FUTEBOL FEMININO
MAÍRA NUNES
Publicação: 12/06/2021 04:00
Texto do time repudiou violência contra a mulher: %u201Cvítimas de abusos que vão contra os nossos princípios de igualdade e construção de um mundo justo%u201D |
Uma semana após ter vindo à tona a denúncia de uma funcionária da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) contra o presidente da entidade, Rogério Caboclo, por assédio sexual e moral — a investigação culminou no afastamento do cartola do cargo —, a Seleção feminina manifestou-se contra o assédio, de forma clara e firme. Ontem, o time venceu a Rússia, por 3 x 0, no penúltimo amistoso antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, com início marcado para julho. Mas a vitória mais marcante foi antes mesmo de a bola rolar, quando jogadoras e comissão técnica, todos juntos, entraram no gramado com uma faixa com os dizeres “Assédio não!”.
Antes de o jogo começar no Estádio Cartagonova, em Cartagena, na Espanha, as atletas da Seleção publicaram nas redes sociais um manifesto sem meias-palavras repudiando a violência contra a mulher. “Todos os dias no Brasil, milhares de pessoas são acometidas e desrespeitadas com cenas de assédio, seja moral ou sexual, especialmente nós, mulheres. São brasileiras e brasileiros, vítimas de abusos e atos que vão contra os nossos princípios de igualdade e construção de um mundo mais justo”, disse parte do texto divulgado.
Na véspera do amistoso, a técnica da Seleção feminina, Pia Sundhage, comentou sobre a seriedade do caso e como ele foi conduzido internamente. “Primeiro, informamos formalmente às jogadoras sobre o que havia ocorrido e elas puderam conversar e terem a opinião delas. Cada um de nós deve ser responsável pelas suas respostas”, disse a sueca, em coletiva de imprensa. Ontem, ela estava junto à equipe no posicionamento formal. Durante os 90 minutos, as brasileiras foram superiores, dominaram a posse de bola e construíram a vitória com dois gols de Bruna Benites e um de Andressa Alves.
Ao fim do jogo, a atacante Marta, principal referência do time canarinho, reforçou o quanto atletas e comissão técnica estão alinhadas. “Resolvemos mostrar a nossa opinião, porque somos, obviamente, contra qualquer tipo de assédio, sem fazer pré-julgamento. Os fatos estão aí para serem apurados, mas nós necessitamos mostrar o nosso posicionamento e fizemos em conjunto, como fazemos em todas as outras situações”, disse a camisa 10 do Brasil.
Contraditoriamente, a gestão de Rogério Caboclo à frente da CBF foi a que promoveu as maiores iniciativas por igualdade na entidade no âmbito da modalidade. Neste mês, o presidente afastado anunciou o primeiro patrocinador exclusivo da Seleção e do Brasileirão femininos. Foi ele também quem divulgou, em 2020, o pagamento de diárias equivalentes a jogadoras e jogadores na Seleção, sempre com discurso de tratamento igual entre homens e mulheres. A própria técnica Pia, bicampeã olímpica, foi trazida pelo atual presidente, que teria pensado no nome dela e feito o convite, em 2019, após o sucesso da Copa do Mundo, na França.
Entretanto, como pontuou o manifesto das jogadoras, “dizer não ao abuso são mais que palavras, são atitudes”. As atletas fizeram o que também espera-se dos clubes e federações de futebol, inclusive os que já levantaram essa bandeira em jogadas de marketing anteriormente, em dias comemorativos. As atletas da Seleção feminina deixaram claro que “encorajam que mulheres e homens denunciem”. Afinal, como elas concluem no protesto, a luta pelo respeito e igualdade vai além dos gramados.