Mestre, o que faz para manter a vitalidade aos 83 anos?
Tenho que manter a diabetes controlada e só não como doce. Mas não dispenso, por nada, uma boa carne de sol com macaxeira, ou uma picanha no ponto. Mas cuido bem do corpo. Até porque eu uso ele também como um instrumento.
O público que assiste a seus shows fica sempre na expectativa
de, após a apresentação, o senhor descer do palco para
segui-lo num cortejo. Mas no domingo, aqui
em Brasília isso não ocorreu. Por quê?
Costumo fazer isso sim, inclusive já fiz em outros show em Brasília. Desta vez não deu porque era um festival e tinha outras coisas acontecendo. A apresentação não poderia ultrapassar 1h30 de duração.
Lembra quando tocou na capital pela primeira vez?
Apresentações em Brasília são fatos importantes em minha carreira. Estive na capital, por exemplo, na inauguração, com o regional do Pernambuco do Pandeiro. Naquele dia toquei na Praça dos Três Poderes e no Palácio da Alvorada. Mas já fiz shows em vários lugares, como na Concha Acústica. Mas o lugar onde mais me apesentei foi no Clube do Choro.
Foi Pernambuco do Pandeiro quem o acolheu, quando deixou Recife e foi morar no Rio de Janeiro?
Já conhecia o Pernambuco quando cheguei ao Rio, no final da década de 1950. Ele tinha um regional e era contratado pela Rádio Mauá. Comecei na música em Alagoas, mas a profissionalização veio na Rádio Jornal do Comércio, em Recife. Lá tocava também na boate Delfim Verde, com o meu compadre Heraldo do Monte. Fiquei em Recife uns seis anos, com passagem pela Rádio Tabajara, de João Pessoa.
Mas você se tornou conhecido ao integrar o Quarteto Novo,
em São Paulo. Que lembrança guarda daquele período?
Havia uma efervescência artística em São Paulo, para a qual contribui de forma decisiva, os festivais de música. Existia o trio formado por Heraldo do Monte (contrabaixo), Théo de Barros (violão) e Airto Moreira (bateria). O Théo foi parceiro de Geraldo Vandré em Disparada, música que empatou em Primeiro lugar com A banda, de Chico Buarque, no Festival da Record de 1966. No ano seguinte passei a integrar o grupo, que acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha em Ponteio, no festival de 1967. O quarteto Novo gravou apenas um disco.
Seu primeiro disco solo, o A música livre de
Hermeto Pascoal. Poderia falar sobre ele?
É um disco raro, hoje muito procurado na internet. Nele registrei minhas primeiras composições, músicas como Arrasta pé alagoano, Chorinho pra ele, Forró Brasil, Pimenteira e Pintando o sete.
Lembra quantos discos já lançou?
Foram pelo menos 30. Não sei ao certo. Meu filho Flávio, que mora em São Paulo e é meu empresário, tem tudo isso certinho. Costumo gravar de três em três anos.
No período em que morou no Paraná, qual foi a produção?
A fase de Curitiba foi maravilhosa. Lá conheci Aline Morena, e mesmo com a diferença de idade, vivemos juntos por mais de 10 anos e tivemos ótima relação. Com ela, lancei o CD Chimarrão com rapadura. Nos separamos, mas mantivemos uma forte amizade. Ela sempre está em contato comigo.
No mundo dos sons, de 2017, o levou a
conquistar o Grammy Latino no ano passado.
Que importância atribui a esse prêmio?
Essa é uma premiação internacional muito importante. Gravei o disco com uma big band maravilhosa, sob a regência de André Marques, música do meu grupo e fomos premiados na categoria melhor álbum de jazz latino. Minha carreira no exterior passou a ser ainda mais bem-avaliada.
No seu processo criativo o que prevalece, a técnica ou a intuição?
Para criar, me deixo levar pela intuição. Não faço nada premeditado, seja em estúdio, seja no palco. Obviamente, utilizo a técnica, mas o que prevalece é a improvisação. A técnica porem é algo que o musico precisa ter
Referência e fonte de inspiração para músicos
de várias erações, o que busca passar para eles,
quando os têm em sua companhia?
Uma coisa básica que passo para eles é evitar repetir o que faço. Isso foi seguido tanto por Itiberê Zwarg, Carlos Malta e Jovino Neto, que foram da minha banda e hoje são músicos consagrados; como para os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, que conheci ainda adolescentes; e Gabriel Grossi, todos talentosíssimos. Participei, em Brasília, da gravação do DVD de Gabriel, gaitista de nível internacional.