Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quinta, 30 de julho de 2020

COBRA NAJA: PRESO PEDRO HENRIQUE, SUSPEITO SOB INVESTIGAÇÃO

Jornal Impresso

Preso sob suspeita de tráfico
 
Pedro Henrique Lehmkuhl, o jovem picado por uma naja, foi detido por suposto envolvimento em associação criminosa de venda de animais exóticos e silvestres. Ministério Público afirma que ele exercia medicina veterinária ilegalmente

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 30/07/2020 04:00

Pedro Henrique está preso, temporariamente, na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), onde deve ficar, pelo menos, até domingo (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Pedro Henrique está preso, temporariamente, na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), onde deve ficar, pelo menos, até domingo

 

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) finalizou mais uma etapa da operação que ganhou repercussão em todo o Brasil. Na manhã de ontem, Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmkuhl, de 22 anos, picado por uma naja kaouthia, em 7 de julho, foi preso no apartamento onde reside com a família, no Guará 2. O estudante de medicina veterinária é investigado por integrar um esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres. O amigo dele Gabriel Ribeiro de Moura, 22, também está detido por tentar ocultar provas e atrapalhar as diligências. Os dois estão presos, temporariamente, na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) na Carceragem da PCDF. 
 
O suspeito chegou a ficar internado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. Ele recebeu soro antiofídico do Instituto Butantan, em São Paulo, por causa da picada da naja — uma das cobras mais venenosas do mundo, originária da Ásia. Relatórios obtidos pelo Correio revelam que, supostamente, Gabriel estava com o jovem no dia do ocorrido e que, após o incidente, teria tentado ocultar outras 16 serpentes, que pertencem a Pedro Henrique, no Núcleo Rural de Planaltina, incluindo a naja. Câmeras de segurança do condomínio onde o estudante mora também registraram o momento em que o padrasto dele, o tenente-coronel da Polícia Militar Clóvis Eduardo Condi deixa o local carregando algumas caixas de cobras. Há suspeita de que o militar possa estar envolvido com o grupo que vende animais exóticos e silvestres. 
 
Após receber alta em 13 de julho, Pedro Krambeck não prestou depoimento à polícia, pois estava de atestado médico. A previsão era de que ele comparecesse à delegacia apenas no início de agosto. Contudo, a 1ª Vara Criminal do Gama expediu o mandado de prisão temporária. A Justiça constatou indícios de que o estudante e outros investigados formariam uma associação criminosa responsável, entre outras condutas, pela destruição de provas relacionadas aos crimes ambientais apurados pela autoridade policial. Pedro chegou a receber multa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) em R$ 61 mil por criar ilegalmente animais exóticos, por maus-tratos e por dificultar a fiscalização da polícia. 
 
Ofensas
Uma equipe do Instituto de Medicina Legal (IML) acompanhou a operação da 14ª DP para verificar o estado de saúde do acusado. Ao chegar na delegacia, Pedro demonstrou irritação com os profissionais da imprensa e reproduziu um gesto obsceno aos jornalistas. Ele assinou um termo circunstanciado de ocorrência pelo ato. O jovem permaneceu por mais de duas horas na unidade policial, mas não prestou depoimento. O advogado de defesa esteve no local, mas preferiu não se manifestar. 
 
Por volta das 12h de ontem, Pedro foi transferido à DCCP, onde ficará, pelo menos, até domingo — prazo da prisão temporária. A Justiça pode, no entanto, pedir a prorrogação da prisão temporária e, inclusive, convertê-la em preventiva. Caso isso ocorra, o estudante será encaminhado ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde ficará lotado, por 14 dias, no Centro de Detenção de Provisória II (CDP II), unidade onde os detentos recém-chegados ficam para o cumprimento da quarentena.
 
Atuação ilegal
A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (Prodema), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), se manifestou a favor da prisão de Pedro Henrique Krambeck. Segundo os promotores, além da suspeita de participação do jovem em esquema criminoso de tráfico de animais silvestres e exóticos, ele também estaria exercendo ilegalmente a atividade de medicina veterinária.
 
 Em informações divulgadas pelo MPDFT, o estudante aparece em vídeos e em fotos realizando procedimento cirúrgico em uma serpente. O órgão explica que tem acompanhado de perto o inquérito policial no qual teve acesso a elementos-chaves da investigação. 
 
Procurada pelo Correio, o Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac), instituição onde Pedro estuda, informou que criará uma comissão interna para apurar o suposto envolvimento dele no esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres. A faculdade esclareceu, ainda, que a “a Uniceplac e a coordenação do curso de medicina veterinária não tinham conhecimento da posse ilegal de serpentes ou de quaisquer outros animais silvestres entre alunos”. 
 
Em um documento obtido pelo Correio, uma testemunha  da faculdade afirmou, em depoimento aos policiais, que Pedro Henrique comprava e vendia animais exóticos desde 2019. Nas redes sociais, o jovem exibia as serpentes em fotos, incluindo a naja. Em uma das publicações, o suspeito chegou a escrever: “Dinheiro bem gasto é na compra de répteis”.

Correio Braziliense quarta, 29 de julho de 2020

RENATO BARROS SE ENCANTOU: O LÍDER DOS BLUE CAPS PARTIU ONTEM, 28 DE JULHO, AOS 76 ANOS DE IDADE

Jornal Impresso

Uma triste despedida
 
 
O mundo da música e do jornalismo esportivo perdeu dois grandes nomes. Renato Barros, da clássica banda Renato e seus Blue Caps, por complicações cardíacas; e o apresentador Rodrigo Rodrigues, por covid-19

 

Publicação: 29/07/2020 04:00

Renato Barros deixou um legado musical que influenciou gerações
 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 9/11/03)  

Renato Barros deixou um legado musical que influenciou gerações

 

 
 
O cantor Renato Barros, líder da banda Renato e Seus Blue Caps, ícone da jovem guarda, morreu ontem, aos 76 anos, em decorrência de complicações pulmonares após uma delicada cirurgia cardíaca. O músico estava hospitalizado há 10 dias no Hospital das Clínicas de Jacarépaguá (RJ). Na semana passada, Renato passou por uma cirurgia de dissecção da aorta, com 7h de duração, após a qual foi parar na UTI e não resistiu.
 
Cantor e guitarrista, Renato fez nome na época da Jovem Guarda e emplacou diversos sucessos, principalmente com versões em português de hits do rock internacional, de bandas como Beatles, e The Mammas and the Papas, em músicas como Menina linda e Não te esquecerei.
 
A banda de Renato começou em 1959, com o nome de Bacaninhas do Rock da Piedade, formada por ele e os irmãos Ed Wilson e Paulo César Barros. O grupo bebia na fonte do rock praticado nos anos 1950 por nomes como Elvis Presley, Little Richard e Bill Halley.
 
Começaram se apresentando em programas de rádio, fazendo cover dos grandes sucessos, algo comum na época. Depois, juntaram-se aos irmãos os amigos Euclides (guitarrista) Gélson (baterista) e o saxofonista Roberto Simonal (irmão do cantor Wilson Simonal). Em breve, por sugestão de Jair de Taumaturgo, mudariam o nome para Renato e seus Blue Caps, inspirados pela banda de rockabilly Gene Vincent and his Blue Caps.
 
Em 1960, gravaram como banda de acompanhamento de outros artistas. Algum tempo depois, participaram do Programa do Chacrinha e foram contratados pela gravadora Copacabana, com a qual lançaram dois discos de 78 rotações e dois LPs, o segundo com um novo baterista, Toni. Em 1962, Ed Wilson deixa a banda para seguir carreira solo e Erasmo Carlos assume a função de crooner do conjunto. Em 1963, a banda acompanhou Roberto Carlos nas gravações de Splish splash e Parei na contramão, onde começa o vínculo da banda com a CBS, que os contrataria posteriormente.
 
Foi durante as gravações do primeiro LP junto à CBS que Renato compôs o sucesso Menina linda. O apresentador Carlos Imperial pediu para que os músicos tocassem uma música até então desconhecida, I should have known better, dos Beatles, que ainda não haviam estourado no Brasil, no programa dele. Inábil com a língua inglesa, e desconhecendo totalmente o sentido da letra, Renato resolveu escrever a própria versão da música, o que se tornaria um sucesso e marca registrada do grupo. No fim de 1965, a banda passou a participar do programa Jovem Guarda e se consolidar como ícones da juventude.
 
“Toque direito aí no céu, viu, meu amigo Renato Barros?! Tenho orgulho de ter sido um Blue Cap em 1962...Meu rock n’roll está triste”, escreveu Erasmo Carlos nas redes sociais. “Renato, da banda Renato e seus Blue Caps nos deixa no dia de hoje, contudo seu legado é imortal, grande compositor e guitarrista, de ética e conduta absolutamente íntegra. Aos familiares e amigos meus sentimentos”, homenageou Mário Frias, secretário de Cultura do governo federal.
 
“Hoje tá muito difícil de lidar. Renato Barros faleceu aos 76 anos, muitos deles dedicados ao rock brasileiro. Nas minhas lives, sempre toco a versão Menina linda deles. Hoje, tem jam-session no céu com meu amigo Rodrigo Rodrigues”, postou Thunderbird.
 
Nota do Editor:
 
VÍDEO COM RENATO E SEUS BLUE CAPS
 

Correio Braziliense terça, 28 de julho de 2020

NOVOS NOMES NO R&B

Jornal Impresso

Novos nomes do R&B
 
Com concentração no Rio de Janeiro, uma nova geração do estilo musical surge, alcançando alto número de streamings nas plataformas digitais

 

» Lucas Batista*

Publicação: 28/07/2020 04:00

 
 
Estilo musical que mistura elementos do jazz, blues, pop, rap, funk e soul, o R&B se popularizou na cultura estadunidense a partir de 1940. Nomes como Lauryn Hill, Marvin Gaye, Lionel Richie, Alicia Keys, Beyoncé, Bruno Mars, Chris Brown e Usher ajudaram a impulsionar o ritmo com vários sucessos.
 
No Brasil, o R&B deu os primeiros passos nas misturas musicais de Tim Maia, Jorge Ben Jor, Sandra de Sá e Djavan. Próximos do rap, os cantores Luccas Carlos e Filiph Neo se tornaram referência no estilo.
 
De semente em semente, plantou-se uma nova geração. Com influência da música preta e do gospel, cantores jovens tiveram crescente em número de streamings nas plataformas digitais, mostrando maturidade nas produções e composições, mesmo com pouco investimento de gravadoras.
 
No Rio de Janeiro, o estilo está mais imponente. Budah, Anchietx, Isadora, Kiaz, Filipe Papi e o duo Yoùn chegaram com o pé na porta e, apesar do pouco tempo de carreira, alcançam números impressionantes.
 
Em Brasília, o estilo amadurece e ganha força, mas esbarra na falta de apoio. Hodari, Mikuym, Flip Gonzalez, Bwayne, Triste Josh, Israel Paixão, Shara, Preto Nuvem, Vix Russel, Kel e Moara, são grandes talentos que estão em busca de espaço. “Brasília é uma terra frutífera, tem um potencial grandioso, mas a cidade não dá muito espaço. O público da capital compra mais o que vem de fora, do que o que é produzido nela. Então, acredito que a cidade tem ótimas sementes, mas ainda não colhe bons frutos. Quando a cidade der mais apoio, teremos grandes árvores”, avalia o guitarrista e cantor Hodari.
 
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
 
 ( Gabriel Pinheiro/Metvmorphosis/Divulgação)  
Yoùn
 
O duo formado por Alisson Jazz e GP tem músicas que são ótimas opções para dedicar à pessoa amada. O Yoùn é fruto da amizade dos dois músicos, que iniciou ainda no ensino médio. Tendo formação musical vinda da igreja, GP e Alisson se aventuraram no universo dos vagões de trem e metrô do Rio de Janeiro e desde lá já conquistaram público. “Quando trabalhamos na rua, não vislumbrávamos carreira, até porque a vontade de comer e dar um rolê eram maiores que o sonho, porque já era distante. Trabalhar na rua parece simples, mas vimos que era um trabalho e que era necessário aprender”, explica Alisson em entrevista ao Correio. O plano de carreira surgiu conforme o duo foi se aprimorando, recebendo feedbacks dos ouvintes, até que chegou à produtora Jont! Music. Em um ano, o canal do duo foi de zero a 35 mil inscritos, alcançando 2 milhões de visualizações no YouTube, o que fez com que fossem convidados a gravar um EP para o YouTube Music Night. A excelência do trabalho parte do princípio de que os artistas compõem as músicas que gostariam de ouvir. “O feedback da rua era impressionante, então a gente tinha certeza que o nosso trabalho era bom”, afirma GP. “A nossa sonoridade é diferente e sabíamos que ia bater no coração das pessoas, assim como se outro artista de R&B fizer um bom trabalho sei que vai tocar o meu, porque carecemos disso”, completa Alisson.
 
 (Danielly Oliveira/ @oidaann)  
Filipe Papi
 
Diretamente de São Gonçalo, Filipe Papi encantou ao cantar uma composição autoral nas redes sociais. “Escrevi uma letra, em uma época que estava naquele período difícil de fim de relacionamento, e postei no Twitter. Tive uma boa repercussão que me gerou contatos que até hoje me acompanham, como o selo Crivo, que gerencia minha carreira”. Prestes a lançar o novo EP intitulado Vênus, que terá quatro canções e conta com participações do rapper Coruja BC1 e de Budah, o artista ainda se destacou com a música Deja Vú que ultrapassou as 150 mil visualizações no YouTube, no canal da Warner Brasil. “É importante ocupar esses espaços de grandes produtoras internacionais. Foi um grande passo na minha carreira, sou de São Gonçalo, que é uma cidade grande, mas que ainda não tem muitas referências artísticas e eu de certa forma sempre senti falta disso na minha trajetória. Desde então, comecei a ser reconhecido na rua e isso é muito gratificante”, conta.
 
 (André Dantas/Divulgação)  
Budah
 
Com voz potente, Budah chegou ao R&B de forma natural. “Música sempre foi algo muito presente na minha vida, na minha família, então sempre escutei muito black music, com o passar os anos e desde eu comecei a fazer música já era natural que eu fizesse R&B por conta das influências na infância. O estilo representa quase tudo para mim, todas as músicas que eu escutava e que fizeram eu entender que eu sabia cantar, eram R&B, então eu sei que tudo que eu aprendi, sozinha e cantando, foi com esse gênero. Eu sou muito grata, talvez minha vida fosse diferente hoje”, recorda. A artista alcançou a marca de 600 mil visualizações no clipe do single Licor e se prepara para o lançamento do primeiro EP da carreira, previsto para agosto. “Eu acho incrível o poder que a música tem de se levar para qualquer lugar ou pessoa, e essa canção foi um divisor para minha carreira”, diz a cantora que ainda destaca o crescimento do estilo. “Artistas independentes estão batendo milhões sem ter nenhum tipo de investimento, acho isso incrível. A gente só precisa que as gravadoras entendam que o hip-hop também dá dinheiro, depois disso, tudo mudará”, completa.
 
 (Yva Santos/Divulgação)  
Hodari
 
O brasiliense Hodari estourou nas plataformas digitais com a música Teu popô, lançada em 2018 e que chegou a 4 milhões de visualizações. A música rendeu uma nova versão homônima no projeto Poesia Acústica, com parcerias de Ducon, Chris, Kayuá, Don L, Luccas Carlos e Maria. Sucesso, a canção passou das 55 milhões de views no YouTube. Antes do sucesso, cantor já foi guitarrista em uma banda Emo e tatuador no DF. Apesar das influências no estilo, o artista prefere não se rotular a apenas um ritmo musical. “Eu tenho referências no R&B, mas me vejo como um pesquisador de música preta e meu som abrange vários ritmos, é basicamente um aglomerado de música preta”, conta. Para o artista, a capital federal possui uma infinidade de talentos para o R&B, mas que ainda precisam de valorização. “Muitas vezes temos que criar o cenário para podermos nos apresentar. Eu mesmo tive que criar um evento onde se apresentaram vários talentos que ainda são poucos conhecidos”.
 
 (Ricardo Brunini/Divulgação)  
Isadora
 
Com formação em música erudita, a eclética cantora carioca Isadora se aproximou do R&B quando iniciou carreira autoral. A artista, que já participou do programa de televisão The Voice Brasil, se encontrou no estilo pela mistura de gêneros musicais. “Participei do The Voice com 19 anos, hoje estou com 25, então já cantei muito em bares e casas noturnas, mas sempre cantando um pouco de tudo, atendendo a demandas. Quando parti para a música autoral precisei me direcionar e o R&B foi o que mais me identifiquei justamente por essa fusão de elementos”, relembra. O mais novo single da cantora, Caso raro, feito em parceria com Josefe, passou das 30 mil visualizações no YouTube e faz parte do primeiro EP de R&B autoral da artista. “É um trabalho que está ficando muito lindo. Vi o Josefe em destaque em uma playlist no Spotify e quis muito trabalhar com ele. Acabou que no single ele canta, mas o Josefe fez a produção musical de todo o trabalho”, adianta.
 
 (Felipe Alberto/Divulgação)  
Kiaz
 
Kiaz se tornou um nome forte do estilo graças ao talento e aos números impressionantes que alcançou. O cantor que iniciou a trajetória na música aos 11 anos, conheceu o R&B aos 17 e logo se identificou. Ao Correio, o artista contou que a grande influência que tem nas composições é o pagode. “O pagode e o R&B flertam muito. Eu escrevo as músicas com o violão e as imagino em pagode, depois eu e meu produtor adaptamos o beat para o R&B.” A fórmula funciona e o artista conta com mais de 530 mil ouvintes mensais, de acordo com o Spotify. No YouTube não é diferente, a canção Pode ficar está próxima de 9 milhões de visualizações no videoclipe. O artista acredita que o estilo ainda é underground, mas que em breve chegará ao mainstream. “Do fim desse ano até o ano que vem, o R&B estará em alta já, porque estão surgindo muitos artistas e outros grandes nomes estão retornando. Agora as pessoas vão entender o que é o estilo porque muitos confundem com love song, mas no futuro vão saber reconhecer”, analisa.
 

Correio Braziliense segunda, 27 de julho de 2020

OLIVIA DE HAVILLAND SE ENCANTOU: AS 104 ANOS, EXPIROU ENQUANTO DORMIA

Jornal Impresso

Morre atriz Olivia de Havilland, aos

104 anos

Vencedora de dois Oscar, Olivia de Havilland

morreu de causas naturais enquanto dormia

Dona de duas estatuetas do Oscar e atriz de E o ventou levou, a última representante de uma clássica geração de Hollywood teve a vida marcada por concorrência com a irmã.

 


 
 

 

Olivia de Havilland era representante da Era de Ouro em Hollywood(foto: AFP / Patrick KOVARIK)
Olivia de Havilland era representante da Era de Ouro em Hollywood
(foto: AFP / Patrick KOVARIK)

 

Morreu neste domingo (26/7) a atriz Olivia de Havilland, aos 104 anos. Segundo informações da imprensa americana, ela faleceu de causas naturais, enquanto dormia, em Paris.
 
 
 
 
Olivia de Havilland fez parte da chamada Era de Ouro do cinema americano. Ela ganhou o Oscar duas vezes, pelas performances em Só resta uma lágrima (1946) e Tarde demais (1949). Entre outros papéis de destaque, Olivia viveu Melaine em ...E o vento levou (1939) e participou de títulos como A porta de ouro (1941) e Na cova da serpente (1948).
 
Além do talento, Olivia ficou marcada pela militância pelo direito dos artistas. Ela participou do grupo de profissionais que exigiu que a indústria cinematográfica permitisse que atores escolhessem os papéis que interpretariam. Antes, eram os estúdios que decidiam isso.
 
A atriz nasceu em 1º de julho de 1916 em Tóquio e viveu em Paris desde o início dos anos 1950. Ela foi casada duas vezes - primeiro com o autor Marcus Goodrich, de 1946 a 1953, e depois com o jornalista Pierre Galante, editor da revista francesa Paris Match. 

 


Correio Braziliense domingo, 26 de julho de 2020

TRABALHO VOLTA A CRESCER EM MEIO À CRISE PROVOCADA PELA PANDEMIA

Jornal Impresso

Trabalho volta a crescer em meio à crise

provocada pela pandemia

Dados do Caged mostram que a ocupação

intermitente voltou a crescer em meio à reabertura

das atividades comerciais. Em restaurantes, que costumam pagar somente as horas

efetivamente trabalhadas, instabilidade da

relação mais flexível preocupa entidades trabalhistas


postado em 26/07/2020 07:00 / atualizado em 26/07/2020 07:31
 

 

(foto: Honorio Moreira/OIMP/D.A Press)
(foto: Honorio Moreira/OIMP/D.A Press)

 

Criado na reforma trabalhista de 2017, o contrato de trabalho intermitente voltou ao radar dos empresários brasileiros em meio à flexibilização da quarentena. É que esse tipo de contrato permite que as empresas chamem os funcionários apenas quando há demanda e, por isso, paguem somente as horas efetivamente trabalhadas. É uma relação mais flexível de trabalho, que, para muitos executivos, parece se adequar a esse momento em que é preciso reabrir as portas, mas com muita cautela em relação à retomada econômica e à pandemia do novo coronavírus. E que, por isso, é o primeiro dado do mercado de trabalho brasileiro a apresentar alguma reação após a covid-19.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil perdeu 331,9 mil postos de trabalho formais em maio (último dado disponível) devido à crise econômica do novo coronavírus. E esse fechamento foi praticamente generalizado. Nos contratos intermitentes, contudo, 2,4 mil vagas foram criadas nesse período. Por isso, por mais que tenha seguido o choque da covid e fechado o mês anterior no vermelho, essa modalidade de trabalho acumula um saldo positivo de 16 mil vagas no ano. “É um número pequeno em relação ao estoque de emprego formal, mas mostra que o intermitente registrou uma situação um pouco melhor na pandemia”, observa o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Daniel Duque. E muitos empresários dizem que esse número tende a crescer nos próximos meses, sobretudo, no setor de comércio e serviços, que trabalha sob demanda.
 
 

“O contrato intermitente permite que o estabelecimento ajuste a mão de obra aos horários de maior demanda. E deve ser uma opção agora, já que muita gente acabou sendo demitida durante a pandemia e a retomada precisa ser muito cautelosa, sem muitos custos”, diz o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci. “Há muita incerteza sobre a retomada, se o movimento vai voltar logo ou se virá de forma gradual. Além disso, temos uma limitação física de 50% dos espaços. Isso por si só inibe a realização de novos contratos integrais. E até os trabalhadores estão em uma situação delicada, porque muitos foram demitidos. Sendo assim, é melhor trabalhar dois ou três dias na semana a ficar parado. Então, parece que chegou o momento adequado para tratar disso”, reitera o presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Sindhobar), Jael Silva.

Foi o que aconteceu no restaurante coordenado pela diretora comercial Juliana Britto. Ela conta que os contratos intermitentes foram a saída encontrada pelo estabelecimento para reabrir as portas esta semana. Isso porque, após quatro meses fechados, o estabelecimento demitiu metade dos seus funcionários e segue com o orçamento apertado para recontratar esse pessoal. Por isso, agora, decidiu chamar alguns garçons de forma intermitente para poder avaliar o movimento dos primeiros dias de reabertura. E eles logo aceitaram o chamado, já que estavam há um bom tempo sem trabalhar de maneira formal. “Começamos com os intermitentes 15 dias antes da pandemia. Na quarentena, nós fechamos e eles receberam o auxílio do governo. E, agora, estamos começando a chamá-los de volta. Não pretendemos abrir novas vagas de emprego nem tão cedo. Então, havendo necessidade, vamos chamar os intermitentes”, explica Juliana, que paga aos garçons o mesmo valor da hora de trabalho dos demais profissionais do restaurante. “Inclusive, as gorjetas”, conta.

 


Correio Braziliense sábado, 25 de julho de 2020

87% DOS MORTOS POR COVID-19 NO DF TINHAM OUTROS MALES - VEJA OS MAIS PERIGOSOS

Jornal Impresso

87% dos mortos por covid no DF

tinham outros males; veja os mais

perigosos

Quase 90% das pessoas mortas por complicações

da covid-19 no Distrito Federal apresentavam doenças

preexistentes. Especialistas alertam que o tratamento

e o controle dessas enfermidades podem evitar óbitos

de pacientes

 


postado em 25/07/2020 07:00 / atualizado em 25/07/2020 02:47
 

 

O morador da Asa Norte Joel Carreiro dos Santos, 64 anos, superou a covid-19, mesmo tendo diabetes:
O morador da Asa Norte Joel Carreiro dos Santos, 64 anos, superou a covid-19, mesmo tendo diabetes: "Graças a Deus,
o meu quadro evoluiu bem"(foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Desde o primeiro caso confirmado da covid-19 no Distrito Federal, em 5 de março, mais de mil brasilienses morreram devido à doença. Além disso, a quantidade de infecções, que cresce diariamente, ultrapassa os 90 mil registros. Dados da Secretaria de Saúde mostram que quase 90% das vítimas do novo coronavírus da capital tinham doenças preexistentes, que complicaram o quadro clínico dos pacientes. Cardiopatas e acometidos por distúrbios metabólicos, como a diabetes, são os que mais vieram a óbito. Especialistas ouvidos pelo Correio explicam como o vírus age em conjunto com essas enfermidades e que o controle e o tratamento delas podem evitar mortes.


(foto: -)
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O Distrito Federal atingiu a marca de 1.133 pessoas mortas pela covid-19 ontem. Dos óbitos registrados, 992 tinham comorbidades, ou seja, 87,6% das vítimas da capital apresentavam doenças preexistentes. A mais comum, segundo monitoramento da Secretaria de Saúde, é a cardiopatia. No total, 701 pacientes que perderam a vida para a covid-19 tinham a enfermidade. Em seguida, estão distúrbios metabólicos (447), pneumopatia (173) e obesidade (130).
 
 
 
André Moraes Nicola, médico e professor de imunologia médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que o coronavírus pode agir diretamente em outras partes do corpo, além dos pulmões. “O vírus tem uma ação direta de infectar as células e atrapalha o funcionamento de outros órgãos. Caso eles estejam doentes, aumentam as chances de eles pararem de funcionar. É o caso de enfermidades cardíacas e pulmonares”, detalhou.
 
Segundo o especialista, outro motivo que pode provocar a morte de pacientes é a inflamação. “O que mata não é o dano que o vírus causa, mas a resposta do sistema imune, que provoca dano no pulmão e leva a pessoa à morte”, explicou. O médico acrescenta que algumas doenças causam o aumento desse fator no corpo, como a diabetes. “Um diabético tem um nível de inflamação que pode aumentar as chances de a pessoa ter uma resposta muito forte contra a covid-19, o que causa complicações”, alertou.
 
Nicola comenta que estudos sugerem condições como hipertensão e doenças cardíacas como capazes de aumentar a produção de uma proteína na célula, que é receptora do vírus. “Devido a esse fator, a covid-19 consegue entrar mais rapidamente. É como se fosse uma fechadura em que a chave do vírus se encaixa para entrar na célula”, exemplifica.
 

Idade

Outro fator de risco para o novo coronavírus é a idade. No Distrito Federal, 823 pessoas — 72% do total de óbitos — tinham mais de 60 anos. O grupo etário que mais registrou mortes é o de pessoas com mais de 85 anos (181). O segundo lugar revela-se de pacientes entre 80 e 84 anos (140), e o terceiro, entre 75 e 79 (138). No total, 62 pessoas com menos de 39 anos faleceram por complicações da covid-19.
 
O parasitologista do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Jaime Santana explica que crianças, adolescentes e jovens adultos, dificilmente, têm problemas com o novo coronavírus. De acordo com ele, a covid-19 é uma doença inflamatória e, como qualquer processo desse tipo, o corpo começa a produzir substâncias para destruir o agente invasor e o ambiente onde ele está. “Essa reação natural é importante, porque passa uma informação ao sistema imune para a produção de anticorpos. É como se fosse uma vacina”, comentou.
 
Entretanto, segundo Jaime, quanto mais avançada a idade, mais processos inflamatórios são encontrados no corpo: as placas de gordura vão se depositando nas placas de artérias e veias, como no coração e nos pulmões. “Esse processo ocorre a partir dos 30 ou 40 anos e vai se agravando. Por exemplo, pessoas entre 70 e 80 anos têm vasos sanguíneos muito entupidos. Quando chega o coronavírus, ele provoca outra reação inflamatória no corpo humano, o que gera uma exacerbação, que pode comprometer os órgãos”, salientou.
 
Devido a esses riscos, o parasitologista alerta que pessoas com comorbidades devem tratar bem essas doenças. “Apenas evitar a infecção do coronavírus pode não ser o ideal, porque ela pode acontecer a qualquer minuto. As pessoas precisam se preparar e procurar atendimento médico e seguir as orientações”, aconselhou. Segundo o especialista, quanto maior o cuidado com as enfermidades preexistentes menos receptivo o paciente será ao coronavírus.
 

Superação

 
Apesar de ter diabetes e estar no grupo etário considerado de risco para o novo coronavírus, o morador da Asa Norte Joel Carreiro dos Santos, 64, superou a doença. Em 7 de maio, ele deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com sintomas da covid-19. “Antes de receber o diagnóstico, o protocolo usado foi o do tratamento de pneumonia. Quando testei positivo, fui para a ala específica. Precisei ficar nove dias internado e de oxigênio em um deles. Graças a Deus, o meu quadro evoluiu bem e fui para a UTI (unidade de terapia intensiva)”, lembrou.
 
Joel conta que precisou ajudar o irmão dele, de 70 anos, também acometido pela doença. Dias depois, ele começou a sentir os sintomas. “Tive dores no corpo, perdi o apetite e, em seguida, começou a febre. O primeiro exame de coronavírus deu negativo e chegaram até a suspeitar de dengue”, contou. Apesar de ter superado a doença, Joel relata que continua tomando cuidados. “A gente não sabe se está imune, então, precisa continuar preservando a saúde. Fui muito bem tratado no hospital e agradeço a Deus por essa bênção”, ressaltou.
 

Risco

 
São doenças que podem levar ao aumento de risco de problemas cardiovasculares. Pressão alta, alterações no colesterol, triglicérides e glicemia são alguns exemplos dessa síndrome.

 


Correio Braziliense sexta, 24 de julho de 2020

COBRAS: DE TRÁFICO A LICENÇAS SUSPEITAS

Jornal Impresso

COBRAS 

De tráfico a licenças suspeitas
 
Testemunha ouvida pela polícia afirma que Pedro Henrique comprava e vendia cobras. Servidora do Ibama é investigada por conceder, ilegalmente, documentos para o transporte de animais a pessoas próximas, inclusive a amigo de estudante picado

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 24/07/2020 04:00

Adriana Mascarenhas concedia licenças para o transporte de animais silvestres e exóticos (Reprodução/Redes Sociais)  

Adriana Mascarenhas concedia licenças para o transporte de animais silvestres e exóticos

 


Uma suposta quadrilha formada por estudantes de medicina veterinária e servidores públicos é alvo do inquérito policial que apura um esquema de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres. O documento, ao qual o Correio teve acesso com exclusividade, revela que, uma das testemunhas ouvidas pela polícia, confirmou, em depoimento, que Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, de 22 anos, estudante atacado por uma naja, comprava e vendia cobras exóticas desde 2019.
 
Ontem, a Justiça Federal da 1ª Região acatou o pedido do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para afastar uma servidora suspeita de conceder, ilegalmente, licenças para o transporte de animais desse tipo. Os beneficiados eram pessoas próximas, inclusive Gabriel Ribeiro de Moura, 24, amigo de Pedro Henrique.

Segundo testemunha, Pedro Henrique comprava e vendia cobras exóticas desde 2019 (Reprodução/Facebook)  

Segundo testemunha, Pedro Henrique comprava e vendia cobras exóticas desde 2019

 

Desde a data do incidente, em 7 de julho, a 14ª Delegacia de Polícia (Gama) e o Ibama vêm deflagrando operações de buscas e apreensões nas casas dos suspeitos. Estima-se que Pedro Henrique esteja ligado há, pelo menos, 18 serpentes exóticas, entre elas a naja kaouthia. O suposto esquema criminoso teria suporte da mãe dele, a advogada Rose Meire Candido dos Santos, do padrasto, o tenente-coronel da PMDF Clóvis Eduardo Condi, e de outros três amigos de Pedro, incluindo Nelson Junior Soares Vasconcelos e Gabriel (preso na quarta-feira por atrapalhar as investigações e ocultar provas). Todos são estudantes de medicina veterinária e, conforme o Correio apurou, estudam na mesma faculdade, no Gama. A reportagem ligou diversas vezes para o escritório de Bruno Rodrigues, advogado de defesa da família de Pedro, mas ele não atendeu às ligações.
 
Em depoimento, um dos conhecidos de Pedro afirmou saber que o estudante mantinha cobras em casa e que o jovem comprava e vendia as serpentes. A testemunha relatou que Gabriel Ribeiro tinha ficado encarregado em esconder as cobras e completou ressaltando que os dois são “imaturos, mas articulados, descolados e, visivelmente, engajados com o tema de animais silvestres. A mãe e o padrasto de Pedro compareceram à delegacia em 16 de julho para prestar esclarecimentos. Documento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) mostra que os dois alegaram desconhecimento da existência da cobra na residência. O casal pagou uma multa no valor de R$ 17 mil por crimes ambientais.

A naja que picou o estudante Pedro Henrique está no Zoo de Brasília (Ivan Mattos/Zoologico de Brasilia)  

A naja que picou o estudante Pedro Henrique está no Zoo de Brasília

 

Envolvida
Há fortes indícios de que a servidora do Ibama afastada do cargo por determinação judicial esteja envolvida com os fatos investigados pela polícia relacionados à organização de tráfico internacional de animais silvestres. Adriana da Silva Mascarenhas é lotada no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) do órgão. Com base na decisão da Justiça, ela é acusada de conceder uma licença irregular a Gabriel Ribeiro, em 12 de fevereiro de 2019. O termo, assinado pela funcionária, autoriza a entrega de uma cobra jiboia-arco-íris, nativa do Brasil, ao jovem. Porém, ele não tinha autorização para criá-la.
 
O modelo de licença do Cetas segue as recomendações das Divisões Técnico-ambientais (Ditec). É comum, por exemplo, expedições de licenças para o transporte de animais silvestres que necessitam de atendimento veterinário externo, deslocamento entre unidades do Ibama e para a destinação, seja até a soltura no ambiente natural ou para um cativeiro legalmente admitido. Entre os locais aptos a receberem esses animais estão o Zoológico de Brasília e hospitais veterinários.
 
Fora isso, é vedada a autorização de licença para outros meios. No caso da servidora, o Ibama considerou que, além de violar gravemente a legislação de regência, ela demonstra a intenção em conceder o documento infringindo a norma legal, uma vez que, “à época dos fatos, era responsável pelo Cetas, possuindo larga experiência da função”.
 
Autorizações ilegais 
O Correio apurou que Adriana da Silva autorizou, também, a entrega de outras quatro cobras de espécie corn snake, dos Estados Unidos. As licenças foram emitidas em 13 de fevereiro de 2018 e em 19 de fevereiro de 2019, respectivamente. Ficou comprovado que a prática ilegal cometida pela servidora havia beneficiado pessoas próximas, como a manicure dela, que recebeu um mico-estrela, e a amiga do namorado, que conseguiu a autorização para a criação de dois papagaios.
 
Em declaração ao órgão, a manicure alegou que ela e Adriana são amigas e que o animal foi entregue como uma forma de ajudá-la no enfrentamento a uma depressão. No caso da outra mulher, a justificativa era a vontade de ter papagaios.
A servidora está afastada das funções até a conclusão das investigações. Ela está proibida de comparecer nas dependências do órgão, salvo para prestar depoimento em processo disciplinar, bem como o impedimento para acessar sistemas do Ibama. Na sexta-feira passada, o instituto afastou um outro funcionário, também lotado no Cetas,  por suposto envolvimento no caso da naja. Até o fechamento desta edição, a reportagem não havia localizado a defesa de Adriana Mascarenhas. O espaço está aberto para manifestação.
 
 
 
Serpente norte-americana 
 
Após ser um dos alvos da Operação Snake, deflagrada pela PCDF na quinta-feira passada, Nelson Júnior prestou depoimento na delegacia e afirmou que havia recebido uma serpente, corn snake, de presente.
 
 
Habeas corpus
 
» A advogada de defesa de Gabriel Ribeiro (amigo de Pedro Henrique), Amanda Bedaqui, informou à reportagem que entrou, ontem, com um pedido de habeas corpus. 
 
» O jovem está na carceragem da Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), onde ficam os presos provisórios. Ele deve permanecer no local até domingo.



Entrega de jiboia-arco-íris

Documento assinado por Adriana Mascarenhas, servidora 
afastada do Ibama, autoriza, irregularmente, entrega de uma cobra a amigo de Pedro Henrique  
Documento assinado por Adriana Mascarenhas, servidora afastada do Ibama, autoriza, irregularmente, entrega de uma cobra a amigo de Pedro Henrique

Correio Braziliense quinta, 23 de julho de 2020

RECHEANDO A ESTANTE DE CLÁSSICOS

 

Recheando a estante de clássicos
 
 
Obras de autores que marcaram a literatura internacional ganham reedições especiais

 

» Adriana Izel
» Victoria Côrtes*

Publicação: 23/07/2020 04:00

William Shakespeare (Editora Delta/Reprodução)  

William Shakespeare

 

 
Victor Hugo (Felix Nadar/Divulgação)  

Victor Hugo

 

 
Editora Petra/Divulgação (Editora Petra/Divulgação)  

Editora Petra/Divulgação

 

 
Algumas histórias no mundo da literatura ultrapassam as barreiras do tempo e conseguem dialogar com diferentes épocas, se tornando em clássicos. Ao longo dos anos, essas obras voltam a ser lançadas pelas editoras com novas traduções, tentando se aproximar ainda mais da versão original, ou ainda em edições especiais, com conteúdos inéditos e voltados para colecionadores.
 
Em comemoração aos 10 anos do Penguin Clássicos, da Companhia das Letras, está previsto para 25 de julho o lançamento de algumas grandes obras no formato de e-book, e posteriormente em versão física. Rei Lear, de Shakespeare, está à frente dos lançamentos. A obra, para a edição especial, foi traduzida por Lawrence Pereira, tradutor de Shakespeare e professor de literaturas anglófonas da Universidade Federal de Santa Maria ao longo dos últimos quatro anos.
 
Para Lawrence, que também já traduziu Hamlet, o maior desafio de uma obra “tão grande e riquíssima em termos teatrais” foi refazer a ideia da tradução, que já seguia uma linha predominante, até então. “É uma inovação. Em língua portuguesa, é a primeira edição de Shakespeare com comentários longos, com introdução... Então, tem um corpo maior. Permite uma leitura mais abrangente, desde o homem culto, até o público que não possui nenhuma ligação com Shakespeare”, conta o tradutor.
 
Rei Lear conta a história de um rei que decide se afastar do trono, e oferece às três filhas a oportunidade de dividirem o reino. Para ter certeza de que estava tomando a decisão certa, o rei possui uma exigência: a lealdade delas. Lear quer saber o quanto as filhas o amam. A filha mais nova declara não poder dizer em palavras o amor que sente pelo pai. Furioso, renega a caçula Cordélia. E apesar de a decisão ter sido tomada com a certeza do rei, o pai é traído pelas duas filhas mais velhas. Dessa forma, a obra se desenvolve pelos grandes desentendimentos dessa família.
 
Desde junho, duas outras obras históricas de William Shakespeare ganharam reedições, mas pela Editora do Brasil. São elas, as peças Hamlet e A megera domada, ambas com tradução de Fernando Nuno e ilustrações de Angelo Abu. A primeira, que disseminou o questionamento “ser ou não ser, eis a questão?”, traz a história do príncipe da Dinamarca, que vive o luto após a morte do pai e precisa entender como viver em meio aos sentimentos de vingança e de traição que o rodam. Já a segunda obra, que se popularizou no Brasil graças a uma adaptação novelesca O cravo e a rosa, acompanha a história das filhas de Battista que ele pretende casar: Bianca, uma doce e gentil menina, e Catarina, a “megera” que não quer o matrimônio.
 
Narrativas atemporais
 
O livro de Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho, Confissões é outra obra que ganha edição em box pela Editora Preta. A edição esmeralda traz o material dividido em dois volumes, com o prefácio inédito de Luiz Felipe Pondé e tradução de Frederico Ozanam Pessoa de Barros.
 
“Estamos tendo excelentes experiências com edições de box. São edições belíssimas. Como a gente já tinha a tradução de Confissões na casa não tinha por que perder uma grande oportunidade de colocar esse clássico com uma edição refinada. É um livro que tem presença obrigatória na biblioteca de qualquer um”, comenta Hugo Langone, editor da Petra.
 
Do fim dos anos 300 e início dos 400, a obra é considerada um marco na história da teologia e da filosofia e rememora a vida e as vivências de Agostinho até a conversão ao cristianismo, aos 33 anos de idade. Bem e mal e o encontro com Deus fazem parte das reflexões do pensador.
 
“Existe um consenso de que Confissões é, sobretudo, para a áreas de teologia, sociologia e filosofia um dos textos mais importantes da humanidade, em termo de influência. O que impressiona no livro é a gama de temas que ele toca”, analisa Langone. Para o estudioso de Santo Agostinho, autor do livro Chorar por Dido é inútil: Santo Agostinho, as Confissões e o manejo da literatura pagã, a obra também dialoga com o momento atual. “É bastante inspirador, um livro acessível a qualquer um. Há trechos-chave da vida dele, tem esse olhar de autobiografia, mesmo que na época não existisse esse termo exato. Além de falar desse homem, também é uma confissão da gente, fala por nós. Ele descobre muito sobre o coração humano, e isso é atemporal”, completa.
 
Outro clássico que volta às prateleiras é o drama romântico Os Miseráveis, que ganhou uma edição especial da Editora Nova Fronteira. Com dois volumes, o box traz a história escrita por Victor Hugo em 1862 que gira em torno de Jean Valjean, um homem que após ficar 19 anos presos pelo roubo de um pão busca construir uma nova vida na França. O protagonista consegue enriquecer e se dedica às causas sociais. A história se passa no século 19 e é um manifesto contra as injustiças. Na edição especial, a introdução é assinada por Carlos Heitor Cony, que faz uma análise da obra, com tradução de Casimiro L.M. Fernandes.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 
 (Penguin Companhia/Reprodução)  
Rei Lear
 
De William Shakespeare. Tradução: Lawrence Pereira. Editora Penguin Clássicos/Companhia das Letras, 320 páginas. Preço médio: R$ 29,90 (e-book).
 
 (Editora do Brasil/Divulgação)  
Hamlet
 
De William Shakespeare. Tradução: Fernando Nuno. Ilustração: Angelo Abu.  Editora do Brasil, 167 páginas. Preço médio: R$ 57,10.
 
 (Editora do Brasil/Divulgação)  
A megera domada
 
De William Shakespeare. Tradução: Fernando Nuno. Ilustração: Angelo Abu. Editora do Brasil, 157 páginas. Preço médio: R$ 56,10.
 
 (Editora Nova Fronteira/Divulgação)  
Os Miseráveis — Box com dois volumes
 
De Victor Hugo. Tradução: Casimiro L.M. Fernandes. Tradução revista: Eduardo Rosal e Jorge Bastos Cruz. Editora Nova Fronteira, 1.560 páginas. Preço médio: R$ 149,90 e R$ 84,99 (e-book).
 
 (Editora Petra/Divulgação)  
Confissões — Box com dois volumes
 
De Santo Agostinho. Tradução: Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Editora Petra, 496 páginas. Preço médio: R$ 89,90 e R$ 49,90 (e-book).
 

Correio Braziliense quarta, 22 de julho de 2020

MECÂNICA CANDANGA EM PRÊMIO MUNDIAL

Jornal Impresso

Mecânica de ceilândia em prêmio mundial
 
Em um ramo dominado por homens, Agda Óliver superou preconceitos e ganhou reconhecimento internacional com sua oficina automotiva. Ela é umas das dez finalistas do Empretec Women in Business Awards (E-WBA), promovido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad)

 

» ANA CLARA AVENDAÑO*
*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho

Publicação: 22/07/2020 04:00

 (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)

 

 

A empresária Agda Óliver, 40 anos, atua há 12 anos em um segmento predominantemente masculino, o das oficinas mecânicas. A dona da oficina Meu Mecânico, em Ceilândia, pode ser a primeira brasileira a vencer a premiação Empretec Women in Business Awards (E-WBA), da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
 
Agda é uma das dez finalistas da 7ª edição do E-WBA, previsto para ocorrer em dezembro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Além do Brasil, outros nove países estarão representados na cerimônia. A empresária do DF, no entanto, já se sente uma vencedora por alcançar a etapa definitiva da premiação. “Quando eu recebi um e-mail, em espanhol, me parabenizando por está entre as finalistas, fiquei enlouquecida, porque não é uma viagem que está dentro do meu orçamento financeiro. Então, para mim, só o fato de viajar e ser reconhecida internacionalmente é uma vitória”, conta Agda.

 (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)

 

 
O prêmio tem o objetivo de reconhecer o empenho de mulheres empreendedoras que transformam a comunidade onde estão inseridas com suas empresas e participaram do Seminário Empretec (metodologia que proporciona o acesso de empreendedores e demais interessados a atividades voltadas ao desenvolvimento do comportamento empreendedor e à identificação de novas oportunidades de negócio).
 
Natural do município mineiro de Arinos, Agda mudou-se para Brasília em 2000, buscando uma vida melhor. Ela trabalhou em postos de combustíveis, em hipermercados e bancos. A ideia de abrir uma oficina mecânica surgiu após a empresária levar um golpe de um estabelecimento. “Em 2008, comprei meu primeiro carro, levei a uma oficina, paguei por peças que não existam e serviços não realizados. Na época, fiquei muito triste e percebi que outras mulheres também passavam pelas mesmas situações constrangedoras. Eu sempre tive vontade de empreender, e, este acontecimento, deu início a todo o processo”, relembra Agda.

 (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)

 

 
A empresária está confiante. Devido ao sucesso e inovação do Meu Mecânico, Agda vê o E-WBA como uma conquista palpável. “Eu acredito que vou trazer o prêmio. Meu negócio é muito diferenciado, trabalho em uma área dominada por homens, emprego mulheres e as ensino a cuidar do automóvel”. De acordo com a finalista, é gratificante cuidar do próprio carro sem depender de ninguém. “É muito mais que dirigir, é ser independente, mas sem passar por cima de ninguém, e mostrar que temos o nosso espaço”, analisa Agda.
 
Além do público feminino — que representa cerca de 70% da clientela da Meu Mecânico —, Agda comemora que a oficina é referência na comunidade LGBTQIA+ e entre os idosos. “Essa procura ocorre por causa do nosso cuidado, de explicar bem o que estamos fazendo e mostrar peças. Logo, até mesmo as pessoas que não entendem muito bem do assunto ficam à vontade com nossos serviços”, avalia a empresária.

 (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)

 

 
Quando a oficina era um sonho, Agda, sem nenhuma experiência no mundo dos negócios, procurou o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e, aos poucos, viu a proposta se concretizar. Para alcançar a meta, ela se formou em gestão empresarial e sistemas de informações, mas não parou por aí, fez três pós-graduações (marketing em vendas, inteligência competitiva e docência de curso superior).
 
Segundo Agda, a inteligência emocional é, sem dúvidas, um fator importante para trabalhar no ramo automotivo. “Apesar das dificuldades, com esse artifício, nós conseguimos nos superar e, a cada dia, vencemos uma batalha. Nós, mulheres, conquistamos respeito e admiração. Existe muito preconceito, mas há muito mais apoio e isso nos dá força para continuar”, finaliza.
 
 
Conheça a oficina meu mecânico
 
meumecanicoweb.com.br
QNM 9, Conjunto H, Lote 3, Ceilândia
Telefone fixo: 3372-4784
WhatsApp: 8118-1027

Correio Braziliense terça, 21 de julho de 2020

LAUDENOR BERTO: O GOSTO DA VIDA!

Jornal Impresso

LAUDENOR BERTO
 
O gosto da vida!
 
 
Sem poder sentir o sabor de uma comida há 10 anos, se alimentando por meio de uma máquina, Laudenor Berto, 72 anos, come pela primeira vez depois de uma cirurgia no esôfago. Ontem, finalmente, ele pôde voltar para casa

 

ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 21/07/2020 04:00

Com a mulher, Maria Helena
 

Com a mulher, Maria Helena

 

 
 
 
 

 (Fotos: Arquivo Pessoal
Laudenor:  %u201CMeu sonho era poder voltar a comer%u201D
)

 

 
Para algumas pessoas, era só mais um dia de café da manhã de hospital, com mingau de milho e mamão amassado. No entanto, para o aposentado Laudenor Berto de Oliveira, 72 anos, cada colher de mingau representava a celebração “de uma história, que pode não ser bonita, mas é vitoriosa”, como define. Enquanto o pai desfrutava do “manjar”, sem encontrar palavras para descrever as emoções daquele singelo encontro, o filho mais velho, Marconi Amaral Berto, 43, se emocionava: “Cada colherada era uma lágrima”, relembra o empresário.
 
Na última quarta-feira, depois de mais de 10 anos dependente de uma máquina para se alimentar, Laudenor voltou a comer. “Meio difícil definir. Meu sonho era poder voltar a comer. Sei que outras etapas ainda precisam ser vencidas, mas é a certeza de que eu posso ser uma pessoa normal”, comenta.
 
O aposentado deixa para trás as dificuldades enfrentadas por ter o que é chamado pela medicina de megaesôfago, ou seja, um grave alargamento do órgão, e acalasia, que resulta de danos nos nervos do tubo alimentar. Enquanto estava hospitalizado, internado em uma semi-UTI para se recuperar de outra cirurgia, Laudenor lembrou, com os olhos brilhando e o sotaque pernambucano, quando recebeu a comida da unidade de saúde. “Fiquei dominado por aquela visão. Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo. A sensação de que comer é algo natural, que eu já tinha perdido”. Foi uma pequena colher de mingau de milho de hospital que pôs fim a um longo caminho de batalhas e, ao mesmo tempo, trouxe sorrisos vitoriosos, com direito à publicação nas redes sociais como símbolo da premiação e de uma nova história que se inicia. Ontem, Laudenor pôde finalmente voltar para casa.
 
Com os dois filhos, Giovani e Marconi
 

Com os dois filhos, Giovani e Marconi

 

 
Batalha
 
“Aquela primeira cirurgia, grande e difícil, foi o começo do nosso martírio e da nossa história”, define Marconi, ao voltar alguns anos na memória e lembrar da primeira operação do pai, após o diagnóstico. “A gente não entendia o que era, o que estava acontecendo”, completa. Foram 95 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Como precisou de traqueostomia, Laudenor não conseguia falar, nem se alimentar. Tampouco tinha força para alcançar um copo d’água. No hospital, o aposentado ainda enfrentou várias intercorrências.
 
Sempre cercado pelos filhos e familiares, por uma corrente de oração, “o tio queridão” derrotou um inimigo. Em casa, dependente da alimentação por uma sonda, ele chegou a pesar 35kg, sendo um homem de quase 1,80m. “Veio a fase da depressão, as alucinações”, conta o filho mais velho. Neste período, não faltaram também tentativas de diferentes abordagens e viagens para visitar médicos fora de Brasília. A família conseguiu um tratamento no qual a dieta corre na medida por uma bomba, meio a conta-gotas. Lá estava o aposentado, mais uma vez, sujeito a uma máquina. “Ele é hiperativo. Mesmo aos 72 anos, está pensando no que vai trabalhar. Ele nunca se deu por vencido, muito pelo contrário. Fazia questão de ser independente. Ele mais cuida de mim, que eu cuido dele”, comenta Marconi.
 
Apesar dessa última alimentação, via máquina, ter melhorado o quadro de Laudenor, ele ainda não conseguia ganhar peso, tampouco era um tratamento definitivo. Apenas na semana passada, após nova internação e outra cirurgia, é que o mar na vida do pernambucano pareceu se acalmar. Para quem estava acostumado a seguir “correntes favoráveis”, chegou a hora de desbravar outros mares. A partir daquele 15 de julho, voltar a comer significava retornar à qualidade de vida. “Fui me marginalizando e deixando a minha vida em segundo plano, apenas sobrevivendo”, descreve entre lágrimas. “Estar preso em uma máquina sem poder fazer nada, vendo meus filhos na luta diária. As pessoas me convidarem para a casa delas e não poder aceitar uma água, um café. Era triste ser reconhecido na rua como um mendigo, por conta da minha aparência”, completa com a voz embargada.
 
Ao longo de mais de 10 anos, Laudenor reúne histórias, vivências e medo diante de tudo o que enfrentou. Mesmo para um homem que lutou a vida inteira em busca de sonhos e na construção de uma família, não foi fácil. “Preso na máquina, um ‘oi’ era muito importante”, lembra. “Eles me deram força. Tinha hora que, por mim, não participava mais dessa vida, mas eles me emprestaram essa força. Queria dar essa alegria para eles e, é até um pouco egoísta dizer isso, mas participar das alegrias deles”, justifica o aposentado.
 
Marconi: %u201CTive oportunidade de viver com ele coisas que poucas pessoas tem com os pais%u201D

 

Marconi: "Tive oportunidade de viver com ele coisas que poucas pessoas têm com os pais."

 

 
Inspiração
 
Os filhos, Marconi e o também empresário Giovani Amaral Berto, 34, por outro lado, não pensam duas vezes para responder quem é o dono da força e da inspiração. “Além de toda essa história, passou pela minha cabeça uma lição de que, por pior que seja, sempre é possível. Valeu a pena cada esforço, cada dificuldade. Aquela colher de mingau de milho do hospital tem um significado tão grande para a gente. Ele nunca perdeu a força, a alegria, a garra. Mesmo com as adversidades, ainda brincava. É difícil descrever com palavras, é uma superação. Sempre permaneceu incentivando e apoiando a gente. A gente sabe que tem muita coisa para fazer, mas valeu uma vida. Pude estar ali e ver aquilo com meus próprios olhos, a face de Deus, um milagre acontecendo, o momento da mágica”, afirma Marconi. “Quando me ligaram dizendo que ele tomou água com a boca, comecei a chorar. São coisas muito pequenas que mostram a força desse homem”, acrescenta Giovani.
 
Laços de amor, de cuidado e de cumplicidade que as batalhas da doença apenas evidenciaram. “Por mais dura que seja, para mim, foi uma benção. Tive oportunidade de viver com ele coisas que poucas pessoas têm com os pais. Quando ele teve uma parada cardiorrespiratória, eu que fiz o boca-a-boca e devolvi a vida dele. Lembro-me de ele abrir os olhos e dizer: te amo, meu filho”, recorda Marconi.

A força da família
 

A força da família

 

Com os irmãos, Luiz Berto e Lúcia  

Com os irmãos, Luiz Berto e Lúcia

 

 



Correio Braziliense domingo, 19 de julho de 2020

RISCO DE SOBREVIVÊNCIA SOBRE DUAS RODAS

Jornal Impresso

ENTREGADORES
 
Risco e sobrevivência sobre duas rodas
 
 
No primeiro capítulo da reportagem especial sobre as condições de trabalho dos entregadores do Distrito Federal, o Correio detalha o dia a dia da profissão, a relação com as empresas de aplicativo e as principais reclamações da categoria

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» GUILHERME GOULART

Publicação: 19/07/2020 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


No comando da motocicleta ou sobre os pedais da bicicleta, os entregadores ganharam destaque especial na pandemia do novo coronavírus. O serviço prestado por meio de aplicativos de delivery tornou-se essencial para manter muita gente em casa e evitar a disseminação da covid-19. Além disso, absorveu parcela significativa de pessoas que ficaram desempregadas com o fechamento de diversas atividades. No entanto, a crise desencadeada no início da quarentena aumentou a concorrência e empurrou para o trânsito mão de obra com pouca ou nenhuma experiência, formação ou habilidade sobre duas rodas.

A mudança no perfil da profissão levou a categoria a denunciar piora nas condições de trabalho e exploração por parte das empresas. Mobilizados por sindicatos e associações, motoboys e ciclistas paralisaram as entregas em todo o país, em 1º de julho. Em Brasília, cerca de 500 reuniram-se na Esplanada dos Ministérios para reivindicar autonomia e direitos básicos. A cobrança continuará em 25 de julho, com pedidos de fim dos bloqueios pelas plataformas, transparência na forma de remuneração, aumento das taxas por quilômetro percorrido e responsabilidade dos aplicativos por eventuais acidentes e infecções pela covid-19.

Para entender os riscos, as falhas, o estresse e os gargalos do serviço, o Correio saiu às ruas do Plano Piloto, do Sudoeste e de Taguatinga por três dias. Pela manhã, à tarde e à noite, a reportagem acompanhou a rotina e as dificuldades dos entregadores no tráfego do Distrito Federal. A história de quatro deles será contada nesta edição, cada uma acompanhada de estatísticas, análises de risco e normas técnicas relacionadas ao delivery na capital do país.

 (Ana Rayssa/CB/D.A.Press)  

Rotina começa na madrugada

São 5h30. A essa hora, durante o inverno, a luz matinal sequer delineia os contornos de Ceilândia. Na região administrativa mais populosa do Distrito Federal, milhares de pessoas partem para o batente. Uma delas apronta-se silenciosamente. De capacete, tênis, jeans e jaqueta reforçada, a técnica de enfermagem Cindy Kemilly Silva, 24 anos, monta a Yamaha Fazer laranja de 150 cilindradas e corta o asfalto por 11km. Hospitais e postos de saúde atravessam-se pelo caminho, mas o destino da jovem profissional da saúde é outro.

No Pistão Sul, Cindy junta-se a cerca de 50 outros motociclistas. O grupo aguarda o repasse da primeira leva de entregas em frente ao galpão de uma empresa de delivery. As chances de conquistar corridas mais lucrativas são maiores para quem chega cedo. Em dias bons, Cindy acomoda 30 pacotes no baú da moto e roda até 100km em seis horas. Mesmo assim, o esforço é pouco recompensado. “Fico bem cansada para ganhar R$ 60, R$ 80. Tem gente que tira R$ 200, mas trabalha o dia inteiro. A demanda está alta (com mais entregadores na rua) e, financeiramente, o retorno é cada vez menor”, lamenta.

Antes da labuta, a fome não vem. O que deveria ser café da manhã acontece, muitas vezes, só na hora do almoço. “Como apenas uma banana antes de sair de casa. Minha segunda refeição é às 10h. Isso quando dá tempo de comer ou tomar água”, conta. Nesse período, Cindy garante entregas de Brazlândia a Planaltina. A rotina no asfalto, cercada de estresse, pressão e risco, repete-se há pouco mais de dois meses. Sem oportunidade para atuar na área de formação, a jovem embarcou no ramo do delivery. “O meu sonho é ser bombeira. Vou correr atrás disso.”

Enquanto a farda não vira uniforme, roupa apropriada e equipamentos de segurança compõem o figurino de Cindy. Máscara também, mas a proteção deixa a respiração desconfortável. A jovem sofre de bronquite e acha mais seguro encarar as ruas do que os corredores de um hospital na pandemia. “No calor, a gente sua, e o motor da moto fica quente. Com a chuva, viseira, óculos e pochete do celular embaçam. Não dá. Mas a gente tem de dar um jeito de conquistar o que quer”, afirma. “É corrido, perigoso, mas a fome e as contas não esperam”, sentencia.

  • Cindy Kemilly Silva está entre os até 12 mil entregadores da capital. Sobre duas rodas, seja de moto, seja de bicicleta, a categoria reclama das condições de trabalho e da relação com as empresas — na capital, há cinco em atuação: Rappi, iFood, Uber Eats, Loggi e James Delivery. “O nosso sofrimento é comum. Cada app exige exclusividade e tem um sistema diferente de pontuação, score, avaliação, gorjeta. Queremos ser autônomos, de fato. Esperávamos que fôssemos valorizados, pois a nossa importância aumentou na pandemia”, ressalta Alessandro Sorriso, presidente da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do Distrito Federal (Amae/DF). Segundo ele, a categoria reivindica uma legislação específica para o serviço de delivery. “Não queremos CLT, mas que as empresas acabem com bloqueios injustos e cobrem as taxas corretas. Tratam a gente como descartáveis”, critica.

 

 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Alta demanda no almoço

 

No momento em que Cindy retoma o rumo de casa para cuidar do filho pequeno, Renivan Lima, 29 anos, cumpriu a metade das corridas do dia. Ele trabalha no horário do almoço, um dos períodos mais frenéticos para quem entrega comida. Entre as 10h e as 14h30, o motociclista percorre bairros de classe média e alta. A rota inclui Plano Piloto, lagos Sul e Norte, além da Octogonal e do Sudoeste. Renivan mora em Luziânia (GO), a 60km de tudo isso.

O motoboy prefere os turnos fixos. Nessa modalidade, ele tem direito a um dia de descanso por semana e a uma folga mensal no domingo. Contudo, há restrições. Em caso de imprevistos, não é possível deixar o expediente na última hora. E, se houver descumprimento da carga horária, a empresa cobra multa de até R$ 90 pela jornada incompleta. Assim, quando trabalha das 10h à 0h, Renivan mal consegue ver a mulher e o filho, de 2 anos. Ao voltar para casa, ambos estão dormindo. Mas, entre um pedido e outro, o entregador consegue um momento para pensar na família e nos planos de ser policial militar.

Por causa da pandemia, não é mais possível buscar entregas nos restaurantes dos shoppings. Renivan e outros tantos entregadores aguardam em uma área externa — ou no subsolo —, até que várias refeições fiquem prontas de uma vez. “O primeiro a chegar acaba se dando mal. Perdemos tempo. Esperávamos que, por ter muito delivery por aplicativo, agora, as coisas fossem mais rápidas”, comenta. “E temos um período para chegar ao restaurante. Senão, a corrida some da tela. Além de ela ir para outro entregador, ficamos uma hora sem receber novos pedidos”, reclama.

A depender da época, o prazo coloca os profissionais à mercê do sol a pino ou dos temporais. Nem sempre jaqueta, botas e luvas são suficientes. Necessidades básicas ficam de lado por causa da pressa. “O que mais pesa é a carga horária, que é alta, além da dificuldade que temos de ir ao banheiro, almoçar ou quando está muito frio”, relata. “Eu trabalhava como motorista em uma empresa de metais, mas passaram por uma fase difícil e me demitiram. Comprei uma moto usada e comecei a trabalhar com entregas, porque foi o que achei”, justifica.

  • Renivan Lima ganha a vida arriscando-se sobre duas rodas. Desde 2010, as mortes de motociclistas são maiores do que os óbitos em automóveis. No período, 921 pessoas que pilotavam ou seguiam na garupa desses veículos envolveram-se em acidentes fatais até julho de 2020, segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran). Além disso, desde 2000, jamais a capital fechou o ano com mais mortes de motociclistas do que de pedestres. Mas, até o início deste mês, a estatística mostra uma tendência de mudança nesse cenário. Vinte e oito motociclistas morreram. São três óbitos a mais do que de pedestres. Parte dessa situação explica-se pela alta do serviço de delivery por causa da pandemia e da falta de capacitação. “A atividade cresceu no período e é realizada, muitas vezes, por pessoas despreparadas”, afirma Marcelo Granja, diretor de Educação de Trânsito do Detran.

 

 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Tarde com menos movimento


As manchas de graxa na calça de José Gregório Lopez Nieves, 35 anos, entregam as horas dedicadas sobre o selim da bicicleta. O venezuelano sai de casa por volta das 10h, pouco depois da primeira refeição do dia — a próxima será só à 1h, ao retornar para o lar, no Recanto das Emas. “Estou acostumado. Na Venezuela, passamos fome. Aqui, não”, compara. Nascido na cidade de El Tigre, no estado de Anzoátegui, José Gregório veio para o Brasil, em 2018, como refugiado. No ano passado, mudou-se para a capital federal.

A oportunidade como entregador de aplicativo surgiu por causa da pandemia. Antes disso, o mecânico trabalhava como eletricista na obra de uma escola particular, na Asa Norte. A crise chegou, os colégios fecharam, famílias suspenderam o pagamento de mensalidades e a construção parou. José Gregório, a mulher e os três filhos precisavam de um sustento com urgência — outros dois, mais velhos, ficaram na Venezuela e dependem do dinheiro enviado pelo pai. Assim, o delivery se impôs como opção.

À tarde, o movimento é menor. Pelas vias do Plano Piloto, do Sudoeste ou do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), um casaco e um boné ajudam a amenizar os efeitos do sol. No rosto, a máscara serve de barreira contra o vírus. José Gregório pedala em uma bicicleta com motor improvisado. Diariamente, ele gasta de R$ 15 a R$ 20 para colocar gasolina em um pequeno tanque instalado sobre o quadro. O combustível facilita a viagem de 30km entre o Recanto das Emas e o Plano Piloto. No restante do tempo, ele pedala mais de 100km para buscar e entregar os pedidos.

Quando atende a uma média de 15 chamados, José Gregório tira R$ 60 por dia. A família também conta com uma cesta básica concedida pelo governo. No entanto, o que o venezuelano ganha por mês mal cobre gastos com aluguel e outras despesas. Mesmo assim, ele se prende ao otimismo, na torcida de que a situação melhore. “Se nem eu nem ninguém nos cuidarmos, a pandemia não vai acabar nunca. E quero que ela passe rápido, para eu arrumar um emprego formal. Está muito difícil para todo mundo”, desabafa.

 

  • José Gregório Lopez nieves trabalha em uma profissão regulamentada por uma lei sem valor prático. “Hoje, está tudo ao Deus-dará. Com a aprovação da Lei nº 12.009, de 2009, achávamos que teríamos a mesma organização dos vigilantes, mas não é o que acontece. Há omissão. As empresas contratam qualquer um”, critica o presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto), Luiz Carlos Galvão. A norma estabelece idade mínima para motoboy ou mototaxista — 21 anos —, os itens de segurança obrigatórios e a exigência de um curso especializado, regulamentado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). “A maioria dos empresários não dá condições. Não temos dinheiro para comprar os equipamentos. E quem deveria fiscalizar não o faz”, lamenta.

 

 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Compromisso até a meia-noite


Chega o último turno. A lua, minguante e alaranjada, típica da seca, surge por trás dos prédios da Asa Norte. As ruas do centro de Brasília têm menos carros durante a pandemia. Mas há entregadores por toda parte. O Correio acompanha uma de perto. No comando da bicicleta, Anna Rafaella Tschiedel Berg, 26 anos, cruza entrequadras, comerciais, Eixão e tesourinhas. É o início do expediente. Quando os pedidos levam até duas horas para aparecer, ela encerra o dia. Mas, se tudo dá certo, a demanda só termina à 0h.

No inverno de clima desértico, o frio noturno gela até os mais acostumados. Anna Rafaella carrega dois casacos, por precaução. Eventualmente, uma capa de chuva. Além disso, há sempre uma garrafa de álcool em gel na parte externa da mochila térmica, onde acomoda os alimentos. O uniforme inclui tênis, calça comprida, camiseta, capacete e máscara. As roupas são confortáveis, para o caso de a jovem ter de pedalar. Mesmo elétrica, a bicicleta exige fôlego quando acaba a bateria de seis horas.

Anna Rafaella saiu de Formosa (GO) para estudar gestão de políticas públicas na Universidade de Brasília (UnB). Desde que se formou, no ano passado, ela se divide entre o trabalho com delivery e os estudos para concurso. “Pensei em fazer entregas para seguir na capital federal, pagar o aluguel e me virar. A minha única renda vem disso”, conta. Por semana, a jovem ganha de R$ 150 a R$ 400. Tudo depende da demanda e do tempo dedicados ao ofício. Depois que o celular recebe uma chamada de entrega, a paisagem e o compromisso com o destinatário viram companhia até o fim da jornada.

A entregadora atua em áreas próximas à comercial da 408 Norte, onde mora em uma quitinete. Em oito horas, Anna Rafaella percorre cerca de 45km. “No começo, ir de bike é empolgante. Eu fazia 60km, 70km por dia. Com o passar dos meses, dói o joelho, a perna. Então, comprei a bicicleta elétrica”, explica. “O trabalho é bom, dá para tirar um dinheiro legal. Só que a pessoa tem de gostar de ficar o dia inteiro na rua. Todas as reivindicações da pauta da última greve são válidas. Não é nenhum luxo o que pedimos. É só para ter um trabalho digno”, completa Anna.

 

  • Anna Rafaella Tschiedel Berg atua em um ramo imprevisível, mas com tendência a aumentar. Pesquisa promovida pela consultoria Galunion e pelo Instituto QualiBest, em maio, mostrou que o setor do delivery "ainda é um grande desafio". Entre os 754 entrevistados de todo o país, 36% disseram que os gastos com delivery subiram. Porém, houve queda com esse tipo de despesa para 39% dos participantes. Após o período de confinamento, 21% acreditam que a despesa com o serviço vai aumentar, enquanto 43% dizem que manterão o consumo como atualmente. Além disso, 68% concordam totalmente ou em parte que entregadores têm tomado cuidados de higiene durante o atendimento. “Há muito o que fazer para inovar nos negócios em alimentação”, conclui o levantamento.

O que dizem as empresas

Das cinco empresas em atuação no serviço de delivery por aplicativo no Distrito Federal, três responderam à reportagem. Por-mail, o iFood confirmou o cadastro de 170 mil entregadores no Brasil, sem dar o recorte na capital. A rede não trabalha com sistema de ranking e pontuação. "O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como, por exemplo, a disponibilidade e a localização do entregador, o engajamento na plataforma e a distância entre restaurante e consumidor", detalha.

Em relação à suposta falta de transparência em taxas e porcentagens, o iFood detalhou que "o valor da entrega é calculado usando fatores como a distância percorrida entre o restaurante e o cliente, uma taxa pela coleta do pedido e uma taxa pela entrega ao cliente, além de variações referentes a cidade, dia da semana e veículo utilizado para a entrega." Além disso, desde maio, todas as rotas do app têm um valor mínimo de R$ 5 por pedido.

Os entregadores do iFood recebem, desde o fim de 2019, o Seguro de Acidente Pessoal, que cobre despesas médicas e odontológicas, “bem como indenização em caso de invalidez temporária ou permanente ou óbito decorrente do acidente”. Quanto à covid-19, desde março, “foram implementadas medidas protetivas, que incluem fundos de auxílio financeiro para quem apresentar sintomas” e para aqueles do grupo de risco. Até o momento, a empresa investiu mais de R$ 25 milhões nessas iniciativas.

A Rappi conta com 200 mil entregadores cadastrados no aplicativo na América Latina. A empresa de origem colombiana informou, também por e-mail, que a cobrança de frete “varia de acordo com clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido”. Dados da companhia mostram, ainda, que cerca de 75% dos trabalhadores ganham mais de R$ 18 por hora. A Rappi também permite que os clientes deem gorjeta aos entregadores por meio do aplicativo.

Além disso, a empresa trabalha com um programa de escores “criado para tanto reconhecer quanto priorizar entregadores parceiros com um melhor nível de serviço na plataforma, ao mesmo tempo em que permite equilibrar a distribuição dos pedidos versus número de entregadores parceiros logados, fazendo com que o entregador passe a ter ainda mais clareza e transparência.”

A Rappi oferece, desde o ano passado, seguro para acidente pessoal, invalidez permanente e morte acidental. “O seguro vale para todos os entregadores parceiros e qualquer tipo de veículo, incluindo motos e bicicletas”, detalhou. Em relação à pandemia, a companhia elaborou diversos protocolos, como incentivo do pagamento via app, distribuição de álcool em gel e máscaras e criação de um fundo para apoiar financeiramente os colaboradores com sintomas ou confirmação da covid-19.

Em nota, o Uber Eats informou que “todos os ganhos (com a empresa) estão disponibilizados de forma transparente para os entregadores parceiros, no próprio aplicativo, ficando clara cada taxa e valor correspondente. Não houve nenhuma diminuição nos valores pagos por entrega, que seguem sendo determinados por uma série de fatores, como a hora do pedido e a distância a ser percorrida.” A empresa adotou medidas preventivas contra o novo coronavírus, como opção de entrega sem contato, por meio do recurso “Deixar na porta”, além de ferramenta para identificar o uso de máscaras pelos entregadores, a partir de um checklist on-line, que inclui uma selfie para verificar a utilização da proteção facial.

A Loggi e a James Delivery não responderam e-mails e mensagens enviados pela reportagem, até o fechamento desta edição.


Correio Braziliense sábado, 18 de julho de 2020

DE MANCHESTER A BRASÍLIA

Jornal Impresso

De Manchester a BrasIlia

 

 Devana Babu*

Publicação: 18/07/2020 04:00

Ian Curtis no Rainbow Theatre, imagem tirada do livro Ian Curtis & Joy Division %u2014 tocando 
a distância (Deborah Curtis/Arquivo Pessoal)  

Ian Curtis no Rainbow Theatre, imagem tirada do livro Ian Curtis & Joy Division " tocando a distância".

 

 
O aclamado disco Closer (Luciana Fátima/Divulgação)  

O aclamado disco Closer

 

 
Renato Russo foi muito inspirado pelo Joy Division: letras e danças (Reprodução da Internet)  

Renato Russo foi muito inspirado pelo Joy Division: letras e danças

 

 
Hoje faz quarenta anos que o álbum Closer, da banda Joy Division, foi lançado. Foi o segundo e último disco do grupo, cujo vocalista e letrista, Ian Curtis, cometeu suicídio em 18 de maio de 1980, um mês antes do lançamento oficial do disco, em 18 de julho. Se estivesse vivo, Ian Curtis teria completado 64 anos na quinta-feira passada. Apesar da morte precoce e da curta trajetória da banda, o impacto do grupo e dos dois álbuns foi tremendo.
 
A história da banda começou em 1976, depois que a seminal banda punk Sex Pistols se apresentou em Manchester, em 20 de junho. Dizem que, por onde os Sex Pistols passavam, inúmeras bandas se formavam, e naquela fria cidade industrial não foi diferente. Na plateia, estavam Bernard Samner e Peter Hook, futuros guitarrista e baixista da Joy Division, cuja formação se consolidou com Ian Curtis no vocal — outro presente no show dos Pistols — e Stephen Morris na bateria.
 
Com uma postura bem punk no início, a banda logo derivou para um estilo mais pós-punk, no qual foi pioneira. A sonoridade seca e exasperada dos instrumentos, as experimentações eletrônicas instigadas pelo produtor Martin Hannet e as letras existencialistas de Ian Curtis conquistaram inúmeros jovens e futuros artistas no mundo.
 
Um destes jovens foi Renato Russo, introduzido à banda por André Mueller, baixista da Plebe Rude, também conhecido como André X. André morava na Inglaterra com a mãe e ouviu a música Transmission pela primeira vez no programa de rádio de John Peel, importante DJ britânico. Depois, os Buzzcocks foram tocar no Top Rank Club, na cidade de Sheffield, onde André morava, e a banda de abertura era o Joy Division. “Naquela época, as bandas que estavam no topo escolhiam a dedo as bandas de abertura”, lembra o músico. “Foi um dos poucos shows em que a banda de abertura tinha apenas um compacto lançado. Dava pra saber que era a história se fazendo naquele momento”, recorda.
 
De volta a Brasília, André recebeu da Inglaterra, remetido pela mãe, o recém-lançado Closer. “Lembro que o Renato foi lá em casa e a gente ficou ouvindo aqueles teclados, não como no rock progressivo, mas mais atmosférico. Aquelas letras. Aquilo marcou muito a gente. Várias letras da Legião Urbana, da Plebe Rude e do Capital Inicial éramos nós tentando trazer essa dinâmica de sentimento sem ser clichê”, analisa.
 
O escritor e editor-chefe do jornal Estado de Minas, Carlos Marcelo, contabiliza que o nome da banda é citado 14 vezes em seu livro Renato Russo — O filho da revolução. “Joy Division foi uma das maiores referências musicais e estéticas para o rock de Brasília nos anos 1980. Além da sonoridade, a estética clean do grupo influenciou as bandas brasilienses. A capa do primeiro disco da Legião Urbana, por exemplo, lembra a capa de Closer, um dos trabalhos marcantes do designer inglês Peter Saville”.
 
Em páginas
 
No rol das homenagens aos 40 anos de lançamento do álbum Closer está o lançamento do livro Joy Division – Closer: Testamento musical, do escritor paulista Arlindo Gonçalves, pela editora Estronho. Autor de diversos livros de prosa, poesia e fotografia, Arlindo lançou sua primeira obra dedicada à banda Joy Division, In Aeternum – Joy Division, em 2018. Com a chegada dos 40 anos do álbum Closer, o autor pretendia lançar uma versão revista e ampliada do livro, o que se mostrou inviável e deu vasão a uma ideia mais ampla.
 
O novo livro, além de ser mais focado no último álbum da banda inglesa, traz uma miscelânea de formato e linguagens para formar uma espécie de biografia afetiva, ou seja, focada não só na história da banda mas, também, na relação dos fãs com a obra. Em um só livro, o leitor encontrará ensaios, análises críticas das letras e da capa do álbum, informações históricas sobre a banda, fotografias, contos ficcionais e ilustrações. O livro será lançado hoje, a partir das 16h, com uma série de lives e bate-papos em diferentes perfis nas redes sociais. Para mais informações e links, acesse a página In Aeternum – Joy Division no Facebook.
 
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
 
 
 (Arlindo Gonçalves/Divulgação)  
 
Joy Division — Closer: Testamento musical
De Arlindo Gonçalves. Editora Estronho, 264 páginas. Preço sugerido: 
R$ 44, à venda pelo site da editora (lojaestronho.com.br).
 

Correio Braziliense sexta, 17 de julho de 2020

ALEXANDRE CARLO - RAIZ BRASILIENSE

Jornal Impresso

Raiz brasiliense
 
Alexandre Carlo, líder da banda Natiruts, fala ao Correio sobre a forte ligação dele com a cidade, os princípios do grupo, a cena cultural da capital, além do período de pandemia

 

» Maria Baqui*

Publicação: 17/07/2020 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
A construção do cenário do reggae music em Brasília se deve muito ao grupo Nativus, criado na capital federal em meados de 1990. Posteriormente, renomeada Natiruts, desenvolveu-se com a proposta de, por meio da música, levar paz e mensagens positivas para o público. Em homenagem à banda que tanto significa para a cultura de Brasília, esta edição do Conversas Candangas é com Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts. 
 
Como foi o processo de formação da banda?
Ao contrário do que se pensa, nós, da formação inicial, não nos conhecíamos antes da banda. O processo de criação começou por volta de 1993 quando eu tive a intenção de colocar em prática minha ideia de formar uma banda de reggae nos moldes da minha maior referência Bob Marley & The Wailers. Nesse momento, eu ainda não conhecia nenhum dos futuros integrantes que formariam o Nativus. Os dois primeiros que conheci foram Luís e Bruno no time de futebol da UnB. Numa das comemorações que ocorriam depois dos jogos, conheci Juninho, o futuro baterista. Nos tornamos grandes amigos e Juninho foi o primeiro a abraçar a ideia das canções. Músicas como Presente de um Beija-flor e Liberdade pra Dentro da Cabeça já existiam naquele momento. Isso em 1994. Em 1995, convidei Bruno e Luís para completar os postos de percussão e baixo e fizemos os primeiros ensaios juntos. Em 1996, tivemos a presença de André Carneiro na guitarra e fizemos alguns shows com o nome Nativus e o símbolo da banda, ambos criados por mim em 1994. Em abril de 1996, tivemos a entrada de Izabella e, logo, depois do Kiko Peres, substituindo André. Com a consolidação de todas as funções que eu gostaria para a banda, inclusive a da presença feminina, considero ali a fundação da ideia inicial. E vejo todos como peças fundamentais para isso.
 
