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Fabríco Boliveira e Ísis Valverde: nova parceria em Simonal
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O filme de estreia do diretor Leonardo Domingues é sobre a carreira — desde a ascensão até a queda — do cantor Wilson Simonal, mas impressiona o quanto a produção está ligada à capital. Para viver os papéis centrais do cantor e da mulher dele, Tereza, está um repeteco de casal visto no longa Faroeste caboclo (vinculado, claro, a Renato Russo): Fabrício Boliveira e Ísis Valverde. Roteirista do longa Simonal, ao lado de Domingues, Victor Atherino assinou não apenas o roteiro de Faroeste caboclo, como ainda esteve na escrita do filme Somos tão jovens (2013), dedicado à juventude de Russo.
Simonal, enriquecido por músicas como Terezinha, Lobo bobo e País tropical, chega às telas exumando o momento mais notório e público do cantor, que entrou para o ostracismo diante das supostas atitudes junto ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão durante a ditadura setentista.
Trazendo o ator Leandro Hassum na pele do produtor e compositor Carlos Imperial, Simonal concentra parte do desenvolvimento da trama para mostrar como o cantor teria enredado seu ex-contador Raphael Viviani (chamado Taviani, no filme, e interpretado por Bruce Gomlevsky), numa situação de sequestro e extorsão.
O personagem de Caco Ciocler, Santana, um agente do Dops, teria papel forte na contravenção de Simonal. Para além da polêmica, a magnitude e a excelência de Simonal ocupam tevê, palco e peças de publicidade recriados no filme. Codiretor de A pessoa é para o que nasce e editor de Nise — O coração da loucura, Leonardo Domingues explorou no filme, que tem ótimos figurinos da veterana Kika Lopes e irrepreensível direção de arte de Yurica Yamasaki, cenas com personalidades como Ronaldo Bôscoli (Rafael Sieg), a socialite Laura Figueiredo (Mariana Lima), os cantores Erasmo Carlos (João Sabiá) e Elis Regina (Lilian Menezes).
Três perguntas/ Leonardo Domingues
De onde vem sua ligação com música e por que recontar a trajetória de Simonal?
Minha história com a música popular vem desde a infância. Ouvia muito a coleção de discos em LP dos meus pais. Eles tinham, por exemplo, só numa coleção de músicas, mais de 50 volumes. Pesquisando, cheguei ao disco do Simonal, e meu pai dizia: “Ele era dedo-duro, teve envolvimento com os militares”; como criança, não tinha entendimento disso. Participei, há 10 anos, do documentário Simonal — Ninguém sabe o duro que dei, na pós-produção, e entendi melhor a confusão. Um documentário fazia, à época, no máximo, 300 mil espectadores de público; como gosto de contar histórias, fazer uma construção boa de narrativa, que já usava em videoclipes, optei pela ficção juntando polícia, música, ditadura, medo e racismo.
Há julgamento distinto para o cidadão e o artista Simonal?
Ele foi um injustiçado pelo sistema, num país dividido. Aliás, não há a cena do Simonal delator, no filme. Não achei bases, e acho que ele lutou até o fim contra a ideia. Acho, sim, que ele errou. Já, como artista, pelo suing e pela voz, não tinha igual. Artista fantástico memorável. Como cidadão, não sei. Não passei pelo que ele passou. Sou branco, classe média. Fica claro que ele se envolveu, e a sociedade o crucificou de uma forma... A história, aliás, é muito cíclica: há 10 anos, o Brasil era outro, né? Delação era coisa ruim. Agora, é premiada! Ainda pesou a arrogância do Simonal, do negro, pobre de favela que, aos trinta e poucos anos, tinha cobertura, Mercedes.
Como a família recebeu a ideia do filme?
Tinha contato com a família do Simonal, por causa do documentário. Eles até estavam negociando para fazer um musical, quando fui procurá-los. Ouvi deles: faça a sua versão, a sua história. Tive liberdade total. Liam o roteiro, e diziam ok. A biografia Nem vem que não tem — A vida e o veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre, trouxe muitos dados históricos para o filme. Ficamos confortáveis de trazer Max de Castro e Wilson Simoninha para a trilha sonora, pois eles têm a carreira inteira das músicas do pai e todos os arquivos de músicas.