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Ana Helena Germoglio inspirou-se na profissão da mãe ao tornar-se infectologista
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» CAROLINE CINTRA
Responsáveis por cuidar e promover a saúde de toda a população, os médicos têm papel fundamental na vida de todo ser humano, seja incentivando uma rotina saudável, orientando na prevenção contra doenças ou tratando determinadas enfermidades. No Brasil, hoje, 18 de outubro, é comemorado o dia desses profissionais, que merecem todo respeito e reconhecimento pelo trabalho árduo e dedicação à vida do próximo. A data foi escolhida em homenagem a São Lucas, o padroeiro da medicina (leia Você sabia…). Embora tenham o dia a dia sempre agitado, esse ano, os médicos tiveram de enfrentar algo novo e redobrar esforços para trabalhar no combate da covid-19.
Nascida em João Pessoa (PB), Ana Helena Germoglio, 40 anos, inspirou-se na profissão e especialidade da mãe, também infectologista. Ela lembra que na infância, às vezes, saia da escola e não tinha onde ficar, então, era levada para o hospital. “Eu tenho essas lembranças fortes na memória, da rotina dela. Aprendi muito com minha mãe e ela também foi minha professora da faculdade. Foi dela que veio essa vontade em mim. Nunca me vi fazendo outra coisa”, diz.
Para ela, a especialidade ainda é discriminada, por lidar com doenças consideradas tabus, como a Aids. “A maioria das pessoas mal sabia do infectologista antes da pandemia. O profissional era deixado de lado, era considerado muito hospitalar. Ninguém tem um infectologista. A pandemia deu uma visibilidade a mais”, afirma a especialista.
Hoje, Ana Helena é um desses profissionais que atuam na linha de frente do combate à doença e precisa dedicar-se integralmente aos pacientes. Desde fevereiro, quando o novo coronavírus chegou ao Brasil, ela está à disposição 24 horas por dia. Quando não no consultório, pelo celular. “Nunca trabalhei tanto e nunca estudamos tanto em tão pouco tempo, porque ainda sabemos pouco da doença. Traz um cansaço psicológico e físico para todos que trabalham no controle da infecção. Precisei ficar dois meses longe do meu filho, porque temos de cuidar de quem mora com a gente também. Valeu a pena, eu faria tudo de novo. Passaria todos os perrengues novamente”, declara.
Paixão
Especialista em cirurgia cardiovascular e atual coordenador das unidades de terapia intensiva (UTIs) dos hospitais Santa Luzia e DF Star, Marcelo Maia, 55, está na profissão a quase três décadas. Para ele, a paixão pelo trabalho é o que dá forças para seguir, até mesmo nos dias mais exaustivos. Ele também tem atuado na linha de frente, tratando pacientes com covid-19 em estado grave. “Trabalhar em terapia intensiva é exaustivo. A gente lida com todo tipo de situação. Quando um paciente falece, é uma dor para todos, porque nos envolvemos com a família, que já estava ali fragilizada. Mas, nós médicos, não passamos por tudo isso sozinhos. Tem uma equipe que atua conosco, trabalhamos em conjunto para ter o melhor resultado”, afirma.
De uma família predominantemente de empresários, Marcelo sonhava desde a infância em ser médico. Nascido em São Paulo, ele fez residência na Santa Casa de São Paulo. Em 1998, desembarcou no Distrito Federal para atuar na profissão. O cirurgião lembra da primeira vez que pisou no hospital como médico. “Foi muito bom. Comecei a ver os pacientes como sendo minha responsabilidade e a colocar em prática a teoria aprendida em anos. Ser médico é ter paixão pelo o que faz, porque é uma atividade diária”, lembra.
Morador do Sudoeste, o aposentado Paulo César Zoghbi, 60, foi diagnosticado com o novo coronavírus e precisou ficar 14 dias internado na UTI do Hospital Santa Luzia. Aos cuidados do intensivista, ele contou que a equipe médica tornou-se família no período de isolamento. “Tinha contato com meu filho por videochamada no celular, era a forma de suprir a necessidade de afeto. O doutor Marcelo e toda a equipe foram muito atenciosos. Esses profissionais merecem ser mais valorizados. Estão na linha de frente, correm risco e merecem todo reconhecimento”, destaca.
