Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 07 de junho de 2020

ADRIANA CALCANHOTO: CAOS EMRIMAS

Jornal Impresso

Adriana Calcanhoto: Caos em rimas
 
Cantora resume a quarentena no álbum Só. Ao Correio, ela fala do processo de criação, da homenagem a Moraes Moreira e do que pensa do mundo pós-pandemia

 

» Adriana Izel

Publicação: 07/06/2020 04:00

 

"Além de ter feito um álbum, acho que a minha quarentena está igual a de todo mundo"

 

 
Sobreviver mentalmente e psicologicamente à quarentena imposta pelo combate ao novo coronavírus muitas vezes quer dizer estabelecer rotinas. Foi isso que a cantora Adriana Calcanhotto fez. Ela acordava todos os dias, botava uma roupa e ia produzir. Assim surgiu Só, disco com nove canções autorais e inéditas todas compostas durante o isolamento social passado pela artista no Brasil, acabou sendo impedida de retornar a Coimbra, cidade universitária portuguesa onde dá aula.

Mesmo sendo resultado do caos pandêmico, Só é um disco solar e ritmado. Adriana Calcanhotto brinca com as batidas do funk e até com as expressões do ritmo, como em Bunda lê lê, gravada em parceria com Dennis Dj. Também há samba no disco, vertente sempre abraçada pela cantora, além, claro, da MPB própria da trajetória da artista. Nas letras, Adriana consegue ser atual, falar de sombras, e também de esperança. É o caso de Corre o munda em que fala da saudade de Coimbra e do desejo de retornar: “Não permita Deus que eu morra sem voltar”.

Só é ainda um disco feito em homenagem a Moraes Moreira, que morreu neste ano e, por conta da covid-19, acabou não tendo a despedida que merecia, e também uma forma de Adriana Calcanhotto participar da rede de solidariedade que cresceu na pandemia. Toda a renda das músicas será revertida a instituições de caridade e uma delas a equipe da cantora também afetada no isolamento.

Ao Correio, Adriana Calcanhotto fala sobre o processo de composição do disco no isolamento social, da homenagem a Moraes Moreira e até divaga sobre o mundo pós-pandemia. “Muito se fala em “voltar ao normal”. Para mim essa ideia de “voltar” não funciona, já é outro mundo”, define.


Só foi um álbum criado na quarentena sobre o isolamento. 
O que te motivou mesmo em meio ao caos criar este disco?
Foi justamente o caos, a pandemia, o pandemônio e a incerteza quanto ao futuro.
 
Como foi o processo de criação das músicas e 
também de gravação com os desafios do isolamento?
Fiz uma canção por dia, sempre pela manhã. Eu acordava, botava uma roupa e ia produzir. Estava disposta e, de certa forma, condicionada a fazer isso porque era o que estaria fazendo se tivesse ido a Coimbra. Comecei a trabalhar em cima das músicas, mandei as faixas para o Arthur Nogueira, coloquei os músicos no circuito e fomos ajustando, tudo dentro do tempo da urgência, que não é comum para mim. É um álbum composto, produzido, gravado e mixado em 43 dias, tudo de maneira remota, cada um na sua casa.
 
As canções têm bastante influência das batidas  eletrônicas e do funk, tendo até participação do Dennis Dj. Também há o batuque do samba. O que te fez seguir nessa sonoridade que transita entre os ritmos?
Gosto da mistura, da polirritmia, acho importante explorá-la. Para mim, tudo é samba. Desde quando gravei Fico assim sem você, em 2004, eu venho tocando a batida do funk no violão, por exemplo. Para essa faixa específica, Bunda lê lê, eu quis fazer uma brincadeira com as palavras que o funk usa, “senta”, “vai” e “bunda”.
 
Apesar de falar da quarentena e de expor a parte sombria, 
as faixas têm uma mensagem positiva. Você quis 
que o material fosse um escape e uma reflexão?
Na verdade, ele não nasceu como álbum, eu não pensava nisso. Eu simplesmente acordava com uma disposição de agir. Foi tudo acontecendo de maneira bastante natural. Quando vi, as canções eram uma safra e todas tinham o mesmo pano de fundo.
 
Fica bem claro que a quarentena te impediu de voltar para
Coimbra. sso te fez perceber 
ainda mais conexão com a cidade?
Sem dúvida. Eu pensei “eu estou em casa, não sei se vai ter mundo, não sei se voltarei a Coimbra”, e me vieram os versos da canção do exílio, Corre o munda, no mesmo momento. Acho que a conexão fica bastante explícita: “não permita Deus que eu morra sem voltar”.
 
Neste momento muitos artistas apostam nas lives.
Você pretende fazer mais shows virtuais? 
Como enxerga esse formato?
Pretendo, sim. É um formato desafiador, fiquei muito feliz de estar nesse universo. Claro, a catarse de uma plateia em um show ou no teatro não pode ser substituída. Mas a energia que eu senti quando acabei a live do Sesc foi a mesma sensação física de ter feito um show. Acho que esse momento potencializa o jeito de se fazer isso.
 
O disco também tem um aspecto social com a renda revertida
para uma instituição. omo você 
vê essa onda de solidariedade
do mundo? 
E para qual instituição será doada?
Com tudo que estamos vivendo, há essa possibilidade e oportunidade das pessoas aprenderem solidariedade e civilidade. A empatia, na verdade, acho muito difícil a pessoa adquirir. Se ela não é empática, ela não é. Sobre as doações, são várias instituições. Cada música tem suas rendas revertidas para uma instituição diferente, Redes da Maré, Coletivo Papo Reto, A Rocinha Resiste e várias outras. Lembrando da Estrada, por exemplo, é toda revertida para a minha equipe.
 
Você presta um tributo a Moraes Moreira no álbum. Alguns artistas têm feito esse papel de homenagear 
os nossos eternos que se foram, já que as autoridades não o fazem. Como você enxerga tudo isso que vem 
acontecendo na cultura mesmo em meio a um problema tão sério como a covid-19?
Pois é. Moraes Moreira não morreu de covid-19, mas ele morreu durante a quarentena, o que fez com que a gente não pudesse se despedir, nem eu pessoalmente, nem o Brasil todo. A situação do Brasil em meio à pandemia é péssima em todas as áreas, em todos os sentidos. E isso não é nem uma avaliação minha, são os fatos.
 
Como você vislumbra o mundo pós-pandemia?
Muito se fala em “voltar ao normal”. Para mim essa ideia de “voltar” não funciona, já é outro mundo. Essa coisa de viver cada dia de uma vez é, de certa forma, o preço do que estamos vivendo. Quando voltarmos ao anormal, porque o que vivíamos não tinha nada de normal, acredito que daí, enfim, poderemos criar uma realidade nova.


De Adriana Calcanhotto. 
Minha Música, 9 faixas. Disponível nas plataformas digitais.

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