Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sábado, 22 de junho de 2019

SETOR DE SERVIÇOS DRIBLA A CRSE

 



Setor de serviços dribla a crise
 
 
Empreendedores e comerciantes usam a criatividade para atrair e manter clientela. Apesar da recessão de 1,4% registrada até abril, a expectativa é de que 2019 feche positivo. A recuperação deve começar em agosto

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 22/06/2019 04:00

A empresária Isabel Cardoso Batista:  

A empresária Isabel Cardoso Batista: "Todo comércio foi abalado, porém o que posso dizer é que não fiquei com os braços cruzados"

 


Em tempo de dinheiro curto e de consumidores cada vez mais com as mãos no bolso para evitar gastança, o setor de serviços busca soluções para seduzir o freguês. Vale oferecer de tudo, de promoções inovadoras e atendimentos diferenciados a capacitação dos profissionais. Essas são algumas das estratégias do setor de serviços (terciário). Apesar de o segmento apresentar recessão de 1,4% nos primeiros quatro meses do ano, no Distrito Federal, a expectativa é positiva para este semestre, segundo levantamento do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista).
 
De acordo com a entidade, nos quatro primeiros meses de 2018, o setor de serviços apresentou retração de 1,2%, 0,2% a menos do que este ano. Porém, a procura por parte dos consumidores subiu no segundo semestre, e o ano passado fechou positivo, com 2,5% de crescimento. Para o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, a tendência é de 2019 acompanhar o ritmo. “Nossa expectativa é de que tenhamos o mesmo desenvolvimento ou até mesmo superior”, ressalta.

Rogers Vilela usa o WhatsApp para informar ao cliente os serviços que estão sendo feitos no veículo  

Rogers Vilela usa o WhatsApp para informar ao cliente os serviços que estão sendo feitos no veículo

 

Edson explica que, somada a crise econômica, o início do ano é marcado por pendências financeiras, como quitação de impostos, compra de materiais escolares e pagamento de matrículas em colégios ou unidades de ensino superior. “Depois de todas essas contas pagas, o investimento é voltado ao setor de serviços. Por isso, a tendência é de que o ano feche positivo”, comenta. A partir de agosto, as coisas devem melhorar.
 
O sindicato destaca que dentro do âmbito da prestação de serviços, os salões de beleza foram um dos grandes afetados pela crise econômica. Entretanto, alguns empreendedores usaram as dificuldades para se fortalecer no ramo. Dona do salão Camarim, no Núcleo Bandeirante, Isabel Cardoso Batista, 56, conta que mantém o estabelecimento há 30 anos e precisou se reinventar para manter as portas abertas. “Todo o comércio foi abalado, porém, o que posso dizer é que não fiquei com os braços cruzados”, reforça.

Soraia Belizario (C) e equipe:  

Soraia Belizario (C) e equipe: "Fizemos promoções e passamos a oferecer pratos que os próprios clientes sugerem"

 

Isabel destaca que durante três anos não fez reajuste nos preços dos serviços e passou a ter mais cautela na compra de produtos. “Reduzi as aquisições para tentar aumentar o lucro. Não fiz corte de funcionários. Pelo contrário, investi em mais especializações”, diz. De acordo com ela, o segredo de se manter é não se deixar abalar. “O lucro diminui para todos nós, mas me considero uma vitoriosa, por estar aqui, de portas abertas. O ideal é investir no aperfeiçoamento pessoal e do nosso trabalho. Os clientes precisam ver que estamos buscando coisas novas para eles”, ensina.
 
Dinheiro
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Francisco Maia, esclarece que a estabilidade do funcionalismo público no DF faz com que o setor de serviços não seja tão afetado durante a crise econômica. “Brasília tem economia equilibrada. Apesar do desemprego estar grande, parte da cidade é movimentava pelo dinheiro do funcionalismo. Por isso, o setor consegue passar pelas dificuldades”, afirma.
 
Francisco aconselha que empreendedores ou pessoas à procura de emprego busquem especialização. Pesquisas mostram que o setor de serviços tende a crescer. “O ideal é que as pessoas tenham visão e coloquem em mente que a cidade ainda está equilibrada (economicamente)”, afirma. Dono da Lemans Pneus e Rodas, estabelecimento que presta serviços automotivos, José Maria Leão Júnior, 42, segue essas orientações e consegue se manter em crescimento, apesar da crise econômica.
 
Em um ambiente moderno, com bar e sinuca para os clientes, Júnior, como José é conhecido, montou um estabelecimento com retorno financeiro estável, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). “Trabalho há 22 anos no ramo. Nosso segmento sentiu impacto muito forte da economia. Porém, usamos a criatividade, fizemos muitos investimentos, trabalhamos com estoque grande e estamos conseguindo nos manter com solidez”, aponta.
 
Segundo o empresário, a crise também foi uma oportunidade para crescer. “Compramos nossa loja com um preço melhor, justamente por causa da situação financeira do país. Além disso, como investimos em estoque, muitos da concorrência não conseguem competir. Vimos muitas pessoas fechando as portas”, lamenta.
 
Consultoria
Em outra empresa do setor automotivo, também no SIA, o proprietário, Rogers Vilela, 43, investe no atendimento para manter a clientela e se livrar dos prejuízos ocasionados pela crise. “Fazemos uma espécie de serviço de consultoria. Buscamos o automóvel do cliente em casa sem custo adicional. Em algumas ocasiões, também fornecemos um veículo de apoio, sem cobrar nada por isso”, explica.
 
Trabalhador do ramo há 25 anos, Rogers comenta que a transparência no serviço faz com que o empreendimento dele não seja tão abalado pela crise. “Nos mantemos estáveis. Não demonstramos crescimento, porém, não tomamos prejuízos”, relata. De acordo com ele, se aproveitar da tecnologia, como aplicativos de celulares de troca de mensagens, também é um dos diferenciais do estabelecimento. “Todo procedimento é fotografado e compartilhado com o cliente via WhatsApp. Com isso, garantimos um bom atendimento e garantimos nossa clientela”, destaca.
 
Para manter a freguesia e continuar lucrando, a sócia e gerente do restaurante Fogão Goiano, no Núcleo Bandeirante, Soraia Belizario de Medeiros, 39, também conta com a criatividade. “Fizemos diversas promoções e passamos a oferecer pratos que os próprios clientes sugerem. Quando alguém diz que quer comer determinada especiaria, marcamos um dia para a pessoa voltar para que ela possa saboreá-la”, explica. Segundo a empreendedora, o item que mais se popularizou no cardápio foi a lasanha de pequi.
 
Soraia afirma que o estabelecimento sentiu mais os impactos da crise no início deste ano. “Passamos a investir nas redes sociais, principalmente o Instagram. Contratamos uma assessoria para monitorá-las”, diz. Ela ressalta que outra tática para manter os lucros em alta é cativar os clientes. “Nossos funcionários são orientados a tratar os fregueses da melhor forma possível. Temos aqueles que são fiéis, mas recebemos muita gente nova; por isso, é importante manter a qualidade do atendimento”, garante.
 
Recuperação
A venda de imóveis sofreu prejuízo durante a crise na economia nacional. Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), o DF passou por queda nesse tipo de comércio de 2012 até 2016. Em 2010, por exemplo, ocorreram 60 lançamentos imobiliários durante o ano. Em 2015, foram apenas 17 inaugurações. Entretanto, até abril deste ano, 13 empreendimentos entraram no mercado, o que significa uma recuperação.
 
“A oferta de imóveis no DF de abril foi a menor da história. Estamos com número insuficiente para atender a demanda”, explica o vice-presidente do Sinduscon, Adalberto Valadão Júnior. No entanto, ele explica que a baixa tem lado positivo e negativo. “Com poucos imóveis à disposição, o vendedor pode se dar bem, mas a situação não é tão vantajosa do ponto de vista do consumidor”, ressalta, por isso a importância de pesquisar os melhores preços.
 
Apesar das baixas dos últimos anos, Adalberto afirma que o ramo se estabilizou em 2019. “Para se manter no mercado, muitas empresas passaram a adotar promoções agressivas, com preços muito baixos. Isso levou a uma queda dos preços, que foi recuperada de forma gradual. Hoje, temos um mercado cauteloso, que não está fazendo movimentos bruscos, para entender o cenário atual da economia brasileira”, esclarece. Para Adalberto, a expectativa é de que este ano ainda feche com resultados positivos, ao menos em comparação a 2018, quando ocorreram 15 lançamentos.
 
 
 
Atividades
 
O setor terciário envolve atividades de serviços e comércio de produtos. Ele atinge tanto o consumidor final como outros negócios. Essa área pode estar envolvida em diversos segmentos, como transportes, vendas e distribuição de bens e outros. Entre as atividades desenvolvidas nessa área, estão os serviços bancários, o turismo, atendimento hospitalar, corretagem de imóveis e hospitais. Os outros setores da economia são o primário (agricultura e extração mineral) e o secundário (industrialização).
 
 
Dicas
 
Confira dicas para quem busca sucesso no setor de serviços, segundo o especialista em inovação e desenvolvimento empresarial da Universidade de Brasília (UnB), Luís Afonso Bermudez:
 
» Buscar especialização na área em que desenvolve a atividade;
» Ficar com o “radar ligado” para as oportunidades que o mercado oferece;
» Buscar instituições de apoio para se capacitar, como Senac, Sesc e Sebrae;
» Use e abuse da internet. Ela é uma fonte de informação (e divulgação) gratuita e on-line;
» Seja criativo e não deixe as oportunidades que surjam passarem.
 
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Correio Braziliense sexta, 21 de junho de 2019

CORPUS CHRISTI: VOLUNTÁRIOS MANTÊM A TRADIÇÃO DOS TAPETES

 

Voluntários mantêm tradição dos tapetes

 

Mariana Machado

Publicação: 21/06/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Algumas pessoas levantaram cedo em função do feriado de Corpus Christi, ontem. Desde as 6h, voluntários chegavam à Esplanada dos Ministérios para confeccionar o tradicional tapete com 120m de comprimento. A maioria era jovem ligado a grupos de igrejas e escolas. Eles coloriram o gramado central com 28 desenhos de referências bíblicas. No fim da tarde, o clero de Brasília caminhou sobre a ornamentação, carregando o ostensório (peça sagrada onde é colocada a hóstia consagrada, que remete ao corpo de Cristo, segundo a religião católica).
Católicos confeccionaram 28 desenhos em tapete de 120m de extensão (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Católicos confeccionaram 28 desenhos em tapete de 120m de extensão

 

A advogada Rita de Oliveira, 26 anos, chegou à Esplanada por volta de 6h30 com a equipe Jovens de Nossa Senhora, composta por cerca de 35 devotos entre 17 e 30 anos. O grupo é uma união de paróquias de Taguatinga, Guará, Águas Claras, Vicente Pires e Asa Sul. Usando palha de arroz, café e tintas, eles passaram a manhã desenhando o cálice sagrado e a hóstia. “Fazemos tudo isso pela união dos jovens. É cansativo, mas ver tudo pronto depois e comemorar algo tão especial é muito importante. Esse é um dos feriados católicos mais bonitos”, ressaltou Rita.
Karla levou a família, do interior de Goiás, para ver o trabalho (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Karla levou a família, do interior de Goiás, para ver o trabalho

 

Enquanto uns ajoelhavam-se para montar as formas, outros animavam as equipes tocando violão e cantando. A estudante Tainara Xavier, 18, disse ser um ótimo momento de fazer novas amizades. “O amor de Deus nos move a estar aqui. Todo mundo acordou cedo e esse sentimento de estar todo mundo junto não tem preço. Quem nem se conhece ajuda o outro, é uma interação muito diferente”, comentou.

Integrante do grupo Infância e Juventude Missionária, ela participou pela segunda vez da confecção dos tapetes na Esplanada. Na ilustração, a equipe buscou retratar os 60 anos da Arquidiocese de Brasília, com a pomba do Espírito Santo em frente à Catedral. No início da tarde, já estava tudo pronto para a celebração. Quem passava por lá, se encantava.

A servidora pública Karla dos Santos, 38, levou a família para ver a movimentação. “Minha tia tem 86 anos e mora em Goiânia. Ela está fazendo uma visita e fomos passear. Ficou apaixonada, assim como a minha mãe. Elas só tinham visto essa tradição em cidades pequenas”, relatou. “Meus filhos também ficaram impressionados. Meu menino tem 8 anos, ficou bastante curioso”, completou.
 
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Correio Braziliense quinta, 20 de junho de 2019

LUIZÃO, O FORROZEIRO DO CERRADO

 


De Ceilândia para o Brasil
 
 
Luiz Gonzaga da Rocha, mais conhecido como Luizão, chegou a Brasília com o sonho de viver em uma cidade grande, mas o DF acabou ficando pequeno para seu talento de encantar com o forró pé de serra

 

» ALAN RIOS

Publicação: 20/06/2019 04:00

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Luizão do Forró, músico (Dan Queiroz/CB/D.A Press)  

– O pessoal foi gostando e comentando que tinha um sanfoneiro novo na cidade, aí me chamavam para tocar nos eventos e, quando dei por mim, estava vivendo disso – Luizão do Forró, músico

 

 
No auge dos seus 63 anos, Luiz Gonzaga da Rocha é um eterno apaixonado. E ele se orgulha em dizer que seu amor também inspira outros corações a bater diferente, no ritmo simples da mistura entre a zabumba, o triângulo e a sanfona. Conhecido como Luizão, o tocador de acordeão tem mais de 40 anos de carreira musical só no Distrito Federal, e é quase um patrimônio cultural de Ceilândia, cidade que respira a cultura nordestina.

Além do nome de artista (homônimo do Rei do Baião), ele também carrega o peso de ser conterrâneo de José Marcolino, paraibano autor do clássico Numa sala de reboco, uma das músicas mais pedidas nas festas. Mas nada disso virou um fardo. “Meu pai era repentista, então sempre tive esse sangue de músico. Quando eu era criança, fui acompanhando os eventos, gostando daquele clima e pedindo para aprender a tocar sanfona. Com 13 anos, ganhei meu primeiro acordeão e foi amor à primeira vista!”, lembra.

Ali começava um relacionamento tímido com o forró pé de serra, mas o menino ia crescendo e sentindo que a paixão ficava séria. “Fui vendo que era aquilo que gostava de fazer. Sempre que tinha uma oportunidade, tocava nas festas. Chegava lá nas casas de barro, às 19h, e ficava até o outro dia, porque a cultura nordestina é assim, cheia de vida e alegria”, diz. No fim da década de 1970, o rapaz de 23 anos veio para Brasília com o sonho de uma vida melhor, como muitos sertanejos. “Parei em Ceilândia, um lugar cheio de nordestino, então me senti em casa!”
 
Forró pé diferente
 
Em Brasília, Luiz começou trabalhando em obras, como pedreiro, até se estabelecer financeiramente. Mas, sempre que tinha um tempo de sossego, pegava a sanfona e transformava qualquer construção em festa. “O pessoal foi gostando e comentando que tinha um sanfoneiro novo na cidade, aí me chamavam para tocar nos eventos e, quando dei por mim, estava vivendo disso”, comenta. Com sua paixão, ele conquistou gente de todo o DF: “Porque o forró é diferente. A pessoa ouve aquele ritmo gostoso, começa a se balançar e, quando vê, está agarrada no cangote de alguém”, brinca.

O sucesso foi tanto que Luizão foi parar até na Europa por conta do talento. “Em 2007, uma autoridade do Brasil criou um projeto para levar uns músicos daqui para Lisboa e para São Tomé e Príncipe, na Guiné (África). Foi como o mestre Gonzaga disse certa vez: ‘Quando dei por mim, eu estava em outro mundo!’. Aquilo foi um aprendizado enorme, muito bacana, as pessoas interagindo com o forró, pedindo música e tudo”.

A maior alegria do sanfoneiro veio mais tarde, quando dividiu palco com um dos grandes nomes do ritmo no Brasil, Dominguinhos. “Abri um show do mestre, e isso me deixou feliz demais. Deu até um frio na barriga na hora! Além da questão artística, dessa satisfação como forrozeiro, também teve a questão pessoal, de o ter conhecido de perto e conversado com ele, que era muito humilde e até me parabenizou pela apresentação”, comemora.

O sanfoneiro carrega o nome e mantém a 
tradição do Rei do Baião nos festejos juninos pelo Distrito Federal (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O sanfoneiro carrega o nome e mantém a tradição do Rei do Baião nos festejos juninos pelo Distrito Federal

 



Ritmo especial
 
Luizão explica o motivo de o forró pé de serra ser tão cativante. “É um ritmo especial, porque não abusa do tempero. É como um prato bem equilibrado, bom e que faz a gente se apaixonar. Quando eu vejo aquele toque do triângulo, um chapéu de couro e aquela roupa elegante de Lampião, meu olho brilha com isso tudo”, descreve. Para o músico, que se apresentou para milhares de pessoas, basta uma pessoa na plateia se divertindo com o som que está tudo certo. É difícil ouvir sem se emocionar.

“O forró é verdadeiro e traz muitas coisas boas. Quem ouve fica feliz, lembra da sua terra ou se transporta para um lugar simples e agradável. É um estilo musical muito original, bonito e que serve para gente de zero a 100 anos, porque a literatura das canções é totalmente respeitosa”, opina.

Neste mês de junho, o tocador de acordeão ri dizendo que está na época de “tirar o pé da lama”, porque quase não tem espaço na agenda de tanta festa que é chamado para tocar. Mas, nos outros meses, ele é dinâmico: se apresenta em casamentos, aniversários, eventos culturais e onde tiver um público querendo ouvir o xote. “Também faço outros tipos de música, como MPB e sertanejo. Até funk toquei com a sanfona. Mas a gente sabe que o nosso forró é diferente!”.
 
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Correio Braziliense quarta, 19 de junho de 2019

PIRENÓPOLIS: CAFÉ COM A NATUREZA

 

Café com natureza

 

Publicação: 19/06/2019 04:00

 (Edílson Rodrigues/CB/D.A Press - 1/10/08)  


A seca chegou e, com ela, o desejo de cair nas águas geladinhas e refrescantes das cachoeiras que cercam o nosso quadradinho. Em Pirenópolis, a cerca de 150km da capital, o agito das manhãs pode ser compensado com as delícias dos quitutes, doces e cafezinhos que  fazem qualquer turista se sentir na casa da vovó. 
 
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Correio Braziliense terça, 18 de junho de 2019

COPA FEMININA - À ESPERA DE UM SORRISO

 


COPA FEMININA
 
 
À espera de um sorriso
 
 
Seleção Brasileira tem parada dura contra Itália, hoje, em busca de classificação às oitavas de final. A equipe capitaneada por Marta precisa ao menos de um empate para alimentar a esperança de avançar

 

MAÍRA NUNES
MARIA EDUARDA CARDIM
Enviadas especiais

Publicação: 18/06/2019 04:00

 

A atacante Marta iniciará a partida como titular, mas será reavaliada durante o intervalo para saber se terá condições de continuar até o final do jogo (CBF/Divulgação)  

A atacante Marta iniciará a partida como titular, mas será reavaliada durante o intervalo para saber se terá condições de continuar até o final do jogo

 

 

Valenciennes (França) — Na última participação da Itália na Copa do Mundo feminina, a diferença técnica para o Brasil era significativa. Tanto que a derrota na edição de 1999 para as brasileiras, por 
2 x 0, ocasionou a eliminação das italianas ainda na fase de grupos. Duas décadas depois, as seleções se reencontram na mesma chave do Mundial, mas em situações opostas. A equipe europeia chega ao duelo de hoje, às 16h, no Stade du Hainaut, com duas vitórias, em busca de confirmar a liderança do Grupo C. O time brasileiro precisa vencer ou empatar para avançar às oitavas de final e impedir a pior campanha no torneio.
O Brasil nunca foi eliminado na primeira fase do Mundial. Neste ano, diante do aumento da visibilidade que a oitava edição da Copa Feminina vem apresentando, a classificação é vista como uma forma de impulsionar a modalidade. “Vivemos uma oportunidade a se agarrar com unhas e dentes”, ressalta Marta. A capitã brasileira, logo na estreia no torneio da França, manifestou a luta de gênero intrínseca à carreira dela e de tantas jogadoras. Nas chuteiras pretas da camisa 10, o símbolo da igualdade ocupa espaços normalmente preenchidos por patrocinadores.

“Quero passar para as meninas essa luta, porque não vamos durar para uma vida inteira e temos de buscar sempre o desenvolvimento”, defende Marta, eleita seis vezes melhor do mundo pela Fifa. Questionada pelo que gostaria de ser lembrada após a aposentadoria dos gramados, ela reflete que a resposta poderia ser os jogos, os gols e as coisas que ganhou na carreira, mas volta atrás e dispara: “Penso que seria mais importante ser lembrada por ter tentado, junto a outras jogadoras, melhorar o esporte, deixar um legado para as próximas gerações”.

Ao pisar nos gramados diante da Itália, tudo isso entrará em campo. Não é apenas a classificação que está em jogo. O Brasil se vê em uma situação delicada diante de uma chave que, a princípio, não era para assustar uma equipe tão tarimbada quanto a nossa. No Grupo C, está também a Austrália, uma seleção em ascensão, que nunca passou das quartas de final, mas que se tornou carrasca brasileira ao eliminar o país nas oitavas de final na Copa passada e ao vencer de virada, por 3 x 2, na atual edição do Mundial, na última quinta-feira.

A chave tem ainda a Jamaica, estreante em Copas, e a Itália, que encarou um jejum de 20 anos sem disputar a Copa do Mundo. As italianas impulsionaram a modalidade nos últimos dois anos e, agora, amedrontam o Brasil de uma forma nunca vista. Mas a situação delicada no Brasil não é exatamente surpresa, em função da queda de rendimento na preparação, em que emendou nove derrotas seguidas. Mas escancara o quanto a equipe brasileira feminina pouco avançou.

Os desafios não vão se limitar a ganhar, mas a convencer. E não há melhor forma de fazer isso em campo do que com gols. Afinal, em caso de vitória do Brasil sobre a Itália e da Austrália sobre a Jamaica, a classificação ficará por conta do saldo de gols. Os dois melhores times do grupo terão a vantagem de encarar adversários teoricamente mais fracos nas oitavas. O terceiro colocado poderá cruzar com a anfitriã França na próxima fase.

Na Itália, o futebol feminino vive momento de euforia. Os italianos estão em fase de reconciliação com a seleção após a ausência na Copa do Mundo masculina da Rússia, no ano passado. Em um país em que o machismo ainda tem força, a equipe feminina vem assumindo protagonismo e conquistando uma torcida que é apaixonada por futebol e só precisava abrir os horizontes. “Agora é um sentimento de pertencimento. Somos unidas, nos sentimos italianas. Isso pode fazer a diferença”, empolga-se a treinadora da equipe feminina, Milena Bertolini.

Meio de campo 
Para furar a defesa e o bom momento vivido pela Itália, as construções das jogadas no meio de campo serão essenciais. A principal dúvida sobre a substituta de Formiga, que tomou dois cartões amarelos e está suspensa do último jogo da fase de grupos, foi sanada ontem por Vadão. Andressinha terá a primeira oportunidade de entrar em campo na Copa da França e ocupará a vaga da camisa 8. No entanto, Thaísa é quem assumirá a função da veterana e jogará mais recuada.

Formiga saiu no intervalo da partida contra a Austrália após sentir uma torção no pé esquerdo, que aconteceu no primeiro jogo da Seleção. Ontem, o departamento técnico realizou exames de imagem para segurança do diagnóstico e nada de significativo foi constatado. Enquanto as companheiras se aqueciam no último treino para a partida decisiva, Formiga só caminhou ao redor do campo.

  

 (Franck Fife/AFP)  
 

 

Destaque do dia

Wendie Renard
As anfitriãs da Copa do Mundo se classificaram para as oitavas de final na liderança do Grupo A. O único gol da vitória sobre a Nigéria, que garantiu o aproveitamento 100% da equipe, só saiu com a ajuda do VAR. Após uma disputa dentro da área, a árbitra consultou o vídeo e marcou penalidade para a França. A capitã Renard bateu rasteiro e carimbou a trave. No entanto, a ferramenta tecnológica ajudou mais uma vez as donas da casa. O VAR entrou em ação e mandou voltar a cobrança porque a goleira se adiantou. Na segunda chance, a artilheira francesa marcou e garantiu o triunfo.

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Correio Braziliense segunda, 17 de junho de 2019

COPA FEMININA - ALERTA PARA A FORÇA DA AZURRA

 


COPA FEMININA
 
Alerta para força da Azzurra
 
 
Atleta do Milan, Thaísa diz que a Itália, rival do Brasil amanhã, foi subestimada antes do Mundial, mas já está classificada

 

MAÍRA NUNES
MARIA EDUARDA CARDIM
ENVIADAS ESPECIAIS

Publicação: 17/06/2019 04:00

Thaísa atua pelo Milan desde o ano passado: dicas sobre as adversárias (Assessoria / CBF
)  

Thaísa atua pelo Milan desde o ano passado: dicas sobre as adversárias

 

Lille (França) — Rival direta das goleadoras da Itália na temporada de clubes, a meia Thaísa, única jogadora da Seleção Brasileira que atua no futebol italiano, acredita que subestimaram a força da Azzurra, adversária do Brasil amanhã, às 16h, em Valenciennes. Isso porque a equipe europeia é a única do Grupo C que já se classificou para as oitavas, antes mesmo de Austrália e do próprio Brasil, vistos como principais favoritos da chave. Meia do Milan, Thaísa atribuiu a força da seleção italiana ao entrosamento das jogadoras, que atuam em clubes do país. Das 23 convocadas, apenas uma joga no exterior.
 
“Eu vi algumas entrevistas falando sobre a Itália, que estava de volta à Copa depois de 20 anos, mas eu jogo lá e vejo o nível do campeonato, das jogadoras, tinha certeza de que Brasil, Itália e Austrália brigariam pelos primeiros lugares”, disse. Thaísa alertou para o meio de campo da equipe e para a jogadora Barbara Bonansea. A meia italiana é uma das três responsáveis pelos sete gols marcados pela Azzurra no torneio até o momento. Além dela, Aurora Galli e Cristiana Girelli, a artilheira do time com três gols, marcaram na Copa da França. As três são companheiras de time no Juventus FC e rivais diretas de Thaísa, atleta do Milan.
 
“É uma coisa muito interessante isso, porque elas se conhecem muito bem. Eu acho que o meio de campo é o coração. A Bonansea é uma jogadora muito competente e tem dado trabalho para as outras seleções”, alertou. Além da Juve, que conta com oito convocadas, o Milan tem seis atletas na Copa; a Roma e a Fiorentina, três cada uma; o Chievo Verona Valpo e o Florentia, uma.
 
Thaísa, no Milan desde 2018, confessou que ajudou a revelar detalhes da tática e do modo italiano de atuar. “Não digo que sou uma espiã, porque temos um grupo de analistas que tem avaliado a Itália, mas é lógico que eu dou umas dicas sobre algumas jogadoras e esse tipo de detalhes”, frisou. Ela formou o primeiro time feminino da história do Milan e foi a primeira brasileira a atuar na equipe. Desta vez, estará no lado oposto das seis companheiras de clube que defendem a seleção italiana. Com as adversárias de amanhã, conquistou o terceiro lugar do Campeonato Italiano, ao ficar atrás da Juventus e da Fiorentina.
 
Desta vez, a amizade ficará de lado. “‘Vai ser uma experiência diferente, será a primeira vez que jogarei contra elas, mas, dentro de campo, é rivalidade, e eu espero sair vencedora”, destacou. O desafio terá uma dificuldade extra. A brasileira, que divide o meio de campo com Formiga no time titular, não contará com a veterana diante da Itália. A camisa 8 do Brasil está suspensa da partida, após tomar dois cartões amarelos. “A Formiga é uma perda grande, mas a gente está numa Seleção e acredito que quem está no banco também é bem competente para entrar e não deixar esse nível cair”, avaliou.
 
A substituta de Formiga ainda não foi definida pelo técnico Vadão, mas o treinador só tem duas opções. Uma delas é a novata Luana, que faz sua estreia na Copa do Mundo da França. A outra é Andressinha, de 24 anos, que, apesar da pouca idade, atuou como titular do Brasil na Copa anterior, em 2015, e esteve na Olimpíada de 2016.
 
“‘Vai ser uma experiência diferente, será a primeira vez que jogarei contra elas, mas, dentro de campo, é rivalidade, e eu espero sair vencedora”
Thaísa, meia do Brasil
 
20 anos
Tempo que a Itália ficou sem disputar o Mundial
 
Espaço para mulheres
 
Veja quando os principais clubes italianos criaram equipes femininas
Fiorentina  2015
Juventus  2017
Milan  2018
Roma  2018
 
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Correio Braziliense domingo, 16 de junho de 2019

OS PRIMEIROS BRASILIENSES

 


O(s) primeiro(s) brasiliense(s)
 
 
Entre registros oficiais e relatos orais sobre a história da cidade, apontar qual foi a primeira pessoa nascida em Brasília não é uma tarefa simples

 

DEBORAH FORTUNA

Publicação: 16/06/2019 04:00

Brasília Góis, aos 10 anos: considerada a primeira pessoa nascida na capital
 (Arquivo/CB/D.A Press
)  

Brasília Góis, aos 10 anos: considerada a primeira pessoa nascida na capital

 

Para poucas cidades, a chegada de uma criança foi tão importante quanto para a Brasília que nascia em 21 de abril de 1960. Idealizada, projetada e depois construída em meio ao cerrado, a obra de Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e milhares de candangos precisava se encher de gente para existir de fato. E nada mais simbólico para aquele momento que o primeiro bebê vindo à luz na nova capital.
 
Ciente da forte mensagem que passaria para o resto do Brasil, JK fez questão de anunciar os primeiros nascidos na cidade, chegando até mesmo a se tornar padrinho de alguns desses bebês, como fez com Brasília Maria Costa Góis, nascida na manhã da inauguração, por volta das 6h15. O prestígio dado pelo presidente, aliado ao fato de ela ter recebido o mesmo nome da capital, faz com que muitos afirmem, com convicção, que ela é a primeira brasiliense. No entanto, não é tão simples assim apontar qual foi a primeira pessoa a nascer no Plano Piloto.
 
E o motivo é simples. Com, literalmente, poucas horas de vida, Brasília não estava devidamente estruturada. Nada mais compreensível, portanto, que a documentação da época seja pouco confiável. “É difícil comprovar os nascimentos daquele ano porque não há muitos registros. Não dá para saber, na verdade”, explica João Carlos Amador, publicitário e um dos maiores pesquisadores sobre a história da capital. “Muitos candangos iam embora ou nem tinham documentos. Não havia controle, ainda mais de quem nascia aqui. E, quando se registrava oficialmente em cartório, era apenas anos depois”, completa o criador da página no Facebook Assim é Brasília.
 
Essa prática de registrar o nascimento de uma criança anos depois foi responsável pela sensação de injustiça que acompanhou Araguasselva Lira Fernandes Paniago durante toda a vida. Essa brasiliense conta que nasceu nos primeiros minutos de 21 de abril de 1960, na Vila do IAPI, no Núcleo Bandeirante. “Eu me lembro de minha mãe, já falecida, dizendo que era possível ver os fogos de artifício na hora em que estava parindo”, diz.
 
O problema é que o pai de Selva, como gosta de ser chamada, só a registrou quatro anos depois. E, quando o fez, informou que a data de nascimento era 20 de abril, conforme consta na certidão da hoje pastora. Sem o documento correto e sem a visita de JK, ela diz que passou a infância se sentindo triste com a atenção que via sendo dada a Brasília, a outra menina nascida no dia 21 e que veio a falecer em 2016, aos 56 anos. “Eu ficava entristecida porque eu poderia ter sido a primeira brasiliense, mostrada e chamada assim”, revela.
 
Fogos marcam a virada de 21 de abril de 1960: relatos falam de duas crianças nascidas nesse momento
 

Fogos marcam a virada de 21 de abril de 1960: relatos falam de duas crianças nascidas nesse momento

 

 
Brasiliano
 
Porém, mesmo que Selva conte que nasceu quando explodiam os fogos que anunciavam a virada do dia 20 para o 21 e marcavam o nascimento oficial da cidade, não é certo que ela seja mesmo a primeira criança a nascer na capital. Na história oral brasiliense, consta ainda outra criança nascida em meio ao foguetório: Brasiliano Pereira da Silva, vindo ao mundo em uma casa na mesma Vila do IAPI onde nasceu a pastora. “Assim que os fogos começaram a estourar, minha mãe entrou em trabalho de parto. Deu para ver tudo de casa”, contou Brasiliano, em entrevista ao Correio, em 2010. Como sua conterrânea Brasília, Brasiliano também foi visitado e apadrinhado por Juscelino, tornando-se conhecido como o primeiro menino a nascer na cidade.
 
Se a verdade, no entanto, é que talvez nunca se tenha certeza de quem seja o primeiro brasiliense, um fato é certo: passados 59 anos, Brasília, a cidade, contabiliza mais de 3 milhões de habitantes. Tornou-se a capital viva e pulsante pela qual Juscelino lutou e registra, segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), mais de 44 mil nascimentos por ano. A cada dia, nascem 120 brasilienses, que estão aqui porque, antes deles, vieram Brasília, Brasiliano, Selva e tantos outros. Sejam os primeiros brasilienses ou não, esta capital deve a eles sua existência. E certamente lhes agradece.
 
Colaborou Fernando Jordão
 
A família de Selva sempre contou a ela que seu nascimento aconteceu na madrugada de 21 de abril: erro na certidão
 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press
)  

A família de Selva sempre contou a ela que seu nascimento aconteceu na madrugada de 21 de abril: erro na certidão

 

Transferência dos Poderes
À 0h de 21 de abril de 1960, o céu de Brasília se encheu de fogos de artifício. Segundo João Carlos Amador, foram três dias de inauguração, mas naquele momento Brasília foi considerada oficialmente inaugurada e os Poderes, transferidos para a nova capital. Tocaram-se sinos e soltaram-se fogos de artifício.
 
Brasiliano mostra a certidão de nascimento: uma das crianças apadrinhadas por JK (Adauto Cruz/CB/D.A Press - 22/04/2010
)  

Brasiliano mostra a certidão de nascimento: uma das crianças apadrinhadas por JK

 

Confusão de registros
 
A história de Brasília é tão repleta de detalhes curiosos que nem mesmo apontar qual foi a primeira criança cujo nascimento foi registrado na cidade é tarefa simples. Esse título já coube a outra afilhada de JK, Jussara Maria Oliveira Santos, que teve o nome foi escolhido por ser a junção de Juscelino e Sarah, a primeira-dama do Brasil à época.
 
De fato, ela é dona da primeira certidão emitida pelo 2° Ofício de Registro Civil e Casamentos, em novembro de 1960. No entanto, pouco depois de ser inaugurada, a capital ganhou dois cartórios. E, no 1° Ofício de Registro Civil e Casamentos, uma menina foi registrada antes de Jussara: Eliana Alves Franco, cujo nascimento em 3 de junho de 1960 ganhou certidão no dia 25 daquele mesmo mês.
 
“Meu pai teve que esperar abrir um cartório para poder me registrar”, conta ao Correio Eliana, filha do carioca Luiz Fernando de Andrade Franco e da portuguesa Olívia Alves Franco, que haviam chegado a Brasília em 1959. Apesar de ter se mudado para o Rio de Janeiro aos 18 anos, Eliana guarda na memória os tempos de criança. “A lembrança fica. Minha infância foi maravilhosa. Tinha muita liberdade, e a cidade era muito bonita. Todo mundo se conhecia aí”, recorda. (DF)
 
Nascido na cidade livre
Antes de ser inaugurada, Brasília se tornou o lar de muitos brasileiros que ajudaram a construí-la. Acomodados principalmente na Cidade Livre, os candangos rasgavam o cerrado, davam forma à nova capital e também formavam famílias. Se o critério adotado para apontar alguém como o primeiro brasiliense for ter nascido na área que hoje abriga o Núcleo Bandeirante, o título deveria ser de José de Moura Filho, nascido na madrugada de 12 de junho de 1957, filho dos goianos Malvina de Araújo Brito e José de Moura Brito. Em 2006, o Correio conversou com José e sua mãe, que contou ao jornal: “O moço (do carro de som) passou anunciando: ‘Primeiro bebê nascido na Cidade Livre’. Eu fiquei toda contente”.
 
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Correio Braziliense sábado, 15 de junho de 2019

AABB: ESPAÇO DE UNIÃO

 

Espaço de união
 
A segunda reportagem da série Clubes de Brasília apresenta a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Com 4,6 mil sócios, reúne histórias de amizade e solidariedade

 

ALAN RIOS
DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 15/06/2019 04:00

Os 100 mil m² contam com oito quadras de tênis, quatro de vôlei, três de futsal, três ginásios poliesportivos, arena futebol e tênis de mesa, cinco piscinas e quatro campos de futebol, entre outros atrativos
 (Fotos: Minervino Júnior/CB/DA.Press
)  

Os 100 mil m² contam com oito quadras de tênis, quatro de vôlei, três de futsal, três ginásios poliesportivos, arena futebol e tênis de mesa, cinco piscinas e quatro campos de futebol, entre outros atrativos

 

Ao visitar um clube no meio da semana, é comum ver as quadras esportivas, as piscinas e os campos de futebol vazios. Mas, às terças-feiras, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), o cenário é diferente. Um grupo de crianças, entre 6 e 8 anos, se reúne para aproveitar as instalações e encher o local de vida. Os pequenos são estudantes do ensino fundamental e moradores da Vila Telebrasília. Vários deles sequer entraram em uma piscina antes. “Muitas vezes eu escuto: ‘Tio, esse foi o melhor dia, o mais feliz da minha vida!’ Ver isso me dá muito orgulho”, conta o presidente da AABB, Nelson Vieira. Essa é uma das iniciativas que faz a associação se considerar um clube diferente.
 
A história do espaço começa em 1928, com a primeira sede inaugurada, no Rio de Janeiro. Em 1960, surge a unidade na capital federal. A princípio, a ideia era criar um lugar de lazer para os funcionários do Banco do Brasil, mas, em 1991, o clube passou a receber toda a comunidade. Hoje, são 4,6 mil associados. Para chegar à atual estrutura, o espaço passou por grandes reformas. “Não tinha sede social, apenas algumas piscinas e quadra de tênis”, relembra o diretor. Espaço bem diferente dos 100 mil m², com oito quadras de tênis, quatro de vôlei, três de futsal, três ginásios poliesportivos, arena futebol e tênis de mesa, cinco piscinas, quatro campos de futebol, entre outros atrativos oferecidos aos associados atualmente.
 
O projeto social AABB Comunidade, que leva as crianças para conhecer o clube, é um dos orgulhos da associação. “Nós trazemos estudantes carentes para dentro do clube e damos lazer, esporte, música e reforço escolar. Eles visitam todos os espaços, mas sempre preferem ficar nadando”, diz o diretor. O programa é contínuo e as coordenadoras selecionam os participantes. De terça a sexta-feira, 150 crianças levam alegria ao local. O grupo se divide em dois: 75 delas vão pela manhã, almoçam e, em seguida, vão para a escola. O restante vai no período da tarde.
 
 
 
Tempo de relaxar
 
Na hora de decidir o programa da família dos momentos de descanso, nem passa pela cabeça de Valéria Thomaz, 54 anos, fazer algo diferente de aproveitar o sol e a companhia do marido e dos filhos para se divertir e relaxar ao ar livre, como fazia quando era pequena. “O que me faz bem é frequentar o clube e passar um bom tempo junto a minha família e meus amigos, brincando, jogando… Me preocupa ver que poucas pessoas das novas gerações têm esse hábito”, diz a servidora pública.
 
Associada à AABB desde 1983, Valéria enxerga o espaço como sua segunda casa, um lugar onde encontra a felicidade de se sentir viva. “Sou uma pessoa muito ativa, então, sempre fui de participar de todas as festividades e campeonatos esportivos. Até passei eu mesma a organizar muita coisa”, conta. Atleta de vôlei, ela faz questão de enfatizar a capacidade de um clube de unir as pessoas, tanto que já perdeu a conta de quantos amigos fez lá dentro e quantos vínculos viu se estreitarem ali.
 
“Certa vez, comecei a pensar em tantas mães que querem se sentir mais próximas dos filhos, mas eles só querem saber de videogame, tablet e essas tecnologias. Aí tive a ideia de fazer um torneio esportivo de mães e filhos. Fui atrás de patrocínios, mandei fazer troféus em forma de coração e foi um sucesso!”, celebra. Valéria conta que é nessas ocasiões que percebe como o ambiente certo pode fazer toda a diferença na vida de quem o frequenta. “A gente acabou virando uma só família ali dentro da AABB.”
 
 
 
Espírito de equipe
 
Não é à toa que o clube da Asa Sul tenha como marca o esporte. Além das quadras em ótimo estado e a força dos times formados nelas, é possível encontrar até nomes famosos entre os frequentadores. É o caso de Milton Setrini, 67, mais conhecido como Carioquinha. Referência para quem acompanhou o basquete brasileiro das décadas de 1970 e 1980, o armador  vestiu a camisa da Seleção Brasileira ao lado de Oscar Schmidt e tem em casa medalhas como a de ouro nos Jogos Pan-Americanos da Colômbia, em 1971. Hoje, ele treina qualquer pessoa que esteja disposta a brincar com a bola laranja na AABB.
 
“Frequento o clube quase todo dia e me sinto muito bem aqui. Como já rodei o país, fui a muitas associações do Banco do Brasil, mas essa aqui de Brasília foi onde me encontrei. Aqui, sinto um espírito esportivo muito bacana”, conta. Elogiando a organização do lugar, ele diz ainda que, quando se fala em esporte, o assunto não é só troféu e conquista. “Claro que não é todo mundo que vai virar atleta profissional. O objetivo é dar qualidade de vida para quem vem. É deixar os meninos se sentirem bem.”
 
Essa meta é diariamente alcançada. Carioquinha fez no DF amigos de todas as idades, desde as crianças que não eram nascidas à época do seu maior sucesso até fãs que viram os jogos dele pela tevê e hoje combinam encontros no clube. “É muito legal esse companheirismo. Tem vezes que eu mando mensagem perguntando quem vai para a AABB e a galera responde que já está lá. É como se fosse todo mundo de uma mesma equipe”, define.
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

O ex-jogador de basquete Milton Setrini, o Carioquinha, e a sócia Valéria Thomaz consideram o clube uma família  

O ex-jogador de basquete Milton Setrini, o Carioquinha, e a sócia Valéria Thomaz consideram o clube uma família

 

 
Associação Atlética Banco do Brasil (AABB)
  • Área: 100 mil m²
  • Associados: 4,5 
  • Idade: 59 anos
 
Como se associar
  • Há duas formas de se associar: associado efetivo e comunitário, ambos plano família. O associado efetivo custa R$ 163 e comunitário, R$ 243 mensais. A compra pode ser efetuada na sede da AABB, localizada na Asa Sul.

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Correio Braziliense sexta, 14 de junho de 2019

À ESPERA DO INVERNO

 


À espera do inverno
 
A estação que está por vir divide opiniões entre brasilienses. O tempo seco e frio deve se intensificar nos próximos dias

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 14/06/2019 04:00

Temperaturas durante o período devem variar de 13 ºC a 26 ºC (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Temperaturas durante o período devem variar de 13 ºC a 26 ºC

 



O inverno chega oficialmente em 21 de junho, mas os brasilienses já percebem a proximidade da estação mais fria do ano. As manhãs geladas têm feito os moradores da capital tirarem os casacos do guarda-roupa. O último sábado, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), registrou o período mais frio do ano até agora, com 10,6 ºC, durante a madrugada. Temperatura semelhante à que havia sido registrada em 25 de maio — 10,9 ºC.

Há quem goste do clima e esteja empolgado com a chegada da nova estação. Para outras pessoas, o período é de sofrimento. A analista financeira Izabel Cristina Lima, 33 anos, tem asma e, como o período de frio no Distrito Federal é mais seco, costuma passar mal. “Esse tempo piora tudo. Preciso sempre me hidratar mais, passar mais manteiga de cacau nos lábios, usar colírio, além de passar bastante creme na pele para não ressecar”, conta.

Para ajudar a espantar o frio, Izabel ainda intensifica a rotina de exercícios físicos e vai passar a ir mais à academia e, de segunda a sexta-feira, prefere descer nas paradas de ônibus distantes do trabalho, para caminhar um pouco mais. “Acho que ajuda bastante também a gente se movimentar. Apesar de não gostar do clima, acredito que este ano fará mais frio do que no ano passado, infelizmente”, opina a analista.

Nascida na capital do sol, Fortaleza, a assistente administrativa Luzia Uchôa, 53, lembra que, quando chegou ao DF, sofreu com a diferença climática. Por isso, desde que os sinais de frio começaram a aparecer, no início do mês, ela se agasalha bem para sair de casa, em Samambaia Sul, e ir ao trabalho, no Setor Bancário Norte. “Eu não gosto desse clima e ainda não me acostumei. Por enquanto, ainda está bom, mas estou com medo do que nos aguarda nos próximos dias”, relata.

Diferentemente da nordestina, a copeira Cleia Rodrigues, 36, não via a hora de o frio chegar para colocar em prática a programação para a estação: sofá, pantufa e filmes e séries. “O clima fica muito mais agradável para fazer tudo. A gente que mora em Brasília já está acostumado a receber todas as estações. Passamos pelo calor, chuva e agora é o frio. Não me incomoda nem um pouco”, garante.

O operador comercial Gabriel Gonçalves, 24, também prefere o frio. Para ele, o clima fica mais agradável, apesar da seca e das dificuldades respiratórias que sofre devido à asma. “Uso mais a minha bombinha, jaquetas e blusa de frio”, conta. No entanto, ele não acredita que o inverno seja mais intenso que nos anos anteriores. “Acredito que a situação será inversa. Vai ficar cada vez mais seco, mais quente.”

Clima

A professora de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Ercília Steinke explica que, na região Centro-Oeste, de forma geral, o inverno predomina uma massa de ar seca, devido à falta de nuvens, o que causa a perda rápida do calor e, por isso, as noites costumam esfriar bastante. “A massa fria avança do Sul ao Centro-Oeste. Isso torna o clima da nossa região diferente das outras. No Sul, não tem estação seca, no Nordeste, agora, chove e, na Amazônia, região Norte, chove sempre e tem umidade do ar alta”, esclarece.

A previsão do Inmet é de que o inverno em Brasília fique dentro da normalidade. A meteorologista Nayane Araújo afirma que o esperado é um período seco e com pouca chuva, no entanto, a possibilidade de precipitações não é totalmente descartada. “A previsão é de que chova eventualmente”, afirma. A especialista prevê ainda que a aproximação de frentes frias possa causar, eventualmente, inversão da temperatura — em vez de manhãs mais frias, as tardes podem registrar índices mais baixos nos termômetros.

Beleza

Algumas características marcam o início da estação fria e a seca no DF, entre elas, a florada dos ipês, árvores típicas do cerrado. Quem passa pelos eixos Norte e Sul pode contemplar a beleza dos ipês-roxos, os primeiros a florir. Depois, os amarelos e os brancos devem brotar, em julho, seguidos do rosa, que chega no fim de agosto. “É uma beleza passar por elas (as árvores) na ida ao trabalho. Deixam a cidade mais bonita e ainda combinam com o céu, que também fica espetacular nessa época. Não gosto muito do inverno, é frio demais, mas a beleza que traz à cidade é incomparável”, declara a servidora pública Mariana Coimbra, 37.
 

"Eu não gosto desse clima e ainda não me acostumei. Por enquanto, ainda está bom, mas estou com medo do que nos aguarda nos próximos dias" Luzia Uchôa, assistente administrativa

 


 

"Esse tempo piora tudo. Preciso sempre me hidratar mais, passar mais manteiga de cacau nos lábios, usar colírio, além de passar bastante creme na pele para não ressecar" Izabel Cristina Lima, analista financeira

 


 

"Acredito que a situação será inversa. Vai ficar cada vez mais seco, mais quente" Gabriel Gonçalves, operador comercial

 



Você sabia?

O dia que registrou a temperatura mais baixa na história do DF foi 30 de junho de 1985, com 1 ºC. No mesmo ano, em 31 de julho, foi registrada a segunda temperatura mais baixa na capital — 1,6ºC.




Previsão

Saiba como deve variar a temperatura neste e nos próximos meses
Junho:     min. 13,9 ºC     máx. 25 ºC
Julho:     min. 13,7 ºC     máx. 25,3 ºC
Agosto:     min. 15 ºC     máx. 26,9 ºC

Fonte: Inmet

 

"A gente que mora em Brasília já está acostumado a receber todas as estações. Passamos pelo calor, chuva e agora é o frio. Não me incomoda nem um pouco" Cleia Rodrigues, copeira

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Correio Braziliense quinta, 13 de junho de 2019

DEVOÇÃO AO SANTO CASAMENTEIRO

 

Devoção ao santo casamenteiro
 
 
Fiéis confiam a Santo Antônio pedidos os mais diversos: da ajuda para encontrar o par perfeito ao documento perdido. O dia dele, celebrado hoje, é momento de agradecer

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 13/06/2019 04:00

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Carlos Antônio, frade da Paróquia Santo Antônio (Ed Alves/CB/D.A Press)  

É o santo das necessidades, aquele que intercede e não deixa nada faltar – Carlos Antônio, frade da Paróquia Santo Antônio

 



Dizem que uma das melhores formas de encontrar a pessoa amada é pedindo a Santo Antônio. O frade português ganhou o título de santo casamenteiro porque ajudava mulheres humildes que não tinham condições de oferecer dote e enxoval. Também é conhecido, no entanto, por defensor da família, protetor dos pobres e das coisas perdidas.

No caso de Marta Helena Rodrigues da Cunha, 79 anos, a crença em Santo Antônio veio de berço. “Minha avó passou para minha mãe, que passou para mim. A gente é tão próximo desde sempre que tudo o que eu peço para ele, dá certo. Quando o pessoal se desespera porque perdeu alguma coisa ou porque está precisando de uma graça, eu só falo na maior tranquilidade: ‘Mas para quê essa agonia? Calma que é só pedir a Santo Antônio que ele dá’”, conta.

Marta atribui não só o próprio casamento ao consagrado, como a união dos seis filhos, além de cada pequena conquista do dia a dia. A fé vale para achar do par perfeito ao documento perdido. E quanto mais o tempo passa, mais a relação entre ela e o frade franciscano se torna próxima. A casa de Marta fica a menos de 500 metros da paróquia que tem o santo como padroeiro. Nessa igreja, os filhos se casaram, os netos foram batizados e o aniversário de 70 anos do falecido marido, Vicente de Paula, celebrado.

“A primeira festa junina a gente quem começou. O quentão minha mãe fazia e o churrasquinho, era meu marido. Por muitos anos, trabalhamos juntos nas barraquinhas da festa, que hoje é a mais famosa de Brasília. Minha vida é toda Santo Antônio”, afirma Marta, orgulhosa.

É tanta devoção que fica difícil saber se é na casa de Marta ou dentro da paróquia onde há mais imagens do frade canonizado. São mais de 200 estátuas, medalhas, quadros e bonequinhos de pelúcia de Santo Antônio reunidas na sala da fiel—  presentes dos filhos, de familiares e de amigos que sabem que não há erro nem exagero quando se trata do protetor dos relacionamentos. “Sou apaixonada pelo santo dos apaixonados”, afirma.

No Brasil, a fama do congregado franciscano tem relação, inclusive, com o Dia dos Namorados. É às vésperas da data que homenageia Santo Antônio, em 13 de junho, que ocorre a tradicional missa em que casais agradecem a união.

Marta Helena confia no santo para tudo e passou a tradição para os filhos (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Marta Helena confia no santo para tudo e passou a tradição para os filhos

 



Da fé à simpatia
 
O músico Ricardo Macau, 30 anos, passou os últimos cinco anos focado na profissão e nos estudos até que, certo dia, decidiu pedir ao santo ajuda para encontrar uma companheira. “Brinco que já casei Brasília inteira por tocar há mais de 10 anos em cerimônias. Eu, que é bom, nada. Então, acendi uma vela e pedi a Santo Antônio para encontrar uma pessoa legal. Confesso que não rezei com tanta fé e, mesmo assim, ele me atendeu rápido. Agora, vou continuar pedindo para que o relacionamento prospere”, relata o músico.

Mas há quem perca a paciência e acrescente à reza as famosas simpatias. A estudante de enfermagem Mariana Ferreira, 30, resolveu fazer isso depois de ganhar uma imagem de uma amiga. “Nem ia fazer nada, mas liguei a televisão no dia 13 (de junho) e vi a simpatia de tirar a criança do colo dele e colocá-lo no arroz, que é símbolo do casamento. Três dias depois, conheci o Herick. Deixei o santo lá no copo de arroz por quase um ano, com medo de ele tirar meu namorado de mim”, conta, rindo. A estudante e o empresário Herick Ferreira, 32, completam um ano de matrimônio hoje, uma homenagem ao santo que os uniu.

A data também foi marcante na vida da médica Yanna Mattos, 43. Foi neste dia, enquanto trabalhava na barraquinha da festa junina da Paróquia Santo Antônio, 15 anos atrás, que ela foi pedida em casamento pelo advogado Miguel Mattos, 44. “Só um milagre do santo casamenteiro mesmo para ele me pedir a mão”, brinca Yanna.

“A gente sabe que ele sempre esteve em nossas vidas e operando no nosso casamento, porque foi na paróquia que nos aproximamos desde adolescentes, participamos de movimentos jovens, nos casamos, batizamos nossos filhos e atuamos como palestrantes e dando curso de noivos. Já fomos, inclusive, visitar o túmulo dele, em Pádua”, detalha.

Para o casal, a contribuição de Santo Antônio para os católicos vai além das características que o tornaram conhecido no Brasil. “Ele era um grande estudioso, teólogo e contemporâneo de São Francisco. Queria ir à África em missão, mas a fragilidade de sua saúde fez com que ele contribuísse por meio da pregação, sempre humilde e pensando na família e nos mais necessitados. É esse exemplo de Santo Antônio que nos inspira”, observa Miguel.
 
História
 
Santo Antônio era doutor em teologia em uma época em que o acesso aos estudos era privilégio de poucos. Entrou aos 15 anos para o seminário, seguindo a ordem agostiniana. Aos 20, teve contato com a história dos frades franciscanos que foram mártires no Marrocos e decidiu que também queria dar a vida pela palavra de Deus, ingressando, assim, na ordem franciscana. “Ele foi o primeiro professor de teologia dos frades. Era uma pessoa estudada, um doutor, que tinha a vocação para a humildade”, explica o frei Carlos Antônio, frade da Paróquia Santo Antônio.

“É o santo das necessidades, aquele que intercede e não deixa nada faltar. As pessoas se abrem para as possibilidades, por meio da fé e alcançam graças e milagres de todas as espécies com a ajuda do santo casamenteiro, dos pobres, de todo o mundo”, resume o religioso.

Miguel e Yanna Mattos com os filhos: pedido de casamento no dia do santo, há 15 anos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Miguel e Yanna Mattos com os filhos: pedido de casamento no dia do santo, há 15 anos

 



Programe-se
 
Paróquia e Escola Santo Antônio
SQS 911, Bloco B
 
Missas
Hoje —  6h, 7h15, 10h, 12h, 15h (missa da saúde), 17h, 18h30 e 20h
Amanhã — Missa Sertaneja, às 19h
 
Festa junina (com barraquinhas de comidas típicas e shows)
Entrada: R$ 10 (crianças até 10 anos não pagam)
Hoje e amanhã, a partir das 18h
Sábado e domingo, a partir das 11h

Correio Braziliense quarta, 12 de junho de 2019

AMOR ESCRITO NAS PÁGINAS DO JORNAL

 


Escrito nas páginas do jornal
 
 
Casal que se encontrou graças a um anúncio nos classificados celebra mais de 30 anos de união e relembra a história de amor com início inusitado

 

» ALAN RIOS

Publicação: 12/06/2019 04:00

O anúncio 
de Luseni foi publicado 
na seção de recados pessoais dos Classificados do Correio em 1988. Entre 
13 cartas, a de Edílson a tocou mais (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

O anúncio de Luseni foi publicado na seção de recados pessoais dos Classificados do Correio em 1988. Entre 13 cartas, a de Edílson a tocou mais

 



 (Cedoc/Correio Braziliense)  


Edílson Machado, 70 anos, não esquece o dia 28 de fevereiro de 1988. Naquela data, um anúncio no jornal mudou sua vida. Ele não achou uma casa para alugar, como queria, nem um carro novo ou uma oportunidade de emprego. Encontrou o amor. “Você que está só e procura um relacionamento sério, que tenha de 36 a 46 anos, seja sincero, honesto, leal. Estou a tua procura… Sou solteira, 33 anos, 1,65m, 60 kg, olhos e cabelos castanhos”, diziam as palavras impressas. O comunicado não tinha nome nem telefone. Quem quisesse se candidatar deveria confiar na descrição da mulher e enviar uma carta para a Caixa Postal 14.2301. Edílson não pensou duas vezes. Hoje, ele se orgulha em contar que foi assim que conheceu a companheira de vida.

A dona do anúncio era Luseni do Espírito Santo, hoje 64. “Eu não tinha muita vida social, minha vida era trabalho e casa, só. Era difícil conhecer alguém assim. Então, me veio essa ideia”, conta ela, que trabalhava como gerente financeira em uma empresa. Mas o atual companheiro, então gerente de recursos humanos, não foi o único pretendente. A aposentada recusou 13 cartas que chegaram ao seu endereço, algumas oferecendo ótimas condições financeiras. “Teve até um capitão do exército, bem de vida, que queria uma companheira para ficar em casa, mas eu não ia largar meu emprego para isso. Aí eu li a carta do Edílson e ela me chamou a atenção. Não sei se foi pela letra, que era bem bonita, mas senti que era ele que eu queria.” O homem brinca: “Eu era mais esperto, por isso ela não escolheu os outros”.

Os dois começaram a conversar por correspondências, muito formais e respeitosos. Falavam sobre os trabalhos de cada um, o que gostavam de fazer e o que pensavam sobre a vida. Ela começou a sentir mais liberdade nos diálogos e eles deram um passo a mais semanas depois: começaram a se telefonar. O primeiro encontro só veio um mês após o anúncio, mas se engana quem acha que os dois tiveram paciência para esperar. “Não me aguentei e mandei um funcionário meu entregar uma carta pessoalmente para ela. Vai que era uma senhora de 70 anos se passando por uma novinha? Mas aí ele voltou e disse ‘pode confiar!’”, lembra o aposentado. Edílson diz até que correu muito risco, pois seu enviado poderia ter se apaixonado pela beleza que viu.
 
À primeira vista
 
Como nas histórias de amor da literatura clássica, o romance dos dois também teve “tragédias”. No primeiro encontro, planejado durante muito tempo, nada saiu como o previsto. O pretendente morava em Valparaíso e ela, no Guará, cidade desconhecida para ele. “Era um domingo e eu não tinha carro, então peguei um ônibus, desci na parada errada e fiquei totalmente perdido lá”, conta. Em uma época em que o celular era artigo de luxo, objeto exclusivo de estrangeiros, ele não conseguiu comunicar o atraso. Luseni achou que o relacionamento teria um fim antes mesmo do começo.

“A gente tinha marcado de ele ir lá em casa às 16h, mas demorou muito e aquilo foi me desanimando demais. Fiquei tão decepcionada que me desarrumei toda e fui para o quarto. Coloquei uma camisola e fiquei lá, triste, toda bagunçada”, lembra. Minutos depois de se deitar, a campainha dela tocou. “Era o Edílson! Eu o vi pela primeira vez e o achei tão lindo. Mas eu estava lá daquele jeito, desleixada.” A roupa de dormir não assustou o homem, mas ele também não estava pronto para o que viu. “Cheguei à casa dela e estava a família toda reunida. Os pais, irmãos, amigos dos parentes... todo mundo. Parecia que tinham preparado uma recepção para eu entrar e não escapar mais de lá”, conta.

O casal manteve a calma nos outros encontros. Quando se viam, andavam de mãos dadas, conversavam e se abraçavam quando queriam demonstrar que o amor estava crescendo. Antes do primeiro beijo, ele foi até o futuro sogro e pediu Luseni em namoro. “Aí, uns três ou quatro meses depois, quando menos esperava, apareceu o Edílson lá em casa de mala e cuia”, lembra ela. O companheiro se defende: “Era um sofrimento danado sair de Valparaíso para o Guará para me encontrar com ela, então, não era melhor a gente parar de ser besta e morar juntos logo? Fiz minha trouxinha de roupas e fui mesmo”.
 
Paciência e respeito
 
Passaram-se 31 anos desde o anúncio e a mudança. Hoje, os dois dão aula de como manter o amor mesmo depois de décadas de convivência. Com um filho de 25 anos, o casal se divide entre uma chácara no interior de Goiás e a casa em Samambaia. Brincando um com o outro quase o tempo todo, eles só ficam sérios quando explicam o motivo de a relação ter dado certo. “Eu sempre a respeitei e nunca a tratei mal. Relacionamento não tem receita, mas isso fez bem para a gente. Agora, eu me considero um cara rico, mesmo com pouco dinheiro”, declara ele. Luseni completa: “Quando escrevi o anúncio, eu queria alguém para me amar. E encontrei!”.
 
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Correio Braziliense terça, 11 de junho de 2019

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL FEMININO DA FRANÇA: FORMIGA E FOWLERTERANA E A CAÇULINHA

COPA FEMININA
 
No ano em que você nasceu...
 
Segundo jogo do Brasil pode colocar em cartaz duelo entre a jogadora mais velha e a caçula do torneio. Formiga disputava o Mundial pela terceira vez quando a australiana Mary Fowler estava na maternidade

 

MAÍRA NUNES
MARIA EDUARDA CARDIM
Enviadas especiais

Publicação: 11/06/2019 04:00

 (matildas.footballaustralia.com.a)  


 (Jean-Pierre Clatot/AFP )  


    
Montpellier (França) — Na estreia do Brasil na Copa do Mundo da França, Formiga fez história ao bater o recorde como a jogadora mais velha a disputar o torneio. Aos 41 anos, ela participa da sétima competição na carreira. Após a vitória sobre a Jamaica, por 3 x 0, o segundo confronto da Seleção Brasileira, na quinta-feira, terá um duelo de gerações. Formiga enfrentará a Austrália, da caçula do Mundial Mary Fowler, de apenas 16 anos.

Fowler joga no Bankstown City da Austrália com as outras duas irmãs e um irmão. A atleta vem de uma família envolvida com o futebol. Os quatro praticam a modalidade. Inexperiente em grandes competições, a adolescente de 16 anos tem relação com o Brasil. A estreia pela seleção foi contra o time de Vadão, em 2018, no Torneio das Nações de Futebol Feminino. Na partida, a Seleção Brasileira perdeu por 3 x 1 para a Austrália.

Apesar da façanha de compor o elenco de uma equipe forte como a australiana em uma Copa do Mundo, antes mesmo de Fowler sonhar em jogar futebol, outras atletas abriram esse espaço para a modalidade feminina. No ano em que a talentosa atacante australiana nasceu, Formiga disputava a terceira Copa do Mundo dela. Tinha 25 anos na edição de 2003, nos Estados Unidos. Na época, o Mundial ainda contava com 16 equipes. Agora, são 24 desde a última versão, em 2015.

Por sinal, no Mundial de 2003, outras atacantes que se tornariam referência no futebol mundial estreavam na Copa. Marta e Cristiane tinham 17 e 18 anos, respectivamente, quando disputaram o torneio pela primeira vez. Cinco edições depois, Marta carrega o status de maior artilheira da história da competição, com 15 gols, sem ainda ter entrado em campo na França. Cristiane atualizou a coleção de gols ao marcar três vezes na estreia do Brasil diante da Jamaica, e assumir a vice-artilharia, com 10 gols.

Prestes a fazer história na Copa, Fowler teme que a trajetória da nigeriana Ifeanyi Chiejive se repita. Ela foi a jogadora mais nova a ser convocada para a Copa do Mundo, em 1999, mas não entrou em campo. Tanto o recorde de se tornar a mais jovem a jogar o torneio quanto o encontro com Formiga estão ameaçados. A australiana se recupera de lesão sofrida no treino das Matildas — apelido das Austrália — na última sexta-feira. Fowler voltou a aparecer no treino, mas ficou no banco com o restante do grupo, sem participar do trabalho.

Ao jornal, The Sydney Morning Herald, o técnico Ante Milicic afirmou ser uma situação temporária. “Aparentemente, é só uma precaução. Ela sentiu um incômodo no músculo. Eu não vou arriscar uma garota de 16 anos de idade”, disse. No primeiro jogo da seleção australiana, a jovem atacante não foi relacionada e ficou fora até do banco da Austrália.

Mesmo sem saber se terá condições de jogo contra o Brasil, Fowler pode sentir-se realizada. Filha de um irlandês, a jogadora encontrou problemas para consolidar a convocação no país em que nasceu. Kevin Fowler, o pai dela, gostaria que a australiana jogasse na Irlanda e atuasse com os irmãos, Quivi e Ciara, que jogaram nas categorias de base de times irlandeses.

Juventude
Cristiane roubou a cena em Grenoble, mas, do lado jamaicano, uma jovem jogadora assumiu o protagonismo. A goleira Sydney, de 19 anos, defendeu pênalti de Andressa Alves, camisa 10 do Barcelona, e evitou uma goleada ainda maior. Sydney, que ainda é universitária, defende a equipe mais jovem da competição.

O elenco da Jamaica, estreante em Copas do Mundo, tem média de 23 anos. Em compensação, os Estados Unidos, maiores campeões mundiais com três títulos, levaram para a França a equipe mais experiente das 24, com 28,52 anos. A atacante Carli Loyd é a mais velha do elenco norte-americano, que conta com 12 atletas nascidas na década de 1980. O Brasil segue logo atrás e tem a ajudinha de Formiga para elevar a média a 27,5 anos.

Após a primeira rodada, o Brasil está na liderança do Grupo C da Copa do Mundo em função da vitória por 3 x 0 contra a Jamaica. A Itália também ganhou, mas fica em segundo pelo saldo de gols menor. Na segunda rodada, as brasileiras enfrentam a Austrália, terceira colocada. As italianas pegam a Jamaica. O Brasil fez um treino só com as reservas ontem de manhã, ainda em Grenoble, e foi de ônibus no início da tarde para Montpellier, onde jogará a segunda rodada. A seleção comandada por Vadão volta a treinar hoje à tarde.




 (Kenzo Tribouillard/AFP)  


Destaque do dia

Milagre argentino 

A Argentina, de Augustina Barroso (foto), conquistou seu primeiro ponto na história do Mundial Feminino de Futebol, ao empatar, ontem, com o Japão, em Paris, pela rodada inicial do Grupo D. Com o resultado, as duas seleções dividem a segunda posição da chave, liderada pela Inglaterra, que venceu a Escócia no domingo por 2 x 1. Com forte marcação em seu campo, as argentinas conseguiram anular boa parte das jogadas articuladas pelas adversárias e pouco se aventuraram no campo de ataque, demonstrando desde o início que o empate era o objetivo principal.



41
Anos tem Formiga, 25 mais velha do que a australiana Mary Fowler foto (E), de 16.
 
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Correio Braziliense segunda, 10 de junho de 2019

PENTECOSTES - CELEBRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO - UNIDOS PELA FÉ

 

Unidos pela fé
 
 
Último dia de Pentecostes atrai pessoas de diferentes regiões do Brasil no Taguaparque para celebrar o Espírito Santo: 21ª edição do evento foi marcada por testemunhos e agradecimentos por graças alcançadas

 

ALAN RIOS

Publicação: 10/06/2019 04:00

Marisete da 
Silva foi uma das primeiras fiéis a chegar ao parque: queria agradecer pela mãe ter sido curada de um câncer
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Marisete da Silva foi uma das primeiras fiéis a chegar ao parque: queria agradecer pela mãe ter sido curada de um câncer

 



Egeni Almeida fez questão de acompanhar o evento desde o primeiro dia: %u201CParticipar disso tudo faz com que a gente abra ainda mais o coração a Deus%u201D (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Egeni Almeida fez questão de acompanhar o evento desde o primeiro dia: – Participar disso tudo faz com que a gente abra ainda mais o coração a Deus.

 



Ricardo Santos sempre teve curiosidade de ir ao evento porque via 
os adesivos nos carros das pessoas (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Ricardo Santos sempre teve curiosidade de ir ao evento porque via os adesivos nos carros das pessoas

 



Em volta de uma multidão, cada fiel presente no último dia de Pentecostes fechou os olhos e sentiu o mesmo: a presença do Espírito Santo é marca dos domingos da celebração de três dias que teve fim ontem. Em uma missa que começou às 16h  e seguiu até as 21h, o público de 1 milhão de presentes — segundo os organizadores — pôde cantar louvores, ouvir a palavra de Deus pela voz do padre Moacir Anastácio e presenciar testemunhos de quem teve a vida transformada pela fé.

Transformação é a palavra-chave de um dos momentos mais emocionantes de Pentecostes. Em cada um dos três dias de evento comemorado no Taguaparque, em Taguatinga, os católicos levaram uma vela, que simbolizam Pai, Filho e Espírito Santo, a Santíssima Trindade da Igreja. O objeto é abençoado ao final das missas para que quem acenda essa chama possa receber uma graça divina.

As bênçãos alcançadas pelas velas surpreende. Carlos Roberto Monteiro, 40 anos, conta que foi por elas que teve a maior felicidade de sua vida, depois de um dos momentos mais difíceis: “Minha filha nasceu com uma fenda na boca e passou por muitas complicações. Teve parada cardíaca, foi entubada e a situação piorou tanto que os médicos chegaram a chamar um padre para batizá-la, acreditando que ela não teria mais chance de sobreviver.” Mas ele e toda a família confiaram no poder das orações.

“Acendemos as velas de Pentecostes e as coisas mudaram. Nunca esqueço que minha cunhada estava assistindo à missa do padre Moacir pela internet, no hospital, no dia da cirurgia dela. O padre disse, naquela cerimônia, que Deus tinha dado a ele uma revelação de que uma mulher estava acompanhando a missa do celular, porque aguardava um procedimento cirúrgico muito delicado de um familiar. Mas contou que ela poderia ficar tranquila, pois teria a graça da melhora”, garante Monteiro. A operação foi um sucesso e deixou os médicos surpresos. Hoje, a bebê de 34 dias está em casa, “melhor do que nunca”, segundo o pai.

Os problemas de saúde curados motivam grande parte dos testemunhos. Marisete da Silva, 43, foi uma das primeiras fiéis a chegar ao parque, às 8h. Ela carregou a filha, Manuela, de oito meses, nos braços até o final da missa à noite. “Quando lembro que minha mãe acabou curada de um câncer no intestino por conta das velas de Pentecostes, vejo que passar esse tempo todo na celebração não é sacrifício, mas uma bênção”, diz a secretária. De acordo com ela, quem atendia a paciente no hospital chegava a dizer que só um milagre a salvaria da doença. “Mas nem quimioterapia ela precisou fazer”, contou.


 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  



Maior celebração
O Pentecostes está na sua 21ª edição neste ano, sempre movendo fiéis de dentro e de fora do DF. “Esse é o maior evento de Pentecostes do mundo, então, nós recebemos gente de todo  canto. Já vimos gente do Canadá, dos Estados Unidos e até do Japão, que voltam anualmente por conta das graças recebidas”, afirma o coordenador geral, Wberthyer Araújo. Nas contas da produção, foram 3 milhões de pessoas presentes nos três dias de missas. Os números de quem fez tudo acontecer também são altos. Foram mais de 2 mil funcionários trabalhando de forma voluntária na festa cristã.

O tamanho da celebração só não parecia ser maior do que o da fé de cada um. Apesar da dificuldade de se locomover com os dois filhos cadeirantes, Egeni Almeida, 38, fez questão de acompanhar o evento desde sexta-feira, o primeiro dia. “Participar disso tudo faz com que a gente abra ainda mais o coração a Deus e receba sua presença. Então, eu e minha família passamos pelas barreiras com facilidade. Elas acabam sendo menores do que nossa devoção.”

A dona de casa participa todo ano de Pentecostes, mas a missa também recebe quem só ouvia falar das graças, como Ricardo Santos, 29. “Eu sempre tive curiosidade de vir, porque via os adesivos nos carros das pessoas dizendo que foram renovadas, e ouvia muita gente contar dos testemunhos. Apesar de, às vezes, me vir aquela desconfiança em relação às histórias, aqui eu pude alimentar ainda mais minha fé”, declarou. O trabalho para organizar a celebração é tanto que quem está à frente do projeto fica até 10 meses orquestrando tudo. “A gente brinca que, quando acaba uma edição, já pensamos na outra”, diz Wberthyer.
 
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Correio Braziliense domingo, 09 de junho de 2019

SELEÇÃO FEMININA DE FUTEBOL: ESTREIA SEM MARTA NO MUNDIAL DA FRANÇA

 


COPA FEMININA
 
Nada fácil na vida das guerreiras
 
Seleção Brasileira estreia contra a Jamaica, hoje, em Grenoble. Vindo de nove derrotas seguidas e sem a estrela Marta, equipe nacional terá de se superar em busca do inédito título mundial

 

MARIA EDUARDA CARDIM
MAÍRA NUNES
Enviadas especiais

Publicação: 09/06/2019 04:00

 
Aos 41 anos, a veterana Formiga será uma das referências do time em campo neste domingo (Assessoria/CBF
)  

Aos 41 anos, a veterana Formiga será uma das referências do time em campo neste domingo

 




Paris — De um lado, um estreante em Copas do Mundo. De outro, uma nação conhecida como o país do futebol, que participou de todos os Mundiais. O jogo de hoje entre Jamaica e Brasil fecha a primeira rodada do grupo C e, apesar de toda a experiência da Seleção Brasileira, a partida no Stade des Alpes, em Grenoble, às 10h30, tem cara de primeira vez para a equipe do técnico Vadão. Marta, a maior referência do time, não jogará na estreia — algo inédito na história da jogadora no torneio.

Nos quatro Mundiais que disputou, a brasileira entrou em campo nos 18 confrontos do Brasil na competição e marcou 15 gols, tornando-se a maior artilheira da competição. Logo na edição em que estreou na Copa, em 2003, a alagoana anotou três gols. Na competição seguinte, Marta se consagrou mundialmente. Foi eleita a melhor jogadora da Copa de 2007, ajudando a levar o Brasil à única final que a Seleção disputou — perdeu a decisão para a Alemanha — e foi eleita a melhor do mundo pela segunda vez na carreira. Na Copa de 2011, a camisa 10 brasileira balançou as redes quatro vezes e completou a lista em 2015, com mais um gol.

No entanto, a situação atual é bem diferente dos anos anteriores. Há 15 dias, Marta não participa dos treinos com o grupo. A jogadora do Orlando Pride sentiu uma dor da região posterior da coxa esquerda em um treino da Seleção, na aclimatação para o Mundial em Portugal, em 24 de maio. Além de fisioterapia, a alagoana realiza um trabalho de transição para o campo com bola, separada do elenco principal. Ainda assim, o mistério se ela atuaria na estreia foi encerrado apenas ontem, quando a comissão técnica confirmou o desfalque contra a Jamaica.

Contar com uma craque é o sonho de qualquer equipe, mas ser dependente dela é um risco grande para uma competição como a Copa do Mundo, ainda mais quando há no histórico recente nove derrotas seguidas durante a preparação para a competição. Contestada por essa dependência de Marta, a Seleção Brasileira terá de provar o contrário na oitava edição do Mundial.

A gaúcha Mônica, 32 anos, herdará o posto de capitã da Seleção Brasileira. A zagueira do Corinthians assume a braçadeira na segunda Copa do Mundo dela. Além da ausência de Marta na estreia, a Seleção sofreu três cortes ainda no período de treinos. Adriana, Fabiana e Érika deixaram o elenco após a convocação por causa de lesões. “Acho que, na hora que rolar a bola, toda essa ansiedade da equipe vai por água abaixo e conseguiremos fazer uma boa estreia”, aposta a veterana Cristiane, atacante que disputará o quinto Mundial. Força de vontade em campo, as jogadoras prometem que não faltará. Uma vitória sobre a Jamaica, considerada a rival mais fraca do Grupo C, é fundamental para os planos do Brasil de avançar para as oitavas de final.



Destaque do dia

Jenni Hermoso

A Espanha venceu a África do Sul por 3 x 1, ontem, e tomou a liderança do Grupo B da Alemanha. A atacante Jenni Hermoso, do Atlético de Madrid, marcou os dois primeiros gols da Fúria em cobranças de pênalti, enquanto Lucía García fez o terceiro. Thembi Kgatlana descontou para o time sul-africano. Apesar da vitória, a equipe europeia foi para o intervalo perdendo por 1 x 0. No segundo tempo, no entanto, a frieza e a precisão de Jenni Hermoso foram essenciais para construir a virada. Aos 25 e 38 minutos, a atacante cobrou penalidades de forma certeira e garantiu o triunfo espanhol na estreia no Mundial.
 
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Correio Braziliense sábado, 08 de junho de 2019

SERGUEI: ROQUEIRO DE CORPO E ALMA

 


OBITUÁRIO
 
Roqueiro de corpo e alma
 
 
Serguei, icônico e debochado personagem da cena musical brasileira, morre aos 85 anos no Rio de Janeiro

 

» Devana Babu*
» Vinícius Veloso*

Publicação: 08/06/2019 04:00

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 9/6/10)  
 
Uma das figuras mais conhecidas e queridas do rock nacional morreu ontem no Rio de Janeiro. Sérgio Augusto Bustamante, ou simplesmente Serguei, não resistiu a complicações decorrentes de uma série de problemas de saúde, incluindo pneumonia, anemia e quadros de infecção. Aos 85 anos, ele estava internado no Hospital Regional Doutora Zilda Arns desde 6 de maio.  O artista viveu parte da infância nos Estados Unidos e lá desenvolveu o sentimento pela música. Iniciou a carreira em 1966, em terras norte-americanas, seguindo a estética do rock no mundo: cabelos longos, roupas rasgadas e apresentação de clássicos do gênero.
 
Sua discografia, magérrima como ele, nunca foi sucesso de crítica ou de vendas. Mas a personalidade exuberante e as histórias fizeram dele o astro do rock que ele era. Ficou conhecido, entre outras coisas, por ter ido ao festival de Woodstock, ter um misterioso romance com Janis Joplin, frequentado festas com Jimi Hendrix e Jim Morrison, além de “fazer amor” com árvores.
 
Após retornar ao Brasil, entre os anos de 1960 e 1980, gravou uma série de compactos, entre os quais As alucinações de Serguei (1966), Eu sou psicodélico/Maria Antonieta sem bolinhos(1968) e Orange (1969). Adotou o apelido Serguei, que ganhou de um amigo que viajou para a Rússia. A partir daí, participou de programas de tevê, como os de cultuados apresentadores, como Flávio Cavalcanti, Chacrinha e Sílvio Santos.
 
Entre dias de glória e de ostracismo, Serguei chegou a se apresentar duas vezes no Rock in Rio, mas foi somente em 1991 que gravou o primeiro disco completo, Coleção de vícios.
 
Lado folclórico
 
Serguei era visto como uma persona, uma figura folclórica. A casa em que morou durante décadas em Saquarema tinha fama quase comparada à do dono. Ele vivia do dinheiro da aposentadoria, de favores dos vizinhos, amigos e admiradores e de uma quantia que ganhava da prefeitura para manter o Templo do Rock, um museu instalado na própria casa com vários itens da coleção do músico que contam a trajetória do rock e da história pessoal de Serguei.
 
A casa foi reformada pela prefeitura e, lá, Serguei morava e recebia visitantes quando queria e podia. Raramente  ele recusava visitas, e eram muitas. No entanto, quando os visitantes iam embora, ele voltava à solidão.
 
Com a solidão, vieram aproveitadores. “Ele era uma pessoa um pouco difícil de lidar e tinha uma personalidade muito forte”, conta o amigo e músico Diego Brisse. “O Serguei teve o azar de atrair pessoas muito interesseiras. Status, fama, e alguns achavam que ele era rico”, completa.
 
A Prefeitura de Saquarema informou que o velório do cantor será hoje, das 8h às 11h, na Câmara de Vereadores. Depois, o corpo do artista será sepultado no Cemitério Municipal.
 
* Estagiários sob supervisão de Igor Silveira


Repercussão

Frejat: “Hoje perdi um amigo querido. Serguei, além de roqueiro brasileiro histórico, era uma figura doce e amiga. Agradeço o privilégio de ter convivido com ele. Que você vá por um caminho de luz, 
querido amigo!”
 
Paulo Ricardo: “Pioneiro e bacharel em rock’n’roll, Serguei viveu intensamente segundo sua desbundante cartilha até o fim. Quem o seguia no Twitter sabe do que estou falando. Me deu a honra de uma canja num inesquecível Motofest em Campo Grande, cantamos Born to be Wild e, no final, ele pulou no meu colo, fanfarrão e carinhoso. Um sábio. Um gentleman. Will be missed. Rest in peace, my dear, 
we love you!”
 
Tico Santa Cruz: “Com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento do meu amigo Serguei! Sua memória será preservada por todos aqueles que reconhecem em Serguei uma figura carismática, querida e histórica para a música brasileira e para o Rock Nacional. Estivemos juntos por inúmeras vezes, não só em Saquarema — em sua casa — como por shows que fizemos juntos pelo Brasil. Sempre muito carinhoso, muito divertido e cheio de vida! Só tenho a agradecer pela oportunidade de ter convivido por esses momentos com ele é desejá-lo um bom descanso, ciente de que já vinha lutando há tempos pela vida!!! Valeu por tudo SERGUEI!”
Vá em paz amigo!
 
Bic Muller: “RIP Serguei! Que sua viagem de volta à sua dimensão seja cheia de amor.”

Correio Braziliense sexta, 07 de junho de 2019

OS IPÊS CHEGARAM!

 


Os ipês chegaram!
 
 
Segundo a Novacap, há cerca de 200 mil árvores da espécie no Distrito Federal. As primeiras a florescer são as roxas

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 07/06/2019 04:00

Os flores colorem a caminhada matinal da técnica de enfermagem Andréa Maria dos Santos (Juliana Andrade/Esp. CB/D.A Press)  

Os flores colorem a caminhada matinal da técnica de enfermagem Andréa Maria dos Santos

 

 
Aos poucos, eles surgem. Um ponto roxo aqui e outro ali, sinal de que está aberta a temporada dos ipês. Enquanto o inverno apaga o verde da grama e traz o marrom das folhas secas, a árvore que virou símbolo de Brasília se encarrega de colorir a cidade com cores vibrantes. O primeiro a florir é o roxo, seguido do amarelo, do branco e, por último, o rosa.

Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), há pelo menos 200 mil ipês espalhados pelo Distrito Federal. A maioria deles está no Plano Piloto, onde é possível encontrar cerca de 25 mil árvores da espécie. Algumas delas enfeitam a 107 Norte, onde o empresário Liberato Montalvão, 68 anos, mora. Ele conta que elas começaram a florir agora e encantam quem passa. “Ainda tem poucas flores, mas a quadra fica linda. O pessoal para aqui para tirar foto. Eu acho muito bonito. Deixa a cidade mais alegre”, comenta.

Típicas do cerrado, as árvores são caracterizadas pelo troncos retorcidos e floração intensa. De acordo com o chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap, Raimundo Silva, os ipês podem chegar a 12m de altura. Ele acrescenta que as árvores estavam na área central antes mesmo de a capital ser construída.
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
Cartão-postal
 
É quase impossível o ipê passar despercebido. No Eixo Norte, vários deles atraem os olhares de quem transita pela via. A atendente Joelma Nogueira, 42, tem o prazer de encontrar com um deles todos os dias, na 103 Norte. “Eu desço do ônibus e a primeira coisa que vejo é uma árvore dessas. É uma das belezas de Brasília e que você não precisa pagar para ver”, destaca.

Na Quadra 5 do Sudoeste, um pequeno ipê também chama a atenção de quem frequenta o Ponto de Encontro Comunitário (PEC). A doméstica Claudijane Ferreira, 40, vai ao PEC sempre pela manhã e garante que a beleza da árvore é de encher os olhos. “Eu vejo muitos pela cidade. Acho lindo. Eles deixam as ruas mais bonitas e coloridas”, frisa.

Para Raimundo Silva, da Novacap, a espécie se tornou uma marca registrada de Brasília. Além de encantar os moradores, conquista os turistas que passeiam pela capital na época da seca. “Eles impressionam visitantes de qualquer lugar do mundo. São um cartão-postal”, garante, e informa que Brasília deve ganhar mais 10 mil ipês este ano.
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
Quem quer apreciar o ipê-roxo tem até julho para encontrar a árvore pela cidade. Raimundo explica que as mais antigas costumam ter uma floração mais tardia. Porém, as flores não duram muito tempo. Elas começam a cair em torno de 15 dias. “O branco é o mais rápido de todos. Ele dura cerca de cinco dias”, complementa.

É justamente o ipê-branco que a técnica de enfermagem Andréa Maria dos Santos, 48, moradora da 306 Norte, tanto espera. “Perto da minha casa tem um grande. Ele fica lindo, mas não floriu ainda. Quando as folhas começam cair, parece neve no chão”, comenta. Enquanto ele não aparece, Andréa aprecia as flores roxas durante a caminhada matinal. “Eu vim do Nordeste e, onde eu morava, não tinha. Quando eles aparecem, eu tiro várias fotos”, diz.

De acordo com Raimundo, o ipê-branco deve florir somente em julho, se encontrando com o rosa, que chega no início de agosto. Antes deles, no fim de junho, as flores do amarelo nascem.

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)

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Correio Braziliense quinta, 06 de junho de 2019

COPA FEMININA - SELEÇÃO BRASILEIRA

 


COPA FEMININA
 
 
Transição de eras como marca
 
Seleção desembarca na França para o Mundial. Time atravessa fase de renovação, com estreantes e novos costumes

 

MAÍRA NUNES
MARIA EDUARDA CARDIM
Enviadas especiais

Publicação: 06/06/2019 04:00

 
A lateral-direita Tamires (D) é a única mãe no grupo da Seleção Brasileira: equipe chegou ontem à França (CBF/Divulgação
)  

A lateral-direita Tamires (D) é a única mãe no grupo da Seleção Brasileira: equipe chegou ontem à França

 





Paris — A três dias da estreia na Copa do Mundo da França, contra a Jamaica, no próximo domingo, em Grenoble, a Seleção Brasileira feminina de futebol ainda ressente as mudanças no elenco que foi obrigada a fazer. Desde que Vadão convocou a equipe para o Mundial, em 16 de maio, o técnico teve de quebrar a cabeça para substituir duas jogadoras que se lesionaram. Apesar das alterações de última hora, a cara do time não mudou muito. O grupo conta com as veteranas Marta, Formiga e Cristiane, além de 12 jogadoras que disputaram uma Copa, mas tem também oito estreantes na competição.

Desde a caçulinha Geyse, com 21 anos, até Formiga, com incríveis 41, todas compartilham a mesma história ao contar como começaram a jogar futebol: no meio dos meninos. O esforço delas, porém, parece, enfim, surtir resultados. Neste Mundial, elas ganharam uniforme exclusivo para disputar uma Copa do Mundo pela primeira vez na história. Também foi o primeiro ano em que a Seleção Brasileira feminina teve período de aclimatação antes do torneio, feito na cidade portuguesa de Portimão.

Entre as estreantes com a camisa verde e amarela em um Mundial, cinco atuam no futebol europeu. A goleira Aline joga no UDG Tenerife, na Espanha; Letícia Santos, no SC Sand, na Alemanha; as atacantes Geyse e Ludmila defendem o Benfica, de Portugal e o Atlético de Madrid, da Espanha, respectivamente. A zagueira Kathellen conhece bem as anfitriãs, pois atua no clube francês FC des Girondins, de Bordeaux.

O restante das estreantes também joga fora do Brasil. Camilinha é parceira de Marta no Orlando Pride, nos EUA, enquanto Debinha ganha a vida como atacante do North Carolina Courage. A meia Luana é a novata que atua mais longe do país. A jogadora do Jeonbuk KSPO, da Coreia do Sul, chegou para compor o elenco aos 45 minutos do segundo tempo, ocupando vaga que era de Adriana.

Apesar das inúmeras estreias em um Mundial, talvez o caso mais simbólico de renovação na Seleção seja protagonizado por Tamires, que se tornou mãe aos 21 anos, após uma gravidez inesperada. É o único caso de maternidade no grupo brasileiro. Antes de conseguir conciliar a carreira de jogadora com a de mãe do Bernardo, que hoje tem 9 anos, a lateral esquerda precisou abdicar do sonho nos gramados para acompanhar o marido César, que também é jogador de futebol. Os desafios da jornada dupla, porém, não a impediram de voltar aos campos. Aos 31 anos, a atleta do Fortuna Hjorring, da Dinamarca, se prepara para disputar a segunda Copa, para orgulho do filho e do marido, que agora vive a experiência de largar a bola para acompanhar a esposa.

» Patrocínio: Colégio Moraes Rêgo
» Apoio: Casa de Viagens e Bancorbrás Agência de Viagens
 
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Correio Braziliense quarta, 05 de junho de 2019

TAGUATINGA, 61 ANOS - A CIDADE QUE ACOLHE

 


TAGUATINGA 61 ANOS
 
A cidade que acolhe
 
Conheça as boas lembranças de taguatinguenses que mantêm o orgulho de viver em um dos principais centros urbanos do Distrito Federal, criado por brasileiros sonhadores em busca de uma vida melhor

 

CAROLINE CINTRA
RENATA NAGASHIMA*
ROBSON G. RODRIGUES*

Publicação: 05/06/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
A história de Taguatinga é um grande mosaico de histórias de pessoas que saíram de outras cidades para fazer parte da construção da nova capital. À época, a decisão era ficar por um tempo. Com o decorrer dos anos, passaram a constituir família, fizeram amigos e, agora, não trocam a região por nada. Hoje, a cidade completa 61 anos e, apesar de ter mudado ao longo das mais de seis décadas de existência, algumas tradições são mantidas. Outros costumes, no entanto, permanecem apenas na memória.
 
Fundada em 5 de junho de 1958, em terras do município de Luziânia (GO), na propriedade de uma fazenda que deu seu nome, Taguatinga é um dos maiores centros urbanos do Distrito Federal e carrega histórias marcantes dos primeiros moradores e dos nascidos na cidade.
Regina de Oliveira gosta das feiras na Praça do Bicalho e na do Cine Rex (Arquivo Pessoal)  

Regina de Oliveira gosta das feiras na Praça do Bicalho e na do Cine Rex

 

O comerciante Wellington Neves, 55, nasceu, em 1964, no Hospital São Vicente de Paula, o atual HPAP. Os anos se passaram, ele se casou e, mesmo assim, nunca pensou em sair da cidade. “Gosto muito daqui. Tem de tudo e é muito bacana. Minha esposa também ama a cidade. Não temos motivos para ir embora”, destaca. Desde que os pais saíram de Minas Gerais para formar família na nova capital do país, o candango mora no mesmo local, QNE 20.

Há três anos, os vizinhos, amigos mais próximos e antigos na região se reúnem para o encontro dos pioneiros. “A gente lembra das coisas que vivemos, de como nossa cidade era antes e como vivemos hoje. As coisas mudaram, mas o amor de todos pela cidade continua. É algo impressionante”, ressalta.
Geraldo Pereira: %u201CTinha muitos barracos espalhados, poeira para todos os lados%u201D (Vinícius Cardoso Vieira/CB/D.A. Press)  

Geraldo Pereira: Tinha muitos barracos espalhados, poeira para todos os lados

 

Dos lugares que frequentava na juventude, as principais e melhores lembranças são do Clube Primavera. “Na época, meu pai tinha uma fábrica de tijolos. E os títulos dos clubes eram muito caros. Como a gente tinha o desejo de frequentar aquele lugar tão lindo e falado, meu pai decidiu comprar títulos em troca de tijolos. Por sorte, o clube ainda estava com obras de ampliação, ele fazia essas trocas e a gente passou frequentá-lo”.
Luciana Ribeiro: evento para presentear os artistas e a comunidade (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

Luciana Ribeiro: evento para presentear os artistas e a comunidade

 

Embora a história pessoal se misture com a de Taguatinga, o destino ainda levou Wellington para um dos lugares memoráveis da cidade. Hoje, ele trabalha na primeira banca de revista da região, construída por dona Corina, localizada em frente onde era o Bar Estrela, outro ponto badalado da região nas décadas passadas. “Ouvi muito falar da dona Corina. Infelizmente, não cheguei a conhecê-la, mas sei de sua importância para a cidade. O Bar Estrela é conhecido até pelos mais jovens. Ficava próximo ao cruzamento do centro de Taguatinga. Era, realmente, um point dos jovens da época”.
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Wellington Neves: Gosto muito daqui. Tem de tudo e é muito bacana

 

Barracos
O microempresário Geraldo Pereira, 81 anos, chegou a Taguatinga em 31 de janeiro de 1959. Para ele, aquela virada do ano ganhou um gosto especial: o início de uma nova vida. Mesmo após 60 anos, as lembranças permanecem frescas na memória do pioneiro. “Lembro-me como se fosse hoje. Tinha muitos barracos espalhados, poeira para todos os lados. Parecia um verdadeiro brejo”, conta.
 
Geraldo morou de 1962 a 2015 na mesma residência. Hoje, estána vizinha Águas Claras. Mas o carinho e a gratidão por Taguatinga permanecem. Tanto que o comércio do qual é proprietário, um armarinho, fica na Praça do DI, em Taguatinga Norte.  “Só não digo que sinto saudades porque estou aqui todos os dias. Tudo mudou do início da cidade para hoje em dia. Antes a gente podia andar sozinho nas ruas e até tarde, sem hora para voltar para casa. Não acontecia, não tinha risco nenhum”, lembra. Agora, virou cidade grande, com todos os problemas recorrentes.

Um dos lugares que mais marcou o microempresário na época da juventude foi o Clube dos 200, em Taguatinga Sul. O extinto local era palco das principais festas e eventos da região. Recebeu shows, bailes de carnaval e até desfiles importantes. “Era um bom lugar para dança”, relata.

Na Comercial Norte havia a primeira farmácia de Taguatinga, a Virgem da Vitória. Ela continua no mesmo lugar desde a fundação, em 1959. Apesar de os fundadores terem falecido há mais de 30 anos, o nome da loja ainda é forte na região. O empresário Marcos Silveira, 52, ressalta que o estabelecimento é um ponto de referência na cidade. “Ninguém conhece essa travessia aqui pelo nome, mas quando se fala o nome da farmácia, todo mundo sabe onde é”, conta.
 
Primeiras casas
 
Entre idas e voltas, Célia Matsunaga continua morando na cidade onde cresceu. Filha de imigrante japonês, ela se mudou de Araçatuba (SP) para Taguatinga com apenas 1 ano. “Só tinha três casas em toda Taguatinga Sul. Quatro, com a minha”, recorda-se a professora universitária, que morou numa casa de madeira situada onde, hoje, fica o Alameda Shopping. Sem ter onde brincar na região quase virgem, divertia-se nas calhas destinadas à construção de esgoto. “Tudo era barro”, conta a pioneira aos risos. Depois de adulta, viveu em outras localidades do DF. Mas voltou para Taguatinga. “Minha família tem um vínculo muito forte com a cidade”, garante.

Assim como Célia, Regina de Oliveira morou numa residência de madeira. “Raras não eram de madeira”, assegura. Os pais dela, nordestinos, se mudaram para lá em busca de oportunidades. “Eles queriam melhorar a vida. E a cidade estava apenas começando”, lembra. Atual moradora da Asa Sul, a assistente administrativa de 57 anos guarda a cidade onde nasceu com carinho na memória. Suas lembranças mais doces estão nas sessões de Tarzan no Cine Lara e no Cine Rex; nos bailes do Clube dos 200 e nas descidas no carrinho de rolimã pelos asfaltos recém-construídos da então jovem Taguatinga.

Muito ligada à cidade, Regina visita Taguatinga sempre nos fins de semana. Alterna entre a Vila Matias, aos sábados, e a Praça do Bicalho, aos domingos. São dias de feira livre. “Se eu não for num dia, vou no outro”, explica. Para ela, a cidade ficou muito forte comercialmente e mantém um pouco a calma do passado. “Não acho que mudou de forma negativa. Sinto certa nostalgia, é claro. Sinto falta dos lugares da minha infância que não existem mais. Mas é uma cidade que continua muito interessante. Principalmente do ponto de vista comercial”, observa.

Convivência
Nascida e criada em 1980, a produtora Luciana Ribeiro, 39, é mais uma apaixonada por Taguatinga. Quando se fala o nome da cidade, logo ela lembra da infância e adolescência na Praça do DI, onde morou por muitos anos com os pais. Os passeios com os amigos da escola e de vizinhança pelo local ainda lhe arrancam sorrisos e suspiros. “Até hoje tenho fotos de lá. Na época de estudante, a gente ia para a praça, tocava violão e comia o cachorro-quente do Léo. Não tem como esquecer”, destaca.

Hoje, seu lugar preferido é o Taguaparque, no Pistão Norte. “Quando estava mais livre, caminhava lá todos os dias. É um lugar que enriquece a convivência entre as pessoas que moram em Taguatinga. Eu amo essa cidade”.
O carinho é tamanho que a produtora está organizando uma feira cultural. O Domingo Bom! será lançado no dia 16, no Taguaparque. O intuito é que o evento seja realizado no segundo domingo de cada mês, com a exposição de obras de artistas da cidade, piquenique, barraquinhas diversas e food trucks. O lançamento do projeto no mês de aniversário da cidade é proposital. “É uma forma de presentear Taguatinga e os artistas daqui. A ideia é dar espaço para eles, sem cobrar nada”, disse.

Programe-se 
O aniversário de Taguatinga é hoje, mas as comemorações ocorrerão durante todo o mês. Moradores da cidade poderão celebrar com várias atividades comemorativas programadas, como Pentecostes, Noite Sertaneja, evento do Meio Ambiente e Show da banda Natiruts. Confira a programação completa:

Hoje
 
9h — Solenidade em frente à Administração Regional de Taguatinga
 
20h30 — Bate-papo com Marcos Martins (diretor e produtor cultural) no Kareka’s Bar (QND 14, Comercial Norte)
 
21h —  Aniversário de Taguá 61 (Mesa de petiscos) no Kareka’s Bar
 
21h30 —  Forró com Rene Bomfim e Caco de Cuia, com participação especial: Natinho e Diró Nolasco no Kareka’s Bar
 
Amanhã
 
21h — Documentário Poesia do barro e show Cantorias com Paulo Matrikó no Kareka’s Bar
 
Sexta-feira 
 
19h — Pentecostes no Taguaparque
 
Sábado (8/6)
 
19h — Noite Sertaneja —  Lions Brasília, Taguatinga (AE QNG)
 
Quinta-feira (13/6)
 
19h —  Posse do Conselho de Mulheres Cristãs do Brasil no Supremum Event Center
 
Sábado (15/6)
 
19h — Entrega do parquinho no Taguaparque pelo Sabin
 
Domingo (16/6)
 
9h —  Passeio de motociclistas com plantio de Ipês no Pistão Norte
 
10h —  Domingo Bom! Feira, Cultura e Piquenique no Taguaparque
 
Sábado (29/6)
 
16h30 — Show do Natiruts no Taguaparque
 
Domingo (30/6)
9h às 12h e 16h às 22h — Encerramento das comemorações do aniversário e dia cultural no Taguaparque
 
*Estagiários sob supervisão de José Carlos Vieira
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense terça, 04 de junho de 2019

PAULO ZIMBRES, O ARQUITETO QUE TRAÇOU ÁGUAS CLARAS E NOROESTE, MORRE AOS 86 ANOS

 


OBITUÁRIO  - Paulo Zimbres, 86 anos

 

» CAROLINE CINTRA
» MARIANA MACHADO

Publicação: 04/06/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 27/7/05)  
 
O delineado de arranha-céus de Águas Claras e o moderno desenho que o Noroeste vem ganhando levam a assinatura de um dos grandes nomes da arquitetura de Brasília. Os traços são o legado que Paulo de Melo Zimbres deixa para a capital do país. Na madrugada de ontem, o arquiteto, que também projetou o Jardins Mangueiral, morreu aos 86 anos, devido a uma pneumonia. Ele deixa cinco filhos, sete netos, três bisnetos e muitos discípulos e admiradores.

Paulo Zimbres casou-se duas vezes. O caçula do primeiro relacionamento seguiu os traços do pai. O arquiteto Marcos Zimbres, 56, recorda emocionado os momentos que passou trabalhando ao lado dele. “Foram quase 20 anos juntos no escritório. Talvez, por isso levei muito puxão de orelha, mas tudo para o bem. Era um pai atencioso, preocupado e uma verdadeira inspiração”, afirma. A paixão pela arquitetura era uma constante. “Ele nunca parou de trabalhar e nem quis. Sempre dedicado, ele acreditava muito no urbanismo, na capacidade de fazer melhorias no convívio humano.”

Nascido em Ouro Preto (MG), Zimbres graduou-se em arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), em 1960. Ao longo da carreira teve trabalhos publicados em revistas como Projeto, Acrópole e AU (Arquitetura e Urbanismo) e projetos reconhecidos em bienais de arquitetura. Venceu a disputa de projetos da nova sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea-DF). “No ano passado, falei com ele sobre a segunda etapa da sede. Aprovamos a primeira porque gostamos do resultado. Era um profissional renomado e, nesse momento, merece ser exaltado por tudo o que fez. Brasília perdeu um profissional e tanto”, ressaltou a presidente do Crea-DF, Fátima Có.

Por meio de nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Brasília (CAU-BR) lamentou o falecimento do arquiteto e urbanista. O presidente do CAU-DF, Daniel Mangabeira, afirmou que o Brasil perdeu um grande profissional, um homem gentil que deixou um belíssimo legado construído Brasil afora. “Deixou em todos os arquitetos, com quem trabalhou, uma mensagem de amor à profissão e à vida”.

O engenheiro Eustáquio Ribeiro teve o prazer de estar com Zimbres nos últimos dias de vida. Ele se refere ao colega de trabalho como um dos grandes expoentes da arquitetura. “A arquitetura fica menor com a morte dele. O Paulo morreu em plena atividade. Uma pessoa extremamente ética, leal e de competência invejável”, destacou.

Academia
 
Além de arquiteto, Paulo Zimbres também fez história como professor da Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou de 1968 a 1991. A reitora Márcia Abrahão prestou uma homenagem em nome da instituição. “Ele emprestou talento e dedicação a obras que são a cara de Brasília e também da UnB. Seu legado continuará trazendo beleza a nossas paisagens e, na universidade, inspirando os futuros arquitetos”.

Ex-secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho é outro que lembrou a importância do arquiteto para a capital. “Uma perda muito grande para Brasília.Trabalhou com afinco para modernizar e dar melhores condições de vida para a população do Distrito Federal. Um artista da arquitetura.”

Águas Claras
 
Em entrevista publicada pelo Correio em maio de 2017, Paulo Zimbres escreveu um artigo em que fala sobre o projeto de Águas Claras. Com o título Cidade necessária, ele descreveu como pensou a região administrativa e comentou sobre a polêmica mudança na densidade populacional.

“Esperavam que fizéssemos superquadras. Mas, entendendo que era uma cidade com mais atividades e uma liberdade maior que a do Plano Piloto, decidimos que ela abrigaria áreas mistas, ou correria o risco de virar um dormitório e perdesse no uso do metrô. Pensamos em uma cidade mais complexa, mais rica em atividade e com menos restrição de uso. Propusemos até um setor de indústria e áreas comerciais com liberdade de se fazer no térreo dos condomínios.

Como a Rua Augusta, em São Paulo. Pensamos em uma densidade de 300 habitantes por hectare”, explicou o arquiteto.
O velório de Paulo Zimbres será hoje, a partir das 8h, na capela 1 do cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul. O sepultamento está marcado para as 11h.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 03 de junho de 2019

MORRE A ATRIZ GABI COSTA, AOS 33 ANOS

 

 
 (Instagram/Reprodução)  


Novela perde a atriz Gabi Costa
 
A dramaturgia brasileira perdeu ontem Gabi Costa, atriz da novela Órfãos da Terra. Aos 33 anos, ela morreu em decorrência de complicações cardiorrespiratórias no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Gabi interpretava a personagem Nazira, na novela da rede Globo.
 
Na manhã de ontem, ela havia sido encontrada desacordada dentro de casa. Foi imediatamente levada ao hospital, em estado gravíssimo. À noite, a morte da atriz foi confirmada. “Infelizmente, confirmamos o falecimento da atriz Gabi neste domingo, decorrente de causa cardiorrespiratória. Consternada, a família agradece as manifestações de carinho e pede privacidade neste momento de dor”, comunicou a assessoria de imprensa da atriz, por meio de nota oficial. “Gabi Costa estará sempre viva em nossas lembranças e na memória daqueles que terão uma nova chance em seu gesto”, diz o texto da assessoria, em referência ao fato de a atriz ser doadora de órgãos
 
Na televisão, Gabi estrelou em Aventuras do Didi, Zorra Total e A Grande Família. Outras produções que contaram com a participação da atriz foram as novelas O Rebu, Sol Nascente, Malhação e Tapas e Beijos, e a série Nada Será Como Antes. Ainda não há informações sobre o sepultamento da atriz.  
 
 
 
“Gabi Costa estará sempre viva em nossas lembranças e na memória daqueles que terão uma nova chance em seu gesto”, 
Nota da assessoria da atriz sobre doação de órgaos 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 02 de junho de 2019

PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DE LIS E MEL, AS IRMÃS SIAMESAS

 


A HISTóRIA DE LIS E MEL
 
Arraial para celebrar a vida de Lis e Mel
 
 
Quase 40 dias depois da cirurgia que separou as gêmeas siamesas, as irmãs comemoraram ontem o primeiro aniversário com uma festa no Hospital da Criança de Brasília. A celebração emocionou médicos e familiares

 

HELLEN LEITE

Publicação: 02/06/2019 04:00

A comemoração teve direito a comidas e trajes típicos e foi organizada no Espaço da Família da Abrace. A mãe, Camilla, e o pai, Rodrigo, eram só sorrisos na hora do parabéns (HCB/Divulgação)  

A comemoração teve direito a comidas e trajes típicos e foi organizada no Espaço da Família da Abrace. A mãe, Camilla, e o pai, Rodrigo, eram só sorrisos na hora do parabéns

 

 
 
O Hospital da Criança de Brasília recebeu ontem uma festa junina muito especial. Teve traje caipira, chapéu de palha, paçoca, pé de moleque, bandeirinhas e balões. As estrelas da comemoração tinham muito a celebrar: Lis e Mel, gêmeas siamesas separadas há pouco mais de um mês, completaram um ano. Médicos e familiares participaram do arraial e festejaram o primeiro aniversário das irmãs, mas, principalmente, a sequência de vitórias e de conquistas alcançadas desde 27 de abril, quando elas passaram pela complexa cirurgia, inédita no Distrito Federal.
 
A festa com o tema São João teve direito a bolo, balões e brinquedos e foi organizada no Espaço da Família da Abrace, dentro do Hospital da Criança, onde as meninas continuam internadas. A celebração foi intimista, mas Mel e Lis estavam vestidas à caráter, com vestido de quadrilha e chapéu de trancinhas. Foi assim que elas receberam convidados mais que especiais: os médicos que lidam diariamente com elas no HCB. O neurocirurgião Benício Oton, acompanhado da mulher e de uma das netas, esteve na celebração, assim como o anestesiologista Luciano Fares, que também levou a mulher e os filhos. A fisioterapeita Lilian Santos, enfermeiros e residentes fizeram questão de presenciar as gêmeas apagando a velinha. Da família estavam os avós, tios e bisavós de Lis e Mel. Tudo era festa.
 
A avó materna das meninas, Odiléia Vieira, não segurou a emoção. “Passa um flashback de tudo o que passou. É a gratidão por tudo o que o hospital fez por elas, pelo carinho de todo mundo. Especialmente hoje, que tem um pouco mais de um mês que foram separadas. Isso é emocionante”, disse.

O anestesiologista Luciano Fares é um dos mais apegados às pacientes (HCB/Divulgação)  

O anestesiologista Luciano Fares é um dos mais apegados às pacientes

 



Gratidão
 
Antes de assoprar as velinhas, uma pausa. Com Lis no colo do pai, Rodrigo Aragão, 30 anos, a mãe das gêmeas, Camilla, segurou Mel e pediu a palavra. Agradeceu a Deus, à família e a toda a equipe do HCB, que “tornou possível terem chegado até aqui para comemorar o aniversário de um ano das meninas”. Feliz e dona de uma serenidade digna de admiração, Camilla disse considerar os profissionais uma extensão de sua própria família. Por um momento, ela foi interrompida por gritinhos de uma sorridente e falante Mel. Foi como se a menina quisesse agradecer também. 
 
Católicos, os pais finalizaram o momento com uma oração. Os convidados deram as mãos, rezaram um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, e depois cantaram os parabéns, para a felicidade das meninas, que sorriram e cantaram junto. “Comemorar um ano com elas separadas era um sonho que eu não sabia se ia se realizar. Então, para mim, é fantástico”, celebrou Camilla. 
 
“A gente está comemorando o nascimento e o renascimento das meninas. Agora, a expectativa é que elas corram, brinquem, quebrem a casa. Esperamos sempre o melhor, que elas tenham saúde e possam sair para a rua, ir ao shopping e brincar”, disse o pai das gêmeas. “O momento é bastante emocionante. Hoje é especial, sabendo que elas estão alçando voos, se recuperando bem e que, daqui a pouco, estarão em casa”, comentou o avô materno, Edilson Neves, 49 anos. 
 
Procedimento
 
Depois de uma gestação arriscada, na qual alguns médicos sugeriram ao casal que abortasse, Camilla diz que em nenhum momento se arrependeu de dar à luz. Mês a mês, a família comemorou a vida das gêmeas com direito a decoração lembrando personagens infantis, como super-heroínas e Mamãe Noel (veja galeria). 
 
Passados 12 meses do nascimento, Lis e Mel estão bem. Venceram a cirurgia e o período da UTI. Agora, estão internadas na enfermaria, onde trocam diariamente os curativos e são estimuladas nas sessões de fisioterapia. 
 
O procedimento de extrema complexidade realizado nas gêmeas foi dividido em 36 etapas, entre as 6h30 de 27 de abril e as 2h30 do dia seguinte. O sucesso foi intensamente comemorado pelos pais das crianças e pela equipe do Hospital da Criança de Brasília. 
 
O procedimento de separação começou a ser planejado desde a gravidez, quando o médico Benício Oton confirmou, por meio de exames, que a operação seria viável. Elas compartilhavam apenas uma pequena parte do cérebro, que poderia ser retirada sem  danos. A expectativa é que elas se desenvolvam  e tenham uma vida independente.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 01 de junho de 2019

FESTAS JUNINAS NA CAPITAL FEDERAL

 

Tem São-João pra todo mundo!
 
 
Com a chegada do mês de junho, as festas juninas invadem de vez a programação cultural do DF. Confira alguns dos festejos programados para o período

 

Adriana Izel

Publicação: 01/06/2019 04:00

Forró do B comanda a primeira edição do Suvaco do João, na Aruc (Webert da Cruz/Divulgação)  

Forró do B comanda a primeira edição do Suvaco do João, na Aruc

 

 
 
Em qualquer canto do Brasil, junho é o mês tradicional das festas e arraiás. Mesmo que a cada ano, os festejos de são-joão comecem cada vez mais cedo, com eventos a partir de maio, e termine cada vez mais tarde, ao longo de agosto, as celebrações dos santos de junho — Antônio (dia 13), João Batista (dia 24) e Pedro (29) — são as mais tradicionais. Por isso, a chegada do mês marca a invasão das festas juninas à agenda da capital federal.
 
Os eventos em igrejas são os mais procurados, a exemplo das festas na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no Lago Sul, hoje e amanhã, a partir das 20h; e na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, na Asa Sul, hoje e amanhã, às 19h. Ambas começaram ontem e seguem até domingo celebrando as tradições juninas, com barraquinhas, comidas típicas, quadrilha e bazar.
 
Nos clubes, as comemorações também são comuns. A Associação Atlética Banco do Brasil, no Setor de Clubes Sul, está entre os locais que também escolheu o primeiro fim de semana de junho para a celebração. Desde ontem, o clube abre as portas para o clima junino. Hoje, a partir das 19h, além das barraquinhas, o evento terá apresentação da dupla sertaneja Roni & Ricardo, além de dança de quadrilhas.
 
Entre as novidades do período junino para este fim de semana está o são-joão do bloco carnavalesco Suvaco da Asa. O grupo havia feito anteriormente uma festa junina fechada, mas agora faz uma celebração aberta ao público. Tendo a Aruc, no Cruzeiro, como cenário, o evento ocorrerá hoje, a partir das 19h, com tudo que festa junina tem direito. “Teremos quadrilha, banda de forró, DJs de Pernambuco. O Suvaco tem a tradição do carnaval pernambucano e lá os blocos têm trabalhos sociais e juninos. Nessa linha, vamos fazer o Suvaco de João mantendo a tradição da cultura nordestina”, explica Pablo Feitosa, um dos integrantes do Suvaco da Asa.
 
Essa será a primeira edição do Suvaco de João, que, a partir de agora, acontecerá sempre no primeiro sábado de junho. “Nossa ideia, assim como no carnaval, é abrir os trabalhos juninos e valorizar a tradição junina de Brasília. Por isso, vamos sempre convidar a quadrilha vencedora do concurso de são-joão de Brasília para ser uma das atrações”, revela Feitosa. O evento terá ainda apresentações dos grupos Forró do B e Trio Calangueado e dos DJs La Ursa e Teozim.
 
Dorgival Dantas retorna ao Arraiá Legis para comemorar a 10ª edição do evento
 (Ayane Melo/Divulgação)  

Dorgival Dantas retorna ao Arraiá Legis para comemorar a 10ª edição do evento

 

 
Muita festa 
 
A programação junina se estende ao longo do mês. Na próxima semana, a cidade volta a receber eventos tradicionais, como o Arraiá Legis, que chega à 10ª edição, em 7 de junho, às 19h, no Clube Ascade. Para celebrar essa marca, o convidado especial é o músico Dorgival Dantas, que foi um sucesso na edição do ano passado. O artista traz a Brasília o show de lançamento do DVD Minha música, minha história. “Como é a 10ª edição, estamos trazendo novamente o Dorgival Dantas e também o Baião de 2, que, coincidentemente, celebra 10 anos de trabalho. Além de duas atrações locais, Miguel Santos e Thiago Nascimento, adianta Luis Claudio, diretor social da Ascade.
 
A outra novidade do Arraiá Legis é a realização de um casamento típico. Momento tradicional nas quadrilhas, a festa contará com a celebração de uma união real em formato de matrimônio junino. “Teremos também um palco alternativo, uma brinquedoteca. Tudo isso sempre com a preocupação de manter as características das festas juninas harmonizadas com forró. Somos uma das poucas festas juninas que se mantêm tradicionais”, garante o diretor social do clube responsável pelo Arraiá Legis.
 
Também na próxima semana é a vez da Festa Junina do Iate Clube. O evento será nos dias 6, 7 e 8, com apresentação do Forró com Site, Henrique & Ruan e Adriana Samartini, cada artista num dia de evento. A nova atração da festa é o Espaço Sub-17, ambiente exclusivo para os jovens com até 17 anos, que terá DJ, pista de dança e outras surpresas. Na próxima sexta-feira, o Clube Nipo chega à 33ª edição junina. O arraiá mistura os atrativos japoneses com os juninos. Para animar a festa, a banda Encosta N’eu se apresenta com o repertório clássico da música nordestina. O evento segue ainda nos dias 8 e 9, dessa vez, começando a partir das 11h.
 
Até o fim do mês, a cidade será palco de outras festas. No dia 18, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e a dupla João Bosco & Vinicius animam a Grande Junina do Funn Festival, no Estacionamento 4 do Parque da Cidade. Nos dias 15 e 16, o Corredor Central do Setor Comercial Sul recebe a festa Formação de Quadrilha No Setor, uma mistura de balada com festejo junino.
 
 
 
Programe-se!
 
Arraiá Águas Claras
• Estacionamento da Faculdade Uniplan (Avenida Pau Brasil). Hoje, às 18h. Com shows de Zé Felipe & Miguel, Trio Cajuína e quadrilha Si Bobiá a Gente Pimba. Amanhã, às 17h. Com Trio Siridó e quadrilha Sabugo de Milho. Ingressos: R$ 1 + Doação de 1kg de alimento não perecível. Classificação indicativa livre.
 
Arraiá Legis
• Ascade (SCES, Tc. 2) Em 7 de junho, às 19h. Com show de Dorgival Dantas, Baião de 2, Miguel Santos e Thiago Nascimento. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada, doadores de 1kg de alimento não perecível). Classificação indicativa livre.
 
Arraiá da Guada
• Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe (311/312 Sul, Lt. A). Hoje e amanhã, a partir das 19h. Com barraquinhas, música ao vivo e brincadeiras para as crianças. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Arraiá do Parque da Cidade
• Parque da Cidade (Estacionamento 12). Em 21 e 22 de junho, às 16h. A festa promete muito forró, apresentações das melhores quadrilhas de Brasília e muitas programações para as crianças. Ingressos: R$ 5 (meia-entrada ou doação de 1kg de alimento). Crianças até 12 anos não pagam. Classificação indicativa livre.
 
Arraiá do Previ
• Clube dos Previdenciários (712/912 Sul). Hoje e amanhã, às 17h. Festa com comidas típicas, brincadeiras, prendas e um lugar reservado para a criançada. Com apresentações de Maísa Arantes Trio, Projeto Forró do B e da Quadrilha Segue fogo. Durante o evento, o clube arrecadará agasalhos para doação. Ingressos: R$ 5 (meia-entrada). Classificação indicativa livre.
 
Festa Junina Apcef
• Clube Apcef (SCEN, Tc. 3). Em 8 de junho, às 19h. Festa com shows das bandas Forró Calangueado e Forró com Site e Quadrilha Rasga o Fole, com a apresentação Lisbela e o Prisioneiro. Ingressos gratuitos para sócios e R$ 10 (não sócios). Classificação indicativa livre.

Festa junina da AABB
• Associação Atlética Banco do Brasil (SCES, Tc. 2). Hoje, às 19h. Festa com apresentações de Roni & Ricardo e quadrilhas. Ingressos: R$ 25 (meia-entrada para não sócios) e gratuito para associados. Classificação livre.
 
27ª Festa junina GEAr Salgado Filho
• Lago Sul (SHIS QI 3 Cj. 3/4). Hoje, às 19h. Festa com apresentação da banda Coco de cuia. Ingressos a R$ 5 (meia). Crianças menores de 12 anos e escoteiros uniformizados têm entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Festa Junina do Iate
• Iate Clube Brasília (SCEN Tc.2) Em 6, 7 e 8 de junho, a partir das 19h. Com shows de Forró com Site, Henrique & Ruan e Adriana Samartini. Ingressos a R$ 35 (meia). Classificação indicativa livre.
 
A Grande Junina — Funn Festival
• Parque da Cidade (Estacionamento 4). Em 14 de junho, às 19h. Festa com shows de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e João Bosco & Vinicius. Ingressos: R$ 80 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 16 anos.
 
33ª Festa Junina do Nipo 2019
• Clube Nipo (SCES, Tc. 1). Em 7 de junho, às 18h. Em 8 e 9 de junho, a partir das 11h. Com comidas típicas e orientais. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Classificação indicativa livre.
 
Festa junina da Paróquia N. Sra. do Rosário
• SHIS QI 26 do Lago Sul. Hoje e amanhã, às 20h. Com Barraquinhas, comidas típicas, quadrilha, bazar e muita animação. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
 
Formação de quadrilha no Setor — Festa junina
• Corredor Central (SCS, Q. 4). Em 15 de junho às 18h. Em 16 de junho às 17h. Festa com música, comidas típicas e diversão junina como os grupos Trio Cajuína e Fulô do Cerrado, além de contar com pop, rock e funk. Ingressos: A partir de R$ 5. Não recomendado para menores de 18 anos.
 
Suvaco de João
• ARUC (SRES — Cruzeiro Velho). Hoje, às 18h. O bloco de carnaval Suvaco da asa promove sua versão junina. Nos moldes das festas juninas pernambucanas, a festa promete homenagear a tradição nordestina, com show de Trio calangueado, Forró do B, DJ La Ursa e DJ Teozim. Ingressos: R$ 15 (meia), R$ 20 (segundo lote — promocional) e R$ 30 (inteira). Classificação indicativa livre.
 
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Correio Braziliense sexta, 31 de maio de 2019

QUADRILHA, FOGUEIRA E MUITA COMIDA

 

Quadrilha, fogueira e muita comida!
 
 
Não faltam delícias com gostinho de arraiá nos estabelecimentos da cidade, que entraram no clima do mês de junho

 

Mariah Aquino*
Renata Rios

Publicação: 31/05/2019 04:00

 
 
Quando o assunto é festa junina, o pensamento sempre acaba no mesmo ponto: a comida. Nesta época, as festas chegam às noites frias, com barraquinhas recheadas de delícias quentinhas do período. Os chefs da cidade não se acomodam e trabalham com receitas típicas.

Entre os ingredientes, muito milho. Isso fica evidente para quem vai ao Biscoitos Mineiros. A casa trabalha no cardápio fixo com diversos preparos característicos do período, como a canjica, o bolo de milho verde e o curau. “Para a época, trabalhamos com algumas outras receitas, que entram no cardápio, como é o caso da maçã do amor e da galinhada”, informa Márcia Regilla, sócia do café.

Outra alternativa que cresce aos olhos são os doces, nos quais o coco ganha um destaque especial. No Fulô di Jirimum, a cocada é feita em diversas versões para o cliente escolher a favorita. “Elas ficam suaves, pois coloco pouco açúcar para valorizar o sabor do coco”, garante Nivalda Neves, chef da casa.

Nos pratos salgados, o arroz é um acerto. A galinhada e o arroz carreteiro são dois clássicos do São João. Na Galeteria Gaúcha, você pode encontrar o tradicional carreteiro. A receita quentinha faz sucesso tanto no restaurante quanto no food truck da marca. “Ele é bem quentinho, ótimo para o frio”, garante Laura Sonda Gregol, sócia da casa. Ela ainda informa: “Esse é um preparo típico do sul do país”.
 
*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader
 
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Correio Braziliense quinta, 30 de maio de 2019

A FESTA SURPRESA DE MARÍLIA MENDONÇA

 

A festa surpresa de Marília Mendonça
 
 
O segredo durou até ontem de manhã, quando a cantora percorreu a Rodoviária do Plano Piloto para entregar panfletos sobre o show gratuito que faria na Torre de TV. Para alegria dos fãs, a festa foi completa, com direito a sucessos e músicas novas

 

» Jéssica Eufrásio

Publicação: 30/05/2019 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
O que começou como um boato se tornou realidade na noite de ontem. Passava das 19h40 quando Marília Mendonça, cantora e compositora sertaneja de maior sucesso na atualidade, subiu ao palco montado a toque de caixa em frente à Torre de TV, para delírio de uma multidão que, desde terça-feira, aguardava a confirmação da apresentação surpresa e gratuita.

A sertaneja desembarcou na capital federal para mais o 13º show do projeto Todos os cantos, que tem rodado o Brasil com apresentações como a de ontem e dão origem a faixas do álbum ao vivo de mesmo nome. Marília já lançou videoclipes gravados nas performances itinerantes. A intenção dela é percorrer as 27 capitais brasileiras (leia abaixo) para gravar um DVD com as 27 músicas do disco.

Marília Mendonça atraiu cerca de 50 mil pessoas ao gramado entre a Torre de TV e a Fonte Luminosa, ontem à noite. A goiana de 23 anos subiu ao palco 40 minutos após o horário do show anunciado repentinamente por meio de suas redes sociais. Acompanhada do cantor paulistano Gaab, ela abriu a apresentação com Intenção, música do CD novo e repetida cinco vezes para gravação. Durante cerca de uma hora e meia, ela cantou outros sucessos, como Ciumeira, Sem sal, Passa mal e Bye bye.
 
Sofrência
 
Mesmo com o show marcado para as 19h, os fãs que ficaram na grade para acompanhar a apresentação de perto começaram a chegar por volta das 13h. Uma dessas pessoas foi a corretora de seguros Gabriella Freitas, 25 anos, que pediu carona ao chefe para conseguir ficar frente a frente com a ídola. “Acompanho a carreira dela desde o início e este é o primeiro show a que assisto. Até cancelei um seguro sem querer porque passei o dia pensando nisso”, contou a moradora de Valparaíso (GO). “Sei tudo sobre ela. Até a cor do esmalte que ela vai usar hoje (ontem)”, completou.

Fã da cantora, o estudante Pedro Carrara, 18, não abriu mão de ir ao show na Torre de TV. Ele terminou um relacionamento de um ano e meio na terça-feira, após descobrir uma traição. “Minha ideia foi vir para chorar até não ter mais lágrima alguma. As músicas dela me ajudam a pensar que é melhor estar sozinho do que mal acompanhado”, desabafou. Marília Mendonça é conhecida como a Rainha da Sofrência, por causa das letras que retratam relacionamentos malsucedidos.
 
Interação
 
Carismática, Marília cativou com o público ao longo do show e disse ter dúvidas de que a área fosse lotar. “Achei que não ia dar certo, mas deu muito certo.” O público respondeu, repetidamente: “Isso é Brasília!”. A goiana conseguiu a façanha de tirar os fãs de casa em uma noite de quarta-feira para entoar, a plenos pulmões, hits do álbum mais recente dela. Acompanhada de uma taça de vinho em alguns momentos da apresentação, ela anunciou: “Um brinde a Brasília!”.

Perto do fim, Marília posou para uma foto com Gaab, segurando a bandeira de Brasília. Antes do registro, ela falou para os fãs gritarem “Sofrência!”. Em seguida, pediu aos técnicos para apagarem os holofotes e, aos fãs, para acenderem as lanternas dos celulares. Na fachada de um dos hotéis ao lado do palco, foi projetada a logo da turnê Todos os cantos.
Em seguida, o público, com as mãos para cima, cantou De quem é a culpa, do segundo álbum da goiana. O show terminou com Bebaça, hit que gravou com a dupla mato-grossense Maiara e Maraisa.


Videografia
Com o Todos os cantos, Marília Mendonça, goiana de Cristianópolis, soma três DVDs (e dois volumes do projeto paralelo em parceria com Maiara e Maraisa, Agora é que são elas).
 
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Correio Braziliense quarta, 29 de maio de 2019

O BRASIL SE DESPEDE DE GABRIEL DINIZ

O Brasil se despede de Gabriel Diniz
 
 
Milhares de pessoas, entre familiares, amigos e fãs, prestam homenagens no adeus ao cantor em João Pessoa

 

Vinícius Veloso*

Publicação: 29/05/2019 04:00

 (Peu Ricardo/Estadão)  
 
 
A última terça-feira de maio foi marcada pelo clima de despedida. Desde as 5h da manhã, amigos e familiares começaram a chegar ao ginásio Ronaldo Cunha Lima, em João Pessoa (PB), para o velório do cantor Gabriel Diniz, que morreu em um acidente aéreo na segunda-feira. O espaço estava aberto para o público, porém o acesso ao caixão era restrito. Em um telão, fotos e imagens do cantor eram transmitidas, a maioria, com um sorriso — marca registrada do artista — ou cercado de amigos e familiares. Mais de 10 mil pessoas estiveram no local.
 
Solícito, Francisco Diniz, pai do cantor, atendeu a imprensa no início da cerimônia e contou, emocionado, sobre as projeções que Gabriel tinha para o futuro. “A maior lembrança que terei dele é a força, era um menino muito forte. O sonho do Gabriel não era nada material, o sonho dele era ser pop star, diferente. Ele queria mais”, explicou. Em janeiro deste ano, por exemplo, Diniz revelou em entrevista ao Correio que tinha muitos planos para 2019, o ano que o projetou para o restante do país com o hit Jenifer.
 
Durante as homenagens, Francisco Diniz chorou e expressou muita tristeza com a morte do filho. Ana Maria Diniz, mãe do cantor, compareceu ao local e precisou ser amparada pela família. “Ela não está conseguindo ficar no velório”, disse o pai. Ele completou dizendo que Ana foi a última pessoa a falar com Gabriel antes do artista entrar na aeronave. “Era o dia dele partir, se não fosse no avião, seria no ônibus, no carro, em qualquer lugar”.
 
Karoline Calheiros, psicóloga e namorada do cantor, que fez aniversário no dia em que Gabriel morreu, esteve presente e permaneceu um longo tempo ao lado do caixão. Durante os discursos de homenagem, agradeceu: “Obrigada por ser o amor da minha vida”.


Uma fila quilométrica se formou na entrada do ginásio onde estava o corpo do artista (Alexandre Carniato/AGIF)  

Uma fila quilométrica se formou na entrada do ginásio onde estava o corpo do artista

 




Presença de músicos
 
Dentre os artistas e amigos, Wesley Safadão marcou presença no local do velório e não segurou as lágrimas. O cantor era parceiro musical e do mesmo estúdio que Gabriel Diniz. Xand Avião, em um ato de carinho e repleto de emoção, beijou o rosto de Gabriel como sinal de despedida. Matheus, da dupla Matheus & Kauan, e Aldair Playboy também compareceram no ginásio para o último adeus.
 
Integrantes da banda que acompanhava o cantor nas apresentações participaram do velório, com orações e união. Todos participaram do último show do cantor, em Feira de Santana (BA).
 
Durante a tarde uma missa foi celebrada por vários padres em homenagem ao cantor, com a participação de fãs, amigos e familiares. Em sequência, no período reservado para discursos, Wesley Safadão se pronunciou. “Gabriel vai fazer muita falta para todos nós. Vai ser sempre lembrado pela sua alegria e tudo o que você fez por nós. Vai deixar uma grande mensagem para nós. Que a gente possa viver nossa vida intensamente, como ele viveu.”
 
Logo após, um caminhão do Corpo de Bombeiros levou o corpo de Gabriel Diniz do velório para o cemitério, com uma salva de palmas dos presentes. O sepultamento foi restrito. Participaram apenas familiares.
 
O piloto Gabriel Abraão Farias e o copiloto Linaldo Xavier Rodrigues, que também morreram no acidente, tiveram os corpos velados em Alagoas. O piloto, em uma igreja em Maceió, e o copiloto em Água Branca, no sertão nordestino. Os dois faziam parte da diretoria do Aeroclube de Alagoas e o sepultamento ocorreu na tarde de ontem.
 
*Estagiário sob supervisão  de Igor Silveira
 
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Correio Braziliense terça, 28 de maio de 2019

MAS UMA CONQUISTA PARA AS GÊMEAS SIAMESAS

 


A HISTóRIA DE LIS E MEL
 
Mais uma conquista para as gêmeas
 
 
Separadas há um mês, as siamesas agora dividem o quarto na enfermaria, depois que Lis também teve alta e deixou a UTI

 

HELLEN LEITE
ISA STACCIARINI

Publicação: 28/05/2019 04:00

Lis com os pais, Camilla e Rodrigo, momentos antes de receber alta e seguir para a enfermaria (Divulgação/Hospital da Criança de Brasília)  

Lis com os pais, Camilla e Rodrigo, momentos antes de receber alta e seguir para a enfermaria

 



 À direita, a chegada ao quarto que vai dividir com a irmã, Mel, foi emocionante: segunda vez que se viram desde a operação (Divulgação/Hospital da Criança de Brasília)  

À direita, a chegada ao quarto que vai dividir com a irmã, Mel, foi emocionante: segunda vez que se viram desde a operação

 



Prestes a completarem 1 ano, as gêmeas siamesas Lis e Mel estão juntas novamente. Lis teve alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Criança de Brasília ontem, exatamente um mês após a cirurgia, e, agora, divide o mesmo quarto com a irmã, que havia sido liberada na terça-feira da semana passada. Elas estão em camas diferentes, mas, lado a lado, se olham e buscam com as mãos uma à outra. Ontem, as meninas brincaram com um jogo de montar e, à tarde, dormiram. Mel já manda beijos estalados para os pais e tomou banho de sol. Agora, a expectativa da família é levar as crianças para casa e conseguir comemorar o aniversário delas, em 1º de junho, de volta ao lar.

Esse é mais um capítulo na vida da família moradora de Ceilândia. Na semana passada, as meninas tinham se reencontrado, mas Lis permaneceu na UTI. Ao se verem pela segunda vez ontem, Mel recebeu a irmã com um beijo na porta da enfermaria. Como forma de agradecimento, Lis sorriu e retribuiu o beijo da gêmea.

Os pais, Camilla Neves, 25 anos, e Rodrigo Aragão, 30, se dividem nos cuidados das filhas. Também acompanham, atentos, os procedimentos e as recomendações feitos pela equipe de saúde. O casal define Lis como mais séria do que a irmã. De personalidade forte, é compenetrada e mais tranquila. Mesmo assim, ao lado de Mel, busca por ela a todo instante.

A mãe, que aguardou por esse momento quase um ano, descreve a sensação de tê-las nos braços novamente juntas, mas, desta vez, não mais unidas pela cabeça. “Está sendo maravilhoso. É uma coisa de outro mundo, uma outra sensação”, ressaltou.

Junto do pai, Camilla levou as filhas para a fisioterapia e, depois, acompanhou o banho de sol. “O pai delas ficou segurando uma e a fisioterapeuta, a outra. Eu fiquei olhando e pensando ‘gente, parece mentira, parece um sonho que elas estão assim’. Eu não acredito que isso está acontecendo. É muito lindo”, frisou.

A servidora do Ministério da Saúde contou como é o convívio das duas: “É muito bonitinho elas brincando, elas se tocando. Uma toca na outra e ri. Aí tem horas que a outra não quer e fica aquela coisa de irmão. Para mim, é maravilhoso, é o que eu tanto esperei. Meu coração explode de felicidade”, acrescentou.


