de Minas Gerais, e foi levada para o hospital em Paraisópolis, onde teve paradas respiratória e cardíaca e não resistiu. Fernanda Young tinha 49 anos de idade e deixa o marido e parceiro em muitas obras, Alexandre Machado, com quem teve quatro filhos. O corpo de Fernanda Young foi enterrado, ontem, em São Paulo.


Nascida em Niterói (RJ), Fernanda Young logo mostrou que tinha talento para as letras. O primeiro livro foi escrito aos 17 anos, mas nunca foi publicado. A escritora se preparava para, finalmente, lançar a obra como parte das comemorações pelos 50 anos, em agosto do ano que vem. Atualmente, Fernanda trabalhava em O livro, obra que deixa inacabada e que deve ser lançada postumamente, e nos ensaios da peça Ainda nada de novo, que estrearia em setembro em São Paulo.


Muito ativa, Fernanda nunca foi de fazer uma coisa só. Palavras como multifacetada e multimídia são comumente ligadas a ela, o que deixa claro o quanto a escritora era contemporânea. Essa característica aparecia e até mesmo definia a obra literária iniciada com Vergonha dos pés (1996) e que, extensa, ultrapassou os 10 títulos, entre os quais Tudo o que você não soube (2007) e A mão esquerda de vênus (2016). Temas como feminismo, globalização, relacionamentos ganhavam, na escrita de Fernanda, acidez e ironia.

Televisão


O humor corrosivo e corajoso de Fernanda logo ganhou as telas. Primeiro, como uma das colaboradoras de A comédia da vida privada (1995). Mas, ali, a série era baseada em outro autor (Luis Fernando Veríssimo) e Fernanda não pôde se mostrar por completo.


O telespectador conheceu e se apaixonou de vez por ela com Os normais, série escrita ao lado do marido, Alexandre Machado. Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães davam vida a Vani e Rui, casal que nos divertia e nos levava à reflexão por meio de situações cotidianas. Foram três temporadas — de 2001 a 2003 — de muito sucesso. Tanto que deram origem a dois filmes, também roteirizados pela dupla.


Depois vieram outras comédias, a maioria com êxito e todas com a crítica social embutida. Entre elas, Os aspones (2004) fazia piada com o funcionalismo público, Macho Man (2011) brincava com o novo homem e com empoderamento feminino, e Vade retro (2017), que subvertia ao trazer Tony Ramos como o diabo. Em 2013, Fernanda e Alexandre foram indicados ao Emmy internacional pelo roteiro da comédia Como aproveitar o fim do ano. Recentemente, ela escreveu o seriado Shippados, estrelado por Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch e disponibilizado no catálogo do Globo Play, serviço sob demanda da Globo.

Cara a tapa

Falar o que pensa nunca foi um problema para Fernanda Young, o que fazia com que o público, muitas vezes, tivesse a impressão de que estava diante de uma mulher amarga. Mas bastava prestar mais atenção ao sofá do Saia justa — a escritora participou da formação inicial do programa, em 2002 e 2003, ao lado de Marisa Orth, Rita Lee e Mônica Waldvogel — que estava ali o lado doce, tão destacado em depoimentos de amigos e colegas, ainda chocados com a repentina morte de Fernanda ontem.


Na mesma emissora, o GNT, Fernanda comandou talk shows provocadores e engraçados, como Irritando Fernanda Young, no qual ela brincava com a fama de mal-humorada — Fernanda não era de se levar a sério — e Confissões do apocalipse. As atrações foram ao ar entre 2006 e 2010 e em 2012, respectivamente.


Sem medo de se expor e com uma necessária análise crítica apresentada de uma forma sem ser chata ou massante, Fernanda vai fazer falta na televisão e na literatura. “Sou uma mulher de 50 anos que sonhou alto e realizou muito. E estou longe de encerrar a minha jornada nessa orbe! Aos que se interessam: bom proveito. Para os outros: estou pouco me lixando!”, escreveu no sábado em uma rede social.

   

Repercussão

Colegas e amigos se despediram de Fernanda Young nas redes sociais

 

"Como eu fui privilegiado em dizer o texto de Fernanda em Vade Retro, seriado que me deu tantas alegrias. Ela era escritora primorosa e pessoa adorável” 

Tony Ramos



“Era uma pessoa maravilhosa. Devo boa parte dos melhores anos da minha vida a ela. É uma perda muito grande para o mundo artístico. Vou sentir muita falta”

Luiz Fernando Guimarães



“Fernanda foi uma mulher importante para as artes e para a sociedade. Conseguia fazer rir e pensar com a mesma intensidade”

Fábio Porchat


“O que vai fazer mais falta é a mente inquieta. Ela olhava para tudo que estava acontecendo ao lado e colocava isso no trabalho dela”

Zeca Camargo


“Sua jornada está longe de terminar e vai continuar. Suas palavras são fortes”

Tatá Werneck


“Triste notícia recebi hoje com a morte precoce da Fernanda Young, essa menina talentosa, de humor ácido e de tantos trabalhos excepcionais como escritora, roteirista, atriz, apresentadora, entre outros. Descanse em paz!”

Walcyr Carrasco


Jornal Impresso

“Chocado com essa notícia. Fernanda Young, escritora talentosa, polêmica, divertida, autora (com seu marido Alexandre Machado) da melhor série brasileira até hoje, Os Normais, entre outros trabalhos. Uma pessoa bacana a menos no Brasil.

Hélio de La Peña

 


Correio Braziliense domingo, 25 de agosto de 2019

BRASÍLIA: O DESPERTAR DO IDOSO DO SÉCULO 21

 

O despertar do idoso do século 21
 
Com expectativa de vida maior do que a média nacional, o idoso brasiliense enfrenta dificuldades e riscos para garantir um envelhecimento saudável. Em uma série de três reportagens, o Correio mostra a realidade dessa população no país e aponta saídas necessárias para o futuro

 

Publicação: 25/08/2019 04:00

Segundo estudo do IBGE, em 2060, o DF terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação
 (Ed Alves/CB/D.A Press - 12/2/19)  

Segundo estudo do IBGE, em 2060, o DF terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação

 


» MARIANA MACHADO
» JÉSSICA EUFRÁSIO
 
Prolongar a vida foi um dos grandes feitos do ser humano no século 20. Se, antes, a longevidade era privilégio de poucos, agora, ela começa a ser regra e, ao mesmo tempo, um dos maiores desafios dos tempos modernos. A sociedade precisa aprender a viver mais e melhor. Não somente quem passou dos 60, como também os netos e os filhos de quem está na terceira idade.
 
De 2012 a 2017, o número de pessoas com mais de 60 anos no país subiu 18%, alcançando 30,2 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A previsão é de que, em 2060, um quarto dos brasileiros tenha mais de 65 anos. No mesmo ano, o Distrito Federal terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação, com cerca de dois para um.
 
Os desafios de uma nação com pirâmide etária em transformação acelerada, como é o caso do Brasil, incluem definir políticas voltadas para as necessidades dos idosos: de mobilidade urbana a lazer, passando pelos cuidados com a saúde e pela prevenção de doenças, além da definição de múltiplas formas de inclusão. Apesar disso, o país engatinha nesses quesitos. Para o médico Renato Veras, doutor em epidemiologia do envelhecimento pela Universidade de Londres, transformações são necessárias. Ele alerta que o país tem perdido a chance de promover mudanças nessa perspectiva. “A questão do envelhecimento nunca se encaixou muito bem na sociedade brasileira”, diz. (leia Três perguntas para).
 
A expectativa de vida do brasileiro, em 2019, é de 76 anos; no DF, um pouco maior: de 78 anos (leia A velhice em números). Diante do novo perfil populacional, o Brasil deve pensar em quem não tem mais a mesma vitalidade de outrora. A Organização Panamericana de Saúde (Opas) define como “cidade amiga do idoso” a que adapta estruturas e serviços para que sejam acessíveis e promovam a inclusão para pessoas com diferentes necessidades e capacidade.
 
Mais de 600 cidades e comunidades em 37 países fazem parte da rede da Organização Mundial de Saúde (OMS), pensando em iniciativas que permitam o envelhecimento saudável. No Brasil, quatro receberam o certificado internacional de Cidade e Comunidades Amigáveis à Pessoa Idosa: os municípios gaúchos de Esteio, Porto Alegre e Veranópolis, além de Pato Branco (PR).
 
Mobilidade
Na capital federal, muito precisa ser feito. O aposentado Eloy Barbosa, 73 anos, é categórico: “Brasília não tem acessibilidade. Isso vale para Plano Piloto, Samambaia, onde for. As escadas rolantes não funcionam, não tem calçada na maioria dos lugares e, quando tem, as pessoas param os carros em cima”. Mesmo assim, ele encara a velhice com “animo. Todos os dias, o morador da QNA 5 de Taguatinga Norte caminha até a parada de ônibus mais próxima.
 
O transporte público faz parte da rotina do senhor de cabelos brancos. Com agenda lotada, ele reveza os dias entre aulas de teatro, filosofia, canto coral, dança e o que mais aparecer. Para se locomover, vale ônibus, metrô, ou dirigir o próprio carro. “Prefiro o transporte público, porque não vou sozinho. Converso e conheço as pessoas. Quando está cheio, tem gente que finge não me ver, mas sempre tem uma alma boa para me ceder o lugar. Devem ser os meus cabelos brancos”, brinca Eloy. Para ele, ser idoso é um privilégio. “Significa que estou vivendo mais. As rugas são o nosso diploma, e eu tenho doutorado. Procuro ser dono da minha vida. Em Brasília, só fica em casa quem quer”, afirma.
 
Menos otimista, a mulher dele, Marieta Oliveira, 74, se lembra de situações de discriminação. “Tem muita gente educada, mas ouvi uns reclamando que velho não paga passagem. No transporte, nem todo motorista é educado e, nas ruas, as calçadas são ruins, você tropeça se não estiver atento”, reclama (leia Personagens da notícia).
 
 
Personagens da notícia

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
O passado com carinho
 
Quem vê os olhares cúmplices e os sorrisos abertos de Eloy e Marieta não imagina a força da dupla. Há 43 anos, eles se casaram e foram morar em Taguatinga, na mesma casa até hoje. Ao longo de quatro décadas juntos, tiveram três filhos, mas, diferentemente do que se espera, os dois rapazes e a moça se foram antes dos pais. De olhos marejados, eles evitam falar das perdas que os fizeram viver sozinhos. “A nossa força vem da união e de entendermos a vida”, afirma Eloy.
 
Marieta conta que, todos os dias, se lembra dos filhos assim que acorda. “Guardo o passado com carinho, tento focar apenas as coisas boas, mas há dias em que as partes mais difíceis ficam na cabeça. Quando isso acontece, preciso sair de casa”, relata. Conversar com os vizinhos, fazer atividades físicas e passear ajudam-na a colocar leveza no pensamento. “Não é que eu seja forte demais, mas procuro dar um jeito”, avalia.
 
 
 
Memória
 
Maus-tratos e abandono
 
Agosto
» Um homem de 38 anos diagnosticado com esquizofrenia e transtornos de ansiedade desde a adolescência matou a mãe, de 68 anos. O caso aconteceu em Taguatinga Norte. Segundo a polícia, o filho havia sido internado e fugido diversas vezes do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), unidade psiquiátrica do DF. Após uma das fugas, ele voltou a morar com a mãe. No entanto, teve um surto e agrediu a idosa até a morte dentro de casa. O caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).
 
Junho
» Em 9 de junho, uma mulher de 79 anos e o marido dela, de 87, foram encontrados com sinais de abandono, em um apartamento no Cruzeiro Novo. Eles foram levados ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ficaram internados na Ala Vermelha, com sintomas de desidratação. Encaminhada à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), a filha do casal foi autuada por deixar de prestar assistência aos pais, assinou um termo circunstanciado e foi liberada.
 
Janeiro
» A dona de casa Diva Maria Maia da Silva, 69, foi assassinada a tiros pelo companheiro, Ranulfo do Carmo Filho, 72. O autor do crime ainda disparou contra um dos filhos do casal, Régis do Carmo Corrêa Maia, 46. Diva Maria e Ranulfo estavam juntos havia 50 anos e moravam na 316 Norte. Antes do crime, pai e filho discutiram, Ranulfo foi ao quarto e voltou com um revólver. Ele fugiu depois de atirar contra Diva e Régis. Policiais prenderam o assassino, que confessou o crime.
 
 
 
Três perguntas para
 
Renato Veras, médico, doutor em epidemiologia do envelhecimento, professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e editor da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia
 
O Brasil está preparado para envelhecer?
O país perdeu muito tempo nesse processo de envelhecimento, que estava sendo projetado por demógrafos. A gente não conseguiu encarar. A população brasileira, em geral, sempre acreditou que era um país da garotada, do futuro. A questão do envelhecimento nunca se encaixou muito bem na sociedade brasileira. Ela não se organizou em todos os aspectos: saúde, urbanismo, organização das cidades para ter mais idosos, na questão de políticas sociais de amparo aos idosos. Agora, estamos em uma certa crise. Sabemos que, na população envelhecida, há mais doenças crônicas, uso de hospitais, tempo de permanência em serviços de saúde, mais custos.
 
Como lidar com o envelhecimento próprio e dos demais?
Antes, as famílias eram grandes — com seis, sete filhos —, não moravam em grandes centros, mas em cidades rurais. Era mais fácil fazer um arranjo de apoio social. Hoje, você não tem mais a parcela da população que cuida dos filhos e dos avós. Os idosos estão cada vez mais sós. E eles começam a ter dificuldades com o passar dos anos, começam a se sentir mais frágeis, têm medo de cair, começam a ficar mais em casa, mais isolados, surge a depressão, a família mora longe… Você acaba construindo uma sociedade em que o idoso é totalmente excluído. Há, ainda, um pensamento comum de que, a partir de determinado momento, você não precisará de apoio médico. O Brasil, como alguns outros países que cresceram de forma rápida, não ficou rico o suficiente para amparar seus idosos. É uma situação muito grave. Ter um modelo como o inglês, com um médico clínico que avalia e direciona para especialistas apenas quando necessário e promove cuidados diuturnos com pessoa, é a melhor forma, além da mais adequada, o que a torna mais barata.
 
Quais são os principais desafios para uma nação que fica mais velha?
Precisamos ter políticas de amparo a essa população. Na questão da previdência (social), é preciso repensar como deixaremos uma massa muito importante de idosos sem proteção. Isso é coisa para os políticos pensarem. Como cuidar de parentes queridos que viverão mais 10 ou 15 anos sem apoio do Estado? O nosso modelo assistencial é ineficiente e muito caro. O privado é assim. E esse modelo hospitalocêntrico gera insatisfação da sociedade por ter um preço muito alto. O privado precisa mudar isso. O público é subfinanciado e não tem dinheiro para abarcar a população idosa. Essas lógicas têm de ser diferentes. Minha proposta é de atuar precocemente. Fora isso, as cidades precisam de espaços harmônicos, os quais idosos possam frequentar.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 24 de agosto de 2019


Correio Braziliense sexta, 23 de agosto de 2019

É DIA DE FEIRA: CHEGA MAIS, FREGUÊS!

 

É dia de feira!
 
O Dia do Feirante é celebrado no próximo domingo, conheça histórias desses trabalhadores que se dedicam a levar bons alimentos para a mesa do brasiliense

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 23/08/2019 04:00

Além dos produtos fresquinhos, Helen não abre mão do atendimento (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Além dos produtos fresquinhos, Helen não abre mão do atendimento

 



A banquinha de Claudimar oferece serviço de delivery (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A banquinha de Claudimar oferece serviço de delivery

 

 
Acordar cedo, antes mesmo de qualquer raio de sol. Quando o galo inicia os primeiros cantos do amanhecer, a barraca já está montada, abastecida com frutas, verduras e alimentos dos mais variados tipos. A camisa suada e o corpo quente, enquanto boa parte dos trabalhadores ainda se esforça para levantar das camas. Com tudo pronto, é hora de ver o dia amanhecer e receber os clientes com disposição e sorriso no rosto. Para quem trabalha como feirante, o ritual é mais que uma rotina. É um estilo de vida.
 
Em 25 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Feirante. Mas para Daniel Assis, 40 anos, não tem dia do ano que não seja dele. Às 3h30 sai de casa, em Alexânia (GO), com o caminhão carregado de hortaliças, que ele e a família plantam, cultivam, colhem e vendem, como forma de sustento. Antes de chegar ao destino final, na 307/308 Sul, faz uma parada para trocar produtos com outros feirantes.
 
“A gente não consegue produzir tudo, então, a gente oferece os nossos em troca de outros para que o cliente consiga encontrar tudo o que precisa na nossa barraquinha”, explica Daniel. Há sete anos no mesmo ponto, ele diz ter feito mais que clientela. “Esse cantinho é minha segunda casa e essas pessoas já são da família. Por isso, eu cuido dos meus clientes, oferecendo alimentos de qualidade. Eu vendo saúde e isso é muito gratificante”.
 
Moradora da quadra, a dona de casa Helen Vale, 43, é cliente assídua e gosta de aproveitar o tempo das compras para ter uma boa conversa. “É tudo muito gostoso, fresquinho e dá muito mais vontade de cozinhar. Mas o que eu não abro mão é do atendimento. Os meninos cuidam da gente até quando estamos doentes. Dizem qual alimento é bom para o que, ensinam receitinhas. É um contato que, nos tempos de hoje, a gente acaba perdendo. Aqui não”, brinca.
 
Os laços e as raízes que criou no ponto de vendas não é motivo para se manter estagnado. É o que afirma o feirante Claudimar Mendonça, 41 anos, sócio e cunhado de Daniel. “Hoje, a gente percorre Brasília com nosso serviço de delivery. É necessário observar as novas demandas para garantir atendimento. Até porque vivemos e respiramos isso, então não dá para acomodar”.

A feirante Luzinei perdeu tudo durante um incêndio na feira onde tinha um box, mas deu a volta por cima (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A feirante Luzinei perdeu tudo durante um incêndio na feira onde tinha um box, mas deu a volta por cima

 



Há sete anos na 307/308 Sul, Daniel fez do ponto sua segunda casa (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Há sete anos na 307/308 Sul, Daniel fez do ponto sua segunda casa

 

 
Rede parceira
 
Ficar estagnada também nunca foi opção para a feirante Luzinei Moraes, 45. Há 20 anos ela trabalha no ramo e, mesmo depois de ver a própria banquinha e de outros 23 colegas serem consumidas pelo fogo e perder tudo, não desistiu. “Parecia um pesadelo, mas foi real. Com dois filhos para criar, foi um momento muito difícil. Eu me reergui pela minha família, fazendo o que eu gosto”.
 
