A moradora do Jardim Botânico Maria Cleonice de Souza, 61 anos, não vê a hora da chuva chegar. E no dia mais quente do ano — os termômetros no Distrito Federal chegaram a 34,6°C durante a tarde de ontem —, a solução foi ir até a beira do Lago Paranoá para amenizar o calor. Apesar de estar acostumada com a seca do cerrado, ela ainda sente os efeitos da temporada. “Nessa época, eu me sinto mal. Ontem, mesmo, não me senti bem; estava muito seco. Eu sinto muita moleza, minha pressão até cai”, relata a aposentada.
Os sintomas relatados por Maria Cleonice não são à toa: além da alta temperatura, a umidade relativa do ar registrou mínima de 13%, e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta laranja, o que significa risco em potencial à saúde. Por isso, especialistas pedem cautela para a população durante esse período em que alguns cuidados especiais devem ser redobrados.
“A gente tem um clima que está, nesse momento, quente, e há baixa oferta de água. Os órgãos que mais vão sofrer são os mais expostos ao meio ambiente: pele, olhos e sistema respiratório, que precisam de água para poderem melhor funcionar. O corpo, de forma geral, precisa de hidratação; ele é constituído por 60% de água”, descreve o professor de clínica médica da Universidade de Brasília, Ricardo Martins.
Ar
O chefe de pneumologia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Paulo Feitosa, avalia que na segunda quinzena de setembro passamos pelo período de seca quente, em que as pessoas tendem a sentir mais os sintomas adversos, uma vez que há um aumento de partículas no ar, tanto de pó suspenso quanto resquícios de queimadas.
“A qualidade do ar, no mês de setembro, é muito ruim, o que ajuda a desencadear descompensações das doenças respiratórias, como asma, rinite e sinusite. O ar seco e poluído é um agressor do sistema respiratório, principalmente pra quem já tem doença prévia”, explica o médico.
|
|
Maria Cleonice aproveitou o calorão de ontem para se refrescar no Lago Paranoá
|
|
|
Lucas Barbosa decidiu dar folga da quarentena e praticou stand up paddle no lago
|
Água
A desidratação é um fator fundamental, ao qual os brasilienses precisam se atentar. Ela pode causar moleza, desânimo, tonturas, desmaios, náuseas e, até, vômitos. A falta de água pode propiciar, também, um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de pedras nos rins, que pode causar dores intensas, além de infecção urinária.
“Já estamos há mais de 100 dias sem chuva. A gente vai enfrentando uma seca bem longa. O brasiliense tem que ficar bem atento em relação à água, à desidratação e ter cuidado redobrado com a hidratação. Não esquecer de beber água é o cuidado principal que a gente deve instituir”, define o clínico-geral Lucas Vargas, coordenador da Clínica Médica dos Hospitais Santa Lúcia.
Olhos
Os olhos também requerem atenção especial nesta época. O ressecamento deles pode causar irritação, vermelhidão, ardência, sensação de areia ou corpo estranho, além de aumentar a exposição da população ao coronavírus, uma vez que levar os dedos aos olhos pode ser um meio de infecção.
“Se o paciente, mesmo não tendo problema ocular, principalmente nessa época da pandemia, fica exposto por muito tempo às telas, pode usar um colírio lubrificante uma ou duas vezes por dia, ou nos momentos em que sinta mais falta para manter o conforto durante o dia”, orienta o oftalmologista Daniel Moon Lee, do Instituto de Olhos Inob.
Alívio no lago
Com o calor intenso, brasilienses e turistas buscaram repouso às margens do Lago Paranoá, onde a umidade tende a ser um pouco maior, além da possibilidade de tomar um banho para refrescar o corpo. Foi o caso de Daniela Arakaki, 44 anos. A recepcionista mora em Campo Grande (MS) e veio a Brasília pela primeira vez, visitar a irmã. Espantou-se, no entanto, com a secura da região.
“Eu estou encantada com esta cidade, com as pessoas; é linda, mas é muito seco aqui. Em relação ao calor, a minha cidade é mais quente, mas a secura é muito grande. Eu sinto sede o tempo todo. Meu nariz está sempre seco. Bebo muita água, vou para o quarto com água gelada e fico mastigando o gelo”, descreve.
Buscando alívio da seca, o aposentado Lucas Barbosa, 60, decidiu dar folga da quarentena — que tem seguido à risca desde março — para curtir o lago com o sobrinho João Vitor, 19. “Eu moro aqui há 20 anos, então, estou acostumado. Mas a gente bebe bastante água, até trouxemos um galão”. João avalia que o clima é bem diferente de Governador Valadares (MG), sua cidade natal, e, por isso, passou a carregar uma garrafa de água para onde vai.
Apesar de acostumado, Lucas espera pela chuva, que deve chegar amanhã, segundo o Inmet. “Ansioso para presenciar a transformação das gramas. Na primeira chuva, já fica tudo brotando”.
RECOMENDAÇÕES
» Beber água a cada hora: hidratar-se é fundamental para evitar os efeitos da seca no corpo
» Alimentação leve: frutas, legumes e verduras
» Evitar sal: um consumo elevado do tempero contribui para a retenção de líquidos
» Fazer exercícios físicos até as 9h ou depois das 17h, períodos em que a umidade do ar está menos crítica
» Dormir adequadamente para que o corpo possa se recuperar
» Evitar exposição ao sol das 10h às 16h
» Usar colírio nos olhos e hidratantes nasais
» Evitar ambientes com ar-condicionado, que reduzem a umidade no ambiente