As duas sorriem uma para a outra, trocam carinhos e mantêm hábitos antigos, como trocar as chupetas entre elas (Divulgação/Hospital da Criança de Brasília)  

As duas sorriem uma para a outra, trocam carinhos e mantêm hábitos antigos, como trocar as chupetas entre elas

 




Sonhos para o futuro
Além de sair com as filhas do hospital, o pai das meninas sonha em levá-las ao shopping, passear no Parque da Cidade e andar ao ar livre. “Eu acho que elas vão ser muito próximas. Até as manias que elas tinham já estavam se repetindo no quarto, como tirar a chupeta uma da boca da outra e colocar na boca, tomar o brinquedo da outra, segurar no braço, beliscar”, contou, aos risos.

Supervisor comercial, Rodrigo estava em viagem a trabalho na semana passada. Quando chegou, reencontrou Mel na enfermaria, após ser liberada da UTI. Para ele, vê-las juntas novamente é uma sensação de vitória. “Na hora em que eu entrei no quarto, a Mel já começou a rir e deu o braço para eu pegar no colo. A Lis é mais quietinha, mais séria. Ela estava chorosa, porque tinha acabado de acordar, e não queria muito colo, mas foi muito bom”, ressaltou.

Ainda não há previsão de alta para a família voltar para casa, mas Lis e Mel tiveram uma recuperação considerada surpreendente pela equipe médica. Lis despertou do coma antes do previsto, menos de 48 horas após a cirurgia. Mel está na enfermaria há sete dias. Descrita como “sapeca”, ela faz a alegria de todos.



As gêmeas antes da separação, unidas pelo crânio, formavam um coração; a cirurgia, realizada em 27 de abril, marcou a história da saúde no DF; as duas se encontraram pela primeira vez desde o procedimento na semana passada (Arquivo Pessoal)  
As gêmeas antes da separação, unidas pelo crânio, formavam um coração; a cirurgia, realizada em 27 de abril, marcou a história da saúde no DF; as duas se encontraram pela primeira vez desde o procedimento na semana passada





Para saber mais

Caso raro no mundo 

Mel e Lis nasceram em 1º de junho de 2018 e ficaram unidas pela cabeça por 10 meses. Elas foram o primeiro caso de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no Distrito Federal. Em abril, passaram por um procedimento de alta complexidade, todo feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para poderem se separar. A cirurgia, dividida em 36 etapas, começou às 6h30 do sábado, 27 de abril, e só terminou às 2h30 de domingo, 28 de abril.




"Para mim, é maravilhoso, é o que eu tanto esperei. Meu coração explode de felicidade”
Camilla Vieira, mãe das gêmeas



"Eu acho que elas vão ser muito próximas. Até as manias que elas tinham já estavam se repetindo no quarto”
Rodrigo Aragão, pai
 
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Correio Braziliense segunda, 27 de maio de 2019

ANTÁRTICA - TIO MAX CONTRA DRAKE

 


Correio Braziliense domingo, 26 de maio de 2019

O BRASIL NA ANTÁRTICA

 


ANTÁRTICA
 
O Brasil na última fronteira do planeta
 
Nova Estação Comandante Ferraz será inaugurada em março do próximo ano. A reportagem do Correio visitou a base no continente gelado. Os últimos detalhes, como testes em todos os equipamentos, estão sendo feitos pela equipe de militares da Marinha

 

» José Carlos Vieira 
Enviado especial

Publicação: 26/05/2019 04:00

Almirante Sergio Guida: potencial antártico precisa ser mais explorado (Fotos: José Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Almirante Sergio Guida: potencial antártico precisa ser mais explorado

 



Antártica — Até outubro, ninguém chega e ninguém sai do continente antártico. As temperaturas extremas e os fortes ventos, além de um mar extremamente perigoso, impedem qualquer aventura humana. A convite da Marinha do Brasil, o Correio participou da última missão 2018/2019 na região. O foco da jornada à fronteira gelada brasileira eram as ações finais para a inauguração da nova Estação Comandante Ferraz, em março do ano que vem, como destacou, em entrevista na cidade chilena de Punta Arenas, o contra-almirante Sergio Gago Guida, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm). Agora começa a fase do comissionamento da estação. “Levaremos os equipamentos até o limite. Precisamos que todas as instalações estejam funcionando sempre em uma situação próxima às quais elas foram projetadas. Não podemos ter falhas”.


Rumo ao desconhecido

Não é você que escolhe ir para a Antártica, é a Antártica que escolhe você. Essa frase foi dita, em pelos menos três ocasiões, por militares da Marinha, responsáveis pela missão que levará a reportagem do Correio ao continente gelado. O início da jornada rumo à Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) começa em Punta Arenas, no Chile. A previsão de embarque no avião Hércules C-130, da Força Aérea Brasileira (FAB), é às 6h, se o tempo, sempre instável na região mais austral do planeta, permitir.

Estamos no fim de março, a poucos dias para o término do verão, a temperatura na bela cidade chilena está em torno dos 8º C. Ventos moderados. O céu de um azul-escuro acolhe um frio sol avermelhado, que se põe por volta das 20h. Punta Arenas é hoje uma charmosa atração turística com 150 mil moradores localizada na Patagônia chilena.

O primeiro avistamento da estação  

O primeiro avistamento da estação

 


Agora é meia-noite, faltam algumas horas para o voo. A equipe coordenada pelos comandantes Carla e Felipe (nomes de guerra dos militares da Marinha) avisará qual o horário exato para estar com o grupo base no Hotel Cabo de Hornos. Como dormir numa ansiedade dessas? O jeito é esperar, esperar... À 1h, pelo WhatsApp, a hora do embarque é confirmada: 6h30. Todo o material de viagem precisa ser despachado do hotel às 4h. 

A Antártica é o principal regulador térmico da Terra. A região controla as circulações atmosféricas e oceânicas, influenciando o clima e as condições de vida em todo planeta. As frentes frias, as chuvas que caem em Brasília, por exemplo, têm a ver com sistema antártico. Além disso, a região onde se localiza o Polo Sul guarda uma das maiores reservas de gelo (90%) e água-doce (70%) da nossa Terra. Seus recursos minerais e energéticos são incalculáveis (ouro, petróleo, gás natural), sem falar da biodiversidade, um dos principais focos de atuação dos cientistas brasileiros na região, que buscam substâncias capazes de ajudar na cura de doenças como o câncer, por exemplo.

Responsável pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar), o contra-almirante Sergio Gago Guida, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm), dá como exemplo o interesse da Friocruz pela biodiversidade na região. A instituição está entrando no Proantar agora. “Nós temos uma dependência muito grande de importação de material anticongelante para algumas cirurgias. Existem alguns organismos na Antártica que possuem essa capacidade anticongelante e que podem ser estudados e explorados”.

Bagagem pesada

Punta Arenas, banhada pelo Pacífico, é o derradeiro pedaço de terra ligado ao continente americano. Depois das águas geladas do Estreito de Magalhães, pequenas ilhas são os últimos torrões da América do Sul. Pelo estreito, cruzam navios mercantes que fazem a rota entre os oceanos Pacífico e Atlântico. Mas, desde a construção do Canal do Panamá, no início do século 20, esse trecho vem perdendo protagonismo comercial.

Carregar para o Hotel Cabo de Hornos a bagagem e os equipamentos de sobrevivência (cerca de 12kg), entregues anteriormente pela Marinha, é a primeira grande e pesada tarefa: botas com forro, casaco corta-vento com capuz, jardineira de tecido impermeável, conjunto capa de chuva, macacão Mustang (quase uma roupa de astronauta), luva e óculos corta-vento são alguns dos acessórios oferecidos pelo Proantar para os pesquisadores e os poucos visitantes da estação.

O cais da EACF  

O cais da EACF

 


A viagem começa 

Às 6h45, embarcamos no avião cargueiro Hércules C-130 rumo à base chilena na Antártica Eduardo Frei Montalva. De lá, seguiremos no navio polar Almirante Maxmiano para a estação brasileira. O Hércules parece um grande contêiner voador, passageiros e tripulação se misturam aos equipamentos pesados e mantimentos que serão entregues à EACF, localizado na Ilha do Rei George, na Península de Keller. Os protetores auriculares entregues aos passageiros reduzem pouco o barulho dos potentes motores de 4.590 cavalos.

A aventura começa! Imagens do céu antártico vistas da pequena janela do avião impressionam. O C-130 é uma aeronave de guerra, fabricada pela norte-americana Lockheed, capaz de aterrissar em pistas pequenas ou improvisadas. “Tem capacidade para 20 toneladas de carga. A nossa configuração permite o transporte de 56 passageiros, além da carga da Marinha”, destaca o suboficial Freire, da FAB.

Da cabine do avião, o major Nicolás, comandante do FAB 2467, explica ao Correio os detalhes do trecho aéreo. “Este é o sexto voo do trigésimo sétimo ano da Operação Antártica. Estamos a uma altitude de 6 mil metros, numa velocidade de 520 km/h. Esperamos que os senhores estejam no solo o mais breve possível e em segurança.” Foi mesmo um voo tranquilo, em torno de três horas e meia. Cada passageiro convidado pelo Proantar paga simbolicamente (taxa de embarque) US$ 15 pela viagem.

Os habitantes ilustres (Alan Arrais/NBR/Agência Brasil)  

Os habitantes ilustres

 


22 graus abaixo de zero

Antes de o avião tocar no solo da base chilena, o alerta é dado: todos devem se agasalhar totalmente, a sensação térmica no local beira os -22º C. A porta da aeronave se abre. Entramos num mundo gelado, branco... agora dá para entender quando se fala que a Antártica é o local parecido com a Lua. Simbolismo bem metafísico, mas procede.

Rajadas de vento... neve caindo... demais para um repórter que sempre viveu no Planalto Central do Brasil. Tudo, tudo branco, o horizonte tomado por uma névoa quase azul. Com muito esforço, vê-se, fundeado, o navio polar Almirante Maximiano. E como chegar lá?

Botes salva-vidas começam a sair do navio rumo à praia. Teremos de subir nesses botes para chegarmos à embarcação. Mais uma aventura! Qualquer acidente, uma queda n’água, pode resultar em morte por hipotermia. Bastam apenas três minutos, mesmo agasalhado, para vir a óbito. Mas o trabalho dos marinheiros, extremamente treinados, põe em segurança todos a bordo.

Da base chilena à estação brasileira, a duração é em torno de três horas de navio. Pisaremos em solo brasileiro na Antártica no fim da tarde. Teremos apenas quatro horas para a primeira visita à EACF. Depois, voltaremos de bote ao navio, onde dormiremos, pois os equipamentos e móveis da estação só devem chegar no começo do próximo verão, fim de outubro.

Em terras brasileiras

O Almirante Maxmiano, o Tio Max, chega à Baía do Almirantado. O navio polar, que tem um imponente cumprimento de 93,4m, parece um barquinho de papel, tais as dimensões gigantescas do local em que se encontra a estação brasileira. Devagar, a embarcação se posiciona para que possamos ir à terra. As imagens impressionam! As primeiras sensações são de alegria quase infantil, vontade de ficar rindo à toa, extasiado por presenciar uma região em que poucos humanos tiveram a sorte de estar. O repórter do Correio está.

Na preparação para pegar o bote, é necessário usar o macacão Mustang, que pesa em torno de 4kg, a bota especial, uns 2kg, além da roupa interna. E não é fácil vesti-los. Para um marinheiro de primeira viagem, demora ainda mais. Antes da partida à estação, o comandante do navio e capitão de mar e guerra, Candido Marques, informa que a missão terá o retorno ao continente sul-americano antecipado em dois dias, devido ao mau tempo previsto na passagem do Estreito de Drake. O comandante está preocupado com a segurança do navio e da tripulação.

Teremos só a tarde e o dia seguinte para conhecer e circular pela Estação Antártica Comandante Ferraz. Tudo bem, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, do Apollo 11, passaram um período de 21 horas na Lua.

Os dois botes com as equipes partem para a base. As águas na Baía do Almirantado estão calmas, apenas os ventos cortantes e gelados atrapalham a travessia. À medida que aproximamos, se percebe a dimensão dos dois blocos recém-construídos, onde ficarão cientistas e militares a partir de março do próximo ano — quando a estação será oficialmente inaugurada.


Perigo no mar
Conhecida como a travessia mais perigosa do planeta, a passagem de Drake, estreito de Drake ou mar de Drake liga a América do Sul à Antártica. Com apenas 650 quilômetros de largura, divide os oceanos Atlântico e Pacífico. As correntes que contornam a Antártica e a região aberta tornam o fluxo de água violento com ondas que chegam a 12 metros de altura. Um cemitério de embarcações desde o início das grandes navegações. O nome foi dado em homenagem ao explorador Francis Drake.
 
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Correio Braziliense sábado, 25 de maio de 2019

PRÊMIO PARA JOVEM CIENTISTA BRASLEIRA

 


CIÊNCIA - Prêmio para jovem cientista

 

» BEATRIZ ROSCOE*

Publicação: 25/05/2019 04:00

 
 
A jovem brasileira Juliana Davoglio Estradioto, de 18 anos, ganhou — em primeiro lugar — um prêmio internacional de ciência. Ela desenvolveu um projeto de pesquisa sobre o aproveitamento de resíduos de noz macadâmia para curativos de ferimentos da pele ou para embalagens. A premiação foi na categoria de Ciência dos Materiais, da Intel International Science and Engineering Fair, em Phoenix, Arizona, nos Estados Unidos.

Em homenagem a Juliana, natural de Osório (RS), um asteroide receberá o nome dela.  A jovem ainda ganhou US$ 3 mil. Com ela, concorreram 1.800 estudantes entre 15 e 19 anos de vários países. O projeto da brasileira começou a ser desenvolvido no ensino médio e foi acompanhada pela orientadora, Flávia Twardowsky. Outros 28 jovens brasileiros participaram da feira. O Brasil foi a nação mais premiada da América Latina e a 10ª do mundo. Juliana já faturou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais. “Nós, jovens, não somos o futuro, somos o presente e podemos mudar o mundo”, afirmou.
 
*Estagiária sob supervisão
de Odail Figueiredo
 
>> entrevista Juliana Davoglio Estradioto
 
Como foi o processo de desenvolvimento da pesquisa?
Tive apoio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, usei laboratórios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O material de pesquisa vinha do Instituto Federal do Espírito Santo. Também tive muito apoio da minha orientadora. Com isso, consegui apresentar o projeto em congressos nacionais e internacionais. Minha ida aos Estados Unidos foi custeada pela Feira Nacional de Ciência e Engenharia.
 
O que te levou, tão nova, a se interessar pela pesquisa?
Há um estereótipo de que cientista é tipo o Einstein, um gênio maluco. É muito importante quebrar esse estereótipo, para que os jovens não enxerguem ciência como algo distante. Descobri a ciência no ensino médio e me apaixonei pela pesquisa. Costumo dizer que nós, jovens, não somos o futuro, somos o presente e podemos mudar o mundo. Investir nos jovens é fundamental, e a ciência foi a forma que escolhi para melhorar o mundo.
 
Você quer fazer faculdade fora do Brasil, mas disse que pretende voltar para cá. Por quê?
O Brasil é o meu lugar. Quero incentivar a pesquisa no ensino básico, para que outros estudantes sejam estimulados e possam também transformar suas realidades. É preciso que a ciência, a educação e a pesquisa sejam valorizadas no país.
 
Como você imagina que será sua vida no futuro?
Tenho certeza de que farei três coisas: ciência, divulgação e educação científica. Já tenho uma iniciativa de divulgação científica, voltada para meninas cientistas. O Instagram do projeto é o @meninascientistas. E também pretendo cursar faculdade de química.
 
Em tudo isso que você viveu, o que a marcou?
O intercâmbio cultural expandiu meus horizontes. Ver meninas de burca apresentando projetos científicos foi algo muito bonito. Também tive contato com pessoas incríveis de Porto Rico, Panamá...É muito bonito ver como a América Latina compartilha de muitas coisas.
 
Que dica você deixa para jovens que têm interesse pela ciência?
Não tenham medo de começar, porque pode parecer assustador, mas não é. Acreditem em si mesmos. Busquem apoio de professores e da escola, além de parcerias. Por último, escolham um assunto pelo qual sejam apaixonados e que os inspirem.
 
Qual é a sensação de saber que um asteroide terá seu nome? 
É indescritível. Alguns asteroides têm os nomes de grandes cientistas como Einstein, Marie Curie... Acho que é um belo jeito de incentivar os jovens cientistas a seguirem esse caminho. Não sei que nome colocarei, mas acho que será a junção dos meus dois sobrenomes. Algo como Davoglioestradioto.
 
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Correio Braziliense sexta, 24 de maio de 2019

HOMOFOBIA - STF DEFINE COMO CRIME DE RACISMO

 


STF define homofobia como crime de racismo
 
 
Corte declara omissão do Congresso no enfrentamento da discriminação contra o público LGBTI e forma maioria a favor da criminalização de ofensas a homossexuais e transexuais

 

JORGE VASCONCELLOS

Publicação: 24/05/2019 04:00

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou ontem o julgamento de duas ações que pedem a criminalização da homofobia e suspendeu a sessão após alcançar uma maioria de seis votos a zero favorável ao acolhimento do pleito. O presidente da Corte, Dias Toffoli, anunciou que a análise da questão prosseguirá em 5 de junho. A sessão foi realizada mesmo depois de o Senado, por meio de um ofício, informar ao STF sobre a aprovação, na quarta-feira, de dois projetos relativos ao tema, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Com base no ofício do Senado, Toffoli pediu que o plenário deliberasse sobre adiar ou não o julgamento. A maioria decidiu prosseguir a análise das duas ações, cuja base da argumentação é justamente a omissão do Congresso em legislar sobre o assunto — uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) e um Mandado de Injunção (MI).

Celso de Mello, relator da ADO, condenou a demora do Congresso em aprovar uma lei para criminalizar a homofobia. Segundo ele, a validação dos dois projetos na CCJ do Senado teria ocorrido na “25ª hora”.

“Não obstante respeitável o esforço dispensado pelo Congresso Nacional no sentido de instaurar o debate legislativo em torno da questão da criminalização da homofobia e da transfobia, revela-se inquestionável, no entanto, a ausência conspícua de providências no sentido de superar a situação de inequívoca e irrazoável inércia deliberandi ora constatada no presente caso”, afirmou o ministro.

Alexandre de Moraes também criticou o Congresso e afirmou que, mesmo com as recentes aprovações, não é possível garantir que os projetos serão sancionados ou entrarão em vigor. “Não é líquido e certo, por mais que o esforço tenha sido feito no Senado, que a Câmara aprovará ou não. Ou que a Câmara aprovará exatamente o mesmo projeto aprovado. E não é líquido e certo, até porque isso é uma prerrogativa do presidente da República, que haverá sanção integral”, disse Moraes.

Marco Aurelio Mello, por sua vez, ao defender o adiamento, disse que o momento seria o de respeitar as atribuições tanto do Legislativo quanto do Executivo. “Creio que é um pano de fundo muito sensível. O momento é de deferência para com os demais poderes. Não me refiro apenas ao Legislativo, mas de deferência também para com o Executivo”, frisou.

O advogado criminalista Thiago Turbay, consultado pela reportagem, disse que, embora a homofobia seja extremamente reprovável, não cabe ao STF legislar sobre matéria penal. “A aprovação, na CCJ do Senado, da criminalização da homofobia deve repercutir no Supremo com um efeito de espera, para que o Senado e o Congresso Nacional como um todo decidam sobre a matéria, mas com o comando claro de que a matéria deva ser decidida no tempo mais célere possível”, ressaltou. “Acho que não é tolerável esperar a morosidade legislativa para que a matéria seja normatizada.”

Tanto as ações no STF quanto os projetos no Senado propõem incluir a homofobia na Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que prevê sanções criminais contra o racismo. Na votação na CCJ do Senado, foram incluídos, no texto dessa lei, os termos “intolerância” e “sexo” ao lado de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. Segundo as alterações aprovadas na Lei do Racismo, quem “impedir ou restringir a manifestação razoável de afetividade de qualquer pessoa em local público ou privado aberto ao público, ressalvados os templos religiosos, poderá ser punido com pena de um a três anos de reclusão”.

Votos
Os ministros que votaram contra adiar o julgamento foram Celso de Mello, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso, Rosa Weber, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Ficaram vencidos Marco Aurelio Mello e Dias Toffoli.

A cantora Daniela Mercury e a mulher, Malu Verçosa, acompanharam na primeira fila (foto) a vitória do movimento LGBTI, ontem, na mais alta instância de Justiça do país. O STF decidiu retomar o julgamento mesmo depois de o Senado, por meio de ofício, informar o tribunal sobre a aprovação, na quarta-feira, de dois projetos relativos ao tema. Dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, os seis que já se pronunciaram entenderam que houve omissão do Congresso em legislar sobre o tema e votaram para  que ofensas a homossexuais e a transexuais sejam enquadradas como uma forma de racismo. Apesar de o presidente do Supremo, Dias Toffoli, ter suspendido a sessão e anunciado que será retomada em 5 de junho, já há maioria formada, no plenário da Corte, sobre a criminalização da homofobia. (Fátima Meira/Futura Press)

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Correio Braziliense quinta, 23 de maio de 2019

REFILMAGEM DE ALADDIN: A VOLTA DO GÊNIO

 

A volta do gênio!
 
 
 
Refilmagem de Aladdin traz a magia das mil e uma noites às telonas. Destaque para Will Smith, que sai da lâmpada para ajudar a combater o maligno Jafar

 

Ricardo Daehn

Publicação: 23/05/2019 04:00

O famoso Gênio da Lâmpada, agora interpretado por Will Smith, é uma das atrações de Aladdin (papel do jovem Mena Massoud)
 (Daniel Smith/Disney Enterprises)  

O famoso Gênio da Lâmpada, agora interpretado por Will Smith, é uma das atrações de Aladdin (papel do jovem Mena Massoud)

 

 
Mesmo com uma boa carga de aceitação por parte do público capaz de validar versões live-action para animações famosas, como Alice no País das Maravilhas, Malévola, A Bela e a Fera e Cinderela —, um novo remake entra para o rol dos filmes a serem testados pelos espectadores familiarizados com o sucesso Aladdin, de 1992. É pela conquista do coração e, claro, dos sentimentos mais nobres da princesa de origem árabe Jasmine (a britânica Naomi Scott), que o plebeu protagonista Aladdin (o egípcio Mena Massoud) luta.
 
O astro Will Smith vive o icônico personagem do Gênio da Lâmpada. Na etapa de divulgação do filme, Smith foi visto e clicado à exaustão visitando de surpresa o ídolo do futebol Neymar, em Paris.
 
Coordenando as altas expectativas geradas pela nova adaptação para a tela, o diretor inglês Guy Ritchie, cinquentão famoso por dar nova roupagem para filmes como Destino insólito, Sherlock Holmes e Agente da U.N.C.L.E., responde pelo desafio proposto pela Disney. No remake, Agrabah segue como território em que são encenados dramas e comédias extraídos de enredo descrito na obra As mil e uma noites. Para o novo filme, as locações se concentraram na Inglaterra e na Jordânia.
 
Elementos originais, como o uso de tapete voador, criado em ilusões da computação gráfica, convivem com críticas ácidas de fãs do primeiro filme. Houve reações muito adversas quando apareceram as imagens do gênio vivido por Will Smith. Talvez passe o choque do comparativo (injusto) com a lembrança do talento vocal emprestado pelo comediante Robin Williams (morto em 2014) na animação de 1992.
 
Para atrapalhar o amor entre Jasmine e Aladdin, o feiticeiro do mal Jafar (Marwan Kenzari) segue agindo contra o bem. O holandês Kenzari tem, por sinal, quase se transformado em especialista em refilmagens, dadas as recentes retomadas de Ben-Hur e Assassinato no Expresso do Oriente, nas quais marcou presença.

Uma peça fundamental na trama: a poderosa princesa Jasmine (Naomi Scott)
 (Daniel Smith/Disney Enterprises)  

Uma peça fundamental na trama: a poderosa princesa Jasmine (Naomi Scott)

 



Animais garantidos
 
Cultuados na versão animada, os animais de estimação dos personagens centrais parecem ter sido preservados por Ritchie: figuram nas peças de divulgação do longa o macaco Abu, o tigre Rajah e o papagaio Iago. O quanto de aproveitamento das músicas do filme original, que trouxe peças assinadas por Alan Menken, Howard Ashman e Tim Rice, também aponta para o suspense. Ainda assim, o astro Will Smith se disse intimidado por assumir uma nova roupagem para a conhecida música Prince Ali.
 
Entre novas versões esperadas para Friend like me e A whole new world (vencedora de Oscar, em 1993), uma música inteira foi criada para encampar e fixar as adaptações acopladas à personalidade de Jasmine. Entra nesta cota de esforço o “desafio de ser contemporâneo”, comentado pelo diretor Guy Ritchie para o blogue internacional io9. O feminismo promete despontar ainda mais na cortejada filha de sultão. Vale o reforço de que ela, em muito, se empenha para apregoar a necessidade de trazer liberdade para o povo de Agrabah.
 
Embutir frescor e vitalidade, entre adições no desenvolvimento do roteiro, numa medida equilibrada que valorize ainda o teor de nostalgia, foi dos propósitos abraçados pelo realizador. Numa das jogadas (que reorientam a trama), um príncipe interpretado por Billy Magnussen (Caminhos da floresta) foi incorporado ao filme. Evolução na adaptação é um dos pontos reclamados pelo cineasta que, entretanto, ressalta não ter como dom e vontade de “amargar a diversão familiar” aguardada pelo público da Disney.
 
“Mais do que prezar pela essência, a atenção nos ajustes devem residir na lealdade ao material original”, comentou Ritchie ao blogue io9. Com quase
 
 US$ 2,8 bilhões de lucros nas bilheterias, Avatar segue na liderança como o filme mais assistido, em escala mundial, em todas as épocas; mas, curiosamente, Aladdin segue numa posição interessante no ranking. Está, praticamente, entre os 200 filmes mais vistos de todos os tempos, atrás de outra virtual história de amor impossível: Ghost.
 
 
 
 
 
Crítica A juíza  ****
 
 (Magnolia Pictures/ CNN Films/Divulgação)  
 
Outra estreia é A juíza, longa assinado pela dupla Julie Cohen e Betsy West. Ícone depois dos 80 anos de idade, a notória segunda mulher a integrar a Suprema Corte norte-americana, Ruth Bader Ginsburg, mostra a que veio. Destaque para as declarações que ela faz à mulher que venera — a abolicionista e sufragista, nascida no século 18, Sarah Grimké, famosa por defender a igualdade entre homens e mulheres.
 
O documentário investe a favor da equidade entre minoria e maioria que compõe a sociedade e a visão do tribunal como oportunidade de ensinar. Além disso, faz da discreta e tímida Ruth (conhecida pela sigla RBG) uma figura, na cultura dos EUA, vistosa a ponto de balançar presidentes como Trump, Jimmy Carter e Barack Obama. No lugar de gritos, Ruth se fixa em argumentos sólidos, imprimindo a austeridade reproduzida na ficção Suprema, baseada na vida dela e que recentemente chegou aos cinemas.
 
Com o retrato do trabalho duro, da atenção para com os outros e, sobretudo, pelas vias da educação, RBG ganha, em muito, pela capacidade de autocrítica — a ponto de pedir desculpas públicas, quando de um erro em meio ao processo eleitoral americano. O marido Marty (morto em 2010) ganha um retrato adequado (em relação ao visto em Suprema). Admirável, e com a capacidade de rir de si mesma, e de interagir, na base da camaradagem entre pares, a juíza segue firme, detendo um panorama de indignidades que atingem aquelas e aqueles menos favorecidos. (RD)
 
 
 
 
 
Outras estreias
 
 (Sony Pictures/Divulgação)  
 
Brightburn — Filho das trevas 
• De David Yarovesky. Sinistra criança chega à Terra, vinda de outro mundo.
 
 
 (FOX/Divulgação)  
 
Tolkien
• De Dome Karukoski. Nicholas Hoult interpreta o célebre autor J.R.R. Tolkien, de obras como O hobbit e O senhor dos anéis.
 
 
 (Reprodução/Internet)  
 
Os papéis de Aspern
• De Julien Landais. Homem assume falsa identidade, nesta adaptação de obra escrita por Henry James, a fim de desvendar segredos do poeta Jeffrey Aspern. Destaque para a veterana Vanessa Redgrave no elenco.
 
 
 
A costureira de sonhos
• De Rohena Gera. Em Mumbai, uma viúva pretende galgar a condição de estilista e confronta tradições e seus sentimentos.
 
 (Reprodução/Internet)  
 
Hellboy
• De Neil Marshall. A ressurreição de uma rainha sanguinária coloca em evidência o potencial do raro herói batizado Hellboy.
 
 
 (Guilherme Toste/Divulgação)  
 
Mormaço
• De Marina Meliande. Uma defensora pública, às vésperas das Olimpíadas de 2016, se vê em choque contra o Estado e a favor da manutenção da rotina dos moradores da Vila Autódromo.
 
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Correio Braziliense quarta, 22 de maio de 2019

O REENCONTRO DAS GÊMEAS SIAMESAS

 


A HISTóRIA DE LIS E MEL
 
 
O reencontro das gêmeas
 
 
Mel recebeu alta ontem e ficou frente a frente com a irmã Lis pela primeira vez desde a cirurgia de separação das siamesas, em 27 de abril

 

» DARCIANNE DIOGO*
» HELLEN LEITE
» JÉSSICA EUFRÁSIO
* Estagiária sob supervisão Mariana Niederauer

Publicação: 22/05/2019 04:00

Lis permanece na UTI, mas com boa recuperação: encontro emocionante (Maria Clara Oliveira/HCB)  

Lis permanece na UTI, mas com boa recuperação: encontro emocionante

 


A história de Lis e Mel teve mais um capítulo feliz ontem. Por volta das 11h, ocorreu um dos momentos mais aguardados desde a cirurgia de separação inédita no DF das gêmeas siamesas: as irmãs se viram pela primeira vez desde 27 de abril, frente a frente, não mais ligadas pela cabeça. O momento emocionou a família e as equipes do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).
 
Recuperando-se de forma mais rápida, Mel deixou a unidade de tratamento intensivo (UTI) do HCB. Antes de ir para a enfermaria, no entanto, ela fez uma visita à irmã. Colocadas de frente uma para a outra, as duas se olharam durante um longo tempo e, depois, deram-se as mãos, para a emoção da mãe, Camilla Vieira, 25 anos, e de todos que observavam a cena.

 

"Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo" 

Camilla Vieira, mães das gêmeas, com Mel nos braços

 

“Nós as colocamos sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo”, contou Camilla ao Correio. Até um hábito que as garotinhas tinham quando ainda eram unidas pelo crânio foi retomado: assim que teve chance, Mel tentou tirar a chupeta de Lis.
 
“Para nós, foi maravilhoso e emocionante contemplar o reencontro delas. A sensação era de que elas estavam se perguntando ‘Quem é você?’”, disse o enfermeiro Carlos Eduardo da Silva. Ele ficou responsável por coordenar a equipe de enfermagem durante todo o procedimento de separação. “Se pararmos para pensar que, depois de uma cirurgia complexa como essa, elas estão saudáveis e ativas, ouvindo música e dançando, parece ser coisa de outro mundo”, completou.
 
O enfermeiro explicou que o quadro de recuperação das irmãs está dentro do esperado. Agora, a equipe de saúde acompanha o processo de rotação da pele, que, apesar de tranquilo, envolve cuidados para evitar infecções. Carlos Eduardo ressaltou ainda que o próximo passo será a reparação da estrutura óssea. “A melhora delas é nítida. Ambas movimentam os quatro membros e conseguem sustentar o corpo. Estamos com a sensação de dever cumprido”, disse o enfermeiro, orgulhoso.
 
Surpresas
As irmãs não se viam desde a cirurgia. No encontro de ontem, as meninas ficaram por cerca de cinco minutos juntas, acompanhadas por Camilla e pelo avô paterno, Edilson Neves, 49. Elas sorriram, mandaram beijos, deram tchauzinho e ainda arriscaram palavras como “mamãe” e “neném”. Mel estava agitada, mas mudou quando viu a irmã, assumiu um ar calmo e alegre.
 
A recuperação das duas surpreendeu os funcionários do HCB desde a cirurgia. No dia seguinte à operação, Lis abriu os olhos. Já Mel foi a primeira a ter os antibióticos suspensos e passou a respirar sem aparelhos em 29 de abril. Ontem, deixou a UTI. Mesmo internada na unidade intensiva, Lis apresenta quadro respiratório e neurológico estável. “Estou superfeliz pelo fato de a Mel ter saído da UTI. Falta a Lis, que, se Deus quiser, logo estará na enfermaria também”, disse Camilla.
 
A notícia do reencontro das gêmeas logo se espalhou pelos corredores do hospital. Quem não conteve a emoção foi o neurocirurgião responsável pela operação Benício Oton de Lima. “É difícil explicar o sentimento delas quando foram colocadas juntas. Uma agarrava a outra e brincava. As duas estavam muito felizes. É gratificante ver a recuperação das bebês. A Mel saiu da unidade de terapia intensiva e está ativa, cheia de vontades”, contou o médico, emocionado.
 
O processo de recuperação está sendo vitorioso, afirmou Oton. Segundo ele, a cada 48 horas, cirurgiões plásticos do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) vão até o HCB para trocar os curativos das bebês. Enquanto isso, os pais se revezam. “A família está se alternando para ficar com elas. À medida que melhoram, passam para o colo da mãe ou do pai”, relatou Benício Oton.
 
Preparação
Antes da operação, a equipe do Hospital da Criança passou por uma preparação árdua. Ao longo do processo, ocorreram reuniões, análises de exames, estudos de outros casos e até a construção de um molde tridimensional da cabeça das meninas. Estar forte o suficiente para enfrentar a cirurgia foi necessário para as gêmeas e para todos os envolvidos. O resultado não poderia ter sido melhor. “A primeira fase pós-cirurgia é a mais temida, porque as meninas são muito delicadas e tiveram de enfrentar um tamanho obstáculo, como se alimentar por meio de sonda”, explicou o neurocirurgião.
 
O Correio contou a história das gêmeas siamesas em primeira mão, em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por uma cirurgia inédita na capital federal e a terceira feita no país. As meninas nasceram em 1º de junho do ano passado, no Hospital Materno Infantil (Hmib), e o caso delas foi o primeiro de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no DF.
 
O procedimento de separação demandou mais de 20 horas, além de 50 profissionais diretamente envolvidos. Na equipe, havia servidores do HCB, cirurgiões-plásticos do Hran, além de cinco profissionais do Children’s Hospital at Montefiore, em Nova York, que acompanharam como consultores.



O Correio contou a história das gêmeas com exclusividade em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por cirurgia inédita na capital. O procedimento durou mais de 20 horas e 50 profissionais participaram  
O Correio contou a história das gêmeas com exclusividade em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por cirurgia inédita na capital. O procedimento durou mais de 20 horas e 50 profissionais participaram
 
 
 

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Correio Braziliense terça, 21 de maio de 2019

FEMINICÍDIO: BASTA DE COVARDIA! CHEGA DE MORTES!

 


Basta de covardia! Chega de mortes!
 
 
Professora de 43 anos é a 13ª vítima de feminicídio no Distrito Federal neste ano. Policial civil, que viveu relacionamento de menos de um ano com a servidora pública, a assassinou no local de trabalho e, depois, se matou

 

» ALAN RIOS
» CAROL CINTRA
» JÉSSICA EUFRÁSIO
» SARAH PERES

Publicação: 21/05/2019 04:00

O acusado
Sergio Murilo dos Santos
Tinha 51 anos
Nasceu em Natal (RN)
Era policial civil desde 1996
Trabalhava na 13ª DP 
(Sobradinho) desde julho de 2018
Morava em Sobradinho
Tinha dois filhos, de 20 e 17 anos
A vítima
Debora Tereza Correa
Tinha 43 anos
Nasceu em Brasília
Era professora da Secretaria de Educação desde 2001
Morava na Asa Norte
Não tinha filhos
 

O acusado Sergio Murilo dos Santos Tinha 51 anos Nasceu em Natal (RN) Era policial civil desde 1996 Trabalhava na 13ª DP (Sobradinho) desde julho de 2018 Morava em Sobradinho Tinha dois filhos, de 20 e 17 anos . A vítima Debora Tereza Correa Tinha 43 anos Nasceu em Brasília Era professora da Secretaria de Educação desde 2001 Morava na Asa Norte. Não tinha filhos

 

A sede da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro tornou-se palco do 13º feminicídio registrado na capital federal neste ano. Na manhã de ontem, o policial civil Sergio Murilo dos Santos, 51 anos, entrou com uma pistola calibre 40 no edifício da Secretaria de Educação, na 511 Norte, e disparou três vezes contra a ex-namorada, a professora Debora Tereza Correa, 43. Depois disso, ele se matou. A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) investiga o caso. Ainda não há data prevista para os sepultamentos.

Segundo relatos, Debora Tereza enfrentava problemas com o companheiro desde o início do relacionamento, em 2017. Naquele ano, ela registrou uma ocorrência por injúria, ameaça e dano material contra Sergio na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). Em agosto passado, uma discussão entre o casal terminou na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), onde ele trabalhava.

Na ocasião, os dois estavam em um carro. Debora pediu para descer do veículo, mas Sergio não deixou. Após alguns minutos brigando, a vítima conseguiu sair e pediu para que um casal chamasse a polícia. O homem tirou fotos do policial civil, que se exaltou. Eles se agrediram e foram encaminhados para a delegacia. Ali, os dois homens acabaram autuados por lesão corporal, e a professora pediu medidas protetivas contra Sergio pelas ameaças sofridas.

Apesar de o pedido ter sido deferido pela Justiça, Debora não cortou relações com o agente. Eles permaneceram juntos e, em setembro, quando tiveram uma briga, ela acionou a polícia. Sergio não foi preso, sob a alegação de que a professora permitia o contato entre os dois, e usou como testemunha o porteiro do prédio onde ela morava à época. Segundo relatos de amigos, a vítima acabou o namoro no ano passado, ao descobrir que o policial era casado, e se mudou para a Asa Norte. Ela deixou de atuar em Sobradinho e passou a trabalhar no Plano Piloto.

Uma colega de trabalho que preferiu não se identificar disse que Debora queria terminar o namoro, mas Sergio não aceitava e a perseguiu ao longo de dois anos. “Nesse dia, ela fez ocorrência, passou a ter medida protetiva e se mudou de Sobradinho, onde ambos moravam, para ele não encontrá-la mais”, relatou. Ainda segundo a servidora, os dois nunca viveram juntos e, mesmo após as denúncias, ele continuava atrás dela. “Quando alugou um novo local, ela não colocou nada em nome próprio e mudou de celular, mas ele a rastreou pelo trabalho”, completou.

 
O policial civil chegou ao prédio da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, na 511 Norte, às 9h42: armado e sem revista na entrada
O policial civil chegou ao prédio da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, na 511 Norte, às 9h42: armado e sem revista na entrada
 

O policial civil chegou ao prédio da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, na 511 Norte, às 9h42: armado e sem revista na entrada O policial civil chegou ao prédio da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro, na 511 Norte, às 9h42: armado e sem revista na entrada

 

Pânico
 
Sergio chegou ao local em um carro de transporte por aplicativo e entrou armado no edifício, às 9h42. Aparentando tranquilidade na portaria, ele apresentou a identidade funcional e disse que precisava avaliar o andamento de um processo com entrada na Regional de Ensino de Sobradinho. Passou da recepção sem ser revistado. O policial civil, então, dirigiu-se ao terceiro andar, onde fica a Subsecretaria de Gestão de Pessoas, e pediu para falar com a ex-namorada, funcionária do setor. Não se sabe, ainda, se ambos conversaram, mas, depois de a vítima se virar de costas, ele atirou três vezes contra ela. Em seguida, disparou contra o próprio olho.

A professora da Secretaria de Educação e advogada Lucilene Marques, 44, chegou ao prédio minutos após os tiros, antes da Polícia Militar. “Foi surreal, uma tragédia de cena de filme. Ele se apresentou como se fosse resolver um processo administrativo. E, quando viu a Debora, sorriu para ela. Mas, depois, deu os tiros”, contou a servidora, a partir de relatos de colegas.

A servidora da Secretaria de Educação Isabel Helena Rabelo, 47, estava em uma das salas de fundo do prédio quando ouviu um barulho. A princípio, pensou que alguns armários tivessem caído. “O ruído foi muito forte. Não deu para identificar o tiro. De repente, todo mundo saiu gritando. Foi quando soubemos que um homem tinha atirado contra uma servidora. Foi um momento desesperador e de pânico”, relatou.

A Polícia Civil ainda apura os detalhes do caso. “É um fato lamentável. Estamos tomando todas as providências para falar com as testemunhas e saber as causas e os porquês de algo tão trágico. A Corregedoria-Geral da Polícia também está investigando”, ressaltou o delegado Laércio Rossetto, da 2ª DP. Em novembro, Sergio foi condenado pela Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Sobradinho por crime de violação à Lei Maria da Penha. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público, em defesa de Debora, mas o réu recorreu e, em março, foi absolvido em segunda instância.

Em nota, a Secretaria de Educação lamentou a morte da servidora. “Neste momento de dor, a SEE/DF (Secretaria de Educação) se solidariza com a família, os amigos e os colegas da servidora. A pasta está à disposição para contribuir na investigação do caso.” O secretário de Educação, Rafael Parente, não estava no local no momento do crime e cancelou a agenda do dia para seguir até a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro. “Está todo mundo muito triste e em choque tentando saber o que fazer para que isso não aconteça mais dentro das regionais, dentro das escolas. A gente não pode viver com medo e estado constante de que alguma coisa vai acontecer”, disse Rafael.


Empenho coletivo
 
O governador Ibaneis Rocha (MDB) lamentou o caso e anunciou que o  governo investirá em campanhas para combater o feminicídio. Segundo o chefe do Executivo local, para isso, será necessário que toda a sociedade contribua. A proposta do GDF, segundo ele, é investir em campanhas publicitárias para que familiares e vizinhos denunciem a violência e para que os índices desse crime diminuam. “Temos de ter atuação mais forte. Também precisamos do Poder Judiciário mais presente. As mulheres não devem, de maneira nenhuma, se calar”, destacou.
 
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Correio Braziliense segunda, 20 de maio de 2019

VIDA AO AR LIVRE

 


A céu aberto
 
 
Espaços públicos utilizados para a prática de atividade física ao ar livre são uma ótima oportunidade para aproveitar a cidade, confraternizar e cuidar da saúde

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 20/05/2019 04:00

Grupo se reúne três vezes na semana para fazer ginástica no Parque Olhos d%u2019Água
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Grupo se reúne três vezes na semana para fazer ginástica no Parque Olhos D´Água

 

 
Vilma acorda cedo toda manhã e vai caminhando até um dos PECs do Cruzeiro para fazer atividade física (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Vilma acorda cedo toda manhã e vai caminhando até um dos PECs do Cruzeiro para fazer atividade física

 

 
O personal trainer André dá aulas para a aposentada Inah ao ar livre, no PEC da Asa Sul (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O personal trainer André dá aulas para a aposentada Inah ao ar livre, no PEC da Asa Sul

 

 
Maria não troca a atividade em locais abertos pelos aparelhos das academias (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Maria não troca a atividade em locais abertos pelos aparelhos das academias

 

 
Antônio percorre 6km de bicicleta e ainda participa das aulas de ginástica no parque (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Antônio percorre 6km de bicicleta e ainda participa das aulas de ginástica no parque

 

 
 
Colocar o corpo em movimento é fundamental para a saúde e o brasiliense está consciente disso. Basta dar algumas voltas pela cidade para avistar alguém fazendo caminhada, outros andando de bicicleta, alguns se exercitando nos Pontos de Encontro Comunitário (PECs) ou até mesmo grupos reunidos na prática da ginástica. Tudo ali, ao ar livre, sob o belo céu de Brasília.
 
É com brisa no rosto, óculos de sol e um casaco, caso as temperaturas caiam, que a aposentada Vilma da Luz Vieira, 77 anos, segue fiel à atividade física. Todo dia, por volta das 8h, ela caminha até um dos pontos comunitários no Cruzeiro para fazer exercícios. “Eu uso todos os aparelhos aqui. Eles ajudam muito no equilíbrio e na diminuição das dores da idade”, comenta.
 
Os PECs se tornaram um refúgio para quem não gosta do ambiente fechado das academias. Os aparelhos podem ser encontrados em diversos pontos da cidade. Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), há 672 PECs instalados em todo o DF. Grande parte deles está próxima a praças e quadras de esporte.
 
A administradora Carla Rafael Chaves, 30, frequenta um instalado na Asa Norte. “Eu gosto daqui porque é um espaço aberto. A gente se exercita olhando para a natureza. Geralmente, a academia é fechada, tem um odor de suor. Aqui não, o ar é puro”, diz. Mãe de duas crianças, ela conta que aproveita o espaço perto de casa para não se tornar sedentária.
 
Dados apontam que Brasília é uma das cidades onde os moradores mais praticam atividades físicas no país. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2017, mostrou que 53,8% dos adultos da capital praticam pelo menos 150 minutos de exercício por semana. Para o presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), Eloir Simm, não só a capital, mas todas as unidades da Federação são ricas em espaços livres para atividades. “Indicamos, sempre que possível, que as pessoas façam atividades próximo à natureza, em parques e praças. Em Brasília, há muitos espaços arborizados de fácil acesso à população. É ótimo poder aproveitá-los”, afirma.
 
A aposentada Maria Perpétuo Socorro Ferreira, 89, é um exemplo disso. Se dependesse apenas de academias, seria mais um número nas estatísticas de sedentarismo. A brisa da manhã e o barulho das folhas das árvores em movimento na Quadra 113 da Asa Norte são um incentivo a mais para garantir o pique. “É muito bom. Eu não gosto daqueles aparelhos automáticos, acho rápidos e fico com medo. Aqui, eu vou no meu ritmo”, justifica.
 
E se engana quem pensa que nas ruas não há personal trainer. A aposenta Inah Fontes, 84, também levou o professor André Vieira, 29, para a rua. “A gente decidiu fazer algo diferente. Aqui é ótimo, é bem arborizado. São aparelhos leves, sem carga, por isso o risco de lesão são bem baixos”, analisa o profissional sobre o PEC na Asa Sul. “É um bom lugar para os idosos, principalmente para quem não pode pagar a academia”, complementa Inah.
 
Eloir Simm, da ABQV, alerta que é sempre importante ter um profissional de educação física ao lado na hora de fazer exercícios. Ele entende, porém, que nem sempre é possível e afirma que a maioria dos aparelhos públicos são simples de utilizar, além de ser fácil encontrar conteúdos na internet que ensinam, de forma correta.
Socialização
 
Em alguns locais, é comum encontrar pessoas com fones de ouvido, concentradas em seus exercícios, mas esse não é o caso das aposentadas Maria das Dores Rodrigues, 70, e Maria Aparecida Lima, 69. As duas se conheceram no projeto Ginástica nas Quadras e se reúnem três vezes na semana com cerca de 20 pessoas para fazer atividade física no Parque Olhos d’Água. De acordo com elas, fazer atividade física ao ar livre é muito mais motivador. “Eu já tentei fazer academia e desisti. Aqui, você respira ar puro”, comenta Maria Aparecida.
 
O Ginástica nas Quadras é um projeto da Secretaria de Educação que oferece atividades físicas gratuitas em diversos locais público do DF. Professores de educação física da rede pública promovem aulas de ginástica,localizada, alongamento, entre outras modalidades. A iniciativa está presente em pelo menos 12 cidades do Distrito Federal, em escolas ou em locais a céu aberto.
 
A professora Tânia Reis faz parte do projeto desde 1998 e, há cerca de 14 anos, promove a atividade no parque. “Dei aula em academia por muitos anos, mas é um prazer poder trabalhar ao ar livre, respirar ar puro e estar em contato com o verde”, ressalta. Tânia acrescenta que a atividade vai além dos exercícios e o grupo já se tornou uma comunidade. Ela frisa que eles combinam diversos programas, como idas ao cinema e a clubes. Atualmente, o grupo planeja uma viagem para Pirenópolis (GO).
Qualidade de vida
 
Antônio Macedo, 74, também não dispensa o ar fresco e a atividade à luz do sol. O aposentado ama andar de bicicleta e, pelo menos três vezes na semana, percorre cerca de seis quilômetros pela cidade. Porém, a atividade não se resume às pedaladas. Ele menciona que o caminho é apenas um aquecimento para a aula de ginástica de que ele participa no Parque Olhos d’Água. “Eu venho de bicicleta da 308 e volto. Esse é o meu aquecimento. Chego, tiro o capacete e vou para a ginástica”, relata. Seu Antônio mantém a rotina de exercício há seis anos. “Eu tenho perseverado, e a consequência é a saúde”, enfatiza.
 
"Indicamos, sempre que possível, que as pessoas façam atividades próximo à natureza, em parques e praças. Em Brasília, há muitos espaços arborizados de fácil acesso à população. 
É ótimo poder aproveitá-los"
Eloir Simm, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida
 
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Correio Braziliense domingo, 19 de maio de 2019

TECNOLOGIA: SECRETÁRIA A UM CLIQUE DE DISTÂNCIA

 


TECNOLOGIA
 
 
Secretária a um clique de distância
 
 
A revolução digital também chegou a essa carreira. Há profissionais de secretariado que atendem clientes remotamente. Conheça as vantagens e as desvantagens da modalidade

 

Eduarda Esposito *

Publicação: 19/05/2019 04:00

 

 

"Executo serviços virtuais nas áreas administrativa, financeira, comercial, pessoal... Eventualmente, há algum trabalho de forma presencial. Atuo com plano de trabalho pontual, por pacote com várias atividades, conforme a demanda e prazo definido e negociado com o cliente" Ana Cartaxo Bandeira de Melo, economista aposentada e secretária remota

 

 

Atender telefonemas, agendar encontros e reuniões, administrar e-mails, compra de passagens... Essas são típicas tarefas que fazem parte da rotina de uma secretária ou assistente. A imagem que se tem desse tipo de profissional é a de alguém que fica presencialmente na empresa, em geral, atendendo a um patrão exclusivo. No entanto, a tecnologia tem modernizado o ramo, o que abre possibilidades para o trabalho a distância, atendendo a vários clientes dos mais diferentes lugares. Isso mesmo! É possível que um trabalhador de secretariado desempenhe atividades da própria casa ou de um escritório central. A secretária virtual, remota ou compartilhada é realidade em muitas empresas do país, inclusive na capital federal. As principais atividades desenvolvidas são nas áreas administrativa, financeira e comercial. Há autônomos do setor que cobram por hora.

Para Luciano Maia, diretor da regional Centro-Oeste da Consultoria Lee Hecht Harrison (LHH), essa é uma tendência natural. Ele explica que o serviço remoto teve início nos anos 1960, nos Estados Unidos, chegando ao Brasil na década de 1980, com os famosos deliveries de comida, serviço de entrega em casa. “Os primeiros trabalhos do tipo se ampliaram e, com a consolidação da internet, na virada do século 21, o mundo digital permitiu a multiplicação das atividades a distância. Então, eu diria que a secretária virtual é uma evolução de um fenômeno que vinha acontecendo”, afirma. Para muitos trabalhadores do setor, essa foi uma oportunidade encontrada para atuar de forma autônoma ou abrir o próprio negócio.

 

"Os primeiros trabalhos remotos se ampliaram e, com a consolidação da internet, na virada do século 21, o mundo digital permitiu a multiplicação das atividades a distância. Então, eu diria que a secretária virtual é uma evolução de um fenômeno que vinha acontecendo" Luciano Maia, diretor da regional da consultoria LHH

 


Essa foi a opção de Ana Cartaxo Bandeira de Melo, 65 anos, que viu, na tecnologia, um atalho para usar o secretariado a fim de aumentar a renda de maneira flexível. Aposentada desde 2016, Ana pesquisou atividades que pudessem lhe proporcionar trabalhar de casa. Foi assim que ela conheceu a carreira de secretária remota. Ela resolveu atuar na área, formalizando-se como microempreendedora individual (MEI). Foi assim que a economista formada pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), com 30 anos de experiência na área financeira trabalhando para o Governo Federal, iniciativa privada e ONGs, encontrou uma nova carreira após a aposentadoria.

“Executo serviços virtuais nas áreas administrativa, financeira, comercial, pessoal... Eventualmente, há algum trabalho de forma presencial. Atuo com plano de trabalho pontual, por pacote com várias atividades, conforme a demanda e prazo definido e negociado com o cliente”, conta. O público é formado, principalmente, por pequenas e médias empresas, profissionais liberais e pessoas físicas. Apesar de já haver adesão, há barreiras. “Em Brasília, esse serviço ainda é muito incipiente. A maior dificuldade que encontro é na prospecção de cliente. Assim, é complicado manter uma renda estável. Há ainda falta de conhecimento e até mesmo desconfiança do mercado local com relação a essa modalidade de prestação de serviço”, diz.
 

"Já tinha trabalhado como secretária, mas queria liberdade para empreender, e o trabalho remoto permitiu isso%u201D Nayara da Silva Miranda, graduada em secretariado executivo

 


Perfil apropriado

 

Por esses e outros obstáculos, Luciano Maia alerta que nem todos têm aptidão para trabalhar com secretariado remoto. “O profissional tem que fazer uma crítica baseada no autoconhecimento e concluir se tem perfil de trabalhar de casa ou de estar inserido em um escritório”, comenta. “Quem quer trabalhar remotamente tem que ter muita disciplina porque, se não tiver, não saberá separar o que é tempo de trabalho e tempo de lazer”, observa. Nayara da Silva Miranda, 29, formada em secretariado executivo, conheceu o ramo pela internet e se interessou pela possibilidade de empreender. “Já tinha trabalhado como secretária, mas queria liberdade para empreender, e o trabalho remoto permitiu isso”, conta. Para conseguir levar a profissão adiante, Nayara sentiu a necessidade de se tornar mais organizada.

“O meu cotidiano exige organização e atenção, pois preciso rever e checar as demandas, diariamente. Estabeleci horários específicos para não me perder nem prejudicar o funcionamento da minha empresa”, explica. “Os benefícios de trabalhar na área estão em prestar os serviços e conhecer outras empresas e pessoas, trabalhar em todos os lugares, seja em casa, seja em um coworking”, elenca. “Dependendo das demandas dos clientes, você pode trabalhar em um determinado horário e, durante o dia, fazer alguma atividade que não poderia ser feita caso estivesse contratado em um local fixo.” Com relação a desvantagens, ela concorda com Ana Cartaxo: o obstáculo é demonstrar e convencer o público de que o secretariado remoto pode ser benéfico para todos. Porém Nayara permanece otimista. “O trabalho remoto está atingindo vários segmentos no mercado, e era apenas uma questão de tempo até a secretária também fazer parte desse movimento”, afirma.

 

"Descobri, por meio de pesquisas e grupos, que o home office é uma das formas de trabalhar que proporciona benefícios como flexibilidade, a possibilidade de ser autônomo, atender a vários clientes, entre outros.%u201D Helda Alves Brito, estudante de secretariado executivo

 


Qualidade de vida
Foi para priorizar a família que Roberta Reis Soares, 39, se tornou uma secretária virtual. Tudo começou no antigo emprego com uma dica do ex-chefe. “Ele propôs que eu trabalhasse virtualmente”, explica. Formada em contabilidade, ela trabalhou por oito anos na área, mas, agora, prefere as vantagens do secretariado remoto. “Eu tenho mais contato com meus filhos e a família, ganhei qualidade de vida”, afirma. No entanto, trabalhar em casa exige pulso firme.

“Disciplina é a palavra-chave para levar tudo adiante. Se você não acordar com meta diária, não consegue progredir. As pessoas acham que trabalhar em casa é uma forma de burlar o serviço. Pelo contrário, nossa responsabilidade é maior ainda para conciliar as tarefas do lar e do emprego”, enfatiza Roberta. A secretária explica como funciona o trabalho remotamente. “É o mesmo como se estivesse dentro do escritório, o ambiente é que muda. Todos os documentos são compartilhados, tenho uma estrutura pequena que estou adequando com o tempo. Nem sempre trabalho em casa, às vezes, vou para algum coworking”, conta. 

Estudando a área

 

A estudante do quinto semestre de secretariado executivo bilíngue no Centro Universitário Projeção (UniProjeção) Helda, 39, ainda não trabalha na área, mas afirma que está de olho na nova vertente da profissão. “Faço cursos de capacitação nessa área por saber que tem se tornado uma realidade crescente no mercado de trabalho, não só no secretariado, mas em outras profissões também”, comenta. “Descobri, por meio de pesquisas e grupos, que o home office é uma das formas de trabalhar que proporciona benefícios como flexibilidade, a possibilidade de ser autônomo, atender a vários clientes, entre outros.”



*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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Correio Braziliense sábado, 18 de maio de 2019

BALÉ TAMBÉM É COISA DE ADULTO

 


Balé também é coisa de adulto
 
 
Dança clássica tem atraído homens e mulheres que driblam preconceito e limite físico para se arriscar em pliés e rodopios

 

» Melissa Duarte*

Publicação: 18/05/2019 04:00

 (Raphoto/Divulgação)  
 
Sonhos não morrem com a infância. O desejo de criança pode ser a realização da vida adulta. Com a dança clássica não é diferente. O balé tem atraído novos adeptos. Foi assim com a bailarina Letícia Ribeiro, de 25 anos, que começou a dançar aos 18. “Era um sonho, mas eu não tinha condição financeira quando criança”, relata. A paixão era tanta que ela fez da arte profissão. “É muito bom porque você realiza o sonhos de outras pessoas”, relata a instrutora de balé.
 
Já a aluna de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Ana Paula Santos, 20, não gostava de balé quando criança. A jovem viu a relação dela com essa dança se transformar 13 anos depois, quando se apaixonou pela modalidade. “Quando a gente é adulto, entende que a repetição (dos exercícios e dos passos de balé) é importante”, reflete a estudante.
 
“O balé é um desafio diário”, conta Ana Paula, que, antes dele, fez oito anos de dança do ventre e quatro de street dance. A vontade de se aprimorar foi o que a motivou. “Eu percebi que o balé é a base para as outras danças e me faz ter mais consciência corporal, de cada nervo, cada músculo do meu corpo se movendo”, resume.
 
A professora de balé Adriana Palowa concorda que a procura de adultos por essa modalidade tem crescido tanto nos últimos anos no Distrito Federal que “quase todas as escolas (de balé) no DF oferecem hoje em dia”. “Muitas pessoas que não tiveram oportunidade quando criança agora estão se permitindo”, explica a instrutora, que dá aulas há 32 anos.
 
Foi assim com Letícia e é com Rafael Benjamin, 23 anos. O doutorando em química da UnB adiou a estreia nos rodopios e pliés por causa do preconceito. “Eu tinha esse sonho (de fazer balé) desde criança, mas era uma dança considerada muito feminina. Acho que por isso meus pais não deixaram”, conta. Para ele, o preconceito não estava no tablado, mas em como os bailarinos eram vistos.

Aos 50 anos, a psicóloga Marta Gonçalves voltou a dançar há um ano e meio ( Arquivo Pessoal)  

Aos 50 anos, a psicóloga Marta Gonçalves voltou a dançar há um ano e meio

 



Não ao preconceito
 
Para os homens, a chegada da vida adulta pode dar a segurança necessária para driblar o preconceito — inclusive, segundo Murilo Campos, são eles quem mais procuram a atividade depois de adultos. “A gente (homens) não tem essa cultura de entrar para a escola de balé quando é criança, diferente das meninas”, relata o bailarino Murilo, 32 anos. Criado em Sousa — cidade no interior da Paraíba, a 438 quilômetros da capital João Pessoa —, o dançarino conta que nunca teve acesso ao teatro e à dança quando era criança.
 
Campos veio para Brasília, onde se formou em jornalismo em 2009. Porém, nunca se viu atuando na profissão. Foi então que ele resolveu buscar novos caminhos e começou as aulas de balé no ano seguinte. “A dança falou mais alto. Fui me alimentando de arte e acabei me apaixonando”, derrete-se. E o que era válvula de escape acabou se tornando profissão.
 
Hoje em dia, Murilo dá aulas de balé e de jazz em escolas do Distrito Federal e participa de projetos de dança, como o Dançando Athos (2019) e o Balé da Cidade de Brasília (2018). “Meu sonho é entrar numa companhia profissional. Dar aulas é meu ganha-pão, mas dançar profissionalmente é diferente”, almeja o professor, que dança desde os 24 anos.
 
A vontade de ir além, corrigir os erros e ganhar disposição também motiva Rafael Benjamin. “Apesar de ser uma dança muito bonita, com muita leveza, te dá muita consciência corporal”, afirma o estudante de doutorado. O químico destaca que não ter praticado balé na infância influencia no desempenho, mas não afeta o prazer em dançar. “A dança exige muita flexibilidade, muitos movimentos”, comenta. Ele ressalta que ter começado mais cedo ajudaria a superar as dificuldades, comenta.

 ( Arquivo Pessoal)  


Nunca é tarde
 
Não existe idade para dançar — ou para voltar aos palcos. A psicóloga Marta Gonçalves, 50, fez balé até os 13 e voltou a praticar há um ano e meio. “O balé sempre foi minha paixão e continua forte em mim”, revela. Mas, hoje em dia, as aulas têm sabor especial: a filha passou a ser companheira de sapatilhas. “É uma oportunidade de resgatar esse momento com ela. A gente está desfrutando desse prazer juntas”, orgulha-se.
 
É a mesma relação que a empresária Daniele Araújo, 37, tem com esse tipo de dança. O que começou como a retomada de uma atividade da infância e um incentivo para a filha só lhe trouxe benefícios. “Acho que só me proporciona coisas boas. Eu consigo me relacionar bem com as outras meninas da turma, mais novas do que eu”, analisa.
 
“Quando a gente volta, vê que é possível. É importante quebrar esse preconceito (em relação à idade)”, defende Marta. “A maioria das pessoas se acha velha e não é assim. Não precisa começar quando criança para ser bailarina profissional”, concorda Letícia.
 
Dar aulas para crianças e para adultos é diferente. Existem cuidados específicos, mas esse tipo de exercício continua aberto às mais diversas faixas etárias. “Todo o trabalho é muito meticuloso e cuidadoso. Cada adulto tem seu histórico, e você tem que respeitar os limites físicos, o biotipo...”, destaca Adriana. Atualmente, a instrutora faz parte de um projeto que dá aulas de balé para cerca de 130 alunos —  todos adultos.
 
A professora Maria Imaculada da Conceição, 59, sempre gostou de praticar atividades físicas. Quando adolescente, dançava jazz. Como docente de educação física, sempre esteve ligada à área. Porém, foi no início deste ano que ela viu na aposentadoria a chance de experimentar o balé. “Eu aposentei e falei: ‘quer saber? Eu vou fazer’”, diverte-se. “Eu fico mais leve, mais alto-astral...”, afirma, contente.
 
*Estagiária sob supervisão de Vinicius Nader
 
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Correio Braziliense sexta, 17 de maio de 2019

LENY ANDRADE E ZÉ LUIZ MAZZIOTTI: AMIZADE MUSICAL

 

Amizade musical

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 17/05/2019 04:00

 
Leny Andrade e Zé Luiz Mazziotti celebram amizade no palco do Clube da Bossa (Marcelo Castello Branco/Divulgação)  

Leny Andrade e Zé Luiz Mazziotti celebram amizade no palco do Clube da Bossa

 

 
O encontro de dois grandes intérpretes da música popular brasileira —  a cantora Leny Andrade e o cantor Zé Luiz Mazziotti — marca o início das atividades do Clube da Bossa em 2019. No show eles vão passear por repertório variado, em que há predominância de clássicos da bossa nova.
 
Leny e Mazziotti são amigos de longa data e, em algumas vezes, estiveram juntos no palco e em estúdios de gravação. O cantor paulista esteve no Clube da Bossa em algumas oportunidades, enquanto a cantora carioca faz sua estreia na instituição brasiliense. “Vamos estar lado a lado em cena durante todo o show, até porque eu é que vou acompanhá-la ao violão. Juntos, faremos um pequeno medley, com as canções Acontece e Alvorada, do Cartola”, anuncia Mazziotti.
 
Prevalecem, porém, números solo, com os dois passeando por repertório que inclui Rio (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Influência do jazz (Carlos Lyra), Pra dizer adeus (Edu Lobo e Torquato Neto), Eu e a brisa (Johnny Alf), Rugas (Nelson Cavaquinho) e Lugar comum (Donato e Gilberto Gil), entre outras.
 
SERVIÇO
Leny Andrade e Zé Luiz Mazziotti
Teatro Sílvio Barbato do Sesc (Setor Comercial Sul). Amanhã, às 11h30. Entrada franca. Retirada dos ingressos uma hora antes. Classificação indicativa livre.


Correio Braziliense quarta, 15 de maio de 2019

IRMÃ DULCE: ANJO BOM DA BAHIA VIRA SANTA

 

Anjo Bom da Bahia vira santa
 
 
Papa Francisco reconhece o segundo milagre de Irmã Dulce, pré-requisito para a canonização. O Vaticano não divulgou quem recebeu a graça de dormir cega e acordar enxergando. A baiana é considerada uma das mais influentes ativistas humanitárias do século 20

 

» Claudia Dianni

Publicação: 15/05/2019 04:00

Irmã Dulce dedicou a vida aos mais pobres. Aos 13 anos, começou a ajudar mendigos e enfermos pelas ruas da cidade natal (ABr/Divulgação - 23/5/11)  

Irmã Dulce dedicou a vida aos mais pobres. Aos 13 anos, começou a ajudar mendigos e enfermos pelas ruas da cidade natal

 



“Miséria é a falta de amor entre os homens”. Essa é uma das frases de Irmã Dulce, a freira que dedicou a vida ao trabalho social nas ruas de Salvador e será proclamada a primeira santa nascida no Brasil e será chamada de Santa Dulce dos Pobres. Um decreto assinado ontem pelo papa Francisco reconhece o segundo milagre atribuído à religiosa, um pré-requisito para que o Vaticano proclame um santo ou santa.

O segundo milagre que foi reconhecido se refere a uma pessoa que dormiu cega e acordou enxergando. Ainda não foi divulgado, porém, quando e quem foi a pessoa que recebeu a graça. O primeiro milagre foi reconhecido em dezembro de 2010, que se referia ao caso de uma mulher, em Sergipe, que havia sido desenganada pelos médicos após sofrer uma hemorragia durante o parto, mas a hemorragia parou, de repente, depois da intervenção da religiosa.

A informação sobre o reconhecimento do segundo milagre foi divulgada pelo canal oficial de comunicação do Vaticano. Dos cinco santos considerados brasileiros, apenas o paulista Frei Galvão nasceu no país. Irmã Paulina, canonizada em 2002, foi a primeira santa brasileira, mas nasceu na Itália.  De acordo com o site do Vaticano, a canonização será feita em uma “solene celebração”, em data que ainda não foi divulgada.

Irmã Dulce nasceu em Salvador, em 1914, e foi batizada como Maria Rita Lopes de Sousa Brito. Ela ficou conhecida como “Anjo Bom da Bahia” por prestar assistência à comunidade nas favelas e bairros alagados. Ela fundou a União Operária São Francisco, considerado o primeiro movimento cristão operário de Salvador, o Círculo Operário da Bahia, que proporcionava atividades culturais e recreativas, e uma escola de ofícios.

A obra mais conhecida de Irmã Dulce, porém, é a Associação Obras Assistenciais Irmã Dulce (OSID) que ela fundou em 1959, antes de peregrinar por mais de 10 anos em busca de um local para abrigar pobres e doentes que ela recolhia nas ruas de Salvador. De acordo com o OSID, as raízes da associação datam de 1949, quando Irmã Dulce, sem ter para onde ir com 70 doentes, pediu autorização a sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio. “O episódio fez surgir a tradição de que o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro”, diz o site da associação. Atualmente, a entidade filantrópica abriga um dos maiores complexos de saúde, com cerca de 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Irmã Dulce é considerada uma das mais influentes e notórias ativistas humanitárias do século 20. Suas obras de caridade são referência nacional e foram reconhecidas pelo mundo. Em 1988, o então presidente José Sarney indicou seu nome para o Prêmio Nobel da Paz, mas ela não ficou com o título. Em 2011, ela foi beatificada pelo enviado especial do papa Bento XVI, dom Geraldo Majella Agnello. A beatificação é o último passo antes da canonização.

Aos 13 anos, Irmã Dulce começou a ajudar mendigos e enfermos e chegou a ser recusada pelo Convento de Santa Clara do Desterro, por ser muito jovem. Mas a família consentiu que ela transformasse a casa onde vivia em um centro de atendimento às pessoas necessitadas. A casa ficou conhecida como “a portaria de São Francisco”. Em 1933, ela entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristovão, em Sergipe. Foi quando recebeu o nome Irmã Dulce, uma homenagem a sua mãe.

Santos brasileiros

» São Roque González de Santa Cruz: o padre jesuíta nasceu no Paraguai e morreu em 1628, no Brasil. Foi declarado santo em 1988 pelo papa João Paulo II.  Morreu em sua missão de evangelizar o catolicismo entre os índios guaranis.

» Santo Afonso Rodrigues: também jesuíta, nasceu em Zamora, na Espanha, e morreu em Caaró, no Sul do Brasil, em 1628 junto com São Roque. Também foi canonizado pelo papa João Paulo II, em 1988. 

» São João de Castilho: o padre espanhol chegou ao Brasil em 1616 para catequizar indígenas, também no Sul do país. Também foi canonizado em 1988, pelo papa João Paulo II. Assim como são Roque e Santo Afonso, é considerado um dos mártires do Rio Grande do Sul. 

» Santa Paulina: conhecida como Madre Paulina. Veio para o Brasil com a família italiana, em 1875, e  morou em Santa Catarina e em São Paulo. Foi canonizada em 2002 pelo Papa João Paulo II. É considerada a primeira santa brasileira.

» Frei Galvão: único santo católico nascido no Brasil, em São Paulo. Uma das figuras religiosas mais conhecidas do país, famoso por seus poderes de cura. Foi canonizado em maio de 2007, pelo papa Bento XVI

» São José de Anchieta: o jesuíta espanhol foi um dos fundadores da cidade de São Paulo. É conhecido como o “Apóstolo do Brasil”, por ter sido um dos pioneiros na introdução do catolicismo no país. Autor da primeira gramática em língua tupi, foi declarado santo em 2014 pelo papa Francisco.
 
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Correio Braziliense terça, 14 de maio de 2019

POR MAIS SAÚDE E RESPEITO

 

O sarau que une e resgata
 
 
Na semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, grupos em defesa de uma saúde digna promovem eventos culturais para reflexão sobre a qualidade de vida das pessoas com sofrimento mental

 

» ALAN RIOS

Publicação: 14/05/2019 04:00

As organizadoras Michelle Menezes, Danielle Bonfim (C) e Edileia Tiberio usam a cultura como remédio (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

As organizadoras Michelle Menezes, Danielle Bonfim (C) e Edileia Tiberio usam a cultura como remédio

 

 
“De médico e louco todo mundo tem um pouco”, como diz a expressão popular. Mas, apesar dessa máxima valer para todo mundo, muitos não têm os mesmos direitos básicos, como a liberdade de receber um tratamento de saúde adequado. Pensando nisso, o Movimento da Reforma Psiquiátrica de 1987 (leia Saiba mais) instaurou no Brasil o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de maio. Vários grupos de profissionais e estudantes organizam eventos que debatem o tema, usando até mesmo a leveza da cultura para abordar a complexidade da questão manicomial no Distrito Federal.
 
Um deles é o grupo de profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Adulto, que faz parte da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). Eles tiveram a ideia de unir pacientes, assistentes sociais, enfermeiros e a população geral em um sarau recheado daquilo que todos querem: liberdade e cuidado para ser feliz. Com apresentações de canto e dança, o evento promete mostrar que a “loucura” não deve ser um tabu a ser isolado, excluído, mas algo que precisa ser tratado fora das grades de manicômios, hospitais e clínicas psiquiátricas..
 
“Dentro de todo esse cenário, a cultura tem um papel muito importante para essas pessoas, porque ela dá o direito à expressão. No sarau, as pessoas com transtornos cantam, dançam e vivem um dia de artista! É tão bom, que elas não querem sair do palco”, brinca Michelle Menezes, 25 anos. A terapeuta ocupacional é uma das organizadoras do II Sarau de Médico e Louco Todo Mundo tem um Pouco, na próxima quinta-feira, no Imaginário Cultural, em Samambaia.
 
A ideia surgiu ano passado, quando o grupo conheceu, nesse mesmo período, diferentes atividades desenvolvidas pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Cada Caps realizava a própria programação interna com os pacientes — adultos com transtornos mentais graves e problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Então, as assistentes sociais tomaram a iniciativa de dar asas ao projeto, levando para fora das instituições.
 
“Passamos a imaginar uma grande comemoração na comunidade, unindo todos os serviços e com uma programação cultural dos próprios centros. Aí conhecemos um espaço em Samambaia chamado Imaginário Cultural e recebemos o apoio deles para realizar o I Sarau”, lembrou Danielle Bonfim, 25. A também organizadora participou do projeto de forma completa. Além de atuar como assistente social, ela aproveitou a segunda profissão, cantora, para participar das apresentações. “O evento foi um sucesso! Levamos quase 300 pessoas para o espaço, entre pessoas da comunidade, pacientes, familiares e profissionais, sempre com o foco nos frequentadores do Caps. O resultado foi maravilhoso”, celebrou.
 
Métodos
 
Os tratamentos de pessoas com transtornos graves não são simples. Exigem conhecer bem o paciente e utilizar de diferentes métodos interdisciplinares, principalmente. Mas não há dúvida de que a socialização tem papel fundamental nesse processo. O evento de quinta-feira também pensa nisso para reunir familiares e pacientes. “Esse sarau será um momento de eles criarem vínculos, fortalecerem laços e cuidados entre quem estiver presente, com ou sem transtorno”, detalhou Ediléia Tibério, 40 anos, assistente social. Para ela, essas interações também são importantes para algo que pode parecer mais simples do que a complexidade do tema: ser feliz.
 
“A vida não pode ser só tristeza, temos que ter momentos assim de alegria, de celebração.” Mesmo assim, o grupo ressalta que as comemorações são também um ponto de reflexão, pois temos que pensar constantemente em como ser uma sociedade que acolha diferentes transtornos. Quem estiver presente no sarau poderá fazer isso acompanhando as apresentações, conferindo artesanatos feitos pelos pacientes e até observando uma exposição de fotos com a temática psiquiátrica. Unindo a arte reflexiva aos momentos de descontração, o evento também receberá fotografias da mostra Morar em Liberdade, em exposição na Fiocruz Brasília até 31 de maio nesse mês da Luta Antimanicomial.


Atendimentos
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são instituições para atendimento de pacientes com transtornos mentais considerados graves ou persistentes e com dependências severas pelo uso de álcool e outras drogas. Em cada unidade, são oferecidos atendimentos gratuitos interdisciplinares, ou seja, que trabalham com médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outros especialistas.


Programação

» Apresentações culturais dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do DF
» Grupo percussivo Askabum, da Casa Azul
» Grupo Beckus Cia de Dança com a coreografia Colapso Temporal
» Dança contemporânea da Associação de Amigos da Saúde Mental (Assim)
» Grupo Periféricos no Topo com dança e hip-hop
» Grupo Capoeira Instituto Mãe África
» Exposição e stands de venda dos grupos de geração de renda dos Caps
» Encerramento com um lanche coletivo


SERVIÇO
 
II Sarau de Médico e Louco Todo Mundo tem um Pouco // Data: 16 de maio — Hora: abertura às 13h30 — Local: Complexo Cultural de Samambaia, Quadra 301, Conjunto 5 — Evento gratuito

Exposição Morar em Liberdade, do fotógrafo Radilson Carlos Gomes // Data: 29 de março e 31 de maio — Local: Avenida L3 Norte, Campus Universitário Darcy Ribeiro, UnB


Saiba mais 

Luta humanista
 
No século passado, o Brasil viveu cenas de terror em manicômios. Os hospitais psiquiátricos se mostraram opções desumanas para pessoas com transtornos mentais, violando direitos humanos básicos. Os pacientes passavam por torturas, não tinham acesso a métodos eficazes de tratamento e muitos tinham pioras nos quadros. No fim da década de 1970, surgiu o Movimento da Reforma Psiquiátrica, que uniu diferentes categorias profissionais, associações de usuários, acadêmicos e outros segmentos da sociedade para questionar essas práticas.

“O movimento começou na Itália, em resposta às graves violações pelas quais eram submetidas as pessoas internadas em hospitais psiquiátricos na época, e teve grandes conquistas”, explicou Andressa Ferrari, 28, enfermeira e integrante do Movimento Pró-saúde Mental do DF. Para ela, a luta teve grandes resultados no Brasil, como a Lei da Reforma Psiquiátrica. “Essa lei diz que o cuidado dessas pessoas deve ser oferecido por meio dos centros de atenção psicossocial, sendo um cuidado em liberdade, e que a internação, quando ocorrer, deva ser de curta duração e somente depois que todas as outras tentativas de cuidado territorial e comunitário tiverem sido tentadas anteriormente”, detalhou.

 

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Correio Braziliense segunda, 13 de maio de 2019

RELAÇÕES FAMILIARES: QUANDO O DINHEIRO PESA

 


Quando o dinheiro pesa
Questões financeiras podem estragar vínculos de amizade e entre parentes. Por isso, especialistas afirmam que é preciso delimitar os espaços, conversar abertamente sobre o assunto e saber dizer não.
 
 
Relações familiares e de amizade, muitas vezes, podem ser abaladas por questões financeiras. Especialistas apontam que é preciso planejar gastos, conversar sobre dificuldade e impor limites para evitar problemas

Publicação: 13/05/2019 04:00

Misturar amizade e família pode ser problema quando se trata de dinheiro: seja por causa de empréstimos nunca devolvidos, pela falta de dinheiro de uma das partes —  o que acaba gerando dívidas ou pressões psicológicas —, seja por furtos praticados por pessoas próximas. Especialistas apontam que a falta de organização, de planejamento financeiro, o excesso de confiança depositada em terceiros e a mudança no padrão de consumo são os principais fatores geradores de conflitos nessas situações.

Por causa de uma dívida acumulada pelo ex-marido, Aline Castanheira, 26 anos, enfrenta dificuldades para pagar o aluguel. Desempregada desde agosto de 2018, a jovem se separou do pai de seu filho, de 4 anos, mas ainda divide a casa com o ex. “Decidi que só sairia da casa depois que estivesse trabalhando. A partir daí, ele (o ex-marido) começou a gastar o dinheiro de forma irresponsável, até que não conseguimos manter as contas em dia desde janeiro”, conta.

E esse não é o único problema que Aline enfrenta por causa de dinheiro. Segundo ela, devido ao débito, é ofendida constantemente. “Minha mãe sempre me ajudou como pôde, mas mudou comigo, no último mês, quando soube que eu estava endividada. Ela me humilha quase todos os dias, falando que toda essa situação chegou onde chegou por minha culpa, critica coisas que antes defendia, como meu direito de ter tatuagens ou de querer me separar”, desabafa ela, que, mesmo desempregada, nunca deixou de correr atrás de uma fonte de renda.

“O dinheiro meio que estragou meu relacionamento com a minha mãe. Eu consegui um trabalho com carga horária de oito horas diárias, preciso da ajuda dela para cuidar do meu filho durante esse período, mas ela não quer ajudar”, lamenta. Segundo Aline, as questões financeiras fizeram com que ela perdesse o apoio de sua família, que cobra que ela não trabalhe nos fins de semana. “Infelizmente, muitas pessoas precisam se submeter a cumprir horários em finais de semana, diz.

No caso de Lara Malta, 19, estudante de direito, a diferença financeira prejudicou o relacionamento com o namorado. “Eu sempre tive mais dinheiro do que ele (o ex), sempre tive uma boa condição financeira, meus pais conseguiram bancar tudo que eu queria. Quando comecei a namorar com ele, saí um pouco da minha bolha, mas ele começou a usar essa minha condição para me ofender”, relata.

“Ele criticava minha inteligência, sugerindo que eu era inferior a ele por ter dinheiro para bancar minha educação e curso de inglês. Ele ficava muito magoado porque eu tinha mais dinheiro do que ele, e tentava me atingir me diminuindo no processo, associando o fato de eu ter mais dinheiro com meu intelecto. Foi um dos motivos para o término da relação”, afirma.

A psicóloga Olga Tessari, graduada pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a falta de dinheiro também pode ser um fator que contribui para a separação conjugal. Isso ocorre, por exemplo, quando há uma mudança no padrão financeiro da família. “Acontece, não necessariamente, porque o padrão mudou, mas porque o casal não dialoga a respeito, porque o parceiro fala que vai resolver e não resolve, porque alguns membros da família se recusam a diminuir o seu ritmo e o padrão de consumo, levando a muitas brigas e discussões sobre a falta de dinheiro”, justifica.

Empréstimos e furtos
No caso de um pedido de empréstimo feito por um amigo ou um familiar, Olga explica que as consequências podem ser péssimas se a resposta for um não. “Se a pessoa ‘afortunada’ nega o empréstimo para o ‘mais necessitado’, é possível que se torne malvista por quem solicitou o empréstimo. Se foi um amigo, pode ser que ele consiga criar um mal-estar entre pessoas do mesmo grupo, o que pode colaborar para que alguns deles se afastem do convívio e rompam a amizade”, analisa a especialista.

A psicóloga também destaca as situações em que uma pessoa com menos dinheiro se aproxima de um colega mais “endinheirado” apenas por interesse em frequentar a casa dele, conhecer seus amigos, “para se aproveitar da condição econômica do outro e exibir um status que, na realidade, não tem”. Esse é o caso vivenciado pela mineira Lívia Cabral, 20, tatuadora.

Após depositar confiança em um amigo que conheceu por meio de outros, Lívia foi enganada e chegou a ter seu dinheiro roubado por ele. “O conheci e já combinei de tatuá-lo. Como ele estava sem dinheiro na época, atrasou um mês para pagar pelo trabalho, mas tudo bem”, conta a jovem. Porém, segundo ela, um mês após o ocorrido, o “amigo” furtou R$ 100 de um conhecido em comum. “Quando soube disso, comecei a desconfiar e a observá-lo melhor. Optei por não confrontá-lo sobre isso, mas, depois de duas semanas, ele roubou mais R$ 200 de outro amigo”, relata.

E não foram apenas um ou dois amigos da tatuadora que foram furtados pelo “pilantra”, como Lívia o chama. “Além de mim, três amigos em comum foram alvos dos furtos dele. Quando íamos juntos para o bar, por exemplo, ele sempre pagava uma conta muito inferior à de todo mundo, e só dizia: ‘é isso mesmo’, quando via o valor”, reclama a jovem.

“De mim, ele só roubouR$ 50”, conta. “Ele extorquia o dinheiro sem os amigos perceberem, apesar de, às vezes, ficar muito na cara, já chegou até a roubar celulares de conhecidos. O problema é que ele tinha um jeito muito convincente, passava confiança, então, ninguém esperava por isso. Mas era pura manipulação”, diz. Lívia, apesar de não ter tomado providências maiores por questões de segurança, não mantém a amizade hoje em dia.

Vínculo
Jade Karolina Vieira, especialista em terapia de casais e familiares, compreende que, na sociedade atual, existe uma crença de que a felicidade está vinculada ao dinheiro. “Assim, quando muitos não alcançam esse padrão de felicidade, ficam reféns da frustração, do sofrimento psíquico e físico, além da manutenção de seu tempo e trabalho em prol desse objetivo”, acrescenta. Em sua visão, essa tentativa de alcançar uma boa condição financeira pode gerar transtornos psíquicos — como ansiedade e depressão — e interferir diretamente nas relações humanas.

A psicóloga sugere, como alternativas para que o dinheiro não exerça poder negativo no convívio familiar e com os amigos, que seja construída uma comunicação a base de respeito, “em que os integrantes da relação possam falar sobre expectativas, desejos, planos e dificuldades em relação ao dinheiro”. 

Culpas
Alexandre Arci, educador financeiro, e Angélica Rodrigues, especialista em finanças comportamentais e coautora do livro Família, Afeto e Finanças, concordam que a falta de comunicação é um dos principais fatores responsáveis pelos conflitos financeiros entre familiares e amigos. “O dinheiro é um tema tabu, as pessoas não falam sobre isso, porque a gente aprende que é uma coisa constrangedora. Se o dinheiro que permeia as relações é discutido de uma maneira clara, dificilmente vai dar problema”, opina Angélica.

Para a especialista, o dinheiro não é o responsável por prejudicar as relações, mas, sim, as pessoas, que “se embolam ao misturá-lo com afetos e amizades”. Angélica exemplifica seu argumento com os casos de conflitos entre casais: “Exteriorizamos o nosso afeto com alguém por meio de presentes caros, ou pagando algo para a pessoa. Aprendemos a usar o dinheiro para aliviar alguma culpa, e é isso que vai deteriorando essas relações”.

No caso de empréstimos, a amigos e familiares, Alexandre sugere algumas formas de evitar conflitos. “É preciso formalizar qualquer transação bancária, definir o prazo para o retorno do dinheiro, se vai ter taxa de juros, se vai haver uma cobrança judicial caso o pagamento não aconteça”, ensina. “A melhor coisa a se fazer quando um amigo ou familiar precisa de dinheiro, é ajudá-lo a conseguir a quantia que necessita, entender o comportamento financeiro de quem está endividado, e não emprestar ou dar”, acrescenta.
Alexandre também estabelece três passos fundamentais para evitar brigas e prejuízos financeiros dentro de núcleos familiares: “Primeiro, cada um deve saber quanto gasta e com que finalidade. Segundo, é preciso discutir os objetivos e realizações daqueles gastos. O terceiro passo é fazer um mapa financeiro dentro do orçamento previsto, para alcançar o que é importante para cada um”. (TM)

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira
 
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Correio Braziliense domingo, 12 de maio de 2019

DIA DAS MÃES: JORNADA DE FORÇA E ESPERANÇA

 


Jornada de força e esperança

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 12/05/2019 04:00

Rivoneide da Conceição com Maria Sophia e Maria Catarina: susto e nascimento antes da hora (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Rivoneide da Conceição com Maria Sophia e Maria Catarina: susto e nascimento antes da hora

 

 
Mesmo sendo comum dizer que todo dia é Dia das Mães, o segundo domingo de maio não deixa de ser um motivo para encontros especiais. Almoços, reuniões de família e homenagens marcam a ocasião na maioria dos lares. No entanto, muitas mulheres passam a data no hospital. Para algumas delas, prevalece a apreensão pelos filhos que se recuperam. Em outros casos, porém, a situação é motivo de alegria pelo aumento da família ou pela melhora do quadro de saúde dos pequenos, como é o caso das gêmeas siamesas Lis e Mel, separadas há duas semanas (leia mais na página 18).
 
O quadro de espera de outras mães é parecido. Para Ana Gabriela dos Reis, 22 anos, o Hospital Universitário de Brasília (HUB) tornou-se uma segunda casa. Desde 26 de fevereiro, quando teve a primeira filha, Maria Heloísa, dois meses, a operadora de caixa não deixa a unidade de saúde. A bebê nasceu prematura — aos seis meses de gestação e pesando 700g — e segue internada, sem previsão de saída, na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.
 
Mesmo sem poder comer, Maria Heloísa ganhou um bolo para comemorar o momento em que chegou a 1kg. Ela se recupera aos poucos na incubadora, sob o olhar atento da mãe. Com apenas 39 centímetros, a bebê ainda se adapta ao espaço. De vez em quando, chora e tenta retirar o tubos de oxigênio conectado às pequenas narinas. Nessas horas, vestida com uma touca e um avental azul — itens indispensáveis na UTI neonatal —, Ana Gabriela a pega no colo para amamentar e compartilhar afagos. “Um médico chegou a dizer que ela ‘não era viável’. Então, para mim, é muito gratificante passar o primeiro Dia das Mães com ela no colo, sorrindo. Ela é um milagre. Eu a chamo de ‘mini-gigante’”, disse.
 
Para Ana Gabriela, a data ganhou um novo significado. “Ser mãe é uma coisa muito louca. Envolve um amor incondicional, uma coisa muito intensa. Será um dia muito feliz, mas também muito triste”, observou Ana Gabriela, que perdeu a mãe há três anos. “Eu estava muito perdida desde a morte dela. Então a Maria Heloísa se tornou minha força. É como se Deus a tivesse mandado para mim como um milagre, para renovar minha vida. Com ela, vejo que sou bem mais capaz do que pensei que seria”, avaliou a jovem.

A empresária Vanessa Ferreira da Silva (centro) com a mãe e a filha: a força de três gerações (Jéssica Eufrásio/CB/D.A Press)  

A empresária Vanessa Ferreira da Silva (centro) com a mãe e a filha: a força de três gerações

 



Ana Gabriela dos Reis e Maria Heloísa: luta (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Ana Gabriela dos Reis e Maria Heloísa: luta

 



Surpresa
 
Na maternidade do mesmo hospital, a esteticista Rivoneide da Conceição, 33, celebra com o marido, o advogado Rodrigo Ramos, a chegada das primeiras filhas, as gêmeas Maria Sophia e Maria Catarina, de três dias de vida. Apesar de saudáveis e de estarem fora da UTI, as meninas nasceram após oito meses de gestação e, por isso, devem passar mais alguns dias no HUB.
 
As duas meninas vieram de surpresa, segundo Rivoneide. “Depois que fiz a ecografia, a médica comentou que entrei com um bebê e saí com duas”, brincou. O parto perto do Dia das Mães também foi inesperado. “Meu marido até brincou com isso. Eu nem estava preparada. Será uma bênção passar a data com essas duas princesas”, garantiu Rivoneide.
 
Mesmo com uma leve hemorragia durante a gravidez, a fase foi tranquila para a mãe de primeira viagem. Ela contou que, desde a descoberta da maternidade, mudou a forma de enxergar o mundo e que, com duas meninas, a preocupação será em dobro. “Elas vieram para somar. Todos na família estão muito felizes. Desejo apenas o melhor para elas, que sejam mulheres bem sucedidas e com uma mentalidade boa. E espero ter muita sabedoria para lidar com tudo isso”, pontuou a esteticista.
 
No aguardo das cirurgias
 
Por trás dos olhos cansados de Sandra Pereira Valadares, 36, há vestígios da esperança pela melhora do segundo filho. Este não é o primeiro Dia das Mães dela em uma unidade de saúde acompanhando Arthur Valadares, 5. Desde que o pequeno nasceu, passar datas comemorativas em hospitais tornou-se algo rotineiro para ela e o marido, o vigilante Osvan Gomes da Silva, 40.
 
Arthur nasceu com apenas um rim e lida com problemas no sistema excretor. Ao longo de tão poucos anos de vida, ele já passou por cinco cirurgias. Em uma delas, em 2015, quase morreu após sofrer duas paradas cardíacas. A sensação de nó na garganta durou exatos 15 minutos e 48 segundos — tempo cravado na memória da mãe. “Ele estava na UTI (unidade de terapia intensiva), entubado, e ficou com sequelas. Perdeu a fala, não anda. Foi um momento bem difícil. Sempre que ele vai para alguma cirurgia, vem aquela angústia e passa um filme na cabeça da gente”, confessou Sandra.
 
Sandra e Osvan deixaram a cidade de Araguacema (TO), onde moravam com os dois filhos, após conseguirem a transferência de Arthur para o Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). Desde que ele chegou à unidade de saúde, em 29 de março, os pais se revezam nos cuidados. Enquanto isso, eles se instalaram provisoriamente na casa da cunhada de Sandra, em Planaltina (DF).
 
Arthur ainda precisa passar por duas outras cirurgias antes de receber alta, mas a data só será marcada depois de ele terminar o tratamento com remédios. A necessidade de passar Natal, Ano Novo, aniversários e Dias das Mães com o filho no hospital não tira as expectativas de Sandra nem a desanima. “Não parei para pensar no ano que vem, mas espero que ele esteja melhor, recuperado e com saúde. Quando vamos fazer exames fora daqui, ele fica bem feliz, então, o que mais quero é sair com ele para passear, porque ele gosta bastante”, completou.
 
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Correio Braziliense sábado, 11 de maio de 2019

CACETADA NA CULTURA: EDITAL DO FAC SERÁ CANCELADO


Edital do FAC será cancelado

 
 
Em entrevista ao Correio, o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Adão Cândido, confirma medida e anuncia que parte dos recursos vai para restauração do Teatro Nacional

 

Adriana Izel
José Carlos Vieira

Publicação: 11/05/2019 04:00

Na semana em que mudou de nomenclatura, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF viveu uma das suas primeiras crises. O motivo foi a determinação do órgão de suspender dois editais do Fundo de Apoio à Cultura, lançados no ano passado: o FAC Áreas Culturais, que teria o resultado da seleção final divulgado na última quarta-feira, e o FAC Audiovisual, que estava em fase de análise de recursos. A decisão, que foi apontada na última quarta-feira como temporária, levou a classe artística às ruas e às redes sociais em protesto.
 
Em entrevista exclusiva ao Correio, o secretário Adão Cândido anunciou o cancelamento do edital FAC Áreas Culturais (R$ 25 milhões) e a manutenção do FAC Audiovisual (R$ 12 milhões). A intenção do governo é utilizar parte da verba do FAC Áreas na linha de restauro que será usada nas reformas do Teatro Nacional Claudio Santoro, fechado desde 2014. A primeira etapa será abrir a Sala Martins Pena, até 2020, quando Brasília comemora 60 anos. De acordo com Cândido, o governo tem respaldo para fazer isso, pois o edital foi lançado no governo passado, e já contava com o orçamento de 2019, que é de, aproximadamente, R$ 68 milhões, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). “Não se pode fazer o edital com o orçamento do (ano) seguinte e esse foi justamente o caso”, afirma.
 
Apesar da confirmação da anulação, o secretário garantiu que o FAC não será extinto. Existem dois editais em andamento: o FAC Ocupação, para uso de espaços e equipamentos públicos com investimento de R$ 7,7 milhões, e o FAC Regionalizado, de 2018, que incentiva a realização de ações culturais nas regiões administrativas do DF, com 114 projetos que receberão R$ 7,9 milhões. Para ele, essa é apenas uma mudança de prioridades no governo. E até 2022, a verba do FAC sempre contará com uma parcela para recuperação do patrimônio cultural. “De toda forma, é uma mudança de postura, sim. Esse governo tem outras prioridades, entre elas, o patrimônio, no topo”, defende.
 
 (Ze Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
Qual é a política que o senhor está fazendo para ser mais democrático no sistema de distribuição de verba para a cultura?
Nos novos editais que estamos fazendo e debatendo com a comunidade, queremos que um beneficiário, por exemplo, só possa estar em dois projetos por orçamento e por ano. Hoje não tem uma vedação, então, às vezes, você encontra o mesmo beneficiário, sendo em um como produtor, em outro como proponente, em outro como diretor. Ficam as mesmas pessoas e a ideia do fomento é que ele dê uma ajuda, como diz o nome, num momento de início. O Estado tem que fazer o seu papel de ajudar a fomentar a cultura, mas ele não pode virar um substituto dos próprios produtores de irem atrás de financiamento e de outros meios de sustentação. Nós temos vários instrumentos. Temos a Lei Rouanet, a LIC (Lei de Incentivo Cultural), o FAC (Fundo de Apoio Cultural), emendas parlamentares e orçamento direto. 
 
 
Então por que houve essa reação da comunidade artística em relação ao FAC?
Não é em relação ao FAC em si. O FAC está totalmente operacional, lançamos os editais, o Conexão (Cultura), que é um programa muito bem-avaliado. Lançamos um edital (FAC Ocupação) de ocupação dos equipamentos públicos, que é uma prioridade da nossa gestão. Nós não podemos ter equipamentos públicos sem programação. E fizemos aqui a homologação dos editais de 2018, os editais regionalizados (FAC Regionalizado). Isso está funcionando plenamente. Qual é a questão que está em pauta? Existem editais que foram feitos em agosto de 2018 com orçamento de 2019. Isso é temerário porque era um período eleitoral e tem uma série de vedações, tanto na Lei de Responsabilidade Fiscal, quanto na Lei Orgânica da Cultura.
 
 
E não cabe à secretaria resolver isso?
Isso cabe ao gestor, no caso eu. É um debate que nós temos dentro do governo com a própria (Secretaria de) Fazenda, de como a gente melhor utiliza o dinheiro do orçamento. Como isso (os editais) come todo o nosso orçamento, nós não temos recursos para fazer a política pública que nós queremos fazer. Não se pode fazer o edital com o orçamento do ano seguinte. E esse foi justamente o caso.
 
 
O dinheiro do FAC será destinado para o Teatro Nacional?
Zerando os editais, vamos abrir uma linha para restauro de patrimônio dentro do FAC. O FAC permite, só que nunca foi feito, porque não era a escolha (priorizar o patrimônio). Parte do dinheiro será destinado ao restauro e à reabertura do teatro. Essa é a determinação, essa é a promessa do governador. Está degradado não só esse patrimônio, mas vários outros, como o MAB (Museu de Arte de Brasília), que nós conseguimos retomar a obra. É uma grande conquista, e vamos reinaugurá-lo para o aniversário em 21 de abril de 2020.
 
 
Em quanto fica o corte de orçamento para esse segmento (artístico) no FAC?
Quando eu (re)abrir o edital, uma parte desses R$ 25 milhões será destinada para a reabertura do Teatro Nacional.
 
 
E esse valor é capaz de resolver algo para o Teatro Nacional?
Sim, a Sala Martins Pena. Vamos fazer fatiado. É uma determinação nossa. Até que consigamos outras fontes. Sobre o FAC, existia uma expectativa de direito, mas como o resultado não foi nem divulgado, como é que a pessoa saberia se passou ou não no edital? Mas, de toda forma, é uma mudança de postura, sim. Esse governo tem outras prioridades, entre elas, o patrimônio, no topo. Nós somos o maior bem tombado do mundo, só no Plano Piloto são 173 quilômetros quadrados.
 
 
Mas não teriam outras alternativas de captação de recursos para o teatro?
Hoje não, porque a (Lei) Rouanet, que era um desenho da gestão passada, está sendo muito questionada pelo próprio governo federal, o que espanta os patrocinadores. E hoje nós não temos um clima favorável à captação via Lei Rouanet. O próprio governo (federal) cessou todos os patrocínios, inclusive, o que a gente tinha avançado com a Caixa. Estamos buscando investidores, PPPs (parcerias público-privadas), estamos conversando... Como é um projeto grande, muita gente nos visita, mas ainda não tivemos nenhuma proposta forte, firme e boa, que nos encorajasse a fazer uma conversa séria. 
 
 
Como conciliar a conservação de patrimônio com os artistas que certamente vão trabalhar dentro desse patrimônio? E como dialogar com esses artistas, que fazem parte da economia local?
Trocamos a nomenclatura da secretaria. Saiu na terça-feira o decreto porque nós temos essa visão e agora se chama Secretaria de Cultura e Economia Criativa, porque, de fato, nós queremos que a cultura seja vista como um elemento gerador de emprego, renda, desenvolvimento e inovação.
 
 
Mas quando se corta um orçamento de R$ 25 milhões que circularia na cidade...
Mas vai voltar a circular. Vai voltar a virar edital de novo. Uma parte vai para o restauro, mas a outra parte volta para os editais (com a manutenção do FAC Audiovisual). Então, não há um impacto e nós temos muitas outras fontes, nós temos emendas, a LIC, o próprio FAC. Não estamos fazendo uma medida que colapse com o financiamento. Ao contrário, estamos fazendo uma medida estratégica, tomando uma decisão agora. Mas que, a médio prazo, nos devolve o principal palco da cidade (o Teatro Nacional). É uma visão estratégica e uma decisão que a gente tem de colocar o patrimônio em primeiro lugar, sabendo que ele é a plataforma física para que a economia da cultura aconteça. Como a gente tem essa obrigação e esse problema para resolver, a gente alinhou as duas coisas. Não estamos fazendo desmerecimento com os produtores culturais. Estamos só dizendo que uma parte dos R$ 68 milhões vai para patrimônio. Vai em 2020, 2021 e 2022, porque agora patrimônio passa a fazer parte, não só da nossa responsabilidade.
 
 
Com esses recursos quando a Sala Martins Pena fica pronta?
No ano que vem, e o MAB fica pronto para o 21 de abril.
 
 
Como o senhor vai tratar esse desgaste político?
Temos feito o diálogo, temos feito a pontuação, temos o FAC. Conseguimos uma parte do superavit, temos lutado com a (Secretaria de) Fazenda para manter o FAC dentro da vinculação orçamentária. Mas nós somos um governo com prioridades diferentes. Também tem que ter uma compreensão por parte dos produtores que esse governo vai resolver alguns problemas que estavam colocando há anos, passando de dois a três governos. Precisamos ter compreensão de todas as partes.
 
 
Não houve um debate antes dessa decisão do FAC?
Teve uma audiência pública na Câmara e reuniões dentro dos conselhos, onde foi levantada essa dúvida. O pessoal chama vulgarmente de pedalada (gastos para o orçamento do próximo ano). Todo mundo já sabia da pedalada. A questão é: nós não temos gordura orçamentária para ignorar a pedalada e simplesmente pagar. E é isso que estamos fazendo. Poderíamos fazer isso, mas eu não aceito a pedalada. Vou reabrir os editais e uma parte desse valor vai ter outro destino e, a outra que sobrar, vai continuar.
 
 
Qual será a forma que o governo vai encontrar para acabar com esse desgaste com a categoria artística?
Primeiro, a transparência do que estamos fazendo. Precisamos explicar o seguinte: houve uma árvore envenenada, que gerou dois frutos, que são legalmente questionáveis e estamos encerrando isso aqui. É um ato administrativo normal, cancelar edital.
 
 
A que, então, se deve essa reação forte da comunidade?
Porque se tinha uma expectativa de muita gente que apresenta os projetos e achava que estava contemplada. O que é natural. Mas, não há, do ponto de vista geral, um cancelamento da política e nem um desvio da verba. Ela simplesmente vai rodar e nós vamos, inclusive, no próximo edital, criar novos filtros, exatamente para não ter uma concentração, para que haja um espraiamento, formando para que as pessoas passem pelas barreiras. Nós entendemos a importância do FAC para a comunidade cultural, mas as novas gestões, como em qualquer governo, vão deixar a sua marca e o legado e vão estabelecer seus pontos de prioridades. No caso, a nossa é patrimônio, porque está muito defasado. Se não tivesse tanto problema, poderia ter outro clima. Então não posso ter um FAC rico e equipamentos caindo aos pedaços. Nos 60 anos da cidade, é inadmissível para o governador apresentar a cidade com a principal casa de espetáculo da cidade fechada. Não entra na cabeça dele, nem na minha, nem na de ninguém.
 
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Correio Braziliense sexta, 10 de maio de 2019

O AGRONEGÓCIO EM DESTAQUE

 

O agronegócio em destaque
 
 
A AgroBrasília, uma das maiores feiras do setor no país, deve receber 120 mil visitantes em cinco dias. A previsão é de que o evento movimente R$ 1,5 bilhão em negócios no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 10/05/2019 04:00

Além dos negócios, o público poderá visitar um galpão com produtos artesanais e entrar em cabines de colheitadeiras, plantadeiras e outras máquinas (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Além dos negócios, o público poderá visitar um galpão com produtos artesanais e entrar em cabines de colheitadeiras, plantadeiras e outras máquinas

 

 
Uma das maiores feiras de agronegócio do país está prestes a começar. Entre 14 e 18 de maio, ocorrerá a 12ª edição da AgroBrasília, no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, uma área de 500 mil metros quadrados no PAD-DF, entre São Sebastião e Unaí (MG). O evento reúne expositores de todo o Brasil, tanto da agricultura quanto da pecuária, que levam novidades em tecnologia, maquinário e pesquisas. Em 2018, a iniciativa movimentou mais de R$ 1,1 bilhão em negócios, e a expectativa é de que, neste ano, o valor alcance R$ 1,5 bilhão.

São esperados 120 mil visitantes ao longo da semana; 5 mil a mais do que no ano passado. O presidente do comitê gestor da feira, Ronaldo Triacca, conta que uma das novidades é o foco na sustentabilidade. O lixo produzido passará por uma triagem, e o que for orgânico será reaproveitado em uma composteira para geração de adubo. “Também será calculada a emissão de gás carbônico, e vamos compensar com o plantio de mudas típicas do cerrado em propriedades da região que tenham nascentes degradadas”, explica.

Quem visitar o espaço poderá conhecer 450 expositores, incluindo 14 circuitos de demonstração de tecnologia para agricultura familiar, leilão de animais, empresas de equipamentos agrícolas, palestras e workshops. “Temos uma área inteira voltada para a genética vegetal, melhoria de adubação, controles biológicos. O Brasil domina, a nível mundial, a tecnologia da agricultura tropical, e não há evento no mundo como esse para a área”, ressalta Ronaldo.

Mesmo se tratando de uma feira de negócios, ele explica que a população em geral pode aproveitar. Um galpão terá produtos artesanais à venda, e o público poderá ver de perto e até entrar em cabines de colheitadeiras, plantadeiras e outras máquinas que chegam a custar R$ 2 milhões. Também há três opções de restaurantes para quem decidir almoçar por lá (veja Programe-se).

Uma das atrações preferidas são os tradicionais girassóis. Há cerca de nove anos, os produtores envolvidos na organização da feira decidiram plantar as flores para embelezar o lugar, e o sucesso foi tamanho que virou um cartão-postal de 30 mil m². “Estamos colados no poder federal. O público de Brasília precisa ver que o agro não é esse vilão que se pinta. Quem vem descobre como o alimento chega à mesa, pode comprar mudas de flores a aproveitar a culinária típica”, detalha Ronaldo.
 
Tecnologia em casa
 
“O pessoal de Brasília não tem ideia do que o DF produz. Há 20 anos, a cidade era importadora de alimentos, mas, hoje, é quase autossustentável”, afirma o agricultor Rodrigo Werlang, 40. A família dele produz na área rural do PAD-DF há 38 anos. Hoje, ele cuida da fazenda, onde tem lavouras de milho, feijão, soja, trigo e sorgo. Ele participou de todas as edições da AgroBrasília e diz que é uma oportunidade de fazer bons negócios.

No ano passado, ele investiu cerca de R$ 1 milhão em insumos e defensivos e, agora, quer encontrar o melhor preço em adubos e sementes. “As empresas vêm com preços mais atrativos para atrair os clientes. Eu saio da fazenda aqui do lado e estou no meio do que houver de tecnologia mais atual. A cada ano, tem mais coisas, pulverizador com GPS, piloto automático”, elogia.


Programe-se

Quando: de 14 a 18 de maio
 
Horário: das 8h30 às 18h
 
Onde: Parque Ivaldo Cenci, PAD-DF, BR-251
 
Quanto: entrada franca


 

"Temos uma área inteira voltada para a genética vegetal, melhoria de adubação, controles biológicos. O Brasil domina, a nível mundial, a tecnologia da agricultura tropical, e não há evento no mundo como esse para a área" Ronaldo Triacca, presidente do comitê gestor da feira

 



450
Total de expositores da AgroBrasília 2019
 
14
Circuitos de demonstração de tecnologia para 
agricultura familiar, leilão de animais, equipamentos 
agrícolas, palestras e workshops
 
550 mil
Metros quadrados de área do Parque 
Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF
 
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Correio Braziliense quinta, 09 de maio de 2019

CERRADO: FLORES ENCANTADAS

 

Flores encantadas
 
 
Artesãos mantêm viva a tradição de colher e trabalhar arranjos com plantas exclusivas do cerrado

 

» DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 09/05/2019 04:00

Francinaldo:  

Francinaldo: "Desde os 10 anos, eu vinha com meus pais. Eles colhiam e eu e meus irmãos desidratávamos as plantas e vendíamos"

 



Elas encantam e alegram a fachada da Catedral Metropolitana. Aglomeradas em barraquinhas de artesãos, as flores secas do cerrado são uma atração a mais para quem passa pelo local. É impossível não se impressionar com tamanha beleza e diversidade. São mais de 50 espécies, com cores que vão do rosa-neon até o vermelho-vibrante. Por trás de cada uma dessas flores, há um segredo especial: a maneira de fazê-la.

Todo o processo de elaboração, como colheita, tingimento e decoração é um trabalho minucioso e demorado. O artesão Francinaldo Fernandes dos Santos, 51 anos, administra uma das barracas das flores secas. A tradição, que veio de família, se resume em amor pelo trabalho. “Desde os 10 anos, eu vinha com meus pais. Eles colhiam e eu e meus irmãos desidratávamos as plantas e vendíamos. Adoro essa profissão e me considero um autodidata no assunto”, brinca.
O artesão explica o passo a passo da produção das flores, para, ao final, compor uma decoração especial ao comprador. Todas as quartas, quintas, sextas-feiras, e sábados, Francinaldo se dedicada apenas à colheita, um trabalho que leva em torno de quatro horas. “A maioria das flores eu pego no cerrado do Entorno. Algumas eu também encontro em Alto Paraíso de Goiás”, diz.

Entretanto, é nessa etapa que ele se depara com uma das maiores dificuldades. “Está difícil encontrar as plantas por causa de três motivos: desmatamento, queimadas e pecuária. O trabalho de colher é artesanal, não usamos maquinários. Então, quando eu puxo a flor, ela não vem com a raiz e não morre. Brota outras vezes. Agora, quando passa um trator ou tem uma queimada, toda a raiz morre”.

Após a coleta, as flores passam pela fase de aperfeiçoamento. No primeiro momento, elas ficam expostas ao sol para secar, e depois são pintadas com anilina, uma tinta específica de couro, palha e flores. O resultado completo só fica pronto depois de seis horas. “É muito difícil encontrar essa beleza para vender em outros lugares, porque é um trabalho árduo e nem todos querem fazer. Mas a maior satisfação é quando está tudo pronto e vemos o quanto as pessoas se encantam”, explica o artesão.

Na barraca em que comanda, a diversidade é grande. São dezenas de espécies à venda: capim-rabo-de-raposa, pingo-de- ouro, papolinha, dentre outras. Os valores variam entre R$ 4 e R$ 30. De todos os tipos de plantações, a flor-porta-guardanapo é uma das mais procuradas pelo público. “O passo a passo dela é mais complexo. Tiramos primeiro a celulose e a clorofila, depois a cozinhamos na soda, pintamos e moldamos em formato de rosa”, destaca Francinaldo.

O comerciante e agricultor Rivelino de Souza, 44, está em Brasília há oito meses. Ele veio do município de Cariré (CE), com o propósito de arrumar um emprego, mas se deparou com portas fechadas. Foi quando decidiu trabalhar de ajudante em uma das barracas de flores secas do cerrado. “Ainda estou aprendendo como funciona o processo das flores. Sei apenas vender, mas vou me aprimorando aos poucos”, conta com diversão. Para ele, a profissão é relaxante e ajuda a distrair. “Antes de chegar aqui, eu não tinha nenhum contato com essa área. Foi uma novidade e me empolguei bastante.”

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  



Preservação
 
Embora as flores secas sejam uma marca registrada de Brasília, elas se encontram ameaçadas pela ocupação predatória do homem na região do cerrado. O tema preocupa os especialistas e os artesãos que dependem da matéria-prima para garantir a renda salarial. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, divulgados em junho do ano passado, em dois anos, o cerrado perdeu 14.185 km² por causa do desmatamento. A área corresponde a cerca de 1 milhão de campos de futebol.

Professora de ciências agrárias do Instituto Federal de Brasília (IFB), Edilene Carvalho explica que, cada vez mais, as áreas de preservação natural estão sendo afetadas. “As construções de edifícios, prédios, casas e empresas, queimadas e invasão do cerrado, como o cultivo agrícola, têm sido os principais motivos que degradam as plantações”, argumenta. Segundo ela, a conscientização humana sobre a importância do bioma deve ser feita de maneira específica. “O que tem acontecido é que as pessoas coletam as flores de maneira errada, de modo que não deixam indivíduos que vão gerar novas sementes e se multiplicar.”

A doutora em botânica pela Universidade de Brasília (UnB) e diretora de vegetação e flora do Jardim Botânico (JBB), Priscila Oliveira, ressalta a falta de respeito por parte da população na degradação do cerrado. “A vegetação do bioma é muito arbusto e o conhecimento que as pessoas têm é que aquilo não passa de um simples mato. Mas, é importante entender o quão essas plantas são ricas para a capital e tem característica única”, destaca.

Rivelino de Souza: começando a aprender o negócio das flores%u201D (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Rivelino de Souza: começando a aprender o negócio das flores

 



Na visão do turista
 
O servidor público Eude de Amor, 28, veio de Sergipe, na companhia de cinco amigos para realizar um curso de capacitação em Brasília. A oportunidade de conhecer a capital não poderia ter passado em branco. “Já fomos ao memorial JK, à Biblioteca Nacional e queremos ir a todos os principais pontos turísticos daqui. É tudo muito diferente de onde moramos, o clima, a temperatura e a cultura, está  superdivertido”, conta.

No passeio, o que não passou despercebido foram as barracas das flores secas do cerrado, o que encantou o grupo. “Lá em Sergipe não temos isso. É impressionante os detalhes do trabalho, as cores, tamanhos e tipos”, explica Eude.
Após morar 15 anos no DF, a operadora de máquina Silvana Augusta, 43, decidiu se mudar para São Paulo, e desde então já se passaram 27 anos. Mas depois de tanto tempo, a saudade falou mais alto e ela decidiu vir passar alguns dias na capital para matar a saudade. “A sensação que tenho é de estar em casa. Amo esse lugar. É incrível ver como a cidade mudou tanto, está mais moderna”, conta. O passeio na calçada da Catedral Metropolitana logo foi interrompido pela beleza das flores secas. “São muito lindas. Quero comprar uma de cada. O trabalho que os artesãos fazem é perfeito e detalhista.”
 
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
 
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Correio Braziliense quarta, 08 de maio de 2019

MEGA-SENA - 170 MILHÕES!

 


MEGA-SENA
 
R$ 3,50 que valem R$ 170 mi 
 
Apesar de as chances serem pequenas, apostadores brasilienses confiam em jogos pequenos e em poucas cartelas na corrida pela bolada milionária. O sorteio da terceira maior premiação da história dos concursos ocorrerá hoje à noite em São Paulo

 

MARIANA MACHADO

Publicação: 08/05/2019 04:00

Fila diante da lotérica da Esplanada dos Ministérios: segundo a proprietária, um cliente gastou R$ 3,50 no último sábado, acertou a quina e ganhou R$ 37 mil (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Fila diante da lotérica da Esplanada dos Ministérios: segundo a proprietária, um cliente gastou R$ 3,50 no último sábado, acertou a quina e ganhou R$ 37 mil

 

Transformar o mínimo em máximo. O sonho pode parecer distante, mas nem por isso é impossível para quem acredita que seis números serão suficientes para levar a bolada de R$ 170 milhões da Mega-Sena. É o terceiro maior prêmio da história dos concursos regulares e será sorteado hoje, às 20h, em São Paulo. A menor aposta possível sai a R$ 3,50, e a probabilidade de uma pessoa ganhar é de uma em 50.063.830. Investir em bolões aumenta as chances: um jogo de 15 dezenas sai a R$ 17.517,50, e a probabilidade de vitória aumenta para uma em 10 mil.

Ainda assim, alguns preferem os jogos pequenos. É o caso da funcionária pública Bruna Regina Aguiar, 37 anos. Ontem, ela aproveitou o horário de almoço para preencher uma cartela para ela e uma para a mãe. “Eu não sou muito de apostar, mas ela gosta, sempre quer participar”, conta Bruna. Ela admite ter pouca chance de sair vitoriosa, mas, caso aconteça, usará o dinheiro para pagar o tratamento de saúde da mãe, que tem artrite e dores na coluna. “Como ela está com esses problemas, deixa a sequência montada, e eu faço a aposta. Ela olha placa de carro, pega a idade do meu filho e vai montando a sequência de números”, conta.
José Pereira gastou mais de R$ 100 em apostas:  

José Pereira gastou mais de R$ 100 em apostas: "Quero dar uma casa para a minha filha, que mora de aluguel, pagar a faculdade das minhas netas"

 

O aposentado Ramiro Rosa, 66, também ficou de fora da “fezinha” dos amigos. “Eu faço o meu jogo porque é nele que confio. Tem de ter estratégia”, afirma. Ele gastou R$ 14 em 24 números e reconhece que é preciso estudar para ter alguma chance. “Se em um sorteio só tem número par, isso não vai acontecer mais no próximo; então, não pode repetir. E não existe número da sorte, isso é ilusão”, atesta.

Depois de acertar três números no último sorteio, ele acredita que está cada vez mais perto da grande conquista. Morador de Samambaia, sonha em usar o prêmio para a caridade. “Quero apoiar creches de criancinhas e abrigos de animais. Também ajudaria o ex-namorado da minha filha, que está doente, e daria uma casa ao meu filho, que mora na Cidade Estrutural. Depois, eu pago as minhas contas, vejo o que faria para mim”, diz.
 

"Como ela (mãe) está com esses problemas (de saúde), deixa a sequência montada, e eu faço a aposta. Ela olha placa de carro, pega a idade do meu filho e vai montando a sequência de números"

 

Fila da esperança
A frase “só ganha quem joga” tem ainda mais sentido quando um vitorioso aparece. É nesse espírito que mais pessoas se motivam quando a Mega-Sena acumula. Na lotérica da Esplanada dos Ministérios, a fila cresce desde segunda-feira, como conta a proprietária, Shenia Inoue. “Até agora, a maior aposta aqui foi de R$ 40 mil, mas a maioria não investe tanto. No sábado, um cliente gastou R$ 3,50, ganhou a quina e levou para casa R$ 37 mil”, revela.

E não foi a primeira vez que um ganhador saiu de lá. Shenia lembra que, há dois anos, um grupo de 10 pessoas fez um bolão, acertou a quina e cada uma levou cerca de R$ 1 milhão. “A lotérica não leva nada, mas as pessoas veem que pelo menos estamos dando sorte”, brinca a empresária.

Confiando nessa sorte, o garçom Severino Siqueira, 59, encarou ontem a fila da lotérica Esplanada. Ele fez um jogo individual e entrou em um bolão com 30 colegas de trabalho. “Às vezes, você não tem sorte em grupo, mas ganha sozinho. É muito dinheiro. Se você aplicar, vive bem o resto dos dias”, acredita. Perguntado sobre o que faria, não hesita: ajudar a família. “Tenho cinco filhos, gostaria de dar uma casa a cada um. Compraria uma para mim na beira da praia, em Porto de Galinhas (PE), e daria um presentinho para os garçons que trabalham comigo também”, detalha o morador de Planaltina.

Assim como ele, o aposentado José Pereira, de 67 anos, gostaria de ajudar os parentes. Para dar um empurrãozinho na sorte, gastou mais de R$ 100 em apostas. “Jogo toda semana. Quero dar uma casa para a minha filha, que mora de aluguel, pagar a faculdade das minhas netas e ajudar instituições carentes”, relata. Mas, como não é de ferro, deixa escapar o sonho de consumo: “Viajar com a minha velha e conhecer os Lençóis maranhenses”.

Confiança
Com um plano certo do que fazer com o dinheiro e a confiança de que vai vencer, a servidora pública Fabiana Rody, 42, meditava na fila antes de apostar. “De dois anos para cá, eu tenho acreditado muito no poder da gratidão, e isso mudou a minha vida. Tudo o que eu quero, eu consigo”, conta. “Quando eu ganhar, a primeira coisa que vou fazer é levar a minha irmã para morar comigo. Ela é especial. Depois, vou adotar três crianças grandes e, com os meus cachorros, vamos todos nos mudar para Miami, onde o meu irmão mora”, acrescenta.

Fabiana comprou 10 cartelas, mas, apesar da certeza, é uma em meio aos 60 milhões de apostadores, estimativa dada pela Caixa Econômica Federal. A arrecadação total deve render R$ 210 milhões e, segundo o órgão, 48% dos recursos são destinados a programas sociais nas áreas de saúde, educação, segurança, esporte e cultura.
 
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Correio Braziliense terça, 07 de maio de 2019

UMA FESTA TAMANHO FAMÍLIA: SUELI SILVA REENCONTRA O FILHO

 

Uma festa tamanho família
 
Duas semanas antes do Dia das Mães, Sueli Silva ganhou o melhor presente que poderia ter: a presença do filho na data especial após 38 anos separados

 

» ALAN RIOS

Publicação: 07/05/2019 04:00

 

"No momento em que o vi, o agarrei nos braços, falei que ele era bem-vindo na minha vida e que o amei durante todo esse tempo. Foi um momento bem longo e especial" Sueli Silva, mãe "Não vejo a hora de tirar aquela bela foto de família que a gente sempre espera" Ricardo Araújo, filho

 

 
Sueli Silva, 56 anos, passou 38 dias das mães sem saber onde estava o filho Ricardo Araújo, tirado de seus braços na porta do Hospital Regional do Gama (HRG). Mas agora será diferente. Após todo esse tempo, os dois se reencontraram. Primeiro, ela pediu ajuda policial para achar o filho roubado. Anos depois, soube que agentes da 14° Delegacia de Polícia (Gama) encontraram pistas que poderiam indicar quem era o rapaz. Daí, então, veio o exame de DNA, que comprovou a maternidade com o morador da Paraíba. Ela não teve dúvida e seguiu para João Pessoa, no último dia 30, quando pode, enfim, rever o filho. Hoje, os dois retornam para Brasília.

“No momento em que o vi, o agarrei nos braços, falei que ele era bem-vindo na minha vida e que o amei durante todo esse tempo. Foi um momento bem longo e especial. Até agora estou levitando!”, comemorou Sueli. A mãe foi de surpresa a João Pessoa, não aguentava a ansiedade. “Era um momento que esperei durante anos. Na hora me veio um êxtase de felicidade. Percebi que era o que faltava para fechar essa última lacuna da minha vida”, disse ela.

Sueli disse à reportagem que não sabia qual seria a reação do filho, mas o encontro não foi um presente só para ela. Ricardo Araújo, 38, cresceu sabendo que era adotado, mas seus pais de criação não entraram em detalhes sobre a história do nascimento, disseram apenas que a mãe biológica não tinha condições de criá-lo. Seis meses atrás, em dezembro, a mãe que o criou morreu em um acidente de carro. “Então, a minha cabeça estava a mil, porque ela faleceu. Depois, descobri que a minha mãe biológica estava me procurando. Nos falamos e nos encontramos de surpresa”, contou o corretor de imóveis.

“Fiquei sem reação na hora em que coloquei os olhos nela. Meu corpo gelou dos pés à cabeça, pensando em tudo o que aconteceu nos últimos anos. Tudo me emocionou muito e fiquei extremamente feliz”. Evangélico, Ricardo disse ainda que essa é uma oportunidade que Deus deu a ele de ter novamente a presença de uma mãe. Mas a bênção do presente de um familiar não caiu só sobre ele. Sueli conheceu ainda os três filhos de Ricardo, de 10, 8 e 6 anos. Ela ganhou também três netos! “Foi maravilhoso me ver avó! A impressão que eu tinha era que estavam nascendo meus netinhos naquele dia”, disse.
 
“A mãe do ano”
 
Ricardo não vê a hora de conhecer os dois irmãos de sangue, filhos de Sueli (de 21 e 23), e toda a família. “Ele disse que está preparado para criar o vínculo afetivo que nos foi tirado. Vamos reconstruir nossa família”, afirmou Sueli. “Não vejo a hora de tirar aquela bela foto de família que a gente sempre espera”, acrescentou Ricardo. Não teria data melhor para isso do que no próximo dia 12. O Dia das Mães será o primeiro em que Sueli e Ricardo estarão juntos, e promete ainda mais emoções.

“Será o dia mais importante da minha vida, porque agora sou a mãe do ano, a mais feliz do mundo!”, comemorou. O filho lembra ainda que esse é só o começo de uma nova história: “Será a primeira de muitas datas que vamos passar juntos”.
Enquanto vivem esse momento de alegria, nenhum dos dois pensa na possibilidade de procurar, pelo menos agora, o pai de Ricardo, o policial militar que teria saído do país, em 1981, antes de saber da gravidez da então namorada. “Essa possibilidade não está descartada, mas a prioridade é reconstruir nosso vínculo afetivo”, contou a mãe. Ela confessa que agora só pensa mesmo é no dia 12: “Será uma festa tamanho família”, brinca.



MEMÓRIA
 
Trauma que não se esquece
 
Órfã de mãe e abandonada pelo pai, Sueli passou a infância e boa parte da juventude em um abrigo na Colônia Agrícola de Corumbá, em Goiás. Lá, chegou a ser abusada sexualmente e teve uma relação conflituosa com a dona da instituição, a “tia Marta”. A mulher, que já morreu, é apontada pela Polícia Civil como a provável mandante do sequestro de Ricardo, em 1981.

Após engravidar, aos 16 anos, de uma relação consensual, Sueli viveu um drama quer a marcou por toda a vida: funcionários do abrigo pediram para segurar o filho recém-nascido, enquanto saíam da maternidade do Hospital Regional do Gama (HRG), e sumiram com a criança. A mãe, traumatizada, só conseguiu relatar tudo à polícia em 2013, e a investigação teve fim em 25 abril deste ano, quando agentes da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) encontraram Ricardo e o teste de DNA confirmou a maternidade.
 
 
 
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Correio Braziliense segunda, 06 de maio de 2019

PRODUÇÃO DO ENTORNO: FOCO NA VOCAÇÃO REGIONAL

 


Foco na vocação regional
 
 
O último capítulo da série mostra como é possível agregar valor à produção e aumentar oportunidades de trabalho e renda mesmo nas atividades econômicas tradicionais

 

Simone Kafruni

Publicação: 06/05/2019 04:00

Depois que o marido morreu, Dinha tem de vender compotas para complementar a renda (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press - 20/3/19)  

Depois que o marido morreu, Dinha tem de vender compotas para complementar a renda

 



Cercado pelo vasto verde do cerrado, inúmeras cachoeiras e templos religiosos, o Distrito Federal tem no seu entorno regiões administrativas e municípios que desenvolvem a agropecuária e o turismo ecológico e religioso. Sem perder o foco da vocação regional, cada localidade consegue se reinventar para agregar valor à produção e ampliar as oportunidades de trabalho e renda na periferia. 

Para o professor João Baptista Ferreira de Mello, do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), há uma criatividade latente no entorno dos grandes centros urbanos, que fica ainda mais pujante quando direcionada para a vocação regional. “Eu vejo as periferias com olhar simpático. São ricas em todos os aspectos, desde o urbanístico e paisagístico até o engajamento social e religioso, mas, sobretudo, produtivo”, analisa.

Nas cercanias das metrópoles, há um modo de viver diferente, na opinião do professor. “A religião é muito presente, com igrejas de todos os credos, que convivem lado a lado. O sentimento de comunidade também me parece maior. Por isso, a pecha não se coaduna com a riqueza que existe na periferia”, sentencia.

Com o maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário de Minas Gerais e em sexto lugar no ranking nacional, Unaí tem na lavoura, sobretudo de feijão, milho e soja, e na produção leiteira, sua vocação. A inovação, contudo, vem garantindo renda a um número cada vez maior de agricultores do município mineiro.

Dos quase 84 mil habitantes, 30 mil ou 35% trabalham na lavoura e na pecuária, que ocupam 70% do território, segundo a Emater-MG. A produção diária de leite é de 200 mil litros em média, mas, como recebe o produto de municípios vizinhos, chega a 400 mil litros, coletados por cooperativas e que abastecem grandes empresas. Cerca de 12 mil litros ficam para o consumo de Unaí e a fabricação de derivados, como doce de leite, manteiga e vários tipos de queijo.

Produtor rural da Fazenda Macaúbas, localizada próximo à BR-251, Maikel André Pereira, 26 anos, se uniu ao engenheiro de produção Warley Henrique da Silva, 26, para agregar valor à produção de leite, atividade de várias gerações da família. “Desde 2018, vimos que o leite não estava dando dinheiro. In natura, quase não cobre os custos de produção”, conta Warley. 

A opção por derivados foi lógica. “Além de já ter a produção da matéria-prima, percebemos um nicho de mercado interessante”, explica. Os dois empreendedores investiram em infraestrutura, certificaram a propriedade e, em quatro meses, passaram a produzir queijo. “Quando a produção de leite da fazenda cai, a gente compra de outros fornecedores”, diz. Logo tiveram retorno, porém, o espaço ficou pequeno. “Precisamos fazer uma câmara fria para armazenar o produto acabado. Ampliamos o espaço. Também adquirimos uma caldeira para fazer pasteurização, porque o custo com gás estava muito alto”, enumera.

Hoje, o JM Laticínios produz peças de queijo minas padrão, ralado e frescal. Em janeiro, os sócios iniciaram nova reforma. “Estávamos processando de 80 a 100 litros de leite por semana. Com o maquinário novo, vamos para 350 litros”, diz o produtor. O crescimento foi rápido. A dupla contratou um funcionário e está prestes a empregar outro. A expansão da renda foi significativa. “Agora, temos poder de barganha no mercado, ganhamos mais tempo de prateleira do produto. Com a agroindústria, diversificamos a produção. No futuro, vamos fabricar iogurte e bebidas lácteas”, destaca.

Doce vida

Depois de ficar viúva, há 24 anos, Maria Piedade de Abreu, 71, dona da fazenda Columbia, de 150 hectares, no distrito de Garapuava, em Unaí, também precisou inovar. A propriedade foi dividida entre os quatro filhos, que tocam a produção de leite, as lavouras de milho e os pés de maracujás.

Com apenas um salário mínimo de pensão e uma conta mensal de R$ 900 de plano de saúde, restou à dona Dinha, como é conhecida, fazer doces para vender. “Tenho muitas árvores frutíferas, 12 pés só de figo, além da produção de leite do meu filho. Com a matéria-prima, eu faço as compotas. Já vai para 21 anos. Cozinho no início da semana e, às quartas e quintas, trago meu carrinho para o centro da cidade para vender”, conta.

Os doces de leite, de amendoim, de frutas e a famosa ambrosia da Dinha Doces conquistaram uma boa clientela. “Também faço para casamentos e festas”, diz. Na cidade, chegou a vender 100 potes por semana, a R$ 12 cada, e tinha uma renda líquida de R$ 3,5 mil, tirando os custos. “Mas essa crise derrubou minhas vendas pela metade”, lamenta.


“Eu vejo as periferias com olhar simpático. São ricas em todos os aspectos, desde o urbanístico e paisagístico até o engajamento social e religioso, mas, sobretudo, produtivo”
João Baptista Ferreira de Mello, professor da UERJ
 
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Correio Braziliense domingo, 05 de maio de 2019

QUANDO MAMÃE PRECISA DE COLO

 


Virei mãe da minha mãe
 
 
Elas já cuidaram muito dos filhos. Agora, é chegada a hora de eles retribuírem o carinho materno

 

Por Juliana Andrade
Especial para o Correio
Por Renata Rusky

Publicação: 05/05/2019 04:00

Cláudia sempre morou com a mãe, Sebastiana: cumplicidade
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Cláudia sempre morou com a mãe, Sebastiana: cumplicidade

 

Elas cuidaram dos filhos, deram comida, trocaram roupas e estavam ao lado deles quando ficavam doentes. Também davam broncas, quando necessário. Não há dúvida de que a maternidade é rodeada de amor e de cuidados. Porém, chega um momento na vida em que os papéis se invertem. O filho crescido já não depende tanto dos cuidados da mãe, enquanto ela, não só precisa, como merece todo o apoio dos rebentos.
 
A professora Cláudia Cristina Innocencio, 47, e a mãe, Sebastiana Innocencio, 72, são a prova de que muitos filhos são contagiados pelos cuidados da mãe. Se antes era dona Sebastiana que tomava conta das coisas da casa, agora é a vez de Cláudia. A professora faz as compras, agenda médico para a matriarca, fica atenta aos horários dos remédios e até marca cabeleireiro e manicure. Um cuidado recíproco, que reflete o amor e a amizade entre mãe e filha.
 
As duas têm uma energia contagiante. Dona Sebastiana, com energia de sobra, brinca com o comportamento da Cláudia. “Ela toma conta de tudo”, diz. Mas também não deixa de demonstrar a gratidão. “Eu amo demais a minha filha e todos os outros. Essa aqui fica no meu pé direto”, conta.
 
Para Cláudia, o cuidado com a mãe é o mínimo que ela pode fazer. Ao lado de dona Sebastiana e com um sorriso no rosto, ela se lembra da atenção que Sebastiana sempre teve com ela e com os irmãos. “Ela sempre foi uma mãezona. A gente acordava de manhã e a pasta de dente já estava nas escovas, tudo arrumadinho”, recorda-se.
 
A professora ressalta que o cuidado não chega a ser uma retribuição, mas, acima de tudo, um ato de amor. “A nossa relação é muito boa. O povo fala que eu a mimo demais. A gente é grato, mas acaba que você dá o que recebe. É uma retribuição com amor”, garante.
 
Cláudia e Sebastiana moraram juntas a vida toda. E a filha sempre foi muito apegada à mãe. Durante a infância, quando combinava de dormir na casa de alguma amiga, inventava uma dor de ouvido para voltar para a casa e para os braços maternos. O apego da duas permanece e as pessoas que convivem com elas reconhecem. “Quando a manicure dela troca a cor do esmalte, ela fala para minha mãe ver se a ‘mamãe Cláudia’ vai gostar”, comenta.
 
Os irmãos também são atenciosos com a mãe. De acordo com Cláudia, antes de o irmão da professora sair da casa de Dona Sebastiana, os dois saíam muito para tomar cerveja. “Eu sou caseira e minha mãe, farrista. Quando eles saíam, eu falava: ‘juízo’. E ela voltava lá da escada só para me dizer que ela é que era a minha mãe e não o contrário”, brinca.
 