Em quatro dias da semana, Luzinei se instala em diferentes pontos da Asa Norte e do Colorado para vender hortifrutigranjeiros orgânicos de diferentes produtores do Distrito Federal e Entorno. Antes das 6h, um caminhão carregado chega até a tenda e, com a ajuda de outros colaboradores, organiza os produtos sobre as prateleiras móveis. “Tenho prazer em atender as pessoas, ao ar livre, sem estar presa em um local fechado. Vendendo alimentos fresquinhos, eu consigo frescor à minha vida”, diz.
 
Assim como Daniel, Claudimar e Luzinei, outras 30 mil pessoas exercem a profissão em uma das mais de 70 feiras livres e permanentes no DF, segundo dados do Sindicato dos Feirantes do DF (Sindifeira). “É um segmento unido, em que vários produtores trabalham de forma cooperativa para conseguir melhorar as vendas”, afirma o presidente do Sindifeira, Francisco Valdenir Elias.
 
São aproximadamente 100 mil pessoas que dependem, direta ou indiretamente, da renda das vendas nas feiras para garantir o próprio sustento e o da família. “Não é só o consumidor que ganha. Ele valoriza essa produção local e faz girar a economia, garantindo a subsistência de tantas pessoas que se dedicam a oferecer alimentos fresquinhos e de qualidade”, argumenta Francisco.

Incêndio
 
Em 2 de outubro de 2012, um incêndio consumiu completamente um galpão de palhoça onde eram vendidos produtos orgânicos, próximo ao Posto Flamingo, na subida do Colorado. O galpão, que abrigava o Empório Rural do Flamingo, tinha aproximadamente 400m² e contava com 24 boxes. A feira estava fechada no momento do incêndio, mas várias geladeiras, fogões e peças de artesanato foram destruídos pelo fogo.

 
30mil
Número de feirantes no DF
 
70
Feiras livres e permanentes atendem ao público
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 22 de agosto de 2019

ALCEU VALENÇA: ALCEU É MUITO

 

ENTREVISTA / ALCEU VALENÇA
 
 
Alceu é muito!
 
O multiartista se apresenta hoje no festival Na Praia. O show será Estação da luz, com sucessos e canções em homenagem à capital

 

Nicole Mattiello*

Publicação: 22/08/2019 04:00

O cantor ganhou uma HQ que conta a história do seu disco Vivo (Celso Hartkopf/Divulgação)  

O cantor ganhou uma HQ que conta a história do seu disco Vivo

 

 
Um eterno menino que não gosta de descansar nem sonha em se aposentar. “Me faz um favor? troca o senhor por ‘você’?”, pediu Alceu Valença, e quebrou o gelo das formalidades logo no início da entrevista ao Correio. O cantor se apresenta hoje no festival Na Praia com o show Estação da luz, em que toca sucessos da carreira e músicas que homenageiam a capital.
 
Alceu trilha os caminhos da arte há mais de 40 anos. Cantor, compositor, escritor, ator, cineasta, fez um pouco de tudo: tem 31 discos, um livro e um filme, “fui até galã de filme, menina!”, conta sobre o longa pernambucano de 1974, A noite do espantalho, de Sérgio Ricardo. Referência na cultura brasileira, recentemente ganhou uma HQ, feita por André Valença e Celso Hartkopf, que conta a história do disco Vivo.
 
Anunciação, Cavalo de pau, La belle de jour, Tropicana… com sucessos que estão na ponta da língua de muitos fãs da sua música, Alceu Valença tem carreira extensa e cheia de “causos”. O artista contou um pouco mais sobre sua história na música.
 
Alceu Valença diz ter amor por cantar e fazer show, e não pensa em se aposentar (Antonio Melcop/Divulgação)  

Alceu Valença diz ter amor por cantar e fazer show, e não pensa em se aposentar

 

 
Sempre sonhou em ser cantor?
Nunca sonhei essas coisas não. Quando era garoto, com uns 5 anos de idade, participei de um festival na minha terra, e o prêmio era uma caixa de sabonete. Depois eu vim aprender a tocar violão com uns 15, 16 anos de idade, e aí pronto. Quando estudei em Harvard, era uma época de muitos hippies, e eu tocava numa pracinha por lá, eles adoravam, e eu também me amarrava. Depois disso minha carreira começou mesmo, com convites para shows, para cantar e mostrar meu som.
 
 
Você inspira muitos artistas, isso não é segredo. Mas quem te inspirou no início da carreira? 
Na minha casa o meu pai não queria que eu fosse artista, porque ele achava muito difícil sobreviver desse negócio de arte, então não existia som na minha casa, só um rádio. As minhas referências primeiro foram os cantos do sabiá, a música que tinha nos pés de capim quando o vento soprava, as vozes dos locutores na rádio, as músicas que tocavam na época, sem que eu escolhesse. Uma mistura doida que funcionou.
 
 
Qual é a sua obra mais importante? 
Todas. Obra é como filho, você já viu pai gostar mais de algum filho do que outro? Claro que tem uma música ou outra que nunca foi ao ar, que fica guardada no baú. Aí vira uma relação distante, como um filho que vai morar fora, que a gente passa muito tempo sem ver e sem conversar. Mas todas são importantes.
 
 
Quais mudanças percebe no ramo da música comparando quando começou com agora?
A internet, com certeza. A internet favoreceu muita gente (artistas) que já estava estabelecida, ao mesmo tempo que ocultou outros. A minha carreira foi muito favorecida, tenho uns 60 milhões de visualizações nas plataformas. Mas sabe, tem o lado ruim. Estamos vivendo em um mundo dominado por uma cultura de algoritmos que nos apresentam um menu daquilo que a gente deve comer. Eu prefiro a comida da Dedé (cozinheira que trabalha em sua casa), não escolho em menu.
 
 
Como fica o descanso? O que o você faz para descansar? 
Eu odeio descansar. Agora, há um cansaço muito grande que é das viagens, mas quando eu chego ao Rio de Janeiro eu fico com vontade de cair na rua. A senhora estrada é minha vida. Não tiro férias, penso em fazer show o tempo todo. Mas, às vezes, passo um tempo em Portugal, caminho pelas ruas de Lisboa, adoro andar nas ladeiras e colinas… Esse é o meu descanso.
 
 
E como é a relação com o público de Brasília?
É maravilhosa. Faço show aqui desde o início da minha carreira, e adoro o clima como um todo. O clima da cidade, do público… Fiz até música em homenagem. Não é brincadeira, não.
 
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
 
 
 
Show Estação da Luz, de Alceu Valença
Hoje, a partir das 18h no Na Praia (Concha Acústica, Orla do Lago Paranoá). Ingressos: R$ 161 (inteira) e R$ 81 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 16 anos.
 
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Correio Braziliense quarta, 21 de agosto de 2019

SEQUESTRO NA PONTE RIO-NITERÓI

 


VIOLÊNCIA
 
 
Sniper do Bope mata sequestrador de ônibus
 
Motivos da ação ainda não foram esclarecidos. Rapaz que manteve 37 passageiros presos no meio da Ponte Rio-Niterói, por quatro horas, estava com uma arma falsa, uma faca e gasolina. Governador de estado comemorou ação da polícia

 

» Cristiane Noberto*

Publicação: 21/08/2019 04:00

William Augusto Silva foi atingido, na perna, quando saiu do veículo. Depois, recebeu mais seis tiros (Ricardo Cassiano/Agência O Dia/AFP)  

William Augusto Silva foi atingido, na perna, quando saiu do veículo. Depois, recebeu mais seis tiros

 



O sequestro de um ônibus com 37 pessoas na Ponte Rio-Niterói terminou, ontem com o sequestrador morto por um sniper do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do estado. Nenhum passageiro ficou ferido.

A ação começou de madrugada, em um ônibus da Viação Galo Branco, que partiu de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, em direção ao centro da capital fluminense. Por volta das 5h, Willian Augusto da Silva, 20 anos, tomou o ônibus e obrigou o motorista a enviesar o veículo nas pistas da ponte. A operação policial começou por volta das 5h40 e a agonia teve fim às 9h, quando Willian foi atingido com seis tiros pelo atirador de elite do Bope, no momento em que desceu do ônibus e jogou um casaco para os policiais. A direção do Hospital Municipal Souza Aguiar confirmou a morte dele às 9h33, por parada cardiorrespiratória.

Foram quatro horas de terror, segundo os passageiros. Com uma arma, uma faca e gasolina, o sequestrador, apesar de afirmar que não queria ferir ninguém nem o dinheiro deles, distribuiu o combustível em garrafas Pet pelo ônibus. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) conduziu a operação. Segundo informações da corporação, a arma que o rapaz portava era falsa.

Hans Moreno, um dos reféns no ônibus, declarou a jornalistas que estava aliviado por ter saído daquela situação. “O sequestrador parecia bem arquitetado, tinha todos os objetos bem-feitos, chegou com as coisas armadas, mas afirmava que não queria nada das vítimas, queria R$ 30 mil do estado”, disse.

Comemoração

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), comemorou a ação policial ao descer de um helicóptero na ponte, após a ação policial, o que causou um certo mal-estar nos presentes. Durante a coletiva de imprensa, explicou que sua comemoração foi pela ação bem-sucedida da polícia em salvar 37 vidas, e não pela morte de alguém.

Witzel não mediu elogios à equipe e destacou que a ação só foi possível porque a polícia não teve nenhuma interferência. “Lamento a morte ocorrida e fico feliz com as 37 vidas salvas. Temos muito trabalho para combater a violência e proteger a população. Estamos no caminho certo”, escreveu no Twitter. O governador afirmou que, se preciso, entrará com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que tenha entendimento jurisdicional a questão de abater pessoas com fuzil na mão, mesmo que não estejam utilizando.

Na avaliação do ex-secretário Nacional de Segurança, coronel José Vicente da Silva, os policiais agiram corretamente. Segundo ele, o contexto gerenciado pelo comandante do Bope não pode ser feito por um amador, o negociador tem a função de fazer o indivíduo desistir da ação. “Quando o sequestrador pôs o corpo para fora do veículo, ele não poderia voltar mais, pois se a polícia permitisse isso, voltaria todo o drama. A polícia tinha que fazer tudo o que podia ser feito, e, como o policial não podia pular em cima dele, por conta da distância, o tiro era a melhor opção”, disse.

O coronel explicou que a ação do sniper deve anular o potencial agressivo do indivíduo. Isso significa imobilizar de alguma forma para retirar o potencial de perigo. Em última opção, o tiro na cabeça. “Essa decisão não é do sniper, a decisão dele é somente o ponto e quando. Quem dá o aval é o comandante da operação, que no caso era o coronel Nunes”, afirmou.

Em casos de assaltos, onde o assaltante pode pegar um refém para conseguir fugir, a polícia pode tentar negociar e quase sempre a negociação é bem-sucedida. “Casos como esses (do sequestro na ponte) são perigosíssimos para os reféns e para os policiais. É uma pessoa perigosa, que pode matar inocentes. Os policiais devem ter isso em mente”, disse.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira


  • Chacina de Unaí: condenado fica solto

    O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) impediu a prisão de Hugo Alves Pimenta, condenado em 2ª instância de Justiça por participação no caso conhecido como a chacina de Unaí. Em 2004, quatro servidores do Ministério do Trabalho foram assassinados, no Entorno do Distrito Federal, durante a fiscalização sobre trabalho escravo. A decisão, tomada na semana passada, foi divulgada ontem. Hugo foi condenado a 31 anos e seis meses de prisão pela acusação de ser um dos intermediários dos assassinatos, encomendados por um fazendeiro. O ministro entendeu que o réu deve responder em liberdade até que a Primeira Turma da Corte analise o mérito do caso.

Jornal Impresso


Correio Braziliense terça, 20 de agosto de 2019

5ª JORNADA LITERÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

 

Em busca do novo leitor
 
Quinta edição da Jornada Literária do Distrito Federal tem início hoje, em Sobradinho

 

Rayssa Brito*

Publicação: 20/08/2019 04:00

Boa leitura: alunos do segundo ano do Centro de Ensino Médio 01 com a professora Leticia Gomes (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Boa leitura: alunos do segundo ano do Centro de Ensino Médio 01 com a professora Leticia Gomes

 



“Eu fico muito emocionada; sempre fui aluna de escola pública e foi na escola pública que me interessei pela literatura, participando de projetos literários como um ratinho de biblioteca, porque minha família não tinha condições de comprar livros”. O depoimento é da atriz e escritora Cristiane Sobral, 44 anos. Ela está entre os 31 escritores confirmados na Jornada Literária do Distrito Federal que, neste ano, começa por Sobradinho.

A expectativa dos organizadores é de que 30 mil jovens e crianças vivenciem o projeto, que leva a leitura à rede pública. “É uma maneira de retribuir e também plantar em outros estudantes aquilo que também foi plantado em mim tempos atrás, isso me emociona”, destaca Cristiane.

Além de Sobradinho, o projeto passará por Ceilândia, de 9 a 13 de setembro, por São Sebastião, de 25 a 27 de setembro, e se encerra no Gama, de 28 a 31 de outubro. O curador e escritor João Bonfim ressalta que a principal meta da Jornada Literária é fazer os participantes descobrirem o gosto pela leitura literária.

O programa é resultado de duas décadas de experiências de João e da produtora cultural Marilda Bezerra em eventos nacionais e internacionais: bienais, festas literárias, feiras do livro. Dos estudos, participações, ações e apresentações, surgiu a ideia de relacionar leitor, livro e autor.

João entende que, além do encantamento das histórias, poemas e imagens em si, é fundamental o contato do novo leitor com o criador das obras. Isso porque, distintamente dos esportes ou cinema ou das novelas, o escritor é tido como alguém que já não está entre nós, a exemplo do escritor Machado de Assis, tão presente nos livros escolares. “Assim, quando trazemos esse autor ou autora para perto das crianças, há uma admiração: ‘Então você existe!?’ E há um desejo enorme deles em conhecer todo o processo de produção, de criação e edição de um livro”, detalha João.

Para Marilda Bezerra, a ideia da Jornada Literária surgiu quando ela e João perceberam que os estudantes das escolas públicas das regiões administrativas mais afastadas do Plano Piloto tinham pouco acesso à literatura e aos livros. “Vimos as pesquisas e constatamos que os índices de leitores ou livros lidos por ano eram muito baixos... Assim, tivemos a ideia de levar livros para esses alunos. Mas sabemos que, para formar um leitor, não basta só o livro. É preciso que se tenha um mediador de leitura”, avalia. “A Jornada, então, começa com a formação dos mediadores de leitura: disponibilizamos livros para serem lidos e trabalhados pelos alunos e depois levamos esses alunos para se encontrarem com os autores desses livros”, relata a produtora cultural.

Experiências
O Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho (CEM 01) participou da Jornada Literária em 2018 e este ano também vai receber o projeto. “Os alunos gostaram muito, mergulharam em um universo desconhecido, diferente da sala de aula”, relata o diretor da escola, Rafael Urzedo. De acordo com o diretor, a experiência foi tão positiva que neste ano houve acréscimo de 40% no número de professores que aderiram ao projeto.

Os estudantes Amanda Meira e Murilo Campos compartilham da opinião de Rafael. Amanda conta que a experiência foi diferente, pois saíram do quadrado de sala. “A literatura é um novo jeito de ver o mundo”, afirma. Por sua vez, Murilo relata que a escola recebeu grande suporte da Jornada. “Com esse projeto, podemos perceber que pessoas comuns conseguem chegar a um alto patamar da sociedade”, complementa.

“Eu vejo o despertar da leitura”, afirma a professora de português Ana Teresa Fernandes, que participou da Jornada do ano passado. A docente relata que o contato dos leitores com os escritores é um diferencial da Jornada. “Acho riquíssimo o contato com o autor que está vivinho, que mora do seu lado e está em Brasília”. Ana também conta que a escola optou este ano estudar o livro de contos do escritor Ignácio de Loyola Brandão, Cadeiras proibidas, devido à interação que a leitura do gênero proporciona na sala de aula.

* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira




Serviço

Jornada Literária do DF

» Teatro de Sobradinho, de hoje a 23 de agosto, das 9h às 18h. Entrada franca e classificação livre.




30 mil
Número de alunos que participam do projeto

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Correio Braziliense segunda, 19 de agosto de 2019

PLANALTINA: FESTA PARA A ANCIÃ DO QUADRADINHO

 

Festa para a anciã do quadradinho
 
Com desenvolvimento em torno da tradição religiosa e da atividade agropecuária, Planaltina nasceu e, hoje, comemora 160 anos. No entanto, o surgimento das primeiras comunidades na região data de 1811, com a inauguração de uma igreja em homenagem a São Sebastião

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 19/08/2019 04:00

 (Fotos: Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press
)  
Ainda que seja a região administrativa de número seis, Planaltina é a cidade mais antiga do Distrito Federal. Enquanto a área da capital federal sequer havia sido delimitada, a então vila, conhecida como Mestre d’Armas, desenvolveu-se em torno da fé e da agropecuária. Esse centro urbano, dividido entre o DF e Goiás, cresceu e completa 160 anos hoje. A data, no entanto, representa o dia em que o vilarejo foi transformado em distrito de paz. O povoado, que cresceu em torno da Igreja de São Sebastião e guarda reflexos do século 19 a 40 quilômetros da modernidade brasiliense, tem, na verdade, 208 anos.
 
A região nasceu após um período em que tropas de bandeirantes percorriam o interior do país em busca de pedras preciosas. Essas expedições ocorreram, principalmente, durante a primeira metade do século 18. A busca por ouro e esmeraldas guiava esses grupos e marcou o início da história goiana até meados do século 20. A atividade mineradora favoreceu a ocupação de cidades como Formosa e Luziânia, então Santa Luzia. Contudo, a pecuária e a agricultura favoreceram a fixação desses grupos na região.
 
