Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 20 de dezembro de 2020

PANDEMIA ESCANCARA DESIGUALDADES SOCIAIS

Jornal Impresso

 

Pandemia escancara desigualdades sociais
 
Em entrevista ao Correio, finalista de prêmio considerado o Nobel da Educação em 2019 fala sobre a necessidade de garantir qualificação a professores e conectividade nas escolas, com foco na formação integral de estudantes

 

MARIANA NIEDERAUER

Publicação: 20/12/2020 04:00

 

"Esse momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade".

 

 
Se dos jovens e das crianças dependem as ações para manter o planeta, o investimento em sua educação é essencial. E buscar levá-los para o centro do processo de aprendizagem é mais do que uma estratégia: trata-se de uma missão que os professores mais comprometidos encaram para garantir a formação de cidadãos do futuro, preocupados com o desenvolvimento sustentável e com a igualdade social. Professora da rede pública de São Paulo, Débora Garofalo faz parte deste time. Com o projeto que criou e implantou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras, o Robótica com Sucata, foi finalista do Global Teacher Prize em 2019, prêmio internacional considerado o Nobel da Educação. Este ano, o projeto virou política pública para 2,5 milhões de alunos no estado e culminará na criação do primeiro centro de inovação da educação paulista.
 
Débora explica que o local está preparado para atender 3 milhões de estudantes e o primeiro de 15 centros está em funcionamento mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, de maneira híbrida. Em entrevista ao Correio, a professora fala sobre o sucesso da iniciativa, o enfrentamento da crise sanitária e as perspectivas da educação para 2021. “Sem dúvida, este momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade.”
 
O “Robótica com sucata” virou política pública. O que isso significa?
Significa muito à educação pública brasileira. Primeiro, é a valorização de um trabalho que teve inicio no chão da escola pública e em uma comunidade vulnerável, e que se mostrou replicável, saindo de uma modalidade de um projeto para ser tornar uma metodologia de ensino com dados comprovados. Mostrou novas maneiras de lidar com a aprendizagem e democratizando o ensino de cultura maker, de programação e de robótica, permitindo que o estudante participe de um problema real e mobilizando diversos conhecimentos para solucioná-lo. Outro aspecto é ter a oportunidade de replicar esse trabalho a 2,5 milhões de estudantes, como uma política pública efetiva, permitindo um ensino significativo e conectado aos novos tempos.
 
Como o projeto ajuda no desenvolvimento dos estudantes?
O trabalho de robótica com sucata é pautado em diversas frentes inovadoras, permitindo a articulação de ações, e trabalhando com os estudantes na esfera de valores integrais, como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais: autogestão, autocuidado, empatia, colaboração, amabilidade, resoluções de problemas; mas também socioemocionais híbridas, como o pensamento crítico e a criatividade. Além de trazer a inovação para dentro da sala de aula, ao permitir que o eixo do pensamento computacional seja trabalhado na cultura maker, programação e robótica, em que os estudantes atuam como protagonistas da sua aprendizagem. Eles saem da passividade, assumindo o centro do processo cognitivo, tendo a oportunidade de vivenciar uma educação que seja significativa, mas que também conecte as áreas do conhecimento a partir de um trabalho interdisciplinar, sem deixar aspectos transversais de lado. Desta maneira, o trabalho integra uma educação integral conectada ao projeto de vida dos estudantes.
 
No próximo ano, a criatividade e o pensamento crítico serão inseridos como critérios de avaliação no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Projetos como o Robótica com Sucata podem contribuir no desenvolvimento dessas competências?
A criatividade e o pensamento crítico são temas essenciais e precisam estar inseridos no cotidiano escolar. O trabalho de robótica com sucata traz, em sua essência, o desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico ao permitir que os estudantes atuem na construção de problemas reais e problemas do território educativo. Eles têm a oportunidade de trabalhar com os colegas, mas usando a cultura maker como porta de entrada à resolução dos problemas, ao permitir idealizar, criar, recriar, consertar, fabricar, errar, pensar e repensar, trabalhando em conjunto as diversas áreas do conhecimento. Assim, o estudante está sempre criando, mas, também, se questionando sobre suas criações.
 
O fato de ter sido finalista do Global Teacher Prize 2019 ajudou?
Sim, o trabalho recebeu 12 premiações e ficou reconhecido internacionalmente, passando por um júri internacional que o atestou como altamente replicável. Toda essa divulgação e o interesse de outros países, como Argentina, Londres, Estados Unidos e França, em replicar o trabalho contribuiu para sua efetivação como uma política pública. Mas, a maior vitória que atribuo é a possibilidade de democratizar o acesso, permitindo que o trabalho seja realizado a partir de uma perspectiva sustentável, aliada ao uso de componentes eletrônicos, trazendo a questão dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), mas, também, do reaproveitamento do lixo eletrônico.
 
Este ano, o vencedor dividiu o prêmio com os demais finalistas. O que achou da iniciativa?
Achei incrível a atitude do professor indiano Ranjitsinh Disale, que tem um trabalho belíssimo no campo da educação básica na Índia e que luta para a inserção das meninas na educação, problema em parte do país. Ele mostrou a preocupação em reconhecer os demais finalistas pelos seus trabalhos, dando a eles a oportunidade de continuar e investir em seus projetos e, principalmente, de replicá-los.
 
O Brasil teve outra finalista em 2020. Qual a importância desse reconhecimento, ainda mais neste contexto de pandemia?
O trabalho da professora Doani Emanuela Bertan é essencial, por lidar com a inclusão e por permitir romper barreiras, com o ensino de Libras, e também com os estudantes surdos, realizando vídeos com as diferentes áreas de conhecimento para que pudessem prosseguir com seus estudos e acompanhar atividades. A pandemia traz a oportunidade de repensarmos a educação, e a professora Doani teve o olhar de democratizar o acesso aos estudantes na pandemia.
 
Como a tecnologia vai ajudar os professores daqui em diante e quais condições escolas e governos precisam assegurar para que eles consigam desenvolver um bom trabalho?
A tecnologia veio para ficar, mas é necessário compreender o seu papel na educação. Ela deve ser usada como uma propulsora ao processo de aprendizagem. É essencial entender que existem diversos caminhos para o trabalho e diferentes tipos de tecnologia que podem ser aplicadas na educação, como a social, que envolve o território educativo e seus problemas, além do que ela nunca deve vir isolada. Faz-se necessário o trabalho com as metodologias ativas. Com a pandemia, em um primeiro momento, tomamos um grande susto. Ninguém podia imaginar o ensino mediado por tecnologia. Depois, veio o receio de usar a tecnologia, por acreditar que era necessário um domínio. Após isso tudo, veio a superação e a necessidade de se reinventar para não deixar nenhum estudante para trás, mas isso escancarou as desigualdades sociais e a necessidade de investimento em infraestrutura e conectividade. Além de enfatizar a necessidade de formação docente para o desenvolvimento de competências digitais, e que contemple os diferentes atores e suas reais necessidades. Também é necessário rever a formação inicial do professor e inserir a cultura digital e o pensamento computacional, para que se sintam melhor preparados.
 
Quais barreiras surgiram durante a pandemia nas escolas?
Surgiram muitas barreiras, entre elas a dificuldade de acesso, a conectividade e a infraestrutura. Sem dúvida, esse momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade.
 
Que orientações daria para professores que pretendem desenvolver projetos com os alunos? Isso pode ser feito em qualquer etapa do ensino?
O trabalho pode ser desenvolvido em qualquer etapa de ensino, e sempre digo que é preciso que nós, professores, possamos dar o primeiro passo para iniciar um trabalho mão na massa, permitindo-se aprender com os estudantes. Outra forma é conceber um espaço que seja acolhedor à aprendizagem, com reorganização de mobiliário, que contemple as habilidades socioemocionais e socioemocionais híbridas. E que envolva as metodologias ativas e suas modalidades, que vão desde a resolução de problemas, aprendizagem baseada em projeto, sala de aula invertida, ao ensino híbrido. Isso tudo deve envolver o território educativo.
 
Que perspectivas vê para a educação no Brasil em 2021?
Teremos grandes desafios na educação em 2021, como recuperar a aprendizagem, cuidar da evasão escolar, reduzir as desigualdades sociais e tecer novos caminhos à transformação da educação. Um dos caminhos para 2021 será o ensino híbrido, em que será necessário, em dois cenários, em uma possível retomada gradual das aulas, mesclar o ambiente presencial com o remoto. E, em um segundo momento, recuperar a aprendizagem, sendo necessário garantir plataformas e tecnologias adequadas, trilhas formativas, formação docente, integração e articulação de conteúdos, investimento em conectividade e equipamentos, maneiras de engajar os estudantes e maneiras de fugir do modelo de ensino expositivo.
 
 
Proteger o planeta
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Eles integram a Agenda 2030 no Brasil, plano de ação elaborado em conjunto por líderes mundiais em 2015, durante reunião na sede da ONU, em Nova York.

Correio Braziliense sábado, 19 de dezembro de 2020

DESIGUALDADE: MAIS DE 2 MIL DESABRIGADOS

Jornal Impresso

DESIGUALDADE
 
Mais de 2 mil desabrigados
 
 
Falta de moradia coloca em risco famílias do DF que sofrem pela falta de acesso a direitos básicos. Na Asa Norte, crescem ocupações em terrenos baldios. No entanto, estudo revela que vulnerabilidades se estendem para além do centro de Brasília

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 19/12/2020 04:00

Raylene divide um barraco com o marido e os dois filhos: sonho da catadora de recicláveis é comprar um terreno (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Raylene divide um barraco com o marido e os dois filhos: sonho da catadora de recicláveis é comprar um terreno

 

Prédios luxuosos, hotéis, áreas de lazer e jardins bem cuidados compõem o cenário do coração de Brasília e das quadras mais nobres da capital federal. A beleza, no entanto, disputa a atenção de quem passa pelas ruas e percebe, ao longo das calçadas, diversos barracos de madeirite e lona. As ocupações ilegais estão por toda parte. Não se sabe, precisamente, quantas invasões existem no DF, porém, mais de 2 mil pessoas declararam-se em situação de rua, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). Desse total, 152 são crianças e 59, adolescentes.
 
Uma dessas áreas ocupadas é a 707/907 Norte, perto de um centro universitário particular. Ali, mais de 40 pessoas dividem o espaço e se acomodam em barracos, cercados por muriçocas e formigas. O local é monitorado diariamente pela equipe de abordagem social da Sedes. A pasta informa que os moradores daquele ponto não se consideram pessoas em situação de rua, mas catadores de materiais recicláveis.
 
Apenas na região central de Brasília, há cerca de outros 30 locais onde pessoas em situação de vulnerabilidade social se instalaram. A Subsecretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) monitora essas áreas e fiscaliza ocupações irregulares nas regiões administrativas. No entanto, a pasta não tem números precisos, pois “a maioria dos acampamentos são móveis, o que dificulta a contagem”.
 
Há oito meses, Raylene Nunes Alves, 30 anos, mora com o marido e os dois filhos, de 12 e 4 anos, em um barraco na 707/907 Norte. A mudança não foi uma opção. Ela vivia em outro barraco, em Planaltina de Goiás — a cerca de 55km de Brasília —, mas a coleta de materiais recicláveis ficava difícil no local. No DF, a catadora encontrou uma forma mais fácil de juntar os itens para revender e, assim, garantir a comida do dia. “Aqui, nossa rotina é sair de manhã para buscar latinha, voltar e, depois, sair à noite. Por mês, consigo tirar em torno de R$ 500”, calcula.
 
Ao lado do barraco de Raylene, há outros sete, onde moram mais de 15 pessoas, incluindo crianças e bebês. Outra estrutura serve como um banheiro improvisado, sem vaso sanitário e sem chuveiro. Do outro lado da pista, há mais construções à base de lona onde vivem cerca de 20 pessoas. A catadora nasceu em Brasília, mas os pais dela moram no Piauí. Ela chegou a alugar quitinetes e barracos para morar com o marido e as crianças, mas, pelas condições financeiras, acabava despejada pelos donos dos imóveis. O sonho de Raylene é conseguir juntar R$ 10 mil, para comprar um terreno em Planaltina (GO). “Até agora, consegui R$ 2 mil. Creio que, até o ano que vem, eu consiga esse dinheiro. Com R$ 500 (por mês) é difícil, mas, quando alguém doa alimentos, ajuda a economizar. Quem não quer ter um lugar de conforto para ficar com os filhos?”, questiona.
 
Lar
A história de Brenda Pereira, 25, não é muito diferente. A jovem tem dois filhos — um de 8 anos e uma bebê de 7 meses — e conheceu Raylene em Planaltina (GO). As duas vieram juntas para Brasília, em busca de condições melhores de vida. Não muito longe da ocupação irregular onde as duas vivem, vê-se a outra realidade da capital federal: prédios luxuosos, centros comerciais e hotéis. “Meus filhos não sabem o que é shopping. Na verdade, nem saem de cima desse papelão. O lazer deles é esse, mas nos acostumamos. Aqui, é uma dando força para a outra”, comentou Brenda.
 
Além das dificuldades, a família lida com derrubadas promovidas por órgãos públicos. “É frequente. A última tem três meses. Mas vou fazer o quê? Eles viram as costas e construímos de novo. Aqui, não recebemos visita de ninguém do governo nem opção para sair dessa situação. Não somos criminosos nem usuários de drogas. Somos pessoas honestas que não têm um lar”, completou a jovem. A DF Legal, por outro lado, informou que retira “apenas materiais inservíveis”, que não apreende pertences pessoais e que todas as ações da subsecretaria só ocorrem após trabalho prévio da Sedes.
 
Medidas
Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Thiago Trindade, as ocupações irregulares estão associadas à falta de políticas públicas voltadas à moradia. “O acesso à terra é uma questão que nunca foi resolvida no Brasil. Temos um problema estrutural, que afeta a dinâmica da vida no campo e na cidade. Além disso, temos ausência quase total de uma política urbana seriamente implementada pelos governos. Desenvolvemos programas de política habitacional para a população de baixa renda, mas não resolvemos o problema, porque essas habitações, em larga medida, são construídas nas periferias das grandes cidades”, analisou.
 
O especialista acredita que mais pessoas ocupam pontos no Plano Piloto pelo fato de a área ser mais populosa e por oferecer mais “oportunidades”. “Temos uma área nobre. Se a pessoa que mora nessas ocupações tem comércio ambulante, ele vende mais. Se é catadora, consegue arrecadar mais latinhas, porque há mais consumo. A concentração da propriedade fundiária associada à falta de política urbana e habitacional vai acarretar em invasões”, ponderou.
 
Questionada sobre as ações implementadas para coibir as ocupações, a Sedes informou que oferece passagens para as pessoas que desejam retornar às cidades de origem, benefícios eventuais e inclusão no Cadastro Único (CadÚnico). A pasta acrescentou que apresenta serviços socioassistenciais, programas e benefícios para as famílias, incluindo vagas de acolhimento institucional nas 46 unidades sob gestão da secretaria. “A Sedes não pode retirar uma pessoa em situação de rua sem que ela manifeste interesse em ir para as unidades de acolhimentos”, ressaltou o órgão distrital, em nota.
 
Indicadores
A vulnerabilidade social não está presente só entre os que não têm uma casa para morar. Estudo produzido pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostra que, das 33 regiões administrativas do DF, Estrutural e Sol Nascente são as mais prejudicadas. Os dados constam no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), indicador que avalia as condições da população: quanto maior o indicador, maior a fragilidade social do local. As duas cidades tiveram resultado de 0,72 e 0,6, respectivamente.
 
O primeiro indicador analisado pelo estudo avalia fatores relacionados aos domicílios e arredores, como acesso a saneamento básico; tempo de deslocamento para o trabalho; condição viária; e ambiência urbana. Nesse quesito, Estrutural e Sol Nascente atingiram 0,69 e 0,64 pontos, respectivamente, seguidos por Fercal (0,5) e Planaltina (0,4). As regiões com melhores resultados foram Cruzeiro (0,03) e Sudoeste/Octogonal (0).
 
O estudo analisa, ainda, a necessidade de provimento de moradias para atender à demanda habitacional da população, bem como a inadequação de domicílios relacionada a especificidades que prejudicam a qualidade de vida. A Estrutural volta a aparecer em primeiro lugar nesse ponto, com indicador de 0,63, seguida pelo Riacho Fundo (0,53). Lago Sul (0,03) e Águas Claras (0,01) foram as mais bem avaliadas nesse aspecto.

Correio Braziliense sexta, 18 de dezembro de 2020

FITA THE BEST - LEWANDOWSKI, O PAPA DA BOLA

Jornal Impresso

FIFA THE BEST
 
O papa da bola: Lewandowski
 
Personagem mais badalado da Polônia desde João Paulo II, Lewandowski supera Cristiano Ronaldo e Messi e quebra jejum: último centroavante raiz eleito número 1 do mundo havia sido Ronaldo Fenômeno, em 2002

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 18/12/2020 04:00

 
 
Tem fumaça branca na chaminé. Os fiéis da religião chamada futebol podem dizer: Habemus Papam. Ele é polonês. Nasceu em Varsóvia, em 21 de agosto de 1988. Personagem mais badalado do país do Leste Europeu desde o papa compatriota dele, João Paulo II (1920-2005), Robert Lewandowski, de 32 anos, do Bayern de Munique, superou o vice português Cristiano Ronaldo (Juventus) e o terceiro colocado, o argentino Lionel Messi (Barcelona), ontem, na cerimônia remota realizada em Zurique, na Suíça, e conquistou o prêmio de melhor jogador do mundo em 2020.
 
A eleição de Robert Lewandowki melhor do mundo em 2020 é simbólica. Considerados fora de moda nos debates sobre a preferência pelo falso 9 na era dourada do Barcelona, de Pep Guardiola; e da Espanha, de Luis Aragonés e Vicente del Bosque; os centroavantes ressuscitaram oficialmente na cerimônia virtual de ontem do Fifa The Best, em Zurique, na Suíça. O polonês recoloca camisas 9 raiz, como ele, no trono que a classe não ocupava havia 18 anos.
 
Talvez você não lembre. O último centroavante eleito número 1 do mundo foi o brasileiro Ronaldo. O Fenômeno arrematou os prêmios da Fifa e da revista France Football em 2002. Naquele ano, havia levado o Brasil ao pentacampeonato na Copa realizada no Japão e na Coreia do Sul. Marcou oito gols. Dois deles na final contra a Alemanha. Chegou ao Mundial como jogador da Internazionale. Conquistou a estatueta vestindo a camisa do Real Madrid.
 
Daquele ano em diante, o prêmio de melhor do mundo deu as costas aos centroavantes, os matadores numa linguagem popular. Zagueiro, meias e atacantes de lado do campo na linguagem pós-moderna da bola, ou seja, mais pontas do que homens de área, revezaram-se no poder.
 
Deu Zidane em 2003. Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005. Cannavaro surpreendeu em 2006. Kaká assumiu o trono em 2007. Cristiano Ronaldo e Messi reinaram por 10 anos consecutivos de 2008 a 2017 e colocaram em xeque a necessidade de um time ter centroavante. Ambos são jogadores de lado, mas sabem perfeitamente atuar dentro da área no papel de falso 9. O meia Modric quebrou a dinastia em 2018, Messi recuperou o cetro em 2019 e, finalmente, um centroavante ostenta o posto de número 1 do planeta bola. Robert Lewandowski é a nova referência do esporte mais popular do mundo.
 
Lewandowski é moderno. Longe de ser aquele centroavante “paradão” dentro da área. Não é um cone, como a torcida brasileira batizou Fred na Copa de 2014 ao manifestar a revolta com as atuações do centroavante da Seleção no Mundial disputado aqui. O polonês sabe sair da área. É jogador de movimentação. Busca tabelas. Arranca com a bola dominada quando isso é possível. Quando necessário, põe a bola embaixo do braço e decide partidas.
 
Não é por acaso que as inspirações dele são dois reis da área. “Quando eu era um jovem jogador, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando e eles foram grandes influências, grandes ídolos para mim. O Brasil sempre teve jogadores incríveis, e eles mostravam um futebol mágico. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário, que eu vi inúmeras vezes em campo”, disse em entrevista ao evento organizado pela Fifa.
 
O craque do ano fez 55 gols em 47 jogos. Deu 10 assistências. Teve participação direta em 65 gols do Bayern de Munique na temporada. Registrou média de 1,38 por partida. Ajudou o clube a arrematar Champions League, Bundesliga, Copa da Alemanha, Supercopa da Alemanha, e Supercopa da Europa. Resumindo: teve ano de Messi e/ou Cristiano Ronaldo numa temporada em que o argentino e o português foram jogadores comuns.
 
Curiosamente, Messi e Cristiano Ronaldo voltam a ser superados por um craque do Leste Europeu. O croata Modric quebrou a dinastia dos dois em 2018. Para mim, o português deveria ter sido eleito naquele ano. Nesta temporada, Lewandowski coloca a Polônia do inesquecível Boniek — maior craque da história do país — em evidência. A nação arrasada na Segunda Guerra Mundial é também a terra do papa João Paulo II. Lewandowski é o personagem mais badalado do país desde que Karol Józef Wojtla morreu, em 2005, e tornou-se santo em 2014.
 
A religião chamada futebol tem um novo “papa” desde ontem, quando a fumaça branca saiu da chaminé da sede da Fifa, em Zurique. A nova referência dos fiéis ao esporte mais popular do mundo segue, agora, a liturgia de Lewandowski. A doutrina dele é marcar gols. A ordem dos centroavantes do futebol mundial agradece pela ressurreição da camisa 9.
 
52
Número de pontos de Lewandowski no colégio eleitoral formado por jornalistas, técnicos, capitães das seleções filiadas à Fifa e internautas, contra 38 de Cristiano Ronaldo e 35 de Messi. Neymar ficou em nono lugar.
 
“Quando eu era um jovem, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando. Eles foram influências, ídolos pra mim. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário”
 
Lewandowski, melhor do mundo
 
Os premiados
 
» Melhor jogador
Lewandowski (Polônia/Bayern de Munique)
 
» Melhor jogadora
Lucy Bronze (Inglaterra/Manchester City)
 
» Melhor goleiro
Manuel Neuer (Alemanha/Bayern de Munique)
» Onze ideal masculino
Alisson (Liverpool)
Arnold (Liverpool)
Alphonso Davies (Bayern Munique)
Sergio Ramos (Real Madrid)
van Dijk (Liverpool)
Thiago Alcántara (Bayern Munique)
De Bruyne (Manchester City)
Kimmich (Bayern Munique)
Cristiano Ronaldo (Juventus)
Lewandowski (Bayern Munique)
Messi (Barcelona)
 
» Melhor treinador
Jürgen Klopp (Alemanha/Liverpool)
 
» Melhor jogadora
Lucy Bronze (Inglaterra/Lyon)
 
» Melhor treinadora
Sarah Bouhaddi (França/Lyon)
Onze ideal feminino
Endler (PSG)
Millie Bright (Chelsea)
Lucy Bronze (Lyon)
Wendie Renard (Lyon)
Barbara Bonansea (Juventus)
Verónica Boquete (Utah)
Delphine Cascarino (Lyon)
Pernille Harder (Woflsburg)
Tobin Heath (Portland)
Vivianne Miedema (Arsenal)
Megan Rapinoe (Reign)
 
Melhor treinadora
Sarina Wiegman (Holanda)
 
Prêmio Puskás
Son Heung-Min (Coreia do Sul/Tottenham)
» Fair Play
Mattia Agnese (ITA/Ospedaletti). Aos 17 anos, ajudou a salvar a vida de uma adversária em uma partida.
 
» Melhor torcedor
Marivaldo Francisco da Silva. O pernambucano caminha 12 horas 
para assistir ao jogos do Sport no estádio do clube, a Ilha do Retiro.

Correio Braziliense quinta, 17 de dezembro de 2020

ESPÍRITO NATALINO EM LUZ E CORES

Jornal Impresso

 

Espírito natalino em luz e cores
 
 
A poucos dias das comemorações de Natal, moradores do Distrito Federal se empenham nas decorações para celebrar a data. Cenários com árvores iluminadas, trenós, renas e os tradicionais presépios se espalham pela capital

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 17/12/2020 04:00

Prefeita da Quadra 303 Norte, Nanci Martins investiu na decoração deste ano (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Prefeita da Quadra 303 Norte, Nanci Martins investiu na decoração deste ano

 


A menos de 10 dias para o Natal, o Distrito Federal está preparado para a celebração. Quem achava que a pandemia de covid-19 inibiria as decorações, se enganou. Presépios, luzes, árvores ornamentadas e guirlandas enfeitam as quadras e encantam quem passa por diferentes pontos de Brasília. Moradores consideram que o investimento para deixar a capital no espírito natalino vale a pena.
 
Na Quadra 204 Sul de Águas Claras, luzes coloridas adornam a entrada e adereços tomam as árvores. Rosane Nóbrega, 54 anos, é apaixonada por esta época. Há 11 anos, a funcionária pública mora no local e afirma que, desta vez, a decoração está mais bonita do que nos anos anteriores. “A quantidade de enfeites está maior. Tivemos a inauguração da decoração, com a iluminação seguida de fogos e a passagem do Papai Noel. Foi bem simbólico”, conta.
 
Rosane diz que tem o costume de sair para olhar os enfeites. Para ela, tudo faz parte do espírito natalino e do que ele significa. “A data representa renovação. Acho importante manter a tradição da decoração, principalmente, nesta fase complicada que estamos vivendo. Ela simboliza um pouco do normal e traz esperança para todos. É uma forma de pensar que tudo vai passar e melhorar”, completa a moradora.
 
Toda a ornamentação e preparação para o Natal encantam e animam. Na Quadra 307 da Asa Sul, por exemplo, as preparações começaram na primeira semana de dezembro e deixaram Nívia Almeida, 58, eufórica. “É uma quadra tradicional de Brasília. Estou ansiosa pelo primeiro Natal aqui”, revela a psicóloga, que se mudou há nove meses para o local. “A maioria dos prédios já está decorada, e as estruturas na entrada estão quase prontas. Além disso, no meu bloco, pelo menos, há itens natalinos na parte interna”, afirma.
 
Nívia conta que aproveita ainda mais o passeio com o cachorro, agora, com a quadra ornamentada. “É uma questão de atmosfera e energia da data. Nos lembra que o Natal vai além do simbolismo material e que é preciso ter esperança de que tudo vai dar certo”, considera a psicóloga. “Infelizmente, a crise sanitária afetou a animação de algumas pessoas, mas acredito que as decorações as ajudarão a entrar no clima”, avalia Nívia.
 
Alegria
Os tradicionais presépios completam a cena natalina. Na Quadra 303 da Asa Norte, a decoração começa na entrada, com anjos e árvores iluminadas nas áreas verdes, e vai até o último bloco, com um letreiro desejando Feliz Natal para a cidade. A prefeita da quadra, Nanci Martins, destaca a instalação que representa o nascimento de Cristo: “Na inauguração, colocamos a imagem do menino Jesus no cenário e, ao fim do dia, o retiramos. Ele só volta na véspera do Natal, para simbolizar o nascimento”.
 
Segundo Nanci, a expectativa é de que a decoração alegre as pessoas que não podem sair de casa para comemorar. “Temos muitos idosos e crianças na região, por isso, decidimos trazer o espírito natalino até a janela deles”, diz. Foram 15 dias para que tudo ficasse pronto. Na estreia, um violinista ficou encarregado da música, e o Papai Noel passou sob as janelas de cada um dos blocos desejando feliz Natal. “A visitação foi realizada desta forma para evitar a disseminação do novo coronavírus. Apesar disso, é ótimo, principalmente para as crianças”, diz a prefeita.
 
A estrutura montada está aberta para visitação. “Mesmo com dificuldades financeiras, optamos por manter a decoração. Queremos que as pessoas se lembrem do espírito do Natal e da esperança que esta época traz para todos. Por isso, as pessoas estão convidadas para visitarem e tirarem fotos no local”, ressalta Nanci.
No Sudoeste, um presépio chama a atenção, feito apenas com luzes e cercado por árvores iluminadas. Pela noite, ele se destaca em frente ao Bloco G, da Quadra 306.
 
Pontos turísticos
Tradicionalmente, o DF conta com decorações natalinas nos pontos turísticos. Este ano, em 11 de dezembro, a Torre de TV se transformou em cenário de Natal com projeção de luzes e de efeitos sonoros. Até 25 de dezembro, esse cartão-postal terá apresentações de artistas circenses, atores, bailarinos, a presença do Papai Noel e a participação virtual do poeta nordestino Bráulio Bessa. Apenas em 24 de dezembro, não haverá programação. O Natal da Torre de TV é promovido pelo Banco de Brasília (BRB).
 
 
Natal da Torre de TV 
 
O espetáculo de cores e luzes, com projeções e shows gratuitos, ocorre todas as noites até 25 de dezembro, exceto em 24 de dezembro. São três apresentações por dia: às 19h15, às 20h15, às 21h15. Os organizadores garantem que o evento respeita os protocolos de prevenção à covid-19, como uso de máscaras e distanciamento social

Correio Braziliense quarta, 16 de dezembro de 2020

DOAÇÕES PARA ILUMINAR O NATAL

 

Jornal Impresso

Doações para iluminar o Natal
 
Às vésperas do feriado cristão, instituições recorrem à população para pedir ajuda. As colaborações caíram desde o início da crise sanitária, e muitas organizações dependem de donativos para manter as atividades sociais

 

» ANA MARIA DA SILVA*
» JÚLIA ELEUTÉRIO*

Publicação: 16/12/2020 04:00

A Vila Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe 70 pessoas com algum tipo de necessidade especial. A instituição pede contribuições dos brasilienses (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A Vila Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe 70 pessoas com algum tipo de necessidade especial. A instituição pede contribuições dos brasilienses

 



A magia do Natal de que muitas pessoas falam costuma surgir do espírito de solidariedade que cresce à medida que a comemoração cristã se aproxima. Esse sentimento faz com que uma legião de voluntários promova ações solidárias, com o objetivo de ajudar o próximo. E, no Distrito Federal, o que não faltam são opções e formas de oferecer um pouco de alegria para quem mais precisa. Inclusive, muitas instituições ficam à espera de doações para conseguir se manter.

A Vila do Pequenino Jesus é uma delas. O lar acolhe pessoas especiais de todas as idades. Bebês, crianças, jovens e adultos recebem acolhimento e tratamento com dedicação e carinho, como deve ser em uma família. “Nosso objetivo é devolver a dignidade da pessoa. Dar tudo de melhor a eles, para que tenham uma vida mais tranquila”, ressalta o coordenador-geral da instituição, Jorge Eduardo Deister, 46 anos. No entanto, o local depende da ajuda da população, pois as doações caíram desde o início da pandemia da covid-19.

Localizada no Lago Sul, a Vila recebe pessoas de até 59 anos, com diferentes necessidades. Atualmente, há 70 acolhidos, que contam com cuidados de higiene, alimentação, assistência à saúde e outras formas de atenção. Todos os moradores são encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude (VIJ) ou pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).

Atualmente, a Vila se mantém com ajuda de doações, além de um pequeno repasse financeiro governamental. Os itens mais necessários são alimentos, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individual (EPIs) — devido à crise sanitária. “As pessoas podem ajudar de várias formas: conhecendo a casa, vendo nossas necessidades mais de perto. Tudo é de grande importância para nós”, diz Jorge Eduardo. “Temos, também, um bazar que acontece no Itapoã. Recebemos todo tipo de roupa e utensílios domésticos e temos um motorista que pode até ir buscar (as doações)”, complementa o coordenador-geral da Vila.

Natal infantil
    
O Instituto Embalando Sonhos nasceu para desenvolver uma proposta socioeducativa com foco em crianças e adolescentes de Samambaia. A organização oferece atendimento nas áreas de assistência social, educação, cultura, esporte e lazer. Pedagoga e fundadora do espaço, Lady Laura Caetano de Souza Costa, 42, afirma que o objetivo do projeto é resgatar e valorizar o sentimento de viver em família e em comunidade.

Para isso, a proposta foi além e passou a promover a inclusão social por meio de atividades como dança, palestras sobre saúde e atividades em grupo. “Queremos proporcionar condições para o desenvolvimento do indivíduo e para a integração na sociedade, com socialização, elevação da autoestima, da identidade e ampliação de horizontes”, destaca a fundadora.

São 240 inscritos, de 1 a 18 anos. As atividades para as crianças variam e incluem oficinas de música, violão, artes, balé e xadrez. Para as famílias, o instituto abre espaço para diálogos sobre temas atuais que envolvem questões desse público. “Nosso alvo são as crianças. O trabalho é democratizar o acesso à cultura, à educação e ao lazer para a comunidade. Isso muda muito a vida de quem não tem oportunidades e dá novas expectativas”, diz a fundadora. “Temos levado mais do que alimento. Levamos esperança”, acrescenta Lady Laura.

A garantia do sustento do instituto vem das doações — de dinheiro, alimentos, roupas. Toda ajuda é bem-vinda, especialmente durante a pandemia. Neste Natal, a organização também promove uma campanha de arrecadação de panetones e brinquedos. “Sabemos que muitas famílias não têm condições para isso. Todos os anos, fazemos uma grande festa, mas, agora, não podemos estar juntos nem deixar (a data) passar em branco”, detalha a fundadora.

Missão de amor

Outra organização não governamental (ONG) que trabalha com o intuito de ajudar pessoas em situação de insegurança social é a Amor em Ação. Desde 2006, ela atua em todo o Distrito Federal, por meio de ações sociais, com arrecadação de alimentos, roupas e brinquedos, para doação às famílias cadastradas. “Desenvolvemos diversos projetos sociais em lares de idosos, escolas, igrejas, comunidades carentes e vulneráveis”, explica Oneide Ribeiro, 51 anos, professora e secretária do grupo.

A ONG atende cerca de 600 famílias. Mas, para ajudar a todos que dependem dela, a organização conta com o apoio de parceiros. “Promovemos mudanças no sentido de cada um ser mais solidário e grato ao receber e doar. Entendemos que somos uma instituição extremamente importante na sociedade civil, pois não temos qualquer tipo de discriminação, preconceito contra o que ou quem quer que seja”, comenta Oneide. A principal demanda, segundo a secretária, é por cestas básicas e móveis. “Não deixe para amanhã se puder ajudar hoje. O amor em ação é uma missão minha, sua e de todos nós”, reforça.

5 mil brinquedos

Há 21 anos, o brasiliense Genilson Francisco Lopes, 44 anos, conhecido como Palhaço Psiu, arrecada brinquedos novos para distribuir no Natal. A campanha solidária deste ano está com a meta de doar 5 mil presentes para crianças de famílias de baixa renda do Distrito Federal. Ele receberá as doações até 20 de dezembro.

O projeto — que, na primeira vez, juntou só 10 brinquedos — distribuiu 10 mil presentes no Natal de 2019. Mesmo com a redução do montante pela metade, o Palhaço Psiu enfrenta problemas para arrecadar a quantidade estimada para este ano, por causa da pandemia da covid-19. Apesar de tudo, Genilson acredita que conseguirá atingir a meta do 5 mil. “Imagino as crianças que estão na esperança de ganhar um presente. Isso me dá mais força para conseguir esses brinquedos e para que elas possam ter alegria neste momento tão difícil. A magia do Natal não pode morrer”, defende o Palhaço Psiu.

Nascido no DF e com uma árdua trajetória de vida, o Palhaço Psiu precisou superar diversas barreiras após ser deixado em um orfanato, aos 4 anos. Genilson prometeu para si mesmo que, após sair da instituição, ajudaria crianças carentes, por entender a tristeza delas. Ele considera que seguiu o caminho certo, mesmo com pouco contato com os pais biológicos, além da perda do irmão — assassinado em 1994 — e da filha, que não sobreviveu a um acidente de carro, em 2011.

O programa Correio Braziliense Solidário conta com a parceria do Palhaço Psiu há cerca de 7 anos. O animador da festa confessa estar triste por não participar da festa em 2020, para distribuir os presentes. "Espero que tudo volte ao normal e que o Correio possa fazer a campanha. Olhe o tanto de crianças que ficam sem ajuda e sem ganhar presente", completa.

*Estagiárias sob supervisão de Jéssica Eufrásio


Como ajudar?

Vila Pequenino Jesus
» O que oferecer: materiais de higiene pessoal, alimentos ou doações em dinheiro.
» Como: pelo site viladopequeninojesus.com.br/como-ajudar.

Instituto Social Embalando Sonhos
» O que oferecer: alimentos, roupas, brinquedos ou doações em dinheiro.
» Como: na própria instituição, para retirada em casa ou por transferência bancária.

Caixa Econômica Federal
Ag.: 4167
Conta poupança: 78.044-0
Op.: 013
CNPJ: 28.606.007/0001-70

Endereço: QR 629, Conj. 4, Ch. 1, Samambaia Norte
Telefone: 9 8580-6864

ONG Amor em Ação
» O que oferecer: cestas básicas, roupas, brinquedos ou móveis.
» Como: na própria ONG ou por transferência bancária.

Banco Itaú
Ag.: 5643
Conta-corrente: 14955-1
Nome: Associação Amor em Ação

Banco BRB
Ag.: 057
Conta-corrente: 052073-8
Nome: Associação Amor em Ação

Endereço: Qd. 29, Conj. 23, Lt. 16, Avenida Paranoá, Sala 304, Paranoá
CNPJ: 14.426.547/0001-68
Telefone:  9 8409-6486

Palhaço Psiu
» O que oferecer: brinquedos novos.
» Como: em local a combinar.
Telefone: 9 8406-0184
Redes sociais: @palhacopsiu

Natal Educamar II
A associação sem fins lucrativos que assiste crianças, adolescentes e famílias da invasão Santa Luzia promoverá um Natal especial, em 20 de dezembro. A organização recebe doações de cestas básicas, panetones, aves e pernis para a ceia. Interessados também podem ajudar por meio de doações financeiras. O valor do kit natalino é R$80.

Banco BRB
Ag.: 241
Conta-corrente: 241021212-8
CNPJ: 27.281.010/0001-07
Nome: Associação Projeto Educamar

Banco do Brasil
Ag.: 2912-2
Conta-corrente: 56886-4
CNPJ: 27.281.010/0001-07
Nome: Associação Projeto Educamar
 
 

Correio Braziliense terça, 15 de dezembro de 2020

ENCONTRO DE CORPOS CELESTES
Jornal Impresso
Encontro de corpos celestes
 
Mesmo com um eclipse solar tímido no Distrito Federal, os brasilienses não deixaram de acompanhar o fenômeno, na tarde de ontem. Quem não conseguiu assistir ao evento raro pode deixar os equipamentos de observação preparados, porque o céu de dezembro tem outros acontecimentos marcados

 

BÁRBARA FRAGOSO, BRUNA PAUXIS*

Publicação: 15/12/2020 04:00

Do DF, pôde-se ver apenas 8,7% da superfície do Sol coberta pela Lua
 (Natan Fontes/Divulgação)  

Do DF, pôde-se ver apenas 8,7% da superfície do Sol coberta pela Lua

 

Mesmo com as incertezas que marcam este ano, o céu prepara boas surpresas, passíveis de contemplação em todo o Brasil. Só neste mês, três eventos astronômicos entraram na programação. Após o ápice da chuva de meteoros Geminídeas, no domingo, os brasilienses acompanharam, ontem, um eclipse solar parcial. No Distrito Federal, foi possível observar a Lua cobrir 8,5% da superfície Sol. No dia 21, vale separar binóculos e telescópios novamente, para ver o ápice da conjunção dos planetas Júpiter e Saturno.
 
O servidor público Marcelo Domingues, 49 anos, é estudioso amador do assunto e perdeu as contas de quantas vezes viajou para outras cidades do Brasil e para diversos países apenas para contemplar o céu. Além disso, ele visitou a Noruega, em 2015, para presenciar a aurora boreal. “Ontem, era para eu ter visto o eclipse total do Sol, na Argentina. É o fenômeno mais legal. Mas não consegui ir por causa da pandemia”, conta.
 
Para o Chile, Marcelo viajou quase 10 vezes desde 2005. Também passou pelo país em dois momentos, acompanhado de integrantes do Clube de Astronomia de Brasília (CAsB), do qual faz parte desde 2002. “Para mim, o céu de lá (do Chile) é o melhor. Todas as viagens se tornam oportunidade para conhecer pessoas do mundo inteiro que se interessam pelo tema. Conheci lugares incríveis”, comenta o astrônomo amador.
 
O militar Natan Fontes, 59, considera que o eclipse de ontem fechou um ano “desafiador”, após todos os problemas provocados pela pandemia da covid-19. “(O fenômeno) trouxe, realmente, um significado de esperança para 2021. Foi bastante especial vivenciar esse momento, ainda mais com o meu filho. Passamos esses minutos em um condomínio perto da casa dele. E, após montarmos os equipamentos, fotografamos juntos. É sempre um episódio muito bonito, que vale a pena ser apreciado”, ressalta.
 
Entusiastas e astrônomos amadores ou profissionais, como Paulo Eduardo, testemunharam o eclipse de ontem (Arquivo Pessoal)  

Entusiastas e astrônomos amadores ou profissionais, como Paulo Eduardo, testemunharam o eclipse de ontem

 

 
 
Momento raro
 
O eclipse solar pôde ser observado parcialmente em algumas regiões brasileiras, das 12h às 15h. O fenômeno ocorreu de forma total em algumas cidades do Chile e da Argentina. Embora a grande concentração de nuvens desfavorecesse a contemplação, vários brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, admiraram o evento. O estudante Estevão França, 20, morador de Florianópolis (SC), é apaixonado por fenômenos astronômicos e, neste ano, finalmente conseguiu presenciar o acontecimento. “Comprei um vidro de solda, que é o ideal para a observação a olho nu, e torci para que as nuvens não atrapalhassem. As nuvens atrapalharam um pouco, mas, no fim, deu tudo certo”, comemora.
 
Para os que não conseguiram assistir ao eclipse, a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) disponibilizou uma transmissão em tempo real, para todo o mundo. A escuridão total dura cerca de dois minutos, geralmente. Gustavo Roja, astrofísico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), explica esses fenômenos ocorrem porque a Lua orbita a Terra e, de vez em quando, fica exatamente na frente do Sol. Ele acrescenta que não há um intervalo de tempo preciso para ocorrência dos eventos. “Eles não são raros de acontecer. Ocorrem duas vezes por ano, mas, pelo fato de serem visíveis apenas por uma faixa do planeta, isso acaba gerando grande interesse”, afirma.
 
Calendário
 
Chuva de meteoros, eclipses solares e lunares, conjunções de planetas e a superlua são alguns dos principais fenômenos acompanhados por entusiastas e estudiosos da área. “Popularmente conhecida como ‘estrela cadente’, a chuva de meteoros chamada Geminídeas ocorre todos os anos. Uma grande quantidade de resto de cometa pode ser vista no céu”, explica o físico e astrônomo Paulo Eduardo de Brito, professor da Universidade de Brasília (UnB). “A chuva de meteoros recebe esse nome porque todos os meteoros parecem sair da Constelação de Gêmeos, e os restos de cometa que entram na atmosfera da Terra são queimados. (Isso) é mais visível em ambientes escuros, como zonas rurais. O pico da última ocorreu na noite de domingo. Talvez, dure mais três dias”, acrescenta.
 
Outro acontecimento celeste, marcado para 21 de dezembro, é o encontro dos dois maiores planetas do Sistema Solar: Júpiter e Saturno. O fenômeno é raro, segundo o especialista. “Ocorre a cada 20 anos. Júpiter leva quase 12 anos para dar uma volta em torno do Sol, e Saturno, 28. Eles vão ficar bem próximos”, comenta. Nesta semana, é possível acompanhá-los, perto do ponto em que o Sol se põe, a Oeste. Júpiter será o ponto mais brilhante.
 
*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio
 
Programe-se
 
Datas dos próximos fenômenos astronômicos no Brasil:
 
Encontro da Lua com Júpiter e Saturno
Quarta e quinta-feira, logo após o pôr do sol
 
Conjunção de Júpiter com Saturno
Na próxima segunda-feira
 
Solstício de dezembro/de verão
Na próxima segunda-feira
 
Eclipse lunar penumbral
26 de maio de 2021
 
Eclipse lunar parcial
19 de novembro de 2021

Correio Braziliense segunda, 14 de dezembro de 2020




Correio Braziliense sexta, 11 de dezembro de 2020

DÓLAR CAI, INDÚSTRIA E VAREJO SEGUEM EM ALTA

Jornal Impresso

Dólar cai, indústria e varejo seguem em alta

 

Uma onda de otimismo está tomando corpo na economia. Pelo sexto mês consecutivo, o varejo registrou aumento nas vendas, com um avanço de 0,9% em outubro na comparação com setembro. %u201CNo mínimo, mostra um fôlego da economia num patamar que já estava alto%u201D, avalia Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE. A Confederação Nacional da Indústria, por sua vez, registrou, em dezembro, um aumento de 0,2 ponto no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), saltando para 63,1 pontos. Por fim, a conjuntura favorável no cenário externo, com as medidas de estímulo nas principais economias e a perspectiva de uma vacinação em massa, levaram o dólar a R$ 5,03, a menor cotação desde a primeira quinzena de junho.

 

Dólar rumo aos R$ 4,50

 

Vicente Nunes

Publicação: 11/12/2020 04:00

Seguindo uma tendência de depreciação global, o dólar caiu expressivos 2,67% no câmbio brasileiro e encerrou o dia vendido a R$ 5,03 — menor nível desde a primeira quinzena de junho deste ano. Operadores do mercado financeiro já veem o dólar sendo negociado entre R$ 4,50 e R$ 4,75 se o governo não fizer nenhuma estripulia na área fiscal.
 
Segundo o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, tecnicamente, a moeda norte-americana está mais para R$ 4,50 do que para R$ 5,50. Padovani reconhece que o câmbio está muito volátil, porque há expressiva cautela com as incertezas provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Contudo, há a consciência de que um dólar a R$ 5,80, como se observou semanas atrás, está descolado da realidade.
 
Para o economista, os fundamentos sugerem um dólar a R$ 4,50. E lista os motivos: a moeda norte-americana está caindo em todo o mundo, o euro está se valorizando, os preços das commodities estão em alta, o risco Brasil está em baixa e os juros no país vão subir.
 
Não é só: em novembro, as eleições nos Estados Unidos afastaram o risco de uma crise geopolítica, com a vitória do democrata Joe Biden sobre Donald Trump. Além disso, está sobrando dinheiro no mercado internacional, por causa dos pacotes de incentivos à economia nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
 
Esse fluxo de recursos está migrando para países emergentes, entre eles, o Brasil. Parte do dinheiro é especulativa, de curto prazo, mas há uma parcela que está mais tranquila porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, está conseguindo brecar todas as loucuras que surgem no governo na área fiscal.

Correio Braziliense quinta, 10 de dezembro de 2020

NEYMAR - LIGA DOS CAMPÕES: SHOW DO ARTILHEIRO

Jornal Impresso

LIGA DOS CAMPEÕES
 
Show do artilheiro
 
 
Neymar comanda goleada do Paris Saint-Germain com hat-trick sobre o Istanbul e vira um dos goleadores do torneio ao lado de Morata, Haaland e Rashford. Acusado de racismo, árbitro romeno se defende

 

Publicação: 10/12/2020 04:00

Neymar levou a bola do jogo para casa depois de classificar o PSG em primeiro lugar para as oitavas de final (Franck Fife/AFP)  
Neymar levou a bola do jogo para casa depois de classificar o PSG em primeiro lugar para as oitavas de final


Neymar marcou três gols na vitória do Paris Saint-Germain por 5 x 1 sobre o turco Basaksehir, ontem, pela sexta e última rodada do Grupo H da Liga dos Campeões.
 
Num jogo marcado por protestos após o episódio de racismo registrado na véspera, no qual o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, usou o termo “negro” para se referir a um membro da comissão técnica do time da Turquia, que acabou provocando a paralisação do duelo e, posteriormente, seu adiamento, os donos da casa alcançaram uma vitória que lhes garantiu o primeiro lugar da chave.
 
Neymar, que, na véspera, comandou ao lado do companheiro de equipe Mbappé e do atacante Demba Ba, do Basaksehir, a retirada dos jogadores de campo em sinal de desaprovação pela conduta do quarto árbitro, foi o protagonista da partida desta quarta, reiniciada aos 14 minutos, momento em que foi paralisada no dia anterior.
 
O brasileiro abriu o placar na capital francesa marcando um golaço. Aos 21, recebeu um passe de Verratti e, depois de dar um giro, colocou a bola entre as pernas do marcador para finalizar no ângulo superior do gol dos visitantes.
 
Ele voltou a balançar as redes aos 38, após contra-ataque puxado pelo compatriota Rafinha Alcântara, que tocou para Mbappé, que passou logo para Neymar ampliar com um chute rasteiro. Quatro minutos depois foi a vez de Mbappé fazer o dele, em cobrança de pênalti marcado após o lateral-esquerdo Bakker ser derrubado na área. O francês bateu no canto esquerdo e fez o 3 x 0, aos 42 minutos.
 
Na segunda etapa, mal a bola tinha rolado e Neymar fez mais um, após jogada inciada por ele mesmo pelo lado esquerdo, na qual tabelou com o argentino Di María antes de bater colocado da entrada da área. Os vistantes diminuíram pouco depois, por meio do zagueiro Topal, aproveitando um escanteio.
 
Para fechar o placar, Neymar puxou contra-ataque, tocou para Di María, que rolou para Mbappé finalizar com tranquilidade. Com o resultado, o PSG avança às oitavas como líder do Grupo H, com 12 pontos, a mesma pontuação do também classificado RB Leipzig, que ficou em segundo pelo saldo de gols. Em terceiro lugar, o inglês Manchester United ganhou o direito de disputar as oitavas da Liga Europa, enquanto o lanterna Basaksehir se despede da competição continental com apenas três pontos em seis jogos.
 
Racismo
 
Um dia depois do comentário que desencadeou protestos dentro e fora de campo e repercussão mundial, o juiz Sebastian Coltescu disse que não é racista. O jogo da entre PSG e Istanbul Basaksehir, pela Champions League, foi paralisado após o quarto árbitro ser acusado de racismo.
 
“Tento ser bom. Não vou ler nenhuma notícia hoje. Quem me conhece sabe que não sou racista! Pelo menos eu espero que sim”, disse Coltescu em entrevista ao jornal romeno Pro Sport.
 
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou a injúria racial por meio das redes sociais. “Somos incondicionalmente contra o racismo e a discriminação no esporte e em todas as áreas da vida”, escreveu Erdogan nas redes sociais. 
 
Neymar manifestou-se ontem. “A gente tem que fazer isso. Fizemos muito bem. Foi o que deu na minha cabeça, foi o que eu deveria ter feito na primeira vez”, disse, referindo-se ao episódio em que sofreu injúria racial no Francês.  


“Tento ser bom. Quem me conhece sabe que não sou racista! Pelo menos eu espero que sim”
Sebastian Coltescu, árbitro romeno


“A gente tem que fazer isso (tirar os times do campo). Fizemos muito bem. Foi o que deu na minha cabeça, foi o que eu deveria ter feito na primeira vez”
Neymar, referindo-se, também, ao episódio em que sofreu injúria racial no Campeonato Francês


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Número de classificados para a fase de mata-mata: Bayern de Munique, Atlético de Madrid, Real Madrid, Borussia Monchengladbach, Manchester City, Porto, Liverpool, Atalanta, Chelsea, Sevilla, Borussia Dortmund, Lazio, Juventus, Barcelona, PSG e Red Bull Leipzig

Correio Braziliense quarta, 09 de dezembro de 2020

ABDALLA JARJOUR SE ENCANTOU: PIONEIRO DE BRASÍLIA, MORRE AOS 74 ANOS, VÍTIMA DA COVID-19

Jornal Impresso

 

Abdalla Jarjour, 74 anos, empresário, morre vítima da Covid-19

 

» JÉSSICA CARDOSO*

Publicação: 09/12/2020 04:00

 

 
 
 (Reprodução)  
 
De origem síria, o empresário do ramo de combustíveis Abdalla Jarjour chegou a Brasília com seus pais, Aziz Abdalla Jarjour e Munia Khoury Jarjour, em 1958. Abdalla foi um dos primeiros a abrir um posto de combustível na capital e liderou a luta contra o aumento de preço de combustíveis ao aderir à frase “guerra aos altos preços dos combustíveis em Brasília”, dita pelo então presidente da CPI dos Combustíveis do DF, Chico Vigilante.
 
Aos 74 anos, Jarjour morreu na madrugada de ontem, após complicações ocasionadas pela covid-19. Ele deixa cinco filhos, entre eles o ex-secretário de Governo do Distrito Federal Thiago Jarjour, além de três netos e a companheira, Marinês Santos.
 
O genro de Abdalla, Anderson Olivieri, conta que o empresário era conhecido pelo seu jeito firme, como um líder nato, extremamente dedicado ao trabalho. Jarjour também adorava viajar e fazer diversos amigos. “Ele era uma figura marcante, única, que tinha um coração imenso e generoso”, afirmou Anderson.
 
No entanto, apesar das diversas viagens que fez, Abdalla era apaixonado pela capital. “Ele sempre fazia questão de dizer que conheceu muitas cidades pelo mundo, mas nenhuma o encantava como Brasília. Para ele, a cidade o alegrava e o fazia se sentir em casa”, contou Anderson.
 
O velório do empresário ocorreu na Igreja Ortodoxa Antioquina São Jorge, do Lago Sul, das 12h30 às 16h. O sepultamento, às 17h, no Campo da Esperança.
 
Em suas redes sociais, um dos filhos, Monder Jarjour, agradeceu as condolências e mensagens de carinho recebidas pela família. O Sindicombustíveis do DF também prestou sua solidariedade aos familiares.
 
Após inaugurar o primeiro posto de combustível na CSB 8, em Taguatinga, o empresário criou a American Petro em 1999. Cinco anos depois, o posto foi ampliado com a unidade do Posto Jarjour na 206 Norte e, em 2006, a American Petro ganhou mais uma sede no Eixinho Sul, na altura da quadra 210.
 
Antes de entrar no ramo de combustíveis, Abdalla Jarjour também trabalhou em diversas atividades comerciais, como no Café Arábia, no Mercados Planalto e no Consórcio Nacional Jarjour.
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Correio Braziliense terça, 08 de dezembro de 2020

POLICIA CAPTURA COBRAS DOS ESTADOS UNIDOS

Jornal Impresso

Polícia captura cobras dos EUA
 
Duas serpentes corn snake estavam com uma estudante de direito, de 19 anos, em Sobradinho 2. Agentes buscam informações para localizar o vendedor das espécies. Há cinco meses, estudante de veteriária foi preso por tráfico de animais no DF

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 08/12/2020 04:00

As serpentes corn snake apreendidas foram batizadas pela tutora de  

As serpentes corn snake apreendidas foram batizadas pela tutora de "Dandara" (laranja) e "Cinara" (branca) 

 

 
Investigadores da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho 2) colhem informações para localizar o suposto vendedor de duas serpentes corn snake, de origem norte-americana, capturadas, ontem, com uma estudante do curso de direito, de 19 anos. A jovem foi alvo da operação Fidi — a palavra significa serpente em grego — e acabou presa. Na unidade policial, assinou um termo de compromisso de comparecimento em juízo e foi liberada em seguida. O caso vem há pouco menos de cinco meses da operação Snake, conduzida pela 14ª DP (Gama), que indiciou o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Krambeck, 22, por 23 vezes pelo crime de tráfico de animais silvestres (leia Memória). 
 
Policiais chegaram até o endereço da jovem após um denunciante informar que a suspeita mantinha serpentes e vasos de maconha na residência onde ela mora com a família, no Setor Contagem, em Sobradinho 2. Ao chegarem ao endereço, os investigadores questionaram a estudante sobre o paradeiro das cobras, mas a mesma tentou esconder os animais. “Após interrogá-la novamente, ela nos entregou as serpentes e disse que elas ficavam soltas pelo quintal”, afirmou o delegado-chefe da 35ª DP, João Ataliba Neto. 
 
As serpentes apreendidas foram batizadas pela jovem de “Dandara” (laranja) e “Cinara” (branca). Os répteis são da espécie corn snake, nativos dos Estados Unidos, e não são peçonhentos. A criação de animais silvestres em casas no Brasil é proibida. Contudo, segundo especialistas da área ambiental, esses répteis são comuns serem criados como “pets” e podem ser facilmente adquiridos por meio da internet. 
 
Além das cobras, a polícia encontrou cerca de 10 ratos congelados na casa da estudante, que eram utilizados como alimentos para as serpentes. Os camundongos estavam guardados em um freezer, mas, com a chegada dos policiais, a menina teria os jogado no lixo, segundo as investigações. 
 
Internet
Em depoimento, a suspeita alegou que comprou as cobras pela internet, no valor de R$ 250 (cada uma), porque era xamanista. “A princípio, não temos informações de nenhuma rede vinculada à venda de serpentes no DF. Mas vamos checar essa informação e ver se procede para tentarmos identificar o possível vendedor. Se ele residir no Distrito Federal, seguimos com a apuração. Se for em outro estado, vamos encaminhar o caso à Polícia Federal ou à Polícia Civil competente”, detalhou o delegado. 
 
A suspeita foi liberada após assinar o termo de compromisso e as duas corn snake e os ratos congelados serão encaminhados ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Cetas/Ibama). 
 
 
 
Memória
 
Caso da naja
 
Investigadores da 14ª Delegacia de Polícia (Gama), descobriram um esquema de tráfico de animais silvestres depois de após o estudante Pedro Henrique Krambeck ser picado por uma cobra naja kaouthia, em 7 de julho, no apartamento onde morava com a família, no Guará. Posteriormente, a polícia concluiu que o estudante comprava e vendia serpentes havia três anos. A apuração concluiu que o esquema criminoso contava com participação da mãe dele, a advogada Rose Meire dos Santos; do padrasto de Pedro Henrique, o tenente-coronel da Polícia Militar do DF, Clóvis Eduardo Condi; de Gabriel Ribeiro de Moura, amigo do estudante; além de outros colegas da faculdade. Os quatro foram indiciados por tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa. Pedro Henrique responde, ainda, por exercício ilegal da profissão, por realizar cirurgias em animais.

Correio Braziliense segunda, 07 de dezembro de 2020

SIM, APESAR DA PANDEMIA: CASAMENTO COMUNITÁRIO OFICIALIZOU A UNIÃO DE 42 CASAIS DO DISTRITO FEDERAL

Jornal Impresso

 

Sim, apesar da pandemia
 
Casamento comunitário realizado na noite de ontem, no Museu da República, oficializou a união de 41 casais da capital federal. Banda do Corpo de Bombeiros do DF animou o evento.
 
Casamento comunitário oficializou a união de 41 casais do Distrito Federal, na noite de ontem. Cerimônia ocorreu no Museu da República. O evento foi promovido pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus)

 

» BÁRBARA FRAGOSO

Publicação: 07/12/2020 04:00

Casamento comunitário seguiu as regras sanitárias e de distanciamento para evitar a infecção pelo novo coronavírus (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Casamento comunitário seguiu as regras sanitárias e de distanciamento para evitar a infecção pelo novo coronavírus


Enquanto o Sol dava espaço para o anoitecer, 41 casais do Distrito Federal esperavam para dizer o “sim” do matrimônio civil, ontem, no Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Nos bastidores, os músicos da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) faziam os últimos ajustes sonoros para animar o casório. Em filas separadas, os noivos tentavam manter o distanciamento neste tempo de pandemia. Desde 2012, os casamentos comunitários oficializaram a união de 1.124 casais no DF.

Sem conseguir dormir bem na véspera do casamento, a cabeleireira Cleidenalva Domingas, 39 anos, levantou às 5h para iniciar os preparativos. “Casar é o meu sonho de criança. Sempre quis usar um vestido de noiva. Estou muito feliz e realizada. Nos conhecemos há dois anos e somos almas gêmeas”, conta. Após acordar o noivo, o autônomo Huguemberg Soares, 28, e buscar uma amiga na casa dela, os três chegaram ao local da cerimônia por volta das 10h30. “Tivemos um momento muito interessante com psicólogas, que deram dicas de como lidar com a ansiedade”, detalha.

O casal soube da possibilidade de participar da iniciativa por meio de reportagens. “Gostaríamos que mais amigos e familiares estivessem presentes. Vieram duas irmãs minhas e a madrinha do meu esposo. Mesmo assim, enviamos o convite da transmissão on-line do casamento para pessoas queridas acompanharem, já que não podem estar aqui”, destaca Cleidenalva.

Para o marido dela, todo o empenho de preparo para o casamento valeu a pena, incluindo os trâmites de separação dos documentos. “Casar é um sonho antigo. Foi bastante corrido até chegarmos aqui. Com as limitações que enfrentamos durante a pandemia, os nossos parentes de Goiás e do Mato Grosso acompanham a cerimônia pela internet”, conta Huguemberg.

“Fizemos as pazes”


Desde março de 1988, a gari Valeria Soares, 51, e o operador de caixa Rosemberg Rodrigues, 57, estão juntos. “Eu fiz o pedido de casamento para ele há poucos meses. O momento está sendo muito importante. Quando nos conhecemos, eu tinha seis anos, e ele 11. Hoje, temos três filhos”, descreve Valeria. Ela e o esposo tentarem seguir todos os protocolos para oficializarem a união com segurança. “Até discutimos nessa noite (sábado), mas, depois, fizemos as pazes (risos)”, revela a recém-casada.
Após o longo período de planejamento, Rosemberg fez a inscrição do processo. “Corri atrás e ainda coloquei o meu cunhado para casar também. Estou extremamente feliz”, acrescenta o operador de caixa.

À primeira vista

Ao morar com o motoboy Rafael Magalhães, 26, há três anos, a dona de casa Jaqueline Fernandes, 26, conta que eles não conseguiram casar anteriormente por falta de oportunidade. “E, também, porque não tivemos condições financeiras. Não imaginei que daria certo. Sinto vários sentimentos ao mesmo tempo”, confessa. Segundo ela, desde que se conheceram, não ficaram separados. “Foi amor à primeira vista mesmo. Eu tinha muita vontade de casar”.

Segundo Rafael Magalhães, a iniciativa facilitou para que gastassem menos do que se apostassem em uma cerimônia somente dos dois. “Desde setembro, estamos nos preparando para estarmos aqui. A covid-19 não está sendo um problema para casarmos, pois a realização de, finalmente, oficializarmos compensa tudo isso. Depois, vamos comemorar este dia com os nossos três filhos, que ficaram em casa”, relata.

Iniciativa


Promovida pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), o casamento comunitário isentou os custos de cartório, oficializando casais de baixa renda — que recebem até dois salários mínimos. “Depois de três meses de muito esforço trabalho e dedicação, o grande dia chegou. A cerimônia começou com o sonho de cada um. Tudo isso para celebrar o amor, respeito, cumplicidade e a família. É um caminho muito bonito. Mesmo com o momento difícil, de pandemia, fizemos de tudo para que a cerimônia ocorresse da forma mais segura possível”, declara a secretária de Justiça, Marcela Passamani.

Com o intuito de amparar as famílias e ampliar as garantias dos direitos patrimoniais, sucessórios e previdenciários, a cerimônia contou com o apoio de parceiros e voluntários, incluindo maquiadores, cerimonial e cabeleireiros do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Devido à pandemia do novo coronavírus, o casamento seguiu as recomendações de distanciamento e normas sanitárias. O evento teve a presença dos deputados distritais Fernando Fernandes (Pros), Flávia Arruda (PL) e do secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.

Vinte músicos da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) ficaram responsáveis pela abertura da cerimônia. “Preparamos o Hino Nacional e o Hino a Brasília. Esperamos transmitir bons sentimentos para esses casais por meio do nosso som. É muito gratificante estarmos aqui”, destacou o maestro, capitão Áulus Carvalho.

Correio Braziliense domingo, 06 de dezembro de 2020

OS DESAFIOS DO ORÇAMENTO

Jornal Impresso

Os desafios do orçamento
 
Com os efeitos da crise provocada pela pandemia da covid-19, as previsões para ações do governo local no próximo ano passaram por ajustes. Tema está em discussão na Câmara Legislativa

 

» ALAN RIOS
» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 06/12/2020 04:00

 

Buriti projetou receitas e despesas para 2021 com base em mudanças verificadas durante a pandemia da covid-19; previsões estão levemente otimistas (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press - 12/3/19)  
Buriti projetou receitas e despesas para 2021 com base em mudanças verificadas durante a pandemia da covid-19; previsões estão levemente otimistas
 

 

O impacto da pandemia do novo coronavírus tornou um desafio elaborar a previsão orçamentária anual. A crise exigiu diversos remanejamentos nas estimativas de recursos para 2020 e reajustes das expectativas para o exercício seguinte. A princípio, o Executivo local trabalhou com a possibilidade de uma realidade mais complexa em 2021. No entanto, o início da recuperação após a flexibilização das normas para o comércio fizeram com que as previsões para 2021 sejam mais otimistas, mesmo que timidamente.


Ao todo, são R$ 44,18 bilhões de receita estimada — incluindo os R$ 15,7 bilhões do Fundo Constitucional (FCDF) —, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2021. Em 2020, a previsão ficou em R$ 43,1 bilhões. A proposta do ano que vem deve passar por avaliação dos deputados distritais antes do recesso legislativo e, depois, será encaminhada para apreciação do governador Ibaneis Rocha (MDB).


Sancionada em setembro, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2021 considerou um cenário mais complicado. A receita total prevista era de R$ 42,6 bilhões. Por outro lado, houve frustração na expectativa em relação ao FCDF, usado para Segurança, Saúde e Educação. Projetava-se que o DF contaria com R$ 704,2 milhões a mais que os R$ 15,7 bilhões contabilizados no Ploa. Contudo, o valor tem relação direta com a arrecadação da União.


As alterações na comparação com as previsões de setembro se justificam pelas mudanças no cenário econômico local. A retomada de alguns setores do comércio contribuiu com a melhoria das perspectivas. Também teve impacto o bom resultado de áreas como supermercados e farmácias, que não pararam durante a crise.


“Quando preparamos a LDO, fazemos um retrato do momento. É natural ter ajustes na LOA. Percebemos que conseguimos manter a atividade econômica aquecida porque, apesar de alguns setores sofrerem muito — como bares e restaurantes —, outros — como supermercados e farmácias — se desenvolveram bem. Isso, com as mudanças fiscais e econômicas, possibilitou essas projeções”, destacou ao Correio o secretário de Economia, André Clemente, quando encaminhou o texto do Ploa aos distritais. “Tivemos queda de ISS (Imposto Sobre Serviços) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas tivemos, por outro lado, aumento (na arrecadação) do Imposto de Renda”, complementou.


Prioridades

A elaboração do orçamento permite definir um norte para as prioridades do governo local no próximo ano (leia No detalhe). Entre as despesas previstas com recursos próprios, a educação fica em primeiro lugar, com R$ 4,87 bilhões — além dos R$ 3,3 bilhões do Fundo Constitucional. Com a pandemia, esse setor precisou se readaptar e, em 2021, terá de se preparar para o provável retorno dos estudantes de escolas públicas às salas de aula.


Em segundo lugar nas despesas está a Previdência Social (R$ 4,6 bilhões). Porém, nos últimos dias, a capital federal viu crescer o receio sobre um aumento grande de casos da covid-19. Por isso, a Saúde está entre as prioridades, com orçamento de R$ 3,4 bilhões, provenientes do DF, e mais R$ 4 bilhões, do Fundo Constitucional.

 
 
Sem recursos para acessar a internet, os filhos de Ricardo Sansão tiveram dificuldade na escola. A educação é uma das questões mais sensíveis para a cidade no ano que vem, assim como a saúde e a geração de empregos. O Orçamento do GDF passa por ajustes para se adequar à crise da pandemia.  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
 

Correio Braziliense sábado, 05 de dezembro de 2020

CEB É VENDIDA POR R$ 2,51 BILHÕES

Jornal Impresso

CEB é vendida por R$ 2,51 bilhões
 
Em leilão, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo, a empresa de distribuição de energia foi arrematada pela Bahia Geração de Energia, do grupo Neoenergia. Valor de venda representa um ágio de 76,63% do preço inicial, R$ 1,42 bilhões

 

ANA MARIA CAMPOS
WASHINGTON LUIZ

Publicação: 05/12/2020 04:00

 

"O Estado tem que focar naquilo que é a necessidade da população: educação, saúde, transporte público de qualidade, cuidar da infraestrutura. Essa atividade de distribuição de energia, certamente, vai estar muito melhor a cargo da iniciativa privada" Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal

 

 
Depois de meses de negociações e polêmicas, a Companhia Energética de Brasília (CEB) foi leiloada ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). A empresa foi vendida por R$ 2,51 bilhões para a Bahia Geração de Energia, do grupo Neoenergia. A cifra representa um ágio de 76,63% em relação ao valor inicial de R$ 1,42 bilhão. Outras duas concorrentes disputaram o controle da estatal.
 
A CPFL Comercialização de Energia Cone Sul chegou a oferecer R$ 2,508 bilhões. A Equatorial Participações e Investimentos apresentou o lance de R$ 1,42 bilhão, valor mínimo fixado pelo Governo do Distrito Federal (GDF). O resultado provocou reações positivas e negativas no meio político de Brasília.
 
Ao fim do leilão, o governador Ibaneis Rocha (MDB), que estava na Bolsa de Valores, afirmou que a distribuição de energia “estará melhor a cargo da iniciativa privada”. Segundo o emedebista, a privatização permitirá que o governo amplie o investimento em áreas como saúde e educação.
 
“O projeto de privatização da CEB Distribuição nasceu exatamente da impossibilidade e da visão que se tinha de que não era mais possível recuperá-la se não fosse com muito investimento. O Estado não deve participar de determinadas atividades. O Estado tem que focar naquilo que é a necessidade da população: educação, saúde, transporte público de qualidade, cuidar da infraestrutura. Essa atividade de distribuição de energia, certamente, vai estar muito melhor a cargo dainiciativa privada”, afirmou.
 
Ibaneis fez questão de ressaltar que o governo vai intensificar os processos de concessão e de parcerias público-privadas em 2021. “Teremos, ainda, outros processos de desestatização, como é o caso do metrô do Distrito Federal. Teremos a abertura de capital da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal. Temos todo um conjunto de obras de parcerias público-privadas que nós implementamos no âmbito da nossa administração e chegarão ao fim no ano de 2021”, garantiu.
 
O presidente da CEB, Edison Garcia, classificou o resultado como “um sucesso, uma decisão corajosa, que foi muito criticada e com muita oposição. Estamos com a consciência tranquila de que foi um processo técnico e juridicamente perfeito”, disse.
 
Por outro lado, deputados distritais da oposição pediram a anulação da venda. Eles argumentam que o processo foi ilegal, uma vez que decisão liminar do Tribunal de Justiça do DF, expedida na noite de quinta-feira, determinou a necessidade de aprovação da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para a privatização da CEB Distribuição.
 
Próximos passos 
 
O resultado do leilão será submetido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que vai avaliar as condições econômico-financeiras da empresa vencedora, a Neoenergia. O dinheiro arrecadado com a venda deve ser transferido para a CEB Holding, da qual o GDF tem 80% das ações e o mercado, 20%. Os recursos da operação serão distribuídos em forma de dividendos. De acordo com o governo, parte do valor será utilizada para pagar dívidas da companhia, que estão em, aproximadamente, R$ 800 milhões.
 
Nos nove primeiros meses deste ano, o lucro líquido da CEB Holding ficou em R$ 35,2 milhões. A maior parte corresponde ao desempenho das empresas de geração de energia, segundo a companhia. Elas apresentaram resultados positivos da ordem de R$ 64,7 milhões — 14% a mais do que o verificado no mesmo período de 2019.
 
Porém, no segmento de distribuição, houve prejuízo total de R$ 21,2 milhões, de janeiro a setembro. No mesmo período de 2019, o lucro tinha sido de R$ 13,5 milhões. A companhia associa o resultado a perdas de energia elétrica, bem como à redução do consumo nas classes comercial e industrial, em decorrência da pandemia.
 
Atualmente, a empresa tem 900 funcionários, com salários e benefícios altos. Um eletricista, por exemplo, chega a ganhar cerca de R$ 22 mil entre renda e vantagens acumuladas. Antes mesmo da privatização, a CEB Distribuição deu início a um processo de demissão voluntária. Aqueles que permanecerem nos quadros da companhia terão mais estabilidade a curto e a médio prazos.
 
Vencedora
 
Controlada pela espanhola Iberdrola, a Neoenergia, vencedora do leilão da Companhia Energética de Brasília, tem 13,7 milhões de clientes e está presente em 18 estados brasileiros, sendo responsável pela distribuição de energia na Bahia, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e no interior de São Paulo, por meio da Elektro.
 
A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) e o Banco do Brasil Investimentos são acionistas da empresa. Com forte atuação no segmento de fontes renováveis, a Neoenergia é dona de parques eólicos na Bahia, no Rio Grande do Norte, Paraíba e uma usina solar em Fernando de Noronha (PE).
 
De acordo com o CEO da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, a Bahia Geração de Energia “sabe fazer o que tem que fazer em Brasília” e vai trabalhar para fornecer “energia suficiente e a um custo razoável para o crescimento da capital federal”.
 
Questionado se haveria alguma redução de tarifa para os consumidores do Distrito Federal, Ruiz-Tagle lembrou que os preços são regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “É um processo muito técnico e muito testado, durante muitos anos. Estamos no quinto ciclo de revisões tarifárias das companhias de distribuição. O nosso trabalho é investir para melhorar a qualidade, investir de forma eficiente para que os investimentos sejam igualmente passados na tarifa”, disse.
 
O CEO afirmou que a população “pode ficar tranquila”, pois a Neonergia conhece “perfeitamente a companhia. Estudamos muito bem ela. Por isso, conseguimos dar um preço dessa característica, e confiamos que teremos alta rentabilidade”.

 
"A gente tem um desafio, que é proporcionar energia suficiente e a um custo razoável para o crescimento de Brasília" Mario Ruiz-Tagle, CEO da Neoenergia "Estamos com a consciência tranquila de que foi um processo técnico e juridicamente perfeito" Edison Garcia, presidente da CEB


Controle privado
 
Já contabilizada a privatização da CEB ocorrida hoje, 78% do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil estão sob controle privado, restando, apenas, seis empresas administradas por estados ou municípios.
 
Entre os estados que mantêm concessão pública estão Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. das sete primeiras colocadas no ranking da Aneel, todas são privadas. E entre as sete últimas na avaliação, três são públicas.
 
