Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 15 de novembro de 2020

PARA PENSAR O RACISMO À BRASILEIRA

Jornal Impresso

Para pensar o racismo à brasileira
 
Com ficção, reflexão e poesia, três lançamentos convidam o leitor a mergulhar em histórias que ajudam a entender o racismo no Brasil
 

» Nahima Maciel

Publicação: 15/11/2020 04:00

 
Racismo, pensamento africano contemporâneo, histórias de heroínas negras pouco contadas nas escolas e no dia a dia: os temas são abordados em uma boa leva de livros que acabam de desembarcar nas editoras. Para entender a importância de celebrar o mês da Consciência Negra, vale mergulhar na leitura de autores brasileiros que refletem sobre racismo, desigualdade, violência e discriminação sexual no cenário contemporâneo. O Diversão & Arte fez uma seleção que tem desde ensaios até ficção, incluindo um elegante livrinho de história escrito em forma de cordel sobre mulheres negras que fizeram a história do Brasil e sumiram dos livros e das narrativas.
 
Jeferson Jeferson Tenório (Carlos Macedo)  
Jeferson Jeferson Tenório
Jarid Arraes (Companhia Das Letras/Reprodução)  
Jarid Arraes
O avesso da pele
De Jeferson Tenório. Companhia das Letras, 190 páginas. R$ 59,90
 
Terceiro romance do autor, um professor de literatura nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre, traz a história de um também professor de literatura, negro como Tenório, vítima de diversas abordagens racistas por parte da polícia e cuja vida acaba por ser tirada em um desses episódios. “Dos três livros que tenho, O avesso da pele foi o que se aproximou mais da minha vida, mas ele surge, na verdade, a partir de um livro que gosto bastante que é o Hamlet, a história de um filho que tem uma relação com um pai fantasma. Eu sempre quis escrever um livro sobre ausência paterna. E também queria falar sobre um professor de literatura. Depois de sofrer uma abordagem policial em Porto Alegre, em 2016, achei que podia abordar estes três temas: ausência paterna, violência policial e educação”, conta Tenório. Estruturado com várias vozes narrativas, o livro é conduzido pelo filho do professor. Ao mesmo tempo em que revisita a história do pai ausente, o narrador investiga sua própria origem. O racismo é tema constante — Tenório decidiu escrever o livro após a abordagem policial sem justificativa —, mas as relações familiares e a educação em um país marcado pela desigualdade social ocupam lugar importante na narrativa. O autor, que já esteve no programa Conversa com Bial, é também um dos convidados da edição on-line da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), programada para dezembro.
 
Jarid Arraes (Arquivo pessoal)  
Jarid Arraes
 (Reprodução)  
A razão africana – Breve história do pensamento africano contemporâneo
De Muryatan S. Barbosa. Todavia, 214 páginas.
 
Filho de exilados políticos nascido na Suécia, batizado com nome tupi-guarani e professor da Universidade Federal do ABC, Muryatan S. Barbosa ficava incomodado com o grau de eurocentrismo no pensamento acadêmico brasileiro. A inquietação gerou A razão africana — Breve história do pensamento africano contemporâneo, ensaio que toma o leitor pela mão para entender quais são os pensadores mais relevantes na história recente da África. Muryatan tenta suprir uma lacuna que considera fruto de um olhar sempre voltado para o Norte do mundo. “É um tema recente. Temos duas coletâneas recentes sobre o assunto com autores brasileiros e africanos, de estudantes que estão no Brasil, e temos teses e dissertações. De 10 anos para cá, o tema tem adensado, mas não temos livros de análise geral como esse”, garante. A razão africana, no entanto, não é destinado a pesquisadores e consegue oferecer uma introdução aos não especialistas, uma espécie de visão geral sobre as diversas correntes de pensamento sobre os rumos da África hoje. Autodesenvolvimento, identidade africana, pan-africanismo, diversidade, autonomia, desenvolvimento, economia e até feminismo são alguns dos temas tratados.
 
Muryatan (Arquivo pessoal)  
Muryatan
 (Editora Todavia/Reprodução)  
Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis
De Jarid Arraes. Seguinte, 176 páginas. R$ 34,90
 
Já ouviu falar em Dandara, Aqualtune, Na Agontimé, Maria Felipa e Zacimba Gaba? Elas fazem parte da história do Brasil, mas foram apagadas dos livros escolares, por isso Jarid Arraes decidiu trazê-las de volta à narrativa, junto com outras 10 figuras pouco conhecidas. O formato cordel transporta as personagens para uma linguagem popular, mas tudo que é contado ali saiu de pesquisa histórica e se inscreve na formação da identidade brasileira. Algumas das personagens são mais conhecidas — caso de Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina —, mas a maioria permanece praticamente desconhecida. “Nas escolas não ouvimos/Essa história impressionante/Mas eu uso o meu cordel/Que também é importante/Para que você conheça/E não figure ignorante”, avisa Jarid, que é uma das finalistas do Prêmio Jabuti como livro de contos Redemoinho em dia quente. A autora conta que, antes de chegar à idade adulta, nunca ouvira falar de uma mulher negra protagonista de algum momento histórico. Foi depois de adulta e já dona de uma voz narrativa que mistura a linguagem do cordel e com uma postura pop, que Jarid passou a pesquisar a vida dessas mulheres. A intenção, além de escrever sobre elas, era resgatar as próprias origens. São, como ela diz, histórias que merecem ser contadas e podem ajudar a mudar a vida de muitas mulheres.
 
