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Brasília em linhas
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Brasília em linhas
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A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília
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A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília
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Há 60 anos, os traços de Brasília, projetados e planejados por nomes como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ganhavam dimensão fora do papel. A capital do país precisou comemorar o sexagenário de maneira diferente, um tanto silenciosa fisicamente, mas, ainda assim, celebrada virtualmente. Com a permissão e a reabertura de alguns espaços culturais, contudo, a cidade de Juscelino Kubitschek acolhe homenagens de candangos e brasilienses inspirados na natureza artística de Brasília, mesmo tendo passado o 21 de abril.
A partir de amanhã, a exposição Brasília em linhas, do artista plástico maranhense Jailson Belfort reabre as portas do Espaço Oscar Niemeyer. Fechado para reformas e por conta das medidas de combate à covid-19, o equipamento cultural volta a funcionar em horários e dias reduzidos. “Me sinto feliz e muito honrado em realizar esta exposição. Adotei Brasília como cidade, aqui construí minha família e meu trabalho. Aqui descobri meu talento e tenho utilizado esse talento para representar a capital”, comenta Belfort.
A história de Belfort poderia ser contada pelos pioneiros que inauguraram Brasília. O artista plástico saiu de São Luís, no Maranhão, e chegou na capital federal em 1991 em busca de novos horizontes e novas possibilidades. Formado em Design, ele começou a trabalhar no Supremo Tribunal Federal (STF) e ali descobriram os desenhos que Belfort realizava com canetas esferográficas. “Ali que despertou a alma artística para me dedicar a essa nova fase. Me tornei um artista plástico que só trabalha com esferográfica e me inspiro muito em Brasília, pela sua beleza. A cidade em si, pelos monumentos, sempre me inspirou. E também, pensei em utilizar um instrumento que as pessoas não costumam usar para fazer arte. A caneta é algo que as pessoas têm em casa, no escritório”, detalha.
Cores e linhas
Em Brasília em linhas, Belfort retrata e homenageia Brasília colocando em diálogo ícones e referências visuais da capital, mas trabalhados sob a estética do artista. As 60 obras que integram a exposição são trabalhadas em duas cores cada. Ao colorido vivo das canetas com tons de rosa, azul, roxo e laranja, por exemplo, coube retratar o céu de Brasília. “Os monumentos são retratados com outro ângulo, diferente do comum”, complementa Belfort. Na construção da imagem, ele usa as linhas e as cores das canetas esferográficas, bem como teorias da Gestalt de sombra, luz, figura, fundo e ângulo. “Queria mostrar Brasília primeiro mostrando a beleza do seu céu. O pôr do sol na época da seca tem várias tonalidades e isso me encantou muito”, comenta o maranhense.
Esse olhar de Belfort para os monumentos também é uma estratégia do artista para fugir do realismo. É no contraste das linhas e das cores com o espaço em branco que ele revela elementos e características que remetem o espectador aos traçados de Niemeyer, por exemplo. “O vazio que existe entre o céu e os detalhes do monumento, isso vai fazer a pessoa de fato enxergar o monumento, vai provocar e indagar o público”, conta. “Cada detalhe são milhares de linhas feitas à mão livre, sem régua. A esferográfica, por não ser um material comum na pintura, tem seus problemas, pode borrar ou falhar e não tem como corrigir, tem que ter paciência ao fazer as telas. Então, são dois desafios, o de trazer o olhar do arquiteto e do urbanista para compor os monumentos e o desafio do próprio instrumento para que seja usado com suas limitações e sua beleza”, acrescenta.
Esquemas
Também pelas linhas de Brasília que a arquiteta e artista plástica brasiliense Helena Trindade percorreu para desenvolver o trabalho que a uniu, de vez, ao universo das artes plásticas. Contudo, ao contrário de Belfort, foi na exatidão da cartografia que Helena se inspirou. Em A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília, em exibição no estande da Brasal Incorporações no Noroeste e no site da empresa, a arquiteta e artista plástica apresenta uma sequência de 10 quadros nos quais desdobra percepções e vivências dos mapas da capital.
“É um desenho esquemático que eu fiz a partir dos eixos principais. Nos trabalhos de Brasília, destaquei quais seriam os prédios principais, o eixo Rodoviário, o Monumental, o Eixão. Claro que a cidade tem outros eixos, outras vias, mas eu senti que aqueles se destacavam mais. Então, procuro pontuar os que são mais relevantes e mais icônicos e acaba resultando em algo da minha vivência e percepção”, explica Helena. Com os esquemas em mãos, a artista recorta e constrói, com diferentes materiais, a própria visão artística de Brasília.
Condensado, MDF, couro, papel reciclado e madeira se transformam nas mãos da artista em mapas carregados de sensibilidade. O projeto, que começou como trabalho de mestrado na Inglaterra, ganhou exposição e virou uma marca de Helena, a HT.Objetos. “Tenho procurado trabalhar com materiais mais nobres para linhas exclusivas. E as cores, algumas são combinações que acho que conversam esteticamente. No caso das obras em exibição, o azul e branco foi uma referência ao Athos Bulcão e o terra cota, à época seca de Brasília. Agora, estou trabalhando em uma nova peça que vai fazer referência ao pôr do sol da cidade”, adianta.
Para Helena, o brasiliense naturalmente nasce com uma sensibilidade visual. “Passamos a valorizar o espaço urbano. Várias pessoas que não são da área comentam como Brasília é aberta, os prédios são icônicos, então ela desperta essa sensibilidade”, comenta. A arquiteta e artista plástica reconhece que a cidade planejada tem os problemas, como os espaços ermos, a segregação, sobretudo quando comparada com cidades tradicionais. “Mas, é inegável que Brasília é uma arte por si só”, pontua. Por fim, ela afirma: “ser brasiliense é ver a beleza no traçado não comum de uma cidade, é saber apreciar o lado planejado de uma cidade”.