Com a decadência da economia no século 19 e o fim da febre do ouro na Província de Goiás, as transações comerciais se enfraquecem, a circulação monetária diminui, mas a agricultura de subsistência e a pecuária ganham força. Aliada a isso, Planaltina surge em meio a uma “febre de fé”. “Tratava-se de uma comunidade espalhada, que trabalhava na fazenda e tinha autonomia. Não havia grandes comércios. A vila de Mestre d’Armas surge daí. Mas esse grupo de fazendeiros teve um problema com uma doença. Como fazem para superá-la? Prontificam-se a criar uma pequena capela caso se curem”, explica o historiador do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) Elias Manoel da Silva.
 
Em 20 de janeiro de 1811 — após o fim da epidemia e durante uma missa de ação de graças —, a comunidade entrega as terras para construção da igreja ao vigário de Santa Luzia, como forma de pagar a promessa. A capela é erguida em homenagem a São Sebastião. A ocasião configura, historicamente, a data oficial do nascimento do Arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas, atual Planaltina. Com a criação do patrimônio ao santo — distrito urbano que surge ao redor de um território doado para uma igreja —, cresce o aglomerado de comércios e pequenas cidades em terrenos alugados pela capela.
 
Uma lei de 19 de agosto de 1859 transforma a vila de Mestre d’Armas em distrito de paz. Cem anos depois, pouco menos de um ano para a inauguração de Brasília, há uma festa em comemoração ao centenário da cidade. Para Elias Manoel, confundir as datas trata-se de um equívoco. “É um erro histórico compreensível. Quando se construiu Brasília, a referência era essa (lei). Em 1959, houve uma festa para celebrar os 100 anos do distrito de paz. Mas, para o surgimento do núcleo urbano (da atual Planaltina), consideramos 1811, com a doação de terras por fazendeiros locais para a construção da igreja”, completa o pesquisador.
 
 

"Tenho atuado com o objetivo de dar mais visibilidade para a cultura daqui, porque é muito rica. É a cidade do meu coração, que me acolheu" Rozeli Costa, 55, artesã

 

Futura capital
 
A Constituição Federal de 1891 — primeira da República — previa a reserva de uma área de 14,4 mil quilômetros quadrados no Planalto Central onde, futuramente, ficaria a capital do país. Em 1982, a Comissão Exploradora do Planalto Central, conhecida como Missão Cruls e liderada pelo astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls, esteve no Planalto Central para delimitar os vértices que, hoje, marcam o DF.
 
A pedra fundamental que indica essa região foi instalada em 1922, em Planaltina. A cidade, no entanto, existia há mais de seis décadas. A partir da construção de Brasília, em 1956, o estilo de vida da cidade ganhou novos contornos. Mesmo com os traços deixados por Oscar Niemeyer e Lucio Costa perto dali, a arquitetura de Planaltina, marcada por casarões de adobe e o ar de cidade pacata, manteve-se durante muitos anos.
 
Nascido em Goiânia, o arquiteto Salviano Guimarães, 76 anos, cresceu na casa do avô, Salviano Monteiro Guimarães, cuja casa tornou-se o museu da cidade e cujo nome batiza a praça do Centro Histórico. Depois de passar anos estudando no Rio de Janeiro — e em outros países, como a Argélia, onde foi pupilo de Oscar Niemeyer — em 1975, ele voltou para a capital federal. Tornou-se professor da Universidade de Brasília (UnB), mudou-se para Planaltina e, hoje, além de ser proprietário de uma fazenda na cidade, é dono de uma casa vizinha ao museu, onde, por coincidência, cresceu a mulher dele, a professora universitária aposentada Maria Alice Guimarães, 74.
 
O casarão de adobe comprado pelo casal foi restaurado, mas mantém as características originais. Do mesmo modo que a história de Planaltina se entrelaça com a de Brasília, a de Salviano Guimarães se mistura a das duas cidades. “Tenho uma relação de amor com Planaltina. É a terra de meus pais, de meus avós. É onde me sinto bem. E é uma cidade que tem vida cultural”, ressalta.
 
Os empresários Manoel Davi Ramos Filho, 74, e a mulher dele, Maria Oneida Marques, 66, deixaram o município de Monte Carmelo (MG) para adotar a região administrativa como lar. Há cerca de 50 anos, eles se mudaram para a cidade na tentativa de ganhar a vida.  A escolha foi fácil. Manoel tem parentes em Planaltina, onde acabaram ficando. Hoje, donos de uma loja de itens variados aberta há 30 anos, na Avenida Marechal Deodoro, eles falam sobre a abertura de Planaltina para o comércio. “Minas Gerais é boa para morar, mas não para ganhar dinheiro. Foi difícil no início. Como éramos de fora, ninguém confiava. A gente tem de ser artista”, relata Manoel Davi.
 
Com dois filhos e três netos, eles reconhecem a importância da cidade, mas lamentam a falta de atenção por parte do governo para a solução de problemas. “Não penso em me mudar daqui. Mas ainda falta os governantes fazerem mais. Aqui é uma cidade histórica. Tenho esperança de que eles façam melhoras por aqui e e olhem mais para o povo, para que Planaltina possa evoluir”, cobra Maria Oneida.
 
 

"Tenho uma relação de amor com Planaltina. É a terra de meus pais, de meus avós. É onde me sinto bem. E é uma cidade que tem vida cultural" Salviano Guimarães, 76 anos, arquiteto, aluno de Oscar Niemeyer

 

Cultura
 
Até hoje, o setor agropecuário movimenta a economia de Planaltina. A cidade ficou em primeiro lugar entre as regiões administrativas do DF como a que mais produziu feijão, soja, pimentão, laranja, limão, maracujá, banana, leite, carne de frango, ovos e mel, em 2018, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Mesmo assim, é o lado religioso que torna a cidade um atrativo para milhões de fiéis todos os anos, especialmente durante as folias e a famosa encenação da Via-Sacra, no Morro da Capelinha.
 
A particularidade de pulsar cultura não deixou as veias da cidade, onde centenas de atores, artesãos, pintores e outros artistas surgiram. Próximo à praça do Centro Histórico, onde a vida passa sem pressa, mora a artista Rozeli Costa, 55. De família católica e com o dom da arte — como ela mesma diz — a artesã conseguiu transformar o ofício da costura, exercido pela mãe, em um trabalho reconhecido, principalmente, durante a Festa do Divino Espírito Santo, celebrada em junho.
 
Desde 2006, Rozeli se dedica à produção de bandeiras para o evento anual ou para encomendas. Cinco anos depois, a artista expandiu a forma de trabalhar e passou a produzir estandartes. Ela diz que a paixão pela cidade para onde mudou-se aos 15 anos torna-se cada vez mais forte. “Comecei a trabalhar com as bandeiras por influência do passado, da infância. Tenho atuado com o objetivo de dar mais visibilidade para a cultura daqui, porque é muito rica”, ressalta Rozeli. “O que eu puder fazer em nome de Planaltina, eu faço. A cidade tem um espírito de confraternização. É a cidade do meu coração, que me acolheu”, completa.
 
Sócia-fundadora da Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina (AACHP), Simone dos Santos Macedo explica que a força da cultura regional tem capacidade de transformar a imagem da cidade. Ela acrescenta que atrativos tradicionais se mantêm em alta, ao mesmo tempo em que novas atividades ganham destaque. “Temos feito um trabalho com o viés de tirar Planaltina da imagem de cidade da periferia norte (do DF) e violenta. Fora a parte mais antiga, temos movimentos mais modernos. Há o Salão Mestre d’Armas, de artes contemporâneas; uma galera do rap e do grafite. Todos esses movimentos têm vindo com bastante força”, destaca.
 
Além disso, Simone menciona a resistência do Centro Histórico da cidade, a preservação ambiental na Estação de Águas Emendadas e o sincretismo religioso do Vale do Amanhecer. Ela cita  a perda de casarões, mas comenta que a “goianidade” não se perdeu. “O primeiro tesouro que a cidade guarda é o Centro Histórico, que insiste em se manter de pé. Ainda é possível chegar à praça dele e sentir que você está em uma cidade do interior, diferentemente de uma de concreto, certinha, como Brasília. As pessoas ainda se encontram na praça. E esse patrimônio cultural também é símbolo da história de Brasília”, finaliza Simone.
 
PROGRAME-SE
 
Hoje
Sessão solene em comemoração ao aniversário de Planaltina
Local: Centro Educacional 
Delta
Horário: 19h
 
23 de agosto
Samuzinho
Local: Praça do Estudante
Horário: das 8h às 13h
 
23 a 25 de agosto
Cruzada Evangelística
Local: Estacionamento Funções
 
24 de agosto
Copa Planaltina de Fisiculturismo
Local: Complexo Cultural
Horário: 16h
 
25 de agosto
1º Encontro de 2 e 4 Rodas
Local: Restaurante Comunitário
Horário: das 9h às 18h
 
27 e 28 de agosto
Festival de Curta-Metragem
Local: Centro Cultural Delta
 
31 de agosto
Encontro de Família
Local: Praça da Estância - 
Escola Classe 16 e CEI
Horário: das 8h às 12h
 
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Correio Braziliense domingo, 18 de agosto de 2019

A CIDADE PERDIDA

 

A cidade perdida
 
Fotógrafos têm explorado uma propriedade particular, em Pirenópolis, que conserva um conjunto de formações rochosas que lembram pirâmides, templos, estátuas, palácios, entre outras construções

 

» Renato Alves

Publicação: 18/08/2019 04:00

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nada de cachoeiras ou casario em estilo colonial. Turistas de toda parte do Brasil têm adentrado uma propriedade particular em Pirenópolis para explorar e admirar formações rochosas. Batizado como Cidade Perdida dos Pirineus e mais conhecido como Cidade de Pedra, é o maior sítio do gênero no Brasil.
 
O complexo ocupa cerca de 500 hectares, o equivalente a aproximadamente 850 campos de futebol, duas vezes maior do que o Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí. Em arenito, as formações são do mesmo material da reserva piauiense. O terreno goiano tem 880 milhões, de acordo com pesquisadores.
 
O Correio acompanhou um grupo de oito fotógrafos profissionais e  amadores em uma incursão pela isolada Cidade de Pedra num fim de semana de lua nova. Como acampariam na propriedade no intuito de fazer fotos noturnas de um céu estrelado, dispensavam todo tipo de luz.
 
Sem estrutura para receber turistas, a Cidade de Pedra só deve ser visitada na companhia de um guia experiente. As trilhas em meio às rochas altas formam um labirinto. Não há córregos nem qualquer outra fonte de água. Tampouco sombra, pois predomina a vegetação rasteira.
 
Por tudo isso, é necessário levar bastante água para beber, alimentos e estar vestido adequadamente. Itens que elevam o peso a carregar e o cansaço na caminhada. O passeio pode durar de quatro a sete horas, a depender do ponto de partida e daquele que se pretende atingir.
 
Há acessos por Pirenópolis e Cocalzinho. Para quem mora em Brasília, a segunda opção é melhor. O dono do terreno não proíbe a entrada de ninguém, mas o visitante, além de estar com um guia, precisa seguir algumas regras, como não fazer fogo, não deixar lixo nem tirar nada, além de fotos.
 
Além de disposição, um certo preparo físico e cuidados, quem visita a Cidade de Pedra precisa de sensibilidade. As formações rochosas lembram diversas figuras e construções, como templos, ruas, praças, estátuas e palácios. Vale destacar duas pirâmides paralelas, sendo uma com cerca de 150 metros de altura.
 
A goianiense Eliane de Castro, 57 anos, estava no grupo integrado pelo Correio. Fotógrafa documentarista, ela ficou impressionada com a imensidão da reserva. “É um lugar que merece muitas visitas, para você assimilar, entender o tamanho e explorar o que tem de melhor”, destacou ela.
 
Autora de um livro sobre Goiás Velho, a primeira capital do estado, lançado ontem, ele pretende realizar outras visitas à Cidade de Pedra para confeccionar um livro sobre o lugar.
 
» Para saber mais
 
Primeiro registro é de 1871
 
Atrativo novo para muitos, a Cidade de Pedra foi descrita em 1871 pelo padre e médico naturalista François Henry Trigant des Genettes, que morou em Pirenópolis. Ele a chamou de Cidade Perdida dos Pirineus. “Trata-se de uma área cobrindo uma grande extensão de terreno, com muralhas para fortificações, largas ruas e praças, ruínas bastante erodidas de estátuas, templos gigantescos, teatros, palácios, residências e túmulos”, escreveu ele em carta ao imperador Dom Pedro II.
 
Esquecida durante anos, a formação geológica foi redescoberta pelo historiador goiano Paulo Bertran (1948-2005). Ele resgatou os relatos de François Genettes na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e, após 21 anos, em 2004, com lupas, em fotografias aéreas da região conseguiu, mesmo sem GPS, localizar a região que o naturalista francês descreveu há mais de 130 anos.
 
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Correio Braziliense sábado, 17 de agosto de 2019

PETER FONDA MORRE, AOS 79 ANOS

 

Peter Fonda, 79, ator e cineasta
 
Eternizado como o motoqueiro que expõe uma América tensionada entre a Guerra do Vietnã e o pacifismo hippie, o irmão de Jane Fonda morre em casa, na Califórnia

 

Publicação: 17/08/2019 04:00

O ator reencarna Easy rider, 40 anos depois: ícone da contracultura (Max Nash/AFP - 5/7/09)  

O ator reencarna Easy rider, 40 anos depois: ícone da contracultura

 


O lendário rebelde sem rumo nem causa de Easy rider (filme de 1969, exibido no Brasil com o título Sem destino), montado em sua moto para cruzar os Estados Unidos de costa a costa, ao lado do amigo intepretado por Dennis Hopper, morreu ontem, aos 79 anos. “É com profundo pesar que compartilhamos a notícia. Peter morreu em paz, na manhã desta sexta-feira, em sua casa, em Los Angeles, cercado pela família”, diz o comunicado da família Fonda. “Enquanto lamentamos a perda desse  homem doce e gracioso, desejamos que todos celebrem seu espírito indomável e seu amor pela vida. Em homenagem a Peter, por favor, façam um brinde à liberdade.”

O motoqueiro de Easy rider, o papel que eternizou Peter Fonda, resume o retrato esboçado no comunicado da família, que tem três gerações inscritas na história de Hollywood. O pai, Henry, construiu uma carreira de sucesso entre as décadas de 1940 e 1970. A irmã, Jane, um dos rostos femininos mais festejados do cinema a partir dos anos 1960, acrescentou à carreira dramática incursões de sucesso como escritora e uma destacada atuação política. A filha Briget seguiu os passos e tornou-se também atriz de sucesso.

A família não mencionou a causa da morte. A revista de celebridades People informou que o ator sofria de câncer no pulmão e teria desenvolvido nos últimos anos uma insuficiência aguda.

Nascido em Nova York, em 1940, Peter Fonda destacou-se desde as primeiras atuações teatrais, na Broadway. No cinema, o primeiro papel principal veio em 1963, na comédia romântica Artimanhas do amor. Com seu maior sucesso, não apenas projetou-se como ator como recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de roteiro adaptado. Marco da contracultura, o filme teve trilha sonora da banda de rock Steppenwolf e valeu uma indicação ao Oscar também para Jack Nicholson, como ator coadjuvante.

Peter voltaria a concorrer ao prêmio, como ator, em 1997, por O ouro de Ulisses — que lher rendeu um Globo de Ouro. Além de Bridget, ele deixa o filho Justin. Tinha dois filmes finalizados: o drama de guerra The last full measure, com lançamento previsto para outubro, e a ficção futurista Skate God, programado para julho de 2020.


“Desejamos que todos celebrem seu espírito indomável e seu amor pela vida. Em homenagem 
a Peter, façam um brinde à liberdade” 

Comunicado da família Fonda
 
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Correio Braziliense sexta, 16 de agosto de 2019

TAGUATINGA: MERCADO SUL É CULTURA

 

Mercado Sul é da cultura
 
Um dos principais polos artísticos do DF, o local será palco do Arraiá do beco, neste sábado. Conheça um pouco da luta e dos artistas que investem na economia criativa da cidade

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 16/08/2019 04:00

Mercado Sul: patrimônio cultural taguatinguense, que luta para ser preservado (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Mercado Sul: patrimônio cultural taguatinguense, que luta para ser preservado

 



As coloridas vias do Mercado Sul ganham ainda mais ritmo, cheiros, sabores e vida no próximo sábado. O tradicional Arraiá do Beco chega à 9ª edição trazendo muita música, artesanato, apresentações artísticas e comida boa na QSB 12/13, em Taguatinga Sul. A festa colaborativa, produzida pela comunidade, é expressão cultural, política e de economia solidária do complexo que, ao longo dos anos, trouxe novo significado para as edificações abandonadas do antigo centro comercial de Taguatinga (leia Entenda o caso).
 
O evento conta, desta vez, com um apelo político e de resistência cultural ainda maior. Por meio dele, a comunidade local quer chamar a atenção das autoridades para conseguir a concessão de uso das 14 lojas ocupadas desde 2015. O espaço estava abandonado há quase duas décadas, o que comprometia a segurança e a saúde pública. É o que afirma o mímico e educador Abder Paz, 32 anos, que há 13 anos mora, trabalha e milita no Mercado Sul.
 
“Eram locais lotados de lixo, bichos e com foco de dengue. Abrimos as lojas porque faltava espaço para os artistas se instalarem e produzirem, investindo na economia criativa. Cumpre-se, assim, um propósito social que antes não existia”, justifica.
 
O Coletivo Mercado Sul Vive, articulação que nasceu a partir da ocupação, recentemente moveu uma ação civil pública chamando o Governo do Distrito Federal (GDF) a se responsabilizar pelo projeto. Na segunda-feira (19), uma audiência de conciliação vai discutir a situação. “As autoridades reconhecem a importância do espaço como fomentador da cultura popular brasileira e, por isso, pedimos o apoio formal à causa. Esperamos que o GDF vá para essa audiência com um norte, valorizando esse espaço efervescente, que respira, vive e faz cultura em Taguatinga”, diz Abder.

Abder Paz:  

Abder Paz: "As autoridades reconhecem a importância do espaço como fomentador da cultura"

 


Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta sábado
 (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta sábado

 


Virgílio com  André Luis: ateliês de artesanato que geram renda e emprego (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Virgílio com André Luis: ateliês de artesanato que geram renda e emprego

 

 
Festa
 
O Arraiá do Beco ocorre todo ano em agosto e é uma edição especial da Ecofeira, evento mensal que nasce a partir da ideia de comercializar os produtos dos moradores locais da região. Sem apoio financeiro, a comunidade se sustenta com base na economia solidária, desde a produção de artesanatos à cultura, que resgata as raízes brasileiras, com ênfase nas matrizes africanas e nordestinas.
 