Com esse olhar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou um “sucesso” o leilão. Para a CNI, a privatização da CEB terá importância estratégica para a melhoria dos serviços de distribuição de energia no Distrito Federal, especialmente por prever robustos investimentos com obras de ampliação e modernização da infraestrutura da companhia. “Em uma realidade de intensa restrição fiscal, é essencial para o país se contrapor à limitação de recursos públicos com uma maior participação da iniciativa privada, tanto nos investimentos quanto na gestão da infraestrutura”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
 
Greve suspensa  
 
Após assembleia realizada ontem, trabalhadores da CEB decidiram suspender a greve até a próxima segunda-feira, quando deve ocorrer uma nova rodada de negociações sobre a manutenção de cláusulas do acordo coletivo de trabalho (ACT) que garantem direitos dos funcionários.
 
A decisão atende a um pedido feito pelo desembargador Brasilino Santos Ramos, do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O magistrado e a instituição pediram que houvesse interrupção da greve até a data da próxima audiência.
 
Em relação à privatização da CEB Distribuição, o Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (Stiu-DF) considera que a decisão do TJDFT, que determina que a Câmara Legislativa avalie o processo de privatização, anule o resultado do leilão.

 


Correio Braziliense sexta, 04 de dezembro de 2020

DOR NO ADEUS A ROOSEVELT, MOTORISTA DE APLICATIVO BARBARAMENTE ASSASSINADO

Jornal Impresso

VIOLÊNCIA

 

Dor no adeus a Roosevelt
 
Motorista de aplicativo vítima de latrocínio foi enterrado ontem, na Asa Sul. A covardia do crime revoltou familiares e amigos. Os dois assassinos estão detidos.  (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
 
Vítima de latrocínio após atender a uma corrida por aplicativo, o motorista foi enterrado ontem no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Sepultamento foi marcado por pedidos de justiça

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 04/12/2020 04:00

 
 
Velório durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Durante o enterro, o pai do motorista agradeceu aos presentes e pediu orações à família (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Velório durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Durante o enterro, o pai do motorista agradeceu aos presentes e pediu orações à família

 

 
Parentes e amigos do motorista de transporte por aplicativo Roosevelt Albuquerque da Silva, 31 anos, reuniram-se, na tarde de ontem, na Capela 4 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, para prestar as últimas homenagens ao trabalhador, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), após atender a uma corrida por app, na noite de terça-feira, na Área Central de Brasília. O sepultamento foi marcado por dor, revolta e pedidos por justiça. 
 
A cerimônia fúnebre durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Inconsolável, a mulher da vítima, Juliana Simplício, 35, precisou ser acalmada pelos familiares. “Por que isso foi acontecer, meu Deus? Me dá uma resposta para aliviar o meu sofrimento. Alguém me diz o que fazer, por favor. Procurei meu filho pela casa e quando o achei, ele estava atrás da porta chorando. Meu outro filho menor pegou uma arma de brinquedo e disse: ‘Mamãe, ninguém vai matar você.’ Estou desesperada”, lamentou a professora. 
 
Em entrevista ao Correio, na quarta-feira, a mulher contou que o marido foi demitido no começo da pandemia do emprego, onde atuava como agente de portaria. Com dívidas, há uma semana, ele tinha começado a trabalhar como motorista por aplicativo. A intenção era quitar alguns boletos e comprar o presente e o bolo de aniversário do filho mais novo, que completará 5 anos em 8 de dezembro. 
 
Durante o enterro, o pai do motorista, Roosevelt Corrente, agradeceu aos presentes e pediu orações à família. “Espero que ninguém nunca sinta essa dor que estou sentindo. Esperamos que um filho enterre o pai, mas que nunca um pai sepulte o filho. Minha esposa está muito abalada e não conseguiu vir. Ela está sob efeitos de remédio e não consegue dormir. A todos, eu agradeço por compartilhar esse momento comigo, porque a dor é tremenda”, disse, emocionado. Roosevelt deixou a mulher e os dois filhos, de 4 e 7 anos.
 
Insegurança 
 
No dia do crime, Roosevelt saiu de casa por volta de 13h para trabalhar. Por volta de 22h, ele atendeu a uma corrida na Asa Norte com destino a Sobradinho. 
 
Durante o trajeto, dois criminosos, Whallyson Maicon 
Lima, 22, e um adolescente, 17, anunciaram o assalto. Segundo o delegado-chefe da 13ª DP, Hudson Maldonado, para não deixar rastros, eles resolveram matar o trabalhador. “O colocaram de joelhos e dispararam duas vezes na região da nuca. Em seguida, fugiram com os pertences e carro da vítima”, detalhou. Na manhã de quarta-feira, o corpo de Roosevelt foi encontrado no Polo de Cinema, em Sobradinho.
 
Dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) mostram que, entre janeiro e julho deste ano, sete motoristas de transporte por aplicativo foram assassinados enquanto realizavam corridas. No mesmo período do ano passado, houve três vítimas.
 
Presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transportes Privado Individual por Aplicativos no Distrito Federal (Sindmaap-DF), Marcelo Chaves garante que o órgão orienta, frequentemente, os trabalhadores para evitar assaltos. “É preciso tomar cuidado antes de pegar o passageiro. Parar e olhar. Claro que roupa não vai dizer nada, mas é preciso ficar atento, principalmente se a região for de risco”, argumentou.  
 
Presente no velório, Leandro Lemos, 32 anos, trabalha como motorista de app há três anos e conta que nunca sofreu tentativa de assalto durante o serviço, mas questiona algumas medidas de segurança. “Todos os dias somos obrigados a tirar foto do nosso rosto para saber que é você que está trabalhando. Por que o passageiro não pode tirar também? Temos de ter segurança também e saber quem estamos levando”, criticou. 

Correio Braziliense quinta, 03 de dezembro de 2020

CORONAVÍRUS - MAPEAMENTO ATIVO É REALIZADO NO DF

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
Mapeamento ativo é realizado no DF
 
Secretaria de Saúde começa inquérito epidemiológico em Ceilândia. A região do DF com mais casos e óbitos relacionados à covid-19 recebe agentes, em casa, para aplicação de testes para detecção do novo coronavírus. Escolha da residência se dá por sorteio

 

» ALAN RIOS

Publicação: 03/12/2020 04:00

Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira moradora do DF a participar do inquérito. O teste dela teve resultado negativo (Fotos: Alan Rios/CB/D.A Press)  

Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira moradora do DF a participar do inquérito. O teste dela teve resultado negativo

 

 
A Região Administrativa (RA) mais populosa do Distrito Federal é a mais afetada pela covid-19. Ceilândia concentra 27.519 casos do novo coronavírus e 717 mortes em decorrência da doença, com uma taxa de letalidade de 2,6% — são os números os mais altos da capital. Para efeito de comparação, há mais mortes provocadas pela pandemia em Ceilândia do que na soma das seis regiões centrais de Brasília. Os dados preocupam a Secretaria de Saúde, que escolheu a cidade para dar início ao inquérito epidemiológico. Nele, agentes do governo vão sortear 230 residências, de cada uma das 34 regiões administrativas, para realizar um teste sorológico de detecção da covid-19. A ação começou ontem e vai percorrer todo o DF até 20 de dezembro.
 
“Hoje (ontem), estamos com dez carros; amanhã (hoje), teremos 34 carros formando as equipes. Temos 230 residências para serem visitadas e pesquisadas”, afirmou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. Ele explicou que as casas que receberão os exames estão escolhidas, mas, caso a pessoa não queria realizar o teste, ele será oferecido à moradia vizinha. A metodologia prevê foco de testes nos locais com crescimento de taxa de transmissão do vírus. Para atuar no inquérito, foram solicitados 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e viaturas e 34 colaboradores do Serviço Social do Comércio (Sesc).
 
Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira testada no inquérito. Surpresa com a visita, ela comemorou a oportunidade. “O resultado deu negativo, mas eu já esperava, porque estou me cuidando, tenho pouco contato aqui fora, sempre com receio”, disse a moradora do P Norte. Apesar de não ter tido contato com o vírus, Danielle lembra que a doença atingiu muitos conhecidos da região. “Na casa ao lado, a gente perdeu um vizinho que ficou três dias internado e faleceu. Para nós foi um baque, porque estou aqui há 30 anos e o conhecia há esse tempo todo. Também tenho um tio internado em estado ruim. Espero que Deus faça um milagre e ele possa sair”, desabafou.
 
Intervenção
 
A expectativa dos agentes é finalizar o inquérito de Ceilândia até sexta-feira, como detalhou o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde, Divino Valério Martins. “Nas demais RAs, a partir de segunda-feira, uma equipe motorizada estará em cada cidade para fazer o trabalho. São várias fases. A primeira, de agora, é de coleta. Depois, entra a parte diagnóstica e, por último, a interpretação de dados, que serão divulgados posteriormente, para que tenhamos parâmetros para pensar que estratégia adotar”, detalhou Divino.
 
Iris Magalhães, 46, moradora de Ceilândia, acredita que esse trabalho pode levar conscientização à população. “Muita gente na cidade age que como se o vírus tivesse acabado, como estivesse tudo bem, e a gente pudesse viver normalmente. Isso, principalmente, depois que muita coisa voltou a funcionar. Os testes são bons para as pessoas despertarem para o que está acontecendo”, argumenta.

Para desenvolver o inquérito, o GDF conta com 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e 34 colaboradores do Sesc  

Para desenvolver o inquérito, o GDF conta com 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e 34 colaboradores do Sesc

 

O anúncio do inquérito epidemiológico surgiu após a Secretaria de Saúde perceber um aumento preocupante da taxa de transmissão R(t) do novo coronavírus. O índice mostra, em média, para quantas pessoas um infectado transmite a doença. Atualmente, o DF tem transmissão de 1,3. Ou seja, cada 100 infectados passam o vírus para 130 pessoas. Osnei Okumoto declarou, durante a ação da secretaria, que o Governo do Distrito Federal (GDF) pode tomar medidas de suspensão de atividades não essenciais caso sejam registrados mais aumentos desta taxa.
 
Diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF e infectologista do Laboratório Exame, David Urbaez explica que o inquérito epidemiológico é uma das ações possíveis de combate à covid-19 dentro de várias categorias de planejamento. “Toda e qualquer epidemia precisa ser avaliada com teste sorológicos, levando em conta estratégia estatística, com amostragem do território que vai estudar. Isso é muito importante, mas deveria ter sido feito desde o início e é uma parte do complexo manejo de pandemia”, avalia. Para ele, os resultados da ação da secretaria podem ser essenciais na tomada de decisões futuras do governo. “É algo extremamente importante, porque temos em torno de 75% da população do DF que ainda pode ser contaminada. A pandemia está ativa e nunca deixou de estar”, alerta.
 
Bares e restaurantes
 
O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou, ontem, que vai reforçar a fiscalização quanto ao horário de funcionamento de bares e restaurantes, limitado até as 23h. “Vamos juntar a Polícia Militar nessa fiscalização e ser um pouco mais duros com eles. O que a gente tem notado, por meio da fiscalização do DF Legal, é que a maior desobediência do distanciamento social, uso de máscara, tem sido nas baladas. As baladas, geralmente, começam a partir das 23h. Foi exatamente por isso que nós escolhemos o horário. As famílias que quiserem procurar os restaurantes, não vão depois das 23h. Eu estou tranquilo, a medida foi tomada de forma consciente”, ressaltou.
 
Por meio de nota oficial, a Secretaria DF Legal informou que “após a edição do decreto, a pasta decidiu, primeiramente, orientar os comerciantes sobre a mudança nas regras. Portanto, neste momento, não há registo de nenhum estabelecimento multado ou notificado. A medida oferece aos comerciantes a oportunidade de adequação às novas determinações do GDF”. A fiscalização é realizada todas as noites, das 8h às 3h. São 12 equipes dividias em quatro turnos, cada uma é composta por até quatro agentes.


3.955 mortes
Segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, divulgado ontem, o DF registrou 16 mortes e 793 casos de covid-19. Ao todo, a capital soma 3.955 óbitos em decorrência da doença e 230.905 infectados pelo novo coronavírus. Há 219.811 pacientes recuperados.


Atendimento
Atualmente, a recomendação dos especialistas em saúde é diferente do início da pandemia quanto à procura pelo atendimento médico. “Mudamos o critério. Hoje, se a pessoa tiver dois sintomas pode procurar uma unidade básica de saúde (UBS) para realizar os testes sorológicos ou os de PCR. Para os testes sorológicos, temos, no site da Secretaria de Saúde, 50 unidades com capacidade de realização”, informou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. A pasta recebeu doações do governo federal e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio-DF). “Foram doados 150 mil testes, da Bio-Manguinhos, e mais 10 mil, da Fecomércio, um teste americano que está sendo utilizado no inquérito”, detalhou Osnei.

Correio Braziliense quarta, 02 de dezembro de 2020

A REPRESENTATIVIDADE NEGRA EM CENA

Jornal Impresso

A representatividade negra em cena
 
NO PALCO DA RESISTÊNCIA
 
Professor de artes cênicas e integrante do coletivo Elementos Pretos, Rafael Nunes (C) faz do teatro um instrumento de luta contra a discriminação.  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 
Ator do grupo Elementos Pretos, o professor de artes cênicas Rafael Nunes promove discussões sobre o racismo estrutural no Brasil há oito anos, em cima dos palcos. Por meio do teatro, ele leva adiante questões urgentes sobre a temática étnico-racial

 

THAIS UMBELINO

Publicação: 02/12/2020 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
 
Protagonismo é a palavra que define Rafael Nunes, 45 anos, nos palcos e no movimento negro. O ator, diretor e professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal carrega na história a luta pela igualdade e pelo fim do racismo. Por meio do grupo de teatro Elementos Pretos, ele leva adiante a responsabilidade de questionar e discutir o racismo cotidiano e, acima de tudo, a missão de resistir.
 
O interesse pelo debate racial nos palcos teve início quando Rafael ingressou na faculdade de artes cênicas, em 1999. “Quando comecei o curso na UnB (Universidade de Brasília), passei a refletir sobre as dificuldades de um jovem negro. Naquela época, menos de 2% dos estudantes eram negros. Você também começa a perceber que não é representado nem nos conhecimentos: não há autores e estudos que te descrevam”, analisa o professor.
 
O racismo sofrido na pele fez com que ele buscasse ainda mais a representatividade. Após vivenciar um caso de discriminação racial durante uma festa no Centro Comunitário Athos Bulcão, na UnB, Rafael decidiu unir forças com outras pessoas negras. “Estávamos indo para uma festa. Três homens negros e uma mulher negra, além de duas mulheres brancas. Na entrada (do evento), os seguranças nos cercaram — apenas os negros —, e um deles me acusou de ter roubado cerveja. A partir desse fato, começamos a pensar em uma organização, de forma mais política”, conta o professor.
 
Em 2001, nascia o coletivo EnegreSer. “Com ‘S’ maiúsculo mesmo, para reforçar a identidade e o pertencimento negro”, explica Rafael. “Criamos um fórum para debater questões étnico-raciais na universidade. As dificuldades eram resolvidas em coletividade negra. Essa foi a força do motor”, acrescenta.
 
Cotas raciais
 
Outro alicerce de representatividade importante para o professor é a família. Pai de Bento, 5, e de Maria Rosa, 9, Rafael conta que batalha, no presente, focado em um mundo sem preconceitos e desigualdades para as futuras gerações. “Minha mulher foi integrante do EnegreSer e aluna da primeira turma cotista da UnB”, diz. “A gente sempre teve como pauta cotidiana a questão da cor e a consciência de coletivo. É um processo importante”, ressalta Rafael.
 
Filho de pioneiros oriundos da Bahia, o brasiliense foi o primeiro dos nove irmãos a ingressar em uma universidade, depois de tentar por dois anos. “Apesar das dificuldades, estava obstinado e só parei quando consegui”, recorda-se. A nova fase estudantil mudou os rumos da vida de Rafael. Em 2002, ele foi um dos protagonistas das conversas para implementação do sistema de cotas raciais na UnB. “Quando o assunto passou a ser discutido, nós, enquanto coletivo, entramos no jogo e nos debates. Pressionamos a reitoria com reuniões, criamos um encontro de estudantes negros e fizemos um material com divulgação das cotas”, complementa.
 
O ativista relata que, à época, os ânimos na UnB estavam aflorados. “A maioria era contra as cotas, e os discursos davam ao ambiente um clima muito hostil. Os comentários sobre as cotas beiravam a violência. Alguns diziam que (o sistema) diminuiria a qualidade (do ensino) da universidade; outros falavam que era preciso melhorar, primeiro, as escolas públicas. Usavam esses argumentos para não aceitar que se pudesse ter uma cota exclusiva para os negros”, critica Rafael.
 
Carreira
 
Em 2003, a comunidade acadêmica aprovou a adoção das cotas raciais, implementadas no ano seguinte. Ao concluir o ensino superior, em 2006, Rafael começou a dar aulas de educação artística na Secretaria de Educação, por meio de contrato temporário. Em 2009, ele foi selecionado para fazer mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e, após concluir o curso, voltou para Brasília. “Em 2012, passei no concurso da secretaria e assumi (a vaga efetiva) no ano seguinte”, detalha o professor.
 
Além dos serviços prestados em sala de aula, Rafael dedica-se ao ensino por meio de peças teatrais, organizadas pelo coletivo de teatro negro Elementos Pretos. “Em nossas apresentações, discutimos questões raciais, a história do negro no teatro e promovemos debates com a plateia, falando sobre os elementos da estética (teatral) e a questão das políticas do racismo”, conta.
 
As atividades do grupo começaram em 2013, com três integrantes. Hoje, 10 pessoas participam do projeto. “Nossas peças sempre têm elementos e construções históricas, além de referências da literatura negra como foco para questionar os racismos praticados no Brasil”, descreve. Antes da pandemia, o coletivo percorria o Distrito Federal, principalmente nas regiões administrativas, para ampliar as discussões. “Há diversos tipos de reações da plateia. As peças, normalmente, têm passagens mais reflexivas e tensas, mas o perfil característico é mais festivo e de entretenimento. Usamos também elementos do rap e hip-hop.”
 
Além do teatro, em apresentações ao vivo, Rafael discute na internet sobre o cotidiano dos negros e processos de resistência. Pelo site teatronegrodf.com, o coletivo Elementos Pretos comanda a rádio virtual EscapeFM, onde os ativistas levantam discussões com abordagens reflexivas e manifestações poéticas performáticas sobre a negritude. A programação inclui desde debates entre integrantes do coletivo e convidados até a reprodução de músicas de artistas negros. O nome da rádio convida o público a escapar dos conflitos internos que o racismo provoca nos indivíduos, segundo Rafael. “Todos os coletivos seguem uma cartilha e devem ter uma mídia própria. No nosso caso, é o rádio”, explica Rafael.

Correio Braziliense terça, 01 de dezembro de 2020

LIBERTADORES: FLAMENGO X RACING

Jornal Impresso

LIBERTADORES

Uma noite crucial
 
Com dúvidas na escalação, Flamengo faz decisão com o Racing por vaga nas quartas de final, hoje, no Maracanã. Equipe rubro-negra tenta embalar sob o comando de Rogério Ceni e evitar nova eliminação

 

Publicação: 01/12/2020 04:00

Bruno Henrique e Pedro devem comandar o ataque rubro-negro, hoje à noite, no Estádio do Maracanã (Alexandre Vidal/Flamengo)  
Bruno Henrique e Pedro devem comandar o ataque rubro-negro, hoje à noite, no Estádio do Maracanã


Com dúvidas importantes na escalação, o Flamengo faz o jogo mais importante do ano até o momento. Depois de empatar na Argentina, o time rubro-negro recebe o Racing, hoje, às 21h30, no Maracanã, precisando de um empate sem gols ou vitória simples para avançar às quartas de final da Copa Libertadores.

O Flamengo aposta todas as fichas na Libertadores e no Campeonato Brasileiro, competições nas quais é o atual campeão. O rubro-negro quer evitar uma nova eliminação depois de cair nas quartas de final da Copa do Brasil para o São Paulo e tenta embalar sob o comando de Rogério Ceni.

Rodrigo Caio, Gabriel e Pedro são dúvidas para a partida. O zagueiro, que não atua há mais de dois meses, participou do último treinamento e aumentou a esperança de estar à disposição. Recuperado de uma lesão muscular na coxa, Pedro também treinou e pode ser outra novidade.

Certo é que Natan e Thuler desfalcam a equipe, porque foram expulsos no duelo na Argentina. Com isso, se Rodrigo Caio não tiver condições de retornar, a zaga será formada por Léo Pereira e Gustavo Henrique, que não passa por boa fase. Outra baixa confirmada é a de Thiago Maia. O volante passará por uma cirurgia no joelho na próxima quinta-feira.

Gabriel não foi a campo para a última atividade. Ele realizou um trabalho interno na primeira parte do treino. A presença é incerta por conta de um desequilíbrio muscular. Desde que o problema foi detectado, o atacante, autor do gol rubro-negro na partida de ida, vem fazendo tratamento para ficar 100%. Ele tem menos chance de estar em campo do que Pedro. Se os dois ficarem fora, Vitinho deve ser escalado.


“Orgulho enorme chegar a esta marca com o Flamengo. Fui muito feliz desde o primeiro dia, criei uma relação muito forte com o clube e com a torcida e pude marcar meu nome na história”
Bruno Henrique, atacante, que faz o 100º jogo pelo time

Correio Braziliense segunda, 30 de novembro de 2020

PRECAUÇÃO CONTRA O VÍRUS NOS ÔNIBUS E NO METRÔ

Jornal Impresso

Precaução contra o vírus nos ônibus e no metrô
 
Principal queixa de brasilienses que usam o transporte público no DF é a aglomeração de passageiros. Em meio à pandemia de covid-19, cenário preocupa ainda mais. Governo garante que fiscalização é diária, para reforçar o cumprimento de medidas de distanciamento

 

» SAMARA SCHWINGEL
» MICHEL PIRES*

Publicação: 30/11/2020 04:00

%u201CNão tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico%u201D, reclama a bióloga Larissa Pricya, moradora de Planaltina (Samara Schwingel/CB/D.A Press - 27/11/20)  

"Não tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico", reclama a bióloga Larissa Pricya, moradora de Planaltina

 

 
Victor Araújo, auxiliar de lojas: %u201CVejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser%u201D (Samara Schwingel/CB/D.A Press)  
Victor Araújo, auxiliar de lojas: "CVejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser".
 
 
Enfrentar filas e ambientes lotados são alguns dos desafios de quem depende do transporte público do Distrito Federal para se locomover. De acordo com a pesquisa Como anda meu ônibus, realizada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), entre agosto de 2019 e agosto de 2020, o item mais crítico no sistema é a lotação dos veículos — 66,76% dos 2.960 participantes avaliaram esse quesito como “péssimo”. O estudo leva em conta empresas do DF e do Entorno que circulam pela capital federal. O que já era problemático agrava-se durante a pandemia de covid-19, devido à exposição de passageiros e funcionários ao novo coronavírus.
 
Para entender os problemas e possíveis soluções, o Correio ouviu usuários, trabalhadores do sistema, especialista em transporte e mobilidade urbana, representantes do Metrô-DF e das empresas de transporte rodoviário e o Governo do Distrito Federal (GDF). Para os problemas identificados, o Executivo local afirma manter fiscalização regular.
 
Moradora de Planaltina, a bióloga Larissa Pricya, 22 anos, precisa, diariamente, do transporte público para chegar ao trabalho na região central de Brasília. “Não tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico. As pessoas entram mesmo, ficam em pé, nas portas. Por isso, durante a pandemia, pegar ônibus é sempre uma preocupação.” Ela conta que falta apoio e fiscalização. “Durante o tempo em que estou aqui, não vi álcool em gel disponível no terminal e sei que dentro dos veículos não tem. É uma política de cada um por si”, protesta Larissa.
 
Victor Araújo, 22, também morador de Planaltina, depende do transporte público para chegar ao trabalho, em Sobradinho. Por volta das 9h, o auxiliar de lojas chega ao terminal da cidade e aguarda o transporte. “Espero cerca de uma hora para o ônibus chegar e uma hora e meia para estar no serviço. Na volta, a mesma coisa. Essa é a minha rotina, até nos fins de semana”, diz. Ele considera que a lotação e limpeza são os principais problemas do sistema do DF. “Vejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser, considerando que estamos em meio a uma pandemia.”
 
Apreensão
 
O medo de se infectar com o novo coronavírus faz parte da rotina de quem trabalha no sistema de transporte público do DF. Uma cobradora, de 47 anos, de uma empresa de ônibus do DF, que prefere não se identificar, conta que o principal problema é a falta de conscientização. “Todo dia, aparecem passageiros que não estão de máscara ou que as retiram dentro do veículo. Somos orientados a parar o ônibus e pedir que a pessoa volte a usar a máscara corretamente. Porém, isso atrasa a viagem e a rotina de todos”, ressalta. A funcionária frisa que, por diversas vezes, teve que chamar a polícia. “Existem pessoas que se recusam a seguir os protocolos. O ônibus está lotado, é preciso que nós cuidemos uns dos outros.”
 
Na profissão há 18 anos, a cobradora afirma que a pandemia transformou a realidade dos trabalhadores da categoria. “Antes, o medo era de assaltos ou de algum tipo de violência. Hoje, o maior medo é de ser infectada pelo vírus ou infectar quem está ao meu redor”, diz. “Mexo diretamente com dinheiro, por isso, tenho cuidados redobrados. Além da máscara, uso álcool para limpar meu local de trabalho, a todo momento, e luvas. Ainda assim, tenho medo.”
 
O uso de máscaras é obrigatório para todos os passageiros nos ônibus, de acordo com Decreto n° 40.648, de 23 de abril. A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) orientou os motoristas e cobradores das empresas de ônibus a informar aos passageiros sobre a obrigatoriedade e a importância do uso do acessório. A pasta afirma ainda que realizou a distribuição de máscaras nos terminais rodoviários
 
Flexibilização
 
A infectologista Heloísa Ravagnani, que atua na linha de frente do combate à pandemia no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), confirma que o risco de contaminação dentro do transporte público é aumentado devido à dificuldade de se manter o distanciamento. “Se alguém tosse e espirra, está bem do lado. A higiene também é bem difícil, isso pode favorecer a infecção”, afirma. 
 
Por isso, a especialista destaca que as empresas de transporte e também os empregadores deveriam adotar medidas para reduzir as aglomerações dentro dos veículos, como mais ônibus em circulação,  horários alternativos de trabalho e mais tempo em home office.
 
Contudo, a médica ressalta que, diante da flexibilização das medidas de isolamento, com a retomada  da maior parte das atividades, o risco está pulverizado. “Acho complicado colocar todo o risco no transporte público, não pode crucificá-lo. É um dos focos, mas, hoje, como está tudo liberado, as pessoas podem pegar (a infecção) em qualquer lugar”, pondera. 
 
* Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho
 
Lotação dos ônibus
 
Ótimo 0,71%
Bom 4,43%
Regular 9,90%
Ruim 18,21%
Péssimo 66,76%
 
Fonte: pesquisa Como anda meu ônibus
 
» Cinco perguntas para
 
A oferta de transporte público no DF gera grande insatisfação  dos usuários. Onde o governo  tem errado, historicamente?
No Brasil como um todo, o transporte público sempre foi um problema para o usuário, ao invés de ser uma solução. De primeira mão, podemos dizer o seguinte: há uma baixa oferta do volume de ônibus, por exemplo, trafegando em períodos em horários fixos e recorrentes. No DF, o rodoviarismo trouxe como consequência drástica um volume exacerbado de automóveis na modalidade individual e uma baixa oferta de ônibus para as pessoas trafegarem. O erro histórico é focar no transporte individual ao invés de focar no transporte coletivo.
 
A pandemia evidenciou problemas antigos?
Sim, ela colocou em foco os problemas que já existiam. O que vemos é que as regras de distanciamento social são absolutamente desrespeitadas. O ideal seria manter distanciamento social e manter os ônibus coletivos limpos, além de disponibilizar máscaras, por exemplo.
 
Quais são as alternativas de mobilidade urbana mais eficientes no DF?
Brasília é planejada, o que traz uma consequência muito forte em relação ao funcionamento da cidade que concentra a empregabilidade e núcleo econômico dentro do Plano Piloto — o que serve de polo atrativo de viagem, principalmente, para quem mora ao redor e precisa se deslocar para trabalhar. Medidas como integrar ciclovias e aumentar a irrigação de faixas de pedestres nas vias mais movimentadas para facilitar o deslocamento do cidadão a pé podem ser eficientes para melhorar a mobilidade urbana no DF.
 
Mudanças na gestão do modelo podem alterar essa realidade?
Sim, o atual paradigma do transporte exige do cidadão e do gestor novas adaptações, ou seja, o governo precisa viabilizar outras modalidades de transporte. Muitas regiões poderiam, em momentos de pico, priorizar uma parte das vias para o ciclista, uma para o transporte coletivo e outra, para o individual. Isso melhoraria os problemas de acidentalidade, e a fluidez do trânsito aumentaria.
 
É uma questão apenas do governo e das empresas ou os usuários podem contribuir para a melhora do sistema?
O problema é de todos. É do usuário que precisa eleger um gestor e dialogar com maior frequência com as empresas, pois todos são responsáveis pelo que acontece na nossa mobilidade. E como nós poderíamos sinalizar a possibilidade de atuação da população? Temos a participação direta na Ouvidoria de todo sistema público do DF. Outra maneira direta é a participação social por meio de órgãos ou representantes. Temos a Câmara Legislativa que faz esse papel muito bem.

Correio Braziliense domingo, 29 de novembro de 2020

CONHEÇA A HISTÓRIA DE NEGROS QUE CONSEGUIRAM IMPORTANTES CARGOS NA POLÍCIA CIVIL DO DF

Jornal Impresso

Conheça a história de negros que conseguiram importantes cargos na Polícia Civil do DF

Em mais uma reportagem da série Histórias de Consciência, o Correio conta a trajetória de quatro pessoas que precisaram concentrar o dobro de esforços para alcançar uma posição de destaque em uma das instituições mais importantes do DF

SP
Sarah Peres
postado em 29/11/2020 06:00 / atualizado em 29/11/2020 10:07
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Minervino Júnior/CB/D.A Pres)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Minervino Júnior/CB/D.A Pres)

luta contra a discriminação racial é árdua, dolorosa, e o resultado demora a acontecer. Cada negro carrega, dentro de si, marcas do racismo estrutural e explícito na sociedade. Ricardo nasceu na Asa Sul. Márcia Margarete, em Belém (PA). Emerson viveu em uma das quadras mais perigosas de Ceilândia. João Maciel veio ao mundo no pequeno município paulista de Estrela d’Oeste. Mesmo com origem em locais tão distantes, compartilham histórias em comum: a superação às adversidades impostas pela cor e pela classe social, e o sonho de integrar a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

As histórias são de conquistas, mas também de sacrifícios. Embora esses servidores tenham alcançado espaços de destaque dentro da instituição, ainda são minoria: dos pouco mais de 5,1 mil integrantes ativos e inativos da PCDF, 77 consideram-se negros — o equivalente a 1,4% do total.

Emerson Pinto de Souza, 46 anos

 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press

Natural de Ceilândia
Perito e diretor do Instituto de Criminalística (IC)

“Na universidade, precisei escutar que engenharia não foi feita para ‘pé rapado de Ceilândia mudar de classe social, mas para a elite, e para formar elites’”

Emerson Pinto de Souza, 46 anos, é o filho mais velho de três irmãos. O pai deles, o carpinteiro aposentado Paulino Alves de Souza, 77, veio de uma cidade pobre do oeste de Minas Gerais, no distrito da Caatinga, em Brasilândia. A mãe, já falecida, era a merendeira Luiza Pinto de Souza, nascida em João Pinheiro (MG). Na década de 1960, Paulino veio ao Distrito Federal para ajudar a mãe dele, diagnosticada com um câncer de mama. Luiza veio como babá de uma família de servidores públicos de Patos de Minas transferida para a nova capital do país.

“Em 1970, minha avó morreu. Meu pai se viu diante de uma escolha: retornar para Caatinga e passar fome ou seguir aqui em Brasília. Ele escolheu a segunda opção, e passou a trabalhar como servente de obras, ajudando em construções da capital federal. Minha mãe morava na casa da família de servidores, na 707 Sul. Nesse período, reencontraram-se e decidiram se casar. Meu pai residia na invasão do IAPI, e acabou ganhando um lote em Ceilândia, onde iniciou a trajetória da minha família”, conta.

Paulino construiu, sozinho, um barraco na QNM 20, em Ceilândia Norte. Em 27 de abril de 1974, Luiza deu à luz o primogênito, o perito criminal Emerson. Nos quatro anos seguintes, nasceram os dois irmãos: o agente do Detran-DF Elton Pinto de Souza, 42, e a agente de execução penal Elisângela Pinto de Souza, 44. Durante cerca de 10 anos, a família dormia no único quarto da casa.

“Minha mãe era muito católica. Lembro que, ao chover, ela rezava para o nosso barraco não cair. Mas meus pais sempre foram muito dedicados e, ao longo de seis anos, juntaram dinheiro para comprar materiais e construir uma casa nova. O sonho se tornou realidade em 1984, quando nos mudamos para a residência em frente ao nosso barraquinho”, relata o diretor do IC.

Na infância, Emerson conviveu com amigos da mesma rua, brincando. Mas a violência tornou os dias obscuros. “Na primeira e na segunda morte (presenciadas), nos impactamos. Depois, tornou-se algo comum. Só quando deixei aquela realidade percebi quão violenta era minha quadra. Como perito criminal, fiz três perícias de morte violenta na QNM 20, uma delas após o homicídio de uma criança de apenas 3 anos.”

Emerson viu vários amigos se envolverem com a criminalidade e perderem a vida. Os pais, sobretudo a mãe, foram o alicerce para que o perito não escolhesse o mesmo caminho. Dedicou-se aos estudos, na esperança de uma vida melhor. “Minha mãe sempre dizia que, se a gente trabalhasse, algo bom aconteceria. Então, o otimismo nunca nos deixou cair na criminalidade, mesmo vendo como o dinheiro aparecia de forma fácil”, diz.

Seis meses após terminar o ensino médio no Centro de Ensino Médio nº 2 de Ceilândia Norte, Emerson ingressou no curso de engenharia elétrica pelo vestibular da Universidade de Brasília (UnB). “Eu brinco dizendo que, não sabendo que era impossível, fui lá e passei. Minha aprovação serviu de inspiração a outros alunos do colégio. Mas a trajetória foi árdua. Enquanto colegas chegavam ao câmpus em 15 minutos, eu levava mais de 1h30 e começava o dia exausto. Ali dentro, sofri preconceito e cheguei a ouvir que engenharia não foi feita para ‘pé rapado de Ceilândia mudar de classe social, mas para a elite, e para formar elites’.”

Emerson foi aprovado em seis concursos públicos, alguns depois de ingressar na PCDF como perito criminal, em 2002. “Apaixonei-me pela profissão. Fiquei, ao todo, oito anos na seção de morte violenta e mais seis na de crimes contra o patrimônio. Mesmo na corporação, continuei morando em Ceilândia, mas com o sonho de morar aqui, em frente ao Complexo da Polícia Civil, no Sudoeste”, afirma.

Em 2008, o perito criminal comprou um apartamento no bairro, pouco antes de perder a mãe para a diabetes. “Essa época foi muito difícil para mim, mas, também, o início de mais uma parte da minha trajetória. Quando meu pai trabalhava como carpinteiro, ajudou a construir as formas das lajes de prédios da minha quadra (na Avenida das Jaqueiras). Mesmo anos após eu viver aqui, meu pai se emociona ao ir à minha casa.”

“Em tanto tempo na Polícia Civil, também nutria o sonho de me tornar diretor do Instituto de Criminalística. Nos anos de eleição, quando é escolhido o diretor da corporação, os peritos criminais fazem uma votação para formar lista tríplice para o cargo de diretor do IC. Em 2018, coloquei meu nome e fui o segundo mais votado. Em 2019, tive a honra de ser nomeado”, frisa. Ainda que tenha chegado ao topo no departamento onde atua, Emerson considera que a trajetória profissional está em construção.

Márcia Margarete Pessanha, 52 anos

 (crédito:  Ana Rayssa/CB)
crédito: Ana Rayssa/CB

Natural de Belém do Pará

Delegada e vogal da Comissão Permanente de Disciplina (CPD)

“Tinha passado por diversas discriminações raciais. Perdi muitas oportunidades por simplesmente ser quem sou”

A delegada Márcia Margarete Pessanha, 52 anos, nasceu em Belém do Pará, em 4 de agosto de 1968, filha de mãe solo, a costureira Edda Rodrigues. É a mais velha entre os irmãos e viveu no estado da região Norte até os 6 anos, quando a mãe recebeu uma proposta de trabalho no Rio de Janeiro, em uma fábrica de tecidos. A família, acompanhada da avó materna e também costureira, Maria Rosa Rodrigues, passou a morar na Cidade de Deus.

Edda passava a semana inteira fora de casa. As crianças ficavam sob a supervisão da avó. Cresceram em meio à violência, entre os anos 1970 e 1980 — mesmo período retratado no filme dirigido por Fernando Meirelles e codirigido por Kátia Lund, inspirado no romance homônimo de Paulo Lins.

“Minha família era católica, mas não podíamos ir às missas, por medo da violência. Quando criança, minha grade de ensino não era totalmente cumprida, por falta de professores. Eles tinham medo de entrar na comunidade. O índice de mortes, tanto de envolvidos no crime quanto de moradores, por bala perdida era alto. Em meio a tudo isso, nossa avó se dedicava a nos orientar a buscar o caminho do esporte, dos estudos e a não sucumbir à criminalidade da Cidade de Deus”, conta Márcia Margarete.

Como a mais velha dos filhos, a delegada encarou responsabilidades desde muito nova, dentro de casa, auxiliando na criação dos irmãos. Conciliava os cuidados da família com os estudos. “Minha avó acreditava demais no meu potencial e sempre me incentivava, dizendo que eu poderia ir longe na vida. Até hoje, eu me recordo das palavras dela, quando eu ainda era criança: ‘Você precisa ler muito, pois um dia se tornará doutora’”, narra, emocionada.

Com o objetivo de crescer na vida e não se tornar estatística da violência, Márcia Margarete passou a se dedicar aos esportes. Aos 15 anos, integrou o Programa de Esporte da Fundação Roberto Marinho, no atletismo. “Foi assim que dei o primeiro passo para mudar minha história, pois consegui uma bolsa de estudos no Centro Universitário Augusto Motta e fiz o curso de fisioterapia. Eu me tornei a primeira da família a ingressar em uma faculdade. Infelizmente, minha avó não pôde presenciar essa vitória, porque morreu de câncer aos 66 anos”, lamenta a delegada.

A investigadora trabalhou como fisioterapeuta por 18 anos, mas não deixou para trás um sonho incentivado pela avó Maria Rosa: estudar direito. Ingressou na segunda faculdade, em 1999, na Universidade Estácio de Sá. “Em meio aos estudos, nasceu em mim a vontade de ser delegada. (Estava) quase com 30 anos. Nessa época, tinha passado por diversas discriminações raciais. Perdi muitas oportunidades por simplesmente ser quem sou. Como mulher e negra, eu podia ser sempre a mais gostosa, mas jamais a mais inteligente e competente.”

“Com toda a minha bagagem, tinha plena consciência de que o primeiro braço que oprime mulheres como eu era a polícia. Eu poderia fazer a diferença nesse meio e servir de exemplo. Também vi no concurso público a chance de alcançar a mudança de vida sem que eu precisasse encarar preconceito racial. Eu poderia ingressar na Polícia Civil do Distrito Federal pelo meu estudo, e nada poderia me impedir de conquistar isso.”

Márcia Margarete conciliou o trabalho como terapeuta, os estudos para a faculdade e a preparação para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com as lições para o concurso da PCDF. “Durante anos, questionavam o porquê de eu, favelada e negra, querer ser delegada. Ouvia que não seria capaz. Mas tais falas e perguntas não afetaram minha autoestima, tampouco os meus objetivos”, destaca. No fim de 2004, ela passou em 20º lugar para o cargo de delegada de polícia no Distrito Federal. “Ao ser aprovada, tive noção de que a vida das próximas gerações da minha família seria diferente. Digo isso porque nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar como vivo hoje”, acrescenta.

Por quase dois anos, a delegada chefiou a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul, em Ceilândia). Na comunidade da região, Márcia Margarete desenvolve projetos sociais de inclusão de crianças e adolescentes pelo esporte. Ela também participa de palestras em escolas públicas, com o objetivo de inspirar novas gerações. “O racismo estrutural existe, e nós o vemos desde a escola, onde se reproduzem preconceitos. É lamentável, e muitos desistem por não aguentarem as marcas dele. Hoje, tento ser a representatividade que não tive na infância e, mais do que qualquer coisa, mostrar que é possível vencer as adversidades e construir uma vida diferente e melhor”, pontua Márcia Margarete, que participará do programa esportivo World Police & Fire Games, em Rotterdam, na Holanda, em 2022.

Ricardo Nogueira Viana, 50 anos

 (crédito: Ana Rayssa/CB)
crédito: Ana Rayssa/CB

Natural de Brasília
Delegado-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá)

“Quando o negro consegue, luta e conquista a ascensão social, mas passa a ser ‘tolerado’. Principalmente no campo das ideias, toda vez que se depara com um branco, essa ferida, ou seja, a cor da pele, é tocada”

Ricardo Nogueira Viana, 50 anos, nasceu e cresceu na Asa Sul, na companhia dos pais — o segurança Antônio José Viana, 83, e a dona de casa Raimunda Nogueira Viana, 87 —, além de oito irmãos. A família chegou a Brasília com a mudança da capital do país, em 1960, quando o pai conseguiu um emprego no Senado com a ajuda do político Vitorino Freire.

“Meu pai era de São Luís, e minha mãe, de Rosário, ambas cidades do Maranhão. Eles se conheceram na capital (maranhense) e se casaram, em 1953. Naquela época, meu pai tinha conseguido emprego de motorista para Vitorino, que, posteriormente, tornou-se senador. Com o novo cargo político, minha família foi, primeiro, para o Rio de Janeiro e, então, Brasília. Aqui, ele passou a ser segurança do Senado”, detalha Ricardo.

Posteriormente, a família comprou um imóvel na 709 Sul. “Meu pai conseguiu pagar a casa com parcelamentos que duraram anos, mas sem juros”, conta. Embora Ricardo morasse em região de alto poder aquisitivo, não tinha as mesmas condições financeiras que os amigos de infância. “Éramos uma família muito grande, e o que sobrava em carinho faltava economicamente. Nunca passamos fome, mas encaramos dificuldades. Apesar de o salário do Senado ser razoável, não era o suficiente para o sustento de 10 pessoas. Era aí que minha mãe se virava para complementar a renda. Ela chegava a vender marmitas, para que nada nos faltasse”, recorda-se.

O delegado estudou em escolas públicas e, já no primário, encarou o preconceito racial. Ele chegou a ser o único negro da Escola Classe 308 Sul: “Desde novo, tenho (vivido) situações de racismo latentes; a maioria velada, mas muitas ostensivas. Todas as discriminações me marcaram. Digo que essas minhas histórias são guardadas em uma caixinha preta e, cada vez que sofro racismo, revivo tudo de novo”.

Apesar disso, Ricardo não perdeu a esperança de crescer. Aos 11 anos, pediu aos pais para fazer o primeiro de muitos concursos: a prova para ingressar no Colégio Militar. “Como minha família não tinha condições financeiras para bancar escolas particulares a mim ou aos meus irmãos, vislumbrei que o ensino militar seria a melhor forma de conseguir um estudo de qualidade”, diz.

O delegado estava na sexta série — atual sétimo ano — quando passou na prova do colégio. No entanto, a norma era de que os estudantes entrassem na quinta série e, por isso, Ricardo decidiu repetir o ano anterior. “Na juventude, descobri a paixão pelos esportes e passei a me dedicar ao judô. Eu me tornei faixa preta. Mal sabia que essa vocação seria fundamental para meu crescimento profissional”, observa.

Em 1990, Ricardo formou-se no ensino médio e conseguiu entrar para o curso de educação física da Universidade de Brasília (UnB), mas não desistiu do sonho de estudar direito. Passou a dar aulas de judô para pagar a segunda graduação. “Em 1993, comecei a cursar direito no UniCeub. Era uma rotina extremamente puxada, porque dividia o tempo com as grades da UnB e com as aulas de judô. Ao fim do semestre, eu me desesperava, mas, com muita dedicação, conseguia honrar meus compromissos. Foi com sacrifícios que consegui chegar aonde estou.”

Na primeira graduação, Ricardo recebeu o diploma em 1996. O delegado já havia sido aprovado em três concursos públicos. Chegou a assumir uma cadeira como professor de educação física na Secretaria de Educação, porém, no mesmo ano, foi aprovado em primeiro lugar como agente da Polícia Civil do DF. “Optei pela carreira policial, que era o meu sonho”, conta.

Após entrar na PCDF, o servidor formou-se em direito, em 1999. Sete anos depois, alcançou o sonho de se tornar delegado de polícia e, mesmo com a ascensão, encarou situações de racismo. “Há 10 anos, em uma viagem ao Rio de Janeiro, fui atacado por um homem branco, de dois metros (de altura) e olhos verdes. Havia acabado de chegar ao hotel com minha família, em Ipanema, e ele partiu para cima de mim e dos que amo, dizendo: ‘Seu bando de macaco, o lugar de vocês é no galho, comendo banana. Vão embora para a África’.”

Em 2020, a história se repetiu, com pouca mudança no enredo. Dessa vez, o delegado estava em uma lanchonete do Lago Sul quando foi empurrado e chamado de “macaco”. O Correio denunciou o caso, que teve repercussão nacional. “Nesse episódio, em 8 de agosto, fiquei em evidência. Como afrodescendente, posso afirmar que esse não foi o primeiro e nem (será o) último episódio de racismo”, lamenta Ricardo.

“Quando o negro consegue, luta e conquista a ascensão social, mas passa a ser ‘tolerado’. Principalmente no campo das ideias, toda vez que se depara com um branco, essa ferida, ou seja, a cor da pele, é tocada. Falo por aqueles que, como eu, são discriminados. Vidas negras importam. Nossas semelhanças precisam ser maiores que as diferenças. Nós, negros, exigimos respeito.”

João Maciel Claro, 44 anos

 (crédito: MINERVINO JUNIOR                    )
crédito: MINERVINO JUNIOR

Natural de Estrela d’Oeste (SP)
Delegado-chefe da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro)

“Como delegado, posso ser o primeiro a evitar que erros aconteçam. De fato, é melhor um culpado livre do que um inocente encarcerado”


O delegado João Maciel Claro, 44 anos, é o mais novo de nove irmãos. Nasceu no interior de São Paulo, em Estrela d’Oeste, onde acompanhou de perto a profissão dos pais. Francisco de Assis Claro e Neuza Senhora de Jesus Claro morreram aos 64 e aos 70 anos, respectivamente. Trabalhavam como lavradores em fazendas de café. O casal era analfabeto, mas incentivava os estudos dos filhos.

João Maciel trabalhou até os 20 anos como meeiro em plantações de café — profissão rural com foco na colheita dos grãos. No serviço, ficava com 40% do lucro, e os donos da produção, com 60%. Ao longo da vida, o investigador viu os irmãos deixarem as lavouras para estudar e, no início da juventude, seguiu o mesmo destino. Mudou-se para Presidente Prudente (SP), onde moravam os irmãos Lorival Marcolino Claro, 55, e Donizete Maciel Claro, 54. “Ali, tentei diversos empregos, mas não conseguia nada. Hoje, reflito muito sobre essa fase. Não era por falta de dedicação, mas será que era tão incompetente a ponto de não conseguir um trabalho por três anos?”, reflete.

Desempregado, João Maciel dedicou-se aos estudos e, aos 23 anos, conseguiu passar no concurso para segurança do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no Fórum de Regente Feijó. “Então, consegui ingressar na Instituição Toledo de Ensino, para cursar direito. Trabalhava à noite, em escala, e estudava pela manhã. Mas, na Corte, contei com a ajuda de colegas, sobretudo da juíza Flávia Alves Medeiros, que me permitia estudar na biblioteca local”, detalha. “Durante o período da faculdade, fui muito marginalizado. Todo mundo dizia que eu não conseguiria me formar, imagina passar em concurso público. Mas não esmoreci. Via meus irmãos conquistando o espaço deles e não deixei que as dificuldades me afastassem dos meus sonhos”, acrescenta.

Aos 29 anos, João Maciel passou no concurso da Polícia Civil do DF — antes mesmo de pegar o diploma de bacharel em direito, ao defender uma monografia sobre a importância das cotas raciais. “À minha época, não havia cotas. Mas trata-se de uma política pública necessária. Na história do nosso país, o negro era escravizado. Mesmo após a abolição da escravatura, foram deixados às margens da sociedade. Deveriam ter pago os serviços dos negros, mas, em vez disso, preferiram contratar a força de trabalho italiana. O Brasil tem, sim, uma dívida histórica com todos os negros. É preciso que sejamos inseridos em espaços onde não conseguimos abertura. Os negros ajudaram a construir nosso país, e isso não é reconhecido até hoje”, enfatiza.

João Maciel mudou-se para Brasília para assumir o cargo de delegado. Durante o curso de formação, viveu mais de uma situação de racismo pelas ruas da capital federal. “Estava lotado em Ceilândia e acompanhado de um amigo, também delegado, que está aposentado. Estávamos comendo em uma lanchonete no centro da cidade, caracterizados (como profissionais). Pouco tempo depois, chegou uma viatura. Cumprimentamos os policiais e eles relataram que estavam ali por nossa causa. (Pessoas da lanchonete) acharam que éramos bandidos”, conta o servidor público.

Outro caso vivido pelo investigador ocorreu em uma lan house, também em Ceilândia e com o mesmo delegado aposentado. “Fomos conferir o resultado das provas de formação da PCDF. Meu amigo acabou perdendo a chave do carro dele, um Corsa, e acionou o seguro. Porém, precisamos esperar e ficamos ao lado do veículo. Acionaram 10 vezes a Polícia Militar, e fomos abordados em todas as ocasiões. Mesmo vendo que os policiais falavam conosco e iam embora, os moradores ligavam novamente para a corporação”, relata João Maciel.

O policial acrescenta que, para muitos, integrantes das forças de segurança podem parecer preconceituosos, pois a discriminação racial é generalizada. “Infelizmente, a maioria dos crimes ocorre em (áreas onde vivem) populações pobres, majoritariamente formadas por negros ou pardos. Isso justifica a maior concentração dessas pessoas entre as que têm problemas com a Justiça. Porém, tais índices aparecem não pelo tom de pele, mas pelas condições de marginalização às quais essas populações estão sujeitas. Como delegado, posso ser o primeiro a evitar que erros aconteçam. De fato, é melhor um culpado livre do que um inocente encarcerado”, finaliza.


Correio Braziliense sábado, 28 de novembro de 2020

BLACK FRIDAY: FIM DE SEMANA QUENTE NO COMÉRCIO

Jornal Impresso

Fim de semana quente no comércioBlack
 
Friday promete promoções até domingo no DF, movimentando R$ 230 milhões e dando sinais de como será o consumo no Natal. Varejo aposta em descontos que passam de 40% e nas vendas on-line. Especialistas alertam: cuidado com golpes

 

» Alan Rios

Publicação: 28/11/2020 04:00

Eletrodomésticos, eletrônicos, celulares e móveis destacam-se entre os produtos mais procurados pelos consumidores nesta edição, segundo lojistas (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Eletrodomésticos, eletrônicos, celulares e móveis destacam-se entre os produtos mais procurados pelos consumidores nesta edição, segundo lojistas

 


Cartazes pretos estampam as lojas do Distrito Federal com descontos, queimas de estoque e promoções de uma das datas mais esperadas para o comércio no ano, a Black Friday. As ofertas começaram, oficialmente, ontem, mas os lojistas aproveitaram o bom momento para tentar minimizar as perdas provocadas pela pandemia e estenderam o evento até domingo. Segundo pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), as vendas podem subir 3% na data deste ano, contra um aumento de 4% em 2019. O levantamento mostra que tem descontos acima de 45%, movimentando R$ 230 milhões, com gasto médio de compras entre R$ 210 e R$ 250, na capital.
 
“Como dia 30 é feriado, as vendas podem durar até segunda-feira. As pessoas ficaram ansiosas com a Black Friday, o movimento nos shoppings, lojas e sites está muito bom. O lojista sabe que não tem como enganar o consumidor, dizendo que tem um desconto de 40%, mas na verdade é só 5%, porque as pessoas pesquisam muito os preços, a internet contribui com isso”, avalia o presidente do Sindivarejista-DF, Edson de Castro. Para ele, as novas tendências de consumo e hábitos de vida deste ano de pandemia e isolamento social influenciam diretamente nos tipos de produtos mais comprados. “Os eletrodomésticos são mais procurados, até porque, aos finais de ano, lançam modelos novos, e os antigos são colocados em liquidações. Celulares e televisores são os mais vendidos, principalmente, pela internet. Nas lojas físicas, perfumaria e sapato aquecem, como uma antecipação do Natal”, diz Edson.
 
Ricardo Alves, 41 anos, renovou os eletrodomésticos de casa. “Comprei um micro-ondas que achei em uma boa promoção, porque vi diferenças grandes de preço de uma loja para outra. Nos últimos meses, adquiri um grill e uma fritadeira para nossa cozinha”, detalha o segurança, morador de São Sebastião.
 
Internet
O Sindivarejista aponta que as vendas pela internet representaram 41% do faturamento das lojas na Black Friday em 2019, algo que deve crescer em 2020 por conta das recomendações de distanciamento social. Expectativa é de que chegue a 60% até a noite de domingo. Camila Canuto, 43, é gerente de uma loja de roupas e diz que o ambiente virtual chegou para ficar. “As pessoas estão comprando mais on-line, com as opções que demos de trocar o produto em uma loja física, assim, não tem erro. Este ano, o cliente pode esperar promoções de roupas que ficaram no estoque durante o fechamento do comércio, trabalhamos com peças que chegam a 80% de desconto”, calcula.
 
Há, também, quem goste de aliar os dois ambientes, virtual e presencial. Bruna Sabóia, 24, conta que cada um deles tem benefícios. “Esses dias, usei um aplicativo que mostra as promoções do mesmo produto em diferentes sites. Mas, nas lojas físicas, gosto de ver a qualidade do que estou comprando, é mais fácil verificar. Aproveitei a data e esses descontos para levar um filtro, uma blusa e um brinquedo para meu filho”, explica a estudante, mãe de Davi Sabóia, 2 anos. Marta Lima, 41, usa todos os artifícios para encontrar o melhor preço. “Pesquisei na internet e pesquisei nas lojas do shopping antes de comprar uma batedeira e um liquidificador. A gente tem que fazer isso, porque, senão, compra por um valor e, depois, encontra bem mais barato”, aconselha a auxiliar de serviços gerais.
 
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia lembra que o pequeno empresário foi o que mais sofreu com a crise econômica dos últimos meses, mas pode aproveitar a data para inovar. “O que falamos, todo dia, é que os empresários precisam se adaptar a esse ambiente da internet. Os pequenos negócios precisam de ferramentas on-line, porque podem perder espaço para grandes empresas. Até do ponto de vista da economia local, isso é ruim, diminui o faturamento da região”, pontua. Com a proximidade da data mais aguardada pelo varejo, Francisco crê em bons números. “Uma pesquisa nossa mostrou que o Distrito Federal deve ter um crescimento de 2,2% nas vendas do Natal deste ano, e a Black Friday é como se fosse uma prévia natalina”.
 
Segurança
A intensificação do e-commerce traz alternativas ao consumidor, mas acende alertas. Especialistas em segurança digital ressaltam que, neste período da Black Friday, aumentam os casos de golpes pela internet. Para evitar cair em armadilhas, algumas dicas são essenciais. “Desconfie de promoções absurdas. Muitos criminosos criam sites falsos ou, até mesmo, enviam e-mails se passando por outras instituições. O nome dessa prática é phishing. O objetivo dos criminosos, nesse caso, é induzir a vítima a inserir dados pessoais e bancários para aplicar algum golpe financeiro como, por exemplo, capturar o número do cartão de crédito”, detalha o consultor de tecnologia Luís Felipe Taveira.
 
Uma ferramenta que pode auxiliar na hora de dar segurança ao cliente é o cadeado exibido na barra do endereço eletrônico do site, que mostra que aquela página tem proteção para informações pessoais. “Também, pesquise o nome da loja em mecanismos de busca, insirindo a palavra ‘golpe’ ou ‘fraude’ em seguida. Se aparecerem resultados de produtos não entregues ou de qualidade aquém do esperado, fuja daquela loja”, avisa Luís. Neste ano, as compras por cartões de crédito devem representar 97% do faturamento das lojas. Para o consumidor do e-commerce, outro caminho para dar segurança é a utilização do cartão virtual — gerado para ser usado apenas uma vez, evitando roubo e uso desses dados.
 
 
 
Palavra de especialista
 
Novas tendências
 
O carro-chefe da Black Friday, geralmente, são eletrodoméstico, eletrônicos, principalmente, televisor e aparelho de telefonia. Percebemos que aumentou a demanda por objetos de casa, cozinha, estofados e cafeteira. Como o consumidor ficou mais tempo em casa, teve aquela vontade de substituir um produto mais antigo, reformar algo. O home office trouxe a necessidade de ter uma mesa de escritório, um aparelho que atenda melhor ao serviço. Vimos que as lojas de telefonia tiveram um bom movimento nos últimos meses, muita gente querendo substituir um plano ou trocar de celular, por exemplo.
 
Ticiana Pessoa, gerente de marketing regional do Conjunto Nacional
 
 
 
Higienização e prevenção
 
O Conselho Federal de Química (CFQ) preparou materiais educativos sobre higienização de produtos e objetos diante a urgência da prevenção contra a covid-19. Um vídeo explica o passo a passo de como evitar a infecção ao chegar com compras em casa. “Higienize as mãos, com água e sabonete ou álcool 70%, e retire todas as compras das sacolas plásticas ou retornáveis que foram utilizadas. Lembre-se de descartar as sacolas ou higienizá-las antes de serem reutilizadas. Embalagens que não entram água devem ser lavadas com água e sabão ou com pano embebido em álcool 70%. Embalagens permeáveis devem ser higienizadas com um pano e álcool em gel 70%”, informa o CFQ.
 
 
Conjuntura
 
Expansão das vendas
3%* em 2020 x 4% em 2019
 
Vendas pela internet
60%* do faturamento das lojas em 
2020 x 41% em 2019
Gasto médio
R$ 240* em 2020 x R$ 280 em 2019
 
Injeção no comércio
R$ 230* milhões em 2020 x R$ 280 milhões em 2019
 
*Expectativa
 
Fonte: Sindivarejista-DF

Correio Braziliense sexta, 27 de novembro de 2020

OLHAR SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS NEGROS

Jornal Impresso

 Olhar sobre a saúde mental dos negros

 

ENTREVISTA / ANA LUíSA COELHO MOREIRA, PSICóLOGA E DOUTORANDA EM PSICOLOGIA CLíNICA E CULTURA PELA UNIVERSIDADE DE BRASíLIA (UNB) 

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 27/11/2020 04:00

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
Em entrevista ao programa CB. Saúde, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, a psicóloga e doutoranda em psicologia clínica e cultura pela Universidade de Brasília (UnB) Ana Luísa Coelho Moreira falou, ontem, sobre a saúde mental da população negra. Pesquisadora na área de psicologia, relações raciais, mulheres negras, direitos humanos e políticas públicas, ela exemplifica como situações de racismo estrutural impactam no sofrimento psíquico da população negra. “A partir do momento que você acorda, a sua negritude é questionada, e conviver com isso gera uma série de sintomas. Como, por exemplo, a de não acreditar em si”, afirma.
 
 
Por que é importante fazer esse recorte étnico-racial e falar sobre a saúde mental da população negra?
Cerca de 54% da população brasileira são compostos de pretos e pardos. Então, quando se fala da saúde mental com esse olhar para a população negra, estamos falando da população brasileira e da maioria dela. Se for pensar historicamente o que nos levou a todo esse acometimento de doenças e transtornos ligados à saúde mental, temos a questão do colonialismo, da escravidão, e a própria forma como nosso povo preto foi marginalizado. Acho que é de fundamental importância que a gente possa focar e trazer essas dimensões raciais para pensar a saúde mental.
 
 
Pesquisas mostram que a população negra é a que mais sofre com o estresse crônico. O que isso representa no dia a dia?
Ser hipervigilante o tempo todo é colocar em dúvida a sua própria existência. A partir do momento que você acorda, a sua negritude é questionada, e conviver com isso gera uma série de sintomas. Como, por exemplo, a de não acreditar em si. E se você não acreditar em si, logo, você não vai buscar determinadas coisas, porque não vai ter forças para isso. O que pode gerar uma tristeza profunda. Muitos delírios psicóticos podem vir, também, desse lugar, por não se reconhecer nesse corpo. O que faz com a pessoa queira desejar um corpo que pode ser aceito.
 
Por que situações de racismo corriqueiro não são levadas ao psicólogo?
Primeiro, que o acesso ao atendimento clínico na psicologia, na psiquiatria, das terapias de uma forma geral, é muito elitizado. A maioria das pessoas que procura a terapia é branca, porque tem condições de pagar. Tem uma questão socioeconômica, mas tem uma questão, também, do entendimento de que eu posso cuidar da minha saúde mental. Para as pessoas negras, não chega essa oportunidade de pensar que é possível, tanto pela questão financeira, mas, também, por acreditar. E, quando essa pessoa negra chega lá, no consultório, é comum que questões de racismo sejam tão naturalizadas que ela não entenda que uma determinada situação faz parte de um racismo estrutural. Por isso, a importância de psicólogos negros, psicólogas negras e do que a gente chama da psicologia preta.
 
Você pode dar exemplos de intervenções, na prática, de como a psicologia preta pode ajudar uma pessoa em sofrimento por questões raciais?
Uma delas é a gente começar a nomear essa dor. Trazer à tona, dentro dessa escuta clínica, o quanto que é essa dor que vai ser relatada e entender que isso faz parte de um racismo estrutural é um dos caminhos.
 
Fale um pouco sobre o trabalho com mulheres em situações de rua.
Tem sido um trabalho muito interessante, primeiro por ser uma população invisível. Se a gente fizer um recorte para as mulheres, elas são ainda mais invisíveis, sendo 20% de toda a população em situação de rua. Imagine eu sentada ali, no chão da rodoviária, fazendo uma psicologia clínica, uma psicologia preta com mulheres em situação de rua, porque foi o momento em  elas quiseram conversar comigo. E, a partir do que a pessoa está te trazendo, valorizá-la como sujeito.

Correio Braziliense quinta, 26 de novembro de 2020

200 MIL VÊM DIARIAMENTE AO DF PARA TRABALHAR

Jornal Impresso

200 mil vêm diariamente ao DF para trabalhar
 
Pesquisa de Emprego e Desemprego da Codeplan contempla 12 cidades do Entorno e constata que 42% da população desses municípios trabalham na capital federal. Estudo observou que esses profissionais têm mais dificuldades relativas à recolocação

 

» ALAN RIOS

Publicação: 26/11/2020 04:00

Segundo Franquelino, a passagem mais cara é obstáculo para o trabalhador do Entorno (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Segundo Franquelino, a passagem mais cara é obstáculo para o trabalhador do Entorno

 


A região conhecida como Entorno é parte ativa da movimentação do mercado de trabalho do Distrito Federal. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem, pela Companhia de Planejamento (Codeplan), analisou, pela primeira vez, essa ligação entre cidades de Goiás e do DF, e concluiu que 42% da população do Entorno trabalham na capital federal. São cerca de 200 mil pessoas saindo diariamente de municípios que compõem a chamada Periferia Metropolitana de Brasília (leia Para saber mais). Enquanto uma parcela dessa população enfrenta longos trajetos e preços de passagens de ônibus mais caras para se deslocar ao serviço, por exemplo, outra parte convive com a falta de oportunidade no mercado. A taxa de desemprego dessas cidades ficou em 25,6% em outubro, maior do que o índice do DF (18,5%) e do grupo de baixa renda da capital (23,9%).
 
“Realizamos a pesquisa com dados da Área Metropolitana de Brasília para entender esse fluxo de pessoas, onde trabalham, qual o perfil delas, os empregos que ocupam, e, assim, poder auxiliar na formulação de políticas públicas para essas regiões”, explicou o presidente da Codeplan, Jean Lima. Para ele, incluir essas cidades do Entorno no levantamento de emprego e desemprego do DF permite visualizar melhor a realidade da capital. Os resultados mostram que o tipo de trabalho exercido pela população da periferia metropolitana costuma ser menos valorizado. Enquanto o rendimento médio mensal dos assalariados na capital é de R$ 4.285, no Entorno é de R$ 1.775.

Iris Daiana avalia que é mais dificil encontrar emprego no Entorno do que no DF (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Iris Daiana avalia que é mais dificil encontrar emprego no Entorno do que no DF

 

Ao todo, 78,9% habitantes ocupados da Periferia Metropolitana de Brasília trabalham nos setores de serviços ou comércio e reparação. São majoritariamente homens (57,9%), têm entre 25 a 49 anos (67,5%) e tiveram empregos anteriores (90%). Franquelino Ângelo Souza, 49 anos, encaixa-se nesse perfil e conta que existem muitas dificuldades de qualificação. “Moro em Águas Lindas, porque foi lá que consegui comprar meu lote, e vejo que só consegue trabalhar em Brasília quando a pessoa já é profissional, tem experiência. Quem está começando não consegue emprego”, avalia o técnico de manutenção.
 
Transporte
Franquelino é usuário do transporte público e lembra que essa é uma barreira a mais para a população do Entorno. Nas linhas de ônibus do DF, a passagem mais cara custa R$ 5,50. Nas linhas do Entorno, há locais em que a tarifa passa de R$ 10. “Quando alguém de Águas Lindas, Valparaíso ou alguma outra cidade de Goiás vai para uma entrevista de emprego, é praticamente obrigado a mentir e dar um endereço do DF, porque eles sabem que vão ter que pagar uma passagem mais cara, que a pessoa vai demorar mais a chegar no serviço. Graças a Deus, não foi o meu caso, mas vejo muito disso e um certo preconceito com quem vem do Entorno”, argumenta. Atualmente, a População Economicamente Ativa (PEA) da periferia metropolitana é composta de 615 mil pessoas, sendo que 157 mil estão desempregados. Ao todo, 29,3% desses empregados são trabalhadores autônomos ou domésticos, enquanto 41,2% possuem carteira assinada em empresa privada.
 
A doméstica Iris Daiana, 38, mora em Valparaíso e trabalha na Octogonal. “Quem mora lá e trabalha aqui sabe que tem muita coisa que dá para melhorar. O transporte público, por exemplo, é caro e vive lotado. Quem não tem emprego tem dificuldade de conseguir no DF e ainda mais no Entorno”, observa. Também é essa a visão de Antônio Pereira Santos, 50. “Sempre foi difícil conseguir emprego, mas agora, na pandemia, as oportunidades tanto em Goiás quanto em Brasília quase não aparecem mais”, diz o morador de Céu Azul e terceirizado de uma empresa que presta serviço para o Senado Federal.
 
Recortes
O contingente de desempregados no DF, em outubro, foi estimado em 295 mil pessoas — 7 mil a mais do que o observado em setembro. A taxa de participação, que diz respeito à proporção de pessoas com 14 anos ou mais incorporadas ao mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas, porém, aumentou de 62,7% para 63,6%. Entre setembro e outubro, o índice de desemprego da capital diminuiu nas regiões de baixa renda, de 24,9% para 23,9%; e nas regiões de média-alta renda, de 16,4% para 16,0%; mas aumentou nas regiões de média-baixa renda, de 21,0% para 22,2%. No mesmo período, entre a população negra, o desemprego subiu de 20,3% para 20,6%, enquanto diminuiu de 15,3% para 15,1% para não negros.
 
Qualificação
Um dos caminhos para combater o desemprego é promover a qualificação profissional. Secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes Ferreira avalia que a pesquisa permite que as ações feitas pela pasta possam ser aprimoradas. “A gente sabe que, quanto mais qualificação, mais condições a pessoa tem de disputar uma vaga no mercado. Por isso, temos feito várias ações na secretaria, como o programa Renova-DF, que dá aulas e bolsa de estudo no valor de um salário mínimo para 3 mil pessoas. Também iniciamos outro programa recente de qualificação e requalificação de pessoas, com 4 mil vagas, que foram procuradas por 11 mil inscritos. Esse é um dos nossos caminhos para combater o desemprego neste ano e em 2021”, adianta.
 
Thales lembra as dificuldades dos moradores do Entorno analisadas pelo estudo, mas diz que o levantamento facilita as interlocuções entre os governos do DF, de Goiás e o federal. “A pesquisa mostra a necessidade de ter uma política pública mais estruturante, que é uma grande discussão há muito tempo. Na área da saúde, por exemplo, temos a realidade de que muitos moradores de Goiás precisam do sistema do DF. Observamos que a questão do preço da passagem é impeditiva. Então, há um alerta para gestores estaduais e federais, que precisam discutir uma política pública nacional de fomento ao emprego. Isso não pode ser pensado de forma egoísta, voltada só para o nosso estado”, defende. O secretário ressalta o trabalho realizado pela Agência do Trabalhador, calculando uma média de 800 a mil vagas divulgadas diariamente.
 
 
Para saber mais
 
Área Metropolitana
 
A Área Metropolitana de Brasília é composta pelo Distrito Federal e por 12 municípios goianos: Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás, Planaltina, Formosa, Padre Bernardo, Alexânia, Cristalina e Cocalzinho. Excluindo-se o DF, essas 12 cidades constituem a denominada Periferia Metropolitana de Brasília. A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e do Entorno (Ride-DF), é mais ampla. Ela contempla 33 municípios, sendo 29 de Goiás e quatro de Minas Gerais, além do Distrito Federal.
 
 
Cenário
 
Distrito Federal
 
2.498 milhões
População em Idade Ativa
 
1.295 milhão
Ocupados
 
295 mil
Desempregados
 
Periferia Metropolitana de Brasília
 
918 mil 
População em Idade Ativa
 
458 mil
Ocupados
 
157 mil
Desempregados

Correio Braziliense quarta, 25 de novembro de 2020

JOFRAN FREJAR: COMOÇÃO NO ADEUS

Jornal Impresso

DESPEDIDA
 
Comoção no adeus a Frejat
 
Cerca de 300 pessoas foram ao cemitério Campo da Esperança, ontem, para prestar homenagens ao político. O ex-secretário de Saúde do DF e ex-deputado federal morreu, na segunda-feira, aos 83 anos

 

» BÁRBARA FRAGOSO

Publicação: 25/11/2020 04:00

Familiares e amigos rememoraram legado do médico cirurgião; corpo seguiu para crematório em Valparaíso (GO) (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Familiares e amigos rememoraram legado do médico cirurgião; corpo seguiu para crematório em Valparaíso (GO)

 


Criador de imunizante contra a pólio, o médico Albert Sabin (E) em campanha de vacinação a convite de Frejat (D), nos anos 1980 (Arquivo/GDF)  

Criador de imunizante contra a pólio, o médico Albert Sabin (E) em campanha de vacinação a convite de Frejat (D), nos anos 1980

 



Sentimentos de gratidão e de saudade marcaram as inúmeras homenagens de familiares e amigos a Jofran Frejat. O piauiense de 83 anos, ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, morreu na noite de segunda-feira, devido a um câncer no pulmão diagnosticado no mês passado. Cerca de 300 pessoas participaram da cerimônia de despedida dele, na tarde de ontem, no Cemitério Campo da Esperança. Após o velório, o corpo seguiu para o crematório Jardim Metropolitano, em Valparaíso (GO).
 
}Frejat estava internado em um hospital particular da Asa Sul havia 15 dias. Pessoas mais próximas não conseguiram conter a emoção durante o velório. Em meio a lágrimas, Graziela Frejat, filha do político, contou que o pai, além de “um homem público especial”, era maravilhoso. “É uma perda muito grande. Ele era muito protetor, amigo, carinhoso e amoroso. A família inteira o acompanhava no hospital, incluindo mulher, filhos, sobrinhos e amigos. Formou-se uma corrente muito grande de ajuda. Esses últimos 20 dias foram muito sofridos”, lamentou.
 
Sobrinha de Jofran, Adélia Frejat lembra-se do período em que acompanhou o tio de perto, a partir de 1986. “Uma parte da gente foi embora. Ele deixa um legado incrível e importantíssimo. Tinha muito compromisso com a saúde e preocupava-se com a pública. Consola a família saber que ele foi uma pessoa competente”, desabafou.
 
Presente à cerimônia, o vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto (Avante), comentou que o médico era um exemplo a ser seguido por toda a população do DF. “Estou muito triste. Perdi um amigo que participou da minha vida pública desde o começo, ao lado de Joaquim Roriz. Ele sempre estava pautado com as próprias ideias, independentemente de partido. E colocava a opinião dele. Desejo à família muito conforto, sabendo que ele está ao lado de Deus”, afirmou Paco.
 
Legado 
 
Fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (Escs), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), Frejat também recebeu homenagem do professor Aloísio Bonavides Júnior, da comunidade acadêmica. “No último suspiro, a doença fez a batuta cair das mãos, mas a bela música dele será ouvida por gerações de colegas que surgirão no futuro. O homem foi, a obra é entérica”, declarou Aloísio.
 
A trajetória de Frejat agrega mais de 40 anos de dedicação à saúde e à política. Na carreira, atuou como secretário de Saúde — nos governos de Aimé Lamaison e Joaquim Roriz — e cinco vezes como deputado federal, inclusive durante a Assembleia Constituinte. Como cirurgião e gestor, Jofran tornou-se referência em hospitais da capital do país. A médica sanitarista Mariângela Cavalcante, que trabalhou com ele a partir de 1981, destacou que o colega prezava pelo bem comum. “Recebi a notícia com muita tristeza. Perdemos um grande homem, sério, competente, honesto e com muita ética. Ele era comprometido com o setor público e não desprezava o setor privado”, frisou Mariângela.
 
Ao ingressar na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, Frejat mudou-se para a capital carioca em 1957. Passou a morar em Brasília depois de concluir o curso, em 1962. Atuou como diretor do Instituto Médico-Legal (IML) de Brasília entre 1973 e 1979. No ano seguinte, foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), função que ocupou até 1983. Assumiu a pasta do DF por quatro vezes, entre 1979 e 2002.
 
Colaboraram Ana Maria Campos e Washington Luiz


"Deixo meu pesar pela perda do médico e defensor da saúde pública. Sempre estivemos juntos à frente de muitas lutas, mantendo o respeito e a amizade.”
 
Agnelo Queiroz, 
ex-governador do DF


"Frejat sempre teve retidão, sempre olhou para o próximo. Na rede pública de saúde, tudo o que a gente ainda tem na cidade de forma organizada é graças a ele.”
 
