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Aulas de balé são ministradas de segunda a sexta-feira, com diferentes valores e horários
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Itan é o termo utilizado para designar o conjunto de todos os mitos, canções, histórias e outros componentes da cultura iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental. Culturalmente, esse conjunto é passado de geração em geração. Uma referência ao termo é aplicada, desde julho, em um projeto de dança afrocontemporânea no Centro de Dança do Distrito Federal: o projeto Itans, um curso gratuito que explora ritmos e expressões corporais para formar multiplicadores em dança e cultura negra. A iniciativa é promovida pelo Instituto Casa da Vila e apoiada pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
A educadora física Heloísa Adão, 40 anos, é uma das alunas. Ela reforça a importância da gratuidade do curso e confessa que, no início, se emocionava bastante ao final das aulas. “É algo que eu não achei que pudesse fazer, mas está me trazendo um crescimento, ajudando a minha saúde, meu condicionamento, e ajuda a levar essa nova informação para os meus alunos, já que trabalho bastante essa questão da consciência negra em sala de aula. Quem está aqui está levando a sério, e é muito importante o curso ser gratuito, porque abriu portas para pessoas que não têm condições de participar.”
Radicado na capital desde 1996, o professor Paulo César ministra o curso às terças, quintas e sábados. “A pretensão é formar jovens adultos de diversas cidades-satélites para serem referências e multiplicadores dessa prática. Em Brasília, existem poucos professores dessa dança específica, então eu realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF para fazer com que a sociedade fique mais diversa e mais informada em relação à cultura. Às vezes, as pessoas não conhecem a dança negra e confundem com a religião, e o que nós fazemos aqui é arte, não religião”, ressalta.
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A professora Micheline frequenta o Centro de Dança desde a inauguração, em 1993: 'Ensaiava aqui'
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'Realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF', diz Paulo César
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Representatividade
A atuação tem como base as culturas de matriz africana e aborda temas como história e fundamentos da dança negra; noções de fisiologia e consciência corporal; construção de movimentos a partir da história; simbologia de danças ritualísticas; composição e sequências coreográficas; improvisação e criação de performances e apresentações públicas. Ao término, os participantes receberão um certificado.
Paulo explica que houve uma pré-seleção dos candidatos, e muitos desistiram por achar que não haveria cobrança. Por se tratar de um curso de formação, as aulas são bastante intensivas. “A forma de trabalhar o corpo negro é um pouco diferente, tem que ter algo além. Nós realizamos exercícios específicos para quadril, tronco, pernas. As chamadas são regulares, e o aluno pode ter até três faltas no mês”, pontua.
O professor de artes visuais da Universidade de Brasília (UnB) Nelson Inocencio, 58, ficou sabendo do curso por meio das redes sociais e, por já ter feito uma oficina com um outro professor do Centro de Dança há 10 anos, não perdeu a oportunidade de participar. “Fiquei muito animado depois que percebi a densidade da proposta, e isso me deu mais vontade de me envolver. Em uma sociedade tão complexa onde o racismo perdura, é fundamental olhar para a diversidade dos saberes negros e tentar aprender com essas experiências. Eu espero concluir o curso para me tornar um multiplicador e trabalhar esses conhecimentos com as comunidades negras” destaca.
Maritza Guilherme, 24, que também é educadora, garante que o exercício é benéfico para diversas áreas da vida e espera que seja o pontapé inicial para a imersão em outros espectros da cultura negra. “Isso tudo vai além do mover-se. É uma forma de saber através do corpo que reverbera nas esferas mais complexas. É uma imersão que faz com que nós estabeleçamos uma energia em grupo através da dança.”, exalta.
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Michele foi em uma aula experimental e decidiu se matricular na dança
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Todo tipo de dança
Além do projeto, o Centro de Dança tem sido espaço multiplicador de outras modalidades artísticas. O local, reinaugurado em fevereiro de 2018 após cinco anos de portas fechadas para reparos, ainda está em adaptação para as novas atividades. Atualmente, são oferecidas aulas de balé, jazz, samba e tango. Para 2020, a intenção é ampliar a oferta de cursos, workshops e eventos, principalmente ações gratuitas que atendam a comunidade.
