Um dos políticos mais respeitados do Distrito Federal, o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, 83 anos, morreu na noite de ontem, vítima de câncer no pulmão. O político estava internado havia 17 dias no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Frejat descobriu um nódulo no pulmão em outubro deste ano durante tratamento de um cálculo renal.
“Ele estava há cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), muito abatido e fraco”, contou a filha mais velha do médico, Graziela Frejat, 46 anos. O político completou duas sessões de quimioterapia, mas, segundo a família, ficou muito fragilizado durante o tratamento. “Todos estão muito abalados com a notícia. Ele foi um exemplo de força e de luta. Um gladiador”, descreveu a filha.
Frejat também foi reconhecido pelo serviço dedicado aos outros. “Deixa um legado muito bonito. Veio para Brasília tentar a vida e desenvolver um modelo de Sistema Único de Saúde para o Brasil inteiro. Sempre se dedicou às pessoas e à vida pública. Era um ser humano incrível”, descreveu Graziela. Ele deixa a esposa, quatros filhos e seis netos.
O ex-deputado deixou os holofotes da vida política em 2018 quando desistiu de concorrer ao Palácio do Buriti. Ele liderou as pesquisas de intenção de votos durante a pré-campanha, mas decidiu sair do pleito e rejeitar acordos. À época, disse que não aceitaria fazer um pacto com o diabo. Houve muitas interpretações, mas nem mesmo os aliados mais próximos sabiam dizer o real motivo de Frejat abdicar de um mandato quase certo, em torno do qual se uniam políticos como José Roberto Arruda, Alberto Fraga, Eliana Pedrosa, Alirio Neto e Ibaneis Rocha. Ele havia disputado o GDF em 2014 no lugar do ex-governador Arruda, barrado pela Justiça. Perdeu no segundo turno para Rodrigo Rollemberg (PSB).
Trajetória
Jofran Frejat nasceu em Floriano (PI) em 19 de maio de 1937. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1957, quando ingressou na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Após concluir o curso em 1962, mudou-se para Brasília.
Entre 1973 e 1979 foi diretor do Instituto Médico-Legal de Brasília e no ano seguinte foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), ocupado até 1983. O médico foi deputado por cinco mandatos, sendo um deles como constituinte. Assumiu a secretaria de Saúde do DF por quatro vezes entre os anos de 1979 e 2002. Também foi o fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).
Luto
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou ontem luto oficial de três dias pelo falecimento do médico. “Jofran Frejat é um exemplo que eu segui e espero continuar seguindo na vida pública. Para mim, sempre foi um modelo de político”, declarou Ibaneis, em nota oficial.
Além dele, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, reconheceu a importância do médico-cirurgião para a saúde da capital federal. “Foi durante sua gestão que foram construídos ou inaugurados os hospitais regionais de Ceilândia, Asa Norte, Paranoá e o Hospital de Apoio (...) A Secretaria de Saúde se solidariza com familiares e amigos de Frejat, que teve importante papel para o desenvolvimento da Rede Pública de Saúde do Distrito Federal”, frisou.
Ao Correio, o ex-senador Cristovam Buarque relembrou momentos com o “notável político” e colega. “Brasília perde um grande pioneiro, um grande político e um grande médico. E nós, que o conhecemos, perdemos um grande amigo”, sintetizou. Entre as lembranças, o político destacou a admiração pela pessoa forte e capaz que Frejat era. “Me impressionava a jovialidade dele. Me recordo de Frejat caminhando nos corredores do Senado. Sempre andava mais depressa que todos. Além disso, foi uma pessoa muito respeitada em toda a sua carreira política, por todos os lados. Aprendi a admirá-lo e a gostar muito dele”, completou Cristovam.
REPERCUSSÃO
“Nos aproximamos na época da última eleição para governador, quando cheguei a abrir mão de minha candidatura para apoiá-lo, até que ele desistiu da disputa. Frejat deixa um legado de retidão e honestidade que deve servir de parâmetro a qualquer pessoa que pense em atuar na política e no serviço público”,
Ibaneis Rocha, governador do DF
“Embora adversários na eleição de 2014, sempre mantive com ele uma relação de respeito e diálogo. Frejat exerceu a política com dignidade e tinha minha admiração.”
Rodrigo Rollemberg, ex-governador do DF
“Perdemos um amigo, um líder e um homem público exemplar. Tive a honra de ser vice do Frejat em 2014 e aprendi muito com ele.”
Flávia Arruda, deputada federal
“Foi com muita tristeza que recebi a notícia da morte de Frejat, amigo e mestre. Um exemplo de ser humano. Jofran Frejat médico, Jofran Frejat deputado, Jofran Frejat gestor público era sempre o mesmo Frejat, aquele que fazia o bem sem olhar a quem”.
Izalci Lucas, senador
“Em momentos de tanto ódio e mentira na política, Frejat a exerceu com dignidade e respeito ao outro. Deixa como legado, entre outros, a defesa firme do SUS e a ESCS, Escola que nos enche de orgulho. Brasília está mais triste. Toda solidariedade à família”
Erika Kokay, deputada federal
“Como amigo particular e colega de bancada no Congresso Nacional, fomos deputados constituintes, eu manifesto meu profundo sentimento de perda pelo falecimento de Frejat. Nos conhecemos desde a década de 60, antes da política. Frejat era amigo dos seus amigos”
Valmir Campelo, ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União
“O Distrito Federal perdeu hoje um dos seus pioneiros mais respeitados. Jofran Frejat foi um médico competente e um político sério que ajudou a fazer Brasília”.
Cristovam Buarque, ex-governador do DF e ex-senador
"Perdemos um homem que lutou pelo SUS e foi um dos responsáveis pela criação da Faculdade de Ciências de Saúde do DF."
Leila Barros, senadora
LINHA DO TEMPO
Anos 1970
O primeiro cargo público de Frejat foi de diretor do Instituto de Medicina Legal (IML) do DF entre 1973 e 1979. Em 1977, então cirurgião do Hospital das Forças Armadas, ele atendeu Sílvio Delmar Hollenbach, que salvou um garoto de 13 anos de um ataque de ariranhas no Zoológico (foto). Em 1979, elaborou o Plano de Assistência à Saúde no DF.
Anos 1980
Foram construídas mais de 40 unidades de saúde, como postos e centros, para consolidação do Plano de Assistência à Saúde, elaborado por Frejat. Como parlamentar, o médico foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1986, participando da Assembleia Nacional Constituinte e da elaboração da Constituição Federal de 1988.
Anos 1990
Reeleito em 1990 ao cargo de deputado Federal pelo DF, Frejat aliou os conhecimentos médicos com a trajetória política no cargo de Secretário de Saúde do Distrito Federal em duas ocasiões mais emblemáticas, com destaque para as atuações dentro da gestão do ex-governador do DF Joaquim Roriz.
Anos 2000
Uma das últimas inaugurações da gestão de Frejat foi em 2002, quando foi entregue à população o Hospital Regional do Paranoá (HRPa), atualmente conhecido como Hospital Região Leste. A cerimônia contou com a presença do ex-ministro da saúde e então senador José Serra e do então governador do DF Joaquim Roriz.
Anos 2010
Frejat foi também candidato ao governo do Distrito Federal, em 2014, quando chegou a disputar o segundo turno contra Rodrigo Rollemberg (PSB), que acabou vitorioso, e pré-candidato ao Executivo em 2018, quando desistiu de concorrer ao cargo e encerrou a participação na vida política.