Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 01 de dezembro de 2019

A SAÍDA É FAZER BICO

 

A saída é fazer bico
 
Com desemprego em altas taxas, o trabalhador recorre à informalidade para sustentar a família. Especialistas indicam caminhos para sair dessa situação

 

» Ana Maria da Silva*
» Geovana Oliveira*
» Rayssa Brito*

Publicação: 01/12/2019 04:00

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso%u201D
Antônio Fernandes (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso –  Antônio Fernandes

 

De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de desocupados no Distrito Federal no terceiro trimestre de 2019 foi de 221 mil pessoas. Um aumento de 6,75% em comparação com o mesmo período do ano passado. Esse quadro de incertezas revela a dura realidade de muito brasilienses que fazem de tudo para se sustentar. A opção tem sido a informalidade, como é o caso de Antônio Fernandes de Jesus, 57 anos, vendedor de doces e salgadinhos em ônibus que circulam pelo DF.
 
Morador de Águas Lindas de Goiás, o ambulante conta que a rotina de trabalho começa cedo. “Essa é a rotina de um vendedor, de um pai de família que luta pela sobrevivência. Correndo pra lá e pra cá atrás de ônibus. São uns 18 por dia”, destaca, com um olhar cansado, mas determinado. Pai de três filhos, ele explica que sua única fonte de renda vem do comércio de salgadinhos. O preconceito e o descaso dos consumidores não impedem o trabalho de Antônio. “De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para conseguir dinheiro. Não podemos ligar muito para o que as pessoas pensam”.

Segundo Antônio, o serviço depende da boa vontade dos outros, desde passageiros até motoristas de ônibus. “A gente fica chateado quando o motorista nega uma carona, mas não podemos condená-los, porque eles também estão cumprindo ordem das empresas”, explica. “Muitos passageiros não gostam de ser incomodados, e com razão, porque às vezes a pessoa está cansada”, compreende. Apesar dos corriqueiros episódios, o ambulante se mantém resiliente: “A gente precisa trabalhar, precisa sobreviver e não podemos crucificar ninguém. Só agradecemos, porque hoje em dia emprego está difícil”.

O presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, diz que o desemprego atingiu níveis preocupantes no país. Isso acontece devido à recessão e às novas formas de relação de trabalho provocadas pela introdução de tecnologias. “Para o primeiro caso, a volta do crescimento consistente da economia poderá implicar novas ofertas de postos de trabalho. E, para o segundo problema, o trabalhador deverá buscar na qualificação a saída com o objetivo de buscar um posto no mercado de trabalho”, explica César.
Flávia Vieira: %u201CNo momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende%u201D (Rayssa Brito/Esp. CB/D.A Press - 21/11/19)  

Flávia Vieira: – No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende.

 

De acordo com o economista, esses motivos são os principais fatores que causam a falta de colocação no mercado de trabalho e levam o trabalhador a recorrer aos “bicos”. A situação é corriqueira na capital, que tende a acompanhar o que acontece no Brasil em termos estatísticos. “Aqui realça o fato da alta dependência do setor público. Com a pressão sobre as contas públicas, o mercado de trabalho em Brasília tende a ter maiores problemas na geração de emprego”, ressalta.
 
Conquistas
A dificuldade de empregabilidade também é vivenciada pelos noivos Ruan Ribacki, 27, e Sabrinny Caxeta, 19, moradores da Candangolândia. Eles vendem dindim aos finais de semana no Parque da Cidade. “Já procuramos emprego formal diversas vezes. Cheguei a passar por duas entrevistas, e ela (Sabrinny) também. Ainda estamos tentando”, afirma Ruan. A ideia de serem autônomos surgiu da falta de oportunidade no mercado de trabalho: “Foi para não ficarmos parados. As contas não esperam, não se pagam sozinhas”, lamenta o jovem.

