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À tarde, alunos e educadores saíram pelas ruas da cidade pedindo o um basta na violência
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Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos, é apontado como o único suspeito de matar a facada Bruno Pires de Oliveira, 41, professor e coordenador do ColégioEstadual Machado de Assis (Cema), em Águas Lindas (GO). O crime ocorreu por volta das 12h15 de ontem, no momento da saída do turno da manhã. Os investigadores acreditam que o estudante premeditou o crime. ele estava foragido até o fim da noite.
Titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), o delegado Cleber Martins disse que a faca estava dentro da escola. “Ainda vamos checar se outro estudante a emprestou”, comentou. O investigador acrescentou que não houve luta corporal. “Foi uma coisa traiçoeira”, ressaltou. Bruno trabalhava havia um ano na instituição, por meio de contrato temporário.
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No começo da noite, grupo acendeu velas em frente à escola onde ocorreu o assassinato
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Em depoimento, testemunhas contaram que o aluno do 9º ano se irritou após ouvir boatos de que seria cortado do programa esportivo Mais Educação, voltado a estudantes do 6º e 7º anos. A razão do desligamento varia, conforme relatos: indisciplina, notas baixas e problemas de saúde. O motivo do crime, no entanto, não estava confirmado, até o fechamento desta edição.
“Oficialmente, Anderson não tinha sido desligado do programa e o professor Bruno não era o responsável pelo projeto. Não teria a competência por fazer isso. Por isso, ainda não entendemos por que, ele se tornou a vítima”, observou o delegado.
Após o golpe, Anderson fugiu a pé. Bruno ainda conseguiu entrar de volta na escola, caminhar até a sala dos professores e contar aos colegas o que havia acontecido, enquanto pedia ajuda. “Ele avisou que foi o Anderson Grandão que deu a facada. O apelido era como o aluno era conhecido”, explicou o delegado Rodrigo Mendes, plantonista da 1ª Delegacia de Polícia. O coordenador recebeu atendimento no colégio e foi encaminhado ao Hospital Municipal de Águas Lindas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 14h.
Professores relataram que o aluno suspeito era tranquilo e nunca mostrou comportamento alterado. “Ele não era um dos melhores estudantes, mas nunca foi agressivo. Os professores acreditam que ele tenha tido um surto psicótico”, destacou Mendes. Anderson deve ser indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. As penas variam de 12 a 30 anos de prisão.
Comoção
Professora de história do colégio, Gracielle Tavares, 38, namorava a vítima havia um ano e meio. Ao Correio, ela disse que Bruno nunca teve problemas com o suspeito do crime. “Eu e outros professores já tivemos problemas com ele. O aluno xingava, mas ficava por isso mesmo”, contou. Na última semana, ela chamou o pai de Anderson à escola devido às constantes faltas. “Ele (o aluno) tem problemas sérios do coração. O pai foi explicar a ausência dele devido a isso”, completou Gracielle.
A educadora soube da notícia por meio do celular. “Bruno trabalharia meio período e viria me ver”, lamentou a professora. “Ele nem apresentava atestado (médico). Amava aquele colégio. Só queria entender o que houve. Estou sem chão”, finalizou Gracielle.
Uniformizados, cerca de 50 alunos do Colégio Estadual Machado de Assis pediram paz, com cartazes. “Queremos chamar a atenção do governo para a falta de segurança nas escolas de Águas Lindas”, disse o aluno Ezequias Vitor, 16. Segundo ele, o professor morto era brincalhão, e pensava no futuro dos alunos. “Ele estava pensando em sortear uma bolsa de estudos para um aluno que está formando”. Os alunos seguiram da marginal da BR-070 até o colégio.
No muro da escola, uma faixa preta foi estendida, além de cartazes com a frase “Não haverá aula. Motivo: Luto estampam o ambiente”. Os pais questionaram a atuação do governo local. Entre eles, Bruna Josefa, 30, mãe de uma aluna do 7º ano, que defende a militarização nas escolas. “Os professores tinham medo dos alunos. Muitos deles já foram ameaçados”, destacou.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) publicou uma nota nas redes sociais sobre a morte do servidor. “É lamentável. Mais uma morte trágica no ambiente escolar, que reitera a necessidade da proteção dos profissionais da Educação. É preciso agir para que vidas não mais sejam retiradas. Basta de tanta violência. A Educação pede paz”, disse a presidente da entidade, Bia de Lima.
Memória
» 2018
28 de agosto
Um adolescente de 14 anos esfaqueou outro, de 13, no Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia. A dupla se desentendeu, e o mais velho deu facadas na região do peito e do pescoço do mais novo.
24 de setembro
Um jovem de 17 anos foi baleado duas vezes por dois jovens na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. Segundo testemunhas, a discussão entre ele e os autores começou nas imediações do colégio. A vítima foi atingida no braço, peito e tórax.
3 de dezembro
Uma desavença entre duas mulheres terminou em tragédia na Escola Municipal do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Jéssica Oliveira entrou na unidade de ensino e assassinou, a facadas, Fernanda Xavier, 21 anos. Ambas eram mães de alunos da instituição. A briga entre as duas começou pelas redes sociais.
» 2019
30 de abril
O professor e coordenador Julio Cesar Barroso de Sousa, 41, morreu dentro de uma escola em Valparaíso após ser baleado por um aluno. O caso ocorreu no Colégio Estadual Céu Azul. O garoto atacou a vítima após ela intervir em uma briga entre o estudante e uma professora. Depois da discussão, o jovem teria saído da escola, ameaçado o profissional e voltado armado.
A VÍTIMA
Bruno Pires de Oliveira, 41 anos
» Era formado em geografia, mas também dava aula de história.
» Atuava em contrato temporário na rede pública de ensino de Águas Lindas (GO).
» Trabalhava no Colégio Estadual Machado de Assis, onde também era coordenador.
O suspeito
Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos
» Estudava no 9º ano do Colégio Estadual Machado de Assis, em Águas Lindas.
» Era considerado um aluno de bom comportamento, mas estava com notas baixas.
» Os pais participavam da educação do filho, inclusive com ida à escola.