Izalci Lucas, senador (PSDB)


"Moramos juntos na Vila Planalto. Tinha uma cerca que dividia as duas casas. Nossa amizade vem daí. Ele deixou um legado de muito trabalho e de muito respeito.”
 
José Roberto Arruda, 
ex-governador do DF

 


Correio Braziliense terça, 24 de novembro de 2020

JOFRAN FREJAT SE ENCANTOU: VÍTIMA DE CÂNCER NO PULMÃO, FLORIANENSE MORRE, AOS 83 ANOS DE IDADE

Jornal Impresso

JOFRAN FREJAT SE ENCATOU

OBITUÁRIO
 
Despedida de um político pioneiro
 
Respeitado até pelos adversários, o ex-deputado e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat morreu vítima de um câncer de pulmão, aos 83 anos. Entre os legados dele está a fundação da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS)

 

» THAIS UMBELINO
Colaboraram Alan Rios e Ana Maria Campos

Publicação: 24/11/2020 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Um dos políticos mais respeitados do Distrito Federal, o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, 83 anos, morreu na noite de ontem, vítima de câncer no pulmão. O político estava internado havia 17 dias no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Frejat descobriu um nódulo no pulmão em outubro deste ano durante tratamento de um cálculo renal.
 
“Ele estava há cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), muito abatido e fraco”, contou a filha mais velha do médico, Graziela Frejat, 46 anos. O político completou duas sessões de quimioterapia, mas, segundo a família, ficou muito fragilizado durante o tratamento. “Todos estão muito abalados com a notícia. Ele foi um exemplo de força e de luta. Um gladiador”, descreveu a filha.
 
Frejat também foi reconhecido pelo serviço dedicado aos outros. “Deixa um legado muito bonito. Veio para Brasília tentar a vida e desenvolver um modelo de Sistema Único de Saúde para o Brasil inteiro. Sempre se dedicou às pessoas e à vida pública. Era um ser humano incrível”, descreveu Graziela.  Ele deixa a esposa, quatros filhos e seis netos.
 
O ex-deputado deixou os holofotes da vida política em 2018 quando desistiu de concorrer ao Palácio do Buriti. Ele liderou as pesquisas de intenção de votos durante a pré-campanha, mas decidiu sair do pleito e rejeitar acordos. À época, disse que não aceitaria fazer um pacto com o diabo. Houve muitas interpretações, mas nem mesmo os aliados mais próximos sabiam dizer o real motivo de Frejat abdicar de um mandato quase certo, em torno do qual se uniam políticos como José Roberto Arruda, Alberto Fraga, Eliana Pedrosa, Alirio Neto e Ibaneis Rocha. Ele havia disputado o GDF em 2014 no lugar do ex-governador Arruda, barrado pela Justiça. Perdeu no segundo turno para Rodrigo Rollemberg (PSB).
 
Trajetória
Jofran Frejat nasceu em Floriano (PI) em 19 de maio de 1937. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1957, quando ingressou na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro.  Após concluir o curso em 1962,  mudou-se para Brasília.
 
Entre 1973 e 1979 foi diretor do Instituto Médico-Legal de Brasília e no ano seguinte foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), ocupado até 1983. O médico foi deputado por cinco mandatos, sendo um deles como constituinte. Assumiu a secretaria de Saúde do DF por quatro vezes entre os anos de 1979 e 2002. Também foi o fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).
 
Luto
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou ontem luto oficial de três dias pelo falecimento do médico. “Jofran Frejat é um exemplo que eu segui e espero continuar seguindo na vida pública. Para mim, sempre foi um modelo de político”, declarou Ibaneis, em nota oficial.
 
Além dele, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, reconheceu a importância do médico-cirurgião para a saúde da capital federal. “Foi durante sua gestão que foram construídos ou inaugurados os hospitais regionais de Ceilândia, Asa Norte, Paranoá e o Hospital de Apoio (...) A Secretaria de Saúde se solidariza com familiares e amigos de Frejat, que teve importante papel para o desenvolvimento da Rede Pública de Saúde do Distrito Federal”, frisou.
 
Ao Correio, o ex-senador Cristovam Buarque relembrou  momentos com o “notável político” e colega. “Brasília perde um grande pioneiro, um grande político e um grande médico. E nós, que o conhecemos, perdemos um grande amigo”, sintetizou. Entre as lembranças, o político destacou a admiração pela pessoa forte e capaz que Frejat era. “Me impressionava a jovialidade dele. Me recordo de Frejat caminhando nos corredores do Senado. Sempre andava mais depressa que todos. Além disso, foi uma pessoa muito respeitada em toda a sua carreira política, por todos os lados. Aprendi a admirá-lo e a gostar muito dele”, completou Cristovam.
 
 
 
REPERCUSSÃO 
 
“Nos aproximamos na época da última eleição para governador, quando cheguei a abrir mão de minha candidatura para apoiá-lo, até que ele desistiu da disputa. Frejat deixa um legado de retidão e honestidade que deve servir de parâmetro a qualquer pessoa que pense em atuar na política e no serviço público”, 
 
Ibaneis Rocha, governador do DF
 
 
“Embora adversários na eleição de 2014, sempre mantive com ele uma relação de respeito e diálogo. Frejat exerceu a política com dignidade e tinha minha admiração.”
 
Rodrigo Rollemberg, ex-governador do DF
 
 
“Perdemos um amigo, um líder e um homem público exemplar. Tive a honra de ser vice do Frejat em 2014 e aprendi muito com ele.”
 
Flávia Arruda, deputada federal
 
 
“Foi com muita tristeza que recebi a notícia da morte de Frejat, amigo e mestre.  Um exemplo de ser humano. Jofran Frejat médico, Jofran Frejat deputado, Jofran Frejat gestor público era sempre o mesmo Frejat, aquele que fazia o bem sem olhar a quem”.
 
Izalci Lucas, senador
 
 
“Em momentos de tanto ódio e mentira na política, Frejat a exerceu com dignidade e respeito ao outro. Deixa como legado, entre outros, a defesa firme do SUS e a ESCS, Escola que nos enche de orgulho. Brasília está mais triste. Toda solidariedade à família”
 
Erika Kokay, deputada federal
 
 
“Como amigo particular e colega de bancada no Congresso Nacional, fomos deputados constituintes, eu manifesto meu profundo sentimento de perda pelo falecimento de Frejat. Nos conhecemos desde a década de 60, antes da política. Frejat era amigo dos seus amigos”
 
Valmir Campelo, ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União
 
 
“O Distrito Federal perdeu hoje um dos seus pioneiros mais respeitados. Jofran Frejat foi um médico competente e um político sério que ajudou a fazer Brasília”.
 
Cristovam Buarque, ex-governador do DF e ex-senador
 
 
"Perdemos um homem que lutou pelo SUS e foi um dos responsáveis pela criação da Faculdade de Ciências de Saúde do DF."
 
Leila Barros, senadora
 
 
 
 
LINHA DO TEMPO
 
Anos 1970
 
O primeiro cargo público de Frejat foi de diretor do Instituto de Medicina Legal (IML) do DF entre  1973 e 1979. Em 1977, então cirurgião do Hospital das Forças Armadas, ele atendeu Sílvio Delmar Hollenbach, que salvou um garoto de 13 anos de um ataque de ariranhas no Zoológico (foto). Em 1979, elaborou o Plano de Assistência à Saúde no DF.
 
Anos 1980
 
Foram construídas mais de 40 unidades de saúde, como postos e centros, para consolidação do Plano de Assistência à Saúde, elaborado por Frejat. Como parlamentar, o médico foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1986, participando da Assembleia Nacional Constituinte e da elaboração da Constituição Federal de 1988.
 
Anos 1990
 
Reeleito em 1990 ao cargo de deputado Federal pelo DF, Frejat aliou os conhecimentos médicos com a trajetória política no cargo de Secretário de Saúde do Distrito Federal em duas ocasiões mais emblemáticas, com destaque para as atuações dentro da gestão do ex-governador do DF Joaquim Roriz.
 
Anos 2000
 
Uma das últimas inaugurações da gestão de Frejat foi em 2002, quando foi entregue à população o Hospital Regional do Paranoá (HRPa), atualmente conhecido como Hospital Região Leste. A cerimônia contou com a presença do ex-ministro da saúde e então senador José Serra e do então governador do DF Joaquim Roriz.
 
Anos 2010
 
Frejat foi também candidato ao governo do Distrito Federal, em 2014, quando chegou a disputar o segundo turno contra Rodrigo Rollemberg (PSB), que acabou vitorioso, e pré-candidato ao Executivo em 2018, quando desistiu de concorrer ao cargo e encerrou a participação na vida política.

 

 


Correio Braziliense segunda, 23 de novembro de 2020

COMBUSTÍVEIS: FRAUDES PROVOCAM PERDA DE 23 BILHÕES

Jornal Impresso

COMBUSTÍVEIS
 
Fraudes provocam perda de R$ 23 bilhões
 
Sonegação fiscal, adulteração de medidores e misturas fora dos padrões legais acarretam prejuízos bilionários a governos e a consumidores. Levantamento conclui que irregularidades vêm crescendo no país, apesar da queda no consumo de álcool, gasolina e diesel devido à pandemia

 

Simone Kafruni
Jailson R. Sena*

Publicação: 23/11/2020 04:00

O mercado de combustíveis do Brasil, que está entre os seis maiores do mundo, perde quase R$ 23 bilhões por ano em fraudes. A cifra de R$ 7,2 bilhões em evasão fiscal é conhecida, mas a ela se somam R$ 15,7 bilhões em burlas quantitativas, com bombas adulteradas, e qualitativas, com misturas fora do padrão, que, além de provocarem danos aos veículos e prejuízos aos consumidores e ao erário, acabam com a concorrência. Este ano, a pandemia derrubou o consumo de gasolina e reduziu a fiscalização em 17%, porém, as irregularidades aumentaram. Segundo o Instituto Combustível Legal (ICL), as fraudes operacionais cresceram 4%, no país, de abril a julho de 2020, ante dezembro de 2019 a março de 2020. 
 
O diretor do ICL, Carlo Faccio, explica que a entidade mapeou as várias irregularidades cometidas no setor, que é o maior em arrecadação do país, responsável por 6% do Produto Interno Bruto (PIB). “A primeira linha de atuação é contra as fraudes tributárias. São R$ 7,2 bilhões de sonegação e inadimplência. No etanol, há possibilidade de recolher metade do tributo na distribuição, o que provoca perda da eficiência na arrecadação”, conta. 
 
O setor chama de barriga de aluguel uma das fraudes mais praticadas. “O termo é usado para empresas de fachada. São constituídas, mas não têm nada de ativos. Em geral, são empresas que comercializam apenas etanol sem passar pela distribuição. É só um ambiente para emitir nota”, explica. As diversas burlas tributárias no setor são responsáveis por uma dívida ativa de mais de R$ 60 bilhões. “Muito por conta dos devedores contumazes, que abrem uma empresa sem intenção de pagar impostos. Isso ocorre porque, até entrar, um processo administrativo demora cerca de três anos e, depois de aberto, mais um ou dois. Ou seja, nesses cinco ou seis anos de atuação, a empresa soma R$ 1 bilhão de dívida. Quando os órgãos vão cobrar, não existe mais”, diz. “Depois que a dívida é tipificada e refinanciada, o índice de recuperação é de menos de 1%.”
 
Se resolvidas, as fraudes tributárias poderiam mitigar o problema de caixa de muitos estados quebrados, uma vez que o setor de combustíveis é o que o mais arrecada, por meio do principal tributo estadual, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Para isso, no entanto, Faccio ressalta que seriam necessárias a simplificação tributária e as revisões na legislação, para que as penas sejam mais severas e punitivas. “O crime organizado atua em três linhas: armas, drogas e combustíveis, porque o setor garante a lavagem de dinheiro. No Brasil, mais de 200 postos são do crime organizado ou da milícia”, revela.
 
No tanque
Além dos crimes tributários, o setor ainda padece de fraudes operacionais, responsáveis por perdas anuais ainda maiores. Faccio lembra que são duas as principais burlas. “Na quantidade, quando a bomba é adulterada (serve menos do que mostra), e na qualidade, com misturas fora da conformidade, com álcool com mais água, metano e até nafta na gasolina”, assinala.
 
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável pela fiscalização dos postos e checagem da qualidade, no ano passado, apenas 3% do combustível comercializado no país apontaram irregularidades, a partir de um coletivo de 86.144 mostras. Em 2019, ainda conforme a ANP, foram consumidos 120 bilhões de litros de combustíveis, o que significa que 1,6 bilhão estava fora dos padrões. “Em setembro deste ano, coletamos 6.728 amostras, com 1,9% de não conformidade”, diz Francisco Nelson, superintendente de Fiscalização do Abastecimento da ANP. 
 
O diretor do ICL esclarece, contudo, que o consumo caiu durante a pandemia, por isso os números da ANP apontam queda. “Também houve redução na fiscalização”, acrescenta Faccio. De fato, Nelson admite uma queda de 17% nas operações. Para comprovar as irregularidades, o ICL criou a figura do cliente misterioso, que percorre os postos do país fazendo levantamentos de qualidade e quantidade. Entre abril e julho deste ano, os levantamentos apontaram alta de 4% nas irregularidades (veja quadro ao lado). “Depois de constatada a fraude, o ICL aciona os órgãos competentes, assim atuamos como força-tarefa.”
 
O diretor aponta outras irregularidades. “Como 45% da gaso-lina são tributos, ao misturar com nafta, cuja tributação é de 18%, o fraudador leva grande vantagem. Há quem misture água no álcool anidro e venda como etanol hidratado. Diesel sem biodiesel e até metanol, que é substância proibida, é misturada”, elenca. “As revendas movimentam alto volume. Em 24 horas, o produto já foi consumido. Isso possibilita que os grandes centros urbanos sejam o ambiente perfeito para as fraudes”, afirma Faccio. 
 
Por isso, as falcatruas são mais frequentes em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, embora ocorram por todo o país. “A pandemia juntou o ruim com o péssimo. Houve queda de consumo e redução de investimento em fiscalização, por restrição orçamentária e de pessoas nos órgãos fiscalizadores. À alta de 4% de aumento nas fraudes de qualidade e quantidade, vamos ter um salto nas tributárias, assim que o período for contabilizado”, estima o diretor. 
 
Sem mágica
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (DF), Paulo Tavares, não tem números de Brasília. “Quando identificamos uma fraude, denunciamos, mas não conseguimos a divulgação da ANP sobre os dados locais. O fato é que não tem mágica no preço de gasolina. Quando é muito baixo pode indicar fraude”, diz. 
 
Tavares considera a mudança promovida pela ANP na qualidade da gasolina um movimento positivo. “Com uma octanagem maior (gasolina mais pura), a tendência é ter menos fraude. Quanto maior a qualidade do produto, mais difícil fraudar”, explica. Brasília tem 320 postos, segundo o presidente do Sindicombustíveis. “Nosso sonho é a ANP vistoriar todos duas vezes por ano. Mas, isso não ocorre. Eles trabalham por amostragem. Porque os fraudadores praticam concorrência desleal e quebram os empresários corretos”, lamenta. 
 
*Estagiário sob a supoervisão de Odail Figueiredo

Correio Braziliense domingo, 22 de novembro de 2020

HISTÓRIAS DE CONSCIÊNCIA - UMA VOZ DE AFIRMAÇÃO

Jornal Impresso

HISTÓRIAS DE CONSCIÊNCIA
 
Uma voz de afirmação
 
 
Jornalista Raíssa Gomes produz um programa semanal em que entrevista especialistas negros sobre diversos temas. Premiado, o projeto busca dar visibilidade a narrativas diferentes da hegemônica. Militante da causa negra, ela avalia que a luta antirracista precisa avançar muito

 

» TAINÁ SEIXAS

Publicação: 22/11/2020 04:00

Raíssa passa os valores que aprendeu na infância para o filho, Malik, de 9 anos. Para ela, é importante que o menino conheça a história de seus ancestrais (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Raíssa passa os valores que aprendeu na infância para o filho, Malik, de 9 anos. Para ela, é importante que o menino conheça a história de seus ancestrais

 



Mulher negra, nordestina, bissexual e do axé. São vários os elementos que tornam a vida de Raíssa Gomes, 30 anos, ou Raio Gomes, como é chamada desde a adolescência, em uma existência de resistência. Mas ela não permite que as dificuldades definam sua trajetória. “É importante mostrar a nossa capacidade de se colocar em lugares para além da dor. O sofrimento está dado, não vou fingir que não ocorre, mas não vou deixar que isso determine o meu lugar no mundo, o que eu sou, o que vou fazer e qual é a minha atuação”, afirma.

A jornalista tem uma importante atuação na produção de conteúdo com referências negras. Desde março, ela desenvolve o projeto Para, Raio, cujo objetivo é apresentar ao público diversos especialistas negros nos mais variados assuntos. “A gente que é jornalista, muitas vezes, busca fontes e se depara sempre com especialistas brancos. Dizem que é difícil achar, e o programa vem para mostrar que temos fontes negras para falar sobre tudo”, explica. O projeto fez, até o momento, 43 entrevistas abordando diferentes temas. Entre as convidadas, Raíssa Gomes recebeu Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, em um debate sobre mulheres negras na política; e Jaqueline Góes, que sequenciou o genoma do novo coronavírus no Brasil.

O programa recebeu o I Prêmio Neusa Maria de Jornalismo, iniciativa de repórteres negros com apoio da agência Alma Preta visando o reconhecimento de produções jornalísticas de pessoas negras, trans e indígenas. A premiação homenageia a jornalista Neusa Maria Pereira, uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). A série de entrevistas está disponível no perfil @raiogomes, no Instagram; e no canal Raio Gomes, no YouTube.

 

História

Raissa chegou a Brasília, do Recife, aos 8 anos, com os pais, e se considera uma brasiliense convicta. Filha de um professor universitário e uma terapeuta, ela convive com a militância desde cedo. Seus pais se conheceram dentro do movimento negro e passaram esses valores dentro de casa. Na infância, aos 10 anos, sofreu racismo na escola privada onde estudava: colegas picharam dizeres racistas no muro da escola. Na ocasião, seus pais foram pedagógicos e fizeram uma formação com os professores na escola para sensibilização dessa temática

“Esses valores que passam dos pais para os filhos e vão se propagando. Da mais tenra idade, pessoas negras têm que aprender a lidar com isso e nem sempre a equipe pedagógica da escola está apta para formar as crianças nesse sentido. Mas, nessas atitudes, como a dos meus pais, algumas coisas foram se transformando”, avalia.

Hoje, Raissa busca passar os mesmos valores para o filho Malik, 9, e vê mudanças no sistema escolar atual, mas garante: ainda há muito para se avançar na educação antirracista. A maternidade foi um divisor de águas na vida de Raio — a experiência potencializou a vontade de transformar a realidade. “Quero que meu filho viva e veja as coisas sobre esse olhar que não é determinado pelo racismo e, sim, pelas coisas maravilhosas que a gente faz e fez enquanto povo para existir e continuar”, relata.

Raissa considera fundamental incluir, na formação de Malik, a história de seus ancestrais, muitas vezes esquecida ou deturpada em livros didáticos. “Não quero que meu filho seja, simplesmente, educado pela história majoritária, a história branca contada nas escolas de que o papel do negro, no Brasil, é ser escravo. Existem outras narrativas além da que é contada na escola”, completa.

Correio Braziliense sábado, 21 de novembro de 2020

REAÇÃO CONTRA PRECONCEITO

Jornal Impresso

Reação contra o preconceito
 
Secretaria de Segurança Pública destaca que, até outubro de 2020, mais de 325 casos de injúria racial foram registrados na capital federal. E, em 2019, este número foi de 453, o maior dos últimos seis anos. Dos cerca de 2,5 milhões de habitantes do DF, 57,6% declaram-se negros

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 21/11/2020 04:00

Arthur Antônio:  

Arthur Antônio: "O preconceito existe e é necessário denunciar"

 

Ser ofendido, menosprezado ou xingado por causa da raça, cor ou etnia. Essa foi a situação sofrida por, pelo menos, 325 pessoas no Distrito Federal, que não tiveram medo do agressor e registraram ocorrência de injúria racial e outras 10 que denunciaram casos de racismo até outubro deste ano. Por conta da pandemia e do isolamento social, esses números não se aproximaram aos de 2019. De acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), os casos de injúria racial no ano passado chegaram a 453, índice 4,6% maior do que o somado no ano anterior. Além disso, o levantamento da pasta também demonstra que o registro de 2019 foi o mais alto dos últimos seis anos.
 
Dos cerca de 2,57 milhões de habitantes do DF, 57,6% são autodeclarados negros. Elizabete Braga, 41 anos, faz parte desta parcela e, como a maioria, sofreu na vida algum tipo de injúria racial. “Há cerca de dois anos, estava fazendo compras em um supermercado quando uma mulher, mais velha e branca, começou a me ofender e xingar”, relata. A produtora multimídia conta que essa tinha sido a terceira vivenciada por ela depois de adulta. “Ela tentou cuspir em mim, foi horrível. O sentimento da hora foi de vergonha, apesar de não ter sido a primeira vez que passava por algo do tipo”, afirma.
 
Segundo Elizabete, as ofensas continuaram até que ela resolveu chamar a polícia. “Como após 30 minutos nenhum agente chegou, eu mesma me dirigi à delegacia especializada para registrar a ocorrência”, diz. Para a moradora de Ceilândia, a existência de um lugar voltado ao atendimento de vítimas vulneráveis faz diferença e oferece mais segurança. “Das duas primeiras vezes que tentei registrar uma ocorrência por racismo ou injúria racial, não consegui. É um constrangimento enorme ter que falar pelo que passamos e, se os agentes não souberem como conduzir, a pessoa pode ficar desestimulada”, avalia. “Sou completamente a favor da denúncia e gostaria que o preparo da delegacia especial se estendesse para outros centros”, completa.
 
Artur Antônio, 41, também defende que as denúncias devem ser feitas. Membro do movimento Nosso Coletivo Negro do DF e do Observatório Racial, ele acredita que o aumento no registro de casos demonstra que a população está mais consciente da existência do racismo. “Não falo só dos brancos, mas a própria comunidade negra está começando a compreender que o preconceito existe e que é necessário denunciar os casos que ocorrem”, explica. Para o militante, o fato de existir uma lei que puna práticas racistas é um avanço na luta desta população. “Ter uma legislação própria e delegacias especializadas foram reivindicações do movimento negro por muitos anos”, considera.
 
Apesar da avaliação positiva, de certa forma, Artur explica que ainda há muitos aspectos que precisam ser mudados. “A abordagem com a pessoa negra ainda é algo muito precário na sociedade. O país tem uma história de 400 anos de escravidão que precisa ser desconstruída aos poucos”, afirma. Apesar disso, o ativista ressalta que a importância das denúncias para a luta da comunidade. “Com as ocorrências, podemos perceber como este problema é real e como a consciência racial está aumentando entre os negros. Por isso, é importante denunciar e exigir que as leis sejam cumpridas”, completa.
 
Segurança
 
A delegada-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), Angêla Maria dos Santos, recebe constantemente vítimas de racismo e injúria racial. Ela conta que essas pessoas costumam estar desconfiadas e desacreditadas no sistema policial. “Não as culpo, pois são indivíduos que passam por preconceitos das mais diversas formas desde que nascem. E nem sempre são ações explícitas. Vai desde um olhar até um xingamento ou agressão”, afirma.
 
Ângela explica que o papel da delegacia é acolher e entender estas pessoas. “É importante, sim, registrar a ocorrência. Somos preparados para receber as vítimas e, mesmo que o agressor não seja devidamente responsabilizado, o registro de dados pode mostrar aos governantes que há a necessidade de investir em políticas públicas de combate às práticas preconceituosas”, defende.
 
A Decrin funciona no Complexo da PCDF, de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h. Os telefones de contato são: 3207-4242 ou 197.
 
Elizabete Braga já vivenciou injúria racial por três vezes (Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Elizabete Braga já vivenciou injúria racial por três vezes

 

 
 
Racismo x injúria racial
 
Injúria racial é tipificada no art. 140, §3º, do Código Penal Brasileiro, e consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena vai de detenção, de três meses a um ano e multa, até prisão de três anos e multa.
 
Racismo é crime previsto na Lei nº 7.716/89, e implica conduta discriminatória dirigida a determinado grupo. É considerado mais grave pelo legislador, é imprescritível e inafiançável. A pena inicial é de um ano de reclusão e pode chegar a cinco, além da multa.
 
 
Palavra de especialista
 
A importância da Consciência Negra
 
O aumento no registro de casos de injúria racial nos últimos anos nos mostra que a comunidade negra está tomando consciência da própria existência, negros que não necessariamente estão inseridos em grupos de militância. Ou seja, nossa população não vai mais aceitar atos de extrema violência. Temos leis que nos protegem e temos meios de denunciar. Isso é consciência negra. Reconhecemos que ninguém tem o direito de nos ofender por causa da cor, raça, etnia ou credo. O que ainda falta é um tato maior por parte de todas as autoridades e agentes de segurança para lidarem com as vítimas de violência racial da forma correta para não diminuírem o sofrimento de quem sofre há anos com racismo.
 
Nelson Inocêncio, membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB)
 
 
Casos de injúria racial no DF
 
Comparativo dos últimos seis anos
 
2014  
229 casos registrados
 
2015 
379 casos registrados
 
2016 
428 casos registrados
 
2017 
422 casos registrados
 
2018 
433 casos registrados
 
2019 
453 casos registrados
 
*2020 
325 casos registrados
 
*Dados até o mês de outubro
 
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF)

Correio Braziliense sexta, 20 de novembro de 2020

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - POR ESPAÇOS COM MAIS NEGROS

Jornal Impresso

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Por espaços com mais negros
 
Representatividade e visibilidade dão o tom do Dia da Consciência Negra deste ano. Para ativistas e especialistas, eleições municipais configuraram marco positivo na luta pela igualdade racial e promoção de direitos, mas caminho ainda é longo

 

CIBELE MOREIRA
WASHINGTON LUIZ

Publicação: 20/11/2020 04:00

O empreendedor João Pedro Mourão considera que saída para mais equidade passa pela educação ( Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O empreendedor João Pedro Mourão considera que saída para mais equidade passa pela educação

 



Neste ano, o Dia da Consciência Negra é marcado por um simbolismo forte. Em meio a protestos do movimento Vidas Negras Importam — que alcançaram o Distrito Federal, em junho — e a debates com mais destaque sobre questões raciais, também houve impacto nas urnas. As eleições municipais de 2020 resultaram em uma quantidade expressiva de candidatos eleitos que se declararam pretos ou pardos. Um levantamento parcial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que, dos mais de 68,5 mil prefeitos e vereadores escolhidos, 42% fazem parte dessa parcela da população. Em 2016, eles eram 39%.
 
Para Vera Lúcia, 60 anos, advogada e ativista da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, o resultado está diretamente ligado à decisão do TSE, que obrigou os partidos a distribuir a verba do fundo eleitoral de acordo com a proporção de negros que concorressem no pleito. “O grande marco de 2020 é essa visibilidade, essa concretude que o movimento negro conseguiu aos olhos da sociedade. É uma das maiores vitórias, que se expressa, inclusive, com algumas conquistas institucionais. No ano em que tivemos eleições municipais, foi uma vitória o TSE e o STF (Supremo Tribunal Federal) terem acolhido a consulta da deputada Benedita da Silva (PT-RJ) para, com isso, implementar uma ação afirmativa que incremente a participação de negros e negras na política”, destaca Vera Lúcia.
 
Coordenador do Nosso Coletivo Negro, Artur Antonio Araújo, 41, acredita que essa mudança se refletirá com mais força em 2022. “O povo negro entendeu a importância de ter representantes no Poder Legislativo. Isso tem se mostrado de forma tímida no processo eleitoral. Mas acredito que, em 2022, a gente estará mais preparado. Precisamos de pessoas que lutem para termos uma condição melhor de vida”, afirma Artur Antonio.
 
Desafios
 
Mesmo com a adoção de políticas públicas afirmativas e com mais representatividade na política, os negros ainda enfrentam desafios para combater o racismo. Nelson Fernando Inocencio da Silva, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB) e um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital, acredita que o conservadorismo tem dificultado as conquistas da população negra. “De negativo, a gente tem a reação das alas conservadoras, a postura reacionária de uma ampla parcela da sociedade brasileira que se mostra majoritariamente conservadora. Há uma sabotagem, por exemplo, no sistema de cotas, na medida em que se tem só a autodeclaração e não uma banca de heteroidentificação (racial) em alguns concursos. Isso é péssimo”, critica.
 
O professor considera que a educação será o caminho para transformar essa realidade de preconceito que ainda prevalece no Distrito Federal e no Brasil. “Uma educação que nos forme como cidadãos e cidadãs comprometidos com o respeito à diferença. Ninguém precisa adorar negros, mas é preciso prevalecer o respeito. Não posso fazer com que alguém goste de mim, mas preciso fazer com que me respeite”, defende Nelson Fernando. “Desejo que a gente tenha a educação como aliada nesse processo.”
 
Oportunidades de estudo e capacitação fizeram diferença na vida de João Pedro Mourão, 29. Empreendedor e consultor de marketing, ele enfrentou barreiras, como dificuldades raciais e sociais, para alcançar sucesso na carreira. Nascido em Sobradinho, região fora da área central do DF, ele conseguiu se destacar nos cursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e ter uma porta de entrada no mercado de trabalho. “Minha trajetória não foi fácil. Vivenciei diversas situações em que empresários não quiseram me receber ou em que fui mal-recebido por causa da minha cor de pele”, comenta. “Nosso país é extremamente racista. O que me faz sentir autossuficiente é minha educação. A educação é libertadora”, completa João Pedro.
 

Correio Braziliense quinta, 19 de novembro de 2020

COPA DO BRASIL: SÃO PAULO A GOSTO DO FREGUÊS - 9 X 2! CPF NA NOTA?

 

Jornal Impresso
9 x 2! CPF na nota?
 
 
Placar agregado dos últimos três duelos entre São Paulo e Flamengo não deixa dúvida sobre a superioridade tricolor na temporada. Eliminado duas vezes neste ano pelo time do coração, Ceni amarga maldição

 

Publicação: 19/11/2020 04:00

Luciano resolveu a partida de ontem com dois gols no início do segundo tempo e ainda viu o companheiro Pablo consolidar a noite de gala, no Morumbi (Reprodução/São Paulo Twitter)  

Luciano resolveu a partida de ontem com dois gols no início do segundo tempo e ainda viu o companheiro Pablo consolidar a noite de gala, no Morumbi

 



O São Paulo e Fernando Diniz atualizaram as carteirinhas do Flamengo e do ídolo Rogério Ceni, ontem, no Morumbi. O tricolor eliminou o atual campeão da Libertadores e do Brasileirão com autoridade nas semifinais da Copa do Brasil ao vencer, ontem, por 3 x 0, no Morumbi, com dois gols de Luciano e um de Pablo, ambos no segundo tempo. Vitinho desperdiçou pênalti bizarro ao praticamente tirar a bola do estádio. Foi o terceiro desperdiçado contra o São Paulo em 18 dias. Bruno Henrique e Pedro também erraram no duelo de 1º de novembro. Naquele jogo válido pelo Brasileirão, Tiago Volpi defendeu as duas.

O time de Fernando Diniz havia vencido o jogo de ida, no Maracanã, por 2 x 1, e tinha vantagem do empate. Com o resultado, a equipe paulista está de volta às semifinais após cinco anos e decidirá vaga à final contra o Grêmio.  A última presença tricolor entre os quatro foi em 2015 contra o Santos. Rogério Ceni ainda era goleiro do São Paulo.

O Flamengo perdeu pela terceira vez em 18 dias para o São Paulo. A freguesia começou na derrota por 4 x 1, no Maracanã, pela última rodada do primeiro turno  do Brasileirão. Na Copa do Brasil, amargou revés por 2 x 1. Ontem, voltou a ser derrotado pelo velho carrasco em mata-matas. O placar agregado dos últimos três confrontos é 9 x 2.

Ídolo do São Paulo, o técnico Rogério Ceni continua sem vencer o ex-clube no papel de técnico. Ou empata ou perde. Também não consegue derrotar Fernando Diniz. Nesta Copa do Brasil, amarga a segunda eliminação contra o tricolor paulista. Antes, havia caído nos pênaltis nas oitavas contra o Fortaleza.

O São Paulo abriu o placar no início do segundo tempo após cruzamento de Daniel Alves para a área. Em posição legal, Luciano desviou a bola para a rede. O segundo nasceu em outra bola alçada na área. Reinaldo cruzou e Luciano ampliou. O Flamengo teve a chance de diminuir em cobrança de pênalti. Éverton Ribeiro fez maratona de Montevidéu a São Paulo para reforçar o time, mas Vitinho bateu e errou. Pablo ainda ampliou após receber presente de Willian Arão.


Semifinais
São Paulo x Grêmio
América-MG x Palmeiras

Correio Braziliense quarta, 18 de novembro de 2020

TOM ZÉ: A TODO VAPOR

Jornal Impresso

TOM ZÉ
A todo vapor
 
Cantor e compositor trabalha em peça inspirada na faixa Língua brasileira, lança álbum com canções raras do repertório e aguarda lançamento de biografia

 

» Adriana Izel

Publicação: 18/11/2020 04:00

%u201CTem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali%u201D, diz Tom Zé sobre a nova geração de artistas do Brasil
 (André Conti/Divulgação)  
%u201CTem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali%u201D, diz Tom Zé sobre a nova geração de artistas do Brasil
 
“Estou trabalhando como nunca”. É assim que o cantor e compositor Tom Zé, de 84 anos, define como tem sido a pandemia dele. O tropicalista se dedica a um projeto teatral com Felipe Hirsch inspirado na música Língua brasileira, do álbum Imprensa cantada (2003), em que canta em um dos trechos “Babel das línguas em pleno cio/ Seduz a África, cede ao gentio/ Substantivos, verbos, alfaias de ouro/ Os seus olhares conquistam do mouro”. A obra, ainda a ser lançada, é um resultado da admiração pela forma como o baiano de Irará (município da área de expansão metropolitana de Feira de Santana na Bahia) sempre destacou a exuberância do idioma no repertório.
 
A montagem fala sobre a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil. O projeto conta com o escritor e tradutor Caetano Galindo. “Felipe Hirsch, que tem o hábito de fazer musicais, ia fazer um com o disco Estudando a Bossa Nova. Por acaso ouviu Imprensa cantada e a música Língua brasileira e resolveu mudar completamente o musical”, lembra. Além de inspirar o espetáculo, Tom Zé tem composto faixas exclusivas para a peça que foi adiada e deve estrear em 2021 no Sesc de São Paulo. “Estou fazendo outras músicas, com palavras dessas línguas que criaram o mundo”, conta.
 
Ele se diz encantando com a pesquisa. “O Caetano Galino sabe de coisa que até o cão duvida. Imagine que, através de uma palavra, ele acaba descobrindo uma língua morta, que nem tem documento. Ele sabe coisas incríveis dessa língua portuguesa e de toda a história fantástica que ela tem”, completa.
 
Brasilidade
 
A paixão de Tom Zé pelo Brasil não para na língua falada. Ele também é um fã de música brasileira e, diferentemente de alguns dos contemporâneos, não têm preconceito com a nova geração e outros gêneros musicais distintos ao dele. Pelo contrário, ele gosta mesmo de escutar as canções que agradam à massa. “Desde que o Tropicalismo acabou que presto atenção aos novos. Primeiro nos meninos do rock. Eu também ouvia essas músicas. Depois acompanhei todas as gerações”, comenta.
 
Atualmente, o preferido dele é o rapper Emicida. “Sou um fã ardente do Emicida. Peço para a Tânia (esposa dele) separar os discos dele. Ele é muito meu amigo também por isso”, revela. Há um tempo atrás, Tom Zé resolveu escutar alguns artistas do forró. “Tem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali”, diz com convicção. Ele lembra que quando jovem em Irará ouvindo rádio ele conseguia perceber a riqueza do Brasil. “Temos um tesouro em nossas mãos. Quando eu saio do Brasil, eu tomo até um susto. Parece que sou um grande herói, pela festa e pela alegria que o povo faz. Mas temos repertório, gerações e gerações de compositores respeitáveis. Tem muita coisa importante na música brasileira”, acrescenta.
 
Esse reconhecimento internacional é o que fez que Tom Zé ganhasse uma biografia publicada primeiro em italiano L’ultimo tropicalist (O último tropicalista, em português), escrita por Pietro Scaramuzzo. A expectativa é de que a obra chegue ao Brasil traduzida no próximo ano.
 
Resgate musical
 
Enquanto isso, Tom Zé resgata o repertório dos anos 1960 e 1970, com o lançamento do disco Raridades pela gravadora Warner. O álbum traz 14 faixas praticamente inéditas, que haviam sido gravadas apenas em compactos simples ou projetos especiais. A curadoria foi feita pelo jornalista e pesquisador Renato Vieira. “Confesso que nem sei como foi isso. Sei que as gravadoras têm um acervo muito grande e esse rapaz, o Renato Vieira, fez esse compilado”, admite.
O pesquisador buscou fazer um registro cronológico desde a vitória do artista no Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1968, até o lançamento de Estudando o samba, em 1976. “O Vieira pegou umas músicas que tinham a ver com uma fase. Dói é uma música que acabou entrando no repertório da Betina, uma cantora que o pessoal da Tropicália conheceu e quis fazer um disco dela. O Senhor cidadão foi uma música que fiz para falar sobre a posição de segregação. Essa música (de 1972) acabou fazendo sucesso há pouco tempo porque entrou numa novela (Velho Chico, de 2016)”, recorda.
 
Ele também lembra com carinho de Augusta, Angélica e Consolação, outra faixa resgatada em Raridades. Tom Zé admite que a escreveu plagiando Adoniran Barbosa. “Essa música deu muito certo. Eu tive oportunidade de mostrar para o Adoniran Barbosa. Quando ele ouviu, ficou com uma cara de triste. Acho que pensou: “esses moleques estão fazendo por mim”. Foi uma música que teve uma grande repercussão”, comenta. A faixa foi lançada originalmente em 1973.
 
Talvez, por coincidência, as faixas de Raridades representam um período em que Tom Zé trabalhou com arranjos do argentino Héctor Lagna Fietta, quem ele define como “um arranjador excepcional”: “Eu o descobri assim por acaso. Estava em Salvador, depois vim pra São Paulo para cantar no Festival da Record e fiquei admirado com um arranjo feito por ele. Ele fez vários arranjos de músicas que estão nesse disco (Raridades). Tem Feitiço, Você gosta?, Jeitinho dela, Bola pra frente, Silêncio de nós dois, Quem não pode se Tchaikowsky, A dama de vermelho, Dói e O anfitrião. Ele fazia arranjos tão bem, que a orquestra soava de uma maneira tão confortável”.
 
O disco ainda traz uma versão raríssima de Jeitinho dela com participação dos Novos Baianos, banda a qual Tom Zé teve papel fundamental no surgimento — foi ele quem apresentou Moraes Moreira a Luiz Galvão — e Irene, música de Caetano Veloso completamente repaginada. “Geralmente quando faço o arranjo tomo certas ousadias. Mexo na música desde que esteja fiel ao que o autor queria dizer. Fiz isso com Irene”, lembra.
 
 
 (Santhiago da Silva/Reprodução)  
Raridades
De Tom Zé. Warner, 14 faixas. Disponível nas plataformas digitais.

Correio Braziliense terça, 17 de novembro de 2020

COPA DO MUNDO - ELIMINATÓRIAS - BRASIL ENFRENTA O URUGUAI

 

Jornal Impresso

COPA DOMUNDO ELIMINATÓRIAS
BRASIL ENTRENTA O URUGUAI
 
Jesus é o caminho
 
 
Uruguai é a primeira prova de fogo do Brasil. Seleção precisa superar desfalques para manter a liderança e os 100% de aproveitamento na competição. Rival celeste chega embalado por goleada contra Colômbia

 

Publicação: 17/11/2020 04:00

Sem Neymar e Coutinho, Gabriel Jesus passa a ser a referência verde-amarela (Lucas Figueiredo/CBF)  
Sem Neymar e Coutinho, Gabriel Jesus passa a ser a referência verde-amarela


A Seleção Brasileira terá finalmente, hoje, às 20h, em Montevidéu, um teste difícil pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar, em 2022. A equipe do técnico Tite venceu nas três rodadas anteriores os três últimos colocados da classificação e agora terá de jogar contra o Uruguai fora de casa com vários desfalques causados por lesões e duas baixas provocadas pelo coronavírus — Casemiro e Gabriel Menino.

Mesmo líder da competição e único time com 100% de aproveitamento, o Brasil não conseguiu empolgar o torcedor. A dificuldade em vencer a Venezuela, no Morumbi, e a fragilidade do rival da estreia, a Bolívia, ajudam a explicar esse cenário. A equipe também bateu o Peru, em Lima, por 4 x 2, numa partida equilibrada e com decisões da arbitragem bastante criticadas pelos adversários.

“Talvez, algumas dessas equipes que vencemos não briguem para classificar, mas podem atrapalhar outros times. Vamos enfrentar o Uruguai, é uma equipe que vem forte”, disse o técnico Tite. O Uruguai foi o país sul-americano de melhor campanha na última Copa, com a quinta posição, uma acima do Brasil.

Na última rodada os uruguaios fizeram 3 x 0 na Colômbia, em Barranquilla. Enquanto o Brasil não tem as duas principais estrelas, Neymar e Philippe Coutinho, mas contará com os artilheiros Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Richarlison na linha de frente, a principal dupla do Uruguai também não estará completa em campo. Suárez testou positivo para
covid-19 e está fora. Cavani jogará.

Entre a convocação de Tite e o jogo contra o Uruguai, o elenco brasileiro teve oito cortes. Foram seis atletas lesionados e mais dois casos de covid-19. Por isso, a equipe terá de se desdobrar para, mesmo sem ter a formação ideal, ser competitivo diante de adversário forte.

A Seleção Brasileira tem só uma dúvida para a partida. O volante Allan sentiu dores musculares e pode ser poupado. Um exame horas antes do jogo vai definir a escalação. Arthur será o substituto, se for necessário. No restante, a formação será a mesma utilizada na vitória por 1 x 0 sobre a Venezuela.

A atuação pouco inspirada não fez Tite pensar em mudanças no time. Ao contrário. “Enfrentar a Venezuela é uma proposta dentro de casa, agora diante do Uruguai será diferente. Vamos ser mais testados defensivamente. Por outro lado, vamos ter mais espaço”, comparou o treinador.

Auxiliar de Tite há quase 20 anos, Cléber Xavier foi quem mais analisou os últimos jogos do Uruguai. A principal preocupação nos treinos da Seleção foi armar a defesa para se precaver contra a intensa movimentação do setor ofensivo uruguaio. As dificuldades de enfrentar um rival tradicional, em Montevidéu, não impediram o Brasil de conseguir duas goleadas nos últimos confrontos fora de casa pelas Eliminatórias. Em 2009, a equipe de Dunga
fez 4 x 0. Em 2017, já com Tite, a Seleção ganhou por 4 x 1, com três gols de Paulinho na ocasião.

Transmissão

A partida terá transmissão apenas no canal de streaming EI Plus, na internet. A Turner fechou na última sexta-feira com a Mediapro, dona dos direitos televisivos, o acordo para exibir a partida.

O mesmo esquema de exibição pela plataforma foi utilizada no o confronto entre Brasil e Peru, em Lima, mas essa partida teve a transmissão realizada em canal aberto pela TV Brasil, acordo anunciado horas antes do jogo.


"Enfrentar a Venezuela é uma proposta dentro de casa, agora diante do Uruguai será diferente. Vamos ser mais testados defensivamente. Por outro lado, vamos ter mais espaço”
Tite, técnico da Seleção


Classificação

    P    J    V    E    D    GP    GC    SG

1. Brasil    9    3    3    0    0    10    2    8
2. Argentina    7    3    2    1    0    4    2    2
3. Equador    6    3    2    0    1    7    5    2
4. Uruguai    6    3    2    0    1    7    5    2
5. Paraguai    5    3    1    2    0    4    3    1
6. Chile    4    3    1    1    1    5    4    1
7. Colômbia    4    3    1    1    1    5    5    0
8. Peru    1    3    0    1    2    4    8    -4
9. Venezuela    0    3    0    0    3    0    5    -5
10. Bolívia    0    3    0    0    3    3    10    -7


Argentina bipolar
Qual será a Argentina que entrará em campo, hoje, contra o Peru? O time “sem cara” que ficou no empate por 1 x 1 com o Paraguai na quinta-feira passada ou o que conquistou uma sólida vitória contra a Bolívia na segundo encontro? O técnico Lionel Scaloni terá um bom teste para definir a personalidade da Argentina, que ainda depende muito do humor de Lionel Messi. Scaloni conta com jogadores jovens que juntos podem acabar com dependência de Messi. Leandro Paredes (PSG), Giovani Lo Celso (Tottenham Hotspur) ou Lucas Ocampos (Sevilla) conseguem atuar ao lado do craque do Barcelona e tirar dele a necessidade de resolver tudo.

Correio Braziliense segunda, 16 de novembro de 2020

FÓRMULA 1 - HAMILTON - SONHEM COM O IMPOSSÍVEL

Jornal Impresso

RÓRMULA 1

 

Sonhem com o impossível
 
Primeiro piloto negro na história da Fórmula 1, Lewis Hamilton vence GP da Turquia, sagra-se heptacampeão e iguala Michael Schumacher. Emocionado, britânico dedica a façanha às crianças

 

Publicação: 16/11/2020 04:00

 

 

 

Lewis Hamilton fez história mais uma vez. O britânico da Mercedes venceu o GP da Turquia, ontem, com uma exibição fantástica e sagrou-se heptacampeão da Fórmula 1. Recordista em número de vitórias, ele se igualou a Michael Schumacher em títulos na categoria. O mexicano Sergio Perez, da Racing Point, terminou em segundo e o alemão Sebastian Vettel, da Ferrari, completou o pódio.


Hamilton estabelece uma carreira dominante: chegou à incrível marca de 94 vitórias em 264 provas e foi campeão antecipadamente, mais uma vez. O agora heptacampeão mundial triunfou em 10 das 14 corridas da temporada 2020 e reforçou, a cada prova, que está entre os maiores da história. Ele soma 307 pontos na classificação e não pode mais ser alcançado pelo companheiro Valtteri Bottas, que decepcionou no GP turco e terminou fora da zona de pontuação, em 14°. O finlandês teve uma péssima atuação e rodou várias vezes. Agora, corre o risco de perder o vice para Max Verstappen.
“É muito importante que as crianças vejam isso. Não acreditem quando disserem que vocês não podem fazer algo. Sonhem com o impossível. Trabalhem por isso, persigam, nunca desistam”, reforçou Hamilton, que superou o preconceito e outras adversidades para se tornar um dos maiores ídolos do esporte mundial. Após a corrida, o britânico vibrou muito e se emocionou.


Ontem, o piloto da Mercedes largou em sexto depois de uma performance ruim no treino classificatório na “pista de gelo” em Istambul, molhada pela chuva e com pouca aderência em razão do recapeamento tardio. Não foi uma exibição brilhante, tanto que Hamilton chegou a errar e cair para sétimo no começo da corrida. No entanto, com pneus intermediários, inteligência, paciência e talento, o piloto da Mercedes conseguiu se adaptar ao circuito e contou com as paradas dos adversários para trocar os pneus.


Arrojado e perspicaz como sempre, foi ganhando posições quando o asfalto começou a secar, até ultrapassar o mexicano Sergio Pérez, da Racing Point, na 37ª volta, para assumir a liderança e de lá não sair mais. Destruidor de recordes, o britânico chegou ao sétimo título com naturalidade. Assim como no ano passado, sobrou em relação aos rivais, mostrou que está em outro patamar há algum tempo e impôs uma verdadeira dinastia na Fórmula 1, com sete conquistas, sendo quatro consecutivas.


Desde 2007, ano da estreia na categoria, e 2008, quando levantou o primeiro troféu, o piloto evoluiu muito e se consolidou, também, como um ídolo fora das pistas, com postura marcante contra o racismo e a favor dos direitos humanos e de causas sociais. Em um ano marcado pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e pela intensa discussão sobre ações afirmativas, Hamilton teve papel bastante relevante ao levar a preocupação com o racismo à principal categoria mundial do automobilismo. Mesmo com a ameaça de represálias, o único piloto negro da história da Fórmula 1 não se intimidou e reafirmou postura antirracista, tornando-se referência do movimento.
O britânico teve atitudes públicas nos últimos meses que causaram reações controversas na Fórmula 1. Em julho, ele tentou organizar um protesto coletivo para que os 20 pilotos se ajoelhassem antes da prova. Seis não aderiram. Depois, Hamilton subiu ao pódio no GP da Itália com uma camiseta em que cobrava a prisão dos policiais responsáveis pela morte da jovem americana negra Breonna Taylor. Logo depois, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proibiu o uso de outras vestimentas no pódio, além do macacão. O supercampeão, porém, reiterou que continuaria protestando contra a discriminação racial e outros preconceitos. E assim o fez.

 

Ferrari, enfim, faz uma boa prova

Na tumultuada corrida na Turquia, com várias alternâncias de posições, destaque também para a Racing Point, com o segundo lugar de Sergio Perez, que chegou a liderar. Foi a primeira vez dele no pódio. A Ferrari teve uma boa exibição e colocou os pilotos no terceiro e quarto lugares. Charles Leclerc ficou muito perto de se sair ainda melhor, mas errou ao tentar passar o mexicano, perdeu o posto para Sebastian Vettel e finalizou em quarto.


O terceiro lugar foi um prêmio para o alemão tetracampeão, que subiu ao pódio pela primeira vez na temporada. Ele havia largado em 11º.


O espanhol Carlos Sainz Jr, da McLaren, cruzou a linha de chegada em quinto, à frente dos dois carros da Red Bull, com o holandês Max Verstappen em sexto e o tailandês Alexander Albon em sétimo. O jovem britânico Lando Norris terminou na oitava posição.


Restam apenas mais três etapas para o fim da temporada de 2020 da Fórmula 1, que se encerrará em 13 de dezembro. A próxima corrida será o GP do Bahrein, daqui a duas semanas.


Correio Braziliense domingo, 15 de novembro de 2020

PARA PENSAR O RACISMO À BRASILEIRA

Jornal Impresso

Para pensar o racismo à brasileira
 
Com ficção, reflexão e poesia, três lançamentos convidam o leitor a mergulhar em histórias que ajudam a entender o racismo no Brasil
 

» Nahima Maciel

Publicação: 15/11/2020 04:00

 
Racismo, pensamento africano contemporâneo, histórias de heroínas negras pouco contadas nas escolas e no dia a dia: os temas são abordados em uma boa leva de livros que acabam de desembarcar nas editoras. Para entender a importância de celebrar o mês da Consciência Negra, vale mergulhar na leitura de autores brasileiros que refletem sobre racismo, desigualdade, violência e discriminação sexual no cenário contemporâneo. O Diversão & Arte fez uma seleção que tem desde ensaios até ficção, incluindo um elegante livrinho de história escrito em forma de cordel sobre mulheres negras que fizeram a história do Brasil e sumiram dos livros e das narrativas.
 
Jeferson Jeferson Tenório (Carlos Macedo)  
Jeferson Jeferson Tenório
Jarid Arraes (Companhia Das Letras/Reprodução)  
Jarid Arraes
O avesso da pele
De Jeferson Tenório. Companhia das Letras, 190 páginas. R$ 59,90
 
Terceiro romance do autor, um professor de literatura nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre, traz a história de um também professor de literatura, negro como Tenório, vítima de diversas abordagens racistas por parte da polícia e cuja vida acaba por ser tirada em um desses episódios. “Dos três livros que tenho, O avesso da pele foi o que se aproximou mais da minha vida, mas ele surge, na verdade, a partir de um livro que gosto bastante que é o Hamlet, a história de um filho que tem uma relação com um pai fantasma. Eu sempre quis escrever um livro sobre ausência paterna. E também queria falar sobre um professor de literatura. Depois de sofrer uma abordagem policial em Porto Alegre, em 2016, achei que podia abordar estes três temas: ausência paterna, violência policial e educação”, conta Tenório. Estruturado com várias vozes narrativas, o livro é conduzido pelo filho do professor. Ao mesmo tempo em que revisita a história do pai ausente, o narrador investiga sua própria origem. O racismo é tema constante — Tenório decidiu escrever o livro após a abordagem policial sem justificativa —, mas as relações familiares e a educação em um país marcado pela desigualdade social ocupam lugar importante na narrativa. O autor, que já esteve no programa Conversa com Bial, é também um dos convidados da edição on-line da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), programada para dezembro.
 
Jarid Arraes (Arquivo pessoal)  
Jarid Arraes
 (Reprodução)  
A razão africana – Breve história do pensamento africano contemporâneo
De Muryatan S. Barbosa. Todavia, 214 páginas.
 
Filho de exilados políticos nascido na Suécia, batizado com nome tupi-guarani e professor da Universidade Federal do ABC, Muryatan S. Barbosa ficava incomodado com o grau de eurocentrismo no pensamento acadêmico brasileiro. A inquietação gerou A razão africana — Breve história do pensamento africano contemporâneo, ensaio que toma o leitor pela mão para entender quais são os pensadores mais relevantes na história recente da África. Muryatan tenta suprir uma lacuna que considera fruto de um olhar sempre voltado para o Norte do mundo. “É um tema recente. Temos duas coletâneas recentes sobre o assunto com autores brasileiros e africanos, de estudantes que estão no Brasil, e temos teses e dissertações. De 10 anos para cá, o tema tem adensado, mas não temos livros de análise geral como esse”, garante. A razão africana, no entanto, não é destinado a pesquisadores e consegue oferecer uma introdução aos não especialistas, uma espécie de visão geral sobre as diversas correntes de pensamento sobre os rumos da África hoje. Autodesenvolvimento, identidade africana, pan-africanismo, diversidade, autonomia, desenvolvimento, economia e até feminismo são alguns dos temas tratados.
 
Muryatan (Arquivo pessoal)  
Muryatan
 (Editora Todavia/Reprodução)  
Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis
De Jarid Arraes. Seguinte, 176 páginas. R$ 34,90
 
Já ouviu falar em Dandara, Aqualtune, Na Agontimé, Maria Felipa e Zacimba Gaba? Elas fazem parte da história do Brasil, mas foram apagadas dos livros escolares, por isso Jarid Arraes decidiu trazê-las de volta à narrativa, junto com outras 10 figuras pouco conhecidas. O formato cordel transporta as personagens para uma linguagem popular, mas tudo que é contado ali saiu de pesquisa histórica e se inscreve na formação da identidade brasileira. Algumas das personagens são mais conhecidas — caso de Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina —, mas a maioria permanece praticamente desconhecida. “Nas escolas não ouvimos/Essa história impressionante/Mas eu uso o meu cordel/Que também é importante/Para que você conheça/E não figure ignorante”, avisa Jarid, que é uma das finalistas do Prêmio Jabuti como livro de contos Redemoinho em dia quente. A autora conta que, antes de chegar à idade adulta, nunca ouvira falar de uma mulher negra protagonista de algum momento histórico. Foi depois de adulta e já dona de uma voz narrativa que mistura a linguagem do cordel e com uma postura pop, que Jarid passou a pesquisar a vida dessas mulheres. A intenção, além de escrever sobre elas, era resgatar as próprias origens. São, como ela diz, histórias que merecem ser contadas e podem ajudar a mudar a vida de muitas mulheres.
 
Quatro perguntas // Muryatan S. Barbosa
 
O que perdemos ao nos concentrar no 
pensamento acadêmico eurocêntrico?
Não saberia te dar uma resposta simples sobre isso. Acho que quanto mais a gente amplia nossos horizontes, maior nossa capacidade de enxergar o mundo e a nós mesmos. Então, na medida em que a gente vê nossos problemas e soluções sempre somente a partir dessas poucas tradições intelectuais (França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos), necessariamente nos tornamos mais pobres do ponto de vista cultural e intelectual. Há muita semelhança do Brasil com outros países, África do Sul, Índia etc. Olhar para isto, por exemplo, enriqueceria nosso pensamento, não só acadêmico, mas cultural e político de uma forma muito relevante. O Brasil, hoje, é intelectualmente pobre, de um modo geral, e acho que parte desse fato deriva do nosso eurocentrismo, da nossa incapacidade de enxergar para além do que estamos acostumados a ver. É como ter um só óculos, às vezes até nosso grau de miopia aumenta, mas a gente só tem aqueles óculos.
 
Você também diz que isso tem mudado nos 
últimos 10 anos. Por que mudou, na sua opinião?
A primeira razão foi a Lei nº 10.639 (2003), que delibera sobre a necessidade da inclusão da história e cultura africana e afro-americana nos currículos escolares. Isso impulsionou o estudo da história da África no Brasil. Não que não existisse antes. O Brasil tem uma história longa de estudos sobre a África, mas sempre na medida em que isso revelava nossa formação cultural. Nunca estudamos a África a partir da sua história intelectual, do que os intelectuais africanos e africanas pensam sobre a sua própria história. Isso demonstra muito do racismo à brasileira. Então, a lei foi um elemento importante de estruturação do campo da história da África. Outra razão foi a inclusão de estudantes negros e negras na academia: esses estudantes sentiram a necessidade de ver esta temática contemplada. Eles fizeram pressão por isso, o que tem fortalecido o campo e a ciência brasileira, em geral.
 
No livro, você explica que a descolonização é um processo de décadas e não apenas
centrado nas independências das nações africanas. 
Em que parte desse processo
estaríamos agora, com movimentos estourando no mundo inteiro, 
estátuas sendo
derrubadas e reivindicações 
de uma narrativa mais justa vindo à tona?
Creio que estamos mais numa dimensão cultural nesse processo. O Julius Nyerere, um grande pensador, dizia que a libertação tinha um significado cultural, político e econômico. E que ela não se faz só por rupturas, mas por um processo gradual em que esses três elementos estão interrelacionados. É uma percepção muito sagaz do dilema, não só da África, mas dos países periféricos, em geral. Não é um ato simples descolonizar-se, é um ato de múltiplas faces, processual e contraditório. Às vezes, um nível vai à frente e outro fica para trás. Mas é sempre importante para um país que pretende ter soberania, ter consciência desse caminho. Não deixar que os retrocessos sejam rupturas em relação ao caminho maior do que deveria ser o da autonomia, desenvolvimento, melhora da qualidade de vida.
 
Como seria essa dimensão cultural?
À medida em que o processo de descolonização política e econômica teve muitos retrocessos nos últimos 30 anos, sobretudo do ponto de vista econômico, a descolonização cultural tornou-se mais relevante. Percebe-se que, enquanto a gente tentar ser o outro, o outro dominante, no caso o ocidental, a gente nunca vai conseguir ser o que é. Essa obsessão pelo ocidentalismo exacerbado é algo que tem reflexos muito ruins para as sociedades periféricas, o Brasil que o diga. É uma tara, uma obsessão em ser o que não somos, e isso só pode levar ao racismo, à reprodução da discriminação, da falta de solidariedade, a tudo de ruim. E acho que isso é mais evidente hoje e, portanto, é mais evidente também o papel que a cultura pode ter nesse processo de descolonização, que não acabou.
 
 
 
Entre as mais novas profissões do mercado está a de influenciadora digital. Poucas delas, no entanto, são pretas. Mulheres como Ana Caroline Cardoso (foto) exercem papel de ativistas na defesa da representatividade e da valorização da negritude.
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 

Correio Braziliense sábado, 14 de novembro de 2020

BAZARES DE NATAL - SEMPRE POR UMA BOA CAUSA

Jornal Impresso

BAZARES DE NATAL

Sempre por uma boa causa
 
Os tradicionais bazares de Natal tiveram que se adaptar com a pandemia da covid-19. Dos eventos presenciais em grandes espaços, a iniciativa migrou para a venda on-line e entrega a delivery. Os produtos vão de artigos natalinos a peças de artesanato

 

CIBELE MOREIRA

Publicação: 14/11/2020 04:00

 

A compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração será feita pela internet este ano (Fotos: Minervino J?nior/CB/D.A Press)  

A compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração será feita pela internet este ano

 

 

As tradicionais feiras solidárias de Natal tiveram que se reinventar neste ano de pandemia. Devido às restrições impostas para a contenção da covid-19, a compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração precisou ser redirecionada para o on-line. A Casa Espírita Recanto Maria (Rema) que promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema, foi uma das instituições que encararam a mudança para dar continuidade a essa tradição e garantir a verba para a manutenção do espaço e para as ações sociais.

 

Maurício Maia, um dos coordenadores do bazar, conta que a vantagem desse formato é de que as pessoas têm mais tempo para olhar os produtos. “Ver com mais calma, em qualquer horário. A retirada pode ser feita de duas formas, aqui na sede da instituição ou entregue em casa”, destaca. Para dar mais segurança sanitária, foram disponibilizados dois dias na semana (quarta e sábado) para as entregas. O cliente recebe as informações sobre o dia e horário para buscar as peças adquiridas no bazar, e a pessoa não precisa descer do carro, um voluntário irá até o veículo com a encomenda.

 

Além da comodidade do on-line, a feira ganhou mais tempo de evento. Dos quatro dias convencionais, foram para quase três meses. A plataforma está disponível desde o mês de outubro e segue até a semana do Natal. Boa parte das sessões encontradas no evento presencial está no site de vendas, como artigos natalinos, decoração, cantinho do lar e itens voltados para o público infantil. As iguarias da Casa de Doce terão um espaço especial na cesta de Natal, enviadas apenas no mês de dezembro.

 

Boa parte das peças foi confeccionada por voluntários e frequentadores da Casa Espírita Recanto Maria, que, mesmo com a pandemia, não parou a produção dos produtos para a feira natalina. Todo o valor arrecadado com a venda será revertido em ações para a comunidade carente. O bazar é uma das principais fontes de renda da instituição, sem fins lucrativos, situada no Lago Sul.

 

A aposentada Patrícia Valle, 59 anos, aprovou o novo formato. “Toda hora eu entro (no site) e compro alguma coisinha”, brinca. Para ela, não poderia faltar o Bazar do Rema este ano. “Ainda bem que fizeram a versão virtual, é uma forma de ajudar, mesmo a distância. A gente está abrindo mão de tanta coisa nessa pandemia, que bom que nossa tradição permaneceu”, comemora. Moradora da Asa Sul, ela frequenta o Bazar do Rema há mais de 30 anos com a família. “Na abertura, a minha mãe era a primeira da fila para garantir os melhores presentes de Natal”, recorda. Neste ano, a compra das lembranças de final de ano será feita de forma diferente.

 

 

Maurício Maia: a Casa Espírita Recanto Maria promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema  

Maurício Maia: a Casa Espírita Recanto Maria promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema

 

 

 

 

“Atualmente, nossa vida está toda no virtual. Até os supermercados estão aderindo a essa opção. Então, quando recebi o link do Bazar do Rema, já saí divulgando para as amigas. Tem uma vizinha que não sabe mexer com essa tecnologia, me dispus a ajudá-la. Tirei foto dos produtos e comprei para ela”, conta Patrícia, que não vê a hora de comprar a Cesta de Natal da Casa Espírita Recanto Maria. “As geleias que são vendidas na Casa de Doce são deliciosas, eu já perguntei se iria ter este ano.”

 

Segundo Maurício Maia, o fluxo de venda no site está bom. “Está aumentando a cada dia, a propaganda de boca em boca tem ajudado bastante. Tem itens que já estão esgotados”, afirma. Sobre a possibilidade de fazer uma versão híbrida no próximo ano, Maurício não descarta. “Podemos pensar em manter os dois modelos, mas nada supera o presencial. São 44 anos de história, a gente ganhou amigos e formou uma família. Encontrar as pessoas no Bazar é um momento que não dá para descrever”, pontua.

 

A instituição Casa Azul Felipe Augusto pretende aderir ao modelo híbrido para a feira natalina deste ano. De acordo com a presidente da entidade, Daise Lourenço Moisés, o evento será virtual, delivery e agendado. “Fechamos uma parceria com a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) para expormos os produtos para a venda”, relata. Serão vários ambientes com mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas.

 

Daise explica que nas próximas semanas serão montados os estandes na AABB. “Quando tudo estiver organizado, vamos tirar fotos e fazer filmagens contando detalhes de cada peça para colocar no site da Casa Azul e nas redes sociais”, conta. Ela também pretende incluir uma plataforma de venda on-line com o intuito de diluir o público da feira. “Vamos aumentar o período de duração, também. Quero abrir o Bazar de Natal na última semana de novembro e seguir com o evento até 20 de dezembro.” De acordo com Daise, a AABB tem um amplo espaço que permite o distanciamento entre as pessoas.

 

O Bazar de Natal da Casa Azul Felipe Augusto ocorre desde 1996 no Distrito Federal, as peças são todas novas e é uma possibilidade de renda no final do ano. “Ganha os dois lados. É uma saída onde as pessoas vão para ajudar a Casa, e também vão para comprar algo para o lar ou para presentear”, ressalta Daise.

 

 

Bazar natalino da Casa Azul: mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas (Daise Lourenço Moisés/Divulgação)  

Bazar natalino da Casa Azul: mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas

 

Bazar para o Natal

 

 

Diferentemente dos anos anteriores, o Bazar Natalino da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília terá uma edição especial. “Com a pandemia, não dava para fazer um evento aberto para o público. É inviável. Então, pensamos em outra alternativa, com a arrecadação de roupas, brinquedos, calçados, tudo em bom estado, vamos promover um bazar para os pacientes atendidos na instituição”, explica Vera Lúcia Bezerra da Silva, coordenadora da Rede Feminina. “Será um bazar para o Natal”, destaca. As peças doadas serão expostas de 1º a 18 de dezembro, na sala dentro do Hospital de Base de Brasília.

 

O intuito é proporcionar um Natal diferenciado aos pacientes oncológicos e familiares. “Muitos estão internados, e não têm condições de comprar algum presente para filhos e netos. Até mesmo aqueles que vêm para fazer um tratamento pontual no hospital”, exemplifica Vera. A instituição atende, em média, 400 pessoas de diversas situações econômicas. “A maioria das pacientes que a gente atende tem filhos pequenos ou é idosa. Queremos presentear o Natal delas”.

 

As doações podem ser feitas no ambulatório do Hospital de Base ou, se for em grande quantidade, pode agendar para retirada em algum outro ponto. A coordenadora Vera Lúcia destaca a importância das peças estarem em bom estado. “Tem que ser algo que a pessoa usaria ou compraria, porque alguém vai receber esses itens. Roupas de criança e adulto, cestas de Natal, panetone, bijuteria, tudo será bem-vindo”, destaca. Paralelo a essa ação, a instituição também promove o bazar virtual em parceria com a Casa Rosa, no Núcleo Bandeirante, que recebe pacientes oncológicos de outros estados.


Correio Braziliense sexta, 13 de novembro de 2020

COPA DO MUNDO - ELIMINATÓRIAS - BRASIL ENFRENTA VENEZUELA

 

Jornal Impresso

Asas ao Pombo
 
Brasil aposta em ataque liderado por Richarlison na primeira apresentação da era Tite sem os astros Neymar e Coutinho. Tite convocou as duas referências da Seleção, mas contusões tiraram os dois craques da lista

 

Publicação: 13/11/2020 04:00

 (Lucas Figueiredo/CBF)  
A Seleção Brasileira descobrirá hoje, às 21h30, como atuar sem os dois principais nomes desta geração: Neymar e Philippe Coutinho. Os dois são os grandes desfalques do time que joga no Morumbi pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 contra a Venezuela. As ausências forçam o técnico Tite a buscar uma nova formação, com direito a um trio de ataque diferente: Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Richarlison.
 
Em quatro anos no comando da Seleção, será a primeira vez que Tite não terá a dupla Neymar e Coutinho para um jogo disputado em data oficial. Nas 50 partidas realizadas sob o comando do treinador, apenas uma vez o Brasil estava sem os dois. Em 2017, um amistoso beneficente pelas vítimas do acidente aéreo da Chapecoense, no Rio, contra a Colômbia, contou só com atletas que atuam no futebol brasileiro.
 
Neymar foi cortado ontem, após o médico Rodrigo Lasmar constatar que não há tempo para recuperá-lo da lesão na coxa esquerda até o clássico de terça-feira contra o Uruguai, em Montevidéu. Antes, Coutinho  e outros seis convocados também foram cortados. O jogador do Barcelona teve problema na coxa esquerda e terá como substituto Éverton Ribeiro, do Flamengo. Coutinho é o mais utilizado por Tite e esteve em 46 dos 50 jogos.
“Essa convocação teve um número maior (de cortes) do que realmente acontece, ou por lesão ou pelo problema da covid-19. Eu quero olhar esse lado real também. As oportunidades surgem”, disse Tite. A equipe perdeu, ontem, o lateral Gabriel Menino, diagnosticado com covid-19. Os outros atletas testaram negativo e passarão por outra série de exames no fim de semana.
 
Mudanças
Tite escará Ederson no gol, mesmo com o retorno de Alisson. Sem contar com o volante Casemiro, outro diagnosticado com covid-19, Allan assume a posição. O ataque terá o comando de Richarlison posicionado como centroavante, em vez de Firmino, que agora virou ponta. “O Richarlison será o ‘nove’. O Firmino será um jogador mais livre, como um articulador”, explicou o técnico.
 
Pelo menos as mudanças na escalação não mexem com o favoritismo do Brasil. A equipe lidera as Eliminatórias e recebe dentro de casa um dos adversários mais frágeis do continente. A Venezuela perdeu os dois primeiros jogos e foi o único país a não ter marcado gol na competição até agora.
 
O Brasil tem na memória o último encontro com a Venezuela. O resultado foi frustrante. Na Copa América do ano passado, na Arena Fonte Nova, em Salvador, as equipes empataram por 0 x 0. “São confrontos sempre muito complicados, como na Copa América 2019. É uma equipe que se fecha bem”, alerta Thiago Silva. 
 
Colômbia recebe Uruguai 
A seleção colombiana busca, hoje, confirmar o bom momento. O duelo, às 17h30 (de Brasília), no Estádio Metropolitano, em Barranquilla, válido pela terceira rodada das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo do Catar, será contra um Uruguai. Adversário do Brasil na terça-feira, em Montevidéu, o time celeste está prejudicado por desfalques importantes. Em outro duelo de hoje, o Chile receberá o Peru, às 20h (de Brasília) com o objetivo de triunfar pela primeira vez na competição. Os chilenos somam apenas um ponto, uma vez que empataram, com a Colômbia e, antes, foram derrotados pelo Uruguai. Os peruanos também têm um ponto do empate por 2 x 2 com o Paraguai na rodada de abertura. 

Correio Braziliense quinta, 12 de novembro de 2020

BIG BROTHER BRASÍLIA: SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO

Jornal Impresso

BIG BROTHER BRASÍLIA
 
Sorria! Você está sendo filmado
 
Governador Ibaneis Rocha sanciona lei que regulamenta a implementação da tecnologia de reconhecimento facial no DF. Equipamento vai rastrear a movimentação das pessoas em locais públicos. Medida visa combater a violência, mas gera discussões

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 12/11/2020 04:00

Tecnologia de reconhecimento facial (TRF) será empregada em áreas públicas, com grande fluxo de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto. Locais ainda serão definidos (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Tecnologia de reconhecimento facial (TRF) será empregada em áreas públicas, com grande fluxo de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto. Locais ainda serão definidos

 


Realidade em estados como Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro e Santa Catarina, a tecnologia de reconhecimento facial (TRF) em áreas públicas está regulamentada no Distrito Federal. Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou a Lei n° 6.712, que dispõe sobre o uso do sistema. A decisão foi publicada no Diário Oficial do DF (DODF). A medida consiste no rastreamento de movimentos físicos ou imagens estáticas e visa a redução das taxas de criminalidade. Hoje, a capital conta com 728 câmeras de vigilância, mas sem a TRF. População e especialistas acreditam que a iniciativa será benéfica (Veja Povo fala e Cara a cara), no entanto, há temor quanto ao vazamento de dados pessoais e quanto à possibilidade de que pessoas inocentes sejam confundidas com criminosos.
 
A ideia é de que os equipamentos sejam instalados em locais de grande circulação de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto, é o que explica o autor da PL, o deputado distrital João Hermeto (MDB). “Uma câmera, às 18h, pegando todos que passam pela Rodoviária, por exemplo, vai ser superpositiva. Esse sistema é totalmente diferente das câmeras que temos hoje. Muitos criminosos roubam estabelecimentos, cometem assaltos e não são identificados com a tecnologia usada atualmente. Então, com certeza, com essa iniciativa, teremos uma redução nas taxas de criminalidade”, ressalta.
 
As câmeras serão postas, exclusivamente, em locais públicos, onde deverão ser afixadas placas visíveis informando do monitoramento feito pelo equipamento de vigilância. Elas funcionarão da seguinte maneira: ao passar e olhar em direção à câmera, a pessoa terá os dados pessoais captados e direcionados a uma central de monitoramento, que será gerenciada por agentes públicos. Dessa forma, será possível saber se o indivíduo é foragido da Justiça, procurado pela polícia ou se tem mandado de prisão em aberto. As imagens ficarão armazenadas por até cinco anos no sistema e, depois, serão descartadas. As fotos poderão, ainda, ser compartilhadas com órgãos de segurança pública de outras unidades da federação.
 
Como prevê o texto, fica vedado o uso de TRF para vigilância contínua de uma pessoa ou grupo de indivíduos, em qualquer hipótese. E, toda sinalização de identificação positiva gerada pelo sistema de reconhecimento facial deverá ser revisada por um agente público.
 
Previsão
 
Ainda não há, no entanto, uma data para a instalação dos equipamentos, onde eles ficarão e quanto custará aos cofres públicos. O Correio apurou que, em breve, o deputado João Hermeto e o secretário de Segurança Pública (SSP-DF), Anderson Torres, se reunirão para discutir esses pontos. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) esclareceu que a implementação da tecnologia de reconhecimento facial está sendo estudada pela pasta e que o sistema de videomonitoramento atual da secretaria não dispõe desse tipo de equipamento.
 
“Vamos discutir com o governo. O GDF ainda vai ter o prazo para comprar, e tenho certeza de que vai implementar o serviço o mais rápido possível. Foi aprovado hoje (ontem), mas vou sentar com o secretário para decidir algumas coisas. São questões a serem definidas”, destaca João Hermeto.
 
O projeto de lei foi publicado no Diário Oficial da Câmara Legislativa em 20 de outubro. A proposta havia sido apresentada em 7 de outubro. À época, a deputada Arlete Sampaio (PT) questionou o projeto e apontou contradições com o que está disposto na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), aprovada em agosto de 2018, que estabelece a proibição, entre outras coisas, do tratamento dos dados pessoais para a prática de discriminação ilícita ou abusiva.
 
