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Centenas de pessoas foram às ruas de Samambaia manifestar contra os crimes por questões de gênero
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Samambaia pede paz. Centenas de pessoas participaram de uma manifestação contra o feminicídio na cidade onde, em apenas um dia, três mulheres foram mortas (Veja Memória) neste início de ano. Um dos principais intuitos do encontro foi despertar a comunidade para o aumento dos casos de violência doméstica no Distrito Federal. Estiveram presentes familiares da dona de casa Rute Paulina da Silva, 42 anos. Ela foi morta dentro de casa, a facadas, em 14 de janeiro, pelo próprio companheiro. A vítima conseguiu sair para pedir socorro aos vizinhos, mas não resistiu e morreu no local. Ela deixou dois filhos, de 1 e 8 anos.
Para a professora Milca Oliveira, 40, prima de Rute, a manifestação é um passo para a mudança. “É um meio de acordar a sociedade de uma situação que não pode ser considerada normal. Dizimar uma família não é comum. A mulher morre, o pai é preso e as crianças ficam sem assistência. A gente tem recebido o apoio social do governo, mas nada se compara ao amor da mãe”, disse. A família conseguiu atendimento psicológico para as crianças e está lutando na Justiça pela guarda dos dois. “Assistência psicológica para um bebê não é fácil, mas conseguimos, porque ele vai precisar”, afirma.
Irmão de Rute, Davi Sillas da Silva, 35, considera a manifestação “uma vitória”. Ele ressalta que a população tem que estar junta e unir esforços na luta contra essa onda de violência contra a mulher. “Até hoje, o nosso sentimento como família é de revolta, e acho que precisa mudar, a justiça tem que ser mais cruel com esse tipo de ação. A família está tentando se reestruturar, as crianças ainda estão abaladas. E a gente tinha que estar aqui, para fazer esse ato de bem”, declara o técnico em enfermagem.
A manifestação começou às 8h. Os participantes se concentraram em frente ao Centro de Ensino Médio 414 (CEM 414) de Samambaia e caminharam, com o apoio de trios elétricos, faixas e bandeiras, na avenida entre as quadras 200 e 400. O Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar organizaram ao circulação dos carros enquanto as faixas da via ficaram bloqueadas. A passeata percorreu o trecho até a área comercial da Quadra 406, onde foi montada uma tenda para a realização de palestras após a manifestação. O trânsito foi liberado por volta das 12h.
O evento foi promovido pela Administração de Samambaia, com o apoio das secretarias da Mulher, de Segurança Pública e de outros órgãos do GDF. “Esse ato surgiu de uma iniciativa da comunidade, que nos procurou, após as tragédias do início do ano. Imediatamente, fizemos uma comissão de mulheres na administração e surgiu esse primeiro evento. Nosso intuito não era fazer só uma passeata, mas palestras sobre conscientização”, conta o administrador de Samambaia, Gustavo Aires. Ele destaca que está sendo feito um cronograma com ações no combate à violência doméstica. “Estamos trabalhando para que Samambaia não seja mais destaque nas páginas policiais”, completa.
Mãos dadas
A secretária da Mulher, Éricka Filippelli, participou do ato e ressaltou a importância da participação do governo e da população no combate ao feminicídio. “Todos precisam estar juntos. Essa é a forma de trabalhar que eu mais acredito. Não podemos admitir acordar com notícias tristes como aconteceu aqui (em Samambaia). Essas mulheres morreram sem que pudéssemos dar as mãos a elas, sem poder acionar e denunciar. Nossos canais de atendimento funcionam e devem ser usados”, disse.
A delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia, explicou que a polícia entra nos casos quando a violência já aconteceu e que o papel da população é de prevenção e conscientização. “Sem a participação de todos, não tem como diminuir essa violência. Temos que mostrar todos os dias que o papel do companheiro é de protetor, não de agressor. É preciso repetir isso todos os dias, porque muita gente ainda não entendeu”, declarou.
Muitos homens, jovens e crianças participaram do ato. A delegada ressaltou que violência doméstica não é coisa de mulher, mas da sociedade. “As escolas devem começar a ensinar as crianças que não se deve agredir as mulheres. Os jovens de hoje serão os casais do futuro e devem ser educados desde pequenos”, completa Jane.
» Onde procurar ajuda
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
» O serviço gratuito da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República serve como disque-denúncia em casos de violência contra a mulher
» Telefone: 180
Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
» Espaços de acolhimento e atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico
» Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
» Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
» Endereço: Entrequadra 204/205 – Asa Sul
» Telefone: 3207-6172
Ministério da Mulher
» O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos recebe ligações gratuitas por telefone 24h para para quem precisar fazer denúncias de violência que acabou de acontecer ou que está em curso
» Telefone: 100
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
» Acompanhamento psicossocial às vítimas, familiares e autores
» Locais: Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho e no Plano Piloto
Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
» O serviço de companhamento de famílias está disponível em todos os batalhões e conta com 22 equipes
» Telefones: 3910-1349 / 3910-1350