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Imagem aérea do primeiro edifício do Correio Braziliense, no que viria a ser o Setor de Indústrias Gráficas (SIG): marco para a capital federal
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Há quase seis décadas, o Brasil dava as boas vindas ao novo Correio Braziliense. O primeiro jornal da cidade era inaugurado em 21 de abril de 1960, com o nascimento de Brasília. Dessa forma, Assis Chateaubriand, fundador do grupo Diários Associados, retomava o nome da publicação de Hipólito José da Costa (leia Para saber mais). Sessenta anos depois, o Senado fará uma homenagem ao veículo. A decisão partiu de requerimento da senadora Leila Barros (PSB-DF), aprovado em plenário (leia Quatro perguntas para). A solenidade ocorrerá em 24 de abril.
Para o Correio, é tempo de comemorar. A história, desde a construção, está guardada e protegida na biblioteca do jornal, sob o olhar vigilante de Francisco de Sousa, 57 anos, o Chiquinho do Cedoc (Centro de Documentação). Entre os arquivos históricos, ele resgata uma foto de setembro de 1959. Na ocasião, o presidente Juscelino Kubitschek despejou uma pá com cimento sobre a pedra fundamental e afirmou que “uma das mais gloriosas tradições da imprensa brasileira” iniciava as atividades ali.
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Capa da primeira edição do jornal, inaugurado na fundação de Brasília |
“O Correio foi fruto de uma aposta entre Chateaubriand e Kubitschek. Duvidando de que a capital seria entregue em 1960, Chatô disse que, se isso acontecesse, ele criaria aqui um jornal”, lembra Chiquinho. E assim foi feito. “Se Brasília não desse certo, consequentemente, o veículo também não daria e vice-versa.” Na capa da primeira edição, os Diários Associados deixavam claro: “O Correio Braziliense volta a circular depois de 137 anos”. Ali, estava o sonho de Hipólito José da Costa.
Os primeiros jornalistas moravam em barracas improvisadas no pátio do jornal. Entre eles estava Ari Cunha, que ocupou o posto de vice-presidente institucional do Correio até morrer, em agosto de 2018. “Ele tinha paixão pela cidade. Se alguém escrevesse alguma coisa errada sobre Brasília, ele ligava para a pessoa e dava uma bronca”, recorda Chiquinho.
Encontro de gerações
Ao longo dos anos, a redação do Correio Braziliense recebeu os mais variados profissionais. Severino Francisco, 65 anos, cronista e subeditor do caderno Diversão & Arte, viveu a década de 1980 entre máquinas de escrever. “Esse era um modelo de jornalismo muito mais romântico do que o que se tem hoje. Esse jornal foi muito importante para consolidar a identidade para Brasília”, ressalta.
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Operários trabalham na construção do prédio do Correio Braziliense: orgulho
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Com carinho, lembra dos colegas de várias épocas. “Era uma redação divertida e boêmia. O editor-chefe era Oliveira Bastos, irreverente e muito debochado”, conta. Certa vez, Hermeto Pascoal entrou na redação tocando. Saiu todo mundo em fila atrás dele.” Hoje, ele vê nas novas tecnologias a principal diferença. “Ainda temos força, mas agora veio a concorrência dos novos meios. É uma mudança estrutural no mundo, mas ainda temos a tradição de defender a cidade.”
Enquanto isso, os recém-chegados trazem as expectativas de trabalhar em um lugar histórico. É o caso da repórter de Economia Marina Barbosa, 26, estreante na casa. A pernambucana integra a equipe há duas semanas. “Esse é um veículo muito consolidado, em fase de unir as tradições à modernidade”, avalia. “Tenho boas expectativas. Chegar com o nome do Correio dá credibilidade extra para circular pelos corredores.”
Nascido em outubro de 1892, no estado da Paraíba, Assis Chateaubriand construiu um império chamado de Diários Associados. Nos anos 1960, diveros jornais e emissoras de rádio e tevê faziam parte do grupo. O jornalista Chatô também esteve envolvido em política, e, por indicação do então presidente JK, ocupou o cargo de embaixador do Brasil, na Inglaterra.
Chatô
Apesar da proximidade com o chefe do Executivo, Chatô fez forte oposição pública à construção de Brasília. Contudo, mudou de ideia à medida que a data de inauguração da nova capital se aproximava, passando a defender a mudança. Resolveu que aqui inauguraria os dois novos veículos de comunicação do país: Correio Braziliense e TV Brasília. E assim ocorreu.
Linha do tempo
» Setembro de 1959
Colocação da pedra fundamental no futuro Setor de Indústrias Gráficas (SIG)
» Janeiro de 1960
Início das obras
» Fevereiro de 1960
Assis Chateaubriand visita o canteiro de obras para ver como estão as estruturas dos dois prédios destinados ao Correio Braziliense e à TV Brasília
» Abril de 1960
Inauguração do jornal, com a publicação da primeira edição.
Quatro perguntas para
senadora Leila Barros (PSB-DF)
Como a senhora enxerga a importância do
Correio para a imprensa nacional e para a cidade?
O Correio Braziliense é o maior veículo de imprensa escrita da capital e tem seu aniversário junto com a nossa cidade. Está diretamente ligado à nossa história.
Por que homenagear o Correio Braziliense?
Ao fazermos uma homenagem ao veículo, estamos exaltando o valor da liberdade de imprensa no país. São 60 anos contando e registrando o nosso dia a dia. O Correio Braziliense merece ser homenageado pelo relevante papel de manter o nosso povo informado e fiscalizar o poder.
Como a senhora enxerga o papel da imprensa para a democracia?
A imprensa faz parte da engrenagem que ajuda a formar a opinião pública. O papel dos meios de comunicação está diretamente ligado ao sistema democrático. Não há como conceber democracia sem uma imprensa livre e vigorosa.
De que modo o Correio está ligado à história do Brasil?
É, sem sombra de dúvidas, um dos principais jornais diários do país. O fato de estar situado na capital faz com que o CB tenha presença diária nos três poderes. Muitas das notícias que pautam o parlamento e que são debatidas em conversas informais dos brasileiros são retiradas das páginas do Correio.
Para saber mais
Quem foi Hipólito José da Costa
Entre 1808 e 1822, o jornalista veiculou o Correio Braziliense — Armazém Literário, de publicação mensal. As cerca de 100 páginas de cada edição, impressas em Londres, chegavam de forma clandestina ao Brasil e eram lidas por um público de 500 pessoas. Tratava de assuntos como economia, cultura e teorias iluministas. A publicação de Hipólito da Costa é considerada o primeiro jornal do país.