“É realmente muito difícil ser ambulante. Tem gente que passa e nem olha pra gente”, relata Sabrinny. Ela acredita que, apesar das frustrações, é importante seguir em frente e manter o foco. “Nós nunca pensamos em desistir, essa é a nossa única fonte de renda. É preciso lutar pelos seus ideais de maneira honesta, alegre, passando uma mensagem positiva para a sociedade”, completa. Com parte da quantia arrecadada, os noivos se orgulham da primeira aquisição: o anel de noivado. “Estamos há seis meses nisso. De pouco em pouco, vamos conquistando coisas novas”, comemora Sabrinny.

Além das diárias
A realidade da diarista Roseni Alves Mesquita, 38, também não é fácil. A mineira se mudou para Brasília aos 14 anos à procura de emprego. Ao chegar, começou a trabalhar em uma lanchonete do aeroporto e, após engravidar, tornou-se doméstica. Hoje, Roseni vive de diárias, e acrescenta que a rotina é trabalhosa: “Têm dias que preciso sair 5h da minha casa para conseguir chegar 8h no serviço. Não é fácil. A gente passa praticamente mais tempo no ônibus do que trabalhando”, lamenta. Apesar das dificuldades enfrentadas, Roseni não desistiu de procurar por uma ocupação fixa: “Eu fiz um curso de cuidadora de idoso, e quero arrumar um emprego mais seguro, mas, como estou sem experiência na carteira, devido às diárias que ando fazendo, está sendo bem difícil”, completa.

A diarista percebe o aumento do desemprego na capital. “Está complicado ultimamente. Eu me lembro que, quando eu cheguei em Brasília, era tão fácil arrumar emprego. Não ficava sem trabalhar nenhum dia”, recorda. Com seis pessoas para sustentar, ela busca alternativas para os momentos em que o bolso aperta: “A gente se vira como pode. Tem dia que cato latinha na rua para conseguir uma renda maior. Eu ando, vejo e cato. Não desperdiça”, diz.
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: %u201CFoi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas%u201D (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: "Foi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas"
Novas chances
Há cerca de três meses, João Eudes Alves de Carvalho, 56, morador da Ceilândia, vende espetinhos em uma churrasqueira improvisada próximo a uma parada de ônibus. O autônomo explica que era proprietário de uma empresa que não ia bem por conta da crise e, por isso, resolveu apostar na informalidade. “A empresa não estava dando retorno suficiente para o sustento. Eu estou me virando da forma que dá”. João é pai de cinco filhos e paga pensão alimentícia para uma menina que ainda não atingiu a maioridade. “Como é uma espécie de comércio, tem semanas que dá bom retorno e tem semana que não dá tanto. É muito complicado depender somente disso”, lamenta.

Ele afirma que a rotina é dura e que, às vezes, é difícil manter a cabeça erguida, até porque, para quem trabalha na rua e lida diretamente com diversas pessoas, o contato nem sempre é fácil e muita gente age com preconceito. “Isso daqui não é para qualquer um mexer. É preciso ter coragem e colocar a vergonha de lado, até porque não é motivo nenhum de vergonha, você está trabalhando”, acrescenta.

Para ele, mesmo com as dificuldades, é preciso ter perseverança. “Nunca desista! Vamos tocar a vida para frente com força de vontade”, aconselha.
 
Sonhos
“Meu sonho é ser empresária”, revela Flávia Vieira, 19. Ela vende artesanatos na Rodoviária e em alguns pontos da capital com a irmã, Tamires Pereira, 25. Flávia conta que decidiu sair de Minas Gerais para dar melhor condição à família. “Trabalho na Rodoviária todo santo dia. A gente vem todos os dias,  aos sábados e aos domingos também”, afirma. Para a jovem, todos os trabalhos têm suas dificuldades: “Têm vezes que conseguimos vender, têm vezes que não, a gente tenta se virar do jeito que pode”, diz Flávia.
 
Moradora do Valparaíso de Goiás, ela acorda cedo todos os dias para separar os objetos que levará. “Demora cerca de uma hora e vinte para chegar à Rodoviária”, informa. Flávia afirma que muitas vezes chega ao local por volta das 8h e vai embora às 22h. “No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende”, afirma. Mas isso não impede que Flávia sonhe. Com a chegada do Natal, ela espera aumentar as vendas. “Eu pretendo crescer, ter uma loja. Mas até lá é muito chão”, conclui.