A LGDP entrou em vigor no Brasil em setembro deste ano. A legislação dispõe sobre o uso de dados pessoais de indivíduos por empresas, órgãos públicos e privados e estabelece uma série de medidas para evitar que cidadãos tenham esses dados vazados. Para fiscalização do cumprimento da lei, criou-se a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). O órgão será responsável pela aplicação das sanções a quem descumprir as normas da LGPD. A princípio, as normas dispostas no texto da LGPD não invalidam o uso de tecnologia de reconhecimento facial.
 
 
 
CONTRA

Welliton Caixeta Maciel, professor de Antropologia do Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB), pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (NEViS/UnB) e do Grupo Candango de Criminologia (GCCrim/FD/UnB)
 
A tecnologia de reconhecimento facial é uma realidade em diversos outros lugares do Brasil e do mundo e, agora, oficialmente, implementada no Distrito Federal. Mas, devemos observá-la com crítica e reserva. Sua utilização na segurança pública soma-se a esse tipo de iniciativa pirotécnica, revelando uma obsessão securitária pelo uso de dispositivos de controle, fundada em um tríplice regime de legitimação: segurança, visibilidade e eficácia. Não obstante o DNA e a biometria, a tecnologia de reconhecimento facial se vale de sistemas eletrônicos, digitais e informatizados, a partir dos quais os indivíduos passam as ser classificados e categorizados em uma espécie de catálogo que alimenta um “laboratório de vigilância” permanente. A utilização da tecnologia de reconhecimento facial na segurança pública tem como possíveis benefícios ou vantagens, a depender dos operadores que a manuseiam, auxiliar como recurso tecnológico de controle social dos espaços geolocalizados e, consequentemente, das interações sociais que neles se dão, servindo como meio de identificação de possíveis delitos e infrações, capaz de trazer alguma sensação de segurança, ainda que momentânea, aos cidadãos. Todavia, deve-se observar com muita parcimônia seu emprego na segurança pública e como sua utilização pode servir para reforçar estereótipos e estigmas dos próprios operadores do sistema, servindo como dispositivo de filtragem racial na seleção policial de suspeitos, no reforço de preconceitos e discriminações étnico-raciais, de classe, de gênero, violências homo/lesbo-transfóbicas, entre outros tipos. Sistemas como esses podem levar inocentes à cadeia, a depender de como as informações e os dados produzidos, catalogados e manuseados pelos operadores se prestarão a filtros de seletividade penal, filtragem étnico-racial, controle social de grupos e indivíduos.
 
 
A FAVOR

Ivon Iizuka, advogado com especialização em direito público e analista de sistemas
 
Os sistemas de comparação de imagem humana é uma tendência mundial, como é de conhecimento da maioria das pessoas. Em alguns países, essa comparação é feita independentemente de se estar ou não em “bancos criminais”. No caso do Distrito Federal, entendemos que esse sistema deve se concentrar, ao menos inicialmente, em detectar pessoas que tenham passagem na polícia, foragidos, pessoas que têm mandado de prisão, não só no DF, mas, também, em outros estados, e isso pode ser feito por meio de instrumentos jurídicos de cooperação. Penso ser bastante vantajoso, na medida em que se estabelece mais um mecanismo de proteção da sociedade em relação às pessoas que, por algum motivo, estão em débito com a Justiça. A sensação de segurança tende a ser aumentada. Deixa-se de ter críticas em relação às abordagens policiais porque, com isso, obtém-se, por meio de comparação de imagens, um critério objetivo, com resultado positivo ou negativo para a pessoa abordada. A velocidade na resposta do Estado diante de um crime é bem mais rápida. Tecnologia para isso já temos. Esses sistemas são a última geração de tecnologia de identificação. Existem analíticos muito precisos para essa captura e comparação de imagem. Será um salto gigantesco para a segurança pública. Sairemos de uma abordagem policial “às cegas” para um formato mais seguro por saber, ao menos, indícios do histórico da pessoa que está sendo abordada. O fato é que, com esse sistema funcionando, o DF passa a ser referência como unidade da federação atuante, pró-ativa e preventiva, e que desponta nos mecanismos de segurança pública, ofertando à população maior sensação de segurança que efetivamente se concretiza.
 
 
 
Povo fala
 
“Mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria, devido ao avanço da tecnologia e à forma como o mundo está caminhando. É uma iniciativa positiva, mas se as leis melhorassem e fossem mais rígidas, seria muito melhor. Porque prendem bandidos, mas soltam no outro dia”
 
Sebastião dos Santos, 38 anos, cozinheiro e morador de Luziânia
 
 
“Se as pessoas não devem nada, para que temer? Acho que isso trará mais segurança para a população, porque será possível identificar criminosos facilmente”
 
Luís Eduardo Oliveira, 25 anos, ajudante de entregador e morador de Brazlândia
 
 
“Acho válido, uma vez que o reconhecimento diminuirá as taxas de criminalidade. Querendo ou não, as pessoas ficarão receosas em cometer determinados crimes, justamente, pelo fato de saberem que estão sendo vigiadas. Mas, também, tem a questão da privacidade, que pode ser invadida.”
 
Ester Galeno, 19 anos, estudante e moradora da Asa Norte
 
 
“Tem os dois lados da moeda. O lado bom é que ajudará a evitar crimes, mas o ruim é que você terá os dados pessoais expostos. Eu não gostaria dessa invasão 
de privacidade.”
 
Ana Paula Junqueira, 50 anos, doméstica e moradora de Ceilândia

Correio Braziliense quarta, 11 de novembro de 2020

A NATUREZA CRIA ASAS NO CENTRO DE BRASÍLIA

Jornal Impresso

A NATUREZA CRIA ASAS NO CENTRO DE BRASIÍLIA

Uma família bem especial
 
Casal de curicaca construiu um lar no topo de um poste de iluminação no Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic. A chegada dos pais e o nascimento dos filhotes atraíram os olhares de quem trabalha na região

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 11/11/2020 04:00

 
Hora da comida (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
Hora da comida

Quem recebe visita de pássaros diariamente, seja na janela de casa ou do trabalho, sente-se abençoado pela presença tão próxima da natureza. Porém, quem trabalha no Edifício Venâncio 3, do Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic, foi presenteado não apenas com uma passagem rápida das aves, mas também com a construção de um ninho bem em frente ao escritório. Acontece que, há três meses, um casal de curicacas (Theristicus caudatus) instalou-se em um poste de iluminação pública em frente ao prédio. Há pouco mais de um mês, a família cresceu. Ali, macho e fêmea tiveram três filhotes. Ao que tudo indica, o grupo deve ficar no local até os menores terem condições de voar sozinhos. Enquanto isso, os condôminos do setor comercial apreciam o desenvolvimento e o crescimento das pequenas aves.

Banho de sol  
Banho de sol
Morador da Cidade Estrutural, o ourives Renato Pereira, 48 anos, contempla a família de curicaca diariamente. Apaixonado por animais, para ele, a presença dos pássaros é um presente, principalmente nos dias mais intensos de trabalho. Ele contou que o casal chegou, mais ou menos, em agosto e instalou-se em um dos postes de iluminação. Passados alguns dias, eles foram para outro, onde tiveram os filhotes. “Como morei na roça, onde é cheio de pássaros, acho lindo tudo da natureza. Eu olho para eles todos os dias e é emocionante, porque a natureza é perfeita. Não tem defeitos”, disse.
 
Renato divide a janela com o colega de trabalho Djalma dos Santos Lacerda, 56. O também ourives lembra que, no ano passado, no mesmo período, uma família dessa espécie hospedou-se no local. “A gente acaba acompanhando tudo. Dessa vez, a ninhada foi de três filhotes. Um deles sumiu. Não sabemos se ele caiu ou foi pego por outro animal. Os pais se revezam para não deixar os pequenos sozinhos. A natureza é muito interessante”, declarou Djalma.

Renato Pereira:  
Renato Pereira: "Eu olho para eles todos os dias e é emocionante, porque a natureza é perfeita"
Para a secretária de um escritório de contabilidade, Jéssica Silva, 34, quando as aves forem embora farão falta. Apesar de os humanos não terem contato direto com elas, o apego, segundo ela, é grande. “Vimos o casal chegando, os filhotes nascendo, estamos acompanhando o crescimento. Sabemos que daqui a pouco eles vão partir. Chega dá um aperto no coração, porque a gente se apega mesmo, não tem para onde correr. São criaturas lindas. Deus é perfeito em tudo o que faz”, afirmou com a voz embargada de emoção.
 
Visitas constantes
A curicaca ou curucaca é um tipo de ave presente em boa parte do território brasileiro — comum de campos abertos, capoeiras, beiras de matas secas, caatingas, cerrados e grandes plantações. Elas costumam instalar-se em locais próximos a lagos, campos com solos pantanosos ou periodicamente alagados. Têm hábito de viver em pequenos bandos, são diurnas e gostam de planar a grandes alturas. É comum encontrá-las nos gramados do centro de Brasília, onde procuram insetos e larvas para alimentar-se. Além deles, elas comem pequenos lagartos, pequenos roedores, sapos e cobras.

Endereço nobre  
Endereço nobre
O biólogo e mestre em ecologia pela Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Guimarães Santos diz que as curicacas são comumente vistas no Parque da Cidade, próximo ao Aeroporto de Brasília e em Taguatinga. Ele ressalta que são aves que não têm restrições. Sendo assim, os ninhos costumam ser construídos em postes de iluminação pública, linhas de transmissão e telhados. Elas não apresentam nenhum risco à população.
 
O especialista faz parte do projeto Aves da Janela, uma parceria da UnB e da Universidade Católica de Brasília (UCB), junto ao Instituto Jurumi — organização sem fins lucrativos criada para contribuir com as atividades de conservação da natureza. “No projeto estamos realizando um estudo para tentar mensurar os efeitos da pandemia nos animais. Muitos pesquisadores ao redor do mundo estão tentando ver isso. Um deles mostrou a mudança sísmica, porque as pessoas estão mais em casa. Em relação a fauna ainda não se sabe”, destacou.
 
Com a colaboração da própria população, por meio de vídeos e fotos feitas da janela de casa, o Aves da Janela vai tentar mensurar a alteração do comportamento dos pássaros no período de isolamento social. O estudo é realizado desde o início da pandemia, em meados de abril. “A gente ainda não analisou esses dados e nem sei se deu tempo de pegar essa mudança ou se a gente vai ver algum desses padrões, mas a ideia é buscar isso”, ressaltou Eduardo. Para quem deseja acompanhar o desenvolvimento do projeto pode acompanhar pelas redes sociais.
 
 
 
Você sabia?
 
Curiosidades sobre curicaca
 
As aves medem cerca de 69 centímetros de comprimento, têm cerca de 43cm de altura, um bico longo e curvo, pescoço esbranquiçado ou alaranjado, peito alaranjado, dorso cinza-esverdeado e partes inferiores negras, além das pernas avermelhadas. Também são conhecidas pelos nomes de curicaca-comum, curicaca-de-pescoço-branco, curucaca e despertador.
 
 
Serviço
 
» Para ficar por dentro do projeto Aves da Janela, basta entrar nas redes sociais:
 
» Site: avesdajanela.vidasilvestre.org.br/
 
» Instagram: @avesdajanela 

 


Correio Braziliense terça, 10 de novembro de 2020

IDOSOS COMEMORAM A VIDA: A SAGA DOS VENCEDORES DA COVID-19

Capa do jornal Correio Braziliense 10/11/2020

IDOSOS COMEMORAM A VIDA
 
A saga dos vencedores da covid-19
 
Considerados do grupo de risco, idosos do Distrito Federal falam sobre a experiência com a doença, desde o diagnóstico após os 60 anos até o sentimento de alegria com a volta para casa e a recuperação

 

ANA CLARA ALVES*, CAROLINE CINTRA

Publicação: 10/11/2020 04:00

 

Maria Ivone e o marido, Humberto Brandim, venceram a covid, ambos aos 62 anos. A filha do casal, Amanda, e o neto, Arthur, também recuperaram-se (Fotos: Arquivo Pessoal)  

Maria Ivone e o marido, Humberto Brandim, venceram a covid, ambos aos 62 anos. A filha do casal, Amanda, e o neto, Arthur, também recuperaram-se

 

 

Eles fazem parte do grupo com mais chances de apresentar um quadro grave da covid-19. Agora, os idosos que conseguiram se recuperar da doença tentam levar uma vida melhor e mais saudável. Desde o início da pandemia, muitos redobraram os cuidados, para evitar a infecção pelo novo coronavírus. No entanto, o medo de não melhorar acompanhou-os desde antes do diagnóstico, pois pacientes com mais de 60 anos lideram o ranking de mortes provocadas pelo Sars-Cov-2. Para quem teve a oportunidade de sobreviver a essa fase difícil, a superação veio acompanhada de uma alegria de viver mais intensa. Brasilienses com mais de 60 anos que enfrentaram a covid-19 contam ao Correio como passaram pelo tratamento e compartilham relatos sobre a vida após a contaminação.

 

Moradora de Taguatinga Sul, Maria Ivone Costa Brandim, 62 anos, tomava todos os cuidados em casa, antes de ser diagnosticada com a covid-19. Ela saía apenas para ir ao mercado, mas sempre usando máscara e álcool em gel nas mãos. Mesmo com o medo e com as restrições impostas, a aposentada tentou seguir com a vida. Porém, um dia, sentiu dores nas costas e visitou um posto de saúde. Ela não passou pelo teste para detecção da doença, mas recebeu uma medicação e voltou para casa. De madrugada, começou a sentir febre e acabou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas.

 

O diagnóstico saiu no fim de maio. “Precisei ficar 14 dias internada no Hospital de Campanha do Mané Garrincha, porque tive 50% do pulmão comprometido. No início, eu não acreditava que a doença fosse tão terrível. Só quando a gente pega sabe o quanto é sério”, ressalta Maria Ivone. “Faz muito tempo que saí (da unidade de atendimento) e, até hoje sinto dores, no pulmão. Era desesperador. Fiquei apavorada, porque dependia do oxigênio até para ir ao banheiro”, relata.

 

A alta médica veio acompanhada do alívio. Embora estivesse fraca, devido ao tratamento e à gravidade da doença, a aposentada considera que superar a fase de contaminação gerou uma sensação boa. “Traz esperança. Espero não pegar mais uma vez”, completa. O marido dela, Humberto Brandim Lima, 62; a filha dela, Amanda Costa Brandim, 40; e o neto, Arthur Brandim Bianchi, 8, também tiveram a doença e estão recuperados. Mas, entre todos eles, Maria Ivone foi a única que precisou de internação.

 

Com Maria da Conceição Souza, 74, a situação não terminou da melhor forma. Embora tenha vencido a covid-19, ela perdeu o marido, João Teobaldo Silva Pereira, 77. Os dois descobriram a doença na mesma semana e foram internados no Hospital de Base, em 17 de agosto. Ele teve 60% do pulmão comprometido; ela, 55%. “Nós dois estávamos em estado grave. Ele morreu em uma quinta-feira, e deixaram para me contar uma semana depois, porque eu vinha me recuperando bem. Mas Deus estava me preparando para aquela perda. Eram 53 anos de casados, cinco filhos. Não é fácil”, lamenta a aposentada.

 

Maria da Conceição conta com o acompanhamento de um fisioterapeuta, para recuperar-se mais depressa. Apesar da melhora, ficaram sequelas. “Só tenho a agradecer mesmo, porque estou viva. Estou velhinha, mas amo viver”, comemora. “Acho que a maior dádiva é poder ter mais uma chance. Eu tive e não vou desperdiçar. Hoje, quero minha família mais perto. Assim como meu marido gostava de ver a casa sempre cheia, com os netos correndo por toda parte, sei que ele está me olhando e que quer me ver bem”, acrescenta.

 

 

Teresinha ficou internada, mas presença do filho Marcelo ajudou no processo  

Teresinha ficou internada, mas presença do filho Marcelo ajudou no processo

 

Contato

 

 

Teresinha França, 67, sempre preferiu ficar dentro de casa. Com a pandemia, intensificou esse hábito, assim como os cuidados com a higiene. Mesmo assim, acabou infectada pelo novo coronavírus. “Não sei como peguei a doença. Desconfio que tenha sido com meu filho, que trabalha em hospital”, conta. O filho, Marcelo Vianna, 43, trabalha no Hospital de Base, na área de captação de órgãos. Ele também se contaminou, mas teve sintomas leves.

 

A doença apareceu de forma discreta. Teresinha começou a ficar sem apetite, desanimada, aérea e sem forças até para escovar os dentes. A moradora do Riacho Fundo 1 passou 15 dias internada no Hospital das Forças Armadas (HFA), com febre, falta de ar e 75% dos pulmões comprometidos. Felizmente, não precisou ser intubada.

 

A parte mais desesperadora, recorda-se Teresinha, foi não poder receber visitas. Durante a internação, ela só conseguiu ver os filhos e o marido por videochamada. A força para lutar contra a doença ficou maior quando o filho Marcelo apareceu para ver como estava a mãe. “Sou uma pessoa muito família. Pensei que não fosse voltar para casa e só orei e pensei ‘Tenho de viver pelos meus filhos e netos’. Os fisioterapeutas até vieram com o celular, para eu poder falar com meus parentes, mas eu não conseguia, só sabia chorar”, diz.

 

Hoje, recuperada, Teresinha ainda sente muito cansaço e precisa fazer exercícios de respiração, para fortalecer os pulmões. Apesar disso, ela sente-se vitoriosa por ter se recuperado e da covid-19. “Tenho de agradecer a dedicação que os médicos tiveram comigo. Tive muita fé e recebi muito carinho”, completa.

 

 

João de Paula foi recebido com festa surpresa pela mulher, Irene Félix  

João de Paula foi recebido com festa surpresa pela mulher, Irene Félix

 

 Emoção

 

 

A volta para a casa do aposentado João de Paula Félix, 94, deixou todos tomados pela emoção. A recepção ficou a cargo da mulher, Irene Félix, 83, que recebeu o marido de braços abertos. Os vizinhos do mesmo prédio aguardavam o retorno ansiosos, nas janelas, prontos para receber o colega com aplausos. O sorriso no rosto revelava a vontade de viver. “Ele sempre fez atividade física e se alimenta super bem, porque gosta de ser saudável. Ele é meu herói, meu ídolo. Eu esperava que ele fosse sair bem dessa. Ele é forte demais”, relata Beto Félix, 59, filho de João de Paula.

 

O idoso também é avô do deputado distrital Fabio Félix (Psol). Na data em que saiu do hospital, o parlamentar publicou um vídeo nas redes sociais, com registros de toda a trajetória na unidade de saúde em que ficou João de Paula. “Meu avô venceu a covid-19. Eu estou muito feliz e não tenho palavras para explicar. Só tenho a agradecer a todas as pessoas que mandaram mensagens positivas. Vovô Félix, a gente te ama”, publicou o parlamentar.

 

João de Paula saía de casa apenas para ir a consultas médicas, mas sempre com máscara e um frasco de álcool em gel. Ele passou 40 dias no hospital. Hoje, em casa, é acompanhado por uma enfermeira, que auxilia com a fisioterapia e a ginástica. “Ele ficou intubado na UTI (unidade de terapia intensiva) e ficamos com medo de ele não aguentar, porque teve 60% do pulmão comprometido. Chorei por três dias seguidos, quase desidratei. Um amigo meu era atleta e morreu novo por causa dessa doença”, comenta Beto. “Ele (o avô) sempre foi muito perseverante. Quando começou a receber visita, teve mais forças para querer sair dali”, completa o neto.

 

*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio 

 

Palavra de especialista

 

Acolhimento

 

Para se recuperar bem, é preciso trabalhar o pensamento positivo e escolher ficar bem. Fazer o tratamento certo, alimentar-se da forma adequada, hidratar-se, além de manter o pensamento positivo e firme de que vai haver uma melhora. É preciso dedicar-se a isso. A doença fica impregnada na cabeça. Assim, sentimentos como medo e ansiedade podem atrapalhar. O ideal é ter pensamentos tranquilos e positivos. Se o paciente está em casa, é sinal de que o organismo está reagindo bem. Por isso, o apoio familiar e de amigos é fundamental. O idoso tem necessidade de estar com os parentes por perto, de ser acolhido. Quando estamos debilitados, o aconchego é ainda mais bem quisto. Como não se pode manter o contato físico nesse período de recuperação, vale manter a proximidade por meio de videochamadas, ligações. Tudo isso faz com que o paciente se sinta mais querido, e isso acalenta.


Correio Braziliense segunda, 09 de novembro de 2020

URUBU É DEPENADO POR GALO MINEIRO

Jornal Impresso

BRASILEIRÃO

Urubu é depenado por Galo mineiro
 
 
Flamengo volta a jogar mal defensivamente, e o Atlético, de Jorge Sampaoli, aplica goleada de 4 x 0, no Mineirão. Após o resultado, torcida pede demissão, nas redes sociais, de Domènec Torrent

 

Publicação: 09/11/2020 04:00

O clube mineiro não tomou conhecimento do forte elenco do rubro-negro carioca e jogou com extrema facilidade durante toda a partida (Pedro Souza / Agência Galo / Atético)  

O clube mineiro não tomou conhecimento do forte elenco do rubro-negro carioca e jogou com extrema facilidade durante toda a partida

 



Com um início alucinante, ao marcar dois gols em em apenas oito minutos, o Atlético-MG lavou a alma ao golear o Flamengo por 4 x 0, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, ontem, e assumiu a vice-liderança do Campeonato Brasileiro. A partida foi válida pela 20ª rodada.
 
A vitória encerrou um jejum de quatro jogos e fez o Atlético-MG chegar aos mesmos 35 pontos do Flamengo, mas passou na frente por causa do número de vitórias (11 contra 10). Quem comemorou foi o Internacional, que segue na liderança com 36. O time mineiro, porém, tem um jogo a menos do que seus principais concorrentes. A partida também marcou a terceira vitória por 4x0 do treinador Jorge Sampaoli em cima do rubro-negro. Além do galo, o argentino massacrou o Flamengo à frente de Santos e Universidad de Chile.
 
Além de perder a chance de assumir a ponta, o Flamengo foi goleado pela segunda rodada seguida. No último final de semana, o time levou 4 x 1 do São Paulo, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Não é à toa que tem a segundo pior defesa do Brasileirão, com 29 gols sofridos em 20 jogos.
 
O início da partida fez jus às expectativas criadas. Réver cortou cruzamento de Filipe Luis e a bola sobrou para Éverton Ribeiro finalizar rente à trave. Aos cinco minutos, Savarino cruzou rasteiro para Eduardo Sasha, que se antecipou a Gustavo Henrique e mandou no canto de Hugo Souza, colocando o Atlético-MG na frente. Aos oito, em um contra-ataque, Savarino achou Keno livre de marcação dentro da área. O atacante dominou e bateu colocado, sem chances para o goleiro rubro-negro.
 
Abatido, o Flamengo só foi conseguir chegar com perigo aos 20 minutos em chute de Thiago Maia para fora, após bonito passe de primeira de Éverton Ribeiro. O Atlético-MG continuava sendo mais perigoso. Aos 30, Alan Franco finalizou e Hugo Souza espalmou. Cinco minutos depois, William Arão ficou com a sobra dentro da área após cobrança de escanteio e bateu nas mãos de Éverson. Na sequência, Natan cabeceou rente à trave do goleiro atleticano, que só observou.
 
Logo no primeiro minuto do segundo tempo, Pedro cabeceou e Éverson fez grande defesa. No rebote, com o gol aberto, Bruno Henrique finalizou no travessão. O Flamengo tentava a reação, mas levou um balde de água fria aos 14 minutos. Guilherme Arana cortou Thiago Maia e cruzou na medida para Eduardo Sasha completar de peixinho.
 
Em mais uma falha da defesa flamenguista, Zaracho recebeu passe preciso de Savarino e bateu na saída de Hugo Souza para fazer o quarto gol atleticano aos 37 minutos. O Atlético-MG volta a campo no próximo, sábado contra o Corinthians, às 19 horas, na Neo Química Arena, em São Paulo, pela 21ª rodada do Brasileirão. No mesmo dia, o Flamengo recebe o Atlético Goianiense no Maracanã.

Correio Braziliense domingo, 08 de novembro de 2020

BRASILEIRÃO: GUARDIÕES DA BELEZA DO JOGO

Jornal Impresso

BRASILEIRÃO
 
Guardiões da beleza do jogo
 
Na contramão de chutões e ligações diretas, Atlético-MG e Flamengo defendem a saída de bola com toques desde a defesa. Relatório da Uefa comprova tendência. Treinadores apontam vantagens e os riscos

 

DANILO QUEIROZ
MAÍRA NUNES

Publicação: 08/11/2020 04:00

 
 
 
 (Bruno Cantini/Atlético MG )  
Com o desembarque dos técnicos estrangeiros no país, cresce o número de times interessados em resgatar o que o futebol brasieliro zelava nos tempos românticos: a saída com toque de bola desde a defesa, em vez de chutões e ligações direta da defesa ao ataque. Estratégia reinventada pelo técnico argentino Ricardo La Volpe à frente da seleção do México na Copa do Mundo de 2006, e popularizada por Pep Guardiola.
 
Auxiliar do técnico catalão no Barcelona, Bayern e Manchester City Domènec Torrent explora o recurso no Flamengo. O gringo Jorge Sampaoli, também, no Atlético-MG. Hoje, o time carioca e o mineiro submetem a nem sempre segura opção tática aos jurados, às 18h15, no Mineirão, no principal duelo da abertura do segundo turno do Brasileirão. 
 
A Liga dos Campeões da Europa aponta que a tendência de saída com bola na base do toque está enraizada no Velho Mundo. Relatório técnico da Uefa aponta que, na edição 2019/2020, 24% das saídas foram com bolas curtas. Finalistas, PSG e Bayern são os que mais utilizaram o recurso: 45% e 42% dos reinícios, respectivamente.
 
“No total, houve seis gols marcados de movimentos que começaram com tiro de meta curto para jogador dentro da área — e 44 chutes dessas sequências de jogadas”, descreve o relatório. A saída da zaga com a bola no chão exalta a qualidade do futebol, mas pode ser fatal na perda de bola. O levantamento da Uefa mostra, ainda, que a marcação alta do adversário costuma complicar as saídas curtas. Ocasionou 1.148 erros. Desses, 217 acabaram em conclusões à meta e 30 em gols marcados.
 
Expoente da nova safra de técnicos do futebol do Distrito Federal, Hugo Almeida é um dos defensores da reposição com o controle da bola. Na visão do treinador, membro do sub-16 do Sporting de Lisboa, essa é a maneira mais eficiente de envolver o adversário, encontrar espaços no campo e progredir até o gol adversário. Porém, ele destaca que, conforme o contexto da partida, também não se opõe a utilizar lançamentos longos para aproveitar as brechas.
 
Para Hugo, a segurança em ter a bola dominada é maior do que em disputa, como ocorre nas chamadas ligações diretas. “Há um maior envolvimento e possibilidade de movimentação, desorganização e desestruturação do sistema defensivo adversário, aclarando muito mais espaços e possibilidades de chegada ao gol adversário”, opina. 
 
Risco
 
 (Alexandre Vidal/Flamengo)  
 Mesmo defensor do modelo, o treinador campeão da segunda divisão do Candangão 2018 com o Capital ressalta alguns pontos negativos de iniciar as jogadas com passes curtos. “O fato de a equipe, geralmente, estar em zonas próximas à própria meta e em situações de desequilíbrio fazem com que o menor erro cometido dê ao adversário oportunidades mais claras para marcar”, salienta. Atlético e Flamengo sofreram gols recentes em falhas na saída de bola.
 
Minimizar os erros, segundo Hugo, está atrelado ao trabalho e à confiança. “A repetição, acompanhada de feedbacks por parte do treinador e da equipe técnica, levam ao aprimoramento e à evolução na execução da tomada de decisão assertiva”, explica. Para Hugo, todo o sistema defensivo é primordial na construção de jogadas com bola no pé. “O papel não é meramente enfeite ou capricho.”
 
Vilson Tadei, técnico do Gama, se diz a favorável a tudo que é futebol bem-apresentado, “desde que o jogador tenha confiança para fazer, principalmente o goleiro, que é o desafogo nesse tipo de jogada”.
 
Comandante do bicampeão candango , ele usa o Flamengo como exemplo. “O elenco é extremamente habilidoso, experiente e com jogadores de nível de Seleção Brasileira, com muita confiança. Mesmo assim, quando pega um adversário muito bom e que marca bem, pode cometer erros.”
 
A confiança é classificada por Tadei como crucial para colocar em prática a saída de bola de pé em pé para não se apavorar com uma marcação mais alta que pressione o erro. “Agora, tudo é assim, os times marcam na linha alta. Quisera eu jogar nessa linha alta, porque eu não tinha medo”, comenta Tadei. Ex-jogador, ele atuou como meia nas décadas de 1970 e 1980, sagrando-se campeão brasileiro como camisa 10 do Grêmio em 1981. Treinador desde 1991, ele ressalta as condições dos gramados na atualidade. “O sair jogando e usar o goleiro como se usa no futebol de salão é muito legal, principalmente hoje, com gramados uniformes, que propiciam esse tipo de jogada”, observa.


18h15

Mineirão Belo Horizonte
Brasileirão  20ª rodada
Transmissão  pay-per-view


Atlético-MG 
Everson; Mariano (Guga), Alonso, Réver e Arana; Jair, Allan, Nathan, Savarino, Keno; Sasha (Marrony)
Técnico: Jorge Sampaoli

Flamengo
Hugo Souza; Isla, Gustavo Henrique, Natan e Filipe Luís; Arão, Thiago Maia, Gerson e Everton Ribeiro; Bruno Henrique e Pedro
Técnico: Domènec Torrent
 
Árbitro: Sávio Pereira Sampaio (DF)
 

Correio Braziliense sábado, 07 de novembro de 2020

RÉVEILLON: PREPARAÇÃO PARA CELEBRAR

Jornal Impresso

RÉVEILLON
 
Preparação para celebrar
 
As festas de fim de ano serão bem diferentes, por causa do novo coronavírus. Mesmo assim, quem trabalha com a organização de confraternizações começou o planejamento, para garantir as tradições do Natal e do ano-novo, apesar da crise econômica

 

CAROLINE CINTRA
MARIANA MACHADO

Publicação: 07/11/2020 04:00

A chef de cozinha Ana Claudia Morale trabalha com serviço de bufê e teve de se adaptar: menos eventos, mas relação mais próxima com clientes (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

A chef de cozinha Ana Claudia Morale trabalha com serviço de bufê e teve de se adaptar: menos eventos, mas relação mais próxima com clientes

 



Quando o ano chega ao fim, é hora de juntar amigos e família para confraternizar. Seja no Natal ou no ano-novo, a tradição inclui festas, ceias e reuniões. No entanto, devido à pandemia do novo coronavírus, o cenário em 2020 não será o mesmo. Por isso, os segmentos que promovem festas buscam saídas criativas. “O mercado começa a se movimentar agora. As confraternizações serão diferentes. As empresas com 30, 40 funcionários vão levá-los para eventos drive-in. As que têm mais colaboradores optarão por espaços maiores e abertos”, prevê Luís Otávio Neves, presidente do Sindicato das Empresas de Promoção, Organização, Produção e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos do Distrito Federal (Sindeventos). Ele espera a recuperação do setor no começo do próximo ano, caso a vacina contra a covid-19 esteja em aplicação no DF.
 
Para quem oferece serviço de bufê, o ano é de adaptações. A chef de cozinha Ana Claudia Morale, 35 anos, estava acostumada a, nesse período, preparar cardápios para confraternizações de empresas e para ceias de 15 ou mais pessoas. “Neste ano, tenho certeza de que as festas serão pequenas. Mas a gente espera que, com a melhoria do mercado, venham vários pequenos eventos que compensem ou equilibrem a perda (por causa) dos grandes”, afirma.
 
Ela oferecerá quatro menus diferentes, com duas opções de lanche e duas de jantar. Para a ceia, o peru sai de cena, dando lugar a opções menores: tender e bacalhau. “As grandes aves são para jantares com muitas pessoas. Em uma ceia para quatro, não adianta, porque vai sobrar muito. Se houver demanda, vamos trabalhar com peru e chester também”, comenta Ana Claudia. Ela está otimista e acredita, inclusive, que fará contratações temporárias. “Na pandemia, tivemos perdas de eventos grandes, mas ganhamos muito em relacionamento com o cliente, que, hoje, sente-se mais ouvido. E eu faço as coisas baseadas no pedido direto deles. A internet nos trouxe isso”, avalia a chef.


O gerente-geral Jean Nogueira adotou ações rigorosas em hotel do Lago Sul (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

O gerente-geral Jean Nogueira adotou ações rigorosas em hotel do Lago Sul

 



 
Internet
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, as confraternizações do fim de 2020 serão diferentes daquelas de anos anteriores. Primeiramente, porque bares e restaurantes podem receber apenas metade do público máximo previsto para os espaços — como previsto em decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), para evitar a disseminação do novo coronavírus. Outro fator é a troca de presentes, que deve acontecer a distância. “As pessoas estão se adaptando. Se fosse há dois meses, as confraternizações não aconteceriam. Agora, sim, mas de outra maneira. Brasília tem um perfil diferente, pelo número grande de funcionários públicos. O 13º (salário) ainda vai movimentar bem a economia no fim de ano”, acredita Francisco.
 
Um estudo, publicado em novembro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), prevê que serão injetados R$ 5,6 bilhões no Distrito Federal, provenientes do 13º salário. A expectativa é de que as vendas virtuais tenham destaque e superem as presenciais. “Tem shopping que lançou plataforma de marketplace (para vendas on-line) com 14 mil produtos. O comércio tem de se adaptar e estar na rede para conseguir vender. Esperamos que as pessoas comprem muito, mas pela internet. Quem não está lá, tem de entrar”, recomenda Francisco. Também há boas expectativas para a contratação de funcionários temporários. Os comércios abrirão 2,4 mil novas oportunidades e, segundo a Fecomércio-DF, cerca de 70% das lojas devem efetivar os contratos. “Os estabelecimentos demitiram muito, e essa é uma boa chance para contratar novamente. Os empresários estão otimistas”, afirmou o presidente da federação.


Restaurante japonês de Raimundo Neto abrirá com capacidade reduzida (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Restaurante japonês de Raimundo Neto abrirá com capacidade reduzida

 



 
Réveillon
Às margens do Lago Paranoá, a queima de fogos do hotel Royal Tulip Alvorada consolidou-se como uma das principais celebrações de réveillon da capital federal. Em 2020, contudo, o público será reduzido, segundo gerente-geral, Jean Nogueira, 49. Além disso, as mesas terão distanciamento de 3,5 metros e a temperatura de todos será aferida na entrada do evento. “Temos um espaço para 1,6 mil lugares, e a festa costuma receber de 800 a 900 pessoas. Mas, neste ano, o evento será para 400. Limitamos a capacidade para garantir a segurança”, destaca.
 
Todos os anos, o evento é temático. Na virada para 2021, com uma mistura de elementos de circo e vinculados ao filme Alice no País das Maravilhas, os convidados poderão abusar da criatividade, sem deixar a saúde de lado. “A gente incentiva que o público traga máscaras vinculadas ao tema. Em um momento de tanta tristeza e apreensão, quisemos trazer alegria à nossa festa”, conta Jean.
 
Além do show de fogos de artifício e da ceia, uma das atrações será a apresentação de uma escola de samba, que tocará em área isolada, pois a pista de dança ficou suspensa nesta edição. Para garantir a segurança dos funcionários, o hotel adotou outra medida rigorosa: uma sirene que toca a cada duas horas na cozinha, para alertar sobre a necessidade de os funcionários lavarem as mãos e trocarem a máscara. “Inicialmente, a gente nem ia fazer a festa, mas algumas coisas estão se ajustando e, por isso, faremos nesse formato compactado”, completou o gerente-geral.
 
Alguns restaurantes vão apostar no almoço de Natal e de ano-novo, para atrair clientes que não querem cozinhar no dia das festas. Raimundo Neto, 40, gerente do Haná, na Asa Sul, conta que o salão do estabelecimento de culinária japonesa deve receber cerca de 40 pessoas. A capacidade está reduzida. “Todo o nosso cardápio será oferecido para encomendas. Geralmente, fazemos mais de 30 ceias, e o mais procurado são os combinados de sushi”, conta. Raimundo mantém as expectativas, pois alguns clientes fiéis têm ligado para saber como serão as entregas. Porém, ele também reconhece que a pandemia pode prejudicar as vendas. “A gente espera que este ano seja igual ou melhor do que o ano passado. Mas, colocando o pé no chão, pode acabar sendo mais fraco”, pondera.
 
Presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva considera que os hotéis do DF têm baixa movimentação nessa época do ano e que ainda não é possível falar em perspectivas para o período festivo. Ele também considera cedo para as empresas fazerem reservas de estabelecimentos, o que geralmente ocorre no fim de novembro. Mesmo assim, donos de negócios nesse ramo estão otimistas, apesar do cenário, e esperam bastante movimento nos bares. “Muitos vão fazer promoções de bebidas, como compre dois chopes e pague um. Tem os tira-gostos especiais, que são sempre atrativos. Os restaurantes montam sequência de entrada, prato principal e sobremesa, o que podem atrair muitas empresas também”, avalia.
 
Para ajudar na recuperação do movimento, o Sindhobar pretende apresentar ao Governo do Distrito Federal (GDF) uma proposta para aumentar o público em bares e restaurantes. “Estamos caminhando para o controle da doença (covid-19) no DF e vamos tentar aumentar a capacidade (dos estabelecimentos). Mas, se não for possível, tudo bem. Saúde em primeiro lugar, sempre. Isso é o mais importante”, destaca Jael Antônio. Enquanto isso, os espaços precisam seguir os protocolos de segurança, como verificação da temperatura dos clientes, garantia do uso de máscaras por parte dos visitantes, disponibilização de álcool em gel e disposição de mesas distantes umas das outras.
 
 
 
Três perguntas para
 
Breno Adaid, doutor em experiência do consumidor e professor do Centro Universitário Iesb
 
Com a pandemia, o que podemos prever para as festas de fim de ano? A procura pelos eventos será menor?
É esperado que a gente tenha uma modificação no padrão da festa. Várias pessoas, provavelmente, várias famílias vão optar por reunir menos gente, e alguns produtos que vendem muito nessa época não serão tão comprados. A procura por eventos com certeza vai ser menor, porque há uma redução natural de pessoas que não se sentem à vontade de estar em contato com muita gente, principalmente estranhos. Existe também um agravamento pelo fato de muita gente ter perdido o emprego e não se sentir confortável em gastar com evento, festa e presente.
 
Qual a alternativa para quem trabalha com bufês e para os restaurantes?
Segmentar. Oferecer a possibilidade de minieventos para as empresas que vão confraternizar, mas que podem fazer eventos menores. Em vez de oferecer um bufê grande, ofereça cinco pequenos, por departamentos, por exemplo. O foco é atender melhor, para menos gente. Quanto aos restaurantes, o público que os buscam é de famílias pequenas. Essas pessoas procuram um produto diferenciado. Vale para restaurantes de comida tradicional brasileira e para os que estão fora dessa linha também.
 
Esta é uma época em que, geralmente, há contratação de muitas pessoas. O que podemos esperar em relação aos empregos temporários?
O mercado de contratação temporária tende a ser menor, porque o consumo também tende a ser mais comedido. Isso não significa, necessariamente, um enfraquecimento.

Correio Braziliense sexta, 06 de novembro de 2020

PROMOTORA CONDENADA POR LITIGÂNCIA DE MA-FÉ

Jornal Impresso

Promotora condenada por litigância de má-fé
 
Eixo capital
 

 

Ana maria campos
anacampos.df@dabr.com.br

Publicação: 06/11/2020 04:00

 (Telmo Ximenes/Divulgação - 19/7/14 )  


Promotora condenada por litigância de má-fé
 
Uma condenação rara, se não for inédita no DF. Assim integrantes do Ministério Público do DF avaliaram a sentença que responsabilizou pessoalmente a promotora de Justiça Marilda Reis Fontineli, da 4ª Promotoria da Ordem Urbanística do DF. Ela foi condenada em decorrência de sua “conduta dolosa”, ao pagamento de custas e honorários advocatícios, em 10% sobre o valor da causa — R$ 100 mil. Trata-se de processo que questiona o alvará de funcionamento do Shopping JK (foto), na divisa entre Taguatinga Norte e Ceilândia. Esse montante representa R$ 10 mil. A sentença é do juiz Carlos Frederico Maroja de Medeiros, da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF, que também a condenou ao pagamento de multa por litigância de má-fé, no equivalente a 5% sobre o valor da causa, ou seja, mais R$ 5 mil.


Perseguição
 
Para o juiz Carlos Maroja, a promotora Marilda Reis Fontineli agiu por raiva do empresário Paulo Octávio, dono do shopping JK, e perseguição pessoal, ao ajuizar uma ação civil pública questionando acordo firmado entre o GDF e o shopping que permitiu a liberação da carta de habite-se do empreendimento. O acordo havia sido homologado em decisão judicial, com o aval de outras três promotoras. O juiz registrou: “A conduta temerária da autora foi evidenciada a não mais poder: promoveu a presente ação civil pública para pedir a desistência logo após a decisão indeferindo o pedido de liminar, o que denota inteira insegurança sobre a pretensão deduzida, além do desconhecimento do fato de que ações coletivas têm sua disponibilidade temperada, pela óbvia razão de que não defendem interesse particular do autor, e sim interesses coletivos do qual o autor é mero representante. Interpõe agravo e concomitante mandado de segurança contra o mesmo ato que denegou a homologação da desistência, todos rejeitados. Promove, concomitantemente, ação de nulidade e ação rescisória fundada nos mesmos fundamentos, o que é, ipso facto, ofensa ao Judiciário, posto que tal chicana é evidentemente pautada na nefasta ideia de que a jurisdição é jogo de azar”. Maroja ressaltou que não se trata de responsabilizar o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e sim a conduta pessoal da 
promotora. Cabe recurso em segunda instância.
 
 
 
Recurso
 
Em relação à condenação, a promotora Marilda Fontinelli divulgou nota: “Houve um rompimento total da sentença com a lei que rege a ação civil pública. Isso porque, nesse tipo de ação, os titulares dos direitos transindividuais não são os litigantes, mas aqueles que os representam. 

E quando se trata de representação pelo Ministério Público, este comparece em juízo como parte e não o promotor de Justiça”. E acrescentou: “Ao fazer a confusão entre MP e o promotor que representa a instituição, houve manifesta violação do sistema de tutela coletiva, o que certamente 
será objeto de reparo pelas instâncias revisoras”.


 (Danilson Carvalho/CB/D.A Press)  

Hackers em ação paralisam órgãos públicos
 
 
Órgãos públicos do país estão sob ataque de hackers poderosos. Invadiram o sistema do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e tentaram entrar na rede de tecnologia do GDF. Por precaução, a Secretaria de Economia do DF tirou todos os servidores do ar. Medida para preservar informações e evitar contaminações. Enquanto trabalha, a área técnica da pasta está em contato com policiais encarregados do caso. No STJ, o ataque foi bem grave. Começou na última terça-feira e provocou a suspensão de todas as audiências judiciais. O tribunal que forma a jurisprudência do país chega ao quarto dia de invasão com todo o sistema fora do ar. Muitos dados foram apagados e os técnicos em TI ainda não sabem identificar o que ocorreu. Os prazos processuais seguem suspensos pelo menos até a próxima segunda-feira. As demandas urgentes, como liminares em habeas corpus, estão centralizadas na Presidência do STJ. A Polícia Federal investiga o ataque cibernético. Sob sigilo.



Risco de contágio
 
Os servidores do STJ foram orientados a desinstalar o aplicativo de e-mail corporativo dos celulares, para evitar contaminações externas. A área de TI do STJ recomendou também aos usuários — ministros, servidores, estagiários e terceirizados — que não utilizem computadores, ainda que os pessoais, que estejam conectados com algum dos sistemas informatizados da Corte, até que seja garantida a 
segurança do procedimento.
 
 
Invasão pessoal
 
Os técnicos de TI do STJ estão preocupados com a possibilidade de os computadores pessoais e telefones celulares dos ministros tenham sido invadidos, também. Afinal, com o trabalho remoto, todos estão trabalhando de casa, usando a rede do tribunal. Esses hackers podem ter obtido acesso a dados sigilosos de processos e informações privadas de magistrados.
 
 
Resgate
 
Os servidores do STJ receberam uma mensagem de um suposto técnico do tribunal. Identificado como Uriel, ele afirma que o ataque é do tipo ransomware, um tipo de software que bloqueia o acesso ao sistema infectado e cobra um resgate em criptomoedas para que o acesso possa ser restabelecido. Mas a mensagem é de autoria incerta porque a investigação corre sob sigilo.
 
 
Fichinha
 
Pelo que se comenta no STJ, os hackers de Araraquara (SP) que entraram em celulares de várias personalidades públicas são “fichinha” perto destes.

Correio Braziliense quinta, 05 de novembro de 2020

A RETOMADA DO EMPREGO NO DF

Jornal Impresso

A retomada do emprego no DF
 
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pelo terceiro mês consecutivo, o saldo de postos formais é positivo no Distrito Federal. O cenário aponta para uma possível recuperação do mercado e maior criação de vagas

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 05/11/2020 04:00

Após três meses desempregado, o chef de cozinha Francisco Célio Ribeiro retornou ao mercado de trabalho (Samara Schwingel/CB/D.A Press)  

Após três meses desempregado, o chef de cozinha Francisco Célio Ribeiro retornou ao mercado de trabalho

 

 
Pelo terceiro mês consecutivo, desde o início da pandemia da covid-19, o Distrito Federal registrou um saldo positivo na criação de empregos formais. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, em setembro, o saldo foi de 2,7 mil vagas formais ocupadas na capital federal. Neste cenário, especialistas consideram que o mercado de trabalho do DF começa a reagir, mas que ainda é necessário ter atenção aos índices de desemprego da região. 
 
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), afirma que os dados podem ser vistos como positivos. “Os números demonstram uma gradativa recuperação do mercado de trabalho brasiliense, uma vez que abril e maio foram tão ruins para a economia de forma geral”, declara. Ele explica que o saldo positivo demonstra que o número de admissões foi maior do que o de demissões. “É uma reação dos setores à reabertura. As empresas que demitiram pessoas no início da pandemia estão recontratando”, complementa Bergo. 
 
Após o início da crise sanitária, este saldo ficou negativo por quatro meses, atingindo, em abril, uma queda de 15 mil na criação de empregos formais. No entanto, em julho, o número voltou a ser positivo e, até setembro, resultou em um acumulado de 7.112 novas vagas. César Bergo considera que a quantidade de pessoas admitidas nos últimos três meses faz parte de uma recuperação da economia, mas acredita que ainda é cedo para afirmar que a crise acabou. “Novembro e dezembro também devem registrar um aumento no número de vagas preenchidas. Porém, só poderemos ter certeza de que caminhamos para uma retomada econômica após o primeiro trimestre de 2021”, completa. 
 
Francisco Célio Ribeiro, 40 anos, foi um dos brasilienses que conseguiram um emprego formal nos últimos três meses. Após ser desligado do antigo emprego de chef de cozinha em uma rede de hotéis, ele ficou 90 dias desempregado. “As portas estavam fechadas e eram poucas vagas disponíveis”, considera. Apenas em julho, por meio da indicação de um conhecido, ele assumiu o cargo de subchef em um restaurante de outra rede de hotéis da região. O morador de Ceilândia reconhece a importância de ter um emprego fixo e formal, principalmente durante a pandemia. “As contas não param. Essa crise afetou todo mundo e estou muito feliz por ter conseguido uma vaga, pois conheço diversas pessoas que estão com dificuldade para se realocar no mercado”, explica. 
 
Desemprego 
 
Acompanhando os bons números de vagas formais, o número de desempregados no DF apresentou queda no último mês. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego, divulgada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), 288 mil brasilienses estavam desempregados em setembro. O número é 0,7% menor do que o registrado no mês anterior e está 2,3% abaixo do índice assinalado em abril. 
 
Apesar da melhora, o número de desocupados é grande e preocupa. Francisco Antônio Coelho, professor do departamento de administração da Universidade de Brasília (UnB), afirma que para que os índices continuem a crescer é preciso investir em políticas públicas de incentivo às empresas particulares. “Incentivos fiscais e tributários são essenciais para que os negócios continuem gerando empregos e mantendo os empregados. Também é importante proporcionar políticas públicas de qualificação, pois quanto mais qualificadas, mais oportunidades as pessoas têm no mercado de trabalho. Além disso, é indicado investir na regularização dos empregados informais”, completa. 
 
Diante dos dados, o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Trabalho (Setrab), afirma que o grande desafio é a formalização e a qualificação profissional. A pasta lançará, ainda em novembro, o programa Renova, que qualificará cerca de três mil pessoas nas áreas de carpintaria, jardinagem, eletricista, encanador, serralheria e pedreiro. Além de se qualificar, o aluno receberá uma bolsa de R$ 1.045 e poderá atuar em espaços públicos, revitalizando os equipamentos, como praças e jardins. Outro programa citado pelo governo é o Prospera, que, neste ano, emprestou mais de R$ 6 milhões em carta de crédito aos microempreendedores.


Covid-19: 453 casos e 12 mortes

Com mais 453 casos e 12 mortes, o Distrito Federal alcançou, ontem, o total de 214.655 infectados pelo novo coronavírus e 3.719 (1,7%) óbitos. A informação foi publicada em boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde. Segundo a pasta, do total de casos, 205.973 pessoas (96%) estão recuperadas da covid-19. O documento também mostra que há uma tendência de queda no número de casos e de mortes na capital federal, além de redução na taxa de transmissão da covid-19, registrada em 0,78. Ceilândia continua à frente no ranking das regiões com maior número de infectados, com 26.377 casos. Depois, vem Taguatinga (17.828) e Plano Piloto (17.300). Nos três locais, o percentual de óbitos é alto, com valores acima de 2,1%.


Empregos formais  

*Saldo de vagas 
(admissões menos demissões)
 
» Janeiro 199
» Fevereiro 4.186
» Março  -8.348
» Abril -15.340 
» Maio -5.115
» Junho -2.547
» Julho 960
» Agosto 3.421
» Setembro 2.731 

Fonte: Caged, Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Ministério da Economia 
 

Correio Braziliense quarta, 04 de novembro de 2020

CRIATIVIDADE: UMA EXPERIÊNCIA (DIFERENTE E LUCRATIVA)

Jornal Impresso

Uma experiência (diferente e lucrativa)
 
Roteiro de economia criativa, associada ao design da capital federal, é aposta para movimentar o turismo de Brasília. Empresários e especialistas destacam que a cidade tem grande potencial para se tornar um grande centro do ramo

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 04/11/2020 04:00

Os traços que compõem a capital do país, aliados a uma série de ações criativas, fazem de Brasília uma referência para o turismo (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Os traços que compõem a capital do país, aliados a uma série de ações criativas, fazem de Brasília uma referência para o turismo

 

 
Há três anos, os traços e características de Brasília renderam o título de cidade criativa do design concedido à capital federal pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A partir desse reconhecimento internacional, um roteiro turístico de economia criativa, associada ao design da cidade, se transformou em aposta para atrair turistas e empresários do ramo que desejam explorar Brasília de uma forma diferente. De acordo com especialistas, esse tipo de turismo é tendência no mundo e pode ser uma das maneiras de alavancar a economia local.
 
A coordenadora das Câmaras Empresariais da Fecomércio-DF, Caetana Franarin, explica que essa economia é uma área que trabalha com criatividade e capital intelectual. “É um setor que abrange desde projetos musicais e editoriais até a arquitetura e design de uma cidade”, afirma. Para a especialista, a associação desses segementos de conhecimento podem ser utilizadas na organização de um roteiro turístico. “Atualmente, as pessoas procuram por lugares autênticos e que oferecem experiências diferentes do comum. E associar economia criativa com toda essa realidade de cultura, design e gastronomia é um insumo perfeito para o turismo”, considera.
 
Ressignificar a W3 Sul e dar visibilidade a criadores brasilienses são ideais que fazem parte da filosofia de negócios de Miguel Galvão, 35. O empreendedor está a frente de dois projetos criativos de Brasília e diz que este mercado tem potencial na cidade. “São ideias, filosofias de vida e formas de expressão variadas que oferecem ao público experiências autênticas, orgânicas e únicas, que só existem em Brasília”, afirma Miguel. Apesar de acreditar na capacidade da capital federal de crescer junto a essa área, ele acredita que é preciso um incentivo maior. “Temos de ir muito além de apenas abrir a avenidas, como a W3, para passeio. Uma forte e ousada política de incentivo fiscal aos negócios criativos, assim como foi feito em outras experiências de sucesso, podem dar frutos incríveis a médio prazo”, completa.

Reinaldo Gomes:  

Reinaldo Gomes: "Aqui há diversas possibilidades para se trabalhar"

 



 

"São ideias, filosofias de vida e formas de expressão variadas que oferecem ao público experiências autênticas, orgânicas e únicas, que só existem em Brasília" Miguel Galvão, empresário e artista

 


Elisângela Barros:  

Elisângela Barros: "A ideia é começar pelo que já é conhecido"

 



Reinaldo Gomes, 44, é proprietário de uma empresa de produção cultural. Além de realizar eventos para exaltar a cultura local, produz conteúdos voltados ao tema. Ele também acredita que Brasília tem um bom potencial para crescer e se destacar na área de economia criativa. “Seja voltada ao design da cidade, às manifestações artísticas ou aos próprios artistas locais, aqui há diversas possibilidades para se trabalhar e fomentar este mercado”, considera. Além disso, ele explica que características da capital brasileira contribuem. “O clima, a disposição e as características de mobilidade são facilitadores para a implementação de roteiros turísticos voltados à economia criativa e ao design”, completa.
 
Para o empresário, a junção dessas áreas é um caminho fácil e certeiro para alavancar a economia local. “É um negócio limpo, criativo e que tem condições de beneficiar diversos setores ao mesmo tempo. É a economia do século 21. Por isso, acredito no investimento nesta modalidade”, afirma. Reinaldo ainda diz que iniciativas que fomentem este setor são necessárias para chamar a atenção de turistas, investidores e dos próprios brasilienses. “Muitas pessoas moram em Brasília e não conhecem a capacidade turística que a cidade tem além do que já é conhecido”, considera.
 
Expectativas
 
Além de atrair empresários, fomentar o turismo criativo atrelado ao design da cidade pode ser uma forma de chamar a atenção para o turismo na capital federal para além do roteiro de negócios e político. A coordenadora de Turismo do Serviço Social do Comércio do DF (Sesc-DF), Elisângela Barros Silva, também acredita que essa é uma oportunidade de mostrar um lado da cidade que muitos não conhecem. “A ideia é começar pelo que já é conhecido, mas acrescentar novas rotas e maneiras de se olhar para a cidade”, afirma.
 
A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, afirma que a pasta tem a intenção de investir nesta área. “O turismo criativo sob o olhar do design é uma potência no mundo inteiro. Brasília se fortalece pela diversidade de experiências que oferece aos visitantes e moradores. Vai muito além do que as pessoas imaginam”, destaca. A secretária ainda diz que a junção das categorias é uma das apostas da pasta para fomentar o turismo local. “Brasília tem uma atratividade muito grande e profissionais muito capacitados e talentosos capazes de atraírem um público cada vez maior”, completa.


Itinerário
 
Em 2021, o Serviço Social do Comércio do DF (Sesc-DF) disponibilizará um roteiro turístico focado na economia criativa e design da capital federal. O intuito é apresentar um itinerário com atrativos que se enquadram no nicho contemporâneo de empreendimentos com o viés criativo na cidade. Serão manifestações culturais e instalações que destacam Brasília como cidade do design, o que inclui Itamaraty, Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, caminhada pela vizinhança da 308 Sul e, para finalizar, uma degustação gastronômica na Infinu.


Saiba mais

Cidades criativas da Unesco
Além de Brasília, outras nove cidades brasileiras têm o título de cidade criativa cedidos pela Unesco. São elas: Belo Horizonte, Belém, Florianópolis e Paraty (RJ), no campo da gastronomia; Brasília, Fortaleza e Curitiba, no do design; João Pessoa, em artesanato e artes folclóricas; Salvador, na música; e Santos (SP), no cinema. Ao conquistar o título, as cidades têm a oportunidade de participar de projetos estratégicos em âmbito internacional e fomentar a indústria criativa local de forma sustentável e inclusiva. As últimas do Brasil a receberem os títulos, cedidos a cada dois anos, foram Belo Horizonte e Fortaleza, em 2019.

Correio Braziliense terça, 03 de novembro de 2020

GALINHA PINTADINHA - OS PREFERIDOS DA CRIANÇADA - DUETO COM SIDNEY MAGAL

Jornal Impresso

GALINHA PINTADINHA
 
Os preferidos da criançada

 

» Adriana Izel

Publicação: 12/10/2020 04:00

O canal da Galinha Pintadinha divulga, hoje, dueto com Sidney Magal (Galinha Pintadinha/Divulgação)  

O canal da Galinha Pintadinha divulga, hoje, dueto com Sidney Magal

 



Por sermos seres musicais desde a experiência na barriga das mães, quando escutamos os sons do corpo das matriarcas, a música tem um papel importante no desenvolvimento infantil. Seja na educação, seja na identidade cultural. A partir desses princípios surgiram há alguns anos dois projetos voltados para o público mirim em que a música é o grande mote. Ambos são brasileiros, têm milhões de visualizações no YouTube e já alçam voos para além do território do país: a Galinha Pintadinha, criada em 2006; e o Mundo Bita, nascido em 2011.

Idealizado pelo cantor e compositor Chaps Melo, o Mundo Bita nasceu no Recife, nos estúdios da Mr. Plot, produtora de conteúdo fundada ao lado dos sócios João Henrique Souza, Enio Porto e Felipe Almeida, todos já com a experiência de serem pais. O que era para ter sido um livro digital acabou se tornando num projeto de música infantil. “A nossa base é a música. O primeiro conteúdo é sempre a música, depois vão se desenvolvendo as outras partes”, explica Melo.

Ele diz que o projeto nasceu de forma amadora e intuitiva, mas com o objetivo de mostrar a força e o poder da música para as crianças. “Primeiramente, é um ponto forte de educação e ensino, depois permite que a criança acesse identidades culturais, passeando pelos vários estilos. Só isso aí já é uma forma de educação”, avalia o responsável pelas composições.

Com sucessos como Fazendinha, Que saudade que eu tô e Viajar pelo safari cantados por Bita (o apresentador do circo de bigode ruivo), os vídeos levam a criançada à loucura e ficam na cabeça tanto dos pequenos, quanto dos pais. A originalidade e a linguagem são os principais diferenciais do projeto musical. “A gente não pensa na música limitando o raciocínio da criança, menosprezando a forma de pensar dela. No começo, até isso tenha sido uma barreira, devido aos produtos musicais infantis serem tão dentro de uma caixinha. Mas, no final das contas, virou nosso segredo, a forma de comunicação que a gente tem com as crianças. A forma como a gente escreve nossas poesias e textos, sempre com um tema para ser explicado dentro daquele universo”, completa Chaps Melo.

Por causa do Dia das Crianças, celebrado hoje, o Mundo Bita preparou uma programação especial, que começou no último dia 2 com o lançamento do single e clipe Querida chupeta, bye-bye. Hoje, o canal ganha uma série, intitulada Imagina-se. No próximo dia 23, será lançado o clipe da versão de Festa na lagoa, com o grupo de samba Casuarina. Vale lembrar que nomes como Milton Nascimento e Alceu Valença também já gravaram com o projeto. No dia 30, o Mundo Bita lança o Estúdio Bita, em que Chaps Melo fará um pocket show especial ao lado de uma banda. “A gente não ficou fora dessa onda das lives, fizemos duas comigo cantando e os shows presenciais não são comigo. Então, ficava essa cobrança e veio essa ideia da lives. Então, o Estúdio Mundo Bita vai unir esse desejo dos fãs”, revela.

Celebração aos clássicos


Também foi a partir da música que surgiu a ideia da Galinha Pintadinha, criada por Juliano Prado e Marcos Luporini. Os amigos queriam celebrar o cancioneiro infantil, mas de uma forma diferente. Assim, veio a ideia da animação, que tem a galinha cantando músicas que ultrapassaram gerações como Dona Aranha, Pintinho amarelinho, Sambalelê e Borboletinha.

“Esse repertório que a gente trabalha já tinha sido muito trabalhado em vinil, disco, fita cassete, por Xuxa e outras artistas, mas nunca tinha sido usado em desenho animado. A gente acabou tendo essa inovação e trazendo essa linguagem que era nova e que se encaixou com os meios digitais que estavam surgindo”, comenta Prado.

Para ele, o motivo do sucesso é realmente esse: a força das músicas. “Elas tiveram um papel muito importante para que o público conhecesse a Galinha Pintadinha. Porque são músicas que os pais sentem vontade de ensinar aos filhos. Também tem a linguagem colorida e a nossa entrada nas mídias digitais”, completa o criador.

Atualmente, com vários conteúdos, como séries e shows, a Galinha Pintadinha celebra, hoje, o dia dos pequenos com o lançamento da versão de Meu sangue ferve por você gravado em parceria com Sidney Magal, intérprete da clássica canção. Será divulgado o clipe no canal do YouTube e a versão em áudio nas plataformas digitais. Além disso, o projeto ganhará em breve uma série de vídeos de contos clássicos contados pela Galinha Pintadinha ao Pintinho Amarelinho. Na lista, histórias como Chapeuzinho Vermelho e Três porquinhos. “O nosso mote sempre foi trabalhar os clássicos da música, e agora dos contos. Queríamos ser uma referência dos clássicos brasileiros”, admite Prado.

  • Singela — Músicas para bebês

    De Marcus Moraes. Independente, 12 faixas. Disponível nas plataformas digitais

Correio Braziliense segunda, 02 de novembro de 2020

SÃO PAULO HUMILHA FLAMENGO E SONHA ALTO

Jornal Impresso

 

 
Volpi em dia de Ceni
 
 
Goleiro defende dois pênaltis, dá lançamento para gol e vira o protagonista da goleada do São Paulo sobre o Flamengo. Bruno Henrique e Pedro desperdiçam as cobranças e Gustavo Henrique vira vilão na defesa

 

Publicação: 02/11/2020 04:00

O goleiro tricolor defende a cobrança de Bruno Henrique no primeiro tempo: lance abateu Flamengo e deu ânimo para a virada do São Paulo no Maraca (Rubens Chiri/saopaulofc.net)  

O goleiro tricolor defende a cobrança de Bruno Henrique no primeiro tempo: lance abateu Flamengo e deu ânimo para a virada do São Paulo no Maraca

 

Em uma de suas melhores atuações na temporada, o São Paulo surpreendeu e goleou o Flamengo por 4 x 1, no Maracanã, com direito a grande atuação de Tiago Volpi. Em dia de Rogério Ceni, maior ídolo da história do clube, o goleiro pegou dois pênaltis e deu até lançamento para gol. O resultado fez o time paulista se manter na briga pela parte de cima da tabela e frustrou os cariocas. O atual campeão esperava assumir a liderança isolada do Campeonato Brasileiro.
 
O São Paulo figura no quinto lugar da classificação, com 30 pontos, a cinco do líder Internacional. O Flamengo, com a mesma pontuação do time gaúcho, perdeu a chance de se isolar na ponta após a derrota do Inter para o Corinthians, no sábado à noite.
 
Apesar da goleada, o goleiro Volpi foi o destaque do jogo. Ele pegou as penalidades cobradas por Bruno Henrique e Pedro e ainda deu uma assistência para o quarto gol, marcado por Luciano. O goleiro mais uma vez fez a diferença em pênaltis, como aconteceu contra o Fortaleza, quando pegou uma penalidade e ajudou a classificar o time para as quartas de final da Copa do Brasil.
 
Flamengo e São Paulo protagonizaram um belo jogo. Com os dois times apostando no ataque, a partida teve virada no placar, VAR, pênalti perdido e duas equipes que procuram o gol o tempo todo.
 
De olho na liderança isolada do Brasileirão, o Flamengo começou mais em cima e logo aos cinco minutos abriu o placar. Pedro recebeu passe de Vitinho, ganhou de Bruno Alves e bateu da entrada da área, no canto direito de Volpi. O gol fez o São Paulo avançar a marcação e pegar o time carioca de surpresa. Aos 17, a zaga do Fla cortou errado um cruzamento de Sara e deixou na medida para Tchê Tchê, que não é muito de finalizar ao gol, ajeitar e de dentro da área acertar uma bomba, sem chances para o goleiro Hugo.
 
O confronto continuou em um ritmo intenso, com as duas equipes apostando em marcações mais altas, mas sem apelar para violência O Flamengo ficava mais com a bola no pé e teve uma grande oportunidade de marcar o segundo gol aos 29. Após checar o VAR, o árbitro marcou pênalti de Diego em Everton Ribeiro. Bruno Henrique cobrou a penalidade e Volpi saltou e fez uma grande defesa. O lance parece ter feito bem ao time paulista, que voltou a ter mais iniciativa e movimentação e assim chegou ao gol da virada.
 
Aos 45, após boa troca de passes, Reinaldo cruzou rasteiro. Gustavo Henrique desviou e acabou ajeitando para Brenner chutar e marcar o segundo gol tricolor. Na volta do intervalo, parecia que o São Paulo era quem estava perdendo. O time voltou pressionando e conseguiu chegar ao terceiro gol em cobrança de pênalti.
 
Aos 13, Gustavo Henrique cometeu a penalidade em Bruno Alves. Reinaldo bateu com categoria e ampliou a vantagem são-paulina. Enfim, o Flamengo “voltou” para o segundo tempo e tentou descontar, mas Volpi estava em um dia inspirado.
 
Três minutos depois do gol de Reinaldo, Daniel Alves derrubou Gérson na área e mais um pênalti foi marcado. Pedro bateu e Volpi pegou outra vez, para desespero dos flamenguistas. A partir daí, o Flamengo resolveu partir para cima e virou um jogo de ataque x defesa. Aos 31, Gomes chegou a acertar um chute na trave, mas foi só.
 
O dia era do São Paulo. Aos 36, Volpi deu longo lançamento para Luciano. O atacante ganhou de Natan e bateu cruzado, sem chance para Hugo, e transformou a vitória em goleada. Um dia em que deu praticamente deu tudo certo para o time paulista e um resultado que pode dar maior confiança para o duelo contra o Lanús, quarta-feira, no Morumbi, pela segunda fase da Copa Sul-Americana.

Correio Braziliense domingo, 01 de novembro de 2020

O DIREITO DA CIDADANIA - A JUSTIÇA MAIS PERTO DA COMUNIDADE

 

Jornal Impresso

O direito da cidadania
 
 
 
Comunidades carentes do Distrito Federal ganharam voz com o programa Justiça Comunitária, que completou 20 anos de existência este ano. A iniciativa desenvolve ações afirmativas junto à população para lidar com questões sociais

 

CIBELE MOREIRA

Publicação: 01/11/2020 04:00

Com ajuda do programa Justiça Comunitária, moradores de Samambaia debatem problemas da região (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  

Com ajuda do programa Justiça Comunitária, moradores de Samambaia debatem problemas da região

 

“Feito pela comunidade e para a comunidade”. Esse é o principal lema do programa Justiça Comunitária, que completou 20 anos de existência este ano. A iniciativa desenvolvida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) procura desenvolver a atuação cidadã entre os moradores de regiões carentes da capital. “É uma prática social transformadora. Um programa escolar que oferece curso de formação para que a própria população possa lidar com os conflitos e entender os direitos e deveres de cada um”, afirma a juíza Gláucia Falsarella Pereira Foley, 52 anos, idealizadora do projeto.
 
A ideia surgiu quando a magistrada participou do projeto Juizado Itinerante — que atende a comunidades do DF com dificuldade de acesso à Justiça formal. Em um ônibus adaptado para a realização de audiências, foi possível identificar algumas carências que a população tinha. “Embora tivesse um índice de acordo muito grande, as pessoas saíam insatisfeitas. Precisávamos democratizar outras coisas além do acesso ao juiz”, destaca. “Durante essa experiência, percebi que muitas pessoas não conhecem os seus direitos, não sabem dialogar para resolver um conflito, não se organizam para solucionar problemas coletivos”, explica.
 
Foram necessários dois anos para a elaboração do programa até a implementação, em 20 de outubro de 2000. Com trabalhos em três eixos: acesso à informação de direitos; circulação de rede para trabalhar demandas coletivas; e mediação de conflitos. Quem protagoniza as ações é a própria comunidade por meio de agentes comunitários. Os voluntários passam por um curso de formação promovido pelo TJDFT.
 
“A gente oferece o suporte, com informações técnicas, mas com a experiência deles. Vamos só complementando”, ressalta Thais Andreozzi, 37, psicóloga e supervisora do programa desde 2016. De acordo com ela, atualmente, existem 46 agentes comunitários do programa nas regiões de Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e cinco em São Sebastião em uma parceria com o Ministério Público.
 
Dentro das ações desenvolvidas com a comunidade, estão projetos com atuação específica. Como o programa Vozes da Paz, que oferece espaço de diálogos dentro das escolas em uma conversa horizontal entre pais, alunos, professores e diretores. Há também o projeto Ubuntu, que desenvolve trabalhos com reflexões sobre questões raciais e o Dores e Delícias de ser Mulher, que aborda a temática de gênero.
 
Para Thais Andreozzi, o programa Justiça Comunitária é uma enorme oportunidade de desenvolver e estimular a participação da população. “É possível focar em uma outra forma de convívio, com uma outra perspectiva”, ressalta. Ao longo dos últimos 20 anos, percebeu-se uma mudança de comportamento nas regiões em que o projeto é atuante.
 
Na escola
 
Desenvolvido desde 2013, em escolas públicas nas regiões de Ceilândia e Samambaia, o programa Vozes da Paz reduziu significativamente a quantidade de conflitos em ambiente escolar. “A repercussão do nosso trabalho nas escolas foi mais perceptível. Os alunos aprenderam a expressar suas necessidades e, com isso, o índice de violência diminuiu. E não só entre os estudantes, mas também com professores, diretores e servidores”, ressalta a juíza Gláucia Foley.
 
Com o intuito de promover diálogos de forma horizontal, em que todos têm poder de fala igual, o programa permitiu a participação ativa de toda a comunidade escolar e fora dos muros do colégio. “Muitos pais foram até a escola para saber o que andava acontecendo com os seus filhos, mas de uma forma positiva. Porque eles não podiam ver um conflito dentro de casa que já queriam uma roda de conversa para resolver a situação. Isso é uma revolução”, destaca a magistrada.
 
“As próprias crianças perceberam o que precisavam mudar. Teve uma situação em uma escola que chamou minha atenção. Os alunos perceberam que, na hora do intervalo, tinha colegas que ficavam isolados, sem alguém para conversar. Ao notar isso, eles desenharam na parede duas mãos. A criança que está se sentindo sozinha tocava em uma das mãos desenhadas e uma outra aparecia para conversar”, conta Larissa Estevan Rodrigues da Silva, 29, uma das agentes comunitárias atuante em Samambaia.
 
Catadores
 
Larissa lembra que conheceu o programa Justiça Comunitária em 2013, quando estava cursando serviço social. Uma das atividades complementares do curso era acompanhar o projeto com os catadores após a desativação do Lixão da Estrutural.
 
“O que mais me chamou a atenção foi a forma que a Justiça Comunitária tratou a questão. Ouvindo os catadores, levantando soluções. A gente vê tanto o governo chegando com uma ideia pronta e presenciar um diálogo aberto me fez ter vontade de participar do programa também”, relata.
 
Mas foi apenas em 2018 que ela integrou a equipe de agentes comunitários. Anteriormente, não havia frente de trabalho do programa em Samambaia. E, para participar, é necessário morar na região. Pois apenas quem mora ali, que faz parte daquela comunidade, é que vai entender as demandas locais. “Fiquei muito feliz quando vi as inscrições para o Justiça Comunitária em Samambaia. Eu pensei: Agora é minha vez”, conta.
 
Entre os trabalhos desenvolvidos está a mobilização dos moradores em relação a um terreno vago onde acumulava lixo. “Na Quadra 515, de Samambaia, tinha um espaço que era utilizado para jogar entulho. Conseguimos mobilizar a comunidade, retirar o lixo. Fazer melhorias perto do ponto de encontro, como a poda de árvores, com a administração”, exemplificou Larissa.
 
Com a pandemia do novo coronavírus, os encontros com os moradores para debater melhorias para a cidade estão — temporariamente — suspensos. No entanto, as mediações de conflitos e rodas de conversas estão ocorrendo de forma virtual.
 
Seminário on-line
 
Para marcar os 20 anos de existência do programa Justiça Comunitária, um seminário on-line será promovido em 12 e 13 de novembro. O I Seminário Nacional de Mediação Comunitária — Construindo um Futuro de Paz ocorre em parceria com o programa EUROsociAL da União Europeia. O evento debaterá questões relacionadas à mediação comunitária, além de compartilhar experiências internacionais e traçar estratégias políticas para o fortalecimento da prática. Na ocasião, será lançada a 2ª edição do Manual de Mediação Comunitária elaborado pela juíza de Direito do TJDFT Gláucia Foley e pela consultora Célia Passos. O seminário será aberto para todos e ocorrerá na plataforma Zoom. Para participar, é necessário preencher uma ficha de inscrição disponível no site do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
 
Você sabia?
Referência
Em 2005, o Justiça Comunitária foi o vencedor da 2ª edição do Prêmio Innovare, na categoria Tribunal de Justiça, e desde então tem sido apontado como referência nacional pelo Ministério da Justiça.
 

Correio Braziliense sábado, 31 de outubro de 2020

THIAGO GALHARDO: O GABIGOL DO INTER

Jornal Impresso

THIAGO GALHARDO,

O Gabigol do Inter
 
Com 15 gols no primeiro turno, artilheiro do Inter pode superar marca do ídolo do Flamengo se fizer dois gols no duelo de hoje à noite contra o Corinthians.  (Ricardo Duarte/Internacional)
 

 

MAÍRA NUNES

Publicação: 31/10/2020 04:00

Artilheiro da Série A do Brasileirão com 15 gols, Thiago Galhardo pode fechar o primeiro turno contra o Corinthians, hoje, às 19h, na Neo Química Arena, com mais gols do que Gabriel Barbosa. A essa altura do campeonato de 2019, o atacante do Flamengo terminou a metade da competição com 16. Neste ano, porém, uma lesão no ligamento do tornozelo direito sofrida contra o Independiente del Valle, pela Libertadores, afasta Gabigol dos gramados há um mês. O goleador rubro-negro atuou em apenas nove jogos do Nacional. Balançou as redes por cinco vezes. A média é de 0,56 gol por partida.