Naquela época, o reggae não era um estilo tão comum no repertório de artistas brasilienses. Como era, naquela época, a forma encontrada para divulgar a banda?
Apesar de gostar de rock e ter Renato Russo como um dos compositores que mais admiro na música brasileira, eu não me sentia culturalmente representado por esse movimento. Vi no reggae essa representatividade que achava necessária para mim e para a cultura do DF, que jamais foi só de rock. A forma de divulgação foi a clássica da época: dar um jeito de gravar uma fita-demo e distribuir pela cidade. O diferencial da nossa fita eram Presente de um Beija-flor e Liberdade pra dentro da cabeça. Numa época em que não existiam YouTube ou Facebook, e as pessoas não tinham a mínima ideia visual e estética de como seriam os integrantes. O poder dessas duas canções foi fundamental para o início do sucesso fenomenal. Fora isso, houve um fato interessante. O fenômeno Nativus foi tão gigante, inesperado e inexplicável para Brasília, a capital do rock, que surgiram teorias para entender aquilo tudo. Uma delas foi a que o sucesso da banda veio por intermédio de um patrocínio vindo da família de Izabella.
 
A sua trajetória em Brasília é extensa. Até os 26 anos, era morador do Cruzeiro. Qual memória lhe conecta mais com a cidade?
As boas são a conexão com a natureza que a cidade proporciona. A ausência de construções muito altas, a exuberância da fauna e da flora do cerrado, além da beleza do céu de Brasília, sem dúvida, foram inspiração para todas as canções que compus para o disco Nativus.
 
Como você analisa as mudanças e as oportunidades para quem quer viver da cultura em Brasília?
Brasília tem um potencial artístico incrível. Na minha visão, o fato de ter uma formação cultural que pode ser vista como um resumo do Brasil, contribui muito para o surgimento de projetos originais, como Raimundos, Renato Mattos, GOG, Viela17, Ellen Oléria, Tribo da Periferia e tantos outros. No entanto, ainda tem uma dificuldade de entender a cultura como fator formador de cidadania e educação. Ainda é comum vermos músicos sendo impedidos de trabalhar mesmo antes das 22h por políticas arbitrárias, injustas e com viés ideológico e religioso. O que, obviamente, não é correto.
 
Qual é a influência e o impacto que o Natiruts têm para os artistas e para o público da cidade?
Qualquer manifestação cultural da cidade que ganhe relevância além das suas fronteiras se torna referência de vitória, de que é possível vencer as dificuldades e realizar sonhos. Felizmente, Brasília tem muitos desses representantes, o que torna a importância da cidade coerente com a função de capital federal do Brasil.
 
Como é a proposta de vocês em relação a ser uma banda inclusiva, que luta por direitos?
A Natiruts veio para mostrar um lado que sempre fez parte da cultura de Brasília, mas era desconhecida pelo grande público no Brasil. Esse lado zen/existencialista que nosso céu e nosso cerrado nos lembra todos os dias. Por isso, não é visto por nós como algo caricato ou alienatório como em outros centros urbanos mais densos.
 
Durante a pandemia, a banda estava com algum projeto em aberto? Como tiveram que se adaptar ao novo cenário da cultura?
Estávamos em turnê. Em 2019, gravamos um DVD, em Buenos Aires, onde reunimos 16 mil pessoas no Luna Park, casa mais tradicional de Buenos Aires. Mas o lançamento desse trabalho estava programado para o final deste ano. Será em formato de filme. Teremos show, documentário, clipes inéditos, história da banda até aqui, tudo reunido num mesmo pacote.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

Correio Braziliense quinta, 16 de julho de 2020

FLAMENGO, CAMPEÃO CARIOCA 2020!

Jornal Impresso

CAMPEONATO CARIOCA
 
Entre a festa e a apreensão
 
 
Flamengo vence Fluminense e conquista o Estadual pela 36ª vez. Torcida vive expectativa em torno da saída do técnico Jorge Jesus

 

Publicação: 16/07/2020 04:00

 

No Maracanã sem público, o treinador português foi celebrado pelos jogadores ao final da partida: possível viagem marcada para a terra natal (Carl de Souza/AFP
)  

No Maracanã sem público, o treinador português foi celebrado pelos jogadores ao final da partida: possível viagem marcada para a terra natal

 

 

O Flamengo confirmou o favoritismo e garantiu o 36º título do Campeonato Carioca ao vencer novamente o Fluminense, desta vez por 1 x 0, ontem. O bicampeonato foi celebrado de forma incomum, diante de um Maracanã vazio, com arquibancadas preenchidas apenas com faixas e mosaicos, a maioria com as cores do rubro-negro. O gol do título foi marcado por Vitinho, aos 49 minutos do segundo tempo.


O Fla tinha a vantagem de jogar pelo empate para levar o troféu, porque havia vencido a partida de ida por 2 x 1, no domingo. Mas não jogou pela igualdade. Pelo contrário, foi mais ofensivo que o rival, que precisava vencer por dois gols de vantagem. E impôs o domínio que não foi visto em campo nos dois clássicos anteriores — na quarta-feira passada, os dois times decidiram a Taça Rio, com triunfo do time tricolor.
A partida desta quarta pode ter marcado a despedida do técnico Jorge Jesus. Os rumores sobre a saída aumentaram nos últimos dias. Há especulação de que ele se apresente ao Benfica neste fim de semana.


Sob o comando do português, o Fla conquistou o sexto título consecutivo. Antes do Campeonato Carioca, o time faturou a Copa Libertadores e o Brasileirão, no ano passado. Nesta temporada, o clube soma os troféus da Recopa Sul-Americana, da Supercopa do Brasil e da Taça Guanabara, o primeiro turno do Estadual.

O jogo
Após boa exibição na partida de ida, o Flu surpreendeu, ontem, ao adotar postura mais cautelosa. Apesar da necessidade de vencer por, ao menos, um gol de vantagem, para levar a final para os pênaltis, o time de Odair Hellmann jogou recuado ao longo de um bom e movimentado primeiro tempo, preocupado somente com os contra-ataques.
Do outro lado, o Fla assumiu o protagonismo e controlou o jogo na etapa inicial. Com o retorno de Gerson e Everton Ribeiro ao time titular, a equipe rubro-negra retomou a consistência no meio-campo e passou a dar menos brechas na defesa, ao contrário do que fizera no jogo de ida.


Além de dominante, o time de Jorge Jesus também foi mais criativo, mesmo com baixa de Gabriel, suspenso. Na primeira boa chance do jogo, Bruno Henrique chegou a driblar o goleiro Muriel, mas perdeu o ângulo para a finalização. Na sequência da jogada, Pedro mandou para fora, aos 12 minutos.


Exibindo versatilidade, o Fla levava perigo de diferentes formas. Aos 27, Willian Arão arriscou de longe e mandou perto da trave, assustando Muriel. Até mesmo os defensores ameaçavam o gol tricolor. O zagueiro Léo Pereira quase abriu o placar aos 36, ao bater rasteiro dentro da área. Muriel caiu no canto para fazer a defesa.


Antes do intervalo, a artilharia rubro-negra também teve Arrascaeta, em finalização de longe, aos 42. Dois minutos depois, Pedro dominou na entrada da área, girou rápido sobre o marcador e finalizou rasteiro, mandando rente ao pé da trave direita de Muriel.
Tímido em campo, o Flu pouco ameaçava. Numas das raras oportunidades ofensivas, Marcos Paulo completou levantamento na área, de primeira, e mandou por cima do travessão, aos 25. Na melhor chance na etapa inicial, Evanilson puxou rápido contra-ataque pela direita e acionou Marcos Paulo, que recebeu livre na entrada da área, mas bateu fraco e facilitou a defesa de Diego Alves, aos 37.


No segundo tempo, o Flu passou a buscar mais o ataque, sem esperar a iniciativa do rival. Mas penava para jogar de igual para igual. Sem o mesmo ímpeto do jogo de ida, a equipe tricolor parava nos próprios erros e na falta de movimentação. Odair, então, passou a fazer mudanças. Inoperante no primeiro tempo, Marcos Paulo deu lugar a Fernando Pacheco. Em seguida, Ganso e Caio Paulista foram a campo.


Mesmo assim, o Flu seguia travado no jogo, longe de exibir o estilo rápido e mais ousado da partida de ida. O segundo tempo foi errático, de poucos lances de perigo para ambos lados. E de muita faltas e paralisações.


Quando a partida se encaminhava para um final morno, de poucas emoções, o Flamengo anotou o gol do título nos acréscimos. Vitinho, que acabara de entrar, acertou chute de longe, que desviou na defesa e enganou o goleiro Muriel, aos 49 minutos.


Correio Braziliense quarta, 15 de julho de 2020

OLHA CANDANGO NO CINEMA

 Jornal Impresso

Olhar candango no cinema
 
 
Em ritmo frenético, mesmo durante a pandemia, o diretor brasiliense de A concepção monta cinco filmes e relembra a influência de Brasília e da UnB na sua formação artística

 

» Ricardo Daehn

Publicação: 15/07/2020 04:00

 

Belmonte: 
%u201CBrasília precisa buscar a diversidade e inovação, essa é, para mim, sua natureza%u201D (Filipe Duque/O pastor e o guerrilheiro/Divulgação)  

Belmonte: "Brasília precisa buscar a diversidade e inovação, essa é, para mim, sua natureza."

 

 

 

Na herança da liberdade criativa adquirida em Brasília pelo cineasta José Eduardo Belmonte é uma das refererências atuais do cinema brasileiro. Guarda uma relação mais que afetiva com a capital do país. “Já senti desde solidão até medo e coragem, na travessia do Eixão”, confidencia com certo humor. Foi com uma mente inquieta e sentimentos à flor da pele que Belmonte, chegado à cidade ainda pequeno, nos anos de 1970, despontou para as artes, entre expressos desejos de se fazer roqueiro, jazzista, escritor e acabar na afirmação da carreira de cineasta, aos 16 anos.

 Foram muitos os cruzamentos pelo Eixão, enquanto estudante de cinema da Universidade de Brasília (UnB), nos anos de 1990. Belmonte assumiu a vocação de diretor — que o leva à condição de ter assinado nove longas, em apenas 17 anos —, diante das orientações e das chances dadas pelo mestre e cineasta Armando Bulcão. Mordido pelo desejo de expandir horizontes, atualmente o diretor oscila entre as temporadas candangas e cariocas. E, em tempos de coronavírus, leva uma penca de trabalho para o aconchego do lar, de onde preconiza: todos devem estar resguardados e não sair de casa.

 

Impulsionado pela diversidade e inovação, o diretor de 49 anos encarrilha as montagens de nada menos do que quatro projetos (Auto da mentira, Alemão 2, As verdades e O pastor e o guerrilheiro, filmado, em parte, na cidade). Somado a tudo isso, Belmonte acalenta o desejo de concluir o documentário Aurora, em torno da artista plástica Rita Wainer.

 

» Entrevista // José Eduardo Belmonte

 

Qual a sua ligação com a cidade?

Eu vim muito novo, no início dos anos 1970, porque meu pai optou ser transferido para Brasília. Trouxe a família e ficamos. Havia muito incômodo de uma parte da família, porque era uma cidade em construção. As novidades chegando com muito atraso, poucas opções culturais, longe do mar (minha família é do Rio de Janeiro); tudo seco, vazio. Sentia o eco desse incômodo quando criança, mas, de fato, como não tinha outra referência pregressa, essa visão de mundo em Brasília foi minha primeira definição. Ao mesmo tempo em que percebia uma melancolia pelo “desterro”, também sentia uma imensa liberdade.

 

Você se percebe candango? Ainda “mora” aqui de algum modo?

Eu não tenho o título, mas a maior parte da minha vida e formação foi aqui. Talvez não seja a mesma pessoa de quando ficava sempre na cidade, mudei como todo mundo muda, inclusive de cidade, mas levo bastante Brasília comigo, pois, de fato, sou brasiliense. Minha família ainda mora por aqui; sempre que posso, venho à cidade.

 

Como despertou para as artes?

Aos 4 anos já descia, sozinho, para brincar embaixo do bloco e andava pela quadra descobrindo coisas na natureza que convivia com o concreto. E ainda, sobre o mim, o céu e a ampla visão permanente do horizonte. Penso que essa fricção entre a melancolia e as possibilidades do novo atiçaram minha imaginação e me levaram às artes muito cedo. Aos 9 anos, queria ser escritor. Até cheguei ganhar um prêmio, aos 15 anos, da biblioteca do INL, o Instituto Nacional do Livro (risos). Mas, nessa época, começaram as bandas de rock e resolvi ser músico. Tentei sem sucesso fazer bandas de rock, até de jazz, mas nada...

 

Daí veio cinema?

Por coincidência, aconteceram fatos marcantes nesses tempos. Fui a uma festa de aniversário de um amigo, e vi que o pai filmava com uma câmera importada VHS. Aquilo me impressionou, porque percebi alguém tendo uma câmera em casa: era algo raro e ainda mais filmar o cotidiano. Depois, já estudando no Marista — no qual minha mãe dava aula —, descobri que eles tinham uma câmera e ilha de edição VHS. Tentei adentrar lá e descobrir como fazia. Por fim, meu irmão me levou a uma mostra de cinema fantástico, promovida pelo José Damata (no Cine Brasília). Não ia muito ao cinema, via filmes basicamente pela tevê, e aquele momento abriu minha mente. Estar em uma sala escura, imerso de imagem e sons, vendo história bastante imaginativas, pra mim era algo próximo à dinâmica dos sonhos que era fascinado. Descobri que a UnB tinha um dos poucos cursos de cinema do país na época. Escolhi minha profissão aos 16 anos. Minha família estranhou bastante. Mas fui atrás de cursos, saber quem fazia, e consegui entrar no curso exatamente na época que o governo Collor acabou com cinema brasileiro.

 

Que lugares e pessoas solidificaram a tua formação?

Lugares, vários. Dos cinemas: Cine Brasília, Cine Academia e Cultura Inglesa. Havia ainda as idas às embaixadas pra ver filmes e algumas festas. O Conic foi onde fiz meu primeiro longa (Subterrâneos, 2003), mas, sem dúvida, a UnB foi fundamental para minha formação e a convivência com colegas e professores. Citar nomes é sempre complicado, por esquecer alguém, mas, tínhamos uma turma de alunos muito pequena. Quatro alunos. E aí tinha agregados ao curso, dentro e fora da UnB. André Luis da Cunha, Alfredo Viana, Bento Viana, Rosa Menezes, Murilo Grossi, Clarice Cardell, André Lavenere, René Sampaio, Chico Bororo, Cibele Amaral e Ricardo Pinelli, entre vários. Houve professores fundamentais pra minha formação: Luis Humberto, Regina Calazaens, José Luiz Braga, Clara Alvim, Nelson Pereira dos Santos, que foi meu orientador no meu filme de formatura, e estar num set dele foi uma segunda faculdade, e, o que considero meu mestre: Armando Bulcão. Me deu as primeiras chances.Viu meu potencial e minhas falhas, me orientou.

 

Qual a sua memória mais afetiva com a cidade?

Um lugar que sempre me fascinou em Brasília foi o Eixão, pois, como andava muito a pé, tinha que atravessar quase todo dia. Uma avenida larga que cruza boa parte da cidade — você não vê o final dela, a vista termina no horizonte, e atravessá-lo é quase uma experiência espiritual. Para poder ir e vir, enfrentar carros, passagens subterrâneas em uma avenida com dimensão não humana, com um grande espaço no meio, em que você pode ficar entre os carros, às vezes, cruzar com pessoas. Um ato cotidiano que se torna um desafio. Já senti muita solidão, opressão, esperança, medo, coragem (risos) e epifanias nesse ato que devia ser tão simples.

 

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro definiu o que na sua vida?

O festival foi importante, sem dúvida, para minha formação e para minha carreira. Ter ganhado, com 5 Filmes Estrangeiros (1997), e a simples exibição do filme foram marcos na vida. Mas não só o Festival de Brasília, o festival internacional que existia no Cine Academia, que promoveu intercâmbios valiosos. Vieram cineastas como Nicolas Winding Refn, Shin’ya Tsukamoto, Amos Gittai, entre outros. Uma experiência que o BIFF (Brasília Internacional Film Festival) também implanta e que é muito importante para que a cidade assuma sua vocação cosmopolita.

 

O que Brasília te deu e que ninguém vai tirar? 

A pergunta me soa muito intensa (risos). Nada é permanente na vida. Mas, penso que essa vontade de ampliar horizonte, ter uma visão horizontal do mundo, se entender pela busca do outro se deve muito aos meus primeiros anos de vida em Brasília.

 

A cidade virou símbolo de quê?

Não consigo definir Brasília, mesmo porque toda cidade é dinâmica e, uma cidade jovem, mais ainda. Além disso, é preciso também entender a cidade pelas regiões administrativas, nas quais tantas coisas interessantes acontecem. Brasília precisa buscar a diversidade e inovação, essa é, para mim, sua natureza. Resumir a cidade a seus símbolos clichês, ao Plano Piloto, ao Congresso, é uma preguiça intelectual que vem cada vez mais assolando o país.

 

Você trabalhou temas como isolamento (Meu mundo em perigo) e, claro, pontuou filmes 

relacionados ao coletivo, à agregação (A concepção). Ao longo dos tempos, acha que Brasília removeu a tarja do individualismo exacerbado?

O problema do individualismo é universal. Brasília agrava isso, por causa da arquitetura de grandes espaços, que foi usada para segregar, numa cultura autoritária. Além disso, por ter uma parte grande da população, que é sazonal, logo existe um descompromisso natural com a cidade, e, até onde sei, boa parte dessa população veio, desde da criação, para o bem ou para o mal, por causa de oportunidades, dinheiro.

 

Como tem percebido o momento da quarentena? A arte se faz mais cotidiana na vida das pessoas nessa era?

É um momento de reclusão para repensarmos o mundo e fazer uma metanoia. Tenho me dedicado a cuidar e ajudar, como posso, enquanto estou em reflexão e terminando as montagens dos projetos filmados (Auto da mentira, Alemão 2, As verdades e O pastor e o guerrilheiro). Ainda tem a volta da montagem de Aurora, projeto que fiz com Rodrigo Teixeira, um documentário sobre a artista plástica Rita Wainer. Tudo de casa. Fique em casa, aliás. Acho que, hoje, pesa a arte que serve para criar cenários, para entender o mundo, problematizar questões e se revela um braço importante para preparar o espírito. De fato tem que ser repensada: como ela pode ser feita agora, porque esse tempo vai exigir de todos nós uma grande mudança social, cultural, econômica... 

 


Correio Braziliense terça, 14 de julho de 2020

RISCO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS

Jornal Impresso

Risco para todas as faixas etárias
 
A covid-19 provocou a morte de 219 moradores do Distrito Federal com menos de 60 anos, reforçando que a doença não é letal somente para idosos. Diante desse cenário, especialistas alertam para a importância do isolamento social durante a pandemia

 

» ALAN RIOS
» MARIANA MACHADO

Publicação: 14/07/2020 04:00

Michele Venâncio carrega com saudade as fotos do pai, morto aos 53 anos em decorrência da covid:  

Michele Venâncio carrega com saudade as fotos do pai, morto aos 53 anos em decorrência da covid: "Era supersaudável, com aparência tão jovem"

 

Boa parte dos moradores do Distrito Federal flexibiliza o isolamento social com atividades não essenciais, como saídas desnecessárias, encontros com amigos e até festas durante a pandemia do novo coronavírus. Mas especialistas ressaltam que a doença não atinge somente idosos. No total, 64.575 pessoas com menos de 60 anos contraíram o vírus na capital. Dessas, 227 não sobreviveram. Mais de 200 vidas que se foram e deixaram histórias, famílias, amigos e sonhos. “A doença não escolhe e não há como prever quais contaminados vão ter um caso evoluindo para algo grave. Então, ninguém pode se descuidar”, alerta Valéria Paes, infectologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
 
Os boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde mostram que duas crianças, cinco jovens de até 29 anos e 220 adultos de até 59 anos morreram em decorrência da covid-19 no DF. Além disso, a média de idade do total de casos confirmados é de 38 anos. “Qualquer pessoa pode contrair o vírus, tanto que temos observado vários profissionais da saúde jovens falecendo. Também temos de lembrar que há uma parcela considerável de pessoas com menos de 60 anos que têm comorbidades, como obesidade, câncer, doenças respiratórias e outras”, explica a infectologista. Valéria ressalta que a probabilidade de internação em casos de infecção em pessoas com doenças preexistentes é maior, o que deixa essas pessoas vulneráveis.
 
No Distrito Federal, o percentual da população com asma e câncer — 6% e 2,7%, respectivamente —, por exemplo, é maior do que média nacional, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A capital tem, ainda, 5,8% de moradores com diabetes e 3,5% com doenças cardíacas. “E, mesmo que o jovem seja contaminado e a doença não se torne grave, ele pode participar da cadeia de transmissão e levar o vírus para alguém, que pode acabar tendo complicações. Por isso, não podemos nos arriscar ou confiar em medicações que não foram confirmadas como benéficas. O melhor para si e para o próximo é se prevenir”, reforça Valéria.
 
Valor da vida
Quem infectou-se com o novo coronavírus sabe que a condição é arriscada. O morador de Águas Claras Izaildo Feltrini tem 38 anos e foi internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) por complicações da doença. “Não sei ao certo se peguei o vírus no trabalho ou em algum supermercado, porque eu sempre cumpri as orientações certinho, mas sei que comecei a ter sintomas em 11 de junho. Quando fui ao hospital, descobri que tinha a covid-19 e 25% do meu pulmão estava comprometido. Então, mandaram-me para UTI”, conta o servidor público. Izaildo ficou 12 dias internado, com febre, falta de ar e medo.
 
“Foram dias dolorosos, o pulmão chegou a ficar quase 70% comprometido e, por pouco, não precisei ser entubado. Passava na minha cabeça que eu era jovem, saudável, só tinha uma asma, que estava controlada. Mas, graças a Deus, a equipe médica foi muito competente, conseguiu controlar o quadro na terceira medicação que tentaram e eu tive ajuda da fisioterapia para me recuperar”, revela.
 
Depois do susto, Izaildo virou exemplo para amigos, que passaram a redobrar os cuidados. “Vejo gente confraternizando, bebendo sem máscara, fazendo festa, mas só peço que essas pessoas tomem cuidado, porque, quem entra em uma UTI, não sabe se sai. Eu dou graças a Deus que consegui me livrar dessa doença e tive a oportunidade de viver mais, mas vi gente jovem morrendo, porque é um vírus que não sabemos como reagirá no corpo. Os cuidados que pedem, como usar máscara e se isolar, são poucos perto do valor da vida”, ressalta.
 
Além de jovens, pessoas que tiveram uma vida saudável podem não resistir ao novo coronavírus. A moradora de Planaltina Michele Venâncio, 35, perdeu o pai, de 53, para a covid-19. “Ele não tinha nenhuma comorbidade. Diabetes, hipertensão, nada. Era supersaudável, com aparência tão jovem, que as pessoas achavam que era meu namorado. Então, não dá para falar que é uma doença fraca ou que só vai ser ruim para quem é do grupo de risco, porque não era o caso dele”, diz a gerente.
 
Luto
O pai de Michel foi ao hospital quando teve um quadro de dengue, e a família acredita que ele contraiu o vírus na unidade de saúde. “Ele foi internado no Hospital Regional de Planaltina, mas não tinha leito. Entramos na Justiça e lutamos, mas não teve jeito, então, transferimos para um hospital particular de Taguatinga. Mas, infelizmente, o pulmão dele já estava muito comprometido”, lembra Michele.
 
Além da perda repentina, a família encarou o luto com distanciamento. “O sepultamento é a pior coisa do mundo. Eles colocam o caixão na capela e você tem de olhar do lado de fora. O corpo é enrolado em saco plástico. Você enterra um ente querido como se fosse um saco de lixo. É muito sofrimento”, desabafa a gerente. Michele também conta que a mãe foi infectada dias depois do pai e que os filhos tiveram que se manter fortes para cuidar dela. “Só depois que isso tudo passar, a gente vai poder sentir, mesmo”, lamenta.
 
 
Três perguntas para
 
David Urbaez, infectologista do Laboratório Exame
 
Muita gente hoje quebra o isolamento social por causa da sensação de que está protegido só por usar máscara. Mas essas pessoas também estão em risco?
O pessoal entendeu a máscara como salvo-conduto, algo que faz ficar completamente fora de risco. Mas a máscara que estamos usando serve para diminuir a quantidade de partículas que expelimos, para proteger o outro, e, enquanto isso, elas se esquecem dos olhos. A conjuntiva é receptiva ao vírus e pode ser um canal de acesso. Outro ponto é que costumamos falar que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, então, a repetida exposição da pessoa que sai de casa sem necessidade vai somando cargas virais maiores, o que pode se traduzir em um quadro grave de infecção, levando à morte.
 
Também há um senso comum de que quem é jovem e não tem doenças está 100% seguro. Esse é mais um mito da covid-19?
A probabilidade de óbito em casos acima dos 60 é aumentada. Sabemos também que a comorbidade é um fator de risco e, por mais jovem que seja, a pessoa pode ter diabetes, pressão alta, obesidade. Tudo isso pode desenvolver quadros graves e levar a óbito. Mas a situação é bem mais complexa do que muitos pensam. Isso porque não tem como apertar um botão e descobrir como é nossa proteção genética, como o vírus vai agir no nosso corpo. A presunção de que o coronavírus não vai afetar em nada é perigosa, parte da falsa premissa de que a pessoa está imune, coisa que ninguém está. E, mesmo que a pessoa não sofra nada, ela pode transmitir para alguém da família, que pode acabar tendo complicações.
 
Observamos hoje muitos jovens confraternizando, fazendo até festas. Como explicar a eles o perigo dessas reuniões?
Esse é um momento de luto coletivo. Tivemos mais de 70 mil mortes no país. Não dava para esperar mais uns meses para fazer uma festa? Parece que se dissolveu a consciência da pandemia, que nós naturalizamos as mortes. Isso faz com que surja o espírito de querer se opor às únicas alternativas que temos para diminuir a circulação do vírus. Confraternização é um momento que promove proximidade; por isso, somos contrários. Não podemos negar que está acontecendo uma pandemia e que podemos nos expor ou levar esse vírus para pais, avós. Temos de lembrar que estamos na ascensão do vírus no Centro-Oeste. É paradoxal que as pessoas, antes, estavam atendendo ao isolamento e, agora, no momento de maior circulação do coronavírus, não estão. O que está acontecendo nos hospitais, o esforço dos enfermeiros, médicos e funcionários de UTI, é algo que nunca se viu na nossa história do DF.

Correio Braziliense segunda, 13 de julho de 2020

ROCK: SETENTÃO EM FORMA

Jornal Impresso

ROCK
 
Setentão em forma
 
 
No Dia Internacional do Rock, confira o que alguns dos roqueiros brasilienses têm a dizer sobre um dos mais populares ritmos do mundo

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 13/07/2020 04:00

Impressiona a quem curte e, mesmo aos que não são exatamente apreciadores, a jovialidade de um setentão chamado rock and roll. Originário dos Estados Unidos, esse estilo de estrutura musical simples — em sua forma pura utiliza três acordes —, tem raízes na country music, gospel e R&B. Historicamente, os criadores desse estilo foram Chuck Berry, Little Richard e Jarry Lee Lewis, embora a popularização seja atribuída a Elvis Presley e Bill Haley, protagonista do filme Rock around the clock, que no Brasil, onde foi exibido em 1956, recebeu o título de No balanço das horas.
 
Entre nomes icônicos que contribuíram para tornar o rock algo atemporal, a partir da década de 1970, estão bandas como Beatles, Rolling Stones, Led Zepelin, Pink Floyd, Ramones, The Clash, The Doors e Queen, além dos cantores e compositores John Lennon, Paul McCartney, David Bowie e Elton John, do guitarrista e compositor Jimi Hendrix e da cantora Janis Joplin. Eles entram para a história da música universal e fazem parte da memória afetiva de incontáveis fãs.
 
No Brasil, os irmãos Cely e Tony Campello são vistos como os pioneiros do rock, na segunda metade dos anos de 1950. Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e seus companheiros da Jovem Guarda despertaram o interesse pelo gênero nos anos 1960; enquanto Raul Seixas e Rital Lee se tornaram símbolos roqueiros na década de 1970. As bandas paulistanas Titãs e Ira!, as cariocas Barão Vermelho e os Paralamas do Sucesso estão entre os representantes da geração oitentista, responsáveis pelo que veio a ser conhecido como BRock. Brasília contribuiu para isso com as reverenciadas Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Detrito Federal.
 
Hoje, comemora-se o Dia Internacional do Rock, instituído em 13 de julho de 1985, quando o cantor, compositor e humanista inglês Bob Geldof idealizou um festival chamado Live Aid, que ocorreu simultaneamente em Londres e na Filadélfia, cuja renda foi destinada ao combate à fome na Etiópia. Desde então, a data vem sendo comemorada em todo mundo. Em tempo de interminável quarentena, determinada pela pandemia, roqueiros brasilienses fazem a celebração em casa, longe do palco e do público. Veja o alguns deles, ouvidos pelo Correio, disseram.
 
 
 (GiovannaOhl/Divulgação)  
 
 
Philippe Seabra (Plebe Rude) — “Sempre achei estranho ter um dia para o rock, pois, pela natureza contestatória, creio que o rock não se conformaria em ser celebrado apenas num só dia. O rock deu voz aos jovens desde a década de 1950 e não foi diferente em Brasília, relacionada à geração da qual a Plebe fez parte. Nesse período que vivemos, com o impacto do coronavírus na sociedade, se existe um ponto positivo, é que veio apressar a história, ao demonstrar mais claramente toda a incompetência e falta de gestão desse governo patético. A Plebe também foi atingida, pois não pudemos lançar o álbum duplo Evolução, com o adiamento da turnê que faríamos pelo Brasil e Europa, onde participaríamos do Festival Rebellion, na Inglaterra.”
 
 (Matt Magrath/Divulgação)  
 
Tomás Bertoni (Scalene) — “Eu era pré-adolescente quando o rock entrou na minha vida, ao ouvir bandas clássicas, como Beatles, por influência dos meus pais, e o Red Hot Chili Peppers, e a pouco conhecida banda californiana Thrice. O rock, além de se tornar uma referência, fez surgir em mim, a partir dos 14 anos, uma identidade musical. Nosso último show foi no primeiro fim de semana de março, em Campinas (SP). Com o surgimento da pandemia, houve o adiamento das apresentações para lançar o EP Fôlego. Aliás, a produção desse projeto nos impôs um desafio, o de fazer  tudo à distância, cada um trabalhando no seu tempo. Foi uma experiência diferente, mas fluiu bem. O lado bom dessa longa quarentena é que sobrou tempo para que eu possa atenção total ao Benjamim, o meu primogênito.”
 
 (Shalon Adonai/Divulgação)  
 
Kiko Peres (Natiruts) — “Minha ligação com o rock vem de muito tempo. Para aperfeiçoar minha performance como guitarrista, me formei em música no Guitar Institute of Technoloy, de Los Angeles, em 1992. Fiz parte de algumas bandas, como Pravda, e das que faziam cover de Jimi Hendrix e Led Zeppelin. Atualmente, integro o Natiruts, com o qual vinha fazendo muitos shows antes da covid-19. Durante a quarentena, a música continua sendo minha maior terapia. Tenho tocado bastante e criado novas composições, que pretendo lançar ainda neste ano. Mas sinto muita falta de estar no palco e de trocar energia com o público.”
 
 (Henrique Fran?ois/Divulgacção)  
 
Zenny Galvão — “O rock sempre esteve presente em minha vida. Sou baixista desde 1989, quando formei a banda metaleira Flammea. Participei também e outros projetos, como os da Dona Encrenca, Foxy Lady, Rarabichebas, The Evil Rock e Woman in Rock. No momento, com a paralisação que atinge fortemente o meio artístico, recorro ao que ainda tem de sobra, a criatividade. Eu e Fábio Marreco fizemos jams virtuais com Rafael Cury e Thiago Totem. A vida está em suspenso, indefinida, o que se agrava com perdas de vidas e pela absurda inação e insanidade política. Mas a arte sempre resiste; e por hora é o que temos de cura.”
 
 (Arquivo Pessoal)  
 
Bruna Dornellas (Mirante) — “O rock tem uma importância muito grande para mim. Vejo como forma de expressão e pressão sobre valores tradicionais. Tomo parte de um projeto de rock alternativo como vocalista da banda Mirante. Com esse trabalho, iniciado em 2019, mostramos nosso som, nossa interpretação e nossa opinião, por meio das letras. No período de isolamento, determinado pela covid-19, nos adaptamos e criamos um método de produção caseiro. As músicas serão gravadas quando tudo isso passar. Sonho com o dia em que poderei subir novamente ao palco. Mas, enquanto isso não for possível, faço um apelo: fique em casa!”
 
 (Deilson Psykhe/Divulgação)  
 
Kefere Kafe (Indigentes e Indecisos) — “Somos uma banda de punk rock de São Sebastião-DF e vemos a importância de haver uma data comemorativa para o rock apenas para relembrar que, historicamente, esse gênero musical contestatório, abre a mente e provoca inspiração. A Indigentes e Indecisos foi formada em 2015, tem feito shows e participado de festivais undergrounds em vários pontos do Distrito Federal, incluindo a Vigília Cultural pela Democracia, na área externa do Museu Nacional da República. Como estamos sem atividade por causa da pandemia, sugiro que acessem nossa página no Facebook, em que postamos sempre muitas novidades e gravações de músicas com letras satíricas e críticas sociais.”
 

Correio Braziliense domingo, 12 de julho de 2020

O QUE VOCÊ EM FEITO NA QUARENTENA?

Jornal Impresso

O que você tem feito?
 
Em isolamento social, como tem reagido o público amante da música? Algumas dessas pessoas falaram ao Correio sobre a rotina na pandemia

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 12/07/2020 04:00

 
Brasília é uma cidade em que eventos artísticos, principalmente os da área musical, são prestigiados por expressivas e participantes plateias. Há mais de três meses, shows, concertos e espetáculos do gênero deixaram de ser realizados por causa da disseminação do novo coronavírus, que privou os espectadores de uma das principais alternativas de entretenimento e de fruição da cultura na capital.
 
Em isolamento social e com a remota expectativa do retorno dessa atividade, os amantes da música mesmo diante da impossibilidade usufruí-la presencialmente, continuam a tê-la como acalanto, ao assistir a lives, a programas de televisão e ao acessar o conteúdo sobre o assunto disponível nas plataformas digitais. Ouvidas pelo Correio algumas dessas pessoas falaram também da rotina que mantêm durante a interminável quarentena.
 
 (Arquivo Pessoal)  
Orly Burgos (Diplomata)
 
— “Mantenho o saudável hábito de assistir aos concertos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, no Cine Brasília. Isso é algo que me faz muita falta agora, em tempo de pandemia. O último que presenciei foi no começo de março, em que o programa tinha como destaque obra de Igor Stravinsky”, frisa a primeira secretária da Embaixada da República Dominicana. Ela diz que, recentemente, viu uma live da orquestra, que tem Cláudio Cohen como maestro. A diplomata atua na produção da Mostra Latina-Americana e Caribenha de Cinema, que foi realizada em outros anos também no Cine Brasília. A edição de 2020 voltou a ocorrer de 1º a 3 deste mês no formato on-line, com exibição dos filmes pelo canal Grulac Brasil.
 
 
 (Renato Cortez /divulgação )  
Natália Dantas (Psicóloga)
 
— Logo que o Samba Urgente surgiu, em 2018, Natália Dantas começou a prestigiar o coletivo de instrumentistas que comanda esta concorrida roda de samba. “O fato de o Samba Urgente ocupar o espaço urbano da cidade ganhou a minha simpatia desde o começo. Além disso, vejo-o como algo democrático e inclusivo, que prega o respeito à igualdade e ao amor”, salienta a psicóloga, que fez muitas amizades no evento. Ela elegeu a edição ocorrida na área da piscina de ondas, no Parque da Cidade, como a melhor de todas, principalmente pela participação inesperada da cantora paulistana Paula Lima. “As lives ocupam parte do tempo durante o isolamento social, mas nada se compara a troca de energia, que o Samba Urgente proporciona”, sublinha.
 
 
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
Ayres Britto (Jurista)
 
— Frequentador assíduo do Clube do Choro, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ayres Britto guarda na memória shows de João Donato, Armandinho Macedo, Hamilton de Holanda e outros grandes músicos brasileiros que assistiu naquele espaço cultural localizado no Eixo Monumental, onde possui mesa cativa, em que teve como convidados os também ex-ministros do STF Joaquim Barbosa e César Peluzzo. Presença constante também no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ele se recorda de apresentações de Caetano Veloso, João Bosco, Djavan e Ivan Lins. Enquanto espera a retomada das atividades artísticas, mesmo sem saber quando, o jurista ouve música, lê livros e escreve poemas. Poeticamente observa: “Estou batendo pernas dentro de mim mesmo, conversando com os próprios botões e dando voltas nos quarteirões de minha alma”.
 
 
 (Monique Damásio /divulgação)  
Bruno Nere (Tatuador)
 
— O rock dos anos 1990 e as batidas eletrônicas têm a preferência de Bruno Nere, que costuma ouvir estes estilos musicais em festas temáticas LGBTS, como a Toranja e outras que ocorrem na Birosca, no Conic. “Me identifico mais com eventos voltados para o público alternativo, que é formado por pessoas respeitosas e conscientes com as quais tenho maior interação. São essas festas que, no período da necessária quarentena, fazem falta para alguém como eu, que tem o hábito de sair à noite, para me socializar”, ressalta. “Além de me dedicar ainda mais ao estudo da arte de tatuar, tenho feito pouca coisa. Dia desses, fui a uma cachoeira com um amigo, e só”, complementa.
 
 
 (Arquivo Pessoal)  
Yan Cláudio (Vestibulando)
 
— De gosto eclético, o estudante Yan Cláudio tem preferência por festivais que reúnem artistas de diferentes estilos musicais. Como este ano a programação musical foi interrompida logo depois do carnaval, ele diz que não assistiu a nenhum show que considerou importante. “Em 2019, assisti a apresentações de Ney Matogrosso, no CoMa (na área do Complexo Cultural da Funarte); e de Iza, no Pavilhão Luz (Estádio Nacional Mané Garrincha), que foram especiais. Trabalhei, como freelancer, no Festival Melanina e pude curtir a black music que faz a trilha sonora deste projeto”, lembra. “Estou sentindo muita falta de shows ao vivo e de encontrar os amigos”, reforça.
 


Correio Braziliense sábado, 11 de julho de 2020


Correio Braziliense sexta, 10 de julho de 2020

CLÁUDIA LEITTE: 40 NA QUARENTENA

Jornal Impresso

40 na quarentena
 
 
Apesar da pandemia, Claudia Leitte prepara uma supercomemoração de quatro décadas de vida com live. Ao Correio, a artista conta sobre as expectativas para o carnaval e o momento conturbado com a covid-19
 
Claudia Leitte conta ao Correio como será a live de aniversário em meio à pandemia e projeta o 
carnaval de 2021.    (Instagram/Reprodução)

 

» Geovana Melo*

Publicação: 10/07/2020 04:00

Claudia Leitte (Instagram/Reprodução)  

Claudia Leitte

 

 
Aniversário é um momento de festejar e reunir pessoas queridas para celebrar a vida. No entanto, com as medidas de proteção para evitar a proliferação do novo coronavírus, as comemorações ganharam novos significados e maneiras de interação, principalmente por meio das redes sociais. É assim que Claudia Leitte vai comemorar, hoje, os 40 anos de idade. A cantora realizará a live 40ando na quarentena, a partir das 19h30, no canal oficial dela no YouTube. Na ocasião, a baiana dividirá o microfone, virtualmente, com Any Gabrielly, Léo Santana, MC Zaac, Bera, Dennis Dj, Lorena Improta e com o brasiliense Hungria. A apresentação, além de marcar o aniversário da baiana, tem viés solidário e busca arrecadar doações para as instituições Amigos do Bem, Beleza Escondida e Hospital Aristides Maltez (HAM).
 
O repertório do show foi pensado com a ajuda dos fãs e contará com grandes sucessos dos 19 anos de carreira da cantora, que iniciou a trajetória no grupo Babado Novo, em 2001. Claudinha relembra as mudanças do início da caminhada até agora. “Hoje, sou uma mulher e cantora mais experiente, mais madura, que se tornou mãe e esposa, mas tudo isso não me fez ser menos sonhadora, pelo contrário. Sinto como se estivesse começando agora, então, não vejo a hora de me desafiar, de produzir músicas novas e de inovar nos próximos trios elétricos”, conta Claudia Leitte em entrevista ao Correio.
 
Com estreia no axé, os trabalhos mais recentes da cantora e compositora são caracterizados pela diversidade. Ela transita por vários ritmos, passando pelo axé, forró, funk, reggae, reggaeton, pop e MPB. “Costumo dizer que o axé sempre me permitiu explorar todos os ritmos musicais, assim como a experiência de cantar por horas e horas em cima do trio elétrico. Eu amo cantar música, seja qual ritmo e estilo for. Acho que isso amplia as nossas possibilidades artísticas”, declara a baiana.
 
Claudia Leitte está aproveitando o momento de quarentena para ficar com o marido, Márcio, e os três filhos, Rafael, Davi e Bela. Além disso, a cantora tem trabalhado bastante. “Minha casa se torna também meu escritório nesse momento. Compus algumas músicas, fiz lançamentos e estou nos preparativos finais para minha segunda live, além de planejar tudo o que vem por aí na minha carreira”, afirma a aniversariante.
 
Longe dos palcos em razão do isolamento, a artista acredita que as lives são aliadas para matar a saudade das apresentações e se manter próxima ao público. “Sinto falta de estar nos palcos e também dos abraços, mas ainda bem que temos a tecnologia para nos fazer ficar próximos e ainda para poder arrecadar doações em prol de instituições que tanto necessitam, especialmente neste período”, destaca.
 
Carnaval
 
Conhecida por arrastar multidões atrás dos trios elétricos durante o carnaval, Claudia é uma das referências do festejo e dos foliões. A realização do carnaval de 2021 ainda está incerta por causa da pandemia. Por mais que a festa seja um marco da cultura brasileira, a cantora optou por não fazer planos. “Acredito que neste momento tenhamos que focar no que é o principal, que é a saúde e segurança de todos. Tinha projeções para o ano que vem, mas entendo que as festas só acontecerão se a pandemia estiver controlada em nosso país”, esclarece.
 
Trabalhos
 
Em abril, a cantora lançou a segunda parte do álbum trilíngue Bandera move, que reúne faixas gravadas em português, inglês e espanhol, e segue colhendo os frutos desse trabalho. A primeira faixa escolhida para promovê-lo foi Rebolada bruta, gravada em parceria com o paulista MC Zaac, na qual une o funk ao reggaeton.
 
“A repercussão tem sido muito boa. Sempre recebo mensagens carinhosas do público sobre as músicas, especialmente falando do último single, Rebolada bruta, em que canto com MC Zaac. É uma música que tem animado as pessoas quando estão em suas casas ou mesmo no momento de se exercitarem na sala. Foi um trabalho lançado em meio a essa quarentena inesperada, mas que ainda assim conseguiu atingir o coração das pessoas de alguma maneira”, lembra a compositora.
 
Em maio, também durante a quarentena, Claudia Leitte lançou o single trilíngue Mi amor, um feat entre ela e o cantor franco-georgiano Bera. “Foi uma honra participar. Bera é um cantor muito talentoso da nova geração e que está sendo cada vez mais conhecido entre os brasileiros. Além disso, ele tem uma consciência social e ambiental muito bacana, esteve na Amazônia e inclusive fez doações para uma ONG em prol da floresta. Fora essa participação, pretendo lançar novos singles sim, mas ainda não posso contar mais detalhes”, completa.
 
» Duas perguntas  / Claudia Leitte
 
Como será a live de comemoração dos seus 40 anos?
Podem esperar uma live pensada nos mínimos detalhes, feita com muito amor e com o objetivo de alegrar o coração das pessoas. Teremos surpresas e várias participações especiais, como do MC Zaac, Léo Santana, Any Gabrielly, Lore Improta, Bera, Hungria e Dennis DJ.
 
Durante esses 19 anos de carreira, quais foram as canções que mais lhe marcaram?
Todas as canções me marcaram, não consigo escolher uma. Pois cada uma me traz uma memória especial. Poderia tentar citar algumas, mas acho que a matéria ficaria imensa.
 
*Estagiária sob  supervisão de  Igor Silveira 
 
Live 40tando na quarentena
Hoje, às 19h30, no canal oficial da Claudia Leitte no YouTube. 

Correio Braziliense quinta, 09 de julho de 2020

PICADA DE NAJA DEIXA JOVEM EM COMA

Jornal Impresso

Espécime extremamente venenosa, da Ásia, uma naja picou o aluno de veterinária Pedro Henrique, de 22 anos, que mantinha a serpente em casa. Depois de capturar o ofídio, que foi levado por um amigo da vítima, a Polícia tenta descobrir a origem do animal.  (Batalhão da Polícia Militar Ambiental/Divulgação - Reprodução/Facebook)

Picada de naja deixa jovem em coma
 
Estudante de medicina veterinária criava o réptil em um condomínio no Guará 2. Ibama informou que o estudante não tem permissão para manter o animal em ambiente doméstico. Polícia Civil investiga a procedência do animal

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 09/07/2020 04:00

Pedro Henrique, 22 anos, é estudante de medicina veterinária desde 2016 (Reprodução/Facebook)  

Pedro Henrique, 22 anos, é estudante de medicina veterinária desde 2016

 


A polícia investiga a procedência da naja que picou um estudante de 22 anos, no Guará 2. Investigações apontam que Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl criava o réptil e o mantinha em casa. O rapaz está internado em estado grave na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. O Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) resgatou a cobra na noite de ontem, perto do shopping Pier 21.
 
A naja, espécie encontrada no sul da Ásia, é extremamente nociva ao ser humano, possuindo um veneno de ação neurológica, segundo informou o Zoológico de Brasília. O jovem, que é estudante de medicina veterinária, foi picado na última terça-feira, dentro de casa, em um condomínio na QE 40 do Guará 2, segundo a apuração policial. Após ser atingido, ele foi encaminhado ao hospital. O soro antiofídico necessário para a anulação do veneno veio do Instituto Butantan, em São Paulo, e chegou ao DF na noite de terça-feira.
 
O Correio apurou que, na madrugada de ontem, Pedro sofreu um choque anafilático, consequência de uma reação alérgica grave, e a administração do soro precisou ser interrompida. Só após um período de mais de seis horas em observação, a equipe médica pôde continuar o procedimento. Pela manhã, o estudante apresentou melhora e precisou ser submetido a uma hemodiálise, com o intuito de remover substâncias tóxicas do sangue. O rapaz, no entanto, permanece em coma.

No Facebook, Pedro Henrique demonstrava ser admirador de cobras (Reprodução/Facebook)  

No Facebook, Pedro Henrique demonstrava ser admirador de cobras

 

Buscas e apreensão
A 14ª Delegacia de Polícia (Gama) recebeu denúncias anônimas de que o animal estaria em uma chácara na cidade. A partir daí, agentes saíram às ruas em busca da naja. “Descobrimos que a cobra estava com um amigo do jovem, que, inclusive, estava ao lado dele no momento em que foi picado. Entramos em contato com esse colega e estávamos negociando para que ele entregasse o animal na delegacia. Contudo, em determinado momento, ele falou que devolveria o animal para a Polícia Militar”, frisou o delegado-chefe da 14ª DP, Jônatas Silva.
 
Segundo o comandante do BPMA, major Elias Costa, familiares de Pedro Henrique forneceram informações que levaram ao contato do adolescente que estaria com o bicho. Após buscas no Lago Norte, Setor de Mansões do Lago Norte, Paranoá, Lago Sul e até na Ponte Alta do Gama, integrantes do batalhão convenceram o garoto a revelar que ele havia deixado o animal nas proximidades do shopping Pier 21, “num local escuro e atrás de um morro de areia”, como descreve o major. “A cobra, aparentemente, está bem. O local onde está condicionado é ideal para esse tipo de animal, caso alguém queira levá-lo para algum lugar. Muito embora seja uma espécie bem agressiva, nós não o encontramos agressivo, está bem tranquilo”, detalhou.
 
O Correio apurou que o animal foi apresentado na Polícia Federal. De acordo com o delegado Jônatas Silva, o amigo de Pedro Henrique será ouvido pela polícia. “Caso fique constatado que ele praticou algum tipo de crime, poderá responder por tráfico de animais, pelo fato de ter ocultado a cobra”, destacou.
 
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que o estudante não tem permissão para manter o animal em ambiente doméstico, pois a legislação permite apenas espécies não venenosas para esse fim. O órgão destacou que o animal poderia ser criado apenas para fins comerciais, no caso de instituições farmacêuticas ou com o intuito de conservação, ou seja, quando o animal não pode voltar à natureza. “Para isso, o responsável precisa ter autorização emitida por órgão ambiental estadual e seguir regras para a criação, como mantê-la em local apropriado” destacou o instituto.
 
O Ibama informou que emitirá multa, que pode variar de R$ 500 a R$ 5 mil, ao proprietário da residência onde estava o animal. De acordo com o instituto, a cobra será encaminhada para o Zoológico de Brasília.
 
Fã de cobras
Nas redes sociais, Pedro Henrique demonstrava ser um admirador de cobras. Em um perfil no Facebook, o rapaz costuma compartilhar diversas publicações com imagens do réptil. Em uma delas, uma criança aparece brincando com o animal. Contudo, não há, ao menos em modo público, qualquer registro que revele espécimes criadas pelo próprio estudante.
 
Pedro cursa medicina veterinária na Uniceplac desde 2016. A coordenadora do curso, Daniella Ribeiro Guimarães Mendes, disse ao Correio que diversos alunos manifestam apreço pelos mais diversos tipos de animais, mas são instruídos sobre a necessidade do respeito ao habitat de cada espécie. “Para aulas, podemos ter bovinos, equinos e outros animais mais domésticos. Animais selvagens em cativeiro representam um perigo e pode ser um mal para o próprio animal. Até porque é impossível alguém sair andando e se deparar com uma espécie dessas por aqui”, pontuou.

Correio Braziliense quarta, 08 de julho de 2020

CORONAVÍRUS - BOLSONARO INFECTADO

Jornal Impresso

Infectado, Bolsonaro minimiza pandemia
 
Presidente testa positivo para covid-19, mas mantém discurso contra isolamento social e diz que há "superdimensionamento" da doença. Ele recomenda uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra o vírus e que pode causar uma série de efeitos colaterais

 

» AUGUSTO FERNANDES
» INGRID SOARES

Publicação: 08/07/2020 04:00

Jair Bolsonaro  (TV Brasil/AFP)  

Jair Bolsonaro

 



Depois de passar o primeiro semestre inteiro menosprezando a covid-19, desrespeitando as recomendações de autoridades sanitárias para conter a disseminação do novo coronavírus, promovendo aglomerações e reduzindo a doença que já tirou a vida de quase 67 mil brasileiros a um mero “resfriadinho”, o presidente Jair Bolsonaro testou positivo para a enfermidade. Apesar de fazer parte de um dos grupos de risco, por ter 65 anos, o mandatário disse não estar preocupado com o diagnóstico e afirmou que usa hidroxicloroquina no tratamento, mesmo ciente de que a eficácia do remédio contra a covid-19 ainda não foi comprovada cientificamente.

Logo após saber que estava doente, Bolsonaro optou por não ficar em isolamento e chamou a imprensa para dentro do Palácio da Alvorada, onde anunciou o resultado do exame que fez na segunda-feira. Ele ficou a poucos metros dos jornalistas e utilizou uma máscara comum, que não é recomendada para pacientes infectados. No fim da coletiva, retirou o equipamento de proteção para comprovar que estava “perfeitamente bem”, deixando as pessoas próximas a ele ainda mais expostas ao novo coronavírus.

Apesar de ter entrado para a estatística da pandemia, Bolsonaro manteve o discurso negacionista diante da crise sanitária e comentou que “houve um superdimensionamento” da covid-19 no país. Ele voltou a dizer que crianças, adolescentes e adultos não precisam se preocupar com a doença. “As pessoas abaixo de 40 anos, a não ser que tenha um problema de saúde sério, a chance é próxima a zero de sofrer e ter uma consequência maior da contaminação. A garotada sem sala de aula vai ter problemas de readaptação no futuro. Temos que nos preocupar com o vírus, sim, mas também com a questão do desemprego que está aí”, afirmou.

“Não tem que ter pavor. É a vida. Como podia ter sido um outro exame de uma comorbidade qualquer. É a realidade”, continuou. “O Brasil tem de produzir, tem que botar a economia para rodar.  A vida, eu sei que ninguém recupera, mas a economia não funcionando leva a outras causas de óbitos, de mortes, de suicídios no Brasil. Isso foi completamente esquecido.”

Medicação


Ao longo do dia, Bolsonaro aproveitou para fazer propaganda hidroxicloroquina. A medicação pode trazer sérios efeitos colaterais quando utilizada de maneira indiscriminada e sem acompanhamento médico, entre eles, arritmia cardíaca. Mesmo assim, o presidente insistiu que a substância tem “efeito imediato” e que já tomou ao menos três doses da droga desde que apresentou os primeiros sintomas da covid-19, no domingo, como mal-estar, dores musculares e febre. “Eu sei que não tem uma comprovação científica ainda, mas a eficácia da hidroxicloroquina tem aparecido, e muita gente tem dito que, após ser ministrado esse tipo de medicamento, passou a se sentir muito bem”, disse.

Horas depois, em vídeo postado nas suas redes sociais, em que apareceu tomando uma pílula do remédio, ele reforçou o discurso. “Estou me sentindo muito bem. Estava mais ou menos domingo; mal, segunda-feira. Hoje, terça (ontem), estou muito melhor do que sábado. Então, com toda certeza, né, está dando certo. Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coronavírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas é mais uma pessoa que está dando certo. Então, eu confio na hidroxicloroquina, e você? Valeu. Tamo junto.”

Ataques

Como de praxe, Bolsonaro culpou gestores estaduais e municipais pela situação da economia nacional em meio à pandemia. “Essa política passou a ser privativa dos governadores e prefeitos, e o presidente da República, em praticamente nada, pode interferir. Então, se ela vai indo bem ou mal, a responsabilidade é de governadores e prefeitos, segundo decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao governo Bolsonaro, coube quase que exclusivamente repassar recursos ao longo desses meses”, ponderou.

O chefe do Executo ainda disse que as medidas de combate adotadas por estados e municípios não funcionaram. Segundo ele, “todo mundo sabia que mais cedo ou mais tarde ia atingir uma parte considerável da população”. “O objetivo final do isolamento social não é dizer que você não vai contrair o vírus, é fazer com que esse vírus fosse diluído ao longo do tempo para evitar que houvesse acúmulo em hospitais por falta de leitos de UTIs ou de respiradores. O isolamento foi feito de forma horizontal, ou seja, todo mundo ficou em casa como obrigação”, criticou.

“O que eu posso falar para todo mundo: esse vírus era como uma chuva que vai atingir vocês, alguns, não. Alguns têm de tomar um maior cuidado com esse fenômeno. Agora, acontece. Infelizmente, acontece”, disse. “E repito aqui: ele acontece, e as pessoas de certa idade que têm problemas de saúde ou comorbidade, uma vez sendo contaminadas, as chances de óbitos aumentam bastante. Isso tem que ser evitado. Por isso que a gente fala do isolamento vertical.”


"A vida, eu sei que ninguém recupera, mas a economia não funcionando leva a outras causas de óbitos, de mortes, de suicídios no Brasil”


"Sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas é mais uma pessoa que está dando certo. Então, eu confio na hidroxicloroquina, e você?”

Correio Braziliense terça, 07 de julho de 2020

SALÕES E ACADEMIAS REABERTOS

Jornal Impresso

Salões e academias abertos
 
Após 109 dias fechados, todo o cuidado deve ter tomado para evitar contaminações. Os protocolos de segurança e de higiene são rigorosos, de acordo com decreto do GDF. Empresários desses setores preveem retomada gradual

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 07/07/2020 04:00

 

"Estamos cuidando de tudo para trazer segurança às clientes. Vamos abrir com menos de 50% das cadeiras e os funcionários trabalharão em esquema de escala" Milena Infantini, dona do salão de beleza Orange Beauty Studio, na Asa Sul

 

 
Academias, salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos se preparam para a retomada das atividades hoje no Distrito Federal. Após 109 dias fechados, em cumprimento ao decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), como medida de combate à disseminação do novo coronavírus, os comércios reabrem com uma série de restrições e medidas de segurança. Apesar da liberação, o retorno das atividades divide opiniões. Alguns brasilienses programam voltar a frequentar os espaços imediatamente, outros preferem manter o isolamento social e permanecerão em casa.

O retorno dos setores foi liberado após novo decreto assinado pelo governado Ibaneis Rocha (MDB)  e publicado no Diário Oficial do DF na última quinta-feira. A medida, no entanto, proíbe aglomerações nos espaços. A Secretaria DF Legal e a Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde serão as responsáveis pela fiscalização dos comércios abertos.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que, a partir de hoje, haverá um mutirão de ações fiscais nesses estabelecimentos para verificar o cumprimento do decreto do GDF. Aqueles que descumprirem as determinações constantes no decreto serão intimados a realizarem as adequações necessárias no prazo de 24 horas.

Para um retorno seguro, dirigentes dos segmentos prepararam manuais de biossegurança, baseado nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O presidente do Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e Profissionais Autônomos (Simbeleza), Célio Ferreira de Paiva, explica que o decreto do GDF deixou o setor “um pouco mais tranquilo”. “Era o que a gente queria. Mostramos o manual de biossegurança e foi aprovado. Agora, estamos na expectativa de recuperar o tempo perdido. Muitos vão tentar se reerguer, mas não vão conseguir, infelizmente”, relatou.

Com cerca de 7 mil profissionais de educação física demitidos, a presidente do Sindicato das Academias do DF (Sindac-DF), Thaís Yeleni, admitiu que a retomada é um desafio para o setor e que a entidade estuda a readmissão da maioria. “O estado é crítico. Todas as academias têm custos, mas, sem receita, não têm como manter (os empregos). Os donos das pequenas e médias academias estão sem receita para a subsistência”, contou. Ela destacou a importância de ter academias abertas para o cuidado com a saúde e com a qualidade de vida.

 

"É o protocolo mais rígido de todo os segmentos. Mais que drogarias, supermercados, padarias. Vamos seguir à risca" Luciano Girade, dono da rede de academias Blue Fit

 



Segurança
 
Dono da rede de academias Blue Fit, o empresário Luciano Girade conta que os funcionários trabalharão para seguir todas as exigências do GDF. “É o protocolo mais rígido de todo os segmentos. Mais que drogarias, supermercados, padarias. Vamos seguir à risca. Nosso intuito é estarmos seguros e prontos para receber os alunos”, afirmou. Na entrada do estabelecimento, todos os clientes passarão por aferição de temperatura. Deve haver um tapete sanitizante na entrada de cada estabelecimento, sinalização sobre as orientações dentro do local, todos os colaboradores devem estar de máscara e luvas, entre outros. O uso dos chuveiros e bebedouros ficará suspenso.

A academia Evolve Gymbox também se preparou com antecedência. O empresário Henrique Pereira conta que mudou a disposição dos equipamentos com distância de dois metros entre um e outro. Além disso, as unidades substituíram a biometria por um aparelho de reconhecimento facial, para evitar o contato físico. Para evitar aglomeração, os clientes deverão agendar o horário de atividade pelo aplicativo da academia. “São adaptações que vamos fazendo aos poucos. Precisamos retomar com consciência da responsabilidade de seguir os protocolos. Temos condições de fazer isso, de forma segura e adequada”, assegurou.

O servidor público Alex Sandro Bachiega, 37 anos, pretende voltar esta semana para a academia. Segundo ele, os dias em que ficou parado em casa o fez ficar sedentário. Morador de Águas Claras, ele avalia o momento como ideal para a reabertura das academias. “Se todos tomarem as cautelas sanitárias e higiênicas não deve ter problema. Não estou com medo. Estou ficando obeso e, se eu não me cuidar, vou para o grupo de risco, e esse é o medo maior”, disse. Por outro lado, a artesã Eliane Rosa, 42, não pretende sair de casa tão cedo. Antes da pandemia, ela malhava todos os dias pela manhã. “Eu e meu marido continuamos pagando, sem ir. Não concordamos com a reabertura de tudo de uma vez”, criticou.
 
Beleza
 
Ontem, o dia foi agitado nos salões de beleza e centros estéticos. Boa parte também se preparou com antecedência para retomar os atendimentos. No Orange Beauty Studio, na Asa Sul, houve uma força tarefa para a limpeza e desinfecção. O estabelecimento tem três andares. Mas o subsolo será desativado pela pouca circulação de ar. Serviços de contato físico excessivo, como massagem, serão suspensos temporariamente. Além disso, todos os clientes receberão equipamentos de proteção individual (EPIs). “Estamos cuidando de tudo para trazer segurança às clientes. Vamos abrir com menos de 50% das cadeiras e os funcionários trabalharão em esquema de escala. Todas as medidas são essenciais”, detalhou a dona do espaço, Milena Infantini. Ela conta que a agenda ainda está vazia, mas acredita que será comum nesse primeiro momento.
Durante o isolamento social, a proprietária do Cravo e Canela Studio de Beleza, Eliene Souza, vendeu vouchers com descontos em serviços para manter a receita no período mais crítico da pandemia. Agora, com a abertura e boas expectativas, ela aguarda as clientes marcarem horário. “Por enquanto, não temos muito agendamento. Ninguém está seguro ainda. Só quando lançarem a vacina. Mas, acredito que tudo voltará aos poucos”, frisou.
 
Risco
 
Apesar da empolgação dos empresários para a retomada de atividades, o parasitologista do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Jaime Santana considera que o momento ainda não é o adequado para que ocorra esse tipo de flexibilização. “O fato de anunciar a retirada da restrição já faz com que as pessoas comecem a ir para as ruas. O ideal é avisar na véspera, para evitar isso. Sou favorável ao fechamento completo de todas as atividades por 20 dias, porque teríamos uma redução enorme da circulação do vírus. Posteriormente, poderia abrir novamente, mas, mesmo assim, com muita análise”, avaliou.

De acordo com o especialista, as academias por exemplo, não é um segmento essencial para voltar a abrir. “Pessoas se aglomeram nesses locais. Além disso, não vai ser possível limpar e higienizar adequadamente. Isso pode propiciar o aumento da circulação do vírus. Consequentemente, vão ter mais doentes e mortos”, lamentou.

O parasitologista orienta que, se possível, as pessoas devem continuar em casa, mantendo a circulação restrita e absolutamente cuidadosa. “Deve-se manter o uso de máscara, higienização das mãos, entre outras medidas higiênicas. Outra coisa importante é o uso de óculos. Os olhos são uma porta de entrada para o vírus e ninguém está se atentando a isso”, disse.
 
Colaborou Walder Galvão



Orientações da Vigilância Sanitária
» Na entrada do estabelecimento deve conter um tapete 
úmido com água sanitária ou hipoclorito de sódio;
 
» Dimensionar o número de usuários no ambiente, 
realizar demarcação no 
chão do distanciamento 
de dois metros entre as 
pessoas para evitar aglomerações;
» O atendimento deverá ser realizado em regime de agendamento, para que não haja cliente na espera, em caso de salão de beleza;
 
» Ampliar a frequência de limpeza de piso, bancadas, superfícies, corrimão, maçaneta, janelas, telefones, interruptores e banheiros com álcool a 70% ou hipoclorito de sódio 1%, 
de 30 em 30 minutos;
 
» Disponibilizar e garantir, para uso dos trabalhadores e dos usuários, local para lavagem frequente das mãos, provido de sabonete líquido, suporte para toalhas de papel, toalhas de papel descartável, lixeira com tampa e abertura sem contato manual;
 
» Propiciar boa ventilação e circulação de ar. 
O ar-condicionado e climatizadores poderão ser utilizados, no entanto, todas as portas e janelas devem estar abertas, assegurando um ambiente arejado;
 
» Todos os colaboradores e 
clientes devem fazer uso 
de máscaras (podendo ser artesanais).


Restrições

  Academias de esporte de todas as modalidades 
 
» Disposição dos equipamentos à distância de dois metros uns dos outros;
 
» Proibição do uso de bebedouros e chuveiros, bem como de aulas coletivas e de contato físico nas atividades;
 
» Suspensão do uso de catracas e pontos eletrônicos cuja ativação se dê por meio de biometria, especialmente por impressão digital;
 
» Fechamento de uma a duas vezes por dia por cerca de 30 minutos para limpeza e desinfecção dos ambientes.


  Salões de beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos  
 
» Higienização frequente de cadeiras de uso coletivo;
 
» Proibida a permanência de pessoas em espera dentro dos estabelecimentos; o atendimento deve ocorrer mediante agendamento;
 
» Esterilização de todos os equipamentos de trabalho e trocar de toalhas ou lençóis após cada atendimento;
 
» Uso obrigatório de máscaras por clientes e funcionários, além de protetor facial de acrílico (face shield) por todos os prestadores de serviços.
 
 

Correio Braziliense segunda, 06 de julho de 2020

MARTA ROCHA ENCANTOU-SE: AOS 83 ANOS, MORRE A ETERNA MISS BRASIL

Jornal Impresso

Martha Rocha, 83, ex-Miss Brasil
 
 
Baiana de Salvador ficou famosa em concursos de beleza na década de 1950. Nos últimos anos, pintava quadros para sobreviver

 

Alessandra Azevedo

Publicação: 06/07/2020 04:00

Celebridade aos 18 anos, a ex-modelo viveu seus últimos dias em uma casa de repouso para idosos em Niterói (Reprodução
)  

Celebridade aos 18 anos, a ex-modelo viveu seus últimos dias em uma casa de repouso para idosos em Niterói

 

 
Na tarde do último sábado, aos 83 anos, morreu a primeira Miss Brasil, Martha Rocha, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Com a saúde debilitada há anos, a ex-modelo não resistiu a um ataque cardíaco, seguido de parada respiratória. O corpo foi enterrado ontem, no Cemitério no Santíssimo Sacramento.
 
Nascida em Salvador, em 19 de fevereiro de 1936, Martha Rocha tornou-se uma celebridade instantânea ao vencer o Miss Brasil, aos 18 anos, em junho de 1954, logo após ter sido eleita Miss Bahia. Por pouco, não foi Miss Universo, em julho daquele ano — ficou em segundo lugar, atrás da candidata dos Estados Unidos, Miriam Stevenson.
 
O resultado pegou muita gente de surpresa. Quando Martha chegou aos Estados Unidos para competir pela coroa de Miss Universo, pesquisas populares já a consideravam eleita. O motivo da derrota, dizem, seria que a brasileira tinha duas polegadas a mais nos quadris, em relação aos cânones de beleza da época. Anos depois, Martha disse que não sabia se a história era real. “Nos Estados Unidos, nunca ninguém me tirou as medidas”, disse, em sua autobiografia.
 
Verdade ou não, até os últimos dias, Martha foi considerada uma das mulheres mais bonitas do mundo, injustiçada no concurso em que essa constatação seria oficializada. No intervalo de 66 anos entre a ascensão súbita como celebridade e a morte, ela trabalhou como modelo, assinou centenas de contratos publicitários e foi inspiração para marchinha de carnaval, receita de bolo e modelo de carro.
 
Ao voltar ao Brasil, mesmo sem a faixa de Miss Universo, Martha teve uma recepção calorosa: foi recebida pelo governador da Bahia à época, Régis Pacheco, aplaudida e seguida por milhares de pessoas em carro aberto. Passou os anos seguintes em jantares, festas, inaugurações e viagens pelo país. Sempre acompanhada pela cabeleireira e por dezenas de fãs. Os últimos anos, no entanto, não foram tão luxuosos quanto os das décadas de 1950 e 1960. 
 
Sem dinheiro, a última residência de Martha Rocha foi uma casa de repouso para idosos, em Niterói. “Não me sinto diminuída, humilhada por isso. Pelo contrário, pois minha dignidade segue sem mácula”, disse ela, no Facebook, em 8 de março de 2019. No dia seguinte, em outra publicação, confessou ter pensado muito antes de falar sobre a situação, “por temer ser mal interpretada” e lamentou ter sido isso “exatamente o que aconteceu”. 
 
Golpe
Antes de chegar à casa de repouso, Martha morou em cobertura com vista para o mar e apartamentos enormes na capital fluminense. Os problemas financeiros começaram em 1995, com a falência da Casa Piano, uma das maiores casas de câmbio do Rio, que pertencia ao ex-cunhado, Jorge Piano, e onde ela havia depositado praticamente toda a sua fortuna. Ele fugiu para o exterior e nunca devolveu nem parte do dinheiro.
 
“Nem pensei em pedir ajuda, superei meus problemas com suporte de meus dois filhos, duas amigas e do meu trabalho honrado, vendendo os quadros pintados por mim, e ganhando cachê para divulgar o concurso Miss Brasil”, disse Martha, no Facebook, no ano passado. “Para mim, meus amores, este assunto está encerrado. Ponto final", completou. 
 
A fuga de Jorge, entretanto, mudou a vida de Martha, que, de imediato, já teve que vender o apartamento luxuoso onde morava. Se, aos 18, viveu uma rotina agitada de viagens e eventos luxuosos, depois dos 60, passou a acordar cedo para pintar os quadros que vendia para ajudar a pagar as contas. Além do baque financeiro, Martha passou por problemas graves de saúde, como câncer de mama e pneumonia aguda.
 
Martha ficou viúva aos 23 anos do primeiro marido, Álvaro Piano, que morreu em um acidente de avião, na Argentina, em 1960. Com ele, teve dois filhos: Álvaro e Carlos Alberto. Casou-se novamente com Ronaldo Xavier de Lima, com quem teve a terceira filha, Cláudia. Segundo Álvaro, que confirmou a morte, ontem, a ex-modelo já estava de cama havia muito tempo e não conseguia andar.  

Correio Braziliense domingo, 05 de julho de 2020

HUMOR É SEMPRE O MELHOR REMÉDIO

Jornal Impresso

Humor é sempre o melhor remédio
 
 
Comediantes abordam o cotidiano da quarentena de forma bem-humorada, sendo um contraponto ao momento delicado

Adriana Izel

Publicação: 05/07/2020 04:00

 

Paulo Vieira está à frente de duas produções de humor sobre a quarentena (TV Globo/Divulgação)  

Paulo Vieira está à frente de duas produções de humor sobre a quarentena

 

 
 
Uma válvula de escape. Essa tem sido a função da comédia em meio à quarentena, período em que a maior parte da população se mantém isolada para cumprir as medidas de combate ao novo coronavírus, que já fez mais de 60 mil vítimas no Brasil. A prova disso é a quantidade de programas humorísticos na televisão e no streaming e de esquetes nas redes sociais que buscam ser um contraponto ao momento tenso e delicado do país, tanto por conta da doença, quanto por conta da questão política.
 
“Em meio a tantas informações que são novas para todo mundo, queremos oferecer leveza, queremos fazer as pessoas rirem. O ser humano precisa de leveza, e o humor tem essa função de ser um líquido que ajuda a digerir a vida um pouco mais fácil. Mas sem alienar”, analisa o comediante Paulo Vieira, que atualmente está no ar no quadro Como lidar? do Fantástico, no Zorra e ainda também na recém-lançada série do Globoplay, Cada um no seu quadrado.
 
O brasiliense Daniel Villas Bôas, da Cia de Comédia Setebelos que tem apostado nos formatos drive-in e on-line para fazer humor, diz que esse sempre foi o papel da comédia e que, agora, por conta do contexto, isso ficou ainda mais evidente. “Nesse momento a gente sabe o quanto tem sido difícil psicologicamente para muitas pessoas, tanto pelo isolamento por se sentirem sozinhos, pelas dificuldades financeiras. Então, nesse momento a comédia traz um pouco de alegria”, comenta.

A Cia de Comédia Setebelos fez apresentação em drive-in e aposta no formato digital (Rodrigo Carletti/Divulgação)  

A Cia de Comédia Setebelos fez apresentação em drive-in e aposta no formato digital

 



“O humor já era uma ferramenta extremamente agregadora por meio da crítica, em que é possível passar muita informação. O humor é um cronista social dos tempos. Hoje a gente percebe a importância e a força dele”, completa Adriano Siri, integrante da cia Os Melhores do Mundo, que tem utilizado as redes sociais para novos projetos de comédia.
 
Para assistir
 
Cada um dos humoristas, ao seu modo, exerce essa função no meio da pandemia. Paulo Vieira é um dos nomes que ganhou projeção nacional. Na Globo desde o ano passado, na pandemia, ele estreou no Fantástico com o quadro Como lidar?, em que retrata o que tem passado em casa. “É uma comédia de costumes dos tempos atuais. Conto, em primeira pessoa, o que estou passando na minha casa durante a quarentena, as loucuras da minha cabeça, a maneira como eu enxergo tudo isso, com a lente do humor. É uma maneira de compartilhar os meus sentimentos com quem está na mesma situação que eu”, explica.
 
O projeto tem roteiro de Paulo Vieira, Diego Tavares e Leonardo Lanna. Hoje, irá ao ar o último episódio com participação remota de Ary Fontoura. Além disso, Paulo Vieira estreou na última sexta-feira, ao lado de Fernando Caruso, a série Cada um no seu quadrado, mais uma que se inspira na quarentena. “Ele (o programa) parte de uma premissa muito básica: tentar criar uma festa, uma mesa de bar, um papo entre amigos, mas com cada um no seu quadrado. Tem um clima de muita descontração. “Chegamos em uma seleção de quatro amigos por episódio, e os convidamos para bater papo, jogar conversa fora, falar da vida, jogar, se divertir. Para cada um comer e beber na sua casa”, completa.
 
Ontem, a Cia de Comédia Setebelos apresentou no 1º Festival Drive-In, pela primeira vez, um espetáculo criado para a quarentena, intitulado Comédia para viagem. Nele, cada um dos integrantes, Daniel Villas Bôas, Daniel Lima, Leônidas Fontes, Lucas Moll e Saulo Pinheiro, levou vivências do cotidiano do distanciamento social para o palco. “O desafio do comediante é fazer as pessoas enxergarem as coisas mais triviais de um ângulo que elas não veriam. Nessa quarentena, tudo é material para se explorar: a situação dos casados e dos solteiros, a relação com os filhos, os desafios do supermercado e do delivery, o Netflix zerado”, comenta Daniel.
 
Além do espetáculo, que foi encenado ao vivo, o grupo tem feito lives todas às sextas-feiras com convidados do cenário de humor. Lá, também falam da situação cotidiana. “Colocamos uma lupa em cima de alguns pontos, o que fica potencializado por essa identificação e empatia que todo mundo tem com as situações”, complementa.


Fora dos palcos, Adriano Siri comanda nas redes sociais programas de humor (Siri/Divulgação)  

Fora dos palcos, Adriano Siri comanda nas redes sociais programas de humor

 



No ano em que a cia Os Melhores do Mundo completou 25 anos, Adriano Siri tinha uma programação agitada, que, acabou sendo impactada pela pandemia. Mas a criatividade não parou. Ele levou para a própria rede social o humor latente em si. Assim fez e ainda faz vídeos com o personagem Saraiva, policial conhecido de espetáculos do grupo, e criou o Ventriloquismo Picareta, em que atua com Mano, um boneco feito com uma meia e duas bolas de frescobol.
 
“Para gente que trabalha com criatividade e produção criativa de forma muito intensa, é muito difícil ficar parado. Comecei a tratar de inventar uma moda ou outra. Tem sido uma válvula de escape, alguma maneira de até abrir novos caminhos”, comenta. O ventríloquo mascarado foi uma ideia que surgiu logo quando começou a pandemia, por conta do uso da máscara, já que a habilidade é exatamente usar a voz de boca fechada. “Aquilo é uma piada, porque acaba com essa magia e com a brincadeira”, revela.
 
Siri também tem tocado um projeto que teve início no ano passado, mas que migrou para o âmbito on-line na quarentena: Comida & graça, com o chef Marcelo Petrarca. “É uma maneira de exercitar o improviso e associar o humor à gastronomia”, afirma.
 

Correio Braziliense sábado, 04 de julho de 2020

REABERTURA INTENSIFICA DEBATE DOBRE ISOLAMENTO

Jornal Impresso

Reabertura intensifica debate sobre isolamento
 
Com protesto em frente ao Buriti, manifestantes estimulam as discussões sobre o distanciamento, principalmente após GDF autorizar a retomada total do comércio e das aulas. Governador Ibaneis Rocha garante que o cenário é seguro para flexibilização

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 04/07/2020 04:00

Cerca de 100 pessoas participaram de ato contra a retomada das atividades no Distrito Federal: %u201CTodas as vidas importam%u201D (Fotos: Jaqueline Fonseca/Esp. CB/D.A Press)  

Cerca de 100 pessoas participaram de ato contra a retomada das atividades no Distrito Federal: "Todas as vidas importam."

 



Aretomada total das atividades comerciais e industriais, além do retorno das aulas, interrompidas devido ao novo coronavírus, reforçou as discussões sobre a importância do isolamento social no Distrito Federal. Ontem pela manhã, manifestantes reuniram-se em frente ao Palácio do Buriti para questionar decreto publicado pelo Executivo local com cronograma de reabertura. Cerca de 100 pessoas promoveram o ato Todas as Vidas Importam, homenagearam as vítimas da covid-19 e pediram mais tempo de distanciamento a fim de evitar mais mortes. Ao Correio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) garantiu que as análises da Secretaria de Saúde mostram que o cenário é seguro para que os segmentos voltem a funcionar, inclusive as escolas.

O decreto, publicado na quinta-feira, prevê a abertura escalonada e por setor. Na próxima terça-feira, abrirão salões de beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos e academias. Em seguida, em 15 de julho, bares e restaurantes poderão retomar os negócios. Escolas privadas têm permissão para receber alunos em 27 de julho, e as públicas, em 3 de agosto. Apesar das restrições e do protocolo de higienização impostos pela determinação, o retorno às atividades preocupa os participantes do protesto.

“A vida é muito breve. Agosto é muito cedo” e “Romper o isolamento é promover o genocídio” foram algumas das frases escritas nas faixas erguidas pelos manifestantes. Uma das organizadoras, a professora Leda Gonçalves, 56 anos, ressaltou que a medida do Executivo local colocará em risco a saúde da população. “Para nós, romper o isolamento do modo como o GDF está propondo é aumentar a quantidade de mortos, perder vidas. Então, a gente quer pedir um basta”, destacou. Para a dentista Geovania Rodrigues, a abertura é inexplicável, já que o crescimento de casos continua em aceleração.  “Justo no momento do pico da pandemia, já previstos por estudos, a gente depara-se com a liberação de praticamente todas as atividades econômicas. É um momento que, no nosso entender, põe em risco muitas vidas”, frisou.

Em nota, o Palácio do Buriti informou que o protesto foi pacífico e acompanhado por equies da Polícia Militar. “A manifestação é um direito fundamental do cidadão, previsto na Constituição”, avaliou.

Educação

A retomada das aulas é um dos pontos mais sensíveis do decreto publicado pelo GDF. Ontem, representantes do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) também participaram do protesto. O diretor Samuel Fernandes ressaltou que não há condições de as escolas brasilienses receberem alunos na pandemia.

