Aos 72 anos, com a conhecida autenticidade, Rita Lee volta a preencher as prateleiras literárias com um toque de narrativa infantil. A primeira série de livros juvenis lançada por Rita, em 1986, recebeu o nome Dr. Alex e contou com quatro exemplares, sendo o último divulgado em 1992. Dando voz à criatividade aflorada, a paulista recriou dois episódios da saga: Dr. Alex e o Phantom é um título novo para Dr. Alex e o Oráculo de Quartz (1992) e Dr. Alex e os Reis de Angra, originalmente divulgada em 1986.
A história do ratinho Alex não surgiu pensada para o livro. O animal existiu e foi adotado por Rita Lee quando os três filhos dela eram pequenos. “Na hora de ir para a cama, eu inventava historinhas sobre as aventuras de Alex. Isso foi nos anos 1980. Foi daí que pensei em escrever quatro livrinhos para outras crianças também curtirem o mundinho do ratinho”, relembra a escritora, ao Correio. O personagem principal da trama é um roedor pacifista, que luta por igualdade para todos.
Naquela época, segundo ela, não eram comentados temas relacionados ao meio ambiente, por isso o interesse da Globo Livros em publicar o conteúdo. O objetivo do conteúdo, acompanhado de ilustrações de Guilherme Francini e Quihoma Isaac, é conscientizar o público infantil de que a natureza está sendo destruída. Para Rita, dar voz aos animais, como feito em Dr. Alex, mostra ao leitor que “não se deve tratar bichos como se fossem coisas”.
“Não é de agora que a Amazônia vem sendo estuprada por gananciosos. Mas, hoje, o que se vê no noticiário é que vão ‘passando a boiada’ na moita e fazendo cara de paisagem, como se nada grave estivesse acontecendo. E ainda há quem ache que os defensores do meio ambiente são uma gentinha desocupada”, destaca a autora.
Quando questionada sobre as mudanças sociais percebidas desde a publicação dos primeiros livros, Rita Lee explica que os assuntos tratados em Dr. Alex, como a proteção da fauna e flora brasileira, têm mais pressa em serem abordados e resolvidos. “A destruição só aumenta. O mundo inteiro está de olho e cobrando atitudes firmes quanto às queimadas, aos desmatamentos, aos garimpos ilegais, ao genocídio do pouco que resta da rica cultura dos indígenas e por aí vai”, considera a artista.
Mas, além da temática recheada de temas engajados, a leitura é leve e os desenhos, coloridos. A artista inseriu mágica à narrativa e “fofura” às personagens. “Os quatro livrinhos do ratinho são para crianças mais novas — os pais lerão para elas —, e também para a gurizada que sabe ler. Com as ilustrações fofas, elas também viajam no visual da história. Crianças querem levar um papo de igual para igual”, conclui Rita Lee.
Toque de cor
Guilherme Francici e Quihoma Isaac foram os responsáveis pelo projeto visual das obras Dr. Alex e o Phantom e Dr. Alex e Os Reis de Angra, respectivamente. Para os desenhos, os artistas preocuparam-se em utilizar a linguagem fantasiosa para retratar os temas polêmicos.
Para Guilherme, a intenção é de que o leitor se imagine parte da história e tenha a experiência de ser amigo do ratinho Alex e da vovó Ritinha. “Coube a mim dar um rosto para cada um deles e retratar os acontecimentos de forma bonita, sensível e respeitosa”, diz o ilustrador.
Para Quihoma, cada página desenhada foi uma grande surpresa mágica. O pensamento dele, durante o processo criativo, era de que a obra ficasse com a cara dos livros que ele lia na infância. “Em uma, eu estava pintando um índio; na outra, um pigmeu albino; na seguinte, sereias douradas… Me diverti muito fazendo”, comemora o artista.
*Estagiária sob a supervisão de Igor Silveira