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O artista plástico no museu que leva seu nome, no bairro da Várzea, em Recife (PE), em novembro de 2016
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A arte brasileira perdeu um nome fundamental ontem com a morte do artista plástico Francisco Brennand, que faleceu, aos 92 anos, em decorrência de complicações de uma infecção respiratória. Ele estava internado havia 10 dias no Real Hospital Português de Recife, diagnosticado com um quadro grave de pneumonia. O velório ocorreu no mesmo dia na Capela Imaculada Conceição, que fica na Capela da Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, em Recife, em cerimônia aberta para o público. Hoje, às 10h, será a cerimônia de cremação do corpo do artista, no Cemitério Morada da Paz, aberta apenas para a família e convidados.
O governo de Pernambuco decretou luto oficial de três dias em homenagem a Francisco Brennand. A Assembleia Legislativa do estado fez um minuto de silêncio em decorrência da morte do artista. Nas redes sociais, alguns famosos se pronunciaram, como o cantor pernambucano Johnny Hooker: “Que Francisco voe livre para o Universo. O que é lembrado fica”, escreveu o músico no Twitter. Hooker também lembrou do documentário em curta-metragem sobre o artista Brennand — De Ovo Omnia, dirigido pela mãe do cantor, Liz Donovan.
Conhecido por esculturas gigantes, Brennand deixa vasto legado para a arte, com mais de 80 painéis em prédios públicos no Brasil e em outros países. Destacam-se os murais do Aeroporto internacional dos Guararapes, em Recife, e da sede da Bacardi, em Miami; um museu que leva o nome dele em Recife; além de mais obras na cidade natal do artista, como as expostas no Marco Zero. Ao todo, o escultor assinou 90 trabalhos no local que ficou conhecido em Recife como Parque das Esculturas.
Trajetória Francisco Brennand nasceu no bairro da Várzea, em Recife, em 11 de junho de 1927. Filho de Ricardo de Almeida Brennand e Olímpia Padilha Nunes Coimbra, o artista viveu até os 10 anos em Recife, quando, em 1937, saiu para estudar em Petrópolis (RJ). Dois anos depois, o então menino Francisco, voltou para Recife.
O interesse por arte sempre existiu, no entanto, foi em 1942 que ele começou a ter contato com o que seria um dos marcos da carreira: a cerâmica. Aos 15 anos, ainda se descobrindo artista, ele começou a trabalhar na Cerâmica São João, fábrica fundada pelo pai. Na época, o responsável por ensinar Brennand foi o também ceramista e esculturista pernambucano Abelardo da Hora, que trabalhava para o estabelecimento.
A partir do descobrimento do interesse pela arte, Francisco Brennand se voltou à pintura e à ilustração. Ele chegou a fazer desenhos para poemas de Ariano Suassuna, amigo de escola do artista, e começou a ser acompanhado e ensinado pelo membro fundador da Academia de Belas Artes de Pernambuco Álvaro de Amorim.
Ao longo da vida, ele teve um estudo muito aprofundado nas técnicas das artes plásticas e pôde aprender com famosos mestres europeus. Andre Lother, Fernand Legèr e Murillo La Greca foram alguns dos mentores do artista durante estadia em cidades como Barcelona (Espanha), Perugia (Itália) e Paris (França).
Brennand se tornou distinto na escultura e na cerâmica. A partir de 1971, começou um trabalho de revitalização de uma antiga fábrica de telhas e tijolos da família, transformada em museu-ateliê, que atualmente concentra mais de três mil obras. Em setembro de 2019, a oficina se tornou um instituto sem fins lucrativos com foco na preservação do patrimônio e legado de Francisco Brennand.
* Estagiário sob a supervisão de Cláudia Dianni