O decreto de reabertura dos colégios prevê série de medidas para evitar a disseminação da doença. Entre elas está a testagem dos professores, o fechamento dos bebedouros, o distanciamento entre cadeiras de 1,5m e a suspensão de eventos que promovam aglomeração. Além disso, as turmas serão divididas pela metade e alternarão, a cada semana, aulas presenciais e remotas. Entretanto, o Sinpro não considera as medidas suficientes. De acordo com Samuel, alunos e professores não podem ser obrigados a frequentarem aulas presenciais. “Na próxima semana, vamos tentar uma reunião com a Secretaria de Educação para tratar do assunto”, comentou.

O Correio Braziliense entrou em contato com a Secretaria de Educação e solicitou entrevista para comentar as queixas feitas pelo Sinpro, entretanto, a pasta não atendeu ao pedido da reportagem até o fechamento desta edição.
Com avanço dos casos do novo coronavírus, o sistema de saúde corre risco de entrar em colapso. Levantamento mais recente da Secretaria de Saúde mostra que o DF tem 751 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) exclusivos para pessoas com a covid-19. Desses, 529 estão ocupados por pacientes, ou seja, tem 70% da capacidade comprometida. De acordo com a pasta, a taxa de ocupação na rede pública está em 62% e na privada, em 92,1%.

UTIs

Projeção feita por Breno Adaid, professor do Centro Universitário Iesb, doutor em administração e especialista em análises de dados e quantitativos estatísticos, estima que o sistema de saúde deve ficar sem vagas em breve. O estudioso fez uma análise de previsão a partir dos dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde. O resultado mostra três possíveis cenários para a capacidade hospitalar da capital. Caso não ocorra a expansão dos leitos de UTI na rede, a expectativa é de que as vagas acabem em 10 dias, no cenário provável; em oito dias, na pior das hipóteses; e em 13 dias, na melhor avaliação. “O que me surpreende é que os dados do DF em relação a esses leitos estão padronizados. Mesmo com o aumento de casos, a proporção de pessoas entrando na UTI manteve-se. O cálculo seguiu essa lógica, que não me parece razoável”, avaliou Breno

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que amplia a capacidade das UTIs gradativamente. A pasta ressaltou que a capital federal conta com o hospital de campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha, que tem 177 leitos de enfermaria e 20 de suporte avançado. “O DF também contará com os hospitais de campanha de Ceilândia e do Complexo Penitenciário da Papuda, além da instalação de um hospital acoplado ao Hospital Regional de Ceilândia e do Hospital da Polícia Militar”, acrescentou.

Colaborou Jaqueline Fonseca

Correio Braziliense sexta, 03 de julho de 2020

GDF LIBERA EDUCAÇÃO, COMÉRCIO E INDÚSTRIA

Jornal Impresso

GDF libera educação, comércio e indústria
 
 
 
Novo decreto do Executivo local autoriza a retomada de atividades como bares, restaurantes, salões de beleza, barbearias, academias e escolas. Cada setor terá de seguir protocolos de segurança e datas, que variam de 7 de julho a 3 de agosto

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 03/07/2020 04:00

 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

O governador Ibaneis Rocha (MDB) deu prosseguimento a uma das últimas etapas para a reabertura total de estabelecimentos comerciais, industriais e de ensino no Distrito Federal. Ontem, decreto publicado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) estabeleceu datas para a retomada por setor e regras que deverão ser cumpridas durante o funcionamento. A publicação do documento ocorreu um dia depois de o governo federal reconhecer o estado de calamidade pública decretado no DF (leia reportagem na página 17).
 
Bares, restaurantes, salões de beleza, barbearias e academias voltam às atividades a partir de terça-feira. Escolas, faculdades e universidades reabrem em 27 de julho e em 3 de agosto (leia mais na página 16). Creches ainda não têm autorização para funcionar. O mesmo vale para atividades coletivas culturais, como shows, teatro e cinema, além de boates, casas noturnas, eventos esportivos ou de quaisquer outro tipo que dependam de licença do poder público.

Keli Mayer, dona de restaurante no Sudoeste: %u201CSerá melhor do que está agora%u201D (Arquivo Pessoal)  

Keli Mayer, dona de restaurante no Sudoeste: "Será melhor do que está agora."

 

O decreto definiu uma série de protocolos que deverão ser respeitados em todos os estabelecimentos, como uso de máscaras por funcionários e clientes; manutenção e limpeza de filtros de ar-condicionado; garantia de distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas; e aferição de temperatura corporal durante o expediente. Algumas das diretrizes foram novidade para o Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e Profissionais Autônomos (Simbeleza/DF). “No mês passado, entregamos ao governador um manual sugerindo os cuidados que deveriam ser tomados nos estabelecimentos. Apesar de algumas alterações, gostamos do que foi publicado, porque, quanto maior o cuidado, melhor será para todos os envolvidos”, avalia Célio Paiva, dirigente da entidade.
 
Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva considera que a publicação encerra um “período de incertezas” vivido pelos comerciantes. “Acaba a insegurança, que estava sendo muito traumática para os nossos empresários. Agora, teremos a responsabilidade de cumprir rigorosamente o que dizem os termos do decreto, bem como transferir parte dessa responsabilidade para os nossos clientes”, comenta Jael.
 
Proprietária de um restaurante no Sudoeste, a nutricionista Keli Mayer, 45 anos, conta que ela e a equipe estavam ansiosos pela reabertura. O estabelecimento funcionava em regime de delivery ou retirada no local desde o início da pandemia. “Tive de fazer dois empréstimos para pagar a folha de funcionários. Então, acho que os protocolos foram adequados tanto para o cliente quanto para nós. Sabemos que, no primeiro momento, não vai ser fácil. Mas será melhor do que está agora”, avalia.
 
Presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref7/DF), Patrick Novaes acredita que o retorno das academias será gradual e em segurança. “Sabemos que são muitos os desafios, mas o momento é uma oportunidade para restabelecer empresários e funcionários da saúde”, diz.
 
Recomendações
A decisão animou o setor produtivo e empresários, mas gerou preocupação. Doutor em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o professor Roberto José Bittencourt considera intempestivas as últimas condutas que partiram do Palácio do Buriti. O médico ressalta que a liberação deveria ocorrer após a verificação da queda de casos, o que não está acontecendo. “Trata-se de uma estratégia meio suicida, principalmente abrir escolas”, ressalta. “Sem quarentena dos infectados nas regiões onde há maior transmissão, vamos ficar com a pandemia sendo gradativamente aumentada”, alerta .
 
Na segunda-feira, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage, disse ao Correio que o GDF faz o monitoramento constante da evolução de infectados. Segundo ele, só com esse tipo de análise é possível ter controle das necessidades na área da saúde durante a pandemia. “Nós estamos acompanhando a curva de evolução dos casos e mantendo o ritmo de entrega (de leitos) proporcional ao número de infectados”, afirmou. Na entrevista, ele também descartou lockdown total como medida efetiva para a disseminação do vírus na capital.
 
Recomendação de 11 de maio do Conselho Nacional de Saúde (CNS) determina, com base em pesquisas científicas, que a taxa de distanciamento ideal é de pelo menos 60%. O documento dirige-se a municípios com ocorrência acelerada de novos casos e com taxa de ocupação dos serviços atingindo níveis críticos. No DF, o índice de isolamento monitorado pela empresa de tecnologia InLoco era de 40,2% em 1º de julho.
 
O GDF previa, inicialmente, reabrir bares e restaurantes até essa data. No entanto, entraves judiciais atrasaram o calendário. Ontem, o governo recorreu contra outra decisão. A Justiça Federal havia dado três dias para que o Executivo comprovasse a existência de leitos suficientes em UTIs para atender à demanda da covid-19. Ontem, Ibaneis Rocha não comentou o novo decreto. Na terça-feira, ao Correio, o governador afirmou que as taxas de isolamento estavam em queda desde o início da pandemia; por isso, o retorno coordenado pelo governo seria a melhor saída. “É melhor a gente fazer um cronograma, fazer com responsabilidade, fazer baseado em leitos de saúde. Fazer tudo isso de forma que a gente possa ter condições efetivas de fiscalização”, explica.



Calendário

Confira as datas de reabertura dos novos setores liberados e algumas das regras que deverão ser obedecidas por cada um deles:

Salões de beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos
 
» 7 de julho
 
» Higienização frequente de cadeiras de uso coletivo
 
» Proibida a permanência de pessoas em espera dentro dos estabelecimentos; o atendimento deve ocorrer mediante agendamento
 
» Esterilização de todos os equipamentos de trabalho e trocar de toalhas ou lençóis após cada atendimento
 
» Uso obrigatório de máscaras por clientes e funcionários, além de protetor facial de acrílico (face shield) por todos os prestadores de serviços

Academias de esporte de todas as modalidades
 
» 7 de julho
 
» Disposição dos equipamentos à distância de dois metros uns dos outros
 
» Proibição do uso de bebedouros e chuveiros, bem como de aulas coletivas e de contato físico nas atividades
 
» Suspensão do uso de catracas e pontos eletrônicos cuja ativação se dê por meio de biometria, especialmente por impressão digital
 
» Fechamento de uma a duas vezes por dia por cerca de 30 minutos para limpeza e desinfecção dos ambientes

Bares e restaurantes
 
» 15 de julho
 
» Funcionamento com 50% da capacidade
 
» Proibidas apresentações de qualquer tipo ao vivo
 
» Cobertura das máquinas de cartão com papel-filme para facilitar a higienização
 
» Higienização regular de cadeiras e mesas de uso coletivo, com disposição delas à distância de dois metros umas das outras (a contar das cadeiras que servem cada mesa); tudo deverá ser higienizado após cada refeição

 


Correio Braziliense quinta, 02 de julho de 2020

VACINA CONTRA A COVID-19 SERÁ TESTADA EM BRASÍLIA

Jornal Impresso

Vacina contra a covid-1 9será testada em Brasília
 
Em meio ao aumento de casos do novo coronavírus, a Universidade de Brasília (UnB) promoverá os testes de imunização desenvolvida por empresa chinesa. Início do procedimento depende de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

 

» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 02/07/2020 04:00

Além do Distrito Federal, cinco unidades da Federação receberão as doses para testes da vacina produzida por empresa da China (Douglas Magno/AFP)  

Além do Distrito Federal, cinco unidades da Federação receberão as doses para testes da vacina produzida por empresa da China

 


Após ultrapassar a marca de 50 mil infectados e 500 mortos pelo novo coronavírus, o Distrito Federal está entre as unidades da Federação escolhidas para a promoção de testes da vacina contra a covid-19. A pesquisa sobre a imunização criada por uma empresa chinesa será coordenada pela Universidade de Brasília (UnB). A instituição aguarda a finalização das tratativas do Instituto Butantan, em São Paulo, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da definição dos detalhes técnicos e científicos da pesquisa, para dar início ao procedimento. Especialistas alertam que a vacina é a única saída para que sejam cessadas as medidas de restrição, já que a capital tem queda na adesão ao isolamento social.
 
Além de Brasília, os testes ocorrerão em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e Paraná, como anunciou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ontem. A produção está a cargo da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e será testada em 12 centros de pesquisa do país, em 9 mil voluntários. A imunização está na terceira fase, ou seja, é testada em humanos. Caso seja aprovada, a Sinovac e o Butantan firmarão acordo de transferência de tecnologia para produção em escala industrial e fornecimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil.
 
Ao Correio, o infectologista Gustavo Romero, coordenador da pesquisa no DF e professor do Núcleo de Medicina Tropical da UnB, detalhou como será a aplicação da vacina na capital. “O que posso informar, agora, é de que se trata de um produto vacinal, que se aplica em duas doses, com intervalo de 14 dias. Ela produziu resultados promissores na fase 2, que se chama de desenvolvimento. No caso, essa vacina tem o efeito de produzir anticorpos capazes de neutralizar o vírus”, revelou.
 
A execução do projeto contará com o apoio de equipes do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Os detalhes sobre o número de pacientes que serão tratados e quem poderá receber a dose só serão definidos após a autorização da Anvisa. O Correio entrou em contato com a Vigilância Sanitária, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno. “É uma preocupação da população do DF em saber quantas pessoas terão acesso. Estamos esperançosos e sabemos que isso é importante para a comunidade”, ressaltou Gustavo.
 
Desafio
O epidemiologista da UnB Walter Ramalho explica que, como as medidas de restrição falharam para conter o avanço da doença no DF, a vacina seria a única alternativa para que a população volte à normalidade — na segunda-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de calamidade pública. “A principal questão do combate ao coronavírus é que temos uma grande parcela da população que teve o contato com ele, mas não desenvolveu doença. Essas pessoas sem sintomas que transmitem a covid-19 são o nosso principal gargalo, porque não temos condições de contê-las”, comentou.
 
Em relação à capital ter sido escolhida para iniciar as testagem, o especialista ressalta que isso se deve à capacidade de trabalho da UnB. “Um dos nossos pesquisadores estava trabalhando com o Butantan para desenvolver uma vacina para a dengue; portanto, tínhamos uma estrutura fácil de mobilizar para ir a campo”, explicou. Entretanto, em relação à quantidade de casos e óbitos, ele ressaltou que a situação atual é de alerta.
 
O epidemiologista avalia que, do Brasil, o GDF foi o primeiro a reduzir a mobilidade social, fato importante para evitar maior impacto da covid-19 no início da pandemia. Entretanto, Walter considera que a medida não conseguiu ser eficaz, pela falta de adesão da população. “É muito complexa essa retomada de atividades. Precisamos, primeiro, ver os dados de julho. Entendo as decisões do governo, por conta desse momento de grande impaciência na sociedade, mas acho uma pena que isso esteja acontecendo. Poderíamos contornar essa situação se todos estivessem juntos”, lamentou.
 
UTIs
Além da dificuldade em manter o isolamento, termina, amanhã, o prazo para o GDF informar a capacidade dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) à Justiça Federal. Decisão assinada pela juíza Raquel Soares Chiarelli, da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do DF, intima o Executivo local e a União a demonstrar que há vagas, equipamentos, insumos e recursos humanos suficientes para a população. A determinação levou em conta a “iminência da liberação das restrições ainda existentes no DF”.
 
Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 72% das UTIs exclusivas para pacientes com coronavírus estão ocupadas. Somando as redes pública e privada, há 729 leitos e 525 internados. Em nota, a pasta informou que monitora a evolução dos casos diariamente e que o pico da doença está previsto para a primeira quinzena do mês. “É importante ressaltar que não é esperada uma explosão de casos, tendo em vista que, no DF, há um crescimento médio de casos diários de 5%, e esse crescimento tem se mantido constante”, informou. 
 
A Secretaria de Saúde acrescentou que a evolução da capacidade de atendimento da rede acompanha a evolução de diagnósticos. E completou que investiu R$ 20 milhões na compra de equipamentos de proteção capazes de abastecer o sistema por seis meses.

Correio Braziliense quarta, 01 de julho de 2020

HOLLYWOOD TENTA SE ADAPTAR

Jornal Impresso

Hollywood tenta se adaptar
 
 
 
Indústria muda regras de set, altera locações e adia datas importantes para funcionar em períodos de pandemia

» Pedro Ibarra*

Publicação: 01/07/2020 04:00

 

Netflix anunciou gravação da segunda
 temporada de The Witcher para agosto (Netflix/Divulgação)  

Netflix anunciou gravação da segunda temporada de The Witcher para agosto

 

 

 

 

Cineasta Pedro Vasconcelos (D): %u201CVamos ter que nos concentrar mais em histórias simples e poderosas%u201D (Boa ideia Entretenimento/Divulgação)  

Cineasta Pedro Vasconcelos (D): "Vamos ter que nos concentrar mais em histórias simples e poderosas".

 

 

 

 

 

Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards: novas datas anunciadas (Kevin Winter/Getty Images/AFP)  

Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards: novas datas anunciadas

 

 

 

 

Hollywood começa dar os primeiros passos para retornar as atividades na pandemia. Com gravações paradas há aproximadamente três meses, as produções precisam correr contra o tempo, mudar estratégias e se adaptar a novos prazos e regras. Isso tudo levando em consideração que a pandemia ainda não está completamente controlada.

 

Enquanto não houver uma forma de reduzir o contágio ou tratar de forma mais veloz os doentes da covid-19, dificilmente haverá uma normalização e um retorno a forma como tudo era feito antes. Portanto, para não perder tempo, estúdios já estão começando a propor novas formas de adaptar gravações a pandemia, para conseguirem voltar ao trabalho sem colocar em risco atores e equipe.

Segundo o especialista Elias Nascimento, professor do curso de cinema do Centro Universitário Iesb, Netflix, Paramount e Warner apresentaram propostas de retomada. Entre as mudanças, estão sala de roteiristas remota por home office, fim da impressão de roteiros que passam pelas mãos de elenco, diminuição do número de pessoas em cada set e a higienização constante de materiais de uso coletivo, como microfones e câmeras. A Aliança de Produtores de Filmes e Séries de TV também entregou um documento de 22 páginas ao governo da Califórnia sugerindo mudanças para a reabertura dos estúdios.

 

“Esta era uma pré-realidade do cinema, se pensava em uma movimentação prévia nesta direção para diminuir custos”, explica Elias. De acordo com o especialista, o cinema de entretenimento lucra muito, contudo devido a gastos exacerbados na fase de produção e baixo resultado em bilheterias, filmes de menor orçamento ou independentes buscavam saídas para aproveitar melhor os poucos recursos que tinham acesso.

 

Para Elias Nascimento, o movimento não será uniforme, mas, nos próximos meses, será possível perceber um movimento para o retorno de gravações e anúncios de novos lançamentos. “Vai depender do equipamento, disponibilidade de recursos técnicos e financeiros e diretrizes de cada empresa”, conta o profissional do audiovisual. “Hollywood é muito poderosa e não vai parar, há uma necessidade das grandes produtores de mantê-la funcionando”.

 

Streaming: A solução?

 

Uma forma de resolver o problema pode estar dentro da casa dos consumidores de cinema, o streaming. “O público de cinema vem diminuindo e pode ser que tenha um movimento cada vez maior de lançar filmes diretamente em streaming”, conta Nascimento. Neste formato, os gastos de distribuição diminuem e crescem as oportunidades de filmes que não teriam visibilidade nas telonas se tornarem populares. “Streaming dá mais liberdade, alcança um público maior e tem um preço mais atrativo que pagar quase R$100 para duas pessoas assistirem a um filme no cinema”, ressalta o especialista.

 

No Brasil

 

“A primeira mudança que eu acho que a gente vai enfrentar de caráter mais econômico mesmo. Vamos ter que nos concentrar mais em histórias simples e poderosas”, acredita o diretor Pedro Vasconcelos, responsável por novelas da Globo e mais recentemente pelo longa Fala sério, mãe.

 

O Brasil ainda sofre ainda muito com as consequências da pandemia tendo média de mais de mil mortos por dia vítimas do novo coronavírus. “Outra mudança que passaremos é no circuito de salas, com os cinemas fechados há tanto tempo, não sabemos quanto eles vão aguentar, ou seja, quantas salas nós vamos ter ao fim da pandemia para poder exibir filmes”, pontua Pedro

O diretor acredita que, devido a problemas financeiros, a produção no país deve encolher. “O fato de você ter que diminuir uma indústria como a do cinema do Brasil é triste porque muitas pessoas terão que ficar pelo meio do caminho durante a pandemia e isso é inevitável”, discorre sobre a delicada situação em que o país se encontra. No entanto, para o cineasta, isso pode representar um novo começo. “Ao final disso tudo, deve acontecer um momento de renascimento muito forte. Quando houver a possibilidade das pessoas se aglomerarem sem riscos à saúde, vai existir um movimento muito grande do público aos cinemas e teatros novamente”, vislumbra Pedro Vasconcelos.

 

*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira

 

 

» O que efetivamente muda para o espectador?

O principal fator são os adiamentos. As datas de estreia dos filmes de grandes estúdios já vem sendo alteradas para que possam sair nas salas de cinema. No entanto, as séries e filmes marcados para o segundo semestre de 2020 e para 2021 também terão o lançamento postergado, afinal as gravações ficaram paradas por três meses e as estratégias e agendas de produção terão que ser alteradas. Outro importante fato está no maior número de filmes acessíveis via streaming e pay-per view, com os cinemas fechados, muitos produtores estão optando por lançamentos diretamente para as telinhas.

 

 

» Temporada de premiações em outra época

Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards anunciaram novas datas entre o fim de fevereiro e o início de abril, mostrando uma tendência de que a temporada de premiações será completamente adiada em 2021. O motivo é aumentar o tempo de elegibilidade para filmes com gravações travadas pela pandemia e garantir uma situação mais controlada para realização dos importantes eventos da indústria cinematográfica.

 


Correio Braziliense terça, 30 de junho de 2020

BRASÍLIA: DE CALAMIDADE PÚBLICA A ABERTURA EM AGOSTO
Jornal Impresso
 
De calamidade pública a abertura em agosto
 
A previsão do governo do Distrito Federal é que todos os segmentos da economia funcionem a partir de julho. Mas, com o avanço da covid-19, especialistas defendem o isolamento social, para evitar colapso no sistema de saúde

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 30/06/2020 04:00

O Hospital Regional de Ceilândia (HRC) é uma das unidades do DF que está sobrecarregada devido ao avanço da doença (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

O Hospital Regional de Ceilândia (HRC) é uma das unidades do DF que está sobrecarregada devido ao avanço da doença

 

No dia em que decretou estado de calamidade pública devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus, o governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou que, até agosto, todo o Distrito Federal estará com as atividades comerciais em pleno funcionamento. A partir de amanhã, estabelecimentos como salões de beleza, bares e restaurantes começarão os protocolos de abertura. O calendário oficial com as datas por setor deve sair nesta semana, mas pode sofrer alterações, a depender da evolução dos casos de covid-19.
 
Os estudos que darão base a esse processo começaram ontem, e os resultados devem ser divulgados na quinta-feira. Por enquanto, a possibilidade de fechamento geral (lockdown) foi descartada por Ibaneis. “Temos equipamentos e materiais suficientes, mas o que precisa é a população se cuidar também”, afirmou. Ou seja, a abertura das atividades não implica que as pessoas precisam necessariamente ir para as ruas. O isolamento social ainda é importante nesse momento. A retomada das aulas na rede privada também está sob avaliação. Se a proposta apresentada pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) for aprovada, a decisão pelo retorno presencial ficará a critério das famílias.
 
Ainda ontem, o DF registrou 44.918 casos confirmados de covid-19, 550 mortes e mais de 30 mil pessoas recuperadas da doença (leia mais na pág. 19). No entanto, a situação do sistema de saúde do DF se agrava. Dados da Sala de Situação da Secretaria de Saúde mostram que há falta de insumos para testes rápidos e que 90,8% dos leitos da rede privada destinados a pacientes com a doença estão ocupados. Na rede pública, esse número é de 63% (veja Situação).
 
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apontou, contudo, a existência de “grande discrepância” entre os números publicados no site da Sala de Situação e os dados do Complexo Regulador (CRDF), também da Secretaria de Saúde. A taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para adultos com covid-19 teria alcançado 93% em 26 de junho, quando a página da pasta na internet mostrava um comprometimento de 59,84%.
 
A reportagem pediu um posicionamento da Secretaria de Saúde sobre as divergências apontadas pelo MPDFT e sobre a falta de insumos para teste de detecção do novo coronavírus, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
 
Sobrecarga
Infectologista e professora universitária, a médica Joana D’Arc Gonçalves considerou um problema ter havido reabertura, enquanto os casos de covid-19 aumentavam. Para ela, a diminuição dos índices de contaminação depende ou do aumento da rigidez em relação aos estabelecimentos não essenciais ou da ampliação do sistema de saúde. “Essa segunda é impossível neste momento. Estamos falando de muita gente (infectada). Não temos leitos de UTI disponíveis para atendimento de um número elevado de pessoas. Se não há como ampliar a estrutura, o que temos em mãos são as medidas de isolamento, as recomendações como a do uso de máscara e o fechamento de serviços”, sugere Joana.
 
A médica avalia serem necessárias atitudes “um pouco mais drásticas” neste momento, pois o número de profissionais de saúde doentes também tem subido. “Também não vai adiantar decretar lockdown se as pessoas continuarem fazendo festas particulares ou se aglomerando de outras formas. Estamos divididos diante de comandos dúbios e orientações confusas. Precisamos unificar ações e falar uma linguagem única, para tentar diminuir os danos. Nossa estrutura está sobrecarregada e à beira de um colapso”, alerta a infectologista.
 
 
Situação
 
Leitos de UTI para pacientes com covid-19 na rede pública
 
Ocupados: 315 (63%)
Livres: 185
Total: 500
 
Leitos de UTI para pacientes com covid-19 na rede privada
 
Ocupados: 191 (90,8%)
Livres: 20
Bloqueados: 7
Total: 218
 
Índice de isolamento social
Distrito Federal: 49,3%
 
Regiões com maior número de casos
 
1º - Ceilândia
2º - Plano Piloto
3º - Taguatinga
 
Fontes: Painel Covid-19 no Distrito Federal (SSP-DF e SES-DF); Sala de Situação (SES-DF); e Base InLoco. Consulta em 29/6/2020

Correio Braziliense segunda, 29 de junho de 2020

LIBERADO SAQUE DO FGTS

Jornal Impresso

Liberado saque do FGTS
 
Nova rodada promete atender a cerca de 60 milhões de trabalhadores, com valores de até R$ 1.045, de forma escalonada

 

Marina Barbosa

Publicação: 29/06/2020 04:00

A nova rodada de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que promete liberar até R$ 1.045 para cerca de 60 milhões de trabalhadores brasileiros durante a pandemia do novo coronavírus, começa hoje. O serviço, porém, será escalonado para evitar aglomerações nas agências bancárias. Por isso, só os nascidos em janeiro poderão ter acesso ao saque emergencial do FGTS hoje.

Operadora do FGTS, a Caixa Econômica Federal informou que R$ 3,1 bilhões serão liberados para 4,9 milhões de trabalhadores nesta segunda-feira. O dinheiro será liberado para todos que nasceram em janeiro, tinham algum recurso nas suas contas ativas ou inativas do FGTS e não procuraram a Caixa para informar que não têm interesse em sacar esse dinheiro agora. Esse recurso, porém, só poderá ser movimentado de forma remota, por enquanto.

O pagamento do saque emergencial do FGTS será realizado por meio de uma poupança social digital da Caixa que será aberta gratuitamente para todos os trabalhadores que têm direito ao recurso. Semelhante à conta que vem sendo aberta para os beneficiários do auxílio emergencial, a poupança digital deve ser acessada por meio do CPF pelo aplicativo Caixa Tem. No app, é possível pagar contas, fazer compras on-line e pagar compras presenciais aproximando o celular das maquininhas de cartão. Por isso, a Caixa só vai liberar o saque em dinheiro ou a transferência bancária dos recursos do FGTS cerca de um mês depois do depósito no Caixa Tem.

O calendário de pagamentos do saque emergencial foi dividido de acordo com o mês de nascimento dos trabalhadores e vai até setembro. A cada segunda-feira, a Caixa vai depositar os recursos do FGTS para um grupo de trabalhadores. Hoje, é o depósito dos nascidos em janeiro. Na próxima segunda, dos de fevereiro. Na seguinte, março e assim por diante. Os saques em dinheiro serão liberados sempre aos sábados, seguindo o mesmo escalonamento, entre o dia 25 deste mês e 14 de novembro.

Se não quiser fazer o saque emergencial, o trabalhador pode optar por deixar esse dinheiro rendendo nas contas do FGTS para usá-lo depois, de acordo com as regras usuais do Fundo. Para isso, contudo, é preciso avisar a Caixa desta opção. O aviso deve ser feito pelo aplicativo do FGTS 10 dias antes da data do depósito ou depois que o crédito for efetuado no Caixa Tem. Caso não sejam movimentados até 30 de novenbro, os recursos voltarão para o FGTS.

Correio Braziliense domingo, 28 de junho de 2020

CORONAVÍRUS - BRASIL INVESTE NA VACINA DE OXFORD

Jornal Impresso

CORONAVíRUS
 
Brasil investe na vacina de Oxford
 
 
Governo desembolsará US$ 288 milhões em tecnologia de fabricação desenvolvida pela universidade do Reino Unido e pela farmacêutica AstraZeneca para produzir 100 milhões de doses a partir deste ano. A parceria é prioridade para o SUS

 

MARINA BARBOSA

Publicação: 28/06/2020 04:00

Integrantes do Ministério da Saúde anunciam aposta em parceria para imunização contra a covid-19 (Carolina Antunes/PR)  

Integrantes do Ministério da Saúde anunciam aposta em parceria para imunização contra a covid-19

 



Sem conseguir conter a curva de contágio do novo coronavírus, o governo de Jair Bolsonaro decidiu investir na produção de uma vacina contra a covid-19. O Executivo desembolsará US$ 288 milhões para trazer ao país a tecnologia de fabricação da vacina que está sendo desenvolvida no Reino Unido pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, que têm os testes mais avançados e promissores do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com isso, pretende produzir 100 milhões de vacinas a partir deste ano.

A parceria para o desenvolvimento nacional da imunização contra o novo coronavírus já havia sido apontada como o “objetivo número um do Sistema Único de Saúde (SUS)” pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, e foi confirmada ontem. Em carta enviada à Embaixada Britânica e à Astrazeneca, o governo manifesta a “intenção de firmar acordo de compra dos insumos para produção da vacina, incluindo a transferência de tecnologia de formulação, envase e controle de qualidade necessários para o seu registro, produção e distribuição no Brasil”.

O acordo, que será assinado formalmente nos próximos dias, vai permitir a transferência da tecnologia de fabricação da “vacina de Oxford” para a Fiocruz, que desenvolverá o produto no seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), no Rio de Janeiro. O governo reconhece que a eficácia da vacina inglesa ainda não foi confirmada. A certeza de que a tecnologia será, de fato, efetiva só deve sair em setembro ou outubro. Por isso, fará a compra em duas vezes. Investirá US$ 127 milhões em um primeiro momento para instalar a linha de produção e garantir os insumos necessários para 30,4 milhões de doses. “A parceria começa com a encomenda, em que o Brasil assume, também, o risco da pesquisa. Vamos pagar pela tecnologia, mesmo não tendo os ensaios clínicos finais. E, em um segundo momento, quando a vacina se mostrar segura, ampliaremos a compra”, afirmou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.

Ele admitiu que o investimento é de risco, pois, se a vacina não for aprovada, não será possível oferecer essas doses à população. Porém, afirmou que, só assim, o Brasil terá prioridade no uso do primeiro lote. Segundo Franco, caso os testes não deem certo, a Fiocruz terá adquirido conhecimento científico.

A esperança de todos é que os testes se mostrem efetivos. Por isso, o Ministério da Saúde já tem até um plano para a aplicação dessas vacinas. A expectativa é de que as primeiras 15,2 milhões de doses fiquem prontas em dezembro e as outras 15,2 milhões, em janeiro. O lote de 30,4 milhões será usado para imunizar o grupo de risco, ou seja, idosos, indivíduos com comorbidades como cardiopatia e diabetes, profissionais de saúde da linha de frente e de segurança.

Caso a eficácia seja comprovada, está certo o investimento de mais US$ 161 milhões para permitir a produção de outros 70 milhões de vacinas na Fiocruz. Com isso, o Brasil poderia imunizar quase a metade da população. Além do grupo de risco, seria garantida, por exemplo, a imunização de indígenas, professores, pessoas em privação de liberdade, profissionais de salvamento e motoristas de transportes coletivo.

No segundo momento da parceria, o governo espera trazer para o Brasil a capacidade de produção dos insumos necessários à vacina e que, inicialmente, serão importados. O objetivo é ter total autonomia no processo de fabricação. “Busca-se evitar que a população brasileira seja privada do acesso a uma vacina em tempo oportuno, uma vez que há grande demanda global”, ressalta Pazuello.



UnB: sem aulas presenciais em 2020
A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, afirmou que não há possibilidade de retorno físico às aulas em 2020. “Nós chegamos a um ponto da pandemia em que fica claro que a situação não vai melhorar no curto prazo, a gente não tem perspectiva de volta presencial este ano”, destacou. Ela argumentou que a prioridade é salvar vidas. “Três meses de aula você recupera, o que não recupera é vida perdida.” Um possível prazo para retorno não presencial será definido com o apoio do Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR). A reitora frisou, porém, que a instituição não está parada. “A universidade está funcionando remotamente, e estamos trabalhando com várias pesquisas para o combate ao coronavírus."

Correio Braziliense sábado, 27 de junho de 2020

BOLSONARO DE OLHO A POPULAÇÃO MAIS POBRE

Jornal Impresso

Bolsonaro de olho na população mais pobre

Inauguração de um trecho da obra de transposição do Rio São Francisco, no interior do Ceará, integra agenda positiva do presidente. Pagamento do auxílio emergencial e ações como a duplicação do Bolsa Família %u2014 que se chamará Renda Brasil %u2014 fazem parte da estratégia que, acredita ala militar do governo, poderá render votos em 2022., Alan Santos/CB/D.A Press

Inauguração de um trecho da obra de transposição do Rio São Francisco, no interior do Ceará, integra agenda positiva do presidente. Pagamento do auxílio emergencial e ações como a duplicação do Bolsa Família %u2014 que se chamará Renda Brasil %u2014 fazem parte da estratégia que, acredita ala militar do governo, poderá render votos em 2022.

Aceno ao social para resgatar popularidade
 
Bolsonaro mira ações voltadas às pessoas de baixa renda para atravessar o período mais difícil da pandemia e do desemprego. Duplicar o Bolsa Família, que se chamará Renda Brasil, faz parte da agenda. Ala militar crê que repaginada no programa produzirá votos em 2022

 

AUGUSTO FERNANDES
INGRID SOARES
VICENTE NUNES

Publicação: 27/06/2020 04:00

Enquanto vê a sua aceitação crescer entre a parcela menos favorecida da população, sobretudo pelo auxílio emergencial de R$ 600, o presidente Jair Bolsonaro vai apostar na agenda social para tentar atravessar o período mais difícil da pandemia do novo coronavírus e do desemprego no Brasil sem que a sua popularidade desabe mais.
 
O objetivo do mandatário é deixar o carimbo do governo com um programa de transferência de renda que tenha grande apelo na sociedade. Por isso, determinou à equipe econômica que encontre recursos para turbinar o Bolsa Família, que passará a se chamar Renda Brasil, numa tentativa de se desvincular do programa criado pelo ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Caso o planejamento do Executivo cumpra as expectativas, o projeto poderá chegar a R$ 70 bilhões por ano.
 
A ideia mais forte no momento é de, no mínimo, duplicar o orçamento atual do Bolsa Família, que está na casa dos R$ 32 bilhões. Pelo que os técnicos do Ministério da Economia já apresentaram ao Palácio do Planalto, o Renda Brasil não demandaria novas despesas para os cofres públicos. O plano é mesclar outros benefícios já existentes, principalmente para que o governo não ultrapasse o teto de gastos nem descumpra a chamada regra de ouro, que tem o objetivo de evitar o endividamento para pagar despesas correntes.
 
Fariam parte dessa “fusão” o abono salarial (que assegura o valor de um salário mínimo anual aos trabalhadores celetistas que recebem, em média, até dois salários mínimos de remuneração mensal), o seguro-defeso (pago a pescadores que ficam impossibilitados de desenvolver suas atividades durante o período em que a pesca é proibida, também no valor de um salário mínimo), e o farmácia popular (que oferece medicamentos de uso comum a preços reduzidos).
 
Em 2019, segundo números do Portal da Transparência, o governo reservou pouco mais de R$ 21,8 bilhões para arcar com o orçamento desses três programas sociais. Com o aumento do valor do salário mínimo, de R$ 998 para R$ 1.045, as despesas do Planalto para manter os projetos devem ser ainda maiores neste ano. Até aqui, ao menos R$ 12 bilhões já foram gastos pela União.
 
Para incrementar ainda mais o Renda Brasil, Bolsonaro pensa em acabar com a isenção de impostos sobre produtos da cesta básica. Nas contas do Ministério da Economia, no ano passado, o governo deixou de arrecadar R$ 18 bilhões devido à desoneração. Segundo fontes do Planalto, a pressa do presidente é grande. Ele quer que o programa esteja em funcionamento, no máximo, em novembro, como forma de dar continuidade ao auxílio emergencial, que, com mais três parcelas (de R$ 500, R$ 400 e R$ 300), vai até outubro.
 
A urgência ocorre porque o Executivo sabe que toda a reformulação dos programas sociais tem de passar pelo crivo do Congresso. Assim, quanto antes o Renda Brasil estiver fechado, mais fácil será negociar com o Parlamento. Nos próximos dias, existe a possibilidade de Bolsonaro encontrar os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para debater a questão.
 
A ala militar do governo faz a leitura de que a repaginada do Bolsa Família pode garantir muitos votos para Bolsonaro em 2022. Para os militares, a promessa do governo de investir mais no social inflará o apoio da população de mais baixa renda ao Executivo.
 
Para que isso seja concretizado, contudo, os fardados acreditam que Bolsonaro tem de seguir na linha de evitar conflitos. Depois de avaliarem com lupa os dados da mais recente pesquisa Datafolha, militares muito próximos do mandatário chegaram a afirmar que, se ele “tiver juízo”, será reeleito em primeiro turno na próxima eleição presidencial.
 
A ala militar chama de “juízo”, justamente, um comportamento menos belicoso por parte do presidente. Para eles, mesmo com todo o desgaste na imagem, inclusive com a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o mandatário continua sendo avaliado como bom e ótimo por 32% dos eleitores.
 
Assim, com um discurso mais ameno e menos embates com o Congresso e com o Judiciário, Bolsonaro poderá atrair de volta boa parte dos eleitores que ele perdeu depois que tomou posse. “Enfim, um Bolsonaro paz e amor com um programa social robusto será difícil de ser vencido nas urnas”, disse um militar.
 
Dividendos
Para Roberto Ellery, professor economista da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro partiu para os programas sociais com o intuito de aumentar a sua popularidade. Contudo, o presidente precisará ter cautela, especialmente pelos maus exemplos registrados durante a concessão do coronavoucher, em que militares e pessoas das classes A e B foram aprovados.
 
“Ele quer fazer isso porque viu que dá votos. Bolsonaro fez o essencial e melhorou um pouco nas pesquisas. Mas, pelo ponto de vista econômico, o auxílio emergencial, por exemplo, foi muito mal desenhado, porque não tinha tempo hábil em meio à pandemia. Vemos isso quando tem muita gente recebendo o que não deveria receber”, frisou. “Isso mostra que esse problema no desenho tem riscos. Na outra ponta, o Bolsa Família é muito bem desenhado. Há fraudes, mas o desenho é bom. Se o governo quer expandir o Bolsa Família, é muito importante que ele parta desse princípio.”
 
Centrão
O Planalto acredita que o Centrão será fundamental nesse processo. Também ajudará o projeto do governo uma postura mais amena de Bolsonaro. Vários pequenos partidos, como o Pros, que tem três senadores e 12 deputados, já indicaram ao Planalto que estão dispostos a entrar na base de apoio do governo. Um dos interessados foi o senador Telmário Motta (RR), que procurou o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação do Executivo com o Congresso.
 
 (Alan Santos/PR)  
 
Bolsonaro inaugura obra de Transposição do São Francisco
O presidente Jair Bolsonaro inaugurou, ontem, um dos trechos da obra de transposição do Rio São Francisco, um projeto que começou em 2007, durante o governo Lula. Em Penaforte (CE), o chefe do Executivo acionou a comporta que permitiu a chegada das águas do Velho Chico ao território cearense. O trecho faz parte do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Com a ação, a água que já abastece o Reservatório Milagres (em Pernambuco) passará pelo Túnel Milagres (na fronteira dos dois estados), começará a encher o Reservatório Jati (no Ceará) e seguirá, por fim, até a Paraíba e o Rio Grande do Norte. “A recomendação, desde o início do governo, (é de) que não deixaríamos nenhuma obra parada. Isso faz parte de um compromisso nosso. A gente fica muito feliz em trazer a água para quem precisa”, comentou Bolsonaro, durante o evento. “Vai ajudar na agricultura e levar água para o cidadão nordestino. É uma novela que está chegando ao fim.” A transposição teve orçamento inicial de cerca de R$ 5 bilhões. A previsão é de que, ao fim de todo o projeto, o gasto seja em torno de R$ 12 bilhões. O chefe do Executivo foi acompanhado na cerimônia por ministros e deputados do Centrão.
 

Correio Braziliense sexta, 26 de junho de 2020

UM PROFESSOR PARA SALVAR A EDUCAÇÃO

Jornal Impresso

Um professor para salvar Educação
 
Novo titular do MEC, Carlos Alberto Decotelli é visto como uma alternativa pacificadora e técnica para o setor. Ele terá a missão de recuperar a desgastada imagem da pasta, definir políticas efetivas voltadas à área e retomar a interlocução com Congresso, estados e municípios

 

INGRID SOARES
MAÍRA NUNES

Publicação: 26/06/2020 04:00

Bolsonaro anunciou a nomeação de Decotelli por meio das redes sociais. Novo ministro prega %u201Cdiálogo, gestão e integração operacional%u201D (Marcos Corrêa/PR

)  

Bolsonaro anunciou a nomeação de Decotelli por meio das redes sociais. Novo ministro prega "diálogo, gestão e integração operacional".

 

 
A nomeação do professor Carlos Alberto Decotelli, 67 anos, como ministro da Educação, é uma vitória da ala militar do governo em relação ao grupo ideológico. O anúncio do novo titular da pasta foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais, e a decisão saiu em edição extra do Diário Oficial da União. A escolha causou surpresa, porque o nome dele não estava na lista dos cotados, sabatinados pelo chefe do Executivo. A leitura é de que, com a nomeação de Decotelli, o comandante do Planalto tenta pacificar a pasta, envolta em uma série de controvérsias desde o início do governo.
 
Em live, Bolsonaro comentou sobre a dificuldade de definir o titular para o cargo. “Obviamente, foi uma escolha muito difícil. Quatro pessoas excepcionais que se apresentaram, entre elas um jovem, que é o Renato Feder, secretário estadual de Educação do Paraná, que faz um brilhante trabalho lá. Parabéns ao governador Ratinho Júnior por ter um secretário realmente qualificado como ele”, elogiou. De acordo com Bolsonaro, Decotelli foi o escolhido pela experiência. 
 
Economista de formação, Decotelli foi presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Oficial reformado da Marinha, já era aposta da ala militar do governo para substituir Ricardo Vélez Rodríguez, que foi o primeiro ministro da Educação da gestão Bolsonaro.
 
O próprio Decotelli disse ter sido surpreendido com o convite de Bolsonaro, mas, de pronto, atendeu ao chamado. “Eu estava dando aula ontem (quarta), e fiz hoje (ontem) a reunião. Fui pego de surpresa”, afirmou. Segundo ele, o presidente pediu que continuasse a gestão realizada no FNDE. O novo ministro destacou que, diferentemente do que vinha sendo feito no MEC, “não possui competência para fazer adequação ideológica” e que investirá no diálogo.
 
“O que ele (Bolsonaro) pontuou foi, primeiro, fazer uma gestão voltada para a educação da sociedade brasileira, conforme o marco regulatório da educação. Em segundo lugar, fazer o melhor diálogo com as entidades representativas da educação — as universidades federais, os centros técnicos. Melhor diálogo também com entidades de classe”, afirmou. “Todos aqueles que querem fazer o melhor pela educação brasileira. Então, diálogo, gestão e integração operacional.”
 
Decotelli completou: “Fui presidente do FNDE no ano passado, do início do governo até agosto, e lá apliquei gestão integrada e bom relacionamento com as entidades da Educação brasileira. É isso que foi pedido: o que foi feito no FNDE no ano passado que se estenda à gestão do MEC”.
 
Quando ele esteve à frente do FNDE, porém, a Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou irregularidades numa licitação de R$ 3 bilhões para a compra de computadores, laptops e tablets destinado a alunos da rede pública. A licitação foi suspensa dias após a saída dele do cargo.
 
Primeiro ministro negro de Bolsonaro, Decotelli é o terceiro a comandar a pasta da Educação na gestão Bolsonaro. O antecessor, Abraham Weintraub, foi demitido no último dia 18. Ele deixou o governo após criar atrito do Executivo com o Judiciário, que se intensificou pelos insultos que fez contra integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele havia assumido no lugar de  Vélez Rodrígues, que deixou o cargo em abril, após protagonizar batalha entre grupos ligados a militares, técnicos do órgão e olavistas.
 
Passado condena
Renato Feder era um dos mais fortes candidatos ao cargo. Ele reuniu-se com Bolsonaro nesta semana e saiu do encontro chamando o presidente de “estadista”. Pesou contra ele, no entanto, o fato de, como empresário do setor de tecnologia, ter sido um dos principais doadores para a campanha de João Doria (PSDB) à prefeitura de São Paulo, em 2016. O tucano, hoje governador do estado, tornou-se desafeto do chefe do Executivo federal. O filho 02 do presidente, Carlos Bolsonaro, era contra a escolha de Feder. Na avaliação dele, “não é hora de nomear aliados de inimigos do governo”.
 
 
Saiba mais
 
Extenso currículo
 
Carlos Alberto Decotelli tem extenso currículo em finanças. Fez pós-doutorado na Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha; é doutor em administração financeira pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina; é mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape). Tem MBA em administração pela FGV/EBAPE/EPGE e é bacharel em ciências econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ele criou o curso gestão financeira corporativa no New York Institute of Finance e coordenou o de finanças corporativas internacionais na FGV. Na educação, foi professor de pós-Graduação em finanças na Fundação Dom Cabral e na FGV; e professor e membro da equipe de criação do curso de pós-graduação em finanças na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com o ex-juiz Sergio Moro e o professor Edgar Abreu. Na Marinha, também atuou como professor e coordenador do Jogo de OMPS na EGN — Escola de Guerra Naval, no Centro de Jogos de Guerra.
 
“Decotelli é reconhecido por seu perfil acadêmico sólido, competência, fácil diálogo, e tem ampla experiência”
Trecho da nota da ABMES
 
“Enquanto presidente do FNDE, Carlos Alberto Decotelli manteve um bom canal de diálogo com os secretários”
Trecho da nota do Consed
 
“Nós questionamos quais são as prioridades do governo Bolsonaro para a educação, visto que, mais uma vez, o ministro é alguém ligado à economia”
Rozana Barrozo, presidente da Ubes
 
“O novo ministro da Educação não tem praticamente nenhuma experiência ou proximidade com a educação, a não ser ter sido presidente do FNDE, há alguns meses. Bolsonaro entrega o MEC ao mercado financeiro”
Iago Montalvão, presidente da UNE
 
“É sintomático que a comemoração seja: ‘Finalmente temos um negro no Ministério da Educação!’, e não: ‘Finalmente temos um técnico no Ministério da Educação!’. Isso demonstra como a manipulação da identidade racial é feita. (…) Paremos, portanto, de olhar para o indivíduo. Olhemos para como o governo trata a educação em um país de profunda desigualdade”
Silvio Almeida, jurista e professor, autor do livro Racismo Estrutural

Correio Braziliense quinta, 25 de junho de 2020

HISTÓRIA DE BRASÍLIA: HOTEL NACIONAL É DESOCUPADO

Jornal Impresso

HISTóRIA DE BRASíLIA
 
Hotel Nacional é desocupado
 
A ordem de despejo no tradicional prédio da capital, cumprida pela Justiça na manhã de ontem, pegou de surpresa os hóspedes, que deixaram os quartos até o fim do dia. A desocupação foi feita para reconhecer o direito de posse dos novos proprietários

 

» ROBERTA PINHEIRO
» CIBELE MOREIRA

Publicação: 25/06/2020 04:00

Os hóspedes do Hotel Nacional tiveram de deixar os quartos até as 17h de ontem: negócio de R$ 93 milhões (Ed Alves/CB/D.A. Press)  

Os hóspedes do Hotel Nacional tiveram de deixar os quartos até as 17h de ontem: negócio de R$ 93 milhões

 



O Hotel Nacional — um dos símbolos da arquitetura e da história de Brasília — está com as portas fechadas para o reconhecimento de posse do novo proprietário do edifício, a empresa de incorporação e imobiliária Incorp. O prédio foi leiloado em 2018, por R$ 93 milhões. No entanto, para ser entregue aos atuais donos, a Justiça desocupou o local com uma ordem de despejo, que pegou vários hóspedes de surpresa, na manhã de ontem — entre eles o deputado federal Alexandre Frota (PSDB/SP) e o presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o ex-deputado federal Roberto Jefferson.

Ao Correio, Roberto Jefferson contou que estava no quarto 923, quando um representante dos novos proprietários do hotel comunicou sobre a desocupação.  “Ele foi muito cortês e correto. Disponibilizaram-nos um transporte para levar os pertences”, comentou Jefferson. Ele e a mulher tiveram até as 17h para sair da habitação onde residiam havia 15 anos. “Era a minha casa, senti muito. Os garçons são meus amigos, a nutricionista e outros funcionários”, lamentou.

O presidente do PTB chegou a ocupar um mês a suíte presidencial, a mesma que hospedou a Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, em 1968. Porém, ele conta que achou o ambiente muito escuro. Para Roberto Jefferson, não tem hotel em Brasília com as instalações do Hotel Nacional. “Apartamentos daquele tamanho, aquele conforto, pé direito alto, salas de convenções. Se mantiverem isso, o restaurante à beira da piscina, será um sucesso, vai ser o maior hotel”, avaliou, sobre as possíveis reformas no local.

Resistência

Essa não é a primeira vez que os novos donos do espaço tentam tomar posse do imóvel. De acordo o advogado da Incorp, Saulo Mesquita, houve resistência por parte dos antigos proprietários, com diversos recursos na Justiça. Porém, desta vez, o mandado judicial foi cumprido. Uma das ações negadas foi deferida pela 1ª Vara de Precatórios do Distrito Federal. A juíza recusou o pedido dos antigos donos do Hotel Nacional para ampliar o prazo da desocupação voluntária do imóvel. Com a decisão da magistrada, oficiais de Justiça cumpriram a determinação para dar posse do imóvel à Incorp Empreendimentos Imobiliários Ltda.

Com a desocupação, o Hotel Nacional passará por revitalização e reforma antes de receber novos hóspedes. Apesar dos planos, ainda não há prazo para que isso aconteça. Até lá, fica a memória dos marcos históricos por trás do prédio construído um ano após a inauguração de Brasília, em 1961. Localizado no centro da capital federal, o edifício hospedou nomes ilustres, como a Rainha Elizabeth II e o Príncipe Philip, da Inglaterra, além de astros do cinema, como Catherine Deneuve, John Travolta e Roman Polanski. O presidente francês Charles De Gaulle e os ex-presidentes dos Estados Unidos Jimmy Carter e Ronald Reagan também ficaram no hotel. Durante alguns anos, o Hotel Nacional era point de convidados e homenageados do Festival de Cinema de Brasília.
 
 

Correio Braziliense quarta, 24 de junho de 2020

EFICIÊNCIA NO SOCORRO

Jornal Impresso

Eficiência no socorro
 
Enquanto parte da população fica em casa, se protegendo da pandemia, profissionais do Samu estão nas ruas em atendimentos de urgência. Só em junho, foram 162 pacientes com covid-19 levados para unidades hospitalares

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 24/06/2020 04:00

Cristina Ayako: %u201CJá atendemos bebês com suspeita 
de covid-19. Ajudar me dá força também. Eu sou mãe%u201D (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  
Cristina Ayako: "Já atendemos bebês com suspeita de covid-19. Ajudar me dá força também. Eu sou mãe."
 
Os hospitais do Distrito Federal são a linha de frente no combate à covid-19, mas a assistência das pessoas que chegam às unidades de saúde pública, muitas vezes começa bem antes. Em meio a sirenes e equipamentos de proteção individual (EPIs),  profissionais do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) correm contra o tempo, em um socorro que muitas vezes começa por telefone, antes mesmo de a ambulância sair da base. Assim, como os profissionais das unidades de saúde, os servidores do Samu são heróis nesse momento tão conturbado.

A enfermeira Cristina Ayako, 45 anos, está no Samu há 14 anos. Todo dia, ela sai de casa, deixando a mãe idosa e os dois filhos, de 14 e 15 anos, um deles asmático. Com acessórios de proteção, ela carrega, principalmente, a fé e o comprometimento em ajudar o próximo. “É uma missão prestar socorro e ajudar o próximo”, destaca. Cristina trabalha em uma viatura equipada para o atendimento de crianças — Unidade de Suporte Avançado e Neonatologia. Como mãe, uma motivação ainda maior de prestar o serviço da melhor maneira possível. “Já pegamos bebês com suspeita de covid-19. Ajudar me dá força também. Eu sou mãe e, se meu filho precisar, quero que ele tenha uma garantia de assistência. O fato do nosso serviço fazer bem para alguém nos fortalece, além de saber que, se algum familiar precisar, ele também vai ser atendido”, ressalta.

No fim do expediente, Cristina sai com a certeza de ter dado o seu melhor. E assim, deixando os aparelhos que a manteve em segurança durante o serviço, volta para a família. Em casa, o banho vem antes de entrar na residência. “Tenho um banheiro na varanda. Lá, eu tiro a roupa de serviço, tomo um banho, antes de entrar em casa. Graça a Deus, tenho esse privilégio de chegar e ir direto para o banho”, destaca. O cabelo também é lavado diariamente. Tudo para manter ela e a família em segurança.
 
Desafio
 
Atualmente, o Samu tem 960 servidores. Desses, 630 lidam diretamente com os pacientes. Uma equipe administrada pelo diretor do serviço, Alexandre Garcia Barbosa. “É um desafio enorme, mas também uma honra poder colaborar em um momento em que a saúde precisa dar uma resposta de forma mais assertiva aos usuários”, ressalta Barbosa. Para ele, uma das maiores tarefas é prestar todo atendimento necessário durante uma pandemia com a mesma quantidade de recurso de tempos comuns. “A gente tem um número de servidores dimensionado pelo Ministério da Saúde. A pandemia está fazendo com que gerenciemos os recursos ainda mais, para potencializar e otimizar o trabalho, utilizando o mesmo número de pessoas e viaturas”, explicou.

O Samu tem 38 ambulâncias: 30 de suporte básico — com um motorista e um técnico de enfermagem — e oito de suporte avançado — com um motorista, um médico e um enfermeiro. Durante a pandemia, o serviço recebe cerca de 60 mil chamadas mensais. Antes, a média era de 78 mil ligações pelo 192, por mês, exceto em período de férias. Para Alexandre, o número de ligações diminuiu devido ao isolamento social, além do medo da população em chamar uma ambulância para quadros de saúde leves. No entanto, a transferência de pacientes entre unidades hospitalares dobrou. Se antes a média diária era de 12 mudanças, durante a pandemia, o Samu já chegou a fazer 26 por dia. Com quadros de covid-19, só em junho foram 162 transportes. O número representa mais que a somatória desse tipo de atendimento entre março, abril e maio, três, 34 e 124, respectivamente.

Os cuidados para evitar contaminações vão desde a higienização das ambulâncias à paramentação da equipe. A cada atendimento de covid-19, é trocado todos os equipamentos descartáveis de EPI e o veículo passa por uma higienização durante cerca de 40 minutos. Mas, apesar do cuidado, 10 profissionais do Samu testaram positivo para covid-19, segundo Alexandre Barbosa. O diretor explica que, quando algum servidor sente os sintomas da doença, ele é automaticamente afastado do serviço, até que seja feito o teste. Ao todo, 31 funcionários foram afastados por quadro provável da doença. Desses, nove ainda aguardam resultados.
 
Proteção
 
Uma roupa comum, um macacão, um coturno impermeável, um capote, uma máscara N95, óculos, uma máscara face shield e luvas. É possível enumerar, pelo menos, oito equipamentos, entre roupas e acessórios na rotina de trabalho da médica Ana Luiza Ribeiro Diogo, 30. Todo esse aparato é o que separa ela do risco de contaminação da covid-19, ao sair para atender um paciente com suspeita da doença, além dos protocolos como higienização da ambulância.

“Eu tenho conversado comigo mesma: vou entubar pacientes com covid, vou transportar pacientes com covid e eu preciso estar bem. Se eu for me desesperar ou tiver medo, não vou conseguir fazer o meu trabalho. A minha prioridade é o paciente”, diz. Para se proteger, os protocolos de segurança são fundamentais, mesmo sendo, algumas vezes, desconfortáveis. “Eu saio do plantão e estou toda suada dentro do macacão”, comenta. No fim do serviço, os cuidados continuam. O uniforme é retirado ainda na base do Samu e colocado em um saco no carro. “O porta-malas do meu carro é só para o Samu. Não coloco mais nada lá que não seja do trabalho”, afirma. Ana também deixa o coturno no local de serviço e em casa vai direto para o banho.

Para a médica, o apoio e o reconhecimento da população também têm sido um importante fator de fortalecimento para os profissionais. Atitudes como entrega de cartas, agradecimentos são demonstrações de afeto daqueles que reconhecem importância do serviço. “É bom saber que estamos sendo mais valorizados. A gente tem notado, inclusive, mais pessoas abrindo espaço para as ambulâncias passarem. Muitos não davam importância. Além disso, temos os agradecimentos ao final dos atendimentos”, destaca.

Ana Luiza: %u201CSe eu for me desesperar ou tiver medo, não vou conseguir fazer o meu trabalho. A minha prioridade é o paciente%u201D (Arquivo Pessoal)  
Ana Luiza: "Se eu for me desesperar ou tiver medo, não vou conseguir fazer o meu trabalho. A minha prioridade é o paciente."


A estrutura
 
960
servidores
 
38
viaturas em serviço
 
10 
trabalhadores contaminados


O crescimento
 
» Chamadas para transporte de pacientes confirmados de covid-19
 
Março: 3
Abril: 34
Maio: 123
Junho (até dia 19): 162
 
Serviço
Número para chamadas de emergência: 192

Correio Braziliense terça, 23 de junho de 2020

A PANDEMIA NA VISÃO DAS CRIANÇAS

Jornal Impresso

A pandemia na visão dos pequenos
 
Privados da rotina e do contato com os amigos, crianças demandam atenção dos pais para ajudá-las a compreender o que se passa no mundo

 

» Erika Manhatys*

Publicação: 23/06/2020 04:00

Adriana de Carvalho tem se desdobrado para entreter o filho, Arthur, mas o garoto sente muita falta da escola e dos amigos (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Adriana de Carvalho tem se desdobrado para entreter o filho, Arthur, mas o garoto sente muita falta da escola e dos amigos

 



As quatro paredes do lar representam a estimada segurança em tempos de caos. Entretanto, podem parecer uma prisão aos que não compreendem a razão de não ir além delas. A pandemia apresentou a todos um novo mundo, e as dinâmicas da sociedade passam por uma reestruturação. Algo difícil de engolir para os adultos, mas um verdadeiro castigo às crianças, que estão privadas de suas atividades.

Parte determinante para a construção de um emocional saudável, a interação social é indispensável aos pequenos, conforme explica o médico psiquiatra Luan Diego Marques. “O contato humano é uma das ferramentas importantes para aquisição de sensação de realização e prazer. Quando não é desenvolvida, o indivíduo, ao observar o mundo ao seu redor, vai sentir que não possui habilidade para participar dele. Isso será gatilho para desenvolver transtornos, como depressão e ansiedade.”

O cuidado com a saúde mental merece atenção ainda maior durante momentos de estresse generalizado, como o da quarentena. “A vivência em família gera situações que se retroalimentam, sobretudo, com pais que não sabem lidar com suas emoções e servem de espelho aos filhos. Assim, privadas da rotina com os amigos, as crianças se estressam e os pais também, virando um ciclo vicioso”, detalha Luan.

Para manter as crianças distraídas, muitos pais se aproveitam da tecnologia para também conseguirem dar conta de suas obrigações. O imediatismo nas respostas do mundo virtual, porém, pode formar crianças ansiosas. “As telas têm estímulos muito acelerados, isso ajuda na liberação de noradrenalina e dopamina. Toda criança deseja estar à distância de um clique, então, ela começa a exigir respostas muito rápidas do mundo e dos pais. O que pode parecer uma saída, a longo prazo, pode gerar distúrbios de ansiedade”, explica o psiquiatra.

Contrário ao excesso de tecnologia, Maurício Santos tem aberto exceções para Manuela conversar com parentes e amigos (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Contrário ao excesso de tecnologia, Maurício Santos tem aberto exceções para Manuela conversar com parentes e amigos

 



Saudade

A quebra repentina na rotina da criançada deixou uma enorme sensação de vazio para os que entendem o que vem acontecendo no mundo e, também, aos muito pequenininhos, que só querem um amiguinho para dividir o tempo. “Eu gosto de ir para a escola com minha professora e meus amigos. Não gosto de ficar o dia todo em casa”, contou Louise Cordeiro, de apenas 3 anos.

Louise é a filha mais nova de Yohanna Cordeiro, 28 anos, professora de inglês e educadora perinatal. “Ela tem sentido muita falta, principalmente de encontrar os amigos, e não dispõe de meios para vê-los. No grupo de pais da escolinha, nós tentamos estabelecer videochamada entre os bebês, mas, como cada pai tem um horário, não deu certo. Nós gravamos vídeos e mandamos para que cada um mostre ao filho, mas não é a mesma coisa que a interação em tempo real”, conta a mãe.

Lamentando a situação, a pequenininha diz que “não tem como brincar agora” e garante que, quando tudo voltar à normalidade, vai “brincar de parquinho e depois lanchar” com os coleguinhas. A irmã de Louise, Michelle Cordeiro, 9 anos, tem mais sorte e consegue estabelecer contato com os amigos. “Nós jogamos on-line quase todos os dias para matar a saudade e conversamos bastante no grupo do WhatsApp”, conta.

Para a psiquiatria, o momento exige constante conversa com os filhos para situá-los nestas mudanças. “O adulto lê as notícias e racionaliza. Cognitivamente, ele alcança a mensagem. As crianças, não; elas não sabem a razão de ter de ficar em casa e longe das pessoas que gosta. Ela vai perceber que está privada da socialização com os amigos, mas precisa entender o porquê”, explica Luan.

Michelle cursa o 4º ano do ensino fundamental e já compreende o afastamento social e de suas atividades. “Eu não estou gostando, mas sei que é importante ficar em casa agora. Sinto falta de pular corda, jogar bola e conversar pessoalmente. Nós estamos aguardando a pandemia acabar para fazer uma festa do pijama, ainda não sabemos na casa de quem, mas vai ter festa”, planeja, esperançosa, a menina.

A pandemia tem afetado de forma diferente as filhas de Yohanna Cordeiro, Louise, 3, e Michelle, 9:   

A pandemia tem afetado de forma diferente as filhas de Yohanna Cordeiro, Louise, 3, e Michelle, 9: "A mais nova está sentindo muita falta

 



Recursos


Para o psiquiatra Luan Marques, o contato entre a criançada deve ser mediado pelos pais, para que não cesse. “Adultos e crianças conversam em linguagens diferentes. Muitas vezes, somente uma criança entenderá o que a outra diz. Portanto, mesmo com a dedicação dos pais, eles não suprirão a necessidade de socializar do filho. Assim, mesmo que comedidamente, deve oferecer recursos para que eles conversem com os primos e amigos da mesma idade.”

Privado de contato com os amigos, Arthur Cassimiro, 7 anos, tem se chateado bastante em casa. “É ruim ter aula on-line, eu sinto falta de brincar com eles, sinto falta da aula, eu só quero voltar para a escola. Voltar para a natação, para o futebol e de fazer tudo isso com meus amigos.” A mãe de Arthur, Adriana de Carvalho, 28 anos, lamenta o pouco contato entre os pais da comunidade escolar. “A gente não conversa muito, então, acaba que cada criança fica para o seu lado”, diz.

Adriana faz o que pode, e dedica bastante atenção ao filho. “A rotina escolar foi mantida e eu acompanho todas as aulas para auxiliá-lo, pois ainda está em fase de alfabetização. Nós moramos em casa, então, também reservo uma parte do tempo para ficar com ele no quintal e na piscina. Apesar de estar sempre presente, ele reclama cotidianamente da falta dos amigos e da escola, pois a interação que eles têm é somente pelo chat da aula”, conta.

Esperando por dias melhores, o menino diz ter planos com os amigos para concretizar no período pós-pandemia. “ Quando acabar esse coronavírus, nós vamos convidar um para vir à casa do outro. Queremos fazer as festinhas de aniversário para comemorar e brincar juntos. Essas são as coisas que a gente gosta de fazer”, narra Arthur.

Eletrônico controlado


Seguindo o conselho de reduzir o acesso às mídias digitais pela garotada, Maurício Santos, 29 anos, tem aberto exceções à filha durante o isolamento. “Nós somos contra o uso abusivo de celular, tanto que nossa filha nem tem aparelho. Mas, como ela não pode se encontrar com os familiares e amigos, nós deixamos que ela faça videochamadas para os primos e para a melhor amiga”, diz o estudante de gastronomia.

A filha de Maurício, Manuela Gaspar, de 7 anos, uma menina que “gosta da bagunça”, segundo o pai, assiste às aulas pela internet, mesmo não gostando muito da distância da sala de aula. “A internet trava, e os slides ficam carregando. Não gosto. Eu sinto muita saudade dos meus amigos e da professora. Acaba que a gente só conversa no chat da aula, e a tia Cris (a professora) nem sempre deixa”, diz Manu.

No regresso à rotina, Manuela já planejou as brincadeiras. “Eu pretendo brincar muito de umas brincadeiras bem doidas. Quero ir ao pátio da escola, à sala de informática e à sala de artes, onde a gente pinta e desenha muito. Depois de brincar de tudo que a gente costumava, eu quero comprar um lanche e dividir com as minhas amigas. Sinto falta de me encontrar com elas e conversar”, conta.

O último conselho que Luan deixa aos pais é introduzir atividades de foco aos filhos, para acalmá-los durante a quarentena. “Há na internet uma série de meditações guiadas para a garotada, também aulas de ioga. Isso colocará a criança em contato com ela e com os pais, uma interação muito importante. Mas essa atividade nova deve ser apresentada em um momento prazeroso, assim ela associará a nova atividade a algo bom”, explica o psiquiatra.

* Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte


  • De olho na molecada
    A Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou um manual para mediar o uso de ferramentas tecnológicas para as crianças. Pais devem ficar atentos:

    » Crianças de até 2 anos
    Não é indicado fazer uso de nenhum aparelho tecnológico.

    » Crianças de 2 a 5 anos
    Limitar o uso destes equipamentos para o máximo de uma hora diária.

    » Crianças até 10 anos
    Não fazer uso de televisão ou computador no próprio quarto.

    » Adolescentes
    Não devem ficar isolados em seus quartos nem ultrapassar as horas saudáveis de sono, de oito a nove horas por noite. Além de realizar uma hora de atividade física por dia.

    » Crianças menores de 6 anos
    Não devem ser expostas a conteúdos violentos, pois ainda não conseguem separar a fantasia da realidade. É importante monitorar a classificação indicativa do conteúdo que o filho consome na televisão, na internet e nos jogos on-line e videogame. Estimular a criança a participar de atividades em família, de lazer, educativas e de socialização familiar.

Correio Braziliense segunda, 22 de junho de 2020

IMPOSTO DE RENDA: ÚLTIMOS DIAS PARA ENTREGAR DECLARAÇÃO

Jornal Impresso

IMPOSTO DE RENDA
 
 
Acerto com o Fisco na reta final
 
Prazo de entrega das declarações foi prorrogado com a pandemia e termina no dia 30, mas 34,4% do esperado - ou seja, 11 milhões de contribuintes - ainda não prestaram contas com a Receita
 

VERA BATISTA
JAILSON R. SENA*
FERNANDA STRICKLAND*

Publicação: 22/06/2020 04:00

Faltando nove dias para o término do prazo de entrega da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) de 2020, ano-base 2019, em 30 de junho, o principal alerta do supervisor nacional do Imposto de Renda da Receita Federal, Joaquim Adir, é de que os contribuintes não deixem para entregar o documento na última hora. “Quem se atrasa, acaba tendo mais dificuldade para encontrar os comprovantes e menos tempo para tirar dúvidas importantes”, destaca. Encontre, portanto, todos os recibos: de salários, planos de saúde, heranças, compras de casas e apartamento, lucros de capital, entre outros, aconselha o especialista.
 
Adir informa que o sistema do Fisco passou por melhorias este ano (o programa pode ser baixado na página irpf2020.com/programa-irpf-2020/), para facilitar o acesso, e acrescenta que não houve mudanças na legislação. O governo vem reduzindo os benefícios tributários e reformular o IR. No ano passado, o patrão podia compensar até R$ 1,2 mil em gastos com empregados domésticos mas, a partir deste ano, não tem mais essa dedução. De acordo com a Receita, a renúncia com esse incentivo fiscal foi de R$ 674 milhões em 2019.
 
Nesse ritmo, apesar da pandemia, o feroz Leão pouco facilitou a vida do contribuinte que tem imposto a pagar (em até oito parcelas), além da postergação do prazo. “A crise sanitária pelo coronavírus trouxe problemas para todos. Mas a maioria dos contribuintes tem restituição. Os que devem as cotas são autônomos ou profissionais com altos salários. Por isso, o pagamento, que começava a partir de 30 de abril, também foi adiado para 30 de junho”, explica.
 
Obrigações 
 
São obrigados a apresentar a Declaração de Ajuste Anual do IRPF 2020 cidadãos que, em 2019, receberam acima de R$ 28.559,70, tiveram ganho de capital na venda de bens ou fizeram operações na Bolsa de Valores, entre outras exigências (veja quadro). O contribuinte que não entregar, poderá ser multado de R$ 165,74 a 20% do saldo de imposto a pagar, além dos juros de mora, lembra Leonardo Milanez Villela, advogado tributarista, sócio do Pinheiro Villela Advogados.
 
Até as 17h de sexta-feira, quase 21 milhões de declarações foram recebidas pela Receita, o que representa 65,6% das 32 milhões esperadas para 2020. Ou seja, 11 milhões de pessoas (34,4% do esperado) ainda não prestaram contas com o Leão.
 
De acordo com Villela, é possível deduzir do IR as despesas médicas e hospitalares, gastos com educação, previdência privada, dependentes (cada um garante dedução de R$ 2.275,08 na base de cálculo) e contribuição ao INSS. “Cada espécie de gasto dedutível tem as suas particularidades e requisitos próprios. Para não cometer erros, é recomendável que o contribuinte consulte o arquivo de perguntas e respostas da Receita, disponível em receita.economia.gov.br”, diz.
 
Kiko Omena, tributarista e sócio do Escritório Velloso de Melo Advogados, destaca que, se o contribuinte perder o comprovante do desconto na fonte ou do rendimento, deve pedir à empresa onde trabalha. “Se a fonte pagadora se recusar, o contribuinte deve comunicar o fato à unidade de atendimento Receita Federal de sua jurisdição, para que a autoridade competente tome as medidas legais que se fizerem necessárias”, destaca. Até o dia 30, também é possível atendimento por chamada de vídeo, que deve ser agendado no site do Fisco.
 
Dúvidas
 
Quem é autônomo, ainda que receba das pessoas jurídicas para as quais prestou serviços o comprovante de rendimentos, deve manter o livro caixa atualizado, com recebimentos de pessoas físicas e suas despesas. A empresária Jéssica Andrade, de 29 anos, conta que fez confusão entre as duas fontes, devido ao valor do faturamento da empresa. “Não sei se tive faturamento suficiente para declarar, e, por isso, ainda não fiz, caso seja necessário”, afirma.
 
O contador e sócio-proprietário da Contador do Trader, Luís Fernando Moreira, diz que a empresa não interfere na declaração do IR da pessoa física. Apenas um ponto deve ser observado. “A única atenção é sobre os rendimentos isentos provenientes da empresa, como distribuição de lucros acima de R$ 40 mil”, explica Moreira.
 
Já o administrador de empresas Fábio Manoel de Oliveira, 43 anos, tem dúvidas sobre como a Receita receberá o pagamento do Documento de Arrecadação de Receita Federal (Darf) pelo Programa para Cálculo de Emissão de Darf (Sicalc). “Não sei se tem que preencher na guia de rendimentos recebidos de pessoa física ou na aba Outras Informações, na parte aluguéis. Outra dúvida é se tem que pagar 12 Darfs ou um só referente ao ano cheio.”
 
Moreira informa que o pagamento é vinculado automaticamente no CPF do contribuinte, “sendo importante preencher corretamente o Darf no Sicalc, com atenção principalmente no Código da Receita. Na declaração devem constar os dados geradores do Imposto de Renda e o pagamento”. Sobre o pagamento do imposto, o contador diz que deve ser feito mensalmente. Ele lembra, ainda, que a intenção da Receita é de que, ao preencher a declaração de ajuste anual, o contribuinte tenha saldo de imposto a pagar ou a ser restituído.
 
Existem dois modelos de declaração: o simplificado, que desconsidera as despesas e tem um desconto de 20% sobre os rendimentos; e completo (Deduções Legais), que considera as despesas. Antes de enviar o formulário, é muito importante marcar qual opção é a mais adequada. “A escolha deve ser pelo modelo que traga a maior restituição ou o menor valor a pagar”, orienta o contador.
 
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro
 

Correio Braziliense domingo, 21 de junho de 2020

FUTEBOL: MEMÓRIAS DO TRI

Jornal Impresso

MEMÓRIAS DO TRI
 
1970 por 1950 1950 por 1970
 
Como Zagallo foi de soldado no Maracanazo a maestro da mais bela equipe do Brasil na história das Copas em parceria com o Rei que ouviu ao pé do rádio a segunda maior tragédia da Seleção

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 21/06/2020 04:00

 

 

 

O maior concerto da história centenária da Seleção Brasileira completa, hoje, 50 anos, mas tem raízes numa derrota que fará 70 anos no mês que vem. A conquista do tricampeonato mundial na Copa do México, em 21 de junho de 1970, na aula de futebol arte contra a Itália, no Azteca, começou duas décadas antes, em 16 de julho de 1950 — na segunda maior tragédia do futebol brasileiro. “1950 marcou o início de todas as nossas conquistas”, define um senhor de 88 anos, Mário Jorge Lobo Zagallo, no livro Dossiê 50, de Geneton Moraes Neto.


Todas. Principalmente, a de 1970. Maestro de Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Rivellino, Pelé e Tostão na goleada por 4 x 1 sobre a Itália, Zagallo era um soldado de 19 anos em serviço, no Maracanã, na derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 x 1, na decisão da Copa de 1950. A 756km dali, uma criança chamada Edson Arantes do Nascimento sofria — e chorava — o vice ao pé do rádio do pai, seu Dondinho.


“Eu também, com apenas 10 anos, participei daquela imensa tristeza”, revelou Pelé, em 1971 numa entrevista a Orlando Duarte na revista Placar. “Esse 16 de julho eu não esqueço mais. Foi uma tristeza tão grande, tão profunda, que parecia ser o final de uma guerra, com o Brasil perdedor e muita gente morta”, comparou, à época, o homem que havia virado Rei e curado o trauma de 1950 com três títulos mundiais — 1958, 1962 e 1970 — em quatro Copas.


Mal sabia Pelé, no dia do Maracanazo, que as três conquistas teriam a parceria de um alagoano arretado nascido em Atalaia. Primeiro como jogador. Depois, técnico. Zagallo tinha 19 anos na final da Copa de 1950. Era um soldado que servia no quartel da Polícia do Exército (PE), na rua Barão de Mesquista, na Tijuca, pertinho do recém-inaugurado Maracanã. Jogava pelo time juvenil do Flamengo, mas, naquele dia, foi convocado para uma missão militar: fazer a segurança da arquibancada. O público oficial divulgado pela Fifa foi 199.854 pagantes.


“Vi o Maracanã em lágrimas pela primeira vez. A alegria que contagiou a todos nos jogos anteriores e no primeiro tempo do Brasil x Uruguai desapareceu. Quando o Brasil sofreu o gol de Ghiggia, baixou um desânimo, baixou um silêncio sobre o estádio. O Maracanã transformou-se, então, no maior túmulo do mundo. A arquibancada do Maracanã estava superlotada. Fiquei o tempo todo de pé, de frente para o campo, porque era minha obrigação. Vi o jogo inteiro. Fui escalado de propósito para aquela missão”, testemunha.


Oito anos depois, a criança de 10 anos, que testemunhou o Maracanazo nas ondas do rádio do pai, e o soldado da PE na derrota para o Uruguai, brindavam o país com o primeiro título da Copa do Mundo, em 1958, na Suécia; e o bi, no Chile. Mas os deuses da bola reservavam mais.


Vinte anos se passaram na vida de Zagallo do plantão, no Maracanazo, ao triunfo por 4 x 1 sobre a Itália na final de 1970, no México. Jogou no América-RJ, Flamengo, Botafogo e serviu à Seleção Brasileira. Pendurou as chuteiras e escolheu ser treinador. Começou no Botafogo, em 1966. Os títulos cariocas de 1967 e 1968, a conquista da Taça Brasil de 1968 e a queda de João Saldanha três meses antes da Copa do México encurtaram o caminho de volta à Amarelinha.


E lá estavam juntos novamente Mário Jorge Lobo Zagallo e Edson Arantes do Nascimento, em 21 de junho de 1970, no Azteca, no papel de protagonistas da maior aquarela do Brasil. A criança que ouvira a maior derrota nas ondas do rádio já era o Rei Pelé. Iniciou o Mundial com impressionantes 1.026 gols na carreira. Saiu dela com 1.029. Movido pelo sentimento de amor pelo Brasil e de vingança com a derrota de 1950, o ex-soldado Zagallo tornava-se, aos 38 anos, o primeiro homem a conquistar a Copa como jogador (1958 e 1962) e técnico — feito igualado pelo alemão Franz Beckenbauer (1974 e 1990) e pelo francês Didier Deschamps (1998 e 2018). Curiosamente, eliminou o Uruguai na semifinal de 1970 com virada épica, por 3 x 1. A história ainda reservaria ao Velho Lobo o quarto título, como coordenador-técnico, em 1994.


“Jamais poderia imaginar que, hoje, eu, que estava na final de 1950 fazendo policiamento na arquibancada, poderia estar aqui dando esta entrevista como tetracampeão do mundo! São coisas que jamais poderiam passar pela minha cabeça quando eu estava ali, na torcida pela Seleção no Maracanã, em início de carreira como jogador de futebol. Eu nem sabia se minha carreira daria certo ou não”, emociona-se Zagallo. Deu muito certo, Velho Lobo.

 

Os quase gols
que Pelé lamenta


O Rei do Futebol despediu-se da Copa do Mundo, em 1970, com 12 gols e três títulos em quatro participações no torneio. Fez três em solo mexicano, um deles a plástica cabeçada que abriu o placar na goleada por 4 x 1 sobre a Itália. Três lances que poderiam terminar no fundo da rede são lamentados até hoje: o chute do meio de campo contra a Tchecoslováquia, uma finalização de cabeça no duelo com a Inglaterra e o drible de corpo no goleiro do Uruguai.
O camisa 10 conta na autobiografia Pelé, minha vida em imagens, que trocaria o final feliz de qualquer um dos lances diante dos goleiros Ivo Viktor, Gordon Banks e Mazurkiewicz pela realização de um sonho frustrado.
“Passada a euforia (pela conquista do tri), estaria encerrando minha carreira em Copas do Mundo com algum tipo de lamento? Bem, havia, sim, uma coisinha. Eu gostaria de ter feito um gol de bicicleta. Marquei alguns pelo Santos, outros, mais tarde, pelo Cosmos, mas nenhum em Copa. Fiz gols de tudo de todos os outros jeitos — de cabeça, de perna direita, de perna esquerda, de tiro livre, mas nenhum de bicicleta”, reclama o melhor de todos os tempos.
Surpreendentemente, Pelé conclui, assim: “É engraçado, mas os gols que perdi em 1970 são mais lembrados do que os que marquei: o chute do meio de campo, a defesa de Gordon Banks, o drible de corpo num outro goleiro. De minha parte, preferia não ter marcado nenhum desses, mas, sim, um de bicicleta. É uma coisa pessoal, sem nenhuma importância, na verdade, mas é o que sinto”. (MPL)

Resenhas do Tri
» Serviço secreto
A polícia mexicana tinha informações de que Pelé era alvo de um sequestro, e chegou até mesmo a prender uma pessoa, um venezuelano, que seria o cabeça do plano. Hospedados em Guadalajara, Brasil, Inglaterra, Tchecoslováquia e Romênia passaram a ser mais vigiados.

