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Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira moradora do DF a participar do inquérito. O teste dela teve resultado negativo
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A Região Administrativa (RA) mais populosa do Distrito Federal é a mais afetada pela covid-19. Ceilândia concentra 27.519 casos do novo coronavírus e 717 mortes em decorrência da doença, com uma taxa de letalidade de 2,6% — são os números os mais altos da capital. Para efeito de comparação, há mais mortes provocadas pela pandemia em Ceilândia do que na soma das seis regiões centrais de Brasília. Os dados preocupam a Secretaria de Saúde, que escolheu a cidade para dar início ao inquérito epidemiológico. Nele, agentes do governo vão sortear 230 residências, de cada uma das 34 regiões administrativas, para realizar um teste sorológico de detecção da covid-19. A ação começou ontem e vai percorrer todo o DF até 20 de dezembro.
“Hoje (ontem), estamos com dez carros; amanhã (hoje), teremos 34 carros formando as equipes. Temos 230 residências para serem visitadas e pesquisadas”, afirmou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. Ele explicou que as casas que receberão os exames estão escolhidas, mas, caso a pessoa não queria realizar o teste, ele será oferecido à moradia vizinha. A metodologia prevê foco de testes nos locais com crescimento de taxa de transmissão do vírus. Para atuar no inquérito, foram solicitados 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e viaturas e 34 colaboradores do Serviço Social do Comércio (Sesc).
Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira testada no inquérito. Surpresa com a visita, ela comemorou a oportunidade. “O resultado deu negativo, mas eu já esperava, porque estou me cuidando, tenho pouco contato aqui fora, sempre com receio”, disse a moradora do P Norte. Apesar de não ter tido contato com o vírus, Danielle lembra que a doença atingiu muitos conhecidos da região. “Na casa ao lado, a gente perdeu um vizinho que ficou três dias internado e faleceu. Para nós foi um baque, porque estou aqui há 30 anos e o conhecia há esse tempo todo. Também tenho um tio internado em estado ruim. Espero que Deus faça um milagre e ele possa sair”, desabafou.
Intervenção
A expectativa dos agentes é finalizar o inquérito de Ceilândia até sexta-feira, como detalhou o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde, Divino Valério Martins. “Nas demais RAs, a partir de segunda-feira, uma equipe motorizada estará em cada cidade para fazer o trabalho. São várias fases. A primeira, de agora, é de coleta. Depois, entra a parte diagnóstica e, por último, a interpretação de dados, que serão divulgados posteriormente, para que tenhamos parâmetros para pensar que estratégia adotar”, detalhou Divino.
Iris Magalhães, 46, moradora de Ceilândia, acredita que esse trabalho pode levar conscientização à população. “Muita gente na cidade age que como se o vírus tivesse acabado, como estivesse tudo bem, e a gente pudesse viver normalmente. Isso, principalmente, depois que muita coisa voltou a funcionar. Os testes são bons para as pessoas despertarem para o que está acontecendo”, argumenta.
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Para desenvolver o inquérito, o GDF conta com 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e 34 colaboradores do Sesc
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O anúncio do inquérito epidemiológico surgiu após a Secretaria de Saúde perceber um aumento preocupante da taxa de transmissão R(t) do novo coronavírus. O índice mostra, em média, para quantas pessoas um infectado transmite a doença. Atualmente, o DF tem transmissão de 1,3. Ou seja, cada 100 infectados passam o vírus para 130 pessoas. Osnei Okumoto declarou, durante a ação da secretaria, que o Governo do Distrito Federal (GDF) pode tomar medidas de suspensão de atividades não essenciais caso sejam registrados mais aumentos desta taxa.
Diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF e infectologista do Laboratório Exame, David Urbaez explica que o inquérito epidemiológico é uma das ações possíveis de combate à covid-19 dentro de várias categorias de planejamento. “Toda e qualquer epidemia precisa ser avaliada com teste sorológicos, levando em conta estratégia estatística, com amostragem do território que vai estudar. Isso é muito importante, mas deveria ter sido feito desde o início e é uma parte do complexo manejo de pandemia”, avalia. Para ele, os resultados da ação da secretaria podem ser essenciais na tomada de decisões futuras do governo. “É algo extremamente importante, porque temos em torno de 75% da população do DF que ainda pode ser contaminada. A pandemia está ativa e nunca deixou de estar”, alerta.
Bares e restaurantes
O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou, ontem, que vai reforçar a fiscalização quanto ao horário de funcionamento de bares e restaurantes, limitado até as 23h. “Vamos juntar a Polícia Militar nessa fiscalização e ser um pouco mais duros com eles. O que a gente tem notado, por meio da fiscalização do DF Legal, é que a maior desobediência do distanciamento social, uso de máscara, tem sido nas baladas. As baladas, geralmente, começam a partir das 23h. Foi exatamente por isso que nós escolhemos o horário. As famílias que quiserem procurar os restaurantes, não vão depois das 23h. Eu estou tranquilo, a medida foi tomada de forma consciente”, ressaltou.
Por meio de nota oficial, a Secretaria DF Legal informou que “após a edição do decreto, a pasta decidiu, primeiramente, orientar os comerciantes sobre a mudança nas regras. Portanto, neste momento, não há registo de nenhum estabelecimento multado ou notificado. A medida oferece aos comerciantes a oportunidade de adequação às novas determinações do GDF”. A fiscalização é realizada todas as noites, das 8h às 3h. São 12 equipes dividias em quatro turnos, cada uma é composta por até quatro agentes.
3.955 mortes
Segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, divulgado ontem, o DF registrou 16 mortes e 793 casos de covid-19. Ao todo, a capital soma 3.955 óbitos em decorrência da doença e 230.905 infectados pelo novo coronavírus. Há 219.811 pacientes recuperados.
Atendimento
Atualmente, a recomendação dos especialistas em saúde é diferente do início da pandemia quanto à procura pelo atendimento médico. “Mudamos o critério. Hoje, se a pessoa tiver dois sintomas pode procurar uma unidade básica de saúde (UBS) para realizar os testes sorológicos ou os de PCR. Para os testes sorológicos, temos, no site da Secretaria de Saúde, 50 unidades com capacidade de realização”, informou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. A pasta recebeu doações do governo federal e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio-DF). “Foram doados 150 mil testes, da Bio-Manguinhos, e mais 10 mil, da Fecomércio, um teste americano que está sendo utilizado no inquérito”, detalhou Osnei.