Enquanto se recupera, Gabigol assiste ao embalado Galhardo se aproximar das marcas que o elevaram a goleador do ano passado. O atacante colorado de 31 anos vive a melhor fase da carreira. Pelo Brasileiro, disputou 17 jogos e ostenta quase um gol por partida (0,9). A última vítima do camisa 17 do Internacional foi justamente o Flamengo, no domingo passado, em confronto direto pela liderança. Com o empate por 2 x 2, o Colorado segue no topo da tabela, ambos com 35 pontos. Amanhã, o time da Gávea receberá o São Paulo, às 16h, no Maracanã.


Gabigol chegou ao Flamengo em 2019 como o artilheiro do Brasileirão graças ao empenho com a camisa do Santos na temporada anterior. Galhardo virou referência do ataque do Internacional após a lesão do centroavante peruano Paolo Guerrero. Há seis anos, porém, esse cenário parecia distante. Em 2014, o então jogador do Brasiliense na Série D viu o time candango perder a vaga para a terceira divisão para o Brasil-RS, nos pênaltis, após ter sido expulso. Passada a frustração, teve passagens por Madureira, Coritiba, Red Bull Brasil e Ponte Preta até embarcar rumo ao futebol japonês para defender o Albirex Niigata.


Antes de jogar no Brasiliense, a cria do Bangu havia perambulado por sete times, entre eles, o Botafogo, no Brasileirão de 2011. Depois da experiência fora do Brasil, em 2017, o atacante retornou aos gramados nacionais vestindo a camisa do Vasco pelos dois anos seguintes. Também jogou no Ceará, no ano passado, antes de ser sondado por Grêmio e Botafogo e assinar contrato com o Internacional. Nesta temporada, ele anotou 20 gols em 37 jogos, somando os 15 do Nacional com os cinco do gaúcho.


Na Libertadores, Galhardo passou em branco nas sete oportunidades que entrou em campo defendendo o Internacional. A próxima chance será contra o Boca Juniors, em 25 de novembro, pelas oitavas de final. Diferentemente da performance no Brasileiro, o atacante mineiro de São João del Rei está distante de igualar o feito de Gabigol na edição passada do torneio continental. Artilheiro do torneio com nove gols em 12 jogos, o camisa 9 do Flamengo foi decisivo na conquista do título do clube carioca. Em 2020, marcou um gol nas quatro vezes em que atuou pela competição. Ao menos, ele voltou a participar dos treinos, ontem, no Ninho do Urubu.

Motivação

Com os titulares descansados, o técnico Eduardo Coudet quer repetir a demonstração de força apresentada diante do Flamengo, há uma semana, para ganhar e ficar bem perto do título simbólico do primeiro turno.


Um triunfo simples frente o Corinthians faz o time colorado fechar o turno com 38 pontos e 16 gols de saldo. O Flamengo poderia igualar os pontos, mas teria de golear o São Paulo por cinco gols de diferença para ultrapassar. O Atlético-MG, outro com chances de bater os 38 pontos, precisaria ganhar seus dois jogos e também fazer cinco gols de saldo a mais.


Por fim, ainda aparece o São Paulo com chances de superar o Inter. Desde que vença não apenas o Flamengo, no Rio, como seus outros três jogos atrasados na tabela para bater 39 pontos.
Dificilmente o Internacional não será o campeão simbólico ganhando hoje. Treze dos 17 times que viraram o turno na frente dos pontos corridos ergueram a taça no fim. Os gaúchos têm esses números na ponta da língua. E querem engrossar o retrospecto positivo.

 

Corinthians manda Sidcley embora

A novidade no Corinthians é a dispensa de Sidcley. O jogador chegou por empréstimo do Dínamo de Kiev no início do ano, mas em 10 meses de Corinthians não demonstrou empenho para entrar em forma. De titular absoluto nos primeiros jogos, deixou o clube, ontem, como a terceira opção.
A saída vai ao encontro da declaração do técnico Vagner Mancini após a derrota para o América-MG por 1 x 0 pela Copa do Brasil. “Se há um desequilíbrio ao longo da temporada, estou aqui para tentar resolver. Não vou tentar esconder aquilo que acontece dentro de campo”, disse. “Vou atrás de soluções, sejam de uma forma agradável ou não. Não vou ficar assistindo passivamente uma equipe que não dá um chute no gol durante o jogo.”


A irritação de Mancini faz da escalação uma incógnita, especialmente no setor ofensivo. Jô é dúvida porque ainda se recupera de lesão. Se ele for vetado, Boselli deve ganhar chance. Everaldo volta para o banco. Vale lembrar que o treinador não contará mais com Mantuan neste ano. Ele rompeu ligamento do joelho direito em amistoso da Seleção sub-20. Mateus Vital e Ramiro podem dar lugar a Otero e Cantillo. Mancini também tem a opção de trocar o volante Cantillo por Xavier. 


Correio Braziliense sexta, 30 de outubro de 2020

VALORIZAÇÃO DA BELEZA AFRO

Jornal Impresso

VALORIZAÇÃ DA BELEZA AFRO
 
Capital S/A
 
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Clarice Lispector, escritora

 

Samanta Sallum
samantasallum.df@cbnet.com.br

Publicação: 30/10/2020 04:00

 (Arquivo Pessoal)  


Afro & Cia, uma empresa 
de sucesso e autoestima
 
 
Valorizar a beleza afro tornou Adriana Ribeiro, 42 anos, referência nacional como empresária e consultora de imagem. Uma história de empreendedorismo, que começou no espaço improvisado na garagem da casa da mãe, há 15 anos. Hoje, a Afro&Cia Ponto Chic é uma marca forte nas redes sociais e chama a atenção de mulheres de todo o Brasil. Na lista de espera, 619 clientes para serem atendidas. “Eu recebia cerca de 60 por dia. Mas, com a pandemia, o meu salão ficou fechado por alguns meses e agora só atendo 30 por dia, de acordo com o protocolo de saúde.” 

O espaço, de 200m² e 25 funcionários, fica no Riacho Fundo e atrai clientes de todas as regiões do DF, de outros estados e até de fora do país, como diplomatas. “De juíza a doméstica, eu atendo no Ponto Chic. A maior parte delas são negras. Mas também recebo mulheres brancas. O que todas querem é valorizar a beleza natural dos cabelos. Crespo, ondulado, todos os tipos. Eu ajudo, na minha consultoria, a pessoa a enxergar a sua própria beleza e, assim, não sentir necessidade de se encaixar em velhos padrões”, conta Adriana.

Cursos on-line
 
Ela criou a primeira escola de beleza afro no Brasil, onde está à frente de cursos on-line e presencial para profissionais da área e também clientes. Oferece um conjunto de dicas e ensinamentos sobre como tratar os cabelos mesmo quando não se vai ao salão, que produtos usar, sobre maquiagem e, especialmente, afirmações para autoestima. Adriana já recebeu proposta para abrir franquia da empresa. E planeja outras unidades no DF.

 (Reprodução/Redes Sociais)  



Criatividade
 
A empresária lembra-se das dificuldades no caminho. Principalmente para obter financiamentos. “Eram quantias pequenas que eu precisava para ir ampliando o negócio e sempre enfrentava a desconfiança por ser mulher. Uma burocracia muito grande”, lamenta. Depois de enfrentar vários obstáculos para se consolidar como empresária, segurar as pontas, durante a pandemia, foi menos difícil. Não demitiu funcionário algum, mesmo com o salão fechado. “Me virei. Fizemos serviço delivery, voucher para atendimento futuro, consultorias on-line. A mulher sempre tem a competência questionada. Mas, nós sabemos enfrentar as dificuldades com criatividade.”


Aprovada lei que apoia mulher empresária
 
Como Adriana Ribeiro, no DF, existem cerca de 120 mil donas de pequenos e grandes negócios e esse número deve aumentar. A Câmara Legislativa aprovou lei que gera incentivos ao empreendedorismo feminino. O texto cria uma série de medidas para garantir suporte às mulheres no âmbito empresarial. De autoria do deputado distrital Leandro Grass (Rede), foi elaborado a partir de uma demanda da Câmara de Mulheres Empreendedoras da Fecomércio-DF. Os deputados aprovaram a 
proposta na quarta-feira.


Elas são responsáveis por 36% do setor na capital federal
Fonte: Sebrae-DF


Vítimas de violência doméstica
 
A lei prevê a criação de vagas de emprego para mulheres, acesso a linhas de crédito para pequenas e médias empresárias, com prazos de carência diferenciados, realização de cursos e concessão de bolsas de estudo. Também foi criado um fundo direcionado ao financiamento de atividades de mulheres vítimas de violência doméstica. O estudo do Banco Mundial “Mulheres, Empresas e o Direito”, que analisa e compara a legislação sobre empreendedorismo feminino de vários países, foi referência para a construção da proposta, que também teve apoio da Secretaria da Mulher do GDF.


 (Divulgação)  
Potencial econômico do lago
 
Os donos de embarcações comerciais de Brasília estão se organizando para criar uma associação e, assim, melhorar o aproveitamento econômico do Lago Paranoá. A ideia é organizar um roteiro turístico integrado, no qual o passageiro possa embarcar e desembarcar em diversos pontos, a exemplo do que ocorre em cidades como Paris, Amsterdã, Londres e Nova York. Na avaliação deles, o potencial turístico e econômico do lago ainda não foi explorado. Para isso, é necessária a infraestrutura adequada com píeres e marinas públicas para atender os visitantes e moradores de Brasília. Com as restrições da pandemia, o local é cada vez mais procurado como opção de lazer ao ar livre.


Transporte clandestino, prejuízos e risco
 
A Abrati, associação que representa o setor de ônibus interestadual, chama a atenção para o aumento de 30% do transporte ilegal, durante a pandemia, com as restrições ao regular. Alerta que as viagens realizadas por um dos aplicativos de transporte rodoviário clandestino já somam mais de 500 embarques, somente no Distrito Federal, nos últimos 10 dias. Por isso, às vésperas do feriadão, a entidade lançou uma campanha sobre riscos de embarcar em veículo irregular.

Correio Braziliense quinta, 29 de outubro de 2020

DIA NACIONAL DO LIVRO - AMOR À LEITURA

Jornal Impresso

Amor pela leitura
 
Hoje é comemorado o Dia Nacional do Livro. A data marca a fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, em 1810, quando a Biblioteca Real Portuguesa foi transferida para o Rio de Janeiro. Conheça o universo de brasilienses apaixonados pela literatura

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 29/10/2020 04:00

Projeto Mala do Livro %u2014 Biblioteca Domiciliar surgiu para atender à comunidade de Samambaia. Hoje, está espalhado por várias regiões do DF (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Projeto Mala do Livro – Biblioteca Domiciliar surgiu para atender à comunidade de Samambaia. Hoje, está espalhado por várias regiões do DF

 


Viajar pelo mundo e visitar outras culturas sem sair do lugar. Ler um livro pode ser algo prazeroso, instigante, que faz refletir e que proporciona ensinamentos sobre assuntos diversos. No Dia Nacional do Livro, comemorado hoje, o Correio conversou com leitores apaixonados por esse universo. Clubes de leituras que tiveram de se adaptar com a realidade da pandemia e brasilienses que encontram na literatura uma forma de transformar vidas, como a professora Viviane Maria Souza, 37 anos. 
 
“A literatura me salvou de tudo que podia dar errado na minha vida”, afirma Viviane, que atualmente promove um projeto de incentivo à leitura para alunos do Centro de Ensino Fundamental 405, do Recanto das Emas. “O Mergulhando na Leitura começou no ano passado. Como é uma região carente, arrecadei livros e elaborei um planejamento para a implementação do projeto”, conta. No início, era proposto uma aula de 50 minutos para os alunos lerem. “Depois, eles mesmos pediram mais tempo e as aulas passaram a ser duas vezes na semana”, pontua. 
 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Quando veio o ensino remoto, devido à pandemia da covid-19, o desafio aumentou. “É uma turma nova de alunos do 7º ano. Como iria fazê-los parar para ler por 25 minutos? Comecei, então, com textos pequenos, contos da Clarice Lispector, e deu supercerto. Agora, estamos lendo Vinte mil léguas submarinas, de Júlio Verne”, relata. A professora fez um tutorial de como baixar o e-book, que estava mais acessível para os estudantes, e indicou plataformas gratuitas para que eles pudessem ler.
 
“Nos 15 anos de trabalho, eu finalmente encontrei o que quero fazer para minha vida. A gente consegue trabalhar tudo na leitura. E eles têm uma realidade parecida com a minha. Lembro que, na minha época, eu não conhecia nada além da minha cidade, e os livros me proporcionaram uma visão de mundo”, ressalta Viviane.
A professora também faz desafios literários com premiações em livros. “É uma sementinha que estou plantando”, afirma. Durante o isolamento social, ela também aproveitou para ler mais. “Já ultrapassei a minha meta do ano de ler 40 livros. Já li 42 e ainda tenho mais para ler”, conta. 

Realizado desde 2017, o Lendo Mulheres migrou para o on-line durante a pandemia  (Reprodução)  
Realizado desde 2017, o Lendo Mulheres migrou para o on-line durante a pandemia
Para Thayná Carvalho, 25, o prazer da leitura foi incentivado pelo pai. “Ele foi a pessoa que me apresentou aos livros. Aos 12 anos, já tinha carteirinha na biblioteca e sempre estava lendo algo. É um hábito que procuro seguir”, relata a moradora de Ceilândia. Durante o isolamento social, o desejo de compartilhar a leitura com outras pessoas aumentou. Sem poder se encontrar presencialmente com os amigos, ela aderiu ao clube de leitura informal. “Tem aqueles livros que a gente quer ler, mas não tinha surgido a oportunidade. E ter mais pessoas querendo ler o mesmo livro dá um incentivo”, explica Thayná, que faz parte de dois grupos, um de livros literários e outro, de contos. “Sempre quis participar de um clube de leitura. Como sou tímida, fazer com amigos está sendo uma ótima experiência”.
 
Clubes 
Os tradicionais clubes de leituras também tiveram de se adaptar à pandemia. O Lendo Mulheres, realizado na capital desde 2017, migrou dos encontros na cafeteria para o on-line. “A gente sentiu um baque por não poder ter os debates presenciais. Além de falar sobre os livros, virou um encontro entre amigas. Então, lágrimas caíram com a notícia”, brinca a coordenadora do projeto, Renata Sanches, 53. Ela conta que o formato virtual deu certo. “Proporcionou a oportunidade de quem não conseguia ir nos encontros presenciais, por morar longe, de participar. O grupo até cresceu”, pontua. 
 
Das oito pessoas que integravam o projeto no início, agora são mais de 500 cadastrados e 80 ativas nas discussões e grupos nas redes sociais. “Com a flexibilização das atividades, a gente pensou se retornava com o presencial, mas temos muita gente acima dos 60 anos e também pessoas com doenças crônicas. Então, decidimos manter até janeiro com os debates a distância”, afirma. 
 
O Clube de Leitura da Biblioteca Nacional de Brasília também se adaptou muito bem ao formato on-line. “Foi durante a pandemia que tivemos o nosso recorde de participantes. Em julho, 24 pessoas marcaram presença no debate do livro A Vegetariana, da sul-coreana Han Kang”, destacou um dos organizadores, Rodrigo Mendes Pereira, 43. “Teve muita gente de fora de Brasília que participou. Foi uma interação muito boa. Provavelmente vamos continuar com algo no on-line”, pontua. 
 
O bibliotecário organiza os encontros junto com mais outros quatro colegas que trabalham na Biblioteca Nacional de Brasília.
 
Mala do Livro
O projeto Mala do Livro — Biblioteca Domiciliar completou, na última segunda-feira, 30 anos de existência. A iniciativa surgiu em 1990, pela bibliotecária Neusa Dourado Freire, com o intuito de atender à comunidade de Samambaia com livros. “O programa iniciou com cestas de palha com livros infantis e infantojuvenis para crianças e adolescentes daquela região. Literatura brasileira, estrangeira e livros didáticos também 
eram colocados à disposição ”, conta a gerente do projeto, Maria José Lira Vieira, 67. 
 
Em 1996, o Mala do Livro expandiu-se para outras regiões do DF. Atualmente, há 193 malas registradas com aproximadamente 200 livros, cada, sendo 107 domiciliares e 86 em instituições públicas e privadas. “Esse é um trabalho louvável. Estamos dando acesso à leitura para todos, valorizando o livro físico”, destaca. 

Correio Braziliense quarta, 28 de outubro de 2020

HORA DE PENSAR NA MEMÓRIA DE BRASÍLIA

Jornal Impresso

Hora de pensar na memória de Brasília
 
Reforma no Bloco B, na 314 Sul, levantou discussões sobre a valorização de obras arquitetônicas da capital federal. Não há lei que proíba alterações e reparos em edificações residenciais do Plano Piloto. Polêmica dividiu opiniões entre moradores do DF

 

» BÁRBARA FRAGOSO
» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 28/10/2020 04:00

Azulejos do arquiteto Eduardo Negri, no Bloco B da 314 Sul estavam deteriorados e serão substituídos por novas peças de uma artista brasiliense (Arquivo Pessoal)  

Azulejos do arquiteto Eduardo Negri, no Bloco B da 314 Sul estavam deteriorados e serão substituídos por novas peças de uma artista brasiliense

 



A retirada de azulejos projetados pelo arquiteto Eduardo Negri, colega de Oscar Niemeyer, em um prédio 314 Sul, gerou polêmica e dividiu opiniões entre moradores e profissionais da área de arquitetura. A obra no pilotis do Bloco B traz um debate acerca da preservação arquitetônica e da estética de Brasília. O condomínio alega que os azulejos, colocados na década de 1970, precisaram ser removidos por estarem danificados pelo tempo.
 
Não há uma legislação que proíba a modificação ou remoção de azulejos históricos em prédios residenciais no Distrito Federal. Contudo, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entidade responsável pela preservação do patrimônio cultural brasileiro, encaminhou, aos moradores da quadra, um documento elaborado pelo Grupo Técnico Executivo (GTE), composto pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação, pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), pela Secretaria de Defesa da Ordem Urbana (DF Legal) e pela Superintendência do Iphan recomendando a não retirada dos painéis.
 
A Diretoria de Preservação da Secretaria de Cultura recebeu reclamações sobre a respectiva edificação. A demanda foi encaminhada ao GTE. Por meio de nota oficial, a pasta explicou que zela pelos bens tombados isoladamente e que, no caso do Conjunto Urbanístico de Brasília, o Iphan e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) são os responsáveis. “Atualmente, não há um instrumento de proteção exclusivo para esta quadra ou bloco, seja referente às características arquitetônicas ou bens integrados, como o caso dos azulejos”, informou a Secretaria de Educação.
 
Debate
 
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU/DF) criticou a decisão do condomínio e apontou a remoção dos azulejos de Negri como “errônea”, diante da importância desses exemplares para a memória da capital em manter o patrimônio arquitetônico e histórico preservados. Em entrevista ao Correio, o presidente da entidade, Daniel Mangabeira, afirmou que não é contrário à reformas e considera que, muitas vezes, tornam-se necessárias. “O problema é quando essa modificação descaracteriza, desnecessariamente, um edifício que foi construído nessas décadas. Não podemos impedir que não o façam, mas procuramos instruir a sociedade da melhor maneira”, argumentou.
 
Segundo ele, em casos como esse, em que não há uma legislação que ampare ou resguarde o patrimônio de bens em edifícios residenciais, a sociedade, bem como os síndicos responsáveis, podem intervir. “Existe estudo e conhecimento. Um arquiteto, antes de dar procedimento à obra, deve saber a história do objeto. Um médico, por exemplo, antes de examinar o paciente, precisa ver o histórico. Essas são questões técnicas que o profissional deve saber. Se os azulejos estão caindo, é porque não houve manutenção. Nesse caso, mude para um revestimento igual ou similar”, pontuou.
 
O CAU/DF também recebeu reclamações referentes à retirada dos azulejos. “Não podemos impedir a reforma. Fizemos um documento e entregamos ao síndico, retratando a importância daquela edificação. Tudo está correto, mas a questão não é legal. Envolve o respeito à cidade. E, nesse sentido, vale sensibilizar os moradores, síndicos, arquitetos sobre a valorização do prédio. Mas, infelizmente, eles tomaram uma outra decisão”, lamentou Mangabeira.
 
Decisão
 
O síndico do bloco B da 314 Sul, Antônio Augusto Pinheiro, explica que a decisão da retirada foi aprovada pela maioria dos condôminos. “Há dois anos, fizemos uma reunião para tratar sobre a reforma do prédio. Foi feita uma assembleia e escolhemos um arquiteto que mantivesse a característica arquitetônica do bloco. Mas, infelizmente, não dava para manter os azulejos que estavam craquelando, manchados, deteriorando”, explica. De acordo com ele, em dezembro de 2019, foi apresentado o projeto de reforma e, em setembro deste ano, foi aprovado o início das obras. “Apenas o azulejo que não deu para reaproveitar e não dava para fazer um igual e colocar.”, ponderou.
 
Para a prefeita da quadra e moradora do bloco, Tereza Montenegro, a discussão sobre os azulejos de Eduardo Negri serviu como reflexão sobre os cuidados com o patrimônio da cidade. “Espero que, agora, as pessoas acordem para a preservação, sobre como querem ver a cidade. Não dá para pensar em manter algo que já está deteriorado. Tem de se pensar em algo preventivo. Cadê as fiscalizações nesse momento?”, questionou.
 
No local, serão colocados outros azulejos de uma artista brasiliense da mesma cor do antigo. O desenho será diferente, porém a premissa anterior e a estética original arquitetônica serão mantidos.
 
Para a arquiteta e urbanista Karla Madrilis, a falta de conhecimento da importância histórica dos prédios interfere diretamente para que haja a descaracterização das obras. “As pessoas precisam estar mais abertas para conhecer a arquitetura local e, assim, reconhecer a importância dela. O CAU e o IPhan, por exemplo, podem ajudar a informar a população nesse sentido. Não adianta condenar as pessoas envolvidas no reparo depois que o serviço é feito. Acho que todo edifício deve ter um conselho responsável pela manutenção do projeto, evitando diversos contratempos. É importante que a população considere que a cidade foi feita para ser coletiva”, ressalta Karla.
 
O Distrito Federal tem, aproximadamente, 1,5 mil edificações com obras de arquitetos no Plano Piloto, segundo dados do CAU/DF. Dessas, 30 foram selecionadas e identificadas como possíveis recebedoras de uma placa alusiva à obra, a ser fixada nas imediações, como reconhecimento da valorização arquitetônica. Os trabalhos são de iniciativa da Comissão Temporária de Patrimônio e foram iniciados em abril deste ano. Dos 30 edifícios, oito ganharão o selo. “Essa necessidade de que essas edificações tenham de passar por reforma está fazendo com que síndicos e moradores desconfigurem o projeto original”, disse Daniel Mangabeira.
 
Para a escolha dos prédios, levou-se em consideração o respeito à arquitetura original; a manutenção adequada das fachadas, de revestimentos e cores originais, sempre que possível; o respeito às linhas gerais de composição do edifício, de elementos originais e dos pilotis livres, sem cercamento.


Cores e azulejos
Autor de quase uma centena de blocos nas superquadras, Eduardo Negri foi colega dos mais presentes de Niemeyer. O uso da cor nas fachadas e os azulejos são marcas do seu trabalho. Na 314 Sul, todos os blocos foram projetados por ele. A 202 Sul também guarda projetos ainda preservados, como o bloco A, que foi restaurado.


1,5 
mil
Quantidade aproximada de edificações com obras arquitetônicas no Plano Piloto


Seleção do CAU/DF

Confira os edifícios que podem receber o selo de valorização arquitetônica do CAU/DF e os arquitetos decada projeto. Da esquerda para a direita:
 

 (Reprodução/CAU)  
 
SQS 203, Bloco C — Milton Ramos
SQS 303, Bloco A — Eduardo Negri
SQS 405, Bloco J — Paulo Barbosa Magalhães
SQS 309, Bloco E — Arnaldo Mascarenhas Braga
SQS 416, Bloco C — Eduardo Negri
SQS 311, Bloco F — Marcílio Mendes e T. Takada
SQS 312, Bloco F — Marcílio Mendes Ferreira
SQS 314, Bloco K — Eduardo Negri
SQS 210, Bloco C — Marcílio Mendes e T. Takada
SQS 204, Bloco K — Samir Kury
SQS 105, Bloco H — Hélio Uchoa
SQS 108, Bloco I — Oscar Niemeyer
SQS 113, Bloco F — Jaci Ferreira Hargreaves
SQS 113, Bloco H — Arnaldo Mascarenhas Braga
SQS 217, Bloco E — Francisco Dell Peloso
SQS 308, Bloco E — Marcelo Campelo e Sérgio R.
SQS 313, Bloco B — Manoel Hermano
SQS 402, Bloco K — Cornélio Moares Netto
SQS 404, Bloco K — Milton Ramos
SQN 416, Bloco H — Aleixo Furtado e Gerson Malty
SQN 112, Bloco E — Eliana Porto e Luiz A. Pinto
SQN 108, Bloco D — Manoel Hermano
SQN 107, Bloco F — Mayumi Watanabe e Sergio S.
SQN 106, Bloco F — autor desconhecido
SQN 205, Blocos I e J — Marcílio Mendes Ferreira
SQN 206, Bloco I — Marcílio Mendes Ferreira
SQN 315, Bloco D — Manoel Hermano
SQN 315, Bloco H — José Hipólito Camurça
SQN 411, Bloco F — Manoel Hermano
 

Correio Braziliense terça, 27 de outubro de 2020

CAPITAL S. A. - BRASÍLIA ENFRENTANDO A PANDEMIA, EM GRANDE ESTILO

 

Jornal Impresso
 
Capital S/A"
 
Não é o aparecimento, é a essência. Não é o dinheiro, é a educação. Não é a roupa, é a classe." Coco Chanel, estilista e empresária francesa

 

Samanta Sallum
samantasallum.df@cbnet.com.br

Publicação: 27/10/2020 04:00

 
"Eu cresci muito como empresária, como profissional. Tive de reinventar tudo"
 
“Carolina Kd Vc?”
 
Antes da pandemia, a empresária Patrícia Muller tinha um produto regional. Mas, com as barreiras impostas pelo isolamento, teve de investir no marketing das redes sociais. E acabou, assim, conseguindo exportar para outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Tudo começou há seis anos, quando descobriu o gosto por cervejas artesanais e decidiu aprender a produzi-las com seu toque criativo. A cerveja alemã do tipo weissbeer foi a primeira a ser lançada e ganhou o nome da Fazenda São Bento, propriedade da mãe, que é uma pousada  na Chapada dos Veadeiros. E foi ali onde instalou uma pequena fábrica.
 
“As pessoas começaram a voltar à pousada por causa da cerveja, falando que era a melhor cerveja que já tinham tomado”, conta. 
A demanda aumentou e, para atender aos pedidos, terceirizou a produção. Procurou uma fábrica que apoiava produtores de cervejas artesanais. Além disso, fez diversos cursos, como o de sommelier de cervejas do Science of Beer Institute, em Santa Catarina. Patrícia foi descobrindo o universo das cervejas belgas e inglesas.
 
Em 2019, foi lançada a “Carolina Kd Vc?”, uma session ipa com mangaba, em homenagem à filha mais velha. A pandemia trouxe desafios. E Patrícia percebeu que a saída seria se comunicar pelo marketing digital. “Nem site eu tinha”, lembra. Mas foi durante a Semana de Transformação Digital do Sebrae, em abril, que despertou para as novas oportunidades. “Eu cresci muito como empresária, como profissional. Tive de reinventar tudo”, afirma.


 (Ana Rayssa/CB/D.A Press - 11/6/20)  

Maioria quer trânsito fechado e comércio aberto na W3 Sul 
 
A maioria dos moradores da região quer o trânsito fechado, aos domingos e feriados, na W3 Sul, mas com o comércio aberto. O Projeto de Revitalização da Avenida, segundo pesquisa do Instituto Fecomércio, tem a aprovação de 99,76% dos entrevistados. Sobre a interdição da via, num cenário pós-revitalização, a maioria, cerca de 65%, respondeu positivamente à interdição associada à abertura de lojas.
 
A criação do Corredor Cultural, entre a 504 e a 508 Sul, tem o apoio de 76,83%. A maioria também confirmou a intenção de frequentar a W3 Sul após a revitalização e a interdição do trânsito e que pretende frequentar com a finalidade de lazer e/ou atividade cultural. Dentre os negócios considerados mais importantes, os entrevistados apontam: restaurante/bar (20,15%); farmácia (18,90%); padaria/lanchonete (17,43%) e bancos (17,29%). Foram ouvidas 410 pessoas entre 16 e 18 de outubro. 


 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 17/1/19 )  

Reabertura parcial do trânsito 
 
Com base no resultado da pesquisa, entidades do setor produtivo vão pedir ao governador Ibaneis Rocha a alteração do Decreto n° 40.877/20 com "a maior brevidade possível". Querem que o fechamento do trânsito na W3 aos domingos (com possibilidade de passar para o sábado pós-pandemia) apenas ocorra no trecho onde será o Corredor Cultural, que vai da 504 Sul até a 508 Sul (do Sesc ao Espaço Renato Russo). Assim, o restante da via permaneceria aberta para o fluxo normal de veículos. Essa e outras sugestões serão enviadas em documento oficial ao GDF ainda nesta semana.
 
 
Incentivos fiscais 
 
Para estimular atividades que possam atrair o público à W3 nos dias de lazer, os empresários sugerem ações do GDF e especialmente da Secretaria de Cultura, entre elas, incluir linha específica do programa FAC Ocupação, voltada a projetos a serem realizados no Corredor Cultural; oferecer incentivo fiscal para empreendimentos comerciais de destaque no mercado; e também para atividades que façam parte da indústria criativa instalada na área, como o desconto de ISS/Simples.
 
 
Mercado imobiliário 
 
As entidades também sugerem ao GDF desenvolvimento de pesquisa junto de comerciantes, moradores e população impactada (via Codeplan), para levantar informações sobre o mercado imobiliário, demandas em potencial, vocações e grau de satisfação e 
aceitação por parte de moradores.


Fluxo de clientes
 
O documento com as sugestões é resultado da reunião, ocorrida na semana passada, entre diversas lideranças do setor produtivo do DF (Sindivarejista, Sindisuper, Sindhobar, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Fecomércio-DF ) e proprietários de estabelecimentos comerciais.  O tema do encontro foi o projeto Viva W3. Os donos de supermercados na região se sentiram prejudicados, com o fechamento da via aos domingos e feriados, por ter reduzido o fluxo de clientes.
 

Correio Braziliense segunda, 26 de outubro de 2020

OUTUBRO ROSA PARA FAZER A DIFERENÇA

Jornal Impresso

Outubro Rosa para fazer a diferença
 
 
Iniciativas do DF buscam fortalecer a autoestima de mulheres em tratamento contra o câncer de mama e de quem venceu a doença. Editoriais de moda e entrega de roupas, cartas, perucas ou próteses visam enaltecer a beleza de pacientes e de pessoas recuperadas

 

CIBELE MOREIRA

Publicação: 26/10/2020 04:00

Isaque Dantas criou a Coleção Dianthus para promover o amor-próprio entre mulheres diagnosticadas: sentimento de gratidão (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

 

 
Isaque Dantas criou a Coleção Dianthus para promover o amor-próprio entre mulheres diagnosticadas: sentimento de gratidão
 
 
A perda do cabelo e a retirada da mama durante o tratamento contra o câncer geram um grande impacto à vida de muitas mulheres, por vezes, já fragilizadas pela doença. Com foco nisso, iniciativas buscam resgatar a autoestima delas, por meio da doação de perucas, lenços, próteses e vestuário para pacientes mastectomizadas. O intuito é promover o amor-próprio entre quem passa pelo tratamento e quem se recuperou.
 
Neste ano, em meio à pandemia de covid-19, uma empresa de roupas femininas criou uma coleção exclusiva para a campanha do Outubro Rosa. Ao todo, há 85 modelos exclusivos para a campanha, que começou em 14 de outubro e segue até o fim do mês. O projeto contemplou cerca de 29 mulheres. Cada uma recebeu, em casa, uma peça de roupa, acompanhada de uma carta de motivação e apoio. A ideia é presentear 45 pessoas. 
 
Idealizada por Isaque Dantas, 29 anos, a coleção recebeu o nome de uma flor muito resistente a grandes tempestades: dianthus. “Criamos (o acervo) a partir da ideia de fazer algo diferente no Outubro Rosa. A maioria das campanhas são voltadas à conscientização, de a mulher se cuidar, e à prevenção. Mas muitas (pacientes) estão passando por um momento difícil contra o câncer. A coleção veio para levantar a autoestima delas”, conta o empresário.
 
Isaque relata que uma das entregas teve um impacto especial; a destinatária tinha 78 anos. “Ela está enfrentando o tratamento contra o câncer pela terceira vez. Quando recebeu o vestido, contou que o presente mudou o dia dela completamente. Mesmo sem saber, enviamos a peça na cor predileta dela. Ver essa felicidade não tem preço. Esse tipo de ação traz um sentimento de gratidão, de propósito, de fazer a diferença na vida dessas mulheres”, ressalta. 
 
A campanha também abraçou pessoas diagnosticadas com câncer no colo do útero, como Valdilene Dias de Souza, 40. Para a professora, em tratamento de quimioterapia, receber uma das peças da campanha gerou uma ponta de felicidade e esperança. “A queda de cabelo é uma fase bem complicada, pois ele complementa o cartão-postal que é nosso rosto. A gente fica com a autoestima baixa. Mas, quando coloquei o vestido laranja, eu me senti querida, cuidada”, detalha.

Andressa teve um dos tipos mais agressivos do câncer; ela passou por quimioterapias, uma mastectomia e ressalta: %u201CCâncer não é sentença de morte%u201D (Hugo Martins Viana e Nathaly Mayara de Jesus)

 

 
Andressa teve um dos tipos mais agressivos do câncer; ela passou por quimioterapias, uma mastectomia e ressalta: "Câncer não é sentença de morte."


Editorial
 
Além de entregar as roupas, a empresa fez um editorial de moda com três mulheres que venceram o câncer. “Eu me senti muito valorizada”, diz a influenciadora digital Andressa Mikaele Correia, 23. A jovem teve um dos tipos mais agressivos do câncer de mama aos 18 anos. “Descobri porque meu celular caiu sobre minha mama. Ao reparar que ela ficou dolorida e que tinha um nódulo, fui a um hospital de Formosa (GO). Os médicos disseram que não era nada, mas minha mãe insistiu e fomos a um hospital em Brasília. Fizemos a biópsia e deu positivo para câncer. Se minha mãe não tivesse insistido, eu estaria morta agora”, salienta Andressa.
 
Posteriormente, a jovem precisou fazer uma mastectomia para retirar as duas mamas. “Passei por quatro ciclos da quimioterapia vermelha, que é a mais forte, e por quatro da branca. Meu cabelo caiu, tomei vários remédios e ainda recebi a notícia de que eu não poderia ter filhos, porque o tratamento me deixaria infértil. Isso doeu demais. Sempre tive o sonho de ter uma família”, relata. No entanto, contra todos os prognósticos médicos, Andressa descobriu que estava grávida no ano passado. “Meu milagre aconteceu e, mesmo com a mastectomia, saiu leite do meu seio. Sou um testemunho vivo de que vale a pena lutar. O câncer não é uma sentença de morte”, reforça. 
 
Para a autônoma Franciane Ferreira de Araújo, 36, participar do editorial e contar um pouco da própria trajetória fizeram a diferença. “Não tenho nem palavras para descrever. Senti a autoestima lá em cima. Não tinha feito nada parecido antes”, comenta. Ela descobriu um câncer na mama aos 32 anos, durante um exame de rotina. O tratamento não foi fácil e envolveu oito ciclos de quimioterapia, além de três cirurgias. “Sempre achei importante contar minha história, dar meu testemunho e ajudar outras mulheres que estão passando pela mesma situação”, acrescenta. 


Participar de editorial de moda ajudou a autoestima de Franciane Ferreira (Hugo Martins Viana e Nathaly Mayara de Jesus)

 

 
Participar de editorial de moda ajudou a autoestima de Franciane Ferreira


Rede feminina
 
Franciane é voluntária na Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília. A instituição sem fins lucrativos atua há 24 anos no Distrito Federal, com assistência a pacientes em tratamento contra o câncer e apoio após a recuperação da doença. Coordenadora da entidade, Vera Lúcia Bezerra da Silva afirma que o projeto atende 1,5 mil mulheres por mês. “Nosso trabalho vai desde o acolhimento, quando há suspeita de câncer. (Atuamos) durante o tratamento e com ajuda psicológica para a família também”, detalha. 
 
Entre os projetos desenvolvidos pela Rede Feminina está a entrega de perucas para mulheres que perderam o cabelo em decorrência da quimioterapia. Em 2019, foram distribuídas 140, bem como 1.350 lenços e 327 próteses mamárias. Para Vera, a recompensa do trabalho é o sorriso de cada pessoa que recebe esses presentes. “A gente percebe a importância que tem o cabelo. Houve uma vez que uma mulher chegou para mim e falou: ‘Eu poderia ter tido qualquer coisa, menos uma doença que faz perder o cabelo’. Esse comentário me impactou bastante”, recorda-se. 
 
Recomeçar
 
Outra instituição que atua ativamente em prol de pacientes que enfrentam o câncer de mama é a ONG Recomeçar, idealizada por Joana Jeker. A organização não governamental surgiu em 2011 e, desde 2014, tem como sede o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), uma das unidades públicas de referência no tratamento contra o câncer no DF. A entidade também atua com acolhimento de pacientes em tratamento e está à frente das lutas por garantias de políticas públicas. “Quero deixar legados, melhorar o acesso para todas as mulheres”, afirma Joana. 
 
Uma das principais ações da entidade foi a entrega de próteses mamárias. “Tive câncer em 2007, passei pelo tratamento e pela retirada da mama. A prótese de silicone mudou minha vida. Eu a usava sempre que saía de casa. Sei o quanto isso é importante para quem passa por uma mastectomia”, observa Joana. A ONG, segundo ela, recebe três doações desse tipo por semana. “Mesmo com a pandemia, nosso trabalho não parou. Não estamos dentro do hospital, mas estou sempre em contato com elas (as mulheres atendidas)”, acrescenta a idealizadora. 
 
Elizabeth dos Santos, 57, descobriu a doença no fim de 2013 e, em 2014, fez todo o processo de retirada e reconstrução da mama. No entanto, 20 dias depois da cirurgia, o corpo rejeitou a mudança, e a doméstica teve de retirar o seio mais uma vez. “Hoje em dia, não penso mais em fazer a reconstrução. Estou bem assim”, afirma. Para ela, a prótese de silicone representou mais liberdade. “Usei uma feita de pano durante muitos anos. Com a de silicone, posso usar na piscina e com roupas que a outra não permitia”, comemora.

Correio Braziliense domingo, 25 de outubro de 2020

É POSSÍVEL PARAR O CARNAVAL?

 

Jornal Impresso
É possível parar o carnaval?
 
Por causa da pandemia de covid-19, o cancelamento ou adiamento da folia em 2021 é debatido. Mas, em outras ocasiões que medida semelhante foi tentada, as ruas encheram mesmo assim

 

Fernando Jordão
Hellen Leite
Adriana Izel
Luiz Philipe Tassy*

Publicação: 25/10/2020 04:00

Brasilienses brincam o carnaval em bloco que foi às ruas em fevereiro deste ano: festa não fará parte do calendário da cidade em 2021, decidiu o GDF (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 29/2/20







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Brasilienses brincam o carnaval em bloco que foi às ruas em fevereiro deste ano: festa não fará parte do calendário da cidade em 2021, decidiu o GDF
 
 
O Brasil tem chances reais de, em 2021, viver algo inédito. Desde que os festejos carnavalescos começaram por aqui — o que, segundo pesquisadores, ocorreu à época da chegada dos portugueses, no século 16 —, eles nunca deixaram de ser celebrados no período que antecede a Quaresma, em fevereiro ou no começo de março. Porém, devido à pandemia de covid-19, o adiamento ou cancelamento da festa é debatido pelos governos das maiores cidades do país. Enquanto São Paulo adiou para data indefinida e Brasília optou por não realizar a folia, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda ainda discutem como agir.
 
Não se trata de uma decisão simples. E não devido ao prejuízo econômico e cultural que ela pode representar, afinal, a saúde pública deve ser priorizada. Mas, sim, porque a estratégia pode não dar certo. É o que alerta a história. Afinal, as duas tentativas oficiais de adiar a festa de Momo no Brasil fracassaram. A primeira ocorreu também por questões sanitárias, em 1892, quando o país lidava com uma série de doenças, como a febre-amarela entre elas. A segunda se deu em 1912, devido à morte do Barão do Rio Branco, então ministro do Exterior e tido como herói nacional.
 
No fim do século 19, buscando evitar a aglomeração de pessoas no calor de fevereiro, os governantes decidiram transferir os festejos para junho, no inverno. "Adiaram, por decreto, para o último fim de semana de junho, que inclusive coincide com as festas de São João. O que aconteceu? Chegou o carnaval, foi todo mundo para a rua, mesmo que houvesse o decreto. A Prefeitura (do Rio de Janeiro, capital federal à época) até tentou fazer controles policiais, fechando as lojas que vendiam produtos temáticos, proibindo salões onde ocorriam os bailes de abrirem, mas nada disso adiantou", detalha Leonardo Bruno, pesquisador-orientador do Observatório de Carnaval do Museu Nacional.
 
População brinca o carnaval na Avenida Rio Branco, no Rio, em 1906 (Augusto Malta/Acervo IMS/Biblioteca Nacional)  
População brinca o carnaval na Avenida Rio Branco, no Rio, em 1906
 
Na outra tentativa, o motivo era o luto pela morte do Barão do Rio Branco, que aconteceu a uma semana da festa. "O povo sofreu muito e decretou-se o adiamento para dois meses depois, em abril. Em princípio, parecia algo sensato, mas, quando chegou o sábado de carnaval, o povo foi para a rua afogar as mágoas e acabou o luto. Efetivamente, aconteceram dois eventos. Os registros históricos trazem até uma marchinha que o povo cantava na rua dizendo que, se o barão morreu e a gente teve duas festas, imagina quando morrer o general", conta Bruno.
 
"Nos dois casos, não adiantou nada. A folia aconteceu na data normal e na data transferida. Foram duas transferências tentadas que não tiveram sucesso. Ou foram um grande sucesso e as pessoas tiveram dois carnavais", brinca Felipe Ferreira, professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e criador do Centro de Referência do Carnaval.
 
Guerras e gripe espanhola
As duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) também não impediram a realização do carnaval no Brasil, a despeito de tentativas das autoridades. De acordo com o professor Paulo Miguez, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o país teve participação pequena no primeiro conflito, enviando poucos militares à Europa apenas no fim dele, ou seja, após a folia de 1918. À época, chegou-se a discutir a realização dos festejos, mas eles ocorreram normalmente. Na Segunda Guerra, contudo, o Brasil teve maior participação. "Oficialmente, tudo foi feito para impedir. Recursos públicos foram interditados, mas a festa aconteceu mesmo com os pracinhas na Itália. As muitas proibições acabaram dribladas", explica.
 
Além do fim da Primeira Guerra, 1918 ficou marcado pela gripe espanhola, até hoje a mais violenta pandemia da história, que deixou de 20 a 40 milhões de mortos — mais até do que a Primeira Guerra, que fez 15 milhões de vítimas. No Brasil, segundo o Atlas Histórico da Fundação Getulio Vargas (FGV), foram cerca de 35 mil óbitos. Até mesmo o presidente eleito, Rodrigues Alves, morreu vítima da doença antes de tomar posse. É fácil presumir que, diante da tragédia, o carnaval não fosse realizado. Mas aconteceu exatamente o contrário.
 
Carros alegóricos fazem referência à gripe espanhola, no carnaval carioca de 1919 (Careta/Biblioteca Nacional)  
Carros alegóricos fazem referência à gripe espanhola, no carnaval carioca de 1919
 
A festa de 1919 é tida, até hoje, como a maior de todos os tempos. "A gripe chegou, arrasou, matou milhares, mas em determinado momento ela foi embora, por volta de outubro, novembro. Isso fez com que o evento do ano seguinte, segundo todos os relatos, tenha sido o mais louco de todos os tempos, dos mais irreverentes que se tem notícia. O povo foi para a rua com a necessidade de celebrar o fim daquela coisa terrível. Além disso, depois de uma tragédia como essas, havia o pensamento de que poderia ser o último dos carnavais", narra Miguez.
 
As proporções da maior folia de todos os tempos podem ser tomadas com base nos relatos do escritor Nelson Rodrigues. Apesar de ter apenas 6 anos, ele gravou na memória as cenas daquele ano e, posteriormente, as descreveu em um artigo para o jornal Correio da Manhã — compilado no livro Memórias: A menina sem estrela. "A espanhola trouxera no ventre costumes jamais sonhados. E, então, o sujeito passou a fazer coisas, a pensar coisas, a sentir coisas inéditas e, mesmo, demoníacas", escreveu.
 
*Estagiário sob a supervisão de Humberto Rezende
 
Origem indefinida
Apesar do nome, a doença não surgiu na Espanha, mas os jornais do país europeu noticiaram a sua existência primeiro — visto que, pelo fato de o país estar neutro na guerra, não sofria com a censura. Não se sabe exatamente a origem, mas o primeiro registro oficial se deu nos Estados Unidos, em março de 1918.

Correio Braziliense sábado, 24 de outubro de 2020

BRASÍLIA: O RETORNO DAS RODAS DE SAMBA

Jornal Impresso

O retorno das rodas de samba
 
Com a flexibilização, seguindo o protocolo de segurança, criado pelas autoridades sanitárias, artistas voltam a se reunir em pontos tradicionais da cidade

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 24/10/2020 04:00

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é/ Ou é ruim da cabeça ou doente do pé”’, cantava Dorival Caymmi em Samba da minha terra, ao prestar homenagem a um dos gêneros mais representativos da música popular brasileiro. O compositor baiano, mestre do ofício, é autor também de outras preciosidades desse segmento da MPB, como Doralice, João Valentão, Lá vem a baiana, O que é que a baiana tem e Saudade da Bahia, que foram gravados por intérpretes da importância de João Gilberto, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Rosa Passos, sem esquecer de Carmem Miranda.
 
Alguns desses clássicos fazem parte do repertório de muitos dos cantores e grupos que comandam rodas de samba espalhadas por todas as regiões do país, inclusive, Brasília, onde elas se proliferam por vários pontos. Com a promulgação do decreto do Governo do Distrito Federal que revogou a proibição de shows — determinada por causa da pandemia — em bares e restaurantes, alguns estabelecimentos da capital voltaram a oferecer essa atração ao público. Para tanto, buscam seguir o protocolo de segurança, criado pelas autoridades sanitárias.
 
Os apreciadores das rodas de samba aos poucos têm voltado a prestigiá-las em locais como o Outro Calaf (Setor Bancário Sul), às terças-feiras, a partir das 21h; Bar Brahma (201 Sul), Basic Bar (Avenida Araucária, Águas Claras), às quartas-feiras, às 20h; Bar Brahma, aos sábados, com início às 13h30; Pinella (408 Norte), às 20h; e Primeiro Bar (SIG Quadra 08), aos domingos, às 15h e 17h30. Hoje, ao meio-dia, quem retoma às atividades é o Café Musical do Clube do Coro, no Eixo Monumental. Confira onde sambar.
 

 (Arquivo pessoal)

 

 
Outro Calaf, 7 na Roda — Interrompida no começo de março, a tradicional roda de samba comandada pelo grupo 7 na Roda, ocorre às terças-feiras, no Outro Calaf, e voltou no dia 6 último, agora a partir das 21h. “No período em que ficamos sem ter contato com o público, em função da covid-19, fizemos algumas lives, pesquisamos novos sambas para incluir no repertório, mas sentíamos muita falta de apresentações ao vivo, trocando energia com as pessoas que têm nos acompanhado ao longo dos anos”, ressalta o cantor e pandeirista Breno Alves. “Retomamos as apresentações em outro formato. Antes, as apresentações eram no meio do salão e, agora, obedecendo a orientação do protocolo de segurança, estamos tocando no palco. Com esse novo normal houve a necessidade de limitar a capacidade do espaço, com todos os espectadores sentados em mesas. Em volta da mesa, é colocada uma linha demarcatória, com os ocupantes dos quatro ou seis lugares usando máscara”, completa.
 

 (Iza Serra/Divulgação)

 

 
Basic Bar, Coisa Nossa — O mais antigo grupo de samba de Brasília, criado há 40 anos, o Coisa Nossa sempre esteve em atividade, com passagem por vários palcos da capital e de algumas cidades do país. No momento, o cantor e pandeirista Marcelo Sena, líder e fundador do conjunto, se apresenta às quartas-feiras, a partir das 20h, no Basic Bar, na Avenida Araucária, em Águas Claras, acompanhado por Calabar (cavaquinho), Júnior Morgado (violão) e Carlos Henrique (surdo). “Temos orgulho de ser o único grupo de samba de Brasília que se mantém firme e forte, perto de comemorar 41 anos de carreira. Depois da flexibilização, voltamos a nos apresentar, o que nos traz grande satisfação”, celebra Marcelo.
 

 (Renato Cortez/Divulgação)

 

 
Bar Brahma, Sambadubar — Cavaquinista com atuação destacada na cena musical da cidade, Nelsinho Serra é o líder do Sambadubar, grupo que comanda a roda de samba do Bar Brahma, desde o dia 10 deste mês, sempre aos sábados, com início às 13h. “Tenho em minha companhia Vinicius Viana (violão 7 cordas) e Júnior Viegas (percussão). No vocal, se revezam as cantoras Anahi e Karla Sangaletti. As pessoas, que estavam saudosas de curtir samba ao vivo, está de volta, mas, por enquanto, só para assistir, porque ainda não podem dançar”, conta Nelsinho. “Por causa do corona, ficamos sete meses sem fazer uma das coisas que mais gostamos, que é tocar e cantar. Quem gosta de ouvir choro também é atendido, pois clássicos do gênero de mestres como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, fazem parte do nosso repertório”, anuncia o instrumentista.
 

 (Arquivo pessoal)

 

 

 

Pinella, Carla Sangaletti Trio – Bar e restaurante localizado no chamado Baixo Asa Norte, o Pinella, há algum tempo, se tornou um lugar de paquera, mas, principalmente de boa música. A roda de samba do local é muito concorrida e isso pode ser notado, agora no retorno da programação. “Mesmo me ocupando com vários afazeres em meio à pandemia, inclusive participando de lives, não via a hora de voltar a me apresentar em rodas de samba, com a presença do público. A do Pinella, que comando há algum tempo, foi retomada, o que me trouxe grande alegria”, comemora Carla Sangaletti. Ela tem ao seu lado o violonista Rodrigo Dantas e o cavaquinista Pedro Molusco. “Sinto que as pessoas estão adorando a retomada da programação musical. Temos aqui um público cativo, na faixa dos 25 anos, que aprecia o samba tradicional, de mestres do gênero”, complementa a cantora.
 

 (Robson Cesco/Divulgação)

 

 

 

Café Musical, Teresa Lopes — Com as portas fechadas há sete meses, o Café Musical do Clube do Choro retoma a programação, hoje, ao meio-dia, tendo como atração Teresa Lopes, nome de destaque do samba na cidade. “A nossa roda de samba, regada por deliciosa feijoada, firmou-se como uma das boas opções, para quem aprecia música de qualidade na cidade”,afirma Marília Castro, que dirige o estabelecimento. “Depois do paradeiro geral, vamos celebrar a reabertura da casa, com o samba de primeira de Teresa Lopes e dos músicos que vão acompanhá-la”, festeja.
 
 (Israel Szerman/Divulgação)  

 

Primeiro Bar, Elas que Tocam — Banda formada só por mulheres, que surgiu em 2019, o Elas que Tocam é o destaque da roda de samba que ocorre aos domingos, a partir das 15h, no Primeiro Bar, no Setor de Indústrias Gráficas/ Sudoeste, com abertura de grupo convidado. “Decidimos formar o Elas que Tocam no ano passado, depois de observarmos que, na cena musical de Brasília, não havia nenhum grupo feminino tocando pagode. Como sempre gostamos desse gênero, decidimos nos juntar, para tocar e cantar sucessos de Thiaguinho, Dilsinho, Ferrugem e Sorriso Maroto”, explica a vocalista, Maísa Lameira. “Estamos felizes por poder voltar a mostrar nosso trabalho, nos apresentando no Primeiro Bar, que nos deu ótima acolhida”, ressalta.
 

Correio Braziliense sexta, 23 de outubro de 2020

PELÉ: NUNCA HOUVE UM REI COMO ELE

Jornal Impresso

 

Pelé: Nunca houve um rei como ele

 

Que seja infinito enquanto dure...
 
Quarenta e cinco craques foram eleitos melhores do mundo desde a estreia de Pelé como jogador, em 1956. Rei faz, hoje, 80 anos sem perder majestade e com legião de príncipes aos pés

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 23/10/2020 04:00

 (Kleber Sales/CB/D.A Press)  
 
Com as devidas adaptações e licenças poéticas à letra da música Mulheres, interpretada por Martinho da Vila, a exigente dona bola já teve parceiros eleitos melhores do mundo de todas as cores, de várias idades, de muitos amores. Com uns até certo tempo ficou. Pra outros, apenas um pouco se deu. Madame bola já teve craques do tipo atrevido, do tipo acanhado, do tipo vivido. Gênios cabeças e desequilibrados. Astros confusos, de guerra e de paz. Mas nenhum deles fez a senhorita bola tão feliz como Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, faz há 80 anos.
 
Nascido em 23 de outubro de 1940, o mineiro de Três Corações estreou como jogador profissional no feriado do Dia da Independência, em 1956, contra o Corinthians de Santo André (SP). Coincidentemente, naquele ano, a revista France Football inaugurava o prêmio mais tradicional. O inglês Stanley Matthews do Blackpool conquistava o Ballon d’Or (Bola de Ouro) — restrito a jogadores em atividade na Europa até 1994. Mais tarde, em 1991, surgiu o Fifa Player of The Year da Fifa, rebatizado Fifa The Best.
 
Levantamento do Correio mostra que, da estreia de Pelé no futebol até hoje, 45 jogadores diferentes conquistaram a Bola de Ouro e/ou a estatueta da Fifa. Outros dois ganharam o prêmio em caráter especial: Maradona, que atuou na Europa por Barcelona, Napoli e Sevilla; e Pelé, fiel ao Santos e depois ao Cosmos, nos EUA.
 
Mal sabiam os criadores das diferentes e badaladas distinções que Edson Arantes do Nascimento nasceu para ser hors concours. Enquanto os vencedores em série se achavam reis nos limites geográficos da Europa, Pelé deixava o mundo aos pés dele com as conquistas de três Copas (1958, 1962 e 1970), duas Copas Intercontinentais, duas Libertadores e 1.283 gols. Em 19 de novembro de 1969, a Terra parou para testemunhar o milésimo gol da majestade.
 
O reconhecimento ao mandato infinito do Rei que não abdica partiu de vários príncipes melhores do mundo. Vencedor da Bola de Ouro, em 1966, ao levar a ao brindar a  Inglaterra com o título inédito da Copa do Mundo, o ídolo do Manchester United, Bobby Charlton, 83, definiu o Rei. “Às vezes, acho que o futebol foi inventado para esse jogador mágico”.
 
Coroado Bola de Ouro em 1971, 1973 e 1974, Johan Cruyff (1947-2016) também assumiu o papel de súdito. “Pelé foi o único jogador de futebol a superar os limites da lógica”. Antes de Messi e de Maradona, o argentino naturalizado espanhol Di Stéfano (1926-2014) era colocado no patamar do melhor de todos os tempos. Mas até o craque laureado em 1957 e 1959 desceu do pedestal. “O melhor de todos os tempos? Pelé. Messi e Cristiano Ronaldo são ótimos jogadores com qualidades específicas, mas Pelé era melhor”.
 
Eleito cinco vezes melhor do mundo, Cristiano Ronaldo endossa na língua de Camões. “Pelé é o maior jogador na história do futebol, e só haverá um Pelé no mundo”.
 
O Rei não se distingue dos melhores do mundo só na bola. É simpático com a maior ameaça. “Messi é incansável, maravilhoso e brilhante. É lindo te ver jogar. Bem-vindo ao clube dos 700 gols. Obrigado pelo espetáculo”, postou Pelé, em 2 de julho, nas redes sociais. Aos 30 anos, o Rei tinha três Copas e mais de mil gols. Messi, 33 não tem Mundial, mas pode alcançar o milésimo gol.
 
Pelé foi além do futebol. Desfilou no mundo da política, economia, cultura... Cumpriu a profecia de Andy Warhol (1928/1987), papa do pop art. “No futuro, todo mundo será famoso por 15 minutos. Todo mundo, vírgula. Pelé será famoso por 15 séculos”.
 
O negro pobre de Três Corações (MG) tornou-se Cavaleiro Honorário do Império Britânico. Recebeu a distinção luxuosa das mãos da Rainha Elizabeth II. Ganhou status de Cidadão do Mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU). Foi celebrado por presidentes do EUA, na Casa Branca, e pelo papa, no Vaticano.
 
Lutou no estilo Pelé de ser contra o racismo, como no discurso do Rei documentado na autobiografia publicada no Brasil, em 2006, pela editora Sextante. “A escravidão não está muito distante no passado — sou apenas da terceira geração que nasceu livre na minha família. Gritem comigo: ‘Digam não ao racismo’”, pediu o Rei, em 2010, no estádio Newlands, quando a anfitriã África do Sul aguardava pelo início da Copa do Mundo.
 
Aos que duvidam, hoje, da eficiência e da arte de Pelé no futebol pós-moderno, ele mesmo deu a resposta quando celebrou 70 anos. “Michelangelo pintaria bem hoje? Mozart tocaria bem? Pelé jogaria bem? Claro. As condições são melhores”. Neste 23 de outubro, resta-nos citar o último trecho do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes, em saudação ao rei: “Que seja infinito enquanto dure”.
 
“Às vezes, acho que o futebol foi inventado para esse jogador mágico”
 
Bobby Charlton, Bola de Ouro em 1966
 
“Pelé foi o único jogador de futebol a superar os limites 
da lógica”
 
Johan Cruyff (1947-2016), Bola de Ouro em 1971, 1973 e 1974
 
“Chegando aos 80 com saúde. Quando for para o céu, espero que Deus me receba da mesma maneira que todos me recebem, hoje, pelo nosso querido futebol”
 
Edson Arantes do Nascimeento, Pelé
 

Correio Braziliense quinta, 22 de outubro de 2020

BRASÍLIA TEM NOVO ARCEBISPO: COM PAULO CEZAR COSTA

Jornal Impresso

Brasília tem novo arcebispo
 
Dom Paulo Cezar Costa é nomeado pelo papa Francisco ao cargo, que estava vago há quatro meses, após a transferência de dom Sergio da Rocha para a arquidiocese de Salvador. A posse está prevista para dezembro

 

Ana Maria da Silva*

Publicação: 22/10/2020 04:00

Dom Paulo Cezar Costa era bispo de São Carlos (SP) (Diocese de Sao Carlos/Divulgação)  

Dom Paulo Cezar Costa era bispo de São Carlos (SP)

 



Após quatro meses de espera, o papa Francisco nomeou, ontem, dom Paulo Cezar Costa para ser o novo arcebispo de Brasília. O anúncio foi publicado no Boletim de Imprensa da Santa Sé ao meio-dia do horário de Roma, 7h no horário de Brasília. O cargo estava vago desde março, quando dom Sergio da Rocha foi transferido para a arquidiocese de Salvador, e era ocupado interinamente por dom José Aparecido, administrador da arquidiocese. A posse está prevista para dezembro.

Natural de Valença (RJ), o religioso de 53 anos foi nomeado bispo pelo papa Bento XVI em 24 de novembro de 2010 e ordenado em 5 de fevereiro de 2011, em sua cidade natal. Como lema de ordenação episcopal, escolheu a frase “Tudo suporto pelos eleitos”. Teve sua caminhada eclesial marcada pela organização da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, que reuniu mais de quatro milhões de jovens e teve a oportunidade de conviver com o papa Francisco. Em 2016, tornou-se bispo de São Carlos (SP), quando administrou cerca de 120 paróquias, com 149 padres e aproximadamente 1 milhão de fiéis.

“O papa me pede pra partir e eu, com liberdade no coração, disse ‘sim’. Sempre ouvi, na voz dos superiores, a voz de Deus, e através do pedido do papa, vejo um novo projeto de Deus para mim, agora nessa grande, jovem e desafiadora cidade que é Brasília”, ressalta o novo arcebispo, em entrevista ao Correio Braziliense. “Vou com alegria, com abertura de coração, disposto a doar o melhor de mim para que a igreja de Brasília seja cada vez mais bonita. Vou com a disposição de construir a cultura do diálogo, do encontro com a sociedade e de ser presença do bom pastor na vida do nosso amado povo, dos católicos da diocese de Brasilia”, diz dom Paulo.

O intuito, segundo o religioso, é conduzir a arquidiocese de Brasília com muito respeito. “É uma igreja jovem, mas que já possui sua tradição, que tem uma caminhada. Então, pretendo conhecer, encontrar as pessoas, pastorais, movimentos e instituições”, pondera. De acordo com os sacerdote, há muito ânimo para a nova jornada. “Vou com a disposição de dar algo, de fazer com que a igreja de Brasília, que já é viva, seja cada vez mais missionária, uma igreja evangelizadora, uma igreja em saída, que vá ao encontro das periferias urbanas. Uma igreja que vá ao encontro de todos”, completa.

Coração aberto
O novo sacerdote deixa uma mensagem aos fiéis brasilienses: “Me esperem em uma atitude de oração. Eu vou com o coração aberto, disposto a entrar na vida dessa igreja com muito respeito, na disposição de ser bom pastor. Vou com a disposição de encontrar os diversos setores da vida dessa cidade, das cidades-satélites, e de também ouvir e dar a minha contribuição, de caminhar juntos para que possamos construir pequenos e grandes projetos. Vou com o coração aberto, e peço que me acolham com o coração aberto”, garante.

* Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura

Correio Braziliense quarta, 21 de outubro de 2020

UnB RECEBE NOTA MÁXIMA DO ENADE EM 10 CURSOS

Jornal Impresso

UnB recebe nota máxima do Enade em 10 cursos
 
Resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) apontam que 10 graduações da Universidade de Brasília e uma da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs) tiveram a mais alta pontuação. Entre as da UnB, está arquitetura, onde estuda Karen Mendes (foto).  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
 
Distrito Federal teve 11 graduações com maior pontuação no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Reitora Márcia Abrahão destaca a inovação científica e o comprometimento de estudantes e professores
 

 

» ALAN RIOS

Publicação: 21/10/2020 04:00

Estudante de arquitetura, Karen Mendes fez a prova em 2019 e acredita que os resultados dão visibilidade à UnB (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Estudante de arquitetura, Karen Mendes fez a prova em 2019 e acredita que os resultados dão visibilidade à UnB

 



Resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) divulgados, ontem, mostram que 11 cursos de ensino superior no Distrito Federal atingiram nota máxima na avaliação de 2019. A análise é um dos processos do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), e foi detalhada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC). Ao todo, 150 cursos da capital foram observados, de 29 áreas (veja Lista de cursos). A Universidade de Brasília (UnB) teve destaque na pesquisa com 10 graduações entre as 11 que alcançaram a maior pontuação. A 11ª da lista é enfermagem, da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), instituição que também é pública. Os índices variam de 1 a 5, sendo que as notas 1 e 2 são consideradas insatisfatórias. Outras instituições de ensino privadas e públicas do DF tiveram 48 notas 4, outras 48 notas 3, mais 39 notas 2 e três cursos avaliados no conceito 1, além de um sem classificação.

A prova é realizada a cada três anos com as mesmas áreas, o que significa que os cursos avaliados em 2019 voltam a ser analisados em 2022. O exame tem 40 questões, sendo 10 de formação geral — que aferem aspectos da formação profissional — e 30 de componente específico — com perguntas sobre a área na qual o aluno está se formando. Assim como foi verificado no DF, de maneira geral, nas outras unidades da Federação, o desempenho dos estudantes de instituições públicas foi melhor que o de alunos de universidades e faculdades particulares. Um dos motivos que pode explicar isso é o conceito de aplicações em atividades universitárias além do campo do ensino, como pontua a reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura.

Ensino público

“O Enade avalia também a qualidade da nossa pesquisa e extensão. Grande parte da formação do estudante é influenciada também por inovações científicas, pela relação com a sociedade. Temos quase 100% dos docentes com doutorado, formados nas melhores universidades do mundo, mostrando em conjunto com os alunos a capacidade de uma pesquisa de excelência. Nesta pandemia mesmo estamos atuando no combate à covid-19 com pesquisas para a população, como o teste da vacina chinesa, por exemplo, que a UnB está participando”, lembra Márcia. Para a reitora, as conclusões divulgadas ontem são satisfatórias também por mostrarem que o investimento público nas instituições de ensino superior acabam sendo recompensados.

“O financiamento público da UnB vem da população brasileira. Ou seja, um resultado positivo como esse significa retornar à sociedade o investimento que ela prestou no ensino. Temos de comemorar nossa capacidade de estar sempre à frente, mesmo com situações adversas. As notas da UnB são expressivas e vêm como presente para Brasília nos 60 anos da cidade”, diz. Os cursos com conceito 5 da Universidade de Brasília foram arquitetura e urbanismo (integral e noturno), engenharia ambiental, engenharia civil, engenharia de produção, engenharia mecânica, farmácia (integral), nutrição e odontologia (esses nove do Campus Darcy Ribeiro) e enfermagem do Campus Ceilândia. Ainda houve 17 notas 4 na UnB e uma nota 3. Nenhum curso de graduação da instituição foi considerado insatisfatório, com as duas piores pontuações.

Estudante de arquitetura e urbanismo na UnB, Karen Mendes, 24 anos, fez a prova do ano passado. Prestes a se formar, ela considera que os bons resultados contribuem para a visibilidade da universidade. "Mesmo que o Enade não valha ponto para a faculdade em si, ele é muito importante para mostrar o nível do ensino. A parte da prova sobre conhecimentos específicos foi o que a gente aprendeu, não tinha nada que não tivesséssemos visto", avalia a jovem.

Catarina de Almeida Santos, integrante do comitê do DF da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, avalia que observar a educação como um processo, não um produto, é o melhor caminho para alcançar bons índices. “Os dados divulgados refletem a seriedade das universidades públicas, que olham a educação como um bem, um direito, não como um serviço a ser comercializado. Tudo isso é importante no processo de formação e mostra muito que a instituição pública olha a questão geral, não só o ensino”, opina.

A especialista destaca que a dedicação de alunos e professores nesse sistema pedagógico, para o desenvolvimento da instituição e da sociedade que a cerca, provocam boas notas. “Grande parte dos cursos com melhores avaliações estão vinculados às instituições públicas, porque elas não são simplesmente de ensino. Têm alunos que se dedicam à universidade, desenvolvem ciência, integração, pensam as questões dos estágios. Muitos cursos bem avaliados são das áreas de saúde, que têm muito contato com a comunidade, por exemplo. Os professores também são dedicados, participam de pesquisas, publicações, não são só ‘aulistas’”, afirma Catarina Santos.

Rafael Vilela, 25, cursa o 11º semestre de engenharia de produção na UnB, outro curso que teve nota máxima no Enade. Para o jovem, o resultado, além de assegurar aos estudantes a qualidade do ensino prestado, abre portas para qualificações posteriores. "Caso eu queira fazer algum mestrado ou doutorado, (isso) pode ajudar muito se eu precisar de uma bolsa de estudos”, diz o estudante.

Reitora Márcia Abrahão:  

Reitora Márcia Abrahão: "O financiamento público da UnB vem da população brasileira"

 



Desempenho


Outro índice divulgado ontem foi o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). Ele faz um paralelo com o desempenho do aluno no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para calcular o quanto os estudantes que estão terminando o curso se desenvolveram ao longo do percurso acadêmico. Apenas três cursos obtiveram nota máxima no IDD 2019: enfermagem do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), engenharia da computação do Centro Universitário do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) e agronomia no Centro Universitário Icesp (Unicesp). Cinco cursos do DF tiveram nota 1 no IDD: medicina no Uniceplac, enfermagem no Centro Universitário Estácio de Brasília, enfermagem e farmácia no Uniplan e arquitetura e urbanismo no Iesplan.

Simone Maria Espinosa, diretora institucional de Regulação e Avaliação do UniCeub, explica que “o IDD mostra o quanto o aluno agregou de conhecimento”. “Essa nota de enfermagem mostra que o curso agregou muito em relação tanto aos conhecimentos gerais, quanto aos assuntos específicos do curso. Atingimos um grau de maturidade interessante nesse sentido”, diz. Simone pondera que as instituições privadas têm como desafio realizar a conscientização dos estudantes quanto à importância da prova. “A luta que nós temos em relação ao Enade é para fazer com que o aluno faça a prova com interesse e com responsabilidade, porque a nota não é só para a instituição. Os professores fizeram o trabalho de conscientização e mostraram que eles evoluíram durante a jornada acadêmica que participaram. Para a instituição, esse é um instrumento de gestão, que permite saber o que foi feito de forma assertiva, olhar fragilidades dos nossos cursos e apresentar planos de ações”, considera.

Colaborou Tainá Seixas

  • Saiba mais

    Avaliação do MEC

    O Enade é um dos processos que integram o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e busca aferir o desempenho dos estudantes em relação a conhecimentos, competências e habilidades desenvolvidas ao longo do curso. Cada área é avaliada a cada três anos. O teste permite que o MEC produza dois indicadores de qualidade: o conceito Enade e o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Esperado e Observado (IDD). O conceito Enade é calculado a partir do desempenho dos alunos na prova. Já o IDD leva em conta também o desempenho do aluno no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para medir o valor agregado pelo curso ao desenvolvimento dos estudantes concluintes.



  • Lista de cursos

    » Bacharelado:  
    agronomia, arquitetura e urbanismo, biomedicina, educação física, enfermagem, engenharia ambiental, engenharia civil, engenharia de alimentos, engenharia de computação, engenharia de controle e automação, engenharia de produção, engenharia elétrica, engenharia florestal, engenharia mecânica, engenharia química, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária

    » Superiores de tecnologia:  tecnologia em agronegócio, tecnologia em estética e cosmética, tecnologia em gestão ambiental, tecnologia em gestão hospitalar, tecnologia em radiologia, tecnologia em segurança do trabalho
 
 

Correio Braziliense terça, 20 de outubro de 2020

BRASÍLIA SEM RÉVEILLON E SEM CARNAVAL - FOLIA INTERROMPIDA

Jornal Impresso

Folia interrompida
 
Festas de réveillon e de carnaval promovidas pelo Governo do Distrito Federal estão suspensas por causa da epidemia de covid-19
 
Sem garantia de que a população será vacinada contra o coronavírus, GDF anuncia a suspensão das comemorações oficiais no fim de ano e nos festejos de Momo."Não há condições sanitárias de realizar as festas, por conta da covid-19", avalia o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues. 
Donos de blocos se mobilizam e avaliam alternativas para a festa. http://publica.impresso.correioweb.com.br/imgs/ancora_off.png (Maurenilson/CB/D.A Press)
 

 

» Paula Barbirato*
» Ricardo Daehn

Publicação: 20/10/2020 04:00

Carnaval 2020 no Setor Comercial Sul. Bloco sereias Tropicanas (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Carnaval 2020 no Setor Comercial Sul. Bloco Sereias Tropicanas

 

 
 
A pandemia da covid-19 foi o fator alegado para que a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), em decisão com o Governo do Distrito Federal (GDF), cancelasse os eventos oficiais do réveillon e do carnaval 2021. Em decisão ainda não oficial, o secretário da pasta Bartolomeu Rodrigues deixou claro: “Não há condições sanitárias de realizar as festas, por conta da covid-19”. “Embora não seja ainda um anúncio formal, já é uma prévia: sem vacina, sem segurança, não promoveremos aglomerações. Diferente de outras atividades culturais, o carnaval pressupõe contato físico, abraços e multidões. Nada indica que, até lá, teremos condições de abrir espaços públicos com essa finalidade”, completou ao Correio.
 
Nas últimas edições, os investimentos públicos nas duas festas foram da ordem de R$ 4 milhões no carnaval e de R$ 2,6 milhões no Ano Novo. Evitar a possibilidade de gerar inevitáveis aglomerações, comuns às festividades, levou a Secec a não “arriscar investimentos nessas grandes festividades”, expressa a nota oficial da Secretaria de Cultura. Quanto à realização de eventos privados, a Secec afirmou tratar, por enquanto, apenas da divulgação do corte de fundo público. O GDF endossou a resposta da secretaria.
 
Impacto nas escolas
 
Há seis anos, as escolas de samba do Distrito Federal não pisam na avenida para desfile. A tradição da cultura popular da capital, criada em 1962, sofre prejuízos de diferentes origens que envolvem o financeiro e também o afetivo. “Vamos completar sete anos sem atividades. É muito difícil manter as instituições assim”, afirma o presidente da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), Rafael Fernandes de Souza. Apesar de algumas atividades serem realizadas para ajudar economicamente a escola, a pandemia paralisou todos os encontros presenciais.
 
“Tivemos nossa primeira live no sábado, para escolher um samba enredo para 2021, mesmo sabendo que não iríamos para a avenida”, diz Rafael sobre a primeira transmissão ao vivo realizada pelo Instagram da Aruc, a fim de manter as atividades on-line e para comemorar os 59 anos que a escola completa amanhã. “Mas esperamos uma maior segurança sanitária, para a gente poder realizar alguma atividade carnavalesca, afinal, não queremos deixar esse movimento cultural morrer”, complementa o presidente.
 
O presidente da escola de samba Império do Guará, Edivaldo Lucas da Silva, traz uma perspectiva de quanto o carnaval movimenta a economia nas comunidades. “No lado financeiro, para nós que somos empresas sem fins lucrativos, não temos gastos diretamente só quando tem carnaval. As pessoas que trabalham estão sentindo falta, porque, nessa época, estão empregados”, pontua Edivaldo, que chama atenção para os engenheiros de carros alegóricos, os carnavalescos, a equipe de bateria, figurinistas, coreógrafos entre outros.
 