Débora largou tudo para cuidar de Maria do Socorro quando a mãe ficou doente (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Débora largou tudo para cuidar de Maria do Socorro quando a mãe ficou doente

 

“Sei que ela faria o mesmo por mim”
 
Dúvidas de que a filha a amava, a aposentada Maria do Socorro Santos, 59, nunca teve. E para isso não precisa de provas, pois o amor é manifestado no dia a dia da médica Débora Santos, 40. Ela é um exemplo de filha dedicada. Em um dos momentos mais difíceis na vida de Maria do Socorro, não hesitou em largar tudo para ficar ao lado da matriarca.
 
A aposentada teve um câncer de pâncreas em 2000, época em que Débora estava cursando a tão sonhada faculdade de medicina. Porém, as idas ao hospital já não davam mais espaço para os estudos. A decisão não parecia fácil para muitos, mas Débora estava decidida e trancou o curso para se dedicar ao tratamento. “Para mim, não fazia sentido cursar uma faculdade de medicina sem ter a minha mãe”, lembra. Débora largou também o trabalho e se dedicou a cuidar de Socorro, até o estado de saúde dela melhorar.
 
Essa não foi a única vez que a médica abdicou de tudo pela mãe. Em junho do ano passado, a aposentada teve um novo câncer — desta vez, ginecológico. “Com filho e trabalhando, eu larguei tudo de novo. Dessa vez, ela fez a cirurgia. No pós-cirúrgico eu larguei mesmo, mas, durante a quimio eu revezava entre o tratamento dela e o meu trabalho”, conta.
 
Hoje, o câncer está sob controle, mas Débora não deixa de cuidar da mãe e sempre vai visitá-la. Para Socorro, ter uma filha tão atenciosa é um privilégio. “Eu sabia que ela era muito cuidadosa, mas me surpreendeu com a série de coisas que fez. Ela sabia exatamente como eu reagiria em algumas situações, até mais do que eu. Parecia que tinha se especializado em mim”, ressalta.
 
Socorro conta que a filha foi seu porto seguro durante o tratamento. Débora sempre fez o possível para amenizar as dores da mãe. Antes de iniciar a radioterapia, a filha visitou o local e conversou com os médicos para saber as reações que a mãe poderia ter. A aposentada lembra que a médica nunca chegava de mãos vazias em casa. Sempre trazia algo diferente para comer ou alguma medicação.
 
Para Débora, as atitudes dela como filha não significam nenhum esforço. É motivada pelo carinho da mãe. “Ela faria o mesmo por mim em qualquer momento da vida. Não faço mais que minha obrigação. É uma oportunidade de poder retribuir o que ela fez por nós”, garante.
 
Cuidado de volta
 
O jeito atencioso e cuidadoso vem passando de geração em geração. Socorro até brinca que não sabe se faria o mesmo, mas a médica garante que sim. Débora lembra que quando a filha, Laura, hoje com 7 anos, sofreu um acidente, no qual um box de vidro caiu sobre a pequena, a avó da garota entrou em desespero, mesmo com Débora ressaltando que a menina estava bem.
 
“Ela queria vir para cá, mas já passava das 11 horas da noite e eu não a deixei vir. No dia seguinte, quando amanheceu, eu acendi minha luz, por volta das seis horas da manhã, para ir trabalhar, e recebi uma mensagem dela falando que estava na porta da minha casa. Simplesmente, ela ficou sentada no chão, esperando qualquer movimento na casa para avisar que estava na porta”, relata.
 
As duas ainda destacam que Laura também já se mostra supercuidadosa e faz companhia para a avó diariamente. “Eu a vejo passando para a filha a importância que é esse vínculo afetivo de mãe para filha e de filha para avó, que é muito forte. Eu fico pensando em que momento eu mereci ter a Débora como filha”, destaca Socorro, agradecida.
 
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Correio Braziliense sábado, 04 de maio de 2019

SELEÇÃO BRASILEIRA EM BRASÍLIA NO DIA 5 DE JUNHO

 


COPA AMÉRICA
 
Mané dribla o Maracanã
 
Fora do torneio, Brasília receberá penúltimo amistoso da Seleção antes da estreia. Adversário será o Catar, atual campeão asiático e sede do Mundial 2022. Entenda por que o jogo veio para a capital

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 04/05/2019 04:00

A torcida verde-amarela poderá reviver as festas da Copa de 2014 no Mané Garrincha, quando o Brasil enfrentou Camarões e Holanda (Ed Alves/CB/D.A. Press - 4/8/16
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A torcida verde-amarela poderá reviver as festas da Copa de 2014 no Mané Garrincha, quando o Brasil enfrentou Camarões e Holanda

 



Os perrengues da gestão do Maracanã e um possível choque de data com o duelo de volta entre Flamengo e Corinthians, no Rio, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, favoreceram a escolha do Estádio Mané Garrincha para ser o palco do penúltimo amistoso da Seleção antes da Copa América, em 5 de junho, às 21h30. Os valores dos ingressos ainda não foram divulgados pela CBF.

O jogo é uma espécie de prêmio de consolação para  Brasília. A cidade é a única capital de país da América do Sul que jamais recebeu jogo da Copa América. Não será também em 2019. O governo local anterior dormiu no ponto e a arena mais cara do Mundial 2014 foi preterida pelo Comitê Organizador e a Confederação Sul-Americana (Conmebol). São Paulo (Morumbi e Arena Corinthians), Belo Horizonte (Mineirão), Salvador (Arena Fonte Nova), Porto Alegre (Arena Grêmio) e Rio (Maracanã) são os cinco palcos da competição. Neste ano, houve uma última tentativa frustrada de Brasília entrar na festa.

A troca do Rio por Brasília para abrigar o amistoso começou há três dias. Como anteciopou o Correio em 10 de abril, o contrato assinado pelos presidentes da Associação de Futebol do Catar, Sheik Hamad Al Thani; e da CBF, Rogério Caboclo, previa o jogo no Maracanã. Uma fonte disse à reportagem que a CBF preferiu evitar um possível desgaste com o Flamengo. Gestor do estádio ao lado do Fluminense por 180 dias depois do rompimento do governo com a concessionária que administrava a arena, o clube rubro-negro receberá o Corinthians na mesma data valendo vaga para às quartas de final da Copa do Brasil.

Diante do impasse, o Governo do Distrito Federal e a Federação local deram as garantias necessárias para arealização do confronto. Da capital, a Seleção, que será convocada no próximo dia 17, no Rio, embarcará rumo a Porto Alegre para o confronto com Honduras, no Beira-Rio. Na sequência, estreará na Copa América contra a Bolívia, em 14 de junho, no Morumbi, em São Paulo.

Atual campeão da Copa da Ásia depois de uma campanha invicta no torneio disputado nos Emirados Árabes Unidos, o Catar é uma das seleções convidadas pela Conmebol para a Copa América deste ano no Brasil. O outro é o Japão. Os anfitriões do Mundial 2022 estão no Grupo B contra Argentina, Colômbia e Paraguai.

O adversário do time de Tite está em evolução. Na fase de mata-mata da Copa da Ásia, superou Iraque, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos e o Japão na decisão do título com vitória por 3 x 1 — único gols sofrido na campanha. O Catar ocupa a segunda melhor posição no ranking na história: 55º. A melhor foi registrada em 1993, quando atingiu o 51º lugar.

O duelo é inédito. Brasil e Catar só mediram forças em competições de base. O Catar derrotou o Brasil por 3 x 2 nas quartas de final do Mundial Sub-20 de 1981, na Austrália. A Seleção deu o troco em 1995. Ganhou por 2 x 0, em Doha, pela fase de grupos. Houve dois duelos também no Mundial Sub-17. O Brasil venceu por 2 x 1 na competição disputada em 1985, na China; e goleou por 6 x 0 na edição de 2005, no Peru.

Articuladores do GDF no diálogo com a CBF, o secretário de Esporte Leandro Cruz e o presidente da FFDF, Daniel Vasconcelos, foram comedidos ao comentar a confirmação do jogo em Brasília. “Quando vimos que a relação com o Maracanã estava difícil, nós colocamos o Mané Garrincha à disposição. Foi uma negociação reservada. É uma importante vitória”, disse o homem de confiança do governador Ibaneis Rocha. “A oficialização do amistoso é um reflexo do regaste da credibilidade da federação na relação com a CBF”, comemorou Daniel.

Mundial Sub-17
A partida entre Brasil e Catar também oficializará Brasília como sede do Mundial Sub-17, em novembro. O torneio seria disputado no Peru, mas o país vizinho não cumpriu o caderno de encargos e a Fifa alterou a sede. Das 24 vagas, 14 estão preenchidas: Brasil, Argentina, Chile, Equador, Paraguai, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Tajiquistão, Camarões, Nigéria, Angola, Guiné e Nova Zelândia. As Ilhas Salomão brigam no tapetão para disputar a competição depois de escalar um jogador irregular. Caso o recurso seja negado, o Taiti herdará a vaga. Faltam quatro representantes da Concacaf e cinco da Europa.




Jogos da Seleção masculina no novo Mané

15/6/2013 – Brasil 3 x 0 Japão (Copa das Confederações)
7/9/2013 – Brasil 6 x 0 Austrália (Amistoso)
23/6/2014 – Camarões 1 x 4 Brasil (Copa do Mundo)
12/7/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda (Copa do Mundo)
13/10/2014 – Brasil Sub-23 3 x 0 Estados Unidos (Amistoso)
4/8/2016 – Brasil 0 x 0 África do Sul (Jogos Olímpicos Rio-2016)
7/8/2016 – Brasil 0 x 0 Iraque (Jogos Olímpicos Rio-2016)

Agenda canarinho

» Convocação
17/5 – Lista dos 23 para Copa América

» Amistosos

5/6 – Brasil x Catar (Brasília)
9/6 – Brasil x Honduras (Porto Alegre)

» Copa América

Fase de grupos
14/6 – Brasil x Bolívia (São Paulo)
18/6 – Brasil x Venezuela (Salvador)
22/6 – Peru x Brasil (São Paulo)


Neymar

Depois de agredir um torcedor sábado passado na final da Copa da França, Neymar espera uma decisão da Comissão Disciplinar da Federação Francesa de Futebol para saber se será castigado. A entidade informou, ontem, que abriu investigação para apurar a agressão. Expulso contra o Rennes, Mbappé ganhou castigo de três jogos.
 
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Correio Braziliense sexta, 03 de maio de 2019

INSTITUTO MARIA DO BARRO: ARTE E SOLIDARIEDADE

 

Arte e solidariedade
 
 
Com o forno recuperado no Instituto Maria do Barro, em Planaltina, artesãos da cidade voltaram a ter uma fonte de renda. Expectativa a longo prazo é transformar a cidade em polo produtor de artesanato

 

Mariana Machado
Especial para o Correio

Publicação: 03/05/2019 04:00

Dona Nerci com as integrantes do Instituto de Assistência Social Maria do Barro:   

Dona Nerci com as integrantes do Instituto de Assistência Social Maria do Barro: "Aprendi a tecer tapetes aqui, e é o que faço em casa. Não posso ficar parada"

 




Do barro eles criam pratos, vasos de plantas, jarras e o que mais as cabeças dos artesãos do Instituto de Assistência Social Maria do Barro, na região da Horta Comunitária em Planaltina, imaginarem. Apesar do nome, há pelo menos oito anos, o grupo não conseguia produzir uma peça sequer de cerâmica por dois motivos: falta de material, e o forno, doado em 2010 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), não estava funcionando. Com o apoio da ONG Paranoarte, a história mudou, e agora as peças estão sendo confeccionadas novamente.

O instituto nasceu da vontade de uma mulher em oferecer oportunidades de renda a moradores de Planaltina (leia Para Saber Mais). Ainda nos primeiros anos de Brasília, Maria do Barro começou o trabalho social ensinando ofícios de artesanato a quem tivesse interesse. Entre elas, estava a atual presidente da entidade, Idalete Silva, 48. Há cerca de 28 anos, ela conheceu o trabalho e quis participar. “Na época eu tinha quatro filhos, todos pequenos e estava desempregada, em uma situação difícil. Ela me deu todo o apoio: moradia, comida e o suporte de que eu precisava”, recorda.

Idalete então começou a se dedicar integralmente. Era a primeira a chegar e a última a sair. Depois que Maria do Barro adoeceu, ela a ajudava com os primeiros cuidados e, após o falecimento, decidiu continuar o que fora iniciado. Assim, o instituto foi oficialmente fundado. “O belo trabalho que ela fazia em prol das mulheres, especialmente, não podia parar; por isso, eu quis dar continuidade”, declara.

A casa de paredes brancas, onde a organização está, funciona como uma espécie de escola em que são oferecidas gratuitamente oficinas de artesanato, que incluem também a tecelagem. Atualmente, são cerca de 50 participantes, entre homens e mulheres de 25 a 40 anos, mas não há qualquer restrição de idade. “Também não precisa ter experiência, e pode vir de qualquer lugar. Basta vontade de aprender”.

Uma das alunas mais dedicadas é a baiana Nerci Viana, 67, que se juntou ao grupo ainda nos anos 1990. Ela conheceu Maria do Barro em Planaltina de Goiás, onde morou por 13 anos. Hoje, vive a poucos metros da sede da organização e não perde uma aula. “Venho duas ou três vezes por semana e fico aqui o dia inteiro, ajudo a limpar as salas”, relata a mulher com as mãos ainda sujas da argila que usava para confeccionar um pote.

Hoje, Nerci não tem uma fonte de renda fixa. Viúva e mãe de cinco filhos, ela reveza os dias de aula com o artesanato que faz na residência onde mora. “Aprendi a tecer tapetes aqui, e é o que faço em casa. Não posso ficar parada”, ri. Com a venda dos itens, ela se mantém financeira e psicologicamente. “Isso aqui mudou muita coisa na minha vida. Em vez de ficar em casa pensando nos problemas, aqui esqueço de tudo; é maravilhoso”, elogia.


Forno recuperado: produção dos trabalhos está em alta  (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

Forno recuperado: produção dos trabalhos está em alta

 




A volta do barro
Graças à ajuda da organização sem fins lucrativos Paranoarte, os artesãos puderam voltar a produzir peças de barro. O presidente da ONG, Valdir Rodrigues, 63, conta que conheceu a instituição de Planaltina em 2010 e lamentou a obsolescência do forno. “Mas nós éramos totalmente estranhos na área e não tínhamos conhecimento nenhum sobre como fazer. A minha esposa, então, fez um curso de cerâmica para aprender o ofício e poder resgatar a competência do lugar através de oficinas”, recorda.

Amigos e participantes do Paranoarte fundaram a Rede do Barro e, no fim de 2017, fizeram a proposta a Idalete, que topou na hora. “Ela nos confessou que era um sonho. Primeiro eu precisei consertar o forno. Estava com fusíveis queimados e sem condição nenhuma de uso”, relata. Depois, fizeram uma reforma em um galpão usado para as aulas e só então trouxeram o material.

Em janeiro de 2018, a primeira turma começou a ter aulas e, de lá para cá, muitos utensílios tomaram forma. As peças produzidas ficam com os criadores, para serem vendidas, mas algumas são doadas ao instituto para manutenção das instalações. As vendas são feitas em um box na Feira da Torre e na região do Polo Verde, próximo ao Lago Norte.

As aulas acontecem toda quinta-feira pela manhã e cerca de 30 artesãos participaram. “Quando encerramos a primeira classe, a gente tinha a sensação de dever cumprido e de ter superado expectativas, tanto na adesão quanto na criatividade deles. Vale a pena e ainda temos muito trabalho por fazer”, admite Valdir. A proposta agora é transformar Planaltina em um polo produtor de artesanato a longo prazo.

Ele também comemora os benefícios terapêuticos que o barro tem trazido. “Tivemos depoimentos de pessoas com depressão que superaram a doença, pessoas com dificuldade de dormir que melhoraram. Trabalhar com a argila é um estímulo tanto psicológico quanto físico”, afirma.

Necessidades
Até o momento, a Rede do Barro tem doado o material para as aulas de cerâmica, mas Idalete conta que ainda é necessária ajuda para produzir mais. O grupo não tem, por exemplo, tornos de oleiro, máquina usada para criar os objetos e vista em filmes famosos, como o americano Ghost: do outro lado da vida.

Também faltam as linhas e tecidos para o trabalho de tecelagem, que permite a criação de tapetes e toalhas. “Se a gente tivesse uns R$ 1 mil, dava para começar, porque a gente comprava o que precisava, criava os produtos para venda e com o dinheiro dava para repor os estoques”, calcula Idalete.

Quem quiser contribuir de alguma forma ou saber mais a respeito do Instituto Maria do Barro, pode entrar em contato pelos telefones 9.9395-9373 e 9.9111-4231.




Paranoarte
A partir da ONG Movimento Integrado de Saúde Comunitária, nasceu a Paranoarte. A ideia é fomentar o artesanato em comunidades carentes e ensinar técnicas a artesãos do DF. “O objetivo é criar oportunidades de comercialização, capacitação e design para melhorar a criação e gerar renda”, explica Helenice Bastos, coordenadora do grupo.




Para saber mais 

Quem foi Maria do Barro?

A cearense Maria Augusta Erich de Menezes ficou conhecida pelo trabalho social feito sobretudo em Planaltina e Planaltina de Goiás. Ela organizava mutirões para confecção de tijolos e telhas usados na construção de casas de famílias carentes. O trabalho dela deu início ao que seria mais tarde um instituto com o próprio nome, com objetivo de ensinar artesanato na periferia, fornecendo uma opção de fonte de renda. Ela faleceu, em 2006, aos 87 anos.



 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  


"Não precisa ter experiência, e pode vir de qualquer lugar. Basta vontade de aprender” 

Idalete Silva, artesã
 
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Correio Braziliense quinta, 02 de maio de 2019

GÊMEAS XIFÓPAGAS TÊM BOA RECUPERAÇÃO

 

Gêmeas têm ótima recuperação
 
 
As siamesas, separadas no último sábado em delicada e bem-sucedida cirurgia no Hospital da Criança de Brasília, completaram 11 meses de vida. O quadro de saúde evolui dentro do esperado e o resultado continua emocionando a todos os envolvidos na operação

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 02/05/2019 04:00

 

"Participar dessa cirurgia foi um presente para mim. Ver Lis e Mel bem foi minha realização. Obrigado por isso, meninas" 

Gleydson Rabelo, supervisor de Manutenção do Hospital da Criança

 


A vida das gêmeas siamesas Lis e Mel tem sido de vitórias diárias. A celebração, ontem, foi dos 11 meses de idade, e com boas notícias sobre a recuperação da delicada cirurgia de separação, que ocorreu no último sábado.
 
Após surpreender a equipe médica e acordar antes do previsto, na segunda-feira, Lis já respira sem aparelhos e até ensaiou os primeiros movimentos independentes da irmã, apoiando-se sobre as mãos e os joelhos. Por isso, foi descrita como “mais sapeca” pela equipe. 
 
Mel, por sua vez, continua entubada e sedada para permitir a melhor recuperação do cérebro, mas a evolução dela também é muito positiva. “Examinei a Mel. Ela está muito melhor e mais reativa”, afirmou Márcio Marcelino, neurocirurgião.

 

"Agradeço pelos pensamentos positivos e orações. Têm sido muito importantes essas vibrações para nós" 

Camilla Vieira, mãe das gêmeas

 

Além dos profissionais do Hospital da Criança de Brasília, onde as meninas foram operadas e estão internadas, os pais, Camilla Vieira e Rodrigo Martins, não desgrudam os olhos das gêmeas. O sentimento, contou a mãe ao Correio, é de fé e agradecimento: “Agradeço pelos pensamentos positivos e orações. Têm sido muito importantes essas vibrações para nós”.
 
Se tudo continuar ocorrendo como previsto, Lis e Mel devem deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em duas semanas. Há grande expectativa para saber como elas vão reagir e se relacionar após a separação. Quando ainda estavam unidas pela cabeça, as meninas costumavam dormir abraçadas e brincavam de trocar a chupeta uma da outra.
 
Depois da fase inicial de cuidados intensivos, os médicos se dedicarão às cirurgias plásticas para reconstrução óssea e do couro cabeludo das crianças, além de ajudar o desenvolvimento postural e motor das meninas.

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Outro foco da equipe é com o cérebro das gêmeas. Embora a possibilidade seja considerada remota, a equipe vai avaliar se a cirurgia deixou algum tipo de sequela neurológica. “Pode ser que elas tenham um desenvolvimento mais lento, e, se houver alguma sequela, será quase imperceptível”, explica o chefe da equipe de Enfermagem do Hospital da Criança, Carlos Eduardo da Silva.
 
 Torcida
O raro caso das meninas siamesas não tocou apenas os 50 profissionais que fizeram parte do procedimento de separação, mas emocionou e conquistou todo o Hospital da Criança. Mesmo quem tinha funções fora da sala de cirurgia vibrou quando soube que tudo tinha dado certo para as pequenas.
 
José Alfredo Malenha, 50 anos, é um desses personagens de bastidores. Ele foi o responsável por garantir alimentação, transporte, limpeza e lavanderia no dia da cirurgia. Sem expediente no fim de semana, fez questão de trabalhar no dia em que Mel e Lis foram separadas. “Foi pequeno perto dos médicos, mas a gente se sente com a alma renovada. Não arredamos o pé do hospital até finalizar a cirurgia, todos torcemos para que desse certo.” 
 
Quem também fez plantão na porta do centro cirúrgico foram os funcionários da infraestrutura predial, que montou três equipes completas para garantir energia elétrica, água e manutenção durante as 20 horas de cirurgia. “Quando as vi juntas, antes da cirurgia, foi forte demais e chorei ao vê-las separadas. Trabalho há 16 anos em hospital e nunca vivi nada assim”, comenta Márcio Silva Matos, 46, chefe da Infraestrutura.
 
Emocionado, com a voz embargada, Gleydson Rabelo, 38, supervisor da Manutenção, montou um grupo de oração no WhatsApp antes da cirurgia e fez questão de deixar uma mensagem para as meninas. “Participar dessa cirurgia foi um presente para mim. Ver Lis e Mel bem foi minha realização. Obrigado por isso, meninas.”
 
 
 
Entenda o caso
 
Procedimento delicado
 
As gêmeas nasceram com uma condição conhecida no meio médico como craniopagia, ou seja, elas eram unidas pela cabeça. Histórias assim são raras, acontecem uma vez a cada 2,5 milhões de nascimentos. No caso das duas brasilienses, elas estavam unidas pelas testas. 
 
A gemelaridade imperfeita, como é tecnicamente conhecido o caso de gêmeos siameses, acontece uma vez em cada 100 mil nascimentos. É causada por um erro na divisão celular após o 12º dia da concepção em embriões de gêmeos de um único óvulo e um espermatozoide. 
 
As meninas nasceram no Hospital Materno Infantil (Hmib), em junho de 2018. Como o pré-natal indicava que elas eram siamesas, toda uma equipe de profissionais, de diferentes áreas, foi mobilizada para realizar o parto, uma cesariana. Pelo menos 12 médicos acompanharam o caso desde a gestação. 
 
Toda a preparação incluiu reuniões, análise de exames, estudo de outros casos e até a construção de um molde tridimensional da cabeça das crianças. 
 
O principal obstáculo à cirurgia era esperar que elas estivessem fortes o suficiente para passar pelo procedimento cirúrgico. Assim, foram acompanhadas durante os primeiros meses de vida para que ganhassem peso e ficassem prontas. 
 
Finalmente, em 27 de abril, a cirurgia foi realizada com sucesso no Hospital da Criança de Brasília, por uma equipe de 50 profissionais.

Correio Braziliense quarta, 01 de maio de 2019

IRMÃS XIFÓPAGAS UNIRAM UM HOSPITAL

 


A HISTóRIA DE LIS E MEL
 
Gêmeas uniram um hospital
 
 
A cirurgia que separou as irmãs mobilizou o Hospital da Criança de Brasília. Previsão inicial é de que elas deixem a UTI em duas semanas

 

» HELLEN LEITE
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 01/05/2019 04:00

 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança)  
 
Estáveis e com recuperação gradual, as irmãs gêmeas Lis e Mel, separadas após cirurgia de 20 horas realizada de sábado para domingo, permanecem internadas na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). A previsão é de que as meninas, que pesam 9kg cada, deixem o local em duas semanas. O prazo, no entanto, pode ser maior ou menor, a depender das respostas das pequenas.

Por enquanto, Lis teve os tubos de respiração mecânica removidos e reage a estímulos sonoros — como músicas da Galinha Pintadinha — e chegou a se apoiar com as mãos e os joelhos por alguns segundos. Mel continuava até a noite de ontem sob sedação e requer mais cuidados. Mesmo que haja alguma lesão cerebral em uma das meninas, é possível que isso seja imperceptível, segundo os especialistas que acompanharam o caso.

Os resultados estão dentro do esperado pela equipe médica. Apesar de se tratar de uma cirurgia invasiva e delicada, tudo transcorreu como planejado, e os resultados serão publicados em periódicos científicos. Duas enfermeiras e três médicos do The Children’s Hospital Montefiore, em Nova York, acompanharam os trabalhos no HCB como consultores. Um deles é o neurocirurgião James Goodrich. “Consultamos cerca de 35 casos como esse ao redor do mundo. Só 25% chegou ao ponto da separação. Quando alguém nos chama, temos certeza antes de realizar a intervenção. O doutor Benício (Oton) fez um trabalho maravilhoso, orquestrando e juntando tudo, e o time trabalhou incrivelmente bem”, comemorou o médico.

Mais de 50 profissionais se envolveram diretamente na cirurgia de separação das gêmeas Lis e Mel (no detalhe), no Hospital da Criança de Brasília (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Mais de 50 profissionais se envolveram diretamente na cirurgia de separação das gêmeas Lis e Mel (no detalhe), no Hospital da Criança de Brasília

 



Suave
 
O caso do DF foi o décimo a contar com a contribuição do grupo de especialistas norte-americanos. Duas das enfermeiras que compuseram a equipe palestraram antes da cirurgia para os profissionais envolvidos. A experiência de 14 anos de Kamilah Dowling no Children’s Hospital Montefiore contribuiu com o aprendizado repassado aos colegas. “Compartilhei a importância do trabalho em equipe e da comunicação, pois os enfermeiros também eram responsáveis por avisar sobre quaisquer mudanças relativas a Lis e a Mel”, destacou. “Eles formaram um bom time, se comunicavam bem e eram receptivos a informações. A combinação desses fatores fez tudo acontecer de forma suave”, ressaltou a enfermeira.

 

"Lis e Mel, dei meu melhor. Fiz o máximo possível para que desse certo. O que mais quero é que vocês possam aproveitar a vida e ser felizes como toda criança merece ser" Carlos Eduardo Miguel da Silva, chefe da equipe de enfermagem

 



Emoção
 
Mesmo depois da cirurgia, a ligação entre as meninas se estenderá para além dos laços sanguíneos. Agora, ambas carregam um pedaço do osso do crânio que as unia. Caso raro no mundo, o procedimento de separação das gêmeas deu outro ar aos corredores do HCB. A história das duas meninas mobilizou não só a equipe médica envolvida diretamente, mas todos os profissionais do Hospital da Criança levam, de certa forma, uma marca das bebês no coração.

De Benício Oton, neurocirurgião que comandou a empreitada, a funcionários da manutenção e limpeza, o hospital se transformou em uma corrente de orações e pensamentos positivos em favor das garotinhas. Diretamente envolvidas, 50 pessoas se alternavam entre a sala de cirurgia e outra de apoio, onde podiam acompanhar, por uma tevê, os trabalhos. Cada integrante ficou responsável por avisos de mudanças no quadro de saúde de Lis e Mel, pela preparação de equipamentos, pelo monitoramento da operação e até por dar conselhos à equipe.

Ana Paula Paulino, 31 anos, é supervisora da Agência Transfusional do HCB e foi escalada para dar suporte hemoterápico às gêmeas. Ela até podia ter seguido a escala especial que prepararam no sábado, mas a expectativa de ver as meninas separadas foi maior do que o cansaço. Ana se envolveu, rezou, torceu e, no fim, permaneceu as 20 horas na sala do procedimento. “Ficamos além do horário. Mesmo após o término, queríamos ficar. O nosso grupo de WhatsApp não parava no sábado. Toda hora alguém perguntava como elas estavam”, contou. “Existia um clima bom e de expectativa positiva na sala de cirurgia. Era todos nós trabalhando por um único objetivo. Elas vieram para nos transformar e nos unir.”

Bastou um olhar de Mel e Lis para o enfermeiro Carlos Eduardo Miguel da Silva, 34, ter certeza de que tudo daria certo. Chefe da enfermagem, ele foi responsável por coordenar a operação e ser a ponte de comunicação da junta médica com Camila Neves, 25, e Rodrigo Neves, 30, pais das meninas. Ficou com ele a responsabilidade de oferecer segurança e tranquilidade à família, mas isso não o livrou da adrenalina de fazer parte da história. Emocionado e esperançoso de que as meninas terão uma boa recuperação, Carlos contou que, se pudesse falar algo a elas, diria que colocou o próprio coração na cirurgia de 27 de abril. “Lis e Mel, dei meu melhor. Fiz o máximo possível para que desse certo. O que mais quero é que vocês possam aproveitar a vida e ser felizes como toda criança merece ser”, concluiu.

Correio Braziliense terça, 30 de abril de 2019

IRMÃS XIFÓPAGAS: AGORA, UNIDAS PELO AMOR

 


A HISTóRIA DE LIS E MEL
 
 
Agora, unidas pelo amor
 
A delicada cirurgia de separação das gêmeas siamesas foi a primeira realizada em Brasília e a décima em todo o mundo

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 30/04/2019 04:00

Lis e Mel foram separadas depois de 
20 horas de operação. Médicos do Hospital da Criança detalharam todo o processo (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Lis e Mel foram separadas depois de 20 horas de operação. Médicos do Hospital da Criança detalharam todo o processo

 


Médicos, enfermeiros e dezenas de outros profissionais de saúde com anos de experiência celebraram o sucesso de uma cirurgia inédita no Distrito Federal. As gêmeas siamesas Lis e Mel foram separadas, no último sábado, após 20 horas na mesa de operação e se recuperam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). A coletiva de imprensa na unidade de saúde rendeu momentos de emoção dos médicos e agradecimento dos pais, a consultora Camila Vieira Neves, 25 anos, e o supervisor comercial Rodrigo Martins Aragão, 30.
 
O procedimento para separar as duas crianças — unidas pelo crânio (craniópagas) — trata-se do 10º realizado em todo o mundo. A cirurgia pela qual as meninas de 10 meses passaram, no último fim de semana, envolveu cuidado intenso e uma carga emocional acumulada durante quase um ano de acompanhamento. A operação se dividiu em 36 etapas, e o HCB é o terceiro hospital do país onde isso ocorreu.

 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança)  
O trabalho de separação das irmãs exigiu o esforço direto de 50 profissionais, incluindo três médicos e duas enfermeiras do The Children’s Hospital at Monte Fiore, em Nova York, nos Estados Unidos, convidados a participar e prestar apoio, como consultores, durante a cirurgia. O grupo tem bagagem ampla em casos como esse e acompanhou os outros nove executados em todo o planeta. Gêmeos siameses craniópagos são extremamente raros e têm incidência de um a cada 2,5 milhões de nascimentos.
 
As meninas foram diagnosticadas durante a 10ª semana de vida. A partir do momento em que o neurocirurgião do HCB Benício Oton descobriu que seria possível separá-las, ele deu início ao processo de escolha do time que o acompanharia na missão. Foram meses de preparo para os dois procedimentos, sendo que o primeiro ocorreu em 26 de janeiro. “A família e o HCB abraçaram a ideia. Então, saímos atrás de pessoas (equipe médica) que tinham capacidade de fazer isso”, disse o especialista.

 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança)  
Conhecimento
Convidado pessoalmente por Benício, o anestesiologista Luciano Fares recebeu uma caixa com os moldes do crânio de Lis e Mel e topou o desafio. “A gente tinha de resolver isso, e a primeira coisa necessária era conhecer as meninas, planejar e buscar conhecimento”, comentou Luciano, que mencionou a escassez de bibliografia a respeito dessa condição médica. “Nossa dica para fazer a anestesia estava ao olharmos para elas: se não nos uníssemos, não teríamos como separá-las, e o hospital é famoso por essa união”, completou Luciano.

 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança)  
A história das crianças envolveu, ainda, empresas privadas, que doaram insumos necessários ao procedimento. Uma delas forneceu os moldes em três dimensões personalizados e usados nos ensaios teóricos e práticos da equipe médica. Na tarde de ontem, vestido com camisetas em homenagem às crianças, o cirurgião plástico Ricardo de Lauro comentou sobre a relação com as meninas. “Na Ala de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte, onde também trabalho, encontro muitas crianças em situação grave, mas aprendemos a separar (da vida pessoal). Ainda assim, existe um amor que criamos com pacientes. Não tem como”, disse Ricardo.
 
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Correio Braziliense segunda, 29 de abril de 2019

BRASÍLIA: RIQUEZA DA PERIFERIA

 


Dona do próprio negócio

 

Publicação: 29/04/2019 04:00

Marisa começou vendendo lingerie para as colegas, hoje tem uma sex shop no shopping PMC (Minervino Junior/CB/D.A Press - 18/3/19)  

Marisa começou vendendo lingerie para as colegas, hoje tem uma sex shop no shopping PMC

 



Valparaíso de Goiás — Um ditado diz que a dor ensina a gemer e outro, que a necessidade é a raiz da invenção. O empreendedorismo brasileiro vai nessa linha, explica a professora de antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Simoni Lahud Guedes. “Há um saber coletivo dos brasileiros que deriva da periferia. Homens e mulheres vão aprendendo tudo o que é possível, sem se especializar muito, porque vivenciam a instabilidade em família desde pequenos. Uma hora o pai está empregado, daqui a pouco não está. Aí alguém compra alguma coisa e vai vender na rua para sustentar a casa”, exemplifica.

No caso de Marisa dos Santos, 25, “alguma coisa” foi lingerie. Mesmo com trabalho, mas para complementar a renda e ajudar em casa, carregava a mercadoria no carro para vender no tempo livre entre as jornadas dos empregos como vendedora de cosméticos em dois shoppings no DF. Até que decidiu apostar num negócio próprio. “Eu virei empresária meio por acaso. Para ganhar mais dinheiro, vendia lingerie para as colegas. Comecei com 15 peças em 2017. As clientes gostaram e foram pedindo mais. Quando dei por mim, estava ganhando bem. Cansei de trabalhar para os outros, pedi as contas e investi tudo em mais produtos”, destaca.

Clientela fiel

No início de 2018, surgiu a oportunidade de comprar um ponto no shopping popular de Valparaíso de Goiás, onde paga R$ 3,5 mil de aluguel e condomínio. Marisa tem uma sex shop no empreendimento. “Trabalhei para pagar a loja até a inauguração, em novembro. Ainda vendo fora, porque continua dando mais dinheiro. Mas a ideia é largar o carro e parar quando o movimento da nova loja melhorar”, revela. Além da clientela fiel, que também mora na periferia e agora vai à loja de Marisa para se abastecer com as novidades, a sex shop está conquistando consumidores. “A maioria dos novos compradores é da região. Espero que o movimento do shopping aumente cada vez mais”, completa. (SK)

Jornal Impresso


Correio Braziliense domingo, 28 de abril de 2019

ESTILO K-POP CANDANGO

 

K-pop candango

 

Publicação: 28/04/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A. Press)  
Cultura coreana vira inspiração para jovens de todo o mundo. Saiba como o estilo tem moldado o comportamento de alguns brasilienses, como Matheus Mendes, Viniciús Ramos e Yasmin Góes
 
Moda
A Revista acompanhou tudo que rolou na São Paulo Fashion Week
 
TV
Confira uma entrevista com o ator e apresentador Márcio Garcia
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 27 de abril de 2019

INDÍGENAS EM BRASÍLIA: TERRA LIVRE REÚNE 4 MIL

 

Terra Livre reúne 4 mil

 

Publicação: 27/04/2019 04:00

 

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

 


Depois de três dias, foi encerrada ontem a maior manifestação de índios do país. O 15º Acampamento Terra Livre reuniu cerca de 4 mil indígenas, que representaram 170 etnias, de acordo com os organizadores. Alguns índios protestaram, nadaram e entoaram palavras de ordem no espelho d’água em frente ao Ministério da Justiça.  Os indígenas pedem a demarcação de terras e a “manutenção de direitos básicos”. O grupo também é contrário à proposta de municipalização dos serviços de saúde e protesta contra medidas recentes, como mudanças na Funai, antes vinculada ao Ministério da Justiça.

Jornal Impresso


Correio Braziliense sábado, 27 de abril de 2019

INDÍGENAS EM BRASÍLIA: TERRA LIVRE REÚNE 4 MIL

 

Terra Livre reúne 4 mil

 

Publicação: 27/04/2019 04:00

 

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

 


Depois de três dias, foi encerrada ontem a maior manifestação de índios do país. O 15º Acampamento Terra Livre reuniu cerca de 4 mil indígenas, que representaram 170 etnias, de acordo com os organizadores. Alguns índios protestaram, nadaram e entoaram palavras de ordem no espelho d’água em frente ao Ministério da Justiça.  Os indígenas pedem a demarcação de terras e a “manutenção de direitos básicos”. O grupo também é contrário à proposta de municipalização dos serviços de saúde e protesta contra medidas recentes, como mudanças na Funai, antes vinculada ao Ministério da Justiça.


Correio Braziliense sexta, 26 de abril de 2019

NELZIRA MOREIRA: A PROFESSORA QUE CHEGOU A BRASÍLIA ANTES MESMO DE A CIDADE SER INAUGURADA

 

A professora que chegou a Brasília antes mesmo de a cidade ser inaugurada

Pioneira da educação, Nelzira Moreira relembra momentos da carreira

A professora relembra momentos marcantes da trajetória (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

A história de Nelzira Moreira em Brasília começou com a chegada dela em um dos caminhões FeNeMê — como eram conhecidos os veículos da Fábrica Nacional de Motores (FNM). A pioneira de 79 anos mudou-se, em 1957, para uma cidade que praticamente não existia. A futura capital federal ainda estava tomada pela terra, por tratores e pelas casas de madeira onde moravam famílias de retirantes e de funcionários públicos recém-transferidos.
 
O primeiro marido dela, Donato, mudou-se para o Planalto Central para trabalhar no escritório da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). À época, o casal se mudou para a Vila Operária, atual Candangolândia. As visitas à Cidade Livre — hoje, Núcleo Bandeirante, onde Nelzira mora — eram apenas para compras. A região, em seguida, tornou-se um dos locais de trabalho da professora.
 
Mesmo com a formação normalista no município de Silvânia (GO), onde nasceu, Nelzira estudou contabilidade onde atualmente fica o Fórum do Núcleo Bandeirante. As condições do espaço não deixaram a memória da pioneira até hoje: “Quando chovia, o córrego enchia e tudo ficava alagado. Para fugirmos da chuva, o diretor nos levava para outro local e dava continuidade às aulas”, conta.
 
Graças aos conhecimentos acumulados, Nelzira passou a dar aula em dois colégios: um deles na antiga invasão do IAPI, o outro, na Vila Operária. Quem frequentava algumas das escolas do início de Brasília estudava em montinhos de tijolos e, por vezes, dividia espaço com bichos, como sapos e cobras. Naquele tempo, Nelzira lecionou para alunos de 9 a 40 anos: crianças e adolescentes que vieram com os pais para a cidade; funcionários de órgãos públicos que continuavam os estudos; e adultos que ainda não sabiam ler ou escrever.
 
 
 
 
Tanques com areia molhada e seca eram alguns dos materiais dispostos na sala de aula para ilustrar as diferenças entre rios, oceanos e ilhas, por exemplo. “Era bem diferente de hoje, claro. Eu levava cartolinas e, nas aulas, tirava os conteúdos da cabeça dos estudantes. Não apenas derramava informações”, relata Nelzira. “Eles absorviam tudo o que você passava ou cobrava. Tinham prazer e entusiasmo em ler e escrever. Ficavam felizes ao saber as frases, separar sílabas, fazer contas, falar a tabuada de cor e salteado. Principalmente os adultos”, relembra.
 

Caminhos

O reconhecimento do trabalho de Nelzira veio ao longo de muito tempo. “Um dia desses, um senhor me ligou. Disse que fui professora da filha dele que, hoje, é juíza. Só não peguei o contato deles”, lamenta a professora. “Mas eu fazia o melhor possível para que as pessoas fossem felizes”, completa.
 
A carreira na educação se interrompeu pouco tempo depois do nascimento das filhas — Irandiaia, 58, e Ádanis, 56. À época, a mais velha acompanhava a mãe em alguns dias de trabalho. “Ficávamos sentadas no cantinho, vendo ela dar aula. A caminhada até a escola não era muito longa. Lembro-me do chão de terra, da cerca, das plantinhas. O colégio era como uma sala grande. Tinha cadeirinhas, carteiras. Era tudo muito simples”, conta a servidora pública Irandiaia Glaicy Bruno.
 
Anos depois, Nelzira dedicou-se à área da saúde. Formou-se em enfermagem pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), mas aproveitou para cursar pedagogia. Passou por hospitais públicos e postos de saúde do Distrito Federal e aposentou-se como auxiliar de enfermagem pela Secretaria de Saúde. Mesmo assim, o envolvimento com o ensino não desapareceu. 
 
Depois da aposentadoria, comprou um terreno para montar um maternal. No entanto, com a morte do segundo marido, desistiu do sonho e vendeu o lote. “Ela teria se dado bem se tivesse seguido na carreira, pois gosta de cuidar dos outros. Estava sempre junto e sempre foi exigente e rígida, mas organizada e responsável. Herdei isso tudo dela”, confessa Irandiaia.
 

Correio Braziliense sexta, 26 de abril de 2019

MÃE REENCONTRA FILHO 38 ANOS APÓS SEQUESTRO

 


DRAMA
 
Mãe reencontra filho 38 anos após sequestro
 
 
Moradora do DF descobre paradeiro do bebê levado dos braços dela, na porta do Hospital Regional do Gama, depois de seis anos de investigação. Suspeita recai sobre o homem que criou o menino e a dona de um orfanato, mas o crime prescreveu

 

» ALAN RIOS
Especial para o Correio
» ANA VIRIATO

Publicação: 26/04/2019 04:00

Equipe que comandou a investigação: a Polícia Civil do DF investigou 15 pessoas pelo sequestro, mas não conseguiu identificar o autor (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Equipe que comandou a investigação: a Polícia Civil do DF investigou 15 pessoas pelo sequestro, mas não conseguiu identificar o autor

 


Dezessete anos após o desfecho do caso Pedrinho, levado ainda recém-nascido da maternidade do Hospital Santa Lúcia, Brasília tornou-se cenário de história similar as do sequestro de maior repercussão no país. Aos 56 anos, a moradora da capital Sueli Gomes da Silva descobriu o paradeiro do filho, levado de seus braços há 38 anos, na porta do Hospital Regional do Gama.
 
Depois de quase quatro décadas com a esperança de encontrá-lo, a funcionária pública o viu pela primeira vez na última quarta-feira, em uma chamada de vídeo. “Eu ficava olhando para ele e ele para mim. Foi uma coisa mágica, maravilhosa!”, contou, emocionada. O primeiro encontro cara a cara deve acontecer na próxima semana, em território candango.
 
Órfã de mãe e abandonada pelo pai com quatro irmãs e um irmão, Sueli morava, à época, em um orfanato localizado em Corumbá de Goiás, a 125km de Brasília. Na instituição, sofreu abusos sexuais e, apesar de reportá-los aos superiores do abrigo, não recebeu ajuda. Em um ambiente de vulnerabilidade, agravado pela dependência financeira, Sueli ficou grávida, em um relacionamento consensual.

 

"Foi um processo bem doloroso e longo, cheguei a ficar na dúvida se era ele mesmo, apesar de todas as outras provas. Mas, com o exame, foi só alegria" 

Sueli Gomes da Silva, a mãe

 

A maior angústia de sua vida começou em 11 de fevereiro de 1981, dois dias após o parto do filho, que batizaria de Luís Miguel. Com 16 anos, Sueli deixou o centro de saúde ao lado de dois funcionários do orfanato — um homem e uma mulher. A moça sugeriu que ela fosse ao orelhão mais próximo e ligasse para a proprietária do abrigo, identificada como Marta, para avisá-la. No meio tempo, disse que seguraria o bebê.
 
Na ligação, a dona do orfanato adotou tom ríspido. Disse que a criança não poderia ficar no abrigo. Quando desligou o telefone e voltou ao ponto de encontro, Sueli viu que a mulher não estava mais com seu filho. Ouviu ordens para que esquecesse do menino e ficasse calada. Sem ter a quem recorrer, ela permaneceu em silêncio e trabalhou no orfanato por mais de 20 anos.
 
Apenas em 2013, após a morte da dona do orfanato e com liberdade financeira, Sueli tomou coragem para contar a história à polícia, em uma carta escrita a próprio punho. “Ela já havia sofrido abusos sexuais e passado por muitas dificuldades no abrigo, e resolveu expor isso em um relato pessoal bem emocionado”, diz o responsável pela investigação, o delegado Murilo Freitas, da 14° Delegacia de Polícia (Gama).
 
Investigação
Ao longo de seis anos, a Polícia Civil investigou 15 pessoas pelo sequestro. “Em uma análise superficial, percebemos que muitos dos crimes apontados não seriam mais alcançáveis pela lei. Principalmente devido à prescrição penal, pois estamos falando de algo que aconteceu há quase quatro décadas e, também, por conta da morte dos autores intelectuais de toda essa trama”, explicou Murilo Freitas. “Além disso, o crime ocorreu em uma época em que não havia registros eletrônicos, então, tivemos que acessar muitos arquivos físicos”, acrescentou o delegado.
 
Entre os suspeitos, estava um porteiro identificado como Rafael. Ele trabalhou no prédio onde morava o médico responsável pelo parto de Luís Miguel. Ao fim de 2018, os policiais souberam do óbito de uma mulher de 71 anos apontada com sua esposa. Em meio a investigação, descobriu-se que ela estava no Gama à época do rapto. Os dois tinham um filho de 38 anos, registrado como Ricardo Santos Araújo.
 
Como no caso Pedrinho, uma anomalia auxiliou os investigadores no processo de identificação. À Polícia Civil, Sueli contou que o filho havia nascido com sindactilia, condição que deixa os dedos dos pés ou das mãos colados. “Quando entramos em contato, o rapaz confirmou que nasceu assim e realizou uma cirurgia nas mãos”, detalhou o delegado.
 
Com todas as coincidências, faltava apenas um exame de DNA para confirmar o caso. O teste ficou pronto na última terça-feira. “Vi o resultado e fiquei em êxtase! Porque, como foi um processo bem doloroso e longo, cheguei a ficar na dúvida se era ele mesmo, apesar de todas as outras provas. Mas, com o exame, foi só alegria, fiquei ainda mais maravilhada”, comemorou Sueli.
 
Arquivamento
Os autores do crime não responderão na Justiça pelo sequestro. O inquérito deve ser arquivado por diversas razões. Por exemplo, não se sabe ao certo quem foi a pessoa que levou Luís, quando ele era ainda bebê. Além disso, a pessoa apontada pela apuração como responsável pelo sequestro, a funcionária do abrigo, morreu.
 
Murilo Freitas explicou que podem ser apontados os crimes de subtração de incapaz e de registro de filho de outro como se fosse próprio. “Mas existe uma particularidade determinante. Houve uma alteração legislativa em março de 1981. O crime ocorreu um mês antes dela, e a lei não retroage para atingir fatos que não eram criminalizados à época”, comentou.
 
Encontro
Na primeira conversa após anos de angústia, Sueli descobriu que Luis Miguel, registrado como Ricardo, tornou-se corretor de imóveis e mora na Paraíba. “É bonito que nem a mãe”, brincou Sueli. Ele está fazendo um curso em João Pessoa. Ontem, ela estava em Goiânia, a trabalho.
 
Desde 11 de fevereiro de 1981, quando teve o filho tirado de seus braços, Sueli sonhava com a oportunidade de vê-lo. Em alguns momentos, revelou, chegou a desanimar. Mas “a esperança de mãe não morre nunca”, afirmou. Os dois devem se encontrar, na próxima semana, em Brasília.
 
 
 
Linha do tempo
 
1981
 
Com dois dias de vida, em 11 de fevereiro, Luís Miguel é levado dos braços da mãe, Sueli Gomes da Silva, na porta do Hospital Regional do Gama.
 
 
2013
 
Após a morte da dona do orfanato onde Sueli morava, e com liberdade financeira, ela tomou coragem para contar a história à polícia, em uma carta.
 
 
2019
 
Por meio de um exame de DNA, concluído na última terça-feira, a Polícia Civil do DF pôde afirmar que um corretor de imóveis, morador da Paraíba, é o filho de Sueli.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 25 de abril de 2019

TEMPORAIS - RISCOS EM EDIFICAÇÕES

 


TEMPORAIS
 
 
Riscos em edificações
 
 
A Defesa Civil interditou residências em quase todos os dias de abril, o mais chuvoso dos últimos 10 anos na capital. No DF, há 41 áreas que preocupam mais as autoridades, por causa do perigo de desmoronamento e colapso

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» PATRÍCIA NADIR
Especial para o Correio

Publicação: 25/04/2019 04:00

Maria convive com mofo na cobertura da varanda da residência (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Maria convive com mofo na cobertura da varanda da residência

 


As fortes chuvas que atingiram o Distrito Federal nos últimos dias causaram estragos e acenderam alertas. Moradores de algumas áreas sofreram com a enxurrada. Os problemas de anos se acumularam e provocaram infiltrações, goteiras e alagamentos. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) considerou este abril o segundo mais chuvoso na história da capital. O volume de água registrado até ontem foi 133,7% maior do que o esperado para todo o mês.
 
Na Quadra Sul do Riacho Fundo 2, a dona de casa Maria Lemos Rodrigues, 50 anos, percebeu mofo na cobertura da varanda, cinco meses atrás. O teto, com cerca de 3 metros quadrados, está descascando e apresenta pontos pretos em várias partes. “Tem sido uma dor de cabeça, porque, além de ficar esteticamente feio, o cheiro incomoda muito. Uma das minhas filhas tem alergia e, agora, volta e meia tem coceiras na garganta”, lamenta.
 
A brasiliense está no mesmo endereço há sete anos. Antes, a família morava em Samambaia, em uma casa na qual as paredes dos quartos e da cozinha eram reféns de bolor e umidade. “Era só vir as chuvas que as preocupações surgiam. Ficamos apreensivos, pois é comum relatos de muros e casas que desmoronam devido à enxurrada”, completa Maria.
 
Problemas com infiltrações causadas por goteiras e rachaduras fazem parte da rotina de Valmir Rodrigues, 54, há meses. O comerciante tem uma mercearia na Rua 10 de Vicente Pires há nove anos. Por causa das chuvas, ele enfrenta um transtorno visível na estrutura da loja. “A umidade nas paredes e forros deixam manchas nas pinturas. Moro aqui há 15 anos, então chuva é sempre sinônimo de sufoco. Além da lama e dos buracos nas ruas, ficamos preocupados com o que pode acontecer as casas”, ressalta Valmir.
 
Análises
A Defesa Civil interditou casas em quase todos os dias de abril. No DF, há 41 áreas de risco e 18 cidades que surgiram nas últimas décadas sem planejamento e sem sistema de drenagem pluvial. Vicente Pires, Arniqueiras e Sol Nascente foram as mais atendidas pelo órgão neste mês, com casos de inundações, alagamentos, invasão de água em residências e queda de muros.
 
Para evitar casos como o último, o subsecretário da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, ressalta a importância da construção de muros de arrimo em vez de paredes de alvenaria sem suporte na base ou ferro na estrutura. “Também é importante observar o surgimento de trincas, fissuras, rachaduras. Tudo isso pode indicar risco de desabamento e muitos casos podem ser evitados com limpeza das calhas, o que impede a infiltração de água na laje ou em vigas”, destaca Bezerra.
 
Ele acrescenta que o órgão faz inspeções preventivas e atua diante de problemas iminentes. Análises mais aprofundadas não cabem à Defesa Civil e devem ser requisitadas pelo dono do imóvel ou responsável pela edificação. “Trincas e fissuras denunciam problemas de infraestrutura. Às vezes, não está caindo, mas é necessária uma investigação, feita por um engenheiro qualificado. O órgão não faz esses exames complementares. Vamos ao local,  observamos os primeiros sinais e recomendamos os reparos”, explica o subsecretário.
 
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB), Daniel Richard Sant’Ana destaca a necessidade de verificar a fonte do defeito. “Para evitar se chegar a um ponto extremo, como o desmoronamento, o morador deve acionar algum mestre de obras para verificar se o problema não se trata de algo que vem de dentro da casa, como um cano vazando água.”
 
O especialista compõe um grupo de pesquisa que busca promover a sustentabilidade. A equipe propõe métodos inovadores para a drenagem da água. No momento, o grupo pratica simulações para verificar as melhores opções. Daniel lembra que o principal responsável pela drenagem urbana é o Governo do Distrito Federal. “Se a rede atual está defasada, cabe aos órgãos responsáveis implementarem medidas inteligentes que solucionem o problema. O que não dá é para ficarmos reféns de enchentes e alagamentos”, critica o arquiteto.
 
 
Informe-se
 
Curso grátis
 
O professor Dickran Berberian ministra um curso gratuito de problemas e patologias de edificações no Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF). As aulas ocorrem às segundas-feiras, a partir das 18h15, na sede da entidade. Apesar de ter iniciado, a programação inclui temas diferentes a cada encontro. Local: Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Trecho 2/3, Lote 1.125, 2º andar Inscrições: infrasolocursos@gmail.com. Mais informações: 3363-8610.


Indícios

Confira os principais sinais de que um prédio ou casa apresentam quando há problemas estruturais:
 
» Mofo
» Estalos
» Infiltrações
» Vazamentos nas calhas
» Deterioração do concreto
» Bolhas nas paredes ou no teto
» Massas cinzentas na cerâmica
» Trincas nas paredes, na laje e/ou no reboco

Correio Braziliense quarta, 24 de abril de 2019

STJ CONFIRMA PRISÃO DE LULA, MAS DIMINUI A PENA

 


JUSTIÇA 
 
 
Lula pode estar livre este ano
 
Decisão de ministros do STJ diminuiu a pena do ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá, mas a condenação em segunda instância no processo que envolve o sítio de Atibaia faria o petista seguir na prisão, onde está desde abril do ano passado

 

» MARIA EDUARDA CARDIM
» BRUNO SANTA RITA
Especial para o Correio

Publicação: 24/04/2019 04:00

Em sessão que durou quase quatro horas, a 5ª Turma do tribunal decidiu pela redução no tempo de prisão do petista (Gustavo Lima /STJ)  

Em sessão que durou quase quatro horas, a 5ª Turma do tribunal decidiu pela redução no tempo de prisão do petista

 



Por unanimidade, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas reduziu a pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, no caso do tríplex de Guarujá — o que pode fazer com que ele possa voltar às ruas em setembro. Votaram a favor do recurso apresentado pela defesa do petista os ministros Felix Fischer, relator do caso, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da Fonseca, presidente da corte, e Marcelo Navarro Ribeiro Dantas. Lula está preso na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde abril do ano passado.

Com a redução do tempo, o benefício de progressão de pena pode ser alcançado mais rapidamente pelo petista, que pode sair da cadeia em setembro deste ano. O código penal prevê que, ao se cumprir um sexto da pena — em casos de crimes comuns —, pode-se progredir para um regime semiaberto. Como Lula cumpriu um ano de prisão, faltaria cerca de quatro meses para que o ex-presidente alcançasse essa condição, após a redução concedida pelo colegiado do STJ.

Contudo, ainda existe a possibilidade de o regime semiaberto ser alterado. Caso o político seja condenado em segunda instância por algum outro crime — por exemplo, no processo do sítio de Atibaia, em que foi considerado culpado em primeira instância — seria necessário uma unificação de pena, o que estabeleceria um novo patamar a ser considerado para a concessão do benefício. Além disso, conforme previsto no Código Penal, a progressão de pena também está condicionada ao pagamento da multa para reparo dos danos dos crimes, reduzida pela 5ª Turma de R$ 16 milhões para R$ 2.424.991,00.

De acordo com Márcio Arantes, doutor em processo penal pela USP e professor da Escola de Direito do Brasil (EDB), o resultado no STJ é comum. “Existem outros benefícios, como livramento condicional, mas o mais próximo é o regime semiaberto”, explicou. O Correio antecipou, há duas semanas, que os ministros do STJ reduziria a pena de Lula, a ponto de ele ser beneficiado, em um futuro próximo, ao semiaberto. Com a ausência de garantias do Estado para que o ex-presidente trabalhasse ao longo do dia, o cumprimento da pena acabaria se dando, por tabela, no regime domiciliar. A apuração do jornal estabeleceu que a turma do STJ excluiria o crime de lavagem de dinheiro. Os ministros, entretanto, decidiram reduzir as penas nos dois crimes dos quais Lula é acusado. A exclusão do crime de lavagem deve ocorrer na última etapa do processo no Supremo Tribunal Federal.

Apesar de reduzir a pena, a maior parte dos pedidos da defesa não foram atendidos. No julgamento, que durou cerca de três horas e 40 minutos, os ministros do STJ rejeitaram as teses de ausência de provas, a competência da Justiça Eleitoral para julgar o caso e a parcialidade do ex-juiz federal, agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, na condução do caso.

Defesa

A defesa de Lula afirmou que vai recorrer da decisão e que o foco continua sendo a absolvição. “Respeitamos o posicionamento exposto hoje (ontem) pelos ministros do STJ, mas expressamos a inconformidade da defesa em relação ao resultado do julgamento, já que entendemos que a absolvição é o único resultado possível. Por isso, vamos recorrer”, afirmou Cristiano Zanin Martins, advogado e membro da equipe de defesa do ex-presidente.

Após a decisão do STJ, Lula se manifestou por meio do advogado Emídio de Souza, em live exibida no perfil do Facebook. No vídeo, Emídio afirmou que “a luta continua” e, embora o dia de ontem tenha sido de vitória para o petista, é cedo para comemorar. “Apesar de reduzirem a pena, podem apressar outros processos”, indicou. Ele afirmou também que “não deveria haver pena” e reforçou que Lula seria injustiçado e preso político. O mundo político também repercutiu o julgamento do recurso. Opositores e apoiadores se manifestaram em redes sociais. As hashtags #LulaLivreJá e #LulaNaCadeia atingiram os patamares de mais utilizadas pelos internautas.

Correio Braziliense terça, 23 de abril de 2019

EXEMPLO DE CUMPLICIDADE

 

Exemplo de cumplicidade
 
 
Depois de descobrir doença que compromete o funcionamento dos rins e enfrentar um câncer de mama, professora recebe do marido a doação do órgão que deu a ela a volta da qualidade de vida

 

» DARCIANNE DIOGO*
» RENATA NAGASHIMA*

Publicação: 23/04/2019 04:00

 (Arquivo Pessoal)  
 
“São muitas as curvas deste rio sinuoso chamado vida. Todos nós temos que navegar nele. No meu caso, com muitas paradas, algumas curvas difíceis. A maior, eu acredito que já passei e, agora, estamos nos aquietando e chegando ao porto. É isso que me deixa feliz.” É assim que a professora Iara Xavier, 48 anos, define a difícil trajetória pela qual passou na luta para vencer um câncer e uma doença renal crônica com a ajuda do marido.
 
Doença silenciosa, a nefropatia por IgA chegou sem dar nenhum sinal. Apesar de já ter uma filha, a pequena Ana Rute Xavier, à época com 8 anos, Iara e o marido, Elias Cleliton Gonçalves, 43, tinham o sonho de ter mais uma criança. Mesmo após dois abortos espontâneos, em 2013 o casal se planejou e decidiu que tentaria pela última vez. No quarto mês de gestação, ela perdeu o bebê. “Os exames estavam normais e tudo estava contribuindo, mas minha pressão começou a subir”, conta Iara.
 
Outros sinais de algo estava errado apareceram nos exames e ela, natural de Barreiras (BA), decidiu ficar no Distrito Federal, onde havia planejado passar o Natal, para descobrir o que estava acontecendo. “Esse era o começo dos meus cinco anos de muita luta”, relembra. Por conta da doença, iniciou um tratamento rigoroso. “Não podia comer nada fora de casa. No começo, eu pesava 72kg. Nessa época, passei para 58kg. Além da medicação que tomava diariamente: cheguei a tomar 20 comprimidos por dia.”
 
Com a dieta, os rins voltaram a funcionar o equivalente a 20%, logo esse percentual caiu de novo, para menos que 10%. Iara passou a precisar de diálise até que fosse possível um transplante do órgão. Os quatro irmãos de Iara se disponibilizaram a vir a Brasília e fazer exame de compatibilidade. Dois deles eram mais de 50% compatíveis e a mais velha, Deuslaine Xavier, 53, seria a doadora.
 
 (Arquivo Pessoal)  
 Tudo agendado quando os últimos exames de rotina diagnosticaram câncer na mama direita, em junho de 2016, o que levou ao adiamento do transplante por dois anos, tempo necessário para verificar se não restavam mais células cancerígenas. “A notícia do câncer não me abalou tanto quanto a do tempo que eu teria de aguardar. Meu mundo caiu naquele dia”, conta.
 
Depois de ter as duas mamas retiradas e aguardar o período indicado, veio outra má notícia. A irmã doadora havia adoecido. Era agosto de 2018. Foi quando, em uma conversa com o médico, ela tomou a iniciativa de se inscrever na lista de doações em São Paulo. “Eu tinha uma esperança de alguém me ligar, mandar uma mensagem ou algo do tipo. Mas, nesse mesmo dia, o doutor perguntou se o meu marido era compatível.”
 
Para a surpresa do casal, Elias era 50% compatível e o estado de saúde do comerciante estava bom. A preparação começou em outubro e, no último mês do ano, o próximo passo era agendar a cirurgia. Mesmo com tudo pronto, o casal tinha mais um empecilho: um exame constatou que, em vez de uma artéria ligada a cada rim, Elias tinha três de um lado e duas no outro, o que poderia acarretar em mais cortes, aumento do tempo de internação e de recuperação.
 
Uma semana antes do procedimento, o cirurgião explicou ainda que o rim transplantado poderia não funcionar 100%. Confrontado pelo médico, o marido não pensou duas vezes e disse: “Doutor, meu coração já é dela, o que é um corte a mais?”
 
União
 
Companheirismo: é assim que o casal define o casamento de 19 anos. Depois de tantos obstáculos, agora podem desfrutar da vitória. Mas nada foi por acaso. As barreiras serviram para unir ainda mais o casal. “Quando nos casamos tínhamos certeza do que estávamos fazendo. Ao fazer o voto de ficar com ela na saúde, na doença e até na morte, não fiz em vão”, relata Elias, natural de Anápolis (GO).
 
Cristãos, eles afirmam que a fé ajudou a superar as dificuldades. “Em momento algum passou pela minha cabeça que ele iria me abandonar, pois temos muita cumplicidade”, explica a professora, sob o olhar atencioso do marido. “Ele é um guerreiro de me aguentar, pois imagina uma baiana, de temperamento forte e passando por uma situação difícil?”, conta, emocionada.
 
O tão sonhado transplante foi realizado em 16 de março deste ano, e tudo correu dentro do normal. “Nós estamos nos recuperando bem. Ele está ótimo, já vai voltar a trabalhar. Eu estou passando por ajustes de medicações. Em breve, farei a cirurgia para a retirada do cateter da diálise e o rim está respondendo bem”, afirma Iara.
 
Para ela, essa é uma lição de que o amor e o altruísmo fazem muita diferença na vida de quem precisa. Hoje, a professora come de tudo, inclusive chocolate. Ela, que fez aniversário na última quarta-feira, considera a vitória um presente.
 
A baiana, agora, pretende carregar na lembrança apenas o que tirou de bom das lutas e voltar para sua cidade natal, na Bahia. “Acho que, quando eu nasci, Deus perguntou se eu queria uma vida com emoção ou sem emoção, e eu respondi: ‘Com emoção’”, brinca.


Diagnóstico
Nefropatia por IgA (NIgA) é uma doença renal causada por depósitos de anticorpos (Imunoglobulina A), que causam inflamação e lesão dos glomérulos renais progressiva ao longo dos anos. Nas fases iniciais, apresenta poucos sintomas e eles podem demorar anos para aparecer. A doença não tem cura, mas o tratamento previne a insuficiência renal.

Correio Braziliense segunda, 22 de abril de 2019

CHUVA, ALAGAMENTO E DESTRUIÇÃO

 


Chuva, alagamento e destruição na UnB
 
 
Acompanhada de rajadas de vento, chuva forte causou estragos e apagões em vários pontos do DF, principalmente no Plano Piloto. O Minhocão, na Universidade de Brasília, ficou debaixo de água. Em 21 dias de abril, choveu 119,55% acima do esperado para todo o mês

 

Ailim Cabral
Gabriela Sales
Especial para o Correio

Publicação: 22/04/2019 04:00

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press
)  
Pistas e estações do metrô alagadas, carros danificados, tesourinhas submersas, árvores caídas, quadras inteiras sem energia elétrica. A chuva forte, acompanhada de uma ventania, causou transtornos em vários pontos do Distrito Federal no fim da tarde de ontem. Um dos pontos mais atingidos pelo volume de água foi o Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) (leia abaixo).
 
O dia do aniversário de Brasília, que começou com uma manhã ensolarada, teve o tempo alterado por volta das 15h30, quando nuvens cobriram a capital. O temporal teve início às 16h e só deu uma trégua após as 17h. Moradores receberam, por meio de mensagens de texto nos celulares, um alerta de vendaval da Defesa Civil, que alertou para riscos de raios e ventos fortes, às 17h30, quase duas horas após o início da chuva.
 
Só na tarde de ontem, choveu 26 milímetros no Distrito Federal. Com a quantidade, abril acumulou 292mm nos 21 primeiros dias, 119,55% acima do esperado para todo o mês, que tem média histórica de 133,4mm. As informações são do meteorologista Manoel Rangel, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os ventos chegaram a 33,4km/h, categoria classificada como “vento de rajada”.
 
O meteorologista acrescentou que 2019 é considerado “um bom ano em chuvas”. Em março, o volume de precipitações também superou o esperado (211,8mm), chegando a 265,8mm. Estão previstas pancadas de chuva até quarta-feira. Ontem, o Inmet registrou 95% de umidade relativa do ar e temperaturas entre 17,8ºC e 29ºC. Hoje, a temperatura mínima será de 17ºC, e a máxima, de 30ºC. A umidade relativa do ar varia entre 95% e 40%.

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press
)  


Vias bloqueadas
 
A Asa Norte foi uma das regiões mais afetadas. Uma árvore caída bloqueou o trânsito na tesourinha entre a 208 e a 408 Norte. Outras três caíram na 411/412  Norte. Duas delas, entre os blocos N e O da 411 Norte, e uma às margens da L2 Norte, em frente ao bloco Q. Houve queda de árvore também na via W5, entre as quadras 704/705. Uma delas caiu na pista e outra em cima do muro de uma casa, mas ninguém se feriu. No Bloco A da SQN 110, um janelão de vidro despencou do 6º andar, mas também não houve vítimas.
 
Ainda na Asa Norte, as quadras 102/103 ficaram com os estacionamentos dos blocos A, B, E, F e H alagados. O volume de água obrigou motoristas a retirarem os veículos dos estacionamentos. O trânsito entre as quadras foi interditado. Houve correria. “A água subiu cerca de 1 metro, a situação foi de pânico total. Uma correria danada para salvar os carros. Toda vez que chove, a enxurrada desce toda para as quadras e fica esse transtorno”, contou a funcionária pública Helena Alves, moradora da 103 Norte.
 
A dona de casa Carla da Luz Gonçalves não teve a mesma sorte. Ela não conseguiu salvar o veículo. No momento da chuva, ela e a família estavam fora de casa. “Moro na 102 Norte. Não consegui entrar na quadra por causa do trânsito interrompido e o meu carro ficou com o assoalho todo molhado. Meu marido está viajando e nem sei o que fazer”, desabafou.
 
Agentes da Companhia de Energia de Brasília (CEB) também foram acionados para atendimento em quase metade da Asa Norte.  A CEB informou que houve queda de árvores na rede, o que comprometeu o fornecimento de energia elétrica. Ainda de acordo com a companhia, 5.352 imóveis sofreram com o apagão. A expectativa era a de que o serviço fosse restabelecido até o fim da noite.

Enxurrada deixou tesourinha alagada entre a 102 e a 202 Sul: além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da passagem de veículos. Mesmo problema aconteceu na passagem da 209 Norte (Hamilton Ferrari/Esp. CB/D.A Press
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Enxurrada deixou tesourinha alagada entre a 102 e a 202 Sul: além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da passagem de veículos. Mesmo problema aconteceu na passagem da 209 Norte


Estação fechada
 
Na Área Central, a enxurrada invadiu a entrada da estação do metrô na Rodoviária do Plano Piloto e tomou o Shopping ID, no início da Asa Norte. A água desceu pelas escadas rolantes do centro comercial formando uma espécie de corredeira. No Setor Bancário Norte, um motorista saiu do carro com água pela metade e sentou no porta-malas para esperar ajuda. A estação metroviária foi reaberta e voltou a funcionar às 19h.
 
A chuva também atingiu outras regiões de Brasília, como Asa Sul, Lago Sul, Sudoeste, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Águas Claras e Santa Maria. Todas tiveram picos de energia. Na QI 7 do Lago Sul, a enxurrada invadiu algumas casas. Com pistas alagadas, os motoristas que passavam pela tesourinha da 102/302 Sul não conseguiram seguir caminho. Para conseguir desviar, alguns subiram nos canteiros ou dirigiram pela contramão. Entre a 102 e a 202 Sul, além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da tesourinha.
 
Shows suspensos
Com a Esplanada dos Ministérios no epicentro do temporal, apresentações musicais da festa oficial dos 59 anos de Brasília, marcadas para começar às 16h, tiveram de ser suspensas por duas horas, atrasando a programação.
 
Livros, móveis e equipamentos eletrônicos ficaram destruídos no Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), onde o subsolo ficou submerso (Ronayre Nunes/Esp. CB/D.A Press
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Livros, móveis e equipamentos eletrônicos ficaram destruídos no Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), onde o subsolo ficou submerso

 

Prejuízos no ICC
 
O Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) teve corredores e salas tomadas pelas águas de uma chuva forte. Na tarde de ontem, a enxurrada transformou o térreo do prédio, conhecido como Minhocão, em um rio. O subsolo ficou submerso. As mesmas cenas vistas em 2011.
 
Ontem, computadores, documentos, cadeiras, sofás, laboratórios e até uma parede da sala dos professores caíram. “O subsolo parecia uma piscina. A água misturada com lama invadiu os laboratórios”, comentou a coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Clarice Menin.
 
Ela e outros estudantes, assim como professores, foram ao ICC na tentativa de ajudar a salvar alguns dos materiais usados nas aulas de graduação e pós-graduação. A reitora, Márcia Abrahão Moura, e o prefeito do câmpus, Valdeci da Silva Reis, também estiveram no Minhocão.
 
Márcia não quis dar entrevista, mas Valdeci comentou os danos. “Temos um problema de drenagem que força a água para cá, o que não significa que não estamos tomando as precauções. A gente tem limpado os bueiros e as saídas da água, temos feito o possível”, disse.
 
O prefeito reforçou que o plano era deixar os espaços em boas condições de uso para que os estudantes pudessem retornar para a instituição hoje: “Fechamos o registro geral para evitar vazamentos e mobilizamos toda a equipe de limpeza para dar uma geral.” A UnB deve fazer um balanço dos estragos neste segunda-feira.
 
Colaboraram Ronayre Nunes e Sarah Peres (especiais para o Correio)

Três árvores caíram na 411 Norte, entre os blocos N e O, às margens da L2 ( Isa Stacciarini/CB/D.A Press
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Três árvores caíram na 411 Norte, entre os blocos N e O, às margens da L2

 



Voos alterados
Durante o temporal, pousos e decolagens foram suspensos no Aeroporto Internacional de Brasília, que operou por instrumentos. Cinco voos sofreram alterações de horário e ficaram atrasados, porém, por volta das 17h, a visibilidade das pistas melhorou e nenhuma operação chegou a ser cancelada.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 21 de abril de 2019

BRASÍLIA, 59 ANOS - BRASÍLIA, SUBSTANTIVO FEMININO

 

BRASÍLIA, SUBSTANTIVO FEMININO

 

Publicação: 21/04/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Patrimônio Cultural da Humanidade, berço de gente vinda de fora e de gente nascida aqui. A cidade erguida no meio do Planalto Central celebra 59 anos. Os sonhos que inspiraram os primeiros habitantes de Brasília são a força que move as novas gerações. Os tempos são outros; os desafios, ainda maiores. Neste aniversário, o Correio revela o talento e a garra de mulheres que construíram e constroem, dia após dia, a Brasília que queremos para o futuro: uma cidade à frente do seu tempo e, ainda assim, acolhedora, cativante e humana!
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 20 de abril de 2019

MORRO DA CAPELINHA: CENAS DE FÉ E DEVOÇÃO

 


Cenas de fé e devoção
 
Seja rezando sozinho, seja subindo de joelhos para agradecer uma graça, seja se espremendo na multidão para acompanhar o espetáculo, milhares de católicos se reúnem todo ano no Morro da Capelinha em função da Paixão de Cristo

 

Publicação: 20/04/2019 04:00

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

Considerada patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal e a maior encenação religiosa do Brasil, a via-sacra do Morro da Capelinha manteve ontem a tradição de mexer com a emoção das dezenas de milhares de fiéis que se acotovelavam, sob sol e chuva, para não perder nenhum momento da encenação da Paixão de Cristo, encenada ao longo de um trajeto de 1,5 quilômetro de extensão.

Em sua 46ª edição, o espetáculo foi realizado graças à dedicação de cerca de 1,6 mil voluntários, entre eles 900 atores que se prepararam por meses para a Semana Santa. Pessoas comuns, que trabalharam movidos apenas pela fé e devoção.

Mas, a cada sexta-feira da Paixão, o Morro da Capelinha não é tomado apenas por espectadores ansiosos para lembrar os últimos momentos de Jesus Cristo e celebrar a sua ressurreição. O ponto mais alto de Planaltina, a mais antiga cidade do DF, é tomado por católicos de todos os cantos da capital e de cidades do Entorno nas primeiras horas do dia. Uma gente que acorda cedo para pedir, agradecer ou simplesmente rezar em paz.



 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 

Correio Braziliense sexta, 19 de abril de 2019

MORAES REVOGA CENSURA

 


PODER
 
Moraes revoga censura
 
Depois de consultar e sofrer pressão de outros integrantes do Supremo, ministro responsável pelo inquérito sobre fake news contra tribunal decide liberar publicação de reportagem sobre Dias Toffoli. Investigação, porém, permanece

 

» Renato Souza

Publicação: 19/04/2019 04:00

Moraes se viu obrigado a recuar por causa do tamanho da repercussão da censura (Lula Marques/AGPT - 18/5/17)  

Moraes se viu obrigado a recuar por causa do tamanho da repercussão da censura

 




Com o agravamento da crise engatilhada a partir da abertura de um inquérito para investigar ataques e fake news contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, decidiu recuar. No começo da noite de ontem, ele derrubou a censura aplicada ao site O Antagonista e à revista Crusoé. Na decisão, ele reconhece a existência de um documento anexado a uma das ações da Lava-Jato em que Marcelo Odebrecht afirma que o presidente da Corte, Dias Toffoli, recebeu o codinome “o amigo do amigo de meu pai” por parte dos executivos da construtora Odebrecht. Apesar de extinguir a censura, Moraes manteve em andamento as diligências que, no começo da semana, resultaram no cumprimento de mandados de busca e apreensão contra críticos ao tribunal, entre eles, o general da reserva do Exército Paulo Chagas.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes ocorreu após pressão realizada por outros integrantes do STF, como Celso de Mello, que declarou que o impedimento à circulação de informações é “ilegítima” e “incompatível com o regime das liberdades fundamentais consagrado pela Constituição da República”. “O Estado não tem poder algum para interditar a livre circulação de ideias ou o livre exercício da liberdade constitucional de manifestação do pensamento ou de restringir e de inviabilizar o direito fundamental do jornalista de informar, de pesquisar, de investigar, de criticar e de relatar fatos e eventos de interesse público, ainda que do relato jornalístico possa resultar a exposição de altas figuras da República”, argumentou Celso, em carta pública.

O ministro prosseguiu, rechaçando qualquer possibilidade de contenção da livre circulação de ideias. “A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intolerável, constitui verdadeira perversão da ética do direito e traduz, na concreção do seu alcance, inquestionável subversão da própria ideia democrática que anima e ilumina as instituições da República”, completou o magistrado.

A retirada do ar de uma reportagem que cita um dos integrantes da mais alta Corte do país também foi alvo de críticas do ministro Marco Aurélio Mello. Ao Correio, uma hora antes de a censura ser derrubada, ele afirmou que Moraes deveria “reconsiderar” a decisão e resolver o assunto antes que o caso chegasse ao plenário. O ministro destacou que seu pensamento sobre o tema é o de que foi estabelecida “uma mordaça” aos veículos de comunicação e que o assunto deve ser encerrado pelo próprio relator do caso. “Não há espaço para isso, considerando o texto da Constituição de 1988. Podemos ter consequências e desdobramentos ao que foi publicado, mas no campo patrimonial”, disse. Questionado se o assunto deve ser levado ao plenário da Corte para deliberação, Marco Aurélio afirmou que o próprio relator poderia encerrar o assunto. “O próprio ministro pode reconsiderar a decisão dele”, completou.

De acordo com informações de fontes ouvidas pelo Correio, Moraes conversou com colegas da Corte antes de decidir autorizar a publicação da reportagem. Diante da grande repercussão do assunto, inclusive no Poder Legislativo e no Executivo, ele foi aconselhado a recuar, e impedir que o tema se prolongue, causando um desgaste à imagem do Supremo, em um caminho que se tornava mais perigoso a cada hora.

Em entrevista ao Valor, Toffoli defendeu o bloqueio do conteúdo jornalístico, por ser publicado pouco antes do julgamento sobre a legalidade da prisão em segunda instância e citou tentativas de atrapalhar o Poder Judiciário. “É ofensa à instituição à medida que isso tudo foi algo orquestrado para sair às vésperas do julgamento em segunda instância. De tal sorte que isso tem um nome: obstrução de administração da Justiça”, declarou.

A revogação

Na decisão anterior, que determina que o grupo responsável pela revista Crusoé retirasse do ar a reportagem intitulada “o amigo do amigo de meu pai”, Moraes descreveu que o ato partiu de uma solicitação de Toffoli, que alegou se tratar de fake news. Para fundamentar as declarações de inexistência da informação, Toffoli usou como argumento uma nota publicada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), na segunda-feira (15), em que a entidade informava não ter conhecimento das declarações de Marcelo Odebrecht.

No entanto, o juiz Luiz Antônio Bonat, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, reconheceu a existência do documento, o que fundamentou a decisão do ministro Alexandre de Moraes. “Comprovou-se que o documento sigiloso citado na matéria realmente existe, apesar de não corresponder à verdade o fato de que teria sido enviado anteriormente à PGR para investigação”, destaca um trecho do documento.

Moraes continua, descrevendo que os documentos foram enviados ao Ministério Público Federal (MPF) e ao próprio Supremo pela Polícia Federal. “A existência desses fatos supervenientes — envio do documento à PGR e integralidade dos autos ao STF — torna, porém, desnecessária a manutenção da medida determinada cautelarmente, pois inexistente qualquer apontamento no documento sigiloso obtido mediante suposta colaboração premiada, cuja eventual manipulação de conteúdo pudesse gerar irreversível dano à dignidade e à honra do envolvido e da própria Corte, pela clareza de seus termos. Diante do exposto, revogo a decisão anterior que determinou ao site O Antagonista e à revista Crusoé a retirada da matéria intitulada ‘O amigo do amigo de meu pai’ dos respectivos ambientes virtuais”, conclui.

Entrevista de Lula

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, permitiu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conceda entrevistas à imprensa na sala onde está preso, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Em setembro do ano passado, o ministro Luiz Fux suspendeu uma liminar, deferida por Ricardo Lewandowski, que autorizava jornalistas e veículos de comunicação a conversarem com o ex-presidente. Na decisão, Fux afirmou que, se alguma entrevista já tivesse sido realizada, estaria censurada. Toffoli afirmou que o mérito do caso, que estava sob responsabilidade do ministro Lewandowski, tramitou em julgado, já que o Partido Novo, que havia solicitado a proibição das entrevistas, não ingressou com recurso no tempo previsto. Diante disso, ele revogou a liminar.
 
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense quinta, 18 de abril de 2019

CÉLIA PORTO: CANTANDO BRASÍLIA

 


MÚSICA
 
 
Cantando Brasília
 
 
A intérprete Célia Porto faz show em comemoração ao aniversário da capital federal em shopping no centro da cidade

 

Diego Marques*

Publicação: 18/04/2019 04:00

Cantora apresenta o projeto Estrela da terra: paixão cotidiana por Brasília (Marcelo Dischinger/Divulgação)  

Cantora apresenta o projeto Estrela da terra: paixão cotidiana por Brasília

 

 
Cantar Brasília. Viver Brasília. Dar voz aos artistas naturais ou radicados na cidade. Célia Porto tem tudo isso presente nas características mais íntimas da carreira. Não à toa, ela é a convidada do Pátio Brasil Shopping — pelo segundo ano consecutivo — para se apresentar na celebração do aniversário da capital federal. O evento, chamado Parabéns a Brasília, é hoje, às 19h.
 
Se em 2018 a artista prestou homenagem a Renato Russo, ex-líder da Legião Urbana, agora, na comemoração de 59 anos da cidade, ela traz o projeto Estrela da terra para o palco da praça central do Pátio Brasil. “Eu acho muito legal, porque o pessoal do shopping tem uma preocupação de levar uma atração que seja de Brasília. Esse projeto [Estrela da terra], eu já fiz no Clube do Choro e no Espaço Cultural Renato Russo. É um projeto de música e poesia. A gente caprichou muito nas letras e nos arranjos”, comenta Célia Porto.
 
O espetáculo tem a presença da poetisa Noélia Ribeiro, a Nonô, inspiração da canção Travessia do eixão da Legião Urbana. “A ideia é a musicalização dos poemas da Nonô, mas não só isso. A gente vai gravar e lançar. Estamos fazendo algo bem legal e devagar, com calma. Temos alguns parceiros, como Zeca Baleiro, mas precisamos respeitar o tempo deles. Eles precisam de um tempo de reflexão em cima das letras e das melodias. Estou muito animada com esse trabalho com a Nonô”, revela.
 
“O repertório terá outras músicas. Claro que vou cantar Renato Russo e músicas dos meus quatro discos. A gente tem de retomar valores nesse sentido”, antecipa. Assim, também são esperadas músicas relacionadas a Brasília, como canções do conjunto Liga tripa. “Para mim, eles são alguns dos compositores de maior expressão. Insisto em Brasília, gosto de cantar a cidade. Estou sempre atenta aos novos artistas daqui, como Cauê Maia, João Pedreira, Maria Camelo”, complementa.
 
O entusiasmo com Brasília vem desde os primeiros anos da carreira. Vencedora do Prêmio Sharp — hoje chamado de Prêmio da Música Brasileira — nos anos 1990, esteve no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas decidiu retornar. “Muitas vezes, as gravadoras querem impor um estilo, eu não concordava. Depois que engravidei e tive meu filho, decidi sossegar de vez em Brasília”, recorda.
 
Dedicada à música
 
“Diferentemente de muitos músicos, não tive nenhuma influência em casa. Meus pais não são músicos. A paixão nasceu quando eu estava na escola, aos 10 anos. Gosto de falar que foi na Escola Parque. Gosto de falar que foi na escola pública”, relembra a cantora, que aos 18 ingressou na Escola de Música de Brasília. “Não cheguei a me formar, faltou muito pouco. Mas decidi que era hora de viver da música”, conta.
 
Essa relação com a música a levou a atuar fora dos palcos e projetos comerciais. Célia Porto é professora de musicalização para crianças em projeto, que começou na Universidade de Brasília (UnB) e, hoje, está ativo na 503 Sul. “Esse trabalho é a minha paixão há 13 anos. É um projeto que também me satisfaz muito como artista. Eu acho que quem faz música quem trabalha com música, não consegue se dedicar a outra coisa. Você acaba se tornando ‘funcionário público da música’, uma analogia à cultura aqui da cidade”, brinca.
 
“Acredito que a gente tem que olhar mais para a música. Voltar  a colocá-la em primeiro plano. Hoje, é tudo muito multimídia. Tem muito efeito especial, muito vídeo, muito visual. Eu ainda tenho o projeto de ir com amigos para fazer audições nas casas dos artistas.”, planeja. Como diz Cidade nua, uma das músicas interpretadas por Célia: “Sonhos livres, sonhos livres. Por trás de cada olhar, Brasília”.
 
Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
 
 
Parabéns a Brasília 
Célia Porto. Pátio Brasil Shopping (SCE, Q. 7, Bl. A). Hoje, às 19h. Entrada franca. Classificação livre.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 17 de abril de 2019

SEMANA SANTA: VIA SACRA DE PLANALTINA

 

VIA-SACRA
 
 
Planaltina espera 160 mil fiéis
 
 
Apesar da redução de verba pública, a maior encenação da Paixão de Cristo do Centro-Oeste está pronta para receber uma multidão, na sexta-feira. No mesmo dia, espetáculo similar será apresentado em outros 23 pontos do Distrito Federal

 

» Bruna Lima
» Fernanda Bastos*
» Renata Nagashima*

Publicação: 17/04/2019 04:00

Voluntário dá os últimos retoques em um dos cenários da via-sacra de Planaltina, no Morro da Capelinha (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Voluntário dá os últimos retoques em um dos cenários da via-sacra de Planaltina, no Morro da Capelinha

 


Ao menos 24 vias-sacras vão arrastar milhares de fiéis às ruas do Distrito Federal nesta sexta-feira. As procissões que narram a história da condenação, crucificação e ressurreição de Jesus Cristo são um marco religioso católico. Mesmo enfrentando problemas com falta de verbas públicas, praticamente todas as cidades vão realizar as encenações da Paixão de Cristo.
 
É em Planaltina que a celebração cristã mais atrai fiéis dos quatro cantos da capital e até do Brasil. A Via-Sacra do Morro da Capelinha é patrimônio cultural imaterial do DF desde 2008. Para a 46ª edição, o público estimado é de 160 mil pessoas. São mais de 1,4 mil voluntários, entre eles, 900 atores que se preparam por meses para a Semana Santa.
 
Fé, amor e dedicação são algumas das motivações do motorista Ariosvaldo Rocha, 46 anos, conhecido como Wall Rocha. “A via-sacra é tudo pra mim, religiosamente, é tudo. Tem a parte teatral, que me causa uma ansiedade para encenar, mas o mais importante é a fé. Se eu for para o Morro da Capelinha e conseguir evangelizar uma pessoa na multidão, meu papel está cumprido”, destaca.
 
Coordenador da equipe de complemento da via-sacra de Planaltina, Wall afirma que só com a união do grupo vai ser possível terminar tudo antes do evento. “Somos 10 pessoas na equipe de construção dos elementos teatrais e aqui a gente produz os cenários, tochas, armaduras, capacetes, de tudo um pouco. No entanto, sem essa minha equipe, não sai nada, aqui é como uma família, todos se apoiam e conseguimos vencer as dificuldades”, destaca.
 
Calos na mão e dedos cortados para o funcionário público Márcio Rubens, 43, simbolizam a vontade e a alegria de fazer parte dessa comemoração desde 1997. Integrante da equipe do Wall, Márcio ingressou na organização após a morte do pai e o evento foi como uma válvula de escape. “Tudo de bom que aconteceu na minha vida, veio da via-sacra. Nela, conheci a mãe do meu filho e, hoje, ele trabalha no evento. Fiz grandes amizades para vida toda”, conta.
 
Tradição
A costureira Maria de Lourdes Maciel, 69 anos, participa do evento desde 1973. Ela conta que, no primeiro ano, a estrada do Morro da Capelinha era de terra, a organização era formada por 150 pessoas e a história era narrada por um ator por meio de um megafone em cima de um jipe.
 
Hoje, coordenadora da equipe de costura da via-sacra, a costureira atuou como Maria, mãe de Jesus, por oito anos. Com o grupo formado por seis ajudantes, dona Maria afirma que organiza o seu tempo para poder se dedicar integralmente a fazer as 300 roupas e vestes do evento. “Desde o meio de março, venho para a casa de costura todo dia, de oito horas da manhã até de noite. E, de noite, não tem hora para acabar, não. Meu filho tem vezes que dorme aqui para terminar tudo”, explica.
 
Um dos motivos que faz Maria ter essa dedicação extrema são as emoções estampadas nos olhos dos espectadores. “Quando chego lá e vejo tantas pessoas emocionadas, as pessoas tocadas com o momento e a beleza das roupas e da história, é lindo! É muita fé, muita gratidão por tudo!”.
 
Há 10 anos no grupo do evento, Junior Ribeiro, 25 anos, coordena a equipe de encenação pelo segundo ano consecutivo e ressalta que se sente realizado tanto espiritualmente quanto profissionalmente. “Fui evangelizado pela via-sacra. Entrei apenas com o intuito cultural, porque achava interessante e queria fazer parte do maior espetáculo a céu aberto do Brasil. Mas vi que tudo no grupo era movido pela fé. Passei a ver que a possibilidade de evangelização de outras pessoas, também.”
 
Infelizmente, Júnior acrescenta que neste ano, a organização teve muitos desafios, pois contava com R$ 1,6 milhão do GDF para cobrir os gastos com a estrutura, iluminação, figurinos, banheiros químicos e brigadistas. No entanto, foi liberado R$ 1,4 milhão. “Só conseguimos liberação de duas emendas, uma de um deputado no valor de R$ 400 mil, e uma outra, de R$1 milhão de outro deputado. Com isso, tivemos que adaptar o projeto para reduzir os custos”, comenta.
 
Dificuldades
Em Samambaia, os responsáveis pela organização da Paixão do Cristo Negro — segundo maior espetáculo teatral a céu aberto, que ocorre há mais de duas décadas em Samambaia — foram obrigados a reduzir um dia de evento. Sem a liberação das verbas parlamentares prometidas, a encenação será feita na sexta-feira e não no domingo de Páscoa, como antes.
 
Apesar do prejuízo financeiro, cancelar o evento não era uma opção, pois além de narrar a trajetória bíblica de Jesus até o calvário, a Paixão do Cristo Negro foi uma forma de trazer a questão racial e outros temas sociais. “Além de pregar a espiritualidade, a peça é um símbolo de luta e um meio para se debater questões sociais. Manter a encenação é também um ato de resistência em prol da valorização da cultura”, afirma a historiadora e pedagoga Jesa Lima, 34, responsável pela organização.
 
Em 2019, a questão da violência doméstica, o crescimento de casos de feminicídio e o empoderamento da mulher serão o pano de fundo da via-sacra de Samambaia. O tema será trazido nas falas e narrações, nas danças, na trilha sonora e até em forma de poema. “É a forma que temos para fazer a denúncia de várias injustiças e casos de violência e trazer esclarecimento para a comunidade”, explica Jesa.
 
São esperados 15 mil espectadores para o teatro, que faz parte do calendário anual de eventos de Samambaia e acontece na Quadra 102, onde as arquibancadas, palco e uma cidade cenográfica são montadas para dar vida à história de Jesus. Aproximadamente 300 voluntários fazem parte da equipe teatral, incluindo os atores, contrarregras, cenógrafos, figurinistas, maquiadores e técnicos.
 
 
Programe-se
 
Confira o local e o horário das principais encenações da via-sacra no DF, sexta-feira:
 
Arniqueira
» A partir das 15h, na Rua da Matriz da Paróquia Maria Auxiliadora (Setor Habitacional Arniqueira, AE I, lote 2)
 
Asa Norte
» A partir das 9h, na Paróquia Militar São Miguel Arcanjo e Santo Expedito (EQN 303/304)
 
Asa Sul
» A partir das 20h, na Paróquia e Santurário Santo Antônio (SGAS 911, módulo B)
» A partir das 10h, na Paróquia e Santuário Santíssimo Sacramento
 
Ceilândia
» A partir das 15h, na Paróquia Nossa Senhora da Paz
» A partir das 15h, na Paróquia São Francisco de Assis
» A partir das 15h, na Paróquia São José Operário
» A partir das 15h, na Paróquia Senhor Bom Jesus (Setor O)
 
Cruzeiro
» A partir das 9h, na Paróquia Nossa Senhora das Dores
 
Brazlândia
» A partir das 7h, Capela Santa Terezinha
 
Guará
» A partir das 9h, na Paróquia Maria Imaculada (QE 15/17, Guará II)
 
Paranoá
» A partir das 17h, na Matriz Santa Maria dos Pobres
 
Planaltina
» A partir das 16h, no Morro da Capelinha
 
Recanto das Emas
» A partir das 15h, na Paróquia São Gabriel Arcanjo
» A partir das 15h, na Paróquia São José Operário
 
Riacho Fundo
» A partir das 10h, na Matriz São Domingos Sávio
 
Sobradinho
» Às 9h e às 15h, no Santuário Tabor da Esperança
 
Taguatinga
» A partir das 15h30, na Paróquia Imaculada Coração de Maria (QNC 12 A/E 1)
» A partir das 19h, no Colégio Marista, próximo à Paróquia Nossa Senhora de Fátima
» A partir das 15h, na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes
» A partir das 18h, na Paróquia São João Batista
 
Samambaia
» A partir das 18h, na Quadra 102, Centro Urbano, próximo à estação do Metrô
 
São Sebastião
» A partir das 18h30, no Morro da Cesb (Núcleo Rural Morro da Cruz)
 
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Correio Braziliense terça, 16 de abril de 2019

NOTRE-DAME: LUTO PELA CATEDRAL

 


NOTRE-DAME EM CHAMAS
 
 
Luto pela catedral
 
Incêndio destrói parcialmente a igreja medieval que representa um tesouro artístico e cultural e é uma das atrações turísticas mais visitadas do mundo. O presidente da França convoca "os maiores talentos" para a restauração

 

Publicação: 16/04/2019 04:00

O fogo consome o telhado da igreja gótica quase milenar que se confunde com a história da cidade: moradores e turistas lamentam  

O fogo consome o telhado da igreja gótica quase milenar que se confunde com a história da cidade: moradores e turistas lamentam "Paris desfigurada"

 


Foi em meio à comoção mundial provocada por um incêndio devastador, que destruiu parcialmente a catedral medieval que é um dos símbolos de Paris, além de um tesouro para a história da arte, que o presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu: “Vamos reconstruir a Notre-Dame”. Ainda enquanto os bombeiros lutavam contra as chamas, empenhados em salvar o inestimável patrimônio cultural presente no edifício, Macron admitiu que estavam pela frente “horas muito difíceis”, mas celebrou as notícias do fim da noite: a estrutura principal, parte dela datada do século 13, estava salva, assim a fachada imponente e duas das torres, embora a principal delas tenha ruído. “O pior foi evitado, mesmo se a batalha ainda não foi completamente vencida”, disse o presidente, visivelmente abalado, depois de cumprimentar os bombeiros e anunciar que “os maiores talentos” da França serão convocados para a restauração.

O fogo irrompeu por volta das 18h50 locais (15h50 em Brasília), e se espalhou rapidamente pela estrutura superior da igreja de quase mil anos de idade. O comandante da brigada de incêndio de Paris, Jean-Claude Gallet, temia pele campanário norte. “Se ele desmoronar, você pode imaginar o tamanho dos danos”, afirmou. Dos pontos mais elevados e das margens do Rio Sena, moradores e turistas assistiram às chamas devorando o teto e lançando uma espessa camada de fumaça amarelada da Île de la Cité, berço da capital francesa, por toda a região central. “Paris está desfigurada. A cidade nunca voltará a ser como antes”, lamentava Philippe, francês de 30 anos.

“É uma loucura! Não posso acreditar, vou chorar”, disse à agência de notícias France-Presse Nathalie, 50. “É inacreditável! Parte de nossa história está desaparecendo”,  desconsolava-se Benoît, 42. Uma parte da Île de la Cité foi interditada pela polícia, que pediu ao público que evitasse a região e deixasse a passagem livre para as viaturas dos bombeiros e das equipes de resgate. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, reforçou pelo Twitter o apelo das autoridades e lamentou o “terrível incêndio”. A Unesco, agência cultural da ONU, que tem sede na capital francesa, se uniu a líderes internacionais nas manifestações de pesar e solidariedade (leia abaixo).

Turistas
A Catedral de Notre Dame, que recebe cerca de 13 milhões de visitantes por ano, é o monumento histórico mais frequentado da Europa. Pouco antes das 23h (18h em Brasília), centenas de pessoas se reuniram para rezar na ponte Pont aux Changes, em frente ao monumento ainda fumegante. “Estou muito triste”, confessou Stéphane Seigneurie, consultor de 52 anos. “Desde que moro em Paris, esse é um ponto de referência. Venho com frequência. É um lugar extraordinário, que se mistura com a história da França.”

Sam Ogden, 50, tinha chegado de Londres na segunda-feira com a mãe, o marido e os filhos adolescentes. A família britânica viajou a Paris especificamente para ver Notre-Dame, como parte de uma sequência de visitas a locais históricos. “Isso é realmente triste, a coisa mais triste que presenciei na minha vida”, contou Sam. Sua mãe, Mary Huxtable, 73, chorava pela oportunidade perdida: “A catedral estava na lista dos monumentos que eu queria ver”.

O sentimento era quase o mesmo com outra família londrina, que tinha planejado visitar Notre-Dame ontem, mas decidiu de última hora mudar a programação e ir à Torre Eiffel. “É devastador”, resumiu Nathalie Cadwallader, 42, que tinha chegado a Paris dois dias antes, com o marido e os dois filhos, para passar uma semana. “É horrível que isso esteja acontecendo.”    

Às margens do Sena, a multidão aglomerada assistia às cinzas caindo e fotografava as cenas com telefones celulares. Um pai mostrava a igreja medieval em chamas para a filha de cerca de 10 anos de idade. “Tem mil anos”, explicava.



“Notre-Dame de Paris, presa das chamas, dor de toda uma nação”

Emmanuel Macron, presiente da França
 
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Correio Braziliense segunda, 15 de abril de 2019

MÚSICA, ARTE, MODA E SERVIÇOS: VOZ COLETIVA

 

Voz coletiva
 
A segunda reportagem da série mostra como a união de profissionais transforma a música, a arte, a moda e os serviços em trabalho e renda. Fortalecidos, os grupos dão visibilidade às manifestações culturais de quem está à margem da economia formal

 

Simone Kafruni

Publicação: 15/04/2019 04:00

 

Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia (Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press





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Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia

 



O samba nasceu de batuques africanos, na Bahia do século 19, mas foi na periferia do Rio de Janeiro que criou raízes, ganhou novos sotaques e desceu dos morros para se tornar a maior referência musical do Brasil. Assim como o ritmo, outras expressões artísticas também romperam essa fronteira simbólica. Para seguir a mesma trilha, a voz da periferia do Distrito Federal busca espaço e visibilidade com a formação de coletivos. Unidos, os profissionais transformam a música, a arte, a moda e os serviços daqueles que estão à margem da economia formal em trabalho e renda para, fortalecidos, conquistarem relevância no cenário cultural.

Sem uma cadeia estruturada em torno do artista, as parcerias são fundamentais para a manifestação ocorrer, explica o gestor e pesquisador em Cultura e Desenvolvimento Gustavo Vidigal, ex-assessor de Economia Criativa da Secretaria da Cultura do Distrito Federal. “São várias competências necessárias. A expressão artística é um dos elementos. O coletivo é uma resposta que artistas, gestores e produtores encontraram para dar vazão ao seu trabalho”, diz.

O especialista destaca que cultura já representa mais de 40 mil postos formais no DF. O número, contudo, ainda é insuficiente para abarcar a grandiosidade da produção local. “Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras”, argumenta.

Com poucos equipamentos públicos, os coletivos ocupam o espaço urbano. A Praça do Cidadão, em Ceilândia, é um exemplo disso. É lá que a cabeleireira Tânia Sarah Moreira Soares, 23 anos, que criou o projeto Gueto é Luxo, desenvolve seu trabalho. Especializada em cabelos crespos e cacheados da moda e cultura afros, Tânia decidiu trabalhar na periferia para atender às mulheres da comunidade. “Estão elitizando tudo. Já trabalhei em um salão em que o corte custava R$ 150. Eu cobro R$ 60 para tornar acessível. E, muitas vezes, corto de graça aqui na praça e em projetos no Sol Nascente”, diz.

 

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local (Gabriel Pinheiro/Divulgação)  

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local

 

 


Adeus ao liso
Ela conta que a mãe tinha um salão de pintura e alisamento. “Sempre alisei meu cabelo, nem sabia como era de verdade. Decidi deixar natural e comecei a estudar para saber como tratá-lo. E decidi levar a cultura e o empoderamento à mulher negra da periferia”, ressalta. Com o trabalho de cabeleireira, desfiles e ensaios fotográficos, consegue uma renda mensal de R$ 2 mil. “Recentemente, eu e 15 meninas, de Ceilândia e Samambaia, desfilamos na Embaixada do Gabão”, revela.

Para os jovens da periferia, é mais difícil desenvolver sua arte, porque têm de trabalhar para ajudar em casa e muitas vezes não podem estudar, conta Rayane Soares, 26, coordenadora do Jovem de Expressão, projeto que organiza oficinas socioculturais e de empreendedorismo na comunidade de Ceilândia há 10 anos. “A região é tida como perigosa, mas é muito rica em cultura. A arte é transformadora. Nosso objetivo é que quem nos procurar consiga gerar renda para sobreviver”, diz.

Berço e referência
Brasília sempre foi berço de importantes coletivos culturais, garante Jaqueline Fernandes, gestora cultural e especialista em políticas públicas em gênero e raça. “Cada vez mais presentes e diversos, são referências e modelos de organização. Articulam novas tecnologias, sistemas, modelos éticos, de gestão e de inovação, gerando novos ciclos de criação, produção, distribuição e consumo”, explica.

No entanto, alerta Jaqueline, existe um tipo de invisibilidade e dificuldades específicas que recaem sobre a periferia. “Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender. Assim, artistas que nunca tiveram sua música na rádio acabaram por lotar shows e virar fenômeno nas redes sociais”, observa.

Para amplificar a música da periferia em tempos de redes sociais, Ivo Moraes, 29, e Danilo Vieira, 25, ambos moradores de Sobradinho, criaram o coletivo Haze Studio. Tecnólogo em gestão de eventos, Ivo destaca que a paralisação do país com a crise econômica motivou a dupla a buscar alternativas em 2015. “Montamos o coletivo para dar visibilidade à música da periferia”, conta ele, que ganhou experiência como vendedor de discos na Livraria Cultura, de 2011 a 2014.

Com empreendedorismo na veia, Danilo constatou que havia um mercado consumidor de videoclipes gigantesco. Identificados com a cultura hip hop, os dois gravam batalhas de rima e focam a produção audiovisual no rap da periferia, tudo divulgado em canais como o YouTube. “A monetização no ambiente digital ainda é um processo complicado, mas o mercado é crescente e já temos recursos entrando com alguns artistas”, conta Danilo.

Porta de entrada
Os jovens da periferia têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho e os coletivos funcionam como uma porta de entrada. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD 2018), no grupo de regiões administrativas da periferia do DF, está o maior contingente de pessoas entre 18 e 29 anos sem emprego: quase 35%. Para driblar a crise, 15 alunos formandos e recém-formados em publicidade e jornalismo, moradores de Ceilândia e Planaltina, criaram o projeto OTM Culture, um coletivo de divulgação em mídias digitais.

A integrante Jéssica Martins explica que ainda é difícil viver da profissão. “Me formei no ponto alto da recessão, em 2015, e o coletivo foi o jeito que encontrei de trabalhar, mesmo sem receber”, justifica. O OTM Culture começa a se custear. “Por enquanto, está tudo na base da permuta, mas, com nosso trabalho, a cultura da periferia caminha para o centro”, acrescenta.

“Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero, e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras” 
Gustavo Vidigal, pesquisador

“Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender”
Jaqueline Fernandes, gestora cultural


Correio Braziliense domingo, 14 de abril de 2019

PÉRICLES: A RESISTÊNCIA DO PAGODE

 


MÚSICA
 
 
Péricles: a resistência do pagode
 
Péricles , ex-integrante do grupo Exaltasamba, se aproxima dos 30 anos de carreira com projetos de gravação de discos, DVD e releituras de clássicos do samba

 

Vinícius Veloso*

Publicação: 14/04/2019 04:00

Uma das referências vocais no cenário musical brasileiro e pioneiro quando o assunto é pagode, Péricles chega a 2019 com muito vigor e a esperança de colher bons frutos dos trabalhos que estão projetados para o decorrer do ano. Proveniente do grupo Exaltasamba, com o qual protagonizou anos dourados de pagode, ele é cantor, compositor e músico.
 
Atualmente, segue em carreira solo e mantém o status de expoente musical pela qualidade do trabalho. Ao Correio, Péricles falou sobre os novos projetos para este ano, a família, a carreira e também deixou um recado para os fãs da cidade, que aguardampela apresentação ao lado de Thiaguinho e Chrigor no Funn Festival.
 
 (Fabio Nunes/Divulgação - 22/2/19)  
 
Qual é o tamanho da mudança que o álbum Pagodão do Pericão apresenta em relação aos outros?
Esse é mais um dos projetos que nós acreditamos muito. Nossa intenção foi fazer uma junção de algumas releituras e apresentar uma música inédita, que a galera estava muito a fim de ouvir. A gente procurou não mexer muito na estrutura das regravações, mas apresentar coisas que eu gostaria de ter gravado antes e os fãs gostariam de ouvir na minha voz. A gente acertou bastante na escolha do repertório e é algo para descontrair, se emocionar, assim como todos os outros trabalhos que a gente fez.
 
A união com Thiaguinho e Chrigor em uma canção lembra os anos 1990/2000 do Exaltasamba. Como foi este momento e o quão importante esses artistas são para você?
Essa canção tem uma estrutura parecida com outras canções que a gente já fez, ouviu e curtiu. Mas, primeiro, a intenção foi fazer uma canção que falasse sobre amizade. Aí, eu trouxe dois dos grandes amigos que eu tenho, que a música me deu, que foram o Thiaguinho e o Chrigor e a gente cantou essa canção. Depois, lá no palco mesmo, a gente se deu conta que estavam três vocalistas que passaram pelo Exaltasamba, mas realmente sem intenção nenhuma. A intenção maior era mostrar e comemorar a amizade, não só a amizade que nós temos, mas uma amizade que representa todos por meio dessa canção.
 
No álbum, qual a composição que você mais se identificou? E como foi escolhido o repertório?
Eu não tenho uma que eu me identifico mais, mas o repertório como um todo foi escolhido de uma forma que a gente pudesse agradar as pessoas que gostam do nosso trabalho e fazem um carinho imenso no nosso coração toda vez que a gente lança um trabalho. O Pagode do Pericão é um pagode para todo mundo, assim como é o Canal do Pericão, as minhas redes sociais… É um lugar para todo mundo participar.
 
O pagode vive um novo momento, com grandes artistas como Ferrugem e Dilsinho surgindo. Você, como um dos mais experientes da classe, acompanha isso de que maneira?
Eu, como defensor do samba e do pagode, vejo um momento mágico que a gente está vivendo. Vejo artistas como Ferrugem, como Dilsinho, Vou pro Sereno, Clareou, Tá na Mente, Intimistas, Reis da noite… Tem muita gente boa aparecendo, mostrando seu trabalho, mostrando que realmente a evolução continua. É muito bom ter esses artistas no cenário. Eu vejo com bons olhos e creio que esse é o caminho. Quanto mais gente boa tiver dividindo esse grande espaço que é o pagode, melhor para a música brasileira.
 
Você é conhecido pelo apelido de “Rei da voz”. De onde vem tamanho potencial vocal? Como você se adaptou e se preparou para chegar a esse nível?
Quem me deu esse apelido de “Rei da voz” foi o Mumuzinho e eu vejo como um presente. Gosto muito de cantar, mas desde cedo, percebi um potencial diferenciado para o canto, e a genética ajuda muito. Procuro muito, além da genética, que sempre me ajudou, me cuidar. Fui pra fonoaudióloga, fiz aulas de canto e procuro tomar todos os cuidados para manter o bom uso da voz. Mas gosto de cantar e acho que esse é o maior segredo, gostar do que faz. Independentemente de qual seja a profissão, faça aquilo que te deixa muito mais feliz. É isso que faço.
 
Como você acompanha a carreira do seu filho Lucas Morato? Ele vem se mostrando um excelente compositor e um cantor refinado. Como é a relação de vocês?
A minha relação com o Lucas Morato, além de ser a relação pai e filho, é a relação fã e ídolo, pois eu o admiro muito. É a relação parceiros de composição, são todas juntas que a gente procura viver do mesmo jeito, no mesmo momento. Ele realmente vem se mostrando um grande compositor, é um ótimo cantor e está aí trilhando a carreira da melhor maneira. Eu, como pai, fico feliz em ver que ele também é feliz desempenhando esse trabalho musical, e isso me deixa muito mais feliz. Saber que eu e a mãe dele criamos um cidadão de bem e hoje ele é uma realidade. Hoje, eu sou o pai do Lucas, o que é o mais legal.
 
2019 é um longo ano. O que pode adiantar do novo DVD que está por vir? O que está sendo planejado?
O ano de 2019 tem sido muito bom. É um ano em que a gente pôde mostrar para as pessoas esses novos projetos. Primeiro, o Pagode do Pericão e em segundo esse DVD que nós vamos registrar em audiovisual no nosso show de lançamento do CD Em sua direção. A base é esse CD, mas vamos mostrar para muita gente coisas que a gente fez nesse show. É uma síntese da minha carreira até então. Espero que a galera venha a gostar. Esse ano de 2019 tem sido ótimo para nós.
 
Ainda tem muita lenha pra queimar? Está pensando em parar ou diminuir o ritmo? Dedicar-se mais à família?
Olha, eu tenho hoje mais ou menos 30 anos de carreira, mas eu não penso nisso. Eu sou muito feliz e seria um pecado parar de cantar. Gosto muito do que faço e meus fãs gostam muito do meu trabalho. Não acho justo parar agora. Creio que a gente está no caminho certo e é por aí que desejo trilhar e seguir. Então, não penso em parar tão cedo, nem quero pensar nisso.
 
Se você pudesse definir Péricles em uma palavra, qual seria? E por qual motivo?
Vencedor. Eu, como vários da minha geração, sou um resistente. Eu e o Belo falamos que nós somos resistentes, que nós somos sobreviventes, e isso me deixa realmente muito feliz. Saber que o caminho que a gente trilhou hoje dá frutos e faz com que outras pessoas se inspirem no que a gente fez deixa a gente muito feliz.
 
Você foi anunciado como atração do evento Funn Festival,  em Brasília, ao lado de Thiaguinho e Chrigor, e a galera já está animada antes das vendas. Que recado você pode deixar para o público da cidade sobre o show? 
O recado que eu posso deixar para Brasília é: preparem-se! A gente vai fazer uma festa do jeito que Brasília merece. De antemão, agradeço o carinho de todos e espero ver todo mundo nesse evento que vai ser de arrebentar.
 
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco 
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sábado, 13 de abril de 2019

RIO DE JANEIRO: TRAGÉDIAS EM SÉRIE

 

RIO DE JANEIRO
 
Tragédias em série
 
Ainda em recuperação dos estragos causados por temporais nesta semana, que deixaram 10 mortos, cidade é abalada por outra catástrofe: o desabamento de dois prédios construídos irregularmente. São ao menos cinco óbitos

 

INGRID SOARES
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 13/04/2019 04:00

 

Equipes fazem buscas nas ruínas dos dois prédios da comunidade da Muzema em busca de sobreviventes: cães farejadores ajudam nos trabalhos
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Equipes fazem buscas nas ruínas dos dois prédios da comunidade da Muzema em busca de sobreviventes: cães farejadores ajudam nos trabalhos

 

 


Após a morte de 10 pessoas em chuvas torrenciais no Rio de Janeiro, mais uma tragédia se abateu sobre a cidade na mesma semana. Desta vez, o desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no bairro Itanhangá, na Zona Oeste. Até o fechamento desta edição, cinco pessoas tinham morrido, nove ficaram feridas e aos menos 13 estavam desaparecidas. Entre os mortos está Claudio Rodrigues, 41 anos, que foi resgatado, levado para um hospital particular, mas não resistiu. Ele sofreu traumatismo craniano e teve quatro paradas cardíacas. Os nomes dos outros não foram divulgados.

O Corpo de Bombeiros teve dificuldades de acessar o local da tragédia devido ao temporal de dias antes, que deixou ruas destruídas ou intransitáveis. A corporação trabalha com cães farejadores, helicópteros, drone, ambulâncias e viaturas de recolhimento de corpos. Vizinhos foram os primeiros a prestar socorro e utilizaram até uma porta como maca para fazer a retirada de vítimas.

Segundo a prefeitura, os edifícios foram construídos irregularmente, e as obras estavam embargadas desde novembro de 2018. A pasta afirmou que os prédios foram erguidos por milícias e que, ao atuar na região, precisa do apoio da polícia.

Os apartamentos comercializados por milicianos são vendidos a preços abaixo do mercado. Unidades de dois quartos, com garagem, por exemplo, estavam sendo comercializadas por valores de R$ 40 mil a R$ 100 mil. Moradores contaram que sabiam da irregularidade dos imóveis, mas que era a única forma de moradia disponível.

 

Bombeiros carregam um dos feridos resgatados dos escombros (Carl de Souza/AFP)  

Bombeiros carregam um dos feridos resgatados dos escombros

 

 

 

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afirmou, ontem, que não se pode culpar apenas a gestão atual pela tragédia. “Esse prédio que desabou é um retrato da falta de fiscalização por parte do município. O estado não tem poder de fiscalizar edificações. São edificações que têm de ser coibidas pelo município. Agora, se a área era de milícia, como está sendo dito, no nosso governo estamos combatendo todas as áreas de milícias”, frisou. Já o vice-presidente Hamilton Mourão isentou o governo federal de qualquer responsabilidade e afirmou que as milícias devem ser enfrentadas.

Sem planejamento    
De acordo com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Jeferson Salazar, a prefeitura desmontou os quadros técnicos e praticamente extinguiu a capacidade de planejamento. “Infelizmente, essas tragédias vêm ocorrendo com frequência espantosa e não são uma exclusividade do Rio, mas se reproduzem em todo o território nacional”, ressaltou. “São reflexo de um conjunto de problemas que inclui a ausência de responsável técnico habilitado em atividades de projeto e obra de construções.”

 

Moradora é consolada: prédios teriam sido erguidos por milícias (Carl de Souza/AFP)  

Moradora é consolada: prédios teriam sido erguidos por milícias

 

 

 

Salazar destacou que, ao deixar de garantir direitos fundamentais, como acesso à terra infraestruturada, à moradia e à mobilidade urbana, o Estado se exime de sua responsabilidade constitucional de garantir aos cidadãos o direito à cidade. “Sem a presença do Estado e de políticas públicas consistentes, o cidadão ou é deixado à sua própria ‘sorte’, dando margem à autoconstrução sem assistência técnica, ou fica à mercê da exploração por agentes que agem à margem da lei”, disse. “O resultado é a insalubridade, a ocupação de áreas de risco, o habitat precário e, como na tragédia de hoje (ontem), o desabamento de moradias.”

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação determinou a demolição de mais três prédios no entorno dos que desabaram e realizou, até as 18h de ontem, 13 interdições. A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), por sua vez, atendeu 23 famílias desabrigadas e desalojadas e prestou assistências individuais a mais 100 pessoas do local.

“Sem a presença do Estado e sem políticas públicas consistentes, o cidadão ou é deixado à sua própria ‘sorte’, dando margem à autoconstrução sem assistência técnica, ou fica à mercê da exploração por agentes que agem à margem da lei”
Jeferson Salazar, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro

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Correio Braziliense sexta, 12 de abril de 2019

DECRETO EXTINGUE 13 MIL CARGOS

 


Cargos vagos na mira do Planalto
 
 
 
Na cerimônia dos 100 dias do presidente Jair Bolsonaro no poder, uma das 18 medidas anunciadas por ele atinge diretamente os servidores. Ideia é aumentar a eficiência na Esplanada, segundo os discursos. Ações incluem Banco Central, Bolsa Família, educação e drogasNotícia
 

 

» RODOLFO COSTA

Publicação: 12/04/2019 04:00


O presidente Jair Bolsonaro assinou, ontem, um decreto que atinge em cheio a Esplanada dos Ministérios. O dispositivo extingue cargos efetivos vagos e que vierem a vagar dos quadros de pessoal da administração pública federal. O pretexto argumentado pelo governo é de que a medida visa modernizar o Estado, adequando a estrutura de cargos às “exigências” da sociedade por serviços eficientes e uso racional dos recursos públicos, embora não estabeleça regras sobre como a decisão pode melhorar a qualidade da prestação de serviços e da máquina pública.

A medida contempla um pacote de 18 instrumentos normativos assinados por Bolsonaro em cerimônia alusiva aos 100 dias de governo realizada no Palácio do Planalto. O decreto não está contemplado nas 35 ações estabelecidas em janeiro pelo governo, mas vai em linha com o Decreto nº 9739/2019, que definiu critérios mais rigorosos para solicitação de concursos, sob argumento de buscar mais eficiência administrativa.

O termo eficiência, por sinal, é expresso em três ocasiões no conjunto de propostas, que se dividem entre 13 decretos, quatro projetos de lei complementar e um termo de compromisso. A busca pela efetividade na administração pública é partilhada pelo decreto do “revogaço”, que cancela 250 outros decretos considerados por Bolsonaro como “desnecessários”. “Temos uma parafernália de instruções normativas, resoluções, portarias e acordos interministeriais que, hoje, se avolumam em 14 mil decretos numerados e, pasmem, mais de 13 mil não numerados”, declarou o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O governo também pretende eliminar conselhos federais — hoje são cerca de 700, mas o número pode cair para 50.

Na Esplanada, serão extintos 13 mil cargos abertos e que vierem a ficar vagos na administração federal. De acordo com o secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, Wagner Lenhart, são funções que se tornaram obsoletas, como jardineiro, mestre de lancha, atendente bilíngue, operador de máquinas agrícolas, artífice de artes gráficas e auxiliar de enfermagem. Do total, 12.315 já estão desocupados e serão suprimidos imediatamente.

As funções eram, em grande parte, ocupadas por servidores de nível intermediário ou auxiliar — ainda há 916 em alguns desses cargos na administração e serão extintos quando os funcionários se aposentarem. O órgão mais afetado será o Ministério da Saúde, com 11.420. Serão extintos cargos vagos de agente de saúde pública, auxiliar de enfermagem e guarda de endemias. “Agente de saúde pública e guarda de endemias desempenham atividades que passaram a ser exercidas pelos estados”, explica Lenhart. Ele ressalta ainda que outras rodadas de “limpeza” de cargos virão. A meta do governo é ter uma estrutura de cargos mais enxuta. No briefing da entrevista que ocorrerá hoje para falar das extinções, o recado é claro: “Hoje, existem mais de 700 mil cargos efetivos. Destes, cerca de 250 mil estão vagos, e, portanto, poderiam vir a ser providos.”

Eficácia

A argumentação da eficácia é citada pelo governo também na proposta da autonomia do Banco Central (leia mais na página 7), que espera com o projeto de lei assinado ontem o aumento da produtividade, da eficiência na economia e, em última instância, do crescimento sustentável. O outro decreto que trata sobre efetividade é o que possibilita a doação de bens móveis para o governo, sob o pretexto de, com uma atuação socialmente responsável, estimular o fomento e o engajamento colaborativo entre sociedade e o governo.

Decretos, leis assinadas e metas apresentadas pelo governo são distribuídos em cinco grupos: institucional, econômico, social, infraestrutura e meio ambiente. No social, o governo confirmou o pagamento da 13ª parcela do Bolsa Família e entregou o projeto que regulamenta a educação domiciliar, o chamado homeschooling (leia mais sobre os assuntos na página 3). Em setembro de 2018, ainda durante o governo do ex-presidente Michel Temer, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os pais não podem tirar filhos da escola para ensiná-los em casa. Nesse último caso, a medida virá como projeto de lei, para que tenha vigência imediata.

Mesmo sob formato de projeto de lei, Lorenzoni prevê dificuldades na aprovação por resistências de parlamentares “de esquerda”. Alfinetadas à oposição e os governos anteriores, sobretudo do PT, deram a tônica quando o chefe da Casa Civil explicou o termo de compromisso assinado para implementar o sistema de compliance dentro dos ministérios da Saúde e da Agricultura, geridos pelos deputados de carreira Luiz Henrique Mandetta e Tereza Cristina, ambos do DEM. A ideia é que o governo dê o exemplo no combate à corrupção. “Para, exatamente, mudar a cultura que, durante décadas, foi completamente afastado daquilo que é um bom, serviço público, que é servir à cidadania”, declarou.

O discurso de campanha também norteou parte do discurso de Bolsonaro. Ele disse que o governo pretende trabalhar com foco na valorização das famílias, nos valores cristãos, na educação de qualidade e sem viés ideológico. No Meio Ambiente, entretanto, o governo carregou parte da ideologia defendida pela gestão, que se diz contra o “ativismo ambiental”, ao alterar a conversão de multa simples em serviço de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 11 de abril de 2019

AGORA, É PENSAR EM MAIS 100 DIAS

 


GOVERNO
 
 
Agora, é pensar em mais 100 dias
 
 
Governo vai dizer, hoje, que concluiu cerca de 95% das ações programadas para o período,  como a instituição do 13º salário do Bolsa Família. Entretanto, há um plano de diálogos e mais ações, principalmente na geração de empregos, nos próximos três meses

 

» RODOLFO COSTA
» CLÁUDIA DIANNI

Publicação: 11/04/2019 04:00

Bolsonaro e a equipe estão satisfeitos com a repercussão do governo no mundo: integrante da lista das 100 pessoas mais influentes do planeta (Alan Santos/PR)  

Bolsonaro e a equipe estão satisfeitos com a repercussão do governo no mundo: integrante da lista das 100 pessoas mais influentes do planeta

 



O presidente Jair Bolsonaro celebra hoje os 100 dias de governo tentando bancar mais feitos do que efetivamente entregou e com mais polêmicas do que diálogos nas articulações com o Congresso e tradicionais parceiros comerciais no exterior. Mas, aos poucos, o chefe do Executivo federal trabalha para mudar a imagem, por meio de agenda positiva com a sociedade e promovendo uma nova modelagem na interlocução com o Parlamento e as comunidades árabe e asiática. O Planalto reformulou, desde a última semana, um plano para, ao menos, nos próximos 100 dias, entregar diretrizes de uma gestão que dialogue melhor com a política interna e externa e a grande massa que o elegeu.

Uma das grandes sinalizações será feita hoje, com a instituição do 13º salário do programa Bolsa Família, que deve beneficiar cerca de 14 milhões de famílias, em cerimônia no Palácio do Planalto. O custo será de R$ 2,5 bilhões e substituirá o reajuste previsto para este ano. Apesar disso, o governo trabalha para bancar que, em 2020, será mantido o 13º e a correção anual. Um recado importante para um governo que conseguiu convencer as mais diversas camadas socioeconômicas nas eleições.

A ação faz parte de um pacote de 35 metas estipuladas pelo governo para os 100 dias, das quais o governo deve entregar menos da metade, se analisadas eficácia, eficiência e efetividade das medidas apresentadas ainda em janeiro. Na educação, por exemplo, nenhum programa nacional de definição de soluções didáticas e pedagógicas para a alfabetização foi lançado, como era previsto. O governo, no entanto, vai garantir hoje ter concluído cerca de 95% do estabelecido.

O Planalto está orgulhoso das conquistas e da repercussão no mundo. A revista Time escolheu Bolsonaro para integrar a lista das 100 pessoas mais influentes do planeta e a agência de relações públicas global Cohn & Wolfe aponta que o presidente da República superou até mesmo o norte-americano Donald Trump como o chefe de Estado com mais interações no Facebook. Ainda assim, sabe que terá muito trabalho pela frente.

As pesquisas que apontam a queda da popularidade do governo são desdenhadas publicamente por Bolsonaro, mas há uma preocupação interna em melhorar a imagem. O entorno político dele sugeriu, e os líderes partidários cobraram uma proximidade maior com a população. A mensagem foi absorvida. Na sexta-feira, ele viaja acompanhado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a Macapá para inaugurar o novo Aeroporto Internacional da cidade.

O gesto é importante sob diferentes aspectos. A inauguração de uma obra de infraestrutura costuma contar pontos com a sociedade e o Parlamento a um presidente da República. Ainda na região Norte, Bolsonaro deve cumprir agenda na Zona Franca de Manaus, polo industrial da cidade. A ida do chefe do Planalto à Campina Grande (PB) para inaugurar o Centro de Dessalinização e casas do programa Minha Casa Minha Vida do Complexo Habitacional Aluízio Campos também está no radar, embora ainda sem data prevista.

A aposta em conclusão de obras e geração de empregos é uma das metas do governo nos próximos 100 dias — e uma das apostas dos empresários da construção civil. De acordo com cálculos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 4,7 mil obras paralisadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que equivalem a um potencial de R$ 135 bilhões de investimentos e uma geração de 500 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Pressionado para melhorar a popularidade e a imagem junto ao Congresso, o governo estuda ampliar as iniciativas para destravar os investimentos e entregar mais obras.

Exterior

A imagem do governo no exterior também é uma preocupação de Bolsonaro. Viagens para a China, Japão e Coreia do Sul estão no radar para o segundo semestre. O embaixador brasileiro na Arábia Saudita, Marcelo Della Nina, faz visitas a autoridades árabes desde segunda-feira. Ontem, o chefe do Planalto, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o chanceler Ernesto Araújo jantaram com 40 embaixadores de países islâmicos, na Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). 

No fim do jantar, que durou cerca de uma hora, o embaixador da autoridade Palestina, Ibrahim Alzeben, deu um recado ao governo ao ser perguntado sobre a suposta transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. “Fiquem longe desse conflito e vocês vão ganhar o mundo inteiro”, afirmou, lembrando que islâmicos são um terço da humanidade, espalhados por 57 países.

A ação tenta consertar o potencial estrago político e comercial com os países islâmicos causado pela aproximação do presidente brasileiro com o Estado de Israel e a abertura de um escritório em Jerusalém. O jantar de ontem, que durou uma hora, foi aberto por um breve discurso do presidente, seguido por Tereza Cristina, sobre o relacionamento do Brasil com a comunidade de países árabes e islâmicos. O Brasil exportou US$ 16,4 bilhões em produtos do agronegócio para essas nações em 2018, de acordo com a CNA. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, os gestos do presidente vão ajudar a reforçar o comércio.

Cuidado com a saúde

Mesmo com a agenda corrida, Bolsonaro ainda segue as orientações médicas e cuida da saúde. Na manhã de ontem, 
foi submetido a uma endoscopia no Hospital da Força Aérea (HFAB). O exame estava previamente agendado. Ele foi sedado e permaneceu inconsciente por 30 minutos, tempo suficiente para a conclusão do procedimento médico. Em seguida, foi ao Planalto e tomou café da manhã, quando se recuperou do efeito da anestesia e iniciou a agenda política.


Os pardais continuam

A Justiça Federal de Brasília determinou que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT) suspenda o desligamento de radares de velocidade nas rodovias federais. A medida foi anunciada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. De acordo com o chefe do Executivo, cerca de 8 mil equipamentos devem ser desativados. a juíza Diana Wanderlei, substituta da 5ª Vara Federal de Brasília, atendeu a uma ação popular do cidadão Fabiano Contarato e determinou que os contratos que estão prestes a vencer sejam renovados por mais 60 dias. A magistrada marcou audiência para o dia 30, a fim de que o Denit e a União apresentem relatório técnico sobre os motivos da não renovação dos contratos e determinou “que nenhum medidor de velocidade seja retirado ou desligado das rodovias federais, em todo o Brasil, até manifestação liminar” da Justiça.
 
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Correio Braziliense quarta, 10 de abril de 2019

BRASÍLIA: LAGUINHO DA 308 SUL

 

Unidos pelo laguinho
 
 
Moradores da 308 Sul organizam vaquinha virtual para repor filtros furtados do espelho d%u2019água da quadra modelo

 

» Juliana Andrade
Especial para o Correio

Publicação: 10/04/2019 04:00

Carlos Alberto, aposentado ajuda a cuidar do espaço: %u201CTodo dia,  faço aspiração dessa sujeira  
depositada%u201D (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Carlos Alberto, aposentado ajuda a cuidar do espaço: Todo dia, faço aspiração dessa sujeira depositada

 

 
Quadra modelo do projeto urbanístico de Lucio Costa, a 308 Sul está unida em torno do laguinho desenhado pelo paisagista Burle Marx, em meio aos blocos residenciais com azulejos de Athos Bulcão. Eles organizam uma vaquinha para salvar o espelho d’água e, principalmente, as carpas que moram nele.

O dinheiro visa comprar filtros de água ultravioletas. Responsáveis por eliminar as algas e bactérias, os aparelhos foram furtados em janeiro. Desde então, a água está cada vez mais escura, poluída. Os moradores temem pela vida dos peixes e o mau odor. Por isso, criaram uma campanha de arrecadação na internet. O prazo para doação termina hoje.

A meta da vaquinha é R$ 9,3 mil. Cada filtro custa cerca de R$ 2,9 mil. Caso as doações excedam o valor, a Prefeitura Comunitária da 308 Sul afirma que os recursos serão usados para a compra de peixes. Até ontem, o grupo havia arrecadado pouco mais de R$ 5,6 mil. O lago tem cerca de 400 m², com 180 m³ de água. Ele é mantido pela Administração Regional de Brasília, responsável pelos custos com a água e a energia, e a comunidade, responsável pela limpeza, cuidados com os peixes, entre outros.
 
Morador da quadra desde 1961, o aposentado Carlos Alberto Macedo, 85 anos,  se dedica a cuidar do espaço. “Faço o meu exercício diário aqui. Todo dia, faço aspiração dessa sujeira depositada no fundo”, conta. Ele lembra que, antes dos filtros serem roubados, a água ficava transparente.

Os principais frequentadores do espaço são as crianças, que se encantam com os peixes. Eduardo, 6, filho da cirurgiã-dentista Renata Macedo, 44, tem o favorito. “É o peixão”, diz ele, apontando para um dos peixes que se destaca pelo tamanho. “Desde que ele nasceu, os passeios da manhã são feitos aqui. As crianças amam”, destaca a mãe. “A minha infância foi aqui, quando ainda nem tinha água”, completa.

Moradora da quadra, Renata vai ao espaço com o filho Eduardo todos os dias: menino tem até o peixe preferido (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Moradora da quadra, Renata vai ao espaço com o filho Eduardo todos os dias: menino tem até o peixe preferido

 



Atração turística
 
O lago é uma das principais atrações da quadra que, além dos moradores, recebe turistas e excursões escolares. Moradora de São Paulo, a psicóloga Liliana Campanholo, 59, visitou a quadra com a família. “Vim conhecer a história. Viemos ver a Igrejinha e passamos aqui, pois tem um paisagismo maravilhoso. Achei lindo”, ressaltou.

O casal Carolina Mourelle, 33, servidora pública, e Leonardo Guimarães, 33, administrador de empresa, também visitou quadra modelo. Leonardo veio de Águas Claras para mostrar a região para a namorada, que veio para Brasília recentemente. “A minha juventude foi aqui, na Asa Sul. Eu saía da escola e vinha para cá com os meus amigos”, relatou.


Dispositivos antifurto
 
» Após o furto dos equipamentos, a Associação de Moradores instalou alarmes e outros dispositivos 
anti-furto na caixa de filtros. Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que toda a área da Asa Sul recebe policiamento 24 horas por dia, por meio de viaturas e de pontos de base de policiamento. A pasta ainda acrescentou que, desde janeiro, 110 suspeitos ou autores de crimes cometidos na região foram detidos.


Participe
» Para participar da vaquinha, basta acessar o site abacashi.com e buscar por Laguinho da 308 Sul – Reposição filtros roubados. Mais informações em www.prefeitura308sul.org.br
 
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Correio Braziliense terça, 09 de abril de 2019

MÁRCIO COTRIM: ADEUS AO HOMEM QUE AMOU BRASÍLIA

 


OBITUÁRIO
 
Adeus ao homem que amou Brasília
 
 
Ex-diretor executivo da Fundação Assis Chateaubriand, Márcio Cotrim morreu, ontem, aos 80 anos e deixa um legado de luta pela cultura da capital. Escritor, era um artesão da palavra, lapidada em cada crônica que escrevia

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 09/04/2019 04:00

 

 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 17/2/05 )  

 

 

Movido pelas palavras, o Usina de Ideias estava a todo o vapor. A mente sã, por nenhum momento deixou a criatividade escapar. A idade, no entanto, bateu a porta e, na tarde de ontem, Brasília perdeu um de seus maiores cronistas e escritores. Aos 80 anos recém-completados, Márcio Cotrim morreu, na tarde de ontem, na residência onde viveu por mais de três décadas, no Lago Sul. Estava ao lado da mulher, Eliana Cotrim. Deixa duas filhas, Flávia e Mônica; e cinco netos: Gustavo, Rodrigo, Thiago, Guilherme e Alexandre. O velório será hoje, das 11h às 16h, na Capela 6 do Campo da Esperança, na Asa Sul. O enterro está marcado para as 16h.