“A ideia é que aqui possa ter uma diversidade maior, assim como melhorou em relação a 2018. Ano passado não tinha nada de dança africana, agora são três atividades, duas com fomento cultural”, afirma o responsável pela programação do Centro de Dança, Aghatto dos Santos. Ele explica que atualmente as atividades oferecidas são baseadas em propostas de profissionais da dança feitas diretamente ao Centro. Em 2020, o processo deve ser feito mediante um edital de chamamento público. “Entre os critérios, terá prioridade quem oferecer alguma quantidade de aulas gratuitas. Quanto mais aberto para a comunidade, melhor vai ser.”
Clássico acessível
Outra modalidade que tem sido ofertada no Centro de Dança é o balé, com aulas comandadas pela professora de dança Micheline Santiago, 46. Ela conta que decidiu começar o projeto para proporcionar o ensino da vertente clássica para pessoas de outras áreas artísticas. “Pensei em receber pessoas que vêm do teatro, do espetáculo com improvisação, ou da dança de rua, e se interessam em aprender um pouco do clássico”, afirma.
A procura dos que não têm experiência em dança também surgiu. Ela garante que todos são bem-vindos. “O perfil da turma é eclético. Tem quem já dançou por muito tempo e agora quer voltar, e tem iniciante, mesmo, que chegou adulto e tem vontade de começar a explorar a dança”, conta. Para quem ainda não tem experiência, a bailarina lista alguns dos benefícios propostos pela prática e faz o convite para que se experimente as aulas que ocorrem às terças e quintas, no horário de almoço: “Dança é autoconhecimento, é você saber sobre o seu corpo. Saber como se movimenta, como se manifesta. É uma forma de se comunicar com o mundo também, porque o corpo é uma interface entre você e o mundo. Você proporcionar isso é um presente que você dá para você”.
A relação de Micheline com o Centro de Dança começou na época da inauguração, em 1993, quando fazia ensaios no local junto ao grupo Cio da Dança. “Meus anos de bailarina profissional foram ensaiando aqui. É um espaço muito importante, e a gente sentiu muita falta dele quando foi fechado. É importante ter um espaço que possibilite trabalhar bem, com espaço e chão adequados. A reabertura foi fundamental para os profissionais de dança da cidade”, ressalta.
Michele Bezerra, 42, foi pela pela primeira vez ao espaço cultural no dia em que a reportagem acompanhou a aula. Ela decidiu fazer uma lição experimental de balé após a recomendação de um amigo e garante que vai continuar a frequentar as classes. “Eu amei e vou me matricular. Nunca fiz balé, até achava impossível na fase adulta, mas depois da aula, vi que não”, afirma.
O amigo que a convidou é o baiano Alipio do Prado, 38. Ele está na turma de Micheline há quase um ano e só tem elogios sobre a experiência. Nem o fato de ser o único homem nas aulas o incomoda. “Para mim é indiferente. No momento do balé, tento ser meditativo e estar presente no que estou fazendo. Tento me concentrar ao máximo no movimento, não fico atento a quem está do lado”, compartilha o fisioterapeuta, acrescentando que as aulas fazem diferença na rotina. “É um momento em que você para e ganha qualidade física, dá risada. É um trabalho do lúdico. Também cresce, dá alegria e qualidade de vida.”
Assim como os dois novos dançarinos, Bárbara de Oliveira, 24, está em sua primeira experiência no balé. Ela começou as aulas há pouco mais de três meses, mas diz já ter se encontrado na dança. Para a psicóloga, fazer balé era um sonho antigo, não realizado na infância devido aos altos custos. “Na época era muito caro, parecia uma coisa muito distante”, diz. “Aí eu tinha uma ideia de que, se eu não comecei quando criança, não dava mais. Mas essa vontade não passou. Aí eu disse: ‘vou fazer’”, complementa.
*Estagiários sob supervisão de Fernando Jordão