Os primeiros sintomas do coronavírus começaram de forma leve em Elinete Miller, 83 anos, e foram aumentando com o passar dos dias. O que eram dor de cabeça e náuseas evoluíram rapidamente para tosse e falta de ar. A professora aposentada logo desconfiou que se tratava de covid-19, mas não imaginava que teria de travar uma batalha entre a vida e a morte. Ontem, ela recebeu alta e deixou o Hospital Brasília, no Lago Sul, sob aplausos.
Elinete sentiu que estava com algum problema de saúde em 23 de março, logo após uma passagem por São Paulo, o epicentro da pandemia de coronavírus no Brasil. No dia 27, em Brasília, a falta de ar tornou-se sufocante, e ela precisou procurar o hospital, onde ficou internada por mais de 40 dias, 20 deles na unidade de terapia intensiva (UTI). “Eu me agarrava às pessoas, esperando que me salvassem do desespero da falta de ar. Houve momentos em que eu queria desistir de viver”, relembra. “Felizmente, a equipe medica da UTI, enfermeiras, enfermeiros e técnicos foram dedicados. Sou muito grata a todos”, conta.
Emoção
A professora aposentada relembra que, em um dos momentos mais difíceis, pediu para que a deixassem morrer. “Disse que eu não queria mais sofrer, mas a enfermeira me respondeu que eu não morreria, que estavam cuidando de mim. Foi, então, que eu reagi”, diz, emocionada. “Senti muita dor em todo o corpo, dor de cabeça, dor de garganta, ouvido. A falta de ar é uma situação desesperadora”, afirma.
Na segunda-feira, Elinete recebeu alta, ganhou balões verdes, abraços e um “corredor de aplausos” da equipe médica que atuou na recuperação dela no Hospital Brasília. No vídeo gravado no momento em que a professora deixa a unidade de saúde, é possível ver a emoção da idosa.
A paulista Elinete dedicou-se ao teatro e à docência boa parte da vida. Conta que chegou a Brasília na ditadura militar, queria fazer artes visuais e cinema, mas o governo da época fechou os cursos na cidade. Nos últimos anos, ela morou nos Estados Unidos com o marido, o teólogo americano John Lawrence Miller, com quem construiu a família.
Ainda um pouco cansada após tantos dias de internação, ela diz que a vida não será a mesma após a covid-19. “A experiência de ficar na UTI e de me libertar do coronavírus fortaleceu o meu compromisso com a vida”, ressalta. Em casa, ela segue em isolamento, por recomendação médica, mas pretende voltar a trabalhar como escritora de peças teatrais. “Eu gosto muito da vida, gosto de viver, trabalhar, gosto de me sentir útil e de participar da vida em sociedade”, comemora.
Aos 103 anos, ela venceu a covid-19
Em Sergipe, no município de Simão Dias, outra idosa sobreviveu à covid-19. Josefa Maria de Jesus, 103 anos, recebeu alta na terça-feira, sem apresentar sintomas. Ela mora no Povoado Caraíbas de Baixo e foi monitorada pela Secretaria Municipal da Saúde entre 28 de abril e 11 de maio. “Graças a Deus, graças a Deus”, disse Josefa ao descobrir que estava curada da doença. Com o caso da idosa de 103 anos, Simão Dias registra cinco pessoas recuperadas da covid-19.