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Membros do Veteran Car compartilham a paixão por automóveis
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Pelas avenidas longas e largas de Brasília, os moradores da recém-fundada capital desbravaram a cidade com seus carros, na imensidão de um horizonte ainda desconhecido. Na década de 1960, entre a poeira vermelha, o cerrado e os prédios que eram erguidos, estes automóveis ajudaram a construir a história da capital.
Modelos como Vemaguet, Gordini, Candango e Fusca circulavam aos montes pelas vias da Esplanada dos Ministérios, pelas superquadras e pelas satélites — hoje regiões administrativas. Em estacionamentos, como o da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, carros como Dauphine e Rural também eram vistos todos os dias.
Hoje, quase 60 anos depois, passar por um modelo de carro desses no trânsito de Brasília causa nostalgia nos que viveram os primórdios da capital e admiração nos que não tiveram a oportunidade de sentar no banco de um automóvel da época.
Colecionadores são os maiores responsáveis por preservar estes modelos e trazer à tona a memória de uma Brasília recém-fundada. O Correio Braziliense ouviu alguns dos que contribuem para perpetuar a história através dos carros.
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Fusca, Vemaguet e Gordini são alguns dos modelos que circulavam pelas vias da recém-fundada capital do país, nos anos de 1960
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José de Mattos Souza, 81 anos, é um desses aficionados por automobilismo. Militar reformado da Aeronáutica, ele ainda tem a Vemaguet que comprou em 1967, pouco depois do fechamento da fábrica da DKW Vemag (fabricante do modelo), em agosto do mesmo ano.“Ela roda comigo, na minha mão, até hoje, e nunca parou. Sempre fazendo a manutenção e o conserto necessários, a mantenho perfeita. Ela está disponível como qualquer outro carro”, ressalta José, que calcula a distância percorrida pela Vemaguet desde 1967 até hoje: cerca de 400 mil quilômetros rodados.
Antes de alcançar essa quilometragem, a Vemaguet foi personagem de viagens e passeios com a família. “Os netos gostavam demais do carro. Eram crianças de 5 a 10 anos, e eu usava como atrativo para eles”, conta o colecionador, ao lembrar que os netos se divertiam quando o avô abaixava o encosto do banco de trás. “A meninada adorava. Colocavávamos colchões para eles brincarem e dormirem e íamos ao clube juntos com o carro. Agora eles cresceram”, recorda.
A paixão por automóveis garante o lazer de José Luiz Diaz Fernandez, 57 anos, presidente do Veteran Car Brasília, clube de colecionadores de carros antigos. “Você sabe o que é, no fim de semana, passar metade de um dia cuidando só disso, tirar a roda pra lavar e passar a escovinha por debaixo do para-lama? Esse é o prazer que hoje não existe mais. As pessoas levam no lava-jato, e alguém faz”, compara, saudosista.
Esse interesse por carros levou colecionadores como José de Mattos e José Luiz Diaz Fernandez e outros membros do clube à ideia de homenagear Brasília pelos 60 anos da cidade — que serão completados em 21 de abril de 2020 — por meio dos automóveis de época. No ano que vem, o Veteran Car Brasília realizará a 2ª Caravana da Integração Nacional. O objetivo é reeditar a empreitada original, promovida por JK em 1960 (leia Memória).
Segundo José Maria de Andrade, também membro do Veteran Car, a jornada deve contar com ao menos 600 veículos de época, vindos das 26 capitais do país, além dos de Brasília. A previsão dos organizadores é de que 2 mil pessoas pariticipem da caravana, que deve chegar à capital brasileira em 17 de abril. Bailes, shows, desfiles e exposição de carros da caravana são algumas das atrações que devem constar na agenda de comemorações.
“É uma repetição da caravana de 1960. Vamos convidar todos os clubes de carros antigos do Brasil. Nosso projeto é que venham representantes das capitais e de todas as cidades que tenham colecionadores de automóveis de época”, explica José Maria.
Memória
Juscelino e o Romi-Isetta
Em fevereiro de 1960, ano de sua fundação, Brasília foi o destino final da Caravana da Integração Nacional. Com o objetivo de expandir a malha rodoviária e implementar a indústria automobilística no Brasil, o ato histórico, iniciativa do então presidente Juscelino Kubitschek, contou com carros partindo dos quatro pontos cardeais do país (Norte, Sul, Leste e Oeste) em direção à futura capital federal.
Cerca de 130 veículos da época, incluindo modelos como Vemaguet, Gordini, Rural, Candango e Fusca, participaram da jornada que terminou em Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. Na ocasião, as quatro caravanas — conhecidas como quatro colunas e vindas de Belém (PA); Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP); Cuiabá (MT); e Porto Alegre (RS) — uniram-se a JK, em um desfile pela cidade que se tornaria a capital do país em 21 de abril daquele ano. Empunhando uma bandeira nacional, o então presidente desfilou a bordo do primeiro carro fabricado no país, um Romi-Isetta.