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Carnaval 2020 no Setor Comercial Sul. Bloco Sereias Tropicanas
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A pandemia da covid-19 foi o fator alegado para que a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), em decisão com o Governo do Distrito Federal (GDF), cancelasse os eventos oficiais do réveillon e do carnaval 2021. Em decisão ainda não oficial, o secretário da pasta Bartolomeu Rodrigues deixou claro: “Não há condições sanitárias de realizar as festas, por conta da covid-19”. “Embora não seja ainda um anúncio formal, já é uma prévia: sem vacina, sem segurança, não promoveremos aglomerações. Diferente de outras atividades culturais, o carnaval pressupõe contato físico, abraços e multidões. Nada indica que, até lá, teremos condições de abrir espaços públicos com essa finalidade”, completou ao Correio.
Nas últimas edições, os investimentos públicos nas duas festas foram da ordem de R$ 4 milhões no carnaval e de R$ 2,6 milhões no Ano Novo. Evitar a possibilidade de gerar inevitáveis aglomerações, comuns às festividades, levou a Secec a não “arriscar investimentos nessas grandes festividades”, expressa a nota oficial da Secretaria de Cultura. Quanto à realização de eventos privados, a Secec afirmou tratar, por enquanto, apenas da divulgação do corte de fundo público. O GDF endossou a resposta da secretaria.
Impacto nas escolas
Há seis anos, as escolas de samba do Distrito Federal não pisam na avenida para desfile. A tradição da cultura popular da capital, criada em 1962, sofre prejuízos de diferentes origens que envolvem o financeiro e também o afetivo. “Vamos completar sete anos sem atividades. É muito difícil manter as instituições assim”, afirma o presidente da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), Rafael Fernandes de Souza. Apesar de algumas atividades serem realizadas para ajudar economicamente a escola, a pandemia paralisou todos os encontros presenciais.
“Tivemos nossa primeira live no sábado, para escolher um samba enredo para 2021, mesmo sabendo que não iríamos para a avenida”, diz Rafael sobre a primeira transmissão ao vivo realizada pelo Instagram da Aruc, a fim de manter as atividades on-line e para comemorar os 59 anos que a escola completa amanhã. “Mas esperamos uma maior segurança sanitária, para a gente poder realizar alguma atividade carnavalesca, afinal, não queremos deixar esse movimento cultural morrer”, complementa o presidente.
O presidente da escola de samba Império do Guará, Edivaldo Lucas da Silva, traz uma perspectiva de quanto o carnaval movimenta a economia nas comunidades. “No lado financeiro, para nós que somos empresas sem fins lucrativos, não temos gastos diretamente só quando tem carnaval. As pessoas que trabalham estão sentindo falta, porque, nessa época, estão empregados”, pontua Edivaldo, que chama atenção para os engenheiros de carros alegóricos, os carnavalescos, a equipe de bateria, figurinistas, coreógrafos entre outros.
Edivaldo reconhece que o cenário atual é de se cuidar e evitar aglomerações, porém compartilha a dificuldade de encontrar apoio financeiro público. Por isso, sugere uma alternativa de fortalecer a relação com instituições privadas com leis de incentivo a cultura. “O meu objetivo é focar nas leis, em que o governo incentive mais as escolas de samba, como qualquer outra parte cultural, e também as empresas privadas, para que conheçam mais elas”, afirma o representante.
Efeito dominó
Entre os tradicionais e cada vez mais populares blocos de carnaval, houve surpresa, mas também algumas manifestações de apoio às decisões. “Estamos convivendo com um momento único. É muito difícil prever decisões que envolvam segurança sanitária. Talvez, fosse interessante mesmo adiar a festa. Concentrar festejos no aniversário dos 61 anos de Brasília, por exemplo, talvez fosse uma decisão mais coerente”, opina Pablo Feitosa, diretor do Suvaco da Asa, bloco que, em 2015, agitou mais de 100 mil foliões.
Afora a pandemia e a falta de vacina, que trazem “prejuízo para a cultura e para muitos trabalhadores, sem dúvida”, como destaca Pablo, há espaço para críticas paralelas. Há 15 anos na estrada, e com público atual na faixa de 35 mil pessoas, o bloco complementa com apoiadores o patamar anual de gastos superiores a R$ 200 mil. “Há os artistas a serem pagos e ainda a segurança. Diante das exigências do GDF, cerca de 70 a 80% do que é levantado vem a ser consumido na estrutura da festa. Entre artistas, seguranças e brigadistas, temos mais de 300 pessoas envolvidas. Há grupos, virtualmente dispensados (para 2021), como a Orquestra popular Marafreboi, Patubatê e Vivendo e Batucando, entre outros”, conta Pablo Feitosa.
Integrante de grupos brincantes como Rebu e o Bloco das Caminhoneiras, Dayse Hansa, uma das articuladoras do coletivo de blocos Fora do Armário (que conta com 36 blocos LGBTs), observa que há medida drástica do GDF. “Há pelo menos 10 anos, os blocos impactam o PIB, a receita local, estando entre os maiores festejos do calendário da cidade. A verba maior é de origem pública. Não é possível ser bloco de rua, sem receita de bilheteria, e não contar com subvenção do estado. Rendemos, de três a quatro vezes, os aportes iniciais”, comenta.
O Fora do Armário contabiliza pelo menos 400 mil foliões por ano concentrados em blocos como Essa Boquinha eu já Beijei, Bloco das Montadas, Bloco do Amor e mais 33 grupos. Diante da medida, o momento dos blocos é de mobilização e organização. “A palavra cancelamento não é apropriada. O correto seria adiar o carnaval. Fazê-lo em junho de 2021. Isso porque estamos num contexto de pandemia que matou 200 mil pessoas. Não tínhamos a dimensão dos efeitos dela, que traz a questão das aglomerações. No âmbito do coletivo, isso tudo é preocupante”, comenta Dayse. Os blocos teriam à disposição valores de editais, com faixas previstas entre R$ 15 mil e R$ 200 mil.
Com resultados de reunião anual de 8 mil a 30 mil pessoas a cada ano, o Bloco Eduardo e Mõnica, desde 2017 na pista, obteve apoio do GDF apenas no impulso inicial, pelo que explica o fundador Marquinho Vital. “Recorremos ao apoio de empresas, a partir de 2018. E ganhamos nova dimensão, em 2019 e 2020 (deslocados para Yurb), com o fator limitante para prover segurança”, observa Marco. A notícia dos cortes públicos chega na toada prevista por ele. “Havia a ideia de que não rolaria incentivo financeiro a grandes aglomerações, por parte do governo. A nossa preocupação é a de haver a possibilidade de ter eventos com número de pessoas grande, diante da pandemia e da falta de vacina”, sublinha.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira