Brasília é uma cidade em que eventos artísticos, principalmente os da área musical, são prestigiados por expressivas e participantes plateias. Há mais de três meses, shows, concertos e espetáculos do gênero deixaram de ser realizados por causa da disseminação do novo coronavírus, que privou os espectadores de uma das principais alternativas de entretenimento e de fruição da cultura na capital.
Em isolamento social e com a remota expectativa do retorno dessa atividade, os amantes da música mesmo diante da impossibilidade usufruí-la presencialmente, continuam a tê-la como acalanto, ao assistir a lives, a programas de televisão e ao acessar o conteúdo sobre o assunto disponível nas plataformas digitais. Ouvidas pelo Correio algumas dessas pessoas falaram também da rotina que mantêm durante a interminável quarentena.
Orly Burgos (Diplomata)
— “Mantenho o saudável hábito de assistir aos concertos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, no Cine Brasília. Isso é algo que me faz muita falta agora, em tempo de pandemia. O último que presenciei foi no começo de março, em que o programa tinha como destaque obra de Igor Stravinsky”, frisa a primeira secretária da Embaixada da República Dominicana. Ela diz que, recentemente, viu uma live da orquestra, que tem Cláudio Cohen como maestro. A diplomata atua na produção da Mostra Latina-Americana e Caribenha de Cinema, que foi realizada em outros anos também no Cine Brasília. A edição de 2020 voltou a ocorrer de 1º a 3 deste mês no formato on-line, com exibição dos filmes pelo canal Grulac Brasil.
Natália Dantas (Psicóloga)
— Logo que o Samba Urgente surgiu, em 2018, Natália Dantas começou a prestigiar o coletivo de instrumentistas que comanda esta concorrida roda de samba. “O fato de o Samba Urgente ocupar o espaço urbano da cidade ganhou a minha simpatia desde o começo. Além disso, vejo-o como algo democrático e inclusivo, que prega o respeito à igualdade e ao amor”, salienta a psicóloga, que fez muitas amizades no evento. Ela elegeu a edição ocorrida na área da piscina de ondas, no Parque da Cidade, como a melhor de todas, principalmente pela participação inesperada da cantora paulistana Paula Lima. “As lives ocupam parte do tempo durante o isolamento social, mas nada se compara a troca de energia, que o Samba Urgente proporciona”, sublinha.
Ayres Britto (Jurista)
— Frequentador assíduo do Clube do Choro, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ayres Britto guarda na memória shows de João Donato, Armandinho Macedo, Hamilton de Holanda e outros grandes músicos brasileiros que assistiu naquele espaço cultural localizado no Eixo Monumental, onde possui mesa cativa, em que teve como convidados os também ex-ministros do STF Joaquim Barbosa e César Peluzzo. Presença constante também no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ele se recorda de apresentações de Caetano Veloso, João Bosco, Djavan e Ivan Lins. Enquanto espera a retomada das atividades artísticas, mesmo sem saber quando, o jurista ouve música, lê livros e escreve poemas. Poeticamente observa: “Estou batendo pernas dentro de mim mesmo, conversando com os próprios botões e dando voltas nos quarteirões de minha alma”.
Bruno Nere (Tatuador)
— O rock dos anos 1990 e as batidas eletrônicas têm a preferência de Bruno Nere, que costuma ouvir estes estilos musicais em festas temáticas LGBTS, como a Toranja e outras que ocorrem na Birosca, no Conic. “Me identifico mais com eventos voltados para o público alternativo, que é formado por pessoas respeitosas e conscientes com as quais tenho maior interação. São essas festas que, no período da necessária quarentena, fazem falta para alguém como eu, que tem o hábito de sair à noite, para me socializar”, ressalta. “Além de me dedicar ainda mais ao estudo da arte de tatuar, tenho feito pouca coisa. Dia desses, fui a uma cachoeira com um amigo, e só”, complementa.
Yan Cláudio (Vestibulando)
— De gosto eclético, o estudante Yan Cláudio tem preferência por festivais que reúnem artistas de diferentes estilos musicais. Como este ano a programação musical foi interrompida logo depois do carnaval, ele diz que não assistiu a nenhum show que considerou importante. “Em 2019, assisti a apresentações de Ney Matogrosso, no CoMa (na área do Complexo Cultural da Funarte); e de Iza, no Pavilhão Luz (Estádio Nacional Mané Garrincha), que foram especiais. Trabalhei, como freelancer, no Festival Melanina e pude curtir a black music que faz a trilha sonora deste projeto”, lembra. “Estou sentindo muita falta de shows ao vivo e de encontrar os amigos”, reforça.