“A sorrir eu pretendo levar a vida/ Pois chorando eu vi a mocidade perdida...” é o verso inicial de O sol nascerá, cantado por Zeca Pagodinho e Teresa Cristina na abertura de Bom Sucesso, elogiada novela apresentada na faixa das 19h pela TV Globo. Possivelmente, espectadores mais jovens não sabem que esse samba clássico é uma parceria de dois mestres do gênero: Cartola e Elton Medeiros.
Elton, que morreu na madrugada de ontem, aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia, em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, compôs também com Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Candeia, Zé Keti e Hermínio Bello de Carvalho. Mas seu principal parceiro foi Paulinho da Viola, com quem gravou, em 1968, o LP Samba na madrugada.
Os dois, na década de 1960, estiveram juntos igualmente no grupo A Voz do Morro, ao lado de Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Armando Santos, Nuno Veloso, Joacyr Santanna. O conjunto foi formado no mítico Zicartola, bar, restaurante e ponto de encontro de sambistas, que existiu num sobrado da tradicional Rua da Carioca, Centro do Rio.
Rosa de Ouro
Ali, Hermínio Bello de Carvalho idealizou a proposta de Rosa de Ouro, show que ficou em cartaz por mais de um ano, no Teatro Jovem, em Botafogo. Espetáculo que se tornaria antológico, e ganhou registro em disco, tinha Elton dividindo o palco com Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro e as divas Clementina de Jesus e Araci Cortes. Ele, Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho assinavam o samba que dava nome ao musical, cantado na abertura.
Carioca do bairro da Glória, torcedor do Olaria, Elton compôs os primeiros sambas na adolescência para blocos carnavalescos como o Tupi de Braz de Pina e para a escola de samba Aprendizes de Lucas — a atual Unidos de Lucas. Do legado de clássicos do compositor, além de O sol nascerá fazem parte sambas que resultaram da parceria com Hermínio Bello de Carvalho (Pressentimento), Paulinho da Viola (Onde a dor não tem razão) e Zé Keti (Mascarada).
Pressentimento, interpretada por Marília Medalha, classificou-se em terceiro lugar na Bienal do Samba, vencido por Lapinha (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), que teve como segundo colocado Bom Tempo (Chico Buarque); e em quinto e sexto lugares, respectivamente, Tive sim (Cartola) e Coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola). Só para se ter ideia do nível desse festival, que ocorreu em São Paulo, no ano de 1968.
Segundo a cantora Teresa Cristina, Elton Medeiros foi um dos maiores melodistas que conheceu e conviveu. “Elton ranzinza me dava broncas, a última foi no Programa do Bial, corrigindo uma nota em O sol nascerá. Elton é dono da versão mais linda e espetacular de Acontece, do seu parceiro Cartola”, afirma a sambista.
Depoimentos
Conheci Elton por meio de Paulinho da Viola, mas, antes disso, eu admirava suas composições. Gravei, agora, pela segunda vez, O Sol Nascerá, dele e de Cartola. Essa gravação que fiz, com Teresa Cristina, vai estar no meu novo disco. Que Deus o receba de braços abertos.”
Zeca Pagodinho, cantor e compositor
“O que Elton Medeiros representa para música brasileira não cabe aqui e nem eu saberia dizer. Só sei que dói a saudade de um tempo bom em que pude ter o privilégio de sua companhia. Meu pai Oxalá, olha esse anjo que está subindo, ilumina o caminho dessa estrela!”
Teresa Cristina, cantora e compositora
“Éramos 5 Crioulos! O meu grande amigo, parceiro, grande mestre Elton Medeiros foi se encontrar com os amigos Jair do Cavaquinho, Mauri Duarte, Anescarzinho do Salgueiro. Com certeza, está sendo recebido com uma grande roda de samba! Obrigado amigo Elton Medeiros. Aplausos, aplausos. Vá na luz!
Nelson Sargento cantor e compositor “Viva Elton Medeiros!”