É da música que Juraci Moura, 45, tira o sustento dele e da família. Encontrou no Mercado Sul o polo para estudar, produzir e transmitir conhecimento artístico. “Faço meus instrumentos, vendo, toco, dou aula, oficinas e workshop. É meu estilo de vida, meu sustento, diversão. Minha liberdade veio por meio da música”, revela.
 
Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta gratuitamente no sábado, ao lado de outros nove grupos (veja a programação completa). Todos os instrumentos de percussão são de produção dele, e o forro das peças é uma colaboração do trabalho de Virgílio Mota, 68, artesão que produz móveis e utensílios com papelão e sacos de cimento há 13 anos.
 
“Aqui a gente constrói junto, convive, sobrevive, luta um pelo outro. Isso aqui é uma família”, destaca Virgílio.
 
O artesão garante ter prazer no ofício, que divide com outros funcionários, como André Luis Salomão, 44. Na juventude, ele ficou entre a vida e a morte após ser atropelado por um ônibus e precisou encarar anos de reabilitação. Encontrou no Mercado Sul, ao lado de Virgílio, uma forma de reconstruir as próprias perspectivas. “Eu faço o acabamento dos instrumentos. Gosto muito da minha função, das pessoas e de tudo que o Mercado Sul é e faz.”


9º Arraiá do Beco 
Data: amanhã, 17 de agosto
Local: QSB 12/13 – Taguatinga Sul
Horário: das 15h às 23h
 
Atrações
» 15h Praça dos Mamulengos
» 16h Duo Ana Flor
» 17h Coral e Orquestra Experimental Voz Jovem
» 18h Baque Mulher BsB
» 18h Jongo do Cerrado (Palco Paralelo)
» 19h Raíz de Macaúba
» 20h Galeria Instrumental
» 21h Pé de Cerrado
» 22h Som de Papel
» 23h Forró do B.


Entenda o caso

Preocupação com a identidade


O Mercado Sul foi construído na década de 1950, sendo um dos primeiros centros comerciais do DF, e tinha como foco os candangos. O local funcionava como uma feira livre, com armazéns, armarinhos, açougues, lanchonetes. Com a chegada dos grandes supermercados, a área caiu no abandono e, nos anos 1980, se tornou um reduto da boemia, o que começou a atrair a classe artística.

Uma década depois, o Mercado Sul se firma como grande ponto cultural do DF, atraindo centenas de artistas e artesãos de todos os cantos. Em fevereiro de 2015, ocorreu a ocupação do espaço com a apropriação dos boxes ociosos pelos moradores e trabalhadores locais, que os utilizam para criação de ambientes de trabalho colaborativos e sustentáveis, como ateliês e cozinha comunitária.

A comunidade, em conjunto com o Coletivo Mercado Sul Vive, se empenham na missão de consolidar essa ressignificação do espaço como forma de geração de renda e preservação do patrimônio cultural brasileiro. Atualmente conta com ambientes artísticos, moradias, ateliês, oficinas, teatros e mais uma série de atividades.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 15 de agosto de 2019

MARCHA DAS MARGARIDAS

 

MOBILIDADE
 
Manifestação trava o trânsito
 
Reivindicando políticas públicas voltadas para o campo, trabalhadoras rurais de todo o Brasil participaram da Marcha das Margaridas, entre o Pavilhão do Parque da Cidade ao Congresso Nacional, deixando o tráfego parado na área central

 

CAROLINE CINTRA
WALDER GALVÃO
CRISTIANE NOBERTO*

Publicação: 15/08/2019 04:00

Fila de veículos parados na via S1, em direção ao Congresso Nacional: transtorno durante toda a manhã (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Fila de veículos parados na via S1, em direção ao Congresso Nacional: transtorno durante toda a manhã

 



Congestionamentos e acidentes marcaram a ida para o Plano Piloto na manhã de ontem. A Marcha das Margaridas interditou a via S1 do Eixo Monumental e causou transtornos para quem tentava acessar a área central de Brasília. Apesar de a manifestação ter sido programada com antecedência, as forças de segurança não conseguiram diminuir os impactos no tráfego, que continuou confuso pela tarde, mesmo após o fim do ato.

Com o bloqueio do Eixo Monumental, houve congestionamento até Águas Claras. No balão do Aeroporto Internacional de Brasília, na Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG) e no Sudoeste, motoristas enfrentaram lentidão.

Às 9h, em frente à Torre de TV, as manifestantes organizaram a caminhada em três faixas da S1, o que permitiu a circulação de automóveis nas outras três pistas da via. Por volta das 9h50, elas alcançaram o gramado em frente ao Senado e à Câmara dos Deputados, onde discursaram e, às 12h10 encerraram o ato.

Por meio de nota oficial, a Secretaria de Segurança Pública informou que divulgou amplamente, nos dois dias anteriores ao evento, orientações para os motoristas evitarem a área central no período da marcha, com indicações de vias alternativas. Porém, uma das dificuldades da edição deste ano, segundo a pasta, foi o alojamento das participantes da marcha ser no Parque da Cidade, o que as levou a passar pela via S1, a caminho da Esplanada dos Ministérios.

No entanto, as medidas foram insuficientes. Morador de Águas Claras, o empresário Fernando dos Reis Martins, 42 anos, demorou uma hora para chegar ao trabalho, na Feira dos Importados. O trajeto costuma ser feito em menos de 30 minutos de carro. Dono de três lojas de aparelhos eletrônicos, ele contou que todos os funcionários chegaram atrasados.

Morador de Taguatinga Sul, o técnico em eletrônicos Lucas Alexandre Silva Rosa precisava chegar ao trabalho, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), às 9h. Mas, por causa do trânsito, chegou mais de 30 minutos depois. “A chave da loja fica comigo e, por isso, demorou para abrir. Por causa dessa desorganização no trânsito, o estabelecimento perdeu dinheiro”, reclamou.

Acidentes
Por volta das 9h30, próximo ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), no Eixão, quatro veículos se envolveram em colisão. Três pessoas ficaram feridas, incluindo uma criança de 7 anos. Os carros ficaram danificados, mas as vítimas apresentaram ferimentos leves e foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e levadas ao Hospital de Base.

Por causa do tráfego intenso, os bombeiros não conseguiam chegar ao local do acidente e precisaram acionar um helicóptero da corporação. Mas, como as vítimas estavam conscientes e estáveis, a aeronave não precisou pousar. A criança precisou de atendimento médico porque estava na cadeirinha e com o impacto foi impulsionada para frente. Mesmo sem marcas aparentes de machucados, os militares informaram que ela passaria por avaliação. Para socorrer as vítimas do acidente, o Eixão, no sentido Norte, precisou ficar totalmente bloqueado para os veículos. No sentido Sul, apenas uma faixa ficou liberada. Por causa disso, o trânsito, que já estava pesado, ficou ainda pior.

Também por volta das 9h30, a situação se repetiu na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), onde um carro e um caminhão colidiram próximo ao viaduto da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), complicando o fluxo de veículos. O trecho ficou parcialmente interditado, mas, como não houve vítimas, foi liberado pouco tempo depois. Ainda pela manhã, outros acidentes sem gravidade aconteceram no Buraco do Tatu, sentido Sul, e na Vila Telebrasília, na L4 Sul, causando mais congestionamentos.

Planejamento
Para o especialista em trânsito David Duarte Lima, falta planejamento no tráfego do DF. Ele diz que, para controlar e minimizar os congestionamentos em dia de manifestação, deve ser feita uma simulação antes do evento. “Os dados mais importantes o governo têm, que são os horários que mais passam carros em determinada região. E, como os protestos são marcados com antecedência, eles conseguem estimar até o público que estará presente. Fazendo isso, não garanto que não haverá mais desconforto para os brasilienses, mas pode minimizar os transtornos”, ressalta.

Duarte destaca que informativos em letreiros luminosos podem ajudar ainda mais os motoristas. “O ideal é colocar na saída das cidades, como Gama, Sobradinho, Estrutural, informações como ‘Se você vai para o Buriti, siga pela Epia”, por exemplo. “É orientar as pessoas. Como estamos no centro da capital, onde estão instalados todos os poderes do país, é normal que ocorram manifestações, mas elas não podem interferir tanto na rotina dos demais brasilienses”, completa.

* Estagiária sob supervisão de Renato Alves





Força Nacional
A pedido do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o ministro da Justiça, Sérgio Moro, determinou o uso da Força Nacional para proteção da área da Esplanada dos Ministérios, ontem. A solicitação também foi feita para as manifestações pela educação e contra a reforma da Previdência que aconteceram terça-feira, na área central de Brasília. Em nenhuma delas houve confronto ou qualquer ocorrência grave.




"Como estamos no centro da capital, onde estão instalados todos os poderes do país, é normal que ocorram manifestações, mas elas não pode interferir tanto na rotina dos demais brasilienses"

David Duarte Lima, especialista em trânsito



Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 14 de agosto de 2019

AÇÃO PRENDE 46 MEMBROS DE FACÇÃO BRASIENSE

 

CRIME
 
Ação prende 46 membros de facção brasiliense
 
A organização Comboio do Cão (CDC), considerada a maior do Distrito Federal, tem envolvimento em 24 homicídios, 420 ocorrências, além de tráfico de drogas, roubo de veículos, comércio ilegal de armas e lavagem de dinheiro. Também há conexões no exterior

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 14/08/2019 04:00

Segundo a investigação da Polícia Civil, a atuação da organização criminosa é marcada pela violência: assassinato em porta de fórum (Alexandre de Paula/CB/D.A Press)  

Segundo a investigação da Polícia Civil, a atuação da organização criminosa é marcada pela violência: assassinato em porta de fórum

 

 
Quarenta e seis membros da maior facção criminosa do Distrito Federal foram presos ontem em operação da Polícia Civil. O alvo são líderes e integrantes do Comboio do Cão (CDC), organização investigada por, pelo menos, 24 assassinatos, além de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros delitos marcados pela violência. O grupo atua também no sistema carcerário do DF e estava envolvido em 420 ocorrências registradas em seis anos.

A operação, batizada de Rosário, em referência ao costume religioso usado para afastar demônios, é um trabalho conjunto da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), com as promotorias de Justiça do Riacho Fundo e do Recanto das Emas e o Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri). A investigação começou com base em série de homicídios com os quais a facção tinha envolvimento. Os assassinatos mantinham relação com disputas por território com outros grupos criminosos. A partir disso, a investigação seguiu com uso de medidas cautelares sigilosas de inteligência, autorizadas pela Justiça do DF, que permitiram coletar dados e provas sobre os crimes praticados.

A facção disputa o tráfico em quase todo o DF, pratica roubos de veículos e comércio ilegal de armas. Segundo a apuração da Polícia Civil, as ações eram marcadas por violência e pelo uso de forte armamento, como pistolas que permitem tiros de rajada. Diversos homicídios foram cometidos pelo CDC, em geral em decorrência de desentendimentos com outros criminosos. Além disso, a organização mantém conexões no exterior. O grupo rouba veículos, que são adulterados e levados para o Paraguai. Lá, são trocados por drogas — sobretudo maconha — que abastecem o DF e o Entorno.

Nos últimos anos, o CDC também se envolveu em crimes graves praticados na porta de fórum e cadeias da capital federal. Em 2016, um homem foi executado com 30 tiros em frente ao Fórum de Santa Maria. O tio da vítima foi morto, dias depois, com 50 disparos. Segundo a investigação, o grupo também tem ligação com a prática de rufianismo — quando se aproveita de prostituição alheia para obter lucros. Nesse ramo, a atuação ocorria em Taguatinga Sul. O local passou a ser utilizado no esquema de cobrança de taxas de garotas de programa e travestis. A facção teve envolvimento no assassinato de uma travesti na região em 2017.

Apesar das prisões de ontem, o principal líder do grupo criminoso fora dos presídios, William Peres Rodrigues, continua foragido. Ele é procurado pela Polícia Civil, que espera contar com denúncias para localizar o paradeiro dele. Conhecido como Wilinha, o criminoso tem histórico de uso de documentos falsos e mudanças de aparência.
 
Nos presídios
 
Mesmo preso desde 2017 por tráfico de drogas (leia Memória), um dos principais líderes da facção é Fabiano Sabino Pereira, o FB. Ele seria responsável por comandar as ações de dentro da prisão, com o auxílio de familiares e advogados. “Eles trabalham de maneira similar ao que fazem as maiores facções do país, como o PCC”, explica o delegado da CHPP Thiago Boeing. O CDC é a única organização criminosa nascida na capital federal, mas há registros de atuação do PCC e do Comando Vermelho no DF.

No presídio, o CDC ganhou força e controlava atividades de tráfico e de jogos de azar, de acordo com as investigações da Polícia Civil. O grupo tem um estatuto que regulamenta as práticas dos integrantes e estabelece julgamentos e punições a quem se opuser ao CDC ou aos membros. Existe a suspeita de que estejam envolvidos no esquema servidores públicos, como agentes penitenciários e policiais do DF e de Goiás. As investigações nesse sentido devem continuar.

Para sustentar as atividades, a facção se valia de uma complexa rede de lavagem de dinheiro. O esquema é alvo de um inquérito próprio e peça fundamental para desmantelar a organização criminosa, segundo a Polícia Civil. A Operação Rosário determinou o sequestro das contas bancárias de 60 pessoas, além da apreensão de 17 veículos e 11 imóveis.

As investigações mostraram atividades financeiras e padrões de vida de membros da facção incompatíveis com a renda formal deles. Para lavar o dinheiro, o grupo investia em compras de veículos e imóveis. Eles utilizaram uma rede de familiares e de pessoas próximas, usadas como laranjas para esconder a origem criminosa dos valores.

Os ganhos e a eficácia na lavagem de dinheiro permitiam à facção estrutura complexa e acesso a equipamentos de alta qualidade, como pistolas sofisticadas e drones. Segundo o delegado Thiago Boeing, a apuração focada na lavagem de dinheiro é fundamental para desestabilizar o CDC. “Eles conseguem ter todo esse domínio de dentro da cadeia porque há uma estrutura fora montada, sustentada com esses recursos financeiros”, detalha.

O delegado-chefe da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa, Fernando Cesar Costa, explica que a Operação Rosário faz parte de uma mudança de metodologia da CHPP.  “Nós sabemos que grande parte dos homicídios que ocorrem no DF estão vinculados à atuação de grupos criminosos voltados, sobretudo, para o tráfico e para grandes roubos. Dentro dessa lógica, nós passamos a agrupar os inquéritos e analisá-los sob a ótica de atuação de um grupo organizado”, pontua.

As novas provas colhidas permitiram a reabertura de 14 inquéritos de homicídios e tentativas cuja autoria era desconhecida.


Memória

Violência
 
Em 2017, dois líderes da facção foram presos durante a Operação Líder da Matilha. À época, Fabiano Sabino Pereira, o FB, era réu em quatro processos, sendo três por porte ilegal de arma. Ele continua a chefiar a quadrilha. Além dele, foi preso Flávio Pereira da Silva, que respondia a 27 inquéritos policiais por crimes como furtos, roubos e tentativas de homicídio. Com eles, foram encontrados 155kg de maconha, uma pistola Glock 9mm com seletor de rajada, quatro carregadores e mais de R$ 3 mil em dinheiro. À época, a investigação destacava a forma violenta como a organização agia e a maneira fria como eliminava desafetos.


Balanço

46
Mandados de prisão
cumpridos na operação
 
 
420
Ocorrências relacionadas à facção
 
 
209
Inquéritos com envolvimento
de membros do grupo
 
 
60
Contas bancárias sequestradas por ligação com o CDC
 
 
50kg
Quantidade estimada
de maconha apreendida
 
 
3
Armas encontradas
com suspeitos na operação
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense terça, 13 de agosto de 2019

HERMETO PASCOAL: BRUXO ENCANTADOR

 

Bruxo encantador
 
Em entrevista ao Correio, multi-instrumentista fala da carreira, de instrumentistas parceiros e ensina: "A técnica é algo que o músico precisa ter"

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 13/08/2019 04:00

 (Paulo Rapoport/Divulgação)  
 
Aos 83 anos, Hermeto Pascoal mantém uma memória privilegiada. Da mesma forma que fala com detalhes sobre a conquista do Grammy Latino em 2018, lembra de fatos ocorridos no começo da carreira, na Rádio Jornal do Comércio, em Recife, no final da década de 1960. Com impressionante vitalidade, e sempre jovial, ele cumpre uma recheada agenda de compromissos, no Brasil e no exterior.
 
Genial improvisador, o multi-instrumentista albino, nascido em Lagoa da Canoa (AL), costuma tirar som tanto de instrumentos convencionais — ele toca piano, acordeon, flauta e saxofone — quanto de objetos diversos, que tanto pode ser bacia, chaleira ou a queixada de algum animal. E até mesmo do corpo. Da discografia do artista constam mais de 30 títulos.
 
Os mais recentes são No mundo dos sons — álbum gravado com uma big band — que o levou a ser premiado no Grammy, na categoria latim-jazz, em 2018; e o Hermeto Pascoal e sua visão original do forró, com 17 faixas, gravado em Recife há 20 anos, que tem Alceu Valença como um dos convidados, que saiu no ano passado.
 
No fim de junho, Hermeto foi agraciado pela Universidade Federal da Paraíba com o título de doutor honoris causa. A mesma condecoração lhe foi atribuída em 2017 no New England Conservatory de Boston (Estados Unidos). São honrarias que recebe sem maiores alardes, até porque, modestamente, não se considera merecedor.


>> entrevista Hermeto Pascoal

Mestre, o que faz para manter a vitalidade aos 83 anos?
Tenho que manter a diabetes controlada e só não como doce. Mas não dispenso, por nada, uma boa carne de sol com macaxeira, ou uma picanha no ponto. Mas cuido bem do corpo. Até porque eu uso ele também como um instrumento.
 
O público que assiste a seus shows fica sempre na expectativa 
de, após a apresentação, o senhor descer do palco para 
segui-lo num cortejo. Mas no domingo, aqui 
em Brasília isso não ocorreu. Por quê?
Costumo fazer isso sim, inclusive já fiz em outros show em Brasília. Desta vez não deu porque era um festival e tinha outras coisas acontecendo. A apresentação não poderia ultrapassar 1h30 de duração.
 