 

A procura incessante pelo saber e o planejamento de inúmeros projetos visando valorizar as raízes e a cultura brasileira fazem jus ao apelido recebido de amigos e admiradores de Cotrim. “Uma locomotiva de ideias, presença inspiradora. Não importava se o tempo estava bom ou ruim, o olhar dele era sempre para frente”, traduz Luiz Marcelo Pinheiro Chaves, genro do pioneiro e escritor.

 

Nascido no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1939, Cotrim se formou em direito, mas foi usando o poder da comunicação que se destacou profissionalmente. Chegou a Brasília em 1972, onde atuou como assessor de propaganda e promoções do Banco do Brasil e, posteriormente, assumiu a Secretaria de Cultura e Esporte do DF, sendo o responsável pela criação do Conselho de Cultura e do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

 

Em 1992, entrou para o grupo dos Diários Associados, construindo um legado de informação e cultura. Por quatro anos, respondeu pela direção de marketing do Correio Braziliense e, depois, assumiu o cargo de diretor executivo da Fundação Assis Chateaubriand. Nos corredores do prédio, era visto com frequência. Ficou conhecido também pelas famosas colunas que escrevia semanalmente para o jornal.

 

Amante da língua portuguesa, achou na riqueza do vocabulário brasileiro a inspiração para escrever O pulo do gato, livro em que explica a origem de mais de 200 palavras e expressões populares. O tema rendeu pelo menos mais cinco volumes, que entraram para o rol de publicações do escritor. Foram mais de 15 livros, além dos incontáveis artigos para o jornal.

 

Dentre os temas preferidos que abordava nas crônicas estava a favorita Brasília. Em uma de suas últimas publicações, Cotrim valoriza a maneira com que nasceu a capital, “que se construía freneticamente numa saga poucas vezes igualada na história da humanidade”. E pela cidade, o pioneiro também fez história. “Márcio era um cronista que nos instruía e divertia. Que descanse em paz”, manifestou o geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani.

 

Consolidou inúmeros projetos culturais, não só para a Fundação Assis Chateaubriand, como também para toda a cidade. Foi dele a iniciativa de criar prefeituras nas quadras do Plano Piloto, sendo ele o primeiro a assumir a função, na SQS 303.  “Cada quadra é uma cidadezinha de 3 mil habitantes”, costumava definir Cotrim. Atualmente, a capital conta com mais de 100 prefeituras de quadras.

 

Trajetória

 

Em reconhecimento às ações que implementou na cidade, Cotrim chegou ser homenageado, em vida, ao dar nome a um dos prédios da construtora Paulo Octávio. O comunicador e o empresário eram amigos. “Márcio teve uma brilhante trajetória, enaltecendo a epopeia de Brasília, seus pioneiros e o legado de JK, com muita sabedoria, inteligência e bom humor. A cidade perde um de seus mais valorosos heróis. A saudade do amigo será imensa”, homenageou Paulo Octávio.

 

Pelas contribuições também recebeu o título de cidadão honorário de Brasília. Como figura de grande relevância para a língua portuguesa, conquistou o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Ele ocupava, ainda, a cadeira de número 30 da Academia Brasiliense de Letras, cujo patrono é Monteiro Lobato, uma das grandes inspirações e referências que Cotrim tinha como escritor. “Ele se orgulhava muito disso e a ocupou com louvor. Era um cronista primoroso, de texto irretocável. Um amigo cordial, elegante e generoso, com uma gargalhada maravilhosa. Apaixonado pelas palavras, pela cultura, pela família e, não posso deixar de mencionar, pelo Fluminense”, relembra o amigo e presidente da Academia Brasiliense de Letras, Fábio Coutinho.

 

Devido a problemas de saúde, Cotrim passou boa parte dos últimos momentos em casa e aproveitando os almoços em família. “Ele era uma pessoa atenciosa, caseira e sempre muito ligado a área de cultura, em geral”, conta o genro Luiz Marcelo. A fragilidade do corpo não impediu, no entanto, que a energia para a escrita se apagasse. “Só o corpo envelheceu, porque a mente estava a mil”, conta Celeste Antunes, funcionária administrativa que trabalhava diretamente com o comunicador.

 

Parece que o grande curioso e desvendador de significados sabia, mesmo antes de partir, do legado forte e eterno que deixaria para somar. Como ele mesmo dizia: “Esse é um filão que nunca se esgotará, porque as palavras nunca terminarão.”

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Correio Braziliense segunda, 08 de abril de 2019

DISTRITO FEDERAL: RIQUEZA DA PERIFERIA

 

Riqueza da periferia
 
Empreendedorismo é a arma dos moradores das regiões administrativas do Distrito Federal para enfrentar os obstáculos que a vida em um país em crise impõe. Consultoria aponta que informalidade e benefícios sociais representam 40% dos ganhos nos domicílios do país

 

SIMONE KAFRUNI

Publicação: 08/04/2019 04:00

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia

 



Jogada para longe dos centros urbanos, a população da periferia criou uma economia dinâmica e criativa, um saber coletivo de como sobreviver às condições de exploração da força de trabalho no Brasil. Obrigada a lidar com a ineficiência do Estado, essa parcela de brasileiros, que configura a enorme maioria, fortaleceu redes de solidariedade ao promover soluções locais para as dificuldades da vida. Na vanguarda das relações sociais e econômicas, o arranjo peculiar desse mercado acabou por descortinar a riqueza da periferia.

A cada crise, as taxas de desemprego disparam e atingem em cheio a população periférica, que parte para o empreendedorismo como alternativa de sobrevivência. É nesse contexto que negócios informais, formação de coletivos, foco na vocação regional e uma busca incessante pela independência do centro urbano marcam a economia do entorno de Brasília. A partir de hoje, o Correio publica uma série em quatro capítulos que pretende mostrar um pouco da riqueza da periferia do Distrito Federal, onde apenas 230 mil dos mais de 3 milhões de habitantes moram no Plano Piloto.

A história começa na urbanização do país, explica a professora aposentada de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, Erminia Maricato. “O Brasil entra no século 20 com 10% da população urbana e termina com 80% das pessoas nas cidades”, diz. A migração é pela busca de emprego. “A mão de obra se oferece muito barata e ganha apenas para comer e gastar com transporte. Sem recursos, se instala como pode nas periferias.”

Quando o desemprego aumenta, entra a criatividade. No Brasil de hoje, são mais de 13,1 milhões de desempregados. Não à toa, a informalidade e os benefícios sociais representam 40% dos ganhos dos domicílios brasileiros para bancar despesas com alimentação, saúde, habitação e transporte, segundo a consultoria britânica Kantar WorldPanel.

Para o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp) Edgard Barki, o empreendedorismo se fortaleceu nas populações periféricas. “Há um fator circunstancial por conta da crise e do aumento do desemprego. Empreender é uma questão de necessidade para gerar renda”, ressalta.

Com a maior população do DF, com 490 mil habitantes, Ceilândia abriga a segunda maior favela do país, o Sol Nascente, onde moram 95 mil pessoas. Apesar da fama de perigosa, a comunidade luta para vencer o estigma na base da economia informal e solidária. Elisângela Amaral, 40 anos, presidente da Associação dos Microempresários do Sol Nascente e do Pôr do Sol, conta que a batalha é pela formalização dos pequenos negócios. “Nem a associação é formal ainda, mas estamos regularizando para dar mais ao pessoal”, diz.


Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente

 




Solidariedade
Sem trabalho e ao ver a dificuldade do filho Clailton Alves de Souza, 30, em se recolocar no mercado, Edilene Alves, 51, apostou em um food truck. Os dois vendem cachorro-quente, sucos, pastéis e caldo de cana. Decidiram manter o negócio no Sol Nascente, para atender a população local com preços acessíveis: por R$ 5 é possível comprar um combo. Os dois conseguem tirar R$ 3 mil de renda por mês.

Para a professora Erminia, a cidade tem uma função social, porque é uma construção coletiva. “A solidariedade é fundamental, já que não se tem um Estado solidário”, explica. Foi para ajudar a família que Sandra Carmem Alves da Silva, 42, descobriu sua vocação. Com a morte da irmã, precisou cuidar dos três sobrinhos. Hoje, é responsável por mais de 20 crianças numa creche no Sol Nascente. “Cobro entre R$ 100 e R$ 150 mensais para dar banho, comida e cuidar”, assinala.

Outra característica comum na periferia é a união de forças. Sem emprego, o marceneiro Cristiano Pereira de Matos, 38, abriu uma empresa e hoje garante trabalho para ex-colegas que ficaram desempregados. Todos moram no Sol Nascente, mas os móveis planejados que produzem ganharam clientela por todo o DF. Os projetos variam de R$ 4 mil a R$ 6 mil. “Quando o volume de trabalho aumenta, contrato mais colegas que precisam de trabalho”, conta. Além da diária de R$ 100 para marceneiro e R$ 50 para ajudante, Cristiano paga o almoço dos colaboradores.

Na periferia, a venda porta a porta é mais eficiente, o boca a boca é mais relevante, sublinha Barki, da FGV Eaesp. O músico Bob Nickson, 54, que o diga: ganha a vida no grito. Enquanto batalha para gravar seus discos e fazer shows, faz bicos como locutor e consegue diárias de até R$ 150 para chamar clientes em frente a um comércio no centro de Ceilândia.
 
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Correio Braziliense domingo, 07 de abril de 2019

MÚSICA: PIRRALHOS MOTIVADOS

 

Pirralhos motivados
 
A música é um importante instrumento na socialização e integração e deve ser introduzida desde a primeira infância. Conheça a história de crianças e adolescentes que tiveram a vida mudada pelas batidas ritmadas

 

Por Renata Rusky
Por Ronayre Nunes
Especial para o Correio

Publicação: 07/04/2019 04:00

Fernando (de bandana), Davi, de baquetas, e Caio são integrantes da banda Os Minhocas e melhores amigos
 (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Fernando (de bandana), Davi, de baquetas, e Caio são integrantes da banda Os Minhocas e melhores amigos

 

Quem vê Caio Terra, 10 anos, tocando guitarra e cantando para o público não imagina que até dois anos atrás ele era um garoto extremamente tímido. A professora de música dele, Sara Abreu, relembra: “Ele chegava à escola de música, eu dava oi e ele mal olhava para o meu rosto, de vergonha”.
 
A música transformou a vida e a personalidade dele, fez com que conhecesse gente de todas as idades e até lhe deu os dois melhores amigos, os companheiros de banda, Davi Matheus, 10, e Fernando Sales, 9. “Nós somos irmãos”, diz Davi.
 
Os três se conheceram na escola onde aprendem música. Juntos, iniciaram um projeto que se transformou em uma banda de verdade: Os Minhocas. A relação é mesmo próxima como de irmãos. Nem sempre eles concordam sobre o que tocar ou com outras questões; por isso, as brigas estão sempre presentes. Mas logo passam.
 
Fernando, o baixista, e Davi, o baterista, lembram que, no início, nem gostavam de Caio. “Ele se achava o dono da banda”, reclama Fernando. Caio admite: “Eu achava mesmo. Só porque era vocalista. Mas depois entendi que a banda é de todos”.
 
Entre os profissionais da música, a opinião é quase unânime: os benefícios da musicalização infantil são fundamentais para um crescimento saudável. Ricardo José Dourado Freire é professor do Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB) e explica que a música na infância é chave para o desenvolvimento do adulto: “A questão da música é que ela é central para o desenvolvimento humano. Pesquisas mostram que a atividade musical ativa várias partes do cérebro. Desde aspectos cognitivos até motores, passando até mesmo pela linguagem. A música se torna um catalisador de todo esse desenvolvimento”.
 
De fato, a mãe de Caio, a empresária Rebeca Terra, 41, até se impressiona com o desenvolvimento do filho: “Ele saiu do oito para o 80. Do extremo, de muita insegurança, para se sentir dono da banda. Ainda bem que chegou num equilíbrio”. Para ela, essa é a parte mais importante do envolvimento do filho com a música: o amadurecimento pessoal dos meninos.
 
Enquanto Caio e Fernando são fãs do estilo trashmetal, Davi gosta mais de pop rock. Precisam, portanto, sempre chegar a um consenso sobre o que tocar. Criaram, então, as “leis minhocais”. A primeira delas define que, se dois quiserem tocar uma música, o outro tem de aceitar. Davi nem sempre fica em desvantagem. Fernando o apoia, por exemplo, no gosto por uma das músicas mais polêmicas entre eles: Anna Júlia, de Los Hermanos. Outra lei define que, em shows, quem está tocando uma música que não gosta não pode ficar emburrado. Nos ensaios, está liberado expor a chateação.
 
Apoio incondicional
 
O professor Ricardo José Dourado Freire reforça um fator muito importante da musicalização infantil: a relação com outras crianças. “A música é inerentemente coletiva. Tudo o que a gente vai fazer com música nessa idade é socializador, seja no coral, seja na escola, seja na bandinha do bairro. Mesmo se a criança estiver em um piano, ou em um instrumento sozinha, tem ajuda na complementação das atividades. Essa ideia de complementação e de que a criança não está sozinha é muito importante.”
 
As mães de Caio, Davi e Fernando apoiam a banda de todas as formas que podem. A servidora pública Betiza Matheus, 39, mãe de Fernando, se orgulha tanto de como o trio toca quanto de como consegue resolver os problemas entre eles. E acabou transformando o quarto de brinquedo da filha mais nova, de 4 anos, em uma sala de instrumentos. Questionado se deixa a irmã tocar a bateria dele, Davi diz que bem de vez em quando. Caio, porém, sacaneia e diz que ela toca quando o irmão não está. Um vive na casa do outro, e o outro nem precisa estar no local. As famílias se estenderam.
 
Sara, a professora dos meninos, sabe que, se falar com uma das mães, já significa ter falado com todas. Quando levam os meninos a shows de trashmetal, contam que caem na gargalhada. Betiza gosta de pop rock; Rebeca, de axé. “A gente fica se perguntando se não tem nada romântico”, brinca Betiza. “Eu fico rindo dos nomes das músicas e das bandas e respondendo a pergunta: “Cadê o moleque?”. Porque, quando me veem, já querem saber do Caio”, conta Rebeca.
 
Já com três músicas prontas e duas para colocar letra, ir a um show dos Minhocas é, além de divertido, inspirador. Impossível não se encantar com os três “pirralhos motivados” — como eles mesmos se chamam na primeira música, homônima da banda que toca AC/DC, Metallica, Los Hermanos, Capital Inicial.
 
Quanto mais cedo, melhor
 
Para profissionais da área, a música é fundamental para um crescimento saudável e deve estar presente na vida da criança até mesmo antes do nascimento: “A mãe já pode começar com estímulos vocais desde a gestação, pois ajuda no desenvolvimento da fala, do aparelho fonador. Isso passando também pelas canções de ninar, que vão dar continuidade a esse treinamento”, ensina o professor Ricardo José Dourado Freire, do Departamento de Música da UnB.
 
Em relação às fases de aprendizado prático, Freire detalha que existem várias abordagens. Para as crianças mais jovens, há o método Suzuki — uma filosofia que, de acordo com a Associação Musical Suzuki, defende a participação dos pais no processo de ensinamentos desde a mais tenra idade — por volta dos 4 anos. “Mas é uma adaptação que precisa de um profissional muito especializado. A faixa etária que a gente mais indica para essa introdução musical é junto ao começo da escola, geralmente aos 6 anos, porque a criança está numa fase de aprendizado em diversas vertentes. A partir dos 10 anos, já temos um aprendizado mais similar ao dos adultos, com foco na profissionalização.”
 
Para Felipe Guimarães, professor de bandolim infantil do Clube do Choro de Brasília, outro fator que pode ajudar na musicalização dos pequenos é a influência de casa. “Os pais são fundamentais nessa vontade das crianças, são uma influência direta. Se existir esse estímulo de levar o filho a espetáculos, colocá-lo para escutar os instrumentos em diferente ritmos, fica muito mais fácil.” Ele explica, porém, que a musicalização é uma coisa e a aula de instrumento é outra. “A musicalização é a ideia do estímulo, com vários instrumentos, na construção, apreciação musical, ambientes sonoros. Então, é algo que vai além do estúdio”, diferencia.
 
Assista ao vídeo de Os Minhocas em ação no tablet e no site do Correio.
 
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Correio Braziliense sábado, 06 de abril de 2019

GERVÁSIO BAPTISTA, 96 ANOS - MORRE O DECANO DA FOTOGRAFIA BRASILEIRA

 


OBITUÁRIO
 
Gervásio Baptista, 96 anos
 
 
Autor de algumas das imagens mais importantes do fotojornalismo, o baiano que morou em Brasília por quase seis décadas é considerado decano da profissão pela Associação Brasileira de Imprensa. Ele clicou a rotina de presidentes, guerras e outras crises

 

» Renato Alves

Publicação: 06/04/2019 04:00

O fotojornalista na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF: ele, que registrou a construção de Brasília, teve o tribunal como último local de trabalho  (Bruno Peres/CB/D.A Press)  

O fotojornalista na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF: ele, que registrou a construção de Brasília, teve o tribunal como último local de trabalho

 



O Brasil perdeu ontem um dos seus maiores fotojornalistas. Autor de algumas das mais famosas imagens de presidentes brasileiros, o baiano Gervásio Baptista morreu aos 96 anos, de causa naturais, em uma casa de repouso de Vicente Pires, onde morava desde 2015. Deixou registros históricos, família e uma legião de discípulos, admiradores e amigos.

Natural de Salvador, Gervásio clicou de Getúlio Vargas a Luiz Inácio Lula da Silva, sete copas do Mundo e 16 concursos Miss Universo, nos tempos áureos do evento. Cobriu a Revolução dos Cravos, em Portugal, em abril de 1974; a queda do presidente argentino Juan Domingo Perón (1955); e a Guerra do Vietnã (1955-1975).

Entre as icônicas fotos de Gervásio está a de Juscelino Kubitschek acenando com a cartola na inauguração de Brasília, capa da extinta Manchete, com os anexos do Congresso Nacional ao fundo. Outra imagem histórica é de Tancredo Neves ao lado da mulher, dona Risoleta, e da equipe médica, no Hospital de Base. A última imagem pública de Tancredo vivo.

Gervásio no Vietnã, durante cobertura da guerra no país asiático  

Gervásio no Vietnã, durante cobertura da guerra no país asiático

 


Precocidade

Os políticos não têm consenso sobre o início da carreira de Gervásio. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costumava dizer que foi nos tempos de dom Pedro I. Quando FHC fez tal comentário na presença do ex-ministro Pratini de Moraes, Gervásio elogiou a “memória prodigiosa” do então presidente da República. O ex-senador Antônio Carlos Magalhães afirmava que o profissional fotografou a Santa Ceia. “E o senhor era o meu repórter”, rebatia Gervásio, sempre que estava presente. Além de baianos, ambos eram contemporâneos, como o fotógrafo lembrava a ACM.

Quando criança, Gervásio brincava com caixas de fósforo como se fossem câmeras fotográficas. Abria e rabiscava o que via dentro. Ao completar 9 anos, o pai sugeriu a ele, no tempo das férias, trabalhar no laboratório de um amigo, em Salvador, onde moravam. No Foto Jonas, o menino, então filho único, aprendeu, em um mês, todo o processo químico da revelação e da cópia em papel.

As portas do fotojornalismo se abriram quando apareceu no estúdio o político Rui Santos. Ele pediu uma foto 3x4. Como todos os “retratistas” estavam ausentes, Gervásio se ofereceu para atendê-lo. Muito pequeno para fazer o registro do cliente, ele subiu em uma cadeira para alcançar o visor da câmera. “Tirei a foto e corri para o laboratório. Ele (Santos) olhou para mim e disse que eu era um danado. Perguntou-me se queria trabalhar no jornal Estado da Bahia”, contou Gervásio, em entrevista ao Correio.

No dia seguinte, aos 12 anos, Gervásio estreou como fotógrafo-assistente no periódico soteropolitano. Dono da publicação e dos Diários Associados, Assis Chateaubriand logo enxergou o talento no menino. A convite do patrão, em 1950, ele se mudou para o Rio de Janeiro, a fim de trabalhar em O Cruzeiro. 

As fotos mexeram com a maior concorrente da revista dos Associados, a Manchete, a ponto de Adolpho Bloch, proprietário da publicação carioca, contratá-lo para o primeiro número, em 1952.

Tancredo entre dona Risoleta e a equipe médica: última imagem do presidente vivo  

Tancredo entre dona Risoleta e a equipe médica: última imagem do presidente vivo

 


Vida e morte


Pela Manchete, ele registrou, semana a semana, a construção de Brasília. E, dessa cobertura, o mais emblemático registro é o de JK com a cartola. Assim como ela, as fotos feitas por Gervásio no funeral de Getúlio Vargas, em São Borja (RS), em 26 de agosto de 1954, também circularam mundo afora. No Brasil, até provocou um número especial da Manchete.

Discreto em relação aos segredos da vida profissional, principalmente no que diz respeito à intimidade dos presidentes que acompanhou em cerimônias e viagens pelo Brasil e pelo mundo, Gervásio não poupava Jânio Quadros. “A Manchete queria uma foto especial de Jânio. Ficamos quatro horas no estúdio. A minha intenção, com as técnicas de iluminação, era disfarçar os olhos vesgos dele. O (Adolpho) Bloch apareceu e perguntou como estava a sessão. ‘Um saco. Esse fotógrafo é um ditador. Só de me dá ordens’, reclamou Jânio. Soltei uma piada: ‘Presidente, quem mandou vossa excelência ter os olhos tortos?’ Jânio retrucou na mesma hora: ‘Viu? Ainda por cima é atrevido’. Enfim, saiu a foto. Consegui nivelar os olhos dele”, recordou, com uma risada sutil, em entrevista ao Correio.

Gervásio também fez importantes registros de líderes mundiais, como o cubano Fidel Castro, em 1960. “O meu primeiro encontro com Fidel foi em 1960, no primeiro aniversário da Revolução Cubana. Nós nos reencontramos anos depois na sede da ONU, em Nova York. Eu estava lá como fotógrafo oficial da Presidência da República, para fazer as fotos de José Sarney. Para minha surpresa, depois de 25 anos, Fidel ainda se lembrava de mim. Ao me ver, ele afirmou: ‘Yo lo conozco’”, contou o fotógrafo.

Pedido ao presidente JK para acenar com a cartola: dois cliques e uma imagem icônica  

Pedido ao presidente JK para acenar com a cartola: dois cliques e uma imagem icônica

 


Ditadura e prisões

A profissão e as viagens para países comunistas lhe renderam problemas com os militares brasileiros. Durante a ditadura, Gervásio acumulou passagens pela prisão. Mas, por não ter engajamento político, sempre foi libertado rapidamente e sem maiores consequências. Com o fim do regime, ele recebeu o convite para se tornar fotógrafo oficial da Presidência da República. Mas aquele que seria o seu chefe, Tancredo Neves, não tomou posse.

A internação repentina do primeiro presidente civil (eleito pelo Congresso Nacional) após décadas levou centenas de jornalistas a fazer plantão na porta do Hospital de Base, em março de 1985. Em uma tentativa de acabar com boatos da morte de Tancredo, o chamaram para fazer uma foto exclusiva dele ao lado da equipe médica.

Gervásio trabalhou para José Sarney e depois, por anos, fez jornada dupla, trabalhando de manhã na Radiobrás e à tarde no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse período, só chegava em casa depois das 22h. Ele dividia o apartamento da 105 Norte com a mulher, os dois filhos e os dois netos. A rotina da família começou a mudar em 2014, com a morte da carioca Ivonete, com quem Gervásio viveu casado por quatro décadas.

Dinheiro e fama

Considerado uma referência na profissão, Gervásio nunca se gabou da fama. Aliás, sempre fez questão de negá-la. “Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos”, ressaltou, ao Correio. Para ele, fotografar está relacionada às emoções. Um bom fotógrafo, ensina, tem que conhecer as técnicas dessa arte, o equipamento e, acima de tudo, ter sensibilidade. “Clico tudo o que me aguça o sentimento.”

O desapego com dinheiro levou Gervásio a uma aposentadoria mirrada, com nenhum luxo. Ele nunca recebeu um centavo pelos direitos autorais da sua obra. Sequer ficou com cópias das principais fotos. Mas não se chateava. Dizia ter aproveitado tudo que a carreira profissional lhe proporcionou, sem falar em saudades. “Saudosismo não leva ninguém ao céu. A bondade, sim”, pregava.

Perguntado sobre se ressentia por não ter feito alguma imagem, ele só lembrava de uma: “Queria ter fotografado o Mao vivo”. Ele se referia a Mao Tsé-Tung, líder da Revolução Chinesa, arquiteto e fundador da República Popular da China, presidente do país desde a sua criação, em 1949, até a sua morte, em 1976. Em tempo: Gervásio não clicou Mao vivo, mas cobriu as homenagens póstumas e o enterro dele, na China.

Das mais fortes emoções da vida, Gervásio citava o encontro com o ídolo na fotografia: o francês Henri Cartier-Bresson. “A gente se conheceu quando eu fui a Paris fazer um curso de 15 dias em um laboratório. Ele é o papa do fotojornalismo.” Esse foi um dos poucos cursos de Gervásio, que apenas concluiu o ensino fundamental, mas é considerado decano da profissão pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Nascido em Salvador, em 1º de junho de 1922, Gervásio fazia planos de sair do abrigo e voltar a fotografar. Católico apostólico baiano, como se apresentava, rezava bastante. Também procurava saber dos resultados dos jogos do seu Botafogo. Uma das suas últimas aparições pública foi em janeiro, na inauguração de uma exposição fotográfica que retratou a trajetória profissional dele. “O grande legado deste brilhante profissional permanecerá vivo. Ele é dono do acervo mais rico da história do país e, uma figura que o Brasil não pode esquecer”, destacou Ivaldo Cavalcante, curador da exposição, realizada na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga.

Deixando três filho, Gervásio deverá ter o corpo cremado. No entanto, até a noite de ontem, a família não havia decidido hora nem local do velório.


"Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. 
Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. 
Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos.”
Gervásio Baptista, fotojornalista
 
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Correio Braziliense sexta, 05 de abril de 2019

BRASÍLIA - A CAPITAL DAS CRIANÇAS

 


Prazer, pequeno, sou Brasília
 
 
História e arquitetura da capital federal são temas de peças infantis em abril, mês do aniversário da cidade

 

Diego Marques

Publicação: 05/04/2019 04:00

 
Crianças desvendam mistérios de Brasília em Investigadores do bloco A
 (Murilo Resende/Divulgação)  

Crianças desvendam mistérios de Brasília em Investigadores do bloco A

 

 
Gabriel Guirá interage com o público infantil no espetáculo Brasília brinquedo 
de ler (Espaço Cultural Renato Russo/Divulgação)  

Gabriel Guirá interage com o público infantil no espetáculo Brasília brinquedo de ler

 

 
 
No próximo 21 de abril, Brasília vai completar 59 anos. Fundada para ser a capital federal, a cidade encanta por aspectos diversos como os endereços baseados em números e os traços do arquiteto perfeitamente encaixados à geografia plana. No embalo do mês de aniversário brasiliense, duas peças infantis estão em cartaz, neste final de semana, para apresentar curiosidades de Brasília a seus moradores mais jovens. E o melhor: dá para conferir as duas.
 
O Espaço Cultural Renato Russo recebe a obra Brasília brinquedo de ler em sessões amanhã e domingo, às 16h. A ideia, aqui, é interativa e divide o espetáculo em dois momentos, o primeiro de apresentação e o segundo de integração com brinquedos criados por Gabriel Guirá. Personagens inspirados em Lucio Costa e Julieta Guimarães dividem sonhos com o público e, em geometrias visíveis e invisíveis, estimulam a criatividade para construir a cidade poética de Brasília.
 
Já em Investigadores do bloco A, três crianças descobrem um quarto secreto que conecta os apartamentos onde moram. Para desvendar os mistérios, eles precisam descobrir pistas em um passeio pela memória da cidade. O enredo é baseado nos livros Turma dos tigres e Os karas, além do seriado Detetives do prédio azul. A sessões ocorrem amanhã e domingo, às 17h, no Teatro Goldoni.
 
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
 
SERVIÇO
Brasília brinquedo de ler
Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Amanhã e domingo, às 16h. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 3 anos.
 
Investigadores do bloco A
Teatro Goldoni (208/209 Sul). Amanhã e domingo, às 17h. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), quem doar um livro infantil também paga meia. Classificação livre.
 

Correio Braziliense quinta, 04 de abril de 2019

FORMANDO PARACAMPEÕES

 


Formando paracampeões
 
 
Há 29 anos, a Cetefe oferece atendimento gratuito a deficientes em diversas modalidades esportivas. Agora, eles estão em busca de atletas para as paralimpíadas escolares, em novembro

 

» MARIANA MACHADO
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 04/04/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Atletas da natação se preparam para a competição, e associação pede ajuda para reparo da piscina
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Atletas da natação se preparam para a competição, e associação pede ajuda para reparo da piscina

 



A superfície da piscina fica inquieta quando os atletas cortam a água em movimentos rápidos. Crawl, borboleta, costas e peito. Todos os estilos são possíveis. A concentração é o que faz dos paratletas da Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe) verdadeiros campeões. Que o diga Matheus Bezerra, 17, que ostenta, orgulhoso, as 45 medalhas obtidas nos últimos três anos nadando pela organização sem fins lucrativos.

O rapaz, diagnosticado aos 4 anos com deficiência intelectual, se prepara para participar pela última vez das paralimpíadas escolares, que ocorrem em novembro, em São Paulo. Como está terminando o ensino médio, não poderá competir no ano que vem. Em 2018, ele ficou em quarto lugar. Agora, o objetivo é subir no pódio. “Estou treinando para conseguir ir mais longe. Quero alcançar a marca das 50 medalhas neste ano”, promete o jovem fã do campeão olímpico César Cielo.

Antes de iniciar os treinamentos, Matheus tinha dificuldade de aprendizado. Era muito tímido e dificilmente conversava. A família, que mora em Ceilândia, decidiu levá-lo à Vila Olímpica da cidade, onde ele se encantou pelo esporte. “Quando soubemos do problema, veio a preocupação, mas, depois de um tempo, entendemos que não é nada. Há tanta gente em situação até mais complexa e que são campeões”, narra o avô, o aposentado Sotero Bezerra, 68. Ele e a avó acompanham Matheus em quase todos os treinos, quatro vezes por semana. “É o sonho da família ver ele em uma paralimpíada”, emociona-se.

Por enquanto, a competição escolar é o alvo, mas a associação procura mais atletas para formar as equipes. A professora de natação Fernanda Santos explica que a intenção é treinar jovens entre 12 e 19 anos para fazer parte da delegação do Distrito Federal. “Tem muita criança espalhada nas escolas que poderiam estar com a gente, mas, às vezes, não sabem do projeto ou estão deprimidos, achando que não conseguem fazer nada. A gente foca no que eles conseguem fazer”, explica.
 
Sonhos
 
E eles são capazes de muita coisa. A falta da perna esquerda não impediu Gabriel Koga, 18, de levar o ouro para casa várias vezes desde que começou a frequentar o Cetefe, há quatro anos. “Nasci com má-formação, sem a fíbula (osso da perna). Por decisão minha, passei pela cirurgia de amputação e, durante a recuperação para voltar a andar, uma menina que praticava tiro com arco me indicou o Cetefe”, relembra.

Assim nasceu o amor pela natação e o carinho por uma nova família. “Aqui a gente é rival, mas é amigo”, garante. Nos últimos anos, ele fez parte da delegação escolar do DF, mas agora passou para outro nível. O sonho é participar de um mundial. Até lá, administra a rotina trabalhando na própria associação, treinando e, pela noite, estudando ciência da computação na Universidade de Brasília (UnB).
 
Trabalho intenso
 
A Cetefe foi fundada em fevereiro de 1990, por Ulisses de Araújo, hoje diretor do espaço. À época, ele era jogador de vôlei e treinava algumas equipes. “Pessoas com deficiências variadas me procuravam querendo participar e, por volta dos anos 1980, eu comecei a incluir pessoas da comunidade onde eu morava, no Setor Militar Urbano”, relembra.
Observando a dificuldade que famílias tinham de encontrar profissionais de educação física interessados em trabalhar com deficientes, ele criou a Cetefe. O terreno foi cedido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), no Setor Policial Sul. Nos 29 anos de existência, ele perdeu as contas de quantas pessoas foram atendidas. Atualmente, são cerca de 1,2 mil.

Ulisses explica que todos são bem-vindos. “Temos deficientes físicos, visuais, auditivos, intelectuais, autistas. A gente não oferece só esporte. Temos estimulação motora e atendemos do bebê ao idoso.” Mais de 500 colaboradores fazem parte do trabalho, que também atende aos familiares.

A expectativa é levar delegações de todas as modalidades para os jogos paralímpicos escolares. Os estudantes interessados podem ir à associação para fazer uma avaliação e começar o treinamento.
 
Piscina aquecida
 
Há cerca de um ano, a piscina está sem aquecimento. O equipamento que esquenta a água estragou e é muito caro. Três peças são necessárias para o conserto, mas cada uma custa em torno de R$ 50 mil. Por isso, a associação começou uma vaquinha on-line, mas, até agora, só conseguiram arrecadar R$ 10 mil. Fernanda explica que a piscina fica extremamente fria. “Os meninos quase congelam e, com isso, a gente perde muito aluno na época do frio. Isso atrapalha os trabalhos sociais e de treinamento.”

Além disso, portadores de certas patologias não podem entrar na água gelada. “Alguém com lesão medular, por exemplo, pode ter hipotermia. Fazemos trabalhos com a terceira idade e não podemos submeter os idosos a essa temperatura”, justifica a professora. Um dos atletas mais antigos, Gilberto de Almeida, 45, explica que, sem o aquecimento, cãibras são mais comuns.

Gilberto sofre de esquizofrenia e afirma que o esporte é um verdadeiro remédio. “Hoje, eu só tomo um remédio, mas, há uns dois anos, usava medicamentos controlados fortíssimos. Com o esporte, eu posso dizer que tenho energia para fazer coisas que adolescentes de 17 não conseguem”, comemora.
 
Confiança
 
Competir não é problema para os atletas. No último fim de semana, eles mergulharam de cabeça em Uberlândia e voltaram vitoriosos. Goiânia, Fortaleza e São Paulo também foram destinos em outras ocasiões. No ano passado, a delegação foi a Buenos Aires participar do aberto paralímpico. Durante as viagens, as professoras ficam responsáveis, o que não é problema para os pais.

A dona de casa Leomara Morais, 47, só tem elogios às técnicas. “Elas são mãezonas e fazem a diferença. Elas cuidam, zelam, mandam dormir na hora certa e se alimentar direito. São um exemplo de dedicação”, diz. O filho dela, Joel Morais, 21, foi tardiamente diagnosticado com autismo. “Quando ele tinha 3 anos, nós notamos os primeiros sintomas, mas só tivemos a confirmação quando ele fez 16”, diz.

Sem o esporte, ela acredita que o filho provavelmente passaria os dias isolado em casa, em frente a uma televisão ou celular. “Ele é muito comprometido, a natação é prazerosa para ele. Ele fala que quer ser professor de educação física e, claro, tem um exemplo muito bom.”


Chamada de atletas
 
O adolescente que quiser participar das paralimpíadas escolares deve procurar a Cetefe pessoalmente para uma avaliação. A associação fica nos fundos da Enap, no Setor Policial Sul. Veja a relação de todas as modalidades oferecidas: natação, basquete em cadeira de rodas, rúgbi em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas, tênis de mesa, tiro com arco, atletismo, bocha, vela adaptada, parabadminton, halterofilismo, goalball, futebol para paralisia cerebral.


Como ajudar

Quem tiver interesse em fazer uma doação para o aquecimento da piscina pode entrar em contato pelo e-mail natcav@gmail.com ou fazer um depósito:

Banco do Brasil
Agência: 3478-9
Conta Poupança: 52957-5
Variação 51
CNPJ: 26.444.653/0001-53
 
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Correio Braziliense quarta, 03 de abril de 2019

CANDANGOS NO FESTIVAL DE ERIC CLAPTON

 


Candangos no festival de Eric Clapton
 
 
Os brasilienses Daniel Santiago e Pedro Martins participarão de evento ao lado de Robert Cray, Bud Guy e Jeff Beck

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 03/04/2019 04:00

Daniel e Pedro foram convidados por Eric Clapton para tocar no festival de jazz e blues no Texas (EUA)
 (Dani Gurgel/Divulgação)
 
 

Daniel e Pedro foram convidados por Eric Clapton para tocar no festival de jazz e blues no Texas (EUA)

 

 
 
 
O talento dos músicos brasilienses continua sendo reconhecido no exterior. Uma prova disso é o convite recebido pelos violonistas e guitarristas Daniel Santiago e Pedro Martins para participar do Eric Clapton’s Crossroads Guitar Festival, que será realizado em 20 e 21 de setembro, em Dallas, nos Estados Unidos.
 
No evento, os instrumentistas e compositores candangos estarão ao lado de 32 atrações internacionais, nomes consagrados do rock, do jazz e do blues internacional como Jeff Beck, Peter Frampton, Robert Cray, Sheryl Crow, Kurt Rosenwinkel, Gustavo Santaollala e Buddy Guy, Los Lobos e, claro, Eric Clapton, uma lenda viva da música pop.
 
Simbiose, álbum de Daniel e Pedro, lançado em 2018, foi o que levou os dois a serem convidados para tomar parte do festival. “Em janeiro, Kurt Rosenwinkel ligou para o Pedrinho e disse que Eric Clapton tomou conhecimento do nosso disco, ouvindo-o em plataformas digitais. No final de fevereiro, fomos formalmente convidados, via e-mail do próprio Clapton. Na quinta-feira passada, recebemos a programação, enviada pela produção”, relata.
 
Amigos há 12 anos, Daniel e Pedro passaram a desenvolver uma relação artística logo que se conheceram pessoalmente. “Eu já estava morando no Rio de Janeiro quando em 2007, o Pedrinho me procurou. Disse ser admirador do meu trabalho, que conhecera em Brasília, ao assistir uma apresentação minha com o Hamilton de Holanda”, lembra Daniel. “À época, ele tinha 14 anos e ao ouvi-lo percebi que estava diante de um talento precoce e raro. Passamos então a manter contatos frequentes. Quatro anos depois produzi e participei, tocando violão, do primeiro disco dele, intitulado Sonhando alto, lançado em 2011”, acrescenta.
 
Teatro Mágico
 
Em seguida, Daniel, já como integrante e diretor musical da banda paulistana Teatro Mágico, levou Pedro para se juntar ao grupo, no qual ficou por apenas um ano. “O Pedrinho havia decidido  se dedicar a projetos individuais. Em julho de 2015, ele venceu o Socar Guitar Competition da 49ª edição do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Entre os jurados estavam John Mc Laughlin e Kurt Rosewinkel. Depois, Kurt o chamou para uma gravação em Londres e aí o Eric Clapton apareceu no estúdio”, conta.
 
Músico da geração posterior à de Hamilton de Holanda, Daniel, hoje com 40 anos, tem como contemporâneos o baixista André Vasconcellos, o violonista Rogério Caetano e o gaitista Gabriel Grossi. “Ao deixar Brasília e ir para o Rio de Janeiro, me integrei ao grupo Brasilianos, liderado pelo Hamilton. Com ele, gravei vários discos, diversas turnês e incontáveis shows. Compusemos também a Sinfonia Monumental comemorativa dos 50 anos de Brasília”, relata.
 
Daniel aguarda o retorno de Pedro Martins, que está na Europa fazendo shows de lançamento do Vox, o segundo CD solo. “Quando ele voltar, vamos trocar ideia sobre a participação no Eric Clapton’s Crossroads Guitar Festival, que é algo de grande importância, principalmente em razão do reconhecimento do nosso trabalho; mas também pela oportunidade de estarmos lado a lado com alguns músicos que temos como referência”, destaca.
 
Recentemente, o violonista gravou com Hamilton de Holanda o álbum Harmonize, que será lançado em breve. “No segundo semestre do ano passado, lancei Union, meu terceiro disco solo, com a participação do Pedrinho, inclusive na produção. Antes de viajar para a Europa, ele esteve comigo no show com base nesse trabalho, que fiz no Sesc Pompéia”, comenta. “Em 25 de maio, voltamos a nos encontrar no palco, num show em homenagem a Milton Nascimento, no Sesc da 24 de maio, também aqui em São Paulo, onde moro há quase uma década”, adianta.
 
 
 
“Em janeiro, Kurt Rosenwinkel ligou para o Pedrinho e disse que Eric Clapton tomou conhecimento do nosso disco, ouvindo-o em plataformas digitais”
Daniel Santiago, músico
 
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Correio Braziliense terça, 02 de abril de 2019

ZECA, O CÃO FAREJADOR: HORA DE PENDURAR A COLEIRA

 

Hora de pendurar a coleira
 
 
Após missão cumprida no rompimento da barragem em Brumadinho (MG), o labrador preto Zeca, do Corpo de Bombeiros do DF, se aposenta

 

» PATRÍCIA NADIR
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 02/04/2019 04:00

Zeca com os sargentos Paulo Couto e Isaque Ferreira Ribeiro, que o acompanharam durante a carreira na corporação (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Zeca com os sargentos Paulo Couto e Isaque Ferreira Ribeiro, que o acompanharam durante a carreira na corporação

 


 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal se despedirão de um ajudante nas missões de busca e salvamento. O companheiro de trabalho é o labrador preto Zeca, que vai se aposentar após nove anos de honrarias e trabalho árduo na corporação. Em geral, isso ocorre quando o cão farejador completa oito anos, mas ele fugiu à regra e acabou trabalhando mais porque tinha muita dedicação e vitalidade. Participou de diversas missões de destaque, a última delas no rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Agora, deixa o distintivo para aproveitar um descanso merecido.

O labrador chegou à equipe ainda filhote, com cerca de três meses de vida. Desde então, conquistou o coração de todos, tanto que ganhou até uma despedida com direito a medalha no sábado. Ele foi homenageado durante um evento no Kennel Clube de Brasília. “O Zeca é o xodó da corporação, porque está com a gente há muito tempo. Vamos sentir muitas saudades, mas chegou a hora de ele descansar, depois de tanto trabalho duro”, diz o sargento Paulo Couto.

Zeca voltou da missão em Minas Gerais há um mês. Lá, o animal atuou nas buscas das pessoas desaparecidas por 15 dias. Durante o trabalho, sofreu diversas lesões dermatológicas, uma vez que teve contato direto com os metais e resíduos da barragem. Agora, está se recuperando e para a aposentadoria.

Além desse desafio, o currículo do cão conta com outros resgates relevantes, como as buscas por quatro adolescentes levados por uma tromba d’água num córrego entre Samambaia e Ceilândia, o desmoronamento de um prédio na Colônia Agrícola Vicente Pires e o naufrágio de uma lancha no Lago Paranoá. Fora do Distrito Federal, auxiliou o trabalho dos socorristas após o deslizamento de terra em Teresópolis (RJ), em 2011, e participou de diversas operações em Minas Gerais e em Goiás.
 
Treinamento
 
Para aguentar o trabalho, os cães seguem uma rotina regrada. Pelo menos duas ou três vezes na semana, fazem atividades de natação, corrida e treinamentos de buscas em matas. “E, para que nós (bombeiros) façamos parte do agrupamento de cães farejadores, também passamos por um curso de especialização, com psicologia canina, treinamento em água e várias outros ensinamentos relacionados à vida canina”, explica o sargento Paulo.

Para atuar nas funções de combate, os cachorros das forças da Segurança Pública precisam ser firmes. Além da raça, leva-se em conta se o cão é curioso e se tem uma postura proativa e atenta. Depois da escolha, eles passam pela fase de socialização, adaptação, obediência e treinamento.

“Desde os primeiros momentos, o Zeca se destacou. Ele era o mais inteligente dos filhotes à época. Treiná-lo foi uma atividade fantástica”, relata o sargento Isaque Ferreira Ribeiro, que está na reserva há um ano. Geralmente, o bombeiro instrutor se torna a referência do animal. Por isso, quando chega a hora de ‘pendurar a coleira’, eles acabam sendo adotados pelos profissionais que os adestraram.

Sendo assim, o novo lar do Zeca será na casa de Isaque, em Sobradinho. A previsão é de que a mudança ocorra dentro de 30 dias, quando o processo burocrático da adoção for finalizado. “Vamos aproveitar a vida agora. Esse guerreiro merece”, comenta o militar.


Dócil demais
 
Em 2017, um pastor alemão chamado Gavel foi expulso de um programa de treinamento da polícia australiana por ser dócil demais. A “carreira” do cachorro, no entanto, teve uma reviravolta: após o ocorrido, ele passou a morar na residência do governador de Queensland. Antes de ser dispensado, Gavel participava de um treinamento para cachorros promovido pelo Serviço Policial de Queensland, na Austrália. O programa tinha duração de 16 meses, mas logo no início os treinadores perceberam que o animal era amigável demais e não apresentava os requisitos necessários para ser um cachorro da polícia.
 
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Correio Braziliense domingo, 31 de março de 2019

TANGO, UMA DANÇA BRASILIENSE

 


Tango, uma dança brasiliense
 
 
Cresce o número de adeptos da coreografia portenha na capital. Movimento é perceptível pelos espetáculos, academias e projetos inspirados no estilo

 

» Adriana Izel

Publicação: 31/03/2019 04:00

Alunos do professor Mario Miskiewiez (C):  

Alunos do professor Mario Miskiewiez (C): "está ao alcance de todo mundo"

 


Há mais de 20 anos, o tango, dança originária da Argentina e do Uruguai, desembarcou em Brasília nas escolas de dança da cidade. Nomes como dos dançarinos e professores Marcelo Amorim, Anna Elisa e Oscar Ricarte são os precursores desse movimento na capital, que, de tempos em tempos, vive momentos de auge no Distrito Federal. E este é um dos momentos.
 
Nos últimos quatro anos, a cidade voltou a ser inflada pelo tango. Aulas, milongas (nome usado para denominar as festas de tango) e projetos influenciados pela dança ganharam destaque. Hoje, as milongas, em geral, têm público de até 60 pessoas. Sem contar os espetáculos que lotaram espaços como a Sala Plínio 
Marcos, no Complexo Funarte.
 
“O tango em Brasília tem altos e baixos, tem tempos em que o número de praticantes cresce, e outros, em que diminui. De uns quatro anos pra cá, o movimento do tango em Brasília vem melhorando. Hoje temos mais profissionais da dança na cidade. Isso movimenta o cenário de forma positiva, com a realização de eventos como bailes, aulas e shows de gente da cidade e de fora”, explica Oscar Ricarte, que trabalha com isso há 18 anos e atualmente se dedica a aulas particulares desse estilo todo peculiar de dançar.

O professor Ricarte, com Michelline Medeiros, destaca que o cenário do DF está aquecido com festas e academias de qualidade  

O professor Ricarte, com Michelline Medeiros, destaca que o cenário do DF está aquecido com festas e academias de qualidade

 

Quando se fala no estudo do tango, a capital tem diferentes escolas. A variedade é grande. Para Ricarte, o desafio agora é a grande diferença entre o número de mulheres e homens praticantes. “As mulheres ainda são maioria, o que deixa o ambiente desfalcado, pois na dança a dois faz-se necessária a presença do homem para fazer par com a mulher. Por isso, hoje em dia, venho desenvolvendo formas de driblar essa dificuldade. Acredito que o tango, assim como qualquer dança de salão, pode ser dançado entre duas pessoas, independentemente do sexo”, destaca.
 
Além das aulas, a cidade conta com pelo menos um baile por semana dedicado ao tango. Uma vez por mês, ocorrem duas milongas na Asa Sul, uma promovida pelo casal de professores Anna Elisa e Sávio Menezes, e outra pelo casal de dançarinos Paula Emerick e Juliano Andrade. Na Asa Norte, o salão de festas de um bloco e a cobertura de outro também são invadidos pelo tango, uma vez por mês, por iniciativa de adeptos da dança.
 
Ritmo candango
Desde julho de 2017, a capital federal tem um Corpo de Baile de Tango totalmente candango. Criado pelo argentino Mario Miskiewiez, sem apoio governamental e privado, o grupo surgiu como uma forma de mostrar outras faces do tango para o público brasiliense. “Quando cheguei, tinham pessoas trabalhando com o tango há muito tempo. Havia as milongas. Mas achei que fazer um corpo de baile era um jeito de mostrar o tango de uma forma diferente. Para que todo mundo tenha acesso, possa assistir e vivenciar essa cultura”, conta.
 
Com o objetivo de montar o grupo, Mario Miskiewiez convocou dançarinos de diferentes estilos de Brasília. “Fizemos isso para mostrar que o tango está ao alcance de todo mundo. Não é uma dança só para privilegiados”, explica. Assim foi formado o Corpo de Baile de Tango de Brasília, que tem mais de 20 dançarinos no elenco. Desde então, o grupo apresenta anualmente um espetáculo nos palcos de Brasília. Neste ano, apresentaram o show Tango urbano, na Funarte, e devem voltar aos palcos em julho. “Cada show é feito só uma vez em Brasília. Estamos armando o próximo com uma temática diferente”, explica.
 
Aprendizado diferente
A professora de línguas Michelline Medeiros encontrou no tango uma forma de conexão com a Argentina. Após morar um período naquele país, onde aprendeu a dança, ela retornou ao Brasil e passou por uma fase difícil por ter tido que deixar o país latino. Ela viu no tango uma forma de se reaproximar do local deixado.
 
“O tango foi a minha arteterapia, foi a maneira que encontrei de me manter conectada com aquele país sem estar fisicamente lá, foi a maneira que encontrei de manter a argentinidade acesa. Desde então, comecei a participar ativamente da comunidade tangueira de diversas maneiras: fazendo aulas, frequentando milongas, participando, por um período, do Corpo de Baile de Tango de Brasília, sendo uma das organizadoras de uma das milongas de Brasília, a Vangardia Tangueira”, diz.
 
Mas só isso não bastou. Neste ano, o tango invadiu a vida profissional de Michelline com o curso Entre tangos. A professora resolveu unir o estudo do espanhol com o tango, mostrando que a cena tem influenciado outras iniciativas. “No semestre passado, tive uma aluna que era tangueira, e assim, comecei a usar tangos e materiais correlatos como base para as nossas aulas. Daí surgiu a ideia do curso, que veio a calhar com meus planos pessoais. Há algum tempo, como consequência da minha missão de vida, tenho procurado unir o ensino de idiomas às manifestações culturais e às artes e, assim, oferecer cursos diferenciados e voltados para o entendimento da língua como manifestação e ponte culturais. E esse curso, desde a concepção, faz isso”, completa.
 
O curso foi pensado para os amantes do tango, não somente para aqueles que o dançam, mas também destinado àqueles que admiram a música, os costumes e todo o universo tangueiro. As aulas se utilizam de letras, documentários e gravações de aulas de tango. É a partir da dança que são extraídos o vocabulário e as estruturas gramaticais das aulas.
 
 
Para aprender
 
» Corpo de Baile de Tango de Brasília
Para aulas e informações sobre o corpo de baile, ligue para o telefone 99153-9288 ou acesse o Facebook: www.facebook.com/corpodebailedetangobsb.
 
 
» Entre tangos
Curso de espanhol com base no tango. Turmas no Thook (211 Norte, Bl. A) com aulas segundas e quartas, das 18h às 20h. Terças e quintas, das 20h às 21h30. Segundas e sextas, das 12h30 às 14h. Informações pelo telefone 99653-5320 ou pelo Facebook: www.facebook.com/Entre-tangos-443976539678691.
 
 
» Para dançar nas milongas Caminito
Fred Restaurante (405 Sul, Bl. B, Loja 10). Em 5 de abril, às 19h30. Preços: R$ 30 (milonga), R$ 50 (aula) e R$ 70 (aula + milonga).
 
 
» Tango na Laje
314 Sul, Bl. F (cobertura). Em 20 de abril, às 20h. Entrada gratuita. Lanche colaborativo.
 
 
» Al Compás del Corazón
Naturetto (403 Sul, Bl. C, Loja 22). Em 26 de abril, às 21h. Entrada a R$ 30.
 
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Correio Braziliense sábado, 30 de março de 2019

CIRQUE DU SOLEIL: POR TRÁS DO OVO

 


ARTES CÊNICAS
 
 
Por trás de OvoO
 
Espetáculo do Cirque du Soleil, que estreia em 5 de abril na cidade, tem uma estrutura nos bastidores de impressionar

 

Diego Marques*
Enviado especial

Publicação: 30/03/2019 04:00

O espetáculo fica em cartaz até 13 de abril no Ginásio Nilson Nelson (Douglas Magno/AFP)  

O espetáculo fica em cartaz até 13 de abril no Ginásio Nilson Nelson

 



Mar Gonzalez é chefe da equipe de costura de Ovo (Lucas Hallel/Divulgação)  

Mar Gonzalez é chefe da equipe de costura de Ovo

 

 
 
Belo Horizonte — O Cirque du Soleil chega a Brasília em 5 de abril. O espetáculo Ovo está em turnê no Brasil pela primeira vez. Cores, acrobacias, malabarismo, contorcionismo… Os atos performáticos são encantadores, mas o trabalho de bastidores também é incrível. O Correio esteve em Belo Horizonte — primeira cidade brasileira a receber a apresentação, que retrata uma colônia de insetos.
 
Antes do show, um passeio pelo backstage. Dá para imaginar a dimensão da produção e a logística por trás das exibições. Ainda assim, observar os detalhes é surpreendente. O Cirque chega ao Brasil, de navio, com 250 contêineres. Dentro do país — e daqui para os países vizinhos da América do Sul — os equipamentos seguem viagem em 23 caminhões. Inclusive, a estrutura de montagem começa dois meses antes das datas de apresentação — ou seja — a preparação do Ginásio Nilson Nelson começou em fevereiro.
 
Fora do palco, os 50 artistas têm estrutura completa para diversas atividades. Há uma academia completa baseada em pesos livres. Entre os materiais, até um saco de pancadas está disponível. Eles têm rotina e físico de atletas, logo, uma dieta balanceada é programada por nutricionistas e preparada por um chef próprio. Um restaurante é montado e são servidas opções saudáveis e variadas, já que o grupo é composto por pessoas de 25 países.
 
As fantasias, outro show à parte, demandam cuidado especial. Então, o Cirque traz a própria lavanderia e estrutura de costura para ajustes e reparos. Mar Gonzalez, líder desse setor, revela como essa operação é complexa. “Viajamos com os figurinos, cada artista tem três, se somarmos chapéus e sapatos, são mais de mil peças. Trazemos as máquinas de lavar, máquinas de costura, secadoras… É muita coisa”. As roupas são lavadas todos os dias, e os sapatos pintados semanalmente.
 
A equipe responsável pelo figurino é formada por quatro integrantes fixas e dois locais em cada cidade para auxílio e com tarefas bem definidas. A cautela é justificada. “A estilista fez um trabalho muito detalhado, ela observou cada inseto em microscópio para captar os detalhes antes de começar a desenhar. Foi um trabalho muito interessante. Eu adoro o figurino, porque eles são muito coloridos, têm muita alegria”, revela Gonzalez.
 
A equipe de Mar Gonzalez é composta por mulheres de nacionalidades distintas. Espanha, Austrália, França e Coreia do Sul. Nicolas Chabot, assessor de imprensa de Ovo, comentou sobre o ambiente internacional. “Eu costumo de chamar de Organização das Nações Unidas da Costura e Organização das Nações Unidas das Acrobacias. São muitos países envolvidos”, brinca ele, que é canadense.


Sala de costura do Cirque du Soleil (Lucas Hallel/Divulgação)  

Sala de costura do Cirque du Soleil

 




Percussão posicionada atrás do palco (Lucas Hallel/Divulgação)  

Percussão posicionada atrás do palco

 




Tupiniquins
 
Claro que os brasileiros também estão presentes. Entre eles, uma das três protagonistas, Neiva Nascimento, e a autora, diretora e coreógrafa de Ovo, Deborah Colker, — as primeiras nascidas no Brasil a desempenharem esses papéis no Cirque. Além dela, Martin Alvez (artista de fita em suspensão) e Emerson Neves (treinador chefe).
 
A música também é típica do Brasil. Carimbó, forró, maracatu, funk e outros estão entre os gêneros. Para isso, claro, músicos brasileiros. Eles tocam ao vivo, atrás do palco, enquanto assistem às apresentações por telas posicionadas ao lado dos instrumentos. Ocorre dessa forma para que, caso algo não caminhe bem nos atos, eles possam manter a faixa até que tudo se normalize e a sequência siga. O versátil maestro toca, dá direções pelo comunicador e rege os musicistas. Tudo isso, atento aos monitores.
 
O palco também guarda curiosidades. Toda a estrutura de palco, pela primeira vez neste formato de arena no Brasil, demora 15 horas para ser montada. Entre um ato e outro, os jogos de luzes e a atmosfera rítmica entretêm a plateia enquanto a equipe prepara o cenário. Por exemplo, se em um momento você tem uma corda bamba, tudo escurece e algo distrai a plateia enquanto a produção ergue uma rede de segurança e prepara aparatos suspensos para os trapezistas. Tudo muito rápido, resultado de ensaios exaustivos e dedicação de toda a equipe.
 
Ovo tem duas horas de duração divididas igualmente por um intervalo de 20 minutos. O tempo, que passa como um piscar de olhos, deixa marca profunda na memória. O resultado é mágico.
 
* O estagiário, sob supervisão de Igor Silveira, viajou a convite do Cirque du Soleil
 
 
 
Ovo — Cirque du Soleil
Ginásio Nilson Nelson (SRPN). De 5 a 13 de abril. Os preços das entradas inteiras variam de R$ 260 a R$ 900. Confira os horários e valores detalhados no site do Correio.
 
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Correio Braziliense sexta, 29 de março de 2019

A RECEITA DO HUMOR CONTRA BULLYING

 

A receita do humor contra o bullying
 
 
O ator brasiliense Willy Costa leva o palhaço Balofo às escolas de Ceilândia e Samambaia para mostrar como enfrentar o preconceito e as difamações, usando brincadeiras

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio

Publicação: 29/03/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
 
Meia hora antes de os holofotes se acenderem, os últimos retoques no batom vermelho dão cor ao sorriso do artista. Em instantes, ele fará dezenas de adolescentes rirem enquanto mostra como encarar da melhor forma um problema diário na vida dos jovens: o bullying . É o ator 
Willy Costa, de 33 anos, quem dá vida ao palhaço Balofo, uma figura estabanada que ensina respeito durante a apresentação em escolas de Ceilândia e Samambaia.
 
Usando roupas apertadas e sapatos enormes, o palhaço mostra, com bom humor, como superar as situações de agressão e preconceito. Com a ajuda dos alunos, ele apaga, de um quadro no palco, ofensas, como “gordo” e “porco rosa” e substitui pela palavra “respeito”. Ao longo dos cerca de 40 minutos de apresentação, interage com a plateia, rola no chão e dança.
 
Por trás da palhaçada, estão as experiências do ator com bullying. O próprio nome artístico nasceu de provocações de colegas. Nascido José Francisco Nunes, foi por muito tempo alvo de piadas. “Eu sempre fui um cara gordinho, pobre, morador da periferia e era muito xingado na escola, mas nunca vi isso como um problema. Eu tinha uns 9 ou 10 anos quando começaram a me chamar de Willy, por causa do filme Free Willy”, recorda.
 
O menino, que até então não conhecia a orca mais famosa do cinema, resolveu assistir e se encantou com a personagem. “Achei bacana, era como se dissessem que eu era um artista de Hollywood. Comecei a brincar com isso e me encontrei no riso. Foi assim que adaptei meu nome e acrescentei o sobrenome da minha mãe como homenagem”, explica.
 
Nem sempre, no entanto, o bullying contra ele foi apenas verbal. Quando tinha 9 anos, Willy foi apedrejado dentro da escola por colegas que o xingavam. “Eu encontrei no palhaço a possibilidade de passar uma mensagem bacana, de não ficar no lugar do coitado, mas do empoderado. O projeto pega essa figura que me permite mostrar as minhas fragilidades e defeitos fazendo um convite não para que as pessoas riam de mim, mas comigo”, afirma.

Willy Costa  se transforma no palhaço Balofo: a leveza para falar de um tema pesado, que é o bullying (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Willy Costa se transforma no palhaço Balofo: a leveza para falar de um tema pesado, que é o bullying

 



Paula:  

Paula: "O palhaço se expõe, mostra potências e impotências e convida a rir e transcender"

 



Nas escolas
 
Balofo nasceu em 2003, no Galpão do Riso, um espaço cultural de Samambaia que recebe coletivos de artistas. Hoje, estão todos engajados no projeto Balofo nas Escolas. A atriz e mestre em artes cênicas Paula Sallas, 31, também faz parte do espetáculo. Antes da performance de Willy, ela sobe ao palco e inicia um bate-papo com os estudantes sobre o preconceito. “É uma coisa que antes não tinha esse termo em inglês, mas que sempre aconteceu. O palhaço vem no contrafluxo. Ele mesmo se expõe, mostra potências e impotências e convida a rir e transcender”, descreve.
 
Segundo ela, muitos jovens procuram o grupo depois das apresentações para contar situações que enfrentaram. “Tivemos muitos alunos emocionados, chorando enquanto a gente fala sobre aceitação da diversidade. Muitos falam com a gente na surdina. Sabemos que é difícil ser adolescente, é um momento em que qualquer coisa que você disser em público pode lhe transformar em alvo de chacota”, relata. “Ao menos três pessoas sempre estão envolvidas nessas agressões: o causador, a vítima, e a pessoa que perpetua aquilo. Quem passa adiante está compactuando com o bullying”.
 
Para o vice-diretor do Centro de Ensino Média 4 (CEM 4) de Ceilândia, Washington Luiz dos Santos, os artistas foram mais do que bem-vindos. “Acho que o projeto contribui de maneira palpável aos alunos”, declara. “A escola vem trabalhando a questão, e a gente tem uma preocupação muito grande em relação a isso. Quando identificamos algum caso, chamamos as partes envolvidas e, se necessário, os pais também”. Ele conta que, por vezes, as provocações terminam em brigas, e que por isso, é preciso atenção tanto da escola quanto da família. “O bullying começa de maneira suave e vai ganhando aspectos pejorativos”, conclui.

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Amadurecimento
 
Só quem foi alvo sabe o impacto do bullying. Para a jovem Mikaelly dos Santos, de 16 anos, ele veio como racismo. “Ouvi muitas pessoas falarem que, por eu ser negra, sou inferior, ou colocando apelidos que machucam muito. A gente não demonstra quando acontece, mas chega em casa e chora, pede para sair da escola”, narra a menina.  Aluna do 2º ano no CEM 4 de Ceilândia, ela sorri hoje ao dizer que encontrou apoio nos amigos.
 
“Com eles, eu sou mais feliz do que sozinha. Juntos, a gente age quando vê alguém sendo xingado ou quando escuta as pessoas destratando alguém”, diz. O colega dela Vinicius de Sousa, 16, ensina: não adianta rebater o deboche dos outros. “Me chamavam de narigudo, tucano, mas eu prefiro ficar na minha. Para que responder quem só quer fazer o mal?”, pondera.
 
A paciência, no entanto, não é sempre possível, como relata o amigo deles, Kleberson Gomes, 16. Quando tinha 12 anos, ele cansou de ouvir colegas zombando das roupas e dos tênis rasgados que usava e entrou em uma briga, o que lhe rendeu uma transferência de escola. “No começo, a gente era amigo, mas eles acharam que por isso poderiam me expor e eu não ligaria. Ninguém tem o direito de invadir a intimidade do outro”.

Hoje, sabendo das consequências, ele vê que amadureceu com o tempo. “Quanto mais você se importa, mais eles atacam. Bullying nada mais é do que uma forma de o agressor fugir de um problema descontando em outra pessoa”, afirma.


Agressões
O termo em inglês faz referência a atitudes agressivas, verbais ou físicas praticadas repetidamente por agressores, causando dor, angústia e intimidando vítimas que não têm a possibilidade de se defender.
 
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Correio Braziliense quinta, 28 de março de 2019

CEILÂNDIA: AS MINAS DA MODA

 

As minas da moda
 
 
Mulheres moradoras de Ceilândia impulsionam o mercado local com produtos próprios e muita inspiração no que a cidade tem a oferecer

 

» FERNANDA BASTOS*
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Publicação: 28/03/2019 04:00

A artesã Nathália Marinho Cerqueira se inspira na vegetação local para produzir suas peças
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A artesã Nathália Marinho Cerqueira se inspira na vegetação local para produzir suas peças

 


Moradoras de Ceilândia, jovens mulheres estão se unindo para produzir produtos de beleza e moda a preços acessíveis e de alta qualidade. Ao procurar por mercadorias que desejavam e encontrar itens com valores muito altos, elas perceberam a oportunidade de transformar o consumo de roupas e de outros acessórios de beleza na região administrativa.
 
De acordo com a artesã Nathália Marinho Cerqueira, 20 anos, a cidade onde mora teve influência decisiva na construção do seu ateliê, Mãe Natureba. “Eu acredito que, se não disponibilizo minha arte para o lugar onde eu moro eu não posso vender para outros”, destaca. A proposta do negócio é ser acessível, oferecendo tanto aulas e oficinas como produtos artísticos mais baratos. A jovem vende colares, pulseiras, mandalas, pinturas e bordados. “A extensa vegetação, as plantações de amora, manga e abacate, das quais eu moro perto, influenciaram alguns dos meus desenhos”, conta.

Gabriella Silva Mendes, dona da Afrogaia, faz cosméticos, como sabonetes e cremes, naturais (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Gabriella Silva Mendes, dona da Afrogaia, faz cosméticos, como sabonetes e cremes, naturais

 

Já a tatuadora e curadora de brechó Larissa Cristina Rodrigues da Silva, 22, teve como principal influência o desperdício de roupas para fundar o brechó Altlet. Para ela e as amigas Gabrielle e Evelyn — sócia-fundadora e curadora de produção e criadora, respectivamente — a troca de roupas pode contar com a estilização das peças, que ficam com cara de novas. “Não podemos deixar as roupas se destruírem se dá para reutilizar e transformar”, destaca.
 
As peças, vendidas por valores entre R$ 5 e R$ 60, são cuidadas desde a obtenção pelas três empreendedoras. Um dos diferenciais da marca é a reutilização de todos os elementos. “Estamos no meio do cerrado, que está sendo destruído e, se não cuidarmos pelo menos da roupa que usamos, vamos cuidar do quê? Tudo que usamos, o papel da placa, as etiquetas de preço, a arara das roupas, foi encontrado na rua e reutilizamos”, aponta a empresária.

No brechó de Larissa Cristina da Silva, as peças passam por customização: menos desperdício (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

No brechó de Larissa Cristina da Silva, as peças passam por customização: menos desperdício

 

Nascida em Planaltina, Larissa se mudou para Ceilândia aos 17 anos e afirma que a cidade influenciou sua vivência como mulher na área da cultura. E, para retribuir esse conhecimento, a curadora do brechó acredita que é preciso fazer o dinheiro obtido nas vendas voltar para a cidade. “A maioria das pessoas de quem compramos as roupas são idosas que vivem em Ceilândia. Dessa forma, ajudamos pessoas daqui e retornamos o dinheiro para o mercado na esquina, para a produção de eventos, para a troca de outras roupas”, destaca. As peças mais vendidas pelo brechó são tops de diversas cores e tamanhos, para todos os tipos de corpo.
 