» Prancheta
A melhor Seleção de todos os tempos só gerou dois treinadores vencedores: o capitão Carlos Alberto Torres era o técnico do Flamengo na conquista do título brasileiro de 1983 contra o Santos. Reserva de Félix e Ado, o goleiro Émerson Leão levou o Santos ao título de 2002.

» Opinião
Dois tricampeões continuam brilhando em outras funções. Tostão é um dos principais colunistas de futebol do país. Paulo César Caju também tem opiniões fortes na mídia esportiva. Gérson, o Canhotinha de Ouro, é um dos comentaristas mais queridos da rádio Tupi.

» Fé
Pelé comandava o momento de fé na concentração. “Orávamos todo dia durante o torneio, normalmente após o jantar. “Começamos eu, Rogério, Carlos Alberto Torres e o administrador da Seleção, Antônio do Passo. Tostão, Piazza e Mario Américo juntaram-se depois a nós.”

» Dadá no DF
Reserva do ataque da seleção tricampeã mundial no México, o centroavante Dario José dos Santos, o Dadá Maravilha, é o único herói da conquista da Copa de 1970 que trabalhou em times do Distrito Federal. Comandou o Brasília e o extinto Tiradentes.

“Pude testemunhar a choradeira geral. Todo mundo saindo do Maracanã de cabeça baixa, sem acreditar no que estava acontecendo. De qualquer maneira, prefiro ver o lado bom: 1950 marcou o início de todas as nossas conquistas”
Zagallo, o soldado na final da Copa de 1950 que virou técnico do tri

“É engraçado, mas os gols que perdi em 1970 são mais lembrados do que os que marquei: o chute do meio de campo, a defesa de Gordon Banks, o drible de corpo num outro goleiro. De minha parte, preferia não ter marcado nenhum desses, mas, sim, um de bicicleta. É uma coisa pessoal, sem nenhuma importância, na verdade, mas é o que sinto”
Pelé, autor de 12 gols na história das Copas

“Temos muito orgulho dessa Seleção pelo legado que deixou e pela admiração que conquistou no mundo todo. Foi um time fantástico. O talento dessa equipe brilhante gerou algumas das imagens mais icônicas da nossa Seleção. São os eternos embaixadores”
Rogério Caboclo, presidente da CBF


Correio Braziliense sábado, 20 de junho de 2020

MALALA: DO ATENTADO À FORMATURA

Jornal Impresso

Do atentado à formatura
 
Malala, a jovem que quase morreu após ser alvo do Talibã, gradua-se em Oxford. Paquistanesa promete ocupar o tempo com Netflix, livros e sono

 

Publicação: 20/06/2020 04:00

 

Malala com os pais, Ziauddin e Tor Pekai, e os irmãos Kushal e Atal: na foto abaixo, coberta de bolo (Malala/Twitter/Reprodução)  

Malala com os pais, Ziauddin e Tor Pekai, e os irmãos Kushal e Atal: na foto abaixo, coberta de bolo

 

 

 

 

Por que dar armas é tão fácil, mas dar livros é tão difícil?%u201D
Malala Yousafzai, 
ao receber o Nobel 
da Paz, em 2014 (Malala/Twitter/Reprodução)  

Por que dar armas é tão fácil, mas dar livros é tão difícil?%u201D Malala Yousafzai, ao receber o Nobel da Paz, em 2014

 

 

A jovem paquistanesa atingida com um disparo na cabeça por um talibã, a caminho da escola, superou a morte aos 15 anos, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e atingiu um marco em sua própria luta pela educação. Com o corpo coberto de bolo e um sorriso, Malala Yousafzai, 22 anos, cumpriu com uma tradição na Universidade de Oxford, no Reino Unido, para comemorar a graduação. “É difícil expressar minha alegria e minha gratidão, agora que concluí meu curso de filosofia, política e economia, em Oxford. Eu não sei o que virá a seguir. Por agora, serão Netflix, leitura e sono”, brincou Malala, ao postar a foto descontraída em seu perfil no Twitter. Em outra imagem publicada pela ativista, ela aparece com os pais e os irmãos diante de um bolo onde lê-se “Feliz graduação, Malala”.

 O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, retuitou a mensagem da filha, que até ontem tinha recebido mais de 550 mil curtidas e 12 mil comentários. Malala foi admitida na prestigiada Universidade de Oxford em 2017 depois de ter estudado em um instituto de Birmingham. Em 2012, depois do atentado no Paquistão, encontrou refúgio nesta cidade no centro da Inglaterra.

 Malala começou sua luta em 2007, quando os talibãs impuseram sua lei no Vale do Swat, até então uma região turística tranquila do Paquistão. Aos 11 anos, essa filha de um diretor de escola e de mãe analfabeta criou um blog no site da BBC em urdu, o idioma nacional.

 Com o pseudônimo de Gul Makai, ela descrevia o clima de medo no vale. Quando ficou conhecida, o Talibã decidiu eliminá-la, acusando-a de ser um veículo para a “propaganda ocidental”. Aos 15 anos, levou um tiro na cabeça e outro nas costas em um ataque ao ônibus escolar que a levava de sua escola em Mingora, no Vale do Swat. Desde então, tornou-se um ícone da defesa dos direitos das mulheres à educação e recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2014.

 Discurso

 Na ocasião, ao receber a medalha com a imagem de Alfred Nobel e o diploma de uma das distinções mais importantes do planeta, Malala agradeceu por deixarem-na “voar” e selou um compromisso com a educação. “Vou prosseguir com esta luta até que todas as crianças possam frequentar a escola”, prometeu. “Por que dar armas é tão fácil, mas dar livros é tão difícil? Por que construir tanques é tão fácil, mas construir edifícios é tão difícil?”, acrescentou.

 Ao esbanjar simplicidade, Malala também aproveitou a ocasião da entrega do Nobel para honrar os pais. “Obrigada a meu pai por não cortar minhas asas, e por me deixar voar. Obrigada a minha mãe, por me inspirar, por ser paciente e por sempre dizer a verdade, o que acredito fortemente ser a maior mensagem do islã”, declarou. Em seu perfil no Twitter, Ziauddin citou a filha em seu perfil: “Orgulho em ser professor, pai de Malala e um ativista pela paz, pelo direito das mulheres e pela educação”.


Correio Braziliense sexta, 19 de junho de 2020

ALDIR BLANC: CRÔNICAS DO COTIDIANO

Jornal Impresso

Crônicas musicais do cotidiano
 
Disco clássico de Aldir Blanc (à direita) e Maurício Tapajós é transformado em série televisiva com 10 episódios

 

» Vinícius Veloso*

Publicação: 19/06/2020 04:00

 

 (Arquivo Pessoal)  

 

Em 1984, Aldir Blanc e Maurício Tapajós se juntaram para lançar o LP duplo que leva o nome dos dois. A parceria musical rendeu 20 músicas, sendo 11 delas compostas pela dupla. O sucesso foi tamanho que o álbum duplo ganhou dois novos formatos: um relançamento em formato de CD com 12 músicas, em 1994, e uma série televisiva este ano.

Imagem vinil é uma produção que personifica crônicas bairristas descritas nas 20 composições do disco Aldir Blanc & Maurício Tapajós (1984). A série, transmitida no canal por assinatura Prime Box Brazil, conta com 10 episódios. Com direção de Frederico Cardoso, a trama gira em torno do bairro da Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro), local em que Aldir Blanc morou por muito tempo.

 “As letras do Aldir — não somente desse belíssimo álbum com Tapajós — são crônicas curtas que contam histórias e nos remetem a situações do cotidiano e outras histórias. Então, as letras nos serviram não só de inspiração, mas como base para as narrativas audiovisuais dos episódios. Além disso, o encarte LP vem com charges, poesias, pinturas, artigos de amigos e parceiros da dupla. Eu e meus sócios somos todos tijucanos e conhecemos bem o bairro onde ambientamos as histórias, portanto, também acrescentaram vivências”, conta o diretor.

 O primeiro episódio — Saudades — envolve as faixas Perder um amigo e O bonde. O segundo episódio — Pimenta — traz as mazelas das músicas Querelas do Brasil (tema de abertura) e Entre o torresmo e a moela. “Em todos os episódios, os personagens principais são cantados nas músicas, com duas músicas inspirando cada um dos 10 episódios. Na escrita, a partir da estrutura narrativa desenvolvida por mim, Gustavo Colombo e Vitor Pimentel, conforme as necessidades fomos inserindo personagens que foram dando liga e musculatura para sustentar os 25 minutos de cada episódio, cena a cena”, completa.

A cenografia também recebe destaque ao receber o Estádio do Maracanã e o Bar da Dona Maria, boteco onde Aldir e Maurício escreveram composições, como locais de filmagem. No elenco da série, Guida Vianna e Lionel Fischer são os destaques e se encontram ao lado de Marcello Melo, Maria Clara Guim, Christian Santos, Anderson Quack, Flávio Bauraqui, Vitória Rangel, Júlia Cartier Bresson, Roberto Rodrigues, Felipe Garcia, Waleska Arêas e Arlindo Paixão.

 Interpretações

 Um dos fatos interessantes da gravação é a distância existente entre as características dos personagem e de quem interpreta, fato comum para atrizes e atores. Guida Vianna, reconhecida atriz brasileira afirmou que não existem semelhanças entre ela e a personagem. Na série, Guida interpretou Betina, uma mulher que cuidava da casa e da família. “Não há nenhuma semelhança entre nós. Saí de casa aos 21 anos já formada na faculdade, trabalhando e dona da minha vida. Casei, separei, criei uma filha sozinha e me sustento com a minha profissão. Tenho minhas opiniões e sou dona da minha própria vida. Mas, o bom do trabalho do ator é isso mesmo, fazer personagens completamente diferentes de nós mesmos”, pontua.

 No mesmo sentido, o ator Lionel Fischer nega qualquer semelhança com o policial aposentado Pimenta. O personagem que interpreta na trama teve forte ligação com os órgãos de repressão do regime militar, é alcoólatra, fuma compulsivamente e destrata a esposa. “Não existe nenhuma semelhança entre Pimenta e eu. Tinha 15 anos quando se deu o golpe militar. Meu pai, já falecido, foi um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro. E me recordo de uma noite em que ele, sentindo-se ameaçado, me pediu para ajudá-lo a jogar fora todos os livros, escritos ou documentos que pudessem incriminá-lo. Fizemos isso ao longo de toda uma noite, jogando hipotéticas provas na Lagoa Rodrigo de Freitas. E certamente, como já disse, por não ter nada em comum com o personagem, pude enxergá-lo de uma forma crítica, tentando sempre entender o que leva alguém a desprezar por completo a empatia.”

 Compositores

 Aldir Blanc morreu em 4 de maio último, após ser contaminado pelo novo coronavírus. Era formado em medicina, mas largou a carreira para se dedicar às composições e ao mundo artístico. Escreveu mais de 600 letras musicais e trabalhou como cronista. Antes de morrer, entretanto, participou de um teaser da série Imagem vinil, em que contou parte da história do lançamento do primeiro disco. O cantor relembra como, junto a Maurício Tapajós, conheceu a pessoa responsável por aprovar a liberação de verbas da Petrobras para atividades culturais, que facilitou a liberação do LP duplo em 1984.

 Maurício Tapajós morreu em 1995 e o legado vem sendo repassado pelas músicas e também pelos filhos Lúcio e Márcio, que contaram um pouco sobre o disco lançado na década de 1980. “Musicalmente, ele começou trazendo músicos fantásticos para trabalhar junto, se não me engano foram mais de 80 músicos que tocaram no disco. E as faixas falam de um Brasil e um Rio de Janeiro cheio de mazelas, mas visto com ironia, amor e esperança. Aldir e Maurício transmitem em suas músicas um alto teor político e sarcástico. Quem conheceu os dois sabe como isso era forte neles”, conta Márcio Tapajós.

 Lúcio Tapajós também deixou uma contribuição a respeito da produção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. “Um LP independente, duplo, com aquela capa, aquele encarte, aquele nível de textos e ilustrações... Hoje, não existe maisaquilo. Naquele tempo, não se via isso também. Aliás, alguém fez algo parecido?”, questiona.

 *Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira

 Imagem vinil

Canal de TV por assinatura Prime 

Box Brazil. Dez episódios de 30 min, com novos episódios nas quintas-feiras, às 21h. Reprises nas segundas-feiras, às 10h30, e sextas-feiras, às 10h. Não recomendado para menores de 14 anos

 (Saci/Reprodução)  

 Aldir Blanc & Maurício Tapajós 

De Aldir Blanc e Maurício Tapajós. SACI, 20 faixas. 


Correio Braziliense quinta, 18 de junho de 2020

DOM MARCONY: PRECISAMOS PACIFICAR O PAÍS

Jornal Impresso

ENTREVISTA DOM MARCONY / BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE DE BRASíLIA
 
Precisamos pacificar o país

 

» Ana Dubeux

Publicação: 18/06/2020 04:00

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)  

Bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília, dom Marcony mantém a confiança de que o momento conturbado pelo qual passa a sociedade brasileira chegará ao fim. “Nós, cristãos, somos pessoas de esperança”, disse o religioso em entrevista ao Correio, após as ameaças sofridas por radicais bolsonaristas no início da semana. Dom Marcony acredita que a Igreja Católica tem a missão de pacificar os espíritos nesta crise tridimensional de ordem sanitária, econômica e política.
 
Sobre o episódio que levou ao segundo fechamento da Esplanada nesta semana, dom Marcony lembra que, em um primeiro momento, preocupou-se em preservar a integridade da Catedral e dos funcionários da Cúria. Só depois percebeu que ele próprio poderia ter sido vítima de um ataque. E cita uma frase, dita por um dos agressores, que traduz a violência a atormentar-lhes a alma: “O senhor não sabe com quem está falando, mas nós vamos voltar”. Dom Marcony demonstra compaixão em relação aos invasores — “Os integrantes daquele grupo são meus filhos também, como todo o Distrito Federal” —, mas adverte que não se furtará do dever de proteger um símbolo de Brasília e de seguir as regras preventivas estabelecidas pelo Governo do Distrito Federal.
 
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota de solidariedade a Dom Marcony. A entidade católica também repudiou as ações extremistas no país e cobrou uma atuação firme das autoridades em favor da paz. “Esses grupos não podem continuar a desfigurar a democracia brasileira, com ataques às instituições, à religião e a quem mais não compartilha com as suas visões de mundo. Conviver com as diferenças é condição básica para a civilidade”, escreveu dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB. A seguir, leia os principais trechos da entrevista de dom Marcony.

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)  

Como o senhor recebeu as ameaças de antidemocratas à igreja e à sua pessoa?
Num primeiro momento, recebi com certa apreensão. Mas é compreensível, devido aos nervos à flor da pele, no momento em que estamos vivendo, seja pelo coronavírus, seja também pelos aspectos políticos. E nós não ficamos fora disso. Depois, a gente entende que as pessoas querem que a sua vontade prevaleça. Mas, ameaças e pressão são coisas que ninguém quer passar. Depois que o clima se pacifica, a gente compreende o momento que todos estamos passando.
 
Não acha um desrespeito pessoas chegarem a atacar a própria igreja?
A pessoa quer alcançar um fim e, para alcançar esse fim, quase fica cega. Por isso, parte para agressividade, seja ela verbal ou material. Não pensei na minha pessoa. Fui 15 anos pároco da Catedral, passei por várias manifestações na Esplanada dos Ministérios (pacíficas e complicadas). O Correio tem um histórico disso. A Catedral é uma paróquia e, ao mesmo tempo, um monumento, um cartão-postal. Meu primeiro pensamento, ao chamar as autoridades públicas, era a possibilidade de alguma agressão ao templo, ao monumento e à própria Cúria, onde trabalham vários funcionários. Tenho de defendê-los. Depois, caiu a ficha de que podia ter uma agressão à minha pessoa. Eles não foram lá com a intenção de agredir, mas encontraram uma autoridade eclesiástica que tinha de dar uma resposta para eles. A resposta foi uma negativa e, consequentemente, houve uma reação — não necessariamente voltada a mim, poderia ser outro religioso.

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)  
O que falaram exatamente?
Eles estavam num grupo de cinco pessoas. Ficaram descontentes quando disse “não”. Eles foram pedir para que acampassem na área privada (próxima à Catedral). A PM nos procurou para saber se tínhamos dado autorização ao grupo. Disse que (a situação) não podia ir contra o decreto do governador (Ibaneis Rocha, que proibiu aglomerações). Foi quando o grupo nos procurou. Atendi com toda delicadeza, mas disse que não poderia permitir porque, inclusive, tínhamos acabado de fazer um protocolo com o GDF sobre abertura das igrejas e participação das pessoas em celebrações. Eu não ia descumprir o decreto do governo. Foi aí que um deles disse: “O senhor não sabe com quem está falando, mas nós vamos voltar”.
 
Dois dias de fechamento da Esplanada determinados pelo governador são suficientes para acalmar os ânimos? Não teme uma nova manifestação?
Agradeço a intervenção imediata do governador do DF. Acho que o clima vai se acalmar. Quando se dá um tempo, a cabeça fica no lugar, a pessoa reflete mais sobre as atitudes. Espero que não haja (atos como esse) nem para a igreja, nem para qualquer instituição. Os integrantes daquele grupo são meus filhos também, como todo o Distrito Federal. Não estamos aceitando um lado e desmerecendo o outro, ou vice-versa. Estamos aqui para buscar na paz e na harmonia o melhor para toda a sociedade.

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)  
A arquidiocese recebeu muitas manifestações de solidariedade? 
Sim, muita e quero aproveitar para agradecer a todos a solidariedade por  nossa igreja, mas gostaria de corrigir uma coisa: a arquidiocese jamais ficou sem ninguém à frente  desde a saída de Dom Sérgio para Salvador. Quem está à frente da arquidiocese é dom José Aparecido até o santo papa escolher o novo arcebispo de Brasilia
 
Esse radicalismo tem um tempo para acabar?
Esse aspecto diz mais respeito à segurança pública. A igreja não tem de responder pela segurança pública, tem de ajudar as pessoas. Compreendo que, mais do que buscarmos culpados, seja qual for a justificativa, nós temos de buscar as soluções. A solução é a igreja ajudar a pacificar este momento. Agradeço ao Correio pelo bem que faz para nossa cidade, no campo da informação, e a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão lutando para que tenhamos harmonia.
 
Como analisa este momento de pandemia e de crise política? As pessoas, de fato, estão muito tocadas, de modo geral, ou esse clima na Esplanada é de grupos específicos?
Creio que são grupos específicos, mas cada um no seu nível. Também estamos com pressões dentro da família, devido ao isolamento e da própria questão do coronavírus, que nos impele a não ter uma resposta rápida para nossos problemas. Vivemos num mundo imediatista, diante de um vírus que não dominamos, que proporciona insegurança em todos os níveis. Essa insegurança, talvez, provoque em grupos uma reação imediata.
 
Muita gente, inclusive lideranças políticas, age de maneira equivocada também e, aparentemente, estimula esse tipo de reação. Há esse tipo de influência ou é questão individual?
Não cairia num julgamento. Creio que a gente tem de respeitar o espaço do outro. Há pessoas que têm atitudes por causa da pressão psicológica; outros ,da pressão política; e outros, da pressão econômica. O grande risco é que essas pressões, sejam quais forem, façam esquecer o ser humano, o respeito, o diálogo e a busca de soluções em que nós tenhamos sempre o equilíbrio em toda a sociedade.
 
A busca por esse equilíbrio está perto de acontecer, no que diz respeito à pandemia?
Nós devemos escutar as autoridades técnicas, científicas de saúde e, como consequência, as autoridades constituídas. Creio que não é uma coisa para já. Vamos ter que nos acostumar e aprender a viver com o que ainda nos domina (o vírus). Ainda não temos a vacina ou uma solução. Esse é o grande problema das pessoas, elas querem  prazos imediatos para tudo. Seja para satisfação pessoal, para a questão econômica, para saúde e até para a liberdade, bem ou mal interpretada. Vamos levar um tempo aprendendo o que a pandemia nos trouxe. Nós, cristãos, somos pessoas de esperança.
 
Os brasileiros têm levado em conta o que as autoridades sanitárias falam?
A nossa cultura é indisciplinada, sem ofensa a ninguém. Não é uma afronta aos outros, mas de falta de costume para seguir regras, horários, etc. E isso acontece também com as novas determinações que vêm com a pandemia, como lei para usar máscara, distanciamento, aglomerações. É o “pensar primeiro em mim”. É importante pensar no outro. Eu uso a máscara não só para me proteger, mas porque eu quero o bem do outro. A gente precisa aprender a pensar nos outros. O vírus atinge todos e todos temos de nos preocupar e ajudar a todos.
 
Estamos vivendo uma crise institucional no país?
Acho que não é por causa da pandemia. A polarização no país é antiga. Creio que se acirram os lados quando a gente não se une.Tem estado do Brasil que, mesmo de partidos diferentes, prefeitos e governadores se unem em torno do bem comum que é salvar vidas.  Precisamos nos unir porque estão morrendo pessoas. Pouco importa se é  uma ou mil pessoas. Estamos perdendo nossos jovens e velhos. Isso é fato. Devemos nos unir para ajudar a salvar pessoas. Vamos esquecer o lado pessoal e de grupos. O todo é o que importa. Não podemos deixar de dizer que as pessoas estão morrendo, que a situação é grave. Precisamos pacificar o país e buscar soluções. A partir dessa pandemia, sairemos  mais humanitários, pensando mais no próximo. Não falo de partidos, religiões, mas do valor da pessoa humana. 

Correio Braziliense quarta, 17 de junho de 2020

A LUTA DO FORRÓ

Jornal Impresso

A luta do forró
 
Sem os festejos juninos, os artistas mais tradicionais do gênero musical sentem o impacto econômico. Lives, editais e doações acabam sendo alternativas

 

» Adriana Izel
» José Carlos Vieira

Publicação: 17/06/2020 04:00

 
Trio Balançado (Cacai Nunes)  

Trio Balançado

 

 
Cacai Nunes (Randal Andrade/Divulgação)  

Cacai Nunes

 

 
Luizão do Forró (Arquivo Pessoal)  

Luizão do Forró

 

 
Renê Richocet (Arquivopessoal)  

Renê Richocet

 

 
Marques Célio (Asforro/Divulgação)  

Marques Célio

 

 
 
A não realização dos festejos juninos durante a pandemia do novo coronavírus impacta diretamente em uma cadeia produtiva que vive e sobrevive do são-joão: os forrozeiros. Assim como as quadrilhas, os artistas do segmento costumam ter visibilidade no período, que é quando a agenda de shows fica lotada, mesmo que tenham que dividir espaços com outras vertentes mais comerciais do ritmo nordestino.
 
“A grande questão é entender que o forró pé de serra é uma cultura de resistência. Não tem apelo comercial. Então, é uma luta levar adiante algo com um público muito segmentado. No são-joão, esse número aumenta. A média de apresentações para os trios varia entre 90 a 110 shows no período que começa em maio e segue até agosto”, avalia Marcão, produtor do Trio Balançado, formado por Vavá Gomes (sanfona e voz), Leandro Medeiros (triângulo e voz) e Zé Carlos (zabumba e voz).
 
Desde o início da pandemia, o trio perdeu mais de 20 eventos com contratos assinados, além de quase 80 que foram cancelados. “Quando não tem festa junina, esquece, não tem trio de forró”, lamenta Marcão. A banda chegou a participar de uma live promovida pelo trio 3 de Maria, intitulada Forró do Trabalhador — mesmo nome do projeto que acontecia todas às segundas na cidade —, que reuniu ainda os trios Mestre Lua, Moinho D’água e Cajuína. O objetivo foi arrecadar doações para músicos que passam necessidade. “Muitos trios não vivem só da música, mas é evidente que era um complemento que dava qualidade de vida. Essa pandemia é terrível e muito complicada. Tem forrozeiro passando fome”, comenta Marcão.
 
Nos outros anos, a agenda de Luizão do Forró estava lotada nessa época. Shows em Ceilândia, Águas Lindas e outras regiões do Entorno. Era forró para todo lado. Mas hoje, a história é outra. Luizão até faz lives com os amigos, porém, falta dinheiro. “É um projeto mais intimista, porque não tenho recursos para um grande evento na internet, como gostaria de fazer”. Marques Célio, presidente da Associação dos Forrozeiros do DF (Asforró), busca saídas para dar suporte aos músicos e instrumentistas. Com 398 associados, só de trio de forró são 45, a entidade enviou cartas a deputados distritais e a integrantes do governo do Distrito Federal, pedindo socorro. O GDF sinalizou com o edital do Fundo de Apoio à Cultura para esse segmento e a cadeia produtiva do forró.
 
“Batalhamos para que o nosso pessoal concorresse a esse edital, mas não é suficiente. A apresentação de música ao vivo foi a primeira a parar com o decreto em março e certamente seremos os últimos a voltar ao trabalho depois dessa pandemia”, argumenta Marques. “Precisamos sustentar essas famílias”, acrescenta. Na carta enviada aos políticos, a Asforró defende, entre outras propostas, a garantia de um salário-mínimo para cada profissional da cultura, devidamente comprovado seu exercício de atividade.
 
Atualmente, há três editais na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal voltados para o segmento. O primeiro deles é direcionado às organizações e quadrilhas juninas. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, o edital “atende perfeitamente as associações de forró, por premiar a trajetória desses grupos ao longo dos anos”. Também há o FAC Prêmios Brasília 60 anos que contempla aqueles que se dedicaram à cultura da cidade em vários âmbitos, entre eles, a cultura popular e as manifestações tradicionais, e o FAC Apresentações on-line, voltado para exibições, mostras e manifestações culturais na modalidade virtual. “O secretário (Bartolomeu Rodrigues) tem discutido com os agentes culturais a melhor forma de dirimir a crise que impactou o setor”, diz nota da secretaria.
 
Arrastapé
 
De João Pessoa, a coordenadora do Fórum Nacional de Forró, Joana Alves da Silva, fala ao Correio que a situação no Nordeste também é dramática. “As dificuldades são imensas, toda a cadeia produtiva sofrendo muito, principalmente os pequenos artistas e músicos que são os mais penalizados. Estamos cobrando políticas públicas dos governantes, editais, mas até agora não conseguimos muitas coisas”. Segundo ela, o fórum vem fazendo ações emergenciais, como distribuição de cestas básicas.
 
O tradicional São João de Campina Grande corre sério risco de ser cancelado. Mas o forró resiste na região. Foi lançado no último dia 12, e segue até o dia 28, o Festival São João na Rede nas principais redes sociais. Serão mais de 200 artistas, inclusive do DF, envolvidos nos dias de festa virtual, com muita música, apresentação de contadores de histórias, professores de dança, mestres da cultura nordestina, poetas e palestrantes.
 
O festival se destina, segundo os organizadores, a arrecadar donativos para profissionais da cadeia produtiva do forró que estão em situação de vulnerabilidade por causa do isolamento social. “Essas doações serão captadas e distribuídas através de plataforma eletrônica”, destacam.
 
E é pela internet que a sanfoneira de Recife Karol Maciel busca o sustento. “Não temos muita ajuda do governo do estado, a gente vai se virando como pode. Estou com um projeto particular de são-joão em casa on-line. Alguns músicos também estão dando aula particular virtual. Temos que buscar saídas” conclui.
 
Alternativas
 
Artistas brasilienses tentam se reinventar nesse período tão difícil. O DJ Cacai Nunes percorre o mundo com vinis de forró na bagagem, fazendo os gringos dançarem ao som da sanfona, do pandeiro e do triângulo. Mas este ano, a coisa mudou, a doença mudou o mundo. “Teremos que nos acostumar com atividades on-line, por enquanto. Público e artistas”, destaca ele, que toca o projeto Forró de Vitrola.
 
Cacai considera imprescindível que o público fortaleça os forrozeiros com ações solidárias, pois há todo um segmento econômico que sobrevive da criação do artista. Do técnico de som ao vocalista. Há uma rede de empregos nesse processo. “Portanto, é imprescindível que o público fortaleça os artistas. Que se acostume, claro, a pagar pelas atividades feitas on-line em formato de lives. Paguem como se estivessem pagando um ingresso. Precisamos rentabilizar nossas atividades”. Cacai, que, além de DJ, é violeiro e pesquisador da cultura musical brasileira, se apresenta no YouTube no canal do Acervo Origens.
 
Praticamente todos os fins de semana de junho e julho eram ocupados na agenda do Dj Renê Ricochet com festas juninas. Ele era nome certo na programação de grandes festejos como do Iate Clube, da AABB e do Country. Agora está dedicando o tempo ao trabalho como corretor de imóveis e também na venda de feijoada para manter a renda. “Comecei a fazer lives. Estou vendendo pen drives e CDs com músicas prontas para a festa junina. Tudo isso pro pessoal se divertir em casa. Mas é um baque econômico muito grande. Estamos tendo que se reinventar. Temos que seguir”, comenta.
 
Na sexta-feira, 19 de junho, às 19h, Renê Ricochet fará uma live junina com exibição simultânea no YouTube e no Facebook. No canal, ele também mantém playlists com medley de músicas de são-joão para que o público possa ouvir os sets em casa. “É uma tradição e um folclore muito importante para os brasileiros. O pessoal tá inventando, tá cheio de festa junina pela internet”, completa em tom animado.
 
Onde assistir o São João na Rede 
Transmissões:
YouTube: https://www.youtube.com/
channel/UCLTmjPQd1_Ftax_aC1zk05A
Instagram: https://www.instagram.com/
saojoaonaredefestival/
Facebook: https://www.facebook.com/
saojoaonaredefestival/
Twitter: https://twitter.com/
saojoaonarede
 
» Live junina do Renê Ricochet
 
Onde ver
 
Transmissões:
YouTube: https://www.youtube.com/user/renericochet
Facebook: https://www.facebook.com/djrenericochete
 
Auxílio
As pessoas que residem 
do DF e dos 13 estados que participam do festival, e que pretendem receber o benefício, devem preencher o 
formulário no site do evento — www.saojoaonarede.com.br — até 30 de junho. Uma comissão de avaliação 
será formada para selecionar os que serão beneficiados.
 
 
 
WWW
Confira o projeto Forró de Vitrola de Cacai Nunes em https:// youtu.be/
EptIYyKMxJ0.
 

Correio Braziliense terça, 16 de junho de 2020

ÁGUA MINERAL REABRE COM ACESSO RESTRITO E SEM COBRAR INGRESSOS

Jornal Impresso

Água Mineral reabre com acesso restrito e sem cobrar ingressos
 
No primeiro dia de retomada das atividades após cerca de três meses fechado, visitantes do Parque Nacional de Brasília puderam ter acesso apenas à Trilha Cristal Água. Piscinas e Trilha da Capivara seguem fechadas por, pelo menos, mais 30 dias

 

» Agatha Gonzaga

Publicação: 16/06/2020 04:00

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
 
Após a reabertura com restrições dos parques do Distrito Federal para a prática de exercícios físicos, os brasilienses puderam, agora, retornar ao Parque Nacional de Brasília. A reserva ambiental mais conhecida como Água Mineral também voltou a abrir para visitação desde ontem. Apesar de manter apenas a Trilha Cristal Água em funcionamento e permanecer com todas as piscinas e a Trilha da Capivara fechadas, os visitantes compareceram.
No entanto, o procedimento de entrada mudou. A cobrança de ingresso, que custava R$ 14, está temporariamente suspensa por, pelo menos, 30 dias, de acordo com a chefe do Parque Nacional, Juliana de Barros. Agora, a garantia de acesso ao local é dada após a aferição da temperatura do visitante seguida da devida higienização das mãos com álcool. Na portaria, uma equipe de saúde faz a triagem para atendimento e orienta o público. 

Segundo Juliana, a possibilidade de reabertura dos demais espaços depende da avaliação das equipes de monitoramento sobre a manutenção das medidas de prevenção à covid-19. “É preciso observar e avaliar como vai se dar esse retorno do público. Vamos analisar a movimentação durante os próximos dias e o comportamento da pandemia”, destaca a chefe do espaço. “Apenas com o cruzamento dessas informações vamos ter subsídios capazes de assegurar ou não a liberação das piscinas e a, consequente, cobrança de ingressos”, complementa.

No momento da entrada no local, frequentadores precisam obedecer às normas de higiene e passar por aferição de temperatura corporal (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

No momento da entrada no local, frequentadores precisam obedecer às normas de higiene e passar por aferição de temperatura corporal

 


Júnia Lara concordou com as medidas estabelecidas, principalmente com o fechamento das piscinas e  áreas de grande fluxo (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Júnia Lara concordou com as medidas estabelecidas, principalmente com o fechamento das piscinas e áreas de grande fluxo

 




Novas regras
 
A trilha aberta ao público visitante, a Cristal Água, tem 5 km; frente 1,3 km da Trilha da Capivara, temporariamente fechada. Ao longo do percurso, oito recepcionistas distribuídos em pontos estratégicos orientam os visitantes sobre distanciamento e uso das máscaras. Está proibido levar alimentos. Banheiros e bebedouros seguem interditados.

O acesso pode ser feito todos os dias das 8h às 15 h, sendo permitido ficar no parque até as 17h. Nos primeiros 30 dias, está autorizada a entrada de 300 pessoas — sendo 150 até as 12h, e 150 entre as 12h e as 15h. A partir do próximo mês, o parque pretende ampliar a capacidade para 400 visitantes, e o funcionamento, até as 16h. 
A limpeza e a desinfecção dos espaços, pisos, corrimãos, bancos e lixeiras, entre outros locais de uso coletivo, fica a cargo da administração do parque.

Quem saiu de casa na segunda-feira para aproveitar a reabertura concordou com as normas. “Eu acho que o problema é mesmo aglomeração. Realmente, não dá para deixar as piscinas abertas aos fins de semana, pois lotam, e as pessoas ficam próximas umas das outras. O funcionamento da trilha é interessante, por ser um local arejado e ventilado. Se cada um tomar os devidos cuidados e respeitar as normas de higiene e distanciamento, é possível curtir o parque de forma saudável”, afirma a jornalista Júnia Lara, 55 anos.

A enfermeira Aline Roberta Silva, 36, usou a área liberada para pedalar com uma amiga. Na opinião dela, o contato com a natureza pode ajudar a saúde em meio à pandemia. “Eu fico feliz com a reabertura, apesar de entender o momento em que estamos vivendo. Porém, nós precisamos desse contato com o meio ambiente para garantir o mínimo de sanidade mental para suportar o momento atual”, afirma.

O soldado militar Léo Júnior, 21, chegou cedo para passear no parque com a família e também comemorou a volta das atividades. “Eu gosto bastante de trilha. Com as medidas de prevenção, vai ser seguro, sim, vir para cá, pois não teremos aglomerações. Vai ser tranquilo se cada qual utilizar a máscara e o álcool”.

A Água Mineral estava proibida de receber visitantes desde 18 de março, no intuito de prevenir o contágio pelo coronavírus. A reabertura do parque foi publicada na sexta-feira no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). De acordo com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Homero Cerqueira, esta é a terceira unidade do instituto que volta a receber visitação. “Já abrimos o Parque Nacional do Iguaçu, Parque Nacional de Aparados da Serra Geral e agora aqui. Ocorreram diversas conversas com as secretarias do GDF e conseguimos chegar a um consenso para uma reabertura segura”, detalha.

Aline Roberta Silva aproveitou a retomada das atividades para pedalar durante 
a manhã (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Aline Roberta Silva aproveitou a retomada das atividades para pedalar durante a manhã

 




Regras para visitar o 
Parque Nacional de Brasília
 
» Uso obrigatório de máscara de proteção, ainda que artesanal, durante todo o período em que estiver no interior do parque, sendo que a máscara deve estar cobrindo a região do nariz e da boca
 
» Manter ambientes bem ventilados, com janelas e portas abertas, sempre que possível
 
» Promover com frequência a limpeza e desinfecção dos ambientes, pisos, corrimãos, lixeiras, balcões, maçanetas, tomadas, torneiras, além de outros objetos de uso coletivo, como bancos
 
» Remover jornais, revistas, panfletos e livros dos locais de comum acesso para evitar a transmissão indireta
 
» Possibilitar a utilização de máquinas de débito e crédito, que devem estar fixas ou envelopadas com filme plástico e desinfetadas após cada uso
 
» Manter o distanciamento mínimo de 2 metros entre bancos

Correio Braziliense segunda, 15 de junho de 2020

THELMA ASSIS: MÉDICA UTILIZA ESPAÇO PARA DISCUTIR RACISMO E ABORDAR O COMBATE AO NOVO CORONAVÍRUS

Jornal Impresso

"Quero retribuir, usando a voz que me foi dada"
 
 
No momento pós-BBB, a médica Thelma Assis utiliza o espaço de fala para discutir racismo e abordar o combate ao novo coronavírus

 

» Adriana Izel

Publicação: 15/06/2020 04:00

Thelminha foi a quarta mulher negra a vencer o Big brother Brasil em 20 edições (Denis Cordeiro/Divulgação)  

Thelminha foi a quarta mulher negra a vencer o Big brother Brasil em 20 edições

 

 
Numa edição classificada como histórica, o Big brother Brasil 20 coroou a médica Thelma Assis como a grande vencedora. Thelminha, como ficou conhecida a participante na casa, conseguiu quebrar paradigmas dentro e fora do confinamento com atitudes coerentes e engajadas com o movimento feminista e negro. A noite da final emocionou grande parte do Brasil pela representatividade da vitória ao ver uma mulher negra e médica, em meio a uma pandemia que o país ainda passa, tendo lugar de destaque. Essa foi apenas a quarta vez que uma mulher negra venceu o programa, antes Cida (BBB4), Mara Viana (BBB6) e Gleici (BBB18), e ocorreu exatamente um ano depois de uma edição que premiou uma participante que teve comentários racistas e de intolerância religiosa.
Mesmo não sendo uma personalidade do mundo artístico, a vitoriosa tem feito bom uso da projeção. Esteve em campanhas pelas medidas de combate ao novo coronavírus, assumiu um quadro no É de casa em que conversa com médicos e enfermeiros na linha de frente da covid-19 e se posiciona sempre nas redes sociais contra o racismo, inclusive nos últimos casos envolvendo as mortes de Gleorge Floyd por policiais brancos nos EUA, João Pedro também pela polícia em ação no Rio de Janeiro, e, mais recentemente, Miguel após ter sido deixado em um elevador pela patroa da mãe num grande prédio em Pernambuco, além do próprio sofrido em uma live no Instagram, o qual acionou a justiça. Ao Correio, Thelma Assis fala da vida pós-BBB e do posicionamento que assumiu depois do programa devido ao lugar de fala.
 
» Entrevista // Thelma Assis
 
Como avalia a sua participação no BBB?
Foi uma das maiores experiências da minha vida. Avalio de forma positiva, pois consegui mantendo meus princípios e valores, sendo quem eu sou. Sempre fui uma pessoa com muita garra e determinação. Sou grata pelo público ter enxergado essas características e ter me elegido como campeã da edição.
 
Como tem sido a vida após vencer o programa?
Tenho aproveitado todas as oportunidades que estão surgindo nesse pós-reality e me readaptando a essa nova vida. Venho recebendo uma onda de carinho muito grande e quero retribuir isso também, usando a voz que me foi dada. Tem sido muito especial.
 
Como foi para você sair do confinamento e se deparar com o Brasil em uma pandemia? Como médica e 
hoje pessoa pública acredita que uma das suas funções é ajudar, também, por esse outro meio da comunicação?
Foi um choque! Lá dentro do BBB não tínhamos noção da dimensão em que a pandemia estava. Eu acreditava que sairia da casa e a quarentena teria uma data para acabar. Quando saí é que consegui enxergar a proporção do que estava acontecendo aqui fora. Como médica, acho, sim, importante usar a minha voz para levar informação e conscientizar ainda mais as pessoas. É um momento em que estamos buscando novas informações constantemente e venho conversando com amigos especialistas, para entender tudo o que está acontecendo e poder transmitir isso para as pessoas por meio desse lugar de fala que me foi dado nesse momento. Foi uma forma que encontrei para ajudar também.
 
Sua vitória e presença no reality show foi vista como um exemplo de 
representatividade. Como você enxergou isso quando saiu? Como foi se tornar um modelo para tantas mulheres?
Lá dentro as coisas aconteciam muito naturalmente, então não tinha muita noção da repercussão disso aqui fora. Essa edição abordou temas importantes como o machismo, o racismo e a representatividade. Fico feliz por terem me atribuído essa voz e quero continuar inspirando muitas mulheres e meninas que se inspiram na minha história.
 
Como você vê esse levante que tem acontecido nos Estados Unidos contra o racismo estrutural do país e que vem tomando força no Brasil?
É triste saber que em pleno século 21 as pessoas ainda são assassinadas por conta da cor da pele. A sociedade civil chegou no limite da tolerância, pois não aguenta mais tanta discriminação e impunidade. É um momento difícil, porém necessário na luta antirracista.
 
Sei que esse é um momento de incertezas ainda, mas quais são seus planos pós-BBB?
Nesse momento, estou me readaptando à minha vida, estudando e aproveitando todas as oportunidades que tem me aparecido. Quero continuar usando a minha voz, aliada é claro, à minha profissão, que é médica anestesista. Pretendo dar palestras, continuar usando minhas redes sociais e meu canal no YouTube para levar informação, sobretudo nesse momento e assim, que possível, ir voltando para a minha rotina como anestesista, que é o que eu amo.
 
» Entrevista // Babu Santana
 
Mesmo sem vencer o BBB20, Babu Santana 
colhe os frutos do programa, com contrato na Globo, canal no YouTube e lançamento de
músicas (Christoffer Pixinine/Divulgação)  

Mesmo sem vencer o BBB20, Babu Santana colhe os frutos do programa, com contrato na Globo, canal no YouTube e lançamento de músicas

 

 
O ator e cantor Babu Santana surpreendeu o público assim que foi anunciado como um dos participantes do BBB20. O motivo é que o artista já tinha um currículo extenso no cinema, além de alguns trabalhos na televisão. Mas Babu entrou no programa com a intenção de colocar um holofote sobre a carreira, muitas vezes invisibilizada. E conseguiu. Mesmo não sendo intitulado o campeão da temporada, o Paizão, como ficou conhecido, conquistou o público e, hoje, colhe os frutos da boa repercussão, estreando um canal no YouTube, com contrato assinado com a Rede Globo e ainda se dedicando à música, lançou, inclusive, na semana passada Morrão, com Papatinho. Ao Correio, ele fala da vida pós-reality e de racismo, pauta que defende há anos. (AI)
 
Durante o programa você sempre falava muito do desejo de vencer, talvez, porque não imaginasse que teria tantas oportunidades aqui fora. Como foi para você sair e ver que, de certa forma, você também era um campeão?
Eu acredito que me sentir campeão tem muito a ver com o olhar que tenho para minha trajetória, as infinitas e árduas batalhas, e hoje estar aqui. Sou muito grato pela oportunidade de ter estado no programa, que colocou sobre mim uma lente de aumento. E isso é especial, pois minha arte está reverberando mais, minhas falas sendo amplamente disseminadas, entre outras questões que esta visibilidade tem me trazido, algo que sempre quis desde que iniciei minha carreira nas artes. Outra coisa que considero importante mencionar é que ser campeão não tem apenas a ver com chegar, e sim com o percurso. E que percurso!
 
Você sempre falou dentro e fora da casa da sua luta contra o racismo e da importância de um preto vencer o programa. Para você, qual foi a importância da vitória da Thelma e também da sua boa repercussão lá dentro em meio a essa pauta?
Essas pautas, essas falas, essa forma de me expressar, foi sempre assim. Porque eu sou preto, eu venho dessas raízes, isso é minha existência. Então eu fico feliz por saber que num programa de tamanha audiência, fomos capazes de debater, levantar assuntos como esse, trazer algum conhecimento e, sem dúvidas, muitas reflexões. Ver Thelma vencer, com certeza, é ver os pretos vencerem, se inspirarem, se agigantarem, mas, claro, há muito o que fazer. Nós ainda somos tratados de forma diferente, os olhares ainda discriminam, as falas ainda machucam, as injustiças ainda existem.
 
Estamos vivendo um momento de manifestações pelas vidas negras. Como você enxerga tudo isso? Qual é a importância desse movimento?
Na verdade, não estamos vivendo este momento, sempre o vivemos. A questão é que agora o racismo está sendo fotografado, gravado, chegando aos olhos de todos. Mas essa luta antirracista nasceu desde que nasceu, também, essa ideia estúpida e desumana de um cidadão branco escravizar um cidadão preto. A importância é falar que já chega! Que estamos cansados de sermos tratados desta forma. As pessoas precisam conhecer a história, o quanto o povo preto já sangrou e sangra. Os diálogos precisam acontecer. E o poder público e a sociedade precisam ter ações. A inclusão não pode ser só uma palavra bacana e que muita gente abre a boca para dizer. Os movimentos reforçam que estamos vivos e queremos assim permanecer. E queremos estar, também, na liderança, no protagonismo. Igualdade e conhecimento libertam!
 
Você lançou recentemente um canal no YouTube. Como veio essa ideia e como tem sido gravar esse conteúdo?
Estou cada dia mais me familiarizando com as redes sociais, e tem sido muito prazeroso. É um campo onde tenho muito o que aprender. E meu canal é esta oportunidade: de me aproximar mais do público, de termos bons diálogos, construtivos e com muito conhecimento. Além de poder cantar, dançar e, também, cozinhar. Estou animadíssimo com esse novo projeto e, junto com minha equipe, rascunhando pautas e novos quadros. Muita novidade a caminho! Se inscrevam e acompanhem.
 
Você assinou contrato com a Globo. Já tem algo nesse sentido que pode adiantar de futuros projetos?
Estar na Globo é muito maravilhoso, um sonho que eu sempre tive. Alguns projetos estão sendo pensados e ainda não consigo adiantar muita coisa, mas o público pode aguardar muita coisa boa. Estaremos mais uma vez juntos pela arte.
 
Você também tem uma banda e tinha planos, antes da pandemia, de sair em turnê. Tem aproveitado a quarentena para tocar 
algo relacionado à música?
Sim, este é um momento em que estou conseguindo trabalhar e desengavetar muitos projetos. As ideias estão a mil por hora! É especial demais poder parar e pensar sobre os novos sonhos, histórias, personagens, músicas. Tenho um desejo imenso de estrear, sim, a turnê com minha banda, assim que for possível. A música é parte da minha vida e a música me escolheu nesta vida. Eu quero me expressar sempre por meio das canções e, enquanto não podemos fazer os shows, que estejamos juntos pelas redes sociais.
 
Como tem sido esse período de quarentena, saindo de um confinamento e indo para outro ainda mais duro?
Isso, de fato, foi bem desafiador. É algo que o mundo não esperava, mas o importante, para quem consegue, é ficar em casa. Estou grato pela oportunidade de poder trabalhar e cuidar da minha família. Desejo que tudo isso passe e sejamos fortalecidos, tendo também um outro olhar para o mundo, para as pessoas e para o meio ambiente. (AI)

Correio Braziliense domingo, 14 de junho de 2020

A COVID-19 E O NOVO NORMAL

Jornal Impresso

A covid-19 e o novo normal
 
O brasiliense precisou se adaptar depois da chegada do novo coronavírus. Hábitos de higiene estão reforçados e a rotina de trabalho sofreu alterações. Para especialistas, mesmo após o fim da pandemia, o cotidiano dos moradores da capital não volta mais ao que era

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 14/06/2020 04:00

Isabela Viana:  

Isabela Viana: "Você experimenta a vida de um jeito diferente. É mais sem graça"

 


Tirar os sapatos antes de entrar em casa, usar máscaras de proteção nas ruas e aumentar os cuidados com higiene pessoal são algumas das mudanças que aconteceram na rotina das pessoas, após o surgimento da pandemia do novo coronavírus. Para se proteger, foram necessárias adaptações nos hábitos de trabalho, estudo, lazer e convívio social, o avanço de serviços como o delivery, estabelecendo um novo estado de normalidade. Na casa da designer Isabela Viana, 26 anos, por exemplo, antes de entrar, os sapatos ficam dentro de um cesto, do lado de fora.

Atenção especial para as roupas que usou na rua: ela não deixa encostar em nada. Antes de fazer qualquer outra coisa, é preciso tomar banho. “Mas o pior de tudo é não poder correr no parque. Sei que já reabriu, mas, mesmo assim, não vou. Sinto falta de andar na rua. Eu ia para todos os lugares a pé, e agora sinto muita falta”, lamenta. Antes da quarentena, ela só utilizava transporte público, mas, agora, a moradora de Águas Claras vai de carro para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios. “Você experimenta a vida de um jeito diferente. É mais sem graça.”

Luísa Carvalho:  

Luísa Carvalho:"Quem chega, deixa os sapatos do lado de fora e entra por um corredor lateral"

 


Trabalhar também mudou. Isabela passou a revezar com os colegas, fica em home office de duas a três vezes na semana. Presencialmente, o horário está reduzido. Ela não vê a hora de estar livre da necessidade da máscara, uma vez que tudo passe. “É uma obsessão por limpar tudo. Entrar no carro e higienizar o volante, as maçanetas. No mercado, achar que tudo está contaminado”, reclama. Mesmo assim, ela acredita que vai manter o uso frequente de álcool em gel e evitar o uso de sapatos em casa depois que a pandemia passar.

Entre todos os hábitos reforçados por médicos, a lavagem de mãos continua sendo a mais importante, como esclarece a infectologista do hospital Sírio-Libanês Valéria Paes. “Enquanto sociedade, a gente não tinha isso como algo firme, e agora foi muito reforçada. Também aprendemos que resfriado não é bobagem, e percebemos que não é adequado que uma pessoa com infecção respiratória esteja trabalhando.”

Para a médica, com certeza as coisas não voltarão ao que eram. “A gente fazia tudo sem saber do risco, sem parar para pensar, e isso é complicado. Hoje as pessoas estão motivadas pelo medo, mas elas devem ser motivadas pelo conhecimento. Esse é o desafio do momento.” Valéria destaca ainda a importância do governo fazer campanhas para educar a população. “Estimular e estabelecer medidas que fortaleçam essas práticas de higiene é um papel fundamental para que as pessoas aprendam a lidar com essa nova situação.”

Desde os primeiros casos, o Governo do Distrito Federal tomou ações para evitar a rápida propagação do vírus, como a suspensão de aulas, eventos e atividades comerciais. Além disso, foi criado o projeto Sanear, uma parceria entre a Secretaria Executiva de Cidades, e a diretoria de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, que atua na desinfecção de espaços públicos, e orientação da população. Agentes do órgão também estão fazendo campanhas educativas durante as ações de testagem itinerante para coronavírus, com distribuições de máscaras de proteção.

Reflexão
Em meio ao novo estado de normalidade, alguns aproveitam para refletir sobre as escolhas de vida. É o caso da coordenadora pedagógica Luísa Carvalho, 25. Trabalhando em uma escola de idiomas, agora toca os atendimentos de forma on-line. “Converso com os alunos quase que 24 horas por dia, então o horário se estende muito”, afirma. “Tudo mudou na minha vida. Sou muito ativa, gosto de sair, ir ao parque, cinema, e agora, basicamente, vejo filmes em casa, falo com os amigos por videochamada e uso plataformas diferentes para ver se conseguimos estar mais perto.”

Luísa mora com a avó, que é idosa e, portanto, o cuidado é redobrado. “Compro muita coisa para a casa, por isso tem sempre um processo de higienizar o carro, as roupas, tomar banho. Quem chega, deixa os sapatos do lado de fora, entra por um corredor lateral e toma banho no chuveiro, que fica nos fundos da casa”, detalha. “Lavar bananas é algo que eu nunca imaginei que faria na vida. É um processo, e a gente está começando a se habituar agora.”

Apesar do trabalho, ela acredita que manterá alguns dos novos costumes. “Definitivamente, a gente vai ficar um pouco mais cuidadoso quando tudo acabar. Em muita coisa, eu não prestava atenção. Esses dias notei que, antes, para abrir sacola de supermercado, a gente lambia o dedo. Meu Deus, que perigo, que risco. Ninguém estava prestando atenção”, ressalta. “Está bem claro que a gente levava uma vida insustentável, colocando 400 atividades em um dia, e depois não sobrava tempo para conviver com a própria família. Por mais que seja um período difícil, também é de reavaliação de objetivos de vida.”

Comportamento
O momento de preocupação mundial em torno de uma doença ainda sem cura estabelecida, nem tampouco vacina, tem motivado nas pessoas um sentimento de reflexão e empatia, como destaca Erci Ribeiro, professora do departamento de Serviço Social do Centro Universitário Iesb. “A solidariedade não nasce com a pandemia, mas, com certeza, foi fortalecida.”

Na sociedade, como um todo, ela destaca as mudanças nas formas de comunicação e organização. “Houve um fortalecimento das conexões virtuais, e a gente percebe isso na expansão de aplicativos com videochamadas, em uma necessidade das diversas formas de interação.” Erci explica que, em momentos de crise, como o atual, é comum que as pessoas alterem comportamentos. “A sociedade não será mais a mesma depois da pandemia. A gente observa estratégias que são reinventadas e reelaboradas.”

Alguns aspectos provavelmente deverão permanecer. “Formas de expressão artística que permitem maior alcance, como as lives, continuarão. Existe, também, uma revolução nas formas de ensino e aprendizagem, com o uso de plataformas que provavelmente irão se manter”, avalia. “Além disso, canais de denúncia que atuam como forma de divulgação de violações e estratégias de enfrentamento. No âmbito de trabalho, novos cargos, novas ocupações, e novas formas de contratação estarão fortalecidas.”


» Dicas

Especialistas orientam quanto aos cuidados fundamentais durante a pandemia:— Lave as mãos com frequência

» Se não houver água e sabão à disposição, utiliza álcool em gel a 70%


» Ao chegar em casa, deixe os sapatos que usou na rua, do lado de fora


» A limpeza dos ambientes, especialmente aqueles de grande circulação, deve ser reforçada

Correio Braziliense sábado, 13 de junho de 2020

FREJAT: ROCK PULSANTE

Brasil só fica atrás dos EUA em mortes por coronavírusAo registrar 909 novos óbitos e mais 25.982 casos confirmados de covid-19, ontem, o Brasil se tornou o país em que mais pessoas perderam a vida para o coronavírus, ultrapassando o Reino Unido, onde morreram 41.566. Com o total de 41.828 mortos e 828.810 infectados, o Brasil é superado, hoje, apenas pelos Estados Unidos, que somam 113.820 mortes e mais de 2 milhões de americanos com a doença. De início, o presidente Donald Trump foi um dos líderes que minimizaram a gravidade do novo coronavírus. Depois de a covid se alastrar rapidamente pelos EUA, ele culpou a OMS, recuou e tomou medidas para frear a pandemia. Bolsonaro, até hoje, insiste no erro de desdenhar da ciência, o que coloca o Brasil numa situação dramática. No país, a escalada de óbitos e infecções acontece no momento em que governadores e prefeitos flexibilizam  medidas de isolamento social, tão insistentemente cobradas pelo Planalto.DF registra mais oito óbitos e 889 casos da doença Especialistas preevem pico em julho em BrasíliaUso de máscara evita infecções, atesta pesquisaEstudo aponta risco de a covid causar diabetes,

Rock pulsante
 
Com novo disco lançado e se preparando para a primeira live, Frejat enfrenta a pandemia com muita música

 

» Pedro Ibarra*

Publicação: 13/06/2020 04:00

 

 (Leo Aversa/Divulgação)  

 

 

Vivendo momento diferente na carreira, Frejat volta aos holofotes com Ao redor do precipício, primeiro disco solo do cantor em 12 anos. O compositor fez o lançamento na quinta-feira última e, agora, apresenta a primeira live na quarentena, três anos após a saída do Barão Vermelho.

 O disco foi um trabalho extenso, pensado e financiado por Frejat. “Essa questão de ter o projeto mais extenso veio da constatação de que o álbum ainda é importante no sentido em mostrar a cronologia da sua cabeça para o público. Independentemente de como o fã vai ouvir o disco, para um artista a cronologia é importante.”

 “Foi muito prazeroso e eu estou muito feliz com o trabalho. Porque ele tem a minha cara, mostra como eu penso na música nesse momento. Então alcançou exatamente o objetivo de mostrar minhas parceiras e as coisas que eu estava fazendo, com quem eu tenho andado e com quem eu tenho trocado experiências”, explica Frejat em entrevista ao Correio. O novo disco tem 13 faixas e contou com o auxílio de Leoni, Pupilo e os dois filhos do músico. A filha Júlia Frejat foi a responsável pela concepção visual completa do álbum, Rafael fez modificações e adicionou instrumentos na faixa Todo mundo sofre.

 Agora, após a primeira semana de álbum, Frejat se prepara uma live hoje, às 19h, no perfil do Iguatemi (@iguatemisp). Por mais que o novo álbum tenha acabado de chegar aos ouvidos do público, essa live foca na carreira prévia do compositor. “Será uma live de músicas de sucesso, mais conhecidas, que acho que as pessoas estão com saudade”, explica o músico. “Mais pra frente, provavelmente, farei uma coisa mais relacionada ao novo disco”, completa.

 Política

 Nos tempos de pandemia e dificuldades devido às regras de distanciamento e isolamento social, Frejat está envolvido em uma frente parlamentar em defesa da cultura. O cantor vê a importância do fazer cultural e do auxílio aos artistas nestes tempos difíceis. “A cultura ajuda a manter a sanidade. É curioso como nunca se havia percebido de uma maneira tão radical esse papel que ela tem dentro do dia a dia das pessoas.”, disserta Frejat.

 Sobre a quarentena do artista em casa, ele tem passado tempo com a família e organizando arquivos no computador. “Procuro não ficar vendo o noticiário o tempo todo, leio o jornal de manhã e, depois disso, só se alguma notícia chegar até mim pelo telefone ou Whatsapp”, conta o músico. Aprender piano também tem sido uma maneira de passar o tempo. “Estou apanhando. Vou tipo Martinho da Vila: ‘Devagar, devagar, devagarinho’. Uma hora eu chego lá”.

 Barão Vermelho

 Sobre a banda a qual se dedicou 35 anos da vida e do trabalho, Frejat contou que saiu por divergências sobre o futuro. “Na verdade, eu me desliguei da banda em 2017, porque existia uma vontade muito grande dos outros integrantes de fazer um trabalho novo, material inédito e ir para a estrada de forma permanente. Eu pensava diferente, eu tinha o pensamento de que a gente tinha que celebrar a obra maravilhosa que a gente fez, mas eu não via sentido em fazer mais um disco de banda”, lembra o cantor.

 Vivendo outro momento na carreira, Frejat não pensa em um retorno ao grupo. “Na minha cabeça, estou desligado da banda e não tem possibilidade de voltar, mas acho também que a gente não deve dizer nunca porque a vida muda tanto, tem tanta coisa para acontecer, mas, por enquanto, não me vejo neste momento pensando sobre isso”, explana o compositor que não guarda ressentimentos. “Não teve conflito nenhum, muito pelo contrário, nós somos amigos, nos falamos pelo telefone, às vezes, nos encontramos, temos sempre assuntos, não tem mau humor”, explica. 


Correio Braziliense sexta, 12 de junho de 2020

O AMOR VENCEU A COVID-19

Jornal Impresso

O amor venceu a covid-19

 

» Adriana Izel
» Roberta Pinheiro

Publicação: 12/06/2020 04:00

Paulo Verissimo fará apresentação no térreo de prédio de Águas Claras (Telmo Ximenes/Divulgação)  

Paulo Verissimo fará apresentação no térreo de prédio de Águas Claras

 

 
A dupla Henrique & Ruan animará os presentes em hotel com show na área das piscinas (Objetiva Comunicação/Divulgação)  

A dupla Henrique & Ruan animará os presentes em hotel com show na área das piscinas

 

 
Mavi e Togawa comandam o jazz da festa da Cervejaria Criolina (Emporio Comunicação/Divulgação)  

Mavi e Togawa comandam o jazz da festa da Cervejaria Criolina

 

 
O brasiliense Allan Massay fará três horas de show dedicado ao Dia dos Namorados (Arquivo Pessoal)  

O brasiliense Allan Massay fará três horas de show dedicado ao Dia dos Namorados

 

 
O 12 de junho de 2020 pode parecer um pouco diferente com o distanciamento social, o uso de máscaras, o receio do toque, do beijo e do abraço, mas, nem por isso, não será celebrado. Em Brasília, sobram opções para os apaixonados curtirem o Dia dos Namorados juntos ou separados e embalados por apresentações musicais e gastronomia de qualidade.
 
Depois de lançar o single Do seu lado, em homenagem aos casais que não estão se vendo devido à quarentena, o cantor brasiliense Allan Massay faz uma transmissão ao vivo, hoje, no canal oficial do YouTube e no canal do CW&Co em especial de Dia dos Namorados. Serão três horas de show e a divulgação de mais uma música inédita, Sem nexo, com a participação da cantora babi Ceresa. Além do repertório romântico, o público poderá colaborar na arrecadação de alimentos e insumos para ajudar pessoas afetadas pela covid-19, para a Rede Feminina de combate ao câncer e para o Movimento #VaiFicarTudoBem, que apoia a comunidade da Chapada dos Veadeiros. Em parceria com o espaço de café e vinho CW&Co, os clientes que adquirirem as cestas comemorativas de Dia dos Namorados oferecidas pela casa poderão surpreender o enamorado com um vídeo de 15 segundos, que será transmitido durante o show.
 
A casa Tarsitano, especializada em queijo artesanal, convidou o artista Rogério Midlej para promover a live Amor em canção. Agendada para hoje a partir das 17h, a apresentação contará com um repertório romântico e músicas escolhidas pelos clientes nas redes sociais. Para acompanhar, a loja sugere uma cesta recheada de produtos exclusivos e de parceiros.
 
Ainda para celebrar a data, o cantor André Gonzales e o Brasília Shopping se uniram para realizar uma serenata virtual. O show dedicado aos casais será transmitido ao vivo pelo Instagram do centro comercial amanhã às 19h.
 
A Cervejaria Criolina e o Ricco Burger assumiram um compromisso sério nesta quarentena e convidam os casais para uma experiência diferente. Denominada Beijos, brejas, burger e jazz live, a proposta aproveita a data comemorativa, os ingredientes que compõem o DNA da cervejaria e o pré-lançamento da cerveja em lata Criolipa. “Em vários setores, estamos todos tendo que nos reinventar, é uma necessidade de reinvenção, de pensar como será daqui pra frente”, comenta Rodrigo Barata, proprietário da Cervejaria Criolina.
 
Eles vão entregar os ingredientes para os clientes prepararem dois hambúrgueres da Ricco, acompanhados de um video da chefe Renata Carvalho ensinando o modo de fazer. “Juntamos os dois elementos que acreditamos casarem perfeitamente e jazz que é uma das linhas de trabalho da casa”, explica. Serão enviadas, ainda, quatro latas da cerveja Criolipa e os participantes vão se encontrar em uma reunião no aplicativo Zoom para assistir a uma live comandada pelo casal de músicos Mavi e Togawa. “É um jazz com piano e voz, que une simplicidade e sofisticação. Os dois se completam musicalmente”, adianta Barata. No repértório, canções de Nina Simone, Ella Fitzgerald, Lauryin Hill, Elis Regina e Caetano Veloso.
 
Com ingressos limitados, apenas 30, a experiência pode ser adquirida pelo WhatsApp (9 9991-4747) por R$ 180. Não é possível dividir o kit para casas diferentes nem desmembrar os itens. E não pense que a festa acaba com o jazz. “Quem participar do Dia dos Namorados vai ganhar o after da festa Terra Plana, também pelo Zoom, para um clima mais dançante e festivo”, conta. “Estamos sempre buscando formas de entreter as pessoas nesse momento tão difícil e levar música para a casa das pessoas e é muito legal, você vê que está todo mundo se divertindo, sorrindo”, complementa.
 
Pela janela
 
Artistas brasilienses preparam apresentações para serem vistas pelo público pelas janelas e varandas. É o caso do músico Paulo Verissimo, conhecido na cena roqueira brasiliense, que fará o show Live na varanda, a partir das 19h. “Preparei parte do repertório dedicado ao Dia dos Namorados, com coisas que gosto e que geralmente não cabem no meu show. Terá Norah Jones, Coldplay, Beatles, Hildo e Tim Maia”, afirma Verissimo.
 
Além de transmitir pelo YouTube, a apresentação poderá ser apreciada pelo público de Águas Claras, já que será feita no térreo de um condomínio da região. “Vai ser no térreo do Residencial Joy a convite do síndico. E poderá ser visto das janelas de mais quatro prédios aqui perto. Essa é a primeira vez que faço um show em condomínio para 500 moradores. É a oportunidade de poder divulgar meu trabalho, gerar renda e comemorar a data”, explica.
 
No Sudoeste, o projeto Varanda Musical comemora o Dia dos Namorados com apresentação a partir das 19h30. O jazz será o ritmo de ordem do show com Tico de Moraes (voz e guitarra), Alexander Raichenok (teclado e saxofone) e Misael Barros (bateria) no térreo do Residencial Palazzo Ducale, na quadra 104.
 
Quem resolver passar a data dos namorados hospedado também tem surpresa. Os hóspedes do Manhattan Plaza Hotel terão uma programação especial com direito a show da dupla Henrique & Ruan, que será feito na área das piscinas. Cada casal poderá acompanhar das varandas do hotel, ou ainda pela TV Brasília, responsável pela transmissão. As hospedagens já estão à venda, podendo ser adquiridas pelo site e app www.oquevemporai.com.
 
O espaço Pianocello, na 207 Sul, convidou o duo composto por Jones Cavalante e Rafael Frotgar com piano e violoncelo para um show musical em cima de um trio elétrico.

Correio Braziliense quinta, 11 de junho de 2020

DIA DOS NAMORADOS: CELEBRAR E AMAR... EM CASA

Jornal Impresso

DIA DOS NAMORADOS
 
Celebrar e amar... em casa
 
Com bares e restaurantes fechados, os empresários do setor precisaram se reinventar para oferecer serviços diferenciados no Dia dos Namorados, sem perder a magia da data

 

» Caroline Cintra

Publicação: 11/06/2020 04:00

 
Débora e o marido:  

Débora e o marido: "Achei a ideia de poder receber a comida que gostamos em casa muito legal"

 

 
 (Felipe Soares/Divulgação)  
 
Reinventar é a palavra do momento. Amanhã, no Dia dos Namorados, muita gente vai ter que usar a criatividade para comemorar, pois bares e restaurantes da cidade estão fechados, devido ao decreto do governo diante da pandemia do novo coronavírus. Com isso, o setor de gastronomia é um dos que mais vêm sofrendo desde o início da quarentena. Porém, apesar da suspensão do atendimento presencial, as expectativas para a data dos namorados, uma das mais lucrativas para o setor, são boas. De acordo com a Associação de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF), as vendas serão três vezes maiores do que nos domingos, “dia mais forte da semana para o setor, sem feriado”, afirma o presidente Beto Pinheiro.
 
Para manter um bom ritmo de vendas, os restaurantes têm oferecido, além dos pratos tradicionais, algumas novidades especiais para os apaixonados que não dispensam um delicioso jantar romântico na data. Há opções para todos os gostos e bolsos. No Blend Boucherie, o chef Marcello Lopes preparou sete menus especiais, com entrada, prato principal, sobremesa e garrafa de vinho. O menu também pode ser substituído por hambúrguer, além das opções de massas e risotos.
 
O restaurante Southside foi além e pensou em um menu especial para os casais e uma versão para os solteiros. A casa servirá o cardápio, criado especialmente para a data, que se estenderá até o fim de semana. Para acompanhar o menu, um drinque do premiado mixologista Gustavo Guedes, criado especialmente para a ocasião: o crush mule, feito com vodka premium, calda de gengibre e framboesa, limão siciliano e soda artesanal de elderflower.
 
Internacional
 
Tem opção também para quem ama a culinária internacional. Com o nome de Kombilove, o combinado especial do Nakombi, criado pela chef Catarina Freire, é composto por um Hot Cube de salmão, um combinado de salmão com 50 peças e, de sobremesa, um brownie de chocolate com doce de coco. Para harmonizar, o casal que pedir o prato tem desconto na garrafa de saquê. No restaurante Haná, se o cliente não pode ir, ele vai até o cliente. A sugestão do gerente da casa, Raimundo Neto, são os diversos combos que o restaurante oferece. E ainda há a possibilidade de dar um toque especial com o rótulo de vinho ou espumante, que podem ser escolhidos na variada carta da unidade.
 
Imagine uma noite mexicana para comemorar em grande estilo o Dia dos Namorados? Essa é uma proposta do restaurante El Paso. A casa oferece um menu exclusivo, chamado Amor a La Mexicana, com três etapas no sistema take out. “O Dia dos Namorados sempre foi tradicional no El Paso. Este ano será diferente, mas não menos especial. Já que as pessoas não podem vir até o restaurante, vamos oferecer essa experiência completa na casa delas”, garante o chef David Lechtig. Os pedidos são limitados e devem ser encomendados com no mínimo 24h de antecedência.
 
Finalizando em casa
 
Para oferecer um serviço diferente, o chef Paulo Tarso criou o Dinner in Box — jantar na caixa. A opção reúne gastronomia, coquetelaria e paixão. O diferencial é que os toques finais são feitos pelo cliente. “Muita gente não sabe cozinhar, não quer ou não tem tempo para despender horas preparando algo para a data. Então, resolvi simplificar e criar algo prático para tornar o dia 12 mais especial”, disse ele, que também é professor de gastronomia e dono do restaurante itinerante e sazonal Mosaico.
A ideia da caixa criada por ele é permitir juntar a facilidade dos pratos pré-prontos com a magia de cozinhar para quem se ama. A refeição chega para o cliente embalada e refrigerada. Antes de comer, o casal precisa esquentar e servir. Além disso, junto ao kit, o chef envia uma videoaula com dicas de como finalizar os pratos e a montagem.
 
Morador de Águas Claras, o empresário Marcus Santos, 28 anos, encomendou a Dinner in Box com antecedência. “A gente gostou, porque eles montam todo o menu de restaurante mesmo. E isso faz toda a diferença. Vamos jantar bem, mas em casa. E o melhor, é saber como finalizar o prato e servir. Vai ser diferente, porque sempre saímos para comemorar, mas vai ser uma experiência bacana”, afirma.
 
Comemoração
 
Casada há 23 anos, a aposentada Débora Preciado, 51, encomendou um jantar mexicano, no restaurante El Paso, para comemorar o Dia dos Namorados. A refeição é composta por entrada, prato principal e sobremesa, além de margaritas — tradicional drink mexicano. “Achei a ideia de poder receber a comida que gostamos em casa muito legal. A opção que estão oferecendo é muito charmosa. Por isso encomendamos. Vai ser um Dia dos Namorados diferente, mas é uma oportunidade de estar mais próximo de quem a gente ama, e em casa“, disse.
 
Todo 11 de junho, às vésperas do Dia dos Namorados, a estudante Maísa Ikawa, 27, e o marido dela, Luís Gustavo Ikawa, comemoram aniversário de namoro. Esse ano, completam nove anos. “Geralmente, fazemos uma reserva, tem toda uma decoração especial do restaurante, todo um clima. A gente até pensou em cozinhar em casa, mas, quando pensamos na louça suja, desistimos”, brinca. A casa escolhida é o Santé 13. “A gente gosta muito de lá. Entramos em contato e falaram que vão entregar por aplicativo”, explicou.
 
 
» CONFIRA
Restaurantes com pratos e serviços especiais para o Dia dos Namorados:
 
‘A Mano 
Entregas nos dias 11, 
12 e 13 de junho.
Horário de funcionamento: de segunda a sábado, das 12h às 15h e das 19h às 23h. Domingo, das 12h às 16h.
Pedidos e informações pelo (61) 3245-8235
Instagram: @amanorestaurante
 
Haná Restaurante Japonês
Delivery: pelo iFood, Uber Eats ou pelo telefone (61) 3244-9999
Horário: das 11h às 22h, 
todos os dias.
Consultar taxas e áreas de entrega disponíveis.
Instagram: @hana_restaurante
Facebook: /restaurantehanabsb
 
Southside
Endereço: SHCS CLS 407
Horário de funcionamento: segunda a quinta, das 18h às 22h. Sexta e sábado, das 11h30 às 16h e das 18h às 22h30. Domingo das 11h30 às 16h 
e das 18h às 22h.
Take out: (61) 9 9276-8202 (WhatsApp)
Delivery: iFood
Siga: @southsidebrasilia
 
Taypá Sabores Del Peru
Os pedidos podem ser feitos pelo iFood ou por take out (com retirada no local e 20% de desconto). Informações pelos números (61) 9 8626-0235 ou (61) 3364-4041
Instagram: @taypadelperu
 
Nakombi
Endereço: SCLS 404, Bloco B, Loja 35 – Asa Sul
Horário de funcionamento: segunda a quinta, das 18h às 22h. Sexta e sabado, das 11h30 às 16h e das 18h às 22h30 / domingo das 11h30 às 16h e das 18h às 22.
Take Out: (61) 99626-2106
Delivery: iFood e UberEats.
Siga: @nakombibsb
 
Blend Boucherie
CLN 412 Norte, Bloco B
Informações e pedidos: (61) 
3544-7444
Horário de funcionamento: de terça a quinta, das 12h às 15h e das 18h30 às 23h. Sexta e Sábado, das 12h às 16h e das 18h30 à 0h e domingo, das 12h às 16h e das 18h30 às 23h.
Instagram: @blendboucherie
Delivery e take out: iFood 
e Uber Eats
 
Parrilla Beer
Endereço: Praça 1, Loja 6,7,8 – Cine Itapuã – Gama.
Horário de Funcionamento: terça a domingo, das 11h às 22h.
Siga nas redes sociais: 
@parrilabeer
Aplicativo de entrega: iFood
Delivery Parrilla e take out: 
3385-5249 ou 9 8430-1000
 
Dinner in Box por 
Paulo Tarso
Valor: R$ 479,00
Encomendas pelo e-mail paulo@chefpaulotarso.com.br 
ou por mensagens diretas no 
Instagram: @chefpaulotarso
 
Rubaiyat Brasília
Horário de pedidos: De segunda a sábado, das 11h às 22h. Domingos, das 11h às 18h.
Pedidos direto no restaurante 
pelo telefone: (61) 9 9611-6179
Entregas também pelo Ifood, Rappi e Uber Eats.
Instagram: @rubaiyatbrasil
 
Nube Café
Endereço: 910 Sul (Centro Clínico Via Brasil, loja 28)
Delivery: Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul, Lago Norte, Noroeste 
e Sudoeste
Retirada: A combinar
Telefone: (61) 9 9885-848

Correio Braziliense quarta, 10 de junho de 2020

FESTIVAL DE CINEMA CONFIRMADO!

Jornal Impresso

Festival de Cinema confirmado!
 
Após anúncio de cancelamento do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, GDF recua e anuncia evento

 

» Geovana Melo*
» Lucas Batista*

Publicação: 10/06/2020 04:00

 

 (Matheus Dantas/CB/D.A Press)  

 

 

O 53° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) teve a realização ameaçada este ano, com o anúncio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, de que não havia recursos para o evento. O evento, criado em 1965, só não foi realizado de 1972 a 1974, durante a ditadura militar. Segundo o secretário de Cultura, , Bartolomeu Rodrigues, a verba destinada ao festival foi contingenciada pela Secretaria de Economia em decorrência do impacto da crise provocada pelo novo coronavírus. No entanto, ontem, o governador Ibaneis Rocha prometeu liberar recursos para a realização do evento.

 Ao que tudo indica, o plano inicial do festival será cumprido, ou seja, será realizado de forma remota, com exibição dos filmes no Cine Drive-in e em plataformas on-lines, como streaming. O Correio entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura e, até o fechamento desta edição, não houve qualquer atualização sobre o projeto. Bartolomeu Rodrigues deve se pronunciar em breve acerca da dinâmica do evento.

 

Thiago Foresti é diretor do curta-metragem Escola sem sentido que, na edição 2019 do festival abocanhou três estatuetas: melhor ator para Wellington Abreu, melhor curta-metragem pelo júri oficial e, também, pelo júri popular, além do troféu Saruê, prêmio concedido pelo Correio ao melhor momento do evento. O cineasta pontuou que um dos festivais mais antigos do país é referência para o cinema nacional. “Cultura é importante e urgente demais para a sociedade, por isso precisa se adaptar para servir a população neste momento de crise. Milhões de mentes e corações desamparados precisam explorar e lidar com sentimentos em meio à tragédia. A arte pode ajudar”, afirma Foresti.

 “Precisaremos cada vez mais de produções como o Escola sem Sentido, feito coletivamente em 2019. Temos que nos acostumar a fazer coisas com baixo custo e financiamentos alternativos. Não é hora de parar de produzir. Será mais difícil e penoso, mas ganham os artistas que não abandonarem o público neste momento”, pontua o cineasta brasiliense.

A 52ª edição também foi recompensadora para a diretora Glória Teixeira. Ano passado, o longa Dulcina rendeu os prêmios de melhor longa-metragem tanto do júri técnico quanto do popular; melhor atriz e melhor direção de arte. Para a cineasta, a decisão pelo cancelamento foi equivocada, mas está feliz com a volta do festival. “O Festival de Brasília é, se não o maior, um dos grandes eventos que ocorrem na capital federal. Mantê-lo não importa somente aos artistas da cidade e do país, mas aos amantes do cinema, comerciantes, rede de hotelaria, transportes aéreos terrestres, além, claro, à sociedade. Trata-se da história de Brasília e do cinema brasileiro. Por isso, parabenizo o governador por essa decisão e, se for o caso, tenho certeza que a classe artística estará à disposição para ajudar a reformular o modelo da edição de 2020”, ressalta Glória.

 A cineasta acredita que realizar a exibição em um drive-in poderia ser uma opção, como anteriormente anunciado pelo secretário de Cultura e Economia Criativa do DF. “É possível que, em novembro, ainda não possamos estar reunidos. Entendemos que teremos de modificar o formato do evento. Até o momento, precisamos pensar em mudança de época, pois não seria adequado que ocorresse em período chuvoso. Quanto aos locais, as opções que vejo são o Cine Drive-in, que, felizmente, está maravilhoso, muito bem cuidado e creio que ávido por essa oportunidade. Lá, é possível manter o distanciamento, é ao ar livre, numa belíssima arena em local amplo, ou o estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, sob o céu mais lindo, que é o nosso”, ressalta.

 Vantagens

 A realização do festival de cinema à distância, por meio de uma rede on-line, além de evitar a disseminação da covid-19, possibilita que mais pessoas tenham acesso ao conteúdo produzido pelos cineastas. A plataforma permite que os longas e curtas-metragens sejam assistidos em todo o Brasil.

 O cineasta Bruno Victor marcou presença no Festival de Cinema de Brasília em 2017, com o documentário Afronte, uma coprodução com Marcus Azevedo. Para ele, o evento é uma das maiores e mais tradicionais janelas do audiovisual nacional, seja pelo caráter político ou pelos inúmeros filmes premiados mundialmente que tiveram passagem marcada pelo Cine Brasília. Além disso, muitas produções ganham projeções nacionais e internacionais ao passar pela capital, incluindo o próprio Afronte.

