Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 31 de agosto de 2020

À ESPERA DA PRIMAVERA

Jornal Impresso

À espera da primavera
 
 
Ipê-amarelo e outras florações invadem os espaços públicos de Brasília e reforçam a ideia da renovação e da resiliência

 

Ana Maria da Silva*

Publicação: 31/08/2020 04:00

Andrea Porto e as filhas Maitê e Gabriela: %u201CValorizar as pequenas coisas, além de respeitar a natureza e o meio ambiente%u201D

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  

Andrea Porto e as filhas Maitê e Gabriela: "Valorizar as pequenas coisas, além de respeitar a natureza e o meio ambiente."

 

 
A baixa umidade seca a paisagem de Brasília, mas a proximidade da primavera, em setembro, dá sinais de que a renovação se aproxima. Os caminhos abertos pelo ir e vir apressado dos trabalhadores ficam ainda mais evidentes nos traços do gramado da Esplanada dos Ministérios. O frio castiga logo cedinho e o calor e a secura da tarde não perdoam! Sim, a estiagem é sentida na pele...
 
Mas nem tudo é aridez na capital do país. É justamente quando o brasiliense implora por uma gota de chuva que a floração de diferentes árvores enche o dia de alegria. A estimativa é de que no cerrado existam mais de 12 mil espécies de plantas, sendo que 5,1 mil são apenas no DF, que são as chamadas espécies endêmicas. Segundo dados de 2020 da Flora do Brasil, o DF, inserido no cerrado, reúne, aproximadamente, 3,4 mil espécies de angiospermas — conhecidas como plantas com flor.
 
Tímidas ou exuberantes, as pétalas surgem no jardim da dona de casa Eldomira Pereira Teixeira, 74 anos. Orquídeas, rosas e bromélias fazem parte da pluralidade de um jardim que, durante a pandemia, tornou-se o mundo preferido da senhora. Amante da jardinagem, Eldomira tem uma terapia no quintal. “É uma distração, porque precisamos zelar, cuidar. Quando vejo um brotinho, já fico feliz. É uma ocupação, algo que precisamos ter para não ficarmos tristes”, diz.
 
A flor da espécie Tibouchina granulosa leva cor às ruas de Vicente Pires (Arquivo Pessoal
)  

A flor da espécie Tibouchina granulosa leva cor às ruas de Vicente Pires

 

 
A flor da espécie Cassia grandis colore o jardim da Quadra 504, no Sudoeste (Arquivo Pessoal)  

A flor da espécie Cassia grandis colore o jardim da Quadra 504, no Sudoeste

 

 
A dona de casa explica que sempre gostou de cuidar das plantas, mas, na pandemia, a dedicação aumentou. “A idade vai chegando e passamos a procurar novas ocupações. As plantinhas nos passam carinho, nos trazem muitas recordações boas, de momentos, pessoas”, afirma. “Eu sinto muita felicidade. Podemos ver, através de uma rosa, o quanto Deus é divino. Uma planta dentro do lar traz muita alegria, assim como uma criança dentro de casa”, compara.
 
Segundo Estevão do Nascimento Fernandes de Souza, diretor de Gestão Integrada da Biodiversidade e Conscientização Pública do Jardim Botânico de Brasília, a floração das plantas neste período de seca está relacionada a diferentes motivos, e tem sempre como objetivo reprodução da espécie, seguido pela produção de frutos e posterior dispersão das sementes.
 
“Pode estar relacionado à proteção das flores, que poderiam cair com uma chuva muito forte, a quantidade de ventos que podem auxiliar na dispersão de alguns tipos de sementes, e até mesmo no desenvolvimento delas, pois, depois de dispersão, vão cair no chão e começar a germinar, terminando esse processo quando as chuvas estão chegando e o clima ficando mais favorável”, diz.
 
A dona de casa Eldomira Pereira Teixeira curte as flores que começam a surgir em casa (Arquivo Pessoal
)  

A dona de casa Eldomira Pereira Teixeira curte as flores que começam a surgir em casa

 

 
De acordo com Estevão, as árvores nas cidades são de extrema importância.  “A diversidade de espécies vegetais contribui para uma diversidade na fauna, com diferentes frutos, atraindo diferentes animais como pássaros ou outros dispersores”, relata.
 
Ipês
Aos poucos, eles surgem. Um ponto amarelo aqui e outro ali. Admiradores dos ipês aproveitam para sair às ruas e curtir a floração. É o caso da psicóloga Andrea Porto, 44,  mãe das estudantes Maitê, 10, e Gabriela, 6. Ela conta que aproveita horários tranquilos da semana e do dia para contemplar a natureza, observar o cerrado e suas belezas. “É um momento para perceber que, mesmo no período da seca, a natureza encontra recursos para sobreviver”, diz. A psicóloga explica que faz passeios com as filhas desde pequenas: “É uma meditação contemplativa. Todos os anos repetimos as fotos nos ipês. Além de uma linda memória visual, criamos memórias afetivas”, ressalta.
 
Em meio à pandemia, Andrea diz que encontrou, nos ipês, uma ferramenta de ensinamento de grandes virtudes para as filhas. “Creio que, neste período de isolamento, podemos aprender com eles sobre adaptação e resiliência, que florescem e nos encantam, mesmo no período mais crítico da seca”, afirma. Os momentos de aprendizado trouxeram grandes frutos para Maitê e Gabriela, conforme explica a mãe. “Aprenderam a valorizar as pequenas coisas, além de respeitar a  natureza e o meio ambiente. (A floração) Trouxe serenidade e esperança, nos permitiu ver o belo mesmo nas situações difíceis”, completa.
 
A bióloga e mestre em ecologia Paula Ramos Sicsú explica que os ipês florescem em períodos diferentes. O primeiro a florir é o roxo, seguido do amarelo, do branco e, por último, o rosa. “É normal que eles não floresçam no mesmo período, porque isso é uma vantagem evolutiva, tanto para os polinizadores, que terão comida por mais tempo, quanto para as plantas, que, ao longo da evolução, acharam por bem o espaçamento para que garantissem a produção das estruturas reprodutoras”, destaca.
 
Segundo Paula, há períodos críticos, também, nos quais algumas espécies podem ser encontradas fora da época. “Às vezes, teremos amarelo ou rosa fora da época, mas, em geral, eles vêm juntos, estão síncronos. A variabilidade é algo natural”, afirma. Para a bióloga, independentemente da cor, o importante é aproveitar a beleza das árvores. “Particularmente, gosto bastante que cada espécie floresça em um período distinto. Assim, podemos apreciá-los com exclusividade e a beleza se alterna enquanto perdura por mais tempo. Quase como acompanhar de forma particionada a composição de um arco-íris”, completa.
 
*Estagiária sob supervisão 
de José Carlos Vieira

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