Força
Seguindo o mesmo pensamento, a moradora da M Norte Gabriella Silva Mendes, 21, participa de um coletivo de mulheres negras e empreendedoras que trabalham com o que a terra provém. Em razão da falta de produtos que supram suas necessidades, ela começou a produzir os próprios cosméticos por meio da cosmetologia natural. Com a fabricação de cremes e sabonetes que variam de R$ 4 a R$ 35, a estudante de ciências sociais criou a marca Afrogaia, que já expôs em feiras e eventos na região. “Essa força vem daqui, dos coletivos da Cei”, destaca.
 
Para Kamilla Stephany Dias Gomes, 21, nascida e criada em Ceilândia, a força para realização do sonho de criar uma marca de roupas veio da família, de amigos e de seguidores nas redes sociais, onde a jovem se tornou conhecida por falar de diversos temas relacionados a beleza e sobre a cultura na periferia.
 
Com o público já consolidado e as rendas obtidas no trabalho como vendedora, conseguiu lançar a própria marca, a Kza Company. “Eu sempre quis ter uma marca de roupas, acessórios e afins que tivesse a minha identidade e a identidade da rua, principalmente de Ceilândia, onde nasci e me criei. Queria retratar a quebrada com uma pegada estilosa, do jeito que eu gosto”, conta Kamilla.
 
O objetivo da Kza é dar visibilidade à moda das ruas. Nesse contexto, Ceilândia é pura inspiração, que vem das pessoas, das festas e do convívio diário. O diferencial da marca consiste na modelagem, com cortes estilosos e estampas diferentes. Toda a equipe é da região administrativa e as peças, pensadas para o público do “rolê street” da cidade. “Não é apenas uma marca. Eu quero, por meio dela, que as pessoas olhem para as roupas que eu lançar, se inspirem e tenham fé e determinação para fazer aquilo que elas sonham em tirar do papel”, ressalta.
 
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Correio Braziliense quarta, 27 de março de 2019

CEILÂNDIA: A CIDADE QUE SE REINVENTA

 


MEU LUGAR CEILÂNDIA  - A cidade que se reinventa

 

Publicação: 27/03/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Há 48 anos, a maior região administrativa do Distrito Federal passa por mudanças. Moradores que, décadas atrás, apostaram naquela terra e a fizeram crescer, hoje contam também com a força de jovens que transformam realidades diariamente. Parabéns, Cei!
 
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Correio Braziliense terça, 26 de março de 2019

TEMER É LIBERTADO E TEM BENS BLOQUEADOS

 


JUSTIÇA
 
Temer é libertado e tem bens bloqueados
 
Desembargador manda soltar o ex-presidente, o ex-ministro Moreira Franco e o coronel Lima. Banco Central retém R$ 8,2 mi do emedebista

 

BEATRIZ ROSCOE*
MARINA TORRES*
RENATO SOUZA

Publicação: 26/03/2019 04:00

Temer deixou ontem à noite a sala que ocupava na Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro (Mauro Pimentel/AFP
)  

Temer deixou ontem à noite a sala que ocupava na Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro

 




Por volta das 19h de ontem, o ex-presidente Michel Temer deixou a Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, depois de quatro dias encarcerado. O pedido de soltura foi deferido pelo desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), por meio de liminar.

Na sexta-feira passada, o TRF-2 havia informado que o pedido de habeas corpus de Michel Temer seria julgado, a pedido de Athié, na sessão da Primeira Turma da Corte, amanhã. Mas a decisão foi adiantada. O desembargador deferiu a soltura do ex-presidente e de seus aliados, contrariando decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, que usou como base para decretar as detenções informações colhidas na Operação Descontaminação.

Também ontem, a pedido da Justiça, o Banco Central bloqueou R$ 8,2 milhões de Temer. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, havia determinado o bloqueio de R$ 62 milhões. No entanto, a solicitação não foi cumprida na íntegra por falta de saldo. O bloqueio dos recursos é parte das ações de investigação das operações Radioatividade e Descontaminação, da Polícia Federal.

Na decisão que revoga as prisões preventivas, Athié disse ser a favor da Lava-Jato e ressaltou que não tomou a decisão, ainda na semana passada, por impossibilidade de analisar todos os pedidos de soltura. “Ressalto que não sou contra a chamada ‘Lava-Jato’, ao contrário, também quero ver nosso país livre da corrupção que o assola. Todavia, sem observância das garantias constitucionais, asseguradas a todos, inclusive aos que a renegam aos outros, com violação de regras, não há legitimidade no combate a essa praga”, argumentou.

Além de Michel Temer, foram soltos Moreira Franco (ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro); João Baptista Lima Filho, o coronel Lima; Maria Rita Fratezi, esposa de Lima; Carlos Alberto Costa, sócio do coronel na Argeplan; Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan; Vanderlei de Natale, dono da Construbase; e Carlos Gallo, administrador da empresa CG Impex.

Propina
O emedebista está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de liderar uma organização criminosa que fraudou contratos da obra da Usina de Angra 3 e por desvios de dinheiro da Eletronuclear, num esquema que teria ultrapassado R$ 1,8 bilhão em propina. O inquérito foi baseado em delação de José Antunes Sobrinho, ligado à Engefix.

Eduardo Carnelós, advogado de Temer, afirmou que a decisão proferida por Athié “merece o reconhecimento de todos que respeitam o ordenamento jurídico e as garantias individuais inscritas na Constituição da República”.

Para Carnelós, o decreto de prisão foi abusivo, e ações como essa são isoladas no Poder Judiciário por alguns membros. “A resposta maiúscula dada pelo desembargador Athié é um bálsamo para a cidadania”, completou.

De acordo com Huilder Magno de Souza, advogado especialista em direito administrativo e crime de licitações, a prisão parece arbitrária, e o desembargador agiu corretamente. “Não se configurava os requisitos da prisão preventiva, visto que são fatos antigos. O Ministério Público ressaltou que os crimes ocorreram há mais de 40 anos. O desembargador agiu corretamente, ele restabeleceu a ordem e a justiça”, avaliou.

Temer passou os últimos dias em um quarto com cama de solteiro, ar-condicionado e frigobar na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Ele não teve autorização para receber visitas e optou por não participar do banho de sol.

Outros dois detidos na mesma operação foram soltos no fim de semana, por decisão da desembargadora Simone Schreiber: Carlos Jorge Zimmermann e Rodrigo Castro Alves Neves. Os dois haviam sido presos em caráter temporário, diferentemente da decisão preventiva que levou Temer e outros oito suspeitos à cadeia.

*Estagiárias sob supervisão de Cida Barbosa



MPF vai recorrer
O Ministério Público Federal (MPF) informou que vai recorrer da decisão que soltou o ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-ministro Moreira Franco e João Baptista Lima Filho, o coronel Lima. Segundo a procuradora Mônica de Ré, que integra a força-tarefa da Lava-Jato da Procuradoria Regional da 2ª Região, o grupo vai pedir a manutenção da prisão preventiva dos acusados ou a prisão domiciliar, com a colocação de tornozeleira eletrônica.


No “recesso do lar”
Na decisão que mandou soltar Temer e seus aliados, o desembargador Ivan Athié afirmou que “no recesso do lar” examinou “com o cuidado devido” os habeas corpus dos presos. Ele havia determinado, na semana passada, a inclusão do pedido liminar de liberdade dos detidos na pauta de amanhã, para análise da Turma. “Ao examinar o caso, verifiquei que não se justifica aguardar mais dois dias para decisão (...). Assim, os habeas corpus que foram incluídos na pauta da próxima sessão ficam dela retirados”, alegou.
 
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Correio Braziliense segunda, 25 de março de 2019

PONTÃO DO LAGO SUL: UM DIA DE BOA COMIDA

 


LAZER
 
Um domingo de boa comida
 
 
Famílias e grupos de amigos aproveitaram o fim de semana no Pontão do Lago Sul, onde chefs e artistas brasilienses reunidos em um festival atraíram mais de 5 mil apreciadores da boa comida e da música de alta qualidade

 

» Renata Rios

Publicação: 25/03/2019 04:00

João e Paulo aprovaram o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

João e Paulo aprovaram o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães

 

 
Mais de 5 mil pessoas passaram pelo Pontão do Lago Sul no fim de semana em função do Festival Fartura — Comidas do Brasil, que ofereceu mais de 60 atrações gastronômicas e 15 atrações artísticas. O público curtiu principalmente os pratos feitos por renomados chefs de Brasília, como Agenor Maia, do Olivae Restaurante; Thiago Paraíso, do Ouriço; Gil Guimarães; de Parrilla Burger; André Castro, do Cozinha Authoral; Diego Badra, do Oliver; e Rita Medeiros, da Sorbê Sorvetes Artesanais.
 
Ontem, no Cozinha ao vivo, acompanhou o passo a passo de uma receita de Luiz Trigo, do Le Birosque, que ensinou o arroz de puta rica. Na sequência, a chef Idalina Vieira Mattos, do Gaeta (Guarapari, ES), ensinou um clássico do seu estado, a torta capixaba. Para fechar o dia, Renata La Porta fez o seu timbale de linguado com mousse de cogumelos frescos ao molho de prosecco e limão-siciliano.
 
No Espaço interativo, para o público colocar a mão na massa, Liliana Andriola, Luiz Jacob e Simon Lau colocam a mão na massa com a plateia. André Castro, que deu aula na véspera no espaço, elogiou o evento. “Se eu conseguir tocar as pessoas que estão ali para criarem o gosto por cozinhar, já saio feliz. Temos que parar de consumir food service e voltar a cozinhar em casa”, ressaltou o chef.
 
O Espaço conhecimento abrigou palestras e debates sobre assuntos relevantes para a gastronomia. André Castro, Ana Paula Jacques (Cerrado no Prato) e Eudes Assis (Taioba Gastronomia, São Sebastião, SP) participam de um bate-papo sobre o manifesto Cerrado no Prato, com mediação da curadora do Festival Fartura, Luiza Fecarotta.
 
A dupla de amigos, Joabe Campos, bancário de 34 anos, e Paulo Ricardo, biomédico, 26, se sentaram nos pufes dispostos no gramado para aproveitar a música enquanto comiam o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães. “O hambúrguer está bom e o evento, muito bem-organizado. Estou gostando”, comentou Paulo Ricardo. “Está tudo muito bom aqui, a música, a comida. Fiquei sabendo pelo jornal e vim aproveitar”, emendou Joabe.
 
Em um palco, houve muita música, com Transquarto, Muntchako e o DJ Rodrigo Barata (Criolina).
 
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Correio Braziliense domingo, 24 de março de 2019

RESPIRANDO ARTE: FAXINEIRO DO SENADO TEM O DOM DE DESENHAR

 

Respirando arte
 
 
Desenhista talentoso e autoditada, jovem ganha a vida como faxineiro no Senado e, com a habilidade artística, ajuda quem precisa

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio
» Bruna Lima

Publicação: 24/03/2019 04:00

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família

 



Quem vê as mãos do brasiliense Wallace da Silva Sousa dando vida a desenhos tão realistas, que mais se parecem fotografias, não imagina que elas se revezam diariamente entre o lápis e o esfregão. Nascido em Ceilândia e criado no Riacho Fundo 2, o desenhista de 27 anos respira arte, mas paga as contas trabalhando como funcionário da limpeza no Senado Federal.
 
Ele conta que começou a desenhar ainda na escola, inspirado em mangás japoneses e grafite. Mesmo sem incentivo, recursos e orientação de profissionais da área, passou a se dedicar ao realismo, aprimorando as técnicas sozinho, lendo livros e assistindo a videoaulas.
 
Na contramão de como descobriu e aperfeiçoou as habilidades, transmitiu os conhecimentos em sala de aula, atuando em escolas públicas no Riacho Fundo 2 e no Guará. Também ensinou desenho a crianças com síndrome de Down, hiperatividade e deficit de atenção, além de dar aulas particulares (muitas vezes, de graça). Um dos estudantes que teve acesso aos ensinamentos, Décio Ferreira, 39 anos, garante: “Ele me ajudou muito, principalmente a ter mais foco no desenho, dedicação e, acima de tudo, paciência. É um excelente desenhista”.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
O talento, como Wallace mesmo descreve, está no sangue. Todos os três irmãos desenham. O pai também tem habilidade na área. “Acho que o dom é de família”, ri. No sofá de casa, a criatividade precisa ser usada para além dos quadros. Sem condições financeiras de comprar uma mesa de trabalho, o artista se vira como pode para achar uma posição confortável e viável para fazer as obras.
 
O portfólio inclui desde retratos de famosos — como Julia Roberts e Will Smith — a reproduções de fotografias de anônimos, incluindo um menino negro chorando e um idoso sem-teto. Mas se engana quem acha que ele quer seguir carreira na arte. “Está, e sempre estará, permeando minha vida como uma forma de me expressar e pela qual encontro libertação”, afirma.
 
O que ele quer mesmo é ser psicólogo. Para tanto, matriculou-se em uma faculdade na Asa Sul. Apesar de ter conseguido uma bolsa de 50% de desconto com a nota do Enem, não tinha condições de manter as mensalidades em dia. Procurava aos quatro cantos um emprego ou estágio e ganhava um dinheirinho dando aulas particulares de arte e vendendo os trabalhos. Mas não foi o suficiente.
 
Por ser bastante querido pelos colegas e conhecido por fazer intervenções propositivas durante o curso e ajudar tirando as dúvidas nas disciplinas, a turma se juntou para pagar uma das prestações que estava atrasada. “Wallace nunca faltava uma aula. Quando começou este semestre e ele não apareceu, todos estranharam. Quando soubemos que ele não tinha renovado a matrícula, parecia que tínhamos perdido alguém. Foi um inconsciente coletivo que mobilizou todos”, detalha o amigo de curso Evandro Ribeiro, 37.
 
Mesmo com o esforço, que também contou com a participação de amigos da igreja, Wallace estava sem perspectiva de juntar dinheiro para os próximos meses e se viu obrigado a trancar o curso. Até que, finalmente, há seis meses, conseguiu uma oportunidade de trabalho em uma empresa terceirizada no Senado. Agora, quita as dívidas com a faculdade e, no próximo semestre, pretende voltar aos estudos. “Torcemos muito para que Wallace volte logo. A nossa sociedade precisa de atores com ele. Além de ser notório o potencial para a carreira, é um agente ativo, que eleva o nível dos debates e nunca mede esforços para ajudar a todos”, diz Evandro.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Durante os intervalos
 
O material de criação não fica parado em casa. Para concluir os retratos, que chegam a levar uma semana para ficar prontos, Wallace aproveita os momentos livres na limpeza para se debruçar sobre o papel. Foi assim que, aos poucos, servidores foram descobrindo o talento dele e fazendo pedidos. Até agora, ele recebeu três encomendas. “Para desenhar no realismo, é preciso muita paciência. Às vezes, a gente fica afoito para ver o resultado imediato e ele não sai como esperado, e a gente acaba se frustrando. Mas, quando a gente tem calma, consegue evoluir e se adaptar”, declara.
 
A rotina do artista não é fácil. Para estar no trabalho às 7h, ele acorda às 4h e vai para a parada, onde pega um ônibus para a Rodoviária do Plano. No percurso, caderno de desenho nas mãos sempre. Depois, outro ônibus rumo ao Congresso. São cerca de duas horas de viagem, o que se repete no fim da tarde. “O ônibus está sempre lotado; então, o jeito é ir em pé mesmo. Às vezes, eu faço cara de triste para ver se alguém tem dó de mim e leva as minhas coisas no colo, mas nem sempre dá certo”, descreve Wallace com bom humor.
 
O humor, aliás, é facilmente notado por quem conversa com ele. Outra característica que não passa despercebida é a humildade. Nos planos futuros do rapaz, não está fama ou reconhecimento. O sonho dele é ajudar a comunidade. “Tenho o objetivo de montar uma escola que valorize as diversas manifestações artísticas de maneira a explorar a capacidade de cada um, dando mais oportunidade para jovens e crianças. Um projeto social”, imagina.
 
Com o trabalho e a formação em psicologia, ele espera alcançar comunidades carentes do DF por meio da arte que, para ele, não é tratada como prioridade pelos governantes, o que prejudica a formação do indivíduo. “Quando o indivíduo não tem chance de experimentar uma pintura, uma música, uma dança, um filme, ele não abre novos horizontes, não se alimenta, não se completa, não se entende. É fundamental que nossos líderes e governantes vejam isso para honrar os próprios princípios constitucionais. Afinal, a arte é democrática e não reconhecer isso só demonstra que ela está fazendo falta na vida dessas pessoas.”
 
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Correio Braziliense sábado, 23 de março de 2019

MAIS 1.820 APROVADOS NA UnB

 

Mais 1.820 aprovados na UnB
 
 
Pais e estudantes compareceram ao Câmpus Darcy Ribeiro para celebrar a aprovação na 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Estavam disponíveis, ao todo, 2.110 vagas para ingresso no segundo semestre de 2019

 

Publicação: 23/03/2019 04:00

 

A lista com os nomes dos aprovados foi fixada no Teatro de Arena (Thiago Cotrim/Esp. CB/D.A Press)  

A lista com os nomes dos aprovados foi fixada no Teatro de Arena

 

 

A Universidade de Brasília (UnB) divulgou a lista de primeira chamada para os aprovados no segundo semestre de 2019 pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS). A instituição ofereceu 4.222 vagas, que foram distribuídas nos dois semestres do ano. Para o primeiro período, 2.112 candidatos foram contemplados, enquanto os outros 2.110 têm a chance de ingressar nos cursos escolhidos a partir de agosto. Desses, 1.820 celebraram a aprovação ontem.

 

Mesmo após uma forte chuva que encharcou as escadas do Teatro de Arena, no Câmpus Darcy Ribeiro, da Asa Norte, pais e estudantes foram até o local para verificar o resultado. Foi o caso de Alexandre Oliveira, 18 anos, aprovado no curso de química tecnológica. Ele ficou surpreso após perceber que o nome estava na lista dos convocados. “Eu vim para celebrar a aprovação no curso de design do meu amigo e, quando vi, meu nome estava na lista final”, constata. Morador do Lago Norte, ele conta que, para atingir a aprovação, conciliava o lazer com os estudos. “Eu escolhi focar nas matérias que tinha mais dificuldade, dessa forma eu conseguia me manter feliz e, ao mesmo tempo, em dia com as minhas obrigações”, garante.

 

Os aprovados do segundo semestre devem fazer o registro pela plataforma on-line entre 1° e 9 de julho. A etapa presencial, igualmente necessária para garantir a vaga, será entre 8 e 9 de julho. As aulas começam em 12 de agosto.

 

Calendário 

1º a 9 de julho 

Registro acadêmico (etapa on-line)

8 e 9 de julho 

Registroacadêmico (etapa presencial)

18 a 24 de julho 

Acesso ao número de matrícula

25 a 29 de julho 

Matrícula em disciplina

12 de agosto 

Início das aulas

Jornal Impresso


Correio Braziliense sexta, 22 de março de 2019

TORRE PALACE: HOTEL VOLTA A ABRIGAR INVASORES

 


Hotel volta a abrigar invasores
 
Usuários de drogas e pessoas em situação de rua erguem barracos em torno do esqueleto do Torre Palace, que já foi tomado por usuários de crack e integrantes de movimento de luta por moradia. Polícia Militar garante fazer rondas na região

 

» Patricia Nadir
Especial para o Correio

Publicação: 22/03/2019 04:00

Taxistas que trabalham próximo ao Torre Palace Hotel temem a nova ocupação ilegal do esqueleto  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Taxistas que trabalham próximo ao Torre Palace Hotel temem a nova ocupação ilegal do esqueleto

 

 
O abandonado Torre Palace Hotel volta a atormentar o Setor Hoteleiro Norte. Dois anos e meio após a cinematográfica operação policial para retirada de invasores, o edifício voltou a ser ocupado irregularmente. Um dos sinais está no varal de roupas estendido em sua fachada. Usuários de drogas e pessoas em situação de rua se abrigam sob a marquise. Lonas esticadas ao redor servem como moradia, com fogões e banheiros improvisados.

Inativo desde 2013, por causa de uma batalha judicial envolvendo os herdeiros, o Torre Palace logo se tornou abrigo de usuários de drogas, principalmente o crack. Eles arrancaram quase todas as portas e janelas, além de peças dos banheiros do edifício. Muitos andares perderam até parte das paredes. Em 2015, integrantes do Movimento Resistência Popular Brasil (MRP) tomaram o esqueleto transformando antigos quartos em moradia.

A presença das famílias não espantou os dependentes químicos nem criminosos. Investigação policial mostrou que o prédio também se transformou em depósito de produtos roubados e todo tipo de droga. Se do lado de dentro havia harmonia, ao redor da edificação as brigas, furtos e roubos envolvendo ocupantes do Torre Palace se tornaram comuns, tendo como vítimas trabalhadores e hóspedes dos hotéis vizinhos. O Estado interveio em junho de 2016, com uma operação de remoção que custou R$ 309 mil e seria ressarcida pelos donos do prédio. O GDF não informou se o pagamento foi feito.

Lonas, móveis velhos e varal com roupas indicam a presença de moradores no entorno do prédio abandonado (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Lonas, móveis velhos e varal com roupas indicam a presença de moradores no entorno do prédio abandonado

 



Medo
 
Após a remoção dos invasores, funcionários do GDF taparam os acessos do Torre Palace com tijolos e argamassa. O Correio não avistou ninguém dentro do edifício, mas o seu entorno está movimentado. Com ele, voltou o medo de quem trabalha e frequenta a região.  “Lembro que, em menos de um ano, a ocupação se transformou em um enorme problema para toda a região, afetando os negócios de outros hotéis, afastando clientes, assustados com o aumento da criminalidade. Não quero nem imaginar se isso voltar a acontecer”, comentou o taxista José Almeida, 65 anos, que trabalha nas proximidades há mais de 40 anos.

Recepcionista de um hotel vizinho, Fábio Mendes, 32, endossa a opinião de José e conta que os turistas estão assustados com o cenário. “A deterioração do prédio aumenta a ocorrência de crimes e serve como chamariz para desordeiros. Isso prejudica empresários, coloca em risco os visitantes das proximidades e pedestres”, opina o morador do Guará.

Em Brasília a trabalho, o geógrafo Enéias Porto, 29, está hospedado há uma semana em um hotel na frente do Torre Palace. Ele não se arrisca a ir além da marquise da sua hospedaria por medo da violência. “Só a degradação do prédio já me deixa com um pé atrás. Antes de descer do meu quarto, peço um carro por meio de aplicativo”, diz o homem, morador de Barreiras (BA).

“Todo dia amanhece carro com vidro quebrado por aqui. É comum o relato de furtos e roubos”, comenta a vendedora de açaí Rosângela Santos, 45. “Há umas três semanas um casal ficou me cercando. Fiquei com medo e acabei mudando meu carrinho de esquina”, completa a trabalhadora.

Prejuízos
 
Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar), Jael Antônio da Silva diz que a invasão reflete drasticamente no turismo. “É o governo que tem que entrar com uma ação de retenção e repressão de uma espaço de convivência, não só deste hotel que está sendo invadido, mas de outros hotéis da região. A situação é preocupante”, cobra.

A Secretaria de Segurança Pública informou, por meio de nota, que, apesar de haver circulação de moradores de rua nas imediações do Torre Palace, o local não está ocupado. “A Polícia Militar realiza policiamento constante na região, com reforço de patrulhamento na Quadra 4, onde fica o hotel abandonado”, frisa o texto. De acordo com a pasta, quanto aos moradores de rua, eles só podem ser retirados do local em caso de cometimento de crimes. Portanto, se trata mais de uma questão social do que policial.


Memória

Prédio condenado pela Defesa Civil


O Torre Palace foi fundado pelo empresário libanês Jibran ElHadj e inaugurado em 1973. Funcionou por 40 anos em um dos pontos mais valorizados da cidade. 

Com a morte do patriarca, em 2000, o imóvel passou à gestão dos sete herdeiros, que teriam entrado em desacordo sobre a gestão do empreendimento. 

O prédio vale entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões, de acordo com corretores de imóveis. 

No início de 2014, a empresa Brookfield Incorporações iniciou negociações com os herdeiros de Jibran para comprar o espaço e erguer um novo prédio, mas a venda foi interrompida.

Em meio a uma série de invasões, o hotel foi condenado pela Defesa Civil, que apontou falhas graves na estrutura. 
 
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Correio Braziliense quinta, 21 de março de 2019

TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DO TEATRO

 

Transformação por meio do teatro
 
 
Projeto que usa método do Teatro do Oprimido promove aulas abertas ao público, em São Sebastião, e a adolescentes em unidades de internação

 

FERNANDA BASTOS*

Publicação: 21/03/2019 04:00

 

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

 

Libertar-se e ser quem você é são os propósitos centrais do projeto Troca de Experiências Artísticas e Reinserção (Tear). Pelo segundo ano, a iniciativa realiza revoluções pessoais por meio do teatro dentro de unidades de internação. Em 2019, a novidade é que as aulas chegaram ao Câmpus São Sebastião do Instituto Federal de Brasília (IFB). Durante três meses, os participantes terão acesso a aulas com diferentes atividades baseadas no Teatro do Oprimido (leia Para saber mais).

O objetivo central do grupo à frente do projeto, a Estupenda Trupe, é a democratização da cultura baseada na premissa de que todo ser humano é capaz de produzir, discutir e apreciar a arte. O trabalho realizado nas oficinas do Tear é de empoderamento, de uso da arte para autoconhecimento e para transformação, garante Luciana Amaral, 32, arte-educadora e participante da Estupenda Trupe.

Foi no Centro de Teatro do Oprimido (CTO), no Rio de Janeiro, que ela e o também arte-educador Carlos Valença, 32, buscaram apoio e conhecimento sobre como realizar as oficinas para multiplicar a metodologia, em 2012. Eles enxergaram no método uma estratégia de educação não formal para tratar temas socioeducativos em unidades de internação e fora delas também, para promover a reinserção do jovem infrator.

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes

 


“O Teatro do Oprimido é um diálogo interno e externo, estamos em um momento em que é preciso restaurar o diálogo. Somos agentes dessa transformação e esperamos ser canal disso para as pessoas. Tem uma frase do (Augusto) Boal na qual ele diz que ‘um novo mundo é possível, só precisamos inventá-lo’. Estamos aqui sendo agentes da invenção de um novo mundo”, resume Luciana.

Além dos cinco integrantes da Estupenda Trupe, o projeto conta com a participação de Helen Sarapek, coordenadora do CTO há 20 anos. O planejamento de aulas específico para cada dia contém vários exercícios e jogos pensados pelo criador do método, Augusto Boal. Na primeira oficina, em 15 de março, realizada no câmpus do IFB em São Sebastião, houve diferentes montagens teatrais, nas quais aspectos como colaboração e confiança no outro eram explorados.
 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

“Fizemos um jogo cênico de confiança em que uma pessoa fecha os olhos e a outra emite sons e é preciso seguir a pessoa pelo som que ela faz com os olhos vendados. Achei que ia esbarrar em todos, mas, no fim, deu tudo certo”, relata a estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB) Luísa de Oliveira Braga, 18. Moradora de Águas Claras, ela faz questão de participar das oficinas. Colega de curso de Luísa, Lorena Lima Barbosa de Alencar, 20, moradora do Jardim Botânico, pretende colocar em prática o que estudou sobre Augusto Boal na universidade. “Quero quebrar essas amarras, essas coisas que oprimem a gente. Aqui, a gente pode se abrir”, afirma.

Sensibilização    
O pedagogo do IFB de São Sebastião Reinaldo Gregoldo, coordenador pedagógico de projetos como esse no instituto, ressalta que a oficina é importante para a região por trazer debates e atividades que conscientizem sobre os problemas da cidade. “A expectativa do Instituto Federal, que é um parceiro do Estupenda Trupe nessa empreitada, é que os participantes consigam sensibilizar-se com reflexões aprofundadas sobre a conjuntura brasileira, a região de São Sebastião, nossos problemas, nossas mazelas e encontrar soluções no coletivo para superá-las”, destaca.

Moradora da região administrativa e estudante do IFB, Alessandra Teixeira dos Santos, 42, relata que um dos aspectos que encantam nas obras de Boal é que ele provoca questionamentos trabalhando as personalidades dos personagens e do leitor a partir não apenas do lado positivo, mas do negativo também. “Eu nunca fiz teatro, não sei qual é a linguagem. Esse programa aqui perto da minha casa é inovador, é uma oportunidade única de fazer aquilo que eu só via na televisão. E eu não deixo oportunidades assim passarem, de jeito nenhum”, garante.

Ela saiu de um relacionamento abusivo depois de perceber a condição de opressão sob a qual vivia e acredita que o projeto estimula o pensamento crítico e debate questões sociais importantes nesse sentido. “Para sair dessa opressão, é preciso estar em locais diferentes com pessoas diferentes. Você aprende a se posicionar.”

Descobertas
Na Unidade de Internação de São Sebastião (UISS), 11 adolescentes em conflito com a lei, na faixa etária de 13 a 18 anos, refletiram inicialmente sobre as relações verticais de poder com o projeto Tear. O principal assunto abordado na primeira oficina foi o preconceito. “Muitos dos alunos falaram que, ao chegar em uma parada de ônibus, as outras pessoas já saem de perto por conta do conceito preconcebido ao observar a forma como eles falam, se vestem e se portam. Então, perguntamos para eles quais preconceitos eles próprios têm”, explica o ator, diretor, produtor artístico e membro da Estupenda Trupe, Tiago Neri.

 


Para o coordenador pedagógico da unidade, Sebastião Soares de Oliveira, 55, educador há 33 anos, o projeto ajuda os internos no processo de ressocialização. “Enquanto vivenciam o projeto, eles podem pensar a importância da ressocialização, refletindo em todos os contextos, tanto humano quanto pedagógico, e principalmente no da reintegração à sociedade. O projeto vem com o propósito de valorização pessoal.”


De acordo com Carlos Valença, que aplicou as oficinas ao lado de Tiago na UISS e também na Unidade de Internação de Planaltina, no ano passado, os resultados são, muitas vezes, sutis. Mas essas pequenas mudanças constituem as principais conquistas e o maior aprendizado para os participantes. “Até o fato de eles tocarem no colega era difícil. Então tocar no colega, abraçar o colega, isso é uma grande evolução”, ressalta.

 

Financiamento
O projeto contou com o apoio da Secretaria de Cultura do DF, por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no ano passado, para o trabalho em Planaltina, e este ano, em São Sebastião. Agora, com o apoio do IFB, das unidades de internação e das administrações regionais, a Estupenda Trupe pretende expandir a ação, em 2020, a unidades de internação femininas. Concretizar o plano, no entanto, depende ainda da confirmação do financiamento público.

Ainda não há previsão de lançamento de outro edital do FAC este ano. De acordo com a Secult, o fundo é regido pela Lei Orgânica da Cultura (LOC), que prevê o lançamento de dois editais por ano: um até 30 de abril e outro até 31 de agosto. A pasta garantiu que esses prazos serão cumpridos. Ambos contemplarão atividades e projetos para serem realizados no próximo ano.

O resultado dos últimos projetos de 2018 aprovados pelo FAC, no valor de cerca de R$ 45 milhões, serão publicizados nas próximas semanas e, por isso, serão pagos com os recursos previstos para o ano de 2019.

 

Para saber mais

Mobilização política
Criada por Augusto Boal, a técnica do Teatro do Oprimido estimula os participantes a tomarem consciência e a se mobilizarem politicamente. Para o estudioso, não existem espectadores, mas, sim, spect-atores, ou seja, todos podem ser artistas. O dramaturgo, que se formou em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1954, questiona em seus livros e peças sobre quem somos nós, qual espaço ocupamos e o que podemos fazer pela sociedade. Boal foi um dos fundadores dos principais espetáculos de cunho político no Brasil, como Teatro de Arena, Teatro Oficina e o Opinião. Depois de atuar durante anos escrevendo e dirigindo peças de teatro político contra a ditadura militar, acabou preso e torturado em 1971. Exilou-se em Buenos Aires, onde começou a produzir e escrever os fundamentos do Teatro do Oprimido. O livro que uniu toda a base do método foi publicado no Brasil em 1975. Depois de anos realizando cursos, palestras e oficinas na América Latina e Europa, voltou ao Brasil em 1986 e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO) no Rio de Janeiro.

 

Anote
Projeto Tear — Oficinas de Teatro do Oprimido
Local: Instituto Federal de Brasília (IFB), Câmpus de São Sebastião.
Data: todas as sextas-feiras de março, abril e maio.
Horário: das 9h às 12h. Gratuito.

 

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Correio Braziliense quarta, 20 de março de 2019

VISITA DE BOLSONARO AOS EUA: NO FIM DAS CONTAS, UM SALDO POSITIVO

 


No fim das contas, um saldo positivo
 
 
Para o presidente brasileiro, a sensação da comitiva nos Estados Unidos é de dever cumprido, principalmente pelo apoio para a entrada da OCDE. Entretanto, quem ganhou mais foi Donald Trump. Segundo Bolsonaro, alguém tinha que estender a mão primeiro

 

» DENISE ROTHENBURG
Enviada Especial

Publicação: 20/03/2019 04:00

Bolsonaro e Trump trocam camisas das seleções: bom humor, coincidências e o acerto para o Brasil apoiar decisões dos EUA na questão da Venezuela (Brendan Smialowski/AFP)  

Bolsonaro e Trump trocam camisas das seleções: bom humor, coincidências e o acerto para o Brasil apoiar decisões dos EUA na questão da Venezuela

 




Washington, DC — Pelo semblante da delegação brasileira ao chegar para a declaração conjunta dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump no Rose Garden, o jardim da Casa Branca, era possível concluir que o Brasil saiu dos Estados Unidos com a sensação de “missão cumprida” e quase tudo o que havia solicitado, inclusive o apoio para ingresso na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — o clube dos países ricos, que representa um selo de qualidade para negociações comerciais. Mas, como nem tudo na vida é exatamente do que jeito que se deseja, o presidente brasileiro, conforme escrito no comunicado da Casa Branca, concordou em iniciar os procedimentos para deixar de ter tratamento preferencial e diferenciado na Organização Mundial do Comércio.

Essa perspectiva, entretanto, não diminuiu a sensação de vitória da comitiva brasileira. É que diante do conjunto de oportunidades que se apresentam à frente, o resultado não poderia ter sido melhor em se tratando de uma primeira visita. A maior vitória do Brasil nessa viagem foi a inclusão do país como aliado extra do Tratado do Atlântico Norte (Otan), algo que, segundo o presidente Bolsonaro, ajudará o Brasil em questões de defesa, segurança e energia.

Bolsonaro estava tão feliz e tão bem-humorado com a visita que topou falar com a imprensa no meio da tarde, extra-agenda. Ali, na calçada da Blair House, onde está hospedado, falou sobre os principais temas abordados no encontro com Trump. Eles ficaram juntos por duas horas, incluindo almoço, encontro privado e a pose para fotos no Salão Oval. O gelo começou a ser quebrado ainda na sala presidencial, quando trocaram camisas das seleções de futebol dos dois países. Concluíram que têm mais em comum do que imaginavam. Ambos são pais de cinco filhos, tiveram mais de um casamento e posam com os mesmos ideais. Deram gargalhadas. Bolsonaro brincou no almoço, dizendo que Trump, de 72 anos, parecia mais jovem. E acrescentou: “Temos a idade da mulher que amamos”, disse Bolsonaro (Michelle tem 35 e Melania Trump, 48), para risada geral. Na declaração conjunta, no Rose Garden da Casa Branca, Trump classificou a eleição do presidente brasileiro como o “ocaso do socialismo nas Américas”.

Com tanta afinidade, a conversa fluiu. E, neste primeiro encontro, Trump ganhou mais do que ofereceu. Por exemplo, o apoio do Brasil para resolver a crise da Venezuela (leia detalhes nesta página). Levou ainda o uso da Base de Alcântara, no Maranhão, algo que a oposição brasileira considerou “entreguismo” — e o presidente Jair Bolsonaro viu como um grande lucro, até porque os americanos vão pagar pelo uso. “Atualmente, a base está ociosa e a entrada deles ajuda a capacitá-la. A questão quilombola foi resolvida nesta semana. Tinham ampliado a área sem ninguém saber. Vamos oferecer mercado de trabalho para os quilombolas. Todo mundo tem a lucrar”, disse Bolsonaro, na entrevista na calçada da Blair House.

A questão dos vistos (leia mais na página 3), que os americanos agora estão isentos, deixou a desejar para os turistas brasileiros. Tampouco, os empresários ganharam o Global Entry, que evita filas na migração daqueles que vivem na ponte aérea entre os dois países. O presidente, entretanto, garante que as coisas vão caminhar: “A gente não vê nenhum americano indo para o Brasil ganhar estabilidade via CLT. O contrário existe, mesmo não havendo nenhuma garantia da CLT. Agora, alguém tem que estender o braço em primeiro lugar, e quem estendeu fomos nós. Creio que podemos ganhar muito na questão do turismo, que está muito voltada com a questão da segurança também” disse o presidente, pedindo desculpas por ter dito, à Fox News, que a maioria dos imigrantes era mal-intencionada.

Eleições

Não foi apenas Bolsonaro a demonstrar boa vontade e bom humor. Donald Trump também. Especialmente, quando a imprensa americana quis saber o que Bolsonaro achava da eleição de 2020 nos EUA, se mudaria algo na relação entre os dois países em caso de vitória de um democrata. Bolsonaro, escolado na diplomacia, disse que se tratava de um assunto interno, mas que acreditava na vitória de Trump. Sorrindo, o americano agradeceu e disse que pensava o mesmo. Trump demonstrou ainda toda a deferência com o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem convidou para participar da conversa reservada entre os dois presidentes (leia reportagem nesta página), em que foram discutidas as questões mais sensíveis em relação à Venezuela.

Ao mencionar a Venezuela, ambos deixam fluir toda a questão ideológica que os une. Bolsonaro citou o fim da ideologia de gênero, do politicamente correto e das fakes news. Trump foi enfático ao dizer que quer as pessoas livres, mencionou ainda Cuba, antes da Venezuela, e foi direto: “A última coisa que queremos na América é o socialismo”, disse, antes de referir ao Brasil na Otan e aos acordos para segurança e combate ao crime organizado, outros temas em que os dois países promoverão parcerias.

Pontos positivos

» Apoio para a entrada na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE)

» Inclusão do Brasil como aliado extra do Tratado do Atlântico Norte (Otan)

» Início de conversas para tratados comerciais, principalmente na área da agricultura

» Visão positiva e de parceria para questões diplomáticas
 
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Correio Braziliense terça, 19 de março de 2019

ARTESANATO BRASILIENSE

 

Emoção na ponta dos dedos
 
 
 
Artesãos do Distrito Federal oferecem produtos de qualidade que trazem referências do cerrado. Hoje, evento na Torre de TV comemora o dia deles

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 19/03/2019 04:00

  

"Tudo é dosado no amor. Quando vem para as nossas mãos, temos sempre que fazer o nosso melhor, com carinho" Maria Dalva Barbosa de Oliveira, artesã

 



Com as mãos, são capazes de aliar trabalho e arte. Materializam as emoções, as impressões individuais e a cultura de um povo em produtos. Encontram no tecido, na madeira, no couro, na argila, na folha seca uma forma de sustento. Criam peças únicas — de utensílios a obras de arte — cujas vendas movimentam a economia local. Dia 19 de março é a data escolhida para homenagear os donos dessas habilidades: os artesãos.

Atualmente, são mais de 10 mil profissionais cadastrados no DF. Muitos deles encontraram no centro da capital um espaço para expor e vender os trabalhos, trazendo um misto de cores, sabores e identidades que harmonizam na Feira de Artesanato da Torre de TV — conhecida por Feirinha da Torre.

Em um dos 480 boxes do local, a artesã Maria Dalva Barbosa de Oliveira, 66 anos, mostra e vende aquilo que sempre foi a fonte de renda para a família: as flores do cerrado. Passar em frente à banca e não dar aquela paradinha é quase impossível.

“Essas foram as flores mais bonitas que eu já vi. Ninguém faz como a senhora”, afirma uma jovem, que desceu da bicicleta apenas para elogiar o trabalho e depois seguiu em frente. É que Dalva coloca um ingrediente extra. “Tudo é dosado no amor. Quando vem para as nossas mãos, temos sempre que fazer o nosso melhor, com carinho; tratar com respeito a natureza, de onde eu tiro cada capim, galho, folha e pétala para fazer as flores”, explica.

A artesã faz questão de colher a dedo todos os materiais de que precisa. É nos campos, também, que ela renova as energias, medita e se prepara para mais um dia. “Foram muitas batalhas, mas eu nunca perdi e vou continuar vencendo”, garante. Aos 16, deixou a família em Paracatu (MG) para tentar uma vida melhor. Veio para Brasília e, no cerrado, encontrou mais do que um ofício.

Conheceu João, nascido no território candango antes mesmo do início da construção da capital. Com ele, casou-se e teve cinco filhos. “Deus me deu, por meio da natureza, tudo o que eu tenho e sou.” Como forma de retribuição, Dalva consegue dar uma sobrevida a vegetações típicas que estavam maduras ou mortas, transformando-as em arranjos e, assim, leva a identidade brasiliense em forma de decoração para milhares de casas país afora, há mais de 40 anos.

Assim como Dalva, o artesão João Silva de Andrade, mais conhecido como João Grilo, 72, foi um dos primeiros a se instalar embaixo da Torre de TV para vender as produções. Encontrou na profissão uma forma de se reerguer, após ter o nome associado a guerrilheiros e perder o emprego. “Assim como eu, a feira esteve na berlinda várias vezes. Passou da regularização ao tombamento. Com a cidade, se organizou e evoluiu. Resistiu.”

Com as mãos, João produziu, ao longo dos anos, desde móveis e acessórios com couro a instrumentos musicais. Além de confeccionar e vender berimbaus, pandeiros, atabaque, reco-recos e tambores, toca cada um e ensina quem quiser aprender. “É fazer de tudo um pouco.”


João Grilo produz itens variados (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

João Grilo produz itens variados

 


 (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

Wilson Araújo vende sandálias (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

Wilson Araújo vende sandálias

 




De geração em geração 
 
A banca de Wilson Araújo, 56, guarda muito mais do que milhares de sandálias trançadas e sapatos de couro com sola de pneus. A história de três gerações é guiada pelo ofício. A família dele veio para Brasília ainda na construção. O pai trabalhava como pedreiro, mas percebeu o dom para a produção manufaturada depois de fazer uma pasta de couro. Além de Wilson, sete dos nove irmãos viraram artesãos.

Hoje, as duas filhas ajudam nos negócios e a mulher confecciona bolsas de couro. Os produtos são alguns dos mais tradicionais da feira, em que muitos modelos calçam milhares de brasilienses e visitantes desde a década de 1970. “Quando o material é de qualidade, o preço é bom e tudo feito com prazer, não sai de moda nunca”, garante Wilson.

A tradição e o cuidado na arte do fazer com as mãos são o que garante o apreço por parte de visitantes de todos os cantos. De mudança para Brasília, a curitibana Leila Chaban, 49, escolheu a Feira da Torre como o primeiro passeio na capital. “É incrível como em um mesmo lugar podemos apreciar a cultura do cerrado, que reúne características de todos os cantos do Brasil. É um encontro de diversidade, de regiões em forma de artesanato”, observa.

Para o casal brasiliense Adriano Luiz da Silva, 38, e Maressa Anderis, 24, frequentadores do local, o espaço consegue traduzir a identidade candanga. “Traz esse sentimento de pertencimento. Por isso, precisamos cada vez mais reconhecer o trabalho, valorizar o profissional que faz com as mãos uma comida caseira ou peça autêntica, tão carregadas de valores”, enfatiza Maressa.



Programação
 
9h – Boas vindas
 
9h30 – Solenidade de abertura
 
10h – Homenagens aos Mestres Artesãos
 
10h30 – Palestra sobre empreendedorismo e capacitação, com o Sebrae/DF
 
11h – Apresentação da linha de crédito Prospera Mulher — Secretaria do Trabalho
 
Das 11h30 às 16h – Apresentações culturais e atividades



Celebração
 
Em comemoração ao Dia do Artesão, a Torre de TV será palco para uma festa com palestras sobre empreendedorismo e capacitação, orientações jurídicas e sociais, atendimentos de beleza e de saúde, além de atividades culturais e de lazer. Também será realizada uma homenagem aos mestres artesãos. O evento, promovido pelo Governo do Distrito Federal e pela Secretaria de Turismo, começa às 9h, e a entrada é de graça.

Correio Braziliense segunda, 18 de março de 2019

BRASÍLIA - MOBILIDADE URBANA - TRANSPORTE COMPARTILHADO

 


MOBILIDADE URBANA
 
Transporte compartilhado
 
Apesar de restritas ao Plano Piloto e a Águas Claras, as bicicletas de uso coletivo são cada vez mais adotadas pelos brasilienses. Com uma taxa de R$ 10 por ano em alguns casos, os usuários podem circular pela cidade. Governo e empresas têm planos de expansão

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 18/03/2019 04:00

 

O engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, mora na Asa Norte e usa as bikes para ir ao trabalho, no Setor Comercial Norte: %u201CÉ uma necessidade e um lazer%u201D (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

O engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, mora na Asa Norte e usa as bikes para ir ao trabalho, no Setor Comercial Norte: %u201CÉ uma necessidade e um lazer%u201D

 

 

 

A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço (A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço)  

A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço

 

 

 

 

Mesmo com mais de 460 km de ciclovias, o Distrito Federal tem caminhado a passos lentos na oferta de meios de transporte alternativos. No segmento de bicicletas compartilhadas, duas empresas atuam na capital do país. Uma delas oferece, ainda, patinetes elétricos. No entanto, as áreas abrangidas ainda se restringem a duas das 31 regiões administrativas: Plano Piloto e Águas Claras. 

 A primeira empresa surgiu em 2014. Trata-se do serviço +Bike, do grupo Serttel, operado por meio de parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa existe até hoje e permite aos usuários retirarem bicicletas de estações espalhadas pelo centro da cidade. Com a compra de um passe diário, mensal ou anual, é possível pedalar com as “verdinhas” pelas ruas do Plano Piloto pagando um valor que chega a até R$ 10 por ano. A tarifa aumenta apenas no caso de o usuário ultrapassar o limite de 1 hora de uso. Com isso, paga-se R$ 5 a mais para cada 60 minutos extras. A estimativa da Serttel é de que os 200 mil usuários inscritos realizaram mais de 1,2 milhão de viagens. 

 No fim de janeiro, surgiu mais uma alternativa para os usuários: a Yellow. A empresa brasileira trabalha com soluções de mobilidade urbana e individual e levou novidades aos usuários: patinetes elétricos e operação fora do centro de Brasília. Além disso, diferentemente do Bike, os itens da companhia não ficam dispostos em estações fixas, mas espalhados pelas ruas. O modelo é conhecido como dockless (“sem cais”, em tradução livre). O serviço começou com 350 bikes e 50 patinetes. Para reconhecê-las, basta dar uma olhada por equipamentos de cor amarela, como o próprio nome sugere.

Usuário do serviço do GDF desde o início e, agora, cadastrado junto à Yellow, o engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, aproveita as opções como forma de ir de casa para o trabalho e vice-versa. Morador da Asa Norte e funcionário de uma empresa no Setor Comercial Norte (SCN), ele aproveita o meio de transporte não poluente para evitar o trânsito sempre que possível. “É uma necessidade que tenho e acaba sendo um lazer. Normalmente, tiro apenas o paletó e a gravata, principalmente de dia. A única dificuldade que tenho é que a primeira estação do Bike fica a quase duas quadras de distância. Isso não é ruim, mas acaba sendo um pouco difícil”, comentou.

 Em relação aos pontos de disponibilidade da Yellow, ele tem a mesma sensação, pois, geralmente, precisa andar um pedaço até alcançar as bikes. “O que vejo de problema na Yellow é a mancha da área de atendimento deles. Mas isso é algo muito individual. Minha dificuldade é apenas nesse primeiro momento. Tive poucos problemas com falta de equipamentos nas estações, apenas nas mais longes do centro”, disse Davi. 

Ele ressaltou alguns outros problemas geralmente enfrentados pelos ciclistas: as magrelas depredadas. “Vez ou outra, há uma bike com pneu murcho, corrente solta ou sem retrovisores. Mas nunca peguei uma com problema.” Mesmo assim, Davi ressaltou a comodidade do serviço. “Meu trabalho não tem bicicletário. Eu teria de botar em um poste e torcer para não acontecer nada. O sistema foi disponibilizado para viabilizar a questão da mobilidade e termos menos carros nas ruas. É muito válido”, elogiou o engenheiro. 

 Tarifas

 Um dos principais alvos de reclamações também são as ciclovias. No Plano Piloto, os ciclistas contam com 111,29 km disponíveis. Em Águas Claras, são 7,23 km. Apesar de muitas serem novas, no Plano Piloto, principalmente, não há interconexão dos trajetos entre quadras e problemas nas ligações entre as asas Norte e Sul. A relação com os carros também é complicada. Quando não há ciclovias, quem pedala precisa dividir espaço nas vias com veículos que, muitas vezes, não respeitam o espaço de 1,5 metro de distância. Também pode haver dificuldades nos cruzamentos pintados em vermelho no asfalto para a travessia de ciclistas.

Servidora pública, Rosana Baioco, 52 anos, usufrui das bicicletas compartilhadas. Ela reconhece o benefício do sistema, mas sente falta de atendimento a mais áreas. “Na frente do local onde trabalho, há uma estação do Bike. Elas têm uma usabilidade legal, principalmente para mulheres, por terem o quadro baixo. Se a pessoa está de saia ou vestido, fica mais fácil para subir ou descer.  Já usei muito na Asa Norte, mas, na minha região, por exemplo, não tem nenhuma das duas opções”, lamentou a moradora da Octogonal.

 Rosana também observou alguns problemas com equipamentos. Mesmo assim, ela não considera que isso seja comum. “As bicicletas têm problemas normais. Pneus murchos e, às vezes, sem retrovisor ou selim. As da Yellow são novas, mas vi casos de bikes tortas ou que tiveram os punhos ou selins furtados. Sem isso, ela não serve para nada”, pontuou. Em relação às do Bike, ela considera que o peso pode atrapalhar para algumas pessoas. Quanto às da Yellow, Rosana sente falta das marchas. “Isso pode dificultar para quem estiver em uma subida, por exemplo. E, pelo preço, as verdinhas (do Bike) são melhores. A depender do caso, as amarelas podem sair pelo valor de uma passagem de ônibus”, comparou.  


Correio Braziliense domingo, 17 de março de 2019

GESTÃO NIPO-BRASILEIRA- FAMÍLIA NAKANISHI

 


PERFIS DE SUCESSO - FAMíLIA NAKANISHI
 
Gestão nipo-brasileira
 
Casal de origem japonesa empreende em Brasília faz 45 anos: teve uma frutaria, uma mercearia, uma lotérica e, por fim, uma loja de utilidades domésticas, que virou referência na cidade. Agora, a empresa está na segunda geração de administração familiar

 

Ana Paula Lisboa

Publicação: 17/03/2019 04:00

 

Ciro e Cida, à frente, com as filhas, Tatiana (de preto) e Karina (de verde), e o genro, Carlos, com funcionários (Aline Rocha/Esp. CB/D.A Press)  

Ciro e Cida, à frente, com as filhas, Tatiana (de preto) e Karina (de verde), e o genro, Carlos, com funcionários

 

 

A Cristal Presentes, aberta há cerca de 30 anos, está na segunda geração da gestão familiar. O negócio começou pelas mãos de Ciro Nakanishi, 74 anos, e Aparecida Nakanishi, 73, como uma loja de R$ 1,98 — estratégia para ficar à frente de comércios que vendiam mercadorias por R$ 1,99. Desde 2016, a responsável pela administração é Tatiana Nakanishi, 38, a filha mais nova do casal, que, seguindo os passos dos pais, trabalha ali com o marido, o administrador Carlos Alberto dos Santos. “Foi natural continuar no negócio. Nossa família tem muito disso. A gente até brinca que a história se repete. Literalmente, continuamos a mesma jornada. A gente tem o desafio de tocar a Cristal por mais 30 anos”, afirma Tatiana, que é graduada em pedagogia. Com o tempo, o local se consolidou como um estabelecimento de utilidades do lar. Atualmente, os produtos mais vendidos de cozinha e de organização.

“Com a alta do dólar e dos custos, migramos para produtos de qualidade melhor”, informa. Mas foi por uma questão de respeito a direitos trabalhistas e humanos também. “O que a gente estimula quando insiste num produto muito barato? A gente não faz ideia das condições em que pessoas estão trabalhando do outro lado do mundo, na China. Hoje, temos mais marcas nacionais do que importadas para ter segurança da cadeia produtiva”, observa. Os resultados são prova de que os ensinamentos que recebeu de herança dos pais e o comando de Tatiana são combinação certeira. Com 23 funcionários e mais de 23 mil variedades de mercadorias, a Cristal Presentes recebe entre 8 mil e 10 mil clientes por mês. O faturamento bruto fica em torno de R$ 400 mil. “Isso é de família. A gente vai continuar com a loja até a hora que der. A Tatiana está seguindo nossos passos da maneira que deveria”, elogia Dona Cida.

“Ela modifica algumas coisas, mas tem que inovar mesmo.” A matriarca da família atribui o sucesso do negócio à variedade e à persistência. Ciro cita outros elementos dessa receita exitosa. “Foi muito trabalho e honestidade. A gente não pensava muito no dinheiro, pensava mais na comunidade e em dar conforto para o cliente”, garante. “Passamos por dificuldades, mas, graças a Deus, estamos com missão cumprida”, comemora Ciro que, volta e meia, vai à Cristal Presentes dar pitaco. “De vez em quando, a gente dá umas puxadas de orelha, mas a Tatiana nos escuta”, brinca. A outra filha do casal, Karina Nakanishi, é missionária e, quando está na cidade, aproveita para visitar a loja. Afinal, elas cresceram entre as prateleiras e o balcão.

Recomeço
Um dos maiores desafios ao longo da jornada foi quando a Cristal Presentes pegou fogo por causa de um curto-circuito, em 2016. “O incêndio destruiu tudo, não sobrou nada. Eu já estava com mais de 70 anos e, quando vi a loja toda acabada, pensei: ‘eu só não quero que a Cristal  acabe em fogo’. E só de isso não ter acontecido, sou muito satisfeito”, conta Ciro. A reconstrução durou cerca de cinco meses. Um ano depois do acidente, Tatiana passou a tocar a loja. “Depois da reforma, ficou até melhor, deu uma modernizada. Tem cliente que até acha que ficou chique demais”, comenta. “Meus pais nunca pensaram em desistir por causa do incêndio. A maior inspiração que eles me passam é a dedicação. Eles nunca mediram esforços para o trabalho”, diz Tatiana.

Ciro e Cida começaram a trabalhar entre as quadras 203 e 204 Norte antes mesmo da existência da Cristal Presentes. Paranaenses e com ascendência japonesa, eles se casaram em Brasília em 1974 e passaram a tocar uma frutaria, que depois se tornou uma mercearia. Também chegaram a ter uma casa lotérica. O empreendedorismo começou quase que por acaso. “Eu trabalhava numa loja de frutas e verduras na 209 Sul e, um dia, o dono me disse: ‘eu vou te vender a loja’. Eu respondi que nem tinha como pagar. Mas ele me confiou mesmo assim”, conta Ciro, que se mudou para Brasília em 1973.

O comércio ficava num ponto alugado, e a mudança para a 204 Norte ocorreu quando o proprietário pediu o local de volta. No novo endereço, foi aberta a Mercearia Londrinense, já que os donos são de Londrina (PR). No fim dos anos 1980, o casal estava determinado a mudar de ramo. “Naquela época, as lojas de R$ 1,99 estavam virando uma febre e eu resolvi abrir uma de R$ 1,98. Por causa de um centavo de diferença, viramos referência”, lembra Ciro. Na época, o pessoal fazia até fila para entrar. Tatiana recorda que o pai fazia questão de dar os dois centavos de troco. “Ele até ia ao banco para pedir e trocar moedas. O cliente pagava verdadeiramente R$ 1,98”, diz. Em 2001, os empresários mudaram para o outro lado da rua, para a 203 Norte, onde a Cristal Presentes funciona.

“Nós ficávamos no subsolo, e era um sacrifício para o cliente descer lá. Minha esposa, com o pensamento de facilitar para o público, falou para mudarmos. Não interessava se conseguiríamos pagar aluguel em cima ou não, mas precisávamos fazer uma loja mais confortável”, conta Ciro. Essa preocupação com a freguesia em primeiro lugar é marca registrada da gestão Nakanishi, tanto da primeira quanto da segunda geração. “Se um analista financeiro vissem os preços dos produtos, diria que estavam tendo prejuízo. Mas meus pais não ligavam, o mais importante era ajudar quem vinha à loja”, elogia Tatiana.

“Na época da frutaria, meu pai comprava as frutas no Ceasa e, depois, minha mãe selecionava uma por uma antes de pôr na prateleira, tirava todos as estragadas e amassadas. Essa mesma preocupação persiste até hoje”, diz. “As pessoas sabem disso e, mesmo quando sabem que não temos um produto, vêm aqui pedir nossa ajuda”, comenta. “Esse é um diferencial que os clientes percebem. Nosso maior interesse é que eles saiam satisfeitos.” E a preocupação de Tatiana vai além dos aspectos comerciais. Entre as metas dela para o negócio está dar continuidade a projetos sociais, por exemplo, abrindo a loja para promover cursos e conversas sobre temas como saúde mental e prevenção ao suicídio.

 

Saiba mais

Cristal Presentes
203 Norte, Bloco A, Loja 80
3326-8070 / www.facebook.com/lojacristaldf


Correio Braziliense sábado, 16 de março de 2019

NOVA ZELÂNDIA: DO ÓDIO CEGO À BARBÁRIE

 


NOVA ZELÂNDIA
 
Do ódio cego à barbárie
 
Atirador invade duas mesquitas em Christchurch, mata 49 muçulmanos, fere 48 e horroriza o planeta. Antes do massacre, divulgou manifesto racista no qual justifica o ato e cita o Brasil. Primeira-ministra lamenta %u201Cdia mais sombrio%u201D e promete mudar lei sobre armas

 

RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 16/03/2019 04:00

 

Da entrada da Mesquita Masjid Al-Noor, Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, começou a disparar o fuzil semiautomático de forma intermitente: assassino perseguiu vítimas, que rastejaram em busca de ajuda, e atirou várias vezes
 ( Reprodução/Internet





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Da entrada da Mesquita Masjid Al-Noor, Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, começou a disparar o fuzil semiautomático de forma intermitente: assassino perseguiu vítimas, que rastejaram em busca de ajuda, e atirou várias vezes

 

 

 

 

 (Reprodução/Internet)  

 

 

 

 (Reprodução/Internet)  

 

 

“Eu sou o deus do fogo do inferno, e eu busco você! Fogo, eu o levarei para queimar.” A música Fire, da banda britânica The crazy world of Arthur Brown, ecoava de dentro do carro de Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, quando ele tornou a disparar contra a cabeça de uma muçulmana, caída ao lado do meio-fio. Minutos antes, às 13h45 de ontem (21h45 de quinta-feira em Brasília), Brenton tinha desembarcado do veículo, em frente à Mesquita Masjid Al-Noor, em Christchurch, com um fuzil e uma pistola na mão. Ao som de uma canção de exaltação de Radovan Karadzic — ex-líder sérvio-bósnio responsável pelo genocídio em Srebrenica (1995) —, ele conduziu um massacre no interior do templo islâmico e dirigiu 5km até a Mesquita Linwood Masjid. Matou 49 pessoas, 41 delas na primeira mesquita, e feriu 48. O atentado, transmitido ao vivo pelo Facebook (leia na página 13), impactou a  Nova Zelândia, nação pluralista e acolhedora de religiões. Um vídeo gravado pelo celular mostra policiais retirando o atirador de dentro do carro e o algemando. 

O horror causado por Brenton, que levava uma câmera acoplada ao capacete, repercutiu na comunidade internacional e instigou um debate sobre tolerância religiosa e flexibilização de armas. A Mesquita Masjid Al-Noor reunia ao menos 300 pessoas, incluindo mulheres, no momento do ataque. “O que houve lá foi inaceitável. Imaginar esse tipo de coisa acontecendo com muçulmanos, com inocentes”, lamentou ao Correio o gerente de vendas Mohan Ibn Ibrahim, 27 anos, sobrevivente do massacre (leia o Depoimento).

A barbárie foi precedida pela publicação, na internet, de um manifesto racista de 74 páginas em que Brenton se identifica como um homem branco normal inspirado pelo supremacista norueguês Anders Behring Brevik. Em 22 de julho de 2011, Brevik cometeu uma série de atentados que mataram 77 pessoas e feriram 51 em Oslo e na Ilha de Utoya, na Noruega. No documento, Brenton conta que pretendia “fazer uma barbárie para evitar outra maior” e justifica o ato como uma tentativa de “ensinar os invasores que nossa pátria nunca será sua”.

 

O australiano Brenton Tarrat é formalmente acusado pela Justiça neozelandesa: impassível diante do juiz
 (Mark Mitchell /AFP)  

O australiano Brenton Tarrat é formalmente acusado pela Justiça neozelandesa: impassível diante do juiz

 

 

 

Brasil
Intitulado The Great Replacement (“A Grande Substituição”) — em referência a uma teoria elaborada pelo escritor francês Renaud Camus, segundo a qual “os povos da Europa estão sendo substituídos” por populações de imigrantes não europeus —, o manifesto cita o Brasil. “O Brasil, com toda a sua diversidade racial, está completamente fraturado como nação, onde as pessoas não se dão umas com as outras e se separam e se segregam sempre que possível”, escreveu.

“O que houve em Christchurch foi um ato extraordinário de violência sem precedentes”, comentou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, ao citar “o dia mais sombrio” da história do país. A premiê neozelandesa avisou que as leis de acesso a armas mudarão depois da tragédia. “Enquanto estamos trabalhando para entender a cadeia de eventos que levaram à posse dessas armas, eu posso lhes dizer uma coisa certa agora. Nossa legislação sobre armas mudará”, disse Jacinda. A Nova Zelândia possui um histórico de poucos incidentes com armas de fogo. Em 2017, o país registrou 35 assassinatos. De acordo com a chefe de governo, Brenton tinha licença para adquirir armamentos.

A primeira-ministra enviou um recado aos extremistas: “Vocês podem ter nos escolhido, mas nós rejeitamos vocês”. O presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou para Jacinda e ofereceu condolências ante os “monstruosos ataques terroristas”. “Esses locais sagrados de adoração se transformaram em cenas de matança maligna”, declarou. No entanto, Trump negou que o supremacismo branco seja uma ameaça importante. “Na realidade, não. Acredito que se trata de um pequeno grupo de pessoas.”

Algemado e com uniforme de presidiário, o militante de extrema direita não demonstrou emoção ao ouvir a acusação de homicídio e fez um gesto usado por supremacistas para indicar poder. Brenton ficará preso até a audiência de 5 de abril. Outras acusações devem ser apresentadas, e a promotoria pedirá pena perpétua. Mais duas pessoas estão sob custódia. 

Influência
Em entrevista ao Correio, Paul Spoonley — professor da Massey University, em Palmerston North (Nova Zelândia) — disse crer que Brenton foi profundamente influenciado por eventos internacionais. “Ele é parte de um movimento internacionalista da direita alternativa e do supremacismo branco. Também sustenta fortemente os argumentos da ‘teoria da substituição’, a ideia de que os brancos estão perdendo o poder no mundo e sendo substituídos por muçulmanos. É uma posição comum da extrema direita”, admitiu o autor de  Politics of Nostalgia: Racism and the Extreme Right  (“Políticas da Nostalgia: racismo e extrema direita”).

Douglas Pratt, especialista em terrorismo religioso pela Universidade de Auckland e autor de Religion and extremism: Rejecting diversity (“Religião e extremismo: rejeitando a diversidade”), afirmou à reportagem que a imagem de uma sociedade pacífica, tolerante e pluralista ignora expressões religiosas e políticas de antipatia, e de franca hostilidade, em relação aos muçulmanos. “O contexto da tolerância benigna da Nova Zelândia está sendo testado.” O Brasil divulgou nota em que “condena veementemente os ataques terroristas direcionados à comunidade muçulmana de Christchurch”. “O Brasil reitera firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo, independentemente da motivação”, afirmou o comunicado do Itamaraty.  

Eu acho...

 

 (Arquivo pessoal)  

 

 

“Os atentados contra as duas mesquitas foram um eco do massacre perpetrado pelo norueguês de Anders Breivik (em 22 de julho de 2011). Tal extremismo violento acredita que a ação tomada servirá como gatilho para um movimento ainda maior, capaz de remover ou eliminar os imigrantes, e especialmente, os muçulmanos. Como estratégia, isso inevitavelmente fracassa, pois geralmente produz reação oposta, ao provocar apoio às comunidades de muçulmanos e migrantes.”
Douglas Pratt, especialista em terrorismo religioso pela Universidade de Auckland (Nova Zelândia)

Depoimento
“É dificil ver alguém morrer”



 (Arquivo pessoal)  

 

 

“Tudo ocorreu entre 13h42 e 13h45 de ontem (sexta-feira). As orações teriam início às 14h. Eu estava dentro da Mesquita Masjid Al-Noor, no lado direito. Ele começou a atirar desde o portão principal. Foi algo tão alto (o barulho), que imaginei tratar-se de um curto-circuito. No entanto, o som era intermitente. Alguns poucos de nós conseguimos sair da mesquita usando a porta do lado direito. Nós corremos em direção ao quintal, onde normalmente as pessoas estacionam seus carros. Tive de correr entre 700m e 800m, antes de pular o muro. O barulho dos tiros não parou durante 10 a 15 minutos.

O som era muito alto. Quando a polícia chegou, corri até o outro lado da rua. Eu vi uma pessoa baleada no peito. A polícia veio e fez os primeiros socorros. Eu não consegui discernir claramente se o atirador dizia alguma coisa. Também não me aventurei a olhar para trás. Eu não posso explicar como o som dos tiros era alto. Depois, vi no vídeo que ele escutava músicas. Durante minha fuga, não vi corpos, pois não vi a parte de trás da mesquita, onde estavam mais pessoas. Ele estava matando a partir da porta principal. Havia muitas crianças e mulheres dentro da mesquita. Famílias inteiras frequentavam ali. Eu conhecia muitas das pessoas que morreram. É  realmente muito triste ver alguém morrer diante de seus olhos.”


Mohan Ibn Ibrahim, 27 anos,
gerente de vendas, sobrevivente do massacre na Mesquita Masjid Al-Noor, em Christchurch

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