Edivaldo reconhece que o cenário atual é de se cuidar e evitar aglomerações, porém compartilha a dificuldade de encontrar apoio financeiro público. Por isso, sugere uma alternativa de fortalecer a relação com instituições privadas com leis de incentivo a cultura. “O meu objetivo é focar nas leis, em que o governo incentive mais as escolas de samba, como qualquer outra parte cultural, e também as empresas privadas, para que conheçam mais elas”, afirma o representante.
 
Efeito dominó
 
Entre os tradicionais e cada vez mais populares blocos de carnaval, houve surpresa, mas também algumas manifestações de apoio às decisões. “Estamos convivendo com um momento único. É muito difícil prever decisões que envolvam segurança sanitária. Talvez, fosse interessante mesmo adiar a festa. Concentrar festejos no aniversário dos 61 anos de Brasília, por exemplo, talvez fosse uma decisão mais coerente”, opina Pablo Feitosa, diretor do Suvaco da Asa, bloco que, em 2015, agitou mais de 100 mil foliões.
 
Afora a pandemia e a falta de vacina, que trazem “prejuízo para a cultura e para muitos trabalhadores, sem dúvida”, como destaca Pablo, há espaço para críticas paralelas. Há 15 anos na estrada, e com público atual na faixa de 35 mil pessoas, o bloco complementa com apoiadores o patamar anual de gastos superiores a R$ 200 mil. “Há os artistas a serem pagos e ainda a segurança. Diante das exigências do GDF, cerca de 70 a 80% do que é levantado vem a ser consumido na estrutura da festa. Entre artistas, seguranças e brigadistas, temos mais de 300 pessoas envolvidas. Há grupos, virtualmente dispensados (para 2021), como a Orquestra popular Marafreboi, Patubatê e Vivendo e Batucando, entre outros”, conta Pablo Feitosa.
 
Integrante de grupos brincantes como Rebu e o Bloco das Caminhoneiras, Dayse Hansa, uma das articuladoras do coletivo de blocos Fora do Armário (que conta com 36 blocos LGBTs), observa que há medida drástica do GDF. “Há pelo menos 10 anos, os blocos impactam o PIB, a receita local, estando entre os maiores festejos do calendário da cidade. A verba maior é de origem pública. Não é possível ser bloco de rua, sem receita de bilheteria, e não contar com subvenção do estado. Rendemos, de três a quatro vezes, os aportes iniciais”, comenta.
 
O Fora do Armário contabiliza pelo menos 400 mil foliões por ano concentrados em blocos como Essa Boquinha eu já Beijei, Bloco das Montadas, Bloco do Amor e mais 33 grupos. Diante da medida, o momento dos blocos é de mobilização e organização. “A palavra cancelamento não é apropriada. O correto seria adiar o carnaval. Fazê-lo em junho de 2021. Isso porque estamos num contexto de pandemia que matou 200 mil pessoas. Não tínhamos a dimensão dos efeitos dela, que traz a questão das aglomerações. No âmbito do coletivo, isso tudo é preocupante”, comenta Dayse. Os blocos teriam à disposição valores de editais, com faixas previstas entre R$ 15 mil e R$ 200 mil.
 
Com resultados de reunião anual de 8 mil a 30 mil pessoas a cada ano, o Bloco Eduardo e Mõnica, desde 2017 na pista, obteve apoio do GDF apenas no impulso inicial, pelo que explica o fundador Marquinho Vital. “Recorremos ao apoio de empresas, a partir de 2018. E ganhamos nova dimensão, em 2019 e 2020 (deslocados para Yurb), com o fator limitante para prover segurança”, observa Marco. A notícia dos cortes públicos chega na toada prevista por ele. “Havia a ideia de que não rolaria incentivo financeiro a grandes aglomerações, por parte do governo. A nossa preocupação é a de haver a possibilidade de ter eventos com número de pessoas grande, diante da pandemia e da falta de vacina”, sublinha.
 
 
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

Correio Braziliense segunda, 19 de outubro de 2020

CONCURSEIROS: OS ESTUDOS CONTINUAM

Jornal Impresso

Os estudos continuam
 
Provas adiadas, bibliotecas e cursinhos fechados.
 
Em tempos de incerteza, concurseiros adaptam a rotina de preparação aos efeitos da pandemia, entre eles, o isolamento social, que fez com que a maioria das pessoas ficasse em casa

 

Thalyta Guerra*

Publicação: 19/10/2020 04:00

 

Mayara Neres conciliou os seus horários de estudos com os momentos de atenção à família (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Mayara Neres conciliou os seus horários de estudos com os momentos de atenção à família

 

 

Preparar-se para concursos públicos está mais difícil devido às medidas de isolamento social impostas pela pandemia do novo coronavírus. O Correio conversou com alguns concurseiros que viram a rotina mudar por força da crise sanitária. Com bibliotecas fechadas, crianças e adolescentes em casa e home office, novas estratégias de estudos tiveram de ser adotadas.


Para a advogada Camila Fontana, 30 anos, o silêncio é essencial para um bom ambiente de aprendizagem. Antes da pandemia, ela frequentava a biblioteca da faculdade onde se formou para estudar. Agora, tendo como alternativa apenas o apartamento onde mora com mãe, pai e dois irmãos, no Cruzeiro, a dedicação diminuiu. “O barulho é o meu maior desafio, porque acabo fazendo com que todos da casa sigam meus horários. Tevê alta nem pensar, nem ouvir música alta. Não consegui manter a rotina, falhei muitos dias”, lamenta.


Para a especialista em concursos públicos, psicóloga Juliana Gebrim, manter o bem-estar emocional enquanto se estuda para concursos públicos é fundamental, sobretudo no cenário atual. “A concentração é algo que deve ser analisada com profissionais da área de saúde. Inúmeros estudantes podem ter processos ansiosos, depressivos ou até um quadro de anemia. Aí, o aluno ‘enxuga gelo’, a autoestima fica abalada e a causa não é tratada”, explica.


A arquiteta e urbanista Mayara Neres, 26, conta que a dedicação exclusiva para os estudos, por si só, é estressante. “Um dos fatores pelo qual sempre preferi estudar na biblioteca a estudar em casa, era por conseguir manter uma rotina rígida, estudar em um ambiente silencioso, propício, e ter contato com outras pessoas que compartilhavam diariamente a mesma rotina, o que tornava tudo, de certa forma, até mais leve”, avalia.


Devido às medidas de enfrentamento à covid-19, Mayara teve de redobrar o empenho para seguir com os estudos em casa, em Samambaia, onde mora com pai, mãe e irmã. “Ao passar dos meses, acabei conseguindo estabelecer uma rotina à medida que conhecia melhor os horários, mais ou menos produtivos, e que, ao mesmo tempo, adequavam-se com as obrigações ligadas à família”, conta. “O esforço para conseguir me manter concentrada com o estudo em casa é imensamente maior, esforço esse, que considero responsável por um maior desgaste mental”, analisa.


Juliana Gebrim ressalta que o ambiente ideal para o aprendizado sempre será algo individual, conforme as necessidades de cada um, mas usualmente há semelhanças entre esses locais. “Um lugar organizado, claro e arejado sempre vai ajudar. Mas, é preciso observar se esse ambiente tem barulho, se é frequentemente movimentado por familiares, porque isso vai gerar interrupções que podem prejudicar a concentração. Ouço muitos depoimentos de pessoas que estudam em casa e sofrem com as interrupções dos parentes”, aconselha.


Mayara teve a prova suspensa por mais de uma vez, no início da pandemia e novamente no mês de setembro. Em casos como esse, a psicóloga recomenda que o candidato veja o adiamento do certame como uma oportunidade. “Quando os alunos reclamam sobre o cancelamento de alguma prova, eu sempre pergunto se eles se consideram 100% preparados para aquele concurso e todos, sem exceção, sempre respondem que não. Então, minha orientação é para que eles encarem isso como uma chance para tirar dúvidas com professores, reforçar aquele conteúdo que sempre teve mais dificuldade e cuidar do emocional para essa nova etapa de estudos”, explica.
A bacharela em direito Maíra Nunes, 33 anos, está há três anos estudando para concursos públicos, e a pandemia não facilitou o processo. “Foi muito difícil manter a rotina de estudos, até por conta de alguns problemas pessoais, mas, tenho para mim, que desistir não é uma opção. Voltei aos poucos e, hoje, consigo cumprir minha rotina de forma mais estabilizada”, relata.


Antes da chegada do novo coronavírus no DF, Maíra vivia com os pais, no Guará. Por serem idosos, ela se mudou, momentaneamente, para a Asa Norte.  “A pior parte do isolamento é ficar longe da minha família e dos meus amigos mais próximos. Não poder abraçá-los é muito ruim. Mas, penso que neste momento precisamos nos distanciar para podermos nos reencontrar o mais rápido possível”, afirma.


O que esperar?
Diretor-presidente e fundador do Gran Cursos Online, Gabriel Granjeiro acredita que o ciclo de aplicação de concursos deve ser adiado para o ano que vem e afirma que os candidatos não devem parar com os estudos, mesmo que não mantenham o ritmo de antes da crise sanitária. “O importante é gerar uma frequência que seja sustentável, alguns dias pode não conseguir, mas outros sim. Com o tempo, gera hábitos, e esses, geram a rotina e os resultados”, completa Gabriel.


Até o final deste ano, segundo Gabriel Granjeiro estão previstos os editais dos concursos da Secretaria de Educação do Distrito Federal e Secretaria de Saúde, da Polícia Civil do DF e da Polícia Federal (PRF). Para o ano que vem, de acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA), estão previstos os editais dos concursos para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), Departamento de Trânsito (Detran), Procon e DF Legal. “Não está garantido, mas há um indicativo”, ressalta o empresário.

Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho


Correio Braziliense domingo, 18 de outubro de 2020

DIA DO MÉDICO: DOS CONSULTÓRIOS, ELES INSPIRAM

Jornal Impresso

Dos consultórios, eles inspiram
 
 
No Dia do Médico, comemorado hoje, profissionais de diversas especialidades e pacientes falam sobre a rotina deles e o dia a dia durante a pandemia do novo coronavírus

 

Publicação: 18/10/2020 04:00

Ana Helena Germoglio 
inspirou-se na profissão da 
mãe ao tornar-se infectologista (Edgar Marra/Divulgação - 29/6/20)  

Ana Helena Germoglio inspirou-se na profissão da mãe ao tornar-se infectologista

 


» CAROLINE CINTRA
 
Responsáveis por cuidar e promover a saúde de toda a população, os médicos têm papel fundamental na vida de todo ser humano, seja incentivando uma rotina saudável, orientando na prevenção contra doenças ou tratando determinadas enfermidades. No Brasil, hoje, 18 de outubro, é comemorado o dia desses profissionais, que merecem todo respeito e reconhecimento pelo trabalho árduo e dedicação à vida do próximo. A data foi escolhida em homenagem a São Lucas, o padroeiro da medicina (leia Você sabia…). Embora tenham o dia a dia sempre agitado, esse ano, os médicos tiveram de enfrentar algo novo e redobrar esforços para trabalhar no combate da covid-19.
 
Nascida em João Pessoa (PB),  Ana Helena Germoglio, 40 anos, inspirou-se na profissão e especialidade da mãe, também infectologista. Ela lembra que na infância, às vezes, saia da escola e não tinha onde ficar, então, era levada para o hospital. “Eu tenho essas lembranças fortes na memória, da rotina dela. Aprendi muito com minha mãe e ela também foi minha professora da faculdade. Foi dela que veio essa vontade em mim. Nunca me vi fazendo outra coisa”, diz.
 
Para ela, a especialidade ainda é discriminada, por lidar com doenças consideradas tabus, como a Aids. “A maioria das pessoas mal sabia do infectologista antes da pandemia. O profissional era deixado de lado, era considerado muito hospitalar. Ninguém tem um infectologista. A pandemia deu uma visibilidade a mais”, afirma a especialista.
 
Hoje, Ana Helena é um desses profissionais que atuam na linha de frente do combate à doença e precisa dedicar-se integralmente aos pacientes. Desde fevereiro, quando o novo coronavírus chegou ao Brasil, ela está à disposição 24 horas por dia. Quando não no consultório, pelo celular. “Nunca trabalhei tanto e nunca estudamos tanto em tão pouco tempo, porque ainda sabemos pouco da doença. Traz um cansaço psicológico e físico para todos que trabalham no controle da infecção. Precisei ficar dois meses longe do meu filho, porque temos de cuidar de quem mora com a gente também. Valeu a pena, eu faria tudo de novo. Passaria todos os perrengues novamente”, declara. 
 
Paixão
Especialista em cirurgia cardiovascular e atual coordenador das unidades de terapia intensiva (UTIs) dos hospitais Santa Luzia e DF Star, Marcelo Maia, 55, está na profissão a quase três décadas. Para ele, a paixão pelo trabalho é o que dá forças para seguir, até mesmo nos dias mais exaustivos. Ele também tem atuado na linha de frente, tratando pacientes com covid-19 em estado grave. “Trabalhar em terapia intensiva é exaustivo. A gente lida com todo tipo de situação. Quando um paciente falece, é uma dor para todos, porque nos envolvemos com a família, que já estava ali fragilizada. Mas, nós médicos, não passamos por tudo isso sozinhos. Tem uma equipe que atua conosco, trabalhamos em conjunto para ter o melhor resultado”, afirma.
 
De uma família predominantemente de empresários, Marcelo sonhava desde a infância em ser médico. Nascido em São Paulo, ele fez residência na Santa Casa de São Paulo. Em 1998, desembarcou no Distrito Federal para atuar na profissão. O cirurgião lembra da primeira vez que pisou no hospital como médico. “Foi muito bom. Comecei a ver os pacientes como sendo minha responsabilidade e a colocar em prática a teoria aprendida em anos. Ser médico é ter paixão pelo o que faz, porque é uma atividade diária”, lembra.
 
Morador do Sudoeste, o aposentado Paulo César Zoghbi, 60, foi diagnosticado com o novo coronavírus e precisou ficar 14 dias internado na UTI do Hospital Santa Luzia. Aos cuidados do intensivista, ele contou que a equipe médica tornou-se família no período de isolamento. “Tinha contato com meu filho por videochamada no celular, era a forma de suprir a necessidade de afeto. O doutor Marcelo e toda a equipe foram muito atenciosos. Esses profissionais merecem ser mais valorizados. Estão na linha de frente, correm risco e merecem todo reconhecimento”, destaca.
 
Emoção
Quando criança, a oncologista da Oncoclínicas Brasília Ludmila Thommen, 38, sonhava em ser pediatra. Enquanto cursava medicina, a mãe dela descobriu um tumor no cérebro e começou um tratamento contra o câncer. Como precisou cuidar da mãe durante o processo, decidiu optar pela oncologia. “Despertou essa vontade em mim. Trabalhei no Hospital do Câncer de Mato Grosso, mais ou menos no mesmo período. Tive contato com crianças e adultos com a doença e decidi ir para esse caminho”, conta.
 
Ela lembra que assim que começou atuar na área sentiu-se angustiada e precisou aprender a controlar as emoções. “A gente lida com algo muito importante do ser humano, que é a vida, transformamos vidas. Chegamos da faculdade, normalmente, sem muito contato com o paciente, mas a prática do dia a dia nos molda a criar nosso jeito de lidar com cada situação”, explica. 
 
No começo da pandemia, a oncologista ficou receosa dos pacientes interromperem o tratamento, por fazerem parte do grupo de risco. “Nenhum deles abandonou o tratamento. Precisamos nos adaptar ao momento, tentamos fazer telemedicina. Eles ficaram mais isolados nesse momento. Desde setembro, começaram a voltar presencialmente. Eles têm essa consciência de se cuidar, e estão voltando a fazer os exames”, afirma Ludmila. 
 
Para ela, ser oncologista vai além de uma relação entre médico e paciente. “Temos de ir além, entender o próximo de forma integral”, destaca. Essa aproximação fez com que ela se tornasse amiga de muitos pacientes. Como é o caso da professora Rosilda de Souza, 44. Ela foi diagnosticada com câncer de mama em julho de 2018, quando conheceu a oncologista. “Criamos um vínculo enorme. Comecei o tratamento e ela sempre foi cuidadosa, criamos uma amizade mesmo”, afirma. Curada da doença no início de 2019, Rose diz que deve muito à médica. “A amizade ajudou na minha cura. O tratamento ficou mais leve, mais tranquilo. Ela está sempre disponível, até hoje”.
 
Pioneiro
“Acompanhei a evolução da medicina, desde quando não havia o eletrocardiograma”. A declaração é do cardiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor) Ayrton Perez, 73, que comemora 50 anos de profissão. Nascido em Pouso Alegre (MG), ele chegou em Brasília no ano da inauguração da nova capital do país, em 1960. Integrou a segunda turma de medicina da Universidade de Brasília (UnB) e, hoje, é um dos mais conceituados profissionais da sua especialidade. A ideia de ser médico surgiu ainda na época escolar. Ele conta que o sonho maior era encontrar a cura do câncer. Antes dele, na família, apenas seu avô seguiu carreira médica. Hoje, dois netos também optaram pelo mesmo caminho.
 
A paixão pela cardiologia começou na faculdade. “A escola de medicina da UnB foi inovadora no ensino médico, colocava os alunos mais cedo na prática. A partir do quarto ano, tínhamos de trabalhar no hospital. Quando fui pela primeira vez, o coração estava acelerado”, relembra. À época, tinha o apoio dos professores nos procedimentos. “Depois de formado, não podia chamar mais ninguém, eu era o médico”, brinca Ayrton.
 
No 50º ano de profissão, ele se sente realizado, satisfeito e grato. “Tivemos a chance de realizar vários relatórios de ações e doutorado. Mas, o mais importante, é minha relação com os pacientes. É para a vida inteira. Uma parceria, amizade e relação de confiança”, declara o cardiologista. “A medicina evoluiu nos últimos 50 anos, e em 10 tudo vai mudar, com a ajuda da inteligência artificial. Acompanhar tudo isso é gratificante e emocionante”, finaliza.
 
 
Você sabia...
 
» O Dia do Médico é comemorado em 18 de outubro, pois faz referência ao Dia de São Lucas, o santo padroeiro da medicina. Ele era médico e foi um dos apóstolos de Jesus Cristo e autor de Atos dos Apóstolos e de um dos evangelhos da Bíblia, que leva seu nome. Em seus textos, é comum encontrar histórias de muitos milagres, inclusive voltadas à cura. 

Correio Braziliense sábado, 17 de outubro de 2020

AS FORTES RAÍZES SERTANEJAS

Jornal Impresso

As fortes raízes sertanejas
 
Representantes da arte e cultura caipira do centro-sul do Brasil resgatam a ancestralidade do gênero, ao passo que ocupam e se adaptam às novas mídias

 

» Lisa Veit*

Publicação: 17/10/2020 04:00

Volmi Batista lança primeiro disco solo Batuques e Calangos, pelo projeto Caboclo (LR Fernandes/Divulgação)

 

 
Volmi Batista lança primeiro disco solo Batuques e Calangos, pelo projeto Caboclo
 
Casa do Cantador, em Ceilândia: um dos locais de resistência da música caipira (Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)

 

 

Casa do Cantador, em Ceilândia: um dos locais de resistência da música caipira

 

 
 
 
Na busca de raízes ainda mais profundas e copas mais frondosas e altas, a cultura caipira tem resgatado (com novas produções e pesquisas) as matrizes da própria sonoridade, do imaginário e das tradições, ao mesmo tempo em que deseja ter maior visibilidade, reconhecimento e fomento. A música caipira, por exemplo, materializada na madeira sinuosa e nas (10 ou 12) cordas da viola, resiste ao tempo e à discriminação do mercado fonográfico. Há muito tempo, a vertente caipira é associada a uma imagem oposta à modernidade.
 
“Tem um ditado muito certo que diz: ‘A música caipira nunca foi sucesso (na grande mídia), mas também nunca deixou de ser sucesso’. O que muita gente faz aqui é ainda mais profundo: a busca das raízes ancestrais da música caipira. Muitos investidores — que têm financiado lives — dizem que o nosso produto não interessa ao público consumidor deles, em sua maioria, jovens. E, nesse momento, embora não pareça, o movimento da música caipira está muito bem atualizado sobre as novas mídias e sobre as novas formas de participação”, diz Volmi Batista, violeiro, músico e pesquisador, atuante no movimento cultural de Brasília há mais de quatro décadas.
 
Os cantos da manhã, consagrados nas rádios interioranas do Brasil, presentes em programas de tevê, como Brasil caipira, ou a tradicional Viola, minha viola, anteriormente apresentado por Moraes Sarmento e Nonô Basílio, e, em seguida, pela parceria entre Sarmento e Inezita Barroso, agora também podem ser encontrados nas plataformas digitais e lives nas redes.
 
Em 2019, a música caipira comemorou 90 anos, tendo com referência o primeiro EP gravado da história, em 1929, por Cornélio Pires, que possibilitou a inserção dessa música no meio fonográfico, na rádio e no contexto urbano. Volmi comemorou esse aniversário no tradicional Encontro dos Violeiros e Violeiras do DF, promovido pelo Clube do Violeiro Caipira de Brasília, e fala sobre a inserção da data no calendário oficial. “Nós estamos com o projeto da criação do Dia Nacional da Música e da Viola Caipira desde de 2016, no Congresso Nacional, em homenagem a esse segmento, uma das mais importantes cadeias produtivas da cultura brasileira.” Assim, a comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou o projeto que institui 13 de julho como o Dia Nacional da Música e Viola Caipira (PL nº 7881/17).
 
Pouco tempo depois da iniciativa on-line Viola Central, apresentada pelo Correio ainda em julho deste ano, Volmi Batista faz a estreia dupla em um outro projeto do movimento cultural caipira, Caboclo, com o primeiro disco solo, Batuques e calangos. O disco é o produto inicial do projeto que, por meio de diversas linguagens artísticas, propõe uma contribuição na visibilidade “a esse rico e pouco conhecido sertão profundo do nosso Brasil”, a partir da figura miscigenada do caboclo.
 
Em Batuques e calangos, Volmi descreve uma conversa entre os ritmos que dão nome ao álbum, e entre diversas outras expressões da música popular brasileira, como o maracatu, a catira tocantinense, a congada (em Linda cabocla), e ainda, o rock rural (de Mês de agosto). “O disco é composto de 14 faixas, diversificadas tanto na parte rítmica quanto na linguagem poética, tem muito linguajar típico. Contemplo praticamente todas as regiões do Brasil nesse disco, musicalmente falando”, ressalta Batista. “Tive a felicidade de gravar, o Canto das fiandeiras, em 2003, quando Dona Gercina ainda era viva. Gravei duas músicas dela, a outra é Tá tudo errado, que mostra o talento que tinha essa figura popular da Sagarana, em Minas Gerais”, completa.
 
O disco conta com parcerias, como o violeiro Galba, em Calango bambo, além de trazer vocais de Geralda e Mariana, esposa e filha de Volmi, respectivamente, e pode ser conferido no Spotify, Deezer e outras plataformas, como também no canal do YouTube. Agora, o músico espera a chegada da versão física em CD, para marcar a live de divulgação.
 
O violeiro caipira destaca os desafios da produção na pandemia. Diz que sentiu muito não poder contar com a batida original do tambor-onça na canção Batuque da rainha, ou pela mudança feita no ritmo da catira tocantinense, na falta dos pandeirões típicos, impedidos de serem levados ao estúdio. “Apesar disso, muitas pessoas tiveram a oportunidade de escutar e gostaram do trabalho. Senti que consegui mostrar essa diversidade rítmica e de linguagem da cultura popular”, conclui.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 

Correio Braziliense sexta, 16 de outubro de 2020

DINHEIRO NA CUECA LEVA GOVERNO A AFASTAR O VICE-LÍDER

Jornal Impresso

Dinheiro na cueca leva o governo a afastar vice-líder

Flagrado com R$ 33 mil na cueca, em operação da Polícia Federal que investiga o desvio de recursos destinados ao enfrentamento à covid-19 em Roraima, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) provocou rápida reação do Palácio do Planalto. Aliado e velho conhecido de Bolsonaro, ele se viu obrigado a deixar o cargo de vice-líder do governo no Senado. E o presidente ainda destacou a ação da PF como prova de que, na sua gestão, o combate à corrupção continua. %u201CNão interessa quem seja a pessoa suspeita%u201D, disse. No STF, o demista sofreu outro revés: o ministro Luís Roberto Barroso determinou que o parlamentar seja afastado do mandato por 90 dias. O dinheiro na peça íntima foi descoberto quando Rodrigues pediu para ir ao banheiro, e um delegado da PF percebeu um grande volume retangular %u201Cna parte traseira das vestes%u201D., Kleber

Planalto tenta se descolar de senador
 
Bolsonaro diz que Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca, não integra a sua gestão e afirma que a operação da PF contra o parlamentar prova o empenho do Executivo no combate à corrupção. Político é destituído do cargo de vice-líder do governo no Senado

 

Sarah Teófilo

Publicação: 16/10/2020 04:00

 

Bolsonaro e Chico Rodrigues se conhecem há mais de duas décadas. O senador emprega primo dos filhos do presidente em seu gabinete (@senadorchico)  

Bolsonaro e Chico Rodrigues se conhecem há mais de duas décadas. O senador emprega primo dos filhos do presidente em seu gabinete

 

 

Em meio ao escândalo envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), pego em operação da Polícia Federal, na quarta-feira, com dinheiro na cueca, o presidente Jair Bolsonaro tenta, ao máximo, desvincular sua gestão da figura do parlamentar. O político do Democratas era vice-líder do governo no Senado até o fim da manhã de ontem, quando foi publicada, no Diário Oficial da União (DOU), a dispensa dele da função. Também ontem, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento do senador por 90 dias (leia reportagem na página 4).
Apesar de Chico Rodrigues atuar pelo governo e conhecer Bolsonaro há mais de duas décadas, o presidente buscou se afastar do parlamentar e manteve o discurso de combate à corrupção. No Palácio da Alvorada, destacou que a operação que flagrou o senador foi desencadeada pela PF e pela Controladoria-Geral da União (CGU). “Ou seja, nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita”, enfatizou.


Bolsonaro fez questão de ressaltar que Chico Rodrigues não integra o governo. “Essa investigação de ontem é um exemplo típico do governo, que não tem corrupção no meu governo, e de combate à corrupção seja de quem for. Vocês estão, há quase dois anos, sem ouvir falar de corrupção no meu governo”, frisou. “O meu governo são os ministros, estatais e bancos oficiais, esse é o meu governo”. Ele disse que a ação da PF foi motivo de orgulho. “Nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita”, insistiu.


Chico Rodrigues estava no cargo de vice-líder do governo desde fevereiro do ano passado. A relação de proximidade dele com Bolsonaro se mostra, também, pela composição do gabinete do parlamentar. Desde abril de 2019, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, é assessor do senador. Ele, que tem livre trânsito no Palácio do Planalto e chama Bolsonaro de tio, pediu exoneração ontem (leia reportagem abaixo).


Nas redes sociais de Chico Rodrigues, há diversas imagens com Bolsonaro e ministros de Estado. Um deles é um vídeo, de junho deste ano, no qual ele e o presidente aparecem lado a lado falando sobre ações voltadas a Roraima. Na gravação, o chefe do Executivo chama o senador de “velho colega da Câmara dos Deputados”.


A operação de distanciamento abrange todo o Planalto. O vice-presidente Hamilton Mourão também tratou logo de se pronunciar sobre o caso, dizendo que o senador não faz parte da atual gestão. “Todos aqueles que estão dentro do Parlamento e que trabalham em favor do governo, ocupando cargos de vice-liderança e até mesmo fazendo parte da base, são uma linha auxiliar. Ele não é um membro do Executivo”, disse.


Ao contrário de Bolsonaro, porém, Mourão lamentou o ocorrido. “Sempre teve um bom relacionamento. Tem de terminar essa investigação, obviamente”, afirmou. Segundo ele, o caso mostra que o presidente não interfere na Polícia Federal.


A Secretaria Especial de Comunicação Social, ligada ao Ministério das Comunicações, divulgou uma nota assim que o desligamento do vice-líder foi publicado no DOU. “A ação da Polícia Federal e da CGU, respeitando os princípios constitucionais, é a comprovação da continuidade do governo no combate à corrupção em todos os setores da sociedade brasileira, sem distinção ou privilégios”, ressaltou.


Na última quarta-feira, enquanto ocorria a operação que atingiu Chico Rodrigues, Bolsonaro disse que daria uma “voadora no pescoço” de quem se envolvesse com corrupção dentro do seu governo.

A operação
Chico Rodrigues foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Desvid-19, que apura esquema de desvio de verbas públicas oriundas de emendas parlamentares destinadas ao combate à pandemia da covid-19 em Roraima, no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde. Conforme relatório da PF, o senador estava com R$ 15 mil “no interior de sua cueca, próximo às suas nádegas”, e mais R$ 18.150 na restante da peça íntima.


O dinheiro foi descoberto quando Chico Rodrigues pediu para ir ao banheiro, e um delegado da PF “percebeu que havia um grande volume, em formato retangular, na parte traseira das vestes do senador”. Ao ser questionado sobre o que era, o parlamentar “ficou bastante assustado e disse que não havia nada”, mas o delegado resolveu fazer buscas e encontrou dinheiro. Antes da revista pessoal no congressista, os agentes já tinham encontrado um cofre no armário do quarto dele com R$ 10 mil e US$ 6 mil (cerca de R$ 33.720).


Em nota, o senador afirmou que deixou o cargo de vice-líder para esclarecer os fatos e “trazer à tona a verdade”. “Acreditando na verdade, estou confiante na Justiça, e digo que, logo, tudo será esclarecido e provarei que nada tenho a ver com qualquer ato ilícito de qualquer natureza”, ressaltou. Chico Rodrigues disse, ainda, que acredita nas diretrizes que o presidente usa para gerir o país. “Vou cuidar da minha defesa e provar minha inocência”, destacou.

 

Saiba mais

Uma bolada em espécie
O senador Chico Rodrigues declarou à Justiça Eleitoral ter mais de R$ 500 mil em espécie, guardados em casa. As informações prestadas por ele em 2018, quando concorreu ao Senado, apontam uma soma de R$ 525 mil em dinheiro vivo.


O valor cresceu em quatro anos. Ele disputou o governo de Roraima em 2014. Na época, disse à Justiça Eleitoral guardar R$ 455 mil dentro de um cofre. De uma eleição a outra, portanto, acumulou mais R$ 70 mil em notas.


Os montantes contrastam com o que ele mesmo diz ter na conta bancária. Em 2018, excluídas as quantias de dependentes, informou R$ 4.578,03. Em 2014, declarou manter R$ 53,2 mil em uma conta do Banco do Brasil.


O patrimônio do senador saltou de R$ 1.765.047,16 para R$ 1.999.315,15, conforme dados disponíveis na base do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Significa que 26% de todos os seus bens estão em dinheiro vivo.


Não é crime manter altas quantias de dinheiro em casa. No entanto, as cifras chamam a atenção de órgãos de fiscalização. Investigadores sempre alertam que parte das declarações informadas à Justiça Eleitoral pode ser estratégia para lavagem antecipada de capital.


Correio Braziliense quinta, 15 de outubro de 2020

POLÍCIA FEDERAL ENCONTRA DINHEIRO NA CUECA DO SENADOR

Jornal Impresso

PF encontra dinheiro na cueca de senador

 

Publicação: 15/10/2020 04:00

 

Vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues nega irregularidades (Edilson Rodrigues/Agência Senado)  

Vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues nega irregularidades

 

 

O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), alvo de operação da Polícia Federal ontem, em Boa Vista, escondeu dinheiro na cueca durante a abordagem dos policiais. A investigação, sob sigilo, apura desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia de covid-19, oriundos de emendas parlamentares. A ordem de busca e apreensão foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).


Segundo fontes, foram encontrados R$ 30 mil dentro da cueca de Rodrigues. Ao todo, os valores descobertos na casa chegariam a R$ 100 mil. A investigação apura indícios de irregularidades em contratações feitas com dinheiro público, que teriam gerado sobrepreço de quase R$ 1 milhão.
As informações oficiais da PF, dado o sigilo do caso, se limitam a dizer que foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão durante a operação, que busca a “desarticulação de possível esquema criminoso voltado ao desvio de recursos públicos, oriundos de emendas parlamentares”.
A Controladoria-Geral da União (CGU), que também faz parte da investigação, disse que a operação Desvid-19, realizada em Roraima, apura o “desvio de recursos públicos por meio do direcionamento de licitações”. Ainda segundo o órgão, as contratações suspeitas de irregularidades, realizadas no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde, envolveriam, aproximadamente, R$ 20 milhões que deveriam ser usados no combate ao novo coronavírus.


Chico Rodrigues emprega Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro, como assessor parlamentar, em seu gabinete no Senado. Em nota à imprensa, o parlamentar disse que tem “um passado limpo e uma vida decente” e afirmou nunca ter se envolvido em escândalos. “Acredito na justiça dos homens e na justiça divina. Por este motivo, estou tranquilo com o fato ocorrido, hoje (ontem), em minha residência em Boa Vista. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado. No entanto, tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate à covid-19 para a saúde do estado”, afirmou.


Correio Braziliense quarta, 14 de outubro de 2020

ATIVIDADE FÍSICA: ESSENCIAL PARA A SAÚDE

Jornal Impresso

Essencial para a saúde: atividade física
 
Educadores físicos e personal trainners tiveram que se adaptar com as restrições impostas pela pandemia. Atendimentos por videochamada, ao ar livre ou em domicílio foram algumas das opções encontradas

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 14/10/2020 04:00

Viviane abriu estúdio no início do ano e precisou fechar três meses depois: desafio de dar a volta por cima (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Viviane abriu estúdio no início do ano e precisou fechar três meses depois: desafio de dar a volta por cima

 

 
O ano de 2020 mostrou-se repleto de desafios para os profissionais que atuam como educadores físicos e personal trainners. Assim como outras categorias, o segmento foi impactado com as restrições impostas pela pandemia da covid-19. Com a suspensão das atividades em academias e, pouco tempo depois, com o fechamento dos parques, a forma de ofertar esse serviço precisou de adaptação. Atendimento por videochamada, lives nas redes sociais ou aulas em domicílio foram algumas das alternativas encontradas por aqueles que trabalham com esse setor.
 
Para Marco Rodrigo Vieira Silva, 45 anos, migrar para o meio digital foi uma das principais barreiras. “A pandemia nos desestabilizou em vários sentidos. O espaço, que é a nossa ferramenta de trabalho, nos foi privado, teve a redução de salário, o receio dos alunos, com tudo isso, tive que me adaptar. Confesso que estou apanhando bastante no on-line”, relata o profissional, que atua na área há 20 anos. Ele conta que procurou cursos para entender mais sobre marketing e as ferramentas disponíveis nas plataformas digitais.
 
Em abril, o educador físico disponibilizou a primeira série de aulas on-line. “Bem no período que as pessoas estavam fazendo as lives e resolvi fazer também. Com exercícios adaptados para o que as pessoas têm em casa. E disponibilizei o conteúdo de forma gratuita”, pontua. Na avaliação dele, mesmo com as oportunidades e facilidades que o mundo digital oferece, nada se compara ao contato presencial. “Gosto muito de estar ali com o aluno. Saber se ele está bem, no emocional, ter essa conversa. Isso o on-line não proporciona. Devo continuar com as duas opções, mas o digital não será a principal linha de trabalho”, afirma.


Marco Rodrigo atua na área há 20 anos e ofereceu aulas on-line no início das medidas de contenção do coronavírus (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Marco Rodrigo atua na área há 20 anos e ofereceu aulas on-line no início das medidas de contenção do coronavírus

 




Adaptação
 
Moldar-se conforme a necessidade de cada aluno foi o caminho seguido por Luciana Gusmão, 50. “Todos nós tivemos que nos adaptar, procurar locais abertos, o on-line. Isso não substitui a academia, mas é melhor do que não fazer nada”, ressalta a educadora com experiência de 30 anos no segmento.
 
De acordo com ela, o período mais complicado foi o primeiro mês após o decreto que determinava o fechamento de todos os estabelecimentos não essenciais como medida de prevenção à disseminação do novo coronavírus. “Nos primeiros 30 dias, houve bastante resistência das pessoas, muitas achavam que a pandemia ia passar logo e, por isso, não queriam continuar. Com o tempo, isso foi mudando. Também fiz um trabalho para reconquistar o público”, conta.
 
As aulas nas áreas verdes localizadas nas superquadras do Plano Piloto trouxeram visibilidade para a profissional, que ganhou mais adeptos. Após a retomada das atividades em academias, o trabalho voltou para o ambiente interno, acompanhado de todos os cuidados. Apenas os idosos, grupo de risco para a covid-19, estão recebendo atendimento em domicílio.
 
Dificuldades
 
A atleta e personal trainner Viviane Gonçalves da Silva, 37, também sentiu o baque da chegada da pandemia. “Estava abrindo um estúdio no início do ano e precisei fechar três meses depois. Meu público é de idosos e pessoas com algum tipo de problema de saúde, então, fiquei, de um dia para o outro, sem renda”, relata. Foram quatro meses vivendo apenas da aposentadoria do pai, com a mãe em tratamento contra um câncer.
 
“Minha vida virou de pernas para o ar. Tive início de depressão, não olhava as redes sociais com as lives e fiquei um tempo off-line. Comecei a fazer terapia e fui voltando aos poucos”, explica. A reabertura das academias, em julho, trouxe novo ânimo. “Pude reabrir o estúdio e voltar com o atendimento presencial e encarar o on-line”, ressalta. De cinco alunos por hora, ela passou a receber apenas dois em cada turma. Tudo para proporcionar um ambiente seguro. Em alguns casos, há a possibilidade de modelo híbrido, com um no presencial e outro por videochamada.
 
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Educação Física, Patrick Novaes Aguiar, cerca de 10 mil educadores físicos foram impactados com a pandemia no Distrito Federal. “Teve muita gente que nos relatou dificuldade para se adaptar à nova realidade. Alguns ficaram totalmente sem renda. Chegamos a fazer uma ação para recolher alimentos para ajudar essas pessoas”, afirma. Foram mais de 150 famílias atendidas pela iniciativa. Mesmo diante de um cenário de recuperação, Patrick acredita que o setor deva passar por um outro desafio: a crise financeira. “A gente ainda não conseguiu mensurar o impacto econômico, isso se mostrará daqui a algum tempo”, avalia.


10 mil
Número de educadores físicos impactados pela pandemia no DF

Correio Braziliense terça, 13 de outubro de 2020

FÉ EM NOSSA SENHORA APARECIDA

Jornal Impresso

Fé em Nossa Senhora Aparecida

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 13/10/2020 04:00

Missa das 18h foi celebrada por dom Marcony, bispo-auxiliar de Brasília (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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Missa das 18h foi celebrada por dom Marcony, bispo-auxiliar de Brasília

 

Mesmo em meio à pandemia, a Catedral de Brasília celebrou o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e de Brasília. Com todas as medidas de segurança, três missas foram realizadas ao longo do dia para evitar aglomerações e a disseminação do novo coronavírus. Alguns fiéis que participaram do evento consideram que foi possível aproveitar a data, mesmo sem a tradicional festa na Esplanada dos Ministérios.
 
A missa das 18h foi celebrada por dom Marcony, bispo-auxiliar de Brasília. Apesar de a capacidade da Catedral ser de 360 lugares, foram disponibilizados 120, respeitando o distanciamento social. Para participar das celebrações, os fiéis precisaram realizar agendamento pelo telefone ou e-mail da igreja.
 
Maria Cristina Silva, 67 anos, esteve nesta última celebração. Católica, sempre participa da procissão de Nossa Senhora Aparecida. Este ano, ela considera que, mesmo sem manter a tradição, foi possível aproveitar. “Estar na Catedral me traz uma paz maior e uma sensação de estar mais próxima de Deus”, afirma. A aposentada mora em Samambaia e se deslocou até a Catedral às 13h. “Fiquei em comunhão e contato com Deus enquanto a missa não começava. É uma missa sagrada para mim”, diz.
 
Durante o evento, o bispo dom Marcony pediu que os fiéis aplaudissem Nossa Senhora. Para ele, a missa ficará marcada na história. “Estamos nos adequando ao momento de pandemia”, considera. Apesar de avaliar positivamente a missa, ele espera que, em 2021, seja possível realizar a procissão no centro da capital federal. “Logicamente, vem a nostalgia de ver aquele mar de velas na Esplanada. Porém, precisamos manter as medidas de segurança até que este momento passe”, completa.

Correio Braziliense segunda, 12 de outubro de 2020

SOB O MANTO DE NOSSA SENHORA

Jornal Impresso

Sob o manto de Nossa Senhora
 
Fiéis comemoram, hoje, a data da padroeira do Brasil e de Brasília. O Correio conta histórias emocionantes de devotos

 

» ANA MARIA DA SILVA*
» Tainá seixas

Publicação: 12/10/2020 04:00

Devota, Ivonete Maria, 63 anos, veio de Blumenau (SC) para conhecer a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

 

 

Devota, Ivonete Maria, 63 anos, veio de Blumenau (SC) para conhecer a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida

 



Foi em 1717 que três pescadores da região do Vale do Paraíba, em São Paulo, passaram a noite inteira em busca de peixes, mas não obtiveram sucesso. Durante as tentativas, eles tiraram das águas escuras uma imagem de Nossa Senhora, que veio nas redes em dois pedaços: primeiro o corpo e, em seguida, rio abaixo, a cabeça. No local, foi criado um pequeno altar como forma de agradecimento a Nossa Senhora pelo seu primeiro milagre. Nascia ali uma devoção à santa, nomeada Nossa Senhora Aparecida.

Há mais de três séculos, a santa virou padroeira do país. Em Brasília, “Cidinha” — como foi carinhosamente apelidada por fiéis devotos — também tornou-se patrona. A tradicional peregrinação, que anualmente reúne centenas de católicos na Esplanada dos Ministérios todo 12 de outubro, não vai ocorrer este ano, devido à pandemia da covid-19.

A solenidade foi transferida para a Catedral de Brasília, onde haverá três missas ao longo dia. De manhã, às 9h, a missa será presidida por Dom José Aparecido; às 12h, por Dom Joel Portella, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e às 18h, o celebrante é Dom Marcony, bispo Auxiliar de Brasília. A oração do Terço e o Ofício de Nossa Senhora cantado será às 15h. Apesar de a capacidade da Catedral ser de 360 lugares, serão disponibilizados 120, respeitando o distanciamento social. Para participar das celebrações, é preciso fazer o agendamento pelo telefone ou e-mail da igreja (veja Como participar).

O padre João Firmino Galvão Neto, da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, explica a importância da devoção. “Ela é o exemplo de mulher que confiou em Deus, nos seus ensinamentos e promessas, e se abriu a tais realizações em sua vida, aceitando a maternidade numa realidade temporal bem diferente da que vivia e da que ainda vivemos hoje”, ressalta. “Ela é, em vida, uma grande intercessora e presente nas situações importantes da vida de Jesus e da Igreja. É Mãe de Deus e nossa, como versa um cântico religioso”, explica o sacerdote.

A capital federal tem Nossa Senhora Aparecida como patrona. “Na primeira missa oficial, no início da construção da cidade, uma réplica original de sua imagem, que antes percorreu todas as capitais brasileiras existentes à época, é trazida de presente para a nossa cidade. É ela que está no altar central de nossa Catedral para veneração de todos”, ressalta o pároco.

Entrega

Canal de graça na vida da professora Nayele Guimarães Ribeiro Barbosa, 25 anos, e do marido, o técnico de informática Samuel Fabrício Barbosa Tavares, 30, a famosa “Cidinha” fez-se presente na caminhada do casal. “A minha devoção começou pelos meus pais. Em 2011, eu conheci o Samuel, e percebi que ele também era muito devoto. Nós ficamos muito amigos, começamos a namorar em 2013”, conta a professora.

Desde então, novas tradições foram constituídas pelo casal. Anualmente, Samuel e Nayele vão até a Basílica de Nossa Senhora Aparecida fazer a romaria e agradecem o relacionamento. A entrega fortaleceu a união do casal, oficializada em 2017. “Nosso casamento foi todo dedicado à Nossa Senhora. Ela organizou cada detalhe, e esteve presente espiritualmente conosco em cada organização. Saiu tudo da forma que desejávamos”, lembra.

“Ano passado, no dia 13 de outubro, eu descobri que estava grávida. Era uma graça que já estávamos pedindo à Nossa Senhora, para que quando estivéssemos preparados ela mandasse a nossa filha”, lembra. “Eu tenho certeza que foi através de seu pedido que muitas bênçãos foram e são derramadas sobre nós. A vinda da nossa filha foi um exemplo disso. Ela é uma rosa de Nossa Senhora na nossa vida”, completa Samuel.

A aposentada Ivonete Maria Assini, 63, é devota de Nossa Senhora Aparecida. Moradora de Blumenau (SC) veio à Brasília neste feriado prolongado conhecer a capital, o que incluiu uma parada obrigatória na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, onde deixou sua oração para a padroeira do Brasil. “Por intercessão dela com Deus eu tive muita ajuda. Então, ela é tudo para mim”, relata a catarinense.

Acolhida

Assim como apareceu para os três pescadores que passavam por dificuldades, Nossa Senhora Aparecida também se faz presente na vida de muitos fiéis atualmente. É o caso da família da arquiteta Maria Afonso, 49 anos. A fé da matriarca tornou-se alicerce e exemplo para os filhos. “Eu vejo que, por meio da devoção à Nossa Senhora Aparecida, ela acolhe aqueles que são mais excluídos. Não interessa se a pessoa é rica ou pobre”, acredita.

Mãe de André, 23; Mariana, 13; e Rafael, 10, Maria conta que seu filho mais novo foi diagnosticado com Síndrome de Down e, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, ela conseguiu criar um grupo de oração para pessoas com necessidades especiais.

Para a arquiteta, o encontro para rezar o terço representa o que Nossa Senhora deve ser na vida dos cristãos: sinal de amor. “Quem tem a devoção do santo terço e à Nossa Senhora vive os momentos de tribulação com a certeza de que ela dará forças. Ela organiza toda a carga interior e exterior”, acredita. “Esse terço rezado em comunidade é um encontro de amor, de abraço humano. Eu dou o testemunho de que, pra mim, é muito visível o quanto que a colheita das famílias que caminham lutando junto com Nossa Senhora Aparecida é diferente. Ela facilita nossa caminhada, ajuda-nos a entender a vontade de Deus”, completa Maria.

* Estagiária sob a supervisão de Mariana Niederauer


Como participar

Catedral Metropolitana de Brasília

» Agendamento pelo telefone (61) 3224-4073 ou por e-mail: catedraldebrasilia@catedral.org.br.
» Lotação: 120 pessoas

Programação
» 9h — Missa presidida por Dom José Aparecido
» 12h — Missa presidida por Dom Joel Portella
» 15h — Oração do Santo Terço e Ofício de Nossa Senhora cantado
» 18h — Missa presidida por Dom Marcony

Correio Braziliense domingo, 11 de outubro de 2020

ABERTA A TEMPORADA DAS CIGARRAS

Jornal Impresso

Aberta a temporada das cigarras
 
Os insetos típicos da fauna local sobem às árvores na primavera para o período de reprodução. Cantoria é sinônimo de chuva em Brasília, e amplitude pode chegar a 120 decibéis

 

» JÉSSICA MOURA

Publicação: 11/10/2020 04:00

O morador da Asa Sul Rafael Dusi e os filhos João e Lucas: eles se divertem com os insetos (Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A. Press)

 

 

O morador da Asa Sul Rafael Dusi e os filhos João e Lucas: eles se divertem com os insetos

 



Desde o início da semana, um som típico da primavera chama a atenção dos brasilienses. Nos locais onde há concentração de árvores, o canto das cigarras já pode ser ouvido com mais intensidade. Para muitos moradores do Distrito Federal, que, este ano, passaram mais de cem dias sem chuvas e enfrentaram uma onda de calor que elevou as temperaturas a recorde histórico, o barulho, que pode atingir os 120 decibéis, traz alívio e bom agouro: o período chuvoso aproxima-se. Na sexta-feira, a precipitação animou os brasilienses e, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que haja mais pancadas de chuva.

A amplitude do coral das cigarras pode chegar a 120 decibéis, taxas próximas às de um concerto de rock ou decolagem de avião, observa o biólogo Riuler Corrêa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista nos insetos.

Mas nem isso atrapalha a empolgação de quem mora na capital federal ao ouvir o canto. “O som não incomoda a gente, não, faz parte da época”, diz Rafael Dusi, 34 anos, morador da Asa sul. “A gente coloca uma música mais alta do que elas”, emenda o filho, João, 9. O menino afirma que gosta dos insetos. “Quando eu tava fazendo um passeio com a minha turma na Água Mineral, encontrei uma casca e serviu de broche”, relata.Depois de saírem da terra, as cigarras passam alguns dias imóveis nos troncos até que a pele, chamada pela biologia de exúvia, desprende-se, e elas chegam à fase adulta.

Todos os anos, ao perceber o canto dos insetos na Asa Norte, o jornalista e turismólogo Daniel Zukko, 40, publica uma ilustração sobre o fenômeno nas redes sociais. “Para mim, é um som da cidade, nunca me incomodou. Durante muito tempo nem percebia, era um ruído normal”, conta Zukko.

Os alunos da professora aposentada Jacimar Pinheiro pintavam, desenhavam e faziam peças sobre o bicho  

Os alunos da professora aposentada Jacimar Pinheiro pintavam, desenhavam e faziam peças sobre o bicho

 


O som, muitas vezes intenso, não é unanimidade. O psicólogo Yuri Sebastian, 29, por exemplo, apesar de morar em Águas Claras, trabalha na Asa Sul e abomina as cigarras. “O barulho é muito alto, faz doer meus ouvidos.” Contudo, o zoólogo da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Motta Motta alerta: “Elas ainda cantam mais ou menos até dezembro”. Algumas espécies mantêm a cantoria até abril. É nesse período que se reproduzem e depositam os ovos nos ramos das árvores. Depois disso, morrem.

A professora aposentada, Jacimar Pinheiro, 60, também não simpatizou com o barulho das cigarras logo de cara. “Angustiava-me muito ficar ouvindo”, relata. No entanto, a relação com o som dos insetos mudou ao longo dos últimos 40 anos, desde que veio do Rio de Janeiro para morar no DF. Ela conta que a mudança ocorreu quando foi trabalhar como professora de artes na Escola Parque da 314 Sul, já que as cigarras faziam parte das atividades pedagógicas. “Os meninos pintavam, desenhavam e faziam peças de teatro sobre a cigarra”, recorda-se.

Naquela época, Jacimar explica que, com outros professores, ressignificou o célebre conto A Cigarra e a Formiga. Na fábula, La Fontaine narra que, durante o verão, enquanto as formigas trabalhavam para estocar comida para o inverno, as cigarras cantavam e, por isso, teriam ficado sem alimento. No entanto, nas aulas, ela dizia aos alunos: “A escola comum era a formiga, e a Parque, era a cigarra. Colocava assim a importância da arte, tirava essa culpa da cigarra, porque na vida a gente precisa de trabalho e precisa de arte”.

Quando a pele das cigarras  desprende-se, elas chegam à fase adulta  

Quando a pele das cigarras desprende-se, elas chegam à fase adulta

 


O que diz a ciência

Apesar de não haver uma correlação comprovada entre as cigarras e a temporada de chuvas, o zoólogo Paulo César Motta explica que algumas hipóteses são levantadas para o fato de as cigarras emergirem do solo nesse período de transição entre a seca e a chuva. Com as chuvas, solo fica mais maleável e é mais fácil para as ninfas (insetos jovens) saírem da terra e subirem aos troncos das árvores e passarem pela metamorfose. Motta ressalta que o ciclo de vida das cigarras é bastante longo. “Ficam de cinco a sete anos debaixo da terra. Todo ano emergem e se transformam em adultos, quando criam asas.” Após se libertarem da exúvia é que os órgãos reprodutivos amadurecem.Depois da metamorfose, as cigarras adultas emitem os sons para atrair os parceiros e se reproduzirem. Em seguida, depositam os ovos nos ramos das árvores. O biólogo Riuler Corrêa ressalta que as cigarras de habitats fechados costumam emitir sinais em coral, geralmente sincronizados com a alta incidência luminosa. Por isso, é possível ouví-las durante todo o dia, ou enquanto houver luz. Ele destaca que o período reprodutivo das adultas pode ter até cerca de seis meses, sendo que algumas espécies alternam esses intervalos para reduzir a competição.

Correio Braziliense sábado, 10 de outubro de 2020

SELEÇÃO BRASILEIRA: ARRANCADA RUMO AO QATAR

 

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ARRANCADA RUMO AO QATAR

Virou brincadeira de criança
 
Brasil transforma partida oficial em treino de luxo contra a frágil Bolívia, goleia e larga em primeiro na maratona rumo à Copa do Mundo 2022. Roberto Firmino desequilibra e Neymar assume papel de garçom

 

Publicação: 10/10/2020 04:00

 

Bolívia é a maior vítima de Roberto Firmino: três gols em dois jogos contra o frágil adversário (Amanda Perobelli/AFP)  

Bolívia é a maior vítima de Roberto Firmino: três gols em dois jogos contra o frágil adversário

 

 

A Seleção fez um “treino oficial” na primeira rodada das Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022. Imponente do primeiro ao último minuto contra uma Bolívia frágil, o Brasil goleou o adversário por 5 x 0, ontem, na Neo Química Arena, a casa do Corinthians, em São Paulo, e larga em primeiro lugar na maratona de 18 jogos rumo à Copa. Os comandados de Tite voltarão a campo na terça-feira diante do Peru, no Estádio Nacional, em Lima.


O Brasil tomou conta da partida desde os 40 segundos. Trocou passes até a bola chegar a Renan Lodi. O lateral-esquerdo cruzou, o goleiro desviou e Everton Cebolinha desperdiçou chance inacreditável. Na sequência, Marquinhos perdeu excelente oportunidade ao cabecear a bola para fora.


A falha de Marquinhos foi apenas um trailer do primeiro gol verde-amarelo. O lateral-direito Danilo ergueu a bola na área e encontrou o beque livre para cabecear e estufar a rede do goleiro Lampe. A porteira estava aberta aos 15 minutos. A Bolívia dava liberdade aos alas do Brasil. Assim foi o lance do segundo gol. Renan Lodi cruzou, o goleiro boliviano deixou a bola passar e o oportunista Firmino ampliou para 2 x 0.


Dúvida antes da partida por causa de uma dor lombar, Neymar entrou em campo. Arriscou dribles, passes e lances de efeito atuando centralizado, volta e meia invertendo posição com Philippe Coutinho, aberto na esquerda. Deslocado para a direita, Everton Cebolinha destoava. Cumpria as recomendações táticas de Tite, mas estava desconfortável naquele setor. As melhores fases dele no Grêmio e na Seleção foram atuand aberto pela esquerda no meio ou no ataque.


A Bolívia ameaçou melhorar no segundo tempo, mas o Brasil não permitiu. Neymar assumiu o papel de garçom e serviu Roberto Firmino. O atacante completou um cruzamento rasteiro da esquerda e fez 3 x 0. O quarto teve a colaboração da defesa adversária. Philippe Coutinho cruzou para Rodrygo. O garoto do Real Madrid raspou a bola e viu o zagueiro Carrasco mandar a bola para dentro da própria rede.


Numa noite em que jogou para o time, Neymar assumiu definitivamente o papel de maestro. No lance do quinto gol, cruzou na cabeça de Philippe Coutinho para marcar o quinto gol do Brasil. Neymar balançou a rede aos 31, mas o árbitro assinalou impedimento e confirmou a decisão após ouvir os árbitros de vídeo. Neymar também tentou marcar em uma cobrança de falta, porém, o goleiro Lampe estragou outra tentativa do astro.

 

Colômbia estreia com facilidade

Com futebol ofensivo, bom toque de bola e orquestrado por James Rodríguez, a Colômbia, liderada pelo técnico português Carlos Queiroz, não teve problemas para estrear com vitória nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa, ontem, ao marcar 3 x 0 sobre a Venezuela, em Barranquilla. Todos os gols saíram na primeira etapa. Zapata e Muriel, duas vezes, marcaram para os donos da casa.

 


Correio Braziliense sexta, 09 de outubro de 2020

QUE CALOR É ESSE?

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QUE CALOR É ESSE?
 
Tudo por um pouco de alívio
 
Ontem, a capital registrou a temperatura mais alta dos últimos 10 anos, 37,3°C. Devido ao calorão, que castiga a cidade desde o mês passado, o Sindivarejista registrou aumento nas vendas de aparelhos de ar-condicionado, ventiladores e umidificadores

 

» THAIS UMBELINO
» WASHINGTON LUIZ

Publicação: 09/10/2020 04:00

Temperatura registrada ontem foi a mesma do recorde observado em 15 de outubro de 2017 (Minervino Júnior/CB/D.A Press - 10/6/20 )  

Temperatura registrada ontem foi a mesma do recorde observado em 15 de outubro de 2017

 



Sócio de uma loja de ar-condicionado, Paulo Guerra, 31, conta que em seis dias faturou o equivalente a um mês (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Sócio de uma loja de ar-condicionado, Paulo Guerra, 31, conta que em seis dias faturou o equivalente a um mês

 


A capital federal igualou o recode histórico de temperatura mais alta registrada no Distrito Federal, ontem, com máxima de 37,3 ºC, no Gama, e umidade do ar em 12%. O mesmo registro dos termometros aconteceu em 15 de outubro de 2017. A aferição metereológica começou  a ser feita no Distrito Federal em setembro de 1961. Para amenizar a sensação térmica, os consumidores DF têm investido cada vez mais na compra de produtos como ar-condicionado, ventiladores e umidificadores. Apenas em setembro, houve um aumento de 11% na procura por esses equipamentos nas lojas.
 
Segundo o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), o crescimento foi maior do que o registrado no mesmo período de 2019, quando as vendas tiveram alta de 9%. Para este mês, o otimismo continua. A expectativa é de ampliar a comercialização desses produtos em 28%, além de um aumento de 34% nas vendas de hidratantes corporais. A previsão tem relação com a onda de calor observada nos últimos dias na capital.
 
O Plano Piloto ultrapassou marca histórica na região — que era de 36,4ºC, em 2015 — e chegou aos 36,5ºC, com umidade relativa do ar em 13%. Para ilustrar o calor na região, a equipe do Correio utilizou um termômetro digital com sensor infravermelho para medir a temperatura no asfalto, às 16h. O número marcado foi de 55,9ºC. Na região do Entorno, o município de Unaí (MG) bateu 41,3ºC, ontem.
 
Apesar das altas temperaturas, os comerciantes preparam-se para uma venda menos expressivas nos próximos dias, devido à previsão de que o calor que atinge o Sudeste e o Centro-Oeste do país seja substituída por uma frente fria. De acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a tendência é de que chova neste fim de semana em todas as regiões do Distrito Federal.
 
Consumo
 
Giovanini Lettieri, 58, adquiriu um aparelho refrescar o escritório (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Giovanini Lettieri, 58, adquiriu um aparelho refrescar o escritório

 

 Mesmo com as incertezas da pandemia, os consumidores buscaram por soluções para adquirir os aparelhos e se refrescar do calorão. A estimativa é de que 75% deles optem por utilizar o cartão de crédito, cujo parcelamento pode ser feito em até 12 vezes. “Na pandemia, o consumidor quer mais tempo para pagar, porque teme o futuro. Afinal, ele teme o desemprego, uma vez que há, no DF, mais de 310 mil pessoas desempregadas. Essa cautela é inteligente”, afirma o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro.
 
Sócio de uma loja de ar-condicionado no Setor de Oficinas Norte, Paulo Rafael Guerra, 31 anos, conta que nos seis primeiros dias de outubro faturou o equivalente aos 30 dias do mês passado. De acordo com o comerciante, a alta no dólar fez os fabricantes aumentarem os preços entre 15% e 20%, mas isso não afastou os clientes.
 
Apesar do aumento, ele aposta que o faturamento continuará alto até março de 2021. “Trabalhamos com uma demanda bem otimista. Acreditando que a situação vai melhorar. Hoje, a nossa loja é uma das poucas que têm estoque. Até o final de janeiro, a demanda continua bem alta. Em fevereiro, as temperaturas dão uma amenizada e, em março, a procura cai consideravelmente”, explica Paulo.
 
Programe-se
 
Atualmente, um aparelho de ar-condicionado para um quarto de 15 metros quadrados pode custar de R$ 1.150 a R$ 2 mil, em média. “É bom as pessoas se organizem para não comprarem ar-condicionado só no calor. As fábricas fazem um aumento gradual (dos preços) para acabar com o estoque em agosto e subir o valor no mês seguinte. Elas sabem que o consumidor vai comprar, mesmo com o aumento. Quem se antecipa e adquire os produtos em julho, por exemplo, pode desembolsar entre 12% e 15% a menos”, orienta Paulo.
 
O arquiteto Giovanini Lettieri, 58, não fez essa programação e diz que se viu obrigado a instalar um aparelho no escritório, no Lago Sul. “Quem está trabalhando hoje, mesmo em home office, o ar-condicionado é fundamental. Você não consegue se concentrar com o calor que está”, avalia. Lettiere adquiriu um aparelho por R$ 1.950 e pagou mais R$ 600 pela instalação.
 
As máximas acima dos 35°, também, fizeram bem para o escritório do arquiteto. Segundo Lettiere, houve um crescimento no número de clientes interessados em adaptarem cômodos das casas para instalar um ar-condicionado. “Tenho clientes que solicitaram projetos para colocar ar-condicionado na sala, o que não é muito comum, e até no banheiro. São muitas adequações, muitas reformas de espaços. Comecei uma obra, e a primeira coisa que o cliente fez foi comprar todos os aparelhos de ar-condicionado”, lembra.


Ranking
Temperaturas mais altas registradas nos últimos 10 anos no DF:

1ª 37,3ºC (Águas Emendadas), em 15 de outubro de 2017; e (Gama), em 8 de outubro de 2020
2ª  37ºC (Águas Emendadas), em 22 de outubro de 2015
3ª 36,7ºC (Gama), em 15 de outubro de 2017
4ª 36,5ºC (Gama), em 18 de outubro de 2015
5ª  36,2ºC (Águas Emendadas), em 25 de setembro de 2015
6ª 36,2ºC (Águas Emendadas), em 21 de setembro de 2019
7ª  36,2ºC (Gama), em 20 de outubro de 2015
8ª  36,2ºC (Águas Emendadas), em 18 de outubro de 2015

Correio Braziliense quinta, 08 de outubro de 2020

BRASÍLIA NO SUFOCO: UM REFRESCO, POR FAVOR

Jornal Impresso

BRASÍLIA NO SUFOCO
 
Um refresco, por favor
 
Calorão de ontem foi a segunda maior temperatura do ano no DF: 36,4ºC. No Plano Piloto, a máxima foi de 35,2ºC, recorde da região em 2020. Zoo adotou estratégias para aliviar calor dos animais

 

» JÉSSICA MOURA
» THAIS UMBELINO

Publicação: 08/10/2020 04:00

Chocolate faz a festa durante banho no Zoológico de Brasília (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Chocolate faz a festa durante banho no Zoológico de Brasília

 



O jacaré foge das altas temperaturas mergulhado na água (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O jacaré foge das altas temperaturas mergulhado na água

 


Nada como um banho refrescante para diminuir a sensação térmica causada pelas altas temperaturas e baixa umidade registradas nos últimos dias na capital federal — ontem, os termômetros no Plano Piloto marcaram 35,2ºC (recorde de calor na região, em 2020), e a umidade relativa do ar variou entre 12% e 58% no decorrer do dia. No Gama, a máxima foi de 36,4ºC, segunda maior temperatura do ano registrada no Distrito Federal. E a previsão, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é que o clima esquente ainda mais até amanhã, com temperatura de até 38ºC. Há quase 20 dias sem chuva, os brasilienses têm sentido os efeitos da onda de calor. No Zoológico de Brasília não é diferente. Os animais refrescam-se como podem: na sombra das árvores ou aproveitando os reservatórios de água nos recintos.
 
Para aliviar o calor e a secura de um dos bichos mais queridos pelo público, o elefante Chocolate, a instituição utilizou um carro-pipa e esguichou 1,5 mil litros de água no animal. Por cerca de 30 minutos, o elefante tomou aquele refrescante banho de mangueira. “Tem animais que se assustam um pouco com a pressão, mas o Chocolate sempre foi o mais receptivo. Ele também tem o costume de tomar o banho de lama, que funciona como um filtro solar”, explicou a supervisora de condicionamento animal do zoológico, Fernanda Vasconcelos.
 
Segundo a profissional, os recintos são preparados para assegurar o conforto térmico de cada animal ao longo de todo o ano. Para tanto, os espaços contam com um ponto de fuga do sol, como árvores ou coberturas, e também reservatórios de água, onde os animais tomam banhos. Alguns deles, como o rinoceronte e a onça-parda, têm até uma cascata de água. “Sempre observamos o comportamento dos animais para ver quem se afeta mais ou menos com o calor e, com isso, definirmos as ações”, contou a supervisora.
 
Outro cuidado durante esse período mais quente é manter os recintos arejados e os tanques cheios. Contudo, com a redução no quadro de funcionários por conta da pandemia do novo coronavírus, Fernanda destaca que manter o cronograma de bem-estar dos animais é um desafio. “Os bichos não têm culpa, então a gente se adaptou para conseguir atender às demandas deles”, acrescentou. Quando os moradores do Zoológico se recusam a comer, os tratadores têm de adotar estratégias para entregar a comida, como disponibilizá-las em trouxas para aguçar a curiosidade dos bichos. Em períodos específicos do ano, a equipe chega a preparar um picolé especial para os animais. “Ele é feito da alimentação dos bichos. Para os primatas, é de fruta, para os felinos, é de carne e sangue. A gente pega um pouco da dieta e faz picolé”, ressaltou Fernanda.

A família Magalhães: uma parada para curtir a paisagem e se refrescar ( Thais Umbelino/CB/D.A Press)  

A família Magalhães: uma parada para curtir a paisagem e se refrescar

 



Elisângela Brandão:  

Elisângela Brandão: "É um privilégio ter um lago desse tamanho na nossa cidade"

 

 
Enquanto isso...
 
Do outro lado da cidade, no Lago Paranoá, os brasilienses aproveitam para praticar um esporte, andar de pedalinho, ficar na sombra ou dar um mergulho. “É um privilégio ter um lago desse tamanho na nossa cidade, ainda mais com esse clima tão quente. O banho gelado ameniza”, comentou Elisângela Brandão, 37 anos. Um imprevisto no trabalho a motivou a sair do Guará, onde mora, com as três filhas, para dar uma mergulho na água. “Essa foi a primeira vez que vim para cá desde quando começou a pandemia. Optei vir em um dia de semana para evitar aglomeração e curtir ainda mais”, contou. Mesmo assim, a confeiteira  surpreendeu-se com o movimento no local. “Achei que teria menos gente, mas acho que todos estão tentando fugir desse calor, também”, comentou rindo.
 
Água, melancia e refrigerante. Essas foram as opções que Elisângela levou para todas se refrescarem no dia quente. Outro cuidado foi o uso do protetor solar. “Como por aqui não tem muita sombra, o cuidado deve ser redobrado com o sol”, completou a empreendedora. Porém, quando estão em casa, a estratégia para fugir do calor é outra. “Dou banho de mangueira nas crianças e compro dindim ou picolé para tomarmos”, acrescentou Elisângela.
 
Para continuar com os treinamentos, mesmo no calor, o professor de highline, esporte radical que consiste em se equilibrar em uma fita, Matheus Waeny, 32, decidiu instalar o equipamento 4 metros acima do lago. “Normalmente costumo treinar no canteiro central, onde também ministro aulas da prática. Como o sol está muito quente e dia de semana é mais vazio, decidi treinar por aqui. É bom que se cair, refresca”, conta. Além de atenção, a atividade exige uma hidratação reforçada. “Para isso, trago 2 litros de água e reforço a proteção solar”, explica o esportista.
 
A pequena Ana Júlia Magalhães, 9, também teve a ideia de curtir o lago. “Estávamos indo para casa, quando ela pediu para dar uma passada na orla do Lago Sul. Como estava muito quente, concordamos”, relatou o pai da menina, Elton Magalhães, 50. A mãe concordou por ser dia de semana. “Com a pandemia, estamos fugindo de aglomerações. Durante o fim de semana mesmo evitamos vir para cá, porque é mais cheio”, acrescentou Jucilene da Silva, 48. A família chegou no fim da tarde, para se despedir do sol. “Não vemos a hora desse calor forte passar”, acrescentou Juscilene, esperançosa.

Correio Braziliense quarta, 07 de outubro de 2020

ONDAS DE CALOR PODEM LEVAR À MORTE

Jornal Impresso

Ondas de calor podem levar à morte
 
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para o risco de óbito causado por hipertermia, quando a temperatura do corpo alcança mais de 40°C. Especialistas dão dicas de como se cuidar neste período de seca para evitar a desidratação do corpo

 

» DARCIANNE DIOGO
» THAIS UMBELINO

Publicação: 07/10/2020 04:00

Ontem, o DF chegou à temperatura de 35,1ºC, registrada em Águas Emendadas ( Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Ontem, o DF chegou à temperatura de 35,1ºC, registrada em Águas Emendadas

 


O tempo seco e as temperaturas elevadas colocaram o Distrito Federal em alerta vermelho. Devido a passagem de uma onda de calor — que fez com que a temperatura média do DF para a época (28°C) subisse 5°C por um período maior do que cinco dias —, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu notificação para o perigo de morte causada por hipertermia — quando a temperatura corporal sobe além dos 40°C, o que pode comprometer a saúde e levar à falência dos órgãos. A previsão é de que o clima quente perdure até sexta-feira e, no final de semana, espera-se ocorrência de chuvas.
 
Ontem, a temperatura máxima atingiu 35,1°C, em Águas Emendadas, em Planaltina, ou seja, 7°C acima da média. A umidade relativa do ar ficou em 14% (mínima). A Organização Mundial da Saúde (OMS) frisa que o ideal é que a umidade esteja em, pelo menos, 60%. Para hoje, a máxima deve chegar a 36°C e a mínima a 20°C.
 
Segundo Francisco de Assis, meteorologista do Inmet, o alerta vermelho foi divulgado em decorrência da capital federal ultrapassar o registro médio de 28°C contabilizado nos últimos 30 anos. “A consequência do calor na região tem relação com a alta variabilidade climática durante este período do ano. Existe um bloqueio atmosférico muito grande, entre a Argentina e o Rio Grande do Sul, que impede a passagem da frente fria”, explica.
 
Além do Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás e Tocantins podem ser atingidos pelas temperaturas de 40ºC.

Leonardo fez uma pausa no dia para levar a filha Lavínia à Prainha do Lago Norte ( Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Leonardo fez uma pausa no dia para levar a filha Lavínia à Prainha do Lago Norte

 

Perigo
O pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Luiz de Melo explica que os casos de morte associados a onda de calor não são comuns, mas é preciso estar em alerta. A hipertermia, segundo ele, está ligada ao aumento da temperatura corporal e apresenta risco de morte. “Quando a temperatura do corpo atinge 41°C, é a hora de procurar um hospital para se esfriar, pois há um nível alto de desidratação. Geralmente, isso ocorre em clima de deserto, e Brasília tem esse clima. Estamos tendo um constante aumento de temperaturas e isso é preocupante”, destaca.
 
O médico elenca alguns cuidados essenciais para evitar o aumento excessivo da temperatura corporal. Segundo ele, crianças e idosos devem manter a atenção redobrada, pois se desidratam com facilidade. “Não basta apenas beber água. É preciso pensar nos sais minerais, nas vitaminas, que podem ser encontrados nos sucos de frutas, por exemplo. A umidade do ar está baixíssima e, consequentemente, a pessoa transpira muito, principalmente os sais. Então, para repor é preciso ingerir frutas, legumes e vegetais”, orienta.
 
O professor explica que, em casos mais graves, a pessoa é levada a unidades de saúde, onde passa por alguns procedimentos para o esfriamento do corpo. “Têm diversas medidas hospitalares. Uma delas é colocar o paciente no gelo ou dentro da água. É importante frisar que cabe à pessoa cuidar de si mesma para evitar situações como essas. Evitar saídas desnecessárias, se refrescar em casa colocando bacias de água ou ligando o umidificador são algumas dicas”, afirma.
 
Ao Correio, o subsecretário da Defesa Civil, coronel Alan Araújo, enfatiza que os cuidados precisam ser tomados para impedir uma piora na condição de saúde. “É sempre bom focar nas medidas de prevenção, como por exemplo, evitar se exercitar entre 10h e 16h, porque esse é o horário em que a insolação está mais incisiva no DF. Procurar algum tipo de proteção, seja chapéu ou uma camisa de manga, de maneira que crie uma barreira contra o Sol, e manter uma alimentação leve, regada a base de frutas, como banana e pera, que tem mais água”, resume.

Amanda aproveita o calor para complementar a renda de casa, com a venda de dindin ( Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Amanda aproveita o calor para complementar a renda de casa, com a venda de dindin

 

Refresco
Leonardo Martins, 32 anos, trabalha como motorista de transporte por aplicativo e, ontem, atendeu a uma cliente no Paranoá com destino a São Sebastião. Entre uma corrida e outra, o condutor aproveitou para se refrescar na Prainha do Lago Norte com a filha, Lavínia Martins, de 5 anos. “O calor estava demais. E, agora, com essa pandemia, não podemos ligar o ar-condicionado, só deixar os vidros do carro abertos. Mas, mesmo assim, não basta. Está muito seco e o ar não entra”, reclama. A pequena gostou do passeio e não demorou muito para entrar na água. “Está muito quente, mas o lago está bom”, disse ela.
 
Há aqueles que aproveitam o movimento dos brasilienses na Prainha para trabalhar, como é o caso de Amanda Ferreira, 23, e Marconi Lopes, 24. O casal resolveu vender dindin para complementar a renda da casa. “Geralmente, chegamos aqui por volta de 13h, é uma hora em que o sol está ardendo, e só saímos às 18h. Sabemos que é um período bem quente, mas tentamos tomar os devidos cuidados, como passar protetor e trazer a garrafinha de água”, explica a jovem.
 
De longe, o casal Grazielle Alves, 34, e Allan Cardoso, 27, se divertia no meio do lago. Os dois deram uma pausa na rotina para fugir das temperaturas elevadas. “Nunca vi dias tão quentes como este no DF. É preciso refrescar para poder superar”, defende o motoboy.
 
 
Duas perguntas para
 
Carlos Henrique Ribeiro Lima, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília )(UnB)
 
O que pode estar influenciando o aumento das temperaturas no DF?
Historicamente, essa é a época do ano (meio de setembro e início de outubro) mais quente, aqui, em virtude, principalmente, da forte intensidade da radiação solar sobre a região. Entretanto, o próprio aquecimento global contribui para as temperaturas mais altas (acima da média histórica) que temos observado nos últimos dias.
 
