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A mãe, Larissa, com Miguel Pietro, e a namorada, Luana: final feliz
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HRT, local do crime: após o sequestro, a Secretaria de Saúde informou que revisará os protocolos de segurança
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A dor do parto de 36 horas, o alívio pelo nascimento saudável e o pânico do sequestro do filho, ainda na maternidade do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Larissa Almeida, 21 anos, passou por tudo isso nos últimos dias. A mãe de primeira viagem teve o bebê, Miguel Pietro, tirado dos braços por uma mulher de jaleco, que a convenceu a entregar o recém-nascido alegando que havia a necessidade de um exame de glicemia. A criança, no entanto, foi levada pela estudante de fonoaudiologia Dayane da Fonseca Santos, 23. À polícia, a jovem informou que perdeu um bebê em agosto, mas manteve a história da gravidez para a família, o que teria motivado o crime. O caso chama a atenção também pela frequência com que ocorrem sequestros de bebês na capital federal (leia Memória).
O crime de ontem ocorreu por volta das 3h. Larissa contou aos investigadores que sentiu um aperto no coração minutos depois de entregar a criança. Foi quando decidiu procurar alguém da equipe do hospital. O terror começou quando ela foi informada que aquele tipo de exame não era feito naquele horário. Sem encontrar Miguel nem a mulher de jaleco, a enfermeira registrou uma ocorrência no posto policial do HRT. No início da manhã, a mãe foi levada à 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) para prestar depoimento, iniciando a investigação da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS).
Larissa tem quatro irmãos e mora no Gama com a namorada, Luana Soares, 22, que contou detalhes dos momentos de aflição. “Desde o começo, ela achou aquela mulher estranha, porque ela estava no hospital desde cedo, pedindo para fazer teste nos bebês. Como é o primeiro parto da Larissa, ela entregou, na inocência”, afirmou. A namorada só tinha visto o filho por foto e se emocionou pensando na possibilidade de não conhecê-lo. “A Larissa tinha me mandado foto dele, dizendo: ‘Olha que lindo!’. Logo depois, ele foi tirado dela. Não dava para acreditar. É cruel. Isso mostra que o mundo está perdido”, lamentou.
A família mobilizou-se e seguiu para a porta do HRT, ainda durante a madrugada. O irmão, Rodson Almeida, 27, não conteve as lágrimas. “Eu não acreditei, fiquei muito indignado. É o primeiro bebê menino, porque a nossa mãe só teve netas. É o nosso xodó, e eu ainda sou padrinho dele. A gente batalhou e comprou tudo para o bebê. Nunca pensei que eu pudesse me sentir destruído assim”, disse. Enquanto os parentes esperavam notícias no hospital, Larissa descrevia aos investigadores as características da sequestradora.
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Luiz Henrique Sampaio, delegado: "Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo"
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Reviravolta em CeilândiaMãe de Larissa, a cabeleireira Francisca Almeida Ribeiro, 55, acompanhou o parto e lembrou do momento em que recebeu a primeira boa notícia do caso. Ela estava na delegacia com a filha, registrando ocorrência, quando um dos investigadores deu uma esperança: “Ele disse que tinha uma mulher no Hospital Regional de Ceilândia com um bebê que poderia ser o Miguel”. A tal paciente do HRC havia acionado o Samu por volta das 5h, dizendo que tinha acabado de dar à luz. A equipe médica, porém, achou estranho o recém-nascido estar limpo e com sinais de ter sido vacinado, além de a possível mãe estar bem para quem tinha acabado de passar por um parto.
Francisca e Larissa foram levadas ao Hospital de Ceilândia para verificar se aquela criança era Miguel. Por volta das 8h30, elas reencontraram a criança. “A minha filha chegou lá e reconheceu a mulher e o bebê. Eu o reconheci também, porque eu o vi nascer, registrei e tudo. Nenhuma família merece passar pelo que a gente passou”, declarou.
Crime premeditadoEm depoimento à Polícia Civil, a estudante de fonoaudiologia Dayane confessou o crime, segundo os investigadores. Antes de sequestrar o bebê, a jovem havia estado no Hospital Regional de Taguatinga duas vezes, em 23 e em 25 de novembro, para observar a rotina das grávidas. “Ela foi ao HRT e começou a conhecer o local. No momento em que estava próxima à porta, ela viu uma lista com informações do número do quarto onde estavam as mães e os recém-nascidos. Com isso, ela entrou dizendo que faria uma visita a um determinado quarto”, detalhou o diretor adjunto da DRS, Luiz Henrique Sampaio.
