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"Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar" Thássya Silva, com a amiga Jeniffer Moreira
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Sol a pino e nenhuma nuvem no céu. A imagem, combinada com a baixa umidade, tem sido a realidade dos brasilienses. O Distrito Federal completa hoje 109 dias sem chuvas e, na tarde de ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou o dia mais quente do ano na capital, quando os termômetros chegaram aos 35,7ºC no Gama — no Plano Piloto, a temperatura chegou a 34,1ºC (veja Dia quente). O meteorologista Olívio Bahia explica que, com a aproximação da primavera — a nova estação começa em 23 de setembro —, o Sol passa do Hemisfério Norte ao Sul, ficando diretamente sobre a linha do Equador. “A gente recebe muita radiação solar e, como não há nuvens, ela chega diretamente na superfície terrestre, sem filtros, e reaquece o ar”, explica.
De acordo com o especialista, há chances de chuva para a próxima semana “A umidade até tem subido, mas, mesmo quando alcança os 18%, a gente não sente, porque as temperaturas estão muito altas. Isso pode mudar a partir do dia 24”, avalia. Até lá, a população precisa recorrer a alternativas para para aguentar a estiagem (leia Cuidados com a saúde).
No caso da estudante Jeniffer Moreira, 18 anos, água de coco e açaí são uma boa saída. Ontem, ela e duas amigas reuniram-se em um quiosque do Parque da Cidade para se refrescar. “Está péssimo, mas eu acho que passei mais calor em Brasília em outras vezes”, pondera. O trio estuda em Taguatinga e, depois da aula, pegou um ônibus até o Centro de Convenções Ulysses Guimarães para participar de um evento. “Quando saímos, sentimos aquele mormaço e precisamos vir tomar alguma coisa”, conta Andreza Siqueira, 17 anos.
Elas contam que, na hora de enfrentar as altas temperaturas, vale tomar dois banhos e até deitar no chão para se resfriar. “Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar. O nariz parece que vai sangrar, e a cabeça dói”, reclama a estudante Thássya Silva, 16. As jovens mal podem esperar pela volta do tempo frio. “A paisagem está amarelada e, a toda hora, tem uma nova queimada”, destaca Thássya.
Mas o clima não desanima quem gosta de fazer exercícios. Sonhando em emagrecer antes do início do verão, a bancária Gisele Lima, 36, mantém a disciplina de um atleta e, pelo menos três vezes por semana, calça o tênis e corre 5km. “Nessa época, tem de ter boa vontade, tomar coragem e ir mesmo”, afirma. “Neste ano, o calor está castigando mais do que o normal”, avalia.
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Desde o início da seca, o pôr do sol na capital federal rende belas imagens, como essa na Torre de TV
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Proteção
Para fugir do Sol, há quem recorra às sombras das árvores e a chapéus. Aqueles que trabalham na rua tomam ainda mais cuidado. Maria dos Anjos, 60, vendedora ambulante há 19, é uma delas. “A gente tenta se proteger com filtro solar, guarda-sol e boné. Venho sempre com calça e blusa comprida, mas ainda não é suficiente”, lamenta. Dormir também não tem sido fácil. “À noite, só com ventilador ligado. Apenas a janela aberta não resolve”, reclama.
Gil Rodrigues de Araújo, 66, vende estatuetas na Praça dos Três Poderes. Na profissão de ambulante há 20 anos, ele ressalta a importância da hidratação. “Eu bebo 2 litros de água só pela manhã e bebo ainda mais à noite. E sempre reforço com meus colegas a importância da água.” Ele acredita que, a cada ano, a cidade fica mais quente. “Brasília não era assim”, diz.