Há alguma forma de a população contribuir para a diminuição da temperatura?
Pensando na contribuição da população, poderíamos avaliar medidas que reduzam o efeito das chamadas ilhas de calor. Por exemplo, aumentar o plantio de árvores (consequentemente reduzir o desmatamento e as queimadas, que também afetam bastante o clima) e reduzir a queima de combustíveis fósseis (andar mais a pé, de bicicleta e etc). No médio prazo, poderíamos pensar no uso de materiais diferentes na construção civil e nos pavimentos, e em um melhor gerenciamento do uso do solo. Mas, essas últimas medidas já dependem também do poder público.
 
 
Recordes
 
Temperaturas mais altas registradas nos últimos 10 anos no DF:
 
1º — 37.3ºC (Águas Emendadas), 
em 15 de outubro de 2017
 
2º — 37.1ºC (Águas Emendadas), 
em 28 de outubro de 2008
 
3º — 37ºC (Águas Emendadas), 
em 22 de outubro de 2015
 
4º — 36.7ºC (Gama), 
em 15 de outubro de 2017
 
5º — 36.5ºC (Gama), 
em 18 de outubro de 2015
 
6º — 36.2ºC (Águas Emendadas), 
em 25 de setembro de 2015
 
7º — 36.2ºC (Águas Emendadas), 
em 21 de setembro de 2019
 
8º — 36.2ºC (Gama), 
em 20 de outubro de 2015
 
9º — 36.2ºC (Águas Emendadas), 
em 18 de outubro de 2015
 
 
Sugestões
 
Confira orientações da Defesa Civil para suavizar os efeitos do calor
 
» Beber, pelo menos, seis copos de água por dia
 
» Pingar duas gotas de soro fisiológico em cada narina
 
» Ter toalhas molhadas e bacias com água nos quartos da casa
 
» Usar roupas leves e, se possível, de algodão
 
» Evitar a queima de lixo e entulho
 
» Colocar chapéus e óculos escuros para proteger-se do Sol
 
» Aproveitar o vapor produzido pela água durante o banho para lubrificar as narinas

Correio Braziliense terça, 06 de outubro de 2020

NELSINHO PIQUET: PÉ NA ESTRADA

Jornal Impresso

 

Pé na estrada
 
Nelsinho Piquet ampliará o currículo com participação inédita no Rally dos Sertões no fim deste mês. Em entrevista ao Correio, o candidato ao título da Stock Car conta por que topou o desafio off-road

 

MAÍRA NUNES

Publicação: 06/10/2020 04:00

 (Fotos: Piquet Sports/Divulgação)  


Aos 35 anos, Nelsinho Piquet acumula mais de duas décadas dedicadas ao automobilismo profissional. O alemão nascido em Heidelberg e radicado em Brasília foi o primeiro campeão mundial na história da Fórmula E — a categoria revolucionária de carros elétricos —, subiu ao pódio na Fórmula 1 na temporada de estreia dele, em 2008, conquistou o vice-campeonato na GP2, tem títulos da F-3 Britânica e F-3 Sul-Americana e vitórias na Nascar. Agora, vive o melhor início de temporada na Stock Car. Mesmo assim, não dispensou a oportunidade de inovar mais uma vez no esporte a motor. Ele aceitou disputar, pela primeira vez, o Rally dos Sertões.

“Sempre gostei de correr em qualquer modalidade. Corri tudo na minha vida. Correr nos Sertões era só questão de achar uma equipe”, diz Nelsinho em entrevista ao Correio. Ele pilotará o UTV Can-Am Maverick X3 com a equipe Varela Racing Team. Para Nelsinho, o mais diferente será dividir a aventura com um navegador responsável pela condução do trajeto ao lado do piloto.

O filho do tricampeão mundial Nelson Piquet entrou para o mundo off-road por meio do pai. “Foi em uma expedição de quadriciclo, de Fortaleza a São Luiz, há muitos anos”, conta Nelsinho. Quando passou a frequentar os Lençóis Maranhenses, ele experimentou andar no Can-Am de um amigo. “Achei o lugar maravilhoso e o UTV também, tanto que comprei um para usar lá”, conta.

A largada do Rally dos Sertões está marcada para 30 de outubro, no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu (SP), e a chegada para 7 de novembro, em Barreirinhas (MA). São 5.000km. Os competidores cruzarão cinco estados e o Distrito Federal, onde cresceu.

 

“É uma coincidência boa. Não sei exatamente por onde do DF o Rally passará, mas é sempre bom andar por lá. Conheço bastante e já tem um tempo que não ando”, anima-se. Mas o percurso todo promete ser encantador, ainda mais para quem gosta de natureza, como Nelsinho diz ser o caso dele. “É uma corrida superconhecida, que passa por áreas muito bacanas, vários lugares que nós, brasileiros, não conhecemos.”

Nelsinho não poderá cumprir o trajeto completo dos Sertões. A corrida está prevista para terminar na véspera da etapa de Curitiba da Stock Car. Na terceira temporada completa na categoria, o piloto vive o melhor início de campeonato. Em quatro provas, conquistou dois pódios. Entre eles, a primeira vitória na principal categoria do automobilismo brasileiro, no fim de agosto, em Interlagos (SP).

“Temos um carro bom. Estamos trabalhando com pessoas boas e, agora, eu chego no fim de semana de corrida com aquela confiança em alta. É bom sentir isso”, comemora o piloto da equipe Texaco Full Time Sports, décimo colocado na classificação geral, com 99 pontos, 47 a menos que o líder, Rubens Barrichello.


“Piloto que é bom tem de se adaptar a modalidades diferentes de automobilismo. No fim, é tudo feeling para calcular o risco a tomar. Eu acumulei muita experiência, para mim foi bom”

Correio Braziliense segunda, 05 de outubro de 2020

BRASÍLIA GANHA 22 MIL NOVAS EMPRESAS DURANTE A PANDEMIA

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BRASÍLIA GANHA 22 MIL NOVAS EMPRESAS DURANTE A PANDEMIA

 

Meu negócio, minha aposta
 
Mesmo em meio a pandemia do novo coronavírus, entre maio e agosto, mais de 22 mil novas empresas foram registradas no DF. Especialistas avaliam que o movimento pode ter impacto positivo na economia local

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 05/10/2020 04:00

Maria Aparecida Mesquita, inaugurou uma loja no Shopping Conjunto Nacional em meio à pandemia (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Maria Aparecida Mesquita, inaugurou uma loja no Shopping Conjunto Nacional em meio à pandemia

 

 
Valdir Oliveira: %u201CMuitas empresas estão fechando e outras abrindo no lugar%u201D (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Valdir Oliveira: "Muitas empresas estão fechando e outras abrindo no lugar".

 

 
Maurício Santos: %u201CConsegui registrar o nome do negócio em menos de um dia.
Fiz tudo pela internet e foi bem ágil%u201D (Arquivo Pessoal)  

Maurício Santos: "Consegui registrar o nome do negócio em menos de um dia. Fiz tudo pela internet e foi bem ágil".

 

 
 
 
Entre maio e agosto de 2020, mesmo em meio a pandemia de covid-19, 22.136 novas empresas foram abertas no Distrito Federal, cerca de 11,30% a mais que o registrado nos primeiros quatro meses do ano. Os dados são do Mapa das Empresas, divulgado pelo Ministério da Economia. Segundo especialistas, esse movimento é consequência da grande demanda que a população da capital federal gera para, principalmente, o setor de bens e serviços. Para os novos empreendedores, a crise sanitária assustou, mas não suficiente para desanimá-los.
 
O economista Riezo Almeida, ao analisar o cenário econômico do DF, considera que a região é uma das melhores do país para se iniciar um negócio. “Brasília tem uma demanda muito alta e um mercado consumidor ativo. E é isso que, em tempos de crise, gera a oferta”, esclarece. Ele ainda explica que, os auxílios cedidos tanto pelo governo federal quando pelo local podem ter ajudado pessoas a darem o pontapé inicial no empreendimento. “Além disso, a renda das famílias não diminuiu muito, pois o serviço público é a principal fonte na cidade”, completa.
 
Maria Aparecida Mesquita, 29, percebeu que a demanda para certos tipos de serviços não parou durante a crise sanitária. Por isso, ela não abandonou o sonho de ser dona do próprio empreendimento. Em 7 de julho, ela inaugurou uma franquia de um centro de estética em um shopping no centro da capital. “Sempre temos medo de começar algo novo e a pandemia com certeza intensificou isso. Porém, eu sabia que a demanda era grande e por isso não desanimei”, afirma. Hoje, quase três meses após a abertura, Maria considera que o retorno é positivo.
 
A única dificuldade de Maria foi em relação à divulgação. “Para começar a atrair os primeiros clientes foi complicado. No entanto, depois das primeiras semanas, o marketing boca a boca começou a movimentar mais o negócio”, declara. Até a burocracia, que assustava a empresária iniciante, a surpreendeu positivamente. “O registro foi muito rápido, até a equipe jurídica e financeira ficou surpresa. Acredito que isso seja reflexo da pandemia, pois tudo foi transferido para plataformas on-line e o atendimento ficou mais ágil”, considera.
 
Outro que encontrou oportunidade em meio à crise, foi Maurício Santos, 29. Morador do Lago Oeste, ele percebeu que os serviços de entrega de comida não costumam entregar no local. Por isso, em julho, ele criou um delivery de cachorro-quente voltado para a região. “Como eu fiz um curso de gastronomia no Senac e trabalhei em restaurante, antes dele fechar devido a pandemia, tinha experiência no ramo”, conta. Dois meses depois do início do investimento, o jovem afirma que os resultados são positivos. “Considera que o produto está fazendo bastante sucesso”, declara. Ele ainda diz que a burocracia foi a parte mais rápida de todo o processo. “Consegui registrar o nome do negócio em menos de um dia. Fiz tudo pela internet e foi bem ágil”, explica.
 
Menos burocracia
 
Ainda de acordo com o Mapa das Empresas, a capital federal é a segunda unidade da Federação mais rápida para se registrar um negócio. Em média, o processo demora apenas 11 horas e fica atrás apenas do Goiás, onde o tempo é de 10 horas. De acordo com o diretor-superintendente do Sebrae DF, Valdir Oliveira, a posição da cidade no ranking é extremamente positiva. “Certamente isso está ajudando os novos empresários a abrirem e registrarem as empresas no DF. Antigamente, o processo era muito burocrático e isso pode ter desmotivado muita gente”, explica.
 
Apesar de analisar positivamente os dados, o superintendente considera importante ressaltar que o grande número de empresas abertas é um movimento natural da crise. “Os empreendedores ou microempreendedores surgem como uma maneira de as pessoas buscarem por estabilidade”, afirma. Por isso, é preciso ter cuidado antes de se animar com o cenário. “Muitas empresas estão fechando e outras abrindo no lugar. Antes de iniciar um investimento, é preciso analisar a situação econômica e a demanda do DF e, assim, se planejar”, completa.
 
Expectativas
 
Coordenador do curso de economia do Iesb, Riezo Almeida considera que essa movimentação no mercado é positiva para o cenário econômico do DF. “O dinheiro começa a girar mais, pois, a partir do momento que a empresa está aberta, ela precisa dos produtos, que gera mais renda e demanda para os fabricantes e assim por diante na linha de produção”, esclarece. Ele ainda diz que as novas empresas começam a pagar impostos, o que beneficia a arrecadação do governo local. “Os empresários pagam mais tributos como o ICMS. É a circulação de dinheiro que faz falta, ainda mais durante a pandemia”, completa.
 
Em relação às expectativas para o terceiro quadrimestre do ano, Riezo acredita que a situação deve se manter. “A tendência é que o 3º quadrimestre seja bem positivo ainda mais com as reaberturas de vários setores da economia. Assim, as demandas começam a ressurgir”, afirma. Apesar do bom quadro geral, ele ressalta que é importante que cada empresário analise e planeje os próximos passos do negócio. “Ainda assim, há, infelizmente, empresas que fecharão. É importante estar atento às demandas para, assim, se adequar ao novo normal do mercado”, conclui.
 
» Um alento
 
Empresas abertas por mês no DF
 
Janeiro   5.250
Fevereiro   4.737
Março   5.205
Abril   3.503
Maio   4.177
Junho   4.990
Julho   6.207
Agosto   5.936 
 
» Fique de olho
 
O que avaliar no cenário econômico antes de investir em um negócio
 
Taxa de juros
• Para iniciar um investimento, é mais vantajoso se as taxas estiverem baixas (como o caso da Selic que está há 2%, taxa mais baixa da série histórica), pois os investimentos imediatos acabam valendo mais do que deixar o dinheiro em poupança. Além disso, o empréstimo também fica mais “barato”.
 
Inflação
• É importante que a inflação esteja controlada, pois facilita o planejamento de gastos com produtos ou matérias primas. E para garantir um bom retorno dos negócios, em geral, o planejamento é uma parte essencial.
 
Burocracia
• Ter facilidade e rapidez na hora de iniciar um negócio anima o novo empreendedor. Com a pandemia, esse processo se tornou mais rápido, pois foi transferido para plataformas online.
 
Fonte: Riezo Almeida, economista 
e coordenador do curso de economia do Iesb

Correio Braziliense domingo, 04 de outubro de 2020

A NOVA CARA DO GOVERNO IBANEIS

Jornal Impresso

A nova cara do governo Ibaneis
 
Troca de cargos no Governo do Distrito Federal intensificou-se nas últimas semanas. Com a movimentação, governador pretende se aproximar de deputados distritais e facilitar a aprovação de novos projetos na Câmara Legislativa

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» WASHINGTON LUIZ

Publicação: 04/10/2020 04:00

Fernando Fernandes perdeu a administração de Ceilândia e agora apadrinhou o titular de Sol Nascente (Minervino J?nior/CB/D.A Press)  

Fernando Fernandes perdeu a administração de Ceilândia e agora apadrinhou o titular de Sol Nascente

 

 
Reginaldo Sardinha indicou o secretário do Sistema Penitenciário (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Reginaldo Sardinha indicou o secretário do Sistema Penitenciário

 

 
Roosevelt ajudou a enterrar CPI após nomear comandante dos bombeiros (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Roosevelt ajudou a enterrar CPI após nomear comandante dos bombeiros

 

 
 
 
 
Perto de completar dois anos de mandato, o governador Ibaneis Rocha (MDB) promove dança das cadeiras no Executivo. Diversos órgãos ganharam uma cara diferente daquela do início da gestão. As indicações políticas vêm em um momento que o Palácio do Buriti tenta conseguir apoio para projetos como a privatização da Companhia Energética de Brasília (CEB), para barrar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e para alinhar propostas como a do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal do Distrito Federal (Refis-DF).
Dos 24 deputados distritais, o governo conseguiu formar uma base composta por 17. Os movimentos ocorreram de forma estratégica. As trocas tiveram indicações de distritais que compunham o Centrão, mas se inclinaram às expectativas do Executivo com a contrapartida de poderem indicar funcionários para cargos comissionados.
 
Na última semana, saiu no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) a criação de mais uma pasta, a Secretaria Extraordinária da Família. O comando ficou sob a responsabilidade do pastor e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro Iliobaldo Vivas da Silva, o Léo Vivas. Vinculado à Igreja Universal, o deputado atende à base evangélica e, segundo o Correio apurou, teve aval de colegas de partido do líder religioso, os distritais Martins Machado e Rodrigo Delmasso, além do deputado federal Julio Cesar — todos do Republicanos.
 
Outra troca ocorreu na Secretaria de Desenvolvimento da Região Metropolitana, chefiada pelo secretário Paulo Roriz, que foi exonerado na quinta-feira. Ele não foi realocado para outra pasta, e a gestão de temas do Entorno ficou com Manoel Gervásio Pinheiro Carvalho, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros indicado pelo distrital Roosevelt Vilela (PSB), também integrante da corporação. O deputado conseguiu, ainda, recomendar o novo comandante do Corpo de Bombeiros, coronel William Augusto Ferreira Bomfim, no lugar do coronel Lisandro Paixão dos Santos.
 
Do partido do ex-governador Rodrigo Rollemberg, Roosevelt apresentou o requerimento para criação de uma CPI da Saúde mais ampla, que abrangesse também os dois governos que antecederam o de Ibaneis. Com essa medida, um dos signatários da CPI da Pandemia, o deputado Daniel Donizet (PL), retirou o apoio da investigação articulada por Grass. Ele também foi agraciado com cargos na Administração Regional do Gama.
 
Administrações
 
Na área de segurança, as exonerações e nomeações contemplaram o deputado Reginaldo Sardinha (Avante). Agente penitenciário da Polícia Civil do DF, Sardinha indicou o secretário do Sistema Penitenciário, o delegado aposentado Agnaldo Novato Curado Filho, no lugar do delegado Adval Cardoso de Matos, que não ficou desabrigado. Assumiu a Corregedoria-Geral da Polícia Civil do DF.
 
A chefia de gabinete da Sesipe também passou por trocas. Saiu o delegado Érito Pereira da Cunha e entrou o delegado aposentado Geraldo Nugoli. Os titulares de outros 10 cargos foram substituídos.
 
Além disso, Sardinha indicou o comando de duas administrações regionais em que perdeu aliados: Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal. Na primeira, saiu Renato Couto Mendonça e entrou Luiz Eduardo Gomes de Paula Pessoa. No Sudoeste/Octogonal, Daniel Damasceno Crepaldi deixou o cargo e foi substituído por Tereza Canal Lamb. Todos os titulares de cargos estratégicos das duas administrações regionais foram recomendações do deputado.
 
Ainda nas administrações, o governador trocou o comando da regional do Sol Nascente. Saiu José Goudim Carneiro e assumiu Cláudio Ferreira Domingues, sugerido pelo deputado Fernando Fernandes (Pros). No primeiro ano de governo, ele foi administrador de Ceilândia, mas deixou o cargo e perdeu a estrutura para o advogado Marcelo Piauí, amigo e aposta política de Ibaneis. Agora, Fernandes ganhou outro espaço político, no Sol Nascente. Em Águas Claras, Ibaneis exonerou Francisco de Assis da Silva e nomeou André Luis Queiroz Rosa.
 
O jogo de xadrez entre o Palácio do Buriti e a Câmara Legislativa não acontece por acaso. O mês passado começou com forte pressão dos parlamentares da oposição pela instalação da CPI da Pandemia, para apurar as suspeitas de desvios na área da saúde que levaram à prisão da cúpula da pasta na Operação Falso Negativo. O requerimento teve dificuldades para conseguir as 13 assinaturas necessárias para que a comissão fosse criada e, depois de aprovada pela maioria, enfrentou novo obstáculo, desta vez, por parte da Procuradoria da Casa, que considerou não haver requisitos necessários.
 
Ibaneis contornou a situação para evitar uma exploração política das suspeitas, em uma CPI que seria comandada por um deputado da oposição, Leandro Grass (Rede), autor do requerimento.
 
Outsider
 
Num momento de aproximação com os distritais, o Executivo local deu outro passo importante. Figura central na articulação do governo com o Legislativo, o secretário de Relações Institucionais Bispo Renato perdeu a função e passou para o comando da Administração Regional de Taguatinga, mais próximo de um possível eleitorado. Desde então, as negociações com os distritais ficaram a cargo do próprio Ibaneis e da Casa Civil.
 
Na avaliação do cientista político Valdir Pucci, o governador deixou de lado a imagem de um político outsider criada na campanha para garantir a sobrevivência do governo. “Ele foi eleito com discurso outsider, de uma pessoa que veio de fora desse meio, que faria a negociação com o Legislativo baseado em ideias. Uma vez no governo, Ibaneis percebeu que a prática política do mundo real é diferente da campanha”, analisa.
 
Pucci ressalta que esse tipo de negociação faz parte do jogo político no Brasil e considera que o governador acerta ao fazer as trocas. Sem as substituições, os projetos do Executivo local ficariam paralisados na Câmara e o governador correria risco de ter um desgaste ainda maior com os parlamentares, segundo o professor. “Temos o exemplo do próprio governador do Rio, Wilson Witzel, que se recusou a entender a política brasileira e acabou fora do governo em menos de dois anos de mandato”, compara Valdir.
 
Na sexta-feira, o governador promoveu um almoço na Residência Oficial de Águas Claras, fechado para distritais, deputados federais, secretários de governo e presidentes de estatais do DF. O convite aos parlamentares surgiu de maneira descontraída, na reunião de terça-feira, quando o chefe do Buriti e aliados discutiram planos para a CEB, a reapresentação do Refis-DF e a proposta que exclui o limite mínimo de 50% de trabalhadores concursados em cargos comissionados.
 
David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), considera que o governador se viu obrigado a adotar uma forma de negociação mais tradicional. “Esse toma lá dá cá é o estilo tradicional de que não se tem como fugir. O que acontece com o Ibaneis é o mesmo que acontece com (Jair) Bolsonaro. Ambos se elegeram com a promessa de serem diferentes dos demais, mas, agora, se veem obrigados a ceder, a negociar, o que pode causar desconforto até na própria base. ‘Toma lá dá cá’ é o nome do jogo”, completa David.
 
» Dança das cadeiras
 
Substituições em secretarias  e administrações regionais atendem demandas de parlamentares. Confira:
 
Agnaldo Novato Curado Filho
Secretário do Sistema Penitenciário
Quem indicou: Reginaldo Sardinha (Avante)
 
Cláudio Ferreira Domingues
Administrador Regional do Sol Nascente
Quem indicou: Fernando Fernandes (Pros)
Iliobaldo Vivas da Silva (Léo Vivas)
 
Secretário da Família
Quem indicou: parlamentares do Republicanos
 
Luiz Eduardo Gomes de Paula Pessoa
Administrador Regional do Cruzeiro
Quem indicou: Reginaldo Sardinha (Avante)
 
Manoel Gervásio Pinheiro
Secretário de Desenvolvimento da Região Metropolitana
Quem indicou: Roosevelt Vilela (PSB)
 
Tereza Canal Lamb
Administradora Regional do Sudoeste/Octogonal
Quem indicou: Reginaldo Sardinha (Avante)
 
William Augusto Ferreira Bomfim
Comandante do Corpo de Bombeiros
Quem indicou: Roosevelt Vilela (PSB)

Correio Braziliense sábado, 03 de outubro de 2020

BRASILIENSES CONTEMPLAM A LUA CHEIA

Jornal Impresso

Brasilienses contemplam a Lua cheia

 

Darcianne Diogo

Publicação: 03/10/2020 04:00

A Lua cheia deve durar até hoje, quando começa a transição para a fase minguante (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A Lua cheia deve durar até hoje, quando começa a transição para a fase minguante

 

 
Olhos brilhantes e atentos: assim esperavam as pessoas pelo nascer da Lua cheia, no Pontão do Lago Sul, na noite de ontem. A face mais reluzente do único satélite natural da Terra surgiu com tom meio avermelhado e agraciou os brasilienses. 
 
A Lua cheia deve durar até hoje, quando começa a transição para a fase minguante. O funcionário público Jenilson Batista, 66 anos, e a professora Cristiane Dantas, 49, resolveram ir até o Pontão só para admirar o corpo celeste. O casal namora há 4 anos e vê, na natureza, uma forma de estreitar a relação. “É a Lua do amor, da paixão. Sempre quando ela nasce, damos um beijo para selar nossa união”, disse o funcionário. 
 
Os coqueiros, o Lago Paranoá e as luzes colaboraram para o nascer da Lua ficar ainda mais bonito.”O lago é muito bonito. Aqui, é um lugar limpo, não tem prédios para atrapalhar a visão do céu e tem o reflexo da água”, admira Cristiane. 
 
O casal Ana Aguiar e Américo Júnior Aguiar, ambos de 50 anos, chegaram a forrar uma toalha no gramado do Pontão e levaram vinho branco para prestigiar o céu de Brasília. “Íamos para o Iate Clube acompanhar o nascer da Lua, mas decidimos vir para cá. Gosto de tudo que remete à natureza, seja a Lua, o Sol e o céu”, destacou Ana. 
 
O tom um pouco vermelho tem explicação. Segundo o professor e astrofotógrafo Leo Caldas, o motivo é o mesmo do Sol ficar avermelhado perto do horizonte: a atmosfera: “A poeira e fumaça dessa época de tempo seco colaboram para a alteração da cor. Mas, depois, ela fica branquinha novamente”, explicou. 

Correio Braziliense sexta, 02 de outubro de 2020

ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA VOLTA A FUNCIONAR

Jornal Impresso

Que saudade do Zoo!
 
Zoológico volta a funcionar após seis meses fechado, respeitando o decreto do GDF de combate à disseminação do novo coronavírus

Foram seis meses de separação, mas cheios de saudade. O Zoológico de Brasília reabriu, ontem, após logo período fechado por causa das medidas de prevenção contra o novo coronavírus. E o brasiliense voltou rápido a um dos seus pontos mais amados de lazer. Sob severas medidas sanitárias, mais de 800 pessoas passearam pelos recintos com bichos de todo o mundo. Para a criançada, era difícil saber qual animal escolher. Famílias passaram o dia inteiro no Zoo. Mas a quinta-feira foi especial mesmo para Victorya Souza. A menina fez aniversário e ganhou festa (foto/D) surpresa em seu lugar predileto. , Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A Press

 

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 02/10/2020 04:00

 
 
Nem mesmo o calor de quase 35ºC impediu os brasilienses de sair de casa para passear no Zoológico. O espaço reabriu, ontem, para visitação, após seis meses fechado, respeitando o decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), como medida de combate à disseminação do novo coronavírus. Até o final da tarde ontem, cerca de 800 pessoas haviam passado pelo local. Água gelada, frutas, protetor solar, lanches e roupas leves faziam parte do combo que os brasilienses e turistas levaram para enfrentar a seca e se divertir.
 
 
No início da manhã, os visitantes relataram perceber os animais mais tímidos. Alguns associaram o comportamento ao longo período de fechamento e o retorno “repentino” do público. Porém, o biólogo diretor de mamífero do Zoo Filipe Reis explicou que, nesse período de pandemia, a equipe do Zoo percebeu pouca mudança nas atitudes dos bichos. “Eles seguem com o comportamento que tinham antes da pandemia. Isso está relacionado com o bem-estar que é trabalhado no Zoológico. Todos os recintos têm pontos de fuga, independentemente da presença do público”, destacou o especialista. Além disso, ele destacou que o calor deixa os animais mais quietos. Assim, eles buscam lugares mais reservados.
 
Embora o espaço esteja liberado, a visitação deve seguir normas rígidas de medidas sanitárias. O número de pessoas, por exemplo, está limitado a até 1,5 mil. O distanciamento social é fundamental. De acordo com o Decreto nº 41.260, que regulamenta a reabertura do Zoológico de Brasília, a limpeza dos ambientes será mais constante, especialmente das áreas comuns, para diminuir o risco de contaminação pela covid-19. Apesar de os bebedouros estarem ativados, o recomendado é que os visitantes levem garrafinha de água.
 
“Buscamos atender a todas as orientações dos órgãos de saúde, assim como dos decretos para recebermos as pessoas com segurança. Promovemos várias adições para que tudo acontecesse da melhor forma”, disse Eleutéria Guerra Pacheco, diretora-presidente do Jardim Zoológico de Brasília. Foram distribuídos álcool em gel em diversos pontos, instaladas pias com sabão, para higienização das mãos.
 
Outra recomendação é evitar contato com a grama. “Evitem sentar na grama. Estamos em períodos de seca e aparecem carrapatos e outros aracnídeos que são trazidos por animais de vida livre. Tomamos medidas para conter, mas é importante não ter esse contato”, ressaltou Eleutéria.
 
Passeio
 
Moradores do Varjão, os confeiteiros Jardel Silva, 36 anos, e Jéssica Silva, 29, levaram os quatro filhos, logo cedo, para passear no Zoo. A família chegou por volta das 9h30 no local. Cheios de vontade de sair de casa para lazer, Maria Clara Santos, 13; Maria Luiza Santos, 9; Maria Alice Santos, 8; e Ezequiel Santos, 2, fizeram questão de visitar todos os bichinhos. Para os pais, os dias em casa, sem aula e sem poder sair, deixaram as crianças muito agitadas. Na primeira oportunidade, resolveram levá-las para o passeio.
 
“Esse tempo de quarentena não foi muito bom. Todos dentro de casa, com vontade de sair um pouco, mas não podíamos. Antes da pandemia, a gente sempre vinha para o Zoo. O menor ainda não conhecia e está adorando tudo”, contou Jéssica. A mais animada entre os filhos, Maria Luiza estava ansiosa para ver a girafa e o elefante. São seus animais prediletos. “Eu também gosto das cobras, acho bonitas. Quero ficar aqui o dia todo, vai ser bem legal”, afirmou a menina. A família chegou ao Zoológico com vários lanches e até almoço para passar o dia visitando os bichos.
 
Gêmeos, os irmãos Lucas Reis e Davi Reis, 6 anos, foram ao Zoo a caráter. Cada um estava com máscara de algum animal: um de urso e outro de jacaré. Na hora de escolher o bicho preferido, bateu a dúvida. “Ainda estou escolhendo. Mas, gosto mais do alce e do leão”, disse Lucas. Para que o passeio fosse divertido e sem grandes interferências da seca, o pai dos meninos, o pastor Alexandre Reis, 41, foi preparado. “Muita água. Viemos de carro para não precisar andar muito debaixo de sol quente e trouxemos dinheiro para comprar sorvete e picolé”, afirmou.
 
Para a estudante Victorya Souza, a data foi ainda mais especial. A reabertura do Zoo, um dos lugares preferidos dela, foi no dia em que ela completou 10 anos. Por isso, os familiares prepararam uma festa surpresa para ela no local. “Eu percebi que minha mãe estava estranha todos esses dias. Deixava eu brincar no celular, mas não podia abrir o WhatsApp. Achei estranho, mas não desconfiei de nada”, contou a menina, com riso no rosto.
 
A família inventou uma história para poder tirá-la de casa. “A quarentena não é difícil, porque gosto de ficar em casa, assistindo tevê, deitada. Então, estava bom”, disse. Para conseguir sair com a aniversariante, falaram que iriam a uma lanchonete que ela gosta. No caminho, o pai falou que precisava usar o banheiro e que entraria no Zoológico. “Pagar R$ 5 para ir no banheiro? Achei aquilo muito esquisito, mas gostei da ideia, porque eu poderia ver os animais. Quando cheguei, fizeram a surpresa. Eu amo festa ao ar livre. Eu amei tudo”, declarou Victorya.

Hora do refresco: o urso-de-óculos Ney fez a festa na água (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  
Hora do refresco: o urso-de-óculos Ney fez a festa na água


Seca
 
A umidade baixa e as temperaturas altas não estão castigando apenas os seres humanos, os animais também sofrem neste período. Para se manter bem e aliviar os sinais da seca, o Zoológico promove uma série de atividades com os bichos. “Temos um programa de enriquecimento ambiental, são atividades que a gente estimula os animais tanto na parte psicológica quanto na física”, disse o biólogo Filipe Reis.
 
Para o urso-de-óculos Ney, por exemplo, a atividade é colocar comida e pedaços de frutas dentro do tanque para estimulá-lo a entrar e se refrescar. Há, também, estruturas com áreas sombreadas e internas.  Além disso, tem banho de mangueira para os elefantes, picolé de frutas para algumas espécies, para os felinos picolé com o sumo da carne. Afinal, eles merecem refresco, também.
 
 
 
Visitação Zoológico de Brasília
Dias: Quinta a domingo e feriados
Horários: 9h às 17h
Valor da entrada: R$ 5, meia-entrada
 

Correio Braziliense quinta, 01 de outubro de 2020

TORRE DE TV REABRE HOJE

 

Jornal Impresso
Vista livre para o sonho
 
Depois de uma grande reforma, com melhorias em vários pontos, como no mirante (foto) e no mezanino, a Torre de TV é reaberta ao público. Artesãos da feira esperam os turistas. Hoje, o Zoo de Brasília também volta a funcionar. , Ed Alves/CB/D.A Press
Torre de TV reabre hoje
 
É muita expectativa! Enquanto brasilienses e turistas estão ansiosos para poder admirar, novamente, a vista de Brasília que só este monumento proporciona, comerciantes e artesãos da feira esperam que o movimento aumente e reaqueça a economia

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 01/10/2020 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Após dois anos fechada para reformas, a Torre de TV reabriu, hoje, para visitação. Sob a gestão do Banco de Brasília (BRB), o ponto turístico e marco visual da cidade conta com novo espaço de socialização no mezanino, além do mirante que oferece uma vista panorâmica do Plano Piloto. Presente no evento de inauguração, ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que a revitalização da estrutura é um ato simbólico para todos os brasilienses. “Mostra como nós cuidamos do patrimônio da capital federal e como esperamos que cuidem do resto do país”, disse.
 
Para o emebedista, as obras vão auxiliar o desenvolvimento econômico e social da cidade. “Tivemos o cuidado de, também, cuidar da Feira da Torre, para que os visitantes de Brasília possam vir e desfrutar de tudo que o espaço tem a oferecer”, frisou.
 
Também no evento, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, ressaltou que o intuito da parceria com o governo local era reavivar o monumento e que os projetos de revitalização devem se estender para outros pontos turísticos da capital federal. “Nosso próximo alvo é o Teatro Nacional. Temos a intenção de iniciar um projeto no espaço, porém ainda não há previsão”, adiantou.
 
Para a visitação da Torre, serão respeitadas as medidas de segurança a fim de evitar a disseminação do novo coronavírus. Brasilienses e turistas estão ansiosos com a retomada do monumento. Edvandro da Costa, 40 anos, mora há 20 em São Sebastião e trabalha no Plano Piloto. Apesar de estar muito tempo na cidade, ele nunca subiu na Torre de TV. Ao saber da reforma e da reabertura, garantiu que vai conhecer o mirante. “Dizem que é uma vista muito bonita de todo o centro de Brasília e, agora, deve estar mais moderno. Mal posso esperar”, revela. Para a filha de Edvandro, Daniela da Costa, 9, visualizar Brasília do alto da estrutura também é uma experiência inédita. “Parece ser muito bonito, tenho vontade de subir e ver a cidade de cima”, conta.
 
De acordo com a administração da Torre de TV, o mirante ficará aberto das 12h às 18h, e a entrada será gratuita, porém controlada. Apenas será permitida a entrada de quatro pessoas por vez no elevador e 12 no espaço. A medição de temperatura será feita nas entradas do local, e o álcool em gel estará disponível em todos os ambientes. O mezanino funcionará de quinta-feira a sábado, das 18h à  0h30, por meio de reservas, e o valor será de R$ 20 por pessoa.
 
Para o mineiro Fábio Assis, 30, as inovações são um atrativo a mais. Morador de Francisco Dumont (MG), ele veio a Brasília para o casamento de um amigo e ficou triste por não ter conseguido visitar a Torre de TV. “Criei expectativas muito boas em relação à vista do mirante. Porém, quando cheguei, soube que estava fechado”, lamenta. “Estou voltando para Minas Gerais hoje, mas já quero planejar a próxima vinda para conhecer este ponto turístico”, promete Fábio.

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Comércio
 
Como um dos principais pontos turísticos de Brasília, a Torre de TV fomenta grande parte das vendas na Feira da Torre. Selma Carvalho, 59, trabalha na feira há 28 anos e conta que, após o monumento fechar para reformas, o movimento no comércio caiu consideravelmente. “As pessoas que visitavam a Torre acabavam conhecendo a feira. Mesmo durante a semana, o fluxo era bom”, lembra. Agora, com a reabertura, ela está otimista. “Espero que aumente bastante e que turistas e brasilienses gostem do que temos a oferecer”, completa.
 
Jaqueline Melo, 26, também está com expectativas altas. “Mesmo durante a pandemia, espero que as pessoas visitem o local. Nós, da feira, dependemos muito do turismo da Torre”, explica. O presidente do Sindicato dos Feirantes do DF (Sindifeira), Francisco Valdenir, deseja que o comércio da Feira da Torre volte aos bons tempos. “Nosso principal foco é trazer a clientela de volta, e acredito que a reabertura da Torre pode nos ajudar”, avalia.
 
 
Reforma
A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) investiu R$ 16,5 milhões na restauração do local. A pintura foi refeita e os parafusos das vigas e peças metálicas, trocados. O mirante, agora, conta com um bistrô. A feira da torre também passou por revitalização. Cerca de 4,5 mil m² de calçadas de concreto foram refeitos, e os elevadores e as escadas rolantes, recuperados. 

Correio Braziliense quarta, 30 de setembro de 2020

TRUMP X BIDEN - O DEBATE DO CAOS: OFENSAS E ATÉ CITAÇÃO AO BRASIL

Jornal Impresso

O debate do caos
 
EUA / A 35 dias das eleições, Donald Trump e Joe Biden trocam ofensas e se interrompem por várias vezes. Democrata manda presidente calar a boca e o chama de "palhaço". Magnata republicano assegura que foi o melhor líder da história e alerta para fraude

 

RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 30/09/2020 04:00

 

%u201CNão tem nada de inteligente em você. 
(...) Fiz mais em 47 meses do que você 
em 48 anos, Joe%u201D

Donald Trump, presidente republicano dos 
EUA e candidato à reeleição

%u201CÉ difícil falar com este palhaço. Perdão, esta pessoa. (%u2026) Você é o pior presidente que 
os Estados Unidos já tiveram%u201D

Joe Biden, candidato 
democrata à Casa Branca (Jim Watson/AFP)  

"Não tem nada de inteligente em você. (...) Fiz mais em 47 meses do que você em 48 anos, Joe"  Donald Trump, presidente republicano dos EUA e candidato à reeleição,  "É difícil falar com este palhaço. Perdão, esta pessoa. " Você é o pior presidente que os Estados Unidos já tiveram" Joe Biden, candidato democrata à Casa Branca

 

 

 

Com apenas cinco minutos de atraso, o presidente republicano Donald Trump e o ex-vice democrata Joe Biden subiram ao palco da Case Western Reserve University, em Cleveland (Ohio), e não apertaram as mãos. Poderia ser uma prévia do clima nada amistoso que permeou o primeiro dos três debates antes das eleições de 3 de novembro, mas era apenas parte do protocolo de segurança sanitária. Constantes trocas de ofensas e interrupções dominaram os 90 minutos de discussões sobre seis assuntos específicos: a pandemia da covid-19, a Suprema Corte dos Estados Unidos, o racismo, o histórico dos dois candidatos, a economia e a integridade das eleições. Trump tentou usar a presença de palco — legado dos tempos de apresentador de O aprendiz, entre 2004 e 2015 — e intimidar o adversário, que chegou a chamá-lo de “palhaço”. Mas Biden soube aproveitar-se das câmeras para contra-atacar. Em um dos momentos mais tensos, Trump disse que Hunter Biden, filho de Joe Biden, foi expulso das Forças Armadas por usar cocaína. “Isso não é verdade”, reagiu o democrata.

 “O fato é que tudo o que ele disse até agora é simplesmente mentira. (…) Todo mundo sabe que ele é um mentiroso”, disparou Biden. O magnata republicano deixou a modéstia de lado. “Fui o melhor presidente, com a melhor economia da história do país”, afirmou, depois de ligar o adversário ao socialismo. Mais adiante, ao reagir às interrupções, Biden perdeu a paciência: “É difícil falar com este palhaço. Perdão, esta pessoa. (…) Você é o pior presidente que os EUA já tiveram”.

 Já no primeiro tema, os dois partiram para o ataque, ao debaterem a nomeação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a vaga da falecida magistrada Ruth Bader Ginsburg. Trump garantiu que tem o direito de escolher quem quiser. “Temos uma indicada fenomenal, muito respeitada, uma acadêmica de elite muito boa. Ganhamos as eleições e temos o direito de indicá-la”, declarou. Por várias vezes, o moderador Chris  Wallace, jornalista da emissora Fox News, precisou intervir.

 Biden, por sua vez, disse que Trump deseja derrubar o Obamacare — plano de subsídio de atenção à saúde lançado pelo ex-presidente Barack Obama — e o acusou de não ter um projeto similar. “Este homem não sabe o que está falando”, alfinetou o democrata. Foi quando Trump denunciou um projeto socialista de Biden para a saúde pública. No segundo tema, mais tensão no ar.  “São 200 mil mortes, 7 milhões de infectados ou 4% da população mundial, além de 10% das mortes. Milhares de pessoas, por dia, contraem a doença. As coisas são como são porque você é como é”, alfinetou Biden, ao responder sobre a pandemia da covid-19. “O presidente não tem um plano.”

 O republicano devolveu com tom ríspido e em terceira pessoa: “Várias pessoas me disseram que o presidente Trump salvou várias vidas em nosso país e fez um trabalho fenomenal”. “ Você nunca teria feito o trabalho que realizei”, disse o magnata republicano. “Você foi um desastre”, rebateu Biden. Trump levou as acusações para o lado pessoal. “Não tem nada de inteligente em você”, disparou. “Fiz mais em 47 meses do que você em 48 anos, Joe”, acrescentou. No debate sobre a pandemia, ambos encenaram um momento cômico ao falarem sobre as máscaras. “Eu não uso uma máscara como (Biden), cada vez que você o vê, ele usa uma máscara. Ele poderia estar a dois metros daqui e aparece com a maior máscara que já vi”, ironizou Trump.

 Em outra abordagem aguardada, Wallace perguntou a Trump se ele pagou US$ 750 em impostos, três anos atrás. “Paguei milhões de dólares em impostos de renda. Teve uma história dos jornais dizendo que paguei US$ 38 milhões em um ano e US$ 27 milhões em outro. Temos 180 páginas de notícias que mostram meus ativos”, respondeu. O moderador insistiu que Trump tergiversou. “Paguei milhões de dólares em 2017”, assegurou o republicano. Visivelmente exasperado ao ser acusado de desejar fechar a economia, Biden dirigiu-se ao rival: “Você vai se calar, homem?”.

 O debate sobre divisões raciais nos EUA levou Trump a voltar a defender a lei e a ordem. “Este é um presidente que usa tudo como um apito de cachorro, para tentar semear ódio racista e divisão. Este homem não fez praticamente nada pelos negros”, disse o democrata. Na última pergunta do evento, Biden defendeu que os cidadãos norte-americanos votem da forma como desejarem, seja à distância, seja presencialmente. E disse que Trump busca amedrontar os eleitores, impedindo-os de votar, sob o pretexto do risco de fraude. O presidente pôs em xeque o fato de milhões de cédulas serem enviadas a vários lugares. “Isso vai ser uma fraude como nunca antes visto.”

Especialistas

 Professor de história, jornalismo e estudos midiáticos da Rutgers University, David Greenberg avaliou ao Correio que nenhum dos candidatos teve atuação brilhante. “Isso provavelmente ajudará Biden. Trump dominou, mas com arrogância e com interrupções. Biden lutou para ser ouvido, mas quando o fez foi convincente e substantivo”, comentou. “Minha suspeita é que a maioria dos telespectadores tenha erguido as mãos e desligado a tevê, ou encolhido os ombros.” Greenberg admitiu que o debate foi “completamente caótico”. “Chris Wallace foi incapaz de impedir Trump de importunar.”

 Para David Dulio, diretor do Centro para Engajamento Cívico e cientista político da Universidade Oakland (em Michigan), o debate não atendeu à opinião pública. “Tudo começou muito caótico. Houve conversas contínuas e nenhum dos dois prestou atenção ao moderador. Eu me pergunto quantas pessoas ficaram enojadas e desligaram a tevê”, disse à reportagem. O especialista entende que os dois conseguiram marcar pontos. “Biden fez um bom trabalho, ao falar diretamente para a câmera; o público responde a isso. Trump é claramente mais forte quando se concentra na economia e foi capaz de criar um contraste em sua abordagem sobre covid, economia e Biden, sobre fechar ou abrir o país.”


Correio Braziliense terça, 29 de setembro de 2020

FOGO E SECA CASTIGAM O DISTRITO FEDERAL

Jornal Impresso

Fogo e seca castigam o Distrito Federal
 
 
As altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar têm contribuído para grande ocorrência de incêndios florestais. Além disso, brasilienses correm risco de desidratação. Por isso, cuidados devem ser intensificados durante este período

 

Publicação: 29/09/2020 04:00

Incêndio consumiu parte da reserva florestal do Palácio do Jaburu, ontem. Trinta e cinco militares e sete viatuaras atuaram na ocorrência (CBMDF/Divulgação)  

Incêndio consumiu parte da reserva florestal do Palácio do Jaburu, ontem. Trinta e cinco militares e sete viatuaras atuaram na ocorrência

 


» TAINÁ SEIXAS
 
Seca e calor: o clima não é novidade para os brasilienses. Além dos efeitos na saúde da população, a combinação desses dois elementos é a responsável pelo alto índice de incêndios florestais que ocorrem no Distrito Federal durante este período. Por isso, os cuidados têm que ser redobrados, tanto individuais quanto para com o meio ambiente.
 
Apesar de chuvas que apaziguaram a seca na semana passada, a baixa umidade voltou com tudo. Ontem, a Defesa Civil decretou estado de alerta, após o DF ter umidade entre 12% e 20% por três dias consecutivos. No domingo, o índice ficou abaixo dos 12%.

Rebeca Gonçalves foi ao Parque da Cidade se refrescar com água de coco (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Rebeca Gonçalves foi ao Parque da Cidade se refrescar com água de coco

 

Pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Martins afirma que os cuidados têm que ser postos em prática e intensificados neste período. “As pessoas tendem a relaxar, mas como choveu um pouco e o clima voltou a ficar seco imediatamente — além de estar muito quente — a chance de desidratação é muito grande”, explica o médico. E, o remédio é um só: beber bastante água.
 
Especialistas recomendam evitar exercícios físicos em locais abertos entre 10h e 16h; evitar a exposição ao sol durante o mesmo período; utilizar roupas leves; comer alimentos saudáveis; e evitar ambientes com ar-condicionado, o que contribui para o ressecamento do local. Aumentar a umidade do local em que se dorme — com umidificador, toalhas molhadas ou recipientes com água — também é aconselhado pelos profissionais de saúde.
 
Cuidados
A professora Victoria Junqueira, 28 anos, aumentou consideravelmente seu consumo de água; ela bebe quatro litros diariamente. Outra adaptação que ela fez na rotina foi passar a praticar exercícios aeróbios após o entardecer; durante o dia, só ioga e alongamentos. Manter-se hidratada, no entanto, não evita que ela passe muito calor. “Está muito seco e quente. Difícil de viver. Meus lábios estão secos, e eu ando tendo muita dor de cabeça. Esta época é sempre terrível para mim”, relata a moradora da Asa Norte.
 
O casal Rebeca Gonçalves, 17, e Jean Carlos Dias, 18, procuraram o Parque da Cidade para se refrescar em meio ao calorão com água de coco geladinha. “É bem difícil, porque está muito calor, muito abafado, e a gente tem que ficar se hidratando toda a hora. Mas, eu venho bastante para cá, tomo água de coco. Já se tornou rotina”, relata a estudante.
 
De acordo com informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Distrito Federal deve ficar sem chuvas por, no mínimo, mais duas semanas. “Estamos debaixo de uma massa de ar seca e quente, que proporciona temperaturas elevadas e baixa umidade. O retorno da chuva está previsto apenas a partir da segunda quinzena de outubro”, explica meteorologista do Inmet Andrea Ramos.
 
Queimada no Jaburu
Um incêndio florestal tomou conta de parte da área de preservação do Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, na tarde de ontem. Os bombeiros foram acionados por volta das 13h35. Sete viaturas e 35 militares atuaram para conter as chamas, o que ocorreu por volta das 16h50. Algumas equipes, contudo, permaneceram no local para lidar com o rescaldo da queimada.
 
O incêndio teria se originado quando uma equipe de telefonia móvel trabalhava em uma torre de celular, recentemente instalada na região. Uma fagulha de uma solda utilizada pelos funcionários teria caído na vegetação local e, com o vento, o fogo se alastrou.
 
Inicialmente, equipes de socorro urbano atenderam à ocorrência visando a proteção da torre. Profissionais especializados em combate a incêndio florestal apareceram em seguida, para conter a queimada que tomava conta do local. As chamas espalharam-se em área oposta ao palácio; não houve vítimas e nenhuma construção foi atingida. A área afetada está sendo avaliada.
 
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal mensura que a área destruída por incêndios florestais em 2020 é superior à registrada em todo o ano passado. Até este mês, 17.919,89 hectares de vegetação foram devastados. Em 2019, o fogo consumiu 16.177,51 hectares.
 
Apenas em setembro, a área atingida estimada é de 8.134,23 hectares. Em outubro, foram 6.367,12 hectares, 75% a mais que o registrado no ano passado. Os bombeiros receberam em média 57 ocorrências diárias neste mês.
 
Para evitar que mais áreas sejam castigadas pela seca, a recomendação do Corpo de Bombeiros é não atear fogo para limpeza de terrenos, lixo ou resto de podas; sempre certificar-se que o cigarro está apagado, e descartá-lo em local apropriado; e, caso aviste algum foco de incêndio, ligar 193 e indicar o local das chamas.
 
 
 
Três perguntas para 
 
Paulo Jorge, tenente do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal
 
O que gera os incêndios florestais?
A principal causa de incêndios é o homem. Das ocorrências que a gente atende, 90% são provocadas diretamente pelo homem. De forma intencional, criminosa, na queima de lixo em residências, em chácaras, tudo isso provoca esses princípios de queimadas. Com o desleixo, na hora de fazer uma limpeza no lote, no quintal, com esse forte vento que a gente tem, acaba atingindo a vegetação natural.
 
Quais as medidas devemos tomar para evitar a propagação do fogo?
A gente sempre solicita que não se faça esse tipo de queima de limpeza de resto de vegetação neste período que a gente enfrenta. Se tiver que fazer, faça pelo período da manhã, em que os ventos são mais fracos, a umidade é mais elevada e está mais frio. O pessoal, normalmente, faz a tarde, com umidade bem baixa e vento forte e acaba perdendo controle do fogo.
 
Como se dá o trabalho dos bombeiros em campo? Quanto tempo em média dura uma operação de combate às chamas?
Isso é muito relativo. Depende do tamanho do incêndio, do tipo de vegetação e das condições climáticas que a gente encontra. Aqui em Brasília, a gente não tem o hábito de deixar ocorrências de um dia pra outro. Pode demorar o que for, mas a gente não deixa ocorrências durarem mais que um dia.
 
 
Orientações
 
Veja dicas para diminuir os efeitos do calor e da seca
 
» Procure manter o corpo sempre bem hidratado. Portanto, beba bastante água, mesmo sem sentir sede. Na hora do lanche ou da sobremesa, dê preferência a frutas ricas em líquidos, como melancia, melão e laranja, por exemplo. Em especial, fique atento à hidratação das crianças, idosos e dos doentes;
» Aplique soro fisiológico no nariz e nos olhos para evitar o ressecamento;
» Evite a prática de exercícios físicos ao ar livre entre 10h e 17h;
» Use produtos para hidratar a pele do rosto e do corpo, pelo menos depois do banho e na hora de deitar;
» Coloque chapéus e óculos escuros para proteger-se do sol;
» Aproveite o vapor produzido pela água durante o banho para lubrificar as narinas;
» Coloque toalhas molhadas, recipientes com água ou vaporizadores nos quartos de dormir;
» Evite aglomerações e a permanência prolongada em ambientes fechados ou com ar condicionado, pois o ressecamento das mucosas aumenta o risco de infecções das vias aéreas;
» Mantenha a casa sempre limpa e arejada. O tempo seco aumenta a concentração de ácaros, fungos e da poeira em móveis cortinas e carpetes;
» Procure não usar vassouras que levantam o pó por onde passam. Dê preferência para aspiradores ou panos úmidos;
» Ligue ventiladores de teto no modo “exaustor”, com ar direcionado para cima. Ligados para baixo, no modo “ventilação”, levantam a poeira que se mistura no ar;
» Não queime lixo nem provoque queimadas por descuido ou desatenção.
 
Fonte: Defesa Civil
 
 
Se prepare
 
Confira a previsão do tempo para os próximos dias
 
Hoje
Temperatura
Mínima: 18°C
Máxima: 34°C
Umidade
Mínima:15%
Máxima: 50%.
 
Amanhã
Temperatura
Mínima: 17°C
Máxima: 33°C
Umidade
Mínima: 20%
Máxima: 70%
 
Quinta-feira
Temperatura
Mínima: 17°C
Máxima: 32°C
Umidade
Mínima: 20%
Máxima: 75%
 
Sexta-feira
Temperatura
Mínima: 16°C
Máxima: 33°C
Umidade
Mínima: 15%
Máxima: 70%

Correio Braziliense segunda, 28 de setembro de 2020

NANDO REIS: MÚSICA COMO FORMA DE ENCONTRO

Jornal Impresso

NANDO REIS

Música como forma de encontro
 
Depois de um hiato de dois anos, Nando Reis volta com single inédito Espera a primavera, feito na quarentena e que busca um otimismo em meio ao que o artista define como "inverno tenebroso"

 

Adriana Izel

Publicação: 28/09/2020 04:00

 

"Juntei representações daquilo que a música aspira dentro do meu círculo de amizades. São pessoas que admiro com quem nunca havia trabalhado"

 

 
 
 
“O momento da quarentena foi e está sendo de privações de transitar, de trabalhar, de encontrar pessoas. Além de estarmos vivendo, no país, um momento de retirada de liberdade. Essa música se dá concomitante ao processo no Brasil em curso de cerceamento, de autoritarismo. Só que, de alguma maneira, é uma forma otimista, esperançosa e mobilizadora. Trata-se disso.” É assim que o cantor e compositor Nando Reis explica o mais recente trabalho, o single Espera a primavera, o primeiro material inédito em dois anos.
 
A canção foi escrita durante o isolamento social que o artista cumpriu por quatro meses ao lado da esposa e dos filhos na casa que era do avô, em Jaú, no interior de São Paulo. A faixa nasceu reunindo todos esses sentimentos do compositor em meio à quarentena e à situação política brasileira. “Ela foi feita a partir daquilo que fui sentindo e pensando durante e sobre a quarentena”, explica.
 
Apesar de ter brotado do que Nando Reis define como um “inverno tenebroso que ainda está em curso”, Espera a primavera tem a mensagem de esperança, daí, inclusive, o título que vem da estação associada ao reflorescimento e que teve início no país na última terça-feira. Na letra, muito do que se sente falta na pandemia em trechos como “se apronta que no fim das contas/na outra ponta vai ter alguém/para lhe dar a mão” e “quando o sol de ouro/voltar a brilhar/ e o mundo todo/em alvoroço puder de novo/se encontrar”.
 
Mesmo que tenha sido feita por Nando isolado, Espera a primavera é uma música com várias participações (remotas). Vocalmente, além do compositor, a cantora Céu e o filho, Theo. Lulu Santos, Jack Endino e Walter Villaça ficaram responsáveis pela gravação das guitarras, ao mesmo tempo pesadas e harmoniosas. Chris Robinson, do The Black Crowes, e Sebastião, outro filho do artista, fizeram os acordes de violões. As linhas da bateria foram compostas por Barret Martin; enquanto a percussão, por Pupillo Oliveira, o baixo por Felipe Cambraia, e os teclados, por Alex Veley. Os arranjos de metal foram escritos por Tiquinho.
 
“Juntei representações daquilo que a música aspira dentro do meu círculo de amizades. São pessoas que admiro com quem nunca havia trabalhado”, diz. Ele explica que tudo começou com o riff criado que logo imaginou ser tocado por Lulu Santos. Já o refrão da faixa, pensou que poderia ser cantado por uma mulher, assim veio a ideia de Céu. A presença dos filhos é natural, já que ambos têm tocado com ele. Zoé é outra filha que participa, mas na versão do clipe. “Isso é só uma amostragem daquilo que é diversidade, não em sua totalidade. A música também é uma defesa à diversidade, à pluralidade, daquilo que é multicolor e surge num momento em que estamos num Brasil acinzentado, literalmente, pela quantidade de fumaças que cobrem os céus, e por esse governo inominável”, completa.
 
A canção será apenas um single. Não há intenção de fazer um álbum. Pelo menos, não agora. “Tenho muitas músicas, mas não é o momento de gravar e lançar um disco”, explica. Antes da pandemia, ele tinha uma agenda de shows da turnê do disco Não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto, com canções do rei Roberto Carlos, que, inclusive, passaria novamente por Brasília. “Ainda quero produzir o vinil desse disco”, afirma, deixando evidente que pretende continuar a explorar o material.
 
Pandemia
 
Assim que a quarentena foi decretada, Nando Reis se isolou na casa em Jaú. Ele, a esposa e quatro dos cinco filhos. “De algum modo, posso imaginar que uma coisa boa aconteceu. Acabei de comprar essa casa que foi do meu avô e o fato de nos mudarmos para lá trouxe essa convivência inesperada e muito boa, com filhos adultos, casados, que não moravam conosco há 10 anos. De certa maneira, o que a gente fez foi tentar lidar com a realidade e extrair dela o melhor possível. Obviamente que eu tinha condições muito boas. Mas isso também não significa que não tenha sido duro”, comenta.
 
Para Nando Reis, as maiores dificuldades foram ver a equipe sem trabalho e assistir à tragédia de mortes diárias no país. “Além de todas as coisas horrorosas que andam acontecendo. Tudo isso é muito triste, muito perturbador. Lidar com tudo isso foi um tanto intenso”, complementa.
 
Mesmo assim, o artista mostra-se esperançoso. “Digamos que a esperança é uma coisa nata do ser humano. A humanidade, ao menos as pessoas lúcidas e sensatas que agem através da ciência, estão torcendo a favor da descoberta da vacina. Mas ,não basta apenas a descoberta da vacina. A vacinação é um processo complexo e estamos nas mãos de gente inepta e, digamos, incompetente, para dizer o mínimo. Mas nos resta olhar para os caminhos, nos apegar às direções e ter esperança para que a maioria saia desse surto que se deu”, reflete.
 
Reinvenção
 
Assim como alguns artistas, Nando Reis reinventou-se na quarentena, fazendo lives e apresentações em drive-ins. “Tem sido uma experiência inédita e que às vezes é difícil, mas, por outro lado, é gratificante ter conseguido trabalhar, produzir, gerar e dar trabalho para as pessoas numa situação tão desfavorável”, comenta.
 
Ele diz que esse processo tem mudado a relação dele com os shows. “Se você me perguntasse há oito meses sobre um show num drive-in, eu diria: “do que você está falando?” Ninguém nunca imaginou. Isso mostra que as pessoas, quando estão privadas, tentam encontrar meios de resistir e sobreviver. A arte é essencial, assim como o trabalho e a saúde. Há de se conjugar tudo isso e trabalhar e lutar para ter uma adaptação e extrair o que há de melhor”, define.
 
O mais recente show virtual foi na última sexta-feira ao lado da pernambucana Duda Beat. Na oportunidade, uma fusão entre o trabalho e a sonoridade dos dois artistas. Não há nada combinado oficialmente, mas Nando não descarta que a parceria possa dar frutos: “Talvez, quem sabe, a gente não insiste e lance algo”.
 
Essa não é a primeira vez que Nando se aproxima das novas gerações. Neste ano, ele lançou um trabalho com o duo Anavitória, que já havia revisitado o repertório dele em um álbum. “É muito legal (essa aproximação com a nova geração). Fico feliz de que meu trabalho tenha impactado outras pessoas contribuindo para a formação delas. Isso também é mais uma demonstração de que a música que eu fiz sensibiliza as pessoas mais novas. Ela permanece atual, como eu sempre pretendi que ela fosse, que não ficasse restrita à época de composição. Fosse atemporal, como a arte pode e deve ser”, analisa.

Correio Braziliense domingo, 27 de setembro de 2020

SUPREMA CORTE AMERICANA: AMY CONEY BARRETT É INDICADA PARA SUBTITUIR RUTH GINSBURG

Jornal Impresso

Suprema Corte Americana
A antítese de Ruth Ginsburg
 
 
Indicada para a Suprema Corte, Amy Coney Barrett tem um perfil diametralmente oposto ao da antecessora, uma progressista defensora da igualdade de gênero e do aborto. Aos 48 anos, a designada por Trump é ultraconservadora e favorável ao porte de arma

 

Publicação: 27/09/2020 04:00

Na Casa Branca, Trump acompanha o discurso de agradecimento  de sua escolhida: terceira indicação do republicano à mals alta Corte de Justiça (Olivier Douliery/AFP)  

Na Casa Branca, Trump acompanha o discurso de agradecimento de sua escolhida: terceira indicação do republicano à mals alta Corte de Justiça

 

 
 
A pouco mais de um mês das eleições, a confirmação da indicação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte dos Estados Unidos joga mais fogo no já acalorado duelo entre democratas e republicanos. Enquanto os primeiros defendem que Donald Trump — que busca um segundo mandato, mas não lidera as pesquisas eleitorais — não poderia indicar um novo juiz tão perto do pleito, em 3 de novembro, o partido do presidente tem os votos no Senado necessários para confirmar a magistrada de 48 anos. Ela deve ocupar o posto da progressista Ruth Bander Ginsburg, uma vigorosa defensora da igualdade de gênero, morta de câncer no dia 18, e que será enterrada nesta semana, no Cemitério Nacional de Arlington, em Washington.
 
Em um país polarizado, a indicação é considerada um novo foco de tensão e, para os democratas, converterá a mais alta instância da Justiça norte-americana em um tribunal de direita. Caso o Senado aprove a juíza, a Suprema Corte terá seis conservadores e três liberais. Acompanhado de Barrett no anúncio da indicação, no Jardim de Rosas da Casa Branca, Donald Trump disse que está certo de que a confirmação da vaga será “direta e muito rápida”.
 
Durante a cerimônia, onde estiveram presentes a primeira-dama Melania Trump, o marido e os sete filhos da magistrada, o presidente exaltou as qualidades intelectuais de Barret. Ele a chamou de “uma das mentes jurídicas mais brilhantes e talentosas de nossa nação (…), uma mulher de realizações incomparáveis, intelecto elevado, credenciais excelentes e lealdade inflexível à Constituição”.
 
Honra
 
Depois da fala de Trump, a juíza agradeceu a indicação e se disse honrada. “Amo os Estados Unidos e amo a Constituição dos Estados Unidos”, declarou. No breve depoimento, ela homenageou Ruth Bader Ginsburg, um ícone liberal, favorável ao aborto e à migração e crítica ferrenha do presidente — em 2016, ela disse à rede CNN que o republicado era “uma fraude”, levando o governante a pedir que a magistrada renunciasse. Em seus comentários, ontem, Barrett afirmou que a antecessora “conquistou a admiração de mulheres em todo o país e, na verdade, em todo o mundo”, arrematando que a “a vida pública dela serve de exemplo para todos nós”.
 
A magistrada também destacou que Ginsburg era amiga do falecido conservador Antonin Scalia, o mentor intelectual de Barrett, mesmo estando em lados ideológicos opostos, e afirmou que terá uma atuação independente, caso aprovada pelo Senado. “Juízes não definem políticas e devem deixar de lado qualquer posição política que possam ter.”
 
Reagindo ao anúncio da indicação, o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, pediu ao Senado que não tome a decisão antes das eleições presidenciais. “O Senado não deveria se pronunciar sobre essa vaga, até que os norte-americanos tenham escolhido seu próximo presidente e seu próximo Congresso”, disse, em comunicado.
 
Biden lembrou que a juíza é contra a lei que reformula o sistema de saúde, conhecida, popularmente, como “Obamacare”. “Mesmo agora, no meio de uma pandemia, a administração Trump está pedindo à Suprema Corte para derrubar toda a lei, incluindo a proteção que ela oferece a pessoas com condições preexistentes. Se o presidente conseguir, complicações da covid-19, como cicatrizes pulmonares e danos cardíacos, podem ser a próxima condição preexistente negada”, alertou.

Correio Braziliense sábado, 26 de setembro de 2020

GAL COSTA:75 ANOS DE UMA DIVA

Jornal Impresso

GAL COSTA
 
75 anos de uma diva
 
Gal Costa comemora o aniversário e 55 anos de carreira com uma aguardada live. Ao Correio, ele fala sobre a trajetória profissional, pandemia, política e, claro, música

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 26/09/2020 04:00

Gal Costa (Marcos Hermes/Divulgação)  

Gal Costa

 

 
 
Dona de uma das mais belas vozes da música popular brasileira, Gal Costa celebrará 75 anos hoje com um show ao vivo e exclusivo. A live vinha sendo muito pedida pelos fãs da cantora desde o início da quarentena, especialmente depois que Caetano Veloso e Gilberto Gil, companheiros de Tropicália, se renderam a esse formato. A apresentação, com início às 22h, será transmitido pela TNT para todo o Brasil e pelo canal da emissora no YouTube para países da América Latina.
 
Na live, intitulada Gal 75, ela terá ao seu lado o guitarrista Pedro Sá e o tecladista Chicão, músicos integrantes da banda que a acompanha na turnê do espetáculo A pele do futuro, visto pelo brasiliense em 2019. A direção é de Marcus Preto, que também assina o roteiro. “Montamos um repertório que contempla os 55 anos de carreira de Gal, comemorados agora, ao mesmo tempo em que ela faz 75 de vida”, destaca. “O set dá destaque aos grandes hits das cinco décadas e meia, da Tropicália até os dias de hoje, que a nova geração abraçou também os trabalhos mais recentes da cantora. Também pescamos alguns lados B que vão dar o gosto de novidade para os fãs mais fiéis. E até alguma coisa que Gal nunca cantou antes. É um aniversário em vários sentidos, revendo o passado e também mirando o futuro”, acrescenta Preto.
 
Ao Correio, Gal deu uma longa entrevista na qual focalizou momentos de destaque da vitoriosa trajetória, como Nós por exemplo, o primeiro show, em 1964, no Teatro Vila Velha, em Salvador; a participação no Festival da Record, que a revelou para o Brasil, quatro anos depois; o antológico espetáculo Fa-Tal, no começo da década de 1970; além do fato de ter se tornado a porta-voz de Caetano e Gil durante o período em que os dois estiveram em Londres, exilados por imposição da Ditadura Militar. Ela também revelou o que tem feito em tempos de pandemia.
 
 
» Entrevista  / Gal Costa 
 
Você está comemorando 75 anos de existência, da qual a maior parte tem sido dedicada à música. Que avaliação faz da sua trajetória artística?
Creio que construí uma trajetória vitoriosa, ao lembrar de tantas coisas boas que fiz. Mas ainda pretendo fazer muito mais, pois nunca paro de criar.
 
João Gilberto foi fundamental na sua decisão de ser cantora?
Ser cantora era algo que desejava desde criança. Quando ouvi João Gilberto, com aquela sonoridade totalmente moderna, me senti influenciada, porque sempre fui apaixonada por tudo aquilo que ele propunha.
 
Que lembrança guarda de Nós, show que fez ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia, na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964?
Foi uma experiência incrível, pois foi a minha primeira apresentação num palco e ponto de partida para a minha carreira.
 
Em 1968, ao cantar Divino maravilhoso, no Festival de Record, o Brasil tomou conhecimento de uma intérprete ousada. Que importância atribui à aquele momento para  o futuro da sua carreira?
O Festival da Record foi marcante em minha carreira. Por meio dele, mudei radicalmente minha postura diante da música. Fã de João Gilberto, pouca coisa passava pelo meu crivo. Ao cantar Divino maravilhoso, fiz uma coisa que era o oposto de tudo o que fazia até então. Passei por uma grande mudança.
 
Com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, imposto pela ditadura militar, você se tornou porta-voz dos dois e do movimento tropicalista no Brasil. Como viveu aquela situação?
Lembrando daquela fase da minha carreira com distanciamento histórico, vejo que fui muito corajosa. À época, eu tinha uma certa ingenuidade e fazia as coisas movidas pelo coração, com muita saudade dos dois.
 
Naquele período, na condição de maior estrela da MPB, protagonizou o Fa-Tal, show antológico que entrou para a história da MPB. O que guarda na memória daquele espetáculo, posteriormente registrado em disco?
Aquele show foi um marco na minha carreira. Foi um show maravilhoso, superbonito e, até hoje, gosto de ouvir o registro em disco. Aliás, fui uma das pioneiras na gravação de disco ao vivo na música brasileira.
 
Caetano Veloso compôs e lhe presenteou com Flor do Cerrado, inspirado num dos maiores biomas da América do Sul. Como vê essa canção no seu repertório?
Embora não costume cantá-la em shows, gosto muito dessa canção. Recordo-me que conheci o Cerrado ao lado de Caetano, num encontro casual. Ele se inspirou no que viu e fez essa música para mim.
 
Praticamente todos os shows que tem feito ao longo da carreira foram apresentados em Brasília. Como sente a acolhida que lhe é dada pelo público da Capital Federal?
Me sinto muito bem acolhida em Brasília. Gosto da cidade, que é muito bonita. Sempre que inicio uma turnê, quero levá-la a Brasília.
 
Qual é a sua visão sobre a situação do país atualmente, nas áreas econômica, social e cultural?
Eu fico muito triste com tudo o que está acontecendo em todas as áreas. A pandemia só agravou, especialmente na área cultural, que foi a primeira a parar e deve ser uma das últimas a voltar.
 
Como está lidando com pandemia e o que tem feito nesta interminável quarentena?
Eu virei uma pessoa ainda mais caseira. Em casa estou me cuidando desde o início. Saí pouquíssimas vezes, apenas para fazer coisas essenciais e necessárias. Mas mesmo eu, que gosto de ficar em casa, estou sentindo a necessidade de sair um pouco. Tenho ficado com meu filho, meus cachorros, descansando, ouvindo música e assistindo a filmes.
 
Que expectativa faz em relação à live comemorativa?
Estou muito animada e feliz. Acho que a live veio na hora certa. Vou comemorar meu aniversário em grande estilo, cantando. O que amo muito fazer.
 
Gal 75
Live hoje, às 22h, com transmissão pela TNT para o Brasil; e pelo canal da emissora no YouTube, para a América Latina.
 

Correio Braziliense sexta, 25 de setembro de 2020

QUAL É A SUA NO DRIVE-IN?

Jornal Impresso

Qual é a sua no drive-in?
 
As apresentações e exibições no formato estão cada vez mais populares na capital. Confira a programação deste fim de semana

 

Geovana Melo*

Publicação: 25/09/2020 04:00

Rodrigo Teaser (Drive Show BSB/Divulgação)  

Rodrigo Teaser

 

 
Mundo Bita (MNiemeyer Assessoria de Comunicacao/Divulgação)  

Mundo Bita

 

 
Diogo Almeida (Drive Show BSB/Divulgação)  

Diogo Almeida

 

 
 Belo (P.D.P Produções/Divulgação)  

Belo

 

 
 Marquynhos SP (P.D.P Produções/Divulgação)  

Marquynhos SP

 

 
O calendário cultural brasiliense se reinventou por meio das atrações em drive-ins espalhados pela capital. Até o início do ano, o Distrito Federal abrigava há 47 anos apenas um cinema no formato. Mas com a pandemia, o modelo surgiu como alternativa segura de cultura e entretenimento.
 
Atualmente, cinco desses projetos estão ativos: o Arena Drive, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson; o Cine Drive-in, no Autódromo de Brasília; o Festival Brasília drive-in, na Praça do Lago, em Brazlândia; o Drive Show, no estacionamento do Estádio Nacional e o Circuito Cine Drive-in nas Cidades, com programação pelas regiões administrativas.
 
Ao Rei do Pop
 
O maior tributo ao Rei do Pop no mundo desembarca hoje em Brasília em um show cover que relembra a grandiosidade de Michael Jackson por meio de banda ao vivo, efeitos especiais, bailarinos, arranjos, trocas de figurinos e da performance de Rodrigo Teaser, intérprete oficial do astro da música.
 
Aos 9 anos de idade, Rodrigo se vestiu e subiu ao palco imitando o ídolo e, desde então, seguiu se aperfeiçoando no trabalho. “Digo que não sou um artista que descobriu que podia imitar alguém, sou um fã que foi imitar o ídolo e descobriu que podia ser artista. Então para mim o significado é muito forte. Tenho muita gratidão”, revela o performer.
As buzinas e os faróis que no trânsito podem significar incômodo, nas apresentações ganham novos significados. “Muda a interação, não tem o olho no olho. Não poder perceber na hora a reação tira da gente um pouco do “controle”, mas mesmo assim a vibração está lá”, afirma o responsável por dar vida ao Michael Jackson no Drive Show.
 
Pagode romântico
 
Veterano na música e nos shows em drive-ins, Belo se apresenta amanhã no Drive Show. Com um repertório composto pelos sucessos de mais de 20 anos de carreira, o pagodeiro cantará canções da época que integrava o grupo Soweto e os hits atuais de trabalho solo, como Belo in concert e Belo em casa.
 
“Como a galera está mais em casa ouvindo e consumindo mais músicas nas plataformas digitais tenho recebido muitos elogios que me deixam com vontade de sempre gravar ou regravar conteúdos que sei que meus fãs vão curtir”, conta Belo sobre o feedback positivo que tem recebido dos trabalhos lançados neste ano.
 
Mesmo sentindo falta do público mais perto durante os novos formatos de shows, o paulistano garante que a experiência é maravilhosa. “Não tem a mesma troca de energia, mas em breve tudo voltará ao normal e tenho certeza que vamos fazer muitos shows pelo Brasil tendo o público mais perto, mas só de poder ir a Brasília no Drive Show tenho certeza que vai ser especial”, antecipa o cantor que aproveitou a seca de shows para se dedicar à família, às composições e ao estudo de piano.
 
O show ainda contará com a participação especial do pagodeiro Marquynhos SP, paulistano de coração goiano que já dividiu o palco com grandes nomes como Alexandre Pires, Belo, Raça Negra, Dudu Nobre, Sorriso Maroto, Ferrugem, Imaginasamba, Dilsinho e Turma do Pagode.
 
Mundo infantil
 
Sucesso entre as crianças e os pais, o Mundo Bita retorna à Brasília e estreia em modelo drive-in com o espetáculo Dentro do mundo lá fora, apresentado neste domingo no Drive Show. A montagem aborda uma mensagem que ganha ainda mais significado durante os novos tempos: a importância de incentivar brincadeiras ao ar livre, vivenciar a natureza e a interação com as crianças.
 
“A gente está na expectativa de saber como vai ser o drive-in. Antes tinha todo mundo pertinho, mas sabemos que é uma medida que tem que ser tomada para esse novo momento, esperamos que não atrapalhe nem na emoção da gente e nem na do público.Escutamos relatos de que é emocionante igual, mas de maneira diferente”, afirma Chaps Melo, um dos idealizadores da atração.
 
Ao todo, serão 19 canções apresentadas pelos personagens Flora, Dan, Lila, Tito e Bita. “O Mundo Bita é feito um pouco disso, da vontade de educar nossas próprias crianças. Um país com mais cultura é mais feliz, tem o povo vivendo melhor. Levar cultura e informação é uma vontade pessoal que ganha as casas das pessoas e essa vontade acaba gerando uma grande responsabilidade”, completa o músico.
 