“O festival se consolida como ponto de debate sobre as construções que o audiovisual se propõe como política pública e reflexão da sociedade brasileira. É muito importante enfatizar que a existência do evento é uma ponte entre realizadores e público. Assim, é um equipamento que contempla a indústria audiovisual e a comunidade, observando a descentralização do evento que ocorreu em 2018, com exibições e oficinas em variadas regiões administrativas do DF, democratizando o acesso. Além disso, foi onde se criou o Prêmio Zózimo Bubul, fruto da articulação da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e do Centro Afro Carioca de Cinema, para o reconhecimento e valorização das produções estéticas de realizadores negros considerando critérios entre narrativa e aspectos técnico-formais dos modos de produção cinematográfica”, relembra Bruno.

 O diretor e roteirista Pedro Jorge defende um valor fixo para a preparação do festival no orçamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. “O principal objetivo do registro do FBCB é que o custo da preparação faça parte, obrigatoriamente, do orçamento da Secec. Vejam que se refere a orçamento da preparação, pois, para a realização do festival, contamos com os patrocinadores, que não têm interesse na preparação, porque não há divulgação nessa etapa. Além disso, os custos de preparação podem ser mais constantes pelos próprios itens que compõem esta etapa”, diz.

 História

 O cineasta Vladimir Carvalho experimentou de quase um tudo com o Festival de Brasília. O documentarista sofreu censura federal com o filme O país de São Saruê, retirado do evento em 1971. Também conquistou prêmios, como no clássico Conterrâneos velhos de guerra, melhor filme em 1990. “Eu tenho uma relação de muito amor e dedicação com o festival. Em 1969, assisti pela primeira vez ao evento, e, de imediato, percebi que é muito importante do ponto de vista da cultura, porque é um bem inalienável”, conta.

 De acordo com Vladimir, a ideia de cancelar a 53ª edição tinha sido um ato impensado. “Parecem não entender a importância para a cultura brasileira. Se o governador enxergou essa falha, é um motivo para nos regozijarmos porque garantiu a realização. O FBCB tem uma função educativa: a plateia de brasília é muito esperta, crítica, autônoma, que sabe aplaudir e criticar. Estou muito feliz porque realizaremos o evento”, afirma.

 O documentarista ainda tem esperanças que a festividade ocorra normalmente, mas, caso não seja possível, vê com bons olhos a opção pelo Cine Drive-in. “O Festival de Brasília costuma ser realizado no mês de novembro, portanto, é bastante distante. Até lá, espero que já tenhamos superado essa questão do isolamento, e não podemos descartar a possibilidade de fazermos normalmente. Se a doença não passar, aí sim precisamos pensar em outra alternativa. Se não for possível ocorrer da mesma forma, modificaremos, ninguém criticará isso por causa da pandemia. O Drive-in é uma alternativa boa para se enquadrar nesses tempos, mas eu insisto que essa data é provável que possamos realizá-lo como sempre acontece”, conclui.

 *Estagiários sob supervisão de Igor Silveira 

 


Correio Braziliense terça, 09 de junho de 2020

O QUE SERÁ DO FESTIVAL DE CINEMA?

Jornal Impresso

O que será do Festival de Cinema?
 
 
Em entrevista ao CB.Poder, Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura do Distrito Federal, fala sobre o cancelamento do evento e do panorama cultural na pandemia.

 

» Alexandre de Paula / » Vinícius Veloso*

Publicação: 09/06/2020 04:00

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
 
A falta de recursos financeiros destinados para o setor cultural por conta da pandemia fez a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal anunciar do cancelamento da 53ª edição do Festival de Cinema de Brasília. Em entrevista concedida, ontem, ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, o secretário de Cultura Bartolomeu Rodrigues explicou a situação. Além disso, ele fala sobre a questão do setor cultural na pandemia, com foco nos editais liberados para a classe artística.
 
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi cancelado. É um dos festivais mais importantes do país e só deixou de acontecer durante a ditadura militar, em três edições. Essa seria a 53ª edição. O que aconteceu, secretário?
É preciso que fique bem claro o seguinte: nós não estamos fazendo isso pela nossa vontade, muito pelo contrário. Estou extremamente frustrado, nós estávamos trabalhando intensamente... Estamos trabalhando intensamente, porque eu ainda não joguei a toalha. E, na verdade, antecipei o posicionamento porque nosso deadline esgotou e os recursos destinados para o Festival foram alocados para outras áreas. Acho que a gente está vivendo um momento difícil. Foi me pedido, inclusive, compreensão e entendo perfeitamente. Estamos no meio de uma pandemia que a gente não sabe como vai acabar, ainda estamos trabalhando com uma doença misteriosa. Toda a atenção e dedicação do governo deve ser dada para salvar vidas, isso é ponto pacífico. Mas, ao mesmo tempo, nós temos um calendário apertado para tomar decisões importantes, porque o Festival é oficial, no sentido de ser gerido e organizado pelo Estado. Eu preciso começar com alguns procedimentos jurídicos e legais e esse tempo se exauriu. Então, precisei me antecipar e colocar essa situação para que servisse de alerta, no sentido de que não temos condições efetivas do ponto de vista financeiro de promover um festival dessa magnitude, da importância que esse festival tem. Ele repercute internacionalmente e é um festival construído pela sociedade, é um Patrimônio de Brasília. Tenho recebido muitas manifestações de associações, entidades, pessoas do mundo cultural e de fora que estão me colocando de pé no sentido de não deixar o festival morrer. E a minha resposta é: não vamos deixar ele morrer. Vamos dar as mãos e buscar criatividade, formas de viabilizar o festival. Acho que ainda é possível.
 
Havia um esforço de economia da Secretaria. O carnaval, por exemplo, quando anunciaram aqueles shows grandes e depois voltaram atrás com a ideia de economizar dinheiro e o aniversário de Brasília, não por isso, mas pela questão da pandemia, que teve as principais atividades canceladas. Essa economia que foi feita, com esse tipo de evento, não poderia ser usada para o Festival? Mesmo assim não foi o suficiente?
A gente entra agora em um outro aspecto da discussão. No meu ponto de vista, acho que é papel do Estado fomentar e incentivar alguns setores vulneráveis. A cultura tem que ser encarada como um setor econômico. Foi a primeira a sentir o impacto dessa pandemia e vai ser a última a sair. Nós, da Secretaria de Cultura, juntamente com o Governo do Distrito Federal, tomamos algumas iniciativas que estão em curso. Lançamos editais para utilizar recursos do FAC visando socorro emergencial para os agentes culturais. Nesse caso, do Festival de Brasília, é possível fazer com a metade do que estava previsto. Espero que haja sensibilidade. Estou confiante, depois dessas reações todas, que aconteça uma reversão da situação. Conclamo, inclusive, a classe artística, para que procuremos uma saída. Temos planejado e formatado um festival que não causaria embaraço à situação de enfrentamento do coronavírus. Estávamos com um modelo híbrido e instigante em todos os sentidos.
 
Como seria? Qual a ideia? Fazer no Cine Drive-In?
Foi a primeira opção que buscamos. Olhando, inclusive, as soluções que outros festivais internacionais estão buscando, vimos que o ideal seria migrar para as plataformas virtuais. Mas nós temos um diferencial único da América Latina, que é o Cine Drive-In, onde é possível realizar um festival híbrido e presencial também. Tivemos, por conta disso, uma série de desafios. Em caso de realização presencial, temos que considerar até aspectos meteorológicos. Não poderia ser em novembro por ser um mês de chuva, setembro estaria perto demais e talvez outubro fosse o viável. Então, tudo isso, junto com o calendário apertado, fez com que o anúncio do cancelamento fosse antecipado. Lançar um chamamento público, um edital, que tem complicações jurídicas, e depois voltar atrás é complicado. E, para dar início ao processo, precisamos do mínimo de recurso. As coisas não caem do céu.
 
Existe um discurso em detrimento da Cultura, com críticas aos artistas. Muitas pessoas dizem que não é para gastar dinheiro com essa classe artística. Cancelar o Festival, em um momento como este, não passa a imagem de que o GDF está colocando a Cultura para escanteio?
Não. Nunca vamos deixar essa bandeira cair, a cultura tem prioridade. Nós não somos população se deixarmos a cultura em segundo plano. A cultura é fundamental, inclusive para a retomada do desenvolvimento, ela é alavancadora desse processo. Estamos solidários e na luta contra a covid-19, mas temos que compreender que a vida está seguindo para muita gente e, no setor cultural, o impacto da crise econômica está sendo muito forte. Tem que acontecer um balanceamento e muitas economias no mundo inteiro, inclusive, estão mostrando isso. Veja nos Estados Unidos, o país mais afetado, onde os empregos estão se recuperando. Isso ocorre por conta de algum movimento que permita o enfrentamento da crise sem o desastre total da economia. Se não for assim, quando sairmos da crise sanitária, teremos uma crise pior. O investimento é como um alento para que o setor não caia no abismo.
 
Quais alternativas você vê hoje para que o Festival seja realizado? Existe espaço para o apoio da 
iniciativa privada?
Tem sim, nós queremos, é um apelo que eu faço. O problema é que a iniciativa privada também está passando por um momento muito peculiar. Para a iniciativa privada chegar, ela precisa saber se vai acontecer o Festival. Para exemplificar, temos que fazer uma contratação de empresas privadas que vão ajudar o Estado a gerir o Festival e que vão buscar recursos. Mas, para isso, precisamos de uma segurança financeira.
 
Como está a situação dos editais que foram lançados? Com essa crise financeira, eles correm risco ou não?
É uma boa pergunta. Eu não quero contar com nenhum risco, até porque são recursos protegidos por uma lei orgânica da cultura do Distrito Federal. Devemos nos orgulhar de ter uma das legislaturas mais protetivas com relação à cultura, construída pela comunidade cultural. Os recursos que nós destinamos para o edital são protegidos, então estou com o coração sossegado. Mas, sendo muito franco agora, recentemente foi aprovado um socorro emergencial (Lei Aldir Blanc) pelo Congresso, rapidamente aprovado pela Câmara e pelo Senado, mas que depende de sanção presidencial e de muitas negociações. Vamos esperar por isso até quando? Não sei até que ponto haverá sensibilidade de colocar esses recursos à disposição dos estados e municípios brasileiros. O Distrito Federal está pronto para receber, em vantagem, por ter um Fundo de Apoio à Cultura constituído.
 
Essa questão financeira também é importante pensando na Secretaria de Cultura como conjunto. Como fazer para que ela não seja esvaziada, como manter as ações em caminho mesmo sem ter recursos para usar?
Estamos enfrentando esse desafio e dando respostas efetivas. Estamos ousando. O Distrito Federal foi um local respondeu efetivamente ao auxílio emergencial. Claro que não na velocidade que o setor precisa, mas o que a nossa equipe pôde fazer para tornar os editais mais rápidos e o acesso mais democratizado, nós fizemos. Lançamos o edital FAC Regionalizado recentemente, em valor superior ao de edições passadas, para sinalizar que nós não perdemos a atenção nesse setor. Nós estamos juntos, conversando com todos os segmentos e preocupado, sobretudo, com os setores mais vulneráveis. Não estamos preocupados com o grande artista ou com o grande evento, mas com aquele artista que sai com um violão para tocar em um bar mas encontra o bar fechado e fica sem dinheiro para colocar comida dentro de casa.
 
As alternativas pensadas para o momento, como as lives, não atingem essa parte específica da classe cultural, servem para artistas renomados, certo?
É um fenômeno para ser analisado com mais cuidado. Muita gente busca soluções emergenciais e algumas dão certo. Estamos com um edital aberto para quadrilhas juninas e, como elas não podem se apresentar, o auxílio se dá por meio de premiações com recursos de emenda parlamentar federal. Fizemos, recentemente, um programa chamado Serenatas de Abril, com emenda parlamentar local. Mas esse recurso é do orçamento do Governo Federal. O dinheiro continua saindo de um cofre só.
 
Existe um prazo para que o dinheiro dos editais emergenciais seja liberado?
Não. Temos o edital FAC Conecta Cultura, que trata de propostas de apresentações virtuais e o FAC Premiação. A previsão da liberação de recursos para atender essas demandas é entre julho e agosto.
 
Os recursos previstos para a realização do Festival eram em torno de R$ 3 milhões. Dá mesmo para fazer com a metade?
É… em uma situação, chorando, talvez eu diria para você que sim. Estamos com um modelo diferente. Dando essa perspectiva que pode acontecer o festival, talvez apareça alguma iniciativa privada para nos ajudar. Mas, de qualquer forma, acredito que podemos reduzir muito esse custo, porque vamos abrir mão de muitas coisas. É bom ressaltar que estamos em contatos muito promissores com plataformas gigantes do mercado que querem abraçar um projeto como o Festival de Cinema de Brasília. Claro que isso gera outra discussão com os mais saudosistas, que gostam do cinema em tela, com o barulho da máquina de rolo rodando, mas faz parte e é necessário dentro da nova realidade. Dessa discussão eu não tenho medo, ela é bem-vinda. O pau vai quebrar, mas é ótimo. Brasília tem a oportunidade de ser vanguarda, como sempre foi. É uma chance de lançar uma discussão, ouso dizer, de nível mundial. Outros festivais pelo mundo também estão sofrendo com o mesmo problema e temos a oportunidade de oferecer ao mundo um modelo diferenciado. Tudo está em discussão hoje.
 
Como está a discussão do pós-pandemia? Isso está sendo debatido?
Estamos discutindo a reabertura dos museus. Brasília conta com museus a céu aberto como o Catetinho e o Museu Vivo da Memória Candanga que poderiam estar abertos. É meu ponto de vista, mas com precaução. Não queremos responder, depois, por termos escancarado as portas sem planejamento. Estamos fazendo um estudo de protocolo, que deve ficar pronto no final desta semana, para averiguar essa possibilidade.
 
Como está o processo de reforma do Teatro Nacional?
Mesmo em meio à pandemia, a discussão e os trabalhos voltados para a reabertura do Teatro Nacional avançaram muito. Estamos desenhando uma solução definitiva para dar início, em breve. Costumo dizer que desatamos vários nós cegos e estamos no último nó da história. Vai dar certo e o Teatro Nacional será entregue, logo menos, para a população de Brasília.
 
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira 
 
 

Correio Braziliense segunda, 08 de junho de 2020

REVIVENDO A BANDA MEL DA TERRA

Jornal Impresso

Reviver o Mel
 
 
Uma das bandas mais icônicas de Brasília relança o primeiro disco em plataformas digitais

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 08/06/2020 04:00

 (Clausem Bonifacio/Divulgação - 4/10/17)  
 
Não foram Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Detrito Federal que primeiro movimentaram a cena da música em Brasília. O responsável pelo feito foi Mel da Terra, que, este ano, completa quatro décadas de existência. Isso, tomando-se como referência o histórico show que o grupo fez, no Teatro Garagem, em maio de 1980. A partir dali, Paulinho Mattos, Paulo Maciel, Sérgio Pinheiro, Remy Portilho, Beto Escalante e Haroldinho Mattos se tornaram os primeiros ídolos da cidade. Na próxima sexta-feira, eles celebram a data com o relançamento — agora nas plataformas digitais — do disco de estreia.
 
Formada por adolescentes, o grupo surgiu um ano antes, no Concerto Cabeças. No evento, que ocorria no gramado da 311 Sul, dividiu o improvisado palco com Oswaldo Montenegro, Renato Matos e Liga Tripa, entre outros artistas brasilienses. Reza a lenda que Renato Russo nunca perdoou Néio Lúcio — produtor do projeto —, por não ter sido convidado para tomar parte naquele encontro musical.
 
A instituição que mais contribuiu para a construção da popularidade do Mel, segundo os integrantes da seminal banda pop candanga, teria sido o Sesc. “Em 1979, nos destacamos ao participar de um festival instrumental que ocorreu no Teatro Garagem, logo depois da inauguração. Como ensaiávamos no apartamento dos pais do Remy, na 311 Sul, o que não era muito conveniente, por causa do barulho que fazíamos. Aí, fomos convidados pela Maria Helena Costa, à época coordenadora de música do Sesc, a utilizar o Garagem para os ensaios”, lembra o vocalista e flautista Paulinho Mattos.
 
Como contrapartida, foi naquele teatro em que ocorreu o show que marcou, oficialmente, o início da carreira do grupo. “Para nossa surpresa, o teatro estava superlotado por uma plateia que se mostrou entusiasmada com o que ouvia, mesmo sem ainda conhecer as músicas do repertório”, recorda-se o vocalista Sérgio Pinheiro. “Ainda em 1980, fizemos apresentações concorridas no Teatro Galpão (508 Sul) e Teatro da Escola Parque (entrequadra 507/508 Sul), e nos tornamos a banda queridinha da galera”, acrescenta.

 (Acervo Pessoal)  
 
Shows no auge
 
Estrela cadente (Paulo Maciel e Edbert), um hit instantâneo, contribuiu para o sucesso do Mel da Terra, que, no ano seguinte, veio a ser uma das atrações do festival Rock Cerrado, realizado no extinto Pelezão, ao lado de Raul Seixas, Pepeu Gomes e Walter Franco. Daí em diante, praticamente todos os grandes eventos musicais passaram a contar na grade com a banda candanga. “Em 1982, por exemplo, tomamos parte do Rock Way, com14 Bis, Erva Doce e Jorge Ben Jor; do Ginga Brasil, na área da Torre de TV, que teve Paulinho da Viola como maior destaque; e na comemoração do aniversário de Brasília, no Parque da Cidade, abrindo para Ney Matogrosso”, relata o baixista Paulo Maciel. “Num show em que dividimos o palco do Teatro da Escola Parque, por três noites, os aplausos maiores foram para o Mel, deixando o cantor e compositor carioca, enciumado”, complementa.
 
Mesmo sem ter uma trajetória regular — houve várias interrupções — o Mel chegou a lançar mais dois discos. O segundo é de 1990 e o terceiro, de 2013. Segundo Paulo Mattos, que os produziu, ambos serão relançados também nas plataformas digitais. Um show, em 11 de setembro de 2019, em comemoração aos 40 anos do Teatro Garagem, marcou a retomada da carreira do grupo. “Estávamos preparando uma apresentação para o lançamento do primeiro álbum nas plataformas digitais, mas, em razão do problema de saúde que Remi vem enfrentando, decidimos adiá-lo”, explicou o guitarrista Haroldinho Mattos.
 
Primeiro registro
 
A ideia de resgatar o disco de estreia do Mel (um LP lançado há 37 anos) foi de um fã do grupo, o produtor Gustavo Vasconcellos, da GRV Música, Media & Entretenimento. “Depois de uma conversa com o Sérgio Pinheiro e o Paulo Maciel, em abril último, ficou decidido lançar o disco digitalmente. O Sérgio cuidou da digitalização do álbum, fazendo a remixagem de 10 das faixas. A GRV organizou a documentação para legalização do material e se responsabilizou pelo lançamento nas plataformas digitais, que ocorrerá no dia 12 próximo. É um projeto de energia positiva, pensando no momento em que vive Remi Portilho, em tempo de pandemia”, ressalta Vasconcellos.
 
“Com o projeto do Mel da Terra, atingimos a marca de 200 artistas lançados pela GRV, via plataformas digitais (200 lojas), em todo o mundo. Isso faz parte da nossa proposta de preservação da música de Brasília”, destaca o produtor. O disco, com 10 faixas, traz músicas como os hits Estrela cadente, Pequena mágoa e Vira lata, além de Chinfra (que abre o repertório), Curso d’água, Veneno moreno, Roda paulista, Dono do sol, Matéria paga e Ângela,


Depoimentos
 
» Paulinho Mattos
“Estamos vivenciando um momento importante com o retorno do Mel, comemorando 40 anos de carreira, e o lançamento do primeiro disco nas plataformas digitais. É uma pena não podermos fazer um show para celebrar a data, por causa do problema de saúde do nosso querido Remi e também pela epidemia que se espalha por todo o mundo.”
 
» Sérgio Pinheiro
“Para mim é uma grande alegria relançar nosso LP de estreia, agora pelas plataformas digitais. Os fãs poderão curtir todas as 10 faixas originais, incluindo, obviamente, o hit Pequena mágoa (Paulinho Mattos) e o clássico Estrela cadente (Paulo Maciel e Edibert Torres). A remasterização foi feita por mim e por meu irmão Caio Pinheiro.”
 
» Paulo Maciel
“O relançamento do primeiro disco do Mel pelas plataformas digitais me faz voltar ao começo, quando, adolescente, estudava na Escola de Música de Brasília e fui convidado para fazer parte da banda, ainda na época do Concerto Cabeças. Me recordo também dos ensaios no apartamento dos pais do Remi e do primeiro show no 
Teatro Garagem.”
 
» Beto Escalante
“Tenho muita saudade de tudo o que se relaciona ao Mel da Terra. Nunca esqueci dos ensaios no apartamento da família do Remi, todos nós muito jovens e cheios de entusiasmo por estarmos juntos naquela que se tornou a primeira banda de sucesso no cenário musical brasiliense. Depois, vieram o primeiro show, a participação no festival Rock Cerrado e a gravação desse disco, que está sendo relançado digitalmente.”
 
» Haroldinho Mattos
“Eu tinha 16 anos quando passei a integrar o Mel e tive o meu primeiro contato com o palco e, posteriormente, com estúdio de gravação. Para mim, tinha tudo a ver, pois vivenciava cultura em casa, uma vez que meu pai era artista plástico e a minha mãe poeta. À época, morava com meu pai, em Belo Horizonte, e vim passar férias na casa da minha mãe. Aí, não voltei mais. O relançamento do disco digitalmente, me leva a recordar tudo.”
 

Correio Braziliense domingo, 07 de junho de 2020

ADRIANA CALCANHOTO: CAOS EMRIMAS

Jornal Impresso

Adriana Calcanhoto: Caos em rimas
 
Cantora resume a quarentena no álbum Só. Ao Correio, ela fala do processo de criação, da homenagem a Moraes Moreira e do que pensa do mundo pós-pandemia

 

» Adriana Izel

Publicação: 07/06/2020 04:00

 

"Além de ter feito um álbum, acho que a minha quarentena está igual a de todo mundo"

 

 
Sobreviver mentalmente e psicologicamente à quarentena imposta pelo combate ao novo coronavírus muitas vezes quer dizer estabelecer rotinas. Foi isso que a cantora Adriana Calcanhotto fez. Ela acordava todos os dias, botava uma roupa e ia produzir. Assim surgiu Só, disco com nove canções autorais e inéditas todas compostas durante o isolamento social passado pela artista no Brasil, acabou sendo impedida de retornar a Coimbra, cidade universitária portuguesa onde dá aula.

Mesmo sendo resultado do caos pandêmico, Só é um disco solar e ritmado. Adriana Calcanhotto brinca com as batidas do funk e até com as expressões do ritmo, como em Bunda lê lê, gravada em parceria com Dennis Dj. Também há samba no disco, vertente sempre abraçada pela cantora, além, claro, da MPB própria da trajetória da artista. Nas letras, Adriana consegue ser atual, falar de sombras, e também de esperança. É o caso de Corre o munda em que fala da saudade de Coimbra e do desejo de retornar: “Não permita Deus que eu morra sem voltar”.

Só é ainda um disco feito em homenagem a Moraes Moreira, que morreu neste ano e, por conta da covid-19, acabou não tendo a despedida que merecia, e também uma forma de Adriana Calcanhotto participar da rede de solidariedade que cresceu na pandemia. Toda a renda das músicas será revertida a instituições de caridade e uma delas a equipe da cantora também afetada no isolamento.

Ao Correio, Adriana Calcanhotto fala sobre o processo de composição do disco no isolamento social, da homenagem a Moraes Moreira e até divaga sobre o mundo pós-pandemia. “Muito se fala em “voltar ao normal”. Para mim essa ideia de “voltar” não funciona, já é outro mundo”, define.


Só foi um álbum criado na quarentena sobre o isolamento. 
O que te motivou mesmo em meio ao caos criar este disco?
Foi justamente o caos, a pandemia, o pandemônio e a incerteza quanto ao futuro.
 
Como foi o processo de criação das músicas e 
também de gravação com os desafios do isolamento?
Fiz uma canção por dia, sempre pela manhã. Eu acordava, botava uma roupa e ia produzir. Estava disposta e, de certa forma, condicionada a fazer isso porque era o que estaria fazendo se tivesse ido a Coimbra. Comecei a trabalhar em cima das músicas, mandei as faixas para o Arthur Nogueira, coloquei os músicos no circuito e fomos ajustando, tudo dentro do tempo da urgência, que não é comum para mim. É um álbum composto, produzido, gravado e mixado em 43 dias, tudo de maneira remota, cada um na sua casa.
 
As canções têm bastante influência das batidas  eletrônicas e do funk, tendo até participação do Dennis Dj. Também há o batuque do samba. O que te fez seguir nessa sonoridade que transita entre os ritmos?
Gosto da mistura, da polirritmia, acho importante explorá-la. Para mim, tudo é samba. Desde quando gravei Fico assim sem você, em 2004, eu venho tocando a batida do funk no violão, por exemplo. Para essa faixa específica, Bunda lê lê, eu quis fazer uma brincadeira com as palavras que o funk usa, “senta”, “vai” e “bunda”.
 
Apesar de falar da quarentena e de expor a parte sombria, 
as faixas têm uma mensagem positiva. Você quis 
que o material fosse um escape e uma reflexão?
Na verdade, ele não nasceu como álbum, eu não pensava nisso. Eu simplesmente acordava com uma disposição de agir. Foi tudo acontecendo de maneira bastante natural. Quando vi, as canções eram uma safra e todas tinham o mesmo pano de fundo.
 
Fica bem claro que a quarentena te impediu de voltar para
Coimbra. sso te fez perceber 
ainda mais conexão com a cidade?
Sem dúvida. Eu pensei “eu estou em casa, não sei se vai ter mundo, não sei se voltarei a Coimbra”, e me vieram os versos da canção do exílio, Corre o munda, no mesmo momento. Acho que a conexão fica bastante explícita: “não permita Deus que eu morra sem voltar”.
 
Neste momento muitos artistas apostam nas lives.
Você pretende fazer mais shows virtuais? 
Como enxerga esse formato?
Pretendo, sim. É um formato desafiador, fiquei muito feliz de estar nesse universo. Claro, a catarse de uma plateia em um show ou no teatro não pode ser substituída. Mas a energia que eu senti quando acabei a live do Sesc foi a mesma sensação física de ter feito um show. Acho que esse momento potencializa o jeito de se fazer isso.
 
O disco também tem um aspecto social com a renda revertida
para uma instituição. omo você 
vê essa onda de solidariedade
do mundo? 
E para qual instituição será doada?
Com tudo que estamos vivendo, há essa possibilidade e oportunidade das pessoas aprenderem solidariedade e civilidade. A empatia, na verdade, acho muito difícil a pessoa adquirir. Se ela não é empática, ela não é. Sobre as doações, são várias instituições. Cada música tem suas rendas revertidas para uma instituição diferente, Redes da Maré, Coletivo Papo Reto, A Rocinha Resiste e várias outras. Lembrando da Estrada, por exemplo, é toda revertida para a minha equipe.
 
Você presta um tributo a Moraes Moreira no álbum. Alguns artistas têm feito esse papel de homenagear 
os nossos eternos que se foram, já que as autoridades não o fazem. Como você enxerga tudo isso que vem 
acontecendo na cultura mesmo em meio a um problema tão sério como a covid-19?
Pois é. Moraes Moreira não morreu de covid-19, mas ele morreu durante a quarentena, o que fez com que a gente não pudesse se despedir, nem eu pessoalmente, nem o Brasil todo. A situação do Brasil em meio à pandemia é péssima em todas as áreas, em todos os sentidos. E isso não é nem uma avaliação minha, são os fatos.
 
Como você vislumbra o mundo pós-pandemia?
Muito se fala em “voltar ao normal”. Para mim essa ideia de “voltar” não funciona, já é outro mundo. Essa coisa de viver cada dia de uma vez é, de certa forma, o preço do que estamos vivendo. Quando voltarmos ao anormal, porque o que vivíamos não tinha nada de normal, acredito que daí, enfim, poderemos criar uma realidade nova.


De Adriana Calcanhotto. 
Minha Música, 9 faixas. Disponível nas plataformas digitais.

Correio Braziliense sábado, 06 de junho de 2020

COMÉRCIO DE OLHO NO DIA DOS NAMORADOS

Jornal Impresso

Comércio de olho no Dia dos Namorados
 
A primeira data comemorativa após a reabertura dos shoppings e das lojas de rua é a aposta do setor para melhorar o faturamento dos comerciantes. Contudo, especialistas avaliam que não será o suficiente para recuperar o prejuízo do semestre

 

MARIANA MACHADO

Publicação: 06/06/2020 04:00

Com a pandemia, a florista Andiara Antunes passou a vender 40% mais: especialista em comércio on-line (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  

Com a pandemia, a florista Andiara Antunes passou a vender 40% mais: especialista em comércio on-line

 

A primeira data comemorativa após a reabertura do comércio no Distrito Federal, em 18 de maio, aproxima-se e tem chance de melhorar o movimento no varejo. Comemorado em 12 de junho, o Dia dos Namorados registrou, em 2019, aumento nas vendas de cerca de 5% em relação ao mesmo período do ano anterior, 2018, como explica o presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista/DF), Edson de Castro. Para este ano, no entanto, a expectativa é de que os empresários tenham rendimento de até 60% do que conseguiram no ano passado.
 
Ele avalia que, mesmo com a volta dos lojistas, será muito difícil recuperar o faturamento do semestre. “Vamos ver se os empresários conseguirão pagar as contas, mas recuperar, de forma alguma, porque as pessoas, com esse negócio de não sair de casa, estão comprando muito pela internet, evitando sair”, avalia. Mesmo assim, ele afirma que há uma sensação de otimismo. “No Dia das Mães, foi um grande sacrifício tentar vender com as lojas fechadas. Os empresários estão tentando sobreviver”, diz Edson.
 
O empresário Sebastião Abritta, vice-presidente do sindicato, calcula redução de 42% nas vendas em relação a 2019. “No ano passado, a semana do Dia dos Namorados movimentou, no comércio local, algo em torno de R$ 150 milhões. A nossa estimativa é de que, neste ano, movimente entre R$ 80 milhões e R$ 90 milhões.” De acordo com ele, a pandemia deixou o consumidor cauteloso.
 
Ainda assim, datas como essa têm sido um respiro para muitos empreendedores. A chef de cozinha Ana Cláudia Morale, 35 anos, trabalhava apenas com eventos e, sem essa possibilidade, reinventou-se. Agora, ela tem preparado kits e cestas especiais, pedidas pelas redes sociais e entregues na casa do cliente. “Para a manutenção, não só do meu negócio, mas de toda uma cadeia produtiva, a gente foi se adaptando e desenvolvendo propostas de delivery. Fizemos na Páscoa, no Dia das Mães, e, agora, no Dia dos Namorados e nas festas juninas”, conta.
 
Ela recebeu 15 pedidos de uma caixa especial para os apaixonados, com espumante, duas taças de acrílico, amarenas (cerejas) e queijo parmesão. “A ideia é presentear a pessoa com quem você não pode estar junto, ou consumir junto”, explica. Embora as produções ajudem a manter a empresa funcionando, ela estima perdas de cerca de 30% do faturamento mensal, desde o início da quarentena. “Na Páscoa, tivemos faturamento de 85% do que conseguimos na mesma época em 2019. No Dia das Mães, 70%. Agora, a expectativa é de 55%”, calcula.
 
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), Francisco Maia, a expectativa dos lojistas não é boa. “Os que reabriram as portas estão tendo poucas vendas. Muitos nem conseguiram renovar estoque, sabendo do pouco movimento que teriam”, lamenta. Ele afirma que, nos shoppings, a situação não é muito diferente. “As vendas estão aquém do esperado, e este 12 de junho deve ser muito significativo.”
 
Abertos desde 27 de maio, os shoppings apostam em alternativas para não perder clientes. O Conjunto Nacional, por exemplo, disponibilizará, a partir de segunda-feira, o Retire Aqui. O consumidor entra em contato com as lojas por mensagem de aplicativo, ou compra nos sites, e retira o produto em uma gaveta do shopping. Com um QR Code, é possível destrancar o compartimento e retirar a compra em até 72 horas. Também há a opção de agendar entregas por drive-thru, ou delivery, o que havia ocorrido no Dia das Mães.
 
Em nota, o Iguatemi informou que cumpre as determinações da lei, operando com capacidade máxima de 50% do estacionamento, reforçando as rotinas de limpeza, assim como o uso obrigatório de máscaras. “Conforme determina decreto do GDF, estamos fazendo medição de temperatura de todos os clientes antes de entrarem no shopping (quem estiver com temperatura de 37,3ºC ou acima não pode entrar).”
 
"No Dia das Mães, foi um grande sacrifício tentar vender com as lojas fechadas. Os empresários estão tentando sobreviver”
Edson de Castro, presidente do Sindivarejista
 
Regras
 
Por determinação do governador Ibaneis Rocha, o comércio em geral foi autorizado a voltar a funcionar em 26 de maio, e shoppings, no dia seguinte. Veja as normas que devem ser adotadas pelos estabelecimentos
  • Shoppings devem fornecer equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% a todos os empregados
  • Funcionários devem fazer teste para a covid-19 a cada 15 dias
  • Áreas de recreação, como brinquedotecas, cinemas e praças de alimentação devem permanecer fechadas
  • Todos os clientes devem ter a temperatura corporal aferida antes de entrar nos shoppings e nas lojas
  • É proibido utilizar os provadores
  • Estacionamentos devem ser limitados a 50% da capacidade
  • Estabelecimentos precisa, seguir escala de revezamento de dia e horário dos empregados

Correio Braziliense sexta, 05 de junho de 2020

CIÊNCIA E TECNOLOGIA CONTRA A PANDEMIA

Jornal Impresso

Ciência e tecnologia contra o coronavírus
 
 
Em parceria com universidades e instituições de pesquisa, o Executivo local investe em estudos e ações para ajudar no combate e na prevenção à covid-19. Testes com plasma de pacientes curados e telemedicina são algumas das principais iniciativas

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 05/06/2020 04:00

Câmeras que medem temperatura em massa e fiscalizam uso de máscaras estão em teste na Rodoviária do Plano Piloto: 1,8 mil pessoas por minuto (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Câmeras que medem temperatura em massa e fiscalizam uso de máscaras estão em teste na Rodoviária do Plano Piloto: 1,8 mil pessoas por minuto

 



No embate contra a pandemia do novo coronavírus, a ciência e a tecnologia são algumas das armas mais poderosas na procura de soluções contra a disseminação da covid-19 e nas novas formas de tratamento de uma doença sobre a qual muito continua sem resposta. No Distrito Federal, ações do Executivo local, em parceria com universidades e instituições de pesquisa, buscam direções nessas áreas para avançar no combate. Testes com plasma e telemedicina são algumas das apostas do GDF.

O estudo da transferência do plasma de pacientes recuperados (veja Critérios) da covid-19 para doentes em estágio moderado (leia Para saber mais) começou a tomar forma mais concreta no DF. A iniciativa é tocada pela Fundação Hemocentro, pelo GDF e pela Universidade de Brasília (UnB). A primeira doação de plasma foi feita na terça-feira. As análises são feitas no Laboratório Central e na UnB. “Ao todo, acompanharemos 100 pacientes que vão receber o plasma e 100 que não vão receber. São pessoas com covid-19 em estágio moderado. A nossa hipótese é de que o uso do plasma diminuirá a progressão para a forma grave”, explica o médico e professor de imunologia na Faculdade de Medicina da UnB André Moraes Nicola. “Será uma vantagem para aquela pessoa que está recebendo, porque ela vai melhorar e conseguir se recuperar da covid-19, mas também para o serviço de saúde em geral, porque, ao impedir, o avanço da doença para o estágio grave reduz também a demanda por equipamentos como respiradores e leitos avançados”, detalha o especialista.

Telemedicina

“Neste momento que estamos enfrentando agora, só a ciência atrelada à tecnologia pode ajudar. Não tem saída. O mundo todo está vindo nessa direção”, defende o secretário de Ciência e Tecnologia, Gilvan Máximo. Ele destaca as ações de telemedicina em desenvolvimento como um passo importante para a modernização da saúde da capital e como ferramenta para auxiliar na luta contra a pandemia.

A plataforma está em processo de finalização e deve ser lançada em 30 dias, segundo o secretário. Com apoio da Fiocruz, o app permitirá atendimento de pacientes por meio digital, marcação de exames e uso de inteligência artificial para algumas situações. Com isso, a intenção é desafogar filas em unidades de saúde e evitar sobrecarga no sistema. “É uma plataforma muito vasta e que nos permitirá acelerar os processos”, diz Gilvan.

Um ponto fundamental da iniciativa para o combate do coronavírus é que a plataforma permitirá monitoramento rápido das pessoas que acessarem o sistema e uma busca ativa de possíveis contaminados. A ideia é mapear a situação desses pacientes e buscar possíveis ligações deles com infectados pela covid-19. “Assim, vamos saber se houve algum parente, algum vizinho com quem ela teve contato e ter um mapa mais claro das relações entre essas pessoas e a doença”, detalha.
A telemedicina também está em aplicação nas unidades comandadas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges/DF). Atualmente, o método é usado para promover consultorias de forma remota entre médicos para que especialistas possam auxiliar outros profissionais nas ações com pacientes das Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs).

Pesquisas para avaliar opções de tratamento à covid-19, para a qual não há, até então, uma terapia específica, também estão em andamento. “Estamos desenvolvendo e coordenando um protocolo de pesquisa próprio, que vai avaliar a segurança e a eficácia de opções terapêuticas propostas para o tratamento de pacientes moderados e graves”, informou o Iges/DF. As orientações aguardam avaliação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O instituto também destacou uso da tecnologia de impressão 3D para produzir equipamentos de proteção individual (EPIs).

Fiscalização

O uso da tecnologia também pode ser eficaz na fiscalização das normas estabelecidas para o combate ao coronavírus. Na Rodoviária do Plano Piloto, o GDF testa câmeras com capacidade de medir, em massa, a temperatura de pessoas que passam pelo local, além de identificar se há uso de máscaras. Um monitor mostra, a partir da análise, quem estiver descumprindo a norma ou apresentar estado febril.

Dois equipamentos do tipo foram instalados na entrada da Estação Central do Metrô e serão testados por 30 dias. A ideia é que o governo abra processo para adquirir câmeras se o teste for bem-sucedido. Elas têm capacidade para registrar, simultaneamente, o movimento de 1,8 mil pessoas por minuto.



Para saber mais

Método em teste


Chamada de transferência passiva de imunidade, a técnica passa, por meio de transfusão do plasma sanguíneo, anticorpos de pessoas que tiveram a doença e se curaram para quem está com a covid-19. Não há, até então, evidências clínicas de que esse tipo de tratamento é eficaz para conter o novo coronavírus, mas estudos realizados em diversos locais buscam comprovação para a eficácia do método. A técnica foi estudada, anteriormente, para outras doenças virais e pacientes melhoraram. A pesquisa atual busca protocolos para balizar o uso do plasma sanguíneo de recuperados no combate ao novo coronavírus.


Critérios
Veja as condições, além de ter se recuperado da covid-19,
para participar da pesquisa de plasma:

» Ter entre 18 e 60 anos
» Pesar no mínimo 60kg
» Se mulher, não ter histórico de gestações
» Ter diagnóstico laboratorial confirmado de infecção por Sars-Cov-2
» Estar sem sintomas de covid-19 há pelo menos 15 dias
» Não ter tido manifestações graves em função da covid-19 (choque séptico, parada cardíaca e/ou entubação traqueal/respiratória)

Correio Braziliense quinta, 04 de junho de 2020

POPULAÇÃO APROVEITA PARQUES ABERTOS

Jornal Impresso

População aproveita parques abertos

 

Publicação: 04/06/2020 04:00

De máscara, o casal Darlan e Andrea saiu do confinamento para fazer uma caminha no Parque de Águas Claras (Ed Alves/CB/D.A Press)  

De máscara, o casal Darlan e Andrea saiu do confinamento para fazer uma caminha no Parque de Águas Claras

 



O movimento foi grande nos parques no primeiro dia de retomada das atividades, após mais de 70 dias fechados. No total, 18 espaços ficaram à disposição da população, que aproveitou para caminhar, correr e pedalar. As áreas de lazer passaram por limpeza, ganharam sinalizações e tiveram algumas instalações bloqueadas, como quadras esportivas, equipamentos de musculação, banheiros e bebedouros. Fiscais do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da Secretaria de Esportes e Lazer visitaram alguns pontos e deram orientações a quem praticava exercícios, como uso de máscara e evitar aglomerações.

De acordo com o Ibram, cerca de 70 mil moradores do DF visitam os parques da capital por semana. “As pessoas querem se exercitar, ter um espaço agradável, em meio à natureza, para respirar. Então, essa reabertura vem de um anseio da sociedade. Mas estamos cumprindo protocolos de saúde pública, porque a pandemia não pode ser esquecida. Ou seja, é uma busca pelo equilíbrio”, afirmou Cláudio Trinchão, presidente do Ibram. As condições listadas em decreto para a reabertura dos parques incluem: horário de funcionamento das 6h às 21h, uso obrigatório de máscara, proibição de qualquer tipo de comércio e bloqueio de áreas coletivas.

Respiro

O gerente de segurança Darlan Santos, 41 anos, e a professora Andrea Gomes, 42, aproveitaram a reabertura dos parques para dar um respiro em meio ao confinamento. O casal trabalha em esquema de home office. “Nós acabamos não tendo hora para fazer outra coisa a não ser trabalhar, começamos cedo e terminamos à noite. Então, viemos ao Parque de Águas Claras de manhã cedo, sem celular, para ter esse refúgio, conversar sobre outros assuntos. Isso faz bem para a saúde mental”, explica Andrea.

Infectologistas lembram que sair do isolamento é se expor a riscos e deve ser evitado, principalmente por quem tem sintomas da covid-19, como febre, gripe, perda do olfato ou paladar. “Mas todos precisam se cuidar, até porque a maioria da população tem alguma comorbidade que pode agravar o quadro. O sobrepeso faz alguém ser de grupo de risco. Agora, é hora de recomendar o máximo de cuidado possível”, detalha Marli Sartori, infectologista do Hospital Santa Lúcia. (AR)

Correio Braziliense quarta, 03 de junho de 2020

QUARENTENA DE AUTOCONHECIMENTO

Jornal Impresso

Quarentena de autoconhecimento
 
 
Livros motivacionais recém-lançados falam sobre a importância de olhar e cuidar de si, tema essencial durante e após a pandemia

 

» Adriana Izel

Publicação: 03/06/2020 04:00

A meditação é a proposta de Amanda Dheher para uma jornada de cura ( Luz da Serra Editora/Divulgação)  

A meditação é a proposta de Amanda Dheher para uma jornada de cura

 

 

Em O tempo de felicidade, Flora Victoria propõe uma pausa para realinhamento (Mauro Nery/Divulgação - 29/10/18 )  

Em O tempo de felicidade, Flora Victoria propõe uma pausa para realinhamento

 

 s medos e as incertezas que rodeiam o mundo pandêmico são também um desafio em meio ao combate ao novo coronavírus. Surtos virais recentes, como Sars em 2003 e Mers em 2012, ambas doenças respiratórias que afetaram as populações principalmente da China e do Oriente Médio, mostraram o aumento da preocupação em relação à saúde mental. Até por isso, especialistas acreditam que a covid-19 terá impactos profundos e que, por isso, é preciso ficar alerta.
 
Além dos cuidados em relação ao vírus, é preciso também dedicar um tempo na quarentena para si mesmo. O que pode ser feito de diversas formas, entre elas, com ajuda de alguns livros motivacionais recém-lançados no país que tratam sobre felicidade, propósito e meditação, temas em voga antes mesmo do coronavírus, mas que se tornaram ainda mais urgentes em meio à pandemia.
 
“Tudo isso que está acontecendo mundialmente deve contribuir para um índice de disfunção da população muito grande. A gente sabe que o mundo pós-pandemia será um mundo pós-trauma e que vai ser preciso que cada um desenvolva e faça coisas novas também. Por isso acho que o assunto da felicidade é de extrema importância. É sim o momento de falarmos de felicidade, de talentos, de esperança, de como definir próximos passos e de como se reconectar com as pessoas”, avalia Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela University of Pennsylvania e autora de O tempo da felicidade.
 
Escrito antes mesmo da pandemia, o livro acabou sendo lançado quando o Brasil decretou calamidade pública por conta da covid-19 e se mostrou ainda mais atual. Na obra, Flora propõe um sabático — que ela faz questão de explicar que não é um período de férias, como costuma ser imaginado — para repensar a vida e priorizar objetivos, com a missão de renovação. “O livro surgiu da ideia de falar sobre esse tempo que as pessoas precisam para se regenerar e serem felizes. O sabático é um período a cada sete anos que a pessoa precisa para se renovar e descansar, vem do passado da agricultura, quando se plantava por seis anos e, no sétimo ano, a natureza precisa descansar. Veio a mesma ideia para o ser humano, que pode ter um contexto religioso, acadêmico, para um projeto específico”, explica.
 
Em quase 200 páginas, a autora estabelece caminhos de desenvolvimento para a felicidade. “Em qualquer momento da vida, e este é um deles, temos três formas de lidar com algo novo: desespero, desânimo e desenvolvimento. Os dois primeiros são extremos que temos que evitar. O desenvolvimento é o que proponho no livro. Temos que aproveitar esse momento para reencontrar o que realmente importa, que é o valor a vida. Acho que é o momento das pessoas buscarem esse tipo de energia, de olhar para si mesmo, porque o mundo vai ser diferente. Já está”, define.
 
Mudanças de hábito
 
Andreza Carício compartilha em Todo santo dia hábitos para buscar a felicidade (Arquivo Pessoal)  

Andreza Carício compartilha em Todo santo dia hábitos para buscar a felicidade

 

Essa também é a percepção de Andreza Carício, especialista em desenvolvimento humano e autora de Todo santo dia, obra que tem dominado o ranking das listas de mais vendidos na quarentena. “Esse é um período em que as pessoas estão se conectando com três medos: da morte, da doença e de perder dinheiro. São três grandes medos que se não forem tratados levam à síndrome do pânico, transtornos, pensamentos perturbadores e é a última coisa que queremos para a humanidade”, avalia. Por isso, ela acredita que é preciso investir no autocuidado e no autoconhecimento. “Não tem como fazer esse processo se você não se conhecer. Se não sei quem sou, não consigo enxergar verdadeiramente o outro e nem entender minhas demandas internas. Uma das bases da felicidade é conhecer a si mesmo”, completa.
 
Em Todo santo dia, Andreza compartilha 102 atitudes que podem trazer uma mudança no estilo de vida. O livro se inspira em coisas que ela fez na própria vida quando se percebeu infeliz, mesmo tendo posse de tudo que almejava: um bom emprego, um bom casamento, filhos... “Eu tinha parado de me escutar. A gente acaba deixando de ouvir nossos sonhos. Eu tinha esquecido. Então quando encontrei esse propósito na minha vida, pensei em escrever o livro sobre tudo aquilo que eu estava praticando para conseguir acordar feliz todos os dias. Eu sabia que podia ajudar na transformação das pessoas, porque me ajudou”, explica.
 
Uma das grandes mudanças de hábitos da sociedade na quarentena está ligada à prática da meditação, que se tornou popular até para quem antes não era adepto. “Vejo que o interesse das pessoas pela meditação está cada vez maior. Neste momento precisamos urgentemente de alívio para os medos e ansiedades despertados pela situação atual. Precisamos de algo que nos permita manter a calma em meio a tantas incertezas. E a meditação é justamente um caminho natural para conseguirmos tudo isso”, analisa Amanda Dreher, escritora e pesquisadora em terapias integrativas.
 
O assunto é tema da obra As meditações mais poderosas de todos os tempos, de Amanda Dreher, em que a autora sugere uma transformação que traz leveza e tranquilidade para o dia a dia a partir da prática. Para isso, a estudiosa compartilha 28 meditações simples e fáceis para que qualquer pessoa consiga realizar. A ideia é que o leitor possa criar rotinas meditativas. “Durante quatro anos, gravei centenas de meditações guiadas para os meus alunos, e dentre estas centenas de meditações selecionei as 28 mais poderosas, as que deram os melhores resultados. A meditação transformou a minha vida. Transformou tanto que acabei desenvolvendo um método próprio, que surgiu para que outras pessoas não caiam nos mesmos erros que eu caí e consigam aplicar a meditação de forma simples e prática na sua rotina”, completa.


As meditações mais poderosas de todos os tempos
De Amanda Dreher. Luz da Serra Editora, 224 páginas. 
Preço médio: R$ 54,90.
 
 
O tempo da felicidade: Um sabático para repensar 
a vida, priorizar seus objetivos e se renovar
De Flora Victoria. Editora Harper Collins, 198 páginas. Preço médio: R$ 29,92 e R$ 25,11 (e-book).
 
 
Todo santo dia — Atitudes poderosas para transformar
sua vida m uma jornada de crescimento diário e consistente

Correio Braziliense terça, 02 de junho de 2020

GIRASSÓIS: DE FRENTE PARA A LUZ

Jornal Impresso

De frente para a luz
 
É tempo de girassol no DF. Às margens da BR-251, entre Brasília e Unaí (MG), florescem 20 mil metros da flor de pétalas douradas famosa por acompanhar o movimento do sol

 

MARIANA MACHADO

Publicação: 02/06/2020 04:00

Quem quiser uma foto com os girassóis precisa correr: esta deve ser a última semana da florada (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Quem quiser uma foto com os girassóis precisa correr: esta deve ser a última semana da florada

 

Se o pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh estivesse vivo, provavelmente se apaixonaria pelo PAD-DF, região rural do Distrito Federal próximo à divisa com Minas Gerais. As flores que conquistaram o mundo nos quadros mais famosos do holandês, colorem as margens da BR-251, como trechos de ouro no cerrado. É na altura do km 5 que olhos desavisados se deparam com o dourado intenso do campo de girassóis, contrastando com o azul do céu infinito.
 
Não à toa, a flor que inspirou artistas do mundo todo, motiva os motoristas que por ali passam a descer e garantir um registro. Quem vai uma vez se apaixona. “Todo ano, paramos aqui para fazer foto”, garante o segurança Alan da Silva, 38 anos. Ele e a esposa, a enfermeira Stephani Santos, 33 anos, moram no município mineiro de Unaí e trabalham em Brasília. Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, veem os campos, que florescem em maio. Neste ano, quando voltavam de um plantão, estacionaram o carro em um dos trechos da plantação.
 
Stephanie explica que entre 6h e 9h, as flores estão mais bonitas, e voltadas para a BR. “A gente adora. Até os parentes, que nos visitam de São Paulo, querem vir fotografar também”, comenta. “É muito lindo.” Eles não são os únicos. Casais apaixonados, famílias, amigos, crianças, fotógrafos profissionais, todos querem aproveitar o cenário de filme para garantir uma bela imagem.
 
Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, Alan da Silva e Stephani Santos veem os campos de girassóis  
Diariamente, no caminho de casa para o trabalho, Alan da Silva e Stephani Santos veem os campos de girassóis
 
 
Os advogados Irair Alves, 28 anos, e Cristiano Meira, 44, são proprietários de um haras no DF e resolveram usar o local para divulgar um produto. Bastou colocar o acessório em uma das flores, e pronto. “Vamos sortear um boné nas nossas redes sociais, e espero que a foto ajude”, afirma Irair. Claro, ela também aproveitou para ter fotos pessoais. Como o casal passa por lá com frequência, já viu os mais diversos modelos em meio aos girassóis. “Sempre tem ensaio fotográfico de noiva, gestante. Mas o melhor horário é durante o pôr do sol. Isso aqui fica cheio de gente”, conta Cristiano. “Em alguns dias, já vi até 40 carros parados.”
 
Os que descobrem o lugar e vão pela primeira vez se encantam. Tayanne Rodrigues, 27 anos, é fotógrafa e soube da florada pelas redes sociais. “A experiência foi excelente, mas os girassóis estão quase no final”, lamenta. Ela levou a irmã, a maquiadora Olga Modrack, 25, e a militar Ana Caroline Araruna, 30, para usar como modelos. “Com certeza, indico a experiência a todos. Mas é importante lembrar de usar protetor solar e repelente, porque tem muito mosquito e abelha”, aconselha.
 
Irair Alves e Cristiano Meira sempre passam pela plantação de girassóis: é comum encontrar noivas, grávidas e casais fazendo ensaios  

Irair Alves e Cristiano Meira sempre passam pela plantação de girassóis: é comum encontrar noivas, grávidas e casais fazendo ensaios

 

 
O campo
 
Cerca de dois hectares de girassóis estão espalhados dentro e nas proximidades do parque Ivaldo Cenci, onde acontece a AgroBrasília, uma das maiores feiras de exposições de produtos do agronegócio no país. O presidente da feira, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição e um dos atrativos do evento. “O pessoal vem muito, é impressionante. No sábado, tinham mais de 50 carros. No domingo, talvez 100”, calcula. Os campos são plantados pelos produtores vinculados ao parque e à Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF). Depois de encerrada a florada, os agricultores destinam os girassóis para a produção de grãos e óleo.
 
Como a feira deste ano foi cancelada, devido à pandemia do coronavírus, o parque está fechado para fotos. Mas os que ficam do lado de fora estão disponíveis à população. “A gente gosta que as pessoas venham, porque elas veem como é o agronegócio. Não é aquele vilão pregado por muitos. Ali, do lado do girassol, dentro da propriedade, tem trigo, milho, sorgo e batata-inglesa. Isso mostra a diversidade do PAD-DF”, destaca. “É interessante que o público venha ao campo e veja como trabalhamos, nosso cuidado com a natureza. O produtor está cada vez mais preocupado com o meio ambiente.”
 
Quem ainda quiser garantir uma foto ainda este ano precisa correr, porque, segundo Triacca, a florada está na última semana. Para o ano que vem, ele explica que será preciso pensar em uma forma de controlar melhor o fluxo de pessoas. “Como não entendem muito das lavouras que estão ao lado, acabam danificando algumas plantações, como de trigo, que ainda está baixo. Mas a gente vai continuar plantando e disponibilizando gratuitamente para quem quiser fotografar”, garante.
 
O presidente da AgroBrasília, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição  

O presidente da AgroBrasília, Ronaldo Triacca, explica que a plantação começou há cerca de oito anos e, desde então, virou tradição

 

 
Feira de negócios
Com a chegada do novo coronavírus ao DF e a proibição de eventos, este ano, a AgroBrasília será virtual, entre 6 e 10 de julho. No ano passado, a feira movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão para o agronegócio, com a participação de 480 expositores. Este ano, os participantes terão uma plataforma on-line para apresentar seus produtos. Também serão feitas palestras, debates, e os organizadores estudam a possibilidade de leilões de animais.
 

Correio Braziliense segunda, 01 de junho de 2020

CLÁSSICOS NÃO ENVELHECEM

Jornal Impresso

Clássicos não envelhecem
 
O documentário Rock Brasília 2014 Era de ouro será exibido hoje, às 22h, no canal Curta! E mostra uma das fases mais importantes da música brasileira

 


» Lucas Batista*

Publicação: 01/06/2020 04:00

Vladimir Carvalho (Ana Rayssa/CB)  

Vladimir Carvalho

 

 
O diretor com Renato Russo (Ligocki-Z Entretenimento/Divulgação/D.A Press)  

O diretor com Renato Russo

 

 
 
Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, dá entrevista para o cineasta ( Ane Hinds/Divulgação)  

Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, dá entrevista para o cineasta

 

 
 
 
Um retrato diferente, com entrevistas exclusivas e imagens repletas de memórias sobre o melhor momento do rock brasiliense. Tudo isso poderá ser acompanhado hoje, às 22h, no canal Curta!, com o filme Rock Brasília — Era de ouro (2011), do documentarista Vladimir Carvalho.
 
O documentário faz parte de uma trilogia realizada pelo cineasta, contando sobre a história, política e cultura da capital federal. “Eu fiz o Conterrâneos velhos de guerra (1991), longa que marcou minha filmografia, que é a história da cidade que não tinha sido contada até ali, a história de quem construiu Brasília com as próprias mãos: os candangos. Depois, fiz o Barra 68 (2000), que é um filme totalmente político, mostrando a invasão da polícia militar e do exército à Universidade de Brasília (UnB). E, por fim, me voltei para a cultura, que foi uma coisa que transpôs as fronteiras de Brasília, ganhou a mídia e foi até a televisão, justamente o Rock Brasília — Era de ouro (2011)”, conta Vladimir em entrevista ao Correio.
 
O filme retrata a geração de 1980 do rock brasiliense, com as bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. “Nesse ano, completam 40 anos que essa geração surgiu, são bandas que extrapolaram fronteiras e fizeram o rock de Brasília ser conhecido. Eles surgem justamente quando o Brasil está deixando a ditadura e começando a amadurecer a democracia. É muito interessante porque hoje lutamos para manter a democracia, e, naquela época, eles tinham esse entendimento. Não eram propriamente militantes, mas eram pessoas que sabiam o que estava acontecendo”, declara.
 
As primeiras filmagens de Rock Brasília foram feitas 23 anos antes de o filme ser divulgado. Tudo se iniciou em um trabalho que Vladimir Carvalho, que também foi professor da UnB, passou para um roteiro sobre o rock na capital para a disciplina de documentário. “Com esse material, tomei um conhecimento mais próximo sobre o movimento que estava acontecendo na cidade.”
 
No entanto, foi o show da Legião Urbana em 18 de junho de 1988, no Mané Garrincha, que teve papel fundamental para o início das gravações. “O evento foi um marco, porque era o reencontro de Renato Russo com o público de Brasília. Ao mesmo tempo, a plateia queria mostrar que não tinha mais quem segurasse, porque, em 1988, era a afirmação da democracia, eles eram propriamente livres. O show foi muito significativo para a história do rock, pois muitos não concordavam com a postura de Renato, e um cara chega a invadir o palco para pular nas costas e dar uma gravata no cantor. Tudo isso eu filmei e tinha durante esses anos”, relembra Vladimir.
 
O produtor do filme, Marcus Ligocki, não participou do mesmo show que Vladimir, mas se envolveu com a história após a leitura da biografia Renato Russo — O filho da revolução. “Foi muito especial. Eu e Vladimir nos conhecíamos, e eu tinha admiração por ele. Quando eu terminei de ler a biografia de Renato Russo, logo liguei para Vladimir como primeiro reflexo e propus de fazermos o filme. Ele disse que tinha algumas filmagens em arquivo, que poderiam ser utilizadas em um filme, mas foi só o primeiro contato. Tempos depois, demos início, eu tentava achar parcerias com produtoras, mas que acabavam não dando certo, até que o próprio Vladimir propôs de fazermos juntos o filme. Aceitei e foi muito gratificante”, conta.
 
Parceria
 
Ligocki conta que, ao lado de Vladimir, cresceu como profissional, e até participou da primeira parte da edição do filme. “Lembro que precisei aprender a mexer em programas de computador e, no início, fomos apenas eu e Vladimir trancados na ilha de edição. Depois, passamos para o montador, mas esse momento me marcou muito”, recorda.
 
O trabalho do produtor também é elogiado por Vladimir Carvalho: “Eu fiz esse filme graças ao esforço dele. Nunca tive um filme tão bem produzido como Rock Brasília. Tive recursos para pagar contas da realização do filme, tudo isso por conta do Ligocki. Eu tenho nove e estou fazendo o décimo longa-metragem, mas nenhum deles com uma produção tão bem realizada como essa”, diz o diretor.
 
Uma produção bem-feita e com histórias tão fortes, traz memórias inusitadas. Ligocki lembra que a entrevista com Briquet de Lemos, pai dos artistas Fê Lemos e Flávio Lemos, do Capital Inicial, que encerra o filme, foi feita durante a final da Copa do Mundo de 2010. “Tínhamos marcado essa entrevista, que acabou sendo muito importante para o filme. Por isso, iniciamos a entrevista bem mais cedo que o jogo, mas ela foi fluindo, Vladimir estava tão envolvido que o jogo rolou. Ao decorrer da conversa, havia fogos na rua por conta da partida, gritos dos vizinhos, mas a entrevista seguiu plenamente, relembra”.
 
 
» Três perguntas / Vladimir Carvalho
 
Como o senhor avalia o atual cenário do audiovisual de Brasília e do Brasil?
Eu encaro esse momento com muita preocupação e até uma certa angústia. Uma angústia que é de todo um conjunto de pessoas, profissionais e trabalhadores da indústria cinematográfica que está à mercê do desemprego e do desinteresse desse governo. Há muita gente sofrendo, porque foram suspensos praticamente todos os atendimentos. Como exemplo, posso citar a Ancine, que estão quase parada. Hoje, o cinema brasileiro se sustenta justamente porque ele produz recursos para isso. Ele tem uma arrecadação e paga imposto, então, é como se o cinema fosse autossuficiente, ele produz capital e reservas para se autofinanciar. A Ancine é a agência que promove isso, mas está parada, graças a essa guerra que o governo de Bolsonaro faz contra a cultura. Ele enxerga na cultura um bando de esquerdistas e comunistas, é uma visão completamente deformada da realidade, quando, na verdade, o que existe é a cultura brasileira e neste momento, ela padece. Mas nós vamos resistir, já estamos resistindo e vamos sair dessa.
 
Acredita que se houvesse um investimento maior, teríamos mais produção de qualidade?
Claro. O problema é que isso está estacionado. É muito difícil você manter uma comunidade, como a cinematográfica, com o desemprego e pessoas que estão passando necessidade, porque que não tinham recursos e vivem do salário, quando em atividade. Quando o cinema brasileiro estava organizado, fazendo face ao prestígio que angariou anteriormente, veio essa perseguição e destruição do que estava estabelecido. É claro que, havendo a possibilidade de retomada do processo econômico e financeiro, restabelecendo o fluxo dos projetos que estavam aprovados na Ancine, conquistaríamos tudo de volta com tranquilidade.
 
Quais os efeitos mais danosos que a pandemia pode trazer para o cinema brasileiro?
Acredito que o principal será a retomada do público que vai ao cinema. É uma coisa que preocupa, porque hoje os exibidores estão pagando um preço altíssimo, por causa das salas fechadas. Os filmes estão passando, como Rock Brasília, na televisão e em recursos digitais, mas as salas estão fechadas e o hábito de ir ao cinema é saudável, as pessoas sentem falta. Assim que passar a pandemia, o mercado exibidor terá que se mostrar mais uma vez e restaurar esse vínculo com o público.
 
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
 

Correio Braziliense domingo, 31 de maio de 2020

IBANEIS AUTORIZA REABRIR PARQUES E IGREJAS

Jornal Impresso

Ibaneis autoriza reabrir parques e igrejas
 
 
Decreto, publicado ontem, estabelece que as atividades devem seguir recomendações sanitárias específicas, além do uso obrigatório de máscaras e do distanciamento social. Funcionamento de templos será restrito a 25% da capacidade e a pessoas com menos de 60 anos

 

» JULIANA ANDRADE
» THAIS UMBELINO

Publicação: 31/05/2020 04:00

De acordo com o novo decreto, o funcionamento dos parques será entre 6h e 21h, restrito e fiscalizado pelo GDF (Ana Rayssa/CB/D.A. Press)  

De acordo com o novo decreto, o funcionamento dos parques será entre 6h e 21h, restrito e fiscalizado pelo GD

 



O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) publicou, ontem, decreto que autoriza a reabertura de parques e templos religiosos do Distrito Federal. O documento foi publicado em edição extra do Diário Oficial do DF e as medidas entram em vigor na quarta-feira. “Nós estamos abrindo algumas atividades há mais de 60 dias e elas não impactaram na saúde da coletividade”, informou Ibaneis, após receber alta do hospital, ontem (leia Recuperação). De acordo com o decreto, as atividades devem seguir recomendações sanitárias específicas, além do uso obrigatório de máscaras e distanciamento social.

O funcionamento dos parques (leia Parques liberados) será restrito e fiscalizado pela Secretaria de Esportes, pelo Instituto Brasília Ambiental e pelas respectivas administrações dos parques. “Elas (as pistas) serão liberadas somente para as pessoas andarem ou pedalarem”, informou o governador. O funcionamento será entre 6h e 21h. Ficam proibidos qualquer tipo de comércio no local, o uso de equipamentos de musculação e de áreas coletivas, além de banheiros e bebedouros. No Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, haverá circulação de veículos apenas para deslocamento para os estacionamentos 4 e 5, devendo-se converter as vias internas em pistas para pedestres e ciclistas, com regulação do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). “Temos que fazer toda a preparação, como comprar equipamentos para fazer o isolamento dentro dos parques, preparar a fiscalização para que não haja violação e preparar as pessoas”, aponta Ibaneis.

Antes da quarentena, o atleta Vinicius Angelini, 26 anos, costumava frequentar os parques diariamente. Com o fechamento dos espaços, precisou procurar outras opções. Para ele, a reabertura é positiva, porém é preciso ficar atento aos cuidados. “É muito válido abrir os parques, até mesmo pela sanidade mental, não só física. Ficar trancado dentro de casa é massante para qualquer pessoa. Como atleta, a gente está tendo que se reinventar para continuar exercendo nossa profissão da forma mais segura possível”, diz. Ele afirma que pretende retornar a frequentar os parques. “Vou voltar, mas tomando os devidos cuidados. A gente não pode negligenciar também. Se tivermos senso comum, conseguimos frequentar esse lugares sem colocarmo-nos em risco”, completa.

A bióloga Camille Peter, 28, concorda com a abertura dos parques. Para ela, desde que as pessoas respeitem o distanciamento social, não há problema em frequentar esses espaços. “No fim de semana, a Praça do Cruzeiro fica cheia de gente que vai lá ver o pôr do sol. Isso é até bom para o nosso psicológico”, avalia. Já a empresária Jessica Andressa de Moraes, 25, acha a medida perigosa. “A gente não tem maturidade para sair em um lugar cheio de gente. Tem que ter alguma política de controle, não pode simplesmente liberar”, opina.

Eixão e academias

A expectativa é de que, até a próxima semana, o Eixão do Lazer também volte com a programação normal de domingo, das 6h às 18h, anunciou o governador. “Quero ver se, para o Eixão não acumular, também no final de semana, a gente feche a W3 para ter dois pontos de encontro. Então, a gente poderia ter a W3 Sul fechada, juntamente com o Eixão, evitando aglomerações”, pondera Ibaneis.

Os espaços ao ar livre serão as principais alternativas para as pessoas se exercitarem, pois a reabertura das academias segue em análise e sem previsão de data, devido à dificuldade na fiscalização dos estabelecimentos. “Você tem que saber qual a condição de sanidade que se tem dentro das academias. Uma coisa é você cuidar das academias de grande porte, que têm condições de fazer um processo de higienização maior, de contratar mais funcionários. Nós temos academias que são de pequeno porte, que atendem à população de baixa renda, e que nós sabemos que não têm essas condições”, explica o governador. “Eu tenho que abrir academia no momento em que tiver segurança para todos”, acrescenta.

Templos religiosos


O retorno do funcionamento de templos religiosos foi limitado a espaços que comportem mais de 200 pessoas, que poderão abrir com 25% da capacidade total de público. “A gente coloca um número mínimo, com distanciamento de 1,5 m e uma fileira de bancos para cada um”, explica. Neste primeiro momento, o governador apontou que não há possibilidade de abrir igrejas pequenas devido a questões sanitárias. “Espero que haja compreensão de todos os líderes religiosos, e com o passar do tempo vamos diminuindo esse percentual, até que a gente tenha a normalidade”, explica.

Os estabelecimentos deverão disponibilizar, na entrada, álcool em gel 70% para higienização de mãos e calçados, e demarcar os lugares dos fiéis. Outra medida de segurança será a medição da temperatura ao entrar, além de protocolos sanitários de limpeza do local. Idosos com idade superior a 60 anos, crianças com idade inferior a 12 anos e pessoas do grupo de risco não poderão entrar. A realização de cultos, missas e rituais também estão permitidas em estacionamentos, desde que as pessoas permaneçam dentro dos veículos, com distância mínima de dois metros entre cada.

A Arquidiocese de Brasília recebeu com satisfação a notícia. De acordo com o coordenador, padre João Firmino, a medida traz esperança para o coração dos fiéis e é um desafio para a comunidade católica. “Vamos fazer as pessoas se acostumarem com as novas medidas, e administrar as paróquias. Sabemos que algumas (igrejas) não vão conseguir retornar de imediato, mas será feito todo um trabalho para todos se adaptarem a essa nova realidade”, comenta. Apesar da restrição da capacidade, Josimar Francisco  da Silva, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos, também comemorou a medida. “Ficamos felizes com o decreto, mas lamentamos que muitas unidades tenham ficado de fora. Esperamos que, aos poucos, o governador ajuste a medida”, torce.

O retorno das atividades acontecerá de forma gradativa. “Nós estamos analisando, a cada ciclo de 14 dias, o que pode ser reaberto”, informa Ibaneis. Apesar do novo recorde de mortes (10 óbitos em 24 horas), registrado na sexta-feira, o chefe do Executivo informou que vai manter o cronograma de atividades de reabertura. "Nós temos que avaliar isso não pela quantidade, mas em termos percentuais. Pela curva que nós temos desde o início, em termos percentuais, o DF está abaixo. Se a conscientização for feita, nós temos todas as condições de manter a reabertura do comércio, das atividades, de forma gradual, como estamos fazendo, até chegar lá no mês de julho, quando se atingir o pico, com toda a tranquilidade, voltando tudo ao normal, e no mês de agosto retornando às aulas", disse.

Ibaneis também tranquilizou em relação à infraestrutura de saúde da capital “Esta semana, nós devemos ganhar mais 50 leitos de UTI. A população do DF pode ficar tranquila, porque nós temos condições de atender a todos”. Segundo o governador, a previsão é de que o hospital de campanha da Papuda seja entregue em 10 de junho.


  • Parques liberados

     1. Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek
    2. Parque Ecológico do Paranoá
    3. Parque Recreativo do Gama (Prainha)
    4. Parque Ecológico do Gama
    5. Parque Ecológico Sucupira (Planaltina)
    6. Parque Ecológico do Lago Norte
    7. Parque Ecológico da Asa Sul
    8. Parque Ecológico Olhos D’água
    9. Parque Ecológico Ezequias Heringer (Guará)
    10. Monumento Natural Dom Bosco (Lago Sul)
    11. Parque Ecológico de Águas Claras
    12. Parque Ecológico do Riacho Fundo
    13. Parque Ecológico do Areal (Arniqueiras)
    14. Parque Ecológico Veredinha (Brazlândia)
    15. Parque Ecológico do Cortado (Taguatinga)
    16. Parque Ecológico 3 Meninas (Samambaia)
    17. Parque Ecológico do Tororó
    18. Parque Ecológico das Copaíbas (Lago Sul)


  • Coleta seletiva

    A edição extra do Diário Oficial, publicada ontem, também autorizou a continuidade dos serviços de coleta seletiva e triagem de resíduos recicláveis. O texto autoriza o recebimento de resíduos sólidos recicláveis nas Instalações de Recuperação de Resíduos e a triagem nas usinas de compostagem do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Para a autorização, os prestadores de serviços deverão apresentar um plano de segurança e prevenção de risco para cooperados, associados e trabalhadores, a ser avaliado pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde e aprovado pelo SLU. 


    Governador Ibaneis Rocha anunciou, ontem, o decreto, após receber alta do hospital (Renato Alves/Agencia Brasilia)  

    Governador Ibaneis Rocha anunciou, ontem, o decreto, após receber alta do hospital

     

  • Recuperação

    Após quatro dias internado, o governador Ibaneis Rocha recebeu alta do hospital na manhã de ontem e disse que “tudo correu bem”. Ele foi internado na segunda-feira e submeteu-se a um procedimento cirúrgico de urgência no intestino delgado. Após apresentar recuperação favorável e passar por ampla avaliação clínica, laboratorial e por exames de imagem, ele seguirá com acompanhamento médico domiciliar.

Correio Braziliense sábado, 30 de maio de 2020

GILBERTO DIMENSTEIN SE ENCANTOU, AOS 63 ANOS DE IDADE

Jornal Impresso

Gilberto Dimenstein, 63 anos

 

Publicação: 30/05/2020 04:00

Dimenstein falou abertamente sobre a batalha pessoal contra um câncer agressivo (Reprodução/Youtuber
)  

Dimenstein falou abertamente sobre a batalha pessoal contra um câncer agressivo

 




De óculos, nos anos 1980, organizando os trabalhos no Correio. Liana Sabo (D) observa (Zileika de Souza/CB/D.A Press
)  

De óculos, nos anos 1980, organizando os trabalhos no Correio. Liana Sabo (D) observa

 




O jornalista Gilberto Dimenstein morreu ontem, em São Paulo, aos 63 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde agosto de 2019, e teve passagens marcantes por Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e CBN. Nos últimos tempos, além do comentário diário na rádio, se dedicava ao site Catraca Livre, até se retirar para dar andamento ao tratamento. Amigos, autoridades e colegas de trabalho prestam homenagens nas redes sociais.

Há poucas semanas, Dimenstein falou sobre a experiência de descobrir a doença. “Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você ganha ao se deparar com o limite da vida. Não queria ter ido embora sem essa experiência”, relatou.

“Grande parte da minha vida foi marcada pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, assinar matéria na capa, o tempo todo pensando no próximo furo. É como se estivesse passando por um lugar lindo num trem em alta velocidade, vendo tudo borrado. Quando você tem um câncer (ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo muito agressivo), não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno”, ensinou.

Em abril, no meio da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, Dimenstein ganhou destaque na imprensa por abrir mão de 100% dos lucros para evitar demissão de funcionários. “Acho que o exemplo sempre vem de cima”, comentou.

Paulista, nasceu em 28 de agosto de 1956. Se formou em jornalismo pela Fundação Casper Líbero, foi chefe da agência de notícias da Folha, atuou como repórter de vários veículos, como a extinta Última Hora, e foi comentarista da rádio CBN.

No Correio

Dimenstein trabalhou no Correio, no início da década de 1980. Em 12 de outubro de 1983, o jornal publicou, em três línguas (inglês, francês e português), um caderno especial sobre a África. Sob coordenação de Gilberto e dos jornalistas Walter Sotomayor e Liana Sabo, a edição analisava as perspectivas na relação entre Brasil e África. O suplemento foi produzido por ocasião da visita do presidente João Baptista Figueiredo ao continente e distribuído para países como Senegal, Cabo Verde, Nigéria e Argélia.

“Éramos muitos jovens, mas Gilberto tinha a dimensão exata sobre o trabalho que repercutiria em outros continentes, já que a nossa versão foi traduzida para o inglês e francês, e distribuída pelo Itamaraty em seus postos avançados pelo mundo. Era como se conquistássemos leitores mundo afora. Saudades de Dimenstein!”, lembra Sabo, repórter e colunista do Correio.

O jornalista também escreveu e traduziu livros para diferentes idiomas, como A Guerra dos Meninos, A Democracia em Pedaços e O Cidadão de Papel, vencedor do Prêmio Jabuti em 1993, mais importante reconhecimento editorial do país. Em 2007, foi apontado pela revista Época como uma das cem personalidades mais influentes do Brasil.

Em 2008, criou o portal Catraca Livre, com foco em temas culturais, cidadania e educação, e tem forte presença nas redes sociais. No Facebook, somente a página principal do veículo conta com cerca de 10 milhões de seguidores.

Homenagens
Colegas de imprensa usaram as redes sociais para lamentar a morte de Dimenstein. Vera Magalhães, colunista de O Estado de S.Paulo e apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura, disse que é “uma perda imensa para o jornalismo brasileiro. Um homem íntegro, inspiração para minha geração, que lutou até o fim contra uma doença cruel. Que descanse em paz e que seus familiares e amigos encontrem conforto naquilo que acreditam e uns nos outros”.

Míriam Leitão, colunista de O Globo, da Globo News e da CBN, comentou: “A perda de Gilberto Dimenstein é gigante para o jornalismo. Ele revolucionou a forma de fazer o nosso ofício. Fez sucesso muito jovem, sempre foi um inteligente analista da vida nacional. Depois foi abrir novas fronteiras como o @catracalivre. Saudades imensas”.

Mônica Waldvogel, comentarista e apresentadora da Globo News, se manifestou: “#RIP Gilberto Dimenstein. Sua contribuição ao jornalismo e ao país é inestimável”. Joel Pinheiro da Fonseca, coluista da Folha, disse que “Gilberto Dimenstein se foi hoje. Um grande nome do jornalismo brasileiro. Descanse em paz”. Já o articulista de O Globo e editor Carlos Andreazza relatou que “não chegamos a nos encontrar, mas estivemos próximos, nos últimos meses, em função de livro — sobre sua experiência com o câncer, que enfrentava com bravura e bom humor — que preparava para mim, encomendado depois de lindo artigo que publicou na Folha”.

O governador de São Paulo, João Doria, também se manifestou: “Lamento profundamente a morte de Gilberto Dimenstein, um dos principais expoentes do jornalismo brasileiro. Inquieto e dinâmico, deu voz a atores antes excluídos do debate nacional. O jornalismo e a sociedade perdem um olhar humanista e solidário”.


Correio Braziliense sexta, 29 de maio de 2020

ENFIM, LÁGRIMAS DE ALEGRIA

Jornal Impresso

Enfim, lágrimas de alegria
 
 
Mulher de 28 anos é a primeira paciente com o novo coronavírus a deixar a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Rosilaine Bueno passou 10 dias respirando por ajuda de ventilação mecânica. "Eu achei que não fosse sair", comemora

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/05/2020 04:00

Inicialmente, Rosilaine foi diagnosticada com dengue. No HUB, veio a confirmação para o novo coronavírus (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Inicialmente, Rosilaine foi diagnosticada com dengue. No HUB, veio a confirmação para o novo coronavírus

 

 
Em meio a lutas diárias contra a covid-19, ontem, a cena na porta do Hospital Universitário de Brasília (HUB) era de agradecimento. Com aplausos, balões, faixas e música, a corretora de imóveis Rosilaine Bueno, 28 anos, deixou a unidade hospitalar após vencer o novo coronavírus. Se as máscaras de proteção tapavam o sorriso, as lágrimas e o olhar não escondiam a alegria nos olhos das pessoas presentes. A mulher foi recebida por parentes, que saíram de Luziânia (GO), para o reencontro. O pai, emocionado, ajoelhou-se ao ver a filha ganhar alta. 
 
Rosilaine foi a primeira paciente a sair da unidade de terapia intensiva (UTI) do HUB, após 13 dias internada na unidade. “Eu achei que não fosse sair. Tive três paradas cardíacas e voltei”, conta. Rosilane foi recebida na porta do hospital pelo pai, pela mãe e pela filha, entre outros parentes. Pessoas com as quais não mantinha contato desde o primeiro dia de internação. Para ela, o que a manteve firme foi a fé e o apoio dos profissionais da saúde. “A equipe médica é muito boa, eles supriram isso. Eu senti muita falta da minha família”, destacou. 
 
A corretora de imóveis não tem comorbidades e afirma não saber onde contraiu o vírus. Ela foi diagnosticada com dengue e logo começou a sentir os sintomas da covid-19. Ao procurar o Hospital Regional do Gama, em 14 de maio, Rosilaine passou a ser um caso suspeito da doença, mas com a piora do quadro foi transferida, no dia seguinte, para o HUB, onde foi confirmada a infecção pelo novo coronavírus. No hospital universitário, a corretora chegou em estado grave e precisou ser entubada. Rosilane passou 10 dias respirando por ajuda de ventilador mecânico. 
 