Lembra quando tocou na capital pela primeira vez?
Apresentações em Brasília são fatos importantes em minha carreira. Estive na capital, por exemplo, na inauguração, com o regional do Pernambuco do Pandeiro. Naquele dia toquei na Praça dos Três Poderes e no Palácio da Alvorada. Mas já fiz shows em vários lugares, como na Concha Acústica. Mas o lugar onde mais me apesentei foi no Clube do Choro.
Foi Pernambuco do Pandeiro quem o acolheu, quando deixou Recife e foi morar no Rio de Janeiro?
Já conhecia o Pernambuco quando cheguei ao Rio, no final da década de 1950. Ele tinha um regional e era contratado pela Rádio Mauá. Comecei na música em Alagoas, mas a profissionalização veio na Rádio Jornal do Comércio, em Recife. Lá tocava também na boate Delfim Verde, com o meu compadre Heraldo do Monte. Fiquei em Recife uns seis anos, com passagem pela Rádio Tabajara, de João Pessoa.
 
Mas você se tornou conhecido ao integrar o Quarteto Novo, 
em São Paulo. Que lembrança guarda daquele período?
Havia uma efervescência artística em São Paulo, para a qual contribui de forma decisiva, os festivais de música. Existia o trio formado por Heraldo do Monte (contrabaixo), Théo de Barros (violão) e Airto Moreira (bateria). O Théo foi parceiro de Geraldo Vandré em Disparada, música que empatou em Primeiro lugar com A banda, de Chico Buarque, no Festival da Record de 1966. No ano seguinte passei a integrar o grupo, que acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha em Ponteio, no festival de 1967. O quarteto Novo gravou apenas um disco.

Seu primeiro disco solo, o A música livre de 
Hermeto Pascoal. Poderia falar sobre ele?
É um disco raro, hoje muito procurado na internet. Nele registrei minhas primeiras composições, músicas como Arrasta pé alagoano, Chorinho pra ele, Forró Brasil, Pimenteira e Pintando o sete.
 
Lembra quantos discos já lançou?
Foram pelo menos 30. Não sei ao certo. Meu filho Flávio, que mora em São Paulo e é meu empresário, tem tudo isso certinho. Costumo gravar de três em três anos.
 
No período em que morou no Paraná, qual foi a produção?
A fase de Curitiba foi maravilhosa. Lá conheci Aline Morena, e mesmo com a diferença de idade, vivemos juntos por mais de 10 anos e tivemos ótima relação. Com ela, lancei o CD Chimarrão com rapadura. Nos separamos, mas mantivemos uma forte amizade. Ela sempre está em contato comigo.
 
No mundo dos sons, de 2017, o levou a 
conquistar 
o Grammy Latino no ano passado. 
Que importância 
atribui a esse prêmio?
Essa é uma premiação internacional muito importante. Gravei o disco com uma big band maravilhosa, sob a regência de André Marques, música do meu grupo e fomos premiados na categoria melhor álbum de jazz latino. Minha carreira no exterior passou a ser ainda mais bem-avaliada.
 
No seu processo criativo o que prevalece, a técnica ou a intuição?
Para criar, me deixo levar pela intuição. Não faço nada premeditado, seja em estúdio, seja no palco. Obviamente, utilizo a técnica, mas o que prevalece é a improvisação. A técnica porem é algo que o musico precisa ter
 
Referência e fonte de inspiração para músicos 
de várias erações, o que busca passar para eles, 
quando 
os têm em sua companhia?
Uma coisa básica que passo para eles é evitar repetir o que faço. Isso foi seguido tanto por Itiberê Zwarg, Carlos Malta e Jovino Neto, que foram da minha banda e hoje são músicos consagrados; como para os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, que conheci ainda adolescentes; e Gabriel Grossi, todos talentosíssimos. Participei, em Brasília, da gravação do DVD de Gabriel, gaitista de nível internacional.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense segunda, 12 de agosto de 2019

PAN-AMERICANO: BALANÇO MOSTRA SALDO POSITIVO

 

JOGOS PAN-AMERICANOS
 
Balanço mostra saldo positivo
 
Com ouro de Mayra Aguiar no judô, Brasil encerra participação com recordes e conquistas de vagas olímpicas

 

Publicação: 12/08/2019 04:00

 
A bicampeã mundial Mayra Aguiar venceu a cubana Kaliema Antomarchi no golden score da final (Luis Acosta/AFP
)  

A bicampeã mundial Mayra Aguiar venceu a cubana Kaliema Antomarchi no golden score da final

 





Mayra Aguiar estava entre as favoritas do Brasil para a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Lima e cumpriu o previsto. Ontem, no último deia de competições, ganhou o ouro no judô — categoria até 78kg. Foi um título inédito na carreira da atleta, que tinha três medalhas nesta competição: prata, em 2007 e 2015, e bronze, em 2011.

Na final, Mayra superou com muito esforço a cubana Kaliema Antomarchi no golden score. Na campanha vitoriosa em Lima, ela também passou pela venezuelana Karen Leon e pela norte-americana Nefeli Papadakis.

A atual líder do ranking internacional, Mayra Aguiar é bicampeã mundial (2014 e 2017) e acumula medalhas nas últimas duas Olimpíadas (Londres-20012 e Rio-2016). No encerramento do judô no Pan, o Brasil subiu ao pódio mais duas vezes ontem. Beatriz Souza (categoria +78kg) e David Moura ( 100kg) ganharam a medalha de bronze.

No balanço da participação brasileira no evento, o resultado é positivo. O país quebrou o recorde de pódios e medalhas de ouro e encerrou a competição em segundo lugar no quadro geral, atrás apenas dos Estados Unidos, repetindo o feito de 1963, em São Paulo. Além disso, o Brasil garantiu vagas nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 no handebol (feminino), hipismo, tiro com arco, tênis de mesa, tênis, pentatlo e vela.

A última vaga olímpica foi obtida, ontem, no tiro com arco. O brasileiro Marcus Vinicius D’Almeida conquistou a medalha de prata na prova individual masculina do arco recurvo. O resultado inédito classificou o Brasil para os Jogos de Tóquio 2020. Até a competição na capital do Peru, o país havia faturado cinco medalhas de bronze na modalidade na história do evento esportivo.

A natação foi a modalidade que colecionou os melhores resultados para o Brasil. Foram 30 medalhas em cinco dias de competição: 10 ouros, nove pratas e 11 bronzes. Os números marcaram a campanha mais expressiva do time brasileiro na modalidade na história dos Jogos Pan-Americanos.

O basquete feminino também alcançou uma façanha. Depois de 28 anos, a Seleção Brasileira conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos, com vitória na final sobre os Estados Unidos, por 79 x 73. O técnico José Neto tem menos de um mês de trabalho no comando da equipe nacional. O Brasil não chegava ao lugar mais alto do pódio desde Havana-91, quando Fidel Castro se encantou com o talento da geração de Paula e Hortência, que três anos depois conquistaria o Campeonato Mundial.



“Sinto que o ouro não veio por muito pouco. Vim para essa competição com dois objetivos: bater o recorde brasileiro e conquistar a vaga olímpica. Consegui ambos. E ainda veio essa medalha de prata inédita. Estou muito feliz em escrever essa história”
Marcus Vinicius D’Almeida, atleta do tiro com arco
 
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Correio Braziliense domingo, 11 de agosto de 2019

FRANCIS HIME: COMEMOREMOS A VIDA

 

Comemoremos a vida!
 
Francis Hime prepara disco de inéditas para celebrar os 80 anos e chama parceiros, como Chico Buarque, para cantar juntos

 

Irlam Rocha Lima 

Publicação: 11/08/2019 04:00

Com o compadre e parceiro Chico Buarque na gravação de Laura

 (Nana Moraes/Divulgação)  

Com o compadre e parceiro Chico Buarque na gravação de Laura

 

 
 
Em 1984, o Brasil vivia os estertores da ditadura militar, quando Chico Buarque e Francis Hime fizeram Vai passar, a última composição desses parceiros, que escreveram juntos algumas das mais belas páginas da música popular brasileira. Trinta e cinco anos depois, no momento em que o país vive tempos de intolerância, os dois voltaram a se encontrar e no estúdio da Biscoito Fino, onde Chico gravou Laura, bela canção de Francis, com letra da mulher Olívia.
 
Laura é uma das faixas do álbum que Francis lança em outubro, como parte da celebração de seus 80 anos (dia 31). O repertório de músicas inéditas traz parcerias do compositor e pianista carioca com Paulo César Pinheiro, Hermínio Bello de Carvalho, Geraldo Carneiro, Bráulio Pedroso, Adriana Calcanhotto e Ana Terra.
 
De acordo com Francis, Laura é um tema antigo, que ele recolheu do baú. Em seguida Olívia colocou a letra. Depois de pronta, ele decidiu convidar Chico para gravá-la. A última vez que eles estiveram lado a lado foi em 1997, também em estúdio, quando Chico registrou a voz em Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes) para o CD Álbum musical, que teve a participação de convidados.
 
A parceria de Francis e Chico teve início de 1972. A primeira música em que juntaram os talentos foi Atrás da porta, transformada por Elis Regina num clássico instantâneo. Depois vieram outras que hoje fazem parte da enciclopédia da MPB, como A noiva da cidade, Embarcação, Meu caro amigo, Passaredo, Pivete e Trocando em miúdos.
 
O novo álbum sucede a Navega ilumina, de 2014 (também de músicas inéditas). Três anos depois, ele lançou o livro Trocando em miúdos — As minhas canções, em que detalha o seu processo de criação. Pela publicação, foi indicado para o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Artes. Essa é mais uma forma de expressão artística que Francis também se destaca.
 
 
 
Entrevista/Francis Hime
 
 

"Meus 80 anos estão sendo devidamente comemorados com muitos eventos já que a música é um combustível inigualável de nos trazer sentimentos" Francis Hime

 

 
Como é chegar aos 80 anos de maneira tão produtiva?
Meus 80 anos estão sendo devidamente comemorados com muitos eventos ,já que a música é um combustível inigualável de nos trazer sentimentos. Eles nos levam a uma frase frequentemente usada pelo meu querido parceiro, o agora imortal, Geraldo Carneiro: “Comemoremos a vida!”
 
 
Geraldo Carneiro se tornou seu parceiro mais frequente?
Geraldinho e Olivia, atualmente, são meus parceiros mais constantes. Eles estão presentes nesse novo disco com a inédita Samba funk, um samba rasgado, que gravei com um supertime de músicos, como Jessé Sadock e Marcelinho Martins. O samba tem uma letra interessantíssima, que foi musicada por mim.
 
 
Quem são seus outros parceiros nesse trabalho?
Conto com parceiros talentosíssimos, como Ana Terra, Thiago Amud e Tiago Torres da Silva, poeta português, amigo querido, com quem compus alguns fados. E, claro, há ainda Adriana Calcanhotto e Paulo César Pinheiro, parceiros de longa data. E Olivia, claro, minha parceira de vida e de música, com quem, por sinal, compus Laura, feita em homenagem a nossa netinha de 2 anos de idade, cantada lindamente por Chico Buarque.
 
 
Como foi o reencontro, em estúdio com o Chico?
Sempre fomos amigos e vai aqui uma peculiaridade: sou também compadre do Chico, uma vez que ele é padrinho de Luiza, minha terceira filha, que, por sua vez, é madrinha de Laura. De modo que tem tudo a ver, ele ter participado do disco, cantando Laura.
 
 
O que mais pode adiantar sobre esse projeto?
Estou muito, muito feliz com o disco, para o qual convidei pessoalmente alguns amigos queridos, tais como Chico, Lenine, Adriana. Vou guardar algumas surpresas (que são muitas!) para quando o disco sair pela Biscoito Fino, no fim de outubro.
 
 
Além do CD de inéditas, o que vai fazer parte da celebração?
Sigo planejando algumas ações ligadas à celebração dos meus 80 anos. Estou preparando um concerto com a Jazz Sinfônica para novembro. Vou ser o homenageado do ano no Festival Villa-Lobos. Nesse evento, vai ocorrer a estreia carioca do meu concerto para harpa e orquestra, que acaba de ser apresentado no Festival de Campos de Jordão, sob regência do maestro João Galindo, em um espetáculo memorável. No festival, também me apresentei com Olívia cantando algumas canções de nossos repertórios.
 
 
Pelo visto, é muita comemoração?
Como você constata, são altas comemorações pelos meus 80 anos, que culminará em 31 de agosto. Sabe onde estarei naquele dia, data do meu aniversário? No palco, com Olivia, fazendo o Trocando em miúdos — As minhas canções, um espetáculo baseado no livro que lancei, no qual detalho o meu processo de composição, e que me deu muitas alegrias, inclusive uma indicação, ano passado ao Jabuti, maior prêmio literário do Brasil. Por sinal, sempre gostei de trabalhar em datas de meus aniversários. É mais divertido!
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sábado, 10 de agosto de 2019

AABR E ASBAC: DOIS CLUBES, MILHARES DE HISTÓRIAS

 


Um lugar (bem) especial
 
Clubes como AABR e Asbac criam ambiente ideal para momentos de bem-estar e qualidade de vida para os associados

 

» ALAN RIOS
» DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 10/08/2019 04:00

Ana Lúcia relembra momentos marcantes que passou na Asbac (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Ana Lúcia relembra momentos marcantes que passou na Asbac

 


Piscina olímpica da Asbac (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Piscina olímpica da Asbac

 


AABR e o cartão-postal do Lago Paranoá (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

AABR e o cartão-postal do Lago Paranoá

 


Asbac: lazer e esportes na beira do lago (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  
Asbac: lazer e esportes na beira do lago
Churrasqueira na AABR (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Churrasqueira na AABR

 



Ir ao clube. O ato é simples, mas está carregado de um simbolismo enorme: significa ter um dia de lazer, bem-estar e descanso de uma forma que poucos lugares oferecem. “O próprio fato de arrumar as coisas para ir, traz uma memória afetiva muito bacana. Lembro-me de quando era criança, meus pais perguntavam ‘vamos ao clube?’, e eu ficava toda empolgada. Sou feliz em saber que meus filhos também são assim, porque eles têm um lugar que representa essa diversão saudável, a céu aberto, com brinquedos, piscina, o tobogã e tudo que é ideal para nossa infância. E isso é ótimo para a família”, afirma Fabiana Borges, 42 anos, sócia da Associação Atlética Banco de Brasília (AABR).
 
Outro clube que provoca essa sensação é a Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac). Fundado em janeiro de 1966, com o objetivo de dar suporte social e financeiro à comunidade do Banco Central do Brasil, a Asbac está instalada em todo o país, inclusive na capital, e, hoje, recebe sócios variados. São mais de 2 mil associados, que desfrutam de uma área de 160 mil metros quadrados, com  a beleza do Lago Paranoá e o verde das árvores, no Setor de Clubes Sul.
 
A Asbac é próxima da AABR. Aberto para funcionários do Banco de Brasília e público externo, a AABR tem como identidade ser um lugar acolhedor para quem quiser confraternizar. O espaço possui piscinas aquecidas, quadras esportivas, gramado para banho de Sol à beira do Lago Paranoá e 15 churrasqueiras, entre outras instalações. Presidente da associação, Marcus Alencar diz que trabalha em um espaço especial, palco de momentos que ficam na memória familiar.
 
“O hábito de ir ao clube traz muita felicidade e saúde. Quando vejo um pai levando um filho para jogar bola, bato palma. Porque falta isso hoje em dia, essa interação entre a família. Tanto é que temos um campeonato há 21 anos que é com pais e filhos. Porque uma coisa é a pessoa só deixar a criança na quadra e ir embora, e outra é a família estar junta se divertindo. Isso é essencial”, afirma Alencar.
 
Fabiana é prova viva disso. Mineira, ela morava em Uberaba antes de se mudar para Brasília com o marido, e teve como uma das primeiras paixões na capital: a AABR. Logo que chegou ao Distrito Federal, em 2009, se tornou sócia: “Há 10 anos, minha história foi se consolidando, aqui no DF, dentro do clube. Meu marido também passou a amar a associação, tivemos nossos filhos e todos nós temos dias especiais nele. Vamos juntos, ele joga bola, meus filhos curtem a piscina e eu relaxo e me divirto também”, conta a bancária.
 
Ela também acredita que o clube é um ambiente único, porque proporciona momentos de confraternização. “Meus filhos ficam a semana toda perguntando se vamos ao clube no sábado ou domingo. Com certeza, no futuro eles vão lembrar que tiveram uma boa infância ao lado da família por conta desses dias. Eu moro em condomínio que tem opções de lazer, mas não é a mesma coisa que um clube. As crianças precisam de um espaço para socializar com outros pequenos”, destaca ela.
 
Quem frequenta a AABR pode encontrar opções de lazer para deixar o emocional e físico em paz. É isso que acredita Bruno Nunes, 27. Ele se associou em 2014, quando entrou para o Banco de Brasília, e achou que não iria ser um sócio ativo. “Pensei em ir vez ou outra, mas, com o passar do tempo, fui gostando muito de frequentar. Hoje, falo até que é mais fácil eu cancelar meu plano de saúde do que minha associação”, brinca. Morador de Sobradinho, Bruno coloca na balança a distância da casa para o clube de um lado e todos os benefícios de outro nem fica com dúvida: “Os pontos positivos são tantos que nem é uma dificuldade me locomover para lá”.
 
O bancário utiliza o clube todos os domingos e até alguns dias da semana, para descansar do cansaço do cotidiano. Na AABR, ele fez amizades de todas as idades, sem restrições, e encontra um ambiente totalmente agradável. “A minha qualidade de vida melhorou muito depois que me associei. É fundamental ter uma atividade para se movimentar, manter o corpo ativo, como o futebol que eu jogo. Ainda mais quando fazemos isso em contato com a natureza”, explica. E não é só a cabeça que ganha, o corpo também: “Até psicologicamente me sinto melhor, porque, às vezes, a gente está estressado do trabalho, mas vai para a beira do Lago Paranoá, bebe uma cerveja, fica com os amigos e isso muda tudo”, conta.