O coordenador do curso de economia do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, lembra que o caso de Brasília é um pouco diferente por conta da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (Ride). “A consequência é o aumento da procura de emprego no Plano Piloto, que não consegue atender o alto número (de procura)”. Riezo explica que os empregos informais fazem parte da cultura brasileira, pois são a primeira opção da população no momento de desemprego. “Muitos recorrem à informalidade quando não estão conseguindo alcançar suas necessidades”, explica o economista.

Dicas para sair da informalidade 
Por Anna Cherubina  Scofano, mentora de carreiras e professora de gestão de pessoas na Fundação Getúlio Vargas.
 
» Não desanimar
 
» Buscar algo que tenha interesse maior, informar-se e atualizar-se por meio de pesquisas em sites gratuitos que possibilitem um aprimoramento e ampliação de conhecimento. Dessa forma, a pessoa pode dizer, em uma entrevista de emprego, que não tem experiência na área, mas, em contrapartida, tem lido e mostrado interesse pelo assunto.
 
» Entender quais são seus objetivos e buscar capacitação, por meio de conhecimentos e práticas.
 
» Cercar-se de pessoas que tenham visão de negócio e sistêmica. Iisso contribuirá para a expansão de ideias. Inovação e criatividade fazem parte da reinvenção, e, se não houver  essas características dentro das organizações, certamente existirão dificuldades para se estabelecer no mercado.
 
» Ser resiliente, ter bom relacionamento interpessoal e ser proativo.  É também fundamental se atentar a como se portar e vestir em entrevistas de emprego. 
 
Iniciativas para qualificação 
Com o objetivo de oferecer à população alternativas para enfrentar a crise, a Secretaria de Estado de Trabalho do Distrito Federal (Setrab) desenvolveu algumas ações, como qualificação profissional, abertura da Agência do Trabalhador onde há demanda, empréstimo orientado a pequenos empreendedores, cursos e palestra.
 
Cursos de qualificação gratuitos
» A Setrab afirma que ofereceu mais de 2.000 vagas para os diversos cursos de Formação Inicial e Continuada e de Educação Profissional Técnica de Nível Médio — Qualificação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)  em parceria com a Secretaria de Trabalho. O Programa Senac Gratuidade (PSG) destina-se a pessoas de baixa renda, na condição de alunos matriculados ou egressos da educação básica e trabalhadores, empregados ou desempregados.
 
Agência do Trabalhador
» Pela primeira vez, a Setrab e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) inauguram uma Agência do Trabalhador na Câmara. A nova Agência do Trabalhador presta o serviço de intermediação de mão de obra por meio do Sistema Integrado Nacional do Emprego (Sine). Diariamente, são ofertadas em torno de 300 vagas de trabalho por esse sistema nas 17 Agências do Trabalhador.
 
Fábrica social
» O programa Fábrica Social qualificou 1.200 alunos em cinco cursos diferenciados, e, em parceria privada, os encaminhou para empresas para vivência e inserção no mercado de trabalho.
 
Microcrédito
» O Programa de Microcrédito Prospera, da Setrab, formalizou a entrega de cartas de crédito do programa para 696 pequenos empreendedores, em um montante de R$ 10 milhões, alcançando um novo recorde emprestado e com a menor taxa de devedores registrada.
 
Recolocação profissional
» Com o intuito de amenizar a situação de desemprego, a Secretaria de Trabalho disponibiliza gratuitamente à população do DF a Palestra de Recolocação Profissional, que aborda temas como: empregabilidade, como participar de uma entrevista de emprego; e marketing pessoal, como melhorar o seu currículo. Neste ano, a palestra foi realizada em 18 de outubro no Auditório da Agência do Trabalhador da Estação 112 Sul do Metrô, a previsão é de que outras palestras com a mesma  temática  aconteçam em 2020. 
 
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira
 
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