Durante o período de internação, a família era diariamente atualizada sobre o estado de saúde da filha por uma psicóloga do hospital. Emocionada, a mãe lembra os dias de angústia. “Foi um medo muito grande, medo de perda”, recorda a educadora Gerlane Bueno, 45. “Ficamos muito ansiosos, mas conversava com ela nas minha orações. Dia após dia, Deus nos fortaleceu”, completou a educadora. O pai também destaca os momentos de nervosismo que, ontem, abriram espaço para a alegria. “É um sentimento de alívio e vitória. Passamos por dias difíceis. É algo que eu não desejo para ninguém”, ressalta o empresário Gilson José Bueno, 54. A saída da filha do hospital ocorreu um dia antes do aniversário dele. “É o maior presente do mundo, ter a minha filha renascida”, comemorou.
 
No carro, a família, emocionada, deixou o hospital sob aplausos. Rosilaine vai continuar sendo acompanhada pelos médicos e está com consulta ambulatorial agendada. A mulher também foi orientada a ficar em casa nos próximos dias e seguir as medidas indicadas para a população, como o isolamento social e a higienização. “Agora vou me atualizar, ver como estão as coisas, me isolar e seguir a vida”, destacou. 
 
Gratidão 
A emoção contagiou parte do hospital, que parou para ver Rosilaine sair da internação. Também com os olhos cheio de lágrimas, a equipe médica foi fortemente aplaudida. Entre as homenagens, um cartaz da família estampava a gratidão deles pela equipe. A mãe de Rosilaine destacou a importância dos médicos, enfermeiros e técnicos, não só no tratamento da filha, como no combate à covid-19. “Quero agradecer a todos os profissionais da saúde pela dedicação e pelo esforço. Eles também estavam na nossas orações”, ressaltou. 
 
A chefe do pronto-socorro Álida Santo fez questão de agradecer aos 110 integrantes da equipe que lutam diariamente contra a doença. Para ela, ver a primeira paciente a deixar a UTI proporciona um misto de emoções. “É um sentimento de alegria, de vitória, mas ainda tem muita coisa para fazer. Essa situação pode durar muito tempo”, diz. Sobre o carinho da família, ela destaca: “É o nosso conforto e o que nos ajuda a não desistir". 

Correio Braziliense quinta, 28 de maio de 2020

SHOPPINGS REABREM COM FILAS

Jornal Impresso

Filas para entrar nos shoppings
 
Estabelecimentos controlaram a entrada de pessoas para medir a temperatura e fiscalizar o uso de máscara, o que gerou aglomerações do lado de fora. Dentro, porém, movimento foi baixo, com praça de alimentação bloqueada e entretenimentos proibidos

 

ALAN RIOS

Publicação: 28/05/2020 04:00

Movimentação dentro do Conjunto Nacional foi considerada baixa. Lojas de aparelhos eletrônicos foram os estabelecimentos mais visitados (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Movimentação dentro do Conjunto Nacional foi considerada baixa. Lojas de aparelhos eletrônicos foram os estabelecimentos mais visitados

 

 
O Distrito Federal registrou ontem, às 13h, diversos pontos de filas durante a reabertura dos shoppings centers da capital. O retorno desse segmento do comércio estava sendo aguardado com expectativa por lojistas e clientes, que encontraram um cenário inimaginável há dois meses. Enquanto o lado de fora era marcado pela aglomeração em estabelecimentos mais movimentados, o lado de dentro ainda tinha algumas lojas fechadas, áreas de entretenimento bloqueadas, praça de alimentação funcionando com restrições e pouca movimentação. Seguindo os protocolos estabelecidos em decreto para combate à covid-19, uma pessoa entrava por vez em cada portão disponibilizado. Seguranças mediram a temperatura, fiscalizaram o uso de máscaras e forneceram álcool em gel.
 
A população, sempre de máscara, que saiu de casa e compareceu à reabertura se dividiu entre quem acha positiva e quem acha negativa a volta do comércio. Ledijane Maria da Silva, 50 anos, foi ao shopping com o filho, mas disse acreditar que esse momento talvez não seja o ideal para o retorno das atividades. “Só fui por uma emergência, que não dava para resolver de casa. Acredito que agora os casos de coronavírus vão aumentar, mas sei que é difícil ter uma solução para isso, porque muitos dependem do trabalho”, conta a secretária. Ela também afirmou se sentir um pouco mais segura com os protocolos tomados pelos shoppings. “É bom saber que estão medindo a temperatura, fornecendo álcool em gel. Mas não tem como ficar 100% protegido”, avalia.
 
Lojas de aparelhos de tecnologia e de operadoras de celular foram as que registraram mais clientes. Yolanda Pereira, 48, precisou ir a esses estabelecimentos para ter acesso a serviços que não conseguiu on-line. “Eu me surpreendi com a quantidade de pessoas na fila. Fico um pouco apreensiva, mas acho que vão ter pontos positivos e negativos dessa abertura. É bom que agora conseguimos fazer muitas coisas que não davam para fazer de casa, pelo telefone, mas isso pode espalhar mais o vírus também”, considera a recepcionista.
 
Teve também quem considerou a flexibilização boa por conta da saúde mental durante o período de isolamento, como Sonia Ribeiro, 47. “Ir à rua pode ser perigoso por conta do coronavírus, mas ficar em casa esse tempo todo é estressante, causa até depressão. E como tinha muita gente perdendo emprego com o comércio fechado, essa volta é muito boa. Achei estranho ver a praça de alimentação sem cadeiras, ter essa fila para medir a temperatura, mas são coisas necessárias”, pontua a dona de casa. 
 
Adaptações
A rotina dos shoppings está sofrendo modificações para se adaptar ao novo cenário. Empresários vão avaliar o fluxo de clientes desta primeira semana, para pensar em mais ações de preservação da saúde dos compradores e mais estratégias de venda que não provoquem aglomerações em lojas. A gerente de livraria Fernanda Passos, por exemplo, conta que o estabelecimento dela fez deliveries durante o período de fechamento dos shoppings e agora vai avaliar os próximos dias para construir mais estratégias. “Vamos sentindo como será essa volta e pensando no futuro de pouco em pouco”, analisa. Ester Gonçalves também é lojista em um shopping e considerou o retorno das atividades um alívio. “Foram mais de dois meses sem renda e com as contas chegando. Então, foi difícil conter a ansiedade”, disse. 
 
Mas, representantes do setor ressaltam que o momento exige mais cautela do que de comemoração, como explicou Giuliano Bragaglia, superintendente do Conjunto Nacional. “Ficamos felizes com a reabertura, mas não é um clima de festa. Queremos um retorno gradativo e responsável, priorizando a saúde das pessoas”, avalia.
 
O cenário atual também conta com a tecnologia como aliada. No Pátio Brasil, câmeras termográficas fazem a triagem da temperatura corporal de quem entra, detectam pessoas sem máscaras e contabilizam o número de frequentadores. “É um equipamento chinês de alta tecnologia que dá segurança e conforto, porque não precisa ficar se aproximando muito de alguém ou demorando para avaliar a temperatura, por exemplo”, explica Paulo Henrique Chaves, diretor da empresa Setec. Renato Horne, superintendente do Pátio, acrescenta que a prioridade, agora, é dar segurança aos clientes e funcionários.
 
 
 
 
Palavra de especialista
 
“Temos alguns problemas nesse retorno, porque tem regra difícil de ser cumprida. Tudo bem que estamos observando as pessoas com a temperatura testada, recebendo álcool em gel, mas como garantir o distanciamento de quem está dentro do shopping? Também é preciso lembrar que uma pessoa pode estar com coronavírus e não apresentar febre.
A questão dos testes é outro ponto. O exame rápido que está sendo realizado com comerciantes dificilmente verifica o caso agudo, ou seja, aquele que está no começo e está sendo transmitido para outras pessoas. O ideal seria realizar o teste de PCR a partir do quarto dia de sintomas. Então, pode ser temerário flexibilizar agora. Por fim, temos que ter em mente que essa é uma via de mão dupla. O comércio pode voltar a fechar se o impacto for muito negativo.”
 
Ana Helena Germoglio, infectologista Hospital Brasília
 
 
 
 
Atenção redobrada
 
A Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio) realizou uma análise do primeiro dia de reabertura dos principais shoppings do DF. “Os estabelecimentos seguiram rigorosamente as normas de segurança, as lojas estavam com poucos empregados, os comércios de celulares estavam mais cheios e muito empresário não abriu, porque não tinha estoque. Só o cumprimento das obrigações de saúde vai permitir que se avance na reabertura de mais segmentos. Então, estamos empenhados nisso. Fizemos testes de covid-19 em 3 mil funcionários em dois dias e a meta é examinar 10 mil até sexta-feira”, sintetizou o presidente da Federação, Francisco Maia. A associação ainda detalhou a volta dos principais shoppings, confira:
 
ParkShopping
 
Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários que foram alocados para organizar a entrada do público. A todo momento, eles chamavam a atenção dos clientes para manter o distanciamento de dois metros
 
Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada
 
Pátio Brasil
 
Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários, que foram alocados para organizar a entrada do público
 
Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada
 
Conjunto Nacional
 
Filas: grandes filas, sendo controladas por marcação no chão e por funcionários
 
Funcionários: luvas e máscara estão sendo disponibilizadas aos colaboradores, que terão a temperatura aferida a cada 4 horas de jornada de trabalho
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: foi contratada uma empresa especializada em desinfecção. O empreendimento recebeu, ainda, lixeiras exclusivas para o descarte de máscaras
 
Brasília Shopping; JK Shopping; Taguatinga Shopping e Terraço Shopping
 
Filas: sem muita movimentação
 
Funcionários: todos usando máscaras, oferecidas pelo próprio estabelecimento
 
Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara
 
Movimentação: abaixo do normal
 
Higienização: reforçada

Correio Braziliense quarta, 27 de maio de 2020

IPÊS - A ESPERANÇA COLORIDA

Jornal Impresso

A esperança colorida
 
A estação fria antecipou a florada dos ipês, e as árvores repletas de flores roxas começam a colorir a cidade. Queridinhas dos brasilienses, essas árvores prometem show de cores pelo menos até outubro

 

JULIANA ANDRADE

Publicação: 27/05/2020 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Lilia Viana: o ipê-roxo tatuado como forma de carinho à cidade (Arquivo pessoal)  

Lilia Viana: o ipê-roxo tatuado como forma de carinho à cidade

 



A floração dos ipês-roxos, espalhados em diversos pontos da cidade, anuncia que está aberta a temporada das cores na capital. A cada época, um tipo de ipê apresentará suas belezas nos próximos meses: roxo, amarelo, branco e rosa. Começando pelas árvores de coloração roxa, a espécie todo ano se encarrega de enfeitar o Distrito Federal durante a seca. Neste ano, o ipê-roxo resolveu florir antes do previsto, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
 
A servidora pública Ana Silvia Pires, 50 anos, se surpreendeu ao ver o ipê próximo à sua casa florido. Ela conta que, ao sair para trabalhar de bicicleta, ficou encantada ao se deparar com a árvore cheia de flores. “Quando trabalhava no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), via aquele monte de ipê no caminho, pois o Eixo Monumental é cheio. Agora, trabalhando no Cruzeiro, também têm uns pelo caminho. Na segunda, quando fui trabalhar, vi o ipê todo florido. Ano passado, ele demorou muito a dar flor”, lembra. Ana destaca que estava com saudade de pedalar debaixo das árvores cheias de pétalas coloridas.
 
A antecipação da florada é devido às baixas temperaturas registradas na capital, como explica o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva. “Eles floresceram mais cedo em função do período de frio antecipado e da alta umidade, pois esse ano está chovendo até mais tarde. Isso é algo atípico”, afirma. Geralmente, a espécie começa a florir em junho e segue até julho. O fator climático ainda pode fazer com que as árvores floresçam mais de uma vez. “A primeira vem com menos intensidade, e a segunda, mais carregada. Nos últimos três anos, a floração dos ipês tem sido diferenciada, bem carregada”, completa o especialista. As flores permanecem nos galhos no período de 18 a 30 dias.
 
Os próximos ipês a aparecem serão os amarelos. A espécie, normalmente, floresce a partir de julho, permanecendo até agosto. As flores desta época são as preferidas da tecnóloga em radiologia Gizele Sousa, 36. Mas enquanto elas não nascem, fica apreciando as pétalas roxas. “Eu moro na cidade há cerca de 15 anos. Para mim, o ipê é o que traz cor ao cerrado, nessa época de inverno e seca. Eles dão um contraste muito bonito com o céu. O roxo mesmo é lindo, mas o meu preferido é o amarelo”, destaca.
 
O ipê é uma árvore típica do cerrado e pode ser encontrado também na Mata Atlântica. O Distrito Federal tem cerca de 230 mil mudas da espécie plantadas pelo Departamento de Parques e Jardins. Destas, 30 mil foram cultivadas no início de 2020 e outras 90 mil devem ser semeadas até o fim do ano, de acordo com a Novacap. A expectativa do departamento é chegar a 1 milhão de ipês pela cidade, como determinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), segundo Raimundo Silva.


Gizele:  

Gizele: "O ipê é o que traz cor ao cerrado, nessa época de inverno. Eles dão um contraste bonito com o céu"

 



 
Na pele
O ipê tornou-se um símbolo para a capital federal. Grande parte da população demonstra carinho pela espécie. Tanto que alguns decidiram registrá-la na pele. A piloto de metrô Lilia Viana, 38, tem um ipê-roxo tatuado no braço. O desenho vem com passarinhos e as letras iniciais dos pais. “É a árvore da vida. Acho linda e sou muito apaixonada. Nas raízes da minha árvore têm as iniciais dos meus pais e também coloquei três passarinhos, representando os meus filhos e o meu marido. Cada um é da cor preferida deles”, afirma. Ela conta que as pétalas roxas são as que ela mais gosta. “Mostra um pouco mais de esperança. Quando tudo começa a ficar cinza, ele vem para dar ânimo, para chamar a atenção”, ressalta.
 
A árvore também foi parar na pele da bancária Lilian Osorio de Paula, 39. Ela tem dois ipês tatuados no ombro: um roxo e outro amarelo. “Eu sou apaixonada por Brasília, nasci aqui e quis fazer algo que lembrasse a minha história e as coisas que eu gosto”, conta. Com os ipês, ela tem a imagem da Ponte JK, da Catedral Metropolitana de Brasília e desenhos de Athos Bulcão, além das iniciais dos filhos. “Eu fui passando tudo para o tatuador, e ele montou o desenho. Queria colocar também os ipês, pois eles marcam bastante. Quem vem a Brasília nesta época fica encantado”, comenta. Ela afirma que a árvore transforma o caminho para ir ao trabalho. Ao passar pelo Eixo, é impossível não notar as pétalas roxas no canteiro central. E aquele trecho, que muitas vezes passava despercebido, ganha um novo olhar para ela. “Nas redes sociais, tenho várias fotos de ipê e do céu de Brasília, minhas duas paixões”, destaca.
 
 
 
 
 
Florações
 
» Ipê-roxo: junho e julho
» Ipê-amarelo: a partir de julho
» Ipê-branco: fim de julho e início de agosto
» Ipê-rosa: fim de agosto a outubro/novembro
 
Fonte: Raimundo Silva, chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap

Correio Braziliense terça, 26 de maio de 2020

DEVOTOS REINVENTAM A FESTA DO DIVINO

Jornal Impresso

Devotos reinventam a Festa do Divino
 
Realizada há 138 anos, em Planaltina, celebração passa por adaptações para manter tradição em tempos de pandemia. No próximo domingo, carreata sairá pelas ruas da cidade para abençoar os fiéis em suas casas

 

» Matheus Ferrari

Publicação: 26/05/2020 04:00

O casal João Pedro e Thalita é responsável pela organização da celebração na Paróquia do Divino Espírito Santo: alternativa para os fiéis manterem a tradição (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

O casal João Pedro e Thalita é responsável pela organização da celebração na Paróquia do Divino Espírito Santo: alternativa para os fiéis manterem a tradição

 



Para Jeferson Queiroz, fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa, e 2020 ficará marcado:  

Para Jeferson Queiroz, fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa, e 2020 ficará marcado: "É uma questão muito estranha. Não podemos ir à igreja e fazer as orações como de costume"

 

 
Mesmo antes de Brasília existir, o vermelho e o branco já coloriam a cidade de Planaltina, em celebração ao Divino Espírito Santo. Mais de um século depois, as bandeiras e procissões não poderão ganhar as ruas da região, como de costume. Entretanto, a tradição de 138 anos não se perderá, mesmo diante do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. A comemoração será reinventada e ocorrerá com uma série de adaptações para evitar que a covid-19 se propague.
 
Tradicionalmente, milhares de pessoas se reúnem para o encontro das bandeiras em frente à Paróquia de São Sebastião, igreja matriz da cidade. Este ano, porém, os “giros da folia” ocorrerão de forma diferente. As principais paróquias de Planaltina organizam cortejos em carro aberto e carreatas para levar a bênção do Divino Espírito Santo até a casa dos devotos.
 
“Não poderíamos deixar de celebrar. A nossa fé acredita na renovação de Pentecoste a cada ano. Pedimos aos fiéis para decorarem suas casas nas cores do Divino para esperar que a gente passe com os símbolos de adoração”, explica a professora Águeda Maria de Lima, 47 anos, devota da Igreja de São Sebastião. No domingo, dia de Pentecostes, os festeiros da paróquia sairão, em carro aberto, entoando músicas e orações pelas ruas do setor tradicional da cidade.
 
A ceia, tradicionalmente servida para mais de 6 mil pessoas e que acontecia no sábado, também passará por adaptação. Os festeiros vão cozinhar marmitas, que serão distribuídas para pessoas em situação de rua. Além disso, a paróquia receberá doações de alimentos não perecíveis, agasalhos e cobertores, para doar a famílias carentes assistidas pela igreja.
 
“Passamos um ano pensando na realização da festa e levando orações às casas das famílias. Mas aceitamos a vontade de Deus e pedimos inspiração para que pudéssemos fazer de uma forma diferente. Estamos carentes por não participarmos das missas e dos momentos na igreja. Porém, estamos vendo que Deus tem um propósito. Cabe a nós aceitar e fazer o que é possível, segundo a vontade dele”, diz Águeda, que participa dos festejos há pelo menos 20 anos.


Em anos anteriores, a Festa do Divino reunia milhares de fiéis na celebração, que iniciava-se no sábado e terminava no domingo  (Carlos Moura/CB/D.A Press - 4/5/18)  

Em anos anteriores, a Festa do Divino reunia milhares de fiéis na celebração, que iniciava-se no sábado e terminava no domingo

 


 (Ed Alves/CB/D.A Press - 16/7/18)  

 (Carlos Moura/CB/D.A Press - 14/5/16 )  


Carreata
 
A carreata organizada pelos devotos da Paróquia do Divino Espírito Santo percorrerá as principais avenidas do Arapoanga, a partir das 8h de domingo. Os fiéis sairão da igreja, e o cortejo contará com um carro de som, de onde o padre abençoará os moradores. “As pessoas gostam muito de fazer esse giro a pé. Mas, este ano, alguns vão de carro e outros ficarão em casa, por causa das recomendações. Vamos percorrer a cidade com a bandeira do Divino, com a pomba símbolo e com os ícones de devoção”, detalha o festeiro João Pedro Esteves dos Santos, 33, da Paróquia do Divino Espírito Santo.
 
O funcionário público e a esposa, Thalita Moreira de Castro, 32, formam um dos dois casais responsáveis pela organização da festa na paróquia. “Quando o giro passar, as pessoas vão ver e reverenciar a bandeira. Participarão de uma forma indireta. Não vai ser como a gente gostaria. Estamos bem tristes por isso, e a comunidade também tem esse mesmo sentimento. Mas tivemos essa ideia de fazer a carreata para que as pessoas tenham essa vivência, mesmo que de uma forma mais afastada”, pontua Thalita.
 
Para o professor Jeferson Queiroz, 28, 2020 ficará marcado entre todos os anos em que participou da festividade. “É uma questão muito estranha. Não podemos ir à igreja e fazer as orações como de costume. Fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa. Mas temos que compreender. Apesar de tudo, a minha fé precisa superar esse momento difícil para, depois, a gente voltar às celebrações presenciais”, conta.

Novenas virtuais
 
A tecnologia é aliada das paróquias para manter a tradição e a celebração ao Divino Espírito Santo, mesmo diante do isolamento social. Com a impossibilidade da realização das missas presenciais, as igrejas realizam as novenas por meio da internet e transmitem, ao vivo, pelas redes sociais.
 
Desde sexta-feira, devotos conectam-se às celebrações on-line das novenas, que se iniciam nove dias antes do domingo pentecostal. Frequentadora da Paróquia de São Sebastião, a professora Janaína Vale, 32 anos, assiste aos ritos com as lembranças das festividades vivas na memória.
 
“Aqui em casa, temos participado da santa missa e, na sequência, das novenas, pela internet. Mas a festa mexe com nosso imaginário e com a nossa fé. Temos a tecnologia, mas a vivência de estar junto, caminhando pelas ruas, orando a Deus e pedindo bênçãos não vai ocorrer, e é muito triste. Para mim, faz muita falta”, conta. No domingo, a Paróquia de São Sebastião celebrará a missa de Pentecostes, às 19h, para encerrar as festividades.


Memória
Celebração centenária
A Festa do Divino ocorre há 138 anos, em Planaltina, como uma das comemorações de Pentecostes, festa católica celebrada 50 dias após a Páscoa. O evento religioso foi instituído em 1321 pela rainha Isabel de Aragão, de Portugal. Com a chegada da Corte ao Brasil, em 1808, a celebração começou a ser realizada no país, onde se mantém até hoje. Trata-se da segunda maior celebração da Igreja Católica, na cidade, rememorando o momento em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.

Correio Braziliense segunda, 25 de maio de 2020

SOLIDARIEDADE QUE AQUECE

Jornal Impresso

Solidariedade que aquece
 
O frio se aproxima e muitos não têm estrutura para se abrigar nas baixas temperaturas. Com o objetivo de ajudar o próximo, entidades e instituições se mobilizam para agasalhar os mais necessitados

 


JULIANA ANDRADE

Publicação: 25/05/2020 04:00

Presidente do Instituto Dona Salomão, Maia Toguchi e a amiga Ivonete Chouas distribuem sopa e agasalhos para pessoas em situação de rua
 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Presidente do Instituto Dona Salomão, Maia Toguchi e a amiga Ivonete Chouas distribuem sopa e agasalhos para pessoas em situação de rua

 

 
Sabe aquele moletom que não serve mais ou aquele cobertor que está há anos enfiado no fundo do guarda-roupa? Para alguns, eles podem não ter mais utilidade; para outros, farão toda a diferença. Com o inverno se aproximando, as manhãs e noites no Distrito Federal começam a esfriar e, enquanto muitos se escondem debaixo das cobertas, outros não têm nem um teto para se abrigar do vento gelado. Entidades e instituições do DF se mobilizam em campanhas de agasalhos — um gesto de solidariedade que aquece o corpo e o coração de quem precisa de assistência.
 
Nas ruas, policiais militares do Distrito Federal têm contato com gente de todas as classes sociais. Vendo de perto o dia a dia de muitas famílias carentes, a PMDF lança anualmente a campanha do agasalho do órgão. Este ano, as arrecadações começaram em 7 de maio.  “A gente sabe a real situação das famílias. Nós nos deparamos com pessoas que passam por necessidades, ainda mais nesta época de pandemia. Tem muita gente precisando de ajuda”, ressalta o porta-voz da PMDF, major Michello Bueno.
 
Entre os donativos, a PMDF pede roupas — para adultos e crianças — casacos, meias, lençóis e cobertas. Os produtos podem ser entregues em qualquer batalhão da Polícia Militar. “Pedimos que as doações cheguem em um saco lacrado, com as roupas higienizadas. Vamos passar álcool na sacola e, depois, trazer para o comando-geral para serem distribuídos”, detalha. Os produtos são destinados a instituições de caridade e a famílias necessitadas. Michello afirma que os policiais nas ruas fazem entregas ao notarem alguém precisando.
 
Trabalho constante
 
Em Ceilândia, o grupo Coletivação também está arrecadando agasalhos. Os voluntários fazem um trabalho social, ajudando pessoas carentes há sete anos. Na época do frio, os agasalhos ganham força nos pedidos. “A política social ainda é muito falha. É muito importante a gente continuar ajudando, fazendo o nosso trabalho. Muitas pessoas passam por necessidade e esta é a época em que elas mais sofrem. O frio aí fora machuca”, destaca Valdemar Antônio da Silva, um dos representantes do projeto. Além da distribuição de roupas e cobertores, o Coletivação distribui sanduíches. Em média, são 60 lanches distribuídos todas as noites, segundo Valdemar. As doações podem ser entregues no Singelo Burger, em Taguatinga Norte.
 
As ações sociais se espalham pelo DF. O projeto BSB Invisível vem fazendo um árduo trabalho de assistência à população de rua – algo que tem se intensificado ainda mais neste período de pandemia. Os voluntários estão arrecadando também cobertores, lençóis, casacos, meias e roupas em geral. “Essa população é esquecida, é invisível para a sociedade. Quem está na rua sofre com o frio, sem contar a facilidade de adoecer neste período”, comenta Pedro Campos, cofundador do BSB Invisível. Para doar, é preciso enviar uma mensagem nas redes sociais do projeto. Os voluntários contam com pontos de entrega em diferentes regiões do DF. “Quem tiver um cobertor ou uma roupa antiga saiba que eles podem ser essenciais para alguém”, enfatiza. Pedro ainda pede que as roupas sejam devidamente higienizadas.
 
Arrecadação em casa
 
Durante a pandemia, muitos evitam sair de casa, porém isso não é motivo para deixar de ajudar. Alguns projeto fazem questão de ir até a casa dos colaboradores para buscar as doações, como a campanha do Instituto Dona Salomão. “A nossa campanha começou na primeira semana de maio. Estamos recolhendo na casa das pessoas para que elas não precisem sair”, ressalta a presidente do instituto, Maia Ben Toguchi.
 
Para Maia, as ações sociais precisam ser ainda mais fortalecidas durante a pandemia da covid-19. “Com o coronavírus, muitas pessoas estão desempregadas, há muitas famílias debaixo de viaduto, inclusive, recém-nascidos e grávidas. Além da pandemia, nós temos problemas internos de pessoas que não têm o que comer ou vestir”, lamenta. Além dos agasalhos, Maia está distribuindo sopa. Para isso, ela conta com a amiga Ivonete Chouas, parceira do instituto.
 
O projeto Abrace o Mundo também adaptou as arrecadações para aqueles que querem ajudar, mas não podem sair de casa. Os voluntários estão com um ponto de entrega na Igreja São José Operário, na Asa Norte, mas também estão disponíveis para buscar os donativos na casa dos colaboradores. Para o presidente do projeto, João Vitor Lemos, o apoio da população nas campanhas é fundamental, ainda mais neste período de isolamento social. “Muita gente na rua vivia da ajuda e, agora, muitos não têm mais como prestar auxílio. Porém, a situação fez surgir muitas iniciativas sociais. Isso é um ponto positivo”, analisa. João pede que os colaboradores lavem as roupas antes de doá-las. O grupo também está recebendo produtos de higiene, alimentos e doações financeiras.
 
A Polícia Militar do DF está recebendo doações em todos os batalhões
 (PMDF/Divulgação)  

A Polícia Militar do DF está recebendo doações em todos os batalhões

 



Como ajudar
 
PMDF
• Entregas em todos os batalhões da PMDF
 
Coletivação
• Entregas no Singelo Burger
• CNJ Bloco C, Lote 17/18, Taguatinga Norte
 
Instituto Dona Salomão
• A equipe recolhe as doações. Basta entrar em contato pelo perfil @institutodonasalomao, no Instagram
 
BSB Invisível
• Confira os pontos de coleta no perfil @bsbinvisivel_, no Instagram
 
Abraçando o Mundo
• Entregas na Igreja São José Operário, na 604 Norte, terças e quintas, das 9h às 12h e das 13h às 16h, e sábado, das 9h às 12h.
• É possível ainda entrar em contato pelo perfil no Instagram: @abraceomundobrasilia
 
Outras iniciativas
 
Riacho Fundo Solidário
• Entregas na Administração Regional do Riacho Fundo I
• Retirada a domicílio pelo WhatsApp (61) 99354-8854
 
Pro-Bem
• Informações de pontos de coleta no perfil @probemsolidario

Correio Braziliense domingo, 24 de maio de 2020

UNIDAS NA ORAÇÃO PELOS FILHOS

Jornal Impresso

Unidas na oração pelos filhos
 
 
Conheça a história de cinco mulheres que não se conhecem, mas estão ligadas por um forte laço. São mães de profissionais de saúde que se encontram na linha de frente de combate ao novo coronavírus. Em comum, elas têm as apreensões diárias e a fé de que nada aconteça à prole

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 24/05/2020 04:00

 
Ildeni de Castro Baião, Maria de Freitas Machado, Arnalda Gardenha Brito Costa, Márcia Regina Barbosa Naves e Eliene Valente de Brito não se conhecem, tampouco trocaram palavras ou compartilharam vivências. Contudo, um substantivo é comum a todas: maternidade. De cada ventre foi gerada uma pessoa que decidiu dedicar a vida ao bem-estar e à saúde do próximo. São médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que hoje, mais do que nunca, unem essas mulheres em uma corrente constante de oração.
 
Apesar das distâncias geográficas — uma vive no interior da Bahia, outra em Goiânia e as outras três em diferentes regiões administrativas do DF — e das distintas personalidades, Ildeni, Maria, Arnalda Gardenha, Márcia Regina e Eliene compartilham as mesmas angústias e preocupações. Diante da escolha profissional dos filhos, principalmente neste período de enfrentamento ao novo coronavírus, cabe a cada uma delas, em seu silêncio, recorrer à fé. Seja na Bíblia, na imagem de Nossa Senhora, seja em alguma oração específica, essas mães buscam a calma para os corações aflitos.
 
Antes, elas podiam controlar os passos, estar do lado para as tomadas de decisões e para oferecer o colo, o abraço e o beijo. Agora, muitas vezes, estão isoladas, lidando também com a apreensão de contrair a doença e sendo monitoradas e fiscalizadas por telefone pelos filhos. “Se acontecer algo comigo, ela não vai pensar duas vezes. Vai querer ficar do meu lado e cuidar de mim como mãe, não vai pensar que pode se infectar e correr esse risco. Eu sei que o lado materno vai falar mais alto”, comenta a médica Kelly Barbosa Fernandes Naves, 36 anos.
 
Neste mês de maio, o Correio conversou com mães dos profissionais da saúde que atuam na linha de frente do combate à covid-19. Entre uma fala aflita que segura o choro e a confiança na proteção divina, Ildeni, Maria, Arnalda Gardenha, Márcia Regina e Eliene agradecem orgulhosas os filhos que têm.
 
 
Da Bahia, Ildeni de Castro Baião reza para que nada aconteça com o filho Widney, que mora no DF (Arquivo Pessoal)  

Da Bahia, Ildeni de Castro Baião reza para que nada aconteça com o filho Widney, que mora no DF

 

 
Ao lado de Nossa Senhora
“É muito preocupante, mas, pelo filho que eu tenho e conheço, eu entrego a Deus. Sei que o Widney está fazendo tudo o que pode, tomando todos os cuidados. Rezo muito por ele e os companheiros dele. Pelas vítimas também. Estamos passando por um momento muito difícil, mas Widney está fazendo um trabalho que gosta de fazer. Ele é muito humano”, afirma Ildeni de Castro Baião, 78 anos.
 
Do município de Remanso, Bahia, ela acompanha o único filho que mora longe da família. Widney de Castro Baião, 41, veio para a capital federal fazer pré-vestibular, em 1998, e por aqui ficou. Há 16 anos, atua na área da enfermagem, principalmente com terapia intensiva, e trabalha tanto na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital de Base de Brasília quanto na UTI do Hospital Regional da Asa Norte, unidade referência no combate à covid-19.
 
“O dia 6 de março foi um divisor de águas para mim. A primeira paciente com o novo coronavírus deu entrada no HRAN no meu plantão. Mesmo há muito tempo trabalhando com paciente crítico, nunca vi uma situação como essa”, relembra o enfermeiro. Na semana seguinte, o pai de Widney foi internado com pneumonia e ele precisou viajar para a Bahia. “Fiquei entre a cruz e a espada. Sabia que estava dentro da janela de contágio, mas precisava ver meu pai e, mesmo com muito receio, conversar com a minha família”, conta.
 
No município de Remanso, ainda não havia casos concretos do novo coronavírus nem, muito menos, informações além do noticiário. “Ele (Widney) chegou e, a primeira coisa que fez, foi conversar comigo e com o irmão dele. Meu coração ficou apertado. A gente não tinha conhecimento de como era”, comenta Ildeni. Aquele fim de semana foi o último contato físico entre a família. O enfermeiro voltou para Brasília e deixou a mãe, o pai e o irmão com as orações.
 
“É um momento difícil que estamos vivendo, mas tudo vai passar. Estamos ficando em casa, não saímos mais pra nada. Quase todos os dias, o Widney liga e conversa conosco. Ele é muito amoroso e preocupado também. Gosta de ajudar as pessoas, de cuidar, de orientar. À Nossa Senhora, estou pedindo sempre que ela tome conta. Por meio dela, como mãe do Senhor Jesus Cristo, é mais fácil chegar a Ele. Estamos nas mãos dela”, acredita Ildeni.
 
 
A técnica de enfermagem Sandra tenta, todos os dias, tranquilizar a mãe, Maria de Freitas Machado, que é cardiopata  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A técnica de enfermagem Sandra tenta, todos os dias, tranquilizar a mãe, Maria de Freitas Machado, que é cardiopata

 

 
“Mãe só acredita vendo”
No começo da conversa, Maria de Freitas Machado, 65, brinca que está rindo para não chorar. Dos cinco filhos, a mais velha, Sandra Freitas de Sousa, 45, é técnica de enfermagem e, há 14 anos, atua no HRAN. “Minha mãe é bem amedrontada. Tem muito medo que eu, ou qualquer um dos filhos dela, pegue a doença. Desde o começo, ela sempre chorava e não queria que eu fosse trabalhar”, lembra a filha. E não demora muito para que Maria comece a relatar os episódios de insônia, a saudade dos encontros no fim de semana e o convívio com a solidão.
 
Maria mora sozinha na região do Pôr do Sol. Cardiopata, ela teve quatro infartos e tem diabetes. Logo, pertence ao grupo de risco do novo coronavírus. Sem poder sair de casa ou reunir a família, o isolamento é um peso a mais. “Tem dias que não consigo comer, só fico dentro de casa pensando, pensando. Eu me apego nas orações, em Deus. Por mais que ela ligue e fale que está tudo bem, fico achando que está acontecendo algo, achando que está doente e não quer me contar por causa do meu problema cardíaco”, detalha a matriarca.
 
Quando Sandra atuava no pronto-socorro, a mãe lidou com angústias e preocupações. “Mas nem tanto igual agora”, pontua. “Ela está dentro do hospital, em contato com tudo, só Deus para ter misericórdia”, acrescenta Maria. Sandra confessa que, no primeiro contato com os casos, ficou atordoada. “É uma doença desconhecida, que você não sabe as consequências”, justifica. O medo, tanto da mãe quanto da filha, é agravado por um quadro de embolia pulmonar que Sandra teve em julho do ano passado. “Também me apeguei muito a Deus. E sempre digo a minha mãe que me cuido direitinho, que as orações dela estão me protegendo. Procuro tranquilizá-la”, afirma a técnica de enfermagem.
 
Questionada sobre o maior desejo, Maria tem a resposta na ponta da língua: “Queria abraçar todos os meus filhos e dizer o quanto amo cada um”.
 
 
Mesmo sob o mesmo teto, Arnalda Gardenha e Lucas Henrique ficam isolados: conversas em cômodos diferentes (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Mesmo sob o mesmo teto, Arnalda Gardenha e Lucas Henrique ficam isolados: conversas em cômodos diferentes

 

 
Filho nota mil
“Para mim, ele é tudo. Tenho muito orgulho. Hoje mesmo, um amigo ligou dizendo que a esposa não estava bem, pedindo a ajuda do Lucas. Rapidinho, ele foi à casa dela e a levou para o hospital. É uma pessoa muito boa, do coração bom, está sempre ajudando os outros. Com todo mundo, ele é do mesmo jeito. Se eu pudesse, daria nota mil para ele”, conta aos risos Arnalda Gardenha Brito Costa, 49. O “ele” a quem Gardenha, como é conhecida, se refere, é o filho Lucas Henrique Brito Costa, 27, enfermeiro que hoje, depois de atuar no Hospital de Base, no Hran e no Hospital Daher, integra a equipe do hospital de campanha montado no Estádio Nacional de Brasília.
 
Os dois moram em uma casa, junto com o outro filho de Gardenha, próximo ao Jardim Botânico, mas Lucas tem um quarto completamente isolado. “Conversamos com ela na sala e eu no quarto, para manter a distância”, brinca o enfermeiro. Se a mãe era preocupada e cuidadosa antes da pandemia, agora “triplicou”. Todos os passos e as rotinas são acompanhados por mensagens e ligações. “Às vezes, ela não entende que somos profissionais, vai ter a gente sempre como filho”, justifica Lucas.
 
Apesar do olhar materno que parece enxergar os filhos como eternos bebês precisando de suporte, Gardenha nunca se opôs à escolha profissional de Lucas. “Quando ele disse que era isso que queria, depois de um estágio no Hospital Brasília, aos 16 anos, eu falei: se é isso mesmo que você quer, segue em frente. O que eu posso fazer é ajudar.”
 
Enquanto a razão controla a fala, o coração está sempre a mil. “Peço para que ele se proteja, tenha cuidado, lave bem as mãos. Fico fiscalizando quando chega em casa para ele trocar de roupa e tomar banho”, detalha. Mesmo sendo do grupo de risco por conta de uma bronquite, quando o assunto é medo, a resposta é imediata: “De ele passar mal, sentir alguma coisa. Vai dando a hora de ele chegar em casa e eu começo a ficar aflita. Peço muito a Deus que dê saúde para ele, rezo toda hora para que nada de mal aconteça. Coração de mãe é assim, sente as coisas”, afirma. Sente tanto que, hoje, dividindo a mesma casa, o que Gardenha mais sente falta — e não vê a hora de poder fazer — é abraçar e beijar os filhos.
 
 
Lucas é o único filho de Eliene Valente de Brito: muita preocupação quando soube que o filho tinha testado positivo para o vírus (Arquivo Pessoal)  

Lucas é o único filho de Eliene Valente de Brito: muita preocupação quando soube que o filho tinha testado positivo para o vírus

 

 
Como uma “estrela-guia” 
“Ele me chama de ‘minha gnoma’ ou ‘minha estrela-guia’. É muito amoroso. Sou muito feliz em ter o Lucas como filho, um presente. Quando é bebê, a gente não imagina o que vai ser. Nunca pensei que meu filho seria médico. Hoje, sou toda orgulhosa. Se eu fosse ficar preocupada, ficaria doida. Um dia ele está no Hran, outro, em Santa Maria. Tudo isso virando horas. No começo, a gente fica angustiada, mas, antes de ser meu, ele é de Deus. Deus sabe quantas pessoas ele vai ter que salvar. É muito empenhado, estudioso”, conta Eliene Valente de Brito, 53.
 
Pela primeira vez, ela e o filho, o anestesista e emergencista Lucas Valente, 29, passaram o Dia das Mães separados. Segundo Eliene, o médico é daqueles que adora reunir a família, os primos, estar presente. “Ele sempre dá um jeito de estar junto, tem esse hábito. Quando não dá, ele fica chateado e pede desculpas”, comenta a mãe. Mais do que uma data comemorativa ou uma ausência física, o ano reservou desafios para uma relação tão estreita entre mãe e filho.
 
Na linha de frente do combate à pandemia, no início de março, Lucas recebeu o exame positivo para o vírus. “Nunca achei que o Lucas fosse ter coronavírus. Quando ele me falou que estava meio gripado e tinha feito o exame, fiquei apavorada. Como assim, no ano que fiquei longe do meu filho, vou perdê-lo? É o único filho que eu tenho. Como será minha vida sem ele? Você leva um choque”, relembra.
 
Ao saber do resultado positivo, Eliene queria, a todo tempo, saber exatamente como o filho estava, se estava tudo bem. “Eu me apeguei naquele salmo: por que te abates, ó minha alma? Para não me abater. Aos poucos, fui ficando tranquila e aliviada. Mas, o monitorava o tempo todo e falava: se você não falar comigo, vou ter que te ligar”, detalha.
 
Apesar da fortaleza que sustenta a estrela de Lucas e das ocupações que Eliene encontra para pensar em outras questões, tem hora que a batida do coração acelera e silencia tudo ao redor. “Não sei como consigo ficar sem vê-lo, ainda mais sabendo de tudo isso. Hoje, que é tão importante aquele carinho, aquela atenção, será que dei total atenção para ele? Só descanso meu coração porque confio muito em Deus. Ele não ia perder a vida naquilo que ele estudou para dar a vida. Lucas sabe o tanto que eu sou apaixonada por ele, como é bom senti-lo, colocar no colo, saber que está aqui.”
 
Para mães de profissionais da saúde como ela, Eliene deixa um recado: “Os nossos filhos estão nas mãos do maior médico, que é Jesus. O amor que damos para eles é muito importante, porque a vida de médico não é fácil.”
 
 
Márcia Regina Barbosa Naves com as filhas, Kelly (esquerda) e Karla: mais de dois meses sem se encontrarem (Arquivo Pessoal)  

Márcia Regina Barbosa Naves com as filhas, Kelly (esquerda) e Karla: mais de dois meses sem se encontrarem

 

 
Separação que dói
Para a engenheira aposentada Márcia Regina Barbosa Naves, 58, Goiânia e Brasília são mais do que cidades vizinhas. Quando bate a saudade da filha, Márcia não mede a distância para, algumas vezes, passar só um período do dia com Kelly Barbosa Fernandes Naves, 36. O trabalho de Kelly, contudo, impôs, desta vez, um afastamento físico que mãe e filha nunca viveram.
 
Formada em clínica médica e com pós-graduação em nutrologia, Kelly trabalha no pronto-socorro e na emergência do Hospital Regional Leste, no Paranoá. No começo da pandemia, não tinha tanto contato com casos confirmados de covid-19. Contudo, com o aumento de infectados, passou a lidar diretamente com o tratamento.
 
“No normal, quando queria, ela vinha para Brasília ou eu me organizava pelo menos um fim de semana no mês para visitá-la. Tem mais de dois meses que não nos vemos. É difícil, mas vejo que está mais difícil para ela. A gente não se falava tanto como fala agora, são três vezes ao dia: acontece algo, ela me liga. Esses dias, ela me ligou, porque um músico estava tocando no condomínio”, detalha a filha. Como médica, Kelly tomou os cuidados para isolar a mãe e a irmã, Karla, em Goiânia. “É horrível, queria ter ido no início da quarentena ficar com ela, mas ela não deixou”, reclama Márcia.
 
Como mãe, a aposentada reconhece que não é fácil lidar com a distância do toque, do cheiro e da companhia. Sobretudo para as duas, que são tão parecidas e amigas. “Mas vejo um lado muito bonito, porque é uma doação. Ela foi doar sangue em um dia de folga, porque os hemocentros estão recebendo poucas doações. Então, a preocupação dela é além de salvar vidas. A medicina é realmente um sacerdócio. Fico muito feliz e tenho muito orgulho dela, de tudo o que ela está fazendo”, pondera Márcia.
 
O lado materno, além das constantes orações, fez com que Márcia conhecesse freteiros Goiânia-Brasília. “Olha a que ponto a gente chega. Fiquei sabendo que um vizinho tinha máscara sobrando, eu comprei pra ela e mandei entregar. Se tenho algo sobrando, dou um jeito de mandar. Busco as roupas dela para lavar aqui. A preocupação é a todo instante, mas é também uma forma de se fazer presente”, justifica.
Apesar de saber que a filha está tomando todos os cuidados necessários, Márcia conhece a filha que tem. “Ela é muito independente, não gosta de preocupar”, descreve. Sensação que Kelly confirma: “Minha mãe sempre foi de querer ser forte, e ela tem medo de que eu faça isso também”.

Correio Braziliense sábado, 23 de maio de 2020

IBANEIS AUTORIZA REABERTURA DE SHOPPINGS

 

Jornal Impresso

Ibaneis autoriza reabrir shoppings

 

» ALEXANDRE DE PAULA
» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 23/05/2020 04:00

Representantes do setor garantem que os shoppings estão preparados para receber os clientes sem colocar a saúde das pessoas em risco (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Representantes do setor garantem que os shoppings estão preparados para receber os clientes sem colocar a saúde das pessoas em risco

 


Os shoppings centers do Distrito Federal estão autorizados a reabrir as portas a partir da próxima quarta-feira. Alguns outros setores do comércio têm permissão para retomar as atividades um dia antes, na terça-feira. Decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e publicado em edição extra do Diário Oficial do DF na noite de ontem liberou o retorno dos estabelecimentos, mas definiu uma série de normas (leia Regras) que deverão ser seguidas para o funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus.
 
O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que foi preponderante para a decisão de liberar os centros comerciais a conclusão do hospital de campanha no Estádio Nacional Mané Garrincha, com 200 leitos. “Abrir um hospital não é fácil”, disse ao Correio. Ontem, a unidade recebeu o primeiro paciente (veja abaixo). O emedebista ressaltou, também, a importância de que a decisão tenha sido tomada com tempo suficiente para que o setor e os empresários possam se organizar.
 
Os shoppings poderão funcionar das 13h às 21h. Para a reabertura, todos os funcionários deverão ser testados. Nas praças de alimentação, só será permitida entregas em delivery e retiradas, sem qualquer consumo nos locais. Cinemas e atividades de lazer continuam sem autorização para abrir. Todos os clientes passarão por medição de temperatura ao entrar e provadores não poderão ser usados.
 
Além dos centros comerciais, o decreto de ontem autoriza o retorno dos alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia às atividades do estágio curricular obrigatório exercidas em unidades de saúde do DF para a atuação no combate à pandemia.
 
Alívio
A reabertura dos shoppings, avalia o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, Glauco Humai, representa alívio para o setor e para os lojistas que atuam nos centros comerciais. “É um oxigênio para nós. Sabemos que não é uma medida salvadora, mas é um início, uma retomada lenta e gradual de um novo caminho”, ponderou. “O GDF optou por essa decisão num momento em que tem mais segurança da robustez do sistema de saúde e do achatamento da curva, nós estamos preparados.”
 
Os shoppings, assegura o presidente, estão prontos para as normas definidas no decreto. “Essas regras vão muito ao encontro do protocolo de operações que desenvolvemos. Hoje, existem 107 shoppings abertos em 55 municípios e todos têm seguido o nosso protocolo.” Para ele, no entanto, é fundamental entender que a operação será diferente neste momento. “É um caminho para um novo normal. Nós e a população precisamos entender isso. O importante é retornar com segurança para evitar a necessidade de se voltar atrás.”
 
De acordo com o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismos (Fecomércio-DF), Francisco Maia, a retomada das atividades comerciais representa uma vitória para o setor. “Após várias reuniões com o governador, conseguimos, felizmente, reabrir os shoppings e algumas lojas. Estamos atendendo, principalmente, a uma reivindicação dos shoppings. O GDF pretendia reabri-lo em 2 de junho, mas conseguimos provar que as lojas estão preparadas para receber os clientes, seguindo as regras de higiene ao pé da letra”, afirmou.
 
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Edson de Castro, acredita que o cenário continuará incerto, mesmo com a liberação dos shoppings. “O sindicato não acredita que este primeiro momento vai ser bom para os lojistas, mas temos que ter essa experiência para saber”, comentou. Pela insegurança do cenário, Edson lembrou que muitos empresários não têm estoque em loja. “Nossa expectativa é de que, em 12 de junho, Dia dos Namorados, as vendas comecem a se aquecer”, disse.
 
O médico especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior Hemerson Luz, que atua nos hospitais de Base e das Forças Armadas, afirma que a reabertura dos shoppings é um assunto que pode ser tratado no Distrito Federal, justamente, porque a taxa de ocupação dos leitos de UTI está abaixo dos 50%. “Isso contribui para manter a baixa taxa de letalidade. Por isso, é possível fazer essa discussão”, explicou. Entretanto, Hemerson frisou que os números devem ser acompanhados diariamente e, caso ocorra alguma tendência de elevação que ameace a capacidade de atendimento, as decisões deverão ser discutidas novamente.
 
 
O que pode ou não abrir 
 
Funcionam sem restrições
 
» Clínicas médicas, odontológicas e veterinárias
» Laboratórios
» Farmácias
» Supermercados 
» Minimercados
» Mercearias
» Lojas de produtos naturais 
» Comércio de hortifrutigranjeiros 
» Padarias
» Fábricas e lojas de panificados 
» Açougues 
» Peixarias
» Postos de combustíveis e lojas de conveniência 
» Comércio atacadista 
 
Funcionarão com restrições das 9h às 17h
 
» Serviços em geral 
» Indústrias extrativas e de transformação 
» Construção civil 
» Atividades gráficas, financeiras, seguros, jurídicas, de contabilidade e de auditoria, de consultoria e de gestão empresarial 
» Atividades imobiliárias, de arquitetura e de engenharia
» Atividades de publicidade e comunicação 
» Agências de viagem 
» Lotéricas
» Comércio da construção civil, ferragens, madeireiras, serralheiras, pinturas e afins
» Bancas de jornais e revistas 
 
Funcionarão com restrições das 11h às 19h
 
» Comércio varejista em geral 
» Lavanderias, tinturarias e toalheiros
» Comércio de combustíveis e lubrificantes (exceto postos)
» Oficinas, mecânicas, lanternagem, pintura e afins
» Floriculturas
» Setor moveleiro e eletroeletrônico 
» Óticas
» Calçados, roupas, corte e costura
» Lojas de extintores
» Artigos esportivos
 
Funcionarão com restrições das 13h às 21h
 
» Shoppings centers e centros comerciais
 
Não podem funcionar
 
» Eventos, de qualquer natureza, que exijam licença do poder público
» Cinemas e teatros 
» Aulas em todas as escolas,
universidades e faculdades
» Creches
» Academias 
» Clubes
» Campeonatos em geral
» Museus, zoológico, parques ecológicos, recreativos, urbanos e vivenciais
» Boates e casas noturnas
» Salões de beleza, barbearias,
esmalterias e centros estéticos 
» Quiosques, food trucks e trailers
» Comércio ambulante
 
 
Regras
 
Confira as normas que deverão ser seguidas pelos shoppings:
 
I – Garantir o fornecimento de equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço
II – Realizar os testes de covid-19, a cada 15 dias, em todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço do shopping center
III – Manter fechadas as áreas de recreação e lojas como brinquedotecas, de jogos eletrônicos, cinemas, teatros e congêneres
IV – As praças e quiosques de alimentação devem permanecer fechadas, autorizando-se exclusivamente os serviços de entrega em domicílio e retirada do produto, vedado o consumo no local
V – Haver medição de temperatura de todos os clientes antes de entrarem no shopping;
VI – Proibido o uso de provadores
VII – O uso do estacionamento deve ficar limitado a 50% (cinquenta por cento) da capacidade
 
 
Memória
 
Idas e vindas na Justiça
 
Na terça-feira, uma decisão judicial abriu caminho para que o GDF autorizasse o retorno das atividades. A Justiça Federal suspendeu determinação anterior, da semana passada, da juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Cível do DF, que escalonava reabertura de estabelecimentos, com intervalo de 15 dias entre os setores. A nova decisão atendeu a recurso apresentado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para revogar o veredito da magistrada. O Ministério Público Federal recorreu.

Correio Braziliense sexta, 22 de maio de 2020

CULTIVO DOMÉSTICO

Jornal Impresso

Cultivo doméstico
 
Além de levar sabor aos pratos com colheita fresca, manter uma horta em casa se mostra uma boa atividade em época de pandemia. A prática melhora o ambiente e a saúde, tanto física quanto mental

 

» Ana Maria da Silva*
» Jonathan Luiz*

Publicação: 22/05/2020 04:00

A administradora Helenice Pereira Cavalcante cultiva e mantém há 10 anos uma horta na varanda do apartamento (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A administradora Helenice Pereira Cavalcante cultiva e mantém há 10 anos uma horta na varanda do apartamento

 



Uma semente não é um álbum de fotografias, mas, para muitos, funciona de forma semelhante. Seja para economizar e manter a vida saudável, seja para decorar o ambiente, hortaliças, ervas e temperos passaram a fazer parte das casas e dos apartamentos dos brasilienses. Além do sabor que trazem aos pratos, muitas famílias adotaram o cultivo de hortas caseiras e passaram a olhar com mais carinho para as plantas. Respirar o aroma, controlar a umidade do ambiente, estimular o corpo e a mente a relaxarem são alguns benefícios que as plantações caseiras trazem, principalmente em tempos de isolamento social.

É o que explica a gastróloga Jennifer Lacerda. “A cozinha tem se mostrado, neste momento, como uma terapia. Muitas pessoas que nunca cozinharam na vida começaram essa prática depois da pandemia e viram que não é um bicho de sete cabeças. É muito simples, na verdade”, afirma. Segundo a especialista, o processo de cultivo ajuda os indivíduos. “A pessoa que faz uma hortinha em casa verá as ervas crescendo, terá o cuidado de molhar, de regar todos os dias e adubar. Isso certamente é uma das melhores terapias”, reforça.

Para Jennifer, os benefícios desse tipo de plantação são imensos: “As pessoas têm em mãos produtos que vão aromatizar, deixar os pratos muito mais saborosos. Além das vitaminas, há muitas que são curativas, calmantes, antioxidantes. É muito bacana ter isso em mãos na hora que você deseja”, ressalta. De acordo com a gastróloga, alface, alecrim, cebolinha, couve, manjericão, salsinha, sálvia, tomate-cereja e tomilho estão entre as opções de hortaliças e ervas simples de serem cultivadas.

Vários são os motivos para se iniciar o cultivo caseiro. Moradora de apartamento, a administradora Helenice Pereira Cavalcante, 59 anos, cultiva plantas medicinais há mais de 10 anos. Alecrim, babosa, manjericão e gengibre fazem parte da plantação. “Eu priorizo esses tipos de hortaliças, pois são as que mais uso. É minha origem interiorana. Cresci em um quintal enorme, sempre tive as plantas ao meu lado”, conta. Para manter o pequeno jardim, a administradora diz que procura deixar a terra bem adubada, além de molhá-la rotineiramente.

Para Helenice, a prática não tem lados negativos. “Eu acredito que os benefícios vão além do prazer. Surge um sentimento de comunidade também. Muitos veem as hortaliças e pedem um pouquinho. Sempre dou alecrim, por exemplo”, reforça. Além do sabor em pratos, Helenice completa que as hortaliças têm várias funções: “Podemos fazer muito com elas. Desde um chá, até um banho, além de poder usufruir cheiros maravilhosos”. No caso daqueles que não contam com espaço na residência, Helenice dá a dica: “Utilize vasos pequenos. Cultive algo que você vai consumir. Essa é a motivação que nos leva a fazer a plantação com a maior naturalidade. Vai além de um enfeite”, acredita.

Parte dos ingredientes das pizzas e dos sanduíches que Danillo Ribeiro vende é cultivada no seu quintal: ajuda do filho (Arquivo Pessoal)  
Parte dos ingredientes das pizzas e dos sanduíches que Danillo Ribeiro vende é cultivada no seu quintal: ajuda do filho


Benefícios

Devido à durabilidade dos alimentos, o comerciante Danillo Rogério Ribeiro, 32, morador de Planaltina de Goiás, decidiu cultivar dentro de casa alguns ingredientes dos sanduíches e das pizzas artesanais que vende. “Quando comprava hortaliças, folhas, entre outros, murchavam e estragavam rapidamente, o que trazia prejuízo. Como tinha espaço, comprei algumas mudas e comecei a plantar em casa”, conta. Ele diz que o manjericão, o tomate-cereja, parte da alface, o alecrim, a hortelã e o cheiro-verde que usa nos produtos são produzidos em seu lar.

Neste momento de isolamento, Danillo aproveita para envolver o filho no cultivo das plantações. “Comemos cenoura, couve, tudo da nossa horta. E agora vamos começar a colocar mais opções, como brócolis, couve-flor e outras proteínas vegetais para substituição animal da alimentação.” Essa atividade mudou os hábitos do garoto. “Ele tem 6 anos e não quer mais comer carne, decidiu ser vegano.”

A economia foi um dos fatores que fez com que a designer de moda Nicolly Primo, 21, iniciasse o cultivo da própria horta. Ela conta que há seis meses optou pela plantação caseira, após se tornar vegetariana. “Os alimentos têm um gosto mais natural, são mais fresquinhos, ajudam a minha família a ser mais saudável. Além de fazer com que eu gaste menos.” Erva-cidreira, laranja, açafrão, tomate, pimenta, feijão e salsinha fazem parte da lista de alimentos plantados em sua casa.

Nicolly explica que o cultivo é feito com as sementes que compra. “Geralmente, planto coisas novas quando o tempo não está tão frio nem muito quente. Sempre irrigo bem o solo antes de plantar algo e cuido das plantinhas todas as manhãs.” Com a ajuda da mãe, a designer incentiva o cultivo. Segundo ela, a prática trouxe benefícios psicológicos. “É algo muito bom, aconselho todos a fazerem. Ajuda você a se conectar mais com a natureza e é algo que desestressa também”, ressalta.

* Estagiários sob supervisão de Sibele Negromonte


  • Dicas de plantio

    » Pesquise sobre cada erva e hortaliça que deseja plantar. É preciso saber, por exemplo, se aquela planta precisa ser regada todos os dias ou se precisa de luz.
    » É necessário saber de quanto em quanto tempo a terra precisa ser enriquecida, colocando, principalmente, adubo de galinha.
    » Algumas ervas desenvolvem-se melhor quando próximas de outras. Às vezes, se estiverem sozinhas, podem não crescer tanto.
    » Caso apareça alguma praga, utilize um adubo de fumo, que é mais natural.

    Em apartamento
    » Uma alternativa são as hortas suspensas. Seja em uma porção na parede da cozinha, seja na área de serviço — desde que bem iluminada. O importante é que as hortaliças estejam bem adubadas. Coloque a semente ou hortaliça em potinhos com terra preta e adubo de galinha para que sejam bem cultivadas. Outra opção são as jardineiras retangulares.

    Em casa
    » É preciso ter atenção às plantações em canteiros. Dê o devido espaço de crescimento entre as plantas para que as raízes não se encontrem. À medida que as mudas forem crescendo, podem ser podadas. Dessa forma, crescem mais fortes.


  • Mão na massa
    A chef de cozinha Jennifer Lacerda dá dicas de receitas para aproveitar as hortaliças da sua horta. Caso queira conhecer mais opções, acesse o Instagram @chefjelacerda

    Purê de batatas com ervas frescas

    Ingredientes
    » 500g de batata-inglesa
    cortada em cubos
    » 150ml de leite
    » 1 colher de chá de sal
    » 2 colheres de sopa de manteiga
    » 2 colheres de sopa
    de salsinha picada

    Modo de preparar
    » Descascar as batatas e colocar em panela com água suficiente para cobri-las.
    » Cozinhar até ficarem macias. Escorrer e espremer.
    » Voltar para a panela com os demais ingredientes, mexendo sempre.
    » Finalizar com a salsinha picada, misturando bem.
    » A salsinha pode ser substituída por alecrim (em menor quantidade), tomilho fresco, sálvia ou outra erva de sua preferência.

    Molho pesto

    Ingredientes
    » 1 maço de manjericão higienizado
    » 1 dente de alho
    » ¼ de xícara de nozes
    » 1 xícara de azeite
    » 50g de parmesão ralado
    » Sal a gosto
    » Pimenta a gosto
    » 1 xícara de tomate-cereja

    Modo de preparar
    » Em um pilão ou mixer, bata todos os ingredientes, exceto o queijo, adicionando o azeite até ficar com textura de molho. Tempere com sal e acrescente o queijo.
    » O molho pesto não deve ser aquecido. Sirva com a massa fria envolvida pelo molho, junte o tomatinho e decore com lascas de parmesão e folhas de manjericão. Use em massas, saladas ou pães.

Correio Braziliense quinta, 21 de maio de 2020

ENEM É ADIADO

Jornal Impresso

Bom-senso leva ao adiamento do Enem
 
Bolsonaro e Weintraub defendiam que era preciso esperar para estabelecer novas datas, mas o Congresso forçou o recuo de ambos. Preocupação é o prejuízo para os candidatos

 

» INGRID SOARES

Publicação: 21/05/2020 04:00

 

Weintraub vinha relutando em postergar a realização do exame, mas se rendeu à evidência que a realização no período estabelecido prejudicaria os estudantes (Antonio Cruz/Agência Brasil)  

Weintraub vinha relutando em postergar a realização do exame, mas se rendeu à evidência que a realização no período estabelecido prejudicaria os estudantes

 

 

 

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, nas redes sociais, o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que seria realizado em novembro, em todo o país. A razão é a pandemia do novo coronavírus e a possibilidade de os efeitos durarem além da reabertura do país, assim que os números de casos e mortes estiverem sob controle. A decisão foi tomada em conjunto com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defendia a postergação das datas.

 “Por conta dos efeitos da pandemia da covid-19, e para que os alunos não sejam prejudicados pela mesma, decidi, juntamente com o presidente da Câmara dos Deputados, adiar a realização do Enem 2020, com data a ser definida”, escreveu Bolsonaro, em uma rede social.

 Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) informaram que decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.

 “Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta sexta-feira, 22 de maio”, diz um trecho da justificativa do Instituto.

 

Logo no início da sessão remota da Câmara dos Deputados, Maia cobrou uma sinalização de Bolsonaro sobre o assunto. O deputado tinha dado até o fim das votações da Casa para que o Executivo se posicionasse ou colocaria em votação projeto que estabelecia o adiamento do Enem.

 

Relutância

 

O comunicado do Inep e a publicação de Bolsonaro sobre o adiamento ocorrem após grande relutância do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em fazer alterações nas datas dos exames. No Twitter, na terça-feira, ele anunciou que consultaria os estudantes virtualmente sobre um possível adiamento, mas, ontem de manhã, já havia mudado de ideia. “Diante dos recentes acontecimentos no Congresso e conversando com líderes do centro, sugiro que o Enem seja adiado de 30 a 60 dias. Peço que escutem os mais de 4 milhões de estudantes já inscritos para a escolha da nova data de aplicação do exame”, escreveu Weintraub em sua rede social.

 A postergação do Enem foi aprovada, na terça, com a maioria dos votos pelo Senado, mas sem estabelecer a nova data. A proposta chancelada pelos senadores prevê que, em caso de estado de calamidade, como o atual, os processos seletivos para a educação superior serão prorrogados.

 Mesmo com as sinalizações dos parlamentares, Bolsonaro ainda resistia. Pela manhã, disse que era “muito cedo” para se decidir sobre o Enem. “Vamos esperar um pouquinho mais, é muito cedo. Nós estamos agora em maio, é novembro (a prova), espera um pouquinho mais para tomar decisão. A prova do Enem, que alguns querem adiar, acho que temos que ouvir os que vão fazer a prova”, disse de manhã para apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.

 Mas até entre a claque a qual se dirigiu, havia quem apoiasse a transferência de datas. A uma apoiadora, que faria a prova, Bolsonaro questionou: “Você quer adiar ou quer deixar em novembro mesmo?”. A mulher rebateu: “Acho que seria melhor adiar”.

 Porém, ele não se deu por convencido. “Adiar para quando? Depois que você adia, você não sabe quando. Opinião minha. Tem pedidos da Câmara, da presidência da Câmara. Parlamentares querem adiar, outros não. Eu te pergunto: a eleição vai ser adiada também? Vamos esperar um pouquinho mais. É muito cedo. Estamos agora em maio, é só em novembro. Espera um pouquinho mais para tomar a decisão”, insistiu. 

 

» Para deputado, agora vai haver igualdade 

 

Em entrevista ao CB.Poder, uma parceria entre o Correio e a TV Brasília, o deputado Professor Israel Batista (PV-DF) afirmou que adiar o Enem é essencial para garantir o acesso de todos os estudantes à prova. “O Brasil é um país de desigualdades e nós não podemos permitir que o Enem seja politizado”, afirmou. Segundo o deputado, deveria-se seguir o exemplo de outros países, como França, Estados Unidos e China, que já adiaram os seus exames que precedem a entrada no ensino superior. Para o deputado, o governo federal estava mantendo a data do Enem para “forçar a reabertura das escolas”, apesar da curva de mortes e casos estar subindo. “Ele (Abraham Weintraub, ministro da Educação) politizou todo o debate. Ele não é ministro da Educação, ele é ministro do entretenimento”, ironizou 


Correio Braziliense quarta, 20 de maio de 2020

CASAMENTO VIA INTERNET

 

Jornal Impresso

CASAMANENTO VIA INTERNET
 
 
Tão longe, tão perto
 
Médicos que se conheceram em Brasília se casam pela internet, separados por mais de 2 mil km. Casal, que passou mais de 15 anos sem se falar, decidiu manter a cerimônia de casamento mesmo com as limitações da pandemia

 

» Fernando Jordão

Publicação: 20/05/2020 04:00

O casamento foi realizado em cartório de Maceió (AL), mas o noivo estava em Bom Jesus da Penha (MG) 
 (Fotos: Arquivo Pessoal)  

O casamento foi realizado em cartório de Maceió (AL), mas o noivo estava em Bom Jesus da Penha (MG)

 


Não são raras as histórias de amores que vencem distâncias. Há também os que precisam lidar com o tempo. Mais recentemente, temos aqueles que resistem em meio à pandemia do novo coronavírus. Mas um casal de médicos, que se conheceu em Brasília, enfrentou as três adversidades — e superou todas. Depois de passarem 15 anos separados, os dois se reencontraram e decidiram se casar em 25 de abril. Impossibilitados de realizar a cerimônia presencial, resolveram selar o matrimônio pela internet. Com um detalhe: ela estava em Maceió (AL) e ele, em Bom Jesus da Penha (MG), cidades separadas por 2.225,5 km.
 
Apesar da distância, Eliana Medeiros, 53 anos, e Célio Ribeiro, 56, costumavam se encontrar, pelo menos, duas vezes por mês. No começo de março, ela estava em Minas, visitando o noivo, quando percebeu que talvez o casamento não acontecesse como esperado. "Meu voo de volta foi cancelado. Levou duas semanas para eu conseguir voltar para Maceió. Fiquei presa, não conseguia voo", lembra. Como precisava regressar ao trabalho, a médica montou uma operação complexa: "Fui de carro para Brasília e peguei um voo para Recife. Depois, peguei um táxi para Maceió de madrugada. Foi uma luta, uma tormenta".

Célio conhece Eliana há 31 anos  

Célio conhece Eliana há 31 anos

 

Nenhuma das dificuldades impostas pela pandemia foi capaz de tirar a alegria da noiva que, como médica, tem acompanhado de perto a crítica evolução da covid-19 no Brasil. "Eu tirei de boa. Para quem estava querendo fazer um monte de festa, três vestidos, não comprei nenhum. Fui com a roupa que eu tinha, porque está tudo fechado. O mais importante disso tudo é com quem você está. O mais importante é o amor mesmo", resume.
 
Idas, vindas e milagres
Recém-casados, Eliana e Célio se conhecem há 31 anos. Mineiro, ele morava no Distrito Federal e cursava medicina na Universidade de Brasília (UnB). Ela, alagoana, veio cumprir o internato hospitalar — período dos últimos anos do curso — no antigo Hospital Regional da Asa Sul (Hras), hoje Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). "Ele era do meu grupinho (de amigos) e todo mundo sabia que a gente tinha uma afinidade, não descolava", recorda ela.

Banner do casamento destaca distância do casal  

Banner do casamento destaca distância do casal

 

Após o fim do internato, a distância virou um empecilho. Apesar de boa aluna, Eliana não foi aprovada no concurso de residência no DF. Conseguiu passar em São Paulo. O então namorado foi aprovado nos dois, mas preferiu ficar na capital federal. Os dois mantiveram o relacionamento a distância por um tempo, mas acabaram optando por terminar. Mesmo com o término, seguiram amigos e mantiveram contato. Com o fim da residência, a médica voltou para Maceió, onde Célio, aliás, havia comprado uma casa de praia.
 
Aqui, o tempo virou inimigo do casal: os dois passaram 15 anos sem se falar. Eliana, porém, conversava com a família do ex-namorado, principalmente com uma irmã de Célio. Em 2017, a cunhada, Sandra, estava em viagem para a capital alagoana e a convidou para um almoço. A médica foi, sem saber, contudo, que reencontraria Célio — então com uma namorada, com a qual estava junto havia 13 anos.
 
Eliana crê que esse encontro casual foi crucial para o relacionamento dos dois. No ano seguinte, Célio lhe enviou uma mensagem dizendo que passaria três dias em Maceió, e os dois combinaram um almoço. Na ocasião, ele contou que havia terminado o namoro. “Dali em diante, a gente não se soltou nunca mais.”
 
Célio voltou para Minas — para onde havia se mudado — já com uma passagem para regressar a Alagoas. "Ele me disse que queria ir para algum lugar que ainda não conhecia. Falou em Foz de São Francisco, mas eu sugeri São Miguel dos Milagres. Quando chegamos na pousada, tinha um par de aliança usadas, não sei se alguém esqueceu ou se os donos deixavam lá. Ali, ele me disse que queria casar comigo, que queria ficar comigo para sempre", relata Eliana.
 
Por isso, além da cerimônia civil em Maceió e da religiosa em Bom Jesus da Penha, o casal celebraria o casamento com uma festa em Milagres, remarcada, agora, para 27 de fevereiro de 2021. Mas Eliana, que pretende mudar-se para Minas quando for possível, garante que estaria feliz mesmo se o evento não vier a acontecer.

Correio Braziliense terça, 19 de maio de 2020

COMÉRCIO: VOLTA GRADUAL APÓS PERDAS E DEMISSÕES

 

Jornal Impresso

Um alívio para a economia
 
 
Primeiro bloco de comércios liberados para funcionamento oferece ao setor produtivo a oportunidade de recuperar perdas, que chegam a R$ 400 milhões e a 45 mil demissões no Distrito Federal. Suspensão começou a valer em 20 de março

 

» ALAN RIOS

Publicação: 19/05/2020 04:00

João Forechi acredita que a retomada econômica será lenta:  

João Forechi acredita que a retomada econômica será lenta: "O movimento não vai ser igual ao que era antes durante um bom tempo"

 


Segmentos do comércio da capital voltaram a abrir as portas após 59 dias fechados. Ontem, serviços de corte e costura, lojas de calçados, roupas e extintores puderam retomar as atividades. A suspensão por conta do combate ao novo coronavírus começou em 20 de março, após a publicação do Decreto n° 40.539/2020. Com a medida, a rede pública de saúde conquistou resultados positivos, como o controle de casos que evitou a superlotação de hospitais, mas a economia de pequenos a grandes empreendedores acabou sendo impactada negativamente.
 
Análise do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) mostra que cerca de 45 mil moradores do DF foram demitidos nos últimos dois meses, período em que os prejuízos de lojas da capital passaram de R$ 400 milhões. Sebastião Abritta, vice-presidente do sindicato, diz que os danos atingiram uma situação dramática. “Pelo menos 350 lojas de entrequadras e de shoppings do DF não voltarão a abrir, porque os proprietários não terão como pagar os aluguéis atrasados, impostos, folha salarial dos empregados e reposição de estoques”, diz.

Francineide aproveitou a reabertura de lojas para comprar calças  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Francineide aproveitou a reabertura de lojas para comprar calças

 

João Lino de Souza, 54 anos, viveu essas dificuldades na pele. Proprietário de uma loja de roupas em Taguatinga, ele comemorou a reabertura do comércio, lembrando de dois meses difíceis que deixou para trás. “Temos um negócio familiar, então as contas pesaram e tivemos que fazer muitos cortes no dia a dia em casa e na loja. Foi um período muito complicado, porque não tínhamos a renda das vendas, mas precisamos continuar pagando aluguel, IPTU, salários de funcionários”, conta. O empresário detalha que comércios que chegavam a vender R$ 80 mil em produtos passaram a vender R$ 7 mil com portas fechadas para os clientes.
 
No caso dele, que trabalha com roupas de tamanhos especiais, há ainda o obstáculo de poucas vendas por delivery, pois muitos clientes precisam experimentar o produto. “Agora, vamos esperar para ver como vai ser a retomada. Mas sei que os fracos não vão aguentar. Loja pequena vai fechar. Até porque o horário de abertura tem que ser às 11h, isso ainda traz perdas ao comércio”, avalia. O filho, João Vitor Forechi, 26, também voltou ao trabalho na loja do pai, ontem, e imagina resultados demorados. “Nós tivemos que antecipar férias, fazer a suspensão temporária de contratos, negociar aluguel. E, daqui para frente, acho que o movimento não vai ser igual era antes durante um bom tempo. Vai demorar para ter as contas em dia”, observa.

Clientes de Rosângela Oliveira tiveram a temperatura medida (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Clientes de Rosângela Oliveira tiveram a temperatura medida

 

Critérios
Há uma série de critérios para a reabertura dos estabelecimentos no DF. Conforme decisão da juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Federal Cível, a retomada das atividades deve ser realizada em blocos. Na ordem judicial, Kátia cita que “qualquer medida que tomarmos deve ser feita em fases, para refletir a situação do país”, mesmo entendimento defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Por isso, setores vão reabrir a cada 15 dias. Além disso, os estabelecimentos com atendimento de clientes dentro do comércio devem funcionar apenas entre as 11h e as 19h. Também é necessário, por exemplo, garantir a distância entre clientes, fornecer equipamentos de proteção aos empregados e aferir a temperatura de quem entra (veja As regras).
 
No primeiro dia de permissão de comércios, estabelecimentos que cumpriam as obrigações à risca eram exceções. É o caso da loja em que Rosângela Oliveira, 39, é gerente, em Taguatinga. O local deixou apenas uma entrada, para ter controle dos clientes, medir a temperatura e passar álcool nas mãos antes que eles tocassem nas roupas. “Aqui cumprimos todas as recomendações. Também instalamos seis pontos de álcool em gel espalhados pela loja, deixamos os colaboradores que fazem parte do grupo de risco em casa, como gestantes e idosos, e não aceitamos ninguém entrar sem máscara”, explica. Confiante, Rosângela acredita que o movimento de clientes deve voltar com força neste mês. “Isso é bom, porque muita gente está sendo demitida com lojas quebrando”, lamenta.
 
No estabelecimento, também foram colocados informes nas paredes e são passados avisos em caixas de som, com recomendações dos órgãos de saúde. Francineide Oliveira, 39, conta que aprovou a volta do comércio. “Aproveitei para comprar umas calças logo no primeiro dia da reabertura, porque preciso de umas peças para trabalhar. Sou diarista e estive em serviço todos esses dias. As contas não param, tive que continuar também”, conta. Porém, ver as recomendações sendo aplicadas acaba gerando uma sensação maior de segurança. “Entrei na loja, mediram minha temperatura e me deram álcool, isso faz com que eu me sinta mais protegida e é até bom, porque sei se estou com febre ou não”, aponta.
 
No lado dos exemplos negativos, cidades como Ceilândia, Samambaia e Taguatinga, que figuram entre aquelas com maiores incidências proporcionais de casos da covid-19, contavam com inúmeras lojas abertas de forma irregular. Vendas de ambulantes nas ruas também causavam aglomerações. Gilmaria Dias, 42, visitou alguns comércios, ontem, e contou só ter visto álcool em gel em dois deles. “Comprei umas roupas para a chegada do frio, que está começando, mas vi poucos locais cumprirem todas as determinações”, afirmou a técnica de enfermagem.
 
O Governo do Distrito Federal (GDF) instaurou uma força-tarefa para fiscalizações, composta por representantes da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divsa), da Secretaria de Transporte (Semob), do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, do Procon-DF, entre outros órgãos.
 
 
As regras
 
Obrigatoriedades do comércio

» Funcionamento no período das 11h às 19h (exceto em casos de operações de entrega em domicílio, pronta-entrega em veículos e retirada do produto no local, sendo proibido o uso de mesas e cadeiras aos consumidores);
» Garantir a distância mínima de dois metros entre as pessoas;
» Fornecer equipamentos de proteção individuais a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço;
» Organizar uma escala de revezamento de dia ou horário de trabalho;
» Proibir o trabalho de pessoas consideradas do grupo de risco, como idosos, gestantes e pessoas com comorbidades;
» Fornecer álcool em gel 70% para todos os clientes e frequentadores;
» Manter os banheiros higienizados e com materiais de limpeza e higiene para empregados, colaboradores, terceirizados, prestadores de serviço e consumidores;
» Aferir a temperatura dos consumidores, empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviços, registrando os dados dos funcionários em planilha;
» Impedir a entrada no estabelecimento e orientar a procurar uma unidade de saúde caso seja constatada temperatura igual ou superior a 37,3 °C;
» Utilizar máscaras de proteção facial.
 
 
O cronograma
 
Confira os blocos de reabertura de estabelecimentos do DF:
 
Bloco 1 — Primeiros 15 dias
» Atividades comerciais: atacadistas, representantes comerciais e varejistas; atividades de serviços: informação e comunicação;
» Atividades profissionais, científicas e técnicas: agências de publicidade e consultorias
» Atividades administrativas e serviços complementares: agências de viagem, fornecimento e gestão de recursos humanos; atividades associativas.
Bloco 2 — Após os primeiros 15 dias
» Shoppings e centros comerciais.
Bloco 3 — Após 30 dias
» Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas; serviços ambulantes de alimentação; serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada; cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza.
Bloco 4 — Após 45 dias
» Atividades de exibição cinematográfica (cinemas); artes, cultura, esporte e lazer (academias, espetáculos, bibliotecas, Jardim Botânico, clubes sociais, parques de diversão e eventos; atividades de organizações religiosas (igrejas, templos, etc.); feiras livres; educação e administração pública.
 
 
Palavra de especialista 
 
Aumento de casos é certo
 
“Certamente, haverá um aumento no número de casos com a reabertura do comércio, nos próximos 10 ou 15 dias, que é o esperado quando há qualquer flexibilização. Mas, se o aumento do número de contaminações conseguir ser bem suportado pelo sistema de saúde, isso vai abreviar o tempo em que nós vamos precisar das medidas de distanciamento, então a nossa pandemia pode acabar mais cedo. Tem que ser feito tudo de maneira bem controlada. As medidas para frequentar os ambientes são as mesmas amplamente divulgadas. Usar bastante álcool em gel, evitar tocar o rosto e estar sempre de máscara, principalmente.”
 
Alexandre Cunha,  vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF

Correio Braziliense segunda, 18 de maio de 2020

COMÉRCIO PREPARA NOVA ETAPA DE ABERTURA

 

Comércio prepara nova etapa de reabertura
 
Lojas de rua autorizadas a retomar as atividades pelo GDF se preparam para abrir as portas após cerca de dois meses sem funcionar. Multa para quem sair de casa sem máscara começa a ser aplicada hoje

 

» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 18/05/2020 04:00

 

Eliane Jacques Medeiros integra o grupo de risco e evita ao máximo sair de casa. O filho Waldir Jacques é quem faz a maior parte das compras para a família (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Eliane Jacques Medeiros integra o grupo de risco e evita ao máximo sair de casa. O filho Waldir Jacques é quem faz a maior parte das compras para a família

 

 

 

Há quase dois meses de portas fechadas, o comércio do Distrito Federal começa, nesta segunda-feira, mais uma etapa da retomada de atividades. Após a Justiça autorizar a reabertura dos estabelecimentos de forma escalonada — por segmento e a cada 15 dias —, o Executivo local publicou decreto que prevê a abertura de algumas lojas de rua de roupas, calçados, corte e costura e de extintores de incêndio. Mesmo assim, entidades do ramo acreditam que o aquecimento das vendas será lento. Além disso, a partir de hoje, os brasilienses que circularem sem máscara de proteção facial serão multados.