Emoção
Quando criança, a oncologista da Oncoclínicas Brasília Ludmila Thommen, 38, sonhava em ser pediatra. Enquanto cursava medicina, a mãe dela descobriu um tumor no cérebro e começou um tratamento contra o câncer. Como precisou cuidar da mãe durante o processo, decidiu optar pela oncologia. “Despertou essa vontade em mim. Trabalhei no Hospital do Câncer de Mato Grosso, mais ou menos no mesmo período. Tive contato com crianças e adultos com a doença e decidi ir para esse caminho”, conta.
Ela lembra que assim que começou atuar na área sentiu-se angustiada e precisou aprender a controlar as emoções. “A gente lida com algo muito importante do ser humano, que é a vida, transformamos vidas. Chegamos da faculdade, normalmente, sem muito contato com o paciente, mas a prática do dia a dia nos molda a criar nosso jeito de lidar com cada situação”, explica.
No começo da pandemia, a oncologista ficou receosa dos pacientes interromperem o tratamento, por fazerem parte do grupo de risco. “Nenhum deles abandonou o tratamento. Precisamos nos adaptar ao momento, tentamos fazer telemedicina. Eles ficaram mais isolados nesse momento. Desde setembro, começaram a voltar presencialmente. Eles têm essa consciência de se cuidar, e estão voltando a fazer os exames”, afirma Ludmila.
Para ela, ser oncologista vai além de uma relação entre médico e paciente. “Temos de ir além, entender o próximo de forma integral”, destaca. Essa aproximação fez com que ela se tornasse amiga de muitos pacientes. Como é o caso da professora Rosilda de Souza, 44. Ela foi diagnosticada com câncer de mama em julho de 2018, quando conheceu a oncologista. “Criamos um vínculo enorme. Comecei o tratamento e ela sempre foi cuidadosa, criamos uma amizade mesmo”, afirma. Curada da doença no início de 2019, Rose diz que deve muito à médica. “A amizade ajudou na minha cura. O tratamento ficou mais leve, mais tranquilo. Ela está sempre disponível, até hoje”.
Pioneiro
“Acompanhei a evolução da medicina, desde quando não havia o eletrocardiograma”. A declaração é do cardiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor) Ayrton Perez, 73, que comemora 50 anos de profissão. Nascido em Pouso Alegre (MG), ele chegou em Brasília no ano da inauguração da nova capital do país, em 1960. Integrou a segunda turma de medicina da Universidade de Brasília (UnB) e, hoje, é um dos mais conceituados profissionais da sua especialidade. A ideia de ser médico surgiu ainda na época escolar. Ele conta que o sonho maior era encontrar a cura do câncer. Antes dele, na família, apenas seu avô seguiu carreira médica. Hoje, dois netos também optaram pelo mesmo caminho.
A paixão pela cardiologia começou na faculdade. “A escola de medicina da UnB foi inovadora no ensino médico, colocava os alunos mais cedo na prática. A partir do quarto ano, tínhamos de trabalhar no hospital. Quando fui pela primeira vez, o coração estava acelerado”, relembra. À época, tinha o apoio dos professores nos procedimentos. “Depois de formado, não podia chamar mais ninguém, eu era o médico”, brinca Ayrton.
No 50º ano de profissão, ele se sente realizado, satisfeito e grato. “Tivemos a chance de realizar vários relatórios de ações e doutorado. Mas, o mais importante, é minha relação com os pacientes. É para a vida inteira. Uma parceria, amizade e relação de confiança”, declara o cardiologista. “A medicina evoluiu nos últimos 50 anos, e em 10 tudo vai mudar, com a ajuda da inteligência artificial. Acompanhar tudo isso é gratificante e emocionante”, finaliza.
Você sabia...
» O Dia do Médico é comemorado em 18 de outubro, pois faz referência ao Dia de São Lucas, o santo padroeiro da medicina. Ele era médico e foi um dos apóstolos de Jesus Cristo e autor de Atos dos Apóstolos e de um dos evangelhos da Bíblia, que leva seu nome. Em seus textos, é comum encontrar histórias de muitos milagres, inclusive voltadas à cura.