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Washington Novaes também foi secretário de Meio Ambiente na gestão de Joaquim Roriz, entre 1991 e 1992
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Aos 86 anos, o jornalista Washington Novaes não resistiu a complicações causadas por um câncer no intestino e morreu na madrugada de ontem. O comunicador deixa um grande legado ao jornalismo ambiental e às causas ligadas ao meio ambiente e aos povos indígenas. Há mais de 50 anos na profissão, Washington Novaes atuou nos principais veículos de comunicação do país, como O Estado de S. Paulo, Veja, Folha de S. Paulo, TV Globo, Rede Bandeirantes e TV Cultura. Entre os trabalhos mais conhecidos dele está a série documental Xingu — A Terra Mágica, que traz uma imersão no universo dos povos indígenas do Xingu. A produção ganhou diversas premiações internacionais. Fora das redações, Washington também exerceu cargo público à frente da Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia (Sematec), no governo do Joaquim Roriz, entre 1991 e 1992.
Ao Correio, o atual secretário de Comunicação, Weligton Moraes, relembra da época em que trabalharam juntos no Executivo local. “Companheiro de equipe competente, com muita sensibilidade técnica. Washington Novaes revolucionou o setor público com as causas ambientais na Secretaria de Meio Ambiente”, destaca o gestor. Antes de ocupar o cargo no GDF, Novaes atuou também na campanha eleitoral de Joaquim Roriz para o primeiro mandato do ex-governador, em 1990. Teve sua participação no poder público por dois anos e deixou o governo para dedicar-se à militância.
O produtor de televisão e publicitário Hamilton Carneiro, 72 anos, conta com muito orgulho o trabalho do jornalista em Goiás. “Eu não vejo ninguém com a sabedoria dele no jornalismo ambiental. Ele entrou no ramo quando só se falava em desmatamento. E fez diferente: procurou conscientizar sobre as causas ambientais e na defesa do Cerrado”, ressalta Hamilton Carneiro. O publicitário lembra que conheceu Washington em 1984. Os dois trabalharam juntos e a amizade foi transformada em admiração ímpar. Hamilton não sabia da doença de Novaes e a notícia da morte o pegou de surpresa. “Foi um susto muito grande. Ele deixa uma saudade muito grande, é uma perda irreparável”, pontua.
Marco
O jornalista e ex-secretário de Cultura e de Comunicação do Distrito Federal Silvestre Gorgulho afirma que o trabalho de Novaes tem relevância fundamental para o ambientalismo no Brasil. “Quantas pessoas ele conscientizou com matérias, livros e documentários? Quantos artigos ele escreveu e quantas pessoas repensaram ações após ler as matérias dele? Por causa dele que, em 1989, criei a Folha do Meio Ambiente (site de notícias voltadas às questões ambientais)”, analisa Gorgulho.
Segundo o comunicador, Washington era uma pessoa disponível que tinha um vasto conhecimento no que fazia e defendia. “Ele nunca parou de estudar. Para mim, Novaes foi mais que um professor, mas um amigo e um orientador. Eu aprendi muito com ele. Sou grato e sinto a passagem dele, mas o legado fica”, ressalta.
O cineasta e filho de Washington João Novaes relembra com bastante carinho e emoção momentos que passou com o pai. “Um dos momentos que mais me marcaram foi quando eu cursava filosofia. Tinha entre 20 e 21 anos e ele estava produzindo uma série que se chamava Desafio do lixo, na TV Cultura. Pegamos um carro e viajamos da Itália até a Noruega vendo todas as soluções para o problema do lixo. Foi nessa viagem que fui mordido pelo audiovisual”, afirma.
Dos quatro filhos que Novaes deixou, três foram para o audiovisual e tiveram a possibilidade de trabalhar com o pai em projetos de relevância. Entre eles está a série Xingu — A Terra Ameaçada, produzida em 2006, duas décadas após o primeiro documentário com as tribos indígenas. João conta que esse trabalho também o marcou muito. Em uma das aldeias, a proximidade com a família Novaes e o peso que o trabalho de Washington tem em relação às causas indígenas conquistaram a tribo kuikuro que realizará a cerimônia Kuarup — um ritual indígena de despedida aos mortos. A informação foi revelada pelo filho João Novaes.
“Não podia ter pedido um pai melhor. Um exemplo de ética e coragem para lutar, como Dom Quixote na briga contra os transgênicos, amianto e na defesa pela água e pelo cerrado. Um modelo civil e o legado que ele deixa influenciou o jornalismo. Para mim, ele continuará sendo um ídolo”, diz. Um livro de memórias será publicado em breve pela família.
Em uma cerimônia intimista, o corpo do jornalista foi velado na tarde de ontem na presença de familiares e amigos bem próximos. Ele será enterrado hoje, na cidade de Vargem Grande do Sul, interior de São Paulo, região onde Washington nasceu.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), lamentou a morte de Novaes nas redes sociais. No Twitter ele escreveu: “Perdemos uma referência no jornalismo ambiental”. No Facebook, Caiado se solidarizou e prestou apoio a amigos e familiares.