 

Segundo o presidente da Federação do Comércio, Bens e Serviços (Fecomércio-DF), Francisco Maia, a entidade busca negociação com o governo para a reabertura de mais setores nesta semana. Até sexta-feira, Maia espera que os shoppings voltem a funcionar. “Os lojistas (dos shoppings) estão reclamando muito por causa da liberação de alguns setores. Vamos forçar o governador”, disse.

 

O presidente da Fecomércio se reunirá com Ibaneis Rocha hoje, mas ainda não há data e local definidos. No entanto, ele reforça que a retomada das atividades dependerá de alguns critérios, que não provoquem problemas sanitários, o que pode ocasionar um retrocesso da contenção do coronavírus.

 

A juíza Kátia Balbino de Carvalho, da 3ª Vara Cível do Distrito Federal, ainda não respondeu ao recurso apresentado pelo GDF com o argumento de “cabe ao Executivo local e não ao Judiciário tomar decisões sobre as datas e condições de abertura das atividades comerciais”.

 

Lucimeire Arruda, 53 anos, gerencia uma loja de calçados no Guará 1. Para ela, o cenário é de cautela. “Suspendemos os contratos dos funcionários. Vamos aguardar a movimentação de clientes nos próximos dias para saber se podemos chamar alguns de volta”, disse. Ontem, ela preparava o estabelecimento para reabrir hoje. “Vamos deixar bastante álcool em gel, fazer aquisição de máscaras e controlar a entrada de pessoas.”

Desafios

 

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Edson de Castro, ressaltou que os empreendedores precisam ter atenção e evitar lotação nos estabelecimentos, para que não haja maior disseminação do vírus. “Caso isso ocorra, tudo será fechado novamente”, alertou. Ele afirmou, ainda, que a expectativa do sindicato era de que toda atividade comercial da capital fosse retomada nesse primeiro momento, principalmente os shoppings. “Por outro lado, a gente observa que no DF está baixa a taxa de mortalidade, justamente devido aos cuidados que o governador tomou. Se a gente abrir tudo de uma vez, corremos o risco de fechar em uma semana”, ponderou.

 

“Perdemos a noção de quantas pessoas foram demitidas, porque esse processo passou a ser feito direto nos estabelecimentos, sem passar pelo sindicato. No nosso último levantamento, eram 1,7 mil desempregados”, lamentou o presidente da entidade. Além disso, Edson comentou que muitas lojas estão sem estoque e terão dificuldades para reabrir. “O pior de tudo é que não estão havendo contratações.”

 

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF), José Carlos Magalhães, defende a reabertura gradual dos comércios, mas alega que o retorno para os outros segmentos não deve demorar muito. “Caso retarde muito a volta, haverá uma desobediência, porque todos estão com dívidas. Contudo, é preciso cuidado para não corrermos o risco de voltar a fechar. Então, será preciso seguir à risca as diretrizes estabelecidas pelo governo”, argumentou.

De acordo com ele, o número de lojistas que voltarão a trabalhar nos quatro segmentos liberados no sábado não é tão alto. “Antes da pandemia, tínhamos cerca de 320 mil pessoas desempregadas apenas no setor varejista e esse quantitativo pode haver mais 140 mil”, disse.

 

Máscaras obrigatórias

 

O uso obrigatório de máscaras está vigente desde 30 de abril no DF, e apenas em 11 de maio a multa passou a valer para quem descumprisse a regra. Na primeira semana, no entanto, o Executivo decidiu adotar uma abordagem educativa e apenas punir quem demonstrasse resistência. A partir de hoje, quem for flagrado sem a máscara poderá pagar R$ 2 mil, por infração sanitária. Para os estabelecimentos, o valor é de R$ 4 mil e pode ser dobrado caso haja reincidência. A fiscalização do uso do equipamento ficará a cargo Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) e contará com uma força-tarefa composta por diversos órgãos, como o Departamento de Trânsito (Detran) e Polícia Militar.

 

Entretanto, apenas a DF Legal, a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) e a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) podem aplicar as multas. Quem for penalizado, tem prazo de 10 dias para apresentação de eventual impugnação junto ao órgão emitente do ato administrativo. As máscaras de proteção facial devem ser usadas em espaços públicos, vias públicas, equipamentos de transporte público coletivo e estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços.

A dona de casa Eliane Jacques Medeiros, 53, mora na 410 Norte com os dois filhos, de 32 e 29 anos. Portadora de diabetes, ela integra o grupo de risco para o novo coronavírus e defende as medidas estabelecidas pelo governo. “Só saio de casa em caso de extrema necessidade. Além do distanciamento social, o uso das máscaras é essencial para nos afastar de problemas maiores, evitando a contaminação”, afirmou.

 

O filho mais velho, Waldir Jacques, 32, conta que faz o máximo para preservar a saúde da mãe. “Estipulamos que apenas eu saio para ir ao mercado ou à farmácia em, apenas, uma vez na semana.” Embora favorável ao isolamento social, Waldir analisa todo o cenário. Ele administra uma barbearia na Asa Norte e tem sentido as consequências econômicas da covid-19. “Estou há quase 60 dias fechado e o movimento caiu cerca de 80%. Mas a minha preocupação, neste momento, é com minha mãe, que precisa de cuidados. Devemos evitar ao máximo a disseminação desse vírus”, complementa. 

 

» Duas perguntas para Marcos Pontes, médico clínico geral do Grupo Santa

 

Como o senhor avalia a reabertura de algumas lojas? 

Da parte médica, o que podemos dizer é que o DF continua em curva ascendente. Acreditamos que os casos aumentarão, porque não estamos apresentando diminuição no número de notificações. É certo que, se você tira a população da quarentena, há um risco maior. Então, é natural que a propagação do vírus aumente.

 

Qual a principal orientação para população nesse momento?

Todos estão orientados sobre o uso da máscara, álcool em gel e do distanciamento social. É bom que entendam essas medidas para evitar o contágio do coronavírus e a sobrecarga no sistema de saúde. 

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense domingo, 17 de maio de 2020

MAIS LOJAS AUTORIZADAS A ABRIR

 

 

Mais lojas autorizadas a abrir
 
Decreto assinado ontem pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), permite o funcionamento de lojas de calçados, de roupas, de serviços de corte e costura e de extintores de incêndio. Os estabelecimentos poderão funcionar das 11h às 19h

 

» DARCIANNE DIOGO
» WALDER GALVÃO

Publicação: 17/05/2020 04:00

Gerente de uma loja de roupas no Sudoeste, Adriana Ribeiro prepara o estabelecimento a reabertura  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Gerente de uma loja de roupas no Sudoeste, Adriana Ribeiro prepara o estabelecimento para reabertura

 



Lojas de rua que vendem calçados, roupas, extintores e aquelas que prestam serviços de corte e costura estão autorizadas a reabrirem no Distrito Federal. A liberação está prevista em decreto assinado ontem pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e publicado ontem em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF). Esses estabelecimentos estavam fechados desde 19 de março, como medida de prevenção de contágios pelo coronavírus. Agora, poderão funcionar com horário reduzido, entre as 11h e as19h.

Aos comércios que ainda não receberam a liberação do governo para reabrir, a norma delimita que ficam permitidas operações de entrega em domicílio, pronta entrega em veículos e retirada do produto no local, sem abertura do estabelecimento para atendimento ao público. É vedada, portanto, a disponibilização de mesas e cadeiras aos consumidores.

A permissão para a reabertura vem um dia após a Justiça autorizar a volta gradual do comércio, em blocos, com intervalo de 15 dias. Na mesma data, o Executivo local apresentou recurso ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para revogar a decisão e informou que espera abrir as lojas na segunda-feira. O GDF alega, na ação, que “cabe ao Executivo local e não ao Judiciário tomar decisões sobre as datas e condições de abertura das atividades comerciais”.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, diz que esperava que mais segmentos fossem reabertos esta semana. “Em função da decisão da Justiça, o governo não conseguiu cumprir o decreto anterior, que previa a retomada total para segunda-feira”, lamentou. Entretanto, Maia acredita que outros setores de lojas de rua devem ser reabertos no decorrer da próxima semana.

Ele garantiu que a entidade acompanhará se todas estão seguindo as regras previstas no decreto. Em relação às vendas, Maia ressaltou que não deverá ocorrer aumento durante esse período. “As pessoas estão com receio de sair de casa. Fizemos uma pesquisa que mostra que 70% dos empresários acreditam que não vai ocorrer a normalização após a reabertura.”

Segundo a infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Joana D’arc, é ruim que os comércios fiquem muito tempo sem reabertura alguma, mas é preciso haver mudança de comportamento para reduzir os contágios pela covid-19. “Os mais vulneráveis devem evitar sair de casa sem necessidade. É importante ressaltar que, quem sair, deve manter distanciamento social e usar a máscara. Nesse momento difícil, é essencial investir em mudança de atitude”, orienta.

Expectativa

Adriana Ribeiro, 44 anos, gerencia uma loja de roupas feminina no Sudoeste. O estabelecimento permaneceu fechado durante 40 dias. Depois disso, a gerência adotou o delivery. “Nós sobrevivemos. Estávamos vendendo pelo site ou telefone. Chegamos até a entregar as peças nas casas de clientes, mas sem sair da região”, diz. A gerente se diz esperançosa e se prepara para a retomada. “Todas as peças são higienizadas com uma mistura de álcool e água, temos dispensa de álcool em gel para os funcionários e consumidores e limpamos o balcão e o chão pelo menos três vezes ao dia.”

Proprietário de uma loja de roupas no Riacho Fundo 1, Gildeão Nunes, 34, teve grande prejuízo. “Consegui manter meus funcionários e estamos preparando a loja para a reabertura. Vamos adquirir máscaras e disponibilizar álcool em gel para todos.”


Trabalho presencial
O GDF também determinou, ontem, por meio de decreto, a volta de parte dos servidores ao trabalho presencial. Funcionários da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da fiscalização da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri) não estão mais incluídos no regime de teletrabalho. Apenas aqueles que integram grupos de risco ou apresentam sintomas de gripe devem atuar em esquema de home office.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 16 de maio de 2020

A VIDA TERÁ NOVO VALOR

 

A vida terá novo valor

 

Adriana Izel
José Carlos Vieira
Nahima Maciel

Publicação: 16/05/2020 04:00

Como será o mundo pós-pandemia? Seremos pessoas melhores? O Correio entrevistou artistas e escritores sobre esse novo olhar para a realidade. São depoimentos emocionados, sensíveis, mas também realistas, como o questionamento da desigualdade social no país. “Essa pandemia revela uma situação de extrema fragilidade que nossa sociedade vive”, destaca o rapper Criolo. Para a atriz Ingrid Guimarães, novas maneiras de se relacionar surgirão. 
 
 
 (Estevam Avellar/Divulgação)  
 
 
“Desigualdade revelada”
 
• “Esse sentimento de dor, essa dor que estamos vivendo, ela tem que fazer valer para que possamos reconstruir tudo de novo. É um momento de repactuarmos. A gente desacelerou, os bichos voltaram, voltamos a ver as estrelas. Isso não é um símbolo, é a vida. A natureza tem uma autorregulação que a gente não tem. Temos que ouvir mais. Essa coisa de achar que o ser humano pode dominar a natureza, a pandemia está mostrando que não, que não controlamos tudo.  A pandemia está mostrando mais claramente o fosso que a desigualdade social é. Não é inventar a roda, temos que ter a sabedoria viva. Esse momento de isolamento precisa ser para nos repensarmos, quem são nossas referências. Por isso não dá mais para ficar no seu rebanho. Ninguém será como antes, não vai ter recuo. É a realidade que a gente precisa para não adoecer psiquicamente e fisicamente. Precisamos nos nutrir de boas informações, estarmos cada vez mais guardiões do que estamos lendo, vendo, multiplicando e compartilhando, porque essa pandemia existe, assim como a doença da cegueira política. Isso é passível de reconstrução. É possível a gente pensar e repensar nosso estar no mundo. Embora eu não seja Poliana — sei o tanto que essa pandemia está exacerbando a desigualdade no país e no mundo — sou otimista, sim, para esse caminho de instrução que estamos indo, de que a gente precisa ouvir saberes ancestrais e que temos como obrigação multiplicar. Todo dia fazemos escolhas, que podem fazer sucumbir e renascer. Que a humanidade acorde e faça valer o desejo da vida. E, sim, a favor da vida.”
 
Camila Pitanga, atriz
 
 
 (Ulisses Dumas/Divulgação)  
 
 
“Novas direções à vista”
 
• “O mundo vai ser reinventado e novas direções para essas reinvenções podem ser as mais variadas possíveis. Desde o fortalecimento desses novos sistemas de interação com os públicos (os shows domésticos, a disponibilização via internet de arquivos e acervos de museus, teatros, bibliotecas, televisões e tanta coisa mais), até a volta gradual aos modos convencionais de interação, a medida que forem caindo os isolamentos, as quarentenas, os lockdowns. É difícil apontar com segurança como vai ficar esse novo mundo que vem por aí o que ficará melhor ou pior.”
 
Gilberto Gil, cantor e compositor
 
 
 (Arquivo Pessoal)  
 
 
“O medo não educa”
 
• “Haverá um fosso maior entre as classes sociais. Quem é pobre ficará mais pobre, quem é rico só ficará menos rico, mas, ainda assim, rico. E a classe média que servia de ponte entre os extremos tende a desaparecer. Não existem aspectos bons (no mundo pós-pandemia), quando temos por dia o equivalente a duas catástrofes de Brumadinho. Não serei nunca adepto da teoria de que só os fortes ficarão e que a tragédia é parte da cadeia alimentar. Perderemos sábios, como Aldir (Blanc). Perderemos antenas da raça, quem estavam no apogeu da memória, quem havia dado tudo de si para chegar à velhice com saúde. Medo não educa, o que educa é a empatia, solidariedade.”
 
Fabrício Carpinejar, escritor


 
 (Bel Pedrosa/Divulgação)  
 
 
“Cuidar das pessoas”
 
• “Falar do mundo pós-pandemia neste momento seria, para mim, um simples chute, acredito que faltem elementos para embasar uma previsão razoável. Até as próximas fases da pandemia, que não terminará tão cedo, me parecem nebulosas demais. A única coisa que julgo clara neste momento é a tarefa de sobreviver, cuidar das pessoas queridas, tentar não ficar maluco, torcer para que nos sobre um país minimamente funcional depois que passar essa calamidade sanitária e política. No meu caso, pelo menos, não tem sobrado espaço para pensar em mais nada.”
 
Sérgio Rodrigues, escritor
 
 
 (Cleones Ribeiro/TV Cultura)  
 
 
“Reflexão sobre a miséria”
 
“Como será a vida das pessoas após a pandemia, que certamente deixará uma grande parte do mundo em escura sofreguidão? Será que, à semelhança da personagem de Clarice, vamos “cair numa bondade extremamente dolorosa”? Seremos mais solidários? Não consigo prever nem sequer intuir o futuro. Como escritor de ficção, estou mais preocupado com o passado e sua repercussão no presente. Mas arrisco dizer que o sofrimento da imensa maioria dos brasileiros e a morte de milhares de pessoas podem sensibilizar os que eram indiferentes à dor dos outros. Muitas pessoas vão refletir sobre nossa dupla miséria: social e política. Mas a grande questão refere-se ao papel do Estado, responsável por políticas públicas. Os biomas e suas populações originárias serão protegidos e respeitados? A obscena, brutal desigualdade social vai diminuir? Vão diminuir a violência e a impostura política? Nossas elites — política, econômica, institucional — vão adquirir consciência de que é urgente investir seriamente no saneamento básico, na educação e saúde públicas de qualidade? Espero que os jovens usem toda sua energia — física, moral e intelectual — para, nos limites da democracia e do Estado de direito, fazer mudanças positivas e duradouras. Só assim poderemos emergir desse “mundo em escura sofreguidão.”
 
Milton Hatoum, escritor
 
 
 (Desirée do Valle/Divulgação)  
 
 
“Um dia de cada vez”
 
• “Nossa realidade já mudou. Os hábitos vão mudar daqui para frente. Tem o lado da solidariedade, de pensar no coletivo, que é algo que me emociona. Eu acordo pensando como posso ajudar o outro de alguma forma. E as novas maneiras de se relacionar. Vamos viver uma vida asséptica. Só nos resta viver um dia de cada vez.”
 
Ingrid Guimarães, atriz


 
 (Daryan Dornelles - Cantor e compositor Criolo)  
 
 
“Precisamos viver em paz”
 
• “Essa pandemia revela uma situação de extrema fragilidade que nossa sociedade brasileira vive. Uma sociedade cheia de problemas que é catapultada por uma desigualdade social muito cruel. Essa pandemia vem revelar a determinadas camadas da nossa sociedade a calamidade pública que vive o ano inteiro e já há décadas e séculos as partes mais pobres da cidade, os lugares mais esquecidos pelo Estado. Essa calamidade pública é o ano todo. A pandemia revela às pessoas que não tinham ideia, de como o Brasil é realmente. Enquanto não houver justiça social é impossível viver em paz. Que a gente possa se sentir tocado, se sentir forte o suficiente para lutar contra as desigualdades.”
 
Criolo, rapper
 
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sexta, 15 de maio de 2020

ELES GANHARAM A LUTA

 

 

No Distrito Federal, a professora Elinete Miller, 83 anos, deixou o Hospital Brasília, no Lago Sul, sob aplausos da equipe médica. Ela passou 40 dias internada por causa da covid-19, sendo 20 na UTI. Em Sergipe, Josefa Maria de Jesus venceu a doença aos 103 anos.  (Reprodução/Hospital Brasilia - Reprodução vídeo/Facebook/Prefeitura de Simão Dias)

Paciente de 83 anos sobrevive à covid
 
 
Professora aposentada se recupera da doença ao passar 40 dias internada em hospital do Lago Sul, sendo 20 em unidade de terapia intensiva (UTI). Ao receber alta, na segunda-feira, recebeu homenagens e aplausos da equipe médica que a atendeu

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 15/05/2020 04:00

Elinete Miller ficou emocionada ao deixar o hospital por um  

Elinete Miller ficou emocionada ao deixar o hospital por um "corredor de aplausos"

 


Os primeiros sintomas do coronavírus começaram de forma leve em Elinete Miller, 83 anos, e foram aumentando com o passar dos dias. O que eram dor de cabeça e náuseas evoluíram rapidamente para tosse e falta de ar. A professora aposentada logo desconfiou que se tratava de covid-19, mas não imaginava que teria de travar uma batalha entre a vida e a morte. Ontem, ela recebeu alta e deixou o Hospital Brasília, no Lago Sul, sob aplausos.
 
Elinete sentiu que estava com algum problema de saúde em 23 de março, logo após uma passagem por São Paulo, o epicentro da pandemia de coronavírus no Brasil. No dia 27, em Brasília, a falta de ar tornou-se sufocante, e ela precisou procurar o hospital, onde ficou internada por mais de 40 dias, 20 deles na unidade de terapia intensiva (UTI). “Eu me agarrava às pessoas, esperando que me salvassem do desespero da falta de ar. Houve momentos em que eu queria desistir de viver”, relembra. “Felizmente, a equipe medica da UTI, enfermeiras, enfermeiros e técnicos foram dedicados. Sou muito grata a todos”, conta.
 
Emoção
A professora aposentada relembra que, em um dos momentos mais difíceis, pediu para que a deixassem morrer. “Disse que eu não queria mais sofrer, mas a enfermeira me respondeu que eu não morreria, que estavam cuidando de mim. Foi, então, que eu reagi”, diz, emocionada. “Senti muita dor em todo o corpo, dor de cabeça, dor de garganta, ouvido. A falta de ar é uma situação desesperadora”, afirma.
 
Na segunda-feira, Elinete recebeu alta, ganhou balões verdes, abraços e um “corredor de aplausos” da equipe médica que atuou na recuperação dela no Hospital Brasília. No vídeo gravado no momento em que a professora deixa a unidade de saúde, é possível ver a emoção da idosa.
 
A paulista Elinete dedicou-se ao teatro e à docência boa parte da vida. Conta que chegou a Brasília na ditadura militar, queria fazer artes visuais e cinema, mas o governo da época fechou os cursos na cidade. Nos últimos anos, ela morou nos Estados Unidos com o marido, o teólogo americano John Lawrence Miller, com quem construiu a família.
 
Ainda um pouco cansada após tantos dias de internação, ela diz que a vida não será a mesma após a covid-19. “A experiência de ficar na UTI e de me libertar do coronavírus fortaleceu o meu compromisso com a vida”, ressalta. Em casa, ela segue em isolamento, por recomendação médica, mas pretende voltar a trabalhar como escritora de peças teatrais. “Eu gosto muito da vida, gosto de viver, trabalhar, gosto de me sentir útil e de participar da vida em sociedade”, comemora.


Aos 103 anos, ela venceu a covid-19
 
Em Sergipe, no município de Simão Dias, outra idosa sobreviveu à covid-19. Josefa Maria de Jesus, 103 anos, recebeu alta na terça-feira, sem apresentar sintomas. Ela mora no Povoado Caraíbas de Baixo e foi monitorada pela Secretaria Municipal da Saúde entre 28 de abril e 11 de maio. “Graças a Deus, graças a Deus”, disse Josefa ao descobrir que estava curada da doença. Com o caso da idosa de 103 anos, Simão Dias registra cinco pessoas recuperadas da covid-19.
 
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Correio Braziliense quinta, 14 de maio de 2020

NO RITMO DA SOLIDARIEDADE

 

No ritmo da solidariedade
 
 
Artistas brasilienses realizam importante papel de arrecadar doações e divertir o público por meio de lives musicais

 

Maria Baqui*
Vinícius Veloso*

Publicação: 14/05/2020 04:00

Guga Cammafeu e Thiago Nascimento: a live Axé Solidário arrecadou mais de 15 toneladas de alimentos para projetos sociais da capital (Luara Baggi/Reprodução)  

Guga Cammafeu e Thiago Nascimento: a live Axé Solidário arrecadou mais de 15 toneladas de alimentos para projetos sociais da capital

 

 
As lives musicais, além de divertir as pessoas que estão em isolamento para prevenir a transmissão da covid-19, funcionam como meio de arrecadar doações — sejam elas financeiras ou de produtos — a necessitados. Em Brasília, artistas de vários estilos vêm colaborando para que a diversão e a solidariedade caminhem lado a lado, ajudando milhares de pessoas com alimentos, produtos de limpeza e muita música.
 
Os cantores Guga Cammafeu e Thiago Nascimento, populares por animarem festas brasilienses com muita música baiana, uniram os trabalhos na live Axé Solidário, com a intenção de ajudar as pessoas. “Com o momento que estamos passando, resolvi convidar o Thiago e ele não pensou duas vezes em fazer o bem e ajudar os que estão passando por essa situação difícil. É hora de se unir, de dividir para multiplicar e salvar vidas”, explica Guga.
 
Por meio do projeto Fome de Música, em parceria com o Mesa Brasil, um QR Code foi disponibilizado para que as pessoas realizassem doações a partir de R$ 5. Pelo celular, várias mensagens de amigos com doações chegavam durante a live. E o projeto foi um sucesso.
 
Segundo Guga Cammafeu, além da arrecadação financeira, mais de 15 toneladas de alimentos foram doadas, assim como máscaras, álcool em gel e luvas. “Pensamos, desde o início, em ajudar e arrecadar muitas outras coisas que são de extrema importância para essas famílias necessitadas. Fazer o que a gente ama, que é cantar, e ainda ter esse retorno incrível dos admiradores do nosso trabalho com tanta arrecadação, só nos faz ter a certeza de que acertamos nessa união”, completa. As doações do Axé Solidário foram direcionadas para o Instituto Doando Vida e para outros projetos da capital federal.

 (Ricardo Ribeiro/Divulgação)  
 
O grupo brasiliense de rap Tribo da Periferia não ficou de fora, e também arrecadou doações para o projeto Fome de Música. Segundo o integrante Duckjay, o momento delicado de pandemia e ausência de apresentações físicas contribuiram para a ideia de participar do projeto. “Nessa quarentena, aproveitamos a ausência de shows para prepararmos novas canções e clipes. Além disso, elaboramos ações colaborativas diante dessa crise econômica”, explicou.
 
Pagode solidário
 
O grupo Di Propósito também realizou um show on-line e conseguiu uma grande arrecadação para Brasília, muito por conta da notoriedade nacional conquistada com o pagode. Segundo Rafael Rabadan de Oliveira, bancário e responsável pela arrecadação das lives do grupo, a importância desse projeto é enorme. “A intenção da live é ajudar o próximo. Utilizamos nosso trabalho musical para fazer o bem a maior quantidade de pessoas possíveis e combater a covid-19.”
 
A primeira live dos pagodeiros, com mais de 750 mil visualizações no YouTube, foi responsável pela arrecadação de 34 toneladas de alimentos e outros produtos, destinados para a Casa Renascer, para o Lar dos Velhinhos e pessoas do ramo musical brasiliense que estão precisando. A apresentação virtual contou também com o apoio do BRB, que disponibilizou um QR Code para doações monetárias que foram direcionadas para as instituições apoiadas pelo BRB Play.
 
Conhecido pelo público por um recheado repertório de pagode, o grupo Menos é Mais tem investido em conteúdo on-line durante a pandemia da covid-19. Em 25 de abril, os integrantes fizeram uma live para lá de especial. O show pelo Instagram, intitulado Churrasquinho do Menos é Mais, contou com a presença virtual de Péricles, Thiago Silva, Neymar e Ronaldinho Gaúcho, que está em prisão domiciliar no Paraguai.
 
Com o conteúdo, o grupo arrecadou doações para serem destinadas a organizações filantrópicas no DF que estejam distribuindo produtos essenciais para a população em situação de vulnerabilidade. Por meio de um QR-code que destinava a um site de vaquinha on-line, no total, foram arrendadas duas mil máscaras, mais de 20 toneladas de alimentos e produtos não perecíveis. “Vimos, a partir do exemplo de outros artistas, a oportunidade de não parar com ações sociais nesse momento de quarentena. E, realmente, a live trouxe um volume enorme de arrecadações. Ficamos surpreendidos e motivados”, comentou Gustavo Goes, integrante do grupo.
 
Menos é Mais: evento realizado na internet teve a presença virtual de famosos como Péricles, Neymar e Ronaldinho Gaúcho (Arquivo Pessoal)  

Menos é Mais: evento realizado na internet teve a presença virtual de famosos como Péricles, Neymar e Ronaldinho Gaúcho

 

 
A cantora Dhi Ribeiro apresentou-se on-line para comemorar o aniversário de 51 anos do Guará. O show virtual foi em parceria com o cantor Gabriel Correa. Além de atender aos pedidos dos fãs, a artista explicou que sempre gostou do envolvimento em causas sociais, por isso, concretizou a ideia de uma live para arrecadar doações para a população prejudicada pelo vírus. No total, ela recebeu uma tonelada de alimentos não perecíveis, cinco mil itens de higiene pessoal, 290 caixas com produtos de limpeza diversos e, além disso, cobertores e roupas de frio. “Acho que, além de ser uma troca valiosa, estamos em contato com as pessoas de alguma forma, sempre fizemos isso, mesmo antes da pandemia, fazemos shows com arrecadações para comunidades carentes e instituições sociais”, contou.
 
*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira
 
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Correio Braziliense quarta, 13 de maio de 2020

AGRADECIMENTO AOS ENFERMEIROS

 

 

Agradecimento aos enfermeiros
 
No Dia Internacional da Enfermagem, ontem, profissionais da saúde homenagearam homens e mulheres que morreram na linha de frente do combate à covid-19. Os números da doença avançam no Brasil: são 12,4 mil mortos %u2013 881 em 24 horas %u2013 177,5 mil infectados. No DF, há 3 mil casos e 46 mortes. (Evaristo Sá / AFP)

 

» juliana andrade

Publicação: 13/05/2020 04:00

Em meio a pandemia, o mundo celebrou, ontem, o Dia Mundial da Enfermagem. Merecidamente, as homenagens se espalharam pelos hospitais de Brasília, com direito a flores, mensagens, chocolates e, principalmente, agradecimento. 
 
Na rede pública, as homenagens partiram da Secretaria de Saúde. A pasta se programou para ligar diretamente para os profissionais e demonstrar o agradecimento pela dedicação ao serviço em prol da saúde do próximo. Os contatos começaram ontem e devem seguir até 20 de maio, período em que é celebrado a Semana da Enfermagem. A secretaria informa que, devido ao período de pandemia, não será possível reunir os profissionais para homenageá-los. 
 
Nos hospitais particulares também não faltou motivo para agradecer. No Hospital Santa Lúcia, o carinho partiu da própria gerente da equipe de enfermagem, Elenita Silva. “Fizemos um encontro no café da manhã, onde cada um pôde se ver no cenário atual e expressar como se sentem. O interessante é que a maioria não está preocupada consigo, e sim, com o outro, com a família”, destaca. O grupo também foi surpreendido com flores enviadas por uma floricultura de Brasília, além de lembranças de algumas empresas, em agradecimento ao serviço. Para Elenita, a pandemia reforçou a importância dos enfermeiros para a população. “A gente cuida das pessoas como se fossem nossos parentes”, acrescenta. 
 
Homenagens também foram registradas na Rede Ímpar de hospitais, com relatos e histórias dos profissionais nas redes sociais. No Hospital Home, os enfermeiros receberam presentes e participaram de dinâmicas durante todo o dia, uma forma que a empresa encontrou para alegrar essa data tão especial. No Hospital Universitário de Brasília (HuB), a equipe foi homenageada com chocolates. 
 
Deusvaldo Nunes Junior, 34, coordenador de enfermagem da UTI do Hospital Santa Lúcia recebeu homenagens durante todo o dia. Cuidando diretamente de pessoas infectadas pela covid-19, o enfermeiro destaca que muitas homenagens vieram de familiares e pacientes curados da doença. “Para mim é um orgulho muito grande ter esse retorno da população, do paciente. A nossa maior gratificação é ver o paciente indo embora com um sorriso no rosto. Hoje é dia de celebrar toda essas conquista na área da saúde”, destaca. 
 
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Correio Braziliense terça, 12 de maio de 2020

A FORÇA DO PEQUENO DAVI, O BEBÊ QUE VENCEU A COVID-19

 

A força do pequeno Davi
 
O recém-nascido e a mãe estão em casa. Ainda isolada da família, ela foi a primeira mulher com diagnóstico positivo para o novo coronavírus a dar à luz no Distrito Federal

 

ROBERTA PINHEIRO
THAIS UMBELINO

Publicação: 12/05/2020 04:00

Enquanto aguardava a alta, Davi, filho de Mariene 
e Ricardo, ganhou equipamento de proteção para bebês confeccionado pelas enfermeiras do Hran (Fotos: Arquivo Pessoal)  

Enquanto aguardava a alta, Davi, filho de Mariene e Ricardo, ganhou equipamento de proteção para bebês confeccionado pelas enfermeiras do Hran

 

Reestruturado como unidade de referência no atendimento aos casos de covid-19 no DF, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) realizou, desde o início da pandemia, dez partos. Entre eles, o do pequeno Davi, nascido na sexta-feira. De Planaltina, Mariene Silva Moreno, 28 anos, chegou à unidade de saúde com 37 semanas de gestação. “Estava no serviço e ela me ligou pedindo para ir embora urgente, fiquei com medo por conta da gravidez. O médico do postinho de saúde pediu uma ambulância e fomos para o Hran. A pressão dela estava alta, mas ela não estava sentindo nada. Tinha tomado vacina e estava com febre e o nariz escorrendo”, relembra o marido, Ricardo Bento da Silva, 31.
 
Com sintomas leves para a covid-19, a gestante passou por duas checagens: o teste rápido e o exame RT-PCR, que comprovou a contaminação. O médico Ricardo de Souza Monteiro, responsável pelo comando do gabinete de crise do novo coronavírus no hospital, afirma que, desde quando foram instituídos os novos fluxos, a unidade de saúde realiza os partos de mulheres com fortes suspeitas do vírus, com sintomas gripais ou com histórico de ter tido contato com quem testou positivo.
 
No mesmo dia em que Mariane deu entrada na unidade de saúde, os médicos realizaram a cesárea. Davi nasceu na madrugada da última sexta-feira, com 2,93kg, e ela se tornou a primeira mulher com diagnóstico positivo para o novo coronavírus a dar à luz no DF.
 
Depois de acompanhar o parto normal dos dois outros filhos — Nicole, 5, e Pedro, 3, — Ricardo estava preocupado. “Tinha medo de a doença passar para o bebê”, comenta o pai de Davi. Mas tudo correu bem e mãe e filho receberam alta justamente no Dia das Mães. “Estou muito feliz de termos ido embora todo mundo junto. Podia ter ocorrido o pior, mas os dois se recuperaram no momento certo. Com certeza, foi um presente de Dia das Mães, uma felicidade que ela ganhou neste momento e que comprova nosso grande amor”, declara Ricardo. O papai passou pelos exames, mas testou negativo para o novo coronavírus.
 
Enquanto aguardava a alta médica, o mais novo brasiliense ganhou um equipamento de proteção facial confeccionado especialmente para os bebês pelas enfermeiras do hospital, que substituiu a máscara comum. “O Davi não chegou a fazer teste, não houve necessidade, porque só realizamos exame no neném se a mãe tiver sintomática. Como tinha mais de 10 dias que a Mariene apresentava os sintomas, ela não está mais contagiante. Mas, obviamente, tanto ela quanto o bebê serão observados”, afirma Ricardo de Souza Monteiro.
 
Em casa, Mariene está isolada, em um quarto separado, por uma semana. O único contato que ela tem com Davi é a amamentação. “Ela está bem cansada ainda, se recuperando da cirurgia. Tem dia que chora por não poder sair. O Davi é muito tranquilo, só mama e dorme. Não vemos a hora disso tudo passar e podermos reunir toda a família e dar aquele abraço”, afirma o pai. Ele segue as orientações dos médicos e usa máscara, inclusive, dentro de casa.
 
Precaução
 
Apesar de não haver trabalho científico que comprove a contaminação do neném pelo novo coronavírus durante a gestação, neste período de pandemia, o parto, como procedimento médico e cirúrgico, também sofreu mudanças. A equipe que atua foi reduzida para não haver aglomeração. Todos os equipamentos de proteção foram reforçados, com a utilização de luvas, capotes, máscaras equivalentes a N95 e ainda as de proteção facial acrílica, do modelo face shield.
 
“Triplicamos os protocolos de limpeza das salas e diminuímos a exposição da equipe. O objetivo disso é diminuir o risco de contaminação dos profissionais que prestam assistência às gestantes, já que o vírus é transmitido pela pessoa e pelo ambiente. Dessa forma, também reduzimos o consumo de equipamentos de proteção individual (EPIs), que estão difíceis de conseguir em todo o mundo hoje”, detalha Monteiro. Nesse período de pandemia, o parto humanizado, com a presença de um acompanhante, está temporariamente proibido no Hran.
 
Moradora de Águas Lindas de Goiás (GO), Gislene de Souza Ferreira, 31, também integra o time que permite encontrar singelos sorrisos em meio a tantas notícias ruins. Na madrugada da última quarta-feira, ela deu à luz as gêmeas Helena e Elisa, com 2,380kg e 2,305kg, respectivamente. Embora o primeiro teste de Gislene tenha dado negativo para o novo coronavírus, a equipe médica do Hran preferiu aguardar o resultado da contraprova. As bebês receberam máscaras de proteção criadas pelas enfermeiras da unidade e, dias depois, foram levadas para casa pelo pai.
 
Ele recebeu o resultado negativo ontem, contudo, como teve algumas complicações no parto, foi levada para o Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde segue em acompanhamento. Sem previsão de alta médica, Gislene aguarda ansiosa o encontro com as filhas. O encontro com Helena e Elisa tem sido por meio de foto. A paciente está em um quarto da maternidade da unidade de saúde. Além das gêmeas, ela é mãe de outras três meninas.
 
As 11 maternidades onde são realizados os partos na rede pública de saúde do DF ficam localizadas nos hospitais de Ceilândia, Planaltina, Taguatinga, Asa Norte, Samambaia, Gama, Santa Maria, Sobradinho, Brazlândia, Paranoá e no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib). Com a pandemia, cada Superintendência Regional de Saúde passou a atribuir normas de funcionamento específicas, de acordo com o espaço físico disponível nos protocolos clínicos. Ao dar entrada no hospital, a gestante é informada sobre a questão do coronavírus e tem direito a um acompanhante, que não esteja com sintomas gripais. “Alguns hospitais estenderam os turnos de acompanhamento de seis para 12 horas, para reduzir o fluxo de pessoas. As maternidades também diminuíram ou eliminaram os horários de visitas”, esclareceu a pasta, em nota.
 
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Correio Braziliense segunda, 11 de maio de 2020

O LADO HUMANO DA LUTA

 

O lado humano da luta
 
Em meio ao combate contra o novo coronavírus, o Correio destaca histórias de pessoas que enfrentam essa doença. Pacientes, enfermeiros e médicos relatam o drama que está por trás das estatísticas da covid-19

 

» ALAN RIOS
» THAIS UMBELINO

Publicação: 11/05/2020 04:00

 

"Em anos anteriores, nos preparamos para várias epidemias, mas nada como agora. O que estamos vivendo é diferente. Isso resulta em um nível de estresse imensurável" Joana D'arc Gonçalves, infectologista do Hran

 



Por trás de cada número do novo coronavírus, existem várias vidas, dramas, tragédias e vitórias. Uma pessoa infectada gera sentimentos de angústia e preocupação em familiares e amigos, e mobiliza os cuidados e atenções de diferentes profissionais de saúde, que também sentem o peso emocional de encarar a doença. Com a crescente curva de casos sobre contaminados e falecidos pela covid-19, aumenta também a pressão de quem convive diariamente com esses riscos. “Sentimos insegurança e medo, igual a todo mundo”, afirma Joana D’arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
 
A médica é uma das profissionais de saúde que está na linha de frente do combate ao coronavírus no Distrito Federal. Atuando na área há mais de 20 anos, ela diz que nunca presenciou um momento como esse. “Em anos anteriores, nos preparamos para várias epidemias, mas nada como agora. O que estamos vivendo é diferente. Isso resulta em um nível de estresse imensurável”, avalia. A rotina de Joana D’arc é praticamente toda dedicada ao trabalho, com atendimentos, tratamentos, estudos de pesquisas sobre medicações de combate ao coronavírus e mensagens no celular com colegas e familiares durante quase 24 horas. “Não existe dia, noite ou fim de semana, a realidade é bem complexa”, afirma.
 
O Hran é o hospital de referência para atender aos casos de coronavírus. Boa parte dos pacientes que chega ao local está com sintomas e carga viral maior, de acordo com a infectologista. “Temos que estar muito bem preparados, vigilantes o tempo todo e com uma preocupação enorme, porque nunca sabemos o estado do paciente que está na nossa frente”, lembra.
 
Além da população em geral, os próprios profissionais acabam sofrendo com as contaminações. “Temos colegas que foram infectados e passaram por situações de gravidade. Confesso que é algo que dá vontade de chorar, nos sentimos muito impotentes. A maioria das pessoas que trabalha na saúde tem como missão querer fazer o bem, salvar, e acabam se arriscando mais, se infectando mais e morrendo mais”, lamenta a médica.
 
Isolada de toda a família, Joana só vê a filha, que mora com ela e não sai de casa. O que alivia nesses momentos são os encontros virtuais por ligações de vídeo. Quando surge um tempo raro, a infectologista recorre à meditação e leitura de temas diferentes do que encontra na realidade. “É preciso fazer isso para aliviar, porque o profissional da saúde é igual a todo mundo. Temos nossas carências de afeto, nossos medos. Mas queremos ajudar e não podemos parar de trabalhar. Enquanto isso, vamos comemorando vitórias, como a que tivemos recentemente, da primeira paciente que foi para a UTI do Hran e sobreviveu. Nesses momentos, a gente chora de alegria, porque é como se a pessoa tratada fosse da nossa família, já que passamos esse tempo todo no hospital”, conta.
 
O senso de responsabilidade também é grande para a técnica de enfermagem Cristiane Diniz. “A maior dificuldade é lidar com o emocional”, relata. Durante a carga horária, ela atende pacientes suspeitos e confirmados com a covid-19 na área de internação. O medo é transformado pela motivação em ajudar o próximo. “É um pouco mais desgastante, porque o trabalho, em si, dobra. Temos que ter muito mais cuidado, devido ao contato próximo com o paciente”, explica.
 
Com a pandemia, a rotina no hospital também mudou. Algumas medidas foram adotadas para garantir a prevenção do contágio do novo coronavírus. Entre tantos desafios enfrentados, o maior, para a técnica de enfermagem, é acalmar os pacientes infectados e trazer segurança. “Certa noite, um paciente me chamou porque queria conversar. Pediu para passear comigo no hospital, mas expliquei que não podia. O nosso principal papel nesse momento é tranquilizá-los”, define.
 
Para enfrentar a doença, a profissional decidiu evitar notícias negativas e valorizar os momentos bons. “Caso contrário, não vamos conseguir. A gente tem que respirar fundo sempre”, desabafa. O hospital no qual trabalha oferece atendimento psicológico aos funcionários. “Eu voltei de férias no momento em que a pandemia tinha começado. No início, pensei em desistir. Mas a psicóloga me atendeu e me ajudou a lidar com a situação”, explica a técnica de enfermagem.
 
O contato direto com pacientes infectados pela covid-19 faz com que o clínico geral Marcos Pontes seja ainda mais meticuloso com o uso correto dos equipamentos de proteção. “A exposição é muito maior para os profissionais de saúde e, no meu caso, como decidi não me afastar da minha família, o cuidado deve ser dobrado”, explica. O médico atua no Hran e recebe pacientes que foram atendidos em outras unidades, com indicativo para coronavírus. “A estrutura do hospital ajuda bastante e facilita o trabalho. Além de acesso aos instrumentos para atuação, temos um corpo técnico preparado com médicos experientes”, acrescenta.
 
Além do Hran, Marcos alterna a rotina em outros dois hospitais. “O ritmo de trabalho não mudou tanto com a pandemia, mas inseri hábitos mais saudáveis para cuidar da imunidade”, conta. Alimentação controlada, sono em dia e trabalhar a inteligência emocional são algumas das atitudes do profissional. Para ele, porém, a principal dificuldade é a falta de informação pela sociedade sobre os sintomas, a gravidade da doença, a contaminação e o tratamento. “O conhecimento ajuda muito, e, sem ele, há pânico. Se a pessoa deixar o medo ser maior, isso será maléfico”, opina. A união no trabalho é o principal elemento para o enfrentamento da doença. “Todos estamos no mesmo barco. Juntos somos mais fortes. Esse momento difícil nos aproxima da fé e acredito que, quando tudo acabar, as pessoas vão sair mais fortalecidas”, conclui.


Depoimento

Cartas solidárias
 
Um projeto desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) produziu cartas com poemas, citações, recados e muita gratidão para os profissionais que trabalham em unidades de saúde do DF. A entrega dos textos foi realizada nesta semana no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), pela professora de terapia ocupacional da UnB Flávia Mazitelli, que detalhou a ação ao Correio. Confira:

“O projeto é uma das ações do Grupo de Trabalho de Promoção e Prevenção, coordenado pela professora Josenaide Engracia, que integra o Plano de Contingência em Saúde Mental e Apoio Psicossocial, coordenado pela professora Larissa Polejack. Toda a comunidade acadêmica — estudantes, docentes e técnicos administrativos — é convidada a escrever cartas de solidariedade aos profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à covid-19.

Esses profissionais não são apenas os da saúde, mas também os da segurança, serviços gerais, vigilância sanitária, nutrição, cozinha e outros. Os textos chegam no nosso e-mail promo.prev2020@gamil.com. Passamos para papéis de carta e as direcionamos aos profissionais. Inicialmente ,foram enviadas ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) e, posteriormente, também encaminhadas ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no combate ao coronavírus. Foi emocionante poder representar minha universidade e levar palavras singelas de apoio e empatia a esses profissionais, que estão abrindo mão de tanta coisa e passando por situações inimagináveis. Poder contribuir com tanto afeto e solidariedade foi um presente para mim! Em um momento tão difícil como esse, manifestações de empatia e compaixão são fundamentais.”


Trechos das cartas

“Você é imprescindível para a nossa sociedade, merece os nossos melhores elogios. Lembre-se disso diariamente! Desejamos que a sua luta assegure muitas conquistas, pois,a maior delas você acaba de conquistar: a gratidão”

“Gostaria de desejar-lhes muito afeto, força e carinho em agradecimento ao trabalho de vocês. O trabalho que vocês têm desempenhado tem sido extremamente corajoso e inspirador. Estes tempos difíceis nos têm exigido senso de responsabilidade coletiva e humanidade em dobro, e a resiliência e o cuidado de vocês têm nos ensinado, dia a dia, sobre este senso”

“Imaginamos que não seja fácil chegar ao ambiente de trabalho e se deparar com os impactos causados pela covid-19, mas você está nos mostrando que honra a farda, que a profissão vai além de cuidar de um patrimônio.”
 
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Correio Braziliense domingo, 10 de maio de 2020

A BRAVURA DAS MÃES DA SAÚDE
 
 
A bravura das mães da saúde

 

Publicação: 10/05/2020 04:00

A médica infectologista Marli, de branco, com mães e colegas no Hospital Santa Lúcia (Grupo Santa Lucia/Divulgação)  

A médica infectologista Marli, de branco, com mães e colegas no Hospital Santa Lúcia

 



Médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, técnicas e outras profissionais que atuam em hospitais, postos de saúde e unidades na linha de frente contra o coronavírus são heroínas de jaleco. Elas se dividem entre a missão de ajudar os pacientes e o receio de contaminar os filhos e familiares. Essas mulheres se arriscam todos os dias e são dignas da maior gratidão.
 
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Correio Braziliense sábado, 09 de maio de 2020

QUANDO OS DIAS NÃO TÊM FIM: EM PERMANENTE ESTADO DE ALERTA

 

 

QUANDO OS DIAS NÃO TÊM FIM

 

 

Em permanente estado de alerta
 
Com as preocupações e mudanças causadas pela pandemia do coronavírus, muitos não conseguem estabelecer uma nova rotina, o que prejudica os hábitos de sono. Noites maldormidas podem baixar a imunidade

 

ANA CLARA AVENDAÑO*

Publicação: 09/05/2020 04:00

Victor Mayrinck desenvolveu ansiedade desde que ficou completamente isolado e não consegue ter uma boa noite de sono (Carlos Vieira/CB/D.A Press
)  

Victor Mayrinck desenvolveu ansiedade desde que ficou completamente isolado e não consegue ter uma boa noite de sono

 

O isolamento social causa muitas incertezas, exige adaptações na rotina e desencadeia ansiedade — fatores que afetam diretamente o sono. Entre os principais motivos da insônia, enumeram especialistas, estão, justamente, mudanças nas atividades do dia a dia, instabilidade nas relações interpessoais e de emprego e incerteza sobre o futuro. Esse desequilíbrio abala a produtividade e diminui a imunidade, tão importante em tempos de pandemia.
 
Para a psiquiatra e especialista em sono Ana Paula Faber, o momento é de muito estresse, uma porta de entrada para o desenvolvimento e o aumento da ansiedade. “Caso a pessoa esteja com mais dificuldade de adaptação e/ou o estresse for grande demais, cria-se se um quadro de ansiedade, mas não a ansiedade simples, e, sim, o transtorno. Isso afetará diretamente o sono”, explica.
 
Segundo o neurologista Cláudio Roberto Carneiro, a redução da realização de exercícios físicos, durante a quarentena, é mais um agravante, pois minimiza os estímulos do sono. E as alterações no ciclo vigília-sono (ficar acordado durante a noite e dormir de dia) contribuem para o desenvolvimento da insônia secundária ao estresse e à ansiedade. “As pessoas acordam mais tarde, sem horário certo para a alimentação, passam mais tempo em frente à tevê — e o consequente aumento à exposição direta da luz —, e não têm horário certo para dormir”, explica o neurologista.
 
Pela madrugada
 
A estudante e redatora de blog Mayariane Castro, de 18 anos, não tem uma noite de sono reparadora desde o início do confinamento. “Não tenho dormido bem porque o impacto da quarentena foi muito grande na minha vida. Sou extremamente ativa e minha rotina mudou totalmente. Antes das medidas de contenção da covid-19, meu dia começava às seis da manhã e ficava até as 21h na rua; agora, passo o dia inteiro dentro de casa” conta.
 
É de suma importância ter o sono regular para o bom funcionamento do corpo. “O sono não é a ausência de atividade cerebral, mas um período cíclico com grande atividade cerebral, necessário para manter a homeostasia (processo de regulação em que um organismo mantém seu equilíbrio constante)”, explica Cláudio. Apesar das aulas a distância da faculdade, do curso de línguas e do emprego, Mayariane não consegue ter uma rotina normal por causa de insônia. “Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação”, desabafa a estudante.
 
A indisciplina e a estimulação excessiva do cérebro também são uma das principais razões para o desenvolvimento de insônia. “Hoje, existem muitos estímulos para as pessoas ficarem acordadas até mais tarde, e isso gera alteração do sono-vigília. Todo ser humano é diurno, mas uns são mais matutinos e outros, vespertinos. Além disso, a qualidade do sono da noite é muito melhor em relação à do dia”, esclarece Ana Paula.
 
A psiquiatra acrescenta que as luzes de tablets, celulares, tevê e outros aparelhos eletrônicos informam ao cérebro que ainda está de dia e deve permanecer acordado. “Essa iluminação inibe a produção do hormônio chamado melatonina, que estimula o sono.”
 
 

"Eu, literalmente, troquei o dia pela noite, às vezes, acordo às 18h. A vida não para, mas, aos poucos, eu vou parando, por conta dessa desregulação" Mayariane Castro, estudante

 

Ansiedade e sedentarismo
 
O universitário Victor Mayrinck, 18, também teve os hábitos de sono afetados devido ao isolamento social. Victor relata que as crises se iniciaram quando ele ficou em isolamento total porque teve contato com pessoas infectadas pelo coronavírus. “O principal fator que me faz não dormir é a adaptação a uma nova rotina, a ansiedade me consome por causa disso. Além da faculdade e de trabalhar dentro de casa, eu vivo preocupado com meu padrasto, ele é profissional de saúde e atua na linha de frente do combate ao coronavírus”, conta o universitário.
 
O estudante conta que a ansiedade aumentou bastante. “Tenho crises de enxaqueca constantes e tive um bloqueio na criatividade e no trabalho. Estou cada vez mais sedentário. Às vezes, me levanto da cama, caminho até a cozinha e fico ofegante”, relata Victor. Para evitar os distúrbios do sono, o neurologista Cláudio Carneiro aconselha se exercitar regularmente em casa, ter horários regulares do sono e das refeições, falar com familiares, mesmo via teleconferência, e tentar manter atividades prazerosas na sua rotina diária.
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
 
Como manter os hábitos saudáveis de sono
  • Tentar dormir em horários fixos/regulares.
  • Evitar atividades físicas nas horas antes de dormir.
  • Evitar uso de substâncias psicoestimulantes, como café, no período noturno.
  • Dormir em ambiente de baixa luminosidade e silencioso.
  • Reduzir a intensidade dos estímulos psicológicos nas horas próximas ao horário de dormir.
  • Ir à cama quando já estiver com sono. A cama não deve ser encarada como uma torturadora, e, sim, vista como uma companhia no período de insônia.
  • Evitar longos períodos de sono durante o dia.
  • Evitar uso de TV no quarto.
  • Evitar uso de objetos eletrônicos (celular, tablet) na cama, pois normalmente são telas muito iluminadas e podem dificultar o início do sono.
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Correio Braziliense sexta, 08 de maio de 2020

DIA DAS MÃES SOB ENCOMENDA

 

Dia das Mães sob encomenda
 
Comerciantes buscam opções para minimizar as perdas previstas nas vendas este ano, em relação à celebração da data em 2019, e apostam em serviços on-line, delivery e drive-thru. Atendimento personalizado também surge como alternativa

 

» Matheus Ferrari

Publicação: 08/05/2020 04:00

Luiz Guilherme Carvalho implementou o serviço de delivery durante a pandemia e prevê acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias (Minervino Júnior/CB/D.A Press )  

Luiz Guilherme Carvalho implementou o serviço de delivery durante a pandemia e prevê acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias

 

 
O feriado do Dia das Mães, celebrado no próximo domingo, tem levado diversos setores do comércio do Distrito Federal a buscarem estratégias para minimizar os impactos da crise causada pelo novo coronavírus. Com o fechamento das lojas físicas, comerciantes depositam a maioria das fichas em vendas on-line e delivery para aproveitarem a data, que é, historicamente, a segunda maior em termos de arrecadação para o setor, perdendo apenas para o Natal. Fecham-se as portas, abrem-se os canais de comunicação. Sites, redes sociais e atendimentos personalizados são alguns dos recursos que surgem como alternativa.
 
O Correio ouviu comerciantes e entidades representativas de diversos segmentos, como vestuário, confeitaria, panificação, restaurantes e floriculturas, para entender como tem sido a adaptação e quais são as projeções relacionadas à festividade do segundo domingo de maio. A queda no faturamento é certa para a maioria. No entanto, o Dia das Mães deve amenizar o prejuízo em alguns casos.
 
Dono de uma tradicional padaria na 113 Sul, Luiz Guilherme Carvalho, 38, implementou o sistema de entrega em seu negócio durante a pandemia. Segundo ele, com a proximidade do Dia das Mães, a demanda cresceu consideravelmente. “A loja está aberta por se enquadrar nos serviços essenciais, mas os pedidos por delivery têm sido crescentes. A gente não tinha esse serviço. Havia apenas um setor de encomendas”, conta.
 
O empresário já projeta queda no faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, a perspectiva é de que o Dia das Mães traga, ao menos, um alento em relação às últimas semanas. “É tudo muito novo. Também estamos aprendendo sobre o comportamento do cliente. Em todo feriado, aumentávamos nosso tíquete médio em 30%. Mas, nos últimos feriados, foi como se fossem um dia normal. Não teve acréscimo nenhum de venda. Não teve um fluxo maior. É como se não houvesse data comemorativa. Mas esperamos um acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias. A Belini é conhecida pelo chá da tarde, pelo café da manhã... Isso não estamos podendo fazer. Então, o faturamento vai ser muito abaixo do que foi o ano passado”, explica.
 
Projeções
 
Daniella intensificou as vendas on-line e testa o serviço de drive-thru (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 17/4/19)  

Daniella intensificou as vendas on-line e testa o serviço de drive-thru

 

 O negócio de Luiz Guilherme reflete as projeções do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). A entidade espera por números muito distantes dos cerca de R$ 90 milhões arrecadados em diversos setores da cadeia produtiva com o Dia das Mães de 2019. “Os segmentos que mais vão perder são os de moda feminina, calçados, perfumes e acessórios”, projeta o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta.
 
No entanto, segundo Abritta, consumidores e comerciantes estão adequando-se aos meios de vender e de adquirir os produtos. “O que vai prevalecer é a venda on-line.” É o caso de uma marca brasiliense de moda feminina que está no mercado há mais de 30 anos. Com seis pontos físicos no DF, a empresa intensificou o serviço prestado por meio da loja na internet para continuar atendendo aos clientes. “Logo que começou a quarentena, a gente focou no serviço on-line, que já estava implementado, mas de modo ainda lento”, explica Daniella Naegele, fundadora e diretora de estilo da Avanzzo.
 
Entretanto, segundo Daniella, algumas pessoas demonstraram dificuldades em se adaptar ao mercado virtual. Com isso, a empresa implementou uma espécie de drive-thru na loja da 206 Sul. As portas da loja permanecem fechadas ao público, mas os clientes podem ir até o local buscar produtos ou tirar dúvidas sobre as peças.
 
“A gente sempre teve um trabalho muito forte de fidelização com o cliente. On-line é muito eficiente, mas, às vezes, as pessoas se sentem um pouco inseguras de fazer a compra ou escolher”, pontua Daniella. “Estamos testando o drive-thru para aproveitar esta semana, que é superimportante, e também dar esse suporte de a vendedora ajudar as pessoas a escolherem o melhor presente.”
 
Segundo a empresária, todos os profissionais envolvidos tomam medidas de prevenção para evitar possíveis contaminações pelo coronavírus. “A equipe toda está preparada. As vendedoras usam luvas e máscaras. Temos três pessoas só para organizar isso”, diz. Mesmo com todas as estratégias pontuais, Daniella projeta uma queda de 80% a 90% nas vendas, em relação ao Dias das Mães do ano passado.
 
Acostumada com as vendas por meio do site, a gerente de uma floricultura na 302 Sul, Luciana Cardoso, 24, ainda não sabe o que a data comemorativa do próximo domingo trará de retorno para a loja. “O nosso serviço de entrega já é muito utilizado. Pela praticidade do site, onde você pode fazer o pedido, e também pelo telefone. Mas é uma incógnita. A expectativa é de que os clientes que viriam à loja peçam para entregar. Nós nos preparamos antecipadamente. Temos muitas opções de flores, vasos plantados e arranjos. Então, a entrega pode ser boa. Mas o presencial também conta muito.”
 
Contraponto
 
Beatriz Fernandes viu as encomendas de doces dobrarem este ano (Arquivo pessoal)  

Beatriz Fernandes viu as encomendas de doces dobrarem este ano

 

 Se há quem tenha certeza das perdas com a crise, existem empreendedores otimistas. Beatriz Fernandes, 24, tem visto as encomendas por seus doces caseiros aumentarem em relação ao Dia das Mães passado. “Eu me programei para fazer bem menos do que nos outros anos. Mas estou tendo uma procura muito grande. Maior do que imaginava. Vou ter que comprar mais embalagem”, afirma. Segundo ela, o faturamento será, no mínimo, o dobro, se comparado a 2019.
 
A crise, no entanto, também fez a estudante de farmácia remodelar o negócio da All Sweet. “Antes, eu usava as redes sociais mais como ferramentas alternativas. Hoje, elas são meus principais instrumentos. Tento explicar tudo por lá. Faço catálogo sobre o produto, com informações sobre conservação e data de validade. Antes, não fazia entrega, vendia na faculdade. Agora, passei a fazer entrega, e meu pai, que está desempregado, virou meu entregador. Levamos álcool em gel e vamos de máscara. Tem cliente que tem medo. Mas, quando vê que tomamos os cuidados, confia”, pontua Beatriz.
 
A farmacêutica Mariete Cardoso do Nascimento, 36, é uma das pessoas que não deixou de preservar a tradição de presentear a matriarca da família, apesar do isolamento social. Ela encomendou alguns doces com Beatriz para fazer um carinho à mãe, mesmo que a distância. “A forma como eu vou entregar vai ser diferente. Não vai ter contato, aquele abraço. Mas nem por isso a gente vai deixar de fazer o que sempre faz”, conta a moradora do Gama.
 
Orientações
 
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento com delivery triplicou na maioria dos estabelecimentos. Em alguns casos, a arrecadação com a entrega chega a ser quatro vezes maior, desde o início das medidas restritivas.

De acordo com a associação, os pedidos devem dobrar neste domingo. Por isso, a orientação é para que restaurantes reforcem o número de funcionários, além de aumentarem a quantidade de motoboys, para que não haja “congestionamento”. A associação também aconselha os clientes a fazerem a encomenda com antecedência. “A expectativa é de que o Dia das Mães aumente muito as vendas nos restaurantes. É uma data muito forte”, pontua Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF.
 
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Correio Braziliense quinta, 07 de maio de 2020

EXPECTATIVA DAS LOJAS

 

GDF tenta reverter proibição ao comércio
 
 
Decisão da Justiça Federal impede a reabertura de shoppings e lojas de rua a partir de segunda-feira. No entanto, presidentes de entidades acreditam em revisão da liminar. Em reunião no Buriti hoje, GDF terá de fornecer mais informações para as ações planejadas

 

» CAROLINE CINTRA
» JÉSSICA EUFRÁSIO
» Colaboraram Alexandre de Paula e Walder Galvão

Publicação: 07/05/2020 04:00

O governador Ibaneis Rocha inaugurou ontem dois blocos nos novos Centros de Detenção Provisória (CDPs), onde ficarão isolados os detentos que chegarem à Papuda (Renato Alves/Agência Brasília)  

O governador Ibaneis Rocha inaugurou ontem dois blocos nos novos Centros de Detenção Provisória (CDPs), onde ficarão isolados os detentos que chegarem à Papuda

 


A reabertura do comércio do Distrito Federal passa, outra vez, por um momento de incerteza. Ontem, a Justiça determinou que o Executivo local mantenha aberto apenas o que está em funcionamento, como serviços considerados essenciais, além de lojas de eletrodomésticos e de material de construção. Apesar disso, representantes de entidades do setor e o governador Ibaneis Rocha (MDB) estão na expectativa de que a decisão seja revertida. Hoje, integrantes do Judiciário visitarão o Palácio do Buriti para reunirem dados complementares sobre as ações planejadas.
 
Assinada pela juíza da 3ª Vara Federal Cível Kátia Balbino, a decisão liminar saiu na madrugada de ontem. Para a magistrada, a flexibilização do isolamento deve ser acompanhada de um cronograma, de medidas que impeçam a propagação da doença e da implementação de protocolos sanitários rígidos. “Concedo em parte a tutela de urgência para, por ora, apenas suspender qualquer ampliação do funcionamento de outras atividades que se encontram suspensas até novo pronunciamento desta juíza”, afirmou.

Um dos motivos para a não liberação de parte do comércio é a dificuldade de impor o respeito ao isolamento social no DF (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Um dos motivos para a não liberação de parte do comércio é a dificuldade de impor o respeito ao isolamento social no DF

 

Ibaneis disse ao Correio que recebeu a decisão com “bastante tranquilidade e serenidade”. “A visita de amanhã (hoje) nos agrada muito. Mostra o respeito do Poder Judiciário com o Distrito Federal. Estamos com todo o material técnico para apresentar, todos os quadros, tudo isso elaborado. Também fiz o convite (para a visita) ao presidente da Câmara Legislativa (Rafael Prudente), porque acho importante a participação do Poder Legislativo neste momento de compartilhamento e responsabilidade”, declarou.
 
Na semana passada, a magistrada exigiu que DF e União apresentassem informações sobre a situação da saúde e dos casos de covid-19 na capital antes que as atividades em setores não essenciais fossem retomadas. Se a juíza federal mantiver a determinação, não há nova data prevista para a reabertura das lojas. No entanto, caso a decisão seja revertida, o Governo do Distrito Federal (GDF) deve manter a nova etapa da flexibilização na segunda-feira, com a reabertura de shoppings e lojas de rua.
 
Ainda ontem, os casos da doença chegaram às 31 regiões administrativas. Dois meses depois do primeiro diagnóstico da doença no DF, a Fercal teve um paciente contaminado pelo novo coronavírus, segundo a Secretaria de Saúde. A cidade era a única que não tinha registros de infecções.
 
Alternativas
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Francisco Maia afirmou que recebeu a notícia com “muita surpresa”. Apesar disso, ele acredita que as informações prestadas pelo GDF atenderão às expectativas da magistrada. “O governo garante que tem leitos, equipamentos de proteção individual e estrutura suficientes para o caso de acontecer um surto maior. Quanto à segurança, há protocolos. A tudo o que está no decreto previsto, os comércios têm condições de atender. Então, isso nos deixa tranquilos de que a decisão possa ser favorável ao setor produtivo”, avaliou.
 
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL), José Carlos Magalhães Pinto, a decisão foi frustrante em uma economia abalada. Mesmo assim, ele se considera otimista. “Temos esperança de que, depois da visita à sala de controle (do Palácio do Buriti), essa decisão será revista. Não estamos falando que a juíza errou ou acertou. Não tem um culpado nisso. Temos de ver como sair (do isolamento), seja aplicando horários alternativos nos comércios, seja colocando mais ônibus para evitar aglomerações, seja orientando caronas solidárias, seja flexibilizando as leis trabalhistas”, sugeriu.
 
A comerciante Marcela Marques, 29 anos, preparava o retorno das atividades para a segunda-feira. No entanto, a decisão judicial pode mudar os planos da empresária. “Com o fechamento da loja, precisei dispensar todo mundo. Uma das funcionárias estava em Goiânia, na casa dos pais, e, para voltar ao trabalho, ela precisou se organizar lá. Com essa notícia, ficou ruim, porque fica esse abre ou não abre”, opinou. Proprietária de uma loja de serviços para cães inaugurada em dezembro, Marcela contou que teve de fechar as portas devido à pandemia. “É ruim, porque não deu tempo de ter o retorno de todo o investimento que fiz na abertura. Precisei me reinventar, vendendo alguns artigos para pets. Mas o faturamento não chega a 40% do que tenho com a loja aberta”, calculou.
 
 
Três perguntas para
 
Leandro Machado, médico infectologista e mestre em infectologia e medicina tropical
 
A reabertura dos comércios na próxima semana significaria ter um aumento do número de casos no DF?
O pico da doença ainda não chegou aqui ao Distrito Federal, diferentemente do que aconteceu nas outras unidades da Federação. Abrir o comércio pode fazer subir o número de casos, porque a quantidade de pessoas circulando vai aumentar e, assim, cresce o número de infectados. Estamos percebendo nos prontos-socorros, por exemplo, mais pessoas buscando atendimento por causa de algum quadro gripal. A quarentena ficou mais solta, as pessoas estão na rua e o fluxo nos hospitais aumentou.
 
Em se tratando de saúde, a decisão da Justiça Federal é a ideal neste momento?
É difícil saber o que é ideal, porque não há uma receita certa. A medida protetora que vai diminuir os casos é o isolamento, pois não existe vacina ou tratamento contra a covid-19. Em isolamento, há a menor chance de colapso na saúde. Qual a repercussão econômica disso e se é necessário fechar (o comércio) nesta época só saberemos mais para a frente. Os riscos da piora econômica ou do aumento do número de pessoas infectadas são o que tem de se pesar.
 
Se a reabertura dos comércios ocorrer na próxima semana, quais medidas extras devem ser tomadas?
Limitar o número de pessoas por loja tem de ser avaliado. Toda medida de prevenção deve ser tomada neste momento. O uso de máscara é importante tanto para quem tem a doença quanto para quem não tem. Além disso, higienizar as mãos, usar álcool em gel e manter uma distância segura são importantes.
 
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Correio Braziliense quarta, 06 de maio de 2020

A SOLIDARIEDADE PRECISA CONTINUAR

 

A solidariedade precisa continuar
 
 
Em tempos de pandemia e isolamento social, as necessidades de quem mais precisa continuam. Organizações não governamentais (ONGs) e voluntários seguem recebendo doações para ajudar o próximo

 

» Jonathan Luiz*
» Thalyta Guerra*

Publicação: 06/05/2020 04:00

As amigas Marina Rodrigues e Marina Lopes se conheceram no posto de saúde e, durante a amamentação, a amizade ficou ainda maior (Ana Rayssa/CB/D.A. Press)  

As amigas Marina Rodrigues e Marina Lopes se conheceram no posto de saúde e, durante a amamentação, a amizade ficou ainda maior

 



A economia estagnou, as festas e eventos esportivos foram suspensos, o mundo parou. Mas a empatia e o amparo a quem precisa não podem parar. Muitos bebês recém-nascidos dependem da doação de leite materno. Pacientes que necessitam de cirurgia, continuam em busca das doações de sangue. Asilos e abrigos para crianças também dependem, ainda mais neste momento complicado, da solidariedade.

No início de março, os estoques de sangue caíram 25% e a coleta domiciliar de leite materno 35%; os dados são do Hemocentro de Brasília e da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), respectivamente. Apesar dessa situação, na segunda metade do mesmo mês houve recuperação e estabilização dos níveis do banco de sangue.

Neste mês, o Hemocentro informou que o movimento de doadores continua regular. No entanto, devido ao aumento da demanda, o grupo sanguíneo A negativo está em queda desde a última semana. O estudante Jordan Barbosa, 21, morador de Ceilândia, contribuiu neste ano. “É uma boa ação que está acessível para a grande maioria da população, e os hospitais estão sempre precisando de sangue”, conta. Além disso, ele incentiva. “Sempre quando doei fui acompanhado de amigos, e sonho com o dia em que eu consiga convencer meus pais a doarem”.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a coleta de leite materno diminuiu, pois as mães estão com medo de receber os profissionais responsáveis pela coleta domiciliar. A coordenação de bancos de leite humano lembra que durante a coleta são cumpridas com rigor as recomendações da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano e do Plano de Contingência da SES-DF. Assim, as doadoras não só podem, como devem continuar contribuindo para outras mães que não puderam amamentar.

Amizade


Duas mães que fizeram o pré-natal no mesmo centro de saúde, moradoras do Guará 2, criaram um laço de amizade que será lembrado para sempre. A gestora de recursos humanos Marina Lopes, 25, não produziu leite materno para amamentar a filha Valentina, que nasceu há dois meses. Ela lembrou da companheira que conheceu no posto de saúde, durante a gravidez, e pediu para que ela doasse leite materno a sua bebê recém-nascida.

Marina Rodrigues, 32, aceitou o pedido da xará. Mãe de dois filhos, ela foi doadora durante a primeira gestação e resolveu ser “mãe de leite” novamente. Desta vez, pela amizade com Marina, que recebe o leite coletado a cada dois dias. “Eu sempre levo o potinho na casa dela e ela enche. O leite dura dois dias, então, vou à casa dela, mais ou menos, três vezes por semana para buscar a coleta. Tentei entrar na fila de espera do banco de leite do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), mas iria demorar muito, já que a prioridade do hospital são os bebês que estão internados lá”, relata.

Marina Lopes conta que a doação do leite faz toda a diferença. Ela se mostra confiante quanto aos cuidados que a doadora adota em relação à amamentação. “Eu me sinto segura, sei que ela toma todos os cuidados de higiene. Isso me ajudou muito, foi um momento em que minha filha estava com muita cólica, e ela dividiu o leite do filho dela comigo, por amor”, relata. Além do leite materno doado pela amiga, a filha de Marina também toma leite especial para reforçar a alimentação. 

A autônoma Joyce de França, 24, mora em Taguatinga, é mãe de um bebê de apenas três semanas e já contribui com doações. “Eu produzo muito leite e sei a importância disso para os bebês. Enquanto eu puder doar, vou fazer. Não vou desperdiçar algo tão importante”, salienta. Ela lembra ainda da importância de estimular solidariedade. “Outra mamãe começou a doar na semana passada por incentivo meu”.

* Estagiários sob orientação de Adson Boaventura


  • Saiba mais

    De acordo com recomendações da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, da Fiocruz, a amamentação deve ser mantida em caso de infecção pela Covid-19, desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-la.

    A mãe infectada deve seguir as orientações de higiene para reduzir o risco de transmissão do vírus por meio de gotículas respiratórias durante o contato com a criança, incluindo a amamentação.

    • 1- Lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes de tocar o bebê ou antes de retirar o leite materno (extração manual ou na bomba extratora)

    • 2 - Usar máscara facial (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação

    • 3 - A máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro ou a cada nova mamada


  • Como doar

    Leite materno

    Para ajudar os bebês, a mãe doadora pode fazer o cadastro no Disque Saúde 160, opção 4, pelo site Amamenta Brasília ou pelo aplicativo disponível em IOS e Android. Há ainda a possibilidade de mandar mensagem para o número 99132-8846 e informar que deseja doar.

    O aplicativo facilita o acesso das doadoras de leite materno aos bancos de leite da rede pública. Por meio dele, a doadora poderá se cadastrar, informar o local de retirada do leite e solicitar mais potes para doação. A plataforma também oferece para as mães uma equipe responsável para coletar o leite na região onde moram.

    Também pelo aplicativo, os bombeiros responsáveis pela coleta do material podem criar rotas de GPS, de forma a otimizar o trabalho. Além disso, os profissionais têm a possibilidade de contatar as doadoras, que conseguirão notificar as equipes de recolhimento do leite humano.

    Sangue

    Devido ao coronavírus, desde 25 de março de 2020 o Hemocentro atende somente doações de sangue agendadas. A medida tem o objetivo de controlar o número de doadores que aguardam no ambiente.

    O agendamento individual, ou de grupos, deve ser feito pelos telefones (61) 3327-4413 ou (61) 3327-4447. Nesses contatos, o atendimento é de segunda a sábado (exceto feriados), das 7h às 18h.

    O agendamento individual também pode ser feito pelo 160, opção 2, ou 0800 644 0160. O horário de atendimento é de segunda a sexta, das 7h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h.

    Vale lembrar que quem teve contato com pessoa diagnosticada ou com suspeita de coronavírus, assim como quem retornou de viagem internacional recente, fica impedido de doar sangue por 14 dias. Esse prazo também se aplica aos candidatos com febre ou sintomas respiratórios (tosse, irritação ou dor na garganta), até o desaparecimento completo desses sinais.


  • Coleta

    • 1 Procure tirar o leite em um lugar limpo e tranquilo da casa

    • 2 Use potes de vidro com tampa plástica

    • 3 Ferva os potes por 15 minutos e deixe que sequem sobre um pano limpo

    • 4 Use uma touca ou um lenço na cabeça

    • 5 Coloque uma máscara sobre o nariz e a boca

    • 6 Lave as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão

    • 7  Lave as mamas apenas com água
    • 8  Seque as mamas e as mãos com um pano limpo

    • 9  Massageie os seios com a ponta dos dedos, com movimentos circulares, e inicie a coleta diretamente no pote

    • 10  Encha o pote até faltarem dois dedos para completá-lo e, caso seja necessário, recomece uma nova coleta em outro pote higienizado

    • 11  Identifique o pote com seu nome e a data em que retirou o leite pela primeira vez. Para completar um pote que já está no congelador, faça a coleta em um copo de vidro e depois despeje no pote.

    • 12  O leite pode ficar até 10 dias no congelador ou no freezer.

    • 13  O Corpo de Bombeiros buscará a doação em sua casa após seu contato.
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Correio Braziliense terça, 05 de maio de 2020

ALÍVIO NA EUROPA: CRIANÇA DE 3 ANOS REENCONTRA-SE COM OS PAIS, APÓS QUATRO SEMANAS DE ISOLAMENTO

 

Alívio na Europa

 

Publicação: 05/05/2020 04:00

Com mais de 145 mil mortos, a Europa começava ontem a flexibilizar as restrições impostas a milhões de habitantes. Apesar da suspensão de medidas de distanciamento social em alguns países, os cidadãos mantiveram a cautela. A Espanha colocou em marcha a chamada “fase zero” da desescalada e testemunhou uma corrida aos salões de beleza e barbearias. Na Itália, país mais castigado do continente, com 29.079 mortos, os habitantes já podem sair de casa, segundo um programa de desconfinamento que varia de acordo com a região. “A emergência não terminou”, advertiu a ministra do Interior, Luciana Lamorgese. A nação adota uma abertura considerada muito prudente: sem comércio varejistas, sem bares ou restarantes (com autorização apenas para vendas de refeições retiradas pelos clientes), com estímulo ao trabalho à distância e proibição de festas de família.

O governo italiano permitirá, no entanto, que familiares de uma mesma região se encontrem. Existe preocupação com o risco de uma segunda onda de infecções. “As novas regras são bem mais vagas. Temo que, para muitos, será uma desculpa para fazer o que desejam e encontrar todo mundo, primos, namoradas...”, comenta Alessandra Coletti, uma professora de 39 anos.

 Na Áustria, alunos da última série do ensino fundamental voltaram às aulas, como também ocorreu em alguns estados da Alemanha. No Leste Europeu, terraços de cafés e restaurantes reabriram na Eslovênia e Hungria, exceto na capital, Budapeste. Na Polônia, também reabriram hotéis, centros comerciais, bibliotecas e museus. Em outros países europeus, o desconfinamento ainda não ocorreu. Na França, que registra mais de 25 mil mortos, o mesmo terá início na próxima segunda-feira, por região. As autoridades não vão impor uma quarentena aos passageiros procedentes de países da União Europeia, do espaço Schengen ou do Reino Unido. Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve anunciar no domingo um plano de alívio das medidas no país, que registra mais de 28 mil óbitos.

Vacina

 Em Bruxelas, uma campanha mundial para arrecadar fundos organizada pela União Europeia conseguiu 7,4 bilhões de euros (cerca de R$ 44,6 bilhões) para financiar a pesquisa de uma vacina. Organizadora da conferência de doadores, que recebeu o apoio dos principais dirigentes europeus, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que uma vacina “é nossa maior chance coletiva de vencer o vírus. Temos que desenvolvê-la, produzi-la e estendê-la a todos os cantos do mundo a preços acessíveis”, disse.

 

 (Facebook/Reprodução)  

 Reencontro emocionante em Portugal

Foram quatro semanas de isolamento. Depois de a família ser afastada pelo novo coronavírus, o menino Salvador, de 3 anos, reencontrou-se com os pais, Ricardo Soares (28 anos) e Vânia Mendes (24). Portadores da Covid-19, o casal português precisou se isolar, entre 3 de abril e a semana passada, até a recuperação. Tudo para impedir que o filho fosse infectado também. “Ele (Salvador) só perguntava onde estávamos. Dizíamos que estávamos no hospital ajudando os médicos a tratar dos doentes”, contou Ricardo ao jornal Correio da Manhã. Antes de rever o filho, que ficou com um parente, eles tiveram de passar por três testes até sair o resultado negativo. O abraço da família foi marcado por lágrimas e por abraços apertados. “A mãe não te deixa mais”, disse Vânia, ao acarinhar o filho. Até a noite de ontem, o vídeo do encontro contabilizava 81.970 visualizações. 

 

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Correio Braziliense segunda, 04 de maio de 2020

O CANTO DE BRASÍLIA

 

O canto de Brasília
 
Spalla da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, Lilian Raiol sempre sonhou em integrar o conjunto e é uma das poucas mulheres negras em cargo de liderança sinfônica brasileira

 

Nahima Maciel

Publicação: 04/05/2020 04:00

 (Daniel Marques/Divulgação)  
 
 
O sonho de Lilian Raiol sempre foi atravessado por Brasília. E o violino, aprendido desde a primeira infância, sempre fez parte desse cenário. Spalla da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), cargo mais importante do conjunto depois do maestro, a musicista de 39 anos nunca enxergou a própria trajetória sem o Plano Piloto e, mais ainda, sem a orquestra fundada por Claudio Santoro nos anos 1980.
 
Filha de um militar que sempre gostou de música e de cantar, Lilian nasceu em Macapá, mas saiu de lá aos 6 meses para morar em Manaus, onde ficou até os 5 anos. Os pais, paraenses, desembarcaram com a família em Brasília em meados dos anos 1980 e, aos 10 anos, Lilian já estava matriculada na Escola de Música. “Eu tinha educação musical em casa, meu pai nos ensinou a cantar e eu cantava desde os 5 em igreja. Meu pai tocava violão e ele viu que eu tinha afinação, quis investir para que eu estudasse música”, conta.
 
O violino entrou para a vida de Lilian quando ela completou 11 anos. A origem do fascínio pelo instrumento, ela não sabe contar ao certo, mas lembra da primeira vez que se deparou com esse conjunto harmônico de madeiras e cordas. “Nossa igreja tem uma orquestra grande e ali foi a primeira vez que vi um violino. Aquilo me chamou a atenção porque achava lindo. Foi amor à primeira vista”, lembra. Na época, foi estudar com a professora Denise Gomes, também violinista da OSTNCS, o que ajudou a alimentar um olhar de admiração para a sinfônica. Aos 17, Lilian entrou para o curso de música da Universidade de Brasília (UnB) e fez licenciatura em música, sob a tutela da professora Ludmila Vinecka, outra integrante da orquestra.
 
