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Dezenas de mulheres se reuniram no fim da tarde de ontem na Rodoviária do Plano Piloto para pedir mais segurança
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“Eu fiquei dois anos presa, e ele, solto. Quando fui atacada por ele (Marinésio), registrei a ocorrência e não me escutaram. Precisaram morrer duas mulheres para que fossem atrás dele”. O relato feito ao Correio por uma das possíveis vítimas de Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, narra momentos de terror vividos em 25 de setembro de 2017, no Paranoá. A copeira, de 42 anos, que não quis se identificar, integra a lista de mulheres que denunciaram ter sido atacadas pelo assassino confesso de Letícia Sousa Curado de Melo, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47 (veja Sob investigação). Polícia Civil vai retomar investigações desses casos. A barbárie provocou, ontem, o protesto de um grupo de cerca de 50 mulheres na Rodoviária do Plano Piloto (leia ao lado).
Marinésio teve a prisão temporária — com prazo de 30 dias — decretada no último sábado pela suspeita de envolvimento no assassinato de Letícia, advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Na segunda-feira, ele confessou o crime e declarou ter matado, ainda, Genir. Com a repercussão do caso, a copeira o reconheceu, ao vê-lo na televisão.
A mulher conversou com o Correio na casa dela, após prestar depoimento na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Ela conta que, no dia do ataque, esperava o ônibus na parada, por volta de 5h40, quando Marinésio a abordou em um carro vermelho. “Ele desceu e, com uma faca, me obrigou a entrar no veículo. Comecei a chorar e implorar para que ele não fizesse nada comigo, por ter meus filhos. Fui levada até os pinheirais (próximo ao Paranoá Parque)”, relembrou.
Ali, o serial killer teria estuprado a vítima. “Como eu me debatia, ele agarrou o meu pescoço e disse: ‘Ou você faz o que eu quero, ou morre agora’. Foi quando cedi às investidas. Mas, depois que ele acabou, me ameaçou: ‘Você viu bem o meu rosto. Quem grava o meu rosto, morre’”, descreveu. Nessa hora, Marinésio se distraiu e deixou a faca cair. “Dei uma joelhada na barriga dele. Consegui abrir a porta do carro e fugir. Ele tentou vir atrás de mim, mas, como era umas 6h30, e havia movimento na rua, desistiu”, relatou a vítima, que procurou a delegacia e fez o exame de corpo de delito.
Segundo a delegada Jane Klébia, chefe da 6ª DP, o caso dessa vítima se assemelha ao de uma adolescente de 17 anos, também investigado na unidade. “Em ambos os crimes, ele usou um carro vermelho. As abordagens também foram diferentes, ele não se apresentou como motorista de transporte pirata. Mas, sim, usou uma faca para obrigar as mulheres a entrarem no veículo”, detalha a investigadora. Na próxima semana, Marinésio será levado até a delegacia para que as duas vítimas façam o reconhecimento pessoal.
Investigação
Até o momento, os ataques de Marinésio são investigados pela 31ª DP (Planaltina), pela 6ª DP (Paranoá) e pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS). Desde que instauraram os dois primeiros inquéritos, os delegados responsáveis pelas apurações receberam titulares de unidades de outras cidades, que pretendem desarquivar casos não solucionados marcados pelo mesmo modus operandi do serial killer.
Além disso, a DRS deve interrogar o assassino nos próximos dias. A ideia é verificar se Marinésio está envolvido em desaparecimentos de mulheres. Um dos casos sob análise é o de Gisvania Pereira dos Santos, 33, desaparecida em 6 de outubro do ano passado, em Sobradinho. “O que sabemos é que ele é um predador de mulheres, que esteve envolvido em dois sequestros com morte. Mas é essencial levantar mais dados, até para direcionar melhor as nossas perguntas a ele e colher um depoimento mais concreto e detalhado”, informou o diretor adjunto da Divisão, Luiz Henrique Sampaio.
As três perícias do caso Letícia Curado ainda não foram concluídas. A 31ª DP aguarda o laudo cadavérico, a análise sobre o material genético encontrado na Blazer prata e no local do crime e a avaliação na chácara da cunhada de Marinésio, entre Planaltina e Paranoá.