Bruno Nunes:  

Bruno Nunes: "É mais fácil eu cancelar meu plano de saúde do que minha associação"

 


Cristiane Baldo e a filha Karina sempre fazem churrasco no clube (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Cristiane Baldo e a filha Karina sempre fazem churrasco no clube

 


Fabiana Borges:  

Fabiana Borges: "Meus filhos ficam a semana toda perguntando se vamos ao clube no sábado ou domingo"

 


Presidente da AABR, Marcus Alencar (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Presidente da AABR, Marcus Alencar

 

 
Do clube para a vida
 
Ana Lúcia Baruzzi, 57, se mudou para Brasília em 1985, em busca de uma vida melhor. A paraense saiu de sua terra natal e ficou a saudade dos amigos, pais e os 11 irmãos. Formada em educação física, ela entregou diversos currículos nos clubes da capital, até que, em março de 1986, foi chamada para dar aulas de natação na Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac). “Nunca me senti tão feliz. Minha turma era cheia e animada. Eu sempre entrava na água com meus alunos”, conta. A trajetória como professora durou 10 anos, mas as lembranças nunca foram apagadas.
 
Foi na Asbac que Ana pôde desfrutar os melhores momentos da juventude. “Lá tinha uma boate, todas às sextas-feiras, que era muito boa. Eu amava dançar. Das aulas ia direto para a balada”, relembra. Em uma dessas festas no clube, a professora conheceu o futuro marido, Cláudio Baruzzi, 58. Foi amor à primeira vista, segundo ela. “Ele estava dançando com uma turma e trocamos muitos olhares. Naquela época, a paquera era assim”. Depois daquela noite, os dois começaram a namorar. A união tem 30 anos e o resultado foi o nascimento dos dois filhos, João Felipe, 24, e Daniela Baruzzi, 28.
 
A piscina, com profundidade de cinco metros, é equipada com uma plataforma de salto de 10 metros, o lugar preferido de Ana. Mas, além da natação, o clube dispõe de outras 21 modalidades esportivas, como remo, vôlei de praia, pebolim, futsal e tênis de mesa. A localização à beira do Lago Paranoá remete ao clima de paz e tranquilidade. Nas noites, shows e eventos agitam o ambiente. “Aqui tem gente de diversas faixas etárias e isso é o mais importante. É gratificante ver que, a cada dia, novas pessoas integram o clube. É um lugar família, que não perdeu a essência depois de tantos anos”, ressalta a presidente da Asbac, Edina Souza.
 
De pai para filho
 
Deixar um bom legado para o filho, certamente, é a melhor escolha que um pai pode fazer. Com apenas um ano, Diego Siqueira, hoje com 37, acompanhava o pai, Geraldo Siqueira, 64, nos campeonatos de futebol da Asbac. As memórias marcaram a vida do empresário e o incentivaram a seguir os mesmos passos do seu herói. “O David começou no time das Fraldinhas. Fui o treinador dele e, muitas vezes, eu era mais rigoroso com ele do que com o resto da equipe. Para mim, é indescritível vê-lo crescendo no futebol e saber que fui inspiração”, diz Geraldo.

A relação dos dois só se estreitou, tanto que hoje, jogam no mesmo time. “Meu pai é um exemplo para mim. Nunca me esqueço dos momentos que eu vinha para o clube e brincava de pique-pega, polícia e ladrão. Isso marcou minha infância aqui na Asbac”, conta David. 
 
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira


AABR 
Fundação: 
1966 
Idade: 
53 anos
Associados: 1800 sócios 
Área:
 35 mil metros quadrados 
Como se associar:
 Qualquer pessoa pode conhecer o clube e se tornar sócio. Para funcionários do Banco de Brasília, os preços são a partir de R$ 95, e a mensalidade varia entre preços de R$ 123 para quem não é do BRB.


Asbac
Fundação: 
1977
Idade: 42 anos
Associados: 2.500
Área: 160 mil metros quadrados 
Como se associar: Qualquer brasiliense pode se associar por preços entre R$ 187 (para quem é funcionário do Banco Central) e R$ 210 para quem não é do banco.
 
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sexta, 09 de agosto de 2019

MATOU A TIA PARA ROUBAR R$200

 


VIOLÊNCIA
Matou a tia para roubar R$200,00
 
Polícia busca suspeito de assassinar a tiaMaria Almeida Vale, 68 anos, foi morta na casa do cunhado, pai de Fábio do Vale, acusado do crime. Moradora de Montividiu, em Goiás, ela voltaria para casa ontem

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 09/08/2019 04:00

Peritos buscam pistas capazes de explicar o crime: suspeita de que o acusado tenha voltado a usar drogas (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Peritos buscam pistas capazes de explicar o crime: suspeita de que o acusado tenha voltado a usar drogas

 

 
Maria Almeida Vale, 68 anos, chegou ao Distrito Federal na segunda-feira. Moradora de Montividiu (GO), município distante cerca de 500km do Plano Piloto, ela veio para a capital a fim de colocar em dia a documentação de um veículo. Hospedada na casa do cunhado, no Paranoá, a mulher foi encontrada morta na manhã de ontem, dia em que voltaria para casa. O principal suspeito, segundo a Polícia Civil, é o sobrinho dela, o ajudante de pedreiro Fábio do Vale, 39, que está foragido.
 
Agentes da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) tentam identificar a motivação do assassinato. Após o crime, o acusado fugiu com R$ 200 dela e ainda furtou R$ 600 da mãe. Ele saiu de casa em uma motocicleta Honda Titan 2002 azul. O assassinato ocorreu no início da manhã, enquanto a mãe, o pai e a irmã de Fábio estavam em casa, porém, nenhum deles escutou qualquer pedido de socorro, pois a vítima e o acusado dormiam em quartos no fundo do lote, fora da residência principal. Por volta das 9h, eles estranharam que Maria demorava para acordar e encontraram o corpo. Fábio havia deixado a residência e, pouco tempo depois, ligou para a mãe e disse que “tinha feito uma besteira e acabado com a própria vida”.
 
Inicialmente, o crime foi registrado como feminicídio, no entanto, os investigadores adotaram outra linha de investigação. “Não encontramos elementos suficientes para esse qualificador e descartamos essa hipótese. Agora, o caso é tratado como homicídio”, explicou a delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia. A principal suspeita é de que a vítima tenha morrido asfixiada.
 
O corpo de Maria foi encontrado em cima da cama, com um capacete de motocicleta e uma camiseta enrolada na cabeça. Segundo os agentes, esses objetos podem ter sido usados para asfixiá-la. Além disso, as roupas da vítima foram retiradas e substituídas por uma calça e uma jaqueta de Fábio. “Ela estava muito machucada e teve parte do cabelo arrancado e jogado pelo quarto. Havia sangue nas paredes dos quartos e do banheiro. Pela crueldade daquela cena, não dá para dizer o que poderia ter motivado o crime”, afirmou Jane.

Amigos e parentes se reuniram na casa dos pais do acusado, no Paranoá (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Amigos e parentes se reuniram na casa dos pais do acusado, no Paranoá

 

 
Apoio
 
Nascida no Ceará e mãe de dois filhos, Maria morava com o marido, de 73 anos, em uma fazenda no município goiano de Montividiu. O pai de Fábio é irmão do companheiro dela, e as visitas à casa do cunhado ocorriam várias vezes ao ano. “Era uma pessoa tranquila, querida pela família e vizinhança. Gostava de passar o tempo aqui para se distrair. Todos estamos em choque e não conseguimos acreditar no que aconteceu”, contou um parente, que não quis se identificar.
 
Após o crime, os pais de Fábio, que são idosos, permaneceram em frente à própria casa. A todo momento, familiares chegavam para dar apoio, mas eles continuavam inexpressivos e conversavam pouco. “Não tenho o que dizer. A minha esposa está passando mal, e a minha filha, muito abalada. Nessas situações, não se tem o que falar”, disse o pai do suspeito. No início da tarde, ele seguiu a Montividiu para contar ao marido de Maria, seu irmão, sobre a morte dela.
 
Segundo familiares, Maria e o marido compraram um terreno em Goiás para criar gado, há alguns anos. “Um dos filhos dela morava no Paranoá. Por isso, ela vinha direto visitá-lo. Até mesmo o Fábio gostava muito da tia, não sei o que pode ter acontecido na cabeça dele”, lamentou outro familiar. O sepultamento da vítima ainda não foi marcado.
 
Dependência 
 
Os investigadores da Polícia Civil suspeitam que a dependência química de Fábio possa ter sido um dos motivos para o crime. Familiares e amigos dele contaram que o vício começou na adolescência, aos 13 anos. “Primeiro, veio o álcool e, em seguida, as drogas. Ele sempre deu trabalho para a família, porém, era querido por todos. Até agora, muitos se recusam a acreditar que ele cometeu esse crime”, contou um colega do suspeito.
 
Sem emprego fixo, Fábio fazia bicos como ajudante de pedreiro e morava em um quarto dos fundos da casa dos pais. Solteiro e sem filhos, ele é conhecido na região. “A gente tinha conhecimento que ele estava sem usar nada há 3 anos. Porém, pode ter voltado a usar ou sofrido uma crise de abstinência”, contou um parente. O suspeito não tinha passagens pela polícia.


Os envolvidos

A vítima 
 
Maria Almeida Vale
» Tinha 68 anos
» Nasceu em Boa Viagem (CE)
» Morava de Montividiu (GO)
» Deixou dois filhos e o marido

O suspeito

 (PCDF/Divulgação)  
Fábio do Vale
» Tem 39 anos
» Nasceu no Distrito Federal
» Morava no Paranoá, na casa dos pais
» Trabalhava como ajudante de pedreiro
 
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Correio Braziliense quinta, 08 de agosto de 2019

WILSON SIMONAL: UMA HISTÓRIA PARA SER ENTENDIDA

 

Uma história para ser entendida
 
Cinebiografia de Wilson Simonal chega às telonas para contar a trajetória do polêmico cantor de um suingue sem igual

 

Ricardo Daehn

Publicação: 08/08/2019 04:00

Fabríco Boliveira e Ísis Valverde: nova parceria em Simonal
 (Paprica Fotografia/Divulgação)  

Fabríco Boliveira e Ísis Valverde: nova parceria em Simonal

 

 
O filme de estreia do diretor Leonardo Domingues é sobre a carreira — desde a ascensão até a queda — do cantor Wilson Simonal, mas impressiona o quanto a produção está ligada à capital. Para viver os papéis centrais do cantor e da mulher dele, Tereza, está um repeteco de casal visto no longa Faroeste caboclo (vinculado, claro, a Renato Russo): Fabrício Boliveira e Ísis Valverde. Roteirista do longa Simonal, ao lado de Domingues, Victor Atherino assinou não apenas o roteiro de Faroeste caboclo, como ainda esteve na escrita do filme Somos tão jovens (2013), dedicado à juventude de Russo.
 
Simonal, enriquecido por músicas como Terezinha, Lobo bobo e País tropical, chega às telas exumando o momento mais notório e público do cantor, que entrou para o ostracismo diante das supostas atitudes junto ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão durante a ditadura setentista.
 
Trazendo o ator Leandro Hassum na pele do produtor e compositor Carlos Imperial, Simonal concentra parte do desenvolvimento da trama para mostrar como o cantor teria enredado seu ex-contador Raphael Viviani (chamado Taviani, no filme, e interpretado por Bruce Gomlevsky), numa situação de sequestro e extorsão.
 
O personagem de Caco Ciocler, Santana, um agente do Dops, teria papel forte na contravenção de Simonal. Para além da polêmica, a magnitude e a excelência de Simonal ocupam tevê, palco e peças de publicidade recriados no filme. Codiretor de A pessoa é para o que nasce e editor de Nise — O coração da loucura, Leonardo Domingues explorou no filme, que tem ótimos figurinos da veterana Kika Lopes e irrepreensível direção de arte de Yurica Yamasaki, cenas com personalidades como Ronaldo Bôscoli (Rafael Sieg), a socialite Laura Figueiredo (Mariana Lima), os cantores Erasmo Carlos (João Sabiá) e Elis Regina (Lilian Menezes).
 
 
 
Três perguntas/ Leonardo Domingues
 
 (Paprica Fotografia/Divulgação)  
 
De onde vem sua ligação com música e por que recontar a trajetória de Simonal?
Minha história com a música popular vem desde a infância. Ouvia muito a coleção de discos em LP dos meus pais. Eles tinham, por exemplo, só numa coleção de músicas, mais de 50 volumes. Pesquisando, cheguei ao disco do Simonal, e meu pai dizia: “Ele era dedo-duro, teve envolvimento com os militares”; como criança, não tinha entendimento disso. Participei, há 10 anos, do documentário Simonal — Ninguém sabe o duro que dei, na pós-produção, e entendi melhor a confusão. Um documentário fazia, à época, no máximo, 300 mil espectadores de público; como gosto de contar histórias, fazer uma construção boa de narrativa, que já usava em videoclipes, optei pela ficção juntando polícia, música, ditadura, medo e racismo.
 
 
Há julgamento distinto para o cidadão e o artista Simonal? 
Ele foi um injustiçado pelo sistema, num país dividido. Aliás, não há a cena do Simonal delator, no filme. Não achei bases, e acho que ele lutou até o fim contra a ideia. Acho, sim, que ele errou. Já, como artista, pelo suing e pela voz, não tinha igual. Artista fantástico memorável. Como cidadão, não sei. Não passei pelo que ele passou. Sou branco, classe média. Fica claro que ele se envolveu, e a sociedade o crucificou de uma forma... A história, aliás, é muito cíclica: há 10 anos, o Brasil era outro, né? Delação era coisa ruim. Agora, é premiada! Ainda pesou a arrogância do Simonal, do negro, pobre de favela que, aos trinta e poucos anos, tinha cobertura, Mercedes.
 
 
Como a família recebeu a ideia do filme?
Tinha contato com a família do Simonal, por causa do documentário. Eles até estavam negociando para fazer um musical, quando fui procurá-los. Ouvi deles: faça a sua versão, a sua história. Tive liberdade total. Liam o roteiro, e diziam ok. A biografia Nem vem que não tem — A vida e o veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre, trouxe muitos dados históricos para o filme. Ficamos confortáveis de trazer Max de Castro e Wilson Simoninha para a trilha sonora, pois eles têm a carreira inteira das músicas do pai e todos os arquivos de músicas.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 07 de agosto de 2019

JOÃO CARLOS MARTINS: O LEGADO DO MAESTRO

 

O legado do maestro
 
João Carlos Martins regerá as orquestras de Sopros e Percussão Arte Jovem, de Ceilândia, e a da Casa Azul Felipe Augusto, de Samambaia. O projeto foca a inclusão social por meio da música

 

ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 07/08/2019 04:00

 (Luis Nova/Esp. CB/D.A Press - 22/2/18)  
 
Histórias para contar não lhe faltam. Sobretudo, se acompanhadas por música e muita emoção. O pianista e “velho maestro”, como se define João Carlos Martins, percorreu o mundo com seu talento. Desde os 8 anos de idade, ele revelou maestria na execução das obras de Johann Sebastian Bach. São mais de seis décadas dedicadas à música clássica. Seu nome também invoca um conhecido relato de superação, que inclui acidentes, complicações osteomusculares nos membros superiores e 24 cirurgias neurológicas. A última, inclusive, amenizou dores no braço esquerdo, mas limitou, de forma definitiva, os movimentos nos dedos da mão.
 
Ao piano, João Carlos Martins agradeceu os anos de companheirismo e guardou os ensinamentos e as conquistas. Aposentou e seguiu para a regência, na qual ele descobriu histórias de um outro Brasil e definiu o legado que pretende deixar. “No piano, só posso agradecer a Deus tudo o que aconteceu. Perdi as mãos para o piano, mas na regência encontrei o meu destino. Resolvi carregar a bandeira do Villa-Lobos, porque ele dizia: ‘Não é um público inculto que vai julgar as artes, as artes que mostram a cultura de um povo’”, relata o maestro.
 
Realidade
 
Em 2018, nascia o projeto Orquestrando o Brasil, uma plataforma digital para disseminação de conteúdo, oferecendo capacitação destinada a regentes e músicos, além de ser uma ferramenta para a troca de conhecimento. Martins começou a visitar diferentes cidades do país e conhecer a realidade de municípios que, por exemplo, não têm acesso aos grandes centros culturais, mas que mantinham uma pequena banda. “Nas visitas, vou juntando cordas com sopros e formando a orquestra. A cada 15 dias, além de estar presente fisicamente, recebo vídeo do ensaio deles, faço comentários e, no site, publicamos tudo. Vamos começar com aulas on-line ligando os alunos das diferentes regiões também”, conta o maestro.
 
Para ele, o Brasil é um país musical. E, assim como Villa-Lobos, seu intuito é fechar o país em forma de coração por meio da música. “Ele conseguiu que todas as escolas tivessem o ensino de música em uma época que não tinha nem tevê nem internet. Quem sou eu perto de Villa-Lobos, mas pela exposição na mídia, eu resolvi carregar essa bandeira”, justifica Martins. Em pouco mais de um ano, o projeto, realizado em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Sesi e Fiesp, reúne 430 orquestras, um universo que representa mais de 15 mil músicos, com grupos musicais de 180 municípios espalhados em 14 estados, incluindo o Distrito Federal.
 
 
 
Duas perguntas / João Carlos Martins
 
 
Por que projetos de inclusão social com a música dão certo?
Faço visitas à Fundação Casa, antiga Febem, e uma vez recebi um presente com um bilhete: “Tio maestro, a música venceu o crime, Feliz Natal”. Quando você faz a divisão em quatro grupos: formação de público, música como hobby, talento que pode tocar numa orquestra e diamante, no momento que você faz essa divisão, o projeto de inclusão social passa a ser uma luz no fundo do túnel. Chego para o jovem e falo: “Tenha certeza que se continuar firme na música, do jeito que nós estamos, procurando a revolução musical, você vai poder casar, ter sua família e sustentar a sua família por meio da música”. Tem também a disciplina e o respeito. Eu sempre digo que o resultado de uma carreira é 2% é o dom de Deus e 98% é a disciplina de um atleta, ou seja, 2% é a alma de um poeta, sem a alma do poeta não acontece nada e sem a disciplina, também. Falo também que a função do artista é transmitir emoção. Hoje, a coisa mais importante que nós necessitamos é a palavra emoção.
 