A convivência com músicos da OSTNCS e a presença constante nas apresentações fez Lilian ter certeza de que queria integrar o grupo. No entanto, ela ainda precisaria percorrer um bom caminho, já que a orquestra é um órgão público para o qual só se entra por meio de concursos que, ao longo do tempo, são raros. Então, quando terminou a UnB, Lilian aproveitou que o pai, funcionário de hospital militar, havia sido removido para Pequim e foi morar na China. Passou dois anos no país, fez master classes no Conservatório de Pequim, estudou com um professor particular e decidiu se dedicar a aprender mandarim e um pouco mais sobre a música chinesa.
 
Experiências
 
Como o chinês é uma língua tonal, Lilian percebeu que músicos têm facilidade para aprender porque conseguem distinguir as diferenças sutis entre os tons. “Deu para aprender um pouco, a música ajuda muito, alguns sons são como se fossem uma nota aguda sustentada, o ouvido ajuda bastante”, conta a musicista que, além de ter aulas com um violinista da orquestra de Pequim, a maior do país, teve oportunidades enriquecedoras como a de assistir ao violinista Itzhak Perlman tocar no Grande Salão do Povo. “Meu professor perguntou se eu não queria conhecer a música chinesa, então fui explorar, estudei um pouco do repertório tradicional chinês, pra conhecer”, lembra.
 
Ao voltar ao Brasil, em 2003, Lilian precisou traçar planos profissionais. O concurso mais recente para a OSTNCS já havia sido realizado e ela acabou por voltar os olhos para São Paulo. “Então fui, em 2004, para fazer as provas para orquestras semiprofissionais”, lembra. Acabou entrando para Orquestra de Câmara da USP e se tornou academista (o equivalente a estagiário) da Sinfônica da USP. Para não deixar as aulas de lado, ela começou a ter aulas com Andreas Uhlemann, violinista da Osesp.
 
Para um músico, especialmente os jovens, ter um professor como referência, mesmo depois de formado e já iniciado na vida profissional, é fundamental. “É como se fosse um técnico”, conta Lilian. “Você é o jogador numa equipe profissional, mas precisa daquele olhar de fora, de alguém que entende e vai te ajudar a pensar de maneira diferente ou até com uma visão técnica mesmo. Sempre tem o que aprender, acrescentar.”
 
Nesse período, ela tratou de ampliar os horizontes o máximo possível. Se inscreveu para tocar com a Orquestra das Américas e com a Orquestra Mundial, que reúnem músicos das mais diversas nacionalidades, e fez três turnês por países como Canadá, Espanha e China. “São músicos de todos os lugares, muitos europeus, jovens. Foi incrível ter tocado em teatros grandes e modernos e com pessoas que compartilham aquela adoração pela música que todo jovem instrumentista tem”, garante.
 
Mas Brasília não saía da mira da musicista, na época com 24 anos. “Brasília é meu lar, minha casa, aqui me sinto tranquila, bem. E São Paulo é uma loucura, tudo bem que nem se compara a programação musical, mas eu acordava antes das 6h para estar na orquestra”, reflete. “E tinha o apego à orquestra, cresci vendo a orquestra. É um apego sentimental e emocional.”
 
Em São Paulo, ela ainda integraria a Orquestra Experimental de Repertório, formação de prestígio e muito seletiva quanto aos membros, uma espécie de pontapé importante para uma carreira nacional e internacional. Mas Lilian começou, então, a ouvir dos amigos que haveria concurso novamente para OSTNCS. O edital saiu em 2005, ela fez a prova, passou e não hesitou: largou tudo em São Paulo para voltar para Brasília.

A musicista ocupa o cargo mais importante da orquestra depois do maestro (Jhey Pi/Divulgação)  

A musicista ocupa o cargo mais importante da orquestra depois do maestro

 



Estudos
 
Em Brasília, o ritmo mudou. Lilian estava acostumada a ter cerca de 10 dias para aprender um repertório, mas as apresentações da OSTNCS são semanais e ela precisou mergulhar em partituras que nunca havia estudado e com pouquíssimo tempo para aprender. “Entrei no naipe dos primeiros violinos e passei ali os primeiros seis anos aprendendo repertório. A vivência de uma orquestra profissional que tem um concerto toda semana é muita coisa. No início, você não conhece tanto o repertório, tem que aprender tudo novo a cada semana, tem cinco dias para estar no seu melhor. Em pouco tempo aprendi todas as sinfonias de Brahms, Beethoven, Tchaikovsky. E continuei estudando”, explica.
 
Em 2011, ela se candidatou para fazer a prova de concertino, o violinista que senta ao lado do spalla que, na época, era a violinista Kátia Pinheiro. Lilian passou na prova interna e, quando a colega se aposentou, em 2016, aceitou o convite do maestro para que seguisse como spalla.
 
É um cargo especial em qualquer condição, mas que ganha dimensão mais simbólica por dois fatores. “O mundo musical erudito sempre foi muito fechado, até o início do século 20 eram, basicamente, só homens. As orquestras não aceitavam mulheres, principalmente pela questão da gravidez, para não desfalcar o grupo. E até hoje é um pouco assim. Mulher tem que mostrar serviço duas vezes mais que o homem para conseguir valer uma vaga. E spallas, então, tem muito poucas”, lamenta. “E negras, então, nem se fala. Até hoje, nas orquestras brasileiras, a quantidade de mulheres spallas é muito pouca e de negros, de forma geral, também. Mas esses projetos de inclusão social através da música têm ajudado pessoas carentes a construir carreira através da música.”
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 03 de maio de 2020

SAÚDE É O QUE INTERESSA - NUTRICIONISTAS OFERECEM RECEITAS SAUDÁVEIS

 

Saúde é o que interessa!

 

THAIS UMBELINO

Publicação: 03/05/2020 04:00

 (Twitter/reprodução - 15/12/17)  
 
 
A pandemia afetou diretamente o comportamento social na capital, e atitudes saudáveis passaram a ser um dos principais focos para ajudar na prevenção do novo coronavírus. Atividades físicas em locais restritos e alimentação balanceada são algumas das práticas adotadas pelos brasilienses. Durante o período, nutricionistas relataram maior procura no número de clientes com interesse em comer melhor e fortalecer a defesa do organismo contra o vírus. Isso porque a prática ajuda no fortalecimento da imunidade, aspecto importante para se evitar a Covid-19.
 
A infectologista Ana Helena Germoglio explica que um organismo nutricionalmente saudável a longo prazo, tem mais chances de responder melhor a quadros infecciosos. “A imunidade é formada por um conjunto de fatores, em que a alimentação balanceada entra como pilar acessório contra infecções por quaisquer micro-organismos. Para aqueles que ainda têm maus hábitos alimentares, nunca é tarde para começar: evite alimentos processados, reduza sal, gordura e açúcar, aumente a quantidade de frutas, verduras e legumes e procure fazer refeições em horários regulares e rotineiros”, aconselha.
 
A infectologista, porém, chama atenção para a inexistência de alimentos milagrosos e curas alimentares “A verdade é que, infelizmente, nem alho nem vinagre nem o limão... nem qualquer outro alimento ou vitamina tem o mágico poder de combater ou eliminar o novo coronavírus. O alimento funciona como um complemento do restante dos hábitos de vida. Pouco adianta eu me alimentar bem se eu sou tabagista, sedentário ou tenho más noites de sono”, explica.
 
Por isso, o foco não deve ser na aparência ou corpos perfeitos, mas em uma alimentação rica em nutrientes. “Este não é o momento de focar em perda de peso. Não faça restrições calóricas extremas, não corte o consumo de carboidratos e muito menos adote dietas ‘da moda’. Atitudes como essas podem fazer com que a imunidade piore e que você apresente deficiências nutricionais”, explica a nutricionista esportiva Valesca Trapp.
 
A especialista dá dicas para se manter saudável durante o isolamento social. “Em períodos como o que estamos vivendo, é muito importante que saibamos escolher o que consumir, como preparar e higienizar, e principalmente o que não restringir”, define. A principal recomendação é dar preferência a uma alimentação mais saudável, rica em fibras, legumes e frutas. “Isso porque os nutrientes dos alimentos ajudam na melhor absorção de vitaminas e minerais”, explica Valesca.
 
A estudante Gabriela Sarpi, 24 anos, tem buscado melhorar os hábitos alimentares durante a quarentena para fortalecer o organismo. “Eu procurei comidas mais saudáveis, justamente por conta da imunidade. Como minha mãe é grupo de risco, por ser imunossuprimida, fiquei preocupada de trazer qualquer coisa da rua para casa, quando preciso sair para o mercado, por exemplo”, conta. Ela segue um ritual alimentar todos os dias. “Durante a manhã eu tomo vitamina C ou um limão espremido. Durante as refeições do dia, também passei a comer mais proteína, porque estou fazendo exercícios. Antes eu não tinha costume de jantar e agora faço uma refeição mais reforçada de noite”, conta. “Foi a primeira vez que eu mudei a alimentação visando a saúde, em vez de medidas estéticas. Isso influenciou de uma maneira positiva na minha vida”, acrescenta.
 
Equilíbrio
 
Durante o isolamento social, é normal sentir ansiedade e descontar os sentimentos na comida. Por isso, a nutrição corporal não deve ser rígida e severa. “A gente nunca foi educado em relação a se alimentar. Existe uma imposição que você tem que seguir uma dieta. Mas a verdade é que as pessoas apenas devem ter autonomia com as escolhas alimentares delas. Não devemos hierarquizar os alimentos nesse momento, ou seja, colocar alguns em um pedestal e linchar outros. A proibição piora a relação com a comida. Não podemos gerar restrições para as pessoas e, sim, conscientizá-las. Todos os alimentos podem fazer parte da nossa vida”, explica o nutricionista Victor Hugo Machado.
 
Por isso, “é importante criar um equilíbrio que você possa se permitir comer alimentos ‘não saudáveis’, mas não em excesso”, explica o nutricionista. Alimentos como açúcar e temperos industrializados em grande quantidade podem ser prejudiciais. “Se você é uma pessoa que sempre teve uma alimentação rica em açúcar, talvez seja a hora de mudar os hábitos”, aconselha Victor Hugo. “É um momento de desempacotar menos e descascar mais”, define.
 
Foi o que a estudante Cecília Almeida fez. Passou a cozinhar mais em casa e a consumir mais vegetais e hortaliças. “É importante para mim, porque mesmo cuidando da minha cabeça e corpo, às vezes a situação toda me deixa ansiosa, acabo comendo algumas coisas como doce e fritura. Nunca me senti culpada, muito menos agora. Acho que o que mais mudou na minha cabeça desde o começo da dieta foi parar de me penalizar por comer o que eu gosto. Isso ajuda demais, tanto a manter o foco quanto a equilibrar as refeições”, relata.
 
Gabriela passou a fazer mais atividades físicas em casa (Arquivo Pessoal)  

Gabriela passou a fazer mais atividades físicas em casa

 



Dicas dos nutricionistas
 
Panqueca integral com recheio de frango 
 
Ingredientes da massa
» 2 xícaras de farinha de trigo integral
» 2 xícaras de leite ou água
» 2 ovos grandes
» 2 colheres de sopa de azeite
» 1 pitada de sal
 
Modo de preparar
» Bata todos os ingredientes no liquidificador até ficar uma massa lisa e homogênea.
» Utilize uma frigideira antiaderente (não precisa passar óleo, porém coloque a massa com a frigideira quente, assim não gruda).
» Com o auxílio de uma concha, despeje a massa no centro da frigideira e com movimentos circulares espalhe a massa em toda a superfície. Vire para assar os dois lados e reserve.
 
Ingredientes do recheio
» 3 xícaras de frango cozido e desfiado
» ½ xícara de milho
» 2 colheres de sopa de azeitona picada
» 1 xícara de cenoura ralada
» 2 xícaras de molho de tomate
» 1 colher de sopa de linhaça
» 2 colheres de sopa de cheiro verde
» 1 pitada de manjericão desidratado
» 1 pitada de sal (caso precise)
» 6 fatias finas de queijo mussarela cortadas ao meio (para utilizar na montagem)
» Molho de tomate e queijo ralado para finalizar o prato
 
Modo de preparar
» Misture todos os ingredientes do recheio em uma vasilha e vamos para a montagem.
» Em cada disco de panqueca coloque ½ fatia de queijo e 2 colheres de recheio, enrole e coloque em um refratário de vidro, cubra com molho de tomate e queijo ralado e leve ao forno para gratinar, apenas para derreter o queijo e aquecer as panquecas.
» Sugestão de acompanhamento: salada tropical com alface-roxa, alface-americana, repolho cortado fino, abacaxi ou melão picado, cebolinha, tomate-cereja e beterraba ralada.
 
Cecília: cozinhar mais em casa e consumir mais vegetais e hortaliças (Arquivo Pessoal)  

Cecília: cozinhar mais em casa e consumir mais vegetais e hortaliças

 




Suco poderoso
 
Ingredientes
» 1 beterraba
» 1 maçã
» 2 cenouras
» 1 limão
» Água
 
Modo de preparo:
» Corte a beterraba em rodelas e bata no liquidificador com um pouco de água. Misture bem. Para aproveitar melhor as fibras dos alimentos, não use a peneira. Separe e guarde na geladeira enquanto bate no liquidificador, com a água, o limão, as cenouras e a maçã. Misture tudo. O ideal é tomar meia hora antes do café da manhã, em jejum.
Suco detox
 
Ingredientes
» 2 folhas de couve
» 1/2 talo de gengibre
» 2 rodelas de abacaxi
» 2 laranjas
» 1 punhado de agrião
» 250 ml de água
 
Modo de fazer
» Bata todos os ingredientes no liquidificador e coe em seguida. A receita rende aproximadamente 1 litro.
 
Victor Hugo Machado: para o nutricionista, equilíbrio é a chave para uma vida saudável (Arquivo Pessoal)  

Victor Hugo Machado: para o nutricionista, equilíbrio é a chave para uma vida saudável

 



Snack de grão-de-bico
 
Ingredientes
» Grão de bico cozido
» Azeite
» Pimenta-do-reino
» Páprica
» Sal a gosto
 
Modo de preparo
» Cozinhe o grão-de-bico por 5 minutos em panela de pressão. Após iniciar a fervura, escorra o grão-de-bico imediatamente e adicione os grãos em uma forma ou use o cesto da air fryer, coloque os temperos e misture bem. Asse em temperatura baixa (180ºC) até ficar crocante.
 
 
Panqueca proteica
 
Ingredientes
» 1 banana
» 1 ovo
» 1 colher de sopa de aveia
» Canela a gosto
» Pode ter 1 colher de café de cacau em pó
 
Modo de preparo
» Bata tudo no liquidificador ou mixer, coloque na frigideira até cobrir o fundo. Se necessário, faça outra camada.
 
 
Sorvete de fruta
 
Ingredientes:
» Banana congelada (1 unidade)
» Castanha de caju (10 unidades)
» Cacau em pó (1 colher de sopa)
 
Modo de preparo:
» Em processador de alimentos, bata todos os ingredientes até formar um creme, deixe em congelador por 3 horas e sirva.
 
Obs: Varie as frutas, faça combinações
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 02 de maio de 2020

CORONAVÍRUS - OPERAÇÃO RESGATE

 

CORONAVíRUS
 
Operação resgate
 
Embora a OMS afirme não haver evidências de transmissão da Covid-19 entre pets e humanos, o medo fez com que muitos gatos e cachorros acabassem abandonados nas ruas do DF

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 02/05/2020 04:00

Na chácara onde Jaciel Dias mora, 134 cães aguardam para serem adotados: mais de 40 resgatados só durante a pandemia (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Na chácara onde Jaciel Dias mora, 134 cães aguardam para serem adotados: mais de 40 resgatados só durante a pandemia

 



Eles são carinhosos, fiéis e amigos para todas as horas. Apesar de a amizade entre pessoas e animais transcender séculos, ela está abalada pela crise do coronavírus. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar que não há provas de que os pets possam transmitir a Covid-19, muita gente está abandonando cães e gatos nas ruas do Distrito Federal. O resgate feito por voluntários torna-se, então, a chance de sobrevivência.

A consequência desse abandono é uma superlotação em abrigos e associações que acolhem esses animais. Com a proibição de feiras de adoção, devido aos protocolos de isolamento social, os pets não conseguem encontrar um novo lar, e, por isso, precisam ficar na casa dos voluntários, única maneira de não voltarem para a rua. No DF, uma das associações que faz esse trabalho é o Projeto Acalanto.

Desde 2012, Lucimar Aparecida Pereira, 46 anos, presidente do projeto, luta para salvar animais. A rotina dela é dividida entre o trabalho como assistente administrativa e a atenção dada aos 42 gatos e três cães que moram com ela. “Não é profissão, a gente faz por compaixão, por não aceitar a condição a que eles são submetidos, mas o protetor independente precisa de ajuda”, ressalta. “Com a Covid-19 (o abandono) piorou muito. Está insuportável.”

Lucimar perdeu as contas de quantos animais ajudou a salvar, mas estima que seja por volta de 200. Depois de tratados por veterinários, e quando estão tranquilos, podem ser adotados. “No ano passado, fechamos mais de 1,1 mil adoções apenas em eventos. Tínhamos feira todo fim de semana, e eram eventos em que ganhávamos ração. Essa também é uma forma de ajudar.” Agora, no entanto, além da dificuldade em encontrar lar para os pets, está mais difícil conseguir alimentar todos.

Cerca de 40 pessoas fazem parte da instituição e estão se virando como podem para conseguir cuidar de todos os bichos. “Já peguei cachorro queimado, esfaqueado, baleado, com a pata cortada. Salvei gato sem olho. Nós precisamos de ração, produtos médicos e veterinários”, pede. “Somos lares temporários, a gente quer que eles sejam adotados para terem uma família de verdade. É o nosso maior objetivo.”

Proteção e amor


Enquanto uns se desfazem dos companheiros de quatro patas, outros abrem as portas e dedicam a vida à proteção animal. Na chácara onde mora o ativista Jaciel Dias, 27, 134 cães aguardam para ser adotados. Desde o início da crise do coronavírus, ele resgatou mais de 40. “O pessoal não liga para adotar, mas para entregar. O protetor ama, não pode ver um animal em situação de rua e largar para trás. Por mais que nós estejamos apertados, recebemos.”

Todos os dias, ele atende a ligações de quem está preocupado e não quer mais o animal de estimação. “Certa vez, uma senhora já de idade me ligou em situação desesperadora dizendo que o filho dela ia soltar as duas cadelas na rua porque tinha medo de pegar a Covid-19, e que fontes seguras tinham dado essa informação a ele”, lamenta. “Com as fake news, aumentou muito o abandono.”

Por dia, são necessários 50kg de ração para alimentar a bicharada. O dinheiro para a comida sai do próprio bolso ou de doações que consegue. Para Jaciel, o mais triste é saber que muitos daqueles cães talvez nunca encontrem uma família. “A procura maior é pelos de pequeno porte. Nesta quarentena, doei cinco, mas a maioria dos que chegam é grande, e alguns estão idosos.” Apesar das dificuldades, ele não se arrepende do esforço. “Minha vida se resume aos animais, vivo em prol deles.”

Lucimar AparecidaPereira já fez mais de 200 resgates:  

Lucimar AparecidaPereira já fez mais de 200 resgates: "Não é profissão, a gente faz por compaixão"

 



Não replicantes


O centro de Zoonoses do DF, órgão da Secretaria de Saúde, reafirma o que diz a OMS. Em nota oficial, o órgão informou que atua em medidas preventivas e profiláticas para situações de vínculo epidemiológico, como vacinação contra a raiva. “A pasta esclarece, ainda, que a recomendação é que os tutores cuidem bem dos seus animais, e, até o momento, não há indicador de transmissão (do coronavírus) entre eles.”

O médico veterinário Paulo Tabanez, especialista em infectologia de pequenos animais, explica que o pet pode ser um vetor mecânico, isto é, caso uma pessoa contaminada tussa ou espirre sobre um cachorro e, em seguida, o animal seja abraçado por alguém, essa pessoa pode ser infectada pelo vírus que ficou na superfície do cão. “Em todos os casos já vistos de bichos onde o vírus foi detectado, não houve isolamento viral, ou seja, o animal não é replicante da doença.”

Ele lembra que existem tipos de coronavírus em cães e gatos, mas não são os mesmos vistos agora, responsáveis pela Covid-19. “Animais têm coronavirose de outra espécie, uma que não passa para o ser humano, e que não tem nada a ver com o que está acontecendo. Por isso, não faz sentido usar a vacina tratada em cães.” Paulo lembra que é importante manter a higienização dos pets, mas jamais usar álcool. “Pode causar dermatite, assim como o uso excessivo de água e sabão. A higienização deve ser feita com lenços umedecidos ou panos úmidos”, aconselha.


  • O que diz a OMS

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que a transmissão de Covid-19 se dá apenas entre humanos.
    Sabe-se que a maioria dos tipos de coronavírus tem origem em animais, e que o Sars-CoV-2 é novo em humanos, mas ainda não foi possível confirmar a possível fonte. Segundo o órgão, o vírus foi identificado em diversos cães e gatos em contato com humanos infectados. Furões também parecem ser suscetíveis ao contágio. Em experimentos iniciais, gatos e furões transmitiram o vírus para outros animais da mesma espécie, mas não há quaisquer evidências de que possam passá-lo a humanos, participando, de alguma forma, da cadeia de contágio da Covid-19.



  • Como ajudar

    Quem quiser ajudar os voluntários do projeto Acalanto, adotando um dos gatos ou cachorros ou fazendo doações de rações e medicamentos, pode acionar o grupo pelas redes sociais:

    Instagram: @projetoacalantodf    |    Facebook: Projeto Acalanto


  • O que diz a lei

    Se entendido como maus-tratos, o abandono de animais incorre em crime, previsto na Lei nº 9.605/1998. Quem pratica abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, cumpre pena de três meses a um ano de reclusão, além de pagamento de multa.

Jornal Impresso

 



Correio Braziliense quinta, 30 de abril de 2020

GDF ADIA FLEXIBILIZAÇÃO E MULTA

 

GDF adia flexibilização e multa para máscaras
 
Governo posterga para 11 de maio o retorno de parte do comércio. Publicação de decreto com detalhes sobre a medida sairá após decisão da Justiça Federal, que pediu explicações ao Executivo sobre retomada de atividades não essenciais. Proteção no rosto passa a ser obrigatória

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 30/04/2020 04:00

Por enquanto, apenas lojas de móveis e de eletrodromésticos, além de serviços essenciais como supermercados, padarias e farmácias, têm autorização para funcionar na capital (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Por enquanto, apenas lojas de móveis e de eletrodromésticos, além de serviços essenciais como supermercados, padarias e farmácias, têm autorização para funcionar na capital

 



Em um dia marcado por reuniões com secretários de governo, o governador Ibaneis Rocha (MDB) adiou duas ações anunciadas recentemente. A primeira mudança envolve o setor de comércio e serviços, cujas atividades voltariam na segunda-feira, mas ontem foram postergadas para 11 de maio. Na mesma data, começará a aplicação de multa para quem não estiver com máscaras de proteção na rua. Até lá, o uso do item torna-se obrigatório a partir de hoje em caráter educativo.

O decreto com detalhes sobre a reabertura dos estabelecimentos ainda não tem data para sair. Porém, bares, restaurantes, salões de beleza, clubes e grandes academias permanecerão fechados, por enquanto. O próximo passo do governador depende de decisão da Justiça Federal, que intimou DF e União a darem explicações sobre os motivos para a flexibilização do isolamento. Na terça-feira, os ministérios públicos do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), do Trabalho (MPT) e Federal no DF (MPF-DF) protocolaram uma ação conjunta, na tentativa de impedir o GDF de adotar qualquer medida que autorize o funcionamento de atividades consideradas não essenciais.

O documento foi encaminhado à 3ª Vara Federal Cível, onde a juíza titular Kátia Balbino considerou a solicitação procedente. O prazo para apresentar as informações exigidas é de dois dias após comunicação oficial. Entre outras medidas previstas no despacho assinado pela magistrada há a determinação de que a União deverá repassar eventuais estudos direcionados ao DF que tenham relação com a redução do distanciamento social. O governo federal também terá de encaminhar dados associados a medidas de cooperação para o combate à Covid-19 ou a outros temas pertinentes.

Na ação civil pública, os MPs destacaram que não há “nenhuma evidência apta a demonstrar que o DF atingiu uma situação que permita essa transição (de um modelo mais restritivo para um com menos isolamento) no momento”. A decisão de abrandar o isolamento na capital federal também tem preocupado pesquisadores da área de saúde, que temem disparada no número de casos da doença e colapso do sistema de saúde.

Até 11 de maio, o uso de máscaras nas ruas e no transporte terá caráter educativo (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Até 11 de maio, o uso de máscaras nas ruas e no transporte terá caráter educativo

 



Intimação


Os questionamentos por parte dos MPs começaram há duas semanas. Em 14 de abril, quatro deles — incluindo o Ministério Público de Contas (MPC/DF) — enviaram cinco recomendações ao governador Ibaneis Rocha (MDB). Os órgãos solicitavam a apresentação de dados técnicos, o reforço das medidas de distanciamento social e davam 48 horas de prazo para execução, sob pena de adoção de medidas judiciais. Após descumprimento, todos recorreram à Justiça Federal com a ação conjunta.

Representante judicial do DF, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) informou que está “reunindo as informações solicitadas pela Justiça” e que vai apresentá-las no prazo definido. A União, por meio da Advocacia-Geral (AGU), confirmou que foi intimada a repassar os dados. “A AGU solicitou subsídios ao Ministério da Saúde e prestará as informações no prazo estipulado”, confirmou, em nota.

Prevenção

Para atender à demanda e garantir que a população tenha acesso a essa medida de proteção, o GDF distribuirá máscaras laváveis e reutilizáveis a partir de hoje. A entrega ocorrerá em 31 terminais de ônibus e metrô, com limite de duas unidades por pessoa, durante o período da pandemia de Covid-19. A medida vale apenas para pessoas sem condições de adquirir uma peça (veja Distribuição). Se a pessoa estiver sem máscara, ela será abordada e receberá a proteção para o rosto.

  • Distribuição

    Terminais rodoviários:

    » Brazlândia Centro
    » Brazlândia Setor Veredas
    » Miniterminal Sobradinho 1
    » Paranoá
    » Planaltina
    » Recanto das Emas 1   
    » Recanto das Emas 2
    » Riacho Fundo 1
    » Riacho Fundo 2
    » Samambaia Norte
    » Samambaia Sul
    » Santa Maria Sul
    » São Sebastião
    » Setor Gama Central
    » Setor Gama Sul
    » Setor O
    » Setor P Sul
    » Setor QNQ/QNR
    » Taguatinga M Norte
    » Taguatinga Sul

    Estações do metrô:
    » Ceilândia Centro
    » Ceilândia Norte
    » Ceilândia Sul
    » Centro Metropolitano
    » Furnas
    » Guariroba
    » Praça do Relógio
    » Samambaia
    » Samambaia Sul
    » Taguatinga Sul
  • Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 29 de abril de 2020

ACADEMIAS PEDEM REABERTURA

 

Academias pedem reabertura
 
 
Setor tenta sensibilizar o GDF e encaminha plano de ação com protocolos de funcionamento. O documento apresenta recomendações que podem viabilizar a retomada das atividades, respeitando as orientações de prevenção à Covid-19

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 29/04/2020 04:00

Luciano Girade, proprietário de três estabelecimentos:  

Luciano Girade, proprietário de três estabelecimentos: "Não vamos conseguir segurar por muito tempo"

 



Com as atividades suspensas desde 15 de março por força de decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB), as academias do Distrito Federal sentem no bolso o impacto da pandemia do novo coronavírus. Segundo levantamento feito pelo Sindicato das Academias (Sindac/DF), cerca de 40% dos clientes cancelaram ou suspenderam os planos. A queda no faturamento resultou em 4,4 mil demissões no setor em pouco mais de um mês. O número pode subir para 5,3 mil até o fim de maio. Diante desse cenário e com a flexibilização de alguns setores produtivos, um estudo feito pelas academias define as estratégias que poderiam viabilizar a reabertura dos negócios sem comprometer a saúde da população.

O Sindac/DF levantou uma série de protocolos que respeitam as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a prevenção à Covid-19. De acordo com a presidente da entidade, Thaís Yeleni, o plano teve a aprovação de infectologistas da Universidade de São Paulo (USP). O documento foi entregue ao Executivo local, na última segunda-feira. O objetivo é sensibilizar o governo sobre a possibilidade de retorno das atividades gradualmente. O pleito é pela reabertura na segunda quinzena de maio. “Entendemos que a academia é um serviço essencial, que interfere diretamente na saúde das pessoas. Por isso, estamos propondo o retorno”, esclarece Thaís. O DF tem aproximadamente 960 academias.

Entre as recomendações sugeridas está o controle de temperatura dos clientes logo na entrada, além do aumento da frequência da higienização dos espaços por, pelo menos, duas a três vezes ao dia. Outra orientação é o congelamento dos planos para os clientes maiores de 60 anos ou que estão no grupo de risco (veja Propostas).

Para Luciano Girade, proprietário de três unidades da rede de academia Blue Fit, o retorno gradual e consciente é necessário para o setor. “Estamos no limite. Nas academias que administro, não demitimos ninguém, mas não vamos conseguir segurar por muito tempo”, afirma. Segundo ele, as academias permitem um ambiente controlado e com protocolo de funcionamento rígido. “Os exercícios físicos aumentam a imunidade, algo de extrema importância no momento que estamos vivendo”, argumenta.

Um dos pontos levantados pela categoria é a utilização dos equipamentos de ginástica localizados em via pública, ao ar livre, sem qualquer cuidado de higienização. “Mesmo com a faixa zebrada que indica a proibição, as pessoas continuam frequentando esses espaços. Com a liberação das academias, esse público terá um respaldo maior, com todas as regras de prevenção ao novo coronavírus”, ressalta Luciano.

Risco


O infectologista Leandro Machado alerta que as regras propostas pelo Sindicato das Academias não garantem 100% de proteção. “Com certeza, vão se infectar menos pessoas com essas medidas do que se não tivesse nenhuma (recomendação). No entanto, se uma pessoa assintomática for malhar, ela está ali suando, passa a mão no rosto e, depois, pega nos equipamentos. A probabilidade de contaminação é grande se não for realizada a higienização da forma correta”, esclarece. De acordo com ele, o ideal é não liberar o funcionamento desses estabelecimentos, pelo menos neste momento.

O GDF informou que ainda não tem conhecimento do documento enviado pelo Sindac/DF. A assessoria de Comunicação do governo adiantou que há alguns pedidos feitos de forma individual por donos de academia. Até o momento, o Executivo local entende que setor o não deve retomar as atividades no início de maio.


  • Propostas

    Veja algumas recomendações sugeridas pelo Sindicato das Academias do Distrito Federal:

    » Álcool em gel 70% para clientes e colaboradores em todas as áreas da academia

    » Medição da temperatura de todos que entrarem na academia. Caso a temperatura for superior a 37,8°C, recomenda-se não autorizar a entrada

    » Limitar a quantidade de clientes com ocupação simultânea de uma pessoa a cada 6,25m²

    » Delimitar o espaço de treino com fita e exigir distância de 1,5m

    » Bebedouro somente para uso de garrafas próprias

    » Congelamento dos planos para clientes acima de 60 anos



  • Sem máscara, sem embarque

    Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) exigirá o uso de máscaras para todos os usuários nos trens e estações a partir de amanhã. Não será autorizada a entrada nem a permanência de usuários sem o equipamento de proteção. A medida está em acordo com o Decreto 40.475, e vale por tempo indeterminado, enquanto vigorar o estado de emergência no Distrito Federal. Ainda como forma de garantir a segurança de empregados e usuários, a Companhia permanece com ações constantes de desinfecção e higienização. A cada semana, as 25 estações operacionais e os trens passam pelo processo de limpeza com produto aprovado pela Anvisa e usado em outros países.

Jornal Impresso


Correio Braziliense terça, 28 de abril de 2020

EM MEIO À PANDEMIA, BOAS ENERGIAS

 

Em meio à pandemia, boas energias
 
Especialistas destacam a importância da prática de técnicas e exercícios para manter o corpo e a mente sãos durante a quarentena

 

Caroline Cintra

Publicação: 28/04/2020 04:00

Com o fechamento da banca na Feira de TV, Jaime Miranda passou a atender delivery: foco nas vendas 
de incenso e fontes de água (Carlos Vieira/CB/D.A. Press)  

Com o fechamento da banca na Feira de TV, Jaime Miranda passou a atender delivery: foco nas vendas de incenso e fontes de água

 

 
Cuidar do corpo e da mente deve ser um exercício diário. Em meio a uma pandemia que exige isolamento social, o cuidado deve ser redobrado. Ter que lidar diariamente com as notícias de uma doença que atinge o mundo inteiro pode trazer pensamentos negativos, que abalam o físico e o emocional de muitos. No entanto, técnicas e exercícios, como ioga e meditação, podem aliviar os sentimentos ruins, ajudando a manter boas energias e proporcionando momentos de paz interior.
 
Diretora do Instituto Anandah - Esculpindo o Corpo e a Mente, em Águas Claras, a professora Anandah Bellydance conta que muitos novos alunos têm procurado as aulas para tratar sentimentos aflorados durante a quarentena, como medo e ansiedade. Com as aulas presenciais suspensas, a equipe da escola tem produzido videoaulas. “Temos uma plataforma e, além das aulas, perguntamos como os alunos estão se sentindo nestes dias. Alguns conseguem se manter focados e estão mais serenos”, diz. Entre as modalidades mais procuradas estão tai chi chuan, ioga e meditação (veja quadro) “A maioria nos procura com problema com o sono. Nesta época, o ideal é intensificar os exercícios e focar”, ressalta.
 
Aluna do instituto, a professora Gilsa Gisele de Melo Santana, 52 anos, conta que antes da pandemia já buscava trabalhar a energia por meio das aulas de tai chi chuan. Segundo ela, a prática trouxe o equilíbrio que precisava para enfrentar o momento. “A busca anterior me favoreceu, para que eu vivesse esse afastamento mais tranquila. Temos vivido muitas coisas, e não têm como não nos afetar. É assim que tenho conseguido enxergar as coisas de forma lúcida, sem medo ou sufocada por tanta informação”, afirma.
 
Adepta da meditação, a influenciadora digital Vanik Rayanne, 26, incrementa o momento de autocuidado com incensos e fonte de água relaxante. Diariamente, antes de iniciar as atividades, separa uns minutos para isso. “Hoje, consigo dormir melhor. No início da quarentena, estava sem rotina. Agora, tiro um tempo para mim todos os dias. Achava que isso era coisa de doido, mas, não: é uma forma de manter a vida mais tranquila e os pensamentos mais positivos.”
 
O gosto pelos incensos chegou quando conheceu o artesão Jaime Miranda. Ele é dono de uma banca na Torre de TV e produz cada um dos utensílios que vende. Com o estabelecimento fechado, começou a anunciar os produtos nas redes sociais e oferecer delivery. Apesar de as vendas terem caído, ele percebeu que os novos clientes têm procurado incenso para manter a tranquilidade durante o isolamento social. Só Vanik adquiriu mais de 25. “Incensário e fontes de água de decoração são os que mais saem. É uma terapia”, afirma.
 
Essências de alecrim, mirra e capim-limão estão entre os mais vendidos nos últimos dias. Os primeiros trazem proteção e tranquilidade, respectivamente. O último é um calmante. “É tudo o que as pessoas estão querendo agora. Uma mulher me procurou porque estava com problemas em casa e comprou uma fonte para dar uma amenizada na situação”, exemplifica o artesão.
 
Gilsa Gisele de Melo Santana pratica tai chi chuan ao lado do marido: equilíbrio que precisava para enfrentar o momento (Arquivo Pessoal)  

Gilsa Gisele de Melo Santana pratica tai chi chuan ao lado do marido: equilíbrio que precisava para enfrentar o momento

 

 
Harmonia
 
Além do cuidado com o corpo e com a mente, o lar também reflete o estado de espírito de quem nele habita. A designer de interiores Arlete Soares usa a técnica de feng shui para harmonizar e organizar os cômodos do lar, tirando as más energias e atraindo positividade. No método, são utilizados os elementos água, madeira, metal, terra e fogo (veja quadro). Cada um representa uma área da vida e deve haver combinação entre eles. “Em tempo de quarentena, quando as pessoas estão confinadas, é comum haver briga, e isso desequilibra o ambiente. A energia negativa se potencializa nesse momento. A casa é um ser vivo, e ela também fica doente”, explica.
 
Além desse método, Arlete ressalta a importância da radiestesia, uma técnica baseada na física quântica para detectar a energia da casa. “Usamos um pêndulo para fazer essa busca. A radiestesia permite que a gente pesquise, bloqueie e transmute a energia. O que é interessante é que conseguimos fazer esses dois métodos presencialmente ou a distância, com a planta baixa da casa. Neste tempo de pandemia, boas energias dentro de casa são fundamentais”, ressalta a design.
 
A psicopedagoga Maria Lúcia Vasques, 57, usa as duas técnicas, tanto em casa quanto no restaurante que administra com o marido. Ela lembra que, quando abriram o estabelecimento, colocaram o objeto que representa a prosperidade embaixo das escadas. “Troquei tudo de lugar. Uma vez por ano, fazemos as mudanças necessárias. Agora, com todo mundo em casa, ela fica bagunçada, porque as pessoas ficam mais desleixadas, e isso interfere na energia do lar. Quando cuida da organização, cuida da energia”, ressalta.
 
Vanik Rayanne incluiu o incenso e as fontes de água em seu ritual de autocuidado diário (Arquivo Pessoal)  

Vanik Rayanne incluiu o incenso e as fontes de água em seu ritual de autocuidado diário

 

 
Casa harmonizada
Limpe a casa com uma mistura de água e amoníaco,  na proporção de uma tampinha do produto para um balde de água. Passe em toda casa para eliminar possíveis focos de energias negativas.
 
Deixe a casa bem iluminada, com todas as janelas abertas. Deixe a energia circular.
 
Arrume os armários e as gavetas e retire tudo o que não usa mais, como coisas quebradas e quinquilharias.
 
Coloque plantas e flores na casa. Elas trarão vida e bem-estar para o ambiente.
 
Se estiver se sentindo triste ou depressivo, coloque uma cor quente no ambiente, como o vermelho. Pode ser um objeto, almofada, tapete, etc.
 
O quarto do casal tem que ser visto como um templo. Por isso, não permita que outras pessoas fiquem no cômodo. Os filhos não devem dormir com os pais. Deixe o quarto sempre arrumado, cheiroso e convidativo.
 
Para quem está em home office, é muito importante que o ambiente esteja sempre organizado, a mesa de trabalho sem acúmulo de papéis, evite trabalhar no quarto.
 
 
Elementosem casa
 
Água:trabalho
Fogo:sucesso
Madeira:prosperidade e família
Metal:amigos e filhos
Terra:relacionamento e espiritualidade
 
 
 
Serviço
 
Zen Brasília
99971-5558 Instagram: @zenbrasília
 
Instituto Anandah
3046-1890 / 98106-5501Facebook: Instituto Anandah
 
Design de Interiores
99204-0137 Facebook: Harmonia e Equilíbrio – Design de Interiores Feng Shui e Radiestesia
 
 
 
Em movimento
 
A professora Anandah Bellydance destaca os benefícios das modalidades mais procuradas no instituto durante a quarentena:
 
Ioga: exercício bom contra a depressão e a ansiedade. Ajuda na flexibilidade, no sono e na postura.
 
Tai chi chuan: exercício alinhado com respiração, que trata fibromialgia, artrite e artrose. Ajuda na concentração e na postura.
 
Meditação: prática ou técnica que ajuda a dar uma boa noite de sono. Bom contra a ansiedade, depressão e síndrome do pânico.
 

Correio Braziliense segunda, 27 de abril de 2020

UM ANO DO RENASCIMENTO DE LIS E MEL

 

Um ano do renascimento de Lis e Mel
 
Cirurgia que separou as gêmeas nascidas unidas pelo crânio ocorreu em 27 de abril de 2019. Procedimento inédito no DF é celebrado hoje pela família e por toda a equipe envolvida

 

HELLEN LEITE

Publicação: 27/04/2020 04:00

A imagem do abraço das duas é uma das que a mãe guarda com mais carinho. Este ano, as meninas se divertiram no carnaval fantasiadas (Arquivo pessoal.)  

A imagem do abraço das duas é uma das que a mãe guarda com mais carinho. Este ano, as meninas se divertiram no carnaval fantasiadas

 

Brincar, passear na rua, ir para a escola, comer com as mãos. Esses hábitos banais na vida de qualquer criança, têm sabor de grande vitória para as irmãs Lis e Mel. Há exatamente um ano, as gêmeas que nasceram unidas pela cabeça entravam no centro cirúrgico do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar para um desafio imenso: resistir à rara e delicada cirurgia que as separaria.
 
Foram mais de 20 horas de operação, seguidas de 36 dias de internação e muita fisioterapia e, a partir disso, é possível constatar, hoje, que essas pequenas brasilienses tiraram de letra. Para a emoção da mãe, Camilla Neves, 26 anos. “É engraçado, porque vai chegando esse um ano da cirurgia e, o que eu não chorei na época, eu choro agora. Hoje, quando paro para pensar em tudo, choro de emoção. É muito gratificante vê-las. E ver o milagre que Deus fez nas nossas vidas. Para mim, elas são um milagre”, conta a servidora do Ministério da Saúde.
 
Por causa da pandemia de Covid-19, as três têm ficado o tempo todo na casa onde moram com a mãe de Camilla, Maria Vieira, 75 anos, em Ceilândia, e preferem não receber visitas. A conversa com o Correio, então, ocorre pelo telefone. Quando solicitada para enviar uma imagem que melhor represente a vida das filhas após a cirurgia, Camilla pede tempo para pensar e, no dia seguinte, manda a foto das irmãs usando o uniforme da escola e se abraçando, com sorrisos largos no rosto.
 
A jovem mãe explica a escolha. Sabe que as meninas não estão com o cabelo arrumado e a pose não é das mais fotogênicas. Mas a cena representa a realização do que ela sempre sonhou para Lis e Mel: uma vida comum e repleta de amor entre irmãs, com a possibilidade de se tocar porque se gostam, e não porque nasceram dividindo parte do crânio. “Elas se abraçam o tempo todo”, diz Camilla, sem esconder a felicidade.
 
Esses abraços são uma das várias “pequenas realizações” das meninas desde que deixaram a sala de cirurgia. Elas reaprenderam a fazer coisas básicas — como controlar o pescoço e engatinhar — e ganharam novas habilidades, como caminhar, falar os próprios nomes e as primeiras palavras, e conviver com os coleguinhas de escola. Aprenderam também a curtir a vida: amam brincar de boneca e passar os dias mais quentes na piscininha de plástico. E como a amizade é grande demais, pedem para dormir no mesmo berço, como fizeram nos primeiros 10 meses de vida.
 
Enquanto aprendem, porém, Lis e Mel dão várias lições. “Eu achei que eu ia ensinar muito a elas, mas a cada dia que passa são elas que me ensinam. Eu aprendi muito sendo ‘pai de menina’. Tem sido incrível esse primeiro ano. O aprendizado é constante”, comenta o pai delas, o supervisor comercial Rodrigo Aragão, 31 anos. Camilla revela um sentimento parecido. “Aprendi a dar mais valor às pequenas coisas da vida. Quando você passa por um baque muito grande, começa a ver tudo de forma mais positiva. Por pior que seja, tenta ver o propósito daquela situação”, analisa.
 
 (Arquivo pessoal
)  
Diferenças
 
As personalidades das gêmeas também vão ficando cada vez mais evidentes à medida que crescem, e se destacam quando as meninas ficam nervosas ou chateadas. Mel é alegre, risonha, simpática e agitada. Lis é delicada, carinhosa, meiga e tímida. Mel é mais risonha, mas também mais nervosa. Lis é mais reservada, mas também mais fácil de ser conquistada.
 
A agenda de Mel e Lis é concorrida e agitada. Elas chegam cedo à creche, que fica perto de onde moram, em Ceilândia. Antes das 7h, são recebidas pelos monitores na porta e se despedem da mãe. Às terças e quintas, as meninas fazem aula de natação e, às quartas e sextas, batem ponto no Programa de Educação Precoce, onde fazem atividades com o acompanhamento de fonoaudiólogos e de fisioterapeutas.
 
Recuperação
 
Apesar de terem passado por uma cirurgia complexa e delicada, Lis e Mel não ficaram com sequelas. A única lembrança da operação é a cicatriz na testa das meninas. O médico que capitaneou a cirurgia de separação, o neurocirurgião Benício Oton, comemora a recuperação das pequenas e explica que as gêmeas têm o desenvolvimento cognitivo normal para crianças da idade delas.
 
“Elas estão se recuperando muito bem. Sem falar que começaram a ganhar mais habilidades depois que foram separadas e começaram a ter estimulação. Lis e Mel têm dois nascimentos, o de verdade e o da separação. Esperamos que elas aprendam coisas novas a cada dia”, comemora.
 
O neurocirurgião lembra que, por causa da gravidade do caso, as meninas corriam riscos de ficar com lesões cerebrais importantes. “Outras crianças não têm a mesma recuperação que elas tiveram. Elas são abençoadas. Comemoramos todos juntos, tem muita gente para celebrar esse um ano de cirurgia de separação com a Lis e a Mel”, diz o médico.
 
Atualmente, 90% dos médicos que acompanham as gêmeas desde o nascimento já assinaram a alta das meninas, mas elas ainda não estão liberadas de todos os cuidados após a operação. Por enquanto, ainda têm rotina de consultas a cada seis meses com as especialidades de neurocirurgia, gastroenterologia e dermatologia, mas não há previsão de que façam novas cirurgias. “Achamos que não é o momento de cirurgia plástica e também não sabemos se vamos fazer futuramente”, diz Camilla.
 
"Eu achei que eu ia ensinar muito a elas, mas a cada dia que passa são elas que me ensinam”
Rodrigo Aragão, pai
 
"Para mim, elas são um milagre”
Camilla Neves, mãe
 
Memória
 
 (Luci Vânia/Divulgação - 29/4/19
)  
Nascimento
Camilla Vieira e Rodrigo Aragão descobriram que seriam pais de gêmeas siamesas na 10ª semana de gestação. Provavelmente, um dos casos mais precoces do mundo de detecção de gêmeos siameses craniópagos. As meninas nasceram em 1º de junho de 2018 e passaram 10 meses conectadas pelo lóbulo frontal direito dos crânios, uma ligação que poderia ser rompida sem comprometer o desenvolvimento delas a longo prazo. 
 
 (Humberto Souza/ Divulgação/Hospital da Criança - 29/4/19
)  
Separação
Após meses de estudos, inclusive com o auxílio de médicos norte-americanos do Children´s Hospital at Monte Fiore, em Nova York, a cirurgia de separação das gêmeas ocorreu em 27 de abril de 2019. Dividido em 36 etapas, o procedimento começou às 6h30 de sábado e só terminou às 2h30 do domingo. Mais de 50 profissionais participaram da cirurgia, toda feita pelo SUS, no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar. Foi o primeiro procedimento do tipo no Distrito Federal e o terceiro no Brasil.
 
 (Maria Clara Oliveira/HCB - 21/5/19)  
Reencontro
Após o sucesso da cirurgia, Lis acordou primeiro, Mel, depois, mas saiu primeiro da unidade de terapia intensiva (UTI). As duas se reencontraram em 21 de maio, 22 dias após separadas. As meninas comemoraram o aniversário de um ano no hospital, em 1º de junho de 2019, com direito a festa junina, bolo, doces e brinquedos infláveis (foto). Dois dias depois, em 3 de junho, Mel e Lis receberam alta médica para os cuidados pós-operatórios em casa.
 
Fé e superação
 
A história das meninas emocionou muita gente. Mas, para a família das gêmeas, elas também despertaram um sentimento maior: a fé. “Foi muito bonito ver tantas pessoas torcendo pela saúde das nossas pequenas, ver que se sensibilizaram, fizeram correntes de oração, pediram a Deus a melhora delas. Eu todos os dias lia os comentários no Instagram das páginas que tinham reportagens delas e aquilo me deixava emocionado e muito feliz, ver que a história delas pôde tocar no coração das pessoas e mostrar o lado bom, de compaixão que todos temos”, comenta Rodrigo.
 
Gerar esperança para quem enfrenta momentos difíceis, inclusive, foi um dos motivos que fizeram Camilla e Rodrigo se abrirem à divulgação da história de Lis e Mel. “Nós não queríamos falar sobre a história, mas decidimos nos abrir após eu me sentir amparada pela história das gêmeas siamesas de Fortaleza, Maria Ysabelle e Maria Ysadora. Às vezes, as pessoas estão perdidas, sem esperança e precisam apenas de uma história como esta para perceber que nada está perdido”, revela Camilla.
 
A mãe das meninas diz que um ano depois da divulgação do caso, a família das gêmeas ainda recebe mensagens carinhosas de quem foi tocado pela história. “Teve uma mensagem que mexeu muito comigo. Uma mãe me contou que o filho também estava esperando cirurgia de neuro no Hospital da Criança, mas ela já estava sem fé. Foi a história da Lis e da Mel que deu forças pra ela lutar a batalha do filho dela, isso me deixou muito feliz.”
 
Frequentemente as pessoas reconhecem as gêmeas na rua, no shopping e até em bloquinhos de carnaval. “Muita gente aborda a gente na rua quando estamos com elas. Querem saber da recuperação, saber como elas estão, querem tirar fotos. Nós deixamos. Nem sempre elas querem, mas na maioria das vezes dá certo”, conta Camilla, sorrindo. (HL)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 26 de abril de 2020

SABEDORIA PARA ENFRENTAR O VÍRUS

 

Sabedoria para enfrentar o vírus
 
Parte do grupo de risco da Covid-19, idosos dão lições de como passar por este momento de pandemia sem deixar a angústia vir à tona. O apoio dos familiares e amigos também é fundamental

 

ALAN RIOS

Publicação: 26/04/2020 04:00

Entre outras atividades cotidianas, Eldomira Pereira tem buscado conforto em livros religiosos (Fotos: Arquivo Pessoal
)  

Entre outras atividades cotidianas, Eldomira Pereira tem buscado conforto em livros religiosos

 

Após mais de seis décadas de vida, muita dificuldade já foi superada. Idosos estão no grupo de risco das complicações do novo coronavírus, mas usam a experiência para lidar com sabedoria neste momento sensível. Driblando a ansiedade, muitos moradores do Distrito Federal dão exemplos de como enfrentar a pandemia com calma e esperança. Nessa hora, atividades simples em casa, ligações rápidas para um familiar ou leituras leves se tornam grandes aliadas no combate ao vírus e aos medos provocados por ele. Especialistas dão dicas de como manter uma boa saúde mental neste período, mas alguns acabam ouvindo palavras de conforto dos próprios pacientes.
 
É o que conta Thiago Póvoa, geriatra do DF Star e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do DF. “Mais do que passar, eu recebo tranquilidade dos idosos no consultório. Dizem: ‘Doutor, não se preocupe, isso vai passar’, porque eles já viveram muita coisa na vida e têm a calma que o tempo nos traz. Para quem viveu 70 anos, três meses de distanciamento é algo mais fácil de lidar”, relata.
 
Thiago diz que esse pensamento é importante para todos, principalmente quando aliado aos cuidados médicos necessários para prevenir o coronavírus. “É preciso fazer nossa parte, levar a sério as recomendações dos órgãos de saúde, ficando em casa e mantendo hábitos de higiene para evitar o vírus, mas lembrando que, cedo ou um pouco mais tarde, nós vamos poder abraçar quem amamos”, conforta.
 
Mesmo assim, o especialista crê que é necessário continuar prestando cada vez mais orientações para este período. Uma das primeiras recomendações no consultório tem a ver com os hábitos cotidianos. “Os idosos não devem mudar a alimentação saudável, a boa quantidade de líquido que bebem e a qualidade do sono. É necessário manter uma rotina.”
 
Entre atividades que ajudam a manter uma boa saúde no dia a dia, exercícios simples são primordiais. “Muita coisa básica pode ser feita, como se expor ao sol, nem que seja de uma janela, uma porta, por cerca de 15 minutos. Isso pode garantir que os hormônios tenham mais regularidade. Sentar e levantar de uma cadeira também ajuda a circulação das pernas. Traçar uma linha reta na sala e procurar ir e voltar, se equilibrando, pode deixar nossos músculos mais organizados”, exemplifica.
 
Cabeça ativa
 
Cuidar da mente também é essencial em meio a uma pandemia, e idosos dão bons exemplos de como manter o bem-estar mesmo dentro de casa. Enilde Lins, 71 anos, brinca dizendo que falta tempo dentro das 24 horas do dia para fazer todas as atividades de que gosta. “Gosto de cuidar da casa, deixar limpinha, organizada. Faço o almoço, jantar, invento receita de bolo, pão, sobremesa. Também gosto muito de costurar. Fico o tempo todo ocupada com algo. Se duvidar, falta até espaço no dia”.
 
A aposentada conta que, o fato de não estar só, ajuda a passar por essa fase. “Moro com meu neto, e isso faz bem. Ficamos nós dois em casa, cumprindo a quarentena, mas aproveitamos para assistir à televisão, ver filmes. Apesar de que os filmes a que ele assiste não são muito do meu gosto. Mas gosto muito de ficar com ele, me ajuda demais”, afirma.
 
Palavras de conforto
 
Enilde sente falta de coisas que não pode fazer durante o isolamento, como cuidar de dois netos que via com frequência, mas se apoia na fé e na esperança para não se abalar. “Não me sinto agitada, nervosa ou ansiosa. Tento ter contato com os netos e filhos por telefone, para amenizar a falta, e fico assistindo aos vídeos espíritas de que gosto, conversando com Deus todos os dias.”
 
Eldomira Pereira, 73, também conta que a espiritualidade e o contato telefônico diminuem as distâncias criadas pela pandemia. “Tenho um grupo de umas 15 amigas que se reunia toda quinta-feira. Agora, nós paramos de nos encontrar pessoalmente, mas continuamos ligando uma para outra, perguntando como estão e conversando. Outra coisa que me ajuda é ler livros religiosos, que sempre têm palavras de conforto”, relata.
 
A aposentada não se considera “uma pessoa muito agoniada”, mas também não é “daquelas mais paradas”. No meio termo, ela encontra tranquilidade para encarar os problemas da Covid-19. “Fazer coisas manuais ajuda, como crochê. Fico tricotando, faço lençóis, sapatinhos para bebês, cachecóis. Tudo para doação. Tem muito idoso fazendo máscaras também. Isso é legal, ajuda todo mundo”, lembra.
 
Para Eldomira, mesmo sendo um período difícil para todos, surgem boas ações que mostram a bondade da população. “Vejo muita gente tendo mais carinho com os idosos. Agora mais ainda, mas já percebia isso antes. As pessoas que têm idosos na família estão preocupadas. Meus filhos ligam sempre, perguntam se eu estou precisando de algo. E também vejo amor em quem está trabalhando no dia a dia, porque médicos, faxineiros, jornalistas e essas pessoas que precisam estar no serviço estão se sacrificando por quem está em casa, como eu”, avalia.
 
Angelina Pereira conseguiu conversar com a irmã, com quem não falava havia 40 anos (Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes/Divulgação
)  

Angelina Pereira conseguiu conversar com a irmã, com quem não falava havia 40 anos

 

Distanciamento social não é isolamento afetivo
 
O exercício da paciência durante a quarentena fica mais difícil para quem não tem companhia de familiares. Manter a calma em meio às notícias tristes, sem uma pessoa que ama por perto, não é simples. Por isso, cada vez mais especialistas recomendam que parentes busquem ferramentas para não abandonar os idosos. Para Tatiana Casilo, psicóloga clínica especialista em psicanálise, é necessário lembrar que não há receita pronta sobre como manter uma boa saúde mental neste período, nem respostas rápidas quando o assunto são as complexidades do ser, mas há caminhos que podem ser bons começos.
 
“Podemos utilizar a tecnologia a nosso favor neste momento. Se for possível, fazer ligações de vídeo para familiares e amigos, para dar uma amenizada na saudade. O idoso que mora sozinho, e sabe que tem por perto um vizinho mais novo, pode pedir ajuda para compras de itens externos ou para utilizar a tecnologia, lembrando das medidas de higienização”, diz.
 
Abrigados também precisam de uma atenção especial, principalmente com a suspensão das visitas de muitos lares do DF, que atenderam às recomendações médicas. “Acredito que seja um momento em que os cuidadores do local possam pensar em atividades criativas, como uma noite de bingo, ou um karaokê no pátio. Algo que ajude a levantar o astral para que os efeitos negativos gerados pela pandemia não façam morada nos corações desses idosos”, diz Tatiana.
 
Angelina Pereira, 68, mora no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, e conta com o convívio afetuoso dos cuidadores da casa para diminuir os impactos causados pela distância dos parentes. “Minha família está toda em Mato Grosso. Vim para Brasília há uns 25 anos, para trabalhar, mas, recentemente, tive um problema na perna e hoje estou aqui”, conta. Foi justamente neste momento de distanciamento que ela conseguiu contato com quem ama. “Tenho uma irmã que fazia 40 anos que a gente não se falava, mas, na semana passada, eu recebi uma ligação dela. Ela disse que me encontrou por causa da internet, que me achou no abrigo, pegou o número e ligou. Foi muito especial”, relata.
 
A conversa teve palavras simples, mas gratificantes. “Tivemos muito assunto, foi papo de horas. Ela disse ‘sou feliz por você estar bem’”, contou Angelina. A idosa enxerga contatos como esse como presentes aos moradores do lar. “As visitas fazem muita falta no dia a dia. A gente fica sem ter com quem conversar. Pessoas que têm pais, mães, tios e avós aqui precisam ligar, nem que seja rápido, para dizer um ‘oi’, dizer que vai vir quando tudo isso passar, que vai levar pra passear. Porque é muito duro. Tem idoso que comenta que recebeu uma ligação de alguém, e às vezes o outro não recebeu”, diz.
 
Ajuda
O lar reforçou os pedidos de doações, que podem ser feitas por transferência bancária de qualquer valor, com os dados abaixo:
 
Banco do Brasil
Agência: 1226-2
Conta: 90697-2
CNPJ: 00.627.927.0001.56
 
Três perguntas para Ana Paula Caetano, psicóloga
 
De forma geral, quais fatores mais contribuem para que uma pessoa lide bem ou não com este período de quarentena?
Estamos vivenciando um momento muito particular, que nos exigiu uma série de adaptações. Para os idosos, isso não foi diferente. Muitos possuíam uma vida extremamente ativa e independente e hoje se veem mais passivos, precisando de outras pessoas para realizarem atividades rotineiras. Mas somos seres singulares. Por isso, cada indivíduo lida de formas diferentes em situações de crise. Há alguns fatores que contribuem para que a pessoa lide melhor nessa situação, como a percepção que ela tem sobre si e sobre o futuro - se é uma visão mais positiva, uma visão de crescimento acerca dos momentos de crise. Também há a rede de apoio e a qualidade dos relacionamentos intrafamiliares, pois, com isso, o medo, o desamparo e a solidão são minimizados, e a pessoa mantém o sentimento de fazer parte de um grupo. Podemos citar também o autocuidado que ela mantinha mesmo antes da quarentena e fatores econômicos, que também são importantes neste momento, uma vez que, a crise não atingiu apenas a área da saúde, mas também a econômica e diversas outras, gerando uma preocupação ainda maior com a aquisição de insumos básicos para a sobrevivência das famílias. Por fim, estão os fatores socioculturais em que a pessoa está inserida e os comportamentais adquiridos ao longo da vida.
 
Sabemos que não há uma fórmula pronta do que fazer para ter uma boa saúde mental neste período, mas quais atividades do dia a dia podem auxiliar os idosos que estão mais ansiosos?
O primeiro é entender como funciona a rotina do idoso e também compreender seus limites, para evitar frustrações e angústias por não conseguir concluir a tarefa proposta. Dessa forma, algumas atividades são bem interessantes na manutenção da saúde mental dessa população, como exercer suas rotinas religiosas por meio das ferramentas digitais, pois assim conseguimos aumentar o senso de pertencimento e o contato com aquilo que acreditam. Usar das ferramentas digitais para manter o contato com os amigos e familiares, compartilhando experiências, pequenas conquistas do dia e também falando sobre inseguranças, medos e angústias. Caso seja necessário, buscar um acompanhamento psicoterapêutico para contribuir com a saúde mental neste momento de vulnerabilidade. Procurar fazer uma atividade prazerosa ou aprender algo novo interessante, como executar alguma atividade manual, cozinhar, assistir a um filme ou outra coisa que goste de fazer. Procurar movimentar-se, em casa, de acordo com as possibilidades.
 
O que a pessoa que tem idoso na família, mas não pode visitá-lo por conta do isolamento, pode fazer para não deixar o parente de idade abandonado neste período?
Nestes momentos de isolamento social, alguns sentimentos e emoções podem ser delicados, como tristeza, abandono, raiva e insegurança. É muito importante que a família se faça presente aos entes idosos queridos de uma maneira empática e sem minimizar o sofrimento deles. Algumas pessoas têm usado como estratégia as videochamadas, permitindo ao parente ver a família e trocar informações importantes. Também é preciso estar disponível a ajudar nas rotinas diárias, para que essas pessoas não se exponham ao risco desnecessariamente, além de demonstrar carinho e afeto, que pode ser potencializado com um bilhete carinhoso debaixo da porta, uma canção cantada da janela, algo que faça com que os idosos não se sintam sozinhos. É bastante importante olhá-lo com empatia e respeito pelo que está sentindo e ficar atento às mudanças comportamentais que podem surgir, dando sinais de depressão, ansiedade e outras patologias.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 25 de abril de 2020

A CASA VIROU RESTAURANTE

 

A casa virou restaurante
 
Mesa posta, comida boa e quentinha no prato. Se a quarentena obrigou os restaurantes a ficarem fechados, dá para fazer uma adaptação no lar. Atenção aos detalhes e criatividade para cozinhar fazem as refeições terem uma cara especial

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 25/04/2020 04:00

Chef Marcelo Petraca e a esposa Marcella dão dicas para montar uma bela mesa (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

Chef Marcelo Petraca e a esposa Marcella dão dicas para montar uma bela mesa

 



Na correria do dia a dia, ter tempo para se reunir com a família durante as refeições é privilégio para poucos. Mas, com a necessidade do isolamento, e protocolos de distanciamento em virtude dos casos de coronavírus na cidade, muitos agora ficam mais em casa e estão redescobrindo este momento à mesa, tão tradicional para os brasileiros. Há quem se esforce para ir além do básico para o almoço e jantar.

Montar uma bela mesa, mesmo que só para comer com os filhos, pode ajudar a levantar o ânimo durante um período de crise, como avalia a empresária Marcella Pinho, 31 anos. “Eu sou a favor disso e tenho esse costume em casa. Às vezes, a gente guarda louça para receber visitas, mas temos que usá-las, deixar as coisas bonitas para a gente”, afirma.

Proprietária do buffet Bloco C em casa, ela dá as dicas para quem quer uma mesa elegante. “Não é preciso um aparelho de jantar completo. Você pode brincar com as cores e louças diferentes. Neste momento, em que há tanto temor, cores vibrantes trazem energias positivas.” Detalhes, como flores naturais, também contribuem para a harmonia da refeição. “Não precisa ser um arranjo comprado. Até mesmo uma florzinha simples, que você pega no jardim de casa, já traz mais vida e muda o astral.” (Veja Monte sua mesa)

Descobrindo sabores


Depois de posta, a mesa pede o principal: comida. Com restaurantes e bares fechados, muita gente tem decidido se aventurar na cozinha. Marido de Marcella, o chef Marcelo Petrarca, dos restaurantes Bloco C e Lago, percebeu que a gastronomia está caindo no gosto da população durante a quarentena. “Por dia, eu recebo entre 30 e 40 fotos de pratos diferentes que as pessoas preparam. Alguns ligam pedindo dicas, outros têm certeza que cozinharam melhor do que eu”, diverte-se.

Ele explica que é a hora de exercer a criatividade para não ficar todo dia no feijão com arroz. “Se pediu comida em domicílio e sobrou, no dia seguinte, aproveite aquilo para um prato novo e rápido”, orienta. Para aqueles que têm pouca experiência, ele sugere optar por comidas de forno. “A probabilidade de dar errado é mais baixa. Se você tem arroz, alho, cebola, azeite, tomate e frango, já consegue um arroz de forno maravilhoso.” (Veja Receita em casa)

O custo benefício é outra vantagem. “Não dá para pedir delivery todo dia, porque é caro. Além disso, essa é a hora de viver um momento que nem sempre se tinha, com a família na mesa. Você senta, come, participa de todo o espetáculo”, pondera. “A quarta-feira vira um sábado. Você começa um prato, se empolga, abre um vinho e quando vê, já está nesse momento especial.”

Conforto


A união entre comida e decoração está dando outra cara às refeições na casa da dentista Vivian Modenese, 34 anos. Na quarentena, ela resolveu experimentar novos pratos na cozinha, ou mesmo em dias de pedir comida por aplicativos, caprichar na arrumação da mesa. “Não sou profissional, mas estou engajada com receitas que compartilho com as amigas. Coloco o jogo americano, prato para refeição e para entrada, copo para água ou refrigerante, taça e talheres”, detalha.

Depois, tira fotos e compartilha nas redes sociais. “Para mim, não há nada mais especial na vida do que sentar com a família para comer. O que antes era sair com o marido para jantar, agora fazemos na cozinha de casa.” O esforço dela é reconhecido pelos filhos e esposo. “Na Páscoa, pedi um arranjo de flores naturais para complementar. Assim vamos transformando a quarentena em algo prazeroso. Sei que vivemos uma montanha-russa, mas tudo isso ajuda a trazer alegria, união e conforto.”


  • Receita caseira

    Cozinhar um prato diferente não precisa ser tarefa árdua. O chef Marcelo Petrarca, dos restaurantes Bloco C e Lago, mostra que com ingredientes comuns do dia a dia brasileiro, é possível criar refeições saborosas e que
    não são complicadas. Ao Correio, ele deu a receita do espaguete gratinado com parma, para duas pessoas:

    Ingredientes

    » 140g de espaguete
    » 40g de presunto parma em lascas
    » 3g de sal
    » 10ml de azeite
    » 5g de alho e cebola
    » 1,5l de água

    Modo de preparo


    Coloque a água em uma panela, leve ao fogo e, quando ferver, coloque o espaguete deixando cozinhar até ficar al dente. Escorra a água e reserve.


    Molho de grana

    Ingredientes


    » 150ml de creme de leite
    » 100g de queijo de grana

    Modo de preparo

    Coloque o creme de leite em uma panela pequena, e leve ao fogo médio. Quando começar a ferver, adicione o queijo de grana, e deixe ferver por mais três minutos. Tire do fogo e bata no liquidificador até o molho ficar homogêneo. Reserve.

    Farofa panco

    » 30 g de farinha de panco
    » 8 g de manteiga
    » 5 g de cebola roxa (laminada)

    Modo de preparo

    Leve uma panela pequena ao fogo médio, adicione a manteiga e deixe derreter. Adicione a cebola, deixe dourar, e coloque a panco. Mexa a farinha até ficar dourada.

    Montagem do prato

    Em uma panela média, deixe o azeite esquentar. Adicione o alho e cebola, e, em seguida, coloque o molho de grana e o presunto parma. Quando ferver, adicione o espaguete, e deixe fervendo por mais três minutos. Coloque tudo em uma louça que possa ir ao forno. Salpique a farofa por cima da massa, para crocância. Leve ao forno previamente aquecido a 180º C, por três minutos, ou até virar uma crosta.


  • Monte sua mesa

    Deixar uma mesa pronta para receber a família durante as refeições torna o momento mais aconchegante. Para isso, a empresária e dona do buffet Bloco C em casa, Marcella Pinho, dá as dicas:

    » Escolher um jogo americano para ir sob os pratos;
    » As louças para o jantar não precisam combinar;
    » Para uma mesa básica, use apenas os talheres principais (garfo e faca). Caso sirva entradas especiais, use os utensílios menores;
    » Para beber, opte por uma taça para vinho e um copo para água;
    » Opte por cores vibrantes. Laranja, rosa e verde podem levantar o astral;
    » Guardanapos de pano fazem toda a diferença;
    » Decore a mesa com flores naturais. Elas harmonizam o ambiente.

Jornal Impresso


Correio Braziliense sexta, 24 de abril de 2020

USO DE MÁSCARA SERÁ OBRIGATÓRIO EM BRASÍLIA, A PARTIR DE 30 DE ABRIL

 

Uso de máscaras será obrigatório
 
Decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), ontem, determina que a medida passe a valer a partir de 30 abril. Quem sair de casa sem a proteção poderá ser multado. Governo pretende oferecer gratuitamente o equipamento à população

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 24/04/2020 04:00

O equipamento de proteção deverá ser utilizado pelos moradores do DF em todos os espaços públicos (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  

O equipamento de proteção deverá ser utilizado pelos moradores do DF em todos os espaços públicos

 



A população do Distrito Federal terá de usar máscaras ao sair de casa a partir de 30 abril por causa da pandemia do novo coronavírus. O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, ontem, decreto que determina a obrigatoriedade da utilização da proteção facial. A decisão, que prevê punição para quem descumprir a regra, é uma das medidas para respaldar a flexibilização de algumas atividades comerciais pelo Executivo local.

De acordo com o texto, o uso de máscaras será exigido em todos os espaços públicos, nas vias públicas, no transporte coletivo e nos estabelecimentos comerciais, industriais e de serviço da capital federal. O decreto determina, também, que os locais deverão impedir a entrada e a permanência de pessoas que não estiverem usando as máscaras de proteção nas instalações.

Quem não cumprir a determinação estará sujeito a punições, como multa e advertência, e poderá responder por crime de infração de medida sanitária preventiva — a pena varia de um mês a um ano de detenção, segundo o artigo 268 do Código Penal. As regras levam em conta a lei federal 6.437/1977, que prevê penas a partir de R$ 2 mil (leia O que diz a lei).

O Governo do Distrito Federal (GDF) recomenda o uso de máscaras caseiras, como orienta o Ministério da Saúde. A obrigatoriedade perdurará enquanto vigorar o estado de emergência na capital federal. A intenção do Executivo é oferecer os equipamentos de proteção gratuitamente para a população. Não há data e locais definidos para as entregas, mas, na semana passada, o GDF firmou parceria com entidades, como a Federação das Indústrias do DF (Fibra) e o BRB, para a produção e a compra de máscaras. A proposta prevê que sejam distribuídas 1 milhão de unidades para moradores da capital federal.

A bancária Ana Carolina Cesar Soares, 25 anos, apoia a determinação do governo local e acredita que o decreto trará mais segurança para a população. “Nós não temos como saber quem está ou não contaminado com o vírus e essa medida, acredito que vá proteger mais pessoas que têm de sair à rua e não podem ficar no isolamento social”, destaca.

Na casa de Ana Carolina Cesar, o uso de máscara faz parte da rotina (Arquivo Pessoal)  
Na casa de Ana Carolina Cesar, o uso de máscara faz parte da rotina


Ela conta que o uso de máscaras tornou-se parte do dia a dia desde o início das medidas de contenção contra a Covid-19. “Aqui em casa, minha mãe já tinha comprado uma caixa de máscaras na primeira semana e, no meu trabalho, distribuíram também, então, já está se tornando um hábito”, afirma.

Atendimento


Ibaneis sancionou também, ontem, lei que obriga o uso e fornecimento de máscaras para servidores de estabelecimentos públicos, indústrias e dos meios de transporte públicos e privados para conter a disseminação do coronavírus. O projeto de lei é do distrital Chico Vigilante (PT) e foi aprovado pela Câmara Legislativa na quarta-feira.

“O objetivo é assegurar medidas de proteção aos trabalhadores que prestam atendimento ao público”, justifica o autor no projeto. “A combinação do uso de máscara de proteção associada à higiene instantânea das mãos pode retardar a propagação exponencial do vírus, principalmente por quem não apresenta sintomas”, acrescenta.

As medidas são algumas das ações do GDF para viabilizar a liberação de mais atividades comerciais a partir de 3 de maio, como pretende o governador Ibaneis Rocha. O plano de abertura está em discussão com entidades do setor produtivo, como a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), para definir regras e modalidades.

Segurança

O diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia José Davi Urbaez defende a medida anunciada pelo governo local. Segundo ele, há evidências suficientes para afirmar que esse tipo de proteção reduz os riscos de transmissão da Covid-19. “O uso universal de máscaras é um dispositivo que aumenta ainda mais a eficácia do distanciamento social. Ela diminui a contaminação em objetos e superfícies, sobretudo pensando em pessoas assintomáticas que deixam rastros do vírus”, explica.

Mesmo com a obrigatoriedade das máscaras, a possibilidade de liberação de mais atividades do comércio em 3 de maio preocupa o infectologista. “Num momento em que não há nenhuma previsão de retrocesso da epidemia, aumentar a possibilidade de contato social significa elevar o risco e a propagação dos vírus.” Ele acrescenta que o fluxo diário de pessoas vai acelerar a chegada mais forte da Covid-19 nas periferias. “Antes, os trabalhadores desses locais não estavam em contato com as áreas de poder aquisitivo maior, onde há mais concentração de casos. Agora, esse circuito de propagação vai começar.”

  • Falta definir

    » Segundo o decreto, uma portaria será publicada nos próximos dias pela Secretaria de Saúde para definir datas, horários e locais das distribuições de máscaras gratuitas para a população

    » O decreto não estabelece qual autoridade local ficará responsável pela fiscalização da medida e pela aplicação das punições


  • O que diz a lei

    A Lei 6.437/1977 prevê que as infrações sanitárias serão punidas, alternativa ou cumulativamente, com as penalidades de advertência e multa, sem prejuízo das sanções de natureza civil ou penal cabíveis. O valor da multa começa em R$ 2 mil e pode chegar a R$ 75 mil, no caso de infrações leves. Já o artigo 268, do Código Penal, trata do crime de infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, sob pena de prisão, de um mês a um ano, e multa.

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 23 de abril de 2020

HOTELARIA SOLIDÁRIA RECEBE OS PRIMEIROS HÓSPEDES

 

Hotelaria Solidária recebe os primeiros hóspedes

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 23/04/2020 04:00

Para evitar aglomerações, a chegada dos idosos ao Brasília Palace Hotel foi dividida em dois grupos de 50 pessoas (Ed Alves/CB/D.A. Press)  

Para evitar aglomerações, a chegada dos idosos ao Brasília Palace Hotel foi dividida em dois grupos de 50 pessoas

 



O Brasília Palace Hotel recebeu, ontem, os primeiros idosos selecionados pelo programa Sua Vida Vale Muito — Hotelaria Solidária. Ao todo, 100 beneficiários foram hospedados no primeiro dia de recepção. A previsão é de que até a próxima sexta-feira, mais 200 moradores da capital façam o check-in. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) em parceria com o hotel, tem o objetivo de oferecer um lar temporário para pessoas com 60 anos ou mais, de baixa renda, que vivam em condições inadequadas para o isolamento social e prevenção à Covid-19.

O programa é voltado para idosos como a aposentada Maria das Dores Oliveira, 67 anos. Ela mora com o filho no Jardim Mangueiral, e a rotina do emprego dele preocupava a família e colocava em risco a saúde da mãe. "Ele trabalha no sistema socioeducativo e tem contato com muitas pessoas. Além da idade, eu tenho diabete, problema no coração e pressão alta. A situação o deixava (filho) muito preocupado", conta. Agora, o contato com a família será por telefone. "Vou sentir falta dele e da casa, mas é por uma boa causa. Agora estamos mais tranquilos", destaca.

Para evitar aglomeração na recepção do hotel, esses novos hóspedes chegam aos poucos. São dois grupos de 50 beneficiários por dia. Luziney Cavaignac, 68, veio com a filha, a estudante Maria Luiza Cavaignac, 20. A escolha de entrar no programa partiu do idoso "Eu achei melhor ficar aqui isolado. Minha filha, às vezes, precisa sair e era um grande risco", conta. Maria apoiou a decisão do pai. "Eu estou mais tranquila. Meu pai é fumante, e eu ficava receosa. Lá, eu sei que ele está seguro”, ressalta.

Seu Luziney está dividindo o quarto com outro idoso. Ele afirma que gostou da recepção e da hospedagem. O intuito é ficar no hotel até se sentir seguro. "Quero ficar aqui até esse pico do coronavírus acabar, para ir para casa e tudo voltar ao normal”, diz. Os idosos poderão permanecer no estabelecimento por até três meses, podendo solicitar o desligamento a qualquer momento, caso achem necessário, e terão oficinas ao ar livre. Ao todo, 150 quartos foram reservados para atender à primeira fase do programa. Antes de fazer o check-in, eles passaram por um teste rápido de coronavírus. O procedimento vai ser repetido na próxima semana, seguindo os protocolos de segurança.

Hotel está fechado exclusivamente para receber os beneficiários (Ed Alves/CB/D.A. Press)  

Hotel está fechado exclusivamente para receber os beneficiários

 



Os idosos terão uma programação para seguir durante a hospedagem, que incluem oficinas e momentos de lazer, como confecção de máscaras e meditação. As atividades serão realizadas em pequenos grupos, com horários definidos pela Sejus. Por segurança, o uso da piscina está vedado. Os hóspedes têm direito a café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia, além de água e chás à disposição. As refeições ocorrem no restaurante, também com horários definidos e divididos em grupos.

Parceria

O hotel está fechado exclusivamente para receber os idosos. A hospedagem é bancada parcialmente pelo Governo do Distrito Federal (GDF), que assume 20% do valor, além do apoio logístico, emocional e o fornecimento de assistência médica. O restante dos custos é arcado pelo hotel. Os funcionários também terão monitoramento médico. A ideia é ampliar o programa com um chamamento público para outras empresas do setor aderirem à iniciativa. “Podem participar os hotéis que estejam prontos para abrigar, exclusivamente, esses idosos, ou seja, não podem ter outros hóspedes no local. Também deverão seguir os protocolos de saúde e segurança definidos pelo governo”, explica a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani.

O DF tem cerca de 14 mil idosos em condições de moradia inadequada, segundo a pasta, e há mais de 500 deles inscritos no programa. As inscrições continuam e podem ser feitas pelo site: suavidavalemuito.sejus.df.gov.br. Para mais informações: 3213 0742 / 3213 0764 / 99126 9102 (Whatsapp).


  • Máscara obrigatória para funcionários

    Os distritais aprovaram, ontem, projeto de lei que obriga o uso e fornecimento de máscaras para funcionários públicos, indústrias e transporte público e privado do DF para conter a disseminação do coronavírus. Os parlamentares aprovaram também o projeto de lei do Poder Executivo que prevê mudança na gratificação de militares que atuam na Secretaria de Segurança Pública. A alteração aumenta despesas, mas permite ao governo local reorganizar a vinculação de patentes ao cargos. As proposições seguem para a sanção do governador. Em primeiro turno, os deputados deram aval a projeto de lei do GDF que permite a criação de programa para oferecer Carteira Nacional de Habilitação (CNH) gratuitamente para brasilienses de baixa renda.




  • Quem pode se beneficiar

    » Ter 60 anos ou mais
    » Morar no DF
    » Morar em domicílio onde não seja possível o isolamento e/ou que esteja compartilhando moradia com pessoas infectadas ou suspeitas de infecção e impossibilitado de se manter em isolamento social
    » Ser pessoa de baixa renda
    » Ter capacidade de autocuidado e autonomia para locomoção
    » Não apresentar febre ou sintomas respiratórios compatíveis com a Covid

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