Quatro perguntas // Muryatan S. Barbosa
 
O que perdemos ao nos concentrar no 
pensamento acadêmico eurocêntrico?
Não saberia te dar uma resposta simples sobre isso. Acho que quanto mais a gente amplia nossos horizontes, maior nossa capacidade de enxergar o mundo e a nós mesmos. Então, na medida em que a gente vê nossos problemas e soluções sempre somente a partir dessas poucas tradições intelectuais (França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos), necessariamente nos tornamos mais pobres do ponto de vista cultural e intelectual. Há muita semelhança do Brasil com outros países, África do Sul, Índia etc. Olhar para isto, por exemplo, enriqueceria nosso pensamento, não só acadêmico, mas cultural e político de uma forma muito relevante. O Brasil, hoje, é intelectualmente pobre, de um modo geral, e acho que parte desse fato deriva do nosso eurocentrismo, da nossa incapacidade de enxergar para além do que estamos acostumados a ver. É como ter um só óculos, às vezes até nosso grau de miopia aumenta, mas a gente só tem aqueles óculos.
 
Você também diz que isso tem mudado nos 
últimos 10 anos. Por que mudou, na sua opinião?
A primeira razão foi a Lei nº 10.639 (2003), que delibera sobre a necessidade da inclusão da história e cultura africana e afro-americana nos currículos escolares. Isso impulsionou o estudo da história da África no Brasil. Não que não existisse antes. O Brasil tem uma história longa de estudos sobre a África, mas sempre na medida em que isso revelava nossa formação cultural. Nunca estudamos a África a partir da sua história intelectual, do que os intelectuais africanos e africanas pensam sobre a sua própria história. Isso demonstra muito do racismo à brasileira. Então, a lei foi um elemento importante de estruturação do campo da história da África. Outra razão foi a inclusão de estudantes negros e negras na academia: esses estudantes sentiram a necessidade de ver esta temática contemplada. Eles fizeram pressão por isso, o que tem fortalecido o campo e a ciência brasileira, em geral.
 
No livro, você explica que a descolonização é um processo de décadas e não apenas
centrado nas independências das nações africanas. 
Em que parte desse processo
estaríamos agora, com movimentos estourando no mundo inteiro, 
estátuas sendo
derrubadas e reivindicações 
de uma narrativa mais justa vindo à tona?
Creio que estamos mais numa dimensão cultural nesse processo. O Julius Nyerere, um grande pensador, dizia que a libertação tinha um significado cultural, político e econômico. E que ela não se faz só por rupturas, mas por um processo gradual em que esses três elementos estão interrelacionados. É uma percepção muito sagaz do dilema, não só da África, mas dos países periféricos, em geral. Não é um ato simples descolonizar-se, é um ato de múltiplas faces, processual e contraditório. Às vezes, um nível vai à frente e outro fica para trás. Mas é sempre importante para um país que pretende ter soberania, ter consciência desse caminho. Não deixar que os retrocessos sejam rupturas em relação ao caminho maior do que deveria ser o da autonomia, desenvolvimento, melhora da qualidade de vida.
 
Como seria essa dimensão cultural?
À medida em que o processo de descolonização política e econômica teve muitos retrocessos nos últimos 30 anos, sobretudo do ponto de vista econômico, a descolonização cultural tornou-se mais relevante. Percebe-se que, enquanto a gente tentar ser o outro, o outro dominante, no caso o ocidental, a gente nunca vai conseguir ser o que é. Essa obsessão pelo ocidentalismo exacerbado é algo que tem reflexos muito ruins para as sociedades periféricas, o Brasil que o diga. É uma tara, uma obsessão em ser o que não somos, e isso só pode levar ao racismo, à reprodução da discriminação, da falta de solidariedade, a tudo de ruim. E acho que isso é mais evidente hoje e, portanto, é mais evidente também o papel que a cultura pode ter nesse processo de descolonização, que não acabou.
 
 
 
Entre as mais novas profissões do mercado está a de influenciadora digital. Poucas delas, no entanto, são pretas. Mulheres como Ana Caroline Cardoso (foto) exercem papel de ativistas na defesa da representatividade e da valorização da negritude.
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 

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