 
Como levar a orquestra para um público jovem?
A diversidade ajuda a formação de público. Vou fazer uma apresentação que vai de Beethoven a Maria Bethânia. Depois, me apresento com Chitãozinho e Xororó. Para aquelas pessoas de nariz empinado entenderem a força da música sertaneja nas raízes do Brasil, e o público da música sertaneja entender que tudo vem da música clássica. Bach foi a síntese de tudo e a profecia de tudo. É importante fazer com que um público respeite o outro. Só existe um tipo de música, a música de bom gosto. Importante também não esperar o público ir ao teatro, mas ir ao encontro do público. Se todos os músicos clássicos de ponta saíssem de suas torres de marfim e tivessem essa mentalidade. Não adianta reclamar que não tem público. Por fim, tem o carisma, a parte carismática do maestro é muito importante para atrair o público.
 
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Correio Braziliense terça, 06 de agosto de 2019

A IMPORTÂNCIA DAS ABELHAS

 

A importância das abelhas
 
Apesar do uso intensivo de agrotóxicos na região, o mercado do mel cresce no DF. Saiba mais sobre essa atividade econômica e ecológica

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 06/08/2019 04:00

Carlos Alberto:   

Carlos Alberto: "Se a pessoa tiver enxames fortes, é possível pagar todo o investimento a partir da primeira colheita"

 

Poucos seres são capazes de despertar sentimentos tão opostos quanto as abelhas. Enquanto, para alguns, são motivo de pânico, para outros, são razão de fascínio. Aqueles que descobriram o amor por esses insetos — caracterizados por três pares de patas e dois pares de asas — mantêm o sentimento vivo por meio de passatempos e profissões que envolvem curiosidade por um universo minúsculo.
 
No Distrito Federal, há quem se dedique aos cuidados das espécies típicas do cerrado. Um deles é o militar aposentado Heráclito Sette, 64 anos. Ele começou a se dedicar ao hobby da meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) em 2007. Hoje, ministra cursos no Sítio Geranium, na área rural de Taguatinga.
 
A atividade tornou-se, segundo ele, uma maneira de “pagar a dívida com o planeta olhando para o meio ambiente”, uma vez que as abelhas sempre foram alvos fáceis da ação humana. “À medida que você conhece mais o assunto, vê que (o cenário) está cada vez pior e que é mais grave que pensávamos. A polinização é a principal função delas. E isso permite a manutenção da biodiversidade”, explica Heráclito.
 
No sítio onde as aulas acontecem, há cerca de 45 colmeias, com abelhas de 12 espécies nativas do cerrado. Mandaçaia, jataí, mandaguari, marmelada e uruçu do planalto — sob risco de extinção — são alguns dos espécimes encontrados por lá. Abrigadas em caixas de madeira cobertas com telhas, elas vivem aos cuidados atentos de Heráclito, deixando os ninhos de vez em quando para buscar alimento em flores de plantas próximas, como pés-de-manjericão, mangueiras e bananeiras.
 
Durante as visitas de estudantes da educação básica, universitários ou de participantes do curso de meliponicultura, Heráclito mostra um pouco de um mundo extenso, complexo e organizado. Há, ainda, um momento para degustação de mel, quando é possível diferenciar texturas, cores e nuances no sabor e no aroma, a depender das características e dos hábitos das espécies.
 
Os cursos ocorrem de duas a três vezes por ano, durante uma manhã e uma tarde. O próximo encontro está previsto para novembro. “Abrimos colmeias, retiramos abelhas, multiplicamos, colocamos todas em garrafas pet revestidas em plástico preto. Nós motivamos as pessoas a levarem-nas para as próprias casas, fazendas ou sítios”, conta o professor.
 
Ameaça
 
A relevância desses insetos é digna de destaque há bastante tempo. O papel crucial delas no processo de polinização de plantas gera preocupação por todo o mundo, principalmente pelo fato de serem responsáveis pela polinização de 75% das principais culturas alimentares do planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o segmento da entidade voltado para a Alimentação e a Agricultura (FAO), há de 25 mil a 30 mil espécies delas na Terra. Mesmo assim, elas estão sob ameaça, e a quantidade de abelhas existentes tem caído em decorrência da ação humana.
 
O Censo Agro 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou que 1,6 milhão dos produtores agropecuários usaram agrotóxicos em 2017. A taxa subiu 20,4% em 11 anos e a aplicação dos químicos representa grande perigo para a vida das abelhas. Extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Névio Gonçalves Guimarães trabalha com elas há quase 30 anos. Ele acrescenta que a criação, quando ocorre em áreas seguras, gera resultados positivos para a natureza.
 
“É um absurdo (o uso de agrotóxicos). É preciso haver mais reflorestamento e cuidado com as plantas. Tem havido invasão de abelhas em áreas urbanas, pois os lugares disponíveis para a construção de casas delas está acabando”, comenta. Névio defende, ainda, que exista mais estímulo para a criação desses insetos no meio urbano. “Se houvesse incentivo de criação de abelhas, não necessariamente só das com ferrão, daria tempo de recuperar (as florestas) e de tornar as atividades viáveis em termos de polinização”, completa Névio.

Heráclito Sette:  

Heráclito Sette: "A polinização é a principal função delas (abelhas). E isso permite a manutenção da biodiversidade"

 

 
Produção que dá lucros
 
A produção de mel no Distrito Federal tem impactos tímidos na economia, mas gera lucros para quem investe no negócio. A fase de produção ocorre durante a seca, em um período que dura de quatro a cinco meses. Por ano, são produzidas cerca de 34 toneladas, mas apenas 10% do produto consumido é feito por aqui, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Os outros 90% vêm de outras unidades da Federação.
 
Mesmo com a alta demanda, com a quantidade de espaços para criação de abelhas e com o incentivo de entidades representativas do setor, faltam interessados. Apicultor e produtor de mel de eucalipto, o presidente da Associação Apícola do Distrito Federal (Apidf), Carlos Alberto Bastos, conta que o investimento tende a gerar resultados a partir do primeiro ano da produção. “Se a pessoa tiver enxames fortes, é possível pagar todo o investimento a partir da primeira colheita. É muito vantajosa a produção de mel aqui no DF”, garante.
 
O mel também é produto de interesse de Sérgio Luiz Farias, presidente do Sindicato de Apicultores do DF (Sindiapis). Ele acredita que a divulgação de informações sobre o risco à vida das abelhas fez com que a quantidade de interessados pela apicultura e pela meliponicultura crescesse. “Muita gente não criava abelhas, mas começou a ver a questão da mortalidade e passou a se interessar, criar, produzir. Hoje, tenho um bocado de caixas. É uma paixão. Eu me aproximei da área por gostar delas. A produção foi consequência”, relata o produtor. “Quanto mais estudo, busco informações, faço cursos, mais encantado fico”, completa.
 
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Correio Braziliense segunda, 05 de agosto de 2019

PAN-AMERICANO: MAIS OUROS PARA O BRASIL

 

Ouros e mais uma vaga olímpica
 
No domingo, em Lima, equipe brasileira sobe sete vezes no lugar mais alto do pódio. Enquanto isso, equipe de hipismo garante um lugar em Tóquio, e brasiliense é prata na marcha atlética

 

Publicação: 05/08/2019 04:00

 

Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha ficou com o ouro, e Viviane Jungblut conquistou o bronze: pensamento, agora, é nos Jogos Olímpicos (Luis Robayo/AFP









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Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha ficou com o ouro, e Viviane Jungblut conquistou o bronze: pensamento, agora, é nos Jogos Olímpicos

 

 


Domingo é dia de trabalho. E com bons resultados. Assim foi nos Jogos Pan-Americanos de Lima. Os brasileiros levaram sete medalhas de ouro e subiram, ao todo 16 vezes ao pódio. O Distrito Federal deu sua contribuição com o segundo lugar de Caio Bonfim nos 20km da marcha atlética. E, de quebra, o país ainda viu a classificação da equipe de hipismo para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem, com a segunda colocação no concurso completo de equitação. A competição em território peruano termina no próximo domingo. No quadro de medalhas, o time verde-amarelo está na segunda colocação, com 22 ouros, 16 pratas e 34 bronzes — 72 medalhas no total. A primeira posição segue com os Estados Unidos.

Um dos destaques do dia foi a baiana Ana Marcela Cunha. A maior vencedora da história das maratonas aquáticas conquistou uma medalha inédita para o Brasil: o ouro da prova de 10km da modalidade, com o tempo de 2h00min51. E teve mais: a brasileira Viviane Jungblut ainda ficou com o bronze. Para Ana Marcela, que já está classificada para os Jogos Olímpicos. “É a primeira prova de 10km depois da classificação olímpica, e a gente começa uma jornada até os Jogos Olímpicos de Tóquio, para a nossa prova que será no dia 5 de agosto de 2020, daqui um ano praticamente”, lembrou a nadadora, que chegou 31s3 à frente da segunda colocada, a argentina Cecilia Biaglioli.

 

Chloé Calmon superou atleta local para subir no lugar mais alto do pódio (Wander Roberto/COB)  

Chloé Calmon superou atleta local para subir no lugar mais alto do pódio

 

 

 

No fim do dia, o tenista mineiro João Menezes também fez bonito e levou o ouro na final contra o chileno Tomás Barrios. O atleta de 22 anos teve um rival forte, mas conseguiu vencer por 2 sets a 1 (7/5, 3/6 e 6/4). O mineiro se tornou o sexto brasileiro a conquistar a primeira colocação em Jogos Pan-Americanos. O último a ficar com a medalha dourada na competição havia sido Flávio Saretta, em 2007, no Rio de Janeiro.

Canoagem
O domingo também foi muito positivo para o Brasil na canoagem slalom do Pan-Americano, com duplo ouro para Ana Sátila e Pedro Gonçalves. Ela venceu nas categorias C1 e K1 cross, enquanto Pedro Gonçalves subiu no lugar mais alto do pódio no K1 e no K1 cross. E Felipe Borges foi bronze no C1.

Ainda na água, o surfe se despediu de Lima com ótimos resultados. Chloé Calmon levou o ouro na categoria longboard, os famosos pranchões, enquanto Nicole Pacelli, no Stand-Up Paddle (SUP) wave, ficou com o bronze. A modalidade, no total, contribuiu com quatro pódios: na sexta-feira, no SUP race, Lena Ribeiro abocanhou o título e Vinnicius Martins conquistou a prata. Para Chloé, uma superação a mais, afinal, enfrentava Maria Fernanda Reyes, atleta peruana. “Eu sabia que ia ser uma bateria bem disputada, toda a torcida estava a favor da Maria Fernanda. Deixei todos os pensamentos de medalha de lado, entrei com a cabeça fria”, contou a brasileira, líder do ranking da World Surf League (WSL).

 

Caio Bonfim, atleta de Sobradinho, dedicou a prata para a mulher (Alexandre Loureiro/COB)  

Caio Bonfim, atleta de Sobradinho, dedicou a prata para a mulher

 

 

 

Em Tóquio
E quem disse que uma prata não pode ser comemorada como um ouro? Foi o caso da equipe de hipismo do Brasil, que ficou com o segundo lugar no concurso completo de equitação — uma espécie de triatlo da categoria, com provas de adestramento, cross country e salto. A colocação foi suficiente para dar uma vaga para o time nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem. De quebra, Carlos Parro, montando Quaikin Quious, ficou com o bronze no individual.

O grupo, formado por Rafael Mamprin Losano/Fuiloda G, Marcelo Tosi/Starbucks e Parro, perdeu 122,1 pontos e ficou atrás apenas dos EUA (91,2 pontos perdidos). Somente os dois conjuntos carimbaram o passaporte para Tóquio. O técnico Ademir Oliveira lembrou também do cavaleiro Ruy Fonseca, que sofreu um acidente e teve que ser substituído. “Esse resultado é fruto do trabalho desses meninos, que não mediram esforços para estar aqui e fizeram por merecer”, afirmou Oliveira. O cavalo de Fonseca tropeçou e fez o atleta cair. Ele quebrou três costelas e sofreu fratura do úmero proximal do braço esquerdo, deve passar por cirurgia, mas se encontra estável e consciente.


As medalhas do dia

OURO

» Ana Marcela Cunha (maratona aquática, 10km feminino)
» Ana Sátila (canoagem slalom, C1 feminino)
» Pedro Gonçalves (canoagem slalom, K1 masculino)
» Chloé Calmon (surfe, longboard feminino)
» Ana Sátila (canoagem slalom, K1 cross feminino)
» Pedro Gonçalves (canoagem slalom, K1 cross masculino)
» João Menezes (tênis, individual)

PRATA
» Caio Bonfim (atletismo, marcha atlética 20km)
» Equipe (hipismo, CCE)

BRONZE
» Erica Sena (atletismo, marcha atlética 20km feminino)
» Nicole Pacelli (surfe, SUP wave feminino)
» Viviane Jungblut (maratonas aquáticas, 10km feminino)
» Felipe Borges (canoagem slalom, c1 masculino)
» Carlos Parro (hipismo CCE, individual)
» Conjunto (5 bolas, ginástica rítmica)
» Vôlei masculino

 

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Correio Braziliense domingo, 04 de agosto de 2019

PARA RELAXAR NO INVERNO

 

Para relaxar no inverno
 
Apesar das manhãs frias que marcam a estação, o céu aberto no restante do dia é um convite a atividades ao ar livre. Com piquenique ou churrasco, muitos aproveitam a temporada sem chuvas para desfrutar os espaços da cidade

 

PEDRO CANGUÇU*
RENATA NAGASHIMA*

Publicação: 04/08/2019 04:00

A família Rocha promoveu um encontro só de mulheres no Parque da Cidade: caminhada, lanche e muita diversão ao ar livre (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A família Rocha promoveu um encontro só de mulheres no Parque da Cidade: caminhada, lanche e muita diversão ao ar livre

 



Seja em parques, seja no Zoológico, seja à beira do Lago Paranoá, opções para curtir o fim de semana ao ar livre com piquenique, ou até um churrasco, não faltam na capital. Mesmo no inverno, o sol não deixa de aparecer, e os dias se tornam mais agradáveis para curtir momentos de lazer em espaços abertos com a família e os amigos.

Toalha na mesa, uma cesta de frutas, pães de queijo e vários salgados. Assim a família Rocha se reúne, semanalmente, para atividades de lazer. Mas o encontro do dia é especial: só de mulheres. Moradoras de Taguatinga, as parentes se consideram uma “família cultural”, que não perde uma atividade na cidade.

“Gostamos muito das áreas verdes de Brasília. Aproveitamos o espaço para fazer caminhada, piquenique. Também participamos das exposições que ocorrem na cidade. E não tem tempo ruim. Hoje, por exemplo, vamos ficar aqui até a comida acabar”, brinca a educadora social Maria de Lourdes Rocha, 53 anos.

Preparada para amarrar a rede em uma das árvores do espaço, ela comenta que a decisão sobre o cardápio e o espaço onde passarão o fim de semana ocorre por telefone. “Você leva isso, você, aquilo. E a gente se vira com o que tem”, resume. Além da tradicional caminhada no parque, a tarde está reservada para jogos de cartas, ouvir música e colocar o papo em dia.

Piquenique no Zoo Com área de mais de 100 hectares, o Jardim Zoológico de Brasília é um dos espaços que promovem a reunião de amigos e familiares durante o passeio para ver os animais. Neste ano, o parque adquiriu 100 mesas para piquenique e 43 bancos para jardins.

Nas férias escolares, Eliene Rosa, 40, recorreu a programas que as crianças pudessem aprender de forma diferente. A empresária reuniu os filhos e os sobrinhos para um passeio no Zoo. Para Victor Henrique, 10, foi um momento enriquecedor. “É muito legal ver os bichos, saber o nome deles, o que eles comem. É um bom aprendizado.”

Eliene aproveitou as mesas para fazer um piquenique com a família. “É importante a interação das crianças com o ambiente, com outras crianças.”

Mesmo com as mesas disponíveis, muitas pessoas têm o hábito de forrar toalhas na grama, mas a equipe do Zoológico desaconselha a prática, devido à alta incidência de carrapatos nesta época seca do ano.

Apesar das recomendações, algumas pessoas ainda preferem o jeito tradicional de fazer piquenique. É o caso da vendedora Gislene Noemia Correia de Souza, 25 anos, que saiu com as filhas, a irmã e as sobrinhas de Santo Antônio do Descoberto (GO) para aproveitar os últimos dias de férias escolares das crianças. Ao todo, a turma gastou em torno de duas horas para chegar ao destino, mas garante que o percurso vale a pena.

Segundo Gislene, a forma mais divertida de fazer um piquenique é estender a toalha no chão e deixar a meninada livre. “Eu acho maravilhoso. É mais confortável. Na minha cidade, não há muita atração para as crianças; então, sempre que posso, faço um passeio desse tipo com elas.”

Antes do lanche, no entanto, a garotada visitou a onça, a girafa, a zebra e o elefante. O animal mais esperado era a cobra. “Desde que chegaram, elas estão falando da cobra. Mas, para mim, o mais bonito é o tigre”, acrescenta Gislene.


Acompanhada das filhas, da irmã e das sobrinhas, Gislene Noemia Correia veio do Entorno para um passeio no Zoológico (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Acompanhada das filhas, da irmã e das sobrinhas, Gislene Noemia Correia veio do Entorno para um passeio no Zoológico

 




Churrasco na Prainha
Outro ponto ideal para aproveitar o dia ao ar livre é a Prainha do Lago Norte. O destino é o favorito da família da gastrônoma carioca Simone Correia, 38, que cresceu frequentando praias. Para amenizar a saudade que sente da terra natal, ela se reúne com os parentes por lá. “Como Brasília não tem mar, gosto do local, porque lembra um pouco do ambiente da praia”, justifica.

Alegria e paz são palavras que resumem o momento de interação com os familiares. “Se depender de mim, nos reuniríamos toda semana. É linda toda essa natureza, e as crianças se divertem bastante”, diz ela. Em vez do tradicional piquenique, a família prefere um churrascão no lago. Com uma churrasqueira portátil, o grupo assa carne e se diverte à beira do Lago Paranoá.

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer




Aproveite

Confira algumas dicas para curtir o fim de semana, seja com piquenique, seja em um churrasco, e com muitas opções de lazer!