Em seguida, Diogo Almeida apresenta o espetáculo de comédia Vida de professor 2. Um show que traz assuntos do cotidiano dos professores e situações inesperadas que ocorrem nas salas de aula de todo Brasil. O humorista relata, de maneira inusitada e engraçada, as situações que envolvem o dia a dia de alunos, professores e pais.
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 
Drive Show
Hoje, Tributo ao Rei do Pop, às 22h. Amanhã, show do Belo, às 22h com abertura do Coisa Nossa, às 20h30. Domingo, Mundo Bita às 17h30 e Diogo Almeida, às 20h30. No Estacionamento do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Os ingressos podem ser adquiridos nas plataformas Furando a Fila e O que vem por aí e também nas lojas das Óticas Diniz e Bendito Food. Os preços variam entre R$ 90 e R$ 480 por carro. Cada carro, independentemente do tamanho, pode entrar com até quatro pessoas. Classificação indicativa conforme a programação
 
 
E tem mais!
 
Festival Brasília Drive-in
Amanhã e domingo na Praça do Lado, em Brazlândia. Show da dupla Roni & Ricardo às 20h30 e da banda Imagem às 22h. Entrada franca. Classificação indicativa conforme programação.
 
Cine Drive-in
Exibição dos filmes Scooby! O filme às 18h20, O sol também é uma estrela às 20h e Bohemian rhapsody às 21h45. De hoje a domingo, incluindo feriados, R$ 15 (meia-entrada). Aniversariantes terão entrada gratuita para as sessões. Classificação indicativa conforme a programação.
 
Arena Drive
No estacionamento do Ginásio Nilson Nelson (acesso pelo Eixo Monumental). Hoje, às 20h30 com show de Izabella Rocha. Amanhã, às 14h com Flip out, a primeira festa psy trance em formato drive-in do Brasil. Ingressos por carro, com venda no site da companhia, na Up Grade, na 415 Sul e bilheteria na entrada do espaço Arena Drive, somente nos dias de espetáculo a partir de 1h antes do início da sessão. Todos os ingressos são meia-entrada, entretanto, poderão ser doados voluntariamente 1kg de alimento ou 1 livro. Classificação indicativa conforme a programação. 
 
O Circuito Cine Drive-in nas Cidades
Hoje, amanhã e domingo às 18h, no Estacionamento do Estádio de Sobradinho. Exibição gratuita dos filmes Pai em dose dupla, No mundo da lua, Projeto Gemini, O espanta tubarões e Minha mãe é uma peça 3. Entrada-franca via retirada de ingressos no site ou aplicativo Sympla. Classificação indicativa conforme a programação.

Correio Braziliense quinta, 24 de setembro de 2020

BRASÍLIA TRADUZIDA EM LINHAS

Jornal Impresso

Brasília traduzida em linhas
 
Com a reabertura dos espaços culturais, exposições celebram e homenageiam os 60 anos de Brasília por meio das linhas e dos traços que deram origem à capital e são referências visuais da cidade

 

» Roberta Pinheiro

Publicação: 24/09/2020 04:00

Brasília em linhas (Arquivo Pessoal)  

Brasília em linhas

 

 
Brasília em linhas (Guilherme Paiva/Divulgação)  

Brasília em linhas

 

 
A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília (Edgard Marra/Divulgação)  

A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília

 

 
A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília (Edgard Marra/Divulgação)  

A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília

 

 
 
 
Há 60 anos, os traços de Brasília, projetados e planejados por nomes como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ganhavam dimensão fora do papel. A capital do país precisou comemorar o sexagenário de maneira diferente, um tanto silenciosa fisicamente, mas, ainda assim, celebrada virtualmente. Com a permissão e a reabertura de alguns espaços culturais, contudo, a cidade de Juscelino Kubitschek acolhe homenagens de candangos e brasilienses inspirados na natureza artística de Brasília, mesmo tendo passado o 21 de abril.
 
A partir de amanhã, a exposição Brasília em linhas, do artista plástico maranhense Jailson Belfort reabre as portas do Espaço Oscar Niemeyer. Fechado para reformas e por conta das medidas de combate à covid-19, o equipamento cultural volta a funcionar em horários e dias reduzidos. “Me sinto feliz e muito honrado em realizar esta exposição. Adotei Brasília como cidade, aqui construí minha família e meu trabalho. Aqui descobri meu talento e tenho utilizado esse talento para representar a capital”, comenta Belfort.
 
A história de Belfort poderia ser contada pelos pioneiros que inauguraram Brasília. O artista plástico saiu de São Luís, no Maranhão, e chegou na capital federal em 1991 em busca de novos horizontes e novas possibilidades. Formado em Design, ele começou a trabalhar no Supremo Tribunal Federal (STF) e ali descobriram os desenhos que Belfort realizava com canetas esferográficas. “Ali que despertou a alma artística para me dedicar a essa nova fase. Me tornei um artista plástico que só trabalha com esferográfica e me inspiro muito em Brasília, pela sua beleza. A cidade em si, pelos monumentos, sempre me inspirou. E também, pensei em utilizar um instrumento que as pessoas não costumam usar para fazer arte. A caneta é algo que as pessoas têm em casa, no escritório”, detalha.
 
Cores e linhas
 
Em Brasília em linhas, Belfort retrata e homenageia Brasília colocando em diálogo ícones e referências visuais da capital, mas trabalhados sob a estética do artista. As 60 obras que integram a exposição são trabalhadas em duas cores cada. Ao colorido vivo das canetas com tons de rosa, azul, roxo e laranja, por exemplo, coube retratar o céu de Brasília. “Os monumentos são retratados com outro ângulo, diferente do comum”, complementa Belfort. Na construção da imagem, ele usa as linhas e as cores das canetas esferográficas, bem como teorias da Gestalt de sombra, luz, figura, fundo e ângulo. “Queria mostrar Brasília primeiro mostrando a beleza do seu céu. O pôr do sol na época da seca tem várias tonalidades e isso me encantou muito”, comenta o maranhense.
 
Esse olhar de Belfort para os monumentos também é uma estratégia do artista para fugir do realismo. É no contraste das linhas e das cores com o espaço em branco que ele revela elementos e características que remetem o espectador aos traçados de Niemeyer, por exemplo. “O vazio que existe entre o céu e os detalhes do monumento, isso vai fazer a pessoa de fato enxergar o monumento, vai provocar e indagar o público”, conta. “Cada detalhe são milhares de linhas feitas à mão livre, sem régua. A esferográfica, por não ser um material comum na pintura, tem seus problemas, pode borrar ou falhar e não tem como corrigir, tem que ter paciência ao fazer as telas. Então, são dois desafios, o de trazer o olhar do arquiteto e do urbanista para compor os monumentos e o desafio do próprio instrumento para que seja usado com suas limitações e sua beleza”, acrescenta.
 
Esquemas
 
Também pelas linhas de Brasília que a arquiteta e artista plástica brasiliense Helena Trindade percorreu para desenvolver o trabalho que a uniu, de vez, ao universo das artes plásticas. Contudo, ao contrário de Belfort, foi na exatidão da cartografia que Helena se inspirou. Em A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília, em exibição no estande da Brasal Incorporações no Noroeste e no site da empresa, a arquiteta e artista plástica apresenta uma sequência de 10 quadros nos quais desdobra percepções e vivências dos mapas da capital.
 
“É um desenho esquemático que eu fiz a partir dos eixos principais. Nos trabalhos de Brasília, destaquei quais seriam os prédios principais, o eixo Rodoviário, o Monumental, o Eixão. Claro que a cidade tem outros eixos, outras vias, mas eu senti que aqueles se destacavam mais. Então, procuro pontuar os que são mais relevantes e mais icônicos e acaba resultando em algo da minha vivência e percepção”, explica Helena. Com os esquemas em mãos, a artista recorta e constrói, com diferentes materiais, a própria visão artística de Brasília.
 
Condensado, MDF, couro, papel reciclado e madeira se transformam nas mãos da artista em mapas carregados de sensibilidade. O projeto, que começou como trabalho de mestrado na Inglaterra, ganhou exposição e virou uma marca de Helena, a HT.Objetos. “Tenho procurado trabalhar com materiais mais nobres para linhas exclusivas. E as cores, algumas são combinações que acho que conversam esteticamente. No caso das obras em exibição, o azul e branco foi uma referência ao Athos Bulcão e o terra cota, à época seca de Brasília. Agora, estou trabalhando em uma nova peça que vai fazer referência ao pôr do sol da cidade”, adianta.
 
Para Helena, o brasiliense naturalmente nasce com uma sensibilidade visual. “Passamos a valorizar o espaço urbano. Várias pessoas que não são da área comentam como Brasília é aberta, os prédios são icônicos, então ela desperta essa sensibilidade”, comenta. A arquiteta e artista plástica reconhece que a cidade planejada tem os problemas, como os espaços ermos, a segregação, sobretudo quando comparada com cidades tradicionais. “Mas, é inegável que Brasília é uma arte por si só”, pontua. Por fim, ela afirma: “ser brasiliense é ver a beleza no traçado não comum de uma cidade, é saber apreciar o lado planejado de uma cidade”.
 

Correio Braziliense quarta, 23 de setembro de 2020

CÓDIGO DE TRÂNSITO FLEXIBILIZA PUNIÇÕES

Jornal Impresso

 

Código de Trânsito flexibiliza punições
 
Câmara aprova projeto que aumenta tolerância de 40 pontos para a carteira de motorista. Proposta mantém a pena de detenção a condutor embriagado que provocar morte ou lesão corporal grave. Regras valerão após 180 dias da publicação no DOU.

 

Alessandra Azevedo

Publicação: 23/09/2020 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 7/7/20
)  
 
A Câmara aprovou, ontem, o projeto de lei nº 3267/19, que altera diversos pontos do Código de Trânsito Brasileiro, apresentado ao Congresso pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro em novembro do ano passado. Após receber o aval dos deputados, que incluíram no texto oito das 12 emendas sugeridas pelo Senado, o PL está pronto, agora, para a sanção presidencial. As novas regras começarão a valer 180 dias após serem publicadas no Diário Oficial da União (DOU).
 
Uma das principais mudanças na legislação é o aumento da validade da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que passa a ser de 10 anos para condutores com até 50 anos de idade. Atualmente, é preciso refazer os exames a cada cinco anos. A renovação a cada três, hoje obrigatória para motoristas acima de 65 anos, passa a ser exigida apenas a quem tem mais de 70. Para pessoas entre 50 e 70 anos, a exigência é a cada cinco anos.
 
O texto também diminui o nível de exigência para suspensão da CNH. Quando as medidas entrarem em vigor, ficará mais difícil suspender a carteira de um motorista. Bolsonaro queria uma flexibilização ainda maior. Ao apresentar o projeto, propôs que a carteira só pudesse ser cassada se o motorista tivesse 40 pontos acumulados em multas; e não 20, como é hoje. O texto final aumenta o limite para 40 pontos, mas apenas se o motorista não tiver nenhuma infração gravíssima registrada nos últimos 12 meses.
 
O Congresso definiu uma cobrança gradativa: se o condutor tiver apenas uma infração gravíssima, a carteira será suspensa quando completar 30 pontos. Se tiver duas ou mais infrações desse tipo, bastará ter 20 pontos. Motoristas profissionais só terão a carteira suspensa com 40 pontos, independentemente da gravidade da infração. Outra mudança prevista no texto é a possibilidade de converter uma multa leve ou média em advertência, caso o condutor não tenha cometido outra infração nos últimos 12 meses.
 
Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas considerou a aprovação “um grande avanço para a sociedade”. “As mudanças são decorrentes da necessidade de atualização na legislação, que amanhã (hoje) completará 23 anos. São medidas com caráter educativo e menos punitivo, que irão contribuir para a redução de acidentes e mortes no trânsito”, disse em nota enviada à imprensa.
 
Pena de reclusão
 
Uma das oito emendas do Senado incluídas pelo relator na Câmara, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), proíbe que a pena de reclusão seja substituída por penas alternativas no caso de morte ou lesão corporal provocada por motorista bêbado ou sob efeito de drogas. No parecer, o relator classifica essa mudança como “a mais importante aprovada pelo Senado”.
 
A inclusão desse ponto na lei é necessária para garantir a pena de reclusão. Isso porque o Código Penal permite a conversão da pena em caso de crime culposo, como é classificado o homicídio de trânsito, para penas alternativas, como cumprimento de serviços comunitários. O PL assegura que a pena a motoristas embriagados ou sob efeito de drogas será de reclusão.
 
O Código Penal prevê cinco a oito anos de reclusão, no caso de morte, e dois a cinco anos, se o ato resultar em lesão corporal grave ou gravíssima. “Esperamos que a mudança possa, de fato, representar um avanço no sentido de punir aqueles que insistem nessa postura e provocam acidentes de trânsito ao sentar-se ao volante de um veículo e dirigir sob o efeito de álcool ou drogas”, diz Juscelino Filho, no parecer.
 
O texto também garante a obrigatoriedade do uso de cadeirinhas nos carros por crianças de até 10 anos ou que ainda não atingiram 1,45 metro de altura, em vez de sete anos e meio, idade proposta no texto original. Além disso, uma das emendas inclui a obrigação de que a cadeirinha seja adequada ao peso e à altura da criança. Os parlamentares rejeitaram a tentativa do governo de suavizar a punição para quem deixasse de usar o dispositivo e mantiveram a pena de multa, por infração gravíssima, nesses casos. O projeto original previa apenas advertência por escrito.
 
 
Principais mudanças no CTB
 
• Aumento do número de pontos para suspensão, por multas, da CNH
 
• Obrigatoriedade do uso de cadeirinha para transportar crianças de até 10 anos ou que ainda não atingiram 1,45m de altura
 
• Regras para a circulação de motocicletas entre os veículos quando o trânsito estiver parado ou lento
 
• Pena de reclusão não pode ser substituída por outra em casos de lesão corporal e homicídio causados por motorista embriagado
 
• Exigência de exames de aptidão física e mental por médicos e psicólogos peritos examinadores
 
Validade da CNH
 
O projeto muda o prazo para refazer os exames: 
 
• 10 anos para condutores com menos de 50 anos
 
• 5 anos para condutores com idade igual ou superior a 50 anos e inferior a 70 anos
 
• 3 anos para condutores com 70 anos ou mais.
 
Suspensão da CNH
 
• A carteira será recolhida se, no prazo de 12 meses, o motorista tiver multas que somam:
 
• 40 pontos, para quem não tiver infração gravíssima
 
• 30 pontos, para quem possuir uma gravíssima 
 
• 20 pontos, para quem tiver duas ou mais infrações do tipo

Correio Braziliense terça, 22 de setembro de 2020

CHOVE, APÓS 119 DIAS DE ESTIAGEM

Jornal Impresso

Chove, após 119 dias de estiagem
 
A expectativa é de que a chuva dure até quinta. O tempo seco deve voltar no fim de semana

 

ADRIANA BERNARDES
DARCIANNE DIOGO

Publicação: 22/09/2020 04:00

Após 119 dias de estiagem, ondas de calor e baixa umidade do ar, a cidade respira com alívio (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Após 119 dias de estiagem, ondas de calor e baixa umidade do ar, a cidade respira com alívio

 



Francinilda Ximenes, Diogo Delfino, Renata Rêgo, Anderson Moreira e Maria Ariana: a celebração da chegada da primavera (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Francinilda Ximenes, Diogo Delfino, Renata Rêgo, Anderson Moreira e Maria Ariana: a celebração da chegada da primavera

 



Diferentemente do inverno, que trouxe temperaturas elevadas e baixa umidade do ar, a primavera de 2020 chega ao Distrito Federal, hoje, especificamente às 10h31, com a promessa de chuvas e clima ameno, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Ontem, após 119 dias de estiagem, os brasilienses puderam comemorar as primeiras precipitações na capital da República.
 
A expectativa é de que a chuva dure, pelo menos, até quinta-feira e, na sexta, sábado e domingo, é possível que o tempo fique seco novamente, como avalia Andreia Ramos, meteorologista do Inmet. As precipitações mais frequentes, contudo, só aparecerão a partir da segunda quinzena de outubro. “É de se esperar pancadas de chuvas com trovoadas e até vento com rajadas”, explicou.
 
O inverno começou em 20 de junho e terminou na manhã de hoje. A estação trouxe temperaturas elevadas nos últimos dias. Vale ressaltar que, no sábado, o Distrito Federal registrou o dia mais quente do ano, com máxima de 35,5°C e a umidade do ar ficou em 12%, colocando a capital em estado de alerta. Segundo Andrea Ramos, o clima seco deve diminuir nos próximos dias.
 
Alegria
 
Ontem, os brasilienses se animaram ao ver as primeiras precipitações. Quando a chuva caiu no Sudoeste, a cena se repetiu das janelas, como é tradição após a longa estiagem. Adultos e crianças comemoraram e registraram a cena em fotos e vídeos. Mas isso não foi o bastante para a pequena Lorena Kaari Fernandes, 6 anos.
 
A alegria da pequena foi tanta, que ela pediu à mãe, Petra Kaari, 44 anos, para tomar banho de chuva. Paramentada com uma panelinha de brinquedo, a menina aproveitou o quanto pôde a chuvinha e o cheiro de terra molhada. E sabe do que Lorena gosta desse período chuvoso? “Das poças de lama”, ela respondeu. Mas e a panelinha, para que é? “É pra levar a chuva pra casa”, disse. E o que você vai fazer com essa água de chuva? “Brincar com minha boneca de fazer macarrão”, falou enquanto puxava os galhos de uma árvore para apanhar mais gotas de chuva.
 
Petra acompanha a alegria da filha de perto. O clima da capital é uma das coisas de que a servidora pública mais gosta em Brasília. “Amo o tempo seco. E quando chove no Cerrado, ela vem forte e logo o céu abre e o sol aparece. Sou de São Paulo e, lá, quando chove, o tempo fica um tempão cinza, nublado. Dá até uma tristezinha”, compara.
 
A professora Maria Lúcia Bezerra, 27, também ficou feliz com a chuva. Ela conta que, com o tempo seco, sofre com problemas de saúde, como sangramento de nariz, problemas respiratórios, dores de cabeça, além de irritações no rosto. “Esse ano foi muito seco aqui no DF, mas criei expectativas de ainda chover em setembro e deu certo. O ruim do calor excessivo e da baixa umidade é porque, além de afetar minha saúde, me desmotiva nas atividades do dia a dia”, desabafa.
 
Diogo Delfino, 28, saiu, ontem, com a mulher, Francinilda Ximenes, 27, e os amigos Anderson Moreira, 21, Maria Ariana, 23, e Renata do Rêgo, 19. Eles foram acompanhar a sessão de fotos de Maria na orla do Lago Paranoá, que está grávida de 8 meses. “Quando saímos de casa, o céu estava nublado, mas ainda fazia um sol. A chuva nos pegou de surpresa, mas não atrapalhou os registros”, conta o gestor de tecnologia da informação.
 
O jovem veio da cidade de João Pinheiro, em Minas Gerais, e mora há seis anos em Brasília. Ele compara o clima das duas regiões. “Minas é quente, mas, por outro lado, é mais úmido. Aqui, não. É muito seco. Assim que cheguei, estava bem frio, mas não durou por muito tempo. O calor veio logo. Eu, como um bom mineiro, amo uma chuvinha. É sempre bom”, brincou.


Brasilienses se animam com chuva no DF, após longo período de estiagem (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Brasilienses se animam com chuva no DF, após longo período de estiagem

 



Lorena e a mãe, Petra Kaari, curtem a chuva no prédio do apartamento onde moram, no Sudoeste (Adriana Bernardes/CB/D.A Press)  

Lorena e a mãe, Petra Kaari, curtem a chuva no prédio do apartamento onde moram, no Sudoeste

 



 
Expectativa
 
O volume de chuvas esperado para este mês em todo o DF é de 46,6 milímetros. Até o momento, no total, a capital atingiu 9,4 mm, somente ontem. A Estação Ponte Alta do Gama foi a região onde mais choveu (22,2 mm), seguido por Águas Emendadas (19 mm), Brasília (9,4 mm), Brazlândia (4 mm) e Paranoá (4 mm). Para outubro, o esperado é de 159,9 mm.
 
Segundo a meteorologista Andrea Ramos, só será possível saber se a capital atingiu a média após o fechamento do mês. “Ainda não temos como prever se choverá essa quantidade, pois ainda temos que esperar os próximos dias para fazer o balanço”, destacou. 
 
Pelo menos até quinta-feira, a temperatura máxima deve ficar entre 27°C e 29°C e a mínima em torno de 15°C e 16°C, de acordo com o Inmet. Na sexta-feira, o calor retorna, registrando máxima de 30°C. “Nos próximos dias, a tendência é o aumento da umidade, que deve ficar de 90 a 95% na máxima e 45% na mínima”, frisou Andrea.
 
 
 
 
Orientações Defesa Civil
 
No caso de destelhamento devido aos ventos fortes, permanecer dentro de casa e procurar abrigo, como uma mesa ou cama 
 
Quando as chuvas forem acompanhadas de raios, é importante não usar telefone ligados em tomadas e não ficar próximo de canos, janelas e portas metálicas
 
Para quem estiver na rua, não segurar objetos metálicos longos, não empinar pipas, não andar a cavalo, não permanecer na água, não ficar em áreas abertas (campos de futebol, quadras e estacionamentos), não  permanecer no alto de morros ou em topo de prédios, não se aproximar de cercas de arame, varais metálicos, linhas elétricas aéreas e trilhos, não se abrigar debaixo de árvores isoladas
 
 
 
 
Ranking de estiagem
 
1º - 1970  (135 dias)
2º - 1966  (131 dias)
3º - 2010  (130 dias)
4º - 2017  (127 dias)
5º - 1995  (126 dias)
6º - 2007  (125 dias)
7º - 2008  (123 dias)
8º - 2020  (119 dias)
9º - 1991  (117 dias)
10º - 2019  (113 dias)
11° - 2020  (119 dias)

Correio Braziliense segunda, 21 de setembro de 2020

O PODER DAS ABELHAS

Jornal Impresso

O poder das abelhas
 
Responsáveis pela polinização da maioria da flora do cerrado, esses insetos nativos correm risco de extinção. Conheça apicultores que manipulam e resgatam colmeias que ajudam a preservar a natureza

 

» Ana Maria da Silva*

Publicação: 21/09/2020 04:00

Adão Batista destaca a importância de usar equipamentos de proteção para lidar com o apiário (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Adão Batista destaca a importância de usar equipamentos de proteção para lidar com o apiário

 



Com a chegada da primavera, as abelhas tomam conta da capital federal. É nesta época do ano que começamos a observar com mais frequência a locomoção dos enxames, em casas, postes, pelas cidades e áreas rurais. Mas, é importante ter consciência dos perigos resultantes do contato com elas. Para manipulá-las ou retirá-las de algum local, é preciso contar com ajuda especializada e, neste caso, nada melhor do que um apicultor, como Adão Batista da Silva, 41 anos, que atua na área de criação e tratamento de abelhas, com extração de produtos provenientes desse inseto.
 
Além de manter o próprio apiário — Puro Mel —, próximo a Sobradinho, onde cria abelhas da espécie Apis mellifera, conhecida como abelha-europeia, Adão cultiva em casa espécies do inseto sem ferrão, que são nativas do Brasil. O apicultor trabalha, também, realizando os mais diversos resgates de abelhas. Os enxames resgatados são cuidadosamente manejados, ambientados em uma espécie de quarentena para adaptação, e, aos poucos, uma nova colmeia se prepara para produzir o mel.
 
“Cultivar e criar abelha não é só pegar e colocar numa caixa qualquer. Uma vez que você a retira da natureza, de uma árvore caída, ou mesmo de uma residência, você coloca em uma caixa específica, chamada de langstroth, que contém quadras em que são colocadas e levadas para o apiário. Lá, será feita a alimentação energética e proteica para manter o enxame forte, além de fazer troca de cera todo o ano nas épocas certas, para que o enxame proporcione uma boa rentabilidade de mel. Tudo isso tem um período certo para ser feito, que é agora, durante a primavera”, explica o apicultor.
 
Adão explica que a história com as abelhas começou há três anos, quando decidiu plantar pimenta importada. “Quando plantava, a flor nascia, murchava e caía. Não vingava. Ao pesquisar, vi que isso se tratava de falta de polinização. Comprei a primeira caixinha de abelha, a abelha-mirim, pela internet. Coloquei em casa e, na primeira semana, começou a nascer pimenta”, lembra. “Eu fiquei abismado com aquilo, achei muito interessante, e comecei a criar abelha sem ferrão, como jataí, mandaguari. Depois desse tempo, conheci um amigo que trabalhava com apicultura, e ele me convidou a trabalhar com ele. Gostei, fiz o curso e, com o certificado em mãos, a decisão tomou uma proporção muito bacana”, conta.
 
Mas, nem tudo são flores. O trabalho acumulou muitas histórias, algumas delas doloridas. “Eu cheguei a levar de 86 a 89 ferroadas. O fundamental é ter os equipamentos de proteção individual (EPIs), principalmente com abelhas que têm ferrão. Se você trabalhar sem luva, bota, ou tênis, é certo: vai tomar ferroada.”
 
O trabalho de multiplicação das espécies é algo que Adão incentiva na produção. “Hoje, eu cultivo abelha sem ferrão, da espécie mandaçaia. Ela é nativa do Centro-Oeste, mas, devido a tanta devastação, dificilmente você encontra ninhos naturais”, explica. A Associação de Meliponicultores (AMeDF) incentiva a criação racional de abelhas sem ferrão. Criado em junho, o grupo conta com 180 integrantes que buscam fazer o trabalho de enriquecimento do meio ambiente.
 
Insetos nativos responsáveis pela polinização da flora do cerrado são protegidos, criados e tratados por profissionais como Adão Batista (D). O DF possui cerca de 50 apiários.
 
Nativas
 
“Elas (mandaçaias) estavam no nosso país quando foi descoberto e eram criadas pelos índios para o consumo do mel. Hoje, praticamente não existem, devido ao desmatamento e queimadas”, afirma o presidente da Associação Apícola do Distrito Federal (Api-DF), Carlos Alberto Bastos. Segundo ele, estas espécies de abelhas são inofensivas, e não têm defesa contra a ação do homem.
 
“A criação destas abelhas nativas é de fundamental importância para a preservação da espécie, elas são polinizadores da nossa mata, do nosso bioma. Quem poliniza muitos dos frutos do cerrado são esses insetos, devido ao seu tamanho, que permite que polinize certos tipos de frutos que outras espécies não conseguem”, ressalta Carlos. “O meliponicultor, sendo guardião dessas abelhas, poderá, no futuro, inseri-las novamente na natureza, em áreas preservadas. Sendo assim, hoje deveria haver mais incentivo ao meliponicultor”, pondera o presidente.

 (Frederic J. Brown/AFP - 29/3/19)  
 
Novas colônias
 
As abelhas produzem enxames devido ao seu instinto reprodutor e, com a chegada da primavera —o período de procriação desses insetos — aumenta a quantidade de colmeias. É o que explica o professor Antônio Aguiar, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB). “As abelhas são responsáveis pela reprodução das plantas, que dependem dos vetores para levar o seu pólen para outras. Sendo assim, para a sobrevivência da espécie é necessário que haja transferência do pólen, e as abelhas são responsáveis por isso. Elas são fundamentais para reprodução de todas essas plantas que vão iniciar o processo de floração”, ressalta.
 
De acordo com o professor, 90% das plantas reproduzem por intermédio das abelhas. “Agora, no início da primavera, vamos ter um aumento da floração, mas existe, também, um aumento das atividades, principalmente das abelhas sociais, que vão visitar as flores”, afirma. “Da mesma forma que os cupins vão liberar os seus machos e terão revoadas, a chegada da primavera traz isso para as abelhas, que começarão a ter um acúmulo de recursos, como néctar e pólen”, completa.
 
Segundo o especialista, há, aproximadamente, 500 espécies de abelhas no cerrado, que se dividem entre ambientes urbano; a zona rural, com áreas mistas e nativas; e as áreas naturais, que são parques e unidades de conservação. “Nas áreas urbanas, vamos ter uma quantidade de abelhas relativamente baixa. As ocorrências são de abelhas sociais sem ferrão, como jataí, mandaçaia, mandaguari. São abelhas muito dóceis e tranquilas. Já nas áreas agrícolas, mistas e naturais, teremos uma infinidade”, explica.
 
Com o surgimento de novas espécies e colônias durante a primavera, o professor adverte quanto aos cuidados que a população deve ter ao reconhecer ninhos próximos às residências. “No caso de abelhas Apis mellifera, conhecidas como abelhas europeias, o sugerido é sempre contatar profissionais que façam a retirada desses ninhos para levá-los até apiários”, ressalta. No caso de destruição de ninhos de abelhas nativas, a Lei nº 9.605/98 considera crime ambiental. “O ninho de abelha nativa não oferece perigo, elas são extremamente inofensivas. É bom sempre entrar em contato com órgãos ambientais para verificar a possibilidade de retirada.”
 
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira


Serviço

Puro Mel: produtos naturais Para fazer encomendas, entre em contato pelo número (61) 99332-0965 ou acesse a página no instagram @puromel.sobradinho1.df


Você sabia?

O DF abriga cerca de 
 
1.300 
apicultores
 
 
Possui cerca de 
50 
apiários
 
 
No Entorno, a média é de 
 
300
apiários
 
Cerca de 
 
500 
espécies de abelhas vivem no DF
 
*Dados: Associação Apícola do Distrito Federal (Api- DF)


Serviço


Puro Mel: produtos naturais
Para fazer encomendas, entre em contato pelo número (61) 99332-0965 ou acesse a página no instagram @puromel.sobradinho1.df
 

Correio Braziliense domingo, 20 de setembro de 2020

MEMÓRIA DA RAINHA DOS BAIXINHOS

 

Jornal Impresso

Memória da rainha dos baixinhos
 
Em um bate-papo exclusivo, a Rainha dos Baixinhos  antecipa ao Correio  algumas histórias contadas na obra sobre a carreira dela.
 
Xuxa Meneghel lança livro a fim de compartilhar sentimentos e emoções vividas

 

» Maria Baqui*

Publicação: 20/09/2020 04:00

 
Xuxa Meneghel lança livro Memórias, pela Globo Livros (Blad Meneghel/ Divulgação)  

Xuxa Meneghel lança livro Memórias, pela Globo Livros

 

 
Como um princípio de diário e páginas recheadas de recordações que marcaram de ponto a ponto os 57 anos de vida, Xuxa Meneghel lança o livro Memórias. Ao longo da narrativa, divulgada pela Globo Livros, a Rainha dos Baixinhos trata de assuntos que permeiam a vida pessoal e profissional, da infância à época em que aparecia na TV em uma grande nave espacial. Com delicadeza e autenticidade, Xuxa construiu um legado internacional com a assinatura de obras infantojuvenis, traz, também, reflexões a respeito de temas como direitos humanos e dos animais.
Por meio da literatura, Xuxa pôde traduzir o sentimento pela filha Sasha e dividir com o público individualidades, com antigos relacionamentos, fases turbulentas da carreira e hábitos rotineiros. Em entrevista ao Correio, a artista adiantou parte do que virá em Memórias e como os temas trabalhados na obra têm influência direta no cotidiano da Rainha dos Baixinhos.
 
Nas linhas do livro você retrata assuntos delicados, como abusos que sofreu na infância e na adolescência. Qual a importância de abordar esses temas?
Conscientizar os pais sobre a necessidade da educação sexual e para mostrar para o público que passou por situação semelhante que não está sozinho. E também para as pessoas que não passaram por isso, mas têm filhos ou filhas ou crianças por perto. Para que fiquem atentas aos sinais que podem aparecer.
 
Você e sua mãe, Aldinha, tinham uma conexão muito forte. O que você quis retratar da relação de vocês no livro?
Não posso contar minha história em livro, filme ou documentário sem a minha mãe. É impossível! Ter a minha mãe nas páginas do Memórias pode fazer com que as pessoas com mais sensibilidade entendam como é importante ter alguém na vida que apoie, entenda, aceite e proteja. Se você quer ser alguém na vida, não basta apenas querer ou acreditar, mas é preciso alguém que queira lhe ver bem e acredite que você tem potencial para chegar lá. É isso. Ela é e sempre foi a minha incentivadora maior, a minha maior fã.
 
Quais as atividades da sua rotina que lembram vocês duas?
Ela sempre gostou de jogar buraco. É impossível jogar sem pensar nela. Eu jogo todos os dias no computador antes de dormir... Viciei-me, como ela.
 
Além da carreira artística, como cantora, apresentadora e atriz, você é uma pessoa que contribui e luta muito pela garantia dos direitos 
humanos e contra qualquer tipo de preconceito. O quão necessário é utilizar da sua influência para tratar desses temas?
Eu não posso e nem devo falar pelos outros. Não quero que pareça cobrança, mas estamos vivendo num mundo de muito ódio, discriminação, preconceito, racismo, homofobia, machismo... O ser humano é um bicho que deu errado. E, se você tem a oportunidade de melhorar o seu mundinho, você tem que fazer nem que seja por uma pessoa. No caso de quem tem imagem pública, por algumas pessoas. Respeito, mas não concordo com quem acha que não deve se posicionar. Quem cala consente com o que estamos vivendo e eu não concordo com muitas coisas. Me custa acreditar que existam pessoas que concordem com preconceito. Eu não conseguiria dormir sem gritar e sem me expressar, já que tenho meu espaço para isso.
 
Qual foi a fase da sua vida em que você teve a certeza de que fez a escolha certa na profissão?
As pessoas demonstram amor, respeito e carinho por mim durante esses anos todos. Lá atrás, tive o maior termômetro para eu saber que era sucesso, de que estava no caminho e tinha feito a escolha certa. Algumas pessoas continuam não acreditando no meu potencial. Mas provar que estava no caminho certo acontece por meio da resposta de quem me deu e ainda me dá crédito, isso se chama sucesso. Se falar outra coisa, estarei mentindo.
 
Você e a Sasha tem uma relação muito próxima. Como o crescimento dela interfere no seu crescimento?
Quando você ama alguém incondicionalmente, o crescimento dela é o seu. A alegria da Sasha é a minha. Suas conquistas são as minhas.
 
Como foi relembrar a chegada dela em Memórias?
Há alguns meses, estou revisitando muito a minha vida, até porque também terá o filme Rainha. E esse momento é mágico, digno de um filme, de um livro, pois eu sonhei com ela, a desejei muito e repito sempre: “Você é exatamente como eu queria, é o maior presente que Deus me deu”. E olha que Ele me deu muita coisa boa. Mas sem dúvida ela é um anjo, linda por dentro e por fora, é meu orgulho.
 
No livro, você aborda questões relacionadas ao veganismo. Como você entende que os debates sobre o tema podem influenciar mais pessoas 
a apoiarem a causa pelos direitos dos animais?
Minha vontade é de que as pessoas assistissem a todos os documentários sobre veganismo ou sobre a indústria que existe por trás do sofrimento dos animais e, se depois que vissem ainda quiserem fazer parte disso tudo, seria por escolha própria. Mas como isso não acontece — as pessoas não buscam essas informações, não sabem, nem querem saber, pois mudar costumes é muito difícil — acho que o mínimo que nós, veganos, devemos fazer é tentar dizer coisas que são impactantes. Vai que uma porta se abre, não é mesmo? Coisas como: “Tire a morte e o sofrimento do seu prato, essa energia não é boa pra ninguém”; “não existe morte sem dor, sem sofrimento. Não tem galinha nem vaquinha feliz no seu prato” etc. Se eu conseguir fazer com que as pessoas pelo menos se informem, terei feito uma grande mudança.
 
Para você, foi natural chegar ao veganismo?
Não como carne vermelha desde os meus 13 anos. Só comia peixe, por ignorância mesmo. Por falta de informação, o processo foi demorado, 50 anos para eu saber que nem eu, nem ninguém precisamos matar um bicho para viver e comer bem, mas as indústrias farmacêuticas e agropecuárias não querem que nós saibamos disso.
 
A capa do livro mostra duas versões de você se olhando: uma nos anos 1980 e uma atual. Quais as principais mudanças que você 
enxerga em si mesma nesse  intervalo de tempo?
Essa ideia veio de um fã, só colocamos um “X” no meio. A ideia é essa: eu antes e eu agora. Alguém que viveu tudo o que está no livro para chegar onde chegou. O que eu vejo? Tentei responder isso nas páginas do livro e não foi fácil. Sei que deixei coisas de fora, mas terei tempo lá na frente, quando for avó, para escrever mais.
 
O que a Xuxa de 2020 diria  para a Xuxa de 1980 e vice-versa?
A nova para a velha: “Só não envelhece quem morreu”. A velha para a nova: “Acredite menos nas pessoas”. (risos)
 
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
 
 
Memórias
De Xuxa Meneghel. Globo Livros, lançamento em 21 de setembro. 272 páginas. Preço: R$ 44,90.

Correio Braziliense sábado, 19 de setembro de 2020

O DIA MAIS QUENTE DO ANO

Jornal Impresso

O dia mais quente do ano
 
Termômetros alcançaram 34,6°C no Distrito Federal, ontem, e a umidade relativa do ar teve mínima de 13%. Especialistas alertam para os cuidados à saúde. Manter-se hidratado é fundamental

 

» TAINÁ SEIXAS

Publicação: 19/09/2020 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 
A moradora do Jardim Botânico Maria Cleonice de Souza, 61 anos, não vê a hora da chuva chegar. E no dia mais quente do ano — os termômetros no Distrito Federal chegaram a 34,6°C durante a tarde de ontem —, a solução foi ir até a beira do Lago Paranoá para amenizar o calor. Apesar de estar acostumada com a seca do cerrado, ela ainda sente os efeitos da temporada. “Nessa época, eu me sinto mal. Ontem, mesmo, não me senti bem; estava muito seco. Eu sinto muita moleza, minha pressão até cai”, relata a aposentada. 
 
Os sintomas relatados por Maria Cleonice não são à toa: além da alta temperatura, a umidade relativa do ar registrou mínima de 13%, e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta laranja, o que significa risco em potencial à saúde. Por isso, especialistas pedem cautela para a população durante esse período em que alguns cuidados especiais devem ser redobrados. 
 
“A gente tem um clima que está, nesse momento, quente, e há baixa oferta de água. Os órgãos que mais vão sofrer são os mais expostos ao meio ambiente: pele, olhos e sistema respiratório, que precisam de água para poderem melhor funcionar. O corpo, de forma geral, precisa de hidratação; ele é constituído por 60% de água”, descreve o professor de clínica médica da Universidade de Brasília, Ricardo Martins.
 
Ar
 
O chefe de pneumologia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Paulo Feitosa, avalia que na segunda quinzena de setembro passamos pelo período de seca quente, em que as pessoas tendem a sentir mais os sintomas adversos, uma vez que há um aumento de partículas no ar, tanto de pó suspenso quanto resquícios de queimadas. 
 
“A qualidade do ar, no mês de setembro, é muito ruim, o que ajuda a desencadear descompensações das doenças respiratórias, como asma, rinite e sinusite. O ar seco e poluído é um agressor do sistema respiratório, principalmente pra quem já tem doença prévia”, explica o médico.

Maria Cleonice aproveitou o calorão de ontem para se refrescar no Lago Paranoá (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Maria Cleonice aproveitou o calorão de ontem para se refrescar no Lago Paranoá

 



Lucas Barbosa decidiu dar folga da quarentena e praticou stand up paddle no lago (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Lucas Barbosa decidiu dar folga da quarentena e praticou stand up paddle no lago

 



Água
 
A desidratação é um fator fundamental, ao qual os brasilienses precisam se atentar. Ela pode causar moleza, desânimo, tonturas, desmaios, náuseas e, até, vômitos. A falta de água pode propiciar, também, um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de pedras nos rins, que pode causar dores intensas, além de infecção urinária. 
 
“Já estamos há mais de 100 dias sem chuva. A gente vai enfrentando uma seca bem longa. O brasiliense tem que ficar bem atento em relação à água, à desidratação e ter cuidado redobrado com a hidratação. Não esquecer de beber água é o cuidado principal que a gente deve instituir”, define o clínico-geral Lucas Vargas, coordenador da Clínica Médica dos Hospitais Santa Lúcia.
 
Olhos
 
Os olhos também requerem atenção especial nesta época. O ressecamento deles pode causar irritação, vermelhidão, ardência, sensação de areia ou corpo estranho, além de aumentar a exposição da população ao coronavírus, uma vez que levar os dedos aos olhos pode ser um meio de infecção. 
 
“Se o paciente, mesmo não tendo problema ocular, principalmente nessa época da pandemia, fica exposto por muito tempo às telas, pode usar um colírio lubrificante uma ou duas vezes por dia, ou nos momentos em que sinta mais falta para manter o conforto durante o dia”, orienta o oftalmologista Daniel Moon Lee, do Instituto de Olhos Inob. 
 
Alívio no lago
 
Com o calor intenso, brasilienses e turistas buscaram repouso às margens do Lago Paranoá, onde a umidade tende a ser um pouco maior, além da possibilidade de tomar um banho para refrescar o corpo. Foi o caso de Daniela Arakaki, 44 anos. A recepcionista mora em Campo Grande (MS) e veio a Brasília pela primeira vez, visitar a irmã. Espantou-se, no entanto, com a secura da região. 
 
“Eu estou encantada com esta cidade, com as pessoas; é linda, mas é muito seco aqui. Em relação ao calor, a minha cidade é mais quente, mas a secura é muito grande. Eu sinto sede o tempo todo. Meu nariz está sempre seco. Bebo muita água, vou para o quarto com água gelada e fico mastigando o gelo”, descreve.
 
Buscando alívio da seca, o aposentado Lucas Barbosa, 60, decidiu dar folga da quarentena — que tem seguido à risca desde março — para curtir o lago com o sobrinho João Vitor, 19. “Eu moro aqui há 20 anos, então, estou acostumado. Mas a gente bebe bastante água, até trouxemos um galão”. João avalia que o clima é bem diferente de Governador Valadares (MG), sua cidade natal, e, por isso, passou a carregar uma garrafa de água para onde vai. 
 
Apesar de acostumado, Lucas espera pela chuva, que deve chegar amanhã, segundo o Inmet. “Ansioso para presenciar a transformação das gramas. Na primeira chuva, já fica tudo brotando”. 


RECOMENDAÇÕES
 
» Beber água a cada hora: hidratar-se é fundamental para evitar os efeitos da seca no corpo
» Alimentação leve: frutas, legumes e verduras
» Evitar sal: um consumo elevado do tempero contribui para a retenção de líquidos
» Fazer exercícios físicos até as 9h ou depois das 17h, períodos em que a umidade do ar está menos crítica
» Dormir adequadamente para que o corpo possa se recuperar
» Evitar exposição ao sol das 10h às 16h
» Usar colírio nos olhos e hidratantes nasais
» Evitar ambientes com ar-condicionado, que reduzem a umidade no ambiente
 
 
No Lago Paranoá, os dois jovens não hesitaram em dar um mergulho. E não era para menos. Os brasilienses enfrentaram ontem o dia mais quente do ano no Distrito Federal: os termômetros cravaram 34,6ºC à tarde, enquanto a umidade relativa do ar descia a 13%, na mínima. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta laranja, o que significa risco em potencial à saúde. Moradora do Jardim Botânico, Maria Cleonice de Souza, 61 anos, sofre com o tempo seco. %u201CEu me sinto mal. Minha pressão até cai%u201D, relata a aposentada. A boa notícia, segundo o Inmet, é que uma frente fria vinda do Sul pode provocar chuvas rápidas amanhã na capital. Para hoje, contudo, a previsão é de mais um dia de forte calor, com a temperatura alcançando 34%, na máxima, e a umidade relativa do ar entre 50% e 15%.  (Ed Alves/CB/D.A Press)
 

Correio Braziliense sexta, 18 de setembro de 2020

DEPOIMENTO DE BOLSONARO À POLICIA FEDERAL SERÁ DECIDIDO PELO PLENÁRIO DO SUPREMO

Jornal Impresso

Depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal será decidido pelo plenário do Supremo

Ministro Marco Aurélio suspende inquérito contra Bolsonaro, intimado para prestar depoimento presencial à Polícia Federal, e encaminha a decisão final ao colegiado do Supremo. Presidente chama acusações de Sergio Moro de "farsa"

RS
Renato Souza
postado em 18/09/2020 06:00 / atualizado em 18/09/2020 07:31
 (crédito: Evaristo Sá/AFP - 16/12/15)
(crédito: Evaristo Sá/AFP - 16/12/15)

ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o inquérito que corre contra o presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Com a decisão, o depoimento do chefe do Executivo, que deveria ocorrer na próxima semana, também foi cancelado. A corporação havia agendado a oitiva para ocorrer entre os dias 21 e 23 de setembro. No entanto, ele deveria depor presencialmente, em cumprimento da decisão do ministro Celso de Mello. Com o afastamento do relator do caso, em decorrência de licença médica, Marco Aurélio acolheu um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para suspender as investigações.

Com ausência do ministro Celso de Mello, o caso foi distribuído novamente, e caiu nas mãos do colega. A AGU pediu que Bolsonaro tenha o direito de prestar depoimento por escrito, em nome da “isonomia”, como ocorreu com o ex-presidente Michel Temer, que respondeu às perguntas dos investigadores sem precisar ir pessoalmente até o local. “Note-se: não se roga, aqui, a concessão de nenhum privilégio, mas, sim, tratamento rigorosamente simétrico àquele adotado para os mesmos atos em circunstâncias absolutamente idênticas em precedentes muito recentes desta mesma Egrégia Suprema Corte”, diz um trecho do recurso da AGU.

Marco Aurélio decidiu submeter o caso ao plenário do tribunal, o que mantém suspenso o depoimento até avaliação do colegiado. “Considerada a notícia da intimação para colheita do depoimento entre 21 e 23 de setembro próximos, cumpre, por cautela, suspender a sequência do procedimento, de forma a preservar   objeto do agravo interno e viabilizar manifestação do Ministério Público Federal”, escreveu o magistrado.

o

 

Bolsonaro é acusado de tentar interferir na Polícia Federal. O ex-ministro Sergio Moro afirmou, ao deixar o governo, que o presidente tentou trocar o comando da corporação no Rio de Janeiro e acessar relatórios de inteligência. O objetivo de Bolsonaro, de acordo com as acusações, seria beneficiar familiares e amigos, que poderiam estar no alvo de investigações conduzidas pela corporação. O presidente nega as denúncias e diz que todas as decisões que tomou têm caráter técnico e se justificam para propiciar melhor desempenho das equipes. Ontem, durante a transmissão de uma live, Bolsonaro tachou as acusações de Moro de “farsa”. “Moro não tem que perguntar nada para mim”, atacou o chefe do Executivo.

Insatisfação

A reforma da decisão do ministro Celso de Mello pelo colega de plenário, acolhendo manifestação da AGU, criou um clima de insatisfação nos bastidores do Supremo. A avaliação de alguns ministros é de que a decisão anterior do decano encontrava pleno respaldo na lei penal e não deveria ser revista. Celso é o mais antigo e de maior respeito na Corte. Ele está ausente em decorrência de problemas de saúde, pelo menos até o dia 26 deste mês, quando, se tiver alta, poderá retornar aos trabalhos na Corte.


Correio Braziliense quinta, 17 de setembro de 2020

A ÉPOCA DA RENOVAÇÃO

Jornal Impresso

Paisagem urbana: A época da renovação
 
A primavera, estação predileta de Andressa Paiva (foto), começa em 22 de setembro. %u201CÉ o período de encantamento que nos envolve em todos os aspectos, ao ver a beleza da natureza e sentir o perfume das flores%u201D, diz a professora. Além do fim da seca, o novo tempo revigora a flora e muda a paisagem da capital.   (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 
 
 
A poucos dias da primavera, a paisagem urbana começa a mudar e chama a atenção dos moradores da capital federal. Especialistas explicam porque esse período é tão revigorante para a natureza

 

Ana Maria da Silva*

Publicação: 17/09/2020 04:00

Em meio à seca, uma aquarela colore avenidas, espaços públicos e quadras da capital. Há uma energia boa se aproximando nos próximos dias: a primavera! Com início em 22 de setembro, a estação deixa o inverno para trás e faz a preparação para o verão. Segundo o professor em ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Bessa, isso significa que as condições de entrada de energia solar começam a se recuperar depois do inverno. “Ou seja, é quando as plantas aproveitam para retomar as folhas e para florir, enquanto os animais se alimentam mais e procuram parceiros para acasalar”, diz.
 
De acordo com o professor, muitas plantas rebrotam nessa fase. “Acontece que o inverno é muito seco aqui no cerrado. Uma forma de as plantas evitarem perder a pouca água, que existe disponível, é se livrando do órgão vegetal que mais perde água, as folhas”, explica Eduardo. “À medida que a seca vai terminando, as plantas mobilizam as reservas que têm para produzir novas folhas. A que mais me chama a atenção é a sapucaia, uma árvore que tem bastante no Eixão Norte, que nessa época do ano fica rosa vibrante por conta das folhinhas novas”, completa.
 
A estação das cores vai além dos ipês floridos, que se destacam pela sua beleza e cores vibrantes. De acordo com o Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), outras espécies florescem no período. São elas: cagaita, cássia rosa, tarumã, fisocalima, sapucaia, sucupira, pequizeiro, jacarandá da Bahia e quaresmeiras.
A pluralidade da flora urbana é motivo de encantamento para os moradores de Brasília. É o caso da professora Andressa Caroline Paiva, 39 anos, que aguarda pela chegada da estação favorita. “É a que mais gosto. É o período de encantamento que nos envolve em todos os aspectos, ao ver a beleza da natureza e sentir o perfume das flores”, ressalta.
 
A mudança que chega com a estação pode ser percebida nas pessoas, conforme afirma Andressa. “O astral das pessoas muda. A natureza nessa época torna-se mais linda. Aqui em Brasília, uma característica marcante é o florescimento dos ipês. Observou que as pessoas param nas ruas simplesmente para apreciar tamanha beleza? Em que época do ano podemos observar atitudes assim? As pessoas ficam mais leves, felizes e animadas”, acredita.
 
A beleza desta época do ano é uma oportunidade de tirar fotos marcantes, oportunidade que a professora não deixa passar em branco: “É a oportunidade de garantir fotos de uma beleza imensurável.  O colorido deixa qualquer foto mais linda. A primavera exala beleza e podemos ver isso nas fotos, que ficam delicadas e nos deixam mais belos, também. Sem contar com a oportunidade de estar em contato direto com a natureza”, relata. “Aqui em casa nós somos as loucas das fotos. Aproveitamos essa temporada para garantir cliques lindos e especiais”, acrescenta. Entre os locais favoritos de Andressa, estão o Parque da Cidade e a Península dos Ministros.
 
Para a professora, a chegada da primavera marca dias de esperança, uma vez que sugere a oportunidade de recomeço. “Tem uma frase do Paulo Coelho sobre a primavera que gosto muito. Diz assim: ‘Não se pode dizer para a primavera ‘tomara que chegue logo e dure bastante’. Pode-se apenas dizer: ‘Venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder’. Linda, né? Com a primavera, chegam novos tempos. Precisamos nos agarrar a isso”, destaca.
 
A cientista social Alexandra Carias, 39, celebra o momento que está por vir. “A primavera é importante porque representa o início de um novo ciclo, de nascimento e renascimento. Gosto do clima ameno, de ver as plantas florescerem e da beleza da estação”, diz. “Ter a natureza tão próxima a mim me dá uma sensação enorme de tranquilidade. É um carinho para os meus olhos e para minha alma”, ressalta.
 
Para Alexandra, a chegada do período muda o astral das pessoas, e a sensação de bem-estar faz-se presente. “Os ambientes e a cidade ficam mais bonitos. E isso gera um encantamento”, acredita. Ela vivencia esse sentimento diariamente ao olhar os pés de ipê-roxo próximo ao prédio onde mora. “É um privilégio e uma satisfação enorme. Eu vim do Rio de Janeiro, e no meu primeiro contato com Brasília senti muita falta de beleza natural. Para mim, acordar e dar de cara com as árvores floridas, o gramado e algumas aves que aparecem é um alento. Sou grata”, completa.



Você sabia?
 
Inclinação
 
Se a Terra não se inclinasse em seu eixo, não existiriam as estações. Cada dia teria 12 horas de luz e 12 horas de escuridão. E como o eixo do planeta Terra forma um ângulo com seu plano orbital, existe o verão e o inverno, dias longos e dias curtos. Durante o verão, os dias amanhecem mais cedo e as noites chegam mais tarde. Ao longo dos três meses desta estação, o Sol volta-se lentamente para a direção norte e os raios solares diminuem sua inclinação. No início do outono, os dias e as noites têm a mesma duração: 12 horas. Isso é porque a posição do Sol está exatamente na linha do Equador.

Correio Braziliense quarta, 16 de setembro de 2020

RESTAURANTES: PROTEÇÃO EM PRIMEIRO LUGAR

Jornal Impresso

Proteção em primeiro lugar
 
Para evitar a disseminação do novo coronavírus e incentivar clientes a frequentarem os salões, donos de restaurantes reforçam protocolos de segurança. Aposta é de que o movimento volte a subir até o fim do ano

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 16/09/2020 04:00

No Tejo, cardápios são acessados pelo celular, temperatura é medida na entrada e higienização do ambiente, constante (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

No Tejo, cardápios são acessados pelo celular, temperatura é medida na entrada e higienização do ambiente, constante

 

 
Em tempos de pandemia, donos de restaurantes precisam encontrar novas formas de atrair clientes e de proporcionar  um ambiente seguro a eles e aos funcionários, a fim de evitar a disseminação do novo coronavírus. Como em outros setores, os desafios impostos por esse novo contexto são grandes, o principal deles é manter o negócio aberto mesmo diante da queda de receita causada pela crise sanitária. Usar a criatividade e pensar em alternativas como cardápios on-line, venda de máscaras a consumidores que não levarem o item de proteção estão entre as medidas adotadas por estabelecimentos no DF, além do cumprimento rigoroso dos protocolos de segurança.
 
Localizado na 402 Sul, o Lake’s viu o movimento cair durante a pandemia, mas isso não abalou o proprietário Zeli Ribeiro, 67 anos. Para ele, até o fim do ano, os clientes voltarão a ter mais confiança. “Ainda sinto que muitos estão com medo de sair de casa. Porém, posso garantir que, no meu estabelecimento, seguimos todas as medidas de segurança à risca”, explica. Ele conta que o faturamento caiu bastante e o que está mantendo o restaurante aberto é o serviço de entregas. “Com a pandemia, essa modalidade cresceu muito. No entanto, gostaria que as pessoas soubessem que é seguro frequentar locais sérios e que estão seguindo os protocolos”, relata.
 
Ele explica que monitora todos que entram no restaurante. “Faço isso por mim, pela minha equipe e pelos próprios clientes. Sou do grupo de risco e sei que não posso arriscar minha saúde e a dos meus colegas”, afirma Zeli. O dono do Lake’s observa que a contaminação pelo novo coronavírus é muito incerta e, por isso, considera necessário impor rigidez aos protocolos. “Qualquer deslize é uma porta de entrada para o vírus, e é exatamente isso que procuro evitar”, diz.
 
O protocolo do Lake’s é rigoroso. Qualquer pessoa, seja cliente, seja funcionário, não entra no salão sem antes medir a temperatura e passar álcool em gel nas mãos. Além disso, quem estiver sem máscara não entra. “Disponibilizamos máscaras caso alguém queira comprar, mas sem a proteção, não deixamos passar da porta”, diz Zeli. Uma vez dentro do ambiente compartilhado, os funcionários são treinados para fiscalizarem o distanciamento social e o uso dos equipamentos.
 
Também há regras em relação à higienização do ambiente e itens compartilhados. As mesas só recebem talheres, copos e toalhas após os clientes sentarem, e os cardápios estão disponíveis por meio de QR Code, para evitar o compartilhamento de objetos. Só são permitidos seis clientes por mesa e todas passam por uma limpeza com álcool depois antes e depois do uso.

Zeli Ribeiro, dono do Lake%u2019s, acredita que os protocolos são importantes para garantir segurança de funcionários e de clientes (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Zeli Ribeiro, dono do Lake's, acredita que os protocolos são importantes para garantir segurança de funcionários e de clientes

 

 
Expectativas
 
A poucas quadras dali, na 404 Sul, o restaurante português Tejo também segue as medidas de segurança com rigor. De acordo com um dos donos do local, Gustavo Santos, seguir o protocolo dá mais segurança para os clientes. “Percebo que algumas pessoas que vêm acabam voltando. Acredito que seja pela segurança que transmitimos”, diz. Ele espera que, durante os próximos meses, o movimento aumente ainda mais. “Com certeza o fluxo está reduzido, porém isso já era esperado. A expectativa é de que, a cada mês, as pessoas ganhem ainda mais confiança”, completa.
 
Ele explica que também adotaram o sistema de cardápios acessados pelo celular, medição de temperatura na entrada, distanciamento social e constante higienização do ambiente e de clientes e funcionários do local. “Toda vez que uma pessoa sai da mesa, o lugar é totalmente limpo com álcool 70%, antes que o próximo cliente entre”, afirma Gustavo.
 
Francisco Chaves é sommelier do local há cerca de um ano e considera que os clientes se sentem mais seguros com o passar do tempo. O funcionário do Tejo conta que as expectativas para os próximos meses são as melhores possíveis. “Não queremos que a casa fique lotada nem com fila de espera, mas que as pessoas reconheçam que há um trabalho de prevenção sendo feito e percam o medo de sair de casa”, declara Francisco.
 
Confiança
 
O rigor em relação aos protocolos de segurança se tornou um diferencial para os clientes. Ana Paula Bulus, 45, afirma que deixou de frequentar estabelecimentos que não seguiam à risca todas as regras. “É uma exigência que eu faço para a minha segurança, da minha família e dos meus clientes”, diz. A publicitária conta que, por identificar uma seriedade por parte do Lake´s, gosta de frequentar o local. “Já era cliente fiel antes da pandemia. Depois da reabertura, passei a confiar ainda mais, pois vi como as pessoas realmente se preocupam com o bem-estar dos outros”, afirma.
 
Ana acredita que Brasília caminha no rumo certo. “Cheguei a viajar a trabalho para outras cidades e vi como são poucos os estabelecimentos que realmente seguem os protocolos”, relata. Por isso, ela afirma que se sente mais segura em alguns restaurantes da capital federal. “A vida não pode parar e temos de nos adaptar ao novo normal. Caso todos os restaurantes seguissem as normas com seriedade, com certeza a população se sentiria mais segura”, considera.
 
Antônio Brentano, 57, frequentava o Tejo antes da pandemia e afirma que, depois da reabertura, foi ao local cerca de quatro vezes. “Como trabalho perto, na Esplanada dos Ministérios, costumo estar no Tejo no horário de almoço”, explica. Para ele, os estabelecimentos de Brasília estão seguindo os protocolos de segurança corretamente e isso gera maior confiança. “Todos os que visitei até hoje estão cumprindo todas as etapas e, por isso, as pessoas devem se sentir mais confortáveis e tranquilas para voltarem ao normal de forma adaptada.”

Correio Braziliense terça, 15 de setembro de 2020

VELHA GUARDA DA PORTELA

Jornal Impresso

O mestre à vontade
 
Aos 87 anos, um dos baluartes do samba lança disco que reúne composições de expoentes da Portela

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 14/09/2020 04:00

 (Marcos Hermes/Divulgação)  


Maior vencedora do carnaval carioca, com 22 títulos, a Portela, uma das escolas de samba mais queridas pelos brasileiros, tem sido cantada em prosa e verso por escritores, poetas e compositores. Difícil imaginar quem não conheça, por exemplo, Foi um rio que passou em minha vida, clássico da MPB, de autoria de Paulinho da Viola, tido como o hino portelense. A agremiação, criada em 1923, no bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que ostenta as cores azul e branco e tem a águia como símbolo, volta a ser celebrada.

Sob o título Minha vontade, estão sendo lançados CD Ao Vivo e DVD com sambas de terreiro compostos por bambas, responsáveis pela história musical da Portela e interpretados pelos integrantes da Velha Guarda, grupo do qual o mestre Monarco, que comemora 87 anos em 2020, é o único remanescente da formação original. O projeto, com direção do maestro Mauro Diniz, traz o registro de um show realizado na quadra da escola, em 2015, e conta com a participação das cantoras Maria Rita, Teresa Cristina e Cristina Buarque.

Este é o terceiro disco que reúne composições de expoentes da agremiação. Os anteriores foram o Passado de glória, de 1970, produzido por Paulinho da Viola, marcando a chegada do cantor e compositor à Portela; e o Tudo azul, registro da trilha sonora de documentário homônimo, dirigido por Carolina Jabour e Lula Buarque de Holanda, em que Marisa Monte, ao demonstrar seu amor pela agremiação, resgatou a obra musical de antigos compositores da escola. Tanto o filme quanto o álbum chegaram ao mercado em 1998.

Minha vontade, que dá título a este novo trabalho, é nome também de uma composição de Chatim. Entre as 17 músicas escolhidas para o repertório, nada menos que sete têm a assinatura de Monarco. Passado de glória ele fez sozinho; enquanto Lenço, Lindo, Corri para você, Vivo isolado do mundo, Coração em desalinho e Vai vadiar compôs com parceiros: Chico Santana, Noca da Portela, Alcides Malandro Histórico e Ratinho.

As outras faixas são criações de nomes históricos da Portela: Manacéia (Natureza e Quantas lágrimas), Aniceto (Desengano), Candeia (Vai saudade), Paulo da Portela (Cidade mulher e Cocorocó), Alberto Lunato (Você me abandonou), Argemiro e Casquinha (A chuva cai). Nas gravações, a Velha Guarda foi acompanhada por banda de 12 músicos, sob a batuta do cavaquinista Mauro Diniz. O grupo teve como convidadas especiais Teresa Cristina (Sofrimento de quem ama), Cristina Buarque (Quantas lágrimas) e Maria Rita (Coração em desalinho).


  • Minha Vontade

    CD da Velha Guarda da Portela, com 17 faixas, disponível nas plataformas digitais. Os CD e DVD físico saem este mês. Lançamento da Biscoito Fino.

Correio Braziliense segunda, 14 de setembro de 2020

MONARCO: O MESTRE À VONTADE

Jornal Impresso

O mestre à vontade
 
Aos 87 anos, um dos baluartes do samba lança disco que reúne composições de expoentes da Portela

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 14/09/2020 04:00

 (Marcos Hermes/Divulgação)  


Maior vencedora do carnaval carioca, com 22 títulos, a Portela, uma das escolas de samba mais queridas pelos brasileiros, tem sido cantada em prosa e verso por escritores, poetas e compositores. Difícil imaginar quem não conheça, por exemplo, Foi um rio que passou em minha vida, clássico da MPB, de autoria de Paulinho da Viola, tido como o hino portelense. A agremiação, criada em 1923, no bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que ostenta as cores azul e branco e tem a águia como símbolo, volta a ser celebrada.

Sob o título Minha vontade, estão sendo lançados CD Ao Vivo e DVD com sambas de terreiro compostos por bambas, responsáveis pela história musical da Portela e interpretados pelos integrantes da Velha Guarda, grupo do qual o mestre Monarco, que comemora 87 anos em 2020, é o único remanescente da formação original. O projeto, com direção do maestro Mauro Diniz, traz o registro de um show realizado na quadra da escola, em 2015, e conta com a participação das cantoras Maria Rita, Teresa Cristina e Cristina Buarque.

Este é o terceiro disco que reúne composições de expoentes da agremiação. Os anteriores foram o Passado de glória, de 1970, produzido por Paulinho da Viola, marcando a chegada do cantor e compositor à Portela; e o Tudo azul, registro da trilha sonora de documentário homônimo, dirigido por Carolina Jabour e Lula Buarque de Holanda, em que Marisa Monte, ao demonstrar seu amor pela agremiação, resgatou a obra musical de antigos compositores da escola. Tanto o filme quanto o álbum chegaram ao mercado em 1998.

Minha vontade, que dá título a este novo trabalho, é nome também de uma composição de Chatim. Entre as 17 músicas escolhidas para o repertório, nada menos que sete têm a assinatura de Monarco. Passado de glória ele fez sozinho; enquanto Lenço, Lindo, Corri para você, Vivo isolado do mundo, Coração em desalinho e Vai vadiar compôs com parceiros: Chico Santana, Noca da Portela, Alcides Malandro Histórico e Ratinho.

As outras faixas são criações de nomes históricos da Portela: Manacéia (Natureza e Quantas lágrimas), Aniceto (Desengano), Candeia (Vai saudade), Paulo da Portela (Cidade mulher e Cocorocó), Alberto Lunato (Você me abandonou), Argemiro e Casquinha (A chuva cai). Nas gravações, a Velha Guarda foi acompanhada por banda de 12 músicos, sob a batuta do cavaquinista Mauro Diniz. O grupo teve como convidadas especiais Teresa Cristina (Sofrimento de quem ama), Cristina Buarque (Quantas lágrimas) e Maria Rita (Coração em desalinho).


  • Minha Vontade

    CD da Velha Guarda da Portela, com 17 faixas, disponível nas plataformas digitais. Os CD e DVD físico saem este mês. Lançamento da Biscoito Fino.

Correio Braziliense domingo, 13 de setembro de 2020

TURBANTE: ORGULHO ANCESTRAL

Jornal Impresso

 

Orgulho ancestral
 
O turbante faz parte de muitas sociedades espalhadas pelo mundo. Mais do que um acessório, tornou símbolo de reapropriação cultural
 
Acessório seduziu novas gerações e tornou-se símbolo de reapropriação cultural, cheio de segredos e com amarrações variadas. Confira!  (Isadora Luchtenberg/Divulgação)

 

Maria Carolina Brito*

Publicação: 13/09/2020 04:00

Para Thaís Muniz, o uso de turbantes é um movimento mundial de reconexão de pessoas pretas com estéticas ancestrais (Rafael Bezerra/Divulgação)  

Para Thaís Muniz, o uso de turbantes é um movimento mundial de reconexão de pessoas pretas com estéticas ancestrais

 

 
O turbante é mais do que um acessório inserido no mundo da moda. Para muitas culturas, grupos sociais ou étnicos, o torso — como também é conhecida a peça —, com suas diversas amarrações, estampas e cores, carrega funcionalidade, identidade e marcas históricas.
 
Para a pesquisadora e designer Thaís Muniz, o turbante tem uma função social de comunicação não verbal. Um exemplo disso é uma antiga tradição entre mulheres da Martinica, região do Caribe. De acordo com as formas de amarrar a peça na cabeça, elas expunham o estado civil. “Se deixava apenas uma ponta para fora, era solteira; se deixava duas, tinha namorado; três, era casada; e quatro, viúva ou separada e pronta para outro relacionamento”, detalha.
 
Na história, um dos registros mais antigos vem de Kemet (Egito Antigo). A peça era um elemento fundamental do vestuário faraônica, denominada nemés, e tornou-se bastante conhecida por ser usado pela esfinge de Gizé e também por aparecer na famosa máscara de Tutankhamon.
 
Diferentes religiões no mundo cobrem a cabeça por entender que essa é uma área de troca energética. Os seguidores do candomblé, do islam e os sikhs, na Índia, são exemplos de grupos sociais que têm esse ponto em comum, divergindo em suas práticas. Há indícios de que, no Oriente Médio, o turbante era usado antes mesmo do surgimento do islamismo.
 
No candomblé, os ojás — como são chamados —, além de mostrarem que a pessoa que o usa “é do axé”, revelam o gênero do orixá de cabeça pela amarração — que não deve ter nós — e expressam hierarquia dentro do terreiro.
 
Em países africanos, o adereço é usado com finalidades funcionais, como proteger a cabeça ao carregar bacias, madeira e outros utensílios. No Brasil, quando pensamos em turbantes, logo vem à mente a imagem das baianas de acarajé. Thaís, que nasceu na Bahia, conta que crescer e conviver diariamente com essa referência foi importante para a sua trajetória pessoal e profissional.
 
Peça de raízes
Com a popularização da moda no streetwear, jovens têm ganhado referências mais próximas e contemporâneas sobre o uso de peças tradicionais, como o turbante. Ela está a serviço dos movimentos de afirmação e reapropriação que tem ocorrido nos últimos anos.
 
“É um movimento mundial de reconexão de pessoas pretas com estéticas ancestrais, que foram rejeitadas por séculos, por causa da opressão que o racismo traz para o nosso povo”, expõe Thaís. Para ela, os turbantes tornaram-se a porta de entrada para que inúmeras mulheres negras se conectem com sua ancestralidade e grandes aliados para as quem passa pela transição capilar. Além disso, a confecção da peça tornou-se fonte de renda para inúmeras empreendedoras.
 
Para Nina Fonseca, o turbante é símbolo de importância máxima na cultura afro. “O uso dessa peça traz consigo muito poder. A gente sabe quais são as forças que estamos acessando dentro da nossa ancestralidade quando amarramos um torso na cabeça. E sabemos, também, ao colocar o pé na rua, os riscos que teremos de enfrentar. Essa afirmação de identidade, traduzida em uma única peça, é de uma beleza e força sem tamanho.”
 
A publicitária Lara Melo, 25 anos, relembra que começou a usar turbante em 2013, após assistir a um tutorial na plataforma YouTube. Ela, que sempre admirou as fotografias de mulheres negras com a peça, resolveu comprar um tecido e reproduzir a amarração e passou a vesti-lo.
 
Lara conta que entendeu, ainda criança, a importância da sua estética. “Entre meus amigos negros, é comum a narrativa das nossas mães sempre nos falando que não poderíamos sair na rua de qualquer jeito, que precisávamos sempre estar com a melhor roupa. Foi aí que começamos a entender que a nossa estética no Brasil nos limitava e contava sobre nós antes mesmo de abrirmos a boca. Isso é um entendimento de que nossos corpos são rodeados por política”, completa.
 
Para ela, vestir-se com elementos da cultura negra tem a ver com um retorno às origens. “Eu não tenho dinheiro para buscar minhas raízes na África. Estou tentando ser enxergada como cidadã brasileira, e parte dessa tentativa é o fortalecimento da minha identidade. E a melhor forma de fazer isso é expressando ela.”
 
A publicitária acredita que o uso do turbante ativa uma força interna, tornando os olhares de julgamento, que ela percebe, irrelevantes. “Eu sempre usei turbante nos dias em que me achava mais pra baixo ou cansada. Normalmente, usava sempre na sexta. Sentia que ele me dava um ânimo a mais e, de certa forma, até um poder simbólico”, completa.


 (Abe Neihum/Divulgação)  

 (Abe Neihum/Divulgação)  

Alguns modelos da marca Turbante-se (Abe Neihum/Divulgação)  

Alguns modelos da marca Turbante-se

 



 
Inspiração
Murilo Trindade, 26 anos, advogado, usava turbante no contexto religioso, mas tinha receio de adotá-lo no dia a dia. Achava que a concepção de a peça estar relacionada às mulheres ainda era muito forte no Brasil. No entanto, o impulso dado pelo empreendedorismo de sua mãe, dona do Atelier Carla Trindade (@ateliercarlatrindade), incentivou o jovem a deixar as inseguranças de lado e a usar o turbante como um elemento estético há três anos.
 
O rapper Johnny Venus, do grupo Earth Gang, que usa turbante frequentemente, e o jornalista Manoel Soares serviram como inspirações para Murilo, que acha importante entender a ancestralidade que a peça carrega antes de usá-la. “Tem um porquê, e se a pessoa entender minimamente por que usar esse adereço estético trará benefícios, ela estará energeticamente mais harmônica. Isso vai influenciar em outras questões na vida dela”, explica.
 
Além das inspirações atuais, Murilo resgata os tuaregues, povo que vive no deserto e usa turbante de várias cores e tamanhos. “Eu me sinto muito bonito de turbante, acho que remete a uma ligação africana e tem um pertencimento.” Ele ressalta a questão de que, para os povos negros, a estética não é puramente estética, mas tem uma função. Assim como determinadas culturas pintam o rosto por algum motivo, outras protegem a cabeça por alguma razão.
 

Correio Braziliense sábado, 12 de setembro de 2020

RENATA JAMBEIRO: VIVA A REPRESENTATIVIDADE

Jornal Impresso

Viva a representatividade!

RENATA JAMBEIRO

 

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 12/09/2020 04:00

O festival on-line Afrodisia é idealizado e ancorado pela brasiliense Renata Jambeiro (Alex Pires/Divulgação)  

O festival on-line Afrodisia é idealizado e ancorado pela brasiliense Renata Jambeiro

 

 

 
 
Um mix de espetáculos musicais e debates reflexivos sobre a ancestralidade, representada pelas Yabás — orixás femininas — é o que propõe o Afrodisia, festival on-line, idealizado e ancorado pela cantora brasiliense Renata Jambeiro, com a participação de 40 mulheres do cenário artístico-cultural brasileiro. Aberto no último dia 5, com amplo painel sobre o tema e shows, o evento prosseguirá até o fim deste mês, sempre aos domingos, entre 17h e 21h.
 
Criadora do projeto, Renata Jambeiro ressalta a importância da realização. “O festival busca valorizar, com extensa programação, que inclui debates, shows e o movimento de sonoridade que permeia este trabalho.” Ela acrescenta: “Há uma troca belíssima entre as artistas e as especialistas e, sobretudo, o comprometimento com algo maior, que é pensar a nossa contribuição para o mundo de hoje. Acredito que esta reflexão profunda sobre a ancestralidade é a marca do Afrodisia”.
 
Amanhã, será realizado o segundo painel, intitulado O corpo é voz, a voz do corpo — Qualidade, higiene vocal e expressão na voz popular, com a participação de Fabiana Cozza, cantora, atriz e fonoaudióloga paulista; Dianete do Valle, fonoaudióloga e especialista em voz brasiliense; Daniele Stief, professora de canto e otorrinolaringologista austríaca. Paralelamente, haverá shows ao vivo, com duração de 30 minutos, das cantoras Ana Costa e Patrícia Mellodi, do Rio de Janeiro.
 
O festival terá continuidade entre os dias 20 e 27 quando, além de shows, ocorrerão painéis intitulados Mulher Negra na Arte — Onde estávamos e onde estamos indo e A Mulher na produção Artística — Histórico e Mercado Atual, respectivamente. A produção disponibiliza um QR Code na tela, além da conta bancária de depósito para a “compra de ingressos”. A arrecadação será repartida entre as artistas, equipe e realizadores.
 
 
Festival Afrodisia — Lives
Painel de debate e shows neste domingo, a partir das 19h. Transmissão ao vivo no canal youtube/renatajambeiro.

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