No dia do crime, Dayane chegou ao hospital à tarde, por volta das 15h, e permaneceu no local até a madrugada. Para disfarçar, ela usou um jaleco para ser confundida como servidora da unidade de saúde. “Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo”, avaliou o delegado.
Para sair do HRT, Dayane colocou o bebê em uma bolsa. Em casa, manteve a criança no quarto até que, pela manhã, o irmão da acusada ouviu o choro do recém-nascido. Nesse momento, ela contou que tinha dado à luz, e a família chamou o Samu. Segundo os investigadores, a jovem sujou o banheiro de sangue para simular o cenário do parto — ainda não se sabe a origem do sangue.
Um bebê era bastante esperado pela família e pelo namorado de Dayane. Os agentes revelaram que a jovem fez um enxoval e apresentou o cartão do pré-natal do filho que perdeu ao chegar no HRC. Dayane tem um filho de 5 anos. “A gente percebe que ela sofre um drama emocional, e tudo isso pode ter contribuído para o crime”, comentou o delegado Luiz Henrique. A acusada está presa em flagrante por subtração de incapaz. A pena para esse tipo de crime é de 2 a 6 anos de reclusão.
Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que a direção do HRT “esclarece que preza pela segurança dos pacientes e que tem uma rigorosa vigilância”. A pasta acrescentou que, com esse caso, “os protocolos estão sendo revistos para aprimorar o trabalho e garantir que situações como essa não se repitam”, além de adiantar que está em andamento um projeto para implementação de uma central de monitoramento. O órgão detalhou, ainda, que Miguel Pietro passa bem. “O recém-nascido está internado no Hospital Regional de Ceilândia, recebendo toda a assistência necessária. Está em observação, apenas em cumprimento aos protocolos hospitalares. De lá, com a mãe, receberá alta, procedimento que ainda não tem data prevista”, ressaltou a pasta.
Memória
11 de fevereiro de 1981» Com dois dias de vida, Luís Miguel foi levado dos braços da mãe, Sueli Gomes da Silva, na porta do Hospital Regional do Gama. À época, a mulher tinha 16 anos e morava em um orfanato. Ao sair da unidade de saúde com o filho e acompanhada por dois funcionários do abrigo — um homem e uma mulher —, ligou para a dona do abrigo, de um orelhão, e deixou a criança com a moça que estava com ela. Quando encerrou a ligação, não encontrou mais o filho. Apenas em 2013, após a morte da proprietária do abrigo, Sueli contou a história à polícia. A investigação durou seis anos. Em abril deste ano, por meio de um exame de DNA, a Polícia Civil confirmou que o corretor de imóveis e morador da Paraíba Ricardo Araújo, 38 anos, é filho de Sueli.
21 de janeiro de 1986» O sequestro de Pedro Rosalino Braule Pinto é um dos casos mais famosos do país. Vilma Martins Costa, passando-se por enfermeira, entrou no quarto onde Maria Auxiliadora Braule Pinto se recuperava do parto do filho. Ela disse que levaria o bebê para fazer exames, mas sumiu com ele. O crime ocorreu no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Passados 16 anos, o menino foi encontrado em Goiânia, vivendo com a família de Vilma, sob o nome de Osvaldo Martins Borges. Após cumprir 5 dos 19 anos das penas inicialmente impostas pela Justiça, a sequestradora de Pedrinho ganhou a liberdade condicional em 2008.
6 de junho de 2017» Um dia antes de receber alta, Jhony Júnior foi sequestrado do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A mãe da criança, Sara Maria, 19 anos, havia dado à luz em um posto de saúde na Estrutural, em 25 de maio, e, depois, levada, com o filho, para a unidade de saúde do Plano Piloto. A equipe de enfermagem percebeu que o bebê não estava mais lá durante o horário de almoço. As buscas começaram com vigilantes e policiais militares no hospital. No dia seguinte, a criança foi encontrada com Gesianna de Oliveira Alencar. Ela foi presa. Em 6 de setembro do mesmo ano, a Justiça a condenou a pagamento de multa e a penas alternativas, como prestação de serviços comunitários ou doação de cestas básicas.