Um eterno menino que não gosta de descansar nem sonha em se aposentar. “Me faz um favor? troca o senhor por ‘você’?”, pediu Alceu Valença, e quebrou o gelo das formalidades logo no início da entrevista ao Correio. O cantor se apresenta hoje no festival Na Praia com o show Estação da luz, em que toca sucessos da carreira e músicas que homenageiam a capital.
Alceu trilha os caminhos da arte há mais de 40 anos. Cantor, compositor, escritor, ator, cineasta, fez um pouco de tudo: tem 31 discos, um livro e um filme, “fui até galã de filme, menina!”, conta sobre o longa pernambucano de 1974, A noite do espantalho, de Sérgio Ricardo. Referência na cultura brasileira, recentemente ganhou uma HQ, feita por André Valença e Celso Hartkopf, que conta a história do disco Vivo.
Anunciação, Cavalo de pau, La belle de jour, Tropicana… com sucessos que estão na ponta da língua de muitos fãs da sua música, Alceu Valença tem carreira extensa e cheia de “causos”. O artista contou um pouco mais sobre sua história na música.
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Alceu Valença diz ter amor por cantar e fazer show, e não pensa em se aposentar
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Sempre sonhou em ser cantor?
Nunca sonhei essas coisas não. Quando era garoto, com uns 5 anos de idade, participei de um festival na minha terra, e o prêmio era uma caixa de sabonete. Depois eu vim aprender a tocar violão com uns 15, 16 anos de idade, e aí pronto. Quando estudei em Harvard, era uma época de muitos hippies, e eu tocava numa pracinha por lá, eles adoravam, e eu também me amarrava. Depois disso minha carreira começou mesmo, com convites para shows, para cantar e mostrar meu som.
Você inspira muitos artistas, isso não é segredo. Mas quem te inspirou no início da carreira?
Na minha casa o meu pai não queria que eu fosse artista, porque ele achava muito difícil sobreviver desse negócio de arte, então não existia som na minha casa, só um rádio. As minhas referências primeiro foram os cantos do sabiá, a música que tinha nos pés de capim quando o vento soprava, as vozes dos locutores na rádio, as músicas que tocavam na época, sem que eu escolhesse. Uma mistura doida que funcionou.
Qual é a sua obra mais importante?
Todas. Obra é como filho, você já viu pai gostar mais de algum filho do que outro? Claro que tem uma música ou outra que nunca foi ao ar, que fica guardada no baú. Aí vira uma relação distante, como um filho que vai morar fora, que a gente passa muito tempo sem ver e sem conversar. Mas todas são importantes.
Quais mudanças percebe no ramo da música comparando quando começou com agora?
A internet, com certeza. A internet favoreceu muita gente (artistas) que já estava estabelecida, ao mesmo tempo que ocultou outros. A minha carreira foi muito favorecida, tenho uns 60 milhões de visualizações nas plataformas. Mas sabe, tem o lado ruim. Estamos vivendo em um mundo dominado por uma cultura de algoritmos que nos apresentam um menu daquilo que a gente deve comer. Eu prefiro a comida da Dedé (cozinheira que trabalha em sua casa), não escolho em menu.
Como fica o descanso? O que o você faz para descansar?
Eu odeio descansar. Agora, há um cansaço muito grande que é das viagens, mas quando eu chego ao Rio de Janeiro eu fico com vontade de cair na rua. A senhora estrada é minha vida. Não tiro férias, penso em fazer show o tempo todo. Mas, às vezes, passo um tempo em Portugal, caminho pelas ruas de Lisboa, adoro andar nas ladeiras e colinas… Esse é o meu descanso.
E como é a relação com o público de Brasília?
É maravilhosa. Faço show aqui desde o início da minha carreira, e adoro o clima como um todo. O clima da cidade, do público… Fiz até música em homenagem. Não é brincadeira, não.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
Show Estação da Luz, de Alceu Valença
Hoje, a partir das 18h no Na Praia (Concha Acústica, Orla do Lago Paranoá). Ingressos: R$ 161 (inteira) e R$ 81 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 16 anos.