Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quarta, 27 de novembro de 2019

ATIVISMO POR MEIO DA ARTE

 

Ativismo por meio da arte
 
 
Professor da UnB, Nelson Inocencio tem trajetória acadêmica e artística marcada pela luta contra o preconceito e pela conscientização das questões raciais

 

» Emilly Behnke

Publicação: 27/11/2019 04:00

A arte pode ser transformadora, 
se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado

 



“Ser e tornar-se negro é ter a dimensão política do que é ser uma pessoa negra no mundo. Não é só a diferença de melanina.” Essa é a visão de Nelson Fernando Inocencio da Silva, 58 anos, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Filho de pais cariocas que vieram para o centro do país transferidos, Inocencio é um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital.
 
Com 17 anos, começou a participar de grupos que buscavam construir uma identidade negra no Distrito Federal. Por meio da arte, encontrou seu jeito de contribuir. “Eu entrei na universidade já com uma formação política, que o ativismo me deu”, relata. Como calouro, em 1980, Inocencio lamentava o fato de ser uma das poucas pessoas negras do ambiente.
 
“Era tão rara a presença de estudantes afrobrasileiros que, às vezes, vinham falar comigo em inglês ou francês, achando que eu era aluno do convênio do Brasil com os países africanos”, lembra. Para ele, ser o único negro em um local não era motivo de orgulho — como ouviu de muitas pessoas. “Isso não era algo para ser celebrado”, diz.
 
Esse cenário mudou, quando comparado com 40 anos atrás. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez, a população que se declara preta ou parda passou a representar mais da metade (50,3%) dos alunos de ensino superior da rede pública. “A paisagem do câmpus tem sofrido uma mudança. Ainda não é radical, mas é importante”, opina.
 
Como professor da UnB desde 1995, ele duvida da estatística. “É uma presença mais significativa do que no passado, mas não é majoritária.” E chama a atenção para o baixo número de professores negros. “É ainda mais diminuto na carreira docente. Nós não chegamos a 5% do total, talvez nem a 3%”, calcula.
 
Tabu
 
Uma das principais vitórias da luta contra o preconceito no Brasil, segundo Inocencio, é poder colocar o racismo em pauta como um dos temas de importância nacional. Para ele, houve um “adensamento” do debate, mas ainda é um tabu. “Sou de uma época em que o mito da democracia racial era algo muito forte no Brasil. Com muita dificuldade, se admitia o preconceito racial”, comenta.
 
No fim da década de 1970, em pleno regime militar, ele ingressou na vida ativista. “Nós ousamos falar de racismo quando o assunto era tratado como subversão. Fizemos um trabalho corajoso.” Na época, a questão racial não era preocupação das organizações. “Mesmo as mais avançadas não tinham convicção de que o racismo era um fenômeno extremamente danoso. Era quase um monólogo, poucas ouviam”, ressalta.
 
De lá para cá, a luta das entidades ganhou maior espaço. Mas Inocencio alerta: “Lutar contra o racismo não pode ser um compromisso só do movimento negro. Não fomos nós que inventamos o problema. O compromisso é da sociedade”. Na avaliação do educador, autor de três livros sobre o tema, a conjuntura política e social não é favorável para os movimentos sociais. “Estamos vivendo um retrocesso intenso, mas não vamos esmorecer. É um absurdo que um país como o Brasil, com a segunda maior população negra do mundo, a trate da forma como vem tratando”, critica.
 
“Artivismo”
 
Publicitário por formação, Nelson Inocencio sempre teve aptidão pelas artes. Foi o medo do curso de educação artística acabar que o fez pedir transferência para comunicação social, área em que também fez mestrado. Segundo ele, a parte midiática da luta é fundamental, porque há um vício histórico da sociedade brasileira de “sobrerrepresentação de brancos e uma subrepresentação de negros e indígenas”. É equivocado, contudo, na opinião do doutor em artes, dizer que o negro nunca foi representado. “A representação sempre existiu, mas sempre tendeu para o lado negativo: como caricatura, exótica e risível. Era a desumanização e não o reconhecimento”, argumenta.
 
Apesar de reconhecer a importância estratégica da comunicação para ampliar o debate racial, é pela arte que Inocencio mais manifesta seu ativismo — o qual resume como “artivismo”. “A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado”, explica.
 
A arte tem a capacidade de sensibilizar, e essa é uma das funções da militância negra, de acordo com Inocencio. “Quando eu digo sensibilizar, falo de agir. O sentimento tem que se transformar em alguma coisa”, esclarece. Ele acrescenta que a sensibilização para transformar é tanto do negro em relação à sua consciência quanto dos outros membros da sociedade quanto à questão racial. “Todos nós precisamos nos responsabilizar, se a gente quer uma sociedade verdadeiramente democrática.”


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
Jornal Impresso
 

Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros