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Em meio a latidos, miados e cantos de pássaros, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets já na entrada da igreja
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Cerca de mil bichos de estimação participaram ontem da bênção dos pets, realizada anualmente no Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Na igreja que tem o nome do santo, na 915 Norte, seis missas foram celebradas durante toda a sexta-feira.
A tradição existe desde a década de 1980 e atrai não apenas brasilienses, mas gente de outras unidades da Federação e até não praticantes da religião católica. Para o frei Rafael Pinheiro, responsável pelo santuário, a data é importante para lembrar que os pets também são criação de Deus. “Quando você homenageia algo criado por Ele, você o louva. Graças a Deus, as missas são cheias, e a energia é muito boa. Os animais dialogam entre eles”, brincou o religioso.
O frei lembrou diversas histórias sobre a vida de São Francisco de Assis. “Ele esteve em uma determinada cidade e não conseguia anunciar as palavras (de Deus). Começou a pregar para os pássaros. As aves começaram a se aproximar para ouvi-lo. Isso mostra intimidade”, contou. “Além de tudo, é vantajoso ter um animal em casa. Traz harmonia. Às vezes, alguém não se casou, não teve filhos. Claro que não substitui uma pessoa, mas é uma companhia. Conheço história de quem se curou de depressão porque tinha um animal. É muito interessante.”
O Santuário São Francisco de Assis tem o próprio mascote: o golden retriever Bonaventura. “Ele tem 3 anos e sempre está por aqui, fica na parte dos fundos da igreja. As pessoas são bem apegadas a ele. É o reflexo de que esta casa é para todos”, afirmou o frei Rafael.
Na entrada, vários freis recebiam os animais para benzê-los. Durante a missa, louvores e orações eram entoados pelos donos dos pets. Latidos, miados e cantos de pássaros não passavam despercebidos. Afinal, era tudo para eles.
Família grande
Enquanto a maioria das pessoas chegava com apenas um animal, o copeiro Henrique Monteiro, 46 anos, e a esposa, a aposentada Terezinha Antônia de Sousa, 60, levaram os quatro cachorros para a missa. O casal costuma resgatar animais de rua e cuidar enquanto buscam um lar para eles. Sirilo, Chinelo, Taysson e Puff são fruto dessa solidariedade. “As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”, ressaltou Terezinha.
Com dois gatos em uma das missas, a aposentada Solange Santos, 61, aproveitou para contar a história de Chiquinho, chamado assim em homenagem a São Francisco de Assis. O animal foi atropelado no início do ano, e a dona não quis mais. “A sogra da minha filha me contou a história e pedi para trazê-lo para mim. Dei banho, cuidei. Ele chegou quase morto na minha casa. Levei a uma clínica para gatos e lá cuidaram bem dele. É o nosso xodó.” Solange adota gatos há cerca de seis meses. Hoje, já são 10 felinos sob os cuidados dela.
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Ana Christina Yida aproveitou para levar as calopsitas de estimação
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Outras espécies
Nem só de cachorros e gatos é feita a missa em homenagem aos animais. Algumas espécies inusitadas marcaram presença. As calopsitas Príncipe Jorge e Lord Dian e a agapornis (espécie de pássaro) Laisa foram abençoadas ontem. A dona, Ana Christina Yida, 49, pediu mais saúde para as aves. “Peço para que vivam muito. São meus companheiros e não me imagino sem eles. Fiz questão de trazê-los para saírem um pouco de casa também.”
A juíza Josélia Fajardo, 41, levou o jabuti de estimação para receber a bendição. O animal é querido dos filhos dela — João Pedro, 8, e Maria Júlia, 6 —, e eles fazem questão de participar do momento. “É importante trazê-los para que tenham mais contato com Deus e com a natureza”, justificou.
"As pessoas precisam entender que, quando abandonados, eles sentem dor. Sentem frio, fome, como nós. Precisam de ajuda sempre”
Terezinha Antônia de Sousa, aposentada
Amor à natureza
Em suas peregrinações, São Francisco cultivou apreço excepcional pelos animais e pelo meio ambiente. Chegou a sugerir que a Igreja Católica passasse a receber animais nas missas. De família rica, o italiano da cidade de Assis também ficou conhecido como o santo dos pobres, após abrir mão da vida de luxo e dinheiro.