Água Mineral
Endereço: Via Epia, BR-040 — Setor Militar Urbano
Entrada: R$ 12
Horário de funcionamento: diariamente, das 8h às 16h

Deck Sul
Endereço: 
às margens do Lago Paranoá, na L4 Sul, próximo à Ponte das Garças
Atrações: mesas de xadrez e tênis, quatro quadras de esportes, três parques infantis, um Ponto de Encontro Comunitário (PEC) e um circuito para a malhação

Pontão do Lago Sul
Endereço:
 SHIS Ql 10, lotes 1/30, Lago Sul
Horário de funcionamento: diariamente, os horários variam entre as 7h e as 2h.
Informações: (61) 3364-0580
Atrações: decks, bancos, parquinho e área com grama, além de bares e restaurantes.

Jardim Zoológico de Brasília
Endereço: 
Avenida das Nações, Via L4 Sul.
Horário de funcionamento: de terça a domingo e feriados. 
No período escolar, o Zoológico funciona todos os dias para visitação, das 8h30 às 17h.
Entrada: R$ 5, de terça a quinta; R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), sexta, sábado, domingo e feriados.
Informações: (61) 3445-7000

Prainha do Lago Norte
Endereço:
 Setor de Mansões do Lago Norte, próximo à MI 5, com acesso pela Estrada Parque Paranoá.

Parque da Cidade Sarah Kubitschek
Endereço:
 Eixo Monumental
Horário de funcionamento: livre acesso, 24 horas por dia.

Parque Ecológico de Águas Claras
Endereço:
 à margem da Avenida Parque Águas Claras, próximo à Estação de Metrô Águas Claras.
Horário de funcionamento: diariamente, das 6h às 22h.

Parque Ecológico e de Uso Múltiplo Olhos D’Água
Endereço: 
413 e 414 Norte
Horário de funcionamento: diariamente, das 6h às 20h.

Taguaparque
Endereço:
 Estrada Parque Contorno, s/n, Taguatinga
Horário de Funcionamento: 24 horas por dia.
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Correio Braziliense sábado, 03 de agosto de 2019

CLUBES DE BRASÍLIA: COMO SE ESTIVESSE EM CASA

 

Como se estivesse em casa
 
Clubes tradicionais como a Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército e o Clube dos Previdenciários investem na qualidade de vida dos sócios

 

» ALAN RIOS

Publicação: 03/08/2019 04:00

Piscina da Asseb é principal atração entre as crianças (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Piscina da Asseb é principal atração entre as crianças

 

 
Os brasilienses gostam de lugares em que se sentem em casa nas horas de descanso e lazer. Quando o espaço oferece muitas opções de atividades e ainda mantém um clima familiar, melhor ainda. É esse o cenário que encontram os sócios da Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército (Asseb) e do Clube dos Previdenciários de Brasília (Previ). Embora cada um possua sua própria identidade, ser um ambiente acolhedor é característica dos dois locais. Tanto que qualquer pessoa pode fazer parte das instituições.
 
“Eu me sinto em casa na Asseb, porque é um clube totalmente organizado, onde todos se tratam como parentes. Nós temos uma filosofia de que cada um tem sua participação na hora de zelar pelo clube e isso cria um ciclo de amizade saudável. Tem funcionário que é como se fosse irmão para mim”, conta Fagundes de Oliveira, 84 anos, um dos sócios mais antigos da associação. Militar da reserva, ele viu o clube crescer e conhece cada detalhe da história do lugar. “Lembro-me que a Asseb começou no Rio de Janeiro e teve esse braço no Distrito Federal. Mas, com o tempo, a gente foi querendo ter uma independência deles, porque lá era um ótimo lugar, mas Brasília é Brasília”, brinca.
 
Conhecido antigamente como Clube do Rocha, o lugar passou a fazer parte da história do Distrito Federal oferecendo grandes eventos e uma recepção que faz qualquer um se sentir num segundo lar. Sérgio Luiz Dias, atual presidente, é parte da associação há quase 20 anos, mas começou trabalhando como terceirizado do bar da Asseb. “Naquele tempo fui estudando o clube e observando o que poderia melhorar. Quando cheguei à direção, comecei a implementar algumas melhorias. Mas o que não mudou nesses anos foi um dos nossos principais diferenciais, que é a união entre todos os funcionários e sócios”, avalia.

Complexo esportivo tem campeonatos entre sócios na Asseb (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Complexo esportivo tem campeonatos entre sócios na Asseb

 

 


Sergio Luiz Dias (D) e o vice, Jeronimo Barbosa: a Asseb para o sócio (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Sergio Luiz Dias (D) e o vice, Jeronimo Barbosa: a Asseb para o sócio

 


Crianças moradoras do Itapoã participam de atividades na Asseb (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Crianças moradoras do Itapoã participam de atividades na Asseb

 



Gerações
 
Apesar da longa história do clube, destacada principalmente pelos mais velhos, o lugar também recebe de braços abertos crianças e adolescentes. “Por conta dos planos família, também temos muitos jovens entre os associados. Eles gostam de jogar bola, praticar esportes em geral, assar uma carne com os amigos e se divertir”, conta. O vice-presidente da instituição, Jerônimo Barbosa, lembra que o público infantil que faz parte de um projeto social do clube também dá vida ao lugar. “Administrar esse clube é mais do que um serviço comum, porque nós não queremos ganhos financeiros, queremos é ver a felicidade das crianças do programa e a comodidade dos sócios, por exemplo”.
 
Há nove anos a Asseb mantém o Projeto Programa Força no Esporte (Profesp), que atende mil crianças de regiões vulneráveis para fornecer aulas de reforço, complementações pedagógicas, alimentação e atividades esportivas. O diferencial é comemorado por pessoas como Francisco Antônio de Andrade, coordenador da ação, que acredita que todo clube poderia ter propostas semelhantes.
 
“Segunda, terça e quarta-feira as dependências ficavam mais ociosas antes do programa, e hoje já não é mais assim. Mas o principal motivador são as crianças. Algumas histórias delas mexem muito com a gente”, lembra.
 
Um dos pequenos que está diariamente na associação no contraturno escolar é Felipe Wanderley, 9 anos. Morador do Itapoã, ele tem nove irmãos e sonhos do tamanho da família. “Quero ser engenheiro quando crescer e o projeto me ajuda muito. Com as aulas de reforço estou aprendendo inglês e espanhol. Também tive aulas de artesanato, que são boas para a escola, porque aprendi a ter criatividade”, explica.

Aulas de natação movimentam o Previ (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Aulas de natação movimentam o Previ

 


Clara Camarano e Flavia Teixeira: o clube é uma segunda casa (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Clara Camarano e Flavia Teixeira: o clube é uma segunda casa

 



Pequena cidade
 
Outro lugar que deixa os associados se sentindo em casa é o Clube dos Previdenciários de Brasília, apelidado carinhosamente de Previ. Fundado em 1962, ele também é conhecido por ser um espaço onde se encontra de tudo: atividades de musculação, taekwondo, música, futebol, judô, karatê, ioga, natação, hidroginástica, balé, crossfit, serviços de atelier de costura, consultório de homeopatia, clínica de estética, lavanderia, lava-jato, restaurantes e até salão de sinuca estão entre as opções do ambiente.
 
“Meu avô era sócio e trazia os netos. Depois essa paixão passou para o meu pai e para mim. Fico encantada porque o clube é uma minicidade, tem muitos serviços e um atendimento bem acolhedor, quase personalizado”, conta Flávia Teixeira da Silva, 46, profissional de relações públicas e associada desde os 5 anos. Brincando que praticamente mora no Previ, ela lembra ainda que o clube sempre se adequou às suas necessidades ao longo do tempo. “Quando criança eu fazia natação, depois passei a fazer balé clássico. Fui crescendo e mudando as atividades, jogando totó na adolescência, participando da feirinha de vendas na fase adulta… Cresci dentro do clube”.
 
Presidente há 14 anos, José Vital Campos diz que se sente como se fosse um associado. “Eu não recebo salário nenhum, mas vou todo dia para o Previ, porque gosto, isso me rejuvenesce, mesmo eu estando com meus 80 anos. Muitas vezes, acabo tirando do meu bolso para sustentar alguma mudança, mas é bom ver o clube crescer”, diz.
 
Um dos maiores orgulhos dos sócios e de José Vital é a tradicional seresta do clube, que acontece semanalmente e enche a casa. “Nossa festa tem uma frequência de 500 pessoas a cada sexta-feira e é muito especial e tradicional, tanto que a gente só não realiza em duas ocasiões, no Dia de Finados e ano-novo. Sempre contratamos os melhores conjuntos pensando nos sócios. Já tivemos nela até o Nelson Gonçalves e Agnaldo Timóteo”, lembra.
 
Memórias afetivas
 
Esses eventos ficam guardados em fotos e recordações de Flávia, que lembra de quando o pai era vivo e não perdia uma seresta. “Eu buscava ele em casa, íamos para o Previ, na sexta-feira à noite, e nos divertíamos muito. Meu pai era o dançarino principal! Foram momentos bem especiais para a gente. Me traz uma memória afetiva muito forte lembrar daquelas músicas de época, como boleros, das danças... é muito gostoso”.
 
Quem também tem momentos para recordar de forma carinhosa no clube é a atriz Clara Camarano, 35. Ela é sócia  desde a infância e só se distanciou quando foi morar no Rio de Janeiro, mas agora está de volta ao lar. “Acho que os pais precisam incentivar mais os filhos a saírem dos celulares, meios eletrônicos e irem aos clubes. Nesse ambiente eles se divertem, conhecem outras pessoas, nadam, jogam... tudo isso resgata um pouco daquela velha infância que eu tive nessas dependências”, conta.


Clube dos Previdenciários de Brasília (Previ)
 
» Área: 12 mil metros quadrados

» Número de sócios: 2500 associados

» Como se associar: o clube permite associados de todo o Distrito Federal e possui convites para uso diário de público externo, que custa R$ 40. Para se associar, basta comparecer à secretaria, localizada na 712/912 Sul. As mensalidades possuem preços a partir de R$ 100.
 
Criação: 1962


Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército (Asseb) 
 
» Área: 50 mil metros quadrados

» Número de sócios: mais de 2 mil associados

» Como se associar: há uma ficha de associação a ser preenchida no site oficial do clube, mas os interessados podem ir até o local para conhecer as dependências e atividades oferecidas, independente de ter ou não patentes militares. O plano família é o mais acessível, e custa R$ 107.

» Criação: 1950 no Rio de Janeiro. Em 1969 foi inaugurada a filial em Brasília com, nome de Clube do Rocha e, em 2013, foi inaugurada com independência do Rio, com nome de Asseb.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 02 de agosto de 2019

O AZUL DO CÉU ENCONTRA O AMARELO DO IPÊ

 

O azul do céu encontra o amarelo do ipê
 
Depois das espécies com floração roxa, é a vez de a cidade se encantar com as plantas cor de ouro

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 02/08/2019 04:00

Em Sobradinho (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Em Sobradinho

 



Na quadra 13 de Sobradinho, um ipê bastante florido virou ponto turístico da cidade (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Na quadra 13 de Sobradinho, um ipê bastante florido virou ponto turístico da cidade

 

 Chegou a temporada de um dos ipês mais queridos pelos brasilienses, o amarelo. Em diversas regiões do Distrito Federal, já podem ser vistas as árvores características do cerrado florindo e enfeitando a capital com a cor alegre e cheia de vida. Esta é a segunda espécie de ipê a florescer, seguida do rosa, depois o branco e, por último, o verde. O que abre o período é o roxo, que ainda pode ser visto em diversos lugares, em especial, no centro de Brasília, na Esplanada dos Ministérios (veja Para Saber Mais).
 
Os ipês-amarelos são os que têm plantas mais vigorosas e resistentes e atingem entre 15 metros e 18 metros. A duração das flores é de 15 dias, em média, sendo que uma árvore pode florir mais de uma vez durante o mesmo período de seca. A floração de uma mesma cor pode durar até dois meses, dependendo das condições climáticas.
 
Além da beleza, os ipês-amarelos fazem parte dos cartões-postais do DF. O chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Raimundo Silva, ressalta que todas as espécies da árvore têm peculiaridades, no entanto, a amarela é a que mais chama a atenção, principalmente de turistas. “É o ipê que tem a cor mais nítida e, hoje, é o símbolo do DF. Muitas pessoas vêm de fora para tirar foto e registrar a beleza dos ipês-amarelos”, conta.
 
Em Águas Claras (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Em Águas Claras

 

 Em Sobradinho, uma árvore na área verde da Quadra 13 floresceu e está atraindo pessoas de todas as regiões. Alguns fazem apenas o registro fotográfico, outros celebram a floração com muita gratidão, como é o caso da corretora de seguros Cristiane Bonjardim, 41 anos, que mora em frente ao ipê. Ao falar sobre a beleza da árvore, os olhos cheios de lágrimas demonstravam a emoção de poder acordar e olhar as flores de cores vibrantes. “Não dá para descrever. Vê-lo assim, florido, dá uma sensação de vida, de algo feito por Deus mesmo”, declara.
 
Diariamente, a corretora anda pela área verde com os quatro cachorros da família e ressalta que até os animais de estimação se divertem com a árvore. “Eles vão direto para debaixo dela e brincam com as flores no chão, que é outro espetáculo. O solo amarelinho, contrastando com o azul do céu, fica maravilhoso. Tem gente vindo aqui direto para tirar foto, fazer vídeo. Virou um ponto turístico mesmo da cidade”, disse.
 
Em Águas Claras, o início da floração de um ipê-amarelo encanta a auxiliar de serviços gerais Vanderléia Alves, 42. Ela mora em Águas Lindas (GO) e passa pela árvore diariamente para chegar ao serviço. Para ela, a cidade fica mais linda quando as flores começam a aparecer. Além disso, gosta de tirar fotos quando encontra uma. “Ver todos os dias anima mais meu dia e deixa a paisagem ainda mais bonita. Por enquanto, só encontrei essa. Não vejo a hora de ver a cidade toda florida”, afirma.

Cristiane Bonjardim foi agraciada com um ipê-amarelo em frente à sua casa:  

Cristiane Bonjardim foi agraciada com um ipê-amarelo em frente à sua casa: "Dá uma sensação de vida. De algo feito por Deus mesmo"

 



No caminho 
para o trabalho, Vanderléia Alves para e admira 
a floração (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

No caminho para o trabalho, Vanderléia Alves para e admira a floração

 

 
Árvores do cerrado
 
A paixão pela natureza fez o servidor público Matheus Gonçalves, 40, criar um perfil no Instagram para compartilhar imagens de árvores nativas do cerrado. O interesse surgiu ainda na infância, quando observava as árvores tortuosas nas superquadras e parques de Brasília e o colorido dos ipês. Na hora de escolher a cor favorita, não disfarça admiração por todas. “Acho que cada uma delas, em seu tempo, colore de maneira muito especial a cidade. Mas, naturalmente, o amarelo é aquele mais chamativo e imponente”, admite.
 
Quem passa pela 705 Norte se depara com um ipê cujas flores amarelas “nunca murcham”. Na verdade, a árvore, feita de tecido TNT, fazia parte de uma exposição do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e foi resgatada pelo dono do coworking Espaço 365, Flávio Mikami, com o intuito de levar mais cor para a Asa Norte. “Ela foi um marco no processo de revitalização que a gente quer fazer na W3 Norte, um lugar bastante discriminado. A gente quis construir algo belo e que fizesse diferença na paisagem de Brasília”, disse o empresário.
 
A peça está no local desde o ano passado e chama a atenção de quem passa. Para Flávio, a árvore representa a construção de algo novo, além de representar resistência, que, segundo ele, simboliza a região. “O ipê resiste em lugares menos propícios. Está ali, nasce e se mantém em temperaturas bem adversas. Representa bastante o nosso espaço e a capital”, completa.


#missãoipêcb
A temporada dos ipês-amarelos ainda está no início, mas eles já podem ser vistos em várias regiões do DF. Encontrou algum por aí? Faça um lindo registro e publique a foto no Instagram com a hashtag #missãoipêcb. As imagens mais bonitas serão escolhidas pela equipe do Correio e compartilhadas nas redes sociais, no site e no jornal impresso. Vamos colorir nossas redes sociais com a beleza natural da árvore do cerrado.


Para Saber Mais
Veja as cores das florações dos ipês por época do ano:
 
» Roxo: junho e setembro
» Amarelo: julho e setembro
» Rosa: agosto e setembro
» Branco: agosto e outubro
» Verde: dezembro e março
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 01 de agosto de 2019

FERROVIA NORTE–SUL

 

Governo assina concessão de ferrovia

 

Simone Kafruni

Publicação: 01/08/2019 04:00





A Rumo Logística, empresa vencedora do leilão dos trechos central e sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS), assinou o contrato de concessão, ontem, no Porto Seco Centro-Oeste, em Anápolis (GO), cidade que completa hoje 112 anos. A companhia venceu o certame ao oferecer R$ 2,719 bilhões de outorga, um ágio de 100% sobre o valor mínimo de R$ 1,35 bilhão. Os investimentos são estimados em R$ 2,72 bilhões.

O presidente Jair Bolsonaro, os ministros da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas; da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; e da Agricultura, Tereza Cristina, além do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, participaram da cerimônia com executivos da empresa.

Bolsonaro afirmou que há coisas que não se compra, se conquista: a confiança. “Vocês confiaram em mim. Os empresários da Rumo confiaram na gente. Esta obra aqui não é para empreiteiros, é para empreendedores”, destacou. Ele elogiou seus ministros e disse que as entregas do governo são fruto de um trabalho conjunto. “Esta obra liga quatro regiões do país. Une o Brasil e traz progresso. A obra vai baratear fretes, reduzir consumo de combustíveis. O modal ferroviário é muito bem-vindo”, frisou.

O ministro Freitas cumprimentou a Rumo, por acreditar no Brasil. “É uma entrega importante, que foi pensada no Império de Dom Pedro II e começou no governo de José Sarney, há 32 anos”, afirmou. “É o início de uma transformação. Vamos mudar a matriz de transporte brasileiro, dentro de uma estratégia ferroviária muito sólida. Vamos ver o trem passar com contêineres empilhados, em operação pioneira da Rumo. Carga de Manaus vai ser entregue em Porto Alegre”, destacou.

Espinha dorsal

O trecho da Ferrovia Norte-Sul, concedido por prazo de 30 anos, tem extensão de 1.537km, é a espinha dorsal do sistema ferroviário brasileiro e vai ampliar a conexão da região central do Brasil ao Porto de Santos (SP) e Porto de Itaqui (MA). A concessão será para operar a ferrovia, que está praticamente pronta.
 
Jornal Impresso

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